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Desafios contemporâneos à evangelização:

os diálogos de Jesus no Evangelho de Mateus e a contextualização da mensagem


William L. Lane

RESUMO
Este artigo investiga os diálogos de Jesus no Evangelho de Mateus e identifica quatro grupos
principais com quem Jesus teve contato: os religiosos, os discípulos, as multidões e os enfermos. A
partir da análise desses diálogos, percebe-se modos diferentes de comunicação de Jesus. Isso
sugere, de um lado, a sensibilidade de Jesus na comunicação da sua mensagem, de outro, a essência
da mensagem para cada grupo. Essa análise propõe que a evangelização contemporânea deva seguir
alguns dos princípios desses diálogos, como a comunicação dialógica do evangelho, a comunicação
vivencial, a contextualização e a ênfase no Reino de Deus, não na instituição.

PALAVRAS-CHAVE: comunicação, evangelização, contextualização, Evangelho de Mateus.

ABSTRACT
This article surveys Jesus dialogues in the Gospel of Matthew and identifies four major groups with
which Jesus establishes a conversation: the religious, the disciples, the multitudes and the sick.
Through the analysis of these dialogues, it is noticed different ways that Jesus used to communicate.
This suggests both Jesus sensibility in communicating his message and the essence of the message
for each particular group. This analyses proposes that the evangelization today should follow some
of the principles established by these dialogues, such as, a dialogical communication of the gospel,
communication in particular settings, the contextualization, and a concern for the Kingdom, not the
institution.

KEYWORDS: communication, evangelism, contextualization, Matthew’s Gospel.

Introdução
A evangelização contemporânea apresenta desafios em pelo menos duas ordens: conceitual e
prática. No âmbito conceitual, há de se rever ou resgatar conceitos bíblicos de evangelização que
levem em conta uma compreensão integral e contextual do ser humano e da salvação. É preciso
também distanciar a evangelização de estereótipos e modelos recentes que mais refletem modismos
culturais do que propriamente conceito bíblico teológico inspirado em Jesus. No âmbito prático,
provavelmente o maior desafio contemporâneo à evangelização diz respeito às formas e conteúdo
da mensagem e os métodos para que ela alcance o indivíduo contemporâneo.
Neste artigo pretendo contribuir para o enfrentamento desses desafios a partir de uma
reflexão dos encontros de Jesus com os diversos tipos pessoas. Essa reflexão se fixa nos diálogos de
Jesus com indivíduos ou grupos de pessoas no Evangelho de Mateus procurando identificar a
abordagem de Jesus a cada grupo distinto e o conteúdo do diálogo. Desse modo, pretende-se
sugerir, primeiramente, que Jesus não possuía um discurso pré-moldado para todas as situações,
pelo contrário, sua mensagem se adaptava ao grupo alvo em termos de linguagem e de conteúdo.
Em segundo lugar, propõe-se que a característica prevalecente da comunicação da mensagem era
dialógica e discursiva. Mateus é o único dos Evangelhos que registra cinco sermões de Jesus,
incluindo o Sermão do Monte. Mateus também registra diversos diálogos de Jesus ao longo de
relatos de milagre, ensino por parábolas e demais atividades. A partir desses diálogos sua mensagem
é comunicada não só aos primeiros interlocutores, mas, sobretudo, aos primeiros ouvintes/leitores, à
comunidade da fé e aos ouvintes/leitores de hoje. Por fim, a partir dessa reflexão, pretende-se
apontar alguns caminhos para fazer frente aos desafios contemporâneos à evangelização.
Entendemos por evangelização a proclamação da boa nova do reino de Deus. Esse anúncio
não se restringe aos sem religião, às pessoas que não professam a fé em Deus ou professam outra
religião, tipicamente considerada religião pagã. No contexto dos Evangelhos raramente
encontraremos os sem religião. Todo anúncio do evangelho é feito principalmente no contexto do
judaísmo e, em alguns casos, no contexto de pessoas que tinham outras religiões – o estrangeiro.

1) Corpus literário dos diálogos de Jesus

Um dos problemas fundamentais da teologia bíblica é definir o objeto propriamente de seu


