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&
MIGRAÇÕES
MISSÕES E MIGRAÇÕES
ISBN 978-65-00-36995-3
DA-2021-016787
ELIVELTON SILVA
MISSÕES &
MIGRAÇÕES
A PRATICIDADE MISSIOLÓGICA NO CONTEXTO MIGRATÓRIO
E O POSICIONAMENTO ESCATOLÓGICO DA IGREJA.
Dedico este livro à minha família, onde sou amado
e impulsionado a viver e cooperar com o Abba Pai,
sendo motivado todos os dias pela minha esposa Ana
para acolher, integrar, pastorear e enviar refugia-
dos e imigrantes de todas as nações.
GREGORY MCNUTT
QUANDO O REINO DE DEUS CHAMA,
O SIM DEVE SER DADO NA HORA!
15
fes naturais ou ideologias e crises humanitárias/políticas,
onde podemos acolhê-las em nosso estado.
Dispomos de casas de acolhimento a projetos de
desenvolvimento humanitário, onde abrigamos sírios,
egípcios, turcos, libaneses, venezuelanos e, especialmen-
te, haitianos e venezuelanos. Há igrejas onde discipula-
mos essas nações, bem como também alguns projetos
parceiros no Haiti, na República Dominicana e no Orien-
te Médio. Temos desenvolvido, nesta missão teológica e
missiológica, esta perspectiva de desenvolver o trabalho
de mobilização, acolhimento, discipulado e mentoria de
pessoas que atuam no primeiro, segundo ou terceiro se-
tor, enfim, neste network, onde podemos estar pregando
o Evangelho a todas as nações.
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INTRODUÇÃO À
MISSIOLOGIA BÍBLICA
A MISSIO DEI NO ANTIGO TESTAMENTO
A missiologia bíblica é um tema que tem sido bas-
tante comentado nos últimos séculos na Igreja.
Ela é, a partir do seu conceito original, o estudo
da Missão, ou seja, a ciência ou campo de reflexão que
destrincha, determina e norteia aquilo que chamamos de
mandato cultural, na missão integral do homem, e tam-
bém o estudo e investigação teológica da Missão do pró-
prio Deus, aquilo que é chamado no latim de Missio Dei
(Missão de Deus). O teólogo e missiólogo Christopher J.
H. Wright explica um pouco sobre esse termo:
21
como forma de resumir o ensinamento de Karl Bar-
th, “que, numa preleção sobre a missão em 1928, ha-
via conectado a missão com a doutrina da Trindade.
Barth e Hartenstein querem deixar claro que a mis-
são está fundamentada num movimento intratrini-
tário do próprio Deus e que ela exprime o poder de
Deus sobre a história, ao qual a única resposta apro-
priada é a obediência”. A expressão originalmente
significava “o envio de Deus” – no sentido do envio
do Filho pelo Pai e do envio do Espírito por ambos.
Toda missão humana, nessa perspectiva, é vista como
participação nesse envio divino e na extensão dele.1
22
animais que rastejam sobre a terra.”
- Gênesis 1:28
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cados a todas as nações, começando por Jerusalém.”
- Lucas 24:46-47
“Então Jesus lhes disse pela segunda vez: Paz seja convos-
co! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio. E
havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo.”
- João 20:21-22
24
ao seu filho. Ali, é deixado bem claro que quando Deus
sopra nas narinas de Adão o sopro da vida (Gn 2:7), a
primeira coisa que Adão vê, em meu entendimento, é a
sua missão, a missiologia proposital da humanidade, ou
seja, a partir de uma missiologia do propósito do próprio
Deus para os seres humanos. Creio que a Bíblia nos deixa
bem claro isso. Afinal de contas, quando Adão olhou para
Deus, ele viu o seu propósito aqui na Terra, ele viu a sua
vocação, seu chamamento, seu ministério. “Olhai a face
de seu Pai”, em outras palavras, se relacionar com o pró-
prio Deus. E nós temos compreendido que, quando Deus
se relaciona com Adão, Ele começa a discipular a huma-
nidade neste entendimento de relacionamento pontual,
contínuo e eterno, sabendo que o homem foi criado para
viver eternamente se relacionando com este Pai. Este é
o propósito de um pai: se relacionar com o seu filho; e o
filho, pegando essa identidade e sendo edificado nela, ab-
sorvendo a paternidade do próprio Deus, neste D.N.A.
onde o próprio Deus cria Adão das suas próprias mãos.
Sabemos que Deus não quer habitar em templos
feito pelas mãos dos homens (At 7:48), antes, Ele quer
habitar em um Templo feito pela Sua própria mão. O
próprio Deus preestabelece este relacionamento com
Adão e começa a compartilhar a sua Missão com ele. É
como se Deus dissesse: “Adão, Eu te amo, Eu me rela-
ciono contigo, e, agora, Eu quero que você multiplique
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inclusive aquilo que Eu estou dando e compartilhando
com você nestes dias. E nesse relacionamento contínuo e
eterno, Eu quero que você não se esqueça: a mesma Mis-
são que Eu tenho de me relacionar com os meus filhos,
com a criação, Eu quero que você tenha também com os
seus filhos”.
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Mas, infelizmente, muitas vezes, o homem se perde,
pois pecou, caiu, e, na queda, em seu pecado, a humanida-
de começou a canalizar essa teologia implantada no inte-
rior, esta missiologia colocada pelo próprio Deus – o dese-
jo pelo conhecimento Dele, a graça Dele, o sentimento e o
relacionamento Dele a outros seres – para outros lugares.
O homem acabou se perdendo e, por isso, vemos hoje que
muitos acabam adorando bois, ratos, baratas, o sol, a lua,
as árvores e etc. Tudo isso porque eles “identificam” que o
“espírito” e a “alma” dos seus ancestrais estariam ali. Diante
disso, a Bíblia chama as criações adoradas pelos homens de
“ídolos”. Wright escreve o seguinte sobre:
Na criação física, como bem observado em Israel, ha-
via quem adorasse os corpos celestes como se fossem
deuses, enquanto outros adoravam as criaturas da ter-
ra, fossem animais ou mesmo outros humanos. Todas
essas coisas foram criadas pelo Deus vivo e não devem,
é claro, ser, em si mesmas, objetos a serem adorados.
A advertência contra esse tipo de deificação da ordem
criada, em Deuteronômio 4.15-21, de maneira interes-
sante lista os objetos adorados em ordem diretamente
inversa (o que provavelmente é intencional) à ordem da
criação em Gênesis 1: humanos, homem e mulher; ani-
mais terrestres; aves do ar; peixes do mar; sol, lua e estre-
las. Essa inversão tem um significado teológico. Quan-
do adoramos a criação em vez de adorarmos o Criador,
tudo fica de ponta-cabeça. A idolatria gera a desordem
em todos os nossos relacionamentos fundamentais.2
2 Ibidem.
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Em Romanos 8:19, está escrito: “Pois a criação
aguarda ansiosamente a revelação [manifestação] dos fi-
lhos de Deus”. Esse texto deixa bem claro que existe uma
grande expectativa na criação de Deus em aguardar a ma-
nifestação dos filhos maduros do Senhor. Isso quer dizer
que Deus criou o homem na sua missão de se relacionar
eternamente, compartilhando a sua essência magnífica,
gloriosa, santa e eterna com o ser humano. Nele, há um
amor infinito para com o homem e para com a sua cria-
ção. Mas a humanidade, infelizmente, caiu.
Nesta queda em pecado, o homem acaba atribuin-
do às coisas criadas aquilo que estava sujeito a ele pela
própria missão dada por Deus. No trecho que menciona-
mos de Gênesis 1:28, o próprio Criador permite que o
homem tente, nesta nova perspectiva de Deus descendo
na Terra, resgatar essa missão ou resgatar esse relaciona-
mento.
Agora, preste bastante atenção: Deus implantou
este sentimento no homem, o anseio pela eternidade, e
depois Ele disse: “Eu quero que vocês se multipliquem”.
A palavra que Deus dá a Adão é: “Multiplique-se. Passe
adiante aquilo que você recebeu de mim, passe para os
seus filhos”. E sabemos o que houve após a queda: o filho
de Adão, Caim, assassinou seu irmão Abel (Gn 4:8-16).
Além disso, na geração de Caim, há ainda um homem
chamado Enoque – o nome da primeira cidade, na ver-
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dade, é “Enoque” (Gn 4:17) – e naquela geração houve
muita iniquidade.
