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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU - UNINASSAU


CURSO DE BACHARELADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

FLÁVIA FONTELES DE AZEVEDO


SAMIA DOMINGOS DE MENEZES
TASSIO BRUNO MATOS DE QUEIROZ

URETROSTOMIA EM UM FELINO: RELATO DE CASO

FORTALEZA
2022
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FLÁVIA FONTELES DE AZEVEDO


SAMIA DOMINGOS DE MENEZES
TASSIO BRUNO MATOS DE QUEIROZ

URETROSTOMIA EM UM FELINO: RELATO DE CASO

Trabalho apresentado à Disciplina de


Clínica Cirúrgica do Centro Universitário
Maurício de Nassau – UNINASSAU
Fortaleza, Sede Doroteias, como parte
dos requisitos para obtenção da
conclusão da disciplina de Clínica
Cirúrgica.

FORTALEZA
2022
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SUMÁRIO

1. RESUMO 4
2. INTRODUÇÃO 5
3. RELATO DE CASO 7
4. CONCLUSÃO 16
REFERÊNCIAS 17
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1. RESUMO

A uretrostomia é uma técnica cirúrgica utilizada em casos de obstrução parcial ou


total da uretra. O paciente de três anos e 21 dias de idade, após a realização dos
exames laboratoriais (hemograma completo, bioquímico, urinálise) e
ultrassonografia, o animal foi submetido a uretrostomia, obtendo-se sucesso
terapêutico e possibilitando ao paciente adequada qualidade de vida. Conclui-se
que esta técnica é viável e segura em gatos, tornando-a uma possível escolha de
tratamento cirúrgico para estenose uretral.

DESCRITORES: Gatos. Estenose de Uretra. Cirurgia Urológica.


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2. INTRODUÇÃO

O sistema urinário tem por função a eliminação dos detritos corporais em


forma líquida e resíduos solúveis, que ocasionalmente, se precipitam. São os
urólitos predominantemente de estruvita, cuja composição é hexahidrato de
magnésio, amônia e fosfato (OSBORNE et al., 1992).
As obstruções uretrais são observadas quase que exclusivamente em
machos, embora haja sinais de patologia urinária baixa em ambos os sexos
(MEIER, 1960; WILSON; HARRISON, 1971).
Doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF) é um termo utilizado
para descrever distúrbios de gatos domésticos, vesicopatias e uretropatias,
clinicamente caracterizados por hematúria, disúria, polaciúria e obstrução uretral
parcial ou completa (ROSA; QUITZAN, 2011). O tratamento da obstrução uretral
deve ser emergencial devido ao risco de óbito, e baseia-se no alívio da obstrução,
correção dos efeitos sistêmicos da uremia e na prevenção de sua recidiva
(GALVÃO et al., 2010).
O tratamento adequado deve ser realizado de acordo com os graus e
duração da obstrução. Embora a realização de alguns procedimentos clínicos
possam proporcionar a eliminação urinária inicialmente, 35 a 50% dos casos
apresentam obstruções recorrentes nos seis meses seguintes ao primeiro episódio
(BOVÉE et al., 1979).
A uretrostomia pré-púbica é indicada em obstruções graves na uretra,
processos de estenose, além de traumatismos irreparáveis. A emissão de urina
volta à normalidade dentro de 24 horas no pós-operatório (KAUFMANN et al.,
2009).
A manutenção e restauração da patência uretral é uma medida
universalmente importante. Caso a desobstrução uretral não seja possível, deverá
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ser realizada a uretrostomia (WILSON; KUSBA, 1986). Quando a obstrução total


não for aliviada, a morte ocorre em 72 horas (WALKER; WEANER, 1977).
Na tentativa de restaurar a patência uretral do gato macho, várias técnicas
cirúrgicas vêm sendo utilizadas através dos últimos anos. As ureterostomias
penianas foram descritas inicialmente por Meier (1960), quando realizou uma
incisão mediana de aproximadamente 3 a 4 mm na região dorsal peniana. Esta
incisão se estendia caudalmente e a mucosa uretral era suturada à pele.
Em 1964, Christensen realizou uretrostomia prepucial onde a uretra
peniana foi exposta através de uma incisão na linha média entre ânus e prepúcio.
O pênis foi removido e promoveu-se a reanastomose do prepúcio à uretra pélvica,
após sua mobilização na porção distal da bexiga urinária.
As ureterostomias perineais consiste na exteriorização do lúmen da uretra
pélvica, com posterior sutura da mucosa uretral na pele da região perineal.
Através de seu estudo Carbone (1963) descreveu uma técnica que envolveu
transecção uretral anteriormente às glândulas bulbouretrais com posterior sutura
diretamente à parede perineal.
Já Blake (1968), utilizou o tecido cavernoso da base peniana como tecido
de sustentação para a sutura perineal.
A técnica desenvolvida por Wilson e Harrison (1971), consiste em uma
incisão elíptica entre ânus e escroto, dissecção e individualização peniana e
secção do músculo isquiocavernoso. A uretra foi identificada, incisada e suturada
ao períneo através de pontos simples, separados, com fio de polipropileno 4-0.
O presente trabalho objetiva relatar um caso de uretrostomia em um felino.
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3. RELATO DE CASO