estudo. A discussão envolve estabelecer o texto ou textos a partir dos quais se desenvolve a teologia
da Bíblia ou de um de seus segmentos. A disciplina está longe de um consenso. No estudo da
teologia tanto do Antigo quanto do Novo Testamento diversas propostas têm sido feitas.
Naturalmente, elas divergem não só na escolha dos textos fundamentais como também na
metodologia, uma vez que, em geral, é o referencial metodológico teórico que estabelece os
critérios de escolha do fundamento da teologia. Desse modo, encontra-se, por exemplo, no estudo
do Antigo Testamento, propostas que buscam desde fundamentar a teologia no quérigma ou na
expressão de fé de Israel (Von Rad) até na forma e função canônica dos escritos (Childs), passando
pela história de Israel e pelo tema da aliança (Eichrodt). Assim também o estudo teológico do Novo
Testamento envolve uma variedade de propostas metodológicas. Joaquim Jeremias, por exemplo,
procura isolar as palavras autênticas de Jesus (“ipsissima vox de Jesus” JEREMIAS, p. 51), a partir
das quais se desenvolve a teologia do NT. Ainda que a busca pelas palavras autênticas de um autor
bíblico tenha sido o alvo de boa parte da análise histórico crítica dos últimos duzentos anos, e que
essa análise tinha por objetivo distinguir entre um anúncio original de um profeta, apóstolo ou autor
bíblico de tradições posteriores evidenciadas nas diversas redações posteriores, nas últimas décadas
os estudos teológicos e literários têm valorizado a forma final do escrito bíblico e buscado
compreender não só o desenvolvimento do texto como também o sentido do texto em sua forma
final.
No caso do estudo dos Evangelhos, essa tarefa parece ser de grande interesse para os
estudiosos, pois não se tem qualquer escrito atribuído à autoria de Jesus. O que encontramos nos
Evangelhos são registros de suas palavras, obras e discursos. Além disso, como os Evangelhos
frequentemente divergem no registro das palavras e obras de Jesus, ainda que sejam semelhantes, a
questão que se impõe é como essas palavras de Jesus sobreviveram de forma autêntica até que
fossem registradas, e até que ponto o que se registrou foi exatamente o que Jesus disse. Mateus, por
exemplo, registra cinco grandes discursos de Jesus. Os demais Evangelhos não registram esses
sermões e mesmo Lucas que registra o Sermão do Monte e as Bem-aventuranças, não contém o
mesmo texto que Mateus. Por isso, a tarefa da teologia do Novo Testamento de buscar as palavras
autênticas de Jesus se deve em grande parte justamente pela inexistência de um texto escrito pelo
próprio Jesus.
Este artigo não pretende aprofundar nessa questão metodológica. Sua proposta é mais
modesta. Contudo, a partir dessa problemática propõe buscar nos diálogos de Jesus com as pessoas
os elementos teológicos de sua mensagem. Não queremos sugerir com isso que são essas as únicas
palavras autênticas de Jesus nem queremos sugerir uma teologia simplista das ‘letras vermelhas’
dos Evangelhos como se estas fossem mais importantes teológica e historicamente para a
compreensão teológica dos Evangelhos. A opção é mais literária e sociológica. Ela procura
identificar os interlocutores e os aspectos comuns de sua comunicação com esses grupos de
interlocutores. Percebe-se que é justamente no encontro de Jesus com as pessoas que grande parte
de seus ensinamentos ocorreram. Além disso, a identificação de grupos específicos com os quais
Jesus se comunicou possibilita perceber a contextualização da mensagem de Jesus e, sobretudo, a
sua própria identidade social e religiosa. Ao se aproximar de certos grupos e se distanciar de outros,
Jesus estabelece a sua identidade e o lugar religioso e social que seus discípulos deviam ocupar.
A partir dessa análise, e entendendo que a tarefa da evangelização da igreja se dá em
decorrência e continuidade à missão de Jesus, pretendo sugerir não um método de evangelização
fundamentado ‘no método de Jesus’ ou algo parecido, mas, um caminho de como a igreja pode
enfrentar os desafios da evangelização tanto na perspectiva da contextualização da mensagem
quanto da essência do conteúdo da mensagem do evangelho.
Por motivos práticos, delimitei apenas um Evangelho, Mateus, e identifiquei nele 81
encontros de Jesus seguidos de diálogo com algum indivíduo ou grupo de indivíduos. Procuramos
agrupar esses encontros pelo interlocutor, depois a partir das palavras de Jesus caracterizar esse
sujeito e, finalmente, caracterizar a mensagem de Jesus para esse grupo.
Não estão inclusos nesses diálogos os cinco principais discursos ou 'sermões' de Jesus em
Mateus (Mt 5 – 7; 10; 13; 18; 24 – 25) nem algumas parábolas de Jesus, ainda que muitas parábolas
tenham surgido na sequência de diálogos. Entretanto, os cinco grandes discursos de Jesus em
Mateus refletem evidentemente um monólogo instrutivo de Jesus, por isso se distinguem do diálogo
propriamente de Jesus com indivíduos e grupos.
A seleção do material partiu da identificação do encontro de Jesus com um indivíduo ou
grupo seguido de uma conversa. Via de regra, o interlocutor de Jesus inicia o diálogo, porém, há
casos específicos, como se verá, em que Jesus inicia o diálogo.
De acordo com critérios literários formais o diálogo se assemelha à creia, a forma literária
que “designa uma fala ou ação ocasionada na vida de uma pessoa importante pela situação, mas
transcendendo-a” (BERGER 1998, p. 78). A forma clássica de uma creia possui a seguinte
estrutura: alguém é perguntado a respeito de algum assunto e responde algo (ibid). O diálogo pode
ser considerado uma creia expandida ou mais elaborada, porém se difere desta por ter um caráter
puramente instrutivo, ainda que nos Evangelhos os diálogos também sejam breves em comparação
aos diálogos da tradição filosófica grega da antiguidade. (BERGER 1998, p. 228).
Segundo Berger, o diálogo no Novo Testamento pode ser subdividido em dois sub-gêneros:
diálogo de instrução e diálogo de revelação. O primeiro é caracterizado por informar o leitor por
meio de um personagem principal que se encarrega de expressar ou comunicar uma instrução
provocada por seus interlocutores. Já o diálogo de revelação tem um caráter enigmático. A resposta
deixa o ouvinte ou discípulo sem entender, o que, por sua vez, requer uma explicação do mestre.
Essa explicação, em geral, é precedida de uma repreensão pela falta de entendimento (BERGER
1998, p. 229-230). A partir dessa conceituação, foram selecionados 88 encontros de Jesus no
Evangelho de Mateus seguidos de um diálogo em que Jesus instrui ou explica algo. Estão inclusos
ainda diálogos em que Jesus toma a iniciativa de instruir, exortar, convocar ou repreender alguém.1

