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Lembram do Magic Eye, dos anos 90? Aquele livro que a gente deveria olhar
fixamente e descobrir imagens em 3D?
Às vezes era difícil, não? E era uma conquista quando a gente conseguia!
Pois bem, às vezes a gente olha a história e vê apenas fatos ou eventos isolados
que se sucedem. Subitamente, a gente olha e vê o mistério, a unidade, as profecias, vemos que
há muito mais do que já compreendemos. É como se estivéssemos olhando para o celular, que
é bidimensional, e, de repente, saltasse uma imagem tridimensional holográfica
(Trinitária????), que nos dá uma ideia muito mais real e perfeita da mesma coisa.
Mas sempre é ocasião para a gente ter um novo insight. Ver a profecia do Antigo
Testamento e do Novo Testamento não como um Plano A e um Plano B, mas como um só plano
do Pai, como Paulo fala em Efésios 1, 1.9-10: Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo .... Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência
formara sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos – desígnio de reunir em Cristo todas
as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra.
Esse desígnio é o plano de um pai de família. Nós, como pais, uma vez que
tivemos nossos filhos, até mesmo antes, procuramos fazer uma poupança, uma previdência
privada, pensando no amanhã deles, nos estudos, planejamos o nosso ano, os meses. Deus, o
Pai de Família por excelência, providencia para a Sua família para toda a vida – oikonomia é a
palavra que Paulo usa e significa economia – um só projeto. Não um plano A e um plano B.
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AT + NT = UNIDADE
Assim como escritores usam palavras para simbolizar as realidades, Deus usa
as realidades temporais – até reis e reinos, leis e guerras – para simbolizar realidades muito
maiores, verdades que são espirituais e eternas.
Com essa moldura é que quero transmitir alguma coisa sobre “As raízes judaicas
da Eucaristia”, este livro de Brand Pitre, do qual procurei fazer uma síntese.
Para isto, é preciso olhar os eventos bíblicos com olhos dos judeus da época em
que foram escritos. Porque foram precisamente essas lentes unidas à fé dos discípulos que lhes
permitiram entender que Jesus era o Messias esperado. Puderam pensar: É o que o Senhor está
fazendo agora, na Última Ceia. E também ver que o pão e o vinho da Eucaristia eram realmente
o corpo e o sangue de Jesus.
glória descendo do céu, e depois comeram e beberam) e uma casa de oração para todos os povos
e nações (Is 56, 6-7 e 60, 1-7, Zc 2, 14)) para sempre (Ez 37, 24-28) e uma nova caminhada
para a terra prometida, o tempo entre o já e o ainda não (Isaías descreve repetidamente o novo
êxodo em termos do povo de Deus marchando para uma nova Jerusalém – 43, 49, 60, que já
começa na Igreja. Ezequiel 36, 33-35 descreve a futura terra prometida como um jardim do
Éden e Ez 37 liga a chegada das 12 tribos de Israel à ressurreição dos mortos). A Tipologia
também se encontra do Novo Testamento para a Igreja, nos vários livros e muito especialmente
no Apocalipse. Jesus disse que os discípulos fariam milagres maiores do que os dEle. E o que
são os sacramentos, senão milagres de cura, de conversão, etc.?
Jesus veio e foi confirmando que era o novo Moisés, jejuando por 40 dias e
noites no deserto como fez o primeiro (Ex 34, 28), transformou água em vinho, como Moisés
transformara água em sangue diante do Faraó (Ex 7, 14-24). Quando perguntado se era de fato
o Messias, respondeu com Isaías: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são limpos,
os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres. Bem-aventurado
aquele para quem eu não for ocasião de queda (Mt 11, 4-6, citando Is 35, 5). Ao iniciar seu
ministério público na sinagoga de Nazaré, qual a leitura do “lecionário” judaico: Is 61, 1-5.
E Jesus diz que naquele dia se cumprira a profecia descrita por Isaías. Também refere que é
maior do que Salomão, o filho de Davi, amado e sábio. E do que Jonas, que obteve a conversão
de Nínive com sua pregação. Tem autoridade para mudar o pão e o vinho em Corpo e Sangue.
Esses elementos são muito importantes para definir o que estaremos vendo sobre
a Páscoa de Jesus e a instituição da Eucaristia.
