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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO

ISCED - UÍGE
DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO
DE LETRAS MODERNAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
SECÇÃO DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

A DIDACTIZAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO NAS AULAS DE LÍNGUA


PORTUGUESA

POR

MOISÉS KUDIMUENA DOMINGOS BUNGA

Trabalho de fim do curso


apresentado para a obtenção do
grau de Licenciatura em Ciências de
Educação na opção de Ensino de
Língua Portuguesa

Uíge, 2023
MOISÉS KUDIMUENA DOMINGOS BUNGA

A DIDACTIZAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO NAS AULAS DE LÍNGUA


PORTUGUESA

TUTOR: MIGUEL SIMÃO,MSc.

Trabalho de fim do curso


apresentado para a obtenção do
Grau de Licenciatura em Ciências
de Educação na opção de Ensino
de Língua Portuguesa.

Uíge, 2023
Índice
Folha de aprovação.....................................................................................................iii

Declarações ............................................................................................................... iv
iii
Dedicatória .................................................................................................................. v
Agradecimentos ......................................................................................................... vi
Epígrafe ..................................................................................................................... vii
Resumo .....................................................................................................................viii
Abstract ...................................................................................................................... ix
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: O USO DO TEXTO LITERÁRIO
COMO RECURSO DIDÁCTICO NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
1.1 – O acto de ler na formação social do indivíduo .................................................... 6
1. 2 – Conceptualização da literatura ........................................................................ 12
1.3 - Contraste entre o texto literário e o texto não-literário ...................................... 16
1. 4 - Perspectiva histórica do uso de textos literários no ensino de línguas ............ 18
1.5 - A necessidade de recuperar o uso de texto literário na sala de aulas .............. 20
1.6 - A importância do uso de texto literário nas aulas de línguas ............................ 22
1. 7 – O processo de trabalho com o texto literário na sala de aulas ........................ 26
1.8 - Gêneros literários como veículos do diálogo na aula ....................................... 31
1.8.1 O lírico .............................................................................................................. 32
1.8.2 O dramático ...................................................................................................... 33
1.8.3 O narrativo........................................................................................................ 34
1.9 - Propostas da didactização do texto literário na aula de Língua Portuguesa ..... 35
1.9.1 A poesia ........................................................................................................... 35
1.9.2 O teatro ............................................................................................................ 37
1.9.3 O texto narrativo ............................................................................................... 38
CAPÍTULO II - METODOLOGIA APLICADA
2.1- Tipo de pesquisa ................................................................................................ 42
2.2- População e amostra ......................................................................................... 43
2.3- Variáveis ............................................................................................................ 43
2.3.1- Variável independente..................................................................................... 43
2.3.2- Variáveis dependentes .................................................................................... 44
2.4- Métodos e técnicas de recolha de dados ........................................................... 44
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
3.1- Análise e interpretação dos dados ..................................................................... 47
3.1.1 Interpretações dos dados recolhidos no inquérito dirigido aos ......................... 48
3.1.2 Interpretações dos dados recolhidos no inquérito dirigido aos ......................... 49
Conclusões................................................................................................................ 52
Sugestões: ................................................................................................................ 54
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 55
ANEXOS ................................................................................................................... 57
FOLHA DE APROVAÇÃO

MOISÉS KUDIMUENA DOMINGOS BUNGA

Trabalho apresentado ao Departamento de Ensino e Investigação de Letras Modernas


e Ciências Sociais do ISCED-UÍGE, como parte dos requisitos para a obtenção do
título de Licenciado.

Membros do júri

Ph.D. Eduardo David Ndombele – Presidente

____________________________________________

Ph.D. Manuel Fausto – 1º Vogal

___________________________________________

MSc. Miguel Simão – 2º Vogal

___________________________________________

Uíge, _____/ de ______________de 202_

iii
Declarações

Eu, Moisés Kudimuena Domingos Bunga, declaro por minha honra que este
trabalho foi elaborado fazendo uso dos meus conhecimentos, da bibliografia que
esteve ao meu alcance e das orientações do meu tutor.

O candidato

_______________________________

Moisés Kudimuena Domingos Bunga

Declaro que este trabalho está em condições de ser apresentado à prova


pública perante o júri a indicar.

O tutor

__________________________

MSc Miguel Simão

iv
Dedicatória

Dedico este trabalho à minha querida mãe, Rita Domingos Bunga, exemplo de
sabedoria, força e resiliência.

v
Agradecimentos
À Deus Todo-Poderoso pelo fôlego da vida e por ter me dado o poder além do
normal para terminar este trabalho, que por sinal, foi árduo.
Ao colectivo docente do ISCED-UÍGE, em especial aos docentes do
Departamento de Letras Modernas e Ciências Sociais pelo cumprimento eficiente do
seu papel enquanto mediadores dos conhecimentos.
Ao meu Tutor, Mestre Miguel Simão, pelo apoio incondicional na elaboração
deste trabalho!
Ao meu feérico colega, Lucoqui João Pedro e os demais, pelo suporte
edificante durante a nossa trajectória acadêmica!
Às minhas mães, Rita Domingos Bunga e Guida Domingos Bunga, pelo
optimismo e coração brando, nunca deixaram de acreditar em mim e no futuro melhor
para nós. Aos meus queridos irmãos, Domingos António, David Domingos Bunga,
Maria António Quisengo, Nsimba Domingos Jaime e Nzuzi Domingos pelas vossas
orações fervorosas ao meu favor!
Aos meus queridos filhos, Elizabeth Kudimuena Francisco e Aristides
Kudimuena Francisco, apesar de sentirem o sopro da vossa inocência nisso, eu
gratifico-me pela vossa existência oportuna. Aos sobrinhos Carlota, David, António,
Moisés, Constância, os gêmeos (Jackson e Mabanza) e a querida Ritinha.
Gratidão extensiva ao meu elo Mariana Teca Francisco, mentor Samuel Cool
Kid, patriarca Augusto Quifuti, grande conselheiro Mambupunino Zarack, Gabriel
Pedro, Mvemba Cristiano, Fernanda Simão Moisés, Sofia Cardoso, eterno professor
José Simão, intercessor Kolberg Fausto, Bengui Monteiro, eterno filho Makana,Pedro
Kiala,Moisés Kiala, Gabriel Pedro, Gabriel Carlos Moyo, professor Henriques Pinto,
magnânimo Dr. Eduardo David Ndombele,professor Paiva Sebastião, professor
Luzaiadio Venâncio Simão António, inesquecível Mestre Arnaldo Binda Augusto,
Domingos António Adolfo, Inácio Belga, Fisso Majamo Cusso,Bruno
Hernani,Fernando Paulo António, Paulina Inácio Malamba, ,Alberto Quindanda,
Marcelina Miguel, professor Hamilton, literatos Eduardo Nkanga Pedro e Noé Cagina,
professor Afonso Botelho, Zola Alfredo e mãe Cristina, a todos agradeço por me darem
a mão sempre que precisasse e provaram que nunca estive sozinho nesta luta, a
minha mente transborda da vossa presença espiritual até hoje.
Obrigadão!

vi
Epígrafe
“Educar verdadeiramente, não é ensinar factos novos ou enumerar as
fórmulas prontas, mas sim preparar a mente para pensar”, Albert Einstein (2021).

vii
Resumo
O presente trabalho tem como objectivo, evidenciar como os textos literários
podem vir a ser ferramentas didácticas imprescindíveis no processo do ensino-
aprendizagem da Lingua Portuguesa, tornando possível a aquisição do domínio sobre
os mecanismos do funcionamento da língua e ampliação das capacidades
intelectuais, uma vez que os textos literários nos tornam mais compreensivos,
reflexivos, críticos e abertos para novos olhares. Além disso, o estudo dos textos
literários pode mudar nossa personalidade em vários aspectos e melhora as nossas
habilidades de interpretação de diferentes tipos de textos. Aguça também a nossa
cognição para compreensão de ideias e organização de pensamento. Tomamos como
base teórica alguns autores como Antunes (2004), Mona Mpanzu (2021), Rio e Leite
(2004) etc. O nosso estudo foi feito no Liceu de Buengas com os alunos da 12ª classe,
nas turmas A e B na Opção de Ciências Humanas, temos como amostra de (60)
indivíduos, incluindo professores e alunos. Notamos que o texto literário, está cada
vez mais ausente na sala de aulas, por isso, incentivamos os professores, a tomarem
como recurso didáctico o texto literário nas suas aulas, optando pela transposição
didáctica. Percebemos que ao trabalhar com os textos literários, como: poético,
dramático e narrativo, os mesmos poderão servir de suporte para o desempenho
linguístico da parte dos alunos. Finalmente, neste estudo, também objectivamos
propor sugestões e algumas estratégias para a didactização do texto literário nas
aulas de Língua Portuguesa, visando uma melhor prática docente e,
consequentemente, um aprendizado mais satisfatório.

Palavras-chave: Didactização, texto literário, transposição didáctica, língua


portuguesa.

viii
Abstract
The present work aims to highlight how literary texts can become essential
teaching tools in the teaching-learning process of the Portuguese language, making it
possible to acquire mastery over mechanisms of language functioning and expand
intellectual capacities, one that literary texts make us more understanding, reflective,
critical and open to new perspectives. In addition, the study of literary texts can change
our personality in several aspects and improve our skills in interpreting different types
of texts. It also sharpens our cognition and for understanding ideas and organizing
thought. We take as a theoretical basis some authors such as Antunes (2004), Mona
Mpanzu (2021), Rio and Leite (2004) etc. Our study was carried out at the Liceu de
Buengas with students of 12 class, in classes A and B in the Option of Human
Sciences, we have as a sample of 60 individuals, including teachers and students. We
noticed that the literary text is increasingly absent in the classroom, so we encourage
teachers to take the literary text in their classes as a teaching resource, opting for
didactic transposition. We realized that when working with literary texts, such as:
poetic, dramatic and narrative, they can serve as support for the students' linguistic
performance. Finally, in this study, we also aim to propose suggestions and some
strategies for the didacticization of the literary text in Portuguese language classes,
aiming at a better teaching practice and, consequently, a more satisfactory learning.
Keywords: Didacticization, literary text, didactic transposition, portuguese language.

ix
INTRODUÇÃO
Geralmente, propõe-se que os estudantes sejam sujeitos autônomos,
capazes de pensar de maneira independente por exercitar sua criatividade,
organizar as suas ideias, elaborar argumentos sólidos que sustentam uma
opinião, criar hipóteses, investigar causas, resolver problemas, formular soluções
e conviver activamente na sociedade. No âmbito da concretização de todas essas
acções, e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e intelectuais, os textos
literários desempenham um papel fundamental visto que, nos tornam mais
compreensivos, reflexivos, críticos e abertos para novos olhares e mudam a nossa
personalidade em vários aspectos. Além disso, os textos literários têm contribuído
para o exercício da imaginação ao transportar o leitor para um outro lugar, onde
terá oportunidade de vivenciar novas emoções e situações. Como relembra
COELHO: N.N. (1991: 25).
Na verdade, desde as origens, a literatura aparece ligada a essa
função essencial, actuar sobre as mentes, onde se decidem as
vontades ou acções; e sobre os espíritos, onde se expandem as
emoções, paixões, desejos, sentimentos de toda ordem… No encontro
com a literatura (ou com a arte em geral) os homens têm a
oportunidade de ampliar transformar ou enriquecer sua própria
experiencia de vida, em um grau de intensidade igualada por nenhuma
actividade.

A partir da afirmação do Coelho, podemos entender que a literatura ajuda no


desenvolvimento linguístico e psíquico do aluno, estimulando nele o hábito e o
comportamento de leitura massificando os conhecimentos sobre a vida e o mundo que
o rodeia. A pesar destes benefícios que a literatura oferece, observa-se que muitos
professores têm estado alienados, apáticos e acomodados em relação ao uso do texto
literário nas suas aulas. O presente Estudo, a didactização do texto literário nas
aulas de Língua Portuguesa, objectiva incentivar os professores, a tomarem como
recurso didáctico o texto literário nas aulas e propor sugestões e algumas estratégias
para a didactização desta tipologia textual. Portanto, consta deste trabalho o total de
três capítulos:

Capítulo I- Fundamentação teórica sobre o uso do texto literário nas aulas de


Língua Portuguesa.
Capítulo II- Metodologia aplicada à pesquisa.
Capítulo III- Apresentação e interpretação dos resultados.
Seguidamente as sugestões, a bibliografia e os anexos.

1
Formulação do problema
Toda e qualquer pesquisa é focada sobre um problema relacionado ao tema,
ou seja, uma questão associada ao tema com importância real, e que ainda não tenha
sido devidamente respondida pela literatura existente. O problema orienta a pesquisa,
que tem como objectivo contribuir para o seu esclarecimento.

Considerando a ausência dos textos literários nas aulas de Lingua Portuguesa


pelos professores do Liceu de Buengas em Nova Esperança, Neste trabalho que nos
propusemos desenvolver, pretendemos reflectir o problema levantado com a seguinte:
Quais são os factores que levam os professores a serem apáticos à didactização do
texto literário nas aulas?

Justificativa
Observa-se que, os alunos no Liceu de Buengas em Nova Esperança não são
sujeitos autônomos da sua aprendizagem, consequentemente, eles não conseguem
organizar as suas ideias, articular melhor seus conhecimentos ou elaborar
argumentos sólidos que sustentam uma opinião e expor um ponto de vista para
solução de um problema. Além disso, eles têm pouco domínio sobre os mecanismos
do funcionamento da língua. Por outro lado, é irrefutável, o facto de que os professores
de Língua Portuguesa no Liceu, têm conhecimentos profissionais satisfatórios sobre
a transposição didáctica do texto literário nas suas aulas que, potencialmente, lhes
permitiriam realizar um bom trabalho de remediação das dificuldades inerentes à
problemática, mas estes não consideram o uso de recursos didácticos, disponíveis,
como o texto literário para estimular o desenvolvimento das capacidades intelectuais
e cognitivas, bem como o domínio linguístico nos seus alunos. Por estes motivos,
surgiu o interesse em aprofundar este estudo, que objectiva incentivar os professores
a tomarem como recurso didáctico, o texto literário nas aulas e propor sugestões e
algumas estratégias para a didactização desta tipologia textual.

2
Delimitação

Considerando a relevância do tema não alargamos o campo de estudo em


todas escolas. Desta forma, pensamos delimitá-lo, visto que « delimitar é fixar limites».
Sendo assim, o presente estudo foi feito no Liceu de Buengas com os professores e
alunos da 12ª classe, nas turmas A e B na Opção de Ciências Humanas.

