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FICHAMENTO DO PERÍODO MODERNO

João Pedro Martins Andrade

SÉCULO XIX
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 Os avanços radicais na ciência humana criaram uma confiança popular no método científico, que
por sua vez produziu um método revolucionário e mais científico para estudar a história.
 A Bíblia não escapou do impacto dessas mudanças. Os eruditos, especialmente aqueles que
ensinavam em universidade alemãs, buscaram abordar a Bíblia de forma semelhante através do
chamado meio objetivo, científico. Assim nasceu a abordagem conhecida como método histórico-
crítico, um método interpretativo guiado por vários pressupostos filosóficos fundamentais.
 Além disso, o método histórico-crítico pressupunha uma visão de mundo naturalista que explicava
tudo em termos de leis naturais e excluía a possibilidade da intervenção sobrenatural.
 Por fim, os eruditos supunham que a maior contribuição da Bíblia reside em seus valores morais e
éticos, não em seus ensinos teológicos ou afirmações históricas.
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 F.C. Baur [...] defendeu que as cartas de Paulo refletem uma divisão profunda no cristianismo
apostólico. Por um lado, disse Baur, se situava a igreja de Jerusalém [...] que ensinava uma forma
judaica de cristianismo. Do outro lado estava Paulo e os gentios convertidos por ele que insistiam
que o Evangelho na verdade aboliu as exigências legalistas do judaísmo.
 Sob essa premissa ele datou tanto Atos quanto os Evangelhos no século II, negando, na prática, a
sua autoridade como fontes de inspiração para a vida e o ministério de Jesus e dos apóstolos.
 Nos estudos do AT, Julius Wellhausen completou uma longa discussão acadêmica sobre as fontes
do Pentateuco.
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 O último erudito alemão cuja obra foi tipifica o pensamento do século XIX é Adolf von Harnack.
 Em suma, Baur, Wellhausen e Harnack afirmavam que a crítica histórica desvendava uma história
literária e religiosa complexa por trás das seções da Bíblia atual.
 Para eles, o seu propósito não era determinar o sentido do texto presente, mas encontrar as fontes
e a história à espreita por trás dele.
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 Na América do Norte, figuras como B.B. Warfield, W.H. Green e W.J. Beecher não somente
criticaram de forma habilidosa as suposições da nova crítica, mas também promoveram uma nova
crítica alternativa e vibrante, chegando assim a uma defesa, possivelmente até revertendo a
invasão da crítica europeia.
 Enquanto isso, longe do cenário acadêmico, o tema anabatista de retorno ao cristianismo primitivo
do NT reapareceu em dois movimentos novos que como se pode esperar, deram uma nova
prioridade na interpretação ao NT.
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 A maneira pela qual as duas experiências se relacionavam com a interpretação da bíblia, se
tornariam um tópico de discussão entre os seus descendentes espirituais no próximo século.

SÉCULO XX
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 Mas durante o século XIX, os arqueólogos encontraram inúmeros textos escritos do Egito antigo, da
Siro-Palestina, da Babilônia e da Assíria. Esses textos deram aos especialistas novas percepções
sobre as religiões da época da Bíblia.
 Tais comparações logo deram lugar à abordagem de história das religiões, um método que tentava
traçar o desenvolvimento de todas as religiões do Oriente Médio. Especificamente, ela afirmava
demonstrar como as religiões antigas vizinhas tinham influenciado profundamente as práticas
religiosas dos israelitas.
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 A partir daí (abordagem da história das religiões) a interpretação bíblica adequada exigiria uma
consulta de evidências culturais relevantes do mundo antigo para se familiarizar com o seu meio
cultural.
 O pai da crítica da forma foi Herman Gunkel
 A crítica da forma do AT começou a se concentrar mais nos tipos literários do texto escrito atual do
que nos estágios orais anteriores à Bíblia. Por essa razão, a crítica da forma permanece um método
valioso na caixa de ferramentas de todos os estudantes sérios da Bíblia.

DEPOIS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


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 Os acontecimentos desastrosos da Primeira Guerra Mundial devastaram a Europa e destruíram o
otimismo ingênuo que tinha apoiado a teologia liberal.
 Duas figuras destacadas, homens que ainda hoje projetam grandes sombras de influência,
orientaram inicialmente essas novas direções.
 A primeira era do pastor do interior suíço, Karl Barth (1886-1968), cujo comentário de Romanos
(1919) criticava severamente os erros do liberalismo e buscava reafirmar destaque há muito tempo
perdidos da sua herança da Reforma.
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 A segunda sombra [...] Rudolf Bultman (1884-1976). Da mesma forma que Kierkgaard ajudou a
formar a teologia de Barth, o existencialismo à moda de Heidegger formou a base filosófica da obra
de Bultmann.
 Ele (Bultmann) especialmente duvidou dos tipos que, em sua visão, pareciam tingidos pelas crenças
posteriores da comunidade cristã primitiva.
 Por outro lado, usando métodos histórico-críticos, especialistas britânicos como C.H. Dodd, T.W.
Mason e V. Taylor habilmente defenderam a confiabilidade histórica substancial dos relatos do
Evangelho.
 De forma semelhante a Barth, Bultmann estava preocupado que a bíblia correspondesse às
necessidades das pessoas modernas.
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 A abordagem de Bultmann exige que a Bíblia seja lida a partir de uma hermenêutica existencialista.
 Além disso, ele defendeu que o indivíduo deve ler a Bíblia subjetivamente a fim de que seu
entendimento da existência humana ilumine o próprio dilema existencial.
 Entre as duas guerras mundiais, a obra de Barth e de outro teólogo suíço, Emil Brunner, motivaram
um novo movimento teológico chamado neo-ortodoxia (ou teologia dialética).
 Três suposições metafísicas básicas guiaram a abordagem dos teólogos neo-ortodoxo para a
interpretação bíblica.
 Primeiro, Deus é considerado como sujeito e não como objeto (isto é, um “Tu”, não um “isso”).
 Em segundo lugar, um grande abismo separa o Deus transcendente da Bíblia da humanidade
decaída.
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 Em terceiro lugar, os teólogos neo-ortodoxo acreditavam que a verdade era finalmente paradoxal
em sua essência, então eles aceitavam declarações conflitantes na Bíblia como paradoxos para os
quais uma explicação racional seria inadequada e desnecessária.

DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


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 Se a Primeira Guerra Mundial fez nascer a neo-ortodoxia e a desmitologização, a Segunda Guerra
Mundial também teve uma descendência significativa. Nos Estados Unidos do pós-guerra, uma
avalanche de publicações mostrou um reavivamento no interesse na teologia bíblica, um
reavivamento que Childs chama de Movimento da Teologia Bíblico.
 Diferentemente das questões histórico-críticas que dominavam anteriormente os comentários
bíblicos, agora ele s continham discussões sobre a teologia e a mensagem dos livros bíblicos.
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 A época do pós-guerra também viu nascer o que provou ser um novo método influente. O século
XIX transmitiu métodos interpretativos que tendiam a destacar a diversidade e as discrepâncias da
Bíblia.
 O intérprete só precisava catalogar as partes do cadáver textual. Além disso, ao se concentrar em
formas individuais e na sua transmissão, a crítica da forma tinha a tendência de se estagnar em
uma análise entediante do mesmo jeito.
 Mas em meados da década de 1950, a crítica da redação surgiu como uma disciplina complementar
para a crítica da forma. Essencialmente, a crítica da redação busca discernir o destaque teológico e
temático dos materiais que os escritores ou editores bíblicos forneceram.
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 Os críticos de Bultmann o tinham acusado de docetismo, a heresia segundo a qual Jesus só teria se
manifestado para sofrer e para morrer, mas não fez realmente isso por não ser um ser humano. Por
causa disso, os seus alunos prestaram muita atenção à história da crucificação por causa da sua
importância para a teologia cristã.
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 Os eruditos conservadores podem considerar as suas conclusões um tanto escassas, mas elas pelo
menos estreitaram o abismo entre o “Jesus Histórico” e o “Cristo da fé”.
 A segunda repercussão, a chamada nova hermenêutica, também envolveu os afilhados de
Bultmann. Do campo da linguística ela trouxe novas visões sobre a linguagem humana.
 Aplicado à interpretação bíblica, esse novo conceito de linguagem implicava em uma visão
diferente do texto bíblico. Até agora, os intérpretes supunham que ele fosse um objeto que reagia
passivamente a suas perguntas interpretativas, um objeto sobre o qual eles eram mestres. De
forma diferente, a nova hermenêutica supunha que, quando lido, o texto criava uma espécie de
nova “linguagem-evento” que se tornava mestre do leitor.
 Assim, na nova hermenêutica, o texto, não o intérprete, guia a interpretação bíblica. Na
interpretação, o texto e a sua intenção tem de cativar o leitor em vez de as perguntas do leitor
controlarem o texto.
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 Com respeito as suas fraquezas, a nova hermenêutica tendia a desvalorizar o sentido histórico de
um texto e sua contribuição à linguagem-evento. Por causa disso, corre o risco de perder suas
raízes no texto bíblico, um risco que as formas extremas da crítica da estática da recepção também
enfrentam.
 O movimento da Teologia Bíblica do pós-guerra também deixou uma herança metodológica: o
método de crítica do cânon. Para remediar as fraquezas do movimento B.S. Childs propôs um novo
contexto para se fazer teologia: o status canônico da Bíblia.
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 A discussão acalorada trouxe à pauta várias questões importantes: o uso de uma hermenêutica
evangélica racional é útil ou danoso para a vida? Pentecostal baseada na experiência? Como a obra
do Espírito Santo experimentada pelo cristão se relaciona com a interpretação bíblica? De acordo
com o NT, a autoridade central da comunidade cristã é a Bíblia ou é Cristo dirigindo-se a ela pelo
seu Espírito?

SÉCULO XXI
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 As discussões sobre hermenêutica a partir de uma perspectiva pentecostal que surgiram no final do
século XX continuaram a se desenvolver e a obter espaço nas publicações acadêmicas. Fundado em
1979, a publicação Pneuma (Brill) publicou p seu trigésimo sétimo volume em 2015, enquanto que
o Journal of Pentecostal Theology (agora publicado pela Brill) no mesmo ano publicou o volume 24
e também produziu uma série de monografias especializadas que chegou ao número quarenta.
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 Tanto os especialistas em AT quanto (em menor extensão) os em NT continuam a aplicar a
abordagem da crítica do cânon proposta pelo já falecido professor Brevard Childs. Uma coleção de
teses reage à crítica que se opõe ao método, e outra explica as consequências do cânon para a
interpretação de vários textos bíblicos e para sua interpretação teológica em geral.
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 Um acontecimento fascinante desse século é o surgimento de um movimento amplamente
conhecido como a Interpretação Teológica da Escritura (em inglês TIS) e associado com as obras de
K.J. Vanhooser, C.G. Bartholenew e D.J. Treier.
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 Por fim, uma tendência notável que se inicia de forma paralela ao movimento de Interpretação
Teológica da Escritura merece ser mencionada os debates sobre o relacionamento entre a exegese
e as práticas espirituais antigas como a lectio divina.

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