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O PACTO DA GRAÇA TANTO NO ANTIGO QUANTO NO NOVO TESTAMENTO

Wilhelmus à Brakel

Editor: Christopher Vicente;

Tradutor: Christopher Vicente;

Revisor: Christopher Vicente.

À BRAKEL, Wilhelmus. O Pacto da Graça tanto no Antigo quanto no Novo


Testamentos. Natal: Nadere Reformatie Publicações, 2019.

À BRAKEL, Wilhelmus. The Covenant of Grace Identical in both Old and


New Testaments. Disponível em: <
https://purelypresbyterian.com/2017/02/03/the-covenant-of-grace-identical/
>. Acesso em: 04 mar. 2019.

A versão bíblica utilizada no presente material é a Almeida Revista e Atualizada.

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SUMÁRIO

NOTA DO EDITOR

FUNDAMENTO BÍBLICO DA DOUTRINA

OBJEÇÕES À DOUTRINA EXPOSTA

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NOTA DO EDITOR

Wilhelmus à Brakel [1635-1711] é um puritano holandês da Nadere Reformatie


(movimento puritano holandês), cujo objetivo era que o Calvinismo, ali
abraçado, fosse mais profundo tanto em coerência doutrinária quanto em vida-
experimental. O material que se segue é um trecho da clássica Teologia
Sistemática de à Brakel sob o título The Christian’s Reasonable Service –
quisera o Senhor, que toda ela fosse traduzida para o português. É dito sobre
ela que: “é mais do que uma teologia sistemática”; nela, à Brakel “desejava
intensamente que a verdade exposta se torne uma realidade experimental nos
corações dos que a lerem” (BEEKE, Joel. PEDERSON, Rendall. Paixão pela
Pureza. São Paulo: PES, 2010. p. 884).

Nesse trecho recortado, à Brakel expõe a doutrina do Pacto da Graça


fundamentando-a nas Escrituras e contra argumentando as objeções. Essa obra
é muitíssimo útil para igrejas que: ou historicamente defensoras da Teologia do
Pacto, negligenciaram essa doutrina; ou defensores do dispensacionalismo e
Teologia da Nova Aliança. Para todo aquele que pensa que a salvação no Antigo
Testamento era pelas obras ou que os que eram salvos, ali, pela fé no Messias,
não faziam parte da Igreja de Cristo, os crentes nEle.

Christopher Vicente

Editor

04 de março de 2019.

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FUNDAMENTO BÍBLICO DA DOUTRINA

Pergunta 1: Quando foi iniciado o Pacto de Graça?

Resposta: Devido a um mal-entendido sobre a natureza do Pacto da Graça, os


socinianos e arminianos[1] (que são, neste aspecto, da mesma opinião) afirmam
que ele não existia no Antigo Testamento.[2] Embora eles admitam que foi
anunciado que um Salvador viria em um determinado momento, e que uma
aliança de graça seria estabelecida em um determinado momento, eles
afirmam que não houve tal pacto durante a dispensação[3] do Antigo
Testamento. Eles alegam que aqueles que vivem naquela dispensação não
eram participantes desta aliança, não receberam nenhuma promessa relativa à
salvação eterna e não receberam a vida eterna pela fé e esperança em um
futuro Salvador. Em vez disso, eles receberam pela graça, isto é, com base na
virtuosidade deles.

A isso respondemos que, embora a administração da aliança fosse muito


diferente em cada um dos testamentos, essa aliança, no que diz respeito à
essência, também existia no Antigo Testamento – sendo iniciada com Adão –
assim como é, atualmente, no Novo Testamento.