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Cada primavera, deveria ser celebrada como uma celebração memorial para
sempre, em que o pai de família fazia um relato sobre o 1º êxodo. Quais foram as prescrições
para a primeira páscoa? Ex 12, 1-14.
2. Sacrificar o cordeiro.
Fazer isso com o hissopo, que absorve bem o líquido. O sangue é absorvido pela
madeira da casa e fica como marca sempre. Instituição perpétua. Ex 12, 14.24.
Moisés derramou o sangue sobre o altar e aspergiu o povo com a outra metade.
Os sacerdotes, no Templo, deviam fazer o mesmo. Hissopo, sangue e madeira reaparecerão
com Jesus.
Não como a festa que aconteceu uma vez, mas para sempre, como se quem
estava celebrando ano após ano estivesse se sentindo ele mesmo liberta da escravidão. Estivesse
se sentindo como saindo do Egito com os antepassados. Misticamente, por uma celebração
litúrgica, o memorial faz presente o passado para as gerações que se sucedem participarem do
acontecimento fundamental para o povo. E para não esquecerem de Deus, se o negligenciarem.
Terminando com um hino, o Grande Halel, Sl 118.
C. O Tabernáculo e o Templo.
Afora esses sacrifícios de sangue, o rito mais comum no Templo era a Todah, o
sacrifício de pão e vinho oferecido em ação de graças ao Senhor semanalmente pelos
sacerdotes, que, então, comiam o pão e tomavam o vinho. Alguns até traduziam a palavra para
eucaristia, no contexto da Diáspora.
Em Mt 12, 6-8, Jesus diz que algo maior do que o Templo está aqui. O filho
do Homem é senhor também do sábado. Recordemos que o Templo é o lugar da habitação de
Deus na terra. O que ou quem poderia ser maior, senão o próprio Deus, que fez o sábado?
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É só através da fé na Sua identidade e no Seu poder divinos que o discípulo pode ser capaz
de entender que Ele lhes dá seu corpo e sangue como verdadeira comida e verdadeira bebida.
D. O Maná.
Israel transitou 40 anos pelo deserto, sendo provado e sua fidelidade testada,
alimentando-se do maná, que não era qualquer pão, mas um pão miraculoso, dado diretamente
por Deus, vindo do céu.
No séc. XIX, tornou-se moda identificá-lo com uma substância natural secretada
pela tamareira ou por insetos do deserto, dado o ceticismo moderno em relação a milagres e
muitos já não viram o maná como sobrenatural. No entanto, o maná caía do céu, o que sugere
sua natureza sobrenatural (Sl 78). Nunca durava mais de um dia, exceto no sábado,
diferentemente de substâncias naturais, que duram mais. Apareceu por 40 anos e parou de vir
quando os israelitas entraram na Terra Prometida (Js 5), o que não se concilia com a secreção
sazonal da tamareira, que dura 2 meses mais ou menos no verão. E os Israelitas não sabiam o
que era, por isso chamaram maná, que significa: o que é isto? em hebraico.
O maná não era apenas milagroso, era também santo. Tão sagrado que devia ser
reservado no Santo dos Santos, e ficava lá para ser contemplado numa urna de ouro, na Arca,
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ao lado das Tábuas da Lei. É o "pão do mundo que há de vir". Na literatura extrabíblica, como
no Targum, Pseudo Jonathan on Exodus 16, 4 e 15, fala-se "no princípio", o que dá a entender
que o maná era entendido como preexistente à queda de Adão, era uma realidade sobrenatural
do Templo celeste e, quando o Messias viesse, traria de volta o milagre do maná. Seria um
alimento protológico, desde a aurora da criação, o alimento perfeito, intocado pelo pecado
original. Uma espécie de retorno ao Éden acontecera durante o deserto. (Genesis Rabbat 82,8).
No Discurso do Pão da Vida, Jesus diz: O pão que Eu vos darei é a minha carne
para a vida do mundo. Na Última Ceia: Este é o meu corpo que é para vocês. Em Cafarnaum
ele falava, portanto, do que iria fazer em Jerusalém. De uma perspectiva judaica, se a Eucaristia
é o novo maná do céu, não pode ser só um símbolo, mas o pão sobrenatural do céu. Se o velho
maná era sobrenatural, o novo, do Messias, não poderia ser apenas um símbolo, mas muito
maior. As prefigurações do AT nunca são maiores do que as realizações do NT. Tipos e
antítipos. Davi prefigurou Jesus, Salomão também, como Jesus mesmo disse, que estava ali
alguém muito maior do que Salomão. E o Messias é o Senhor de Davi e não apenas seu filho
(Mc 12, 36-37).
