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1. Reflexão Teológica: O que é missão?

2. Missões nos Primeiros Cinco Séculos


3. Reflexão Teológica: A expectativa com a missão
4. Missões na Idade Média
5. Reflexão Teológica: Quão integral é a missão?
6. Missões Católicas na Colonização
7. Reflexão Teológica: O método da missão
8. Missões Protestantes nos Séculos 16 e 17
9. Reflexão Teológica: Histórico e Teologia para missão
10. O Grande Século Missionário
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Definir “missão” tem sido alvo de controvérsias.
 Sentido abrangente ou restrito?
 Missio Dei e suas dificuldades
 Missão é primordialmente “envio” ou “tarefa”?
 Quatro modelos (do mais amplo ao mais restrito): Missio
dei, mandato cultural, ação social, fazer discípulos
 Eclesiologia saudável envolve missões, mas não é menor
do que ela.
 Nossa visão de missões afeta significativamente
nossa empreitada missionária.
 Todavia, nem sempre articulamos bem nossa
visão missionária e acabamos operando
segundo modelos que nos cercam,
ensinamentos aprendidos, etc.
 Nossa grande tarefa é nos conscientizarmos
mais de nossa visão missionária para que
procuremos moldar o que fazemos ao que
afirmamos crer (coerência de cosmovisão).
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Partindo de um contexto brasileiro, temos dificuldade de
conceber o que significa uma sociedade conquistada do
paganismo pelo cristianismo, isto é, o tamanho dos
obstáculos religiosos e culturais.

 Outra miopia que temos é presumir que evangelizar no


primeiro século era mais fácil por ser uma sociedade menos
sofisticada e complexa.

 TESE: toda época é a pior época para pregar o evangelho e, ao


mesmo tempo, a mais oportuna para pregar o evangelho.
 Pregar que o líder da sua religião é um homem considerado
criminoso não é uma mensagem muito popular. Não há
mensagem menos atrativa do que esta: que sejamos parecidos
com um homem que foi punido pelas autoridades com morte.
Humanamente falando, pregar um ‘criminoso’ não traz
convertidos. Não é à toa que para os gregos tratava-se de uma fé
ridícula (At 17.18, 32), para os romanos uma fé ineficaz, e para os
judeus uma fé herética (Mt 26.64-65; Jo 19.19-21).
 Além da mensagem nada popular, podemos acrescentar que os
pregadores eram pessoas nem instruídas nem importantes ou, ao
menos com pessoas influentes atrás de si. Eram, também, de um
país sem expressão no Império Romano.
 Os mensageiros.

 O messias.

 A religião.
 Religio e superstitio.

 Acusações.

 Característica sócio-cultural.

 Ética exigente.
 Pax romana.

 Língua grega.

 Abertura para alternativas religiosas.

 A dispersão dos judeus.

 A religião judaica.
 Ao mesmo tempo, possuía as dificuldades mais
terríveis (pior das épocas) e facilidades como
nunca dantes (melhor das épocas). Portanto,
não podemos ser saudosistas quanto a tempos
passados , nem dramáticos quanto ao nosso
tempo presente.
 O conhecimento do nosso tempo é importante,
mas sem uma boa base histórica nós tiraremos
conclusões precipitadas. Mais sábio é o povo
que conhece a sua história.
1. Evangelistas itinerantes leigos

2. Testemunho informal na vida diária dos crentes

3. A caridade cristã que atingia além de seus pobres

4. A fé demonstrada na perseguição e morte

5. O raciocínio dos apologistas atingindo a classe


intelectual
 Atos narra acréscimos aos milhares
 Na janela que não houve perseguição (260-300
A.D.), há vasto número de conversões
 Há uma estimativa de que no final do terceiro século
os cristãos fossem 10 % da população
 O número quadruplicou após a conversão de
Constantino que trouxe apoio financeiro estatal à
religião cristã, além de posteriormente rechaçar as
religiões nativas
 Nos primeiros duzentos anos se mantiveram
distantes de qualquer serviço governamental – civil
ou militar. No terceiro século, porém, os cristãos
estavam em toda parte da sociedade.
 Apologistas foram instrumentos para que o
cristianismo adentrasse a elite cultural.
 A distância de cristãos do entretenimento daqueles
dias acabou colhendo seus frutos quando
Constantino impediu a prática dos jogos mortais
entre gladiadores.
 Caridade

