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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................ 3
TEOLOGIA DAS ALIANÇAS ...................................... 4
A ALIANÇA DA CRIAÇÃO ......................................... 7
A ALIANÇA DA REDENÇÃO ................................... 14
A ALIANÇA DA PRESERVAÇÃO.......................... 17
A ALIANÇA DA PROMESSA................................. 20
A ALIANÇA DA LEI................................................ 25
A ALIANÇA DO REINO.......................................... 28
A NOVA ALIANÇA ................................................. 30
RESUMO................................................................... 35
BIBLIOGRAFIA......................................................... 36
3

INTRODUÇÃO

Uma pergunta que certamente já deve ter passado na cabeça de muito


crente é se a Bíblia tem um assunto central, um tema unificador que una todas as
partes das Escrituras. Alguns pensam que o tema de toda a Bíblia é Cristo.
Outros acreditam que o assunto central seja o Reino de Deus. Outros, ainda,
acham que são as alianças de Deus com o homem que dão sentido à Bíblia como
um todo.
A Igreja Reformada, quanto a esse assunto, tem adotado de maneira geral
a Teologia do Pacto (também chamada Teologia da Aliança ou Teologia
“Federal”, do latim foedus, pacto). Alguns elementos dessa teologia apareceram
na época dos pais da Igreja (primeiros quatro séculos da era cristã) e na literatura
escolástica (Idade Média), mas o sistema doutrinário surgiu mesmo no Século 16,
o século da Reforma Protestante, aparentemente com Oleviano, co-autor do
Catecismo de Heidelberg.
A Teologia do Pacto não é a mais popular no meio protestante,
principalmente entre os brasileiros. Aqui no Brasil, o Dispensacionalismo tem
sido, sem sombra de dúvida, a teoria mais acolhida, embora não seja bem
entendida por grande parte de seus defensores. Veremos sobre o
Dispensacionalismo após este estudo, quando então estaremos preparados para
fazer as devidas comparações.
Pois bem, a Teologia do Pacto entende que o tema unificador das
Escrituras é o Pacto ou a Aliança entre Deus e os homens. É essa aliança que
liga todas as partes da Escrituras e dá sentido ao todo.
Durante este estudo, os alunos receberão dois “APÊNDICES”. São estudos
à parte, feitos para esclarecer ou acrescentar algo àquilo que foi estudado. A
leitura dos apêndices não é obrigatória, mas é muito importante no aspecto
informativo.
Com isso tudo em mente, passemos ao estudo da Teologia das Alianças.
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TEOLOGIA DAS ALIANÇAS


(ENTRE DEUS E OS HOMENS)
“Serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo”

A expressão Velho Testamento refere-se à administração da Aliança entre


Deus e os homens antes de Cristo se encarnar.
A expressão Novo Testamento refere-se à administração da Aliança entre
Deus e os homens após a encarnação de Cristo1.
Muitos estudiosos criticam a tradução “testamento”. De fato, o termo
“testamento” vem das traduções latinas da Bíblia, muito comuns na Idade Média,
as quais eram utilizadas oficialmente pela Igreja Católica. No latim, testamentum
pode ser traduzido como pacto ou aliança, porém, em português, a palavra
testamento só pode significar uma “declaração legal através da qual alguém
dispõe dos seus bens, em benefício de outrem, para depois de sua morte”
(Minidicionário Soares Amora, pg. 718).
Alguém poderia argumentar que a Bíblia faz uma relação entre aliança e
testamento. A prova disso pode ser encontrada em um texto da carta aos
Hebreus, Hb 9.15-20. Mas veremos que a morte do testador (Cristo), garantindo a
“herança” aos herdeiros, não está presente na primeira aliança que Deus fez com
o homem em Gênesis. Só após a queda do homem é que o conceito de
testamento se torna vinculado ao conceito de aliança.
Portanto, se formos nos basear somente na palavra hebraica usada para
“aliança”, a palavra berith (Gn 6.18), o seu sentido é mesmo de aliança ou pacto,
sem margem para a idéia de testamento. Sendo assim, seria melhor se nossas
Bíblias, em vez de “Antigo” ou “Velho Testamento”, ou mesmo “Novo
Testamento”, trouxessem “Antiga Aliança” ou “Antigo Pacto” e “Nova Aliança” ou
“Novo Pacto”.
Pois bem. A aliança consiste, basicamente, na comunhão entre Deus e
o homem. A primeira aliança entre Deus e o homem começou com Adão e Eva.
Essa relação se manifesta, da parte de Deus, em amar o homem,
voluntariamente, sem que tivesse qualquer necessidade inerente de fazê-lo. No
que diz respeito ao homem, este deve amar a Deus, adorá-lo e servi-lo, por meio
da obediência aos mandamentos divinos. Essa obediência aos mandamentos
gera bênçãos na vida do homem e a continuidade da relação com Deus. A
desobediência gera punições e interrupção na relação com Deus.
Este estudo tem por objetivo mostrar as alianças feitas entre Deus e o
homem, as quais sempre visavam a comunhão entre ambos. Este, portanto, é o
tema central da Bíblia: a história do relacionamento entre Deus e os homens.
Vamos começar conceituando o termo “Aliança”:

1
Essa distinção para o Velho e o Novo Testamento pode ser encontrada no livro de O. Palmer
Robertson, Cristo dos pactos, pg. 53.
5

ALIANÇA

Aliança (Relacionamento, Pacto) é um vínculo de amor entre Deus e a


humanidade. Esse relacionamento não nasceu da vontade humana, mas da
vontade divina. Deus quis relacionar-se conosco e, somente por isso, há uma
relação. Ele não fez isso porque precisasse se relacionar. Sua motivação foi Seu
infinito amor. É importante termos em mente que os pactos feitos entre Deus e os
homens são bem diferentes daqueles pactos que podem existir entre um homem e
outro. Há duas características básicas sempre presentes nos pactos entre Deus e
os homens, pois todo pacto divino é soberano e, portanto, unilateral.
O pacto divino é soberano, unilateral: Isso significa que não é um contrato
entre duas pessoas iguais, mas entre um Deus Todo-Poderoso e o ser humano
com suas limitações. O homem precisa dos benefícios do pacto. Deus, porém, foi
movido por Seu amor.
Sendo um pacto estabelecido soberanamente por Deus, o homem nada
acrescenta a esse pacto. Deus estabelece as condições soberanamente. Cabe ao
homem simplesmente aceitar as condições do pacto.
Nessa relação ou pacto o homem recebe RESPONSABILIDADES (ordens
ou mandamentos que revelam a vontade de Deus para o homem). Quando
cumpre tais responsabilidades, é abençoado. A OBEDIÊNCIA RESULTA EM
BÊNÇÃOS.
Se o homem não cumpre tais responsabilidades, recebe o castigo por isso.
A DESOBEDIÊNCIA RESULTA EM MALDIÇÕES (OU CASTIGOS, PUNIÇÕES).
Visto que Adão foi o representante de toda a raça humana nessa relação
pactual com Deus, o seu pecado significou que todos pecaram (Rm 5.12, 19).
Portanto, o pacto ou relacionamento foi firmado entre Deus e o
representante da Criação, que, naquela ocasião, foi Adão. Louis Berkhof chega a
declarar, em sua Teologia Sistemática, que “Adão foi constituído chefe
representativo da raça humana para poder agir por todos os seus descendentes”
(pg. 216).

Entendendo melhor essa Aliança...

Quando Deus criou o homem e a mulher, pretendia ter um relacionamento


de amor com eles. Veja como o Senhor trata o homem de forma especial,
conforme os seguintes textos de Gênesis:

Gn 1.27-29: (27) "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus
o criou; homem e mulher os criou. (28) E Deus os abençoou e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos (bênção da fecundidade), enchei a terra e sujeitai-a
(bênção do domínio sobre a terra); dominai sobre os peixes do mar, sobre as
aves dos céus e sobre todo o animal que rasteja pela terra (bênção do domínio
sobre os demais seres viventes). (29) E disse Deus ainda: Eis que vos tenho
dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e
todas as árvores em que há fruto que dê semente; vos será para mantimento
6

(bênção do sustento alimentar)." Veja como o salmista alude a esse trecho no


Salmo 8.3-9: (3) "Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e
as estrelas que estabeleceste, (4) que é o homem, que dele te lembres? E o filho
do homem, que o visites? (5) Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que
Deus e de glória e de honra o coroaste. (6) Deste-lhe domínio sobre as obras da
tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: (7) ovelhas e bois, todos, e também os
animais do campo; (8) as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre
as sendas dos mares. (9) Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a
terra é o teu nome!"
Gn 2.8: "E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e
pôs nele o homem que havia formado."
Gn 2.18: "Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-
lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea."
Gn 2.19: "Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do
campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes
chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse
seria o nome deles." Esse texto é uma conseqüência do final de Gn 1.28, o qual
diz que o homem dominaria os homens.
Gn 3.8: "Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela
viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua
mulher, por entre as árvores do jardim." A maioria dos estudiosos concorda que
esse texto indica que o Senhor, numa teofania, encontrava-se constantemente
com o homem e a mulher no jardim.

A esta altura cabe a pergunta: Qual a parte do homem e da mulher nessa


relação? Simplesmente amar e obedecer o Senhor.
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A ALIANÇA DA CRIAÇÃO
(OU “PACTO DE OBRAS”)
É assim chamado porque se refere à relação ou aliança que Deus tinha com a
humanidade (homem e mulher2) quando a criou. Vemos, nos primeiros capítulos
de Gênesis:

DEUS CRIOU O HOMEM E A MULHER DE FORMA PRIVILEGIADA.