2. Diálogos de Jesus
Os diálogos podem ser agrupados em quatro classes principais de interlocutores: a)
religiosos (fariseus, saduceus, zelotes); b) os enfermos; c) os discípulos; d) as multidões. Além
desses, Jesus encontra-se com João Batista no seu batismo; com Satanás, na tentação; com o Pai em
suas orações; e diante das autoridades romanas durante seu julgamento.
Farei breve descrição do conjunto de diálogos de acordo com seus interlocutores procurando
identificar as características do que Jesus comunica no diálogo para aquele grupo em particular. Por
meio dessa análise pretende-se verificar, de um lado, a contextualização da comunicação de Jesus e,
de outro, a essência do conteúdo da mensagem a cada grupo. Por fim, a análise servirá para sugerir
caminhos de ação da igreja em sua tarefa de evangelização.

2.1 Os discípulos
Quase metade dos diálogos em Mateus corresponde às conversas de Jesus com os seus
discípulos (40 diálogos). Incluem-se nessa relação desde o primeiro encontro de Jesus com os
discípulos e a convocação ou chamado para segui-lo (4.18-19) até a comissão de envio para fazer
discípulos de todas as nações (28.18-20). Em grande parte desses diálogos, Jesus toma a iniciativa.
Diante de uma circunstância, Jesus chama os discípulos e os instrui (9.36-37) ou explica algo
(13.51-52). Num aspecto geral a relação de Jesus com os discípulos se caracteriza principalmente

1
O número de diálogos ou creias identificado por Berger é bem menor que isso. O critério usado neste artigo se baseia
principalmente no levantamento dos encontros de Jesus com indivíduos e grupos por meio de uma leitura atenta do
Evangelho de Mateus.
por instruções, explicações, exortações a respeito de sua própria mensagem e missão.
Os diálogos de Jesus com os discípulos podem ser divididos em dois grupos: os iniciados por
Jesus e os que os discípulos tiveram a iniciativa.
a) Os diálogos iniciados por Jesus são: o chamado dos discípulos (Mt 4.18-19); o chamado
de Mateus (9.9); vendo as multidões dirigiu-se aos discípulos falando sobre a seara (9.36-37); a
explicação de uma parábola (13.51-52); o pedido para que os discípulos providenciassem alimento
para a multidão (15.32-36); o alerta sobre o fermento dos fariseus (16.6-11); a indagação sobre o
Filho do Homem (16.13-14, 15-18); a declaração de Jesus de seu sofrimento (16.22-23 e 17.22-23);
após a transfiguração, uma exortação para que os discípulos não contassem o que viram no monte
(17.9-11); a discussão sobre pagamento de imposto (17.25-27); o critério sobre entrar no reino
(19.23-30); predição sobre sua morte (20.17-19 e 26.1-2); o pedido da mãe de Tiago e João (20.22-
23); a exortação aos 10 discípulos que ficam indignados com os Tiago e João (20.24-28); próximo
de Jerusalém, Jesus instrui discípulos sobre onde preparar a Páscoa (21.1-4); na Ceia, o aviso sobre
a traição (26.20-24); Judas pergunta se era ele (26.25); a instrução da Ceia (26.26-29); o aviso a
Pedro (26.31-35); no Getsêmani, sobre a necessidade de orar (26.36-41, 45); impedimento do
discípulo que queria se proteger com a espada (26.51-55); finalmente, a grande comissão (28.18-
20).
De acordo com a distinção de Berger (1998, p. 229-230), esses diálogos se caracterizam
primordialmente como diálogo de instrução. Por meio deles se diz algo a respeito da missão e da
pessoa de Jesus. No Novo Testamento os diálogos de instrução ocorrem também na narrativa de
Atos, principalmente entre Paulo e seus companheiros. Além desses, eles se limitam quase
exclusivamente aos diálogos de Jesus com os discípulos. Do ponto de vista da crítica das formas e
do contexto vivencial, isso sugere que os diálogos foram empregados na narrativa de Mateus como
forma de dar voz às instruções particulares de Jesus aos seus discípulos.
b) Os diálogos iniciados pelos discípulos: discípulos vão acordar Jesus no barco (Mt 8.25-
26); discípulos pedem explicação da parábola (13.36-38); perguntam a respeito de como alimentar a
multidão (14.15-16, 17-18); reagem à vista de Jesus andando sobre as águas e a exortação à
confiança (14.26-27, 28-29, 30-31); falam sobre a reação dos fariseus aos ensinamentos de Jesus
(15.12-14); Pedro pede explicação da parábola (15.15-18); diante da insistência da mulher cananeia,
os discípulos pedem que Jesus a despeça (15.23b-24); Pedro, no monte da transfiguração, sobre
montar três tendas (17.4-7); os discípulos perguntam sobre o motivo de não conseguirem expulsar
demônio (17.19-21); a pergunta dos discípulos sobre quem é maior no reino (18.1-5); Pedro
pergunta sobre o perdão (18.21-22); diante do que Jesus disse aos fariseus sobre o divórcio, os
discípulos perguntam sobre o casamento (19.10-12); sobre a figueira amaldiçoada (21.20-22); sobre
o perfume usado para ungir Jesus (26.8-13); pergunta dos discípulos sobre o lugar da preparação da
Páscoa (26.17-19); a saudação de Judas quando foi com a guarda do sumo sacerdote prender Jesus
(26.49-50).
Quando os discípulos se aproximam de Jesus e iniciam um diálogo, muitas vezes eles tinham
como objetivo o esclarecimento ou explicação de um ensinamento. A reação típica de Jesus é
simples orientação e instrução (p.ex., 21.20-22), ou repreensão pela falta de entendimento (p.ex.,
15.15-18).
Esses diálogos estão inseridos nas narrativas do Evangelho e têm a função de instrução e
revelação diante de uma circunstância específica. Quando Jesus, por exemplo, vê a multidão que
ouvia seus ensinamentos sem ter de que comer, ele se compadece e procura os discípulos (15.32-36)
ou, depois de contar algumas parábolas, Jesus pergunta aos discípulos se eles tinham entendido
(13.51-52). Portanto, a instrução e explicação de Jesus aos discípulos acontecem em situações reais
de vida. A partir da vivência, da experiência dos discípulos, das circunstâncias que estavam
enfrentando, e de situações do cotidiano, Jesus instruía os discípulos a respeito do reino, do Filho do
Homem, da relação com a sociedade e dos desafios futuros.

