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Leandro Lima
Instruções
Introdução
apresentou a esse homem após o dilúvio, se comprometeu a não mais destruir a terra,
proveio sustento para o homem, e, além disso, providenciou, através da pena de morte,
freios para a criminalidade, que também aponta a responsabilidade de sangue em
cumprimento da Aliança. O Selo dessa Aliança é o arco-íris que enfatiza o caráter
gracioso da aliança.
Após o tempo de Adão, o ser humano continuou vivendo na terra e desfrutando
da ordem estabelecida por Deus. A princípio, tanto a descendência de Caim quanto a
descendência de Sete desenvolveram o mandato cultural. O ferro foi cultivado e
também a música (Gn 4.21-22). Porém, o mandato social começou a se degenerar.
Lameque casou-se com duas mulheres, contrariando o mandamento de ter apenas uma
(Gn 4.19). E o mandado espiritual foi vituperado, porque Lameque, não só matou um
homem, como escarneceu de Deus, dizendo que não seria punido (Gn 4.23-24).
Por outro lado, havia algumas pessoas que buscavam ao Senhor. A descendência
de Sete começou a invocar o nome do Senhor (Gn 4.26). E logo apareceu Enoque que
andou com Deus (Gn 5.22). Porém, a situação do gênero humano era caótica. Deus
permitiu que Satanás levasse seu intento até às últimas consequências. O reino parasita
do maligno se infiltrou profundamente no Reino de Deus, demonstrando sua imensa
capacidade de destruição. Tal foi a degeneração, que Deus entendeu que não valia a
pena pensar em restauração. O melhor caminho era o aniquilamento. Deus evocou a
maldição da Aliança. O sangue seria requerido por causa da transgressão. Mas, um
homem se manteve dentro do padrão de Deus. Entre todos, Deus achou apenas Noé. O
texto bíblico diz: “Disse o senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei,
o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver
feito. Porém Noé achou graça diante do senhor. Eis a história de Noé. Noé era homem
justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus” (Gn 6.7-9). Noé
é uma figura absolutamente destoante em relação aos demais homens. Com ele, Deus
pôde renovar a Aliança e continuar o plano de trazer o descendente prometido ao mundo
(Gn 3.15).
As palavras de Deus a Noé foram: “Contigo, porém, estabelecerei a minha
aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos”
(Gn 6.18). Para o verbo “estabelecerei” (é um hiphil perfeito no Hebraico), a tradução
normalmente significa “continuar a ser estabelecido”. Se essa tradução for correta,
então, Deus estava dizendo a Noé que continuaria sua Aliança, sendo, portanto, uma
clara referência a Aliança com Adão.
De Noé, podemos dizer, que todos os mandados eram cumpridos. Não porque
Noé fosse bom em si mesmo. O texto é claro em afirmar que ele recebeu graça de Deus
(Gn 6.8). Através dessa graça ele pôde “andar com Deus” cumprindo o mandado
espiritual. Pôde organizar uma família estável com mulher, filhas e genros, num período
em que o caos familiar reinava, e assim, cumpriu o mandado social. E por fim, pôde
construir a própria Arca, através de seu trabalho e inteligência, capacitado por Deus,
desenvolveu o mandado cultural. Em tudo, percebemos que Noé foi um Agente do
Pacto. Ele tinha testemunho (2Pe 2.5).
Após o Dilúvio, Deus assumiu o compromisso de não mais destruir o homem
na terra. As palavras de Deus foram: “Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do
homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei
a ferir todo vivente, como fiz. Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira
e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8.21-22). Nessa declaração está
explícita a ideia de preservação pactual. Deus continuaria preservando aquele pacto que
havia feito lá no início do mundo, assim continuaria a sementeira, a ceifa, o frio, o calor,
Disciplina: Introdução à Bíblia
Professor: Dr. Leandro Lima
AULA 06
a noite e o dia.
No capítulo 9 de Gênesis, Deus retoma os mandados para a família de Noé.
Como havia feito com Adão e Eva, Deus abençoou Noé e seus filhos, restabelecendo o
mandado social através da fecundidade (9.1). O mandato cultural teve dois aspectos.
