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MOSSORÓ/RN
2022
VITÓRIA MARIA CUNHA
MOSSORÓ/RN
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
Biblioteca IFRN – Campus Mossoró
CDU: 37.018“372.6”
__________________________________________________
Jean Mac Cole Tavares Santos, Dr - Orientador
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
__________________________________________________
Dr. Emerson Augusto de Medeiros
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
__________________________________________________
Dra Andrezza Maria Batista do Nascimento Tavares
Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do RN-IFRN
________________________________________________
Dra Josélia Carvalho de Araújo
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
À minha mãe, professora Maria Abraão, que
não mediu esforços para educar quatorze
filhos, tendo sabedoria e resiliência.
This qualitative study aims to analyze, under a teaching perspective, the recontextualization of
a full-time secondary school curriculum in the state of Ceará. The specific objectives are: 1.
To historicize the paths of full-time education in Brazil and in Ceará. 2. To discuss the
educational policy in full-time secondary schools from the approach of a continuous policy
cycle proposed by Stephen Ball et al. 3. To describe teaching practices that recontextualize
the curriculum in the full-time secondary school policy in the state of Ceará. In this study, we
aim to understand how the recontextualization of a full-time secondary school curriculum
takes place under a teaching perspective. The theoretical framework for this study was the
policy cycle proposed by Ball and Bowe (Bowe et al., 1992), which leads to understanding
that the context of practice is where the policy is subject to interpretation and recreation and
where the policy causes effects and consequences that can represent significant changes and
transformations in the original policy. We also rely on studies by Macedo and Lopes that
reflect on the articulation and recontextualization of the curriculum within the school context.
This research will be conducted using, in addition to the theoretical approach, the analysis of
the official documents that guide the full-time secondary school policy and semi-structured
interviews with teachers at the school analyzed. This research aims to contribute to the post-
structuralist theoretical framework, seeking to understand the process of recontextualization
of the curriculum from a teaching perspective in the full-time secondary school policy.
CF Constituição Federal
UV Unidades de Vizinhança
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13
2 A ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL NO BRASIL ............................................... 18
2.1 Historicidade dos Jesuítas até os dias atuais .............................................................. 18
2.2 O contexto recente ........................................................................................................ 24
2.3 O tempo integral e a formação integrada ................................................................... 27
2.4 O Programa de fomento à implementação de Escolas em Tempo Integral e a
Reforma do Ensino Médio ............................................................................................ 29
2.5 E o mundo acadêmico? O que traz sobre a Escola em Tempo integral? ................ 31
2.6 Escolas em tempo integral na Rede Pública Estadual do Ceará .............................. 38
2.7 A Política no contexto do Ceará – Surgimento das EEMTIs ................................... 41
2.7.1 A proposta de implantação ............................................................................................ 42
2.7.2 A Lei nº 16.287/2017 e o estabelecimento da política pública das EEMTI ................. 43
3 POLÍTICAS EDUCACIONAIS, A ESCOLA, O CURRÍCULO E A
PERSPECTIVA DOCENTE ..................................................................................... 52
3.1 As Políticas Educacionais dentro do contexto escolar: o ciclo de políticas proposto
por Ball ........................................................................................................................ 52
3.2 Como o currículo se constitui? .................................................................................. 59
3.3 Refletindo sobre currículo no contexto atual ........................................................... 61
3.4 O professor como agente de recontextualização da política ................................... 66
4 OS CAMINHOS E OS CONTEXTOS DA PESQUISA ......................................... 69
4.1 O lócus da pesquisa .................................................................................................... 69
4.2 Caminhos metodológicos da pesquisa ....................................................................... 77
5 ANÁLISE DOS DADOS: COMPREENDENDO A RECONTEXTUALIZAÇÃO
DO CURRÍCULO DA ESCOLA ESPERANÇA ..................................................... 81
5.1 Percepção docente sobre a política da escola em tempo integral e a
recontextualização do currículo ................................................................................ 83
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 101
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 104
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .......... 112
13
1 INTRODUÇÃO
1
Conjunto de habilidades relacionadas à inteligência emocional que podem ser desenvolvidas por um indivíduo
a partir de sua relação consigo próprio (intrapessoal) e com os outros (interpessoal). Essas habilidades podem ser
classificadas em emocionais (autoconfiança, autoestima, autocontrole, autorreflexão, senso de responsabilidade),
sociais (cooperação, colaboração, capacidade de resolver conflitos, de lidar com regras e de comunicar-se) e
éticas (respeito, tolerância, aceitação das diferenças).
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que todos os envolvidos no processo educativo possam planejar, executar e avaliar ações mais
equitativas e eficientes.
Conforme Lopes (2010), essas mudanças no paradigma educacional têm sido, de
forma geral, associadas aos efeitos da globalização. E frente a essa realidade, cabe à escola,
hoje, o importante papel de preparar o jovem para viver em sociedade como cidadão crítico e
reflexivo, capaz de interagir e se integrar às diferentes dimensões e situações pelas quais passa
dentro da sociedade moderna.
A atual crise econômica e social brasileira reflete diretamente no campo
educacional. São desafios complexos que, apesar de não recentes, vêm se intensificando
muito. Santos (2007), corrobora com essa ideia, afirmando que os desafios já se alastram por
anos para todos que atuam em escolas públicas brasileiras.
As reflexões e discussões envolvendo o papel da escola na sociedade atual é uma
constante nas diversas dimensões do campo educacional. Vai desde os referenciais dos
teóricos da área, passando pelas legislações vigentes e pelas políticas públicas propostas nas
diferentes esferas governamentais, chegando até o espaço escolar e a sala de aula
propriamente dita.
Considerando todo esse cenário, o currículo escolar assume um papel primordial,
pois é encarado como elemento propulsor de aprendizagem e de qualidade de educação.
Segundo Maia (2019), o currículo se torna um espaço de luta política e de poder, com o
objetivo de recriar os sentidos do processo educativo. Essa realidade está incorporada na
lógica pós moderna, que mercantiliza os saberes e se alinha cada vez mais às expectativas e
exigências do mercado de trabalho.
Dentro desssa perspectiva, a necessidade de uma reestruturação curricular e a
formação integral do estudante passam a consistir em uma realidade no contexto escolar.
Entre as estratégias que surgiram para ressignificar o currículo está a ampliação
da carga horária escolar. Ao longo dos últimos anos, tanto na esfera municipal quanto
estadual, ocorreu a intensificação de funcionamento de escolas em tempo integral. Vale
ressaltar que essa não é uma discussão recente, mas que se intensificou muito nos últimos
anos como proposta para a melhoria da educação pública.
No presente trabalho, visamos analisar a recontextualização curricular das
escolas em tempo integral do estado do Ceará. Para tanto, consideramos a Lei nº 16.287,
que entrou em vigor em 20 de julho de 2017, instituindo como Política Pública as Escolas de
Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTIs) no Estado do Ceará.
A partir dessa lei, o governo estadual tem como meta tornar todas as escolas de
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ensino médio em escolas em tempo integral, indo ao encontro à proposta do Plano Nacional de
Educação.
Visando atender as normatizações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e
da legislação educacional atual, a política estadual das EEMTIs prevê, além da existência de
um currículo formal com os componentes curriculares da base comum, opções de itinerários
formativos onde o próprio estudante, a partir da afinidade com determinada área de
conhecimento e da pretenção acadêmica e profissonal, escolhe os componentes curriculares
denominados componentes eletivos. Essa proposta de escolha de componentes curriculares é
reforçada por Lopes (2012) ao enfatizar que o currículo precisa ser atraente ao estudante.
No mesmo contexto, Ball (2011) afirma que a organização do currículo precisa se
dar a partir de saberes que sejam úteis ao estudante e favoreçam a construção do seu projeto
de vida. Para Teixeira (1994), a escola precisa consistir em um espaço que oferece ao
educando “[...] oportunidades completas de vida, compreendendo atividades de estudos, de
trabalho, de vida social e de recreação e jogos”. (TEIXEIRA, 1994).
Dentro dessa perspectiva, a proposta da política estadual das escolas em tempo
integral vem promover não apenas a ampliação do tempo na escola, mas, principalmente, uma
formação mais integral com atividades mais diversificadas que empoderam os indivíduos para
enfrentar melhor os desafios do cotidiano, apoiada em uma política curricular que visa a
formação integral do estudante. (CEARÁ, 2017).
É assim que surge o interesse por esse estudo. O estado do Ceará em 2021, tem
um total de 720 escolas. 324 escolas funcionam em tempo integral, das quais, 201 são EEMTI
(Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral) e 123 são EEEP (Escolas de Educação
Profissional).
A expansão do número de escolas em tempo integral nos traz diversos
questionamentos, dentre eles, ressalta-se a questão do currículo. Afinal, quais as implicações
da atuação docente para a recontextualização do currículo na escola de ensino médio em
tempo integral no estado do Ceará?
Sobre esse contexto, Ball (1994) destaca que as políticas educacionais de
currículo constituem um ciclo contínuo de produção de políticas. Reforçando essa mesma
linha de pensamento, Ball (1994) enfatiza a performatividade da escola, uma vez que, para o
autor, uma política não se constrói exclusivamente pelo Estado ou pelas agências
governamentais.
Com isso, é possível perceber que, do ponto de vista dos teóricos que abordam
essa temática, a política curricular é construída dentro do espaço escolar, à medida que é
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colocada em prática, tirando do estado a centralidade das discussões. Daí a escolha pela
perspectiva em que docentes percebem essa recontextualização.
A partir dessas reflexões sobre a educação integral e o currículo estabelecido pelas
escolas de ensino médio em tempo integral surgem as inquietações. Portanto, o estudo
pretende buscar uma compreensão da recontextualização do currículo escolar, partindo do
processo de ampliação de carga horária escolar, na perspectiva docente com a implantação do
tempo integral.
Para a realização da pesquisa, definimos como objetivo geral da investigação
analisar a recontextualização do currículo, na perspectiva docente, na escola de ensino médio
em tempo integral no estado do Ceará. Como objetivos específicos, pretende-se: 1.
Historicizar os caminhos da educação em tempo integral no Brasil e no Ceará. 2. Discutir a
política educacional das escolas de ensino médio em tempo integral a partir da abordagem do
ciclo contínuo de políticas de Stephen Ball e colaboradores. 3. Descrever práticas docentes
que recontextualizam o currículo na política da escola de Ensino Médio em tempo integral no
Estado do Ceará.
Para alcançar os objetivos, optamos pela pesquisa qualitativa a fim de obter uma
visão global dos fenômenos, considerando todos os componentes de uma situação em suas
interações e influências recíprocas.
Foi realizado um levantamento bibliográfico que se aproxima do objeto de estudo
para compreender como essa temática vem sendo abordada dentro do espaço acadêmico e
identificar lacunas que ainda não foram amplamente estudadas. A partir disso, realizou-se a
elaboração do referencial teórico a fim de ampliar as possibilidades de discussão e análise.
Durante o levantamento bibliográfico e documental, foi escolhido o lócus da
pesquisa. Considerando a proposta educacional, a escolha pela escola se deu pelo fato de a
mesma ter completado o ciclo dos três anos de integralização no ano de 2019 e, portanto,
vivenciado a jornada integral nas três séries do ensino médio, de forma presencial, antes do
período de pandemia, além de apresentar um grupo docente bastante atuante.
Com os elementos da pesquisa definidos, o estudo foi dividido da seguinte forma:
A seção 1 refere-se à Introdução, no qual apresentamos a problemática, os
objetivos e a proposta metodológica do trabalho.
