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Material Teórico
Crítica à Teoria do Múltiplo Sentido da Bíblia
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Crítica à Teoria do Múltiplo
Sentido da Bíblia
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Discutir a crítica à teoria dos múltiplos sentidos da Bíblia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Crítica à Teoria do Múltiplo Sentido da Bíblia
São princípios da Reforma: sola gratia, sola fides, solus Christus, sacerdócio universal dos fiéis,
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Martinho Lutero
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Testamento francês. Assim, a autoridade das Escrituras, para os reformadores da-
quela época, como agora, é intrínseca, e a Igreja não confere autoridade às Escri-
turas, mas apenas a reconhece, pois não poderia ser diferente.
Assim, a Igreja não pode se colocar acima da Escritura pelo fato de ter definido
o seu cânon (Novo Testamento). Ela pode apenas reconhecer o que já era aceito há
muito tempo pelos cristãos, de modo que não foi a Igreja que formou a Escritura,
mas vice-versa.
Lutero afirmou com veemência durante toda sua vida que a Igreja, longe de ter
prioridade sobre a Escritura, é na realidade uma criação da Escritura, nascida do
ventre da Escritura.
De qualquer modo, o princípio do livre exame não significa, por isso, interpretar
as Escrituras de modo subjetivo e exclusivista. É preciso levar em conta a história e
o testemunho da Igreja.
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São leituras interessantes nesse sentido: Sl 19:7-11; Sl 119; Jo 5:39; Rm 15:4; 2 Tm 3:16-17,
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Dessa pluralidade, deve sair uma voz única na medida em que “no princípio era
o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1).
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Criação e história constituem o espaço e o tempo em que Deus revela a si mesmo. O
mundo, criado por Deus, por meio de sua Palavra (cf. Gn 1), é também, no entanto,
o cenário para a rejeição de Deus pelos seres humanos. Todavia, o amor de Deus
para com eles é sempre infinitamente maior; “e a luz brilha nas trevas, mas as trevas
não a apreenderam” (Jo 1,5). A encarnação do Filho é a culminância de seu imutável
amor: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória
que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).
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A revelação de Deus como Pai, que ama o mundo (cf. Jo 3,16; 35), realiza-se na
revelação de Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, o Filho de Deus, o “Salvador
do mundo” (Jo 4,42).
“Muitas vezes e de modos diversos”, Deus falou através dos profetas dos tempos
antigos, mas na plenitude dos tempos, ele nos falou “por meio de seu Filho, a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos” (Hb 1,1-2).
“Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que estava voltado para o seio do
Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18).
E esta voz única deve sim, e por isso mesmo, vir dessa palavra que se fez ver-
bo, porém:
A Igreja venera extremamente as Escrituras, mas é importante reconhecer
que a fé cristã não é uma “religião do livro”; cristianismo é a “religião da
Palavra de Deus”, não de “uma palavra escrita e muda, mas do Verbo en-
carnado e vivo”. O evangelho de Deus é fundamentalmente testemunhado
pela Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento. As Escrituras são
“inspiradas por Deus e consignadas por escrito de uma vez para sempre”;
portanto, “comunicam imutavelmente a palavra do próprio Deus e fazem
ressoar através das palavras dos Profetas e Apóstolos a voz do Espírito
Santo”. A Tradição é a transmissão fiel da Palavra de Deus, testemunhada
no cânon das Escrituras por meio dos profetas e apóstolos e na leiturgia
(liturgia), martyria (testemunho) e diakonia (serviço) da Igreja.
Aqui também você encontra o mesmo tema em discussão: Comissão teológica interna-
cional – Teologia hoje: perspectivas, princípios e critérios, 2012.
Disponível em: http://bit.ly/2MgUeKX
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Uma vez que Agostinho de Hipona afirma que “a Palavra de Deus foi ouvida por
autores inspirados e transmitida por suas palavras: “Deus fala através de um ser
humano em forma humana; e, falando assim, ele nos procura”, podemos dizer que
o Espírito Santo não só inspirou os autores bíblicos para encontrarem as palavras
certas de testemunho, mas também assiste os leitores da Bíblia em cada época para
entender a Palavra de Deus nas palavras humanas das Sagradas Escrituras.
que preserva alguns dos pressupostos racionalistas do antigo liberalismo e que utiliza con-
ceitos da Filosofia, Hermenêutica, Linguística e Teologia pós-modernas. É particularmente
o sistema de interpretação das Escrituras do neoliberalismo que se constitui um desafio
urgente à doutrina reformada. Convém considerar também que Teologia liberal (ou libe-
ralismo teológico) foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do século
XVIII e o início do século XX. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico
estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a Filosofia e as Ciências da Religião. Ainda
hoje, um autor que não reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina
é denominado, pelo protestantismo ortodoxo, “teólogo liberal”. Leia mais sobre Teologia
Liberal, disponível em: http://bit.ly/2Mjsk14
Leia na íntegra o documento “Inspiração Divina e Autoridade da Bíblia – Francisco Barbosa”,
disponível em: http://bit.ly/2KLlVsd
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Partindo de algumas teorias modernas de Linguística, essa hermenêutica sugere
que os autores bíblicos poderiam ter escrito algo que não correspondia à sua inten-
ção original.
Exagera a distância entre o autor e o texto a ponto de não podermos mais en-
contrar a intenção do autor nos textos. Ainda postulam que a Bíblia nada mais é
que uma interpretação da vida e do mundo feita por seus autores, uma maneira de
interpretar a realidade.
