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Ascânio Brandão
4.ª edição
EDITORA SANTUÁRIO
Aparecida - SP
1979
Com aprovação eclesiástica.
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I
NO LAR
o santo preto
pais cristãos
o primogênito
formação cristã
15
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Imagem de São Benedito -de madeira, datada de 1892-da Igreja de Santa Cruz e São Benedito de São
Bento do Sapuca/-SP.
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li
DE PASTOR A EREMITA
entre o rebanho e a terra
a profecia de um missionário
A uns dez quilômetros de São Fratello, vivia
um eremita célebre pela santidade de vida e
prodígios que dele se contavam. Chamava-se
18 Frei Jerônimo Lanza. Era natural de São Mar-
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cos. Quando moço, rico, e de nobre família,
abandonou o mundo e entrou na Ordem
Franciscana dos Padres da Observância. De-
sejoso, porém, de uma vida mais austera e
solitária, com alguns companheiros fugiu do
mundo recolhendo-se na solidão, num eremi-
tério de Santa Domenica, na região de Caro-
nia, a poucos quilômetros de São Fratello.
O Papa, que naépocaeraJúlio 111, autorizou
aos novos eremitas professarem a Regra
Seráfica de São Francisco com bastante ri-
gor, sem qualquer mitigação. E ainda aos três
votos de pobreza, castidade e obediência,
acrescentaram um outro, o voto de vida qua-
resmal. Por este voto se obrigavam a jejuar
três vezes por semana. Numa de suas viagens
apostólicas, Frei Jerônimo Lanza ficou co-
nhecendo Benedito.
Benedito, certo dia, cansado, sentou-se à
sombra para descansar com alguns compa-
nheiros. Como sempre, os que passavam co-
meçaram a ridicularizá-lo pela cor. E riam-se
às gargalhadas do pobre negrinho. Benedito,
humilde e paciente, calava-se por amor a
Deus. Frei Jerônimo, cuja fama de santidade
se espalhava por toda Itália, passou por perto
e foi testemunha das humilhações sofridas
pelo humilde, pobre e santo pretinho. Re- 19·
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preendeu severamente a todos e disse em
tom profético:
- "Ah! Hoje, vocês fazem caçoada e ridicu-
larizam este pobre negrinho; mas daqui a
poucos anos verão a sua fama se espalhar por
todo o mundo!" E voltando-se para o patrão
de Benedito disse:
- "Eu lhe recomendo muito este moço,
pois logo virá para minha ordem e se tornará
um santo religioso!"
Benedito alegrou-se sentindo a voz de
Deus que o chamava para a solidão, pela voz
de um homem. Desde aquele dia, redobrou
suas orações e penitências, pedindo ao Se-
nhor que o mais depressa possível realizasse
a vontade do Pai.
Alguns dias depois, Frei Jerônimo voltou a
se encontrar com Benedito que arava o
campo e lhe disse:
- "O que você está fazendo aqui, Bene-
dito? Vamos! Venda estes bois e venha co-
migo!"
O santo não duvidou. A vontade de Deus se
manifestava clara. Vendeu o que possuía. E
os pais, apesar da pobreza em que viviam e a
falta que o filho iria fazer em casa, não se
opuseram à vocação de Benedito. Ao
contrário. Sentiram-se honrados por Deus
20 escolher um membro daquela humilde famí-
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lia de escravos para as honras do serviço de
Deus na Vida Religiosa. Benedito, comovido
e entre lágrimas de seus familiares, deixou a
casa paterna e foi para a Vida Religiosa.
A alegria foi muito grande entre os Irmãos
Eremitas de São Francisco, ao receberem em
seu meio o piedoso filho de escravos, já bem
conhecido pelo seu fervor e grande virtude.
Mais feliz sentiu-se Benedito em poder
entregar-se à oração e à penitência, sem que
o mundo lhe impedisse ou dificultasse sua
vida.
o chamado do senhor
a vida de eremita
A vida dos Irmãos Eremitas Franciscanos
era bem austera. E uniam a extrema solidão à
extrema pobreza. Sustentavam-se com um
pouco de pão que mendigavam nas aldeias
vizinhas, e com algumas ervas, água e nada
mais.
A habitação era paupérrima, estreita e sem
conforto. Vestiam-se de pano simples. As
horas de oração eram longas, de dia e de
noite. E o silêncio, bastante rigoroso.
