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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

GEORGES HOMSI MORA

A ORDENAÇÃO DE MULHERES NA IGREJA


ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA (1872-2015)

Historiografia, Religiões e Cultura;


História Cultural

CAMPINAS
2017
Resumo
Esta pesquisa pretende analisar o desenvolvimento da ordenação feminina no
protestantismo, especialmente na ramificação evangélica Igreja Adventista do Sétimo Dia
(IASD) entre os anos de 1872-2015. O conceito protestante de sacerdócio universal,
cunhado por Lutero há exatos quinhentos anos, elimina o privilégio do clero no exercício
do ofício sagrado, fundamental para apropriação da prática litúrgica pelos crentes,
homens e mulheres. Porém a experiência não acompanha a ideia, já que a própria Reforma
depois de institucionalizada, obedece aos moldes sociais e culturais próprios de seu
tempo, produzindo a limitação histórica de acesso da mulher ao ministério ordenado.
Durante o século XIX estadunidense, no meio protestante evangélico, ainda que lugar
conservador e resistente às transformações dos papéis da mulher na sociedade e religião,
podem ser observadas situações de liberdade e conquista de espaços que estiveram e ainda
estão em disputa. Exemplo disso é a primeira credencial feminina ao ministério pastoral,
da Igreja Adventista em 1872, oito anos após sua institucionalização. Por meio de análise
historiográfica e dos yearbooks; dos números da revista Review and Herald e Ministry,
todos digitalizados pelo ASTR (Office of Archives, Statistics, and Research, da
Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia), procuraremos entender como este
espaço de credencial estava (e está) em constante luta. De que modo a recém organizada
instituição reconhece ou não o espaço da mulher no ministério pastoral; quem foram e
como agiram as primeiras pastoras adventistas; como ao longo dos anos os espaços foram
ocupados pelo homem; quais são as organizações femininas que lutam pela emancipação
do gênero dentro da igreja; essas questões compõem o horizonte de nossos objetivos.

Apresentação e Justificativa

O presente projeto de mestrado é sobre religião, cultura e gênero1, em relação a


ordenação de mulheres na Igreja Adventista do Sétimo Dia2 entre os séculos XIX e XX.3
Em linhas gerais, ainda no século XVI, o rompimento com a estrutura de poder católica
romana, não expressou significativa transformação na prática protestante das relações
entre gêneros. Mesmo com a assinatura do sacerdócio universal dos crentes4, Lutero e
Calvino mantiveram a visão sobre a natureza feminina dos pais da igreja.5 Essa herança