Objectivos
É verdade que numa investigação ou pesquisa, o objectivo "constitui um
enunciado declarativo indicando, consequentemente, a intenção do pesquisador no
decurso do estudo" (Freixo, 2011). Do conjunto dos objectivos deve estabelecer-se
uma diferenciação entre os objectivos gerais e específicos, pois, " tanto os objectivos
gerais como os específicos permitem o acesso gradual e progressivo aos resultados
finais" (Baptista e Sousa, 2011). Assim sendo, para este estudo definiu-se os
seguintes objectivos:

Geral:

- Mostrar como o uso de textos literários nas aulas de Língua Portuguesa


pode contribuir para o desenvolvimento dos alunos.

Específicos:

- Incentivar os professores de Língua Portuguesa a tomarem como recurso


didáctico o texto literário nas aulas;

- Propor estratégias e sugestões para a didactização do texto literário nas


aulas de Lingua Portuguesa;

- Descrever géneros literários que podem tornar a aula de Língua Portuguesa


mais produtiva e prazerosa.

Questões de pesquisa
Sabemos que uma pergunta de pesquisa é a declaração de uma indagação
específica que o pesquisador deseja responder para abordar o problema de pesquisa.
As perguntas de pesquisa orientam os tipos de dados a serem colectados e o tipo de
estudo a ser desenvolvido. E as perguntas derivadas de pesquisa “decorrem
directamente do objectivo e especificam os aspectos a estudar” (Fortin, 2009, p. 101).

3
Para orientar o estudo a fazer acerca da temática, levantou-se as seguintes
perguntas:
1 - Será que os professores estimulam a participação dos alunos em sala de
aula?
2 - Será que os professores fazem perguntas que incitam a reflexão crítica dos
alunos?
3 - Será que os professores usam o texto literário como ferramenta didáctica?

4 - Será que os professores trabalham os textos literários nas aulas de Língua


Portuguesa?

Hipóteses
Segundo Baptista e Sousa (2011, p. 26), "as hipóteses são uma resposta
prévia ao problema proposto e, habitualmente, são desenvolvidos com base em
estudos anteriormente realizados de acordo com tema escolhido", pelo que a "
hipótese deve justificar o trabalho da parte empírica da investigação".

Tendo em consideração que "uma hipótese é uma proposição que prevê


relações entre dois termos, uma pressuposição que deve ser verificada", foram
elaboradas as seguintes hipóteses:
1- Se os professores ministram aulas monótonas, então não estimulam a
participação activa dos alunos em sala de aula;
2 - É provável que os professores formulem o tipo de perguntas que leva os
alunos decorarem respostas mecânicas, e que não os permite refletirem, elaborarem
suas ideias e responderem de maneira independente;
3 - É provável que os professores estejam alienados e apáticos com relação ao
uso do texto literário como um dos recursos didácticos;
4 - É provável que os professores não tenham o hábito de explorar textos
literários nas aulas para desenvolver nos alunos as habilidades de refletir, expressar
opiniões, discutir, argumentar e interpretar diferentes tipos de textos.

4
CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O USO DO TEXTO LITERÁRIO COMO RECURSO DIDÁCTICO

NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

5
1.1 – O acto de ler na formação social do indivíduo
Dentro do ensino da língua portuguesa, como língua materna e não materna,
a sociedade actual tem vindo, progressivamente, valorizar a leitura como forma de
aceder à informação, ao conhecimento e ao lazer. Mas ler, antes de tudo, é descobrir
e expandir novos horizontes e a leitura tem que ser entendida como um acto de prazer
e ser incentivada pelos pais, professores e meios de comunicação.

Isso faz com que o gosto pela leitura seja inserido naturalmente no cotidiano e
jamais como uma obrigação porque observa-se que a leitura é feita na maioria das
vezes pela obrigatoriedade nas escolas e essa leitura escolar está distante da
realidade das experiências pessoais dos estudantes, o que acaba fazendo com que
muitos deixem a leitura de lado, no entanto, a escola precisa efectivamente incentivar
os alunos a lerem; pois dessa maneira eles verão o mundo de uma forma diferente,
transformando-os em cidadãos mais críticos e conscientes. Afinal, não precisamos de
um aluno que apenas lê por ser obrigado na escola mas, sim queremos um leitor para
a vida toda, conforme Braga e Silvestre, ressaltam:

Se o acto de ler implica ler o mundo, mesmo antes, e até depois, de


termos acesso ao código escrito, pressupõe-se que entra em jogo
toda a experiência existencial do leitor e que, portanto, ler é um
processo activo da interação texto-leitor. Por isso, o professor, no
momento em que propõe uma actividade de leitura, deve levar em
conta, inicialmente, a condição prévia do aluno. BRAGA e
SILVESTRE, (2009, p.17).
É absolutamente imprescindível que o aluno compreenda o valor da leitura
porque "a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. É uma herança maior
que o diploma"; CAGLIARI (1992: 169); através da leitura, descobrimos um mundo
novo, cheio de coisas desconhecidas, levando-nos a um pensamento crítico, e quem
tem o habito de ler constrói opiniões mais facilmente...O aluno que lê toma velocidade
no aprendizado. Um aluno que não lê aprenderá o resto com dificuldade, e pode
passar a ter uma relação delicada com a escrita, não entendendo muito bem o que
esta é, nem como funciona”. (Ibidem).

O acto de ler consiste no processo de representação do mundo através das


palavras. É nesse contexto que as teorias do leitor e da leitura ressaltam a relevância
do seu processo, não somente na formação educacional, mas também cultural e
identitária do indivíduo. É também através da leitura que conhecemos o mundo e que
passamos a interagir com o outro, construindo a nossa identidade a partir da nossa
relação com o mundo.
6
Segundo Solé, (1998), “o acto de ler constitui-se de compreender e interpretar
textos escritos de múltiplos tipos com diversas intenções e objectivos, o que contribui
de forma contundente para autonomia das pessoas, visto que a leitura é uma
ferramenta indispensável para que nos conduzamos com certas garantias numa
sociedade letrada”.

A escrita e a leitura estão vinculadas uma na outra, pois sem os conhecimentos


adquiridos na leitura, consequentemente, não haveria a construção da escrita. Através
da leitura aperfeiçoamos ainda mais os conhecimentos adquiridos; a esse propósito
escreveu Kamei (2014):

Para que uma determinada pessoa participe da sociedade há


necessidade que apresente domínio tanto da linguagem oral (leitura)
quanto da linguagem escrita porque é por meio desses conhecimentos
que o ser humano desenvolve e adquire novos aprendizados, expressa
seus pensamentos, obtém novas ideias e amplia seu campo de visão
sobre o mundo. KAMEI (2014).
A prática da leitura é parte integrante do processo do desenvolvimento
intelectual. Ler é uma experiência que desenvolvemos desde a infância e cabe à
escola dar subsídios para esse desenvolvimento, contribuindo para a formação do
cidadão crítico, capaz de compreender as características sociais, culturais e naturais
nas quais estão inseridos, conforme aponta Villardi:

Ler é construir uma concepção de mundo, é ser capaz de compreender


o que nos chega por meio da leitura, analisando e posicionando-se
criticamente frente às informações colhidas, o que se constitui como
um dos atributos que permitem exercer, de forma mais abrangente e
complexa, a própria cidadania. VILLARDI, (1999: 4)
A leitura na sociedade tem uma função primordial de despertar e proporcionar
conhecimentos básicos que contribuam para construção integral da vida do aluno em
sociedade e para o exercício da cidadania. A prática da leitura é fundamental não
apenas na formação do aluno, mas também na formação do cidadão, e nessa
considerável parcela no cumprimento dessa tarefa recai sobre a escola.

Fischer (2006, p. 11), outro autor, traz uma concepção significativa sobre leitura,
atendo-se ao texto escrito, ao afirmar que leitura é a capacidade de se extrair sentido
de símbolos escritos ou impressos, em que o leitor emprega os símbolos para orientar
a recuperação de informações de sua memória, criando, assim, uma interpretação
possível da mensagem do escritor, havendo um momento de decodificação, imediata
ou simultaneamente ampliado pelo significado da leitura.

7
De acordo com Koch e Elias (2008), a leitura está além de apenas ocupar um
importante espaço na vida do leitor porque o acto de ler constitui-se da junção entre
os sujeitos sociáveis com a linguagem sociocognitiva, o que lhes possibilita um
contacto eficaz com elementos significativos do texto. Sendo assim, o leitor é posto
em contacto directo com as palavras, de maneira peculiar, percebendo o elevado grau
de sentido que elas preservam; pode-se conceber que a leitura decorre do
entendimento entre sujeito, língua, texto e sentido, adotados na respectiva sequência,
e assegura a representação do pensamento, promovendo a captação mental do leitor
de maneira absoluta. A leitura é crucial para a aprendizagem do ser humano. É por meio dela
que podemos enriquecer o nosso vocabulário, obter conhecimentos, dinamizar o
raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro,
isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito, as pessoas
saberiam apreciar boas obras para ler. Contudo, não podemos nos ater à satisfação das
preferências de leitura. Precisamos, sobretudo, provocar novos interesses, de modo
a multiplicar as práticas leitoras e diversificar os materiais à disposição do público. O
acto de ler significa diálogo com o texto, descoberta de sentidos não-ditos e
alargamentos dos horizontes do leitor para realidades ainda não visitadas. Por isso,
quanto mais contacto com o universo dos livros, tanto maior será a chance de termos
leitores competentes e capazes:

❖ Saber buscar textos de acordo com seu horizonte de expectativas,


selecionando obras segundo seus interesses e suas necessidades;
❖ Conhecer os locais em que os livros e os demais materiais de leitura se
encontram, tais como bibliotecas, centros de documentação, salas de leitura, livrarias,
distribuidoras, editoras etc;
❖ Frequentar os espaços mediadores de leitura: lançamentos, exposições,
palestras, debates, depoimentos de autores, sessões especializadas, e revistas;
❖ Identificar os livros e outros materiais (como jornais, revistas, arquivos)
nas estantes, movimentando-se com independência na busca de volumes que lhe
interessam;
❖ Localizar dados na obra (editora, local e data de publicação, sumário,
índices, capítulos, bibliografias, informações de conteúdo específico);
❖ Seguir as orientações de leituras oferecidas pelo autor, através dos
elementos potenciais e dos pontos de indeterminação localizáveis no texto;

8
❖ Reconhecer a estrutura que o texto apresenta, preenchendo as posições
tematicamente vazias, segundo sua maturidade de leitura e de mundo;
❖ Ser capaz de dialogar com os novos textos, posicionando-se crítica e
criativamente diante deles, por meio do processo de compreensão, interpretação e
aplicação;
❖ Trocar impressões e informações com outros leitores, posicionando-se
com respeito aos textos lidos, fornecendo indicações de leitura e acatando os novos
dados recebidos;
❖ Integrar-se a grupos de leitores, participando activamente de práticas de
leitura oral e expressão dos conteúdos lidos em diferentes linguagens;
❖ Conhecer e posicionar-se diante da crítica (especializada ou
espontânea) dos livros e outros materiais escolhidos para leitura;
❖ Ser recepctivo a novos textos, que não confirmem seu horizonte de
expectativas, sendo capaz de alargar seu gosto pela leitura e seu leque de
preferências, a partir do conhecimento do movimento literário ao seu redor e da
tradição;
❖ Ampliar seu horizonte de expectativas, através de leituras desafiadoras
para sua condição actual;
❖ E dar-se conta, por meio da conscientização, do que acontece no
processo de leitura, de seu crescimento enquanto leitor e ser humano.

Há uma grande necessidade de leitores-interlocutores que interagem com o


texto, construindo sentidos, expondo suas relações com a língua e que exteriorizam
seus conhecimentos prévios, preconceitos e pontos de vista, porque assim, ao final
de cada leitura, o texto se torna novo texto. Segundo Aguiar e Bordini (1988), o livro é
o instrumento que expressa todo e qualquer conteúdo humano individual e social de
forma cumulativa. A partir da leitura o indivíduo é capaz de compreender melhor sua
realidade e seu papel como sujeito nela inserido.

Para além dos manuais escolares e de textos literários, os docentes podem


recorrer à leitura de revistas, de jornais e afins. A leitura de textos ajuda o leitor a ter
maior sensibilidade para o exercício de observação e interacção no meio social.
Quando Lajolo, (1994: 7) diz-nos:

Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive.


Se ler livros geralmente se aprende em bancos da escola, outras

9
leituras geralmente se aprendem por aí, na chamada escola da vida: a
leitura do voo das arribações que indicam a seca? Como sabe quem lê
Vidas secas de Graciliano Ramos? Independentemente da
aprendizagem formal e perfaz na interacção quotidiana com o mundo
das coisas e dos outros”. LAJOLO, S. (1994: 7); “A leitura é,
basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma
conjunção de factores pessoais com o momento e o lugar, com as
circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de
um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma
compreensão particular da realidade. (Ibidem: 1992: 22);

Com as citações acima, compreendemos que ler não é meramente decifrar os


códigos linguísticos, mas também compreendê-los de forma com que os mesmos
formem um significante. Para OLIVEIRA, A. D. B. de et al. (2000: 262) “A leitura é, tal
como a vida, de natureza dialógica. Pela leitura o ser humano interroga o texto,
interroga o mundo, interroga-se a si próprio, procura respostas, levanta dúvidas e
entra, assim, na grande orquestração do universo”. Por sua vez, AZEVEDO, F. J. F.
de, (2010: 28) sustentando que “A leitura não se esgota nos textos funcionais ou nos
textos literários. Pode-se ler para cumprir funções muito variadas: por exemplo, para
obter informações, para seguir instruções, para partilhar conhecimento, para rever, ou
para mero deleite ou fruição”. Para Larrosa (2000), ler consiste em ver as coisas
diferentes, coisas dantes nunca vistas, entregar-se ao texto abandonar-se nele e não
apenas apropriar-se dele para nossos fins. As pessoas crescem lendo e são
permanentemente leitoras em formação, recebendo a cada etapa de sua vida uma
nova carga significativa para os conhecimentos já acumulados por suas leituras
anteriores. Yunes (1995) nos lembra que a leitura pressupõe fruição por ser um acto
que permanece vivo mesmo após o final da leitura, ficando internalizado no interior de
quem lê. O acto de ler é inesgotável, continua a transmitir as sensações após o seu
suposto término. Finalmente, sobre o acto de ler são pertinentes as palavras de Leite
(1988: 91):
A leitura, na verdade, é uma arte em processo. Como Goethe,
poderíamos todos reaprender a ler a cada novo texto que percorremos.
Mas há sobretudo muito a aprender quando percebemos que ler não é
apenas decifrar o impresso, não é um mero “savoir-faire”, a que nos
treinaram na escola, mas ler é questionar e buscar respostas na página
impressa para os nossos questionamentos buscar a satisfação à nossa
curiosidade. LEITE (1988: 91).

