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MISSÕES

&

MIGRAÇÕES
MISSÕES E MIGRAÇÕES

1a Edição - Dezembro de 2021

Copyright © 2021, Elivelton Silva

Av. São Luís Rei de França, Publicado por: ACASA PUBLICAÇÕES


40, Turu
São Luís - MA
65.065-470 Para os textos bíblicos, foi usada a
Tel: (98) 99156-2798 versão NAA (Nova Almeida Atuali-
acasapublicacoes@gmail.com zada), exceto indicação contrária.

Capa: PEQUENOS TRECHOS DESTE


Kian Alvares TEXTO PODEM SER CITADOS OU
REPRODUZIDOS, DESDE QUE
Edição e Diagramação: MENCIONADA A FONTE, COM EN-
Cleydson Freitas DEREÇO POSTAL E ELETRÔNICO.

A posição doutrinária da Missão Cristã Casa do Pai é expres-


sa em sua confissão de fé, disponível em: www.missaocristacasa-
dopai.org/acasa/. Como editora, zelamos para que as obras publica-
das reflitam sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de
autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refle-
tem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta edito-
ra represente endosso integral de todos os pontos de vistas apresentados.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Silva, Elivelton
Missões e Migrações / Elivelton Silva. - 1. ed. - São Luís: aCasa
Publicações, 2021.
127 p.; 14 x 21 cm.

ISBN 978-65-00-36995-3

1. Teologia. 2. Missões. 3. Justiça. 4.Imigração. 5. Escatologia. I. Título

DA-2021-016787
ELIVELTON SILVA

MISSÕES &

MIGRAÇÕES
A PRATICIDADE MISSIOLÓGICA NO CONTEXTO MIGRATÓRIO
E O POSICIONAMENTO ESCATOLÓGICO DA IGREJA.
Dedico este livro à minha família, onde sou amado
e impulsionado a viver e cooperar com o Abba Pai,
sendo motivado todos os dias pela minha esposa Ana
para acolher, integrar, pastorear e enviar refugia-
dos e imigrantes de todas as nações.

Agradeço aos meus pais e pastores por todos os


ensinamentos, e a cada amigo de jornada que me
proporciona aprendizado mútuo. Sou grato a Deus
pelo privilégio de herdar, principalmente, o Haiti
por herança divina, e aqui expresso gratidão por
pastorear centenas de pastores e líderes haitianos,
podendo assim compar tilhar o Evangelho do Reino
do Cordeiro de Deus. Estou encorajado e esperanço-
so por um grande avivamento par tindo desta ilha e
inundando toda a América Central.

Deus abençoe a todos os envolvidos na cooperação


missionária!
SE ESTIVERMOS DISPOSTOS A
MORRER PELO CORDEIRO, A VIDA DE
DEUS SERÁ MANIFESTADA ENTRE AS
NAÇÕES EM QUE ESTAREMOS
SEMEANDO.

GREGORY MCNUTT
QUANDO O REINO DE DEUS CHAMA,
O SIM DEVE SER DADO NA HORA!

PR. DAVI FARIAS


APRESENTAÇÃO 13

UM Introdução à Missiologia Bíblica 19

DOIS Missiologia do Novo Testamento 49

TRÊS Teologia Paulina da Missão 81

QUATRO Missiologia Contemporânea 107


APRESENTAÇÃO
E stou muito feliz pela publicação deste material e
escrevo na esperança de que seja edificante e for-
mativo para todos os leitores. Oro para que Deus
utilize este conteúdo como instrumento neste tempo
para que você possa estar se aprofundando e mergulhan-
do nas Escrituras, aprendendo e sendo esticado na sua
missão e vocação.

Atualmente, desenvolvo o trabalho de pastoreio,


triagem, acolhimento e integração de refugiados e imi-
grantes na América Latina. Além disso, realizamos uma
metodologia psicoeducacional que desenvolve o funda-
mento do serviço a pessoas em alta situação de vulnera-
bilidade, em estado de perseguição, guerra civil, catástro-

15
fes naturais ou ideologias e crises humanitárias/políticas,
onde podemos acolhê-las em nosso estado.
Dispomos de casas de acolhimento a projetos de
desenvolvimento humanitário, onde abrigamos sírios,
egípcios, turcos, libaneses, venezuelanos e, especialmen-
te, haitianos e venezuelanos. Há igrejas onde discipula-
mos essas nações, bem como também alguns projetos
parceiros no Haiti, na República Dominicana e no Orien-
te Médio. Temos desenvolvido, nesta missão teológica e
missiológica, esta perspectiva de desenvolver o trabalho
de mobilização, acolhimento, discipulado e mentoria de
pessoas que atuam no primeiro, segundo ou terceiro se-
tor, enfim, neste network, onde podemos estar pregando
o Evangelho a todas as nações.

16
INTRODUÇÃO À
MISSIOLOGIA BÍBLICA
A MISSIO DEI NO ANTIGO TESTAMENTO
A missiologia bíblica é um tema que tem sido bas-
tante comentado nos últimos séculos na Igreja.
Ela é, a partir do seu conceito original, o estudo
da Missão, ou seja, a ciência ou campo de reflexão que
destrincha, determina e norteia aquilo que chamamos de
mandato cultural, na missão integral do homem, e tam-
bém o estudo e investigação teológica da Missão do pró-
prio Deus, aquilo que é chamado no latim de Missio Dei
(Missão de Deus). O teólogo e missiólogo Christopher J.
H. Wright explica um pouco sobre esse termo:

O termo missio Dei, “a missão de Deus”, tem uma


longa história, ao que tudo indica remontando ao
missiólogo alemão Karl Hartenstein. Ele o cunhou

21
como forma de resumir o ensinamento de Karl Bar-
th, “que, numa preleção sobre a missão em 1928, ha-
via conectado a missão com a doutrina da Trindade.
Barth e Hartenstein querem deixar claro que a mis-
são está fundamentada num movimento intratrini-
tário do próprio Deus e que ela exprime o poder de
Deus sobre a história, ao qual a única resposta apro-
priada é a obediência”. A expressão originalmente
significava “o envio de Deus” – no sentido do envio
do Filho pelo Pai e do envio do Espírito por ambos.
Toda missão humana, nessa perspectiva, é vista como
participação nesse envio divino e na extensão dele.1

Assim, portanto, estaremos abordando um pouco


dessas temáticas, perspectivas, percursos e percalços ao
longo das próximas páginas. Aqui, nos aprofundaremos
um pouco mais naquilo que Deus lhe entregou como mi-
nistério, dom, talento, capacidade e serviço.

MANDATO CULTURAL E GRANDE COMISSÃO


Gostaria de começar o nosso estudo a partir do
texto bíblico de Gênesis, onde diz:

“Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e mul-


tiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os

1 Christopher J. H. Wright, A Missão de Deus: desvendando a grande


narrativa da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014.

22
animais que rastejam sobre a terra.”
- Gênesis 1:28

Com base nessa passagem, mergulharemos no


que chamamos de missiologia bíblica, a partir de um
pressuposto onde a Grande Comissão, a Grande Vocação
do Senhor para nós, aquilo que temos desde o início da
nossa jornada eclesiológica como discípulos de Jesus,
algo fundamentado pelo próprio Deus e entregue a Cris-
to, o qual deu este legado aos seus discípulos e apóstolos.
A Grande Comissão é aquilo que Mateus, Marcos, Lucas
e João nos comunicam na pessoa de Jesus Cristo:

“E, aproximando-se Jesus, falou-lhes:Toda autoridade me


foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei dis-
cípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a
todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos
os dias, até o final dos tempos.”
- Mateus 28:18-20

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho


a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas
quem não crer será condenado.”
- Marcos 16:15-16

“E disse-lhes: Está escrito que o Cristo sofreria, e ao


terceiro dia ressuscitaria dentre os mortos; e que em seu
nome se pregaria o arrependimento para perdão dos pe-

23
cados a todas as nações, começando por Jerusalém.”
- Lucas 24:46-47

“Então Jesus lhes disse pela segunda vez: Paz seja convos-
co! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio. E
havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo.”
- João 20:21-22

“Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer


sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusa-
lém como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins
da terra.”
- Atos 1:8

Aqueles que creem nas boas novas estão salvos, mas


aqueles que não creem continuam condenados (Jo 3:18).
Fazer discípulos, evangelizar, levar o Evangelho do Reino
de Deus a toda criatura, isso tudo é uma missão que foi
preestabelecida por Jesus Cristo e, outrora, preestabe-
lecida também pelo próprio Deus. Dessa forma, temos
essa concepção a partir da Missão de Deus, essa missio-
logia que parte de um pressuposto onde o próprio Deus
discipula a humanidade desde o seu filho primário: Adão.
Quando Deus estabeleceu o Jardim do Éden aqui
na Terra, a Bíblia mostra que Adão tinha um encontro ge-
nuíno com Ele e que, na viração do dia, o Senhor se re-
lacionava com o homem e compartilhava da Sua essência

24
ao seu filho. Ali, é deixado bem claro que quando Deus
sopra nas narinas de Adão o sopro da vida (Gn 2:7), a
primeira coisa que Adão vê, em meu entendimento, é a
sua missão, a missiologia proposital da humanidade, ou
seja, a partir de uma missiologia do propósito do próprio
Deus para os seres humanos. Creio que a Bíblia nos deixa
bem claro isso. Afinal de contas, quando Adão olhou para
Deus, ele viu o seu propósito aqui na Terra, ele viu a sua
vocação, seu chamamento, seu ministério. “Olhai a face
de seu Pai”, em outras palavras, se relacionar com o pró-
prio Deus. E nós temos compreendido que, quando Deus
se relaciona com Adão, Ele começa a discipular a huma-
nidade neste entendimento de relacionamento pontual,
contínuo e eterno, sabendo que o homem foi criado para
viver eternamente se relacionando com este Pai. Este é
o propósito de um pai: se relacionar com o seu filho; e o
filho, pegando essa identidade e sendo edificado nela, ab-
sorvendo a paternidade do próprio Deus, neste D.N.A.
onde o próprio Deus cria Adão das suas próprias mãos.
Sabemos que Deus não quer habitar em templos
feito pelas mãos dos homens (At 7:48), antes, Ele quer
habitar em um Templo feito pela Sua própria mão. O
próprio Deus preestabelece este relacionamento com
Adão e começa a compartilhar a sua Missão com ele. É
como se Deus dissesse: “Adão, Eu te amo, Eu me rela-
ciono contigo, e, agora, Eu quero que você multiplique

25
inclusive aquilo que Eu estou dando e compartilhando
com você nestes dias. E nesse relacionamento contínuo e
eterno, Eu quero que você não se esqueça: a mesma Mis-
são que Eu tenho de me relacionar com os meus filhos,
com a criação, Eu quero que você tenha também com os
seus filhos”.

O EFEITO DO PECADO NA MISSÃO

É interessante que a missão que o próprio Deus


estabeleceu para Adão era exatamente esta: a essência
que o Senhor deu ao homem, o amor que Ele compar-
tilhou com o seu filho, precisa ser transmitido e comu-
nicado de geração em geração de maneira hierárquica e
hereditária. Em Eclesiastes, as Escrituras declaram:

“Tudo que ele fez é apropriado ao seu tempo.Também


colocou a eternidade no coração do homem; [...]”
- Eclesiastes 3:11

Em outras palavras, o próprio Deus colocou o


senso ou desejo pela Eternidade no interior de todos os
homens. Isso quer dizer que totemicamente – ou antro-
pologicamente –, o próprio Deus colocou na missão do
homem, na missão humanitária, a missiologia proposital.
Em suma, no propósito do homem, há o sentimento teo-
lógico de canalizar esse anseio para o próprio Deus.

26
Mas, infelizmente, muitas vezes, o homem se perde,
pois pecou, caiu, e, na queda, em seu pecado, a humanida-
de começou a canalizar essa teologia implantada no inte-
rior, esta missiologia colocada pelo próprio Deus – o dese-
jo pelo conhecimento Dele, a graça Dele, o sentimento e o
relacionamento Dele a outros seres – para outros lugares.
O homem acabou se perdendo e, por isso, vemos hoje que
muitos acabam adorando bois, ratos, baratas, o sol, a lua,
as árvores e etc. Tudo isso porque eles “identificam” que o
“espírito” e a “alma” dos seus ancestrais estariam ali. Diante
disso, a Bíblia chama as criações adoradas pelos homens de
“ídolos”. Wright escreve o seguinte sobre:
Na criação física, como bem observado em Israel, ha-
via quem adorasse os corpos celestes como se fossem
deuses, enquanto outros adoravam as criaturas da ter-
ra, fossem animais ou mesmo outros humanos. Todas
essas coisas foram criadas pelo Deus vivo e não devem,
é claro, ser, em si mesmas, objetos a serem adorados.
A advertência contra esse tipo de deificação da ordem
criada, em Deuteronômio 4.15-21, de maneira interes-
sante lista os objetos adorados em ordem diretamente
inversa (o que provavelmente é intencional) à ordem da
criação em Gênesis 1: humanos, homem e mulher; ani-
mais terrestres; aves do ar; peixes do mar; sol, lua e estre-
las. Essa inversão tem um significado teológico. Quan-
do adoramos a criação em vez de adorarmos o Criador,
tudo fica de ponta-cabeça. A idolatria gera a desordem
em todos os nossos relacionamentos fundamentais.2

2 Ibidem.

27
Em Romanos 8:19, está escrito: “Pois a criação
aguarda ansiosamente a revelação [manifestação] dos fi-
lhos de Deus”. Esse texto deixa bem claro que existe uma
grande expectativa na criação de Deus em aguardar a ma-
nifestação dos filhos maduros do Senhor. Isso quer dizer
que Deus criou o homem na sua missão de se relacionar
eternamente, compartilhando a sua essência magnífica,
gloriosa, santa e eterna com o ser humano. Nele, há um
amor infinito para com o homem e para com a sua cria-
ção. Mas a humanidade, infelizmente, caiu.
Nesta queda em pecado, o homem acaba atribuin-
do às coisas criadas aquilo que estava sujeito a ele pela
própria missão dada por Deus. No trecho que menciona-
mos de Gênesis 1:28, o próprio Criador permite que o
homem tente, nesta nova perspectiva de Deus descendo
na Terra, resgatar essa missão ou resgatar esse relaciona-
mento.
Agora, preste bastante atenção: Deus implantou
este sentimento no homem, o anseio pela eternidade, e
depois Ele disse: “Eu quero que vocês se multipliquem”.
A palavra que Deus dá a Adão é: “Multiplique-se. Passe
adiante aquilo que você recebeu de mim, passe para os
seus filhos”. E sabemos o que houve após a queda: o filho
de Adão, Caim, assassinou seu irmão Abel (Gn 4:8-16).
Além disso, na geração de Caim, há ainda um homem
chamado Enoque – o nome da primeira cidade, na ver-

28
dade, é “Enoque” (Gn 4:17) – e naquela geração houve
muita iniquidade.