A RENOVAÇÃO DA MISSÃO
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dizer que o propósito de Deus, sua missão, chamamento
ou vocação para a sua vida, é algo intransferível, irrevo-
gável, irreversível, infalível. Deus chamou você para um
propósito existencial em uma missão fundamentada nas
suas Escrituras, ou seja, fundamentada na voz divina, na
sua Palavra, e, por isso, você está sendo reconectado para
o estabelecimento dessa missão.
Essa é a missiologia bíblica. A partir desta contex-
tualização teológica do Jardim, onde o próprio Deus, o
Criador, estabelece essa missão com o homem, o rela-
cionamento e o discipulado íntimo. Quero lhe convidar
também a navegarmos nesta teologia bíblica, a partir do
Antigo Testamento, dando sequência naquilo que Deus
preestabeleceu no Jardim a partir de Enoque, de Adão e
de Sete. Veremos Deus começando a implantar este nível
de relacionamento, onde Ele mesmo compartilha do seu
coração, da sua identidade e do seu D.N.A. com os seus
filhos. E, assim, os seus filhos precisam dar continuidade
a esse processo.
Posto isto, é bem provável que nestes últimos dias,
o Senhor esteja chamando você para desenvolver um ou-
tro nível de intimidade com Ele – orando mais, jejuando
mais, se sacrificando mais. Deus está lhe convocando a
estabelecer o governo Dele em sua vida todos os dias, a
reconhecer e viver no centro da Sua vontade, a se apro-
fundar cada vez mais nas Escrituras.
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Um autor expressa esse sentimento da seguinte
forma:
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que o plano de Deus é a salvação do povo judeu, do povo
que Ele escolheu e elegeu, mas o Senhor também deseja
a salvação de toda a raça humana, de toda a humanidade:
32
Um autor pontua:
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A Bíblia tem uma mensagem radical e impactante so-
bre Jesus Cristo. Ela diz que Jesus Cristo não é apenas
um ser humano, apenas um famoso mestre religioso,
mas o Senhor do Universo. [...] Mais de um século
atrás, Abraham Kuyper compreendeu as implicações
e fez um anúncio reverberante: “Nem uma só parte do
nosso mundo mental deve ser hermeticamente isolada
do resto, e não há uma só polegada quadrada em todo
o domínio da nossa existência humana sobre a qual
Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame ‘É meu’”.5
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Antigo Testamento todo nos mostra o nível de interesse
de Deus em compartilhar a sua Missão, Seu propósito, de
Se revelar, de Se manifestar ao homem e compartilhar a
Sua essência, o Seu D.N.A., para que este homem com-
partilhe com a sua família, com a sua nação e, por fim, a
todas as nações da Terra.
Você lembra também de Moisés? Josué? Os Juízes?
Os Profetas? Davi? Todos esses grandes líderes que Deus
separou, todos esses missionários ou missiólogos do Se-
nhor, começaram a estudar a Deus, começaram a amar
o Senhor a partir de uma voz, a partir de uma palavra
que foi preestabelecida aos seus antepassados. Eles co-
meçaram a identificar essa teologia, essa presciência que
norteia o propósito existencial do homem, que não é o
humanismo, não é o hedonismo, não é o capitalismo, não
são as ciências humanas, não são as ciências exatas, nem
nenhuma outra. É a ciência do próprio Espírito, é a ciên-
cia do próprio Deus e, a partir dessa voz, a partir dessa
comunicação, o homem agora compartilha também des-
sa mesma linguagem. E todos os heróis da fé tentaram
deixar este legado, esta porção, para que aqueles que vi-
riam após eles pudessem fundamentar, a partir da Palavra
de Deus, aquilo que a humanidade tanto necessitaria: O
relacionamento com o Pai.
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Assim como a Palavra que Moisés deixou para Jo-
sué. Ele, Moisés, teve um encontro com Deus e recebeu
os dez mandamentos. Em seguida, os compartilhou com
todo o povo. Os cinco primeiros mandamentos têm a
ver com o nosso relacionamento com Deus (amor ao Se-
nhor) e os cinco subsequentes são sobre o nosso relacio-
namento com a humanidade (amor ao próximo). Então,
é uma comunicação, uma verbalização, um diálogo, um
relacionamento entre Deus e o homem. E, também, uma
comunicação, uma linguagem, uma oralidade entre o ho-
mem e os seus próprios irmãos e toda a Criação.
Portanto, isso quer dizer que nós precisamos ter
uma boa comunicação com Deus, precisamos ter uma li-
nha de contato ou um caminho eterno diariamente. Jesus
nos ensinou a orar: “o pão nosso de cada dia nos dá hoje;”
(Mt 6:11). Em Êxodo 15 e 16, a Bíblia revela que Deus
concedia um maná diário ao seu povo.
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Levítico 12, o sacerdote preparava o altar, o sacrifício e
a oferta todos os dias, e o fogo permanecia sobre o altar
continuamente e não poderia se apagar. Em Oseias 6:3,
está escrito: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o
Senhor; como o sol nascente, a sua vinda é certa; ele virá
a nós como a chuva, como a primeira chuva que rega a
terra”. No salmo 1, a Palavra de Deus declara: “Bem-a-
venturado aquele que não anda no conselho dos ímpios,
não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta
na roda dos zombadores; pelo contrário, seu prazer está
na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite” (Sl 1:1-
2). É esse o interesse de Deus. Foi isto que Deus nos
deixou como porção: a sua Palavra, a sua voz, a sua co-
municação. Em outras palavras, um pai se relacionando
com os seus filhos. Esta é a missão principal de Deus:
compartilhar o seu coração, compartilhar a sua ideia ini-
cial, compartilhar o seu plano, compartilhar a eternida-
de, compartilhar a sua graça, compartilhar o seu amor
infinito, compartilhar a sua grandeza, compartilhar as
suas maravilhas.
DEUS CHAMA
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que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna”. Pregar o Evangelho é pregar esse amor, é
falar para as pessoas desse sacrifício, desse plano divino.
Precisamos entregar a nossa vida a esse Deus. Precisamos
amar ao Senhor sob todas as coisas e nos comunicar com
Ele todos os dias. A partir disso, sim, você irá ouvir a voz
do Senhor para caminhar nesta Terra, na missão e na vo-
cação para a qual Ele chamou você.
Josué recebeu esse legado, essa porção. E a Palavra
de Deus para ele foi bem clara: “Apenas esforça-te e sê
corajoso, cuidando de obedecer a toda a lei que meu ser-
vo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a di-
reita nem para a esquerda; assim serás bem-sucedido por
onde quer que andares” (Js 1:7). Deus o estava chamando
para uma grande missão - uma missão que percorre.
Em um panorama bíblico, dentro dessa missiologia
bíblica, fica evidente que Deus chama alguns outros. Ele
desce na Terra, se revela, se manifesta no Monte, numa
sarça, em uma voz, em um fogo. Ele chama sacerdotes
e reis, como Davi, como seus filhos, como Salomão. Ele
chama profetas como Samuel, um menino. E Deus tem
chamado jovens nestes últimos dias. Ele chamou você:
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Não deixe que ninguém despreze a sua mocidade,
seja fiel e íntegro. Pregue a palavra em tempo e fora de
tempo. Pregue o Evangelho, cumpra a sua missão. Cum-
pra a vocação que você recebeu do próprio Deus. Faça a
obra de um evangelista. Cumpra o seu ministério e pro-
cure apresentar-se a Deus como um obreiro aprovado
que não tem do que se envergonhar, mas que maneja bem
a palavra da Verdade.
Tudo isso foi o que Deus chamou e preestabeleceu
desde o Antigo Testamento, individualmente, com os sa-
cerdotes, com os profetas, com os reis. Falando, verbali-
zando, comunicando aquilo que Ele queria dentro desta
Missio Dei. Ele levanta outros profetas: Isaías, Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Obadias, Amós, Joel e outros. Seu ob-
jetivo é o de verbalizar, comunicar, a esses sacerdotes,
profetas, a essas famílias e à essa nação o seu coração,
o seu DNA, a sua perspectiva, a sua missão, a sua graça
e o seu amor. E você lembrará que, em todas essas his-
tórias, Deus tenta trazer Israel, o seu povo, para perto.
Mas, muitas vezes, esse povo, ainda subjugado pela lei
do pecado, pela culpa, pelo medo, não consegue canali-
zar essa teologia através de uma missiologia prática – o
arrependimento, o desejo de entregar a sua vida, entre-
gar a sua família ao seu Deus, o desejo de abdicar-se das
imoralidades, das paixões, das concupiscências da carne.