10
Todo indivíduo, pertencente a qualquer classe social e pode ser motivado para
a leitura, desde que se identifique com essa ação, porque através do livro, o homem
pode ser capaz de dar significado a si mesmo e ao mundo que o cerca, a final,
mediante a leitura descobre-se novos horizontes, massificamos conhecimentos,
satisfazemos a nossa curiosidade, buscamos respostas das nossas inquietações e
mais familiarizados nos tornamos com os critérios da ortografia; podemos dizer que o
pior analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê.
A leitura ajudo o aluno no enriquecimento do vocabulário e na aquisição das
regras gramaticais permitem que ele desenvolvam as habilidades quanto a produção
de textos próprios com originalidade, coerência, coesão, correcção, clareza e
segurança.
Na mesma linha observa, Ferreiro e Teberosky (1991:46):

(…) As actividades desenvolvidas em sala de aula devem ser, sempre,


experiências motivadoras, envolvendo percepções e sentimentos. O
estímulo mais eficaz para a formação mental da criança constitui o
interesse. Em qualquer actividade que realizamos na vida, o interesse
é fundamental.

Escrever, ler e expressar-se bem são actividades que quando bem


coordenadas aumentam a auto-estima do indivíduo. Em termos práticos, a palavra
escrita influencia na conduta social e profissional das pessoas, no melhoramento das
relações humanas e é indispensável para o trabalho coletivo e promoção da actividade
de grupos. Ainda sobre a mesma questão, afirma Gurgel (2009:78);

(…) a prática metodizada da composição de pequenos textos, pela


criança, exercitam as faculdades mais nobres do espírito, educa os
sentidos e habitua esta criança à observação da natureza, desperta a
sua inteligência para as primeiras estéticas e proporciona condições
favoráveis para o cultivo dos sentimentos.

Escreve ainda Gurgel, (2009:82).

Não restam dúvidas de que o desenvolvimento da habilidade de”


produzir textos necessita de interesse, de motivação e logicamente de
conhecimentos. Caberá, portanto, em sala de aula, renovar, sempre e
cada vez mais, os motivos que a criança já traz dentro de si e despertar
outros que a levem a se interessar por temas que não estão dentro de
suas aspirações.

11
Assim, as interpretações da criança na apropriação da leitura representam, de
fato, o prenúncio de um conhecimento futuro; decorrendo daí a importância de se
considerar as experiências que os alunos possuem como imprescindíveis.

1. 2 – Conceptualização da literatura
A literatura é um conceito que se estabeleceu como tal a partir do século XVII,
até então literatura era entendida como tudo aquilo que congregava o conhecimento,
sem separação entre o que era criação e o que era ciência. É preciso entender que a
literatura, desde sempre, esteve associada à civilização, conhecimento e arte para
civilizar. A partir do momento em que a literatura passa a designar os textos criativos,
seja poesia ou prosa, há associação com arte e com a humanização.

A definição mais antiga comumente usada pelos teóricos da Literatura é aquela


construída por Aristóteles, um dos primeiros a focar nos estudos sobre essa arte, para
este filósofo Grego: “a arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela
palavra”, ou seja, para o pensador, a Literatura seria uma imitação e representação
da realidade mediante as palavras. Aristóteles (1987: II serie), afirma:

arte é imitação (mimeses em grego) ” diz ele, “o imitar é congénito no


homem (e nisso difere dos outros viventes, depois de todos, é ele o
mais imitador e, por imitação, aprende as primeiras lições), e os
homens se comprazem no imitado”. ARISTÓTELES (1987: II serie).

Isto nos faz entender que só existe uma recriação no imitado. Pela
complexidade do conceito, o poético, teórico e crítico Pound, acrescentou dizendo que
a literatura é uma linguagem carregada de significado até o grau máximo possível
(POUND 2006: 32), e o Afrânio Coutinho, em suas “Notas de Teoria Literária”, deu a
sua grande contribuição: «A literatura, como toda a arte, é uma transfiguração do real,
é a realidade recriada, através do espirito do artista e retransmitida através da língua
para as formas, que são os géneros, com os quais ela toma corpo e nova realidade»
(COUTINHO, C. (1978, p.9-10). E o seu conterrâneo, Cândido, A. (1972, p.53),afirma:

A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório


por meio de uma estilização formal da linguagem, que propõe um tipo
arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se
combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e
um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua
configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade.

12
Faz muito tempo em que o homem estuda a arte por ele mesmo produzido, a
questão sobre conceituação da literatura tem sido assunto de muitos debates. Desde
o processo de evolução cultural do homem, muito se tem discutido a respeito do
assunto aqui abordado. Sabe-se, pois, que, em cada época literária são atribuídas à
literatura uma natureza e funções diferenciadas, harmónicas com a veracidade
cultural e, portanto, social, da época. Algumas pesquisas realizadas no projecto de
iniciação científica, levaram ao estudo de conceitos e funções atribuídos à literatura
por teóricos do século XX, uma vez que são esses conceitos aceites mais
grandemente que aqueles formulados por teóricos de outras épocas.

Não há uma definição estabelecida acerca do conceito de literatura. Ela varia


de acordo com o momento histórico e com as condições de recepção de seu material
(porque embora a literatura seja basicamente composta por textos literários, ainda há
inúmeras discussões acerca do que seria esse “texto” e de quais seriam seus meios
de difusão).

Em linhas gerais, diríamos que a Literatura é uma arte que tem como matéria-
prima a palavra. Por isso, ela trabalha com os sentidos, os sons e o poder de sugestão
das palavras. No entanto, não existe uma definição de Literatura, como também não
existe uma definição de arte. O que há são reflexões a respeito do que seria a
Literatura, mas jamais uma conclusão definitiva. O escritor francês Jean-Paul Sartre
(1905-1980), por exemplo, em seu livro, “Que é a Literatura? ” demonstra a falta de
definição do termo: “E como os críticos me condenam em nome da Literatura, sem
dizer jamais o que entendem por isso, a melhor resposta que cabe dar-lhes é examinar
a arte de escrever, sem preconceitos” SARTRE (1905-1980).

Dessa forma, Sartre nos indica que a Literatura é a arte de escrever. E isso
dialoga com o nosso conceito inicial, isto é, a Literatura como arte da palavra.
Portanto, a arte de escrever está associada ao trabalho artístico com a palavra, a qual
ultrapassa os limites da denotação para assumir outros sentidos, de forma imaginativa
e sugestiva.

Vários outros estudiosos procuraram conceituar a literatura de um modo concludente


e definitivo, mas que nunca se chegou a este propósito. Porém, por mais esforços que
tenham sido feitos, o problema continua aberto, como afirma Terry Eagleton:

13
Muitas têm sido as tentativas de definir Literatura. É possível, por
exemplo, defini-la como a escrita “imaginativa”, no sentido de ficção –
escrita esta que não é literalmente verídica. Mas se reflectirmos, ainda
que brevemente, sobre aquilo que comumente se considera literatura,
veremos que tal definição não procede. EAGLETON, T. (2003:4).

Com afirmação do Terry, voltamos a nos questionar sobre o que seria a


literatura, e vimos que a questão remete-se uma série de pluralidade de conceitos
complexos, por isso que as vezes o termo vem adquirir muitas significações
polissémicas. Se tentarmos simplificar esta conceituação, diríamos que é um
combinado de artes verbais onde se usa a língua como material de divulgação e que
está ligeiramente ligada à ideia de estética.

Partindo da premissa de que a arte é uma linguagem, devemos observar os


elementos que a constituem desde sua concepção geral até as mais particulares.
Nesse sentido, precisamos ter como noção a importância da arte como reflexão e
como expressão; recordemos que a reflexão é tudo aquilo que podemos relacionar
com sua produção, desde o momento de sua concepção/elaboração até a nossa
leitura, a expressão é a tentativa sempre incompleta e inconclusa de dizer algo sobre
o mundo e nós mesmos e isso difere de um criador para outro, por essa razão, Nelson
Goodman chama a arte de mundos e as diferentes produções como mundos.

O mundo é feito por nós, afirma Goodman. Ou, mais precisamente, o


nosso conhecimento consiste na construção de «versões de mundos».
Goodman gosta de escrever assim para sublinhar que as nossas
construções não são diferentes interpretações ou explicações de um
mesmo e único mundo pré-existente e independente delas, mas sim
que construções e mundo são uma e a mesma coisa. (…). Podemos,
por isso, dizer indiferentemente que fazemos mundos ou que fazemos
versões porque, quando usadas separadamente, estas noções são
quase sempre intersubstituíveis. As versões são sistemas de símbolos
que ordenam, classificam e categorizam os objectos do seu domínio, e
é, os seus referentes. Estes sistemas são artefactos no sentido em que
as suas características não são impostas pela espécie de coisas que
constitui o domínio que o sistema organiza, mas são o resultado de
livres decisões nossas quanto à forma de o organizar. GOODMAN, N.
(1995: 5).

Por seu turno, observou Coutinho, A. (1978: 9 -10).

A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a


realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através
da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma
corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma,
independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio.

14
A arte que se realiza como “obra-prima” – sim, porque podemos até mensurar
a arte por meio de uma visão mais condescendente àquilo que julgamos bem
elaborado e belo –, segundo Robert Cumming, é caracterizada da seguinte forma:

A função e o objetivo de uma grande obra de arte, as expectativas nela


depositadas e o papel do artista não são constantes, variam conforme
a época e a sociedade. Contudo, algumas obras se destacam por
terem a necessidade de falar de algo além de sua própria época e
oferecerem uma inspiração e um significado que atravessam os
tempos. CUMMING, A. (1996: 08).
No entanto, a literatura, por mais difícil que seja aceitar, não se limita à escrita.
As manifestações orais advindas da tradição também fazem parte desse “processo
cultural”, dessa organicidade da qual a literatura é parte. Mesmo assim, o privilégio da
escrita – da literatura entendida como essa manifestação da linguagem por meio do
código escrito – faz parte do conjunto de valores ideológicos que perpassam e
integram nossa formação individual e colectiva. Nessa perspectiva, talvez o elemento
mais comumente aplicado para se entender o conceito de literatura esteja calcado na
noção de “literariedade”, ou seja, a literatura, segundo Terry Eagleton, (2006: 03), não
é a “escrita “imaginativa” nem tampouco se limita à distinção entre “facto” e “ficção”,
mas talvez seja “porque emprega a linguagem de forma peculiar”.

Fica assim evidente que “a literatura é uma prática discursiva intersubjectiva


como muitas outras e sua especificidade, ou melhor, sua “literariedade”, não passa de
uma construção elaborada por razões de ordem histórico-cultural”, COUTINHO, A.
(1999: 71), que representa o discurso de uma dada comunidade e atende aos seus
interesses políticos e ainda enquanto construção cultural é passível de mudanças.

Ao remeter à vida, a literatura fala da existência humana, dos problemas vividos


por todos nós, das contradições existenciais. Assim, para interessar o jovem a leitura
de textos literários, o texto precisa ter uma significação na sua vida, ele precisa se ver
reconhecido na obra num processo de identificação, por isso também se torna
imprescindível o direito a escolha, mesmo de obras de menor valor e de consumo
fácil:

Os mesmos best-sellers existentes na biblioteca, [...], é claro que são


os efeitos da moda, [...], permitem “desenferrujar os olhos” e há mesmo
alguns de qualidade que permitem soltar a imaginação, jogar com as
palavras. Podem ser também um pretexto para compartilhar, para
conversar. Portanto, não sejamos puritanos PETIT, (2004: 175).

15
Sem intuição de fechar a conceituação de literatura, nem tão pouco contrapô-
la com escrituras, mas encontrar pressupostos para um estudo sobre a natureza e a
função da mesma. Marin, A. (2016:13), dá o seu parecer acerca da literatura:

O que é a literatura? Não existe uma definição única e unanime para a


literatura. Há quem prefira dizer o que ela não é. De qualquer modo
para o efeito da reflexão é possível destacar alguns aspectos que
envolvem o texto literário do ponto de vista de linguagem e do seu
papel social e cultural. MARIN, A. (2016:13).

Assim, a literatura é vista como um exercício de olhares, como actividade


estética e de experiência individual. Mesmo segundo um julgamento valorativo da
considerada “baixa literatura”, o facto de serem obras mais “simples”, não quer dizer
que não possam contribuir para construção do leitor literário porque existem diferentes
maneiras de se tornar leitor. Desde a sua etimologia (do latim “littera”, que significa
“letra”), o termo “literatura”, está ligado de uma forma implícita à palavra escrita ou
imprensa, à arte de escrever, à erudição. É uma das manifestações artísticas do ser
humano, ela representa comunicação, linguagem e criatividade, sendo considerada a
arte das palavras. Trata-se, portanto, de uma manifestação artística, em prosa ou
verso, muito antiga que utiliza as palavras para criar arte, ou seja, a matéria prima da
literatura são as palavras, tal qual as tintas é a matéria prima do pintor.

Em virtude do acima exposto, podemos dizer que a literatura é arte de criar e


recriar textos, compor ou estudar escritos artísticos; é também o exercício de
eloquência e poética, e também conjunto de produções literárias de um país ou época.

1.3 - Contraste entre o texto literário e o texto não-literário


Para se qualificar como “literário”, um texto deve demonstrar uso particular da
língua, que obedeça as preocupações estéticas e formas específicas da literatura. É
necessário que o texto possua uma dimensão estética e não somente linguística, cuja
interpretação e significação variam de acordo a subjectividade do leitor. A estética
literária corresponde a todos recursos utilizados ou destacados por autores para
alcançar o ideal da perfeição e beleza que eles estabelecem. O uso abundante das
figuras da retórica revela essas apreensões estéticas, assim como a subversão à
gramática prescritiva ou normativa.

Autores pertencentes ao mesmo movimento literário, geralmente apresentam


tendências comuns ao fazer escolhas estéticas. Assim eles, podem usar os mesmos

16
temas, as mesmas ideias e encontrar as mesmas imagens fortes e símbolos
importantes em suas obras. Eles também compartilham estratégias comuns formais,
com um estilo, uma maneira de se expressar e desenvolvendo novos meios técnicos
para transmitir sua mensagem.

