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Carlos Eduardo Marques

O
CONHECIMENTO
DE DEUS
Como podemos ter um conhecimento
de Deus e quais são as suas formas de
se revelar.

Carlos Eduardo Marques


AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao Deus criador dos céus e da terra,


Soberano Senhor sobre todas as coisas, que nada acontece sem os seus
decretos. Sem a sua ajuda, nada disso sucederia. Agradeço a minha querida
e amada esposa Vanusa Maraisa, por todo o apoio necessário, por seu
amor, carinho e paciência para comigo, sem a sua ajuda, nada disso seria
possível. Agradeço a todos os meus familiares que me apoiaram nesse
projeto. Minha gratidão a minha cunhada Valéria Alves Ribeiro por todo o
apoio. A todos os meus amigos mais chegados, e aos meus irmãos em
Cristo, muito obrigado pelo total apoio. Agradeço, aos escritos de Gordon
H. Clark e Vincent Cheung que me despertaram para a Apologética
Pressuposicionalista (Escrituralista)
- Nesse livro, o autor Carlos Eduardo procurou aprofundar nosso
conhecimento sobre quem é Deus a partir da percepção que temos acerca
da natureza humana, do conhecimento e da nossa visão distorcida em
relação ao que “conhecemos’’. Uma proposta audaciosa que pode mudar
sua visão e sua vida!

- Valéria Alves Ribeiro


Administradora, certificada em consultoria financeira e especialista
em gestão empresarial pela universidade de Maringá.

- Eu acompanho o trabalho do Edu alguns anos através das suas


traduções e de seus artigos publicado no seu blog, é uma imensa alegria ver
essa obra sendo publicada. Essa obra do Edu vem suprir uma lacuna em
língua portuguesa de obras feitas por escrituralistas, porque ela vai abordar
tópicos centrais da fé cristã desde como conhecemos a Deus até como
aplicar a mensagem bíblica, aplicando o princípio do sola scriptura de
forma ampla e consistente mostrando que a única regra infalível e baliza de
todo conhecimento na vida do cristão é as sagradas escrituras.

- Marciel da Silveira Felix


Professor, licenciado em filosofia pela UFPB, licenciado em história
pela IBF-pós e curso básico de teologia pelo CEP.
- Neste livro o autor busca, a partir das Escrituras, delinear ensinos
sobre Deus, o que denominamos de teologia propriamente dita. Nos
fornece uma visão geral sobre tópicos basilares, tais como epistemologa, lei
da não contradição, etc. Embora eu não endosse cada opinião esposada pelo
autor, ainda assim considero que a leitura dessa obra pode ser útil para
reflexão e aprofundamento em temas estimados pela fé cristã.

- Daniel Gomide
Bacharel em teologia pela Sociedade de Estudos Bíblicos
Interdisciplinares (SEBI) e pela Faculdade Teológica Evangélica do Rio de
Janeiro (FATERJ) e especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade
Católica de Brasília (UCB).

Quando peguei o manuscrito deste livro há alguns anos atrás a


impressão que tive inicialmente foi “Quão bom seria se trabalhos assim
fossem publicados”. Na verdadeira cristandade, contaminada, ainda, pela
filosofia pagã dos gregos e dos gnósticos, aprender acerca do conhecimento
de Deus é a chave para sair de toda sorte de pensamentos e pressupostos
errados: a aplicação é útil, como diz Paulo, para todas as áreas da vida.
Talvez você nunca tenha refletido a importância do conhecimento de Deus
pela ótica da antropologia. Se o homem é a imagem e semelhança de Deus
(Gênesis 1:27), o aprendizado deve partir de Deus (2 Timóteo 3:16). Sendo
mais específico, é impossível você pensar pedagogia, química, nutrição ou
artesanato sem primeiro abstrair conhecimento de Deus, pois somos
imagem e semelhança de Deus.
Isso é cristianismo prático na vida ordinária. Se um sistema de
crenças molda sua vida em uma atividade ordinária, da qual Cristo está
excluso, cuide para que não haja dois senhores lhe governando.
A importância do conhecimento de Deus implica necessariamente no
bom uso e manejo dos recursos deixados por Deus, logo, na utilidade dos
recursos. Espero que esse livro lhe seja útil para o crescimento espiritual e
intelectual (Salmos 19:7)

- Lucas Lemos de Oliveira. Farmacêutico pesquisador por vocação,


teólogo por paixão.

“Conhece-te a ti mesmo”. Nada mais enganosa, para um cristão, que


essa célebre e milenar frase atribuída ao filósofo grego Sócrates. Nosso
coração é um poço profundo de engano e corrupção, razão pela qual jamais
poderemos chegar, por si sós, a um conhecimento perfeito de quem
realmente somos. Que dirá alcançar um conhecimento de Deus! Em Como
podemos ter um conhecimento absoluto de Deus, o irmão Edu Marques
apresenta algumas teorias que surgiram, ao longo dos séculos, na tentativa
de fazer com que essa “multidão incontável de cegos” chegasse a um
conhecimento de si mesmos e, também, do Divino. Em sua caminhada,
Marques afirma que se o Espírito Santo não nos atingir com Sua presença
iluminadora, mediante a proclamação do Evangelho como consta nas
Escrituras, jamais chegaremos a um verdadeiro conhecimento de Deus e,
por consequência, de quem somos. Recomendo esta obra instigadora e
elucidativa, cujo ponto de partida é definido, a meu ver, na declaração: “A
Palavra de Deus é a suprema verdade, é a verdade absoluta que nos liberta
da escravidão do pecado e da cegueira intelectual. Assim no momento em
que você olha para as palavras da Bíblia, Deus diretamente comunica o que
está escrito em sua mente, sem passar pelos seus próprios sentidos”.
- Paulo Sérgio de Araújo é Bacharel em Letras (habilitação em
hebraico) e autor dos livros “Qual o Destino do Homem: Compreendendo a
vida após a morte” e “Quem falou com o rei Saul em Em-Dor: o falecido
profeta Samuel ou um demônio? Compreendendo 1Samuel 28”, além de
atuar na área de ensino cristão e ser proprietário do site
www.imortalidadedaalma.com. Casado, possui 3 filhos, e serve ao Senhor
em uma igreja Batista na capital de São Paulo.

No evangelicalismo contemporâneo, mormente no pentecostalismo e


neopentecostalismo, vivemos talvez no apogeu de duas doutrinas
filosóficas: o Relativismo Teontológico e o Empirismo. Por efeito da
insipiência, desencadeada pelo desprezo bíblico-teológico, muitos cristãos
são conduzidos por seus líderes espirituais equivocados pelas trilhas
venturosas da heresia. Com uma abordagem singela e primorosa, “O
Conhecimento de Deus”, embora conciso, é abrangente, porque versa sobre
os temas mais pertinentes e desvirtuados pela Igreja por intermédio da
teologia sistemática e suas ramificações. Afinal, é uma leitura
indispensável para todos os cristãos que amam estudar a Palavra de Deus.

-Leonardo Dâmaso, Bacharel em Teologia e Mestre em Novo


Testamento. Autor do livro Redescobrindo Sansão: Desfazendo uma
Caricatura, publicado pela Editora Reformada Santo Evangelho.
PREFÁCIO

Resolvi escrever esse trabalho, que primeiramente foi apenas um


artigo, mas depois de alguns estudos ele acabou virando um livro. Ele foi
escrito em 2017, mas logo depois, fui acrescentando mais sobre o assunto.
O assunto central serviu como dissertação do meu mestrado em Teologia
Sistemática, logo acrescentei mais algumas coisas e também alguns
apêndices. Ele trata sobre Epistemologia. Mas, o que é Epistemologia? É
uma doutrina filosófica que lida com a questão do conhecimento, ou como
conhecemos algo.
Nos nossos dias nunca se viu tamanha ignorância sobre o que é
conhecimento, e como obtemos o conhecimento da verdade. Vivemos na
era do irracionalismo, fruto da pós-modernidade que tem relativizado a
verdade. Mas também, o que é a verdade? Essas e outras perguntas pairam
sobre a vida das pessoas, e principalmente no âmbito religioso. Eu procuro
responder tudo à luz da Bíblia, que para nós cristãos, é o nosso padrão de fé
e prática e verdade.
Podemos ligar nossas televisões assistir os telejornais ou observar
cultos de pregadores de grande renome, com grandes públicos, mas o que
ouvimos são apenas partes dos fatos distorcidos e no âmbito religioso que é
o nosso caso, vemos partes da Bíblia completamente adulteradas ao seu bel
prazer. Isso prova o que estou falando. Meu ponto e indagação não é com
os ouvintes e membros dessas mega-igrejas, mas principalmente com os
líderes eclesiásticos. Ouvimos tamanha ignorância das Escrituras, que
chega a dar náuseas e isso não pode ficar assim. Devemos fazer alguma
coisa. Procurei escrever esse livro como uma forma de auxílio para muitos
que desejam conhecer mais a Deus. Pastores sem conhecimento se tornam
pais sem conhecimento de uma geração de homens e mulheres sem
conhecimento, que já nasceram espiritualmente sem conhecimento. Vivem
um cristianismo de emoções e aparências, incapazes de conduzir uma
reforma, um avivamento real em suas vidas ou até mesmo um ministério
em seus lares, pois não tem conhecimento necessário do que realmente é o
cristianismo.
Eu digo que esse livro, não é um tratado de Epistemologia, porque
não procuro tratar com outras objeções ou pensamentos de certos filósofos,
não, não é. O assunto é vasto e não caberia aqui. Esse livro é para tantos os
doutores como para pessoas leigas, e são pra essas principalmente que
procuro me ater. Neste livro procuro usar uma linguagem simples, que
possa entender, mesmo que talvez existam palavras que só são ditas no
meio acadêmico, eu procuro explicá-las da melhor forma.
Procuro apresentar o que creio, que é o único modo que podemos
conhecer de fato a Deus, e é por meio das Escrituras Sagradas. Ela contêm
aquilo que Deus quis que soubéssemos sobre Ele. Dessa forma, Deus não é
incompreensível. Ele pode ser conhecido. Apresento uma forma clara, que
a Palavra de Deus é soberana nesse quesito. Mostra também, algumas
formas que penso ser muito contraditórias e que levam muitos ao erro, que
é a busca pelo conhecimento através das sensações ou experiências
empíricas. Mas, não quero expô-las aqui, você terá que ler esse livro para
saber. Creio que será uma leitura agradável.

Boa leitura!
Edu Marques

https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/
Sumário
AGRADECIMENTOS .................................................................................... 2

PREFÁCIO ...................................................................................................... 8

Introdução ...................................................................................................... 15

1. Como podemos conhecer alguma coisa? Ou, o que é conhecimento? .. 15

2. Empirismo .................................................................................................. 18

2.1 O Sudário de Turim ............................................................................. 23

2.2 Objeções ao empirismo ........................................................................ 24

2. Irracionalismo ............................................................................................ 26

2.2. O que é a Lei da não-contradição? .................................................... 28

2.3. O irracionalismo com roupagens de ortodoxia ................................ 32

2.4. Van Til e Gordon Clark...................................................................... 43

3. Pressuposicionalismo ................................................................................ 47

3.1. A Imagem de Deus .............................................................................. 51

3.2. O conhecimento e a piedade .............................................................. 55

3.3. Revelação ............................................................................................. 62

3.4. Inspiração das Escrituras ................................................................... 64

3.5. A Natureza dessa Inspiração .............................................................. 67

3.6. Os Atributos das Escrituras ............................................................... 68

3.7. A Autoridade e Suficiência das Escrituras ....................................... 69

3.8. Canonicidade ....................................................................................... 71

3.9. O Novo Testamento ............................................................................. 72

3.10. Preservação ........................................................................................ 73

3.11. Traduções ........................................................................................... 74


3.12. Interpretação ..................................................................................... 77

3.13. Convicção ........................................................................................... 79

3.14. Proclamação....................................................................................... 81

3.15. Autoridade ......................................................................................... 83

3.16. Evangelismo ....................................................................................... 83

3.17. A continuidade do processo de revelação ....................................... 85

3.17.1. Por que é Divina? ........................................................................ 86

3.17.2. Proveitosa para Ensinar. ............................................................ 87

3.17.3. Para redarguir. ............................................................................ 87

3.17.4. Ela nos corrige. ............................................................................ 89

3.17.5. Ela nos instrui em toda a justiça................................................ 90

4. O ponto de partida. ................................................................................... 92

4.1. A Pregação e a Profecia pelo Poder de Deus. .................................. 93

4.2. A pregação e o pregador ..................................................................... 94

4.3. O Breve Catecismo de Westminster na Pergunta 3. Qual é a coisa


principal que as Escrituras nos ensinam? ............................................... 98

5. O Testemunho do Espírito Santo. .......................................................... 110

5.1. O que é uma Linguagem Verbal? .................................................... 116

5.2. Características da linguagem oral ................................................... 117

5.3. Características de linguagem escrita ............................................... 117

5.4. O que é uma Proposição? ................................................................. 118

5.5. Proposicional ..................................................................................... 118

6. A causalidade de Deus na conquista de Canaã..................................... 135

6.1. O Livro de Josué................................................................................ 138


6.2. A conquista da terra ......................................................................... 139

6.3. A distribuição da terra prometida (13.1-21.45) ............................. 147

6.4. A lealdade à Aliança na terra (22.1-24.33) ..................................... 149

7. O Casamento de Sansão (Jz.14.1-4). ...................................................... 150

8. A Profecia e a Pregação da Palavra de Deus ........................................ 161

9. Sobre os deveres da Congregação. ......................................................... 168

9.1. Ouvir com atenção e reverência. ..................................................... 169

9.2. Preparar-se para ouvir. .................................................................... 170

9.3. Aplicação da mensagem.................................................................... 171

(a) Deus se comunica através da Bíblia ............................................... 175

(b) Deus se comunica através do Espírito Santo ................................ 175

(c) Deus se comunica através de acontecimentos ............................... 176

(d) Deus se comunica através de pessoas ............................................ 176

10. Preparação Espiritual ........................................................................... 177

11. Um coração aberto ................................................................................ 179

12. Uma participação ativa ......................................................................... 180

13. Uma participação bíblica ...................................................................... 181

14. Uma preparação física .......................................................................... 181

15. Uma oração pelo pregador. .................................................................. 182

16. Conclusão ............................................................................................... 185

APÊNDICE I................................................................................................ 186

1. Ocasionalismo e sua relação causal com a herança Adâmica - Fabrício


Bezerra.......................................................................................................... 186
2. Ocasionalismo: Uma distinção categórica entre os atos naturais e
sobrenaturais de Deus ................................................................................. 188

APÊNDICE II .............................................................................................. 190

1. O Ocasionalismo de Ralph Erskine ....................................................... 190

APÊNDICE III ............................................................................................ 193

1. O Pilar da Escritura: O Ocasionalismo Cristão ................................... 193

2. Controle geral sobre tudo .................................................................... 196

3. Controle sobre as circunstâncias ........................................................ 197

4. Controle sobre os elementos da natureza .......................................... 197

5. Controle sobre toda ordem e autoridade civil e militar ................... 198

6. Controle sobre a concepção e a população ........................................ 200

7. Controle sobre o bem e o mal e sobre a paz e a guerra .................... 201

8. Controle sobre vida, morte, doença e saúde ...................................... 202

9. Controle sobre pobreza e a prosperidade .......................................... 203

10. Controle sobre tudo antes dos acontecimentos ............................... 205

11. Controle sobre as decisões dos homens ............................................ 206

12. Controle sobre quem desobedecerá e não entenderá ..................... 208

13. Controle sobre quem obedecerá e entenderá .................................. 211

APÊNDICE IV ............................................................................................. 222

CAPÍTULO I ............................................................................................... 222

1. O Ministério é uma Ordem Perpétua de Cristo para a Igreja, e que os


Ministros sejam recebidos como Embaixadores de Cristo, tanto nos
tempos primitivos como nos dias atuais – George Gillespie ................. 222

CAPÍTULO V. ............................................................................................. 230


Se as profecias e os profetas de 1 Coríntios14; e 1Cor.12.28; Éfes:4.11; da
Igreja primitiva eram extraordinárias, e assim não devem mais
continuar: Ou se são precedentes para a Pregação ou Profecia de tais,
como não são ministros ordenados, nem novatos para o Ministério -
George Gillespie ........................................................................................... 230

Capítulo VII ................................................................................................. 252

Dos Profetas e Evangelistas – George Gillespie........................................ 252

APÊNDICE V .............................................................................................. 258

“Espíritos Privados” na Confissão de Fé de Westminster § 1.10 e no


debate católico-protestante (1588-1652) Byron Curtis ......................... 258

I. Espíritos privados em Certamen Religiousm (1646-52) ................... 260

II. Disputatio de Sacra Scriptura de William Whitaker (1588) .......... 267

III. Onde a evidência leva ........................................................................ 270

Bibliografia: ................................................................................................. 274


Introdução

O assunto do nosso estudo é “Como Conhecemos” ou talvez, “Como


Conhecemos a Deus”. A pergunta básica na filosofia da religião é: Como
podemos conhecer a Deus? E, por essa razão, ela vem desde cedo na
teologia Cristã. Mas, na verdade, como podemos conhecer algo? Como eu
sei que o que eu sei é verdadeiro? Como sei que tudo o que vejo não é
apenas uma ilusão da minha mente? Essa e outras perguntas vêm deixando
o ser humano ansioso por uma resposta e a procura de todas as formas. O
judeu filósofo, Filo, o qual tinha várias coisas a dizer sobre o Logos, estava
lutando com suas dificuldades nos mesmos anos em que Jesus estava
andando ao redor da Palestina. Essa questão de como podemos conhecer a
Deus é uma pergunta fundamental na filosofia da religião, por detrás dela
descansa, na filosofia geral, a questão última:

1. Como podemos conhecer alguma coisa? Ou, o que é


conhecimento?

Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado:


Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim. O boi
conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas
Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Isaías 1.2-3. O
Pastor Presbiteriano Matthew Henry diz sobre essa passagem:

“A sagacidade do boi e do jumento, que não somente são


animais, mas do tipo menos inteligente. Ainda assim o boi tem
um sentimento de dever, a ponto de conhecer seu dono e de
servi-lo, de submeter-se ao seu jugo e de puxá- lo; o jumento
tem o sentimento de interesse a ponto de conhecer a
manjedoura do seu dono, onde é alimentado, e ficar ao seu
lado. Ele vai sozinho até ela, se for solto. O homem chega a um
ponto difícil quando é envergonhado, até mesmo em
conhecimento e compreensão quando comparado a esses tolos
animais, e não somente é enviado a aprender com eles
(Provérbios 6:6, 7), mas colocado, de certa forma, abaixo deles
(Jeremias 8:7). São mais doutos do que os animais da terra (Jó
35:11) e, ainda assim, sabem menos. [2] – A lentidão e a tolice
de Israel. Seu possuidor e protetor é Deus. Ele nos criou, e dEle
somos, mais do que o nosso gado é nosso. Ele proveu bem por
nós.”1

Nos dias de hoje, o entendimento de muitos está escurecido, e por


isso toda a alma se afasta da vida de Deus (Efésios 4:18). A Igreja do
Senhor nos dias de hoje, não tem conhecimento, embora sua terra seja uma
terra de luz e conhecimento. No texto que lemos, na época de Isaías, em
Israel, Deus é conhecido; mas, porque o povo não vive de acordo com o
que conhece, é, na verdade, como se não o conhecesse. Eles conhecem,
mas o seu conhecimento não lhes faz nenhum bem, porque não entendem o
que conhecem. Eles não aplicam o que conhecem ao seu caso nem suas
mentes a Ele. Mesmo entre aqueles que professam ser o povo de Deus, que
têm as vantagens e estão sob os compromissos do seu povo, existem muitos
que são muito descuidados nas questões de suas almas. A falta de
entendimento quanto ao que conhecemos, é um inimigo tão grande para
nós, na religião, quanto ignorar aquilo que deveríamos conhecer. Os
homens se revoltam contra Deus, e se rebelam, porque não conhecem nem
entendem suas obrigações para com Deus, em dever, gratidão e interesse.
O conhecimento, é um conjunto de informação armazenada por
intermédio da experiência ou da aprendizagem (a posteriori), ou através da
introspecção (a priori). No sentido mais lato do termo, trata-se da posse de

1
Comentário Bíblico de Isaías de Matthew Henry CPAD
múltiplos dados interrelacionados que, por si só, têm um menor valor
qualitativo. Para o filósofo grego Platão, o conhecimento é aquilo que é
necessariamente verdadeiro (episteme). Para o Dr. Gordon Clark,
conhecimento é crença verdadeira justificada. Por sua vez, a crença e a
opinião ignoram a realidade das coisas, pelo que fazem parte do âmbito do
provável e do aparente. Ou, é qualquer informação que a mente possua,
derivado das próprias faculdades de alguém, ou da fé.
Se não podemos falar inteligivelmente sobre Deus, podemos falar
inteligivelmente sobre moralidade, sobre nossas próprias ideias, sobre arte,
política - poderíamos sequer falar sobre ciência? Como podemos saber
alguma coisa? A resposta para essas perguntas, tecnicamente chamada de
teoria da epistemologia, controla todas as questões subjetivas que
reivindicam ser inteligíveis ou conhecidas. Eu afirmo que, o homem tem
um conhecimento inato de Deus, do qual ele não tem desculpa para negar a
existência de Deus, mas esse conhecimento é apenas para deixar os homens
indesculpáveis como diz o apóstolo Paulo em Romanos 1.20. Esse
conhecimento, assim chamado de revelação natural, onde diz que Deus se
revela na sua obra de criação, mas essa revelação é insuficiente para salvar
os homens, essa doutrina não será o nosso foco desse estudo. Mas não
podemos ter um sistema de teologia baseado no conhecimento inato do
homem. O presente estudo discutirá três teorias e enfatizará suas
implicações para religião, para o Cristianismo, e Deus. A primeira das três
é o empirismo.
2. Empirismo

A teoria do conhecimento que presumivelmente concorda melhor


com o senso comum, é a teoria de que aprendemos pela experiência.
Aprendemos que abelhas ferroam, que cascavéis matam por meio das
nossas percepções de dor, e que leões destroçam suas vítimas. Aprendemos
que, rosas são vermelhas e violetas são azuis, pelo sentido da visão. Todo
nosso conhecimento vem pelos sentidos. Esse tipo de epistemologia não é
meramente a teoria mais em harmonia com a opinião comum, é também o
ponto de vista de filósofos singulares, entre os quais estão pensadores
famosos tais como: Aristóteles, Aquino e John Locke. Esses três homens,
entre outros, tentaram explicar como notamos uma cadeira, como uma lei
de física pode ser descoberta, e finalmente como, por argumentos
complicados, podemos provar a existência de Deus. Entretanto, por mais
plausível que essa teoria possa ser, ela levanta algumas questões difíceis.
Por enquanto, vamos deixar de lado as dificuldades em se chegar ao
conhecimento do Deus eterno e incorpóreo, a partir de sentimentos
transitórios. Antes, vamos primeiro dar atenção às partes mais simples do
empirismo.

Tomás de Aquino
Aristóteles

Comecemos com o vermelho da rosa e o azul de uma violeta. Uma


descrição da sensação mostrará que ela não fornece um conhecimento tão
prontamente como o senso comum imagina.

John Locke

Nem todo mundo vê rosas como vermelhas e violetas como azuis. Há


algumas pessoas que dizemos que são daltônicas, e há graus de daltonismo.
É difícil falar o que é daltonismo e o que são ilusões de cor. As cores
verdadeiras são bem difíceis de determinar. A condição do órgão, o olho,
uma doença, enfermidade temporária, uma dor de cabeça ou extrema
sensibilidade muda nossas sensações sobre a cor. Também, a respeito de
provarmos um bom e delicioso vinho suave, que para alguns estará muito
doce, para outros nem tanto, ou para outros estará amargo.
Um exemplo é do cinema em 3D, que parece que as imagens saem
da tela, mas na verdade elas não se movem, mais uma vez os nossos
sentidos nos enganam. Outro seria mais ou menos assim. Imagine que eu
esteja vendo um jogo de futebol na TV, alguém que não sabe nada de
futebol, suas regras e tudo mais, pela observação ele jamais vai aprender as
regras do futebol que, quando uma pessoa cai nem sempre é uma falta. A
não ser que eu, que já estou familiarizado e sei bem sobre o futebol lhe
ensine, e transmita certas informações, e o valor vai estar nas palavras e
não em seus sentidos.
Sobre uma pessoa que estava viajando na estrada, e à medida que
olhava a frente, ela via uma camionete parada próxima a um celeiro. Estava
há aproximadamente 150 ou 200 Km na frente. Na medida em que ela
dirige – indo à 75 km/h, percorre uns poucos metros rapidamente – essa
camionete de repente tornou-se uma caixa de correios num poste. Era uma
camionete ou uma caixa de correios? Bem, depende a que distância você
está. Você vai ter problemas com o sentido. Você nunca chegará a uma
certeza, e, por favor, a teoria empírica é terrível demais. Essa teoria
empírica, depois de ter um começo pobre com a sensação, exige uma teoria
de imagens para dar satisfação à retenção de conhecimento depois que a
sensação pare de operar.
Quando você fala sobre sensação, quando ela é exercida, e você tem
uma imagem que é retida, existem outras dificuldades. Se aprender por
meio dos sentidos é um efeito da sensação, e a imagem segue um
aprendizado, como pode se determinar quando esse efeito é válido? Como
o homem que tinha visto uma camionete. Outra vez, poucos minutos
depois, ele viu uma caixa de correios. Mas como vamos saber qual das duas
é válida?
Nicolas Malebranche no século XVII no seu tratado “A Busca da
Verdade” tratou do assunto das sensações:

Essas sensações são tão vivas e nítidas que a mente dificilmente


pode evitar atribuí-las a si mesma de uma forma ou de outra.
Portanto, não só conclui que eles estão nos objetos, mas
também que eles estão em partes do seu corpo... Assim, ela
julga que o calor e o frio não estão apenas no gelo e no fogo,
mas também nas mãos. Quanto às sensações fracas, elas atacam
a mente tão ligeiramente que ninguém supõe que elas
pertençam à mente...nem ao próprio corpo, mas estão apenas
nos objetos. Por esta razão, removemos luz e cor de nossas
mentes e olhos e os atribuímos a objetos externos, embora a
ciência nos ensine que eles não são encontrados na definição da
matéria e, embora também uma experiência mostre que nós
devemos colocá-los nos olhos tantos quantos no objeto. [O
experimento consiste em usar o olho de um touro recentemente
morto como uma lente para uma câmera obscura. As cores do
lado de fora se repetirão no globo ocular]

...Não sabemos pela simples visão, mas apenas pelo raciocínio,


se a brancura, a luz, as cores e outras sensações fracas são ou
não modificações da mente. Mas quanto às sensações vívidas
como dor e prazer, nós facilmente julgamos que elas estão em
nossas mentes porque nós os sentimos tão distintamente nos
golpeando.2

2
A Busca da Verdade, Livro I, cap. XIII, pg 144,147
Em I, xiii, 5 Malebranche continua:

As pessoas pensam que todos têm as mesmas sensações do


mesmo objeto. Acreditamos que todo mundo vê o céu como
azul.... [Mas, na verdade, as pessoas têm um senso diferente.]
Os temperos precisam ser bem diferentes para agradar pessoas
diferentes ou agradar a mesma pessoa em momentos diferentes.
Um gosta de coisas doces, outro gosta deles azedo. Um acha o
vinho agradável, outro não suporta; e há aqueles que gostam
do vinho quando estão bem, mas descobrem que é amargo
quando estão doentes.3

Nesse caso, percebemos que as sensações, não nos traz nenhuma


informação ou conhecimento confiável sobre a natureza dos objetos
externos que nos rodeiam. Quase todo mundo, de uma forma ou de outra,
admite isso. No seu livro, “Diálogos sobre a Metafísica e a Religião”, seção
V, Malebranche também vai nos dizer o quanto que os sentidos não são
confiáveis, que ele chama de revelação natural, ele diz:

Ora, Deus nos revela a existência de suas criaturas de duas


maneiras: pela autoridade dos Livros Sagrados e pela
mediação de nossos sentidos. Pela primeira autoridade posta,
que não podemos rejeitar, demonstra-se rigorosamente a
existência dos corpos. Pela segunda, é suficientemente segura a
existência desse ou daquele corpo. Mas essa última autoridade
não é infalível, pois há quem acredite ver diante de si seu
inimigo, quando se está muito distante dele; quem que acredite
ver quatro patas, quando não tem diante de si mais que duas
pernas; há ainda quem sinta dor em um braço que há muito foi
amputado. Assim, na medida em que é uma consequência das
leis gerais da união da alma e do corpo, a revelação natural está

3
Ibid
sujeita ao erro, e eu lhe direi as razões disso. Mas a revelação
particular não pode jamais conduzir diretamente ao erro, pois
Deus não pode querer nos enganar. Para atiçar sua curiosidade
e despertar sua atenção, faço aqui uma pequena digressão para
que você perceba algumas verdades que lhe provarei em
seguida.4

2.1 O Sudário de Turim

O caso do sudário, ilustra que o empirismo é a filosofia dominante


do Séc. XXI, e nos dá uma resposta do porquê as igrejas estão praticamente
falidas e sem nenhum conhecimento bíblico. Um Escrituralista, do qual me
julgo ser, é alguém que admite que o que a Bíblia diz é verdadeiro como
um axioma – primeiro princípio, ou ponto de partida – e que o sudário é
falso. Ela diz o bastante para nós claramente.

“Depois disto, José de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas


oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o
corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.”
João 19:38

“Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as


especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o
sepulcro.” João 19:40

“Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e


viu no chão os lençóis, E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça,
não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte.” João 20:6,7
4
Nicolas Malebranche “Diálogos sobre a Metafísica e a Religião, seção V
Alguém que lê a Bíblia, não poderia ser enganado pelo sudário, mas
muitos foram. O corpo de Cristo não foi coberto por uma faixa de tecido,
mas envolto em vários (lençois). E sua cabeça foi coberta separadamente
de seu corpo. Mas, o empirismo afirma que, os sentidos são mais confiáveis
do que as declarações das Escrituras, e aquele que escolhe isso pode ser
enganado, como muitos ainda são. Dr. Clark diz: “Tentar provar a Bíblia
com relíquias, é mais absurdo do que tentar encontrar o sol com uma
lanterna.”5

2.2 Objeções ao empirismo

O empirismo não pode produzir normas de nenhum tipo. Não pode


produzir normas morais e religiosas, porque na melhor das hipóteses, o
empirismo pode apenas falar o que é. E isso se aplica não apenas às normas
morais ou religiosas, mas também para as normas básicas da lógica, sem as
quais a conversa e o entendimento seriam impossíveis. Como alguém
poderia mostrar pelos sentidos, que o incesto é pecado? O Dr. Clark diz,
que “um princípio moral, só pode ser uma proibição ou um mandamento
revelado por Deus.”6 As normas da lógica são verdades universais. John
Dewey diz que, a lógica tem mudado e mudará em todas as suas partes,
incluindo a lei da contradição. O que pode ser verdade hoje, poderá não ser
amanhã. Até mesmo essa afirmação de John Dewey é auto-contraditória.
Essa sua afirmação, amanhã pode não ser verdadeira. Mas, se a teoria da
evolução implica na rejeição da lógica, então a teoria da evolução não foi
estabelecida pela lógica e toda declaração é tanto verdadeira quanto falsa,
e, portanto, absurdo. Em 1 Coríntios 2:9,10 diz: “Mas, como está escrito:

5
Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa pg.16.
6
Ibid
As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao
coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas
Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as
coisas, ainda as profundezas de Deus.”
Paulo relata duas passagens de Isaías e o Dr. Clark enfatiza que:
“Paulo reforça a distinção entre religião empírica e a religião
revelada...Deus revela o que o homem não pode conhecer de outra
forma.”7 Em outras palavras, o estudo pelos sentidos nunca podem
outorgar a verdade. A revelação de Deus é o princípio do conhecimento.
Mesmo antes da queda, o homem era dependente dessa revelação de Deus,
para obter algum tipo de conhecimento. Ele não poderia, pelos seus
sentidos, determinar onde estava, quem era, ou o que deveria fazer. O dever
de Adão foi imposto por uma revelação de Deus. Deus teve que revelar
informações para ele, e logo após a queda, tornou-se a necessidade de uma
revelação ainda maior. Outra situação que nos mostra que o empirismo, o
conhecimento pelos sentidos, é falso, foi a descoberta do Sudário de Turim.
Infelizmente, muitos protestantes tiveram uma crescente afinidade com a
filosofia de Roma. Gary Habermas um batista e fundamentalista,
argumentou que o sudário era de fato, “a mortalha de Cristo, e que não
existe nenhuma possibilidade de que outra pessoa que não seja jesus ter
sido enterrado com ele.”8 Um dos líderes da equipe científica, que era
cristão, afirmou que ele (sudário) era “uma carta de amor, que Deus
deixou para a mente analítica.”9 Outros, que o sudário prova o milagre
mais notável da história. Mas eles deveriam saber que, o sudário não pode
fornecer uma “prova incontestável da exatidão da história dos Evangelhos”.
Por hora, vamos pensar que o empirismo é correto, e vamos apelar para os
nossos sentidos de que o que eu não vejo não existe. "O crente fecha os

7
Ibid
8
Ibid
9
Ibid
olhos para as evidências factuais objetivamente (e facilmente) verificáveis,
de que Deus não existe, ou que não sabemos se Deus existe, haja vista que
os nossos sentidos físicos não têm observado ou constatado nenhum
Deus".10 Vemos aí mais uma falácia do argumento de que o empirismo é
verdadeiro, e que podemos alcançar algum tipo de conhecimento
verdadeiro. Nós cremos que, Deus existe pela fé no que as Escrituras
dizem, e não no que vemos ou não vemos.

2. Irracionalismo

Bem, isso nos leva ao segundo tipo de epistemologia, a qual


chamamos de Irracionalismo. Muitos filósofos seculares como Friedrich
Nietzsche, John Dewey e os psicólogos Freudianos rejeitem a lei da
contradição, porém, o que é mais surpreendente, é que alguns cristãos
professos sustentam essas opiniões. A verdade dizem eles, jamais pode ser
alcançada. “Se temos o racionalismo como uma razão sem fé, aqui temos
uma fé sem razão.”11

Friedrich Nietzsche John Dewey


10
Ibid
11
Ibid
Sigmund Freud

O movimento anti-lógica, dentro da igreja cristã visível, parece ter se


originado com o teólogo do século XIX, Soren Kierkegaard, o pai da neo-
ortodoxia, ou, como é às vezes chamada, da teologia dialética ou
existencialismo. Soren Kierkegaard insistia que a fim de ser um cristão, é
necessário acreditar em contradições. Mas, será que isso é possível? Para
eu ser um cristão genuíno, eu tenho que crer que eu existo e ao mesmo
tempo não? Que matar é errado, e ao mesmo tempo não? Primeiro, vamos
entender o que é a lei da contradição, e ver se seus argumentos são
consistentes com o pensamento lógico.

Sören Kierkegaard
2.2. O que é a Lei da não-contradição?

A lei da não-contradição significa que, duas proposições não podem


ser verdadeiras ao mesmo tempo e no mesmo sentido. X não pode ser não-
X. Uma coisa não pode ser e não ser simultaneamente. E nada que é
verdade pode ser auto-contraditório ou inconsistente com qualquer outra
verdade. Devemos afirmá-la na tentativa de negá-la. A Escritura afirma
claramente a lei da não-contradição. Primeiro João 2:21, por exemplo, é
dito: “Nenhuma mentira vem da verdade”.
Muitas outras passagens, tais como 2 Timóteo 2:13 (“[Deus] não
pode negar a si mesmo”), assumem ou reiteram a lei da não-contradição.
Muitos cristãos bem intencionados, contudo, parecem operar com a
concepção errada de que a revelação bíblica é de certa forma eximida da lei
da não-contradição. Eles sugerem que a verdade de Deus pode transgredir a
lógica se Deus assim se agradar. Eles frequentemente apontam a doutrina
da Trindade ou contrapõem a soberania divina contra a responsabilidade
humana como evidência de que a verdade revelada é algumas vezes
contraditória.
Mas, Tito 1:2 nos diz que “Deus... não pode mentir”. Portanto, até
mesmo a Palavra de Deus deve estar em harmonia com a lei da não-
contradição. Uma contradição clara e insolúvel seria suficiente para
destruir a confiança de toda a Bíblia. Esse é o porquê os inimigos da
verdade são tão ávidos em provar que a Palavra de Deus contradiz a si
mesma. Certamente aqueles que amam a verdade devem zelosamente se
guardar contra qualquer sugestão de que a revelação de Deus é
internamente inconsistente. Mas, mais do que isso, precisamos defender a
própria lei da não-contradição, pois esse é um princípio bíblico, e ele reside
no fundamento de toda verdade. Toda lógica depende desse princípio
simples. O pensamento racional e o discurso com sentido demandam isso.
Negar isso é negar toda a verdade de uma só vez.
O exemplo principal do conhecido pai do existencialismo é a
doutrina mais conhecida, a da encarnação. Na encarnação, o Deus eterno
entrou na história e tornou-se um ser humano temporal. O que é temporal
teve um começo, antes do qual ele não existia. O que é eterno não teve
começo. Obviamente, portanto, um ser que não teve começo não pode ter
tido um começo. O que sempre existiu não pode agora vir à existência.
Mas para sermos cristãos, devemos acreditar que essa impossibilidade
lógica ocorreu. Reconhecemos e entendemos o absurdo, mas devemos
acreditar no que é absurdo, porque o próprio cristianismo é irracional e
absurdo.
A essa altura, é natural pensar como nossa salvação e benção eterna
podem ser garantidas por esse absurdo. Pode a contradição fazer o que a
informação histórica não pode fazer? Soren Kierkegaard insistiu que nossa
salvação não depende de qualquer informação histórica. Então, como pode
depender de absurdos? Para essa questão, Kierkegaard tem uma resposta.
Visto que devemos acreditar no absurdo, diz Soren Kierkegaard, e não
depender da informação histórica inteligível, não faz qualquer diferença em
que acreditemos. O “o que” não é importante. Tudo o que vale é “o
como”.12
Esse ponto de vista, é manifesto em sua ilustração famosa do
luterano ortodoxo e o pagão hindu.13 O ortodoxo luterano tinha um
entendimento correto de Deus. Ele era correto em sua teologia, mas orou
com um espírito errado e, portanto, não estava orando a Deus.

12
Segundo Gordon Clark em seu livro “Três Tipos de Filosofia Religiosa” ele diz: ‘...o Cristianismo
histórico nega que a consciência humana seja eterna...pois ele teve um ínicio...parece que alguns argumentos
de Kierkegaard são totalmente irrelevantes”
13
Gordon Clark, Em Defesa da Teologia pg.48-50
Mas o hindu, que nunca havia lido a Bíblia, João Calvino, Martinho
Lutero ou a Confissão de Fé de Westminster tinha uma ideia incorreta de
Deus. Porém, visto que ele orou com uma paixão infinita, ele estava orando
a Deus, e o luterano não. Essa ilustração poderia ter sido um exemplo bom,
se ele tivesse intencionado em recomendar a sinceridade e condenar
hipocrisia. Cristo teria condenado um luterano hipócrita tanto quanto ele
condenou os filhos hipócritas de Abraão, os quais ele conheceu durante sua
vida. Mas a hipocrisia não é o ponto da ilustração do hindu. Kierkegaard
tentou nos convencer que não há diferença no que o homem acredita.
Apenas o como, a paixão, é de valor. Nessa história, Cristo, ao condenar
qualquer tipo de hipocrisia, recomendaria a idolatria do hindu.
Essa ilustração quer dizer que um ídolo hindu é um substituto
completo para Jesus. E o que poderia ter impressionado Soren Kierkegaard
mais fortemente, segue-se também que a filosofia lógica e racional, a qual
ele odiava, é tão boa quanto seu próprio irracionalismo. Se não faz
diferença no que você acredita, você pode muito bem ser um incrédulo.
Embora os principais discípulos de Kierkegaard, Karl Barth e Emil
Brunner, e Rudolph Bultmann, também, em certo sentido, retiveram a fé na
contradição e no absurdo, eles parecem fazer algum esforço para mascarar
a futilidade por acreditar em contradições.
A paixão infinita de Kierkegaard torna-se, na teoria deles, um
encontro, o encontro que Barth e Brunner proclamam. Homens tornam-se
cristãos por ter um encontro com Deus. Claro, esse encontro nem contém, e
nem é produzido por qualquer informação histórica. A ressurreição não foi
um evento datado que ocorreu três dias depois da crucificação. É uma
experiência existencial no dia dos homens. Com respeito a isso, os
Evangelhos escritos contêm pouco ou nenhuma precisão histórica. São
todas fábulas como as de Esopo. E sabe quais são?
As fábulas remontam uma chance popular pra educação moral de
crianças hoje. Há muitas histórias incluídas nas fábulas de Esopo, tais
como: A raposa e as uvas, A Cigarra e a Formiga, A tartaruga e a
lebre, O vento norte e o sol e O menino que gritava lobo, O Lobo e o
Cordeiro são bem conhecidas pelo mundo afora.14
Elas são boas descrições de peculiaridades humanas popularizadas, e
para a neo-ortodoxia, assim também são os Evangelhos. O Conceito que
Kieirkgaard tinha de Deus, parece ter muita coisa em comum com o
Mágico de Oz. Não era sua existência que contava e sim o pensamento de
sua existência. No conto de fadas, Dorothy, o Espantalho, o Homem de
Lata e o Leão covarde, adotam certo curso de ação porque acreditavam no
Mágico de Oz. Suas vidas são transformadas por causa da crença nele.
Mas, no fim, o mágico acaba se revelando ser uma fraude. Não era um
mágico, mas um homem comum. No caso de Kierkgaard, parece que é
mais o pensamento acerca de Deus que o impulsionava a reagir de certa
forma, do que na verdade um encontro pessoal com o próprio Deus.
O que importa pra ele, é uma escolha subjetiva, o salto da fé, o
comprometimento com o absurdo. Mas, o encontro pode fazer o que a
história não pode. Não há necessidade de superar dois mil anos de história
e encontrar eventos que aconteceram há muito tempo atrás. A Páscoa
começa agora e o encontro cancela o tempo de duração e nos faz
contemporâneos de Cristo. Se soar absurdo dizer que, podemos abolir dois
mil anos desse jeito e retornar ao primeiro século, ou trazer a Páscoa para o
século XX, dizer que hoje podemos ser contemporâneos de Cristo, que seja
assim. O cristianismo consiste em se contradizer.
Nada inteligível pode ser dito de Deus, para esses teólogos liberais.
Brunner diz, e isto é uma citação literal, “Deus e o meio de

14
As fábulas de Esopo não são históricas, são literalmente falsas, mas existencialmente verdadeiras.
conceitualidade são mutuamente exclusivos”.15 Fornecendo outra citação
literal, “Todas as palavras tem apenas um valor instrumental. Nem as
palavras faladas nem o conteúdo conceitual deles são a própria Palavra,
mas apenas sua estrutura”.16 A verdade não é importante, pois Brunner
diz, e isso é outra citação literal, ele diz: “Deus pode falar sua palavra ao
homem mesmo através da falsa doutrina”.17
Não faz qualquer diferença no que você crê. Você deve crer
apaixonadamente. Esse é o resultado natural em trocar lógica por
paradoxos. Quando a lei da contradição é deliberadamente repudiada, a
distinção entre verdade e erro vai embora. Observem os absurdos que
podemos chegar. A palavra Deus e Satanás significam a mesma coisa. Um
ministro pode pregar que Cristo fez expiação pelo pecado e no mesmo
sermão também sustentar que Cristo não fez expiação pelo pecado. Isso
não apenas torna toda pregação fútil, mas também não podemos nem
convidar uma pessoa pra almoçar, pois quando digo, almoce comigo, eu
também estou dizendo, não almoce comigo. Almoço e nenhum almoço são
as mesmas coisas, ao menos que sejam logicamente diferentes.

