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Leandro Lima
Panorama bíblico
Gênesis 15.7-21
Essa passagem marca a ocasião em que Deus entrou em Aliança
com Abraão. Significativo no texto é o simbolismo dos animais partidos
ao meio e as metades colocadas umas defrontes as outras, deixando um
espaço para se passar pelo meio. Nos pactos daquela época, os
contratantes passavam juntamente pelo meio dos pedaços num
juramento de auto-maldição, caso quebrassem o pacto. No caso de
Abraão, Deus passou sozinho pelo meio, demonstrando que a
responsabilidade pelo cumprimento da Aliança era dele.
Gênesis 1.26-31
Essa passagem descreve o padrão da Aliança e a responsabilidade
do homem dentro dela. Percebemos no texto as três áreas que a Aliança
abrange: espiritual, social e cultural. Isso nos fala que a vida deve ser
entendida duma perspectiva integral. Temos responsabilidades não
apenas espirituais, mas também sociais e culturais. Viver sob a Aliança
significa viver responsavelmente sob todos os aspectos da vida. O
mandato espiritual nos fala de nosso relacionamento íntimo com Deus,
nossas responsabilidades religiosas. O mandato social nos fala de nossa
responsabilidade familiar, nos lembrando a importância que Deus dá à
família. E o mandato cultural nos fala de todos os outros aspectos da
vida. Nossa responsabilidade quanto a trabalho, educação, arte,
ecologia, etc. Os filhos da Aliança não devem viver num gueto, eles
precisam se envolver responsavelmente com todas as coisas desse
mundo, influenciando, mas sem deixar ser influenciado.
Introdução
1
Cf. R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
1999. Caderno I, p. 64-65
2
A abordagem a seguir segue em linhas gerais o livro de O. Palmer Robertson. Cristo
dos Pactos. Campinas: Editora Luz Para o Caminho, 1997.
comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O Sábado
desempenha papel preponderante afetando a própria estrutura da
história. Ele consuma tanto a obra da criação, quanto a obra da
redenção. O casamento é vital porque através dele Deus providenciou a
“ajuda” necessária para o homem, possibilitando ainda a propagação da
raça através de um meio natural. E o trabalho não é apenas um aspecto
legal da velha aliança, ele pertence integralmente ao homem que foi
feito à imagem de Deus, que é um Deus que trabalha. Através do
trabalho, juntamente com o Sábado e o casamento, o homem encontra
significado para sua vida. Da ordem de se abster do fruto segue-se a
necessidade de obediência estrita à Palavra de Deus.
Muitos afirmam que antes da Queda a Aliança era Aliança das
Obras e após a Queda passa a ser Aliança da Graça. De qualquer forma
não podemos pensar que Deus tenha mudado seu propósito. A Aliança
continua visando o bem do homem, porém, antes da queda o homem
era sem pecado, e, portanto, havia base para um compromisso de
obras, porém, após a queda, a graça tem o papel primordial.
A Aliança após a queda baseia-se principalmente nas declarações
de Deus a Satanás, à mulher e ao homem. Satanás recebe maldição
pura, pois a serpente, como tipo de Satanás, terá que rastejar, comendo
o pó da derrota todos os dias. Deus ainda garante a destruição de
Satanás com a vinda de um descendente que esmagará a cabeça dele.
Porém a mulher e o homem recebem uma maldição mitigada (reduzida),
mesclada com juízo e graça. Juízo porque de fato a vida do homem e da
mulher seria difícil, porém a graça pode ser vista no simples fato de que
continuariam vivendo, se multiplicando e dominando a terra.
B. Aliança com Noé
A principal característica da Aliança com Noé é seu conceito de
preservação. Deus decidiu não mais destruir a terra, proveu sustento
para o homem, e, além disso, providenciou, através da pena de morte,
freios para a criminalidade. Essa aliança possui também um aspecto
universalista, pois Deus tratou com o mundo todo. O Selo dessa Aliança
é o arco-íris, que enfatiza o caráter gracioso da aliança.
C. Aliança com Abraão
O que se destaca nessa Aliança é a promessa divina. O aspecto
soberano pode ser visto pela chamada a Abraão, onde Deus
simplesmente exigiu obediência do seu servo. O penhor de morte, como
já vimos, percebe-se na cerimônia em que o próprio Deus passa por
entre os pedaços de animais em Gn 15.17, num juramento de auto-
maldição, garantindo assim que a Aliança será cumprida. Um aspecto
interessante dessa Aliança é o Selo, a Circuncisão que é estabelecida
como uma garantia de que Deus cumpriria suas promessas.
Originalmente simbolizava a inclusão na comunidade da Aliança pela
iniciativa da graça de Deus, além de indicar e simbolizar o processo de
purificação necessária a todos, num ato de juízo por causa do “extirpar”
a pele do prepúcio, o qual também tinha implicações raciais, pois se
relacionava diretamente com a propagação da raça. Mas, o símbolo não
pretendia ser algo apenas externo e superficial, antes queria demonstrar
a profunda transformação que deve ocorrer na vida de uma pessoa a
fim de que possa se aproximar de Deus.
