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Soteriologia

Welerson Alves Duarte

Aula 1: Introdução

Chegamos a mais um capítulo da Teologia Sistemática e creio ser adequado

neste instante lembrarmos de alguns pontos relevantes a respeito dela a fim de

contextualizarmos nosso módulo.

Comecemos pela função da Teologia Sistemática que é tríplice:

A Função Construtiva - É a tarefa de construir um sistema completo e

unificado. É função do teólogo sistemático juntar todo o ensino bíblico sobre cada

assunto e estruturá-lo de forma coerente, integrada e mais completa possível,

formulando declarações doutrinárias baseadas nos princípios ou verdades

revelados nas Escrituras. É a isto que chamamos de sistema doutrinário ou

teológico.

A Função Defensiva - Não basta que um sistema teológico seja construído.

É preciso demonstrar que ele é biblicamente verdadeiro em cada uma de suas

partes e no todo. É a tarefa demonstrativa e defensiva da Teologia Sistemática.

Não se quer afirmar que seja possível alcançar um sistema teológico

absolutamente perfeito e imune a qualquer objeção ou crítica, com o

conhecimento limitado que temos da revelação, mas esse é o objetivo do

teólogo. Quanto mais um sistema puder ser demonstrado como coerente em

suas partes e fiel à revelação bíblica, no seu todo, mais próximo ele estará do

ideal desejável e daquilo que podemos chamar de “Corpo de Verdade” ou

“Sistema Doutrinário”. É neste ponto que a Apologética cumpre o seu papel como

aliada da Teologia Sistemática.


A Função Crítica - O teólogo precisa estar sempre examinando o seu sistema

à luz das Escrituras e testando criticamente os dogmas da Igreja à luz da Palavra

de Deus, não para mudar o sistema, se ele puder ser demonstrado como

verdadeiro, mas para impedir que agregue doutrinas que não possam ser

biblicamente defendidas e que estejam em contradição ou oposição a esse

mesmo sistema. Por outro lado, todo conhecimento novo que puder ser

desenvolvido e provado como verdadeiro, biblicamente, deve ser agregado ao

sistema para que ele se torne cada vez mais completo e integralizado. Da

mesma forma, qualquer erro teológico que seja apresentado pelas igrejas ou

teólogos deverá ser detectado e rejeitado como incompatível com o sistema de

revelação bíblica. Algumas áreas da teologia só foram mais desenvolvidas em

anos recentes, tais como a Doutrina da Adoção, algumas décadas atrás e, mais

recentemente, a Doutrina do Pacto.

Tomando a função construtiva como referência devemos considerar algo sobre

o método com que a mesma tem sido estudada, seu conteúdo e divisões.

Apesar de haver vários métodos como o trinitário, o pactual, o cristológico, etc,

o método clássico aceito como o mais adequado para apresentar a unidade dos

vários assuntos da teologia é o sintético. Este é o método encontrado na maioria

das Confissões e Catecismos Reformados. Através deste método, estuda-se

primeiro a revelação de Deus na Bíblia; em seguida, a Sua pessoa e obra; depois

procura-se seguir uma ordem lógica de pensamento, na qual cada ponto se

relaciona de modo coerente com o anterior. Este sistema pode ser resumido em

sete itens:

Prolegomena - Introdução, Conceitos, Enciclopédia, Revelação e Inspiração

das Escrituras.
Teontologia - A natureza e o ser de Deus, a doutrina da Trindade, os decretos

de Deus, a criação em geral e a providência.

Antropologia - A origem e natureza constitucional do homem, a doutrina do

pecado, a doutrina do pacto.

Cristologia - A pessoa e obra de Cristo.

Soteriologia - A doutrina da salvação.

Eclesiologia - A doutrina da Igreja e dos meios de graça.

Escatologia - A doutrina das últimas coisas.

Tendo considerado isto podemos falar do nosso curso propriamente que tem

como título Soteriologia. O nome do nosso curso vem de duas palavras gregas,

ou seja “Soteria”, que significa salvação e “Logos”, que significa “palavra”,

“assunto” ou “coisa”. Usamos o termo “Soteriologia” para nos referirmos ao

estudo da doutrina da aplicação da obra redentora no homem.

Assim como a transição do estudo da Teontologia para a Antropologia é natural,

a transição do estudo da Antropologia para a Cristologia e desta para a

Soteriologia também o é. Nós concluímos o estudo da antropologia abordando a

doutrina do pecado, seus efeitos sobre o gênero humano, lançando-o em um

estado de miséria, e considerando sobre o pacto da graça o qual nos apresenta

o redentor.

Sendo assim, nada mais natural do que tratarmos a respeito da aplicação da

obra realizada por nosso Redentor na vida daqueles que por ele são alcançados

depois de ter estudado a respeito do Redentor na Cristologia.

Na Cristologia pode-se ver que a pessoa do Redentor possui duas naturezas,

sendo uma divina e outra humana, que, no entanto, não formam duas pessoas,

mas apenas uma. Que este Redentor exerceu e encerrou em si os ofícios de


profeta, sacerdote e rei, os quais foram exercidos em dois estados, o de

humilhação e o de exaltação. Viu-se ainda que a obra de Cristo consistiu em

oferecer satisfação pelo pecado, ou seja, expiá-los.

No entanto, essa obra salvífica de Cristo não teria nenhum valor se não fosse

aplicada à vida do homem, pelo Espírito Santo.

Anthony Hoekema diz o seguinte a respeito do que até aqui colocamos:

Pela sua total obediência ao Pai e pelo seu sofrimento, morte e

ressurreição, nosso Senhor Jesus Cristo conquistou-nos a salvação do

pecado e de todas as suas consequências. Mas essa obra salvífica de

Cristo não tem nenhum valor para nós até que tenha sido aplicada ao

nosso coração e à nossa vida pelo Espírito Santo. O estudo da aplicação

da obra da redenção ao povo de Deus é chamado soteriologia – termo

derivado de duas palavras gregas, soteria e logos -, que significa “a

doutrina da salvação” ( A. Hoekema, Salvos Pela Graça, São Paulo:

Editora Cultura Cristã, 2002, p. 13).

Louis Berkhof mostra a naturalidade da transição entre as duas doutrinas ao

dizer o seguinte:

Desde que ela trata de restauração, redenção e renovação, só pode ser

apropriadamente compreendida à luz da condição originária do homem,

criado à imagem de Deus, e da subsequente perturbação da adequada

relação entre o homem e seu Deus, perturbação causada pela entrada do

pecado no mundo. Além disso, visto tratar da salvação do pecador

considerada totalmente como obra de Deus, conhecida dele desde a

eternidade, naturalmente ela transporta os nossos pensamentos

retroativamente para o eterno conselho de paz e para a aliança da graça,


em que foi feita a provisão para a redenção do homem decaído (L.

Berkhof, Teologia Sistemática, São Paulo: Luz Para o Caminho, 1990, p.

415).

A soteriologia, portanto, estuda exatamente a aplicação da obra da redenção ao

povo de Deus. Estudaremos neste curso a aplicação das bênçãos da salvação

ao povo de Deus, e sua restauração ao Seu favor, à vida de comunhão com ele

por meio de Jesus Cristo.

Leitura Obrigatória:

Salvação: Passado, Presente e Futuro, de R. C. Sproul

Recomendação: Para os que quiserem conhecer mais sobre a matéria objeto

deste curso, recomendamos a leitura do seguinte livro:

Salvos pela Graça, de Anthony Hoekema, Editora Cultura Cristã.

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