Você está na página 1de 9

A Aliança – o pacto de Deus com os homens

Leandro Lima

Textos básicos: Gênesis 15.7-21; Gênesis 1.26-31

Panorama bíblico
Gênesis 15.7-21
Essa passagem marca a ocasião em que Deus entrou em Aliança
com Abraão. Significativo no texto é o simbolismo dos animais partidos
ao meio e as metades colocadas umas defrontes as outras, deixando um
espaço para se passar pelo meio. Nos pactos daquela época, os
contratantes passavam juntamente pelo meio dos pedaços num
juramento de auto-maldição, caso quebrassem o pacto. No caso de
Abraão, Deus passou sozinho pelo meio, demonstrando que a
responsabilidade pelo cumprimento da Aliança era dele.
Gênesis 1.26-31
Essa passagem descreve o padrão da Aliança e a responsabilidade
do homem dentro dela. Percebemos no texto as três áreas que a Aliança
abrange: espiritual, social e cultural. Isso nos fala que a vida deve ser
entendida duma perspectiva integral. Temos responsabilidades não
apenas espirituais, mas também sociais e culturais. Viver sob a Aliança
significa viver responsavelmente sob todos os aspectos da vida. O
mandato espiritual nos fala de nosso relacionamento íntimo com Deus,
nossas responsabilidades religiosas. O mandato social nos fala de nossa
responsabilidade familiar, nos lembrando a importância que Deus dá à
família. E o mandato cultural nos fala de todos os outros aspectos da
vida. Nossa responsabilidade quanto a trabalho, educação, arte,
ecologia, etc. Os filhos da Aliança não devem viver num gueto, eles
precisam se envolver responsavelmente com todas as coisas desse
mundo, influenciando, mas sem deixar ser influenciado.

A Aliança é uma espécie de contrato que Deus estabeleceu com o


ser humano, especialmente com seu povo, no qual ele promete ser o
Deus deles, lhes abençoar, mas em contrapartida, eles deveriam ser
fiéis às estipulações dela.

