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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

JANDIRA DA SILVA DE JESUS

A SITUAÇÃO DE PROFESSORES READAPTADOS ALOCADOS EM BIBLIOTECAS


PÚBLICAS

NITERÓI
2018
JANDIRA DA SILVA DE JESUS

A SITUAÇÃO DE PROFESSORES READAPTADOS ALOCADOS EM


BIBLIOTECAS PÚBLICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação da Faculdade de Educação
da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestra em
Educação.

Orientador:
Prof. Dr. José Roberto da Rocha Bernardo (UFF)

Niterói, RJ
2018
JANDIRA DA SILVA DE JESUS

A SITUAÇÃO DE PROFESSORES READAPTADOS ALOCADOS EM


BIBLIOTECAS PÚBLICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação da Faculdade de Educação
da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestra em
Educação.
.
Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Orientador – Presidente: Prof. Dr. José Roberto da Rocha Bernardo (UFF)

_________________________________________________
Membro Titular: Prof. Dr. Nelson Barrelo Júnior (UFF)

_________________________________________________
Membro Titular: Prof.ª Dr.ª Giselle Faur de Castro Catarino (UERJ)

_________________________________________________
(Membro Suplente: Prof. Dr. Glauco dos Santos Ferreira da Silva (CEFET/RJ)

Niterói, RJ
2018
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEBD – Associação Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação


ABECIN – Associação Brasileira de Educação em Ciências da Informação
BNCC – Base Nacional Comum Curricular
CBO – Classificação Brasileira de Ocupações
CFB – Conselho Federal de Biblioteconomia
CNE – Conselho Nacional de Educação
CRB – Conselho Regional de Biblioteconomia
DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais
EJA – Educação de Jovens e Adultos
FEBAB – Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários
FID – Federação Internacional de Documentação
FME – Fundação Municipal de Educação
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
MEC – Ministério da Educação
NASS – Núcleo de Assistência à Saúde do Servidor
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PL – Projeto de Lei
RGPS – Regime Geral de Previdência Social
SE – Secretaria de Educação
UMEI – Unidade Municipal de Educação Integrada
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Precariedade da infraestrutura escolar ................................................................. 60


Quadro 2: Precariedade por burocracia – carga horária / número de turmas / número de
alunos ...................................................................................................................................... 60
Quadro 3: Precariedade por burocracia – currículo obrigatório ........................................... 62
Quadro 4: Relação do professor readaptado com a biblioteca ............................................. 63
Quadro 5: Políticas públicas ................................................................................................. 65
RESUMO

O trabalho destaca a precarização docente provocada pela legislação vigente no Brasil


buscando entender a situação do professor readaptado e o que essa condição pode representar
para ele, para a escola e os estudantes. Foi utilizada a metodologia da entrevista
semiestruturada, baseada em dados qualitativos para compreender através da análise dos
dados obtidos, a situação dos professores readaptados. Foi utilizado questionário para obter
informações sobre o perfil do entrevistado como idade, tempo de profissão, tempo de
readaptação e locais onde já trabalhou. Foram entrevistados dois bibliotecários, dois gestores
e quatro professores readaptados da Rede Municipal de Educação de Niterói. Para os que não
puderam realizar entrevistas pessoalmente, foram enviados os questionários e as perguntas da
entrevista por e-mail. Das quatro professoras entrevistadas somente uma afirmou não ter
relação seu o problema de saúde com as condições de trabalho na educação pública, porém, a
intensa carga horária agravou de forma que ela não pode continuar a trabalhar em sala de
aula, precisando ser readaptada. Uma professora relacionou sua necessidade de readaptação às
péssimas condições de infraestrutura das escolas públicas em que trabalhou por falta de
tratamento acústico, forçando-a a elevar a voz e causando-lhe problemas irreversíveis nas
cordas vocais; duas professoras relacionaram diretamente seus problemas físicos de saúde às
questões emocionais como, pânico e depressão, ao excesso de burocracia, à falta de
infraestrutura que impõe ao docente salas de aulas lotadas, carga horária excessiva, muitas
turmas e a ausência do poder público para atender às demandas dos profissionais e da
educação como um todo. Os dados mostram que a precarização docente tem afetado o
cotidiano do professor, provocando a sua readaptação e a saída da sala de aula, além de afetar
diretamente sua saúde física e psicológica. A falta de políticas públicas direcionadas para a
educação, tem causado o adoecimento e o afastamento dos professores das salas de aula e, nos
casos estudados, os direcionado para as bibliotecas pública escolar ou popular, o que implica
no desenvolvimento do seu trabalho pedagógico de forma daquela prevista para um professor.

Palavras-chave: Educação; Professor; Professor readaptado; Biblioteca.


ABSTRACT

The work emphasizes the teacher’s precariousness caused by the legislation in force in Brasil
and to understand the situation of the readapted teacher and what this condition may represent
for him, the school and the students. Semi-structured interview, based on qualitative data to
understand through the analysis of the collected data, the situation of the readapted teachers.
A questionnaire was used to obtain information about the interviewer’s profile, such as age,
length of profession, time to readaptation and places where he / she has worked. Two
librarians, two coordinators and four readapted teachers, from the Niterói Municipal
Education, were interviewed. For those who were unable to conduct interviews in person, the
questionnaire and interview questions were sent by email. Of the four teachers interviewed,
only one stated that they did not relate their health problem to working conditions in public
education, but the intense workload worsened so that they could no longer work in the
classroom, needing to be readapted. A teacher related her necessity for readaptation to the
poor infrastructure conditions of public schools where she worked for lack of acoustic
protection, prompting her to force her voice, causing irreversible problems in the vocal
chords; two teachers directly related their physical health problems to emotional issues such
as panic and depression, to excessive bureaucracy, lack of infrastructure imposing crowded
classrooms, excessive overtime, many classes and the absence of public power to meet the
demands of professionals and education as a whole. The data show that teachers’
precariousness has affected the daily life of the teacher, causing their readaptation and the
abandonment of the classroom, besides directly affecting their physical and psychological
health. The lack of public policies aimed at education has caused the sickness and withdrawal
of teachers from classrooms and, in the cases studied, were directed to the school public
library or popular library, continuing their pedagogical work in a different manner,
considering the conventional way that teachers do their work.

Keywords: Education; Teacher; Teacher readapted; Library


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 14

2.1 Aspectos da profissão do bibliotecário ...................................................................................................... 14


2.2 Os saberes dos professores ............................................................................................................................. 16
2.3 Aspectos da precarização do trabalho docente...................................................................................... 20
2.4 O professor readaptado e a biblioteca escolar ....................................................................................... 23
2.5 O professor readaptado e a situação do bibliotecário......................................................................... 25
2.6 Professor readaptado. Atribuições.............................................................................................................. 39
3 METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 40

3.1 Contexto da pesquisa ........................................................................................................................................ 40


3.2 Instrumentos para obtenção dos dados..................................................................................................... 41
3.3 Análise categorial ............................................................................................................................................... 43
3.4 Categorias de análise ........................................................................................................................................ 44
4 ANÁLISES DOS DADOS ................................................................................................... 45

4.1 Apresentação dos sujeitos da pesquisa ...................................................................................................... 45


4.2 Análises das entrevistas ................................................................................................................................... 46
4.2.1 Entrevista de Paulo ...................................................................................................................................... 46
4.2.2 Entrevista de Márcia.................................................................................................................................... 48
4.2.3 Entrevista de Ana ......................................................................................................................................... 49
4.2.4 Entrevista de Deise ...................................................................................................................................... 52
4.2.5 Entrevista de Olivia ..................................................................................................................................... 54
4.2.6 Entrevista de Inês ......................................................................................................................................... 57
4.2.7 Entrevista de Laura ...................................................................................................................................... 58
4.2.8 Conversa com Júlia...................................................................................................................................... 60
4.3 Aglutinando categorias .................................................................................................................................... 60
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 69

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 73

APÊNDICE I ........................................................................................................................... 77

APÊNDICE II ......................................................................................................................... 78

APÊNDICE III ........................................................................................................................ 79

APÊNDICE IV ........................................................................................................................ 80
APÊNDICE V ......................................................................................................................... 81

APÊNDICE VI ........................................................................................................................ 82

ANEXO I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................... 83


11

1 INTRODUÇÃO

Recorro à minha trajetória profissional e acadêmica, às memórias pessoais desses


períodos e à literatura para apresentar esta pesquisa que discutiu o caso de professores
readaptados que são deslocados de suas funções docentes para atuar em bibliotecas públicas.
Atuo como bibliotecária há mais de vinte anos e, particularmente, em bibliotecas de
escolas da Educação Básica há dez anos. Na Escola Municipal Santos Dumont, situada no
município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, iniciei minhas atividades profissionais em
agosto de 2012. Pela Secretaria Municipal de Educação de Niterói, tive a oportunidade de
participar de vários cursos e seminários, atuei na equipe da Coordenação de Promoção da
Leitura na rede de Niterói e na Coordenação de Bibliotecas Populares de Niterói.
O espaço onde hoje funciona a biblioteca da Escola Santos Dumont já existia como
sala de leitura desde a inauguração da escola há trinta anos, mas a sua transformação em
biblioteca se deu a partir do decreto municipal nº 11.091/2012, juntamente com mais duas
salas de leitura localizadas em outras duas escolas da rede de Educação de Niterói. Na ocasião
da minha posse, havia duas professoras readaptadas na biblioteca para a qual fui designada, o
que me fez tomar conhecimento sobre essa prática que ocorre nas bibliotecas de escolas
públicas e passar a vivenciar essa realidade.
O termo readaptado é definido como um estado de adaptação do servidor (professor)
para atuar em novas atribuições e responsabilidades compatíveis com a sua condição de
saúde, em decorrência de modificações do seu estado físico ou psíquico, que acarretem
limitações da sua capacidade funcional sem que seja necessária mudança de cargo. De acordo
com o que está explícito no Art. 1º, da Lei Federal 11.301/2006, que trata da carreira do
magistério:

A readaptação do professor por motivo de saúde decorre de recomendação médica e,


a partir do diagnóstico, a Administração Pública é quem determina, com base na
limitação da capacidade física ou mental constatada, quais as atividades poderão ser
por ele exercidas, de modo que absolutamente nada depende da vontade do docente.
Então, se o problema de saúde que leva à readaptação funcional não depende do
livre arbítrio do professor, mormente porque ele não tem esse poder de escolha
(adoecer ou não), é evidente que o tempo de serviço referente ao período em que
estiver readaptado, exercendo atividades administrativas burocráticas, deve ser
computado para fins de aposentadoria especial de professor ou professora.
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O estado de desgaste emocional e o comprometimento da saúde de professores da


Educação Básica provocados por vários fatores, entre eles baixos salários, a necessidade e
altas cargas horárias, é tema frequente em salas de professores, reuniões e conselhos. Nesse
sentido, autores como Sampaio e Marin (2004) discutem a situação de precarização docente
provocada pela legislação vigente no Brasil, que agride esses profissionais da Educação que
têm a escola como “posto de trabalho”. No cenário internacional, Ball (2002) apresenta
reflexões que seguem o mesmo itinerário em relação às reformas que estiveram em curso no
Reino Unido ameaçando aspectos da autonomia docente. O autor destaca os problemas de
precarização da profissão docente trazidos pelos “terrores da performatividade”.
Assim, ao longo desses últimos anos de atuação profissional, é que eu pude me
envolver mais diretamente com esta prática relacionada à situação de professores readaptados,
qual seja, a transferência (a pedido ou não) desses professores para as bibliotecas das escolas,
fato frequente nas instituições públicas, mas que não verifiquei em instituições privadas por
onde passei.
A presença desses professores nas bibliotecas, segundo o que pude observar, pode vir
acompanhada de aspectos positivos e/ou negativos, dependendo dos fatores que os levaram
àquela situação e também ao contexto (biblioteca/escola), onde estão inseridos e envolvidos
em relações de poder que nem sempre lhes são favoráveis, sobretudo no que diz respeito à
convivência com bibliotecários e outros profissionais.
A partir da minha percepção sobre esta complexa relação profissional entre o
bibliotecário e o professor readaptado e a vivência dentro desse contexto, identifiquei a
necessidade de compreender essa relação que envolve bibliotecário, professor, biblioteca e
escola. Assim, a pesquisa que aqui se apresenta objetivou estudar a situação de professores
alocados em bibliotecas públicas na condição de professor readaptado e ganha relevância na
medida em que pode trazer contribuições para a compreensão da dinâmica estabelecida
naquele contexto e dos aspectos que configuram o ambiente educacional na biblioteca.
Para a consecução da pesquisa foi necessário cumprir os seguintes objetivos
específicos: compreender as razões que levaram os professores à situação de
readaptação; compreender os sentidos e visões de bibliotecários e professores
readaptados sobre o papel da biblioteca pública; compreender como se dá a relação
entre o professor readaptado e a biblioteca pública.
Em síntese, a partir da minha experiência pessoal, e do diálogo com a bibliografia da
área a pesquisa aqui apresentada buscou responder à seguinte questão: Como se configura a
situação de professores readaptados alocados em bibliotecas públicas?
13

Embora não sejam vistos como resultados generalizantes ou definitivos, as reflexões


obtidas a partir da pesquisa realizada contribuem para a construção de conhecimento acerca
do problema levantado na medida em que se busca compreender aspectos da precariedade que
envolve a prática docente e seus reflexos na vida desses profissionais, assim como os
problemas que envolvem as bibliotecas e como esses espaços são vistos
Os dados analisados sugerem que a precarização docente tem afetado o cotidiano do
professor e mais diretamente a sua saúde física e psicológica, provocando a sua readaptação e
a saída da sala de aula. A falta de políticas públicas direcionadas para a Educação, tem
causado o adoecimento e o afastamento desse profissional, que nos casos estudados, foram
direcionados para bibliotecas públicas, escolar ou popular, tendo como consequência o
desenvolvimento do seu trabalho de forma diferente daquela que caracteriza a profissão
docente, sujeita à limitações e condições precárias.
Há ainda um aspecto importante que a pesquisa revelou, qual seja, a situação da
biblioteca como local de acolhimento, ou não, para esses professores, situação que não tem ou
guarda qualquer relação com políticas públicas voltadas ao problema, ou mesmo nelas se
inspira, mas que se configura com muita frequência em bibliotecas públicas, dependendo
exclusivamente do bibliotecário ou do gestor que recebe esses professores.
Nesse sentido, a pesquisa mostra que, nesses espaços, podem ser construídas relações
entre professor-bibliotecário-biblioteca que são decisivas, mas que ao mesmo tempo, são
profundamente dependentes de pessoas e contextos.
O texto a seguir apresenta a pesquisa desenvolvida e encontra-se organizado da
seguinte maneira: o capítulo 1 traz a introdução ao texto, o capítulo 2 traz uma revisão
bibliográfica para fundamentação teórica da pesquisa, o capítulo 3 traz a metodologia da
pesquisa, o capítulo 4 trata da análise dos dados da pesquisa; finalmente, apresento no
capitulo 5, as considerações finais. Seguem ainda a lista de referências que contém a
bibliografia estudada e os apêndices que foram importantes para a consecução da pesquisa e
um anexo.
14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com o propósito de fundamentar o trabalho de pesquisa aqui apresentado, foi


importante realizar leituras que envolveram documentos normativos, artigos e livros que
tratam, basicamente, de aspectos relacionados com a profissão do bibliotecário, do professor,
dos direitos de servidores readaptados e das dificuldades e questões atuais que envolvem a
prática docente e a presença de professores readaptados em bibliotecas escolares. Os
parágrafos a seguir tratam desses temas.

2.1 Aspectos da profissão do bibliotecário

De acordo com o Projeto de Lei (PL) 6.038/2013, para exercer a atividade de técnico
em biblioteconomia é necessário ter diploma reconhecido e expedido por escolas oficiais
brasileiras ou estrangeiras revalidado no Brasil; além de possuir registro no Conselho
Regional de Biblioteconomia (CRB) e estar em dia com as obrigações junto ao Conselho de
sua jurisdição. Estabelece também que o técnico deve ser supervisionado nas suas funções por
um profissional bibliotecário também com registro no CRB e em dia com suas obrigações no
referido Conselho. As atribuições de um técnico são as seguintes: “auxiliar nas atividades e
serviços concernentes ao funcionamento de bibliotecas e outros serviços de documentação e
informação; auxiliar no planejamento e desenvolvimento de projetos que ampliem as
atividades de atuação sociocultural das instituições em que atuam” (BRASIL, 2013). Compete
ao Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) dispor sobre o código de ética, a anuidade e
as atribuições do técnico em Biblioteconomia; enquanto ao CRB da jurisdição que o
profissional atua, caberá a fiscalização do exercício da atividade. Deixando claro que na PL
citada somente trata sobre o cargo de técnico em Biblioteconomia, mas na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO) tem os dois cargos: auxiliar e técnico com atribuições
semelhantes.
Alguns autores destacam a importância do bibliotecário e de um bom acervo
bibliográfico para o êxito de uma biblioteca escolar. Isso implica, que para atingir tais
objetivos é fundamental: um profissional proativo, dedicado, atento às novidades, um agente
das mudanças sociais. O bibliotecário é um educador cujas funções são: “ensinar o aluno a
pensar, refletir e questionar os saberes registrados; verificar a pertinência, validade,
15

aplicabilidade das ideias contidas nos livros” (CALDIN, 2005, p. 164). A escola é
representada pelos personagens do professor e do bibliotecário, assim devem trabalhar em
conjunto nesse contexto e inserir o educando nesse mundo de rápidas mudanças.
Souza (2009, p. 92) levanta a questão: “que profissional é o bibliotecário?” De acordo
com o autor, o profissional que encarar os problemas da sua profissão de forma objetiva,
estará apto a abrir caminhos, desenvolver com eficiência a proposta de levar o conhecimento
e a consciência crítica ao educando; dessa forma quanto à sua identidade profissional

deve-se indagar sobre seus objetivos e responsabilidades, seu valor para a sociedade
e status entre as demais carreiras profissionais e, consequentemente, o nível de sua
remuneração; quanto à organização da profissão como área do conhecimento, deve-
se indagar sobre a forma pela qual está organizada; como carreira profissional ou
como campo de investigação, como se processa sua formação profissional e como se
comunica com seus pares; quanto à relação com o usuário, deve-se indagar como vê
o usuário da biblioteca e como esse o vê; quanto ao desempenho profissional, deve-
se indagar em que consiste sua excelência, o que considera sucesso ou fracasso, se
está buscando emprego ou trabalho (p. 165).