2.3. O irracionalismo com roupagens de ortodoxia

Ao longo dos anos, e principalmente nas grandes universidades


teológicas, John Robbins diz que “um mito evoluiu a partir de um teólogo
na Filadélfia que, com uma só tacada, derrotou as forças das trevas
intelectuais — um pensador muito profundo e ortodoxo, nada menos que um

15
Ibid
16
Gordon Clark Em Defe as da Teologia pg 48-50
17
Ibid
novo Copérnico.”18 Ele é o renomado professor Cornelius Van Til, do
Seminário Teológico de Westminster.19
Praticamente ele é adorado nos círculos da apologética
pressuposicionalista,20 onde existe uma biografia falsificada a respeito
dele21. Se caso alguém disser, que não segue a apologética Vantiliana, é
tratado com desprezo, mas não é só isso, o que espanta é tamanha crença
no absurdo irracional que ele defende. John Robbins diz:

Se o professor Van Til fosse tudo o que seus discípulos creem,


haveria boa razão para reverência, espanto, lealdade e devoção.
Se Van Til tivesse feito todas as coisas atribuídas a ele, fosse o
que lhe imputam, este escritor estaria entre os primeiros a se
unir à comitiva de admiradores. Mas há uma descontinuidade
(para usar uma das palavras favoritas de Van Til) entre o
homem e o mito. O abismo entre o homem e o teólogo
legendário torna toda essa lealdade e admiração fora de lugar.
Após alguém penetrar o mito, e isso pode ser feito apenas lendo
as palavras de Van Til, uma tarefa que poucos parecem ter
feito ou se importam em fazer, o contraste entre o homem e o
mito é surpreendente.22

Cornelius Van Til e Gordon H. Clark, são considerados


pressuposicionalistas. Os pressuposicionalistas argumentam que a
existência de Deus e a veracidade da Bíblia devem ser presumidas ou
pressupostas. O professor Van Til também é considerado por admiradores e
críticos o próprio Sr. Pressuposicionalista, enquanto o Dr. Gordon Clark

18
Cornelius Van Til: o homem e o mito John W. Robbins, Ed. Monergismo
19
Cornelius Van Til (3 de maio de 1895 – 17 de abril de 1987), nascido em Grootegast, Holanda, foi um
filósofo cristão, apologista pressuposicional, e teólogo reformado.
20
Ibid.
21
Provavelmente uma referência a Van Til: Defender of the Faith (1979), de William White Jr.
Embora aclamado por muitos, o livro apresenta várias deficiências e imprecisões, como Frame destacou em
uma resenha. Cf. WTJ 42:1 (Fall 1979).
22
Cornelius Van Til: o homem e o mito John W. Robbins, Ed. Monergismo, Introdução.
não é levado muito a sério, infelizmente. Meu intuito não é denegrir a
pessoa de Van Til, mas mostrar o quanto sua teologia do paradoxo inundou
o meio cristão, principalmente o meio reformado. Mas, primeiro vamos
saber quem foi cada um deles.

Cornelius Van Til23 foi o sexto de oito filhos de Ite e Klazina Van
Til. Em 1905, Kornelius Van Til (grafia holandesa de seu nome) imigrou
para os Estados Unidos junto com seus pais e irmãos. Ele cresceu
auxiliando na fazenda da família, em Highland, estado de Indiana. Estudou
no Calvin Preparatory School, onde se preparou para o seminário, e entrou
no Calvin Seminary.

Cornelius Van Til

Após se graduar, em 1922 (A.B.), Van Til se transferiu para o


Princeton Seminary, onde se formou Theological Bachelor em 1924. Seu
orientador no seminário, C. W. Hodge Jr., era neto de Charles Hodge e o
successor de Benjamin B. Warfield. Van Til venceu os concursos de artigos

23
http://protestantismo.com.br/biografias/cornelius_van_til.htm
estudantis tanto no ano de 1923 (sobre o mal teodiceia) e 1924 (sobre a
vontade e suas relações teológicas). Ele conquistou o título de Th.M. em
teologia sistemática em 1925, com sua dissertação sobre epistemologia
reformada. Casou-se no mesmo ano com Rena Klooster. Em 1927, a
University of Princeton concedeu a ele o título de Ph.D. em filosofia por
uma dissertação sobre Deus e o absoluto.
Entre 1927 e 1928, ele pastoreou a igreja de Spring Lake, no
Michigan, como pastor da Christian Reformed Church americana, em seu
único pastorado. No ano escolar de 1928-1929, lecionou Apologética no
Princeton Seminary. De lá se demitiu em protesto a certas mudanças
ideológicas e teológicas impostas pela PCUSA (a quem Princeton
pertencia), juntamente com três outros professores: Robert Dick Wilson,
Oswald T. Allis, e J. Gresham Machen.
Foi um dos professores fundadores do Westminster Seminary, em
setembro de 1929, onde lecionou Apologética até sua aposentadoria, em
1974, quando então ficou como professor emérito. Ele ainda foi agraciado
com o título de professor honorário da Universidade de Debrecen, Hungria,
concedido a ele em 1938; o título de Th.D. (honoris causa) da Universidade
de Potchefstroom, África do Sul; e o título de D.D. do Reformed Episcopal
Seminary, na Filadélfia. Foi editor adjunto do Philosophia Reformata, um
periódico voltado à filosofia calvinista. Ele também se afiliou à Orthodox
Presbyterian Church em 1936, sendo pastor desta denominação até sua
morte, em 1987.
Em Westminster, desenvolveu suas obras, primeiramente como
apontamentos para aulas, depois como apostilas para os alunos, e, por fim,
nas suas formas publicadas, tendo publicado 30 obras durante sua vida.
Além dos livros publicados, disponibilizados até hoje pela Presbyterian &
Reformed Publishing Co. Nas principais livrarias teológicas dos Estados
Unidos, é possível adquirir as obras completas de Van Til no CD-ROM The
Works of Cornelius Van Til, de 1997 (ISBN 0-87552-461-3), no qual
constam todos os artigos, apostilas e escritos do autor presentes na coleção
Van Til Papers da biblioteca do Westminster Theological Seminary.
Atualmente é possível adquirir a coletânea The Works of Cornelius Van Til
como recurso do Logos Biblical software24.

Gordon Haddon Clark25 (31 de agosto de 1902 - 9 de abril de


1985) foi um filósofo e teólogo calvinista. Ele foi uma figura importante
associada à apologética pressuposicional e foi presidente do Departamento de
Filosofia da Universidade Butler por 28 anos. Ele era um especialista em
filosofia pré-socrática e antiga e era conhecido por defender a ideia da
revelação proposicional contra o empirismo e o racionalismo, argumentando
que toda verdade é proposicional. Sua teoria do conhecimento às vezes é
chamada de escrituralismo.

Gordon Haddon Clark

24
https://www.logos.com/product/3994/the-works-of-cornelius-van-til
25
O Filósofo Presbiteriano - A Biografia Autorizada de Gordon H. Clark - Douglas J. Douma
Clark foi criado em um lar cristão e estudou o pensamento calvinista
desde jovem. Em 1924, ele se formou na Universidade da Pensilvânia com
um bacharelado em francês e obteve seu doutorado na Filosofia pela
mesma instituição em 1929. No ano seguinte, ele estudou na Sorbonne.
Ele começou a lecionar na Universidade da Pensilvânia depois de
receber seu diploma de bacharel e também lecionou no Seminário
Episcopal Reformado da Filadélfia. Em 1936, ele aceitou o cargo de
professor de Filosofia no Wheaton College, Illinois, onde permaneceu até
1943, quando aceitou a presidência do Departamento de Filosofia da Butler
University em Indianápolis. Após sua aposentadoria de Butler em 1973, ele
lecionou no Covenant College em Lookout Mountain, Geórgia, e no Sangre
de Cristo Seminary em Westcliffe, Colorado.
As afiliações denominacionais de Clark mudariam muitas vezes. Ele
nasceu e se tornou um ancião governante na Igreja Presbiteriana nos
Estados Unidos da América. No entanto, ele acabaria saindo com um
pequeno grupo de conservadores, liderados por John Gresham Machen,
para ajudar a formar a Igreja Presbiteriana da América (renomeada Igreja
Presbiteriana Ortodoxa em 1938) e seria ordenado na OPC - Orthodox
Presbyterian Church em 1944. No entanto, em 1948, após a controvérsia
Clark-Van Til, ele se filiou à Igreja Presbiteriana Unida da América do
Norte. Após a fusão da UPCNA - United Presbyterian Church of North
America em 1956 com a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da
América - Presbyterian Church in the United States of America (a mesma
denominação da qual o OPC havia se separado em 1936) para formar a
Igreja Presbiteriana Unida nos Estados Unidos da América - United
Presbyterian Church in the United States of America, Clark se juntou à
Igreja Presbiteriana Reformada - Reformed Presbyterian Church General
Synod, em 1957. Clark foi fundamental para organizar uma fusão entre a
RPCGS e a Igreja Presbiteriana Evangélica - Evangelical Presbyterian
Church para formar a Igreja Presbiteriana Reformada, Sínodo Evangélico
em 1965. Quando a RPCES se tornou parte da Igreja Presbiteriana na
América em 1982, Clark se recusou a se juntar à PCA e, em vez disso,
entrou no Presbitério Covenant não afiliado em 1984.
Clark também foi eleito presidente da Evangelical Theological
Society em 1965. Ele morreu em 1985 e foi enterrado perto de Westcliffe,
Colorado. Explicando-se quem são eles, agora nós vamos partir para os
argumentos.
Um dos absurdos e contradições que Van Til, defende é a doutrina da
Trindade. Ele diz: “Afirmamos que Deus, isto é, toda a Divindade, é uma
pessoa… Devemos afirmar que Deus é numericamente um, ele é uma
pessoa”.26 Bem, confesso que não faço a mínima ideia do que ele quer dizer
com isso, é algo muito confuso, seus seguidores dizem que ele foi um
inovador nessa definição, mas fica claro quando lemos na sua Introdução à
Teologia Sistemática, em uma única citação, ele cita isso mais de oito
vezes. Podemos consultar os livros do professor Van Til e The Trinity [A
Trindade], escrito por Gordon H. Clark — percebeu-se com clareza que o
conceito de Van Til sobre a Trindade não é o do cristianismo ortodoxo,
mas uma novidade.

26
John Robinss em seu livro Cornelius Van Til: o homem e o mito John W. Robbins, Ed. Monergismo, na
nota de rodapé 33 diz o seguinte: Em vez de ser refutado publicamente, ocorreu o contrário: dezenas e
dezenas de pessoas tentaram e ainda tentam explicar como a visão diferente de Van Til é supostamente
ortodoxa. Livros como Paradox and Truth: Rethinking Van Til on the Trinity (2011), de Ralph Allan Smith,
e The Trinity and the Vindication of Christian Paradox (2014), de Brant A. Bosserman, propõem-se fazer
exatamente isso. O curioso é que essa não é a mesma atitude demostrada para com os respeitados teólogos
Wayne Grudem e Bruce Ware, em 2016, quando propuseram a existência da subordinação funcional eterna
do Filho. O debate é complexo, mas basta dizer que Grudem e Ware afirmaram categoricamente não crer na
subordinação ontológica, nem numa diferença interna na Trindade: todas as pessoas são igualmente Deus, e
idênticas em poder, glória e majestade. Não obstante, eles foram acusados de heresia por diversos líderes e
teólogos cristãos, e alguns até mesmo afirmaram que eles deveriam entregar seus ofícios eclesiásticos.
Ironicamente, Carl Trueman, professor do Seminário de Westminster, a maior instituição promotora do mito
vantiliano, a despeito da sua estranha doutrina trinitária, está entre os críticos mais ferrenhos de Grudem e
Ware.
É uma daquelas formulações doutrinárias chamadas por muitos dos
seus discípulos de radicalmente novas, demandadas pelo vantilianismo.
Van Til rejeita de forma explícita a explicação ortodoxa da Trindade: Deus
é um em um sentido, e três em outro sentido. Ele afirma que, Deus é
Trindade e unidade, “uma pessoa absoluta”. É algo completamente absurdo
e contraditório. O conceito do professor Van Til sobre a Trindade, que não
é o ponto de vista ortodoxo, tem sido exaltado por ele e por seus discípulos
como a solução para o problema do “um e dos muitos”. Todavia, sua visão
não resolve nenhum problema filosófico, pois ele afirma que as pessoas da
Trindade são “intercambiavelmente exaustivas”. Ele vai ainda mais longe e
afirma que Deus é uma pessoa. Sua “solução” para o problema do um e dos
muitos é dizer que 1 = 3 e 3 = 1. Essa irracionalidade não deve ser louvada,
mas condenada. Tivessem seus discípulos entendido o problema do “um e
dos muitos”, eles não seriam tão efusivos nos elogios ao conceito herético
de Van Til sobre Trindade. Van Til, o teólogo, não é o grande defensor do
cristianismo que as pessoas alegam. Creio que seja por isso que vemos
professores do curso de doutorado em uma renomada escola de pós-
graduação teológica, afirmar que “não tem problemas com paradoxos27 e
antinomias.”28

27
Segundo o site https://www.significados.com.br/ Paradoxo é o oposto do que alguém pensa ser a verdade
ou o contrário a uma opinião admitida como válida. Um paradoxo consiste em uma ideia incrível, contrária
do que se espera. Também pode representar a ausência de nexo ou lógica. Paradoxo vem do latim
(paradoxum) e do grego (paradoxos). O prefixo “para” quer dizer contrário a, ou oposto de, e o sufixo “doxa”
quer dizer opinião. O paradoxo muitas vezes depende de uma suposição da linguagem falada, visual ou
matemática, porque modela a realidade descrita. É portanto uma ideia lógica que transmite uma mensagem
que contradiz a sua estrutura. O paradoxo expõe palavras que apesar de possuírem significados diferentes
estão relacionados no mesmo texto, por exemplo "Quando mais damos, mais recebemos", "O riso é uma
coisa séria", "O melhor improviso é aquele que é melhor preparado".
28
https://www.dicionarioinformal.com.br/ De uma forma geral, antinomia designa um conflito entre duas
ideias, proposições, atitudes, etc.. Fala-se, por exemplo, de antinomia entre fé e razão, entre amor e dever,
entre moral e política. Num sentido mais restrito, antinomia designa um conflito entre duas leis. Muitas
vezes, usam-se as palavras paradoxo e antinomia como sinónimos ou então consideram-se as antinomias
como uma classe especial de paradoxos: os resultantes de uma contradição entre duas proposições, em que
cada uma delas é racionalmente defensável. O termo antinomia é, por vezes, utilizado para designar um
conflito entre duas proposições, ou entre as consequências que delas advêm. A antinomia de duas
proposições difere da contrariedade. Duas proposições podem ser contrárias sem que constituam uma
antinomia, no entanto, ela surge quando se pretende provar a validade de cada uma delas.
Vimos como uma doutrina básica da Trindade pode ser modificada, e
aceita no círculo cristão. Podemos ver também, sobre as Escrituras, que é o
foco do nosso estudo. Essa afirmação de Van Til, com contradições lógicas
na doutrina da unidade-Trindade, é consequência de seu conceito
heterodoxo sobre a Bíblia e a lógica. O papel da lógica na teologia, é um
tópico de sonoro e irado debate entre teólogos. Lógica, a ciência de deduzir
por consequência boa e necessária, é a ferramenta que se deve usar na
interpretação das Escrituras. Ela é indispensável para o entendimento das
Escrituras. Cristo, a Lógica de Deus (Jo 1.1), repreendeu os saduceus por
não aplicar a lógica à natureza de Deus e deduzir dela a doutrina da
ressurreição.
Devemos entender em primeiro lugar, que as Escrituras são lógicas e
não que elas contêm contradições. Para Van Til, sua atitude com a lógica é
diferente. Quase todas as referências à lógica em seus livros são
depreciativas. Ele critica, minimiza e deprecia a lógica de forma contínua,
não o uso equivocado da lógica, mas a lógica em si. A lei fundamental da
lógica é chamada lei da não-contradição. Declarada de forma simples, ela
afirma que para uma palavra significar algo, ela também não deve
significar outra coisa. Ex: GATO é GATO e não é CACHORRO. Como o
Dr. Gordon Clark escreveu: “Alguém pode encontrar o princípio da lógica
exemplificado na primeira palavra hebraica em Gênesis. Bereshit, ‘no
princípio’, não significa mil anos ou nem mesmo um segundo após o
princípio”.29
O mesmo é verdade de todas as outras palavras na Bíblia: cada uma,
porque significa algo, também não significa outra coisa. Cada palavra
exemplifica a lei lógica da não-contradição. Sem lógica, não pode haver
revelação (o absurdo não é revelação), e não pode haver nenhum

29
Cornelius Van Til: o homem e o mito John W. Robbins, Ed. Monergismo,pg.26
entendimento ou teologia. Van Til não aceita o papel da lógica. Ele afirma:
“Todo o ensino da Escritura é aparentemente contraditório”.30
Todo o ensino, é aparentemente contraditório? Quando você
frequenta uma escola dominical em sua Igreja, o que é ensinado lá, pode
não ser ensinado lá no mesmo instante. Uma aluna do Seminário Teológico
de Westminster, Susan Foh, representa a segunda geração de discípulos de
Van Til. No livro Women and the Word of God [As mulheres e a Palavra
de Deus],31 muito popular em alguns círculos presbiterianos e reformados,
Foh afirma explicitamente que existem “antinomias” na Bíblia (p. 182).
O que tenho a dizer sobre isso, é que é uma grande desvalorização da
unidade lógica da Bíblia. Van Til considera as leis da lógica algo criado.32
Isso parece implicar na incapacidade de Deus pensar com lógica, da mesma
forma que ele não pode pensar em sentido temporal. A lógica se torna
“mera lógica humana”, e não se deve confiar na “mera lógica humana”. A
mera lógica humana afirma: 2 + 2 = 4; mas Deus, que não obedece, e não
pode obedecer, às leis criadas da lógica, pensa que 2 + 2 = 5. Isto é, caso
Deus pense.
Não há maior ameaça à Igreja cristã no século XXI que o
irracionalismo agora predominante em toda a nossa cultura. O nazismo e o
comunismo, culpados de dezenas de milhões de assassinatos, incluindo os
de milhares de cristãos, devem ser temidos, mas não tanto quanto a ideia de
que nós, como cristãos, não conhecemos e não podemos conhecer a
verdade divina. O hedonismo e o humanismo secular não devem ser mais
temidos que a crença na lógica, “a mera lógica humana”, como ferramenta
não confiável para entender a Bíblia. As pessoas devem procurar conhecer
a Deus, e só vão encontrá-lo nas páginas das Escrituras. Esse é o intuito

30
Common Grace and Witness Bearing. Phillipsburg, New Jersey: Lewis J. Grotenhuis, sem data,
p. 22.
31
Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1979.
32
An Introduction to Systematic Theology, p. 92.
desse livro, para que possa ter acesso e possa ser liberto do erro do
irracionalismo, das contradições absurdas que são frutos da pós-
modernidade.
Toda cosmovisão deve ter um ponto de partida, e para muitos é crer
em absurdos irracionais. Alguns alegam que seu ponto de partida é crer na
Trindade Ontológica, assim como Van Til faz. Só que, não percebem em
que, crendo já em um ponto de partida absurdo e contraditório, e da forma
que Van Til descreve, todo o seu sistema vai desmoronar logo de início,
por estar baseado em contradições. Sobre isso, Vincent Cheung diz o
seguinte:

“Eu lhes digo a verdade, todo aquele que coloca outro princípio
antes do conhecimento da revelação é escravo desse princípio.
Uma filosofia que é escravizada a este estranho princípio não
pode ter um lugar sob a filosofia da Palavra. Sua filosofia
também morrerá em impossibilidades e contradições. Mas se a
Palavra libertar você, você estará livre de fato. Eu sei que vocês
afirmam pressupor a Palavra. No entanto, vocês estão prontos
para me renunciarem, porque vocês não tem espaço para o que
eu digo. Eu estou falando com vocês do meu princípio, e vocês
se comportam de acordo com o seu primeiro princípio. 33

Geralmente, eles vão dizer que as Escrituras são o primeiro princípio


ou ponto de partida. Mas eles não começam pelas Escrituras. E as
Escrituras, não ensinam a fazer o que eles fazem. Eles fazem coisas que seu
primeiro princípio exige. O único primeiro princípio que tem, eles dizem é
o próprio Deus. Se Deus fosse o primeiro princípio, concordariam comigo,
pois o sistema que defendo, coloca a Palavra de Deus em primeiro lugar.

33
https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2018/06/o-pregador-fala-filosofia-vincent-cheung.html
pode ser encontrado no original: http://www.vincentcheung.com/2009/01/04/the-preacher-speaks-
philosophy/
Eu não inventei essa filosofia, mas Deus revelou isso por meio das
Escrituras. Mas, eles pertencem ao seu primeiro princípio, a confiabilidade
da descoberta humana (seja por sensação ou intuição)34, e realizam o que
este princípio exige. É uma falha epistêmica desde o começo, incapaz de
conhecer a verdade ou a realidade, ou entrar em contato com a revelação
que afirmam pressupor, porque o conhecimento da sensação ou da intuição
é impossível. Quando produz falsidades, faz o que é natural, pois é falso e é
o pai das falácias. Concordo com Vincent Cheung que diz:

“Aquele que tem revelação como o primeiro princípio se


submete a ela e exclui todos os outros. A razão pela qual vocês
não se submetem a ela e exclui todos os outros, é porque vocês
não tem revelação como seu primeiro princípio.”35

Infelizmente, não podemos impor essa verdade, de que a Bíblia, deve


ser o primeiro princípio cristão, a tais pessoas que amam e defendem com
unhas e dentes os paradoxos e antinomias. Triste esta situação. Somente
Deus pode iluminar suas mentes e transformá-las na mente de Cristo.

2.4. Van Til e Gordon Clark

Os conceitos heterodoxos do professor Van Til que acabamos de


observar, levaram à ruptura da paz e pureza da Orthodox Presbyterian
Church na década de 1940. No entanto, esses conceitos têm sido usados
como teste de ortodoxia na OPC e em Igrejas Reformadas Brasileiras. Em
1943 e 1944, o professor Gordon H. Clark foi chamado ao púlpito de uma
congregação da OPC, buscou ordenação, passou nos exames exigidos, e foi
ordenado, ao longo do período de quinze meses. O professor Van Til e
34
Já mostramos os erros de se querer conhecer a verdade por meio dos sentidos.
35
Ibid.
alguns colegas do Seminário Teológico de Westminster questionaram então
as bases doutrinárias da ordenação do professor Clark, acusando-o, entre
outras coisas, do pecado de “racionalismo”. Isso mesmo, de racionalismo.
Como podemos ver, como é que uma pessoa como Van Til que nos traz
conceitos contraditórios, com uma face de irracionalismo, pode chamar
alguém de racionalista?
Os defensores de Clark, não viram nenhuma vantagem em travar
outra batalha como a que haviam acabado de travar e ganhar contra uma
facção obstinada de homens pouco entusiasmados quanto à paz e pureza da
Igreja. A queixa da facção contra o dr. Clark, foi descrita em 1948 pelo
Presbitério de Ohio: “empregando linguagem não refreada com
severidade e precipitação sem ressalvas […] para difamar a reputação do
dr. Gordon H. Clark por alegações não comprovadas de racionalismo e
intelectualismo humanista…”. Essa história pode ser verificada com
facilidade por quem quiser fazê-lo, não é o nosso intuito fazer aqui,
recomendo uma leitura acurada sobre isso.36 Os detalhes não são
importantes agora, exceto por servirem para dissipar as lendas sobre o
professor Van Til e as mentiras repetidas com frequência sobre o professor
Clark.
O mito propagado pelos biógrafos de Van Til é importante, pois
obscurece seu ensino real. No assim chamado caso Clark-Van Til, havia
quatro tópicos principais de debate, e uma questão primordial, que veio a
ser conhecida como a incompreensibilidade de Deus. A facção vantiliana
alegava que o professor Clark não cria na incompreensibilidade de Deus. O
problema com a alegação é que, Clark acreditava na incompreensibilidade
divina, e ele o declarou muitas vezes. Até mesmo “afirmou com clareza”

36
A controvérsia Clark- Van Til - Volume 1e 2. Felipe Sabino de Araújo Neto (org.) Ed. Monergismo.
o significado da palavra “incompreensibilidade”. Dr. Clark citou o
príncipe dos teólogos americanos, Charles Hodge:

“Quando se diz que Deus pode ser conhecido, não se pretende


dizer que ele possa ser compreendido. Compreender é ter um
completo e exaustivo conhecimento de um objeto. É entender
sua natureza e relações… Deus é perene desvendamento. Não
podemos entender o Onipotente com perfeição”.37

Esse é o significado da expressão incompreensibilidade de Deus.


Clark acreditava nisso. Contudo, os vantilianos não ficaram satisfeitos.
Tentaram redefinir o termo incompreensibilidade para significar que Deus
não pode ser entendido de forma alguma. “Toda Escritura é
aparentemente contraditória”, Van Til escreveu mais tarde. Deus não pode
nem mesmo ser concebido pela mente do homem:

“Se tomarmos o mais alto ser no qual possamos pensar, no


sentido de ter um conceito de, e atribuir a ele existência real,
não se tem aí o conceito bíblico de Deus… O homem não pode
pensar em um ser absoluto autocontido… Deus é infinitamente
superior ao mais alto ser do qual o homem pode formar um
conceito”.38

Ele crê que o conhecimento de Deus e o do homem “não coincidem


em nenhum ponto sequer. Van Til defende “a posição cristã de o homem
não conhecer em nenhum ponto o que Deus conhece”.39 “A posição
cristã, expressa com coerência na fé reformada, afirma que o homem não

37
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 253.
38
An Introduction to Systematic Theology, p. 206.
39
Ibid. pg.185
tem em nenhum ponto de sua mente o mesmo conteúdo exato de
pensamento que Deus tem na mente dele”.40 “Se Deus fizesse ao homem
todas as proposições revelacionais que algum dia faria sobre si mesmo,
mesmo então o homem não poderia ter o mesmo conteúdo de pensamento
em sua mente que Deus tem na mente dele”.41
Se isso fosse verdade que o homem não tem em nenhum ponto de
sua mente o mesmo conteúdo exato de pensamento que Deus tem na mente
dele, então a Bíblia seria uma fraude. Seria dizer que 2+2=4 é algo para o
homem, mas é algo diferente para Deus, talvez o resultado seria 5,10 ou 25.
A Bíblia consiste nas palavras e nos pensamentos de Deus e dos homens.
Todo o seu propósito é revelar a verdade aos homens: “E conhecereis a
verdade” João 8.32.
Sabemos que Paulo era apóstolo porque Deus também o sabia e nos
revelou. Porém, se os pensamentos de Deus e os nossos pensamentos não
coincidem em nenhum ponto, então nós não podemos saber que Paulo era
apóstolo, pois o conhecimento de Deus e o nosso conhecimento “não
coincidem em nenhum ponto sequer” — nem Deus o saberia. Ou Deus nem
saberia que o nome dele era Paulo. Nós sabemos que após Judas se
enforcar, havia 11 discípulos? Então Deus não pode saber essa verdade,
pois seu conhecimento e o nosso conhecimento não coincidem em nenhum
ponto sequer, de acordo com o professor Van Til.
Se Deus conhece toda a verdade, nenhuma das coisas em nossas
mentes pode ser verdade, incluindo-se os ataques dogmáticos de Van Til
contra a Trindade, a verdade e a lógica. Se o professor Van Til está correto,
então o cristianismo é uma tolice; se o cristianismo é verdadeiro, então o
vantilianismo é uma tolice.42 A verdade, e não a originalidade, deve

40
Ibid. pg. 186
41
Ibid.
42
John Robbins, Cornelius Van Til: o homem e o mito John W. Robbins. Pg.34
caracterizar a teologia. Por isso estudamos teologia, para descobrir e
aprender mais sobre a verdade. O vantilianismo deve ser repudiado como
uma das muitas formas do irracionalismo do século XX, que tem
perturbado a paz e pureza da Igreja. Passaremos agora a analisar o
pressuposicionalismo, de que as Escrituras são o primeiro princípio.

3. Pressuposicionalismo

Agora chegamos ao terceiro tipo de epistemologia, ao qual darei o


nome de dogmatismo. Um termo mais recente é Pressuposicionalismo. O
nome é sem importância se os detalhes são bem explicados e entendidos. O
argumento é que toda filosofia deve ter um primeiro princípio, um
princípio estabelecido dogmaticamente. O próprio empirismo requer um
princípio não empírico.
Isso é particularmente óbvio em que a forma mais extrema de
empirismo é chamada de positivismo lógico. Que é para este movimento, o
conhecimento científico resulta da aplicação do método indutivo. Ele lhe dá
apenas possibilidades e chegam a uma conclusão universal e arbitrária; e o
critério que permite validar uma teoria é a verificação e confirmação
experimental da hipótese. Uma teoria é científica, se, e só se puder ser,
empiricamente verificável. Contudo, esta definição levanta problemas,
dado que é impossível provar, por exemplo, que: "Todos os cisnes são
brancos".
Os positivistas lógicos, atendendo a impossibilidade de se verificar
todos e, sem exceção, os cisnes que existem, consideraram que basta que os
enunciados sejam empiricamente confirmáveis (se todos os cisnes que
vimos até ao momento forem brancos, o enunciado: "Todos os cisnes são
brancos” confirma-se). Para os positivistas lógicos, o valor de verdade do
conhecimento científico residia na experiência empírica. Ou seja, naquilo
que você viu naquele momento, você chega a uma conclusão.

Dizer que declarações não têm sentido, a menos que sejam


verificadas pela sensação, é por si própria uma afirmação que não pode ser
verificada pela sensação. A observação nunca pode provar a confiabilidade
da observação. Visto que, portanto, toda filosofia deve ter seu primeiro
axioma, ou primeiro princípio indemonstrável, os secularistas e ateístas não
podem negar o direito do Cristianismo de escolher seu próprio axioma.
Quanto a como um primeiro princípio pode ser auto-justificador, primeiro
consideraremos a lei da não-contradição. Esta lei é auto-justificadora, no
sentido de que ela é logicamente inegável – você deve afirmá-la na própria
tentativa de negá-la.
Contudo, como um primeiro princípio, ela seria insuficiente, pois ela
não contém nenhuma informação suficiente, incluindo a própria
informação que você precisa para te dizer como você pode saber sobre a lei
em primeiro lugar. Assim, quando dizemos que um primeiro princípio deve
ter o conteúdo para se justificar, estou dizendo que ele deve suprir
coerentemente todas as informações ausentes – sobre metafísica,
epistemologia, lingüística, ética, etc. – de outra forma, o próprio primeiro
princípio não teria informação suficiente para torná-lo possível. O
conteúdo do nosso primeiro princípio, certamente, é a Bíblia, e ele está
sistematicamente expresso na teologia cristã, e esta é a base sobre a qual
pensamos sobre o mundo e interagimos com os incrédulos. Sendo assim, o
ponto de partida do cristão, é a verdade das Escrituras. Isso é o princípio
reformado do “Sola Scriptura”.
Historicamente, o Cristianismo significou duas coisas: justificação
somente pela fé e, também significou somente a Escritura – Sola Fide e
Sola Scriptura. Esses foram os materiais e os princípios formais da
Reforma Protestante, e qualquer um que negue um dos dois, não tem
relação histórica para se chamar de cristão.
O princípio é o Sola Scriptura. Esse é um repúdio da noção de que a
teologia tem muitas fontes tais como a Bíblia, tradição, filosofia, ciência,
religião ou psicologia. Há apenas uma fonte, as Escrituras. É onde a
verdade deve ser encontrada. Sob a palavra verdade há a inclusão, em
oposição ao irracionalismo, da lógica e da lei da não-contradição. Qualquer
coisa que se contradiga não é verdade. A verdade deve ser consistente, e é
claro, que a Escritura não afirma e nega uma expiação ao mesmo tempo.
Deus é a verdade. Cristo é a sabedoria e o Logos de Deus. E as palavras
que Ele nos tem falado são espírito e vida.
O ponto de partida da Escritura, não apenas implica uma posição
particular da natureza de Deus, mas também implica uma teoria definitiva
do homem. Auxiliada pelo conceito bíblico de Deus, a decisão entre o
irracionalismo da neo-ortodoxia por um lado, e, por outro lado, a
inteligibilidade, a lógica, a lei da não-contradição depende do ponto de
vista de alguém da natureza do homem. O Cristianismo continua afirmando
que há uma natureza humana comum. Os existencialistas franceses negam
dizendo que a existência precede a essência. Os freudianos, são mais
cristãos que muitos cristãos. Pelo menos Freud faz um julgamento com
respeito a todos os homens universalmente.43 Vida e mente para Freud são
produtos evolucionistas emergentes de estruturas psicoquímicas.44

43
No livro "O Ego e o Id", Freud expôs uma divisão da mente humana em três partes: 1) o ego que se
identifica à nossa consciência; 2) o superego, que seria a nossa consciência moral, ou seja, os princípios
sociais e as proibições que nos são inculcadas nos primeiros anos de vida e que nos acompanham de forma
inconsciente a vida inteira; 3) o id, isto é, os impulsos múltiplos da libido, dirigidos sempre para o prazer. (Os
três termos alemães empregados por Freud, em sua língua materna, eram "Ich", "Es" e "Überich", que se
traduzem também por eu, isso e supereu.)... - Veja mais em
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/psicanalise-a-mente-segundo-a-teoria-de-sigmund-
freud.htm?cmpid=copiaecola
44
São dois os fundamentos da teoria psicanalítica: 1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria
inconscientes, a consciência não é mais do que uma fração de nossa vida psíquica total; 2) os processos
psíquicos inconscientes são dominados por nossas tendências sexuais.... - Veja mais em
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/psicanalise-a-mente-segundo-a-teoria-de-sigmund-
freud.htm?cmpid=copiaecola
A força dominante no homem não é sua inteligência, compartilhada
que ele carinhosamente supõe com Deus, mas um bando de viagens
subconscientes e anseios sexuais. No consenso geral, consideramos isso um
julgamento falso, mas pelo menos reconhece uma natureza comum. E se
tomarmos como uma descrição do homem no seu estado caído, contém
alguma verdade, porém uma verdade distorcida. Mas, em oposição a todos
eles, a posição cristã é que o homem foi criado à imagem de Deus. O
homem, não os animais. E essa imagem deve ser determinada não por
observação empírica, mas por uma exegese (interpretação) de passagens
bíblicas. No livro seis de “A Busca da Verdade” de Nicolas Malebranche,
ele apresentou mais claramente a filosofia do Ocasionalismo, que “Deus é
a única coisa capaz de dirigir ou agir sobre a alma de uma maneira
causal, e fazendo isso, trazendo o conhecimento”.45 Como Deus é
onipotente e, como onipotência, é, por definição, um traço que não pode ser
transmitido ao homem, é o que Deus necessariamente irá realizar de acordo
com a Sua vontade.

Nicolas Malebranche

45
Nicolas Malebranche, A Busca da Verdade, p.241-263
Sua vontade, é assim dita, ser a causa eficiente e verdadeira de todas
as coisas. Uma causa ocasional, por outro lado, é simplesmente a referida
conexão, aquilo que Deus usa para efetuar o que Ele deseja; A causa
ocasional não deve ser considerada como a verdadeira causa, porque não é
a condição em que depende o cumprimento de qualquer coisa. Por isso,
Malebranche, concordando com Agostinho, acreditava que, mesmo o
conhecimento dependia de Deus. Além disso, apesar do que os sentidos
podem implicar, a locomoção para até mesmo o estudo das Escrituras, é
causada por Deus. Insistimos que se queremos descobrir o que é o
homem, devemos estudar a Escritura.

3.1. A Imagem de Deus

A primeira passagem para exegese é a primeira passagem na Bíblia.


Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Essa imagem não pode
ser o corpo do homem por duas razões:
Primeiro, Deus é espírito e não tem corpo; segundo, animais têm
corpos, mas eles não foram criados a imagem de Deus. Portanto, o corpo
não pode ser a imagem de Deus. A imagem divina, então, deve ser o
espírito do homem, pois os dois elementos que compõem o homem são
corpo e espírito. Em Gênesis 1: 26 diz que Deus formou o homem do pó
da terra e soprou nas suas narinas o fôlego da vida, e destes dois elementos
o homem tornou-se uma alma vivente.
Se o pó ou o barro não são a imagem de Deus, o fôlego ou espírito
deve ser. Não há outra possibilidade. A Escritura vai além. Falar sobre a
imagem de Deus no homem é ligeiramente incorreto. A imagem não é algo
que o homem possui. Não é algo nele. O próprio homem é a imagem ou a
imagem é o próprio homem, pois 1 Coríntios 11:7 afirma que o homem é
ele mesmo a imagem e a glória de Deus: “O homem, pois, não deve cobrir
a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do
homem.”
Sem dúvida também têm ou são espíritos. A Bíblia fala isso em
vários lugares. Logo, a imagem divina deve ser aquelas características do
espírito humano que não são compartilhadas pela criação mais inferior.
Essas são as características da racionalidade. Os animais não podem
realizar uma aritmética ou geometria. Os pássaros, constroem um ninho
magnífico, e não difere um do outro no estilo de sua arquitetura. Não há
nenhuma invenção. Eles não pensam em outras formas.
E então, também, os animais não podem entender os mandamentos
de moralidade. Não é isso o que o Salmo 32:9 significa quando diz: “Não
sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento” Os animais são
incapazes de pecar porque eles não são racionais. Então, o próprio fato do
pecado humano mostra que o homem é racional, como oposto aos animais.
Então, os animais não têm conhecimento da história. Eles não podem
possivelmente saber que Cristo morreu e ressuscitou. Visto, portanto, que a
razão distingue o espírito do homem em relação ao espírito dos animais, a
racionalidade é a imagem de Deus. Essa identificação da imagem divina,
argumentada até esse ponto à partir da criação registrada em Gênesis,
parece também ser exigida pelo o que Paulo diz em Efésios e Colossenses.
Essas epístolas falam de regeneração como uma renovação da
imagem original. E os pontos em que a renovação acontece são o
conhecimento e a justiça. Paulo, portanto, pressupõe que a imagem de Deus
é a racionalidade. Esse não é o local para um estudo abrangente do que toda
a Bíblia diz sobre o assunto, mas a menção de alguns versos ajudará nesse
ponto de vista. Essas passagens têm a ver com a natureza de Deus, assim
como a natureza do homem. Pode-se começar com Deuteronômio 32:4:
“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos
justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é.”

