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1 INTRODUÇÃO
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A educação terciária refere-se ao nível de estudos desenvolvidos após o nível secundário/ensino médio. Esse
nível educacional pode ser ofertado em instituições de ensino superior em suas mais diversas arquiteturas,
contemplando não apenas o nível de graduação e pós-graduação, mas também em demais cursos voltados para a
formação continuada.
exterior em detrimento de receber estudantes provenientes de outros países para realizar a
mobilidade. Pode-se afirmar que essa diferença é resultado de uma série de determinações
históricas, sobretudo de ordem da hegemonia cultural, que afasta inúmeros estudantes de
países orientais e do continente africano, bem como o fato de seus sistemas nacionais de
ensino superior serem considerados recentes em comparação aos países ocidentais.
O relatório da OCDE de 2021 destaca os efeitos da Pandemia de Covid-19 sobre o
cenário da mobilidade estudantil. Embora as análises apontem que esse impacto não tenha
sido homogêneo em todos os países, no entendimento dos elaboradores do relatório, esses
efeitos serão duradouros. Isto é, a pandemia continuará afetando os processos de mobilidade
estudantil e gerando impactos futuros nesse processo, visto que surgiram formas alternativas
de mobilidade2, modificando esse cenário. Em contrapartida, apesar do destaque dado para os
possíveis efeitos da pandemia, o relatório atém suas principais análises para o ano de 2019,
tornando inviável mensurar os reais impactos da pandemia para a mobilidade estudantil.
No que se refere ao panorama da mobilidade estudantil em nível internacional, os
Estados Unidos despontam como o país que mais recebe estudantes no planeta, com cerca de
977 mil estudantes internacionais ou estrangeiros em todo o seu sistema terciário de educação
em 2019. Além disso, apenas 5% desse montante são de países vizinhos, o que indica que a
maioria desses estudantes são de países de outros continentes.
Ademais, 25% dos estudantes de doutorado ou nível equivalente do país são
estrangeiros ou internacionais, corroborando com a informação dada no relatório anterior de
que os estudantes se sentem mais motivados a se deslocarem de seus países natais para
concluírem seus estudos de níveis mais complexos. Entretanto, ao considerar os números
totais de estudantes de nível terciário, os estrangeiros internacionais representam apenas 5%
dos estudantes do país, o que indica um sistema de educação superior de larga escala e com
forte nacionalização.
Em segundo lugar, aparece a Austrália, que registrou 509 mil estudantes internacionais
ou estrangeiros em seu sistema terciário de educação no ano de 2019. A Austrália demonstra
um nível elevado de participação de estudantes internacionais e estrangeiros em seu território,
visto que, a cada 100 estudantes matriculados, 39 são internacionais ou estrangeiros. Essa
presença continua ainda mais pertinente quando se leva em conta a pós-graduação stricto
sensu do país, em que o nível de mestrado, ou equivalente, é composto por 56% de estudantes
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Cunha, Mello e Akkari (2022) afirmam que a internacionalização da educação superior também tem ocorrido
por meio intercâmbio e mobilidade acadêmica virtual, sobretudo a partir da pandemia, como forma de contornar
os desafios impostos por esse cenário. Com isso, inúmeros programas de pós-graduação e mobilidade
implementaram ações de internacionalização se beneficiando das plataformas e ambientes digitais e das
tecnologias da informação e comunicação.
em mobilidade, enquanto no doutorado, ou nível equivalente, esse número é de 36%. Os
estudantes internacionais ou estrangeiros representam 28% do número total de estudantes do
sistema de educação terciária da Austrália, representando uma parcela superior a um quarto de
todo o sistema.
O Reino Unido desponta como o terceiro maior receptor de estudantes em mobilidade,
no entanto, o documento não especifica qual país concentra os maiores números dessa união
política. Observa-se que 489 mil estudantes internacionais e estrangeiros estão em mobilidade
no Reino Unido. A pós-graduação registra uma grande participação nesses números, com
36% dos estudantes matriculados em nível de mestrado, ou equivalente, e 41% no doutorado,
ou equivalente. Em termos gerais, os estudantes internacionais ou estrangeiros representam
19% do número total de estudantes no sistema terciário.