A RENOVAÇÃO DA MISSÃO

Entretanto, Deus volta e, a partir de Sete, o Senhor


restabelece o seu relacionamento com o homem:

Tornou Adão a conhecer intimamente sua mulher, e ela


deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; e ela
disse: Deus me deu outro filho em lugar de Abel, já que
Caim o matou. A Sete também nasceu um filho, a quem
pôs o nome de Enos. Foi nesse tempo que os homens come-
çaram a invocar o nome do Senhor.”
- Gênesis 4:25-26

É bastante interessante que, nesta geração de Sete,


também existiu um homem chamado Enoque, assim
como na geração de Caim. Em Gênesis 5:24, a Bíblia vai
narrar que este Enoque andou com Deus: “Enoque andou
com Deus até que não foi mais visto, porque Deus o ha-
via tomado”. Esse homem se relacionou com Deus, mas
depois não foi mais visto, pois o Senhor o tomou para si.
Entendemos agora que, em Gênesis 1:28, quando
Deus manda o próprio Adão multiplicar aquilo que ele re-
cebeu Dele, isso recomeça a acontecer e a ter continuida-
de, mesmo após a queda e o pecado no Jardim. Isso quer

29
dizer que o propósito de Deus, sua missão, chamamento
ou vocação para a sua vida, é algo intransferível, irrevo-
gável, irreversível, infalível. Deus chamou você para um
propósito existencial em uma missão fundamentada nas
suas Escrituras, ou seja, fundamentada na voz divina, na
sua Palavra, e, por isso, você está sendo reconectado para
o estabelecimento dessa missão.
Essa é a missiologia bíblica. A partir desta contex-
tualização teológica do Jardim, onde o próprio Deus, o
Criador, estabelece essa missão com o homem, o rela-
cionamento e o discipulado íntimo. Quero lhe convidar
também a navegarmos nesta teologia bíblica, a partir do
Antigo Testamento, dando sequência naquilo que Deus
preestabeleceu no Jardim a partir de Enoque, de Adão e
de Sete. Veremos Deus começando a implantar este nível
de relacionamento, onde Ele mesmo compartilha do seu
coração, da sua identidade e do seu D.N.A. com os seus
filhos. E, assim, os seus filhos precisam dar continuidade
a esse processo.
Posto isto, é bem provável que nestes últimos dias,
o Senhor esteja chamando você para desenvolver um ou-
tro nível de intimidade com Ele – orando mais, jejuando
mais, se sacrificando mais. Deus está lhe convocando a
estabelecer o governo Dele em sua vida todos os dias, a
reconhecer e viver no centro da Sua vontade, a se apro-
fundar cada vez mais nas Escrituras.

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Um autor expressa esse sentimento da seguinte
forma:

Os cristãos não estão na hora do recreio – esta é a pul-


sação do que sinto que Deus quer que eu fale [...].
Não estamos livres de obrigações. Pelo contrário, es-
tamos sob o mandato da graça de Deus, graça esta
que nos achou, nos restaurou, nos redimiu, soprou
vida de volta em nossos pulmões dormentes e nos
trouxe de volta da sepultura para um propósito, que
é o de nos tornarmos, com tudo que temos e somos,
um amplificador da beleza de Jesus, entre todos os
povos do planeta. Esta missão é nitidamente clara.3

Lembra-se de quando Deus, em Gênesis 12, cha-


mou Abraão? Ele disse: “Sai da tua terra, do meio dos
teus parentes e da casa de teu pai, para a terra que eu te
mostrarei.” (Gn 12:1). Gostaria de chamar a sua atenção
para isto: se Deus escolheu você, se Ele te elegeu para
uma vocação soberana, é bem provável que esta missio-
logia, a partir de uma perspectiva bíblica, não se limite a
uma geografia específica. O propósito de Deus não se li-
mitava ao Jardim. Antes, o Senhor havia dito: “Frutificai e
multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os
animais que rastejam sobre a terra.” (Gn 1:28). Sabemos

3 John Piper e David Mathis (editores), Cumprindo a Missão: levando


o evangelho aos não alcançados e aos não engajados. Rio de Janeiro:
CPAD, 2015.

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que o plano de Deus é a salvação do povo judeu, do povo
que Ele escolheu e elegeu, mas o Senhor também deseja
a salvação de toda a raça humana, de toda a humanidade:

“Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação


a todos os homens”
- Tito 2:11

“Cantai um cântico novo ao Senhor, cantai ao Senhor,


todos os moradores da terra.”
- Salmos 96:1

Assim, quando Deus chama Abraão para sair de sua


terra, o Senhor permite que o patriarca desenvolva, a
partir de Israel, aquilo que Ele próprio queria estabelecer
em todas as nações. O propósito de Deus era: “Abraão,
saia da tua terra e da tua parentela e vá para a terra que
eu te mostrarei. Eu vou multiplicar a sua geração. Você
será pai de multidões. Olhe para as estrelas, Abraão, você
não consegue contá-las. Dessa mesma forma será a sua
descendência. Eu vou te fazer pai de muitas nações”.
Em outras palavras, o plano de Deus era que, por
meio do discipulado de uma pessoa (Abraão), fosse com-
partilhado e multiplicado aquilo que o pai da fé havia re-
cebido do seu próprio Pai, dando sequência na sua pró-
pria família e essa, por sua vez, sendo um exemplo para
o povo de Israel e a nação israelita também sendo um
exemplo para todas as outras nações.

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Um autor pontua:

Israel passou a existir como um povo com uma


missão, confiada a ele por Deus, e com o propósi-
to maior de abençoar as nações. A eleição de Israel
não significou a rejeição das outras nações, mas foi
explicitamente realizada em favor delas. [...] Gêne-
sis 3 – 11 define o problema; Gênesis 12 a Apoca-
lipse 22 apresenta a missão de Deus para resolvê-lo.4

A COMUNICAÇÃO DE DEUS AOS HOMENS

Agora, preste atenção: a missiologia bíblica nos dei-


xa claro que existe uma comunicação do próprio Deus.
Aprendemos, dentro da missiologia, que existe a oralida-
de de Deus, ou a linguística do próprio Deus. O homem
tentou alcançar Deus (lembra-se da Torre de Babel?) e o
Senhor dividiu as línguas. Eu acredito muito nas Escritu-
ras quando a Palavra de Deus afirma que nada foge da sua
soberania. Nada foge do controle Dele. Alguém disse que
tudo que acontece no mundo ou é resultado da permis-
são de Deus ou é resultado da ação de Deus. Tudo aquilo
que existe na face da Terra está ligado com os planos divi-
nos. O Senhor é soberano sobre todas as coisas.

4 Christopher J. H. Wright, A Missão de Deus: desvendando a grande


narrativa da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014.

33
A Bíblia tem uma mensagem radical e impactante so-
bre Jesus Cristo. Ela diz que Jesus Cristo não é apenas
um ser humano, apenas um famoso mestre religioso,
mas o Senhor do Universo. [...] Mais de um século
atrás, Abraham Kuyper compreendeu as implicações
e fez um anúncio reverberante: “Nem uma só parte do
nosso mundo mental deve ser hermeticamente isolada
do resto, e não há uma só polegada quadrada em todo
o domínio da nossa existência humana sobre a qual
Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame ‘É meu’”.5

Ao longo da narrativa bíblica, o homem tinha as


suas dificuldades de comunicação, mas Deus nunca per-
deu a vontade de se comunicar com o ser humano. Você
vai olhar e notar que, na Bíblia, Deus tinha um enorme
desejo de se revelar e de se comunicar com a humani-
dade. Todas as vezes em que Ele descia na Terra, Deus
compartilhava do seu coração e se revelava ao homem.
Você lembra que, além de Abraão, Isaque e Jacó,
o Senhor também se relaciona e discipula um homem
chamado Noé? O discipulado, também familiar, é
compartilhado por Noé com sua família. Depois, Deus
envia o dilúvio sobre a Terra, passa-se a inundação e acon-
tece toda a história que conhecemos (Gn 6:8 – 9:29).
Desde a dispensação do tempo da inocência, da consciên-
cia, do governo humano patriarcal, do governo da lei, o
5 Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo a nosso Senhor
o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração. Brasília:
Editora Monergismo, 2019.

34
Antigo Testamento todo nos mostra o nível de interesse
de Deus em compartilhar a sua Missão, Seu propósito, de
Se revelar, de Se manifestar ao homem e compartilhar a
Sua essência, o Seu D.N.A., para que este homem com-
partilhe com a sua família, com a sua nação e, por fim, a
todas as nações da Terra.
Você lembra também de Moisés? Josué? Os Juízes?
Os Profetas? Davi? Todos esses grandes líderes que Deus
separou, todos esses missionários ou missiólogos do Se-
nhor, começaram a estudar a Deus, começaram a amar
o Senhor a partir de uma voz, a partir de uma palavra
que foi preestabelecida aos seus antepassados. Eles co-
meçaram a identificar essa teologia, essa presciência que
norteia o propósito existencial do homem, que não é o
humanismo, não é o hedonismo, não é o capitalismo, não
são as ciências humanas, não são as ciências exatas, nem
nenhuma outra. É a ciência do próprio Espírito, é a ciên-
cia do próprio Deus e, a partir dessa voz, a partir dessa
comunicação, o homem agora compartilha também des-
sa mesma linguagem. E todos os heróis da fé tentaram
deixar este legado, esta porção, para que aqueles que vi-
riam após eles pudessem fundamentar, a partir da Palavra
de Deus, aquilo que a humanidade tanto necessitaria: O
relacionamento com o Pai.

35
Assim como a Palavra que Moisés deixou para Jo-
sué. Ele, Moisés, teve um encontro com Deus e recebeu
os dez mandamentos. Em seguida, os compartilhou com
todo o povo. Os cinco primeiros mandamentos têm a
ver com o nosso relacionamento com Deus (amor ao Se-
nhor) e os cinco subsequentes são sobre o nosso relacio-
namento com a humanidade (amor ao próximo). Então,
é uma comunicação, uma verbalização, um diálogo, um
relacionamento entre Deus e o homem. E, também, uma
comunicação, uma linguagem, uma oralidade entre o ho-
mem e os seus próprios irmãos e toda a Criação.
Portanto, isso quer dizer que nós precisamos ter
uma boa comunicação com Deus, precisamos ter uma li-
nha de contato ou um caminho eterno diariamente. Jesus
nos ensinou a orar: “o pão nosso de cada dia nos dá hoje;”
(Mt 6:11). Em Êxodo 15 e 16, a Bíblia revela que Deus
concedia um maná diário ao seu povo.

“Os israelitas comeram o maná durante quarenta anos,


até que chegaram a uma terra habitada, até que chega-
ram aos limites da terra de Canaã.”
- Êxodo 16:35

Isso quer dizer que, para entendermos e vivenciar-


mos a missiologia bíblica, é necessário discernirmos que
a nossa missão preexistencial e primordial é uma comu-
nicação com Deus – uma vida devocional intensa. Em

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Levítico 12, o sacerdote preparava o altar, o sacrifício e
a oferta todos os dias, e o fogo permanecia sobre o altar
continuamente e não poderia se apagar. Em Oseias 6:3,
está escrito: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o
Senhor; como o sol nascente, a sua vinda é certa; ele virá
a nós como a chuva, como a primeira chuva que rega a
terra”. No salmo 1, a Palavra de Deus declara: “Bem-a-
venturado aquele que não anda no conselho dos ímpios,
não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta
na roda dos zombadores; pelo contrário, seu prazer está
na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite” (Sl 1:1-
2). É esse o interesse de Deus. Foi isto que Deus nos
deixou como porção: a sua Palavra, a sua voz, a sua co-
municação. Em outras palavras, um pai se relacionando
com os seus filhos. Esta é a missão principal de Deus:
compartilhar o seu coração, compartilhar a sua ideia ini-
cial, compartilhar o seu plano, compartilhar a eternida-
de, compartilhar a sua graça, compartilhar o seu amor
infinito, compartilhar a sua grandeza, compartilhar as
suas maravilhas.

DEUS CHAMA

Por isso, precisamos mergulhar no Senhor. Esse é


o convite Dele para nós. João 3:16, diz: “Porque Deus
amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para

37
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna”. Pregar o Evangelho é pregar esse amor, é
falar para as pessoas desse sacrifício, desse plano divino.
Precisamos entregar a nossa vida a esse Deus. Precisamos
amar ao Senhor sob todas as coisas e nos comunicar com
Ele todos os dias. A partir disso, sim, você irá ouvir a voz
do Senhor para caminhar nesta Terra, na missão e na vo-
cação para a qual Ele chamou você.
Josué recebeu esse legado, essa porção. E a Palavra
de Deus para ele foi bem clara: “Apenas esforça-te e sê
corajoso, cuidando de obedecer a toda a lei que meu ser-
vo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a di-
reita nem para a esquerda; assim serás bem-sucedido por
onde quer que andares” (Js 1:7). Deus o estava chamando
para uma grande missão - uma missão que percorre.
Em um panorama bíblico, dentro dessa missiologia
bíblica, fica evidente que Deus chama alguns outros. Ele
desce na Terra, se revela, se manifesta no Monte, numa
sarça, em uma voz, em um fogo. Ele chama sacerdotes
e reis, como Davi, como seus filhos, como Salomão. Ele
chama profetas como Samuel, um menino. E Deus tem
chamado jovens nestes últimos dias. Ele chamou você:

“Ninguém te menospreze por seres jovem, mas procura ser


exemplo para os fiéis, na palavra, no comportamento, no
amor, na fé e na pureza.”
- 1 Timóteo 4:12

38
Não deixe que ninguém despreze a sua mocidade,
seja fiel e íntegro. Pregue a palavra em tempo e fora de
tempo. Pregue o Evangelho, cumpra a sua missão. Cum-
pra a vocação que você recebeu do próprio Deus. Faça a
obra de um evangelista. Cumpra o seu ministério e pro-
cure apresentar-se a Deus como um obreiro aprovado
que não tem do que se envergonhar, mas que maneja bem
a palavra da Verdade.
Tudo isso foi o que Deus chamou e preestabeleceu
desde o Antigo Testamento, individualmente, com os sa-
cerdotes, com os profetas, com os reis. Falando, verbali-
zando, comunicando aquilo que Ele queria dentro desta
Missio Dei. Ele levanta outros profetas: Isaías, Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Obadias, Amós, Joel e outros. Seu ob-
jetivo é o de verbalizar, comunicar, a esses sacerdotes,
profetas, a essas famílias e à essa nação o seu coração,
o seu DNA, a sua perspectiva, a sua missão, a sua graça
e o seu amor. E você lembrará que, em todas essas his-
tórias, Deus tenta trazer Israel, o seu povo, para perto.
Mas, muitas vezes, esse povo, ainda subjugado pela lei
do pecado, pela culpa, pelo medo, não consegue canali-
zar essa teologia através de uma missiologia prática – o
arrependimento, o desejo de entregar a sua vida, entre-
gar a sua família ao seu Deus, o desejo de abdicar-se das
imoralidades, das paixões, das concupiscências da carne.
A dificuldade da humanidade está em seu coração que

39
se coloca no centro de todas as coisas, ou a sua vontade
e o seu prazer no centro de todas as coisas. Ainda assim,
Deus comunicava aos profetas a sua missão, seu D.N.A. e
sua graça. O povo se arrependia, porém, todas as vezes,
eles voltavam a pecar novamente. Deus chamava o povo
ao arrependimento novamente através da voz do profeta.
Esse é o Deus de graça que, mesmo no Antigo Testamen-
to, fundamentou através da sua Lei um caminho, um nor-
te para que o seu povo pudesse caminhar.
Os homens e Israel ainda continuavam pecando.
Habacuque tenta até orar:

“Senhor, eu ouvi a tua fama e temi! Ó Senhor, aviva a


tua obra no decorrer dos anos; faz que ela seja conhecida
no decorrer dos anos; na tua ira, lembra-te da
misericórdia.”
- Habacuque 3:2

Deus chama o profeta Oseias e pede para que ele


tome uma meretriz como esposa para simbolizar o re-
lacionamento de Deus com Israel – o povo que, muitas
vezes, estava se prostituindo. Corrompidos pela própria
religião distorcida pelo homem, o ligamento, ou o religa-
re do homem. Eles estavam tentando se religar sozinhos
pela sua força ao Senhor.
A missão compartilhada do próprio Deus ao ho-
mem busca fazer com que os seres humanos se arrepen-