2.2 Os religiosos
O segundo grupo com o qual Jesus gasta mais tempo dialogando é o grupo dos religiosos, os
fariseus, escribas, saduceus e outros grupos menores. O diálogo de Jesus com esse grupo raramente
é iniciado por ele. Em geral, são eles que interrompem Jesus, indagam sobre algum ensinamento,
alguma cura, as tradições ou alguma ação de Jesus.
Há 19 diálogos de Jesus com os religiosos, os quais são subdivididos entre os escribas: um
escriba se voluntaria a servir a Jesus (8.18-20); outro “dos discípulos”, possivelmente dentre os
religiosos, na sequência, pede para ir sepultar primeiro o pai antes de seguir Jesus (8.21-22); alguns
escribas acusam Jesus de blasfêmia após declarar o perdão dos pecados do paralítico (9.3-6).
O principal grupo religioso com o qual Jesus dialoga é o dos fariseus: fariseus perguntam
sobre os costumes dos discípulos de Jesus (9.11-12); os fariseus sobre a quebra do sábado pelos
discípulos (12.2-6); os fariseus sobre a cura no sábado (12.10-14); fariseus acusam Jesus de
expulsar demônios por Belzebu (12.24-32); os fariseus sobre a questão do divórcio (19.3-9); um
intérprete da lei dos fariseus pergunta a Jesus sobre o grande mandamento (22.34-40); Jesus
pergunta aos fariseus sobre quem é o Cristo (22.41-46).
Há pelo menos dois episódios em que os escribas e fariseus estão juntos: escribas e fariseus
pedem um sinal de Jesus (12.38-42); escribas e fariseus perguntam a Jesus por que os discípulos
quebravam a “tradição dos anciãos” (15.1-9). Em outra ocasião os fariseus estão acompanhados dos
saduceus e pedem a Jesus um sinal (16.1-4). Os fariseus e os herodianos questionam sobre o tributo
a César (22.16-22).
Os principais sacerdotes compõe outro grupo de religiosos: acompanhados dos escribas,
indagam sobre as curas (21.15-16); junto com os anciãos do povo questionam a autoridade de Jesus
(21.23-27); na conclusão da instrução aos principais sacerdotes, Jesus fala de forma enigmática e
eles entendem que ele falava a respeito deles (21.43-46).
Além desses, os saduceus perguntam a Jesus sobre a ressurreição (22.23-33) e, por fim, o
sumo sacerdote interroga Jesus diante do Sinédrio (26.63-66).
Esse grupo representa não só a religião institucionalizada como também uma postura de
desconfiança e rejeição aos ensinamentos e obras de Jesus, assim como aberta oposição e
perseguição a Jesus. O primeiro contato de Jesus com os religiosos pode ser entendido como
positivo. Um escriba se dispõe a seguir a Jesus para onde quer que ele fosse (8.18-20). No entanto,
o último diálogo se dá no contexto da interrogação de Jesus no Sinédrio em que o acusam de
blasfêmia.
Dificilmente esse grupo é representado no Evangelho de Mateus como indivíduos que
estavam procurando genuinamente compreender a mensagem de Jesus. Eles são retratados como
oponentes e perseguidores. Raramente Jesus se dirige a eles. A única iniciativa de Jesus acontece
quando este pergunta aos fariseus sobre o que eles diziam a respeito do Cristo (22.41-46).
Frequentemente, Jesus cita para eles a lei ou responde seus questionamentos com perguntas sobre a
interpretação da lei. Em termos gerais, Jesus não tem paciência com esse grupo e cobra deles o
conhecimento e zelo que deveriam ter.
Essa relação de Jesus com os religiosos reflete ainda que a mensagem do Reino proclamada
por Jesus incluía, de um lado, esperança, salvação, restauração e graça para os que se arrependem e,
de outro, juízo e condenação contra as formas de expressão religiosa, política ou social que não
levassem em conta a graça, o perdão e o amor de Deus. Nesse sentido, Jesus reflete a tradição dos
profetas do Antigo Testamento que anunciavam juízo e salvação.

