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Faculdade Teológica Batista de Brasília

Curso Livre – Formação Teológica


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DISCIPLINA: PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO


Prof º. Dr. Allan Amorin

AULA 1 – INTRODUÇÃO

1. Os Gêneros do Novo Testamento

Quando falamos do texto do Novo Testamento, temos que pensar que os livros são
um conjunto de literatura que reflete características de outros escritos da mesma
época (Primeiro século d.C).

Ao pensar no Novo Testamento como literatura, precisamos avaliar o tipo, isto é, o


gênero (ou gêneros) dos textos que nele se apresentam.

Basicamente, o gênero lida com a forma da literatura, apontando os grupos de


textos que têm características similares. Em geral, os estudiosos concordam em
pelo menos quatro tipos de gênero a serem encontrados no Novo Testamento:

A) Evangelhos: A palavra Grega euangelion (evangelho) significa “boas novas”.


Ela se refere, no NT, às boas novas de salvação em Jesus. O Gênero dos Evangelhos
é único, na verdade, porque ele não se encaixa perfeitamente em nenhum gênero
conhecido (Biografia, Narrativa histórica).

Os Evangelhos contêm partes que se identificam assim, mas, como um todo, os


Evangelhos são um escrito de Proclamação (do Grego kerigma) de Jesus Cristo. “Os
evangelhos combinam materiais biográficos e históricos com um forte testemunho
de Jesus” (Richard Melick).

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Veja ainda essa definição final do gênero dos evangelhos: “Formalmente,” então os
Evangelhos tem paralelos em outras literaturas; “materialmente” eles se mostram
unicamente cristãos. Talvez seja melhor, portanto, chamá-los de biografias
teológicas (KLEIN, BLOMBERG e HUBBARD, 1993, p. 325).

B) História: É um tipo distinto de literatura. No NT, somente o livro de Atos


se encaixa nessa descrição. Muitos estudiosos encontram paralelos entre o
estilo de escrita de Lucas e outros documentos históricos da época.
Apesar de alguns entenderem que uma história escrita com certa tendência (o que
certamente seria o caso de Atos), outros já afirmam que qualquer relato histórico,
mesmo os seculares, tem algum tipo de influência e tendência externas.
Basicamente, esse gênero diz respeito a um documento normamente descritivo,
descrevendo eventos do passado.

C) Epistolar: Epístolas são cartas. As cartas perfazem quase dois terços do


material do Novo Testamento. Era uma forma de comunicação textual no primeiro
século (até bem depois). Essas cartas refletem alguma situação de quem escreve e,
especialmente, uma mensagem para os recipientes.

As cartas do Novo Testamento, basicamente, ficam entre duas categorias: cartas


ocasionais (com algo que motivou a escrita) e tratadas teológicas (o caso mais
provável é Romanos). Em termos de estrutura, uma carta poderia ser um conjunto
de respostas a perguntas feitas ou mesmo a respostas a situações enfrentadas
pelas igrejas (Melick, p. 438).

D) Apocalíptico: Esse tipo é bem distinto dos outros dentro do NT. O livro de
Apocalipse se encaixa nessa descrição e o tipo de literatura é característico de
textos proféticos, “embora a sua mensagem venha por outros meios além da
profecia já encontrada em outros lugares na Escritura” (Melick, p. 438), com uso de
muita simbologia.

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A chave para a interpretação desses símbolos está no próprio texto bíblico, já que
fontes de textos apocalípticos do AT auxiliam nessa tarefa.

2. Implicações para Interpretação

A. Confiabilidade histórica

A primeira implicação diz respeito à confiabilidade histórica. Alguns têm


defendido que muito pouco do que é registrado nos Evangelhos tem valor e
acuidade históricos. Mas essa acusação cai quando consideramos que os
Evangelhos não são biografias detalhadas ou documentos históricos nos moldes de
hoje. As chamadas “diferenças” entre os Evangelhos podem ser, na maior parte,
facilmente harmonizadas.

Além disso, outras biografias da época de Jesus (de outras pessoas) mostram
características similares às dos Evangelhos. Por isso, os evangelhos não podem ser
forçados para se conformarem a padrões modernos de história ou biografia, mas
devem ser avaliados de acordo com os padrões de sua época. Os evangelhos foram
escritos para relatar a verdade sobre Jesus.

Outra questão é que temos não somente uma fonte, mas quatro fontes
independentes (quatro autores diferentes) para o mesmo evento e pessoa. Os
Evangelhos são fontes primárias confiáveis para obter informações acerca da vida
e ministério de Jesus.

B. Leitura horizontal e vertical

A segunda implicação é o que Gordon Fee e Douglas Stuart (Entendes o que lês?)
chamam de “leitura horizontal e vertical”, isto é, a interpretação que leva em
conta a mistura de história e teologia dentro do Evangelho e também por causa da
história de Jesus estar narrada não em um, mas em quatro Evangelhos (O
estudante deve levar isso em consideração).
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• Horizontal: leitura que considera os relatos paralelos, buscando comparar


os relatos repetidos em um ou mais evangelhos e buscando reconciliar e
harmonizar detalhes específicos.
• Vertical: leitura que leva mais em conta os temas e o contexto do próprio
Evangelho (específico da passagem), isto é, levando em conta a intenção
original de todos os Evangelista e também o público-alvo de cada Evangelho.
Essa leitura deve ter prioridade sobre a leitura horizontal.

