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Indice

Folha de rosto
Pá gina de direitos autorais
Dedicaçã o
Conteú do
Introduçã o
Capı́tulo um
Capı́tulo dois
Capı́tulo trê s
Capı́tulo quatro
Capı́tulo Cinco
Capı́tulo Seis
Capı́tulo Sete
Capı́tulo Oito
Apê ndice Um: Uma Aprendizagem na Castidade
Apê ndice Dois: Uma Aprendizagem na Misericó rdia
Oraçã o a Santa Maria Goretti pela pureza e santidade
Bibliogra ia
A Vida e o Testemunho de Santa Maria Goretti
A Vida e o Testemunho de Santa Maria Goretti

Nossa pequena santa das bem-aventuranças

POR REV. FR. JEFFREY F. KIRBY, STL

Livros TAN
Charlotte, Carolina do Norte
Copyright © 2015 por Fr. Jeffrey Kirby.

Todos os direitos reservados. Com exceçã o de pequenos trechos usados em artigos e resenhas
crı́ticas, nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida ou armazenada de qualquer
forma, impressa ou eletrô nica, sem a autorizaçã o pré via por escrito do editor.

Salvo indicaçã o em contrá rio, as citaçõ es das Escrituras sã o da Versã o Padrã o Revisada da Bı́blia –
Segunda Ediçã o Cató lica (Ediçã o de Iná cio). Copyright © 2006 Divisã o de Educaçã o Cristã do
Conselho Nacional das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos da Amé rica. Usado com permissã o.
Todos os direitos reservados.

Ilustraçã o da capa: Arte original encomendada pelo Santuá rio de Nossa Senhora de Guadalupe.
Pintado pelo Artista: Noah Buchanan. © Santuá rio de Nossa Senhora de Guadalupe, em La Crosse,
Wisconsin.

Design da capa por Caroline Kiser

Ediçã o Impressa: 978-1-61890-754-7


Ediçã o do e-book: 978-1-61890-755-4
Ediçã o Kindle: 978-1-61890-756-1

Dados de Catalogaçã o na Publicaçã o arquivados na Biblioteca do Congresso


Livros TAN
Charlotte, Carolina do Norte
www.TANBooks.com
2015
Para minhas sobrinhas:
Skylar, Kelsey e Julia
“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o
cabrito, e o bezerro, o leão e o cevado juntos, e uma criancinha os
conduzirá”.
Isaı́as 11:6
Conteúdo

Introduçã o

CAPITULO 1

A Simplicidade da Famı́lia Goretti e o Chamado a Toda Famı́lia


Cristã

CAPITULO DOIS

A perda de Luigi Goretti e a vocaçã o do padre cristã o

CAPITULO TRES

A mansidã o do trabalho duro e a é tica do trabalho cristã o em


nossos dias

CAPITULO QUATRO

Desejando santidade no que pensamos, dizemos e fazemos

CAPITULO CINCO

A misericó rdia de nossa pequena má rtir e sua mã e e a luta para
perdoar os outros

CAPITULO SEIS

O Sangue de Nosso Má rtir e a Batalha pela Pureza em Nossos


Coraçõ es

CAPITULO SETE

O Trabalho pela Paz em Nosso Relacionamento com Deus e com os


Outros

CAPITULO OITO

O legado de nosso má rtir e nossa convocaçã o para sofrer por


causa da justiça
Apê ndice Um: Uma Aprendizagem na Castidade
Apê ndice Dois: Uma Aprendizagem na Misericó rdia
Oraçã o a Santa Maria Goretti pela pureza e santidade
Bibliogra ia
Introdução

Este livro é sobre Maria Goretti, uma pequena santa com um grande
testemunho. Em nosso mundo, que muitas vezes luta com sua natureza
decaı́da e busca centelhas de esperança ou bondade, seu testemunho
cristã o brilha como o amanhecer que rompe a escuridã o da noite.
Santa Maria Goretti oferece a cada um de nó s um testemunho de
santidade, exempli icado pela sua pureza e misericó rdia. E o
testemunho de sua vida vivida em Jesus Cristo e selada por seu pró prio
sangue. Citando a sagrada liturgia, é o testemunho de um sacrifı́cio
aceitá vel a Deus “para louvor e gló ria do seu nome e para o nosso bem e
o bem de toda a sua santa Igreja”.
Nas Sagradas Escrituras, o profeta Isaı́as nos diz que a paz virá e o
lobo habitará com o cordeiro, o leopardo com o cabrito, o bezerro com
o leã o e o cevado, e “uma criança os conduzirá ” (11: 6). O Senhor Jesus
cumpre esta profecia em Seu ministé rio pú blico quando ensina: “Em
verdade vos digo que, se nã o vos tornardes como crianças, nunca
entrareis no reino dos cé us” (Mt 18:3).
Maria Goretti é uma dessas crianças que nos conduz, que nos mostra
como ser discı́pula de Jesus Cristo. Ela morreu aos doze anos. Ela
cresceu em uma famı́lia pobre de agricultores e nã o sabia ler nem
escrever. Maria Goretti nã o teria sido conhecida no mundo de outra
forma se sua notá vel virtude e seu heró ico testemunho de pureza e
misericó rdia nã o brilhassem de sua pequena cidade até os con ins da
terra e ao longo do sé culo passado e alé m.
Santa Maria Goretti é testemunha para cada um de nó s – de todas as
é pocas e culturas, de todas as condiçõ es econô micas e sociais, de todos
os nı́veis de discipulado e desejo de santidade – do que signi ica ser
cristã o em nosso mundo hoje. Nosso pequeno santo é um exemplo e
encorajamento para cada um de nó s que luta para viver uma vida de
virtude, que deseja viver em pureza de coraçã o, que deseja perdoar ou
ser perdoado; em resumo, a todos nó s que buscamos a face de Deus e
nos esforçamos para viver vidas plenamente humanas em Jesus Cristo.

Uma breve biogra ia


Ao longo de sua vida, Maria Goretti foi conhecida por sua beleza fı́sica,
forte é tica de trabalho, profunda piedade e alegria que sempre foi
temperada por um forte senso de responsabilidade. Devido a essas
caracterı́sticas em seu personagem, ela à s vezes era carinhosamente
chamada de “a velhinha”.
Em sua famı́lia, Maria era a terceira de sete ilhos. Ela nasceu em
1890 em uma famı́lia de agricultores em di iculdades na regiã o ao
redor de Ancona, no lado leste da Itá lia. Devido à crescente pobreza da
famı́lia, os Goretti venderam sua fazenda e procuraram se tornar
assalariados nas terras de outros. Isso os levou a Le Ferriere, perto de
Nettuno, no lado ocidental da Itá lia. Nos pâ ntanos desta regiã o, a
famı́lia inalmente conseguiu encontrar emprego.
O trabalho foi longo e á rduo, no entanto, e eventualmente os Goretti
tiveram que receber Giovanni Serenelli e seu ilho, Alessandro, em sua
casa como parceiros para compartilhar o trabalho da fazenda.
Infelizmente, a ajuda extra fez pouca diferença para aliviar a carga de
trabalho, e a saú de do pai de Maria piorou. Eventualmente, ele
sucumbiu à malá ria prevalente na regiã o. Luigi Goretti morreu quando
sua ilha santa tinha apenas nove anos. A mã e de Maria, Assunta, e seus
irmã os estavam à mercê de Giovanni Serenelli e seu ilho.
A vida era muito difı́cil para os Goretti. Giovanni era alcoó latra e
desdenhoso e brusco com Assunta e seus ilhos. Ele exigiu que a viú va e
seus ilhos mais velhos trabalhassem nos campos. Instruiu que Maria,
como ilha mais velha, icasse na casa e cuidasse dos afazeres
domé sticos e do ilho mais novo. O ilho de Giovanni, Alessandro, que
estava no inal da adolescê ncia, tinha um temperamento violento e era
viciado em pornogra ia. Desconhecido para Assunta, ele regularmente
fazia comentá rios inapropriados para Maria e duas vezes a propunha
atos lascivos.
Em 5 de julho de 1902, enquanto Giovanni, Assunta e os ilhos mais
velhos trabalhavam na lavoura, Alessandro voltou para casa sabendo
que Maria estaria sozinha cuidando do ilho mais novo. Alessandro
carregava uma faca e tentou estuprar Maria. Ela se recusou e disse a ele
que seria um pecado. Ela estava mais preocupada em ofender a Deus do
que com sua segurança fı́sica. Ela lutou contra Alessandro e, em sua
raiva, ele a esfaqueou brutalmente quatorze vezes.
Alessandro foi e se escondeu enquanto Assunta e Giovanni,
respondendo aos gritos de Maria, voltaram para encontrar a jovem viva,
mas coberta de seu pró prio sangue. Ela foi levada à s pressas para o
hospital local, e os cirurgiõ es icaram chocados por ela ainda estar viva.
Os mé dicos tentaram salvar sua vida e começaram a cirurgia sem
anestesia. A pequena Maria sobreviveu por um dia com dores
excruciantes. Ela disse à mã e que perdoou Alessandro e morreu na paz
de Jesus Cristo, segurando um cruci ixo e uma imagem de Maria.
Uma testemunha e um livro de exercícios sobre santidade
Nestas pá ginas vamos mergulhar na vida incrı́vel desta pequena santa e
seu poderoso testemunho. Os diferentes capı́tulos destacarã o os vá rios
aspectos de sua vida e devoçã o. Para ajudar a compartilhar a histó ria
desta virgem má rtir, usaremos as oito bem-aventuranças do Evangelho
de Sã o Mateus (5:3-12).
As bem-aventuranças, conhecidas como o caminho de Jesus Cristo,
servirã o como um esboço da narrativa do santo. Cada uma das oito
bem-aventuranças servirá de guia para cada um dos oito capı́tulos do
livro e será um ponto focal a partir do qual a vida inspiradora e o
testemunho de Santa Maria Goretti serã o descritos e elucidados.
Ao contrá rio de outras biogra ias, poré m, nosso livro nã o se deterá
apenas na narrativa da vida desse santo. Iremos um passo alé m. Em
cada um dos capı́tulos do livro, o testemunho e o exemplo de Maria
serã o aplicados ao nosso pró prio discipulado.
Santa Maria Goretti nã o é uma santa a ter pena, mas sim a ser
imitada. Os capı́tulos a seguir explorarã o as vastas á reas de nossas
pró prias vidas e discipulado onde o exemplo, oraçõ es e encorajamento
deste pequeno santo podem nos ajudar a nos aproximar de Deus e de
nosso pró ximo. Queremos aplicar e viver verdadeiramente em nossas
pró prias vidas a inspiradora histó ria e testemunho de Santa Maria
Goretti.

Nosso Santo “Americano”


Santa Maria Goretti é justamente chamada de uma das santas
americanas. Aqui está uma breve explicaçã o. A Batalha de Anzio da
Segunda Guerra Mundial foi um con lito intenso e sustentado que
acabou levando nã o apenas à vitó ria dos Aliados, mas també m ao
afrouxamento do controle que as potê ncias do Eixo tinham na
penı́nsula italiana. Ocorrendo em 1944, seria uma das batalhas de
assinatura que marcaram o im do teatro europeu da guerra. A batalha
e o subsequente acampamento em Anzio levaram muitos soldados
americanos a visitar cidades locais, incluindo Nettuno, onde está
localizado o santuá rio de Santa Maria Goretti.
Muitos soldados americanos, ainda em plena guerra, voltaram-se
para a pequena má rtir e pediram sua intercessã o e proteçã o. Muitos
deles buscaram sua ajuda para manter a pureza de coraçã o, evitando a
pornogra ia e a conduta lasciva nos campos militares.
A devoçã o a Santa Maria Goretti cresceu nos Estados Unidos por
causa da comunhã o espiritual formada entre esta pequena santa e
tantos dos soldados americanos que trouxeram sua histó ria e
testemunho com eles depois da guerra.
Até hoje, uma pessoa pode visitar o santuá rio de Santa Maria Goretti
em Nettuno e, apó s cerca de trinta minutos de caminhada, pode estar
no cemité rio estrangeiro americano em Anzio. Este é o segundo maior
cemité rio estrangeiro americano do mundo (perdendo apenas para a
Normandia).
A luz dessa histó ria, poderı́amos chamar espiritualmente Santa
Maria Goretti de uma das santas americanas. Que bê nçã o é que ela
estará visitando os Estados Unidos – seu lar espiritual – para uma
Peregrinaçã o da Misericó rdia em 2015.