2.3 Os enfermos
Outro grupo com o qual Jesus trava breve diálogo é o de pessoas enfermas. Apesar de Jesus
ter realizado inúmeras curas e milagres, são poucos os diálogos de Jesus com as pessoas a quem ele
curou, e em todos os casos a iniciativa foi da pessoa enferma (Mt 8.14-16). Ainda que poucos, esses
diálogos são importantes para compreender a dimensão da compaixão de Jesus para com os que
sofrem e de sua autoridade sobre as enfermidades.
As primeiras curas acontecem logo após o Sermão do Monte (Mt 5 – 7). Ao descer do monte,
Jesus foi abordado por um leproso que se prostrou diante de Jesus, o adorou e disse “Senhor, se
quiseres, podes purificar-me” (8.1-4). Logo em seguida, entrando em Cafarnaum, um centurião
pede a Jesus que cure seu servo (8.5-13). Depois Jesus realiza várias outras curas, incluindo a sogra
de Pedro, porém não há registro de um diálogo com Jesus (8.14-16).
Ao chegar à terra dos gadarenos, Jesus é abordado por dois endemoninhados a quem ele
ordena a saída dos demônios (8.28-34). Em Cafarnaum, trazem a Jesus um paralítico (9.1-2), uma
mulher que sofria de hemorragia durante 12 anos toca em Jesus (9.19-22), Jairo, um chefe da
sinagoga, pede para que Jesus imponha a mão sobre sua filha morta (9.18, 23-26). Saindo de lá, dois
cegos suplicam pela compaixão do “Filho de Davi” (9.27-30).
Os diálogos com enfermos são retomados depois do terceiro grande discurso de Jesus sobre
o Reino (cap. 13). Na região de Tiro e Sidom Jesus cura uma mulher cananeia (15.22-28), depois da
Transfiguração, Jesus é abordado por um homem que suplica compaixão por seu filho
endemoninhado (17.14-18) e em Jericó dois cegos também suplicam a compaixão de Jesus e a cura
(20.29-34).
Dos onze diálogos de cura de enfermos registrados em Mateus, oito se encontram entre os
capítulos 8 e 9, entre o Sermão do Monte (caps. 5 – 7) e discurso de envio dos apóstolos (cap. 10).
No final do Sermão do Monte no capítulo 7 a multidão está maravilhada porque Jesus ensinava
“como quem tem autoridade” (7.28). O capítulo 10 contém o segundo grande sermão de Jesus em
Mateus. Neste sermão Jesus convoca os discípulos e lhes dá “autoridade sobre espíritos imundos
para expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades” (10.1). Portanto, esses diálogos
visam principalmente demonstrar a autoridade de Jesus sobre todo tipo de enfermidade, e possuem
um caráter didático e preparatório para a missão dos apóstolos a partir do capítulo 10. Ao
demonstrar a sua autoridade, Jesus pretendia ensinar os apóstolos. Isso fica evidente quando Jesus
impede que o leproso e os dois cegos curados por ele divulgassem quem o curou (8.4; 9.30). Ainda
que a notícia das curas e do poder de Jesus se espalhasse (8.34; 9.26, 31), o objetivo desses diálogos
de cura era preparar e capacitar os discípulos para realizar sua missão com autoridade.
A autoridade também é o tema da cura do servo do centurião (8.7-9) e do perdão dos pecados
do paralítico (9.2-6). A questão da autoridade de Jesus é retomada no diálogo de Jesus com os
religiosos em Jerusalém, quando Jesus é questionado sobre a origem de sua autoridade (21.23-27).
E por fim, com toda a autoridade que lhe foi concedida na terra e no céu, Jesus envia os discípulos
para fazer discípulos (Mt 28.18).
A cura dos enfermos retrata a compaixão de Jesus e a sua autoridade. Mais do que tornar
Jesus um milagreiro ou um mago com super poderes, esses relatos e diálogos visavam despertar a fé
em Jesus e aceitação da mensagem do reino, assim como capacitar os discípulos para a sua missão.