Em seguida, partimos para as seções 2 e 3, com abordagens teóricas sobre a
temática. Na seção 2 - A Escola em Tempo Integral no Brasil, realizamos um breve histórico
do processo de construção da escola em tempo integral no cenário nacional com abordagens
teóricas, bem como um estudo sobre o que está sendo produzido academicamente sobre a
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temática. Após uma abordagem geral, é dada ênfase à realidade do estado do Ceará na
perspectiva das escolas de ensino médio em tempo integral.
Na seção 3 - As Políticas Educacionais, a Escola e o Currículo realizamos um
estudo mais aprofundado sobre a base teórica das políticas educacionais e mais
especificamente das políticas curriculares, relacionando a atuação do professor no contexto da
política e do currículo. Para tanto, nos baseamos em Abreu e Lopes (2006) que afirmam que a
política curricular se dá no “[...] contexto da influência, no qual as definições e os diversos
discursos políticos são iniciados e/ou construídos; e o contexto de produção de textos, em que
os textos com as definições políticas são produzidos” (ABREU; LOPES, 2006, p. 183-184).
Para compreender esse processo, utilizamos a abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e
Bowe (1998).
A partir dessas compreensões, partimos para a seção 4, que se refere aos
Caminhos e aos Contextos da Pesquisa. Nessa seção, buscamos compreender o contexto da
pesquisa na prática. Apresentamos o percurso metodológico com os métodos e ferramentas
que serão utilizadas ao longo da investigação, além da apresentação da escola, lócus da nossa
pesquisa, para compreendermos como a escola constrói e recontextualiza o seu currículo,
baseado na política das escolas em tempo integral, no estado do Ceará.
O momento seguinte da investigação consiste na pesquisa de campo. Nessa etapa,
foram realizadas as entrevistas semiestruturadas, com quatro professores da Escola em Tempo
Integral Esperança. Vale ressaltar que o nome utilizado para a escola e fictício. Com os dados
em mãos, realizamos a transcrição das entrevistas e a compilação, análise e discussão dos
resultados. E, na etapa final, apresentamos as considerações finais, realizando a síntese da
pesquisa e apontando pontos que podem ser transformados em futuras pesquisas.
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Cada etapa da história deixou seus legados para a educação atual. O período dos
jesuítas foi um momento marcado por um ensino com princípios religiosos, abrangendo o
19
período de 1549 até 1759. Marcado pela evangelização dos índios, tinha o intuito de propagar
a fé, formando bons cristãos, e conseguir mais adeptos ao catolicismo. No início, buscou
catequisar os índios adultos, mas, devido às características culturais impregnadas na cultura
indígena, não surtiu bons resultados. Em razão disso, os missionários adotaram outra
estratégia, direcionando o foco para as crianças (os meninos), pois ainda não estavam
impregnadas por práticas pecaminosas e seriam aliados em potencial para converter os vícios
culturais dos adultos (FERREIRA JR., 2010).
Vale ressaltar que a presença dos jesuítas no Brasil constituiu fator importante
para a educação, uma vez que a Coroa não tinha meios para educar as massas populares, a
burguesia e a própria nobreza. Foi o ensino jesuítico que cumpriu esse papel, sistematizando a
educação na colônia e oferecendo a catequização aos índios e o ensino das Letras para a elite
da época (ROCHA, 2010). Podemos perceber, portanto, que o período colonial contribuiu
para a educação atual, uma vez que iniciou a sistematização e organização de um sistema de
ensino.
Saviani (2007) afirma que essa fase de missão jesuítica no Brasil “deu início à
elaboração de um plano de estudos a ser implantado em todos os colégios da Ordem em todo
o mundo, o Ratio Studiorum, promulgado em 1599.” (SAVIANI, 2007, p. 50). Segundo o
autor, fundamentava-se por um método padronizado, responsável pela sistematização do
ensino, sendo o primeiro sistema organizado de educação católica que previa um currículo
único para os estudos, dividido em graus, propondo uma educação integral do homem e
pressupondo o domínio das técnicas elementares de leitura, escrita e cálculo. (SAVIANI,
2007).
Após a família real portuguesa chegar ao Brasil, em 1808, a educação se voltou
exclusivamente para a classe dominante. Em 1834, a província passou a ser a detentora do
controle da formação escolar. É nesse período que surgem os Liceus e as escolas normais.
A Primeira República (1889 – 1930) foi um período que muito marcou o contexto
educacional brasileiro, fortalecendo as ideias de integralidade na educação a partir da
Pedagogia Libertária e educação Racionalista. As ideias do ensino como direito público se
fortaleceram nesse período.
Sobre esse aspecto, é importante ressaltar que as ideias libertárias, no espaço
educacional brasileiro, não conseguiram fazer frente às práticas da educação tradicional, que
davam demasiada importância à cultura intelectual e abstrata, centrada na tradição, na
autoridade, na obediência, no esforço e na concorrência. (FERREIRA JR, 2010).
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2
Previa um sistema completo de educação, destinado a atender às necessidades de uma sociedade que ingressava
na era da técnica e da indústria. Esse sistema deveria atender também a toda a população, e não apenas a uma
minoria privilegiada, constituindo um instrumento de libertação não só da ignorância como da miséria. O
manifesto propunha assim o ensino obrigatório e gratuito até a idade de 18 anos, custeado pelos estados da
Federação e coordenado pelo Ministério da Educação. Defendia também a criação de fundos escolares ou fundos
especiais constituídos de uma percentagem sobre as rendas arrecadadas pela União, os estados e os municípios.
Sugeria que fossem criadas no país universidades encarregadas de fazer e transmitir ciência, e, finalmente,
reivindicava a “reconstrução do sistema educacional em bases que [pudessem] contribuir para a interpenetração
das classes sociais e a formação de uma sociedade humana mais justa desde o jardim da infância à universidade.
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desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho” (BRASIL, 1988). O art. 208, em seu Inciso II, prevê a universalização progressiva
do ensino médio gratuito. E no art. 214 está previsto a elaboração de um plano nacional de
educação que defina “diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para
assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e
modalidades” (BRASIL, 1988).
A década de 1990 foi marcada pela abertura e incorporação da iniciativa privada
nas discussões das políticas públicas e de governo, impulsionando reformas no campo
educacional que levaram a um fortalecimento de um currículo mais flexível, voltado para a
formação integral do estudante.
Na década de 1990, a proposta dos CIEPs foi retomada, agora como CIACS -
Centros Integrados de Atendimento à Criança, com a proposta de inaugurar cinco mil escolas
em tempo integral, distribuídas pelas diferentes regiões do país e com atendimdento
exclusivamente para estudantes do ensino fundamental. O projeto, que teve início no governo
do presidente Collor, após o impeachment, teve continuidade no governo de Itamar Franco,
sofrendo algumas alterações no projeto inicial e na nomenclatura, que passa a se chamar
CAICs - Centro de Atenção Integral à Criança.
De acordo com a Lei nº 8.642 de 31 de março de 1993 (BRASIL, 1993), as
Diretrizes dos CAICs foram vinculadas ao Programa Nacional de Atenção Integral à Criança
e ao Adolescente – PRONAICA, que tinha por objetivo:
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas
de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de
permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de
organização autorizadas nesta Lei.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a
critério dos sistemas de ensino. (BRASIL, 1996).
anos, pela Lei nº 10.172/2001, prevendo a Educação em Tempo Integral, apresentando como
meta a sua implantação, tanto para o Ensino Fundamental como para a Educação Infantil.
As Diretrizes apresentadas pelo PNE (BRASIL, 2001) afirmam que a escola de
tempo integral deve:
[...] a oferta de educação em tempo integral em, no mínimo, cinquenta por cento das
escolas públicas, com o objetivo de atender, um percentual mínimo de vinte e cinco
por cento dos(as) alunos(as) matriculados, atendendo inicialmente a escolas que
apresentem estudantes com maior vulnerabilidade social. (BRASIL, 2014).
Mais Educação, criado em 2007, a partir de uma parceria entre o Ministério da Educação,
Desenvolvimento Social, dos Esportes, da Ciência e Tecnologia, da Cultura e do Meio
Ambiente.
O Programa era destinado a estudantes matriculados no Ensino Fundamental 2,
em escolas com baixo IDEB3 e tinha por objetivo combater a desigualdade na educação. Esse
Programa, segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 2008), foi idealizado em meio ao
Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, com o objetivo de ampliar o tempo de
permanência dos estudantes na escola, como também o espaço utilizado para a educação
através do uso de ambientes da comunidade e do bairro, além de trazer mais atores sociais
para dentro da instituição escolar. Foi justamente essa participação de agentes externos
atuando nas atividades pedagógicas, muitas vezes de forma desarticulada com a proposta do
currículo escolar, que fragilizou o projeto em muitas escolas. Por outro lado, de forma
reestruturada, outras propostas surgiram e permanecem vivas até hoje.
É importante frizar que o Programa Mais Educação tinha uma ótica diferente da
estabelecida hoje nas escolas em tempo integral, porém consistiu num dos pontos importantes
para chegar ao contexto atual.
Segundo Ferreira (2007),
Esse modelo de ensino, em determinados momentos, é visto ora como avanço, ora
como retrocesso, se considerarmos os limites e possibilidades relacionados a sua implantação.
Nesse aspecto, destaca-se o cuidado em não colocar a escola em tempo integral como
alternativa para privilegiar um determinado grupo de pessoas, esquecendo-se da principal
função que é o acesso à jornada ampliada para crianças e adolescentes.
Vale ressaltar que a escola em tempo integral não consiste simplesmente em
ampliar o tempo de permanência do estudante na escola. Para estabelecer uma escola em
3
. Indicador calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar e as médias de desempenho nos exames
padronizados aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A
meta brasileira é chegar a um IDEB igual a 6,0 em 2021 (PORTAL IDEB, 2008).
27
tempo integral, é necessária uma preocupação com o currículo que é trabalhado. Ele precisa
ultrapassar as disciplinas da base comum, buscando estratégias para desenvolver as diferentes
competências nos estudantes.
O tempo maior de permanência do aluno na escola vai além da realização de
atividades como aulas de músicas, capoeira e informática no contraturno curricular. Requer a
realização de atividades variadas que envolvam o desenvolvimento de competências
cognitivas e socioemocionais, ou seja, possibilitem uma formação mais integral do estudante.
A escola em tempo integral surge como uma estratégia de formação integral do
aluno. Teixeira (2008), afirma que:
Nos dias atuais, a Escola em tempo integral é considerada um dos pilares para
uma educação omnilateral que, segundo Frigotto (2012, p. 267), consiste na “formação
humana que busca levar em conta todas as dimensões que constituem a especificidade do ser
humano e as condições objetivas e subjetivas reais para seu pleno desenvolvimento histórico”.
Formação essa, ainda conforme o autor, que consiste na promoção de aptidões e saberes
voltados para o exercício da cidadania e que levam a uma participação mais atuante na
sociedade.
O autor nos diz que a educação integral envolve a necessidade de se estabelecer
articulações entre diferentes contextos educacionais, nos quais as aprendizagens são
assumidas como uma construção em redes, a partir de diferentes objetos e não somente
mediante conteúdos e disciplinas escolares fragmentados. Sendo assim,
na temática; estado onde o periódico foi publicado, a fim de compreender como processo
ocorre em cada uma das regiões envolvidas.
No artigo 1, intitulado “Sobre Tempo e Conhecimentos Praticados na Escola de
Tempo Integral (COELHO; MAURÍCIO, 2016), os autores realizam reflexões sobre a
ampliação do tempo de permanência na escola e a natureza da educação escolar no contexto
dos projetos de sociedade que configuram a escola pública de tempo integral no Brasil.
