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Pequeno Manual da liderança cristã:

dicas para facilitar a sua vida como líder


JOINVILLE, BTBOOKS, 2014
Copyright ©2014 Guilherme Burjack

1a. Edição
Direção Editorial: ALEXANDER STAHLHOEFER
Revisão Ortográfica: JOAQUIM AVELINO JÚNIOR
Diagramação e capa: JUNIOR PERES
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (2012 - Vida), salvo indicação contrária.

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btbooks@bibotalk.com
Prefácio
Aferir é necessário.
Há muitos livros sobre liderança, daí surgem as perguntas: “Por que mais um livro
sobre um tema tão debatido?”, “Haveria algo mais a ser dito?”.
Aparentemente, as respostas seriam: “Não se justifica mais um livro sobre o
mesmo!”, “Não! Não há mais nada a ser dito”.
Contudo, o livro do Burjack é diferente. Como ele mesmo sugere, “é um texto
que procura ir na veia”.
O autor fala ao líder cristão, principalmente ao que está no exercício do
pastorado. E apesar de tocar em questões profundas, ele o faz de modo prático,
proporcionando uma leitura fácil e simples.
Esse livro parte do pressuposto de que o seu leitor, de modo geral, já sabe do
que ele está falando, mas que precisa estar atento a questões mais particulares com
relação à tarefa da liderança. É, como diz o autor, “uma série de dicas para facilitar
a vida do líder”.
Vale a pena! O autor discute temas que são pertinentes ao pastor, como “O que é
importante: o número ou a relevância?”. Cito um dos exemplos dados por Burjack
que mais me chamou a atenção: “Você já pensou que, num país tido como cristão, o
transeunte, que foi assaltado, possivelmente, o foi por um irmão? Sim, porque,
provavelmente, vítima e algoz, se questionados sobre sua religião, se proclamariam
cristãos. Então, o que é ser cristão?”.
O pastor, no Brasil, está sitiado. Como a “igreja” brasileira está entre as que
mais crescem, tudo o que foi feito meramente comércio deságua por estas plagas,
assim como todo o tipo de modismo, de método, de “teologismo” em busca de novos
mercados.
Este texto tenta enfrentar o caos chamando a atenção para o que é fundante e,
portanto, determinante para quem intenta ser copastor de Jesus, o Cristo, uma vez que
a missão é de Deus.
O autor, ao dar as dicas, tira um peso das costas do líder: deixa claro que ele não
precisa bancar o protagonista; no Reino dos Céus, ao qual pertence a Igreja, o
protagonismo é de Deus.
Quem lidera na Igreja tem muito a rever lendo esse texto. Por exemplo, a
questão dos dons como norteadores da construção do modus operandi da
comunidade.
É válido ressaltar que o autor se declara de prática pentecostal, e é exatamente
isto que lhe confere a isenção necessária para fazer a crítica da tal “cobertura
espiritual”, entre outras bizarrias.
Enfim, temos, nesse texto, uma boa ferramenta de aferição do modo como o
ministério está sendo levado a efeito.
Boa leitura e bom proveito!
Ariovaldo Ramos
Capítulo 1 Plataformas
1.1 As entrelinhas
Acho legal, quando leio um livro, ter possibilidade de antes de folhear o que o
autor escreveu saber os recortes teológicos, culturais, emocionais e até futebolísticos
que o autor possui. Isso me dá uma segurança a respeito do que lerei, pois revela
muito do que o autor escreveu, mas não está escrito. É um tipo de asterisco de
propaganda de veículo, aqueles miúdos que duram um micronésio de segundos. Isso
facilita a vida do leitor na hora de interpretar uma afirmativa ou as conclusões do
autor a respeito do assunto que ele se propôs a escrever.
Por isso, este capítulo existe para, de alguma forma, você ter conhecimento das
plataformas pelas quais eu desenvolvo o texto que você tem em mãos. Adianto que
sou torcedor do Vila Nova Futebol Clube, time da capital de Goiás. E sabe o que isso
significa? Bem, significa que você está lendo um livro de um torcedor apaixonado de
um time que não vê um título desde 2005 e, por isso, possui um coração quebrantado,
machucado, experimentado em paciência, resiliência e usuário teimoso de consolo
espiritual.
Sou casado com a Ana Paula e pai de quatro filhos lindos – Ana Luísa, Ana
Laura, Paulo Henrique e Luís Guilherme – todos vilanovenses por decreto eterno, à
exceção do Paulo Henrique, que é corintiano (o que nos leva a crer de vez em quando
no livre-arbítrio #sqn).
Os conceitos que sustentam este livro são baseados em uma teologia reformada
com uma práxis pentecostal. Sim, caro leitor, é possível ter uma teologia reformada
com uma práxis pentecostal, pois, a meu ver, este é o ponto de equilíbrio que há tanto
tempo buscávamos e que já está acontecendo em várias igrejas pela América Latina
afora.
1.2 Manda quem pode, obedece quem tem juízo
Entre os conceitos teóricos que achei por bem definir claramente neste capítulo,
o primeiro é o de Missio Dei. Esse conceito define quem se movimenta ao encontro
de quem, ou quem está a serviço de quem. Esse tópico é a base fundamental do que
chamamos de uma teologia de liderança, porque tudo gira em relação à Igreja no que
concerne à sua forma e essência, Na vida prática da Igreja, observa-se que, diferente
do que a Bíblia afirma, há pessoas que creem que devemos invocar Deus para se
ajuntar a nós naquilo que planejamos. Agimos com tanta independência da Sua
vontade, que é como se Deus não soubesse o que “deve” ser feito e “como” deve ser
feito. Sobre esse tema, gosto de uma definição dos historiadores Justo González e de
Carlos Orlandi: “A missão, por outro lado, é a atividade de Deus no mundo. Deus é o
protagonista da missão. Deus age no mundo pela sua graça, para reconciliar o
mundo consigo mesmo (2 Co 5.19). A igreja é o resultado e a coprotagonista da
missão de Deus.”1 Essa definição dos autores afirma muito a respeito do que creio
sobre liderança e a sua função na igreja local.
Quem está desenvolvendo todo o trabalho é Deus. Nós não protagonizamos
nada. Não cabe ao líder criar ou desenvolver projetos que estejam alheios ao que
Deus já está operando. Cristo nos ensina a respeito disso, quando afirma a respeito de
Si mesmo e a respeito da Sua atuação no mundo: “[…] Eu lhes digo verdadeiramente
que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer,
porque o que o Pai faz o Filho também faz.” (João 5.19).