Prova 1: Isto é, em primeiro lugar, confirmado pelo fato de que, imediatamente


após a queda, esta aliança foi estabelecida no Paraíso por meio da promessa

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Os socinianos eram um grupo sectário e heterodoxo da época, seguidores dos ensinos do “teólogo italiano
Faustus Socinus (1539-1604), que, embora afirmasse a autoridade da Escritura, negava doutrinas da Trindade e
da Deidade de Cristo como contrárias à razão. O socianismo e o deísmo deram origem ao unitarismo entre os
batistas e presbiterianos ingleses e entre os congregacionais da Nova Inglaterra”. Os arminianos eram um
grupo sectário e heterodoxo da época, cuja soteriologia popularizada por Jacobus Armínio (1560-1609) e seus
seguidores, “descartando o entendimento reformado sobre a incapacidade humana, a eleição graciosa e a
expiação particular, com o fim de acomodar-se à noção de expiação universal, embora negando a salvação
universal. [...] também descartaram a doutrina reformada da perseverança dos santos (BEEKE, Joel. PEDERSON,
Randall. Paixão pela Pureza. São Paulo: PES, 2010. p. 982, 1002). [N. do Editor].

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Hoje, podem ser inclusos entre os defensores desse erro os dispensacionalistas e outras escolas de mesma
opinião [Nota do Editor].

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A palavra dispensação, para os puritanos e reformadores, significa “administração”. Embora, usada,
atualmente, pelo grupo cujo nome é baseado nela – os dispensacionalistas – os puritanos e os reformadores
viam de maneira totalmente distinta da maneira pela qual os dispensacionalistas veem. Para os reformados,
houve apenas duas administrações (dispensações) de um mesmo Pacto (o da Graça): a Antiga Aliança do Pacto
da Graça e a Nova Aliança do Pacto da Graça [Nota do Editor].

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em Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência
e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.

Esta Semente da mulher é o Senhor Jesus, que, sem o envolvimento de um


homem, nasceu da Virgem Maria. Tal coisa nunca foi e nunca será verdadeiro
sobre qualquer homem. Só Cristo, e ninguém mais, machucou a cabeça da
serpente, isto é, o diabo – “para que, por sua morte, destruísse aquele que tem
o poder da morte, a saber, o diabo” (Hebreus 2:14); “Para isto se manifestou o
Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1 João 3:8). Cristo, a Semente
da mulher, que feriria a cabeça do diabo, é prometido aqui, o que pode ser
deduzido da ameaça feita à serpente.

Esta promessa não foi dirigida a Adão e Eva, mas apenas aos ouvidos deles. A
partir disso, conclui-se que a Aliança da Graça não foi estabelecida com Adão e
Eva, e neles com todos os seus descendentes – como ocorreu com o Pacto das
Obras. Em vez disso, Adão e Eva, ouvindo essa promessa, tiveram que receber
o Salvador prometido para si mesmos, a fim de serem consolados, como todo
crente fez depois da entrega dessa promessa – o que se tornará evidente no
que se segue.

Prova 2: O evangelho, que é a oferta desta aliança, é proclamado tanto no


Antigo quanto no Novo Testamento. “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão
abençoados todos os povos” (Gálatas 3:16). O Senhor disse “em ti”, isto é, na
tua semente, que é Cristo. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém
como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (Gálatas 3:16).

Abraão acreditava nessa boa notícia, não para os pagãos que ainda viriam e
acreditariam, mas para si mesmo. Era para seu benefício pessoal, sendo em
justificação, a qual é uma absolvição de culpa e de punição, e uma concessão
do direito à vida eterna. Isto é confirmado em Gênesis 15:6: “Ele creu no
SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça”. “Ora, Abraão creu em Deus, e
isso lhe foi imputado para jus_ça†; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tiago
2:23).

Que o evangelho foi proclamado a ele, não foi um privilégio extraordinário


concedido a Abraão apenas. A Igreja do Antigo Testamento tinha o privilégio
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idêntico, o que é evidente em Hebreus 4:2a: “Porque também a nós foram
anunciadas as boas-novas, como se deu com eles”. É proclamada a nós para
que a recebamos, em nosso benefício, e também, para o benefício deles. A
razão pela qual muitos não se beneficiaram disso não foi atribuída ao fato de
que não lhes foi oferecido, mas devido a não o receberem pela fé: “mas a
palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela
fé naqueles que a ouviram” (Hebreus 4:2b).