A dificuldade da humanidade está em seu coração que
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se coloca no centro de todas as coisas, ou a sua vontade
e o seu prazer no centro de todas as coisas. Ainda assim,
Deus comunicava aos profetas a sua missão, seu D.N.A. e
sua graça. O povo se arrependia, porém, todas as vezes,
eles voltavam a pecar novamente. Deus chamava o povo
ao arrependimento novamente através da voz do profeta.
Esse é o Deus de graça que, mesmo no Antigo Testamen-
to, fundamentou através da sua Lei um caminho, um nor-
te para que o seu povo pudesse caminhar.
Os homens e Israel ainda continuavam pecando.
Habacuque tenta até orar:
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dam e possam voltar a entender a religião e a teologia
do próprio Deus que desceu na Terra com misericórdia,
aceitando o arrependimento, o sacrifício, a entrega do
coração do homem a Ele – a integralidade total.
Ao longo da narrativa bíblica, Deus continua ver-
balizando e comunicando por meio dos profetas. Até que
chegou um tempo, no período interbíblico entre Mala-
quias e Mateus, que o Senhor se calou por cerca de 400
anos. Ele não comunicou mais aos profetas a sua Palavra.
Mas Ele continuou comunicando-se consigo mesmo. Nós
temos essa visão. O próprio Jesus Cristo se disponibiliza
na missão do próprio Deus, Dele mesmo, sendo três em
um. Um agora olha para o Pai e diz: “Eu vou descer lá!”.
A Bíblia nos disponibiliza a informação preexistente da
humanidade, onde um Pai tem a disposição de descer na
Terra muitas vezes, olhar para os homens e dizer assim:
“Humanidade, eu amo vocês! Eu os criei e os chamei para
coisas eternas. Vocês caíram, vocês erraram, vocês têm
medo, vocês fugiram, mas eu estou disposto a continuar
compartilhando o meu discipulado com vocês, a minha
instrução, a minha palavra, o meu relacionamento com
vocês. Tudo para que vocês compartilhem isso com ou-
tros”.
Na missão, é essencial que você entenda que o sen-
timento de Deus por você e por todas as nações na Terra
ainda é o mesmo. Deus ama o mundo de tal maneira que
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Ele está disposto a descer, a se entregar, a se humilhar. Ele
está disposto a ter um relacionamento contínuo e eterno
com você. Ele ainda ama todas essas nações, que mesmo
adotando outras teologias, outras religiões, tornando-se
seitas, tornando-se heresias e más interpretações daquilo
que o próprio Deus implantou de desejo e sentimento
pela eternidade em seus interiores, que se perdem por
falsos caminhos, percursos que acabam sendo desviados
para uma finalidade eterna de morte. Esse Deus vocacio-
nou a todos nós para nos disponibilizarmos em compar-
tilhar essa essência e essa missão do próprio Criador. Esse
plano, esse governo e a multiplicação disso tudo para que
todas as nações da Terra se submetam à essa voz e à essa
missão.
Por isso, eu te convido a estar orando neste tempo,
a estar se aprofundando na Palavra de Deus, buscando
fontes em livros, se especializando, conhecendo costu-
mes e culturas, conhecendo estações, geografias, línguas,
oralidades, tudo para poder compartilhar aquilo que
Deus tem para todas as nações, pois o sentimento Dele
ainda é o mesmo.
Deus ama todas essas nações da Terra. Ele te vo-
cacionou e chamou para levar o Evangelho a todos os
povos, culturas e etnias. Eu queria te convidar para que
neste momento você possa estar orando por todas as pes-
soas, sendo elas da África, da Índia, do Oriente Médio,
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Muçulmanos, Hindus, Islãs, Budistas, Ateus, e alguns ou-
tros que acabaram recebendo dos seus pais e dos seus
antepassados a informação de caminhos que não levariam
eles para a vida eterna.
ANTIGO TESTAMENTO
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Poderia registrar em todo o livro, ou fazer simples-
mente um livro contando as histórias de missões e migra-
ções dos homens e mulheres de Deus que entenderam os
propósitos eternos de uma visão que permeia por transi-
ções geográficas e transculturais.
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Deus tinha preparado um plano ainda melhor para nós,
a fim de que, somente conosco, elas fossem aperfeiçoadas.”
- Hebreus 11:32-40 (NTLH)
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LEITURAS ADICIONAIS
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MISSIOLOGIA DO
NOVO TESTAMENTO
A GRANDE COMISSÃO DE JESUS
N este capítulo, mergulharemos naquilo que cha-
mamos de missiologia integral, ou mandato in-
tegral do homem. E dentro desta perspectiva
bíblica de Deus chamar o ser humano no seu propósito
preexistencial, aquilo que o homem pode dar integral-
mente para Deus, para os seus irmãos, para a criação.
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alguma coisa mortífera não lhes fará mal algum; impo-
rão as mãos aos enfermos, e estes serão curados”
- Mateus 16:15-18
“Então Jesus lhes disse pela segunda vez: Paz seja convos-
co! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio. E
havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo. Se perdoardes os pecados de alguém, serão
perdoados; se os retiverdes, serão retidos.”
- João 20:21-23
52
Jesus Cristo soprou sobre os discípulos e compar-
tilhou a sua autoridade com eles. Essa era a mesma au-
toridade que Deus entregava aos seus discipuladores no
Antigo Testamento:
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subsequentes apontam o amor do homem, recebido de
Deus, para com o próximo – a criação, as nações e a hu-
manidade.
O apóstolo Paulo fala da disponibilidade de Cristo
Jesus descendo do céu ao encontro dos homens:
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A MISSÃO DO AMOR
55
te que o próprio Jesus começou a discipular os discípulos
dele.
56
“Quando souberam que ele calara os saduceus, os fariseus
reuniram-se. Um deles, doutor da lei, interrogou-o, para
colocá-lo à prova: Mestre, qual é o maior mandamento
na Lei? Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus
de todo o coração, de toda a alma e de todo o enten-
dimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo.Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois
mandamentos.”
- Mateus 22:34-40
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mulher adúltera, aos cegos, aos coxos, aos oprimidos, aos
doentes, aos estrangeiros. E Ele prega com ousadia para
que os fariseus, saduceus e hipócritas se arrependam.
Em um livro sobre a parábola do filho pródigo, o
pastor Timothy Keller escreveu:
58
Por que o próprio Deus gastou tempo conosco? Se
eu pudesse tentar resumir o significado da palavra amor,
seria “tempo – tempo de qualidade, atenção, cuidado,
presença, companheirismo, consolo. Jesus fez isso. Ele
esteve conosco, em sua encarnação, por mais de trinta
anos. Nos seus mais de três anos ministerial, andando
com seus discípulos, percorrendo todas as cidades. Ele
gastou tempo fazendo milagres, maravilhas, curando os
enfermos, levando libertação ao jovem de Gadara, pre-
gando o ano aceitável do Senhor. Ele sentava e comia na
mesa com os seus discípulos, se relacionava e discipulava.
E, ao enviar a Igreja em missão, Ele declarou: “[...] eu
estou convosco todos os dias, até o final dos tempos” (Mt
28:20).
Assim, baseados no que entendemos no capítulo
anterior sobre a teologia missional no Antigo Testamen-
to, podemos afirmar que, agora no Novo Testamento,
Deus deseja multiplicar, a partir de Cristo Jesus, a sua
imagem, o seu coração, em relacionamento diário, con-
tínuo, pregando o reino eterno, implantando agora nos
seus interiores, enviando os seus apóstolos e missioná-
rios, fazendo com que eles pudessem dar continuidade a
esse propósito.
Então, Ele diz: “Portanto, ide, fazei discípulos de
todas as nações [...]” (Mt 28:19). Você lembra que fala-
mos anteriormente que Deus discipulava o ser humano?
59
Jesus, agora, estava discipulando homens e mulheres e
nos enviou afirmando que nós fomos chamados também
para discipular pessoas, para discipular nações e povos. E
o discipulado bíblico é este: fazer com que seja formado
o Cristo nestas pessoas, fazer com que sejam discípulos
de Jesus em todas as nações da terra. O apóstolo Paulo
declarou:
60
Deus dando na pessoa de Jesus como sinais cosmológicos.
“Olhe para o céu”. E é bem claro que Jesus deixou isso e
que, até hoje, conseguimos ver. Os sinais cosmológicos:
meteoros, tempestades, tsunamis, tremores, terremotos,
catástrofes naturais. Essa é uma visão escatológica a par-
tir de um preceder de sinais cosmológicos que apontam
para o retorno deste Reino em plenitude, estabelecido
por esse Cristo que discipulou a humanidade e deu livre
acesso para eles viverem eternamente nesse reino junto
com esse Pai de amor.