Já vimos que eles foram os únicos seres feitos à imagem de Deus. Gn 1.27:
"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou." O salmista se referiu a esse privilégio singular dado ao homem
na Criação, no Sl 8.4, 5: (4) “que é o homem, que dele te lembres? E o filho do
homem, que o visites? (5) Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que
Deus...”
Além de serem feitos à imagem e semelhança de Deus (inteligência,
raciocínio, discernimento moral, santidade), homem e mulher foram colocados
como Vice-Gerentes da Deus sobre a Criação, recebendo mandamentos do
próprio Deus para cumprir três tipos de responsabilidades ou papéis:

MANDAMENTO CULTURAL (Refere-se às responsabilidades do homem para


com a Criação em geral). Vimos que o homem (num sentido genérico, homem e
mulher) deveria exercer uma relação para com a própria terra, com os animais e
com as plantas, conforme Gn 1.28: "E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes
do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra."
É importante perceber que a relação entre o homem e os peixes, aves e
animais terrestres é uma relação de domínio. Mas note que não deveria ser um
domínio para destruição. Deus sujeitou tudo ao homem para que este dominasse
com responsabilidade e amor, como um verdadeiro Vice-Gerente de Deus sobre a
Criação, um mordomo sobre as coisas que Deus lhe deu. O próprio jardim do
Éden foi dado ao homem para que este o preservasse e cuidasse. Gn 2.15:
"Tomai, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o
cultivar e o guardar."
O homem tem uma responsabilidade para com tudo que Deus criou. Um
crente que é indiferente à destruição do meio ambiente, por exemplo, ignora o
mandamento cultural.
Para esclarecer ainda mais esse ponto, pensemos na idéia de que somos
os Vice-Gerentes de Deus ou seus MORDOMOS (administradores). Como bons
mordomos, devemos refletir Sua vontade na administração de tudo que foi criado.
Esse mandato, por extensão, abrange tudo o mais que Deus entregou às mãos do
homem, no decorrer do tempo, para ser administrado por ele. Logo, a maneira
como tratamos as atividades relacionadas ao nosso trabalho, ao comércio, à

2
Isso não muda o fato de que o representante escolhido foi Adão. De fato, foi para Adão, e não
para a mulher, que Deus deu a ordem que serviria como teste da Aliança (Gn 2.15-17).
8

indústria, às artes, à tecnologia, à ecologia, à escola, ao trabalho e aos cosmos


em geral está inserida aqui neste mandamento, o mandamento cultural.

MANDAMENTO SOCIAL (Refere-se às responsabilidades do homem para com


os outros seres humanos, inclusive os de sua família). Como na época de Adão e
Eva não havia mais seres humanos além deles (At 17.26), não são mencionadas
responsabilidades para com outros seres humanos. Note, porém, que a relação
familiar já ocorre em Gênesis, visto que Adão e Eva formaram o primeiro casal de
marido e mulher. Por isso é que, ainda no Gênesis, Deus instituiu mandamentos
referentes ao relacionamento familiar.
Gn 1.28: "E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos,
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." O homem recebeu a ordem de
se multiplicar. A discussão entre os teólogos diz respeito se esse mandamento foi
dado com vistas a “encher a terra”. Se essa for a interpretação correta, então o
homem não teria, hoje, a obrigação de cumprir tal mandamento. É lógico que, se
tiver filhos, o casal pode considerar tal coisa como herança do Senhor, pois é Ele
quem deu ao ser humano a capacidade de reprodução, conforme esse texto e o
Sl 127.3. A questão da discussão, porém, é se somos obrigados a tê-los hoje,
uma vez que a terra já está cheia.
No Éden, como só havia um homem e uma mulher, não vemos uma
referência direta a filhos, a não ser pelo fato de que os mesmos deveriam ser
gerados (Gn 1.28). As responsabilidades de pais para filhos viriam depois.
Gn 2.24: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se
os dois uma só carne." Eis outro mandamento do Senhor. O próprio Jesus refere-
se ao casamento como uma instituição divina e indissolúvel em Mt 19.4-6: (4)
“Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez
homem e mulher (5) e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se
unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? (6) De modo que já não
são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem”. Devemos lembrar que os mandamentos divinos expressam a vontade de
Deus para o homem. É da vontade de Deus que o homem constitua família. É
verdade, também, que há uma exceção. É possível que alguém receba de Deus o
dom do celibato, não sentindo necessidade da relação conjugal (Veja o que diz 1
Co 7.2, 7-9. Note o contexto desse trecho aos coríntios. Paulo parece indicar que
é solteiro por causa de um dom de Deus).

Ainda quanto ao relacionamento entre os seres humanos, vale ressaltar


que tem de ser um relacionamento de IGUALDADE. Em Gn 1.27 está escrito que
tanto o homem quanto a mulher foram feitos à imagem e semelhança de Deus:
“Criou Deus, pois, o homem (humanidade) à sua imagem, à imagem de Deus os
criou; homem e mulher os criou”.
O próprio homem reconheceu que a mulher era semelhante a ele, quando
disse: “... Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-
se-á varoa, porquanto do varão foi tomada”. (Gn 2.23)
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Agora, ainda que homem e mulher tenham sido feitos à imagem e


semelhança de Deus e, portanto, ambos sejam iguais, homem e mulher têm
PAPÉIS DIFERENTES no relacionamento de um para com o outro. A MULHER
TEM O PAPEL DE AUXILIADORA DO HOMEM. (Gn 2.20). JÁ AO HOMEM CABE
O PAPEL DE LÍDER OU CABEÇA DESSA RELAÇÃO (uma inferência lógica, visto
que a mulher o auxilia). Os filhos, por sua vez, devem honrar seus pais, como
será mostrado mais adiante.
Tais papéis, tanto do homem quanto da mulher, devem ser
desempenhados dentro do casamento, o qual foi instituído por Deus: “... deixa o
homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. (Gn
2.24).
Quando o relacionamento entre homem e mulher sai do âmbito familiar,
indo para o âmbito da sociedade, há um princípio que permanece: homens e
mulheres, em suas relações sociais, devem ser vistos como iguais diante de
Deus, ambos feitos à Sua imagem e semelhança. Isso envolve o respeito que
temos de ter para com todo ser humano, homem ou mulher. Mas enfatizamos que,
no caso de marido e mulher, há papéis a serem cumpridos: o homem deve ser o
líder de seu lar e, a mulher, sua auxiliadora. E as regras para o relacionamento
com filhos virão depois.

MANDAMENTO ESPIRITUAL (Refere-se às responsabilidades diretas do homem


para com Deus). Veja que esse mandamento trata da relação direta do homem
para com Deus. Alguns chamam esse mandato de “mandato da comunhão”. É o
relacionamento da criatura com o Criador. Chama-se “mandato espiritual” pois diz
respeito ao relacionamento com aquele que é Espírito. Esse relacionamento do
homem para com Deus deve ser UM RELACIONAMENTO DE OBEDIÊNCIA À
SUA VONTADE, e envolve um andar com Deus diariamente, conversar
intimamente com Ele, expressar-Lhe amor, honra, devoção e louvor. A mais
marcante de todas as responsabilidades ou ordens que Deus deu a Adão
certamente foi a descrita em Gn 2.16, 17: (16) “E o SENHOR Deus lhe deu esta
ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, (17) mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal NÃO COMERÁS; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás”.
Sabemos o que aconteceu depois. Nossos primeiros pais desobedeceram
e o castigo anunciado (“certamente morrerás”) se cumpriu. Porém, não foram
castigados somente Adão e Eva. Note que a terra foi amaldiçoada por causa do
homem (Gn 3.17, 18) Isso ocorreu porque, quando Adão caiu, a criação caiu
junta, pois ele era representante de toda a criação nesse pacto ou relacionamento
com Deus. Em Adão também estava representada toda a humanidade que viria a
seguir. Por isso é que Paulo diz, em Rm 5.12: “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.
É verdade que todos os mandamentos envolvem a responsabilidade do
homem para com Deus, mas o mandato espiritual abrange aqueles mandamentos
10

que dizem respeito a Deus somente. Não inclui as pessoas e a Criação em geral.
Exemplos: os quatro primeiros mandamentos do Decálogo.
Antes de continuarmos, não esqueça: Houve, na Criação, uma ordem
explícita de Deus ao homem, algo que envolvia um teste em relação à obediência
humana para com Deus. Gn 2.16, 17: (16) "E o SENHOR Deus lhe deu esta
ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, (17) mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás".

QUEDA E ESPERANÇA EM GÊNESIS 3


Uma vez que existiam tais mandamentos, (cultural, social e espiritual) já na
Criação, podemos concluir que o homem, desde o início, deveria obedecer à
vontade divina (mesmo antes da Queda)3. A parte dele no pacto é responder
positivamente aos mandamentos dados por Deus. É importante repetir aqui que:
1) A obediência à vontade ou mandamento de Deus resultaria em bênção;
2) A desobediência à vontade ou mandamento de Deus resultaria em
maldição (ou punição). Além de o homem ser punido por seu pecado,
tal pecado prejudica a relação entre ele e Deus. Deve-se perceber que
qualquer desobediência teria suas conseqüências, mas o comer do
fruto foi estabelecido como teste.
Portanto,
A OBEDIÊNCIA É ALGO ESSENCIAL NA RELAÇÃO DO HOMEM COM DEUS.
Nessa relação entre Deus e o homem, a obediência tinha um papel decisivo. Na
verdade, o futuro do homem dependia disso. De acordo com o teste do fruto, caso
desobedecesse a Deus, a punição (ou maldição para a desobediência) seria a
morte. Gn 2.17: "mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás." No caso de
obediência, a vida eterna estaria garantida. O teste-prova foi o fruto da árvore que
não deveriam comer.
É justamente porque a obediência era algo decisivo, essencial nessa
relação, que os estudiosos chamam a aliança de Deus com o homem como
PACTO DE OBRAS. Ou seja, a relação dependia exclusivamente das obras
humanas para se manter.

O FRACASSO DO HOMEM NA MANUTENÇÃO DO PACTO DE OBRAS.


Influenciada por Satanás, Eva comeu o fruto proibido e levou Adão a fazer o
mesmo. Gn 3.1-6: (1) “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais
selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus
disse: Não comereis de toda árvore do jardim? (2) Respondeu-lhe a mulher: Do
fruto das árvores do jardim podemos comer, (3) mas do fruto da árvore que está

3
Porque Deus é Criador, e o homem, criatura; Deus é Senhor, e nós, Seus servos. Sempre foi assim – antes e
depois do pecado entrar no mundo – e sempre será. Por isso é que, mesmo quando houver novo céu e nova
terra, continuaremos tendo de obedecer à vontade de Deus como Seus servos (Ap 22.3, 4).
11

no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que
não morrais. (4) Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. (5)
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e,
como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. (6) Vendo a mulher que a
árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele
comeu”.
A própria Bíblia, mais tarde, viria a mencionar a transgressão da aliança
por parte de Adão. Veja Os 6.7: “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão;
eles se portaram aleivosamente contra mim.”

