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Nome: Mailson de Jesus Moraes

RA: 193652
Disciplina: Evangelhos sinóticos e Ato dos Apóstolos

ATIVIDADE 3
Resumo do livro de Warren Carter, O Evangelho segundo Mateus

Na parte introdutória da obra O Evangelho segundo São Mateus,


Warren Carter discorre sobre a problemática do escrito do evangelho de São
Mateus, tendo em vista o contexto social, político, econômico, religioso, bem
como a questão espiritual que o texto sagrado traz consigo. O exegeta separa
a parte introdutória em dez partes 10 (9 fatores e uma sessão final) as quais
contemplam esses contextos de escrita do Evangelho com o intuito de facilitar
a leitura do mesmo.

Uma das questões iniciais apresentada pelo autor é a problemática de


quem escreveu o texto? Sobre isso, o mesmo discorre que existem várias
interpretações ou possibilidades de escritores sagrados, todavia, o mais
provável é que ele não tenha sido escrito por um único autor, mas uma
“comunidade” ou grupo de pessoas que elaboram o texto, muito provavelmente
por religiosos judeus. Uma outra questão levantada ao longo do texto é: Quem
seriam os seus destinários? O autor responde que este evangelho se destina a
discípulos pós-destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.

Na leitura do evangelho podemos vislumbrar algumas características


de Jesus e do Reino que ele vem instaurar diante daquele cenário. Uma
dessas características são os debates entre Jesus e os líderes religiosos da
época. Mesmo ele não sendo influente socialmente, o autor vai descrevendo o
quanto o seu percurso de resistência vai fazendo com que o número de
seguidores vá aumentando ao longo do seu itinerário, ao passo que ao longo
desse processo Jesus com as denúncias que faz em relação as leis, mesmo
que nesse texto propõe amplia-las, pois, o mesmo diz: “Não penseis que vim
revogar a lei ou os profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhe pleno
cumprimento” (Mt 5, 17).
Todavia, esse cumprimento da lei apresentado pelo autor também
mostra as denúncias que Jesus faz dos contextos de sua época que
tiranizavam e retiravam a dignidade humana, como por exemplo, o machismo e
o uso hierárquico que era opressor. Por isso, Carter observa que esse
evangelho quer ir além das margens e Jesus traz uma nova proposta, com
outras estruturas que não viole a pessoa enquanto tal, ele faz a observação de
alguns fatores como: No capítulo I de Mateus inclui mulheres na genealogia de
Jesus como uma forma de ir contra o patriarcado. Ele também faz a conexão
em seu texto da ideia do educador brasileiro, Paulo Freire ao que se refere a
pedagogia do oprimido, mas também a sua percepção como sujeito que
precisa ter de sua própria historicidade, além dessa pedagogia necessitar ser
libertadora e não elitista.

Por conseguinte, o autor apresenta que a compreensão de Jesus é a


possibilidade de estar de acordo com o veredito de Deus. Por isso, o texto
sagrado em diversos momentos apresentará a denúncia em relação as
sinagogas como sendo um local de hipocrisia e violência, todavia, não é
possível generalizar que todas são assim. Além disso, existem no texto
denúncias ao império de domínio que existe nessa época.

Todo esse processo, a partir de uma exegese, utiliza a ideia de G.


D.Kilpatrick onde traz esse evangelho também como um papel pedagógico, ou
seja, tentar formar uma comunidade de discípulos. Porém, discorda e mostra a
insuficiência da ideia de Kilpatrick em relação ao texto conter elementos
litúrgicos. A ideia de o evangelho estar ligado a formação de comunidade se
evidencia na percepção dos cinco blocos doutrinais contidos nele em forma de
sermões. Sendo assim, o texto também se torna uma forma de “imitar” Jesus.

O autor apresenta a ideia de que no Evangelho também expressa a


vida comunitária em alguns aspectos. O primeiro deles está ligando a formação
de uma identidade, pois, no texto sagrado aparecem termos como: discípulos,
ekklésia, irmãos, profetas, escribas etc) que dão uma conotação de criação de
uma identidade. Depois o compromisso com a identidade dessa comunidade.
Por conseguinte Jesus que apresenta Deus a partir de sua relação com Ele, a
questão dos ritos e a ideia de origem, inclusive para tratar das práticas
marginais desse contexto.
A comunidade de Mateus faz questão de apresentar a genealogia de
Jesus demonstrando assim uma forma identitária, passando pelo seu
nascimento e infância estabelecido em Nazaré. Essas informações para o autor
são de suma importância também como uma forma de reforçar a origem e os
primeiros passos do Cristo, além de continuar a formação dos primeiros
membros da comunidade.

Segundo o autor da introdução sobre o evangelho de Mateus, a


comunidade também procura a revisão das práticas comunitárias e familiares
com as suas bases (basileia). Nesse contexto, percebemos que a atividade
primária desse evangelho é a busca pela Justiça, tema esse exclusivo em
Mateus. Nesse sentido a Justiça tem uma conotação de ser resistente a uma
sociedade opressora e assim fica claro que o Império de Deus não é de forma
alguma o império romano com as suas configurações.

