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CRISTOLOGIA

TIAGO JOSÉ THEISEN


CAMINHO

• Modos de se fazer;

• O problema;

• Histórico do problema;

• Investigações sobre Jesus


• Primeira investigação
• Segunda investigação
• Terceira investigação
• (Quarta investigação)

• Pano de fundo teológico


MODOS DE SE FAZER CRISTOLOGIA

• Descendente
• Ascendente
CRISTOLOGIA DESCENDENTE

Tem caráter evidentemente dedutivo (também chamada dedutiva) – é a


clássica;
• Vantagens: seguridade-ortodoxia (parte de uma verdade definida) e
lógica do processo ontológica (parte de Deus para chegar a Deus);
• Desvantagens: projetar o deus dos filósofos em Jesus, monofisismo
latente, detrimento da revelação da trindade; separação entre cristologia e
soteriologia. O ponto de partida é Deus, Verbo, Jesus e Jesus confessado
como Cristo;
CRISTOLOGIA ASCENDENTE:

• Tem caráter mais analítico (sintético), (também chamada


Genética – segue o caminho da gênese da fé da Igreja);
• Não tem como ponto de partida o dogma (mas não renuncia
a ele).
• O ponto de partida é Jesus terreno, aquela que nos mostra os
evangelhos, visto como o Cristo. A seguir mostra que é
idêntico ao Pai (preexistência);
CRISTOLOGIA ASCENDENTE:

Vantagens
• a lógica do processo do conhecimento (vai da Bíblia à história-fé-
dogma = assim Jesus é conhecido);
• aprioridade da revelação sobre a razão (não se projeta sobre Jesus
conceitos a priori de Jesus);
• aprioridade da história sobre a teoria (se compreende o escândalo
(relação/binômios forte/fraco) daqueles que moraram com Jesus) – o
Jesus da história é a norma orientadora da teologia;
CRISTOLOGIA ASCENDENTE:

Desvantagens:
• o aparente adocionismo (Jesus vem de Deus, mas se manifesta como Cristo
no itinerário humano);
• entrar no nestorianismo/humanismo (separa a humanidade e a divindade
em Jesus);
• o esquecimento da necessidade da cruz no processo da história da salvação
(cruz como apenas uma consequência histórica da vida de Jesus);
ASCENDENTE OU DESCENDENTE?

• A grande maioria das cristologias atuais é ascendente.


• O adequado seria integrar ambos os movimentos.
• Jospeh Moingt : O homem que vinha de Deus.
PROBLEMA:

• É possível conhecer Jesus de Nazaré?


HERMANN SAMUEL
REIMARUS
INICIANDO A CONVERSA

• 1778: data de nascimento do problema


• Hermann Samuel Reimarus (1694-1768), professor de línguas
orientais em Hamburgo, deixou ao morrer uma série de
manuscritos inéditos que, dez anos mais tarde, serão publicados pelo
seu discípulo Lessing. O último destes é A intenção de Jesus e seus
discípulos. Este escrito fez o autor ficar famoso e desatou um debate
que até hoje é realizado.
HERMANN SAMUEL REIMARUS

Reimarus sustenta que o Jesus que existiu realmente em Nazaré e o


Cristo que pregam os evangelhos não são o mesmo:
• o primeiro foi um messias político que fracassou (expressão
deste fracasso é a quarta palavra da cruz).
• O resto o fizeram seus discípulos em uma espécie de vingança:
transformaram este fracasso e seu mestre com ele.
PRIMEIRA ONDA:
A INVESTIGAÇÃO SOBRE A VIDA DE JESUS

• Objetivo: libertar o verdadeiro Jesus, prisioneiro dos dogmas


da Igreja. Etapa marcada pela mentalidade positivista e
racionalista. Pensa-se que Jesus Cristo é diferente do que a
comunidade transmitiu. Procurou-se descobrir quem teria sido
Jesus, reconstituindo sua história e deixando de lado os
elementos próprios da proclamação cristã pós-pascal.
PRIMEIRA ONDA:
A INVESTIGAÇÃO SOBRE A VIDA DE JESUS

• Os conservadores queriam salvar Jesus dos ataques de


Reimarus e os contraditores, seguidores da tese de
Reimarus queriam salvar Jesus da prisão em que foi
posto pelo dogma.

• A maioria dos pesquisadores envolvidos nesse estudo


pertencia à teologia liberal protestante.
PRIMEIRA ONDA:
A INVESTIGAÇÃO SOBRE A VIDA DE JESUS

• As fontes evangélicas eram tomadas como base para a


reconstrução da figura histórica de Jesus, mas, nessa época, os
métodos histórico-críticos de exegese bíblica ainda não
existiam: a leitura que se fazia da Escritura era ingênua ou pré-
crítica.
PRIMEIRA ONDA:
A INVESTIGAÇÃO SOBRE A VIDA DE JESUS

Consequentemente, a investigação liberal sobre a vida de Jesus fracassou;


o que se fazia passar pelo Jesus histórico não era mais do que o reflexo
das ideias de cada um dos autores, sendo a figura de Jesus interpretada
segundo os esquemas ideológicos da época.
Assim cada qual construiu uma figura à sua própria imagem: para uns, Jesus
fora um idealista, para outros um herói romântico; para outros, ainda, um
gênio religioso ou um revolucionário etc.
PRIMEIRA ONDA: RESUMO

• Oposição entre o “Jesus histórico” e o “Cristo da fé”;


• Fracasso: os que buscaram reconstruir a vida do Nazareno o fizeram
segundo seus próprios pressupostos;
• Marcada pela mentalidade positivista, racionalista.
• Pensa-se que Jesus Cristo é diferente do que a comunidade transmitiu.
Procurou-se descobrir quem teria sido JN, reconstituindo sua história e
deixando de lado os elementos próprios da proclamação cristã pós-pascal.
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

• Primeira etapa: bultmanniana


• Segunda etapa: pós-bultmanniana, 1950-1980 (new
quest)
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

• Bultmann: radicaliza a posição de Kahler (não podemos


conhecer o Jesus histórico sem o Jesus do kerygma
pregado pela comunidade primitiva)
• Sobre o Jesus histórico basta que ele tenha existido.
Basta o Cristo da fé. O querigma é a plena atualização
do significado de Jesus. Só dele é que podem vir a
autenticidade e a plenitude da fé.
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

• Do ponto de vista histórico: a tarefa de investigação


sobre a vida de Jesus é estupida, posto que faltam
fontes;
• Do ponto de vista teológico: é dispensável, pois a fé
não tem a ver com o que Jesus fez ou disse [na
história], mas com o que afirma a pregação que Deus
realizou a partir dele [e fora da história].
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

• Do ponto de vista exegético: cabe abordar os evangelhos


como documentos cujo grau de veracidade é necessário
desvendar e comprovar, pois não são documentos
unitários, mas um conjunto de unidade de pregação
primeira, fruto de uma tradição viva e obra de uma
comunidade crente: “no princípio existia a pregação” é a
frase de M. Dibelius que serve para explicar o novo
método exegético que agora aparece.
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

• Se somente podemos chegar à pregação primeira, a tarefa da


exegese não pode ser mais que traçar a história desta
pregação, não a história de Jesus.
• Portanto não se trata de reencontrar o Jesus real, que é
inacessível e não interessa, mas de encontrar essas unidades
independentes (formas) para tirá-las do texto e situá-las no
contexto vital que nasceram, e assim poder entendê-las.
SEGUNDA ONDA:
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA HISTÓRIA DE JESUS

Segunda etapa: pós-bultmanniana, 1950-1980 (new quest)


• Käsemann: estabelece uma nova relação entre história e querigma. Esta
nova relação consiste em mostrar que é Jesus na sua identidade de
terrestre e exaltado que nos interpela. A fé está vinculada ao acontecido
com Jesus de Nazaré. Os evangelhos não são crônicas, são testemunhos
da comunidade que viveu com Jesus. Tem consciência de que o Cristo da
fé que a comunidade anuncia é inseparável do Jesus terrestre. O Cristo
da fé a união do Jesus terrestre e do ressuscitado.
SEGUNDA ONDA: RESUMO

• Primeira etapa: bultmanniana (1ª parte do séc XX) - Kerigma


• Segunda etapa: pós-bultmanniana, 1950-1980 (new quest) –
Kerigma + vida
TERCEIRA ONDA (THIRD QUEST)
FORA DAS ESCRITURAS
A terceira etapa da questão histórica de Jesus teve início nos anos 1980, não
havendo, porém, uma ruptura radical com a etapa precedente. Entre as
características da “terceira onda”, pode-se mencionar:
• Os métodos se multiplicam: os métodos de exegese bíblica são
aperfeiçoados, fontes complementares, além dos evangelhos, são
amplamente consultadas; as provas documentais são valorizadas; o
recurso às ciências humanas é introduzido;
TERCEIRA ONDA (THIRD QUEST)
FORA DAS ESCRITURAS

• Há uma fragmentação da figura de Jesus: métodos muito


diversificados resultam em estudos parciais;
• A atenção volta-se para o contexto em que Jesus viveu;
• Faz-se um esforço para redescobrir o caráter judaico de Jesus
– durante séculos a Igreja “desjudaizou” Jesus;
TERCEIRA ONDA (THIRD QUEST)
FORA DAS ESCRITURAS

• Surgem também as abordagens contextuais de Jesus – a


abordagem feminista, a da teologia da libertação etc, assim
como as abordagens culturais: africana, hindu;
• Aumenta a consciência da impossibilidade de uma objetividade
histórica completa: não se tem acesso a uma Jesus
“quimicamente puro”, não interpretado;
TERCEIRA ONDA (THIRD QUEST)
FORA DAS ESCRITURAS

• A questão histórica de Jesus ganha um aspecto mais


acadêmico, mais do que propriamente teológico;
• A investigação desloca-se da Europa – particularmente, da
Alemanha – para os Estados Unidos;
• A mentalidade pragmática e positivista, típica dos falantes da
língua inglesa, passa a prevalecer;
RESULTADOS, AMBIGUIDADES E
IMPASSES DA PESQUISA
RESULTADOS

• Jesus não é uma invenção da comunidade cristã. A consciência da


vida de Jesus para a comunidade eclesial da fé cristã é fundamental.
• O que possibilita a leitura do Cristo terrestre é a experiência c/ o
Ressuscitado.
RESULTADOS

• Não basta afirmar que o Cristo terrestre existiu, mas é importante


afirmar que o modo como ele viveu é que dá o tom da leitura da
comunidade pós-pascal.
• Os evangelhos não são biografias de Jesus, mas testemunhos de fé.
AMBIGUIDADES:

Verifica-se as ambiguidades quanto:

• À concepção que se tem da história: histórico era aquilo que se poderia


provar. Quando se fala em Jesus histórico se pensa naquilo que a
exegese crítica pode provar com métodos. A história não é só busca de
resultados concretos de pesquisa arqueológica, mas também a busca do
sentido, pois ela comporta uma hermenêutica. A fé em Jesus Cristo
brota da História. História – hermenêutica é base sobre a qual remonta
a fé em Jesus Cristo.
AMBIGUIDADES

• Quanto à linguagem: A história de Jesus é resíduo de vida interpretada


pelos críticos. Ora a vida de Jesus foi muito mais rica do que a ciência
apresenta. Jesus histórico é mais pobre que Jesus de Nazaré. Outra
ambiguidade da linguagem foi a ruptura entre Jesus histórico e o Cristo
da fé. A história de Jesus é irrepetível, vivida no passado, que atua na fé
do presente. A fé da comunidade diz que o homem Jesus é o Cristo.
Não há separação entre essas duas realidades: Jesus Histórico e o
Cristo da fé.
IMPASSES

• O impasse verifica-se no ato de se basear no Jesus da pesquisa histórica.