As autoras discutem como a articulação das atividades diversificadas compõe o
conhecimento praticado pela escola, tendo em vista a inclusão social e a construção da
cidadania.
O artigo 2, cujo título é “Estudantes em tempo integral no campo: aprendizagens,
processos e sentidos” (SOUZA, 2016), se configura como uma pesquisa de campo e tem
como objetivo proposto pela autora a compreensão das relações estabelecidas entre estudantes
de escola integral do campo e o saber no contexto da educação integral. Da pesquisa
participaram três escolas rurais, todas funcionando em tempo integral, no município de
Governador Valadares-MG. Inicialmente, a autora realizou uma reflexão sobre as
especificidades da ampliação da jornada escola no contexto rural.
O referencial teórico proposto no artigo é a teoria da relação com o saber de
Charlot, que fornece informações importante sobre a educação no campo e a educação de
tempo integral na formação de saberes dos alunos. O estudo se deu a partir da participação de
67 estudantes, utilizando como metodologia a entrevista e os balanços de saber que consiste
em um documento escrito livremente pelo aluno com base em suas aprendizagens escolares.
Os resultados da pesquisa apontam reinvindicações dos estudantes, que solicitam
a inserção de atividades e práticas que dizem respeito ao seu contexto específico enquanto
aluno de escola de campo, bem como, atividades ligadas à arte, ao corpo e ao movimento.
Segundo a autora, é possível percebemos a ausência de relação direta entre a escola do campo
e o currículo adotado. O currículo adotado é o mesmo que é utilizado nas escolas urbanas.
O artigo 3 tem como título “Reflexões sobre possíveis critérios de qualidade da
escola em tempo integral” (SCHMITZ; SOUZA, 2016). Este texto apresenta como objetivo a
reflexão sobre uma possível sistematização de critérios de qualidade da escola em tempo
integral, com o intuito de avaliar a sua eficácia. O texto consiste numa revisão bibliográfica,
referente à ampliação do tempo de permanência na escola no Brasil.
Os autores trazem à discussão os termos: educação integral e escola de tempo
integral, contemplando os seus aspectos históricos, legais e as suas características conceituais.
Trazem, ainda, reflexões acerca dos resultados esperados e os critérios estabelecidos para
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teóricos citados ao longo do artigo, os autores identificam um consenso entre eles em relação
ao seu significado, no que se refere à priorização da igualdade de condições, ao seu
desenvolvimento físico, ético, político, cultural e social, ao exercício de direitos e deveres
cidadãos e à emancipação do indivíduo numa sociedade verdadeiramente democrática.
Assim, a quase totalidade das concepções elencadas no artigo preconizam a
necessidade do elemento “ampliação do tempo” como fator preponderante para uma educação
integral. Portanto, a extensão da jornada de tempo é percebida como uma possibilidade de
variação de atividades, desde as previstas no plano do currículo formal com conteúdo
científico, até as atividades artísticas, culturais e esportivas, desenvolvimento da cidadania e
dos direitos, proteção integral, inclusão social, correção das desigualdades sociais a formação
de professores até o reforço dos vínculos afetivos.
O artigo 7, tem como título “A avaliação em larga escala nos centros educacionais
em tempo integral: mais tempo, melhores resultados?” (SOUZA; COLARES, 2017). Nesse
artigo, os autores têm como foco as estratégias de avaliação educacional dos Centros
Educacionais de Tempo Integral no estado do Amazonas. Essas escolas consistem em
instituições de ensino que foram construídas especificamente para atender estudantes em
jornada de tempo integral, diferenciando-se da demais escolas de tempo integral, que
possuíam ambientes adaptados para essa ampliação.
Os autores realizam uma análise do desempenho dos alunos desses centros e, mais
especificamente em um deles, o CETI Deputado Gláucio Gonçalves. A metodologia utilizada
se deu em cunho documental, através da análise de documentos de avaliação interna e externa
e através de entrevista com a gestora
Segundo os autores, a pesquisa apontou que essas escolas vêm alcançando grande
êxito nos sistemas de avaliação, associado ao tempo maior de permanência na escola e à
preocupação com a preparação dos alunos para essas avaliações. Portanto, o texto enfatiza que
os índices satisfatórios não significam, necessariamente, melhores resultados, mas um reflexo
da maior preparação voltada para esses momentos avaliativos.
O artigo 8, “Espaço Físico da Escola Pública Goiana de Tempo Integral: dados e
apontamentos” (BARRA, 2017), não retrata especificamente a escola de tempo integral, mas
está baseado no elemento espaço físico, tão importante e tão desafiador no contexto de escola
com jornada ampliada. O artigo trouxe dados fundamentais sobre a questão da estrutura física
necessária para possibilitar a ampliação da jornada escolar. Enfatiza a importância da
preocupação com espaços apropriados para que as diferentes atividades pedagógicas ocorram
de forma sistemática e satisfatória.
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Nessa pesquisa, a autora utiliza dados de uma pesquisa survey realizada entre
2010 e 2013, através de um questionário quantitativo de 32 questões, enviado para 150
municípios do estado de Goiás. Após o envio, 70 questionários foram respondidos e foi
baseada nessas respostas que a autora desenvolveu a pesquisa. Ao longo do texto, a autora
enfatiza o Programa Mais Educação, o Plano Nacional de Educação, dentre outros
documentos, para pensar nas condições materiais da ampliação da jornada escolar. Após
análise dos dados, a autora conclui que a experiência em tempo integral na rede pública do
estado de Goiás ocorre de diferentes formas, respeitando as peculiaridades de cada área.
Porém, em todas elas, a adaptação espacial para receber as atividades referentes ao tempo
ampliado é de fundamental importância para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra
de forma efetiva.
Em seguida, houve a análise do artigo 9, intitulado “A Educação Integral no
Ensino Médio Brasileiro: Proteção integral ou formação humana?” (SILVA, 2018). O artigo
consiste numa pesquisa, ainda em fase de finalização, sobre o Ensino Médio Integral/
Integrado e/ou em Jornada Ampliada no Contexto da Avaliação por Resultados, realizadas
pelo Grupo GESTOR – Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre. O texto
objetiva debater o contexto atual em torno da Educação Integral no Ensino Médio. Para a sua
realização, foram utilizadas palavras chave no que se refere ao cerne da educação integral e, a
partir destas, foi realizado um levantamento documental em torno das formulações sobre o
tempo integral no Ensino Médio com base no Plano Nacional de Educação; a Lei nº 13.415,
sobre a Reformulação do Ensino Médio; as Diretrizes Curriculares da Educação Básica; as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio; Resolução nº 4 do FNDE, sobre
transferência de recursos através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) para
implementação do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI).
A partir da categorização e análise dos documentos, a autora elenca como pontos
de relevância a relação existente entre o tempo de permanência na escola e a formação
integral do jovem, colocando estes dois elementos como fatores importantes de proteção e
formação individualizada dos jovens, servindo de base para o desenvolvimento do projeto de
vida de cada estudante.
O artigo de número 10, “Outras Pedagogias para a educação em tempo integral”
(SIRINO; FERREIRA; MOTA, 2018) tem como objetivo apresentar uma reflexão teórica
sobre a materialização da educação em tempo integral com o aporte teórico de novas formas
de organização pedagógica. O texto apresenta possibilidades de organização da jornada
escolar, partindo de quatro livros: Pedagogia do Oprimido (Paulo Freire), Pedagogia da
37
na qual está inserida, bem como apresenta o componente curricular NTPPS como peça
fundamental nas escolas de tempo integral do estado do Ceará, entendendo que ele traz novas
práticas e colabora para a composição dos conhecimentos construídos pelos alunos.
Os resultados apontam que um currículo guiado pela democracia e liberdade não
só emancipa a pessoa, mas também traz as melhores formas para a aprendizagem. O NTPPS
na sua atuação com as novas práticas escolares, de formação integral, tem essa
intencionalidade.
O último artigo de referência teórica é o artigo 13 titulado “Breve histórico do
Ensino Médio em Tempo Integral: do Brasil à Amazônia Setentrional” (RIZZATTI e
SOUSA, 2020) que faz um estudo, de forma teórica, sobre o contexto histórico da educação
de tempo integral no Brasil e a sua implantação no estado de Roraima. Os autores fazem uma
análise da proposta do novo ensino médio e a sua relação com a implantação das escolas de
tempo integral no estado de Roraima. O texto apresenta um percurso histórico bastante
detalhado sobre o sistema educacional brasileiro. Também traz os diferentes momentos em
que a escola de tempo integral foi foco no contexto nacional, além de um levantamento
documental sobre currículo e novo ensino médio e a legislação que prevê a educação integral
como estratégia educacional. Por final, faz uma análise da proposta de escola de tempo
integral do estado de Roraima, apresentando características da sua implantação.
E, para dar continuidade ao estudo, vamos realizar um estudo sobre a política de
ensino médio de tempo integral do estado do Ceará.
oferta de Ensino Médio integrado à formação profissional de nível técnico, como estratégia de
melhoria da qualidade do Ensino Médio com a oferta de profissionalização. (CEARÁ, 2008).
Já no ano de 2008, 25 escolas foram adaptadas e iniciaram as atividades, em 20
município do estado, com os cursos de nível técnico: Informática, Enfermagem, Guia de
Turismo e Segurança do Trabalho.
E em dezembro de 2008, a partir da Lei nº 14.273/2008 (CEARÁ, 2008), foram
criadas, oficialmente, as Escolas Estaduais de Ensino Profissional - EEEPs, com os objetivos
pautados na formação geral, cultural e científica dos jovens, tendo como princípio o
protagonismo juvenil e a formação continuada.
Em 2009, mais 26 escolas foram criadas, com mais 09 novos cursos ofertados:
Edificações, Comércio, Finanças, Produção de Moda, Estética, Massoterapia, Meio Ambiente,
Aquicultura e Agroindústria, atendendo a mais 19 municípios. Já em 2010, foram inauguradas
mais 08 novas escolas, atendendo 42 municípios cearenses, perfazendo um total de 59
escolas, ultrapassando a meta prevista de 50 escolas. E atualmente são 123 escolas
funcionando no estado.
Em 2008, a gerência dessas escolas era realizada pela Célula de Formação para o
Jovem Cidadão, vinculada à Coordenadoria de Desenvolvimento da Escola (Decreto Estadual
nº 28.639/2007). Já em 2010, foi criada Coordenadoria de Educação Profissional (COEDP),
que gerencia exclusivamente as escolas criadas sob esta perspectiva que, segundo o Decreto
Estadual nº 30.282/2010, tem como competências:
Os cursos oferecidos têm três anos de duração e são ministrados nos turnos manhã
e tarde, concomitante com a formação científica básica do Ensino Médio.
Segundo a SEDUC (CEARÁ, 2010), a proposta curricular:
41
Quadro 1 - Documentos Oficiais que Regulamentam a Política de Ensino Médio em Tempo Integral no Ceará
Comum, as demais são de escolha do aluno, de acordo com sua identificação e interesse. O
tempo eletivo corresponde ao tempo de duas aulas de cinquenta minutos. Os alunos de
diferentes séries e turmas podem participar da mesma eletiva, portanto, é importante que todas
as eletivas aconteçam no mesmo horário, nos diferentes espaços pedagógicos da escola. O
aluno se desloca para o local onde está acontecendo a disciplina eletiva, na qual está inscrito.
(CEARÁ, 2017).
