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Formato: PDF
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-87250-19-9
ORGANIZADORES
Rio de Janeiro
2021
Conselho Consultivo
CÂNONE 13
Roberto Mibielli
CRÍTICA LITERÁRIA 44
Nabil Araújo
DESCONSTRUÇÃO 65
Evando Nascimento
DISTOPIA 104
André Cabral de Almeida Cardoso
EPOPEIA 142
Saulo Neiva
GÊNERO 172
Anélia Pietrani
IDEOLOGIA 207
Fabio Akcelrud Durão
INCONSCIENTE 231
Kathrin Holzermayr Rosenfield
INSÓLITO 276
Flavio García
LEITOR 292
Regina Zilberman
LÍRICA 318
Diana Klinger
MELODRAMA 452
Ângela Dias
NACIONALISMO 471
Celia Pedrosa
NARRATIVA 495
Fernando Simplício dos Santos
Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina
NATUREZA 545
Claudete Daflon
ORIENTALISMO 597
Waïl S. Hassan
PÓS-COLONIAL 617
Carolina Correia dos Santos
REGIONALISMO 649
Allison Leão
Sheila Praxedes Pereira Campos
REPRESENTAÇÃO 679
Júlio França
TEXTO 720
Maria Cristina Ribas
TRANSCULTURAÇÃO 761
Livia Reis
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(novas) palavras da crítica
Cânone
Roberto Mibielli
que” faz esta seleção, há uma posição que pode ser vista como um
ato de autoperpetuação do poder, que pode até ser uma espécie de
“instinto de sobrevivência” desta parcela da sociedade, também
chamada de elite cultural, para a qual o cânone é, sobretudo, um
instrumento de manutenção do poder de quem o institui, no qual
prevalece a interpretação de um dado texto que, contrastado com as
outras versões, melhor representa esses valores e interesses.
No entanto, a ausência de preceitos teóricos prévios ao século
XIX, quando se desenvolveram modos de operar comparações sele-
tivas e surgiu todo um ramo da ciência literária, não altera o fato de
que desde muito antes se utilizou a comparação entre textos como
forma de estabelecer listas de relevância. A maior relevância social
de um texto para uma dada comunidade torna-se critério para a
comparação entre textos “próprios” desta comunidade e importados,
inaugurando a escolha e a exclusão típicas do construto canônico.
O aparente consenso em torno do bem escrever, como ato de
beleza, também é em si resultado de certas políticas de dominação,
cujas origens remontam a séculos de modificações do código escrito
19
nas línguas ocidentais, mas também ao serviço prestado pela institui-
ção escolar aos estados modernos, enquanto braço ideológico destes.
Cânone e Valor Estético
O suposto “valor estético”, outro dos critérios envolvidos nesse
processo de eleição dos cânones possíveis, ainda é para alguns, um
valor absoluto que, se questionado, quanto aos seus limites, gera
conflitos insolúveis, tornando pouco objetivas as críticas que se
poderiam fazer sobre o cânone utilizado. Afinal, para quem acredita
em tautologias, a beleza é bela. E, nesses casos, ela seria absoluta,
porque representaria o bem escrever, a criatividade, a inovação, o
lúdico, entre outras qualidades. Sendo assim, os textos canônicos
herdados dentro de tradições que não costumam questionar a ideolo-
gia estética que os elegeu, muitas vezes carecem de vertentes críticas
(Orgs.) José Luís Jobim . Nabil Araújo . Pedro Puro Sasse .
ponto recente, que pretende fazer ler, pelo prazer da leitura, e não
pela “didatização/pedagogização” da Literatura.
Em outros casos, os mais comuns, os supostos “cânones
individuais” são pensados a partir da proposta teórica/projeto, de
seus autores, que, respondendo a um impulso quase sempre de
fundo acadêmico, portanto coletivo, institucional, o formulam de
acordo com sua inserção ideológico-metodológica, na extensa malha
de teorias e formas de discurso que nutrem a literatura e se nutrem
dela. Pode-se apontar como exemplo o livro Porque ler os clássicos
de Ítalo Calvino (CALVINO, 2001).
No caso (só pra dar dois exemplos contemporâneos entre si),
das “Histórias da literatura”: a de Antônio Cândido – Formação
da Literatura Brasileira: momentos decisivos, lançado em 1959
e, a de Afrânio Coutinho – A Literatura no Brasil, lançado entre
1955 e 1959, há uma possibilidade de comparação direta entre dois
“autores” distintos. Ali, mais que dois indivíduos, há dois modelos
de interpretação da história e dos fenômenos literários no Brasil.
Há também duas formas diferentes, apoiadas por referenciais teó-
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ricos distintos, de conceber o cânone (o que implica não poderem
ser estas escolhas “individuais”, mas frutos de práticas acadêmicas
socialmente aceitas e instituídas). Em decorrência disso, apesar
de não se poder pensar em termos individuais, diz-se, em sentido
metonímico, que há dois diferentes cânones o de “Coutinho” e o
de “Cândido”, ao invés de se dizer de que tradição ou tendência da
história da literatura estamos falando.
Um dos fatores que faz a diferença entre as obras de Antônio
Cândido e Afrânio Coutinho, pode ser aquele que aponta Campos
(1989). Segundo Campos, Cândido teria ignorado, ou melhor, “rap-
tado”, propositadamente, Gregório de Mattos e o Barroco nacional
de nossa história literária, desfigurando-a, enquanto Coutinho, por
outro lado seria mais inclusivo. Para outra estudiosa, Flora Sus-
sekind, no entanto, o livro de Cândido procura demonstrar que “a
(novas) palavras da crítica
10 Grifos nossos.
(novas) palavras da crítica
mandas de seus grupos, são iguais, escrevem para o mesmo fim, são
enfim, co-construtores da universalidade discursiva dentro desses
grupos. É como se não houvesse disputas internas, como se cada
um contribuísse para o discurso de seu grupo em uníssono, fato
que pode ser claramente descartado pela própria posição ideológica
de cada um. E isso vale também para as respectivas comunidades
leitoras nas quais essa produção supostamente encontra maior eco.
Elas são de fato homogêneas?
Nesse sentido, a reivindicação de espaço dessas obras num
constructo canônico, sem a devida leitura crítica, sem que esses
textos sejam postos em crise (criticados) entre si, antes mesmo de
aspirarem à fama e eternidade, pode representar um problema a
mais para quem pretende atingir a meta política de angariar/con-
quistar o respeito pela sua posição político-ideológica, ainda que no
âmbito restrito de seu grupo social específico.
REFERÊNCIAS 41
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