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SÃO BENEDITO

"o santo preto"

Ascânio Brandão

4.ª edição

EDITORA SANTUÁRIO
Aparecida - SP
1979
Com aprovação eclesiástica.

Foto da capa: Imagem de São Benedito - de madeira, datada de


1895 - da Igreja Matriz de São José do Barreiro-SP.

Todos os direitos reservados à


EDITORA SANTUÁRIO
Rua Pe. Claro Monteiro, 342
Apa_recida-SP.
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APRESENTAÇÃO

Em 1954, Monsenhor Ascânio Brandão publi-


cou a terceira edição da vida de São Benedito.
Hoje, com a devida licença dos herdeiros do
autor, publicamos a quarta edição, adaptada
por nós. Sabemos que muitas outras edições
surgirão e os objetivos nossos serão sempre os
mesmos do autor. Iniciamos apresentando a
explicaçã_o que Mons. Ascânio dava em 1954 e
esperamos que lá do céu, junto de São Bene-
dito, ele continue olhando por nós. Fala Mons.
Ascânio:
"Já se foram duas edições do meu livro: "São
Benedito de S. Filadélfio". Esgotaram-se. O
povo reclama uma biografia do Santo Tauma-
turgo, e me vejo obrigado a lançar esta nova
sob o título: "São Benedito, o santo preto".
Como na outra, servi-me dos preciosos docu-
mentos, da melhor biografia do santo publi-
cada por ocasião do centenário da canoniza-
ção: "Vita di S. Benedetto di San Fratello", de
Nicolisi.
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Acrescentei alguma coisa nova aos capítulos da
obra já publicada há alguns anos. A devoção a
São Benedito em nenhum país do mundo é tão
grande e fervorosa como no Brasil. Nem na
Itália (a Sicília) pátria do grande taumaturgo.
Ainda era Beato, não havia subido às honras
dos altares com a canonização, e já São Bene-
dito possuía igrejas e confrarias em nosso país.
Uma das irmandades mais antigas do mundo
em honra de São Benedito foi a da Bahia. De
Portugal veio-nos esta devoção providencial e
admirável.
Está hoje enraigada no coração de nossa gente.
Do norte ao sul desta terra de Santa Cruz, São
Benedito é querido e invocado com fervor sin-
gular.
Nossas tradições, nosso folclore, nossas canti-
gas e lendas, trazem o nome do santo preto. É
verdade: há por aí muita superstição e crendice
falsa em torno da devoção a São Benedito.
Todavia, há de se desaconselhar o bom uso
porque hâ abusos? A quantas almas esta devo-
ção não salvou! A quantos pecadores já não
converteu! O que há é uma ignorância bem
grande em torno do santo querido. Muita de-
voção, mas a superstição também pode
prejudicá-la muitas vezes!
Esta vida de São Benedito pode esclarecer a
muitos e levá-los à imitação de tanta virtude e a
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uma piedade mais convicta e verdadeira, mais
esclarecida e sem qualquer superstição. Eis a
finalidade deste livrinho.
Que São Benedito o leve, pois, aos seus devo-
tos e os estimule na virtude".

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I
NO LAR
o santo preto

Diz o Ofício litúrgico de São Benedito, do


próprio da Ordem Franciscana: "Benedictus
ob corporis nigridinem, sanctus niger appe-
latus" - Benedito que, pela sua cor preta, foi
chamado o santo preto. A família de Benedito
era descendente da África. Oriundos da Etió-
pia, os avós do santo eram tipos legítimos do
africano daquela região. Benedito nasceu
com aquela cor dos nascidos na África.
Houve época em que se quis atribuir a ele
uma cor morena, quase branca. Mas o fato é
que Benedito era mesmo de raça africana.
Pretos foram também Santo Elesbão e Santa
Efigênia, e muita glória deram ao Senhor e à
Igreja. E a Igreja nos ensina não olhar nem
para a cor nem para a posição social.
A vida maravilhosa e edificante de nosso
glorioso São Benedito é uma prova de que
Nosso Senhor é rico de sua graça aos peque-
ninos e humildes, aos de coração puro. Para a
santidade não contam as riquezas, honras, g
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posições, idades e muito menos a cor. Bene-
dito, preto, filho de escravos, pobre, é o santo
venerado por todo o nosso Brasil.
Deus exalta os pequeninos!

pais cristãos

Humilde, a mais humilde possível, foi a ori-


gem do santo. Era filho de Cristóvão Manas-
seri e Diana Larcan, descendentes de escra-
vos trazidos da Etiópia para a Sicília. O pai
fora escravo de um rico senhor: Vicente Ma-
nasseri, e dele recebera o sobrenome. Diana
Arcan (ou Larcan), embora nascida de escra-
vos, foi libertada por um cavalheiro da Casa
de Lanza. (Alguns historiadores dizem que
Lanza é o mesmo que Larcan). E como os
escravos tomavam o nome do seu senhor,
veio a chamar-se Diana Larcan (ou de Lanza).
Unidos pelos laços do matrimônio, Cristó-
vão Manasseri e Diana Larcan viviam como
bons cristãos, fiéis à lei do Senhor e humildes
numa vida de oração e trabalho. No processo
de beatificação de São Benedito, lê-se que
sua mãe era "doce e pacífica, de maneiras
graciosas e amáveis, modesta, devota fervo-
rosa do Santíssimo Sacramento e, sobretudo,
10 extremamente caridosa para com os pobres".
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Cristóvão também era de vida fervorosa.
Vivia para Deus, a família e o trabalho. Dia-
riamente rezava o rosário e o ensinava aos
que trabalhavam com ele. Comungava
sempre que podia. Mereceu a confiança dos
patrões pela honestidade e retidão que oca-
racterizavam no trabalho. Como o patrão lhe
permitia dispor de alguns bens, dava-os ge-
nerosamente aos pobres. Com que santa ale-
gria, ele podia assim socorrer aos pobres e
infelizes!
Os invejosos da situação de Cristóvão,
vendo-o sempre querido dos patrões,
caluniaram-no, acusando-o de roubo e afir-
mando que, com o pretexto de esmolas, des-
falcava os bens da fazenda. E, de um dia para
outro, o honesto feitor se viu deposto de sua
função, de uma maneira vergonhosa e humi-
lhante.
Mas a justiça de Deus não falha. Os negó-
cios de Manasseri se complicavam. As terras
já não produziam como antes. Morriam os
animais no campo. Pragas e doenças iam le-
vando à ruína as plantações e os animais.
O injusto patrão logo percebeu a causa.
Reconheceu a injustiça feita e viu que, longe
de prejudicar a fazenda, a esmola a enchia de
bênçãos e de fartura. Mandou chamar Cristó-
vão e o reintegrou no ofício, com mais poder e 11
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autoridade que antes. E tomou outras atitu-
des ainda. Deu ao escravo piedoso e fiel toda
liberdade para socorrer a quantos pobres
viessem ali bater à procura de um abrigo ou
de pão. Cristóvão sentia-se feliz. Agora, não
havia um infeliz que nele não encontrasse um
pai carinhoso e bom. Deu muita esmola, e os
bens de Manasseri se multiplicaram. Deus
abençoa a quem socorre aos pobres.

o primogênito

Eram tão puras aquelas duas almas dos


pais de São Benedito que, logo após o matri-
mônio, resolveram fazer, de comum acordo,
um voto de castidade e viver ambos na peni-
tência, no trabalho e na oração.
Manasseri aconselhou-os ter filhos e
prometeu-lhes a liberdade. Resolveram se-
guir o conselho do patrão. E pelo ano de 1524,
Diana Larcan dava à luz o seu primeiro filho.
No batismo, o padrinho foi um parente de
Manasseri. Deram-lhe o nome de Benedito.
Era realmente o fruto de uma bênção especial
de Deus. E o nome era um presságio de muita
santidade.
Benedito! Bendito!
12 Abençoado!
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Benedito nasceu livre quanto à condição, e
livre também, redimido pelo Sangue de Jesus
Cristo.
O pequerrucho impressionava a todos, pois
era preto, mas os traços de seu rosto eram
delicados e finos, e nele havia uma ternura
muito grande. Diziam: "Negro, mas for-
moso!"

formação cristã

Diana, virtuosa e santa mãe de Benedito, foi


o anjo da guarda que o soube educar no ca-
minho da santidade. A filha de escravos era
rica da graça de Deus e soube transmitir ao
filhinho ·uma virtude nada comum. Desde a
mais tenra idade, os pais lhe ensinaram a reci-
tar, de joelhos, o Pai Nosso e a Ave-Maria. Foi
aprendendo os rudimentos da fé e sempre se
mostrou recolhido, educado e humilde.

Todos admiravam seus modos delicados, o


trato afável e distinto que mais parecia de
gente fina que de pobre filho de escravos.

Dele podia-se repetir o que se disse de


Cristo: "Crescia em sabedoria, idade e graça
diante de Deus e dos homens". 13
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família abençoada

Nada exerce maior influência na educação


dos filhos como o exemplo dos pais. O bom
Cristóvão e Diana, repartindo o tempo entre a
oração, o trabalho e a educação de seu filho,
viviam santamente. Benedito ia à igreja le-
vado pelas mãos paternas. A mãe I he ensi-
nava a respeitar a casa de Deus, a participar
com devoção da santa Missa, e acompanhar
as devoções da paróquia. As devoções predi-
letas da família eram a Eucaristia e Nossa
Senhora. Diana e Cristóvão comungavam
com muita freqüência e procuravam transmi-
tir ao filho os ensinamentos fundamentais.
A fidelidade à oração e a piedade dos pais
causavam profunda impressão naquela alma
infantil. As mortificações e obras piedosas
propostas pela Igreja eram rigorosamente
observadas na família. Na Quaresma, pratica-
vam a penitência. E Benedito, ainda menino,
na medida do possível, acompanhava seus
pais na vida de oração e austeridade.
Cristóvão e Diana tiveram outros filhos, um
homem e duas mulheres: Marcos, Baldassara
e Fradella. Fradella casou-se com um tal An-
tonio Nastasi, escravo de Vicente Nastasi e
14 entre os filhos teve uma menina chamada Vio-
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lante, que se tornou religiosa da Ordem Ter-
ceira Regular de São Francisco, tendo rece-
bido, mais tarde, o hábito das mãos de seu tio,
São Benedito. Chamou-se Soror Benedita.
Viveu setenta anos em orações e penitência.
Morreu em Palermo, com fama de santidade e
ainda em vida afirmaram al_gumas testemu-
nhas que operou muitos milagres. Quanto à
vida de Soror Benedita, não se possui uma
biografia completa.
Família abençoada de pais e filhos virtuo-
sos!

15
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Imagem de São Benedito -de madeira, datada de 1892-da Igreja de Santa Cruz e São Benedito de São
Bento do Sapuca/-SP.

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li
DE PASTOR A EREMITA
entre o rebanho e a terra

O ofício de pastorear rebanhos parece des-


tinado a fornecer à Igreja muitos santos:
Santa Genoveva, Joana D'Arc, São Pascoal
Baylão, Santa Bernadete ... Também o nosso
santo foi pastor de ovelhas. Quando criança
ainda, recebeu a função de guardar os reba-.
nhos de Manasseri. Foi bem fiel ao dever. E l
enquantq as ovelhas pastavam, Benedito re- :,. .
zava o rosário, com o pensamento voltado
para Deus. Lição que aprendera de seu pai!
Mais tarde recebeu um trabalho mais duro,
que era o de cultivar a terra, tendo sobre si o
sol e as fadigas do campo.
Quando pastor de ovelhas, Benedito pro-
curava os lugares mais tranqüilos das monta-
nhas, e enquanto oferecia a seu rebanho boa
pastagem e boa água, encontrava tempo
também para a meditação, no contato direto
com a natureza. Já no trabalho de cultivar a
terra era menor o tempo disponível e mais
difícil o tempo para a meditação. 17
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Enquanto os outros, em tempo livre, iam
repousar, Benedito se retirava para alguma
gruta e se colocava em oração.
Uma vez, com grande edificação, o encon-
traram de joelhos, rezando. Daí por diante, os
companheiros o respeitaram e nunca mais
ridicularizaram sua piedade e seu espírito de
recolhimento, como sempre o faziam.
O exemplo de Benedito foi muito útil àquela
região que se enriqueceu com sua piedade,
disciplina e amor ao trabalho.
Aos dezoito anos de idade, Benedito sentiu
o desejo de se consagrar total mente a Deus. A
vida no mundo não o atraía. Nessa época,
com muita economia, conseguiu comprar
dois bois para, com eles no arado, cultivar a
terra e ganhar alguma coisa para ajudar sua
família e também socorrer os pobres. E a esse
ideal se dedicou até a idade de vinte e um
anos.

a profecia de um missionário
A uns dez quilômetros de São Fratello, vivia
um eremita célebre pela santidade de vida e
prodígios que dele se contavam. Chamava-se
18 Frei Jerônimo Lanza. Era natural de São Mar-
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cos. Quando moço, rico, e de nobre família,
abandonou o mundo e entrou na Ordem
Franciscana dos Padres da Observância. De-
sejoso, porém, de uma vida mais austera e
solitária, com alguns companheiros fugiu do
mundo recolhendo-se na solidão, num eremi-
tério de Santa Domenica, na região de Caro-
nia, a poucos quilômetros de São Fratello.
O Papa, que naépocaeraJúlio 111, autorizou
aos novos eremitas professarem a Regra
Seráfica de São Francisco com bastante ri-
gor, sem qualquer mitigação. E ainda aos três
votos de pobreza, castidade e obediência,
acrescentaram um outro, o voto de vida qua-
resmal. Por este voto se obrigavam a jejuar
três vezes por semana. Numa de suas viagens
apostólicas, Frei Jerônimo Lanza ficou co-
nhecendo Benedito.
Benedito, certo dia, cansado, sentou-se à
sombra para descansar com alguns compa-
nheiros. Como sempre, os que passavam co-
meçaram a ridicularizá-lo pela cor. E riam-se
às gargalhadas do pobre negrinho. Benedito,
humilde e paciente, calava-se por amor a
Deus. Frei Jerônimo, cuja fama de santidade
se espalhava por toda Itália, passou por perto
e foi testemunha das humilhações sofridas
pelo humilde, pobre e santo pretinho. Re- 19·
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preendeu severamente a todos e disse em
tom profético:
- "Ah! Hoje, vocês fazem caçoada e ridicu-
larizam este pobre negrinho; mas daqui a
poucos anos verão a sua fama se espalhar por
todo o mundo!" E voltando-se para o patrão
de Benedito disse:
- "Eu lhe recomendo muito este moço,
pois logo virá para minha ordem e se tornará
um santo religioso!"
Benedito alegrou-se sentindo a voz de
Deus que o chamava para a solidão, pela voz
de um homem. Desde aquele dia, redobrou
suas orações e penitências, pedindo ao Se-
nhor que o mais depressa possível realizasse
a vontade do Pai.
Alguns dias depois, Frei Jerônimo voltou a
se encontrar com Benedito que arava o
campo e lhe disse:
- "O que você está fazendo aqui, Bene-
dito? Vamos! Venda estes bois e venha co-
migo!"
O santo não duvidou. A vontade de Deus se
manifestava clara. Vendeu o que possuía. E
os pais, apesar da pobreza em que viviam e a
falta que o filho iria fazer em casa, não se
opuseram à vocação de Benedito. Ao
contrário. Sentiram-se honrados por Deus
20 escolher um membro daquela humilde famí-
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lia de escravos para as honras do serviço de
Deus na Vida Religiosa. Benedito, comovido
e entre lágrimas de seus familiares, deixou a
casa paterna e foi para a Vida Religiosa.
A alegria foi muito grande entre os Irmãos
Eremitas de São Francisco, ao receberem em
seu meio o piedoso filho de escravos, já bem
conhecido pelo seu fervor e grande virtude.
Mais feliz sentiu-se Benedito em poder
entregar-se à oração e à penitência, sem que
o mundo lhe impedisse ou dificultasse sua
vida.