Então, nesse momento da história bíblica, Jesus co-
meça a dar esses sinais. Ele começa a dizer:
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E este evangelho do reino será pregado pelo mundo intei-
ro, para testemunho a todas as nações, e então virá o fim.”
- Mateus 28:4-14
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suas igrejas são queimadas.
Aqui, eu chamo a atenção de vocês, para que pos-
samos entender que a missão que Deus tem para você,
a missão que Jesus o vocacionou, é uma missão de uma
Igreja que precisa permanecer firme, inabalável, persis-
tente, forte e corajosa, segundo a Palavra de Deus. A Bí-
blia diz que as portas do inferno não prevalecerão contra
nós (Mt 16:18). Lembra-se daquilo que Deus falou para
Josué? “Seja forte e corajoso!”. Isso quer dizer que, no
meio de tudo isso, período do fim dos tempos, existirão
mártires corajosos que serão perseguidos, maltratados e
mortos. Daniel Juster, um autor judeu-messiânico, es-
creve o seguinte em uma de suas obras sobre o livro de
Apocalipse:
63
O SINAL MISSIOLÓGICO
64
Atualmente, há mais de 2 bilhões de pessoas não
alcançadas, cerca de 2 mil povos sem o conhecimento do
Evangelho do Reino, e pesquisas apontam que cada cris-
tão no Brasil investe em torno de trinta centavos por mês
em missões. Mas Deus chamou você para pregar o Evan-
gelho, investindo e fazendo com que ele seja compreen-
sível para crianças, idosos, homens, mulheres, vulnerá-
veis, presidiários, enfermos, enfim, a todos, de maneira
inteligível, aplicável e aceitável. Eu poderia compartilhar
várias experiências pessoais que tive com crianças em si-
tuação de vulnerabilidade no Recife (PE); com depen-
dentes químicos em casas de recuperação; com pessoas
nas ruas onde dormi por vezes; nas Cracolândias em São
Paulo; tudo para poder levar essas pessoas no dia seguin-
te, de manhã cedo, para casas de recuperação. Há também
crianças de alta vulnerabilidade, órfãos no Recife e no
Haiti; os imigrantes, os refugiados; as mulheres em situa-
ção de vulnerabilidade social que acabam emprestando
seus corpos para homens que querem maltratá-las e des-
valorizá-las.
Eu poderia contar vários testemunhos desde os
meus 13 anos em que pregava o Evangelho aos sertanejos
e aos quilombolas no Nordeste; aos índios, aos surdos,
aos árabes, aos muçulmanos no Sul. Lavando os pés de
muitos deles, os discipulando, fazendo com que enten-
dam e identifiquem o que é o Evangelho do reino na sua
65
cultura e em sua língua. Eu falo crioulo, entendo o es-
panhol, tenho tentado aprender o árabe e o inglês. Mas
o que eu quero é chamar a sua atenção para que você
possa se esforçar um pouco mais para desenvolver uma
missiologia bíblica eficaz e eficiente, onde você vai poder
compartilhar o Evangelho do reino de uma maneira com-
preensível, pura, simples e eficaz. Jesus continua dizen-
do: “Este evangelho do reino será pregado pelo mundo
inteiro, para testemunho a todas as nações”.
Se olharmos para a história da missiologia, vamos
identificar, desde os primeiros séculos, que os apóstolos
e discípulos que receberam essa palavra de Jesus, foram,
todos eles, mortos como mártires:
66
João foi posto num caldeirão de óleo fervente, mas esca-
pou da morte e foi exilado para a ilha grega de patmos.8
67
Eu, particularmente, já passei por muitas coisas:
água no rosto, fome, falta de recursos. Como o próprio
Jesus disse: “As raposas têm tocas, e as aves do céu têm
ninhos, mas o Filho do homem não tem onde descansar
a cabeça”. Em uma cidade, tendo a passar menos de um
ano. Muitos sacrifícios, mas sei que ainda são muito pou-
co para aquilo que eu posso devolver ao nosso Amado.
E Ele continua discipulando a gente nisso. Esse é o
Evangelho do reino – o reino que é paz, justiça e alegria
no Espírito. Não é a nossa paz ou nossa justiça. É a paz
que excede todo entendimento. É a justiça de Deus em
favor do órfão, da viúva e do imigrante. Desde Deutero-
nômio, o Senhor deixa bem claro isso. Na carta de Tiago
também. Os direitos de Deus em favor dos vulneráveis –
é essa a justiça, é esse o reino e é essa a alegria, a alegria
de vivermos e darmos o sentimento de Deus de estar fe-
liz com o seu povo, com a humanidade e com seus filhos.
E este evangelho do reino será pregado em todo o
mundo para testemunhas de todas as nações. E aqui, eu
queria introduzir a você, de maneira missiológica e bíbli-
ca, aquilo que entendemos da missiologia prática – que
existe um link direto entre a bibliologia, aquilo que nós
entendemos sobre a palavra de Deus e a Antropologia,
o estudo do homem. As questões totêmicas e culturais
têm tudo a ver com a missão de Deus nestes últimos dias.
Jesus ordenou isto aos seus discípulos: “vocês precisarão
68
pregar o Evangelho a todas as nações!”. Ele estava dizen-
do assim: “vocês terão que pregar o Evangelho a todos os
povos, línguas, etnias e tribo!”. Você está entendendo? Só
no Brasil, temos mais de 30 tribos urbanas: Punk’s, Heavy
Metal’s, crianças em alta vulnerabilidade, ciganos, surdos,
mudos, refugiados, imigrantes, sertanejos, pessoas em
situação de calamidade, aqueles que estão nos hospitais,
nos presídios, em situação de internamento, em acolhi-
mento intensivo. Há tantas nações aqui dentro do Brasil e
fora. Deus tem nos chamado.
69
O missiólogo brasileiro Ronaldo Lidório declara:
70
a nossa missão integral. Aquilo que Deus nos deu como
vocação. Entenda, o discipulado de Jesus parte do pressu-
posto de que: o Evangelho do reino será pregado a todo
mundo, a todas as culturas, para o testemunho dos povos
e, então, virá o fim.
Exegeticamente falando, quando a Bíblia fala de
“mundo” – este evangelho será pregado em todo o mun-
do -, na verdade, não é o cosmo, não é a geografia, não é
o mundo cosmológico. A palavra usada ali é o koiné, ou
seja, a todas as pessoas, é o mundo habitável, na verdade.
Então, Jesus diz: “e então virá o fim”. Que fim é
esse? É o Ômega. Jesus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o
fim, lembra? Assim, o livro de Apocalipse vai nos deixar
bem claro o fim de todas as coisas. É esta a resposta de Je-
sus para os seus discípulos: “Quando acontecer isso tudo,
eu retornarei! Vocês precisam praticar este Evangelho e
esta missiologia que eu estou entregando para vocês”.
Isso precisa ser compartilhado hoje, aqui e agora, e Deus
dá essa missão, Jesus dá essa missão, aos discípulos.
Precisamos pregar a todas as culturas. Jesus disse
assim:
71
ce; mas vós o conheceis, pois ele habita convosco e estará
em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.”
- João 14:15-18
72
e nós engavetamos; ficamos lá dentro de um núcleo fe-
chado, de uma parede, de uma casinha, de um ministério
para dentro e não para fora. A Eklesia, a Igreja, é o cha-
mado de dentro para fora; é a reunião dos santos para
que eles possam ser edificados e depois compartilhar essa
visão.
Lembro-me de Jesus contando a parábola dos ta-
lentos. Ele estava nos explicando o que é missiologia bí-
blica e o que iria acontecer nessa contemporaneidade. O
texto diz:
73
havia recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me
dois talentos; aqui estão mais dois que ganhei. E o seu
senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel so-
bre pouco; sobre muito te colocarei; participa da alegria
do teu senhor. Por fim, chegando o que havia recebido um
talento, disse: Senhor, eu sabia que és um homem severo,
que colhes onde não semeaste e recolhes onde não plan-
taste; então, fiquei com medo e fui esconder na terra o
teu talento; aqui tens o que é teu. Mas o seu senhor lhe
respondeu: Servo mau e preguiçoso, sabias que colho onde
não semeei e recolho onde não plantei? Devias então
entregar meu dinheiro aos banqueiros e, ao voltar, eu o
teria recebido com juros.Tirai dele o talento e entregai-o
ao que tem dez talentos. Pois a todo o que tem, mais lhe
será dado, e terá com fartura; mas ao que não tem, até
aquilo que tem lhe será tirado. Lançai o servo inútil nas
trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.”
