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bacharel em

teologia

Métodos de
Estudo da
Palavra
nascidodenovo.org
CONCEITO GERAL

Poucas observações bastariam para ressaltar


nosso dever como estudantes de teologia do
estudo diário das Escrituras. Note que é um dever
e não uma opção, considerando que este era o
proceder de Nosso Mestre, da Antiga Comunidade
e dos próprios escritores bíblicos. O que
conhecemos da Revelação de Deus está na forma
de um Livro que necessita ser estudado para
poder obter dele uma plena, absoluta e segura
compreensão dessa revelação. Este estudo
pressupõe, ou parte do pressuposto que o futuro
pastor (ou líder de Comunidade Evangélica) é e
será um estudioso das Escrituras, por essa razão
este estudo dará uma orientação metodológica
para que esse estudo seja eficaz.

Todos os que se aproximam das Escrituras,


utilizam-se de um método de estudo da mesma,
consciente ou inconscientemente. Não há
problema em ter um método de estudo das
Escrituras, desde que esse método seja válido e
nos conduza a resultados verdadeiros. É
necessário verificar se o método que utilizamos
para estudar as Escrituras é bom. Mesmo aqueles
grupos que afirmam não estudar a Bíblia, têm seu
modo especial de basear nela os seus
pensamentos. Outros, mas conscientes da
necessidade de estudo, utilizam-se de
Comentários, Dicionários Bíblicos, livros de estudo
dirigido e outras obras, para obter compreensão
do texto bíblico. Ouvir palestras, aulas, “garimpar”
estudos na Internet, comprar muitos livros e
assistir a pregações é para a maior parte das
pessoas o único método de estudar as Escrituras
que conhecem. Uma pergunta aqui é oportuna:
Por que devo estudar as Escrituras com um
método específico? Uma infinidade de pessoas já
não fez estudos que estão em bons livros,
enciclopédias e dicionários bíblicos? Qual é a
razão de tentar estudar de novo? Como resposta
apresentamos quatro boas razões:

Razão 1- Não podemos absorver a “teologia”


dos que nos rodeiam. Uma leitura atenta nas
Escrituras comprova que esta sempre foi a causa
principal do desvio da fé do povo de Israel, ele
absorveu os conceitos e costumes dos povos
vizinhos, apesar das claras advertências que lhe
foram dadas. “Modismos” criam teologias e
tendências doutrinárias que, por se tornarem
populares, agradam a multidões de pessoas
despreocupadas com o estudo sério e a
comprovação acurada da verdade. O que
chamamos de “modas” teológicas não é
necessariamente sinônimo de sucesso espiritual
correto, pois, esse sucesso na maioria das vezes
está fundamentado numa mentira.

Usando um método correto


Primeira razão para o estudo das Escrituras:
Não podemos absorver a “teologia” dos que
nos rodeiam.

Vejamos como exemplo: as multidões seguiram


aqueles homens que se revelaram contra Moisés
no deserto, o bezerro de ouro teve sucesso
como atrativo visível para uma nova fé, nesse
momento o povo de Deus criou uma nova
“teologia”. Era a moda do momento cantar e
dançar em volta do novo ídolo que brilhava sob os
raios do sol matinal. Era contagiante a alegria
desse povo, eles pareciam tão felizes! Josué
pensou até que eram gritos de batalha. Porém,
não havia nada de verdade, era a alegria e o
entusiasmo momentâneo de uma falsidade
religiosa nova e atraente, uma falsidade cheia de
dança e euforia. Condenável condição do povo!
Triste desvio da fé! Tudo era vão e ilusório (Leia
atentamente: Êxodo 32:4-7 e versos 17-19). Na
sua misericórdia, porém, O Eterno corrigiu o povo,
com severidade, é certo, mas deveriam aprender
uma dura lição, uma amarga experiência que
ficaria marcada para gerações futuras.
Examinemos a fé à luz da razão e da revelação
que foi dada. Examinemos pelas próprias
Escrituras toda nova tendência, todo modismo e
teologia nova. Sejamos, especialmente como
futuros líderes, de uma fé madura suficiente para
poder discernir o certo do errado. Com certeza o
Pai Celestial se agrada de “verdadeiros
adoradores”. João 4:23.
Razão 2 - Para termos um método correto de
estudo das Escrituras: Evitar a má exegese
encontrada na literatura “cristã” sobre a Bíblia.
Se um teólogo preparar seus comentários sobre
as Escrituras Sagradas fundamentado na consulta
de alguns comentários bíblicos suspeitos de
heresias como, por exemplo: de Testemunhas de
Jeová, Ciência Cristã, Reverendo Moon, etc, ou
até comentários e dicionários bíblicos editados
pelo cristianismo, porém de autores cuja opinião
não se ajusta com a Bíblia, vai acabar ensinando
mentiras em nome da fé. O teólogo deve aprender
que o único critério de verdade das Escrituras
Sagradas é a própria Escritura Sagrada. O ponto
fundamental é que não podemos ensinar opinião
humana incorreta, porém, ao mesmo tempo
devemos ser honestos em reconhecer que entre
toda a palha há comentários que se ajustam com
a verdade, a esses comentários corretos, dentro
do padrão da verdade, daremos o maior valor.
Aqui convêm citar o critério bíblico: “examinai tudo
e reter o bem” (I Tessalonicenses 5:21). Devemos
aprender a ter uma perfeita noção de
discernimento para distinguir o trigo da palha, o
ouro da escória. Esperamos que neste curso o
futuro teólogo aprenda a ter esse discernimento.

Entendemos em primeiro lugar que Deus deseja


ser buscado para ser conhecido, portanto, se
Deus ama suas criaturas, cuida delas e anela
traze-las de volta à Sua comunhão, então, com
certeza a revelação é possível e necessária.
Necessária porque as opiniões humanas são
pessoais, e, portanto, não são guias seguras e
nem suficientes nas questões como a vida, a fé e
o destino eterno. As opiniões humanas são
variadas e sempre contraditórias.

Isto nos leva a compreender a necessidade de


Deus se revelar mediante Sua Palavra, de
maneira escrita, clara, objetiva, simples e
compreensível. Se o Eterno falasse com cada
homem em segredo, o homem poderia dizer em
público o que achasse ser mais de acordo com
seu próprio proveito, enquanto outro homem diria
justamente o contrário do primeiro, resultando daí
a confusão.
Usando um método correto
Segunda razão para o estudo das Escrituras:
Evitar a má exegese encontrada na literatura
sobre a Bíblia

Razão 3 – O teólogo não tem um “interprete


oficial” da Bíblia. Como por exemplo: Acreditam
os católicos que seja o papa o único a determinar
o que é certo ou errado em questões de doutrina,
ou como os Russelitas (Testemunhas de Jeová)
que afirmam que o único interprete correto da
Bíblia é o chamado “corpo governante”. O teólogo
deverá aprender a estudar de forma correta para
determinar com exatidão o que a Escritura está
dizendo. Se não fizermos isto, estaremos de
alguma forma endossando uma espécie de “credo
oral” que substitui as Escrituras como critério de
verdade. Deve perceber que inúmeras vezes o
“credo oral” passou a ser “credo escrito” (Exemplo:
credo de Nicéia). E se estabeleceu definitivamente
na igreja como doutrina. Não é assim que um
verdadeiro teólogo deve agir, se ele é e continuará
a ser um estudante espiritual da Palavra ele
mesmo deverá aprender de Deus a encontrar o
sentido correto das palavras bíblicas que encontra
em seu estudo. Deverá ser estabelecido como
verdade unicamente o que as Escrituras realmente
ensinam e nunca uma tradição, por mais anos ou
séculos que ela tenha. Há nos Evangelhos
evidente condenação por manter tradições que
não são verdades. (Mateus 15:6).

Usando um método correto


Terceira razão para o estudo das Escrituras:
Determinar com exatidão o que as Escrituras
estão dizendo, pois não temos um interprete
oficial.

Razão 4 – Reconhecimento da autoridade das


Escrituras com Sagradas. Com toda certeza Deus
deveria dar à humanidade perdida uma revelação
por escrito, para revelar-se desde o início e dando
assim, a conhecer o Plano de Salvação. Deveria
ser uma Revelação com (1) autoridade suficiente
para não ser questionada, e para que a
mensagem divina pudesse ser (2) preservada
para todas as gerações. Deveria ser ao mesmo
tempo uma Revelação (3) escrita, para evitar que
a mensagem seja esquecida, alterada ou
distorcida. Deveria ser (4) inspirada e (5)
conclusiva, para impedir que seja substituída por
outra de opiniões humanas, variadas e
contraditórias. Finalmente, deveria a Revelação
ser (6) compreensível, objetiva e clara, ao
alcance de todos, para que todo aquele que
deseje alcançar a salvação prometida, encontre na
simplicidade da Revelação esse Caminho. Em
resumo acreditamos que Deus nos deu uma
revelação com autoridade, por escrito, inspirada e
compreensível.

Usando um método correto


Quarta razão para o estudo das Escrituras:
Reconhecimento da autoridade das Escrituras
como Sagradas – Necessária, por escrito,
inspirada, conclusiva e compreensível.
O Eterno quer que o teólogo se aproxime o
máximo possível de sua Vontade. As Escrituras é
o registro dessa Vontade divina. Logo, é essencial
que estudemos a Palavra de Deus e procuremos
compreendê-la. Um dos conselhos mais repetidos
nas Escrituras, direta ou indiretamente é
justamente para que procuremos entender a
Revelação.

Deus é sábio. Se Ele, na Sua sabedoria deixou


Sua Vontade revelada em um livro, então temos a
certeza de que é possível compreender a vontade
de Deus pelo estudo das Escrituras. Se não o
fizermos ou desistirmos da tarefa, estaremos
desconsiderando a sabedoria divina.
MÉTODOS DE ESTUDOS BÍBLICOS

Num curso teológico deve haver necessariamente


um método de estudo das Escrituras, pois, já
analisamos em detalhes as razões e a
necessidade de ter um método adequado de
estudo. O Texto Sagrado deve ser estudado
seguindo um padrão, uma forma que seja correta
e evite os desvios “teológicos”, devemos seguir um
método que nos aproxime com exatidão da
verdade bíblica. Se falarmos em método,
falaremos em metodologia. Vejamos a definição
de conceitos:

Método: 1. Procedimento organizado que conduz


a certo resultado. 2. Processo ou técnica de
ensino. 3. Modo de agir, de proceder. 4.
Regularidade e coerência na ação.
Metodologia: Conjunto de métodos, regras e
postulados utilizados em determinada disciplina e
sua aplicação.
(Dicionário Aurélio, Século XXI, Editora Nova
Fronteira, 2001).
O método para o estudo que prepara um pastor é
conhecido como método histórico-crítico.

O que chamamos de histórico-crítico é o método


de estudo e pesquisa bíblica que procura levar em
consideração o contexto histórico que envolve o
texto, fazendo uma análise e avaliação profunda,
acurada (crítica) de todas as relações desta
informação com o sentido original do texto. É
importante notar a frase: “sentido original”, pois
uma ênfase quanto ao sentido gramatical e
histórico da narrativa bíblica é a meta ou alvo
deste método. Realiza-se com o texto bíblico a
tarefa de um pesquisador, o mesmo trabalho de
um historiador que avalia um documento antigo
com o propósito de compreende-lo, pois
acreditamos que essa é a única maneira de
encontrar o significado original do texto.
Deve-se, antes de tudo, ao estudar um texto levar
em conta a época e a situação original em que o
texto foi escrito. Considere: A Escrituras Sagradas
é a palavra do Eterno dada através de pessoas
históricas - Ele “falou pelos profetas” (Hebreus 1:1-
2), portanto, o trabalho de compreender as
Escrituras é o trabalho de um historiador, e a
história é uma ferramenta de trabalho. O próprio
texto bíblico, em geral, contém elementos
históricos suficiente para nós dar uma idéia da
situação original. Neste ponto dois elementos
precisam ser levados em consideração quando
tratamos das Escrituras Sagradas:

Elemento 1 – Sua particularidade histórica


contrabalançada por sua validade eterna. O que
isto significa? A particularidade histórica diz
respeito ao que estava acontecendo na
situação original, porém a relevância eterna leva
em conta que mesmo em uma situação diferente,
a mensagem original tem importância para
cada geração posterior.

Elemento 2 – Nosso método é um método crítico


porque requer o uso de nossas faculdades
mentais em raciocínios, julgamentos, estudos,
pesquisa, esforços. Lembremos que a Eterna
Inteligência e Bom Censo de Deus estão refletidos
em Sua Palavra. É necessário que usemos a
inteligência que ele nós deu para compreende-la.
A palavra: “crítico” tem geralmente um sentido
negativo, não queremos usa-la nesse sentido. O
método é crítico porque pretende avaliar os
resultados obtidos e em construir um pensamento
correto, portanto, é uma crítica construtiva e nunca
contra as Escrituras.

Sendo assim, a tarefa de um teólogo na sua


aproximação da Bíblia é dupla; Primeiro, um
teólogo deve descobrir o que o texto significa
originalmente, esta tarefa tem um nome científico,
é chamada de exegese. Em segundo lugar,
devemos aprender a discernir o mesmo significado
na multiplicidade de contextos novos ou diferentes
dos nossos próprios dias, esta é a tarefa da
hermenêutica. Em definições clássicas você
poderá encontrar que a hermenêutica abrange
ambas tarefas, mas em tratados mais recentes a
tendência tem sido separar as duas.

Para um estudo correto, na forma e no método de


estudo de um teólogo, exegese é ler e explicar os
textos sagrados em empatia com os escritores
bíblicos. O teólogo é primeiramente, no estudo
exegético, um historiador que analisa os
documentos. Todavia, o teólogo deve ir além da
análise puramente interpessoal, ele deve assumir
a fé que o escritor possuía para entender seus
escritos e sua forma de pensar. Exegese no
método de um teólogo é um trabalho: científico,
crítico, histórico, literário e espiritual, sendo
que, a ordem destes fatores poderá ser
primeiramente espiritual, sem deixar de usar o
resto das ferramentas.

A seguir, devemos acrescentar que a


hermenêutica é necessária para a exegese.
Exegese é uma palavra que vem da língua grega,
sendo composta da preposição EK (de) e da forma
substantiva do verbo HEGEOMAI (ir, guiar,
conduzir) e significa “conduzir para fora” o sentido
original de um texto. Na exegese nos procuramos
entrar no texto (EIS), e ficar nele (EM), para então
sairmos dele (EK) tirando lições para nós. A
hermenêutica é a síntese dos resultados da
exegese, tornado-a relevante para o leitor, ou
auditório.
O trabalho de estudar as Escrituras Sagradas é
um grande projeto, mas também um grande
desafio. Deve ser conduzido com todo cuidado e
perseverança. Excelência e compenetração são o
mínimo que se pode almejar no estudo do Livro.

O trabalho de um teólogo deve ser caracterizado


pela alta qualidade. Na exposição e no ensino dos
preceitos e conceitos bíblicos, esta alta qualidade
só é atingida com empenho e dedicação. No
prefácio de sua edição Manual do Novo
Testamento Grego, edição de 1735, J. A. Bengel,
escreveu: “aplica-te totalmente ao texto: aplica-
o totalmente a ti”.

A maior parte dos desvios da verdade está na


confusão entre a palavra dos homens e a Palavra
do Deus. (lembre-se da questão da tradição, no
estudo T_0031). Pelo estudo acurado e cuidadoso
da palavra Divina devemos nos assegurar de
transmitir a mais pura vontade divina, e não
apenas nossa opinião sobre ela. A Escritura não
pode falhar (João 10:35), este é um dos
pressupostos de Jesus, devemos aprender a
pensar e acreditar dessa maneira também.

A inescrutabilidade – O que isso significa?


