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CNBB, Projeto Nacional de evangelização: o Brasil na Missão Continental .São Paulo: Paulinas, 2008, pág. 19
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e ações estão intimamente entrelaçadas, de forma que as palavras explicam as ações e estas confirmam
as palavras.
Ele percorria a Palestina daquela época ensinando, incansavelmente, o Projeto de Deus para o
ser humano. Assim, Ele nos comunicou sua vida e pôs-se a serviço da vida, de maneira especial
quando ouve e se aproxima do cego do caminho (cf. Mc 10, 46-52); fala com a samaritana (cf. Jo 4, 7-
26); cura os enfermos (cf. Mt 11, 2-6), os cegos (cf. Jo 9, 1-34), os leprosos (cf. Lc 17, 11-19);
alimenta o povo faminto (cf. Mc 6,30-44); liberta os endemoninhados (cf. Mc 5,1-20); acolhe e perdoa
mulheres pagãs e outras que foram prostituídas, tornadas impuras, adúlteras (cf. Lc 7, 36-50; 8, 43-48;
Jo 8, 1-11; Mc 7, 24-30), liberta cobradores de impostos a favor de opressores (Lc 19, 1-10), fariseus
que escravizam as consciência por meio da religião (cf. Jo 3, 1-15); convida seus discípulos à
reconciliação (cf. Mt 5,24); ao amor aos inimigos (cf. Mt 5,44); afasta-se das leis rígidas da pureza
exterior e perdoa os pecadores (cf. Lc 15).
Ele foi coerente com a missão assumida e dela não desviou um milímetro. Para isso, teve de
enfrentar tremendas oposições de seus parentes (que o consideravam um louco – cf. Mc 3, 21), de
líderes religiosos (que o tinham como um perigoso transformador da religião, pois era um contínuo
denunciar dessas lideranças e, ainda, ameaçava destruir o Templo (cf. Jo 2, 13-22), da parte do povo
(que dele debochava como comilão, beberrão e impuro por andar na companhia de impuros como
cobradores de impostos e pecadores (cf. Mt 11, 19) chegando à possibilidade de todos os discípulos o
abandonarem (cf. Jo 6, 66) e, até mesmo deixando João Batista na dúvida (cf. Mt 11, 3). Esta
coerência levou-o ao cruel martírio da cruz, o qual, porém, venceu mediante a ressurreição.
A vida de Jesus foi construída no propósito de “fazer a vontade do Pai”, ou seja, instaurar o
seu Reino. E não o fez sozinho, mas formou uma comunidade de vida constituída sobre três pilares ou
três dimensões, inseparavelmente unidas, para ajuda-lo: a) o chamado-resposta: “Ele chamou a quem
ele quis” e “eles foram até ele”; b) a comunidade-fraterna: “Constituiu-os em 12 para ficarem com
ele”; c) para a missão: “E enviou-os para anunciarem a boa nova e expulsarem demônios” (cf. Mc 3,
13-15). Não há, portanto, condição de ser discípulo missionário de Jesus e de ser Igreja sem a vivência
crescente dessas três dimensões: vocação, fraternidade, missão.
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ID. Cf. pág. 14 a 19
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Cf ALBERICH, Emílio. Catequese Evangelizadora: Manual de Catequética Fundamental. São Paulo. Editora Salesiana. 2004.
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da paz, a valorização da honestidade e da dignidade humana, sabendo perdoar e partilhar. Ainda não
tem consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, através da participação comunitária e
do compromisso cidadão (cf. DAp n° 286). Por isso, é irrevogável a necessidade de se assumir,
explícita e conscientemente, uma catequese querigmática, missionária, que se preocupe com o
primeiro anúncio e ofereça as bases que assegurem a formação da fé de uma nova geração de cristãos,
capazes de viver num contexto pluralista e missionário.
Nesse contexto, um processo consistente de iniciação cristã é indispensável ao tipo de missão
que os sinais dos tempos estão pedindo à Igreja. Diz o Documento de Aparecida: “Ou educamos na fé,
colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não
cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de
iniciação cristã, que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um
amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço, da missão” (cf. DAp n° 287 e 289)
A iniciação cristã é uma exigência à missão da Igreja nos dias de hoje. A partir da inspiração
catecumenal7, somos impelidos a formar cristãos e cidadãos firmes e conscientes, nestes novos
tempos, em que a opção religiosa é uma escolha e não simplesmente tradição e imersão cultural. É
um dever que temos como servidores do Evangelho. É inserção na totalidade da experiência de fé
dentro de uma comunidade em que se identifica a presença ativa do fermento do evangelho e a força
transformadora do amor de Jesus. É formar para ser cristão, o que exige o compromisso com a missão
em geral, com a transformação da sociedade, com estudo e vivência da Palavra de Deus, com o
diálogo ecumênico e interreligioso, com a promoção das diferentes vocações que, em seu conjunto,
permitem uma ação mais ampla na proclamação e vivência do evangelho.
Uma comunidade que assume a iniciação cristã não gera crescimento apenas para os iniciados,
mas renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer novas atitudes
pastorais por parte dos bispos, presbíteros, pessoas consagradas e agentes de pastoral (cf DAp 291).
“Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as forças, nos
processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que não
favoreçam a transmissão da fé.” (DAp 291, 365). Para que isso aconteça é, fundamental, que os
presbíteros e os agentes de pastoral, mormente os catequistas, desenvolvam um forte senso
missionário e incluam a dimensão missionária em tudo o que fazem e ensinam. Além disso, é evidente
que não basta a teoria. É necessário, não importa a faixa etária em que a pessoa esteja, sentir o coração
arder! Estágios, experiências e compromissos progressivos que eduquem para aquilo que Jesus
denomina em Mc 3,24-25 de “pregar e expulsar demônios”, ao enviar os apóstolos em missão podem
ajudar. Cada fiel deve, em seu processo de educação da fé, da esperança e do amor, junto com o
anúncio, entusiasta e competente da Boa Nova, dedicar-se a algum aspecto da missão social da Igreja
de libertar e promover as pessoas, ir ao encontro, ver e ouvir. E os critérios para colocação da fé em
obras se pautam pela opção pela vida de qualidade para todas as pessoas e toda a natureza e pela opção
preferencial pelos pobres, ambos indispensáveis para ser discípulo missionário de Jesus que nasceu
pobre, viveu pobre e entre os pobres, lutou para libertá-los, morreu pobre.
Marlene dos Santos, paranaense de Guaraniaçu, é religiosa da Congregação das Irmãs Catequistas
Franciscanas. É bacharel em Teologia e atualmente é membro do Grupo de Reflexão de Catequese
(GRECAT/CNBB) e coordenadora de Catequese da Diocese de Marabá/PA.
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O caminho da iniciação ficou evidente, a partir do século II, com a estruturação do catecumenato para promover a introdução dos
novos convertidos na vida da Igreja. O objetivo era o aprofundamento da fé, como adesão pessoal a Jesus Cristo e a tudo que ele revela.
Era o caminho ordinário para conduzir os adultos (e não as crianças) aos mistérios divinos, à profissão de fé e à participação na
comunidade. Teve seu período áureo entre os séculos III a IV. O Concílio Vaticano II, solicitou, até com insistência, retomá-lo, adaptá-lo e
inculturá-lo para o mundo de hoje.