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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL - CPAN

CURSO: Licenciatura em História


DISCIPLINA: História da Antiga II
PROFESSOR: Lidia Kellenn Brito dos Santos
ALUNO: Marcus Vinicio Silva da Costa

CHEVITARESE, A.L.; FUNARI, P.P. Jesus histórico: uma brevíssima introdução.


Rio de Janeiro: Kline, 2012.p.29-46.

– A observação sobre o período anterior ao Iluminismo destaca a evolução do


estudo de Jesus como figura histórica. É interessante notar como a multiplicidade
dos Evangelhos e suas diferentes narrativas causaram desconforto entre os
primeiros estudiosos, levando à criação de obras como o Diatessaron, uma tentativa
de unificar e harmonizar essas discrepâncias nos relatos.(p.29-30);

– A divergência nos relatos dos Evangelhos, como o exemplo da expulsão dos


mercadores do Templo, ressalta a complexidade em harmonizar eventos similares
apresentados de maneiras distintas. Essa discrepância gerou questionamentos
sobre a cronologia e a ocorrência de eventos similares em momentos diferentes na
narrativa dos Evangelhos, levantando dúvidas sobre a coerência e a linha do tempo
dos acontecimentos da vida de Jesus.(p.30);

– A postura de Lutero quanto à abordagem das contradições ou desafios


encontrados nas escrituras, mostrando que para ele, o cerne da mensagem e a fé
eram mais importantes do que a harmonização das narrativas. Esta postura, de
certa forma, ressalta a premissa da fé sobre a racionalização ou busca excessiva
por harmonização literal das histórias, sugerindo um enfoque mais voltado para a
mensagem espiritual e teológica dos textos.(p.30);

– A Influência do Iluminismo, não apenas impulsionou o desenvolvimento científico e


filosófico, mas também transformou a maneira como a religião e a história eram
encaradas. A abordagem racional e crítica levou a uma reavaliação das narrativas
religiosas, inclusive aquelas relacionadas à vida de Jesus, questionando a
veracidade e a historicidade de certos relatos.(p.31);

– Obras, conhecidas como "Vidas de Jesus", estabeleceram três campos distintos


de diferenciação em relação às harmonias anteriores. Primeiramente, elas
impunham um paradigma ou esquema sobre o material evangélico, permitindo uma
interpretação consistente de acordo com a visão do autor (por exemplo, retratando
Jesus como um reformador social ou um líder religioso). Em segundo lugar,
excluíam partes dos Evangelhos que não se encaixavam no paradigma
estabelecido, submetendo as narrativas bíblicas a um julgamento crítico dos
autores. E, por fim, incluíam reflexões não derivadas dos Evangelhos, preenchendo
lacunas nas narrativas com as projeções e interpretações pessoais dos
autores.(p.32);
– Reimarus, por exemplo, propôs a ideia de Jesus como um político malsucedido
que buscava tornar-se rei de Israel. Paulus, por sua vez, tentou explicar os milagres
de Jesus a partir de uma perspectiva mais racional, sugerindo que as curas
descritas nos evangelhos poderiam ser compreendidas como práticas terapêuticas
ou médicas. Já Strauss questionou fortemente a historicidade dos Evangelhos,
considerando grande parte das narrativas como mito ou lendas derivadas do Antigo
Testamento.(p.33);

– A menção a Ernst Renan e ao seu trabalho, sua obra enfatizou uma tentativa de
estabelecer uma cronologia da vida de Jesus, ressaltando fortemente o impacto
emocional da tradição de Jesus. A sua visão sobre Jesus como um "moço aldeão
que vê o mundo através do prisma de sua singeleza" demonstra uma tentativa de
humanizar a figura de Jesus e interpretá-lo a partir de uma perspectiva mais terrena
e simples, afastando-se de interpretações divinas ou sobrenaturais.(p.33-34);

– Seminário Jesus fundado por Robert Funk em 1985, é uma continuação desse
esforço de investigar Jesus como uma figura histórica. O Seminário buscava
analisar cada fragmento das tradições associadas a Jesus, com o objetivo de
determinar o que Jesus teria de fato dito e feito. Esse trabalho evoluiu para incluir o
estudo das atitudes e ações atribuídas a Jesus.(p.34-35);

– A primeira fase do trabalho do Jesus Seminar revela um método sistemático e


colaborativo para analisar e classificar os ditos atribuídos a Jesus nos textos até o
ano 300. Este processo envolveu a compilação de todas as palavras reportadas de
Jesus, não apenas nos Evangelhos canônicos, mas também nos apócrifos e em
escritos de autores cristãos da época. Isso reflete uma abordagem abrangente e
inclusiva na busca por uma compreensão mais completa das narrativas que cercam
a figura de Jesus.(p.35);

– Uma vez reunidas as palavras atribuídas a Jesus, o grupo de pesquisadores se


envolveu em um debate crítico e analítico para determinar a autenticidade histórica
desses ditos. Esse método envolveu a discussão e a troca de opiniões entre os
membros do grupo, o que reflete um processo democrático e participativo na
tomada de decisões. A utilização de um sistema de votação com cores para
classificar a autenticidade dos ditos de Jesus (vermelho, rosa, cinza e preto) é
particularmente notável, já que reflete uma abordagem democrática, com votação
coletiva e igualitária, ao invés de uma abordagem mais tradicional baseada
exclusivamente no conhecimento e na erudição individual dos
especialistas.(p.35-36);