(Deuteronômio 29:29) Existem coisas que nunca
saberemos agora, deste lado da eternidade.
Diante disso devemos ter especial cuidado ao lidar
com o que não foi claramente revelado nas
Escrituras, não estamos autorizados a fazer
conjeturas ou construir suposições sobre assuntos
obscuros, pois muitas coisas foram guardadas sob
o conhecimento apenas de Deus. (Atos 1:7, é um
exemplo disto).

O que se requer de um teólogo é um trabalho em


três etapas: Estudar (exaustivamente o texto),
compreender (o texto no seu contexto histórico) e
explicar (com exatidão e correção).

Vejamos um exemplo: Em Atos 8, podemos notar


estes três elementos. A Escritura estava sendo
lida (pelo etíope – verso 28), mas não estava
sendo compreendida (versos 30-31). Filipe,
quando entrou em contato com o etíope, já
compreendia o texto (porque tinha estudado em
profundidade), e, portanto, explicou corretamente
a passagem (versos 32-36). O etíope não entendia
o texto apesar de fazer a pergunta correta: “a
quem se refere o profeta?” (verso 34). Faltava-lhe
informações históricas e textuais; de fato; faltava-
lhe uma visão maior do plano de Deus, ou seja, do
significado das promessas messiânicas no livro de
Isaías.

O grande perigo que existe em esboçar uma


metodologia é levar alguém a pensar que cada
item é independente dos outros. Na verdade todos
os itens do método proposto são interdependentes
e formam um conjunto inseparável. Quatro
palavras-chaves resumem o método: TEXTO –
CONTEXTO – PALAVRAS – IDÉIAS. Estas são
as ferramentas empregadas na busca de
informações fundamentais para a compreensão
das Escrituras.
No próximo estudo iniciaremos as considerações
sobre estas quatro palavras-chaves da
metodologia para o estudo das Escrituras. Esta
ordem deve ser mantida em toda aproximação da
Palavra do Eterno.
Quem estuda somente os homens, adquire o
corpo do conhecimento sem a alma; e quem
estuda somente os livros, a alma sem o corpo.
Quem adiciona observação àquilo que vê, e
reflexão àquilo que lê, está no caminho certo
do conhecimento, com a certeza que ao sondar
os corações dos outros, não negligencie o seu
próprio. Caleb Colton.

O propósito de ter um método de estudo é a total


transformação da pessoa. O método visa a
substituição de velhos e destruidores hábitos de
pensamento por novos hábitos vivificadores. Em
parte alguma este propósito é visto mais
claramente do que na forma em que um teólogo
se aproxima do texto. E texto é a primeira palavra-
chave que define o método (veja de novo estudos
anteriores). É no texto que devemos aplicar toda
nossa energia mental, pois o primeiro passo no
estudo das Escrituras, seguindo o método
histórico-crítico, é estabelecer o texto.

É preciso ler com cuidado a passagem, notando


qualquer dificuldade textual, palavras
desconhecidas e estruturas gramaticais. Também
é necessário observar o gênero literário (se é
epístola, narrativa, poesia, alegoria, parábola,
etc.), e se dedicar ao estudo do texto.

O teólogo é um homem transformado pela


Palavra de Deus. Como se processa isto? Em
Romanos 12:2 lemos que a transformação é
mediante a renovação da mente. A mente é
renovada quando colocamos nela as coisas que a
transformarão: “tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é
de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso
pensamento” (Filipenses 4:8). Você notou a
virtude que encabeça a lista? “Tudo o que é
verdadeiro”, isto é significativo, pois indica a
prioridade a ser buscada no estudo.
O estudo é o veículo básico que nos leva a ocupar
o pensamento, quando estamos concentrados no
estudo, o pensamento não está por conta de seus
próprios inventos. (mente desocupada, oficina do
diabo – Já ouviu este velho provérbio?). Estudo é
um tipo específico de experiência em que,
mediante cuidadosa observação de estruturas
objetivas, levamos os processos do pensamento a
moverem-se numa determinada direção. As
Escrituras Hebraicas instruem no sentido de as
leis serem escritas nas portas e nos umbrais das
casas, e atadas aos punhos, de sorte que
“estejam por frontal entre os vossos olhos”
(Deuteronômio 11:18). A finalidade desta instrução
era dirigir a mente de forma repetida e regular a
certos modos de pensamentos referentes a Deus
e suas ordenanças e às relações humanas. O que
estudamos determina que tipos de hábitos devem
ser formados.

O processo que ocorre no estudo deve distinguir-


se da meditação. A meditação é um processo mais
devocional; o estudo é analítico.
A meditação saboreará o texto; o estudo deve
explicar o texto. Embora a meditação e o estudo
muitas vezes se superponham e funcionem
concorrentemente, constituem dois processos
diferentes. Acreditamos que o estudo do texto
deve vir primeiro, pois proporciona ao texto uma
determinada estrutura, objetiva, e dentro da qual a
meditação pode funcionar com êxito, o estudo
estará a serviço da meditação, precedendo-a.

O método histórico-crítico aplicado: O primeiro


passo no estudo de um texto é a:

A repetição é uma forma de canalizar a mente de


modo regular, numa direção específica, firmando
assim hábitos de pensamentos. A repetição
desfruta, hoje de certa má fama. Contudo, é
importante reconhecer que a pura repetição,
mesmo sem entender o que está sendo repetido,
em realidade, afeta a mente interior. Hábitos
arraigados de pensamentos podem ser formados
apenas pela repetição, mudando assim o
comportamento. Esse é o princípio lógico central
da psicologia, que treina a pessoa para repetir
certas afirmações regularmente (por exemplo,
para quem tem problema de auto-afirmação ou
problema de auto-imagem negativa, deve repetir a
frase, acreditando na verdade nela contida: amo a
mim mesmo incondicionalmente). Nem mesmo é
importante que a pessoa esteja consciente do
processo mental que está desenvolvendo; basta
que a afirmação seja repetida. A mente interior é
assim treinada, e afinal responderá modificando o
comportamento para conformar-se à afirmação.
Naturalmente, este princípio tem sido conhecido
durante séculos, mas só em anos mais recentes
recebeu confirmação científica. É por isso que a
programação de televisão tem tanta importância,
os anunciantes sabem disso e fazem da repetição
uma forma de fixar na mente do tele espectador
um determinado produto. O mesmo processo é
aplicado na música, pela repetição constante de
uma letra musical, a verdade nela contida se fixa
também mentalmente.
A concentração é o segundo elemento prático no
estudo. Se além de conduzir a mente repetidas
vezes ao assunto em questão a pessoa
concentrar-se no que está sendo estudado, a
aprendizagem aumenta sobremaneira. A
concentração centraliza a mente. Ela prende a
tenção em detalhes específicos. A mente humana
tem a capacidade incrível de concentrar-se. Ela
está a todo instante recebendo milhares de
estímulos, cada um dos quais capaz de
armazenar-se em seus bancos de memória
enquanto se concentra nuns poucos apenas. Esta
capacidade natural do cérebro aumenta quando,
com unidade de propósito, concentramos nossa
atenção num desejado objeto de estudo.

Quando não apenas de maneira repetida


canalizamos a mente num determinado sentido,
concentrando nossa atenção no assunto, mas
entendemos o que estamos estudando, então
atingimos um novo nível.
A compreensão nos leva ao discernimento da
verdade contida no texto e provê uma base sólida
na percepção dessa verdade, de maneira que se
torna clara para nós e para ser explicada. O
estudo das Escrituras, como feita por um teólogo,
começa com as Escrituras e com a mente aberta
para ela. O Texto é a passagem ou trecho das
Escrituras que vai ser estudado envolvendo os três
itens acima: Repetição, concentração e
compreensão, na verdade três passos que não
podem deixar de ser levados em conta na hora do
estudo.

Voltamos nossa atenção para os estudos


anteriores, onde definimos as palavras-chaves da
metodologia de estudo das Escrituras, a primeira
palavra-chave é: Texto. Um resumo do que temos
considerado até aqui.
Abordamos o texto para o estudo seguindo os
três passos definidos nesta lição: repetição,
concentração e compreensão.

“O vocábulo texto deriva do latim texere, que


significa tecer, e que figurativamente quer dizer
reunir, construir, compor e expressar o
pensamento em contínuo discurso ou escrita. O
substantivo textus indica então o produto do ato de
tecer, o tecido, a trama, e, assim, no uso literário,
a trama do pensamento de alguém, uma
composição contínua” J. A. Broadus, O Sermão e
o seu Preparo – Casa Publicadora Batista, 1967,
Segunda edição, Rio de Janeiro, pág. 15.

Primeiro Passo No Estudo Crítico-Histórico-


Literário das Escrituras – Estudo do Texto

Considere com atenção esta declaração de


Jerônimo a propósito da Vulgata:
“De velha obra me obrigais a fazer obra nova...
Qual de fato, o sábio e mesmo o ignorante que,
desde que tiver nas mãos um exemplar (novo, ou
da Vulgata), depois de o haver percorrido apenas
uma vez, vendo que se acha em desacordo com o
que está habituado a ler, não se ponha
imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego,
um falsário, porque terei a audácia de
ACRESCENTAR, SUBSTITUIR, CORRIGIR
alguma coisa nos antigos livros? Um duplo motivo
me consola desta acusação. O primeiro é que vós,
que sois o soberano pontífice, me ordenou que o
fizesse, o segundo é que a verdade não poderia
existir em coisas que divergem...” Enciclopédia
Barsa – Serviço de Pesquisa, No 1.976 – Carta de
S. Jerônimo ao papa Damaso, a propósito da
Vulgata. Extraído de: Introdução à Bíblia (I –
Introdução Geral) de Caetano M. Perella, O. M. e
Luigi Vagaggini, O. M. Edição da Editora Vozes.
(parêntese e destaque são nossos).

Todo estudante do Curso de Teologia tem a


obrigação de examinar com atenção a declaração
de Jerônimo em que ele reconhece ter feito
mudanças, acréscimos e alterações na Bíblia.
Uma outra conceituada obra de consulta, a
Enciclopédia Delta-Larousse nos informa que
por outras obras de Jerônimo sobre as Escrituras
e por causa, especialmente, de sua tradução para
o latim (Vulgata), Jerônimo tornou-se o fundador
“da exegese católica” Delta-Laroussse, Vol. VI
pág 3.131. Surge assim uma interpretação muito
apropriada aos interesses da Igreja que se
configurava através de Concílios, pois sabemos
que exegese é uma interpretação da Bíblia, que
se for moldada nos padrões católicos resulta numa
teologia católica.

O professor presbiteriano B. P. Bittencourt que é


Doctoris Philosophian Pela Boston University,
USA, e com pós-graduação na Rüprecht Kart
Univertät, de Heidelgerg, Alemanha, no seu
excelente livro: O Novo Testamento –
Metodologia da Pesquisa Textual, Terceira
Edição, Revista, Atualizada e Ampliada, Editora
JUERP, Rio de Janeiro, na página 167, escreve:
“Sabe-se que a Vulgata é base sumamente fraca
para uma tradução da Bíblia. Deve-se lembrar que
Figueiredo traduziu a Bíblia no século 18, depois
de muitas tentativas para a publicação de uma
edição crítica dos textos originais e da Vulgata, e
essas tentativas tornaram-se fonte de corrupção
textual em vez de melhora. Frederic Kenyon,
grande crítico inglês, diz sobre a Vulgata, quanto
ao Novo Testamento, o que, sem dúvida, se
poderia aplicar também ao Antigo: ‘Tanto quanto
interessa a uma tradução do Novo Testamento, a
Vulgata é meramente revisão das velhas versões
latinas, mais ou menos boa, embora não exata
nos Evangelhos, muito superficial nos outros
livros’” Citando Handbook, pág. 218.

Notamos, portanto, que os eruditos reconhecem


que a Vulgata não é exata nos Evangelhos, e
muito superficial no resto dos livros, uma base
sumamente fraca para uma tradução. Qualquer
que se aventurar a fazer uma tradução da Vulgata
para outra língua estará cometendo um sem
número de erros. Portanto, a Vulgata Latina é uma
clara demonstração de como a corrupção textual
pode se perpetuar. Na página 127, o Dr.
Bittencourt afirma o seguinte:

“Acaba o estudante de ver, metodicamente


apresentado, as múltiplas e variadas formas que a
corrupção textual tomou nos primeiros séculos da
transmissão do texto do Novo Testamento”.

Diante de uma afirmação tão clara, como podem


algumas pessoas ainda afirmar que a Bíblia não
sofreu corrupção textual?

Começou a corrupção textual apenas com


Jerônimo no quarto século? Não, a corrupção
textual já tinha começado muito tempo antes dele.
Tertuliano (anos 160-220) e que, portanto, viveu
muito antes de Jerônimo já mencionava o fato de
que os originais da Bíblia se tinham perdido e o
que existia eram copias adulteradas, corrompidas
da Bíblia. De Tertuliano o professor Dr. Bittencourt
escreve:
“Embora Tertuliano faça referência a cartas
autênticas em sua época, os originais já se haviam
perdido e a corrupção textual já tivera início”. Pág.
118

Ainda sobre essa época chamada de “patrística”


(relacionada com os ‘pais da Igreja’) e sobre a
corrupção do texto o Dr. Bittencourt acrescenta:

“Orígenes... no seu comentário sobre Mateus


queixa-se de que as diferenças entre os escritos
dos Evangelhos se haviam tornado grandes, quer
através da negligência de alguns copistas, quer
através da perversidade audaz de outros, que
alongam ou abreviam o texto”. Pág. 118.
Por favor, leia de novo o documento acima,
examine cada frase e comprovará que nos
primeiros séculos a Bíblia sofreu grande influência
e muita coisa foi mudada, quer seja intencional ou
casual. “Diferença entre os escritos dos
Evangelhos”, isso não lhe diz nada? Não? Não é
possível que você não veja o alcance desta frase
de um erudito. Por essa razão, única razão, como
teólogo, ou futuros teólogos, devemos ter em alta
estima o texto original, na busca do mais
autêntico e na restauração do sentido original da
Palavra. Como verdadeiros e sinceros estudantes
da Palavra de Deus voltamos nosso olhar e
entendimento para o sentido semítico, isso para o
Antigo Testamento, ou seja, o entendimento
hebreu das Escrituras Hebraicas, posicionando o
texto em estudo, se for do Antigo Testamento, no
seu contexto histórico, que era o mundo semítico,
numa cultura hebraica, da época da Palestina –
Onde, como exemplo muito comum, o ato de
rasgar a roupa e encher a cabeça de cinza era
uma expressão de luto, dor e tristeza. Com relação
ao Novo Testamento, cujas obras foram escritas
em grego, nosso olhar como estudantes da Bíblia
e nossa aproximação dela deve ser crítico (no
sentido científico que essa palavra tem), devemos
estar examinando cada frase, cada palavra
somente à luz do que é mais próximo do original.
Lembrando que o escritor da Bíblia quer sejam
profetas, quer seja apóstolo, com raras exceções
eram semitas, eram hebreus, numa época distante
da nossa em que muitas palavras por eles usadas
têm um sentido e um significado próprio para essa
cultura e época. Como Teólogos devemos
sempre confessar nossa fidelidade às
Escrituras nos seus textos originais.

A Vulgata Latina, de Jerônimo ganhou valor e


prestígio na Igreja de Roma, e foi considerada
como a rainha das versões, tanto é, que até pouco
tempo, no mundo inteiro, a missa (liturgia Católica)
era ministrada em latim, porém, a Vulgata
prevaleceu e prevalece ainda até hoje, mesmo
que outras vozes se tenham levantado em
protesto contra ela, como exemplo: pessoas que
levantaram seu grito de protesto contra a Vulgata
podemos citar um documento extraído da
Enciclopédia Delta-Larousse, Vol. III, pág 1.116:
“Ulrico de Hutlen, defensor do humanista Reuchlin,
que iniciara as controvérsias religiosas chamando
a atenção para as traduções defeituosas da
Vulgata”.