Benedito foi de uma observância perfeita
na vida de eremita. O fervor de sua vida serviu
de estímulo para os Irmãos mais velhos e a
todos edificou. Frei Jerônimo o considerava
um anjo em carne humana.
Depois de cinco anos em vida tão austera,
com a aprovação do Papa Júlio Ili, Benedito
fez a profissão solene. Estava agora para
22 sempre e oficialmente consagrado a Deus.
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A Regra dos Eremitas de São Francisco já
era de um extremo rigor e exigia heróica vir-
tude. Benedito ia além da simples observân-
cia.
Depois da profissão solene, sentiu grande
desejo de cada vez mais se assemelhar a
Jesus Cristo Crucificado. Alimentava-se ape-
nas uma vez por dia, com um pouco de pão,
ervas e água. Servia-se apenas daquilo que
era estritamente necessário para viver.
Flagelava-se. Dormia no chão duro. No in-
verno rigoroso, passava sem agasalho. Não
dava muito repouso ao pobre corpo, estando
sempre no trabalho mais rude e penoso, pa-
decendo mil incômodos. Que sede de sofri-
mento no: coração de Frei Benedito!
Ouvindo na leitura da vida de São Paulo
Eremita que este santo, por espírito de peni-
tência e pobreza, fizera uma túnica de folhas
~e palmeira, muito incômoda e grosseira,
quis imitá-lo. Preparou também a sua túnica
original, de folhas, e a usou durante quatro
anos. Além dessa veste, usou apenas um ca-
pucho de lã velha, para cobrir a cabeça.
Benedito foi um imitador perfeito da vida de
penitência do glorioso São Francisco de As-
sis, seu pai espiritual. 23
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fugindo das multidões
o fim do eremitério
O eremita Frei Benedito estava com trinta e
oito anos de idade, dos quais passara vinte e
um no mundo e dezessete no deserto. O ere-
26 mitério de Frei Jerônimo era um ninho de
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santidade. O Demônio não podia suportar
aquela obra santa.
Alguns eremitas, sob pretexto de zelo, leva-
ram queixas a Roma e obtiveram a dispensa
do quarto voto da vida quaresmal, dizendo
que não convinha uma Ordem nova sob a
Regra de São Francisco.
O Santo Padre Pio IV, então reinante, dese-
jando unificar mais a Ordem Franciscana, or-
denou que os eremitas de Frei Jerônimo se
recolhessem a qualquer dos conventos apro-
vados pela Santa Sé, e os dispensou do
quarto voto. Foi no ano de 1562.
Com que dor iam, agora, deixar aqueles
santos eremitas a solidão querida, e a Regra
austera do seu santo fundador!
Todos obedeceram prontamente ao Papa.
Frei Benedito ficou por um tempo hesitando
na escolha de uma Ordem onde fosse ingres-
sar.
27
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A passagem da irmandade de São Benedito da Igreja de Nossa Senhora
da Boa Morte e Assunção para a nova Igreja de São Benedito -
na forma de uma procissão.
Rio Claro-SP.
Reconstituição histórica feita pelo pintor Bruno de Giusti,
em óleo sobre tela.
Embora a imagem de São Benedito estivesse na Igreja Matriz
de São João Batista, em 1885, quando de sua fundação - na verdade,
a irmandade foi instituída na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção.
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Ili
FRANCISCANO
E COZINHEIRO
como decidir?
cozinheiro
o banquete
preparado pelos anjos
O Arcebispo de Palermo, Dom Diogo
d'Abedo, anualmente se dirigia ao Convento
de Santa Maria para alguns dias de retiro.
Gostava daquele pedaço silencioso e ameno
de sua Arquidiocese, e muito o encantava a
virtude dos frades. Certa vez, resolveu passar
o Natal no Convento. Conhecendo muito bem
a pobreza dos frades, levou consigo uma boa
provisão de alimentos.
Na missa da manhã do dia de Natal, Frei
36 Benedito se aproxima da comunhão com
muito fervor. Após a comunhão, se põe a con-
templar um quadro que ficava ao lado do
altar-mor da capela do mosteiro. Era uma
imagem do Menino Jesus. E contemplando
aquela imagem, permaneceu ali por muito
tempo, esquecendo-se dos deveres da co-
zinha ... Estava para começar o solene Ponti-
fical do meio-dia. O Superior dirigiu-se à co-
zinha. O fogo ainda estava apagado. E nin-
guém na cozinha!
