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Carlos Benedito Martins

NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA

DOSSIÊ
TRANSNACIONAL DE ENSINO SUPERIOR

Carlos Benedito Martins*

O presente artigo, tendo como referência analítica a relação reciproca entre processo de globalização e en-
sino superior, tem por objetivo abordar determinas transformações que estão ocorrendo no ensino superior
nas sociedades contemporâneas. Apoiado numa bibliografia pertinente ao tema, o artigo salienta que, no
contexto da globalização, o ensino superior não se confina mais nos limites das sociedades nacionais, mas
transborda para além de suas fronteiras. Indica a emergência de determinados acontecimentos ocorridos
nas últimas décadas que conduziram o ensino superior a atuar num espaço transnacional. As informações
fornecidas pelo artigo tendem a indicar que, nas sociedades contemporâneas, o ensino superior vem adqui-
rindo, cada vez mais, uma dimensão relacional, de tal modo que as universidades e seus respectivos países
estão constantemente se comparando e competindo uns com os outros em busca de prestígio acadêmico no
contexto internacional do ensino superior.
Palavras-chave: Desterritorialização do ensino superior. Mobilidade acadêmica internacional. Rankings in-
ternacionais. World class University

Introdução político, cultural e acadêmico, o processo de


globalização tornou-se uma potente força na
O ensino superior contemporâneo, em produção de transformações em várias esferas
nível internacional, encontra-se imerso num da vida social contemporânea. Ao analisar o
turbilhão de profundas transformações sociais, fenômeno da globalização, Turner e Khondker
políticas, econômicas e culturais que atingem, destacam que qualquer investigação sociológi-
de modo variável, a maioria dos países. O pre- ca, nos dias atuais, que pretenda abordar uma
sente artigo assume o pressuposto de que uma nação, uma região, uma remota cidade, e (ou)
adequada compreensão das mudanças que es- um fenômeno específico, tal como o ensino su-
tão em curso no ensino superior contemporâ- perior, corre o risco de se tornar incompleta,

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neo necessita considerar tanto o funcionamen- caso não contemple o contexto global e suas
to de seus diversos sistemas nacionais quanto relações com os níveis local e nacional (Tur-
o espaço transnacional desse nível de ensino, ner; Khondker, 2010).
bem como as complexas relações existentes No contexto da globalização, as atividades
entre essas duas dimensões nas quais ocorre econômicas, políticas e culturais não se confi-
sua atuação. Este artigo assume também que nam nos limites das sociedades nacionais, mas
o fenômeno da globalização – compreendido tendem a transbordar para além de suas frontei-
como um processo multidimensional – cons- ras. Essa mesma dinâmica do processo de globa-
titui uma das características centrais das so- lização encontra-se presente também na estrutu-
ciedades contemporâneas. Ao manifestar ração do ensino superior contemporâneo. Nessa
uma complexa intensificação de intercone- direção, é possível constatar a existência de siste-
xões transnacionais nos planos econômico, mas nacionais de ensino nos diversos continen-
tes e, simultaneamente, a constituição de uma
* Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Ciências esfera transnacional na qual se movimentam
Humanas, Departamento de Sociologia.
Campus Universitário UnB. Deptº de Sociologia. Asa Nor- milhares de instituições, milhões de estudantes,
te. Cep: 70910-900. Brasília – Distrito Federal – Brasil.
carlosb@unb.br e a presença de uma pluralidade de atores envol-

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792015000200004
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vidos com o funcionamento e a dinâmica do en- Globalização e ensino supe-


sino superior (Neves, 2011; Gibbs, 2010; Knight, rior
2008; Ferreira, 2006).
As análises sociológicas a propósito da O processo de globalização que vem se
inserção do ensino superior no processo de formando nas últimas décadas se entrelaça
globalização encontram-se ainda numa etapa com a manifestação de uma série de eventos
incipiente, quando comparadas com o expres- que indicam a configuração de novos espa-
sivo volume de produção acadêmica existente ços pós-nacionais. Nessa direção, observa-se
a respeito das dimensões econômicas, políti- a existência de uma economia global que in-
cas, tecnológicas e culturais que o integram corpora desigualmente nações no contexto de
(Held; McGrew, 2012; O’Byrne; Hensby, 2011; uma nova divisão internacional do trabalho,
Lemert; Elliot, 2010). Ao mesmo tempo, verifi- verifica-se a circulação de um intenso fluxo de
ca-se que uma parte significativa de trabalhos capital financeiro que se desloca com velocida-
voltados à compreensão das relações entre de de uma nação para outra em busca de maior
globalização e ensino superior tem sido pro- lucratividade, e percebe-se a também prolife-
duzida fundamentalmente por pesquisadores ração de instituições supranacionais que têm
provenientes da área de educação (Margison e impacto nas agendas sociais de numerosos
col., 2011; Marige; Foskett, 2010; Knight, 2008; países, etc. Os governos nacionais, longe de
King, 2004; Scot, 1998). Os trabalhos realiza- desaparecerem, passam a manter complexas
dos por educadores em diferentes partes do relações com esses organismos multilaterais.
mundo têm oferecido um significativo aporte Ao mesmo tempo, constata-se uma acentuada
para a compreensão das relações entre globali- mobilidade de pessoas que se deslocam com
zação e ensino superior. No entanto, a sociolo- inusitada frequência entre diferentes nações –
gia, tanto internacional quanto a realizada na seja por decisão voluntária, seja por processo
sociedade brasileira, tem o desafio de incluir de migração –, o aparecimento de novas tecno-
em sua agenda de trabalho, de forma sistemá- logias de comunicação interligando indivíduos
tica, a análise da inserção do ensino superior que habitam em diferentes lugares do planeta,
no contexto da globalização, preservando um a circulação internacional do conhecimento, a
diálogo com outras disciplinas das ciências constituição de uma mídia mundial, o surgi-
humanas que vêm abordando a constituição
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mento de cidades globais, o aparecimento de


de uma sociedade global. uma sociedade civil mundial, etc. (Turner e
Este artigo, tendo como ponto de referên- Elliot, 2012; Perkins e Thorns, 2012; Urry e El-
cia analítica a relação reciproca entre proces- liot, 2010; Knight, 2003; Delanty, 2002, 2009,
so de globalização e ensino superior, tem por Robertson, 2000).
objetivo abordar, brevemente, determinados O advento do processo de globalização
fenômenos que têm contribuído para a cons- implicou profundas transformações na natu-
tituição de um novo locus de funcionamento reza da universidade. A concepção de univer-
do ensino superior nas sociedades contempo- sidade formulada por Humboldt, que orientou
râneas, vale dizer, de um espaço transnacional por um longo período histórico sua estrutura-
de ensino superior. A emergência dessa nova ção em diversos países, gradativamente passou
esfera de atuação do ensino superior expres- a ceder lugar a novos arranjos institucionais
sa o rompimento de determinados sistemas de que vêm se difundindo globalmente (Kwiek,
ensino superior e de seus atores com os limites 2006, 2005; Gibbons, 2004, 1998; Readings,
de suas fronteiras nacionais e um alargamento 1996). A clássica análise, realizada por Clark
de sua atuação em direção a uma esfera trans- Kerr (2001), em seu livro The uses of the Uni-
nacional. versity, ressaltou que as complexas relações