 Castidade

 Todos testemunhando
 Distância do judaísmo implicou perda de
privilégios.
 De Nero a Diocleciano.
 Perseguição universal só no terceiro século.
 A perseguição sob Diocleciano foi a pior.
 A perseguição fortaleceu a igreja (Policarpo,
Justino, Perpétua e Felicitas).
 Tolerância religiosa

 Prosperidade e prestígio na sociedade

 Falta aumento da estatura espiritual

 Missões com interesse político


▪ Ulfilas/Martinho vs. Patrício/Columba
 A importância do trabalho “leigo” de
missionários anônimos é sinal da saúde da
igreja. Nosso grande desafio é ter uma igreja
missionária, antes do que mais missionários.
 Sempre devemos ser lembrados que o
crescimento vem de Deus, de que é Cristo quem
edifica a igreja.
 Perseguições não são boas em si, mas
historicamente tem sido uma ocasião de
amadurecimento da fé cristã.
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Mateus 24.14 não é ordem, mas promessa
encorajadora
 A história testifica de vários e crescentes
cumprimentos da promessa
 Essa visão escatológica nos traz equilíbrio
quanto ao que esperar (crescimento, mas nem
sempre no mesmo lugar: mudança do eixo
geográfico) e ao que fazer (não mensurar a
missão calculando os não alcançados)
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Irlanda: farol missionário do século 6º ao 8º
 Atingiram da Escócia ao norte da Itália
 Adentraram o paganismo das tribos bárbaras
sem apoio político ou militar, sem credenciais
ou apoio financeiro
 Polêmica com sacerdotes romanos:
casamento e adaptação cultural
 Monastérios: centros da cultura cristã; a cruz,
o livro e o arado
 Sempre com apoio político e eclesiástico da
Santa Sé
 Acompanhava explorações políticas e
militares; gerava cristianismo nominal
 A obra de Agostinho da Cantuária
 A obra de Bonifácio
 A “conversão” dos saxões
 Conquista e conversão
 A expansão do islamismo
 Os motivos das cruzadas: religiosos, econômicos e
políticos.
 Resultado negativo: fechar a porta do cristianismo
no Oriente Médio.
 Benefícios com as cruzadas: tecnologia e comércio.
 Lição da Idade Média: toda evangelização é
envolta na cultura do evangelizador (inevitável); tal
realidade carrega erros, mas também transforma
cultura.
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 O debate tem girado em torno de um dualismo: como
equilibrar evangelização com responsabilidade social?
 A Missão Integral não tem uma visão holística
suficiente de redenção. Sanar uma deficiência
econômica como o complemento do “espiritual” é um
conceito pobre de redenção influenciado por propostas
socialistas.
 Deveríamos crer que o evangelho impacta outras áreas
extra-eclesiásticas (através de instituição e/ou de
indivíduos), mas não deveríamos pensar só
economicamente (ex: o que seria TMI na Noruega?)
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Ordens religiosas acompanharam a expansão
além mar de Espanha e Portugal.
 Ordens religiosas: servilidade e mobilidade.
 1 Co 7: temos desprezado a utilidade do
solteiro.
 Patronato; Sagrada Congregação da
Propagação da Fé.
 Evangelização com exploração; Bartolomeu
de Las Casas (1474-1566).
 Parte da Reforma Católica do Século 16
 Ordem fundada em 1540 por Inácio de Loyola
 Importantes para a obra missionária
 Francisco Xavier: primeiro missionário –
trabalhou em vários lugares
 Mateus Ricci: trabalho na China
 No Japão, Francisco Xavier adotou o vestuário
das classes superiores e buscou o patrocínio e a
proteção dos comerciantes
 Na China, Mateus Ricci
▪ Termo do confucionismo para ‘Deus’
▪ Vestimentas dos intelectuais
▪ Adaptação da veneração chinesa dos ancestrais
 Até onde a comunicação do cristianismo aos não-
europeus devia envolver um reposicionamento
cultural da fé?
 1 Co 9.19-23
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 Não precisamos tornar o evangelho relevante;
a mensagem é sempre relevante mas suas
implicações são específicas