Assim, na dispensação do Antigo Testamento, Cristo foi proclamado e


oferecido no evangelho; e todos foram obrigados, por meio desse evangelho, a
crer em Cristo para justificação – como Abraão fez. O Pacto da Graça, portanto,
existia no Antigo Testamento.

Observe isso, também, em referência a Moisés. “Pela fé, Moisés, quando já


homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, [...] porquanto
considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do
Egito, porque contemplava o galardão” (Hebreus 11:24, 26). Moisés conheceu
Cristo, acreditou em Cristo, estimava a Cristo como sendo precioso e tinha as
promessas em vista através de Cristo. Este capítulo enumera um registro
inteiro dos crentes do Antigo Testamento e os benefícios dos quais eles se
tornaram participantes pela fé em Cristo.

Prova 3: A garantia da Aliança era, igualmente, eficaz, no Antigo Testamento,


como o era no Novo; assim esta aliança existia lá tanto quanto agora. “Jesus
Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13:8). “Hoje”
refere-se ao tempo presente, “para sempre” refere-se ao futuro e “ontem”
refere-se ao passado. O apóstolo não afirma, simplesmente, que Cristo era, é e
será, mas diz que Cristo sempre foi o mesmo; isto é, reconciliação, conforto e
socorro. Portanto, não devemos desmaiar sob a opressão.

Por “ontem” não podemos entender o tempo imediatamente anterior a Paulo,


isto é, o período da permanência de Cristo na terra. É muito evidente que o
apóstolo exorta os crentes a serem firmes, visto que Cristo, em todos os
momentos – isto é, tão logo a igreja veio à existência e enquanto a igreja existir
– é o mesmo fiel Salvador. “Ontem”, portanto, refere-se ao tempo anterior à
encarnação de Cristo, que também é confirmado pela declaração de que Cristo
foi morto antes da fundação do mundo: “adorá-la-ão todos os que habitam

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sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do
Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).

As palavras “desde a fundação do mundo” não podem ser tomadas como se


relacionasse às palavras “cujos nomes não estão escritos no Livro da Vida”. Não
há necessidade de voltar àquela frase anterior, e nunca se disse que Cristo foi
morto sem nenhuma declaração modificadora. Mesmo se interpretássemos
essas palavras como tais, a saber, “cujos nomes não foram escritos no Livro da
Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”, permanece um
fato estabelecido de que havia um livro anterior à fundação do mundo, no qual
os nomes dos crentes foram escritos. Este é o livro do Cordeiro, isto é, de
Cristo. Assim a morte de Cristo é notada como sendo eficaz naquele tempo, já
que ninguém pode ser escrito naquele livro a não ser pela eficácia de Sua
morte ao ser morto. É muito simples e claro, no entanto, que se deve juntar as
palavras como o apóstolo faz: “o Cordeiro, morto desde a fundação do
mundo”.

Pergunta 2: Mas, de que maneira Cristo foi morto desde aquele tempo? O
apóstolo parece contradizer isso em Hebreus 9:26, onde lemos: “Ora, neste
caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do
mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por
todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”.

Resposta: O apóstolo mostra que a morte de Cristo tinha de ocorrer apenas


uma vez e que esse único sacrifício foi eficaz desde a fundação do mundo.
Assim, ele confirma, vigorosamente, que essa morte de Cristo já era eficaz,
sendo tal como se Ele naquela época e desde aquele tempo realmente tivesse
sofrido. Assim, o autor confirma que Cristo é o mesmo ontem e hoje. Cristo não
foi morto, na verdade, desde a fundação do mundo, mas sim, no que diz
respeito à eficácia do Seu sacrifício.

A partir daquele momento, os crentes creram nEle através dos sacrifícios, onde
viram a morte do Salvador que viria e o receberam pela fé para justificação.
Isto era verdade para Abel e Enoque, pois lemos: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus
mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser
justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela,
também mesmo depois de morto, ainda fala. Pela fé, Enoque foi trasladado
para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da
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sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus” (Hebreus 11:4-
5). Abel sacrificou em fé, Abel agradou a Deus, e Abel foi justo. Isto expressa
irrefutavelmente que Abel viu Cristo representado em seu sacrifício.