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que algumas universidades passaram a estabe- meio para incrementar a competitividade no


lecer com as demandas econômicas, políticas e mercado global. Nessa perspectiva, as univer-
com amplos setores da sociedade contemporâ- sidades que realizam pesquisa capaz de gerar
nea alteraram sua natureza institucional. Para inovações nas esferas econômica e social pas-
Clark Kerr, o aparecimento da multiversidade saram a ser consideradas como atores relevan-
constituiu um marco na inflexão do mode- tes no processo de globalização e tendem a
lo de universidade concebida por Humboldt. ocupar uma posição destacada nos contextos
Constata-se que, a partir das últimas décadas nacional e (ou) internacional do ensino supe-
do século passado, delineou-se uma nova con- rior (Castells, 1994; Robertson, 1998).
cepção, que atribui à universidade uma função Uma das faces mais visíveis do processo
estratégica no crescimento das economias na- de globalização no ensino superior manifes-
cionais e um papel no incremento da compe- ta-se por meio da participação de organismos
titividade dos países no contexto da economia multilaterais na formulação de sua agenda
global. Diante das conexões que a universidade internacional realizada por instituições como
passou a manter com as demandas econômi- UNESCO, Banco Mundial, OCDE, União Eu-
cas e com a formação de quadros profissionais ropeia etc. Com frequência, as propostas de
especializados para atendê-las, Zygmunt Bau- novos modelos para o ensino superior são
man assinalou que determinados princípios elaboradas por essas agências que circulam
universidades acadêmicos que orientaram a universidade por tanto nos espaços regionais, nacionais como
líquidas um longo período têm sido considerados obso- num circuito mundial (Manicas, 2004; Enders,
letos por vários agentes que circulam em seu 2002; Wende, 2001). No entanto, as transfor-
interior (Bauman, 2012, 1997). mações que vêm ocorrendo em diferentes es-
Ao analisar as relações entre ensino su- paços universitários nacionais não constituem
perior e processo de globalização, Castells des- uma consequência direta das recomendações
tacou que, além da emergência de um mercado das organizações internacionais, tampouco re-
econômico global, que se intensificou nas últi- presentam um desdobramento de constrangi-
mas três décadas, vem ocorrendo a produção mentos e imposições vindos do exterior. Como
de um volume de conhecimentos científico e indica a bibliografia sobre essa temática, em
tecnológico que mantém relação com a acu- determinadas reformas realizadas em diversos
mulação do capitalismo global. Em sua pers- contextos societários, mesmo quando classifi-

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pectiva, em contraste com fatores produtivos cadas como “internacionais”, as agendas dos
tradicionais, tais como terra, recursos naturais, organismos multilaterais tendem a ser (re)tra-
esforço humano e maquinarias, nas sociedades duzidas e (re)apropriadas pelos atores nacio-
contemporâneas, a produção de novos conhe- nais. A análise do impacto dessas agências no
cimentos transformou-se em um novo fator de ensino superior coloca em relevo a necessida-
produção. Nessa direção, Castells e outros au- de de se cotejarem as complexas relações que
tores têm ressaltado que, no contexto atual, a envolvem a interação entre as dimensões glo-
atividade de pesquisa não repousa mais, como bal e nacional, uma vez que as diferentes faces
no passado, apenas na autonomia intelectual do processo de globalização encontram-se su-
do pesquisador individual. Tanto é assim que, jeitas às influências das sociedades nacionais
em larga medida, em numerosos países, a pro- (Douglas; King, 2009; Scott, 2006; Antunes,
dução de conhecimentos tem sido com frequ- 2005; Guadilla, 2004; Currie, 2003)
ência subsidiada por fundos governamentais Na análise de alguns autores, além das
ou privados, que estabelecem parcerias com agendas dos organismos multilaterais que re-
equipes de pesquisadores de universidades e verberam em diferentes países, configurou-se,
(ou) outras instituições congêneres, como um pouco a pouco, a partir das últimas décadas do

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século passado, um novo modelo de estrutura- DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ENSI-


ção das universidades denominado de Emer- NO SUPERIOR: instalação de campi
ging Global Model (EGM), cuja fonte inicial de universidades estrangeiras em
de inspiração foi a estrutura acadêmica das vários países
universidades norte-americanas que, a partir
da Segunda Guerra, assumiu uma posição do- Um fenômeno que se encontra relacio-
minante no contexto internacional do ensino nado com o processo de globalização diz res-
superior (Clark, 2008; 1990). peito ao incremento dos sistemas de mobilida-
Esse novo modelo de organização da de que surgiram no mundo contemporâneo.
vida acadêmica, que vem sendo adotado mun- Vários autores têm salientado a importância
do afora, possui determinadas características de explorar sociologicamente o impacto dos
comuns no modus operandi das universida- diferentes sistemas de mobilidade na confor-
des, entre as quais se destacam: (i) são institui- mação da vida cotidiana dos indivíduos. Para
ções cuja vocação acadêmica transcende suas John Urry, sistemas de mobilidade referem-se
fronteiras nacionais, uma vez que se propõem ao desenvolvimento de distintas tecnologias
a formar indivíduos capazes de atuar profis- que permitem o deslocamento físico e (ou) vir-
sionalmente em distintos contextos da socie- tual dos indivíduos e uma maior comunicação
dade global; (ii) seu foco principal baseia-se entre eles. Nesse sentido, destaca as inovações
na atividade de pesquisa como um mecanis- nos diferentes meios de transporte, o vertigi-
mo de desenvolvimento econômico e social noso aumento das viagens aéreas que interli-
da economia global (iii) possuem uma elevada gam velozmente cidades, países e continentes,
complexidade organizacional interna; (iv) uti- o incremento do turismo, a existência de uma
lizam uma sólida infraestrutura para pesquisa rede mundial de computadores, que propiciou
que possibilita a geração de novas descobertas o acesso de milhões de indivíduos à internet
científicas e tecnológicas; (iv) recrutam do- e ao uso do Skype, o aparecimento de novos
centes que passam a integrar equipes inter- aparelhos, que permitem uma rápida comuni-
disciplinares e estabelecem estreitas relações cação entre indivíduos, como os laptops e os
acadêmicas com parceiros internacionais; (v) telefones celulares (iPods, Smartphones, Bla-
adotam uma diversificação de captação de ckBerry etc.). Essas inovações tecnológicas
recursos que inclui cobrança de anuidades,
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propiciaram uma circulação mundial de pes-


parcerias com corporações e governos, criação soas e de informações, permitindo aos indiví-
de empresas como spin-offs a partir das quais duos que têm acesso a esses instrumentos des-
docentes passam a explorar novos produtos locarem-se pelos quatro cantos do mundo sem
ou serviços de alta tecnologia; (viii) utilizam sair de um determinado lugar físico (Harvey;
estratégias de recrutamento internacional de Thorns, 2012; Urry; Elliot, 2010; Ling, 2008;
estudantes, professores e administradores uni- Kaufmann, 2003).
versitários; (viii) participam, por meio de seus O processo de globalização no ensino
docentes e alunos, das atividades de corpora- superior impulsionou o crescimento do mer-
ções transnacionais, organismos multilaterais cado internacional de trabalho para docentes,
e de uma pluralidade de agências (governa- cientistas e administradores universitários,
mentais, não governamentais nacionais e inter- que passaram a utilizar o inglês como língua
nacionais); (ix) introduziram, em seu interior, franca na comunicação acadêmica (Rostand,
procedimentos de gestão empresarial tanto na 2011). No entanto, um dos fenômenos mais sa-
cultura administrativa da universidade quan- lientes nesse processo diz respeito à crescente
to na sua organização acadêmica (Mohrman; oferta de serviços educacionais por universi-
Baker, 2008; Clark, 2003; Deem, 2001). dades estrangeiras que cruzam suas frontei-

