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Disciplina: Introdução à Bíblia

Professor: Dr. Leandro Lima


AULA 01

AULA 01 – A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR TEOLOGIA


Professor: Leandro Lima

Roteiro de estudos da lição:

1) Leia atentamente a lição, com sua Bíblia aberta, para ler todos os textos
citados.
2) Alunos regulares, após a leitura, podem acessar o fórum de discussão do dia, e
encaminhar algum comentário se desejar, ou fazer alguma pergunta referente
ao assunto.
3) Você também pode interagir com os comentários e perguntas dos demais
alunos.
4) O professor ministrará alguns pontos desse texto na aula “ao vivo”.

Introdução

“Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração,


estando sempre preparados para responder a todo
aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,
fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa
consciência” (1Pe 3.15.16)

Costuma-se dizer: “Repetir sem entender é coisa de papagaio”. Os donos de


papagaios domesticam os pássaros para que repitam palavras decoradas. As vezes se
pensa que os papagaios estão sendo inteligentes por repetirem aquilo que foram
condicionados. Mas a verdade é que as pobres aves literalmente “não sabem o que
estão falando”.
Pensamos que muitas vezes uma cena semelhante ocorre na igreja. Os líderes
eclesiásticos fazem as pessoas engolirem um tipo de cristianismo sem lhes dar
explicações convincentes sobre o que estão ensinando, e sem demonstrar que seus
ensinos têm base na Palavra de Deus. E estes “pobres cristãos” saem por aí repetindo
ensinos que foram condicionados a repetir. Talvez nunca pensaram sobre eles...

I. Razão X Emoção

Um cristão deveria ser alguém com discernimento. Não poderia engolir tudo
que ouvisse por aí sem considerar atentamente o que está ouvindo. O caos da
irracionalidade moderna não deveria atingir a fé. Mas infelizmente, hoje em dia, as
grandes doutrinas da Palavra de Deus estão quase que esquecidas. Em geral, as
pessoas sabem muito pouco sobre os atributos de Deus, as naturezas de Cristo, ou
sobre o verdadeiro significado do batismo com o Espírito Santo. E quando sabem,
parecem não ter muito interesse a respeito. Se as questões escatológicas causam
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discussão, por outro lado são apenas superficiais, em assuntos selecionados, muito
mais voltadas para especulações sobre o milênio ou o arrebatamento do que para
conteúdo substancial. Uma das razões dessa falta de conteúdo tem a ver com as obras
teológicas publicadas. Boas obras de teologia, muitas vezes, estão em linguagem
inacessível para os não iniciados. Enquanto isso as prateleiras das livrarias cristãs
estão cheias de livros de autoajuda, que prometem soluções milagrosas em apenas
“alguns passos”, mas que não trazem verdadeiro crescimento na graça e no
conhecimento de Deus (2Pe 3.18). O fato é que ser cristão hoje está se tornando
apenas questão de sentimentalismo. E as vezes, até de gosto pessoal. No senso
comum dos nossos dias, o cristão verdadeiro não é aquele que “sabe” mais, e sim
aquele que “sente” mais (teve “experiências”). Evidentemente os sentimentos são
importantes, e não são algo a ser desprezado. Porém, a ênfase exagerada no
sentimentalismo é uma das marcas do relativismo do mundo pós-moderno. Até
porque, sentimentos podem ser coisas extremamente subjetivas e relativas.
De acordo com a Bíblia, como cristãos, devemos estar “sempre preparados
para responder a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós” (1Pd
3.15). Esperança é algo que aponta para o futuro. Mas a certeza do futuro se constrói a
partir de um passado e de um presente sólidos. A fé deve ser bem fundamentada e
amplamente convincente não somente no aspecto emocional, mas também no
racional. Todo cristão sincero deve chegar a um estágio em sua vida em que precisa
perguntar a si mesmo: “Será que minha religião é verdadeira?” É claro que respostas
pré-fabricadas não satisfazem e nem devem satisfazer a ninguém. Como diz Michael
Horton, todo cristão deveria ser indisposto a aceitar com o coração uma fé que falha
em convencer sua mente1. Mas a verdade é que, muitas vezes, a igreja se torna o local
onde as mentes são menos exigidas. O fato é que quando os rituais substituem a vida,
“verdades”, que podem ou não ser verdadeiras, são decoradas e repetidas quase que
com desinteresse pela maioria dos “fiéis”. Infelizmente, os cristãos são acostumados a
não pensar a respeito de sua fé. São como papagaios, ensinados a repetir coisas que
não entendem, apenas para causar admiração nos outros.