Uma simples lista de compras, por exemplo, não é considerada literária porque
geralmente não é um reflexo de preocupações estéticas especificas. Os textos
literários são baseados na imaginação do escritor/artista e, portanto, são subjectivos.
Com a função de entreter o leitor, esse tipo de texto está intimamente relacionado com
a arte. Por ser um texto artístico, não tem compromisso com a objectividade e com a
transparência das ideias (a título de exemplos, fábulas, novelas, contos, poemas,
crônicas são textos literários).

Em literatura, geralmente se distinguem as chamadas obras canónicas


consideradas como resultado de uma abordagem artística afiada e procurada, e a
paraliteratura, cujos objetivos são mais comerciais (romances arlequim, polares,
ficção científica, etc.). Quanto aos textos de índole não-literário, sua constituição
emprega factos para comprovar um ponto e a escrita é feita de forma meramente
objectiva por se tratar de textos com carácter informativo. A compreensão da
mensagem nos textos não-literários é antes de mais, uma das preocupações do autor,
por isso, a informação deve ser passada de modo a facilitar o acesso ao sentido do
texto. Os documentos administrativos, receitas, livros didáticos, artigos académicos,
manuais de instrução, relatórios, entre outros, são textos não-literários. Podemos
resumir o contraste entre o texto literário e o texto não-literário na seguinte tabela:

Quadro 1. Contraste entre o texto literário e o texto não-literário

Texto literário Texto não-literário

O que é Textos que possuem recursos São textos informativos e


artísticos e tendem causar emoção. objetivos.

Função Estética. Destina-se ao Utilitária. Sua função é


entretenimento, à arte e ficção. informar, convencer,
explicar, comunicar.

17
Linguagem Subjectiva e conotativa. Denotativa.

Utiliza elementos como a


musicalidade, figuras de estilo, Linguagem
Característic objectiva e
multissignificação e possuem clara.
as
liberdade na criação.

Normas Subverte a gramática normativa. Geralmente adopta a


gramaticais gramática normativa.

Elemento de Ficção, baseada na imaginação do Utiliza factos e


composição artista. informações.

Requer confirmação dos


factos conhecimento,
Análise Busca de metáforas e simbolismos.
desenvolvimento de
habilidades e realização
de tarefas.

Exemplos Poemas, novelas, contos, dramas. Diários pessoais, notícias,


receitas e artigos.

1. 4 - Perspectiva histórica do uso de textos literários no ensino de línguas


O papel da Literatura no ensino de línguas diversificou-se de acordo com os
enfoques dos variados Métodos do Ensino. O uso da literatura no ensino de linguas
remonta ao século XIX. Por exemplo, nessa altura, o método dominante no Ensino de
LE, era o método de Gramática-tradução e a estratégia utilizada mais comum era a
tradução de textos literários para a língua materna. Os textos literários eram
amplamente utilizados, pois, eram considerados como textos de lingua culta. Eram
somente ferramentas que proporcionavam o material para o estudo de estruturas
gramaticais e vocabulário. Segundo Liaw (2001), o método de Gramática-Tradução
colocava ênfase na forma escrita da língua.

Durante o processo de aprendizagem, a pronúncia e a capacidade oral eram


praticamente esquecidas e rara praticadas, uma vez que a maior parte de actividades

18
de sala limitavam-se ao uso do livro e de textos. Verificava-se um foco de
concentração na lingua em estudo não havendo espaço para atividade de
interpretação e compreensão de textos. Posteriormente com a implementação dos
métodos Direto e audiolingual, a literatura deixou de constar nas aulas de LE pois, era
considerada redundante para aprendizagem da lingua (ibidem).

Segundo Duff e Maley (1990), aquando do uso do método Gramática-Tradução,


a Literatura desempenhava um papel fundamental. Os textos da lingua em estudo
eram lidos, traduzidos e utilizados como exemplos de boa escrita. O âmago deste
método do ensino era a aprendizagem das regras, da gramática e do léxico presentes
no texto. De acordo com esses autores quando este método caiu em desuso, também
o texto literário foi colocado à parte. As metodologias que sucederam tinham como
foco a língua oral e objetivo maior era a reprodução de frases da forma mais próxima
possível à da lingua em aprendizagem. Em consonância com Duff e Maley (1990), no
que concerne às abordagens estruturais para o ensino de LE, a Literatura foi
descartada enquanto ferramenta, pois, o seu uso estava associado ao método
tradicional de Gramática-Tradução. A Literatura passou a ser ignorada, porque a sua
importância focava-se na comunicação, apresentando exemplos autênticos.
Considerava-se que a Literatura não possuía uma função comunicativa. A Literatura
era vista como uma representação não versátil da linguagem, carecendo, assim, do
aspecto funcional da língua em estudo.

O texto literário só retornou à sala de aula da LE a partir do enfoque comunicativo


como demonstração da cultura da língua. Ainda de acordo com o Duff e Maley (1990),
aquando do surgimento da abordagem comunicativa renasceu o interesse pela
literatura como um dos mais válidos recursos no ensino-aprendizagem de LE.

Segundo Sanz e Fernández (1997) o reavivar do texto literário como instrumento


no ensino-aprendizagem de LE, está em conformidade com as correntes dentro da
abordagem comunicativa que na literatura a oportunidade do desenvolvimento da
competência comunicativa porque os alunos aprendem a comunicar na lingua-alvo
encontrando situações comunicativas reais e a leitura de textos literários em sala de
aula contém um cariz comunicativo por serem exemplos autênticos do uso da
linguagem. Segundo o Quadro Europeu Comum Referencial (QECR):

19
Os usos artísticos e criativos da língua são tão importantes por si
mesmos como ponto de vista educativo. (...) a produção, a recepção e
a representação de textos literários, p.ex.: ler e escrever textos (contos,
novelas, romances, poesia, etc.); representar em/assistir a recitais,
peças, ópera, etc. (QECR, p.88/89).

1.5 - A necessidade de recuperar o uso de texto literário na sala de aulas


O texto literário, pelas características que o compõem, é um tipo de texto que
tem muito a oferecer na medida que é encarado como um canal de comunicação
ilimitado. O aluno ao deixar-se envolver com o texto literário, terá oportunidade de
entrar em contacto com o teor cultural da língua que se propõe a aprender também
aprenderá um novo vocabulário ou estrutura gramatical e terá a possibilidade de ficar
a conhecer outra cultura e expressão de sentimentos que autor procura transmitir
através da sua escrita.

Na aula de língua portuguesa é importante distinguir a indispensabilidade de se


abordar não somente conteúdos gramaticais e lexicais, mas também de se explorar a
complexidade linguística, os aspectos de carácter social, cultural e histórico que
compõem a lingua em estudo. A leitura, exploração e discussão de textos literários na
aula, conduzem a melhorias no que se refere à competência linguística, literária e
cultural do aluno. O texto literário é um meio de introduzir nos alunos, os
conhecimentos, saberes, experiências prévias, assim como os valores e desenvolver
o seu pensamento. Para além de desenvolver a capacidade interpretativa do aluno, o
estudo do texto literário reforça o aperfeiçoamento de uma consciência crítica da parte
do aluno e de um contacto de carácter linguístico e sociocultural. A Literatura em si
só, quer de forma implícita ou explicita, como instrumento do processo educativo,
serve de motivação ao desenvolvimento do aluno como ser humano e como cidadão
de um mundo cada vez mais global. Assim, ao fazer o uso do texto literário no ensino
de Língua, o professor estará a desenvolver uma pedagogia intercultural e
simultaneamente a distanciar-se de um processo que por vezes se torna automático
e estimular a formação completa do aluno, direcionada aos valores de cidadania, à
construção do pensamento crítico, ultrapassando preconceitos, ampliando o potencial
para a deferência intercultural, o respeito pelo outro e o incentivo à aceitação da
diferença. Por conseguinte, a sala de aula deve ser um espaço onde os alunos
encontrem a possibilidade de se contactar com situações recheadas de significados e
que se verifique uma interação de teor comunicativo entre si e com a cultura da língua.

20
Lazar (2004), defende que os textos literários são formas contextualizadas de
como o aluno pode aprender a agir ou se comportar numa situação específica, sendo
indivíduo e membro de uma determinada sociedade. Além disso, o autor verifica que
o uso da literatura no ensino de lingua, é muito útil, pois o professor poderia
proporcionar aos alunos uma maior criatividade para a escrita, maior estímulo para
leitura, mais interesse para a participação oral e a implementação de actividades mais
motivadoras.

É indiscutível ser papel do professor de línguas incentivar os alunos a tomar


contacto com o texto literário originário da lingua em estudo como forma de conhecer
a cultura e os costumes que são inerentes à mesma. Aliás, aprender uma língua é
muito mais do que assimilar regras e o léxico. Após a leitura do QECR ficou subjacente
a ideia de que somente a competência linguística não é suficiente para responder às
necessidades do falante de uma LE, como exemplo,pois,de um ponto de vista mais
amplo, a competência comunicativa envolve todas as necessidades à comunicação e
com a Literatura e através da interiorização do sentido do texto e da mensagem
construída e transmitida, também é possível dar a conhecer aos alunos diferentes
formas de encarar o mundo e a sociedade onde se encontram. A literatura pode
proporcionar aos alunos um contexto que os possa motivar para desenvolver o seu
interesse pela língua, história e cultura do país ou dos países onde a língua é falada
e que desta forma aprendam com maior gosto e com o desejo de saber sempre mais.

Contemplamos nós que a Literatura seja um testemunho de todas


manifestações culturais, como arte, tradições e costumes e por isso pensamos que a
sala de aula de línguas deve ser o ponto de partida para um convívio dos alunos com
a Literatura e pode introduzir um carácter diversificador nas aulas. Consideramos que
a dimensão ampla da língua e do texto literário possibilitam ao aluno o contacto com
visões diversas do mundo. Defendemos também que o estudo de texto literário, ajuda
a superar eventuais limitações, reconhecer e fomentar potencialidades e assim, no
processo educativo, influenciar a formação dos alunos contribuindo para consolidação
do seu pensamento e crescimento gradual. Este fundamento pode ajudar a aniquilar
o mito de que a leitura de textos literários é complicada, intrincada e incompreensível
para os alunos e assim valorizar a sua capacidade interpretativa, ao passo que o
estudo de texto literário é uma oportunidade de fomentar o conhecimento dos alunos,
oferecendo-lhes o contacto uma variedade de obras consagradas que poderão fazer

21
parte das suas lembranças presentes e futuras. Como afirma o Coutinho (1978),
“Pondo desde o início, o aluno em contacto directo com o texto literário, fazê-lo adquirir
a familiaridade com a língua e a coisa literária, levando-o a adquirir o gosto da
literatura, ajusta compreensão de seu valor e significado. ”

1.6 - A importância do uso de texto literário nas aulas de línguas

Na sua obra, “Leitura e Exploração do texto literário nas aulas de línguas”,


Mona Mpanzu (2021), salienta que, ao longo da história, vários pesquisadores se
perguntam por que, com que intenção se deveria ensinar e aprender a literatura na
aula de línguas. Suas respostas a essas perguntas, foram obviamente diversificadas,
tendo em conta o carácter amplamente complexo de uma aula de línguas. Na
sequência da sua abordagem, o autor revela o motivo que fez desaparecer quase por
completo uso do texto literário como recurso didáctico nas aulas de línguas:

(...) Começa-se dando mais importância à comunicação e ao carácter


funcional da língua. Assim, a Metodologia Directa e a Metodologia
Estrutural Global Audiovisual...acarretam o desaparecimento quase
completo do texto literário como ferramenta didáctica na aquisição de
línguas em contexto não materno. MONA (2021).

Além disso, o autor explica que os proponentes da Abordagem Comunicativa,


rejeitam o texto literário como ferramenta didáctica, devido ao seu grau de desvio à
norma e da linguagem padrão comumente usada e que a linguagem literária deve ser
entendida como um afastamento da língua corrente ou padrão. Esse desvio ocorre,
em relação às normas que regem o uso quotidiano e comunicativo de uma língua, e
implica a existência de toda uma série de estruturas, recursos e procedimentos que
tornam uma língua literária, um tipo específico e bem diferenciado de linguagem que,
em qualquer caso, excede as possiblidades descritivas de gramática.

De acordo com Mona Mpanzu (2021), em contrapartida, os manuais advogam


o uso de diálogos e outros textos artificialmente elaborados, que reproduzem a
comunicação quotidiana, tanto quanto possível. A partir desta perspectiva, alguns
autores intercedem o uso de textos literários como ferramentas didácticas valiosas,
para o ensino e aprendizagem das linguas (maternas, segundas e estrangeiras). Jean
Pierre, sublinha que “vale a pena ensinar e estudar mais a literatura e o texto literário
no campo da didáctica de línguas, a fim de ganhar um lugar mais coerente e mais
funções no aprendizado de uma língua (...) porque promove a priori, como sempre, a
literatura participa, em como indiretamente, na apropriação da língua: gramática e
22
vocabulário essencialmente”. A literatura é também um reservatório de possiblidades
linguísticas, um espaço onde a língua é trabalhada e o aluno pode ser sensibilizado a
todas as nuances e ao poder da língua que recria o mundo para o infinito.

É realmente necessário enfatizar que os textos literários são o lugar, o


momento e a oportunidade para o aluno entrar na língua / cultura e reconfigurar sua
própria identidade, por meio de interações em torno desses textos. Essa concepção
nos leva a considerar os textos literários como ferramentas didácticas na aula de
línguas, na medida em que o desafio da aula de línguas é o aprendizado da língua,
de sua cultura, e o texto literário possibilita abordar esses dois domínios ao mesmo
tempo, dada a riqueza da língua nela contida e o espirito criativo dos homens literatos,
que, certamente podem acabar influenciando os alunos a ponto de se apropriar de
certos saber-fazer linguísticos.

A aula de língua é um espaço ideal possibilitando ao aluno o reconhecimento e


a compreensão da diversidade linguística e cultural, engajando-o discursivamente a
fim de que,criticamente,possa construir significados em relação ao mundo em que
está inserido e o texto literário surge como um excelente recurso para que isso ocorra,
considerando que, por meio da literatura é possível promover reflexões sobre
questões de poder e as ideologias dominantes presentes na sociedade, auxiliando
para a formação de um indivíduo crítico capaz de construir significados, respeitar e
reconhecer diferentes culturas.

A literatura sendo a arte da palavra, a língua que ela emprega, é um instrumento


de comunicação e de interação social, cumprindo o papel de transmitir os saberes e
a cultura de uma comunidade. Assim como o artista não consegue ser à realidade, a
literatura permanece vinculada à sociedade em que se origina, assim como todo tipo
de arte.