Prova 4: Os crentes, no Antigo Testamento, tinham todos os benefícios


espirituais da Aliança da Graça; e assim eles, como o é verdade para nós, no
Novo Testamento, tinham a aliança em si.

(1) Deus era seu Deus e seu pai. “Eu sou o Senhor, teu Deus” (Êxodo 20: 2); “Eu
sou o teu Deus” (Isaías 41:10); “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai” (Isaías
64:8); “Não é fato que agora esmo tu me invocas, dizendo: Pai meu [...]”
(Jeremias 3:4)

(2) Eles tiveram o perdão dos pecados. “por causa de suas iniquidades. Se
prevalecem as nossas transgressões, tu no-las perdoas” (Salmo 65: 3); “tu
perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Salmo 32: 5).

(3) Eles tinham o espírito de adoção para os filhos. “Pertence-lhes a adoção”


(Romanos 9:4); “tendo o mesmo Espírito da fé” (2 Coríntios 4:13); “guie-me o
teu bom Espírito por terreno plano” (Salmo 143:10).

(4) Eles tinham paz de consciência com Deus. “Mais alegria me puseste no
meu coração” (Salmo 4:7); “Somente em Deus, ó minha alma, espera
silenciosamente” (Salmo 62:1).

(5) Eles tiveram uma comunhão infantil com Deus. “Quando acordo, ainda
estou contigo” (Salmo 139:18); “quanto a mim, bom é estar junto a Deus” (Sl
73:28).

(6) Eles eram participantes da santificação. Sim: "Quanto amo a tua lei! É a
minha meditação, todo o dia” (Salmo 119:97).

(7) Após a morte, eles entraram em felicidade eterna, pelo qual ansiavam.
“porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto
e edificador. [...] Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial.
Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto
lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11:10, 16). Eles eram os destinatários
desta salvação. “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus,
como também aqueles o foram” (Atos 15:11). O apóstolo não se refere, aqui,
aos pagãos, nem eleva a salvação dos pagãos acima da salvação dos judeus,
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mas sua referência foi aos pais que não puderam suportar o jugo e, no entanto,
foram salvos pela fé. A partir disso, ele afirma que sua expectativa de salvação
era também pela fé e não pelas obras da lei cerimonial. A partir disso, ele
conclui que não se deve impor a exigência da circuncisão e a manutenção da lei
cerimonial sobre os gentios.

De tudo isso é evidente que os crentes sob o Antigo Testamento desfrutavam


dos benefícios da Aliança da Graça, tinham a aliança e eram participantes da
mesma aliança conosco, tendo todos comido a mesma carne espiritual e tendo
bebido a mesma bebida espiritual (1 Co 10: 3-4). Portanto, o apóstolo Pedro
chamou a nação judaica: “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus
estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência, serão
abençoadas todas as nações da terra” (Atos 3:25).

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OBJEÇÕES À DOUTRINA EXPOSTA

Objeção 1: No Antigo Testamento os crentes não receberam as promessas,


“não tendo recebido as promessas” (Hebreus 11:13).

Resposta: As promessas as quais o apóstolo se refere tratam da encarnação de


Cristo, a qual eles viram de longe, nela acreditaram e a abraçaram.

Objeção 2: “Pois a Lei nunca aperfeiçoou coisa alguma” (Hebreus 7:19).


Resposta: As leis cerimoniais, às quais o apóstolo se refere aqui, careciam de
eficácia de satisfação, mas apontavam para Cristo. Elas foram um estímulo para
uma esperança melhor. Pela fé em um Messias que viria, eles eram perfeitos
nEle (Colossenses 2:13).

Objeção 3: Em Hebreus 9:8, lemos “querendo com isto dar a entender o


Espírito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou,
enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido”.