II. Espiritualidade X Autoajuda

Nestes tempos quando a auto justificação ou a autoajuda têm dominado a


pregação, as publicações e os programas televisionados, precisamos
desesperadamente de um retorno para a mensagem da graça, para a mensagem do
comprometimento bíblico-teológico. Nosso sentido e propósito, como indivíduos e
como igreja, dependem largamente de quão claramente compreendermos as verdades
sobre quem Deus é, quem nós somos, e o que o plano de Deus para a história envolve.
Só assim poderemos dizer porque nossa esperança tem razão (é racional), e qual é
essa razão.
Mesmo sabendo da complexidade de muitos dos assuntos aqui considerados,
objetivamos dialogar sobre questões que fazem parte do dia-a-dia dos crentes (aqueles
que têm fé) e mesmo dos não-crentes. Não queremos tratar de assuntos teológicos
como se nada tivessem a ver com a vida prática das pessoas. O que se pretende nesse
curso é uma análise sincera, de uma perspectiva bíblica, sobre assuntos selecionados
que são vitais para um verdadeiro conhecimento do Deus que se revela na Escritura,
de cujo conhecimento depende uma vida cristã frutífera. Não importa se nossas

1
Ver Michael Horton. As Doutrinas da Maravilhosa Graça. p. 19.
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fraquezas tenham que ser postas a lume, desde que a verdade de Deus brilhe ainda
mais forte diante de nossos olhos. É certo que quando confrontamos nossas crenças
pessoais com a Escritura percebemos que muitas vezes essas crenças se demonstram
infundadas. A razão é que, talvez, jamais tenhamos estudado seriamente o assunto de
uma perspectiva bíblica. De qualquer forma, nosso apego pela Escritura deverá ser
maior do que qualquer coisa, até mesmo do que nossos gostos pessoais.

III. Pressupostos deste curso


Para o estudante uma palavra cabe com relação à metodologia adotada nesse
curso. Aqui não se lançam questionamentos sobre a Bíblia, mas a partir da Bíblia.
Nossa concepção é que muitos questionamentos e “releituras” da Bíblia já foram
feitos e pouco ou nenhum proveito tem havido para o povo de Deus, especialmente
para os mais simples. Esse trabalho assume a inerrância e suficiência das Escrituras
para a fé cristã, e anela por colocar a teologia na linguagem de todos os crentes.
Não entendemos também que haja uma teologia para a Europa, outra para a
África e outra para a América Latina. Teologia é teologia em qualquer lugar do
mundo, é a busca pelo conhecimento de Deus, e Deus é o mesmo em qualquer lugar.
Por outro lado, o estudante de teologia nunca pode se esquecer de um princípio
fundamental: Sua teologia precisa servir para alguma coisa. Podemos perceber um
excesso de abstrações teológicas em muitas obras, profundo conhecimento histórico e
pesquisa séria, porém, pouca aplicação. Enquanto os “intelectuais” cristãos se
deliciam com manjares, é possível que o povo simples esteja sem o alimento de que
tanto precisa2. Precisamos mais do que nunca traduzir a teologia para a linguagem do
povo, uma teologia com aplicação prática. O objetivo desse estudo é conhecer melhor
o Deus das Escrituras para desenvolver um relacionamento melhor com ele, ou seja,
teologia para a vida.
Ainda é importante que, por outro lado, se tenha em mente que vivemos dias
em que o estudo das doutrinas bíblicas tem sido deixado em segundo plano. Doutrina
tem sido associada com frieza espiritual. Chavões como: “A letra mata”, “quem
estuda esfria” usados indiscriminadamente ou fora de contexto, têm impedido muitos
crentes de crescer em conhecimento espiritual. É claro que, se você está fazendo este
curso é porque possivelmente não compactue com esse pensamento, mas de qualquer
forma, importa relembrar que o conhecimento das doutrinas sempre foi uma das
maiores preocupações de Jesus e da Igreja Primitiva. Conhecer as doutrinas bíblicas
sempre foi uma das primeiras marcas da verdadeira espiritualidade na Igreja Primitiva
(At 2.42)3. Quanto mais conhecemos Deus e suas obras, conforme ele se revela em
sua Palavra, melhor poderá ser o nosso relacionamento com ele. Se a vida espiritual é
a que importa, é interessante lembrar que Jesus disse que o Espírito viria para nos
guiar a toda a verdade (Jo 16.13). Segundo o entendimento do próprio Jesus, a Palavra
de Deus é a verdade (Jo 17.17). Dessa forma, entendemos que o Espírito Santo nos
guia no estudo dessa Palavra. E isso é a verdadeira espiritualidade
A história da igreja tem demonstrado, através dos séculos, que a coisa que