Uma Nota Pessoal


Ao escrever este livro, é importante para mim ser transparente. Devo
deixar o leitor saber que nã o estou escrevendo como um historiador da
igreja ou um bió grafo. Ao escrever este livro, estou escrevendo a
histó ria de um amigo, um amigo santo com quem passei muito tempo e
cujas oraçõ es e testemunhos me ajudaram.
Como seminarista do Pontifı́cio Colé gio Norte-Americano de Roma,
iz frequentes visitas a Nettuno e ao Santuá rio de Santa Maria Goretti.
Honestamente, era uma passagem de trem barata e uma maneira de
sair da agitaçã o da metró pole romana. Mais importante, Nettuno e o
santuá rio do santo sempre foram um lugar de tranquilidade
avassaladora. Eu sabia que era um lugar de paz, e sempre me senti
muito confortá vel lá , como se estivesse em casa. O santuá rio ica bem
perto da á gua, que está sempre calma, e o povo de Nettuno tem uma
hospitalidade calorosa e pronta.
A presença de Santa Maria Goretti é tangı́vel no santuá rio. Depois de
minhas visitas lá , sempre saı́ querendo viver uma vida cristã melhor.
E por isso que escrevi este livro. Ao compartilhar a histó ria deste
grande pequeno santo, espero que cada leitor seja inspirado pela
pureza, fortaleza e misericó rdia de Santa Maria Goretti. Espero que o
seu testemunho cristã o inspire o nosso pró prio discipulado para que, à
nossa maneira, també m possamos marcar a nossa histó ria da salvaçã o.
CAPITULO 1

A Simplicidade da Família Goretti e o Chamado a


Toda Família Cristã
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos
céus”.
Mateus 5:3

Simplicidade da vida
A seduçã o do conforto e das posses materiais sã o fortes no coraçã o
caı́do da humanidade. A tensã o entre “ser” e “ter” é uma grande batalha,
que muitas vezes termina com o “ter” e o controle das coisas vencendo.
O objetivo de tal impulso rebelde é construir seu pró prio reino e
entronizar seu pró prio ego como a ú nica regra de vida.
Tal impulso nã o foi encontrado na pobreza material e espiritual da
famı́lia Goretti. Luigi e Assunta Goretti, junto com Maria e seus outros
ilhos, trabalharam duro para seu sustento e procuraram sempre ser
um consolo para os necessitados. Em vez de seus pró prios egos, os
Goretti buscaram a vontade de Deus e, em vez de construir seu pró prio
reino, essa sagrada famı́lia desejava receber e espalhar o reino dos cé us.
Nosso trabalho e as coisas deste mundo sã o dados como um caminho
para encontrarmos Jesus Cristo e crescermos em santidade. Eles podem
nos ajudar a amadurecer em virtude e nos ajudar a lorescer como
seres humanos justos. O trabalho e a propriedade sã o destinados por
Deus a ser um meio para o benefı́cio de outros, especialmente para as
famı́lias. Ao trabalhar e possuir propriedades, tornamo-nos mordomos
da Providê ncia de Deus, que é Seu cuidado paternal com a criaçã o. Ao
compreender nossa pró pria mordomia, nosso trabalho e propriedade
das coisas devem ser marcados por um aguçado senso de justiça e
temperança. Essas virtudes, por sua vez, nos levam à solidariedade com
os oprimidos pela pobreza.
Ao evitar nossa mordomia das coisas deste mundo e das virtudes que
devem acompanhá -lo, alimentamos um apetite obscuro e excessivo por
coisas agradá veis que vã o alé m da razã o e da propriedade. Nó s
fortalecemos uma paixã o dentro de nó s pelas riquezas e o poder que
vem com elas. Dar expressã o a esse impulso interno equivocado é o
acú mulo bruto de bens terrenos sem moderaçã o ou limite. Tal estado
espiritual decaı́do nã o permite que uma pessoa se regozije com o bem
de outra, e recusa a verdadeira caridade e preocupaçã o com os
vulnerá veis e com o pró ximo.
Esta nã o era a vida de Santa Maria Goretti e sua sagrada famı́lia. Em
suas vidas, eles buscaram uma puri icaçã o e ordenaçã o de seus
coraçõ es e desejos. Como uma famı́lia cristã , eles buscavam a virtude e
queriam coraçõ es que estivessem longe da ganâ ncia e da inveja. Eles
sabiam que Jesus Cristo podia estar na simplicidade da vida: no
trabalho honesto, no serviço altruı́sta e na generosidade para com os
pobres. Os Goretti icaram satisfeitos com pouco. Eles desejavam
somente Deus e Seu reino em suas vidas.

A Família Goretti
Muitas coisas podem motivar uma pessoa ou uma famı́lia. Para a famı́lia
Goretti foi uma forte devoçã o a Jesus Cristo e Sua Mã e Santı́ssima. A
partir desta piedade, a famı́lia procurou viver uma vida simples em
Deus.
Luigi e Assunta se casaram em sua cidade natal de Corinaldo, no lado
leste da Itá lia. Eles tinham um pequeno pedaço de terra, começaram a
vida juntos e acolheram prontamente as crianças. A lavoura era um
trabalho á rduo, mas eles eram donos da terra e estavam juntos. Maria e
seus irmã os ajudavam no campo e nas tarefas da casa. Eles eram uma
famı́lia. Todos tinham um lugar, e todos tinham uma responsabilidade.
Esta jovem famı́lia nã o tinha conforto ou raçõ es extras em suas vidas.
Muitas coisas que outras pessoas consideravam necessidades, elas
tinham que viver regularmente sem. Os Goretti, no entanto, nunca
reclamaram ou se entregaram à autopiedade, nem se ressentiram das
bê nçã os dos outros. Em vez disso, eles estavam cheios de gratidã o e
todas as noites rezavam o Rosá rio juntos como uma famı́lia em louvor e
açã o de graças a Deus pelo que eles tinham e por Suas bê nçã os em suas
vidas. A famı́lia Goretti viveu na verdadeira simplicidade de vida. Eles
buscavam o reino de Deus e nã o sua caricatura em riquezas excessivas
ou posses vazias das coisas deste mundo.
Quando Maria tinha seis anos, no entanto, a famı́lia nã o conseguiu
pagar as contas e tomou a dolorosa decisã o de vender suas terras e
procurar emprego nos campos de outra pessoa. Luigi procurou e
acabou encontrando uma oportunidade de emprego em Le Ferriere, na
costa oeste da Itá lia. Com o coraçã o pesado, os Goretti tiveram que se
mudar. Eles deixaram a terra de suas famı́lias e seu nascimento, de tudo
o que conheciam e amavam, e foram para um lugar desconhecido cheio
de pessoas que pareciam nã o se importar com eles. Foi uma partida que
aprofundou seu pró prio senso de simplicidade de vida e de ter o reino
de Deus como sua ú nica posse.
Ao chegar em Le Ferriere, a famı́lia viu que os campos estavam em
pâ ntanos. Para sobreviverem e viverem dos lucros da lavoura, seriam
necessá rios pouquı́ssimos gastos e muito trabalho á rduo. A famı́lia
morava em uma antiga fá brica de queijos e trabalhava para gastar o
mı́nimo possı́vel e tornar todos os recursos o mais bené icos possı́vel.
Em sua pobreza e em todas as suas di iculdades, a famı́lia Goretti viu a
Providê ncia de Deus e lhe agradeceu. Eles procuraram encontrar Sua
bondade e graça em suas muitas necessidades e viveram alegremente
como herdeiros de um reino maior.

O icina de Santidade
A simplicidade de vida da famı́lia Goretti é um modelo e um chamado
para toda famı́lia cristã . No desejo de viver a bem-aventurança “Bem-
aventurados os pobres de espı́rito, porque deles é o reino dos cé us”, a
famı́lia cristã é chamada a olhar para o pró prio coraçã o e a questionar
como a batalha entre “ser” e “ter ” está sendo travado em sua vida.
Enquanto uma famı́lia nã o pode ser chamada à radical pobreza material
dos Goretti, cada famı́lia cristã é chamada à simplicidade de vida. Em
nossas famı́lias, o excesso e o conforto substituı́ram a temperança e a
justiça?
A famı́lia Goretti viu tudo como uma bê nçã o de Deus e trabalhou,
mesmo em meio a di iculdades incrı́veis, para ver a Providê ncia de
Deus e buscar Seu reino acima de tudo. Este é o princı́pio fundamental
e vivi icante que deve inspirar, guiar e animar a famı́lia cristã em nosso
mundo hoje. Como estamos?
Como auxı́lio aos nossos pró prios esforços pela simplicidade no lar
cristã o, este capı́tulo será concluı́do com este Exame de Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Vejo Deus como aquele que me deu as bê nçã os da minha vida?
Ou credito minhas bê nçã os apenas como resultado de meu
trabalho duro ou engenhosidade?
• O que mais valorizo nesta vida? Meu modo de vida (é tica de
trabalho, gastos e economia) re lete essas prioridades?
• Em que eu gasto meu dinheiro principalmente? Deixo-me guiar
pela justiça e temperança em meus gastos e economias?
• Como reajo à s posses dos outros?
• Tenho coisas que nunca uso?
• Que responsabilidades tenho para com os outros? Estou atento
aos pobres e necessitados?
• O que possuo agora é su iciente para mim? Muito?
• Encontro-me sempre querendo o que nã o tenho?
• Sou grato pelas bê nçã os em minha vida?
• Equilibrei meu trabalho e renda com minhas responsabilidades
espirituais, familiares e sociais?
• Tenho uma mentalidade consumista, onde tudo é marcado pelo
dar e receber? Sou generoso com os outros sem expectativas de
retribuiçã o?
• Honro os contratos e promessas que iz aos outros?
• Cumpro minhas responsabilidades de trabalho com honestidade
e excelê ncia?
• Resolvi minhas dı́vidas?
• Uso cré dito por vaidade e desejo de aceitaçã o?
CAPITULO DOIS

A perda de Luigi Goretti e a vocação do padre cristão


“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.
Mateus 5:4

Paternidade Cristã
A morte de um ente querido deixa uma cicatriz no coraçã o humano. A
perda de um pai é especialmente difı́cil. Tal perda leva a uma
rede iniçã o do que a vida será para nó s sem aquele que nos deu a vida
em primeiro lugar.
Esta foi a experiê ncia e histó ria de Maria Goretti e sua famı́lia quando
seu pai morreu de malá ria. Maria sentiu agudamente sua perda e
procurou consolar sua mã e e irmã os.
Em nossa cultura contemporâ nea, a paternidade é desconhecida para
muitos e negligenciada ou até mesmo totalmente descartada por
outros. Pais ausentes ou desinteressados prejudicam suas famı́lias e
confundem seus ilhos.
O papel do pai cristã o é uma vocaçã o dada por Deus. Em sua Carta
aos Efé sios, Sã o Paulo nos ensina: “Por isso me ponho de joelhos diante
do Pai, do qual toma o nome toda famı́lia no cé u e na terra” (3,14-15).
Assim como toda famı́lia é nomeada por Deus, o pai de famı́lia recebe
um cargo de responsabilidade e serviço.
O pai cristã o é també m um marido cristã o, e seu primeiro serviço é
para sua esposa, que é igual a ele em dignidade. O homem é chamado a
amar a sua esposa «como Cristo amou a Igreja», o que signi ica que
deve estar disposto a dar a sua vida por ela e pelos seus ilhos (cf. Ef
5,25). O marido é chamado a mostrar deferê ncia e profunda afeiçã o
para com sua esposa e a mã e de seus ilhos. Ao mostrar tal bondade
amorosa à esposa, o marido modela a tranquilidade que deve ser a
marca do lar cristã o. Da vocaçã o conjugal do homem decorre o seu
serviço de pai cristã o.
Como pai da famı́lia cristã , que é uma igreja domé stica, o homem é
comissionado por Deus para mostrar iel cuidado e atençã o aos seus
ilhos. Ele deve ser um exemplo de oraçã o e virtude. Como sacerdote
real de uma igreja domé stica, junto com sua esposa, o pai cristã o deve
levar sua famı́lia a Deus pela participaçã o regular na missa, con issã o
frequente, oraçã o familiar e virtude heró ica. Ao homem é dada a graça
de ser um servo prudente de Deus, guiando e guardando a vida
espiritual de sua esposa e ilhos.
Como pai cristã o, o homem é chamado por Deus para trabalhar e
sustentar sua famı́lia. Ele tem o privilé gio em Jesus Cristo de permitir
que seu trabalho seja uma expressã o diá ria de seu amor ao sustentar
sua esposa e famı́lia.
Em todas as responsabilidades e deveres dentro de sua vocaçã o
como pai cristã o, o homem é chamado a mostrar uma força gentil para
sua esposa e ilhos, e assegurar a harmonia dentro da famı́lia, bem
como a paz no lar. Em seu testemunho paterno, os ilhos de um pai
devem sempre conhecer e poder contar com seu profundo amor,
aceitaçã o, generosidade de tempo e afeto, paciê ncia, misericó rdia e
apoio voluntá rio. No pai cristã o, apesar de sua pró pria pecaminosidade
e fraqueza, os ilhos devem sempre ver um re lexo do pró prio Deus.
A bê nçã o que a Igreja oferece aos pais pelo batismo de seus ilhos
resume bem sua vocaçã o:
Deus é o doador de toda a vida, humana e divina. Que Ele abençoe
o pai desta criança. Ele e sua esposa serã o os primeiros
professores de seu ilho nos caminhos da fé . Que eles sejam
també m os melhores professores, dando testemunho da fé pelo
que dizem e fazem, em Cristo Jesus nosso Senhor. Um homem.