A lotação de professores nos componentes eletivos é constituída por professores
da base comum, além de profissionais lotados nos demais ambientes de apoio pedagógico da
escola, como biblioteca, Laboratório de Ciências, Laboratório de Informática, podendo ser
profissionais efetivos ou com contratos temporários.
Existem ainda, dentre os componentes eletivos, os clubes estudantis que, segundo
a SEDUC (2017), consistem em uma organização de alunos que atuam através de células de
aprendizagem cooperativa as diversas competências e habilidades. Dentro dos clubes, os
estudantes desenvolvem atividades associadas, aprofundam conhecimento sobre um tema de
interesse comum. Esses estudos podem ser de natureza cognitiva, cultural, social, esportivas
etc. O objetivo é integrar os estudantes através das atividades de interesse comum,
estimulando o planejamento e execução de projetos e ainda estimular o desenvolvimento da
autonomia, da autogestão e da construção do conhecimento dos estudantes.
Portanto, nos clubes estudantis não existe um professor lotado. Cada clube tem
pelo menos dois alunos articuladores que assumem a responsabilidade de dinamizar as
atividades e, mensalmente, se reunir com a equipe gestora para alinhamento do planejamento.
A cada semestre letivo, os alunos participantes do Clube devem apresentar um novo
cronograma de atividades.” Vale ressaltar que a viabilização de criação dos clubes estudantis
é realizada pela gestão da escola. (CEARÁ, 2107, p. 04).
Assim, percebemos a importância de um planejamento estratégico e de
acompanhamento a cada uma das ações que é viabilizada pela escola. A proposta atende, em
linhas gerais, a Reforma do Ensino Médio. No entanto, os desafios para colocar em prática
esses elementos, com eficiência, não é uma tarefa fácil.
Quando se fala em acompanhamento, não podemos esquecer do processo de
avaliação da aprendizagem. A Lei nº 16.287/2017 e as diretrizes para as EEMTIS estabelecem
que a avaliação das disciplinas eletivas deve se dar de forma processual e contínua,
considerando o desenvolvimento das atividades dos estudantes, de forma individual e
coletiva, analisando os avanços e a dificuldades apresentadas por cada um, bem como o
estabelecimento de novas ações e estratégias para a superação das dificuldades apresentadas.
48
preparação para o mundo do trabalho que exige cada vez mais pessoas com dinamicidade,
versatilidade e resolutividade.
Durante as 4h/aula por semana, são realizadas oficinas abordando temas
transversais em torno dos eixos: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Iniciação à Pesquisa
Científica, definidos dentro do PPP das EEMTIs como:
[...] será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos
curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos
sistemas de ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional.
Podemos perceber uma relação direta entre a política das escolas em tempo
integral no estado do Ceará e a lei que estabelece o Novo ensino Médio. Para fortalecer esse
debate, vamos refletir sobre a forma como as escolas constroem suas políticas e estabelecem o
currículo escolar.
52
Nessa seção, abordaremos as bases teóricas para o nosso estudo. Bases essas
construídas a partir de um foco pós-estruturalista que, segundo Peters (2000, p. 29), consiste
em “[...] uma complexa rede de pensamentos – que corporifica diferentes formas de prática
crítica”. Para embasar nosso estudo, nos apoiaremos no ciclo de políticas.
Com a reforma educacional, proposta a partir da década de 1990, um novo cenário
aflorou no contexto educacional. Esse período trouxe uma epidemia de proporções globais,
baseada na proliferação de políticas. Com o avanço na elaboração de políticas educacionais, o
Estado passou a ter função de determinar, controlar, gerir e transformar e, em particular,
"modernizar" e "elevar os padrões" da educação, mesmo que para isso, às vezes, envolva a
doação do controle e incremento da autonomia. (BALL, 2008).
Por outro lado, a escola não consiste em um ambiente estático, pronto, definido.
Pelo contrário, é um espaço dinâmico, onde acontecem reflexões e discussões constantes,
disputas e diferenças de pensamentos e ideias. (LACLAU e MOUFRE, 2015). É um espaço
onde as políticas são vivenciadas, e, portanto, discutidas, organizadas e transformadas, pois é
onde são colocadas em prática.
É na escola que se aplicam os diferentes discursos pedagógicos e o currículo que
está estabalecido nas políticas educacionais. Conforme Lopes e Macedo (2011, p. 40), “[...] os
discursos pedagógicos e curriculares são atos de poder, o poder de significar, de criar sentidos
e hegemonizá-los.” Daí a importância das reflexões sobre esses conceitos.
Com base nessa colocação, elencamos os teóricos Bowe, Ball e Gold (1992), que
abordam a questão das políticas em uma relação macro e o microssocial, denominado como
“ciclo de políticas.” É exatamente sobre esse conceito que vamos nos apoiar nesse tópico.
Ball (1994) enfatiza que as políticas não determinam o que deve ser feito, mas
elas indicam os caminhos e estratégias que devem ser seguidos, e portanto, tiram parte da
autonomia da escola.
Quando falamos em políticas educacionais, existe um texto produzido pelo
53
Governo e demais instituições que fazem parte da elaboração das políticas, em nível de
Estado. Esse texto tem a função de nortear as ações e estratégias da educação. Porém, quando
chega no ambiente complexo da escola, passa por compreensões e interpretações diferentes.
São inseridas compreensões próprias e peculiares de cada instituição escolar. Pode-se dizer
que a política se torna viva a partir da análise e interpretação que é dada a ela, bem como às
diferentes formas que esse texto é aplicado pelos profissionais que trabalham na escola e que
colocarão em prática o texto, dentro do seu fazer pedagógico.
Mainardes (2006) afirma que:
previsto no texto escrito, mas também, a forma como ela é percebida, concebida e colocada
em prática pelos sujeitos da escola. (BALL, 1992).
É dentro dessa realidade, que o Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1998) se torna
importante, pois possibilita compreender como as políticas são colocadas em prática e, assim,
oferecem condições de compreender como se constroem as políticas educacionais dentro do
contexto escolar. Entre essas reflexões, está o objeto da nossa pesquisa – o currículo na escola
em tempo integral. Goodson (1995, p. 9) enfatiza que o currículo consiste exatamente no “[...]
resultado de um processo evolutivo [...].”, construído pelos agentes da escola, a partir da
política pública.
Oliveira (2013, p. 50) enfatiza que o currículo é resultado de:
[...] uma construção lenta de fabricação social, com conflitos, rupturas e disjunturas;
o currículo é um artefato social e histórico, sujeito a mudanças, em constante fluxo;
não deve descrever como se organiza o conhecimento escolar, mas explicar como
veio a se tornar o que é; não deve centrar-se numa verdade ou validade
epistemológica do conhecimento, mas deve centrar-se numa epistemologia social e
preocupada com aspectos sociais e políticos, entre outros.
p. 13).
É na escola, local de reflexões, disputas e rupturas, que as políticas de fato
acontecem. É nesse espaço que elas são significadas e ressignificadas, debatidas e aplicadas,
conforme as interpretações de quem as aplica. É no espaço da escola ainda, que são
estabelecidas as prioridades de cada política, considerando o contexto local. É nesse sentido
que Ball, Maguire e Braun (2016, p. 14), afirmam que as políticas “não são simplesmente
ideacionais ou ideológicas, elas também são muito materiais”.
Na definição de Gandin et al (2020), a política normalmente está associada ao
ideal de escola, porém é importante enfatizar que a materialidade permite que a escola atue na
política de uma forma diferente das demais instituições. Segundo os autores, “existem
diferentes escolas, com diferentes contextos, operando sob o mesmo texto de uma política e
essa política é atuada de diferentes maneiras dependendo dos diferentes contextos.”
(GANDIN et al, 2020).
É nessa perspectiva que Ball, Maguire e Braun (2016, p. 13) trazem a política
como “[...] textos e ‘coisas’ (legislação e estratégias nacionais), mas também como processos
discursivos que são complexamente configurados, contextualmente mediados e
institucionalmente prestados.”
É dentro dessa perspectiva que a presente pesquisa está sendo construída.
Perceber as relações que existem entre o que estabelece a política educacional das escolas em
tempo integral, através dos documentos que foram apresentados na seção anterior e a política
construída dentro da escola com o olhar dos docentes. Perceber o olhar que os profissionais
das escolas têm sobre o documento norteador e considerar as suas percepções sobre o
currículo que está sendo contruído e recontextualizado por eles.
Segundo Mainardes (2016, p. 13), “a política é feita pelos e para docentes, eles
são atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política. A política é escrita nos corpos e produz
posições específicas dos sujeitos.” E ainda,
contexto escolar, mas na prática, o ideal não existe, e sim, existe o real. A escola precisa
adequar esse documento à multiculturalidade que a compõe com todos os desafios que
enfrenta e com as percepções e concepções de quem a compõe.
Dentro dessa perspectiva, é importante enfatizar que o documento traz orientações
e norteamento sobre a política educacional, com base nos interesses e ideologias de quem as
elabora, mas não podemos deixar de lado a realidade, a cultura da escola onde ela será
implementada, nem tampouco esquecer da dinâmica da sociedade, tanto no contexto
econômico quanto social. Um exemplo bem típico disso é o atual momento. Todas as políticas
tiveram que ser modificadas e adaptadas ao cenário de pandemia, que exigiu uma modificação
e transformação completa do fazer pedagógico. As políticas existentes no papel foram
adaptadas a cada realidade e cada escola e cada professor construiu um currículo, de forma
que melhor atendesse a realidade e necessidade dos estudantes.
A escola em tempo integral, em que consiste nosso objeto de estudo, passou por
adequações maiores ainda durante esse período, pois, além de atender à matriz curricular e
promover uma formação integral, como o texto da política propõe, ela precisa fazer isso,
mantendo o estudante o dia inteiro assistindo aula, de forma remota, apoiado nas ferramentas
digitais.
É exatamente assim que precisamos compreender o ciclo de políticas. De um lado,
o texto, de outro, os atores que colocam a política em execução. Pode-se afirmar que:
Ainda sobre as políticas, é importante enfatizar que não existe somente uma
política. “Em algum momento, as escolas têm centenas de políticas em circulação, embora de
status e alcances diferentes.” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016). Segundo os autores, quem
elabora as políticas não costuma considerar a complexidade dos ambientes, nem a quantidade
das políticas que se sobrepõe nos ambientes de atuação da política institucional. “Presume-se,
simplesmente, que as escolas podem e irão responder, e responder rapidamente, às múltiplas
demandas de políticas e a outras expectativas. A política é fácil, as atuações não são.” (BALL;
MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 22). Daí mais um motivo para que a escola adeque as políticas
a sua realidade, de modo que entrelace todas elas.
57
Ainda sobre a ideia do ciclo de políticas proposto por Ball e Bowe (1992), Santos
e Silva (2016) afirmam que é composto por cinco contextos fundamentais: “contexto de
influência, contexto da produção de texto, contexto da prática, contexto dos resultados
(efeitos) e contexto da estratégia política, sendo estes contextos interligados, possibilitando
perceber a construção das políticas com uma dimensão atemporal e não linear.” (SANTOS;
SILVA, 2016, p. 655 -656).
Os autores trazem ainda que:
Porém, com os teóricos pós-estruturalista, como Hall (1997), essa forrmulação foi
rompida e passou a ser proposta a partir da construção de um modelo analítico, nos três
contexto citados anteriormente: contexto de influência, contexto da produção de texto e
contexto da prática, com relações que se interligam, sem uma dimensão temporal ou
sequencial, nas etapas de construção das políticas. (SANTOS, SILVA, 2016).