40
dam e possam voltar a entender a religião e a teologia
do próprio Deus que desceu na Terra com misericórdia,
aceitando o arrependimento, o sacrifício, a entrega do
coração do homem a Ele – a integralidade total.
Ao longo da narrativa bíblica, Deus continua ver-
balizando e comunicando por meio dos profetas. Até que
chegou um tempo, no período interbíblico entre Mala-
quias e Mateus, que o Senhor se calou por cerca de 400
anos. Ele não comunicou mais aos profetas a sua Palavra.
Mas Ele continuou comunicando-se consigo mesmo. Nós
temos essa visão. O próprio Jesus Cristo se disponibiliza
na missão do próprio Deus, Dele mesmo, sendo três em
um. Um agora olha para o Pai e diz: “Eu vou descer lá!”.
A Bíblia nos disponibiliza a informação preexistente da
humanidade, onde um Pai tem a disposição de descer na
Terra muitas vezes, olhar para os homens e dizer assim:
“Humanidade, eu amo vocês! Eu os criei e os chamei para
coisas eternas. Vocês caíram, vocês erraram, vocês têm
medo, vocês fugiram, mas eu estou disposto a continuar
compartilhando o meu discipulado com vocês, a minha
instrução, a minha palavra, o meu relacionamento com
vocês. Tudo para que vocês compartilhem isso com ou-
tros”.
Na missão, é essencial que você entenda que o sen-
timento de Deus por você e por todas as nações na Terra
ainda é o mesmo. Deus ama o mundo de tal maneira que

41
Ele está disposto a descer, a se entregar, a se humilhar. Ele
está disposto a ter um relacionamento contínuo e eterno
com você. Ele ainda ama todas essas nações, que mesmo
adotando outras teologias, outras religiões, tornando-se
seitas, tornando-se heresias e más interpretações daquilo
que o próprio Deus implantou de desejo e sentimento
pela eternidade em seus interiores, que se perdem por
falsos caminhos, percursos que acabam sendo desviados
para uma finalidade eterna de morte. Esse Deus vocacio-
nou a todos nós para nos disponibilizarmos em compar-
tilhar essa essência e essa missão do próprio Criador. Esse
plano, esse governo e a multiplicação disso tudo para que
todas as nações da Terra se submetam à essa voz e à essa
missão.
Por isso, eu te convido a estar orando neste tempo,
a estar se aprofundando na Palavra de Deus, buscando
fontes em livros, se especializando, conhecendo costu-
mes e culturas, conhecendo estações, geografias, línguas,
oralidades, tudo para poder compartilhar aquilo que
Deus tem para todas as nações, pois o sentimento Dele
ainda é o mesmo.
Deus ama todas essas nações da Terra. Ele te vo-
cacionou e chamou para levar o Evangelho a todos os
povos, culturas e etnias. Eu queria te convidar para que
neste momento você possa estar orando por todas as pes-
soas, sendo elas da África, da Índia, do Oriente Médio,

42
Muçulmanos, Hindus, Islãs, Budistas, Ateus, e alguns ou-
tros que acabaram recebendo dos seus pais e dos seus
antepassados a informação de caminhos que não levariam
eles para a vida eterna.

ANTIGO TESTAMENTO

Se o próprio Deus migra do Céu para a Terra, a fim


de cumprir a sua missão criativa, reveladora e relacio-
nal, então precisamos estar atentos aos posicionamentos
de peregrinação enquanto filhos de Deus. Adão passou
por uma migração forçada, um exílio, tendo que se refu-
giar fora do Jardim por prevenção divina. Enoque, Noé,
Abraão, Isaac, Israel, José, Moisés, Josué, inclusive Raabe,
encontrando refúgio após uma missão extraordinária.

“E declararam que eram estrangeiros e refugiados, de


passagem por este mundo. E aqueles que dizem isso mos-
tram bem claro que estão procurando uma pátria para si
mesmos. Não ficaram pensando em voltar para a terra de
onde tinham saído. Se quisessem, teriam a oportunidade
de voltar. Mas, pelo contrário, estavam procurando uma
pátria melhor, a pátria celestial. E Deus não se envergo-
nha de ser chamado de o Deus deles, porque ele mesmo
preparou uma cidade para eles.”
- Hebreus 11:13-16 (NTLH)

43
Poderia registrar em todo o livro, ou fazer simples-
mente um livro contando as histórias de missões e migra-
ções dos homens e mulheres de Deus que entenderam os
propósitos eternos de uma visão que permeia por transi-
ções geográficas e transculturais.

“O que mais posso dizer? O tempo é pouco para falar


de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de
Samuel e dos profetas. Pela fé eles lutaram contra nações
inteiras e venceram. Fizeram o que era correto e recebe-
ram o que Deus lhes havia prometido. Fecharam a boca
de leões, apagaram incêndios terríveis e escaparam de
serem mortos à espada. Eram fracos, mas se tornaram
fortes. Foram poderosos na guerra e venceram exércitos
estrangeiros. Pela fé mulheres receberam de volta os seus
mortos, que ressuscitaram. Outros foram torturados até
a morte; eles recusaram ser postos em liberdade a fim de
ressuscitar para uma vida melhor. Alguns foram insul-
tados e surrados; e outros, acorrentados e jogados na
cadeia. Outros foram mortos a pedradas; outros, serrados
pelo meio; e outros, mortos à espada. Andaram de um
lado para outro vestidos de peles de ovelhas e de cabras;
eram pobres, perseguidos e maltratados. Andaram como
refugiados pelos desertos e montes, vivendo em cavernas
e em buracos na terra. O mundo não era digno deles!
Porque creram, todas essas pessoas foram aprovadas por
Deus, mas não receberam o que ele havia prometido. Pois

44
Deus tinha preparado um plano ainda melhor para nós,
a fim de que, somente conosco, elas fossem aperfeiçoadas.”
- Hebreus 11:32-40 (NTLH)

Eu gostaria que você fosse despertado neste mo-


mento para orarmos pela sua vocação, pelo seu ministé-
rio, pela sua missão pessoal.

Pai, nós oramos por todas as nações da Terra.Te agradece-


mos, Senhor, porque o Senhor mesmo nos vocacionou, nos
criou e preestabeleceu este fundamento eterno de amor,
de graça, de soberania, de santificação e nós entende-
mos que existe esse processo. Nós sabemos que existe este
caminho. Nós sabemos, Senhor, que existem percalços
dentro destes percursos, e nós te agradecemos porque Tu
estais levantando o homens e mulheres, jovens, crianças,
pessoas de várias nacionalidades, de várias tribos, de
várias etnias, onde o Senhor vai enviá-los para a cumprir
o propósito pelo qual o Senhor pré estabeleceu, que é se
relacionar com todos os homens na Terra, fazendo com
que eles se relacionem contigo.
Eu oro, Senhor, pelos meus irmãos. Eu oro pelos meus
amigos. Eu oro, Senhor, para que eles possam desenvol-
ver esse relacionamento contigo e compartilhar a sua
essência e este DNA aonde o Senhor quiser, proferindo,
Senhor, o Teu coração, no nome de Jesus. Amém!

45
LEITURAS ADICIONAIS

Gostaria de indicar a leitura dos seguintes livro e


materiais sobre história, missiologia e antropologia:
- História do Movimento Missionário - Justo L. Gonzá-
lez e Carlos Cardoza Orlandi (Hagnos).
- O Fator Melquisedeque – Don Richardson (Vida
Nova).
- Costumes e culturas – Barbara Burns (Vida Nova).
- Introdução à Antropologia Missionária – Ronaldo Li-
dório (Vida Nova).
- Pacto de Lausanne.

46
MISSIOLOGIA DO
NOVO TESTAMENTO
A GRANDE COMISSÃO DE JESUS
N este capítulo, mergulharemos naquilo que cha-
mamos de missiologia integral, ou mandato in-
tegral do homem. E dentro desta perspectiva
bíblica de Deus chamar o ser humano no seu propósito
preexistencial, aquilo que o homem pode dar integral-
mente para Deus, para os seus irmãos, para a criação.

Gostaria de iniciar com a seguinte passagem bíblica:

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho


a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas
quem não crer será condenado. E estes sinais acompanha-
rão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios,
falarão novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem

51
alguma coisa mortífera não lhes fará mal algum; impo-
rão as mãos aos enfermos, e estes serão curados”
- Mateus 16:15-18

Para entendermos essa passagem de Marcos, preci-


samos olhar para o Evangelho de Mateus:

“E, aproximando-se Jesus, falou-lhes:Toda autoridade me


foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei dis-
cípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a
todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos
os dias, até o final dos tempos.”
- Mateus 28:18-20

Aqui, Jesus está falando aos seus discípulos e cha-


mando a atenção deles para o fato de que precisariam
dar continuidade ao ministério que outrora, no seu disci-
pulado, eles aprenderam e receberam do próprio Deus.
Cristo disse assim: “Eu vou compartilhar isso. Estou
compartilhando com vocês a autoridade que eu recebi”.
Lembra-se disso? A Escritura demonstra:

“Então Jesus lhes disse pela segunda vez: Paz seja convos-
co! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio. E
havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo. Se perdoardes os pecados de alguém, serão
perdoados; se os retiverdes, serão retidos.”
- João 20:21-23

52
Jesus Cristo soprou sobre os discípulos e compar-
tilhou a sua autoridade com eles. Essa era a mesma au-
toridade que Deus entregava aos seus discipuladores no
Antigo Testamento:

“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o


Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos oprimidos;
enviou‑me a restaurar os de coração abatido, a proclamar
liberdade aos cativos e a pôr os presos em liberdade; a
proclamar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança
do nosso Deus; a consolar todos os tristes.”
- Isaías 61:1-2

A salvação do Senhor é para aqueles que estão opri-


midos, perdidos e necessitados. O Espírito do Senhor,
introduzido na vida do homem que é chamado e vocacio-
nado por Deus, lhe dá autorização para pregar o Evange-
lho do reino. Jesus, dando continuidade a esse processo,
chama o homem para desenvolver, ministrar e servir ba-
seado em uma cosmovisão cristã e messiânica de amor.
Afinal de contas, existe um amor incondicional e infinito
– o sentimento eterno de Deus de se relacionar com o
homem.
Como vimos no capítulo anterior, a Bíblia revela
que Moisés recebeu dez leis (mandamentos) para com-
partilhar ao povo de Israel. As cinco primeiras leis têm
a ver com o amor do homem para com Deus; e as cinco

53
subsequentes apontam o amor do homem, recebido de
Deus, para com o próximo – a criação, as nações e a hu-
manidade.
O apóstolo Paulo fala da disponibilidade de Cristo
Jesus descendo do céu ao encontro dos homens:

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo


Jesus, que, existindo em forma de Deus, não considerou
o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar,
mas, pelo contrário, esvaziou a si mesmo, assumindo
a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens.
Assim, na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo
obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus
também o exaltou com soberania e lhe deu o nome que
está acima de qualquer outro nome; para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra
e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo
é o Senhor, para glória de Deus Pai.”
- Filipenses 2:5-11

Nesta missiologia divina, o próprio Deus, na pes-


soa de Jesus Cristo, desce à Terra para se relacionar com
o homem. Nessa integralidade e totalidade, dando a sua
própria vida em favor dos homens que, em seguida, esta-
rão discipulando e compartilhando aquilo que receberam
do próprio Deus Pai.

54
A MISSÃO DO AMOR

Preste bastante atenção: em Mateus 1, a vai nos tra-


zer a genealogia de Jesus Cristo desde Abraão, passando,
inclusive, por pessoas que marcaram essa terra. Em He-
breus 11, percebemos bem claramente isto: pessoas que,
recebendo essa porção, esse legado, e, por meio do disci-
pulado de Deus, compartilharam com o próprio homem
aquilo que haviam recebido como forma de preparar o
caminho da chegada do Senhor.

“Estes, por meio da fé, venceram reinos, praticaram a


justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões,
apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada,
da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na
guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros. Algumas
mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos. Al-
guns foram torturados e não aceitaram ser livrados, para
alcançar uma melhor ressurreição; e outros experimenta-
ram zombaria e espancamentos, correntes e prisões. Foram
apedrejados e provados, serrados ao meio, morreram ao
fio da espada, andaram vestidos de peles de ovelhas e de
cabras, necessitados, aflitos e maltratados. O mundo não
era digno dessas pessoas [...].”
- Hebreus 11:33-38

Além desses, até com o profeta João Batista, prepa-


rando o caminho para receber Cristo Jesus, é interessan-

55
te que o próprio Jesus começou a discipular os discípulos
dele.

“E surgiu uma disputa entre os discípulos de João e certo


judeu acerca da purificação. E foram até João e disseram-
-lhe: Rabi, aquele que estava contigo do outro lado do
Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e
todos estão se dirigindo a ele. João respondeu: Ninguém
pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: Não sou o
Cristo, mas sou enviado adiante dele. A noiva pertence ao
noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve,
alegra-se muito com a voz do noivo. Assim se comple-
ta esta minha alegria. É necessário que ele cresça e eu
diminua.”
- João 3:25-30

Então, Jesus começa a expulsar demônios, a curar


os enfermos, a compartilhar o Evangelho, a contar pará-
bolas. Ele também discipula, de maneira pessoal e coleti-
va, os seus doze seguidores principais. Ele chama, voca-
ciona, ensina, discipula e começa a revelar aquilo que era
concernente ao Reino do seu Pai – aquilo que o Pai tinha
deixado e confiado a Ele; aquilo que os profetas tinham
visto e escrito; aquilo que Moisés havia deixado na Lei, a
Lei que Ele veio para cumprir, não para abolir. Um dos
Evangelho narra:

56
“Quando souberam que ele calara os saduceus, os fariseus
reuniram-se. Um deles, doutor da lei, interrogou-o, para
colocá-lo à prova: Mestre, qual é o maior mandamento
na Lei? Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus
de todo o coração, de toda a alma e de todo o enten-
dimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo.Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois
mandamentos.”
- Mateus 22:34-40

Aqui, Jesus estava resumindo a lei de Moisés e os


profetas. E é curioso a palavra que Ele enfatiza: amor.
Isso aponta para relacionamentos, discipulado pessoal e
íntimo, e essa foi a missão de Jesus Cristo aqui na Terra.
Assim, entendemos que a missiologia bíblica no
Novo Testamento, de Mateus ao Apocalipse, foca em fa-
zer com que o Reino de Deus, este reino de amor do Pai,
seja percebido, manifestado, visualizado e compartilha-
do na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo de Nazaré, e no
que Ele fez para que pudesse resgatar o homem a partir
de um arrependimento genuíno, de um sacrifício vivo,
puro, aceitável, pleno e completo diante de Deus, dando
liberdade aos pecadores e livre acesso ao Criador para os
seguidores do Messias.
Agora, preste bastante atenção: Jesus começa a
compartilhar e pregar esse amor divino. Ele ministra à

57
mulher adúltera, aos cegos, aos coxos, aos oprimidos, aos
doentes, aos estrangeiros. E Ele prega com ousadia para
que os fariseus, saduceus e hipócritas se arrependam.
Em um livro sobre a parábola do filho pródigo, o
pastor Timothy Keller escreveu:

O pai vai para o lado de fora da casa e também diri-


ge-se ao filho mais velho, que está com raiva e ressen-
tido, e insiste para que ele entre e participe do ban-
quete. Essa cena é como uma espada de dois gumes.
Ela não deixa dúvida de que até os mais religiosos e
moralistas precisam da iniciativa da graça de Deus,
que ambos estão perdidos; e ela mostra que, sim, há
esperança até para os fariseus. O último apelo do pai
é impressionante, ainda mais quando nos lembramos
de quem são os ouvintes de Jesus. Ele está se dirigindo
aos líderes religiosos que o haveriam de entregar às
autoridades romanas para ser executado. A história
nos mostra, porém, que o irmão mais velho não é
friamente condenado, mas ouve do pai um apelo para
que abandone sua raiva e justiça própria. Jesus está
apelando com amor a seus inimigos mais perigosos.6

O desejo do coração de Jesus é o arrependimento


dos pecadores: “Arrependam-se, adúlteras e fariseus!”.
Todos precisam de arrependimento. A partir do amor
que Cristo compartilhou conosco, somos perdoados.
Este amor é completo e sacrificial.