Para integrar a biblioteca com a escola é fundamental a participação do bibliotecário


na vida escolar dos educandos, no desenvolvimento do programa educativo junto ao
professor, proporcionando uma extensão da biblioteca com a sala de aula facilitando os
caminhos para que o conhecimento seja alcançado. Desta forma o bibliotecário cria o alicerce
necessário para ressaltar a importância do espaço da biblioteca e sua utilidade como um
ambiente de função social e educativa relevante e o hábito de leitura tanto para o lazer como
para a realização de trabalhos escolares; é necessário também que o profissional bibliotecário
conheça a política educacional e o ambiente escolar a sua volta, torne suas atividades mais
voltadas para os programas de incentivo à leitura, estabeleça contatos com seus pares a fim de
trocar ideias e informações; além de manter uma boa relação coma gestão escolar e os
professores. Esses são meios de construir uma imagem sólida e positiva do bibliotecário e da
biblioteca escolar para a formação do leitor.
Lourenço Filho (apud SILVA, 1999, p. 788) diz sobre a biblioteca:

ensino e biblioteca são instrumentos complementares, não se excluem, completam-


se. Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca sem
ensino, ou seja, sem a alternativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será
por seu lado, instrumento vago e incerto.

A função socioeducativa da biblioteca é uma plataforma na construção da relação


biblioteca-professor-aluno para a complementação pedagógica, assim como a função cultural
que contribui para a visão crítica do educando; ao desempenhar tais funções com a
16

responsabilidade de organizar e selecionar os instrumentos que servirão para este objetivo, o


bibliotecário não se restringirá ao papel técnico-administrativo na escola, o seu entendimento
sobre educação será mais amplo e decisivo ao oferecer os instrumentos necessários para a
igualdade na conquista do conhecimento registrado. O perfil do profissional bibliotecário
sofre as alterações necessárias para acompanhar as transformações na sociedade globalizada
como se apresenta hoje. Com a informação percorrendo longos caminhos rapidamente e o
conhecimento cada vez mais ampliado e divulgado; a exigência de um profissional atualizado
e com amplo conhecimento geral é ímpar para atender à demanda da sociedade e em
específico da comunidade escolar.
A realidade brasileira das bibliotecas escolares públicas é bem diferente do ideal
teórico apresentado na literatura:

além da precariedade do acervo e estrutura deficiente, em geral funcionando em


espaços improvisados; os mais diversos profissionais atuam na biblioteca como
professores e outros funcionários readaptados ou aguardando aposentadoria,
marcando o espaço como secundário e sem importância no planejamento
educacional (CORRÊA, 2004, p. 68).

Para superar a “miséria da biblioteca escolar” (SILVA, 1999), é necessário que se


estabeleçam discussões sobre os diferentes aspectos causadores desse fenômeno, e pensar as
possíveis soluções se não definitivas, que tenham efeitos a curto, médio e longo prazo com
planejamento claro e consciente das limitações do poder público, mas também das
possibilidades para fazer acontecer.

2.2 Os saberes dos professores

O saber exige uma renovação constante que implica um processo de aprendizagem e


de formulação que, quanto mais sistematizado e formal, mais complexo se torna, e exige uma
aplicabilidade e formalização adequadas, não descartando o conhecimento antigo, pois ele é
reatualizado constantemente “por meio dos processos de aprendizagem.” Tardif (2002) define
o saber docente como “um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de
saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais” (p. 36) enquanto o saber profissional é definido por ele como “o conjunto de
saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou
faculdades de ciências da educação). O professor e o ensino constituem objetos de saber para
as ciências humanas e para as ciências da educação” (p. 36)
17

Tardif (2002) discute os saberes da profissão docente para explicar sua formação e o
seu exercício ao afirmar que o saber dos professores é plural e heterogêneo porque envolve no
seu trabalho conhecimentos diversos de fontes variadas, esses saberes são confluências do
saber proveniente da sociedade, da família, da instituição escolar, da universidade, etc. É o
saber em si que está incorporado ao mecanismo social pelos instrumentos de trabalho,
currículo, etc.
Da mesma forma Contreras (2002) defende a ideia que “a escola, assim como a
sociedade não é uma instituição homogênea que representa valores e interesses internamente
coerentes”(p. 150); coloca ainda a ideia sobre a responsabilização dos professores em exercer
papéis variados na instituição escolar gerados por complexos problemas de ordem
institucional e social, os quais nenhuma formação acadêmica preparou para tal realidade;
situação comparável ao bibliotecário na disputa invisível da hierarquia dentro do espaço da
biblioteca com o profissional docente. O professor de escola pública é um agente do Estado
que atua de acordo com os parâmetros curriculares, regulações e normas, porém há a um
dilema entre seguir tais regulamentações ou atender às necessidades desse público escolar e
“fugir” das determinações diretas; porém ao mesmo tempo esse profissional se vê diante da
complexidade das condições burocráticas e do compromisso docente, entre outros fatores.
Alguns autores como Nóvoa (2011), defendem a necessidade de se construir políticas
que reforcem o conhecimento dos professores, seus saberes e os seus campos de atuação, que
valorizem as culturas docentes, e que a educação não seja um campo de dominação de outros
profissionais ou pela indústria do ensino, sem o comprometimento que a profissão exige para
o seu pleno desenvolvimento.
Bueno (2002) fundamenta a questão da desqualificação do professor, na virada dos
anos 2000 em diante, antes, nos anos 1980, o professor era ignorado, mas atualmente há uma
ênfase sobre o trabalho do professor e as reformulações propostas.
Percebe-se que as questões se interrelacionam com os saberes biblioteconômicos,
porque na formação docente também há esse questionamento sobre “como integrar” os
saberes e de que forma serão relevantes para os novos pares ao mesmo tempo que alguns
autores Valentim (2000), Souza (2009) e Corrêa (2004), discorrem sobre a importância do
profissional da informação interagir com outros pares.
Tardif (2002), diz que “ensinar supõe aprender a ensinar” (p. 20), quer dizer, a
dominar os saberes necessários à realização profissional, de acordo com o tempo,
progressivamente; são colocados em evidência os saberes anteriores, da vivência familiar,
com amigos, crenças e valores e isto pressupõe que de alguma forma os professores têm uma
18

ideia de como ensinar antes mesmo de receberem uma formação formal nas universidades
para esse exercício, essa experiência adquirida persiste pelo tempo sem que o profissional a
perca. Tardif (2002) mostra que “o conhecimento do trabalho dos professores e o fato de levar
em consideração os seus saberes cotidianos permite renovar a nossa concepção não só a
respeito da formação deles, mas também de suas identidades, contribuições e papéis
profissionais.” (p. 23).
O autor fala da hierarquização do saber e questiona quais os princípios que regem
essas hierarquizações porque a diversidade de saberes traz à tona o problema da unificação e
da recomposição dos saberes “no e pelo trabalho”; sendo as diferentes fontes, os momentos
únicos profissionais e de experiência de vida que levantam essa tendência da utilização do
saber. Quanto menos utilizado, menor valor profissional terá esse saber porque segundo
Tardif (2002) “ensinar é mobilizar uma ampla variedade de saberes, reutilizando-os no
trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para o trabalho” (p. 21).
A experiência nesse aspecto fundamenta o saber, é o alicerce da prática e da
competência profissional onde o professor realiza sua produção e ratifica seus saberes. Bueno
(2002) fundamenta essa questão da desqualificação do professor; caracterizada por Nóvoa
pelo “redirecionamento das pesquisas e práticas de formação” que tem início com a obra de
Ada Abraham – O professor é uma pessoa – publicada em 1984, pois é a partir de então que
“a literatura pedagógica foi invadida por obras e estudos sobre a vida dos professores, as
carreiras e os percursos profissionais, as biografias e autobiografias docentes ou o
desenvolvimento pessoal dos professores.” (NÓVOA, 1992, p. 15).
A ideia de reformulação e uma nova articulação na formação de professores é similar
às necessidades de revisão curricular na formação dos profissionais da informação, também
como uma exigência de um ponto de equilíbrio entre a demanda, as experiências de vida e os
conhecimentos produzidos pela universidade sendo a conjugação desses fatores uma questão
a ser considerada nos saberes cotidianos. Apesar do peso estratégico desses conhecimentos
entre os saberes sociais, há uma desvalorização do corpo docente em relação aos saberes que
possui e transmite como se houvesse um hiato entre todas as necessidades que são constatadas
onde só o professor com seu conhecimento pode suprir e o que de fato ele faz ou é
“permitido” que faça ou transmita.
Essa desvalorização percorre um longo caminho na trajetória docente perpassando
vários aspectos como o salário e as condições estruturais que não condizem com a
importância atribuída à função de professor, além da participação limitada nas escolhas que
atingem diretamente esse profissional, como a formação continuada, e nas reformulações e
19

reestruturações com as quais precisarão trabalhar; essa desproporção entre o discurso de


(des)valorização do docente e a prática propriamente dita leva também à uma perda de
identidade do profissional diante de suas escolhas. Identifico o professor readaptado na
biblioteca nesse processo de desvalorização docente porque mesmo que ele esteja atuando
nesse espaço com satisfação, a pergunta é “qual foi a escolha inicial desse professor?”,
depois, “ele teve outra opção além da biblioteca?”. E ao concretizar sua ida para este local,
“ele perde sua identidade docente, a mesma que tem na sala de aula?” Ou “há uma
reinvenção/transformação desse profissional e seus valores?”.
Tais questionamentos e outros que surgirem ao longo da pesquisa poderão ser
utilizados com o objetivo de compreender a relação professor readaptado/gestor/bibliotecário,
no espaço da biblioteca. Essa desvalorização docente tal como chama Tardif (2002), também
é discutida por Contreras (2002, p. 32) ao afirmar que há “perda por parte dos professores das
qualidades que faziam deles profissionais, ou ainda, a deterioração daquelas condições de
trabalho nas quais depositavam suas esperanças de alcançar tal status”. Esse fenômeno é
chamado de proletarização dos professores.
O processo de transformação é colocado por Tardif (2002) como sendo algo que faz
parte do desenvolvimento profissional e suas exigências; já Contreras (2002, p. 33) identifica
que os docentes, enquanto categoria, estão sofrendo uma transformação, “tanto nas
características de suas condições de trabalho como nas tarefas que realizam, que os aproxima
cada vez mais das condições e interesses da classe operária”. Este autor levanta 3 conceitos
chave para identificar tal fenômeno:

1) a separação entre concepção e execução no processo produtivo, onde o


trabalhador passa a ser um mero executor de tarefas sobre as quais não decide; 2) a
desqualificação como perda dos conhecimentos e habilidades para planejar,
compreender e agir sobre a produção e, 3) com a perda de controle sobre seu próprio
trabalho, ao ficar submetido ao controle e às decisões do capital, perdendo a
capacidade de resistência (p. 35).

Contreras (2002) não vê de forma tranquila esse processo de transformação docente


porque vem acompanhado de uma renúncia à sua autonomia, aceitando a perda de controle
sobre o seu trabalho e à aceitação sobre a supervisão externa do mesmo; porém o docente
desenvolve outras capacidades diante dessas perdas, como a resistência em função de seus
interesses individuais e coletivos; se de um lado há a perda de status e autonomia e uma
transformação danosa à sua capacidade, por outro lado esse docente desenvolve mecanismos
de ações de resistência à imposição externa racionalizadora.
20

O saber docente é heterogêneo e plural, formado por diversos saberes que são
elementos constitutivos da prática docente. O que caracteriza a profissão docente são os três
saberes que se completam: disciplinares, curriculares e experienciais. O saber disciplinar está
integrado às diferentes disciplinas que são transmitidas nos cursos e na faculdade, além de
emergir da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes. O saber curricular
corresponde aos discursos e objetivos que a instituição escolar categoriza como modelo para a
formação escolar e que os professores devem aprender a aplicar. O saber experiencial é
baseado no trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio, esses saberes surgem da
experiência em confronto com as condições da profissão.
O docente é acima de tudo um formador, que traz relações com seus pares, as certezas
subjetivas que serão transformadas em um discurso sistematizado com suas experiências, sua
formação acadêmica e pessoal. Essa prática é destinada à sala de aula, ao ensinar as
disciplinas de acordo com uma sistemática estudada e regulamentada, porém quando esse
docente tem seu ambiente remanejado, toda uma política de métodos de educação deve ser
repensada assim como seus saberes experienciais na perspectiva de reorganizar o seu saber. O
professor readaptado exercendo a função na biblioteca poderá ter esses saberes repensados
para uma adaptação a outro ambiente diferente do seu habitual. A experiência pode provocar
uma retroalimentação em que o docente filtra e seleciona novos saberes como um processo de
aprendizagem no qual “retraduzem sua formação” e a adaptam às necessidades da profissão.

2.3 Aspectos da precarização do trabalho docente

A década de 1960 no Brasil foi de adequação da educação às demandas do novo


modelo industrial que atendia à política econômica nacional-desenvolvimentista. Nos anos de
1970 a crise econômica no país se agrava e acentua a deterioração do sistema público de
ensino evidenciando os efeitos negativos no funcionamento das escolas. Enquanto nos anos
de 1980 - 1990 a globalização comanda a política econômica mundial, inclusive no Brasil
mesmo que a passos lentos em relação ao resto do mundo.
Na transição dos referenciais econômicos das décadas de 1960 e 1990, a educação
passa por grandes transformações, porém não consegue corresponder às exigências e
pretensões de saldar a dívida social passada e esfria a crença de ser uma alavanca social; na
primeira década de 1960 acreditava-se que ampliando o acesso a escolaridade, a desigualdade
social poderia acabar ou, ao menos, ficar mais equilibrada com uma política distributiva justa
e o forte argumento da educação como meio de mobilidade social individual e coletiva. Já nos
21

anos de 1990 as reformas educacionais centraram na equidade social, pois, era imperativo
aprimorar a educação com o objetivo de formar o indivíduo para a empregabilidade, como
requisito para a colocação no mercado formal e regulamentado, desta forma com o objetivo
de contenção da pobreza e da desigualdade.
A interferência dos organismos internacionais de financiamento, já presentes no país,
direciona as políticas educacionais inclusive nas bases curriculares. Na primeira década do
século XXI percebe-se os efeitos da globalização, do investimento pesado do sistema
capitalista, que atende a diversos interesses, e das consequências desses processos e da
atuação dos órgãos internacionais, que atrelam o financiamento à adesão as suas políticas de
orientação e controle educacionais.
A escola como está hoje, percebemos que, não foi favorecida nas negociações das
décadas passadas, o sistema público de ensino está desprestigiado e em crise; e aquela forma
de adesão às “negociações” sugeridas pelos organismos no século passado só seriam
compreendidas como um processo de mudança positivo e favorável para a sociedade se de
fato tais imposições viessem acompanhadas de comprometimento com projetos que gerassem
mudanças nas políticas públicas, sociais e culturais. O papel do Estado é controlar, no
entanto, neste aspecto, ele tem um processo de “descontrole controlado” (DU GAY apud
BALL 2002), onde novas posições de controle são lançadas com novas regras e
regulamentações, com isto os professores são incentivados a refletir sobre si próprios, seu
trabalho, acrescentando valor a si mesmos com o objetivo de aumentar sua produtividade; os
docentes passam a viver a experiência da meritocracia, quando passa a valer o mérito e não
somente a experiência, e a competir entre eles, o caráter pedagógico, a sua missão como
professor, dá lugar à “nova cultura da performatividade competitiva” (BALL 2002, p. 7). Esse
novo formato está ligado às várias práticas industriais que ligam a “organização e o
desempenho das escolas aos seus ambientes institucionais” (BALL 2002, p. 8).
A performatividade é “uma tecnologia, uma cultura e um modo de regulação que se
serve de críticas, comparações e exposições como meios de controle, atrito e mudança”
(BALL 2002, p. 4). Tal como a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) se refere, a performatividade como “sistemas de monitorização” na “produção de
informação”. As relações dos professores com seus pares, a natureza da “alma do professor” e
o estudo da performatividade com a aplicação das tecnologias políticas da reforma, são a
fonte de estudo e preocupação de Ball. Para ele a análise das consequências tais como: “um
tipo diferente de esquizofrenia é vivido por professores individualmente, sendo o
compromisso e a entrega, o julgamento e a autenticidade dentro da prática sacrificados pela
22

impressão e desempenho. Há uma potencial ruptura entre os julgamentos dos próprios


professores acerca do que é uma “boa prática” e as “necessidades” dos rigores do
desempenho” (p. 12), principalmente sobre os professores é primordial para compreender
como a educação se encontra hoje.
O atual currículo, em parte, é o panorama dos acordos e medidas exigidos pelos
organismos internacionais que atendem as diretrizes delineadas, mas não favoreceram a
sociedade ou ao sistema de ensino; a escola da forma que vemos hoje está engessada e sem
autonomia curricular e de gestão, os professores precisam se submeter às avaliações externas
de desempenho, seus conhecimentos e formação continuada são direcionados para atender “à
essas exigências, obrigando-os a redirecionar seu trabalho pedagógico” (BALL, 2002, p. 18).
Ball faz críticas à performatividade da forma proposta como processo de mercantilização da
gestão e em consequência do docente afirmando que a operacionalização nas tecnologias
políticas “não deixa espaço para um ser ético autônomo ou coletivo” (p. 8); provocam um
esvaziar das relações a partir das relações de julgamento nas quais as pessoas são valorizadas
pela sua produtividade apenas, refletindo na autonomia docente que passa pela regulação
social e interpessoal, gerando um conflito profissional e pessoal onde mais uma vez questões
são lançadas num panorama de incertezas e inseguranças sobre estar ou não fazendo a coisa
certa. Essas tecnologias geram “potencialmente profundas consequências para a natureza do
ensinar e do aprender” (BALL, 2002, p. 19), elas não são simplesmente instrumentos, mas
“uma estrutura na qual emergem questões como quem nós somos ou no que gostaríamos de
nos tornar”. (Ball apud Dean 1995, p. 581).
De acordo com Oliveira (2004), os profissionais docentes se veem obrigados a
cumprir exigências e rígidos papéis de controle, causando insegurança, desamparo e a
precarização nas relações de emprego; o aumento dos contratos temporários que esvaziam o
vínculo com os alunos e a escola, os baixos salários, a perda de garantias de emprego e a
desvalorização contínua do profissional da educação, além de formação continuada deficiente
ou ausente, são aspectos que caracterizam a precarização da profissão. A autora ressalta
também que a escola tradicional, rígida, verticalizada e burocrática foi reestruturada.
Aspectos que são sui generis, a escola como autonomia, trabalho coletivo etc., foram
reinterpretados; porém não significa que a escola esteja mais democrática ou menos
burocrática; a questão se baseia na reestruturação sofrida pela escola de acordo com diversas
políticas ao longo do tempo, mas sem as condições adequadas e necessárias para essa
transição, implicando assim na precarização do trabalho docente.
23

Marin (2009) destaca como fatores decisivos para a precarização do trabalho dos
professores

a desqualificação da formação profissional, a intensificação do trabalho dos


professores com longas e extenuantes jornadas de trabalho, os baixos salários que
não compensaram as perdas significativas sofridas ao longo dos anos da ditadura
militar, repercutindo até os dias atuais, além da padronização curricular do ensino
básico e da formação docente, etc. que favoreceram o surgimento de novas formas
de controle, baseadas na auditoria, no desempenho e no recrudescimento da culpa e
da autorresponsabilização docentes (p. 67).