- "Onde está Frei Benedito? Meio-dia! A
missa vai terminar logo! E o almoço para a
comunidade e o arcebispo?!"
Ficaram todos confusos, ao saber que o
fogo nem estava aceso, quase à hora da refei-
ção principal. E o arcebispo presente!...
E Frei Benedito? Ninguém o encontrava no
convento. Até que, enfim, foram encontrá-lo
no coro da igreja, ao lado do altar, a contem-
plar o quadro do Menino Jesus.
- "Frei Benedito, Frei Benedito!" - chama
o frade, preocupado com o almoço.
O santo, como que acordando de um êx-
tase, diz calmo e sorridente:
- "Não se aflija, meu Irmão!" E permane-
ceu calado até terminar a missa. - "Então, só
agora é que vai preparar a refeição?!" - re-
clamavam alguns frades.
E estavam todos revoltados com a preguiça 37
e o descaso do "frade negro". Que vergonha
iria passar o convento! Que desculpas dariam
ao arcebispo?!
O santo cozinheiro, com paciência e do-
çura, ouviu as injúrias que lhe faziam. Calou-
se. Acendeu o fogo e pôs-se de joelhos. E
assim o encontrando novamente, disseram:
- "Este Irmão cozinheiro ainda a rezar?!
Que absurdo! Hoje não se almoçará no con-
vento! Que vergonha para a comunidade
diante do ~rcebispo!
- "Mandem tocar a sineta para o almoço!"
- ordenou Frei Benedito.
Talvez pensando em humilhar o santo, à
hora exata da refeição a campainha foi to-
cada. Iria ser humilhado em pleno refeitório o
cozinheiro preto e rezador, que se esquecia
dos deveres!
Neste ínterim, alguém viu na cozinha dois
moços belos, com aparência de uns dezoito
anos, que acabavam de preparar os últimos
pratos e os deixaram prontos, cheirosos e
apetitosos, para serem servidos.
Em pouco tempo, Frei Benedito e os dois
anjos prepararam miraculosamente um ban-
quete. E o que todos viam, era inacreditável! E
louvaram todos ao Senhor e ao humilde ir-
mão.
38
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...
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prudência,
energia e bondade
O novo Superior do convento de Santa
Maria quis governar mais pelo exemplo e pela
oração que por qualquer outra virtude. Se já
era de ur:na observância perfeita, agora mais
do que em tempo algum. Executava à letra a
norma do "fazer e ensinar" tão evangélica e
de absoluta necessidade aos que governam.
Era sempre o primeiro a chegar para as ora-
ções, e mal tocava a sineta, já todos o viam em
primeiro lugar onde deveria estar. Não se
considerava dispensado de exercício algum
que a Regra prescrevia. Era de uma obser-
vância pontual, exata e escrupulosa. Não ad-
mitia para si desculpa ou mitigação alguma.
Era a "Regra viva", o ideal do filho de São
Francisco. Edificava a todos com o seu fervor
na oração. 43
Só a presença de Frei Benedito era um es-
tímulo contínuo à prática da virtude. Apesar
de Superior, ia à cozinha, lavava os pratos,
varria a casa, carregava lenha, ia buscar água
na fonte, trabalhava na enxada, na horta e no
jardim, com toda humildade e extrema sim-
plicidade.
Tinha um grande respeito pelos sacerdo-
tes. Ajudava à Missa diariamente e com
grande piedade.
Que prudência no governo do mosteiro! O
Espírito Santo, por certo, o iluminava. Às ve-
zes, precisando fazer alguma observação a
sacerdotes mais velhos, Frei Benedito o fazia
com grande respeito, pois estava se dirigindo
a um ministro do Senhor. Humilhava-se pri-
meiro e dizia: "Meu caríssimo padre, bem re-
conheço em Vossa Reverendíssima a digni-
dade sacerdotal, perdoe-me pelo amor de
Deus, mas devo adverti-lo da falta de obser-
vância de tal ou tal ponto da Regra. O bom
exemplo de um sacerdote aqui é necessário.