Na qual se refere a Deus como um Deus da verdade. O Espírito


Santo é o Espírito da verdade, que nos guiará em toda a verdade. Cristo não
é apenas o caminho, a verdade e a vida, Ele é o Logos, a mente e sabedoria
de Deus. Ele falou para seus discípulos, “Conhecereis a verdade e verdade
vos libertará.”
O apóstolo Pedro também diz em sua segunda epístola que: “Todas
as coisas pertencem a vida e a santidade, Deus nos dá por meio do
conhecimento.”
Deus é um ser racional. Sua verdade é racional e nós devemos ser
racionais para recebê-la. O cavalo e os pássaros não podem. A Bíblia em
sua inteireza aplica essa lição. Toda Escritura é útil para o ensino e para a
educação na justiça. Se toda Escritura é útil, então segue-se que os versos
são úteis para a instrução. Este aqui: Gênesis 6:8: “Noé, porém, achou
graça aos olhos do Senhor.”
Outro versículo: Gênesis 11:32: “E foram os dias de Terá duzentos e
cinco anos, e morreu Terá em Harã.” E um último versículo:
Atos 17:1: “Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a
Tessalônica”.
Esses versículos foram escolhidos aleatoriamente, porque eles não
parecem carregar nenhuma imagem de Deus ou qualquer outra doutrina
teológica profunda. Mas, Paulo disse que todos os versículos na Bíblia
eram úteis para a doutrina, e a doutrina que esses versículos ensinam é a
doutrina da imagem divina. Esses versículos foram escritos para que
entendamos. Essa é a história que não é para pássaros. É para a nossa
edificação e para ser edificado precisa-se de entendimento. Relembre que
Paulo proibiu línguas sem interpretação na Igreja de Corinto. Ele as proibiu
porque elas não edificavam.
E elas não edificavam porque elas não podiam ser entendidas. Como
podemos dizer amém para uma oração de outro se não a entendemos? A
Bíblia inteira, cada parte dela, é revelação, é doutrina para a nossa vida
porque é racional e porque somos racionais. Negue a lei da não-
contradição, abandone a lógica, insista que precisamos acreditar no
absurdo, e nada permanecerá na Bíblia. Coisa alguma. O desenvolvimento
intelectual da mente, talvez nos dias de hoje, é o aspecto mais
negligenciado na santificação. É o próprio fundamento do crescimento
espiritual, e um fracasso nessa área acaba com todo o período de
discipulado. Muitos dizem, que o conhecimento bíblico seria um obstáculo
a conversão de pessoas, e hoje não existe área mais atacada que no campo
do conhecimento bíblico. Muitos pregadores dizem: “Que o
intelectualismo bíblico é mortal a vida espiritual”46 e ainda citam um texto
fora de contexto que é 2 Coríntios 3:6: O qual nos fez também capazes de
ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque
a letra mata e o espírito vivifica.47
E é claro que esse versículo, de forma alguma está dizendo para não
estudarmos as nossas Bíblias, ou contra o intelectualismo bíblico que
renova a nossa mente. E isto também contradiz o primeiro e maior
mandamento que é: “De amar a Deus com toda a nossa mente.” –
(Pensamentos, forças e toda a nossa alma). A CFW na Seção I, cap.VI nos
diz:
VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas
necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do

46
Frase muito usada pelos antiintelectualistas, que alegam que se estudar teologia o crente esfria
espiritualmente.
47
Exegese mau usada para dizer que se estudarmos muito a Escritura na letra, ou seja, se preocupar somente
com o estudo, essa letra que é apenas algo intelectual pode matar a fé. São frases e interpretações
completamente absurdas, Paulo não estava querendo dizer isso.
homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode
ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se
acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do
Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos,
entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de
Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na
palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de
Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades
humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e
pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que
sempre devem ser observadas.48

Pode ser lógica e claramente deduzido dela – É concluir algo pelo


raciocínio, iluminado pelo Espírito Santo de Deus e fundamentando-se em
certos princípios ou premissas, aí você chega a uma determinada conclusão
do assunto. Seus argumentos se tornam consistentes porque está baseado na
Palavra de Deus. Em Colossenses 3:10 diz que: “E vos vestistes do novo,
que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou;” E Pedro faz do conhecimento cristão o fundamento para a vida e
piedade:
Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida
e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e
virtude; 2 Pedro 1:3

3.2. O conhecimento e a piedade

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas,


quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. 1
Coríntios 13:9,10

48
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo I, Seção VI, Ed.Monergismo
Nos dias de hoje, muito se fala sobre os dons espirituais. Esses dons
considerados em parte (ek merous) principalmente o de conhecimento,
continuarão até quando vier o que é perfeito (do grego teleios, completo)
(v. 10). A perfeição em vista aqui tem sido interpretada de maneiras muito
diferentes:

1. O fim da era apostólica, na qual as doutrinas centrais da Igreja


foram reveladas e ensinadas;
2. O fim do cânone das Escrituras, que assegurou a fonte inspirada e
fidedigna de toda a doutrina cristã verdadeira;
3. A segunda vinda de Cristo, momento no qual o papel e o
relacionamento de todos os cristãos e a Igreja serão transformados, e o que
é parcial não seria mais necessário.

Este tempo do fim (seja qual for a visão aceita) supera e substitui
todos os dons considerados em parte. Ao contrário deles, o amor dura para
sempre. Aceitamos a última opção, porque entendemos que as outras duas
opções são contraditórias com outros textos das Escrituras, que nos
ensinam a buscar um conhecimento. Se fosse verdade, hoje teríamos um
conhecimento completo, e o que é parcial deveria ser aniquilado. Mas não é
isso o que acontece.
Se o "perfeito" em 1Co13.10, se referisse ao Cânon completo das
revelações bíblicas, então Martin Lloyd-Jones estaria correto em escrever
que:
"Isso quer dizer que eu e você, que temos as Escrituras abertas
diante de nós, sabemos mais que o apóstolo Paulo sobre as
verdades de Deus [...] Isso significa que todos nós somos
superiores [...] até mesmo aos apóstolos, incluindo Paulo!
Significa que agora estamos em uma posição na qual [...]
conhecemos, da mesma forma como somos conhecidos por
Deus [...] Na verdade, existe apenas uma palavra para
descrever tal visão: absurdo.”49

Em 2 Pedro 1:3, o apóstolo faz do conhecimento cristão o


fundamento para a vida e piedade "Visto como o seu divino poder nos deu
tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que
nos chamou pela sua glória e virtude;"
Quanto mais conhecemos de Cristo, mais a nossa mente é renovada,
e isso exerce em nossas vidas uma profunda piedade para com Deus.
Assim, no momento em que você olha para as palavras da Bíblia, Deus
diretamente comunica o que está escrito em sua mente, sem passar pelos
seus próprios sentidos. Isto é, suas sensações apenas fornecem a ocasião em
que Deus transmite as informações do Logos Divino na sua mente. O
próprio Espírito Santo, leva essas verdades a sua mente e a transforma na
mente de Cristo. E fazendo isso, sentimos o prazer de obedecer a Deus e
renunciar esse mundo. É um processo contínuo. E também uma ordem.
O termo "conhecer" ou "conhecimento" é usado pelo menos treze
vezes nesta breve epístola. Não se refere à mera compreensão intelectual de
uma verdade, apesar de esse ser um de seus elementos. Antes, significa
participação viva na verdade, no sentido segundo o qual Jesus usa o termo
em João 17:3: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste".
Esse conhecimento envolve o poder de Deus (v. 3). A vida cristã
começa com fé salvadora, fé na pessoa de Jesus Cristo. Mas quando na
graça e no conhecimento de Jesus Cristo pessoalmente, também
experimentamos o poder de Deus e esse poder conduz "à vida e à piedade".

49
Martin Lloyd-Jones, Prove All Thing, ed.Por Christopher Catherwood (Kingsway, Eastbourne, England,
1985), p. 32-33. Citado por Grudem em sua Teologia Sistemática, cap. 52 Nota [35].
O pecador não salvo está morto (Ef. 2:1-3), não tem conhecimento, no
sentido da salvação de Cristo e somente Ele pode ressuscitá-lo dentre os
mortos (Jo 5:24).
A principal preocupação de Pedro, é que os cristãos aumentem seu
conhecimento pessoal de Jesus Cristo, seu Senhor e Salvador. Esse
conhecimento, é tanto intelectual quanto experimental, e aumenta pelo
estudo da Palavra e também pela oração. O conhecimento de Deus é uma
das principais ênfases dessa epístola. O conhecimento de Deus, só é
possível por meio de Jesus Cristo. Jesus é a plenitude da divindade, a
expressa imagem do seu Ser. Ninguém pode chegar a Deus, exceto por
meio de Jesus. Ninguém pode ver o Pai, senão olhando para Jesus. Pedro
diz que nos apropriamos da provisão divina na medida em que conhecemos
plenamente a Cristo, a revelação suprema de Deus, aquele que nos chamou
para sermos herdeiros da glória no futuro, e nos capacita a vivermos de
forma virtuosa no presente. A virtude deve ser associada ao conhecimento.
A palavra grega epignosis, traduzida aqui por “conhecimento”
significa conhecimento pleno ou conhecimento crescente. Refere-se ao
conhecimento prático ou discernimento. Tem a ver com a capacidade de
lidar de forma certa e adequada com a vida. Este conhecimento é obtido no
exercício prático da bondade, e naquilo que tem aprendido de Cristo por
seu Espírito e pelas Escrituras.
O verdadeiro conhecimento de Deus não está no misticismo ou nas
nossas experiências, mas em Cristo Jesus. Não deve ser buscado através de
experiências místicas, mas nas Escrituras. No Breve Catecismo de
Westminster na pergunta 2 e 3 diz: Que regra deu Deus para nos dirigir
na maneira de o glorificar e gozar?

R. A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Velho e do


Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de o
glorificar e gozar. Qual é a coisa principal que as Escrituras nos
ensinam?
R. A coisa principal que as Escrituras nos ensinam é o que o homem
deve crer acerca de Deus, o dever que Deus requer do homem.50
A Bíblia contém os preceitos gerais para a vida de toda a
humanidade, e, em especial, a vontade e determinação de Deus para com
aqueles que são chamados para a salvação.

Romanos 15,4: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso
ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança”.
João 5,39: “Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida
eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”.

O homem necessita de um padrão prático através do qual seja capaz


de dirigir sua vida de forma agradável a Deus, o que conhecemos como
bom ou mau pelos sentimentos e experiências, significa apenas o que nos
agrada ou nos desagrada. Somente através da Palavra de Deus, podemos vir
a conhecer o bem e o mal de forma definitiva, que são conforme os
preceitos e mandamentos estabelecidos na Escritura. Estes preceitos e
mandamentos, são a regra pela qual o crente deve orientar sua vida. Nada
pode se sobrepor à Palavra de Deus na vida do cristão, nem as tradições da
igreja, nem as normas sociais, nem as leis civis ou as normas profissionais
de trabalho, todas estas coisas devem ser submetidas ao crivo da Palavra.

CFW I.IV: A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual


deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de
qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus, que

50
Breve Catecismo de Westminster, Ed. Monergismo
é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a
Palavra de Deus.51

1 Tessalonicenses 2,13: “Outra razão ainda temos nós para,


incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra
que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de
homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito,
está operando eficazmente em vós, os que credes”.

A Bíblia é a única regra de fé do cristão, toda vontade de Deus para


os homens, está definida na Escritura, assim como os modos de adoração e
louvor agradáveis a Deus. O conhecimento de Cristo através das Escrituras
deve ser associado ao domínio próprio. A palavra grega egkrateia,
“domínio próprio”, significa autocontrole, e esse autocontrole é fruto do
Espírito e não esforço da carne (G1 5.23). Domínio próprio, significa
controlar as paixões ao invés de ser controlado por elas. E a submissão ao
controle de Cristo que habita no crente. Mais uma vez, Pedro está
enfatizando que o verdadeiro conhecimento leva ao domínio próprio.
Qualquer sistema religioso que divorcia a religião da ética é
fundamentalmente heresia.
Um cristão sem conhecimento é infrutífero e inativo. Não tem fruto
nem obras. É ineficaz. Quem não cresce não faz nada de útil para o reino de
Deus. A falta de crescimento sinaliza falta de vida. O Dr. Clark nos diz:

❝A epístola aos Hebreus nos diz para não nos contentarmos


com os primeiros princípios da revelação, não permanecermos
bebês tomando leite, mas, ao contrário, devemos ingerir
alimento sólido para nos esforçarmos no debate teológico
avançado e prosseguir na perfeição. Pelo conhecimento do

51
CFW, Ed. Monergismo
Filho de Deus devemos buscar a perfeição até chegarmos à
estatura da plenitude de Cristo e não sermos mais lançados de
uma parte a outra por todo vento de pseudo-evangelista. As
crianças recém-nascidas, porém, devem desejar o leite não
adulterado da Palavra. Os bebês são tão bonitinhos, mas um
bebê de 20 anos não é nada bonito.❞52

O pleno conhecimento de Cristo implica necessariamente numa vida


ativa e frutífera. Obviamente, Pedro está mostrando mais uma vez que esse
conhecimento não é apenas intelectual. Não basta ter luz na cabeça. É
preciso ter fogo no coração e obras que abençoam o próximo e glorificam a
Deus. Os que entrarão no reino eterno de nosso Senhor e Salvador não são
aqueles que fazem apenas uma profissão de lábios, mas aqueles que vivem
de modo digno do Senhor, e pra isso precisamos conhecer como agradamos
esse Senhor!
Vimos que é necessário que cresçamos na graça e no conhecimento
de Deus, isso se torna um mandamento para nós. Negá-lo, é negar as
Escrituras. Dizer que temos todo o conhecimento necessário, isso é uma
falácia. O conhecimento é contínuo. Negar obedecer esse princípio, é
pecado como o apóstolo João nos diz em 1 João 3:4: “Todo aquele que
pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei”.
Quanto mais conhecemos de Cristo, mais a nossa mente é renovada e
isso exerce em nossas vidas uma profunda piedade para com Deus. Mas,
uma mente dedicada à verdade de Deus produzirá uma vida que não se
limitará ao tempo. Mas qual é essa verdade? Jesus diz:

52
Gordon Clark www.monergismo.com/.../cristologia/expiacao_cap12_clark.pdf
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém
vem ao Pai, senão por mim. João 14:6

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João 8:32

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. João 17:17

A Palavra de Deus é a suprema verdade, é a verdade absoluta que


nos liberta da escravidão do pecado e da cegueira intelectual. Assim, no
momento em que você olha para as palavras da Bíblia, Deus diretamente
comunica o que está escrito em sua mente, sem passar pelos seus próprios
sentidos. Isto é, suas sensações apenas fornecem a ocasião em que Deus
transmite as informações do Logos Divino na sua mente.
O próprio Espírito Santo, leva essas verdades a sua mente e a
transforma na mente de Cristo. E fazendo isso, sentimos o prazer de
obedecer a Deus e renunciar esse mundo. Mas, como podemos provar que
a Bíblia é a inerrante e infalível Palavra de Deus? Apenas afirmar isso,
seria um pouco arbitrário e traríamos mais um argumento circular em
apenas presumir o que se deve provar, e daríamos aos nossos opositores
não muitas boas razões para crer sobre isso. Por isso, vamos procurar
esclarecer isso de forma bem simples.

3.3. Revelação

A Bíblia foi escrita por mais de 40 autores de diferentes épocas, ao


longo de 1.600 anos. A comunicação escrita teve início na Babilônia por
volta de três mil anos antes de Cristo. Sua escrita era cuneiforme, ou seja,
em forma de cunho e cada símbolo tinha um sentido de um som. A escrita
surge como necessidade do desenvolvimento da economia e da sociedade
que estavam ocorrendo principalmente no Oriente Médio. Foi através da
escrita, que Deus deixou sua Palavra divinamente inspirada para o homem,
como regra de fé e prática. O ato de Deus comunicar a sua vontade ao
homem se chama revelação e isto é um ato da Graça de Deus. Deus
transmitia informações ao homem em um sentido verbal, em palavras, e
logo mais adiante orienta ao homem que sua palavra seja preservada em
forma escrita.

Mas, Deus não se comunicou somente pela escrita com o homem.


Existem muitas outras formas de Deus se revelar. Muitos entendem essa
forma e a classificam de revelação geral e revelação especial.
Na revelação geral, Deus se manifesta através de sua criação, como
pelos oceanos, mares, estrelas, sol, lua, natureza e animais. Deus revela isso
de forma que toda a criação do mundo nos mostra que existe um Criador
Supremo, que governa todas as coisas, e isso também para que todos os
homens se tornem indesculpáveis.
Na revelação especial, Deus se comunica ao homem através de uma
comunicação verbal, de forma individual, e isso naturalmente. Após Josué,
Deus muda a forma de revelação que fica então através da Lei de Moisés,
da qual Deus revelou ao servo de forma bem particular, que é chamada de
revelação progressiva. Em Gênesis 3.15, Deus se revela ao homem
anunciando Cristo, que viria para resgatar o homem da escravidão do
pecado, a isso denomina-se Protoevangelho, onde Deus teria uma presença
física no mundo.
Deus, o Senhor dos Exércitos, também se revelou através de
manifestações sobrenaturais que iam contra a natureza, mostrando assim
seus atributos, ao contrário dos deuses pagãos, que não se comunicavam
com o homem por serem apenas criação do próprio homem decaído por
causa do pecado. As Escrituras, revelação verbal de Deus, registram muitos
atos soberanos dele até a vinda de seu Filho Jesus. Peças históricas,
encontradas pela arqueologia, relatam várias campanhas militares de reis
que mostram que a Bíblia é muito precisa nisso, mostrando que quem as
relatou foi o próprio Deus.

3.4. Inspiração das Escrituras

Desde o fechamento do cânon, Deus agora fala com toda autoridade


por meio de sua Palavra. Os 66 livros do AT e NT. Não que Deus tenha
cessado as profecias, visões e revelações extra-bíblicas, Ele pode se
manifestar dessa forma assim como quiser se assim for necessário e por sua
misericórdia, e as Escrituras não afirmam a sua cessação, mas Deus deixou
nas Escrituras toda a sua vontade revelada ao homem, e é por ela que o
homem tem o pleno conhecimento da verdade.
A palavra é um símbolo, e um símbolo pode representar uma ideia
ou um conjunto de ideias. A linguagem humana, é suficiente para
comunicar qualquer coisa que venha de Deus. Qualquer limitação deve
apoiar-se na capacidade humana de pensar ou processar as ideias
comunicadas por Deus. Pelo fato de Deus ter criado o homem à sua
imagem, o homem conta com a capacidade de pensar ou processar as ideias
comunicadas por Deus. A Confissão de Fé de Westminster no capítulo 1 e
seção 1 nos diz o seguinte:

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da


providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o
poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não
são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua
vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor
servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e
declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor
preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da
carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido
fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura
Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus
a sua vontade ao seu povo.53

Ou seja, Deus não mais se manifesta a sua vontade através de


teofanias, sacerdotes, rituais de purificação, símbolos e cerimônias do AT,
e sim, na pessoa de seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, que
caminha lado a lado junto das Escrituras. De acordo com o ensino de 2
Timóteo 3.16, e outras passagens, todo o AT como o NT são inspirados por
Deus. Ela não só "se torna" a Palavra de Deus como a neo-ortodoxia
ensina, ela é a Palavra de Deus.
O termo soprada por Deus no grego é “theopneustos” na verdade
descreve que a Escritura é o sopro que vem da boca de Deus, e inspirada
significa respirada. Isso quer dizer que, todos os pensamentos dos profetas,
suas palavras, seus pronunciamentos oficiais, não vinham deles mesmos ou
de suas próprias vontades ou pensamentos, esse versículo diz que, as

53
CFW,Ed. Monergismo
palavras registradas nas Escrituras são inspiradas. O Espírito Santo,
capacitou os profetas e apóstolos de uma tal forma, que eles foram
impelidos a registrar tudo nas Escrituras. Eles foram movidos para que seus
escritos não fossem outra coisa a não ser a Palavra de Deus.
O originador de toda a Escritura é Deus, e Pedro relata que nenhuma
revelação ou profecia vinha de homens. Homens foram usados com suas
habilidades pessoais a escrever de modo infalível a Palavra de Deus. O
Espírito Santo, governa cada palavra ali descrita, de fato Deus é o autor
primário das Escrituras, e ela mesma afirma a sua infalibilidade.
O Dr. Gordon Clark, diz que, uma das derrotas mais esmagadoras
administradas aos liberais, tinha a ver com a nação hitita. Essa derrota
ocorreu há setenta e cinco anos, e agora para eles, não é mais nenhuma
novidade para primeira página de um jornal, mas foi tão impressionante,
que nunca deve ser esquecido. No século XIX, não havia nenhuma prova
de que a nação hitita existisse, exceto as declarações na Bíblia. Ela mostra
essa nação existente de Gênesis a Neemias, em um período de mil e
quinhentos anos.
É estranho que uma nação existente há tanto tempo, não houvera
deixado nenhum registro, monumento ou vestígio de si mesma, exceto na
Bíblia.
A Bíblia, dizem os críticos, é um romance histórico, um mau também
para os autores que realmente não sabiam nada das idades anteriores, e
simplesmente imaginavam o que eles precisavam para escrever a sua
história. Desde que nenhuma evidência corrobore a Bíblia, segue-se pela
rigorosa lógica que os hititas nunca existiam. Hoje, um ambicioso
estudante, pode ir para o Instituto Oriental, em Chicago, aprender a língua
hitita e traduzir os livros que estavam nas bibliotecas hititas. O que a
Bíblia diz é verdade, porque ela é a verdadeira Palavra inspirada por Deus,
e Deus dá muitas evidências sobre isso.
3.5. A Natureza dessa Inspiração

A Inspiração bíblica, é um divisor de águas do século XX. Existe


uma diferença entre a revelação especial e inspiração. A revelação especial,
é o conjunto de verdades nas Escrituras, já a inspiração, é a obra
sobrenatural de Deus e do Espírito Santo, sobre todos os autores humanos
que escreveram nas Escrituras, que suas palavras se tornaram as palavras
de Deus inerrantes e infalíveis. Pela inspiração, Deus concedeu a revelação
especial.
A posição ortodoxa da inspiração, muitas vezes é chamada de
inspiração orgânica, que se refere que, Deus não atuou nos escritores
humanos de forma mecânica, e sim em harmonia com as leis do seu próprio
íntimo. Usou seu caráter, temperamento, dons e talentos, estilo, instrução e
cultura. Deus iluminou suas mentes de forma que reprimiu a influência do
pecado sobre suas obras literárias, e os guiou na escolha de expressões de
seus pensamentos e palavras.
Eram autores reais escrevendo e comunicando as revelações diretas
de Deus. A visão ortodoxa, mantém que a Bíblia é a Palavra de Deus, a
suprema verdade absoluta e objetiva. Todo o seu conteúdo é soprado por
Deus. Desde a eternidade, Deus modelou homens para escrever a sua
palavra infalível como está descrito em Jeremias 1.4-10:

Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que te


formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei;
às nações te dei por profeta. Então disse eu: Ah, Senhor DEUS! Eis que
não sei falar; porque ainda sou um menino. Mas o Senhor me disse: Não
digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo
quanto te mandar, falarás. Não temas diante deles; porque estou contigo
para te livrar, diz o Senhor. E estendeu o Senhor a sua mão, e tocou-me na
boca; e disse-me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca;
Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para
arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares;

Deus modelou esses homens, com suas personalidades, talentos e


características conforme é descrito: Pois possuíste os meus rins; cobriste-
me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo
assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e
a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos,
quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus
olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas
foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem
ainda uma delas havia. Salmos 139:13-16. Para a tarefa de escrever, e em
tempo oportuno, Deus fez com que eles registrassem tudo isso nas
Escrituras Sagradas.

3.6. Os Atributos das Escrituras

Sobre a inspiração, falaram também sobre os atributos das Escrituras.


O cristianismo ortodoxo, afirma que a Bíblia é infalível e inerrante. O
primeiro diz que ela não contém nenhum erro, ela não pode de jeito
nenhum ser refutada ou violada. Já o segundo, diz que ela é totalmente livre
de erros. Ela registra de forma perfeita a história, a ciência e os fatos
teológicos. Existe também uma diferença entre os termos. É entre a
potencialidade e a realidade, o atributo da inerrância nos diz que ela não
comete erros.
A infalibilidade é mais forte ainda, ela declara que a Escritura não
pode errar. A infalibilidade exige uma total inerrância. A Bíblia ensina a
sua própria inerrância, todas as suas partes são inspiradas. O Livro de Rute,
tanto o de Crônicas e o Evangelho de João são inspirados. Suas construções
gramaticais contidas nas Escrituras, são produtos do sopro Divino do
Altíssimo. Existe uma clareza nela, que qualquer pessoa alfabetizada pode
lê-la e entendê-la. Mas, também não significa que nem tudo nela é
totalmente claro. A Confissão de Fé de Westminster no capítulo 1 e seção 7
nos ensina o seguinte:

VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em


si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas
que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a
salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão
claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas
ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem
alcançar uma suficiente compreensão delas. II Pedro 3:16; Sal.
119:105, 130; Atos 17:11.54

O protestantismo ortodoxo, sempre afirmou a perspicuidade das


Escrituras.

3.7. A Autoridade e Suficiência das Escrituras

A Escritura detém autoridade. Ela é mais que um instrumento, é a


própria voz de Deus. Sua autoridade é a mesma coisa que a autoridade de
Deus. Não há diferença entre um pronunciamento de Deus, e um
pronunciamento da Bíblia, e não há diferença entre a obediência a Deus, e a
obediência à Bíblia. Crer em um e lhe obedecer, equivale a crer no outro e
obedecer-lhe. Não existe outra fonte de revelação divina, só a Bíblia é a
Palavra de Deus, e isso é garantido pela própria Escritura. Os livros
apócrifos, as tradições humanas do catolicismo, o misticismo espiritual

54
Ibid.
oriental, experiências existenciais através dos sentidos e a teologia sem
razão da neo-ortodoxia, não são fontes de revelação divina. Somente as
Escrituras são. As Escrituras, não são apenas fonte de autoridade para a
Igreja, mas também para cada área das nossas vidas. Ela é suficiente para
tudo, como o próprio Apóstolo Paulo declarou a Timóteo na sua carta de 2
Timóteo 3.16:

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para


ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;”

Essa autoridade, depende somente de Deus que é o seu autor, então


temos a obrigação de recebê-la porque é a Palavra de Deus. A Igreja, está
sob esse mandato divino de ensinar todo o conselho de Deus, para equipar
os santos a realizar suas tarefas ordenadas nela. Ela contém a informação
necessária para a salvação, o progresso espiritual e orientações pessoais —
todo o necessário para alguém viver de forma plenamente agradável a
Deus. Ela contém a informação necessária a cosmovisão completa, o
conceito verdadeiro da realidade, do conhecimento, da ética e de outras
questões.
As revelações extra-bíblicas, como visões e profecias, não são
desnecessárias como já disse logo acima; no entanto, a Escritura não
declara sua cessação. Deus ainda as pode conceder quando quiser, e da
forma que quiser, mas todas elas devem ser testadas, e os falsos profetas
devem ser excomungados. O crescimento de uma Igreja, não pode ser
medido pelo número imenso de pessoas, e sim pelo conhecimento bíblico
ensinado a partir das Escrituras. Como nos diz o Apóstolo Pedro: “Visto
como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade,
pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude;
Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para
que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da
corrupção, que pela concupiscência há no mundo.” 2 Pedro 1:3,4
Portanto, nunca se deve permitir a falsa doutrina dentro da Igreja, e
temos a obrigação de combatê-la. Esses, devem ser repreendidos e se
arrependerem de ensinar mentiras contra a Palavra de Deus. O Dr. Clark
nos diz o seguinte: “Pureza doutrinária é essencial.”55.

3.8. Canonicidade

A Bíblia inteira, pode ser contida hoje em alguns volumes portáteis,


e traduzidos para outros idiomas. Os livros foram escritos e unidos,
formando um único livro. Nessas traduções, existe uma grande
concordância entre os textos e as palavras contidas nelas, que mostra que
Deus preservou a sua Palavra como ele mesmo prometeu. Mas, também
fica uma pergunta: Como saber se a Bíblia que existe hoje é a mesma do
passado?
Cânon significa regra, e era importante que somente o que era
inspirado, fizesse parte desse registro, então algumas regras foram usadas
para isso. A primeira regra é que, não teria livros não autorizados, isso
eliminaria as heresias que de todas as formas tentavam fazer parte da Igreja
de Cristo.
A outra é que, era tudo o que pertence a autoridade de Deus. Em 1
Crônicas 29.29 estão relatadas as histórias dos Reis que foram escritas por
Samuel, Gade e Natã. Davi escreveu os Salmos, que também foram escritos
por outros e Salomão, que também escreveu Cantares, Provérbios e
Eclesiastes. Em seguida, vêm todos os profetas, terminando o Antigo
Testamento em Malaquias. Com a volta do povo judeu da Babilônia, após
passar 70 anos de escravidão, Esdras juntou todos os livros, os livros de

55
The Pastoral Epistles, sobre Tito 3.10-11
Moisés (a Torá) e os profetas. Isso está descrito em Mateus 5.17-18. Depois
da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, foi acrescentado
outra categoria, os chamados Escritos. Fica muito claro, que todo o
processo de coletar os livros, foi um ato Divino de Deus.

3.9. O Novo Testamento

Todos os livros do Novo Testamento, foram escritos antes do ano


100 a.C. e foi o próprio Deus quem determinou seu Cânon, a regra de fé
para a sua Igreja. Alguns testes foram feitos pela Igreja, como a inspiração
divina, a autoria, se Jesus era o centro desse assunto e se era lido
publicamente. Se passasse nesses quatro testes, eles eram incluídos no
cânon.
No ano de 165 d.C., chegaram a um acordo sobre os Evangelhos,
porque nesse mesmo ano surgiu um homem chamado Marción, que criou
seu próprio cânon, incluindo onze livros do Novo Testamento, um
evangelho de Plufe, e dez cartas de Paulo. No ano de 200 d.C., a Igreja fez
um acordo entre os Evangelhos, Atos, as epístolas de 1 Pedro, Paulo e João
e alguns outros livros que foram duramente criticados, como Hebreus, por
ser o seu escrito anônimo, Tiago, que parecia defender uma justificação por
obras, 2 Pedro, por ter uma linguagem diferente do primeiro livro, e Judas,
que era meio irmão de Jesus, mas logo depois foram todos aceitos. Em 367
d.C., Atanásio listou todos esses 27 livros contidos no Novo Testamento e
em 397 d.C. no Concílio de Cartago foram todos reconhecidos como
autênticos e inspirados por Deus.
Vale ressaltar que, havia famílias de manuscritos em Roma e em
Alexandria. Duas características entre eles é que havia o Texto Bizantino
na cidade de Constantinopla, que tem o final mais longo de Marcos 16.9-20
e outros textos admitem esse; além do relato da mulher em adultério de
João 7.53 - 8.11 ser omitido nesse texto, ele está lá por escrito ao lado do
texto, mas não faz parte dele. Deve-se entender também, que na Idade das
Trevas, onde infelizmente a Igreja da época mais manipulou seus
seguidores, Deus preservou a sua Palavra. O manuscrito que veio dessa
época, foi a tradução do grego para o latim, feita por Jerônimo chamada de
Vulgata latina e muitos copiaram desse texto.

3.10. Preservação

A preservação das Escrituras e seus textos, foram feitos por monges


que eram copistas, ou seja, eles copiavam de um manuscrito para outro de
forma bastante atenciosa onde não podia ter erros. Assim, os erros eram
mínimos. Havia algumas regras para os copistas, e uma delas é a de São
Benedito com seu desejo de aumentar sua biblioteca. Cada monastério,
tinha uma sala especial para as cópias, onde esses copistas ou escribas eram
verdadeiros artistas.
Eles copiavam perfeitamente os manuscritos. Os escribas, vinham
desde o Antigo Testamento e era a sua responsabilidade cuidar de todos os
livros. Eles contavam os números de palavras existentes no manuscrito
copiado, e comparavam com o manuscrito original observando se estavam
faltando ou sobrando. Isso fazia com que os manuscritos copiados ficassem
idênticos com os originais de onde foram copiados. Já no Novo
Testamento, qualquer um podia copiar e, assim, os erros se multiplicavam,
mas os massoretas desenvolveram pontos de vocalização na língua
hebraica, porque até aquele momento o hebraico havia se perdido e não
havia vogais. Pergaminhos do Mar Morto, foram encontrados e
comparados com os textos copiados e traduzidos dos Massoretas, e tinham
99% de precisão nos textos. Com isso, conclui-se que, a Bíblia foi
transmitida e preservada com precisão pelos copistas e escribas e com a
ajuda de Deus.

3.11. Traduções

John Wycliffe (1328-1384) foi professor da Universidade de Oxford,


teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas
religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI. Ele trabalhou na
primeira tradução da Bíblia para o inglês, que ficou conhecida como a
Bíblia de Wycliffe.56 Nessa época, havia muitas dificuldades nas traduções,
e não demorou muito para que ele encontrasse grande oposição dos
religiosos da época. Seus ensinos contrariavam os ensinos da Igreja
Romana, que era cheia de ensinos supersticiosos e baseados mais no medo
das pessoas do que na Palavra de Deus.

John Wycliffe

Apesar de sua crescente popularidade, a Igreja apressou-se em


censurar Wycliffe. Em 19 de fevereiro de 1377, Wycliffe foi intimado a
apresentar-se diante do Bispo de Londres, para lhe explanar seus
ensinamentos. Compareceu acompanhado de vários amigos influentes e

56
Wikipédia,John Wyclif
quatro monges foram seus advogados. Uma multidão aglomerou-se na
Igreja para apoiar Wycliffe e houve animosidades com o bispo. Isto irritou
ainda mais o clero e os ataques contra Wycliffe se intensificaram,
acusando-o de blasfêmia, orgulho e heresia. Enquanto isso, os partidos no
Parlamento inglês pareciam convictos de que os monges poderiam ser
melhor controlados se fossem aliviados de suas obrigações seculares.
É importante lembrar que, neste período, desenrolava-se a Guerra
dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra. Na Inglaterra daquela época,
tudo que era identificado como francês era visto como inimigo, e nessa
visão se incluiu a Igreja, pois havia transferido sua sede de Roma para
Avinhão, na França. A elite inglesa (realeza, parlamento e nobreza) reagia
à ideia de enviar dinheiro aos papas e esta era uma atitude vista como ajuda
ao sustento do próprio inimigo. Neste ambiente hostil à França e à Igreja,
um teólogo como Wycliffe desfrutou quase imediatamente de grande
apoio, não apenas político, como também popular, despertando o
nacionalismo inglês.
Em 22 de maio de 1377, o Papa Gregório XI, que em janeiro havia
abandonado Avinhão para retornar a sede da Igreja a Roma, expediu uma
bula contra Wycliffe, declarando que suas dezoito teses eram errôneas e
perigosas para a Igreja e o Estado. O apoio de que Wycliffe desfrutava na
corte e no parlamento, tornaram a bula sem efeito prático, pois era geral a
opinião de que a Igreja estava exaurindo os cofres ingleses.
Na verdade, a tradução de Wycliffe era a tradução de uma tradução,
porque até aquele momento a tradução que ele tinha era a Vulgata latina
feita por Jerônimo, que do Grego e hebraico passou para o Latim, e do
Latim para o Inglês. A Igreja de Roma, se opôs a essa tradução. Nessa
época também, a Inglaterra pagava 50% de tributo a Roma que pagava ao
Rei da França, que estava em guerra contra a Inglaterra, e isto pareceu aos
olhos de Wycliffe um grande absurdo, pegar o dinheiro do povo e sustentar
um país que queria acabar com seu.
A Peste Negra atacou a Europa, e a Igreja Romana não dava conta do
sofrimento do povo, pois não tinha a Palavra de Deus que consolaria o
povo nesse momento tão crítico. Alguns Monges também viviam na
imoralidade e nem sequer sabiam a Palavra de Deus. O povo estava
entregue ao caos. Essas traduções eram para o povo que necessitava de vida
espiritual, mas a Igreja de Roma não ajudava em nada. Elas foram
consideradas ilegais pela Igreja porque davam “conhecimento” ao povo. A
tradução de Wycliffe o tornou um precursor da Reforma Protestante e Deus
levantaria mais homens fiéis para levar a sua Palavra e lutar contra a
imoralidade e perversão da Igreja de Roma. Logo mais à frente, um homem
chamado Johannes Gutemberg criou a imprensa, que facilitaria muito mais
a chegada da Palavra de Deus ao povo rapidamente. O primeiro livro a ser
impresso foi a Bíblia em 1495. Houve muitos outros motivos e precursores
da Reforma, homens como John Wycliffe e John Huss levaram a Palavra
de Deus aos homens menos favorecidos. Ocorreu também entre os
intelectuais um resgate da cultura e da língua grega.

John Huss
Os Reformadores se dividiram em dois grupos, que eram os
doutrinais, e os morais, que eram humanistas voltados aos escritores
gregos. Surge entre os humanistas um homem chamado Erasmo de
Roterdã, que queria que a Bíblia fosse traduzida de volta ao grego, e ele
mesmo fez isso em 1516. Ele e outro homem chamado Froben traduziram o
Novo Testamento do latim para o grego e foi essa tradução que mais tarde
Lutero, Calvino e outros reformadores usaram. Eles perceberam que,
quando se voltava aos escritos originais em grego, surgia alguns erros na
Vulgata Latina de Jerônimo. Um dos erros foi que, para Jerônimo,
‘justificar’ era algo apenas moral, mas no grego é um ato do próprio Deus.
A palavra ‘arrepender’ também foi traduzida de forma errada para ‘pagar
penitência’. Assim, perceberam que muitos dos ensinos da Igreja de Roma
caminhavam contra os ensinos da Palavra de Deus, e que as Escrituras
deveriam ser somente a regra de fé e prática da Igreja de Cristo.

3.12. Interpretação

Só é possível adquirir uma correta interpretação com a iluminação do


Espírito Santo. Fazendo isso, homens de Deus conseguiram levar as
palavras das Escrituras a uma linguagem que o povo menos favorecido
pudesse entender. Existem diferentes interpretações da Bíblia porque além
da iluminação do Espírito Santo, muitos não usam as regras básicas da
Hermenêutica, que é ler o contexto e o que o autor estava querendo dizer; e
porque a iluminação no coração do fiel, abre a sua mente e com ela aplica à
vida de quem a lê. Lembrando sempre que, o autor é Deus e é preciso
procurar entender o que Deus realmente quer dizer.
William Tyndale57 foi um homem muito apto na tradução do grego.
Ele foi um pastor protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na
Universidade de Oxford. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do
moderno inglês. Seu objetivo era fazer do Novo Testamento um livro tal
que todo menino de arado pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das
Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês,
parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de
Tyndale foi a primeira a beneficiar a imprensa, o que permitiu uma ampla
distribuição. Tyndale estudou as Escrituras e começou a defender as teses
da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas,
primeiro pela Igreja Católica que o perseguira e depois pela Igreja
Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o
próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorde, 10 Km a
nordeste de Bruxelas na atual Bélgica, sob a instigação de agentes de
Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, "Senhor,
abre os olhos do rei da Inglaterra", o que de fato aconteceu anos depois.

William Tyndale

57
Wikipédia,William Tyndale
Tyndale escreveu notas explanatórias, introduções e comentários
para ajudar o povo a entender realmente o que Deus queria dizer. Ele foi
iluminado por Deus para este trabalho. Suas notas de rodapé eram notas
anti-papado, ou seja, ele escrevia contra as doutrinas absurdas papais. Esse
Novo Testamento traduzido por Tyndale era ilegal pela Igreja de Roma,
porque ia contra o Papa e poucos livros sobreviveram, sendo muitos
queimados. A provisão de Deus o ajudou e permitiu que ele traduzisse a
Bíblia para uma linguagem popular.

3.13. Convicção

A respeito da convicção, um nome muito notório foi o de John


Bunyan58. Ele inovou em escrever um livro chamado “O Peregrino” sobre a
vida prática de como se tornar um cristão. Bunyan escreveu esse livro em
duas partes, sendo a primeira publicada em Londres em 1678 e a segunda
em 1684. Ele havia iniciado a obra durante seu primeiro período de
aprisionamento, e provavelmente terminou-a durante o segundo período do
mesmo. A edição mais recente em que as duas partes foram combinadas em
um único volume foi publicada em 1728.

58
Ibid.
John Bunyan

Uma terceira parte falsamente atribuída a Bunyan apareceu em 1693


e foi reimpressa em 1852. Seu nome completo é “The pilgrim’s progress
from this world to that which is to come”, que traduzido significa “O
progresso do peregrino deste mundo àquele que está por vir”. O Peregrino
é considerado uma das mais conhecidas alegorias já escritas, e tem sido
amplamente traduzido em diversas línguas. Missionários protestantes
geralmente o traduziam em primeiro lugar depois da Bíblia.
Esse livro falava com a sua vida e Deus o usou grandemente. Ele não
estudou para ser pregador, e as Escrituras causaram uma mudança
maravilhosa em sua vida. Em 1658, Bunyan foi processado por pregar sem
uma licença, mas ele continuou a pregar e não sofreu um aprisionamento
até novembro de 1660, quando foi levado à cadeia municipal de Silver
Street, Bedford.
Ali ficou detido por três meses, mas, por se recusar a se conformar
ou desistir de pregar, seu encarceramento foi estendido por um período de
aproximadamente 12 anos, até janeiro de 1672, quando o Rei Carlos II
emitiu a Declaração de Indulgência Religiosa, onde a Inglaterra teria uma
única Igreja, a Anglicana, controlada pelo Rei. Naquele mês, Bunyan se
tornou pastor da Igreja de Bedford. Em março de 1675, ele foi novamente
aprisionado por pregar, desta vez no cárcere de Bedford, localizado na
ponte de pedra sobre o rio Ouse, porque Carlos II havia anulado a
Declaração de Indulgência Religiosa. Após seis meses ele foi libertado e
por ser muito popular, não mais foi molestado. A caminho de Londres,
Bunyan foi acometido por um forte resfriado e morreu de febre na casa de
um amigo em Snow Hill, no dia 13 de agosto de 1688. Seu túmulo está
localizado no cemitério de Bunhill Fields, em Londres.
Para Bunyan, só as Escrituras eram a autoridade e nenhuma outra.
Seus livros, que são mais de 60, tiveram um impacto na vida de muitas
pessoas e 4 deles são seus melhores trabalhos. O Peregrino foi o livro na
Língua Inglesa mais impresso perdendo somente para a Bíblia. Suas obras
são grandes reflexões de um verdadeiro soldado de Cristo, que enfrentou
todo tipo de dificuldade na vida.

3.14. Proclamação

Charles Haddon Spurgeon,59 foi um homem notório quanto à


proclamação. Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos
textos bíblicos foi considerado extraordinário. Sua excelência na pregação
das Escrituras Bíblicas lhe renderam o título de O Príncipe dos Pregadores
e O Último dos Puritanos. Ele tinha muito interesse em ouvir a Palavra de
Deus e com ele andava o sentimento de proclamá-la. Seus sermões
reforçavam os textos e faziam com que as pessoas entendessem a
mensagem do Evangelho, e assim alcançaram milhões de pessoas e ainda
hoje é lido nas Igrejas.