Foi atendido na Clínica Agroveterinária em Fortaleza, um felino, macho,


SRD, de três anos e 21 dias de idade e peso de 5 kg e 900g. Na avaliação física
do animal foi visto que o mesmo não conseguia urinar por haver obstrução, logo
em seguida foi realizada a desobstrução da uretra, entretanto, não foi obtido o
êxito desejado.
Os exames pré-operatórios realizados no animal consistem em Hemograma
Completo, Bioquímico, urinálise e ultrassonografia.

Tabela 1 - Hemograma Completo do Felino.

HEMOGRAMA COMPLETO
Resultado Referência

Eritrograma

Hemácias 6,6 5,0 - 10,0 / milhões/mm3

Hemoglobina 10,1 8 - 15 / g/dL

Hematócrito 30 24- 45 / %

VCM 45,7 39,0 - 55,0 / fL

CHGM 33,6 30,0 - 36,0 / %

Observação Série Vermelha Sem alterações

Leucograma

Leucócitos 5.100 7.000 - 23.000 / mil/mm3

Segmentados 86 / 4.386 35 - 75% / 3.600 - 13.800


mil/mm3

Linfócitos 9 / 459 20 - 55% / 1.500 - 7.000


mil/mm3
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Eosinófilos 3 / 153 2 - 12% / 0 - 1.500 mil/mm3

Monócitos 2 / 102 1 - 4% / 0 - 800 mil/mm3

Observação Série Branca Sem alterações

--- /%

Plaquetas 365.000 230.000 - 680.000 / mil/mm3

Proteínas Plasmáticas 7,0 6,0 - 8,0 / g/dL

Plasma Normal

Observações plaquetárias Sem alterações

Pesquisa de Hematozoários Não encontrado na diferenciação celular

Data 22/03/2022
Fonte: Clínica Veterinária

Tabela 2: Exame Bioquímico do Felino

BIOQUÍMICO
Resultado Referência

Ureia 34,0 mg/dL 24 - 54 mg/dL

Creatinina 1,2 mg/dL 0,7 - 1,8 mg/dL

AST (TGO 40,1 U/I 26 - 43 U/I

ALT (TGP 78,5 U/I 6,0 - 83 U/I

Fosfatase alcalina 35,8 U/I 25 - 126 U/I

GGT 1,2 U/I 1,3 - 5,1 U/I

Proteínas totais 6,5 g/dL 6,1 - 8,8 g/dL

Albumina 2,5 g/dL 2,1 - 3,9 g/dL

Globulinas 4,0 g/dL 1,5 - 5,7 g/dL

Observações Amostra: soro

Data 22/03/2022
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Fonte: Clínica Veterinária

Tabela 3: Exame de Urinálise do Felino.

URINÁLISE
Resultado Referência

Físico

Volume 20 ml / 10

Colheita Não informado

Densidade 1045 1.020 - 1.060

Aspecto Turva / Amarelo Citrino

Cor Amarelo escuro / Límpido

Odor -- / Sui Generis

Químico

PH 6,5 5,5 - 7,0

Proteínas (+---) / Ausente

Glicose (-) / Ausente

Corpos cetônicos Ausente / Negativo

Bilirrubina Ausente / Negativo

Urobilinogenio Negativo / Normal

Sangue oculto (++--) / Negativo

Nitritos Negativo / Negativo

Sedimentoscopia

Hemácias Incontáveis / Ausente

Leucócitos (0-10)p/campo / Ausente

Cilindros GRANULOSO (+--)

Células descamativas (0-1)P/CAMPO


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Cristais Estruvita (+---)

Células transicionais (1-2)p/campo

Bactérias Discretos cocos / Ausente

Data 31/03/2022
Fonte: Clínica Veterinária

Figura 1: Ultrassonografia do Felino.


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Fonte: Clínica Veterinária

Com isso, foi realizada a uretrostomia, para a retirada da parte final da


uretra. Na cirurgia, o médico veterinário responsável Dr. Fernando Ricardo M.
Guilherme (CRMV 2744), alarga a uretra do terço médio ao terço inicial, obtendo
êxito para que o animal possa urinar normalmente.
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Figura 2: Uretrostomia realizada em Felino.

