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O PACTO DA GRAÇA TANTO NO ANTIGO QUANTO NO NOVO TESTAMENTO
Wilhelmus à Brakel
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SUMÁRIO
NOTA DO EDITOR
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NOTA DO EDITOR
Christopher Vicente
Editor
04 de março de 2019.
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FUNDAMENTO BÍBLICO DA DOUTRINA
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Os socinianos eram um grupo sectário e heterodoxo da época, seguidores dos ensinos do “teólogo italiano
Faustus Socinus (1539-1604), que, embora afirmasse a autoridade da Escritura, negava doutrinas da Trindade e
da Deidade de Cristo como contrárias à razão. O socianismo e o deísmo deram origem ao unitarismo entre os
batistas e presbiterianos ingleses e entre os congregacionais da Nova Inglaterra”. Os arminianos eram um
grupo sectário e heterodoxo da época, cuja soteriologia popularizada por Jacobus Armínio (1560-1609) e seus
seguidores, “descartando o entendimento reformado sobre a incapacidade humana, a eleição graciosa e a
expiação particular, com o fim de acomodar-se à noção de expiação universal, embora negando a salvação
universal. [...] também descartaram a doutrina reformada da perseverança dos santos (BEEKE, Joel. PEDERSON,
Randall. Paixão pela Pureza. São Paulo: PES, 2010. p. 982, 1002). [N. do Editor].
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Hoje, podem ser inclusos entre os defensores desse erro os dispensacionalistas e outras escolas de mesma
opinião [Nota do Editor].
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A palavra dispensação, para os puritanos e reformadores, significa “administração”. Embora, usada,
atualmente, pelo grupo cujo nome é baseado nela – os dispensacionalistas – os puritanos e os reformadores
viam de maneira totalmente distinta da maneira pela qual os dispensacionalistas veem. Para os reformados,
houve apenas duas administrações (dispensações) de um mesmo Pacto (o da Graça): a Antiga Aliança do Pacto
da Graça e a Nova Aliança do Pacto da Graça [Nota do Editor].
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em Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência
e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
Esta promessa não foi dirigida a Adão e Eva, mas apenas aos ouvidos deles. A
partir disso, conclui-se que a Aliança da Graça não foi estabelecida com Adão e
Eva, e neles com todos os seus descendentes – como ocorreu com o Pacto das
Obras. Em vez disso, Adão e Eva, ouvindo essa promessa, tiveram que receber
o Salvador prometido para si mesmos, a fim de serem consolados, como todo
crente fez depois da entrega dessa promessa – o que se tornará evidente no
que se segue.
Abraão acreditava nessa boa notícia, não para os pagãos que ainda viriam e
acreditariam, mas para si mesmo. Era para seu benefício pessoal, sendo em
justificação, a qual é uma absolvição de culpa e de punição, e uma concessão
do direito à vida eterna. Isto é confirmado em Gênesis 15:6: “Ele creu no
SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça”. “Ora, Abraão creu em Deus, e
isso lhe foi imputado para jus_ça†; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tiago
2:23).
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sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do
Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).
Pergunta 2: Mas, de que maneira Cristo foi morto desde aquele tempo? O
apóstolo parece contradizer isso em Hebreus 9:26, onde lemos: “Ora, neste
caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do
mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por
todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”.
A partir daquele momento, os crentes creram nEle através dos sacrifícios, onde
viram a morte do Salvador que viria e o receberam pela fé para justificação.
Isto era verdade para Abel e Enoque, pois lemos: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus
mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser
justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela,
também mesmo depois de morto, ainda fala. Pela fé, Enoque foi trasladado
para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da
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sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus” (Hebreus 11:4-
5). Abel sacrificou em fé, Abel agradou a Deus, e Abel foi justo. Isto expressa
irrefutavelmente que Abel viu Cristo representado em seu sacrifício.
(1) Deus era seu Deus e seu pai. “Eu sou o Senhor, teu Deus” (Êxodo 20: 2); “Eu
sou o teu Deus” (Isaías 41:10); “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai” (Isaías
64:8); “Não é fato que agora esmo tu me invocas, dizendo: Pai meu [...]”