Ora! De novo você encontra uma declaração


honesta, e se você é também honesto em sua fé,
acredite que a Bíblia sofreu por causa de
traduções defeituosas. Estamos considerando a
Vulgata Latina porque foi ela que formou a base
da maioria das traduções das Bíblias chamadas de
Católicas. Nota: Isso será assunto de estudos
mais detalhados na disciplina “História do Texto
Bíblico”. Apenas mais um pequeno acréscimo
sobre a Vulgata Latina.

Os Discursos Mudam a Mentira em Verdade

Gostaríamos agora que o estudante prestasse


especial atenção nesta declaração de um cônego
católico:

“O católico recebe a Sagrada Escritura como


sendo a própria Palavra de Deus, recebe a
garantia de que todos os livros da Bíblia, com suas
diversas partes, tais como se apresentam na
versão Latina chamada Vulgata, são inspiradas,
isto é, têm como autor o próprio Deus, e assim
sendo não podem conter erro algum”. Artigo do
cônego Gustave Bardy, com imprimatur da Igreja
Católica Apostólica Romana: Divione, dei XXa,
octobris 1935 – Assinado por G. Jacquin, v. g.
para a Enciclopédia Delta-Larousse, Vol. IV, pág
1.839.

Esta é uma afirmação, talvez, arrogante demais.


Atribuir à Vulgata inspiração divina, é um discurso
bem preparado para induzir os católicos a crer que
a Bíblia não contem erros. Se nos já sabemos que
o próprio Jerônimo, tradutor da Vulgata confessa
que fez acréscimos, mudanças e correções nos
Livros tradicionais, então é obvio que uma
afirmação como a de cima é uma declaração
improcedente.

Posteriormente, os papas Gregório VII (1073-


1085) e Inocêncio III (1198-1216), usaram a
autoridade da Igreja para conservar unicamente
essa versão latina, a Vulgata, evitando qualquer
outra versão ou tradução feita dos originais. O
Concílio de Tousousse na França, em 1229,
decretou que ninguém poderia usar outra versão
da Bíblia que não fosse a Vulgata Latina, e para
impor esse decreto a Igreja usou a Inquisição, que
durante 400 anos perseguia e mandava matar
qualquer pessoa que tivesse uma versão diferente
da Vulgata Latina, como exemplo desses fatos
podemos citar vários, bastam dois exemplos para
uma amostra. Francisco Enzinas na Espanha foi
encarcerado pela inquisição católica (1544), por
ter traduzido e publicado o Novo Testamento em
espanhol. Da mesma maneira lembramos de
Miguel Servet, condenado à fogueira, sendo
queimado lentamente pelo “crime” de discordar de
traduções mal feitas.

Com estas considerações não queremos desfazer


da Bíblia, mas fazer com que todo estudante de
Teologia compreenda que devemos ter o máximo
de cuidado no estudo da Bíblia para não cometer
os mesmos erros do passado e ensinar o que não
era original dos apóstolos e profetas. Quando
ensinar um “assim diz o Senhor” que não seja
falso, mas firmemente fundamentado no alicerce
da Palavra.

Ainda hoje, em nossos dias, depois de 1965, logo


após o Concílio Vaticano II, a Igreja de Roma
começou as comemorações do dia da Bíblia, na
semana do dia de 30 de setembro, data do
falecimento de Jerônimo, que traduziu para o
Latim a versão chamada Vulgata, versão que foi
definitivamente oficializada no Concílio de Trento
(1545).
Finalmente, para concluir esta parte relacionada
com a Vulgata citamos de novo o Dr. Bittencourt:

“A fim de purificar o texto da Vulgata, várias


edições foram feitas por Alcuino, Teodulfo,
Lanfrano e Estevão Harding, durante a Idade
Media. Cada tentativa de restaurar o trabalho de
Jerônimo piorou o que existia. Daí resultar que os
8 mil manuscritos da Vulgata hoje conhecidos
apresentam as mais curiosas contaminações.
Chama-se Vulgata esta tradução de Jerônimo por
ter esta versão grande circulação na Igreja
Católica desde o sétimo século, e gozar da
aprovação da Igreja Católica como versão
autorizada, o que aparece, depois na forma
explícita na primeira edição do papa Sixto V, em
1590, e do papa Clemente II, em 1592, até a Nova
Vulgata, esta última edição foi feita por iniciativa
do papa Paulo VI pela constituição apostólica em
25 de abril de 1979, época em que começou a
circular. Esta nova Vulgata... apresenta
inumeráveis alterações do texto de Jerônimo em
matéria puramente estilística... sendo que a edição
de 1590 já havia sofrido mais de 5 mil alterações”.
Pág. 95-96.

Este documento do Dr. Bittencourt nos apresenta


a informação de que a Vulgata foi tão infiel ao
original que em 1590 foram feitas mais de cinco
mil alterações e mesmo assim não foram
suficientes para purificar o texto de Jerônimo.
Terminando está primeira parte, em que foram
examinados fatos e conclusões de eruditos sobre
a Vulgata, fazemos algumas perguntas: Como um
teólogo deve encarar os fatos? Como podemos ter
certeza de que a Bíblia que temos em mãos não é
mais uma outra “vulgata” com seus inúmeros
erros? Como foi que a Versão de João Ferreira de
Almeida chegou até nós? Como estudar a Bíblia?
A resposta então se torna óbvia: Devemos
aprender a estudar a Bíblia de maneira correta,
para não fazer interpretações erradas que levem a
conclusões também erradas. Neste Curso
estamos aprendendo uma metodologia de estudo
da Bíblia que nos levará a conclusões verdadeiras
sobre a revelação divina.
Estamos na primeira parte do estudo - O texto
– Considerando o que foi exposto sobre a Vulgata,
concluímos que o Texto Bíblico em estudo,
Deveria representar o conteúdo da mensagem
que o escritor bíblico quis transmitir. Deveria ser a
mensagem original, no seu contexto literário
histórico. Deveria expressar a verdade. Quando
usamos a palavra “deveria” no condicional, é
porque todos sabemos a dificuldade que qualquer
estudante das Escrituras encontra, pois as Bíblias
em português são traduções e muitas vezes não é
a mensagem nas palavras literais dos escritores
originais. Muitas traduções já são, na verdade,
uma INTERPRETAÇÃO do texto, portanto, NÃO é
o texto original. Por causa disto devemos aprender
a conferir a fidelidade da tradução que vamos
estudar. Está ela de acordo com o sentido
original? Expressa corretamente o pensamento do
autor? Não houve modificação de palavras e
frases no texto em estudo? Esta disciplina
responderá essas questões teológicas.
A maioria dos brasileiros sabe que a Bíblia não foi
escrita originalmente em português. De alguns
anos para cá se tem popularizado em especial
duas versões bíblicas uma chamada de Corrigida
e outra chamada de Atualizada. Lembremos que
a palavra “Versão” indica uma tradução da Bíblia
para uma determinada língua e indica sua
modalidade específica, por isso falamos em
Versão Corrigida e Versão Atualizada. Nestas
duas versões encontramos numa leitura de um
mesmo texto diferenças em algumas palavras, na
sua maior parte são diferenças de estilo
(estilísticas) e não de conteúdo. Essas diferenças
entre Corrigida e Atualizada, porém, não tem
causado tantas questões como as suscitadas por
Versões mais recentes que não são baseadas na
tradução tradicional de João de Ferreira de
Almeida, de 1748.

Se hoje um brasileiro, recém convertido, entrar


numa livraria evangélica e perguntar por uma
Bíblia para comprar ficará consternado e até
confuso ao ver tantas Versões. Então surgem
algumas perguntas que necessariamente devem
ser respondidas. Pois na maioria das vezes é o
pastor, ou líder de uma Comunidade Cristã que
deve responder: Por que existem tantas Versões
da Bíblia? Por que aquela Versão não tem todas
as palavras que minha Versão tem? E se há
palavras diferentes, e até palavras omitidas, qual é
a Versão mais certa? Será que mais de uma pode
ser correta? Se há somente uma certa, porque
existem as outras e são também “Bíblia” – Palavra
de Deus? Como pode uma instituição cristã vender
aos crentes Versões contraditórias até?

Você está percebendo que estas perguntas


podem surgir na mente de qualquer novo
convertido e ir com essa pergunta para o pastor?
Qualquer pessoa que entra numa livraria
evangélica verá uma infinidade de Versões. Já fiz
a experiência de fazer essas perguntas para um
irmão encarregado de uma livraria, e a impressão
que me causou a resposta foi que não havia tanto
interesse no conteúdo da Bíblia, mas em ter uma
variedade delas para poder vender a pessoas com
diferentes gostos. Não queria ter saído da livraria
pensando que era apenas uma questão de
“comércio”, gostaria de ter recebido uma resposta
mais perto da adequada.

Como então tirar proveito do estudo da Bíblia:


Lembre que estamos até aqui estudando a
primeira parte do método, ou seja, o que se refere
ao TEXTO. Então, é significativo a esta altura ter
uma resposta correta da pergunta: Por que
existem tantas Versões da Bíblia? Se nos estamos
estudando um texto, como podemos saber se o
texto em estudo é o correto de acordo com a
Versão que tenho em mãos?

A Importância de uma Tradução.

Quando o salmista escreveu que as Escrituras era


uma luz no seu caminho (Salmo 119:105), com
certeza estava se referindo às Escrituras
Hebraicas que ele conhecia. Mas, para a maioria
dos brasileiros que não conhecem Hebraico, não
seria uma luz, pois, não entenderiam nada do que
está escrito. A menos que as palavras hebraicas
fossem traduzidas para o idioma nacional.

Se a fé vem pelo ouvir a pregação e o ouvir da


pregação é da Palavra de Cristo (Romanos 10:17).
Como então poderíamos ter fé se as Palavras de
Cristo não fossem traduzidas. Agradecemos a
Deus pelas traduções, e agradecemos mais ainda
pelas traduções que se aproximam das fontes
originais.

Voltemos nossa atenção para a problemática das


Versões: imaginemos um professor de Bíblia
ensinando sobre a parábola dos dois filhos
(Mateus 21:28-32) e não entender porque seus
alunos insistem em dizer que o primeiro
obedeceu a seu pai, enquanto ele está lendo
claramente em sua Bíblia que o segundo é que
obedeceu. Se ele tivesse tomado conhecimento
dos problemas crítico-textuais envolvidos neste
texto, não teria sido apanhado de surpresa. A
resolução deste enigma é que o professor está
usando a Almeida Revista e Atualizada (desde
agora: ARA) e os alunos estão usando a Versão
de Almeida Revista e Corrigida (desde agora:
ARC). Uma versão diz que é o segundo filho que
obedeceu, enquanto que outra diz que foi o
primeiro.

(Nota: O aluno deve guardar as abreviaturas das


versões ARA e ARC).

Um bom modo de procurar estabelecer o texto


certo, mesmo quando não se tem acesso ou
condições de consultar um texto original com
aparato crítico (veja nota), é consultar muitas
versões do texto bíblico em estudo. Ler e
comparar várias traduções pode mostrar variações
devidas a problemas textuais (diferentes
manuscritos usados como fonte de tradução), ou
mudanças de entendimento na tradução do
original. É importante lembrar que a maior parte
das diferenças entre traduções (versões) é devida
a este segundo fator. Entretanto, há casos em que
um estudo minucioso comparando as diversas
traduções ajuda a ver as diferenças devidas a
problemas de transmissão do texto.
Nota: Aparato Crítico são as explicações em pé
de página que se encontram nas Bíblias em
Hebraico e Grego, explicando a razão das
variantes. Variantes: são as diferenças de um
mesmo versículo que se encontra entre vários
manuscritos antigos.

A leitura de Colossenses 3:4 em várias versões


mostra que há uma possível divergência de origem
crítico-textual sobre qual o pronome certo que
deve ser colocado ali: “nossa” (apoiado por ARA,
ARC) ou “vossa” (apoiado pela Bíblia de
Jerusalém [BJ], Bíblia na Linguagem de Hoje
[BLH] e pela versão revisada de Almeida [VR]).
Neste caso a divergência tem pouca importância
para o sentido geral do texto (como a maior parte
das variações textuais da Bíblia), mas é bom saber
usar as traduções para encontrar estas variações.
E, uma vez encontradas, elas são uma alerta para
prestar maior atenção.
Antes de continuar, é importante dar uma palavra
sobre as versões bíblicas. A ARC é geralmente a
mais problemática nas questões crítico-textuais,
por basear-se num texto grego preparado antes do
desenvolvimento da crítica textual. Ela foi baseada
no chamado Texto Recebido (Textus Receptus).
Versões católicas como BJ e a Bíblia editora Ave
Maria (BAM) são úteis por usarem textos críticos
mais modernos. Porém, é necessária uma palavra
de cuidado: as versões católicas são sempre
influenciadas pela Vulgata Latina; e, por isso,
muitas de suas decisões crítico-textuais não são
imparciais. Sobre a BJ é necessário dizer algo
mais: o espírito não ortodoxo de alguns
comentários textuais aconselha o uso da mesma
com reservas. A BLH e VR parecem ser as mais
atualizadas no que diz respeito às variações dos
textos, assim mesmo, parece que a BLH tem a
tendência de emendar muito o texto do Antigo
Testamento. A ARA é boa, embora não tão
atualizada quanto esta última. A Mattos Soares
(MS) serve para ver o que diz a Vulgata, já que
não é uma tradução dos originais, mas da famosa
versão de Jerônimo. Estas palavras sobre as
versões são gerais, havendo necessidade de
avaliar, em cada leitura, os méritos de cada uma
delas.

Em Colossenses 2:2 vemos que a BJ segue um


texto inferior ao seguido por ARC, ARA, BAM,
BLH e VR. Como era de se esperar MS segue a
Vulgata. Assim cada leitura das versões merece
análise cuidadosa. No caso de Mateus 21:28-32, o
texto da ARC é melhor do que o da ARA e VR.

Imaginemos uma cena: A Igreja onde foi


convidado usava a Versão chamada: NVI Nova
Versão Internacional, sabendo disso, e como a
palestra tratava justamente sobre Versões, para
iniciar pedi que abrissem a NVI em Atos 8:37,
então eu li a passagem na minha versão: “Disse
Filipe: Você pode, se crê de todo o coração. O
eunuco respondeu: Creio que Jesus Cristo é o
Filho de Deus” Atos 8:37.

Os irmãos ficaram procurando o texto na NVI e


para supressa comprovaram que Atos 8 tem o
versículo 36 e então pula para o 38, omitindo o 37!
A NVI não tem o verso 37 de Atos 8. Você
estudante de teologia pode também fazer essa
comprovação em qualquer livraria evangélica que
venda a NVI. Isso ilustra o que estamos tentando
ensinar. As Versões apresentam diferenças, e elas
devem ser consideradas com cuidado a fim de não
sair por ai pregando o que não é original.

Uma “Testemunha de Jeová” (errados na doutrina


da Trindade) está visitando de casa em casa e
para tentar provar a malfadada teoria antitrinitária
faz com que o novo convertido leia 1a João 5:7-8 e
apela para o argumento de que esse texto é uma
interpolação (acréscimo posterior) e confunde o
pobre irmão dizendo que todos os outros textos
que falam da Trindade na Bíblia também foram
acrescentados. O que é falso. Uma afirmação
verdadeira, 1a João 5:7-8 foi de fato um acréscimo
posterior, mas é falso afirmar que outros textos
também são acréscimos.

Sobre 1a João 5:7-8, inserimos a seguir a


explicação dada pela Sociedade Bíblica do Brasil
SBB.
Estimado irmão,

Recebemos mensagem eletrônica do irmão


argüindo-nos acerca do motivo por que algumas
palavras de 1João 5.7-8 aparecem entre colchetes
na tradução de Almeida Revista e Atualizada.