o chamado do senhor

Como São Francisco de Assis, seu pai espi-


ritual, o pobrezinho filho de escravos sentiu o
chamado do Senhor para uma vida mais per-
feita: "Vá, venda o que tem, dê aos pobres e
siga-me"
Ao ouvir a voz do Senhor no seu coração,
Benedito, fiel em corresponder à graça, não
hesitou. A vida de penitência, de oração e de
trabalho que levava era grande e edificante.
Faltavam-lhe, porém, a total solidão e o desa-
pego absoluto dos laços terrenos. Quis deixar
tudo, absolutamente tudo, para servir a Deus
e a mais ninguém. 21
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Vendeu os bois, o arado, e partiu. Foi servir
ao mais rico e poderoso Senhor, o que me-
rece todo o amor das criaturas. Iria caminhar
a passos de gigante no caminho da perfeição.

a vida de eremita
A vida dos Irmãos Eremitas Franciscanos
era bem austera. E uniam a extrema solidão à
extrema pobreza. Sustentavam-se com um
pouco de pão que mendigavam nas aldeias
vizinhas, e com algumas ervas, água e nada
mais.
A habitação era paupérrima, estreita e sem
conforto. Vestiam-se de pano simples. As
horas de oração eram longas, de dia e de
noite. E o silêncio, bastante rigoroso.
Benedito foi de uma observância perfeita
na vida de eremita. O fervor de sua vida serviu
de estímulo para os Irmãos mais velhos e a
todos edificou. Frei Jerônimo o considerava
um anjo em carne humana.
Depois de cinco anos em vida tão austera,
com a aprovação do Papa Júlio Ili, Benedito
fez a profissão solene. Estava agora para
22 sempre e oficialmente consagrado a Deus.
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A Regra dos Eremitas de São Francisco já
era de um extremo rigor e exigia heróica vir-
tude. Benedito ia além da simples observân-
cia.
Depois da profissão solene, sentiu grande
desejo de cada vez mais se assemelhar a
Jesus Cristo Crucificado. Alimentava-se ape-
nas uma vez por dia, com um pouco de pão,
ervas e água. Servia-se apenas daquilo que
era estritamente necessário para viver.
Flagelava-se. Dormia no chão duro. No in-
verno rigoroso, passava sem agasalho. Não
dava muito repouso ao pobre corpo, estando
sempre no trabalho mais rude e penoso, pa-
decendo mil incômodos. Que sede de sofri-
mento no: coração de Frei Benedito!
Ouvindo na leitura da vida de São Paulo
Eremita que este santo, por espírito de peni-
tência e pobreza, fizera uma túnica de folhas
~e palmeira, muito incômoda e grosseira,
quis imitá-lo. Preparou também a sua túnica
original, de folhas, e a usou durante quatro
anos. Além dessa veste, usou apenas um ca-
pucho de lã velha, para cobrir a cabeça.
Benedito foi um imitador perfeito da vida de
penitência do glorioso São Francisco de As-
sis, seu pai espiritual. 23
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fugindo das multidões

A fama da santidade de Frei Benedito corria


longe. E alguns enfermos que eram levados
até ele, voltavam curados. Verdadeira multi-
dão ia ver o santo, tocar nele, beijar-lhe as
mãos e ouvir uma palavra de conforto. A soli-
dão do santo estava perturbada!
Com isso, sentiu-se ofendido em sua hu-
mildade e desejou fugir. Não tinha mais
tempo para o recolhimento e oração, pois o
povo estava sempre querendo se aproximar
dele.
Frei Jerônimo, então, resolveu levar seus
frades para mais longe. Nas montanhas, en-
controu um lugar solitário, bem oculto, onde
o silêncio era bem grande e dificilmente seria
perturbado. Chamava-se Mancusa, no territó-
rio de Partinico, junto de Carini, a quinze
quilômetros de Palermo. Ali havia muitas gru-
tas de animais ferozes. Muito lobo selvagem
habitava aquela região. O lugar era temido
pelos viajantes e completamente deserto. Ali,
só por milagre escapariam os monges da
fúria das feras.
Benedito, porém, como São Francisco, an-
dava muito bem na companhia do "irmão
24 lobo" Este o encontrava muitas vezes e ne-
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nhum mal lhe fazia. Agora, sim. Podiam todos
orar e fazer penitência, bem tranqüilos. Be-
nedito podia passar o tempo todo ligado em
Deus, na solidão.
Esta felicidade, porém, pouco durou. O
povo descobriu a nova habitação dos mon-
ges, e multidões novamente se puseram a
caminho do deserto, cheias de coragem. E
Deus, por intermédio de Frei Benedito, ope-
rava milagres. Quanto mais aumentava a
fama do santo, maior era a quantidade de
gente que caminhava em sua procura.
Um dia, Frei Jerônimo resolveu nova mu-
dança, para outro lugar deserto. Ali, porém,
certa vez, com um sinal da cruz, o santo fez
desaparecer miraculosamente um cancro do
peito de uma mulher de Carini. Os prodígios
se multiplicam. As multidões caminham pela,s
montanhas e mais uma vez perturbam a soli-
dão dos monges. Nova mudança. Frei Bene-
dito, ferido em sua modéstia, queria se ver
livre do povo, dos elogios, das manifestações
de apreço, da fama ruidosa de santidade que
o cercava.
Os monges passaram a habitar no Monte
São Pellegrino, a uns cinco quilômetros de
Palermo. A solidão aí seria grande. Foi o local
onde viveu outrora Santa Rosália, de Pa- 25
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lermo. Junto ao morro que traz o nome da
santa, fixaram morada.
Certo dia, um rico senhor, Giovanni La-
cerda, Duque de Medina Celi, então Vice-rei
da Sicília, e sua esposa, tiveram dó daqueles
servos de Deus e, cheios de veneração pelo
santo, mandaram construir uma casa para os
monges e uma boa cisterna para que não
precisassem trazer a água de tão longe e com
tamanho sacrifício.
A história e os documentos pouco falam da
vida de Frei Benedito neste lugar. É certo,
porém, que a vida de penitência e oração que
levava, longe de diminuir, tornou-se mais aus-
tera e observante.
Nas horas vagas, os monges faziam estei-
ras, como os antigos anacoretas. Foi neste
local que, um dia, Frei Jerônimo Lanza veio a
falecer. E com a morte de seu fundador, os
eremitas iam agora tomar novos rumos.

o fim do eremitério
O eremita Frei Benedito estava com trinta e
oito anos de idade, dos quais passara vinte e
um no mundo e dezessete no deserto. O ere-
26 mitério de Frei Jerônimo era um ninho de
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santidade. O Demônio não podia suportar
aquela obra santa.
Alguns eremitas, sob pretexto de zelo, leva-
ram queixas a Roma e obtiveram a dispensa
do quarto voto da vida quaresmal, dizendo
que não convinha uma Ordem nova sob a
Regra de São Francisco.
O Santo Padre Pio IV, então reinante, dese-
jando unificar mais a Ordem Franciscana, or-
denou que os eremitas de Frei Jerônimo se
recolhessem a qualquer dos conventos apro-
vados pela Santa Sé, e os dispensou do
quarto voto. Foi no ano de 1562.
Com que dor iam, agora, deixar aqueles
santos eremitas a solidão querida, e a Regra
austera do seu santo fundador!
Todos obedeceram prontamente ao Papa.
Frei Benedito ficou por um tempo hesitando
na escolha de uma Ordem onde fosse ingres-
sar.

27
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A passagem da irmandade de São Benedito da Igreja de Nossa Senhora
da Boa Morte e Assunção para a nova Igreja de São Benedito -
na forma de uma procissão.
Rio Claro-SP.
Reconstituição histórica feita pelo pintor Bruno de Giusti,
em óleo sobre tela.
Embora a imagem de São Benedito estivesse na Igreja Matriz
de São João Batista, em 1885, quando de sua fundação - na verdade,
a irmandade foi instituída na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção.

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Ili
FRANCISCANO
E COZINHEIRO
como decidir?

Os Capuchinhos, cuja Regra austera muito


se assemelhava à dos eremitas, tiveram apre-
ferência de Frei Benedito. Estava já resolvido
a procurar um dos conventos destes religio-
sos que levavam vida de muito fervor e peni-
tência. Contudo, antes de dar aquele passo,
em meio às incertezas, entrou na Catedral
Metropolitana de Palermo, e foi orar diante dá
imagem de Nossa Senhora, invocada sob o
título de "Madona di Libera lnferni"
- "Quero, ó minha Mãe, conhecer a von-
tade de Deus e segui-la custe o que custar!"
Rezou Frei Benedito com todo o fervor da
alma. E a Virgem Santíssima falou-lhe ao co-
ração: - "Meu filho, é vontade de Deus que
entres na Ordem dos Frades Menores Refor-
mados!"
Estava resolvida a vocação de Frei Bene-
dito. Os Franciscanos tinham um mosteiro na
Sicília e lá, se dizia, havia muita santidade e 31
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observância. Dali mesmo, da catedral, Frei
Benedito partiu para o Convento de Santa
Maria de Jesus, a uns três quilômetros de
Palermo.

em santa maria de jesus

O Superior dos Franciscanos da Sicília era


o Frei Arcângelo de Scieli. Quando viu Frei
Benedito, encheu-se de alegria. A fama do
santo eremita ali era grande. Reuniu toda a
comunidade e recebeu o novo frade que en-
cheria de glória não só aquele humilde con-
vento, mas toda a Igreja de Cristo.
Que rico tesouro de santidade ali chegava!
Frei Benedito, acolhido com tanta honra e
de maneira tão carinhosa, louvou a miseri-
córdia divina, em lágrimas de gratidão. Como
já tinha feito a profissão e votos perpétuos,
continuou a seguir a vida regular da comuni-
dade franciscana.
Frei Benedito, porém, permaneceu ali por
pouco tempo. Foi logo mandado para o con-
vento de Sant'Ana di Giuliana. Era um lugar
de muito silêncio e observância, um dos mos-
teiros mais fervorosos da Ordem, reformado
em 1534.
32 Ali, sentiu-se muito bem e ficou por três
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anos, até que, por ordem dos superiores, vol-
tou novamente ao Convento de Santa Maria
de Jesus, onde permanecerá até a morte. Na-
quele convento, no mais humilde ofício, iam
brilhar para o mundo o poder e a santidade de
Frei Benedito.

cozinheiro

O primeiro ofício de Frei Benedito, logo ao


chegar ao Mosteiro de Santa Maria, foi o de
cozinheiro. Não sabemos se o santo mesmo o
escolheu, por humildade, ou se os Superiores
é que lhe fizeram a indicação, considerada a
sua aptid~o para a arte culinária. Neste ofício
humilde, penoso, mas importante, Frei Bene-
dito juntou a atividade de Marta à contempla-
ção de Maria. Mesmo trabalhando e muito
atarefado, vivia unido a Deus, em oração. Re-
colhido e humilde, não perdia um minuto.
Fez da cozinha um santuário de oração e
fervor.
Nunca perdia ocasião de uma palavra edifi-
cante, um bom conselho aos empregados e
auxiliares do serviço. Sabia assumir o can-
saço em espírito de penitência. Sempre
alegre e cheio de mansidão para com todos. 33
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os prodígios

Começam os prodígios. Um dia, por


exemplo, no Convento de Santa Maria, ia se
realizar o Capítulo Provincial dos Francisca-
nos. Os religiosos que deveriam participar,
vieram de toda parte. Era inverno. Tudo es-
tava coberto de neve e era difícil aos frades
sair para mendigar, como a Regra mandava. E
as provisões do convento eram bem poucas.
Por descuido ou impossibilidade, o Superior
não tomou as providências necessárias para
o Capítulo. Os Superiores já estavam reuni-
dos em Capítulo e não se sabia como arranjar
alimento para tantos frades.
A situação era grave. Que fez o santo cozi-
nheiro? Não se afligiu. Era homem de fé, da fé
capaz de transportar montanhas. Chama o
Irmão: - "Irmão, vamos encher umas vasi-
lhas de água na cozinha!"
- "Água?! Para que tanta água, Frei Bene-
dito? O que precisamos é de carne ou peixe,
ou algum alimento, para a refeição de
amanhã!"
- "Vamos!" - replica o santo. E enche as
vasilhas e cobre-as com tábuas. Depois,
recolhe-se à cela e se põe de joelhos. Passa a
34 noite em orações. Ao amanhecer do dia se-
guinte, vão mexer nas vasilhas de água e eis o
milagre: estavam cheias de peixes graúdos,
gostosos e suficientes para diversas refei-
ções.
O fato ficou conhecido. Eles louvaram ao
Senhor porque Deus, assim, protegia todos e
operava milagres por intermédio do humilde
filho de São Francisco.
No dia seguinte, a carne para a refeição da
manhã chegou quando tudo já estava prepa-
rado. Não havia tempo de cozinhar. Os frades
pedem um pouco de carne.
- "Como?!" - responde o frade. - "Faz
pouco tempo que coloquei no fogo! Em todo
o caso, vou ver!" E eis que a carne estava já
bem temperada, cozida e pronta! E todos dela
comeram.
Um dia da semana, trinta operários presta-
vam serviços gratuitos aos frades, na cons-
trução de um dormitório, no convento. Na sua
pobreza, os frades apenas davam as refeições
aos operários. Um dia, porém, sem avisar
nada, os operários chegam para trabalhar. O
Superior ficou preocupado: - "Não há di-
nheiro nem víveres para tanta gente! Que fa-
remos? Não estava prevenido e nada provi-
denciei!"
Frei Benedito, porém, preparou o almoço
dos frades e dos operários com fartura. E 35
ainda muita coisa ficou na despensa, fato que
só um milagre explica.
Um dia, faltou lenha na cozinha. Frei Bene-
dito dirigiu-se a uma mata do convento. En-
controu uma árvore muito grande, que fora
derrubada por um raio. Dez homens não con-
seguiriam mexê-la do lugar. O santo, tran-
qüilo, colocou a árvore sobre os ombros e a
levou para casa ...
Com estes prodígios, no Convento de
Santa Maria, a fama de santidade de Frei Be-
nedito foi confirmada e se espalhou mais e
mais.