Eles encheriam a terra (9.1), e dominariam sobre as demais criaturas (9.2-3). Há um
elemento novo que é o medo dos animais em relação ao homem. E também o fato de
que, a partir de agora, eles poderiam usar dos animais para se alimentarem. Porém, as
restrições estão ligadas ao ato de tirar a vida. Dos animais não se comeria o sangue. E
dos seres humanos não se derramaria o sangue. Aquele que derramar, morrerá (9.4-6).
E a vida continuou.
ainda está claro o propósito de Deus em abençoar Abraão, dando a terra por herança.
Mas, aparentemente, falta o aspecto de punição em caso de quebra da Aliança. Porém,
Deus manda Abraão realizar uma cerimônia comum daqueles tempos através da qual
irá revelar muito de seu caráter, propósitos e fidelidade. Abraão precisou cortar alguns
animais ao meio, e colocar as metades umas defronte das outras, deixando um espaço
ao meio onde se poderia passar. Precisamos nos lembrar que nos tempos bíblicos as
alianças eram ratificadas com sangue. Era costume que ambos os proponentes que
estavam entrando em aliança passassem por entre as partes cortadas dos animais3. Com
esse ato, cada parte estava assumindo a responsabilidade integral pela quebra da
Aliança. O sangue do animal simbolizava o sangue do proponente que quebrasse a
Aliança. Mas, no caso de Abraão, o texto mostra uma sensível diferença: “e sucedeu
que, posto o Sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fumegante, e uma tocha de
fogo que passou entre aqueles pedaços” (Gn 15.17). Note que Abraão não passou ao
lado do Senhor na cerimônia de instituição da Aliança, o Senhor passou sozinho. Isso
certamente demonstra que Deus assumiu, ele mesmo, a responsabilidade pelo
cumprimento ou não cumprimento da Aliança. É nesse sentido que devemos entender
a vinda de Jesus a esse mundo. Ele veio cumprir aquilo que a Justiça divina exigia, uma
vez que Deus mesmo havia assumido a responsabilidade de morte em caso de quebra
da Aliança.
Um outro aspecto interessante dessa Aliança é o Selo, a Circuncisão que é
estabelecida como uma garantia de que Deus cumpriria suas promessas (Gn 17). A
circuncisão pretende ser um símbolo visível nos moldes do Arco-íris, para que toda vez
que o homem visse o sinal, lembrasse da fidelidade de Deus. Originalmente
simbolizava a inclusão na comunidade da Aliança pela iniciativa da graça de Deus,
além de indicar e simbolizar o processo de purificação necessária a todos, num ato de
juízo por causa do “extirpar” a pele do prepúcio, o qual também tinha implicações
raciais, pois se relacionava diretamente com a propagação da raça. Mas, o símbolo não
pretendia ser algo apenas externo e superficial, antes queria demonstrar a profunda
transformação que deve ocorrer na vida de uma pessoa, a fim de que possa se aproximar
de Deus.
sacrificial instituído juntamente com a Lei que nos demonstra que a salvação continua
sendo pela graça. Embora Deus tenha estabelecido a Lei e exigido seu cumprimento,
cabendo pena de morte ao transgressor, não obstante, estabeleceu um sistema sacrificial
que retirava a culpa do transgressor. O crente do Antigo Testamento não foi salvo
porque guardava a Lei, mas porque confiava nesse sistema sacrificial, que em última
instância apontava para Cristo (Rm 3.19-21; Gl 2.16-21; 3.11).
Uma Aliança é composta de partes ou elementos. Basicamente esses elementos
são: Declaração de suserania, preâmbulo histórico, exigências, testemunhas, bênção e
maldição. Êxodo 20 nos ajuda a entender como funciona a Aliança. O texto diz: “Eu
sou o Senhor teu Deus” (v. 2). Estão explícitos aí os participantes da Aliança. Deus é o
suserano, o povo de Israel é o vassalo. Em seguida vem um preâmbulo histórico: “que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (v. 2). Este é o feito divino pelo qual ele
exige o compromisso do povo. Em seguida vem o requerimento do Senhor em relação
aos israelitas: “não terás outros deuses diante de mim...” (v. 3). Ao todo são citados dez
mandamentos como exigências do Senhor dentro da Aliança. As testemunhas nesse
caso são o próprio povo, que viu a manifestação de Deus naqueles dias (v. 18). Noutra
ocasião, ratificando essa mesma Aliança, Deus disse: “hoje, tomo por testemunhas
contra vós outros o céu e a terra, que, com efeito, perecereis, imediatamente, da terra a
qual, passado o Jordão, ides possuir; não prolongareis os vossos dias nela; antes, sereis
de todo destruídos” (Dt 4.26). Também, na Aliança são estabelecidas as punições e as
recompensas para o descumprimento e cumprimento respectivamente: “eu sou o
Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira
e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações
daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (v. 5-6). Esse padrão bíblico
pode ser visto em todas as formulações da Aliança como em Moisés, Abraão, Adão e
Jesus.