59
Ibid.
Charles Haddon Spurgeon

Spurgeon foi convidado a pregar em Londres pela primeira vez em


18 de dezembro de 1853. Foi tão bem sucedido que voltou a ser convidado
em 1 e 8 de janeiro e no dia 29 de janeiro de 1854, quando a Congregação
o convidou a ser provado por seis meses em vista de assumir o ministério.
Porém, em 19 de abril de 1854, a Igreja lhe convidou imediatamente.
Spurgeon aceitou. A pregação e a mensagem de Spurgeon atraiu muitos a
New Park Street. Spurgeon tornou-se o pastor mais famoso de Londres.
Logo, não suportava mais o número de ouvintes. Em 1855, New Park
Street passou por reformas e decidiu-se alugar o Exerter Hall, um salão
público com capacidade de 5.000 expectadores, para as reuniões da
Congregação até junho de 1855. Em 1856, tornaram a alugá-lo em janeiro e
junho devido a pressão das multidões, por falta de espaço em New Park.
Porém, os proprietários recusaram-se a alugar o salão por largos
períodos para Spurgeon a fim de que outras denominações o usassem. Foi
necessário outro local para os cultos.
3.15. Autoridade

102 pessoas navegavam no navio Mayflower em 162060 para a Nova


Inglaterra em busca de uma liberdade religiosa, onde pudessem exercer
suas crenças sem a interferência da monarquia. Sabe-se que os peregrinos
de Plymouth eram Puritanos. Eles fundaram uma colônia e a autoridade
dela era a Bíblia. Essa nova sociedade foi criada e muitas a chamaram de
separatista, e a Bíblia era o padrão moral para cada cidadão que formava
essa sociedade. A Bíblia que eles usavam era a Bíblia de Genebra. Fugiram
das perseguições na Inglaterra feitas pela Rainha Mary e foram para
Genebra com as traduções de Tyndale entre 1553 e 1558. Nessa Bíblia, não
empregaram as letras góticas e sim as romanas que eram mais fáceis de
usar. Ela foi a primeira Bíblia de Estudo em Inglês. Os peregrinos
encontravam nas páginas dessa Bíblia a força espiritual que precisavam.

Os Peregrinos de Plymouth

3.16. Evangelismo

Foi nessa época que surgiram as versões indígenas para a facilitação


do Evangelismo aos povos de línguas estrangeiras e de difícil acesso.

60
Ibid.
Também foram criadas as Bíblias para crianças com uma linguagem mais
simples e também para cegos em braile. Romanos 10:17 diz que a fé vem
pelo ouvir a Palavra de Deus.

John Eliot

John Eliot, no século XVII, e David Brainerd61, no século XVIII,


foram os grandes evangelistas nessa época. O evangelismo seguia para o
oeste americano em busca da conversão dos índios e foi bem avançado
pelos metodistas. Na Pensilvânia, colonos alemães vieram sem nenhum
privilégio e a Bíblia foi imprimida em 1743 em alemão. John Eliot, um
puritano, traduziu a Bíblia do Hebraico e Grego para a Língua Indígena,
mas em 1675 houve uma guerra entre os colonos Ingleses e os Indígenas,
na qual muitas Bíblias foram destruídas. Foi a Palavra de Deus que
motivou John Eliot a levá-la aos homens. Ela se sustenta pela excelência e
suficiência de seu conteúdo, e independe de promessas alheias.

61
Biografia David Brainerd
David Brainerd

O sistema de crença cristã recebe a Escritura como primeiro


princípio. O restante do sistema se segue por meio de deduções válidas.
Este primeiro princípio se prova verdadeiro, e todas as proposições válidas,
deduzidas dele, também são verdadeiras. Pelo fato de a Escritura ser
verdadeira, e visto que ela contradiz e condena todos os outros sistemas de
pensamento, a fé cristã é a única religião, filosofia ou cosmovisão
verdadeira, e que crendo nisso teremos êxito no evangelismo.

3.17. A continuidade do processo de revelação

Voltamos ao texto: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e


proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em
justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído
para toda a boa obra. 2 Timóteo 3:16,17
3.17.1. Por que é Divina?

Quais provas eu posso mostrar que essa regra de fé e prática que


temos hoje, é Divina? Ela nos explica mais uma vez:

Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da


minha boca. Deuteronômio 32:1

Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora.


Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Lucas 14:35

Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai.


Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Mateus 13:43

Ouvi agora o que diz o SENHOR: Levanta-te, contende com os


montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Miquéias 6:1

Todos esses textos, nos mostram que a mesma Palavra escrita é a


mesma dita aos profetas, que depois eles a escreveram. São todos igualados
como Palavra de Deus Todo Poderoso. Assim, não nos resta dúvida que ela
seja a Palavra Divina. Outra forma de provar isso é o testemunho interno
do Espírito Santo:

O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de


Deus. Romanos 8:16

Somente com esse testemunho, essa ação sobrenatural de Deus em


nossas vidas, vamos chegar a uma conclusão que essa regra é de origem
Divina.
3.17.2. Proveitosa para Ensinar.

É bem certo que só no Novo Testamento temos uma descrição de


Jesus, um relato de sua vida, e um registro de seus ensinos. Por essa mesma
razão, é incontestável que, diga-se o que se diga sobre o resto da Bíblia, é
impossível que a Igreja exista sem os Evangelhos. É perfeitamente certo
— como tantas vezes o dissemos e tão enfaticamente — que o cristianismo
não está baseado num livro impresso, mas em uma Pessoa que vive. E
também é certo que, o único lugar em todo mundo em que obtemos um
conhecimento direto dessa Pessoa e de seus ensinos é no Novo Testamento.
Essa é a razão pela qual uma Igreja que não tem Escola Dominical é
uma Igreja em cuja tarefa falta um elemento essencial e insubstituível. Ela
contém tudo o que precisamos de Deus para podermos andar dentro de uma
sociedade, podemos tirar ensinos como educar nossos filhos no caminho do
Senhor, como ser um bom marido, uma boa esposa, um bom filho, uma boa
filha, um bom patrão e um ótimo empregado. Nela eu posso tirar proveito
para a minha vida de comunhão com Deus, e viver uma vida na plenitude
do Espírito.

3.17.3. Para redarguir.

É no sentido de dar uma resposta, argumentando e (deduzindo)


retirar algo e concluir a partir dela. Nela encontramos tudo para responder
aqueles que nos afrontam e esperam uma resposta para a nossa fé. Não
significa que, as Escrituras são valiosas para encontrar falhas; o que se quer
dizer é que, são valiosas para convencer, para fazer o homem ver o errado
de seu caminho, e para assinalar o caminho reto. Existem diversas histórias
a respeito de como as Escrituras chegaram nas mãos de várias pessoas e
mudaram suas vidas. William Barclay relata alguns acontecimentos:

No Brasil, o senhor Antônio, de Minas, comprou um Novo


Testamento que levou a sua casa para queimá-lo. Foi a sua casa
e sucedeu que o fogo se apagou. Acendeu-o deliberadamente.
Atirou o Novo Testamento nele. Este não se queimava. Abriu as
páginas para que se queimasse mais facilmente. Fez isso no
Sermão da Montanha. Olhou-o ao jogá-lo nas chamas. Sua
atenção foi captada; tomou novamente. "Leu, esquecendo-se da
hora, durante toda a noite, e ao amanhecer pôsse de pé e
declarou: 'Creio'."
Vicente Quiroga, do Chile, encontrou umas poucas páginas de
um livro desbotado trazido à costa por uma onda depois de um
terremoto. Leu-as. Não descansou até que obteve o resto da
Bíblia. Não só converteu-se num cristão, mas ainda dedicou o
resto de sua vida à distribuição das Escrituras nas vilas
esquecidas do Norte do Chile.
Um distribuidor de livros foi atacado uma noite escura
por ladrões num bosque da Sicília. Foi assaltado à ponta de
revólver. Foi-lhe ordenado que acendesse uma fogueira e
queimasse seus livros. Acendeu o fogo, e logo pediu que fosse
permitido ler um pouco de cada livro antes de jogá-lo no fogo.
De um leu o Salmo 23; de outro a história do Bom Samaritano;
de outro o Sermão da Montanha; de outro 1 Coríntios 13. No
final de cada livro os ladrões diziam: "Esse é um bom livro;
não o queimaremos; dêem-nos isso ." Finalmente não se
queimou nenhum livro; os ladrões deixaram o colportor e
voltaram para a escuridão com os livros. Anos mais tarde
apareceu um deles. Esta vez era um ministro cristão e atribuiu
sua mudança à leitura daqueles livros. Está mais além de toda
dúvida e de todo argumento que as Escrituras podem tirar o
homem de seu erro e convencê-lo do poder de Cristo.
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai
sempre preparados para responder com mansidão e temor a
qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, 1
Pedro 3:1562

Ela nos ensina a sermos mansos e pacientes, com aqueles que nos
afrontam e nos tem como inimigos. Ela nos garante resposta para tudo o
que precisamos em regra de fé e conduta moral.

3.17.4. Ela nos corrige.

O verdadeiro significado disto é que, todas as teorias, todas as


teologias, todos os ensinos devem ser comprovados. Comparando-as com
os ensinos da Bíblia. Se for contra eles, então devem ser descartadas. É um
dever obrigatório utilizar nossas mentes; é nossa responsabilidade fazê-las
conhecer; a especulação e o pensamento são uma necessidade cristã.
Mas esta prova deve estar sempre de acordo com o ensino de Jesus
Cristo como nos apresentam as Escrituras. Ela também nos mostra aquilo
que Deus desaprova e condena, e nos ensina a não fazer. Está claramente
registrada nos Dez mandamentos (Êx.20). Que é o dever de todo cristão
procurar cumprir. Porque primeiro estaremos pecando contra Deus, e
depois com o nosso próximo, se caso nós a desobedecermos, ela nos diz:

E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é


amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. 1 João 4:16

Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e


qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. 1 João 4:7

62
Comentário Bíblico de William Barclay
Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. 1
João 4:8

E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também
a seu irmão. 1 João 4:21

Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso.


Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a
quem não viu? 1 João 4:20

Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele. 1 Coríntios 8:3

Ela nos ensina a amar a Deus e nosso próximo, se não temos o amor
dentro de nós, logo nós o odiamos. Nos ensina até onde podemos ir, ela é
uma regra, um instrumento de medição para as nossas vidas, da qual
usamos para a glória de Deus.

3.17.5. Ela nos instrui em toda a justiça.

Mas que Justiça? A do homem? Ou a de Deus? De Deus é claro! O


verdadeiro evangelho proclama a realidade da justificação. O estudo das
Escrituras instrui o homem em justiça até que esteja preparado para toda
boa obra. Esta é a conclusão essencial. O estudo das Escrituras nunca deve
ser para o conhecimento egoísta do homem. Qualquer mudança, qualquer
conversão que faça pensar ao homem nada mais que no fato de que ele está
salvo, não é uma mudança nem uma conversão verdadeira.
O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos diz: “visto que a justiça
de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo
viverá por fé”. (Romanos 1.17) O Evangelho proclama que somos justos.
Não fizemos nada para alcançarmos esta justiça. Ela é dom de Deus
e a recebemos pela fé. Não há obra que nos torne mais dignos, mais justos,
mais merecedores. Tudo o que somos agora foi por causa do que Jesus fez.
A obra perfeita já foi realizada por Ele. O Evangelho proclama que, todo
aquele que recebeu a abundância da graça e o dom da justiça reina em vida
através de Cristo Jesus. Essa é a nossa realidade!
Veja o que diz Romanos 5.17: “Se pela ofensa de um e por meio de
um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça
e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus
Cristo.”

O que segue a justiça e a beneficência achará a vida, a justiça e a


honra. Provérbios 21:21

A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade. Salmos


119:142

E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e


segurança para sempre. Isaías 32:17

Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando


estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.
Romanos 10:3

Essa justiça, da qual Deus operou em nós na morte de Cristo na cruz,


nos traz muitos benefícios para a vida. Não tem como uma pessoa se dizer
cristã, e não ser justa, não pagar suas contas em dia, não mentir, ser honesta
na sociedade e com os seus, isso tudo é uma ação de Deus na vida de uma
pessoa que lê as Escrituras e as tem como regra em sua vida. Porque esse
assunto inteiro tem muitas facetas, e porque os detalhes são muito
complexos, a conclusão pode desenhar apenas uma objeção. A objeção é
esta: “Se todo sistema de pensamentos se deriva de sua própria série de
pontos de partida, torna-se impossível para aqueles que aceitam um tipo
de ponto estabelecer um debate com aqueles que possuem outro tipo de
ponto de partida. As duas alas da disputa não têm nada em comum, e,
portanto, nenhum tem qualquer base para convencer o outro.”
Essa é uma antiga, não recente, objeção. Não necessita ser um gênio
para responder. Embora tão comum, certamente porque é muito comum,
precisa-se de uma resposta clara.

4. O ponto de partida.

Mas o senso comum pressupõe que, todas as vezes que tentamos


convencer pessoas de algo, apelamos para aquilo que eles já acreditam.
Mas o senso comum está errado. Isso apenas funciona em questões
secundárias e não em todas elas. Em questões básicas, ninguém jamais
apela a um fundamento comum entre dois sistemas. Veja esse exemplo.
Pode um empirista, por base da sensação, convencer-me do empirismo
quando eu não aceito a sensação? Bem, como então podemos apresentar o
Evangelho a um descrente?
Apresentamos o Evangelho tão completamente quanto possível.
Explicamos a ele, com a maior quantidade de detalhes históricos que o
nosso tempo permite, e com a maior quantidade de conexões lógicas que
ele escutará. Mas, sermões, argumentos e explicações não o converterão. O
obreiro cristão não pode convencê-lo da verdade do Evangelho. Não é o
seu dever. Depois de apresentar o Evangelho, então, oramos para que o
Espírito Santo convença-o, que Deus mude sua mente, lhe conceda
arrependimento, que Deus lhe dê o dom divino da fé, o faça acreditar nos
princípios da Escritura e o ressuscite da morte do pecado para uma nova
vida em Cristo. Quero mostrar agora as formas que o Evangelho deve ser
apresentado; através da pregação fiel da Palavra de Deus e também pela
sua infinita misericórdia como já mencionei acima, e se for necessário, se
manifestar através das profecias.

4.1. A Pregação e a Profecia pelo Poder de Deus.

Nessa parte, quero enfatizar a importância da pregação da genuína


Palavra de Deus, a experiência privada proposicional, a profecia
autoritativa não como necessária, mas de acordo com a necessidade e
misericórdia de Deus para edificação de seu povo. E que de forma alguma
fere a inerrância, infalibilidade e suficiência das Escrituras, e que o Espírito
Santo de Deus é o autor e autenticador de ambos.

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.


Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão
naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E
como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos
os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas
de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías
diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir,
e o ouvir pela palavra de Deus. Romanos 10:13-17
4.2. A pregação e o pregador

Citação do Rev. Martyn Lloyd-Jones: "O que é a Pregação? É a


lógica pegando fogo! É a teologia em chamas! É o raciocínio eloqüente!"63
Algumas afirmações de Lloyd-Jones demonstram o seu espírito resoluto e a
sua consideração elevada pela pregação:

"Qual é a principal finalidade da pregação?


Gosto de pensar que é esta: dar a homens e mulheres o senso de
Deus e de sua presença. Nosso dever é apresentar o Evangelho
em sua totalidade. Pregar, é a atividade mais admirável e
emocionante na qual um homem pode se envolver, por causa do
que ela nos proporciona no presente e das gloriosas e infindas
possibilidades no futuro eterno....à obra da pregação é a mais
elevada, a maior e a mais gloriosa vocação para a qual alguém
pode ser chamado"64

Citação do estudo chamado "Pregação Penetrante":

"(...) Um sermão, porém, é uma coisa de fogo. Um bom sermão


goteja energia dos lábios do pregador. É uma espécie de
expressão da voz do próprio Deus (1 Pedro 4:11). Ele contém
uma súplica apaixonada e comovente. Um verdadeiro sermão
tem como objetivo a persuasão dos pecadores desobedientes.
Deste modo, precisam ter uma paixão santa. Eles precisam
rasgar, no pecador, algo que não pode ser tocado por nada
mais. Sermões devem transformar homens. Portanto, eles
devem ser entregues com toda autoridade e toda devida
vivacidade. Pregamos como homens moribundos a homens
moribundos. Ansiamos que os moribundos sejam salvos antes

63
Martin Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Ed. Fiel
64
Ibid.
que a morte os tome e eles morram uma segunda e mais
profunda morte. Nenhuma obra poderia ser mais séria ou mais
exigente. ... Há um poder e eficácia que acompanha esse tipo de
pregação. Faz com que ameaças tenham tal peso que Paulo fez
Felix tremer. Torna as promessas doces e persuasivas, de modo
que Agripa estava quase convencido de ser um cristão. Faz até
mesmo um incrédulo confessar que, sem dúvida, Deus está
presente (1 Coríntios 14:25). Isso é mais do que um discurso
comum pode conseguir, mesmo em tais assuntos. Ela apresenta
a Palavra e a nós mesmos para a consciência dos homens aos
olhos de Deus. Ela faz com que o Evangelho triunfe em todo
lugar, e o torna um cheiro suave a Ele em tudo (2 Coríntios
2:14). (...)"65

Contrário ao que muitos pensam, "profetizar" na Bíblia não é


sinônimo de apenas se prever o futuro. Romanos 12:6: “De modo que,
tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja
ela segundo a medida da fé;”
Prophēteian (προφητείαν) de prophetes ("profecia"); Predição
(bíblica ou outra) - profecia, proferir palavras, prever eventos divinos, falar
sob inspiração, exercer o escritório profético - profetizar.66 E nesse texto
que lemos de Romanos 12.6, diz que a profecia tem que estar de acordo
com a fé, mas qual fé? A fé proposta em toda a Bíblia, a palavra de Deus, a
fé na pessoa de Jesus Cristo nosso único Salvador e Mediador entre Deus e
os homens. Não há outro fundamento em que a Igreja esteja edificada.
Mateus 16.15-17:

65
Esse texto foi uma tradução do meu querido irmão Joelson Galvão, quando estudávamos as Escrituras pelo
Skype. Infelizmente desconheço a fonte original, mas creio na piedade e seriedade do irmão. Reformation
Scotland Trust – (tradução Joelson Galvão).
66
Dic. Strong
Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro,
respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to
não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que


Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem
ajustado, cresce para templo santo no Senhor. Efésios 2:20,21. João
Calvino nos diz sobre essa passagem:

E são “Edificados”. A terceira comparação ilustra a maneira


pela qual os Efésios e todos os outros cristãos são admitidos na
honra de serem concidadãos com os santos e da família de
Deus. Eles são construídos sobre o fundamento, - são fundados
na doutrina, nos apóstolos e profetas. Podemos assim distinguir
entre uma igreja verdadeira e uma falsa. Isto é da maior
importância; A tendência ao erro é sempre forte e as
conseqüências do erro são perigosas no extremo. Nenhuma
igreja possui mais barulho do nome do que aqueles que têm um
título vazio e vazio; Como pode ser visto nos nossos tempos.
Para nos proteger contra o erro, a marca de uma igreja
verdadeira é apontada. Fundação, nesta passagem,
inquestionavelmente significa doutrina; Pois, no sentido estrito
do termo, Cristo é o único fundamento. Ele sozinho apoia toda
a igreja. Ele sozinho é a regra e o padrão de fé. Mas Cristo é, na
verdade, o fundamento sobre o qual a igreja é construída pela
pregação da doutrina; E, nesta conta, os profetas e apóstolos
são chamados de construtores. (1Coríntios 3:10).. O Espírito
Santo em todos os lugares declara que nos falou pela boca dos
profetas e exige que nós o escutemos em seus escritos. Isso não é
uma pequena conseqüência para manter a autoridade da nossa
fé. Todos os servos de Deus, de primeiro a último, estão
perfeitamente de acordo, que a sua harmonia é, em si, uma
demonstração clara de que é um Deus que fala em todos eles....
67

Matthew Poole também nos diz algo parecido:

E são edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas;


O fundamento que os apóstolos e profetas colocaram por sua
pregação, isto é, Cristo, a quem eles sustentaram como o único
Mediador entre Deus e o homem, o único Salvador e chefe da
igreja: veja 1 Coríntios 3:11. Fundação, em número singular,
implica a unidade de sua doutrina centrada em Cristo:
apóstolos e profetas, cujo ofício era pregar, não reis e
patriarcas. Jesus Cristo sendo a principal pedra de esquina;
Como ambos apoiam o edifício por sua força, e unindo as
várias partes dele, judeus e gentios: veja Mateus 21:42 Salmos
118: 22. Os que são de autoridade principal são chamados de
chefes do povo, como sustentando o maior fardo, 1 Samuel
14:38 Isaías 19:13 .68

Objeção. Se Cristo é a pedra de esquina, como ele pode ser o


fundamento?
Resposta: O mesmo pode ter denominações diferentes em diferentes
aspectos; Cristo é chamado de fundamento (1 Coríntios 3:11), uma pedra
de esquina (1 Pedro 2: 6) , um templo (João 2:19) , uma porta (João 10: 7) ,
um construtor (Mateus 16:18); então, de novo, uma pedra de esquina, e
ainda é estabelecido para um fundamento69, Isaías 28:16:

67
Comentário Bíblico de Hebreus, João Calvino, Ed, Fiel
68
https://biblehub.com/commentaries/poole/hebrews/1.htm, tradução minha
69
Ibid
“Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião
uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está
bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.” Porque ninguém
pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus
Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se
manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será
descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 1 Coríntios
3:11-13
Existem pelo menos, mais de 300 versos bíblicos que foram
“profetizados e escritos” sobre a vinda do Messias, e cumpridos no NT, e
que comprovam que Jesus é o centro principal, o único fundamento de toda
Escritura. E que é através dela que aprendemos o modo de obedecer a
Deus. Nas Escrituras, existem o aspecto principal de que todo homem deve
saber a respeito de Deus e sua fé.

4.3. O Breve Catecismo de Westminster na Pergunta 3. Qual é a


coisa principal que as Escrituras nos ensinam?

R. A coisa principal que as Escrituras nos ensinam é o que o homem


deve crer acerca de Deus, o dever que Deus requer do homem.
Ref. Jo 5.39; 20.31; Sl 119.105; Rm 15.4; 1Co 10.11.

Na Bíblia, "profetizar" significa revelar a própria palavra de Deus -


inspirada, infalível e inerrante. Ela tem um sentido de edificar, consolar e
exortar o povo de Deus e sempre vai apontar para Cristo como centro da
profecia e também de toda à pregação. A Palavra Final de Deus como está
descrita em Hebreus 1.1-2: “Havendo Deus antigamente falado muitas
vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por
quem fez também o mundo.” João Calvino70 vai ao centro da questão nesta
breve tabela de Hebreus 1.1-2.

• Deus falou.
• Antigamente pelos profetas: agora pelo Filho.
• Então aos pais: mas agora a nós.
• Então em muitas épocas: agora no fim dos tempos.

Olhando para esse texto, nós entendemos porque a Bíblia tem duas
divisões principais: O Velho e o Novo Testamento. Nós referimos a essas
duas divisões da Escritura, como sendo “testamentos” porque cada uma
delas se centra em uma aliança divina. O Velho Testamento, registra a
história e os detalhes da aliança que Deus fez com Israel no Monte Sinai. O
Novo Testamento, fala da história e exposição da Nova Aliança que veio a
ser implantada pela morte de Jesus O Cristo.
O Velho Testamento então registra a história e o conteúdo de toda
revelação especial ou “profecias” anterior à vinda de Cristo. Ela veio de
várias maneiras e formas, através de muitas pessoas. Deus revelava a sua
Santa Vontade pelos profetas, sacerdotes, reis, soldados, mulheres e até
mesmo crianças que o ouviram falar. Ele falou a Adão no jardim e a
Moisés na sarça ardente. Ele falou a Miquéias sobre Belém, a Isaías sobre o
Calvário e a Joel sobre o Pentecostes. Deus falou de Sua criação, Sua Santa
lei, Sua nação escolhida e dos detalhes de Sua aliança com Israel.
Repetidamente, Ele falou de um Salvador que iria vir, cuja vinda
introduziria os últimos dias e uma nova aliança.

70
Comentário Bíblico de Hebreus, João Calvino, Ed, Fiel
Esse período inicial de revelação especial progressiva, se deu desde a
época de Adão e foi até o encerramento do livro do profeta Malaquias. O
relato dessa atividade reveladora, está escrito pela inspiração nos 39
primeiros livros da Bíblia. Esses livros são aquilo a que chamamos o
“Velho Testamento”. Nessas revelações progressivas sobre a Vontade de
Deus, na verdade, Ele estava preparando o caminho para a Sua Palavra
final. Ao dar Sua lei, Deus expôs o pecado através dela ao homem e sua
necessidade de um Salvador. Profecias revelavam que quando Jesus viesse,
Ele teria o testemunho delas às suas reivindicações.
Os tipos, ofícios, cerimônias, e mesmo o povo do Velho Testamento,
ilustraram conceitos e uma linguagem que nos ajuda a entender sobre a
Pessoa e a Obra de Cristo. Tendo, no tempo de Malaquias, dito tudo, a não
ser Sua palavra final, Deus não disse nada mais por quatrocentos anos. A
Palavra final de Deus veio a nós através de Jesus Cristo. Sua vinda é tão
cheia de significados que ela dividiu tanto o calendário histórico quanto a
nossa Bíblia. Cristo Jesus, é o antítipo de todos os tipos da velha aliança, o
assunto dos profetas e o objeto da fé de Israel. Tão grande foi essa
revelação feita através do Filho, que Ele é chamado: “O Verbo”.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo


era Deus. Ele estava no princípio com Deus.” (João 1:1-2)

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória,


como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João
1:14)

Quem pode considerar a glória d’Aquele que podia verdadeiramente


dizer “Eu Sou a luz do mundo”?
“Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo;
quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12)

Que verdade poderia ser adicionada à revelação d’Aquele que é “a


verdade”?

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém


vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6)

Será que a teologia do “Deus manifesto em carne” precisa de


acréscimos?

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se


manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado
aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.” (I Timóteo 3:16)

A vida de Cristo na terra é nosso único exemplo perfeito. Outros


devem ser seguidos apenas na medida em que eles seguem a Cristo. Seus
ensinos são a essência de toda a verdade do Novo Testamento; o ponto de
partida do qual todo o ensino apostólico flui. Sua obra salvadora são as
“boas novas” a serem proclamadas a todos. Ele é a completude da
revelação de Deus nesta era; Ele é a Palavra final de Deus. A Confissão de
Fé de Westminster diz no capítulo 1, seção 1, parágrafo 8:

“...e depois, para melhor preservação e propagação da verdade,


para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra
a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi
igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna
indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles
antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.”71

Então, profecia no AT é a Pregação dessa Palavra Final que é Cristo


nosso Senhor. Para ressaltar sobre essa questão, Cristo é a Palavra Final de
Deus, tudo que se profetizava ou se revelava, e que precisava ser dito sobre
Ele se cumpriu, não há mais o que revelar sobre Cristo. Tudo o que
precisamos para saber dele e de sua Obra na cruz, está contida nas páginas
da Bíblia.
O argumento principal do escritor é que, no passado, Deus falou por
seus profetas, mas agora, Deus falou por seu Filho, um mensageiro maior
que os profetas e os anjos. Agora, se aqueles que desobedeceram a
mensagem dos profetas e dos anjos, foram punidos e exterminados, como
escaparemos se desobedecermos uma mensagem de salvação do Filho de
Deus? Antes de tirar uma conclusão sobre a finalidade dessa mensagem,
devemos primeiro considerar a consequência condenatória dessa
negligência, da incredulidade e da desobediência, porque este é o ponto do
texto. Devemos obedecer os mandamentos de Cristo, aplica-los em nossas
vidas e pregarmos aos outros que ainda se encontram em desobediência.
Assim, como os leitores de Hebreus não podiam afastar-se do que o
Filho de Deus disse, e ainda se apegar a essa "tão grande salvação", como
alguns se apegam a salvação quando contradizem explicitamente o que o
Filho de Deus disse em suas doutrinas, credos, e ações? Eles claramente
não acreditam no que realmente disse Cristo. Por isso devemos alertá-los.
A Confissão de Fé Escocesa - 19º Capítulo - A Autoridade das Escrituras
diz:

71
Confissão de Fé de Westminster, Ed. Monergismo
Cremos e confessamos que as Escrituras de Deus são suficientes
para instruir e aperfeiçoar o homem de Deus, e assim
afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e
não depende de homem ou de anjo.1 Afirmamos, portanto, que
os que dizem não terem as Escrituras outra autoridade a não
ser a que elas receberam da Igreja são blasfemos contra Deus e
fazem injustiça à verdadeira Igreja, que sempre ouve e obedece
à voz de seu próprio Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o
direito de senhora. 1Tm 3:16-17.2. Jo 10:27.72

A Confissão Belga no artigo 3 - A PALAVRA DE DEUS também


diz:

Confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem


produzida "por vontade humana, mas homens falaram da
parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o
apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21). Depois, Deus, por seu cuidado
especial para conosco e para com a nossa salvação, mandou
seus servos, os profetas e os apóstolos, escreverem sua palavra
revelada [1]. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas
tábuas da lei [2]. Por isso, chamamos estas escritas: sagradas e
divinas Escrituras [3].1 Êx 34:27; Sl 102:18; Ap 1:11,19. 2 Êx
31:18. 3 2Tm 3:16.73

O Dr. Gordon Clark diz o seguinte sobre isso:

"Deus falou a Adão, Noé, Abraão e aos profetas. Essa fala não é
a palavra escrita, mesmo que todas as palavras - e isso é
duvidoso - tenham sido inseridas mais tarde na Bíblia. Os
teólogos mais ortodoxos admitem que Jesus, a Palavra de Deus,
não era literalmente símbolos de tinta em pedaço de papiro ou

72
Confissão de Fé Escocesa, Ed. Monergismo
73
Confissão Bela, Bíblia de Estudo de Genebra
velino. Além do mais, o Poder e a Sabedoria de Deus,
identificados em 1 Cor.1.24, bem como a Palavra criadora em
Pv.3.19,20, não são caracteres hebraicos em uma página. Dessa
forma, pode-se dizer legitimamente que a Bíblia é a Palavra de
Deus, embora a Palavra de Deus não seja a Bíblia.74

Mais uma vez citando o Breve Catecismo de Westminster na


Pergunta de número 3. Que é a Palavra de Deus?
R. As Escrituras Sagradas, o Velho e o Novo Testamento, são a
Palavra de Deus, a única regra de fé e prática. II Tim. 3:16; 11 Pedro 1:19
21; Isa. 8:20; Luc. 16:29, 31; Gal. 1:8-9.
O pastor e Teólogo Presbiteriano John Frame diz o seguinte sobre
essa pergunta:

O catecismo parece definir aqui “Palavra de Deus” como


Escritura. A própria Escritura ensina, contudo, que há outras
palavras de Deus: as declarações de Deus na criação e
providência, as palavras dos profetas, apóstolos e Jesus não
escritas nas Escrituras, e Jesus mesmo como a Palavra de Deus
viva. A Escritura é a Palavra de Deus, suficiente para a nossa fé
e vida, mas ela não é toda a Palavra de Deus. Nesse sentido,
podemos dizer que toda a Bíblia é a Palavra Final de Deus, mas
nem toda a Palavra de Deus está na Bíblia ou escrita nela.
“Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas
fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria
espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (João
21:25).75

74
O Escrituralismo de Gordon Clark, Ed Monergismo, p.67 Notas de rodapé – (“The Toronto School”, The
Review, August 1979, p.1)
75
Minhas Ressalavas com a CFW , John Frame, Ed. Monergismo
Essa seleção foi feita e projetada para levar a salvação dos eleitos:
“estes foram escritos para que creiais...” (João 20:31). Essa seleção de
escritos está adequada para as necessidades humanas: Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para
corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito,
e perfeitamente instruído para toda a boa obra. (2 Tm. 3: 16-17).
O ponto que quero chegar é que, houve outras profecias que não se
encontram nas Escrituras, mas mesmo assim não perdeu sua autoridade. É
seguro também dizer que, existiu muitos profetas verdadeiros mencionados
no Antigo Testamento, de quem nenhuma palavra chegou diretamente para
nós. Como muitos deles, não há nem mesmo um registro de suas palavras,
tendo em nada sido escritos. A. A. Hodge sugeriu que, enquanto tais
profecias perdidas foram verdadeiramente inspiradas, elas não eram
canônicas, porque elas não foram feitas para a instrução permanente da
Igreja, mas para alguns ocasiões em particular.76
Este argumento, é um pouco obscuro, porque é muito provável de
que havia no Antigo Testamento diversas vezes profetas cultuais, que eram
profetas por ofício, mas não por dom. Alguns dizem que isso é um tipo de
entusiasmo, louvor, ao invés de revelação verbal. Quando Saul caiu perdido
por um dia aos pés de Samuel e profetizou, parece que este foi um louvor
êxtase de Deus, ao invés de uma revelação sobre Jesus Cristo.

“Então Saul foi para lá. Entretanto, o Espírito de Deus apoderou-se


dele; e ele foi pelo caminho em transe profético, até chegar a Naiote. E
despindo-se de suas roupas, também profetizou em transe na presença de

76
The Canon of the Old and New Testament Ascertained (rev. ed.: Philadelphia: Presbyterian Board of
Publications, 1851), pp. 87-88. Ver também Kenneth S. Kantzer, “The Communication of Revelation,” The
Bible -The Living Word of Revelation, ed. Merrill C. Tenney (Grand Rapids: Zondervan Publishing House,
1968), p. 73.
Samuel. Ele ficou deitado nu todo aquele dia e toda aquela noite” (1
Samuel 19:23).

Pode ser que tais êxtases, eram a marca dos profetas cultuais do
Antigo Testamento. No entanto, alguns, cujas palavras não entraram nas
Escrituras, foram profetas que falaram claramente pela inspiração de Deus.
Enoque profetizou, mas o único registro canônico disso é a uma profecia
em Judas 14-16 que diz: E destes profetizou também Enoque, o sétimo
depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus
santos; Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os
ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram,
e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.
Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas
concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as
pessoas por causa do interesse.
Mas, o Antigo Testamento registra uma série de profetas e profecias
que não foram escritas nas Escrituras, portanto, temos recebido pequenas
porções de seus trabalhos. Os mais conhecidos foram Elias e Eliseu. Tendo
em vista o extenso ministério que foi registrado deles, é altamente duvidoso
que todas as revelações que lhes foram dadas, entraram para as páginas do
Antigo Testamento. Micaías, filho de Inlá, foi um profeta, antes de aparecer
nas páginas dos escritos canônicos (1 Reis 22:8.; 2 Crônicas 17:7).
Miriã era uma profetisa; contudo temos apenas duas linhas de louvor
registradas (Ex. 15:21). Hulda, já era uma profetisa quando foi abordada
pelos servos de Josias (2 Reis 22:14; 2 Crônicas 34:22.); contudo, não há
nenhum outro registro de suas palavras proféticas. Há também o registro
dos setenta anciãos, que profetizaram sobre uma ocasião que eles
receberam o Espírito (Números 11:24). Há registros de que eles
profetizaram naquela ocasião, mas o conteúdo da sua profecia não é
registrado. Não fazia parte da revelação canônica.
George Gillespie, um dos signatários da Confissão de Fé de
Westminster, estava comprometido com a singularidade e integridade das
Escrituras. Mas, ele vê em alguns homens de sua época, revelações
extraordinárias de Deus, como ele diz:

“E agora, tendo a ocasião, deve-se dizer que, para a glória de


Deus, havia na igreja da Escócia, tanto no tempo da primeira
reforma quanto depois dela, homens tão extraordinários que
eram mais do que pastores comuns e mestres, mesmo profetas
sagrados recebendo revelações extraordinárias de Deus e
predizendo coisas estranhas e notáveis que aconteceram de
maneira pontual para a grande admiração de todos os que
conheciam os detalhes. Tal como o Sr. Wishart, o mártir; o Sr.
Knox, o reformador; também o Sr. John Welsh; o Sr. John
Davidson; o Sr. Robert Bruce; o Sr. Alexander Simpson; o Sr.
Furgusson e outros. Seria muito longo fazer uma narrativa
aqui de todos esses detalhes, e há muitos deles estupendos, que
dar exemplo em alguns pode parecer derrogá-lo do resto, mas
se Deus der a oportunidade, pensar-se-á que vale a pena fazer
uma coleção dessas coisas. Enquanto isso, embora tais profetas
sejam extraordinários e raramente se levantem na igreja, ainda
assim ouve-se dizer não apenas nos tempos primitivos, mas
entre os primeiros reformadores e outros, e em que escritura
podemos proclamar tão extraordinários profetas, senão sobre
as Escrituras que são aplicadas por alguns aos irmãos profetas
ou membros dotados da igreja?”77

O uso de Gillespie das palavras "santos profetas que recebem


revelações extraordinárias de Deus" é o mais importante. Samuel

77
George Gillespi, Miscellany Questions, Vol. 2, Chapter 5, section 7, p.30
Rutherford, foi outro comissário escocês da Assembleia de Westminster.
Ao escrever sobre a natureza da revelação (interna) subjetiva. Samuel
Rutherford diz:

“Há uma revelação de alguns homens particulares, que


predisseram que as coisas viriam, desde que o cessar do cânon
da Palavra como John Huss, Wicklif e Lutero anunciaram as
coisas que vieram, e eles certamente caíram, e em nossa nação
da Escócia, o Sr. George Wishart previu que o Cardial Beaton
não deveria sair vivo nas Portas do Castelo de St. Andrewes,
mas que ele deveria ter uma morte vergonhosa e ele foi
enforcado na janela que ele olhava quando viu o homem de
Deus queimado. Sr. Knox profetizou a suspensão do Senhor de
Grange, o Sr. Ioh. Davidson proferiu profecias sobre
conhecimento particular a muitos do reino, santos e
mortificados pregadores da Inglaterra que fizeram isso.”78

Rutherford observa que, esses homens não exigiram que outros


acreditassem em suas profecias como Escrituras, e não denunciassem
aqueles que não acreditavam em suas previsões de eventos e fatos
particulares. É importante notar que, Rutherford juntamente com Gillespie,
reconheceu a única revelação extraordinária que foi dada àqueles que os
precederam, e usa o termo “profecia” para descrever tal revelação.

78
RUTHERFORD, 1999 Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist (London, 1648), p.39-40
George Gillespie

Robert Blair, um contemporâneo de Gillespie e Rutherford, também


faz referência a Wishart, Knox, Davidson e Welch como homens que
receberam revelações extraordinárias sobre os tempos em que viviam. A
força das referências de Gillespie, Rutherford e Blair, é que esses homens
que eram comissários da Assembléia de Westminster, que viveram durante
o seu tempo e reconheceram a revelação extraordinária que Deus havia
dado aos seus predecessores, e não as consideraram incompatível com suas
compreensão das Escrituras como a única regra infalível de fé e vida.

Samuel Rutherford
Em outras palavras, sua compreensão da singularidade das
Escrituras, não os levou a concluir que Deus não poderia continuar a
revelar-se através de revelação extraordinária, e que isso de forma alguma
afetava a plenitude, inerrância e suficiência das Escrituras Sagradas.

5. O Testemunho do Espírito Santo.

Vamos ler e observar o que a Confissão de Fé de Westminster no


capítulo XVIII nos fala sobre: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA
SALVAÇÃO79

II. Esta certeza não é uma mera persuasão conjectural e


provável, fundada numa falsa esperança, mas uma infalível
segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de
salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas
essas promessas, no testemunho do Espírito de adoção que
testifica com os nossos espíritos sermos nós filhos de Deus, no
testemunho desse Espírito que é o penhor de nossa herança e
por quem somos selados para o dia da redenção.Heb. 6:11, 17-
19; I Ped. 1:4-5, 10-11; I João 3:14; Rom.8:15-16; Ef.1: 13-14, e
4:30; II Cor.1:21-22.
III. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à
essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la,
não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades;
contudo, sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas
que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem
revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários.
É, pois, dever de todo o fiel fazer toda a diligência para tornar
certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja
o seu coração no Espírito Santo confirmado em paz e gozo, em
amor e gratidão para com Deus, em firmeza e alegria nos
deveres da obediência que são os frutos próprios desta

79
CFW,Ed. Monergismo
segurança. Este privilégio está, pois, muito longe de predispor
os homens à negligência.
I João 5:13; I Cor. 2:12; I João 4:13; Heb. 6:11-12; II Ped.
1:10; Rom. 5:1-2, 5. 14:17, e 15:13; Sal. 119:32; Rom. 6:1-2;
Tito 2:11-12, 14; II Cor. 7: 1; Rom. 8: 1; 12; I João 1:6-7, e 3:2-
3.