A Família Goretti
Luigi e Assunta Goretti eram do pequeno distrito de Corinaldo, na
regiã o conhecida como “Os Pâ ntanos” no lado leste da penı́nsula
italiana. Em parte devido à proximidade da Santa Casa de Loreto, que é
a casa atestada por ter sido a casa de Jesus, Maria e José quando viviam
em Nazaré , a á rea sempre foi forte em sua devoçã o a Maria e ao Familia
sagrada.
Luigi entendeu sua vocaçã o de marido e pai. Ele sabia muito
claramente sua responsabilidade de cuidar de sua esposa. Ele acolheu
as crianças e mostrou-lhes o amor de um pai. Luigi trabalhava duro nos
campos e voltava para casa exausto, mas sempre arrumava tempo para
cumprimentar a esposa e os ilhos. Apesar de cansado do trabalho na
lavoura, depois da refeiçã o da noite, dava atençã o especial a cada um de
seus ilhos e sempre rezava um terço com eles antes de ir para a cama.
Antes de dormir, Luigi e Assunta també m rezavam juntos pelos ilhos.
Luigi procurou sempre con iar em Deus e trabalhou incansavelmente
para ser um instrumento do amor e da misericó rdia de Deus para sua
famı́lia.
Quando o trabalho e a propriedade em Corinaldo nã o podiam mais
sustentar a famı́lia, Luigi compreendeu seus deveres cristã os e
procurou emprego. Ele acabou encontrando trabalho nas fazendas de
um nobre e levou sua famı́lia para a costa leste da Itá lia. Quando a
famı́lia chegou e viu que a fazenda icava no pâ ntano, Luigi
imediatamente começou a trabalhar. Ele trabalhou incansavelmente
para preparar adequadamente os campos para a agricultura. O jovem
marido e pai trabalhou até icar doente e teve que suspender seu
trabalho para que pudesse se recuperar. O proprietá rio entã o exigiu
que Luigi recebesse ajuda extra, entã o Giovanni e Alessandro Serenelli
se mudaram para a casa dos Goretti e começaram a trabalhar com Luigi
como parceiros de negó cios.
Nã o era um arranjo ideal. Os Serenellis nã o tinham a piedade e a
virtude dos Gorettis. Luigi criou limites entre as duas famı́lias para que
seus ilhos nã o fossem in luenciados por maus exemplos. Ele procurou
fazer o arranjo funcionar, pois precisava do lucro da colheita para
fornecer alimentos para sua famı́lia. A gentileza e o respeito de Luigi, no
entanto, nã o foram correspondidos.
Infelizmente, a malá ria inalmente ultrapassou Luigi. Em seus
ú ltimos dias, ele estava cheio de angú stia por sua famı́lia. Ele os estava
deixando sem estabilidade inanceira, com parceiros de negó cios
questioná veis e longe de sua famı́lia extensa. Luigi recebeu os Ultimos
Ritos e antes de morrer disse à esposa: “Volte para Corinaldo”.
Infelizmente, a jovem viú va nã o tinha recursos para retornar à sua
cidade natal, e a famı́lia enlutada icou sob o jugo de Giovanni Serenelli
e seu ilho.
Todas as crianças da famı́lia Goretti sofreram muito com a morte de
Luigi, mas nenhuma a levou tã o profundamente quanto Maria. Ela
reverenciava seu pai e o amava como apenas uma ilha mais velha
poderia. Maria sempre foi uma pessoa compassiva e, enquanto seu pai
estava doente, ela corria vá rios quilô metros até Nettuno para buscar
remé dios para ele. Durante sua doença, Maria se esquecia de comer ou
dormir enquanto servia a ele e à famı́lia. Maria tinha apenas nove anos
quando Luigi Goretti morreu, mas entrou em uma nova fase de sua
pró pria vida. Enquanto sentia imensamente a falta de seu pai, ela se
tornou mais determinada em sua caridade para com sua mã e e irmã os.
Com a morte de seu pai, Maria sabia que suas responsabilidades
paternas precisariam ser realizadas por outros, e ela estava muito
disposta a servir e proteger sua famı́lia.
Mesmo com a famı́lia sofrendo com os homens Serenelli e a carga de
trabalho intensi icada, Maria nunca se esqueceu do pai. Sempre que ela
ia à cidade vender ovos, ela parava no cemité rio onde ele estava
enterrado e orava por ele. A famı́lia Goretti ainda rezava juntos um
terço todas as noites, e todas as noites Maria rezava um segundo terço
inteiro sozinha apenas para seu pai.
O testemunho deste pai cristã o continuou atravé s da vida e do
martı́rio de sua amada ilha. A vida que Luigi modelou deixou uma
impressã o duradoura em seus ilhos, e Maria se lembraria desse
testemunho até o momento de sua morte. Ela permaneceria irme
contra o pecado mesmo quando confrontada com a ponta de uma faca e
a morte. Ela nã o abandonaria Jesus Cristo e sua pureza de fé e moral. A
histó ria de seu pai, seu trabalho á rduo e virtude, sua oraçã o e bondade,
deram à pequena santa a força e o poder para combater o mal e dar seu
testemunho perpé tuo da bondade.
Apó s o ataque brutal contra Maria e sua pureza, enquanto ela morria
no hospital, ela se voltou espiritualmente para seu pai. O legado de fé e
virtude de Luigi continuou vivo e falado com muito carinho, uma das
ú ltimas palavras de Maria foi “Papai!” Talvez, na comunhã o dos santos,
seu pai estivesse lá com ela, para receber sua amada ilha transformada
em virgem-má rtir no cé u.

O icina de Santidade
Vivemos em uma é poca em que a famı́lia cristã está tanto sitiada de fora
quanto sob ataque de dentro. A famı́lia deve discernir in luê ncias
negativas e obscuras, bem como seu pró prio compromisso com Jesus
Cristo.
Vivemos em um mundo onde a falsidade é descrita como
esclarecimento, a negligê ncia dos pais é elogiada como con iança e a
permissividade moral é velada como liberdade. Em tal arena, os pais
cristã os estã o divididos entre sua fé e a proteçã o da virtude de seus
ilhos, por um lado, e as correntes agressivas de nossa sociedade
secular e sua pressã o, por outro. Nessa tensã o, os pais cristã os devem
con iar na regra da fé e buscar quais coisas boas louvarã o a Deus. Eles
devem ser cautelosos com a vaidade, o respeito humano e os elogios
caı́dos deste mundo. O pai cristã o é sempre chamado a dar testemunho
de Jesus Cristo e a guardar e guiar o desenvolvimento espiritual e moral
de seus ilhos.
Em particular, o padre cristã o deve sentir o peso da sua
responsabilidade e procurar imitar os homens santos da nossa fé , como
Luigi Goretti.
Como ajuda aos pais cristã os em sua vocaçã o, este capı́tulo conclui
com este Exame de Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Percebo e aceito que meu casamento e minha paternidade sã o
vocaçõ es de Deus?
• Mostro deferê ncia e respeito ao meu cô njuge?
• Vejo meu cô njuge como meu igual e busco harmonia em meu
casamento?
• Levo a sé rio minhas responsabilidades de guiar e proteger o
desenvolvimento espiritual e moral de meus ilhos?
• Sou in luenciado negativamente em meus deveres cristã os pelas
opiniõ es e comentá rios de outros pais ou pessoas da minha
sociedade?
• Levo meus ilhos à missa dominical e garanto que eles vã o
regularmente à con issã o? Permiti que esportes ou outras formas
de recreaçã o suplantassem ou distraı́ssem os deveres espirituais
para com meus ilhos e famı́lia?
• Ensinei meus ilhos a orar?
• Eu me comunico com meus ilhos e sei quais pessoas ou fontes os
estã o in luenciando?
• Tenho dado atençã o a quem meus ilhos sã o amigos e com quem
estã o namorando?
• Dei limites claros aos meus ilhos sobre o que é moralmente
correto e/ou sinais de afeiçã o apropriados para a idade dos
outros?
• Dei aos meus ilhos um exemplo positivo do valor do trabalho?
• Provoco tensõ es ou brigas desnecessá rias em meu casamento ou
famı́lia?
• Supervisiono como meus ilhos usam a internet e a televisã o? Eu
os ensinei a usar a verdade moral cristã como norma para seu
entretenimento e comunicaçã o com os outros?
• Dei o exemplo e ensinei meus ilhos a mostrar bondade e
misericó rdia para com os outros?
• Interferi na liberdade de meus ilhos seguirem uma vocaçã o
sacerdotal ou religiosa?
CAPITULO TRES

A mansidão do trabalho duro e a ética do trabalho


cristão em nossos dias
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.”
Mateus 5:5

A compreensão cristã do trabalho


A fé cristã sempre viu o trabalho como um dever e privilé gio dado por
Deus. Ajuda-nos a honrá -lo pelos dons e talentos que recebemos dele
generosamente. Cada pessoa humana é chamada a trabalhar de alguma
forma. O trabalho nos distingue de todas as outras criaturas, pois
decorre de nossa dignidade de ilhos e ilhas de Deus feitos à Sua
imagem. O trabalho prolonga o trabalho contı́nuo da criaçã o,
subjugando a terra tanto uns com os outros como uns para os outros.
O trabalho humano també m pode ser redentor. Foi feito um caminho
de santidade por Jesus Cristo, que trabalhou como carpinteiro. Vivemos
e nos mostramos como discı́pulos do Senhor Jesus carregando nossa
cruz diariamente na obra que somos chamados a cumprir. Ao operar
nossa salvaçã o “com temor e tremor”, aceitamos as di iculdades de
nosso trabalho e permitimos que a graça nos transforme (cf. Fp 2:12).
O trabalho é para o lorescimento da pessoa humana e da sociedade,
e assim a pessoa nã o existe apenas para trabalhar, como se fosse apenas
uma má quina. O trabalho chama-nos à vida comunitá ria e à
solidariedade com o pró ximo. Ao trabalhar com os outros, trocamos
bens humanos e virtudes uns com os outros. Ajudamos a construir uma
sociedade civil, uma verdadeira civilizaçã o do amor. Nesses esforços,
estendemos nosso testemunho cristã o alé m de nossas famı́lias e
procuramos cooperar no desenvolvimento humano, bem como
compartilhar as verdades da fé com todas as pessoas. E assim, nosso
trabalho pode ser um meio de graça nã o apenas para nó s mesmos, mas
també m para os outros, pois oferecemos esses trabalhos a Jesus Cristo
por nossos entes queridos e pelos necessitados.
De nosso trabalho, cada pessoa humana deve poder receber seu “pã o
de cada dia”, ou seja, de nosso trabalho, devemos ser capazes de
sustentar a nó s mesmos e nossas famı́lias. Este é um princı́pio de
justiça inerente à pró pria natureza do trabalho. E o propó sito temporal
do trabalho e a esperança de todo trabalhador.

A Família Goretti
A famı́lia Goretti compreendeu o valor e o poder espiritual do trabalho.
Luigi e Assunta trabalhavam em equipe entre o campo e o trabalho
domé stico. Maria e seus irmã os també m aprenderam a importâ ncia do
bom trabalho e as virtudes cristã s nascidas dele.
Quando Maria tinha seis anos e a famı́lia se mudou para Le Ferriere,
eles viram o panorama plano e vazio dos pâ ntanos Pontine. A terra
parecia sem vida. Era baixo e pantanoso. O calor era intenso. Nã o havia
á rvores, o que signi icava que nã o havia sombra. Luigi e sua famı́lia logo
perceberam que nã o estavam mais em Corinaldo e nã o trabalhariam em
seu pró prio terreno. Eles eram trabalhadores contratados e agora
cultivavam nos campos de outra pessoa; campos que, para sua
desgraça, nã o eram favorá veis à lavoura.
Antes da chegada dos Goretti, a terra nã o era cuidada há mais de trê s
anos. As valas foram negligenciadas a tal ponto que já nã o carregavam o
excesso de á gua. Luigi começou seu trabalho nas valas, pois eram
necessá rias para os campos. Ele fez um grande esforço para controlar
as terras agrı́colas. Apó s a escavaçã o da vala, no entanto, havia mais
trabalho a ser feito.
Com as valas em ordem, Luigi começou a arar. Ele arou vá rios acres
de terra e começou a semear trigo e cevada. Feita a semeadura, poré m,
ainda havia mais trabalho a ser feito.
Com os campos em ordem, Luigi começou a trabalhar nos pré dios
que estavam em pé ssimo estado de conservaçã o. Ele substituiu os
telhados, consertou os lofts e renovou os está bulos. Luigi era um bom
homem que trabalhava duro para cuidar de sua famı́lia.
Infelizmente, o trabalho de Luigi o cansou e ele começou a ter tosse e
febre. Frustrado consigo mesmo, nã o conseguiu trabalhar e foi
con inado à cama. Devido a esse tempo de recuperaçã o, Luigi nã o pô de
colher totalmente os campos e, quando o nobre veio inspecionar a
terra, icou irritado com a aparente negligê ncia de Luigi com os campos.
O nobre exigiu que Luigi aceitasse ajuda e lhe enviou o pai e o ilho
Serenelli. Luigi propositadamente trabalhava sozinho em suas tarefas
para que o lucro da colheita ajudasse sua famı́lia e lhes desse alguma
segurança. Agora, ele tinha que sucumbir, nã o apenas ao inı́cio da
malá ria, mas a esses parceiros de negó cios e colegas de casa sombrios e
suspeitos.
Luigi trabalhou duro para encontrar energia para começar a
trabalhar novamente e procurou ser justo e gentil com os Serenelli. Ele
era um trabalhador forte que conhecia as bê nçã os espirituais e terrenas
do trabalho virtuoso. Luigi trabalhou como um cristã o que via seu
trabalho como parte de seu discipulado e serviço ao Senhor Jesus. Ele
nã o se entregou à autopiedade, inveja ou desespero. Ele nã o reclamou
das di iculdades em seu trabalho. Ele queria dar um forte testemunho
cristã o aos seus ilhos, que també m trabalhavam na fazenda como a
idade permitia, para que conhecessem o valor do bom trabalho como
caminho de santidade.