1
Scott, 1988 apud Elaine Moura da Silva
2
Atualmente a Igreja Adventista do Sétimo Dia é dividida como instituição da seguinte forma: a igreja
local- um corpo organizado e unido de membros e membras individuais; a associação/missão- um corpo
organizado e unido de igrejas de um determinado território ou campo; a união, um corpo organizado e
unido de associações/missões; por fim a Associação Geral, a maior unidade da organização, que abrange
todas as uniões em todas as partes do mundo. As Divisões são seções da Associação Geral, com
responsabilidade administrativa a elas atribuída em determinadas áreas geográficas.
3
4
5
Como, então, disse-nos o apóstolo que o homem é a imagem de Deus e, por conseguinte, está proibido
de cobrir sua cabeça, mas que a mulher não o é e, por conseguinte, se lhe ordena que cubra a cabeça? A
menos, certamente, de acordo com aquilo que eu já disse quando tratava da natureza da mente humana,
que a mulher, junto com seu próprio marido, seja a imagem de Deus, de modo que a substância toda
possa ser uma única imagem, mas, quando se faz referência a ela como companheira e ajudante, o que
concerne somente à mulher, então ela não é a imagem de Deus, mas, no que concerne somente ao
foi sacralizada na memória das instituições cristãs, estabelecendo um histórico
distanciamento entre a mulher e os seus espaços (das instituições) de poder e liderança.
O distanciamento entre a religião e ciência, próprio do secularismo produzido no
século XIX ocidental, modificou a forma como as pessoas enxergavam e explicavam o
mundo. Essa nova cosmovisão valorizou as iniciativas individuais, fazendo frente às
propostas institucionalizadas, essencialmente cristãs como normativas de comportamento
e crença. Essa concorrência, largamente sabida, pode ser vista desde a Reforma até às
ideias e revoluções iluministas dos fins dos setecentos e ao longo dos oitocentos. Segundo
Michel De Certeau, o protestantismo tem papel central no estabelecimento da
concorrência religiosa6, a Igreja Católica então rivalizava com a crescente ideia
cientificista e com o cisma protestante.
Sob a ótica darwinista, a grosso modo, cria-se uma hierarquia social sobre cultura
e religião, esta última agora dessacralizada7, também é passível de estudo, como qualquer
outro objeto. Já na década de 1890, podemos encontrar literatura que não raro classifica
a magia como própria dos povos primitivos, e a religião institucional- dos civilizados.8
Assim, estudar religião era sinônimo de diferenciar o que era magia, e seu posterior
desenvolvimento civilizatório. Segundo Karina Bellotti, nesta visão cientificista, somente
seria religião se o objeto se enquadrasse em uma organização social e hierárquica
complexa de rituais e crenças, “espelhando-se na experiência cristã europeia e norte-
americana, como também na tradição judaico-cristã, monoteísta patriarcal.”9
Na virada do século XIX alguns expoentes superaram a visão evolucionista da
observação de cultura e religião. Nesse distanciamento, segundo Marcello Massenzio,
destaca-se Durkheim, que é pioneiro em muitos sentidos. Para ele, “os primeiros sistemas
de representação do mundo elaborados pelo homem são de origem religiosa: essa
afirmação é indicativa do espírito com que o autor (Durkheim) olha a religião, colocando
de lado não somente o redutivismo dos evolucionistas, mas também as avaliações do
fenômeno feitas em termos totalmente irracionais e emotivos”.10 Para Durkheim, as
crenças religiosas primitivas, antes tratadas como não-evoluídas ou não-civilizadas,
ganham novo sentido e valor.

homem, ele é a imagem de Deus de maneira tão plena e completa como quando a mulher também está
juntada a ele em um. (De Trinitate, 7, 10
6
Karina Kosicki Bellotti
7
8
9
10
P.104
A representação de mundo, para Massenzio, é a “visão cultural que cada
sociedade projeta sobre a realidade exterior”11, produzindo novo conteúdo do simbolismo
religioso, passível do estudo histórico-cultural. Vale ressaltar que para ele as
representações coletivas religiosas podem criar ou ressignificar noções como o próprio
tempo. A relação homem-tempo, pode ser completamente distinta se for considerada a
questão da representação coletiva de mundo, própria das religiões. “O tempo torna-se
concebível na condição de poder distinguir momentos diversos, de poder mensurá-lo e
exprimi-lo por signos objetivos. ” Assim, a palavra “primitiva” para Durkheim, não
significa um estágio inicial num desenvolvimento religioso, mas talvez um estágio
cronológico, pois “as noções de tempo, espaço, número, causa ‘constituem a ossatura da
inteligência’: segundo Durkheim as crenças religiosas primitivas possuem as principais
dentre essas noções. ”12
Estes conceitos são de primeira importância para a análise do objeto de estudo
desta pesquisa. Os movimentos apocalípticos, neo-protestantes do século XIX norte-
americano, possuem um modo próprio de se relacionar com o tempo. Segundo Roger
Chartier, “ainda que esteja em constante processo de ressignificação, a representação
pode levar à generalização de uma ideia ou imaginário específico como uma verdade
absoluta, criando estigmas e estereótipos, paradigmas que se renovam e persistem por
anos. ”13 Considerando estes conceitos, em particular os adventistas do sétimo dia,
carregam em seu nome essa relação própria com o tempo, essa representação generalizada
e absoluta, no advento do fim e na santificação do sétimo dia como o Sabbah do primeiro
testamento bíblico.14
A historiografia das religiões ganha corpo, força e fôlego com a terceira geração
dos Annales, e a preconização do retorno da narrativa histórica. A multidisciplinaridade,
se tornou essencial para os estudos pois possibilitaria captar os acontecimentos de um
panorama ainda maior, (De Certeau, 1995, p.8), já que o historiador produz seu trabalho
a partir do presente, das preocupações com a realidade. (de Certeau 1995 p.224)
A preocupação desta pesquisa se deu pela recente agitação no meio evangélico-
protestante, sobre a ordenação de mulheres. É um assunto que está na pauta das agendas

