I. Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que,
embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem- aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto.
[Comentário] Embora sejamos feitos à imagem de Deus, há
uma grande diferença entre nós e ele, como esses autores do antigo pacto enfatizam. Para ficar claro, a Confissão não está falando aqui de diferenças éticas, mas de diferenças na própria essência. Ela não está discutindo nossa natureza caída e a santidade de Deus, mas nossa pequeneza e a grandiosidade de Deus. Mas dito isso, podemos, de fato, usar também as lentes do pecado para ver a grande distância entre nós e Deus.
Deus é incomparavelmente grande e devemos obediência a
ele. Mas o fato é que dificilmente poderiamos ter um relacionamento com ele, se ele, voluntariamente, não condescendesse em vir onde estamos. O próprio Deus é a mais bem-aventurada e alta recompensa que qualquer pessoa poderia ter. No entanto, todo contato humano com Deus seria infrutífero, se Deus não tivesse livremente decidido vir a nós e estabelecer os termos por meio dos quais poderiamos ter comunhão com ele. Uma aliança que nós chamamos de pacto.
Toda vez que alguém percebe um acordo soberanamente
determinado e administrado entre Deus e o homem, com penalidades e promessas, você tem um pacto.
II. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de
obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal. → Ref. Gal. 3:12; Rom. 5: 12-14 e 10:5; Gen. 2:17; Gal. 3: 10.
Fica claro que em Gênesis 1-2 temos pelo menos isto: Deus estabelece os termos, o homem deve obediência a ele.
Se um pacto comumente possui sanções e promessas, a
sanção no pacto com Adão é óbvia: a ameaça de morte (Gn 2.17).
Veja: Jó 9:32-33
Pense: Deus usa um pacto para se relacionar conosco
porque sabemos que os pactos vinculam os homens legalmente. Portanto, quando o pacto é entre nós e Deus, o qual é infinitamente bom, justo e misericordioso, sabemos que o pacto será cumprido por Deus.
Relembrando: Na queda de Adão, toda a humanidade caiu
em pecado – era nosso representante. Esse acordo é denominado de pacto de obras – havia uma responsabilidade sobre o homem: cultivar e guardar o jardim e não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal – sob qual pena e promessa? Morte ou vida à Adão e sua posteridade, em caso de obediência.
Percebam que neste pacto, o pacto de obras, NÃO HÁ
SACRIFÍCIO – porque o homem ainda não havia pecado. (BCW – 12) Então para frisarmos, porque essa doutrina nos acompanha na jornada, vocês perceberão isso... O Catecismo Menor o chama de “pacto de vida” olhando para a benção implícita prometida a Adão e, nele, à sua posteridade caso obedecessem a Deus. No parágrafo 2 desse capítulo o foco pactual é na obediência, e a Assembléia de Westminster chama isso de “pacto de obras”. Aqui a assembléia se concentra no princípio pactual das obras: a ideia que a lei de Deus exige obediência pessoal e perfeita.1 Aquele que faz o que é exigido na lei viver ia por meio desses preceitos (Rm 10.5; Gl 3.12). Fazer era o verbo importante. Mas não foi o que ocorreu, Adão não guardou uma lei simples e quase elegante que foi explicitamente dada a ele. Apesar do mandamento de Deus para evitar a árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão comeu o fruto dela. Ao desobedecer a Deus, ele se colocou debaixo da maldição da lei e da pena de morte (Gl 3.10; Gn 2.17). III. O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a vida o seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer. Gal. 3:21; Rom. 3:20-21 e 8:3; Isa. 42:6; Gen. 3:15; Mat. 28:18-20; João 3:16; Rom. 1:16-17 e 10:6-9; At. 13:48; Ezeq. 36:26-27; João 6:37, 44, 45; Luc. 11: 13; Gal. 3:14. O primeiro pacto continha uma exigência justa e clara, amparada pela força de uma ameaça. Mas à medida que refletimos sobre o pacto e as ações de nossos primeiros pais, podemos ver que a lei não concedia vida. Novo pacto: É um pacto porque é um outro laço ordenado por Deus, desta vez com pecadores. Ele é gracioso porque contêm uma promessa gloriosa, totalmente não merecida. Quando começamos a ler o Novo Testamento, descobrimos que tudo isso é verdade, e que a promessa floresce completamente. Ali lemos que “o que fora impossível à lei” fazer, Deus fez “enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa” e “condenou Deus, na carne, o pecado” que uma vez havia nos condenado (Rm 8.3). Assim podemos ter confiança nesse pacto da graça, onde Deus “livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação” para desfazer nossa morte e pecado. O primeiro pacto é uma profunda expressão da disposição de Deus para ter comunhão com meras criaturas. Já esse segundo pacto é uma inacreditável demonstração da disposição de Deus em perdoar e ter comunhão com aqueles que são indignos. Podemos ter confiança nesse pacto porque nessa oferta graciosa Deus dá seu próprio Filho. É no Novo Testamento que claramente vemos que o próprio Cristo é o novo pacto; ele é a promessa; ele é o pacto e laço de graça. Nada há de abstrato ou fictício nesse evangelho. Ele é tão real quanto o próprio Senhor Jesus Cristo, Filho do homem e Filho de Deus. Nesse evangelho encontramos “a justiça decorrente da fé” em Cristo (Rm 10.6), quando cremos em nossos corações que “Deus o ressuscitou dentre os mortos”. É assim que somos salvos (Rm 10.9). Vivemos pela fé (G1 3.11), que é confessar que realmente vivemos pelo poder e graça de Cristo e não por nós mesmos. Qual evangelho poderia ser mais generoso? Qual podería ser mais completo, capaz de satisfazer a cada uma de nossas necessidades e de responder às nossas dúvidas? Pois nesse segundo pacto, o Pai, o Filho e o Espírito Santo nos oferecem um relacionamento que jamais terá fim. IV. Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de Testamento, em referência à morte de Cristo, o testador, e à perdurável herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto. O termo “testamento” invoca linguagem e temas bíblicos. Ele nos lembra que grandes dons são legados a nós. Ele evoca a ideia de um “tes- tador”, em Jesus Cristo, e de uma “herança eterna, com tudo o que lhe pertence”. Por um lado, ao defender essa tese, os membros da Assembléia de Westminster estão evitando contender sobre palavras, pois todos nós sabemos que argumentos sobre palavras têm sido uma babel na igreja cristã. O evangelho pode ser descrito no dialeto da teologia pactuai, ou na linguagem de um testamento. Entretanto, esse quarto parágrafo também está nos lembrando que embora haja formas dominantes pelas quais a Palavra de Deus ensina a verdade cristã, somos sábios em usar o repertório total de expressões bíblicas. Os versos centrais de Hebreus 9, pelo menos, parecem ligar a realidade da aliança com um conceito de “testamento”. Resumindo, esses versos nos ensinam que a lei de Moisés era repleta de sacrifícios e sangue para ensinar algo ao povo de Deus: que alguém tinha de morrer antes que a grande promessa pudesse “ser confirmada” (Hb 9.15-17).