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ras nacionais, instalando-se em outros países. çou as bases que possibilitam às universidades
Uma constelação de fatores tem contribuído estrangeiras estabelecerem campi em outros
para a produção desse fenômeno, entre os países, removendo obstáculos legais à reali-
quais se observa a existência de uma demanda zação dessas atividades. A educação constitui
reprimida de acesso ao ensino superior em de- um dos doze serviços abrangidos pelo acordo,
terminados países, uma revolução nas tecnolo- e o seu objetivo é promover a liberalização do
gias de informação e a desregulamentação das comércio de serviços educacionais por meio
trocas comerciais em geral. Muitas dessas ins- da eliminação progressiva de barreiras comer-
tituições satélites estão localizadas em países ciais. EUA, Nova Zelândia e Austrália são os
nos quais os governos nacionais promoveram países mais entusiastas dos benefícios do Gats,
cortes orçamentários em seus sistemas de en- uma vez que são os maiores exportadores de
sino superior e encorajaram o estabelecimento serviços universitários (Altbach; Knight, 2006;
de joint ventures com universidades estrangei- Knight, 2003).
ras (Altbach; Knight, 2006). A instalação do campus da New York
Apesar da forte expansão do ensino que University (NYU) na cidade de Abu Dhabi, ca-
ocorreu a partir de meados do século passado pital dos Emirados Árabes Unidos, representa
no plano internacional, a demanda por ensino um caso arquetípico no processo de sateliti-
superior continua crescendo, mesmo em so- zação de instituições estrangeiras em outros
ciedades que estão abaixo de 20% na absorção países. A NYU oferece, nessa cidade, cursos
de estudantes entre 18 e 24 anos de idade, tal de graduação em artes e ciências. Além de ab-
como ocorre com Índia, China e muitos paí- sorver estudantes locais e de outras regiões do
ses da África. As regiões que mais importam Oriente Médio e da Índia (Mumbai fica distante
serviços educacionais estão concentradas na apenas duas horas e meia de voo), a NYU Abu
Ásia, no Oriente Médio e na América Latina. Dhabi objetiva incorporar, no corpo discente,
Os maiores provedores são países de língua in- alunos provenientes dos Estados Unidos que
glesa (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelân- desejem manter contato com outras culturas.
dia, Inglaterra). A partir de 2000, vários campi Os dirigentes americanos da instituição procu-
foram criados, especialmente no Oriente Mé- ram inserir seus estudantes num circuito aca-
dio e no Sudeste Asiático, de tal forma que, dêmico que eles denominam de global network
em 2009, existiam 162 campi internacionais university, no qual os alunos podem realizar

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(Wildavsky, 2010). parte do curso na sede central da instituição,
A Organização Mundial do Comércio na cidade de Nova York, bem como em outros
(OMC), por meio do Acordo sobre o Comércio campi que a NYU pretende instalar em Berlim,
de Serviços (Gats), incluiu, em sua pauta de Florença e Shanghai. Com esse procedimen-
trabalho, a discussão de um marco regulatório to, seus dirigentes almejam formar cidadãos
para introduzir a educação no sistema multila- globais que, uma vez titulados, sejam capazes
teral de serviços. Nessa direção, pretende faci- de atuar em qualquer parte do mundo (Wilda-
litar a desterritorialização do ensino superior vsky, 2010).
por meio da educação à distância, do estabe- Para dirigir a instituição, foi recrutado o ex
lecimento de franchising por parte de institui- -presidente do Swarthmore College, que tem procu-
ções de ensino, da utilização de joint ventu- rado absorver docentes do próprio quadro da NYU
res e também por meio da prática de branch e também professores altamente qualificados de ou-
campuses. Um acontecimento de significativa tras regiões do mundo. Para atrair esses professores,
importância para o ensino superior foi a fi- a instituição tem oferecido salários competitivos
nalização da Rodada Uruguai de negociações e benefícios como residência subsidiada, escolas
comerciais em 1995, que, ao criar o Gats, lan- gratuitas para seus filhos e bilhete aéreo anual em

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classe executiva para o país de origem. Os custos da usufruir mundialmente, após a Segunda Guer-
instalação do campus foram inteiramente financia- ra, alimentou esse processo. Foi no período
dos pelos governantes dos Emirados Árabes Unidos, pós-guerra que determinadas universidades de
que também assumiram o pagamento do salário dos pesquisa norte-americanas captaram vultosos
professores. fundos públicos e privados, estruturaram só-
lidos departamentos e laboratórios de investi-
gação e obtiveram um número expressivo de
Mobilidade acadêmica trans- Prêmios Nobel. Dessa forma, passaram a atrair
nacional estudantes estrangeiros de várias partes do
mundo para realizar seus estudos de gradua-
A mobilidade acadêmica possui uma ção e (ou) pós-graduação em suas universida-
longa tradição na história do ensino superior, des (Geiger, 2004). Ao mesmo tempo, os avan-
uma vez que, novecentos anos atrás, estudan- ços tecnológicos nos meios de comunicação e
tes de diversas origens europeias dirigiam-se de transporte, bem como determinadas orien-
às universidades de Bolonha, Paris e Oxford, tações culturais que se encontram presentes
construídas no período feudal. No entanto, em numerosas sociedades – que tendem a im-
nas últimas décadas, a mobilidade estudantil pelir os indivíduos a se moverem de suas loca-
tornou-se um componente central na estru- lidades para outros países, que valorizaram a
turação do ensino superior internacional. Em aprendizagem de novas competências linguís-
1950, existiam 110 mil estudantes que cruza- ticas – possuem um significativo impacto na
ram as fronteiras de seus países e estudavam motivação dos indivíduos de realizarem seus
em universidades estrangeiras. Nos primeiros estudos em universidades estrangeiras.
anos da década de 1970, atingiu-se a cifra de Os estudantes estrangeiros estão con-
500 mil estudantes estrangeiros. A partir dos centrados em países como EUA, Inglaterra,
1990, houve uma rápida expansão dessa cir- Alemanha, França, Austrália, Japão e Canadá,
culação e, no final daquela década, registra- que absorvem 62% deles. Alguns países, como
vam-se 1,75 milhão de estudantes. Em 2008, Austrália, Canadá, Inglaterra e Estados Unidos,
atingiu-se o patamar de 3,3 milhões de estu- recrutam estudantes como forma de captar
dantes em cursos de graduação e pós-gradu- recursos para suas universidades e para suas
ação em instituições estrangeiras. Estima-se respectivas economias nacionais, uma vez que
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que, nos próximos dez anos, 7,5 milhões de estabelecem a cobrança de elevadas taxas. A
estudantes estarão realizando seus estudos em Nova Zelândia gera mais dividendos finan-
universidades estrangeiras (Brooks e Waters, ceiros com o ensino superior do que com sua
2013; Banks, 2007). O rápido crescimento da indústria de vinhos. O Canadá obtém maiores
mobilidade estudantil nas últimas décadas ganhos econômicos com o ensino superior do
tem impulsionado a formação de um espaço que com a exploração de madeira e carvão; o
mundial de ensino superior, no qual se ins- mesmo ocorre com a Inglaterra, onde o ensino
taurou uma acirrada competição entre deter- superior suplantou, em volume financeiro, sua
minados países e instituições para absorvê-los, indústria automotiva (Wit, 2010). Estima-se
visando a aumentar a internacionalização de que, nos Estados Unidos, os estudantes estran-
seus sistemas nacionais de ensino superior e geiros, no início dos anos 2000, aportaram 12
incrementar a competitividade econômica de bilhões de dólares em sua economia e que essa
suas sociedades no contexto da globalização cifra atinja o patamar de 18 bilhões de dólares
(Woodfield, 2010). na década de 2010 (OCDE, 2004).
De certa forma, a reputação de que as Os Estados Unidos absorvem atualmente
universidades norte-americanas passaram a aproximadamente 22% dos estudantes que rea-

