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FACULDADE BATISTA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – PÓLO

CASIMIRO DE ABREU

CURSO LIVRE EM TEOLOGIA

DIOGO JOSÉ DO NASCIMENTO FERREIRA XAVIER SOARES

MATEUS 5.13-16: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO SERMÃO


CONTRACULTURAL DE CRISTO - A PRÁXIS DO CARÁTER
CRISTÃO

Casimiro de Abreu/RJ
2022
DIOGO JOSÉ DO NASCIMENTO FERREIRA XAVIER SOARES

MATEUS 5.13-16: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO SERMÃO


CONTRACULTURAL DE CRISTO - A PRÁXIS DO CARÁTER CRISTÃO

Artigo científico para conclusão do módulo de


Hermenêutica I – Professor Pr. Robson
Botelho.

Casimiro de Abreu/RJ
2022
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
HERMENÊUTICA DE MATEUS 5.1-16 7
Autor 7
Destinatário 7
Data 8
MATEUS 5.13-16 8
APLICAÇÃO 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS 10
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 11
RESUMO
Com base nisso propõe-se refletir sobre a ação contracultural da Igreja de Cristo, de modo
geral, através da práxis do caráter cristão pregado em Mateus 5.1-12 e exposta nos versículos
de 13 a 16 do capítulo 5 do evangelho de Mateus. Propõe-se uma dialética entre o texto citado
(Mt 5.13-16); os conceitos de contracultura e hegemonia e as propostas de John Stott.

Palavras-chave: Contracultura Cristã; Sermão do Monte; Práxis; Sal e Luz.


ABSTRACT
Based on this, we propose to reflect on the countercultural action of the Church of Christ, in
general, through the praxis of the Christian character preached in Matthew 5.1-12 and
exposed in verses 13 to 16 of chapter 5 of Matthew's gospel. A dialectic is proposed between
the quoted text (Matthew 5.13-16); the concepts of counterculture and hegemony, and the
proposals of John Stott.

Keywords: Christian Counterculture; Sermon on the Mount; Praxis; Salt and Light.
INTRODUÇÃO

Após 7 anos de profundos estudos sobre o sermão do monte, John Stott, propõe
como tema de seu comentário a contracultura do Reino de Deus em relação ao mundo. O
ponto é que as contraculturas se manifestavam e cresciam na década de 50, 60 nos Estados 11
Unidos e irradiavam para outros países, trazem abordagens e pensamentos contrários à
hegemonia1 cultura2 da época, sendo assim, o cristianismo era e é também uma contracultura,
mas uma contracultura das contraculturas, e sempre será, até que Cristo venha e estabeleça
seu Reino definitivamente sobre toda a terra (Ap 11.15)3.
Com base nisso propõe-se refletir sobre a ação contracultural da Igreja de Cristo,
de modo geral, através da práxis4 do caráter cristão pregado em Mateus 5.1-12 e exposta nos
versículos de 13 a 16 do capítulo 5 do evangelho de Mateus. Propõe-se uma dialética entre o
texto citado (Mt 5.13-16); os conceitos de contracultura e hegemonia e as propostas de John
Stott.
O presente artigo tem como aspiração ser introdutório ao assunto e breve, sem
aprofundamentos, extensões e reflexões alongadas sobre o tema, almejando ser de fácil
entendimento para cristãos, ou teólogos que se interessem pelo assunto.

1
O conceito de hegemonia, segundo Gramsci (1978), diz respeito a um grupo social que está em
situação de subordinação a outro e absorve mecanicamente e acriticamente as concepções de mundo do grupo
dominante, mesmo que alguns conceitos estejam em dissonância com a concepções prática do grupo
subordinado.
2
O sentido de cultura é amplo e diverso, mas entende-se, neste artigo, como comportamentos,
tradições, pensamentos e práticas morais e éticas, cosmovisões, linguagem e comunicação.
3
Então, o sétimo anjo fez soar sua trombeta e aconteceram no céu fortes vozes que proclamavam:
“O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo e Ele reinará pelos séculos dos séculos!”
4
Práxis em Gramsci apresenta um teor eminentemente político, onde os subalternos devem se
apropriar dessa filosofia para a superação dos seus problemas sociais. Tal superação se dá na formulação de
novas perspectivas políticas, econômicas e sociais.
HERMENÊUTICA DE MATEUS 5.1-16
Autor
O Evangelho em questão não é assinado pelo autor, ou seja, é anônimo no corpo
do documento sobre a autoria dele. Porém a tradição e os Pais da Igreja: Irineu, Eusébio, e
Orígenes são unânimes, e não citam outro possível autor a não ser Mateus, ou Levi, o
cobrador de impostos que foi chamado por Jesus (Mt 9.9-13). As especulações da não
assinatura de seu nome variam, “talvez por modéstia ou mesmo porque não julgava
importante, uma vez que a comunidade primitiva, que recebeu sua obra, bem sabia quem ele
era” (LOPES, 2019).
Por sua profissão, Mateus, era possivelmente odiado pelos judeus de sua época,
antes de sua conversão. Um judeu que servia ao império opressor era culturalmente
desprezado e considerado um dos maiores traidores de sua nação. Cristo subverte essa cultura
de ódio sobre os traidores, comendo com esses a fim de romper com uma cultura excludente,
e chama os pecadores para Si (Mt 9.9-13 e Lc 5.27-32). Mateus faz questão de destacar essa
posição contracultural em seu evangelho apontando a si como publicano.
Mateus tem seu primeiro nome mudado. Ao narrar seu chamado, Marcos e Lucas
listam Mateus primeiramente como “Levi, filho de Alfeu” (Mc 2.14) e “um publicano
chamado Levi” (Lc 5.27). Outro ponto sobre o autor é a possibilidade dele e Tiago, filho de
Alfeu, serem irmãos, pois ambos são apontados como filhos de Alfeu; para completar, H. D.
Lopes (2019) conjectura que esse parentesco é problemático no que diz respeito à cultura,
uma vez que existe a possibilidade de Tiago ter sofrido influência dos zelotes, por isso seu
nome sempre vem no mesmo bloco perto Judas e Simão, que eram zelotes (grupo
contracultural radical e ideológico contra Roma, força política e cultura hegemônica na
época).