11
104
12
104
13
CHARTIER, Roger. “O mundo como representação”. Revista Estudos Avançados. Vol.5 n.11. São Paulo,
Jan./Abr. 1991
14
eu
das igrejas, polarizando alas conservadoras e progressistas.15 Em 2015, na última
conferência geral16 dos adventistas do sétimo dia, a expectativa geral dos acontecimentos
girava entorno do voto sobre a ordenação de mulheres. Naquele ano, a igreja escolheria
se cada divisão administrativa teria autonomia para ordenar mulheres em seus respectivos
campos. Votou-se pela proibição. Não era a primeira vez que o assunto tinha sido tratado
no concílio mundial, e o voto se repetiu.
O trabalho de grande fôlego de Aleida Aussmann, representa bem a questão
multidisciplinar trazida pelos Annales. Em Espaços da Recordação: formas e
transformações da memória cultural17, a problemática da memória em nossos dias, o
excesso de informações e os meios de armazenamento são colocados em debate sob
oposição à afirmação de Pierre Nora: “só se fala de memória, porque ela não existe
mais.”18
Para a autora, os modos de recordar são definidos culturalmente e são alterados
em relação ao tempo. A memória recompõe cenas do passado, ou as reconstrói? Ergue-
se a partir tão somente de um esforço deliberado, ou também de forma involuntária?
Formam-se apenas com lembranças, ou também a partir do esquecimento?19 Na formação
dos estados nacionais, se tornou necessária a documentação de todas informações que
circundavam o universo da identidade nacional. Logo, a partir da construção dessa
memória com suas inclusões e esquecimentos, produz quem se é. Apesar desse quase
monopólio do estado em busca de uma identidade, segundo a autora, a memória jamais
foi exclusiva do especialista, “jamais foi enquadrada pela história”.
As formas de acesso ao passado, são apresentadas como originárias da antiguidade
e do Renascimento. A memória dos mortos, a busca pela fama, e a lembrança histórica,
são exemplos dessas formas. A procura da justificação do presente pelo passado, não é
exclusiva dos estados nacionais. Nesse sentido, nasce a necessidade de proteger, arquivar,
catalogar, inspecionar tudo que pudesse simbolizar e legitimar uma tradição.

15
Inclusive, na redação desta proposta de pesquisa, o concílio mundial está considerando um pedido de
reconsideração do último voto da IASD
16
Explicar a organização
17
Citar o livro
18
O livro de Aussmann foi produzido em meio ao rompimento do silêncio sobre o nazismo e na esteira
da crescente digitalização da mídia. Aussmann questiona posições que apontam o fim da memória nas
últimas décadas, sobretudo a obra Les Lieux des Mémoire, de Pierre Nora, que obteve grande
repercussão internacional ao proclamar a subsunção da memória pela história.
19
Copiei do caderno
Para Aussmann os armazenadores, são centrais no processo de arquivamento
intencional. Ali, segundo ela, é a morada da história, da memória, dos vestígios do
passado, fruto de uma relação íntima com o poder.20 Nos arquivos, se escolhe o que deve
ser lembrado e o que deve ser esquecido, eles compõem a memória intencional, que é
própria das instituições.
Como a identidade religiosa protestante e adventista se consolidou entre o século
XIX e XX, como o ofício pastoral se tornou, majoritariamente masculino, são partes da
motivação deste estudo. A IASD possui larga documentação digitalizada por meio do
ASTR, órgão da Associação Geral. São atas de reuniões, concílios e encontros anuais,
jornais e revistas, imagens, que podem sugerir outras identidades que façam frente ao
padrão cultural dos dias atuais.
Se o século XIX testemunhou inúmeras conquistas e emancipações femininas nos
EUA, o meio religioso, apesar de ser lugar binário e ambíguo entre avanço e resistência21,
também verificou acentuada movimentação de mulheres em busca da participação no
centro da agenda das igrejas. O papel ambíguo da religião estava num pretensioso
moralismo em que na sociedade se refletia uma imagem da posição da mulher na igreja.
Em contrapartida, no despertar religioso do século XIX, eram elas que preenchiam as
maiorias das fileiras de campais, organizavam campanhas, e exerciam cargos de
liderança, excedendo a vida no lar, da qual era atribuído seu domínio.22 O contexto
histórico da Guerra Civil Americana (1860-1865), também foi fator importante de
conquista do espaço feminino com a crescente participação nas lutas político-sociais, tais
como pela abolição.23 Para este trabalho, a visão e debate trazidos pela historiadora Elaine
Moura da Silva é de primeira importância. Segundo ela:
O lar, a igreja e os encontros campais formam a trilogia dessa
cultura evangélica: atitudes religiosas domésticas de leitura bíblica e
orações diárias; a pequena igreja e sua comunidade de fiéis em torno de
um pastor e seus sermões doutrinários e sobre regras de conduta moral;
os encontros de reavivamento celebrando numa escala mais ampla os
valores centrados no lar e na igreja e permitindo um contato mais amplo
entre pessoas de diferentes locais; tais elementos compunham o
conjunto da cultura evangélica, com forte inserção e participação de