 Não há como não sermos contextualizados
(refletimos tendências da época)
 Contextualização envolve adaptação e
confrontação
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 A opinião comum é de que enquanto os
católicos estavam conquistando o mundo, os
protestantes não estavam fazendo missões.
A constatação é que se demorou muito até os
protestantes iniciarem sua atividade
missionária com os morávios no século XVIII,
e pergunta-se o porquê.
1. A mais importante é teológica: grande
comissão só para os apóstolos
2. Preocupação com sobrevivência e poucos
recursos
3. Os países protestantes não estavam
envolvidos na expansão geográfica
4. Ausência de ordens religiosas
 Contexto social e político:
▪ É anacronismo exigir que as terras protestantes sejam
divulgadoras do evangelho atravessando mares quando
lhes falta a localização geográfica, os recursos financeiros
e informações.
▪ Patrocinar a comitiva ao Brasil foi a única oportunidade
que a Companhia dos Pastores tiveram.
▪ Assim que tiveram os meios eles fizeram missões (ex:
holandeses em Pernambuco) e produziram uma teologia
de missões (Gisbertus Voetius).
 Contexto teológico e exegético:
▪ A exegese de Calvino em Mt 28.19 e Mc 16.15 faz sentido
exegético e segue a tradição exegética de amarrar
primariamente aos apóstolos.
▪ Não significa que Calvino cria que o trabalho de pregação
às nações fora completado pelos apóstolos (comentários,
sermões e oração).
▪ A Europa como seu campo missionário e o treinamento de
ministros para esse campo como sua filosofia missionária,
mostram que ele era um homem de ação.
Acrescente a isso a migração aos EUA e a missão
entre os índios (John Elliot, David Brainerd).
 Contexto: grande expansão comercial (Companhia
das Índias Orientais/Ocidentais); crescimento das
missões católicas; Seminarium Indicum (1622-1632)
 Primeira missiologia protestante amadurecida
 Povos a serem alcançados: tanto descrentes
(judeu, muçulmano, etc.) quanto “hereges”
(entusiastas, deístas, etc.); estratégia diferente para
cada grupo.
 Visão ampla de missões: plantação, reforma,
incorporação, suporte financeiro
 O exemplo de Calvino e Voetius comprova de que a
missão da igreja é muito mais ampla do que levar o
evangelho a pessoas que nunca ouviram.
 Podemos e devemos enxergar a Reforma como um
movimento com impacto missionário
 A missão não “acaba” apenas com a evangelização
de todos os povos (etnias). O evangelho sempre
precisa ser redescoberto em lugares onde já houve
semeadura.
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
• Paulo estimulado pela eleição a evangelizar (At
18; 2 Tm 2.10); existe um estímulo em saber que
no Senhor o nosso trabalho não é vão
• A vitória de Cristo (Mt 28.18) é um estímulo
evangélico que perdura como estímulos
legalistas (ex: amor pelas almas, dever cristão)
não o fazem
• A obra do Espírito em chamar eficazmente os
homens é um grande incentivo missionário
História das Missões
Prof. Heber Carlos de Campos Júnior
 O movimento pietista
▪ Da universidade pietista de Halle saíram missionários que organizaram
uma missão na cidade de Tranquebar, Índia
▪ Bartholomew Ziegenbalg influenciou o jovem Zinzendorf
 Os morávios
▪ O movimento missionário mais significativo do século 18
 Os avivamentos
▪ Wesley foi impactado pelos morávios e visitou Herrnhut (a meca dos
morávios), quando esteve vários dias com Zinzendorf
▪ Whitefield estudou as obras do pietista Francke
 As missões na América do Norte
▪ Além de John Elliot entre os índios, os britânicos (a Igreja da Inglaterra)
organizaram três sociedades missionárias antes de William Carey
 Nicolaus Ludwig Zinzendorf (1700-1760) abrigou os Irmãos Unidos, como
eram chamados, na Saxônia e tornou-se bispo deles em 1737. O nome da
colônia era Herrnhut (“Atalaia do Senhor”).
 Desafiados por Zinzendorf (após o clamor de um negro e dois esquimós
que conheceu em uma viagem), os irmãos morávios enviaram 226