O icina de Santidade
Em nossa cultura hoje, parece que muitas pessoas querem coisas pelas
quais nã o estã o dispostas a trabalhar. As liçõ es elementares de trabalho
duro e esforço consistente, de virtude e autodeterminaçã o, parecem ser
eclipsadas por uma preguiça social que espera muitas coisas, mas está
disposta a dar muito pouco.
As virtudes que sã o dadas pelo bom trabalho bem feito sã o um
caminho nã o só para a civilidade, mas també m para a santidade na vida
cristã . No trabalho, encontramos nosso lugar na criaçã o contı́nua do
mundo, bem como o caminho da humildade e obediê ncia à s tarefas e
aos outros em autoridade.
A famı́lia Goretti é um exemplo para nó s de como é o bom trabalho e
como ele nutre e é sustentado pelo discipulado cristã o e uma vida de fé .
Para nos ajudar a imitar os bons obreiros de nossa fé , este capı́tulo
termina com este Exame de Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Compreendo meu trabalho como parte de meu discipulado
cristã o?
• Vejo meu trabalho como um meio para sustentar minha famı́lia e
cumprir os deveres do meu estado de vida?
• Eu modelo uma boa é tica de trabalho cristã para minha esposa e
ilhos?
• Perco tempo no trabalho ou em casa? Eu trabalho demais?
• Procurei ser uma testemunha cristã para meus colegas e colegas
de trabalho?
• Permiti que os bens materiais fossem o propó sito da minha vida?
• Eu me entreguei à inveja, autopiedade ou desespero por causa do
meu trabalho ou de suas di iculdades?
• Mostro respeito ao meu empregador/funcioná rios?
• Dou um salá rio justo e benefı́cios adequados aos meus
funcioná rios?
• Desperdicei meu dinheiro em atividades inú teis, jogos de azar ou
gastos excessivos?
• Permiti-me viver alé m dos meus meios e da renda do meu
emprego?
• Fui generoso com os necessitados?
• Fiz mau uso da propriedade ou dos recursos naturais?
• Restitui qualquer roubo, trapaça ou fraude?
• Fui responsá vel com dı́vidas e cré dito?
CAPITULO QUATRO

Desejando santidade no que pensamos, dizemos e


fazemos
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos.”
Mateus 5:6

Sedento de Santidade
A santidade é uma realidade tangı́vel e prá tica na vida. Pode-se ver,
ouvir, saborear, cheirar e encontrar a santidade. E mais real do que
qualquer objeto material, como um livro, uma cadeira ou uma mesa,
pois envolve a graça de Deus que sempre se torna ativa e visı́vel na vida
de quem tem sede e fome de Deus.
A santidade é o ponto de encontro – uma cooperaçã o radical – entre
nossa liberdade e a graça de Deus. Santidade é quando Deus oferece a
cada um de nó s um convite para segui-lo e nó s o aceitamos. Quando
tomamos a decisã o de seguir Jesus Cristo, acendendo as chamas das
graças que Deus nos deu, somos chamados a morrer para o pecado, ser
curados das feridas que ele causou em nó s e viver o modo de vida que
nos foi mostrado por Jesus Cristo.
Para morrermos para o pecado e seguirmos a Jesus Cristo, temos que
diariamente tomar nossa cruz e viver Seu Misté rio Pascal. O Misté rio
Pascal é a Paixã o, Morte e Ressurreiçã o de Jesus Cristo. Em nossas
vidas, temos que estar dispostos a suportar “a paixã o e a morte” por
nosso pró prio pecado e pelas á reas de escuridã o dentro de nó s. Se uma
pessoa luta com pureza e outra com misericó rdia, a maneira como
seguimos o Senhor Jesus é sofrendo atravé s da paixã o da luxú ria e da
insensibilidade para que morramos para esses espı́ritos maus. Desta
forma, podemos viver como ilhos ou ilhas da Ressurreiçã o. Podemos
trilhar o caminho da santidade.
A santidade é marcada pelo amor. E um amor a Deus e ao pró ximo,
um amor sacri icial e disposto a sofrer por um bem maior. Viver uma
vida de amor signi ica que realmente amamos a Deus por amor a Ele e
nã o por causa das consolaçõ es ou bê nçã os que desejamos Dele.
Amamos nosso pró ximo, nã o em egoı́smo disfarçado, mas em serviço
altruı́sta. Nó s os amamos pelo amor de Deus e dentro de nosso
discipulado do Senhor Jesus.
Santidade é també m tempo e conversã o contı́nua. A sede e fome de
justiça que começa dentro de nó s é iniciada por Deus e nutrida por Sua
graça. Nã o é uma competiçã o, nã o determinamos a linha do tempo, e os
resultados de nossa cooperaçã o com Sua graça sã o todos um dom
gratuito dado por Deus quando e como Ele escolhe. Santidade é seguir,
nã o liderar ou ingir seguir, mas verdadeiramente seguir a Deus em
amor e entrega.

A Família Goretti
No Sermã o da Montanha, o Senhor Jesus descreve duas opçõ es: a porta
larga que leva à destruiçã o ou a porta estreita que leva à vida (ver Mt
7:13-14). Em seus escritos, Sã o Paulo desenvolve essas duas opçõ es e
as descreve como o caminho do Espı́rito que leva à liberdade, ou o
caminho da carne que leva à escravidã o (cf. Rm 8,1-17). Mais tarde na
histó ria da salvaçã o, o Papa Sã o Joã o Paulo II desenvolveu essas
mesmas duas opçõ es e as chamou de cultura da vida e cultura da morte.
Esses ensinamentos nos mostram que na vida temos que decidir qual
caminho seguir. Com duas maneiras à nossa frente, pode ser ú til
ilustrar cada uma delas usando exemplos. Assim, podemos olhar para a
relaçã o entre mã e e ilha, Assunta e Maria; e, entre pai e ilho, Giovanni
e Alessandro.
Maria e Assunta escolheram a porta estreita, o caminho do Espı́rito e
a cultura da vida. Enquanto Giovanni e Alessandro escolheram o portã o
largo, o caminho da carne e a cultura da morte. Vamos explorar como
sã o esses modos de vida no mundo.
Depois que Luigi morreu, Assunta teve que trabalhar no campo e
Maria assumiu as tarefas domé sticas. Eles se amavam e se respeitavam.
A troca entre Alessandro e Giovanni, no entanto, foi marcada pela
animosidade e brigas mú tuas.
Assunta e Maria se esforçaram para reunir toda a famı́lia e assistir à
missa dominical e rezar juntos um terço todas as noites em famı́lia.
Giovanni e Alessandro nunca compareceram aos cultos e se entregaram
à vaidade e ao orgulho.
Todas as noites, quando Assunta voltava dos campos, Maria fazia com
que seus irmã os saı́ssem correndo e a cumprimentassem. Teria o jantar
preparado e na mesa esperando a mã e que estava cansada do dia de
trabalho. Giovanni e Alessandro voltavam dos campos e se isolavam,
Giovanni bebendo e abusando do á lcool, enquanto Alessandro entrava
no mundo viciante da luxú ria e da pornogra ia.
Maria sempre servia a mã e e os irmã os primeiro à mesa. Ela e
Assunta se superariam em atos de caridade. Giovanni e Alessandro
serviram apenas a si mesmos e foram até injustos na distribuiçã o do
lucro da fazenda.
Em casa, Maria era sempre rá pida a servir e a fazer com rapidez o
que Assunta lhe pedia. Sua obediê ncia e caridade foram imediatas e
generosas. Alessandro, no entanto, era agressivo com o pai e os dois
brigavam constantemente.
Sempre que Maria recebia presentes dos vizinhos, como frutas ou
ovos, sempre os guardava e compartilhava com Assunta e seus irmã os.
Alessandro e Giovanni, no entanto, eram gananciosos e acumuladores.
Eles nã o compartilharam nada do que receberam, incluindo uma justa
compensaçã o a Assunta por seu trabalho.
Maria era sempre a ú ltima a ir para a cama à noite. Ela se certi icou
de que sua mã e tivesse uma boa noite de sono e que seus irmã os
estivessem bem acomodados. Maria cuidou sacri icialmente de sua
famı́lia. Alessandro e Giovanni exigiam serviço e eram indelicados e até
tirâ nicos em suas expectativas. Nã o havia compreensã o de serviço ou
gentileza sobre eles.
Finalmente, como os dois grupos se viam? Assunta e Maria
abordaram pai e ilho com cautela, mas també m com paz e compaixã o.
Eles tinham coraçõ es perdoadores. Giovanni e Alessandro se
aproximaram da mã e e da ilha com desdé m. Eles foram rudes e duros.
A ú nica coisa em seus coraçõ es eram os cá lculos de quanto mais eles
poderiam obter dessa mã e vulnerá vel e seus ilhos.
O caminho para a santidade é claro e tangı́vel. Embora nã o seja fá cil
ou confortá vel, vale a pena ter fome e sede por esse portã o estreito. O
caminho do Espı́rito sempre envolve uma cruz, uma paixã o e morte,
mas merece todo sacrifı́cio porque há uma ressurreiçã o. A cultura da
vida é a cultura da santidade. Esta foi a vida de nossa pequena santa e
sua graciosa mã e. Somos chamados a esta mesma santidade.

O icina de Santidade
A santidade nã o recebeu boa imprensa nos ú ltimos anos. Muitas vezes,
as pessoas santas sã o apresentadas como iguras sombrias e sem vida.
Pessoas santas sã o descritas como aquelas que nã o conseguiram
sobreviver na vida, ou que negaram tudo a si mesmas e icaram sem
sorrisos ou alegrias. Isso nã o é santidade. De fato, se realmente
queremos ver como é viver uma vida plenamente humana, devemos
olhar para os santos. Eles se divertiram, riram, tiveram imensas alegrias
(muitas vezes em meio a tristezas), e vieram de todas as vocaçõ es,
pro issõ es, culturas e espiritualidades. Os santos, nossos santos, sã o
incrı́veis!
O chamado que o Senhor Jesus oferece a cada um de nó s é o convite
para uma aventura emocionante. Temos que decidir se vamos incendiar
as graças que Ele nos deu, ou se vamos recusar o convite e ir embora.
Para aqueles de nó s que dizem “sim” e que realmente tê m fome e sede
de santidade, o Senhor Jesus completará a boa obra que Ele começou
em nó s. Só temos que aceitar o convite e apertar os cintos porque
vamos fazer uma grande viagem.
E ao seguirmos o caminho da santidade, o Senhor Jesus nos provê e
nos abençoa com vá rios meios pelos quais podemos estar com Ele e
receber Sua graça. Os principais dons dados pelo Senhor Jesus sã o os
sete sacramentos: Batismo, Con irmaçã o, Sagrada Comunhã o,
Penitê ncia, Santo Matrimô nio, Ordens e Unçã o dos Enfermos. Outros
dons que o Senhor Jesus nos deu e que podemos exercer incluem a
oraçã o regular, a leitura das Sagradas Escrituras, o exercı́cio da virtude
e o serviço altruı́sta aos outros.
Cada um deles é uma ajuda para nó s. A medida que temos fome e
sede de santidade, nosso capı́tulo conclui com este Exame de
Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Amo a Deus de todo o coraçã o? Eu realmente tenho fome e sede
de santidade?
• Procurei maneiras de falar aos outros sobre Deus?
• Deixo algo ou algué m in luenciar minhas decisõ es mais do que
Deus?
• Tenho falsos deuses em minha vida que coloco diante de Deus
(ou seja, dinheiro, poder, fama, trabalho, recreaçã o, prazer, etc.)?
• Frequento os sacramentos, especialmente a Missa dominical e a
Con issã o regular?
• Honro o domingo como um dia de descanso e famı́lia?
• Passo tempo com Deus em oraçã o todos os dias?
• Tomo o nome de Deus descuidadamente ou inutilmente?
• Tenho sido desdenhoso ou negligente em minha educaçã o na Fé ?
Tenho estado atento à instruçã o religiosa de meu cô njuge e ilhos?
• Tenho procurado reconhecer e morrer para os pecados em
minha vida para que eu possa viver como um cristã o melhor?
• Procuro maneiras de servir os membros de minha famı́lia e
outras pessoas em minha vida?
• Procurei maneiras pelas quais meu lar pode ser uma igreja
domé stica? Tenho nutrido um desejo de santidade em meu
cô njuge e ilhos?
• Procuro maneiras de mostrar humildade e obediê ncia em minha
vida?
• Peço desculpas quando reajo exageradamente ou quando sou
rude ou rude com outras pessoas?
• Fui desrespeitoso ou irreverente para com a Igreja ou coisas
pertencentes à Igreja?
CAPITULO CINCO

A misericórdia de nossa pequena mártir e sua mãe e


a luta para perdoar os outros
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos.”
Mateus 5:6

O Dom da Misericórdia
Como seres humanos, somos mais parecidos com Deus quando
mostramos misericó rdia. Em nosso discipulado, estamos mais
pró ximos do Coraçã o de Cristo quando perdoamos os outros. Nossa
pequena santa e sua mã e piedosa nos mostram a face da misericó rdia.
A misericó rdia é o cerne de quem somos como crentes cristã os, mas
o que é misericó rdia? Nã o suspende a justiça e legitima a ofensa que
nó s ou um ente querido sofremos? Por que somos chamados a mostrar
misericó rdia?
Antes de abordar qualquer questã o especı́ ica, devemos nos voltar
para o pró prio Senhor Jesus. Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, e
por isso desejamos aprender com Ele, receber Sua graça e segui-Lo em
todas as á reas de nossa vida, incluindo misericó rdia e perdã o (cf. Jo
14:6). .
No Sermã o da Montanha, o Senhor Jesus nos ensina: “Porque com o
juı́zo que pronunciares, será s julgado, e a medida que deres será a
medida que obterá s” (Mt 7,2). Este é um apelo desa iador, que se repete
no Pai Nosso: “E perdoa-nos as nossas dı́vidas, assim como nó s
perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12). Como cristã os, devemos
estar tã o cheios de gratidã o pela misericó rdia que Deus nos mostrou,
que estejamos dispostos a sofrer a paixã o necessá ria e morrer para nó s
mesmos para que possamos perdoar os outros com sinceridade. O
Senhor Jesus é nossa força e nosso pastor. Na Cruz, Ele personi icou a
misericó rdia e nos mostrou sua beleza e poder. Na intensidade de Suas
dores e sofrimentos, Ele clamou: “Pai, perdoa-lhes; porque nã o sabem o
que fazem” (Lc 23,34).
A luz da nossa fé , devemos olhar a misericó rdia com outros olhos. A
misericó rdia nã o mina nem dispensa a justiça, mas antes a cumpre. A
justiça é a virtude pela qual recebemos o que nos é devido dentro da
ló gica interna e da ordem da bondade amorosa. O destinatá rio da
justiça, aquele que foi ofendido, determina a natureza e a recepçã o do
que lhe é devido. Misericó rdia é permitir que a justiça – o que me é
devido – seja cumprida dentro de uma aplicaçã o mais ampla de
bondade amorosa. Desta forma, a misericó rdia realiza a justiça e
permite que o bem comum seja construı́do pela bondade amorosa em
vez de retaliaçã o ou violê ncia.
Em sua pró pria dinâ mica, a misericó rdia dá liberdade tanto ao
ofendido quanto ao ofensor. Nã o legitima a ofensa sofrida, mas
proporciona uma arena de cura para quem foi ofendido e de conversã o
e reforma para quem ofendeu.