A ideia de outros autores citados acima, como Ball, Oliveira e Du Gay, que
relacionam a precarização do trabalho docente com o desgaste sofrido pelos profissionais com
constantes avaliações de desempenho causando insegurança, autocrítica e questionamentos;
coloca em suspenso a autonomia docente, a gestão e afasta o professor do seu público e
realizações, engessando sua prática.

2.4 O professor readaptado e a biblioteca escolar

A função do “professor-de-biblioteca” não existe de forma regulamentada (como citei


acima, é uma demanda dos professores da rede de Niterói com atuação na biblioteca) em
nenhuma rede de educação no estado do Rio de Janeiro. Existem regulamentações sobre a
presença e o trabalho do bibliotecário na biblioteca escolar; cito as leis 12.244/2010 sobre a
universalização das bibliotecas públicas e particulares num prazo de 10 anos a contar da data
da sua promulgação, respeitada a profissão do bibliotecário, disciplinada pela lei 4.084/1962
que determina privativo aos bacharéis de biblioteconomia o exercício da profissão, de acordo
também com o Conselho Regional de Biblioteconomia.
O termo readaptação refere-se à situação jurídica que envolve o trabalhador que não
se encontra na capacidade laborativa plena para exercitar as tarefas de seu cargo. Trata-se de
uma pessoa que não está clinicamente apta para fazer o trabalho rotineiro, relacionado à sua
função, mas também não é considerada, pela perícia médica, clinicamente inapta para receber
uma licença ou se aposentar por invalidez. Para examinar o objeto de estudo, a readaptação ao
exercício docente, reúno reflexões que abrangem elementos históricos e teóricos da profissão
docente.
O quadro que se apresenta hoje contribui para a desprofissionalização e a
proletarização do trabalho docente. Esse processo implica na deterioração das condições de
trabalho que garantem o status ao profissional. A perda do status, leva à perda de identidade
24

profissional ao constatar que “ensinar não é o mais importante”. Nesse processo docente é
identificado o professor que atua na biblioteca por vontade própria, ele escolheu estar lá por
não aguentar mais o ambiente de sala de aula (depois de no mínimo dez anos de trabalho) e ao
escolher esse outro espaço, de certa forma, ele se sente atuando com os alunos ainda que de
forma diferente da sala de aula e sem o seu conhecimento curricular tradicional e de
formação; a perda de status, em alguns casos, na coleta de dados com docentes que atuam na
biblioteca, essa perda não foi percebida, porém uma das entrevistadas constatou um
reconhecimento e até um aumento de status junto à direção e aos colegas de profissão na
própria escola ao solicitar seu trabalho como dinamizadora (assim ela o definiu) com mais
frequência.
A perda da identidade profissional como dito acima implica para o profissional
docente um acúmulo de várias funções que não lhe cabem, como: psicólogo, enfermeiro,
assistente social, entre outras; por ausência do poder público atuante, pleno e sensível às
questões que o aluno demanda da escola e demonstra a fragilidade e o abandono da profissão
docente além do desprestígio. A educação é um fenômeno complexo, porque histórico,
influenciada em várias fronteiras, é produto do trabalho de seres humanos, dessa forma,
responde de maneiras diferentes aos contextos históricos, políticos e sociais, retrata e
reproduz a sociedade a qual está inserida, mas também projeta o que a sociedade deseja. Será
que o desejo da sociedade é a proletarização docente?
De acordo com Contreras (2002), a construção da autonomia profissional juntamente à
autonomia social vem através do processo democrático da educação, porém o Estado tem a
necessidade contraditória de legitimar seu papel junto à sociedade e às instituições com a
opressão característica de um poder que atua sobre o coletivo, através da ideologia do
profissionalismo ao subtrair possíveis movimentos de oposição e ao mesmo tempo
convocando a colaboração dos docentes para as reformas educacionais. Em contrapartida, os
professores criaram uma resistência em função dos seus interesses coletivos e individuais,
causando vários conflitos apesar do controle do Estado; essa forma de controle oferece aos
professores uma autonomia que não existe, uma pseudoautonomia gerando dentre outros
fatores a falta de controle sobre seu próprio trabalho que implica uma desorientação
ideológica.
De acordo com Young (2007, p. 1300) as escolas precisam de autonomia para
“desenvolver o conhecimento profissional, que é a base da autoridade dos professores e da
confiança que a sociedade deposita neles como profissionais”. Da mesma forma, na área da
informação, as reivindicações da sociedade, em especial ao acesso mais fácil à educação,
25

acompanhando as mudanças mundiais da Revolução Francesa e da Revolução Industrial,


exigiram mudanças não só da Educação mas também da biblioteca e do perfil dos
profissionais bibliotecários, adaptando-se às necessidades informacionais da sociedade. Tal
mudança ficou explícita com o surgimento da biblioteca pública em torno de 1850 e da ideia
de bibliotecas mantidas pelo Estado e voltadas para a sociedade.
A política de governo está suprimindo os saberes necessários aos professores, sendo
um dos fatores gerados pela racionalização tecnológica do ensino, quando o docente vê sua
função reduzida ao cumprimento de prescrições externamente determinadas, sem sua
participação efetiva nas discussões perdendo de vista o controle de suas tarefas, assim como a
intensificação do trabalho que está relacionado com a desqualificação intelectual. Faz-se o
essencial, deixando o trabalho para os especialistas. O excesso de burocratização dos
processos educacionais não está permitindo que o docente desenvolva seu trabalho
adequadamente e com os detalhes que são necessários; esses fatores dão o tom da
proletarização da profissão docente.

2.5 O professor readaptado e a situação do bibliotecário

Este benefício é concedido ao servidor público com vínculo efetivo pelo prazo
máximo de 1 (um) ano, de acordo com o Decreto Municipal 11.091/2012 que institui as
bibliotecas escolares municipais e dá outras providências. E a Lei Federal 11.301/2006 trata
sobre o professor readaptado.
No decorrer do período de readaptação o servidor realizará atividades compatíveis à
habilitação exigida para o ingresso no seu cargo público, com equivalência de vencimentos e
de carga horária. Caso o servidor não readquira as condições normais de trabalho no prazo
fixado na concessão inicial, a readaptação pode ser prorrogada após uma reavaliação da
perícia médica oficial. Na readaptação funcional ou seja, quando o profissional passa pelo
processo de readaptação, são considerados, além da doença e da capacidade física e psíquica
existente, o cargo ocupado, a idade e o tempo de serviço, não podendo durante sua vigência
ser concedida licença de saúde motivada pela mesma patologia que determinou a readaptação,
salvo nos casos de reagudização clínica (quando ocorre período de licença para tratamento de
saúde concomitante com o período de readaptação, após avaliação oficial).
Expirado o prazo da readaptação funcional o servidor retornará para a sua função
anterior. A readaptação não acarreta diminuição ou aumento da remuneração. Pode-se
destacar que não se aplica a perícia médica oficial na avaliação de requerimento de
26

readaptação funcional e/ou reabilitação profissional de servidor regido pelo Regime Geral de
Previdência Social (RGPS).
De acordo com a resolução SE-12/2014, que dispõe sobre a situação funcional dos
servidores da Secretaria de Educação de SP que se encontram na condição de readaptados, diz
no artigo 3º: “atuar no Programa Ensino Integral, exclusivamente como docente responsável
pela Sala/Ambiente de Leitura”.; (citando como exemplo a cidade de São Paulo, por falta de
material de análise e comparativo suficiente que trate sobre a cidade de Niterói ou o Estado
do Rio de Janeiro).
Durante a realização do I Encontro Nacional de Coordenadores de Curso de Pedagogia
das Universidades Públicas, realizado em setembro (2006), foi considerado dentre outros
aspectos que estabelecem para o curso de DCN - Pedagogia (Diretrizes Curriculares
Nacional), que

o trabalho docente caracteriza-se como processos e práticas de produção,


organização, difusão e apropriação de conhecimentos que se desenvolvem em
espaços educativos e não - escolares, sob determinadas condições históricas. Nesta
perspectiva, o professor é um profissional da educação, em ação e interação com o
outro, produtor de saberes na e para a realidade. A docência define-se, pois, como
ação educativa que se constitui no ensinar-aprender, na produção de conhecimento e
na gestão de contextos educativos, na perspectiva da gestão democrática.

Ao longo da minha inserção profissional como bibliotecária, percebi que em todos


esses espaços há a presença majoritária de professores, ou na condição de readaptados (caso
das escolas) ou na complementação de carga horária (como nas bibliotecas populares).
Entretanto, não há auxiliar de biblioteca, tão comum nas bibliotecas de qualquer gênero. Cabe
dizer que essa presença maciça de professores nesses espaços públicos não é comum nas
bibliotecas particulares, pois existe o auxiliar de biblioteca ou o técnico em biblioteca que tem
a função de atuar junto ao bibliotecário nos serviços que não exijam grande complexidade
técnica e não estejam relacionados com a gestão do espaço junto à instituição.
Como podemos observar, juridicamente, as funções de alguma forma se estruturam e
respaldam: o auxiliar de biblioteca, o técnico em Biblioteconomia, o bibliotecário, o
profissional docente e o professor readaptado, cada qual na sua função com seu status; porém
o cotidiano não garante ao professor readaptado a funcionalidade que a profissão
normalmente lhe daria, nem a adaptação nesse novo ambiente da biblioteca. A lei diz que ele
pode exercer atividades pedagógicas na biblioteca, mas não especifica que tipos de atividades
para um ambiente ao mesmo tempo didático, pedagógico e inserido no contexto escolar, mas
27

também técnico, que pretende organizar o conhecimento de forma que atenda à demanda
escolar.
Para o gestor é mais um profissional a trabalhar nesse ambiente, como em qualquer
outro; para o bibliotecário, em alguns casos, há um certo enfrentamento “invisível” por ser
um profissional tradicionalmente com status dentro da escola, uma figura fundamental nesse
ambiente e que nesse momento faz parte do seu domínio, a biblioteca. O que pode se tornar
um local de “briga de egos”, pode ser também agregador ao trazer um profissional com
experiência pedagógica, que já desenvolveu atividades com um público diferenciado de
alunos como é o caso da escola pública, a qual tratamos aqui e que pode ser agregador;
destacando a presença da figura do bibliotecário que é o profissional de origem da biblioteca.
A ausência do termo “sala de leitura” ao longo desse trabalho foi proposital pois uma
antiga luta de todos os profissionais envolvidos com biblioteca, informação, leitura e livros,
travam com os governantes e legisladores que insistem em rotular a biblioteca como sala de
leitura; rótulo sim pois não há legislação ou qualquer outro aspecto sério e passível de
discussão para entender esse espaço de leitura e aprendizado como uma sala de leitura; a
descaracterização do espaço ao denominá-lo de sala de leitura deixa clara a desconfiguração a
que os governos se propõem abrindo espaço para o professor readaptado através de manobras
em artigos parágrafos nas leis que “autorizam” o professor nessa condição a “desenvolver
atividades pedagógicas nas bibliotecas” assim sem provocar qualquer tipo de problema com a
legislação.
A sanção da Lei Federal 12.244/2010 que fala sobre a universalização das bibliotecas
públicas e particulares em todo o país num espaço de 10 anos a partir da sua promulgação, se
mostrou um avanço (ao menos no papel e nas intenções) para o início da estruturação desses
espaços com mobiliário, material, recursos humanos, acervo atualizado, etc, especialmente
para o mercado de trabalho do bibliotecário pois, em um dos artigos da lei diz sobre a
“obrigatoriedade da presença do bibliotecário” (ao menos um) em cada biblioteca pública ou
particular. Uma questão paira no ar: diante da força de uma lei, ou melhor dessa lei, é possível
ainda manter espaços de conhecimento, aprendizado e leitura, denominadas bibliotecas
ignorando-as e tratando-as como sala de leitura?
Como pode-se observar ao longo desse trabalho, mesmo com uma lei federal com
prazo a ser cumprido faltam 2 anos e meio para a implementação de bibliotecas nas escolas
públicas e particulares em todo o Brasil, especificamente no município de Niterói somente 3
escolas públicas num total de 95 incluindo regulares, EJA ( Educação de Jovens e Adultos) e
UMEIs (Unidade Municipal de Educação Integrada) tem bibliotecas criadas por decreto com
28

bibliotecários atuando e a presença ou não de professores readaptados (uma delas), as outras


tem professores readaptados em sala de leitura; e apesar da Coordenação de Promoção de
Leitura estar realizando projetos para atender a todas as unidades, de acordo com as demandas
da quantidade de alunos por escola, grau de abrangência de série e pelo desejo da direção das
escolas, não há perspectivas para a criação de novas bibliotecas. Não entrarei na questão da
relevância para o governo aqui tratado sobre a abertura e manutenção de bibliotecas nas
escolas; todas as abordagens feitas ao longo desse trabalho demonstram a importância de se
abrir espaços de biblioteca e sua perfeita manutenção para o bom desenvolvimento do público
em questão, o escolar.
Apesar da forte presença de professores em números nestes espaços de instituições
públicas, o bibliotecário é quem responde pela biblioteca, ele é o profissional que pode
assinar documentos, realizar compras, participar ativamente das reuniões gerenciais,
administrar e atuar como o gestor da biblioteca. É importante ressaltar que a função de
bibliotecário é respaldada por leis que regulamentam o exercício da profissão como a Lei
4.084 de 30 de junho de 1962, que “regula o exercício profissional do bibliotecário” porém,
segundo Oliveira (2008, p. 104) esta lei tende a limitar tal exercício, pois “não acompanha as
mudanças tão necessárias ocorridas no cenário profissional e não abre possibilidades para o
mesmo lidar com diferentes suportes e contexto institucionais e sociais”. A autora vê a
necessidade de repensar essa lei e cita o parecer CNE/CES 492/2001 da Lei de Diretrizes e
Bases do Ministério da Educação/MEC, que pode ser considerado um grande avanço na visão
que a sociedade brasileira tem acerca do trabalho do profissional bibliotecário ao dizer que
compete ao mesmo:

*interagir e agregar valor aos processos de geração, transferência e uso da


informação, em todo e qualquer ambiente;
*criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos de
informação;
*trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza; *processar a informação
registrada em diferentes tipos de suporte, mediante a aplicação de conhecimentos
teóricos e práticos de coleta, processamento, armazenamento e difusão da
informação; *realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e
uso da informação (OLIVEIRA 2008, p. 104).

Pensando nessas mudanças sociais e nas novas exigências de mercado e na


compreensão do trabalho do bibliotecário, os cursos formadores no Brasil estão modificando
seus currículos, preocupados com uma formação ampla e atualizada. Isso implica na
organização de um curso que possibilite ao profissional da informação uma inserção mais
adequada ao mercado de trabalho, dando enfoque às aptidões e competências sintonizadas
29

com a atualidade. De acordo com Valentim (2000, p. 8), apesar de a formação do


bibliotecário estar estruturada no paradigma da informação, “a maioria dos cursos formadores
no Brasil evidencia mais a formação técnica do que a formação humanista;” esse paradigma
surgiu em 1950 a partir de um grupo de ideias relativas ao processo do “movimento da
informação em um sistema de comunicação humana”, o êxito se deu ao relacionar a
“representação das propriedades do sistema de transmissão de sinais matemáticos tornando-se
a base das tentativas para caracterizar e modelar o processo de recuperação da informação
e/ou do documento” (OLIVEIRA 2008, p. 23); enquanto o paradigma da Biblioteconomia
consiste em um “grupo de ideias relacionadas com a biblioteca, então considerada como uma
instituição social” (OLIVEIRA 2008, p. 22).
Na década de 1990, os estudos de Francis Miksa (1992) identificaram a instituição da
biblioteca como um local de organização social bem definida e única, reforçando a análise de
uma instituição social; a origem dessa constatação surgiu nos estudos da Escola de
Biblioteconomia de Chicago, nas décadas de 1920 e 1930, que estruturavam seus estudos nas
teorias da Sociologia e da Educação, o ponto de convergência é a biblioteca em si e o
potencial como um organismo social. Para o autor, a relevância do paradigma da Ciência da
Informação é revelada através de três pensamentos: “a formalização da ideia de informação é
algo que flui dentro de um sistema”, surgindo assim os conceitos como de “entropia,
redundância, incerteza, retroalimentação, sinal para taxas de ruídos”; outra ideia seria da
“divisão da informação dentro de unidades, num sistema”; e, por fim, a ideia da informação
estar em “constante movimento era atribuída a fenômenos externos” (OLIVEIRA, 2008, p.
24).
Tais fenômenos não cabem aqui colocar em questão mas as discussões levantadas por
Miksa (1992) e outros teóricos constataram a flexibilização do conceito principal do
paradigma da informação como consequência dessa movimentação; portanto no campo da
“Ciência da Informação e da Biblioteconomia este paradigma tem como fenômeno central o
movimento da informação em um sistema de comunicação” (OLIVEIRA, 2008, p. 25). A
Biblioteconomia tem sido influenciada por este paradigma na atribuição do termo
“informação” como um novo campo e também na prática das suas atividades por seus
participantes. “O paradigma evidencia particularmente o fluxo de informação que ocorre em
um sistema no qual objetos de representação do conhecimento (documentos) são buscados e
recuperados em resposta à pergunta iniciada pelo usuário” (OLIVEIRA, 2008, p. 24). Esse
formato permite não só o estudo de uso da informação como também o quantitativo desses
documentos, além da análise da extensão dos assuntos específicos utilizados num sistema.
30

“Como toda organização social, a biblioteca tem material organizacional e


características intelectuais que servem como significado para expressar suas funções em uma
estrutura social” (OLIVEIRA, 2008, p. 22). Assim, é possível apontar três
funções/propriedades da biblioteca relacionadas às bases colocadas acima: propriedade
material, propriedade profissional e propriedade organizacional.
A primeira se refere às “coleções representando o conhecimento e os equipamentos
especializados”; a segunda refere-se ao “conjunto de estruturas administrativas e de pessoal”
e por fim, a terceira propriedade engloba a ideia de sistema, como os sistemas específicos da
Biblioteconomia, por exemplo, “o sistema de classificação, estrutura de catalogação, política
de seleção” (OLIVEIRA, 2008, p. 22). O professor readaptado que exerce sua função na
biblioteca está relacionado à função profissional que forma esse conjunto composto na
estrutura administrativa e de pessoal, ainda que não seja legitimado e reconhecido no
município de Niterói como um profissional que a partir da sua condição é uma parte
integrante da biblioteca e, sim um profissional em condição especial que está alocado na
biblioteca assim como poderia estar em qualquer outro local da escola, desde que não tenha
condição médica alterada ou prejudicada.
O trabalho da biblioteca exige pessoal especializado, no caso da biblioteca escolar a
presença do professor readaptado expressa a possibilidade de ampliação das atividades
exercidas no espaço ao trazer sua experiência como docente em sala de aula para a biblioteca;
sob o foco do principal paradigma que é dar acesso ao público para suas coleções, a biblioteca
tem a sua existência justificada como uma função primordial para tornar o uso possível dos
documentos, para isso no seu espaço são desenvolvidas várias funções como aquisição,
classificação, catalogação, organização normatizada do arranjo físico para facilitar a busca, e
a fim de tornar possível a utilização de forma sistemática dessas ferramentas é necessário
pessoal especializado como o bibliotecário e em alguns casos o auxiliar de biblioteca
(técnico), pode-se citar o professor readaptado como um elemento constitutivo do quadro de
pessoal da biblioteca.