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lizam estudos no exterior. Dos 584 mil estudan- tudantes internacionais. Em 2001, havia, em
tes estrangeiros que frequentam as universida- suas universidades, 105 mil estudantes estran-
des americanas, metade procede de países asi- geiros. Esse número aumentou para 207 mil
áticos, com destaque para Índia (13%), China em 2006. A Austrália construiu uma sólida
(11%), Coreia do Sul (9%), Japão (7%), Taiwan rede de recrutamento de estudantes interna-
(5%), Tailândia (1,5%), Indonésia (1,3%) e Ma- cionais em vários países através de uma or-
lásia (1,2%) (Altbach, 2004). ganização privada denominada IDP. Os dados
Quando se examinam os dados relativos indicam que ela tem recrutado principalmen-
à Inglaterra, observa-se que a China ocupa a te estudantes na Ásia. A China representa o
primeira posição, uma vez que 15% dos estu- maior contingente de estudantes estrangeiros
dantes estrangeiros nas universidades inglesas na Austrália (30%). A seguir, aparecem Índia
são procedentes daquele país. A seguir, apa- (17%), Malásia (9%), Hong Kong (8%), Indoné-
recem Índia (7%), Grécia (6%), Irlanda (76%), sia (6%) e Coreia do Sul (5,7%) (Banks, 2007).
EUA (4,5%) e Malásia (3%). A Alemanha, que Alguns trabalhos têm destacado o re-
absorvia 259 mil estudantes em 2006, tem atra- crutamento de estudantes estrangeiros que
ído um número significativo de estudantes da vem sendo realizado por países que tradicio-
China (10%), aparecendo, em seguida, Turquia nalmente se comportavam como exportadores
(8%), Polônia (6%), Bulgária (7%), Itália (3%), de corpo discente. Nesse sentido, assinalam
França (2,5%) e Grécia (2%). A Alemanha tem a emergência de novos competidores no mer-
utilizado a estrutura do DAAD – uma organi- cado mundial de ensino superior. A Jordânia
zação intermediária entre o ensino superior planeja recrutar 100 mil estudantes até o ano
alemão e agências governamentais – como um de 2020; Singapura aspira absorver 150 mil
mecanismo para promover a internacionaliza- até 2015; o Japão almeja arregimentar 300 mil
ção de suas universidades (Green; Koch, 2010; estudantes estrangeiros até 2020. A China pla-
Verbick; Lasanowski, 2007). neja incorporar 500 mil estudantes de várias
A França tende a atrair e a recrutar es- nacionalidades em suas universidades até o
tudantes a partir de laços históricos e cultu- ano de 2020. Para atingir suas metas, esses
rais que estabeleceu com determinados países. países têm realizado reformas institucionais,
Nesse sentido, o Marrocos ocupa a primeira introduzindo a língua inglesa em seus cursos,
posição, representando 10% dos estudantes construindo uma infraestrutura física capaz

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estrangeiros na França, seguido pela Argélia de acomodar milhares de novos estudantes e
(9%). No entanto, chama a atenção o cresci- criando fundos de bolsas de estudos capazes
mento de estudantes chineses em seu territó- de atrair um número expressivo de estudan-
rio. Em 1999, havia 1.300 estudantes chineses tes estrangeiros (Bhandari; Blumenthal, 2011;
na França; em 2006, esse número saltou para Gürüz, 2008).
16 mil. O aumento é tão significativo, que a Não são apenas os alunos talentosos que
China ocupa atualmente a terceira posição, determinadas universidades estrangeiras pro-
com 6% de estudantes. Embora a França venha curam atrair. Várias instituições vêm admitin-
introduzindo a língua inglesa em algumas de do professores estrangeiros que possuam uma
suas instituições, observa-se, com exceção da sólida formação acadêmica e que sejam capa-
China, uma inexpressiva presença de estudan- zes de integrar suas equipes de pesquisa. Sites
tes de países asiáticos em seu território, como especializados e revistas como Times Higher
Malásia, Hong Kong, Singapura, países que, Education publicam com frequência, em suas
com frequência, exportam estudantes. páginas, oferta de empregos para professores
A Austrália vem desenvolvendo uma e pesquisadores em universidades situadas
política sistemática de recrutamento de es- em diferentes países. Simultaneamente, várias

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instituições que almejam ocupar posição de Jiao Tong University em seu Instituto de Ensi-
destaque no mercado global de ensino supe- no Superior. A primeira edição desse ranking
rior e (ou) branch campuses vêm contratando surgiu em 2003, mas sua formulação vinha
também ex-reitores e (ou) administradores de sendo elaborada desde 1999. O impulso para
universidades que gozam de prestígio interna- sua elaboração foi dado pelos administradores
cional. Nesse sentido, esta ocorrendo a forma- da universidade, preocupados com o declínio
ção de um novo mercado de trabalho para qua- acadêmico das universidades chinesas. Em
dros universitários, situado além das frontei- função dessa inquietação, foi realizada uma
ras dos sistemas nacionais de ensino superior. série de discussões internas, a fim de criar
uma metodologia para medir a distância en-
tre as universidades chinesas e as de maior
EMERGÊNCIA DOS RANKINGS IN- reputação mundial. Um professor de química
TERNACIONAIS dessa universidade, Nian Cai Liu, que exercia
o cargo de diretor do Instituto de Ensino Supe-
Num período mais recente, ocorreu a rior, teve papel destacado na elaboração desse
emergência de rankings globais, que visam a ranking. Quando Nian Cai Liu expandiu seu
classificar as instituições de ensino superior universo de comparação, incluindo, em sua
num plano internacional. Seu surgimento pos- análise, 2 mil instituições de ensino superior
sui conexões com um conjunto de mudanças estrangeiras, para classificar as 500 mais des-
que estão em curso no ensino superior, tais tacadas, sua iniciativa adquiriu uma expressi-
como: expansão e diversificação dos sistemas va visibilidade diante dos governos nacionais,
nacionais, incremento da mobilidade estudan- entre reitores, administradores universitários,
til, competição entre instituições para recruta- professores, alunos, fundações de pesquisa,
mento internacional de estudantes talentosos etc. Um dos seus efeitos mais visíveis foi o de
e docentes de prestígio, intensificação da cor- incentivar a corrida pela competição de pres-
rida, em várias partes do mundo, pelo estabe- tigio acadêmico no mercado global de ensino
lecimento de world-class universities etc. Na superior (Liu, 2009).
medida em que o ensino superior se tornou O critério adotado pelo Academic
um ator estratégico na produção de novos co- Ranking of World Universities (ARW) privilegia
nhecimentos e um componente relevante no a produtividade em pesquisa, incluindo núme-
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015

processo de competitividade, seu desempenho ro de artigos publicados nas revistas Science


também passou a ser comparado numa esca- e Nature, citações de artigos de pesquisado-
la internacional. O surgimento dos rankings res mensurados por Thomas Scientific, e por
globais expressa uma metáfora do processo de Science and Social Science Citations, professo-
globalização do ensino superior e constitui um res que ganharam Prêmio Nobel, alunos distin-
dos produtos da formação de um sistema trans- guidos com Prêmio Nobel e (ou) Fiels Medals
nacional de ensino superior. Ao mesmo tempo, etc. Os critérios adotados pela Shangai Jiao
representa um dos elementos que estimulam o Tong University tendem a favorecer as antigas
funcionamento e a dinâmica do sistema trans- e prestigiosas universidades ocidentais, princi-
nacional de ensino superior (Hazelkorn, 2011, palmente aquelas que têm produzido ou atraí-
2008; Altbach, 2001). do ganhadores de Prêmio Nobel. Em geral, são
O ranking que ocupou uma posição de universidades que remuneram seus docentes
destaque na cena internacional e teve uma for- e administradores com elevados salários e que
te repercussão na dinâmica do mercado global também possuem laboratórios, infraestrutura
de ensino superior foi o Academic Ranking of física e bibliotecas de excepcional qualidade.
World Universities, elaborado pela Shanghai Os indicadores usados valorizam as publica-