• A busca do Jesus histórico colocava em prejuízo o Cristo da fé. A


distinção radical entre o Cristo da fé e o Jesus histórico impedia de ver a
relação entre o mistério da encarnação, a vida, paixão, morte e
ressurreição. Na fé do NT não existe ruptura entre o Jesus terrestre e o
Cristo glorificado. O Evangelho é história e fé. Não podemos separar
essas duas realidades.
PARA SABER MAIS:

• MORI, Geraldo de. Ensaios de sistematização dos atuais modelos/figuras do discurso


cristológico. Perspectiva Teológica. 2008, n. 112, p. 377-389.
SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA
RESSURREIÇÃO DE JESUS
A RESSURREIÇÃO - 1

• Falar da ressurreição implica passar da realidade à formulação


(como exprimir a ressurreição?). A palavra ressurreição
exprime, em seu sentido mais profundo, pôr-se de pé, de se
levantar. Outra linguagem no NT para falar da R. é despertar.
O despertar contínuo como referência da ressurreição. No NT
existe também a linguagem da exaltação. Outra linguagem,
principalmente joanina, é vida eterna.
A RESSURREIÇÃO - 2

• Para falar de ressurreição precisamos usar imagens. O conceito


de Ressurreição deve passar pela definição destas imagens
originárias do sentido do termo. Fala-se de uma experiência
que não tem antecedente na história humana.
PARA FALAR SOBRE A RESSUREIÇÃO

• A significação teológica da ressurreição de Jesus para a vida de


Jesus e para a elaboração da cristologia
• O que não é ressurreição;
• É um evento que aconteceu nos apóstolos ou em Jesus?
• O ressuscitado é o crucificado
• O movimento da cristologia do Novo Testamento
• Analise da linguagem dos relatos de aparição;
• Antropologia da ressurreição:
• A dificuldade para entender a ressurreição de Jesus hoje
A SIGNIFICAÇÃO TEOLÓGICA DA
RESSURREIÇÃO DE JESUS
O QUE NÃO É RESSURREIÇÃO

§ É um acontecimento sem precedentes, não tem equivalente na


história humana. Precisamos distinguir entre a ressurreição de
Jesus e as outras (reanimação);
§ Deve ser distinguida da “reanimação” (volta à vida de cadáveres:
ex. Lazaro; cf. Lc 7; Mc 5; Jo 11), enquanto Jesus não volta mais a
morrer.
§ O que significa esta distinção?
O QUE NÃO É RESSURREIÇÃO

• A ressurreição de Jesus não está marcada por uma volta às


condições espaço-temporais que são as nossas.
• Depois de ser ressuscitado, Jesus vive para sempre, despojado
de todas as limitações da condição humana.
• A ressurreição de Jesus não é a simples reanimação do corpo;
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

• Bultmann sublinhará a experiência apostólica dos apóstolos,


afirmando que os apóstolos ao compreenderem o sentido da
cruz o expressam em ressurreição.
• Trata-se de uma tese insuficiente, pois reduz a ressurreição
somente a um evento apostólico.
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

A ressurreição não é primeiramente um evento


apostólico (acontecimento que estaria na imaginação dos
apóstolos), mas, em primeiro sentido, é um “evento
teológico”: é um acontecimento em Jesus.
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

A ressurreição também é um evento teológico. É Deus que


opera a ressurreição.
É uma evento cristológico/teológico e pneumatológico (o Pai
ressuscita Jesus através do poder do espírito).
Logo a ressurreição é um evento trinitário.
Quem ressuscita é Jesus de Nazaré, confessado como filho de
Deus.
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

A fé dos disc[ipulos não começa no momento da ressurreição,


mas já eles têm uma fé pré-pascal.
É o ressuscitado que pode se revelar na história. Os apóstolos
experimentam na sua própria carne que Jesus é ressuscitado:
passam do desânimo (cf. a experiência dos discípulos de Emaús) à
consolação, porque é o ressuscitado que agora está com eles.
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

(a) A experiência do ressuscitado vem depois de uma experiência


de seguimento.
(b) A experiência que os apóstolos fizeram do Jesus Cristo
ressuscitado, embora se deu de forma diferente, tem a mesma
estrutura básica da experiência do Jesus Cristo ressuscitado que
nós hoje somos chamados a fazer.
É UM EVENTO QUE ACONTECEU NOS APÓSTOLOS
OU EM JESUS?

§ ...mas também Jesus não foi visto, encontrado e reconhecido como tal a
não ser por alguns, não por todo mundo: é evento gratuito de revelação.

§ A abertura ao sentido e à revelação de uma ressurreição se faz no tempo


do luto,“três dias”.
• Tempo necessário para que a memória se abra à lembrança.
• Tempo de ausência e de vazio.
• Tempo de passividade e de deserto.
ENTÃO, COMO ARTICULAR DE FORMA MAIS
EQUILIBRADA?

• A ressurreição é evento trans-histórico (e não a-histórico).


• Não acontece na história, mas tem implicações, efeitos
históricos.
• Se não fosse trans-histórico, Jesus estaria limitado pelo tempo e
pelo espaço; querigma = anúncio fundamental (evento pascal).
Vale ressaltar que mesmo afirmando que a ressurreição é um
evento trans-histórico, trata-se de evento real.
ENTÃO, COMO ARTICULAR DE FORMA MAIS
EQUILIBRADA?

- a ressurreição de Jesus tem a ver com nossa existência, ela é


salvífica
- a ressurreição tem consequências apostólicas;
- o ressuscitado cria comunidade;
ENTÃO, COMO ARTICULAR DE FORMA MAIS
EQUILIBRADA?

Mas é importante a fé, é necessário passar pela fé; é


evento que tem a ver com a fé (dos apóstolos, assim como a
nossa).
A ressurreição só pode ser reconhecida pela fé: não é possível
provar historicamente a ressurreição de Jesus Cristo. Se fosse
provado, a fé na ressurreição estaria descartada; No fundo a
ressurreição precisa ser crida. Não estamos dispensados da fé.
O RESSUSCITADO É O CRUCIFICADO

O mistério pascal deve ser compreendido como uma unidade:


não podemos dissociar os dois momentos da cruz e da
ressurreição.
No entanto estamos obrigados em fazer distinções.
O RESSUSCITADO É O CRUCIFICADO

É preciso olhar e resgatar a história de Jesus para mostrar que a cruz é


consequência de sua atuação entre nós.
Em nível histórico/existencial: entrega total e a maneira desta entrega.
Em nível teológico: é Deus que, no seu Filho, está submetido àquela
dinâmica. Nessa sua entrega amorosa, é a história do amor é de Deus
que ali está em seu ápice.

A maneira da entrega e a atitude de Jesus...


O RESSUSCITADO É O CRUCIFICADO

É preciso olhar e resgatar a história de Jesus para mostrar que a cruz é


consequência de sua atuação entre nós.
Em nível histórico/existencial: entrega total e a maneira desta entrega.
Em nível teológico: é Deus que, no seu Filho, está submetido àquela
dinâmica. Nessa sua entrega amorosa, é a história do amor é de Deus
que ali está em seu ápice.

A maneira da entrega e a atitude de Jesus...


A RESSURREIÇÃO

§ A ressurreição de Jesus pode ser considerada de uma só vez


como o “ponto de partida histórico” e como o “berço teológico
da fé em Cristo”.
§ Sua proclamação constituiu o coração dos grandes discursos
“kerigmáticos” dos Atos dos Apóstolos e das primeiras
confissões de fé (cf. At 2,23-24 e 1Cor 15,3-4).
A RESSURREIÇÃO

• Cristologia da exaltação
o A ressurreição quer dizer que Jesus foi elevado e recebido na
glória de Deus.
o Se ele se senta à sua direita, é porque Deus o trata de igual
para igual.
• At 2,33-36 e Rm 1,4: “Senhor”.
A RESSURREIÇÃO

§ A ressurreição e a identidade divina de Jesus


• Pela ligação com Deus, a ressurreição é a confirmação da
pretensão de Jesus à filiação divina. Ela traz o selo do
definitivo divino à sua existência.
A RESSURREIÇÃO

• Deus é definitivamente revelado em Jesus (Pannenberg). Tese de


Pannenberg: a unidade de Jesus com Deus só se fundamenta na
ressurreição e não antes. Só a ressurreição dá a identidade definitiva de
Jesus. Pannenberg faz uma leitura desse Jesus a partir da categoria da
prolepse (olhar de maneira antecipada). A ressurreição permite olhar de
maneira antecipada o Jesus pré-pascal. O Jesus pré-pascal já revela
prolepticamente o Jesus ressuscitado.
• Jesus é o “profeta escatológico”, aquele que diz a última palavra de Deus
aos homens, que é em pessoa esta última palavra.
A ressurreição de Jesus e a escatologia

• A ressurreição de Jesus tem um alcance escatológico: “Se Jesus


ressuscitou, é já o fim do mundo” (Pannenberg).
• A entronização gloriosa de Deus daquele que foi feito o Cristo Senhor é
com efeito uma antecipação do fim dos tempos, paradoxalmente advinda
no curso da história.
• A Igreja vive agora à espera da parusia: futuro retorno do ressuscitado
glorificado para que Deus esteja todo em todos (cf. Mc 14,62), salvação e
reconciliação de todos no amor, no seio de um universo reconciliado com
o homem.
A ressurreição de Jesus é a salvação dos homens

• Em relação aos homens, a ressurreição de Jesus constitui, de uma só


vez, a revelação e o cumprimento de sua salvação (cf. 1Cor 15,17;
2Cor 5,15; Rm 4,25; At 2,33).
• O anúncio primitivo da ressurreição exprime os dois aspectos de
nossa salvação: a libertação do pecado e a divinização do homem.
• à O verdadeiro começo da cristologia é paradoxalmente dado
pelo fim da vida de Jesus e por uma revelação sobre o fim dos
tempos.
A RESSURREIÇÃO

A iniciativa de Deus: a ressurreição é um evento no qual


Deus tem a iniciativa total (absoluta). Fazer passar Jesus da
morte para a vida. É justamente isso que os evangelhos
testemunham.
PRINCIPAIS LINGUAGENS DO NOVO
TESTAMENTO SOBRE A RESSURREIÇÃO
o Existem vários testemunhos diferentes da ressurreição de Jesus:
§ confissões fundamentais de fé (cf. Rm 10,9; 1Cor 15,3-5);
§ hinos (cf. Fl 2,6-11 e Ef 1,3-10);
§ relatos do túmulo vazio (ninguém viu Jesus sendo ressuscitado);
§ relatos de aparição.
ANALISE DA LINGUAGEM DOS RELATOS DE APARIÇÃO

o Nos quatro evangelhos encontramos conjuntos literários com relatos de


aparições:
§ Mc 16,1;
§ Mc 16,9-20 (é outro autor do que 16,1);
§ Mt;
§ Lc;
§ Jo 20;
§ Jo 21.
ANALISE DA LINGUAGEM DOS RELATOS DE APARIÇÃO

o É absolutamente impossível fazer concordar os relatos evangélicos


das aparições do Senhor ressuscitado. As primeiras testemunhas
foram mentirosas de forma tão ingênua?
o As narrações dos relatos das aparições são a forma que as
primeiras testemunhas têm para contar-nos sua experiência: as
aparições do Senhor são encontros com o Senhor ressuscitado, são
experiências “místicas” (não irreais, mas subjetivas, no sentido de
“encontro direto com Deus”).
ANALISE DA LINGUAGEM DOS RELATOS DE APARIÇÃO

o Uma visão do Senhor ressuscitado não é idêntica a uma visão


que temos de uma pessoa com a qual falamos: pertence à fé que
o Senhor ressuscitado está presente, aqui e agora.
PRINCIPAIS LINGUAGENS DO NOVO
TESTAMENTO SOBRE A RESSURREIÇÃO

(DODD) Do ponto de vista literário, temos três tipos de relatos


de aparições:
• Narrações breves: (ex. Mt 28,8-10).
• Narrações dramatizadas;
• Mistura de narrações breves e dramatizadas
NARRAÇÕES BREVES

§ Todas constam de cinco elementos estruturais:


• Uma situação dada: os apóstolos ou as mulheres.
• Jesus vai ao encontro deles/delas inesperadamente.
• Jesus os/as saúda
• Se dá um reconhecimento (às vezes é duvidoso).
• (MUITO IMPORTANTE): recebem uma missão: o Senhor ressuscitado
os/as encarrega de algo.
NARRAÇÕES DRAMATIZADAS

• São narrações mais amplas nas quais a experiência de ter


encontrado o Senhor ressuscitado está teologizada.
• Nelas se são também os mesmos cinco elementos. Mas esses
elementos aparecem com uma série de detalhes que nos dizem
como as testemunhas primitivas perceberam e entenderam a
ressurreição.
NARRAÇÕES DRAMATIZADAS

• Com frequência nos é testemunhado o não reconhecimento do


Senhor no primeiro momento: Jesus não é percebível objetualmente
como uma pessoa que temos na frente, mas tem entrado na vida de
Deus e, assim, se pode estar ao lado de Jesus sem cair na conta do
que é ele.
• O Senhor ressuscitado tem que ser reconhecido com os olhos da fé:
Jesus ressuscitado só aparece àquele que tem recebido e aceito o dom
da fé: crê-se no Senhor ressuscitado e o Senhor ressuscitado aparece
àquele que crê.
NARRAÇÕES DRAMATIZADAS

• A comunidade vai caindo na conta de que existem lugares e


formas em que se faz presente o Senhor ressuscitado e nos quais
se pode reconhecê-lo.
oA fração do pão
oEm sua Palavra: interpretação verdadeira do Antigo
Testamento que testifica o mistério de Jesus.
ANTROPOLOGIA DA RESSURREIÇÃO - 1

A iniciativa de Deus: a ressurreição é um acontecimento


trinitário
No NT não há fórmulas que dizem que Jesus ressuscitou
“sozinho”.
Há duas linhas teológicas de interpretação da ressurreição de
Jesus
ANTROPOLOGIA DA RESSURREIÇÃO – 1I