Os judeus não viam o mundo apenas como uma realidade visível, que chamavam
“este mundo”, mas como uma espécie de sinal visível do mundo invisível, do céu, do Reino de
Deus, no seu Templo celeste, rodeado por milhares de anjos, espíritos puros que o adoravam
dia e noite para sempre.
A única outra referência, na Bíblia judaica, a comer e viver para sempre se refere
ao fruto da árvore da vida. Se Jesus quisesse identificar a Eucaristia para os seus discípulos
como alimento comum e bebida comum, nunca teria identificado como o novo maná do céu.
terra prometida da nova criação, sinal da Sua fidelidade. Era chamado o Pão do Mundo que há
de vir.
Vale lembrar, também, que o discurso do Pão da Vida vem precedido do milagre
da multiplicação dos pães para 5000 homens (Jo 6, 1-15), conectando Jesus com Moisés. E O
reconheceram como Messias, tanto que Jesus saiu dali, porque o queriam fazer rei à força (Jo
6, 15). E reconheceu-O como Novo Moisés (que alimentou o povo com o maná), dizendo: este
é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo (Jo 6, 14).
Além disto, enquanto ao multiplicar os pães, Jesus deu um sinal de que o novo
maná estava chegando, na Última Ceia ele veio. E o Apocalipse manifesta que será dado de
comer o maná escondido ao que vencer (Ap 2, 17), numa analogia ao maná escondido no
Tabernáculo (Ex 16, 32-36).
E. O pão da presença.
1. A arca da Aliança.
2. A lâmpada de ouro, Menorah
3. A mesa do Pão da Presença.
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Havia pão e vinho, conforme o livro de Nm 15, 5-7 (para a libação, acrescentarás
um quarto de vino ao holocausto ou ao sacrifício de cada cordeiro) e 28, 7 (no santuário farás a
libação de vinho fermentado) os referem.
Davi comeu dos pães da presença, conforme Sm 21, 3-6. Ele era sacerdote não
segundo a ordem de Levi, mas a de Melquisedeque, cf. o Sl 110, motivo por que podia usar o
efod de linho, um paramento sacerdotal, e oferecer sacrifícios no altar, queimado oferendas (2
Sm 6, 14-17). Em Mt 12, 5, quando Jesus diz que seus discípulos podiam trabalhar o sábado,
porque tinham os mesmos privilégios dos sacerdotes no Templo. Isto ocorreu na Galileia, mas
Jesus os justificou, porque identificou a si mesmo com o Templo, e com a autoridade divina.
Jesus já dissera que alguém maior do que Salomão, ou do que Jonas estava ali (Mt 12, 41-2 e
Lc 11, 31-2). Aqui diz que alguém maior do que o Templo estava ali, o lugar da habitação de
Deus na terra, porque justamente Ele é Deus presente em pessoa, o tabernáculo de carne, a
presença de Deus. Assim, a Última Ceia não foi só uma nova páscoa, mas o novo pão e o novo
vinho da Presença, da própria presença de Jesus.
Houve semelhanças e diferenças com a Páscoa judaica. Era a última de que Ele
participaria, antes do seu próprio êxodo. Nessa Páscoa, como nas judaicas, a celebração foi à
noite, logo após o sacrifício dos cordeiros no Templo, em Jerusalém e não em Betânia onde Ele
e os discípulos tinham estado, dentro das portas, não com água, como era usual nas outras
refeições, mas com vinho. Foi cantado um hino.
2. O foco não foi propriamente o Egito, pois Jesus fala da Nova Aliança
profetizada por Jeremias 31, 31-33.
Poderia, para o AT, bastar um símbolo da carne do cordeiro para comer? Não.