A punição era a morte. Gn 2.17: “mas da árvore do conhecimento do bem e do


mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”
Conceito bíblico de morte: separação.
Morte física: separação entre corpo e espírito.
Morte espiritual: separação entre o espírito do homem e o Espírito de
Deus.
Morte eterna: morte espiritual após a morte física, ou seja, é a separação
entre o espírito do homem e o Espírito de Deus na eternidade.
Note, porém, que Deus não permitiu que tudo terminasse ali.
Primeiramente, Deus minimiza as conseqüências do pecado de Adão e Eva.
Deve ficar muito claro, neste ponto do estudo, que deveria acabar ali toda e
qualquer relação entre Deus e o homem. Deus não estaria errado se
abandonasse o homem na morte. Porém, vemos que a graça de Deus começa a
se manifestar imediatamente após a Queda:
Repito: Quando Adão pecou, a relação ou pacto de Deus com sua Criação
poderia ter acabado ali. Porém, a graça (favor imerecido) de Deus ao homem
começou a se manifestar já no Éden. Vejamos:

1) Deus não desiste de sua criatura, agora pecadora, mas vai ao seu encontro: “E
chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?” (Gn 3.9) Deus
poderia simplesmente ter deixado o homem entregue à sua própria sorte,
abandonado em sua morte espiritual. Não precisava haver, necessariamente, um
novo contato após a queda.
2) O sustento do homem ainda seria possível: “No suor do teu rosto comerás o
teu pão”. (Gn 3.19) O homem ainda poderia sustentar-se, ainda que com trabalho
penoso e o suor do seu rosto.
3) A mulher continuaria tendo a capacidade de gerar, ou seja, não perdeu a
fecundidade: “em meio de dores darás à luz filhos”. (Gn 3.16) Eva reconheceu
que o ser mãe, após a queda, era uma bênção decorrente da graça divina (Gn
4.1, 25). Logo, a raça humana continuaria a existir. Tal existência foi garantida
pela permanência da capacidade de gerar. O próprio Adão percebe a amplitude
dessa bênção, ao dizer que Eva seria a mãe de todos os seres humanos (Gn
3.20).
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4) Deus promete a destruição daquele que induziu nossos primeiros pais ao erro,
quando disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher; entre a tua
descendência e o seu descendente. Este (o descendente da mulher) te ferirá a
cabeça...”. (Gn 3.15)

Em segundo lugar, o texto de Gn 3.15 revela o início de um plano para a


restauração da relação entre o homem e Deus. Ou seja, Deus providencia um
meio de garantir o propósito da Aliança da Criação. Ele disse à serpente:
Gn 3.15: “Porei inimizade entre ti (dirigindo-se a Satanás) e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”.
Adão e Eva certamente não entenderam muita coisa dessas palavras.
Apenas compreenderam que a partir de agora sempre haveria inimizade entre a
mulher e a serpente (Satanás), e que um descendente específico da mulher,
ainda que fosse ferido pelo inimigo, esmagaria a cabeça o inimigo. Para nós,
hoje, que temos as Escrituras completas, fica fácil entender. Eis o significado
dessas palavras:
A descendência da mulher envolve tanto os crentes eleitos (a igreja)
quanto o próprio Jesus. A descendência de Satanás envolve não somente o
próprio diabo, mas também os não-crentes, que muitas vezes agem como seus
filhos (Jo 8.44a), e os demônios4.
O que o texto quer dizer, primeiramente, é que sempre haverá inimizade
entre crentes e não-crentes, no que diz respeito ao campo espiritual. É óbvio que
tal inimizade pode se refletir no campo natural também, ou seja, na vida secular.
Não é à toa que a Bíblia diz: “... Que sociedade pode haver entre a justiça e a
iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo
e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2 Co 6.14, 15)
O texto de Gn 3.15 também declara que a serpente conseguiria ferir o
calcanhar do descendente da mulher, que hoje sabemos ser Jesus Cristo.
Satanás feriu “o calcanhar” de Jesus quando tentou, de todas as maneiras,
impedir o sucesso de Sua missão. Tanto o sofrimento como a morte do Messias
poderiam ser considerados, aparentemente, como uma vitória do inimigo.
Entretanto, a vitória de Cristo na cruz foi ratificada pela sua ressurreição, o que
significou a completa e total derrota de Satanás. Ou seja, a cabeça do inimigo foi
esmagada e o seu destino selado. (Cl 2.15)
Volto a afirmar que Adão e Eva não entenderam tudo isso da mesma
maneira que nós entendemos. Como eu disse, eles apenas compreenderam que
a vitória estava garantida nas mãos do descendente. Não sabiam quem ele era ou
quais as implicações desse conflito com as forças do mal.
O fato é que, a partir daqui, Jesus entra como o FIADOR dessa aliança
entre Deus e os homens. Cristo é aquele que garante a existência e continuidade
dessa relação. Os mandamentos continuam, é verdade, e as punições também. É
por isso que animais eram mortos pelos pecados dos homens, pois havia uma lei
4
Essa interpretação para a descendência ou semente de Satanás pode ser encontrada no livro
Cristo dos pactos, de O. Palmer Robertson, pgs. 89 e 90.
13

em vigor, qual seja, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a). Não que a morte
de tais animais tivesse poder para apagar os pecados de alguém, mas sim porque
esses animais simbolizavam Cristo, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29). Por outro lado, a obediência aos mandamentos continuaria
gerando bênçãos nas vidas dos obedientes também.
O importante é perceber que em Gn 3.15 Deus começa a revelar que irá
redimir, no meio da humanidade caída, um povo para si. Alguns estudiosos dizem
que a Aliança é alicerçada na promessa de Deus, justamente por causa daquilo
que Deus prometeu em Gn 3.15. Deus é fiel à Sua Palavra, à Sua promessa. Por
isso as palavras de Gn 3.15 haveriam de se cumprir.
Com o passar dos tempos, Deus foi pouco a pouco revelando mais
detalhes dessa sua Aliança com seu povo eleito. Fez isso em sua Aliança com
Noé, em sua Aliança com Abraão, em sua Aliança com Moisés, no Sinai, e na
Aliança com Davi. Finalmente, Jesus surgiu com a Nova Aliança e esclareceu
todas as coisas que foram reveladas, visto que o povo nunca entendeu
completamente todas elas.

CONCLUSÃO

Deve ficar claro o seguinte:


1) A aliança é uma só. Se fôssemos defini-la, diríamos que é uma relação que o
próprio Deus, motivado por seu amor, iniciou com aquilo que Ele criou. Dizemos
que é uma só porque todas as alianças posteriores simplesmente refletem o
propósito da primeira: uma relação eterna entre Deus e o homem.
2) Portanto, a essa aliança inicial seguiram-se outras que são, na verdade, uma
continuação da primeira.
3) As alianças seguintes podem adicionar alguma coisa à aliança original ou
esclarecer algum ponto de uma aliança anterior. As alianças posteriores podem
até mesmo ampliar um conceito já dado anteriormente.

Portanto, com a revelação desse plano, em Gn 3.15, tem início a ALIANÇA DA


REDENÇÃO.

APÊNDICE 1: OS MANDAMENTOS E SUA INTERDEPENDÊNCIA


14

A ALIANÇA DA REDENÇÃO
(OU “PACTO DA GRAÇA”)
Redenção significa o resgate de uma propriedade pelo pagamento de um
preço. Deus se propôs a resgatar aquilo que lhe pertence. Essa Aliança da
Redenção é também chamada PACTO DA GRAÇA, pois envolve um favor
imerecido de Deus para com o homem. O homem merecia morrer, pois fracassou
em sua obediência e a morte estava prevista como punição. Porém Deus, por Sua
graça, resolveu agir em favor do homem. Entretanto, havia dois problemas a
serem resolvidos para que essa relação pudesse ainda existir:

1º) A OBEDIÊNCIA TINHA DE SER PERFEITA.


Como continuar se relacionando com homens que se tornaram imperfeitos,
limitados, incapazes de cumprir perfeitamente a vontade divina?
Enquanto Adão era um homem perfeito, tinha condições de cumprir a
exigência de uma obediência perfeita. Agora, porém, que caiu em pecado e se
tornou um pecador, imperfeito, não tem como satisfazer tal exigência. Deus, por
sua vez, não podia baixar Seu padrão por causa da Queda. Somente a
obediência perfeita poderia satisfazê-lO. E até hoje é assim (Tg 2.8-11). Essa é a
famosa “maldição” da lei. Aquele que quiser ser justificado por ela, tem de cumpri-
la perfeitamente (Gl 3.10).

2º) O HOMEM TINHA DE MORRER.


Pecado é tudo aquilo que está fora de conformidade com a vontade divina. Deus
não suporta o pecado. O homem, tendo se tornado pecador, merece a morte,
conforme Rm 6.23a: “... o salário do pecado é a morte”.

CRISTO entra em cena justamente para resolver esses dois problemas. Cristo
entra como fiador do homem nessa relação, a fim de garantir sua existência. Ele
irá, no lugar do homem, obedecer perfeitamente à vontade divina (obediência
ativa); sofrer a punição pelo fracasso humano, ou seja, a morte (obediência
passiva); e destruir aquele que deu início à rebelião humana contra Deus:
Satanás (conforme profetizado em Gn 3.15).
Note que a intenção de Deus continua a mesma: ter uma relação com o
homem que criou, uma relação de amor e obediência.
É importante notar que Deus já sabia que o homem ia fracassar, porque
mesmo a Queda inevitavelmente faz parte dos decretos de um Deus Soberano,
embora esse decreto não faça dEle autor do pecado ou tenha violentado a
vontade da criatura5 (Confissão de Fé, Capítulo III, Seção I). Sendo assim, Ele
também já havia planejado, desde a eternidade, uma solução para a Queda que
haveria de ocorrer.

5
Conforme o comentário de A. A. Hodge a essa Seção da Confissão, “... o propósito de Deus... em nenhum
aspecto causa o mal nem o aprova, mas apenas permite que o agente mau o realize, e então o administra
para seus próprios sapientíssimos e santíssimos fins” (pg. 98).
15

Isso mesmo. Ainda na eternidade, Deus tinha resolvido que resgataria um


povo, dentre a humanidade caída (Rm 9.15, 16; 2 Tm 1.9), para que tivesse um
relacionamento de obediência e amor com Ele. Alguns estudiosos dizem,
portanto, que a ALIANÇA DA REDENÇÃO nasceu antes da Queda do homem (Ef
1.4, 5), a partir de um plano elaborado entre as Pessoas da Trindade. O Pai havia
resolvido previamente eleger ou predestinar alguns para a vida (Doutrina da
Eleição ou Predestinação) (Ef 1.3, 4a); o Filho (Cristo) entraria como o Fiador do
homem, a fim de que fosse possível a garantia dessa relação (Rm 5.12, 16, 17); e
o Espírito Santo seria aquele que aplicaria a obra de Cristo no coração do eleito,
convencendo-o do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8).
É claro que o homem tem de continuar obedecendo a Deus. Isso fez, faz e
sempre fará parte do nosso relacionamento com Deus. A diferença é que, agora,
A DESOBEDIÊNCIA NÃO VAI GERAR MORTE ETERNA, visto que Cristo haveria
de obedecer a lei perfeitamente, no lugar do eleito. Porém, mesmo não estando
mais sujeitos à condenação eterna, de qualquer maneira a nossa desobediência,
nesta vida, sempre vai gerar punições da parte de Deus (Gl 6.7).
Alguém poderia perguntar: “Por que o homem do Velho Testamento não foi
condenado à morte por sua desobediência, visto que Cristo só haveria de morrer
por ele no futuro?” Porque os decretos de Deus são infalíveis. Ora, uma vez que
Ele havia decretado que Cristo morreria pelo pecador e conseguiria redimi-lo,
esse pecador eleito, mesmo antes da morte de Cristo, já usufruía desse sacrifício.
É por isso que a Bíblia se refere a Cristo como “o Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo” (Ap 13.8). Isso mesmo. Os planos de Deus não podem ser
frustrados (Jó 42.2; Is 46.9, 10). Lembre-se de que, quando Ele disse à serpente
que o descendente da mulher esmagaria sua cabeça (Gn 3.15), nada poderia
mudar isso.