Resposta: Cristo é o caminho (João 14:6). Cristo consagrou o caminho para


Deus e para a glória através do véu, isto é, Sua carne (cf. Hebreus 10:19-20). O
texto afirma que, enquanto as cerimônias ainda estavam em vigor, Cristo ainda
não havia realmente pago o resgate, nem adquirido a salvação para os Seus.
Quando isso ocorreu, no entanto, essas cerimônias não serviram mais a um
propósito.

O apóstolo não diz que ninguém entrou no céu durante esse período de tempo
– o que os partidos mais divergentes [da doutrina aqui exposta] não se
atreveriam a negar. Enoque, Elias, Moisés, Abraão, Isaque e Jacó os
repreenderiam. Nem o apóstolo declara que o caminho para o céu ainda não
era conhecido, pois quem possui fé, esperança e amor, também conhece o
caminho. Antes, o apóstolo afirmou que o próprio Cristo (que realizaria aquilo
que todo o serviço do tabernáculo não poderia fazer, isto é, a salvação dos
pecadores) ainda não havia chegado na carne.

Objeção 4: O apóstolo afirmou que Cristo “manifestada, agora, pelo


aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte,
como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2 Timóteo
1:10). Assim, luz e vida não estavam presentes antes da encarnação de Cristo.
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Resposta: O texto afirma que Cristo é Aquele que trouxe vida e imortalidade à
luz. Não menciona, no entanto, que Cristo fez isso apenas depois de sua
encarnação, e não antes de sua vinda. Nós mostramos acima que Cristo, que é
o mesmo ontem e hoje, estava assim engajado, no Antigo Testamento, tendo o
evangelho sido proclamado também durante esse tempo. Este texto, no
entanto, refere-se à medida da Revelação e à revelação do evangelho aos
gentios, os quais, antes disso, ocorreram apenas em Israel.

Isto é confirmado no versículo 11, onde lemos: “para o qual eu fui designado
pregador, apóstolo e mestre”. O apóstolo afirma isso, expressamente, quando
ele diz: “o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos
homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no
Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e
coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; [...] A
mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios
o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3:5-6, 8). Atos 16:25-
26 também deve ser entendido assim, onde lemos: “Por volta da meia-noite,
Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros
de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu
os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de
todos”.

A partir disso, é evidente que não há uma distinção entre o Antigo e o Novo
Testamento no que diz respeito ao caminho da salvação, mas a distinção é
entre a nação judaica, que, à época, era a única receptora de revelações; e os
gentios que agora têm a mesma revelação.

Objeção 5: Considere os seguintes textos: “Ora, todos estes que obtiveram


bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da
promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que
eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11:39-40); “A eles foi
revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas
que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado
do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar”
(1 Pedro 1:12). É evidente, a partir desses textos, que aqueles que viveram
durante o período do Antigo Testamento não participaram desses benefícios.

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Resposta: Esses textos referem-se, expressamente, à encarnação de Cristo,
sendo evidente que essas promessas não foram recebidas enquanto esses
santos viviam. Eles proclamaram que Cristo viria em algum tempo, mas que
eles não o esperavam durante o tempo deles. A esse respeito, eles não
ministraram a si mesmos, mas a nós que vivemos depois da vinda de Cristo; nós
que podemos contemplar e desfrutar do cumprimento dessa promessa. Assim
desfrutamos de coisas melhores do que eles; isto é, elas são melhores, pois o
cumprimento da promessa é melhor do que a própria promessa.

Segue-se daí que esses textos não se referem ao desfrute dos benefícios do
Pacto [da Graça], pois eles eram participantes disso tanto quanto nós (o que já
foi mostrado). O apóstolo destacou isso no próprio texto quando declarou:
“que eles sem nós não sejam aperfeiçoados”. Eles foram assim aperfeiçoados,
não pelas obras da lei, mas por meio de Cristo, cuja vinda eles tiveram em
forma de promessas, da qual temos o cumprimento. Eles, portanto, não foram
salvos em nenhuma base diferente da nossa, pois nós e eles somos salvos pelo
mesmo Fiador. O Novo Testamento é superior ao Antigo Testamento apenas
no que diz respeito à administração.

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