O paradigma da biblioteca como uma instituição social conhecida, a biblioteca, é


caracterizado em termos de sua propriedade institucional e de suas funções. A
função social da biblioteca enquanto uma instituição social está principalmente em
ser o fio condutor entre indivíduos e o conhecimento de que eles necessitam”
(OLIVEIRA, 2008, p. 23).

Oliveira (2008) relaciona dois fatores que fragilizam a manutenção dos paradigmas
discutidos acima: o armazenamento e a manutenção de acervos e documentos considerados
31

mais importantes do que o conteúdo dos mesmos, e a avaliação dos serviços da biblioteca
relegando a figura do usuário, que é o elemento principal e final na dinâmica da
informação; essas características são fatores de atraso na compreensão do significado da
biblioteca como uma instituição social, dificultando a concretização desse espaço na
transformação da ideia como uma função social por parte das instituições e da sociedade.
Essa função social é entendida como “o fio condutor entre indivíduos e o
conhecimento” citado acima, que faz “a liga” entre o saber que o indivíduo traz de fora
ainda sem lapidação e o conhecimento estabelecido nos documentos do sistema, e assim
entra o trabalho do profissional da informação com as técnicas aprendidas na academia, a
experiência que Tardif (2002), Contreras (2002) e outros teóricos relacionados neste
trabalho citam sobre o profissional docente que forma a amálgama do conhecimento
profissional, mas que pode-se relacionar com qualquer área de outras profissões, neste caso
o bibliotecário: a experiência profissional, de vida, os conhecimentos da faculdade, cursos
e formação continuada e os saberes que ele traz consigo que o capacitam para ser um
profissional da informação, como também é conhecido o profissional de biblioteconomia.

Atuar profissionalmente nesse contexto exige uma postura de criatividade, de


renovação constante e de disposição para enfrentar os desafios diários. O
bibliotecário deve agregar vários outros conhecimentos adquiridos no curso de
graduação, que devem ser buscados em outros cursos e campos de conhecimento, à
medida que os desafios e/ou dificuldades forem surgindo.” (ARAÚJO; DIAS apud
OLIVEIRA, 2008, p. 121).

Algumas questões são levantadas pelas autoras sobre o novo perfil profissional que
demanda na sociedade: “como desenvolver essas funções no novo contexto da sociedade de
informação? Que modificações devem ser efetuadas para que tanto a biblioteca quanto o
bibliotecário sejam membros dinâmicos da sociedade de informação?” (ARAÚJO; DIAS
apud OLIVEIRA, 2008, p. 119).
Ao pensar e sistematizar as questões ligadas à formação profissional e ao mesmo
tempo manter uma visão sintonizada com os paradigmas propostos e as atualizações
demandadas, nota-se que é desejável um conteúdo curricular que pense e ao mesmo tempo em
que enfoque a realidade brasileira. Esse desenho requerido atualmente está relacionado à
defasada estrutura curricular dos cursos de Biblioteconomia, muito criticada pelas escolas na
década de 1980, currículo esse coordenado pelo MEC denominado “currículo mínimo” que
delineava as matérias e os conteúdos não permitindo mudanças e inviabilizando
reestruturações e atualizações (VALENTIM, 2000, p. 9). A partir da nova Lei de Diretrizes e
Bases para a Educação (LDB), sancionada em 20/12/96, e os debates nacionais em torno do
32

tema, foi elaborado um documento denominado “Diretrizes Curriculares” que flexibilizava e


tornava mais dinâmica e ágil a estrutura curricular dos cursos formadores do profissional da
informação no Brasil, assim atendendo aos anseios da sociedade e às mudanças que iam se
dando.
O final da década de 1980 trouxe para a Biblioteconomia questionamentos
relacionados à sua formação e à sua adequação ao mercado de trabalho: “quem é o
profissional da informação capaz de enfrentar os desafios e dificuldades provocados pelas
grandes mudanças com a chegada da era da informação?” (SANTOS apud VALENTIM
2000, p. 107). Os estudos e pesquisas mostravam que o profissional nos moldes tradicionais
centrados na formação técnica estava propenso a perder mercado profissional se rapidamente
não se reestruturasse e estivesse atento para tais mudanças. Segundo Marchiori (1996, p. 30),
“o desenvolvimento das tecnologias da informação, eliminando as paredes das bibliotecas e
disponibilizando informações abrigadas em sistemas distantes, de modo quase instantâneo”
foi o argumento catalisador das exigências para o profissional adquirir conhecimentos e
habilidades na sua formação e profissão.
Alguns autores, como Mason (apud OLIVEIRA 2008, p. 145), apesar de endossarem a
afirmativa acima, ainda veem como restrita as atividades do profissional que visa o
tratamento dado à informação, mas não oferece definitivamente a abertura do universo do
trabalho bibliotecário além das paredes da biblioteca.
Essa discussão levou a Federação Internacional de Documentação (FID) a publicar,
em 1994, após grupos de discussão, o documento designado como Resolução de Tokyo que
destaca no setor da Informação: produção, distribuição, gestão, conservação e utilização da
informação; dessa forma ampliando o campo de atuação do profissional para além do ciclo
documentário atendendo às demandas da sociedade na ocasião. A Resolução inclui ainda
como desejáveis para a possibilidade de abertura do campo, algumas decisões como:

*prever e avaliar as mudanças que afetem o fornecimento de informações para fazer


frente aos desafios que se coloquem; *assegurar que os profissionais da informação
tomem parte ativamente nos estudos sobre aspectos futuros das atividades humanas;
*assegurar que o desenvolvimento e aplicação das tecnologias da informação
contribuam de modo eficaz para satisfazer as necessidades do usuário;
*assegurar que os profissionais da informação, por meio da educação continuada
mantenham e desenvolvam suas capacidades e atitudes para fazer frente às
mudanças.

Nesse sentido, a educação formal e continuada dos profissionais da informação passou


a ser questionada em relação ao desenvolvimento dos novos enfoques e perfis demandados. A
33

tônica seria a flexibilidade para acomodar os novos impactos. Entretanto, cabe refletir que,
com a formação dos cursos de Biblioteconomia generalista, torna-se bastante difícil para os
egressos desses cursos atuarem com desenvoltura nos ambientes. Assim, diante de tais
questionamentos e críticas, os docentes da área mostraram a urgência na adequação do ensino
às pressões do mercado de trabalho e da sociedade.
Nessas reflexões cabe assinalar que Tarapanoff (apud VALENTIM, 2000, p. 68)
defende a necessidade de reformulação dos currículos dos cursos de graduação em
Biblioteconomia, considerados defasados, rígidos e inadequados para o bibliotecário no
desempenho de novos papéis. De acordo com os estudos realizados por Tarapanoff (1999) as
soluções em alguns casos deveriam vir de forma pessoal, como um projeto individual de
suprir tais defasagens profissionais através de cursos de aprimoramento e especialização,
convívio com especialistas e o esforço em adquirir o conhecimento e o sentido do
aprendizado.
Apesar da presença de órgãos de representatividade da profissão, cursos formadores
reestruturados e um mercado de trabalho promissor, o desconhecimento sobre o campo de
atuação e as funções exercidas pelo profissional da informação no mercado de trabalho eram
perceptíveis na ocasião da formulação dessa proposta. Ainda vemos uma distorção da função
do bibliotecário, do papel que ele pode desempenhar que vai além da escola, das paredes da
instituição que abriga uma biblioteca. Acrescente-se a isso, as distorções estereotipadas
também pela mídia, as quais contribuíram para a entrada de outros profissionais no espaço da
biblioteca, além das razões e preocupações já citadas acima. De acordo com Valentim (2000),
um eficiente trabalho de marketing conjugado à estrutura normalizadora já atuante no Brasil,
é possível promover e fortalecer a imagem do profissional da informação. Assim várias ações
têm sido propostas para a consolidação da área e o desenvolvimento do profissional, dentre
elas:

- criar diferentes níveis de formação, atendendo as diferentes demandas sociais


existentes, antecipando-se à essas demandas;
- estimular a capacitação docente em nível de doutorado, obtendo assim um corpo
docente mais experiente no desenvolvimento de pesquisas e no “saber pensar”;
- implementar parcerias com a sociedade civil, visando uma atuação mais
sincronizada com a realidade;
- promover junto à sociedade a divulgação e o marketing da profissão;
- enviar sistematicamente ao governo brasileiro propostas de revisão que viabilizem
a Ciência da Informação.
34

O trabalho do bibliotecário é compreendido como o de um profissional da informação


que pode atuar em várias áreas, correspondendo à sua formação atual. Esta é composta por
um currículo multidisciplinar, e visa atender ao exigente mercado de trabalho e da sociedade
da informação (VALENTIM, 2000). Tarapanoff (apud VALENTIM 2000, p.111) define o
profissional da informação dessa forma:

... sua responsabilidade na alfabetização em computação e informação para as


massas. Dentre as várias habilidades levantadas como necessárias para o profissional
bibliotecário estão: inovador, criativo, líder, comunicador, negociador, especialista
em busca informacional, diante da explosão da informação e estar atento ao
processo de globalização.”

Le Coadic (apud OLIVEIRA, 2008) entende o profissional da informação como


aquele que “adquire informação registrada em qualquer suporte, organiza, descreve, indexa,
armazena, recupera e distribui essa informação em sua forma original ou como produto
elaborado a partir dela” (p. 99).
O repensar das diferentes frentes da Biblioteconomia e os aspectos que a envolvem, se
tornaram decisivos para o bom desempenho dos novos papéis do profissional, com a
percepção de que dentro da profissão, ainda falta uma maior socialização das práticas e dos
conhecimentos produzidos na área. Porém o estabelecimento de forte diálogo entre os espaços
de formação acadêmica e os de exercício profissional, e também entre a graduação e a pós-
graduação, são imprescindíveis para a fundamentação das suas práticas e do reconhecimento
profissional. A compreensão sobre as várias realidades da profissão em relação à países em
desenvolvimento como o Brasil, é um exercício ao profissional que pretende ser
multidisciplinar.
Para os setores da educação, em especial das bibliotecas públicas, o perfil do
profissional deve contemplar os conhecimentos específicos da profissão, por atender a um
público variado e com interesses diversos. Nesse contexto, o chamado perfil “tradicional”
pode se fazer necessário para contribuir, em conjunto com a escola, uma alfabetização voltada
para a leitura do mundo e o exercício da cidadania. Cabe reafirmar que, como profissionais,
os bibliotecários são elementos constituintes de transformação cultural dos sujeitos que
circulam pela escola. E a biblioteca escolar se destaca por estar inserida neste espaço de
aprendizagem e conhecimento, ainda que formal e passível de críticas, também abriga
projetos diferenciados, conjugados às várias disciplinas o que muito pode e contribuir para a
formação do seu público alvo, os alunos.
35

Podem ser destacados o perfil e as funções sociais da profissão em três grandes eixos,
com suas funções: preservação; educação; e de suporte ao estudo e à pesquisa. Valentim
(2000) entende que a preservação compreende todos os processos de organização do
conhecimento registrado para garantir o acesso; na educação, a existência do bibliotecário
como professor prepara o indivíduo para buscar a informação; e, por fim, a função do suporte
está relacionada com o fornecimento de informações especializadas. No contexto das
bibliotecas públicas escolares a responsabilidade social do bibliotecário é mais evidente
porque ele está comprometido com o aprendizado e o exercício da cidadania conforme
mencionado, acima, e corresponde ao seguinte perfil:

- comunicador efetivo;
- organizador da informação;
- mediador no processo de transferência da informação;
- pesquisador das necessidades de informação das comunidades;
- criador de estratégias específicas para o atendimento de necessidades especiais;
- educador no que corresponde à criação de hábitos de leitura, estudo e pesquisa, e
competências para a escrita;
- líder no sentido de impulsionar o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade;
- dinamizador de bibliotecas como espaço de informação e convivência,
especialmente como espaço social (SANTOS apud VALENTIM 2000, p. 107).

A transformação curricular que atingiu o profissional bibliotecário e definiu esse perfil


atual, como contextualizado acima, faz parte de um intenso trabalho de profissionais e
docentes da área biblioteconômica que colaboraram para pensar os cursos e transformá-los
como está hoje; para compreender esse percurso é importante ressaltar como estão
organizados o curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação: são oferecidos em
diferentes níveis (graduação, pós-graduação lato sensu/especialização e pós graduação stricto
sensu), sendo o título de bibliotecário conferido em cursos de graduação. Ao longo do século
passado, o curso de graduação seguiu eventos relativos ao processo de profissionalização e de
exigências em consonância com as necessidades da sociedade.
O ensino da área de Biblioteconomia no Brasil se iniciou por volta de 1915 no Rio de
Janeiro, na Biblioteca Nacional, e não possuía qualquer planejamento curricular, tampouco
visava atender necessidades que não fossem da instituição (FONSECA, 2007, p. 97).
Entretanto, no decorrer das décadas seguintes, novos cursos surgiram nos estados, exigindo
maior comprometimento e estudo por parte dos profissionais formados e dos que estavam em
processo de formação. A busca da prática teórica levantou questões que contribuíram para
explicar o porquê das práticas biblioteconômicas, fortalecendo e consolidando os cursos e
departamentos universitários com esses estudos.
36

As décadas de 1950 e 1960 foram marcantes para a área Biblioteconômica com o


surgimento de importantes entidades que consolidaram a profissão, tais como: FEBAB,
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e
Instituições, em 1959; em 1967 surgiu a ABEBD, Associação Brasileira de Ensino de
Biblioteconomia e Documentação, atual ABECIN, Associação Brasileira de Educação em
Ciência da Informação; em 1966, o CFB Conselho Federal de Biblioteconomia, e neste
mesmo ano também foi aprovado o primeiro código de ética da profissão.
Percebe-se que o surgimento de fortes entidades, aliados aos cursos de graduação, e
aos processos normalizadores da profissão, foram fundamentais para a consolidação da
profissão de bibliotecário ou profissional da informação, como é chamado o profissional de
biblioteconomia, porque reformulações e reestruturações foram compreendidas como
necessárias até os dias atuais, objetivando as demandas que se apresentam no âmbito
profissional e da sociedade.
A formação diferenciada na graduação e na pós-graduação com o surgimento de
pesquisas e construções teóricas aproximando-se outras áreas do conhecimento, levantou um
questionamento para os profissionais de biblioteconomia sobre a integração com diferentes
áreas. Isto levou a mudanças na denominação, passando a incluir o Bibliotecário na área da
Ciência da Informação, tornando-o um profissional da informação. Assim como esta, outras
áreas do conhecimento foram sendo incorporadas e essa mudança chama a atenção para a
tendência da entrada de profissionais de áreas afins em atividades executadas
tradicionalmente por bibliotecários.
Pode-se refletir que ao mesmo tempo em que essa transformação foi positiva para dar
mais dinamismo à área, trouxe certa preocupação para os profissionais especialmente para
aqueles que não estavam acompanhando essa reestruturação. Em outras palavras, a
consolidação da área deslocou-se de sua especificidade com conotações técnicas para
domínios epistemológicos que abrigassem conhecimentos de outras áreas, ainda que
correlatos.
Para compreender a função da biblioteca e do bibliotecário na sociedade da
informação é preciso considerar também as funções da instituição e do profissional. A
primeira função da biblioteca é a preservação dos registros de informação, que é a mola
propulsora para a sua criação como instituição. A segunda função é a organização da
informação: para isso foram elaboradas e aperfeiçoadas ao longo do tempo técnicas de
classificação, catalogação e indexação. Por fim, a terceira é a disseminação da informação,
desempenhada através da criação e oferta de vários serviços e produtos de informação.
37

Nesse contexto, o bibliotecário tem a tarefa de gerenciar todos os processos


decorrentes dessas funções, também como parte de suas atribuições está a formação do
acervo, desta forma, a determinação do que serve ou não para fazer parte do universo
disponível para leitura, pesquisa e consulta em determinada comunidade sendo fundamental o
estudo de usuário para que esse profissional conheça o ambiente que está atendendo; esta é
mais uma atribuição do bibliotecário.
As discussões levantadas em torno da formação, nomenclatura e da profissionalização
do bibliotecário geraram novas formas de pensar e atuar do profissional da informação que
diante de tantos desafios perceberam a necessidade de reinventarem-se com atualizações,
formação continuada, integração multidisciplinar ou seja, estar inserido com parcerias em
outras áreas que passaram atuar no ambiente da informação ou que seriam formas
agregadoras para o profissional e o seu campo de atuação. As alterações que se depararam os
profissionais da informação passaram também a exigir um alto grau de conhecimento
especializado não só aquele generalizado que todo bibliotecário tem, ou deveria ter; as
habilidades no uso das tecnologias para organizar, processar e agilizar as técnicas
biblioteconômicas a fim de disseminar as informações, habilitando-o em variados tipos de
suportes.
Dessa forma surgiu o termo “Profissional da informação” na Sociedade da Informação
ou Sociedade do conhecimento, que envolve o trabalho com documento ou informação, em
vários contextos e suportes. Teóricos, como Le Coadic (1996), apresentam uma visão do
profissional da informação como aquele que “adquire informação registrada em qualquer
suporte, organiza, descreve, indexa, armazena, recupera e distribui essa informação em sua
forma original ou como produtos elaborados a partir dela” (p. 106).
Ponjuan (apud OLIVEIRA 2008, p. 100) entende o profissional da informação como
aquele que está ligado a qualquer tempo e intensivamente ao “ciclo de vida da informação”.
Para Guinchat e Menou (apud OLIVEIRA 2008, p.100), novas denominações como “gestor
da informação, indexador e outros”, foram surgindo com a entrada de diferentes profissionais,
porém as profissões tradicionais como Bibliotecário, Museólogo e Arquivista compõem
originalmente o que se chama de “Profissional da Informação”. Para estes teóricos os
profissionais da informação incluem “subcategorias únicas” com características comuns.
Segundo Oliveira (2008):
- trata-se de uma profissão de serviço;
- trata-se de uma profissão de comunicação e de contato onde as relações pessoais
com os usuários e produtores de informação são determinantes para a eficácia do
38

serviço, o especialista deve ser capaz de compreender os outros e participar da vida


coletiva;
- é um trabalho de equipe;
- o especialista precisa tomar decisões em função de numerosos critérios, e isso
exige um bom julgamento;
- trata-se de uma profissão que exige curiosidade em relação às pessoas, instituições,
fatos, ideias e técnicas;
- o especialista deve ter o espírito aberto, adaptável e dominar a técnica uma vez que
é uma profissão em constante evolução, a rotina e a passividade são inimigas da
profissão.