Meu padre, queira corrigir-se, pelo amor de
Deus! Perdoe a este pobre Superior, tão igno-
rante e sem competência, esta repreensão,
mas o senhor bem sabe que tenho a tremenda
responsabilidade de meu cargo!"
Bastava uma só advertência do santo Supe-
44 rior! Sua humildade, prudência e bondade
venciam qualquer resistência de orgulho. Era
uma alegria obedecer naquele convento.
A observância da Regra de São Francisco e
o fervor dos religiosos de Santa Maria de Je-
sus, sob a direção de nosso santo, foram
realmente admiráveis. Faziam lembr·ar aque-
les homens de Deus, os solitários da Tebaida
e·do Egito, e o fervor dos primeiros dias da
Ordem, nos tempos de São Francisco: silên-
cio, oração, meditações longas, jejuns e peni-
tências duras! E a santidade do superior era o
ideal que todos desejavam imitar.
Três anos se passaram e, pela regra, deve-
ria haver eleição do novo Superior no con-
vento. Então, os Superiores elegeram Frei
Benedito para um cargo mais elevado, o de
Vigário, à fim de que continuasse a edificar a
todos com sua virtude e prudência.
Os documentos pouco falam do que o
santo fez neste cargo. Temos certeza, porém,
de que continuou a servir de exemplo e de
edificação para todos.
48
V
CARISMAS E DONS
MARAVILHOSOS
ciência infusa
penetrando os corações
contra o feitiço
profetiza
profetizando
a saúde ou a morte
Pessoas doentes ou mesmo parentes e
amigos de doentes dirigiam-se ao santo pe-
dindo a saúde por intermédio dele. Às vezes, 57·
Frei Benedito dizia assim: - "Diga ao doente
que tenha paciência e se conforme com a
vontade de Deus!"
E quando o santo dava esta resposta, po-
diam ter certeza de que o doente não ia se
recuperar, e acabava falecendo.
Outras vezes, dizia o santo:
- "Vai sarar. Deus ajudará!" E aconteciam
curas miraculosas.
A muitas mães, em vésperas de parto, São
Benedito profetizou o destino dos filhos que
iriam nascer. A uma delas disse:
- "Seu filho será um ótimo sacerdote!" E a
profecia se realizou.
Uma senhora, Joana de Aragão, de Pa-
lermo, estava com o marido e um filho doen-
tes.
Pediu que Frei Benedito fosse abençoá-los.
O santo, olhando para o enfermo, disse de-
pois à esposa dele:
- "Não tenha dúvida, ele ficará curado!"
E sobre o menino: "Minha filha, poderá
haver coisa melhor que dar um filho a
Deus?!"
Poucos dias depois, o marido recuperava a
58 saúde e o filho morria.
-
fama universal
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1
VI
"PRODÍGIOS DE MILAGRES"
ressuscita mortos
os cegos vêem!
Frei Benedito estava à porta do convento
em companhia do Irmão Gregório da Licata.
Aproximou-se deles, apoiado a um bastão, um 65
cego, que por uma corda, era guiado por um
cãozinho. Disse o cego:
- "Meu bom Frei Benedito, venho aqui
pedir a minha cura. Tenha pena de mim!"
Como de outras vezes, o santo restituiu a
vista ao cego com algumas orações e o sinal
da cruz.
-"Milagre! Milagre!" -gritamosfradeseo
cego. O povo, mal soube do fato, correu à
portaria do convento. Frei Benedito, confuso,
fugiu e se escondeu na montanha.
E quando lhe falavam de suas curas miracu-
losas e perguntavam por que costumava se
esconder, respondia humildemente:
- "Sou um pobre pecador. Nossa Senhora
é quem cura. Só a ela e a Deus devemos agra-
decer e louvar!"
No processo de beatificação, numerosas
testemunhas atestaram diversos casos de
curas de cegos, operadas pelo santo.
João Russo e duas senhoras acompanha-
ram um cego ao convento de Santa Maria.
São Benedito fez sobre ele uma cruz e rezou.
O cego ficou curado.
multiplicação de
pães e peixes
Frei Benedito dera ordem ao porteiro do
convento de Santa Maria, Frei Vito do Gir-
genti, que desse esmolas a quem pedisse e
confiasse na Providência.