Para Mainardes (2006), o primeiro contexto:
É o contexto de influência onde normalmente as políticas públicas são iniciadas e os
discursos políticos são construídos. É nesse contexto que grupos de interesse
disputam para influenciar a definição das finalidades sociais da educação e do que
significa ser educado. Atuam nesse contexto as redes sociais dentro e em torno de
partidos políticos, do governo e do processo legislativo. (MAINARDES, 2006, p.
51).
Santos (2016) lembram que a política está sujeita a influências que podem se tornar legítimas
a partir do discurso, tanto no que visa os sentidos ecomo também nos significados das leituras
a serem realizadas.
A política como discurso estabelece limites sobre o que é permitido pensar e tem o
efeito de distribuir “vozes”, uma vez que somente algumas vozes serão ouvidas
como legítimas e investidas de autoridade. [...] Na prática, os atores estão imersos
numa variedade de discursos, mas alguns discursos serão mais dominantes que
outros. Política como texto e política como discurso são conceituações
complementares. Ao passo que a política como discurso enfatiza os limites impostos
pelo próprio discurso, a política como texto enfatiza o controle que está nas mãos
dos leitores (MAINARDES, 2006, p.54).
Com base nessas contribuições é que podemos afirmar que as políticas não são
produzidas e depois implantadas. Após cada leitura da política, podem surgir novas
percepções e interpretaçãoes sobre o texto. Ball, Maguire e Braun (2012) defendem a ideia
de que as análises feitas de forma institucionalizada, dentro da escola, podem ou não levar a
mudanças futuras na política.
Segundo Santos e Silva (2016, p. 662), “o foco da análise de políticas deve
incidir sobre a formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os
profissionais que atuam no contexto da prática fazem para relacionar os textos da política à
prática.” Daí, a importância das interpretações diferentes que surgem a partir dessas leituras,
pois, como afirmam Santos e Silva (2016), eles influenciarão as diferentes dimensões da
escola.
É dentro dessas perspectivas que buscamos compreender como a escola em tempo
integral vem construindo seu currículo, pautado nas diferentes demandas e desafios que são
apresentados para essa nova realidade escolar. Optamos por analisar o contexto da prática por
compreender que os professores e núcleo gestor são agentes ativos no processo onde a política
está sendo colocada em prática.
Para que possamos aprofundar os conhecimentos, faz-se necessário aprofundar os
conhecimentos sobre o currículo.
fazer um breve histórico, enfatizando algumas considerações para chegar até a configuração
de currículo atual.
Para tanto, vamos nos apoiar em abordagens que busquem a compreensão acerca
das modificações no debate sobre o currículo para que possamos entender as mudanças que
ocorreram e, assim, compreender as novas concepções sobre o currículo.
Curriculum é um termo que tem origem no latim e que, para Sacristan (2013),
significa curso, rota, trajetória de vida ou de trabalho de um indivíduo ou de grupo de pessoas.
Para o autor, a forma como a trajetória é desenhada pode influenciar a vida de quem está
dentro desse processo tanto de forma positiva quanto negativa. No contexto escolar, essa
trajetória pode influenciar positiva ou negativamente a formação do estudante. Portanto, o
currículo precisa ser muito bem pensado.
Os estudos teóricos sobre currículo variam de acordo com a realidade social e
econômica da época. Percebemos que não existe um consenso claro entre os teóricos sobre o
conceito de Currículo. Pacheco (2005) define essa heterogeneidade como “erosão semântica”.
De acordo com Goodson (2012), o termo currículo, apesar de muito presente nas
discussões atuais, surgiu na Universidade de Glagow, em 1633, para se referir ao curso
seguido pelos alunos. Em 1963, ele foi dicionarizado, sendo definido como “[...] um curso,
um curso regular de estudos numa escola ou numa universidade, sentido este que se impõe no
vocabulário educacional.” (PACHECO, 2005, p. 29).
Segundo Silva (2009), o currículo como objeto de estudo educacional, teve
origem nos Estados Unidos, na década de 1920, com a publicação do livro The Curriculum,
publicado por Bobbitt, em 1918. O autor centrava as ideias do currículo nas deficiências,
fossem elas culturais, pessoais ou sociais. Além de Bobbitt, John Dewey, em 1902, também
publicou um livro abordando questões do currículo. Dewey, apresentava como foco a
construção da democracia e os problemas sociais. Apesar das duas correntes, as ideias de
Bobbitt é que nortearam os estudos curriculares na época, sendo reforçadas e consolidadas
com os pressupostos de Ralph Tyler, em 1949, que influenciaram os estudos sobre currículo
em diversos países, inclusive no Brasil. (SILVA, 2009).
As ideias defendidas por Tyler estavam centradas no desenvolvimento e na
organização, buscando responder:
melhoria nos índices de aproveitamento escolar e qualificar a formação docente. Assim, vai
acontecendo a vinculação entre a educação e o contexto mundial, possibilitando compreender
as reformas curriculares como se fossem a própria política educacional. (MACEDO, 2002).
Para Lopes e Macedo (2011), essa aproximação requer cuidados, principalmente
na forma de abordagem utilizada, pois tem como objetivo entender os movimentos de
constituição das Políticas Educacionais e sua relação com as Políticas Curriculares e vice-
versa. Passamos, assim, para a compreensão de que o currículo consiste em um espaço de
disputas e poder que traça significados para a realidade e busca firmar e reafirmar sentidos
para o processo educativo. (LOPES; MACEDO, 2011a).
Nesse contexto, Lopes e Macedo (2011) afirmam que toda política consiste em
uma estrutura desestruturada com um centro fixo que define seus sentidos. E os discursos são
“estruturações continentes que fixam provisoriamente determinados sentidos nas políticas.”
(LOPES; MACEDO, 2011b, p. 272).
O currículo ocupa um local central nas temáticas educacionais, sendo
compreendido como “principal mecanismo de uma educação, de fato, com qualidade, se
colocado em prática da maneira prescrita ao professor.” (MAIA, 2019, p. 61). Assim, o
currículo passa a ter posição de destaque tanto nos trabalhos educativos quanto no enfoque
dos teóricos da educação que trabalham questões voltadas para a formação dos indivíduos.
Vale ressaltar que, no século XXI, esse enfoque está pautado na formação integral do
estudante que envolve tanto o desenvolvimento de competências cognitivas quanto
socioemocionais.
Lopes (2012) destaca que para alcançar êxito é necessário que o currículo seja
atrativo para o estudante. Entretanto, não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade
competitiva onde as disputas políticas, sociais e econômicas são constantes. E as políticas
curriculares estão fortemente inseridas nesse processo.
Segundo Ball, quando uma política é criada, sempre tem imbricada nela o que se
espera que seja alcançado. Dentro dessa perspectiva, “[...] docentes são mobilizados a atender
objetivos políticos a fim de alcançar um desempenho educativo e, a longo prazo, favorecer o
crescimento econômico e reforçar a competitividade global” (BALL et al. 2013, p. 10).
Considerando essa realidade, Macedo (2014) corrobora com a ideia de Ball,
afirmando que “[...] um currículo nacional não vai melhorar a educação nem garantir
desenvolvimento e melhor distribuição de renda.” (MACEDO, 2014, p. 1553). Maia (2019)
cita que as políticas de currículo acabam sendo discursos que buscam certa hegemonia de
63
Lopes e López (2010) corroboram com essa ideia, relacionando o aprendizado dos
estudantes e os resultados nas avaliações, ou seja, os resultados satisfatórios na avaliação
demonstram o conhecimento apreendido. Dentro dessa perspectiva, Ball, Maguire e Braun
(2016) citam que um dos grandes desafios da educação ainda são os padrões de notas e
conceitos exigidos pelas políticas, isto é, a avaliação quantitativa, ainda está predominando no
contexto escolar. Por um lado, se fala em uma formação integral, com o desenvolvimento de
diferentes habilidades e competências e por outro, são exigidos resultados quantitativos para
demostrar que o estudante de fato aprendeu.
Dentro desse contexto, Ball (2010) enfatiza que a performatividade serve como
indicador de qualidade para o contexto das políticas, o que acaba induzindo que os resultados
64
[...]colocam problemas para seus sujeitos, problemas que precisam ser resolvidos no
contexto. Soluções para os problemas postos pelos textos políticos serão localizadas
e deveria ser esperado que discernissem determinados fins e situações confusas.
Respostas que precisam, na verdade, ser “criativas”. As políticas normalmente não
dizem o que fazer; elas criam circunstâncias nas quais o espectro de opções
disponíveis sobre o que fazer é reduzido ou modificado ou em que metas
particulares ou efeitos são estabelecidos. Uma resposta ainda precisa ser construída
no contexto, contraposta ou balanceada por outras expectativas, o que envolve
algum tipo de ação social criativa. (MAIA, 2019, p. 65 Apud BALL, 2011, p. 46).
Maia (2019) ainda nos traz que os currículos e identidades fixas estão cada vez
mais distantes do que está apresentado na prática pós-moderna, uma vez que estamos
distanciados da ideia racional iluminista do indivíduo, pautado em uma formação imutável e
65
essencialista. A pós-modernidade nos traz, em relação aos sujeitos, identidades com traços
multiculturais, o que acaba aproximando da visão pós-estrutural, nos distanciando da
concepção de essência do ser humano a ser almejada pela construção curricular. Assim, o
currículo consiste em um elemento prescrito e fixo que tem capacidade para formar
identidades a partir da seleção de conhecimentos a serem repassados aos alunos (LOPES,
2015).
Macedo (2012) chama a atenção afirmando que o currículo acaba reduzido aos
saberes socialmente aceitáveis e que, nesse processo, os conteúdos constituem meras listas de
metas que devem ser alcançadas e que servem para satisfazer os valores e funções que a
sociedade exige.
Porém, como foi mencionado anteriormente, no contexto das políticas existem as
diferentes concepções e interpretações. O texto traz uma proposta, mas quando ela chega na
escola, existe a interpretação de quem vai ler a proposta. Cada escola, considerando a sua
realidade, pode ter interpretações diferentes e, a partir dessa leitura, estabelecer estratégias
diversas para alcançar a meta que está prevista. Assim, a política constitui “[...] um aspecto
dinâmico e não linear de todo o complexo que compõe o processo da política, do qual a
política na escola é apenas uma parte”. (BALL, MAGUIRE e BRAUN, 2016, p. 18)
Santos (2013) enfatiza que quem elabora as políticas são “técnicos dos governos,
parlamentares, especialistas em diversas áreas, assessores parlamentares, consultores de
organizações não-governamentais e pesquisadores de várias instituições.” (SANTOS, 2013, p.
502) ou seja, os textos representam a política, estão pautados nas pretensões políticas e nem
sempre são claros e objetivos, chegando, por vezes, a serem contraditórios. (MAINARDES,
2006). Quando chegam no contexto da escola, com as discussões e reflexões que ali são
realizadas, podem surgir novos discursos, que perpassam os demais contextos, em uma
circularidade contínua. (SANTOS, 2013).
Busnardo (2009, p. 35), afirma que:
devemos pensar a prática como parte da política, visto que sentidos da prática estão
representados nas políticas de forma bastante imbricada, evidenciando a constante
produção de políticas no contexto da prática, na medida em que ocorre uma troca
constante entre propostas e práticas: os sentidos das propostas perpassam a prática,
assim como os sentidos da prática perpassam as propostas.