§ I°: existe um hiato/cesura entre a morte e a vida do


ressuscitado (cf. H. U Von Balthazar): temos que entender este
hiato.
§ II°: sublinha-se mais a continuidade (cf. Jo 10,18: “sou eu que
entrego minha vida)”. Assim como Jesus entrega sua vida, ele a
recebe de volta.
ANTROPOLOGIA DA RESSURREIÇÃO – 1II

o Como essas duas linhas poder ser integradas numa compreensão trinitária?
§ Jesus realmente morreu (“Mansão dos mortos”, “terceiro dia” indicam e
marcam a realidade da morte), seu corpo foi sepultado. Não se ressuscitou a
si mesmo, e sim foi ressuscitado pelo Pai e pelo sopro do Espírito Santo.
§ A iniciativa de Deus: a ressurreição é um evento no qual Deus tem a
iniciativa total (absoluta). Fazer passar Jesus da morte para a vida. É
justamente isso que os evangelhos testemunham.
O QUE QUER DIZER “CORPO RESSUSCITADO”,
“CORPO ESPIRITUAL” (1CO 15,44)
o É necessário sair de uma visão fisicista da ressurreição.
§ A tentação é de uma continuidade física (o corpo terrestre
de Jesus levado ao âmbito celeste), esquecendo aquilo que é
sublinhado no evento da ressurreição: não a corporalidade
de Jesus, mas a continuidade de identidade de Jesus
(aquele que foi ressuscitado é aquele que morreu, é o
mesmo).
O QUE QUER DIZER “CORPO RESSUSCITADO”,
“CORPO ESPIRITUAL” (1CO 15,44)
“Corpo ressuscitado” significa que, como aquele que
morre é a totalidade da pessoa de Jesus, assim aquele que
é ressuscitado é a totalidade de Jesus (e não só sua
“alma”). Quando se usa a expressão “corpo ressuscitado”
se está dizendo que é o mesmo (é a mesma pessoa), pois
se está juntando os dois aspectos: corpo + ressuscitado;
O QUE QUER DIZER “CORPO RESSUSCITADO”,
“CORPO ESPIRITUAL” (1CO 15,44)
o A novidade da ressurreição tem a ver conosco: só no momento de sua
ressurreição podemos ter certeza de nossa salvação definitiva! Jesus
ressuscitou “para nossa justificação” (Rm 4,25, cf. 1Tm 4,14).
§ Na ressurreição de Jesus acontece uma antecipação do nosso futuro.
§ “Se Jesus não ressuscitou, a nossa fé é vá” (s. Paulo).
§ A particularidade do cristianismo é a ressurreição (e não a
reencarnação).
O QUE QUER DIZER “CORPO RESSUSCITADO”,
“CORPO ESPIRITUAL” (1CO 15,44)
o A ressurreição de Jesus é o “sim” definitivo do Pai à vida de seu Filho
(amor, doação completa de Deus) e o “não” definitivo à morte (a morte é
aniquilada pela ressurreição).

o Os relatos da ressurreição concordam no indicar uma dificuldade do


reconhecimento de Jesus ressuscitado por parte dos discípulos.
§ As marcas de sua paixão são aquelas que dão continuidade: o
ressuscitado é o crucificado.
A MAIOR DIFICULDADE PARA ENTENDER A
RESSURREIÇÃO DE JESUS HOJE

o Se afirmarmos que a ressurreição de Jesus é a negação da


morte (negação de toda morte e não só da morte de Jesus!)
e a vitória da vida, deveríamos poder constatar isso nas
consequências históricas de sua ressurreição, aqui e agora.
Mas crianças inocentes continuam morrendo, a injustiça
acontecendo, a fraternidade ainda não é realidade...
A MAIOR DIFICULDADE PARA ENTENDER A
RESSURREIÇÃO DE JESUS HOJE

o Então, como entender a força da ressurreição, sua atualidade?


§ A única saída é levar em conta nossa liberdade, que ainda
está em processo...
§ A ressurreição objetivamente já está realizada; no entanto
seus efeitos históricos devem entrar naquele processo de
transfiguração do mundo.
A MAIOR DIFICULDADE PARA ENTENDER A
RESSURREIÇÃO DE JESUS HOJE
o à Anunciar o ressuscitado (“Aquele que morreu foi
ressuscitado por Deus”) é fazer efetiva a ressurreição. Esta
é a missão da Igreja. Os beneficiários da mensagem da
ressurreição transformaram-se em testemunhas: “eu
acreditei, por isso falei” (2Cor 4,13).
o à A condição da atualização da ressurreição é o exercício
concreto desse anúncio.
DIMENSÃO HISTÓRICA E ESCATOLÓGICA
DA RESSURREIÇÃO
• 1 Coríntios 15
• Ressurreição de Cristo e ressurreição dos fiéis (15,1-34)
• A corporeidade dos ressuscitados (15,35-58)

• Fl 2,6-11
• Marcos
• Mateus
• Lucas
CRISTOLOGIAS
DO NT • João
• Hebreus
• Cartas paulinas
• Apocalipse
MARCOS
MARCOS - 1

• Supõe-se que tenha sido escrito em Roma, e destinado a pagãos,


provavelmente após a primeira perseguição de Nero, no ano 64,
em contexto próximo da revolta judaica, mas sem que tenha
ocorrido a destruição de Jerusalém.

• Nele a questão central é responder à questão: quem é Jesus?


MARCOS - 2

• Trata-se de comunidade oriunda do paganismo, pois precisa


explicar os costumes judaicos quando fala deles.
• A fé em Jesus não precisa passar pelos aspectos mais judaicos,
como se Jesus foi ou não um messias davídico. Por isso não há
preocupação com genealogia, e nem com aspectos da vida
anterior à vida pública de Jesus.
MARCOS - 3

• Em Marcos, a questão da identidade de Jesus é centro. Mas a


revelação da identidade vai acontecendo aos poucos.
• Ele apresenta Jesus Cristo, o Filho de Deus (Mc 1,1). Tem como
centro a perícope de Mc 8,27-9,13 (profissão de Pedro até a
descida da montanha) com títulos de Cristo (Mc 8,29), Filho do
Homem ( Mc 8,31.38;9,9) e Filho de Deus (Mc 8,38; 9,7).
MARCOS - 4

• O Filho de Deus é o título central, pois aparece desde o início no


prólogo (Mc 1,1), no batismo (Mc 1,11), nas confissões dos
demônios (Mc 3,11;5,7), no relato da transfiguração (Mc 9,7),
na confissão do centurião (Mc 15,39).

• Este título ilumina toda a vida de Jesus.


MARCOS - 5

• No batismo se revela a filiação única de Jesus: “Tu és meu filho predileto, em


ti me alegro”.

• Outra característica do Ev. é o segredo messiânico. Na perícope central adverte


aos discípulos para que “não contem a ninguém o que viram a não ser depois
que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos” (Mc 9,9). Isto mostra
que o segredo só poderá ser compreendido por quem o tenha seguido até a
cruz, e por isso será compreendido na ressurreição.
MARCOS - 6

• A Cristologia de Marcos não é uma cristologia “de duas fases”, na


qual Jesus consegue uma identidade nova e mais alta depois de sua
morte e ressurreição, mas que parece que até a cruz não se
experimenta nem se manifesta a completa identidade de Filho/Servo,
presente já no batismo.

• A revelação final é feita por um pagão, um centurião, que de certo


modo representa a todos os pagãos que reconhecem em Jesus o Filho
de Deus.
MARCOS : RESUMO - 7

Jesus é o messias crucificado. Por que tem o segredo messiânico do


ponto de vista da cristologia? Porque as condições da revelação não
estão dadas ainda.

A revelação deve acontecer só quando não haja perigo de encará-lo


como messias glorioso que deveria restituir o reino de Israel. Por isso,
que só pode acontecer na cruz, para mostrar um messias humilhado,
crucificado. O título que aparece com força é Filho de Deus.
MATEUS
MATEUS - 1

Voltado para ambiente de judeus seguidores de Jesus, ele é o


primeiro a usar o termo igreja, que define a comunidade já
separada da “sinagoga deles”.
Trata-se de uma comunidade consciente de sua situação de
conflito com judeus fariseus agora reunidos em Jamnia após a
destruição do templo de Jerusalém, e se vê expulsa do convívio
em sinagogas pela fé em Cristo.
MATEUS - 2

É voltado a uma comunidade que conhece as escrituras e que se


pergunta sobre sua identidade, sabendo de sua opção por seguir
Jesus, e que se vê em conflito com sua identidade anterior de
judeus. Esta situação se reflete no evangelho de Mateus que
discute com o judaísmo rabínico. Usa a palavra Igreja para
mostrar a nova identidade da comunidade cristã que não é mais
uma sinagoga. Assim Jesus é visto como um “novo Moisés”, mas
mais que Moisés.
MATEUS - 3

• Mostra Jesus desde o início como um judeu davídico, na


genealogia, para mostrar que ele é o messias que cumpre as
escrituras.
• Assim questões relevantes sobre a fé cristã se colocam como a
de Jesus veio ou não abolir a lei?
• A nova comunidade é um novo povo de Deus, um novo Israel
que nasce a partir do messias davídico.
MATEUS - 4

• Em Mt o título cristológico que prevalece é Senhor, tradução de


Adonay, nome que se usava para o Deus impronunciável. Toda a
vida terrena de Jesus é compreendida a partir da exaltação
pascal (Mt 7,21;14,28.30;17,4;18,21;22,43;28,6).

• Para Mt Jesus é o que cumpre as escrituras, e é o Salvador


prometido.
MATEUS - 5

• Na genealogia inicial já demonstra que Jesus é o esperado da


estirpe de Davi, que é o verdadeiro Messias esperado, o Israel
obediente à vontade do Pai ( Mt 4,14;8,17;12,17;13,35;26,25).
Daí o destaque na relação entre Jesus e o Pai (Mt
3,17;12,18;17,5). O poder de Jesus vem do Pai (Mt 11,27). E só
Jesus conhece o Pai e pode revelá-lo(idem): “ninguém conhece
o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho queira revelar”.
MATEUS - 6

• De Mateus temos a concepção virginal por obra do Espírito


Santo (Mt 1,18-25), e acentua a sua pré-existência (Mt
5,17;9,13;10,24). Assim Jesus é da estirpe de Davi, mas
concebido segundo o Espírito Santo.

• Mateus coloca o Filho no mesmo nível do Pai, que servirá de


ponto importante para a ontologia de Jesus na teologia
patrística.
MATEUS - 7

• As formulações pós-pascais da identidade de Jesus, que Marcos


somente permitiu que as proclamassem os demônios durante seu
ministério, agora são expressas pelos seguidores de Jesus.
• A este respeito é significante a comparação de Mc 6,47-52 com
Mateus 14,23-33, que se referem ao episódio de Jesus
caminhando sobre o mar.
MATEUS - 8

• Em ambos Jesus vai caminhando sobre o mar até os discípulos que


estão no barco, azotada pelos ventos. Ao vê-lo, os discípulos se
alarmam, pois pensam que é um fantasma; Jesus os anima dizendo
que não temam, sobe ao barco e acalma o vento.
• Marcos disse que os discípulos não saiam do assombro, pois não
entendiam e seus corações estavam endurecidos.
• Mateus afirma que o adoraram dizendo “verdadeiramente, es Filho
de Deus”.
RESUMO: MATEUS - 9

• A única vez que aparece a palavra Igreja nos evangelhos. Mt é o


evangelho da Igreja, por isso vem primeiro. É o evangelho que
convoca a comunidade e reúne a assembleia. Aqui o título Filho
de Deus está sempre em relação com a figura de Moisés. O
Jesus de Mateus aparece como sendo muito mais poderoso que
o Jesus de Mc. O Jesus de Mt faz milagres mais portentosos que
os de Marcos. Os milagres em Mt são muito mais amplificados.
RESUMO: MATEUS - 10

• Por que esta diferença? Os leitores de Marcos sabem porque Jesus


pode fazer essas coisas, porque já ouviram no batismo que é Filho de
Deus. Marcos espera também que seus leitores se deem conta de que,
depois da ressureição, os discípulos chegaram a essa fé olhando
retrospectivamente a história, pois de outro modo não teria escrito
“começo do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).
Mas mostra também que durante o ministério e antes da cruz os
discípulos não conseguiram captar essa verdade.
RESUMO: MATEUS - 11

• Com uma pedagogia mais insistente, Mateus lê diretamente no


cenário da fé cristológica pós-pascal dos discípulos,
assegurando que os leitores compreendam o que Marcos espera
que entendam. Algo similar pode-se observar nos relatos da
confissão de Pedro em Cesareia de Filipo (Mc 8,27-33 e Mt
16,13-23)
RESUMO: MATEUS - 12