Destinatário
Mateus possivelmente escreveu para os cristãos judeus primitivos, mas
especificamente na Antioquia da Síria. O propósito central do autor é apontar a Cristo como o
Messias, o Rei dos Judeus prometido no Antigo Testamento, pois em seu primeiro capítulo o
evangelista escreve toda a descendência de Cristo, começando em Abraão e passando por
Davi. Michael Green destacou em seu comentário que os irmãos judeus que receberam esse
evangelho estavam em busca de compreensão de quem era Cristo, e como deveriam viver
dentro de uma cultura social que os rechaçava, os considerando contra a Lei, contra a religião
e contra o povo de Israel, traidores assim como outra Mateus era identificado, por ser
publicano; neste caso, ser cristão era ser subversivo a cultura hegemônica na época, e gerava
consequências de morte e perseguição sobre o povo cristão primitivo. (LOPES, 2019).

Data
Não é possível afirmar a data correta deste evangelho. Porém é possível,
observando a profecia da destruição de Jerusalém (Mt 24.15-28), que se concretizou em 70
d.C., e dos inúmeros contrapontos que Mateus faz a seita dos saduceus, sabendo que esta seita
perde sua força antes de 70 d.C., que o evangelho foi escrito antes dessa década, sendo alguns
teólogos e historiadores adeptos de meados de 66 d.C como datação mais coerente.

MATEUS 5.13-16
No texto que nos baseamos como destaque deste artigo é interpretado aqui como
simbólico, pois as afirmações de Cristo aos seus discípulos: “vocês são sal”, “vocês são luz”,
expressão verdades espirituais que se materializam em elementos do cotidiano, trazem o
entendimento para o ensinamento central do texto.
O Sermão do Monte, segundo John Stott (1981), é um dos mais conhecidos
ensinamentos de Cristo, mas que possui a menor compreensão e menor prática de vida. É
possível compará-lo a um manifesto, visto que é a expressão do que Cristo deseja que seus
discípulos sejam e façam.
Os versículos 13 a 16, são posteriores à manifestação das bem-aventuranças, onde
Cristo exclamou o caráter e destinos dos filhos de Deus. Neste sentido, ser sal e luz, é a práxis
de servidão dos filhos de Deus, como sinal do Reino e do caráter de Cristo na terra;
influenciado o mundo com sua vida prática. Neste sentido J. Stott abre os questionamentos:
Que influência poderiam exercer as pessoas descritas nas bem-aventuranças, neste
mundo violento e agressivo? Que bem duradouro poderiam proporcionar o humilde
e o manso, os que choram e os misericordiosos, ou aqueles que tentam fazer paz e
não guerra? Não seriam simplesmente tragados pela enchente do mal? O que
poderiam realizar aqueles cuja única paixão é um apetite pela justiça, e cuja única
arma é a pureza de coração? Essas pessoas não seriam frágeis demais para conseguir
realizar alguma coisa, especialmente se constituem uma minoria no mundo? (Sott,
1981, p.28)
Não resta dúvida que para Cristo essas perguntas não são um problema, para
Cristo não há dúvidas de que o caráter de seus servos a serem sal e luz; o crente em Cristo
possui a responsabilidade de agir como agente ativo e promotor do Evangelho do Reino na
terra. Com a certeza da perseguição por conta da justiça (Mt 5.10-12), o cristão corresponde
com serviço e influência ativa no mundo, sendo gosto relevante e sendo iluminação radiante.
Havendo um caráter de um cidadão do Céu, separado e santo, o cristão passa a pertencer à
nova cultura, moral, e cosmovisão, diferentes da que outrora vivia (Ef 2.35), que são expressas
por Cristo nos primeiros 12 versículos do sermão do Monte de Mateus. O que caracteriza um
sermão Contracultural Cristão.
O conceito de contracultura é simples: “um amplo raio de ação de idéias ou ideais,
experiências e alvos” (STOTT, 1981), que apontam para a contrariedade de uma cultura
vigente e estabelecida - hegemônica. Se valendo desses conceitos, de hegemonia e
contracultura, o sermão do Monte se torna atual em relação às evoluções dos contextos sociais
contemporânea, ou seja, os ensinamentos de Cristo são facilmente aplicáveis e relevantes, em
uma hermenêutica que respeita o contexto do texto bíblico e levando em conta os anseios
contemporâneos.
A cultura hegemônica do mundo, no âmbito bíblico e espiritual, é uma cultura
maligno6. Por esse motivo, o cristão recebe identidade, desde o momento de sua conversão, de
cidadão do Reino de Deus, e agente contracultural no mundo onde se encontra (2 Co 5.207).