o banquete
preparado pelos anjos
O Arcebispo de Palermo, Dom Diogo
d'Abedo, anualmente se dirigia ao Convento
de Santa Maria para alguns dias de retiro.
Gostava daquele pedaço silencioso e ameno
de sua Arquidiocese, e muito o encantava a
virtude dos frades. Certa vez, resolveu passar
o Natal no Convento. Conhecendo muito bem
a pobreza dos frades, levou consigo uma boa
provisão de alimentos.
Na missa da manhã do dia de Natal, Frei
36 Benedito se aproxima da comunhão com
muito fervor. Após a comunhão, se põe a con-
templar um quadro que ficava ao lado do
altar-mor da capela do mosteiro. Era uma
imagem do Menino Jesus. E contemplando
aquela imagem, permaneceu ali por muito
tempo, esquecendo-se dos deveres da co-
zinha ... Estava para começar o solene Ponti-
fical do meio-dia. O Superior dirigiu-se à co-
zinha. O fogo ainda estava apagado. E nin-
guém na cozinha!
- "Onde está Frei Benedito? Meio-dia! A
missa vai terminar logo! E o almoço para a
comunidade e o arcebispo?!"
Ficaram todos confusos, ao saber que o
fogo nem estava aceso, quase à hora da refei-
ção principal. E o arcebispo presente!...
E Frei Benedito? Ninguém o encontrava no
convento. Até que, enfim, foram encontrá-lo
no coro da igreja, ao lado do altar, a contem-
plar o quadro do Menino Jesus.
- "Frei Benedito, Frei Benedito!" - chama
o frade, preocupado com o almoço.
O santo, como que acordando de um êx-
tase, diz calmo e sorridente:
- "Não se aflija, meu Irmão!" E permane-
ceu calado até terminar a missa. - "Então, só
agora é que vai preparar a refeição?!" - re-
clamavam alguns frades.
E estavam todos revoltados com a preguiça 37
e o descaso do "frade negro". Que vergonha
iria passar o convento! Que desculpas dariam
ao arcebispo?!
O santo cozinheiro, com paciência e do-
çura, ouviu as injúrias que lhe faziam. Calou-
se. Acendeu o fogo e pôs-se de joelhos. E
assim o encontrando novamente, disseram:
- "Este Irmão cozinheiro ainda a rezar?!
Que absurdo! Hoje não se almoçará no con-
vento! Que vergonha para a comunidade
diante do ~rcebispo!
- "Mandem tocar a sineta para o almoço!"
- ordenou Frei Benedito.
Talvez pensando em humilhar o santo, à
hora exata da refeição a campainha foi to-
cada. Iria ser humilhado em pleno refeitório o
cozinheiro preto e rezador, que se esquecia
dos deveres!
Neste ínterim, alguém viu na cozinha dois
moços belos, com aparência de uns dezoito
anos, que acabavam de preparar os últimos
pratos e os deixaram prontos, cheirosos e
apetitosos, para serem servidos.
Em pouco tempo, Frei Benedito e os dois
anjos prepararam miraculosamente um ban-
quete. E o que todos viam, era inacreditável! E
louvaram todos ao Senhor e ao humilde ir-
mão.
38
li ') -~

...

~ ·

Imagem de madeira, tipo roca (para vestir), com resplendor de prata.


Estava na Matriz de São João Batista, em Rio Claro-SP., e deve ter inspirado a fundação da Irmandade,
aos 14 de junho de 1885.
IV
O SUPERIOR LEIGO E
ANALFABETO
superior leigo e analfabeto

Com São Benedito aconteceu um fato tal-


vez inédito nos anais das ordens religiosas.
Apesar de ser leigo, analfabeto, filho de es-
cravos e de cor preta, um dia, tornou-se Supe-
rior do Mosteiro e modelo admirável no go-
verno da comunidade.
A virtude do pobre cozinheiro e os prodí-
gios que fazia, a sabedoria e os dons maravi-
lhosos que nele resplandeciam o tornaram
objeto de muita veneração em todo o con-
vento, e aliás, na Ordem Franciscana. A fama
do irmão ia longe.
Em 1578 reuniu-se o Capítulo Provincial
dos Franciscanos, no Convento de Santa
Maria dos Anjos, em Palermo. Pe. Pedro Ci-
lento, Doutor da Universidade e Visitador da
Província de Vai Mazzara, atendendo ao de-
sejo de muitos religiosos que pediam uma
observância mais exata da Regra Francis-
cana, em virtude da Bula de Clemente VII 41
(Bula "ln Suprema"), separou a Reforma da
Observância, dando à Reforma um superior
na pessoa de Frei Boaventura de Girgenti.
Nesta ocasião, muitos conventos, e entre
eles o de Santa Maria de Jesus, passaram aos
reformados. E nestas circunstâncias todos
foram unânimes em eleger o irmão leigo Frei
Benedito para Superior. Naquele mosteiro,
ninguém encontraram que fosse mais santo e
prudente que o servo de Deus. A notícia se
espalhou logo, trazendo a todos uma grande
alegria. Só o pobre e humilde Frei Benedito
sentiu-se triste, humilhado e abatido. Não
conseguia acreditar no que lhe anunciaram.
Correu para junto do Superior:
- "Pelo amor de Deus, não permita que tal
responsabilidade venha sobre mim, um pobre
negro, ignorante e analfabeto! Piedade de
mim, meu padre!" O Superior não queria
atender ao pedido do Irmão.
- "Padre, veja minha condição humilde!
Sou filho de escravos, de cor negra, igno-
rante. Como dirigir e governar sacerdotes,
homens sábios, mestres e diretores espiri-
tuais? Padre, veja que vergonha será para o
convento e para a ordem, um superior como
eu!"
A humildade do santo, porém, o compro-
42 meteu ainda mais. Estava provada sua vir-
tude. O padre Superior não atendeu às razões
de Frei Benedito:
- "Em nome da santa obediência, declaro
que doravante você será o Superior do con-
vento de Santa Maria de Jesus!"
Só restava ao santo obedecer. Difícil e dura
obediência para sua humildade!

prudência,
energia e bondade
O novo Superior do convento de Santa
Maria quis governar mais pelo exemplo e pela
oração que por qualquer outra virtude. Se já
era de ur:na observância perfeita, agora mais
do que em tempo algum. Executava à letra a
norma do "fazer e ensinar" tão evangélica e
de absoluta necessidade aos que governam.
Era sempre o primeiro a chegar para as ora-
ções, e mal tocava a sineta, já todos o viam em
primeiro lugar onde deveria estar. Não se
considerava dispensado de exercício algum
que a Regra prescrevia. Era de uma obser-
vância pontual, exata e escrupulosa. Não ad-
mitia para si desculpa ou mitigação alguma.
Era a "Regra viva", o ideal do filho de São
Francisco. Edificava a todos com o seu fervor
na oração. 43
Só a presença de Frei Benedito era um es-
tímulo contínuo à prática da virtude. Apesar
de Superior, ia à cozinha, lavava os pratos,
varria a casa, carregava lenha, ia buscar água
na fonte, trabalhava na enxada, na horta e no
jardim, com toda humildade e extrema sim-
plicidade.
Tinha um grande respeito pelos sacerdo-
tes. Ajudava à Missa diariamente e com
grande piedade.
Que prudência no governo do mosteiro! O
Espírito Santo, por certo, o iluminava. Às ve-
zes, precisando fazer alguma observação a
sacerdotes mais velhos, Frei Benedito o fazia
com grande respeito, pois estava se dirigindo
a um ministro do Senhor. Humilhava-se pri-
meiro e dizia: "Meu caríssimo padre, bem re-
conheço em Vossa Reverendíssima a digni-
dade sacerdotal, perdoe-me pelo amor de
Deus, mas devo adverti-lo da falta de obser-
vância de tal ou tal ponto da Regra. O bom
exemplo de um sacerdote aqui é necessário.
Meu padre, queira corrigir-se, pelo amor de
Deus! Perdoe a este pobre Superior, tão igno-
rante e sem competência, esta repreensão,
mas o senhor bem sabe que tenho a tremenda
responsabilidade de meu cargo!"
Bastava uma só advertência do santo Supe-
44 rior! Sua humildade, prudência e bondade
venciam qualquer resistência de orgulho. Era
uma alegria obedecer naquele convento.
A observância da Regra de São Francisco e
o fervor dos religiosos de Santa Maria de Je-
sus, sob a direção de nosso santo, foram
realmente admiráveis. Faziam lembr·ar aque-
les homens de Deus, os solitários da Tebaida
e·do Egito, e o fervor dos primeiros dias da
Ordem, nos tempos de São Francisco: silên-
cio, oração, meditações longas, jejuns e peni-
tências duras! E a santidade do superior era o
ideal que todos desejavam imitar.
Três anos se passaram e, pela regra, deve-
ria haver eleição do novo Superior no con-
vento. Então, os Superiores elegeram Frei
Benedito para um cargo mais elevado, o de
Vigário, à fim de que continuasse a edificar a
todos com sua virtude e prudência.
Os documentos pouco falam do que o
santo fez neste cargo. Temos certeza, porém,
de que continuou a servir de exemplo e de
edificação para todos.

na direção dos noviços


Alguns autores dizem que Frei Benedito foi
Mestre de Noviços. Nicolisi e outros biógra-
fos, porém, dizem que não. Este cargo, na- 45
quele tempo, era exercido apenas por sacer-
dotes. Além disso, os processos de beatifica-
ção e canonização nada dizem sobre o as-
sunto.
Cabia-lhe o dever de ensinar aos noviços e
outros religiosos. Certa vez, trouxeram-lhe a
notícia de uma falta cometida por um noviço e
exageraram o fato. O santo castigou severa-
mente o pobre noviço. Pouco depois ficou
sabendo do exagero, da mentira e da quase
calúnia. Não hesitou um só instante. Caiu de
joelhos aos pés do noviço e lhe pediu perdão
do castigo severo e imerecido que lhe dera
por más informações. Todo o mosteiro se edi-
ficou com a humildade do santo.
Como Vigário, Frei Benedito tinha autori-
dade sobre os Noviços, mas nunca foi Mestre
de Noviços. Estes tinham por Frei Benedito
uma veneração profunda e o consultavam e
ouviam como a um oráculo de santidade e,
em virtude do seu cargo, o santo era obrigado
a zelar pela observância do Noviciado. Entre-
tanto, não foi um Mestre de Noviços, pro-
priamente.
Um tal Francisco Fischetti foi ao convento
de Santa Maria e queria beijar as mãos de Frei
Benedito.
- "Não!" - diz o santo. - "Eu não dou a
46 minha bênção a quem não se confessou
nesta Páscoa!" E o homem, impressionado,
procurou um sacerdote para fazer a Páscoa.
No dia seguinte foi procurar o santo.
- "Agora que já confessou e recebeu a
comunhão, meu amigo, quero lhe dar a minha
bênção!" E o abençoou muito satisfeito.
Toda vez que um noviço transgredia a
Regra, ainda que o fizesse no maior segredo,
Frei Benedito sabia e o repreendia caridosa-
mente.
Três noviços se deixaram levar pela tenta-
ção de abandonar o convento, fugindo. Pelas
três da madrugada, num mês de janeiro, esca-
laram o muro e já estavam na rua, quando Frei
Benedito surge diante deles.
- "M~us filhos, voltem para o convento!
Não se deixem levar pela tentação! Vamos ter
confiança no Senhor, rezar e perseverar!"
Voltaram.
A tentação de novo os perseguiu e cede-
ram. Desta vez, escolheram, muito em se-
gredo, um lugar bem oculto, nos fundos do
mosteiro, por onde fugiriam, sem que nin-
guém os visse nem suspeitasse.
Qual não foi o espanto dos três quando, mal
saem do convento, vêem diante deles Frei
Benedito!
O santo não lhes disse uma palavra áspera,
nem os repreendeu. Com muita paciência 47
falou-lhes das belezas da Vida Religiosa e os
aconselhou paternalmente. E foram, mais
tarde, três ótimos sacerdotes e teólogos de
fama.