Ter o conhecimento desse princípio, nos polpa de situações embaraçosas e até de
pecar (Hb 12.1-2). Se você não conhece, eu posso lhe apresentar uma dezena de
líderes esgotados e cheios de amargura no coração, por conta de uma vida toda na
igreja andando em círculos ou fazendo aquilo para o qual não foram chamados ou
operando em situações para as quais Deus não os designou.
1.3 Cada macaco no seu galho
Partindo do princípio que os dons não devem ser ignorados, conforme ensina o
apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios (1Co 12.1-4) e que esses são
entregues a todos os filhos e filhas de Deus, desconhecer tal doutrina é muito
perigoso.
No entanto, grande parte dos irmãos desconhece ou desmerece os dons
espirituais como se esses não fossem importantes para a condução da obra de Cristo
na Terra.
Está correto que a salvação é o bem mais precioso a ser buscado; também é
certo que quando encontrado devemos colocá-lo em prática, entretanto, os dons
espirituais estão entre os conhecimentos que fazem a diferença na vida de todo
cristão.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos efésios, apresenta no capítulo 2 a base da
teologia da salvação. Ele diz:
Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver,
quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que
agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também
vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e
pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira. Todavia, Deus, que é
rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com
Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos.
Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo
Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça,
demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois vocês são salvos pela
graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que
ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos
boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos. (Efésios 2:1-
10)
Todo esse processo descrito por Paulo começa com o amor de Deus por nós a tal
ponto de nos dar vida enquanto estávamos mortos em nossos delitos e pecados. É
importante enfatizar que foi por meio da graça que fomos salvos, mas não foi sem
propósito, porque ele termina afirmando que este ato de amor e de graça possui uma
finalidade: para que praticássemos a boa obra que já estava preparada por Deus. E é
exatamente aqui que os dons se tornam importantes. É por meio da ação da igreja no
mundo, com os dons que a ela foram dados pelo Espírito Santo, que as boas obras se
tornam reais.
O conceito teológico dos dons espirituais é talvez o que mais sofreu um forte
reducionismo na sua compreensão e aplicação na igreja evangélica brasileira durante
o século XX. Há uma vasta literatura abordando quase que exclusivamente os dons
de maravilha ou carismáticos.
Christian Schwarz, teólogo e pesquisador alemão, traz a seguinte afirmação:
“Uma pesquisa que o nosso instituto realizou há alguns anos entre 1.200 cristãos
ativos nos levou a uma conclusão assustadora: só 20% afirmou que conhecia e
estava usando os seus dons”2. Essa afirmação assusta e muito. Se o que
compreendemos a respeito do que Paulo diz aos irmãos e às irmãs de Corinto é para
ser obedecido, e este ensino consiste em que o Espírito Santo distribui os dons de
acordo com a Sua percepção e para que sirvam ao corpo (1Co 12.7; 11), não saber ou
conhecer e não aplicar resulta em desobediência contra Ele. É como se fôssemos
empregados dispostos a trabalhar, mas, não sabendo exatamente o que fazer, ou o que
realmente realizar, inventássemos, a nosso bel prazer, o que deve ou não ser feito.
Mesmo que estejamos dispostos, cheios de boas intenções e até repletos de uma
devoção sincera, estaremos desobedecendo.
Outra informação a respeito dos dons: eles não são pequenos empreendimentos
particulares. Tornou-se muito comum no meio evangélico, crentes formarem seus
impérios ministeriais a partir dos dons que possuem, principalmente os dons de cura
e profecia. O mundo pentecostal está cercado desse tipo de gente por todo lado; por
isso, muito cuidado caso você seja ou esteja liderando alguém com esses dons. Há
uma tendência a torná-los o centro do ministério.
Não se esqueça de que toda ação dos dons deve ocorrer dentro do contexto de
igreja. Não existe o ministério do “Eu Sozinho”. Os dons que você possui estão a
serviço dos seus irmãos e da comunidade, para que unidos, nos ajuntemos a Deus
naquilo que Ele está fazendo.
Portanto, ao liderar, descubra quais dons a sua equipe possui. Dê-lhes a
oportunidade de pô-los em prática. Cada macaco no seu galho. Não somos completos
em nós mesmos, mas somos peças individuais que se harmonizam no conjunto.
Somos um mosaico que forma uma linda imagem de Cristo.
1.4 Roaming espiritual
O conceito de cobertura espiritual talvez seja o principal, senão o único, motor
de algumas lideranças eclesiásticas. O erro no ensino sobre cobertura espiritual se
tornou o mecanismo de aprisionamento de vidas e um aquartelamento involuntário de
um grande número de irmãos e irmãs.
Difundido em massa após o advento do G-12, a tese da cobertura espiritual tem
saqueado a criatividade e a liberdade de muitas pessoas. A falsa ideia de que uma
pessoa tem a autoridade superior ou especial à outra e que ela controla os elementos
sobrenaturais que poderão afligir ou não a vida de seus liderados beira uma religião
de magia. É nesse ambiente de “cobertura espiritual” que a unção e bênção são
constantemente ligadas e desligadas como em uma operadora de telefonia.
A Bíblia, ao falar sobre autoridade espiritual, tem como centro e modelo de
aplicação dessa autoridade Cristo e os apóstolos. O modelo estabelecido de
autoridade tem mais a ver com o suporte do que necessariamente com o governo.
Toda vez que eu ouço, aconselho ou leio sobre autoridade espiritual, faço a seguinte
pergunta: onde está a pessoa que diz ter autoridade? Se a resposta for “no topo”, eu
questiono se de fato há autoridade nesta pessoa.
Ao ler uma dezena de textos bíblicos vamos encontrar a figura de autoridade
servindo a alguém. Moisés serviu ao povo ao fazê-lo atravessar o deserto; Josué o fez
ao colocar o povo para dentro da terra; os juízes serviram quando abriram mão do
que estavam fazendo para dirigir a vida alheia. Basta dar uma olhada na lista de
heróis da fé (Hb 11) para encontrar homens que deram a sua vida em favor de um
propósito maior do que as suas próprias vidas. E se levarmos em conta Cristo, então o
negócio vira de lado mesmo. Cristo lavou os pés dos apóstolos, esteve em uma
posição de servo, abriu mão de Sua glória para que, estando entre nós, estivesse
sujeito às nossas próprias dores.