298
Carlos Benedito Martins

ções em língua inglesa e determinadas revistas acadêmico que orienta as ações e percepções
científicas internacionalmente referenciadas, de uma multiplicidade de atores e tem incita-
algumas das quais se encontram abrigadas no do uma constante vigilância institucional na
interior das universidades que ocupam posi- performance das universidades que pleiteiam
ções destacadas nos rankings globais. participar da disputa pelas posições mais
Atualmente, existem mais de uma deze- prestigiosas no cenário internacional do ensi-
na de rankings globais. Ao lado do criado pela no superior (Sauder; Espeland, 2009).
Universidade de Shanghai destaca-se o World
University Ranking (WUR), uma iniciativa da
The Times Higher Education que apresenta A corrida para construção
uma lista hierarquizada de 200 universidades, de world class universities
classificadas em duas grandes categorias, por
continentes e por cinco áreas de saber. WUR O processo de formação de um sistema
vem desenvolvendo um ambicioso esforço transnacional de ensino superior não se res-
para apreender com os resultados dos pri- tringe à instalação de campi de universidades
meiros rankings globais e proporcionar uma estrangeiras em outros países, à crescente cir-
perspectiva multifacetada do ensino superior culação internacional de estudantes e profes-
num plano internacional. Nesse sentido, tem sores e à emergência dos sistemas de rankings
procurado incluir várias funções da atividade internacionais. Outra dimensão desse proces-
universitária, tais como a pesquisa, o ensino, so manifesta-se por meio do empenho de vá-
as relações com a empresa e o nível de inter- rios países em criar e (ou) transformar deter-
nacionalização das instituições, vale dizer, sua minadas instituições de ensino superior em
capacidade de atrair estudantes e professores world class university. Em numerosas socieda-
estrangeiros. Inclui também análise de cita- des nacionais, governantes, policy makers, rei-
ções de trabalhos produzidos no interior das tores, entres outros atores, consideram que a
instituições e leva em consideração as opini- construção de universidades que desenvolvem
ões de acadêmicos e de profissionais sobre a pesquisas de ponta poderá reter universitá-
reputação das instituições a serem avaliadas rios em seus respectivos territórios, bem como
(Altbach, 2001). atrair um número considerável de estudantes e
Atualmente, os rankings globais orien- professores estrangeiros, ampliando o proces-

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tam a conduta de uma pluralidade de atores, so de internacionalização de suas instituições
como governos nacionais que desenvolvem es- (Deem; Mok, 2008).
forços para impulsionar suas melhores univer- A noção de world class university surgiu
sidades por meio de seus policy makers, reito- recentemente na discussão do ensino superior
res que procuram criar estratégias para tornar internacional. Tudo leva a crer que esse con-
suas instituições competitivas internacional- ceito foi produzido, concomitantemente, no
mente, empregadores que avaliam a origem interior de determinados organismos interna-
dos títulos universitários dos que demandam cionais, como o Banco Mundial, e por acadê-
um posto de trabalho, alunos que desejam re- micos que concentram seus trabalhos na te-
alizar formação pós-graduada em instituições mática do ensino superior (Liu; Wang; Cheng,
estrangeiras. A cultura dos rankings globais 2011; Salmi, 2009; Mohrman; Baker, 2008;
tende a ser internalizada na conduta dos admi- Altbach, 2003). Essa noção procura expressar
nistradores e no corpo docente das instituições certas características apresentadas por deter-
que desfrutam e (ou) almejam uma posição de minadas universidades, tais como presença de
destaque no seu interior. Os rankings globais uma cultura acadêmica consolidada, existên-
converteram-se num poderoso instrumento cia de normas institucionais compartilhadas

299
NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA ...

pelos seus membros, padrão de excelência em aproximadamente 29 milhões de estudantes,


pesquisa e ensino, absorção de um quadro do- tornando-se o maior do mundo em termos
cente de alto nível acadêmico, rigorosa seleção quantitativos (Wang, 2010). A China manifes-
intelectual dos alunos. Ao mesmo tempo, ado- ta, atualmente, um dos mais ambiciosos pla-
tam um expressivo recrutamento internacional nos para estabelecer um grupo seletivo de uni-
de seus docentes e estudantes, de tal modo que versidades, com vistas a ocupar uma posição
criam um ambiente cosmopolita nas discus- de destaque em seu sistema de ensino superior
sões acadêmicas que ocorrem em seu interior. e de proeminência acadêmica no plano inter-
Contam também com uma adequada estrutura nacional. Em 1993, o então presidente Jiang
financeira capaz de custear adequadamente Zemin anunciou a criação do Projeto 211, que
seus laboratórios, bibliotecas, de fornecer bol- foi implantado nos anos seguintes com uma
sas de estudos para estudantes nacionais e es- provisão de fundos da ordem de 20 bilhões de
trangeiros e oferecer salários competitivos no dólares destinados a uma centena de universi-
processo de recrutamento de seus docentes. As dades chinesas. A iniciativa objetivava a cons-
universidades que possuem essas característi- trução de novas estruturas físicas e a edificação
cas tendem a desfrutar de um elevado grau de de laboratórios de pesquisa para desenvolver a
reconhecimento acadêmico no espaço interna- capacidade em determinadas disciplinas, tais
cional e, em geral, ocupam posições privile- como saúde, medicina e tecnologia. Posterior-
giadas nos rankings internacionais de ensino mente, no ano de 1998, o mesmo presidente
superior (Salmi, 2009; Altbach, 2003). De certa anunciou o Projeto 985, cujo alvo era impulsio-
forma, essas instituições aproximam-se do mo- nar dez universidades que foram consideradas
delo de universidade delineado no Emerging as mais importantes academicamente no país,
Global Model, que, conforme foi assinalado entre as quais Beijing, Tsinghua, Zhejan, Nan-
anteriormente, inspirou-se na estrutura acadê- jing, Shanghai, Jiao Tong etc. e que dispunham
mica das universidades norte-americanas que, de um potencial para competir internacional-
a partir da Segunda Guerra, assumiram uma mente em termos de prestígio acadêmico (Guo,
posição dominante no contexto internacional 2008).
do ensino superior (Roger, 2004; Clark, 1990). A disposição de incluir algumas de suas
A concepção de world class university, paulati- instituições entre as mais bem posicionadas
namente, delineou um novo paradigma de or- nos rankings internacionais repercutiu na vida
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ganização do ensino superior, que passou a ser acadêmica; os professores universitários chi-
discutido em vários países. neses encontram-se sob forte pressão para au-
A seguir, o artigo, destacará, de maneira mentar o volume de suas publicações em peri-
breve, o impacto do modelo de organização da ódicos indexados e de impacto em suas respec-
vida universitária preconizado pela concepção tivas áreas, sob pena de perder seus postos de
de world class university, em determinados pa- trabalho. Determinadas instituições chinesas,
íses da Ásia, Oriente Médio e Europa. ao vincularem a permanência do docente à sua
O sistema de ensino superior na Chi- produção científica, eliminaram a estabilidade
na, tal como tem ocorrido com outros países no emprego e suprimiram a figura do full pro-
asiáticos, mostrou-se receptivo a esse novo fessor. Essas medidas, que visavam ao aumen-
paradigma de organização do ensino superior. to do rendimento acadêmico, transformaram a
A China tem experimentado um rápido desen- China num dos maiores produtores de artigos
volvimento do ensino superior desde 1980, científicos no mundo acadêmico, atingindo o
contando, atualmente, com aproximadamente patamar de 6% do volume mundial. Nessa es-
1.700 instituições bastante diversificadas. Em teira, ocorreu, recentemente, uma significati-
2009, o sistema de educação terciária absorvia va expansão do seu sistema de pós-graduação.