missionários para dez países, entre 1732 e 1760. Nos primeiros 150 anos
dessa pequena igreja, foram mais de 2000 missionários. A proporção de
missionários para leigos era de 1 por 60.
 Realizaram missões sem treinamento formal, educacional ou teológico. O
primeiro centro de treinamento missionário só foi fundado em 1869. Sua
fraqueza foi concentrar em evangelização e negligenciar a implantação de
igrejas e formação de liderança.
 Compensavam sua deficiência de preparo com zelo. Eram profissionais
enquanto missionários (‘fazedores de tendas’) para obterem seu sustento.
 Fatores sociais que contribuíram para a expansão missionária:
▪ A Companhia das Índias Ocidentais expandiu o comércio mundial, abrindo
portas para a colonização européia e difusão do cristianismo
▪ A invenção do barco a vapor tornou as viagens mais eficientes e seguras
▪ Combateram males sociais: casamento de crianças, morte de viúvas e
protituição no templo (na Índia); vício do ópio e o abandono de bebês (na
China); poligamia, o trabalho escravo e a destruição de gêmeos (na África).
 Fatores religiosos que contribuíram para a causa missionária:
▪ Um despertamento mundial para oração em prol de pagãos
▪ A organização de inúmeras agências missionárias no início do século 19
▪ Novas sociedades bíblicas – tradução e distribuição da Bíblia em massa
▪ Escolas teológicas (Andover, Princeton) – enviaram formandos para o campo
▪ O surgimento das Missões de Fé (Ex: Missão para o Interior da China, de
Hudson Taylor), não denominacionais, atraiu voluntários com pouco
treinamento formal
 Pai das missões modernas –muitas sociedades
missionárias pós-Carey
 Características pessoais: sede por conhecimento e determinação atípica
▪ Conhecimento: habilidade de aprender línguas (enquanto jovem aprendeu seis como
autodidata), interesse por botânica (hobbie de Carey)
▪ Determinação: convencer os amigos a organizar uma sociedade missionária,
perseverar após os primeiros sete primeiros anos na Índia, recomeço após o incêndio da
imprensa em Serampore
 Transpôs a barreira teológica do hiper-calvinismo entre batistas
 Uma Investigação da Obrigação dos Cristãos de Usar Meios para a Conversão
dos Pagãos (1792)
 Trio de Serampore (1800-1823) – tradução da Bíblia para 40 idiomas
 Carey ensinou línguas nativas numa faculdade em Calcutá
 Contribuição social: sacrifícios de crianças no rio Ganges e queima de
viúvas nas piras fúnebres de seus esposos
 Os quatro filhos de Carey se tornaram missionários
 William Carey
▪ Relacionamentos diferentes com a primeira e segunda esposas
 David Livingstone
▪ Deixou esposa e filhos pequenos voltarem para Inglaterra por anos para
que ele realizasse as viagens exploratórias para o interior da África
 Robert Morrison
▪ Enviou tanto a primeira como a segunda esposa e filhos de volta à
Inglaterra enquanto realizava traduções da Bíblia para o chinês
▪ Na Inglaterra, desafiou mulheres solteiros ao serviço missionário
 Hudson Taylor
▪ Desmanchou um noivado para ir à China; sofreu com solidão
▪ Casou-se com missionária nascida na China (verdadeira parceria)
 Missionário solteiro ou missionário casado?
 Cuide da sua família!!
 DEYOUNG, Kevin e Greg Gilbert. Qual a Missão da Igreja? :
Entendendo a Justiça Social e a Grande Comissão. São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2012.
 GONZALEZ, Justo L. e Carlos Cardoza Orlandi. História do
Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos, 2010.
 GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo:
Vida Nova, 1989.
 NEILL, Stephen. História das Missões. São Paulo: Vida Nova,
1989.
 NOLL, Mark. Momentos Decisivos na História do
Cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã.
 TUCKER, Ruth A. Missões até os confins da Terra: uma história
biográfica. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

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