Eu me lembro de uma vez que estava em uma lanchonete e me peguei
observando um grupo de jovens que estava em uma mesa ao lado da minha. Percebi
que havia um rapaz que se destacava entre o grupo: parecia ser o líder. Teve uma hora
na conversa deles que eu percebi um clima meio tenso. O cara que parecia o líder de
fato o era, mas o que ele dizia para os meninos era algo estranho, mais ou menos
assim: “Eu sou sua cobertura espiritual e não autorizo você a conversar com esta
pessoa tal”. Cara, que louco! Nem com os meus filhos eu falo assim. Isso tipifica
bem o tipo de liderança que estes malucos estão propondo. Um tipo de liderança que
nem Jesus Cristo compartilhou com Seus discípulos, uma liderança na base do medo
para gerar um tipo de domínio. Realmente não combina com modelo de liderança
baseado no amor, entrega e serviço ao próximo a postura de déspotas de alguns
líderes sobre a vida das pessoas.
Pare por instante e pense se o modelo de liderança que você está seguindo é o
modelo da mordaça e do controle. Você foi chamado para liderar não para sugar a
alma das pessoas. Posicione-se de joelhos como Jesus Cristo, e lave os pés dos seus
liderados. E caso você tenha um líder com esse perfil, faça urgentemente a
portabilidade de cobertura.
Capítulo 2 Desconstruindo e construindo alguns
conceitos
2.1 Pessoas x estruturas
Em alguns manuais de liderança é comum encontrar afirmações que buscam
valorizar as relações de tal forma que o grupo (equipe) possa encontrar a unidade e, a
partir dela, produzir, a contento, resultados esperados. Até aí, beleza! Penso que,
normalmente, este tipo de estímulo está com os olhos voltados para o bem da
estrutura. Algumas denominações trabalham arduamente para que a estrutura
funcione perfeitamente. São equipes inteiras em constante treinamento e
aperfeiçoamento em busca de melhores resultados. Não é algo ruim, o problema é
que a estrutura não deve ser o objetivo final de ninguém, muito menos no que se trata
de vida de Igreja.
Creio que aqui se faz necessário a definição de estrutura. Eu a defino como
qualquer coisa que possua registro, controle e invoque para si toda a atenção e force o
ajuste das pessoas a ela. Não compreendo como sendo apenas parede e tijolo. Pode
ser um grupo de louvor, um ministério de dança, evangelismo ou qualquer coisa do
gênero. Múzio afirma que: “[…] qualquer grupo religioso que viva apenas como um
agrupamento de funções não responderá perguntas essenciais sobre a natureza da
igreja e sua finalidade na cidade. Pelo contrário, ela torna-se apenas uma série de
ventos e programas, estruturas e grupos para serem administrados, melhorados e
avaliados”3. Nós profissionalizamos as relações e isso não é coisa nova, pois,
“quando os gregos receberam o evangelho, converteram-no em filosofia; quando os
romanos o receberam, transformaram em governo; quando os europeus o receberam,
fizeram dele cultura; e quando os americanos o receberam, virou negócio”4.
A estrutura engole seus membros como uma baleia engole cardumes inteiros de
peixes. Ela começa sorrateiramente e… Puft! Todas as pessoas, recursos e
criatividade são sugados para o seu centro de gravidade. No “maravilhoso mundo da
igreja-empresa” conceitos básicos do cristianismo como o perdão, compaixão e amor
ao próximo são abrandados ou totalmente modificados em favor de uma política de
desempenho e adequação. Ela troca a relação pelo relatório, o ensino pela
sistematização, o serviço como fruto de uma consciência transformada pelo ativismo.
O canto da sereia que ilude e entorpece grande parte da liderança na igreja
brasileira é o número de frequentadores ou membros de uma igreja local. É
exatamente aqui que reside o problema: uma igreja que cresceu vira paradigma. Daí a
importação de modelos estadunidenses que possuem uma forte ênfase na figura do
líder. O problema destas igrejas é que estão focadas numa lógica de mercado no qual
há uma práxis voltada à competição. Há modelos de igrejas em que é imperativa a
formação de novos líderes para que comandem as células/pequenos grupos; em
outras, as ações de marketing de guerrilha. Há casos de igrejas que encomendam
“planos de negócio” de empresas especializadas a fim de alcançarem sucesso. Tudo
isso para justificar o inchaço da estrutura.
A compreensão correta e bíblica é que a estrutura serve pessoas, pois quando
compreendo que a estrutura serve as pessoas, entendo a lógica espiritual da igreja.
Quando o apóstolo Paulo diz aos irmãos de Corinto que eles não deveriam ser
ignorantes a respeito dos dons (1Co 12.1,4) ele estava afirmando que a
funcionalidade de uma comunidade local está no exercício dos dons na sua vida
comunitária e que o que se espera dela é justamente aquilo que o Espírito Santo a
capacitou fazer.
E como se dá isso? Pela distribuição dos dons. “A cada um, porém, é dada a
manifestação do Espírito, visando ao bem comum” (1Co 12.7); este bem comum não
é o que a estrutura determina é o que Espírito Santo determina pela distribuição dos
dons ao grupo. Quando tomamos conhecimento daquilo que Deus espera de Seus
filhos, pelos dons, temos a certeza daquilo que não temos que fazer.
Quando não há este tipo de compreensão acerca das expectativas do Espírito
Santo a respeito da comunidade local de crentes, o que normalmente temos é a
expressão de um grupo que não conhece a sua identidade. Passa a agir conforme a
última fórmula de crescimento que foi escrita e importada; submete seus liderados a
horas e horas de treinamento a respeito de como adequar às pessoas à estrutura para
que, de alguma forma, os “frutos” apareçam, afinal, não foi isso que Jesus pediu que
fizéssemos?
O que esquecem é que a nossa identidade determina nossa frutificação. Não se
espera de uma mangueira que ela produza alhos e tão pouco do limoeiro que este
produza uvas. Nós realizamos segundo a nossa natureza, e não segundo o desenho da
estrutura. A frutificação esperada dos servos de Cristo não virá da forma como nos
adequamos à estrutura, virá da nossa capacidade de assimilar a nossa identidade em
Cristo. O crescimento da comunidade local se dará de forma natural, pois todos os
seus membros estão agindo de acordo com a natureza de seus dons espirituais e não
estão em ponto algum trabalhando pelo sucesso da estrutura, muito pelo contrário,
nem conseguem ver a estrutura, veem somente pessoas unidas agindo segundo o
desejo de seu Senhor.
Deus ama pessoas, não estruturas. Em uma passada rápida por alguns textos
bíblicos, veremos isso de forma clara. Deus abandona a estrutura e vem habitar no ser
humano. A escolha por pessoas e não por estruturas da parte do Criador já é um
indicativo de qual lado a Igreja deveria abraçar. Quando ouvimos ou lemos sobre
projetos que visam a fortalecer quaisquer tipos de estruturas estamos observando um
desrespeito claro à dinâmica divina. É como se estivéssemos andando em sentido
oposto ao de Deus.