Sobre esta questão, precisamos compreender o


significado dos colchetes na RA. Isto nos
aprendemos ao ler no artigo "Explicação de
Formas Gráficas Especiais, Títulos, Referências e
Notas", adendo ao "Prefácio à 2a. Edição":
algumas passagens do Novo Testamento
aparecem entre colchetes. Estas passagens não
se encontram no texto grego adotado pela
Comissão Revisora, mas haviam sido incluídas por
Almeida com base no texto grego disponível na
época (Mt 6.13).

Almeida traduziu a Bíblia para a Língua


Portuguesa no século XVII. O Novo Testamento
em português ficou pronto em 1681. Almeida
traduziu-o a partir de um texto grego denominado
Textus Receptus ("o texto recebido"), que fora
compilado pelo famoso humanista holandês
Erasmo de Roterdã no início do século XVI. A
tradução de Almeida a partir dos manuscritos que
ele possuía em sua época cristalizou-se na
chamada Edição Revista e Corrigida (RC),
publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil e
adotada por inúmeras denominações evangélicas
em países de fala portuguesa, destacando-se
Portugal e Brasil. A RC espelha bem o teor do
Textus Receptus utilizado por Almeida.

Quando a tradução de Almeida já estava


concluída, Deus permitiu que arqueólogos,
historiadores e teólogos verificassem um
considerável avanço no achado, recuperação e
decifração de manuscritos bíblicos, alguns dos
quais indisponíveis a Almeida na época em que
traduziu a Bíblia. A Edição Revista e Atualizada
(RA) surgiu em 1956 em decorrência dessas
novas descobertas, quando a Comissão Revisora
da Sociedade Bíblica do Brasil achou por bem
confrontar o texto de Almeida com os novos
manuscritos encontrados. A RA passou por uma
segunda revisão em 1993, afinando ainda mais o
texto bíblico aos textos originais em hebraico,
aramaico e grego, pelo que é uma das mais
amadas e adotadas traduções da Bíblia Sagrada
no Brasil e no exterior.

Dito isto, fica um pouco mais simples compreender


a diferença de tratamento dado àquelas palavras
de 1João 5.7-8 na RC e na RA. Na primeira - que
corresponde à tradução mais antiga de Almeida -
as palavras "no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito
Santo; e estes três são um. E três são os que
testificam na terra" constavam do texto original
grego utilizado pelo tradutor. Já na RA,
confrontando-se a tradução de Almeida com os
manuscritos encontrados (mais antigo e, portanto,
mais próximos do tempo em que João escreveu
sua primeira carta) e desde que as referidas
palavras não contradizem nem ofendem a
mensagem bíblica da salvação em Cristo Jesus,
estas palavras foram colocadas entre colchetes.
Com isto, a RA respeitou o trabalho valioso de
João Ferreira de Almeida, sem, contudo, ter aberto
mão da fidelidade ao melhor texto original grego a
que se tem acesso nos dias atuais.

(Nas traduções desenvolvidas pela própria


Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica do
Brasil, todavia, como é o caso da Bíblia na
Linguagem de Hoje, as palavras questionadas de
1Jo 5.7-9 foram eliminadas por completo do texto
bíblico).

Por fim, acerca da procedência das palavras


questionadas de 1Jo 5.7-8, convém mencionar a
opinião do Dr. Bruce Metzger, uma das maiores
autoridades atuais sobre os manuscritos gregos do
Novo Testamento, que coopera com as
Sociedades Bíblicas Unidas, a fraternidade da
qual a Sociedade Bíblica do Brasil faz parte.
Conforme o Dr. Metzger, todos os manuscritos
gregos mais antigos do Novo Testamento (datados
dos séculos II e III) omitem as palavras "no céu: o
Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são
um. E três são os que testificam na terra" em 1Jo
5.7-8. Estas palavras só começaram a aparecer
em comentários e sermões sobre o texto de 1João
no final do século IV e, muito posteriormente, em
um manuscrito latino do século XIII. Segundo o Dr.
Metzger, as palavras aqui em questão podem ter
sido o comentário que um copista (pessoa
encarregada de copiar a Bíblia na Idade Média)
fez na margem do pergaminho em que trabalhava;
um copista posterior, ao tomar o manuscrito
mencionado como texto base para sua cópia,
incorporou o comentário marginal do seu outro
colega ao texto bíblico, erro que mais
recentemente foi descoberto sem grandes
dificuldades pela comparação dos manuscritos
mais recentes com os mais antigos.

Sendo isto para o momento, agradecemos


muitíssimo sua paciência e atenção. A Sociedade
Bíblica do Brasil faz votos de que o irmão continue
sendo um leitor fiel e dedicado da Palavra do
Senhor, fonte de orientação e consolo eternos.
Cordialmente em Cristo,

p/ Comissão de Tradução
Sociedade Bíblica do Brasil
traducao@sbb.org.br

A leitura de várias versões contribui, como já


dissemos, para a compreensão do TEXTO
apresentando as diferentes maneiras de traduzir o
original para o português. Geralmente as
traduções convergem para um mesmo sentido,
usando palavras diferentes. Isto já explica muitas
coisas para o estudante de teologia.
Ocasionalmente, haverá divergências de sentido
entre elas: nestes casos é necessário um estudo
mais detalhado.

O texto de Colossenses 2:15 apresenta uma


pequena dificuldade de tradução percebida pelos
que não podem ler o original, na comparação das
traduções. ARC diz: “... triunfou em si mesmo”,
enquanto ARA (e também VR, BJ, BLH, BAM)
diz: “... triunfando... na cruz”. A diferença de
sentido não é grande, mas há uma diferença.
Neste caso as duas traduções são possíveis, mas
a última é a melhor, pela gramática e pelo
contexto. Entretanto, àqueles que não podem ler o
texto grego resta apenas constatar o problema e
aguardar auxílio externo para resolver a questão.
De qualquer forma, é bom sempre antecipar os
problemas, ficando atentos às possíveis
contribuições na sua resolução.

É importante NÃO usar versões esquisitas ou


contaminadas como a dos auto-denominados
“Testemunhas de Jeová”. Se tiver uma, veja a
adulteração flagrante do texto em Colossenses
1:15-20 em favor de sua blasfêmia da “criação” de
Jesus. Versões desse tipo só atrapalham. Além de
não terem sido feitas com base nos originais (são
traduções de traduções), elas só podem nos fazer
incorrer nos erros incorporados ao texto dessas
“versões”.

Um pouco deste cuidado deve ser usado com


respeito a todo tipo de Bíblia com notas e auxílios
nas margens e rodapés. A Bíblia de Scofield é
uma destas que não recomendaríamos a quem
deseja fazer um estudo sério. O sistema de notas
empregado direciona o intérprete a um sistema
teológico completamente estranho ao dos
escritores inspirados. A Bíblia Vida Nova é menos
culpável de direcionamento doutrinário do que a
de Scofield, mas também se deve ter cuidado ao
examinar algumas de suas orientações
doutrinárias. Não deve ser usada como ferramenta
inicial de trabalho. Se o aluno quiser, pode usar a
Bíblia Vida Nova no momento que for consultar os
comentários: neste ponto ela é uma fonte útil de
informação e esclarecimentos. O mesmo conselho
se estende às versões católicas com anotações.
Com relação à chamada de Bíblia Viva, na
verdade ela não é uma versão; mas uma
paráfrase. É quase um comentário, e sendo assim,
é melhor utiliza-la mais tarde, nos estudos. A
consulta de comentários bíblicos encontrados ao
pé de página de muitas Bíblias comentadas, não
deve servir de base para a formação doutrinária,
mas apenas como fonte de consulta crítica e geral.
Por que? Por esses comentários tem o sabor e
influência de seus autores humanos, da mesma
forma como será um absurdo elaborar uma
teologia e uma doutrina com base nos títulos de
parágrafos e de capítulos, esses títulos de
parágrafos e capítulos são acréscimos posteriores.

Uma vez estabelecido o texto certo pela consulta


do texto original, seja hebraico, aramaico ou grego
e a comparação de várias traduções, ficamos
prontos para a segunda etapa do tratamento do
texto: estabelecer a estrutura do texto. Assunto
de nossa próxima lição.

Estabelecer a estrutura do texto é compreender


que tipo de material escrito está diante de nós e
qual a forma de sua apresentação. É neste
momento que devemos compreender as relações
gramaticais e sintáticas do texto. Também é o
momento de avaliar os recursos literários de que o
autor lançou mão.

A simples divisão dos capítulos e dos versículos


não pode ser usada como base para a
estruturação do texto bíblico. A divisão em
capítulos do Novo Testamento foi feita em 1206
por Stephan Langton, (posteriormente arcebispo
de Cantuária); a divisão em versículos é de 1551,
feita por Roberto Estevão (Stephanus) impressor
parisiense. “Tem sido dito freqüentemente que
Stephanus fez sua divisão em versos enquanto
andava a cavalo e ao sabor do balanço do animal,
o que, embora não se possa provar, perece ser
verdade, pois há lugares onde a divisão é
inteiramente arbitrária”. Bittencourt, B P. – “O
Novo Testamento – Língua – Cânon – Texto”,
São Paulo, ASTE, 1965, 1ª Edição, págs 172-173.
A divisão em parágrafos já constitui melhor ajuda
para o estudante. Em Colossenses 4:1 temos o
exemplo de uma divisão de capítulos infeliz. O
problema se agrava em Versões como a ARA que
transformam 4:1 em um parágrafo novo,
destacado de 3:18-25.

Devemos compreender que 3:18 até 4:1 é uma


estrutura literária única e deve ser tratada como
tal. É possível dividi-la em subparágrafos como fez
a BLH, mas mesmo assim, deve ficar claro que
todos eles formam uma “tábua de conselhos
domésticos”.

Os livros bíblicos podem ser encarados como


representantes de diferentes tipos de literatura. As
epístolas são comparadas a cartas, enquanto o
livro de Apocalipse já pertence a outro gênero
literário (Apocalíptico-profético). Isaías tem
características completamente diferentes dos
evangelhos.

Na medida do possível ler e adquirir o livro:


“Entendes o que Lês?” de G. D. Fee e D. Stuart
– Edições Vida Nova.

O entendimento do tipo ou natureza de literatura


não deve abranger apenas o aspecto global do
livro, mas também o trecho específico que
estamos estudando. Os gêneros literários podem
variar muito dentro de um mesmo documento. Nos
Evangelhos (que são um gênero literário
incomparável) temos discursos, narrativas,
parábolas, citações do Antigo Testamento,
milagres e sumários. No livro de Daniel, metade do
livro é composta de narrativas e a outra metade de
visões e interpretações das mesmas. Devemos
então especificar a natureza literária do texto que
estamos tratando em particular. Podemos ter
oração a Deus, exortação, discurso profético,
citação do Antigo Testamento, narrativa, alegoria,
discurso didático, polêmica, citação de um
documento histórico, explicação editorial, sumário
ou resumo, cântico ou poesia, simbolismo,
parábola, relato de milagre, etc. Uma variedade
enorme de gêneros e tipos pode compor um único
documento. Não devemos ser absolutamente
técnicos na classificação destes gêneros, mas é
preciso aprender a diferencia-los e entende-los.
Por exemplo: A carta aos Colossenses de Paulo
tem sido dividida em duas partes: Doutrinária e
Parenética (ou prática). Embora esta classificação
seja primária, é, em geral verdadeira. Saber situar
um texto em uma ou outra destas partes da carta
está incluído no processo de caracterizar o tipo de
texto que estamos estudando. Sendo assim,
notamos que o texto de 4:7-17 de Colossenses
pode ser classificado como “notícias”, notas
pessoais, recados e saudações. O importante é
notar que tem características próprias em relação
ao resto do livro.

A observação de partículas como: “portanto”,


“porque”, “pois” e “ora” é muito importante. Elas
mostram o relacionamento de subordinação ou
coordenação de frases ou de seções inteiras da
carta. Em Colossenses 3:5 a palavra “pois” liga o
que segue com o que foi dito anteriormente. Os
colossenses deviam “fazer morrer a natureza
terrena” por participar das coisas do alto (3:1-4). A
palavra “pois” está ligando os pensamentos. Está
marcando a transição da causa para o efeito.

Observar os recursos literários que o autor


empregou em sua obra é também parte da boa
observação da estrutura do texto. Recomendamos
que o estudante da Bíblia saiba identificar figuras
de linguagem no texto (figuras de palavras, de
construção, e de pensamento). É útil recordar este
assunto em uma gramática. Esta compreensão
ajuda a não perder a mensagem do escritor por
não entender o veículo que ele utiliza para
transmiti-la.
“Língua dos anjos” em 1ª Coríntios 13:1 é uma
hipérbole. Há uma fina ironia na palavra “justos”
em Marcos 2:17. A designação de Cristo como
“cabeça” da igreja, o “corpo” é uma metáfora
(Efésios 5:22-33). A expressão “carne e sangue”
como se encontra em Gálatas 1:16 substitui a
idéia de pessoas, sendo, portanto, uma
sinédoque. Mais importante do que saber nomear
estas figuras de linguagem ou modos de falar é
identificá-las.

“Produzindo fruto” em Colossenses 1:6 é uma


destas figuras (metáfora) e é facilmente entendida
como tal, mas o que dizer de “toda criatura
debaixo do céu” em 1:23: é literal (impossível), é
sinédoque (criaturas – homens), ou é uma
hipérbole (exagero)? Neste último caso a
compreensão fica muito alterada, conforme a
figura que identificamos. “Luta” em 2:1 é uma bela
metáfora para descrever o ministério cristão! E
assim, a estrutura e natureza do texto ficam cada
vez mais claras.
Enfim, mesmo sem buscar termos técnicos para
definir o que está vendo, o estudante da Bíblia
deve ficar atento a todo tipo de padrão ou
estrutura que o ajude a entender a direção que o
texto está tomando.
O USO DO DICIONÁRIO PORTUGUÊS

O dicionário português é uma das primeiras


necessidades do leitor da Bíblia. A linguagem da
Escritura é nobre, e muitas vezes a dificuldade de
compreensão começa no nível de entendimento
dos vocábulos. Os exemplos são muitos: o que
são “chocarrices” em Efésios 5:4? Poucas
pessoas sabem o que quer dizer esta palavra em
português “normal”. O que é “dolo”? Talvez os
advogados conhecem bem o termo, mas não as
pessoas comuns. O que é o “geco” (Provérbios
30:28)? Há bons dicionários que não definem este
termo, quanto mais os que não conhecem este
regionalismo. O uso do dicionário português,
nestes casos, é essencial.
Neste momento do estudo, procura-se ter uma
compreensão inicial do que o texto estaria
dizendo. Será uma compreensão provisória, mas
importante como alicerce do trabalho posterior.
Não é possível ir até as próximas etapas se não
conseguirmos ler o que o texto pode estar dizendo

O dicionário português não será usado apenas


para palavras que não entendemos, mas para
todas as palavras que julgarmos necessário
estudar. Isto é recomendável, pois a função do
bom dicionário é definir o sentido das palavras no
uso cotidiano. Precisamos saber todas as
possíveis significações atuais do vocábulo, para
buscar, posteriormente, a
que mais se adapta ao sentido bíblico naquele
texto e contexto. O dicionário, portanto, não está
errado em definir “batizar” como “pôr nome,
alcunha ou epíteto a” entre outras
coisas: ele está mostrando como as pessoas usam
e compreendem este verbo na atualidade. Este
não é o significado bíblico do termo, mas é como
muitos entendem erroneamente o texto bíblico.
Torna-se então, importante saber como o
dicionário classifica e ressalta o uso comum de um
termo para saber explicar o que realmente a
palavra de Deus quer dizer com ele.