D. Aliança com Moisés
A Aliança com Moisés é uma continuação das alianças anteriores.
Na verdade, Deus se lembrou de sua Aliança com Abraão, e por isso
decidiu visitar e libertar o povo. A novidade da Aliança com Moisés se
encontra na sumarização da vontade de Deus, ou seja, principalmente
nos dez mandamentos. Mas, a lei não deve suplantar a Aliança, pois a
Aliança é superior à Lei. A entrega da Lei não veio prover uma nova
forma de salvação, a salvação continuou sendo pela promessa da
mesma forma que fora antes, mas a Lei veio demonstrar com detalhes
qual era a vontade de Deus. É o sistema sacrificial instituído juntamente
com a Lei que nos demonstra que a salvação continua sendo pela graça.
E. Aliança com Davi
Na Aliança com Davi, os propósitos redentivos de Deus atingem o
ápice em termos de Antigo Testamento. Mas, há uma íntima relação
entre a Aliança Davídica e as que foram feitas com Abraão e Moisés, por
exemplo. Há uma continuidade tanto em termos de graça, quanto em
termos de condicionalidade. A Aliança é incondicional porque Deus
levará a cabo seus planos independentemente das circunstâncias, mas é
condicional porque cada integrante da Aliança tem responsabilidades, e
Deus pedirá contas de cada um. O trono de Davi deve ser ligado com o
próprio trono de Deus, e o conteúdo central da Aliança baseia-se na
dinastia prometida a Davi, e em Jerusalém como o lugar da habitação
perpétua de Deus. Baseado nessa palavra que Deus empenhou, os livros
dos Reis e das Crônicas demonstrarão o modo como Deus age em cada
transgressão dos reis, ou do povo. É sua palavra da Aliança que
estabelece o curso da história, e isso pode ser verificado na longa
dinastia dos reis de Judá, descendentes de Davi.
F. Aliança com Jesus
Todas as ministrações prévias da Aliança deixaram algum vácuo,
algo que não foi preenchido. É somente a Nova Aliança, a Aliança em
Jesus que consuma todas as expectativas das alianças anteriores. O fato
de que Israel falhou como nação, e perdeu os privilégios da Aliança
sendo arrancado da terra prometida indicava a necessidade de uma
ministração da Aliança que tivesse maior eficácia e duração. Porque
embora Israel tivesse falhado em sua responsabilidade sob a Aliança,
Deus não falhou em seu propósito de separar um povo para si. A última
Aliança une os vários conceitos da promessa através da história. Ela,
portanto, suplanta e traz pleno cumprimento a todos os propósitos
divinos revelados ao longo das várias ministrações anteriores. Jesus é o
âmago de todo esse cumprimento. Em sua pessoa o essencial princípio
da Aliança recebe corpo: “eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu
povo”.
As principais características da Aliança em Jesus podem ser vistas
no retorno de Israel do cativeiro à terra da promessa, no cumprimento
divino dos compromissos prévios da Aliança, na renovação interna pela
obra do Espírito Santo de Deus, no pleno perdão de pecados, e no
caráter perpétuo da Nova Aliança. Embora a Bíblia diz que todas as
ministrações anteriores da Aliança também eram perpétuas, podemos
entender que eram perpétuas somente na medida em que se cumpriram
na realização da Nova Aliança.
Concluindo, então, será que todas essas Alianças são individuais
ou continuações da mesma Aliança? Parece claro que são continuações
da mesma. Há apenas uma Aliança que engloba todos os tempos, desde
a fundação do mundo até a consumação dos séculos. Uma profunda
unidade estrutural entre as Alianças pode ser vista. Deus nunca iniciou
uma Aliança totalmente do zero, por exemplo, com Abraão, Moisés ou
Davi. Ele não limpou o quadro e começou tudo de novo, mas avançou
em relação a seus propósitos originais a um nível superior de realização.
Há apenas uma Aliança, mas ela progride em cada ministração, onde
são acrescentados novos detalhes. É uma continuidade cheia de
novidades. Por exemplo, a inscrição da Lei no coração. A inscrição é
nova, mas a Lei não é. O Perdão dos pecados também demonstra
novidade. O perdão agora é definitivo, enquanto antes precisava ser
renovado pelos sacrifícios. Assim como a redenção que agora é
completa, enquanto antes era parcial.
Conclusão
Leituras Sugeridas
R. C. Sproul. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1999. Primeiro Caderno, 23.
O. Palmer Robertson. Cristo dos Pactos. Campinas: Editora Luz Para o
Caminho, 1997
Harriet e Gerard Van Groningen. A Família da Aliança. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 1997
Gerard Van Groningen. Revelação Messiânica no Velho Testamento.
Campinas: Luz Para o Caminho, 1995
Michael S. Horton. O Cristão e a Cultura. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 1998