6 Timothy Keller, O Deus pródigo: recuperando a essência da fé cris-


tã. São Paulo: Vida Nova, 2018.

58
Por que o próprio Deus gastou tempo conosco? Se
eu pudesse tentar resumir o significado da palavra amor,
seria “tempo – tempo de qualidade, atenção, cuidado,
presença, companheirismo, consolo. Jesus fez isso. Ele
esteve conosco, em sua encarnação, por mais de trinta
anos. Nos seus mais de três anos ministerial, andando
com seus discípulos, percorrendo todas as cidades. Ele
gastou tempo fazendo milagres, maravilhas, curando os
enfermos, levando libertação ao jovem de Gadara, pre-
gando o ano aceitável do Senhor. Ele sentava e comia na
mesa com os seus discípulos, se relacionava e discipulava.
E, ao enviar a Igreja em missão, Ele declarou: “[...] eu
estou convosco todos os dias, até o final dos tempos” (Mt
28:20).
Assim, baseados no que entendemos no capítulo
anterior sobre a teologia missional no Antigo Testamen-
to, podemos afirmar que, agora no Novo Testamento,
Deus deseja multiplicar, a partir de Cristo Jesus, a sua
imagem, o seu coração, em relacionamento diário, con-
tínuo, pregando o reino eterno, implantando agora nos
seus interiores, enviando os seus apóstolos e missioná-
rios, fazendo com que eles pudessem dar continuidade a
esse propósito.
Então, Ele diz: “Portanto, ide, fazei discípulos de
todas as nações [...]” (Mt 28:19). Você lembra que fala-
mos anteriormente que Deus discipulava o ser humano?

59
Jesus, agora, estava discipulando homens e mulheres e
nos enviou afirmando que nós fomos chamados também
para discipular pessoas, para discipular nações e povos. E
o discipulado bíblico é este: fazer com que seja formado
o Cristo nestas pessoas, fazer com que sejam discípulos
de Jesus em todas as nações da terra. O apóstolo Paulo
declarou:

“Meus filhos, por quem sofro de novo dores de parto, até


que Cristo seja formado em vós.”
- Gálatas 4:19

A MISSÃO NO CONTEXTO DO FIM

Agora, para que você possa entender o que é disci-


pulado, precisamos entender como pregar o Evangelho
para que o discipulado ganhe forma para essas pessoas.
Queria chamar a sua atenção para Mateus 24. Aqui, Je-
sus estava com seus discípulos, e a Bíblia conta que eles
fazem uma série de perguntas a Ele: “O Senhor está con-
tando para nós que, dentro desse percurso, o Senhor vai
morrer, ressuscitar e voltar. Queremos saber quando o
Senhor retornará”. E Jesus olha para o céu, pede que eles
olhem para o céu também, e diz: “haverá sinais nos céus,
portanto, estejam atentos olhem aos céus”. Aqui, eu
identifico esses sinais como em um discurso indireto de

60
Deus dando na pessoa de Jesus como sinais cosmológicos.
“Olhe para o céu”. E é bem claro que Jesus deixou isso e
que, até hoje, conseguimos ver. Os sinais cosmológicos:
meteoros, tempestades, tsunamis, tremores, terremotos,
catástrofes naturais. Essa é uma visão escatológica a par-
tir de um preceder de sinais cosmológicos que apontam
para o retorno deste Reino em plenitude, estabelecido
por esse Cristo que discipulou a humanidade e deu livre
acesso para eles viverem eternamente nesse reino junto
com esse Pai de amor.
Então, nesse momento da história bíblica, Jesus co-
meça a dar esses sinais. Ele começa a dizer:

“Jesus lhes respondeu:Tende cuidado para que ninguém


vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo:
Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. E ouvireis falar
de guerras e rumores de guerras; não fiqueis alarmados;
pois é necessário que assim aconteça; mas ainda não é o
fim. Porque nação se levantará contra nação, e reino con-
tra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares.
Mas todas essas coisas são o princípio das dores. Então
sereis entregues à tortura e vos matarão; e sereis odiados
por todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo,
muitos haverão de abandonar a fé, trair e odiar uns aos
outros.Também surgirão muitos falsos profetas e engana-
rão a muitos. E, por se multiplicar a maldade, o amor de
muitos esfriará. Mas quem perseverar até o fim será salvo.

61
E este evangelho do reino será pregado pelo mundo intei-
ro, para testemunho a todas as nações, e então virá o fim.”
- Mateus 28:4-14

Isso significa que há uma conexão entre a missiolo-


gia e a eclesiologia – estudo da igreja, o estudo do povo
de Deus, o estudo da comunidade cristã, o estudo da co-
munidade de fé. Não se estuda e não se entende a mis-
siologia bíblica sem discernimos o que é o contexto da
Igreja estabelecida por Jesus Cristo. O Noivo em relacio-
namento com a noiva. A cabeça governando um corpo.
Jesus e a Igreja convergidos em um só caminho e em um
só destino.
Há também os sinais eclesiológicos. Jesus olha para
os seus discípulos e afirma que haverá perseguição em
todas as nações. Muitos irão apostatar da fé. Jesus começa
a ministrar isso aos seus discípulos referente à missão que
eles precisariam enfrentar e os desafios que eles precisa-
riam lidar. E nós conseguimos identificar isso hoje. Não
só no Oriente Médio, mas em todo o Mundo. Quantos
missionários e pastores (alguns amigos meus), teólogos,
homens e mulheres de Deus, líderes que pregam o evan-
gelho, não estão sendo perseguidos e odiados em todas as
nações? Eu tenho amigos no Irã, Iraque, Turquia, Índia,
Haiti, Venezuela, Bolívia, Tailândia e em vários lugares,
de nações diferentes, que são perseguidos e odiados to-
dos os dias. Eles são apedrejados, cuspidos, açoitados,

62
suas igrejas são queimadas.
Aqui, eu chamo a atenção de vocês, para que pos-
samos entender que a missão que Deus tem para você,
a missão que Jesus o vocacionou, é uma missão de uma
Igreja que precisa permanecer firme, inabalável, persis-
tente, forte e corajosa, segundo a Palavra de Deus. A Bí-
blia diz que as portas do inferno não prevalecerão contra
nós (Mt 16:18). Lembra-se daquilo que Deus falou para
Josué? “Seja forte e corajoso!”. Isso quer dizer que, no
meio de tudo isso, período do fim dos tempos, existirão
mártires corajosos que serão perseguidos, maltratados e
mortos. Daniel Juster, um autor judeu-messiânico, es-
creve o seguinte em uma de suas obras sobre o livro de
Apocalipse:

Assim como os israelitas à beira do mar pareciam


estar diante da derrota pelas forças de faraó que
avançavam, o Corpo de crentes igualmente será
aparentemente esmagado pelas forças do antimes-
sias nos Últimos dias. Um ataque mundial avançará
contra eles, e Israel também verá uma invasão pe-
las forças do antimessias. Como Zacarias 14 decla-
ra, todas as nações virão contra Jerusalém. Metade
da cidade será exilada; suas mulheres serão violen-
tadas; a cidade sofrerá destruição pelas forças do
antimessias. A perspectiva parecerá negra mesmo
tanto para Israel quanto para o Corpo de Cristo.7

7 Dan Juster, Páscoa: a chave para abrir o livro de Apocalipse. São


Paulo: Impacto, 2017.

63
O SINAL MISSIOLÓGICO

Após revelar os sinais cosmológicos (Mt 24:6-7) e


eclesiológicos (Mt 24:9-12), Jesus revela um único sinal
como último, um sinal singular: o sinal missiológico. Em
Mateus 24:14, está escrito: “E este evangelho do reino
será pregado pelo mundo inteiro, para testemunho a to-
das as nações, e então virá o fim.”. Preste bastante aten-
ção agora. Vamos destrinchar, de maneira bíblica, qual é
missiologia do Novo Testamento.
Jesus Cristo está afirmando enfaticamente que as
boas novas, o Evangelho do reino de Deus, o amor do
Senhor, será pregado e anunciado a todas as nações antes
do fim. Esse evangelho não é qualquer evangelho, é o
evangelho do reino de Deus. Não é um evangelho do ho-
mem; não é o evangelho de Maomé, Hare Krishna, Buda,
Confúcio ou Alá. É o Evangelho do Reino de Deus. Ele
será pregado, e a palavra pregado ali significa, no origi-
nal, a pregação do evangelho de uma maneira inteligível,
aplicável e aceitável. Por isso que precisamos desenvol-
ver, nessa oralidade divina, nessa comunicação divina,
um senso de responsabilidade de termos as ferramentas
e capacidades linguísticas necessárias para compartilhar-
mos o Evangelho do Reino a todas as tribos da Terra – na
América do norte, central e sul; África; Oceania; Euro-
pa; Antártica.

64
Atualmente, há mais de 2 bilhões de pessoas não
alcançadas, cerca de 2 mil povos sem o conhecimento do
Evangelho do Reino, e pesquisas apontam que cada cris-
tão no Brasil investe em torno de trinta centavos por mês
em missões. Mas Deus chamou você para pregar o Evan-
gelho, investindo e fazendo com que ele seja compreen-
sível para crianças, idosos, homens, mulheres, vulnerá-
veis, presidiários, enfermos, enfim, a todos, de maneira
inteligível, aplicável e aceitável. Eu poderia compartilhar
várias experiências pessoais que tive com crianças em si-
tuação de vulnerabilidade no Recife (PE); com depen-
dentes químicos em casas de recuperação; com pessoas
nas ruas onde dormi por vezes; nas Cracolândias em São
Paulo; tudo para poder levar essas pessoas no dia seguin-
te, de manhã cedo, para casas de recuperação. Há também
crianças de alta vulnerabilidade, órfãos no Recife e no
Haiti; os imigrantes, os refugiados; as mulheres em situa-
ção de vulnerabilidade social que acabam emprestando
seus corpos para homens que querem maltratá-las e des-
valorizá-las.
Eu poderia contar vários testemunhos desde os
meus 13 anos em que pregava o Evangelho aos sertanejos
e aos quilombolas no Nordeste; aos índios, aos surdos,
aos árabes, aos muçulmanos no Sul. Lavando os pés de
muitos deles, os discipulando, fazendo com que enten-
dam e identifiquem o que é o Evangelho do reino na sua

65
cultura e em sua língua. Eu falo crioulo, entendo o es-
panhol, tenho tentado aprender o árabe e o inglês. Mas
o que eu quero é chamar a sua atenção para que você
possa se esforçar um pouco mais para desenvolver uma
missiologia bíblica eficaz e eficiente, onde você vai poder
compartilhar o Evangelho do reino de uma maneira com-
preensível, pura, simples e eficaz. Jesus continua dizen-
do: “Este evangelho do reino será pregado pelo mundo
inteiro, para testemunho a todas as nações”.
Se olharmos para a história da missiologia, vamos
identificar, desde os primeiros séculos, que os apóstolos
e discípulos que receberam essa palavra de Jesus, foram,
todos eles, mortos como mártires:

Mateus sofreu martírio pela espada na Etiópia. Marcos


morreu em Alexandria, no Egito, depois de ser arras-
tado pelas ruas da cidade. Lucas foi enforcado numa
oliveira na Grécia. Tiago foi decapitado em Jerusalém.
Tiago, o menor, foi lançado de um pináculo do templo
em Jerusalém, e depois espancado até morrer. Felipe
foi enforcado numa coluna na Frígia, a oeste de Ana-
tólia (atual Turquia). Bartolomeu foi esfolado vivo em
Albanópolis. André foi preso a uma cruz, e dali pregou
aos seus perseguidores, até morrer, na cidade de Pátras,
na Grécia. Matias foi primeiro apedrejado e depois de-
capitado em Jerusalém. Barnabé foi apedrejado até a
morte pelos judeus, na Grécia. Paulo foi decapitado, e
Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em Roma.

66
João foi posto num caldeirão de óleo fervente, mas esca-
pou da morte e foi exilado para a ilha grega de patmos.8

Por isso, eu chamo a sua atenção. Está escrito: “Nis-


to conhecemos o amor: Cristo deu sua vida por nós, e
devemos dar nossa vida pelos irmãos.” (1Jo 3:16). Nós
conhecemos esse amor, nós vimos esse amor de Deus,
nós vimos esse amor a partir de Cristo. Vimos o amor
dos apóstolos, vemos o amor dos evangelistas pioneiros
desde os grandes avivamentos (País de Gales, Ilhas Fijis,
Azusa, Europa). Portanto, a missão que a Igreja tem para
estes últimos dias é uma missão que envolve entrega, sa-
crifício, renúncia, abdicação de direito, abstinências geo-
gráficas, financeiras, familiares, de prazeres e etc.
Deus tem chamado a atenção da sua Igreja para os
últimos dias a esse respeito. Em vários livros, artigos,
vemos homens e mulheres de Deus como Jonathan Ed-
wards, George Whitefield, George Muller, e tantos ou-
tros que gastaram a vida pelo Evangelho. E, infelizmente,
muitas vezes somos egoístas com o nosso chamado e mi-
nistério. Aquilo que recebemos do Senhor é aquilo que
precisamos dar. A graça que recebemos, essa soberania,
esse amor e esse plano, precisamos apresentar a outras
nações como testemunhas vivas.

8 Franklin Ferreira, Servos de Deus: espiritualidade e teologia na


história da igreja. São José dos Campos: Fiel, 2013.

67
Eu, particularmente, já passei por muitas coisas:
água no rosto, fome, falta de recursos. Como o próprio
Jesus disse: “As raposas têm tocas, e as aves do céu têm
ninhos, mas o Filho do homem não tem onde descansar
a cabeça”. Em uma cidade, tendo a passar menos de um
ano. Muitos sacrifícios, mas sei que ainda são muito pou-
co para aquilo que eu posso devolver ao nosso Amado.
E Ele continua discipulando a gente nisso. Esse é o
Evangelho do reino – o reino que é paz, justiça e alegria
no Espírito. Não é a nossa paz ou nossa justiça. É a paz
que excede todo entendimento. É a justiça de Deus em
favor do órfão, da viúva e do imigrante. Desde Deutero-
nômio, o Senhor deixa bem claro isso. Na carta de Tiago
também. Os direitos de Deus em favor dos vulneráveis –
é essa a justiça, é esse o reino e é essa a alegria, a alegria
de vivermos e darmos o sentimento de Deus de estar fe-
liz com o seu povo, com a humanidade e com seus filhos.
E este evangelho do reino será pregado em todo o
mundo para testemunhas de todas as nações. E aqui, eu
queria introduzir a você, de maneira missiológica e bíbli-
ca, aquilo que entendemos da missiologia prática – que
existe um link direto entre a bibliologia, aquilo que nós
entendemos sobre a palavra de Deus e a Antropologia,
o estudo do homem. As questões totêmicas e culturais
têm tudo a ver com a missão de Deus nestes últimos dias.
Jesus ordenou isto aos seus discípulos: “vocês precisarão

68
pregar o Evangelho a todas as nações!”. Ele estava dizen-
do assim: “vocês terão que pregar o Evangelho a todos os
povos, línguas, etnias e tribo!”. Você está entendendo? Só
no Brasil, temos mais de 30 tribos urbanas: Punk’s, Heavy
Metal’s, crianças em alta vulnerabilidade, ciganos, surdos,
mudos, refugiados, imigrantes, sertanejos, pessoas em
situação de calamidade, aqueles que estão nos hospitais,
nos presídios, em situação de internamento, em acolhi-
mento intensivo. Há tantas nações aqui dentro do Brasil e
fora. Deus tem nos chamado.

CHAMADOS PARA OS CONFINS DA TERRA

Assim, que possamos ter uma cosmovisão bíblica. A


missiologia, de fato, nos faz ter um senso e um diagnós-
tico sistemático do mundo, onde podemos distinguir e
interpretar as culturas e os costumes para, então, não im-
plantarmos ou forçarmos o evangelho do reino de Deus
a essas pessoas. Mas, sim, de uma maneira humilde, man-
sa, respeitosa numa abordagem simples, contemporânea,
contextual. Sim, o Evangelho, muitas vezes, é contracul-
tural, mas ele também é intercultural e transcultural. O
Evangelho do Senhor Jesus Cristo deve e pode ser pre-
gado a todas as culturas da terra. É isso que a Bíblia nos
deixa claro.