- Mateus 25:14-30
74
Mas além de termos este dom – a graça, a salvação
mediante Cristo Jesus que não vem de nós, mas é dom
de Deus, algo gratuito –, precisamos, na verdade, ser
homens-dons, homens-presentes, sacerdotes do Senhor.
Lembra quando Pedro tenta nos discipular para enten-
dermos isso que Jesus falou? “Povo eleito, nação santa”;
Predestinados ao sacerdócio de Deus. Lembra lá de Leví-
tico? Fala de entrega, renúncia, sacrifício, dar o amor que
recebemos a outros irmãos. Só que, infelizmente, muitas
vezes, enterramos os talentos, recursos e os dons que re-
cebemos do Senhor. E, assim, Jesus chega para ele e diz:
“onde estão os talentos?”. Ele responde: “Eu os enterrei”.
O senhor, então, toma os dons, os talentos, e dá para os
outros, para aqueles que são capazes de multiplicar. Afi-
nal, o propósito do homem é multiplicar:
75
tiva a todas as culturas da Terra – Jerusalém, Samaria,
Judéia e aos confins do mundo.
Mas eles ficaram lá. A Bíblia vai contar, então, a his-
tória de Filipe e o Eunuco:
76
tou: Aqui há água; que me impede de ser batizado? Filipe
disse: É permitido, se crês de todo o coração. E ele respon-
deu: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.] Então ele
mandou parar a carruagem, e desceram ambos à água,
tanto Filipe quanto o eunuco, e Filipe o batizou. Quando
saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe. O
eunuco não mais o viu e, alegre, seguiu o seu caminho.”
- Atos 8:26-39
77
“E Saulo aprovou a sua morte [de Estevão]. No mesmo
dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja que
estava em Jerusalém; todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria.”
- Atos 8:1
78
TEOLOGIA PAULINA
DA MISSÃO
A MISSÃO NA PERSPECTIVA
DO APÓSTOLO PAULO
A missiologia bíblica está repleta de um favor do
Senhor, de uma graça de Deus, em nos direcio-
nar a conhecer os fundamentos da sua Missão
– a Missio Dei. Desde o Antigo Testamento, a missão é
percebida ao percorrermos a vocação de homens e mu-
lheres, profetas, reis, sacerdotes, patriarcas, governantes,
pessoas que foram discipuladas pelo próprio Deus, sen-
do enxertados neste relacionamento de revelação do Se-
nhor, passando também pela própria disposição de Deus
de descer à Terra, de discipular homens, de vocacionar
pessoas para andarem diariamente com Ele, deixando
essa porção, esse legado de discipular, de multiplicar esse
DNA, essa essência, essa paternidade, fazendo com que
83
o homem seja norteado ou centralizado neste caminho, e
preparando um caminho também para o retorno de Jesus
a todas as culturas, povos e nações.
84
“Isso é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador,
que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem
ao pleno conhecimento da verdade. Porque há um só
Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem. Ele se entregou em resgate por todos, para
servir de testemunho a seu próprio tempo.”
- 1 Timóteo 2:3-6
85
Temos aprendido muito sobre missiologia bíblica a
partir de textos, passagens e histórias que nos fazem re-
pensar a vocação de Deus e o ministério santo do Senhor
para nós. Outra passagem importante da Palavra de Deus
para nós é a seguinte:
86
Da mesma maneira, o apóstolo Paulo nos deixou
uma grande porção e legado. Para mim, assim como para
muitos outros, ele foi um dos maiores, se não o maior,
missiólogo e missionário que já existiu na face da Terra.
Aquele que passou por diversos momentos em que se
propôs a ser perseguidor do Evangelho do Reino e aca-
bou como perseguido por causa desse Reino – por esse
poder, por essa graça e pelo próprio Deus.
87
tude, sendo confrontado pela presença do próprio Deus
e ser discipulado pelo próprio Senhor, mesmo não tendo
andado com Ele como os outros discípulos.
Paulo andou com a presença do Espírito Santo con-
vertendo o coração dele, o santificando, o separando e
o elegendo para um grande ministério. Um biógrafo de
Paulo escreve:
88
homens eleitos são separados pelo Senhor para o serviço
sacro:
89
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E
há diversidade de realizações, mas é o mesmo Deus quem
realiza tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito
é dada a cada um para benefício comum. Porque a um é
dada, pelo Espírito, a palavra de sabedoria; a outro, pelo
mesmo Espírito, a palavra de conhecimento. A outro, pelo
mesmo Espírito, é dada a fé; a outro, pelo mesmo Espírito,
dons de curar; a outro, a realização de milagres; a outro,
profecia; a outro, o dom de discernir os espíritos; a outro,
variedade de línguas; e a outro, interpretação de línguas.
Mas um só Espírito realiza todas essas coisas, distribuin-
do-as individualmente conforme deseja.”
- 1 Coríntios 12:1-11
90
frio, fome e tantos sofrimentos, um martírio existencial,
crises existenciais, conflitos na alma e no corpo, muitas
vezes esmiuçado e bombardeado por demônios, tendo
de clamar ao Senhor: “tira de mim esse espinho”, mas o
próprio Deus disse assim: “a minha graça te basta, porque
o meu poder se aperfeiçoa na tua fraqueza”. Em outras
palavras, Deus estava aperfeiçoando Paulo, e é assim que
Deus está fazendo na sua vida também e Ele pode fazer
ainda muito mais.
O pastor John Piper colocou da seguinte forma:
91
meu propósito, o meu ministério em amplitude, de ma-
neira plena, completa”. Só que a Bíblia diz para nós que
o final das coisas é melhor. Ou seja, o bem que Deus tem
para nós é no fim, por isso temos que olhar para o fim e
planejarmos, dia após dia, aquilo que queremos deixar
de legado, enfrentando diariamente os pequenos desafios
que Deus tem para nós.
É por isso que você precisa honrar ao Senhor nos
pequenos detalhes, nas pequenas missões que Ele tem te
dado dia após dia, ouvindo a voz Dele. O famoso evan-
gelista Dwight L. Moody disse: “Há muita gente que está
disposta a fazer grandes coisas para Deus, mas poucos
são aqueles que estão dispostos a fazer pequenas coisas”.
Honre a Deus nos pequenos desafios da sua vida e Ele te
honrará nas maiores missões.
Paulo foi aperfeiçoado por Deus. Você está sendo
aperfeiçoado por Deus. Assim, convoco você a ler a Pa-
lavra de Deus como nunca leu. Volte a orar como nunca
orou. Volte a entregar seu corpo, sua alma, seu espíri-
to, como nunca entregou. Eu te convido, nestes últimos
dias, a se deixar ser moldado pelo Senhor; a descer para a
casa do oleiro; deixe-se ser discipulado por Deus e toca-
do por pessoas, discipulado por homens e mulheres que
o Senhor colocou em sua vida.
Sim, Deus está te chamando a este nível de trata-
mento, um discipulado radical. Antes que você discipu-
92
le nações, o Senhor quer um discipulado de amadure-
cimento com você. Por isso, Ele está te chamando para
ler livros, para se aperfeiçoar, para fazer cursos, escolas,
seminários, faculdades. Paulo, aos pés de Gamaliel, não
se limitou àquilo que recebeu na sua infância e juventu-
de. E mesmo quando as pessoas pensavam que ele era
o maior, ele dizia, “eu quero ser o menor”. Quando as
pessoas diziam que ele era forte, ele dizia, “sou fraco”.
Diziam, “Esse é o santo”, e ele respondia, “não, eu sou
o maior pecador dentre vocês”. Pois na matemática do
Reino de Deus é assim e a missão que Deus tem para
você é essa. Essa é a missiologia bíblica na perspectiva de
Paulo – quem quer ser o maior, seja o menor; quem quer
ser o primeiro, seja o último; aquele que quer ser forte,
na verdade, muitas vezes, está fraco; aquele que quer ser
servido, sirva; aquele que quer honra, honre.
93
vimos acima, em Atos 16, conta de quando ele estava se
disponibilizando para sua próxima jornada missionária.
Ele fez um planejamento estratégico: descer para a Ásia.