Introdução

Quando queremos fazer algum negócio nos dias atuais, nos


precavemos estabelecendo um contrato, através do que, recebemos a
garantia de que não seremos prejudicados. É muito arriscado nos dias
atuais fazer algum negócio sem um contrato bem lavrado. Deus
também tem estabelecido uma espécie de Contrato, é a sua Aliança.
I. Definição de Aliança
A. O Padrão Divino de relacionamento
Aliança é um acordo formal estabelecido entre duas partes.
Contém a idéia de estabelecer um contrato, uma espécie de acordo
obrigatório. Porém, a diferença básica entre um contrato e uma Aliança
constitui-se no fato de que um contrato geralmente é estabelecido entre
partes iguais, com direitos e deveres iguais, cujos termos são definidos
através de uma negociação entre as partes. Porém, na Bíblia, assim
como no Antigo Oriente Médio, os tratados entre suseranos e vassalos
não tinham pé de igualdade. Ao contrário, o suserano, o vencedor de
uma guerra, obrigava seu vassalo assinar um contrato de submissão. O
suserano garantia a proteção do vassalo, porém, não havia negociação
nos termos. Podemos dizer, portanto, que enquanto o contrato é
bilateral, a aliança é unilateral.
A Aliança é uma espécie de modus operandi Divino. É a maneira
como ele se relaciona com o ser humano. Não há relacionamento entre
Deus e o homem fora da Aliança. Por isso, podemos estudar a doutrina
da Aliança dentro do estudo do Ser de Deus, pois a Aliança é a
demonstração de seu relacionamento com suas criaturas. A Aliança é
um pacto de sangue. Sem sangue não há ratificação da Aliança. A
necessidade do sangue significa que Deus leva a Aliança até as últimas
conseqüências.
B. Elementos da Aliança
Uma Aliança é composta de partes ou elementos. Êxodo 20 nos
ajuda a entender como funciona a Aliança. O texto diz: “Eu sou o
Senhor teu Deus” (v. 2). Estão explícitos aí os participantes da Aliança.
Deus é o suserano, o povo de Israel é o vassalo. Em seguida vem um
preâmbulo histórico: “que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”
(v. 2). Este é o feito divino pelo qual ele exige o compromisso do povo.
Em seguida vem o requerimento do Senhor em relação aos israelitas:
“não terás outros deuses diante de mim...” (v. 3). Ao todo são citados
dez mandamentos como exigências do Senhor dentro da Aliança. Por
fim, na Aliança são estabelecidas as punições e as recompensas para o
descumprimento e cumprimento respectivamente: “eu sou o Senhor teu
Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à
terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os
meus mandamentos” (v. 5-6). Esse padrão bíblico pode ser visto em
todas as formulações da Aliança como em Moisés, Abraão, Adão e Jesus.
C. O Comprometimento Divino
Embora a Aliança seja um pacto unilateral, Deus se compromete a
realizar muitas coisas aos homens que cumprem sua Aliança. Quando
Deus estabeleceu a Aliança com Abraão, ele deixou bem claro qual seria
sua atitude. Em Gênesis 15.7-21 Deus se apresenta a Abraão e
estabelece o pacto com ele. O Senhor diz a Abraão: “Eu sou o Senhor
que te tirei de Ur dos Caldeus, para dar-te por herança esta terra” (v.7).
No texto aparecem os proponentes da Aliança, Deus o suserano e
Abraão o Vassalo. Também pode ser visto o preâmbulo histórico onde
Deus assume a autoria de ter tirado Abraão de Ur dos Caldeus. E ainda
está claro o propósito de Deus em abençoar Abraão, dando a terra por
herança. Mas, aparentemente, falta o aspecto de punição em caso de
quebra da Aliança. Porém, Deus manda Abraão realizar uma cerimônia
comum daqueles tempos através da qual irá revelar muito de seu
caráter, propósitos e fidelidade. Abraão precisou cortar alguns animais
ao meio, e colocar as metades umas defronte das outras, deixando um
espaço ao meio onde se poderia passar. Precisamos nos lembrar que
nos tempos bíblicos as alianças eram ratificadas com sangue. Era
costume que ambas as partes que estavam entrando em aliança
passassem por entre as partes cortadas dos animais1. Com esse ato,
cada parte estava assumindo a responsabilidade integral pela quebra da
Aliança. O sangue do animal simbolizava o sangue do proponente que
quebrasse a Aliança. Mas, no caso de Abraão o texto mostra uma
sensível diferença: “e sucedeu que, posto o Sol, houve densas trevas; e
eis um fogareiro fumegante, e uma tocha de fogo que passou entre
aqueles pedaços” (Gn 15.17). Note que Abraão não passou ao lado do
Senhor na cerimônia de instituição da Aliança, o Senhor passou sozinho.
Isso certamente demonstra que Deus assumiu, ele mesmo, a
responsabilidade pelo cumprimento e não cumprimento da Aliança. É
nesse sentido que devemos entender a vinda de Jesus a esse mundo.
Ele veio cumprir aquilo que a Justiça divina exigia, uma vez que Deus
mesmo havia assumido a responsabilidade de morte em caso de quebra
da Aliança.

II. Alianças ou Aliança?

Será que devemos falar em Alianças ou será que na verdade


houve apenas uma Aliança? Podemos ver pelo menos seis vezes
Alianças estabelecidas na Bíblia2.
A. Aliança com Adão
Embora muitos estudiosos discordem, há ampla evidência bíblica
para se afirmar que a primeira Aliança estabelecida por Deus foi com o
próprio Adão. Podemos ver essa Aliança antes e depois da Queda. Antes
da Queda vemos os aspectos da Aliança na instituição do Sábado, do
casamento, do trabalho, e também no mandamento explícito de não