• Marcos deixa supor aos leitores que depois de Pedro ver o


Senhor ressuscitado na Galileia, recebeu uma manifestação de
Deus e chegou a crer plenamente em Jesus como o Messias, o
Filho de Deus.
• Já Mateus o explica detalhadamente ao incluir a confissão de
Pedro o componente pós-pascal, não simplesmente a forma de
Marcos “Tu és o Messias”, mas “Tu és o Messias, o Filho do
Deus Vivo”.
RESUMO: MATEUS - 13

• Esta inclusão de respostas pós-pascais às ambiguidades do


ministério foi um dos fatores que levou Mateus a ser apreciado
pela Igreja primitiva, que viu em seu evangelho a melhor
ferramenta catequética para comunicar a imagem total de Jesus;
de aí que fora o evangelho mais utilizado e melhor conhecido
LUCAS
LUCAS - 1

• Lucas é obra dirigida a cristãos oriundos do paganismo, e


redigido após os anos 70 quando já aconteceu a destruição do
templo. Busca entender o sentido dos acontecimentos.
• Alguns viram um evangelho que divide o tempo em épocas
diferentes: o tempo de Israel, o tempo de Jesus e o tempo da
Igreja (tempo do Espírito Santo). O Espírito faz um caminho, e
se manifesta na ação de Jesus.
LUCAS - 2

• Lucas vê Jesus como o centro do tempo e da história da


salvação. Com ele a história da salvação atingiu o seu ponto
culminante de amadurecimento. Ele representa o novo
nascimento. Com João, o batista, termina o AT (tempo de
Israel). Jesus começa o NT. Isto já se dá no nascimento
misterioso e virginal por obra do Espírito Santo.
LUCAS - 3

• Em Jesus há a plena humanidade e a filiação divina


desde o nascimento terreno. A partir daí é que se
interpretam os títulos de “Filho de Deus” (Lc
1,35;4,9;8,28;22,70; At 9,20), “Filho do Altíssimo” (Lc
1,32;8,28), “Cristo” (Lc 2,11.26;3,15;4,41;9,20; At
2,30.31.36.38), Salvador ( 2,11;At 5,31;13,23).
LUCAS - 4

• Lucas é o evangelho da misericórdia para com pecadores (ver


cap.15). Apresenta uma só viagem a Jerusalém ( 9,51-19,27), e
até a morte e ressurreição Jesus é o que ensina o caminho de
Deus (Lc20,21).

• Para ele quem se converte deve levar cotidianamente a sua cruz


(9,23).
LUCAS - 5

• Schnackenburg afirma que ele “compreende que o Jesus terreno


pode ser entendido apenas à luz do Senhor ressuscitado e
glorificado e que o Cristo que mora junto a Deus,
dominador, não pode separar-se de Jesus que mora na terra e se
revela”.
LUCAS - 6

• Aqui Jesus aparece como sendo o amigo dos pobres. O


evangelho que melhor integra Jesus e o espírito. Jesus é
conduzido pelo espírito. Durante o ministério público neste
evangelho Jesus nunca é chamado “Filho de Deus”, é chamado
só de kyrios.
LUCAS - 7

• Lucas não descreve com muito detalhe a humilhação de Jesus, Mc


detalha mais esse aspecto seguido de Mt, Lc aí é muito discreto.

• Lc não pega de Mc o momento do Getsêmani (chorando,


angustiado).

• Grande parte dos textos de Lucas é tirada de Marcos, mas Lc não


quer apresentar esses detalhes da paixão, por isso seleciona os textos
que quer usar.
LUCAS - 8

• Em Mc aparece o grito do abandono de Jesus na Cruz “meu


Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”;
• Wm Lc esse grito está transformado num grito que tem a
característica de confiança: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito”.

• Lc modificou esse grito para um grito de confiança


JOÃO
JOÃO - 1

• É construção teológica. Tem diferenças significativas com os


sinóticos.
• Apresenta a atividade de Jesus alternando Galileia e Jerusalém,
com a tríplice peregrinação.

• Tem apenas sete milagres, diálogos originais e uma série de


discursos.
JOÃO - 2

• Seria destinado a uma comunidade de judeus heterodoxos, de


corrente helenista, ou judeu-cristão expostas ao sincretismo
helenista, onde haveria “falsos profetas”, provavelmente da Ásia
Menor (1Jo 4,1), entre anos 80-90.

• Este sincretismo viria de influências gnósticas que concediam a


Jesus apenas aparência humana, ou de ebionitas que viam Jesus
apenas como profeta.
JOÃO - 3

• A comunidade joanina teve de atravessar perseguição, cujos


ecos estão em Jo 15,18-20;16,2. Diante de um duplo conflito,
com judeus diante da exclusão dos cristãos de suas comunidades
por blasfêmia e apostasia, se soma a perseguição de pagãos que
os acusa de impiedade contra os seus deuses.
JOÃO - 4

• Nele está presente: a pré-existência, a existência terrena, a


glorificação-exaltação e a sua dimensão escatológica. Na pré-
existência Jesus é, desde o prólogo, o Verbo eterno ( Jo 1,1-18).
Nele há o movimento de cima para baixo, e no resto do
evangelho há um movimento de baixo para cima.

• No Prólogo, o Verbo, que é Deus, chega à sua encarnação, no


restante se sobe até confessar a divindade de Jesus de Nazaré.
JOÃO - 5

• O Verbo estava junto de Deus no princípio (v 1-2), tudo foi criado


pelo Verbo (v.3), o Verbo é vida (v.4-12) e luz dos homens. O Verbo
se encarna (v.14) em concepção virginal. “E o Verbo se fez carne, e
habitou entre nós” (v.14), que é o ponto culminante do prólogo.

• O Verbo que era Deus passa a ser também humano. Porque vem de
Deus o Verbo encarnado, Jesus Cristo, historicamente prenunciado
por João, o batista, pode ser o único revelador de Deus(v.18).
JOÃO - 6

• Além disto Jo mostra a glorificação de Jesus na cruz. Ali se dá a


hora da glorifi.cação, a sua hora. É nesta hora a morte redentora
JOÃO - 7

• Além disto Jo mostra a glorificação de Jesus na cruz. Ali se dá a


hora da glorificação, a sua hora. É nesta hora a morte redentora
• Imagens com que Jesus é apresentado: bom pastor, porta,
videira, caminho, verdade e vida. É o único evangelho em que
Jesus é apresentado como encarnação de Deus. Tem duas
grandes partes: livro dos sinais e livro da glória. A característica
fundamental é que Jesus é Deus Encarnado.
JOÃO - 8

• A leitura de que este é o evangelho que apresenta de forma mais


forte a divindade de Jesus seria uma leitura errada, o acento é
que Jesus é verdadeiramente homem, embora esteja
acompanhado dessa relação única com o Pai.

• É o único evangelho que apresenta Jesus como o preexistente.


JOÃO - 9

• Essa preexistência é levada até antes da fundação do mundo.


Jesus aparece como consciente de sua filiação divina e de sua
preexistência.
• A pergunta sobre a consciência de Jesus sobre isso é
problemática por dois motivos: 1) não temos os elementos
suficientes para saber; 2) o evangelho é uma obra de
composição.
JOÃO - 10

• Enquanto que os discípulos reconheceram a identidade de Jesus,


vimos que no evangelho de Lucas nenhum ser humano confessa
Jesus como Filho de Deus, em Marcos, o primeiro que o faz é
um centurião romano depois da morte de Jesus e em Mateus os
discípulos ou Pedro fazem esssa confissão em momentos
significativos.
JOÃO - 11

• Mas em João, é justamente no começo do evangelho, nos


primeiros dias de encontro dos discípulos com Jesus, quando o
confessam como Messias, Rei de Israel e Filho de Deus (Jn
1,41.49).

• Uma e outra vez Jesus fala de si mesmo como o Filho e


reivindica publicamente sua unidade com o Pai (Jn 10,30.38;
14,9).
JOÃO - 12

• Esta cristologia da exaltação, a mais alta que se encontra nos


evangelhos e inclusive no Novo Testamento, coincide com a
descrição que João faz da maneira que Jesus teve de atuar
durante o seu ministério. O Jesus de João sabe tudo, de maneira
que quando pergunta a um discípulo “onde compraremos pão
para que coma tanta gente”, o evangelista tranquiliza seus
leitores precisando que Jesus o pergunta, não porque não o
saiba, mas para ver como reage o discípulo (Jn 6,5-6).
JOÃO - 13

• Há vários exemplos disso (Jn 6,70-71; Jn 11,41-42. No relato da


paixão, o Jesus joanino não é uma vítima em nenhum sentido, mas
que se apresenta como aquele que tem o controle: “eu dou a minha
vida...” (Jn 10,17-18). Jesus dá permissão a Judas para que o
entregue (Jn 13,27-30). Este Jesus não morre sozinho e abandonado;
não somente o Pai está sempre com ele (Jn 18,8-9), mas também aos
pés da cruz estão sua mãe e o discípulo amado (Jn 19,25-27).,
símbolo da comunidade crente que reuniu.
JOÃO - 14

• Sabendo que havia realizado tudo o que o Pai lhe havia


encomendado e que havia cumprido a Escritura, diz “Está
consumado” e então entrega o seu espírito (Jn 19,28-30).
Obviamente, como últimas palavras, são muito distintas daquele
grito “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” de
Marcos e Mateus (Jn 19,28-30).
O QUE PODEMOS
DIZER DESSE
RECORRIDO SOBRE
JESUS NOS
EVANGELHOS?
• Apesar dos quatro evangelistas estarem de acordo em que,
durante seu ministério, Jesus era já Messias e Filho de Deus, o
modo de apresenta-lo com a imagem de um Jesus
incompreendido varia tanto que dos evangelhos se desprendem
imagens distintas de Jesus.
• Para os que aceitam a confissão tardia da Igreja de um Jesus
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o diferente quadro de
cada evangelho corrobora em conjunto essa confissão: Marcos,
por exemplo, nos ajuda a compreender mais a Jesus como
verdadeiro homem; João a compreendê-lo mais como
verdadeiro Deus.
• Nenhum evangelho por separado pode dar uma imagem
total.
• Somente quando os quatro se mantem unidos entre si, a
Igreja chega a perceber quem é Jesus.
CARTA AOS HEBREUS
CARTA A HEBREUS

• Esta obra que tem um estilo que não é o de carta, é tida como
dirigida aos hebreus, contém muitas referências ao AT e ao culto
em Jerusalém, o que supõe destinada a judeus-cristãos. Seriam,
segundo alguns, grupos de sacerdotes ou judeus-cristãos que
perderam o primeiro ardor da fé, mesmo tendo sido cristãos por
longo tempo (Hb 5,12;10,32), e talvez tenham sentido a tentação
de retorno ao judaísmo.
CARTA A HEBREUS

• A preocupação do autor é reconfortar e mostrar as grandezas de


Jesus e as do culto novo do qual Jesus é o sacerdote. Parece ter
sido escrito antes da destruição do templo, pois o culto ainda
estaria em atividade (9,9). Os destinatários não eram
convertidos de primeira hora, mas já eram cristãos de longa
data. Teria sido escrito pouco antes da revolta judaica.
CARTA A HEBREUS

• Afirma que Deus falou através de seu Filho (1,1-3), celebra a


grandeza deste Filho superior aos anjos (1,4.13), coroado de
glória em função de sua própria humilhação e de sua morte(2,5-
17)
CARTA A HEBREUS

• Em Hebreus o central é o sacerdócio de Cristo e a substituição


da antiga aliança pela nova aliança. É texto cristológico, mas
teocêntrico, porque é Deus que toma a iniciativa.
• Jesus é o sacerdote eterno, o sumo-sacerdote (3-10), e digno de
fé (3,1-6), misericordioso ( 4,15-5,10).
CARTA A HEBREUS

• Jesus sacerdote, o sumo-sacerdote eterno, responde a uma das


esperanças messiânicas onde o Messias era aguardado como
aquele que seria o sacerdote que restauraria a pureza do templo
conspurcado.

• Afirma a fidelidade perseverante como condição de salvação e


assegura a herança das promessas divinas.
CARTAS PAULINAS
CARTAS PAULINAS

• O Cristo de Paulo não é comparável ao dos evangelhos.

• Paulo é o primeiro a teologizar sobre o logos da cruz


contraposto ao logos da razão.

• Jesus de Paulo é o crucificado.