48
V
CARISMAS E DONS
MARAVILHOSOS
ciência infusa

Analfabeto e filho de escravos, Frei Bene-


dito, iluminado pelo Espírito Santo, dava li-
ções aos mais ilustres teólogos e mestres do
seu tempo e que a ele recorriam pedindo
ajuda para elucidarem textos das Escrituras e
questões teológicas. Quando falava sobre os
mistérios da fé a seus irmãos de hábito,
fazia-o com grande facilidade e riqueza de
expressão, como um mestre de grande pre-
paro.
Quando Superior, cada manhã, explicava
aos Noviços os salmos e lições do Ofício do
dia.
Tudo isto foi atestado com juramento por
inúmeras testemunhas, nos rigorosos pro-
cessos de beatificação e canonização.
Uma delas foi o Pe. Michele da Girgenti:
- "Bem sei, diz ele, que Frei Benedito não
sabia ler nem escrever e era um ignorante das
ciências humanas. Contudo, fazia sermões e 51
conferências aos frades, e particularmente
aos Noviços, explicando muitas passagens
difíceis da Sagrada Escritura com clareza e
unção"
No processo do servo de Deus, em Pa-
lermo, atestou um sacerdote:
- "Sei que ele era iletrado e ignorante, não
sabia ler nem escrever. Entretanto, eu vi São
Benedito explicar aos Noviços as lições da
Escritura ao lado de muitos sacerdotes e clé-
rigos, e ficamos todos maravilhados com a
sabedoria e ciência do servo de Deus, pelo
qual falava o Espírito Santo"
Teólogos do Conselho do Concílio de
Trento, Mestres da Sagrada Escritura, o Pe.
Paulo da Mazzara e o Pe. Vicente de Messina
ouviram Frei Benedito e saíram convencidos
da ciência divina e sobrenatural do servo de
Deus.
O Pe. Vicente Magis, célebre teólogo domi-
nicano de Palermo, que por humildade, várias
vezes renunciara às dignidades eclesiásticas
e ao arcebispado de Palermo, não podendo,
certa vez, entender uma passagem obscura
da Bíblia, foi ao convento de Santa Maria, a
procura de Frei Benedito. O santo, mal avis-
tou o Pe. Vicente, foi logo dizendo:
- "Padre, não se perturbe por não ter
52 achado explicação para aquele trecho da Es-
critura. Vou explicar-lhe" E assim o fez.
Saindo do convento, o Pe. Vicente falou de-
pois aos frades:
- "Vocês são muito felizes. Está com
vocês um grande santo. Vim aqui para pedir
explicação de um trecho da Escritura e, sem
que falasse qualquer coisa, Frei Benedito já
adivinhou meu pensamento e explicou-me a
passagem difícil".
Fatos assim eram comuns no mosteiro de
Santa Maria. O frade preto e analfabeto dava
lições de grande conhecimento das coisas de
Deus.

penetrando os corações

Uma senhora de Palermo, Joana de Gio-


vanni, foi pedir a Frei Benedito notícias de um
filho que perdera e do qual nada mais sabia.
Foi pedir orações ao santo e este foi lhe di-
zendo logo:
- "Veio aqui pedir notícias do filho per-
dido, não é? Pois vá em paz! Logo receberá
uma boa notícia dele!"
Poucos dias depois o filho daquela senhora
estava de volta, são e salvo.
Uma senhora, Ágata Bianchi, perturbada
por grandes tentações, foi pedir orientações 53
a Frei Benedito. Vendo-a, o Frei foi logo di-
zendo:
- "Tentação! que grande coisa! Só a Mãe
de Deus foi a única criatura que não sofreu
tentações!" Ouvindo isto, no mesmo instante,
aquela senhora sentiu-se tranqüila e uma
grande paz lhe invadiu o coração.
A muitos pecadores o nosso santo desco-
bria o triste estado de alma em que se acha-
vam. E costumava dizer:
- "Amigo, vá se confessar, pois o estado
de sua alma em pecado é triste!" E quanta
gente não se convertia e mudava de vida, a
uma só palavra destas do nosso santo!

contra o feitiço

A mulher de um tal César Russo, cidadão de


Palermo, vivia aflita, pois o marido se embria-
gava freqüentemente, maltratando esposa e
filhos. Além da bebida, esbanjava o dinheiro
com mulheres.
A pobre mulher, aconselhada por outra, foi
atrás de uma feiticeira. E dela recebeu um pó
misterioso, recomendando-lhe que o desse
na bebida ou na comida ao marido. Antes,
porém, de seguir estes conselhos, resolveu ir
54 ao convento de Santa Maria, pedir orienta-
ções a Frei Benedito. Logo que a viu, o frei foi
logo dizendo:
- "Volte, volte, mulher, e leve consigo o
diabo que a acompanha!"
A mulher, assustada, jogou fora o pó da
feiticeira e dirigiu-se, muito arrependida, ao
santo:
- "Agora sim, diz o santo, sorrindo. O
diabo foi lançado fora. Volte para casa e você
encontrará seu marido calmo e delicado.
Daqui para frente, vocês viverão sempre em
paz!"
E assim aconteceu. César Russo tornou-se
outro. Bom, delicado, honesto, trabalhador,
ótimo esposo e pai.

profetiza

Frei Benedito, por um dom especial de


Deus, conheceu e profetizou muitas coisas.
Vamos citar aqui alguns fatos.

Um espanhol, Antônio Vignes, mercador da


Catalunha, residente em Palermo, esperava
um navio carregado de mercadorias, que
chegaria de Barcelona. Quarenta dias se pas-
saram e do navio não recebia notícia alguma.
P,reocupado, pensando em ataque de piratas 55
no mar, foi consultar o santo. Disse-lhe Frei
Benedito:
- "Seu navio chegará aqui são e salvo com
as mercadorias. Tranqüilize-se!"
Passaram-se alguns dias e Antônio Vignes,
certo dia, estava com o Frei na colina onde
está o convento de Santa Maria. Avistam ao
longe uma embarcação. E Frei Benedito diz:
- "Este navio vem da Maiorca. Mas logo
atrás chegará o seu!" Pouco depois chegava
a esperada embarcação que ficara presa num
porto da Sardenha, por causa dos ventos con-
trários.
Antônio Vignes, agradecido, foi levar ao
convento uma grande quantidade de peixes.
Frei Benedito de nada sabia. À hora da refei-
ção, mandou que não tocassem o sino, en-
quanto Vignes não chegasse trazendo peixe
para a comunidade. E pouco depois chega o
mercador trazendo peixes.
Em 1578, Frei Benedito foi à casa de Dom
Vincenzo Platamone, prefeito da cidade de
Palermo. A mulher do prefeito estava à morte,
desenganada pelos médicos, em dores de
parto.
- "Frei Benedito! Minha mulher está muito
doente e eu o vejo aqui como um anjo de
Deus, para salvar minha esposaF' - excla-
56 mou o homem.
- "Tenha confiança! Vamos rezar!" -
disse o santo. E se retirou para a capela:
- "Vou rezar o rosário e, antes que acabe,
sua mulher dará à luz um menino que será,
um dia, um religioso e um santo servo de
Deus!" E assim aconteceu. Passaram-se al-
guns anos. O menino cresceu, formou-se em
direito, e a família, orgulhosa disso, nunca
pensou em vê-lo rei ig ioso e sacerdote.
Quando menos se esperava, porém, o
moço, levado pela graça divina, resolveu dei-
xar o mundo e entrar para a Companhia de
Jesus.
Apesar da grande oposição da família,
tomou o hábito jesuíta, ordenou-se sacerdote
e foi um grande missionário. Dedicou-se de
maneira '.especial ao serviço dos doentes.
Neste seu trabalho de tão grande caridade,
contraiu a peste e veio a falecer com fama de
santidade.
Realizou-se, assim, a profecia de Frei Be-
nedito.

profetizando
a saúde ou a morte
Pessoas doentes ou mesmo parentes e
amigos de doentes dirigiam-se ao santo pe-
dindo a saúde por intermédio dele. Às vezes, 57·
Frei Benedito dizia assim: - "Diga ao doente
que tenha paciência e se conforme com a
vontade de Deus!"
E quando o santo dava esta resposta, po-
diam ter certeza de que o doente não ia se
recuperar, e acabava falecendo.
Outras vezes, dizia o santo:
- "Vai sarar. Deus ajudará!" E aconteciam
curas miraculosas.
A muitas mães, em vésperas de parto, São
Benedito profetizou o destino dos filhos que
iriam nascer. A uma delas disse:
- "Seu filho será um ótimo sacerdote!" E a
profecia se realizou.
Uma senhora, Joana de Aragão, de Pa-
lermo, estava com o marido e um filho doen-
tes.
Pediu que Frei Benedito fosse abençoá-los.
O santo, olhando para o enfermo, disse de-
pois à esposa dele:
- "Não tenha dúvida, ele ficará curado!"
E sobre o menino: "Minha filha, poderá
haver coisa melhor que dar um filho a
Deus?!"
Poucos dias depois, o marido recuperava a
58 saúde e o filho morria.
-
fama universal

Um português da cidade do Porto, com


grandes sacrifícios conseguiu dirigir-se à Si-
cília para visitar o santo pretinho cuja fama se
espalhara por Portugal. Queria ver Frei Bene-
dito e foi direto ao mosteiro. Disse aos fran-
ciscanos:
- "Padres, os senhores não podem imagi-
nar minha felicidade! Em Portugal fala-se
muito do santo que aqui mora, de seus prodí-
gios. Preciso conhecê-lo, encontrar-me com
ele!"
O Superior manda chamar Frei Benedito. O
devoto português se dirige a ele:
- "Meu santo! Ó querido Frei Benedito!
Nada mais quero nesta vida! Basta-me ver o
senhor e estar aqui!" Frei Benedito fez com
que ele se levantasse e conversaram durante
longo tempo. De volta para sua terra, tornou-
se um grande propagador dos prodígios que
se operavam por intermédio de Frei Benedito.
Homens ilustres sentiam-se honrados em
visitar o humilde Frei Benedito, cuja santi-
dade impunha respeito e grande admiração.
O Conde Di Lirta, Vice-rei de Alba, Dom Ludo-
vico Torres, Arcebispo de Monreale e Car-
deal, Monsenhor Baraona, Inquisidor do 59
Reino, eram assíduos freqüentadores do
convento de Santa Maria e amigos íntimos do
santo.
Nicolisi, em sua obra "Vita di San Bene-
detto", escreve:
"Não será uma hipérbole, se afirmarmos
que o conceito de fama de santidade de São
Benedito, quando ainda vivo, foi tão clamo-
roso e universal que raramente se encontra
coisa semelhante em toda a história da
Igreja"

60
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1
VI
"PRODÍGIOS DE MILAGRES"
ressuscita mortos

São Benedito, como seu irmão de hábito,


Santo Antônio de Pádua, foi, no dizer de Pio
XI "um prodígio de milagres e um milagre de
prodígios"
Realmente, o dom dos milagres em vida e
após a morte foi estupendo no humilde fran-
ciscano que Deus quis glorificar na terra para
confundir os orgulhosos e mostrar os prodí-
gios da graça divina num pobre, ignorante e
humilde preto.
Muitos prodígios e milagres se contam de
nosso santo. E foram tantos e tão extraor-
dinários que São Benedito pode ser colocado
entre os mais evidentes santos da Igreja.
Frei Giacomo di Pazza, uma das testemu-
nhas no processo de beatificação de São Be-
nedito, afirmou:
- "Durante um ano estive junto de São
Benedito. Posso garantir que não vi passar
um só dia sem presenciar um milagre, um
prodígio operado por sua intercessão" 63
Na verdade, foi o santo do~ milagres. Cita-
remos aqui alguns, os mais cànhecidos.
Eleonora, esposa de Aurelio Di Ferro,
ilustre cidadão de Palermo, e Eulalia Bema-
nuta, Lucrecia Di Cario e Francesca Di Bea-
trice, um dia, se dirigiram ao convento de
Santa Maria de Jesus, para visitar o santo. Na
volta, próximo ao convento, o carro, puxado
por bons cavalos, tombou e Eleonora caiu
sobre o filhinho de cinco meses que trazia
nos braços. A criança, esmagada, morreu as-
fixiada. Que doloroso espetáculo! A pobre
mãe gritava de dor, abraçada ao corpo inerte
do filho. Os frades foram socorrê-los. Frei
Benedito, comovido, tentou acalmar a mu-
lher:
- "Não chore mais! Não chore assim!"
E a mulher: - "Como não chorar diante de
tal desgraça?!"
Então, o santo, carinhosamente, pega nos
braços o corpinho da criança e, acarici-
ando-o, recita algumas orações. Voltando-
se para a mãe diz:
- "Pode amamentá-lo!"
A mãe aflita, reclama: - "Mas, como? Veja!
Meu filho está morto!" E procura mostrá-lo
inerte a Frei Benedito.
- "Filha, diz o santo com energia, não seja
64 descrente! Amamente seu filho!"
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
E ao gesto da mãe em querer amamentar o
filho, a criança abre os olhos, alegre, sorri-
dente, como se nada tivesse acontecido, e se
alimenta do leite materno!
Em outra ocasião, João Giorgio Russo, um
dos mais famosos Procuradores de Palermo,
foi com a mulher, um filho e alguns parentes,
ao convento de Santa Maria de Jesus. Ao
atravessar 'uma ponte, o carro precipitou-se
violentamente. João Russo, com a criança
nos braços, caiu e o pequenino ficou esma-
gado e morreu. Os frades do mosteiro che-
gam em socorro dos feridos. Frei Benedito,
felizmente, estava junto e pede que lhe entre-
guem o corpinho inerte da criança e diz:
- "Tenham confiança em Nossa Senhora,
a Mãe de Deus! Vamos rezar!"
Ajoelharam-se todos. O santo fez o sinal da
cruz sobre o corpo do menino e lhe abriu os
olhos levantando-lhe as pálpebras. A criança,
como que despertando de um sono, se pôs a
chorar. Ressuscitou miraculosamente.

os cegos vêem!
Frei Benedito estava à porta do convento
em companhia do Irmão Gregório da Licata.
Aproximou-se deles, apoiado a um bastão, um 65
cego, que por uma corda, era guiado por um
cãozinho. Disse o cego:
- "Meu bom Frei Benedito, venho aqui
pedir a minha cura. Tenha pena de mim!"
Como de outras vezes, o santo restituiu a
vista ao cego com algumas orações e o sinal
da cruz.
-"Milagre! Milagre!" -gritamosfradeseo
cego. O povo, mal soube do fato, correu à
portaria do convento. Frei Benedito, confuso,
fugiu e se escondeu na montanha.
E quando lhe falavam de suas curas miracu-
losas e perguntavam por que costumava se
esconder, respondia humildemente:
- "Sou um pobre pecador. Nossa Senhora
é quem cura. Só a ela e a Deus devemos agra-
decer e louvar!"
No processo de beatificação, numerosas
testemunhas atestaram diversos casos de
curas de cegos, operadas pelo santo.
João Russo e duas senhoras acompanha-
ram um cego ao convento de Santa Maria.
São Benedito fez sobre ele uma cruz e rezou.
O cego ficou curado.

ressuscita até um cavalo!