Outro fato interessante nesse texto é que o escritor do evangelho de


Mateus muito provavelmente não foi o discípulo de Jesus até por não ter
acompanhado uma série de eventos dele, tendo em vista que esse escrito tem
suas bases entre os anos 80 e 90 d.C. A nomenclatura Mateus tem duas
traduções distintas: em hebraico significa “Presente de Deus” e em grego
“Discípulo”.

O Evangelho de Mateus muito provavelmente foi escrito em Antioquia,


tendo como um ponto argumentativo a Didaché que escrita no mesmo período
utiliza o material “mateano”. No evangelho de Mateus percebemos que o autor
“bebe” da fonte de Marcos, bem como da fonte Q em seu escrito e
organização, fazendo assim uma edição desse primeiro evangelho.

Esse provável lugar de escrita do evangelho tem também o seu


significado histórico, político, social e econômico. Antioquia era a capital da
província romana na Síria, onde o Legado ou o Governador eram responsáveis
pela administração do direito romano. Nesse contexto 40% dos edifícios eram
públicos, dentre eles: a ágora, o fórum, ruas, basílicas, banhos etc.
Existia também de forma inevitável a divisão de classes desse
período. As Elites estavam no topo de classe à qual tinham pessoas com poder
aquisitivo elevado, bem como o prestigio políticos. Dentre eles haviam os
sacerdotes e sacerdotisas escolhidos por Roma.

Depois haviam os funcionários, ou seja, pessoas que nesse contexto


social tinham o papel de fazer à vontade da elite como: coletores de impostos,
educadores, juízes e soldados. Essas pessoas estavam à serviço das
pretensões e ambições da elite daquela época. Vale a pena lembras que uma
das formas de obter o poder econômico era por meio de impostos e tributos,
situação essa questionada em Mateus.

Mais abaixo havia a não elite, ou seja, a maioria da população que


era constituída por homens e mulheres livres, libertos e escravos, sujeitos que
eram submetidos a essa estrutura de dominação opressora a qual retirava a
dignidade dessas pessoas, tornando-se uma sociedade marginalizante.

O espaço físico era uma forma ainda mais visível de fortalecer a


verticalização social, ou seja, havia uma distinção pela localidade de moradia e
ambientes aos quais eram frequentados. Além disso, havia uma relação muito
próxima entre cidade e campo algumas vezes havendo uma certa tensão, mas
em outros momentos sendo possível o processo dialógico.

Na Antioquia também era possível perceber a convivência de diversas


étnicas, tendo uma população muitas vezes transitória, com um grupo de
moradores vulneráveis a diversas situações da época, uma delas sendo os
incêndios.

Todavia, é possível questionar onde estão os cristãos de Mateus em


Antioquia? A audiência de Mateus não consistia em marginais involuntários.
Provavelmente a audiência de Mateus não era constituída por muitos. Não é
possível fazer uma estimativa exata das pessoas que constituíam a
comunidade ou os destinatários, porém, por comparação com outros textos
como 1 Cor16,19 que apresenta o local onde o grupo de cristãos costumavam
se reunir pode-se fazer uma estimativa, entretanto, nada absolutamente exato,
mas o texto sagrado também não tem essa pretensão de apresentação.
Além disso, retomamos o tema da tensão com a sinagoga, onde ela
era vista como local por excelência de reuniões de diversas naturezas. Havia
nesse período uma tensão entre o grupo do tempo de Jesus e as comunidades
sinagogas. A partir disso há mudanças como:

 A distância entre Jesus e a Sinagoga;

 A omissão do uso do termo sinagoga (Por exemplo no texto da filha de


Jairo);

 A referência negativa aos líderes religiosos;

 A mudança do termo “Rabbi” por Senhor atribuído a Pedro como uma crítica;
aos mestres daquele período;

 Igualmente essa visão é aplicada aos escribas;

 Os líderes religiosos eram tidos como julgadores.

Alguns assuntos geravam esses conflitos como por exemplo:

 A ideia de Jesus perdoar pecados

 Jesus manifestar a presença de Deus entre os homens

 Jesus interpretar a vontade do pai.

Todas essas temáticas levavam a uma grande discussão entre Jesus,


seus seguidores e a sinagoga.

Por fim, o autor aborda a presença do império romano onde fica


perceptível que nesse contexto existia a existência da marginalidade, mas não
como popularmente conhecemos, ou seja, pessoas más, mas pessoas que
eram excluídas dos contextos sociais centrais, por isso, também existiam as
estruturas e as antiestruturas dessa época, além de ser perceptível grupos
multireligiosos.

Assim, podemos dizer que foi nesses contextos que o evangelho de


Mateus surgiu, levando em conta as suas fontes, questões sociais,
experiências comunitárias e cristológicas. Fazendo essa análise é possível
compreender os elementos que permeiam o texto e a sua apresentação de
Jesus e suas experiências.

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