Um dia, os pobres eram tantos que o pão
não era suficiente nem para os pobres, nem
para os frades. Frei Vito distribuiu alguns 67
pães e já ia mandando os outros pobres em-
bora, quando chegam alguns soldados espa-
nhóis famintos, cansados e pedindo ali-
mento. Queriam ao menos um pedaço de pão.
Que fazer? Soldados, pobres e frades! Onde
achar pão para tanta gente?
Frei Benedito recomendou a Frei Vito que
desse o pão. - "Deus proverá!" O Frade por-
teiro obedeceu. Tomou uma cesta e começoú
a distribuir os poucos pães que ali estavam.
Coisa maravilhosa! A cesta não se esvaziava!
O pão se multiplicava miraculosamente. Co-
meram todos e ainda sobrou um cesto cheio
de pão.
Jesus multiplicara os pães no deserto e or-
denara a pesca milagrosa a seus apóstolos! E
São Benedito até nos milagres foi perfeito
imitador de Cristo.
Estava um homem junto ao rio Oreto pes-
cando, mas nada conseguia. O pescador era
pai de sete filhos e do rio tirava o sustento de
sua família. Passando por ali Frei Benedito, o
pescador pediu-lhe: - "Oh, meu santo!
Tenha compaixão de um pobre pai de família
que não tem o que comer, nem o que dar aos
filhos! Frei Benedito, abençoa minhas redes,
pelo amor de Deus!"
O santo assim o fez. Que pesca maravi-
68 lhosa! As redes se encheram de peixes.
curas maravilhosas
Com algumas preces, um sinal da cruz, o
rosário de Nossa Senhora, uma visita ao San-
tíssimo Sacramento, Frei Benedito, sem ou-
tros remédios, curou milagrosamente cente-
nas de enfermos.
André Stanghetta, com feridas no pescoço,
foi levado à presença do santo.
- "Frei Benedito, por caridade, tenha pena
deste pobre homem!", pediram.
- "Oh! Quem sou eu? Não posso curar
ninguém, sou um pobre pecador!" res-
pondeu-lhes humildemente o Frei.
Insistem. O santo resolve:
- "Vamos rezar diante do altar do Santís-
simo Sacramento e pedir à Mãe de Deus esta
cura!" E assim fizeram durante três dias.
No último dia, André apareceu curado!
Um homem paralítico, e de figura impres-
sionante, recorre ao santo que, com o sinal da
cruz, o faz andar e recuperar a saúde num
instante.
Francisca Fitalia, sofrendo de grave enfer-
midade, recorre a Frei Benedito.
- "Fique tranqüila, minha filha! Volte para
casa e chegará curada!" De fato, já em ca-
minho, sentiu-se curada. E da enorme ferida
só ficou a cicatriz. 69
O santo abençoou o parto de muitas mães,
e muitas vezes predizia o futuro da criança. E
suas profecias se realizavam.
As mães tinham nele uma confiança ex-
traordinária e a ele recorriam pedindo que
abençoasse seus filhos, principalmente em
casos desesperadores.
Um tal Giacomo Baldesi estava muito mal, à
morte. Ouvindo falar nos prodígios do santo,
pede que o levem ao convento de Santa Ma-
ria. Como não era possível, pedem ao Frei que
vá visitar o doente. E, no convento, antes que
o portador do recado dissesse qualquer
coisa, falou Frei Benedito:
- "Você veio aqui a pedido de Giacomo,
não é verdade? Volte e diga a ele que tenha
confiança em Deus e lhe será concedida a
graça que deseja!" No prazo de quatro dias, o
enfermo estava perfeitamente curado e traba-
lhando normalmente.
a glorificação em vida
Quanto mais Frei Benedito se humilhava e
se escondia, mais a glória e os louvores do
povo o perseguiam. "Quem se humilha será
exaltado!11
71'
Palermo - Santa Maria de Jesus - Entrada lateral da Igreja.
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VII
O HERÓI DA VIRTUDE
o justo vive da fé
anjo eucarístico
a pobreza
Ao entrar para a Vida Religiosa, o religioso
faz três votos: pobreza, castidade e obediên-
cia. São Benedito cumpriu os votos de modo
heróico e fiel até à morte.
"Bem-aventurados os pobres de espírito,
disse Jesus, pois deles é o reino dos céus!"