A Família Goretti
Agora, nos aproximamos de uma narrativa de grande misericó rdia. A
histó ria envolve uma virgem má rtir, seu assassino e sua mã e amorosa. E
uma histó ria que é tã o chocante em sua brutalidade quanto terna e
convincente em sua doçura.
Em Le Ferriere, Maria e sua famı́lia dividiam a casa com Giovanni
Serenelli e seu ilho, Alessandro. Alessandro permitiu que sua mente e
seu coraçã o fossem deformados pela luxú ria e pela violê ncia. Em 5 de
julho de 1902, ele fez uma proposta à pequena Maria e a ameaçou com
uma faca. Quando ela se recusou, Alessandro a esfaqueou quatorze
vezes. Foi um ataque brutal, e Maria sofreu com seus ferimentos com
pouca medicaçã o para a dor, mesmo depois de ser levada à s pressas
para o hospital.
Nas ú ltimas horas de sua vida, quando o padre veio administrar os
ú ltimos ritos, ele lhe perguntou: “E você , Maria, perdoa, do fundo do seu
coraçã o, seu assassino?” E, num momento de tremenda graça, a
pequena Maria, agonizante e com muita dor, disse ao padre: “Sim, eu,
pelo amor de Jesus, perdoo-o. E eu desejo que ele venha comigo para o
cé u”, e entã o continuou: “Perdoe-o, meu Deus, porque eu já o perdoei”.
Alessandro foi levado imediatamente para a cadeia. Ele negou que
estivesse envolvido no ataque a Maria e depois alegou estar fora de si.
Suas tentativas de evitar a responsabilizaçã o, no entanto, foram sem
sucesso. Apó s um julgamento, no qual ele foi ao mesmo tempo sujo e
ofensivo em seu comportamento, ele foi condenado a trinta anos de
prisã o. Nos primeiros anos de prisã o, ele teve um coraçã o duro. Ele nã o
mostrou remorso por seus pecados contra Maria Goretti e foi
monstruoso em seu comportamento.
O cinismo de Alessandro o escravizou. Ele estava sob uma nuvem
escura de desespero e culpa, mas a misericó rdia prevaleceria. Aquele
cuja vida ele tirou viria até ele e o ajudaria a salvar a sua.
Certa noite, em sonho, Maria veio a Alessandro vestida de branco, de
cabeça descoberta e radiante de alegria. Ela estava andando em um
campo de lı́rios e entregou vá rios lı́rios para Alessandro. Hesitante, ele
os recebeu e, ao fazê -lo, os lı́rios rapidamente se tornaram lı́nguas de
fogo. Ele icou confuso e olhou para Maria. Ela simplesmente sorriu e
ele acordou. Uma vez acordado, Alessandro sabia exatamente o que o
sonho signi icava. Ele entendeu que os lı́rios eram sı́mbolos de
inocê ncia que agora estavam sendo oferecidos a ele novamente,
enquanto as lı́nguas de fogo eram sı́mbolos de misericó rdia e purgaçã o
que ele precisaria sofrer para ser restaurado a uma vida de graça.
Naquela mesma noite Alessandro voltou-se para Jesus Cristo e
implorou por misericó rdia. Podemos imaginar Santa Maria Goretti
regozijando-se com as hostes celestiais pelo arrependimento deste
ú nico pecador.
Alessandro viveu uma boa vida cristã apó s sua conversã o. Ele serviu
vinte e sete anos de prisã o e era conhecido por sua gentileza e bondade
para com seus companheiros de prisã o. Ele viu sua sentença de prisã o
como uma forma de reparar seu pecado.
Apó s a sua libertaçã o da prisã o, Alessandro foi ver Assunta para lhe
pedir misericó rdia pessoalmente. Assunta estava sentada para comer
quando Alessandro bateu na porta. Quando a abriu, viu o assassino de
sua ilha de joelhos, com as mã os estendidas, soluçando e implorando
por misericó rdia. Só Deus sabe o que passa no coraçã o de uma mã e em
um momento desses.
Dé cadas antes, quando Maria estava com Assunta e elas caminhavam
até a cidade local ou atravessavam um campo, Assunta tinha medo das
cobras. Maria nã o tinha medo e dizia à mã e: “Venha, mamã e, vou na sua
frente. Apenas me acompanhe." Sem dú vida, o testemunho de sua ilha
e esse conselho lutuaram no coraçã o de Assunta ao ver Alessandro à
sua frente. Agora, ela mais uma vez seguiria sua ilha.
E assim Assunta, querendo ser instrumento de misericó rdia como
sua ilha santa, ajudou Alessandro a se levantar, trouxe-o para sua casa
e sentou-o para comer a mesma comida que ela mesma havia
preparado. Quando ele lhe pediu misericó rdia, Assunta disse a
Alessandro: “Eu te perdô o porque Maria já perdoou”.
No domingo seguinte, na Missa, para choque e renovaçã o da
comunidade local, Assunta juntou-se a Alessandro no trilho da
Comunhã o e ambos receberam a Sagrada Comunhã o juntos. Como é
oportuno que esta misericó rdia seja trazida ao Altar de Deus e
celebrada no Banquete Eucarı́stico, que é o ato supremo de
misericó rdia e reconciliaçã o. Esta expressã o total de misericó rdia de
Deus e de Assunta libertou Alessandro de qualquer angú stia
remanescente em sua alma. Ele entregou sua vida a Deus e se juntou ao
trabalho dos frades capuchinhos até sua morte.
Alessandro viveu até os oitenta e sete anos, nunca esquecendo a
misericó rdia que Maria e Assunta lhe mostraram e con iando
continuamente na misericó rdia derramada sobre ele pelo Senhor Jesus
Cristo.

O icina de Santidade
Em nosso mundo de hoje parece haver uma real ausê ncia de
misericó rdia. Todos parecem empenhados em um senso cru de justiça.
As pessoas estã o mais preocupadas com “olho por olho, dente por
dente” do que uma verdadeira conversã o de coraçõ es e reconciliaçã o
entre vizinhos. Em tal cultura, Santa Maria Goretti é um sinal de
contradiçã o. Este pequeno santo é testemunha e modelo do que é a
misericó rdia para a pessoa de boa vontade e especialmente para o
crente cristã o.
Em nossa pró pria luta para aceitar, encontrar ou dar misericó rdia,
somos chamados a nos voltar para o Senhor Jesus. E somente sendo
banhados em Seu oceano de misericó rdia que podemos ter coraçõ es
verdadeiros dispostos a receber e dar misericó rdia.
Em nossa pró pria busca de viver como instrumentos de misericó rdia,
este capı́tulo conclui com um exame de consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Eu con io na graça de Deus para ser uma pessoa de misericó rdia?
• Eu endureci meu coraçã o e me recusei a receber ou dar
misericó rdia?
• Vou regularmente à Con issã o para receber a misericó rdia de
Deus?
• Rezo e peço a ajuda de Deus nos momentos em que preciso dar
ou receber misericó rdia?
• Deixo de reconhecer minhas pró prias fraquezas e me considero
superior aos outros?
• Peço perdã o quando ofendi ou ofendi os outros?
• Reconheço as fraquezas dos outros e tento mostrar-lhes
compaixã o e gentileza?
• Mantenho a amargura por ofensas passadas?
• Estou ressentido com os outros, nã o falo ou faço comentá rios
ofensivos ou ofensivos?
• Falo fofocas sobre ofensas ou calunio a reputaçã o dos outros?
• Sou acusador e agressivo com os outros em suas de iciê ncias ou
fraquezas?
• Estou inclinado a julgar precipitadamente as pessoas ou
situaçõ es?
• Assumo má s intençõ es ou motivos nas açõ es dos outros?
• Rezo pelos meus inimigos e por aqueles que feriram a mim ou a
um ente querido?
• Dou à s pessoas um novo começo?
CAPITULO SEIS

O Sangue de Nosso Mártir e a Batalha pela Pureza em


Nossos Corações
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.”
Mateus 5:8

Pureza de coração
Deus fez nossos coraçõ es para a liberdade e para as virtudes que dela
decorrem. Para que tenhamos um coraçã o puro e vivamos uma vida
plenamente humana, temos que evitar a atraçã o e a escravidã o do
pecado. De todas as inclinaçõ es de nossa natureza caı́da, nenhuma é tã o
sedutora ou viciante quanto a luxú ria. Simplesmente de inido, a luxú ria
é um desejo de prazer sexual que é buscado apenas para si e nã o como
uma verdadeira expressã o de amor por outro.
Nossa virgem-má rtir está em contradiçã o com esse desejo rebelde
tantas vezes satisfeito por coraçõ es escurecidos. Com a sua vida
heró ica, Maria mostra-nos “o caminho mais excelente” do amor
expresso na castidade e pureza de coraçã o (cf. 1 Cor 12,31).
Nossos poderes sexuais afetam todos os aspectos de nossos corpos e
almas. Sã o poderes que nos sã o dados para que possamos expressar
uma autodoaçã o de afeto e comunhã o dentro do sacramento do Santo
Matrimô nio. Sã o Paulo nos ensina: “Nã o sabeis que o vosso corpo é
templo do Espı́rito Santo dentro de vó s, que recebestes de Deus? Você
nã o é seu; você foi comprado por um preço. Portanto, glori ique a Deus
em seu corpo” (1 Corı́ntios 6:19-20). A castidade, portanto, é a
integraçã o bem-sucedida da sexualidade dentro de nó s que mostra uma
unidade interior entre nosso corpo e nossa alma.
Para que possamos viver uma vida de pureza e castidade, temos que
passar por um aprendizado de autodomı́nio. Temos que aceitar o
treinamento em verdadeira liberdade. A verdadeira liberdade é melhor
entendida como possuir um poder sobre nossas paixõ es e desejos e
uma forte capacidade de ordená -los e dirigi-los de acordo com a
verdade moral e nosso discipulado cristã o. Em liberdade, podemos
viver uma vida casta.
A castidade nos ensina respeito e reverê ncia por nó s mesmos e pelos
outros. Mostra-nos o caminho para a plena maturidade humana, que se
encontra sempre na doaçã o de si. A castidade també m nos instrui sobre
prudê ncia, temperança, modé stia e muitas outras virtudes
relacionadas. A castidade nos dá coraçõ es puros para que possamos
apreciar as coisas boas, a afeiçã o sadia e as amizades saudá veis.