69
O missiólogo brasileiro Ronaldo Lidório declara:

[...] muitas iniciativas missionárias, despreocupa-


das com a cultura receptora, apregoam templos de
cimento para culturas de barro, pianos de cauda
para povos dos tambores, terno e gravata para po-
vos que vestem túnica e turbante, sermões lineares
para pensadores cíclicos e sapatos engraxados para
pés descalços. Tão ocupados estão em exportar os
próprios costumes que se esquecem de apresentar
Jesus, o Deus encarnado, a luz do mundo, o Mes-
sias prometido para todos os povos, em sua língua e
cultura. [...] É preciso que sejamos bíblicos em nos-
sos valores, confessionais em nossa evangelização e
sensíveis culturalmente em toda relação humana.9

A ideia principal do livro O Fator Melquisedeque10 é


justamente que Deus preparou o Evangelho para o mun-
do inteiro e preparou o mundo inteiro para o Evangelho.
Ou seja, Deus está preparado, sim, para ser compartilha-
do. E este Evangelho é ministrado aos homens e inter-
pretado por eles para que, então, seja compartilhado por
eles a outros.
Precisamos destrinchar ainda mais a Bíblia e, prin-
cipalmente, o Novo Testamento para discernirmos qual é

9 Ronaldo Lidório, Introdução à Antropologia Missionária. São Pau-


lo: Vida Nova, 2011
10 Don Richardson, O Fator Melquisedeque: O testemunho de Deus
nas culturas por todo o mundo. São Paulo: Vida Nova, 2008.

70
a nossa missão integral. Aquilo que Deus nos deu como
vocação. Entenda, o discipulado de Jesus parte do pressu-
posto de que: o Evangelho do reino será pregado a todo
mundo, a todas as culturas, para o testemunho dos povos
e, então, virá o fim.
Exegeticamente falando, quando a Bíblia fala de
“mundo” – este evangelho será pregado em todo o mun-
do -, na verdade, não é o cosmo, não é a geografia, não é
o mundo cosmológico. A palavra usada ali é o koiné, ou
seja, a todas as pessoas, é o mundo habitável, na verdade.
Então, Jesus diz: “e então virá o fim”. Que fim é
esse? É o Ômega. Jesus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o
fim, lembra? Assim, o livro de Apocalipse vai nos deixar
bem claro o fim de todas as coisas. É esta a resposta de Je-
sus para os seus discípulos: “Quando acontecer isso tudo,
eu retornarei! Vocês precisam praticar este Evangelho e
esta missiologia que eu estou entregando para vocês”.
Isso precisa ser compartilhado hoje, aqui e agora, e Deus
dá essa missão, Jesus dá essa missão, aos discípulos.
Precisamos pregar a todas as culturas. Jesus disse
assim:

“Se me amardes, obedecereis aos meus mandamentos. E eu


rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que
fique para sempre convosco, o Espírito da verdade, o qual
o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhe-

71
ce; mas vós o conheceis, pois ele habita convosco e estará
em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.”
- João 14:15-18

Então, o Espírito desce. Em Atos, fica bem claro


para nós que este Espírito dá autorização e concede a un-
ção necessária para os apóstolos e discípulos pregarem o
Evangelho e, até mesmo, falarem novas línguas. Atos 1
afirma:

“Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer


sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusa-
lém como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins
da terra.”
- Atos 1:8

Isso quer dizer que, nesta missão integral do ho-


mem, nós precisaríamos versatilizar a multiplicação dessa
semente, dessa porção que recebemos do próprio Deus,
não só onde estamos, mas em todos os lugares por onde
Deus nos enviar. Essa é a missiologia bíblica; isso é missão
integral; essa é a Missão de Deus no Novo Testamento.
O texto diz que eles seriam testemunhas até os con-
fins da Terra. Mas os discípulos ficam em Jerusalém. O
Espírito Santo desce, mas eles ficam ali. E, muitas vezes,
é isso que acontece. Deus age dando a sua porção, dando
a sua Palavra, compartilhando os seus sonhos, comparti-
lhando línguas, estratégias, ferramentas, dons, talentos

72
e nós engavetamos; ficamos lá dentro de um núcleo fe-
chado, de uma parede, de uma casinha, de um ministério
para dentro e não para fora. A Eklesia, a Igreja, é o cha-
mado de dentro para fora; é a reunião dos santos para
que eles possam ser edificados e depois compartilhar essa
visão.
Lembro-me de Jesus contando a parábola dos ta-
lentos. Ele estava nos explicando o que é missiologia bí-
blica e o que iria acontecer nessa contemporaneidade. O
texto diz:

“[O Reino] Também é como um homem que, ausentando-


-se do país, chamou seus servos e lhes entregou seus bens:
a um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, de
acordo com a capacidade de cada um; e saiu em via-
gem. O que havia recebido cinco talentos foi negociá-los
imediatamente e ganhou mais cinco; da mesma forma,
o que havia recebido dois ganhou mais dois; mas o que
havia recebido um foi, cavou um buraco na terra e es-
condeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo,
o senhor daqueles servos voltou para acertar contas com
eles. Então, chegando o que havia recebido cinco talen-
tos, apresentou-lhe mais cinco talentos e disse: Senhor,
entregaste-me cinco talentos; aqui estão mais cinco que
ganhei. E o seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e
fiel; foste fiel sobre pouco; sobre muito te colocarei; parti-
cipa da alegria do teu senhor! Chegando também o que

73
havia recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me
dois talentos; aqui estão mais dois que ganhei. E o seu
senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel so-
bre pouco; sobre muito te colocarei; participa da alegria
do teu senhor. Por fim, chegando o que havia recebido um
talento, disse: Senhor, eu sabia que és um homem severo,
que colhes onde não semeaste e recolhes onde não plan-
taste; então, fiquei com medo e fui esconder na terra o
teu talento; aqui tens o que é teu. Mas o seu senhor lhe
respondeu: Servo mau e preguiçoso, sabias que colho onde
não semeei e recolho onde não plantei? Devias então
entregar meu dinheiro aos banqueiros e, ao voltar, eu o
teria recebido com juros.Tirai dele o talento e entregai-o
ao que tem dez talentos. Pois a todo o que tem, mais lhe
será dado, e terá com fartura; mas ao que não tem, até
aquilo que tem lhe será tirado. Lançai o servo inútil nas
trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.”
- Mateus 25:14-30

O senhor concede talentos – uma moeda da época


– aos servos, mas um deles acaba enterrando os seus re-
cursos, suas capacidades, seus dons, os dotes, pois a pala-
vra dom é isso. Por isso que Deus nos chama de um reino
e sacerdotes, pois Jesus é, na verdade, o sumo sacerdote.
“Dote” é presente, é dom. Presente e santo. Jesus é o
maior presente que recebemos do Pai e nós, a Igreja, so-
mos agora este presente de Deus para a humanidade.

74
Mas além de termos este dom – a graça, a salvação
mediante Cristo Jesus que não vem de nós, mas é dom
de Deus, algo gratuito –, precisamos, na verdade, ser
homens-dons, homens-presentes, sacerdotes do Senhor.
Lembra quando Pedro tenta nos discipular para enten-
dermos isso que Jesus falou? “Povo eleito, nação santa”;
Predestinados ao sacerdócio de Deus. Lembra lá de Leví-
tico? Fala de entrega, renúncia, sacrifício, dar o amor que
recebemos a outros irmãos. Só que, infelizmente, muitas
vezes, enterramos os talentos, recursos e os dons que re-
cebemos do Senhor. E, assim, Jesus chega para ele e diz:
“onde estão os talentos?”. Ele responde: “Eu os enterrei”.
O senhor, então, toma os dons, os talentos, e dá para os
outros, para aqueles que são capazes de multiplicar. Afi-
nal, o propósito do homem é multiplicar:

“Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e


multiplicai-vos”.
- Gênesis 1:28

“Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo.”
- Mateus 28:19

Este é o propósito que Deus tem para mim e para


você: o discipulado das nações. Jesus discipulou os seus
discípulos, os seus liderados, para levarem essa perspec-

75
tiva a todas as culturas da Terra – Jerusalém, Samaria,
Judéia e aos confins do mundo.
Mas eles ficaram lá. A Bíblia vai contar, então, a his-
tória de Filipe e o Eunuco:

“Mas um anjo do Senhor falou a Filipe: Levanta-te e


vai em direção ao sul, pelo caminho deserto que desce de
Jerusalém para Gaza. Ele se levantou e foi. Um eunuco
etíope, administrador de Candace, rainha dos etíopes, e
superintendente de todos os seus tesouros, que tinha ido
a Jerusalém para adorar, voltava para casa e, sentado na
sua carruagem, lia o profeta Isaías. E o Espírito dis-
se a Filipe: Aproxima-te e acompanha essa carruagem.
Filipe correu e ouviu que o homem lia o profeta Isaías;
e perguntou: Entendes o que estás lendo? Ele respondeu:
Como poderei entender, a não ser que alguém me ensine?
E pediu a Filipe que subisse e se sentasse. A passagem da
Escritura que ele estava lendo era esta: Foi levado como
ovelha ao matadouro e, como um cordeiro mudo diante
de quem o tosquia, não abriu a boca. Na sua humilhação
a justiça lhe foi tirada. Quem relatará a sua geração?
Porque a sua vida é tirada da terra.Tomando a palavra,
o eunuco disse a Filipe: Por favor, de quem o profeta está
falando isso? De si mesmo ou de outro? Então Filipe pas-
sou a falar e, começando por essa passagem da Escritura,
anunciou-lhe o evangelho de Jesus. E prosseguindo, che-
garam a um lugar onde havia água, e o eunuco pergun-

76
tou: Aqui há água; que me impede de ser batizado? Filipe
disse: É permitido, se crês de todo o coração. E ele respon-
deu: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.] Então ele
mandou parar a carruagem, e desceram ambos à água,
tanto Filipe quanto o eunuco, e Filipe o batizou. Quando
saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe. O
eunuco não mais o viu e, alegre, seguiu o seu caminho.”
- Atos 8:26-39

Em Apocalipse 5:9, está escrito: “E cantavam um


cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o livro e de
abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue
compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo
e nação”. Em Filipenses 2:9-11, é dito: “Por isso, Deus
também o exaltou com soberania e lhe deu o nome que
está acima de qualquer outro nome; para que ao nome
de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus
Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. Deus cha-
mou a Igreja para os confins da Terra.
Mas os discípulos ficaram lá. Além dessas histórias
que Atos nos conta, há também a conversão de Paulo – o
chamamento dele. Paulo é vocacionado por Deus depois
que houve uma grande perseguição que forçou a Igreja
a se espalhar, a migrar. Eles começaram a ir a outras na-
ções, a Judéia, a Samaria, aos confins da terra.

77
“E Saulo aprovou a sua morte [de Estevão]. No mesmo
dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja que
estava em Jerusalém; todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria.”
- Atos 8:1

Entenda: Deus permite coisas para você, ou para


sua família, ou no seu ministério para que você amadure-
ça, evolua e comece a expandir as suas tendas. O convite
do Senhor nestes próximos dias é: aprenda o que o Novo
Testamento deixou para nós como porção para multipli-
carmos e exercermos esse discipulado em nossa casa, em
nossa igreja, em nossa célula, em nosso ministério, em
nossa cidade, em nosso bairro, em nosso estado, em nos-
so país. Compartilhar o Evangelho do reino de Deus em
tempo e fora de tempo – localmente e globalmente.
Convido você a meditar naquilo que a teologia
paulina nos revela na figura deste grande missiólogo cha-
mado Paulo. Mergulhe em todos os livros missiológico
e antropológicos que conseguir. Paulo era esse tipo de
missionário extremamente capacitado e é a partir da
perspectiva dele que estudaremos a Missão de Deus no
capítulo seguinte.

78
TEOLOGIA PAULINA
DA MISSÃO
A MISSÃO NA PERSPECTIVA
DO APÓSTOLO PAULO
A missiologia bíblica está repleta de um favor do
Senhor, de uma graça de Deus, em nos direcio-
nar a conhecer os fundamentos da sua Missão
– a Missio Dei. Desde o Antigo Testamento, a missão é
percebida ao percorrermos a vocação de homens e mu-
lheres, profetas, reis, sacerdotes, patriarcas, governantes,
pessoas que foram discipuladas pelo próprio Deus, sen-
do enxertados neste relacionamento de revelação do Se-
nhor, passando também pela própria disposição de Deus
de descer à Terra, de discipular homens, de vocacionar
pessoas para andarem diariamente com Ele, deixando
essa porção, esse legado de discipular, de multiplicar esse
DNA, essa essência, essa paternidade, fazendo com que

83
o homem seja norteado ou centralizado neste caminho, e
preparando um caminho também para o retorno de Jesus
a todas as culturas, povos e nações.

Vimos que digno é o Cordeiro de receber a glória,


a força, a honra, e que para Ele foram compradas pessoas
de toda tribo, raça, povo, língua e nação. Precisamos imi-
tar a Ele, que a partir desse caminho, como ovelha, se-
guindo para o matadouro, o seu destino, calado e mudo;
precisamos nos disponibilizar para levar esse Evangelho
em obediência.

PREGANDO POR CAUSA DA VONTADE DE DEUS

Neste capítulo, vamos interpretar o que Paulo tan-


to nos ensinou ao ensinar as igrejas de seu tempo e seus
filhos na fé. Ele mesmo foi essa testemunha viva de que
é necessário nos abstermos da nossa vontade, nos apro-
fundarmos e mergulharmos na vontade de Deus, nessa
soberania de Deus. Chamo a sua atenção para estas duas
declarações do apóstolo:

“Eu te exorto diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de


julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino,
prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconse-
lha, repreende e exorta com toda paciência e ensino.”
- 2 Timóteo 4:1-2

84
“Isso é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador,
que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem
ao pleno conhecimento da verdade. Porque há um só
Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem. Ele se entregou em resgate por todos, para
servir de testemunho a seu próprio tempo.”
- 1 Timóteo 2:3-6

Em outras palavras, devemos pregar o Evangelho


em tempo e fora de tempo porque a vontade do Senhor é
que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento
da Verdade. Assim, a vontade de Deus é o fundamento e
base para a pregação constante e frequente do Evangelho.
Outro texto que quero focar está em Atos 16 e
conta:

“Atravessaram a região frígio-gálata, mas foram impedi-


dos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia.
Quando chegaram perto da Mísia, tentavam ir para a
Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. Então,
passando pela Mísia, desceram para Trôade. De noite,
Paulo teve uma visão; nela, em pé, um homem da Macedô-
nia suplicava-lhe:Vem para a Macedônia e ajuda-nos. E
quando ele teve essa visão, logo procuramos partir para a
Macedônia, concluindo que Deus nos havia chamado para
lhes anunciar o evangelho.”
- Atos 16:6-10

85
Temos aprendido muito sobre missiologia bíblica a
partir de textos, passagens e histórias que nos fazem re-
pensar a vocação de Deus e o ministério santo do Senhor
para nós. Outra passagem importante da Palavra de Deus
para nós é a seguinte:

“Porque o nosso evangelho não chegou a vós somente com


palavras, mas também com poder, com o Espírito Santo e
com absoluta convicção. Sabeis muito bem como procede-
mos em vosso favor quando estávamos convosco.”
- 1 Tessalonicenses 1:5

Nesse texto, é bem claro o amor do Senhor por


esta missão e também podemos identificar que precisa-
mos amar tanto esse Deus e essa missão que precisamos
ser capazes de obedecê-los, seguir fielmente a Palavra que
outrora nos foi delegada pelo próprio Deus, pelo próprio
Pai, pelo próprio Filho no NovoTestamento e pelo próprio
Espírito de Deus desde Pentecostes. A história do movi-
mento missionário nos deixa claro que grandes homens e
pioneiros de evangelismos – de cruzadas, de naufrágios,
de navegações, de caminhos, jornadas quase infindáveis –
nos deixaram exemplos incríveis de sacrifício, de doação,
de disponibilidade de tempo, de recurso, vivendo uma
jornada histórica de uma missão exemplar. Tenho certeza
de que esses homens e mulheres irão entregar ao Senhor,
no dia do Grande Juízo, um grande testemunho de que
foram tementes a Deus e servos bons e fiéis.