Todo cuidado é pouco no uso do dicionário


português. Ele se assemelha a uma pesquisa de
mercado: não emite juízos sobre o certo ou o
errado, mas apenas diz qual o uso popular do
termo. O dicionário define palavras pelo uso que
se faz delas, logo o dicionário em português não
basta em nosso estudo. De forma alguma ele deve
ser considerado um “juiz” para resolver os dilemas
de significado.

Em boa parte dos casos o dicionário português


nos dá sinônimos da palavra, o que é muito útil no
entendimento e transmissão do seu significado a
outros. A paráfrase utilizará muitos destes
significados paralelos ou sinônimos, se forem
corretos.

Estabelecer o texto certo, assim como estabelecer


a estrutura do texto, são as primeiras tarefas do
estudante da Bíblia (teólogo). A partir de então há
segurança para uma análise do contexto, a
estrutura maior onde o nosso texto está inserido.
Este trabalho se faz por meio de leituras repetidas
do texto, inclusive de versões diferentes. O teólogo
conhece bem o texto antes de fazer seu estudo
mais detalhado. Porém o texto está rodeado de
um contexto, não é uma ilha literária, o texto faz
parte de um conjunto e será esse conjunto que
nos vamos estudar agora: O CONTEXTO.

Estudando uma abordagem ao contexto em


estudo, vamos definir o que é um contexto: É o
ambiente da passagem bíblica. Ele é composto
pelos versículos que rodeiam a passagem
estudada: os anteriores e posteriores, no livro
estudado. É também o mundo que rodeia a
passagem, sendo especificamente o mundo do
escritor e dos receptores dessa mensagem bíblica.
O contexto contém, portanto, elementos históricos,
culturais, literários, lingüísticos, além de
espirituais. Em alguns textos o contexto pode ter
vários níveis: o contexto histórico da narrativa, o
contexto literário da narrativa no livro que a
contém e o contexto do autor e dos leitores, que
pode ser diferente dos dois primeiros. Sendo o
contexto “o todo do qual o texto é parte”, ele é a
chave para compreender o argumento inteiro.

Usando a metáfora do teatro, o contexto é


principalmente o cenário e o “pano de fundo” onde
a peça se desenrola; secundariamente é também
o “pano de frente”, isto é, as cortinas, a reação do
público, etc. Ou seja, tudo o que contribui para a
melhor compreensão da peça.

A importância do contexto.
Não é possível falar demais sobre a importância
do estudo do texto no seu contexto. Iremos
apresentar agora alguns itens para mostrar este
fato. Os princípios e exemplos citados servem de
incentivo a uma boa pesquisa do contexto, e já
ensinam como trabalhar com ele.

1 O contexto ajuda a não torcer a Palavra de


Deus. Os que deturpam ou torcem a Palavra são
chamados de ignorantes e instáveis (2a Pedro
3:16). Estes termos descrevem não apenas o
caráter destes “torturadores da Palavra”, mas
também seu modo de estudar a Bíblia: são
despreparados e sem alicerce para o estudo. O
contexto fornece preparo e alicerce sólido para
uma boa exegese. Uma frase como “a
ressurreição já se realizou” pode ser a afirmação
de uma verdade, como a ressurreição espiritual
que indica o cumprimento da “nova vida em Cristo”
(Colossenses 2:12 e 3:1), ou a declaração de uma
heresia (2a Timóteo 2:17-18); tudo depende do
contexto em que essa frase é interpretada.

2 O sentido correto da Bíblia vem do contexto.


Esta é quase uma repetição do que dissemos
acima. Pensemos em um caso específico como,
por exemplo: o que é a blasfêmia contra o
Espírito Santo? Todo tipo de resposta tem sido
dada para esta questão. Há quem associe este
pecado com a de “mentir ao Espírito Santo” de
Atos 5:3, 4, 9. Outros gostam de responder citando
o misterioso “pecado para a morte” de 1a João
5:16-17. Hebreus 6:4-8 também entra na lista das
explicações propostas. Qual destas é a melhor
explicação?

O problema mencionado acima seria facilmente


resolvido se, antes de tudo, tivéssemos buscado o
texto que fala da blasfêmia contra o Espírito Santo
e estudado o texto no seu contexto. Marcos 3:28-
29 é um dos trechos que falam deste assunto.
Observando o contexto notamos que os escribas
estavam atribuindo o poder de Jesus sobre os
demônios ao próprio diabo. Jesus argumentou
mostrando que isso não era lógico, pois o diabo
não iria destruir seu próprio domínio. A expulsão
dos demônios, ao contrário, apontava para o fato
de que Jesus era mais poderoso de que Satanás.
Foi neste momento que Jesus falou sobre o
pecado contra o Espírito. No último versículo deste
parágrafo há uma explicação chamada “editorial”,
ou seja, do autor e não de Jesus. “Isto porque
diziam: está possesso de um espírito imundo”
Marcos 3:30. Grifamos a expressão “isto porque”
para mostrar que ela já é uma resposta,
mostrando do que se trata a blasfêmia contra o
Espírito Santo. Blasfemar contra o Espírito, em
Marcos, é atribuir ao diabo a obra do Espírito; é a
rebeldia de não aceitar a maior evidência que
Deus pode dar, na atuação de Seu Espírito.

Poderíamos trabalhar mais ainda com o contexto


de Marcos e ampliar a resposta, mas o que foi
feito basta para mostrar a importância do contexto
e para deixar uma advertência: cuidado com as
associações de certos textos com outros que
nunca foram escritos para serem ligados entre si
num mesmo contexto.

3 O sentido correto das palavras vem do


contexto. Isto é normal em qualquer língua do
mundo. O verbo “apanhar” pode ter sentidos
completamente diferentes. Por exemplo: “O
menino desobediente apanhou do pai” usa o
verbo em um sentido diferente da frase: “O menino
apanhou do chão a carteira do pai”.

No estudo da Bíblia, e esse é o tema desta


disciplina, isto é muito importante. Há uma
tendência de definir uma palavra de antemão e
depois tentar impor esse sentido a todos os textos
em que ela ocorre. A Melhor prática é observar o
sentido que a palavra assume em função dos
vários contextos em que essa palavra é usada, e
só então definir o conceito geral do texto em
questão. Uma comparação entre Tiago 2:24 com
Efésios 2:8-9 leva alguns a pensarem numa
contradição. Quem estaria errado: Paulo ou
Tiago? Martinho Lutero ficou do lado de Paulo, e
considerou o escrito de Tiago como algo de pouco
valor. Não precisamos ir a extremos como estes,
basta reconhecermos que as palavras “fé” e
“obras” estão sendo usadas em sentidos
diferentes em cada um dos textos, pois se trata de
épocas diferentes na vida de Abraão. Esta
atribuição de significados não é arbitrária: é
decorrente de uma análise cuidadosa dos
contextos.

4 O contexto é a garantia da verdade nas


escrituras. “Um texto fora do contexto é um
pretexto” diz o adágio dos estudos de exegese.
Qualquer um pode ensinar o que quiser usando a
Bíblia, se conseguir ignorar o contexto. Até o diabo
fez isso, tirou o texto do contexto para tentar
Jesus. Satanás citou parte do Salmo 91 (verso 11
em parte e todo o verso 12) fora do contexto. Ele
até omitiu uma parte de sua citação, a fim de
favorecer seu argumento. De qualquer forma, o
Salmo 91 fala de confiar em Deus e não de usar
Deus. É Deus quem decide (verso 14), e não há
como obrigar Deus a fazer de outra maneira.
(Lucas 4:10-11).

Muitos livros de “doutrina” ou de apologética


(polêmica religiosa) têm essa tendência. No calor
da disputa, quase ninguém se lembra de perguntar
o que o texto significa no seu contexto, mas
apenas se ele é conveniente para “dizer o que eu
quero que ele diga”. O melhor modo de estudar as
Escrituras é aprender a pensar de acordo com o
contexto: é aprender a extrair a mensagem inteira
de textos longos; é também ler como leram os
primeiros leitores.

Lembro de uma historia que ouvi, se ela é verdade


não posso afirmar, por isso a passo aos alunos da
forma como a escutei. Um certo obreiro foi
convidado a participar de um congresso. Ele viu
nesse convite uma oportunidade de ganhar um
dinheiro extra, e mandou imprimir mil camisetas
com o logotipo e o lema do congresso. Arrumou
uma mesinha na entrada do local de reuniões e
colocou o filho como encarregado de vender as
camisetas. No último dia de reuniões, foi verificar o
resultado se seu negocio e viu com surpresa que
só tinha vendido vinte camisetas, horrorizado
comprovou que estava com um prejuízo de 980
camisetas. Como ele tinha o sermão de
encerramento, subiu aquela noite no púlpito, e
disse:

“Amados irmãos, hoje eu tenho uma mensagem


de Deus para vocês”. – Aleluia! Exclamou
entusiasmada a platéia que lotava o recinto –
“Deus falou comigo!” – continuou o pregador – E
Ele diz, com voz clara e audível que eu deveria
seguir a Bíblia e que eu deveria obedecer também
o que ela diz. Então eu pergunte a Deus. O que eu
devo fazer Senhor? Eu fiz a mesma pergunta de
Paulo no Caminho de Damasco. Então o Senhor
me respondeu: “Abra a Palavra e leia, leia e
obedeça!”.

“Irmãos, então, tomei a minha Bíblia e abri, a


leitura que o Senhor me mostrou estava em
Marcos 10:21. O Senhor me diz, pela sua Palavra:
“Vai, vende tudo...”.
“Agora eu tenho que obedecer e vocês têm que
cumprir essa ordem do Senhor, eu estou com 980
camisetas ali na entrada, elas são abençoadas
pelo Senhor, e Deus me diz: Vai vendo tudo, por
isso eu não posso sair daqui até não ter vendido
até a última delas. Irmãos... Está escrito, vai e
vende tudo, eu tenho que obedecer”.

Não sei se é verdade, mas essa história ou estória


ilustra muito bem o que estamos querendo passar
a nossos alunos, muitos textos das Escrituras são
usados para afirmar as mais estranhas coisas, e
mal usados para desculpas suspeitas, sem falar
nas inumeráveis heresias que são o fruto de um
punhado de textos fora do contexto. Portanto, se
não pesquisarmos bem o contexto de uma
passagem bíblica, corremos o perigo de ensina-la
fora de seu sentido original, em interpretações que
não passam de tentativas de achar um significado
para ela.

No estudo do contexto há um fator importante a


ser considerado, que é o estudo da palavra em se
mesma. As palavras são comparadas a tijolos com
os quais a comunicação seja ela falada ou escrita,
é construída. O correto significado das palavras é
a chave numa comunicação correta. Se você
deseja se comunicar e se fazer entender, deve
conseqüentemente empregar o correto uso das
palavras, em especial com um significado
apropriado. No estudo das Escrituras nada é tão
importante como o estudo original das palavras.
Depois de estudar o texto e seu contexto devemos
fixar nossa atenção nas palavras. Vamos definir o
estudo de palavras – É a atividade de descobrir o
significado original de uma palavra no texto
bíblico. Lembremos que as palavras transmitem
idéias, expressam sentimentos, indicam ações e
demonstram qualidades. Nosso alvo como
teólogos será entender o significado que as
palavras tinham para o autor bíblico que a
empregou, e que conseqüentemente há de ser o
significado dos primeiros leitores da obra.
Devemos nos colocar como leitores na época em
que autor usou a palavra para expressar suas
idéias. Nos veremos porque. Um estudo cuidadoso
é necessário, visto que as línguas se modificam de
geração para geração, e não desejamos descobrir
o que a palavra pode significar hoje, mas, sim, o
que ela significou originalmente.

Há palavras na Bíblia cujo significado bíblico


difere do sentido moderno. É o caso da palavra
“piedade” como é empregada no Novo
Testamento. Conforme o uso dos autores do Novo
Testamento “piedade” significa temor a Deus,
respeito e reverência em relação a Deus. Ou seja,
piedade é o que devemos ter em nosso
relacionamento com Deus, um adjetivo derivado
explica melhor este sentido: Piedoso. O sentido
moderno da palavra “piedade” é completamente
diferente, significando dó, pena, uma
demonstração de compaixão. A palavra hebraica,
empregada no Antigo Testamento também
significa dó, pena e compaixão. Portanto, estamos
também diante de um caso em que, pelo menos
nas versões, há diferença de sentido das palavras
de Testamento para Testamento. Se você consulta
um dicionário verá a explicação dos dois sentidos,
porém o mais conhecido é o sentido que expressa
um sentimento de dó e pena por outros. No Novo
Testamento não ocorre este uso, mas apenas
aquele em que “piedade” é o modo certo de
relacionar-se com Deus. Este exemplo ilustra a
necessidade de fazer um bom estudo de palavras
na pesquisa e relação entre Texto, Contexto e
Palavra.

O estudo de palavras também é importante pelo


fato de nossas versões fazerem uso de termos
que mudaram de sentido. A palavra “caridade” é
um bom exemplo. Nas versões antigas (como
ARC) este termo é o principal para designar o
“amor” (ARA). De acordo com o dicionário, este
último uso é o mais correto. Mas talvez a
“caridade” seja entendida como amor a Deus em
algumas regiões do Brasil, porém, em geral, o
termo “caridade” é mais associado a atos de
benevolência (dar esmolas) do que com a
dedicação e amor a Deus. Os tradutores bíblicos,
ao empregar a palavra “caridade” talvez
desejassem imprimir um sentido mais nobre e
elevado a esta palavra grega, pois geralmente se
emprega em grego a palavra “ágape” em contraste
com “fileo”. Portanto, as diferenças de sentido
das palavras como usadas em versões bíblicas
é um forte incentivo para o estudo das palavras.

O estudo de palavras não é, porém, feito apenas


para evitar usos seculares e errôneos de um
termo. É bom lembrar que existem diferenças no
sentido das palavras de contexto para
contexto. A palavra “carne” é um exemplo deste
tema. Esta palavra: “carne” pode significar
literalmente a parte do corpo que está em
contraste com os ossos (Lucas 24:39), onde Jesus
mostra que mesmo após a ressurreição ele tem
“carne” e ossos. Pode também significar o corpo
todo (Colossenses 2:5 – “ausente quanto à
carne...” Original grego) palavra que é traduzida
corretamente como “corpo”. A palavra carne pode
significar ser humano, como em João 1:14, onde
se explica que o Verbo (Jesus) se fez carne (não
só carne, mas também ossos, pele, sangue, etc),
isto é, um ser humano. Pode também significar a
descendência humana e mortal como em
Romanos 1:3. Pode significar o lado exterior ou
terreno da vida (Filipenses 3:3-4). Pode ser usada
para designar o instrumento voluntário do pecado,
ou a nossa natureza cheia de pecado (Romanos
7:5, 18, 25; Gálatas 5:13, 16-17; Judas 23).
Notamos em especial que todos estes sentidos
são bíblicos e corretos, mas o significado muda de
acordo com o contexto. É possível indicar o
sentido exato do termo em todos os contextos em
que aparece. Aqueles que insistem em afirmar que
uma palavra tem sempre o mesmo significado,
sem ter feito antes uma boa pesquisa para chegar
a essa conclusão, eles correm o risco de ensinar o
erro e cair em contradição. Qual é então a regra?
Há termos com um só significado, mas encontra-
los depende da pesquisa. Da mesma forma,
afirmar vários sentidos para um termo é algo que
tem de ser provado. Mais uma vez o contexto é a
chave para encontrar o exato sentido das
palavras. O estudo de palavras para uma
explicação correta da Bíblia é encontrar o sentido
da palavra no texto e contexto que está sendo
estudado e analisado.

Algumas palavras bíblicas evocam significados


próprios à luz de sua história. É o caso da
palavra “ágape” (traduzida como: amor), que é
definida em termos bíblicos pelo ato de Deus em
enviar Jesus ao mundo para ser oferta pelo
pecado. Somente à luz da história bíblica é que o
termo adquire seu sentido pleno. Assim também
palavras como “Reino”, “sacerdócio” e “unção”. O
estudo da sua história é a chave para entender o
pleno significado dessas palavras.

