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ABORDAGEM CIRÚRGICA DE CISTOLITÍASE EM GATA: RELATO DE CASO

RESUMO

A urolitíase é a segunda enfermidade de maior ocorrência no trato urinário


inferior dos felinos. Nos gatos domésticos, verifica-se que a composição dos
cálculos é variável conforme a idade, sendo os de oxalato de cálcio mais
comuns em animais entre sete e nove anos e os de estruvita em animais
jovens. Diversos fatores predispõem o desenvolvimento da enfermidade, tais
como genética, dieta, ingestão hídrica e alteração do pH urinário. Existem
diagnósticos diferenciais na espécie para a doença e o médico veterinário deve
estar atento ao histórico, sinais clínicos e exames complementares para que o
diagnóstico correto seja feito. Fatores como a localização e o tamanho do
cálculo mostram-se de extrema importância para a escolha do tratamento.

Palavras-chaves: Cistotomia, Gato, Urolitíase.

INTRODUÇÃO

As doenças do trato urinário têm grande incidência e importância na


espécie felina, sendo a urolitíase uma das principais enfermidades deste
sistema com tratamento clínico-cirúrgico. Dentre suas consequências,
podemos citar desde as mais simples, como a cistite, até afecções de maior
complexidade, com obstrução total ou parcial do fluxo urinário, podendo levar o
animal ao óbito (ROSA, 2013). Sabe-se que animais obesos, machos, sem
acesso à rua, castrados e que recebem alimentação com alto teor proteico, têm
maior tendência ao desenvolvimento de litíase (ROSA, 2013). Há ainda
importante relação entre a cistite idiopática felina e a urolitíase. A primeira é
uma doença de trato urinário inferior frequente, ainda sem causa definida, com
grande possibilidade de recorrência, 39 a 65% dos casos após o episódio
inicial (LUND & EGGERTSDÓTTIR, 2018).
Quando localizados na bexiga, os urólitos causam irritação na mucosa, com
sinais de hematúria, polaciúria, estrangúria e disúria. Quando o cálculo chega à
uretra, acaba alterando o fluxo urinário, causando distensão e dor abdominal
(TAVARES et al., 2021). O diagnóstico é feito através da anamnese, exames
físico, laboratoriais e de imagem. Após a avaliação quanto à presença de
obstrução, o tratamento consiste em procedimento cirúrgico como uretrotomia
ou cistotomia para remoção de cálculos maiores, cistoscopia para remover
cálculos menores ou em técnicas não-cirúrgicas, através da hidropropulsão e
do manejo, principalmente alimentar e hídrico (RICK, 2017). De acordo com o
exposto, o objetivo desse trabalho é relatar a abordagem cirúrgica de uma
paciente com cistolitíase.

METODOLOGIA

Foi atendida uma paciente da espécie felina, fêmea, castrada, sem raça
definida, com quatro anos e pesando três quilos. Segundo o relato da tutora, o
animal apresentava hematúria há aproximadamente um mês, urina com odor
forte, polaciúria, apresentando, porém normorexia e normodipsia. Ela foi
encaminhada ao Hospital Veterinário para fazer exames de imagem e
laboratoriais, confirmando a presença de cálculos vesicais. Foi submetida à
cistocentese para urocultura (volume de urina insuficiente para realizar também
urinálise), e após, foi encaminhada para a realização de cistotomia.

Após o preparo da paciente e da equipe, o procedimento cirúrgico foi


iniciado com uma incisão retro-umbilical de pele e subcutâneo até a linha Alba,
e posterior acesso em estocada da cavidade abdominal. Isolou-se a bexiga
com compressas estéreis e foram realizados pontos de reparo com fio nylon 3-
0. Realizou-se incisão em estocada em região ventral do corpo da bexiga,
removendo-se coágulos e dois cálculos de 1,27cm e 0,77cm. Foi feita retro-
hidropropulsão da uretra com sonda uretral n°04 e lavagem da vesícula urinária
com solução fisiológica aquecida seguida da inspeção do órgão. A cistorrafia
foi realizada com padrão de sutura Lembert contínuo, e a omentalização do
órgão com padrão isolado simples, ambas utilizando fio de poligalactina-910 3-
0. Após, foi realizada lavagem da cavidade abdominal com solução fisiológica
aquecida e aspiração do fluido. Na miorrafia empregou-se o padrão contínuo
simples com fio nylon 2-0, o subcutâneo com nylon 3-0 no mesmo padrão e a
pele com padrão intradérmico em nylon 4-0. Os cálculos foram enviados para
análise de conformação. Foi prescrito para a paciente Dipirona 15mg/kg BID
por 3 dias, Meloxicam 0,1 mg/kg SID por 2 dias, Amoxicilina + Clavulanato 20
mg/kg BID por 7 dias e limpeza da ferida cirúrgica com solução fisiológica BID
até a retirada dos pontos. Houve o acompanhamento da paciente no pós-
operatório e após cinco dias da cirurgia foi repetida a ultrassonografia
abdominal, que não indicou alterações em sistema urinário.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os sinais observados pela tutora e citados na anamnese condizem com o