O teólogo Vincent Cheung diz o seguinte:

A doutrina cristã deve afirmar, que uma confiança privada de


filiação é possível, e que é uma realidade para o crente. Deve
afirmar sua possibilidade porque a revelação pública da Bíblia
faz espaço para ela, e deve afirmar sua realidade, porque a
revelação pública da Bíblia declara-a como uma operação do
Espírito Santo no cristão. Embora alguns se oponham a esta
doutrina, o Espírito ainda testifica a meu espírito, além do meu
esforço, que sou um filho de Deus. É uma obra divina objetiva,
e não uma crença ou atitude subjetiva. Não é uma questão de
auto-descoberta. Se ele não testemunhar o mesmo sobre você,
como é que pode ser minha culpa? Mas alguns desejam desviar
a atenção de sua própria falta de certeza, e alguns
crucificariam a Bíblia para proteger sua própria tradição ou
filosofia. O testemunho do Espírito, é uma operação interna
que resulta em conhecimento privado. O Espírito testifica ao
meu espírito, que sou filho de Deus. Novamente, isso
geralmente não é mencionado porque não nos relacionamos
uns com os outros com base no testemunho interno do Espírito.
O Espírito não diz o que eu sou. Você terá que me julgar de
acordo com a revelação pública da Palavra de Deus. Você deve
interagir comigo e examinar minha confissão, meu caráter, e
assim por diante. Eu não posso pregar o testemunho do
Espírito ao não-cristão, e oferecer-lhe um pouco de lucro
pessoal, para acreditar que eu sou um filho de Deus. Em vez
disso, devo declarar-lhe o evangelho e as doutrinas de Jesus
Cristo, para que ele possa crer e tornar-se filho de Deus.80

Isso é comprovado em passagens como:

Pois vocês não receberam um espírito que os torna escravos


novamente para temer, mas vocês receberam o Espírito de filiação. E por
ele, clamamos: "Abba, Pai". O próprio Espírito testifica com nosso espírito
que somos filhos de Deus. Agora, se somos filhos, então somos herdeiros
de Deus e co-herdeiros com Cristo, se realmente compartilharmos seus
sofrimentos, para que possamos também participar da sua glória.
Romanos 8:15-17

Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos


os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. Atos 2:39

Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu
espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não
se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca
da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para
todo o sempre. Isaías 59:21

Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a
casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com
seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do
Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver
desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior,

80
http://www.vincentcheung.com/2011/10/29/the-witness-of-the-spirit/). (s.d.). Pode encontrar em português
em: https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2017/06/o-testemunho-do-espirito-vincent-cheung.html
e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu
irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde
o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua
maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados. Jeremias 31:31-34

E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. Ezequiel 36:27

Este aspecto privado de nosso relacionamento é precioso para Ele. E


Ele não vai abandoná-lo para evitar perturbar nossas tradições teológicas e
teorias filosóficas. É um auto-conhecimento que Deus graciosamente se
revela a nós, é algo pessoal. Vincent Cheung diz mais uma vez:

Tanto o nosso conhecimento privado, como o nosso


conhecimento público na vida futura, repousam na mesma base
do conhecimento público que agora possuímos - todo
conhecimento vem da mente de Deus e se torna nosso por sua
ação. No estudo da filosofia e apologética, estabelecemos que
não há nenhum conhecimento além do que derivamos da
Bíblia. O contexto, é o tipo de conhecimento público disponível
para nós nesta vida. Com efeito, isso significa que nosso
conhecimento público nesta vida, se limita ao que Deus revelou
na Bíblia, e nosso conhecimento privado é limitado ao que Deus
nos faria saber como declarado na Bíblia, incluindo o
conhecimento de adoção. Assim, esta distinção entre
conhecimento privado e público, não deixa espaço para que os
não-cristãos, derivem o mesmo conhecimento privado, uma vez
que suas sensações e especulações não são confiáveis. Este
princípio, de que a fé cristã foi finalizada, não impede o
conhecimento de que a própria Bíblia afirma que Deus concede
a indivíduos.81

E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito


derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão
sonhos;E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as
minhas servas naqueles dias, e profetizarão; Atos 2:17,18

Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se
tudo para edificação. 1 Coríntios 14:26

A Bíblia nos garante a possibilidade deste testemunho interno, e em


alguns casos, a certeza disso, até um conhecimento privado, se trata de um
conhecimento adicional. Só assim, você saberá que é um filho de Deus, que
foi adotado por Ele. Um argumento a favor disso é que podemos afirmar
sem sombras de dúvidas que Cristo morreu por sua Igreja, pelo Seu povo,
Seus eleitos. Mas, a Bíblia não diz que meu nome está lá dizendo que sou
um eleito. Não está dizendo: “Cristo morreu pelo Eduardo que nasceu em
São Paulo, Brasil” não, não está lá. Não é porque as Escrituras seriam
insuficientes para isso, de forma alguma, apenas porque Deus não quis que
fosse assim.
Mas, por esse testemunho, essa experiência privada que tenho com o
Espírito Santo de Deus, não tenho dúvidas de que Cristo morreu por mim e
pagou pelos meus pecados, e que sou uma nova criatura. Também em
Apocalipse 10.4, João nos diz que ouviu sete trovões e que logo quis
escrevê-los, e que uma voz do céu dizia para selar o que os sete trovões

81
Ibid
diziam sobre algo, mas não era pra escrever. Foi algo que não está escrito
nas Escrituras.
Algumas dessas experiências privadas que temos, muitas das vezes
ou a maioria delas é algo totalmente pessoal. Não devemos simplesmente
passar para outra pessoa querendo que ela aprenda com a nossa
experiência, e sim que ela tenha também a sua experiência para a sua
edificação. Devemos guardá-la no nosso coração. Chame-a de
“revelação”, se desejar, e é “extra-bíblico” como está registrado em:

O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de


Deus. Romanos 8:16

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que


vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra
branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão
aquele que o recebe. Apocalipse 2:17

Nota-se nessa passagem que: ...o qual ninguém conhece senão


aquele que o recebe, somente a pessoa que vencer saberá sobre esse novo
nome, isso é ou não é uma revelação adicional? Deus tem “entregado de
uma vez por todas aos santos”, a doutrina que Ele ativamente, e certamente
fala para indivíduos cristãos pelo seu Espírito, e nos convence que é a
Verdade de Deus, não há lugar para dúvidas. Nenhum cristão tem a
autoridade de afirmar o contrário.
Qualquer cristão que nega isso, tem permitido a tradição religiosa ou
a descrença suprimirem a própria Bíblia que ele afirma defender, e ele
infelizmente se tornou mais um religioso hipócrita, como um dos fariseus.
O autor acredita que o testemunho do Espírito Santo não é um
simples testemunho qualquer, e sim, algo proposicional, que nos comunica
um certo tipo de informação. No presente texto que lemos nas Escrituras é
nos dito que o Espírito Santo nos comunica uma informação, e qual é? A de
que somos filhos de Deus. Já falei logo acima no exemplo de que nas
Escrituras não existe os nomes dos eleitos, eles só vão saber que são eleitos
e que Cristo morreu por eles, quando essa informação é comunicada ao
seus espíritos. Ficaria nesse silogismo:

1- A revelação proposicional é uma revelação verbal. (Por verbal


se entende "conteúdo transmitido pela comunicação").
2 - O testemunho do Espírito transmite informação. (Deus
confirma internamente através da linguagem não-verbal que eu sou
filho de Deus).
3 - Há informação sendo transmitida por essa linguagem.
4 - Logo, o testemunho é proposicional.

5.1. O que é uma Linguagem Verbal?

Linguagem verbal é aquela que utiliza palavras. O termo "verbal"


tem origem no latim "verbale", proveniente de "verbu", que quer dizer
palavra. Linguagem verbal, é portanto, aquela que utiliza palavras - o
símbolo linguístico na comunicação. A linguagem verbal tem duas
modalidades: a língua escrita e a língua oral. A linguagem oral e a
linguagem escrita são duas manifestações da linguagem verbal, ou seja, da
linguagem feita através de palavras. Tanto a linguagem oral como a
linguagem escrita, visam estabelecer a comunicação.
5.2. Características da linguagem oral

Há uma maior aproximação entre emissor e receptor. Nesse sentido,


Deus e o homem. Também estabelece um contato direto com o destinatário.
É mais espontânea e informal, usufruindo de maior liberdade.

5.3. Características de linguagem escrita

Há um maior distanciamento entre emissor e receptor. Nesse sentido,


Deus, as Escrituras e o homem, claro que cremos que o Espírito Santo
também fala pelas Escrituras, e por isso não haveria esse distanciamento.
Estabelece um contato indireto com o destinatário. É mais formal, sendo
mais pensada e planejada. Há um maior rigor gramatical e exigência de
cumprimento da norma culta. Tem duração no tempo e ela pode ser relida
inúmeras vezes porque tem registro escrito.
Requer escolarização e uma aprendizagem formal da escrita, todas as
indicações necessárias para a compreensão da mensagem são feitas através
de pontuação e das próprias palavras. Exige linearidade, ou seja, a
existência de uma sequência de pensamento clara e estruturada, também
possibilita a revisão do conteúdo e a correção dos erros, e apresenta um
vocabulário variado e construções de frases mais elaboradas. Apesar das
diferenças existentes entre a linguagem oral e a linguagem escrita, não
podemos considerar uma mais complexa ou importante do que a outra, uma
vez que existem vários níveis de formalidade e informalidade na oralidade
e na escrita.
Há momentos que exigem uma linguagem falada extremamente
cuidada, como entrevistas de emprego, discursos, apresentações públicas…
Há também situações em que uma linguagem escrita mais descontraída e
próxima da oralidade é aceitável, como no nosso caso as Escrituras.
5.4. O que é uma Proposição?

É um substantivo feminino que pode significar Enunciação;


sentença passível de comprovação ou não. Proposta; aquilo que se propõe:
negamos a proposição do juiz. Matemática. Teorema. Enunciado de uma
verdade que se quer demonstrar ou de um problema que se pretende
resolver.

5.5. Proposicional

É um adjetivo que se refere à proposição, afirmação passível de


comprovação ou não; relativo àquilo que se propõe, que se afirma;
propositivo: conteúdo proposicional, termo proposicional. Que contém uma
proposição: cálculo proposicional, lógica proposicional. Acredito que esse
testemunho é sim uma revelação proposicional, porque ela comunica
informações ao nosso espírito que não encontramos nas Escrituras. Como
já falei logo acima, é algo extra-bíblico, uma revelação privada, algo que é
enunciado como uma verdade lógica que se quer demonstrar a pessoa.
Creio claramente que Deus se revela tanto na linguagem oral (profecias,
testemunho interno) como também na linguagem escrita (Escrituras).
Samuel Rutherford diz:

Existe uma revelação interna especial, feita de coisas da


escritura, aplicadas em particular às almas dos crentes eleitos,
pela qual, tendo ouvido e aprendido a respeito do Pai, Jo 6.4;
que se revela e se faz conhecido a eles; pelo Espírito de
sabedoria e revelação, que é a esperança da vocação deles, e
riquezas da glória da sua herança nos santos, Ef 1.17-19, e que
revelou-se a eles, e que carne e sangue não podem revelar, mas
o Pai de Cristo, Mt 16.17. E que o Pai revela aos pequeninos,
mas esconde dos sábios e entendidos, Mt 11.25-26 82

No trecho Confissão de Fé de Westminster, no capítulo 18.2,


observamos que apesar da Palavra de Deus ser afirmada como a única base
objetiva da nossa segurança, também existe uma base secundária e
subjetiva na qual nossa confiança de fé é fundamentada. Existe
controvérsia sobre o significado da terceira premissa a respeito de “o
testemunho do Espírito de adoção testemunhado com nosso espírito que
nós somos filhos de Deus.” Os Teólogos de Westminster, divergem quanto
ao que seria o “testemunho direto” que decorre entre o Espírito Santo e o
crente eleito, e consequentemente eles apenas tentam explicar esses
mistérios por meio de premissas gerais em nossa Confissão de Fé. Joel R.
Beeke descreve83 as posições divergentes sustentadas pelos teólogos: “Em
relação a terceira premissa em 18.2 (i.e., “o testemunho do Espírito de
adoção testemunhado com nosso espírito que nós somos filhos de
Deus…”), Kendall observa:

‘Não se explica. Recorde-se que Paul Baynes e Richard Sibbes


destacaram o testemunho do Espírito de adoção, mas ambos,
usando raciocínio circular, finalmente se voltaram para os
vários “efeitos” para se provar que alguém tinha esse
testemunho do Espírito. Não há indícios de que os teólogos
indicaram isso, John Cotton indicou – um testemunho direto,
embora eles tivessem admitido esta possibilidade’.84

82
Samuel Rutherford, A Survey of Spiritual Antichrist (London, 1648), p.39-40)
83
Assurance of Faith
84
Robert Kendall, Calvin and English Calvinism to 1649, 1979, p. 205
Kendall está correto em afirmar que a terceira premissa em 18.2 não
é explicada, mas não é exato em sugerir que nenhum dos teólogos da
Confissão afirmou o tipo de testemunho direto que John Cotton defendeu.

R.T. Kendall

Os teólogos de Westminster, sabiam que o testemunho do Espírito


Santo a respeito da segurança foi o ponto mais difícil de se compreender.
Eles livremente confessaram aquela “maravilhosa variedade” e vastos
mistérios que os cercavam quando eles falavam sobre a liderança do
Espírito e como ele habita nos crentes. Uma razão significativa da
assembleia não ter detalhado mais especificamente sobre o que é a
segurança do testemunho do Espírito, foi admitir a liberdade do Espírito em
Seu seguro testemunho.
Outro motivo interligado, foi o desejo da assembleia em admitir a
liberdade de consciência dos teólogos presentes, que divergiram em suas
opiniões a respeito de alguns delicados detalhes do testemunho do Espírito.
Estes podem ser relegados a três grupos.
No primeiro grupo, estão aqueles teólogos, como Jeremy Burroughs,
Anthony Burgess, e George Gillespie, que a respeito da terceira premissa [o
testemunho do Espírito de adoção testemunhando com nossos espíritos que
nós somos filhos de Deus] como peça e parcela da segunda premissa [a
evidência íntima daquelas graças sobre as quais essas promessas são feitas].
Isso quer dizer que, eles consideram o testemunho da testemunha do
Espírito Santo em garantia como referindo-se exclusivamente à Sua
atividade no âmbito dos silogismos, pelo qual Ele leva a consciência a unir-
se com o testemunho dEle de que o Cristão é um filho de Deus. De acordo
com essa opinião Romanos 8.15 e 8.16 são considerados como sinônimos:
o testemunho do Espírito Santo é sempre conjugado com o testemunho do
espirito do crente. Para esses teólogos, a desagregação das secundárias
bases de segurança é realmente não-existente, já que a evidência íntima da
graça e o testemunho do Espírito são essencialmente um.
Os silogismos são “total” confiança. Em cada caso, esses teólogos
sentiram que essa opinião era importante para manter oposição ao
misticismo e antinomianismo que são propensos a destacar um testemunho
direto do Espírito destituído da necessidade de levar ao arrependimento e
aos frutos da fé.
No segundo grupo, estão aqueles teólogos (como Rutherford,
Twisse, Scudder, e Goodwin) que acreditam que o testemunho do Espírito
descrito em Romanos 8.15, contêm algo adicional ao versículo 16. Este
grupo, diferencia o testemunho do Espírito com o espírito do crente por
silogismos de Seu testemunho ao espírito do crente com aplicações diretas
da Palavra. Como Meyer aponta, o primeiro deixa em seus termos a
convicção autoconsciente, “Eu sou um filho de Deus,” e na base deste
silogismo feito pelo Espírito encontra liberdade de aproximar-se de Deus
como Pai. O último, fala do pronunciamento do Espírito em nome do Pai,
“Você é um filho de Deus,” e nessa base de ouvir de sua filiação da própria
palavra de Deus pelo Espírito, prossegue em aproximar-se dEle com a
familiaridade de um filho. A desagregação de Henry Scudder do
testemunho do Espírito é típico deste segundo grupo:
‘O Espírito testifica a um homem, que ele é filho de Deus, de
duas formas: primeiro, pelo testemunho direto e sugestão.
Segundo, pela dedução necessária, por sinais dos frutos
infalíveis do Espírito.’85

Este segundo grupo, diverge entre eles se o testemunho direto do


Espírito deveria ser considerado como mais espontâneo, durável e poderoso
do que o Seu testemunho silogístico. A abordagem mais comum é
semelhante a de Rutherford que admite o testemunho direto, mas então,
destaca que o ato reflexo da fé é como uma regra “mais esperançoso e
espiritual” do que são os atos diretos.
Consequentemente, todos os crentes deveriam estar orando
regularmente pela iluminação do Espírito para guiá-los às conclusões
silogísticas. Twisse e Scudder, caracterizam o testemunho do Espírito com
nosso espírito de Seu testemunho da adoção pessoal sem determinar qual
seja mais valiosa. Goodwin diz que, entretanto, o testemunho direto do
Espírito de longe ultrapassa o co-testemunho através de silogismos.
Para ele, “total” segurança é mais que discursivo; é mais intuitivo.
De modo geral, todavia, esse segundo grupo não concebe o testemunho
direto do Espírito como sendo independente dos silogismos, mas como
“super-acrescentado” a eles. Eles concordam que o modo silogístico de
alcançar confiança é mais comum e provavelmente segura:

“Alguns teólogos na verdade não negaram a possibilidade de


um Testemunho imediato, mas eles concluíram que o modo
ordinário e seguro é buscar por aquele Testemunho dos efeitos
e frutos do Espírito de Deus.86

85
Henry Scudder, The Christians Daily Walk, p.338
86
Ibid
O terceiro grupo, que pode ser considerado como um subconjunto do
segundo teologicamente, coloca o evento da “imediata” confiança pelo
testemunho direto do Santo Espírito em um alto nível. Alguns teólogos de
Westminster, como William Bridge e Samuel Rutherford, pertencentes ao
segundo grupo, acreditam que tal confiança se torna parte de muitos
Cristãos antes deles morrerem. Outros, entretanto, como Thomas Goodwin,
influenciado pela Segunda Reforma Alemã e a tradição Cotton-Preston no
Puritanismo, coloca essa experiência bem acima do pálido crente ordinário.
Na verdade, Goodwin declara que a experiência da total confiança
pronunciada “imediatamente” pelo Espírito é tão profunda que é
comparável a “uma nova conversão”. Pois para Goodwin, essa “total”
confiança é o ápice da vida experimental. Ao contrário da posição adotada
pela maioria do segundo grupo, tal confiança está inteiramente divorciada
dos silogismos:

‘Este testemunho é imediato, ou seja, não estabelece seu


testemunho sobre coisa nenhuma em nós; não é um testemunho
obtido pelo homem, ou da obra do Espírito no homem, como
foram as demais; pois o Espírito não fala pelos seus efeitos, mas
fala de si mesmo.’ 87

Goodwin repetidamente usa terminologias como luz imediata, alegria


indizível, transcendente, gloriosa, e intuitiva ao descrever a experiência da
total confiança. Na verdade, está acima de ser descrito:

‘Aqueles que tenham alcançado isso não podem demonstrá-lo a


outros, especialmente aos que não o experimentaram, pois é

87
The Works of Thomas Goodwin, 8:366)
uma pedra branca que ninguém conhece mas aquele que o
recebe, Ap. 2.17.’88

Teólogos alemães e ingleses, com frequência tem denominado tal


“experiência transcendente” como “justificação no tribunal da consciência”
que enfatiza ser declarada perdoada pelo Pai e sendo selada pelo Espírito
na plena restauração com Deus.

Thomas Goodwin

Por motivos descritivos, era comum também falar em termos de um


envolver da experiência mútua entre Deus como Pai, e o crente como a
criança maravilhada. Como escreve Petrus Immens:

‘O outro pode ser chamado extraordinário [i.e., em relação a


segurança ordinária obtida através do silogismo] e é
experimentada quando Deus… manifesta sua satisfação neles,
revelando a eles que ele os vê como filhos de seu amor e tendo
alegria neles… O crente é inundado com um senso do divino

88
(The Works of Thomas Goodwin, 8:351
amor. Agora Jesus o toma em seus braços e o abraça; agora lhe
dá um selo como uma evidência dele ser um filho de Deus…
Nesse momento o Espírito transmite um pleno esplendor de
conhecimento que o faz contemplar claramente a glória do
Senhor e o deixa extasiado com a reluzente visão ante a ele…
Nesse momento o Espírito remove o véu para que o crente
tenha ele mesmo uma visão do céu, como o lugar ditoso onde
ele habitará para sempre, e obtém uma prelibação daquela
felicidade que é reservada para ele após a sua morte.’ 89

Em todos os sentidos, entretanto, esses três grupos estão unidos ao


declarar que o testemunho do Espírito é sempre ligado, e nunca contradiz a
Palavra de Deus. “O Espírito é prometido na Palavra, e essa promessa é
cumprida na experiência. Todos os teólogos de Westminster, são muito
prontos em evitar o antinomianismo de um lado, e por outro lado também
em proteger a liberdade do Espírito.
Em suma, para os teólogos da Assembleia de Westminster, todas as
três bases de 18.2 – fé nas promessas de Deus, íntima evidência da graça, e
o testemunho do Espírito – devem prosseguir como providência concreta
de garantia pela graça de Deus. Se qualquer dessas bases for indevidamente
enfatizada a custa dos demais, o completo ensino da garantia torna-se
desiquilibrado ou até perigoso.
Nenhum Puritano da estatura dos teólogos da Assembleia de
Westminster, ensinaria que a segurança é obtida por confiar apenas na
promessa, pelo autoexame apenas, ou somente pelo testemunho do
Espírito. Ao invés disso, os Puritanos ensinaram que o crente não pode
verdadeiramente confiar nas promessas sem o auxílio do Espírito Santo, e
que ele não pode olhar para si mesmo com segurança sem a iluminação
proporcionada pelo Espírito. Embora o Puritanismo dos teólogos da

89
The Pious Communicant Encouraged, pp.95, 96, 104,15
Confissão tenha dado aos silogismos um papel mais intrínseco à garantia e
deram maior ênfase a eles do que Calvino deu, as promessas de Deus
continuaram a ser consideradas como a primeira base para a garantia. Em
cada ponto da verdadeira garantia, a atividade do Espírito é essencial. Sem
a aplicação do Espírito, as promessas de Deus levam ao autoengano e vidas
infrutíferas. Sem a iluminação do Espírito, o auto exame tende a
introspecção, a escravidão e legalismo. O testemunho do Espírito,
divorciado das promessas de Deus e do exame da Escritura, inclina-se ao
misticismo não bíblico e ao emocionalismo excessivo. Assim, para a CFW,
esses três grandes linhas pertencem uma à outra.90
Martin Llyod-Jones, também acreditava que o selo do Espírito em
Efésios 1:13, se referiria ao Batismo com o Espírito Santo que dá alegria e
segurança aos crentes em Jesus. “A grande necessidade hoje”, ele diz, “é de
cristãos seguros de sua salvação” - o que é dado de um modo especial
através do batismo do Espírito Santo. Ele distinguia entre a “segurança
ordinária” do filho de Deus, com o que ele chamava “segurança completa”
que vem com o batismo do Espírito Santo.

Quando o cristão é batizado pelo Espírito Santo, ele sente o


poder e a presença de Deus como ele nunca conhecera antes - e
esta é a maior forma possível de segurança.91

Sobre Efésios 1:13 ele diz:

90
Joel Beeke, Assurance of Faith, pp. 169-173
91
Minhas fontes secundárias, tem sido os dois novos volumes biográficos de Iain Murray sobre Llloyd-Jones,
seus sermões sobre Revival pregados em 1959 e publicados pela Crossway em 1987, e os dois livros mais
controversos, Joy Unspeakable e The Sovereign Spirit, contendo vinte e quatro sermões pregados entre 15 de
Novembro de 1964 e 6 de Junho de 1965, e publicados neste país por Harold Shaw em 1984 e 1985. Um
pequeno sumário da vida de Lloyd-Jones, escrito por seu neto Christopher Catherwood, pode ser encontrado
no Five Evangelical Leaders (Harold Shaw, 1985). Elas foram publicadas em:
https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2017/12/uma-paixao-pelo-poder-que-exalta-cristo.html
“Pois bem, para chegarmos ao significado do termo “selo” com
ainda maior clareza, consideremos quando se dá a aplicação do
selo. Onde é que a selagem entra na vida e na experiência do
cristão. Tem-se visto que essa é uma questão interessante e, na
verdade para alguns, um problema. A Versão Autorizada
inglesa diz: “E quem também vós, depois que crestes, fostes
selados com o Espírito Santo da promessa”. A Versão Revista
inglesa (“ERV”) diz: “Em quem tendo também crido...”; e a
Versão Padrão Revista (“RSV”) “também vós, que crestes
nele.” Portanto, a questão que se levanta é qual tradução está
correta. Quando ocorre esta selagem com Espírito Santo? Será
no momento em que a pessoa passa a crer, ou depois? A Versão
Autorizada, que não é só tradução mas também exposição,
claramente indica que se trata de algo que se segue a crer, que é
diferente, separado e distinto do crer, e que não faz parte do
crer. Somos, pois, confrontados pela questão: este selo do
Espírito Santo é uma experiência distinta e separada na vida
cristã, ai é algo que acontece inevitavelmente com todos os
cristãos, de maneira que não se pode ser cristão sem este selo?92

Ele deixa claro aqui, que entende que essa manifestação é algo pós-
conversão. Ele continua:

O ensino comum que prevalece atualmente, em especial no


círculos evangélicos, é que a segunda alternativa é a correta.
Segundo esse ensino, a selagem com o Espírito é algo que
acontece imediata e inevitável e inexoravelmente com todos os
que crêem. Mas eu não posso aceitar isso, e para
consubstanciar a minha opinião, menciono o ensino do
puritano do século dezessete, Thomas Goodwin, e, menos
extensamente, a do seu contemporâneo John Owen; também o
ensino de Charles Simeon, de Cambridge, há dois séculos, e de

92
Comentário de Efésios 1:13 Martin Lloyd-Jones
Charles Hodge, de Princeton, E.U.A, em seu comentário desta
Epístola em fins do século dezenove. Esses mestres traçam
aguda distinção entre crer (o ato de fé) e a selagem com o
Espírito Santo. Eles asseveram que as Escrituras ensinam que,
conquanto seja verdade que ninguém pode crer sem a
influência do Espírito Santo, não obstante, não é a mesma coisa
que ser selado com o Espírito, e que o ser selado com o Espírito
nem sempre acontece imediatamente quando a pessoa crê. Eles
ensinam que pode haver um grande intervalo, que é possível a
pessoa crer, e, portanto, ter o Espírito Santo, e ainda não
conhecer o selo com o Espírito.93 94

O batismo do Espírito, é uma nova manifestação de Deus para a


alma. Você tem um conhecimento irresistível, dado a você do amor de
Deus em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo... Esta é a maior e a mais
essencial característica do batismo com o Espírito Santo. Ela é
experimental. É inegável. Ela deve ser vivida por cada crente. Ela enche
com alegria inexprimível, e ela transforma advogados de Cristo em
testemunhas do que tem visto e ouvido.

93
Ibid
94
https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2018/01/selados-com-o-espirito-santo-exposicao.html
Dr. David Martin Lloyd-Jones

Ele ilustra a diferença entre a básica e costumeira experiência cristã e


a experiência do batismo com o Espírito, contando a história de Thomas
Goodwin:

“Um homem e seu filho estavam andando por uma estrada de mãos dadas, e
a criança sabia que era filho de seu pai, e que seu pai a amava, e isso a fazia feliz.
Não havia nenhuma dúvida acerca disso, mas subitamente o pai, movido por
algum impulso, toma a criança nos braços, beija-a e abraça-a, demonstrando seu
amor por ela, e em seguida coloca-a no chão novamente e eles prosseguem
caminhando.95

É isto! A criança já sabia que seu pai a amava. Mas, oh! o abraço amoroso,
o derramar de amor, a manifestação incomum dele - este é o tipo de coisa que
estamos falando. O Espírito testificando com nosso espírito que somos filhos de
Deus”.96

95
Ibid.
96
Ibid.
Quando Jesus batiza uma pessoa com o Espírito Santo, Lloyd-Jones
diz, a pessoa é transportada não somente da dúvida para a crença, mas para
a certeza, para a consciência da presença e da glória de Deus". Isto é o que
Lloyd-Jones entende por reavivamento:

A diferença entre o batismo do Espírito Santo e o reavivamento


é simplesmente no número de pessoas atingidas por ele. Eu
definiria o reavivamento como um grande número de pessoas
sendo batizadas pelo Espírito Santo ao mesmo tempo; ou o
Espírito Santo descendo sobre um grande número de pessoas
reunidas. Isto pode acontecer num bairro, como pode acontecer
a um país.97

E quando ele acontece é visível. Não é apenas uma experiência


subjetiva na Igreja. Coisas acontecem que fazem o mundo se despertar e
observar. Isto era muito importante para Lloyd-Jones. Ele sentia-se
esmagado pela corrupção do mundo e pela fraqueza da Igreja. E acreditava
que a única esperança seria um acontecimento extraordinário.

A igreja cristã de hoje está falhando, e falhando


lamentavelmente. Não é suficiente ser ortodoxo. Você precisa, é
claro, ser ortodoxo, senão você não terá a mensagem... Nós
precisamos de autoridade e de autenticação... Está claro que
estamos vivendo em uma época em que necessitamos de uma
autenticação especial - em outras palavras, nós necessitamos de
reavivamento.98

Reavivamento, portanto, para Lloyd-Jones, era um tipo de


demonstração de poder que viria confirmar o evangelho para um mundo

97
Ibid.
98
Ibid.
desesperado e endurecido, é dar segurança e a certeza de que o crente é um
filho de Deus.

Nós estamos não somente confrontados pelo materialismo,


mundanismo, indiferença, dureza e insensibilidade - mas
também temos ouvido, cada vez mais... sobre certas
manifestações de poderes do mal e a realidade de espíritos
malignos. Não é somente o pecado que se constitui um
problema neste país hoje. Há uma recrudescência de magia
negra, de culto a demônios e de poderes das trevas, além de
abuso de drogas e de coisas que levam a isso. É por isso que
creio numa urgente manifestação, alguma demonstração, do
poder do Espírito Santo.99

Ele nos previne para que não pensemos exclusivamente em


reavivamento. Ele adverte contra estar interessado apenas em algo
excepcional e incomum. “Não despreze o dia das coisas pequenas”100, ele
dizia. “Não despreze o trabalho regular da Igreja e o serviço regular do
Espírito”101. Lloyd-Jones estava cada vez mais desiludido com o “regular”,
com o “costumeiro” e com o “usual”, à medida que seu ministério chegava
ao fim em Westminster. Não soa da mesma forma quando ele diz:

[Nós] podemos produzir um número de convertidos, graças a


Deus por isto, e isto acontece regularmente nas igreja
evangélicas a cada domingo. Mas hoje estamos necessitando
algo mais que isso. A necessidade hoje é de confirmação de
Deus, do sobrenatural, do espiritual, do eterno, e isto só pode
acontecer com resposta de Deus, graciosamente ouvindo nosso

99
Ibid.
100
Ibid.
101
Ibid.
clamor e derramando Seu Espírito sobre nós, e nos enchendo
como Ele encheu a igreja primitiva.102

O que necessitamos é de uma poderosa demonstração do poder


de Deus, uma atuação do Todo Poderoso, que leve seu povo a
prestar atenção, a olhar e a ver. E a história de todos os
reavivamentos do passado, indica claramente que isto acontece
como resultado deles, sem exceção. Esta é a razão porque estou
chamando atenção para o reavivamento. Esta é a razão porque
estou procurando lhe persuadir a orar por isto. Quando Deus
age, ele pode fazer mais em um minuto que o homem com toda
sua organização pode fazer em cinqüenta anos.103

O que mais pesava no coração de Lloyd-Jones era o desejo de ver o


nome de Deus ser vindicado e Sua glória manifesta ao mundo. “Nós
devemos estar ansiosos”104, ele dizia, “por ver algo acontecer que arraste as
nações, todas as pessoas, e as faça parar e pensar novamente”105. Isto é o
que o batismo com o Espírito Santo é acima de tudo.

O propósito, a principal função, do batismo com o Espírito


Santo é ... capacitar o povo de Deus a testemunhar de uma
maneira tal, que isto se torne um fenômeno que atraia e prenda
as pessoas.106

Aqui é onde vem os dons espirituais - como curas e milagres,


profecias e línguas, e toda a área de sinais e maravilhas. Lloyd-Jones estava
discursando sobre evangelismo de poder muito antes de John Wimber. Ele
dizia que, os dons espirituais são parte da confirmação do reavivamento e

102
Ibid.
103
Ibid.
104
Ibid.
105
Ibid.
106
Ibid.
do batismo do Espírito Santo. Dons espirituais extraordinários, ele dizia,
resultam do batismo do Espírito Santo. Ele afirmava que, esta questão é
muito importante nos dias atuais por esta razão: “nós necessitamos de uma
autenticação sobrenatural da nossa mensagem”107.

Joel, e outros profetas que também falaram sobre isto,


apontavam para uma época que haveria de vir, e que veio com
o Senhor Jesus Cristo e o batismo com o Espírito no dia de
Pentecoste, onde haveria uma confirmação incomum da
mensagem.108

Neste ponto, os reformados ficam nervosos, porque sentem que o


poder da Palavra de Deus está sendo comprometido. O evangelho não é o
poder de Deus para a salvação? A palavra pregada, com a autoridade do
Espírito Santo, não é suficiente? “Os Judeus pedem sinais, os gregos
buscam sabedoria, mas nós pregamos a Cristo crucificado ... o poder de
Deus...” (1 Coríntios 1:22-23). O puritano Thomas Goodwin dedica mais
de 50 páginas ensinando na carta aos Efésios 1:13 a doutrina da
"subsequência". As conclusões do puritano são as seguintes:

1) é uma experiência distinta da salvação;


2) é uma experiência para todos os crentes;
3) o crente deve buscar essa experiência;
4) essa experiência faz o homem trabalhar para Deus 10 X mais;
5) o homem precisa ser obediente para recebê-la;
6) sela a certeza da salvação na vida do Crente através do testemunho
interno do Espírito.

107
Ibid.
108
Ibid.
Depois de ler sua exposição de Efésios 1:13, penso que se ele
existisse nos nossos dias, ele estaria a um passo de ser um carismático, e a
dois de ser um pentecostal tradicional".109 R.T. Kendall diz em sua tese de
doutorado em filosofia — “The Nature of Saving Faith From William
Perkins (1558–1602) to the Westminster Assembly (1648)” (A Natureza da
Fé Salvadora de William Perkins (1558–1602) até a Assembleia de
Westminster (1648)110 — ele chama os puritanos de “predestinacionistas
experimentais”. Eles sabiam que eram salvos através de experimentos, ou
seja, refletindo se haviam crido verdadeiramente ou não.
Se concluíssem que sim, eles estavam seguros de que não eram
reprovados, mas eleitos de Deus. Kendall diz que o mais triste disso tudo é
que quase todos os puritanos morreram sem nenhuma garantia ou certeza
de sua salvação. O próprio Perkins morreu em grande agonia — sem saber
se era realmente salvo. De acordo com Kendall, essa era a forma com que
os puritanos concordavam quase de maneira unânime sobre a forma de se
obter a segurança da salvação. De acordo com Kendall, havia porém, duas
exceções: John Cotton (1584–1652) e Thomas Goodwin (1600–1680).
Goodwin, Cotton, Lloyd Jones e Kendall. Todos eles ensinaram que selo
do Espírito é o próprio testemunho do Espírito — e que ocorre depois da
conversão (subsequentemente). Era real — quer dizer, consciente e
imediato.

[...] você deve esperar ser batizado, deve ser selado com o
Espírito da promessa; não é para trabalhar regeneração [...] o
selamento é uma garantia de salvação.
[...] você vê que a obra da fé é uma coisa distinta, uma coisa
diferente da obra da segurança; isso é o mínimo que pode ser

109
Artigo do Facebook de Isaac Barboza
110
“The Nature of Saving Faith From William Perkins (1558–1602) to the Westminster Assembly (1648)”
(A Natureza da Fé Salvadora de William Perkins (1558–1602) até a Assembleia de Westminster (1648)
obtido a partir daqui ( Efésios 1:13 ). Ele fala da fé como uma
coisa, e o selamento do Espírito como outra coisa.
[...] vocês que são crentes, esperem por uma nova promessa do
Espírito Santo como aquele que nos coloca um selo [...] você
pode ver, que a grande promessa, é a promessa do Espírito
como aquele que nos sela. Então você encontrará em Atos 1: 4,
que os apóstolos deveriam esperar pela promessa do Espírito:
vocês também, meus irmãos.
[...] quando esse amor despertar amor a Deus e aumentar o
amor a Deus acima do homem [...] Apelo para vocês, boas
almas, se Cristo apenas olhasse para vocês um pouco, quão
sagrado fará de vocês! Muito mais, então, quando o Espírito
Santo é derramado sobre vocês e quando vocês são batizados
com o Espírito Santo. 111

Até aqui, tenho mostrado que Deus se revela ao homem de forma


proposicional através de sua revelação verbal, que são as Escrituras
Sagradas, e também fora dela que pode chamar de revelação extra-bíblica.
Essa outra forma de revelação, as Escrituras chama de testemunho interno
do Espírito Santo. Mostrarei também que, além de Deus causar esse
conhecimento, Ele controla as decisões humanas por Ele mesmo causadas.
Mostrarei alguns exemplos no livro de Josué, especialmente na conquista
de Canaã e no casamento de Sansão com uma filisteia. Eu chamo isso de
ocasionalismo divino.

6. A causalidade de Deus na conquista de Canaã.

Em nossos dias, muitos cristãos não aceitam a ideia de que Deus


causa desastres e males. Adoram atribuir ou endeusar o seu livre arbítrio.

111
Comentários de Efésios de Thomas Goodwin, Tradução minha.
Como já vimos anteriormente, o homem não tem livre-arbítrio e é o próprio
Deus quem controla nossas decisões. No caso do nosso estudo, nosso
conhecimento. Poderia trazer aqui vários textos das Escrituras provando
isso, mas vou me ater em fazer uma pequena análise do livro de Josué e no
caso de Sansão, o seu casamento com uma mulher filisteia. Eu chamo isso
de ocasionalismo divino. Poderíamos também usar o termo
“determinismo”, estou especificamente me referindo ao determinismo
teológico ou divino — estou me referindo ao ensino de que o Deus pessoal
da Bíblia, pré-determinou inteligentemente e imutavelmente todos os
eventos, incluindo todos os pensamentos, decisões e ações humanas,
predestinando assim tanto os fins como os meios para aqueles fins. O que é
completamente diferente de “fatalismo”, que me refiro ao ensino de que
todos os eventos são pré-determinados por forças impessoais, a despeito de
meios, de forma que, não importa o que uma pessoa faça, a mesma
consequência resultará. Apesar de muitos que se opõe a essa ideia não
fazerem essa definição, pensei em esclarecer essa questão em primeiro
lugar.
O ocasionalismo, entende que Deus infunde à alma os pensamentos e
volições, que por sua vez são repassados ao corpo, pois o movimento é uma
criação, e somente Deus pode criar. Por este motivo, todos os movimentos
que se realizam entre o corpo e a alma, têm sua causa eficiente originada
em Deus - duas substâncias visceralmente diferentes como o espírito e a
matéria, não tem como comunicar-se mutuamente. João 3,8: “O vento
sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para
onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”.
Uma comprovação disto, é que não existe movimento no sentido do
corpo para a alma, somente da alma para o corpo. Por este motivo, todos os
pensamentos e atos dos homens tem origem na mente extracorpórea - a
alma - e são motivados somente pela determinação e vontade de Deus, que
age de forma mediata, por intermédio de causas secundárias e contingentes,
ou em casos excepcionais de forma imediata conforme sua determinação e
vontade. Hebreus 1:3: “Ele (Cristo), que é o resplendor da glória e a
expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do
seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas”.
Estes movimentos e relações, são estabelecidos pelo Logos divino
(Cristo), realizando-se através do tempo conforme estabelecido
previamente pela determinação eterna de Deus. Desta forma, os seres
particulares não são causas eficiente de nada que ocorre, mas são criados e
movidos unicamente pela vontade e determinação divinas, todavia, de
forma mediata com o uso das causas secundárias e contingentes, isto é,
chamado “ocasionalismo” (Deus pode também agir de forma imediata, em
casos excepcionais). Atos 17:28: “Pois nele vivemos, e nos movemos, e
existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também
somos geração”. Desta forma, todas as verdades que o homem conhece
consistem em uma parte das verdades que Deus conhece.
Nicolas Malebranche,112 é quem desenvolve o racionalismo
cartesiano de Descartes, que se compõe com o pensamento agostiniano,
tendo em comum a filosofia platônica, mas afastando-se do panteísmo de
Spinoza e voltando-se ao cristianismo. Por esta negação do panteísmo,
Malebranche afirma Deus como a causa única, mas recusa a ideia
panteísta da substância única do universo.
Como racionalista Malebranche descarta o valor das sensações e
experiências não validadas pelo conhecimento, e raciocínio lógico
afirmando o valor único das ideias na formação do conhecimento. Desta

112
Nos capítulos anteriores, já havia citado suas obras mas aqui vou procurar descrever quem ele é. Nicolas
Malebranche (Paris, 6 de agosto de 1638 — Paris, 13 de outubro de 1715) foi um filósofo racionalista e
padre francês. Em suas obras, procurou sintetizar o pensamento de Agostinho de Hipona e René Descartes, a
fim de demonstrar o papel ativo de Deus em todos os aspectos do mundo. Malebranche é mais conhecido por
suas doutrinas de visão em Deus, ocasionalismo e ontologismo.
forma, as ideias, sendo necessárias de forma absoluta ao conhecimento, não
podem ter sua origem nas sensações ou experiências, mas tem que ser
inatas e imanentes na alma do homem, sendo provenientes dos
arquétipos113 eternos e imutáveis, próprios unicamente de Deus.

6.1. O Livro de Josué

A principal ideia do Livro de Josué, é que Israel devia servir ao


Senhor de todas as suas forças, sob o comando de Josué. E com gratidão a
Deus, por haver cumprido suas promessas no passado, mostrando que Deus
tem o controle de todos os fatos históricos e até das decisões humanas,
como vemos nesse versículo em primeiro lugar:

Êxodo 34:24: "Porque lançarei fora as nações de diante de ti e


alargarei o teu território; ninguém cobiçará a tua terra quando subires
para comparecer na presença do SENHOR, teu Deus, três vezes no ano".

Deus ordenou que os homens de Israel comparecessem diante dele


três vezes ao ano. Essa ocasião, daria aos inimigos de Israel, uma excelente
oportunidade para atacar. Portanto, para isso não acontecer, o Senhor
imediatamente assegurou aos israelitas que os inimigos não teriam o desejo
de atacá-los durante esses períodos. Como isso poderia acontecer, a menos
que o Senhor controlasse a vontade desses pagãos?