2.4 As multidões
Há um conjunto de diálogos formado por diversos tipos de pessoas não caracterizadas social,
religiosa ou politicamente por um grupo definido. Na verdade, tratam de pessoas com interesses
diversos e de diferentes grupos assim como de alguns anônimos os quais designo aqui de forma
geral como “multidões”.
Está incluso nessa relação o diálogo de João Batista com Jesus durante o batismo (3.13-15), a
pergunta dos discípulos de João Batista a Jesus (9.14-17 e 11.3-4), a pessoa que avisa Jesus sobre
seus familiares (12.46-50), o povo da sinagoga de Nazaré a respeito de sua identidade e família
(13.54-58), as pessoas que trouxeram crianças para serem abençoadas por Jesus (19.13-15); um
jovem rico indagando sobre a vida eterna (19.16-21); a mãe de Tiago e João pedindo que seus filhos
ocupem lugar de honra no reino (20.20-21); os vendedores no templo (21.12-13); o interrogatório
diante de Pilatos (27.11-14) e, após a ressurreição, o encontro com as mulheres no sepulcro (28.9-
10). Além desses, há o diálogo de Jesus com Satanás durante a tentação (4.3-9).
Alguns desses diálogos têm caráter de confrontação. O início do Evangelho, durante a
tentação, e o final, durante o interrogatório de Pilatos, encontramos confronto. Mas boa parte deles
revela a identidade de Jesus. O diálogo do batismo de Jesus, a indagação dos discípulos de João
Batista, o povo da sinagoga e a pessoa que avisa Jesus sobre seus familiares revelam quem era
Jesus. Eles servem para descrever a sua identidade e distingui-lo de João Batista e também de sua
família. O diálogo sobre o pedido da mãe do Tiago e João serve para caracterizar o reino e os
valores dos seguidores de Jesus.
Esses diálogos revelam a acessibilidade de Jesus a diversos tipos de pessoas e servem para
revelar quem é Jesus. Por meio desses diálogos, Jesus é revelado como Filho amado (3.16), Filho de
Deus (4.3-9), o Cristo (11.2-4), como Mestre (19.16), que veio para servir e dar sua vida em resgate
de muitos (20.28), e rei dos judeus (27.11); sua família é identificada com os seus discípulos (12.46-
50).

3. Considerações

Se pudermos entender esses diálogos de Jesus como a comunicação da mensagem do Reino


e de sua missão, devemos buscar neles inspiração para a ação da igreja na evangelização. Não
devemos buscar como fonte normativa da evangelização apenas aqueles textos dos Evangelhos e,
particularmente de Mateus, em que Jesus envia os discípulos para pregar. É preciso que se observe
também como o próprio Jesus realizou a sua missão e como ele lidou com grupos diversos de
pessoas. O chamado à evangelização e os modelos a seguir não se encontram apenas nas ordenanças
objetivas de Jesus aos discípulos, mas por meio de sua vida e obra. Nelas a igreja encontra o
caminho da evangelização como herdeira da missão de Cristo.
A partir dessa análise, constata-se que a pregação de Jesus é essencialmente dialógica. Ainda
que Mateus destaque os grandes discursos de Jesus, foi por meio dos diálogos que ele teve contato
com as pessoas. Os diálogos sugerem como Jesus busca atender aos anseios de seus interlocutores.
Eles demonstram tanto o caráter da compaixão de Jesus como a sua sensibilidade à situação e
realidade de seus interlocutores.
A comunicação com os religiosos não deixa de ser perturbadora. Os diálogos de Jesus com
os religiosos denotam nitidamente a intolerância de Jesus com uma pretensa religiosidade tão
característica do status quo da religião institucionalizada. Talvez o grande contraste entre esses
diálogos serve para distinguir Jesus dos religiosos e demonstrar que a mensagem do Reino não
podia ser confundida com o discurso religioso dominante. A tensão da relação de Jesus com os
fariseus e escribas, e a contundente repreensão às suas práticas e ensinamentos servem para
estabelecer os padrões e identidade do Reino de Jesus.
O diálogo de Jesus com os discípulos é essencialmente revelador. Nele a missão de Jesus e
os fundamentos básicos do reino são estabelecidos. São nesses diálogos que Jesus revela o modo
correto de interpretar a lei e a maneira como ele deseja que seus seguidores vivessem. Aos que estão
dispostos a seguir a Jesus é revelado de forma mais profunda a pessoa de Cristo.
O contato de Jesus com os enfermos serve para demonstrar a compaixão de Jesus e a sua
autoridade. Ele tem um caráter didático uma vez que antecede o envio e capacitação dos discípulos
para anunciar o Reino e realizar todo tipo de milagre.
Finalmente, o diálogo de Jesus com diversos tipos de pessoas ainda que frequentemente de
forma confrontadora, serve para revelar a identidade de Jesus e os propósitos de seu reino.