1
Cf. R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
1999. Caderno I, p. 64-65
2
A abordagem a seguir segue em linhas gerais o livro de O. Palmer Robertson. Cristo
dos Pactos. Campinas: Editora Luz Para o Caminho, 1997.
comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O Sábado
desempenha papel preponderante afetando a própria estrutura da
história. Ele consuma tanto a obra da criação, quanto a obra da
redenção. O casamento é vital porque através dele Deus providenciou a
“ajuda” necessária para o homem, possibilitando ainda a propagação da
raça através de um meio natural. E o trabalho não é apenas um aspecto
legal da velha aliança, ele pertence integralmente ao homem que foi
feito à imagem de Deus, que é um Deus que trabalha. Através do
trabalho, juntamente com o Sábado e o casamento, o homem encontra
significado para sua vida. Da ordem de se abster do fruto segue-se a
necessidade de obediência estrita à Palavra de Deus.
Muitos afirmam que antes da Queda a Aliança era Aliança das
Obras e após a Queda passa a ser Aliança da Graça. De qualquer forma
não podemos pensar que Deus tenha mudado seu propósito. A Aliança
continua visando o bem do homem, porém, antes da queda o homem
era sem pecado, e, portanto, havia base para um compromisso de
obras, porém, após a queda, a graça tem o papel primordial.
A Aliança após a queda baseia-se principalmente nas declarações
de Deus a Satanás, à mulher e ao homem. Satanás recebe maldição
pura, pois a serpente, como tipo de Satanás, terá que rastejar, comendo
o pó da derrota todos os dias. Deus ainda garante a destruição de
Satanás com a vinda de um descendente que esmagará a cabeça dele.
Porém a mulher e o homem recebem uma maldição mitigada (reduzida),
mesclada com juízo e graça. Juízo porque de fato a vida do homem e da
mulher seria difícil, porém a graça pode ser vista no simples fato de que
continuariam vivendo, se multiplicando e dominando a terra.
B. Aliança com Noé
A principal característica da Aliança com Noé é seu conceito de
preservação. Deus decidiu não mais destruir a terra, proveu sustento
para o homem, e, além disso, providenciou, através da pena de morte,
freios para a criminalidade. Essa aliança possui também um aspecto
universalista, pois Deus tratou com o mundo todo. O Selo dessa Aliança
é o arco-íris, que enfatiza o caráter gracioso da aliança.
C. Aliança com Abraão
O que se destaca nessa Aliança é a promessa divina. O aspecto
soberano pode ser visto pela chamada a Abraão, onde Deus
simplesmente exigiu obediência do seu servo. O penhor de morte, como
já vimos, percebe-se na cerimônia em que o próprio Deus passa por
entre os pedaços de animais em Gn 15.17, num juramento de auto-
maldição, garantindo assim que a Aliança será cumprida. Um aspecto
interessante dessa Aliança é o Selo, a Circuncisão que é estabelecida
como uma garantia de que Deus cumpriria suas promessas.
Originalmente simbolizava a inclusão na comunidade da Aliança pela
iniciativa da graça de Deus, além de indicar e simbolizar o processo de
purificação necessária a todos, num ato de juízo por causa do “extirpar”
a pele do prepúcio, o qual também tinha implicações raciais, pois se
relacionava diretamente com a propagação da raça. Mas, o símbolo não
pretendia ser algo apenas externo e superficial, antes queria demonstrar
a profunda transformação que deve ocorrer na vida de uma pessoa a
fim de que possa se aproximar de Deus.
D. Aliança com Moisés
A Aliança com Moisés é uma continuação das alianças anteriores.
Na verdade, Deus se lembrou de sua Aliança com Abraão, e por isso
decidiu visitar e libertar o povo. A novidade da Aliança com Moisés se
encontra na sumarização da vontade de Deus, ou seja, principalmente
nos dez mandamentos. Mas, a lei não deve suplantar a Aliança, pois a