20
21
Elaine Moura da Silva, página 24
22
Elaine Moura da Silva,
23
Idem
mulheres de diferentes níveis sociais e culturais. A fé religiosa expressa
em discursos, artigos, livros, correspondências apareceu como fator
essencial, senão o fundamental, da vida pública e privada dessas
mulheres, que se consideravam, em vários momentos, marginais à
própria sociedade em que viviam. A identidade religiosa foi a base de
seu trabalho. Reformar o mundo era uma missão tanto na prática
religiosa como na teologia.

Na história e memória dos adventistas do sétimo dia, pode ser encontrado um


cenário muito parecido com o acima descrito. O surgimento da igreja, organizada
principalmente por protestantes históricos, a partir do movimento apocalíptico milerita24,
também nasceu em grandes tendas, campais, e com maioria e participação crescente de
mulheres. Entre elas, destaca-se o papel de Ellen Gold White25. Pela restrição desta breve
apresentação, nos limitamos em dizer que ela assume um papel profético, sendo
reconhecida como profetiza, conquistando paulatinamente autoridade normativa antes e
depois da organização da igreja como instituição, inclusive sendo ordenada também ao
ministério pastoral.26
Na IASD, após Sarah Hallock Lindsay27 receber pela primeira vez, em 1872, a
licença ministerial, dez mulheres receberam a mesma licença, nos dez anos seguintes.28
Entre 1878 e 1881, além das 28 mulheres pastoras encontradas nos anuários, outras 12
receberam também a credencial. Logo, entre 1863 e 1915, ao menos 40 mulheres tinham
recebido a credencial pastoral.29 Como podemos ver em, na ata de uma sessão da
Associação Geral de 5 de dezembro de 1881:
“Resolved, That all candidates for license and ordination
should be examined with reference to their intellectual and spiritual
fitness for the successful discharge of the duties which will devolve
upon them as licentiates and ordained ministers.
“This was spoken to by D.M. Canright, D.H. Lamson, W.H.
Littlejohn, S.H. Lane, G.C. Tenney, E.R. Jones, W.C. White, A.S.
Hutchins, and R.M. Kilgore, and adopted.

24
Explicar os mileitas
25
26
27
28
29
“Resolved, That females possessing the necessary
qualifications to fill that position, may, with perfect propriety, be set
apart by ordination to the work of the Christian ministry.
“This was discussed by J.O. Corliss, A.C. Bordeau, E.R. Jones,
D.H. Lamson. W.H. Littlejohn, A.S. Hutchins, D.M. Canright, and J.N.
Loughborough, and referred to the General Conference Committee.”30