Sob a lei tudo foi uma promessa ou um tipo - ou
mencionando ou retratando o que estava por vir. Mas “sob o evangelho” encontramos o próprio Cristo, o Verbo feito carne, apresentado ao mundo. Cristo, é claro, é a “substância” de todas as antigas profecias e sacrifícios e ele é a substância do pacto da graça. Ele próprio é o evangelho, as boas-novas que proclamamos. Paulo resume isso memoravelmente quando ele nos diz que todas as ordenações do Antigo Testamento foram “sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo”, a realidade que remove as sombras do Antigo Testamento, sempre foi Cristo (Cl 2.17). Portanto, na era do evangelho, é adequado focar somente no Cristo vivo que está conosco. Nós não celebramos os antigos ritos que anunciavam que ele logo viria. Embora preguemos esses tipos e promessas do Antigo Testamento, é Cristo que vemos na “pregação da Palavra”. Embora tenhamos os “Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor”, nós batizamos em nome daquele que, com seu Pai e o Espírito, está sempre conosco “todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.19-20). Embora compartilhemos de uma refeição espiritual de pão e vinho, nós o fazemos em memória de Cristo (ICo 11.23-25). [APLICAÇÃO] Nós nos fortificamos na graça quando nos alimentamos da palavra de Deus com fé (Hb 13.9; 2Tm 2.1-3). Com efeito, a graça diária é para a alma o que o pão diário é para o corpo. Sustenta. Alimenta. Satisfaz. Sem ela, não podemos viver e não podemos cumprir os princípios da palavra de Deus. Afinal, o sangue de Cristo, o sangue que comprou a nova aliança (1Co 11.25), o sangue do novo pacto, comprou para nós perdão dos pecados e poder para cumprir a vontade de Deus (Jr 31.33-34; Ex 36.26-27). Efésios 2.5, 7 e 9,10 [1] Em primeiro lugar, ele nos aponta para A OBRA DE DEUS nos versículos 4-6: transbordando de graça, Deus nos deu vida juntamente com Cristo, salvou-nos, ressuscitou-nos juntamente com Cristo e nos fez assentar com ele (o Pai) nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Receber vida, ser salvo, ressuscitar juntamente com Cristo e assentar com Deus nos lugares celestiais em Cristo Jesus é o que significa a expressão “É pela graça que vocês são salvos!” (v. 5). [2] Em segundo lugar, Paulo nos aponta para A MOTIVAÇÃO DE DEUS. Por que Deus fez o morto reviver? Não foi por causa de suas obras. Paulo diz, no versículo 9, que não foram as obras que fizemos antes de nos tornarmos cristãos, nem as obras que temos feito depois que nos tornamos cristãos que motivaram a Deus. Caso contrário, poderíamos ter motivo para “orgulhar” (v. 9). Em vez disso, Paulo diz, Deus nos deu vida por causa de sua “misericórdia”, de seu “grande amor com que nos amou” (v. 4). Com efeito, Paulo inclui no seu argumento que o próprio amor e a misericórdia de Deus são a fonte da nossa salvação. É somente pela graça, “não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar” (v. 9). [3] Em terceiro lugar, Paulo nos aponta para O PROPÓSITO DE DEUS. Com que propósito Deus fez o morto reviver? Paulo diz no versículo 7 que foi para que exibíssemos em nós mesmos a gloriosa obra de Deus – assim, “Deus poderá apontar-nos como exemplos da riqueza insuperável de sua graça, revelada na bondade que ele demonstrou por nós em Cristo Jesus”. Como? Demonstrando, pela nossa vida, a obra prima de nosso Criador e Redentor – afinal, “somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras que ele de antemão planejou para nós” (v. 10). Mediante o pacto da graça, entendemos: A obra de eleição de Deus para a salvação do pecador (eleger suas ovelhas antes da criação do mundo) foi baseada somente na graça de Deus, e não em quaisquer atos humanos, de qualquer natureza, previstos de antemão por Deus (Rm 11.5-6; 9.11-12); A obra expiatória de Deus para a salvação do pecador (propiciar sua própria ira na morte de Cristo) foi baseada somente na graça de Deus, e não em algum mérito adicionado a Cristo (Rm 3.24); A obra regeneradora de Deus para a salvação do pecador (ressuscitar-nos da morte espiritual para a vida eterna) é somente pela graça, a graça do novo nascimento, e não quaisquer esforços de santidade, os quais, apesar de indispensáveis, são todos dons da graça de Deus (1Co 15.10).