Aliança é superior à Lei. A entrega da Lei não veio prover uma nova
forma de salvação, a salvação continuou sendo pela promessa da
mesma forma que fora antes, mas a Lei veio demonstrar com detalhes
qual era a vontade de Deus. É o sistema sacrificial instituído juntamente
com a Lei que nos demonstra que a salvação continua sendo pela graça.
E. Aliança com Davi
Na Aliança com Davi, os propósitos redentivos de Deus atingem o
ápice em termos de Antigo Testamento. Mas, há uma íntima relação
entre a Aliança Davídica e as que foram feitas com Abraão e Moisés, por
exemplo. Há uma continuidade tanto em termos de graça, quanto em
termos de condicionalidade. A Aliança é incondicional porque Deus
levará a cabo seus planos independentemente das circunstâncias, mas é
condicional porque cada integrante da Aliança tem responsabilidades, e
Deus pedirá contas de cada um. O trono de Davi deve ser ligado com o
próprio trono de Deus, e o conteúdo central da Aliança baseia-se na
dinastia prometida a Davi, e em Jerusalém como o lugar da habitação
perpétua de Deus. Baseado nessa palavra que Deus empenhou, os livros
dos Reis e das Crônicas demonstrarão o modo como Deus age em cada
transgressão dos reis, ou do povo. É sua palavra da Aliança que
estabelece o curso da história, e isso pode ser verificado na longa
dinastia dos reis de Judá, descendentes de Davi.
F. Aliança com Jesus
Todas as ministrações prévias da Aliança deixaram algum vácuo,
algo que não foi preenchido. É somente a Nova Aliança, a Aliança em
Jesus que consuma todas as expectativas das alianças anteriores. O fato
de que Israel falhou como nação, e perdeu os privilégios da Aliança
sendo arrancado da terra prometida indicava a necessidade de uma
ministração da Aliança que tivesse maior eficácia e duração. Porque
embora Israel tivesse falhado em sua responsabilidade sob a Aliança,
Deus não falhou em seu propósito de separar um povo para si. A última
Aliança une os vários conceitos da promessa através da história. Ela,
portanto, suplanta e traz pleno cumprimento a todos os propósitos
divinos revelados ao longo das várias ministrações anteriores. Jesus é o
âmago de todo esse cumprimento. Em sua pessoa o essencial princípio
da Aliança recebe corpo: “eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu
povo”.
As principais características da Aliança em Jesus podem ser vistas
no retorno de Israel do cativeiro à terra da promessa, no cumprimento
divino dos compromissos prévios da Aliança, na renovação interna pela
obra do Espírito Santo de Deus, no pleno perdão de pecados, e no
caráter perpétuo da Nova Aliança. Embora a Bíblia diz que todas as
ministrações anteriores da Aliança também eram perpétuas, podemos
entender que eram perpétuas somente na medida em que se cumpriram
na realização da Nova Aliança.
Concluindo, então, será que todas essas Alianças são individuais
ou continuações da mesma Aliança? Parece claro que são continuações
da mesma. Há apenas uma Aliança que engloba todos os tempos, desde
a fundação do mundo até a consumação dos séculos. Uma profunda
unidade estrutural entre as Alianças pode ser vista. Deus nunca iniciou
uma Aliança totalmente do zero, por exemplo, com Abraão, Moisés ou
Davi. Ele não limpou o quadro e começou tudo de novo, mas avançou
em relação a seus propósitos originais a um nível superior de realização.
Há apenas uma Aliança, mas ela progride em cada ministração, onde
são acrescentados novos detalhes. É uma continuidade cheia de
novidades. Por exemplo, a inscrição da Lei no coração. A inscrição é
nova, mas a Lei não é. O Perdão dos pecados também demonstra
novidade. O perdão agora é definitivo, enquanto antes precisava ser
renovado pelos sacrifícios. Assim como a redenção que agora é
completa, enquanto antes era parcial.