A Família Goretti
Maria foi criada em um lar devotamente cristã o. Ela foi ensinada a amar
a Deus e ao pró ximo. A vida dos Goretti mostrou-lhe o valor do trabalho
á rduo, respeito pela autoridade e bondade para com os necessitados.
Maria foi ensinada a respeitar seu corpo. Ela foi criada em um lar cheio
de amor que a formou em castidade e modé stia.
Aos nove anos, Maria recebeu permissã o para receber sua primeira
comunhã o. Ela absorveu cada palavra do padre que advertiu as crianças
a preservar suas almas puras e inocentes, e morrer antes de cometer
um pecado mortal. Maria fez desse conselho a regra de sua vida. Ela
daria tudo a Jesus Cristo e se protegeria contra todo pecado.
Maria era uma pessoa de coraçã o puro. Depois de sua primeira
comunhã o, quando ela ouviu algumas das outras crianças fazendo
piadas impuras, ela icou completamente chocada e nã o conseguia
entender como algué m poderia receber a Sagrada Comunhã o e dizer
tais coisas. A pureza de nosso santo nã o era pudicı́cia ou medo
disfarçado. Era um amor apaixonado por Jesus Cristo que nã o permitia
que nada o diminuı́sse ou o maculasse. O amor de Maria nã o conhecia
di iculdade nem distâ ncia. Ele viu o horror do pecado e escolheu a
pureza e a beleza da santidade todos os dias.
Alessandro Serenelli també m viu a doçura de alma do nosso santo.
Viciado em luxú ria, ele queria Maria para si e fez dois avanços sobre ela.
A princı́pio, Maria nã o entendeu, mas depois compreendeu o que
Alessandro estava sugerindo. Ela o recusou ambas as vezes, dizendo-lhe
que era um pecado. Ela o estava chamando à virtude e à santidade.
Alessandro icou irritado com a resposta de Maria. Ele esperou até
que ela estivesse sozinha. Em 5 de julho de 1902, enquanto todo mundo
estava trabalhando no campo, Maria cuidava das tarefas domé sticas e
cuidava do irmã o mais novo. Enquanto a criança dormia, Alessandro se
aproximou de Maria, que estava presa e sozinha, e exigiu com violê ncia
que ela aquiescesse. Ela gritou e lutou. Em oposiçã o radical à luxú ria de
nosso mundo caı́do e com a ousadia de um santo, Maria disse a
Alessandro: “Nã o! Nã o! Eu nã o vou! Eu nã o vou! E um pecado. Deus
proı́be. Você vai para o inferno, Alessandro. Você irá para o inferno se
izer isso.”
Alessandro nã o seria dissuadido. Em sua raiva, ele mostrou a ela uma
faca e avisou a Maria: “Desista ou morra!” Com uma resoluçã o por sua
pureza de coraçã o e um amor ardente por Jesus Cristo, a pequena Maria
rugiu como um leã o: “Nã o, nã o vou! Nã o! E um pecado!" Alessandro
atacou Maria e começou a esfaqueá -la violentamente quatorze vezes.
Ela caiu no chã o ensanguentada e ferida e um dia depois, morreu no
ataque.
A morte heró ica de Maria é um testemunho inspirador da total
importâ ncia da pureza e castidade em nossas vidas e em nosso
discipulado ao Senhor Jesus. Ao desejar ver a Deus, devemos trabalhar
– até mesmo ao ponto de sangue – para honrar nossos corpos e os dos
outros e procurar ordenar nossos desejos de acordo com a lei e a
bondade de Deus.

O icina de Santidade
Em nosso mundo de hoje, a expressã o sexual é vista em termos de
maturidade, lazer agradá vel e realizaçã o. Amor e responsabilidade
como parte de nossa expressã o sexual sã o descartados como
restritivos, antiquados ou irrealistas. As pessoas veem os atos sexuais
como um meio de liberaçã o ou grati icaçã o egoı́sta. A dignidade
humana e o valor pessoal nã o fazem parte deste jogo contemporâ neo.
Nosso mundo decaı́do esqueceu a importâ ncia da castidade e da
autodoaçã o no amadurecimento de um jovem. Algumas pessoas
acreditam falsamente que uma expressã o frouxa de nossos poderes
sexuais de alguma forma confere maturidade ou sabedoria. Na
realidade, uma vida moral tã o frouxa só causa coraçõ es partidos,
confusã o, egoı́smo e uma crescente sensaçã o de falta de sentido. Para
crescermos em maturidade, devemos cultivar uma vida de castidade e
nos dar como um presente sincero aos outros em virtude, serviço
altruı́sta e amizades santas. Eventualmente, dentro do sacramento do
Santo Matrimô nio, os poderes sexuais tornam-se parte dessa
autodoaçã o. Estas sã o as liçõ es da castidade. Quando bem vivida, temos
um coraçã o puro, e entã o podemos ver Deus.
A medida que buscamos a pureza de coraçã o, este capı́tulo conclui
com este Exame de Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Trato meu corpo e os corpos dos outros como templos do
Espı́rito Santo?
• Encaro o Santo Matrimô nio como um sacramento dado por Deus
e o ú nico lugar adequado para a expressã o de meus poderes
sexuais?
• Fui aberto à s crianças? Uso anticoncepcional arti icial?
• Usei tecnologias de fertilizaçã o in vitro?
• Eu ou meu cô njuge izemos um procedimento de esterilizaçã o?
• Tenho voluntariamente pensamentos ou desejos impuros?
• Olho deliberadamente imagens impuras na internet, televisã o,
vı́deos, peças de teatro, fotos ou ilmes? Leio deliberadamente
materiais impuros?
• Cometi algum ato impuro comigo mesmo (ou seja,
masturbaçã o)?
• Cometi algum ato impuro com outra pessoa: prostituiçã o,
fornicaçã o (sexo antes do casamento), adulté rio (sexo com uma
pessoa casada) ou atos homossexuais?
• Visitei lugares questioná veis de “entretenimento adulto”
conhecidos por impureza?
• Participei de festas ou outros compromissos sociais que sã o
conhecidos como ocasiõ es de pecado?
• Envolvo-me em preliminares sexuais reservadas ao casamento?
• Ouvi piadas ou mú sicas que prejudicam a castidade? Eu dancei
propositalmente de maneira provocativa?
• Fiz avanços sexuais indesejados em relaçã o a outra pessoa?
• Vesti-me propositadamente sem recato?
CAPITULO SETE

A obra pela paz em nosso relacionamento com Deus


e com os outros
“Bem-aventurados os paci icadores, porque serão chamados ilhos
de Deus”.
Mateus 5:9

Paz em nossos dias


Todos nó s desejamos a paz. Muitas vezes nossa de iniçã o de paz pode
ser incompleta ou mı́ope. A paz nã o é apenas a ausê ncia de violê ncia ou
tensã o, mas a tranquilidade da ordem. Essa tranquilidade está presente
quando todas as pessoas certas estã o fazendo todas as coisas certas. A
paz, portanto, é um dom de Deus e o funcionamento de Sua graça, pois
somente a graça pode curar nossa queda e nos dar um relacionamento
correto com Deus e nosso pró ximo. Em nossa desobediê ncia,
precisamos da ajuda de Deus. A paz só vem de cima.
Para que Deus nos abençoe com paz, precisamos de uma conversã o
constante a Jesus Cristo. A conversã o sempre nos aponta para uma
maior intimidade com Deus nesta vida e na eternidade. A paz nã o é ,
portanto, uma obra humana, mas o movimento de Deus atravé s de uma
pessoa de coraçã o contrito. A pessoa que busca a conversã o é atraı́da e
movida pela graça a responder à obra de Deus nele, com e por meio
dele. Ele deve con iar na Providê ncia de Deus e permitir que a graça o
transforme. Desta forma, a tranquilidade é dada e a paz surge.
Para que a conversã o traga paz, temos que cooperar continuamente
com a graça. Uma conversã o mais profunda a Jesus Cristo deve levar a
uma reorientaçã o radical de toda a nossa vida. Causa um novo conjunto
de prioridades e uma rede iniçã o de coisas como fé , misericó rdia,
esperança, liberdade, amor, castidade e bondade. A conversã o é um
processo contı́nuo de afastar-se do mal. Ele nos convoca a um desejo e
resoluçã o mais fortes de mudar nossas vidas todos os dias de acordo
com a vontade e a bondade de Deus.
A conversã o à s vezes pode causar dor e tristeza. Estamos deixando
um modo de vida e começando outro. Pode haver uma a liçã o em nosso
espı́rito e arrependimento em nossos coraçõ es ao percebermos, por um
lado, a maldade do pecado e a escuridã o de onde estivemos, enquanto,
por outro lado, a beleza da santidade e a grandeza a que temos sã o
chamados. Isso é conversã o e, à medida que continuamos em seu
caminho, Deus é capaz de aprofundar um vı́nculo de paz entre Ele e
nó s, bem como entre nosso pró ximo e nó s mesmos.

A Família Goretti
Alessandro Serenelli queria paz. Ele nã o sabia onde ou como encontrá -
lo. A cronologia de sua vida é uma narrativa de negligê ncia, indiferença
e abuso. Em sua má goa e raiva, ele nã o buscou as graças da conversã o.
Quando Alessandro era jovem, sua mã e morreu em um centro de
saú de mental, e essa perda deixou um grande vazio em sua vida. Um de
seus irmã os també m estava doente mental e ainda estava na instalaçã o
quando Alessandro foi morar com a famı́lia Goretti em Le Ferriere. Os
outros irmã os de Alessandro se casaram e se estabeleceram e cuidaram
de suas pró prias vidas. Ao longo de sua infâ ncia, Alessandro teve que se
virar sozinho. Ele foi jogado aqui e ali dentro de sua famı́lia extensa,
sendo cuidado por um primo neste lugar ou uma tia naquele lugar. Nã o
havia estabilidade e o pai do jovem nã o tinha interesse nele. Em suma,
nã o houve paz no inı́cio da vida de Alessandro. Estava cheio de
incerteza, rejeiçã o e solidã o.
Quando Alessandro tinha doze anos, recebeu um aprendizado à
beira-mar. Gostava do trabalho, mas assumiu todos os maus há bitos de
marinheiros indisciplinados e impuros. Seguindo o mau exemplo
daqueles ao seu redor, ele xingou e amaldiçoou. A paz continuaria a
iludi-lo. Ele era belicoso e briguento. A partir dessa experiê ncia, o
jovem Alessandro assumiu uma compreensã o distorcida e sombria da
vida, trabalho, autoridade, castidade e bondade.
Quando Alessandro tinha quinze anos, Giovanni Serenelli decidiu ser
pai do jovem e começaram a trabalhar juntos na fazenda. Nã o era uma
relaçã o de amor paterno e ilial. Os dois homens nã o se davam bem e
havia uma tensã o constante entre eles. Alessandro nutria intenso
desprezo em seu coraçã o por seu pai. Quando ele estava no inal da
adolescê ncia, ele acompanhou seu pai a Le Ferriere para trabalhar.
Nessa á rea, os dois moravam com a famı́lia Goretti, e Alessandro
começou a decair ainda mais.
Em um ato de luxú ria violenta e brutalidade selvagem, Alessandro
fez uma proposta a Maria Goretti. Quando ela o chamou à virtude, ele a
atacou com uma faca, e as feridas desse ataque tiraram sua vida.
Alessandro foi condenado a trinta anos de prisã o e ainda nã o
conhecia a paz. Ele estava preso em uma fossa de insegurança, ira e
vergonha extrema. Ele estava perdido.
Maria apareceu a ele na prisã o e lhe ofereceu os lı́rios-virados-
lı́nguas de fogo e pela primeira vez em sua vida ele foi mostrado
misericó rdia e gentileza. Foi um ponto de viragem decisivo na sua vida
que fez toda a diferença. Atravé s do nosso pequeno santo, Alessandro
escolheu Jesus Cristo e começou a deixar a graça agir. A esperança foi
despertada dentro dele e, inalmente, a paz consoladora encheu sua
alma. Sim, agora em Jesus Cristo, Alessandro conheceu a paz.
O assassino arrependido começou a viver uma vida de conversã o e
santidade. Ele cumpriu vinte e sete de sua sentença de trinta anos,
tendo sido libertado mais cedo por causa de boa conduta (fruto de seu
discipulado cristã o). Apó s a sua libertaçã o da prisã o, juntou-se ao
trabalho dos frades capuchinhos como simples jardineiro e jardineiro.
No inal de sua vida, Alessandro escreveu um depoimento pú blico.
Nesse legado espiritual, ele re letiu sobre sua juventude e o mau
caminho que o levou à ruı́na. Ele notou a in luê ncia prejudicial de certos
meios impressos, meios de comunicaçã o de massa e maus exemplos.
Ele temia que coisas tã o perigosas ainda estivessem in luenciando a
maioria dos jovens do mundo, que nã o estavam preocupados ou sequer
pensavam neles. Alessandro indicou que havia pessoas generosas e
dedicadas ao seu redor, mas ele sempre as ignorou porque seu coraçã o
se rendeu a uma força violenta que parecia empurrá -lo para um
caminho sombrio na vida. Ele continuou na carta expressando seu
arrependimento e indicando seu desejo de ir para o cé u.
No inal de sua vida, conhecendo a paz de Jesus Cristo, Alessandro
disse aos frades que havia matado uma santa, mas depois de dé cadas
de penitê ncia e oraçã o, pela tremenda misericó rdia de Deus, sabia que
se juntaria a ela no cé u.