CONCLUSÃO

Deve ficar claro o seguinte:


1) A aliança da Redenção apresenta ao homem a necessidade de confiar (crer)
em um Redentor. Deus apresentou esse redentor brevemente em Gn 3.15.
Embora o texto não diga que se deve crer e depositar a esperança nEle, isso fica
implícito, já que o descendente da mulher é apresentado como a solução divina
para a situação.
2) Jó viveu provavelmente na época dos Patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) e
acreditava firmemente na vinda desse Redentor (Jó 19.25).
Louis Berkhof nos ensina, em sua Teologia Sistemática, que “na aliança
das obras a guarda da lei é o caminho da vida; na aliança da graça é a fé em
Jesus Cristo” (pg. 273).
De fato, todas as alianças posteriores à Aliança da Redenção só são
possíveis porque Cristo se tornou o mediador, o elo de ligação nessa relação
entre Deus e os homens. Sem Cristo, as alianças que estudaremos a seguir não
existiriam.
16

Por fim, ficamos sabendo, pelo texto de At 15.10, 11, que todos os judeus
eleitos do Velho Testamento, antepassados dos apóstolos, foram salvos pela
graça de Jesus. Esse fato confirma a predominância da Aliança da Redenção a
partir da queda do homem e a exclusividade de Cristo como único mediador (1
Tm 2.5).
17

A ALIANÇA DA PRESERVAÇÃO
A história do povo de Deus, a partir da Queda do homem, segue um curso
previsível. A “semente da mulher” vai se revelando a partir do primeiro casal. Eva
demonstra que reconhece seu primeiro filho como uma bênção de Deus. Quando
Caim nasceu, ela disse, em Gn 4.1: “... adquiri um varão com o auxílio do
Senhor”. Alguns comentaristas interpretam que tanto Adão quanto Eva esperavam
ansiosamente pelo nascimento do descendente que esmagaria a cabeça da
serpente.
Provavelmente Adão e Eva continuaram tementes a Deus, visto que seus
filhos aparentemente foram instruídos na relação com o Senhor, pois ambos –
Caim e Abel – fizeram ofertas a Ele, conforme Gn 4.3, 4: (3) “Aconteceu que no
fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. (4) Abel,
por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho, e da gordura deste. Agradou-se
o SENHOR de Abel e de sua oferta”.
Porém, começamos a perceber a descendência da serpente na pessoa de
Caim. Ele se deixou dominar pela ira, quando sua oferta foi rejeitada (Gn 4.5),
premeditou o assassinato de seu irmão e, por fim, o matou (Gn 4.8). Como se não
bastasse, mentiu a Deus, quando Este lhe perguntou sobre o paradeiro de Abel
(Gn 4.9).
Notem que Deus castigou Caim, amaldiçoando a terra para que ela não lhe
desse seus frutos (Gn 4.11, 12a) e o condenou a viver como um errante pelo
mundo (Gn 4.12b). O interessante é que a graça de Deus continua a atuar sobre
o pecador, como se vê até mesmo no caso de Caim. Deus garantiu a proteção e
sobrevivência de Caim ante possíveis inimigos (Gn 4.14, 15). Um claro exemplo
da graça geral de Deus.
Aparentemente, a semente da mulher segue mais visivelmente na
genealogia de Sete, filho que substituiu Abel (Gn 4.25). A descendência da
serpente, por sua vez, segue mais visivelmente na genealogia de Caim (note o
trecho sobre Lameque, um dos descendentes de Caim, em Gn 4.23, 24). Isso não
quer dizer que todos os descendentes de Sete são eleitos, assim como não
significa também que todos os descendentes de Caim são ou serão sempre filhos
da serpente, pois o que permanece é o propósito da eleição (Rm 9.11). Quem
sabe se alguém da descendência de Caim não se converteu verdadeiramente ao
Senhor? Da mesma forma, quem garante que alguém da descendência de Sete
não serviu ao maligno? Porém, no início, até mesmo pelo fato de que só havia
praticamente duas famílias sobre a terra, as coisas pareciam assim.
Infelizmente, a maldade humana crescia na Terra (Gn 6.5), e Deus mostra
o Seu ódio pelo pecado com o dilúvio (Gn 6.11-17). Porém, o compromisso de
Deus feito na Aliança da Redenção não poderia ser frustrado. A humanidade e
nem a terra foram definitivamente destruídas, pois Noé e sua família foram
preservados (Gn 7.1). Isso mostra a fidelidade de Deus ao Pacto. O cumprimento
de Gn 3.15 dependia da continuidade da raça humana.
Deus agora faz uma aliança com Noé. Gn 9.8-10: (8) “Disse também Deus
a Noé e a seus filhos: (9) Eis que estabeleço a minha aliança convosco e com a
18

vossa descendência...”. Nessa aliança, ele revela mais alguns aspectos do Seu
plano de redimir um povo para Si. Cabe aqui um parêntese para repetir como as
coisas funcionam com o Deus das Alianças: na verdade, a aliança entre Deus e o
homem é uma só; Deus quer ter um relacionamento com o homem que criou, no
qual Ele seria o Deus de um povo e esse povo seria Seu. A aliança central se
revelou logo no início, na criação do homem. Todas as demais “alianças”, na
verdade, apenas complementam a aliança principal, dando novos aspectos desse
maravilhoso plano de Deus.
Pois bem, a aliança que Deus fez com Noé é chamada ALIANÇA DA
PRESERVAÇÃO. Isso, por motivos óbvios:
1º) Deus garante a preservação da existência humana por meio do alimento
vegetal e, agora, também o animal. Gn 9.3: “Tudo o que se move, e vive, ser-vos-
á para alimento; como vos dei a erva verde (Gn 1.29), tudo vos dou agora”.
2º) Deus garante a preservação da existência de todos os animais também. Por
isso, nesta aliança com Noé, Deus menciona também os outros seres viventes.
Gn 9.8-10: (8) “Disse também Deus a Noé e a seus filhos: (9) Eis que estabeleço
a minha aliança convosco e com a vossa descendência, (10) e com todos os
seres viventes que estão convosco: assim as aves, os animais domésticos e os
animais selváticos que saíram da arca, como todos os animais da terra”.
3º) Deus garante a preservação da existência humana por meio da manutenção
do ciclo da vida na terra. Gn 8.22: “Enquanto durar a terra, não deixará de haver
sementeira (terreno semeado) e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite”.
4º) Deus garante a preservação da existência humana pela instituição da pena
de morte. Gn 9.6: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se
derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”.
Alguns questionam a validade da pena de morte hoje, visto que no próprio
Decálogo há o mandamento “Não matarás” (Ex 20.13). Entretanto, esse
mandamento pode ser entendido como “Não assassinarás”, visto que a pena de
morte sempre existiu no meio do povo de Deus, não obstante esse mandamento
(observe que, no capítulo seguinte ao mandamento de “não matarás”, temos a
prescrição de Ex 21.12: “Quem ferir a outro, de modo que este morra, também
será morto”. Não haveria sentido para esse mandamento logo em seguida ao
Decálogo, se todo tipo de morte fosse proibido.). O que deve ser observado é que
só o governo civil tem o poder de morte sobre o assassino. Rm 13.4: “visto que a
autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme;
porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus,
vingador, para castigar o que pratica o mal”.
4º) Deus garante a existência de tudo que há no mundo pela preservação da
própria Terra, o palco onde se concretizará o plano de Deus de redimir um povo
para Si. Gn 9.11: “Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída
toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra”.

Essa Aliança da Preservação é reconhecida maravilhosamente pelo


salmista Davi, no Sl 36.5-7: (5) “A tua benignidade, SENHOR, chega até aos
céus, até às nuvens, a tua fidelidade. (6) A tua justiça é como as montanhas de
19

Deus; os teus juízos, como um abismo profundo. Tu, SENHOR, preservas os


homens e os animais. (7) Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por
isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas”.
É bom notarmos aqui que os MANDAMENTOS SOCIAL e CULTURAL
receberam atenção especial na Aliança da Preservação. A instituição da pena de
morte faz parte do Mandamento Social, pois visa à responsabilidade do homem
para com outro homem, também criação de Deus.
Deus repetiu, na aliança com Noé, pelo menos duas coisas que disse nos
dois primeiros capítulos de Gênesis ao homem e à mulher. Veja:
Gn 9.1: “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e lhes disse: Sêde fecundos,
multiplicai-vos e enchei a terra.” (MANDAMENTO SOCIAL).
Gn 9.2b: “... tudo o que se move sobre a terra, e todos os peixes do mar, nas
vossas mãos serão entregues”. (MANDAMENTO CULTURAL).
Lembram o que vimos em aula anterior, quando foi dito que o domínio do
homem sobre o animal não deveria ser feito irresponsavelmente, para destruição?
Note que Deus diz que o homem pode matar o animal, mas para se alimentar. Gn
9.3: “Tudo o que se move, e vive, ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva
verde, tudo vos dou agora”.

Na próxima aula, estudaremos sobre a ALIANÇA DA PROMESSA, feita com


Abraão.
20

A ALIANÇA DA PROMESSA
Será que a “semente da serpente” foi eliminada no dilúvio? Certamente que
não. Como eu disse anteriormente, os eleitos não estão restritos a uma
descendência ou genealogia específica. Mesmo entre os descendentes de Sete
haveria a semente da serpente. Não dá para sabermos se fulano é ou não eleito
apenas com base em sua ascendência ou genealogia. Em uma mesma família,
um filho pode ser eleito e o outro não (Por exemplo, Esaú e Jacó. Rm 9.11, 13)
Sabemos que a semente da mulher se mostraria mais clara na
descendência de Sem, filho de Noé, segundo palavras proféticas do próprio Noé.
Gn 9.26, 27: (26) “E ajuntou: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem...” (27)
“Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem...”. Abraão,
descendente de Sem (Gn 11.10, 26), foi um dos mais famosos eleitos de Deus,
devido à sua importância para a história da Redenção.

POR QUE ABRAÃO FOI IMPORTANTE?