por outro, exemplo divino que servisse de contraste com Davi. Deus não renovou a
Aliança com Saul, mas sim com Davi.
Na Aliança com Davi, os propósitos redentivos de Deus atingem o ápice em
termos de Antigo Testamento. Mas, há uma íntima relação entre a Aliança Davídica e
as que foram feitas com Abraão e Moisés. Há uma continuidade, tanto em termos de
graça, quanto em termos de condicionalidade. A Aliança é incondicional, porque Deus
levará a cabo seus planos independentemente das circunstâncias, mas é condicional
porque cada integrante da Aliança tem responsabilidades, e Deus pedirá contas de cada
um.
Deus fez uma declaração fantástica a Davi: “Dar-te-ei, porém, descanso de
todos os teus inimigos; também o Senhor te faz saber que ele, o Senhor, te fará casa”
(2Sm 7.11). Davi pensou que seria o responsável pela construção da casa de Deus, no
entanto, o Senhor lhe disse que ele próprio construiria a casa de Davi. Se Davi estava
preocupado com a casa do Senhor, muito mais o Senhor estava preocupado com a casa
de Davi. A Casa de Davi se refere à Dinastia de Davi. Essas foram as palavras de Deus
para Davi: “a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono
será estabelecido para sempre” (2Sm 7.16). De fato, a dinastia de Davi foi a mais longa
que se assentou sobre o Trono de Israel. Ao todo foram pelo menos 11 gerações da
descendência davídica que se assentaram no Trono de Israel e Judá. Porém, algo parece
não se encaixar: Deus disse que a descendência de Davi se assentaria no trono para
sempre, porém, é evidente que isso não se cumpriu literalmente nos reis que
descenderam de Davi.
A resposta para esse questionamento pode ser vista a partir do entendimento de
quem seria o descendente de Davi, aquele, que construiria a Casa de Deus e se
assentaria no seu trono. Deus disse a Davi: “Quando teus dias se cumprirem e
descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que
procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu
estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por
filho” (2Sm 7.12-14). O cumprimento imediato dessa profecia aconteceu na pessoa de
Salomão, o filho de Davi que herdou o trono de Israel. É um fato histórico que Salomão
construiu o templo de Israel, e assim cumpriu a profecia de que o filho de Davi
construiria a casa ao Senhor.
Algo que deve ser perguntado é: será que esse é o único cumprimento dessa
profecia? De acordo com o Novo Testamento não. Pelo menos treze vezes o Novo
Testamento chama Jesus de “o Filho de Davi”. Quando olhamos para a genealogia de
Jesus podemos perceber claramente que ele é de fato um descendente humano de Davi
(Mt 1.1-16), portanto, para o Novo Testamento Jesus é o descendente de Davi por
excelência. Humanamente falando a descendência de Davi se assentou no trono por um
longo tempo, mas houve um momento que isso acabou. Não existe mais um trono de
Israel e nem um descendente direto de Davi que se assente nesse trono. Jesus cumpre
essa profecia, porque na pessoa dele Deus estabeleceu um trono eterno, e na pessoa
dele a casa de Davi é eterna. O Novo Testamento dá testemunho disso pela profecia de
que Jesus foi alvo quando ainda menino: “Este será grande e será chamado Filho do
Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). Sobre o alto da
cruz, um testemunho eterno foi colocado, pois estava escrito: “Jesus Nazareno o Rei
dos Judeus” (Jo 19.19).
algo que não foi preenchido. É somente a Nova Aliança, a Aliança em Jesus que
consuma todas as expectativas das alianças anteriores.