CARTAS PAULINAS

• A cristologia de Filipenses é fundamental para o conjunto da


toda. A cristologia da kénosis é fundamental, quem se abaixa
será exaltado. É o Jesus kenótico: aparece a dinâmica da
humilhação. A loucura da cruz (loucos por Cristo): é a
identificação com esse Senhor que racionalmente não dá para
aderir a Ele. Nessa loucura está a sabedoria de Deus, Jesus
Cristo mostra um deus que é louco por nós.
CARTAS PAULINAS

• Aparece a preexistência de Jesus. Ele o preexistente, Ele está


presente na criação. A criação em cristo, ele está criando com o
Pai. O criador é, também, Jesus Cristo, não só o verbo de Deus.
Paulo não fala do verbo de Deus, mas do logos da cruz.
CARTAS PAULINAS

• Como Paulo afirma que Jesus Cristo encarnado está presente na


criação?
• Fazer um conciliação entre tempo e eternidade, não como duas
coisas separadas, mas relacionadas. Jesus ontem, hoje e sempre
(Apocalipse).
• Jesus é contemporâneo a todas as épocas. Assim é
contemporâneo à criação.
• Retoma, simbolicamente, as
cristologias do NT e as
CRISTOLOGIA integrando-as no imaginário
DO apocalíptico.
APOCALIPSE
• A cristologia marca a eclesiologia.
A eclesiologia necessita da
orientação cristológica.
O JESUS PRÉ-PASCAL, O
REINO DE DEUS E A IGREJA
O JESUS PRÉ-PASCAL, O REINO DE DEUS E A
IGREJA
• A questão da “fundação” da Igreja pelo Jesus pré-pascal
• 1. Não há incompatibilidade entre o anúncio do Reino de Deus e a “fundação”
da Igreja, ambos levados a efeito pelo Jesus pré-pascal
• 2. O Jesus pré-pascal “funda” a Igreja, na medida em que, anunciando o Reino
de Deus, restaura o Povo de Israel na sua unidade
• 3. Significado da instituição e do envio dos Doze
• 4. Significado da Última Ceia
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Teologia tradicional (até Vaticano I)
• A Igreja foi fundada pelo Jesus histórico. O Jesus histórico fundou a
Igreja com estes aparatos tradicionais (sacramentos, hierarquia,
sucessão episcopal, tríplice múnus, ...), em vários atos fundacionais
precisos (os doze, Pedro, a eucaristia, ...).
• A Igreja é portanto uma “sociedade perfeita” (em sentido
institucional, não moral).
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Teologia tradicional (até Vaticano I)
• Ponto fraco: o desconhecimento da distinção entre o Jesus da história
e o Cristo da fé.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Teologia renovada (Vaticano II para frente)
• A Igreja não tem sua fundação num ato explicito do Jesus
histórico, nem no Cristo da fé, mas também sua fundação não
pode ser reduzida só a um ato humano.
• Sua fundação foi um processo de atos fundacionais do Jesus
histórico e do Cristo da fé.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Este problema foi levantado pela discussão derivante da redescoberta
da dimensão escatológica da pregação de Jesus.
o Séc. XVIII, Reimarus
§ A meta de Jesus era restaurar o Reino de Deus. A Igreja
nasce como solução da decepção depois do fracasso, para se
consolarem...
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
o Séc. XIX, teologia liberal
§ Individuação da questão escatológica subjacente a esta
opinião de Reimarus: a dimensão escatológico-apocalíptica
da pregação de Jesus:
• a espera da vinda iminente do Reino é compatível...
• ... com a fundação da Igreja pelo Jesus histórico, como
entidade que perduraria no tempo?
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
§ Esta questão subverteu a compreensão tranquila que se tinha até
aquele momento da fundação da Igreja pelo Jesus histórico!
§ A resposta da teologia liberal: no projeto do Jesus histórico não há
lugar para a Igreja!

§ A “vinda iminente” do Reino, “aparentemente” não deixaria lugar


nenhum para a Igreja.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
o Este problema é uma dos problemas mais difíceis do NT.
§ Há textos aparentemente contraditórios
• I) Exortações à vigilância (Mt 24,42.44; Lc 17,22-37). II) Vinda do
Filho do homem para os contemporâneos de Jesus (Mt 10,23; Mc 9,1;
Mc 13,30). III) O Reino como realidade que já veio com a vinda de
Jesus (Lc 17,21; cf. Lc 11,20 e 16,16).
§ Solução: a espera da próxima vinda do Reino e a atitude de vigilância não
são incompatíveis ou incoerentes com a vida da Igreja!
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?

o Que lugar fica para a Igreja? (questão simples que se tornou


complexa). Fundou Jesus a Igreja?
§ Para o Magistério, a teologia tradicional e os cristãos, a
resposta era tranquila.
§ Os Evangelhos não utilizam muito o termo “Igreja”
(ekklesia): só duas/três vezes
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
o Para tentar encontrar uma solução: procurar ver se nas palavras e
nas ações do Jesus histórico há “dados fundacionais” da Igreja,
ou seja, se há elementos que, para a Igreja de todos os tempos,
vinculam a profissão de fé em Jesus Cristo com a profissão de
fé na Igreja.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?

Destacam-se duas posições aos extremos:


• o laço é tão estreito que é exageradamente vinculante
(fundamentalismo, “monismo” eclesiológico); não há nada
que possa ser discutido ou criticado;
• a Igreja e suas estruturas são concebidas tão desvinculadas,
que podem ser mudadas ou suprimidas (atitude anti-eclesial
radical).
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?

Em cada um desses extremos, há elementos importantes:


• há espaço para a liberdade;
• isso não deixa fora a responsabilidade.
o A visão equilibrada resulta do não compreender a Igreja como
realidade somente pós-pascal.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Ela tem uma relação, tem suas raízes nas palavras, nas ações e nas
atitudes do Jesus pré-pascal (ESCLESIOLOGIA IMPLÍCITA)
A Igreja não nasce de uma atitude puramente fideísta, mas está
enraizada na história.
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE O JESUS DA
HISTÓRIA E A IGREJA?
Ela tem uma relação, tem suas raízes nas palavras, nas ações e nas
atitudes do Jesus pré-pascal (ESCLESIOLOGIA IMPLÍCITA)
A Igreja não nasce de uma atitude puramente fideísta, mas está
enraizada na história.

Método: a fundamentação eclesiológica vai ser buscada na


fundamentação cristológica. A relação entre Jesus – Igreja – Reino de
Deus.
1. NÃO HÁ
INCOMPATIBILIDADE
ENTRE O ANÚNCIO DO
REINO DE DEUS E A
“FUNDAÇÃO” DA IGREJA,
AMBOS LEVADOS A EFEITO
PELO JESUS PRÉ-PASCAL
TESE 1

Em 1902 (em sua ópera “L’Évangile et l’Eglise”), em contraposição


a VON HARNACK, LOISY afirmou: “Jesus anunciava o Reino, e o que
veio foi a Igreja”.
o A afirmação foi mal entendida, enquanto LOISY, com intenção
apologética, estava defendendo a intenção escatológica da
pregação de Jesus, tentando, com isso, defender a legitimidade
da Igreja.
TESE 1

o Estava fazendo isso, tentando buscar uma mediação entre doutrina


católica e método histórico-crítico.
o Para LOISY, a Igreja era uma realização provisória, porém relativa à
dimensão escatológica, ou seja, era “servidora do Reino”.
TESE 1

• Mas sua afirmação foi depois utilizada muitas vezes pelos que
sustentavam a perspectiva de oposição entre Reino e Igreja.
• Em sua extrema síntese, a afirmação de LOISY pode nos ajudar em
entender a questão.

• Precisa particularizar alguns pontos deduzidos da consciência


messiânica de Jesus.
TESE 1

o A missão de Jesus consiste em reunir, em restaurar Israel.


o O conceito de “Reino de Deus” não exclui a ideia messiânica
de um “povo” de Deus.
o A “reunião de Israel”, feita per Jesus em suas palavras, ações e
atitudes é o conceito mais apto para expressar a conexão entre
o Jesus da história e a Igreja que “surge” no tempo pós-pascal.
TESE 1

§ Isso, segundo o desígnio salvífico de Deus. Este desígnio está na


história (eleição), materializa-se na constituição de um “povo”.
§ Dentro desse processo, Jesus proclama para Israel a Boa-nova da
vinda do Reino, privilegia Israel (Mt 10,6 e 15,24; Mc 7,27)...

§ ...superando assim toda separação e exclusão: privilégio não é


exclusão (Mt 8,11ss; Lc 13,28ss; Mt 11,20-24; Lc 10,13-15)
TESE 1

§ O desígnio salvífico de Deus é universal, mas há uma “mediação


histórico-salvífica” de Israel. A Igreja é o “novo Israel”.
§ É a luz de Deus refletida por Israel que atrai os pagãos (Is 61; cf.
LG 1: Jesus Cristo luz das nações e a Igreja ‘lua’).
TESE 1

o à O particularismo não nega o desígnio salvífico universal de


Israel.
o As curas operadas por Jesus têm sentido messiânico: curar as
feridas de suas divisões. O ministério ambulante de Jesus é
incompatível com as doenças (Is 57,18; 30,36; 33,24; 29,22-
23 a cura das doenças como restauração de Israel).
TESE 1

SÍNTESE: Jesus cumpre sua missão, assumindo seu passado (a


história de Israel), anunciando Deus que opera no meio de seu povo;
e assim cria e Igreja a partir dessa reunião de Israel.
2. O JESUS PRÉ-PASCAL “FUNDA” A IGREJA, NA MEDIDA
EM QUE, ANUNCIANDO O REINO DE DEUS, RESTAURA
O POVO DE ISRAEL NA SUA UNIDADE
TESE 2

• Método: trata-se de aprofundar a relação (teológica) entre Jesus e o


Reino.
• O “Reino de Deus” é elemento chave da tradição sinótica: aparece
123 vezes nos sinópticos.

• “Reino de Deus” tem seu pano de fundo já no AT.


o Está a serviço do Pai, é a ação de Deus na história (o êxodo já é
o Reino de Deus acontecendo).
TESE 2

• Para que essa pregação do Jesus histórico fosse entendida pelos seus
contemporâneos, é preciso supor o horizonte dado pela história de Israel.
o Pode-se portanto afirmar que Jesus supõe esse sentido do Reino no
povo, como realidade promessa: presente e futura (a plenitude dessa
atuação de Deus).
o O Reino anunciado por Jesus é portanto a realização daquelas
promessas: agora em Jesus há a plenificação do Reino.
TESE 2

• Segundo épocas e livros bíblicos diferentes, encontram-se


conjuntos de características diferentes de Reino:
o regeneração de Israel (Ez 36-38), depois do exílio;
o intervenção universal de Deus (o “filho do homem” em Dn 7);
o reino dos escolhidos, dos “eleitos”.
TESE 2

• Jesus é entendido pelo seu povo como “profeta poderoso”.


o Não se limita a anunciar o Reino com palavras, em seu modo de
agir já anuncia o Reino.
o Ele resgata todo esse patrimônio do anuncio.
TESE 2

• (A) Jesus como “autobasiléia” (cf. Orígenes)...


o O “Reino” não é um conceito espacial, geográfico ou político...
o ...mas é uma “pessoa”: é outro modo, desconcertante!
o A vida toda de Jesus é uma “parábola viva” da presença de Javé
no meio de seu povo.
§ O Reino já está acontecendo, sua plenitude é Jesus.
• (B) ...mas, para Jesus, o que é central é o Reino: Jesus veio a
anunciar o Reino: Jesus não estava centrado em si!
TESE 2

• à O Reino
o (A) nem é totalmente transcendental (acontece nos limites do
ser humano),
o (B) nem é totalmente imanente (é iniciativa de Deus).
TESE 2

A realidade do Reino, portanto, tem que ser entendida sendo:


o dinâmica (não estática, fixável num determinado lugar
geográfico);
o histórico-pessoal;
o cósmica.
TESE 2

• (1) A presença real e atuante do Reino de Deus sempre remete para


a urgência, para a plenificação.
o Jesus não curou todos os doentes.
o A Igreja é a presença, o sacramento, hoje de atuação da
autobasiléia de Jesus.
TESE 2

(2) O Reino de Deus “se aproxima” (1 e 2 à tensão, dinamicidade)

o Porém, para nós, a plenitude não aconteceu. Na Igreja, nossa resposta


está si dando ao longo das gerações: por isso a Igreja perdura.
o “se aproxima” tem que ser entendido não tanto em sentido
cronológico, mas antes em sentido existencial.

o O Reino de Deus é dom. Nós temos que abrir-nos e pedir (Mt 6,17).
TESE 2

• O Reino de Deus tem seus privilegiados: os pobres, os pecadores,


os necessitados, os que carecem, aqueles que necessitam da justiça
e da misericórdia de Deus.
SIGNIFICADO DA INSTITUIÇÃO E
DO ENVIO DOS DOZE
ENVIO DOS 12