Porque foi com ele que Deus fez a ALIANÇA DA PROMESSA. Chama-se assim
porque Deus promete algumas coisas a Abraão, promessas essas que foram
recebidas pela fé (Hb 11.8-10; Gn 15.5, 6). Tais promessas são essenciais na
revelação de mais aspectos do plano de Deus para redimir um povo para Si.
Vejamos:
1) Deus promete uma descendência a Abraão (Gn 15.1-6).
Temos aqui o duplo aspecto das promessas de Deus. Num primeiro
aspecto, essa promessa refere-se aos descendentes reais de Abraão, os
hebreus. Isaque foi o primeiro dos descendentes de Abraão (Gn 17.15-19; 21.1-3)
às vezes o NT se refere ao Israel étnico (a raça dos judeus) como “Israel segundo
a carne” (1 Co 10.18).
Num segundo aspecto, essa promessa se refere aos descendentes
espirituais de Abraão, os crentes eleitos, e especialmente a Cristo (Gl 3.16, 29;
Rm 4.16-25). É bom destacar aqui que a verdadeira descendência de Abraão, do
ponto de vista divino, é aquela composta dos eleitos (Rm 9.6-8). Note que o v. 8
diz: “... devem ser considerados como descendência os filhos da promessa.” Ou
seja, só devem fazer parte da verdadeira descendência de Abraão aqueles que
Deus prometeu em Gn 3.15, os quais fariam parte da descendência da mulher,
conforme a eleição de Deus. É por isso que logo adiante o texto cita dois
exemplos: o de Isaque, no v. 9, e o de Jacó, nos vs. 10-13.
Houve muitos judeus pensando que bastava descenderem fisicamente de
Abraão para fazerem parte do povo de Deus. Grande engano. Vejamos Mt 3.7-10.
Nesse texto, João Batista critica aqueles que dizem ser filhos de Abraão mas não
produzem frutos dignos de arrependimento. Observe também Jo 8.39, 44. Veja no
v. 37 que Jesus reconhece que aqueles judeus eram descendência de Abraão,
segundo a carne. Porém, nos vs. 39 e 44, Jesus revela que eles não fazem parte
da verdadeira descendência de Abraão, que é a espiritual.
Os judeus nunca atentaram para o fato de que o povo descendente de
Abraão seria um povo multirracial, congregando famílias de todas as partes da
21

terra. Gn 12.3b: “em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Antes de Cristo
vir, qualquer pessoa ou povo do Velho Testamento que cresse em Deus e em
Suas promessas era reconhecido por Ele (Js 2.1-11; Rt 1.3, 4, 16; Jn 3.5-10).

APÊNDICE 2: CRENTES DO VELHO TESTAMENTO FORA DO POVO DE


ISRAEL

2) Deus promete a Abraão uma terra para seus descendentes (Gn 15.7).
Também nesta promessa vemos o duplo aspecto das promessas de Deus.
Num primeiro aspecto, essa promessa refere-se especificamente a uma terra real
aos descendentes carnais de Abraão, os hebreus. De fato, Deus tirou o povo do
cativeiro egípcio para dar-lhes a terra de Canaã, conforme a promessa feita a
Abraão. (Gn 15.13, 16; 17.8; Ex 3.17; Nm 13.1, 2; Dt 1.8; Js 1.1, 2). Já habitando
em Canaã, o povo de Israel pecou contra Deus e, como recompensa, foi expulso
da terra. Deus, então, repetiu a promessa da terra física para os descendentes
físicos de Abraão numa profecia de Jeremias. Jr 32.37: “Eis que eu os
congregarei de todas as terras, para onde os lancei na minha ira, no meu furor e
na minha grande indignação; tornarei a traze-los a este lugar e farei que nele
habitem seguramente”6.
Num segundo aspecto, essa promessa se refere a uma terra celestial para
os descendentes espirituais de Abraão (Hb 11.8-10, 13, 14, 16). Observe
especialmente os vs. 39 e 40 de Hb 11: “Ora, todos estes que obtiveram bom
testemunho por sua fé, não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por
haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não
fossem aperfeiçoados”. Veja o que o texto diz. Ele diz que aqueles que creram
nas promessas de Deus não obtiveram a concretização da promessa. Essa
concretização se refere ao cumprimento pleno da promessa. No caso da terra
prometida, essa promessa se concretizará de maneira plena e final na Jerusalém
celestial, uma terra que será desfrutada por eles e por nós, conforme o v. 40. O
aspecto espiritual da promessa é muito mais relevante do que o aspecto terreno.
A Jerusalém celestial, terra prometida ao Israel espiritual, é certa, garantida e
imperdível (Hb 12.22-24). Ela está garantida a todos os crentes eleitos, judeus e
gentios. Ela é a concretização da promessa de posse permanente de uma terra
para o povo de Deus.

Qual o propósito de Deus nessas duas promessas feitas a Abraão? O


mesmo propósito de todas as alianças: Ser Deus de um povo específico
dentre todos os povos da terra.
É isso que podemos ver em Gn 17.7: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e
ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, PARA
SER O TEU DEUS, E DA TUA DESCENDÊNCIA”.

6
Note, porém, que não há uma promessa de volta à Palestina após a Queda de Jerusalém, em 70 dC. Logo, o
retorno dos judeus em 1948, na fundação do Estado de Israel, pode até ser considerado como obra da
intervenção divina, mas não com base em algum texto bíblico específico.
22

É bom deixar claro novamente que a obediência a Deus continua valendo


em todas as alianças. Isso nunca foi revogado. Deus mesmo diz a Abraão, em Gn
17.1: “Anda na minha presença, e sê perfeito”. O patriarca não estava isento de
uma vida de conformidade com a lei divina. Inclusive, sua primeira atitude em
relação a Deus foi marcada pela obediência. Gn 12.1: “Ora, disse o SENHOR a
Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra
que te mostrarei”. É muito interessante essa ordem quando descobrimos que
Abraão era filho de pai idólatra e que, provavelmente, ele era um idólatra também
(Js 24.2, 3).
Ora, se a obediência sempre fez parte da relação entre homem e Deus, o
que ficamos sabendo claramente na Aliança da Promessa feita com Abraão?
Ficamos sabendo que A OBEDIÊNCIA REQUERIDA POR DEUS É UMA
OBEDIÊNCIA MOVIDA PELA FÉ (Hb 11.8-10; Gn 15.5, 6; Tg 2.21, 22; Rm 4.11,
12).
Cabe salientar, a essa altura, que mesmo a desobediência de um crente de
verdade não vai gerar morte eterna, pois, como já dissemos, Cristo haveria de
morrer uma vez por todas pelos nossos pecados. Mesmo assim, a desobediência
gera punições da parte de Deus, pois o homem sempre será responsável pelos
seus atos. Lembre-mos do que diz Gl 6.7: “Não vos enganeis: de Deus não se
zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”.

A CIRCUNCISÃO

A circuncisão é o selo da Aliança da Promessa. Isso significa que aquele


que faz parte dessa aliança, ou seja, a descendência de Abraão deveria ter um
sinal externo e visível como prova de que faz parte da aliança. A circuncisão era
uma prova de que uma pessoa fazia parte do povo que pertence a Deus e que
tem somente a Ele como Senhor (Gn 17.7, 9 e 10).
Para entendermos melhor, façamos a seguinte comparação: Quando
alguém é batizado, isso significa que essa pessoa agora faz parte do povo de
Deus. O batismo é um sinal externo de algo que aconteceu no interior da pessoa,
ou seja, esse ato significa que ela passou pelo lavar regenerador do Espírito
Santo (Tt 3.5) e tem, agora, uma aliança, um relacionamento de comunhão com o
próprio Deus. Daí, essa pessoa passa a fazer parte da igreja visível e goza dos
seus direitos e deveres como crente. É evidente que o batismo não é uma
garantia de que a pessoa é eleita, porque fazer parte da igreja visível não é o
mesmo que fazer parte da igreja invisível.
Bom, da mesma maneira, quando alguém era circuncidado no Antigo
Testamento, isso significava que a pessoa partilhava da mesma fé que o crente
Abraão (Rm 4.11, 12). A partir de então, ela fazia parte do povo de Deus, a Igreja
Visível. No Antigo Testamento, a igreja visível era a nação israelita. Isso não
queria dizer, também, que todos os israelitas eram verdadeiramente israelitas, no
sentido espiritual do termo, conforme Rm 9.6. Ou seja, ser circuncidado não é
garantia absoluta de ser um eleito. Caso um judeu se recusasse a ser
23

circuncidado ou não circuncidasse seus filhos, tal homem deveria ser eliminado,
pois isso significava a quebra da aliança feita com Abraão (Gn 17.14; Ex 4.24-26).
Vamos repetir o que temos dito para que nada se perca: o fato de uma
pessoa ter sido circuncidada no Velho Testamento, ou ser batizada no Novo
Testamento, e membro da Igreja Visível, não quer dizer, necessariamente, que
ela é realmente crente em Jesus (a Bíblia diz que no meio do trigo há o joio, Mt
13.24-30; 36-43). Não podemos reconhecer o joio, pois só Deus conhece o
coração dos homens (1 Sm 16.7). Por isso, o fato de uma pessoa ser
circuncidada e fazer parte da nação israelita não significava, necessariamente,
que ela tinha a mesma fé de Abraão. É Paulo quem diz: “Nem todos os de Israel
são verdadeiramente israelitas...” (Rm 9.6), e a circuncisão que realmente importa
é a do coração (Rm 2.28, 29).
De qualquer maneira, sendo ou não verdadeiramente um crente, essa
pessoa goza das bênçãos temporais de Deus e dos direitos e privilégios de fazer
parte do Seu povo, assim como gozavam todos os judeus, de maneira geral (Rm
3.1, 2; 9.4, 5; 1 Co 10.1-5). Agora, falando especificamente em termos de sua
salvação, esta dependia unicamente de sua eleição (Jo 1.12, 13; 6.44; 15.16; Rm
9.14-18).