O icina de Santidade
Parece que a paz é um tema popular para ciclos de notı́cias e lı́deres
polı́ticos. E um tema que ressoa dentro do coraçã o humano. Todos nó s
queremos paz dentro de nó s mesmos, entre nossos entes queridos, em
nossa sociedade e em nosso mundo. A paz, no entanto, nã o é dada por
maquinaçõ es humanas, tratados e reuniõ es de cú pula. A paz é um dom
oferecido a nó s por Deus. Ela é iniciada e loresce pela conversã o dos
coraçõ es.
A conversã o é necessá ria se queremos paz. Depois de uma vida de
violê ncia e sofrimento interno, Alessandro encontrou paz somente em
Jesus Cristo. Este mesmo caminho de paz é oferecido a cada um de nó s
e ao nosso mundo de hoje.
O processo de conversã o e o caminho para a paz nã o sã o fá ceis.
Temos que permitir que nossa queda e inclinaçã o para caminhos
sombrios sejam perdoados, corrigidos e curados. Temos que permitir
que a graça de Deus nos torne pessoas e discı́pulos melhores.
Para nos ajudar em nosso caminho para a paz, este capı́tulo termina
com um exame de consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Eu olho para Deus como a fonte da minha paz?
• Procuro ser um instrumento de paz para os outros?
• Procurei fazer o bem com segundas intençõ es egoı́stas?
• Procuro oportunidades para mostrar compaixã o pelos outros?
Estou disposto a receber a compaixã o dos outros?
• Eu me deleitei em ver a dor ou o sofrimento dos outros?
• Machuquei outra pessoa fı́sica ou emocionalmente?
• Fui cú mplice das açõ es ofensivas ou ofensivas de outras pessoas?
• Fui prejudicado ou discriminado por outras pessoas com base
em sua raça, cultura, gê nero ou religiã o?
• Eu deliberadamente engano os outros ou os prejudico com
mentiras?
• Fico zangado ou impaciente com os outros?
• Sou preguiçoso em meus deveres e responsabilidades?
• Tenho ciú mes ou inveja dos outros?
• Sou orgulhoso, vingativo ou odioso para com os outros?
• Abusei de á lcool ou usei drogas ilegais?
• Cuido do meio ambiente e do mundo ao meu redor?
CAPITULO OITO

O legado de nosso mártir e nossa convocação para


sofrer por causa da justiça
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles
é o reino dos céus”.
Mateus 5:10

Em nome da justiça
No plano de salvaçã o de Deus, o Filho tornou-se um ser humano, viveu
uma vida plenamente humana, sofreu uma morte torturante e
ressuscitou ao terceiro dia. O sofrimento faz parte do plano redentor
pelo qual o reino do pecado e da morte é destruı́do e somos
reconciliados com Deus Pai. A morte violenta de Jesus nã o foi fruto do
acaso ou coincidê ncia, mas uma parte essencial do plano de salvaçã o.
Por seu sofrimento, somos curados, salvos e santi icados.
Como discı́pulos do Senhor Jesus, també m somos chamados a sofrer
por causa da justiça. Ao suportarmos tais sofrimentos, permitimos que
a graça trabalhe tanto para nos transformar quanto para alcançar o
coraçã o dos outros ao nosso redor. Embora nunca seja fá cil ou
confortá vel, o sofrimento do crente cristã o é uma fonte de tremenda
graça e bondade.
A pequena Santa Maria Goretti compreendeu esta grande liçã o e
sofreu de boa vontade por causa da justiça.

A Família Goretti
Santa Maria Goretti foi con irmada aos seis anos de idade pelo bispo
Giulio Boschi (que mais tarde se tornou cardeal). Antes de sua
con irmaçã o, Maria fez sua primeira con issã o. Em ambos os
sacramentos, a menininha se destacou por sua sinceridade de fé e zelo
por agradar ao Senhor Jesus. Ela foi abençoada com um coraçã o atento
e sensı́vel à s coisas de Deus. Pouco depois de sua con irmaçã o, a famı́lia
se mudou da costa oeste da Itá lia para a costa leste para trabalhar.
Na nova casa da famı́lia em Le Ferriere, Maria trabalhou duro e
procurou viver as virtudes de um bom cristã o. Aos onze anos,
perguntou à mã e quando receberia sua primeira comunhã o, pois nã o
podia mais viver sem Jesus. A mã e icou preocupada, pois Maria nã o
sabia ler nem escrever e a famı́lia nã o tinha condiçõ es de comprar o
vestido e as roupas para a cerimô nia. Eventualmente, poré m, os
arranjos foram feitos, e Maria iria a pé para uma cidade vizinha todas as
semanas durante onze meses para receber instruçõ es sobre o
sacramento. Ela intensi icou suas virtudes e serviço para preparar sua
alma para Jesus Cristo.
Maria nã o sabia ler nem escrever com um lá pis, mas em sua
preparaçã o para o sacramento, ela escreveu sua pró pria bela histó ria de
santidade. A medida que se aproximava o dia de sua primeira
comunhã o, a cidade apoiou-a: uma famı́lia lhe deu sapatos, outra o vé u
e outra uma coroa de lores. Assunta permitiu que a ilha usasse seus
pró prios brincos. Tudo estava de inido.
Ao receber Jesus na Sagrada Eucaristia, o semblante de Maria brilhou
e sua alma ardeu de amor radiante por Jesus Cristo. Depois da missa, as
outras crianças foram à sacristia agradecer ao padre, mas Maria icou
na igreja em oraçã o silenciosa a Deus. Ela ofereceu sua primeira
comunhã o para seu falecido pai, de quem sentia muita falta e pediu a
Deus a graça de ser santa. Daquele dia em diante, Maria mostraria uma
nova gravidade em seu porte e devoçã o. Ela tinha um maior senso de
missã o sobre ela e tornou-se mais ardente em seu serviço e bondade
para com os outros.
Maria precisaria dessa gravidade e de todas as graças que o Senhor
Jesus distribui por meio de Seus santos sacramentos. Em 5 de julho de
1902, nosso pequeno santo foi escolhido por Deus para sofrer por
causa da justiça. Quando Alessandro fez a proposta, Maria se manteve
irme e declarou: “Nã o! Nã o! Eu nã o vou! Eu nã o vou! E um pecado.
Deus proı́be. Você vai para o inferno, Alessandro. Você irá para o inferno
se izer isso.” Quando Maria recusou, o suposto estuprador a atacou e a
agrediu brutalmente. Ela morreu no dia seguinte, vé spera da festa de
Corpus Christi. Com muita dor, assim como seu Senhor Eucarı́stico, a
quem ela amava e servia com tanta idelidade, ela passou desta vida
para a outra. Em sua morte santa, Maria sofreu por causa da justiça e
deu a todos nó s um testemunho poderoso de uma vida vivida em Jesus
Cristo.
Maria perdoou Alessandro antes de receber o Viaticum, sua ú ltima
comunhã o. Ela chorou por seu pai e depois morreu em paz. A palavra
má rtir signi ica “testemunha” em grego, e Maria nos dá um testemunho
estremecedor e resplandecente da beleza e do poder da pureza e da
misericó rdia.
Em 24 de junho de 1950, o Venerá vel Papa Pio XII canonizou Maria
Goretti e a declarou padroeira da juventude. Na extensa histó ria da
Igreja Cató lica, Maria brilha como a pessoa mais jovem a canonizar um
santo. Mais de 500.000 pessoas participaram da cerimô nia de
canonizaçã o, que era a maior congregaçã o de ié is até aquele momento.
Entre as centenas de milhares de pessoas presentes na missa estavam
sua mã e, Assunta, e o arrependido Alessandro Serenelli. Havia tantas
pessoas no total que a cerimô nia foi realizada fora da Bası́lica de Sã o
Pedro. Foi a primeira missa de canonizaçã o ao ar livre celebrada no
Vaticano.
Maria nos deixou um legado convincente e quer nos ajudar em nossa
pró pria pureza e misericó rdia. Ela quer que vivamos como cristã os
melhores. Do cé u, Maria Goretti é uma forte fazedor de milagres em
termos de curas fı́sicas, superaçã o de vı́cios em drogas ou pornogra ia,
restauraçã o de casamentos, cura de um estupro e de muitas outras
maneiras. Nossa pequena santa continua seu serviço a Jesus Cristo e
nos chama a um amor mais profundo a Deus e ao pró ximo.

O icina de Santidade
Na vida, muitos estã o inclinados a coisas fá ceis ou relaxantes. Se nã o
tivermos cuidado, trazemos essa inclinaçã o para o nosso discipulado.
Por que causar problemas? Por que se levantar e sofrer pela justiça? A
vida é muito difı́cil como é , por que torná -la mais difı́cil? Essas e outras
perguntas semelhantes podem eclipsar ou ofuscar completamente
nossa convocaçã o para sofrer por causa da justiça. Para que possamos
permanecer e sofrer pela justiça, temos que permitir que a graça
amadureça e vença o medo, a vaidade e a preguiça.
A vida de Maria exempli icou a escolha radical que todos somos
convidados a fazer por Jesus Cristo e Seu evangelho. Ela nos mostra
como viver como cristã os, como vencer o medo e como sofrer por causa
da justiça. Em sua tenra idade, ela enfrentou a morte e nã o vacilou,
transigiu ou retrocedeu em seu discipulado de forma alguma. Este é o
legado dela. Ela é um exemplo e uma intercessora para nó s em nosso
pró prio testemunho e em nosso chamado para permanecer e sofrer
pela justiça. Qual será o nosso legado?
Ao buscarmos a coragem de sofrer pela justiça, o capı́tulo conclui
com este Exame de Consciê ncia:
EXAME DE CONSCIÊNCIA
• Busco em Deus a força para viver bem a minha vida?
• Recebo regularmente os sacramentos e con io na graça de Deus?
• Tenho medo de morrer ou ser maltratado?
• Estou disposto a sofrer pelo que é certo, bom e verdadeiro?
• Estudo as verdades da fé e as compartilho com outras pessoas?
• Tenho vergonha de minha fé e virtude? Ou a fé e a virtude dos
outros?
• Cuido e protejo a virtude e a santidade daqueles que me foram
con iados?
• Voto e participo na arena pú blica?
• Chamei as coisas má s de má s?
• Sou vaidoso e com medo do que as pessoas vã o pensar de mim?
• Fico calado diante do mal porque tenho medo de ser xingado ou
sofrer outras consequê ncias?
• Defendo a Igreja e a bondade moral na arena pú blica?
• Apoio negó cios ou instituiçõ es imorais?
• Expresso oposiçã o ou boicoto aspectos moralmente ofensivos de
nossa cultura?
• Deixei de me levantar ou ir embora quando contavam piadas ou
histó rias irreligiosas, impuras ou imorais?
APENDICE 1

Uma aprendizagem na castidade


“A castidade inclui um aprendizado de autodomínio que é um
treinamento para a liberdade humana.” Catecismo da Igreja
Católica, n. 2342
“Todos os batizados sã o chamados à castidade . . . Todos os ié is
de Cristo sã o chamados a viver uma vida casta de acordo com seus
estados particulares de vida”. Catecismo da Igreja Católica, n. 2348

Conselho Geral
Antes de entrar (ou reentrar) em um aprendizado de castidade, é
importante lembrarmos o que é castidade e por que devemos querer
ser castos. O desejo de ser casto nã o é simplesmente evitar a culpa ou
as má s consequê ncias nesta vida. A castidade é viver plenamente como
pessoa humana e como crente cristã o.
Vale a pena notar que a castidade se expressa de forma diferente nas
vá rias vocaçõ es da Igreja. A castidade celibatá ria é a vida dos chamados
ao sacerdó cio ou serviço consagrado, bem como dos solteiros para o
Senhor. O celibato nã o é a castidade da vida conjugal. A castidade
conjugal é enriquecida pela expressã o sexual e é marcada pela
temperança e pelo amor ao cô njuge.
O que é a castidade entã o? Como somos chamados a ser castos?
A castidade é sobre integridade. E ter controle e harmonia sobre
nossos desejos e poderes sexuais como pessoa humana. Signi ica que
nã o nos permitiremos viver como um animal por instinto ou como um
quebra-cabeça quebrado em vá rias peças. A castidade nos dá a força
para sermos nó s mesmos, em vez da versã o fragmentada que a luxú ria
deixa em seu rastro. A castidade nos dá liberdade e nos impede de nos
tornarmos escravos de nossas paixõ es sexuais, seguindo-as aonde elas
nos levam e fazendo o que elas nos dizem.
A castidade nos torna honestos. Nã o vai tolerar conversa dupla ou
duplicidade. Opõ e-se a qualquer comportamento que nã o seja
ordenado à verdade e que cause danos ou prejudique nosso bem-estar
holı́stico.
A virtude da castidade é uma tarefa pessoal. Ela assume uma forma
particular de acordo com nosso estado de vida, nossa personalidade e
temperamento, nosso estado emocional, as situaçõ es de nossa vida e
uma sé rie de outras consideraçõ es. A castidade é uma obra longa e
exigente. E à medida que cooperamos com a graça de Deus e deixamos
a castidade agir, ela nos molda e molda para que possamos nos entregar
verdadeiramente aos outros. E uma escola sobre o dom de si.
A castidade loresce em amizades saudá veis e virtuosas. Dá aos
relacionamentos uma liberdade de paixõ es rebeldes e ordena o afeto e
a expressã o fı́sica de acordo com o amor e a doaçã o.
Entã o, com essa compreensã o da castidade, como podemos ser
castos? Quais sã o alguns passos prá ticos que podemos dar para viver a
castidade como uma boa pessoa e como um crente cristã o?