No processo de liderança, o objetivo são pessoas, sempre! Não há o que discutir.
Todas as vezes que focamos na estrutura erramos o alvo. O projeto de Jesus foi
edificar uma igreja de pessoas para pessoas. A cena descrita em Apocalipse é
maravilhosa, pois nela podemos perceber o relato de uma pluralidade de pessoas.
Olhe o que o texto diz:
“Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande
multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos
e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e
segurando palmas. E clamavam em alta voz: ‘A salvação pertence ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro’”. (Apocalipse
7.9-10)
Não há relato de que estruturas foram para o céu. E apesar de parecer óbvio que
estruturas físicas não subirão conosco ao céu, esquecemo-nos de que também
estruturas ministeriais não subirão. O que o texto relata são pessoas, somente pessoas.
Neste ponto ficou claro que o objetivo de Deus são pessoas.
2.2 Número x relevância
Pastoreio igrejas a cerca de 10 anos. Em todos os casos havia uma grande
carência por tentar descobrir o que faz uma igreja crescer. Eu mesmo entrei nesta
neura e fui em busca de livros. Li quase todos os materiais disponíveis; li a respeito
de experiências de outras comunidades brasileiras e estrangeiras. Essa crise por ver a
igreja crescer é o que perturba 8 em cada 10 pastores que conheço. Basta observar o
tom da conversa entre um grupo de pastores. O diálogo quase sempre parte e termina
no que cada um tem feito para que a sua comunidade cresça ou todos estão avaliando
a “última” dica para o crescimento explosivo.
Parte desta cultura de crescimento de igreja se deve ao nosso histórico como
protestantes no Brasil e parte pelo Movimento de Crescimento de Igreja.
A análise é que para a perspectiva protestante, “a América Latina era o grande
desafio missionário a ser enfrentado no século XIX”5, mesmo sendo considerada pela
conferência de 1910, realizada em Edimburgo, na Escócia, como continente
alcançado pelo cristianismo.
O Movimento de Crescimento de Igreja sistematizado por Donald McGavran e
Peter Wagner ainda é a principal fonte teórica para o crescimento de igrejas mundo
afora. Estes dois expoentes influenciaram com suas literaturas uma geração de
pastores no século XX e ainda estão fazendo escola, principalmente com os
movimentos ligados a células ou ao G-12.
Essa sanha por crescimento tem provocado uma deliberada, ou não, sangria no
meio da Igreja. Líderes com potencial humano fora do comum são sugados e
triturados como se estivessem participando de uma equipe de vendas com cotas a
serem batidas mês a mês. E tudo isso pela falta de uma compreensão mais assertiva a
respeito do que venha a ser a nossa identidade somada a uma busca por crescimento
numérico da Igreja local.
A Igreja irá crescer, é fato. Não depende de meios e nem de atitudes
mirabolantes. Basta que ela seja Igreja de fato. Simples assim. Afirmo isso a partir da
minha compreensão do que as Escrituras afirmam sobre os papéis desempenhados
pelos agentes para o crescimento da Igreja, a saber: O Espírito Santo e nós.
O crescimento é algo natural em um ambiente no qual as identidades são claras.
Nós não precisamos persuadir as pessoas a comprarem um novo estilo de vida com
Cristo, pois quem as convence disso é o Espírito Santo; de outra forma, cabe a nós a
tarefa de falarmos a partir do nosso estilo de vida e por meio do anúncio do que Ele
fez e tem feito por Sua Igreja, além de executarmos todas as tarefas desejadas pelo
Espírito Santo na comunidade por meio dos dons que Ele nos deu.
Portanto, não é o carisma do pregador, nem tão pouco as estruturas bem
arranjadas, as pessoas bonitas e sorridentes (não que isso não seja desejável) à porta
ou esquemas estratégicos de crescimento ou palavras proféticas gritadas de
helicópteros ou de outdoors anunciando que a cidade é do Senhor Jesus. Isso não
afeta em nada. É por meio da obediência e do exercício de ser Igreja, segundo a
orientação de Cristo, do Espírito Santo e do Pai, que teremos igrejas locais grandes
não só pelo seu tamanho, mas pela sua relevância para o Reino de Deus.
A analogia não é a das melhores, mas vou fazê-la assim mesmo. Sou casado e
tenho quatro filhos. Sim, quatro. Na escolha do colégio onde os meus pimpolhos vão
estudar sou criterioso, contudo, minha esposa é muitíssimo mais. Ela olha o espaço
disponível, as salas de aula, o comportamento dos funcionários. Ela escaneia o
ambiente em busca de quaisquer riscos para os nossos filhos. Afinal, grande parte do
dia (graças a Deus!) eles ficam na escola. Não seríamos bons pais se não nos
importássemos com estes detalhes. Agora imagine o Espírito Santo. Ele trabalha para
convencer-nos do pecado e daí nos conduz a uma igreja onde seremos amados,
ensinados e engajados na obra. Disso parte a pergunta natural: “ué, então estas igrejas
que estão cheias de gente manifestam a obra do Espírito Santo? Então o que elas
estão fazendo é o correto e devemos imitá-las?” A resposta é não! Significa que
muitas pessoas estão indo aos templos dia após dia, mas não significa que elas estão
seguindo Jesus. Volume de gente reunida não deve ser o critério de avaliação. Se o
critério fosse multidão, o ministério de Jesus Cristo teria sido um grande fracasso. No
entanto, quantas maravilhas esse pequeno grupo fez. Este é o ponto: relevância! O
tamanho é o de menos.
Somos hoje uma nação cristã. Representamos 92% da população brasileira (a
não ser que você não queira considerar o catolicismo como cristianismo; dessa forma,
somos 22%). Para você ver o quanto isso é verdadeiro, veja a pesquisa do instituto
Datafolha sobre a frequência aos cultos entre os brasileiros:
O percentual de fiéis que costuma ir à Igreja, cultos ou serviços religiosos não difere
muito, quando se trata da religião declarada: 94% dos católicos, 98% dos evangélicos
pentecostais, 99% dos não pentecostais e 95% dos espíritas dizem ir. Os umbandistas e os
adeptos do candomblé costumam ir um pouco menos a serviços religiosos (82% e 84%,
respectivamente). Quando se trata da frequência, os evangélicos pentecostais se destacam:
60% deles dizem ir ao culto mais de uma vez por semana e 25% declaram presença pelo
menos uma vez por semana. Entre os católicos essas taxas são de, respectivamente, 16% e
35%.6
Isso em termos gerais significa que ao ser assaltado há uma grandessíssima
possibilidade de você o ser por um irmão que tenha saído de um culto há poucos
minutos. Com parte destes dados podemos afirmar que volume de presença em culto
também não significa relevância. Então desencane. Não é pelo volume de pessoas,
mas é pela relevância que se mede a capacidade de uma igreja ser de fato uma igreja.