O BATISMO INFANTIL

Cabe aqui, nesta altura do estudo, uma palavra sobre o batismo infantil. Os
batistas e pentecostais são contra o batismo infantil, pois dizem que, para ser
batizado, é necessário crer em Jesus como Salvador. Entretanto, a Bíblia diz que
o batismo, no NT, é o equivalente da circuncisão, praticada no VT (Cl 2.11, 12, na
NVI). Note que, na circuncisão, a criança de oito dias era circuncidada (Gn
17.12). Pergunto: por acaso uma criança de oito dias tem condições de crer em
alguma coisa? Como ela era circuncidada, se não tinha possibilidade ainda de
exercer a fé que tinha Abraão? Isso ocorria exatamente porque a criança não
tem condições de exercer fé. Se ela pudesse crer, isso lhe seria exigido. A fé é
exigida daqueles que podem crer. É por isso que o judeu, quando chegava à
idade da razão e já podia exercer fé, tinha de Deus as seguintes exortações de Dt
10.12-16: (16)“Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa
cerviz.” e Jr 4.4a: “Circuncidai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso coração,
ó homens de Judá e moradores de Jerusalém...”. Paulo acrescenta uma
explicação a essas palavras em Rm 2.25: “Porque a circuncisão tem valor se
praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou
incircuncisão”.
Mostro isso para salientar o fato de que não obstante uma criança recém-
nascida não poder crer, isso não significa que ela não possa ser uma eleita.
Tanto as crianças eleitas quanto os doentes mentais eleitos - que não podem
exercer fé nem arrependimento - são salvos pelo lavar regenerador do Espírito (Tt
3.5). Nada mais é exigido deles.
Portanto, não podemos impedir o batismo das crianças por duas simples razões:
24

1ª) Não sabemos se ela é ou não uma criança eleita. Devemos sempre partir do
pressuposto de que é, pois o filho do crente é considerado santo perante o
Senhor (1 Co 7.14). Isso significa que Deus o vê de forma especial, não da
mesma maneira que vê o filho do ímpio.
2ª) As crianças devem usufruir da bênção de fazer parte do povo de Deus. Era
assim tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Acabamos de ver que o filho
do crente é santo. Em outras palavras, Deus o considera “separado” do mundo,
prova de que esse filho é especial para Deus. Até mesmo o cônjuge de um crente,
mesmo que não seja crente, é “santificado” no convívio com o crente. Deus tem
uma consideração especial pela família dos crentes, mesmo que nessa família
haja não-crentes. Evidentemente, isso não quer dizer que a pessoa seja eleita,
mas sim que ela usufrui de uma consideração especial, por parte de Deus, nesta
vida.
Voltando à questão do batismo de crianças, devemos lembrar que o próprio
Jesus diz que das crianças é o reino de Deus (Mt 19.13, 14). O reino de Deus não
é composto só de adultos, mas de crianças também. Há crianças eleitas, assim
como há adultos eleitos. A circuncisão e o batismo são sinais visíveis, externos de
que o indivíduo faz parte do povo de Deus. No VT o sinal era a circuncisão. No
NT, é o batismo.
Portanto, se a pessoa for adulta e tiver condições de demonstrar sua fé,
evidentemente deve fazê-lo no ato do batismo. Só não exigimos das crianças uma
profissão de sua fé porque ela não tem condições de fazer isso. Porém não
podemos excluí-la do batismo. Voltamos a repetir que o próprio judeu, quando
chegava na idade da razão, tinha de tomar uma posição, confirmando ou não a
circuncisão que lhe foi feita quando criança (Dt 10.16). Portanto, como havia uma
prescrição para incluir as crianças na circuncisão, e o batismo é a circuncisão de
Cristo (NVI, Cl 2.11, 12), fazemos o mesmo com nossas crianças.
25

A ALIANÇA DA LEI
Há muita confusão em torno do papel da Lei de Moisés para o crente hoje.
Sabemos que desde a Queda do homem ninguém pode conseguir a salvação
pela obediência à Lei. A Bíblia diz que ninguém pode ser justificado por obras da
lei. Gl 2.16: “sabendo, contudo, que o homem NÃO É justificado por obras da lei,
e, sim, mediante a fé em Cristo Jesus, também nós temos crido em Cristo Jesus,
para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, POIS
POR OBRAS DA LEI NINGUÉM SERÁ JUSTIFICADO”.
Mesmo que quisesse, o homem não poderia ser justificado por obras da lei,
pois ninguém tem condições de cumprir toda a Lei. A Bíblia diz que, se
tropeçarmos num só ponto dela, somos considerados culpados de todos (Tg 2.9-
11). Se alguém fosse obrigado a cumprir toda a lei, para conseguir a salvação,
poderíamos dizer que essa pessoa está sob aquilo que a Bíblia chama de
“maldição da lei”. Veja Gl 3.10, 12-14. Segundo esse texto, Cristo sofreu a
maldição da lei, qual seja, ter de cumpri-la perfeitamente para obter a salvação.

TEMOS DE OBEDECER A LEI HOJE?


Sim. O homem tem de obedecer a Lei ainda hoje porque a obediência é a
principal responsabilidade do homem com relação a Deus. Inclusive, é por meio
da obediência à vontade divina que demonstramos nosso amor a Deus. Jo
14.21a, 23a: (21a) “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o
que me ama;... (23a) Se alguém me ama, guardará a minha palavra;”. Porém,
deve ficar claro que a desobediência não resultará em morte eterna. A
desobediência trará suas conseqüências, suas punições e castigos da parte de
Deus. Gl 6.7: “... aquilo que o homem semear, isso também ceifará”. E Hb 10.31:
“Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”.
Uma das razões porque não somos salvos pela obediência é justamente
porque Deus requer uma obediência perfeita. Foi justamente por isso que Jesus
teve de obedecer perfeitamente, no nosso lugar. Além disso, Cristo teve de pagar
o preço pela desobediência já cometida por Adão, morrendo na cruz, pois “o
salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a). Por isso dizemos que a nossa salvação
dependeu única e exclusivamente do fato de Cristo ter tomado o nosso lugar.
Continuando nosso estudo, verificamos que a Aliança da Lei foi feita com
Israel, no monte Sinai. Moisés foi o representante do povo nessa aliança (Ex
19.1-5; Ex 24.8). O resumo dessa Lei está nos Dez Mandamentos (Ex 20.1-17; Dt
4.13, 14; Mt 22.36-40). A importância da Aliança da Lei está na ampla revelação
da vontade de Deus para nossa vida. É por meio da Lei dada a Israel que
sabemos, com clareza, o que é e o que não é pecado. Sabemos o que Deus
aprova e o que Ele reprova. Além de dar-nos esse amplo conhecimento da
vontade divina, o apóstolo Paulo diz que a Lei também tem por objetivo:
1) Mostrar nossa incapacidade de obedecer perfeitamente a Deus e, portanto,
nossa culpa e pecado. Rm 3.19: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz
aos que vivem na lei o diz, para que se cale toda boca, e todo o mundo
seja culpável perante Deus”. Fazendo isso, a lei nos conscientiza de que
26

precisamos da misericórdia divina e não merecemos qualquer


manifestação de graça. De fato, a lei só nos mostra o quanto somos
pecadores. Rm 3.20: “visto que ninguém será justificado diante dele por
obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do
pecado”.
2) Conduzir-nos a Cristo, que é aquele que se propôs e conseguiu resolver
esse problema. Rm 3.21-24: (21) “Mas agora, sem lei, se manifestou a
justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; (22) justiça de
Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que
crêem; porque não há distinção, (23) pois todos pecaram e carecem da
glória de Deus, (24) sendo justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. Quando percebemos nossa
incapacidade de cumprir perfeitamente a Lei, somos levados,
conseqüentemente, a olhar para Cristo e aceitar Seu sacrifício pela fé (no
caso do judeu do VT, ele deveria entender os sacrifícios de sangue como a
solução divina para um pecador que merece morrer). Esse é o grande
objetivo da Lei: servir como ponte para Cristo, a expressão máxima da
graça divina. Gl 3.24: “De maneira que a lei nos serviu de aio (ponte) para
nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé”.

Uma pergunta comum agora é se temos de observar TODA a Lei que foi dada
a Israel. Para entendermos essa questão é preciso saber que a Lei se divide
basicamente em três partes:
Há a Lei Moral, que está relacionada diretamente à santidade e pureza de Deus.
Há a Lei Cerimonial, que se refere aos sacrifícios e rituais levíticos.
Há a Lei Civil, que se refere diretamente ao governo civil de Israel. Na verdade,
foi a dádiva da Lei que permitiu a Israel tornar-se uma nação. Deus prometeu a
Abraão que faria uma grande nação surgir dele. Gn 12.2a: “de ti farei uma grande
nação”. Sabemos que toda nação precisa de uma constituição, a fim de que exista
uma unidade e identidade nacional. A Lei se constituía numa constituição de vida
e fé (pois a Lei, como um todo, não envolve só questões civis) para Israel, e foi a
Lei que tornou Israel uma nação.
Portanto, as leis civis para o Governo de Israel também foram dadas pelo
próprio Deus, visto que o governo israelita era teocrático. Deus era o Rei de
Israel, até que o povo israelita pediu um rei humano sobre si (1 Sm 8.4-7). O
interessante é que Samuel advertiu o povo quanto às conseqüências de se ter um
rei humano, mas foi totalmente ignorado (1 Sm 8.10-22).
Note agora que a Lei Moral, a Lei Cerimonial e a Lei Civil vieram de Deus,
mas dessas três, só devemos seguir a primeira. Eis as razões:
A Lei Cerimonial, que envolvia os serviços sacerdotais e todos os sacrifícios
levíticos, apontava para o sacrifício vicário de Cristo. Cristo cumpriu todo o
simbolismo dessa parte da Lei. Por isso, essa representação tipológica não é
mais necessária. Jesus a cumpriu completamente (Hb 7.11-19; 26-28).
A Lei Civil dizia respeito à organização civil do estado de Israel. Eis algumas
delas:
27

Ex 21.26, 27. Note que, como a sociedade de Israel era escravista, Deus
estabelece leis envolvendo escravos.
Ex 21.28-32. Como na sociedade de Israel havia gente que criava gado, nada
mais natural que haver regras para boi “chifrador”.
Toda sociedade ou nação tem ladrão. Por isso também há, na lei civil de Israel,
regras com respeito a ladrões. Ex 22.2-4.
Podemos aprender alguma coisa dessa lei, tirar lições observando seus
princípios, mas não são coisas tidas como obrigatórias para a nossa nação. Jesus
se sujeitou a essa também, e a cumpriu perfeitamente. Ele respeitou as leis do
Estado de Israel, ainda que muitas delas já não estivessem em vigor sob o
domínio romano, visto que os romanos não permitiam, por exemplo, que os judeus
condenassem alguém à morte. Só o Estado Romano podia fazer isso.
Para nós, hoje, a lei civil dada a Israel não é obrigatória, pois tinha por
objetivo a organização jurídica de Israel enquanto nação. Cada nação deve ter
suas próprias leis e obedecê-las. Jesus respeitou as leis do Império Romano,
quando pagou tributo a César, pois Israel estava sob domínio romano (Mt 22.17-
21). Cristo nos ensina aqui a respeitar as autoridades governamentais. Devemos
entender que é o próprio Deus quem institui as autoridades de todas as nações
(Rm 13.1) Cabe à autoridade constituída de cada nação estabelecer leis que
sirvam para o bem da nação, bem como zelar pela justiça (Rm 13.4). Quanto a
nós, crentes, devemos submissão às autoridades de nossa nação (Rm 13.5-7).