Certas palavras bíblicas têm um significado


técnico específico, ou até podemos dizer, um uso
teológico do termo. Por exemplo: a palavra
“sacrifício” e seus cognatos, sempre evocam e se
referem (literal ou figurativamente) às ofertas
rituais do Antigo Testamento, jamais significando
“passar privações” ou “sujeitar-se a uma situação
difícil” O termo é técnico na Bíblia e é usado para
explicar o abate de animais em oferecimento a
Deus. A palavra Abba, não traduzida, mas sempre
transliterada, as vezes como Aba, é um termo
técnico que quer dizer “Pai” em sentido mais pleno
do que apenas “pai”. (Marcos 14:36; Romanos
8:15; Gálatas 4:6), expressa em sentido mais
amplo o modo de Jesus orar a Deus, e
posteriormente a igreja orar.

Há palavras que possuem vários significados e


às vezes esta compreensão é essencial para o
entendimento do texto. A palavra grega “diatheke”
é usada para significar tanto “testamento” como
“aliança” em Hebreus 9:15-20. Os dois sentidos do
termo são usados em um mesmo contexto para
ilustrar um argumento do autor. Somente um
cuidadoso estudo das palavras pode tornar
entendível a diferença no uso da palavra.

Há casos em que uma palavra possui um


sentido quase intraduzível para o português, o
que é em grego ou hebraico uma única palavra,
deve ser traduzida em muitas palavras. Por
exemplo: a frase “Enviados, pois, e até certo ponto
acompanhados” que tem em português sete
palavras em grego é uma só (Atos 15:3).
Certas palavras são pictóricas, ou seja, são
usadas para evocar um quadro na mente do leitor.
Os filipenses eram cidadãos romanos, pois sua
cidade era uma colônia romana. Viviam como
romanos. Então Paulo usa a palavra “vivei” em
Filipenses 1:27 como uma expressão que
estabelece os direitos do cidadão de um reino.
Evoca a idéia dos cristãos vivendo como cidadãos
do reino de Deus, procurando viver nessa
conformidade. O estudo da palavra ajuda a ver
melhor o quadro pintado por ela (ARA coloca uma
nota neste verso para tentar preservar a imagem
sugerida por Paulo).

Algumas palavras possuem sinônimos e


antônimos que ajudam a conhecer e
especificar melhor o seu significado. É o caso
da palavra “novo”. Pode ser a tradução de dois
termos originais no Novo testamento grego –
“neos” ou “kainos”. A primeira designa mais a idéia
de novo em tempo e, a segunda, a idéia de novo
em qualidade. Há casos onde as duas palavras
têm o mesmo significado e sentido (Mateus 9:17),
e outros casos em que o sentido diferente é
importante para se ter uma melhor compreensão
do texto (2a Pedro 3:13) Uma nova qualidade de
céus e terra. Em Lucas 5:39 um vinho “novo”
recém fabricado. Da mesma forma o uso de
antônimos facilita o entendimento: “Velho” homem
contra “novo” homem (Efésios 4:22, 24) kainos;
(Colossenses 3:9-10) neos.

Há termos cuja etimologia é importante ou


instrutiva. Tomemos por exemplo: a palavra
“santo” (em hebraico = qadosh). A origem desta
palavra é uma raiz que significa “separação” ou
“extirpação”. Nesta origem, ou estudo etimológico,
há, portanto, uma boa ilustração no sentido da
palavra. Palavras como “Igreja” (Ek-klesia),
“evangelho” têm origem etimológica, formação
histórica interessantes que nos ajudam a
compreender melhor o uso da palavra.
Há palavras que se conhecem como palavras
aparentadas, cuja relação é importante e útil. As
palavras “graça” e “dom” em português, são
traduções de “charis” e “charisma” em grego. As
palavras vêm de uma mesma raiz e a definição ou
ilustração de uma pela outra ajuda a entendê-las.

Há palavras que não foram traduzidas, mas


transliteradas: Batismo, diácono, presbítero, etc,
são termos não traduzidos, mas transliterados; ou
seja, a palavra é igual (ou quase) ao termo grego
original, escrito com letras do nosso alfabeto. A
idéia original do termo só aparece através do
estudo da palavra em sua origem: Batismo =
imersão.

Palavras teologicamente importantes. Há


palavras que encerram um vasto conteúdo ou
implicação teológica e, portanto, merecem toda
nossa atenção. Por exemplo: a palavra “resgate”
em 1a Timóteo 2:6 é importante para compreender
a natureza da obra salvadora de Jesus. Palavras
como “justificação”, “graça”, “perdão”, “comunhão”,
“adorar” e salvação entre muitas outras, sempre
merecem estudo e consideração.
Poderíamos citar outros inúmeros casos, mas
estes são os mais comuns. Apenas para enfatizar
o fato de que estudos deste tipo, estudos do texto,
do contexto e de palavras é que nos ajudam a
deixar os preconceitos de lado e encarar a
verdade bíblica com toda sua pureza.

Nos estudos anteriores concluímos assuntos


importantes de como devemos estudar com
proveito e acima de tudo com exatidão as
Sagradas Escrituras, agora vamos analisar a
Paráfrase. Vamos chamar de Paráfrase ao
resultado do estudo, ou seja, são as conclusões
às quais chegamos após tanto esforço. A
Paráfrase é como se fosse tradução e explicação
do texto nas suas próprias palavras. E podem ser
feitas de duas maneiras básicas:

1. Ser uma descrição fiel do pensamento do


autor.
2. Uma explicação às necessidades atuais dos
ouvintes.

O trabalho conclusivo de um método de estudo é


sempre apresentado na forma de um sermão
(homilia), ou uma aula, ou um estudo bíblico.
Paráfrase é, portanto, fazer a exegese passar
pela hermenêutica. (tarefa pessoal: procurar no
dicionário o significado destas duas palavras).

Em outras palavras “paráfrase” propriamente dita


nos dá a idéia de explicar um texto ou um
documento com maior número de palavras do que
o próprio texto. Uma paráfrase usa termos
diferentes dos contidos no texto em que se baseia,
pois o seu propósito é comunicar a mesma
mensagem d modo mais entendível ou para uma
melhor compreensão do que o original. Seu alvo é
explicar, traduzir, ou como diz o ditado popular
“trocar em miúdos”, é falar a linguagem comum.

A palavra paráfrase tem a sua origem no grego:


PARAPHRASIS. No grego a palavra é composta
de: PARA = “ao lado de”; e de: PHRAZÕ = “propor
em termos claros, dizer algo para ser
compreendido”, esta palavra ocorre em Mateus
15:15 significando, “explicar, interpretar, expor”.
Onde Pedro solicita a Jesus uma “paráfrase” da
parábola, e é justamente isso que Ele fez, expôs
em outras palavras o conteúdo do texto anterior (a
parábola).

A importância da Paráfrase.

1. É importante para verificar se entendemos o


texto bíblico que terminamos de estudar. A
paráfrase será o “teste” do estudo. Se, depois de
fazer todo o trabalho de empregar o Método de
Estudo das Escrituras, ainda não conseguimos
explicar o texto com nossas próprias palavras, a
conclusão óbvia é que não houve real
entendimento. Quando entendemos o texto, ele
pode ser explicado. Talvez seja uma explicação
difícil, no caso de um texto complexo, mas haverá
sempre um meio de esclarecer a sua mensagem.
A paráfrase que simplesmente repete as palavras
do texto bíblico não tem valor. Se uma palavra do
texto for usada na paráfrase é necessário que
essa palavra ou expressão seja compreendida
bem por todos em sua forma original, ou seja, no
próprio texto. Uma paráfrase pode usar o termo
“graça de Deus” se todos os leitores ou ouvintes já
souberem muito bem do que se trata. Caso
contrário, é necessário explicar o termo. Já
imaginou alguém evangelizando um incrédulo, que
nunca entrou numa igreja usando expressões
como: “o pastor da igreja é um instrumento
ungido”; “O apóstolo dos gentios ensinou...”;
“nos evangelhos sinóticos se explica que...”. O
pobre homem que nunca ouviu o “significado” de
tais expressões não entenderá nada, não haverá
comunicação e, portanto, a pregação ou
evangelização será mais difícil. Lembre que o
Espírito Santo não vai traduzir para o homem
palavras complicadas ou próprias de
denominações, pois sabemos que cada
denominação vai acunhando termos próprios.
Devemos, antes de tudo, numa paráfrase ter a
certeza de que somos compreendidos.
Colossenses 4:6, diz: “A vossa palavra seja
sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um”. Este
texto não pode ser parafraseado como se segue:
“O modo cristão de responder a cada pessoa é:
primeiro, usar palavras agradáveis, e em segundo
lugar, usar palavras temperadas com sal”. Isto não
é paráfrase! Houve apenas uma inversão da
ordem do texto. Es termos “palavras agradáveis”,
“temperadas com sal” e até às vezes o próprio
verbo “responder” precisam ser explicados, neste
contexto, ou seja, explicando o que Paulo
tencionou dizer, ou como ele diria isso mesmo aos
brasileiros.

O fato de considerarmos difícil realizar a paráfrase


de um certo texto, isto indica que ele deve ser
novamente estudado. Quando percebemos, ao
iniciar a paráfrase, que ela contém elementos
difíceis de explicar com as nossas palavras, o
texto está então nos convidando para nova
análise, novo aprofundamento e novo estudo.
2. Organizar e resumir as idéias principais são
outras razões para entender a importância da
paráfrase. Durante todo o processo de estudo, o
estudante acumula uma série de fatos, idéias,
conclusões e lições. No momento de fazer a
paráfrase ele vai poder sintetizar todo este
material, dando ênfase aos elementos relevantes.
A paráfrase nos força a ter algo para dizer, e não
apenas muitas idéias isoladas das quais queremos
falar. O estudo do texto, como aprendemos nesta
disciplina, pode ser comparado à reserva do
material para a construção de uma casa; a
paráfrase é o uso deste material.

Justamente neste ponto deve haver uma


separação entre o estudo de pontos secundários e
dos pontos essenciais do texto. A paráfrase não
deve perder-se nos detalhes e esquecer o ponto
principal. Todos os estudos ajudam a
compreender o texto, mas a paráfrase dará o peso
justo a cada material conforme as exigências do
próprio texto. Dando importância ao que é
essencial, se tornará mais clara a mensagem.
No livro de Neemias encontramos o exemplo de
uma excelente paráfrase: “Leram no Livro, na lei
de Deus, claramente, dando explicações, de
maneira que entendessem o que se lia”. Neemias
8:8.
Ao usar a linguagem do povo, os eventos do dia e
as necessidades do momento, a paráfrase faz com
que a Palavra Eterna de Deus seja entendida
pelos homens de hoje. O estudo bíblico tem como
alvo à clarificação da mensagem do texto, de
forma que muitos possam aprender dele.

3. A paráfrase também ajuda para ilustrar a


verdade. Na paráfrase podemos usar idéias e
ilustrações que não estão evidentes no texto, mas
que o explicam com justiça. Para ilustrar a
expressão “árbitro contra vós outros” de
Colossenses 2:18, certo comentário contou a
história de um “falso-juiz” que interveio em uma
corrida, prejudicando muitos atletas por seu rigor
excessivo. A ilustração é excelente, pois se
fundamenta num bom estudo do pensamento de
Paulo; e, ao mesmo tempo, transmite bem a idéia
da expressão “juizes severos e desautorizados”
que ficam criando regras e regrinhas que
prejudicam a vida cristã de muitos. Uma boa
paráfrase é uma verdadeira obra de arte, onde a
mensagem original é mantida, mas os
elementos para a transmissão da mesma só
podem ser obtidos depois de bastante reflexão.

Quando estudamos a Bíblia, não devemos


obedecer unicamente a critérios pragmáticos.
Quem estuda o texto apenas para achar respostas
práticas para as suas questões, corre o risco de
transformar a Palavra de Deus em uma forma de
espelho onde ele só pode ver sua própria imagem.
Por outro lado, é necessário admitir que sempre
haverá algo a aprender. O estudo bíblico é uma
disciplina acadêmica cujo valor é incalculável, e
cujo alvo é o intelecto; mas se trata, acima de
tudo, de um confronto com deus e seu modo de
agir com o ser humano.

A paráfrase irá ressaltar o aspecto prático dos


textos bíblicos, tanto daqueles de ênfase prática,
como também os de feição mais doutrinária. A
paráfrase traz o texto da antiguidade para os
nossos dias. O estudo bíblico geralmente tem dois
horizontes; o primeiro é o horizonte do escritor e
dos ouvintes originais; o segundo é o nosso. A
paráfrase é a tentativa de aplicar ou entender um
texto bíblico no nosso horizonte (hoje), a partir
daquilo que o texto diz no seu primeiro horizonte
(original).

É muito comum ouvir exposições da Palavra


contaminadas com idéias populares ou
preconcebidas. Um método apropriado no Estudo
das Escrituras e a paráfrase do texto nos ensina a
colocar tudo em “pratos limpos”, pois estes
estudos nos ajudam de uma maneira prática a
trocar o modo subjetivo de ler a Bíblia por um
modo objetivo. As aplicações de um bom estudo
e uma boa paráfrase não são introduzidas por
uma frase subjetiva: “eu acho que o texto diz...”
mas sim por uma idéia objetiva da frase “O texto
diz...”.

Exemplo de paráfrase:
Texto: Lucas 8:25
Uma pergunta sem resposta: “onde esta a vossa
fé” – depois de acalmar a tempestade, depois de
ter acabado com a fúria dos ventos e ter aquietado
o mar bravio, Jesus pergunta pela fé de Seus
discípulos. Por que eles não responderam? Nem o
mais impetuoso dos apóstolos, Pedro, teve desta a
vez a coragem e responder.
Se Jesus hoje, em meio às tormentas humanas,
os conflitos da sociedade moderna, e em meio a
velas desgarradas pelos ventos da incerteza,
perguntasse “onde está a vossa fé?” Teria o
homem chamado de “atualizado” alguma coisa a
dizer? Ou talvez o mesmo silencio ecoasse
através dos tempos e de novo Jesus ficaria
esperando sua resposta?
Sentimentos em Conflito: “Possuídos e temor e
admiração” – O medo era a barreira que lhes
impedia de compreender “quem era aquele que os
ventos lhe obedeciam”. A admiração aqui não era
um sentimento de respeito, mas, a expressão
grega usada neste texto expressa um sentimento
de espanto, assombro ou surpresa por causa do
milagre. Diante do inesperado e à vista do que é
incompreensível ao coração humano, perdemos a
visão de Jesus, nos perguntamos um aos outros, e
esquecemos de perguntar para Deus. Ele tem a
resposta: este que acalma os ventos e tranqüiliza
a fúria das ondas é meu Filho. No silêncio da
bonança, no meio do mar, agora quieto. Deus fala
a nosso coração. Ele, Jesus, pode acalmar teus
temores.

Curso: Métodos de Estudo das Escrituras


É a Bíblia a Palavra De Deus?

Embora a Bíblia seja um Livro de texto sobre a fé,


seja mais um livro de doutrina e religião, muitas
vezes tocam em outras matérias como história,
geografia e ciências. Quando toca, podemos
conferir comparando-a com a arqueologia, etc. Se
a Bíblia fosse escrita pelo Criador que sabe tudo,
esperaríamos precisão.
Além disso, a Bíblia foi escrita há 2000-3500 anos,
quando os erros
científicos eram abundantes. Descrentes já
procuraram impiedosamente achar
erros Nela. Mas se, apesar disso, podemos
confirmar que não contêm os erros
comuns daquela época - se verdadeiramente fala
fatos que eram desconhecidos
pelos cientistas até séculos mais tarde - então isso
reforçaria bastante a
nossa confiança de que não vem dos homens,
mas sim de Deus.
Considere os exemplos a seguir nos quais a Bíblia
já foi provada ser
precisa, mesmo quando estudiosos não
concordaram com Ela.
História e geografia

1. A nação hetéia

A Bíblia freqüentemente fala desta nação antiga (2


Samuel 11:3, 6, 17, 24;
Gênesis 15:19-21; Números 13:29; Josué 3:10),
mas durante anos descrentes
argumentavam que a Bíblia estava errada, pois a
história nada falava desse povo. Depois, em 1906,
Hugo Winckler desenterrou Hattusa, o capitão
heteu. Agora sabemos que, no auge, a civilização
hetéia disputou com o Egito e a Assíria em
esplendor!