A obra literária é resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e


sociedade, porque através das suas obras o artista transmite seus sentimentos e
ideias do mundo, levando seu leitor à reflexão até mesmo à mudança de posição
perante realidade, assim a literatura auxilia no processo de transformação social. Daí,
quando um texto literário é introduzido na sala de aula são criadas as relações entre
o texto e os alunos. Essas relações são de três tipos: estético, ético e emocional, sem
descartar a construção de interpretações.

23
O texto literário reúne em si características particulares capazes de
proporcionar aos alunos um contacto diferente com a língua e a linguagem. A língua,
pode ser vista não apenas como uma forma de comunicar, mas também como uma
forma de facultar o conhecimento e o desenvolvimento do pensamento. Usar o texto
literário nas aulas de línguas pode tornar-se uma ocasião repleta de oportunidades de
ampliar esse pensamento. Para tal, é importante encontrar as formas mais
interessantes de implementar o texto literário na sala de aulas, pois, antes de tudo,
consideramos que a literatura compreende um lado de prazer que deve ser fomentado
em prol dos alunos. Outrossim, é importante o uso do texto literário nas aulas de
línguas bem como a sua exploração com participação dos alunos para que possa ser
desenvolvida a interação e a troca de ideias.

No estudo de línguas, é fundamental o contacto com ampla variedade de tipos


de textos. E o texto literário representa uma amostra autêntica de língua e a sua
multiplicidade de vocabulário, uso variado linguístico e figuras de estilo, podem ajudar
a estimular a criatividade e a imaginação dos alunos. Um texto literário pode conter
diversas interpretações que resultam em diferentes opiniões entre os alunos,
conforme acentua José Morais (1997):

Não lemos todos um texto da mesma maneira. Há leituras veneradoras,


analíticas, leituras para fazer ouvir as palavras e as frases, leituras para
reescrever, imaginar, fantasiar, leituras narcisistas onde nos
procuramos, leituras mágicas onde seres e sentimentimemtos se
materializam e salta perante o nosso olhar estupefato. Há leituras onde
« a sensação de que o texto nos aparece como sendo inteiramente novo,
nunca antes visto, é seguido quase de imediato, da sensação de que
este sempre lá estivera (...) que nós os leitores, sabíamos que sempre
lá estivera e que sempre o conhecemos como ele era, apesar de o
reconhecermos agora pela primeira vez...» Não lemos todos os mesmos
livros, não temos os mesmos desejos. A liberdade, mesmo a liberdade
arrancada, conquistada frontalmente ou subtilmente, é indispensável à
experiência apaixonante da leitura. JOSÉ MORAIS (1997,13)

Deste modo, não se fala de um estudo passivo, isto é, os alunos são


estimulados a fazer o uso dos conhecimentos prévios que possuem para compreender
o texto e língua em estudo, podendo contribuir com a sua visão e opinião pessoal
sobre a temática em abordagem. O texto literário é um espelho que expõe os
sentimentos do escritor e isso pode gerar uma forte motivação nos alunos, na medida
em que os permite relacionar o que estiverem lendo com o que sentem no seu mundo.
Maley (2001) aponta várias as razões que justificam a importância do uso do texto
literário como recurso nas aulas de línguas:

24
1. Universalidade: todas as linguas conhecidas têm literatura e os temas
veiculados através dela como amor, a morte, a separação, natureza, etc. são
comuns a todas as culturas.
2. Não-trivialidade: ao contrário de outros recursos de ensino de línguas que
banalizam textos ou experiências, a literatura não as banaliza ou diminui.
Oferece um input verdadeiro e autêntico.
3. Relevância pessoal: ideias, eventos e outras coisas expressas em literatura
podem ser experimentados pelos alunos ou podem ser imaginados, portanto,
eles são capazes de encontrar relevância entre eles e suas vidas pessoais.
4. Variedade: existe uma grande variedade de linguagem e assuntos tratados em
literatura. Os alunos podem desfrutar de uma seleção não-monótona e versátil
de textos literários.
5. Interesse: a Literatura é, por natureza intrinsecamente apelativa pois, aborda
assuntos familiares de uma forma atraente e interessante.
6. Economia e poder sugestivo: uma das características distintivas da literatura
é o significado evocativo de algumas palavras e frases. Literatura vai além do
que é dito e ideias podem ser expressas com poucas palavras.
7. Ambiguidade: a Literatura permite diferentes interpretações. É raro que dois
leitores façam uma leitura idêntica de um mesmo texto.

Indubitavelmente, o uso do texto literário na sala de aulas, contribui como factor


de aprendizagem no que respeita ao aspecto motivacional, afectivo acima de tudo o
cognitivo. Se entendermos a leitura de textos como a interação entre os alunos e o
texto, é importante que o aluno esteja motivado para ler, e o texto literário pode ser
encarado como ferramenta para proporcionar essa motivação. Assim, é essencial ter
em consideração os interesses dos alunos e é necessário que eles tenham noção de
que qualquer obra literária, é composta pelo entrelaçamento de componentes
linguísticos e estéticos, que podem proporcionar-lhes um desenvolvimento intelectual
e incrementar o prazer de aprender a língua, conforme aponta Mpanzu (2021):

Sendo uma espécie de laboratório de línguas, com usos e


manipulações de palavras para comunicar experiências dos seres
humanos, seus sentimentos, conflitos, suas emoções, imaginações e
decisões, as obras literárias de modo genérico, conseguem exercer
naturalmente uma função ideológica. Essas obras manifestam ideias e
concepções de uma sociedade, e exprimem valores morais, sociais e
políticos, mesmo que não tenham por objetivo alcançar tal fim, já que
a subjectividade é seu marco de fabrico” MONA MPANZU (2021).

25
Portanto, o uso estético que os textos literários apresentam da língua, pode ser
um importante estimulo para o desenvolvimento das capacidades cognitivas dos
alunos e para o seu enriquecimento e crescimento como indivíduos ou membros de
uma sociedade, pelo elevar do aspecto cultural, pela ampliação do leque vocabular,
por fomentar a reflexão e desenvolver o espírito crítico e pelo encorajamento da
tolerância pelas diferenças culturais.

1. 7 – O processo de trabalho com o texto literário na sala de aulas

Conforme já nos referimos, o texto literário se apresenta como um veículo


criador e socializador da linguagem e dos valores que acreditamos que nos identifica,
a presença do texto literário na sala de aulas, propicia a exploração de inúmeras
possiblidades de educação no desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos
alunos. Nesta pesquisa, Julgamos, pois, necessário e relevante problematizar as
formas de se trabalhar o texto literário como recurso didáctico nas aulas de Língua
Portuguesa no Ensino Médio.

Venturi (2010), em seus estudos sobre a leitura de texto literário no ensino


médio, comenta que a literatura é um instrumento importante na formação de um ser
humano.

Precisa-se entender que a literatura é uma de revelação, busca,


descobertas do mundo e de nós mesmos; que a natureza humana
precisa dialogar com o mundo e a literatura é isso, quer buscar
respostas, quer preencher vazios, quer criar algo além da simples visão
da realidade. A Literatura proporciona essa busca, esse
preenchimento, essa criação da realidade. (VENTURU,2010, p.05)

O texto literário tem o papel de construir um ser crítico, e o transforma em


participante activo a novas culturas. O sujeito passa a ter percepções diferentes do
seu quotidiano, usando sua imaginação e construindo novas metáforas e conceitos
nas relações humanas. Por ser um acto social, a literatura se torna uma fonte de
ligação para a produção e apreensão do conhecimento.

De acordo com Castano (1998), “a leitura e o estudo de textos literários nas


aulas de linguas, se propõe a entender diferentes objectivos: ler para obter uma
informação geral, ler para aprender, ler para prazer e ler para dar conta o que
compreendeu. ” Segundo o autor, o texto literário na aula de linguas, não pode ser
tratado da mesma maneira que os outros tipos de textos, pois, têm muito a oferecer

26
por ser um meio de difusão cultural e através dele o aluno entra em contacto com a
cultura da língua que se propõe aprender.

Nas aulas, o professor de língua portuguesa, pode usar o texto literário para
actividades de compreensão leitora e de conteúdos gramaticais ou lexicais, porém,
sem deixar de explorar também as características que o fazem literatura. Devemos ter
em mente que o texto pode ser adequado ao seu grupo de alunos, não só em relação
à idade como também o conhecimento, conforme salienta Mona Mpanzu (2021): “ O
impacto do texto deverá ser estudado de acordo com o nível escolar de alunos na
formulação de julgamentos estéticos, éticos e emocionais, em como na construção de
interpretações. ”

Por exemplo, se começar a trabalhar com os contos ou fábulas irá adicionando


os outros mais complexos ao longo do processo de aprendizagem da língua. Outro
ponto que merece destaque, é o tema do texto escolhido para o ensino da língua.
Segundo Rio e Leite:

O tema do texto escolhido também é um outro factor que influencia no


uso da literatura...já que o leitor-aluno deve ser seduzido pela narrativa
e interagir com o texto para que esta se desenvolva de forma
satisfatória. Se o professor tiver sucesso nesta etapa já está com a
metade do seu trabalho feito e, a partir daí, é pensar em como
aproveitar todo o potencial do texto literário (RIO e LEITE,2004).

Assim ao estudar o texto literário, o aluno interage com o texto, antecipando os


acontecimentos, formulando hipóteses a partir do título, fazendo relações entre os
personagens da história, relacionando suas características, enfim, reagindo à leitura
que fez do texto. Para o Lajoso (1982), quanto mais o leitor for maduro e quanto mais
qualidade estética tiver um texto, mais complexo será o acto de leitura. Sendo assim,
o texto literário se revela como um meio eficiente de contacto com a pluralidade de
significações de língua, favorecendo o encontro com esses significados de forma
abrangente, ampla, diferentemente dos materiais informativos que prendem-se aos
factos particulares.

Leite (1988) expõe uma significação para o texto literário: “O texto literário (...)
não só exprime a capacidade de criação e o espirito lúdico de todo ser humano, pois
todos nós somos potencialmente contadores de histórias, mas também é a
manifestação daquilo que é mais natural em nós: a comunicação” (LEITE 1988, p.12).

27
O texto literário não mostra apenas factos, mas a complexidade de
pensamentos que circundam e permeiam esses factos, diferenciando o homem de
cada época e de cada lugar, envolvido em seus processos históricos sociais. Portanto,
a linguagem literária é capaz de deixar lacunas que são preenchidas quando o leitor
interage com o texto, unindo à leitura suas experiências anteriores, aproveitando-se
da plurissignificação do texto literário, construindo sua visão de mundo, com todo o
arsenal de significações que se possa embutir a partir da sua leitura, assim pode haver
uma revisão de conceitos e do papel que o indivíduo exerce em sua realidade.

Segundo Rocco (1992), “o ensino de literatura deve ser conduzido de tal forma
que se perceba do que nossos alunos são capazes em termos sociais, afectivos e
mentais e apartir disso possamos definir as escolhas e o nível cada aprendizagem
que queremos. ” Para Larrosa (2000), lemos para descobrir o que o texto “pensa”,
então, quando lemos estamos sendo habilitados a pensar.

Na sala de aula, o professor deve reflectir os critérios que ajudarão a trabalhar


o texto literário, com objectivo de valorizar o que o texto traz de novo, bom,
interessante, e não privilegiar apenas o ensino da gramática e do léxico totalmente
isolados do texto literário. É importante que o professor estabelece um elo entre o
aluno e o texto literário, porque o texto em si só é um espaço simbólico de linguagem,
no qual se entrecruzam vários discursos e saberes. Assim sendo, o professor deve
saber unir na sua tarefa a busca do valor da linguagem e funções de um texto, a
organicidade dessa linguagem através da gramática e a preocupação com as
dimensões humanas, sociais, psicológicas existentes na literatura, tudo isso, de
maneira bem dosada e que desperte a atenção dos alunos par o texto. É preciso
orientar os seus alunos a valorizar a linguagem literária para que possa estabelecer
algumas relações formais, mesmo que em nível bastante simplificado.

Para favorecer o cânone literário tradicionalmente estabelecido, o bom senso


do professor deve nortear a escolha adequada dos textos literários a serem estudados
para o trabalho produtivo dos alunos e deve-se dar preferência a textos mais actuais
e deixar textos de épocas mais distantes para serem abordados quando eles tiverem
uma maior maturidade literária. Além disso, o professor de estabelecer um contacto
efectivo do aluno com o texto, portanto as obras literárias selecionadas devem estar
o mais rápido possível do que eles esperam e ir ao encontro de seus desejos. Deve o

28
professor incentivar a participação dos alunos na escolha dos textos a serem
estudados e trabalhados para o entrosamento com a obra literária e o aluno deve ser
incentivado a explorar sua criatividade, sendo capaz de gerir uma escrita que o
represente diante de si mesmo e o mundo. De facto, o professor deve oferecer aos
alunos a oportunidade de ler textos realmente significativos do ponto de vista de suas
aspirações, conhecimentos prévios e paulatinamente, introduzirá nos alunos uma
literatura que seja mais aprofundada e abrangente, que desperte prazer, sem
prescindir de um objectivo prático imediato.

Se o professor preferir relacionar a aula de português com a história de


literatura, esta deve ser enfocada paralelamente às obras escolhidas, isto é, aquela
localizadas no tempo para que dê uma consciência do seu lugar histórico e do que
esse facto representa para sua análise e entendimento; O que não deve haver são
exageros, um ensino estático do passado e esvaziado da matéria literária.

Aguiar e Bordini (1988), confirmam que a leitura de textos literários também tem
finalidade de emocionar, divertir e garantir a aquisição de um mundo imaginário
gratuito, como se fosse um jogo lúdico. Por isso, é imprescindível que o professor
prepare o seu trabalho para ensinar literatura nas aulas de português, respeitando um
princípio básico: o professor também deve ser leitor literário. Ele deve ler previamente
as obras e textos literários que solicitar para os seus alunos. Se o professor não lê,
dificilmente conhecerá algumas teorias literárias que norteiam o seu trabalho e não
terá subsídios para abordar literatura em suas aulas. Realmente, as teorias literárias
são instrumentos que devem ser bem manuseados pelos educadores com a finalidade
de aprenderem melhor a literatura e poderem repassar e construir conceitos e valores
junto aos seus alunos de forma produtiva.

De certeza, o professor só terá maior embasamento teórico, se for um leitor


mais assíduo estará preocupado em oferecer actividades que despertem a
criatividade e o espirito crítico nos seus alunos, ficando alienado ao âmbito da mera
aula expositiva, aos seus roteiros de livros e fragmentação do livro didáctico. Para
trabalhar com os textos literários, é óbvio que o professor não apenas “mande” ou
“sugira”, mas também “faça”; ele deve sair da sua estacticidade, da fragmentação dos
conhecimentos, da ignorância que torna os conteúdos mortos e partir para os
entendimentos de métodos específicos que possam organizar a situação da

29
aprendizagem de acordo com as expectativas da turma. De alguma maneira, o
professor precisa, no processo de trabalho com o texto literário, mostrar ao aluno o
seu próprio prazer em ser leitor, em estar em contacto com as obras literárias.