2
Alister McGrath entende que a elitização da teologia tem sido uma das coisas mais
prejudiciais nesses dias modernos. ele diz: “O distanciamento da academia das realidades da
vida diária está estritamente ligado, ao menos na percepção popular, com o elitismo da
academia” (Alister E. McGrath. “Theology and The Futures of Evangelicalism”. In The
Futures of Evangelicalism. Ed. Craig Barholomew, Robin Parry e Andrew West, p. 27).
3
Ver John Stott. A Mensagem de Atos, p. 87.
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mais destrói a vida e a comunhão autêntica da igreja é a falsa doutrina. Especialmente


os falsos ensinos sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Senhor Jesus, e
especialmente seus Apóstolos demonstraram profunda preocupação com essa matéria,
e apontavam para o futuro como um tempo muito conturbado nesse sentido (Mt
24.11; 2Tm 4.3-4). Percebe-se que, à luz do que temos visto hoje, eles estavam
rigorosamente certos. Entendimentos errôneos acerca de Deus têm minado a
verdadeira religião nos quatro cantos do mundo, introduzindo erros e heresias
destruidoras na vida individual do povo de Deus e também em denominações inteiras.
Conhecer doutrina não é coisa sem importância, é assunto fundamental para os dias
em que vivemos.
IV. Fé X Dúvida

Há duas formas de se fazer teologia. Depende de como se aborda a Escritura.


Teologia, necessariamente precisa ser Teologia da Bíblia4, porém, há duas formas de
se aproximar da Escritura: 1) Com pressuposto da fé. 2) Com pressuposto da dúvida.
As duas formas têm sido adotadas ao longo da história. Quem se aproxima com o
pressuposto da fé entende que a Escritura é inspirada, infalível e inerrante em tudo o
que ensina. Este estudioso não se preocupará primariamente em encontrar questões
como fontes, desenvolvimento de tradições, questionamento de datas ou autorias. Ele
procurará entender o ensino da Bíblia e se submeterá a ele, porque acredita ser
verdadeiro e normativo. Além disso, entende que, ao longo dos séculos, a Escritura já
deu suficientes provas de sua autenticidade. Essa posição não significa estar fechado
para discussões, mas significa que não se está disposto a abandonar a fé como
pressuposto fundamental da teologia. Anselmo, que foi Arcebispo da Cantuária
(1033-1109), dizia que teologia é a fé em busca de compreensão5. E de fato, não se
estuda teologia necessariamente para questionar a fé, embora algumas vezes ela
precise de questionamento, mas para desenvolver e fundamentar a fé6.
Geralmente aqueles que adotam esta perspectiva são chamados de
“conservadores”, e, às vezes até de “fundamentalistas”, o que nem sempre é um rótulo
adequado. É possível identificar uma linha histórica de estudiosos assim, desde os
dias atuais até o tempo dos apóstolos.
Recentemente tem surgido uma nova forma de se abordar a Escritura. É o que
se intitula aqui de pressuposto da dúvida. Especialmente a partir do iluminismo (Séc
XVII), e com as descobertas científicas dos séculos seguintes, muitos estudiosos
começaram a abordar a Bíblia como um livro meramente histórico que precisava ser
analisado de uma perspectiva científica. Já não se aceitava mais o pressuposto da fé.
A partir daí começou-se a questionar as narrativas bíblicas, principalmente aquelas
que narram eventos sobrenaturais. Um grande esforço foi feito para recuperar o Jesus
histórico que teria sido distorcido pelos Evangelhos. A autoria mosaica do Pentateuco
foi rejeitada e, em seu lugar, foi desenvolvida uma complexa teoria de fontes. Assim o
Pentateuco foi dividido em diversas ramificações que seguiriam fontes anteriores e