Um pobre, diariamente, levava ao convento
66 de Santa Maria a água e a lenha para os fra-
des. Era o seu ganha-pão. Possuía um cavalo
e nele transportava lenha e água ao convento.
Um dia, o animal precipitou-se num despe-
nhadeiro, caindo morto. O homem, cho-
rando, dirigiu-se ao convento. Pedindo a
Frei Benedito que fosse com ele ao local onde
caíra o animal, dizia:
- "Ressuscite meu cavalo, meu bom Frei
Benedito! Tenha pena de mim que vou ficar
na miséria!"
O santo bondoso foi com o homem e disse
ao lenhador:
-"Não é nada, meu filho! Vamos levantar o
cavalo!"
Descendo onde estava o animal morto, o
santo pegou o cavalo pela crina, fazendo com
que ele se levantasse vivo!

multiplicação de
pães e peixes
Frei Benedito dera ordem ao porteiro do
convento de Santa Maria, Frei Vito do Gir-
genti, que desse esmolas a quem pedisse e
confiasse na Providência.
Um dia, os pobres eram tantos que o pão
não era suficiente nem para os pobres, nem
para os frades. Frei Vito distribuiu alguns 67
pães e já ia mandando os outros pobres em-
bora, quando chegam alguns soldados espa-
nhóis famintos, cansados e pedindo ali-
mento. Queriam ao menos um pedaço de pão.
Que fazer? Soldados, pobres e frades! Onde
achar pão para tanta gente?
Frei Benedito recomendou a Frei Vito que
desse o pão. - "Deus proverá!" O Frade por-
teiro obedeceu. Tomou uma cesta e começoú
a distribuir os poucos pães que ali estavam.
Coisa maravilhosa! A cesta não se esvaziava!
O pão se multiplicava miraculosamente. Co-
meram todos e ainda sobrou um cesto cheio
de pão.
Jesus multiplicara os pães no deserto e or-
denara a pesca milagrosa a seus apóstolos! E
São Benedito até nos milagres foi perfeito
imitador de Cristo.
Estava um homem junto ao rio Oreto pes-
cando, mas nada conseguia. O pescador era
pai de sete filhos e do rio tirava o sustento de
sua família. Passando por ali Frei Benedito, o
pescador pediu-lhe: - "Oh, meu santo!
Tenha compaixão de um pobre pai de família
que não tem o que comer, nem o que dar aos
filhos! Frei Benedito, abençoa minhas redes,
pelo amor de Deus!"
O santo assim o fez. Que pesca maravi-
68 lhosa! As redes se encheram de peixes.
curas maravilhosas
Com algumas preces, um sinal da cruz, o
rosário de Nossa Senhora, uma visita ao San-
tíssimo Sacramento, Frei Benedito, sem ou-
tros remédios, curou milagrosamente cente-
nas de enfermos.
André Stanghetta, com feridas no pescoço,
foi levado à presença do santo.
- "Frei Benedito, por caridade, tenha pena
deste pobre homem!", pediram.
- "Oh! Quem sou eu? Não posso curar
ninguém, sou um pobre pecador!" res-
pondeu-lhes humildemente o Frei.
Insistem. O santo resolve:
- "Vamos rezar diante do altar do Santís-
simo Sacramento e pedir à Mãe de Deus esta
cura!" E assim fizeram durante três dias.
No último dia, André apareceu curado!
Um homem paralítico, e de figura impres-
sionante, recorre ao santo que, com o sinal da
cruz, o faz andar e recuperar a saúde num
instante.
Francisca Fitalia, sofrendo de grave enfer-
midade, recorre a Frei Benedito.
- "Fique tranqüila, minha filha! Volte para
casa e chegará curada!" De fato, já em ca-
minho, sentiu-se curada. E da enorme ferida
só ficou a cicatriz. 69
O santo abençoou o parto de muitas mães,
e muitas vezes predizia o futuro da criança. E
suas profecias se realizavam.
As mães tinham nele uma confiança ex-
traordinária e a ele recorriam pedindo que
abençoasse seus filhos, principalmente em
casos desesperadores.
Um tal Giacomo Baldesi estava muito mal, à
morte. Ouvindo falar nos prodígios do santo,
pede que o levem ao convento de Santa Ma-
ria. Como não era possível, pedem ao Frei que
vá visitar o doente. E, no convento, antes que
o portador do recado dissesse qualquer
coisa, falou Frei Benedito:
- "Você veio aqui a pedido de Giacomo,
não é verdade? Volte e diga a ele que tenha
confiança em Deus e lhe será concedida a
graça que deseja!" No prazo de quatro dias, o
enfermo estava perfeitamente curado e traba-
lhando normalmente.

a glorificação em vida
Quanto mais Frei Benedito se humilhava e
se escondia, mais a glória e os louvores do
povo o perseguiam. "Quem se humilha será
exaltado!11

70 Os milagres, as profecias e a santidade do


humilde pretinho, filho de São Francisco,
conquistaram o coração do povo e levaram a
fama do santo por toda a Itália e a outros
países. A cada milagre que acontecia, mais o
povo acorria à portaria do convento acla-
mando e louvando o santo. Desde os tempos
do eremitério de Santa Domenica e do de-
serto de Eu racléa e de Mancusa, o povo
nunca o deixava sossegado. Beijar-lhe as
mãos era uma honra muito grande. O povo
sentia que dele saía uma virtude que a todos
curava.
Na cidade de Girgenti ia se reunir o Capí-
tulo Provincial da Ordem e Frei Benedito,
como Superior da casa de Santa Maria, preci-
sava estar presente para a votação. O povo
ficou sabendo. A população de Girgenti ficou
a espera do santo. Os sinos repicaram festi-
vamente. "Eis o santo! Eis o santo!" -gritavam
todos. Não era possível conter o povo. Com
tamanha aclamação, muito sofria a humil-
dade de Frei Benedito. E as manifestações
populares tornavam-se cada vez mais co-
muns. Mas o santo procurava sempre se es-
conder.

71'
Palermo - Santa Maria de Jesus - Entrada lateral da Igreja.

,_
VII
O HERÓI DA VIRTUDE
o justo vive da fé

Da fé viveu São Benedito. Abandona o


mundo, a casa paterna, os poucos bens que
possui, e se retira à solidão para servir a Deus.
Em sua vida, nada se viu de menos edificante.
Passou seus sessenta e cinco anos na mais
elevada santidade. É um triunfo da fé! Ele
costumava dizer sempre: - "A fé nos guia,
ilumina, purifica, salva e cura. Enfim, onde ela
falta, falta tudo, absolutamente tudo!"
Quando alguém o procurava, com proble-
mas de fé, aconselhava que fizesse o sinal da
cruz e recitasse o "Creio em Deus Pai" Era
um remédio infalível!
O Pe. Ângelo da Caltagirone menciona que
um mestre de Teologia procurou o santo,
pedindo-lhe orações para vencer as tenta-
ções contra a fé. Diz-lhe Frei Benedito:
- "Padre, o senhor é um teólogo e mestre.
Que necessidade tem de mim, um pobre igno-
rante? Em todo caso, sempre que tiver uma 73
tentação contra a fé, faça o sinal da cruz e
Deus o ajudará!''
Cada um dos enfermos miraculosamente
curados, ouvia o santo dizer sempre, antes da
cura: - "Tenha fé! Muita fé e confiança em
Nossa Senhora! Nosso Senhor há de ouvir o
nosso pedido! Confiança, filho!"
E com um sinal da cruz, uma oração, um
olhar para o céu, uma Ave-Maria ou o rosário
da Virgem, São Benedito operava os maiores
prodígios. Que fé ardente, viva, era a sua!

anjo eucarístico

O mistério eucarístico, mistério da fé, atraía


por demais o santo. Diante da Eucaristia:\
permanecia horas e horas em oração. En-
trando nas igrejas, sentia vivamente a pre-
sençà de Jesus sacramentado. O Pe. Inácio
de Siracusa assim se expressou: "Durante
cinco meses, freqüentei a igreja do convento
de Santa Maria de Jesus e vi muitas vezes o
santo Frei Benedito participar da missa. Per-
manecia ele com tal devoção e piedade, que
chamava a atenção de todos.
Imóvel, olhos fixos no altar, parecia ver com
os olhos do corpo a realidade contida na Eu-
74 caristia, o próprio Jesus".
A oração o deixava imóvel. Quando os fra-
des se levantavam, à meia-noite, para a reci-
tação das Matinas e Laudes, encontravam
Frei Benedito no coro, em êxtase.
Num dia, na festa do "Corpo de Deus", os
frades deveriam comparecer à procissão na
cidade de Palermo. O provincial daquele
tempo, Frei Serafim della Ficarra, ordenou
que Frei Benedito vestisse a túnica de sub-
diácono e carregasse a cruz na procissão.
Obedeceu.
Revestido dos paramentos, o santo tomou
a cruz e se colocou à frente do cortejo. Mal
havia dado os primeiros passos, o amor Di-
vino o arrebatou em êxtase. Fixou os olhos na
cruz, ficou imóvel e foi caminhando como
que suspenso no ar sem mover os pés!
A multidão pôs-se a gritar: "O santo! O
santo!"
O padre provincial lamentou ter ordenado
que Frei Benedito se expusesse ao público
em dia de tanta afluência do povo na cidade.
O atropelo foi tão grande que acharam pru-
dente cortar o trajeto da procissão, para que
logo entrasse na catedral.
Inúmeras testemunhas destas cenas ates-
taram, sob juramento, nos Processos, este
fato extraordinário. 75
esperança e amor

A esperança fazia pulsar o coração do


santo e o sustentava nas lutas e sofrimentos
da vida. Costumava dizer:
- "Tenho esperança de me salvar, não
pelos meus méritos, mas pela misericórdia de
Deus e pela santa paixão e morte de Cristo".
A meditação sobre o céu o colocava em
êxtase. Um dia, cheio de amor, exclamou ao
contemplar um crucifixo:
- "Jesus Cristo padeceu e morreu por mim
também!"
Frei Benedito falava a todos do céu e com
essa esperança consolava os aflitos.
Toda a perfeição está no amor. E o segredo
da santidade de Frei Benedito está no seu
amor a Jesus Cristo. "Tudo por amor a Deus",
era o lema do santo.
No processo apostólico de Palermo, de
1625, afirma o Pe. Michele da Girgenti:
"Quase sempre vi os olhos de Frei Benedito
resplandecentes como duas luzes brilhantes,
quando rezava!"
Certa vez, diz ele, fui chamado por um
Irmão do convento de Santa Maria que me
levou ao coro e me mostrou uma coisa ex-
76 traordinária: Frei Benedito rezava e, em torno
dele, havia uma luz de um esplendor celeste e
de uma beleza sem igual!
Escreveu uma testemunha: "À noite, ao en-
trar no coro para fazer oração, vi num canto
do mesmo uma claridade que me chamou a
atenção. Era noite escura, sem luar nem es-
trelas no céu. Não havia lâmpada, nem vela
acesa. Observei melhor e vi Frei Benedito de
joelhos, rodeado de luzes"
Nos trabalhos e nos sofrimentos, na re-
creação e na oração, em toda parte, Frei Be-
nedito irradiava o amor de Deus que havia
dentro de si.

a pobreza
Ao entrar para a Vida Religiosa, o religioso
faz três votos: pobreza, castidade e obediên-
cia. São Benedito cumpriu os votos de modo
heróico e fiel até à morte.
"Bem-aventurados os pobres de espírito,
disse Jesus, pois deles é o reino dos céus!"
A pobreza foi da predileção de São Fran-
cisco. E toda sua ordem é rigorosa na obser-
vância desta virtude.
São Benedito foi perfeito imitador de seu
pai espiritual. No início, vestia-se de uma tú-
nica de folhas de palmeira. No convento,
usava um hábito velho, remendado e pobre. 77
Descalço e corda à cintura, tornou-se a ima-
gem viva de São Francisco.

No inverno, que era rigoroso, os frades


usavam uma lã grossa e quente. Frei Bene-
dito, sempre com o velho e grosseiro hábito,
descalço, dispensava o agasalho. Nada de
supérfluo trazia consigo.

O quarto em que habitava era estreito e


baixo, e só possuía um saco de palha que lhe
servia de leito, uma estampa de Nossa Se-
nhora e uma cruz traçada em carvão na pa-
rede. A este ambiente, feliz, Frei Benedito
chamava de "palácio"! E no palácio de po-
breza, sentia-se bem.

Frei Benedito nada gastava além do estri-


tamente necessário. Observava o voto de po-
breza com rigor extremo. À noite, andava
pelos dormitórios com uma lanterna. Depois
o viram caminhar sempre às escuras. E inter-
rogado por que assim fazia, respondeu:

- "A pobreza me é querida demais!"


Abandonava-se à Providência Divina.
Nunca pedia nem mesmo o necessário para
viver. Jamais se queixava, nem mesmo na
78 maior penúria.
o sangue dos pobres

Conta-se um grande milagre acontecido


com São Benedito, quando era cozinheiro do
convento de Santa Maria. Com ele na co-
zinha, trabalhavam alguns Irmãos leigos e
clérigos. Estes moços não tinham muito rigor
na observância da pobreza. Desperdiçavam o
pão e não faziam as economias necessárias.
Frei Benedito os advertia, pedindo que não
estragassem os restos de pão. Dizia: - "Não
estraguem os restos do pão! O pão que sobra
é dos pobres! É sangue dos pobres, ouvi-
ram?" Mas não havia meios. Continuavam a
desperdiçar, não dando valor às palavras do
Frei. Um dia, Frei Benedito, cheio de zelo pela
pobreza, tomou uma esponja com a qual se
limpavam os pratos e que estava com miga-
lhas de pão.
- "Venham ver, meus filhos, venham ver se
não é o sangue dos pobres que se desperdiça
nesta cozinha!" - disse Frei Benedito. E, aper-
tando na mão a esponja, todos viram escorrer
muito sangue das migalhas de pão! Os novi-
ços, assustados, se arrependeram. E pediram
perdão a Deus.
Depois da morte de São Benedito, o Inqui-
sidor Apostólico mandou pintar um quadro 79
para representar a pobreza do santo. Aparece
a imagem de São Benedito com a túnica de
palmeir~s e espremendo a esponja da qual sai
sangue: Este quadro foi para a Espanha. Uma
cópia do mesmo se encontra em Portugal, na
capela dos Nery. No processo sobre o culto,
várias testemunhas, em 1715, atestaram ter
visto várias cópias do célebre quadro em vá-
rias igrejas da América.