Para ser liberto da morte, era preciso comer o cordeiro. Na Nova Aliança, o cordeiro é uma
pessoa, come-se seu sangue e corpo. Assim Paulo, o mais judeu dos judeus, entendeu: I Cor 5,
7-8: Cristo, nossa páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa. E como os judeus viam a
páscoa como participação no antigo Êxodo e sacrifício, os cristãos viram a Eucaristia como
participação na morte de Jesus e na Última Ceia.
Além disto, como Israel não foi direto do Egito para a Terra Prometida, o cristão
não vai direto para o céu, mas há um tempo de prova e tribulação, em que Deus sustenta o seu
povo com o maná do céu.
No tempo de Elias, enquanto ele viajava pelo deserto, recebe comida milagrosa
dos Anjos. O maná e o milagroso Pão dos Anjos em Elias serão cumpridos através do dom final
do pão celestial que é o próprio Cristo descendo para nos salvar, mas também, é claro, o dom
da Eucaristia. Elias vai para o deserto por 40 dias e 40 noites; ele vai para o monte Horeb, que
é outro nome para Monte Sinai, a montanha de Deus e por todo este tempo ele é alimentado
pela comida milagrosa do céu, do anjo que aparece para ele. Os israelitas viajaram pelo deserto
por um período de 40 anos, conectado com o Monte Sinai e sendo alimentado durante esse
período com milagroso pão do céu? Como a reflexão do Sl 34: provai e vêde como o Senhor é
bom e atende as necessidades do seu povo que clama, no deserto seja para com Israel, ou para
com Elias, a Igreja clama e acontece que Deus responde às nossas orações, Deus nos livra de
nossas preocupações e ansiedades, medos e sofrimentos, dando-nos o maior alimento e o maior
presente, o dom de si mesmo, o dom do seu Filho, o dom do seu corpo, seu sangue, sua alma e
sua divindade na Eucaristia - a verdadeira comida do céu que realmente vai nos sustentar se
formos fiéis em nossa viagem através deste deserto, deste vale de lágrimas, que está cheio de
sofrimento e morte e, para muitos cristãos em todo o mundo, com perseguição. Tantas vezes
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estamos em uma situação desesperadora e precisamos de um sinal de que Deus está conosco,
algum sinal de sua providência e que nos é dado sobretudo no dom da própria Eucaristia. Então,
Cristo nos dá o pão milagroso dado a Elias no deserto e tudo isso está acontecendo no dom da
própria Eucaristia.
Depois de cantar este salmo é que o 4º cálice seria tomado. Era o Cálice do Halel,
do louvor. Tomado, a refeição estava completa.
Paulo aos Coríntios menciona o cálice da bênção, que seria o terceiro (1Cor
10,16). Então Jesus fez aquele voto de não beber o fruto da videira e saíram para o Monte das
Oliveiras.
Foi pela Última Ceia que Jesus transformou uma execução romana no sacrifício
da Páscoa da Nova Aliança, em que Ele foi o sacrifício, o sacerdote, a oferta e a liturgia, mas
nada disso estava presente no Calvário, somente na Última Ceia.
João teve uma visão de Jesus no céu, no Apocalipse, e não viu um homem, mas
um cordeiro imolado em pé. O mistério da identidade de Jesus é aí revelado, o cordeiro pascal
celeste, tanto crucificado como ressuscitado tendo ao redor a adoração do céu, a páscoa celeste.
1340 Ao celebrar a última Ceia com seus apóstolos durante a refeição pascal,
Jesus deu seu sentido definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de
Jesus a seu Pai por sua Morte e sua Ressurreição, a Páscoa nova, é antecipada
na ceia e celebrada na Eucaristia que realiza a Páscoa judaica e antecipa a
Páscoa final da Igreja na glória do Reino.
1337 Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até o fim. Sabendo que chegara
a hora de partir deste mundo para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeição
lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor. Para deixar-lhes uma
garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e para fazê-los
participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua
morte e de sua ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até
a sua volta, “constituindo-os então sacerdotes do Novo Testamento”.
98, 9). No CEC, n. 1094, a Igreja ensina que o maná no deserto prefigurou a Eucaristia, o
verdadeiro pão do céu. Ensina, também, no n. 2837, que o pedido da Oração do Senhor pelo
pão supersubstancial significa que ele é necessário para viver, o remédio da imortalidade, e não
apenas o pedido traduzido por cotidiano, diário.