113
https://www.significados.com.br/arquetipo/ Arquétipo é um conceito da psicologia utilizado para
representar padrões de comportamento associados à um personagem ou papel social. A mãe, o sábio e o herói
são exemplos de arquétipos. Esses “personagens” têm características que são percebidas de maneira
semelhante por todos os seres humanos. Esse conceito foi desenvolvido por Carl G. Jung, psiquiatra suíço e
fundador da psicologia analítica. Para Jung, os arquétipos estão no inconsciente coletivo e por isso são
percebidos de maneira similar por todos. Jung dizia que os arquétipos são uma herança psicológica, ou seja,
são o resultado das experiências de milhares de gerações de seres humanos no enfrentamento das situações
cotidianas. As imagens dos arquétipos são encontradas em mitos, lendas, na literatura, nos filmes e também
aparecem nos nossos sonhos. Os arquétipos também são utilizados na publicidade. Quando um animal é
utilizado em uma marca, espera-se que os clientes associem a marca às características daquele animal.
O livro mostra a fidelidade de Deus às suas promessas, relatando a
entrada do povo de Israel na terra prometida. Também a desapropriação e
expulsão dos habitantes cananeus de seus territórios, a divisão dessas terras
e a renovação da aliança entre Deus e o povo de Israel. Mostrarei ao
decorrer desse texto, o controle exaustivo de Deus sobre os homens e suas
decisões que são inclinadas à vontade do Senhor. Dividirei o livro de Josué
em três partes. Vou procurar explanar elas no decorrer do texto.

6.2. A conquista da terra

Logo no capítulo 1, vem sendo tratado como Josué foi bem-sucedido


na conquista da terra. No verso 5 Deus diz: Ninguém te poderá resistir,
todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te
deixarei nem te desampararei.
Indica uma promessa do Senhor particular a Josué, mostrando a
presença Divina ao seu lado. Ninguém poderia se opor a ele nessa jornada,
e também que Deus controla até mesmo o coração de seus inimigos. Por
que podemos pensar que, se Deus não controlasse as mentes dos ímpios,
quem poderia garantir que os inimigos não se ajuntassem em um grupo
muito maior que Israel e os derrotasse?
Contudo, mais uma vez é mostrado que, além de Deus estar presente
e ativamente com Josué e seu povo, mostra também a fidelidade de Deus
em guerrear contra seus inimigos e lhe garantindo a vitória. Como Josué
bem sabia que Deus é aquele que endurece os corações de seus inimigos, e
que fazendo isso poderia trazer eles aos pés de Josué para serem
aniquilados, Josué lembra de algo no passado do qual participou junto com
Deus no comando, e ele bem sabia disso: Deuteronômio 2:30 diz: Mas
Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto
o SENHOR teu Deus endurecera o seu espírito, e fizera obstinado o seu
coração para to dar na tua mão, como hoje se vê.
Podemos ver claramente, e lendo os versículos anteriores, podemos
até pensar que Deus não causa os eventos ali mencionados, mas que Ele
meramente permite que aconteçam. Mas, isso ignora totalmente a
onipotência e a soberania de Deus. Mas vemos que, o texto é bem nítido
em dizer que é Deus quem trouxe o rei ao campo de batalha para morrer, e
o povo de Israel se apossar de sua terra. Josué sabia disso muito bem, em
que como foi no passado, seria assim também no seu tempo. Como poderia
ser diferente?
A menos que Deus "governe todas as criaturas, todas as ações delas
e todas as coisas", como a Confissão de Fé de Westminster V.I diz, ou
"todas as suas criaturas e todas as ações delas", como diz o Breve
Catecismo, na pergunta 11, Ele não seria onipotente e não poderia garantir
o cumprimento das profecias. Josué sabia que sim. No capítulo 2, já nos
mostra os espias sendo enviados para Jericó, e nesse caminho eles se
encontram com uma prostituta chamada Raabe. É dito que, o rei de Jericó,
ficou sabendo a respeito deles e mandou homens para prendê-los. Eles
acabam se escondendo com a ajuda de Raabe em sua casa e ela diz: E disse
aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra e que o pavor de vós
caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desfalecidos
diante de vós. Josué 2:9

Raabe já sabia o que Deus queria que seu povo soubesse, que Ele é
quem controla a história e as decisões humanas, e que Ele é perfeitamente
soberano e que entregaria a terra de Canaã a Israel e aniquilaria o resto do
povo, ou seja, a promessa de Deus era verdadeira. O pavor ali mencionado
se encontra naqueles que opõe a Deus com sua desobediência e práticas
abomináveis. Logo mais à frente, no capítulo 5.1; 9.24 e 10.2, é dito que
Deus envia o terror aos seus inimigos:

E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus, que habitavam


deste lado do Jordão, ao ocidente, e todos os reis dos cananeus, que
estavam ao pé do mar, que o SENHOR tinha secado as águas do Jordão,
de diante dos filhos de Israel, até que passassem, desfaleceu-se-lhes o
coração, e não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel.
Josué 5:1

Então responderam a Josué, e disseram: Porquanto com certeza foi


anunciado aos teus servos que o Senhor teu Deus ordenou a Moisés, seu
servo, que a vós daria toda esta terra, e destruiria todos os moradores da
terra diante de vós, tememos muito por nossas vidas por causa de vós; por
isso fizemos assim. Josué 9:24

Temeram muito, porque Gibeom era uma cidade grande, como uma
das cidades reais, e ainda maior do que Ai, e todos os seus homens
valentes. Josué 10:2
Em alguns textos a mais, nos diz que Deus envia o medo para
aqueles que são declarados seus inimigos:

Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos


habitantes da Filístia. Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos
poderosos dos moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os
habitantes de Canaã. Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do
teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado,
ó Senhor, até que passasse este povo que adquiriste. Êxodo 15:14-16

Neste dia começarei a pôr um terror e um medo de ti diante dos


povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama
tremerão diante de ti e se angustiarão. Deuteronômio 2:25

Quem causou esse conhecimento de terror e medo diante dos povos


de Canaã? Esse conhecimento de Raabe se dava pelas notícias que todos os
povos cananeus haviam recebido sobre o que Deus estava fazendo a favor
de Israel, por sua fidelidade às suas promessas.

O que ouvindo, desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há


ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é
Deus em cima nos céus e em baixo na terra. Josué 2:11

Logo mais, ela faz com que esses espias lhe façam um juramento,
dizendo que não mataria ela e nem os de sua casa, e logo concordaram
nisso. Mas, com a condição de que, quando a cidade fosse invadida, todos
eles deveriam permanecer dentro de sua casa. Raabe faz esse pacto com
eles, porque ela sabia do poder e da fidelidade de Deus com suas promessas
e que sua palavra não volta vazia. Quando os espias regressam, eles
chegam alegres e confiantes dizendo: “...Certamente o Senhor tem dado
toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão
atemorizados diante de nós.”(Josué 2:24). Com a certeza absoluta de que
Deus estava com eles e que a vitória seria certa.
No capítulo 3 e 4, podemos ver o controle e o poder de Deus na
natureza, quando Ele ordena que os filhos de Israel atravessem o Jordão.
No verso 7 do capítulo 3, Ele traz uma promessa particular a Josué, de que
a partir daquele dia, Ele engradeceria seu nome perante todo o povo, e logo
depois Josué diz: ...Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós;
e que certamente lançará de diante de vós aos cananeus, e aos heteus, e
aos heveus, e aos perizeus, e aos girgaseus, e aos amorreus, e aos
jebuseus. Josué 3:10
Que a partir daquele momento, eles teriam a certeza de que todos os
povos pereceriam em suas mãos e lhe obedeceriam em tudo. Deus
soberanamente cerra as águas do Jordão e os filhos de Israel passam a seco.
No capítulo 4 verso 23 e 24 diz:

Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de


vós, até que passásseis, como o Senhor vosso Deus fez ao Mar Vermelho
que fez secar perante nós, até que passássemos. Para que todos os povos
da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao
Senhor vosso Deus todos os dias. Josué 4:23-24

No capítulo 5, é descrito que todos os reis dos amorreus que


habitavam do outro lado do Jordão, temeram o povo de Israel, por ouvirem
as maravilhas que Deus havia feito e que “...desmaiou-se-lhes o coração”.

Essa descrição da reação cananéia vem seguida ao milagre do


capítulo 4. Ela explica por que os cananeus não atacaram
imediatamente e, desse modo, dá tempo para a circuncisão dos
israelitas, um período de fraqueza quando estariam sujeitos à
derrota (ver Gn 34). O emprego de linguagem anteriormente
associada com o primeiro êxodo prenuncia a importância da
circuncisão (v. 4) e explica por que as ações ofensivas de Israel
contra tanto Jericó quanto Ai não enfrentaram oposição das
forças cananéias. “Amorreus” e “cananeus” são vocábulos
utilizados para descrever os mesmos povos. Designam povos a
viverem entre o Jordão e o Mediterrâneo. As descrições, duas
linhas em paralelo, identificam todas as regiões e enfatizam o
número total dos governantes de Canaã.225 é por isso que as
duas linhas possuem estrutura idêntica que começa com todos.
A segunda metade do versículo descreve os efeitos temíveis que
as maravilhas do Senhor tiveram nos reis. Emprega linguagem
igual à encontrada na confissão de Raabe em 2.10-11. Raabe
referiu-se ao mar Vermelho. A observação aqui se reporta à
travessia do Jordão. Assim reforçam-se neste versículo as
semelhanças nas descrições das duas travessias assinaladas no
capítulo anterior.114

As notícias da travessia do Jordão, realmente, causaram pânico


e desalento entre os reis (governadores das cidades) da região a
oeste do Jordão (5:1; cf. 2:9-11,24). Aqui são classificados os
habitantes da terra, grosso modo, como amorreus nas
montanhas e cananeus nas planícies (cf. 3:10; Núm. 13:29).
Com este versículo (5:1) o deuteronomista conclui o episódio
introdutório da ocupação de Canaã, dando destaque ao que
havia constantemente enfatizado, a saber, que o Senhor estava
dando a Terra a Israel e perante a sua poderosa mão ninguém
pode resistir.115

114
Comentário Bíblico do AT Richard Hess, Ed. Cultura Cristã p.99
115
Comentário Bíblico Broadman p.369
Deus enviou o medo a eles. Depois nos é mostrado a conquista de
Jericó e Ai, e a estratégia dos gibeonitas para não morrerem nas mãos dos
filhos de Israel. Nós lemos que, Ele lançou grandes pedras do céu sobre os
cananeus (Josué 10:1), destruiu Jericó e Ai completamente que causou
grande espanto nos demais reis e realizou uma terrível execução entre eles.
Gibeão, que fez aliança com Israel, é invadida e Josué é chamado para
guerrear por eles contra cinco reis dos cananeus, que fizeram aliança para
derrotar os Gibeonitas. Aconteceu algo supreendente, o Sol e Lua pararam
pelo pedido de Josué, não que Josué teria algum poder para fazer isso,
aconteceu simplesmente porque o Senhor dos Exércitos batalhava por
Israel e por essas guerras, e mostrava o seu maravilhoso poder.

Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os


amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas:
Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. E o sol se deteve, e
a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está
escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se
apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a
este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor assim a voz de um
homem; porque o Senhor pelejava por Israel. Josué 10: 12-14

Não houve dia semelhante a esse, porque o Senhor pelejava por


Israel, Ele é causa única no mundo e nada pode acontecer por si só, a não
ser que Deus cause. Ele têm controle absoluto de tudo o que existe no
mundo. E era para Israel confiar n’Ele, porque ele tem o controle de toda e
qualquer situação, seja adversa ou favorável. É do Senhor que vinha o
endurecimento no coração daqueles reis ímpios e de seus soldados, para
virem guerrear contra Israel e perecerem ali no campo de batalha. No
entanto, os atos soberanos de Deus não eliminam a responsabilidade
humana.

Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel, senão os
heveus, moradores de Gibeom; por guerra as tomaram todas. Porquanto
do Senhor vinha o endurecimento de seus corações, para saírem à guerra
contra Israel, para que fossem totalmente destruídos e não achassem
piedade alguma; mas para os destruir a todos como o Senhor tinha
ordenado a Moisés. Josué 10:19-20.

E outros textos que comprovam isso: Depois disse o SENHOR a


Moisés: Vai a Faraó, porque tenho endurecido o seu coração, e o coração
de seus servos, para fazer estes meus sinais no meio deles, E para que
contes aos ouvidos de teus filhos, e dos filhos de teus filhos, as coisas que
fiz no Egito, e os meus sinais, que tenho feito entre eles; para que saibais
que eu sou o Senhor. Êxodo 10:1-2

Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira


nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer,
e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não
depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti
mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a
terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.
Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem
resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?
Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste
assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa
fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus,
querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com
muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Romanos
9:14-22

Vimos nesses textos, que Deus é um Ser pessoal que interage com
sua criação, Ele não está tão longe como muitos afirmam. Ele de forma
alguma viola seus princípios já estabelecidos, e nos mostra claramente que
controla todo o curso da história do mundo, a natureza e até as decisões
humanas. Sendo assim, podemos confiar em suas promessas e não devemos
duvidar delas. Porque Ele é fiel para cumprir o que nos promete, Ele tem
controle absoluto sobre nós, e nada acontece sem sua causação inicial em
todas as coisas. Até mesmo nas decisões maldosas dos ímpios, de querer
guerrear contra o povo de Deus, mas eles não sabem é que estão a caminho
da destruição. Seguimos agora para as distribuições das terras conquistadas.

6.3. A distribuição da terra prometida (13.1-21.45)

Nessa seção, quero focar principalmente no capítulo 14 onde Josué


dá a cidade de Hebrom a Calebe. É dito que:

Então os filhos de Judá chegaram a Josué em Gilgal; e Calebe, filho


de Jefoné o quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o Senhor falou a Moisés,
homem de Deus, em Cades-Barnéia por causa de mim e de ti. Quarenta
anos tinha eu, quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-
Barnéia a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu
coração; Mas meus irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o
coração do povo; eu porém perseverei em seguir ao Senhor meu Deus.
Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente a terra que pisou o
teu pé será tua, e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois
perseveraste em seguir ao Senhor meu Deus. E agora eis que o Senhor me
conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde
que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no
deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; E ainda hoje
estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha
força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair
e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia;
pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes
cidades. Porventura o Senhor será comigo, para os expulsar, como o
Senhor disse. E Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a
Hebrom em herança. Portanto Hebrom ficou sendo herança de Calebe,
filho de Jefoné o quenezeu, até ao dia de hoje, porquanto perseverara em
seguir ao Senhor Deus de Israel. E antes o nome de Hebrom era Quiriate-
Arba, porque Arba foi o maior homem entre os anaquins. E a terra
repousou da guerra. Josué 14:6-15

Podemos notar que, uma porção de terra em especial é concedida a


Calebe como cumprimento de uma promessa feita por sua perseverança em
obedecer ao Senhor. Calebe, foi um representante da tribo de Judá para
espiar a terra que está descrito em Nm.13.6. Josué e Calebe, foram os
únicos espias que creram nas promessas de Deus, que Ele lhes entregaria a
terra de Canaã. Ele diz que relatou o que sentiu em seu coração, mostrando
um coração regenerado e transformado pelo Senhor, perseverou em seguir
a Deus, colocando sua fé em prática. A reação do povo foi oposta a dele,
foi de medo e de desespero. Ele nos relata que, Moisés fez um juramento a
ele, que lhe entregaria a terra em que ele pisou, só que nessa terra os
Anaquins habitavam. Mas, ele fala algo que seu coração cheio de fé dizia:
“Porventura o Senhor será comigo, para os expulsar, como o Senhor
disse.” No capítulo 15:13-19, nos mostra que, Josué cumpriu essa palavra
feita por Moisés e entregou essa cidade a Calebe, tudo isso é relatado no
livro de Juízes 1.11-15. Mas, o que quero enfatizar é a soberania de Deus
nessa conquista de Calebe. Como ele conseguiria em menor número de
homens expulsar esses homens de tamanha estatura e sendo homens de
guerra?
Calebe, sabia que é Deus que controla as decisões humanas, e foi
Deus quem até agora estava garantindo a vitória a Israel e não suas forças
ou habilidades. Claro que somos vasos na mão do oleiro, e como já vimos
que Deus usa os seres humanos como instrumentos do poder Divino,
Calebe tinha a plena certeza da vitória. Que Deus traria um endurecimento
aos corações dos Anaquins, fazendo com que eles viessem à guerra contra
ele (não nos é dito), mas podemos deduzir de outros textos que assim foi
feito. Calebe relata que já havia passado 45 anos dessa promessa e ele
nunca duvidou de seu cumprimento, e relata também que o Senhor lhe
conservou em vida agora com 85 anos, para lhe entregar essa vitória.
Gigantes e cidades muradas, não fazem nenhuma diferença para o homem
que confia em Deus. Podemos fechar essa parte sobre as distribuições das
terras conquistadas, crendo claramente que Deus não deixou cair por terra
nenhuma de suas promessas, e que foi Ele quem derrotou os inimigos de
Israel.

6.4. A lealdade à Aliança na terra (22.1-24.33)

Para concluir, podemos ver até aqui a boa e poderosa mão do Senhor
favorecendo seus escolhidos. Nessa última parte, vemos o desfecho dessa
situação com ainda muitas terras a serem conquistadas, desde que os filhos
de Israel obedecessem as Leis do Senhor. Josué, no capítulo 23, encoraja
os filhos de Israel a perseverarem na lei de Deus, mostrando a
responsabilidade do homem à frente da soberania de Deus. Mostra também
que o Senhor é poderoso e fiel para cumprir suas promessas, e que ninguém
pode resistir a elas. Diz que, o Senhor não expulsará algumas nações para
que elas sejam laços e acoites a eles, desde que, eles não cumprissem essas
exigências. A promessa é válida, e não depende da cooperação humana, e
isso na história podemos ver ser uma grande verdade, e que a perda dessa
terra seria a prova de seu julgamento. Deus é reto, santo e justo por
definição e não há lei nenhuma acima d’Ele que deva prestar conta. Nossa
responsabilidade pressupõe a soberania de Deus, seremos julgados porque
Deus nos criou assim, seres responsáveis. Deus diz ao povo de Israel
através de Josué, que foi Ele quem entregou todos os povos em suas mãos,
e que deixou uma terra onde eles não trabalharam e cidades que eles não
edificaram, vinhas e olivas que não plantaram. Josué, faz uma renovação
da aliança do Senhor com o povo, mostrando todos os sinais e prodígios
que Deus realizou no meio deles, desde a saída do Egito, a passagem pelo
deserto e a conquista da terra. O povo concorda fielmente em obedecer ao
Senhor Deus.

7. O Casamento de Sansão (Jz.14.1-4).

Até aqui, vimos que Deus é a causa única de todas as coisas, e que
Ele pode causar tanto o bem e o mal, e que pode fazer com que uma pessoa
adultere e caia em graves pecados. Como isso acontece? Então, vamos
observar nas Escrituras. O adultério, visto na Bíblia, nem sempre é somente
entre um marido e sua esposa, não que isso não seja, mas principalmente
entre o homem e Deus, o adultério principalmente afeta o relacionamento
entre os homens e Deus.
Nos Dez Mandamentos já nos é dito: “Não adulterarás” (Ex.20.14).
Era uma lei, uma ordenança para o povo obedecer ao Senhor em um
contexto social, moral e relacional. Vamos analisar melhor isso. Jeremias
13:27 diz: Já vi as tuas abominações, e os teus adultérios, e os teus
rinchos, e a enormidade da tua prostituição sobre os outeiros no campo; ai
de ti, Jerusalém! Até quando ainda não te purificarás?
Aqui é dito sobre Israel em ir buscar socorro com outros deuses, e
não ao Senhor, e fazendo isso é considerado um adultério. Mas, vamos nos
aprofundar melhor e ver como Deus causa ou não o adultério. E quando
isso acontece, Ele traz juízo sobre uma nação ou simplesmente em uma
pessoa. Em Juízes, a partir do capítulo 13, é anunciado o nascimento de
Sansão, que ele viria como o Salvador de Israel, por estarem a muito tempo
sendo escravos dos Filisteus. Sansão nasce e logo após isso, no capítulo 14,
nos é dito que Sansão se interessou, ou melhor, desejou uma mulher que
não fazia parte do povo de Israel, e ela pertencia ao povo que estava
oprimindo Israel naquele momento, os Filisteus. Isso era proibido pela Lei
do Senhor. Êxodo 34.14-16 nos diz:

Porque não te inclinarás diante de outro deus; pois o nome do


Senhor é Zeloso; é um Deus zeloso. Para que não faças aliança com os
moradores da terra, e quando eles se prostituírem após os seus deuses, ou
sacrificarem aos seus deuses, tu, como convidado deles, comas também dos
seus sacrifícios, E tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e
suas filhas, prostituindo-se com os seus deuses, façam que também teus
filhos se prostituam com os seus deuses.

Era algo proibido pela Lei, dar suas filhas aos povos da terra, ou
casar com as filhas deles, e se isso lhes acontecesse, se corromperiam ou
adulterariam atrás de outros deuses. Mais adiante, lemos algo um pouco
diferente em Juízes 14.1- 4:

E desceu Sansão a Timnate; e, vendo em Timnate uma mulher das


filhas dos filisteus, Subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, e disse: Vi
uma mulher em Timnate, das filhas dos filisteus; agora, pois, tomai-ma por
mulher. Porém seu pai e sua mãe lhe disseram: Não há, porventura,
mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o meu povo, para que
tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos? E disse Sansão a
seu pai: Toma-me esta, porque ela agrada aos meus olhos. Mas seu pai e
sua mãe não sabiam que “ISTO VINHA DO SENHOR” pois buscava
ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus
dominavam sobre Israel.

O texto hebraico diz o seguinte116:

116
As palavras em hebraico aparecem em suas transliterações para que possam ser encontradas facilmente.
117

A conjunção ‫ יב‬de gênero feminino, está na terceira pessoa do plural,


e sua transliteração é ‘ki’ que significa: isto, porque, por causa de, pois, que,
se, apesar de que, ainda que, quando.118 Geralmente é expressada quando a
frase quer dar ênfase a algo ou de forma intensiva, que no caso da frase, é
mostrar que o desejo vinha de Deus ‘Meyahweh’ com a preposição ‘me’ que
significa ‘de’ e do substantivo ‘Yahweh’ que significa o próprio nome de
Deus.119
Ou seja, Deus colocou esse desejo pecaminoso no coração de Sansão
por essa mulher, para poder ter uma ocasião de guerra contra os Filisteus. E
todos nós sabemos que, isso desencadeou uma guerra para a Salvação de
Israel, feita pelas mãos de Sansão, operado pelo poder do Espírito do
Senhor. O ponto que quero chegar é que, Sansão era um nazireu, alguém
que foi separado, consagrado a Deus, sabia das leis e sabia muito bem que
isso era errado aos olhos de Deus, mas o Senhor o levou a uma forma de

117
The Hebrew Old Testament Ben Chayim/Ginsburg Textus Receptus With Massoretic Notes
118
https://biblehub.com/text/judges/14-4.htm
119
DICIONÁRIO BÍBLICO STRONG Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong
p.473.
adultério, por assim dizer, contra Deus. Sansão transgrediu a lei. Para os
israelitas, era considerado um adultério se casar com mulheres estranhas.

‘Toma esta para mim, porque ela muito me agrada’. Ambos os


pronomes femininos são enfáticos no hebraico. Este estranho
curso de ação na vida do nazireu Sansão, cujo nascimento e
propósito haviam sido tão claramente anunciados pelo anjo de
Yahweh, provoca uma observação do redator no versículo 4.
Para ele, tanto quanto para seus correligionários, tudo que
acontecia era ordenado por Deus, mas de tal maneira que os
homens eram culpados de suas tolices. As conseqüências
corroboram esta última assertiva eloqüentemente.120

Mas Deus tinha propósitos, que no momento estava longe do


conhecimento dos pais de Sansão através dessa ação. Creio perfeitamente,
que Deus controla nossas decisões, simplesmente para nos humilhar e
dependermos exclusivamente dEle. O pecado, leva os servos de Deus a
dobrarem seus joelhos e clamar por misericórdia. Já os réprobos, aqueles
que se declaram inimigos de Deus, juízo e condenação. Sansão sabia não só
pela Lei escrita que isso era errado, mas também pela lei escrita no seu
coração (Rom.2.14-16), assim como qualquer pessoa que trai seu cônjuge,
seja justo ou ímpio, ele sabe que está fazendo algo errado e pecaminoso.
Mas, como assim ele ainda é responsável, se é Deus quem controla as
decisões e escreveu essa lei no coração? O apóstolo Paulo já havia
respondido essa objeção e mostra o quanto ela é estúpida e carnal.
Romanos 9:19-21:

Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem
resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?

120
Comentário Bíblico Broadman de Juízes p. 508
Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste
assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa
fazer um vaso para honra e outro para desonra?

Muitos acreditam e ensinam que, responsabilidade pressupõe


liberdade, ou seja, somos responsáveis porque somos livres, de outro modo
isso não faria sentido algum. A ideia de que a responsabilidade pressupõe
liberdade do controle divino não é encontrada em nenhuma parte da Bíblia.
De fato, tampouco a ideia de que o homem é livre do controle de Deus, é
encontrada na Bíblia. Mesmo o homem sendo escravo do pecado ou
escravo de Deus, em ambas as formas ele está debaixo do controle dele.

Ora sabemos que tudo o que a Lei diz, aos que estão debaixo da Lei
o diz, para que toda a boca fique fechada, e todo o mundo esteja sob o
juízo de Deus; porquanto por obras da lei nenhum homem será justificado
diante dele, pois, pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. (Rm
3.19,20)

Paulo diz aqui que, Deus deu a lei para mostrar ao homem seu
pecado. A lei traz o conhecimento do pecado, ela não possui a intenção de
justificar de forma alguma o homem perante Deus. O conhecimento do
certo e do errado, do bem e do mal, tem o efeito de tornar o homem
responsável pelo pecado. A revelação de Deus do conhecimento do bem e
do mal ao homem por meio da lei, é exatamente como Deus o torna
responsável. Precisamos entender que, se Deus não tivesse revelado sua
santa lei à humanidade, o homem não teria sido responsabilizado por Ele
em relação ao pecado. Paulo não ensina a liberdade neste ponto. Outro
exemplo, é que nas Escrituras, indica que em várias passagens a base para a
responsabilidade não é a liberdade, e sim o conhecimento da lei. Em João
15:22 lê-se: "Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam;
mas, agora, não têm desculpa do seu pecado".

Lucas 12:47,48 diz: "Aquele servo, porém, que conheceu a vontade


de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será
punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu
senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas
àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem
muito se confia, muito mais lhe pedirão".

Nas duas passagens, o conhecimento é a base da responsabilidade.


Deus não só revela sua lei por meio da lei escrita, mas Ele a escreveu no
coração de todos os homens, porque quando eles “procedem, por
natureza, de conformidade com a lei [...] mostram a norma da lei
gravada no seu coração” (Rm 2.14,15). A consciência do homem, será
suficiente para condená-lo perante Deus no dia do juízo. A exigência de
que o pecado seja cometido com o uso da liberdade, à parte do controle
divino, para poder ser julgado, não está presente na Bíblia. A única coisa
exigida para que uma pessoa seja considerada responsável é o Juiz para
considerá-la responsável. Sendo assim, responsabilidade pressupõe a
Soberania de Deus. Todos nós seremos julgados, porque assim Deus quer,
e assim Ele nos criou. Tudo o que é necessário para considerar uma pessoa
responsável é a decisão divina de proceder assim. A Escritura declara que,
Deus endureceu de forma ativa o coração do Faraó diversas vezes, bem
como o coração dos egípcios e de outros reis, para que caíssem nas mãos
dos israelitas. Muitos cristãos professos, se sentem desconfortáveis com o
ensino bíblico de que o homem não tem liberdade. O maior ato de maldade
e injustiça moral na história humana, é dito ter sido ativamente executado
por Deus através dos Seus agentes secundários:
Todavia, foi da vontade do SENHOR esmagá-lo, fazendo-o
enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua
posteridade, prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará
na sua mão. Isaías 53:10

Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu


ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios
e os povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho
tinham anteriormente determinado que se havia de fazer. Atos 4:27-28

Deus decretou a morte de Cristo por uma boa razão, a saber, a


redenção dos Seus eleitos. E controlou ativamente as decisões e vontades
dos homens, para que seus decretos ocorressem da forma que Ele quisesse.
Isso nos faz refletir novamente sobre o conceito da imputação. Na aliança
da graça do povo eleito de Deus, Ele decidiu imputar os pecados deles na
conta do Senhor Jesus Cristo, em lugar de colocá-lo na conta da própria
pessoa (2Co 5.18-21). Deus escolheu assim, imputar o pecado ao Cordeiro
inocente - o Messias. Cristo, não era livre para cometer o pecado do seu
povo, tampouco era capaz de cometer esse pecado. Todavia, Ele foi
responsabilizado pelo pecado mediante o decreto divino. Deus nos chama
para amarmos nossas mulheres, se possível dar a vida por elas, e que as
mulheres amem e respeitem seus maridos. Deus tem propósitos em nossas
vidas que não sabemos e Ele pode muito fazer algo em nós que vai contra a
sua lei, para nos humilhar debaixo de suas mãos poderosas. Outro texto
onde diz que Deus levou alguns a irem atrás de outros deuses, e fazendo
isso, cometeram adultério, é Isaías 63.17:
Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos? Por que
endureces o nosso coração, para que não te temamos? Volta, por amor dos
teus servos, às tribos da tua herança.

Mesmo Deus fazendo isso, de forma alguma o torna autor do pecado,


até então porque Deus não faz nada que é pecaminoso, e não existe
nenhuma lei acima dEle que deva prestar contas. Nós é que pecamos,
porque o nosso coração é enganoso e corrupto (Jer.17:17). De acordo com
a Confissão de Westminster, no Capítulo III na seção 1, que fala sobre os
decretos eternos de Deus, nos diz: “...porém de modo que nem Deus é o
autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada
a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes
estabelecidas.”
De qualquer forma, uma pessoa é responsável por suas ações, porque
o pecado age de forma atuante na vontade dela contra os preceitos de Deus,
e não o potencial para escolher o contrário. O Reformador Martinho
Lutero também nos diz:

Aqui, você vê que quando Deus trabalha em homens maldosos,


o mal resulta; no entanto, Deus, embora faça o mal por meio de
homens maldosos, não pode agir mal a si mesmo, pois ele é
bom, e não pode fazer o mal; Mas ele usa instrumentos
malignos, que não podem escapar do impulso e da causação de
seu poder. A culpa, que conta quando esse mal é feito, quando
Deus se move para a ação, reside nestes instrumentos que Deus,
não permite estar ociosos. Da mesma forma, que um
carpinteiro cortar uma madeira com um machado de dentes de
serra. Portanto, o homem ímpio não pode mais pecar sempre
por sua vontade, porque pelo impulso do poder divino, ele não
é permitido estar ocioso, mas as suas vontades, desejos e atos,
estão de acordo com sua natureza.121

O grande teólogo e filósofo avivalista Jonathan Edwards, também


nos diz algo interessante:

“É muito consistente quando dizemos que Deus decretou cada


ação do homem, sim, cada ação que ele toma que é pecaminosa
e cada circunstância dessas ações [...] e ainda assim, que Deus
não decreta as ações que são pecaminosas como pecaminosas,
mas [as] decreta como boas [...] Deus decreta que será
pecaminosa em razão do bem que ele faz surgir de tal
pecaminosidade, enquanto que o homem a decreta pelo mal
que há nela. 122

Em outras palavras, ele quer dizer que, Deus pode decretar uma
ação que é pecaminosa para um humano executar, porque Ele a decreta
por razões não-pecaminosas. Ele tem planos com essa ação, que no caso
de Sansão, foi para ter uma ocasião de guerra contra os inimigos
filisteus. Também diz, para aqueles que se opõem contra a doutrina da
soberania de Deus, que Ele seja a única causa para todos os eventos,
inclusive o pecado, e fazendo isso se torne o autor no sentido de
praticante, ele responde:

‘Mas se por "o autor do pecado", se entende o permissor, ou


um não-impedidor do pecado; e, ao mesmo tempo, uma
disposição do estado dos eventos, de uma tal maneira, para
sábios, santos e mais excelentes fins e propósitos, para que o
pecado, se permitido ou não impedido, muito certamente e

121
Martin Luther, The Bondage of the Will; translated by J. I. Packer and O. R. Johnston; Fleming H. Revell
,1957 God Control.
122
Coletânea nº85, parágrafo adicionado.
infalivelmente aconteça. Eu digo, se isso é tudo o que se entende
por ser o autor do pecado, eu não nego que Deus é o autor do
pecado [...] O que Deus faz sobre isso é santo, e é um exercício
glorioso da excelência infinita de sua natureza. E eu não nego
que Deus sendo assim seja o autor do pecado.’123

De forma alguma Deus é o autor do pecado, e é triste ver irmãos que


criam espantalhos sobre essa doutrina do controle exaustivo e causativo de
Deus. Todos nós estávamos escravizados pelo pecado e longe da glória de
Deus.
Foi através de Seu Filho Jesus, que na cruz morreu por seu povo e
nos redimiu, e mesmo assim Ele controla as nossas vidas de forma causal,
porque não existe outra causa no universo que não seja o Nosso único Deus
criador e sustentador de todas as coisas. (Col.2:16-17)

Jonathan Edwards

Assim, espero ter respondido a objeção de que Deus causa sim, tanto
o bem quanto o mal segundo seus planos e propósitos. Mostrei pelas

123
http://edwards.yale.edu.
Escrituras, que Deus trabalha casualmente nas pessoas tanto o bem quanto
o mal. Existe uma grande diferença ente causar e comunicar. De forma
alguma Deus é autor do pecado, porque Ele é reto, Santo e Justo por
definição, e os homens são maus com seus corações corrompidos. E que
mesmo Deus causando isso, Ele causa por motivos não pecaminosos e sim
santos. Jamais acuse alguém ou um argumento de algo diabólico, sem ao
menos ler os argumentos do outro, isso acaba por cair em um falso
testemunho. E fazendo isso, não diga coisas estranhas ou crie espantalhos e
argumentos falaciosos sobre a posição contrária. Que Deus nos guarde
disso.
Essas são as formas subjetivas de Deus em se revelar. Deus controla
as decisões humanas. A partir de agora, voltaremos para a forma objetiva
de revelação, a profecia e a pregação pública das Escrituras.

8. A Profecia e a Pregação da Palavra de Deus

Em 1 Coríntios 14:3 diz: Mas o que profetiza fala aos homens, para
edificação, exortação e consolação. E também para trazer o homem ao
arrependimento: Mas, se todos profetizarem (prophēteuōsin προφητεύωσιν)
e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado.
E, portanto, os segredos do seu coração ficam manifestos, e assim,
lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está
verdadeiramente entre vós. 1 Coríntios 14:24,25. Assim, a sã e inspirada
pregação, se aplica a suficiente Escritura, a Palavra Final de Deus. As
profecias que não se encontram escritas nas Escrituras Sagradas, revelam as
necessidades humanas, levando-os as verdades eternas de Deus dentro dos
limites da Palavra Final de Deus contida nas Escrituras, e que expressam o
Evangelho e o avanço do Reino de Deus, mas não altera o seu conteúdo
doutrinário. Rev. Martin Lloyd-Jones nos diz o seguinte sobre as Profecias
e as Escrituras:

“No Novo Testamento os profetas geralmente são unidos aos


apóstolos, como no segundo capítulo desta epístola: ‘Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele próprio
a pedra angular, Jesus Cristo’ (Ef 2.20). Mas, embora estejam
junto dos apóstolos, os profetas são obviamente diferentes. Por
exemplo, não era necessário que um profeta tivesse visto o
Senhor ressuscitado. Na verdade, em geral, ele não precisava
ter muitas das qualificações do apóstolo. Essencialmente, um
profeta era um homem que falava sob a inspiração direta do
Espírito Santo. É claro que, algumas vezes, um profeta era uma
mulher. Somos informados no segundo capítulo de Lucas, que
Ana era uma ‘profetisa’. De igual modo, é dito em Atos que
Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que ‘profetizavam’
(21.9). Existem muitas referências a profetas no Novo
Testamento. Por exemplo, em Atos nos é dito que havia vários
profetas na igreja de Antioquia, alguns dos quais tinham vindo
de Jerusalém (11.27; 13.1). Um deles, chamado Ágabo,
profetizou que uma grande fome estava para vir sobre a terra,
e ele exortou os cristãos sobre isso. Há um ensino específico
sobre os profetas no capítulo catorze da Primeira Epístola aos
Coríntios”124

Observe que Lloyd-Jones inclui as filhas de Filipe, Ágabo e


até mesmo os profetas congregacionais como tenho defendido até aqui de
1Coríntios 14, sob a égide da profecia do Novo Testamento, que ele está
discutindo. Aqui também ele nos deixa uma boa explicação:

124
D. Martyn Lloyd-Jones. Christian Unity. Grand Rapids: Baker, 1987. p. 188
“qual é a diferença entre a profecia, por um lado, e a pregação
e ensino, por outro? (...) eu diria que a diferença pode ser
expressa com uma só palavra – imediatismo. E significa que
uma palavra é dada às pessoas e chega até nós. Pois bem, a
pregação e o ensino não são assim. O pregador e mestre é um
homem que toma tempo para estudar; toma tempo para
pensar, para preparar-se; ele arruma o seu material e lhe dá
ordem e sistema. Um pregador e mestre não deve ir ao púlpito
sem nenhuma preparação, confiando na inspiração do
momento. Isso não é pregação e ensino, é profecia. Profecia é
algo que é dado a alguém imediata e diretamente. Permitam
que eu lhes ofereça a minha prova, dizendo o seguinte: em
1Coríntios 14.29 lemos: ‘Falem dois ou três profetas, e os
outros julguem’. Depois, no versículo 30: ‘Se a outro, que
estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o
primeiro’. Pode-se retratar a reunião. Aí está um profeta
pronunciando uma profecia, mas uma palavra é revelada a
alguém que está sentado perto dele. É isso; isso é profecia. Uma
revelação direta”125

Dr. Lloyd-Jones fala de sua própria experiência com o dom de


profecia:

“ Pois bem, surge uma dificuldade da seguinte maneira: um


pregador e mestre também pode ser profeta. Não tenho dúvida
nenhuma sobre isso. Torno a dizer, para a glória de Deus, que
eu acho que eu conheço um pouco disso. Penso que sei algo do
que é estar pregando ou ensinando e, de repente, ver que estou
profetizando. Estou ciente de que as minhas palavras não são o
que preparei, e sim aquilo que me foi dado naquele momento, e
com clareza, força e ação direta (...) A profecia pode vir no
meio de um sermão ou de um ensino, mas se distingue do

125
(Romanos: Exposição sobre o capítulo 12 - O Comportamento Cristão, PES, 2003. p. 290-1)
ensino e da pregação por uma ação direta, por esta percepção
de que Deus está revelando uma mensagem”126

Mas, Lloyd-Jones também critica a posição cessacionista de que os


dons sobrenaturais de Deus se cessaram no primeiro século, e que o
“Perfeito” em 1 Coríntio 13.10 se referia ao fechamento do cânon, e que o
dom de profecia teria se cessado. Observe seu comentário:

“Isso quer dizer que eu e você, que temos as Escrituras abertas


diante de nós, sabemos mais que o apóstolo Paulo sobre as
verdades de Deus [...] Isso significa que todos nós somos
superiores [...] até mesmo aos apóstolos, incluindo Paulo!
Significa que agora estamos em uma posição na qual [...]
conhecemos, da mesma forma como somos conhecidos por
Deus [...] Na verdade, existe apenas uma palavra para
descrever tal visão: absurdo.” 127

A profecia no NT poderia ser realizada por mulheres na hora do culto


(1 Co 11). Porém, o mesmo Paulo também disse que as mulheres devem
ficar caladas nas Igrejas e não podem exercer autoridade de homem. Se a
pregação é o mesmo que profecia, então os que defendem essa ideia
estranha deveriam permitir que as mulheres pregassem também. Sem
nenhuma restrição. As palavras de Deus podem conter uma previsão sobre
o futuro, não nego isso, mas não necessariamente. Podem ser também
sobre o presente ou o passado de acordo com a necessidade do povo:

“Então Josué disse a todo o povo: Assim diz o SENHOR Deus de


Israel: Além do rio habitaram antigamente vossos pais, Terá, pai de
Abraão e pai de Naor; e serviram a outros deuses”. (Josué 24:2)

126
Ibid
127
Citado por Grudem em sua Teologia Sistemática, cap. 52 Nota [35])
Aqui Josué profetizou, pois ele anunciou as palavras do Senhor:
“Assim diz o Senhor Deus de Israel”. Todavia, ele não profetizou sobre o
futuro e sim sobre o passado. Vemos o mesmo no livro de Juízes, onde
encontramos uma profecia que menciona um evento passado, sendo uma
simples palavra de exortação:

“Enviou o SENHOR um profeta aos filhos de Israel, que lhes disse:


Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Do Egito eu vos fiz subir, e vos tirei
da casa da servidão; e vos livrei da mão dos egípcios, e da mão de todos
quantos vos oprimiam; e os expulsei de diante de vós, e a vós dei a sua
terra. E vos disse: Eu sou o SENHOR vosso Deus; não temais aos deuses
dos amorreus, em cuja terra habitais; mas não destes ouvidos à minha
voz”. (Juízes 6:8-10)
"Profetizar" significa revelar as palavras do próprio Deus e os
profetas eram enviados para revelá-las. Profecia era a Palavra de Deus -
inspirada, infalível e inerrante - na boca dos profetas. No texto onde
Samuel fala para Saul que ele iria encontrar um grupo de profetas que
estariam profetizando e tocando músicas com harpas e tudo mais, o que
nesse contexto esse profetizar fica parecendo é que na verdade eles estavam
cantando a Deus, ou seja, proferindo palavras ao Altíssimo que não deixa
de ser infalível, inspirada e inerrante dita através do Espírito Santo de
Deus. Esse é o texto: Então chegarás ao outeiro de Deus, onde está a
guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade,
encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, e trazem diante de
si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e eles estarão profetizando. 1
Samuel 10:5
Uma "profecia" também pode ser uma oração a Deus. Mas ela não
deixava de ser a palavra de Deus - inspirada, infalível e inerrante - por ser
uma oração, pois a Bíblia nos ensina que Deus ora a Deus. Sendo mais
específico: Deus, na pessoa do Filho e na do Espírito Santo, oram a Deus,
para a pessoa do Pai. E da mesma maneira também o Espírito ajuda as
nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como
convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos
inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do
Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. Romanos
8:26,27
Por exemplo, os Salmos são a palavra de Deus PORQUE na boca
dos profetas (como Davi, Salomão, Moisés, Asafe, etc.) são palavras de
Deus dirigidas ao próprio Deus, pois são orações. E lembrando:
biblicamente, um hino a Deus (como os salmos) é tratado como uma
oração. Vamos observar algumas perguntas do Catecismo Maior de
Westminster que diz:

P155. Como a Palavra se torna eficaz para a salvação?