4. Aplicação à evangelização contemporânea

Diante dessa análise, podemos perguntar de que forma esses diálogos apontam caminhos
para a ação da igreja na atualidade? Como esses diálogos instruem a igreja contemporânea a
cumprir a sua missão de evangelização? É possível tirarmos alguma lição desses diálogos a qual
sirva de orientação para a igreja contemporânea?
Evidentemente, a realidade cultural e histórica da atualidade é bem distinta da de Jesus. Não
se pode desejar reproduzir as mesmas formas didáticas da antiguidade numa sociedade moderna que
possui outros instrumentos de comunicação e de relações. Nem tudo que corresponde a um eficiente
instrumento de comunicação da antiguidade será igualmente eficaz na comunicação do evangelho
hoje. Por outro lado, ainda que não devamos reproduzir as formas antigas, há valores relacionais nas
formas de Jesus ensinar e agir que poderão ser ainda válidos para a igreja contemporânea.
Proponho pelo menos quatro lições que podemos aprender com os diálogos de Jesus.
4.1 Evangelização dialógica

Apesar de vivermos em época que os meios modernos de comunicação possibilitam


interação constante e veloz de seus interlocutores, isso não significa necessariamente que haja
diálogo proveitoso entre as pessoas muito menos que a troca de experiências, informações e
discursos resultem em transformações e aproximações das pessoas umas das outras.
No contexto eclesiástico, em particular, a comunicação tende a ser essencialmente
monológica e em massa. Se pensarmos no culto público e na pregação como a principal forma de
comunicação na igreja, e das pregações por rádio e televisão como meios utilizados pela igreja para
a evangelização, vemos que há pouco dialoga na comunicação contemporânea do evangelho.
Mesmo que as igrejas que adotem modelos de grupos familiares e células que visem criar um
ambiente para interação, troca de experiências e crescimento pessoal, frequentemente, esses
métodos acabam se tornando outra abordagem unilateral de expansão da igreja, sem a sensibilidade
às necessidades, indagações e anseios particulares. Muitas vezes, as células cumprem uma agenda
pré-estabelecida de crescimento em que a finalidade principal é a multiplicação das células e não o
pastoreio, discipulado e mentoria de pessoas que estão no seu processo de conhecer o evangelho,
amadurecer na fé e conhecer a missão de Jesus.
Por meio dos diálogos, Jesus ensinou, revelou sua identidade, demonstrou compaixão,
repreendeu, contestou práticas difusas, e preparou e capacitou os discípulos. Esse caráter dialógico
da proclamação e do ensino de Jesus serve de lição para as abordagens contemporâneas de
comunicação do evangelho. Mesmo que Jesus tenha se comunicado às multidões, foi por meio dos
diálogos que Jesus se comunicou particularmente com pessoas que o procuravam. Os diálogos
revelam não só o conteúdo da mensagem de Jesus, mas a sensibilidade ao anseio do interlocutor.
Uma evangelização dialógica é particularizada. Ela se volta ao indivíduo e busca atender ao
anseio particular. A igreja tende a encarar a evangelização na forma da promoção de um produto.
Oferece-se o produto e as condições de se adquiri-lo, e os interessados são instados a aproveitar
aquela oportunidade. Frequentemente, estamos mais dispostos a gastar quantidade vultosa de
recursos para promover uma campanha evangelística, mas não temos a mesma disposição para uma
evangelização que envolva a conversa, o diálogo, ouvir a pessoa e orientá-la nos ensinamentos do
Reino.

4.2 Evangelização vivencial

Os diálogos de Jesus se davam ao longo do caminho, na saída da sinagoga, depois de ensinar


uma multidão, dentro de uma casa, na cidade, no campo, enfim, em diversas circunstâncias e
momentos. Eles acontecem menos em situações formais do que informais. O ensino formal de Jesus
está ligado aos discursos ou, em alguns casos, quando reunia os discípulos para instruí-los. Boa
parte dos diálogos se dá na informalidade e, particularmente, em situações de vivências íntimas e
existenciais. Foram em momentos de conflitos especiais com enfermidade, morte e opressão que
Jesus trava alguns desses diálogos.
Ainda que a evangelização formal tenha os seus benefícios, a igreja não deve perder de vista
a eficácia de uma evangelização do cotidiano. Isso significa que a evangelização não é reduzida a
um programa, mas a uma vivência. Significa também que a evangelização consiste em levar a
mensagem de arrependimento e fé do Reino às pessoas nas diversas experiências em que estão
vivendo.
A evangelização vivencial também possibilita a demonstração de compaixão, pois alcança o
indivíduo na sua situação de vida. Portanto, significa comunicar o evangelho em atos de compaixão
diante de alguém que sofre.