A pobreza foi da predileção de São Fran-
cisco. E toda sua ordem é rigorosa na obser-
vância desta virtude.
São Benedito foi perfeito imitador de seu
pai espiritual. No início, vestia-se de uma tú-
nica de folhas de palmeira. No convento,
usava um hábito velho, remendado e pobre. 77
Descalço e corda à cintura, tornou-se a ima-
gem viva de São Francisco.
confiança na providência
a obediência
São Benedito gostava muito de repetir ~
seus irmãos que "um religioso nada deve
fazer sem a obediência dos seus Superiores"
Nos Superiores, via sempre a presença de
Deus. A tudo queria obedecer, em seus míni-
mos detalhes.
O Pe. Michele da Girgenti escreveu: "Frei
Benedito de S. Fratello jamais fez alguma
coisa contrária à virtude da obediência. 81
Quando recebia ordens dos Superiores, as
executava com prontidão e alegria. E era tão
rigoroso na obediência que, às vezes, deixava
pessoas importantes na portaria do convento
a esperá-lo, e não aparecia enquanto o Supe-
rior não lhe desse licença"
Os Superiores determinaram que, toda vez
que fosse chamado Frei Benedito, dessem
três badaladas no sino da comunidade. E o
santo, embora às vezes estivesse longe, em
oração ou em serviços do mosteiro, mal soa-
vam as badaladas, abandonava tudo e corria
à voz da obediência.
Às vezes, tocavam o sino por brincadeira.
Frei Benedito aparecia imediatamente.
Riam-se de sua simplicidade. E o santo, hu-
mildemente, respondia: - "Obedeci e
basta-me a obediência. Estou satisfeito"
Dom Lourenço Gallenti, Conde de Ga-
gliano, estava gravemente enfermo em Pa-
lermo. Estava desenganado pelos médicos.
Os parentes procuraram Frei Benedito no
convento de Santa Maria. E o santo pede que
tenham confiança em Deus e na Virgem Ma-
ria. A resposta, porém, não agradou aos inte-
ressados. Foram falar com o Superior de Frei
Benedito: - "Padre, queremos que o senhor
ordene a Frei Benedito que peça a Deus a
82 cura do nosso doente!"
O Superior assim o fez. O santo foi à capela,
ajoelhou-se diante do altar de Nossa Se-
nhora. Em êxtase, Frei Benedito viu Nossa
Senhora descer do altar e ir a uma sepultura.
Ela disse ao santo: - "Benedito, veja Lou-
renço Gallenti morto e ressuscitado!"
Alegre, Frei Benedito dirigiu-se às pessoas
que esperavam por um milagre. - "Meus
amigos, Deus ouviu nossas preces. Dom Lou-
renço está curado!" E, naquele momento, o
enfermo sentiu-se melhor, pediu alimento e
se levantou completamente são. Milagre da
obediência!
anjo de pureza
virtudes cardiais
No desenrolar destas páginas, temos no-
tado a presença constante das virtudes da
prudência, justiça, fortaleza e temperança do
nosso santo.
A prudência de São Benedito foi tão grande
que, embora analfabeto e simples Irmão
leigo, mereceu ser eleito Guardião de Santa
Maria. Fato este quase inédito na história da
Ordem Franciscana.
Para as questões mais difíceis, a prudência
sobrenatural de Frei Benedito achava solu-
ção. Teólogos, bispos e governadores o con-
sultavam assiduamente. O Espírito Santo fa-
lava por ele.
A justiça lhe era tão querida que não supor-
tava ver tão importante virtude desprezada.
Quando preciso, castigava o erro sem distin-
ção de pessoa. Não conhecia o respeito hu-
mano, quando se tratava de defesa da ver-
dade e do bem da religião.
Um Irmão de Frei Benedito, chamado Mar-
cos, não se sabe como nem porque, assassi-
86 nou um homem e foi preso. Dom Marcantonio
Colonna, então Vice-rei da Sicília, era um
grande admirador e amigo de Frei Benedito.
Mandou chamá-lo ao palácio. Queria libertar
o irmão do santo e dele esperava apenas uma
palavra, um pedido.
- "Diga ao senhor Vice-rei, responde o
santo com energia, que eu bem sei porque me
chama. Trata-se de salvar o meu irmão. Entre-
tanto, eu não posso e não devo entrar nesta
questão. Que se faça justiça!"