R. O Espírito de Deus torna a leitura, e especialmente a pregação da


Palavra, um meio eficaz para iluminar, convencer e humilhar os pecadores;
para lhes tirar toda à confiança em si mesmos e os atrair a Cristo; para os
conformar à sua imagem e os sujeitar à sua vontade; para os fortalecer
contra as tentações e corrupções; para os edificar na graça e estabelecer os
seus corações em santidade e conforto mediante a fé para a salvação.
Jr 23:28,29;Sl 19:11. Leia-se Atos 8:27-38. At
2:37,41;17:11,12;20:32;26:18; Mt 4:7,10; Rm 6:17;10:14,17;16:25; I Co
3:4-11;Sl 19:11;II Co 3:4-11,18;10:4,5;Cl 1:27,28;Ef 4:11,12;6:16,17;II
Tm 3:15-17;I Ts 3:2,13; Hb 4:12.
P156. A Palavra de Deus deve ser lida por todos?

R. Embora não seja permitido a todos lerem a Palavra publicamente


à congregação, contudo os homens de todas as condições têm obrigação de
lê-la em particular para si mesmos e com as suas famílias; e para este fim
as Santas Escrituras devem ser traduzidas das línguas originais para as
línguas vulgares.
Dt 6:6,7;17:18,19; Is 34:16; Jo 5:39; Sl 78.5,6; I Co 14:18

P157. Como a Palavra de Deus deve ser lida?

R. As Santas Escrituras devem ser lidas com um alto e reverente


respeito; com firme persuasão de serem elas a própria Palavra de Deus e de
que somente Ele pode habilitar-nos a entendê-las; com desejo de conhecer,
crer e obedecer à vontade de Deus nelas revelada; com diligência e atenção
ao seu conteúdo e propósito; com meditação, aplicação, abnegação e
oração.
Dt 11:13,14; Sl 1:2;119:18,97; II Cr 34:21; Ne 8:5; Is 66:2; Pv 3:5;
Mt 13:23; Mc 4:20; Lc 22:44-48;24:45; At 2:38,39;8:30,34;17:11; I Ts
2:13; II Pe 1:16-21;2:2; Gl 1:15,16;Tg 1:21,22.

P 158. Por quem a Palavra de Deus deve ser pregada?

R. A Palavra de Deus deve ser pregada somente por aqueles que têm
dons suficientes, e são devidamente aprovados e chamados para o
ministério.
Ml 2:7; Rm 10:15; I Co 12:28,29; I Tm 3:2,6;4:14; II Tm 2:2.
P159. Como deve ser pregada a Palavra de Deus por aqueles que
são chamados para isso?

R. Aqueles que são chamados para trabalhar no ministério da Palavra


devem pregar a sã doutrina diligentemente, a tempo e fora de tempo; com
clareza, não com palavras sedutoras de sabedoria humana, mas em
demonstração do Espírito e de poder; com fidelidade, fazendo conhecido
todo o conselho de Deus; com sabedoria, aplicando-a segundo as
necessidades e a capacidade de entendimento dos ouvintes; com zelo,
amando fervorosamente a Deus e as almas do Seu povo; com sinceridade,
visando a glória de Deus e a conversão, edificação e salvação dos ouvintes.
Tt 2:1, 8 / At 18:25 / 2 Tm 4:2 / 1 Co 14:19 / 1 Co 2:4 / Jr 23:28 / 1
Co 4:1-2 / At 20:27 / Cl 1:28 / 2 Tm 2:15 / 1 Co 3:2 / Hb 5:12-14 / Lc
12:42 / At 18:25 / 2 Co 5:13-14 / Fp 1:15-17 / Cl 4:12 / 2 Co 12:15 / 2 Co
2:17 / 2 Co 4:2 / 1 Ts 2:4-6 / Jo 7:18 / 1 Co 9:19-22 / 2 Co 12:19 / Ef 4:12 /
1 Tm 4:16 / At 26:16-18.

9. Sobre os deveres da Congregação.

Na Pergunta 160 - Catecismo Maior de Westminster diz: O que se


exige dos que ouvem a pregação da Palavra?
R. Exige-se dos que ouvem a pregação da Palavra que a acolham
com perseverança, preparação e oração; que comprovem o que ouvem com
as Escrituras; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e ânimo
pronto, como a Palavra de Deus; que nela meditem e sobre ela conversem;
que a escondam no coração e manifestem os seus frutos em suas vidas.

Pv 8:34: Bem-aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às


minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada.
1 Pe 2:1-2: Deixando, pois, toda a malícia, e todo o engano, e
fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, Desejai afetuosamente,
como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para
que por ele vades crescendo; (At 17:11 / Hb 4:2 / 2 Ts 2:10 / Tg 1:21 / At
17:11 / 1 Ts 2:13 / Lc 9:44 / Hb 2:1 / Lc 24:14 / Dt 6:6-7 / Pv 2:1 / Sl
119:11 / Lc 8:15 / Tg 1:25)

9.1. Ouvir com atenção e reverência.

Ouvir com humildade e um auto-exame. Devemos humildemente sob


a pregação da Palavra de Deus, tremer pelo seu impacto nas nossas vidas.
Cultivar sempre um espírito submisso e manso, recebendo a verdade de
Deus estando ciente da nossa própria depravação. Devemos nos examinar
seriamente sob a pregação, atentando para a nossa própria instrução ao
invés da instrução de outros. É comum nas nossas Igrejas escutarmos
pessoas que acham que sempre a pregação é para os outros, e não pra ela
própria.
Escutar as verdades de Deus, com reverência e santo temor,
desejando ser admoestado ou corrigido quando nos desviamos dessa
verdade. Devemos ainda nos agradar de ter a Palavra de Deus sendo
aplicada às nossas vidas. Devemos nos perguntar: Quantos gostariam de
estar no meu lugar, escutando a Palavra de Deus sem perseguição alguma,
e eu as vezes sou negligente quanto a isso? Devemos ouvir cada parte tão
cuidadosamente de modo que possamos seguir as instruções de Deus para
as nossas vidas. Neemias 8:3 diz:
E leu no livro diante da praça, que está diante da porta das águas,
desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres, e os que podiam
entender; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei.
Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-
se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem
que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se
apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está
nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Ec
5:1-2

9.2. Preparar-se para ouvir.

Antes de chegarmos à casa de Deus para ouvir a sua Palavra,


devemos nos preparar junto com nossas famílias em oração. É muito
comum acharmos que somente os pregadores devem se preparar para o
culto a Deus, nós também devemos fazer o mesmo se quisermos sair da
Igreja edificados. Devemos orar pela conversão de pecadores, a edificação
dos irmãos e a glorificação do nome de Deus. Orar por todas as crianças,
adolescentes e pelos mais velhos.
Orar para que venhamos à casa de Deus como pecadores
necessitados, agarrando-nos a Cristo pelo poder purificador do seu sangue.
Orar para que haja um derramar do poder convencedor, vivificador e
confortador do Espírito Santo, para operar através das ordenanças divinas
no cumprimento das suas promessas (Prov. 1:23).

Disse também o Senhor a Moisés: Vai ao povo, e santifica-os hoje e


amanhã, e lavem eles as suas roupas, E estejam prontos para o terceiro
dia; porquanto no terceiro dia o Senhor descerá diante dos olhos de todo o
povo sobre o monte Sinai. Ex 19:10-11
Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de
todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E
rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor
vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-
se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se
voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de
alimentos e libação para o Senhor vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião,
santificai um jejum, convocai uma assembléia solene. Congregai o povo,
santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os
que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento.
Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e
digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao
opróbrio, para que os gentios o dominem; por que diriam entre os povos:
Onde está o seu Deus? Então o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, e
compadeceu-se do seu povo.
Jl 2:12-18

9.3. Aplicação da mensagem.

Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje


testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que
tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Dt 32:46.

Deus procura por aqueles que têm uma reverência por sua Palavra e
para o seu plano de Salvação, tanto para o seu ensino e aplicação. E isto
tem tudo haver em como ouvir a voz de Deus. Deus é um comunicador por
excelência, a história bíblica não é apenas sobre a redenção, mas é também
sobre a história da comunicação e da revelação de Deus.
Para haver uma comunicação efetiva, é necessário haver uma escuta
efetiva. Por isso, o estudo da Bíblia, o tempo determinado de oração e a
adoração, são momentos especiais para realmente ouvir o Senhor. Também
creio que, devemos profundamente procurar nos consagrar a Deus com
jejuns solenes, e que Deus pela sua graça também fala através de sonhos e
visões espirituais. Mas nesse tópico, quero enfatizar a pregação da Palavra
escrita. Este processo poderá compreender os seguintes passos:

(1) COMUNICAÇÃO: Ouvir Deus em Sua Palavra.


(2) COMPREENSÃO: Entender o que Deus diz em Sua Palavra.
(3) CONFIANÇA: Confiar no que Deus diz em Sua Palavra.
(4) MUDANÇA: transformarmo-nos segundo a Sua Palavra. Este
processo é essencial para o nosso crescimento espiritual. A importância do
"escutar", mencionada nas Escrituras. A Bíblia enfatiza bastante a questão
do ouvir. O que obviamente tem um propósito. Atendamos às seguintes
ilustrações:

(1) As palavras "ouvi as Palavras do Senhor" aparecem 50 vezes na


Bíblia.
(2) As palavras "escuta" aparecem 52 vezes, "escuta Israel": 4 vezes,
"ouvi": 1389 vezes.
(3) Encontram-se também expressões como: "inclina os teus
ouvidos", "dá ouvidos", "toma atenção".
(4) No Novo Testamento Jesus alerta para o que ouvimos (Marcos
4.24) e como ouvimos (Lucas 8.18).
(5) As palavras "hoje, se ouvirdes a sua voz," encontram-se 3 vezes
na Carta aos Hebreus e uma vez no Velho Testamento (Hebreus 3.7, 15;
4.7; Salmo 95.7).
(6) A frase: "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas"
aparece sete vezes, uma vez em cada carta às sete Igrejas, no livro de
Apocalipse capítulos 2 e 3.
(7) Em Marcos 4.9 Jesus avisa, "Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça" e repete novamente no verso 23, "Se alguém tem ouvidos para ouvir,
ouça".
(8) É também muito significativo o título grego de “Logos” (Λόγος)
para Jesus, termo que se refere precisamente a uma forma de comunicação
que vem do verbo “Lego” geralmente referem-se a uma expressão
individual ou discurso, e “Logos” - algo disse (incluindo o pensamento).
Por implicação, um tópico (assunto do discurso), também raciocínio (a
faculdade mental) ou motivo. Por extensão, uma computação.
Especialmente (com o artigo em João) a Expressão Divina (isto é, Cristo) -
conta, causa, comunicação, X sobre, doutrina, fama, X tem que fazer,
intenção, matéria, boca, pregação, pergunta, razão, falar, palavra, discurso.
Um dos títulos de Jesus é a Palavra Viva de Deus. Sobre Ele
escreveu Moisés em Deuteronômio 18:15: "O Senhor, teu Deus, te
despertará um profeta do meio de ti, dos teus irmãos, como eu; a ele
ouvireis".
O ponto principal é que Deus tem muito para nos dizer, e porque Ele
é Sábio e Soberano e por causa das nossas limitações e fraquezas humanas,
torna-se imperativa a escuta atenta da Sua Palavra. Mas como pecadores,
mesmo sendo redimidos, somos propícios às muitas distrações e deixando-
nos levar por outras situações, mesmo tendo as melhores das intenções.
Facilmente nos comportamos como Marta, que se ocupava com todo o
trabalho da casa, enquanto a sua irmã Maria estava sentada aos pés de Jesus
escutando-O:
Lucas 10:38-42: "E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou
numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; E
tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos
pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em
muitos serviços, e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que
minha irmã me deixe servir só? Diz-lhe que me ajude. E, respondendo
Jesus, disse-lhe: "Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas
coisas, Mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não
lhe será tirada."

Jesus nos alerta na parábola do semeador, que nós podemos ser como
a terra cheia de espinhos e ervas daninhas, que representam os cuidados do
mundo, e que sufocam a Palavra fazendo com que não frutifique na nossa
vida:

Marcos 4:18-19: "E outros são os que recebem a semente entre


espinhos, os quais ouvem a palavra; Mas, os cuidados deste mundo, e os
enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a
palavra, e fica infrutífera."

Provérbios 22:17-19: "Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos


sábios, e aplica o teu coração à minha ciência. Porque é coisa suave, se as
guardares nas tuas entranhas, se aplicares todas elas aos teus lábios. Para
que a tua confiança esteja no Senhor…."

A lição é clara: devemos escutar para que aprendamos a confiar no


Senhor. Não escutar, demonstra a nossa determinação em seguirmos com a
nossa vida através dos nossos próprios recursos e estratégias. Deus ensina-
nos como o devemos escutar.
(a) Deus se comunica através da Bíblia
A Bíblia é o nosso guia para todas as outras formas pelas quais Deus
se comunica. Se queremos escutar a Deus e discernir a Sua Voz nos outros
canais de comunicação, caso de sonhos, visões, profecias, então, temos que
primeiro ouvir a Sua Palavra: a Bíblia. Deus também comunica através
daqueles que proclamam, aconselham, exortam e encorajam. Contudo, a
forma primeira e institucional da Igreja, é a proclamação da Palavra em
assembleia, envolvendo simultaneamente outras formas de comunicação:
como a oração, o louvor, os cânticos e os sacramentos, Deus também se
revela a nós pelos sacramentos. No Catecismo Maior de Westminster - 161.
Como os sacramentos se tornam meios eficazes da salvação? R. “Os
sacramentos tornam-se meios eficazes da salvação, não porque tenham
qualquer poder em si, nem qualquer virtude derivada da piedade ou da
intenção de quem os administra, mas unicamente pela operação do Espírito
Santo e pela bênção de Cristo que os instituiu”. At 8:13,23; I Co 3:7;6:11;
I Pe 3:21..
(b) Deus se comunica através do Espírito Santo
O Espírito Santo é o professor residente, enviado pelo Pai através do
Seu Filho amado, e que habita em cada crente. Ele é a unção com que nos
ensina e nos faz discernir as verdades da Palavra, tornando-as reais para os
nossas mentes.

Efésios 3,16-19: "Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos


conceda que sejais corroborados, com poder, pelo seu Espírito, no homem
interior; Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de que,
estando arraigados e fundados em amor, Possais perfeitamente
compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e
a altura, e a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus."
(c) Deus se comunica através de acontecimentos
Momentos especiais de adoração, nomeadamente a adoração do
Santíssimo. Bênçãos que manifestam claramente o Seu amor e graça.
Tribulações, provações, irritações, instrumentos pelos quais Deus nos
chama a atenção, edifica o nosso caráter, ou se serve para sermos suas
testemunhas; claro que destas situações só tiramos proveito se estivermos
atentos, ouvirmos e aprendermos a relacionar o que nos está a acontecer
com o propósito de Deus, confiando nas suas promessas e nos princípios da
Escritura.
(d) Deus se comunica através de pessoas
A Bíblia está cheia de ilustrações de como Deus usa pessoas para
comunicar o Seu amor, misericórdia e graça. Isto se manifesta de muitas
formas: encorajamento, exemplos, ou chamadas de atenção ou até mesmo
casos de disciplina.

1 Tessalonicenses 5,11: "Pelo que exortai-vos, uns aos outros, e


edificai-vos, uns aos outros, como, também, o fazeis."

Provérbios 27,17: "Como o ferro com o ferro se aguça, assim o


homem afia o rosto do seu amigo."

João 13,34-35: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns
aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes
uns aos outros..."

Efésios 5,19-20: "Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos


espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; Dando
sempre graças por tudo ao nosso Deus e Pai, em nome do nosso Senhor
Jesus Cristo;"
Como é que Deus se comunica conosco através da Sua Palavra e do
Espírito Santo, principalmente nos momentos de adoração? Qual é o
significado desta comunicação em termos de como escutamos o Senhor?
Atentamos a dois pontos: (1) Escutar Deus tem necessariamente de se
envolver o trabalho conjunto da Palavra de Deus e do Espírito Santo nas
nossas mentes. Mesmo usando pessoas e circunstâncias, temos de
considerar o que Deus nos diz à luz da Sua infalível Palavra. (2) Escutar
Deus, ouvir realmente o que Ele tem para nos dizer, exige: uma preparação
espiritual e uma participação ativa da nossa parte! De fato, para ouvirmos
temos que estar preparados. E como ouvir o Senhor é necessariamente um
ato espiritual, é essencial atentarmos: a nossa atitude mental e ao nosso
estado espiritual, ou seja, COMO ouvimos e o adoramos. A questão
fundamental, é o que é necessário para efetivamente ouvirmos o Senhor? O
que podemos fazer para prepararmos os nossos corações para podermos
ouvir o que o Senhor nos quer revelar ou comunicar, ou seja, compreender
a sua mensagem e responder com fé e obediência, quando a mensagem vem
de um ensinamento da Palavra?

10. Preparação Espiritual

A preparação espiritual, é necessária na medida em que a


comunicação de Deus através da Sua Palavra envolve o ministério do
Espírito Santo. As seguintes passagens ilustram este ponto:

1 Coríntios 2,9-3:3: "Mas, como está escrito: As coisas que o olho


não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as
que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu
Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas
de Deus...ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas
nós não recebemos o espíri-to do mundo, mas o Espírito que provém de
Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por
Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana,
mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais
com as espirituais...o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém
é discernido...nós temos a mente de Cristo. E eu, irmãos, não vos pude
falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em
Cristo...ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e
dissensões, não sois, porventura, carnais, e não andais segundo os
homens?"

Este relacionamento com o Espírito Santo, deverá assentar numa


base de total confiança Nele, na Sua presença e na dependência Dele para o
discernimento da Palavra, e tanto no que diz respeito ao entendimento
como à sua aplicação pessoal. Mas, como está escrito, o crente carnal,
aquele que não faz a confissão e reconciliação do pecado, não pode e não
escuta a mensagem de Deus. Este crente torna-se apático e simplesmente
não entende, e muito menos responde as coisas de Deus. E isto porque o
pecado está em sua vida em forma de atitudes erradas (inveja, ciúmes,
ressentimento, orgulho, desconfiança, egoísmo), estilo de vida auto-
protetor, auto-suficiência, indiferença ou apatia para com Deus,
preocupação com outras coisas e outras formas de pecado (nomeadamente,
consulta de bruxos, astrólogos…) entristecem a Pessoa do Espírito (Efésios
4:30) e indubitavelmente constrangem, impedem o Seu ministério de
ensinamento e de manifestação de outras bênçãos espirituais (como por
exemplo: a cura Divina) 1Tessalonisences 5:19: "Não extingais o Espírito".
Assim, nas palavras de Jesus: Marcos 4:19 "...os cuidados deste
mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas,
entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.”

11. Um coração aberto

Salmo 139.23-24: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração:


prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum
caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."

1 Cor. 11.28: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma


deste pão e beba deste cálix. Porque, o que come e bebe indignamente,
come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do
Senhor. Por causa disto, há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que
dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados."

O propósito da auto-avaliação, é simplesmente a necessidade de


sermos honestos com Deus, o que implica a confissão sentida
profundamente num espírito de arrependimento. Deus vê os nossos
corações e rejeita qualquer adoração que não seja em espírito e em verdade,
simplesmente porque neste caso o nosso coração não está em Deus. Nas
seguintes passagens, é referido explicitamente que a bênção espiritual
através da Palavra passa primeiro pela nossa atitude honesta para com Deus
relativamente ao pecado. Jeremias 17.5: "Assim diz o Senhor: Maldito o
homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu
coração do Senhor!"
Provérbios 28.13-14: "O que encobre as suas transgressões, nunca
prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. Bem-
aventurado o homem que continuamente teme: mas o que endurece o seu
coração virá a cair no mal."

1 João 1.9: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo


para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se
dissermos que não pecámos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está
em nós."

12. Uma participação ativa

A escuta ativa é frequentemente mencionada na Bíblia. 1 Coríntios


2.15: "Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é
discernido." Paulo diz que, o homem espiritual, ou seja, que é controlado
pelo Espírito Santo (o Espírito Santo trabalha livremente na sua mente)
sendo obediente à Sua ação e respondendo ao Seu ministério, isto é,
espiritualmente maduro, este homem é capaz de discernir, ou seja,
efetivamente perceber e aplicar a Palavra de Deus.

Tiago 1.22-25: "E sede cumpridores da palavra, e não somente


ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte
da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao
espelho o seu rosto natural; Porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e
logo se esqueceu de que tal era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei
perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecediço,
mas o fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito."
Tiago, depois de nos ter alertado para a necessidade de sermos
honestos com Deus sobre o nosso pecado, por forma a nos livrarmos do
que é um obstáculo entre nós e o Pai, e por isso entre nós e a Sua Palavra,
alerta também para a diferença entre a escuta superficial e a substantiva. Ou
seja, avisa-nos sobre o perigo da escuta não preparada, passiva e não
participativa. O que Tiago ensina, é que a escuta ativa é diligente para
compreender e responder à Palavra de Deus para que a verdade da Palavra
toque o nosso coração para começar nele uma transformação, uma
mudança, não na sua própria força, mas pelo poder do Espírito Santo que
habita em nós. É de notar o verso seguinte: "Tem cuidado de ti mesmo e da
doutrina, persevera nestas coisas…", ou seja, o estudo da Bíblia e a escuta
da Palavra de Deus tem como objetivo a nossa aplicação pessoal para
promoção da mudança do nosso interior, e porque a mudança manifesta-se
de dentro para fora.

13. Uma participação bíblica

Atos 17.11: "Ora estes foram mais nobres do que os que estavam em
Tessalónica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada
dia, nas Escrituras, se estas coisas eram assim."
A nobreza a que Paulo se refere dos judeus da Beréia, contrasta com
os judeus de Tessalônica, porque queriam aprender, e estavam abertos à
Palavra.

14. Uma preparação física

Em Lucas 22.7-14, o Senhor envia Pedro e João para fazerem as


preparações para a refeição da Páscoa que se aproximava. O verbo preparar
é usado 3 vezes nos versos 9, 12, 13, pois o Senhor procurou que tudo
estivesse preparado para que a celebração da Páscoa com os seus discípulos
decorresse como Ele queria. A adoração e a escuta da Palavra de Deus
exige também uma preparação física para além da espiritual. Embora sem a
preparação espiritual a melhor das preparações físicas pouco alcança. Mas,
a preparação física faz parte da preparação espiritual que temos de fazer.
(1) Barulhos, pessoas a passar, pouca iluminação, e outras condições físicas
são fatores de distração ou limitadores da nossa capacidade de
concentração. (2) O cansaço físico, o não dormir o suficiente, são situações
que podem verdadeiramente bloquear uma boa escuta. (3) Uma preparação
antecipada que começa em casa sem pressas nem conflitos é determinante
para a nossa capacidade de escuta.
O ponto é que, ouvir Deus não é um assunto de pouca importância.
Quem não está preparado para ouvir, não responderá de coração ao nosso
Deus e Senhor, e é precisamente a partir daqui que as nossas atividades
religiosas se tornam puras ou simplesmente fúteis.

"Depende de nós escutar com os ouvidos e cantar com o


coração. Se nos recusarmos a isso, comportamo-nos neste
templo como traficantes, que vendem e compram, isto é,
buscam o seu interesse. Estamos na igreja, mas não fazemos o
que agrada a Deus." (S. Agostinho de Hipona)

15. Uma oração pelo pregador.

Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e


vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos, E
por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com
confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, Ef 6:18-19
No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor
tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós; 2Ts 3:1
Essa autoridade da Palavra de Deus que deve ser pregada ou
profetizada, depende unicamente de Deus que é o seu autor, então temos a
obrigação de recebê-la porque é a Palavra de Deus. A Igreja, está sob esse
mandato divino de ensinar todo o conselho de Deus, para equipar os santos
a realizar suas tarefas ordenadas nela. O crescimento de uma Igreja não
pode ser medido pelo número imenso de pessoas, e sim pelo conhecimento
bíblico ensinado à partir das Escrituras, a Palavra Final de Deus, nossa
regra de fé e prática. Como nos diz o Apóstolo Pedro:

“Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à
vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória
e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas
promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina,
havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.”
2 Pedro 1:3,4

Portanto, nunca se deve permitir a falsa doutrina dentro da Igreja e


temos a obrigação de combatê-la. Esses devem ser repreendidos e serem
chamados ao arrependimento, por ensinarem mentiras contra a Palavra de
Deus. O Dr. Clark nos diz o seguinte: Pureza doutrinária é essencial.128 Pra
terminar, cito essa passagem de Mateus 7:24-29 e o comentário do Pastor
presbiteriano Matthew Henry:

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica,


assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a
rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e
combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a

128
The Pastoral Epistles, sobre Tito 3.10-11
rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre,
compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram
aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. E aconteceu que, concluindo
Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os
ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.

“Esta parábola nos ensina a ouvir e a cumprir os ensinos do


Senhor Jesus; alguns destes podem parecer duros para carne e
sangue, mas devem ser cumpridos. Cristo está posto como
fundamento, e tudo que esteja fora de Cristo é areia. Alguns
constroem suas esperanças na prosperidade mundana; outros,
em uma profissão exterior de religião. Sobre estas se arriscam,
porém, todas estas são areia, demasiadamente fracas para
suportar algo como as nossas esperanças quanto ao céu. Há
uma tempestade que chegará e provará a obra de todo o
homem. Quando Deus tira a alma, onde está a esperança do
hipócrita? A casa foi destruída pela tempestade quando o
construtor mais precisava dela, e esperava que fosse um
refúgio. Caiu quando era tarde demais para construir outra.
Que o Senhor nos faça construtores sábios para a eternidade.
Então, nada nos separará do amor de Cristo Jesus. As
multidões ficavam atônitas diante da sabedoria e poder da
doutrina de Cristo. Este sermão, tão frequentemente lido, é
sempre novo. Cada palavra prova que seu Autor é divino.
Sejamos cada vez mais decididos e fervorosos, e façamos de
cada uma destas bem-aventuranças e graças cristãs, o tema
principal de nossos pensamentos por semanas seguidas. Não
repousemos sobre os desejos gerais e confusos a este respeito,
pelos quais podemos captar tudo, mas sem reter nada.” 129

129
bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/10/mateus-7-comentario-de-matthew-henry.html
16. Conclusão

Vimos como podemos conhecer a Deus e como Ele pode ser


conhecido. Notamos que as filosofias modernas do senso comum, que é
voltada às sensações ou experiências com os sentidos, é falha e não pode
dar um conhecimento verdadeiro. Observamos os argumentos do
empirismo, que se contradizem e se auto refutam, porque querem provar a
verdade dos sentidos pelos próprios sentidos, e fazendo isso, chegam a uma
forma arbitrária e universal da verdade. Observamos também que, o
irracionalismo defende que pode conhecer ou nas melhores das hipóteses
nunca chegar a um conhecimento da verdade, porque crê e defende que
podemos acreditar em contradições absurdas que uma pessoa de bom sendo
intelectual jamais assumiria essa posição. Mostramos que, o Cristianismo é
o único sistema que contém o monopólio da verdade e do pleno
conhecimento de Deus e das questões últimas da vida. Esse sistema, se
baseia nas Escrituras Sagradas como axioma e um primeiro princípio de
pensamento, com a premissa de que ela é Palavra de Deus e coloca todos os
sistemas como absurdos e irracionais. Analisamos também sua Autoridade,
Sua inerrância, Infalibilidade e Suficiência para todo o sistema cristão.
Mostramos como ela deve ser usada no evangelismo e na pregação para
pessoas que ainda se encontram com suas mentes escravizadas no pecado.
Como ela deve ser recebida por aqueles que já se encontram com a mente
liberta e devem se preparar para ouví-la e obedecê-la. O meu propósito
nesse livro, é mostrar que Deus ainda fala por meios sobrenaturais, como
sua Palavra escrita e se assim se Ele desejar por meio de sonhos, visões,
testemunho interno e profecias. Mostrar que servimos a um Deus vivo, que
é soberano e controla tudo na sua criação e tem prazer em interagir com
seus filhos redimidos em Cristo. Que essa obra, possa glorificar a Deus de
todas as formas e que possa levar muitos a esse entendimento.
APÊNDICE I

1. Ocasionalismo e sua relação causal com a herança Adâmica -


Fabrício Bezerra130

Quando estudamos sobre hamartiologia (doutrina do pecado), vários


assuntos podem ser abordados e refletidos, desde a soteriologia, até
doutrinas como da santificação e justificação pela fé. Mas, teria a
hamartiologia alguma ligação com o ocasionalismo Cristão? Bom, eu
presumo que sim. Neste caso, gostaria de abordar um pouco sobre a relação
do ocasionalismo com o pecado original nos homens, e a ausência do
mesmo em Jesus.
Todos sabemos a luz das Escrituras que todo homem já nasce em
pecado, isso é bem nítido nas Escrituras. O Salmista afirma
categoricamente: “Sal. 51:5: Eu nasci na iniquidade, e em pecado me
concebeu minha mãe.” O apóstolo Paulo ainda reforça a verdade do pecado
original, dizendo: “Rom 5:12 Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram.” Não nos restam
dúvidas de que o pecado original é uma verdade bíblica e clara. Dado essas
verdades estabelecidas, como resolver a problemática de Jesus não ter
nascido em pecado? Um simples silogismo exemplifica:

I. Todo homem nasce em pecado.


II. Jesus nasceu homem (sem querer entrar no mérito da
natureza divina)

130
Fabrício Bezerra é formando em Teologia Pastoral pelo Seminário Cristão Evangélico do Norte. É
Membro da 1ª Igreja Cristã Evangélica em Fortuna –Ma. É um grande amigo que forneceu seus escritos.
III. Logo, Jesus “deveria” também nascer em pecado.

Esse silogismo parece verídico, mas se atentarmos para o ponto de


que Jesus foi gerado através do Espírito Santo em uma virgem, já seria um
campo vasto para trabalhar sobre a questão, e ponderar melhor, dado que
seria uma aplicação vazia de lógica a ideia do pecado atingir o próprio
Deus encarnado. O Escritor ao Hebreus por exemplo, afirma sobre Jesus:

Hb.4:15: Porque não temos um sumo sacerdote que não possa


compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado.

Hb.7:26: Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente,


imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;
Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia
sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do
povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo.

O Escritor aos Hebreus deixa clara a relação da expiação dos


pecados dos crentes com impecabilidade de Jesus, dado que a
impecabilidade do mesmo, resulta na possibilidade bíblica e lógica para a
expiação dos pecados daqueles que crêem. Poderíamos ver também Jo 8:46
onde Jesus desafia seus inimigos para que provassem que ele tinha pecado,
obviamente ninguém foi capaz de suprir o desafio. Jo 8:46: “Quem de entre
vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, porque não credes?”
Esses textos já seriam suficientes para provar a impecabilidade do
nosso Senhor. Mas gostaria então de avaliar essa questão de uma
perspectiva diferente, a saber, como o ocasionalismo se relaciona com tudo
isso. Reconhecendo inicialmente que não há conexões necessárias em si
mesmas, entre causa e efeito. Podemos crer que um evento como o
nascimento de Jesus depende necessariamente da causação divina em
estabelecer a conexão da herança adâmica com o nascimento de Jesus, e
vou além, até mesmo a conexão natural entre a herança adâmica e o
nascimento em pecado de qualquer homem, carece necessariamente da
causação divina em estabelecer a validade de causa e efeito.
Bom, se tudo isso é verdade, nos resta assumir que a única razão de
Jesus não ter nascido em pecado, é obviamente a causação divina, Deus
não causou a aplicação da herança adâmica em Jesus Cristo, pois é o
próprio Deus que valida qualquer causa e efeito. É Deus quem causa a
manifestação da herança pecaminosa, como também, a aplicação da mesma
na vida de qualquer homem, seja eu, você ou Jesus. Deus tem que causar
para que algo no mínimo exista.
Isso fica mais claro quando pensamos sobre a questão da
“hereditariedade pecaminosa”, as Escrituras não ensinam que o pecador
Adão transmitiu aos seus descendentes sua natureza pecaminosa através de
uma espécie de “hereditariedade pecaminosa e biológica”, como se suas
células e todo o conjunto de seu DNA transmitisse aos seus descendentes a
razão primeira e última dos mesmos se tornarem pecadores. Entendendo
isso, levantamos aqui a bandeira do Poder de Deus (ocasionalismo cristão)
que me parece ser a única razão de garantir a existência da manifestação
pecaminosa em todos os homens, e de ausentar a mesma na pessoa de
Jesus.

2. Ocasionalismo: Uma distinção categórica entre os atos


naturais e sobrenaturais de Deus

Podemos diferenciar o ocasionalismo manifesto num sentido natural


para o ocasionalismo manifesto num sentido sobrenatural avaliando duas
passagens bíblicas que podem ajudar na questão. O escritor aos Hebreus
afirma que Deus sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder:

Heb.1:3a: “sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa


imagem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder”.

Acredito piamente que o escritor não isenta a si mesmo da ação de


sustentação divina. O ocasionalismo ensina nada mais do que o poder de
Deus sendo a causa de tudo, e se toda causa pressupõe um poder, então
Deus causa tudo, inclusive o ato de escrever a epístola citada. Bom,
chamaríamos isso de ocasionalismo manifesto num sentido natural, pois o
ato de escrever uma carta não pressupõe qualquer ação que transcenda a
naturalidade. Por outro lado, podemos entender também o ocasionalismo
manifesto num sentido sobrenatural, e gostaria de citar aqui:

Daniel 3:25ª: “Disse ele (Rei Nabucodonosor): Eu, porém, vejo


quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nenhum
dano sofrem;”

Naturalmente uma pessoa em contato com o fogo sofre queimaduras,


isso é óbvio! Mas isso não ocorre com aqueles jovens dentro da fornalha
ardente. Dado que a fornalha queimou no momento os soldados de
Nabucodonosor, podemos crer que não houve uma causação divina quanto
a mudança no efeito natural do fogo naquele momento em relação aos
soldados, mas por qual razão o fogo não exerce efeito igual nos três
jovens? Para responder isso é necessário entender que não há conexão
necessária (em si mesma) entre o fogo e as queimaduras. Se Deus não
causar X como também Y, nada acontece, é necessário Deus causar o fogo
e também o efeito do fogo para que algo aconteça, e pelo que parece, Deus
não causou uma conexão necessária entre o fogo e os corpos daqueles
jovens. Eis ai o que chamaríamos de Ocasionalismo manifesto num
sentido sobrenatural.

APÊNDICE II

1. O Ocasionalismo de Ralph Erskine131132

Para Erksine a solução para o problema epistemológico é conhecida como


ocasionalismo. Os sentidos estão tão separados da compreensão e da fé que
impedem, em vez de ajudar, essas faculdades. Contudo, “a alma racional
mal pode pensar em qualquer coisa, a menos que a formação da concepção
seja ocasionada por alguma sensação”.¹ A sensação é freqüentemente usada
por Deus para evocar o conhecimento inato da alma.
A fim de entender corretamente a doutrina de Erskine, é necessário
distinguir entre as ideias inatas e o conhecimento inato, que é essencial para
conhecer a Deus ou o mundo. Ideias inatas, como explicam os cartesianos e
os platônicos, consistem em “imagens, representações, espécies inteligíveis
de todas as coisas, na mente” que são “divinamente geradoras em nós;
como se tudo o que é nesta vida aprendido com mais perfeição, fosse
apenas uma mera recordação ou reminiscência do que já existia antes. Para
ilustrar e provar sua doutrina do conhecimento inato, distinta das ideias
inatas, Erskine se volta para o pai da raça humana. Para Erskine, como para

131
A fonte de todas as citações de Erskine estão no livro: Ralph Erskine, Faith No Fancy: Or, a Treatise of
Mental Images (Edinburgh: W. and T. Ruddimans, 1745).Autor: John K. La Shell Fonte:
https://www.apuritansmind.com/the-puritan-era/imagination-and-idol-a-puritan-tension-by-john-k-la-shell/
Pode ser encontrado em português: https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2019/05/o-
ocasionalismo-de-ralph-erskine.html
132
Ralph Erskine foi um ministro escocês puritano, (18 de março de 1685 - 6 de novembro de 1752)
a maioria dos puritanos, a prova mais clara do conhecimento inato de Adão
é vista ao nomear as criaturas.

Ralph Erskine

Além disso, Adão conhecia Deus desde sempre, tinha plena


comunhão com ele; caso contrário, ele nunca teria fugido dele com
vergonha, quando a amizade foi quebrada pelo seu pecado. Ele conhecia
Deus antes mesmo de conhecer as criaturas, pois ele foi criado segundo a
imagem de Deus, em conhecimento, justiça e santidade, com domínio sobre
as criaturas. Ele conhecia Deus, e sobre esse conhecer de Deus, as criaturas
nada podiam ensiná-lo, a saber, a mente e a vontade de Deus e quanto ao
seu dever para com ele; porque ele (Adão) tinha o perfeito conhecimento
da lei de Deus, que estava escrita em sua mente. Se o conhecimento inato
não consiste das imagens de todas as coisas no subconsciente da mente, o
que seria isso? Sua melhor ilustração compara os frágeis remanescentes de
conhecimento inato a tenra fumaça de uma vela, quando a chama e o fogo
se extinguem; no entanto, a fumaça ou fumaça restante, quando trazida para
o alcance de qualquer outro fogo ou chama, a captura nativamente, mesmo
a alguma distância; de modo a definir uma queima e flamejante novamente;
o que não poderia fazer, se não houvesse restos de todo o fogo e chamas
sobre ele. Tal é o poder nativo e a aptidão do calor e da fumaça que restam
para se exercer, desde que as partículas ígneas tenham vida e movimento, o
que, seja qual for o fogo, é naturalmente rápido e pronto para recebê-lo.
Assim é aqui: tão baixo e profundamente enterrado sob o lixo da
corrupção, nosso conhecimento natural de Deus é que esta vela do Senhor
dentro de nós é, por assim dizer, bastante extinta tanto quanto ao fogo e
chama, e nada permanece senão um pouco de calor e fumaça; que ainda
tem muito da natureza do conhecimento de ser capaz, ou apto a receber e se
apossar da luz que se aproxima dela. Isso eu chamo inato, e suponho que
seja tanto a raiz e fonte do conhecimento adquirido, que nenhum poderia
ser adquirido sem ele. Atribuir o conhecimento a causas externas, sem que
isso pressuponha, para mim, parece negar, até agora, o divino original da
luz da natureza.
Na verdade, Erskine distingue entre vários tipos de conhecimentos
inatos. O mais básico é o conhecimento inato da criatura. Sem isso, os
sentidos não poderiam fornecer ocasiões para o conhecimento do mundo.
Segundo, Deus implanta um conhecimento natural de si mesmo no coração
humano que, como diz Mastricht: "o conhecimento surge do próprio Ser de
Deus juntamente com o entendimento”. Tal conhecimento deve ser
distinguido do conhecimento natural de Deus que é OCASIONADO POR
DEUS pela observação de natureza. No entanto, nada disso abrange o
conhecimento salvador de Deus. A razão é que todo conhecimento natural
está contido na faculdade intelectual.
Para ir além disso, deve haver um novo tipo de conhecimento inato
implantado na alma, uma nova faculdade para receber um novo tipo de
conhecimento. O mesmo princípio é válido tanto na natureza quanto na
graça. “Se Deus se manifestasse a nós, antes de ter sua imagem restaurada,
não poderíamos conhecê-lo: Ele deve primeiro nos dar um entendimento
para conhecer a si mesmo, 1 João v. 20”
Esta foi a refutação de Erskine a Robe. Contra a declaração de Robe
de que os sentidos e a imaginação são úteis para a fé, ele argumenta que as
faculdades são tão separadas que a apreensão de objetos corpóreos não
pode ajudar e pode dificultar a compreensão da verdade cristã. A
verdadeira fonte do conhecimento real, seja na natureza ou na graça, é o
conhecimento inato implantado diretamente por Deus. Os sentidos podem
dar ocasião para o desenvolvimento da compreensão e da fé, mas apenas
isso.

APÊNDICE III

1. O Pilar da Escritura: O Ocasionalismo Cristão133

O ocasionalismo cristão é o sistema epistemológico que afirma ser


todo conhecimento (definido como crença verdadeira justificada) resultado
da causação imediata de Deus. Inerente a essa posição está uma aceitação
de que todos os eventos, pensamentos e ações são causados por um Deus
soberano134. E é este sistema que a Bíblia propõe como seu fundamento
para a epistemologia, e, por extensão, para a ontologia e a ética. O
ocasionalismo cristão defende que todo sistema epistemológico fracassa em
algum ponto - exceto o próprio ocasionalismo135. Afirma-se que é assim,
dado que todos os demais sistemas, em última instância, reduzem-se, de
alguma forma, ao absurdo136.