4.3 Evangelização contextualizada à realidade de grupos específicos


Provavelmente um dos aspectos mais marcantes desses diálogos, consequentemente uma das
lições mais proveitosas, é a sensibilidade de Jesus à realidade de seus ouvintes. A sua comunicação
e o conteúdo da mensagem se dá de forma direcionada ao grupo específico.
Desse modo, o diálogo de Jesus com os religiosos tem um caráter próprio de condenar uma
religiosidade dissimulada, opressora e que marginaliza as pessoas. O diálogo com os discípulos
enfatiza o preparo deles, a explicação dos ensinamentos do Reino, a correção e o envio para fazer
discípulos. Com os enfermos, Jesus vem ao encontro de seus anseios e os cura. Aos diversos outros
indivíduos, Jesus atende à necessidade, contesta alegações falsas e revela sua identidade.
Esse conceito tem sido frequentemente interpretado nos métodos evangelístico da atualidade
no sentido de definição de um público alvo. De acordo com essa compreensão, a igreja não deve
apenas desejar alcançar os perdidos, mas definir o seu público e trabalhar em busca desse grupo em
particular. Naturalmente isso implica também na exclusão de pessoas que não se enquadrem dentro
do grupo alvo pré-estabelecido. Ainda que isso traga resultados para o crescimento da igreja e
possibilite desenvolver uma igreja homogênea, a evangelização integral e contextualizada não
requer necessariamente a aplicação desse tipo de abordagem. Pelo contrário, a evangelização
contextualizada reúne pessoas das mais variadas realidades e situações, gerando assim um grupo
heterogêneo de pessoas. Esse sempre será o caminho mais difícil e desafiador, pois exigirá
transposição de muitas barreiras. Entretanto, a começar do próprio grupo de discípulos de Jesus,
percebe-se que uma marca da comunidade do Reino de Cristo é a diversidade e heterogeneidade.

4.4 Evangelização como proclamação do Reino, não de expansão de projetos eclesiásticos

O contraste claro entre a maneira como Jesus se comunicava com os discípulos e como se
comunicava com os religiosos evidencia uma nítida distinção do propósito dele. Aparentemente,
Jesus não tem muita tolerância para com a religião institucionalizada. Ele quase nunca se dirige a
esse público, pelo contrário, sempre são os religiosos que o interrompia. Isso sugere que a princípio
Jesus não tinha um projeto para a religião institucionalizada. No entanto, Jesus ensinava valores, fé,
arrependimento, esperança e confiança em Deus.
Não faltam na atualidade grandes projetos evangelísticos, estruturas organizadas e recursos
altíssimos para a expansão de uma organização, uma igreja local ou uma denominação. Essa forma
de evangelizar provavelmente tem muito pouco a ver com a mensagem do evangelho do Reino de
Jesus. Pelo contrário, em geral, está voltada à manutenção de uma instituição e de um sistema
religioso que cria dependência das pessoas em seus líderes e organizações. A evangelização que
proclama o Reino e transforma a realidade se dá em nível pessoal e tem como principal objetivo o
próprio Reino e não a organização eclesiástica.
É difícil para a realidade eclesiástica contemporânea não confundir a evangelização com a
promoção de projetos eclesiásticos. A proclamação da boa nova do Reino por meio dos diálogos
está completamente alheia a um projeto institucional. O Reino acontece quando as pessoas passam a
viver os ensinamentos de Cristo e a proclamar a sua vinda. Portanto, não é tarefa da igreja e sim do
Cristo da igreja.

Conclusão
Há várias maneiras de se construir biblicamente uma teologia da evangelização. Neste artigo
procuramos nos diálogos de Jesus o caminho para resgatar os conceitos bíblicos da evangelização.
Os diálogos refletem o encontro de Jesus com diferentes indivíduos e grupos. Por meio desses
diálogos verificamos as diversas abordagens de comunicação de Jesus e procuramos extrair alguns
princípios relevantes e aplicáveis à evangelização contemporânea.
As relações pessoais na atualidade são de certo modo ambivalentes. Ao mesmo tempo em que
as pessoas já não estão dispostas a simplesmente receber e seguir instruções, pelo contrário, querem
cada vez mais participar de processo de construção de um ideal, por outro lado, o pragmatismo
exacerbado de resultados fáceis e simplistas, a falta de interesse pelo esforço mental e físico, e uma
considerável dose de anti-intelectualismo têm levado as pessoas à passividade e acomodação,
preferindo às vezes aceitar um discurso pronto a desenvolver um senso crítico. Diante disso, a igreja
tem historicamente preferido o caminho do pragmatismo, e a evangelização é talvez onde se
percebe mais claramente esse pragmatismo. Em busca de resultados financeiros e numéricos, a
evangelização é empregada como meio de fidelizar clientes a uma proposta ministerial particular. A
igreja então passa a ocupar aquele lugar que os religiosos no tempo de Jesus ocupavam. Por outro
lado, os seguidores de Jesus, os discípulos, que também valorizam a vida em comunidade, são os
que buscam viver os ensinamentos do mestre e estabelecer uma comunidade transformadora.
Por conta disso, a evangelização não pode ser compreendida de forma simplista. Pelo
contrário, anunciar a boa nova do Reino é o caminho difícil e desafiador. É o caminho que levou
Jesus à cruz e os discípulos ao sofrimento, mas é também o caminho que leva à restauração do
indivíduo com Deus e a sua nova identidade como membro do Reino de Deus ou corpo de Cristo.

Referência bibliográfica

BERGER, K. As formas literárias do Novo Testamento. Biblica Loyola, 23. São Paulo: Edições
Loyola, 1998.
JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 1984.
McKNIGHT, E. V. What is form criticism? Philadelphia: Fortress Press, 1969.
WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. S. Leopoldo: Sinodal, 1998.

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