A instituição de um grupo feita por Jesus e a missão dos doze


o É chamado, instituição e envio a partir da atuação de Jesus (Mc
3,13-19; 6,7-13 e paralelos sinóticos).
o É “gesto simbólico” (entendido como gênero literário do
profetismo) que aponta para a reunião e reconstituição de Israel.
§ “Doze” é um número significativo: as doze tribos de Israel,
quando no tempo de Jesus só tinha duas tribos mais a tribo de
Levi.
ENVIO DOS 12

o Para os tempos messiânicos, esperava-se a reconstituição desse


‘doze’ (cf. Ez 37; 39,23-29; 40-48).
o Não há incompatibilidade entre a Igreja e o anúncio/reunião
§ Nos tempos últimos, consumados escatologicamente, no fim dos
tempos (tensão: “Igreja peregrina”).
§ A Igreja é germe do Reino, ao longo de sua caminhada vai se
configurando ao Reino, assim como cada cristão vai se
configurando a Cristo.
ENVIO DOS 12

• O envio é para as ovelhas perdidas de Israel (Mt 10,5ss; cf. Ez


34).
• Os doze representam Israel.
• Essa instituição dos doze se deu pelo Jesus da história não para uma
determinada função eclesial (interpretação ecclesológico-
apologética: os bispos); nem a Igreja é resultado da fantasia dos
discípulos (como afirmava a teologia liberal).
ENVIO DOS 12

• Texto chave: Mc 3,14:


o “estar com ele” (comunhão: Lumen Gentium)
o “enviá-los” (missão: Gaudium et Spes)
• Há duas maneiras distintas de serem discípulos de Jesus:
o aqueles que optam por Jesus e permanecem em suas famílias
(cf. Nicodemo, Zaqueu, Lazaro, ...);
o aqueles que deixam tudo e seguem Jesus, os seguidores mais
diretos.
ENVIO DOS 12

• Há um círculo de discípulos que é maior dos doze (ex. Lc 24,18;


At 1,23; Lc 8,3; Mc 15,41, ...)
o A Igreja “família de Deus” (compreensão de Igreja muito
difusa, por exemplo, na África).
o A Igreja, lugar da “nova Aliança”: programa de vida (cf. Mt 5-
7; Lc 6)
§ Ética: fazer, pôr em prática, coerência.
§ Renunciar a todo tipo de violência.
ENVIO DOS 12

(1) O anúncio do Reino não exclui, mas contém um projeto


comunitário.
o O Jesus da história se dirige às pessoas. Ele propõe o Reino com
seus valores explícitos.
§ A resposta a essa proposta implica uma adesão pessoal a um
projeto comunitário.
§ Essa resposta pessoal é sempre respeitada pelo Jesus da história.
ENVIO DOS 12

o O projeto de Jesus tem como finalidade a de reunir o Povo de Deus


dos últimos tempos, dos tempos escatológicos.
§ o Reino de Deus está irrompendo;
§ está chegando à plenitude;
§ é anunciado a todos.
ENVIO DOS 12

o A Igreja que Jesus está formando, não se identifica unicamente


com um desses três extremos:
§ não é só um projeto humano, meramente político;
§ nem um estado teocrático, em que só Deus teria a última
palavra; há um espaço para a liberdade humana;
§ nem uma “sociedade invisível” nos corações humanos (só
realidade espiritualizada).
ENVIO DOS 12

o A Igreja é comunidade daqueles que aderem a Cristo, é servidora deste Reino.


A Igreja tem raiz trinitária.
o A Igreja tem que misturar-se com os outros, não é clube fechado.
§ “Sal da terra” “luz do mundo”, “cidade sobre a montanha”.
§ 1Pd 2,9: gente escolhida, sacerdócio régio, nação santa.
§ É povo que testemunha uma experiência pós-pascal, anúncio de um Deus
que nos resgata.
§ É Igreja sacramental: não comunidade exclusiva dos salvos. Se não
cumpre esta missão, tem que ser jogada fora (como o sal).
ENVIO DOS 12

• (2) Nesse processo tem um papel importante a crise de Israel


(Mt 8,11ss).
o Aqueles que foram os primeiros destinatários resistem.
o Por isso, o Reino vai ser passado para os outros: universalização
da proposta de Jesus.
o Chave de compreensão: Jesus corrige o exclusivismo da
Israel(/Igreja), em sua tentação de compreender-se como
espaço exclusivo da salvação.
§ Vaticano II: a Igreja é sacramento, mistério, de salvação.
ENVIO DOS 12

o Mt 12,41-42; Lc 11,31-32; Mt 11,21s; Lc 10,13s. Todos esse textos


têm em comum alguns pontos:
§ há uma contraposição: referem-se a todo Israel e os pagãos são
contrapostos;
§ pressupõe-se a rejeição de Israel ao projeto do Reino;
§ essas polêmicas estão situadas não no começo do ministério de
Jesus, mas no contexto de sua percepção da morte próxima, ou
seja no final do ministério público.
ENVIO DOS 12

o Quando essas polêmicas vão se adensando, Jesus vai se voltar para


os doze que “julgarão as doze tribos de Israel (cf. Mt 19,28):
colégio dos apóstolos.
§ Jesus vai concentrando a missão de reunir Israel nos doze
§ Olhando para essa “concentração”, podemos afirmar com
“relativa certeza” que houve uma comunidade de discípulos de
Jesus durante sua vida pré-pascal.
ENVIO DOS 12

Na “crise de Israel” podemos perceber a “crise da Galiléia” (Mc


8,27; Jo 6,68; 8,59; 10,39; 11,8): como as pessoas respondem à
missão que Jesus está anunciando: optam ou não optam?
• SÍNTESE: Jesus concentra sua missão nesse pequenino grupo
de discípulos e, com isso, constitui o grupo daqueles que
reconhecem Jesus não como pessoa qualquer, mas como
Messias. Esse grupo é a Igreja.
4.SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

o Essa concentração está em seu ponto mais alto, a última ceia,


quando também a crise de Israel está em seu ápice.
o A última ceia é antecipação simbólica de sua entrega, como “servo
sofredor” (cf. Mc 14,24 e paralelos): MORTE PELOS MUITOS.
• Com o sangue entrega sua vida.
• Seu sangue é derramado pelos muitos
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

o Na ceia há uma tensão escatológica: expectativa da vinda do


Senhor.
• Através dos sinais sacramentais, se antecipa o banquete
escatológico de Deus.

o Jesus manda de celebrar sua entrega; memória:


• da vida, morte e ressurreição de Jesus;
• da comunhão com ele.
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

o Reunindo esses discípulos, ele funda essa comunidade que iria


“perpetuamente” celebrar, até que ele volte.
o As multiplicações dos pães são sinais ligados a esta última ceia:
nessas, tudo tem sabor, qualidade eucarística.
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

o Como pano de fundo das palavras de Jesus na última ceia,


encontramos quatro grandes temas da teologia do AT:
1.a instituição da páscoa (Ex 12): a passagem de Jesus;
2.a aliança de Deus no Sinai (Ex 24);
3.a promessa da Nova Aliança (Jr 31,31s);
4.o servo sofredor (os 4 cânticos de Is, sobretudo Is 53).
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

Quando nasce a Igreja? A igreja nasce num processo. Dentro desse


processo, a última ceia tem um papel e uma importância únicos.
É correto afirmar que instituindo a Eucaristia, Jesus fundou a Igreja?
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

• Não é fácil responder. Mas é verdade que ele deixou uma


comunidade de discípulos que celebrariam e, assim, ficariam
unidos.
• Eucaristia é testemunho, sacramento de unidade. Evidencia e
revela a vontade de Jesus, que é a vontade do Pai.
• A instituição da eucaristia foi um desejo do Jesus pré-pascal.
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

As Igrejas do NT se autocompreendem como comunidades de


discípulos de Jesus.
• Não é por acaso que em cada celebração da eucaristia a Igreja está
sendo refundada, confrontando-se com o Evangelho (cf. SC 10).
SIGNIFICADO DA ÚLTIMA CEIA

As Igrejas do NT se autocompreendem como comunidades de


discípulos de Jesus.
• Não é por acaso que em cada celebração da eucaristia a Igreja está
sendo refundada, confrontando-se com o Evangelho (cf. SC 10).
• «[A]os que creem em Cristo, [o Pai] decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual,
prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na
história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no fim dos
tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente
consumada no fim dos séculos» (LG 2: DH 4102)
TÍTULOS CRISTOLÓGICOS
TÍTULOS CRISTOLÓGICOS

• Problemática, sentido e função dos títulos cristológicos.


• Messias
• Rabi, mestre
• Profeta
• Filho do Homem
• Senhor
• Filho de Deus
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• Dupuis coloca que uma das abordagens cristológicas se faz pelo


títulos dados a Jesus.
• Eles são atos de interpretações de sua identidade (Dic. Crit.
Teol, p. 482).
• Mas chama a atenção para se fazer cristologia a partir destes
títulos, porque eles podem ter diferentes níveis de significação.
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• Uma das questões dos títulos cristológicos é saber se foram


aplicados a ele por outros ou o foram por si mesmo? Se o foram
por outros, eles se originam de ouvintes de Jesus em sua vida
terrena ou por alguém após a ressurreição? O título foi usado no
sentido original ou teve “um acréscimo de sentido, e nesse caso
onde e como?”. Há ainda outra questão: o título foi usado num
sentido funcional ou ontológico, explicando a sua relação com
Deus?
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• Ressalta-se também que os títulos cristológicos também trazem


a questão se são pré ou pós-pascais, da descontinuidade e
continuidade entre o Jesus da história e o Jesus pós-pascal.
• São também de uso limitado para a compreensão da história
humana concreta de Jesus.
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• A questão dos títulos tem relação com duas questões. A primeira


se expressa na pergunta sobre a identidade de Jesus (Que dizem
os homens que eu sou?) e outra sobre as expectativas do seu
tempo (és tu aquele que há de vir?).
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• No entanto se deve ter cautela diante das titulações, pois o


próprio Jesus teve atitudes diante das tentativas de identificá-lo.
• É necessário que se pergunte se essa titulação corresponde à
peculiaridade da atividade de Jesus, e a reação do próprio Jesus
à tentativa de nomeá-lo.
PROBLEMÁTICA, SENTIDO E FUNÇÃO DOS TÍTULOS

• A pergunta “És tu aquele que há de vir” coloca a questão das


expectativas e possíveis respostas que existiam ao tempo de
Jesus à esperança messiânica. Mas antes delas há a pergunta
central: Jesus era o messias esperado? Era ele o Messias?
MESSIAS

• Refere-se à messianidade de Jesus. O termo hebraico mashiah


(grego cristhos), significa ungido.
• À época isto não designava o medidor escatológico da graça, o
que só vem ocorrer no tempo neotestamentário. Designava
então a realização da promessa de 2 Sm 7,5-16, isto é, de que a
casa de Davi “permaneceria para sempre em minha presença e
teu trono durará para sempre”.
MESSIAS

• Para isto Deus estabeleceria “um descendente teu, um filho de tuas


entranhas e consolidarei teu reino”.

• Salmos reais reafirmam esta esperança de realização da promessa


davídica, e no salmo 78 temos que a escolha de Davi coroa toda uma
larga história do povo eleito “Escolheu a Davi seu servo, o tirou dos
apriscos de rebanho, de andar atrás de ovelhas, o levou a pastorear
seu povo. Jacó, a Israel sua herança”. (Sl78,70-72).
MESSIAS

• Mas no Sl 17,32, redigido à época dos anos 60 a.C (dominação romana)


tem esta síntese da ideologia davídica messiânica nos títulos “Filho de
Davi” e “Ungido do Senhor”.
• Ez 37,4 fala de “ Meu servo Davi estará com eles e não haverá mais que
um só pastor para todos”. O Deuterozacarias também afirma: “ Alegra-te
Filha de Sião; canta filha de Jerusalém, olha a teu rei que vem a ti justo e
vitorioso, modesto e cavalgando num burrinho, num” .... Aqui se introduz
um rei davídico humilde mas vitorioso. ( Es 7,28 e 12,32, 2).
MESSIAS

• Se ao tempo de Jesus Israel esperava um Messias que


concretizasse as esperanças davídicas ( 2 Sm 7,4-7), Jesus não
se chamava a si de Messias.
• As confissões de Pedro (Mc 8,29) e no processo do Sinédrio
(Mc 14, 61-62) são entendidas pela exegese moderna como
sendo oriundos da fé pós-pascal.
MESSIAS

• No primeiro caso é “confissão cristológica de fé coincidente


com o querigma apostólico pós-pascal”(p. 65).
• O segundo seria uma predição post factum, que teria na profecia
de Daniel sobre o Filho do Homem ( Dn 7,13) a descrição do
“aparecimento glorioso do Ressuscitado diante de Deus”.
MESSIAS

• Dupuis vê a cautela de Jesus em aceitar título messiânico devido


a implicações que decorreriam se ele fosse visto como Messias
político.
MESSIAS

• Nos sinóticos aparece muitas vezes o Cristo, como se vê na


declaração de fé de Pedro( Mc 8, 29 e Jo 6,69) e no processo
contra Jesus ( Mc 15, 26) Em Mc 14,61 temos: “És tu o Cristo?
Eu sou, mas o Filho do Homem que será exaltado. Jesus morreu
sob a inscrição de rei dos judeus, como forma de zombaria.
Logo, Jesus morreu com a acusação de que era o meshiah, o
cristos. Para Pedro, a confissão de fé que acontece no círculo
dos discípulos, Jesus é mais que profeta, é o messias.
MESSIAS

• Mc 4,11 e Mt 11,25 sugere que poucos compreendiam este modo de


Jesus se revelar. Assim se pode dizer que nos dias de Jesus já
acontecera, em certa medida, a revelação de Jesus como Messias, que
foi superada pelo seu reconhecimento progressivo ou pós-pascal.