É dentro dessa dinâmica que qualquer política acontece. Isso não é diferente com
o currículo. O currículo da escola se constrói a partir desse movimento. As escolas, dentro da
sua complexidade própria, da complexidade das políticas, pensam e colocam em prática o
66
currículo, sem esquecer das expectativas que são geradas em torno dele. Daí dizer que as
políticas são complexas, e que dentro das discussões sobre as políticas, existe o currículo que
precisa ser muito bem pensado para que possa atender as expectativas e as necessidades do
fazer pedagógico. Para isso, não existe receita pronta, existem caminhos e reflexões que
levam aos resultados. Dentro dessas perspectivas, e as propostas de políticas são “[...]
construídas, elaboradas, reelaboradas em vários contextos, na prática docente, ressignificados
contextualmente pelos sujeitos que atuam a escola, a partir de seus saberes/poderes, das várias
compreensões e apropriação do mundo”. (SANTOS, 2016, p. 101).
Portanto, se desejarmos, de algum modo, intervir para produzir alternativas para
as políticas públicas em currículo, precisamos questionar os modelos de intervenção
construídos sobre o binômio da intervenção centralizada e avaliação em larga escala. Segundo
Lopes e Macedo (2021), “a intervenção curricular que deixa de fora o professor e as
demandas da escola é fadada ao fracasso.”
É dentro dessas perspectivas que pretendemos realizar uma análise de como esses
processos acontecem na escola em tempo integral, ou seja, como ocorre a recontextualização
do currículo dentro dessas instituições de ensino. Dentro desse contexto, a atuação do
professor é elemento importante para essa recontextualização.
Durante as seções anteriores, já relatamos que a escola não pode ser considerada
apenas receptor de uma política, nem tampouco tem a função somente de implementar o que
está na política gerada fora do contexto da prática escolar. Quando a política chega ao
ambiente escolar, ela passa pela interpretação e recriação, produzindo efeitos e consequências
que podem representar transformações e modificações significativas na proposta inicial.
(SANTOS, 2016). Dentro dessa perspectiva, o professor tem papel primordial, pois é um
profissional que está sempre em movimento, construindo valores, estruturando crenças, tendo
atitudes, agindo em razão do processo de ensino e aprendizagem.
O profissional docente, tem uma responsabilidade muito grande sobre o processo
de ensino e aprendizagem. Além de dominar o saber científico, precisa pensar em ações e
estratégias efetivas para mediar os processos de aprendizagem, considerando que trabalha
com um público amplo, complexo, onde cada um tem características únicas e singulares.
Portanto, precisa acumular tanto conhecimentos teóricos quanto práticos, para que possa
67
exercer o seu papel que consiste em levar aos estudantes o desenvolvimento de habilidades
cognitivas e socioemocionais.
Ainda na academia, o professor é levado a pensar sobre a prática, sobre o tipo de
profissional que deseja ser ou o tipo de aluno que pretende formar. Segundo Teada e Assolini
(2020):
Os alunos dos cursos de licenciatura, que serão futuros professores, precisam ser
estimulados a desenvolverem práticas significativas, que podem ser auxiliadas por
projetos ou aulas exploradas por problemas do cotidiano. O professor precisa estar
atento para que o aluno não reproduza conteúdos, sem entender o motivo e a
aplicação deles. Pela ressignificação, pode-se transformar a prática educativa,
acreditando-se nos potenciais dos sujeitos singulares envolvidos nesse processo.
(TEADA; ASSOLINI, 2020, p. 1).
[...] os profissionais que atuam no contexto da prática (escolas, por exemplo) não
enfrentam os textos políticos como leitores ingênuos, eles vêm com suas histórias,
experiências, valores e propósitos [...]. Políticas serão interpretadas diferentemente
uma vez que histórias, experiências, valores, propósitos e interesses são diversos. A
questão é que os autores dos textos políticos não podem controlar os significados de
seus textos. Partes podem ser rejeitadas, selecionadas, ignoradas, deliberadamente
mal entendidas, réplicas podem ser superficiais etc. Além disso, interpretação é uma
questão de disputa. Interpretações diferentes serão contestadas, uma vez que se
relacionam com interesses diversos, uma ou outra interpretação predominará,
embora desvios ou interpretações minoritárias possam ser importantes. (Bowe et al.,
1992, p. 22).
68
como Escola Esperança. (PPP, 2021). Para compreender o contexto da escola, faremos um
breve histórico e contextualização do Conjunto Ceará onde está localizada a escola.
O bairro Conjunto Ceará localiza-se na região sudoeste de Fortaleza. É um bairro
que se divide em quatro etapas. A primeira etapa foi entregue em 1977, pelo governador
Adauto Bezerra, em meio ao período do regime militar.
4
Unidades de Vizinhança (UV) surgem como forma de conectar a comunidade e as cidades que as usufruem.
Idealizadas pelo arquiteto e urbanista americano Clarence Perry, em 1920, o modelo foi desenhado para uma
cidade que prioriza o pedestre. O intuito do arquiteto era fazer com que áreas residências fossem autônomas,
abrigando assim, todas necessidades e comodidades dos moradores.
71
bairro, com mais oportunidades de lazer para os jovens, como a base da Central Única das
Favelas (CUFA), bastante atuante no bairro. (LIMA, 2019).
Atualmente, o bairro está bem assistido de comércio, bancos, escolas, delegacias,
posto de saúde rede de transporte urbano que conectam o bairro com os diferentes bairros de
Fortaleza e região metropolitana. Porém, as deficiências do poder público geram sensação de
insegurança no bairro. (LIMA, 2019).
A fundação da escola em análise se deu justamente pela lacuna existente no
sistema educacional da época em que foi inaugurada, pois como o bairro se encontrava em
grande expansão, era necessário instalar escolas para atender a demanda que se formava. A
situação era ainda mais urgente, pois, como dito anteriormente, as famílias que faziam parte
daquela comunidade constituíam parte de uma população essencialmente de baixa renda, sem
instrução e cujo sustento era provido do pequeno comércio da área. Desse modo, a fundação
da escola surgiu como meio de melhorar e alavancar o nível social, educacional e,
consequentemente, econômico da comunidade em seu entorno.
É importante enfatizar que o bairro Conjunto Ceará, atualmente, é bem servido de
escolas. No quarteirão em que está localizada a escola em estudo, existem mais duas escolas
de ensino médio da rede estadual: A Escola Estadual de Educação Profissional Professor
Cesar Campelo, com um total de 12 turmas, atendendo 509 estudantes em 2021e a Escola de
Ensino Médio Doutor Ubirajara Índio do Ceará, com um total de 1013 estudantes, divididos
em 26 turmas, nos três turnos. Vale ressaltar que essa concentração de escolas em uma
determinada área está relacionada à fase de ocupação e povoamento do bairro através das
UVs.
O Marco Situacional do Projeto Político Pedagógico da escola, enfatiza a
participação efetiva nos diferentes movimentos políticos dos estudantes dentro da escola.
Nesse sentido:
[...] A EEMTI Esperança recebe estudantes das quatro etapas do bairro Conjunto
Ceará. Esses estudantes consistem em um verdadeiro corpo em movimento de
aprendizagem, de expressões artísticas, de realizações esportivas, de atividades
político-educativas (Grêmio Estudantil), de autorrealização. Esse corpo em
movimento dá materialidade à missão da escola: fazer estar capaz, fazer poder
pensar de modo reflexivo, fazer viver com discernimento sua subjetividade, fazer
conviver. (PPP EEMTI Plácido Aderaldo Castelo, 2018, s/p).
Apesar dos quarenta anos que se passaram, desde a data da inauguração da escola,
a realidade da escola, não parece diferir muito do contexto geral das escolas da rede estadual.
A vulnerabilidade social e econômica, fazem parte do contexto da Escola de Ensino Médio
72
em Tempo Integral Esperança. Essa situação se intensificou ainda mais, com o atual cenário
de pandemia, em que, muitas famílias tiveram suas rendas reduzidas. Tudo isso “[...] acaba
atribuindo à escola uma grande responsabilidade social e a necessidade de promover uma
educação integral aos jovens, proporcionando a eles uma oportunidade de crescimento
intelectual, emocional e profissional” (KONZEN, 2019, p. 111).
Considerando a formação das UVs, em junho de 1979, a Delegacia Regional de
Educação solicitou um levantamento do número de crianças existentes no bairro. Após esse
levantamento, foram preenchidas vagas de 1ª a 4ª série do antigo primário e educação
integrada. Assim, a Escola de 1ª e 4ª série, iniciou suas atividades com 149 estudantes
matriculados. Para garantir seu funcionamento, a escola foi vinculada à Escola Apostólica
Nossa Senhora de Fátima. Nesse período, a escola recebeu estudantes fora de faixa de idade
em suas turmas, visto que a unidade escolar era para ser uma escola de ensino supletivo.
Devido à pouca procura por vagas, essa modalidade não vigorou, ocorrendo a desvinculação
da Escola Apostólica Nossa Senhora de Fátima, sendo autorizado o seu funcionamento
através do Parecer nº 177/1979 do Conselho Estadual de Educação e oficializado no dia 06 de
setembro de 1979, sob o Decreto n° 13.414 e publicada no Diário Oficial do Estado. Em 14 de
fevereiro de 2000, foi criada oficialmente a Escola de 1º Grau Esperança. A inauguração
aconteceu no dia 22 de setembro do mesmo ano. Inicialmente, a escola recebia estudantes da
1ª a à 4ª série, porém, com a alta procura por matrículas, em 1985, a escola passou a oferecer
vagas até a 8ª série. (PPP, EEMTI ESPERANÇA, 2018).
Consta no Projeto Político Pedagógico que, aos poucos, a escola foi ganhando
espaço e confiança da comunidade e, em 1995, a escola passou a atender nos três turnos,
chegando a um total de 1460 alunos, distribuídos nas modalidades Pré-escolar, 1º Grau menor
(1ª a 4ª série), 1º Grau maior (5ª a 8ª série) e o 2º grau, além da Educação de Jovens e Adultos
- EJA (na época, chamada de integrada). Nesse período, a escola recebe a nomenclatura
Escola de 1º e 2º Grau Esperança e, posteriormente, passou para denominação Escola de
Ensino Fundamental e Médio. No ano de 2017, foi denominada: Escola de Ensino Médio em
Tempo Integral Esperança.
A seguir, inserimos a imagem da fachada da escola e como está estabelecida
atualmente.
73
NTPPS 4 4 4
Formação para Cidadania e 1 1 1
Desenvolvimento das Competências
Socioemocionais
Disciplinas Eletivas 5 5 5
Percebemos, pelo quadro, que a escola segue o que está previsto no documento
norteador da política das escolas de tempo integral, apresentada pela Secretaria de Educação
do estado do Ceará, com uma carga horária de 45h/ semanais, sendo 9/dia.
Os tempos eletivos são oferecidos semestralmente. A cada término deste, a escola
realiza uma consulta, junto à comunidade escolar, para avaliar quais disciplinas eletivas
devem permanecer e quais devem ser substituídas. A escolha dos componentes eletivos se dá
a partir do catálogo que é oferecido, contendo os eixos norteadores.
Para que a disciplina eletiva seja ofertada, é necessário que ocorra a procura por
esse componente, como também a existência de um profissional qualificado para assumir a
eletiva. Percebemos, portanto, que as disciplinas eletivas consistem em um processo dinâmico
que leva em consideração diversos fatores para ser ofertada. Cada estudante escolhe cinco
componentes entre as opções ofertadas. Dentro dessa oferta, o estudante deve escolher pelo
menos um clube estudantil, a fim de que ele possa desenvolver competências como a
autonomia, protagonismo e autogestão, uma vez que os clubes são de gerência dos próprios
estudantes, não havendo um professor coordenando as atividades.