– Notavelmente, essas passagens incluem ensinamentos proeminentes, tais como a


instrução para oferecer a outra face, amar os inimigos e a bem-aventurança dos
pobres. Interessantemente, a maioria desses ditos com votos altos de autenticidade
é derivada do evangelho Q, uma coleção hipotética de ditos de Jesus que teria sido
uma fonte para os Evangelhos de Mateus e Lucas. Este destaque dado ao
evangelho Q e suas semelhanças formais com o Evangelho de Tomé evidencia a
importância desses textos para a busca do Jesus Histórico.(p.37-38);

– Por outro lado, várias passagens frequentemente consideradas icônicas e


marcantes na tradição cristã, como "Vós sois o sal da terra" e "Eu sou o caminho, a
verdade e a vida", tiveram suas autenticidades questionadas, sugerindo a variedade
de interpretações e abordagens sobre o que pode ser autêntico nos relatos sobre
Jesus.(p.38-39);

– A segunda fase do trabalho do Jesus Seminar representou uma mudança no


enfoque da análise das palavras atribuídas a Jesus para a investigação das
proposições relacionadas à vida e às ações do mesmo. Durante essa fase, o grupo
de pesquisa desenvolveu listas de proposições específicas, como o local de
nascimento de Jesus, sua descendência de Davi, curas e até a
crucificação.(p.39-40);

– Essas proposições foram cuidadosamente formuladas para permitir uma análise


mais ampla e flexível. Elas foram descritas de maneira a permitir que os
pesquisadores pudessem considerar a plausibilidade histórica por trás desses
eventos, sem necessariamente afirmar a ocorrência literal dos mesmos. Por
exemplo, a proposição sobre a concepção de Jesus, apresentada em diferentes
matizes de cor, permitiu aos pesquisadores avaliarem a crença ou a percepção das
pessoas da época, sem confirmar se o evento em si realmente aconteceu.(p.40);

– Uma distinção crucial foi feita entre duas proposições sobre a ressurreição de
Jesus. Enquanto uma se referia à ressurreição do corpo (com uma classificação
preta), a outra tratava da possibilidade de verificação empírica desse evento (com
uma classificação preta). Esta diferenciação aponta para a complexidade em torno
das crenças e interpretações sobre a ressurreição de Jesus, não apenas em termos
teológicos, mas também em relação à verificação histórica dos eventos descritos
nos relatos.(p.40);

– "Rudolf Bultmann considerava que 'Jesus ressurgiu da morte na verdade da


Igreja', ou seja, já quando os seguidos de Jesus constituíram uma instituição, a
Igreja."(p.40);

– A terceira fase da pesquisa do Jesus Seminar se concentrou na publicação do


livro "Jesus, o homem", que descreve o contexto político e histórico da vida de
Jesus. Essa obra buscava apresentar uma visão do homem Jesus a partir da
perspectiva do próprio Seminário de Jesus, discutindo desde sua relação com a
família até sua rejeição de certos aspectos da mensagem apocalíptica, enfatizando
o entendimento do reino como uma realidade presente, ao invés de algo futuro e
distante.(p.41);

– A abordagem metodológica do autor, John Dominic Crossan, é detalhadamente


estruturada, com ênfase em critérios específicos para avaliar a autenticidade e a
datação das tradições sobre Jesus. Isso inclui a atribuição de números para indicar
a idade da fonte em que as tradições aparecem pela primeira vez e o número de
atestações independentes para uma tradição em todas as fontes consideradas.
Esses critérios, como a prioridade de Marcos, a existência do evangelho Q, a
dependência de João em relação aos evangelhos sinóticos, entre outros, ajudam na
análise e na compreensão das informações sobre Jesus.(p.43);

– A análise de Crossan envolve uma comparação entre o contexto histórico e social


do tempo de Jesus e os ideais dos filósofos cínicos, especialmente Diógenes de
Sinope, que defendiam um estilo de vida simples, natural e uma postura de desafio
às convenções sociais. Esse paralelo pode lançar luz sobre o contexto e as
possíveis influências sociais e filosóficas no ambiente em que Jesus viveu.(p.44);

– A associação de Jesus como um "camponês judeu cínico" com uma visão ética
escatológica ressalta a influência dos ideais cínicos na perspectiva histórica de
Jesus. Este aspecto, sugerindo que Jesus poderia ter adotado visões consideradas
como parte dessa tradição filosófica, está entre as diversas abordagens que
surgiram nos estudos sobre o Jesus histórico.(p.45);

– A análise do movimento de Jesus no contexto antropológico e sociocultural busca


reconstruir o ambiente social e estrutural em que ele viveu, examinando aspectos
como a dinâmica de honra e vergonha, as relações sociais e as características da
sociabilidade camponesa. Essas abordagens interdisciplinares fornecem novas
perspectivas sobre a compreensão de Jesus e do ambiente no qual suas ações e
ensinamentos ocorreram, expandindo o escopo dos estudos do Jesus histórico para
além das fronteiras religiosas, teológicas e científicas da religião, para abranger
várias disciplinas, incluindo a sociologia, antropologia, história e arqueologia. Esse
novo enfoque tem permitido avanços significativos em um campo que, por muito
tempo, esteve confinado a uma visão mais restrita, estabelecendo-se assim como
uma área de pesquisa multidisciplinar que transcende a pura esfera religiosa e
teológica, permitindo uma análise mais ampla e contextualizada.(p.45-46);

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