86
Da mesma maneira, o apóstolo Paulo nos deixou
uma grande porção e legado. Para mim, assim como para
muitos outros, ele foi um dos maiores, se não o maior,
missiólogo e missionário que já existiu na face da Terra.
Aquele que passou por diversos momentos em que se
propôs a ser perseguidor do Evangelho do Reino e aca-
bou como perseguido por causa desse Reino – por esse
poder, por essa graça e pelo próprio Deus.

“Saulo, porém, ainda respirando ameaças e morte contra


os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e
pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de
que, caso encontrasse alguns do Caminho, tanto homens
como mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. Mas,
seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco, de
repente, uma luz resplandecente, vinda do céu, o cercou.
E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo,
Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu,
Senhor? O Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem per-
segues; mas levanta-te e entra na cidade; lá te será dito o
que precisas fazer.”
- Atos 9:1-6

Nesse encontro, Paulo foi persuadido pelo Espírito


do Senhor a uma convenção genuína e arrependimento.
Toda a história de Paulo revela uma série de percalços
que ele teve que trilhar, abstendo-se, indo rever seus
conceitos, estudar um pouco mais, tendo tempos de soli-

87
tude, sendo confrontado pela presença do próprio Deus
e ser discipulado pelo próprio Senhor, mesmo não tendo
andado com Ele como os outros discípulos.
Paulo andou com a presença do Espírito Santo con-
vertendo o coração dele, o santificando, o separando e
o elegendo para um grande ministério. Um biógrafo de
Paulo escreve:

Saulo de Tarso, com sua cabeça cheia das Escrituras


e o coração cheio de zelo, ergue os olhos vagarosa-
mente para cima mais uma vez. Ele está vendo agora,
com os olhos bem abertos, consciente de estar acor-
dado, mas consciente também de que parece haver
uma rachadura na realidade, uma fissura na fábrica
do cosmos, e percebe que seu olhar desperto vê coi-
sas tão perigosas que, caso não estivesse tão prepa-
rado, tão purificado, tão cuidadosamente devoto, ja-
mais ousaria chegar assim tão perto. Para cima mais
uma vez, da cintura para o rosto. Saulo ergue os olhos
para ver aquele a quem adorara e servira por toda a
vida... e se depara, face a face, com Jesus de Nazaré.11

Desse modo, sabemos que o mesmo Deus e Cristo


que chamou os doze apóstolos também vocacionou Paulo
para exercer o ministério apostólico. Sabemos também
que, na missiologia paulina, há ministérios. Em Efésios,
ele começa a distinguir esse ministério quíntuplo, onde

11 N. T. Wright, Paulo: uma biografia. Rio de Janeiro: Thomas Nel-


son, 2018.

88
homens eleitos são separados pelo Senhor para o serviço
sacro:

“Aquele que desceu é o mesmo que também subiu muito


acima de todos os céus, para preencher todas as coisas. E
ele designou uns como apóstolos, outros como profetas,
outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e
mestres.”
- Efésios 4:10-11

Sabemos que esses ministérios, esses serviços, são


distribuídos no meio da comunidade do Senhor para a
edificação do corpo da Noiva de Cristo, da Noiva do Cor-
deiro e do Corpo de Jesus, a fim de que ela seja saudável
e que não perca o rumo, o caminho outrora preparado, e
não perca esse foco e esse destino que é o relacionamento
eterno com o Criador.
Além desses ministérios, desses dons ministeriais,
o Senhor também deixou dons espirituais. Ele registrou
o seguinte:

“A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que


sejais ignorantes. Sabeis que, ainda quando gentios,
éreis induzidos e levados para os ídolos mudos. Portan-
to, vos declaro que ninguém, falando pelo Espírito de
Deus, pode dizer: Maldito seja Jesus! E ninguém pode
dizer: Jesus é Senhor! a não ser pelo Espírito Santo.
Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há

89
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E
há diversidade de realizações, mas é o mesmo Deus quem
realiza tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito
é dada a cada um para benefício comum. Porque a um é
dada, pelo Espírito, a palavra de sabedoria; a outro, pelo
mesmo Espírito, a palavra de conhecimento. A outro, pelo
mesmo Espírito, é dada a fé; a outro, pelo mesmo Espírito,
dons de curar; a outro, a realização de milagres; a outro,
profecia; a outro, o dom de discernir os espíritos; a outro,
variedade de línguas; e a outro, interpretação de línguas.
Mas um só Espírito realiza todas essas coisas, distribuin-
do-as individualmente conforme deseja.”
- 1 Coríntios 12:1-11

Assim, a Igreja do Senhor deve se movimentar de


maneira eclesiológica e missiológica em favor das nações
e, nesse caminho, nesse percurso ao reino eterno, e na
plenitude, na volta do Cordeiro, a volta do Leão de tribo
de Judá que virá, rugindo, chamando sua igreja para um
tempo eterno com Ele, nesse percurso, que possamos nos
encontrar com tribos, raças e nações, pegarmos na mão
e discipulá-los com sabedoria e graça, compartilhando os
dons e os presentes que recebemos e sendo esses dons,
esses talentos, esses presentes para estas pessoas.
Paulo começou a compreender isso e passou por
um tempo de aprovação do Senhor. Muitas vezes em
açoites, em naufrágios, picado por cobras, passando por

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frio, fome e tantos sofrimentos, um martírio existencial,
crises existenciais, conflitos na alma e no corpo, muitas
vezes esmiuçado e bombardeado por demônios, tendo
de clamar ao Senhor: “tira de mim esse espinho”, mas o
próprio Deus disse assim: “a minha graça te basta, porque
o meu poder se aperfeiçoa na tua fraqueza”. Em outras
palavras, Deus estava aperfeiçoando Paulo, e é assim que
Deus está fazendo na sua vida também e Ele pode fazer
ainda muito mais.
O pastor John Piper colocou da seguinte forma:

Sofrer não é apenas o preço por estar em missões, é


o plano de Deus para realizar a obra. [...] Este não é
apenas o preço que muitos devem pagar. Essa é a es-
tratégia de Deus para a vitória. O seu Filho obteve vi-
tória desta maneira. Assim obteremos vitória. “Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro
e por causa da palavra do testemunho que deram
e, mesmo em face da morte, não amaram a própria
vida” (Ap 12.11). Eles venceram (não foram venci-
dos) por meio do seu testemunho e de sua morte.12

GRANDES E PEQUENAS MISSÕES


Muitas vezes, você tem se preocupado: “Deus, é tão
difícil ver e enxergar o meu legado, o meu destino, o

12 John Piper. “Principais ensinos de John Piper: missões globais”.


Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/artigos/principais-ensi-
nos-de-john-piper-missoes-globais/>.

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meu propósito, o meu ministério em amplitude, de ma-
neira plena, completa”. Só que a Bíblia diz para nós que
o final das coisas é melhor. Ou seja, o bem que Deus tem
para nós é no fim, por isso temos que olhar para o fim e
planejarmos, dia após dia, aquilo que queremos deixar
de legado, enfrentando diariamente os pequenos desafios
que Deus tem para nós.
É por isso que você precisa honrar ao Senhor nos
pequenos detalhes, nas pequenas missões que Ele tem te
dado dia após dia, ouvindo a voz Dele. O famoso evan-
gelista Dwight L. Moody disse: “Há muita gente que está
disposta a fazer grandes coisas para Deus, mas poucos
são aqueles que estão dispostos a fazer pequenas coisas”.
Honre a Deus nos pequenos desafios da sua vida e Ele te
honrará nas maiores missões.
Paulo foi aperfeiçoado por Deus. Você está sendo
aperfeiçoado por Deus. Assim, convoco você a ler a Pa-
lavra de Deus como nunca leu. Volte a orar como nunca
orou. Volte a entregar seu corpo, sua alma, seu espíri-
to, como nunca entregou. Eu te convido, nestes últimos
dias, a se deixar ser moldado pelo Senhor; a descer para a
casa do oleiro; deixe-se ser discipulado por Deus e toca-
do por pessoas, discipulado por homens e mulheres que
o Senhor colocou em sua vida.
Sim, Deus está te chamando a este nível de trata-
mento, um discipulado radical. Antes que você discipu-

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le nações, o Senhor quer um discipulado de amadure-
cimento com você. Por isso, Ele está te chamando para
ler livros, para se aperfeiçoar, para fazer cursos, escolas,
seminários, faculdades. Paulo, aos pés de Gamaliel, não
se limitou àquilo que recebeu na sua infância e juventu-
de. E mesmo quando as pessoas pensavam que ele era
o maior, ele dizia, “eu quero ser o menor”. Quando as
pessoas diziam que ele era forte, ele dizia, “sou fraco”.
Diziam, “Esse é o santo”, e ele respondia, “não, eu sou
o maior pecador dentre vocês”. Pois na matemática do
Reino de Deus é assim e a missão que Deus tem para
você é essa. Essa é a missiologia bíblica na perspectiva de
Paulo – quem quer ser o maior, seja o menor; quem quer
ser o primeiro, seja o último; aquele que quer ser forte,
na verdade, muitas vezes, está fraco; aquele que quer ser
servido, sirva; aquele que quer honra, honre.

GUIADOS PELO ESPÍRITO MISSIONÁRIO

Essa é a missão que Paulo deixou para nós. E ele


continuou discipulando seus filhos na fé, continuou dis-
cipulando as igrejas daquela época, e é interessante que
no seu percurso, nas suas viagens missionárias, ele co-
meçou a ser estudado pelo próprio Deus, e estudando a
visão do próprio Senhor, ele começou a se deparar com
intervenções do Espírito Santo. A passagem bíblica que

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vimos acima, em Atos 16, conta de quando ele estava se
disponibilizando para sua próxima jornada missionária.
Ele fez um planejamento estratégico: descer para a Ásia.
É interessante que muitas vezes nós passamos por isso –
nos preparamos. “Senhor, queremos trabalhar na África”;
“Senhor, eu quero trabalhar no Sertão”; “Senhor, eu que-
ro trabalhar na minha igreja local e viver aqui, desenvol-
ver aqui algo”; “Senhor, eu quero trabalhar nessa cidade,
naquele estado, ou naquele país, naquele continente”;
“Senhor, quero trabalhar com aquele público, com aque-
la geografia, com aquela área de influência”; Nós nos
preparamos, mas a Bíblia vai dizer que Paulo vivenciou
aquilo que chamamos de intervenção do próprio Espírito
Missionário. O Espírito Santo impediu Paulo de descer à
Ásia. Então, eu pergunto: o que o Espírito Santo tem fei-
to de intervenção no seu coração nestes dias? Deus tem
falado com você? O que Ele tem falado? Tente observar
as vozes que estão à sua volta. Muitas vezes são vozes de
inimigos, de egocentrismos, até de colegas e temos dado
ouvido a elas há anos, mas acabamos nos esquecendo de
ouvir a voz de Deus.
Eu te convido a voltar ao Jardim, a voltar ao seu
quarto – Mateus 6:6 diz: “Mas tu, quando orares, entra
no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está
em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recom-
pensará”. Deus tem chamado você para um tempo de

94
solitude, de ouvir a voz do Espírito Santo, de ser dire-
cionado para aquilo que Ele tem para você e não aquilo
que você quer, não aquilo que outras pessoas querem.
Você não pode pegar carona no chamado de ninguém.
Você não pode nortear o seu ministério baseado naquilo
que você mesmo pensa, mas naquilo que Deus tem como
diagnóstico espiritual em um panorama total.

VISÃO MISSIONÁRIA

A Bíblia diz que o Espírito Santo impede Paulo de


descer à Ásia, e ele tem uma visão de um homem em pé
na Macedônia dizendo, “Paulo, vem para cá, a fim de nos
ajudar”. Esse é o segundo conceito que eu tenho para você
dentro desta missiologia paulina: qual é a sua visão? Qual
é o seu plano dentro do Plano de Deus? Qual é o sonho
que você tem que é entrelaçado ao coração do Pai? Grande
doutor e missiólogo, um dos maiores missiólogos, Oswald
Smith, diz que, se o sonho maior de Deus é a salvação de
todos e nós não temos esse sonho como a maior priorida-
de, existe uma grande probabilidade de não termos nas-
cido de novo. O Reino de Deus, a vocação do Senhor e a
missão que Deus tem para nós não é egoísta, egocêntrica,
baseada num fundamento de um sonho pessoal, de uma
visão pessoal, limitada, curta, mas de longo prazo, eterna,
infindável, uma visão de pastor, de ver quilômetros, uma

95
visão missionária, uma visão pioneira, de levar o Evangelho
a sério numa perspectiva paulina e Paulo nos deixa uma
prioridade missiológica bíblica:

“Desse modo, esforcei-me por anunciar o evangelho não


onde Cristo já havia sido proclamado, para não edificar
sobre fundamento alheio.”
- Romanos 15:20

Precisamos pregar o Evangelho a todas as nações até


que Ele venha, até os confins da Terra. Muitos são os planos
no coração do homem, mas a resposta certa vem do cora-
ção do Senhor. Jeremias vai dizer também que o coração
do homem é enganoso, mas eu queria dizer para você que
o Senhor é quem sonda o coração. O Senhor tem a res-
posta certa. Você desenvolve e amplia sua visão. Por isso é
muito importante o mapeamento das regiões, estudarmos
as culturas, as localidades, as línguas, as questões socioló-
gicas e políticas para podermos estar dispostos a viver a vi-
são de Deus para aquele povo e não somente a nossa visão
humana.

CORAGEM, IMERSÃO CULTURAL E FIDELIDADE

A Bíblia diz que Paulo tem essa visão e ele diz: “nós
precisamos ir para lá, precisamos pregar o Evangelho a
eles, precisamos obedecer a esse chamamento”. Então,
Paulo vai.

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“Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, sentia
grande indignação, vendo a cidade cheia de ídolos. Por
essa razão, discutia na sinagoga com os judeus e os gregos
tementes a Deus, e todos os dias na praça com os que ali
se achavam. Alguns filósofos epicureus e estoicos puse-
ram-se a debater com ele. Uns perguntavam: O que este
falador quer dizer? E outros diziam: Parece ser propaga-
dor de deuses estranhos. Pois Paulo anunciava a boa-nova
de Jesus e a ressurreição. Então o tomaram e o levaram
ao Areópago. E disseram: Podemos saber que ensino novo
é esse de que falas? Pois estás nos anunciando coisas
estranhas. Portanto, queremos saber o que é isso.Todos os
atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam,
não tinham outro interesse a não ser contar ou ouvir
a última novidade. Então Paulo ficou de pé no meio
do Areópago e disse: Homens atenienses, em tudo vejo
que sois excepcionalmente religiosos. Porque, ao passar
e observar os objetos do vosso culto, encontrei também
um altar em que estava escrito: ao deus desconhecido.
É exatamente este que honrais sem conhecer que eu vos
anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há,
Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos
por mãos de homens.”
- Atos 17:16-24

Quando chega naquela região politeísta, egocen-


trista, decaída, com várias seitas, várias religiões, falsos

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deuses, ele se disponibiliza, prega o Evangelho – e alguns
missiólogos dizem para nós que Paulo passou cerca de
um mês ou três sábados pregando o Evangelho na região.
Ele planta igrejas naquele lugar, e eu dou glória a Deus
porque o chamado do Senhor passa pela pregação do
Evangelho, colheita de vidas, o plano da salvação sendo
apresentado a povos, a culturas e a religiões. A canaliza-
ção daquilo que Deus implantou no totem do homem de
maneira antropológica.
Lembre-se de Eclesiastes 3: Ele colocou o senso e o
desejo pela eternidade em todo homem. Não há Alá, não
há Buda, não há Hare Krishna, não há Confúcio, não há
Maomé. Não é o budismo, o hinduísmo ou o islamismo.
Não, o Deus do cristianismo vivo, puro, santo, criador
dos céus e da terra, é esse Deus que Paulo fala e nós fa-
lamos. E essa pregação passa pela salvação das pessoas e
pelo discipulado para a formação de uma igreja saudável.
Paulo prega o Evangelho de maneira ousada, pre-
cisa, interpretando o Evangelho do Senhor na linguística
daquele povo, na oralidade daquele povo, de uma ma-
neira transcultural, intercultural e contracultural, sendo
sempre fiel ao chamado do Senhor. Só que é interessante
que Paulo (e nós, às vezes) foi chamado para levar confu-
são a alguns lugares.