Pode-se perceber que a constante evolução da sociedade e suas demandas exigem, de


qualquer profissional, atualização constante, capacitação e boa formação; porém para o
profissional da informação que está diretamente ligado à dinâmica do ambiente informacional
é fundamental estar atento à tais aspectos, além de ter senso crítico apurado, ser curioso,
investigativo, ousado e ter um perfil de liderança. São características determinantes para
compor o perfil do profissional da informação.
Importante ressaltar que a redefinição do profissional da informação, referente ao
bibliotecário, foi desenhada em várias partes do mundo como ficou claro pelas diferentes
percepções dos teóricos destacadas neste trabalho. O Bureau of Labor Statistics – U.S.
Department of Labor definiu no Occupational Outlook Handbook (2004) o bibliotecário
como profissional da informação a partir do “desenvolvimento de atividades não só de cunho
técnico mas também administrativo e gerencial, passando a coordenar equipes de funcionários
e a desenvolver e dirigir programas e sistemas de informação, assegurando que a informação
seja organizada de maneira que atenda às necessidades dos usuários” (OLIVEIRA, 2008, p.
100).
No Brasil, Valentim (2000, p. 141) divide o mercado de trabalho em três grandes
grupos:

- mercado informacional tradicional - que se compõe de bibliotecas públicas,


universitárias, escolares, especializadas, centros culturais e arquivos;
- mercado informacional existente e não-ocupado - que inclui editoras, livrarias,
empresas privadas, provedores de internet, bancos e bases de dados;
- mercado informacional de tendências - que compreende a atuação em centros de
informação/documentação em empresas privadas, bancos e bases de dados
eletrônicos e digitais, portais de conteúdo e portais e acesso na rede global (internet)
e em redes institucionais internas (intranet).

Diante dessas informações fica evidente que o bibliotecário ou profissional da


informação tem um espaço de trabalho considerável e variado na sociedade de informação,
entretanto como já foi dito ao longo desse trabalho, é ímpar que o profissional atualize seus
39

conhecimentos, interaja com seus pares e esteja atento às transformações da sociedade. Atuar
nesse contexto exige do profissional uma postura proativa, criativa e de disposição constante
para enfrentar os desafios diários.
Interagir com outros profissionais em algumas situações se torna necessário (por
diversas razões) ainda que complexo, especialmente quando usufruem do mesmo espaço de
trabalho, como por exemplo, o professor readaptado na biblioteca escolar. Este exerce a
função na biblioteca, em situações de hierarquias diferenciadas, inversas as quais o professor
está acostumado e foi preparado para exercer na sala de aula.
Apesar de os conhecimentos que o bibliotecário agrega no curso de graduação e em
outras situações acadêmicas, fatores como esses (por exemplo: o docente que tem seu ponto
de referência na sala de aula e por razões diversas precisa sair) se tornam um desafio para
ambos os profissionais, porque não implica a formação tradicional e acadêmica, mas a
experiência, a sensibilidade, o bom senso e a relação social que é construída somente com o
exercício da profissão e a atuação junto aos seus pares, e a adaptação às mudanças e às
exigências institucionais.

2.6 Professor readaptado. Atribuições

Para o trabalho do professor readaptado, não há atribuições formais. O


desenvolvimento é feito de acordo com as suas limitações de readaptação, e se houver um
profissional bibliotecário no espaço, este pode sugerir algumas atividades. A coordenação de
promoção da leitura que coordena as bibliotecas públicas escolares da rede de educação
pública de Niterói, também pode sugerir atividades de acordo com a demanda da biblioteca e
da escola. Na rede de educação de Niterói, não há leis ou regimentos que normatizem a
função do professor readaptado.
40

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Como em toda pesquisa no campo das Ciências Sociais, pesquisas em Educação


envolvem objetos que precisam ser compreendidos sem que se deixe de levar em conta a
complexidade da realidade e dos sujeitos envolvidos, como no caso da pesquisa aqui
apresentada, em que os sujeitos são professores readaptados, bibliotecários e gestores.
Segundo Ghedin e Franco (2006), “nas pesquisas em Educação, o conhecimento do objeto
investigado nos envolve em sua complexidade de tal modo que se constrói uma identificação
com o que somos, isto é, nossa identidade pessoal acaba por se identificar com o real” (p. 9).
Em relação à natureza das pesquisas em Ciências Sociais, Minayo (1994) afirma que
abordagens metodológicas apoiadas em procedimentos quantitativos não se opõem aos
procedimentos qualitativos, “ao contrário, se complementam” (p. 22), entretanto a opção
desta pesquisa se deu no sentido da abordagem qualitativa por considerarmos a mais
adequada para desvelar a subjetividade dos significados construídos em situações onde as
relações humanas são por demais relevantes.

A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais


que trabalham com estatísticas apreendem dos fenômenos apenas a região ‘visível,
ecológica, morfológica e concreta’, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo
dos significados das ações, e relações humanas, um lado não perceptível e não
captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, 1994, p. 22).

Ainda de acordo com a autora,

Os autores que seguem tal corrente (qualitativa) não se preocupam em quantificar,


mas, sim, em compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua
vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a
vivência, com a experiência, com a cotidianidade e também com a compreensão das
estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada (MINAYO,
1994, p. 24).

3.1 Contexto da pesquisa

No município de Niterói, assim como no estado do Rio de Janeiro ou em outros


estados brasileiros, é comum a distribuição de professores em situação de readaptação em
bibliotecas públicas. No caso de Niterói essa alocação acontece nas bibliotecas públicas
escolares ou nas chamadas bibliotecas públicas populares, dedicados ao atendimento ao
público em geral.
41

Como bibliotecária de uma biblioteca pública escolar do município de Niterói,


desenvolvo as minhas atividades em estreita relação com outros profissionais da área que se
encontram distribuídos pela rede de bibliotecas públicas daquele município. É comum, por
exemplo, a minha participação em seminários, cursos e outras atividades obrigatórias que me
colocam em situação de convivência que me possibilitam trocar experiências que são
vivenciadas em outros ambientes de trabalho por outras colegas.
Esta aproximação com o campo e com os colegas foi determinante para que eu
identificasse a problemática que envolve a situação de professores readaptados em bibliotecas
públicas. Assim, a minha relação com os sujeitos e com o objeto de que nos falam Ghedin e
Franco (2006) é flagrante, e das inúmeras reflexões a respeito do tema foi construída a
seguinte pergunta de pesquisa a ser respondida: como se configura a situação de
professores readaptados alocados em bibliotecas públicas?
Como o trabalho desenvolvido envolveu relações entre professores readaptados,
bibliotecários e gestores desses diferentes espaços, todos foram considerados potenciais
sujeitos da pesquisa, desde que tivessem vivenciado ou vivenciando experiências com esses
professores assim como os próprios professores que passaram ou estivessem passando por
esta experiência – alocados em algum tipo de biblioteca pública.

3.2 Instrumentos para obtenção dos dados

Para a construção do conjunto de dados de pesquisa foram utilizados diferentes


instrumentos e procedimentos.
No ato da primeira abordagem aos sujeitos foram realizados explicações e
esclarecimentos cuidadosos e detalhados sobre a pesquisa a ser realizada. Uma vez
esclarecidos, cada sujeito convidado, após ter aceitado participar, assinou um termo de
consentimento livre e esclarecido (Anexo I), explicando as condições de participação, bem
como explicitando a garantia de preservação de sua identidade. Além disso, cada sujeito
participante preencheu um primeiro questionário cujo objetivo foi auxiliar na sua
caracterização inicial. Como os sujeitos ocupam diferentes posições nos contextos onde a
pesquisa ocorreu, foram elaborados questionários específicos para cada caso (Apêndices I, II
e III).
Os dados de pesquisa foram obtidos a partir de entrevistas. De acordo com Szymanski
(2008), há um aspecto psicológico a ser considerado em toda entrevista, uma vez que toda ela
42

se dá a partir de uma interação face a face entre entrevistador e entrevistado, que se


influenciam mutuamente durante o processo.

a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em


que estão em jogo percepções do outro e de si, expectativa, sentimentos, preconceito
e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. Quem entrevista
tem informações e procura outras, assim como aquele que é entrevistado processa
um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador, organizando
suas respostas para aquela situação. A intencionalidade do pesquisador vai além da
mera busca de informações: pretende criar uma situação de confiabilidade para que
o entrevistado se abra. Deseja instaurar credibilidade e quer que o interlocutor
colabora, trazendo dados relevantes para seu trabalho (p. 12).

De acordo com Neto (apud MINAYO, 2004), entrevistas podem ser classificadas, de
acordo com o seu grau de estruturação, em estruturadas, não estruturadas ou semiestruturadas.
A entrevista do tipo não estruturada é aquela menos dirigida, mais aberta, onde “o
informante aborda livremente o tema proposto” (p. 58). A entrevista estruturada “pressupõe
perguntas devidamente formuladas” (p. 58). De acordo com o autor, há ainda a possibilidade
de articular as duas formas, em uma terceira modalidade denominada “semiestruturada” (p.
58).
Neste trabalho, as entrevistas foram realizadas a partir de roteiros previamente
organizados e se classificam como do tipo semiestruturada. Com os roteiros, foi possível
tornar os depoimentos mais objetivos e guiá-los em função do que era desejado, sem tirar a
liberdade do depoente em relação à sua exposição sobre cada uma das perguntas formuladas.
Foram elaborados diferentes roteiros, considerando o perfil do sujeito dentro da pesquisa:
professor readaptado, bibliotecário ou gestor (Apêndices VI, V e VI).
Das nove entrevistas, oito foram gravadas em áudio, transcritas integralmente e
apresentadas aos depoentes para que os mesmos tomassem conhecimento do conteúdo da
transcrição e dessem autorização final para a sua utilização. Uma das entrevistadas não
permitiu a gravação, devido à posição de gestora que ocupa na Secretaria Municipal de
Educação de Niterói. Neste caso específico, os dados foram obtidos das anotações realizadas
durante a entrevista.
Os diferentes instrumentos utilizados, como foi dito antes, possibilitaram a construção
de um conjunto de dados que subsidiaram a elaboração das categorias utilizadas na análise
dos dados.
A fim de esclarecimento, para em alguns casos em que foram utilizados o termo
entrevista e em outros, questionário. O questionário foi necessário para obter as informações
43

pessoais do entrevistado como nome (fictício na transcrição para a pesquisa), idade, tempo de
profissão, instituição que trabalha ou trabalhou, e no caso dos bibliotecários, o tempo de
experiência com um professor readaptado; para os professores readaptados seria o tempo
nessa condição. O termo entrevista é para as perguntas que foram utilizadas com a finalidade
de analisar os dados.

3.3 Análise categorial

Uma das maneiras de realizar a análise do que é dito, ou do que é escrito, como no
caso dos dados produzidos nesta pesquisa, é por meio da chamada “análise de conteúdo”
(BARDIN, 2006).
De acordo com a autora, o termo refere-se a

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”
(p. 37).

Sendo a análise de conteúdo um conjunto de técnicas, não há porque encará-la como


única. Nesse sentido, a autora assevera que o melhor seria falar em “análises de conteúdo”
(BARDIN, 2006, p. 26).
Uma forma de se organizar para a realização das análises é por meio da técnica de
categorização, quando se procede à análise categorial.

A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um


conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero
(analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou
classes, que reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento
esse efectuado em razão dos caracteres comuns desses elementos (BARDIN, 2006,
p. 111).

Bardin (2006) recomenda que as categorias terminais devem ser provenientes “do
reagrupamento progressivo de categorias com generalidade mais fraca” (p. 113). Um conjunto
de categorias boas deve possuir as seguintes qualidades:

a excelência mútua: cada elemento não pode existir em mais de uma divisão.
a homogeneidade: um único princípio de classificação deve governar a sua
organização.
44

a pertinência: o sistema de categorias deve refletir as intenções da investigação, as


questões do analista e/ou corresponder às características das mensagens.
a objetividade e a fidelidade: a organização da análise deve refletir claramente as
variáveis que trata, assim como deve precisar os índices que determinam a entrada
de um elemento numa categoria.
a produtividade: um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultados férteis:
férteis em índices de inferências, em hipóteses novas e em dados exatos (p. 113-
114).

3.4 Categorias de análise

Categorias podem ser propostas a priori, geralmente inspiradas na literatura que


fundamenta a pesquisa, ou podem emergir do conjunto de dados levantados. No caso aqui
presente, as categorias emergiram dos dados. O referencial teórico foi construído de acordo
com o desenvolvimento das leituras, da pesquisa e das análises dos dados.
Considerando a abordagem proposta por Bardin (2006), foram
identificadas/elaboradas três categorias terminais, a saber: precariedade da estrutura escolar,
precariedade da profissão docente e o papel da biblioteca na relação com o professor
readaptado.
A primeira se refere às questões que envolvem a precariedade da infraestrutura da
escola, precariedade financeira da escola e a remuneração do professor. A segunda se
refere às questões mais burocráticas institucionais, ou não, que regulam o trabalho docente,
tais como as exigências em relação ao número de turmas, a carga horária e ao currículo
obrigatório. A terceira categoria envolve a relação do professor readaptado com a
biblioteca. Assim, a análise realizada nesta pesquisa esteve centrada nestas sete categorias de
menor poder de generalização (BARDIN, 2006).
45

4 ANÁLISES DOS DADOS

Este capítulo será explorado inicialmente a partir da caracterização dos sujeitos que
participaram da pesquisa e, em seguida, serão apresentadas as análises das entrevistas.

4.1 Apresentação dos sujeitos da pesquisa

Inicialmente será feita uma breve apresentação dos sujeitos que concordaram em
participar da pesquisa voluntariamente, colaborando com o preenchimento de questionários e
por meio de entrevistas presenciais ou respondidas por e-mail, e conversas.
O colaborador Paulo foi entrevistado presencialmente e tem entre 30 e 40 anos.
Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública popular e exerce a função de
bibliotecário há quatro anos. Além da sua formação como bibliotecário trabalhou como
guarda municipal de Niterói antes de exercer sua atual profissão.
A colaboradora Márcia foi entrevistada presencialmente e tem entre 50 e 60 anos.
Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública escolar, e exerce a função de
bibliotecária há trinta anos. É formada em Licenciatura em Língua Portuguesa.
A colaboradora Ana foi entrevistada presencialmente e tem entre 50 e 60 anos.
Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública escolar, e exerce a função de
professora há trinta anos. É formada em Licenciatura em Artes, mas possui outras formações
em Letras e estudou Teatro. Exerceu a profissão de atriz e encontra-se na condição de
readaptada há quatro anos.
A colaboradora Deise foi entrevistada presencialmente e tem entre 50 e 60 anos.
Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública popular, e exerce a função de
professora há vinte e cinco anos. É formada em Licenciatura em Letras e encontra-se na
condição de readaptada há pouco mais de um ano.
A colaboradora Olívia respondeu ao roteiro da entrevista por e-mail e tem entre 60 e
70 anos. Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública escolar. Além de
formada em Letras (Português – Literatura) possui experiência como revisora crítica e
preparadora de textos, tendo participado do processo de confecção e da edição de livro
publicado.
A colaboradora Inês respondeu ao roteiro da entrevista por e-mail e tem entre 40 e 50
anos. Atualmente encontra-se trabalhando em uma biblioteca pública escolar. É formada em
Letras (Português – Literatura).
46

A colaboradora Laura respondeu ao roteiro da entrevista por e-mail, não informou a


idade e nem a sua área de formação. Atualmente encontra-se na condição de gestora,
trabalhando na Fundação Municipal de Educação – FME de Niterói, como coordenadora na
Coordenação de Promoção da Leitura, órgão que visa promover ações que incentivem o
jovem a ler.
A colaboradora Júlia adotou uma postura mais cuidadosa em função da sua posição
como gestora e ao cargo que ocupa, mais especificamente como coordenadora do Núcleo de
Assistência à Saúde do Servidor – NASS de Niterói. Apesar de ter respondido à entrevista
presencialmente, não autorizou qualquer tipo de gravação da conversa. Não informou a idade
e nem a sua área de formação. Os dados provenientes da sua entrevista e aqui utilizados são
narrativas de momentos durante a conversa.