300
Carlos Benedito Martins

Ao mesmo tempo, a China tornou-se uma das Uma das características salientes do sis-
maiores destinações de estudantes asiáticos e tema de ensino superior indiano repousa na
também de outras regiões do mundo, ao lado separação entre instituições de pesquisa – que
dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alema- estão concentradas nos Institutos de Pesquisa
nha e Austrália. Entre 1997 e 2007, o número – e estabelecimentos voltados para atividades
de estudantes internacionais em seu sistema de ensino que, como tendência, têm sido rea-
saltou de 39 mil para 195 mil. Parte desse re- lizadas pelas universidades. Apesar de possuir
crutamento de estudantes internacionais deve- uma imensa população ávida por oportunida-
se também ao fato de determinadas áreas de des educacionais e de manter historicamente
conhecimento, tais como medicina e adminis- uma tradição de liberdade de expressão acadê-
tração, passarem a adotar a língua inglesa em mica, seu sistema de ensino superior situa-se
seus programas de ensino (Hvistendahl, 2008). num patamar aquém do existente na China e
No entanto, um dos maiores desafios em outros países emergentes. Com exceção de
para a China transformar-se num polo compe- alguns institutos de pesquisa, destacadamen-
titivo no sistema mundial de ensino superior te o Instituto Indiano de Tecnologia (IITs), o
repousa na ausência de liberdade de expressão Instituto Indiano de Administração (IIMs), o
no interior das instituições acadêmicas. Se, Instituto Indiano de Ciências Médicas (IIMs)
por um lado, o governo central permite críti- e o Tata Instituto de Pesquisa Fundamental
cas com relação à política econômica, as auto- (TIFR), o sistema de ensino superior apresenta
ridades nacionais exercem um rígido controle uma estrutura inadequada para absorver a de-
nas atividades acadêmicas de professores visi- manda de acesso e possui também um padrão
tantes e monitoram, de perto, as intervenções acadêmico considerado de qualidade insatisfa-
de docentes e estudantes locais. Nesse sentido, tória (Altbach; Jayaram, 2009; Jayaram, 2007).
por mais que se crie uma adequada infraestru- No período subsequente à sua inde-
tura acadêmica e uma política de atração de pendência política, o então primeiro-ministro
estudantes e professores estrangeiros, falta às Jawaharlal Nehru criou os Institutos de Pes-
instituições chinesas a atmosfera propiciada quisa, estabelecendo parcerias com institui-
pela liberdade de expressão, que constitui um ções prestigiosas do ocidente. Embora os IITs
elemento fundamental nas universidades que possuíssem a intenção de fornecer pesquisado-
ocupam o topo das posições nos rankings in- res bem treinados academicamente, esse obje-

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015


ternacionais (Wildavsky, 2010). tivo não foi plenamente atingido, uma vez que
A Índia também vem procurando reali- não conseguiram atrair estudantes promisso-
zar determinadas reformas em seu sistema de res do ponto de vista científico e profissional.
ensino superior na esteira do modelo de world Boa parte dos estudantes mais talentosos na
class university. Absorvendo atualmente mais área de ciências tem escolhido as universida-
de 10 milhões de estudantes, fica atrás apenas des estrangeiras para continuar sua formação
dos Estados Unidos e da China em termos de acadêmica, principalmente as americanas, e
alunado. Possui também um sistema de ensi- dificilmente tem retornado ao país. Por outro
no superior bastante diversificado institucio- lado, empresas multinacionais oferecem salá-
nalmente, contando com 323 universidades e rios competitivos para recém-egressos dos IITs
mais de 13 mil instituições não universitárias. – que, na maioria das vezes, são recrutados no
Essas instituições apresentam distintos per- próprio campus –, minimizando as chances de
fis e vocações acadêmicas. Apesar do rápido eles continuarem seus estudos em programas
crescimento do ensino superior, apenas 9% da de pós-graduação nesses institutos e (ou) in-
população entre 18 e 24 anos se encontra ab- gressarem na carreira acadêmica que, em geral,
sorvida pelo sistema. oferece baixos salários. A pouca atração que

301
NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA ...

exerce a carreira acadêmica na Índia produziu no superior indiano. Nesse sentido, apontam a
uma conjuntura na qual, numa oferta de qua- existência de uma esclerosada burocracia que
tro vagas para a profissão de docente no ensino governa a vida acadêmica, de plágios e fraudes
superior, pelo menos uma não é preenchida. nos exames escolares e de favoritismo no re-
A ausência de uma infraestrutura aca- crutamento de docentes, além da ausência de
dêmica capaz de produzir um corpo docente uma institucionalização da pesquisa na estru-
treinado em cursos de pós-graduação faz com tura universitária e de incentivos para os do-
que mais da metade dos professores que atu- centes desenvolveram práticas inovadoras no
am no ensino superior na Índia não possua o ensino. Esse conjunto de fenômenos contribui
título de mestre, tampouco o de doutor. Além para a existência de uma cultura de mediocri-
de apresentar uma deficiente qualificação aca- dade acadêmica, pouco propícia para o estabe-
dêmica, os docentes possuem pesada carga lecimento de world class university (Altbach;
horária e ministram seus cursos para classes Jayaram, 2009).
superlotadas de estudantes. Por outro lado, os Enquanto China e Índia têm concentra-
laboratórios se encontram em estado de dilapi- do a atenção nos seus esforços para se posi-
dação física e material. Uma rígida política de cionar de maneira competitiva nos rankings
ação afirmativa, voltada para o recrutamento internacionais, não se pode deixar de assinalar
de professores e estudantes provenientes de as tentativas que a Arábia Saudita vem imple-
castas que ocupam uma posição dominada mentando. Desde o pós-guerra, a economia
no sistema de estratificação social hindu – às local, baseada na exploração do petróleo, vem
quais são reservadas mais de 20% das vagas experimentando um desenvolvimento econô-
–, tem levado a universidade a absorver tanto mico contínuo. O governo central tem a ex-
alunos como docentes com deficiente preparo pectativa de que suas universidades possam
intelectual (Altbach; Jayaram, 2009). gerar novos conhecimentos como um fator
Diante dessa situação insatisfatória, o inesgotável de geração de riquezas, além dos
governo central, apoiado nos estudos realiza- rendimentos advindos da atividade petrolífe-
dos pela Comissão Nacional de Conhecimen- ra. A Arábia Saudita também entrou na cor-
to, lançou, em 2008, um ambicioso plano de rida para construir sua própria universidade
reformas para enfrentar os aspectos disfuncio- de padrão mundial. Em 2009, foi inaugurada
nais do ensino superior na Índia. Tal como está a King Abdullah University of Science and Te-
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ocorrendo em vários países, o governo central chonology (Kaust), que assumiu a missão de
prevê a criação de 30 world class universities integrar ensino e pesquisa e de contribuir para
e a construção de oito novos IITS, sete IIMS a diversificação econômica e tecnológica da
e 12 novas universidades centrais. Para cobrir Arábia Saudita. Com o propósito de se tornar
os custos, o governo destinou a aplicação de uma instituição de excelência acadêmica, tem
2,2 bilhões de dólares, que também serão in- procurado incorporar, em seu quadro docente,
vestidos para elevar os salários dos docentes professores e pesquisadores de várias naciona-
universitários em 70% (Neelakantan, 2009). lidades. Objetivando desenvolver suas ativi-
Segundo alguns estudiosos do ensino dades num patamar de excelência acadêmica,
superior internacional, a disposição do gover- estabeleceu parcerias com várias numerosas
no da Índia de investir na melhoria do seu sis- instituições de outros países, tais como o de-
tema de ensino constituiu um fato edificante. partamento de engenharia mecânica da Uni-
No entanto, demonstram ceticismo em relação versidade da Berkeley, o Instituto de Engenha-
à eficácia das medidas anunciadas, uma vez ria da Universidade do Texas, o departamento
que as novas iniciativas não atacam proble- de ciência da computação da Universidade de
mas crônicos incrustados na cultura do ensi- Stanford, o departamento de ciências biológi-