2.3 Não existe serviço voluntário.
Ou você serve ou “não serve”
Tenho lido alguns livros sobre liderança. Faço isso há algum tempo. Em quase
todos os materiais com os quais tenho tido contato, vejo que o processo de liderança
é tratado como algo que precisa ser desenvolvido. Há uma série de atividades e
atitudes que estes manuais ensinam. Não acho que estão errados ou comentem algum
equívoco. Não quero inventar a roda, muito menos quero “chover no molhando sobre
este assunto”. Mas uma pergunta me inquieta: o nosso chamado é para sermos servos
ou voluntários?
Durante algum tempo, a minha luta pessoal foi motivar “voluntários” a agirem a
favor do Reino de Deus. E era uma luta complicada. Porque os horários de trabalhos
eram ingratos e extenuantes. Tinha de ter sempre aquele carinho especial com quem
voluntariamente estava lá. Lembro de uma reunião de liderança na qual estávamos
decidindo sobre as atividades de Natal da Igreja. Em dado momento da reunião,
alguém virou e disse: “Olha só, acho que merecíamos um prêmio por sermos
voluntários, eu mesmo não vou poder fazer mais do que isso, afinal, estou dando o
meu tempo para o trabalho aqui e deixando de ganhar uma grana por estar aqui como
voluntário”.
Sério? Você acha mesmo que existe a possibilidade de optar em não fazer (ou
fazer) algo pelo Reino?
Os princípios que regem o voluntariado não coadunam com os princípios de
servir que encontramos no Novo Testamento. Primeiro, porque ambos são antônimos.
Não se serve de forma voluntária. Serve-se, pois não há outra opção a quem é
escravo. A nossa nova condição é a de servos para trabalhar. É exatamente isto o que
lemos na carta de Paulo aos efésios (Ef 2.1-5).
Creio que está claro para você, assim como o está para mim, que a nossa
condição anterior era de pecado e de morte. Não havia opção de escolha, não é
mesmo? Não me parece lógico que agora, depois de salvos, libertos pelo amor
supremo de nosso Pai, tendo a nossa dívida com Ele cancelada por meio da morte de
Cristo (Cl 2.14), tenhamos “essa liberdade” de escolher servir ou não. Todavia, se
ainda resta alguma dúvida, veja o que Paulo diz aos irmãos em Éfeso: “Porque somos
criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus
preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef. 2.10). Fomos criados em
Cristo (regenerados) para fazer aquilo que estava planejado antes da fundação do
mundo. O serviço já existe antes mesmo da minha e da sua salvação, ou seja, não há
opção entre escolher trabalhar ou não em prol do Reino. Crendo ou não na
predestinação para salvação, você é obrigado a crer na predestinação ao trabalho.
Você e eu somos a resposta da oração de Jesus em Mateus 9.35-38.
Cristo é o modelo de servo. Não há nenhuma margem de dúvidas em relação a
isto. Creio que o que nos resta é entender como funciona esta dinâmica. Você pode
estar se perguntado: “Ué, mas e a minha livre escolha?”; ou ainda “E a minha decisão
ou não de fazer algo?”. Bom, elas não possuem valor algum de negociação na nossa
nova vida. E se houvesse alguma chance de escolher servir ou não, deveríamos seguir
o exemplo de Cristo que agiu com a postura de quem serve. Paulo diz aos irmãos
filipenses que eles tivessem o mesmo sentimento que houve em Cristo, o sentimento
de ser servo. Em outros textos vamos ver o próprio Jesus afirmando que a Sua
decisão era de ser servo (Mt. 20.28). Se há algo que você pode escolher é ser escravo
ou ser desobediente. Não existe uma terceira via. Até gostaria que houvesse, mas não
há. Ou você serve ou “não serve” para nada.
Há uma confusão entre serviço voluntário e serviço não remunerado. O fato de
você não ver nenhum centavo em sua conta quando executa um serviço em sua
comunidade, não significa que você seja voluntário. Você é apenas um servo não
remunerado. Só isso. Talvez a sua comunidade não pague pelos seus serviços porque
ela não tenha condições, daí aquele empregão no serviço público federal sustentar o
seu “ministério”.
Não entendo que alguém possa vir a ser um bivocacionado. Não existe isso. Mas
você pode argumentar: “E Paulo?”. Respondo que Paulo era missionário e, em
algumas situações, fazia tendas, levantava uma grana e ia às missões. Ele não
trabalhava na indústria de tendas Paulo e Silas Ltda. Não era assim. A vocação era
assunto sério para o apóstolo dos gentios. Assim como penso que deveria ser para
você e para mim. Todo o sustento deveria vir da igreja local, mas como ela nem
sempre tinha grana e nem disposição para pagar o sustento viria da confecção de
tendas.
2.4 Siga o plano de voo
Jesus, no Evangelho Segundo João, afirma: “Meu Pai continua trabalhando até
hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo 5.17). E ainda: “Eu lhes digo
verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que
vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz” (Jo 5.19). E em Marcos,
na sua oração no Monte das Oliveiras, ao Pai Ele fala: “Aba, Pai, tudo te é possível.
Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres” (Mc 14.36). Em outra situação, lemos: “Pois desci do céu, não para fazer a
minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.” (Jo 6.38). Jesus
não exerceu o Seu ministério criando um plano próprio. Ele obedeceu a um plano de
voo. Você não irá inventar o que fazer. A Igreja possui um plano de voo. É preciso
segui-lo à risca.
Vendo o exemplo de Jesus, o que Ele fez foi exercer o Seu ministério seguindo
as ordens de Seu Pai. Este talvez seja o nosso ponto mais fraco. Estamos tão envoltos
em nossas carências e apetite por fama, sucesso e destaque ministerial que a todo
tempo inventamos modinhas que retiram as pessoas daquilo que é primordial à
Igreja: fazer a vontade do Pai.
Quando compreendo na prática, e vejo isso no ministério de Jesus, o que é a
missão de Deus (Missio Dei), eu não gasto tempo nem recursos naquilo que não está
de acordo com o plano de voo. É incrível como há líderes que motivam seus irmãos e
irmãs a perderem muito tempo naquilo que não está relacionado com a obra de Deus.