4
Aqui já deixamos de lado todo tipo de especulações ou naturalismo.
5
Anselmo falou sobre a necessidade de entender a fé, e que isso é uma espécie de “desejo” da
fé (Ver Karl Barth. Fé em Busca de Compreensão, p. 28).
6
A perspectiva adotada aqui é de que a fé pode ser compreendida, porém, não no sentido
iluminista de que se crê apenas naquilo que se pode compreender (Ver Stanley J. Grenz &
Roger E. Olson. Teologia do Século 20, p. 16). Muitas coisas da fé permanecem além da
compreensão humana, mas jamais recebemos a permissão para cruzar os braços.
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que teriam sido compiladas por alguém depois do Exílio. Esta abordagem ficou
conhecida como Crítica das Fontes. Posteriormente falou-se em crítica das formas,
crítica das tradições, crítica da redação, etc. O que todas essas abordagens têm em
comum é a perspectiva de crítica da Escritura sem respeito ao seu caráter inspirado.
Este pressuposto de abordagem não rejeita o cristianismo, mas não está disposto a
aceitar que tudo o que está registrado na Bíblia é verdadeiro. Após tantos estudos e
especulações, no entendimento de tais estudiosos, pouca coisa na Escritura permanece
como verdadeira e acima de qualquer suspeita. Os adeptos desta abordagem são
geralmente rotulados de “liberais”. Como já foi dito, o início desta abordagem se deu
no iluminismo, e ela permanece até hoje como a forma mais predominante nos meios
acadêmicos teológicos do mundo todo, embora com muitas variações.
Não é o propósito dessa obra discutir profundamente esta questão, e o
estudante mais interessado deverá se preocupar em pesquisar outras fontes, várias das
quais estão na bibliografia do curso. Justifica-se a opção pela primeira forma de
abordagem (conservadora) por ser a forma histórica mais praticada, por ser a que não
violenta os escritos bíblicos, e por ser a que mantém as verdades essenciais do
cristianismo. O pressuposto da dúvida, embora tenha dado alguma colaboração para o
aprofundamento acadêmico, tem causado esfacelamento no cristianismo mundial,
retirando sua base de fé, comprometendo o ensino bíblico sobre a Redenção, e assim
demolindo a própria estrutura do cristianismo. Além disso, é necessário que se
esclareça que todas as teorias racionalistas permanecem apenas como teorias,
carecendo de provas documentais. Amplo trabalho apologético (defesa da fé) tem sido
feito pelos conservadores no sentido de rebater as teorias racionalistas. De fato, até
hoje, não há razões suficientes para se abandonar o pressuposto de fé na integridade
das Escrituras.

Conclusão

O propósito desse curso é expor numa linguagem simples e acessível os


principais ensinamentos da teologia, e nesse módulo, em especial, da própria Bíblia.
Concentrando-nos nos principais temas da teologia que tenham interesse para os
teólogos e também para as pessoas em geral. Nosso interesse não é apenas o
conhecimento intelectual, mas também a aplicação prática. Nossa busca é pelo
conhecimento que pode e deve influenciar o nosso dia-a-dia, dando-nos maior firmeza
na fé, um relacionamento mais estreito com Deus, e uma condição sempre pronta para
dar, a todo aquele que nos pedir, razão da esperança que há em nós, porém, fazendo
isso com temor, mansidão e boa consciência.

Recursos e leituras adicionais

1- Assista: Teologia é importante?


https://www.youtube.com/watch?v=j1b4qxudYos

2. – Assista: A revelação de Deus:


https://www.youtube.com/watch?v=HrAb8HiqFTI

3. – Assista: Deus fala em sua Criação


https://www.youtube.com/watch?v=oZvc_6PlzSE

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