4.2 Análises das entrevistas

A seguir são apresentadas as reflexões e trechos das falas dos sujeitos colaboradores
que se derem nas entrevistas realizadas.

4.2.1 Entrevista de Paulo

O bibliotecário Paulo procura articular aspectos institucionais que envolvam a


atividade do bibliotecário e a característica da biblioteca com outras atividades que considera
realizáveis naquele espaço, mostrando uma visão mais ampla e otimista da biblioteca, desde
que seja “um espaço pensado, com investimentos”. Sobre isso, Paulo afirma que

cada biblioteca tem um tipo de serviço, de acordo com a sua comunidade e


conforme a sua intencionalidade, sua missão...” Por força de lei, o bibliotecário
deve organizar o funcionamento da biblioteca e, se possível, promover ações
culturais.

Sobre a relação do professor readaptado com o espaço da biblioteca, Paulo apresenta


argumentos centrados na diferença que existe entre as atividades características de um
profissional docente e as de um bibliotecário para apontar elementos resultantes desse conflito
que precisa ser administrado, segundo ele.

Geralmente o professor, que já tem as suas atribuições definidas, que é dar aulas,
quando ele está na biblioteca ele não reconhece essas tarefas como dele e fica só
47

nas atividades de promoção da leitura. Eles não se relacionam com o público, uma
habilidade que é fundamental.

No que diz respeito à relação pessoal com professores readaptados, o depoente


apresenta, mais uma vez, um olhar generoso, sem deixar de reconhecer a importância de se
garantir o funcionamento da biblioteca, embora a reconheça como local de possível
acolhimento desses profissionais que apresentam limitações por problemas de saúde.

Na vivência da biblioteca pública... eu tive um contato maior e mais duradouro com


os readaptados. Muitos acrescentam muito porque têm essa vocação da questão
literária, gostam de contar história [...]
[...] uma coisa da biblioteca pública né... tem que gostar de conversar com as
pessoas... eu acredito que pode ter readaptados nas bibliotecas, porém tem que ser
garantido o seu funcionamento.
O primeiro ponto é saber que o readaptado tem limites, se ele não está na sua
função de origem é porque algo aconteceu. Então você tem que reconhecer essa
limitação e tentar buscar em outras ações essa participação, mas o local tem que
ter garantido o seu funcionamento e as pessoas virem pra acrescentar... há pessoas
que vão poder ajudar imensamente e outras que vão precisar mais ser ajudadas do
que ajudar... você não pode esperar que todos os readaptados vão dar o mesmo
resultado ... senão você vai fazer uma carga em cima dessas pessoas e você não vai
ajudá-la nem a produzir algo que elas consigam e você vai piorar os quadros deles
[…].
[...] a biblioteca pode acolher... oferecer uma troca maior para o readaptado do
que a própria sala de aula... na biblioteca, de repente o professor se descobre... a
biblioteca pode ser esse espaço... desde que não se considere isso uma política
pública para substituir os atores recorrentes que se tem que ter.

Como bibliotecário em uma biblioteca pública popular, Paulo tem a oportunidade de


interagir com um número grande de professores readaptados. Sua visão sobre o papel da
biblioteca parece ser ampla e, nesse sentido, ganha amplitude também o papel do
bibliotecário. Apesar disso, não deixa de enfatizar que a biblioteca é um lugar que demanda
organização e que deve cumprir o seu papel de biblioteca.
Dono de uma visão bastante humanista, e aparentemente sensível à causa dos
professores readaptados, entende a biblioteca como espaço de acolhimento para receber esses
profissionais, e mais do que isso, defende que a biblioteca pode ser um local de redescoberta
para esses professores, uma vez que oferece uma diversidade maior de opções de atividades
48

para os readaptados em relação à rotina das salas de aula. Nesse sentido, o depoente parece
enxergar a biblioteca como espaço de terapia possível.
De acordo com Paulo, o principal cuidado a ser tomado é reconhecer as limitações
dessas pessoas e procurar acolhê-las levando este fato em conta, entretanto, pondera
reconhecendo essa possibilidade desde que isso não ganhe status de política pública.

4.2.2 Entrevista de Márcia

A bibliotecária Márcia estende suas considerações sobre precariedade da estrutura


escolar à biblioteca procurando se apoiar naquilo que acredita ser o papel do bibliotecário e na
precariedade que envolve não só a escola como a sua própria profissão. De acordo com a
depoente,

Ser bibliotecário é enfrentar uma eterna incompreensão, porque em geral acham


que você não faz falta. Acham que é não só desnecessário como inútil recuperar a
informação... porque os computadores fazem isso. Não fazem. Faço uma
comparação. Você faz uma operação bancária e consegue todas as informações do
banco... menos dinheiro. Mesma coisa o livro ou outros documentos. Você vai
disponibilizar todas as informações, mas se a pessoa precisa do documento vai
aonde? À biblioteca.

A respeito da relação do professor readaptado com a biblioteca, a bibliotecária Márcia


encara como um “desperdício de capital humano”, ao considerar que o professor é formado
para desenvolver atividades adequadas à sua função. Ao mesmo tempo, aponta o aspecto do
conflito entre a rotina de horários característica do trabalho do professor, com horários menos
definidos, e a rotina da biblioteca, que demanda horários definidos. Assim, Márcia procura
trazer em sua fala aspectos que estão relacionados a possíveis incompatibilidades entre a
formação, a atividade docente e o trabalho que se desenvolve na biblioteca, sem deixar de
levar em conta aspectos da infraestrutura por conta da falta de recurso. De acordo com a
depoente, a presença dos readaptados compromete a própria identidade do espaço biblioteca.
Em seu depoimento, ela declarou:

trabalhei com pessoas nessa situação... A biblioteca exige que seja compreendida
como como uma instituição dentro de outra; que tem regras próprias estabelecidas
fora do ambiente escolar. Creio que demora a se firmar uma identidade ou um
perfil de biblioteca, ou seja, ela deve atender um horário fixo, ter um corpo de
49

funcionários por menor que seja, mas presente. Porém recursos são escassos e aí
um professor vai colar etiquetas, cobrar livros, arrumar estante, etc.

Sobre a sua relação pessoal com o professor readaptado, Márcia aponta mais uma vez
a questão da incompatibilidade nos horários como elemento importante e causador de
instabilidade, evocando a própria legislação para apontar o quanto a presença do professor
nessas condições pode comprometer o trabalho. Ela declara:

Não é muito estável. Em geral tem essa questão com que me bato. A biblioteca deve
ter horário fixo para as pessoas saberem que está aberta aquele horário e podem
contar com ela... Aí que não vai ter nunca um funcionamento regular. Não tem essa
pessoa para permitir uma regularidade e é difícil que a identidade da biblioteca se
firme desse modo. Isso é uma brecha para conflitos, já que as pessoas entendem que
farão seu horário de acordo com suas necessidades, mas não de acordo com as
necessidades do leitorado, coisa que é uma lei pública. Então a biblioteca vira algo
‘acessório’ e não fundamental para a escola.

Na condição de bibliotecária de uma biblioteca pública escolar, que vivencia a


experiência com professores readaptados, Márcia mostra uma inquietação em relação à
presença do professor readaptado na biblioteca escolar e apoia os seus argumentos iniciais na
dura realidade de reconhecida precariedade em que vivem as escolas públicas brasileiras. Cita
o bibliotecário como um incompreendido e a biblioteca como um local que parece não fazer
falta aos olhos dos outros.
Considera que a alocação desses professores nas bibliotecas pode ser um
“desperdício”, que traz incompatibilidades entre a forma como se dá a atividade docente e a
forma de funcionamento das bibliotecas. De acordo com a depoente, isso compromete a
identidade do espaço biblioteca escolar além de produzir conflitos e instabilidades entre
bibliotecários e readaptados.

4.2.3 Entrevista de Ana

A professora Ana, readaptada em uma biblioteca pública escolar, leciona a disciplina


Artes e declara gostar de dar aulas e dos estudantes, mas que está realizada na sala de leitura.
Sua fala traz elementos que esclarecem porque se encontra na condição de readaptada na sala
de leitura.
50

Gosto de dar aula, é uma coisa que nasceu comigo... não sei ficar sem ter contato
com aluno... me jogaram na sala de leitura e eu estou adorando porque estou
podendo usar o meu potencial de professora de literatura, que eu fui, com o teatro...
eu estou querendo formar leitores... eu tô me realizando.
Cada professor de Artes é uma aula por semana, então eu numa matrícula tenho
doze turmas, dou uma aula em cada turma. Se eu ficar trabalhando duas vezes é
vinte alunos... é muito aluno, então a minha voz cansou... eu ficava rouca, já na
terça-feira não conseguia mais falar... a fono falou que as minhas cordas vocais
estão cansadas.
Eu adorei a sala de leitura porque a gente não tem que dar conteúdo. Eram muitas
aulas que eu dava... eu vi que era um lugar que eu... eu ajudo os professores
também.

A respeito das ações do professor, Ana procura destacar a importância do trabalho


docente voltado à uma perspectiva crítica da Educação. Ao evocar Paulo Freire, a professora
reforça a importância do trabalho de conscientização dos estudantes. Além disso se coloca
frontalmente contra o novo currículo proposto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular)
onde foi deixado de lado o ensino de Artes, componente importante para a formação crítica
do cidadão segundo a depoente.

O professor deve ensinar a ler, matemática, mas eu acho que passar conteúdo é o
menos importante, eu acho que Paulo Freire tinha razão, primeiro a gente precisa
de ensinar a pensar... se o aluno souber pensar, ele vai saber ler e escrever mas não
de forma automática... com pensamentos, com questionamentos... aí ele vai ver o
mundo criticamente.
É a formação de ajudar a pensar... é o que ensina a pensar, o que ensina a criar, a
construir um mundo mais justo. Eu acredito que a Educação possa mudar as coisas,
apesar que eu tenho tudo o que eu já passei nesse país em relação à opressão, à
censura, a tudo, mas eu vou morrer acreditando. Eu acho que se a política pública
fizer da escola um lugar onde o aluno possa pensar e criar... tiraram o estudo de
Artes agora da escola. A Arte é onde o aluno pensa, cria, faz coisas críticas... por
isso eu acho que, cada vez mais nós precisamos de professores... esse negócio de
dizer que o computador vai dominar... nós precisamos de gente... de educadores que
formem consciências […] desconstroem coisas prontas que a gente chega até a
acreditar. Tô vendo uma propaganda na televisão... agronegócio... uma pessoa que
não sabe pensa que a coisa melhor do mundo... eu acho que a gente na escola tem
que fazer, desconstruir e mostrar um caminho onde a gente possa pensar na
natureza junto com o homem e o progresso.
51

Sobre o papel da biblioteca na relação com o professor readaptado, a depoente não


conta com um bibliotecário com quem possa interagir, ou seja, trabalha sozinha na sala de
leitura. Essa condição a deixa livre para implementar atividades apoiadas em saberes
experienciais ou disciplinares (TARDIF, 2002), construídos ao longo da sua vida profissional
ou provenientes de outras formações como professora de Letras, dos cursos de Teatro e do
seu trabalho como atriz. Assim, afirma que na biblioteca “a gente pode tudo”, principalmente
porque como trabalha sozinha, se declara “a dona” do espaço. Apoiada no exemplo da
Biblioteca de Medellín, ela justifica a sua opinião sobre o potencial de transformação das
bibliotecas.

Eu não tenho bibliotecário na biblioteca, eu sou a dona... e eu acho que na


biblioteca a gente pode tudo. Eles leem, escolhem que personagem querem fazer,
dramatizam... eles querem fazer até cenário.
Eu tô lendo muito sobre a Biblioteca de Medellín porque as bibliotecas de Medellín
não são só livros... Medellín era um lugar onde era ponto de venda de drogas e hoje
a biblioteca consegue transformar isso. Eu até conversei com uma professora de lá,
da Colômbia, e ela falou que o Governo inicialmente começou a distribuir livros...
deixava livros em todos os bancos na rua, nos ônibus e até que foi um processo pra
chegar nessa biblioteca. Eu acho que a biblioteca pode tudo. Eu acho que o Dr.
Google está fazendo a biblioteca parecer que não tem importância. Eu tô fazendo
na biblioteca aqui isso: eles pegam livros, a gente dramatiza, fazem vídeos. Eu acho
que a gente pode fazer mil coisas, mas não do jeito que está... a maioria das
bibliotecas fechadas. Eu acho que na biblioteca de Medellín havia aqueles lugares
onde eles podiam discutir... quando você discute você forma grupos que vai pra rua
reivindicar... isso tudo pode ser feito na biblioteca.

Problemas nas cordas vocais, como os apresentados pela professora Ana, podem ser
provocados pelo excesso de turmas, de alunos e pelas más condições de acústica das salas de
aula. São aspectos relacionados com a precariedade da infraestrutura da escola e com a
burocracia que impõem aos professores essas condições de trabalho, temas já discutidos por
Ball (2002) ao falar da “cultura da performatividade”.
Embora declare gostar de dar aulas, a professora afirma estar se realizando na
biblioteca, onde tem a oportunidade de implementar uma série de atividades que fogem à
lógica do currículo vigente inspirado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e
centrado em conteúdo. Nesse sentido, para a professora colaboradora da pesquisa, o espaço da
biblioteca tem funcionado como local onde ela pode inovar a partir de saberes (TARDIF,
52

2002) experienciais construídos ao longo da vida ou de saberes adquiridos nas diferentes


formações em Artes, Letras e Teatro.
Sobre a sua visão da Educação, apoiada em Paulo Freire, a professora apresenta uma
visão da Educação, da ação docente e do currículo voltados à formação crítica do estudante.

4.2.4 Entrevista de Deise

A professora Deise encontra-se readaptada em uma biblioteca pública popular onde se


encontra o nosso depoente Paulo na condição de bibliotecário. Ela descreve como dolorosa a
trajetória até chegar à condição de readaptada, destacando sua dificuldade ao buscar tratar o
seu problema institucionalmente junto a Secretaria Municipal de Educação de Niterói.

Em 2016... eu fui despedir das turmas (no final do ano) e comecei a me emocionar,
a chorar. Eu não sou assim... aí, no início do ano eu estava assim agoniada, não
queria voltar pra sala mais. Aí eu chorava à toa... aí eu falei, caramba eu não estou
aguentando ficar em sala de aula mais. Aí a diretora falou: você tem que pedir uma
readaptação então... eu achei que era cansaço físico... mas depois eu vi que ficava
mexida. Aí falei: tenho que fazer alguma coisa. Aí eu fui lá na Prefeitura... eu
queria trabalhar na biblioteca... porque eu ia ficar mais tranquila... eu não queria o
compromisso de turma.

Ao ser orientada na Secretaria de Educação a procurar uma outra escola, o cenário de


incompreensão, segundo ela, acabou piorando o seu estado emocional. Assim, a partir de um
quadro de abalo emocional e rejeição à sala de aula, associado com o problema da artrose,
Deise acabou chegando como readaptada à biblioteca pública popular.

Aí eu fui parar numa escola lá na Grota, a pior escola que já fui na minha vida... e
lá as escadas são assim (referindo-se à inclinação)... fora o tiroteio que lá tem todos
os dias na hora do almoço ... a gente come no chão, abaixado. Eu tenho problema
de coluna, e aí, com o emocional ferrado, as dores apareceram ... aí a diretora da
escola (da segunda escola) me devolveu... porque realmente eu não estava
aguentando as crianças... as crianças faziam o que queriam dentro de sala, eu
sozinha não conseguia. Aí fui pro médico e o médico falou que eu estava com
artrose... e me deu dois anos de readaptação e fui pra biblioteca pública popular.
Estou amando ficar lá! Agora, com 65 anos, você sabe que eu vou voltar para a
sala de aula?
53

De acordo com a depoente, a sua chegada à biblioteca pode ser considerada como um
momento de acolhimento. Em sua fala ganha destaque o papel do bibliotecário, por ser um
“super ser humano” e por deixá-la à vontade em relação à escolha das atividades a serem
executadas na biblioteca. Um contexto que lhe ofereceu oportunidade, inclusive, para que
Deise pudesse atuar mobilizando saberes da sua experiência ou da sua formação, como
aqueles que aponta Tardif (2002).

Quando cheguei na biblioteca o bibliotecário perguntou o que eu queria fazer e eu


disse que queria contar histórias... aí ele disse então vamos contar histórias...
depois o bibliotecário perguntou o que eu gostava mais de fazer e eu fui dar aulas
de Inglês “pra” crianças pequenininhas... a gente ajuda as crianças pra fazer
trabalhos ... trabalho com idosos... a gente até gostaria de fazer mais coisas, mas
não temos verba pra comprar mais livros. A relação com o bibliotecário é
maravilhosa ... por ele ser um ‘super ser humano’... ele é ótimo... deixa a gente bem
à vontade... ele dá sugestões, mas também te deixa livre.

Ainda sobre a sua relação com a biblioteca, a professora Deise declara a sua simpatia
pelo local por considerá-lo uma possibilidade de ficar longe das salas de aula que lhe trazem
sofrimento, embora declare que esse estado de instabilidade emocional não está associado aos
alunos, de quem declara sentir falta.

Eu gosto (da biblioteca) porque eu não tenho o compromisso de sala de aula, mas
eu sinto falta dos alunos. Eu sinto falta deles. Mas está sendo bom, porque eu tenho
alunos, não tenho muitos, mas pelo menos duas vezes na semana...
Eu fui bem até 63, 64, dali pra cá não estava mais aguentando sala de aula. Não
são os alunos... é a cobrança... fazer relatório... faz o portfólio das crianças, um a
um, todo dia tem que escrever na agenda.

A professora Deise encontra-se em situação de readaptação devido a problemas


emocionais e físicos. Seus problemas emocionais não se relacionam com os alunos, mas com
o espaço sala de aula e com as exigências burocráticas que transcendem o trabalho docente
propriamente dito (BALL, 2002). Nesse sentido, a depoente afirma nunca ter tido problemas
com os alunos, ao contrário, declara sentir falta dos seus estudantes.
Sobre a sua relação com a biblioteca popular pública, onde se encontra readaptada, a
professora destacou a forma acolhedora como foi recebida, principalmente pelo bibliotecário.
Na biblioteca ela declara ter sido ouvida e respeitada em relação às atividades que desenvolve
54

e destaca o quanto aquele espaço pode ser adequado para implementação de atividades onde
possa aproveitar seus saberes (TARDIF, 2002).