No quadro abaixo seguem as ofertas de disciplinas eletivas, para o 1º semestre de
2021:
COMUNICAÇÃO E ORATÓRIA
ED. FÍSICA E INTERDISCIPLINARIDADE
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL ELETIVA
PROFESSOR
MATEMÁTICA PARA O ENEM
MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS
PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS
ESPORTES E CORPO
GEOGRAFIA PARA O ENEM
JOVEM EMPREENDEDOR
MEMÓRIA E CULTURA AFROBRASILEIRA E
INDÍGENA
BIODIVERSIDADE E SAÚDE
EDUCAÇÃO, SAÚDE E BEM-ESTAR
ESPANHOL PARA O TURISMO
LIBRAS LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS
JOVEM EMPREENDEDOR II
77
apresentam para a interpretação do investigador. Para tanto, nesse tipo de pesquisa, são
utilizados diversos materiais empíricos e de práticas interpretativas interligadas para alcançar
uma melhor análise e descrição de momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida
dos indivíduos. Para tanto, foram utilizadas as técnicas de produção de dados, levantamento
documental, levantamento bibliográfico e entrevista semiestruturada
Yin (2001), afirma que a pesquisa qualitativa consiste em uma visão empírica
“que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos.” (YIN, 2001 p. 33). E ainda “[...] é uma forma de pesquisar, fazer experimentos,
levantamentos de dados, criar histórias, receber informações já existentes em arquivos.” (YIN,
2001 p. 33).
O primeiro passo da pesquisa foi a elaboração do referencial teórico, a fim de
ampliar as possibilidades de discussão e análise. Inicialmente, foi realizado um levantamento
bibliográfico dos trabalhos que se aproximam do objeto de estudo, para compreender como
essa temática vem sendo abordada dentro do espaço acadêmico e identificar lacunas que ainda
não foram amplamente estudadas. Posteriormente, foi realizado um estudo do processo
histórico da escola em tempo integral no Brasil, chegando até a proposta da implantação da
política de escola em tempo integral no estado do Ceará, com estudo dos documentos que
nortearam essa realidade. Ainda foi realizada uma análise da política educacional, focada no
ciclo de políticas de Ball e, por fim, um estudo sobre o currículo dentro do contexto da
política, bem como da atuação do professor dentro dessa realidade.
Durante o levantamento documental e o estudo teórico, foi escolhido o lócus da
pesquisa. A escolha da EEMTI Esperança apresenta uma certa vulnerabilidade social e
econômica. Considerando a proposta educacional, a escolha pela escola se deu pelo fato de
ela ter completado o ciclo dos três anos de integralização no ano de 2019, que corresponde ao
ano anterior à pandemia, pois consideramos que o ano de 2020 e mesmo o ano de 2021
apresenta algumas peculiaridades que fogem da especificidade da política das escolas em
tempo integral. Daí, escolher uma escola que completou o ciclo de integralização antes desse
período, com a vivência da jornada integral nas três séries do ensino médio de forma
presencial. Consideramos esse um elemento importante para o momento da pesquisa de
campo com os docentes da instituição.
A partir do referencial teórico e documental estabelecido, partimos para uma
pesquisa de campo. Nessa etapa foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Esse tipo de
pesquisa permite o aprofundamento de uma realidade específica. Segundo Marcone e Lakatos
79
ilustrativa, mostrando alguns dados sobre os entrevistados. Vale ressaltar que, para a
manutenção de sigilo e resguardo da identidade prevista nas condições legais para o
desenvolvimento de nossa pesquisa, foi adotado, aqui, um nome fictício para cada
entrevistado. Os nomes fictícios são de educadores que têm destaque no cenário nacional,
dentro da perspectiva da formação integral do estudante5.
5
Disponível em: https://educacaointegral.org.br/reportagens/7-educadores-brasileiros-fundamentais-
compreender-educacao-integral/. Acesso em: 6 jun 2021.
83
“No início houve muito diálogo, para apresentar essa novidade. Para a gente, a
escola de tempo integral era uma novidade. Houve também uma preparação física da
escola, uma preparação enquanto estrutura para tentar receber os meninos que
passam o dia todo aqui. A escola precisava passar por uma adaptação para poder
receber os estudantes o dia inteiro. E ainda, houve mudanças na questão da carga
horária das disciplinas. A introdução das disciplinas eletivas na escola, foi uma
84
“O 1º ponto foi a preocupação com a estrutura física da escola, que ao longo dos
anos vem sendo melhorada. Hoje tem ginásio poliesportivo coberto, as salas estão
climatizadas. Isso já traz um certo conforto, mas ainda precisa de melhoras. E em
relação ao fazer pedagógico, tivemos um vasto planejamento para compreender
como funcionariam as eletivas. Tudo foi pensado e definido em conjunto. E agora,
com o novo ensino médio, já estamos preparados, pois já trabalhamos com os
itinerários há bastante tempo, além da formação geral básica. (FERNANDES,
PROFESSOR).”
“[...] realizamos uma pesquisa de interesse com os alunos para identificar quais eram as
disciplinas eletivas de seu interesse e, a partir dessa consulta, é que as disciplinas foram
estabelecidas.” (NILDE, PROFESSORA).
Percebemos que os pontos levantados pelos professores vêm ao encontro do que
propõe a política das escolas de tempo integral do estado do Ceará:
Como tudo era novidade para a comunidade escolar, não só as disciplinas eletivas,
mais também o currículo como um todo precisava ser pensado, refletido e vivenciado,
considerando a realidade da escola, além das expectativas e necessidades dos estudantes.
Lopes e Macedo (2011) corroboram com essas ideias, afirmando que o currículo
precisa ser pensado “[...] não mais como seleção de conteúdo [...]”, mas “[...] como produção
cultural, com significados.” (MACEDO, 2011, p. 93).
86
“É uma oportunidade maravilhosa para os alunos. Como o próprio nome diz esse
integral não é só passar o dia na escola não, mas é passar o dia atendendo as várias
demandas do aluno, como por exemplo a formação cidadã, a questão das
competências socioemocionais e a própria questão dinâmica da aula, com a
construção do conhecimento. Então eu acho que a escola tempo integral é algo
necessário porque ela abrange uma visão mais ampla sobre o aluno. Na escola de
tempo integral o aluno é visto de uma forma mais completa, mais integral.”
(MIGUEL, PROFESSOR).”
87
Nesse contexto, Gonçalves (2006) cita que a jornada escolar ampliada só faz
sentido se “considerarmos uma concepção de educação integral com a perspectiva de que o
horário expandido represente uma ampliação de oportunidades e situações que promovam
aprendizagens significativas e emancipadoras”. (GONÇALVES, 2006, p. 131).
Fernandes complementou, afirmando que a sua visão é positiva em relação a
integralização, pois possibilita uma maior integração entre os estudantes e os demais sujeitos
da escola. Citou, também, que considera,
múltiplas dimensões. A Lei nº 13.415/2017 que fomenta o ensino médio em tempo integral
menciona as dimensões física, cognitiva, socioemocional. (BRASIL, 2017a). O Documento
Orientador do Ensino Médio em Tempo Integral no Ceará cita as competências
Socioemocionais, afetivas, intelectuais e éticas (CEARÁ, 2019b). E ainda, a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) elenca as dimensões social, ética, moral e simbólica (BRASIL,
2018a).
Compreendemos que a ampliação do tempo modifica a dinâmica da escola,
influenciando a vida de todos que ali convivem. Sobre os impactos gerados na vida dos
professores, os entrevistados apresentaram como principal elemento o vínculo com os
estudantes e a ampliação de disciplinas em que atuam, exigindo. assim, um planejamento
mais elaborado.
Segundo o professor Miguel, o trabalho ficou mais cansativo, mas a satisfação em
ensinar na Escola Esperança é grande.
“Torna-se mais cansativo. Antes eu era professor de NTPPS e agora eu também dou
aulas de eletivas. A variedade de aulas e disciplinas aumenta e isso se torna mais
cansativo. [...] Mas acrescenta muito também em mim quanto pessoa, como
professor que sou. [...] eu estive no início desse ciclo eu vi a primeira turma de
tempo integral terminar e eu vi alunos diferentes, jovens diferentes terminando o
ensino médio, com uma outra concepção, com uma outra forma de ver a faculdade,
uma outra forma de ver a escola, outra forma de ver até a vida enquanto ser humano,
enquanto profissional. Para mim a escola de tempo integral é muito boa, é muito
gratificante fazer parte dessa mudança, desse processo.” (MIGUEL, PROFESSOR).
“Existe uma aproximação maior com o estudante. A gente passa a conhecer melhor
e aproxima os estudantes e os sujeitos na escola. Na escola parcial não tem tempo
hábil para isso. [...] Em relação a carga horária ampliada, o professor não sente
diferença, pois só aumenta a carga horária do estudante. [...] O que gera a
aproximação com os estudantes é porque a gente entra mais vezes na sala da mesma
turma. O contato aumenta e com isso a aproximação é maior. Essa nova dinâmica
permite ouvir os estudantes. O estudante se torna um protagonista e com isso ele
acaba aprendendo mais e melhor.” (FERNANDES, PROFESSOR).
“A rotina da escola mudou. Nos aproximamos muito com os alunos. A gente tinha
contato apenas um turno e agora temos o contato o dia todo com ele. Agora temos
uma responsabilidade maior em relação ao desenvolvimento desses alunos. Isso faz
com que a gente se cobre um pouquinho mais. Isso me impactou como ser humano.
Aumentou a responsabilidade para corresponder às expectativas de alcançar os
objetivos da escola e da rede estadual. Em relação a carga horária não houve
mudanças, mas o contato maior com as turmas fez com que a gente se aproximasse
mais e aprofundasse mais os conteúdos.” (NILDE, PROFESSORA).
“No início deu um certo medo. Como seria passar o dia todo com aquele aluno que a
gente via só de manhã ou só à tarde e depois só no outro dia? Hoje eu me sinto
preparado, depois desse primeiro ciclo fechado já iniciando outro. [...] Eu estou com
novas turmas de 1º ano, então, iniciando um outro ciclo. Como desde o início eu
entendi a proposta e eu concordo com ela, com essa formação integral, hoje eu me
sinto preparado para atuar na EEMTI.” (MIGUEL, PROFESSOR).
de uma forma tradicional. Precisa planejar melhor para trabalhar questões do dia a
dia do aluno, para envolvê-lo.” (FERNANDES, PROFESSOR).
“[...] há uma troca muito maior no planejamento, há uma interação maior. A gente
conversa mais quanto professor, sobre o que a gente pode fazer em conjunto, já que
vários conteúdos estão em diferentes disciplinas. Hoje eu como professor diretor de
turma e a professora de português, podemos desenvolver um trabalho juntos, ou
ainda, eu enquanto professor de NTPPS e o professor diretor de turma de outra
turma, podemos desenvolver vários projetos juntos, enriquecendo a prática e
promovendo a formação integral dos estudantes.” (MIGUEL, PROFESSOR).
Ainda sob a mesma perspectiva, o professor Fernandes afirmou que: “cada área
realiza projetos. Muitas vezes, esses projetos são trabalhados com a união das áreas. Os
planejamentos são realizados em conjunto, pensando em atividades dinâmicas e do dia a dia,
além de questões que são exigidas no ENEM.” (FERNANDES, PROFESSOR).
Pela fala dos entrevistados, eles pensam em estratégias que ultrapassam o
conhecimento compartimentado das disciplinas, o que requer propostas pedagógicas
intencionais, objetivas, direcionadas e implicadas. Nessa perspectiva, Ferreira (1993) elucida
que a prática interdisciplinar, citada pelos professores entrevistados, carrega um sentimento
intencional. Segundo o autor, “não há interdisciplinaridade se não há intenção consciente,
clara e objetiva por parte daqueles que a praticam. (FERREIRA, 1993, p. 34).