Dados assustadores, para a Divisão Sul-Americana, um continente que hoje não


possui nenhuma pastora. Na primeira metade do século XX, o número dessas mulheres
caiu em todas as divisões, exceto na europeia. As duas guerras exigiram o recrutamento
de pastores, resultando no aumento de pastoras daquele campo.31 O que se tem a partir de
então, é um processo conservador pelo qual a igreja se distancia cada vez mais das
conquistas principalmente no pós-guerra na segunda metade do século XX.
Naquele tempo, o tema passou a ser recorrente nos encontros oficiais da igreja.
Vários congressos como Camp Mohaven (1973); Simpósio sobre o papel da mulher; do
instituto de investigação bíblica da Associação Geral (1975); Tahoama Park (1985); e
Cohutta Springs (1988), tiveram discussões acerca da ordenação pastoral de mulheres.
Na reunião de 1985, a comissão se prepara para a próxima na primavera, da seguinte
forma:
Ordination of Women to the Gospel Ministry
Voted, 1. To take no definitive action at this time regarding the
ordination of women to the gospel ministry.
2. To maintain the church’s present position on this matter.
3. To prepare further Biblical and other studies on the question
of ordaining women by assigning specific topics to scholars and
theologians for research.
4. To assign discussion of the documents growing out of such
research to a special representative committee that will be scheduled
to meet early in 1988, its findings to be presented in a report to the
1988 Spring Meeting of the General Conference Committee and
subsequently to the 1989 Annual Council, at which time the entire
issue will be reviewed.

30
31
Na preparação de 1985 percebe-se, a tentativa e esforço em se criar uma teologia da
ordenação, com pesquisas bíblicas, a fim de que o tema fosse melhor discutido em quatro
anos. Na última reunião, quatro anos depois, o grupo descreve a não-recomendação da
ordenação ao ministério pastoral:

Os presidentes das divisões mundiais relataram à Comissão da


Associação a situação presente em seus campos com respeito à
ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Em várias divisões, há
pouca ou nenhuma aceitação de mulheres na função de pastoras,
ordenadas ou não. Em outras divisões, algumas uniões aceitariam
mulheres como pastoras, mas as indicações mostram que a maioria das
uniões não iria considerar isso aceitável. Contudo, na Divisão Norte-
Americana parece haver o apoio mais amplo à ordenação de mulheres.
Os presidentes das divisões também relataram que, com base em
inúmeras discussões, comissões, pesquisas de opinião etc., existe a
probabilidade de que aprovar a ordenação de mulheres resultaria em
desunidade, dissensão e talvez até cisma. Portanto, os presidentes
chegaram a estas duas conclusões:
“1. A decisão de ordenar mulheres como pastoras não seria
recebida com aprovação pela maior parte da Igreja mundial.
“2. As disposições do Manual da Igreja e dos Regulamentos
Administrativos-Eclesiásticos da Associação Geral, que permitem a
ordenação ao ministério evangélico apenas em nível mundial, têm forte
apoio das divisões. […]
“A Comissão, tendo analisado os argumentos e as apresentações
favoráveis e contrários à ordenação de mulheres [ao ministério
pastoral]; tendo considerado meticulosamente o que provavelmente é
melhor e menos perturbador para a Igreja mundial neste momento; e
reconhecendo a importância de nossa missão escatológica, o
testemunho e a imagem de nossa família espiritual, e a necessidade da
unidade na Igreja, relata ao Concílio Anual da Associação Geral de
1989 os seguintes resultados de sua discussão:
“1. Embora a Comissão não tenha consenso se as Escrituras e os
escritos de Ellen G. White explicitamente apoiam ou negam a
ordenação de mulheres ao ministério pastoral, ela conclui
unanimemente que essas fontes afirmam um significativo, amplo e
contínuo ministério para mulheres. […]
“2. Além disso, tendo em vista a falta generalizada de apoio à
ordenação de mulheres ao ministério evangélico na Igreja mundial, e
tendo em vista o possível risco de desunião, desavença e desvio da
missão da Igreja, nós não aprovamos a ordenação de mulheres para o
ministério do evangelho.32