2. Pitom e Ramessés

A Bíblia diz que os escravos israelitas construíram


estas cidades egípcias
usando tijolos de barro misturado com palha,
depois de barro com restolho, e
depois apenas de barro (Êxodo 1:11; 5:10-21). Em
1883, Naville examinou as
ruínas de Pitom e achou os três tipos de tijolos.

3. O Livro de Atos

Sir William Ramsay era um descrente que


procurou contestar Atos traçando as
viagens de Paulo. Em vez disso, suas
investigações fizeram dele um cristão
tenaz da precisão do Livro! O ponto decisivo foi
quando ele provou que, ao
contrário da sabedoria já aceita, a Bíblia estava
certa quando deixa
subentendido que Icônio ficava numa região
diferente de Listra e Derbe (Atos
14:6). (Veja Free, Archaeology and Bible
History, 317.)

Considere estas citações de arqueólogos notáveis:

"... pode ser afirmado categoricamente que jamais


uma descoberta arqueológica
tem negado uma referência Bíblica. Um grande
número de descobertas
arqueológicas foram feitas que conferem em
resumo claro ou em detalhes
exatos afirmações históricas na Bíblia. E, pela
mesma moeda, uma avaliação
adequada de descrições Bíblicas tem levado a
descobertas incríveis" - Dr.
Nelson Glueck (Rivers in the Desert, 31).

"... a arqueologia tem confirmado inúmeras


passagens que tinham sido
rejeitadas por críticos como não-históricas ou
contraditórias a fatos
conhecidos.... No entanto descobertas
arqueológicas mostraram que estas
acusações críticas estão erradas e que a Bíblia é
confiável justamente nas
afirmações pelas quais foi deixada de lado por não
ser confiável. Não
sabemos de nenhum caso no qual a Bíblia foi
provada errada" - Dr. Joseph P.
Free (Archaeology and Bible History, 1, 2, 134).

Ciência

Qual é a forma da terra?

"Ele é o que está assentado sobre a redondeza da


terra, cujos moradores são
como gafanhotos; é ele quem estende os céus
como cortina e os desenrola como
tenda para neles habitar". (40:22).
Isaías escreveu isso quando os homens
acreditavam que a terra era plana
("redondo" = "um circulo, esfera" - Gesenius). Hoje
temos fotos tiradas do
espaço que mostram a forma da terra, mas como
Isaías sabia disso?

Como a terra é sustentada (apoiada)?

"Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a


terra sobre o nada." (Jó
26:7).

Os homens antigos acreditavam em muitos erros


(quatro pilares enormes, nas
costas de Atlas, etc.). Como Jó sabia a verdade?

O que fica no mar de acordo com este versículo?


"... as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o
que percorre as sendas dos
mares." (Salmos 08:8).

Os homens não sabiam das sendas dos mares até


que Matthew Maury leu este
versículo e resolveu achá-las. Ele descobriu as
correntezas do oceano, e
ficou conhecido como o Pai da Oceanografia.
(Impact, 9/91, pág. 3-4).

O que esse versículo nos diz sobre os rios?

"Todos os rios correm para o mar, e o mar não se


enche; ao lugar para onde
correm os rios, para lá tornam eles a correr".
(Eclesiastes 1:7).
Hoje entendemos como isso acontece através do
ciclo da água e da evaporação.
Como Salomão sabia disso?

A Bíblia contradisse teorias não-comprovadas,


mas se for entendida
corretamente nunca contradiz qualquer fato
científico comprovado. No
entanto, muitas vezes afirmou verdades científicas
séculos antes dos homens
conhecerem-nas.

Enquanto a Bíblia já foi provada ser precisa


repetidamente, aqueles que
criticam a Bíblia foram incapazes de provar o
contrário. Isso certamente
fortalece nossa fé em outros ensinamentos
Bíblicos.

Um achado Arqueológico.

Ao lado encontramos um achado


arqueológico. O esqueleto de um
homem crucificado, o tumulo tem o
nome de “Yehochanan” e pode ser
visto como pelo buraco que foi feito
pode ser colocado o prego romano
empregado na execução. Esta é uma evidência
concreta e real de que a morte por crucificação era
um método comum empregado pelo Império
Romano no primeiro século. Podemos observar na
figura ao lado, um resto do pé e a reconstituição
feita em gesso mais a esquerda.
Outro detalhe é que se conservou a forma e
tamanho do prego usado, pois ao que tudo indica
Yehochanan foi retirado da cruz e não retiraram o
prego do pé.
COMENTÁRIOS SOBRE VERSÕES

A Bíblia do Rei Tiago (uma versão inglesa muito


consultada pelos teólogos) criada por um grupo de
tradutores católicos e protestantes. Esta era a
única maneira de produzir um texto geralmente
aceitável, mas a tentativa de neutralidade não foi
bem sucedida. Os católicos tentaram junto ao
parlamento Inglês, se sobrepor e os protestantes
acusaram os tradutores de estarem a favor dos
católicos, Em todo caso, a Bíblia sobreviveu, mas
os tradutores tiveram que usar a "exatidão
política." Depois de muitos debates, e divergências
sobre as palavras "politicamente corretas."

Fizeram ressurgir palavras que já não eram


usadas na língua inglesa por séculos. Palavras
obscuras, velhas e obsoletas foram trazidas à tona
a fim de fornecer a exatidão política para a Bíblia
do Rei Tiago, mas que ninguém poderia
compreender. Ao mesmo tempo, William
Shakespeare fazia do mesmo modo com suas
peças.

Se nos olharmos os livros de referência que


existiram antes desta Versão e de Shakespeare e
os que existiram imediatamente após, veremos
que o vocabulário da língua inglesa aumentou por
mais de cinqüenta por cento, em conseqüência
das palavras trazidas da obscuridade pelos
escritores do século XV.

Embora eminentemente poética, a língua da Bíblia


inglesa autorizada é completamente diferente de
toda a língua falada por qualquer um na Inglaterra
ou nos estados Unidos.

Não carrega nenhuma relação com o grego ou ao


latim de que foi traduzida. Mas desta interpretação
canônica aprovada, todas as Bíblias inglesas
restantes emergiram em suas várias formas.
Apesar de todas essas dificuldades, é a
remanesce mais próxima de todas as traduções da
língua inglesa dos manuscritos gregos originais.
Todas as versões inglesas modernas, corrompidas
significativamente, são completamente
insustentáveis para o estudo sério por qualquer
um, porque têm suas próprias anotações
específicas.

COMO SE FAZEM ALGUMAS TRADUÇÕES

Nós podemos citar uma versão extrema de como


se trabalha na prática. Podemos olhar uma Bíblia
emitida atualmente (hoje) em Papua no Pacífico
em Nova Guiné onde há tribos que experimentam
a familiaridade em uma base diária com um
animal, com o porco. Na edição atual de sua
Bíblia, cada animal mencionado no texto, se
originalmente é um boi, leão, burro, carneiro ou o
quer que seja, agora é um porco! Mesmo Jesus, o
"Cordeiro tradicional de Deus", nesta Bíblia é o
"Porco de Deus"! Assim, para facilitar a confiança,
nos Evangelhos e na Bíblia em geral, nos
devemos olhar os Manuscritos gregos originais
com suas palavras usadas no seu contexto
original.

Muitas palavras não conseguem uma tradução


exata para a língua nativa, isso acontece porque
as palavras originais não têm nenhuma
contraparte direta em outras línguas.

Nós fomos orientados que o pai de Jesus, José


era um carpinteiro. Por que não? Assim que dizem
as traduções, mas, isso não foi dito nos
evangelhos originais.

A melhor tradução, explica realmente que José era


um mestre de ofício. A palavra "carpinteiro" era
apenas o conceito da época do para um artesão.
Qualquer um que conheça a Maçonaria, por
exemplo, reconhecerá o termo "ofício". O texto
maçônico interpreta que José era mestre ou
professor.
Vamos olhar a água e o vinho de Canaã, depois
da história em que a Bíblia nos diz, e que era um
evento sobrenatural, um milagre. O casamento de
Canaã é descrito somente em João. É relatado
que quando quiseram o vinho, sua mãe, Maria diz:
"Acabou o vinho".

O Evangelho relata que a pessoa que ocupava o


cargo era um mestre de cerimônias. Isto define de
forma específica que era uma cerimônia de
casamento (bodas). Porém os costumes judeus da
época desmentem o costume romano e por isso,
o texto traduzido é adaptado. A festa só poderia
ser um pré-casamento (noivado) isso mais de
acordo com o costume judaico da época. Pois, o
vinho nessa festa só era disponível aos
sacerdotes e aos judeus celibatários, não aos
homens casados, noviços ou quaisquer que não
fossem "santificados". O ritual de purificação da
água foi permitido somente para um, conforme foi
indicado no livro de João.

NOTA: Se hoje o judaísmo não aceita o Novo


Testamento é principalmente devido a deturpação
romana de seus costumes mais antigos. Não há
nada mais desagradável do que ver nossa cultura
deturpada pela ignorância dos costumes culturais.

A QUESTÃO DO MONTE SINAI

As escavações arqueológicas 1891 são restritas a


regras de exploração. No Egito e na Mesopotâmia,
tiveram que ser aprovadas e só foram financiadas
por determinadas fontes. E estas fontes eram
controladas por um grupo de autoridades. Uma
destas autoridades designadas era o "Fundo
Egípcio de Exploração", que foi fundada na Grã-
Bretanha em 1981.
Nas primeiras páginas dos artigos da associação
do Fundo Egípcio informava: "O objetivo dos
fundos é promover o trabalho da escavação com a
finalidade de ilustrar as narrativas do VT".

O que isso significa na realidade é: Se algo fosse


encontrado pelos arqueólogos que estejam de
acordo com as Escrituras como é ensinada hoje,
seria o público informado sobre ela; qualquer outra
coisa seria considerada mitologia.

Se não servisse interpretação corrente dada na


Bíblia, não chegaria ao domínio público. Isso foi há
100 anos atrás.

Nós sofremos ainda de muitos regulamentos e, de


acordo com as leis vigentes no País, a descoberta
é colocada num envoltório e fechado
secretamente como é o exemplo da montanha so
Sinai.
Há poucas informações nos círculos internos e
acadêmicos e de muitas descobertas nada escrito
é para o domínio público.

No contexto do livro do Êxodo há uma montanha


significativa nomeada na Bíblia. Situa-se na
Península do Sinai, que é um triângulo entre o
Egito e o Jordão. É conhecida pelo nome de
Horeb. Foi chamada mais tarde de Sinai e depois,
para Horeb outra vez. Esse é o nome que o
remanesce da narrativa bíblica nos legou
enquanto nos incorporamos a progressão da
história e essa história e a de Moisés, tirando os
Israelitas do Egito e seu encontro com Jeová na
montanha sagrada.

Há aproximadamente 1360 aC, não existia


nenhuma montanha chamada Sinai e nem na
época de Jesus.

O Monte Sinai está atualmente no sul da


península do triângulo e foi batizada por monges
cristãos gregos que lá construíram uma pequena
missão, pois decidiram que ali era o Sinai.

Hoje ainda existe um local chamado Monastério de


Santa Catarina.

Seria realmente a Montanha do Sinai Bíblico?


O Êxodo pode explicar o local onde a verdadeira
Montanha Sagrada estava e o percurso que
Moisés e os Israelitas fizeram entre o Egito e o
Jordão.

Seguindo a rota dada no Êxodo, ficaria centenas


de milhas afastado do Monastério do Sinai que é
mostrado nos mapas de hoje.
Além disso, está longe, a milhares de metros do
Mar Vermelho onde Moisés separou as águas.

Em árabe, Horeb quer dizer "deserto". O Monte


Horeb e as montanhas de deserto são bem
conhecidas. Fica a 2000 pés acima do nível do
mar, exatamente onde o livro do Êxodo revela a
rota do Egito.

Em 1890, Egiptólogo Britânico Flinders Petry da


Universidade de Londres, patrocinado pelo "Fundo
Egípcio de exploração”, publicou
confidencialmente os resultados de seu trabalho;
mapas, fotografias, registros foram entregues,
porém, suas anotações não foram colocadas à
disposição do público e suas anotações só
poderiam ser lidas por membros oficiais.

Segundo o relato bíblico, os Israelitas derreteram


ouro (para fazer o carneiro de ouro); lá não havia
nenhum resquício de materiais de fundição.

Porém encontraram lajes de pedra e abaixo


destas, armazenados com cuidado 4 a 5 toneladas
de um tipo de pó, o mais fino e branco possível.
Embalados firmemente no assoalho. Não havia
indícios de metalurgia em milhas de distância, mas
pó branco era obtido de queimadas de plantas
para produzir alcalinos. Porque queriam alcalinos?

Por outro lado, porque o fariam a 2600 pés da


montanha e não no vale?

Os resultados nunca foram publicados.


O Monte Sinai fica no deserto de Neguev, no sul
de Israel, e não na desértica península egípcia do
Sinai onde segundo a Bíblia, Moisés recebeu de
Deus as duas tábuas dos Dez Mandamentos. É o
que diz o arqueólogo italiano Emanuel Anati, que
passou 19 anos fazendo escavações em Karkom,
este monte que já era considerado sagrado pelos
povos que habitaram suas proximidades na Idade
do Bronze e onde foram encontrados restos de
altares, objetos de cultos e lápides. "O Monte
Sinai, segundo o Êxodo é o Karkom, na cidade de
Eilat, às margens do Mar Vermelho."
A descoberta de um altar feito de pedra talhada
em forma de meia-lua, "Símbolo do deus
babilônico: Sin," coincide com a tese que desta
esta raiz Sin derivou o nome Sinai para o Monte.

A VERSÃO DOS SETENTA (LXX)

Os líderes do judaísmo em Alexandria foram


responsáveis por uma tradução do Antigo
Testamento hebraico para o grego, que integraria
a Biblioteca de Alexandria, e foi chamada de
Septuaginta, ou Versão dos Setenta (LXX). Esta
tradução já estava concluída em 150 a.C. e foi
feita por eruditos judeus e gregos, provavelmente
para o uso dos judeus alexandrinos. Assim que a
igreja primitiva passou a utilizar a Septuaginta
como Antigo Testamento, a comunidade judaica
perdeu o interesse na preservação do original
hebraico. Esta versão teve um papel muito
importante para o estudo e divulgação do Antigo
Testamento em outras línguas, já que os textos
hebraicos apresentam grande dificuldade de
compreensão.

Outras versões surgiram após a Septuaginta,


devido à oposição do cânon judaico a esta
tradução. São elas:

A versão de Áquila (130 a 150 d.C.) - manteve o


padrão de pensamento e as estruturas de
linguagem hebraicas, tornando-se uma das
versões mais utilizadas pelos judeus.
A revisão de Teodócio (150 a 185 d.C.) - revisão
de uma versão anterior - a dos LXX ou a de
Áquila.

A revisão de Símaco (185 a 200 d.C.) - preocupou-


se com o sentido da tradução, e não com a
exatidão textual. Exerceu grande influência sobre
a Bíblia latina, pois Jerônimo fez grande uso desse
autor para compor a Vulgata Latina.