É interessante que muitas vezes nós passamos por isso –
nos preparamos. “Senhor, queremos trabalhar na África”;
“Senhor, eu quero trabalhar no Sertão”; “Senhor, eu que-
ro trabalhar na minha igreja local e viver aqui, desenvol-
ver aqui algo”; “Senhor, eu quero trabalhar nessa cidade,
naquele estado, ou naquele país, naquele continente”;
“Senhor, quero trabalhar com aquele público, com aque-
la geografia, com aquela área de influência”; Nós nos
preparamos, mas a Bíblia vai dizer que Paulo vivenciou
aquilo que chamamos de intervenção do próprio Espírito
Missionário. O Espírito Santo impediu Paulo de descer à
Ásia. Então, eu pergunto: o que o Espírito Santo tem fei-
to de intervenção no seu coração nestes dias? Deus tem
falado com você? O que Ele tem falado? Tente observar
as vozes que estão à sua volta. Muitas vezes são vozes de
inimigos, de egocentrismos, até de colegas e temos dado
ouvido a elas há anos, mas acabamos nos esquecendo de
ouvir a voz de Deus.
Eu te convido a voltar ao Jardim, a voltar ao seu
quarto – Mateus 6:6 diz: “Mas tu, quando orares, entra
no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está
em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recom-
pensará”. Deus tem chamado você para um tempo de
94
solitude, de ouvir a voz do Espírito Santo, de ser dire-
cionado para aquilo que Ele tem para você e não aquilo
que você quer, não aquilo que outras pessoas querem.
Você não pode pegar carona no chamado de ninguém.
Você não pode nortear o seu ministério baseado naquilo
que você mesmo pensa, mas naquilo que Deus tem como
diagnóstico espiritual em um panorama total.
VISÃO MISSIONÁRIA
95
visão missionária, uma visão pioneira, de levar o Evangelho
a sério numa perspectiva paulina e Paulo nos deixa uma
prioridade missiológica bíblica:
A Bíblia diz que Paulo tem essa visão e ele diz: “nós
precisamos ir para lá, precisamos pregar o Evangelho a
eles, precisamos obedecer a esse chamamento”. Então,
Paulo vai.
96
“Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, sentia
grande indignação, vendo a cidade cheia de ídolos. Por
essa razão, discutia na sinagoga com os judeus e os gregos
tementes a Deus, e todos os dias na praça com os que ali
se achavam. Alguns filósofos epicureus e estoicos puse-
ram-se a debater com ele. Uns perguntavam: O que este
falador quer dizer? E outros diziam: Parece ser propaga-
dor de deuses estranhos. Pois Paulo anunciava a boa-nova
de Jesus e a ressurreição. Então o tomaram e o levaram
ao Areópago. E disseram: Podemos saber que ensino novo
é esse de que falas? Pois estás nos anunciando coisas
estranhas. Portanto, queremos saber o que é isso.Todos os
atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam,
não tinham outro interesse a não ser contar ou ouvir
a última novidade. Então Paulo ficou de pé no meio
do Areópago e disse: Homens atenienses, em tudo vejo
que sois excepcionalmente religiosos. Porque, ao passar
e observar os objetos do vosso culto, encontrei também
um altar em que estava escrito: ao deus desconhecido.
É exatamente este que honrais sem conhecer que eu vos
anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há,
Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos
por mãos de homens.”
- Atos 17:16-24
97
deuses, ele se disponibiliza, prega o Evangelho – e alguns
missiólogos dizem para nós que Paulo passou cerca de
um mês ou três sábados pregando o Evangelho na região.
Ele planta igrejas naquele lugar, e eu dou glória a Deus
porque o chamado do Senhor passa pela pregação do
Evangelho, colheita de vidas, o plano da salvação sendo
apresentado a povos, a culturas e a religiões. A canaliza-
ção daquilo que Deus implantou no totem do homem de
maneira antropológica.
Lembre-se de Eclesiastes 3: Ele colocou o senso e o
desejo pela eternidade em todo homem. Não há Alá, não
há Buda, não há Hare Krishna, não há Confúcio, não há
Maomé. Não é o budismo, o hinduísmo ou o islamismo.
Não, o Deus do cristianismo vivo, puro, santo, criador
dos céus e da terra, é esse Deus que Paulo fala e nós fa-
lamos. E essa pregação passa pela salvação das pessoas e
pelo discipulado para a formação de uma igreja saudável.
Paulo prega o Evangelho de maneira ousada, pre-
cisa, interpretando o Evangelho do Senhor na linguística
daquele povo, na oralidade daquele povo, de uma ma-
neira transcultural, intercultural e contracultural, sendo
sempre fiel ao chamado do Senhor. Só que é interessante
que Paulo (e nós, às vezes) foi chamado para levar confu-
são a alguns lugares.
98
gritando: Esses homens que têm agitado o mundo chega-
ram também aqui, e Jasom os acolheu.Todos eles proce-
dem contra os decretos de César, dizendo haver outro rei,
Jesus. Assim, provocaram a multidão e as autoridades da
cidade que ouviram essas coisas.”
- Atos 17:6-8
99
quer morar em templo feito pela mão do homem, mas,
na verdade, Ele quer habitar em nós. E você é capaz, sim,
de lembrar que Ele veio e habitou entre nós, e o Espíri-
to Santo está em nós. Ele cumpriu seu desejo. Agora eu
queria que você identificasse, interpretasse junto comi-
go, nessa visão missiológica paulina, o desejo de Deus de
levarmos o poder do Evangelho, que é capaz de trans-
formar, curar, libertar e salvar a vida de todo homem e
mulher. É um Deus Emanuel. É Deus conosco, dentro de
nós. Lembre aquilo que Paulo falou: “Cristo em vós é es-
perança da glória”. Cristo dentro do homem, aquilo que
recebemos do próprio Espírito, o poder de Deus.
As pessoas estão lá, os povos estão lá, eles não sa-
bem quem é Jesus, mas conhecem Pelé. Não sabem
quem é o Espírito Santo, mas conhecem a Coca-Cola e o
McDonald’s. Você precisa ir lá. Nós precisamos ir lá para
compartilhar a partir desse poder que há em nós, teste-
munhando a partir dessa graça e desse dom que Deus nos
deu, em favor deles.
NO PODER DO ESPÍRITO
100
“No princípio era oVerbo, e oVerbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele,
nada do que foi feito existiria.”
- João 1:1-3
101
É com esse Espírito que temos que ter intimida-
de e compartilhar a essas pessoas. E eu quero convidar
você para que nesses próximos dias você possa ter uma
vida de relacionamento e de oração íntima. Tenha como
uma missão prioritária: o desenvolvimento, o reestabe-
lecimento da intimidade com o Espírito do Senhor, para
que você não possa desenvolver projetos pioneiros, abrir
ONG’s, simplesmente plantar igrejas, desenvolver ne-
gócios como missões, desenvolver projetos de políticas
públicas, desenvolver projetos de transformações socio-
lógicas, filosóficas. Deus está te chamando a desenvol-
ver projetos segundo a perspectiva do Espírito Santo de
Deus.
É o amor divino, derramado em nosso coração, que
nos vocaciona, nos instrui e nos guia a ter intensidade
no Espírito e nos chama para uma vida de escuta ativa
do próprio Deus para podermos compartilhar aquilo que
aquela cultura está necessitando. Infelizmente, muitas ve-
zes, missionários se perdem em seus caminhos, nas suas
jornadas missionais, porque não fazem o estudo de causa,
do coração do próprio Pai das nações, do próprio Jesus.
Em Salmos 2 diz: “pede-me as nações e eu te darei por
herança”, e Ele recebeu as nações por herança, as nações
são Dele. As nações, as tribos, as línguas e as culturas são
de Jesus. Precisamos perguntar ao Espírito do Senhor Je-
sus Cristo aquilo que Ele tem para cada nação. Aquilo que
102
Ele tem para cada etnia, para cada língua, para cada povo,
para cada cidade, para cada público, para cada esfera.
Convido você a sempre que puder ter a oportu-
nidade de desenvolver projetos missionais dentro dessa
missão integral de Deus, desse mandato cultural, aonde
for, em qualquer cenário, em qualquer esfera, em qual-
quer país, em qualquer público, em qualquer cidade, em
qualquer bairro, em qualquer igreja, em qualquer célula,
em qualquer ministério, desenvolva um estudo de cau-
sa a partir da escuta ativa, ouvindo a voz do Espírito do
Senhor. E, assim, eu tenho certeza de que a sua vocação
sempre será efetiva, eficaz, e você estará utilizando a pa-
lavra do Senhor, que é mais penetrante que uma espada
de dois gumes, capaz de dividir alma e espírito, que é
poder de Deus, esse Evangelho, e que o Espírito Santo é
capaz de te introduzir em lugares que você nunca imagi-
nou entrar.