Ao ler o início do Evangelho Segundo Marcos noto algo marcante a respeito do
comprometimento de Jesus com o que era primordial. Era um sábado e Jesus com
Seus discípulos chegam a Cafarnaum, entram em uma sinagoga e começa a ensinar;
as palavras proferidas por Jesus são marcantes e todos ficam maravilhados com o que
ouviram; houve curas, exorcismos e o povão ficou mais maravilhado ainda. Na hora
do almoço, eles vão à casa de Pedro e encontram a sogra dele acamada. Cristo, então,
a cura, almoça e não tem mais sossego. O texto de Marcos afirma que Jesus ficou até
tarde da noite curando e expulsando demônios. Então, aqui entra o que me
surpreende, particularmente, em Jesus: Ele, de madrugada, sai para orar e, durante a
oração, chegam os discípulos preocupados com a fila de gente que já estava se
formando na casa de Pedro. Ele então os surpreende dizendo: “Vamos para outro
lugar, para os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue. Foi para isso que
eu vim” (Mc 14.38).
Esta consciência do que é central e importante a respeito de Seu ministério
terreno me inspira. O plano de voo de Seu ministério estava traçado. Não era para
perder tempo com outras situações.
Não perca tempo com aquilo que não fomos chamados para realizar. Siga o
plano de voo.
2.5 Não desperdice mão de obra
Há, visivelmente, uma escassez de pessoas disponíveis para atuarem na Igreja
local. Esta escassez, de vez em quando, gera na liderança desmotivação, tristeza e até
depressão. É comum apontar os problemas e relacioná-los ao modelo litúrgico,
teologia, carisma do pastor e até achamos que a questão toda é que somos nós
mesmos os culpados pela coisa não andar. Talvez seja até por isso que você está
lendo este livro na tentativa de achar o fio da meada.
Primeiro, é preciso esclarecer que não há falta de mão de obra propriamente
dita; o que há são irmãos e irmãs que não aceitaram, porque não sabem ou porque
desprezam totalmente, a sua vocação. De acordo com o apóstolo Paulo, todos nós
fomos salvos para que fizéssemos a boa obra (Ef 2.10) e que uma vez salvos
recebemos dons espirituais (1Co 12.1-11); desta forma, todos os membros da
comunidade local, sendo salvos, foram chamados a exercer o seu chamamento
(vocação). Não dá para aceitar os ‘esquenta-bancos’ que lotam as igrejas.
Outra questão que precisa ser trabalhada está relacionada aos irmãos e irmãs que
querem, a todo custo, exercer uma função para a qual não estão vocacionados.
Geralmente, isso não ocorre para decidir quem irá ficar vigiando os carros no
estacionamento, mas com o que chamo ‘dons do microfone’. Querem cantar, pregar,
saudar a Igreja; enfim, querem a atenção e o estrelato. Estas pessoas tumultuam o
exercício de qualquer líder.
É importante saber que em questão de vocação a Igreja local exerce um papel
importantíssimo na confirmação dos vocacionados. Observe, no dia em que Paulo
subia para Damasco a fim de prender alguns do Caminho, ele teve um encontro
pessoal com o próprio Cristo; literalmente, ele caiu do cavalo. Então, foi levado para
a casa de um certo Judas que morava na rua Direita, em Damasco. Até aí, tudo bem.
Depois, entra em cena outro personagem, um homem chamado Ananias, que recebe a
visita de Jesus, pedindo-lhe que vá até a casa de Judas e imponha as mãos sob Paulo,
anunciando sua vocação. O interessante, é que se Jesus apareceu para Paulo a fim de
evangelizá-lo, por que não o foi para enviá-lo também? A resposta está em que este é
o papel da Igreja.
Por isso é muito perigoso ministérios que começam sem que haja por parte da
Igreja a confirmação. Não que não devemos temer que a Igreja aja politicamente e
proíba, por pura ação humana, que um ministério venha a ser começado. A Igreja
confirma aquilo que já está confirmado no coração de Deus. A Igreja possui a
liberdade de escolher, em Cristo, aquilo que é melhor para a comunidade.
Todavia, o outro lado da moeda é a nossa teimosia em querer sempre o dream
team, a seleção dos melhores que nos darão o melhor resultado. Olhamos para a
congregação que frequentamos e comparamo-la às grandes catedrais evangélicas ao
nosso redor; logo, verificamos a famosa equação: quanto mais gente talentosa você
tem mais gente talentosa você atrai. Talvez o sentimento que você tem é o mesmo
que durante anos eu possuí.
Quero contar para você um pouco da minha história. Trabalho na formação de
igrejas ou, se preferir, plantação de igrejas, desde o tempo de seminário. O que eu
percebia era que a Igreja que me mantinha (a Igreja ‘mãe’) possuía várias equipes em
todos os departamentos, gente com talento, amor e dinheiro. Aí eu pensava: vamos
chamar estes irmãos, convocá-los à obra missionária e… Boom! Teremos uma
congregação em um curtíssimo espaço de tempo. Que nada! Ninguém topava sair da
zona de conforto e atravessar a cidade em direção a uma congregação pequena,
quente e sem equipamentos.
O que aprendi? Aprendi que nem mesmo Jesus conseguiu atender à demanda de
trabalho que havia em Seus dias. Faltava gente que aceitasse ou que entendesse a Sua
vocação. Ele afirma:
“Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando
nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as
enfermidades e doenças. Ao ver as multidões, teve compaixão delas,
porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor.
Então disse aos seus discípulos: ‘A seara é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da seara que envie
trabalhadores para a sua seara’” (Mt 9.35-38)
A minha ação passou a ser essa: orar para que a Igreja que havia naquele lugar
ou as pessoas que o Senhor havia chamado para aquela localidade aparecessem.
Quando isso acontecia eu entendia que era com aquela equipe que eu trabalharia. A
equipe que você tem liderado é o resultado desta oração.
O Espírito Santo enviou exatamente o grupo com o qual você deve trabalhar.
Estas são as pessoas. Cuide delas, afinal, venhamos e convenhamos, Jesus não
começou seu ministério, como diremos, com um dream team.
Liderar pessoas dentro de uma Igreja local não deve ser pautado pelo resultado
apenas. Aliás, dentro do ministério terreno de Jesus percebo que Ele esteve mais
preocupado com os processos do que com o resultado. Daí a escolha de um grupo de
homens que não eram as melhores cabeças ou os melhores em seu tempo. Eram
homens que tinham o coração disposto a ser trabalhado.
Normalmente, este tipo de gente é o que aparece na minha frente para
trabalharmos juntos. Por isso, não lance fora ninguém que o Espírito Santo colocou
perto de você. Lidere-o!