C. Audiência original

A terceira implicação diz respeito à audiência original de cada um dos


Evangelhos. Eles foram escritos em perspectivas diferentes para audiências
diferentes. Mateus, por exemplo, escreveu com os Judeus em mente: um grande
número de textos do Antigo Testamento com a observação sobre seu cumprimento
por Jesus é um exemplo disso (Veja Mt. 2: 18; 3:3).

Já Lucas enfatizou mais a humanidade de Jesus para uma audiência Gentia, como,
por exemplo, podemos ver a partir da genealogia desse Evangelho, enfatizando a
ascendência de Cristo até o próprio Adão (Lc. 3:38). O Evangelho de Marcos traz
uma ênfase no Servo Sofredor (de Isaías) e um foco no ministério de Jesus e seus
milagres (veja Marcos 10:45).

Por fim, João fez a importante avaliação teológica da vida de Jesus, trazendo uma
reflexão teológica da pessoa e do ministério de Jesus com a ênfase em Jesus como
Filho de Deus (João 20: 30-31). Para João, Jesus é o enviado de Deus, que age em
unidade com o Pai. Veja o que Darrel L. Bock afirmou sobre esse tema:

Os autores dos Evangelhos não fazem qualquer tentativa de desenvolver


a vida de Cristo histórica ou cronologicamente. Eles não fazem uma
tentativa de fornecer uma biografia de Cristo. Os escritores, usando o
mesmo material disponível, selecionam e arranjam, de acordo com sua
ênfase individual e interpretação, aquilo que representa o retrato
particular de Cristo que eles desejam apresentar. (BOCK, 2002, p. 23).

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D. Formas literárias dentro dos Evangelhos

A seguir destacam-se algumas das formas literárias presente nos Evangelhos.

Parábolas
São histórias contadas por Jesus, com um cunho espiritual, e personagens sem
nomes, mas que podiam ser identificados (representação).

A parábola é um tipo de discurso metafórico, mas o segredo na interpretação está


em não permitir muita alegorização, isto é, não tentar identificar por trás de cada
elemento outro significado. Como discurso metafórico, portanto, as parábolas
criam um impacto por meio das escolhas de imagens e da narrativa.

Histórias de Milagres
Essas narrativas são peculiares (únicas) nos Evangelhos. Muitos já tentaram dizer
que tudo não passa de mito (Bultmann e outros), mas essas narrativas tem um
clímax que, em geral, NÃO É O MILAGRE!

Muitas vezes, a narrativa enfoca temas como fé, salvação e a divindade de Jesus. As
histórias de milagres tem uma função cristológica de demonstrar quem Jesus era e
também outra função de apontar para a salvação que Ele veio trazer ao mundo.

Histórias de pronunciamento
Embora essa nomenclatura pareça estranha, há realmente um conjunto de
histórias curtas que trazem um auge, um “clímax” em forma de pronunciamento de
Jesus, que vem geralmente em forma proverbial.

Uma dessas afirmações está em Marcos 2:13-17, com o v. 17 sendo o “climax”:


“Não são os saudáveis que precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim
chamar os justos, mas pecadores.”

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Narrativas
A presença de narrativas é notória em especial nos Evangelhos e Atos, pois
recontam vividamente momentos e histórias da vida de Jesus no contexto de Seu
ministério.

As narrativas do nascimento e infância de Jesus, tanto em Mateus como em Lucas,


são um exemplo desse tipo de texto.

Apocalipse
Alguns trechos dentro dos Evangelhos são considerados apocalípticos, por causa
de seu conteúdo (semelhante à profecia). Mateus 24, o famoso “sermão ou discurso
escatológico” é um exemplo.

Bock afirma que esse discurso de Jesus, também conhecido como “discurso do
Monte das Oliveiras” tem um padrão escatológico, comparado com os padrões
proféticos do Antigo Testamento (Bock, 2002, p. 338).

Hipérbole (ou Exagero)


Jesus comumente utilizou o exagero para se conectar de maneira forte com seus
ouvintes. Jesus exagerava um ponto de tal maneira que um cumprimento literal do
que ele dizia era praticamente impossível.

Mas havia uma mensagem urgente por trás. Exemplos desse tipo estão em Mateus
5: 29-30 (“Se tua mão direita de fizer pecar...”) e também outros textos: Lucas
14:26 e Marcos 10: 24b – 25).

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AVALIAÇÃO DE CONTEÚDO:

1. Complete: Entende-se por _______________ literário os diversos grupos de textos


com características similares no Novo Testamento
(a) Tipo
(b) Escola
(c) Gênero
(d) Nenhuma das alternativas

2. Marque (v) para verdadeiro e (f) para falso:

( ) Os Evangelhos podem ser classificados “materialmente” como biografias


teológicas.
( ) O Livro de Atos, embora seja história, também se encaixa no gênero dos
Evangelhos.
( ) As Epístolas, também chamadas de cartas, são um gênero comum do tempo do
primeiro século.
( ) O apocalíptico é um gênero bem distinto na Bíblia e nenhum livro no Novo
Testamento se encaixa nesse gênero

3. Marque a alternativa correta:

( ) Devido à suspeita de alguns teólogos, descobriu-se que os Evangelhos não têm


uma grande confiabilidade histórica.
( ) A leitura horizontal leva em conta as particularidades de cada Evangelho,
enquanto a leitura vertical diz respeito às passagens paralelas.
( ) O público-alvo de cada um dos Evangelhos deve ser considerado para
interpretação, pois cada evangelista escreveu com um foco específico de uma
audiência.
( ) Dentre as várias formas literárias específicas dentro dos Evangelhos, é sabido
que a parábola é a menos importante.

RESPOSTAS: 1) C (Gênero); 2) V – F – V – F; 3) C (O público-alvo)

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