“Abre a tua boca que eu vos encherei”. Agora, você
abre a boca e compartilha aquilo que tem porque nin-
guém dá aquilo que não recebe. Você precisa ter para po-
der dar. Você precisa receber para poder entregar. Desde
a minha infância, fui para a faculdade teológica aos 16
anos, li mais de 200 livros na minha infância e juventude.
E, claro, ainda sou jovem. Deus sempre me discipulou,
dizendo para mim: “Quem não senta para ouvir, não se
levanta para falar. Quem não senta para aprender, não se
103
levanta para ensinar. Quem não senta para receber, não se
levanta para dar”. Eu te chamo a ser humilde no espírito,
ore para que o Senhor te dê o fruto dele – humildade,
mansidão, temperança, domínio próprio, longanimida-
de, benignidade, amor e, sobretudo, o amor, pois esse é
o maior dom.
Leia as cartas paulinas, leia com essa perspectiva.
Faça um diagnóstico a partir da visão do Espírito Santo,
naquilo que Ele tem para você, naquilo que você precisa
e naquilo que Ele tem para os outros, aos próximos, que
Ele tem no seu caminho mais na frente.
É o Espírito do Senhor que nos direciona assim
como direcionou o maior de todos os missionários, o
apóstolo Paulo. Você está disposto a transicionar e mi-
grar, por intervenção do Espírito Santo? Se prepare, pois
nos últimos dias, as movimentações de Deus passarão pe-
los movimentos da sua Igreja.
104
MISSIOLOGIA
CONTEMPORÂNEA
REFUGIADOS E
IMIGRANTES
F izemos uma boa jornada até aqui. Passamos pelos
fundamentos da missiologia bíblica, pelo concei-
to da Missio Dei, a missão do próprio Deus, pela
missiologia voltada para um conceito integral onde o
próprio Jesus Cristo nos deixa o seu mandato cultural,
a missão do homem num discipulado pessoal, face a face
com os seus filhos, os seus discípulos. Mergulhamos na
missiologia do Antigo e do Novo Testamento. Vimos tam-
bém a teologia paulina, ou a teologia missiológica de
Paulo. Aprendemos que nestes últimos dias precisamos
desenvolver, de uma maneira eclesiológica missiológica e
escatológica, o conceito de que Jesus e o seu Evangelho
precisam ser compartilhados a todas as etnias baseado no
109
contexto do fim dos tempos e que precisamos nos espe-
cializar e capacitar para compartilhar esse reino de Deus
com sabedoria, graça, entendimento e amor.
110
vos digo que sempre que o fizestes a um destes meus
irmãos, ainda que dos mais pequeninos, a mim o fizestes.
Então ele dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Malditos, afastai-vos de mim para o fogo eterno, prepa-
rado para o Diabo e seus anjos; pois tive fome, e não me
destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era
estrangeiro, e não me acolhestes; estive nu, e não me ves-
tistes; doente, e na prisão, e não me visitastes. Então, eles
também perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome,
ou com sede, ou estrangeiro, ou sem roupas, ou doente, ou
na prisão, e não cuidamos de ti? E ele lhes responderá:
Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer
a um destes mais pequeninos, deixastes de fazê-lo a mim.
E eles irão para o castigo eterno, mas os justos irão para
a vida eterna.”
- Mateus 25:34-46
111
No texto acima, Jesus deixa para nós o exemplo de
como que, nessa contemporaneidade, aqui e agora, pode-
mos desenvolver uma missiologia prática, eficaz, concer-
nente a estação e o tempo em que estamos. Discernindo
esse tempo, essa estação, aprendemos que Jesus se pron-
tifica a exemplificar uma metodologia de evangelismo a
partir da hospitalidade.
Jesus fala de um diálogo entre aqueles que vão se
deparar com o próprio Deus no dia do juízo. No fim, a
pergunta de Jesus para nós será esta: “como você tem me
acolhido, me amado e me hospedado?”. A Bíblia diz que
quando você fizer isso a um dos pequeninos, você estará
fazendo ao Grande Eu Sou.
112
“A religião pura e imaculada diante do nosso Deus e Pai
é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas dificuldades e
não se deixar contaminar pelo mundo.”
- Tiago 1:27
113
a Terra, e Ele também foi um refugiado quando seus pais,
José e Maria, fugiram para o Egito.
114
Preste bastante atenção: você está sendo convida-
do por Deus para que nestes últimos dias possa romper
os limites da sua autoteologia ou da sua automissiologia,
romper os limites dogmáticos ou pragmáticos que um
dia taxaram em você para que você fosse impedido de ter
relacionamento com pessoas de outras religiões, de seitas
e heresias. Você está sendo convidado por Deus para hos-
pedar pessoas de todas as tribos, raças, inclusive religiões
– o órfão, a viúva, o pobre e o imigrante.
Eu gostaria de lhe dar uma ferramenta hoje. He-
breus 13:2 diz: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois,
fazendo isso, mesmo sem saber, alguns hospedaram an-
jos”. Alguns dizem que isso tem a ver com o texto de
Gênesis 18 quando Abraão hospeda varões em sua casa
e os serve e acolhe. Alguns dizem que de uma maneira
teofânica ou angeológica, o próprio Jesus o visitou com
dois anjos – os mesmos anjos que destruíram as cidades
de Sodoma e Gomorra. Mas existe outra tese teológica
de que não foram. Independente, o que existe é uma li-
ção clara e simples: precisamos acolher os imigrantes e os
estrangeiros que, na verdade, não podem ser vistos como
estranhos, mas como pessoas humanas que precisam de
amor como nós.
Eu queria chamar sua atenção para estes textos:
115
“Socorrei os santos nas suas necessidades. Procurai ser
hospitaleiros.”
- Romanos 12:13
116
projetos missionais em outras nações, de outras línguas,
com outras culturas.
Em especial, Deus tem nos convidado, aqui na nos-
sa nação, de norte a sul, de leste a oeste, para desenvol-
vermos o acolhimento de vulneráveis de outras religiões.
Pare para pensar: hoje o Brasil conta com milhares e
milhares de refugiados, imigrantes e povos não alcança-
dos – grupos que não possuem a presença de uma igreja
local bíblica, públicos étnicos que não têm contato com
o Evangelho do Senhor Jesus Cristo, mas que acabaram
sendo enviados, migrando pela ação do próprio espírito
de Deus, na Sua soberania, até o Brasil.
Precisamos desenvolver uma estratégia missiológi-
ca transcultural dentro do nosso país. Estamos trabalhan-
do, atualmente, para aperfeiçoar nossas faculdades men-
tais, emocionais e espirituais para desenvolver projetos
com o público budista, hinduísta, islãs/muçulmanos, mas
não apenas no Oriente Médio, mas também aqui, a partir
do Brasil.
Temos discipulado nações em nosso estado, o Para-
ná, e em alguns outros lugares do Brasil – muçulmanos,
árabes, mais de dez nacionalidades, mais de oito línguas.
Há casas de acolhimento onde temos um projeto-piloto
para desenvolvermos uma boa triagem em solicitações
de refúgio, quando a pessoa sai do seu país em estado
de guerra (por exemplo, a Síria), de catástrofes naturais
117
(como no Haiti), de crises políticas e humanitárias (como
na Venezuela), locais de perseguições religiosas (como
nossos acolhidos do Egito, do Iraque, do Irã). Enfim, po-
demos e devemos começar a desenvolver projetos nessa
nova perspectiva contemporânea, missiológica e avança-
da.
Além disso, temos também plantado igrejas nessas
etnias e culturas. Recentemente estávamos lavando os
pés de muçulmanos em nossas casas, reformando igrejas
dos caribenhos que estão aqui, consagrando pastores de
outras nações que estão dispostos a servir o refugiado
e imigrante da sua nação e outras nações, tudo aqui no
Brasil.
Veja só: isso é a multiforme graça do Senhor, a sa-
bedoria do Senhor, sendo desenvolvida e ampliada a par-
tir da sua Igreja. Imagine essas pessoas que têm facilida-
de migratória, antropológica, transcultural, linguística,
oral. Creio que Deus tem despertado o seu povo! Ele
tem feito e utilizado do movimento migratório, ou da
diáspora, para uma pregação do Evangelho eficaz, efeti-
va, como escrito em Mateus 24:14.