4.2.5 Entrevista de Olivia

Sobre o trabalho do professor, a colaboradora Olívia procura destacar aspectos


realistas relacionados com as práticas em sala de aula. Suas observações apontam para uma
compreensão ampliada do que seria o fazer docente.

Repetindo o óbvio, se não fosse o professor, não existiriam as demais profissões. O


Professor aprende, enquanto ensina. Orienta, aconselha, educa, é psicólogo, muitas
vezes pai e mãe. Complicado? Polêmico? Discutível? Simples: cumprimos com a
nossa obrigação.

A respeito do papel da biblioteca escolar, a professora Olívia apresenta uma visão


também bastante ampla em relação ao aproveitamento do espaço, o caracterizando como local
onde atividades pedagógicas podem ser realizadas de forma menos rotineira. Além das
atividades mais corriqueiras, como as pesquisas para trabalhos escolares, rodas de leituras e
contação de histórias, Olívia sugere dramatizações e jogos educativos numa perspectiva mais
lúdica. Entretanto, a professora não deixa de chamar a atenção para a necessidade de respeito
ao institucional, aos horários por exemplo. Em suma, a professora a define como local
aprazível que possibilita a realização de atividades pedagógicas menos rotineiras.
Embora não declare tão explicitamente, a fala da professora traz elementos que
sugerem satisfação em relação à sua situação na biblioteca.

é o local apropriado para o desenvolvimento de várias atividades, como rodas de


leitura, pesquisas para os trabalhos escolares, dramatizações, contação de
histórias, parceria com os professores da escola, independentemente da disciplina,
no sentido de otimizar os trabalhos por eles aplicados. Jogos educativos ou lúdicos
também são muito bem-vindos, em horários previamente estabelecidos.

É um local diferenciado, aprazível, onde qualquer atividade pedagógica pode ser


realizada de forma menos rotineira.

Essa satisfação da professora em relação à sua adaptação pode ter sido facilitada pela
sua própria formação em Letras. Nesse sentido os saberes docentes (disciplinares) obtidos da
55

sua formação na Universidade, de acordo com Tardif (2002), facilitam e motivam a


professora no desenvolvimento dessas atividades que considera não rotineiras, além de trazer
expectativas futuras carregadas de otimismo, apoiadas na sua visão de biblioteca como espaço
de possibilidades. Assim, independentemente da sua condição de readaptada, o espaço da
biblioteca (que neste caso não conta com a presença de bibliotecário) parece ter lhe caído
bem, haja vista a quantidade de atividades que ela desenvolveu e enumera, tais como o papel
de dinamizadora em um projeto de incentivo à leitura, a orientação em atividade de
dramatização, orientação de estudantes para concursos de poesia, entre outros projetos.

acredito que a minha maior expectativa é conseguir motivar os alunos a lerem mais,
a sentirem o que é um livro, sua capa, o título, o que poderá conter em suas
páginas, a viagem que podemos fazer através da leitura, sua importância, o prazer
simplesmente de ler. Enfim, fazer da Sala de Leitura uma atração à parte. Tanto
que estou revitalizando o local, numa tentativa de as crianças se sentirem
estimuladas e felizes ao frequentarem esse Cantinho do Saber.

Não temos bibliotecário. Basicamente, minha função seria a de empréstimos de


livros, controle do acervo, orientação em pesquisas escolares, sugestão de leituras,
parceria com o corpo docente da escola.

No entanto, tenho desenvolvido vários projetos individuais ou em conjunto com os


professores.

Fui dinamizadora do Projeto “A Voz/Vez do Leitor”, que, a meu ver, se não foi o
melhor, foi um dos projetos mais bem estruturados da rede. Possibilitava aos alunos
o acesso a livros de vários gêneros. Era a leitura pelo prazer de ler. A escolha era
do aluno. Não havia obrigação. Pela falta de tempo, não seria viável a explicação
da estratégia pedagógica no desenvolvimento desse projeto. Sintetizando, ao final
da leitura do livro, havia as rodas de leitura e a apresentação dos trabalhos, que
poderia ser feita através de peças teatrais, dança, contação de histórias, resumos,
resenhas críticas, etc. Foi um projeto prazeroso, tanto para os dinamizadores,
quanto para os alunos.

Também desenvolvi projetos com os professores de inglês, através da leitura


orientada e dramatização de textos, como “Romeu e Julieta”.

Participei ativamente do Projeto Mais Educação, sempre com apresentação de


danças pertinentes ao tema do evento: dança cigana, afro, carimbó, quadrilha, das
fitas (origem portuguesa), olimpíadas etc.
56

Alguns alunos participantes dos concursos de poesias, elaborados pela Fundação,


também são por mim orientados.

Sobre a precariedade da profissão docente, Olívia destaca aspectos relacionados ao


excesso de trabalho como causadores de problemas físicos, além de trazer elementos da sua
vida pessoal que influenciaram diretamente no seu estado emocional. São fatores que podem
se inserir naquilo que Ball (2002) define como “cultura da performatividade” que está
presente no espaço escolar e que vem oprimindo professores.

Durante algum tempo, fiquei readaptada devido a uma grande calcificação no


ombro direito, proveniente da escrita no quadro, que me impossibilitava de levantar
o braço, acompanhada de dores fortíssimas.
Ainda não havia superado esse problema, quando, em 2011, num período de 2
meses, perdi minha mãe (sou filha única) e minha sogra, que sempre moraram
comigo, num clima de muita harmonia e amor.
Venho sendo acompanhada por psiquiatra e psicólogo. Meu marido também passa
pelo mesmo processo. Até hoje estamos tentando digerir o que aconteceu, apesar
do tempo. Como diz uma amiga: “a vida passou a ser em preto e branco”.

Olívia apresenta em suas reflexões duas visões abertas, a saber, sobre a profissão
docente e sobre o papel da biblioteca. No primeiro caso apresenta o professor como alguém
capaz de desenvolver atividades que transcendem à sala de aula, sobretudo no que diz respeito
às possibilidades de ações em bibliotecas. Sem a possibilidade de tecer reflexões sobre
experiências com bibliotecários, já que esta figura não existe em seu posto de trabalho, a
professora parece satisfeita com a sua condição de readaptada na biblioteca, local que define
como adequado para a realização de atividades menos rotineiras, uma característica do
trabalho docente. Nesse sentido, a mobilização daquilo que Tardif (2002) trata de saberes
docentes – saberes disciplinares e saberes experienciais – por parte da professora pareceu
favorecer sobremaneira esse processo de adaptação ao novo posto de trabalho, uma vez que,
inegavelmente, a formação em Letras pode facilitar ações e iniciativas como as que são
apresentadas pela professora em sua exposição na forma de atividades realizadas. Entretanto,
é importante chamara a tenção que, ainda assim, a professora parece ter consciência da
importância de se tratar a biblioteca como tal, quando chama a atenção para a importância de
se observar e ter atenção aos horários naquele espaço. Com isso, a professora parece lançar
57

mão da sua autonomia (CONTRERAS, 2002) sem deixar que o compromisso institucional de
lado.
Outro aspecto destacado pela professora Olívia se relaciona com questões apontadas
por autores como Ball(2002), a respeito da “cultura da performatividade” ou o excesso de
aulas que castiga os professores da educação básica em geral. A colaboradora descreve o
motivo da sua entrada na condição de readaptada como sendo uma calcificação nos ombros
devida aos longos períodos escrevendo no quadro negro que a retirou de dentro da sala de
aula.

4.2.6 Entrevista de Inês

Sobre a precariedade que envolve a estrutura escolar, embora não tenha explicitado
claramente, a colaboradora Inês nos apresenta um quadro bastante triste e que pode ser a
realidade de muitos professores, qual seja, a angústia vivida quando se tem um problema de
saúde e não se consegue sequer cuidar da doença. Readaptada há cinco anos, a professora Inês
informou ter levado muito tempo para que o diagnóstico da artrite reumatoide fosse
“enviado”, tendo ela que conciliar o seu sofrimento proveniente das fortes dores com as aulas
por muito tempo. A colaboradora declara estar consciente de que a sua doença não está
relacionada com o exercício da profissão.

Estou nessa função desde 2013, quando fui obrigada a passar pelo processo de
readaptação após anos tentando conciliar a sala de aula com a artrite reumatoide.
A artrite reumatoide atacou os pés, as mãos, os ombros, mas permaneci na sala de
aula, apesar de diversas licenças. Mas quando chegou ao maxilar, precisei entender
que não dava mais.
Não consigo identificar nenhuma relação com a minha profissão. Os primeiros
sintomas apareceram durante a gravidez; quando meu filho estava com 2 anos, eu
levei um tombo em uma escola e machuquei o ombro. De lá para cá os sintomas se
tornaram mais evidentes, o ombro já doía, com a queda começou a “gritar”. Do
ombro para as mãos, das mãos para os pés. O diagnóstico demorou a vir.

[ ...] a artrite impede seu exercício, impossível subir diversas escadas, correr de
uma escola a outra, falar por horas e, até mesmo, ter humor para lidar com
adolescentes divertidos e cheios de vida, quando se mora em um corpo adoentado e
enfraquecido pela dor e extremamente fatigado; sem contar que as crises que
impossibilitam algumas atividades [ ...]
58

A respeito da sua relação com a biblioteca, Inês declara que não existe a figura do
bibliotecário presente no seu dia a dia, por isso trabalha com autonomia plena na biblioteca.
Entretanto, suas ações são sempre reféns do seu estado de sofrimento, tirando da informante
até mesmo a sua esperança no futuro.

Tenho total liberdade por parte da escola para trabalhar. Porém, desde o começo
desse ano estamos envolvidas na reorganização do espaço [ ... ] Não temos
bibliotecário, nós mesmas estamos estabelecendo critérios para a disposição dos
livros.
Sou readaptada devido à artrite reumatoide. Tenho períodos de crise que me
impedem de escrever e/ou falar [ ... ]

A professora Inês apresenta em seu depoimento, um quadro que revela um estado de


grande sofrimento. Embora a sua doença (artrite reumatoide) não tenha como causa o
exercício do magistério, o seu estado não permite que ela, sequer atue como gostaria na
biblioteca onde se encontra readaptada.
Até chegar à condição de readaptada, teve que aguardar por um longo tempo sem
poder conviver com “adolescentes cheios de vida”, sem poder falar, ou mesmo “correr de
uma escola para a outra”, aspecto relevante que faz parte da vida da maior parte dos
professores, que em função de suas baixas remunerações precisam trabalhar em mais de uma
escola para completar o orçamento doméstico, ao mesmo tempo que vivenciam a
desvalorização da sua profissão, como abordado em Oliveira (2004).

4.2.7 Entrevista de Laura

A colaboradora Laura, na sua condição de coordenadora, lança mão do discurso


institucional para apoiar as ações de readaptação dos professores nas bibliotecas. Seus
argumentos se apoiam na legislação vigente e buscam aproximar o professor readaptado da
figura do auxiliar de biblioteca.

A Coordenação de Promoção da Leitura entende que o professor readaptado pode


ocupar o espaço da biblioteca escolar e da sala de leitura, pois atualmente ainda
não temos uma política que defina quem será o auxiliar nestes espaços, visto que o
decreto nº 11091/2012 que institui as bibliotecas escolares municipais, em seu art.
3º, preconiza que “A biblioteca escolar terá uma estrutura orgânica mínima
59

formada por um bibliotecário e um professor auxiliar de biblioteca”, não


especificando, porém, detalhes acerca da vida funcional nem da formação deste
profissional.

A partir da sua posição privilegiada de coordenadora, que, portanto, concentra um


grande número de informações, Laura descreve com precisão muitas das atividades realizadas
pelos professores readaptados que já foram aqui relatadas por bibliotecários ou pelos próprios
professores. Apoiada nos resultados positivos alcançados, a colaboradora procura destacar a
importância de o professor estar “comprometido, a despeito de qualquer dificuldade”. Falas
como a de Laura podem deixar dúvidas, em relação ao que é o pensamento institucional sobre
o problema dos readaptados e o deslocamento da sua função de origem, uma vez que leva em
conta uma suposta “boa vontade” necessária aos readaptados, que muitos desses profissionais
não têm a menor condição de ter, dependendo do seu estado de saúde, como no caso da
professora Inês e a sua artrite reumatoide.

[ ... ] os professores readaptados, “independente” de sua situação, colaboram com


a rotina da biblioteca escolar e sala de leitura. As principais tarefas que
desempenham dizem respeito à organização do espaço e empréstimos de livros.
Alguns professores ainda realizam atividades diretamente com os alunos, como
oficinas literárias, contação de histórias, etc., fazendo a mediação entre a sala de
aula e a biblioteca/sala de leitura.

Assim, percebemos que quando o profissional é comprometido, a despeito de


qualquer dificuldade, empenha-se e colabora, incentivando os alunos e
contribuindo com o trabalho em todas as instâncias em que estiver atuando.

O depoimento da coordenadora Laura traz elementos interessantes porque se apoiam


numa visão institucional e diferente de outras que vinham aparecendo até aqui na pesquisa,
sobre a situação dos professores readaptados em bibliotecas. Baseada no fato de não haver
uma definição clara para o ocupante do cargo de auxiliar de biblioteca, a colaboradora Laura
busca aproximar o professor do cargo de auxiliar.
Essa aproximação, claramente motivada por uma intenção de institucionalizar esses
deslocamentos, precisa ser vista com muito cuidado, sob pena de se transformar em política
pública. Nesse sentido, cabe lembrar a posição diametralmente oposta aqui apresentada pelo
bibliotecário Paulo, que apesar de ter uma visão da biblioteca como espaço de acolhimento e
ressocialização, chamou bastante a atenção para o fato de que essas readaptações não podem
60

se transformar em políticas públicas, e o depoente fez isso sem deixar de ter também uma
visão institucional em certa medida.

4.2.8 Conversa com Júlia

A conversa (sem gravação) com a coordenadora Júlia, dentre outras contribuições,


trouxe um elemento que vale à pena a reflexão porque está diretamente ligado ao problema da
precariedade da profissão docente e quem tem levado tantos professores ao afastamento de
suas atividades profissionais. Segundo a colaboradora Júlia, houve ultimamente, uma
mudança em relação às causas de afastamento dos professores. Enquanto, antigamente a
maioria dos casos se davam por problemas físicos, sobretudo problemas com as cordas
vocais, atualmente “a segunda é o problema vocal”, “a primeira causa de afastamento do
servidor é emocional”. Esse dado parece confirmar o que vem sendo apontado por autores
como Ball (2002) em relação ao adoecimento de professores que vivem sob pressões
provocadas por diversas fontes, tais como baixos salários, burocracia, obrigatoriedade de
cumprimento de currículos extensos, etc.

4.3 Aglutinando categorias

Quadro 1: Precariedade da infraestrutura escolar


Sujeito Comentário Excertos
Márcia Precariedade da profissão do Ser bibliotecário é enfrentar
bibliotecário uma eterna incompreensão,
porque em geral acham que
você não faz falta. Acham que é
não só desnecessário como
inútil ...
Deise Infraestrutura das instalações da escola Aí eu fui parar numa escola lá
na Grota, a pior escola que já
Segurança fui na minha vida ... e lá as
escadas são assim (referindo-se
Problema físico à inclinação) ... fora o tiroteio
que lá tem todos os dias na hora
do almoço ...
61

Aí fui pro médico e o médico


falou que eu estava com artrose
... e me deu dois anos de
readaptação e fui pra biblioteca
pública popular. Estou amando
ficar lá!

Quadro 2: Precariedade por burocracia – carga horária / número de turmas /número de


alunos
Sujeito Comentário Excertos
Ana Problema físico Cada professor de Artes é uma
aula por semana, então eu
numa matrícula tenho doze
turmas, dou uma aula em cada
turma. Se eu ficar trabalhando
duas vezes é vinte alunos ... é
muito aluno, então a minha voz
cansou ... eu ficava rouca, já na
terça-feira não conseguia mais
falar ... a fono falou que as
minhas cordas vocais estão
cansadas ...
Deise Problema emocional Eu fui bem até 63, 64, dali pra
cá não estava mais aguentando
sala de aula. Não são os alunos
... é a cobrança ... fazer
relatório ... faz o portfólio das
crianças, um a um, todo dia tem
que escrever na agenda ...
Olívia Excesso de carga horária, turmas e aulas Durante algum tempo, fiquei
readaptada devido a uma
62

Problema físico grande calcificação no ombro


direito, proveniente da escrita
Problema emocional no quadro, que me
impossibilitava de levantar o
braço, acompanhada de dores
fortíssimas.

Venho sendo acompanhada por


psiquiatra e psicólogo.
Inês Problema não relacionado com o ... impossível subir diversas
exercício da profissão escadas, correr de uma escola a
outra, falar por horas e, até
Necessidade de carga horaria mesmo, ter humor para lidar
elevada/baixo salário com adolescentes divertidos e
cheios de vida ...
Burocracia prolongando sofrimento
... quando fui obrigada a passar
pelo processo de readaptação
após anos tentando conciliar a
sala de aula com a artrite
reumatoide.

Quadro 3: Precariedade por burocracia – currículo obrigatório


Sujeito Comentário Excertos
Ana Educação Crítica Eu adorei a sala de leitura
porque a gente não tem que
BNCC dar conteúdo. Eram muitas
aulas que eu dava, ... eu vi que
Engessamento do currículo era um lugar que eu ... eu
ajudo os professores também
...
63

O professor deve ensinar a ler,


matemática, mas eu acho que
passar conteúdo é o menos
importante, eu acho que Paulo
Freire tinha razão, primeiro a
gente precisa de ensinar a
pensar ... se o aluno souber
pensar, ele vai saber ler e
escrever mas não de forma
automática ...

Eu acho que se a política


pública fizer da escola um
lugar onde o aluno possa
pensar e criar ... tiraram o
estudo de Artes agora da
escola. A Arte é onde o aluno
pensa, cria, faz coisas críticas...