confiança na providência

Frei Benedito de Giuliana ia a Palermo, a pé,


em companhia de um clérigo, Frei Antonio da
Corleone. Este, depois de muito andar, com
fome, desfaleceu no caminho. Que fazer? A
estrada era deserta e não havia socorro por
ali. O santo resolveu confiar na Providência e
esperar.
- "Confiemos na Providência, diz o santo,
e esperemos!" Mal havia assim pensado,
aproxima-se um moço e lhes entrega um
enorme pão, ainda quente, como se acabasse
de sair do forno. Frei Antonio se alimentou e
levantou-se forte, como se nada tivesse acon-
tecido ...
O pão que sobrou ainda foi distribuído no
80 convento.
Numa outra oportunidade, Frei Benedito
viajava com outros frades. Já haviam cami-
nhado muito quando. cansados, sentaram-se
à beira da estrada. Tinham fome e não sabiam
onde arranjar alimento para a viagem que era
longa. E, neste momento, passa por ali um
homem com um pão e uma garrafa de vinho.
- "Meu amigo, disse-lhe o santo, dê-me o
que traz aí consigo e já lhe restituo!"
E a todos distribuiu o pão e o vinho. Quando
todos já estavam satisfeitos, miraculosa-
mente o santo entregou de volta àquele bom
homem outra mesma quantidade de pão e de
vinho. "Confiemos na Providência de Deus!
dizia o santo. Deus jamais há de nos abando-
nar!"

a obediência
São Benedito gostava muito de repetir ~
seus irmãos que "um religioso nada deve
fazer sem a obediência dos seus Superiores"
Nos Superiores, via sempre a presença de
Deus. A tudo queria obedecer, em seus míni-
mos detalhes.
O Pe. Michele da Girgenti escreveu: "Frei
Benedito de S. Fratello jamais fez alguma
coisa contrária à virtude da obediência. 81
Quando recebia ordens dos Superiores, as
executava com prontidão e alegria. E era tão
rigoroso na obediência que, às vezes, deixava
pessoas importantes na portaria do convento
a esperá-lo, e não aparecia enquanto o Supe-
rior não lhe desse licença"
Os Superiores determinaram que, toda vez
que fosse chamado Frei Benedito, dessem
três badaladas no sino da comunidade. E o
santo, embora às vezes estivesse longe, em
oração ou em serviços do mosteiro, mal soa-
vam as badaladas, abandonava tudo e corria
à voz da obediência.
Às vezes, tocavam o sino por brincadeira.
Frei Benedito aparecia imediatamente.
Riam-se de sua simplicidade. E o santo, hu-
mildemente, respondia: - "Obedeci e
basta-me a obediência. Estou satisfeito"
Dom Lourenço Gallenti, Conde de Ga-
gliano, estava gravemente enfermo em Pa-
lermo. Estava desenganado pelos médicos.
Os parentes procuraram Frei Benedito no
convento de Santa Maria. E o santo pede que
tenham confiança em Deus e na Virgem Ma-
ria. A resposta, porém, não agradou aos inte-
ressados. Foram falar com o Superior de Frei
Benedito: - "Padre, queremos que o senhor
ordene a Frei Benedito que peça a Deus a
82 cura do nosso doente!"
O Superior assim o fez. O santo foi à capela,
ajoelhou-se diante do altar de Nossa Se-
nhora. Em êxtase, Frei Benedito viu Nossa
Senhora descer do altar e ir a uma sepultura.
Ela disse ao santo: - "Benedito, veja Lou-
renço Gallenti morto e ressuscitado!"
Alegre, Frei Benedito dirigiu-se às pessoas
que esperavam por um milagre. - "Meus
amigos, Deus ouviu nossas preces. Dom Lou-
renço está curado!" E, naquele momento, o
enfermo sentiu-se melhor, pediu alimento e
se levantou completamente são. Milagre da
obediência!

anjo de pureza

Frei Benedito era um anjo em carne hu-


mana. Modesto, recolhido, impressionava a
todos. Na presença dele, todos tinham a im-
pressão de estar diante de um anjo.
Em 1652, o povo de Palermo proclamou
São Benedito seu protetor e o chamou de
"templo da virgindade e do Espírito Santo"
Na sacristia da igreja de Santa Maria de
Jesus se conserva um quadro no qual o santo
é representado com um lírio na mão, símbolo
de sua pureza. 83
humildade

Os santos foram grandes mestres da hu-


mildade. Quanto mais o mundo os glorifica,
mais se abatem e se humilham. Frei Benedito
se considerava o maior pecador da terra, e
todos o chamavam de santo. Fugia aos louvo-
res e honrarias como quem foge da peste. A
humildade o fez procurar a solidão, quando
as multidões o procuravam e aclamavam de-
vido aos milagres que realiz_ava. Con-
siderava-se um pobre pecador, um negro
ignorante.
No convento, embora Superior, procurava
os ofícios mais humildes. Lavava os pés dos
peregrinos e enfermos. Preparava as refei-
ções, auxiliava os Irmãos no trabalho mais
grosseiro do campo e do curral.
A admiração do povo lhe era um martírio.
Evitava, quanto possível, sair do convento.
Muitas vezes se escondia na floresta. Não
gostava que lhe beijassem as mãos, como o
faziam freqüentemente. Repetia sempre:
- "Não, não curei ninguém! Foi Nossa Se-
nhora quem ajudou e recorreu a Deus por
nós!"
Certa vez, um moço o insultou chamando-o
84 de "cachorro" O humilde santo calou-se. Os
louvores ou injúrias não lhe alteravam o sem-
blante. Não se vangloriava dos grandes e no-
bres que o procuravam.
Um dia, anunciaram-lhe que a irmã do Papa
Xisto V, D. Carolina, que muito o admirava,
escrevera-lhe uma longa carta pedindo ora-
ções. Frei Benedito respondeu com simplici-
dade: - "Escreva a esta senhora que eu bem
sei o que deseja e pedirei a Deus por ela"
- "Peçam a Deus por mim, para que eu
seja humilde, bem humilde!" - repetia aos
irmãos.
Na cidade de Palermo, havia uma senhora
que tinha muita veneração por Frei Benedito.
O santo aparecia nas ruas e a devota, mal o
via, punha-se a gritar: - "Oh! O santo! Meu
santo!" E beijava o hábito de Frei Benedito. E
a mulher sempre ao lado dele. E sempre ino-
portuna e imprudente. Frei Benedito, con-
tudo, sabia que aquela devoção era falsa. A
mulher trabalhava na feira, vendendo ovos e
legumes. Um dia, o santo aproximou-se dela e
atirou todos os ovos da banca ao chão. A
mulher se viu louca. Avançou contra o santo,
chamando-o de ladrão, bandido, cachorro,
negro. Frei Benedito foi caminhando de volta
para o convento e a mulher, atrás, xingando-o
por todas as ruas de Palermo ... Ao chegar no
convento, Frei Benedito pagou à mulher os 85
ovos quebrados e ficou satisfeito com aquela
ocasião de sofrer um pouco por amor a Jesus
Cristo.

virtudes cardiais
No desenrolar destas páginas, temos no-
tado a presença constante das virtudes da
prudência, justiça, fortaleza e temperança do
nosso santo.
A prudência de São Benedito foi tão grande
que, embora analfabeto e simples Irmão
leigo, mereceu ser eleito Guardião de Santa
Maria. Fato este quase inédito na história da
Ordem Franciscana.
Para as questões mais difíceis, a prudência
sobrenatural de Frei Benedito achava solu-
ção. Teólogos, bispos e governadores o con-
sultavam assiduamente. O Espírito Santo fa-
lava por ele.
A justiça lhe era tão querida que não supor-
tava ver tão importante virtude desprezada.
Quando preciso, castigava o erro sem distin-
ção de pessoa. Não conhecia o respeito hu-
mano, quando se tratava de defesa da ver-
dade e do bem da religião.
Um Irmão de Frei Benedito, chamado Mar-
cos, não se sabe como nem porque, assassi-
86 nou um homem e foi preso. Dom Marcantonio
Colonna, então Vice-rei da Sicília, era um
grande admirador e amigo de Frei Benedito.
Mandou chamá-lo ao palácio. Queria libertar
o irmão do santo e dele esperava apenas uma
palavra, um pedido.
- "Diga ao senhor Vice-rei, responde o
santo com energia, que eu bem sei porque me
chama. Trata-se de salvar o meu irmão. Entre-
tanto, eu não posso e não devo entrar nesta
questão. Que se faça justiça!"
Os frades e amigos de Frei Benedito lhe
rogavam que intercedesse pelo irmão. O Su-
perior do convento o mandou ao Vice-rei.
Obedeceu, mas lá chegando disse: "Senhor
Vice-rei, Marcos é meu irmão e o quero muito
bem, mas venho dizer e repetir que se faça
justiça e só justiça, sem consideração à
minha pessoa!"
Voltando para casa, Frei Benedito foi re-
preendido pelo Superior. E Marcos foi liber-
tado.
A fortaleza do santo aparece bem viva em
suas atitudes sempre fortes, generosas e he-
róicas. E, da temperança, já tratamos quando
escrevemos sobre sua mortificação, sobrie-
dade e domínio sobre a natureza e o seu
corpo. São Benedito é um grande modelo
para o Povo de Deus. Foi um belo templo do
Espírito Santo, durante toda sua vida. 87
um grande penitente

O que se conta do espírito de penitência de


São Benedito é verdadeiramente admirável.
Nunca deu tréguas a seu corpo inocente,
tratando-o como o maior dos inimigos.
Usando a expressão de São Paulo, vivia cruci-
ficado com Jesus Cristo. A Regra austera do
eremitério de Frei Jerônimo .ele a seguia à
risca e ia muito além na penitência e oração.
Vestia-se grosseiramente. Deitava-se no chão
ou na palha. No inverno, andava descalço e
não usava agasalho. Fazia longas caminha-
das a pé. "Para ele, o ano inteiro era um jejum
só", escreve Nicolisi.
Além do tempo normal da Quaresma, Frei
Benedito acrescentava mais sete.
Às sextas-feiras, Frei Benedito jejuava a
pão e água, em memória da Paixão de Cristo.
Às vezes, com licença do Superior, se reti-
rava para a floresta por dois, três e até cinco
dias, sem se saber como se alimentava. Só se
sabe que jejuava e orava.
Dizem que nunca bebeu vinho nem comeu
carne ou ovos. Parecia não ter corpo mortal.
Não admitia comida de luxo. Dele disse o Pe.
Gregório de Palermo: - "Percebi que, toda
noite, Frei Benedito se disciplinava aspera-
mente por longo tempo. Flagelava-se até lhe
correr o sangue inocente pelo corpo. Andava
em carne viva. O hábito do santo andava pe-
gado às feridas do corpo"

espírito de oração
Quando não estava cumprindo algum
dever ou ocupação diária, Frei Benedito
encontrava-se na capela, diante do altar do
Santíssimo Sacramento. A Eucaristia era a
vida de sua vida. Sua principal devoção era
Jesus Sacramentado. A santa Missa, o sacrá-
rio, a Comunhão, eram tudo para ele. Tinha
grande devoção a Nossa Senhora. Costu-
mava dizér: - "Sei que sou pecador, mas
espero me salvar pelos méritos de Jesus e
pela intercessão de Maria, nossa co-
redentora". Convidava todos a recorrer a Ma-
ria: - "Tenhamos fé! Maria Santíssima nos
há de salvar!" - dizia sempre.
Conservava diante da imagem de Maria
uma lâmpada acesa, e com o óleo desta lâm-
pada curava muitos enfermos.
Para a festa da Assunção de Maria,
preparava-se com quarenta dias de jejum.
Recitava sempre o rosário, sua devoção pre-
dileta, e o trazia sempre consigo. Em viagens, 89
pelas estradas, rezava o terço ou repetia a
"Ave-Maria".
Frei Benedito tinha grande devoção para
com São Miguel, São Pedro e São Paulo, e
São Francisco de Assis. Para as festas destes
santos, preparava-se sempre com jejuns e
orações. Grande devoção tinha também para
com Santa Úrsula.
Frei Benedito sabia muito bem se preocu-
par com as coisas deste mundo e viver ao
mesmo tempo unido ao céu.

90
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VIII
MORTE E GLORIFICAÇÃO
duas enfermidades

A hora da recompensa chegara. O "servo


fiel" devia ouvir a boa sentença e atender ao
chamado do Senhor.
Em 1589, em fevereiro, Frei Benedito ficou
gravemente enfermo. O médico do convento,
Gian Domenico Rubiano, homem piedoso,
queria ter a honra de tratar do santo e dizia
que sempre pedia a Deus a graça de estar
presente ·na morte daquele justo. Exami-
nando Frei Benedito, foi logo dizendo: - "O
caso é grave e não há recursos na medicina. E
que tristeza para nós! Vamos perdê-lo em
breve!"
- "Não, doutor. Desta vez eu ainda não
morrerei. Nosso Senhor quer que eu escape
desta enfermidade mas de outra, que terei em
breve, não hei de escapar!"
E sarando desta enfermidade, Frei Bene-
dito levava uma vida normal quando, no dia
4 de março do mesmo ano ae 1589, adoeceu
novamente. Uma febre alta tomou 93
conta dele. E sabiam todos que a profecia se
realizaria. Frei Benedito, porém, sorria, feliz.
Suspirava pela morte.
O Pe. Ambrósio da Pollizzi, então Superior,
visitou Frei Benedito e lhe disse: - "Frei Be-
nedito, que trabalho vamos ter aqui no con-
vento no dia de sua morte, para atender às
multidões que hão de vir para cá!" E São
Benedito respondeu sorridente:
- "Não tenho dúvida, meu padre. No dia de
minha morte, o povo não virá aqui. Ninguém
chegará ao convento. Mas precisam me se-
pultar logo, caso contrário, terão muitos pro-
blemas. Enterrem logo meu corpo, antes que
venha a multidão!"
Logo mais, narraremos como a profecia se
realizou.
Falemos um pouco ainda de sua doença. A
mortificação, a bondade, a oração e obediên-
cia foram as virtudes que o santo mais prati-
cou no leito de morte. Permaneceu um mês
de cama e nunca deu um só gemido de
queixa. Sorria feliz. Não parecia sofrer. Não
interrompeu sua vida de união com Deus e
com a Virgem Santíssima. Rezava muito.
Quando lhe prestavam serviços e lhe
davam remédios, dizia: - "Para que tanta
94 delicadeza para com um corpo miserável?
Para que tanto remédio? Há tanta gente que
sofre por amor a Deus! Deixem-me sofrer
também!"

unção dos enfermos

Frei Benedito sofreu vinte e nove dias se-


guidos. Estava já na véspera de sua partida
para o céu. Seus Irmãos de hábito rodeavam o
leito. O santo, em êxtase, banhado em lágri-
mas, recebeu a Unção dos Enfermos. Como
se fosse o maior pecador do mundo, pediu
perdão a todos.
Um dos frades pres&11tes, vendo o Santo de
olhos fechados e imóvel, e julgando chegar a
hora, acendeu a vela e já ia colocá-la em suas
mãos. - "Meu filho, diz o santo, ainda não
chegou a hora. Quando for a hora, eu aviso!"

visita de santa úrsula

Frei Benedito era devoto fervoroso de


Santa Úrsula. Pouco antes de morrer, o rosto
do santo resplandeceu, de repente. Ele olhou
para o céu.
- "Oh!" - diz ele. "Vejo! Vejo!" 95
E voltando-se para os frades:
- "Ponham em ordem estas cadeiras para
estas jovens!. .. São tantas, tantas, e vieram
me visitar!..."
Frei Paulo, um dos presentes, disse:
- "Meu caríssimo Frei Benedito, vamos
levá-las para uma abadia"
- "Todas?"
- "Sim, todas"
- "Mas nada estamos vendo aqui na en-
fermaria!"
- "Pois não estão vendo Santa Úrsula e
suas Virgens? Elas encheriam o mais vasto
mosteiro", diz o santo ·admirado.
Era uma visita do céu. Frei Benedito tinha o
rosto em esplendor.

morte feliz

Pouco depois, Frei Benedito chamou Frei


Guilherme e lhe disse:
- "Meu irmão, pode acender a vela. É che-
gada a hora!" E com as mãos sobre o peito,
em forma de cruz, exclamou:
- "Jesus! Jesus! Minha Mãe, Maria! Meu
Pai, São Francisco!"
Levantou os olhos para o céu e repetiu as
96 palavras de Jesus na cruz:
- "Pai, em tuas mãos entrego o meu espí-
rito!"
Sorridente, faleceu. Era o dia 4 de abril de
1589, terça-feira de Páscoa, às 19 horas. São
Benedito tinha 65 anos de idade, dos quais
passou 21 no mundo, 17 como eremita e 27 na
Ordem Franciscana.

vou para o céu!