• Em Mc há a questão do segredo messiânico, que são ordens do


próprio Jesus para que se mantenha em segredo a messianidade
revelada , que deve permanecer em segredo.
RABI, MESTRE

• Aparece em Mc 9,5;11,11;14,45; Mt 23,7. Ou como rabouni,


restrito a Jesus.
• Lc o ignora por completo;

• Está em Jo 1,35.49;3,2;4,31; 6,25;9,2;11,5. Jesus é mestre, mas


um mestre diferente. Ele ensina com outra autoridade.
RABI, MESTRE

• Isto fez com que o cristianismo não desenvolvesse o rabinato,


pois Jesus é o único mestre.
• Jesus é mestre enquanto ensina a plenitude da lei e não uma
nova lei.

• Jesus aceita o título para si, mas não procede tal qual os demais
mestres.
PROFETA

• Título atribuído a Jesus na tradição sinótica.

• A figura do profeta está desenvolvida em Dt 18, quando Moisés


mostra que é o conhecimento da vontade de Deus que se
manifesta pelo profeta, e não se deve dirigir a quem pratica a
adivinhação, o sortilégio (tirar a sorte) ou a magia como os
pagãos.
PROFETA

• Deus coloca palavras na boca do profeta e anunciará o


que IHWH lhe ordene e não a sua.
• Moisés, modelo de profeta, era ao mesmo tempo um
profeta chefe do povo (função real) e litúrgico (função
sacerdotal). Com a monarquia o profetismo se torna
apenas função carismática da palavra de Deus.
PROFETA

• A opinião pública viu o profeta Jesus de três formas:

• a)- como Elias ( Mc 6,15;Lc 9,7). Ele é aquele que deveria


voltar ( Ml 3,1.23ss);

• b)- como João Batista ( Mc 11,32b;Mt 11,9-14; 15,3)

• c)- como um profeta contemporâneo: ( Mc 6,15;8,28).


PROFETA

• Gerhard Friedrich deduz que teria sido identificado mais como


profeta contemporâneo.
• Dupuis afirma que o próprio Jesus se identificou mais com o Servo
Sofredor de Isaías que com o profeta anunciado por Moisés,
“atribuindo-se outros títulos que embasavam a expectativa dos
judeus dos últimos tempos, e que lhe forma depois aplicados pela
cristologia do Novo Testamento”( p. 65). A identificação com o
Servo de Javé se dá no contexto da paixão e morte.
PROFETA

• O profeta dos últimos tempos está mais associado ao contexto


pós-exílico, quando não há monarquia, e o profetismo
carismático se vê substituído pela palavra escrita do sacerdote.
PROFETA

• No contexto de Qumrã além do ungido real e sacerdotal, há a


figura do escatológico, o profeta dos últimos tempos,
identificado com Elias e com o Moisés “redivivo”.
Provavelmente este era o fundador da comunidade. Não é de
estranhar que Jesus seja confundido com o Elias esperado, e
nem com João Batista, devido á importância do mesmo à época.
PROFETA

• No contexto de Qumrã além do ungido real e sacerdotal, há a


figura do escatológico, o profeta dos últimos tempos,
identificado com Elias e com o Moisés “redivivo”.
Provavelmente este era o fundador da comunidade. Não é de
estranhar que Jesus seja confundido com o Elias esperado, e
nem com João Batista, devido à importância do mesmo à época.
FILHO DO HOMEM

• É uma expressão misteriosa de Dn 7,13. Em aramaico (bar


enash) e em hebreu (bem Adam) significa apenas um homem.
Mas em Daniel há outro sentido: parece um homem que supera
a condição humana.

• Ela aparece num conteúdo de texto apocalítico, onde se


entroniza diante de Deus, que investira um personagem
“semelhante a um filho do homem”.
FILHO DO HOMEM

• Recebe de Deus um poder universal e eterno ( todos os povos,


nações e línguas o serviam... seu reino não terá fim). No texto
há duas partes. Na primeira se está diante de um homem celeste.
Na segunda há a cena da entronização, como um rei davídico.

• A entronização do Filho do Heme se assemelha a uma


investidura real.
FILHO DO HOMEM

• O termo aparece 70 vezes nos sinóticos e 12 em João.

• E em At 7, 56 refere-se a título que Jesus usa para si.


• Sempre referido a: a) o Filho do Homem aparecerá; b) O Filho
do Homem sofrerá-ressuscitará; c) o Filho do Homem já está
presente em humildade.
FILHO DO HOMEM

Mas este conceito:


• a) não foi usado pela comunidade cristã inicial;
• b) está ligado á tradição dos evangelhos
• c) possui raiz histórico-tradicional em Jesus de Nazaré –
autoafirmação de si;

• d) relaciona-se indiretamente com Dn 7,13


FILHO DO HOMEM

Escritos apocalíticos, como Enoque Etíope e IV Esdras falam do


Filho do Homem como juiz escatológico. Jesus toma para si esta
denominação, esta perspectiva.
Mas lhe dá um conteúdo próprio esperança escatológica, o reino
de Deus, que através de sua pessoa busca o homem.
SENHOR

• É a tradução de Adonay que era usado diante da


impronunciabilidade do nome de Deus Yhwh.
• Passa ao grego como Kyrios, que é Senhor.

• É título pós-pascal.
FILHO DE DEUS

• No oriente chamar alguém de filho de Deus era comum, o que


se pode deduzir de nomes como Ben-Haddad (Filho de Hadad),
Abiel (El é meu pai, 1Sm 14,51), Abibaal (Baal é meu pai).. Os
semitas consideravam esta filiação divina como adoção. O rei,
sobretudo, era considerado um filho de deus. Já na época do NT
os reis recebiam culto divina, e forma venerados como filhos de
um deus (divi filius) e como salvadores divinos.
FILHO DE DEUS

• No AT IHWH muitas vezes chama o rei de “meu filho” (2


Sm7,14;1 Cr 22,10;Sl2,7;89,27). Muitas vezes reconhece no rei
uma sabedoria divina (2 Sm 14,20;1 Rs3,12.28).
• Mas, em Israel o rei nunca foi objeto de culto divino. Algumas
vezes Israel é chamado de seu filho( Dt 14,1; Is 1,2), ou até de
“filho do Deus vivo” (Os 2,1). Foi também aplicada aos justos
de Israel (Eclo 4,10).
FILHO DE DEUS

• Israel nunca chamou o Messias de filho de Deus, mas nalguns


livros como Henoc etíope e IV de Esdras aparece Deus o
chamando de meu filho.
FILHO DE DEUS

• Uso pelo próprio Jesus: Nos sinóticos Jesus nunca se usa a expressão
“Filho de Deus”( ho hyios tou theou).

• Mas em João ele o usa seis vezes. Mas a maioria das vezes se chama
simplesmente de “Filho”(hyios) (Mt 11,27;24,36;28,19; 14 vezes em João).
FILHO DE DEUS

• Uso pelos evangelhos: é termo frequente neles.

• Em Mc aparece 7 vezes; em Mt 11; em Lc 9; em At 2 vezes; 17


vezes nas cartas de Jo; 18 vezes em Paulo.

• Este uso tão amplo nos permite concluir que Filho de Deus
expressa mais a fé pessoal dos cristãos do que a consciência
pessoal de Jesus.
FILHO DE DEUS

• O grau mais elevado da significação do título como um filho


real do Pai, se dá no batismo de Jesus (Mt3,17 par) e na
transfiguração ( Mt 17,5 par), quando o próprio Pai chama Jesus
de Filho de Deus. Essas palavras não significam que Jesus foi
adotado ou escolhido como Filho de Deus, mas elas confirmam
que a filiação divina de Jesus é o fundamento de sua dignidade
de Messias. O título afirma a relação de Jesus com o Pai( Mt
11,25-27;Lc 1021s).
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• Os primeiros cristãos tiveram que dar conta de sua própria fé.

• O cristianismo depois do I séc. entrará em três debates: judeus,


gnósticos e a filosofia grega (sobretudo neoplatonismo e
estoicismo). São três tipos de discurso principais que se
apresentam nas origens da literatura cristã, a título de
interpretações do querigma.
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

Há duas leituras que não se excluem:


1. O cristianismo se faz respondendo aos outros (cf. 1Pd: “dar
razão da própria esperança);
o Não há comunicação sem troca de reconhecimento.
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

2. O cristianismo se faz a partir de uma dinâmica interna (pensar a


própria fé).
§ Essa dinâmica expressa a preocupação de manter a boa ordem e a
unidade nas comunidades.
§ Dá origem à primeira literatura patrística que é primeiramente
pastoral e litúrgica.
§ É a vida das comunidades cristãs que se exprime, com sua fé, suas
dificuldades e seus conflitos, suas instituições e sua liturgia.
§ Isso levará ao nascimento da dogmática cristã;
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• 1. O debate com os judeus: o judeu-cristianismo


• 1.1. O conteúdo da fé dos judeu-cristãos
• 1.2. A resposta cristã
• 1.3. O judeu-cristianismo “heterodoxo”
• 1.4. Um ensinamento do judeu-cristianismo
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• 2. O debate com os gnósticos


• 2.1. Gnosticismo
• 2.1.1. As origens do gnosticismo

• 2.1.2. O gnosticismo cristão

• 2.2. A resposta da fé cristã


AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• 3. O debate com a filosofia grega


• 3.1. O neoplatonismo
• 3.2. A resposta cristã
O DEBATE COM OS JUDEUS: O JUDEU-CRISTIANISMO

• Estamos falando dos judeus cristãos: é importante evitar os


anacronismos para não cair na dinâmica antissemita.
• Naquele tempo existia uma tensão entre o cristianismo nascente
e o judaísmo (religião já permitida pelo Império Romano).
O DEBATE COM OS JUDEUS: O JUDEU-CRISTIANISMO

• Comunidades de origem judaica, conservando, às vezes, as


observâncias do judaísmo, asseguraram uma ligação entre a
pregação apostólica e as primeiras expressões do cristianismo
de origem pagã.
• O termo “judeu-cristianismo” abrange realidades bastante
diferentes:
o judeu-cristãos perfeitamente “ortodoxos” quanto à fé cristã;
o judeu-cristãos cuja cristologia adocionista reconhecia em
Jesus um profeta, mas não o Filho de Deus.
O DEBATE COM OS JUDEUS: O JUDEU-CRISTIANISMO

Definição de “judeu-cristianismo” (Daniélou):


“forma de pensamento cristão que não implica ligação com a
comunidade judaica, mas que se exprime em quadros
emprestados do judaísmo. Compreende também homens que
romperam completamente com o meio judeu, mas que
continuam a pensar dentro de suas categorias. Esse judeu-
cristianismo foi evidentemente o dos cristãos vindos do
judaísmo, mas também de pagãos convertidos”.
O DEBATE COM OS JUDEUS: O JUDEU-CRISTIANISMO

• O quadro desse pensamento judeu é o da apocalíptica, uma


“teologia visionária”.
o Os judeu-cristãos propuseram a seus irmãos de raça, como
também aos pagãos, os mistérios da fé segundo uma estrutura
semítica.
o Fazendo entrar em jogo o argumento profético acerca do Cristo,
constituíram um elo entre a exegese judaica e a exegese cristã
que se seguirá, lançando assim as bases da interpretação cristã
das Escrituras.
O CONTEÚDO DA FÉ DOS JUDEU-CRISTÃOS

É com base nas categorias da angelologia que a doutrina judeu-cristã designa o Verbo e
o Espírito.
§ Cristo é geralmente chamado de “anjo” (o “anjo de YHWH”). Mas tem também
um tamanho glorioso e colossal, que ultrapassa infinitamente os demais anjos,
marcando a transcendência do Verbo sobre os demais anjos (cristologia
angélica): o Verbo não é pura e simplesmente assimilado a uma criatura.
§ O mesmo acontece com o Espírito.
§ Frequentemente o Verbo e o Espírito são associados entre si, continuando porém
sublinhar sua transcendência em relação aos “outros” anjos (cf. Is 6,2: os dois
Serafins).
O CONTEÚDO DA FÉ DOS JUDEU-CRISTÃOS