Quanto à Lei Moral, essa também foi cumprida perfeitamente por Cristo.
Jesus não cometeu nenhum pecado contra a pessoa de Deus, a tal ponto que Ele
mesmo perguntou se havia alguém que podia acusá-lo de pecado (Jo 8.46a). Esta
Lei permanece como algo essencial no nosso relacionamento com Deus, pois
ainda continuamos a ter de obedecer a Sua vontade. O resumo da Lei Moral,
como já dissemos, está nos Dez Mandamentos.
28

A ALIANÇA DO REINO
Se a Aliança da Promessa, com Abraão, revela que Deus iria constituir um
povo a partir de Abraão; e a Aliança da Lei, com Moisés, revela que esse povo
seria uma nação, a Aliança do Reino, feita com Davi, garante definitivamente que
essa nação seria um reino, com um rei para governar com justiça numa dinastia
sem fim.
A Aliança do Reino, feita com Davi, revela aspectos da Aliança da
Redenção que têm a ver diretamente com o descendente da mulher, profetizado
em Gn 3.15. Nesta aliança, expressa em 2 Sm 7, ficamos sabendo que:

1º) Aquele descendente seria da linhagem de Davi. Portanto, seria de


linhagem real. Veja o que Deus mandou o profeta Natã (2 Sm 7.4, 5a) dizer a
Davi:
2 Sm 7.12: “Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então,
farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei
o seu reino”. Sabemos que Davi teve muitos filhos (2 Sm 3.2-5; 5.13-16), mas
Deus prometeu-lhe um sucessor pactual, ou seja, um descendente que andaria no
pacto e que levantaria o templo em Jerusalém. 2 Sm 7.12, 13: (12) “Quando teus
dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti
o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. (13) este
edificará uma casa ao meu nome...”. Literalmente, essa promessa se cumpriu em
Salomão. 1 Rs 6.1, 14: (1) “No ano quatrocentos e oitenta, depois de saírem os
filhos de Israel do Egito, Salomão, no ano quarto do seu reinado sobre Israel, no
mês de zive (este é o mês segundo), começou a edificar a Casa do Senhor. (14)
Assim, edificou Salomão a casa...”.

2º) Esse descendente iria reinar para sempre sobre Israel.


Veja que há um alcance maior na promessa citada no primeiro item, a qual
transcende a pessoa de Salomão. 2 Sm 7.13: “Este edificará uma casa ao meu
nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino”. Lembremos do
duplo aspecto das promessas de Deus, com relação a Israel e à Igreja, assim
como foi com Abraão, na Aliança da Promessa. Evidentemente, essa segunda
parte da promessa não se refere a Salomão, pois seu reinado teve fim (1 Rs
11.42, 43). Essa segunda parte revela que haveria um descendente real de Davi,
o qual reinaria para sempre.

3º) Esse descendente seria considerado “Filho de Deus”.


2 Sm 7.14a: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho”.
Posteriormente, Davi iria declarar, de maneira profética, o decreto de Deus com
respeito à posição de honra atribuída ao Messias de Israel, no Sl 2.7:
“Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te
gerei”. Paulo também faz menção do fato de o descendente de Davi ser o Filho de
Deus, em Rm 1.3, 4: (3) “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio
da descendência de Davi, (4) e foi designado Filho de Deus com poder,
29

segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus


Cristo, nosso Senhor”.
Note que essa afirmação de que o descendente de Davi seria considerado
filho de Deus traz implícita, em si mesma, a noção da divindade do Messias.
Observe o que Is 9.6, 7 diz a respeito do descendente messiânico de Davi: (6)
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os
seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz; (7) para que se aumente o seu governo e venha paz
sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar
mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos
Exércitos fará isto”.

4º) Tanto esse rei quanto o seu reino significariam o próprio Deus reinando
sobre Seu povo.
O autor da carta aos Hebreus revela que o Salmo 45.6 é um salmo messiânico,
pois fala sobre a eternidade do reinado do Messias e ainda chama esse Messias
de “Deus” . Veja Hb 1.8: “mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o
sempre. E: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino”.
30

A NOVA ALIANÇA
Como dissemos no início do estudo, a partir da Queda do homem, Jesus
entrou como fiador da aliança entre Deus e os homens. Portanto, desde o Éden
que o povo de Deus vive sob o Pacto da Graça ou Aliança da Redenção. As
alianças com Noé, Abraão, Israel (representado por Moisés) e Davi simplesmente
revelam aspectos dessa Aliança da Redenção, a qual tem Jesus como único
mediador.
Por exemplo, a Aliança da Preservação, feita com Noé, mostrou que, por
causa da Aliança da Redenção, a terra e a humanidade seriam preservadas; a
Aliança da Promessa, feita com Abraão, mostrou que, por causa da Aliança da
Redenção, Deus constituiu um povo para Si, um povo que viveria pela fé; a
Aliança da Lei, feita com Israel, na pessoa de Moisés, mostrou que, por causa da
Aliança da Redenção, o povo de Deus, agora uma nação, teria uma revelação
completa da vontade do seu Senhor, a fim de que pudesse viver de maneira que
O agradasse e honrasse; e a Aliança do Reino, feita com Davi, mostrou que a
nação – agora um reino – passaria a ter, por causa da Aliança da Redenção, um
rei justo, que a governaria pela eternidade.
Conclui-se que aspectos da Aliança da Redenção são revelados na
Aliança da Preservação, na Aliança da Promessa, na Aliança da Lei e na
Aliança do Reino.

A PROFECIA DE JEREMIAS

Queremos chamar a atenção agora para o fato de que o profeta Jeremias


falou a respeito de uma “nova” aliança que seria feita com o povo de Israel. Jr
31.31 diz o seguinte: “Eis aí vem dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a
casa de Israel e com a casa de Judá”. O Senhor Jesus confirmou que Ele era o
mediador dessa “nova” aliança mencionada por Jeremias (Mt 26.27, 28). Paulo
repetiu essas palavras de Jesus em 1 Co 11.25, ao dar instruções sobre a Ceia.

SE ESSA É “NOVA”, QUAL É A “VELHA”?

Pelo que temos estudado até aqui, a aliança em Cristo é nova em relação à
Aliança da Criação (Pacto das Obras), visto que Cristo tornou-se literalmente
mediador de uma “nova” aliança desde a queda do homem, conforme se vê em
Gn 3.15.
Essa “Nova” Aliança, que fecha todas as demais alianças feitas sob a
Aliança da Redenção, é feita com a Igreja (Mt 26.26-28; 1 Co 11.23-25). Portanto,
repetimos: é nova especialmente em relação à Aliança da Criação (Pacto das
Obras), feita no início, com Adão, antes da Queda.
Porém, o autor aos Hebreus acrescenta que essa Nova Aliança é nova
também em relação à Aliança da Lei, feita com Moisés. Essa relação foi feita com
base em uma profecia de Jeremias (Hb 8.7-12). Vejamos, no próprio livro de
Jeremias, o que a profecia diz. Jr 31.31-34:
31

(31) “Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de
Israel e com a casa de Judá. (32) Não conforme a aliança que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito (uma alusão
óbvia à Aliança da Lei); porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante
eu os haver desposado, diz o SENHOR. (33) Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes
imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu
Deus, e eles serão o meu povo. (34) Não ensinará jamais cada um ao seu
próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque
todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois
perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei”.
Logo, a Nova Aliança também é “nova” por se apresentar como uma
renovação da Aliança da Lei. Para entender isso melhor, devemos considerar que
nem todos os israelitas eram verdadeiramente crentes.

APÊNDICE 2: CRENTES DO VT FORA DO POVO DE ISRAEL

A nação israelita, de forma geral, se mostrava mais ímpia do que justa. O


cativeiro foi uma resposta aos pecados da nação como um todo, devido à sua
desobediência à Lei. Ora, se um israelita podia trazer punições à nação (Js 7.10-
15), que dizer do caso de quase toda a nação estar em pecado, como ocorreu na
época do cativeiro?
A profecia de Jeremias traz uma grande revelação. Ela nos mostra que,
nessa Nova Aliança, Deus fez os seguintes compromissos:

1º) Uma nova conversão para a nação de Israel (vs. 33, 34).
A linguagem de Jr 31.33, 34 é, sem dúvida alguma, uma linguagem de
conversão: “Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas
inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.... Perdoarei as suas
iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei”.
Pense, agora, na quantidade de crentes que surgiu na nação de Israel no
período do Novo Testamento, já a partir da pregação de João Batista (Mt 3.1-6,
11).
A maioria da nação de Israel demonstrou que não tinha a lei no coração e
acabaram por menosprezá-la, recebendo a punição por isso (o cativeiro). Imagine
uma pessoa nascer e crescer num lugar, como se fosse crente, e, na verdade,
nunca ter tido um compromisso verdadeiro com Deus. Isso podia acontecer e, de
fato, acontecia em Israel. Ora, se isso acontece até na Igreja hoje, cujas pessoas
têm a oportunidade de decidir ou não se querem estar ali (pública profissão de
fé), imagine numa nação onde tal liberdade de escolha não era dada ao
indivíduo? Ou seja, o judeu tinha que fazer parte da Aliança, mesmo que, no seu
coração, não houvesse qualquer interesse nela. Caso contrário, seria extirpado
do convívio em comunidade (Gn 17.14; Ex 4.24-26). A possibilidade da existência
de joio era infinitamente maior.
32

2º) Não haveria mais intermediários humanos entre o povo e Deus. Cada
crente passaria a ter acesso direto a Deus, conhecendo-O através de Jesus
Cristo, homem e Deus ao mesmo tempo (v. 34)
Essa é uma bênção exclusiva da “nova” aliança, que ocorreria somente
após a encarnação de Cristo, visto que no Velho Testamento o povo de Israel
sempre teve intermediários em suas alianças com Deus.
Sob a Aliança da Consumação, ou Nova Aliança, a restauração plena do
relacionamento entre Deus e os homens alcança sua plenitude, pois Cristo não é
simplesmente um mediador entre Deus e os homens. Ele é o próprio Deus (Jo
1.1, 14; Rm 9.5; Fp 2.6; 1 Jo 5.20). Em Cristo, Deus já está numa plena e direta
comunhão com os homens. Este fato é uma singularidade da nova aliança, pois
ainda que Cristo já estivesse intermediando a relação entre Deus e os homens
desde Gn 3.15, lembremos que também havia intermediários humanos entre Deus
e os homens. Mesmo na Aliança da Redenção, ocorrida logo após o fracasso da
Aliança da Criação, havia um representante humano, Adão. É verdade que o
homem só continuou tendo uma relação com Deus por causa de Cristo, mas foi
Adão que representou a humanidade nessa aliança.
Portanto, a restauração da comunhão entre Deus e os homens,
especificamente os eleitos, já ocorria desde Gn 3.15, por intermédio de Cristo. A
diferença básica é que, com Cristo encarnado, a comunhão alcança sua
plenitude. Como está escrito em Jo 1.14: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito
do Pai”.
É por isso também que Jeremias diz, em 31.34: “Não ensinará jamais cada
um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR,
porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o
SENHOR...”. Quando Cristo se encarna, o crente passa a ter o conhecimento
direto de Deus. Não há mais sacerdotes, não há mais intermediários humanos
como Noé, Abraão, Moisés e Davi. Agora todo crente tem acesso direto a Deus,
por intermédio de Cristo. Jo 14.6: “... ninguém vem ao Pai senão por mim”. 1 Tm
2.5: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem”.
Essa é uma grande vantagem do crente do Novo Testamento em relação
ao crente do Velho Testamento. O crente do NT não tem mais intermediários
entre ele e Deus. O crente do NT, assim como ocorria somente com o sacerdote
do VT, pode ir diretamente a Deus.