Ainda sobre o planejamento, a professora Nilde afirmou que “[...] existe um
horário de planejamento na semana. Em cada dia da semana uma área de conhecimento se
reúne e pensa nos projetos que irá desenvolver. Assim, conseguimos distribuir o tempo para o
planejamento das diferentes atividades. Tudo é feito de forma coletiva.” (NILDE,
PROFESSORA).
Podemos perceber, nas falas dos professores, dois elementos importantes sobre o
planejamento na escola e sua importância nas relações escolares: Interdisciplinaridade e
93
planejamento coletivo. Esses são pontos que influenciam diretamente na forma como o
currículo acontece, uma vez que é construído, segundo relatos dos professores, de forma
coletiva e, portanto, de forma colaborativa e integrada, levando em consideração a cultura e as
percepções de cada um que faz parte desse processo.
Nesse contexto, Lopes e Macedo (2014, p. 41) definem que “o currículo é uma
prática de poder, mas também uma prática de significação, de atribuição de sentidos”. Nesse
sentido, o currículo condiciona a nossa realidade, uma vez que nele está empregado discursos
sobre a identidade, cultura, significações, representação, alteridade e relação de saber-poder.
(SOUZA; FAZENDA, 2017).
É importante enfatizar que a ampliação do tempo escolar traz mudanças e
transformações na dinâmica escolar, que exigem espaços de reflexão entre as diferentes áreas
de conhecimento. Dentro dessa perspectiva, o planejamento “[...] pode representar o espaço e
o momento estratégico de construção da mudança da prática, configurada pelo
desenvolvimento do currículo baseado na escola” (CUNHA, 2011, p. 583).
Santos (2019) afirma que:
Essa interação das dimensões de contexto escolar com as culturas dos sujeitos que
compõem a escola produzem as traduções das políticas públicas, pois os resultados
das ações vão se constituir a partir dessas articulações, nos quais as individualidades
e as identificações vão se hibridizando e se transformando em novos processos de
representação. (SANTOS, 2019, p. 479).
Essa percepção vem ao encontro ao que propõe Ball, Maguire e Braun (2016),
sobre o contexto da política, quando afirmam que a elaboração de uma política pública deve
considerar o processo diverso que é sujeito a várias interpretações pelos atores que a encenam
nas instituições educacionais.
Ainda sobre a questão do planejamento das aulas, pensado no currículo da escola
em tempo integral, perguntamos aos professores sobre a transformação do que foi planejado,
em prática efetiva. Segundo o professor Miguel,
“A gente tenta planejar, sempre pensando em prática. [..] na sala de aula, quando a
gente coloca o planejamento em prática, ele já foi pensado com esse objetivo, e os
alunos compram a ideia. Quando você começa a colocar uma atividade em prática,
eles compram a ideia, eles passam a participar também, porque eles se sentem
envolvidos, porque a gente está preparado para aquilo.”
perspectiva, o professor Moacir, enfatiza que para colocar em prática o que foi planejado, é
necessário deixar de lado a pedagogia tradicional e partir para práticas inovadoras, que
possibilitem aos estudantes ser um agente do processo. Para ele,
“O planejamento começa com a teoria. Mas essa teoria, que foi discutida e refletida
com os professores de uma área de conhecimento ou entre áreas diferentes, precisa
ser colocada em prática. Costumamos na área de matemática em específico, usar
materiais concretos, usando as diferentes tecnologias. Tudo isso é planejado na
semana anterior a aplicação da sala.” (FERNANDES, PROFESSOR)
O professor Moacir também citou algumas estratégias que utiliza para avaliar a
aprendizagem.
Percebe-se nesse contexto, que não se trata de uma avaliação feita exclusivamente
para os estudantes da escola, mas uma verificação de desempenho em larga escala, elaborada
para avaliar e diagnosticar as lacunas educacionais em nível de estado. De um modo geral, as
políticas de avaliação em larga escala são operadas para auxiliar na disseminação do debate
sobre a qualidade que se tem em relação à qualidade que se quer alcançar. Diante desta
situação, podemos considerar que não há neutralidade nos caminhos utilizados nessa atividade
avaliativa, visto que se avalia para afirmar valores e induzir mudanças em uma dada direção.
(SOUSA; LOPES, 2010).
Vale ressaltar que as políticas educacionais, baseadas em resultados, trazem
consigo a filosofia da responsabilização, “[...] entendida como uma atitude legitima de
cobrança de resultados por parte do governo no cumprimento de seu papel de representante
dos interesses da coletividade.” (BROOKE, 2013, p. 121). Portanto, mesmo sendo uma
avaliação diagnóstica, gerando resultados para a escola, existe a responsabilidade com os
resultados, dentro da rede estadual de ensino. A realização da avaliação diagnóstica vem
como uma determinação para a escola. A escola precisa realizá-la no prazo e nas condições
apresentadas nas diretrizes estaduais.
Além da avaliação diagnóstica e processual, os entrevistados citaram as provas
bimestrais como uma prática avaliativa. Isso nos leva a compreender que a escola Esperança
não está isenta da avaliação como mecanismo em que “[...] os desempenhos de sujeitos
97
A relação escola e família está prevista no art. 12 da LDB, afirmando que: “Os
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino,
terão a incumbência de: [...] VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola.” A fala do professor destaca a integração
da família e escola como um desafio a ser vencido na escola Esperança.
Szymanzki (2003, p.75) reforça a importância da relação escola e família,
afirmando que “[...] a intermediação da comunidade com a participação de seus representantes
também abre perspectivas de uma parceria, na qual a troca de saberes substitua a imposição e
o respeito mútuo e podendo fazer emergir novos modelos educativos, abertos à contínua
mudança.” Daí, a importância de aproximação entre a escola e as famílias dos estudantes.
Um outro desafio que foi citado por todos os entrevistados se refere à estrutura
física e os ambientes pedagógicos para a realização das aulas. Sobre esse assunto, o professor
Miguel enfatizou que:
“[...] também tem as questões que envolvem o dia a dia, a questão estrutural da
escola. e ainda, os estudantes tem que ter algo que atraia ele na escola que o faça
querer estar o dia todo dentro da escola. Então assim é uma tentativa de estar sempre
mostrando algo novo. Dentro dessas perspectivas tem a competência que é
trabalhada que é a abertura ao novo. [...] a gente tá sempre ali, tentando trazer algo
98
novo instalando para que ele queira estar ali e se sinta a vontade dentro da escola.
tudo isso são desafios.” (MIGUEL, PROFESSOR).
“Com o tempo integral, veio a disciplina do NTPPS e o trabalho dos PDTS. A gente
vê a diferença dos estudantes após a inserção dessas disciplinas, porque elas
trabalham as competências socioemocionais. Acho isso extraordinário. Não se
trabalha mais só o conhecimento cognitivo. Se sabe o quanto o meio social apresenta
problemas e muitos não tem esperança no amanhã, e aí vem essas disciplinas para
trabalhar essas questões. Agora a gente conhece a realidade dos alunos e isso está
contribuindo muito para a formação deles. Ainda tem as eletivas, em que o aluno
escolhe os itinerários que quer seguir. Todas essas disciplinas que foram
acrescentadas contribuem muito para o desenvolvimento mais integral do aluno.”
(FERNANDES, PROFESSOR).
Não podemos nos esquecer de que as “[...] as políticas são textos complexos
codificados e decodificados de forma complexa em meio a lutas, negociações, acordos e
alianças, espelhando a própria historicidade”. Lopes e Macedo (2011b, p. 257). Nesse
contexto, os professores e demais sujeitos da escola tem papel primordial, pois são eles que
vivenciam essas políticas, considerando as suas percepções e conceitos.
É importante enfatizar que as políticas normalmente não nos dizem o que fazer,
elas criam circunstâncias nas quais o espectro de opções disponíveis sobre o que fazer é
reduzido ou modificado ou em quais metas particulares ou efeitos são estabelecidos. Uma
resposta ainda precisa ser construída no contexto, contraposta ou balanceada por outras
expectativas. Tudo isso envolve algum tipo de ação social criativa (BALL, 2006, p. 26, apud
SCHUCHTER, 2017, p. 77).
101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
exclusivamente a partir do texto da política. Como afirma Santos (2016), as políticas passam
por recontextualizações dentro da escola, tomando forma, de acordo com as traduções
realizadas pelos professores. Ball e Bowe (1998) reforçam essa ideia quando afirmam que o
espaço escolar consiste em uma perspectiva micro da política cuja aplicação sofre
deformações e reaplicações através das singularidades e percepções subjetivas dos próprios
docentes. (BALL; BOWE, 1998).
Isso pode ser perfeitamente inserido no contexto do currículo escolar. A matriz
curricular é estabelecida, mas, é a escola, através da ação dos docentes, durante a sua prática
pedagógica, que vai construindo e recontextualizando o currículo de acordo com as
percepções e compreensões de cada indivíduo e de cada realidade. Daí, a nossa pergunta
norteadora do trabalho: Quais as implicações da atuação docente para a recontextualização do
currículo na escola de ensino médio em tempo integral no estado do Ceará? De modo a
responder as indagações que deram origem a essa pesquisa, apresentamos algumas reflexões
finais.
A investigação dos documentos, à luz do referencial teórico, permitiu a
compreensão de que as políticas de currículo são construídas a partir da compreensão de cada
um, sobre o texto da política e a vivência no contexto escolar.
O nosso estudo foi realizado em uma escola em tempo integral, do município de
Fortaleza e traz à tona reflexões importantes e significativas sobre a temática. Um ponto de
destaque é que a política pública, ao ser vivenciada na escola, ultrapassa muito o que está em
seu texto original. Questões que sequer aparecem no texto, como ambientes pedagógicos,
equipamentos, profissionais suficientes para cada ambiente e qualificados para os novos
componentes curriculares não aparecem na política, mas são de fundamental importância para
quem vivencia a prática pedagógica. Cada elemento do texto precisa ser pensado e
interpretado considerando a realidade em que está sendo vivenciada.
Não é possível desenvolver atividades em tempo integral, numa perspectiva de
currículo voltado para a formação integral, se os ambientes da escola não estivem apropriados
e os profissionais não estiverem qualificados para essa prática. O currículo vai se moldar à
realidade do ambiente em que está sendo desenvolvido.
Outro ponto importante da pesquisa é o fortalecimento de vínculos que são
gerados entre professores e estudantes, a partir da integralização. O tempo maior de
permanência na escola permite um contato mais amplo entre os sujeitos da escola e,
consequentemente, um acompanhamento mais intenso e de qualidade, permitindo, assim, a
construção de um currículo mais voltado para as necessidades e expectativas dos estudantes.
103
REFERÊNCIAS
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espaço: problematizando conceitos. Educação: Teoria e Prática. Rio Claro, SP, v. 27, n.56,
p. 542-561, set/dez, 2017.
ABREU, Rozana Gomes de; LOPES, Alice Casimiro. Políticas de currículo para o ensino
médio no Rio de Janeiro: o caso da disciplina química. Contexto & Educação. Ano XXI, n.
76, jul/dez, p. 175-200, 2006.
BALL, Stephen J.; MAGUIRE, Meg; BRAUN, Annette. Como as escolas fazem aspolíticas:
atuação em escolas secundárias. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.
BALL, Setehen et al. A constituição da subjetividade docente no Brasil: um contexto global.
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