O relatório traz um destaque para os países participantes do BRICs. Nesse grupo, a
Rússia e a China despontam como os países que mais possuem estudantes internacionais ou
estrangeiros em seu sistema, registrando 283 mil e 201 mil estudantes internacionais ou
estrangeiros em 2019, respectivamente. Por conseguinte, observa-se a Argentina, com 109 mil
estudantes, e a Índia, com 47 mil. Em contrapartida, o Brasil não possui uma presença elevada
de estudantes estrangeiros ou internacionais em seu sistema educacional superior, com apenas
22 mil estudantes, número modesto para um país que possui mais de 9 milhões de estudantes
no nível superior de ensino.
No que se refere às áreas de conhecimento, percebe-se que as áreas que contemplam o
maior número de estudantes internacionais ou estrangeiros são as áreas de negócios
financeiros, administração e advocacia. Na Austrália, os estudantes internacionais ou
estrangeiros representam 47% dos alunos nessa área do conhecimento; em Luxemburgo, são
39%; na Estônia, são 38%; Reino Unido e Letônia possuem 33%, enquanto a Coréia do Sul
possui 31%, números relevantes para um país que está em clara ascensão política e
econômica.
As áreas das engenharias, manufatura e construções também concentram um elevado
número de estudantes em mobilidade. Isso indica a importância das áreas que representam a
ciência e a tecnologia para os estudantes em situação de mobilidade, levando em conta que
esse é um campo considerado estratégico para o desenvolvimento econômico de inúmeros
países, principalmente os países em desenvolvimento. Na Alemanha, 30% dos estudantes
matriculados nessas áreas são internacionais ou estrangeiros, enquanto a Suécia registra 26%.
Faz-se necessário acrescentar que esses dois países são referências mundiais quando se trata
de engenharia. Países como Turquia, Itália, Portugal e Dinamarca possuem 25%, 22% e 21%,
respectivamente.
A área de saúde e cuidados também possui ampla participação dos estudantes em
mobilidade, com destaque para a Eslováquia, que possui 47% dos seus alunos dessa área em
situação de mobilidade, seguido pela Bélgica, com 37%. Em complemento, a Letônia possui
29%, enquanto Lituânia e Irlanda possuem 24%, respectivamente. Esses dados demonstram
que, no que tange à área da saúde, os países que protagonizam essa área não são
necessariamente aqueles que despontam no nível mais alto do mercado global.
A área da Educação não possui tanta representatividade no que se refere ao
acolhimento de estudantes em situação de mobilidade. Isso fica nítido ao observar que,
mesmo no relatório, há uma dificuldade em identificar esse dado em inúmeros países. Nesse
quesito, os países que obtiveram maior destaque foram Israel e Áustria, com 8% e 6%,
respectivamente; esse cenário de pouca expressão se repete para as áreas de Ciência Sociais,
Jornalismo e Informação.
Como destaque, verifica-se que três países possuem um forte para a mobilidade na
área de Artes e Humanidades. A Islândia possui 46% de matrículas dos estudantes em
mobilidade nessa área, enquanto Itália e Grécia, países que possuem uma ampla historicidade
sobre essa temática na cultura europeia hegemônica, possuem 33% e 31%, respectivamente.
Essa realidade pode ser apresentada como um relevante indicador para a percepção de
que a área de Ciências Humanas não se caracteriza como uma referência para a mobilidade
estudantil. Essa tendência também se repete em nível nacional, no Brasil, onde os principais
programas de mobilidade estudantil, o Ciências sem Fronteiras, já extinto, e o Programa
Institucional de Internacionalização - CAPES/PrInt, priorizam a área das Ciências
Tecnológicas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ALTBACH, P.; SALMI, J. The road to academic excellence: the making of world-class
research universities. Washington: The World Bank, 2011.
CASTRO, Alda Araújo Castro; CABRAL NETO, Antônio. O ensino superior: a mobilidade
estudantil como estratégia de internacionalização na América Latina. Revista Lusófona de
Educação, 21, 69-96 2012.