Após o Reino de Davi e Salomão, quando o propósito pactual de Deus atingiu
o ápice, tendo o Israel se tornado uma monarquia teocrática de influência mundial,
atraindo pessoas de várias nações para ver o que Deus estava realizando em Israel,
seguiu-se o declínio. Davi havia cometido muitos erros, mas sempre teve a qualidade
de se arrepender. Seu filho Salomão, porém, apesar de toda sabedoria recebida, não se
manteve fiel até o fim. Roboão, filho de Salomão causou a divisão do reino. E a partir
daí o declínio foi constante. O reino do Norte atravessou séculos de apostasia, com
raros momentos de reavivamento até que foi subjugado e deportado pela Assíria em
722 a.C. O Reino do Sul aguentou mais tempo, com mais momentos de pureza e
reavivamento, mas por fim capitulou em 586 sob o poder da Babilônia. O povo voltava
para onde tinha saído em Abraão, mil e quinhentos anos antes.
Após os setenta anos de cativeiro, Deus os trouxe novamente para a Terra
Prometida e os ajudou a reconstruir o templo e a nação através de Esdras, Neemias, nos
tempos de Ageu e Zacarias. Por fim, fez algumas promessas finais nos tempos de
Malaquias, por volta de 400 a.C. Uma das últimas promessas foi sobre a vinda do
Senhor ao templo (Ml 3.1). Após isso, foram 400 anos de silêncio da parte de Deus. O
povo passou sucessivamente do domínio Persa, para o domínio Grego, (depois para o
domínio sírio, degeneração do império grego) e por fim para o domínio Romano. Nos
dias do nascimento de Jesus, a religião fervilhava em Israel. O enorme templo
reconstruído por Herodes, a classe sacerdotal no auge da influência, a dedicação do
povo em seguir os regulamentos da Lei de Moisés pareciam desmentir um tempo de
legalismo, frieza e indiferença espiritual. Um tempo de hipocrisia, como o próprio Jesus
descreveu. Apenas aparência. Nesse tempo Jesus nasce, porém, é reconhecido somente
pelos humildes e alguns reis do oriente (sempre o oriente). A religião oficial não está
disposta a recebê-lo.
O fato de que Israel falhou como nação, e perdeu os privilégios da Aliança sendo
arrancado da terra prometida indicava a necessidade de uma ministração da Aliança
que tivesse maior e eficácia e duração. Porque embora Israel tivesse falhado em sua
responsabilidade sob a Aliança, Deus não falhou em seu propósito de separar um povo
para si. A última Aliança une os vários conceitos da promessa através da história. Ela,
portanto, suplanta e traz pleno cumprimento a todos os propósitos divinos revelados ao
longo das várias ministrações anteriores.
Jesus é o âmago de todo esse cumprimento. Em sua pessoa o essencial princípio
da Aliança recebe corpo: “eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo”. Agora não
é somente o princípio Emanuel que está presente, mas o próprio Emanuel.
As principais características da Aliança em Jesus podem ser vistas no retorno
de Israel do cativeiro à terra da promessa, no cumprimento divino dos compromissos
prévios da Aliança, na renovação interna pela obra do Espírito Santo de Deus, no pleno
perdão de pecados e no caráter perpétuo da Nova Aliança. Embora a Bíblia diga que
todas as ministrações anteriores da Aliança também eram perpétuas, podemos entender
que eram perpétuas somente na medida em que se cumpriram na realização da Nova
Aliança.
Há apenas uma Aliança que engloba todos os tempos, desde a fundação do
mundo até a consumação dos séculos. Uma profunda unidade estrutural entre as
Alianças pode ser vista. Deus nunca iniciou uma Aliança totalmente do zero, por
exemplo, com Abraão, Moisés ou Davi. Há apenas uma Aliança, mas ela progride em
cada ministração, quando são acrescentados novos detalhes. É uma continuidade cheia
Disciplina: Introdução à Bíblia
Professor: Dr. Leandro Lima
AULA 06
Recurso adicional
4
William Hendriksen. El Pacto de Gracia. Grand Rapids: Libros Desafio, 1985, p.
24-25.