Capítulo 3 O que aprendi nos livros
Puxa, já estamos chegando ao fim deste livro. Estou feliz, mas, ao mesmo tempo,
triste por isso. Como a proposta do material era que ele fosse curto, direto e em uma
linguagem bem tranquila, foi legal escrever e poder bater um papo sobre questões
centrais para uma boa liderança (pelo menos achei que fossem). Porém, fico triste
porque tinha muito mais para compartilhar, porém como a proposta da série BTBook
são livros com um espaço determinado, em alguns assuntos tive que ser mais direto e
outros não foram contemplados.
Neste tempo todo de liderança - são mais de 25 anos, também, pudera, comecei
cedo - aprendi bastante. Aprendi com homens e mulheres o que fazer e o que não
fazer. Contudo, os livros, ah, os livros, eles foram os meus pastores, todos eles. Dos
mais simples e batidos aos mais bem elaborados. Todos eles me ensinaram alguma
coisa que pude pôr em prática e ensinam-me até hoje. Por isso, gostaria de
compartilhar algumas dicas que eles me deram, pois, tenho certeza, serão úteis a
vocês também.

3.1 O que aprendi sobre o papel do líder7


3.1.1 Mover as pessoas do local onde estão
para onde Deus quer que elas estejam
Deus está operando no mundo. Sua obra não para por nenhum segundo; desde a
Sua promessa no Éden até os dias de hoje Ele está trabalhando. Está, inclusive,
trabalhando ao seu redor neste momento. Mover as pessoas ao encontro do Pai, onde
Ele está operando por meio do Seu Filho e do Espírito Santo, é um ato de amor e de
libertação. Nada melhor do que ver pessoas em obediência. Nada melhor do que se
juntar ao Pai naquilo que Ele está fazendo.
Dependa do Espírito Santo para tudo
Apesar da sua vocação (chamado) você não tem autorização para inventar nada.
Apenas coloque-se atentamente em seu posto de vigília e veja o Espírito Santo
operando milagrosamente ao seu redor. Não será o seu carisma, sua capacidade
intelectual ou sua eloquência que irá agir ou transformar alguma coisa; será apenas e
somente o Espírito Santo. O nosso empenho reside na dependência de que Ele agirá
por meio de nós. Só.
3.1.2 Sermões que ajudam a formar a equipe
Não basta pregar aleatoriamente ou aplicar qualquer tipo de material para a sua
equipe de líderes. Você precisa saber onde eles estão (conhecimento
bíblico/doutrinário) e o que Deus espera deles e, a partir disso, elaborar sermões
instrutivos. A lógica por trás disto é que o ensino bíblico está intimamente ligado à
pregação. Por isso, quanto mais elaborado, ou seja, planejado, for o sermão em torno
da formação, melhores resultados na capacitação da equipe você terá.
3.1.3 Não venda a sua alma para obter resultados8
O tempo todo líderes tomam decisões, por isso é necessário estarem atentos para
que estas decisões estejam embasadas em princípios bíblicos. A busca por resultados
cria uma nuvem de fumaça capaz de iludir ou entorpecer e levá-lo a negociar
princípios inegociáveis por um punhado de lentilhas (resultado). Esta armadilha
esconde o seu verdadeiro objetivo: transparecer a imagem de vencedor. Tome
cuidado, há quem queira muito comprar a sua alma desafiando-o a abrir mão de
princípios eternos pelo resultado momentâneo.
3.2 Conflitos: aprenda a lidar com esta
interessante ferramenta de forjar líderes9
3.2.1 Entenda o que NÃO é conflito
A competição e a concorrência podem vir a se tornar um conflito, mas ambas
não são sinônimas de conflito.
Conflito também se distingue da dialética (é um papo-cabeça no qual os
problemas estão no campo das ideias) porque o conflito pertence à realidade da vida,
na qual as emoções, paixões, inteligência (ou a falta dela), vontade e outros
sentimentos recheiam esse bolo.
Conflito também se distingue da crise porque a crise é a “transição entre um
estado antigo de estabilidade relativa e a busca de um novo equilíbrio10”.
3.2.2 O que é então conflito?
Conflito vem do latim conflictus (colisão), ou seja, choque. É aquele momento
em que duas pessoas entram em colisão. Há choques de ideias e de estratégias. Sabe
aquele momento em que a vida nos leva a viver situações que momentaneamente são
desagradáveis, mas dependendo do nível e do número de vezes que elas se repetem
geram conflitos? Então, é exatamente isto o que ocorre.
3.2.3 Se você é humano, então o conflito é inevitável
A vida é uma sequência de acontecimentos entre pessoas e o meio ambiente
onde as suas ações sociais são desenvolvidas (isso é Max Weber na veia). Há uma
guerra travada entre nós.
Ao enfrentarmos uma fila, ao buscarmos a melhor conexão para o nosso
smartphone, ao conversarmos com o frentista do posto, ao lidarmos com a nossa
família, sempre haverá um conflito a ser vencido. Isto se deve porque somos
potencialmente bons e ruins ao mesmo tempo e essa relação amor/ódio pode transpor
o nosso ser e permear as nossas relações.
Tomar conhecimento de que somos humanos e, potencialmente, conflitantes traz
paz. Sim, paz! Acredite. Ao saber disso, a vida fica mais fácil de ser levada, porque
por mais que você evite, o conflito virá. Portanto, prepare-se para lidar com isto.
Capítulo 4 Pitacos finais
Chegamos ao fim deste livro, mas não ao fim da jornada. Daqui em diante,
muita coisa poderá vir a funcionar de modo diferente. A ideia inicial era produzir um
material que servisse de forma prática para seu ministério como líder. Espero em
Cristo ter contribuído para isto.
Espero que você tenha entendido que a obra não nos pertence. Somos apenas
operários de Cristo. Tudo que está acontecendo com a Igreja está sendo visto por Ele.
Jesus está aguardando o momento de vir buscá-la, afinal, ela é a Sua noiva.
Nossa função não é fazer nada diferente daquilo que Ele já está fazendo.
Devemos nos unir a Ele. E nesse processo vamos apanhando, sofrendo traições e, por
que não, traindo amigos também. Somos vítimas e algozes ao mesmo tempo. Tudo
isso faz parte do processo. Tornamo-nos melhores à medida em que Ele vai operando
em nós o Seu grandioso poder. Aí é que mora a beleza de tudo isto. A Trindade
resolveu operar por meio de seres humanos. Não quis os anjos e nem outra forma de
vida. Apenas decidiu usar pessoas cheias de defeitos, arrogância, mas também amor,
paciência, tolerância e feridas.
