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Docente: Jonas Machado

Discente: Pablo Rodrigo Ferreira

SÍNTESE DO CONTEÚDO UNIDADE CURRICULAR

A disciplina Leitura Comentada: Igreja Antiga, trabalhada pelo professor Jonas


Machado, se caracterizou como uma a apresentação e o desenvolvimento de algumas
discussões a respeito dos cristianismos derrotados, ou seja, das produções e dos
movimentos dos primeiros séculos da era cristã que foram rejeitados no decorrer do
desenvolvimento da teologia, particularmente, a partir do século IV, quando os
concílios e sínodos da Igreja Imperial passaram a estabelecer aquilo que era ou não
aceito pela ortodoxia cristã.
Um dos aspectos desenvolvidos por Machado na disciplina foi a percepção de que
muitos outros escritos foram produzidos nos primeiros séculos da era cristã, além dos
textos canônicos. Diante desse volume expressivo de produções, se tornou mais
compreensível um conjunto de relatos e ideias equivocadas ou incompletas se
comparados aos textos canônicos que fundamentaram a ortodoxia cristã.
Aproveitando esse volume de textos não-canônicos, foi mencionada a relevância dos
trabalhos arqueológicos contemporâneos, como os de Nag Hammadi, que revelaram
escritos posteriores, como, os evangelhos gnósticos, que apresentam o
desenvolvimento heterogêneo do início do cristianismo entre as diferentes
comunidades.
Apesar de muitos destes textos não se caracterizarem como fundamentos teológico-
doutrinários amplamente aceitos pela ortodoxia cristã, às vezes, se distanciando
substancialmente dos textos canônicos, são fontes históricas consideráveis, que
apresentam, de certa maneira, alguns pensamentos e, até mesmo, recomendações,
de alguns cristãos dos primeiros séculos. A esse respeito, vale lembrar de que alguns
relatos da tradição cristã, como, por exemplo, dos martírios de Pedro, crucificado de
cabeça para baixo, e de Paulo, decapitado a mando do Império Romano, estão
contidos nos textos desses cristianismos derrotados.
Um detalhe oportuno trazido por Machado se refere à Septuaginta (LXX), a tradução
grega dos textos hebraicos do Antigo Testamento, mencionada para reforçar a ideia
de que o processo de canonicidade dos textos bíblicos não foi um processo simples e
isento de polêmicas. A esse respeito, o professor exemplificou que o próprio Cânon
Romano, que já possui muito mais textos do que o Cânon Protestante, não
reconheceu textos encontrados na LXX, como, 3º e 4º Macabeus.
Docente: Jonas Machado
Discente: Pablo Rodrigo Ferreira

A respeito da diversidade de listas canônicas da antiguidade, se destacou o Talmud


(coletânea da tradição rabínica), em um dos seus tratados, como a lista mais antiga
que reconhece os 39 livros do Antigo Testamento, em semelhança ao Cânon
Protestante. Já sobre o cânon neotestamentário, Machado destacou a lista da
Atanásio, do século IV, alinhando-se com os 27 textos reconhecidos pelo Cânon
Protestante. Vale ressaltar que, alguns textos, como Apocalipse de João, Judas,
mesmo estando no cânon bíblico, ainda assim foram alvo de discordâncias no
decorrer da história da igreja.
Retornando à análise do conteúdo dos livros apócrifos, não-canônicos, Machado
enfatizou que tais textos passaram a ser mais rechaçados dentro do contexto da Igreja
Imperial a partir da posição radical de alguns pais da igreja, como, Eusébio de
Cesareia, no século IV, que os qualificou como anátemas, dignos de serem
queimados em fogueira.
Após esses apontamentos iniciais, Machado fez menção de alguns dos textos
apócrifos, como, os evangelhos de Felipe, de Judas, de Pedro, de André etc., além
dos Atos Apócrifos de Paulo, de João, de Tomé, de André etc. A respeito dessas
produções, o professor apontou uma das suas principais características, a saber, a
marcante presença do gnosticismo em seus vários aspectos.
Dentre os aspectos do gnosticismo presente nos diferentes textos apócrifos, se
destacou o dualismo herdado do platonismo e neoplatonismo, com a tendência
asceta, já que na percepção gnóstica, aquilo que é terreno e carnal são maus. Nessa
tendência, vale destacar o encratismo, que considera o sexo como uma prática
reprovável e digna de ser rechaçada.
Ainda sobre a presença gnóstica desses cristianismos derrotados, vale a menção do
docetismo, que desconsidera a natureza humana de Jesus Cristo, ressaltando apenas
a sua natureza divina.
Outra marcante influência do gnosticismo nesses textos não-canônicos, também, é o
apreço pelo mistério como um bem em si, denotando uma questão de superioridade
espiritual relacionada às questões mais enigmáticas. A esse respeito, se destacou a
aproximação dessa tendência da antiguidade cristã com a polêmica contemporânea
dos dons espirituais, dentre eles, o falar em línguas estranhas, que evidencia um
aspecto muito semelhante ao misticismo e o apreço pelo misterioso do gnosticismo
dos primeiros séculos da era cristã.
Docente: Jonas Machado
Discente: Pablo Rodrigo Ferreira

Ainda sobre essa tendência gnóstica, foi interessante o apontamento do professor a


respeito da tendência dos textos apócrifos de buscarem relatar questões, experiências
e situações não encontradas nos textos canônicos, como, por exemplo, fatos de
apóstolos pouco mencionados nas Escrituras; uma ampliação de experiências e
milagres da infância de Jesus não encontrados nos evangelhos sinóticos e no
evangelho de João; alguns relacionamentos incomuns de Jesus, como, por exemplo,
com Maria Madalena etc.
Sobre isso, Machado procurou apresentar a influência desses relatos para o contexto
contemporâneo, em que adeptos da teologia liberal se apropriam dos evangelhos não-
canônicos para defender a ideia de um Jesus histórico bem distante daquela
cristalizada pela Igreja no decorrer do desenvolvimento da ortodoxia cristã. Um
exemplo oportuno foi a produção cinematográfica polêmica, intitulada “A última
tentação de Cristo”.
Além da impactante presença gnósticas, os textos apócrifos também são
caracterizados pela pequena presença de citações de textos das Escrituras Sagradas,
ainda que várias alusões de passagens bíblicas possam ser identificadas.
Outra característica marcante dos cristianismos derrotados é uma proeminência da
figura feminina, algo incomum para a cultura judaico-cristã; o que supõe a
considerável influência da cultura helênica dos primeiros séculos da era cristã.
A respeito do helenismo vigente no período em que esses textos circularam, Machado
também destacou que muitas narrativas dos Atos dos Apóstolos Apócrifos, por
exemplo, tem um estilo literário semelhante às novelas gregas, com destaques
emocionantes de feitos heroicos, alguns relatos até esdrúxulos, que colocam em
dúvida a sua veracidade.
Após a leitura de alguns trechos de produções não-canônicas e as discussões
promovidas pelo professor Jonas Machado a partir dessa unidade curricular, foi
possível perceber que, mesmo diante de conteúdos, às vezes, muito estranhos à base
de fé comum das igrejas de tradição evangélico-reformada, é possível e útil
amadurecer a compreensão histórica e teológica de aspectos que se apresentam
como desafios contemporâneos à fé cristã.

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