O texto bíblico é reduzido ao resultado da busca feita pelos seus autores de sen-
tido na realidade e na história. Esse ensino fere frontalmente o conceito reformado
de que a Bíblia, mesmo tendo sido escrita por homens situados no tempo e no
espaço, é a revelação autorizativa de Deus, e a transforma numa tentativa humana
de compreender a realidade.
Se não podemos alcançar o sentido das Escrituras não nos resta qualquer base
para a doutrina e a prática da Igreja, para decisões teológicas, para o ensino dou-
trinário, para a ordem eclesiástica. Instala-se o caos onde cada um pode interpretar
como queira as Escrituras, as decisões da Igreja e seus símbolos de fé.
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UNIDADE Crítica à Teoria do Múltiplo Sentido da Bíblia
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Você encontrará, entre outras coisas que não estamos estudando aqui, algo mais sobre essa
Confissão, que está resumida a seguir:
• A inspiração e autoridade das Escrituras: uma perspectiva missiológica,
disponível em: http://bit.ly/2KGOjLS
• Escritura da Palavra de Deus, disponível em: http://bit.ly/2KQmsca
• Introdução à Cosmovisão Reformada: Anotações quase aleatórias,
disponível em: http://bit.ly/2KMOGVp
• Confissão de fé de Westminster na íntegra, disponível em: http://bit.ly/2MjkSD1
Reconheciam que essa nem sempre era uma tarefa fácil, mas confiavam que,
com a ajuda da ação iluminadora do Espírito, do conhecimento das línguas originais
e do contexto histórico, poderiam alcançar esse sentido.
Poderíamos dizer que é uma crítica conciliatória. O que fazer, então, se Tomás
de Aquino afirma na Suma de Teologia que:
Pois a multiplicidade dos sentidos, num escrito, gera a confusão e o engano
e obsta à segurança da arguição. Donde, não resulta nenhuma argumenta-
ção da multiplicidade de proposições, causa esta, antes, de sofismas. Ora,
a Escritura Sagrada deve ser eficaz para mostrar a verdade, sem nenhuma
falácia. Logo, nela não deve haver, numa mesma letra, vários sentidos.
Fonte: http://bit.ly/2MlK7Vg
Art. 10 — Se na Sagrada Escritura uma mesma letra tem vários sentidos: o histórico ou lite-
ral, o alegório, o tropológico ou moral e o anagógico, disponível em: http://bit.ly/2Mk9qH7
Será uma longa citação, mas que vale a pena para ajudar a refletir: De acordo
com Keith Mathison, há opiniões lá e cá. Uma delas está extensamente expressa
na Confissão de Fé de Westminster que estudamos anteriormente contém uma
declaração sobre a autoridade da Escritura:
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obe-
decida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas
depende somente de Deus (que é a própria verdade), o seu autor; e, por-
tanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus. Nós podemos ser
movidos e compelidos, pelo testemunho da Igreja, a um alto e reverente
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apreço pela Escritura Sagrada; e a sublimidade do assunto, a eficácia da
sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o
escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que
faz do único caminho da salvação do homem, as suas muitas outras ex-
celências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos
quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus; ainda assim,
não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível
e autoridade divina provêm da operação interna do Espírito Santo, tes-
temunhando por meio da Palavra e com a Palavra em nossos corações
(CFW 1.4-5). (MATHISON, 2017)
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UNIDADE Crítica à Teoria do Múltiplo Sentido da Bíblia
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Confissão de Fé de Westminster (1647) - Capítulo 1 - parte 1
https://youtu.be/RuTZ2l5lHGc
Hermenêutica e Exegese Bíblica
https://youtu.be/UqQut2se7BU
Hermenêutica Bíblica II, Videoaula 1
https://youtu.be/mz8PZcMVVtY
5 Regras da hermenêutica para iniciantes / 5 Rules of hermeneutics for initiating
https://youtu.be/yT5ltGQrYlw
Hermenêutica Biblica e Exegese qual a Diferença ?
https://youtu.be/jnZFanBheVQ
Leitura
A leitura, a produção de sentidos e o processo inferencial.
http://bit.ly/2KQqBNg
Método de interpretação bíblica protestante
http://bit.ly/2KPns0i
Historia da Interpretação Cristã da Bíblia – da Idade Média ao Pós-modernismo
http://bit.ly/2KQrdT4
Confissão de Westminster
http://bit.ly/2KGSmYA
A inspiração e autoridade das Escrituras: uma perspectiva missiológica
http://bit.ly/2KGOjLS
Estudo da Palavra de Deus
http://bit.ly/2KQmsca
Introdução à Cosmovisão Reformada: Anotações quase aleatórias
http://bit.ly/2KMOGVp
Hermenêutica
http://bit.ly/2KsvUmc
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Referências
AGOSTINHO DE HIPONA. A doutrina cristã. São Paulo: Paulus, 2002.
FEE, G. D.; STUART, D. Entendes o que lês? Apêndices Ênio Mueller. Sem indi-
cação de tradutor. 2.ed.reimp. São Paulo: Vida Nova, 2008.
FERRO, M.; TAVARES, M. Análise das Obras Górgias e Fédon de Platão. 3.ed.
Lisboa: Editorial Presença, 1995.
Sites visitados
<https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
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