Exatamente porque Cristo decidiu operar por meio de nós é que temos de ter a
paciência de continuar a liderar, entendendo que o material que o Espírito Santo usa
são pessoas. Não desista das pessoas! Lembre-se sempre de que a igreja que você
lidera, seja grande ou pequena, tem dono e Ele há de vir buscá-la.
Continue a aperfeiçoar seus dons e talentos, melhore o seu conhecimento a
respeito de Cristo, da Igreja, da liderança. Busque novas ferramentas. Contudo,
repito: não se esqueça de que lidamos com pessoas e que Cristo morreu por elas.
Conte comigo, acho que agora temos aquele tipo de relação a distância que todo livro
nos proporciona.
Deus o abençoe muito. Foi um prazer ter chegado até aqui com você.
Abraços,
Burjack.
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MISSÃO PÃO E VIDA
Todo o recurso oriundo da venda deste livro (retiradas apenas as taxas cobradas
pelos serviços do PagSeguro ou Google Play Store) será revertido à Missão Pão e
Vida, uma casa criada por dois grandes amigos: os pastores Luís Aurélio e Flávio
Alcântara.
Estudamos juntos no seminário e, desde então, o testemunho que estes dois têm
mostrado é o do amor ao próximo, mesmo nos momentos em que este próximo nem é
mais considerado gente.
Os homens atendidos pela Missão são, em geral, viciados, andarilhos e
moradores de rua. Homens sem nome, sem identidade, abandonados e sem família.
Ao chegar, ganham um abraço, amor, pão e um lugar para dormir. Restauram seus
nomes, suas identidades e voltam para suas famílias.
Obrigado por adquirir este material. Certamente, fará a diferença na vida de
cada um desses homens.
Missão Pão e Vida
Rua Londrina chácara, 321
Jardim Novo Mundo
74715-280 - Goiânia/GO
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ministeriopaoevida.blogspot.com
(62) 3284 1703 / 8516-1202 / 9170-3354
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLACKABY, Henry. BLACKABY, Richard. Liderança Espiritual: como
impulsionar pessoas para o trabalho de Deus. Editora São Paulo: Bom Pastor, 2007.
BRITO, Eurípedes. GOULART, Luzi. A liderança cristã eficaz: desafios e
proposta da liderança que faz a diferença. Editora Visão, 2013.
GONZÁLES, Justo L., ORLANDI, Carlos Cardoza. História do Movimento
Missionário. SÃO PAULO: Hagnos, 2008.
MÚZIO, Rubens. O DNA da igreja: comunidades cristãs transformando a nação.
Curitiba: Editora Esperança, 2010.
MÚZIO, Rubens. O DNA da liderança cristã. São Paulo: Mundo Cristão, 2007
POUJOL, Jacques. POUJOL, Claire. Os conflitos: como se originam, como se
desenvolvem e como solucioná-los. São Paulo: Vida, 2005.
REIMER Johannes. Liderando pela pregação. Curitiba, PR: Editora Esperança,
2011.
SCHWARZ, Christian. As três cores dos seus dons – Curitiba, PR: Editora
Esperança, 2003.
Notas
[←1]
GONZÁLES, Justo L., ORLANDI, Carlos Cardoza. História do Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 23.
[←2]
SCHWARZ, Christian. As três cores dos seus dons. Curitiba: Editora Esperança, 2003, p.42.
[←3]
MÚZIO, Rubens. O DNA da igreja: comunidades cristãs transformando a nação. Curitiba: Editora Esperança, 2010, p. 109.
[←4]
HALVERSON, Richard apud MÚZIO, Rubens. O DNA da liderança cristã. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 31.
[←5]
Descrevo com mais detalhes esta perspectiva na minha dissertação de mestrado que poderá vir a ser publicada… ou não. Quem sabe?
[←6]
Disponível em <http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2007/05/1223863-90-dos-brasileiros-vao-a-igreja-a-cultos-ou-servicos-religiosos-17-frequentam-mais-de-uma-religiao.shtml> Acesso
em 02/06/2014.
[←7]
Dicas retiradas do livro Liderança Espiritual: como impulsionar pessoas para o trabalho de Deus, de BLACKABY, Henry. BLACKABY, Richard. Liderança Espiritual: como impulsionar pessoas para o
trabalho de Deus. Editora São Paulo: Bom Pastor, 2007. Talvez este seja o livro que mais me influenciou. A sua abordagem é direta, e a primeira parte fez sair sangue pelas minhas narinas.
[←8]
BRITO, Eurípedes. GOULART, Luzi. A liderança cristã eficaz: desafios e proposta da liderança que faz a diferença. Editora Visão, 2013. Esta dica vem de um livro escrito por um pastor muito querido
e amigo. Ele escreve junto de outro pastor a respeito dos princípios norteadores para uma liderança bíblica.
[←9]
Dicas importantíssimas retiradas do livro (é uma série) POUJOL, Jacques. POUJOL, Claire. Os conflitos: como se originam, como se desenvolvem e como solucioná-los. São Paulo: Vida, 2005. É a
minha série de cabeceira e o meu livro de cabeceira.
[←10]
POUJOL.Jacques. POUJOL, Claire. Os conflitos: como se originam, como se desenvolvem e como solucioná-los. São Paulo: Vida, 2005.
Table of Contents
Pequeno Manual da liderança cristã:
Prefácio
Capítulo 1 Plataformas
1.1 As entrelinhas
1.2 Manda quem pode, obedece quem tem juízo
1.3 Cada macaco no seu galho
1.4 Roaming espiritual
Capítulo 2 Desconstruindo e construindo alguns conceitos
2.1 Pessoas x estruturas
2.2 Número x relevância
2.3 Não existe serviço voluntário. Ou você serve ou “não serve”
2.4 Siga o plano de voo
2.5 Não desperdice mão de obra
Capítulo 3 O que aprendi nos livros
3.1 O que aprendi sobre o papel do líder7
3.1.1 Mover as pessoas do local onde estão para onde Deus
quer que elas estejam
Dependa do Espírito Santo para tudo
3.1.2 Sermões que ajudam a formar a equipe
3.1.3 Não venda a sua alma para obter resultados8
3.2 Conflitos: aprenda a lidar com esta interessante ferramenta de forjar líderes9
3.2.1 Entenda o que NÃO é conflito
3.2.2 O que é então conflito?
3.2.3 Se você é humano, então o conflito é inevitável
Capítulo 4 Pitacos finais
MISSÃO PÃO E VIDA
Missão Pão e Vida
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Notas

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