Na mesma hora em que Frei Benedito fale-
cera, Benedita Nastasi, de 1O anos de idade,
sobrinha do santo, estava brincando em sua
casa, quando notou uma pombinha voando
pela casa. Neste momento, ouviu a voz de seu
tio a lhe perguntar:

- "Que deseja de lá, Benedita?"

- "E para onde vai, meu tio?"

- "Vou para o céu!" - responde a voz. E a


pombinha desaparece ...

Impressionados com o fato, os pais de Be-


nedita entraram em contato com outros co-
nhecidos e foram ao convento de Santa Ma-
ria: - Frei Benedito tinha morrido! 97
exéquias

Com grande devoção, saudades e esperan-


ças, os frades de Santa Maria de Jesus trans-
portaram o corpo de Frei Benedito para a
igreja do mosteiro. Cantaram o ofício dos de-
funtos e logo sepultaram o corpo do santo na
sepultura dos Irmãos. O próprio Frei Benedito
manifestara desejo de ser sepultado logo.

morreu o santo!

Frei Benedito profetizara: "No dia de minha


morte, o povo não virá ao mosteiro" Assim
aconteceu. Nos arredores de Palermo, havia
uma igreja do Espírito Santo, onde, na terça-
feira de Páscoa, se fazia uma festa tradicio-
nal. O povo estava lá, na festa. E da morte do
santo, só depois o povo ficou sabendo.
- "Morreu o santo! Morreu o santo mouro!
Morreu Frei Benedito!" - dizia o povo. E a
multidão se reuniu em volta do mosteiro de
Santa Maria.
O povo queria ver o santo e implorava relí-
quias dele. Os frades cortaram algumas ves-
tes do santo em pedacinhos e distribuíram
98 para o povo. Lençóis, colchão, tábuas da
cama e da cela ... tudo foi dividido. Até o há-
bito dos enfermeiros que trataram do santo
foi dividido.
Durante quatro meses, grande foi o afluxo
de pessoas ao túmulo de São Benedito. De
toda a Itália, chegavam fiéis devotos para re-
zar. E os milagres se sucediam junto à sepul-
tura do santo.

túmulo glorioso

O corpo de São Benedito foi sepultado sem


distinção alguma, junto dos seus Irmãos de
hábito, na sepultura comum do convento.
Deus, ·porém, queria a glorificação de seu
servo. O túmulo do santo tornou-se glorioso.
Durante quatro meses, a multidão estava inin-
terruptamente diante do túmulo do santo. Os
milagres se multiplicaram. Chegou-se à con-
clusão de que era impossível o corpo do
santo permanecer naquele lugar incômodo
para os visitantes.
Em 1591, o Pe. Lourenzo Galatino, Visita-
dor da Província da Sicília, mais tarde bispo
de Bari, recebeu do Cardeal Mathei a permis-
são para transladar o corpo do santo para um
outro lugar. 99
transladação das relíquias

No dia 7 de maio de 1592, apenas três


anos, um mês e três dias após o sepulta-
mento, o corpo de Frei Benedito foi transla-
dado. Quando abriram a sepultura, um per-
fume suave se espalhou por toda a igreja e
pelo convento. O corpo do santo estava in-
tacto. Foi colocado numa urna e transladado
para a sacristia, onde o depositaram numa
escavação feita na parede. Sob a urna, grava-
ram as seguintes palavras:
"Este homem, pela vida e pelo nome, foi
ben(e)dito diante de Deus. Morreu no dia 4 de
abril de 1589".
Esta primeira transladação foi consignada em
ata assinada pelas autoridades presentes. A
sacristia do convento transformou-se em
verdadeira igreja pública. O povo invocava a
proteção do santo e lhe prestava homena-
gens.
O local do túmulo se tornou novamente
problemático. Era necessário colocá-lo na
igreja. Felipe Ili recebeu um memorial para
que procurasse obter junto da Santa Sé li-
cença para a transladação.
Em 1611, o Cardeal Pinello, Prefeito da Sa-
1oo grada Congregação dos Ritos, em carta de 11
de março, permitia a transladação, porém em
caráter particular, sem pompa externa.
No dia 3 de outubro de 1611, sendo
Guardião o Pe. Silvestre de Palermo e Supe-
rior do convento de Santa Maria, Frei Nicolau,
em presença do Cardeal Daria, foi feita a
transladação. O corpo foi retirado da urna da
sacristia e colocado em outra de cristal, junto
do altar da Virgem.
O convento de Santa Maria distava de Pa-
lermo três quilômetros. E a estrada se trans-
formou num cortejo só. Novo desfile de mul-
tidão. Centenas de velas, flores, jóias, mantos
bordados, ex-votos, retratos e centenas de
objetos, o povo trazia para junto do túmulo do
santo, provando como era poderosa a inter-
cessão de São Benedito junto a Deus. Hoje, o
corpo de São Benedito está numa outra urna,
numa capela lateral da igreja de Santa Maria,
em Palermo. Até agora, ainda, o corpo está
bastante conservado e, sob a urna
encontram-se os seguintes dizeres:
"O Senhor guardou todos os seus ossos".

anjo de paz

Nicolisi, o mais completo biógrafo de São


Benedito, enche páginas e páginas de seu 101
livro, "Vita di S. Benedetto di San Fratello",
com a narração de curas prodigiosas e gran-
des milagres.
Em 1889, no terceiro centenário da morte
do santo, o jornal "A Sicília Católica" editou
uma longa e minuciosa narração dos prodí-
gios do santo.
Mencionamos aqui um deles:
Numa revolução de 1820, as tropas dos
Borbons, dirigidas pelo general Pepe de Mes-
sina passaram para Santa Ágata de Militello e
daí enviaram um pedido de pão aos habitan-
tes de São Fratello. Os carbonários, porém,
de modo ofensivo, recusaram qualquer auxí-
lio. Enfurecidas, as tropas resolveram mar-
char contra São Fratello. Porém, ao chega-
rem à ponte do rio lnganno, limite natural das
duas cidades, um frade preto fez parar os
soldados. E, cheio de coragem, o frade
dirigiu-se a eles explicando que o povo não
era culpado das injúrias dos carbonários.
Mas, apesar das insistências do frade, os sol-
dados marcharam contra São Fratello. E, na-
quela hora, o povo festejava São Benedito e
estava na rua em procissão.
Vendo o inimigo, o clero dirigiu-se aos sol-
dados pedindo paz. E foi atendido. Houve
paz, os soldados, deixaram as armas e se
102 abraçaram. E, na procissão, os soldados no-
taram a figura do mesmo frade preto que lhes
apareceu e lhes falou no caminho, implo-
rando paz. A procissão prosseguiu com entu-
siasmo maior ainda e mais vibrante.

beatificação e canonização

A Igreja é muito severa em seus processos


de beatificação e canonização. E os proces-
sos de São Benedito, apesar das muitas ma-
ravilhas e prodígios operados, foram longos e
difíceis.
Primeiro, teve seu início em Palermo, com o
exame minucioso de vinte e sete milagres e
da vida do santo. O primeiro processo foi au-
torizado em novembro de 1592, por Clemente
VIII.
Em 1622, teve início o segundo processo,
em Palermo. No ano seguinte, ambos os pro-
cessos foram enviados a Roma, à Sagrada
Congregação dos Ritos que, depois de muito
estudo, publicou o decreto "Sufficienter
constara de Sanctitate ad effectum de quo
agitur", de 18 de março de 1623.
Em solenidade pública, no dia24 de abril de
1652, a cidade de Palermo proclamou São
Benedito seu padroeiro e o honrou com o
título de "Beato". 103
Em 1606 foram levadas relíquias do santo à
Espanha e Portugal. Valência, Granada, Cór-
doba e Valladollid ergueram estátuas ao
"Beato" e promoviam grandes festas em sua
honra.
Depois de longos estudos, inquirições de
testemunhas e demorado exame, foram ar-
quivados os documentos.
Em 1713, Clemente XI, a pedido do Cardeal
Corradini, permite a reabertura dos proces-
sos em Roma e em Palermo.
Até 1740, os trabalhos de estudos prosse-
guiram lentamente.
Bento XIV permitiu o culto de São Benedito
na Ordem Franciscana, com missa e ofício
próprios.
Finalmente, no ano de 1763, Clemente XIII
declarou Frei Benedito "Bem-aventurado".
Em 16 de março de 1776, o cardeal Visconti
propôs o estudo da virtude de heroicidade de
Frei Benedito. Novos milagres foram exami-
nados. No dia 3 de julho de 1780 foi realizada
a primeira sessão no palácio do próprio car-
deal Visconti. No dia 28 de julho de 1786, no
palácio do Quirinal, a segunda sessão. E, fi-
nalmente, a terceira, aos 1O de março do
mesmo ano, no Vaticano.
O resultado das três sessões foi favorável à
104 causa. Depois do exame dos milagres e de
outras formalidades do processo, tudo estava
preparado para a canonização.
Afinal, no dia 25 de maio de 1807, festa da
Santíssima Trindade, Pio VII declarou Frei
Benedito, santo. No mesmo dia, outras cano-
nizações foram efetuadas: São Francisco Ca-
racciolo, fundador dos Clérigos Menores,
Santa Angélica de Merici, da Ordem Terceira
de São Francisco, Santa Coleta Boillet e
Santa Jacinta de Maricosti.

o início da
devoção em
portugal e no brasil

Em Lisboa foi estabelecida uma confraria


de São Benedito. Com toda pompa,
celebrava-se a festa do santo. Na procissão,
uma multidão de negros escravos desfilava
diante da imagem do santo com estandartes,
com velas acesas e tochas coloridas.
E de Portugal, depois, a devoção se espa-
lhava por todas as colônias.
No Brasil, o culto a São Benedito iniciou-se
na Bahia. Na catedral da Bahia, em 1686, já se
festejava o Beato e, neste mesmo ano, foram
criados e encaminhados a Roma os Estatutos 1 os
da Irmandade do Bem-aventurado Frei Bene-
dito de Palermo. Antes da canonização, o
santo já estava sendo popular no Brasil.
Da Bahia, a devoção se espalhou pelo Ma-
ranhão. E, atualmente, por todo o Brasil. Não
erramos ao afirmar que em todas as cidades
do Brasil, ele é venerado com uma festa espe-
cial. A devoção ao Santo é uma das maiores
devoções de todo o povo brasileiro. As pro-
cissões em louvor ao santo atraem multidões.
É o santo dos grandes, mas principalmente
dos pequenos. Todos amam e invocam o
Santo.
Diz o povo que São Benedito castiga. É um
exagero de nosso povo. Mas é certo que
quem não o invoca, ao menos o respeita.

106
BIBLIOGRAFIA
• Bulia Canonizationis, de Pio VII, assinada por 27
cardeais, em maio de 1807.
• Nicolisi, Pe. Benedetto, "Vita di S. Benedetto di
S. Fratello" (Ed. Palermo - Gen. Affissione e
Publicit - 1907).
• Capistrano, G. - "Vita di S. Benedetto de San
Fratello" - Roma - 1808.
• "Aureola Seraph". - li - Quaracchi - 1898 -
5-25.
• Le Palmier Seraphique ou vie de saints et des
hommes et femmes illustres des Ordres de
Saint François - Ed. Bas le Duc - 1872.
• Leon- "L' Aureole Seraphique vie des saints et
bienhereux des trois Ordres de S. François"
- Paris, 1882 - li, 1. 0 •
• Domine - De Gubernatis Orb. Seraphic. -
Tom. 1, Livr. V, 9 e 10.
• Menologium - O.S.F. - 16-98-694 - S.S.
• Dictionaire d'Histoire et de Geographie Eccle-
siastiques - Paris, 1935 - Tom. VIII.
• De Kirche- Lexicon fuer theologie -Tom 11-
1931 - (149-150).
• De catho/ic Encyclopedie- Tom. li- pág. 472.
• Encyclopedie theo/ogique -1848-Tom. 21-
568.
• De Kirchliches haud Lexicon -1907 - 567-17.
• Rosário, Frei Diogo, "Fios Sanctorum".
• Silva, Dom Francisco, Bispo do Maranhão,
"Vida de São Benedito".
NOVENA
A SÃO BENEDITO

ORAÇÃO A SÃO BENEDITO

(Para todos os dias da novena.)