Nas aulas de Língua Portuguesa, visa-se que os alunos sejam participativos,


criativos e que formulem suas próprias opiniões sobre o que o professor transmite
durante o desenvolvimento do trabalho. Neste sentido, o texto literário é tido como
fruição e o professor deve aproveita-lo para reverter o quadro de aulas mecânicas,
com ouvintes passivos e dóceis, apenas repetidores sem atitudes autónomas. Por
outro lado, o professor deve se apresentar plenamente motivado e explorar a
inesgotabilidade da literatura, amparando a teorização da prática docente, afim de
criar um bom caminho para o reconhecimento das potencialidades do texto literário
para que os alunos se sintam atraídos pela literatura. De certa maneira, o professor
deve provocar nos alunos a co-autoria, na medida em que eles atribuem sentidos aos
textos lidos, colocando-se numa condição de criticidade em relação à leitura, enfim,
assumindo o papel e a postura de leitor-sujeito. É essencial ressaltar que incorporar o
texto literário na aula de Língua Portuguesa, consiste também em destacar nele a
contribuição para um exercício da linguagem colectiva e individual, pois, o texto
literário traz na sua própria construção o processo da escrita e da leitura,
demonstrando uma experiência de reflexão na qual o leitor também é agente, na
medida em que vive e pode leva-lo a uma transformação, no embate com suas
vivências individuais.

O professor de Língua Portuguesa, deve tentar recompor os fragmentos


apresentados pelo livro didáctico, preocupando-se em instruir os alunos para que
tente formar uma visão coerente a partir do mundo literário. É função do professor
chamar à vida as páginas mortas dos livros, abrindo discussões intertextuais e até
interdisciplinares, estabelecendo pontes entre os indivíduos, a língua e os textos, entre
a escrita e a leitura, entre os seus alunos e ele mesmo. O diálogo, a busca, a troca,
as dúvidas devem estar presentes suscitando interacção durante a aula.

O professor deve motivar os alunos a formularem suas interpretações e juízos


de valor, sem hesitar que eles se enveredem por entendimentos esdrúxulos,
equivocados ou completamente impertinentes, ao invés disso, deve-se nortear, em
determinados momentos, visto que, a “ mente inventa”, possibilitando que o indivíduo

30
seja criativo e original nas suas ideias, mas espera-se que o aluno mantenha-se no
nível das interpretações ditas “autorizadas” do texto. Sobre isso, é muito propícia uma
fala de Eco (2003):

A leitura de obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e


de respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia
crítica, típica de nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se
fazer o que se queira, nelas lendo aquilo que nossos mais
incontroláveis impulsos nos sugerirem. Não é verdade. As obras
literárias nos convidam à liberdade da interpretação, pois, propõem um
discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante de
ambiguidades e da linguagem e da vida. Mas para poder seguir nesse
jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é
preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu
(...) chamei de intenção do texto.

Entretanto, não existem fórmulas predefinidas no ensino de língua a partir de


um texto literário; conta-se com a criatividade e bom senso do professor e uma boa
preparação advinda de muitas leituras, e de um planejamento assentado em ideias
teóricas que permitam uma boa adequação entre os propósitos e as aspirações dos
alunos. Depende também das posturas teóricas, pedagógicas e políticas. Um
professor eficiente deve levar em conta estes pontos para desmistificar o texto literário,
como uma atividade essencialmente etilizada que só pode captada por uma minoria.

1.8 - Gêneros literários como veículos do diálogo na aula

A dimensão plural da língua portuguesa, e o carácter plurissignificativo do texto


literário em português, permitem ao aluno com diferentes visões do mundo,
favorecendo reflexão sobre sua identidade a partir do diálogo que imana do texto. Os
textos literários, e o uso estético que apresentam, são um importante estímulo que
permitem a construção de pontes entre universos plurais, a partir de um elemento
comum: a língua portuguesa. Procurar promover nomeadamente através de um texto
literário um diálogo, auxilia na formação do aluno, procurando que este desenvolva
não só a capacidade de reconhecer e compreender a diversidade, mas de se sentir
parte integrante da mesma, composta por si e pelo outro.

Segundo Inocência Mata (2009) “o texto literário estimula o aprendente a


desenvolver com a língua um diálogo que o ajuda a revelar-se como ser.” E José
Manuel Esteves (1991) salienta que “ se é o lugar a partir do qual a língua desperta a
sensibilidade de cada sujeito/leitor, trabalhando o imaginário e a ficção, o seu estudo
pode (...) situar-se no terreno do jogo das diferenças, que estimula o diálogo. ”

31
Na obra, ” Leitura e Exploração do texto literário nas aulas de línguas”
(2021), Mona Mpanzu, apresenta específidades de três géneros literários clássicos,
que por sinal, são ideais para servir como veículo de diálogo na aula de língua
portuguesa: a poesia, teatro e narrativa.

1.8.1 O lírico

A poesia também denominada género “lírico”, situa-se entre as mais antigas


formas de arte literária, até mesmo em hieróglifos no egipto,25 séculos antes de cristo,
há registos de texto poético. Por poesia designa-se um texto de carácter poético,
geralmente construído em versos. É um texto que combina palavras, significados e
particularidades estéticas. Neste género literário, prevalece-se a estética da língua
sobre o conteúdo, de forma que utiliza de diversas marcas fonéticas, sintáticas e
semânticas. Na poesia moderna, umas das mais importantes ferramentas de
enriquecimento lexical é a metáfora, uma figura de retórica.

A poesia divide-se em versos que, agrupados, são chamadas estrofes. As


origens literárias da poesia apontam que ela nasceu para ser cantada, isso justifica as
preocupações com a estética, a métrica e a rima. A poesia é um texto onde autor
expressa directamente seus sentimentos e visões pessoais. Chama-se “eu-lírico”, a
voz que se manifesta na poesia, ou seja, o sujeito poético e fictício criado pelo escritor,
autor do poema.

A poesia faz parte do universo humano e permite uma abertura para outra
apreensão do mundo, uma outra luz sobrea o quotidiano. A poesia pode permitir que
os alunos sintam e expressem uma variedade de emoções e sentimentos de uma
maneira incomum, enquanto lidam com a língua com precisão. De facto, a forma é a
primeira coisa na poesia que a torna uma arte à parte. O poeta exercita a prática
controlada da língua. Nos poemas, já que poucas palavras são usadas para a
mensagem comunicada, cada palavra é importante. Sendo, assim, várias técnicas são
usadas para aumentar seu poder evocativo: sons, rimas, imagens, contrastes,
justaposições. A língua é uma surpresa, o que aumenta a força da memória. A
repetição de palavras, versos, grupos de versos também tem efeitos na memória: mas
diferentemente do que aconteceu durante a repetição de exercícios estruturais, a
palavra ou o grupo de palavras repetidas, têm cada vez uma nova ressonância,
associando assim a forma com sentido. Finalmente, a estrutura do poema, sua

32
organização espacial, o uso de sons, ortografia e sintaxe levam os alunos a trabalhar
a língua enquanto tentam comunicar uma mensagem que os envolve profundamente.

1.8.2 O dramático
O teatro também chamado “ género dramático” constitui um dos três géneros
literários, ao lado do género lírico e épico. O género dramático, como próprio nome
indica, abarca os textos literários feitos com o intuito de serem encenados ou
dramatizados. Aliás, a palavra deriva do grego e significa “acção”. Desde a
Antiguidade o género dramático, originário na Grécia. Eram textos teatrais encenados
essencialmente como culto aos deuses, os quais eram representados nas festas
religiosas.

Um dos elementos que caracteriza o teatro é a pluralidade de leituras e


interpretações que permitem a passagem da palavra escrita ao palco, como
evidenciado pelas diversas traduções das obras de autores do passado. A
especificidade do gênero inclui a organização do texto na página, com as indicações
cénicas e os tipos de trocas entre personagens: silêncio, monólogos e divisões em
actos, cenas e pinturas. Essa organização está subjacente à organização temporal da
obra teatral, em tensão entre o tempo da narrativa, o da representação e o tempo
metafórico ou mítico do qual é portador qualquer texto teatral. A forma nos oferece
uma entrada para o significado. Para explora-lo ainda mais, o professor fará com que
seus alunos se interessem pela fábula (sucessão cronológica de eventos imaginados
ou relatados pelo autor) e pela trama (sucessão de mecanismos entre a exposição, o
nó, as vicissitudes e o desenlace) que deverão ser encontrados e paralelamente a
personagem e o seu papel na peça, distintos do actor que a interpreta. Este último
produz um discurso, está presente nos discursos das outras personagens da peça, o
que nos leva ao estudo de enunciados e da enunciação. Quem fala, com quem, dentro
e fora teatral? No teatro, fala e acção são inseparáveis: dizer é também fazer, e cada
palavra é potencialmente um gatilho para a acção. Expressar-se através do teatro é
uma atividade cenestésica, todo o corpo participa na expressão de uma mensagem.
Desse modo, os alunos podem compreender que a comunicação não se limita às
palavras colocadas lado a lado, que a expressão verbal de uma combina a precisão
da entonação e a adequação da acentuação, que o significado passa também pelo
gesto e pelos sinais dados pelo contexto ou pela situação. O jogo dramático pode
permitir que eles se expressem por mais tempo do que fazem geralmente no ensino
33
mais tradicional, que expressem emoções e sentimentos sem passar por descrição
ou narração, tarefas mais escolares.

1.8.3 O narrativo

Denota-se o texto narrativo como aquele que visa contar uma história mediante
a sequência de factos. O autor narra os acontecimentos mostrando para o leitor quem
são os envolvidos (personagens) e qual é o contexto abordado (tempo e espaço). A
construção da narração é formada por começo, meio e fim. Numa linguagem mais
técnica, esse tipo de texto possui uma introdução, desenvolvimento, clímax e
conclusão. Ao introduzir uma redação narrativa, o autor precisa pensar na construção
e caracterização dos mais diversos aspectos, como: enredo, tempo, espaço, narrador,
personagens e discurso (os chamados elementos da narração).

O texto em género narrativo tem como principal objectivo contar um


acontecimento, narrar tudo o que aconteceu, tudo isso com o uso eficiente e reflexivo
da língua. Por isso, esse tipo de texto, traz uma série de factos, desdobramentos e
conclusões para o leitor. Trata-se um texto produzido com a finalidade de levar
informação, reflexão e entretenimento para o leitor.

E, quando decidimos colocar os alunos diante de um texto narrativo, aproximar-


se da realidade é levar em consideração o prazer da leitura. O encontro como texto
não se limita à localização de informações, e é até possível dizer que não é o objectivo
do leitor que pega uma narrativa e mergulha na leitura. As fontes de prazer estão
relacionadas à implementação do imaginário e ao trabalho interpretativo que o leitor
realiza quando constrói o significado do texto entre memória e projecção. Essa
negociação permanente de significado faz eco no que acontece na aprendizagem de
línguas e, portanto, permite o desenvolvimento de habilidades transdisciplinares.

Os conhecimentos contextuais da narrativa são factores que asseguram e


encantam o leitor. É também aumentar a capacidade de criação de redes, o que só é
possível através do desenvolvimento dos acontecimentos e habilidades sobre o léxico,
mas também sobre os géneros e tipos de discurso. A compreensão das quebras das
regras acordadas, de um cenário esperado, implica a integração dessas regras ou
cenários. Assim, o leitor será levado a apreciar os usos do tempo e do espaço, a
estrutura do texto, os diferentes níveis de narração e os efeitos produzidos. Então, ele

34
estende sua leitura inscrevendo-a numa estrutura maior, e assim, constrói seu próprio
contexto cultural de referência.

1.9 - Propostas da didactização do texto literário na aula de Língua Portuguesa

Segundo Mona Mpanzu (2021), a didactização ou pedagogização dará origem


a várias abordagens, dependendo do público, de suas habilidades linguísticas, de
seus interesses e de suas motivações. Isso não significa que seja impossível ou
indesejável a iniciação à literatura num público que não seja motivado pelo assunto;
simplesmente o professor especialista, fará isso de uma maneira diferente daquela
que faz ao lidar com uma turma, a priori interessada pelo assunto. O que importa, é
que no processo da didactização, o professor deve tornar o conteúdo dos textos mais
flexível, favorecendo aprendizagem. Neste estudo propomos algumas sugestões e
estratégias didácticas de como trabalhar os textos literários na aula de Língua
Portuguesa, de forma mais interessante e interativa.

1.9.1 A poesia

Com o objectivo de transformar os alunos em leitores literários e aptos a


interpretar diferentes tipos de textos, propomos alternativas didactáticas de trabalhos
com poesia para que possam compreender o que o poeta quis transmitir em meio aos
versos. É de destacar que as nossas propostas foram baseadas nas ideias do Mona
Mpanzu (2021), Cunha (1986) e outros autores.

O trabalho com poesia parte do professor, pois, se o mesmo não tiver o hábito
de ler poemas e não se sensibilizar, dificilmente conseguirá despertar esse interesse
nos seus alunos, afirma Cunha (1986). “Se o professor não se sensibilizar com o
poema, dificilmente conseguirá emocionar seus alunos”. O processo da aprendizagem
da poesia pelos alunos, pode ficar prejudicial ou de difícil interpretação, caso não haja
o entendimento e a compreensão do poema. Assim uma forma para melhorar a
aprendizagem é a aproximação constante da poesia, como também o conhecimento
prévio, o conhecimento do texto e de mundo.

Ressaltamos a importância de se trabalhar a leitura poética, a partir do


conhecimento do mundo, fazendo da poesia motivo de apreciação lúdica e de
motivação para a produção de intertextualidade e de muitas outras formas de criar
com seriedade, mas brincando com as palavras. Segundo Elias José (2003) ” vivemos

35
rodeados de poesia”, ou seja, poesia é tudo que nos cerca. Nos emociona quando
tocamos, ouvimos ou provamos poesia, é a nossa inspiração para viver a vida. Com
isso, não buscamos transformar os alunos em grandes poetas, até porque é preciso
ter dom para esta arte, mas, sim, propomos que os alunos não percam a poesia já
que nasce neles desde quando as mães brincavam de cantiga de roda, advinhas,
trava línguas etc.