III. Implicações da Doutrina


As implicações da doutrina da Aliança são de proporções cósmicas.
Se Deus se relaciona conosco via Aliança, então, precisamos aprender
muito sobre ela e dirigir nossa vida à luz dela. Graças a Aliança e para
cumprir sua Aliança é que Jesus veio e efetuou nossa Salvação. Somos
extremamente devedores a Deus por sua Aliança. Mas, como se vive
dentro do padrão da Aliança? A fim de facilitar nosso estudo podemos
listar três mandatos que fazem parte da Aliança e que podem ser vistos
desde o início da criação, conforme estão relatados em Gênesis 1.26-31.
A.Mandato Espiritual
O mandato espiritual foi dado como parte da ordem da criação.
Adão e Eva deveriam permanecer em comunhão com Deus. Eles
deveriam continuar andando com Deus quando Ele viesse no final da
tarde (Gn 3.8). Eles deveriam ter comunhão com Ele e ter um
relacionamento pessoal parecido com o que temos em oração hoje.
Parte desse mandato espiritual era a obediência a Deus quanto à ordem
para não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Se esta obediência fosse mantida, Deus, Adão e Eva continuariam a
manter o lindo relacionamento pessoal que possuíam entre si, sendo
que nada poderia haver entre eles que pudesse atrapalhar.
O Mandato Espiritual ainda pode ser visto no fato de que Deus
criou o homem “à sua imagem” (Gn 1.26). Isso nos fala de uma
semelhança e duma possibilidade plena de relacionamento. O próprio
Sábado já trazia essa idéia de relacionamento. Ao estabelecer o Sábado
Deus havia proporcionado não só um dia de descanso para o homem,
mas acima de tudo um dia de íntimo relacionamento consigo. O
mandato Espiritual dentro da Aliança, portanto, nos fala de nosso
relacionamento pessoal com Deus. Ele precisa ser o mais importante de
nossa vida. Deus deve ocupar o lugar central em nossa vida.
B. Mandato Social
O Mandato Social pode ser visto quando Deus abençoou o homem
e a mulher e lhes disse: “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”
(Gn 1.27). Foi aí que Deus estabeleceu a família. O relacionamento
familiar tem prioridade na Aliança. Os membros da Aliança se
relacionam com Deus enquanto famílias. Portanto, a família é levada em
altíssima consideração dentro da Aliança. O homem como chefe da
família, a mulher como sua auxiliadora, e os filhos como herança do
Senhor devem ter um relacionamento impecável diante de Deus.
A função da família dentro da sociedade é de importância
fundamental. Mas, para que essa função possa ser bem cumprida, é
preciso que haja unidade na família. Deus quer que a família seja uma
unidade e não somente um grupo de indivíduos. Ela deve ser assim
para que possa representar apropriada, agradável e atrativamente ao
mundo o amor do Deus Triúno. Pai e mãe, pais com os filhos, filhos com
os pais, filhos entre si, devem refletir uma unidade amorosa que
expressa claramente a unidade do Deus Triúno. Deus quer que a família
seja unida no meio da sociedade para que possa demonstrar e provar
que a família da Aliança é caracterizada pelo amor, e que ela dá
estabilidade e segurança.
C. Mandato Cultural
Por fim, vemos também dentro da Aliança o Mandato Cultural que
engloba a vida chamada “comum”, mas que de comum não tem nada.
Deus disse para o homem que sujeitasse a terra, dominando sobre “os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que rasteja
pela terra” (Gn 1.28). Nessa ordem vemos a imensa responsabilidade
que o homem tem com relação a esse mundo. Cabe a ele ser o
administrador de todos os bens que Deus lhe confiou. O trabalho se
encaixa nisso como um dom de suprema importância. Isso tem
implicações sociais, econômicas, culturais e ecológicas.
Adão e Eva foram criados dentro do mundo natural com árvores e
animais, com grama e insetos, com peixes e aves, com comida e
bebida. A vida é uma integração total, tudo está interligado. Deus criou
o mundo assim, e nos colocou no meio disso tudo, é nossa função nos
relacionarmos com todas essas coisas demonstrando justiça e
santidade.
Ninguém expressou melhor esta relação com o mundo criado do
que o Filho de Deus. Jesus não se limitou a pregar o amor de Deus, Ele
também pregou o envolvimento com a vida. Seu primeiro milagre foi
transformar água em vinho para um casamento. Além disso, claramente
ele tinha conhecimento sobre os mais variados assuntos culturais de sua
época. Ele falou sobre ouro, prata, metais preciosos. Sabia sobre a
moeda corrente, sobre árvores e seus frutos, sobre a vida militar. Lidou
com tempestades no mar, falou do semeador semeando em solos
diferentes, entendia sobre a vida dos fazendeiros, além de conhecer o
ofício da pescaria. Entendia sobre impostos, e pagava impostos! Falou
ainda sobre o relacionamento dos empregados e seus patrões, dos
inquilinos e proprietário, demonstrando que estava em pleno
relacionamento com os aspectos culturais de sua época. Neste sentido,
podemos dizer que Jesus era um homem deste mundo. Ele era um
homem do povo. Mas, era um perfeito mestre espiritual. Ele era um
homem completo.
Devemos considerar os aspectos espirituais, sociais e culturais
como uma unidade, pois, tudo está debaixo do reino de Deus. Todos os
aspectos da vida são estabelecidos por Deus e pertencem a Deus. Estes
aspectos devem ser reconhecidos como partes do reino sobre o qual
Cristo está atualmente reinando. Nós estamos neste reino de Cristo. Ele
está reinando agora. Ele é o Senhor supremo de tudo (Cl 1.15-20).

Conclusão

A Aliança é o Contrato divino estabelecido conosco no qual ele


promete ser o nosso Deus, providenciou uma salvação para nós, e exige
que nos mantenhamos fiéis a ele. Deus se relaciona conosco em Aliança
e sempre honra essa Aliança.
Podemos confiar no Deus da Aliança. Se estamos vivendo sob essa
Aliança estamos seguros. Porém, devemos meditar se estamos vivendo
o padrão que a Aliança exige. Devemos meditar nos Mandatos e ver
como estamos conduzindo nossa vida em relação a eles.

Leituras Sugeridas
R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1999. Primeiro Caderno, 23.
O. Palmer Robertson. Cristo dos Pactos. Campinas: Editora Luz Para o
Caminho, 1997
Harriet e Gerard Van Groningen. A Família da Aliança. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 1997
Gerard Van Groningen. Revelação Messiânica no Velho Testamento.
Campinas: Luz Para o Caminho, 1995
Michael S. Horton. O Cristão e a Cultura. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 1998

Você também pode gostar