(Jeremias 3:4)
(2) Eles tiveram o perdão dos pecados. “por causa de suas iniquidades. Se
prevalecem as nossas transgressões, tu no-las perdoas” (Salmo 65: 3); “tu
perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Salmo 32: 5).
(4) Eles tinham paz de consciência com Deus. “Mais alegria me puseste no
meu coração” (Salmo 4:7); “Somente em Deus, ó minha alma, espera
silenciosamente” (Salmo 62:1).
(5) Eles tiveram uma comunhão infantil com Deus. “Quando acordo, ainda
estou contigo” (Salmo 139:18); “quanto a mim, bom é estar junto a Deus” (Sl
73:28).
(6) Eles eram participantes da santificação. Sim: "Quanto amo a tua lei! É a
minha meditação, todo o dia” (Salmo 119:97).
(7) Após a morte, eles entraram em felicidade eterna, pelo qual ansiavam.
“porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto
e edificador. [...] Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial.
Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto
lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11:10, 16). Eles eram os destinatários
desta salvação. “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus,
como também aqueles o foram” (Atos 15:11). O apóstolo não se refere, aqui,
aos pagãos, nem eleva a salvação dos pagãos acima da salvação dos judeus,
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mas sua referência foi aos pais que não puderam suportar o jugo e, no entanto,
foram salvos pela fé. A partir disso, ele afirma que sua expectativa de salvação
era também pela fé e não pelas obras da lei cerimonial. A partir disso, ele
conclui que não se deve impor a exigência da circuncisão e a manutenção da lei
cerimonial sobre os gentios.
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OBJEÇÕES À DOUTRINA EXPOSTA
O apóstolo não diz que ninguém entrou no céu durante esse período de tempo
– o que os partidos mais divergentes [da doutrina aqui exposta] não se
atreveriam a negar. Enoque, Elias, Moisés, Abraão, Isaque e Jacó os
repreenderiam. Nem o apóstolo declara que o caminho para o céu ainda não
era conhecido, pois quem possui fé, esperança e amor, também conhece o
caminho. Antes, o apóstolo afirmou que o próprio Cristo (que realizaria aquilo
que todo o serviço do tabernáculo não poderia fazer, isto é, a salvação dos
pecadores) ainda não havia chegado na carne.
Isto é confirmado no versículo 11, onde lemos: “para o qual eu fui designado
pregador, apóstolo e mestre”. O apóstolo afirma isso, expressamente, quando
ele diz: “o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos
homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no
Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e
coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; [...] A
mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios
o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3:5-6, 8). Atos 16:25-
26 também deve ser entendido assim, onde lemos: “Por volta da meia-noite,
Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros
de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu
os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de
todos”.
A partir disso, é evidente que não há uma distinção entre o Antigo e o Novo
Testamento no que diz respeito ao caminho da salvação, mas a distinção é
entre a nação judaica, que, à época, era a única receptora de revelações; e os
gentios que agora têm a mesma revelação.
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Resposta: Esses textos referem-se, expressamente, à encarnação de Cristo,
sendo evidente que essas promessas não foram recebidas enquanto esses
santos viviam. Eles proclamaram que Cristo viria em algum tempo, mas que
eles não o esperavam durante o tempo deles. A esse respeito, eles não
ministraram a si mesmos, mas a nós que vivemos depois da vinda de Cristo; nós
que podemos contemplar e desfrutar do cumprimento dessa promessa. Assim
desfrutamos de coisas melhores do que eles; isto é, elas são melhores, pois o
cumprimento da promessa é melhor do que a própria promessa.
Segue-se daí que esses textos não se referem ao desfrute dos benefícios do
Pacto [da Graça], pois eles eram participantes disso tanto quanto nós (o que já
foi mostrado). O apóstolo destacou isso no próprio texto quando declarou:
“que eles sem nós não sejam aperfeiçoados”. Eles foram assim aperfeiçoados,
não pelas obras da lei, mas por meio de Cristo, cuja vinda eles tiveram em
forma de promessas, da qual temos o cumprimento. Eles, portanto, não foram
salvos em nenhuma base diferente da nossa, pois nós e eles somos salvos pelo
mesmo Fiador. O Novo Testamento é superior ao Antigo Testamento apenas
no que diz respeito à administração.
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