Sobre a didactização do texto literário – poético na aula, Mona Mpanzu (2021),


comenta: “Para sensibilizar os alunos sobre o discurso poético, no âmbito do ensino
da língua através deste género literário, é possível imaginá-los reescrever, em grupos
de três ou quatro, o poema proposto na língua corrente...” Em consonância com o
autor, neste estudo propomos as seguintes estratégias para a didactização do texto
poético na aula de língua:

• Distribuir cópias do poema;


• Depois o professor faz a leitura do poema de forma expressiva;
• Podem se reunir os alunos em círculo para conversar sobre o que foi lido,
abrindo um novo espaço de discussão sobre o entendimento do texto;
• Criar um clima favorável para que todos expressem seus pontos de vista;
• Convidar os alunos a apresentarem suas impressões, sentimentos, opiniões
sobre o poema;
• Fazer perguntas como: O que acharam do poema? Que verso gostaria de
destacar? Por quê? Que sentimentos ou ideias o poema faz surgir? Quem
gostaria reler algum verso? De que estrofe você mais gostou? Leia-a para
os colegas e explique porque você a escolheu.
• O professor deve explicar as partes que compõem poema;
• Dividir a turma em grupos de 3 (três) ou mais;
• O professor pode solicitar aos alunos que pensassem num tema, depois,
cada grupo deve escrever palavras referentes ao tema escolhido, porque a
poesia é qualquer forma expressão de sentimentos;
• Com muita liberdade, os alunos construirão frases com rimas ou não;
• Solicitar aos alunos que construam um cantinho para fixar vários tipos de
poesias; É importante salientar que quanto mais se lê, mais se aprende e
cria o hábito da leitura não só de poesia, como de outros tipos de textos,

36
conforme afirma Pinheiro (2002): “ Improvisar um mural, onde os alunos,
durante uma semana, um mês, ou o ano todo colocam os versos de que
mais gostam. (...) de qualquer época ou autor, são procedimentos que vão
criando um ambiente (...) em que o prazer de lê-la passa a tomar forma”.
• Convidar os alunos a explorar vários campos semânticos;
• Levar os alunos a procurar as categorias gramaticais e analisar os efeitos
produzidos para obter mini-produções pessoais e também uma oralização,
o prazer de declamar o poema;
• Finalmente, o ponto culminante das propostas para a didactização do texto
literário, é o subsídio do Mona Mpanzu (2021) sobre como trabalhar a língua
tendo como suporte o texto literário-poético:
Sensibilizar os alunos sobre a diferença de natureza da
lingua: o poema, pela economia de palavras gramaticais
que apresenta, esquiva a funcionalidade da lingua. Pedir
aos alunos que a restabeleçam implica um trabalho de
reflexão sobre a língua. Mas também é possível propor o
uso de prefixos, sufixos e morfema para fabricar palavras,
trabalhar sobre contrastes, oposições, conotações
positivas ou negativas que podem variar segundo as
culturas (Mona Mpanzu 2021).

1.9.2 O teatro

Ao trabalhar com texto dramático (teatro) na aula, o professor deve partir da


pluralidade que o texto apresenta. Com isso, será possível oferecer aos alunos uma
macro-tarefa interactiva.Com base Mona Mpanzu (2021), propomos as seguintes
estratégias para didactizar o texto dramático:

• O jogo deve consistir em interpretar, por um grupo, uma peça teatral em frente
do resto da turma que assume o papel de Director Técnico e intervém nesse
sentido;
• Praticar as várias interpretações durante um trabalho de compreensão do
texto, para chegar a uma representação teatral que satisfaça todo grupo;
• A actividade deve envolver os alunos usando a capacidade de argumentar,
discutir e defender um ponto de vista;
• Os directores técnicos devem convidados a levar em conta as indicações
cénicas ou didascálicas de maneira natural;

37
• Uma alternância constante entre o texto e a sua organização, por um lado, e o
jogo cénico por outro, é essencial para o sucesso da tarefa, levando a uma
identificação das especificidades formais do género;
• No momento da interacção, o professor é retirado. Ele faz as anotações e pode
propor as micro-tarefas necessárias para um trabalho de precisão que a análise
dessas anotações destacará.
• Após esse tipo de tarefa, ver a peça interpretada pelos actores profissionais e
aderir a uma outra possível interpretação, que possa servir de base para
discutir as escolhas do Director Técnico em relação às expectativas,
entendimentos e descobertas dos alunos. Assim eles terão uma visão do
interior do texto dramático, o que lhes permitirá se expressar conscientemente
e de certa forma ajuda-los a desenvolver as competências como: a
comunicativa, expressão oral, expressão e compreensão escritas bem como
torna-los capazes de descodificar as reinvenções lexicais encontradas do texto
dramático.

1.9.3 O texto narrativo

Já dissemos anteriormente, que a descoberta da literatura não pode ser dissociada


da noção do prazer, além disso, é papel do professor criar mecanismos para despertar
um vivo interesse e gosto dos alunos com relação os textos literários. Para apreciar
um trecho narrativo, os alunos precisam previamente estar cientes da importância da
noção de contexto, conhecimento de géneros e cenários literários, a compreensão da
estrutura da obra e a compreensão da língua. No entanto, para trabalhar o texto
literário-narrativo, o professor, deve levar em conta os veículos da compreensão da
narrativa, partindo do seu contexto. O Professor deve solicitar aos seus alunos
pesquisa bibliográfica actualizada sobre:

• O título ou campo lexical das palavras que compõem a narrativa;


• O autor e apresentar em subgrupos na sala de aula, em breves exposições de
mais ou menos 10 minutos, os resultados da pesquisa;
• Ao fornecer as bibliografias, os alunos deverão ser levados a sintetizar as
informações e apresenta-las oralmente. Desta maneira, conhecerão dois tipos
de discursos: informativo e literário;

38
• Fazer inferência ao título e mostrar que as palavras ganham sentido de acordo
com o contexto e esse título pode dar origem a interpretações muito diferentes,
apenas o contexto o ilumina;
• Ler o texto e identificar o narrador, as personagens, a acção, o espaço e o
tempo (ex: O professor pode correlacionar as classes de palavras com as
categorias da narrativa).
• Dar como tarefa, por exemplo, escrever um artigo para o jornal local que relata
um evento. O texto possibilitará medir a diferença entre o texto informativo e o
texto literário numa abordagem comparativa;
• Destacar os elementos constituintes da história;
• Ensinar a estrutura do texto na sua construção;
• Usar o texto para ajudar os alunos a terem domínio sobre os mecanismos do
funcionamento da língua, que abrange a escrita e a fala;
• E exercitar com os alunos a interpretação da história, conforme enfatiza Mona
Mpanzu (2021):
“ Imaginação e a criatividade dos alunos serão solicitadas. As micro-tarefas de
identificação podem ser propostas de acordo com as necessidades de
organização (...) das frases e palavras-chave (...). ”

Vejamos a seguir a série de actividades que o professor pode realizar ao


trabalhar com um tipo específico da narrativa na aula, como o conto por exemplo. O
conto é um dos mais antigos géneros literários, definido como uma narrativa curta e
linear que envolve poucas personagens e que se concentra numa acção única, de
curta duração temporal e situada num único espaço. O Conto exige do leitor, como
salienta Mata (2009) “o desenvolvimento da sua capacidade de interpretação e da sua
competência literária, uma vez que expressa fatias de vida e fragmentos expressivos
de um todo”. O traço da oralidade presente no conto aproxima-o da vida quotidiana e
do uso corrente da lingua. Por conseguinte, apresentamos algumas propostas de
didactização do conto, como parte do nosso contributo.

Primeira atividade: ler e encontrar os verbos.

• Distribuir cópias do conto aos alunos


• Dividir a turma de acordo com a quantidade dos parágrafos contidos no conto;
• Cada grupo deve ler o seu parágrafo;

39
• Solicitar aos alunos que sublinhem os verbos utilizados;

Segunda actividade: compreensão

• Após a leitura, sugerimos questionar aos alunos alguns aspectos contidos no


conto, desafiando-os a uma reflexão crítica da realidade:
• Se o título poderia ser substituído e porquê?
• Em que época acredita ser o conto?
• O que o conto quis passar?
• Qual é o significado da palavra...?

Podem ser feitas também algumas questões de cunho gramatical, como:

• Quais as palavras desconhecidas?


• Quais são as classes de palavras encontradas no conto?
• Façam análise sintáctica da frase...

Em linhas gerais, neste capítulo, fizemos um breve paralelo do acto de ler por
ser importante na formação social do indivíduo. Apresentamos também fundamentos
e diferentes concepções sobre a Literatura como um todo, o que permite ter uma visão
ampla do seu contexto e importância bem como o contraste entre o texto literário e o
não-literário. Além disso, foram explicados os três gêneros literários clássicos (lírico,
dramático e narrativo) como veículos de diálogo na aula e apresentamos algumas
propostas didácticas do uso e tratamento do texto literário nas aulas de Língua
Portuguesa, proporcionando aos alunos a aquisição das competências necessárias
para o seu desenvolvimento intelectual e cognitivo como: a competência leitora, a
expressão e compressão orais, a expressão e compreensão escritas, a capacidade
interpretativa, a competência comunicativa e linguística.

40
CAPÍTULO II

METODOLOGIA APLICADA

41
2.1- Tipo de pesquisa

Segundo Prodanov e Freitas, (2013:14) “a metodologia é compreendida como


disciplina que consiste em estudar, compreender e avaliar os vários métodos
disponíveis para a realização de uma pesquisa acadêmica […]”.
Quanto à pesquisa, segundo Demo (2000:20) apud Prodanov e Freitas,
(2013:42) “[…] é entendida tanto como procedimento de fabricação do conhecimento,
quanto como procedimento de aprendizagem (princípio científico e educativo), sendo
parte integrante de todo processo reconstrutivo do conhecimento”. Já no entender de
Ander-Egg (1978:28) apud Lakatos e Marconi (2003:155), a pesquisa é um
“procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos
fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. Na mesma
linha de pensamento, Gil (2008:26), salienta que “pode-se definir pesquisa como o
processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo
fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego
de procedimentos científicos”.
A pesquisa científica é a realização de um estudo planejado, sendo o
método de abordagem do problema o que caracteriza o aspecto
científico da investigação. Sua finalidade é descobrir respostas para
questões mediante a aplicação do método científico. A pesquisa
sempre parte de um problema, de uma interrogação, uma situação
para a qual o repertório de conhecimento disponível não gera resposta
adequada. Para solucionar esse problema, são levantadas hipóteses
que podem ser confirmadas ou refutadas pela pesquisa (Prodanov e
Freitas, 2013:42).
Todavia, definimos para este trabalho a pesquisa descritiva, que nos permitiu
descrever e apresentar o fenómeno ou situações ligadas à problemática. Portanto,
segundo Prodanov e Freitas (2013:52), a pesquisa descritiva:
Visa a descrever as características de determinada população ou
fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o
uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e
observação sistemática. Assume, em geral, a forma de Levantamento.
[…] Nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registrados,
analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador
interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano
são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador.
Apesar disso, para grande parte dos dados apresentados neste trabalho,
fizemos recurso ao levantamento bibliográfico e dentre as obras consultadas,
destacamos livros, teses e dissertações.

42
2.2- População e amostra

Para MARCONI, M. A. e Lakatos, E. M. (2013:33). « População ou universo é


o conjunto de seres animados e inanimados que apresentam pelo menos uma
característica em comum ». Os mesmos autores afirmam novamente, dizendo que «
a amostra é a fracção ou uma pequena parte de um estudo cientifico na qual através
de critérios para demonstrar um todo » (ibidem, p.34). No entanto, o nosso inquérito
será foi feito no Liceu de Nova Esperança do Município dos Buengas, cuja população
é de 120 indivíduos incluindo professores e alunos da 12ª classe, período Diurno –
Tarde, nas turmas A e B na Opção de Ciências Humanas, do ano lectivo 2022/2023.
A população foi repartida em 70 femininos e 50 masculinos. Do universo populacional
apresentado acima, extraiu-se uma amostra de 60 indivíduos, incluindo professores e
alunos, sendo 25 masculinos e 35 femininos.

Quadro nº 2 - População e amostra

População Amostra

Professores Alunos Professores Alunos

Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

10 0 50 70 5 0 20 35

Subtotal: 10 Subtotal: 150 Subtotal: 5 Subtotal: 55

Total: 120 Total: 60

2.3- Variáveis
[…] Uma variável pode ser considerada como uma classificação ou
medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que
contém ou apresenta valores; aspecto, propriedade ou fator,
discernível em um objecto em estudo e passível de mensuração
(MARCONI e LAKATOS, 2003:137).
Portanto, nesta lógica de ideias, definimos para este trabalho as seguintes
variáveis:

2.3.1- Variável independente

✓ Apatia dos professores quanto à exploração do texto literário na aula.

43
2.3.2- Variáveis dependentes
✓ Estáticidade no processo do ensino-aprendizagem;
✓ Falta de autonomia na aprendizagem e desempenho linguístico.

2.4- Métodos e técnicas de recolha de dados

“Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em


contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são
ciências” (Marconi e Lakatos, 2003:83). Todavia, o método de modo geral faz parte
da nossa vida, pois quase todos os dias trilhamos caminhos para alcançar certas
metas.
“Em sentido mais genérico, método em pesquisas, seja qual for o tipo, é a
escolha de procedimentos sistêmicos para descrição e explicação de um estudo”
(FACHIN, 2005:29). Acrescenta Marconi e Lakatos (2003:83) que “[…] o método é o
conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -,
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista”.
Quanto às técnicas de recolha de dados, Lakatos e Marconi (1992:107)
afirmam que “são consideradas um conjunto de preceitos ou processos de que se
serve uma ciência; são, também, a habilidade para usar esses preceitos ou normas
na obtenção de seus propósitos. Correspondem, portanto, à parte prática de coleta de
dados”.

A partir da concepção de que método é um procedimento ou caminho seguir


para alcançar determinado fim e que a finalidade da ciência é a busca do
conhecimento, nesta pesquisa utilizamos os métodos:

➢ Método dedutivo: Este método possibilitou-nos partir do geral para o


particular; por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente,
de análise do geral para o particular, chegando a uma conclusão. No nosso
caso, utilizamos este método, por privilegiarmos um universo populacional de
120 indivíduos inqueridos e separar uma parte aleatoriamente de 60 indivíduos
que correspondem a nossa amostra.
➢ Método estatístico: Com este método, fizemos o tratamento quantitativo dos
dados recolhidos, partindo da percentagem para organizar e analisar os dados

44
recolhidos, aplicando várias operações de formas a representar a população.
O método estatístico foi importante para o cálculo dos dados obtidos na recolha
feita através do inquérito acima referido e serviu para a representação gráfica
e em tabelas da população e amostra.