“Todavia, como não os encontraram, arrastaram Jasom e


alguns irmãos à presença das autoridades da cidade,

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gritando: Esses homens que têm agitado o mundo chega-
ram também aqui, e Jasom os acolheu.Todos eles proce-
dem contra os decretos de César, dizendo haver outro rei,
Jesus. Assim, provocaram a multidão e as autoridades da
cidade que ouviram essas coisas.”
- Atos 17:6-8

Precisamos pregar o Evangelho. Não o Evangelho


do homem para o homem, mas o Evangelho de Deus para
o homem, o Evangelho de voltar-se para Deus. Eu chamo
a sua atenção porque Paulo discipulou as igrejas (Tessa-
lônica, Filipenses, Gálatas, Coríntios) com um nível de
conteúdo pesado, de Palavra genuína para eles. E ele co-
meçou a discipular pessoas nessa perspectiva.
Precisamos pregar esse Evangelho com poder. John
Knox deixa claro para nós que o poder de Deus é a ma-
nifestação de um Deus sempre presente. Mas pare para
pensar: a onipresença e a onipotência de Deus. Deus está
presente na África? Sim. Deus está presente nos povos
mais longínquos, lá da Ásia? Sim, Ele está lá. Deus está
em todos os lugares, se manifestando a partir da sua cria-
ção. Mas o propósito existencial de Deus é o relaciona-
mento de Pai e filho. Ele não quer simplesmente que o fi-
lho leve o Evangelho a outro filho sem se relacionar com
Ele. Deus veio para resgatar essa essência de relaciona-
mento entre o pai e o filho. Jesus vem para restabelecer,
ou religar, esse relacionamento. A Bíblia diz que Ele não

99
quer morar em templo feito pela mão do homem, mas,
na verdade, Ele quer habitar em nós. E você é capaz, sim,
de lembrar que Ele veio e habitou entre nós, e o Espíri-
to Santo está em nós. Ele cumpriu seu desejo. Agora eu
queria que você identificasse, interpretasse junto comi-
go, nessa visão missiológica paulina, o desejo de Deus de
levarmos o poder do Evangelho, que é capaz de trans-
formar, curar, libertar e salvar a vida de todo homem e
mulher. É um Deus Emanuel. É Deus conosco, dentro de
nós. Lembre aquilo que Paulo falou: “Cristo em vós é es-
perança da glória”. Cristo dentro do homem, aquilo que
recebemos do próprio Espírito, o poder de Deus.
As pessoas estão lá, os povos estão lá, eles não sa-
bem quem é Jesus, mas conhecem Pelé. Não sabem
quem é o Espírito Santo, mas conhecem a Coca-Cola e o
McDonald’s. Você precisa ir lá. Nós precisamos ir lá para
compartilhar a partir desse poder que há em nós, teste-
munhando a partir dessa graça e desse dom que Deus nos
deu, em favor deles.

NO PODER DO ESPÍRITO

O segundo conceito desse texto é que a pregação é


no Espírito Santo, esse Evangelho tão somente não foi até
vós em palavras, no poder e no Espírito Santo. A “palavra”
é a verbalização do próprio Deus, é o próprio Jesus Cristo.

100
“No princípio era oVerbo, e oVerbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele,
nada do que foi feito existiria.”
- João 1:1-3

“No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era


sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo,
mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
Disse Deus: Haja luz. E houve luz.”
- Gênesis 1:1-3

“E oVerbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça


e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai.”
- João 1:14

A palavra de Deus que foi ministrada a nós, que viveu


em nós, agora precisa ser encarnada por nós. A partir de
agora, Ele nos dá o livre acesso para que, no Espírito Santo,
possamos pregar esse Evangelho. O Espírito é Deus, Ele
é incrível, é maravilhoso, é santo, é capaz de perdoar o
homem do pecado, de convencer o homem do pecado, da
justiça, do juízo. É Ele quem nos consola e é Ele quem nos
guia, nos mentoreia, nos instrui, nos dá o desejo de amar
a Deus, nos dá o desejo de amar o próximo, dá o interesse
de buscarmos e mergulharmos na Palavra do Pai, nos puri-
fica, nos santifica, nos redime e nos perdoa.

101
É com esse Espírito que temos que ter intimida-
de e compartilhar a essas pessoas. E eu quero convidar
você para que nesses próximos dias você possa ter uma
vida de relacionamento e de oração íntima. Tenha como
uma missão prioritária: o desenvolvimento, o reestabe-
lecimento da intimidade com o Espírito do Senhor, para
que você não possa desenvolver projetos pioneiros, abrir
ONG’s, simplesmente plantar igrejas, desenvolver ne-
gócios como missões, desenvolver projetos de políticas
públicas, desenvolver projetos de transformações socio-
lógicas, filosóficas. Deus está te chamando a desenvol-
ver projetos segundo a perspectiva do Espírito Santo de
Deus.
É o amor divino, derramado em nosso coração, que
nos vocaciona, nos instrui e nos guia a ter intensidade
no Espírito e nos chama para uma vida de escuta ativa
do próprio Deus para podermos compartilhar aquilo que
aquela cultura está necessitando. Infelizmente, muitas ve-
zes, missionários se perdem em seus caminhos, nas suas
jornadas missionais, porque não fazem o estudo de causa,
do coração do próprio Pai das nações, do próprio Jesus.
Em Salmos 2 diz: “pede-me as nações e eu te darei por
herança”, e Ele recebeu as nações por herança, as nações
são Dele. As nações, as tribos, as línguas e as culturas são
de Jesus. Precisamos perguntar ao Espírito do Senhor Je-
sus Cristo aquilo que Ele tem para cada nação. Aquilo que

102
Ele tem para cada etnia, para cada língua, para cada povo,
para cada cidade, para cada público, para cada esfera.
Convido você a sempre que puder ter a oportu-
nidade de desenvolver projetos missionais dentro dessa
missão integral de Deus, desse mandato cultural, aonde
for, em qualquer cenário, em qualquer esfera, em qual-
quer país, em qualquer público, em qualquer cidade, em
qualquer bairro, em qualquer igreja, em qualquer célula,
em qualquer ministério, desenvolva um estudo de cau-
sa a partir da escuta ativa, ouvindo a voz do Espírito do
Senhor. E, assim, eu tenho certeza de que a sua vocação
sempre será efetiva, eficaz, e você estará utilizando a pa-
lavra do Senhor, que é mais penetrante que uma espada
de dois gumes, capaz de dividir alma e espírito, que é
poder de Deus, esse Evangelho, e que o Espírito Santo é
capaz de te introduzir em lugares que você nunca imagi-
nou entrar.
“Abre a tua boca que eu vos encherei”. Agora, você
abre a boca e compartilha aquilo que tem porque nin-
guém dá aquilo que não recebe. Você precisa ter para po-
der dar. Você precisa receber para poder entregar. Desde
a minha infância, fui para a faculdade teológica aos 16
anos, li mais de 200 livros na minha infância e juventude.
E, claro, ainda sou jovem. Deus sempre me discipulou,
dizendo para mim: “Quem não senta para ouvir, não se
levanta para falar. Quem não senta para aprender, não se

103
levanta para ensinar. Quem não senta para receber, não se
levanta para dar”. Eu te chamo a ser humilde no espírito,
ore para que o Senhor te dê o fruto dele – humildade,
mansidão, temperança, domínio próprio, longanimida-
de, benignidade, amor e, sobretudo, o amor, pois esse é
o maior dom.
Leia as cartas paulinas, leia com essa perspectiva.
Faça um diagnóstico a partir da visão do Espírito Santo,
naquilo que Ele tem para você, naquilo que você precisa
e naquilo que Ele tem para os outros, aos próximos, que
Ele tem no seu caminho mais na frente.
É o Espírito do Senhor que nos direciona assim
como direcionou o maior de todos os missionários, o
apóstolo Paulo. Você está disposto a transicionar e mi-
grar, por intervenção do Espírito Santo? Se prepare, pois
nos últimos dias, as movimentações de Deus passarão pe-
los movimentos da sua Igreja.

104
MISSIOLOGIA
CONTEMPORÂNEA
REFUGIADOS E
IMIGRANTES
F izemos uma boa jornada até aqui. Passamos pelos
fundamentos da missiologia bíblica, pelo concei-
to da Missio Dei, a missão do próprio Deus, pela
missiologia voltada para um conceito integral onde o
próprio Jesus Cristo nos deixa o seu mandato cultural,
a missão do homem num discipulado pessoal, face a face
com os seus filhos, os seus discípulos. Mergulhamos na
missiologia do Antigo e do Novo Testamento. Vimos tam-
bém a teologia paulina, ou a teologia missiológica de
Paulo. Aprendemos que nestes últimos dias precisamos
desenvolver, de uma maneira eclesiológica missiológica e
escatológica, o conceito de que Jesus e o seu Evangelho
precisam ser compartilhados a todas as etnias baseado no

109
contexto do fim dos tempos e que precisamos nos espe-
cializar e capacitar para compartilhar esse reino de Deus
com sabedoria, graça, entendimento e amor.

Pois bem, entraremos agora em um novo nível de


missiologia: as missões contemporâneas. Aqui, faremos
uma convergência entre Mateus 24 e Mateus 25, entre a
praticidade missiológica nos quesitos escatológicos, pre-
parando um caminho para o retorno de Jesus.

A PERGUNTA DE JESUS NO FIM DOS TEMPOS

Leia comigo o capítulo 25 do Evangelho segundo


Mateus. Aqui será nosso ponto de partida:

“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:Vinde,


benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo; porque tive
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber;
era estrangeiro, e me acolhestes; precisei de roupas, e me
vestistes; estive doente, e me visitastes; estava na prisão e
fostes visitar-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor,
quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com
sede e te demos de beber? Quando te vimos como estran-
geiro [imigrante] e te acolhemos, ou precisando de rou-
pas e te vestimos? Quando te vimos doente, ou na prisão,
e fomos visitar-te? E o Rei lhes responderá: Em verdade

110
vos digo que sempre que o fizestes a um destes meus
irmãos, ainda que dos mais pequeninos, a mim o fizestes.
Então ele dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Malditos, afastai-vos de mim para o fogo eterno, prepa-
rado para o Diabo e seus anjos; pois tive fome, e não me
destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era
estrangeiro, e não me acolhestes; estive nu, e não me ves-
tistes; doente, e na prisão, e não me visitastes. Então, eles
também perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome,
ou com sede, ou estrangeiro, ou sem roupas, ou doente, ou
na prisão, e não cuidamos de ti? E ele lhes responderá:
Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer
a um destes mais pequeninos, deixastes de fazê-lo a mim.
E eles irão para o castigo eterno, mas os justos irão para
a vida eterna.”
- Mateus 25:34-46

Já mergulhamos na missiologia bíblica a partir de


vários textos, de várias histórias, e desenvolvemos o nos-
so norte, aonde queremos chegar enquanto missiólogos,
missionários, plantadores de igrejas, líderes de ministé-
rios e projetos, plantadores de bases, desenvolvedores
humanitários, pessoas que vão empreender socialmente,
homens e mulheres que estão sendo despertados para
exercer um cristianismo real, sólido, fundamentado na
palavra de Deus, atuando no poder do Espírito Santo, le-
vando o Evangelho a todas as nações.

111
No texto acima, Jesus deixa para nós o exemplo de
como que, nessa contemporaneidade, aqui e agora, pode-
mos desenvolver uma missiologia prática, eficaz, concer-
nente a estação e o tempo em que estamos. Discernindo
esse tempo, essa estação, aprendemos que Jesus se pron-
tifica a exemplificar uma metodologia de evangelismo a
partir da hospitalidade.
Jesus fala de um diálogo entre aqueles que vão se
deparar com o próprio Deus no dia do juízo. No fim, a
pergunta de Jesus para nós será esta: “como você tem me
acolhido, me amado e me hospedado?”. A Bíblia diz que
quando você fizer isso a um dos pequeninos, você estará
fazendo ao Grande Eu Sou.

MIGRANTES, ÓRFÃOS, VIÚVAS E POBRES

Lembra da parábola do bom samaritano? Dos re-


ligiosos ignorando o que estava em sofrimento? Muitas
vezes, é assim que acontece. Portanto, precisamos nos
posicionar para acolher os feridos e os vulneráveis, aque-
les cuja qual o desejo de Deus é manifestar o seu amor a
partir de uma dignidade, de um senso de justiça humani-
tário. Jesus ama o órfão, a viúva e o imigrante. Em Tiago,
está escrito:

112
“A religião pura e imaculada diante do nosso Deus e Pai
é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas dificuldades e
não se deixar contaminar pelo mundo.”
- Tiago 1:27

O Antigo Testamento já mencionava isso. O Deus


cujo amor acolhe o órfão, a viúva e o estrangeiro da mes-
ma maneira que Israel foi acolhido por Ele.

“Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor


dos senhores; o Deus grande, poderoso e terrível, que não
faz discriminação de pessoas nem aceita suborno; que faz
justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe
comida e roupa. Amareis o estrangeiro, pois fostes estran-
geiros na terra do Egito.”
- Deuteronômio 10:17-19

Deus sempre deixou claro a sua perspectiva ao


acolher a todos. Em 1 Timóteo 2:3-4, está escrito: “Isso
é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que
deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
pleno conhecimento da verdade”. A vontade dele é salvar
a todos. Deus amou todo mundo. Ele nos mandou ir e
pregar o Evangelho a toda criatura – toda criatura. Lem-
bra-se Isaías 6? A glória do Senhor enchia toda a Terra.
Deus foi o maior missionário porque Ele saiu da
sua terra natal, os céus, e, inclusive, Ele também foi um
imigrante, pois migrou da pátria, da sua terra natal, para

113
a Terra, e Ele também foi um refugiado quando seus pais,
José e Maria, fugiram para o Egito.

“Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que,


sendo rico, tornou-se pobre por vossa causa, para que
fôsseis enriquecidos por sua pobreza.”
- 2 Coríntios 8:9

“José levantou-se durante a noite, tomou o menino e a


mãe, e partiu para o Egito; e permaneceu lá até a morte
de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor havia
falado pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho.”
- Mateus 2:14-15

Esse mesmo Deus foi também o maior ofertante


em missões porque Ele deu tudo, deu o seu próprio Fi-
lho, deu a Si mesmo, se entregou em nosso favor.

TRABALHE A PARTIR DESTA PERSPECTIVA

É nessa perspectiva, onde todo o Evangelho é com-


partilhado por toda a igreja para todos os povos, que
temos, agora, este olhar contemporâneo e avançado da
missiologia, onde nós não podemos nos limitar em ape-
nas evangelizar, pastorear e acolher unicamente pessoas
da nossa cultura, nossa língua, nossa etnia, nossa tribo ou
nossa religião.

