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Disciplina: Introdução à Bíblia

Professor: Dr. Leandro Lima


AULA 4 – A Escritura Completa

AULA 04 – A ESCRITURA COMPLETA

Instruções:

1) Essa aula é mais curta, porque ela inclui um vídeo de uma aula que deve ser
assistida, não apenas como recurso adicional, mas como conteúdo da aula.
2) Ore a Deus, pedindo iluminação no estudo dessa aula.
3) Leia a aula atentamente, sem pressa, estudando o texto.
4) Com a Bíblia aberta, leia todos os textos bíblicos indicados, verificando o
sentido em que estão sendo usados na aula.

I. A Inerrância das Escrituras


Quando se fala que a Bíblia é inerrante, se quer dizer que em tudo o que a Bíblia
ensina, seja religioso, moral, social ou físico, ela é absolutamente verdadeira e livre de
erros (Sl 119.142, 160; Pv 30.5-6; Mt 5.17-20; Jo 10.34-35; 17.17). Não significa que
a Escritura diga toda a verdade sobre tudo o que ensina, mas que em tudo o que ensina
ela diz a verdade. Muitos defendem uma inerrância limitada (“Inspiração Parcial”).
Desta forma a Escritura seria infalível apenas em assuntos de fé e prática no que diz
respeito à salvação, e nos demais assuntos poderia ter falhas. Porém, como acreditar
que ela possa falar a verdade sobre um assunto e mentir sobre o outro? Além disso,
dessa forma a base histórica da salvação poderia ser retirada (2Tm 3.16; Sl 12.6; Sl
119.96; Rm 15.4).
A inspiração da Bíblia não exige que ela use linguagem científica em suas
afirmações. A linguagem da Bíblia é a linguagem do homem comum. Neste sentido a
Bíblia diz que o Sol gira ao redor da terra, que o vento sopra, e outras afirmações
fenomenológicas, ou seja, que podem ser vistas da perspectiva comum. Deve ser
entendido que a Bíblia não pretende ser um compêndio de química, física ou geografia,
e, portanto, ela não tem a necessidade de se apegar às linguagens próprias destas
ciências. Inerrância também não exige uma estrita conformidade com as regras da
gramática. Nos escritos dos melhores escritores se permite “errar” em troca da
comunicação. O próprio uso de figuras de linguagem como hipérbole (exageros),
sinédoque (o menor pelo maior) e metonímia (um nome por outro) não comprometem
a doutrina da inerrância.
No contexto da inerrância, os gêneros literários da Bíblia, como o poético ou o
apocalíptico, precisam ser entendidos a partir de suas peculiaridades. As imagens
fabulosas e fantasiosas são condicionadas ao seu próprio gênero, e devem ser
consideradas a partir de sua interpretação, e não da perspectiva literal. O fato de a Bíblia
não dar explicações científicas completas sobre geografia ou geologia não implica em
que haja alguma imprecisão. Seria impreciso se as informações fossem falsas, mas se
são limitadas, ainda assim são verdadeiras.
Nem mesmo as citações imprecisas da Escritura do Antigo Testamento no Novo
Testamento podem ser consideradas como erros. Quando se citava o Antigo Testamento
era necessário fazer uma tradução, e toda tradução envolve muitas variantes. Além
disso, citações livres sempre fizeram parte da produção literária antiga. Do mesmo
modo não precisamos esperar na Escritura que as palavras de Jesus, conforme foram
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registradas pelos evangelistas, contenham a ipsissima verba (palavras exatas), mas a


ipsissima vox (voz exata). Ou seja, o que importa é o significado preciso e não
necessariamente as palavras exatas. Os Apóstolos registraram fielmente o que Jesus
ensinou, mas precisa ser lembrado que muitas palavras de Jesus foram ditas em
aramaico e os Evangelhos foram escritos em grego, portanto, sempre houve
necessidade de adaptações. Do mesmo modo, as palavras de Pedro, de Paulo, ou dos
demais apóstolos quando foram registradas por Lucas, por exemplo, não foram
necessariamente citações literais de seus sermões, pois é compreensível que Lucas
tenha feito resumos dessas preleções, mas elas representam perfeitamente o significado
pretendido pelos Apóstolos (ipsissima vox).
Inerrância igualmente não exige um grau de exatidão nos números. Quando se
diz que 5000 pessoas estavam num determinado evento, aponta-se um valor
aproximado, mas não há necessidade de que se conte uma por uma. Geralmente aponta-
se como erro o fato de um evangelista dizer que havia uma pessoa numa determinada
casa, enquanto que o outro evangelista diz que havia duas. Muitas coisas poderiam
explicar essa aparente divergência. Os dois poderiam não ter contado as pessoas no
mesmo momento. Cada um registrou o que viu no determinado momento em que viu,
o que não implica necessariamente num erro.
Finalmente deve ser entendido que a inerrância se refere apenas aos autógrafos1.
Porém, quanto ao argumento de que, uma vez que somente eram inerrantes os
autógrafos originais, e nenhum deles existe mais, falar em inerrância não teria muito
sentido, respondemos que, de fato não temos mais os originais, porém, pelo estudo da
comparação entre todas as cópias (variantes), pode se concluir que em 99% de tudo o
que as cópias tratam, elas concordam, e nenhum caso sério de doutrina se veria afetado
pelas variantes. Além do mais, se o Espírito Santo inspirou os escritos, não poderia
preservar com fidelidade o que estava escrito neles? Podemos concluir que, apesar de
todos os seus esforços, os críticos não têm conseguido provar que a Bíblia contenha
erros.