Quadro 4: Relação do professor readaptado com a biblioteca


Sujeito Comentário Excertos

Paulo Visão humanista ... eu acredito que pode ter


readaptados nas bibliotecas,
Visão institucional porém tem que ser garantido o
seu funcionamento

... há pessoas que vão poder


ajudar imensamente e outras
que vão precisar mais ser
ajudadas do que ajudar
64

... a biblioteca pode acolher ...


oferecer uma troca maior para
o readaptado do que a própria
sala de aula ... na biblioteca,
de repente o professor se
descobre

... a biblioteca pode ser esse


espaço ... desde que não se
considere isso uma política
pública para substituir os
atores recorrentes que se tem
que ter
Márcia Visão institucional ... trabalhei com pessoas nessa
situação ... A biblioteca exige
que seja compreendida como
uma instituição dentro de
outra; que tem regras
próprias estabelecidas fora do
ambiente escolar. Creio que
demora a se firmar uma
identidade ou um perfil de
biblioteca ...

é difícil que a identidade da


biblioteca se firme desse modo.
Isso é uma brecha para
conflitos, já que as pessoas
entendem que farão seu
horário de acordo com suas
necessidades, mas não de
acordo com as necessidades do
leitorado, coisa que é uma lei
65

pública ...

Ana Visão ampla sobre o papel da biblioteca Eu não tenho bibliotecário na


biblioteca, eu sou a dona ... e
Espaço para mobilização de saberes eu acho que na biblioteca a
docentes gente pode tudo. Eles leem,
escolhem que personagem
Autonomia docente querem fazer, dramatizam ...
eles querem fazer até cenário
...
Deise Espaço para mobilização de saberes Quando cheguei na biblioteca
docentes o bibliotecário perguntou o
que eu queria fazer e eu disse
Autonomia docente que queria contar histórias ...
aí ele disse então vamos contar
Visão humanista histórias ... depois o
bibliotecário perguntou o que
eu gostava mais de fazer e eu
fui dar aulas de Inglês pra
crianças pequenininhas ...

A relação com o bibliotecário é


maravilhosa ... por ele ser um
‘super ser humano’... ele é
ótimo ... deixa a gente bem à
vontade ... ele dá sugestões,
mas também te deixa livre ...
Olívia Espaço para mobilização de saberes ... é o local apropriado para o
docentes desenvolvimento de várias
atividades, como rodas de
Visão ampla sobre o papel da biblioteca leitura, pesquisas para os
trabalhos escolares,
dramatizações, contação de
66

histórias, parceria com os


professores da escola,
independentemente da
disciplina, no sentido de
otimizar os trabalhos por eles
aplicados.

É um local diferenciado,
aprazível, onde qualquer
atividade pedagógica pode ser
realizada de forma menos
rotineira.

Quadro 5: Políticas públicas


Sujeito Comentário Excertos

Paulo Visão humanista ... eu acredito que pode ter


readaptados nas bibliotecas,
Visão institucional porém tem que ser garantido o
seu funcionamento

... na biblioteca, de repente o


professor se descobre ... a
biblioteca pode ser esse espaço

... desde que não se considere


isso uma política pública para
substituir os atores
recorrentes que se tem que ter
Márcia Visão institucional mais pragmática ... trabalhei com pessoas nessa
situação ... A biblioteca exige
que seja compreendida como
67

uma instituição dentro de


outra ...

... é difícil que a identidade da


biblioteca se firme desse modo.
Isso é uma brecha para
conflitos, já que as pessoas
entendem que farão seu
horário de acordo com suas
necessidades, mas não de
acordo com as necessidades do
leitorado, coisa que é uma lei
pública ...
Olívia Visão institucional Jogos educativos ou lúdicos
também são muito bem-
vindos, em horários
previamente estabelecidos.
Laura Visão institucional pragmática ... atualmente ainda não temos
uma política que defina quem
Visão menos humanista será o auxiliar nestes espaços,
visto que o decreto nº
11091/2012 que institui as
bibliotecas escolares
municipais, em seu art. 3º,
preconiza que “A biblioteca
escolar terá uma estrutura
orgânica mínima formada por
um bibliotecário e um
professor auxiliar de
biblioteca”, não especificando,
porém, detalhes acerca da vida
funcional nem da formação
deste profissional.
68

... quando o profissional é


comprometido, a despeito de
qualquer dificuldade,
empenha-se e colabora,
incentivando os alunos e
contribuindo com o trabalho
em todas as instâncias em que
estiver atuando.
Júlia Visão institucional pragmática “a primeira causa de
afastamento do servidor é
Problema emocional emocional”

“a segunda é o problema
vocal”
69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a situação do professor readaptado alocado em bibliotecas públicas demanda


construir articulações a partir de reflexões acerca da prática docente e da situação da
biblioteca nesta relação. No que diz respeito à prática docente, um dos objetivos do trabalho
foi considerar aspectos da formação desses professores e outros referentes às condições que
vêm tornando a ação docente penosa, a ponto de levar muitos desses profissionais à situação
de afastamento do trabalho ou de readaptação. Outro objetivo foi entender a situação desse
professor e o que isso pode representar para ele, para os estudantes e para a escola.
Professores são profissionais que mobilizam saberes construídos ao longo da sua
história profissional, como nos aponta Tardif (2002) e precisam ter garantida a sua autonomia
na perspectiva que trata Contreras (1999). Quando essa autonomia e os saberes que
caracterizam a ação docente são desconsiderados e desrespeitados, atropelados pela “cultura
da performatividade” (BALL, 2002), constrói-se o ambiente perfeito para o sofrimento desses
profissionais envolvidos, na maioria das vezes de forma involuntária, neste cenário de
precariedade.
Mais especificamente em relação às condições de trabalho do professor, esta situação
se amplifica materializada na própria precariedade da infraestrutura da escola, na falta de
verbas, na baixa remuneração do professor, no excessivo número de turma e de alunos, na
carga horária obrigatória excessiva e nas políticas públicas que tornam os currículos
engessados e extensos.
Nesta pesquisa, em que o foco principal esteve localizado na relação entre professores
readaptados e as bibliotecas onde estes são normalmente alocados, foi imprescindível a busca
de diversos teóricos das áreas da Biblioteconomia e da Educação para compreender a função
de um bibliotecário, o significado do espaço biblioteca, o que é ser um professor e a definição
de professor readaptado, pois no município de Niterói, como já foi dito anteriormente ao
longo do trabalho, não há formalmente o cargo de professor readaptado, não existe uma
função predefinida para tal profissional quando este passa por esse processo. De acordo com
as falas do bibliotecário Paulo e da bibliotecária Márcia, ou o profissional fica “bem à
vontade” para decidir quais atividades realizará, ou suas funções são discutidas com o próprio
para verificar se não há impedimentos por causa das suas limitações, situação em que, de
acordo com Paulo, busca-se o aproveitamento das suas experiências pedagógicas e dos seus
saberes docentes (TARDIF, 2002) construídos enquanto esteve em sala de aula.
70

Para a consecução da pesquisa propriamente dita, foram obtidos dados provenientes de


entrevistas realizadas com sujeitos de diferentes perfis: professor readaptado em biblioteca
pública escolar, professor readaptado em biblioteca pública popular, bibliotecário de
biblioteca pública escolar e bibliotecário de biblioteca pública popular, uma coordenadora de
promoção da leitura subordinada às bibliotecas escolares e uma coordenadora do Núcleo de
Atendimento à Saúde do Servidor - NASS.
Os dados revelaram diferentes visões a respeito desta relação e da situação do
professor readaptado e aqui não existe a pretensão de que eles sejam suficientes para que as
considerações realizadas possam ser generalizadas ou conclusivas. Os resultados devem ser
vistos como uma contribuição para o entendimento do problema levantado, que ainda precisa
de amadurecimento.
Sobre o papel da biblioteca, esta é apontada pelos bibliotecários como local que
precisa ter garantido o seu funcionamento, ou seja, não deve ser prejudicado por conta da
presença dos readaptados. Esta forma de entender a função da biblioteca foi defendida pelos
dois bibliotecários, que destacaram também a precariedade na qual já vivem as bibliotecas
públicas, como a falta de verbas, e o desprestígio que vivenciam até mesmo dentro das
escolas.
Uma outra questão levantada por uma bibliotecária diz respeito a perspectiva de
ameaça à identidade da biblioteca e das suas atividades características em função da presença
dos professores readaptados. Esta preocupação da depoente parece refletir uma posição
contrária à presença dos readaptados.
Em uma posição diametralmente oposta, outro bibliotecário apresenta uma
compreensão do espaço da biblioteca como local de acolhimento para esses professores, mas
enfatiza que isso não deve ser visto como política pública. Mostrando uma visão mais
humanista, afirma que as limitações do readaptado devem ser levadas em consideração, assim
como devem ser discutidas e propostas atividades para estes professores que sejam adequadas
a cada caso, respeitando-se esses limites e os saberes apresentados por estes professores a fim
de torná-los produtivos e com isso integrados à equipe da biblioteca.
Os professores entrevistados trazem contribuições articuladas com aspectos
explorados pelos autores citados anteriormente. Em geral, seus sofrimentos são provenientes
da precariedade da infraestrutura escolar, que lhes traz problemas na voz por causa das
dificuldades de isolamento acústico das salas ou do número excessivo de escadas, além de
problemas emocionais causados pelo número excessivo de turmas e de alunos, da carga
horária muito extensa e dos currículos engessados e que lhes tira a autonomia.
71

Ainda sobre o papel da biblioteca, os professores, além de um dos bibliotecários,


destacam esse caráter terapêutico que o espaço pode ter na sua redescoberta ou mesmo como
alternativa aos currículos engessados e à burocracia, quando estes professores têm
oportunidade de experimentar outras práticas menos rotineiras, onde eles podem criar e
extravasar implementando atividades que se apoiem em saberes que fazem parte do
“amálgama” pessoal de que nos fala Tardif (2002).
Alguns aspectos que esta pesquisa levantou são de extrema importância e merecem ser
considerados e repetidos. Talvez o mais importante deles, e que este trabalho pretende
informar ao campo, é a questão da urgência de políticas públicas voltadas para os cuidados
com saúde do professor.
É sabido, e este trabalho apresenta elementos suficientes para se afirmar, que as atuais
condições de trabalhos desses profissionais não os favorecem para que estes tenham uma vida
digna. Muitos problemas foram aqui apontados, como a falta de infraestrutura nas escolas, por
exemplo, mas alguns deles merecem destaque.
A opressão que essa categoria profissional sofre tem sido tema frequente entre autores
como Ball (2002). Nos dias atuais, podemos dizer que os governos exibem um verdadeiro
desprezo pelos professores, que não têm sua autonomia respeitada – dentro ou fora de sala de
aula (CONTRERAS, 2002). A eles são impostos currículos extensos, engessados, avaliações
externas burocráticas e a serviço de estatísticas que só servem para desqualificar a escola e o
professor.
Como se não bastasse, os salários que recebem são vergonhosos, obrigando esses
profissionais a se dedicarem a duas ou mais jornadas de trabalho se quiserem compor com um
mínimo de dignidade o orçamento familiar.
Por tudo o que aqui foi dito, a partir dos dados que esta pesquisa levantou e analisou, é
possível entender boa parte dos problemas de saúde, físicos ou emocionais, apresentados
pelos docentes e que os levam, se não ao afastamento permanente, ao caso de readaptação
tratado na pesquisa.
Sobre esta política pública, as falas das duas coordenadoras apontam para esta
urgência para a qual chamamos a atenção. As falas dos bibliotecários e dos próprios
professores, ainda que apresentem discursos antagônicos aos discursos institucionais das
coordenadoras, também denunciam este excesso de burocracia e a falta de uma política que
cuide dessas situações, que acabam caindo nas mãos de bibliotecários e gestores
(coordenadores) para que “improvisem”, o que, definitivamente, não é uma situação adequada
72

porque não contempla a nenhum segmento dos atores envolvidos, pelo que aqui foi
verificado.

Ainda que possam ser encontrados espaços com pessoas com alto grau de
generosidade e sensíveis à causa dos readaptados nas bibliotecas públicas, não é aceitável que
o efetivo acolhimento desses professores fique refém e dependente de pessoas e espaços que
os recebam de forma minimamente respeitosa e profissional.
73

REFERÊNCIAS

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________. Lei Federal 11.301/2006. Trata sobre o professor readaptado. Disponível em:
<www.planalto.gov.br_Ato2004-2006>. Acesso em: 15/03/2017.

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________. Lei Federal 4.084/1962. Regula o exercício profissional do bibliotecário.


Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 30/04/2017.

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________. PL-6.038/2013. Projeto de Lei sobre a função do auxiliar de biblioteca. Disponível


em: <https://jusbrasil.com.br>. Acesso em: 30/05/2017.

________. Resolução SE-12, de 18/03/2014. Dispõe sobre a situação funcional dos servidores
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CBO/MTE 371110. Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e


Emprego que trata sobre o cargo de técnico em Biblioteconomia e suas atribuições.
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13/04/2017.
77

APÊNDICE I

Questionário para o professor readaptado

1. Fale um pouco sobre você e sobre a sua trajetória profissional.

a. Há quanto tempo você está na função?

2. Para você, o que é ser um bibliotecário? O que caracteriza o trabalho de um


bibliotecário?

3. Fale um pouco sobre as atividades que você, como bibliotecário, pensa que um
professor poderia desenvolver em uma biblioteca ou em uma sala de leitura.

4. Como tem sido a sua experiência como bibliotecário que convive com um professor
readaptado na biblioteca/sala de leitura? Fale um pouco dessa experiência.

a. Como têm sido definidas as atividades que este professor desenvolve?


b. O que ele tem realizado?
c. Como é a sua relação (pessoal e profissional) com o professor readaptado?

5. Você tem expectativas em relação à parceria com professores readaptados? Quais são
as expectativas que você tem em relação a um trabalho mais articulado com um
professor readaptado? Fale um pouco sobre isso.
78

APÊNDICE II

2- Questionário para o bibliotecário

Nome:
Naturalidade:
Idade:
a) Entre 20 e 30 anos
b) Entre 30 e 40 anos
c) Entre 40 e 50 anos
d) Entre 50 e 60 anos
e) Entre 60 e 70 anos
Tempo na profissão:
Instituição(ões) em que trabalha/trabalhou:
Tempo de experiência com algum professor readaptado:
79

APÊNDICE III

1- Questionário para o gestor

Nome:
Naturalidade:
Idade:
a) Entre 20 e 30 anos
b) Entre 30 e 40 anos
c) Entre 40 e 50 anos
d) Entre 50 e 60 anos
e) Entre 60 e 70 anos
Tempo na profissão:
Instituição(ões) em que trabalha/trabalhou:
80

APÊNDICE IV

Roteiro de entrevista para o professor readaptado

1. Fale um pouco sobre você e sobre a sua trajetória profissional.


a. Há quanto tempo você está na função?

2. Para você, o que é ser um professor? O que caracteriza o trabalho de um professor?

3. Fale um pouco sobre as atividades que o professor pode, ou poderia desenvolver em


uma biblioteca ou em uma sala de leitura.

4. Como tem sido a sua experiência como professor readaptado na biblioteca/sala de


leitura? Fale um pouco dessa experiência.
a. Como têm sido definidas as suas atividades?
b. O que você tem realizado?
c. Como é a sua relação (pessoal e profissional) com o bibliotecário?
d. Que motivos levaram você a essa condição de readaptado? (Se quiser falar).

5. Quais são suas expectativas em relação ao seu futuro profissional?


81

APÊNDICE V

Roteiro de entrevista para o bibliotecário

1. Fale um pouco sobre você e sobre a sua trajetória profissional.


a. Há quanto tempo você está na função?

2. Para você, o que é ser um bibliotecário? O que caracteriza o trabalho de um


bibliotecário?

3. Fale um pouco sobre as atividades que você, como bibliotecário, pensa que um
professor poderia desenvolver em uma biblioteca ou em uma sala de leitura.

4. Como tem sido a sua experiência como bibliotecário que convive com um professor
readaptado na biblioteca/sala de leitura? Fale um pouco dessa experiência.
a. Como têm sido definidas as atividades que este desenvolve?
b. O que ele tem realizado?
c. Como é a sua relação (pessoal e profissional) com o professor readaptado?

5. Você tem expectativas em relação à parceria com professores readaptados? Quais


são as expectativas que você tem em relação a um trabalho mais articulado com um professor
readaptado? Fale um pouco sobre isso.
82

APÊNDICE VI

Roteiro de entrevista para o gestor

1. Fale um pouco sobre você e sobre a sua trajetória profissional.


a. Há quanto tempo você está na função?

3. Para você, o que é ser um bibliotecário? O que caracteriza o trabalho de um


bibliotecário?

4. Para você, o que é ser um professor? O que caracteriza o trabalho de um professor?

5. Como tem sido a sua experiência em relação ao caso dos professores readaptados nas
bibliotecas/salas de leitura? Fale um pouco dessa experiência.

6. Fale um pouco dos principais problemas que esses profissionais apresentam.

7. Você tem expectativas em relação aos professores readaptados? Fale um pouco sobre
isso.
83

ANEXO I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) participante:
Sou pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, no curso de
Mestrado, na Universidade Federal Fluminense (UFF) Niterói/RJ. Estou realizando uma
pesquisa para a minha Dissertação de Mestrado em Educação sob a supervisão do professor
Dr. José Roberto da Rocha Bernardo cujo título é ‘A Situação dos Professores Readaptados
em Bibliotecas e Salas de Leitura’.
Sua participação envolve a concessão de entrevista que será gravada, se assim você
permitir, e terá a duração prevista de 30 a 40 minutos. Após a gravação a entrevista será
transcrita e devolvida a você via e-mail para os ajustes e modificações que considerar
necessários.
A participação nesse estudo é voluntária e, se você decidir não participar ou quiser
desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo. Os dados
obtidos serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados apenas no texto da
dissertação, em eventos e/ou revistas científicas.
Em relação à sua identidade, esta será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas
todas as informações que permitam identificá-lo (a), assim como não haverá nenhum custo ou
quaisquer compensações financeiras.
Mesmo não tendo benefícios diretos ao participar, indiretamente você estará
contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento
científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora
Jandira da Silva de Jesus, via telefone pelo número (21)986299211, ou por e-mail:
jandira70@yahoo.com.br.
Atenciosamente,

_____________________________________ _____________________________
Jandira da Silva de Jesus (Pesquisadora) Local e data

Dr. José Roberto da Rocha Bernardo


Matrícula/Siape: 365766

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