114
Preste bastante atenção: você está sendo convida-
do por Deus para que nestes últimos dias possa romper
os limites da sua autoteologia ou da sua automissiologia,
romper os limites dogmáticos ou pragmáticos que um
dia taxaram em você para que você fosse impedido de ter
relacionamento com pessoas de outras religiões, de seitas
e heresias. Você está sendo convidado por Deus para hos-
pedar pessoas de todas as tribos, raças, inclusive religiões
– o órfão, a viúva, o pobre e o imigrante.
Eu gostaria de lhe dar uma ferramenta hoje. He-
breus 13:2 diz: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois,
fazendo isso, mesmo sem saber, alguns hospedaram an-
jos”. Alguns dizem que isso tem a ver com o texto de
Gênesis 18 quando Abraão hospeda varões em sua casa
e os serve e acolhe. Alguns dizem que de uma maneira
teofânica ou angeológica, o próprio Jesus o visitou com
dois anjos – os mesmos anjos que destruíram as cidades
de Sodoma e Gomorra. Mas existe outra tese teológica
de que não foram. Independente, o que existe é uma li-
ção clara e simples: precisamos acolher os imigrantes e os
estrangeiros que, na verdade, não podem ser vistos como
estranhos, mas como pessoas humanas que precisam de
amor como nós.
Eu queria chamar sua atenção para estes textos:

“Sede hospitaleiros uns para com os outros, sem vos queixar.”


- 1Pedro 4:9

115
“Socorrei os santos nas suas necessidades. Procurai ser
hospitaleiros.”
- Romanos 12:13

“Pois, como responsável pela obra de Deus, é necessário


que o bispo seja irrepreensível, não arrogante, nem incli-
nado a brigas, nem ao vinho, nem violento, nem domina-
do pela ganância; mas hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio,
justo, piedoso, equilibrado.”
- Tito 1:7-8

É interessante que a palavra “hospitalidade” ou “aco-


lhimento”, do original filoxenia em algumas passagens e
xynodochel em outras; o primeiro, chamamos de amor ao
próximo, imigrante ou uma pessoa de outra cultura; o
segundo é o amor ou o abraço ao imigrante e vice-versa,
o abraço naquele que não faz parte do contexto, o acolhi-
mento, o encobrimento daquele que é estrangeiro.
O Espírito do Senhor, nestes últimos dias, tem nos
direcionado a trabalhar com acolhimento, algo que pode
ser desenvolvido em vários aspectos como, por exemplo,
na sua igreja local, você pode desenvolver ferramentas e
estratégias para acolher pessoas em estado de vulnerabi-
lidade social (e não apenas pessoas do seu bairro); É pre-
ciso unir um estudo missiológico local com estratégias e
ferramentas para pregar o Evangelho a pessoas de outras
tribos urbanas locais, da sua região, e desenvolvermos

116
projetos missionais em outras nações, de outras línguas,
com outras culturas.
Em especial, Deus tem nos convidado, aqui na nos-
sa nação, de norte a sul, de leste a oeste, para desenvol-
vermos o acolhimento de vulneráveis de outras religiões.
Pare para pensar: hoje o Brasil conta com milhares e
milhares de refugiados, imigrantes e povos não alcança-
dos – grupos que não possuem a presença de uma igreja
local bíblica, públicos étnicos que não têm contato com
o Evangelho do Senhor Jesus Cristo, mas que acabaram
sendo enviados, migrando pela ação do próprio espírito
de Deus, na Sua soberania, até o Brasil.
Precisamos desenvolver uma estratégia missiológi-
ca transcultural dentro do nosso país. Estamos trabalhan-
do, atualmente, para aperfeiçoar nossas faculdades men-
tais, emocionais e espirituais para desenvolver projetos
com o público budista, hinduísta, islãs/muçulmanos, mas
não apenas no Oriente Médio, mas também aqui, a partir
do Brasil.
Temos discipulado nações em nosso estado, o Para-
ná, e em alguns outros lugares do Brasil – muçulmanos,
árabes, mais de dez nacionalidades, mais de oito línguas.
Há casas de acolhimento onde temos um projeto-piloto
para desenvolvermos uma boa triagem em solicitações
de refúgio, quando a pessoa sai do seu país em estado
de guerra (por exemplo, a Síria), de catástrofes naturais

117
(como no Haiti), de crises políticas e humanitárias (como
na Venezuela), locais de perseguições religiosas (como
nossos acolhidos do Egito, do Iraque, do Irã). Enfim, po-
demos e devemos começar a desenvolver projetos nessa
nova perspectiva contemporânea, missiológica e avança-
da.
Além disso, temos também plantado igrejas nessas
etnias e culturas. Recentemente estávamos lavando os
pés de muçulmanos em nossas casas, reformando igrejas
dos caribenhos que estão aqui, consagrando pastores de
outras nações que estão dispostos a servir o refugiado
e imigrante da sua nação e outras nações, tudo aqui no
Brasil.
Veja só: isso é a multiforme graça do Senhor, a sa-
bedoria do Senhor, sendo desenvolvida e ampliada a par-
tir da sua Igreja. Imagine essas pessoas que têm facilida-
de migratória, antropológica, transcultural, linguística,
oral. Creio que Deus tem despertado o seu povo! Ele
tem feito e utilizado do movimento migratório, ou da
diáspora, para uma pregação do Evangelho eficaz, efeti-
va, como escrito em Mateus 24:14.
É interessante que, muitas vezes, nos deparamos
com tantas possibilidades em nosso dia a dia. Encontra-
mos com africanos que estão nas grandes metrópoles dos
nossos estados, vendendo seus produtos e nós oramos a
Deus: “Senhor, nos dê as nações”. As nações estão pas-

118
sando ao nosso lado e não estamos percebemos. Muitas
vezes, nos deparamos com índios, paraguaios ou vene-
zuelanos que estão nos semáforos da cidade, com placas
e dizeres nos informando que estão com fome ou preci-
sando de um emprego. Damos uma moeda para eles, mas
aquilo que Jesus nos ensinou foi amar, cuidar, acolher e
hospedar.
No Brasil, temos árabes que estão aqui, diversas
mecas, centros budistas espalhados pelo país, templos
hindus no sul. Quando você se deparar com essas cultu-
ras em sua cidade, te convido a fazer uma imersão: visi-
te-os, vá no restaurante deles, experimente a culinária
deles, crie um relacionamento com eles, entre em conta-
to com a prefeitura local, com o governo estadual, com
CRAS, com CREAS, com as instituições, as OSCIPs e
as ONG’s do terceiro setor que possam ter associações
ou atividades culturais ou artísticas com eles, desenvolva
programas de relacionamento, de atendimento ao públi-
co imigrante, desenvolva estratégias de acolhimento e
integração a eles, facilitação de documentos, desenvolva
estratégia de interação cultural, desenvolva estratégia de
interação artística.
Você possui dons, recursos, talentos, suas fa-
culdades mentais, um ministério que Deus o en-
tregou. Você sabe aquilo que pode exercer como:

119
- Psicólogo.
- Assistente social.
- Técnico de futebol de crianças filhas de imigrantes.
- Trabalhos artísticos.
- Advogado e juiz.
- Teólogo e missiólogo.
Quero convocar você ao despertamento da missio-
logia contemporânea, onde você poderá exercer o seu
ministério, chamado e vocação a partir de onde você está,
inclusive com povos muçulmanos. Nós, em particular,
temos desenvolvido vários programas de relacionamen-
to, de voluntariado onde as pessoas se disponibilizam de
seu tempo para poder servi-los em questões sociais; pro-
jetos de integração social onde pessoas têm desenvolvido
projetos de empregabilidade com eles; desenvolvemos
cooperativas; programas educacionais onde temos par-
cerias com faculdades e universidades que possam ceder
graduações, pós-graduações, e até convalidações de di-
plomas para eles; isso tudo abre portas para que o Evan-
gelho seja propagado a essas pessoas que muitas vezes
tem os seus preconceitos conosco e, muitas vezes, somos
nós mesmos que colocamos estas barreiras. Dizemos:
“ah, não, ele tem uma língua diferente, eu não consigo
me comunicar. Ele tem uma cultura diferente. Ele tem
uma religião diferente”. Mas a linguagem do amor de Je-

120
sus Cristo – do tive fome e me deste de comer, tive sede
me deste de beber, estive imigrante e você me hospedou
– ainda é eficiente.
Não existe escatologia bíblica sem missiologia
bíblica. O retorno de Jesus passa pela colheita e pregação
do Evangelho no avivamento pleno, a partir de faíscas
de avivamento em vários setores, áreas, esferas, países,
nações e cidades.
Desafio você a conhecer mais projetos que traba-
lham e desenvolvem programas psicoeducacionais, de
atendimento intensivo, onde colocamos famílias com
seus filhos, casais, em uma casa de cultura (por exem-
plo, cultura venezuelana, de haitianos, de árabes), ou, até
mesmo, se for preciso, como tivemos em nosso ministé-
rio, uma casa de acolhimento onde juntou-se todas essas
culturas no início e tínhamos uma diversidade de nações
dentro de uma casa só. Nesse tempo, vimos aquilo que
de fato oramos: “Pede-me, e te darei as nações como he-
rança, e as extremidades da terra como propriedade” (Sl
2:8).
Eu mesmo morei, junto com a minha esposa Ana,
em uma casa de acolhimento de refugiados imigrantes e
lá liderávamos pessoas de várias culturas, nações e lín-
guas. Projetos-pilotos como esses onde desenvolve uma
programação semanal com lazer, discipulado, devocio-
nais, momentos de partilha, momentos de grupos tera-

121
pêuticos, organizar o currículo deles e levá-los, conseguir
móveis para eles, conseguir alugar casas para eles, con-
seguir uma faculdade, ensinar português, tantas e tantas
estratégias que você tem hoje na sua mão. Qual faculdade
você fez? Qual curso técnico você fez? Profissionalizante,
o que você fez? Qual curso bíblico você aprendeu? Qual
foi a sua experiência com discipulado? É para isso que
Deus tem te convidado.
Eu queria chamar a sua atenção também para que
quando você estiver se deparando com um imigrante ou
refugiado, entenda que Jesus está te dando a oportunida-
de de hospedá-lo, amá-lo, servi-lo, honrá-lo. Jesus está te
dando a oportunidade de lavar os pés das nações. Saiba
que não é fácil para eles passar por momentos de crises
existenciais, perseguições, feridas, açoites, momentos de
negações, questões políticas, questões sociais e questões
religiosas. Do mesmo jeito, não é fácil para os missio-
nários que, muitas vezes, precisam fugir de um estado
para o outro, de um país para o outro, para poder dar
continuidade ao projeto, sendo sábios, inteligentes e dis-
cernindo os tempos.
Eu quero dizer também que não é fácil para os refu-
giados e imigrantes. Peço que tenha a sensibilidade de estar
orando por eles, pois o efeito da diáspora ainda é uma das
maiores ferramentas missiológica para podermos discipu-
lar as nações e pregarmos o Evangelho para eles de modo

122
prática, de praticar a justiça social, o acolhimento e a inte-
gração/inclusão social, fazendo com que eles desenvolvam
autonomia, senso de posteridade, não dependendo de nós
ou sendo independentes no país, mas interdependentes,
ou seja, sejam parceiros, amigos e irmãos.
Deus está te dando a oportunidade de orar e praticar
a pregação do Evangelho a este público que tanto carece e
que está no coração de Deus. Foi para isso que Ele trou-
xe essas pessoas para perto de nós. O efeito migratório e
as diásporas vão se expandir cada vez mais – crises políti-
cas, crises existenciais, crises pandêmicas, crises familia-
res, crises pessoais, catástrofes naturais, guerras e rumores
de guerras. Conheço algumas que moraram comigo que
passaram por cima de corpos, atravessando a Síria para
Turquia; conheço outros que vieram em barcos pequenos
atravessando o Caribe; outros que acolhemos em uma de
nossas casas oravam assim: “Meu Deus, eu preciso de so-
corro do Senhor, Jesus! Deus de Israel, Deus dos judeus,
se o Senhor é real, se o Senhor é verdadeiro, e a minha
própria religião, a minha própria crença, os meus próprios
irmãos muçulmanos estão me perseguindo, os radicais, es-
tão me mutilando; Deus, se tu és real, se revela para mim,
me socorre, me dá um acolhimento! Jesus, se tu és real,
acolhe-me, acolhe minha família, acolhe meu pai, minha
mãe, meu filho!”. E há tantas e tantas outras histórias assim
aqui no Brasil.

123
CONCLUSÃO

Pergunto: você estaria disponível a fazer assim como


Paulo fez? Ser redirecionado a trabalhar com outro públi-
co? Você estaria disponível a assumir, assim como homens
de diferentes lugares, a responsabilidade de enquanto você
estiver discipulando essa nação ou essa pessoa, entender
que estará acolhendo, pastoreando, recebendo, hospedan-
do o próprio Jesus? É aqui onde eu desafio você a começar
a desenvolver o seu próprio projeto, com seu D.N.A., sua
identidade, ouvindo a voz do Senhor, discernindo aquilo
que você tem como dom, talento, vocação, ministério e
mandato cultural para multiplicar a semente dos recursos
e talentos que Deus te deu, na geografia onde Deus te co-
locou, no público específico onde Ele te implantou.
Você está disposto a sair das dependências emocio-
nais, familiares, denominacionais, financeiras e geográfi-
cas? A desenvolver algo que seja pioneiro, cumprindo o
ápice da missiologia bíblica, aquilo que o Paulo falou na
sua teologia Paulina: “desse modo, esforcei-me por anun-
ciar o evangelho não onde Cristo já havia sido proclama-
do, para não edificar sobre fundamento alheio”?
Você está disposto a parar de pegar carona no cha-
mado de outras pessoas e começar agora, dirigido pelo
Espírito Santo, a desenvolver um programa, um projeto,
que possa ser revolucionário na área de refugiados e imi-
grantes?

124
Oro para que a chama do Espírito Santo não se apa-
gue no seu coração. Oro, no nome de Jesus, para que do
mesmo jeito que Paulo teve a versatilidade de receber a
bênção e também está conectado com as igrejas no qual
ele implantou e ajudou, e no cuidado discipulou líderes,
treinou pessoas e enviou pessoas, também teve a versati-
lidade de criar tendas, de vender tendas. Oro para que o
seu ministério seja exponencial. Quero desafiá-lo a ter um
estilo de vida missiológico e prático diante de Deus, onde
sua expectativa pelo retorno do Rei das Nações não fica-
rá somente no clamor Maranata, mas você se posicionará
como um filho maduro que faz aquilo que vê o Pai fazendo
e diz: “o Filho nada pode fazer por si mesmo, senão o que
vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz tam-
bém. Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que ele
mesmo faz; e lhe mostrará obras maiores que estas, para
que vos admireis” (Jo 5:19-20).
Que se levante uma geração que não apenas espera
por um avivamento entre as nações, mas que trabalha, junto
ao Pai, tendo uma consciência de coerdeiro e cooperador!
Sim, acreditamos e oramos pelo avivamento dos últimos
dias que precedem a volta de Jesus, onde filhos e filhas serão
despertados com essas características de amor, devoção e
incendiados pelo Espírito Santo a vivenciarem seus chama-
mentos de modo versátil, multiforme e móbil! Somos todos
migrantes e estamos fazendo o caminho de volta também.

125
Concluo com a fala do pastor e teólogo Timothy
Keller:

Lemos em Provérbios 14.31: “Quem oprime o pobre


insulta seu Criador”. O Deus da Bíblia diz algo assim:
“Eu sou o pobre no seu caminho. Sua atitude para com
ele revela sua verdadeira atitude para comigo”. Uma
vida gasta em fazer justiça para o pobre é a marca
inevitável da fé verdadeira, enraizada no evangelho.13

13 Timothy Keller, Justiça Generosa: a graça de Deus e a justiça


social. São Paulo: Vida Nova, 2013.

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