Recapitulando...
A Nova Aliança não é somente nova em relação à Aliança da Criação ou
Pacto de Obras, em que o homem fracassou e foi substituído por Cristo. É “nova”
também em relação à Aliança da Lei, pelo menos no que concerne ao povo judeu.
Isso porque chegou um momento, no Velho Testamenoto, em que não havia
povo de Deus, mas um povo desobediente em cujo meio havia os eleitos de
Deus.
Porém, uma nova conversão foi prometida, gerando israelitas
33

verdadeiramente obedientes. Esses israelitas foram aqueles judeus que se


converteram ao Cristianismo no período do Novo Testamento.

Deve-se observar que alguns aspectos da Nova Aliança terão de esperar um


tempo para se cumprirem de forma plena. Por exemplo:
1) Na Aliança da Redenção ou Pacto da Graça de Gn 3.15, estava decretado que
Cristo esmagaria a cabeça da serpente. Isso já ocorreu, no sentido de que a
derrota de Satanás já está consumada e decidida desde a eternidade, segundo os
desígnios eternos de Deus (Cl 2.15; Ef 1. 4, 5). Para Deus não existe tempo. Nos
Seus eternos decretos, Satanás é e está derrotado. Porém, historicamente, num
sentido cronológico, isso será constatado por nós, que estamos presos ao tempo,
de forma plena no dia do juízo (Ap 20.10). Satanás e seu reino subsistem
temporalmente dentro do reino de Cristo, pois assim Deus quis, conforme Seus
propósitos, até à consumação de todas as coisas, quando a Igreja de nosso
Senhor triunfará completamente sobre o maligno (Rm 16.20).
2) A terra prometida na Aliança da Promessa aos descendentes espirituais de
Abraão (que somos nós, todos os crentes eleitos) só será nossa,
cronologicamente, também no dia final. Ela foi garantida pela vitória de Cristo,
mas sua posse pela Igreja ainda está no porvir (Hb 11.13, 16; Fp 3.20).
3) A redenção não nos atingiu de forma plena. Ainda temos inclinações carnais e
vivemos num corpo corruptível (Mt 26.41; Gl 5.16, 17; 1 Co 15.53). A ressurreição
e redenção do nosso corpo também se darão no dia final, no dia do juízo (Jo 5.28,
29; Jo 11.24). Quando isso ocorrer, a morte física, nosso último inimigo, será
derrotado (1 Co 15.26, 54).

CONCLUSÃO

Como se vê, os planos de Deus não podem ser frustrados. Quando criou a
humanidade, Deus a fez porque quis relacionar-se com um povo. Esse povo foi
criado para amar e obedecer a Deus. A Queda de Adão poderia ter posto tudo a
perder, se não fosse o nosso Soberano Deus que estivesse no comando. Dentre
a humanidade caída, Ele separou um povo para cumprir o propósito original, a
saber, ter um povo para Si e ser o Deus desse povo.
De fato, em todas as alianças descritas vemos sempre presente, implícita
ou explicitamente, a idéia ou fórmula: “Teu Deus, meu povo”. Ou seja, sempre
há aquela idéia presente, de que Deus quer ser Deus do homem, e que Ele quer
um povo para Si.
Aliança com Adão, antes e depois da Queda. Antes da Queda, vemos Deus
relacionando-se com o homem no Éden (Gn 2.15-25; 3.8). Após a Queda, Sua
graça em prol da continuidade da relação se manifesta na promessa de Gn 3.15.
Aliança com Noé. Deus continua querendo se relacionar com um povo. Não
destrói todos. Preserva Noé e sua família para que a existência desse povo seja
possível (Gn 6.7, 8, 17 e 18).
Aliança com Abraão. Gn 17.7: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a
tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu
34

Deus e da tua descendência”.


Aliança com Israel, por meio de Moisés. Ex 19.6a: “vós me sereis reino de
sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de
Israel...”. Cabe observar que essas palavras evidentemente não se restringiram à
nação de Israel, conforme revelou o apóstolo Pedro em 1 Pd 2.9, ao chamar os
crentes de sacerdócio real e nação santa, uma evidente conexão com o texto de
Ex 19.6a.
Aliança com Davi. 2 Sm 7.12-14a: (12) “Quando teus dias se cumprirem e
descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente,
que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. (13) Este edificará uma casa ao
meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. (14a) Eu lhe
serei por pai, e ele me será por filho;”.
Aliança com a Igreja, feita pessoalmente por Cristo. Mt 26.27, 28: “A seguir,
tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele
todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em
favor de muitos...”.
Cristo consumou os propósitos de Deus expressos no decorrer das
alianças que compuseram a Nova Aliança, cujo único propósito era efetivar um
relacionamento pleno entre Deus e os homens.
De fato, quando Jesus nasceu, a Bíblia diz que um dos seus nomes seria
Emanuel, que significa “Deus conosco” (Mt 1.23). Soma-se a esse texto uma das
declarações mais belas de Jesus quanto à vontade de Deus estar com o Seu
povo. Ela está em Jo 14.2, 3: (2) “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se
assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. (3) E, quando eu
for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde
eu estou, estejais vós também”.
Lembremos, também, das últimas palavras de Cristo antes de Sua
ascensão ao céu, em Mt 28.20: “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século”.
Ainda que tenham ocorrido e continuem a ocorrer problemas por toda a
história dessa relação, o propósito divino encontrará sua consumação plena no
dia final. Quando estivermos diante dos novos céus e nova terra, na Jerusalém
Celestial, poderemos nos regozijar com a realização das palavras do apóstolo
João: “Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus
com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povo de Deus e Deus
mesmo estará com eles” (Ap 21.3)
Maranata.
Amém.
35

RESUMO
DEUS FEZ UMA ALIANÇA COM SUA CRIATURA, QUANDO A CRIOU, VISANDO
UM RELACIONAMENTO DE AMOR E OBEDIÊNCIA. ESSA ALIANÇA É
CHAMADA ALIANÇA DA CRIAÇÃO (OU PACTO DE OBRAS). COMO O HOMEM
QUEBROU ESSA ALIANÇA, DEUS FEZ OUTRA ALIANÇA EM SUBSTITUIÇÃO À
PRIMEIRA, MAS COM O MESMO OBJETIVO, CHAMADA ALIANÇA DA
REDENÇÃO (OU PACTO DA GRAÇA).

Pela ALIANÇA DA REDENÇÃO (ou PACTO DA GRAÇA), feito com Adão, ficou
claro que:
1) Sempre haveria inimizade entre a semente da mulher (os crentes eleitos e
Cristo) e a semente da serpente (o próprio Satanás, os demônios e os não-
crentes). Que comunhão pode haver entre luz e trevas? (2 Co 6.14)
2) O descendente da mulher (Cristo) venceria definitivamente Satanás, ainda
que fosse ferido nessa luta.

AS ALIANÇAS FEITAS POSTERIORMENTE SIMPLESMENTE REVELAM


ASPECTOS DA ALIANÇA DA REDENÇÃO:

Pela ALIANÇA DA PRESERVAÇÃO, feita com Noé, Deus revela que:


1) A preservação, tanto da humanidade quanto da própria terra, está
garantida. Os personagens e o palco para a realização dos planos divinos
estão garantidos.
Pela ALIANÇA DA PROMESSA, feita com Abraão, Deus revela que:
1) A característica distintiva do membro da Aliança será a fé. Aquele que for
verdadeiramente descendente de Abraão, o pai da fé, é que fará parte do
povo de Deus.
Pela ALIANÇA DA LEI, feita com Israel, na pessoa de Moisés, Deus revela:
1) A Sua vontade completa para o homem, com respeito àquilo que o Senhor
requer dele. A Aliança da Lei contribui para esclarecer-nos aquilo que
Deus considera certo e errado, aquilo que devemos crer ou fazer.
Pela ALIANÇA DO REINO, feita com Davi, Deus revela que:
1) O “descendente da mulher” será descendente de Davi e reinará sobre o
trono de Israel. Seu reino significará o Reino do próprio Deus sobre o Seu
povo.
Pela NOVA ALIANÇA, feita com a Igreja pessoalmente por Cristo, temos o
cumprimento de praticamente todas as promessas feitas nas alianças anteriores,
especialmente o cumprimento da essência da Aliança, que é Deus habitando com
o Seu povo (Jo 1.14). Não devemos esquecer, porém, que algumas promessas
ainda terão de esperar para se cumprirem de forma plena, dentro da História.
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BIBLIOGRAFIA

& AMORA, Antônio Soares. Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa.


São Paulo: Saraiva, 1999.
& BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas, SP: Luz Para o Caminho,
1990.
& CARVALHO, Tarcízio. Apostila de Panorama do Antigo Testamento. Curso via
internet do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, SP.
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& HERMANN, Bavinck. Teologia Sistemática. Santa Bárbara d’Oeste, SP:
Socep, 2001.
& HODGE, A. A. Confissão de Fé de Westminster comentada. São Paulo:
Editora Os Puritanos, 1999.
& LOPES, Augustus Nicodemus. O culto espiritual. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 1999.
& MEISTER, Mauro. Apostila de Teologia Bíblica. Seminário Presbiteriano Brasil
Central – Extensão Brasília.
& NASCIMENTO, Adão Carlos. A Bíblia é nossa testemunha. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1998.
& Parceria com Deus – estudos bíblicos sobre os efeitos do pacto da graça.
Revista do Professor. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 4º trimestre de 1996.
& PORTELA, Solano. A Lei de Deus e a pena de morte. Artigo do Pb. F. Solano
Portela, publicado no jornal O Presbiteriano Conservador, da Igreja Presbiteriana
Conservadora do Brasil, na edição de Março/Abril de 1993.
& ROBERTSON, O. Palmer. Cristo dos pactos. Campinas, SP: Luz Para o
Caminho, 1997.

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