que Rosa (2013) descreve sobre o acometimento da vesícula urinária, com
sinais de inflamação, hematúria, polaciúria, estranguria e disúria. Segundo
Eggertsdóttir & Lund (2018), é importante incluir a Cistite Idopática Felina no
diagnóstico diferencial de causas para a urolitíase, principalmente nos
pacientes em que a urocultura é negativa para crescimento bacteriano, em que
os exames laboratoriais têm resultados dentro da normalidade, aliando-se o
exame físico, de imagem (ultrassom) e sinais clínicos característicos da
doença, como para a paciente deste relato.

De acordo com Rick et al. (2017) o tratamento cirúrgico é o de escolha em


casos em que há alterações anatômicas, em que a dissolução farmacológica é
contra-indicada, quando há necessidade de cultura de mucosa ou, como no
caso em questão, quando os cálculos podem causar obstrução uretral. Para
pacientes com cálculo uretral, é recomendada a retropulsão do cálculo para a
bexiga com posterior cistotomia ou uretrotomia. O tipo mais frequente de
cálculo em gatos é o de oxalato de cálcio, e o tratamento de eleição é a
cirurgia, aliada a mudanças de manejo alimentar, evitando dietas acidificantes
e aumentando a ingesta hídrica (RICK, 2017; BARTGES & KIRK, 2007). Outros
tipos de urólitos, descritos por BARTGES & KIRK (2007), são os de estruvita e
urato. Os primeiros têm a particularidade de que podem ser reduzidos com
dietas acidificantes e aumento da ingestão hídrica (ROSA, 2013). Já os
cálculos de urato têm frequente relação com doenças hepáticas (BARTGES &
KIRK, 2007). Neste relato, os urólitos removidos foram encaminhados para
análise, e aguarda-se o laudo laboratorial, fundamental para as
recomendações de manejo alimentar, com o objetivo de evitar recidiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sinais clínicos apresentados nos casos de urolitíase são inespecíficos e


demonstram a importância da anamnese detalhada e dos exames
complementares para o diagnóstico. O tipo e a localização dos urólitos
determinam a técnica cirúrgica que será utilizada, e a análise do cálculo após a
cirurgia define o manejo do paciente em casa. É importante a orientação do
médico veterinário na conscientização do tutor, a fim de evitar possíveis
recidivas. Casos em que há obstrução do fluxo urinário são considerados
emergência, pois cursam com desequilíbrios eletrolíticos que podem levar ao
óbito.

REFERÊNCIAS

BARTGES, J; KIRK, C. Nutrition and Urolithiasis. Journal of feline medicine


and surger, v.9, NP.NP, 2007.

FONTE, A. Doença do trato inferior (DITUI) em felinos domésticos.


Trabalho de conclusão de curso bacharelado em Medicina Veterinária -
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, 2010.

LUND, S; EGGERTSDÓTTIR, V. Recurrent episodes of feline lower urinary


tract disease with different causes: possible clinical implications. Journal of
Feline Medicine and Surger, v.6, p.590-594, 2019.

RICK, W.; CONRAD, H.; VARGAS, M.; MACHADO, Z.; LANG, C.; SERAFINI,
C.; BONES, C. Urolitíase em cães e gatos. PUBVET, v. 11, n.07, p. 646-743,
2017.
ROSA, P. Urolitíase causada por oxalato de cálcio em felinos. Trabalho de
conclusão de curso bacharelado em Medicina Veterinária – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2013.

TAVARES, R.; CARNEIRO, F.; CANELA, O.; MENDES, S.; PETELINKAR, C.;
LIMA, F.; JÚNIOR, S.; RODRIGUES, V. Aspectos clínicos de cálculos urinários
em felinos – revisão de literatura. Atualidades na saúde e bem-estar animal.
v. 2. NP.NP, 2021

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