É interessante que, muitas vezes, nos deparamos
com tantas possibilidades em nosso dia a dia. Encontra-
mos com africanos que estão nas grandes metrópoles dos
nossos estados, vendendo seus produtos e nós oramos a
Deus: “Senhor, nos dê as nações”. As nações estão pas-
118
sando ao nosso lado e não estamos percebemos. Muitas
vezes, nos deparamos com índios, paraguaios ou vene-
zuelanos que estão nos semáforos da cidade, com placas
e dizeres nos informando que estão com fome ou preci-
sando de um emprego. Damos uma moeda para eles, mas
aquilo que Jesus nos ensinou foi amar, cuidar, acolher e
hospedar.
No Brasil, temos árabes que estão aqui, diversas
mecas, centros budistas espalhados pelo país, templos
hindus no sul. Quando você se deparar com essas cultu-
ras em sua cidade, te convido a fazer uma imersão: visi-
te-os, vá no restaurante deles, experimente a culinária
deles, crie um relacionamento com eles, entre em conta-
to com a prefeitura local, com o governo estadual, com
CRAS, com CREAS, com as instituições, as OSCIPs e
as ONG’s do terceiro setor que possam ter associações
ou atividades culturais ou artísticas com eles, desenvolva
programas de relacionamento, de atendimento ao públi-
co imigrante, desenvolva estratégias de acolhimento e
integração a eles, facilitação de documentos, desenvolva
estratégia de interação cultural, desenvolva estratégia de
interação artística.
Você possui dons, recursos, talentos, suas fa-
culdades mentais, um ministério que Deus o en-
tregou. Você sabe aquilo que pode exercer como:
119
- Psicólogo.
- Assistente social.
- Técnico de futebol de crianças filhas de imigrantes.
- Trabalhos artísticos.
- Advogado e juiz.
- Teólogo e missiólogo.
Quero convocar você ao despertamento da missio-
logia contemporânea, onde você poderá exercer o seu
ministério, chamado e vocação a partir de onde você está,
inclusive com povos muçulmanos. Nós, em particular,
temos desenvolvido vários programas de relacionamen-
to, de voluntariado onde as pessoas se disponibilizam de
seu tempo para poder servi-los em questões sociais; pro-
jetos de integração social onde pessoas têm desenvolvido
projetos de empregabilidade com eles; desenvolvemos
cooperativas; programas educacionais onde temos par-
cerias com faculdades e universidades que possam ceder
graduações, pós-graduações, e até convalidações de di-
plomas para eles; isso tudo abre portas para que o Evan-
gelho seja propagado a essas pessoas que muitas vezes
tem os seus preconceitos conosco e, muitas vezes, somos
nós mesmos que colocamos estas barreiras. Dizemos:
“ah, não, ele tem uma língua diferente, eu não consigo
me comunicar. Ele tem uma cultura diferente. Ele tem
uma religião diferente”. Mas a linguagem do amor de Je-
120
sus Cristo – do tive fome e me deste de comer, tive sede
me deste de beber, estive imigrante e você me hospedou
– ainda é eficiente.
Não existe escatologia bíblica sem missiologia
bíblica. O retorno de Jesus passa pela colheita e pregação
do Evangelho no avivamento pleno, a partir de faíscas
de avivamento em vários setores, áreas, esferas, países,
nações e cidades.
Desafio você a conhecer mais projetos que traba-
lham e desenvolvem programas psicoeducacionais, de
atendimento intensivo, onde colocamos famílias com
seus filhos, casais, em uma casa de cultura (por exem-
plo, cultura venezuelana, de haitianos, de árabes), ou, até
mesmo, se for preciso, como tivemos em nosso ministé-
rio, uma casa de acolhimento onde juntou-se todas essas
culturas no início e tínhamos uma diversidade de nações
dentro de uma casa só. Nesse tempo, vimos aquilo que
de fato oramos: “Pede-me, e te darei as nações como he-
rança, e as extremidades da terra como propriedade” (Sl
2:8).
Eu mesmo morei, junto com a minha esposa Ana,
em uma casa de acolhimento de refugiados imigrantes e
lá liderávamos pessoas de várias culturas, nações e lín-
guas. Projetos-pilotos como esses onde desenvolve uma
programação semanal com lazer, discipulado, devocio-
nais, momentos de partilha, momentos de grupos tera-
121
pêuticos, organizar o currículo deles e levá-los, conseguir
móveis para eles, conseguir alugar casas para eles, con-
seguir uma faculdade, ensinar português, tantas e tantas
estratégias que você tem hoje na sua mão. Qual faculdade
você fez? Qual curso técnico você fez? Profissionalizante,
o que você fez? Qual curso bíblico você aprendeu? Qual
foi a sua experiência com discipulado? É para isso que
Deus tem te convidado.
Eu queria chamar a sua atenção também para que
quando você estiver se deparando com um imigrante ou
refugiado, entenda que Jesus está te dando a oportunida-
de de hospedá-lo, amá-lo, servi-lo, honrá-lo. Jesus está te
dando a oportunidade de lavar os pés das nações. Saiba
que não é fácil para eles passar por momentos de crises
existenciais, perseguições, feridas, açoites, momentos de
negações, questões políticas, questões sociais e questões
religiosas. Do mesmo jeito, não é fácil para os missio-
nários que, muitas vezes, precisam fugir de um estado
para o outro, de um país para o outro, para poder dar
continuidade ao projeto, sendo sábios, inteligentes e dis-
cernindo os tempos.
Eu quero dizer também que não é fácil para os refu-
giados e imigrantes. Peço que tenha a sensibilidade de estar
orando por eles, pois o efeito da diáspora ainda é uma das
maiores ferramentas missiológica para podermos discipu-
lar as nações e pregarmos o Evangelho para eles de modo
122
prática, de praticar a justiça social, o acolhimento e a inte-
gração/inclusão social, fazendo com que eles desenvolvam
autonomia, senso de posteridade, não dependendo de nós
ou sendo independentes no país, mas interdependentes,
ou seja, sejam parceiros, amigos e irmãos.
Deus está te dando a oportunidade de orar e praticar
a pregação do Evangelho a este público que tanto carece e
que está no coração de Deus. Foi para isso que Ele trou-
xe essas pessoas para perto de nós. O efeito migratório e
as diásporas vão se expandir cada vez mais – crises políti-
cas, crises existenciais, crises pandêmicas, crises familia-
res, crises pessoais, catástrofes naturais, guerras e rumores
de guerras. Conheço algumas que moraram comigo que
passaram por cima de corpos, atravessando a Síria para
Turquia; conheço outros que vieram em barcos pequenos
atravessando o Caribe; outros que acolhemos em uma de
nossas casas oravam assim: “Meu Deus, eu preciso de so-
corro do Senhor, Jesus! Deus de Israel, Deus dos judeus,
se o Senhor é real, se o Senhor é verdadeiro, e a minha
própria religião, a minha própria crença, os meus próprios
irmãos muçulmanos estão me perseguindo, os radicais, es-
tão me mutilando; Deus, se tu és real, se revela para mim,
me socorre, me dá um acolhimento! Jesus, se tu és real,
acolhe-me, acolhe minha família, acolhe meu pai, minha
mãe, meu filho!”. E há tantas e tantas outras histórias assim
aqui no Brasil.
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CONCLUSÃO
124
Oro para que a chama do Espírito Santo não se apa-
gue no seu coração. Oro, no nome de Jesus, para que do
mesmo jeito que Paulo teve a versatilidade de receber a
bênção e também está conectado com as igrejas no qual
ele implantou e ajudou, e no cuidado discipulou líderes,
treinou pessoas e enviou pessoas, também teve a versati-
lidade de criar tendas, de vender tendas. Oro para que o
seu ministério seja exponencial. Quero desafiá-lo a ter um
estilo de vida missiológico e prático diante de Deus, onde
sua expectativa pelo retorno do Rei das Nações não fica-
rá somente no clamor Maranata, mas você se posicionará
como um filho maduro que faz aquilo que vê o Pai fazendo
e diz: “o Filho nada pode fazer por si mesmo, senão o que
vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz tam-
bém. Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que ele
mesmo faz; e lhe mostrará obras maiores que estas, para
que vos admireis” (Jo 5:19-20).
Que se levante uma geração que não apenas espera
por um avivamento entre as nações, mas que trabalha, junto
ao Pai, tendo uma consciência de coerdeiro e cooperador!
Sim, acreditamos e oramos pelo avivamento dos últimos
dias que precedem a volta de Jesus, onde filhos e filhas serão
despertados com essas características de amor, devoção e
incendiados pelo Espírito Santo a vivenciarem seus chama-
mentos de modo versátil, multiforme e móbil! Somos todos
migrantes e estamos fazendo o caminho de volta também.
125
Concluo com a fala do pastor e teólogo Timothy
Keller:
126