302
Carlos Benedito Martins

cas da Universidade de Cambridge etc. sexo masculino tende a impedir a adaptação


Na inauguração da King Abdullah Uni- de seus estudantes num mundo globalizado,
versity of Science and Technology (Kaust), a que experimenta profundas transformações
instituição recebeu uma doação de 10 bilhões culturais e de mentalidades (Baki, 2004).
de dólares por parte do Rei Abdullah e estima- Enquanto existe uma corrida desenfre-
se que, em curto prazo, o aporte financeiro do ada na Ásia e no Oriente Médio, com o pro-
governo central alcance a cifra de 25 bilhões pósito de tornar o ensino superior de alguns
de dólares, o que a tornaria a segunda univer- países da região competitivo no cenário mun-
sidade do mundo em termos de recursos finan- dial, no continente europeu se constata tam-
ceiros, atrás apenas de Harvard. Com o propó- bém uma série de iniciativas em vários países
sito de criar uma estrutura administrativa ágil, objetivando aumentar a competitividade de
a nova universidade não estará sob o controle suas universidades no contexto da globaliza-
burocrático do Ministério da Educação. Seu ção, norteadas pela Comissão Europeia. Uma
comando ficará a cargo da companhia nacio- compreensão mais exaustiva da recepção do
nal de petróleo, conhecida mundialmente pela modelo de world class university no contexto
sua cultura e eficiência administrativa. Simbo- europeu implicaria contrapor essa concepção
lizando sua ambição de se tornar uma univer- de universidade com a existência de uma cul-
sidade competitiva no sistema transnacional tura acadêmica secular que, em larga medida,
de ensino superior, seu primeiro presidente – estruturou a própria trajetória do ensino su-
Choon Fong Shih – obteve sua formação aca- perior ao longo do tempo (Deem; Mock, 2008;
dêmica em Harvard e, posteriormente, atuou Fallon, 1980). Certamente, a análise dessa
com grande dinamismo na presidência da Uni- questão é pertinente; no entanto, por questão
versidade de Singapura. Simultaneamente, a de espaço, não será realizada neste trabalho. A
Kaust formou um conselho consultivo integra- título de evidenciar o impacto da corrida pela
do por experientes acadêmicos internacionais, construção de universidade de padrão mun-
tais como Frank Rhodes, presidente emérito da dial no continente europeu, serão abordadas,
Universidade de Cornell, Frank Press, presi- com brevidade, determinadas mudanças que
dente emérito da Academia Nacional de Ciên- estão ocorrendo no ensino superior alemão.
cias dos Estados Unidos, Richard Sykes, reitor Na avaliação de Daniell Fallon, realizada
do Imperial College London etc. (Krieger, 2007). em seu clássico livro The German University: a

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015


Apesar de todo o esforço do governo heroic ideal in conflict with the modern world, a
central de impulsionar o ensino superior na súbita passagem de uma instituição de ensino
Arábia Saudita, o recrutamento de professores voltada para a formação de uma elite cultural
estrangeiros se depara com obstáculos prove- para uma instituição de massa nos anos 1960
nientes de um regime político autoritário, que acarretou uma situação desfavorável para a
aplica rígidas regras de conduta mulçuma- universidade alemã. Em sua apreciação, a par-
nas, tais como segregação de gêneros, estrita tir do final da década de 1960, a universidade
proibição de consumo de álcool, interdição às alemã repentinamente absorveu um número
mulheres de dirigirem automóveis e a impo- expressivo de estudantes com um quadro do-
sição de utilizar trajes que as cubram quase cente insuficiente. Segundo sua análise, além
completamente em espaços públicos. Essas do processo de massificação, a universidade
iniciativas de modernização do sistema de en- alemã foi enfraquecida pela concepção de que
sino superior colidem com práticas culturais ela deveria possuir uma estrutura homogênea,
tradicionais, como limitar o acesso de mulhe- ou seja, deveria oferecer cursos semelhantes
res ao mercado de trabalho. A transmissão de em seu território, possuir uma mesma carreira
um conservantismo cultural aos estudantes do docente, independentemente de sua localiza-

303
NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA ...

ção geográfica. Em função desse cenário, por sity, e ocupar posições de destaque nos rankin-
volta de 1980, as universidades alemãs deixa- gs internacionais, especialmente o criado pela
ram de ocupar uma posição de referência no Universidade de Shangai (Kehm, 2009).
plano internacional e ocorreu um declínio no Diante dessa situação, em 2004, o go-
número de estudantes estrangeiros no seu in- verno federal alterou a rota de funcionamento
terior (Fallon, 2008). do ensino superior: o igualitarismo financeiro,
Nas últimas décadas, o ensino superior que prevalecia até então na relação do governo
na Alemanha vem passando por significativas com as instituições, foi substituído por uma
mudanças, entre as quais vale mencionar: (i) política que passou a privilegiar e a incre-
crescente autonomia de gestão das universida- mentar as melhores instituições que realizam
des diante da regulação estatal; (ii) publiciza- pesquisa e que possuem formação doutoral de
ção do cumprimento de metas institucionais elevado padrão. Em 2006, foi lançado um pro-
propostas; (iii) ênfase na pesquisa científica e grama com o propósito de apoiar iniciativas de
sua articulação com inovação tecnológica; (iv) excelência no ensino superior, contando com
tratamento diferenciado por parte do Estado 19 bilhões de euros, sendo que o governo fe-
para as universidades em função dos níveis deral responde por 75% dos recursos e os esta-
de qualidade acadêmica; (v) avaliação de de- dos com a parte restante. Esse programa prevê
sempenho acadêmico como critério na distri- a disputa pelos fundos financeiros por parte
buição de fundos governamentais; (v) gradati- das instituições que oferecem programas de
va diferenciação salarial do corpo docente em doutoramento, por grupos de pesquisa inter-
função de resultados das atividades de ensino disciplinar e por projetos que se proponham a
e pesquisa; (vi) expressivo aumento da absor- realizar transformações relevantes no interior
ção de estudantes estrangeiros como estratégia da universidade, com o intuito de impulsionar
de internacionalização;(vi) utilização recor- a competição alemã no mercado global de en-
rente da língua inglesa nas atividades acadê- sino superior. O processo de competição pelos
micas (Kehm, 2013). recursos disponibilizados por esse programa
Em 2005, foi lançado o Programa Ex- é extremamente disputado e possui explicita-
zellenzianitiative (Excelência Iniciativa), com mente o objetivo de impelir as universidades
o propósito de apoiar medidas inovadoras no alemãs a atingirem um padrão global. Essas
ensino superior, contando com 1,9 bilhões de iniciativas começaram a produzir resultados
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015

euros provenientes de recursos do governo fe- encorajadores. O número de estudantes inter-


deral e de governos estaduais. Esse programa nacionais que realizam estudos superiores na
incentiva a disputa pelos fundos financeiros Alemanha tem crescido nos últimos anos, fi-
por parte das instituições que oferecem pro- cando atrás apenas de Estados Unidos e Ingla-
gramas de doutoramento, por grupos de pes- terra (Labi, 2008; 2006).
quisa interdisciplinar e por projetos institucio-
nais que se propõem a realizar transformações
relevantes no interior da universidade, com o CONSIDERAÇÕES FINAIS
intuito de impulsionar a competição alemã no
mercado global de ensino superior. A compe- Por um longo período do tempo, os sis-
tição pelos recursos disponibilizados pelo Pro- temas nacionais de ensino superior estrutu-
grama é extremamente disputada, e os proje- raram-se e funcionaram, fundamentalmente,
tos apresentados são julgados por renomados no âmbito circunscrito das fronteiras dos di-
cientistas estrangeiros. Esse Programa possui o versos países. Certamente, essa circunstância
claro objetivo de criar um número restrito de não inviabilizou a existência de eventuais in-
universidades alemãs como world class univer- tercâmbios acadêmicos entre diversos países