II. A Suficiência das Escrituras


Com relação ao tema da suficiência das Escrituras é preciso entender que na fé
reformada somente as Escrituras são a regra de fé e prática. Não há outra fonte onde o
cristão possa achar orientações infalíveis para sua vida. A tradição, embora considerada
na teologia, não pode ser comparada com a Escritura.
Uma pergunta que normalmente surge quando se pensa em suficiência das
Escrituras é: “Ainda há revelação divina hoje?”. Nossa posição é que não há mais
revelações de Deus hoje, pelo menos não em pé de igualdade com a Bíblia. Entretanto,
deve ser dito que a Revelação de Deus continua hoje. Deus se revelou na criação, e essa
criação continua apontando para Deus. A providência, que é a continuação da criação,
ou seja, a maneira como ele dirige a história e o mundo, também o revela. Mas não quer
dizer que há uma “nova” revelação de Deus. É a mesma revelação dele desde o início,
porém, sempre sendo percebida de formas diferentes. A Escritura também é a mesma,
mas cada vez que vamos até ela, descobrimos coisas novas, em forma de aplicações
diferentes para nossa vida, graças à iluminação do Espírito. Deus continua se revelando,
portanto, através da criação (revelação geral) e através da Escritura (revelação
especial). Essa última é a principal fonte de conhecimento, especialmente da salvação.

1
Os autógrafos são os escritos originais. Aqueles que saíram da pena dos escritores.
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Embora cada parte da Bíblia tenha sido escrita em uma determinada época, ela
nunca esteve limitada ao tempo. De fato, Deus se revelou no passado, mas a mensagem
continua significativa para as pessoas de hoje e de sempre. Deus é o mesmo e sua
Palavra também. A mesma denúncia do pecado e o mesmo chamado ao arrependimento
dirigido às pessoas dos tempos bíblicos vale para hoje. Embora tenha havido muito
progresso no mundo, as pessoas ainda são as mesmas e o pecado ainda é o mesmo, pois
continua dominando a sociedade. Da mesma forma as necessidades são as mesmas e a
solução também: Cristo.
Desde sua fundação, a Igreja Romana sustenta outra fonte de autoridade em pé
de igualdade com a Escritura: A tradição. O catolicismo entende que a igreja originou
a Bíblia e não a Bíblia originou a igreja, e, portanto, entre as duas, a igreja tem a
prioridade. Esta é a base para defender muitas doutrinas que foram criadas pelos
concílios, muitas das quais não têm embasamento escriturístico. A Reforma disse não
à teoria da dupla autoridade. No pensamento Reformado, a Escritura tem a primazia.
Esta questão de outra fonte de autoridade continua sendo um problema nos dias atuais,
mas não apenas para Roma, como também para os evangélicos. E nem é preciso pensar
em casos extremos como o dos Mórmons, que sustentam outro livro como fonte de
autoridade, pois o subjetivismo evangélico coloca a autoridade no “Deus me falou”.
As vezes quando crentes conservadores dizem que nada além da Bíblia é
necessário para o crescimento espiritual, são taxados de “frios” e insensíveis à atuação
do Espírito. Mas é a própria Bíblia quem afirma esta suficiência. Paulo escreveu a
Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17). De acordo com este
texto, tudo o que uma pessoa precisa para chegar ao nível espiritual máximo nesta vida,
pode ser encontrado na Escritura. Portanto, a Escritura é suficiente.
Todas essas considerações devem levar o estudante de teologia a uma atitude
de reverência para com a Bíblia. Não podemos nos aproximar dela como juízes, e sim
como servos. Estudar a Escritura precisa ser fonte de vida devocional e aprimoramento
do relacionamento espiritual com Deus. O Deus das Escrituras é o Deus que deseja
estreitar o relacionamento da Aliança com o seu povo. Ele se revelou nessas antigas
páginas porque deseja que o conheçamos melhor, e para que o amemos com mais
intensidade. Ao estudarmos essas “sagradas letras”, podemos ter a certeza de que
estamos nos aprofundando em algo não apenas sagrado, mas confiável, e que pode
aumentar a nossa sabedoria e o nosso vigor espiritual.

Assista ao vídeo:
Aula: As cinco grandes qualidades da Escritura
https://www.youtube.com/watch?v=TqUmetIig5A

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