Os frades e amigos de Frei Benedito lhe
rogavam que intercedesse pelo irmão. O Su-
perior do convento o mandou ao Vice-rei.
Obedeceu, mas lá chegando disse: "Senhor
Vice-rei, Marcos é meu irmão e o quero muito
bem, mas venho dizer e repetir que se faça
justiça e só justiça, sem consideração à
minha pessoa!"
Voltando para casa, Frei Benedito foi re-
preendido pelo Superior. E Marcos foi liber-
tado.
A fortaleza do santo aparece bem viva em
suas atitudes sempre fortes, generosas e he-
róicas. E, da temperança, já tratamos quando
escrevemos sobre sua mortificação, sobrie-
dade e domínio sobre a natureza e o seu
corpo. São Benedito é um grande modelo
para o Povo de Deus. Foi um belo templo do
Espírito Santo, durante toda sua vida. 87
um grande penitente
espírito de oração
Quando não estava cumprindo algum
dever ou ocupação diária, Frei Benedito
encontrava-se na capela, diante do altar do
Santíssimo Sacramento. A Eucaristia era a
vida de sua vida. Sua principal devoção era
Jesus Sacramentado. A santa Missa, o sacrá-
rio, a Comunhão, eram tudo para ele. Tinha
grande devoção a Nossa Senhora. Costu-
mava dizér: - "Sei que sou pecador, mas
espero me salvar pelos méritos de Jesus e
pela intercessão de Maria, nossa co-
redentora". Convidava todos a recorrer a Ma-
ria: - "Tenhamos fé! Maria Santíssima nos
há de salvar!" - dizia sempre.
Conservava diante da imagem de Maria
uma lâmpada acesa, e com o óleo desta lâm-
pada curava muitos enfermos.
Para a festa da Assunção de Maria,
preparava-se com quarenta dias de jejum.
Recitava sempre o rosário, sua devoção pre-
dileta, e o trazia sempre consigo. Em viagens, 89
pelas estradas, rezava o terço ou repetia a
"Ave-Maria".
Frei Benedito tinha grande devoção para
com São Miguel, São Pedro e São Paulo, e
São Francisco de Assis. Para as festas destes
santos, preparava-se sempre com jejuns e
orações. Grande devoção tinha também para
com Santa Úrsula.
Frei Benedito sabia muito bem se preocu-
par com as coisas deste mundo e viver ao
mesmo tempo unido ao céu.
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VIII
MORTE E GLORIFICAÇÃO
duas enfermidades
morte feliz
morreu o santo!
túmulo glorioso
anjo de paz
beatificação e canonização
o início da
devoção em
portugal e no brasil
106
BIBLIOGRAFIA
• Bulia Canonizationis, de Pio VII, assinada por 27
cardeais, em maio de 1807.
• Nicolisi, Pe. Benedetto, "Vita di S. Benedetto di
S. Fratello" (Ed. Palermo - Gen. Affissione e
Publicit - 1907).
• Capistrano, G. - "Vita di S. Benedetto de San
Fratello" - Roma - 1808.
• "Aureola Seraph". - li - Quaracchi - 1898 -
5-25.
• Le Palmier Seraphique ou vie de saints et des
hommes et femmes illustres des Ordres de
Saint François - Ed. Bas le Duc - 1872.
• Leon- "L' Aureole Seraphique vie des saints et
bienhereux des trois Ordres de S. François"
- Paris, 1882 - li, 1. 0 •
• Domine - De Gubernatis Orb. Seraphic. -
Tom. 1, Livr. V, 9 e 10.
• Menologium - O.S.F. - 16-98-694 - S.S.
• Dictionaire d'Histoire et de Geographie Eccle-
siastiques - Paris, 1935 - Tom. VIII.
• De Kirche- Lexicon fuer theologie -Tom 11-
1931 - (149-150).
• De catho/ic Encyclopedie- Tom. li- pág. 472.
• Encyclopedie theo/ogique -1848-Tom. 21-
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• De Kirchliches haud Lexicon -1907 - 567-17.
• Rosário, Frei Diogo, "Fios Sanctorum".
• Silva, Dom Francisco, Bispo do Maranhão,
"Vida de São Benedito".
NOVENA
A SÃO BENEDITO
11 O
PRIMEIRO DIA