Para explicar a não aprovação, a comissão não encontrou, ou produziu uma


teologia que legitimasse essa decisão. Os conselhos giram entorno da ótica
administrativa-institucional, na qual considera a unidade da igreja possivelmente
ameaçada caso fosse aprovada.
Em 2015, a última conferência geral dos adventistas do sétimo dia33, viu grande
agitação entorno do voto mundial: se suas treze divisões administrativas34 teriam ou não
autonomia para ordenar mulheres em seus respectivos territórios. Votou-se pela
proibição35. Não era a primeira vez em que o assunto ganhava força e provocava o
interesse da IASD. Ainda assim, algumas divisões, como a Norte Americana, resistiram
ao resultado da votação, sustentando a ordenação de suas pastoras, indicando nomes de
mulheres à presidência de campos e mantendo a pressão em prol da autonomia.
No momento em que esta proposta está sendo produzida, no concílio anual da
Associação Geral de 2017, o assunto está novamente em pauta. Essas alas progressistas
levaram a reunião um pedido de reconsideração do voto. É importante ressaltar o papel
dessas associações independentes que se estabelecem entre o indivíduo e a instituição.
São religiosas, como as católicas pelo direito de decidir36, que não aceitam a posição
institucional como normativa, mantendo sua identificação com a fé, mas estabelecendo
um escopo da verdade que devem seguir. Neste último caso, são mulheres que
desconsideram a decisão da Igreja Católica sobre a condenação de uso de preservativos,
métodos anticoncepcionais, entre outros. Destacamos aqui a atuação das “escogidas para
servir”, organização argentina filiada a “Christians For Biblical Equality, organização
interdenominacional em prol igualdade entre gêneros no atual cristianismo.

32
33
34
Para organização da igreja, ver nota
35
36
Objetivos
Considerando a atualidade e importância do tema, esta pesquisa pretende avaliar
sob os conceitos de identidade e memória religiosa entre os protestantes, especialmente
os adventistas do sétimo dia. O propósito fundamental do trabalho é análise do paulatino
processo de afastamento da mulher do ofício pastoral, e como a memória da igreja sobre
a figura pastoral se consolidou pelo estereótipo masculino, tanto pela tradição como pela
sacralização desta memória. Para isso pretendemos:

(a) quem eram as primeiras pastoras adventistas? Uma investigação sobre a


origem histórica dessas mulheres. De qual vertente protestante vieram? Eram
missionárias? Qual era o trabalho delas? Como atuaram no ministério?
(b) como funcionavam as ordenações, de homens e mulheres, na recém
organizada IASD?
(c) quem são as organizações femininas que, ao longo da história, lutaram pela
igualdade dos gêneros dentro da igreja?
(d) mapear as regiões de atuação das mulheres como pastoras, aonde elas estão e
qual tem sido sua posição e ofício ao longo dos anos?

Metodologia e procedimentos de pesquisa

Para construção deste projeto, realizamos por meio de consultas via Internet, um
levantamento preliminar de fontes. Priorizamos os assuntos que estejam diretamente
relacionados ao tema da ordenação de mulheres na IASD.

Atas de Sessões da Conferência Geral:

24 de novembro de 1879

25 de novembro de 1879

5 de dezembro de 1881

20 de novembro de 1885

23 de novembro de 1885

24 de novembro de 1885

2-3 de dezembro de 1885


5 de março de 1893

4 de junho de 1941

6 de junho de 1941

20 de julho 1950

16 de julho de 1976

18 de julho de 1975

4 de julho de 1985

5 de julho de 1985

10 de julho de 1990

11 de julho de 1990

2 de julho de 1995

3 de julho de 1995

5 de julho de 1995

5 de julho de 2005

2 de julho de 2010

Atas

Extracts from ADCOM pertaining to Ordination

Encontros de comissões sobre o tema

1973- Role of women in the church committee: Mohaven documents

1975- Role of women study group

1985- Role of women in the church committee

1988- Commission on the role of women I

1989- Commission on the role of women II - Cohutta Springs documents

2013-14 General Conference Theology of Ordenate Study Committee


2012-15 Division Biblical Research Committes

Produção teológica oficial

1977- AN INQUIRY INTO THE ROLE OF WOMEN IN THE SDA CHURCH

1978- THE TEOLOGY OF ORDINATION

Inicialmente, a pesquisa depende de uma revisão bibliográfica que trate da questão


de religião; história da religião; gênero; gênero e religião. Esse estudo obedecerá ao
seguinte roteiro de leituras:

Cronograma e plano de trabalho

Atividades 1º sem/2018 2º sem/2018 1ºsem/2019 2ºsem/2019


Cumprimento das disciplinas da X X
Pós-Graduação, participação em
seminários e congressos científicos.

Leitura e fichamento da bibliografia X X X

Estruturação e elaboração dos X X


primeiros capítulos

Exame de Qualificação X
Reestruturação da dissertação, X X
complementação de leituras e de
análise conforme sugestão da
Banca de
Qualificação

Redação dos capítulos finais X X


Revisão da dissertação e entrega X

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