304
Carlos Benedito Martins

em diferentes épocas. No entanto, a partir de os outros a partir de indicadores que expres-


meados da década de 1960, paulatinamente, sem o prestígio nacional e (ou) internacional de
surgiu uma constelação de novos fenômenos cada um deles. Tudo leva a crer que a emergên-
direta e indiretamente relacionados com o en- cia dos rankings globais transformou o ensino
sino superior, o que modificou sensivelmente o superior num acirrado espaço de competição
seu modus operandi de tal maneira, que o im- manifesta e (ou) latente, em busca de prestígio
pulsionou a estender sua presença e sua ação acadêmico e social, e a reconversão desse re-
para além das fronteiras nacionais. Este artigo conhecimento em captação de recursos finan-
abordou, de forma abreviada, alguns desses fe- ceiros para as instituições que o integram. No
nômenos, tais como o incremento da mobilida- contexto atual, certamente, cada instituição de
de acadêmica em nível internacional, o surgi- ensino superior possui a liberdade de estabe-
mento dos rankings globais, a frenética corrida lecer seus objetivos e missões acadêmicas. No
mundo a fora para criar world class university, entanto, tudo leva a crer que nenhuma delas
etc. Tal como ocorre com as esferas econômica, comanda inteiramente seus próprios destinos,
política e cultural no processo de globalização, uma vez que elas constituem parte de um vas-
o ensino superior não se confina mais nos limi- to e complexo sistema nacional e global marca-
tes das sociedades nacionais. Em função dessa do por uma crescente luta concorrencial.
dinâmica, o ensino superior contemporâneo Embora o Brasil possua universidades
possui duas dimensões – sistemas nacionais e de alta qualidade acadêmica, elas ocupam
sistemas transnacionais – que mantêm diversas posições bastante modestas nas avaliações in-
modalidades de relações reciprocas. ternacionais. Caso o país tenha a ambição de
Ao lado desses fenômenos, o presente ocupar posição de destaque no ensino superior
artigo ressaltou o impacto direto e indireto do internacional, torna-se necessário desenvolver
processo de globalização na dinâmica do ensi- políticas específicas para determinadas ins-
no superior contemporâneo. Nesse sentido, o tituições que tenham o potencial acadêmico
processo de globalização, cujos contornos es- para se constituírem como universidades de
tão adquirindo maior clareza nos diais atuais, padrão de excelência mundial, nas quais a pes-
acarretou profundas transformações na natu- quisa ocupe uma posição preponderante. Para
reza da universidade. O modelo humboldtia- tanto, é fundamental desatar os nós asfixian-
no, que orientou por um longo período históri- tes do centralismo burocrático estatal, imple-

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015


co a estruturação da autonomia intelectual da mentar uma efetiva autonomia institucional,
vida acadêmica, gradativamente passou a ser incrementar o recrutamento de professores e
contraposto diante de novos arranjos institu- estudantes estrangeiros e analisar criticamente
cionais. Nesse sentido, o artigo ressaltou que, a pertinência de um paradigma isonômico que
a partir das últimas décadas do século passa- se encontra presente em várias dimensões das
do, vem se delineando uma nova concepção de universidades federais.
universidade, a qual atribui a essa instituição O conhecimento das significativas mu-
um protagonismo estratégico no crescimento danças que estão ocorrendo no ensino superior
das economias nacionais e um papel no incre- no plano internacional – impulsionadas pelo
mento da competitividade dos países no con- processo de globalização econômica, cultural
texto da economia global. e científica – deveria contribuir para desnatu-
A configuração do ensino superior nas ralizar o funcionamento do ensino público no
sociedades contemporâneas vem adquirindo, país, destacadamente o das universidades fe-
cada vez mais, uma dimensão relacional, ou derais, e (re)pensar criticamente sua estrutura.
seja, as universidades e seus respectivos países Pode fornecer também um frutífero subsídio de
estão constantemente se comparando uns com informações capazes de alargar os horizontes

305
NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA ...

intelectuais, visando a analisar a inserção do Capitalism and Entrepreneurialism in Universities: is the


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307
NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DE UM SISTEMA ...

NOTES ON THE FORMATION OF A HIGHER NOTES SUR LA FORMATION D’UN SYSTÈME


EDUCATION SYSTEM TRANSNATIONAL D’ENSEIGNEMENT SUPÉRIEUR TRANSNATIONAL

Carlos Benedito Martins Carlos Benedito Martins

This article having as analytical reference the Cet article, ayant comme référence analytique
reciprocal relationship between globalization la relation réciproque entre la mondialisation
and higher education, aims to approach some et l’enseignement supérieur, vise à analyser les
changes that are taking place in higher education changements qui opèrent au enseignement supérieur
in contemporary societies. Supported by a pertinent dans les sociétés contemporaines. Soutenu par
literature to the subject, the article pointed une bibliographie pertinente au sujet, l’article fait
out that in the context of globalization, higher remarquer que dans le contexte de la mondialisation,
education is not confined more within the national l’enseignement supérieur ne se limite pas plus aux
societies, but overflows beyond its borders. The sociétés nationales, mais déborde au-delà de ses
article indicates the emergence of certain events frontières. L’article indique l’émergence de certains
that occurred in recent decades leading higher événements qui se sont produits au cours des
education to work in a transnational space. The dernières décennies qui ont conduit l’enseignement
information provided by article tend to indicate supérieur à opérer dans l’espace transnational.
that in contemporary societies higher education is Les informations fournies par l’article tendent à
acquiring an increasingly relational dimension, so indiquer que, dans les sociétés contemporaines,
that universities and their respective countries are l’enseignement supérieur acquiert une dimension
constantly comparing yourself and competing with plus relationnelle, de sorte que les universités et leurs
each other in search of the academic prestige in the pays respectifs sont constamment en comparaison
international context of higher education. et en concurrence les uns avec les autres, tous à la
recherche du prestige académique dans le contexte
international de l’enseignement supérieur.

Key words: Deterritorialization of higher education. Mots Clés: Déterritorialisation de l’enseignement


International academic mobility. International supérieur. La mobilité académique internationale.
rankings. World class university Les classements internationaux. L’université de
classe mondiale
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 291-308, Maio/Ago. 2015

Carlos Benedito Martins – Doutor em Sociologia. Professor Titular da Universidade de Brasília (UnB),
Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Sociologia. Realizou pós-doutoramento na Universidade
de Columbia. Coordenador da linha de pesquisa Educação Ciência e Tecnologia do Programa de Mestrado
e Doutorado em Sociologia. Atualmente é um dos Coordenadores do GT Configurações do Ensino
Superior Contemporâneo da ANPOCS e do GT Educação Superior na Sociedade Contemporânea da
Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (2013-
2015). Membro do Comitê de Assessoramento Institucional da Associação Nacional de Pós-Graduação
e Pesquisa em Ciências Sociais ANPOCS (2014-2016). Áreas de atuação: Teoria Social, sociologia da
educação e do ensino superior. Publicações recentes: Passado e presente da Sociologia Norte-americana.
Revista Brasileira de Ciências Sociais (Impresso), v. 30, p. 163-169, 2015; Em defesa do conceito de
sociedade. Revista Brasileira de Ciências Sociais (Impresso), v. 28, p. 229-246, 2013; Reconfiguring
higher education in Brazil: the participation of private institutions. Análise Social, v. XLVIII, p. 622-658,
2013.

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