APLICAÇÃO
Ao afirmar que somos sal do mundo, Cristo estabelece a Igreja uma função de
agente retardadora da deterioração do mundo, Stott (1981) reconhece que Cristo instituiu o
Estado (e outras instituições) como uma instituição que regula o mundo de sua anarquia.
Entretanto, não há valor moral do Reino em instituições não remidas e regeneradas, no caso
somente a Igreja está imbuída desta função ativa de retardar a autodestruição do mundo, por
conta do domínio do pecado. É importante perceber que Cristo adverte que o sal pode se
tornar insípido, contaminado, impuro, sem sabor para temperar e perde a propriedade de
conter a decomposição da carne, sendo inútil; a Igreja que não assume seu caráter e não se
mantém firme em quem é, se contamina com a cultura deturpada do mundo, perdendo sua
serventia e propósito; ser diferente do mundo é manter seu gosto e sua propósito, é ser
contracultural. O sal é a práxis invisível da Igreja, mas sentida pelo mundo.

5
“Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne,
seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.” (NVI)
6
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.” (1 João 5.19 -
NVI)
7
“Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso
intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus.” (NVI)
Ainda, Cristo exclama “vocês são luz do mundo”, alguns versículos mais a frente
Cristo se identifica como Luz do Mundo, e ao mesmo tempo nos chama de luz do mundo, -
luz essa que reflete a Luz que Cristo é - que não vêm de nós mas dEle. E completa com
“Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras...”, ou
seja, a luz que somos é vista através das “boas obras”. Essas boas obras não se referem
somente a tarefas cotidianas da caridade humana, mas ao ensino, a pregação do evangelho, a
demonstrações de fé em Cristo. Sem excluir o amor ao próximo, conduzindo um mundo
trevoso a olhar para o Pai, e glorificá-lo, ou seja, a Igreja assume papel de farol para o mundo,
direcionando e sendo referência visível ao mundo, atuante em lugares de destaque, onde possa
ser visto e aponte para o Reino de Céus como resposta a uma cultura falida e demoníaca. Ser
luz é contracultural pela práxis da visível rendição a Deus como único digno de glória.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato o Cristo nos ensina nesses trechos analisados é relevante, pois expressa a
ação máxima da Igreja, de forma resumida, direta e profunda. Apontando para a práxis do
cristianismo como seta que aponta o Caminho, Cristo (Jo 4.168).
O conceito de contracultura cristã presente aqui pode ser aprofundado e
explorado, a fim de encontrarmos mais pontos de convergência acerca das propriedades e
utilidades do sal e da luz em resposta à hegemonia cultural que satanás exerce sobre o mundo.
As aplicações podem ser expandidas e conduzidas a diversos ambientes de estudo como o da
antropologia, sociologia e até mesmo psicologia em dialética com a teologia e missiologia, a
fim de traçar diversos perfis culturais e contraculturais onde a Igreja deve se inserir e atuar
com o propósito de cumprir sua missão de serviço como sal e luz, sua práxis.

8
“Respondeu Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por
mim.” (João 14:6 - NVI)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

GRAMSCI, A. 1978a. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira.

INTRODUÇÃO. In: LOPES, H. D. Mateus: Jesus, o Rei dos reis. 1. ed. S. Paulo: Hagnos,
2019. p. 15-32. ISBN 9788524305634.

INTRODUÇÃO. In: TASKER, R. V. G. Mateus: Introdução e Comentário. Tradução: Odayr


Olivetti. 1. ed. rev. S. Paulo: Vida Nova, 2006. p. 8-21. ISBN 8527501600.

STOTT, John. Contracultura Cristã: A Mensagem do Sermão do Monte. 1. ed. S. Paulo: ABU


Editora S/C, 1981. 108 p.

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