Os Héxapla de Orígenes (240 a 250 d.C.) -


promoveu-se uma visão comparativa dos textos
hebraicos com a tradução dos LXX, de Áquila, de
Teodócio e de Símaco, procurando harmonizar os
textos em busca de uma tradução fiel do hebraico.

Uma edição do texto hebraico, por volta de 100


d.C., veio a estabelecer o texto massorético.

A Vulgata Latina
Sendo o grego, considerado pela Igreja como a
língua do Espírito Santo, o latim assumiu o papel
de língua popular imposta pelos soldados nas
conquistas romanas, motivo pelo qual a Bíblia
latina recebeu o nome de Vulgata.

Os Textos Massoréticos
Alguns sábios judeus, chamados massoretas,
iniciaram, entre os séculos VI a X d.C., um
trabalho de padronização dos textos hebraicos do
Antigo Testamento. Estes textos, como se sabe,
foram escritos praticamente sem vogais. No
trabalho de padronização, foram inseridas as
vogais nos textos originais, o que contribuiu para o
desaparecimento dos mesmos.

Provas da Veracidade do Antigo Testamento


Coleção Babilônica em Sterling Memorial Library
O Cilindro da Conquista de Jerusalém VI século
antes de Cristo

Nabucodonosor II (604-562 Antes de Cristo). Este


cilindro comemora a reconstrução do templo do
deus babilônico na cidade de Marada e a
conquista da cidade de Jerusalém (2 Reis 24:10-
17 etc.).
Literature: W.W. Hallo, "Nebukadnezar Comes to
Jerusalem," in Jonathan V. Plaut, ed., Through the
Sound of Many Voices: Writing Contribute on the
Occasion of the 70th Birthday of W. Gunther Plaut
(Toronto, Lester and Orpen Dennys, 1882) 40-57.

Museum number: NCBT 2314.

A seguir encontramos um excelente exemplo


de como deve ser feita uma pesquisa histórica
e bíblica. O (a) aluno (a) poderá notar as muitas
referências a consultas de livros e obras
especializadas, tudo isso para comprovar uma
verdade: Existiu a cidade de Nazaré?

Introdução

Neste estudo trataremos da cidade de Nazaré,


primeiro, como ela é citada nas fontes cristãs, pois
nos registros encontramos várias citações dessa
cidade como sendo uma cidade da Galiléia, como
exemplo, podemos citar o registro de que era
nessa cidade o lar de Maria e José1 encontramos
também a narrativa de que nessa cidade havia
uma sinagoga judaica2
Até certa altura das investigações, os estudiosos e
pesquisadores acreditavam que a cidade de
Nazaré tinha sido apenas uma tradição, um certo
arranjo literário para dar credibilidade á profecia de
que Ele seria chamado "Nazareno".3 Eles tinham
chegado a essa conclusão porque não
encontravam nenhuma citação da cidade fora da
Bíblia. Por exemplo, podemos citar o resumo feito
por Jack Finegam:

"No Antigo Testamento, Josué 19:10-15 contém


uma lista de todas as cidades da tribo de
Zabulon..., mas não há nenhuma menção a
Nazaré. Josefo, que foi responsável pelas
1
Como é registrado por Lucas no capítulo l, verso 26, e no capítulo 2, verso 39. Em Marcos no
capítulo 1 verso 9. Também em João no capitulo l, versos 45-46.
2
Como é anotado por Lucas no capitulo 4, verso 16.
3
Conforme é registrado no Evangelho de Mateus, capitulo 2 , verso 23.
operações militares nessa área durante a Guerra
dos Judeus..., cita 45 cidades da Galiléia, mas não
toca no nome de Nazaré. Além disso, o Talmude,
apesar de se referir a 63 cidades da Galiléia, não
menciona Nazaré sequer uma vez”.4
É interessante notar que os textos judaicos que
abarcam uma totalidade de quase 1.500 anos não
falam absolutamente nada de Nazaré. Haveria
alguma razão para deixar de falar dessa cidade?
Por que especificamente o Talmude judaico nunca
falou dela? Nos teremos as reposta no decorrer
desta pesquisa.

A Arqueologia Descobre Nazaré

A pesar do silêncio, a pesar de tudo, as


escavações feitas pela arqueologia veio em auxílio
da história, trazendo surpreendentes fatos sobre a
existência de uma aldeia na região da Galiléia
chamada: Nazaré.
4
Jack Finegan. “The Archasology of the New Testament: Tize life of Jesus and the Beginng of the
Early Church" - Princeton, Princeton Univ. Press, 1969, pág. 27.
Quando falamos que Nazaré era uma "aldeia",
estamos descrevendo uma característica
fundamental da condição dessa pequena vila,
portanto, devemos em primeiro lugar identificar
corretamente essa nomeação. Consideremos as
características topográficas5 da região da Galiléia
no início da dominação romana. Por causa dessas
características do terreno existiam a chamada
"Alta Galiléia" e a chamada "Baixa Galiléia". Esta
última possui quatro serras com altura um pouco
acima dos 300 metros. Entre essas pequenas
serras encontramos vales que correm no sentido
leste-oeste.

O formato entre serras e vales, forma um contraste


entre altos e baixos, como se fosse o telhado de
uma casa, porque por outro lado, temos na Alta
Galiléia a serra de Meiron que chega a uma altura
de quase 700 metros, que seria considerado como
a parte mais alta do "telhado”.

5
São estudos feitos pela geografia física do solo, ou seja, estudos geológicos e topográficos.
Os estudos demonstram que a aldeia de Nazaré
poderia ser encontrada no extremo sul de uma das
quatro serras que formavam a Baixa Galiléia. A
área da Baixa Galiléia era de aproximadamente 24
por 40 quilômetros, e havia um considerável
número de centros urbanos e de aldeias
espalhados pela região. Muitas outras aldeias
foram construídas na mesma região ao pé dos
outros três morros ou serras, porém, ao contrário,
no morro ou serra de Nazaré as aldeias e
povoados estão construídos no topo. Isso fazia
com que essas aldeias ficassem isoladas do resto
das regiões urbanas, e principalmente das
estradas e caminhos mais usados para o
intercambio comercial. É importante levar em
consideração este ponto, pois era o fluxo de
comercio que determinava se uma cidade era
maior, menor, vila ou apenas uma aldeia, ou seja,
a classificação era político-comercial. Na época
em estudo, isto é, o primeiro século de nossa era,
ou era comum, na região da Galiléia existia uma
cidade grande, não pela quantidade de
habitantes, mais pela influência comercial. Era o
movimento de mercado que determinava se uma
cidade era grande, menor ou vila. Seguindo esse
critério de classificação a cidade grande na época
era Beisã (em grego era conhecida como
Citôpolis). Na mesma classificação, agora como
cidades menores, se encontravam Séforis e
Tiberíades. Segundo estudos históricos, quando
Herodes Antipas recebeu as regiões da Galiléia e
Peréia para ocupar o cargo de Tetrarca, no ano
três antes da Era Comum, ele “fortificou Séforis
para que ela se tornasse a jóia de toda a Galiléia,
e mudou o nome da cidade para Autocratoris”.6

O autor judeu Flávio Josefo quando descreve sua


campanha militar na Galiléia, menciona a cidade
de Séforis como: “situada no coração da Galiléia,
cercada por diversas aldeias”.7 Certamente
Nazaré era uma dessas aldeias, cujos nomes não
foram incluídos nas listas de registros judaicos.

Estamos agora em condições de entender a razão


pela qual Nazaré não foi citada nas listas judaicas,
6
John Domininic Crossan - O Jesus Histórico, 2ª Edição, Editora Imago, 1994, pág. 2. - Citando Flávio
Josefo, Antiguidades Judaicas , Vol. 18, pág 27.

7
Flávio Josefo, Autobiografia, pág 346, citação de John Domninic Crossan, Op. Cit. Pág. 53
pois essas listas incluíam unicamente as cidades
grandes, menores e vilas, as aldeias e aldeolas
não eram citadas, pois não tinham destaque
comercial, e sendo que as aldeias da Serra de
Nazaré estavam no topo do morro, eram isoladas
das rotas de comercio. Na classificação político-
comercial não se incluíam aldeolas sem
importância. Talvez seja essa também a razão
pela qual se faz uma menção pejorativa sobre
Nazaré: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”
mostrando que na época a aldeia de Nazaré era
um povoado insignificante.

Podemos encontrar também uma forte razão para


entender o motivo pelo qual o Messias de Israel
mudou de cidade ao início de sua vida pública, o
Evangelho de Mateus registra o fato com estas
palavras: “e, deixando Nazaré, foi morar em
Cafernaum, situado a beira-mar, nos confins de
Zabulon e Naftali” 8
A Reorganização do Sacerdócio Confirma a
existência da Cidade de Nazaré

8
Citação do Evangelho de Mateus capítulo 4, verso13
É um fato reconhecido por todos que a cidade e o
templo de Jerusalém foram destruídos pelos
romanos no ano 70 da Era Comum.
Posteriormente, na terceira guerra entre judeus e
romanos no ano 135 da Era Comum, os judeus
foram novamente derrotados e desta vez foram
também expulso do território de Jerusalém pelo
imperador Adriano, que para quebrar qualquer
sentimento nacionalista mudou o nome da cidade
para Aelia Capitolina. O que aconteceu com o
sacerdócio judaico depois da diáspora
(dispersão)?

Uma leitura atenta do primeiro livro das Crônicas,


no capitulo 24 encontramos que o sacerdócio
judaico, na época do rei David, foi dividido em 24
turnos por ano, cada turno de 15 dias que se
revezavam nos ofícios do templo, na época da
destruição do templo ainda funcionavam esses 24
turnos, tanto é que o sacerdote Zacarias, o Pai de
João "o batizador", era do turno de Abias, ou seja,
do oitavo turno9 O interessante neste estudo é
comprovar que depois que o templo foi destruído
os judeus reorganizaram as 24 ordens e as
distribuíram pelas cidades e aldeias da Galiléia O
que a arqueologia descobriu de importante em
relação com esses 24 turnos reorganizados?

“A primeira menção a Nazaré fora dos textos


cristãos foi encontrada numa Inscrição
fragmentária feito num pedaço de mármore cinza
escuro encontrado em Cesaréia, em agosto de
1962, e que datava do século III ou IV da Era
Comum (...) Havia uma lista dessa localidade:
afixada à parede da sinagoga de Cesaréia,
construída no ano 300 E.C. O texto reconstituído
da Inscrição diz: “Décima oitava ordem religiosa [
Hapizzez], [reinstalada em] Nazaré”10

Outras escavações foram feitas pelo franciscano e


erudito em história Bellarmino Bagatti, durante
cinco anos entre 1955 e 1960, no terreno da velha

9
Confira a leitura de Lucas capítulo l, verso 5 com 1° de Crônicas
capítulo 24, verso10.
10
John Dominic Crossan, Op. Cit. Pág. 50.
Igreja da Anunciação, na atual cidade de Nazaré.
O que foi descoberto?

Sabemos que no final do século II antes da Era


Comum a dinastia judaica conhecida como os
asmodeus, conseguiu conquistar finalmente a
cidade de Samaria, que a essa altura já era uma
cidade grega, com a queda de Samaria foi aberto
o passo para a conquista da planície de Esdrelon
e toda a região da Galiléia. Foi nessa época,
exatamente, que Nazaré foi de novo reconstruída.
“No século segundo antes da Era Comum
voltamos a encontrar uma grande quantidade de
artefatos o que indica que a aldeia foi fundada
novamente nesse período (...) Isso significa que a
aldeia tinha menos de duzentos anos no século I
da Era Comum”11

Era a cidade de Nazaré uma aldeia de grande


movimento comercial?

11
Eric Meyer. Galilean Regionalism as a Factor in Historical Reconstruction, Basor, 220/221, 93-101,
1975-76, pág 57, 184 nota 36.
Bagatti também encontrou varias grutas artificiais
dentro de aldeia antiga, além de cisternas para
água, prensas de azeitonas, tonéis de óleo, mós e
silos para grãos. Isso significa que a atividade
principal dos aldeões era a agricultura, nenhuma
das descobertas aponta para algum tipo de
prosperidade ”.12

Todos os dados indicam que Nazaré era uma


aldeia no topo da serra da Baixa Galiléia, cuja
principal atividade era a agricultura. Os dados
servem para moldar um quadro sobre “o Galileu”
como também era chamado.13 Portanto, os
habitantes da aldeola de Nazaré eram na sua
maioria agricultores, pobres, de baixa posição
social, era uma classe desfavorecida, e ao que
tudo indica, tinham, sem dúvida até um “modo de
falar” 14 diferente, ou seja, um sotaque aramaico
característico, próprio dos camponeses da Baixa
Galiléia.

12
Eric Meyer. Op. Cit., Pág 56, citado em John Dominic Crossan.
Op. Cit., pág 51.
13
Leitura do Evangelho de Mateus capítulo 26, verso 69.

De acordo com a narrativa do Evangelho de Mateus capitulo 26,


14

verso 73.
Sendo assim, o quadro que a arqueologia e os
estudos da época nos dão do Galileu e sua gente
é de pessoas muito humildes, comuns, homens e
mulheres, camponeses das aldeias e dos morros,
trabalhadores da agricultura, os menos
favorecidos por uma sociedade de elites, pessoas
que sobreviviam dos produtos do campo e do
artesanato tais como tecelão e carpinteiro. A esta
altura podemos também destacar o fato de como
as classes sociais mais abastadas desprezavam
as classes humildes, isso sempre foi uma
constante das civilizações, tanto no passado como
no presente. A título de exemplo: Na importante
obra do pesquisador e erudito professor Ramsay
MacMullen pode-se ler um apêndice intitulado: “O
léxico do esnobismo” onde o autor cita uma longa
lista de termos e palavras utilizadas pelos autores
gregos e romanos nos primeiros séculos para
mostrar como eram profundom os preconceitos
que as classes dominantes tinham das classes
desfavorecidas.15 Esses termos incluíam as
palavras "tecelão" - tanto de “tecelão” de lã
(eriurgo) como o "tecelão" de linho (linurgo), assim

15
Ramsay MacMullen, Roman Social Relationes: 50 BC. To A.D.
384 New Haven e Londres, Yale Univenity Press, 1974, págs. l 39-
140.
também era incluído o termo de "carpinteiro"
(técton), a mesma palavra usada em Marcos (o
Evangelho grego de Marcos).
É importante notar ainda que ao nome da pessoa,
muitas vezes se incluía seu ofício, para designar
dessa maneira a origem humilde, como podemos
encontrar na leitura grega de Marcos 16 , onde o
Messias de Israel é nomeado como "carpinteiro",
ou seja, se lhe atribui o ofício, por outro lado no
Evangelho de Mateus ele é reconhecido apenas
como "o filho do carpinteiro". 17 18
Em resumo, e para concluir este estudo, podemos
notar que os fatos apontam para a realidade
histórica de uma aldeola chamada Nazaré,
edificada nos morros da baixa Galiléia, é dessa
aldeia humilde, pobre, de pessoas trabalhadoras,
do campo e do artesanato, que no primeiro século
de nossa Era, aparece um Homem, reclamando o
direito de ser o Messias, reclamando o direito de

16
Veja Marcos capitulo 6, verso 3, onde o "escândalo" dos habitantes de Nazaré está em contraste
com o oficio, pois a admiração era de como um "carpinteiro" poderia ser agora um "rabino"
(mestre). Ou propositadamente o "Evangelho" grego de Marcos, acrescenta o termo pejorativo
"carpinteiro" para mostrar a procedência humilde do Homem de Nazaré.
17
Leitura do Evangelho de Mateus capítulo 13, verso 55.
18
Veja também: Ramsay MacMullen, Qp. cit. Págs.107 - 108; 98.
ser o cumprimento de uma promessa milenar dada
a um povo. Ele era o Messias de Israel. Era O
homem de Nazaré o Messias prometido pelos
profetas hebreus.

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