O judeu-cristianismo dispõe de uma grande quantidade de títulos para falar do Filho de


Deus:
§ Cristo, “Nome” de Deus (cf. Rm 10,12-13 e Jo 17,6; Inácio de Antioquia):
cristologia do Nome.
§ O Verbo também é chamado de Lei (Torah)/Aliança na tradição judeu-cristã: é uma
realidade preexistente, uma espécie de encarnação da Palavra divina. (cf. Hermas e
Justino).
§ Encarnação: é apresentada como “descida” do Filho, que atravessa sucessivamente
os diferentes céus. Essa descida está oculta aos anjos (cf. 1Co 2,8 e Ef 3,9-11).
O CONTEÚDO DA FÉ DOS JUDEU-CRISTÃOS

(Daniélou)
A teologia judeu-cristã é uma theologia gloriae (teologia da
glória): mesmo a cruz é uma cruz de glória e um sinal de
vitória. A forma da cruz lhe confere um simbolismo cósmico,
já que ela indica as quatro dimensões do universo:
§ Braço horizontal: universalidade da salvação.
§ Braço vertical: reconciliação do céu e da terra.
O CONTEÚDO DA FÉ DOS JUDEU-CRISTÃOS

(Daniélou)
A teologia judeu-cristã é uma theologia gloriae (teologia da
glória): mesmo a cruz é uma cruz de glória e um sinal de
vitória. A forma da cruz lhe confere um simbolismo cósmico,
já que ela indica as quatro dimensões do universo:
§ Braço horizontal: universalidade da salvação.
§ Braço vertical: reconciliação do céu e da terra.
A RESPOSTA CRISTÃ
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

§ A obra de Justino é muito importante. Ele é filósofo e debate


com o judaísmo para justificar a vida cristã.
§ O “diálogo” com Trifão se inicia sobre as bases de um anúncio
da salvação, como faziam os apóstolos, mas novos traços
aparecem.
§ A objeção principal de Trifão: vocês colocam sua fé, sua
esperança num homem crucificado! Como pode ser isso?
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

(Judeus) Argumento soteriológico: a salvação é conseguida pela


cruz de Cristo, que é sua vitória sobre a morte, e pelo batismo e
eucaristia, recebidos na fé em Cristo, que tornam os homens
participantes de sua ressurreição. à Ela não pode mais provir da
circuncisão e dos sacrifícios: Jesus Cristo é o salvador.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

(Judeus) Argumento tipológico das Escrituras (os profetas, o


AT): no AT se encontra o tipo de Cristo já presente (Isaac, o
quarto canto do servo sofredor [Is 53]). PREFIGURAÇÃO DE
CRISTO. à caducidade e inferioridade dos ritos e preceitos
salvíficos da antiga Aliança.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

(Judeus) Argumento dos anúncios proféticos e do nascimento


virginal (Is 7: a jovem que vai dar à luz uma criança): Jesus Cristo
é o Messias.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

(Judeus) Argumento da preexistência de Cristo. Cristo preexistia


(pro-upárkon: trata-se da primeira atestação). Todas as teofanias
do AT, tipos de Cristo, só são possíveis porque Cristo preexistia.
O conceito de preexistência (que não se encontra no NT) não é
causado pelas narrativas do nascimento de Jesus, nem pelos
anúncios proféticos de sua vinda, mas é pressuposto pela fé em
sua missão, enuncia a inteligibilidade que essa fé reclama: a
universalidade dessa missão no tempo.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

(Judeus e pagãos) Argumento do “outro Deus” (reflexão sobre


as teofanias do AT): só é diferença numérica e não de essência.
Cristo é o “Logos” de Deus (Razão divina). Trata-se da
PRIMERIA TENTATIVA CRISTÃ DE DISTINGUIR O PAI E O
FILHO.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

PARA UM JUDEU QUE SE CONVERTE A CRISTO CRER EM


JESUS É: crer que todas as promessas do passado se cumprem na
vinda do Enviado de Deus ao mundo, e que não há mais nada a
esperar, exceto sua volta na glória do juízo.
JUSTINO DE ROMA
APOLOGIA E DIÁLOGO COM TRIFÃO.

PARA UM PAGÃO QUE SE CONVERTE A CRISTO CRER


EM JESUS É: crer que a sabedoria procurada no passado se
revela inteiramente quando aparece o Logos de Deus e que
nenhuma outra verdade deve ser esperada, se não for plena
revelação do Filho na glória do Pai
É UMA BUSCA DE UMA LINGUAGEM.
O JUDEU-CRISTIANISMO “HETERODOXO”

o Uma parte notável da literatura judeu-cristã é considerada hoje


como “heterodoxa”.
o O ponto principal diz respeito à recusa da divindade de
Cristo.
o Ebionitas (= “existência pobre”): grupo judaico que tem
resistência em aceitar a realidade de Jesus como humano.
O JUDEU-CRISTIANISMO “HETERODOXO”

§ Para eles, Jesus é simplesmente uma “aparência”, uma


enérgheia de Deus.
§ Vivem como pobres. Seu nome vem da concepção pobre sobre
Jesus Cristo: só homem (o maior dos profetas), mas não Filho
de Deus.
§ Estão, como “ponte”, no meio entre judaísmo e cristianismo.
Daniélou se pergunta se são primeiro grupos cristãos ou
judaizantes.
UM ENSINAMENTO DO JUDEU-CRISTIANISMO

o O judeu-cristianismo é para nós cheio de ensinamentos na


medida em que atesta a possibilidade, para a fé cristã, de se
exprimir em culturas diferentes.
o Ela o faz aqui em sua cultura semítica original.
o Este horizonte dá um relevo maior à futura aculturação deste
mesmo cristianismo no mundo grego.
o Mas o judeu-cristianismo antigo não sobreviveu à formidável
expansão do cristianismo em meio pagão. No entanto,
encontramos ainda no séc. IV, no norte da Mesopotâmia, uma
expressão semítica da fé cristã.
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• 2. O debate com os gnósticos


• 2.1. Gnosticismo
• 2.1.1. As origens do gnosticismo

• 2.1.2. O gnosticismo cristão

• 2.2. A resposta da fé cristã


GNOSTICISMO

Há muitas correntes gnósticas neste período. Apesar disto, nós


vamos falar como um todo.
Todos esses sistemas tem em comum um ponto: a afirmação
radical da transcendência divina.
Quatro teses do “gnosticismo geral”

§ Deus supremo está radicalmente além deste mundo. O Deus criador é um


demiurgo, para preservar sua transcendência. Esse Deus está além de todo
princípio.
§ Posição dualista e docetista sobre Jesus Cristo.
• Dualista: da mesma maneira que existem dois deuses, devem existir
dois Cristos, um de baixo e um de cima.
• Docetista: Cristo é filho de Deus, mas ele toma uma aparência humana
e não é verdadeiro homem (dokein = aparecer), não tem realidade
humana.
Quatro teses do “gnosticismo geral”

§ Concepção dualista do mundo e da história.


• Os gnósticos vão colocar uma oposição radical entre o
mundo da criação (que corresponde a Deus, de cima) e o
mundo da história (de baixo).
• à dois tipos de homem: carnal (da história) ßà
pneumatikós.
§ Salvação pelo conhecimento obtido por revelação e iluminação
ao longo de uma experiência interior.
As origens do gnosticismo

• No plano da história, a origem e a evolução do gnosticismo são


mal conhecidas.
oPrecursores iranianos
oPré-gnose grega: Platão (reminiscência e exegeses
alegorizantes dos mitos)
oPré-gnose judaica: algumas seitas apresentam traços
gnósticos (essênios de Qumran e os samaritanos).
O gnosticismo cristão

• O nascimento do gnosticismo cristão se dá nos meios mais ou


menos dissidentes do judaísmo, sobretudo helenístico (cf. os
nicolaítas, mencionado em Ap 2,6 e 15).
• Meados do séc. II
oValentim: é o teólogo do pleroma dos trinta éons.
oMarcião: dualista, estima que o vinho novo do Evangelho
não pode ser conservado nos odres velhos do Antigo
Testamento, que ele rejeita.
O gnosticismo cristão

• Diante desse movimento, a fé cristã frequentemente se


considerou como a “verdadeira gnose” (1Cor 2,7-8; 1Cor 12,2-
4; Cl 2,2-3). No pensamento paulino há duas trilogias: fé,
esperança e conhecimento (gnose) e fé, esperança a caridade. A
ideia de conhecer, e da salvação pelo conhecimento, também
está presente no evangelho de João (Jo 17,3).
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

o Dois grandes nomes na luta


§ Tertuliano (De carne): fora da carne de Cristo não existe
salvação. Nós temos que atravessar nossa humanidade.
§ Ireneu de Lião (Adversus hereges): a gnose verdadeira e a
gnose falsa. O único conhecimento necessário é o
conhecimento interno (encontro pessoal) de Jesus.
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

o (1) Diante da concepção dualística e docetista da transcendência, a


posição cristã: o Filho de Deus é revelador do Pai.
§ Ideia de mistério
• Os gnósticos o entendem como enigma, com a lógica de se
esconder, se fechar. A salvação acontece pelo conhecimento
(reservado a um pequeno grupinho), o homem se salva
conhecendo a verdade. à Desprezo da história; só é
importante tornar-se pnematikós.
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

• Para os cristãos, o mistério é aquele que se revela, se dá a conhecer,


ele mesmo sai de si para comunicar-se. Dentro do cristianismo o
destino determinístico não existe. Para os cristãos, Deus que todos
sejam salvos.
• Ireneu: nós cristãos devemos afirmar a transcendência de Deus, mas
não de forma aguda: nós cristãos cremos que o Filho é aquele que
torna possível o conhecimento do Pai. Esse Deus, que é mistério, se
revelou, se fez conhecer para nós (cf. o prólogo de João). O
cristianismo é uma cárdio-gnose.
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

o (2) Diante da concepção gnóstica do salvador, os cristãos


afirmam a razão do paradoxo: é o Filho de Deus aquele que
nos leva ao conhecimento verdadeiro (amor de Deus pela
humanidade).
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

§ Para os gnósticos, tudo isso é paradoxal: eles afirmavam dois


Cristos: um de cima [para os pneumatikói], um de baixo [para
os carnais].
§ Para os cristãos, Jesus é a via para chegar ao conhecimento
verdadeiro. O amor de Deus será a razão principal de acesso a
Deus: é nesse amor que a gente conhece a essência de Deus.
§ Ireneu: há um único Cristo, como há um só Deus. Argumenta a
partir da unicidade (único) e unidade (um) de Cristo. É um só
Cristo, que não é aparência, mas que realmente se tornou
homem.
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

o (3) Diante da concepção gnóstica das “economias” (eones), os


cristãos afirmam uma única economia.
§ Para os gnósticos, existem duas histórias: uma profana (de
baixo) e uma sagrada (do alto). à Deus não quer e não pode
tornar-se homem! Concepção emanantista: Deus, sem saber,
emana enérgueias à o mundo é causado por essas
enérgueias, mas Deus não quis isto!
A RESPOSTA DA FÉ CRISTÃ

§ Ireneu: a economia divina é uma, “recapitulação”. Foi o


primeiro teólogo cristão “sistemático” (deferentemente dos
Padres apologistas) e será o primeiro a fazer uma teologia da
história: só existe uma história. É nessa história que Deus se
mostra.
AS CRISTOLOGIAS DOS SÉCULOS II E III

• 3. O debate com a filosofia grega


• 3.1. O neoplatonismo
• 3.2. A resposta cristã
O NEOPLATONISMO

§ Supõe uma evolução respeito à filosofia antes de seu


nascimento (correntes politeístas tradicionais):
• Apresenta a unificação da ideia de Deus.
• O Deus supremo é radicalmente transcendente.
• à está partilhando com as correntes judaicas e o
cristianismo nascente uma forma de “monoteísmo”.
O NEOPLATONISMO

Mas, ao mesmo tempo, existe uma hierarquia de níveis e


degraus. Plotino vai radicalizar as ideias de Platão.
• Ideia de “bem supremo” à sobre todas as coisas, o
“uno” transcendente, o Deus supremo.
• Divindades secundárias à intermediárias, até chegar ao
mundo criado.
§ à O neoplatonismo não está propondo um monoteísmo
“puro”.
A RESPOSTA CRISTÃ

o Em sua expansão, tem que se confrontar com todo aquele mundo (cf. a
pregação de Paulo): para os neoplatonicos, Cristo só é uma divindade
secundária a mais, e não o Deus supremo.
o Pergunta: qual é a identidade de Cristo?
§ Esse Cristo tem a ver com aquele Deus transcendente
§ O cristianismo começa a falar de “lógos”: é uma maneira de fazer uma
ponte com a cultura grega.
§ Mas é o Lógos de Deus: isso não significa negar a transcendência, por
isso é possível falar de Deus.
o Orígenes vai discutir tudo isto nos Princípios.

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