Ó glorioso São Benedito, humilde filho de São


Francisco, Deus vos escolheu e predestinou para
tão alto grau na santidade; enriqueceu-vos de
graças e dons prodigiosos, a fim de confundir os
orgulhosos deste mundo e revelar quanto gosta
de exaltar os humildes e os pequeninos.
Vós, que nesta vida fostes sempre inflamado do
amor de Deus, um anjo de pureza, um coração
sempre voltado para os pobres e os desgraçados,
vós, que curastes os enfermos com milagres es-
tupendos, convertestes os pecadores, e fostes um
modelo de oração, de penitência, de intensa vida
eucarística e devoção a Maria, glorioso São Be-
nedito, aqui estamos aos vossos pés, cheios de
confiança na vossa poderosa intercessão.
Valei-nos em nossas necessidades e aflições.
Em vossa vida terrena, ninguém recorreu a vós e
foi desamparado. A todos socorrestes com mila-
gres e prodígios da vossa imensa caridade.
Agora, no céu, o vosso poder é maior ainda para
nos socorrer. 109
Pedi a Jesus que nos conceda a graça de viver-
mos conforme e lei divina, e por Maria Santíssima,
vossa Mãe, a quem invocastes tantas vezes neste
mundo pelo Rosário, obtende-nos a graça que
ardentemente vos pedimos, se for conforme a
vontade de Deus e salvação de minha alma.
Valei-nos, glorioso São Benedito, vede a nossa
aflição neste mundo de exílio, sede nosso pode-
roso intercessor junto de Jesus e de Maria, e de-
pois das tribulações desta vida, mereçamos a
graça das graças: a perseverança final e a felici-
dade eterna do paraíso, onde convosco iremos
louvar ao Senhor por toda a eternidade. Amém.

11 O
PRIMEIRO DIA

Glorioso São Benedito, como foi ardente e viva


a fé em vosso coração! Fizestes prodígios e mila-
gres estupendos, porque vossa fé era capaz de
transportar montanhas. Deus nos revelou, através
de tantos milagres por vós realizados, o poder
imenso da fé. Dai-nos um pouco daquela virtude
que vos mereceu tanta glória, hoje, no céu, e que
tanto vos faz glorificado neste mundo.
Em meio a um mundo descrente e cheio de
pecados, ajudai-nos a sustentar nosso combate
pela defesa da fé, pelo triunfo da Santa Igreja,
nossa Mãe. Que possamos ser como vós fostes
neste mundo: o justo que vive da fé.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, aumentai e sustentai nossa fé! 111
SEGUNDO DIA

Glorioso São Benedito, a esperança fez pulsar


o vosso coração e exclamastes muitas vezes:
"Tenho esperança de me salvar, não pelos meus
méritos, mas pela misericórdia de Deus e pela sua
santa paixão e morte".
A meditação do Paraíso vos arrebatava em êx-
tase. Paraíso! Belo Paraíso! Eram os suspiros do
vosso coração. Tivestes uma confiança inabalâ-
vel na misericórdia de Deus. Alcançai-nos tam-
bém esta esperança, esta confiança em Deus,
para que possamos salvar nossa alma, tantas
vezes tentada pelo Inferno com desespero e des-
confiança nas provações da vida. Fazei que nosso
coração nunca desfaleça numa confiança firme
em Deus.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, aumentai minha esperança,
alcançai-me o Paraíso por vossa valiosa interces-
112 são!
TERCEIRO DIA

Glorioso São Benedito, fostes um anjo de amor


divino. Vosso coração, abrasado nas chamas da
caridade divina, vos tornou um perfeito imitador
do pai, São Francisco. "Tudo pelo amor de
Deus!" foi o vosso lema. Em doces êxtases de
amor, vivestes longos anos embebido em altís-
sima contemplação. Meu pobre coração, tão frio
no amor de Deus, vos suplica uma graça - a de
amar a Jesus como o amastes neste mundo, de
morrer num ato de arrependimento de meus pe-
cados.
Nos trabalhos, nos sofrimentos, na oração e em
toda parte e a cada hora de vossa longa vida,
vosso coração palpitou de puro amor divino e
morrestes abrasado nas chamas desta divina ca-
ridade. Dai-nos um pouco deste ardente amor!

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, anjo de amor divino, abrasai meu
coração no amor de Deus! 113·
QUARTO DIA

Glorioso São Benedito, como era grande a


vossa caridade para com o próximo! Socorrestes
aos pobres, curastes os enfermos, destes pão aos
famintos, e multidões de infelizes encontravam
alívio junto de vós. Vosso coração se enternecia
ante as misérias humanas. Vossa vida foi um te-
cido de obras de caridade espirituais e corporais.
Fazei meu coração semelhante ao vosso,
sempre compassivo para com as dores e sofrimen-
tos alheios, e dai-me uma grande caridade para
com o próximo. Dai-me esta virtude tão necessá-
ria para a salvação de minha alma e tão difícil de
ser praticada neste mundo cheio de ódio e de
vinganças. Abrandai meu coração para que per-
doe sempre aos que me ofenderam e viva na cari-
dade de Jesus Cristo.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, pai e consolo dos pobres, dai-
nos um coração cheio de compaixão para com os
infelizes, e que vivamos sempre na caridade fra-
114 terna!
QUINTO DIA

Glorioso São Benedito, pobre de Jesus Cristo,


amante da pobreza, cujo voto praticastes com
heroísmo admirável. Vosso desapego vos levou a
abandonàr o mundo, a desprezar as honras, e
viver no sofrimento e na penúria, por amor à santa
pobreza do espírito franciscano.
Fostes um perfeito imitador do vosso pai São
Francisco, e como ele, apaixonado pela pobreza.
Desapegai nosso coração dos bens deste mundo,
e que possamos aproveitar os bens que porven-
tura nos tenha dado a Providência Divina, para
melhor servirmos a Deus e aos pobres.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, pobre e amigo dos pobres, rogai
por nós! Valei-nos em nossas necessidades espi-
rituais e temporais! 115
SEXTO DIA

Glorioso São Benedito, obediente e humilde,


pela vossa heróica e admirável obediência, que
vos fez religioso perfeito, e que vos trazia sempre
na fidelidade à Regra de São Francisco, e numa
observância tal que vos tornou um modelo de
verdadeiro religioso, dai-nos que sempre obede-
çamos aos legítimos superiores, vendo neles,
como vós, os representantes da autoridade di-
vina. Livrai-nos de todo espírito de revolta, de
toda soberba, e que saibamos obedecer sempre
com alegria e espírito de fé.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, fazei meu coração semelhante
ao de Jesus, que obedeceu até à morte e morte de
116 cruz!
SÉTIMO DIA

Glorioso São Benedito, fostes chamado pelo


povo de Palermo "templo da virgindade e do Es-
pírito Santo". Conservastes sempre pura a veste
de vosso batismo. Fostes um anjo em carne mor-
tal. Vossa inocência, guardada com tanta peni-
tência, vos fez um lírio perfumado e belo de pu-
reza. Ajudai-nos nesta grande luta contra as ten-
tações. Guardai nosso coração nos perigos,
livrai-nos de todo pecado e de todo escândalo.
Valei-nos nesta guerra contra o mundo, o diabo e
a carne. Por Maria Imaculada, vossa e nossa Mãe
querida, dai-nos força nos combates deste
mundo e ajudai-nos a vencer as tentações.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, templo da virgindade e do Espí-
•1!.ito Santo, por Maria Imaculada, valei-nos nos
perigos e tentações! 117
OITAVO DIA

Humilde São Benedito, humilde pela vossa


condição de escravo, humilde pela vossa igno-
rância das letras, pela vossa vida escondida, vós
que amastes a humilhação, vós que fostes pe-
quenino e abatido aos vossos olhos e compreen-
destes a verdadeira humildade de coração, ó glo-
rioso santo, dai-nos a graça de sermos humildes
neste mundo, para que possamos merecer, um
dia, a coroa de glória no céu. São Benedito, cheio
de prudência, de justiça, de fortaleza, de tempe-
rança, adornado de todas as virtudes, ajudai-nos
a vos imitar nesta vida, para que possamos, um
dia, convosco no céu, glorificar ao Senhor.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, como Jesus manso e humilde de
118 coração, fazei meu coração semelhante ao vosso!
NONO DIA

Glorioso São Benedito, devotíssimo da Euca-


ristia, que vos arrebatava o coração em êxtases de
puro amor, anjo adorador de Jesus Sacramen-
tado, dai-nos uma fé bem viva neste mistério de
amor. Ajudai-nos a receber com mais fervor a
Santa Comunhão. Glorioso santo, devoto de
Maria Santíssima e do Santíssimo Redentor, nós
vos pedimos com todo fervor, que por amor de
Jesus Hóstia e de Maria Imaculada, nunca deixe-
mos estas devoções salvadoras: a Santa Eucaris-
tia e o Santo Rosário.

Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.


São Benedito, adorador de Jesus Sacramen-
tado e devoto da Virgem Imaculada, aumentai em
nossos corações estas duas devoções! 119
ORAÇÃO FINAL
DA NOVENA

Querido São Benedito, bem sabeis quanta con-


fiança temos em vossa valiosa intercessão junto
de Jesus e de Maria Imaculada. Aqui estamos aos
vossos pés para vos pedir uma graça... (Mencio-
nar o pedido.)
Se for conforme a vontade santíssima de Deus,
para o bem e salvação de nossas almas, nós vos
rogamos, valei-nos nesta hora. Podemos dizer,
em verdade, nunca se ouviu dizer que, quem a vós
recorreu, deixasse de ser socorrfdo pefo vosso
grande poder junto de Deus.
Com esta confiança no dom de fazer milagres
que Deus vos concedeu já nesta vida, aqui esta-
mos para implorar com todo fervor de nossas
almas as graças espirituais e temporais que co-
nheceis serem mais necessárias em nossas ne-
cessidades e aflições. Fazei que, ajudados por
vossa proteção, possamos servir a Jesus e a Maria
nesta vida, e alcançar, um dia, a eterna bem-
aventurança. Assim seja.

Rogai por nós, São Benedito.


Para que sejamos dignos das promessas de
120 Cristo.
HINO A SÃO BENEDITO

Glorioso São Benedito,


De Jesus imitador,
Dai-nos vossa santa bênção,
Rogai por nós ao Senhor. (bis)
Grande santo, sim, querido,
Grande amigo do Senhor,
Escutai nosso pedido,
Sede nosso protetor.
Irmãos vossos nos fizemos,
Singular consolação.
Vossos passos seguiremos
Com devoto coração.
Atendei às nossas causas,
Libertai da tentação,
Protegei as nossas vidas,
Alcançai-nos salvação.
ORAÇÃO A SÃO BENEDITO - 1

ó Santo de minha devoção, glorioso São Bene-


dito, pobre e sem letras quisestes passar por este
mundo, ora guardando os rebanhos, ora lavrando
a terra, ora recolhido à solidão do lugar deserto e
do convento, sempre um modelo de humildade e
caridade. Pois socorríeis aos pobres e indigentes,
confirmando Deus, não raras vezes, a vossa admi-
rável santidade pelos milagres inauditos, tanto
durante a vossa vida como depois da morte.
Ó querido protetor, São Benedito, pelas vossas
grandes virtudes, alcançai-me de Jesus a graça
que vos solicito ... (Mencionar o pedido.)
Fazei que a exemplo vosso, eu despreze a mim
e às vaidades deste mundo, abrase o meu coração
no amor ae Deus e do próximo e procure todas as
virtudes de que é cheia a vossa vida. Sede meu
guia na vida presente e quando chegar minha
última hora, defendei-me contra os ataques do
inimigo e apresentai-me a Jesus, a quem con-
122 vosco louvarei eternamente no céu. Amém.
ORAÇÃO A SÃO BENEDITO - li
Ó São Benedito, modelo admirável de caridade
e humildade, por vosso ardente amor a Maria San-
tíssima, por aquela suave doçura em que Jesus
encheu o vosso coração, eu vos suplico:
socorrei-me em todas as minhas necessidades e
alcançai-me de modo especial a graça que neste
momento vos peço ... (Mencionar o pedido.)
ó São Benedito, intercedei por mim que a vós
recorro confiante, vós que fostes tão maravilhoso
e pródigo no atendimento aos vossos devotos,
atendei a minha súplica e concedei o que vos
peço. Amém. 123
ORAÇÃO A SÃO BENEDITO - Ili
Glorioso São Benedito, grande confessor da fé,
com toda confiança venho implorar a vossa va-
liosa proteção.
Vós, a quem Deus enriqueceu com os dons
celestes, concedei-me as graças que ardente-
mente desejo ... (Mencionar o pedido) para maior
glória de Deus.
Confortai o meu coração. Nos desalentos, forti-
ficai a minha vontade para cumprir bem os meus
deveres.
Vinde orientar-me nas horas decisivas de
minha vida. Sede meu companheiro nas horas de
solidão e desconforto. Assisti-me na vida e na
hora da minha morte, para que eu posso bendizer
a Deus, aqui neste mundo, e gozar na eternidade
124 com Jesus Cristo. Assim seja. Amém.
ORAÇÃO A SÃO BENEDITO - IV

Ó meu glorioso protetor, São Benedito, que


agora, no céu, estais gozando o prêmio de vosso
amor verdadeiro a Deus e de fidelidade constante
à Santa Igreja Católica, abençoai todas as famílias
de nossa cidade e todos os vossos devotos.
Queremos seguir os caminhos do Evangelho,
do bem, da verdade e da justiça.
Queremos conhecer, amar, respeitar e servir
nossa Igreja.
Ajudai-nos. Livrai-nos da maldade e de tudo o
que pode nos separar de Deus, do próximo e da
salvação eterna. Amém. 125
ÍNDICE
Apresentação ....................................................... 5
1 No lar .................................................................. 9
li De pastor a eremita ....................................... 17
Ili Franciscano e cozinheiro ............................. 31
IV O Superior leigo e analfabeto ..................... 41
V Carismas e dons maravilhosos .................... 51
VI "Prodígios de milagres" .............................. 63
VII O herói da virtude ....................................... 73
VIII Morte e glorificação ................................... 93
Bibliografia ...................................................... 107
Novena a São Benedito .................................. 109
A devoção a São Benedito
em nenhum país do mundo é
tão grande e fervorosa como
no Brasil.
Do norte ao sul desta terra de
Santa Cruz, São Benedito é querido
e invocado com fervor.
Nossas tradições, nosso folclore,
nossas cantigas e lendas trazem
o nome do santo que, pela sua cor
preta, foi chamado "o santo preto"
~enedito, preto, filho de escravos,
pobre, é o santo venerado por todo
o nosso Brasil!
Deus exalta os pequeninos!

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