Fonte: Clínica Veterinária

No pós-operatório imediato o animal ficou em observação pelo anestesista


responsável Francisco de Assis, logo após demonstrou reflexos e em seguida foi
liberado para descansar.
Foram administrados para o animal os medicamentos Cronidor (12 mg) e
comprimido a cada 12 horas durante três dias, Maxicam (0,5 mg) meio comprimido
a cada 24 horas durante 2 dias e injetável (0,5 mg/kg) por via SC a cada 24 horas
durante 2 dias, Gabapentina (29,5 mg/ml) dar 1 ml a cada 12 horas durante 15
dias e SAME (90 mg) dar 1 cápsula a cada 24 horas durante 30 dias com o animal
em jejum. Além disso, é necessário estimular a ingestão hídrica do animal,
fornecer alimento úmido (sachê/patê) adicionado de um pouco de água,
diariamente. É necessário o uso do colar elizabetano pelo animal.
A sutura foi removida em 15 dias, sem a ocorrência de deiscência, o exame
clínico demonstrou bom estado geral e a ferida cirúrgica sem presença de
qualquer infecção.
A uretrostomia é uma técnica indicada em obstruções graves e em
processos de estenose da uretra perineal ou peniana. O caso em questão foi
considerado grave, já que o paciente encontrava-se totalmente obstruído e a
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sondagem uretral não foi possível. Porém, apesar das vantagens na utilização, tal
procedimento poderá predispor a infecção do trato urinário e apresenta risco
mínimo de estenose (PINTO, 2011; BERNARDE; VIGUIER, 2004), o que não foi
observado até o momento no paciente em questão.
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4. CONCLUSÃO

Conclui-se que a uretrostomia é segura para gatos, tornando-se uma


opção adequada para estenoses uretrais graves.
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REFERÊNCIAS

BERNARDE, A.; VIGUIER, E. Transpelvic urethrostomy in 11 cats using an ischial


ostectomy. Veterinary Surgery, Davis, v. 33, n. 3, p. 246-252, 2004.

BLAKE, J.A. Perineal urethrostomy in cats. J Am Vet Med Assoc. v. 152, n. 10, p.
1499-1506, 1968.

BOVÉE, K.C.; REIF, J.S.; MAGUIRE, T.G. Recurrence of feline urethral


obstruction. J Am Vet Med Assoc. v. 174, n.1, p. 93-96, 1979.

CARBONE, M.G. Perineal urethrostomy to relieve urethral obstruction in the male


cat. J Am Vet Med Assoc., v. 143, n.1, p. 34-39, 1963.

CHRISTENSEN, N.R. Prepucial urethrostomy in the male cat. J Am Vet Med


Assoc., v. 145, p. 903-908, 1964

GALVÃO, A. L. B.; ONDANI, A. C.; FRAZÍLIO, F. O.; FERREIRA, G. S. Obstrução


uretral em gatos machos – revisão literária. Acta Veterinaria Brasilica, Mossoró,
v. 4, n. 1, p. 1-6, 2010.

KAUFMANN, C.; NEVES, R. C.; HABERMANN, J. C. A. Doença do trato urinário


inferior dos felinos. Anuário da Produção Científica dos Cursos de
Pós-Graduação, v. 4, n. 4, p. 193-214, 2009.

MEIER, F.W. Management of urethral obstruction and stenosis in the male cat. J
am Vet Med Assoc. v. 137, p. 67-70, 1960
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OSBORNE, C.A.; KRUGER, J.M.; JHONSTON, G.R. Distúrbios do trato urinário


inferior felino. In: ETTINGER, S.J. Tratado de Medicina Interna Veterinária. São
Paulo: Manole, v. 2, p. 2150-2177, 1992.

PINTO, T. M. Uretrostomia pré-púbica por laparoscopia vídeo-assistida:


modelo experimental em coelhos. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciências
Veterinárias) – Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

ROSA, V. M.; QUITZAN, J. G. Avaliação retrospectiva das variáveis etiológicas e


clínicas envolvidas na doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF).
Cesumar, Maringá, v. 13, n. 2, p. 103-110, 2011.

WALKER, A.D.; WEANER, A. An epidemiological survey of feline urological


syndrome. J Small Anim Pract. v. 18, p. 283, 1977.

WILSON, G.P.; HARRISON, J.W. Perineal urethrostomy in the cat. J Am Vet Med
Assoc. v. 159, n. 12, p. 1789-1793, 1971.

WILSON, G.P.; KUSBA, J.K. Uretra, In: BOJRAB, M.J. Cirurgia dos pequenos
animais. 2. ed. São Paulo: Roca, cap. 24, p. 355-364, 1986.

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