Como técnicas e procedimentos para a recolha de dados, recorremos ao


levantamento bibliográfico e aplicamos inquéritos mediante perguntas do tipo aberto
aos professores e alunos e observação.

➢ Bibliográfico: Este procedimento, facilitou-nos na recolha de


informações necessárias a partir de livros, meios eletrônicos, como
artigos científicos, página da Web, que nos permitiram fazer
fundamentação teórica, justificat9iva dos argumentos levantados ao
longo do corpo teórico.
➢ Questionários : Segundo Prodanov, C.C. e Freitas, E.C (2013:241): “o
questionário é um instrumento de colecta de dados, constituído por uma
série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito ou
oralmente com ou sem a presença do entrevistador”. Por isso, nós
utilizamo-lo, elaborando algumas perguntas que foram respondidas
pelos professores e alunos individualmente, do tipo aberto.
➢ Observação: A nossa observação foi feita por empreendermos viagem
até ao campo de pesquisa, de modo a constatar a situação em análise
e presenciar a ministração de algumas aulas.

45
CAPÍTULO III

APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

46
3.1- Análise e interpretação dos dados
Depois de recolha e análise de dados, os resultados interpretados e calculados,
as suas percentagens, foram apresentadas em gráficos de sectores, de colunas
simples, de barras de percentagens, de quadro de resumos quantitativo e de
contagem de dados, para se assegurar se as hipóteses são aceites ou não;
recorremos as tabelas onde temos os resultados qualitativos e quantitativos, em
valores numéricos bem como as percentagens de cada parágrafo.

QUADRO Nº 3 - Inquérito destinado aos professores.

1 – De que maneiras estimulas a participação activa dos seus alunos na sala de


aulas?

2 – Que tipo de perguntas formulas nas provas para os seus alunos?

3 – Que lugar ocupam os textos literários nas aulas de Língua Portuguesa?

4 – Que noções tem sobre o uso do texto literário como recurso didáctico?

QUADRO Nº 4 - Respostas do inquérito dirigido aos professores.

1 – R: Sabe-se que a estimulação é feita ao longo da aula; estimulamos


a participação activa dos alunos promovendo-lhes leitura (...) por intermédio
da motivação (...) de histórias e situações sociais...

2 – R: As perguntas (...) são divididas em três grupos: fechadas, directas


e abertas.

3 – R: Os textos literários ocupam um papel muito importante nas aulas


de língua portuguesa (...) apesar desta tipologia textual afastar-se muitas
vezes da norma padrão...

4 – R: O fim último do texto literário como recurso didáctico é capacitar


os alunos em termos de análise e compreensão dos textos...não há aula em
português sem texto...e o texto literário permite a capacidade de reflexão de
vários planos que se associam e interpretam nos textos...

47
QUADRO Nº 5 - Inquérito dirigido aos alunos.

1 – O que é que os seus professores fazem para estimular a vossa participação


na sala de aulas?

2- Que tipo de perguntas os professores formulam nas provas?

3 – Quais são os indicadores do uso do texto literário pelos professores nas


aulas de Língua Portuguesa?

4 – De que modo os textos literários ajudam vocês nas aulas de língua Portuguesa?

QUADRO nº 6 respostas do inquérito dirigido aos alunos.

1 – R: Quando os professores chegam, nos cumprimentam, fazem


revisão da aula anterior, ao iniciar a nova aula, somente no final da explicação
é que eles nos pedem dúvidas e inquietações.

2 – R: Nas provas que nos dão, os professores fazem perguntas onde pedem para
nós definir algumas palavras, classificar e dar exemplos...os professores de língua
portuguesa formulam as perguntas consoante a matéria dada ao longo das aulas.

3 – R: Os nossos professores só falam de textos quando se aproxima o momento


das provas porque eles elaboram algumas perguntas tiradas nos textos...ao referir
do texto literário, sinceros lamentos porque ao longo do ano lectivo nunca tivemos
de assistir aulas ... a respeito do mesmo...

4 – R: Os textos que os professores usam nas provas nos ajudam a identificar


respostas das perguntas que estão nos enunciados de provas...a respeito das
ajudas do texto literário, não tem como menciona-las pois, falamos...o que já
vimos...

3.1.1 Interpretações dos dados recolhidos no inquérito dirigido aos professores.

Questão nº1
Os 5 professores inquiridos que correspondem a 100%, afirmaram que
estimulam a participação activa dos alunos promovendo-lhes leitura por intermédio da
motivação de histórias e situações sociais. A resposta dada aos professores a esta
questão, valida em parte a hipótese número 1.

48
Questão nº2

Os 5 professores inquiridos nesta questão, que correspondem a 100%,


responderam que as perguntas formuladas nas provas, são divididas em três grupos:
fechadas, directas e abertas. A resposta dada pelos professores valida a hipótese
número 2.

Questão nº3

Os 5 professores inquiridos que correspondem a 100%, responderam que os


textos literários ocupam um papel muito importante nas aulas de língua portuguesa
apesar desta tipologia textual afastar-se muitas vezes da norma padrão. A resposta
valida em parte a hipótese número 3.

Questão nº4

Os 5 professores inquiridos que correspondem a 100%, responderam que o fim


último do texto literário como recurso didáctico é capacitar os alunos em termos de
análise e compreensão dos textos...não há aula em português sem texto e o texto
literário permite a capacidade de reflexão de vários planos que se associam e
interpretam nos textos. A resposta dada valida em parte a hipótese número 4.

3.1.2 Interpretações dos dados recolhidos no inquérito dirigido aos alunos.

Questão nº1

Dos 60 alunos inquiridos que correspondem a 100%, responderam que quando


os professore chegam, cumprimentam, fazem revisão da aula anterior, ao iniciar a
nova aula, somente no final da explicação é que eles pedem dúvidas e inquietações.
A resposta valida a hipótese número 1.

Questão nº 2

Dos 60 alunos inquiridos que correspondem a 100%, responderam que nas


provas que dão, os professores fazem perguntas onde pedem para definir algumas
palavras, classificar e dar exemplos, os professores de língua portuguesa formulam as
perguntas consoante a matéria dada ao longo das aulas, sem abrir um campo de modo
que os alunos respondam de forma autônoma, e isso valida a hipótese número 2.

49
Questão nº 3

Dos 60 alunos inquiridos que correspondem a 100%, responderam que os


professores só falam de textos quando se aproxima o momento das provas porque
eles elaboram algumas perguntas tiradas nos textos ao referir do texto literário,
lamentam porque ao longo do ano lectivo nunca assistiram aulas com o uso do texto
literário e isso valida a hipótese número 3.

Questão nº 4

Dos 60 alunos inquiridos que correspondem a 100%, responderam que os


textos usados pelos professores nas provas os ajudam a identificar respostas das
perguntas que estão nos enunciados e ao respeito do texto literário não tinham como
falar dos seus benefícios por não tê-los visto antes. Com isso, validamos a hipótese
número 4.

QUADRO nº 7 Valores quantitativos dos professores inquiridos

Questão nº1 Questão nº 2 Questão nº3 Questão nº 4

5 5 5 5

QUADRO nº 8 Valores qualitativos dos professores inquiridos

Questão nº1 Questão nº 2 Questão nº3 Questão nº 4

Professores Professores Professores Professores

100% 100% 100% 100%

50
QUADRO nº 9 Gráficos dos valores qualitativos dos professores inquiridos.

100% 100% 100% 100%


100%

80%

60%
S. Afirmativa
40%

20%

0%
Questão nº 1 Questão nº 2 Questão nº 3 Questão nº 4

QUADRO nº 10 Valores quantitativos dos alunos inquiridos.

Questão nº1 Questão nº 2 Questão nº3 Questão nº 4

Alunos Alunos Alunos Alunos

60 60 60 60

QUADRO nº 11 Valores qualitativos dos alunos inquiridos.

Questão nº1 Questão nº 2 Questão nº3 Questão nº 4

Alunos Alunos Alunos Alunos

100% 100% 100% 100%

QUADRO nº 12 Gráficos dos valores qualitativos dos alunos inquiridos.

100,0% 100% 100% 100%


100%

80%

60% S. Afirmativa

40%

20%

0%
Questão nº 1 Questão 2 Questão nº 3 Questão nº 4

51
Conclusões
Realizada a pesquisa sobre o tema: a didactização do texto literário nas aulas
de Língua Portuguesa e tendo validado as hipóteses, após a análise dos dados, desde
o primeiro ao terceiro capítulos, chegamos às seguintes conclusões:

No processo do ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, deve-se valorizar


os textos literários porque são ferramentas didácticas que tornam possível a
ampliação das capacidades cognitivas e mostram horizontes para o desenvolvimento
linguístico; Além disso, os textos literários, são um reservatório de possiblidades
linguísticas, onde a língua é trabalhada, dando oportunidade para o aluno entrar na
língua e reconfigurar sua própria identidade, por meio de interações em torno desses
textos.

Na medida em que o desafio da aula de línguas é o aprendizado da língua, e


de sua cultura, o texto literário possibilita abordar esses dois domínios ao mesmo
tempo, acabando por influenciar os alunos a ponto de se apropriar de certos saber-
fazer linguísticos. Por isso, nas aulas, o professor de língua portuguesa, pode usar o
texto literário para actividades de compreensão leitora, e de conteúdos gramaticais ou
lexicais. O estudo de textos literários também aguça as nossas capacidades
intelectuais, e nos tornam mais compreensivos, reflexivos, críticos e abertos para
novos olhares.

É de enfatizar também que os textos literários, são ótimos recursos para ajudar
os alunos a desenvolver habilidades de refletir, expressar opiniões, discutir,
argumentar e interpretar diferentes tipos de textos; O seu uso no ensino do Português,
pode vir ser o diferencial na assimilação da língua, mas se lhe for dada a atenção
devida na elaboração e ministração da aula.

As aulas baseadas nos textos literários, são maneiras de despertar o interesse


dos alunos em relação à língua, além de tornar a aula produtiva e prazerosa, tanto
para o professor quanto para aluno. Nas classes do ensino médio com o componente
curricular de Língua Portuguesa, o texto literário pode ser um suporte pedagógico nas
práticas docentes afim de priorizar o desempenho linguístico e os efeitos de sentido
de um texto.

52
Neste trabalho aplicamos a pesquisa descritiva, no Liceu de Buengas,
privilegiando o universo populacional de 120 indivíduos, tendo como amostra de (60),
incluindo professores e alunos da 12ª classe, período Diurno, nas turmas A e B na
Opção de Ciências Humanas.

Utilizamos os métodos: dedutivo e o estatístico. Como técnicas e procedimentos


para a recolha de dados, recorremos ao levantamento bibliográfico e observação.
Aplicamos inquéritos mediante perguntas do tipo aberto aos professores e alunos.

Do inquérito aplicado aos professores, obtivemos os seguintes resultados:

➢ Os professores ministram aulas monótonas por não estimularem a participação


activa dos alunos, se apegando assim à mera aula expositiva e aos conteúdos
rotineiros;
➢ Na formulação das questões para as provas, os professores não fazem o tipo
de perguntas que incita a reflexão crítica dos alunos e que os leva a elaborarem
suas ideias e responderem de maneira independente;
➢ Os professores de Língua Portuguesa no Liceu de Buengas, têm conhecimento
sobre a importância do uso dos textos literários como ferramentas didácticas,
mas, não cultivam o hábito de incorporá-los na elaboração e ministração das
aulas;
➢ Apesar de ser um aporte para o ensino de Língua Portuguesa, notamos que o
texto literário, está cada vez mais ausente nas salas de aula.

Do inquérito aplicado aos alunos, obtivemos os seguintes resultados:

➢ Os alunos no Liceu de Buengas, ainda estão impossibilitados de ser sujeitos


autônomos da sua aprendizagem por dependerem só dos conteúdos dados
pelos professores;
➢ É verdade que na escola há escassez de livros, mas também os alunos não
têm hábito de ler para massificar os seus conhecimentos;
➢ Os alunos no Liceu de Buengas estão acostumados a ler matéria para
decorarem respostas mecânicas em troca de notas;
➢ Até os alunos com Literatura no currículo, têm poucas noções sobre os
diferentes gêneros literários, como resultado da apatia dos professores quanto
à didactização do texto literário nas aulas.

53
Sugestões:
Sugerimos que nas aulas de Lingua Portuguesa, os professores não privilegiem
apenas o ensino da gramática e do léxico, totalmente isolados do texto literário. É
importante que o professor estabelece elo entre o aluno e o texto literário, porque o
texto em si só, é um espaço simbólico e faz recurso à lingua.

Tendo em conta a importância do texto literário, que os professores revejam sua


planificação ou programas utilizados de modo que estes incorporem o uso do texto
literário como uma das ferramentas didácticas.

Sugerimos também que a instituição do Liceu de Buengas, crie melhores


condições de uma biblioteca para que haja um espaço de leitura literária. Finalmente,
sugerimos que os professores incentivem os alunos a explorar sua criatividade, visto
que queremos formar alunos autônomos, capazes de articular melhor os seus
conhecimentos, formular soluções e apresentar argumentos sólidos que sustentam
uma opinião.

54
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MPANZU, Mona. Didáctica de Linguas-Leitura e Exploração de Texto Literário nas


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56
ANEXOS

57
Mini Glossário de palavras-chaves
Didactização

Entende-se por didactização ou pegadagogização, o conjunto de estratégias por meio


das quais se busca decodificar, traduzir e ensinar para os professores de um modo
acentuadamente prescritivo e didáctico, favorecendo a aprendizagem e tornar o
conteúdo mais flexível possível.

Transposição didáctica

É entendida como um processo no qual um conteúdo do saber sofre conjunto de


transformações adaptactivas para ser ensinado pelos professores e aprendido pelos
alunos, ou seja, é um processo pelo qual o saber produzido no âmbito científico é
transportado para o conhecimento construído na sala de aula.

Texto literário

É uma construção textual de acordo com as normas da literatura, com objectivos e


características próprias, como linguagem elaborada de forma a causar as emoções e
está aberto ao espaço subjectivo.

Língua Portuguesa

Designada geralmente português, é uma língua indo-europeia românica flexiva


ocidental originada no galego-português, isto é, formada da mistura de muito latim
vulgar e mais a influência árabe e das tribos que viviam na região.

58
Lista de abreviaturas e siglas

LE ____________________________________________Língua estrangeira.

QECR___________________________Quadro Europeu Comum Referencial.

59
Liceu de Buengas em Nova Esperança

1
Alunos preenchendo inquéritos

2
3
4
1
2

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