Passos Fundamentais
Aqui estã o alguns passos fundamentais que todos podemos dar para
viver uma vida de castidade iel:
• Autoconhecimento. Cada um de nó s tem que se conhecer. O que
eu quero das outras pessoas? O que eu quero dar? Como dou
aspectos da minha vida para outras pessoas? Qual é o meu tipo de
personalidade? Qual é o meu temperamento? O que me anima ou
desperta? Que dores emocionais eu carrego? Como busco consolo?
Quais sã o os tipos de personalidade que me atraem? Como
expressar afeto? Qual é o nı́vel do meu desejo sexual? Como lido
com a solidã o ou a rejeiçã o percebida? Qual é a minha
compreensã o da castidade? Que in luê ncia em minha vida estou
disposto a dar à minha fé ou virtude? Eu rezo?
• Práticas ascéticas. Cada um de nó s tem que reconhecer nossa
queda e fraqueza e permitir que a graça nos cure e nos ordene de
acordo com a verdade e a bondade. As prá ticas ascé ticas sã o
pequenas maneiras de dizer “nã o” à s coisas para fortalecer nossa
vontade e dizer “sim” a coisas maiores. Algumas opçõ es para
prá ticas ascé ticas incluem abster-se de alimentos, videogames e
internet, jejuar à s sextas-feiras ou em tempos de tentaçã o ou
distraçã o, simpli icar nossos horá rios, doar bens materiais que
nã o precisamos, servir desinteressadamente aos outros, focar nos
outros nas conversas , acordar mais cedo do que o necessá rio,
acordar rapidamente e nã o usar o botã o “soneca”, buscar ocasiõ es
de convı́vio com pessoas que nã o gostamos, evitar a
procrastinaçã o e concluir todas as tarefas rapidamente, me
voluntariar para as tarefas mais difı́ceis ou indesejá veis do meu
estado na vida, seguir de bom grado o conselho dos outros sem
opiniã o ou reclamaçã o, e tantas outras prá ticas. De pequenas
maneiras, cada um de nó s pode viver uma vida ascé tica e formar
nossas vontades para uma vida generosa de castidade.
• Obediência aos mandamentos de Deus. Para crescer
verdadeiramente como pessoa e deixar a castidade tornar-se parte
integrante de nossas vidas, temos que obedecer aos mandamentos
de Deus. Temos que honrar Sua majestade, a santidade de Seu
Nome e a santidade de Seu sá bado. No sá bado, temos que nos unir
a toda a Igreja na adoraçã o a Deus na missa, e temos que deixar
nossas mentes e corpos descansar, evitando trabalho
desnecessá rio, bem como passar tempo com a famı́lia e os entes
queridos. Temos que honrar nossos pais, pois eles nos deram a
vida e fazem parte de nó s. Com nossos vizinhos, devemos evitar
atitudes duras, violê ncias, atos impuros, roubos, trapaças,
mentiras, fofocas, invejas e ciú mes. Ao formar nossas mentes e
coraçõ es na lei de Deus, podemos discernir o certo do errado em
nossas vidas e saber o que somos chamados a fazer e como somos
chamados a viver e amar.
• Exercício das Virtudes Morais . Existem quatro virtudes
morais. A castidade é uma expressã o de temperança. As outras
trê s virtudes sã o prudê ncia, justiça e fortaleza. A temperança é um
uso bem ordenado das coisas boas. Ele assegura o domı́nio de
nossa vontade sobre nossos instintos e manté m nossos desejos e
uso das coisas dentro dos limites do bem. Alguns atos de
temperança via castidade podem incluir limites claros para
relacionamentos afetivos e namoro, uso moderado de á lcool, evitar
o tempo ocioso sozinho, uso privado limitado da internet,
localizaçã o pú blica de computadores, uso moderado de assistir
televisã o, há bitos regulares de sono, alimentaçã o saudá vel , um
plano de exercı́cios ou envolvimento esportivo, nı́veis adequados
de auto-revelaçã o nas conversas, a custó dia dos olhos e dos
sentidos em momentos de tentaçã o ou distraçã o, evitando lertes
ou qualquer forma de bajulaçã o, e vá rias outras maneiras. Viver a
temperança na castidade é o trabalho de uma vida. Somos
chamados a cooperar com graça e fazer o nosso melhor.
• Fidelidade à Oração. Tudo lui e leva à Santa Missa. Se nã o
estamos participando da Missa dominical, estamos tentando
dirigir um carro sem gasolina. Devemos assistir à Missa dominical.
Na verdadeira adoraçã o a Deus, Ele generosamente derrama Sua
graça sobre nó s. Esta é a graça de que precisamos para viver uma
vida de virtude e castidade. Sem a graça de Deus, nã o podemos
fazer nada. Alguns outros atos de oraçã o que podemos considerar
sã o a Missa diá ria, a recepçã o regular da Con issã o, a leitura da
Bı́blia, o tempo de meditaçã o pessoal, a adoraçã o ao Santı́ssimo
Sacramento, a Liturgia das Horas, o Rosá rio, o Terço da Divina
Misericó rdia, a leitura de livros espirituais , e muitas outras
prá ticas de oraçã o da Igreja. Cada uma dessas prá ticas pode nos
ajudar a viver uma vida casta pela graça de Deus.

Estas sã o algumas das maneiras prá ticas que cada um de nó s pode
aprender na castidade, que é um modo de vida livre e vivi icante que o
Senhor Jesus nos mostra e nos oferece todos os dias.
Santa Maria Goretti exempli icou esta virtude pelo seu sangue. Em
sua vida e morte, ela nos mostrou o valor supremo e a importâ ncia
dessa virtude libertadora. Ela mora agora no cé u intercedendo
constantemente por nó s e nos encorajando em nossa pró pria jornada
para viver uma vida de castidade. Santa Maria Goretti, rogai por nó s!
APENDICE DOIS

Uma Aprendizagem em Misericórdia


“Nã o está em nosso poder nã o sentir ou esquecer uma ofensa; mas
o coraçã o que se oferece ao Espı́rito Santo transforma a injú ria em
compaixã o e puri ica a memó ria transformando a ofensa em
intercessã o”. Catecismo da Igreja Católica, n. 2843
“O perdã o també m testemunha que, em nosso mundo, o amor é
mais forte que o pecado.” Catecismo da Igreja Católica, n. 2844

Conselho Geral
Para os crentes cristã os, a misericó rdia está no centro de tudo o que
fazemos. Nossa fé ilustra para nó s que somos recipientes indignos da
misericó rdia de Deus, e essa verdade central in luencia tudo o que
fazemos. Isso afeta especialmente a maneira como damos misericó rdia
e oferecemos perdã o. E assim, como discı́pulos cristã os, nã o temos a
opçã o de recusar voluntariamente a misericó rdia. Como, entã o,
oferecemos misericó rdia?
A misericó rdia exige que permitamos que nosso intelecto e nossa
vontade ordenem e alinhem nossas emoçõ es com o que é verdadeiro,
bom e belo. Uma expressã o crua de emoçã o, tã o popular em nossa
sociedade, nã o permitirá que a graça funcione. Devemos amadurecer e
aquietar nossas emoçõ es, permitindo que elas se expressem de forma
positiva e edi icante. De que maneiras podemos permitir que nosso
intelecto e nossa vontade ajam? Que processo podemos seguir para
permitir que a graça e a virtude funcionem? Como posso me tornar
uma pessoa de misericó rdia?

Passos Fundamentais
Aqui estã o cinco passos que podem nos ajudar a cooperar com a graça e
crescer como uma pessoa de misericó rdia:
• Receba misericórdia. Para dar algo, primeiro temos que possuı́-
lo (cf. Atos 3:6). Em nossas pró prias vidas e discipulado, temos
que receber misericó rdia de Deus e dos outros. Em primeiro lugar,
isso signi ica freqü entar o sacramento da Con issã o. Signi ica
també m permitir que a graça de Deus seja conhecida e sentida em
nossas vidas. Alé m disso, temos que aceitar a misericó rdia dos
outros. Muitas vezes, por escrupulosidade ou vergonha, evitamos a
misericó rdia que os outros oferecem por nossos erros ou ofensas.
Temos que nos humilhar e receber a misericó rdia que nos é
oferecida. Este é o nosso primeiro passo.
• Ore. Quando negligenciamos uma vida de oraçã o, acabamos
tentando descobrir as coisas por conta pró pria. Inevitavelmente,
em nossa queda, podemos ser persuadidos por todos os tipos de
maus espı́ritos. Devemos recorrer à oraçã o e permitir a
transformaçã o de nossos coraçõ es e mentes para que possamos
conhecer o que é bom, agradá vel e perfeito para Deus (cf. Rm 12:1-
2). Na oraçã o, encontramos o Deus de misericó rdia e Ele nos
ensina e nos forma. Ele nos dá a força e a perseverança para
perdoar. Se atingimos uma parede com misericó rdia devido a uma
ofensa a nó s mesmos ou a um ente querido, devemos recorrer à
oraçã o e pedir um coraçã o terno e perdoador. Este é o nosso
segundo passo.
• Nomeie a ofensa. Muitas vezes, quando algo difı́cil ou insultante
acontece, tentamos esquecê -lo e seguir em frente. Tal reaçã o,
poré m, nã o nos ajuda a mostrar misericó rdia. Em nosso processo
de perdoar, temos que nomear a ofensa. Como Jesus no cemité rio
de Genesseret, que ordenou que o espı́rito caı́do se nomeasse,
també m devemos nomear nossa ofensa (cf. Lc 8,30). Ao nomear a
ofensa, ela perde seu poder sobre nó s (cf. Jo 3:14-15). Este é o
nosso terceiro passo.
• Fale Palavras de Misericórdia. Neste ponto de nosso processo,
nos voltamos para o Senhor Jesus e nos apegamos a ele.
Nomeamos a pessoa que cometeu a ofensa, e dizemos verbalmente
que a perdoamos, e pedimos a Deus que a abençoe (cf. Lc 7,48).
Isso nã o é legitimar nenhuma ofensa ou diminuir qualquer dor.
Este é o ato de um crente cristã o, que conhece a misericó rdia e em
seu amor a Deus, deseja dar misericó rdia a outro. E absolver a
dı́vida e o que nos é devido ao reconhecer uma ordem maior de
bondade amorosa. Este é um ato do intelecto e da vontade, nã o das
emoçõ es. Este é o nosso quarto passo.
• Encomende nossas Emoções. Depois de dar misericó rdia ao
nosso ofensor, devemos nomear e expulsar quaisquer emoçõ es
ruins que possam surgir: dor, amargura, orgulho, raiva ou
qualquer outra força negativa. Devemos nomear essas in luê ncias
sombrias e removê -las. Se estivermos lutando com emoçõ es
particulares, devemos cair na graça de Deus e repetir nosso quarto
passo. Nesse processo, muito sofrimento pode ser suportado
enquanto Deus cura nossa alma por meio de nosso amor e
misericó rdia (cf. Mt 8:8). Este é o caminho para o perdã o e a
liberdade.

Este é um processo prá tico pelo qual podemos avançar lentamente


para um ato de misericó rdia. Nã o será um processo fá cil. Dependendo
da ofensa, pode ser uma das coisas mais difı́ceis que já tivemos que
fazer na vida e em nosso discipulado.
Enquanto estava morrendo, Santa Maria Goretti mostrou grande
misericó rdia ao seu agressor e até esperou que um dia ele pudesse se
juntar a ela no cé u. Nossa virgem má rtir nos mostra Jesus, manifesta
sua misericó rdia e nos conduz pelo seu caminho por seu exemplo e
intercessã o. Santa Maria Goretti, rogai por nó s!
Uma Oração a Santa Maria Goretti pela Pureza e
Santidade
O Santa Maria Goretti, fortalecida pela graça de Deus, nã o
hesitaste, mesmo aos doze anos, em sacri icar a pró pria vida para
defender a tua pureza virginal. Olhe com benevolê ncia para a
infeliz raça humana que se desviou do caminho da salvaçã o eterna.
Ensina-nos aquela prontidã o em fugir da tentaçã o que nos ajudará
a evitar qualquer coisa que possa ofender a Jesus. Obtenha para
mim um grande horror da impureza e de todo pecado, para que eu
possa viver uma vida santa na terra e ganhar a gló ria eterna no
cé u. Um homem.
Pai Nosso, Ave Maria, Glória. . .
Bibliogra ia

Catecismo da Igreja Católica. Libreria Editrice Vaticana: Cidade do


Vaticano, 1997.

Ensinamentos da Igreja:
As obras listadas aqui são fornecidas como referências úteis para aqueles
que desejam obter mais informações sobre os principais tópicos
abordados neste livro.

Papa Sã o Joã o XXIII. Pacem em Terris. Libreria Editrice Vaticana:


Cidade do Vaticano, 1963. http://w2.vatican.va/content/john-
xxiii/en/encyclicals/documents/hf_j-
xxiii_enc_11041963_pacem.html .
Papa Sã o Joã o Paulo II. Mergulhos na Misericórdia. Libreria Editrice
Vaticana: Cidade do Vaticano, 1980.
http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_30111980_dives-in-
misericordia.html .
———. Evangelium Vitae. Libreria Editrice Vaticana: Cidade do
Vaticano, 1995. http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-
vitae.html .
———. Consórcio Familiar. Libreria Editrice Vaticana: Cidade do
Vaticano, 1981. http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_19811122_familiaris-consortio.html .
———. Laborem Exercens. Libreria Editrice Vaticana: Cidade do
Vaticano, 1981. http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091981_laborem-
exercens.html .
———. Redemptoris Custódio. Libreria Editrice Vaticana: Cidade
do Vaticano, 1989. http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_15081989_redemptoris-custos.html .
———. Salvi ici Doloris. Libreria Editrice Vaticana: Cidade do
Vaticano, 1984. http://w2.vatican.va/content/john-paul-
ii/en/apost_letters/1984/documents/hf_jp-
ii_apl_11021984_salvi ici-doloris.html .

Livros para leitura complementar:


Cantalamessa, Raniero. Pobreza. Nova York: Alba House, 1997.
———. Virgindade. Nova York: Alba House, 1995.
Eden, Alvorada. A emoção da casta: Edição Católica. Notre Dame:
Ave Maria Press, 2015.
Groeschel, Benedito. A coragem de ser casto. Nova York: Paulist
Press, 1988.
Kirby, Jeffrey. Senhor, ensina-nos a orar. Charlotte: Saint Benedict
Press, 2014.
Oeste, Christopher. Teologia do Corpo para Iniciantes. Milwaukee:
Ascension Press, 2009.
Índice
Folha de rosto
Pá gina de direitos autorais
Dedicaçã o
Conteú do
Introduçã o
Capı́tulo um
Capı́tulo dois
Capı́tulo trê s
Capı́tulo quatro
Capı́tulo Cinco
Capı́tulo Seis
Capı́tulo Sete
Capı́tulo Oito
Apê ndice Um: Uma Aprendizagem na Castidade
Apê ndice Dois: Uma Aprendizagem na Misericó rdia
Oraçã o a Santa Maria Goretti pela pureza e santidade
Bibliogra ia

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