133
Fonte:https://sheepishdiscernments.wordpress.com/2012/12/25/the-plumbline-of-scripture-christian-
occasionalism/
134
Vincent Cheung, Captive to Reason, (2009)
135
Ibid.
136
See my blog post, “A basic guide towards Christian epistemological foundations.”
No passado, alguns filósofos chegaram assustadoramente perto de
reconhecer essa realidade. David Hume, embora um inimigo da fé cristã,
foi um deles. Hume reconheceu que é impossível deduzir proposições
futuras a partir de relações causais do presente. Isso torna, portanto, o
empirismo e, até certo grau, o racionalismo problemáticos137. O maior
problema de Hume foi a uniformidade da natureza. Sem poder perceber o
futuro por meio dos sentidos, ele não poderia ter certeza de que o futuro
seria, de fato, semelhante ao passado, e, dessa maneira, todos os dados
empíricos do mundo não poderiam fornecer nenhum conhecimento
seguro138. Entretanto, Hume nunca avançou para o reconhecimento de que
esse abismo epistemológico poderia ter sido evitado se ele tivesse acatado
as Escrituras como seu primeiro princípio axiomático. Ao contrário, Hume
tentou pressionar o botão de auto-destruição e afundar a todos, inclusive
cristãos, com o navio139 – veremos mais a esse respeito adiante.
Gordon H. Clark foi um proponente do ocasionalismo e ressaltou que
a sensação era o estimulante usado por Deus em toda ocasião para revelar
uma proposição de forma direta140. Clark negou que a sensação fosse capaz
de produzir a verdade e, ao contrário, sustentou que somente a Escritura,
como revelada pelo Espírito Santo, era capaz de iluminar a mente e ter o
monopólio da verdade141. Vincent Cheung, também um adepto do
ocasionalismo escriturístico, postula que proposições verdadeiras resultam
apenas da ação do Espírito Santo ao implantar e controlar, diretamente, as
ideias no interior da mente humana142. Cheung insiste que a revelação não é
dependente de estímulo sensorial, e que é certo que Deus pode revelar

137
See my blog post, ” The Failure of David Humes Philosophy of Knowledge.”
138
Ibid.
139
Ibid.
140
W. Gray Crampton, The scripturalism of Gordon H. Clark, p 26.
141
Ibid.
142
Vincent Cheung, Ultimate Questions, (2010), pp 16-17.
coisas sem sensação143, embora Deus possa e use a ocasião da estimulação
sensorial com as Escrituras para revelar verdades proposicionais à mente,
de forma absolutamente autônoma da sensação144. Em suma, ambos
tornaram-se conscientes das falhas da sabedoria humana145 e reconheceram
que todas as aquisições do conhecimento e atividades intelectuais
dependiam de um Deus soberano e supremo que a tudo controlava, até
mesmo os pensamentos humanos146. E, deste modo, o termo
“ocasionalismo”, que também pode ser encontrado nas Escrituras
inspiradas por Deus (2 Timóteo 3: 16), foi adotado por eles para evitar o
abismo epistemológico em que tantos já haviam se precipitado.
A Bíblia afirma que o homem é feito à imagem de Deus. Ser feito à
imagem de Deus significa ter uma habilidade de pensar de modo lógico
como o próprio Deus que é o Logos147 (a lógica)148. Este é o ponto de
contato entre a mente do homem e a mente de Deus. Tanto Deus quanto o
homem pensam logicamente e, assim, é possível para Deus transmitir
informação às mentes humanas em forma proposicional149. Isto é muito
distinto do que ocorre com os animais, aos quais a Bíblia se refere como
irracionais (2 Pedro 2: 12, Judas 1: 10). As Escrituras também afirmam
que Deus é um ser onipotente que a tudo controla.

143
Romans 2: 14-15 Indeed, when Gentiles, who do not have the law, do by nature things required by the
law, they are a law for themselves, even though they do not have the law.Theyshow that the requirements of
the law are written on their hearts, their consciences also bearing witness, and their thoughts sometimes
accusing them and at other times even defending them.
144
Ibid.
145
1 Corinthians 1:20 Where is the wise man? Where is the scholar? Where is the philosopher of this age?
Has not God made foolish the wisdom of the world?
146
Proverbs 21:1 The king’s heart is in the hand of the LORD; he directs it like a watercourse wherever he
pleases. For more information please see G H. Clark, Predestination (2006), Vincent Cheung, Systematic
theology, (2010), Vincent Cheung, The author of sin, (2005), W. Gary Crampton, By scripture alone: The
sufficiency of scripture, (2002).
147
G H. Clark, The Johannine Logos, (1989)
148
W. Gary Crampton, Man as created in God’s image, (1994), retrieved
fromhttp://www.trinityfoundation.org/journal.php?id=183.
149
Vincent Cheung, Systematic Theology (2010), pp 88-90.
2. Controle geral sobre tudo

 Isaías 44:24, ... Eu sou o Senhor que faz todas as coisas ...
 Provérbios 16: 4 Jeová fez tudo para o Seu propósito; sim, até
o ímpio para o dia do mal.
 Isaías 54:16 Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas
no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também
criei o assolador, para destruir.
 Lamentações 3: 37-38 Quem falou e aconteceu que, a menos
que o Senhor ordenou-lo? Não é da boca do Altíssimo que
bom e mau vir?
 Daniel 4:35 E todos os povos da terra são contados em nada;
e Ele o faz de acordo com a Sua vontade no exército do céu e
entre os povos da terra. E ninguém pode atacar a mão, nem
lhe dizer: O que você está fazendo?
 Gênesis 18:14 Há, porventura, alguma coisa difícil ao
Senhor? Na hora marcada I voltará novamente, de acordo
com o tempo de vida, e Sara terá um filho.
 Salmo 115: 3 Mas o nosso Deus está nos céus; Ele tem feito
tudo o que Ele tem agradado.
 Salmo 135: 6 Tudo o Senhor agradou, Ele o fez, nos céus e na
terra, e nos mares e em todos os abismos.
 Jó 23:13 Mas ele está resolvido; quem então pode desviá-lo?
Sim, o que a Sua alma deseja, Ele o faz.
 Isaías 14:24 Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como
pensei, por isso deve vir a passar; e como determinei,
subsistirá
 Isaías 14: 26-27 Este é o conselho que foi determinado sobre
toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as
nações. Para o Senhor dos exércitos o determinou, e quem o
impedirá? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar
atrás?

3. Controle sobre as circunstâncias

 Provérbios 16:33 A sorte se lança no regaço, mas toda a sua


eliminação é de Jeová.

4. Controle sobre os elementos da natureza

 Gênesis 1: 1 No princípio criou Deus os céus ea terra.


 Gênesis 1:27 E Deus criou o homem à Sua imagem; à imagem
de Deus o criou. Ele os criou homem e mulher.
 Êxodo 14:21 Então Moisés estendeu a mão sobre o mar. E o
Senhor fez retirar o mar recuar por um forte vento oriental
toda aquela noite, e fez do mar terra seca, e as águas foram
divididas.
 Jó 26:12 Ele acalma o mar com seu poder, e com o seu
entendimento Ele quebra o orgulhoso.
 Mateus 8:27 E aqueles homens se maravilharam, dizendo:
Que tipo de homem é este, que até os ventos eo mar lhe
obedecem?
 Mateus 21: 19-20 E, vendo uma figueira no caminho, Ele veio
para isso e não encontrei nada sobre ele, exceto apenas
folhas. E disse a ele, que nenhum fruto crescer em você para
sempre. E imediatamente a figueira secou imediatamente. E os
discípulos, vendo, se admiravam, dizendo: Como rapidamente
a figueira secou imediatamente!
 Salmo 105: 16 E Ele chamou a fome sobre a terra; Retirou-
lhes todo o sustento do pão.
 Deuteronômio 08:16 Quem te alimentou no deserto com o
maná, que teus pais não conheceram, que te humilhar, e que
te provar, para te fazer bem nos teus últimos dias;
 Mateus 5:45 para que vos torneis filhos do vosso Pai no céu.
Pois Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover
sobre os justos e sobre os injustos.
 Neemias 9: 6 tu, sim tu, és Jeová sozinho. Você fez o céu, o
céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela
há, os mares e tudo neles, e você preservá-los todos. E o
exército do céu te adora.
 Salmo 33: 6 Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e
todo o exército deles pelo sopro da sua boca.
 1Crônicas 16:26 Pois todos os deuses dos povos são ídolos,
mas o Senhor fez os céus.
 Salmo 65: 6-7 As montanhas são estabelecidos por sua força,
se uniram com poder, que acalma o barulho do mar, o
barulho das suas ondas, e o tumulto dos povos.

5. Controle sobre toda ordem e autoridade civil e militar

 Colossenses 1:16 Para todas as coisas foram criadas nele, as


coisas nos céus e as coisas na terra, as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos ou principados ou poderes, todas as coisas
foram criadas por ele e para ele.
 Romanos 13: 1 Toda alma esteja sujeita às autoridades
superiores. Pois não há autoridade, mas de Deus; as
autoridades que existem foram ordenadas por Deus.
 Isaías 54:16 Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas
no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também
criei o assolador, para destruir.
 Isaías 10: 5-7 Ai da Assíria, a vara da minha ira! E o bordão
nas suas mãos é meu furor. Eu a envio contra uma nação
ímpia; e contra o povo do meu furor. Vou ordenar-lhe para
tomar o despojo, e para retirar os despojos, e os esmaguei
como a lama das ruas. No entanto, ele não planeja isso, nem o
seu coração assim o imagina. Pois é em seu coração para
destruir e desarraigar não poucas nações.
 2 Crônicas 20: 6 e disse: Ó Senhor, Deus de nossos pais, não
és tu Deus no céu? E você reinar sobre todos os reinos das
nações? E há poder e força em sua mão, de modo que
ninguém é capaz de resistir a você?
 1 Crônicas 29:12 E as riquezas e a honra são de ti, e tu
dominas sobre tudo. E na tua mão há força e poder. E é na
sua mão para fazer grande e dar força a todos.
 João 19: 10-11 Então Pilatos lhe disse: Você não fala
comigo? Não sabes que tenho autoridade para te crucificar e
tenho poder para te soltar? Jesus respondeu: Você poderia ter
nenhuma autoridade contra mim, se fosse dado a você de
cima.
 Atos 17:26 E Ele fez todas as raças dos homens de um sangue
para habitar sobre toda a face da terra, ordenando estações e
os limites da sua habitação nomeado pelo tona.
 Salmo 62:11 Deus falou uma vez; duas vezes tenho ouvido
isto: que o poder pertence a Deus.
 Salmo 103: 19 o Senhor preparou o seu trono nos céus; e seu
reino domina sobre tudo.
 Salmo 66: 7 Ele governa por seu poder para sempre; Seus
olhos estão sobre as nações; não deixe os rebeldes levantar-se
para cima. Selah.

6. Controle sobre a concepção e a população

 Salmo 105: 24 E aumentou o seu povo muito e fez mais


poderoso do que os seus inimigos.
 Salmo 113: 9 Ele faz com que o estéril para morar na casa
como um alegre mãe de filhos.
 Isaías 42: 5 Assim diz o Senhor Deus, Ele que criou os céus e
os estendeu, espalhando-se a terra e seus descendentes;
Aquele que dá a respiração ao povo sobre ela e espírito aos
que andam nela.
 Ezequiel 18: 4 Eis que todas as almas são minhas; como a
alma do pai, assim também a alma do filho é minha.
 Números 16:22 e se lançaram sobre os seus rostos, e
disseram: Ó Deus, Deus dos espíritos de toda a carne.
 Ruth 4:13 tomou Boaz a Rute, e ela era sua esposa. E quando
ele entrou a ela, o Senhor a fez conceber. E ela teve um filho.
 Deuteronômio 10:22 seus pais desceram ao Egito com setenta
pessoas. E agora o Senhor teu Deus te fez como as estrelas
dos céus em multidão.
 Genesis 4:25 E Adão conheceu sua esposa novamente. E ela
deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete. Para ela, Deus
me deu outro filho em lugar de Abel, porque Caim o matou.
 1 Samuel 2: 5 Os que eram fartos se alugam por pão, e os que
estavam com fome cessou; sim, enquanto a estéril teve sete
filhos, e ela que tinha muitos filhos definhou.
 Gênesis 12: 2 E farei de ti uma grande nação. E eu vou te
abençoe e te engrandecerei o nome. E tu serás uma bênção.
 Genesis 20: 17-18 E orou Abraão a Deus, e Deus sarou
Abimeleque, ea sua mulher e as suas servas; e eles geraram
filhos. Porque o Senhor havia fechado totalmente todas as
madres da casa de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de
Abraão.
 Gênesis 13:16 E farei a tua descendência como o pó da terra,
de modo que, se alguém puder contar o pó da terra, então a
tua semente também ser contado.
 Genesis 18:14 Há, porventura, alguma coisa difícil ao
Senhor? Na hora marcada I voltará novamente, de acordo
com o tempo de vida, e Sara terá um filho.
 Isaías 66:22 Porque, como os novos céus ea nova terra, que
hei de fazer diante de mim, diz o Senhor, assim será a tua
descendência e o seu nome de suporte.

7. Controle sobre o bem e o mal e sobre a paz e a guerra

 Lamentações 3: 37-38 Quem falou e aconteceu que, a menos


que o Senhor ordenou-lo? Não é da boca do Altíssimo que
bom e mau vir?
 Isaías 45: 5-7 Eu sou o SENHOR, e não há outro, nenhum
Deus além de mim; I vestido, ainda que tu não me conheces;
Para que se saiba desde o nascente do sol, e ao pôr do sol,
que não há ninguém além de mim. Eu sou o SENHOR, e não
há outro; formando a luz e crio as trevas; fazendo a paz e
criar mal. Eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
 Amos 3: 6 Se um chifre de carneiro é soprado em uma cidade,
será que o povo também não tremer? Se houver uma
calamidade em uma cidade, Jeová também não fez isso?
 Josué 11:20 Por isto vinha do Senhor a endurecer o coração,
para que viessem à guerra contra Israel, para que eles possam
ser destruídos, de modo que eles poderiam ter nenhum favor,
mas que Ele pode destruí-los, como o Senhor lhe ordenara.
 Deuteronômio 02:30 Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis
deixar passar por ele. Porque o Senhor teu Deus lhe
endurecera o espírito e fez o seu coração obstinado para que
Ele possa entregá-lo em sua mão, como se vê neste dia.

8. Controle sobre vida, morte, doença e saúde

 Deuteronômio 32:39 Vede agora que eu, eu o sou, e não há


Deus comigo. Eu mato, e eu faço viver; Eu firo e eu saro; e
não há libertador da minha mão.
 1 Samuel 2: 6-7 Senhor mata e faz vivo. Ele traz à sepultura, e
traz à tona. Senhor tira, e Ele dá a riqueza; Ele traz baixa;
sim, Ele levanta-se alto.
 Êxodo 04:11 E o Senhor disse-lhe: Quem fez a boca do
homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o
cego? Não sou eu, Senhor?
 Isaías 54:16 Eis que eu criei o ferreiro, que assopra as brasas
no fogo, e que produz a ferramenta para a sua obra; também
criei o assolador, para destruir.
 Josué 11:20 Por isto vinha do Senhor a endurecer o coração,
para que viessem à guerra contra Israel, para que eles possam
ser destruídos, de modo que eles poderiam ter nenhum favor,
mas que Ele pode destruí-los, como o Senhor lhe ordenara.
 Deuteronômio 02:30 Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis
deixar passar por ele. Porque o Senhor teu Deus lhe
endurecera o espírito e fez o seu coração obstinado para que
Ele possa entregá-lo em sua mão, como se vê neste dia.
 Salmo 62:11 Deus falou uma vez; duas vezes tenho ouvido
isto: que o poder pertence a Deus.
 Isaías 66:22 Porque, como os novos céus ea nova terra, que
hei de fazer diante de mim, diz o Senhor, assim será a tua
descendência e o seu nome de suporte.

9. Controle sobre pobreza e a prosperidade

 1 Crônicas 29:12 E as riquezas e a honra são de ti, e tu


dominas sobre tudo. E na tua mão há força e poder. E é na
sua mão para fazer grande e dar força a todos.
 Gênesis 24:21 E o homem estava olhando para ela, mantendo-
se em silêncio, para saber se o SENHOR havia prosperado a
sua jornada ou não.
 Salmo 62:11 Deus falou uma vez; duas vezes tenho ouvido
isto: que o poder pertence a Deus.
 Eclesiastes 7: 13-14 Considera as obras de Deus; porque
quem poderá endireitar o que ele fez torto? No dia da
prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade
considera; porque também Deus definir tem o um defronte do
outro, a fim de que o homem deve encontrar nada depois dele.
 Deuteronômio 8: 17-18 e digas no teu coração: A minha
força, ea fortaleza da minha mão me adquiriram estas
riquezas. Mas tu lembrar ao Senhor teu Deus; porque ele é o
que te dá força para adquirires riquezas, para que ele possa
confirmar o seu pacto, que jurou a teus pais, como se vê neste
dia.
 Isaías 58:11 E o Senhor deve sempre orientá-lo e satisfazer
sua alma em lugares áridos, e os ossos de gordura; e sereis
como um jardim regado, e como um manancial cujas águas
nunca faltam.
 Genesis 39:23 O guarda da prisão não olhar para qualquer
coisa debaixo da sua mão, porque o Senhor era com ele; e
tudo o que ele fez, o Senhor tornou a prosperar.
 Salmo 113: 7-9 Levanta o pobre do pó, e levanta o
necessitado fora do monturo, a fim de fazê-lo sentar-se com
nobres, com os nobres de seu povo. Ele faz com que o estéril
para morar na casa como um alegre mãe de filhos. Louvado
seja o Senhor!
 Genesis 45: 8 .... Deus. E Ele me fez um pai de Faraó, e por
senhor de toda a sua casa, e governador de toda a terra do
Egito.
 Genesis 39: 3 E o seu senhor viu que o Senhor estava com ele,
e que o Senhor fez tudo o que ele fez para prosperará na sua
mão.
 Gênesis 12: 2 E farei de ti uma grande nação. E eu vou te
abençoe e te engrandecerei o nome. E tu serás uma bênção
 Genesis 45: 7 E Deus me enviou adiante de vós para
preservar para si um remanescente na terra, e para guardar
as suas vidas por um grande livramento.
 Genesis 50:20 Mas quanto a você, o mal contra mim, mas
Deus o tornou em bem, para trazer a passar, como se vê neste
dia, para conservar muita gente com vida.

10. Controle sobre tudo antes dos acontecimentos

 Isaías 41: 4 Quem planejou e fez isto, chamando as gerações


desde o princípio? Eu, o Senhor, sou o primeiro e o último; Eu
sou Ele.
 Efésios 1:11 ....De acordo com o propósito daquele que faz
todas as coisas segundo o conselho da sua própria vontade.
 Romanos 8: 28-29 E sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, para que Ele seja o
primogênito entre muitos irmãos.
 1 Coríntios 2: 6-7 Mas, falamos sabedoria entre os que são
perfeitos; não porém a sabedoria deste mundo, nem dos
príncipes deste mundo, que vêm a nada. Mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, a qual Deus tem escondido,
predeterminar-lo antes que o mundo para nossa glória
 Atos 4:27 Pois, na verdade, contra o teu santo Filho Jesus,
que Você ungido, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e
os povos de Israel, se reuniram a fim de fazer o que a tua mão
eo teu conselho tinham anteriormente determinado que ser
feito.
 Efésios 1: 4-5 Como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante dele em amor nos predestinou para filhos de adoção
por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua
vontade
 Ef 1.11 no qual também fomos escolhidos para uma herança,
predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as
coisas segundo o conselho da sua vontade

11. Controle sobre as decisões dos homens

 Provérbios 20:24 Os passos do homem são do Senhor; como


pode um homem, então, entender o seu caminho?
 Jeremias 10:23 Ó Senhor, eu sei que o caminho do homem
não pertence ao homem; não é do homem que caminha o
dirigir os seus passos.
 Provérbios 21: 1 O coração do rei na mão do Senhor, como os
rios de água; Ele transforma-lo onde quer que Ele o fará.
 Provérbios 16: 1 A ordenação do coração no homem, e a
resposta da língua é do Senhor.
 Provérbios 16: 9 coração do homem propõe o seu caminho,
mas o Senhor lhe dirige os passos.
 Salmo 105: 24-25 E aumentou o seu povo muito e fez mais
poderoso do que os seus inimigos. Mudou o coração destes
para que odiassem o seu povo, e tratassem astutamente aos
seus servos.
 Isaías 44:28 Quem [Deus] diz de Ciro, Ele é meu pastor, e
fará toda a minha vontade.
 Gênesis 45: 7-9 E Deus me enviou adiante de vós para
preservar para si um remanescente na terra, e para guardar
as suas vidas por um grande livramento. E agora você não me
enviou aqui, mas Deus. E Ele me fez um pai de Faraó, e por
senhor de toda a sua casa, e governador de toda a terra do
Egito. Apresse-se e ir até meu pai e dizer-lhe: Assim diz o teu
filho José: Deus me tem posto por senhor de todo o Egito.
Desce a mim, não espere.
 Gênesis 24:21 E o homem estava olhando para ela, mantendo-
se em silêncio, para saber se o SENHOR havia prosperado a
sua jornada ou não.
 Daniel 1: 9 E Deus tinha dado a Daniel graça e misericórdia
diante do chefe dos eunucos.
 Isaías 58:11 E o Senhor deve sempre orientá-lo e satisfazer
sua alma em lugares áridos, e os ossos de gordura; e sereis
como um jardim regado, e como um manancial cujas águas
nunca faltam.
 Atos 04:27 Pois, na verdade, contra o teu santo Filho Jesus,
que Você ungido, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e
os povos de Israel, se reuniram a fim de fazer o que a tua mão
e o teu conselho tinham anteriormente determinado que ser
feito.
 Apocalipse 17:17 Porque Deus deu em seus corações para
fazer a Sua mente, e agir com uma mente, e para dar o seu
reino à besta até que as palavras de Deus será cumprida.
 Isaías 19:14 Senhor tem misturado um espírito perverso no
meio dela; e eles fizeram o Egito se desviem para todo o seu
trabalho, como um bêbado cambaleando no seu vômito.
 Isaías 30:28 E como o ribeiro transbordante, sua respiração
que chega até o meio do pescoço, para peneirar as nações
com peneira de vaidade. E um freio estará nas queixadas dos
povos, levando-os a se extraviar.
 Isaías 63:17 Ó Senhor, por que você nos fez desviar dos teus
caminhos. Você endurecer nosso coração, para seu medo?
Pelo amor dos teus servos, devolver as tribos da tua herança.
 Jeremias 25:17 Então tomei o cálice da mão do Senhor, e fez
todas as nações beber, a quem o Senhor me enviou.
 Provérbios 20:12 O ouvido que ouve e o olho que vê, o Senhor
fez os dois.
 Romanos 9: 19-21 Então você vai dizer para mim, por que ele
ainda se queixa? Para quem tem resistido à sua vontade?
Não, mas, ó homem, quem és tu, que responde contra Deus?
 Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me
deste modo fez? não tem o oleiro poder sobre o barro, para da
mesma massa fazer um vaso para honra e outro para
desonra?
 Gênesis 28:15 E eis que eu estou convosco, e irá mantê-lo em
todos os lugares onde você vai, e vai lhe trazer novamente a
esta terra. Pois eu não te deixarei até que haja cumprido
aquilo que falei de você.
 Genesis 50:20 Mas quanto a você, o mal contra mim, mas
Deus o tornou em bem, para trazer a passar, como se vê neste
dia, para conservar muita gente com vida.

12. Controle sobre quem desobedecerá e não entenderá

 Êxodo 04:21 Então disse o Senhor a Moisés: Quando você vai


para retornar ao Egito, vê que faças todas as maravilhas que
tenho posto na tua mão diante de Faraó; mas vou endurecer o
coração, para que não deixe ir o povo. (Êxodo 7: 3; 09:12;
10: 1; 11:10; 14: 4)
 Êxodo 14:17 E eis! Estou prestes a endurecer o coração dos
egípcios, e estes entrarão atrás deles. E eu vou buscar honra
para mim em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros
e nos seus cavaleiros.
 Deuteronômio 02:30 Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis
deixar passar por ele. Porque o Senhor teu Deus lhe
endurecera o espírito e fez o seu coração obstinado para que
Ele possa entregá-lo em sua mão, como se vê neste dia.
 Deuteronômio 29: 4 Todavia o Senhor não vos tem dado um
coração para entender, nem olhos para ver e ouvidos para
ouvir, até hoje.
 Josué 11:20 Por isto vinha do Senhor a endurecer o coração,
para que viessem à guerra contra Israel, para que eles possam
ser destruídos, de modo que eles poderiam ter nenhum favor,
mas que Ele pode destruí-los, como o Senhor lhe ordenara.
 Isaías 19:14 Senhor tem misturado um espírito perverso no
meio dela; e eles fizeram o Egito se desviem para todo o seu
trabalho, como um bêbado cambaleando no seu vômito.
 Isaías 30:28 E como o ribeiro transbordante, sua respiração
que chega até o meio do pescoço, para peneirar as nações
com peneira de vaidade. E um freio estará nas queixadas dos
povos, levando-os a se extraviar.
 Isaías 63:17 Ó Senhor, por que você nos fez desviar dos teus
caminhos. Você endurecer nosso coração, para seu medo?
Pelo amor dos teus servos, devolver as tribos da tua herança.
 Jeremias 25:17 Então tomei o cálice da mão do Senhor, e fez
todas as nações beber, a quem o Senhor me enviou.
 Jó 21:30 de que o mau é mantido para o dia da calamidade?
Eles serão levados para o dia da ira.
 Romanos 9:18 Portanto, Ele tem misericórdia de quem Ele
terá misericórdia, e quem Ele quiser, Ele endurece.
 Romanos 9: 22-23 E se Deus, querendo mostrar a sua ira e
dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os
vasos da ira, preparados para a perdição; e que também desse
a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de
misericórdia que ele tinha antes preparados para a glória
 Isaías 6:10 Engorda o coração deste povo, endurece-lhe os
ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que não vejam com os
olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se
convertam, e ser curado.
 Romanos 11: 8 como está escrito: "Deus lhes deu um espírito
entorpecido, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir" até
este dia.
 2 Tessalonicenses 2:11 E por isso Deus lhes enviará a
operação do erro, para que creiam a mentira.
 Marcos 4: 11-12 E disse-lhes: A vós é dado conhecer o
mistério do reino de Deus. Mas para aqueles de fora, todas
estas coisas são dadas em parábolas, para que vendo, vejam,
e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que
em qualquer momento que eles devem ser convertidos, e seus
pecados sejam perdoados os.
 João 12:40 Cegou-lhes os olhos e endureceu o seu coração;
que eles não vejam com os olhos e entendam com o coração, e
se convertam, e eu os cure.
 João 10: 25-26 Jesus respondeu-lhes: Eu disse a você e você
não acreditou ... Mas você não credes, porque não sois das
minhas ovelhas. Como eu disse a você.
13. Controle sobre quem obedecerá e entenderá

 Mateus 22:14 Porque muitos são chamados, mas poucos


escolhidos.
 João 6:44 Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou
não o trouxer, e eu o ressuscitarei no último dia.
 João 6:65 E ele disse: Por causa disto eu vos disse que
ninguém pode vir a mim se foi dado a ele do meu pai.
 João 6: 37-39 Tudo o que o Pai me dá virá a mim, e aquele
que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque
eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a
vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade do Pai que
me enviou, que de tudo que ele me deu eu não perca nada,
mas o ressuscite novamente no último dia.
 João 1: 12-13 Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes
poder de se tornarem filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome, que não nasceram dos sangues, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas nasceram de Deus.
 João 15:16 Não me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós e vos
nomeei, para que vades e deis fruto, eo vosso fruto
permaneça; que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome,
Ele pode dar a você.
 João 15:19 Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o seu
próprio. Mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi
do mundo, por isso o mundo vos odeia.
 João 17: 2, mesmo quando você ter-lhe autoridade sobre toda
a carne para que Ele dê a vida eterna a todos Você deu Ele.
 Romanos 12: 3 Mas definir a sua mente para ser sensato,
mesmo que Deus repartiu a cada homem a medida da fé.
 Atos 16:14 E certa mulher chamada Lídia ouviu-nos .... cujo
coração o Senhor abriu, de modo que ela assistiu às coisas
que Paulo dizia.
 Atos 13:48 e audição, as nações se alegrou e glorificavam a
palavra do Senhor. E a todos quantos estavam ordenados
para a vida eterna
 1 Pedro 1: 3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos
regenerou novo para uma viva esperança, pela ressurreição
de Jesus Cristo dentre os mortos.
 2 Tessalonicenses 2: 13-14 Mas nós devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, porque
Deus escolheu desde o princípio para a salvação, pela
santificação do Espírito e fé da verdade, para que Ele chamou
pelo nosso evangelho, para a obtenção da glória de nosso
Senhor Jesus Cristo.
 Efésios 1: 5 nos predestinou para sermos filhos de adoção por
Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua
vontade.
 Efésios 1.11 no qual também fomos escolhidos para uma
herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz
todas as coisas segundo o conselho da sua própria vontade.
 Filipenses 1:29 Porque a vós é dado em nome de Cristo, não
somente crer nele, mas também de sofrer por causa dele
 1 Samuel 10: 9 E aconteceu quando ele tinha virado as costas
para partir de Samuel, Deus lhe deu um outro coração. E
todos esses sinais aconteceram naquele dia.
 Romanos 8: 28-31 E sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, para que Ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. Mas quem Ele predestinou,
a esses também chamou; e aos que chamou, a estes também
justificou. E aos que justificou, a esses também glorificou. Que
diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós?
 Romanos 11: 4-5 Mas o que a resposta divina dizer a ele?
"Reservei para mim sete mil homens que não dobraram os
joelhos diante de Baal." Assim, pois, também no tempo
presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça
tem vindo a ser.
 Colossenses 1:12 dando graças ao Pai que nos fez idôneos
para participar da herança dos santos na luz. Pois Ele nos
libertou do poder das trevas e nos transportou para o reino do
seu Filho amado; no qual temos a redenção, pelo seu sangue,
a remissão dos pecados.

A lista acima, de modo algum, é extensiva, mas basta dizer que ela
demonstra que Deus está, de fato, no controle de cada detalhe, inclusive da
mente e da vontade do homem. Isto se torna mais evidente quando outros
aspectos dos atributos de Deus são integrados. Por exemplo, quando a
onisciência de Deus e o fiat divino são associados com a imutabilidade,
pode-se entender que uma mente eterna que não muda e que criou tudo ex
nihilo tem de estar no controle de todas as coisas e cria eventos com este
conhecimento completo na mente150. Isso, por inferência necessária,
significa que Deus conhecia a todos os eventos antes que existissem e que

150
See Gordon H. Clark, Predestination , (1987).
os criou com este conhecimento em Sua mente. E, deste modo, Deus é o
autor metafísico de todas as coisas, também dos pensamentos humanos151.
Isto, contudo, não significa que Deus estabelece a criação como um relógio
acabado e observa seu desenrolar como Ele tinha planejado. Ao invés
disso, a Escritura sugere que Deus está no controle imediato de todos os
eventos (Colossenses 1:17; Efésios 1:11; Romanos 8:28).
Além disso, a Escritura ensina, de forma explícita, que os cristãos
têm apenas um mestre152 e que este mestre é a causa direta de
compreenderem as Escrituras153. Igualmente ensinam as Escrituras que
Deus cega algumas pessoas de modo ativo e que é impossível para
qualquer um acreditar nas proposições do evangelho sem que Deus
regenere sua mente. E portanto, Deus controla tudo o que é tudo, Ele é o
tudo em tudo e trabalha tudo segundo Seu beneplácito.

“Pela Sua muito sábia providência, segundo a Sua infalível


presciência e o livre e imutável conselho da Sua própria vontade, Deus, o
grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da Sua
sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe
e governa todas as Suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde
a maior até a menor”.

Este é, pois, o fundamento do ocasionalismo. A soberania de Deus


em todas as coisas, inclusive nas mentes humanas. Deus ativamente
controla todos os pensamentos dos homens e determina o que entendem e
com o que consentirão ou não. Uma maneira clara de entender isso pode
ser melhor apresentada por meio de um argumento hipotético. Suponhamos

151
See Vincent Cheung, Systematic Theology, (2010)
152
Matthew 23:10 “Nor are you to be called ‘teacher,’ for you have one Teacher, the Christ.”
153
Matthew 16:17 And Jesus answered and said unto him, Blessed art thou, Simon Barjona: for flesh and
blood hath not revealed it unto thee, but my Father which is in heaven.
que estamos em um debate sobre pressuposições. Você pressionou seu
oponente até um ponto sem saída e a ele resta o naufrágio em paradoxos e
contradições. Você destruiu a pressuposição fundamental de seu oponente,
que é o empirismo ou o racionalismo. Contudo, diz seu oponente, você
comete a mesma falácia ao usar seus olhos para ler as palavras nas páginas
da Bíblia e obter informação proposicional. Em outras palavras, você
também estaria partindo dos pressupostos do empirismo e do racionalismo.
Aqui está a antítese entre o cristianismo e qualquer outro sistema
epistêmico existente. Entre o escrituralismo e a teologia natural, entre
papas e cristãos, entre Cristo e Belial, entre a luz de Deus e as trevas. As
Escrituras ensinam que Deus sustém todas as coisas pelo Seu grande poder
(Colossenses 1: 17). O Logos é a luz que ilumina todo homem (João 1:9).
Essa luz não deve ser entendida como a luz da salvação, mas como racional
em todos os seres humanos; Jesus é a lógica e dá a lógica como a priori
para todos as pessoas. Esta é a razão porque se diz que o Logos é cheio de
graça e “verdade” no versículo 14. Além disso, a coerência exegética da
Escritura e sua harmonização demandam que a luz em João 1 seja a
racionalidade e o entendimento.

João 5: 33-36 “Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu


testemunho da verdade. Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas
digo isto, para que vos salveis. Ele era a candeia que ardia e alumiava, e
vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz. Mas eu
tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me
deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o
Pai me enviou.
É Deus quem dá racionalidade aos homens e controla seus
pensamentos (Lucas 24: 45). E é Deus quem dá a alguns entendimento e a
outros não.
Marcos 4: 11-12 “E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os
mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se
dizem por parábolas, Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo,
ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam
perdoados os pecados”.

E desta maneira pode-se concluir que Deus é o doador direto e


imediato de conhecimento. Isto significa que todo conhecimento é
“imediato, revelacional e proposicional” e que “o mestre interior - o Logos
divino ensina o homem; não os sentidos.” Isto não quer dizer que todo
homem é iluminado para o evangelho, apenas que todo conhecimento geral
procede diretamente da mente divina. A revelação de Deus é a revelação
especial, dada somente a poucos. E é Deus quem escolhe Se revelar a
alguns e a outros não (João 12:40). Como mencionado acima, Deus dá a
todo ser humano uma ideia geral inata de Si próprio; um conhecimento a
priori. Em todas as pessoas, existe uma “luz” (João 1:9) e esta luz dá a
todos um entendimento de Deus e torna-os inescusáveis (Romanos 1:18-21,
32 e 2:14-15). João Calvino denomina a isso “sensus dietatis”. Este
conhecimento não é salvífico – é um conhecimento geral, isto é, as pessoas
sabem que Deus existe e, de modo semelhante, também os demônios;
entretanto, não se trata de fé salvífica (Tiago 2:19). Saber simplesmente
que Deus existe não é conhecimento salvífico. Fé salvífica inclui notitia
(conhecimento), assensus (sujeição) e fiducia (confiança), em relação ao
evangelho.
Tal conhecimento geral é parte da imagem de Deus; todavia, essa
imagem foi afetada pela natureza pecaminosa herdada por Adão na queda.
Esta herança por parte de Adão da natureza pecaminosa também é
conhecida como “efeito noético” (Gênesis 6:5, Romanos 1:21,28 e 3:10-18,
João 6:65). Nas palavras de Gordon H. Clark,

“Admitamos e enfatizemos que meramente aprender e


entender as doutrinas não faz de alguém um cristão. Qualquer
descrente pode aprendê-las e entendê-las perfeitamente. Além
de entender as doutrinas, deve-se acreditar nelas; observe,
porém, que as doutrinas é que têm que ser cridas” 154.

Isso é o que se quer dizer com efeito noético; não se trata de que a
razão humana tenha desaparecido ou que ele não mais seja um ser racional;
trata-se de que o pecado o faz odiar a luz, e o homem, então, favorecendo a
injustiça, suprime a verdade, isto é, que ele sabe sobre Deus (Romanos 1).
É necessário o poder direto de Deus para atrair um homem a Si mesmo e
dar a ele um novo nascimento, o que é inteira e completamente
independente da vontade do homem (João 1:13, João 3:5-8, João 6:65,
Romanos 9:10-24). Sem isso, nenhum homem buscaria a Deus (Romanos
3:11).
Quando tudo isso é compreendido em conjunto, daí se conclui que
Deus é o doador direto e imediato do conhecimento a todos os seres
humanos, cujas mentes são revestidas pelo Logos. E esse revestimento
inclui tanto a revelação geral quanto a especial. Não significa que os
cristãos dependam dos pressupostos empiristas, isto é, dos sentidos, para
compreender as Escrituras. Ao contrário, mediante a revelação direta, eles
são instilados com proposições bíblicas pelo Espírito na ocasião de leitura
das Escrituras. E ao mesmo tempo em que a revelação pode ocorrer na
ocasião de leitura da Palavra, essa revelação é independente da sensação
(Mateus 16:13-17). Além disso, Deus também cega as mentes de algumas

154
W. Gray Crampton, The scripturalism of Gordon H. Clark, p 26.
pessoas, que são vasos de ira, sendo preparados por Ele para a destruição
(Romanos 9). Esta cegueira não significa unicamente que eles não possam
entender as palavras das Escrituras, embora isso seja, algumas vezes,
verdade. Antes, os homens não atraídos por Deus e que são, pelo contrário,
endurecidos por Ele, não aceitam e não acreditam nas proposições das
Escrituras. Ao contrário disso, eles colocam sua confiança em filosofias
humanas, que se reduzem, em última instância, à estultícia e escuridão.
Esta mesma habilidade de raciocinar e de tentar ser racional demonstra que
a “luz” do “Logos” está presente no interior desses homens e que eles, de
fato, sabem que Deus existe e amparam-se em pressuposições das
Escrituras. Isto é conhecido como a revelação geral de Deus (a
racionalidade a priori); o ser humano raciocina porque Deus fê-lo uma
criatura racional.
Adicionalmente, quando tais homens moralizam, eles demonstram,
do mesmo modo, que são feitos à imagem de Deus e sendo criaturas
racionais e morais estão cientes de que a verdade, o bem e o mal
existem. Tudo isso revela que, no fundo, eles conhecem a Deus, mas
recusam-se a acatar as Escrituras. Esta sujeição às Escrituras é conhecida
como revelação especial e não pode ser produzida à parte da regeneração
inicial do homem e, em sequência, da doação a ele do dom da fé por Deus
(esta última entendida como confiança nas Escrituras) (Efésios 2:8-10). E,
assim, aqueles a quem Deus cega, ao invés de se sujeitarem às Escrituras,
são obscurecidos em seu entendimento (Efésios 4:18) e, embora saibam
que Deus existe, suprimem a verdade, em favor da injustiça (Romanos 1)
ao tentar usar filosofias humanas que, no fim, nada mais são que estultícia e
estupidez. Ainda que proclamem ser sábios, eles tornaram-se tolos
(Romanos 1:22). Eles o são ao raciocinar como um cristão, enquanto
negam esse mesmo poder (2 Timóteo 3:5).
Nesta forma, ao tentar atingir a Escritura com sua pressuposição
empírica auto-destruidora, nosso oponente falha cabalmente em acertar o
alvo. As Escrituras não apenas afirmam um sistema distinto da sabedoria
humana, como também propõem que os sentidos não são uma fonte
confiável (João 12:28-30). Adicionalmente, a Bíblia assevera que em Cristo
está oculto todo conhecimento (Colossenses 2:2-3) e que o início da
sabedoria e do conhecimento é o temor do Senhor (Provérbios 1:7). E desta
forma, toda a sabedoria humana é tolice e nenhum sistema independente de
Deus poderá conhecer algo (1 Coríntios 1:21). De fato, os não cristãos,
como parasitas, têm que adotar pressuposições bíblicas para poder mesmo
raciocinar de maneira inteligível. Como disse Van Til, “Um descrente tem
de se sentar no colo do Pai [Deus] para poder esbofeteá-lo”. Como
afirmado acima, os homens raciocinam como se Deus existisse e, apesar
disso, negam Sua existência ao mesmo tempo.
Como conclusão, pode-se afirmar que o sistema epistemológico
cristão não apenas é importante para o Cristianismo, mas é fundamental,
pois é a crença em ou a sujeição a certas proposições das Escrituras que
salva as pessoas do fogo eterno do inferno. A epistemologia está
intimamente ligada à salvação e é até mesmo um “ramo da soteriologia.”
Isto ocorre, porque o que nós acreditamos depende de como sabemos o que
sabemos. Como um cristão pode saber algo é o fundamento subjacente à fé,
porque a fé depende de conhecimento proposicional. Em outras palavras,
como pode alguém ter fé, a menos que saiba antes em que coloca sua
confiança? E como pode alguém saber tais proposições, a menos que se
tenha um sistema operante que permita, em primeiro lugar, obter
conhecimento? Por essas razões, a Bíblia é o único axioma auto-justificante
e é o único sistema epistemológico a oferecer uma visão de mundo
completa e coerente, independente de filosofias humanas como o
empirismo.
Qualquer que vá além do que está escrito (1 Coríntios 4:6) é estulto e
não se submete à revelação do Senhor e à iluminação divina para o
conhecimento. E, desta maneira, ele lançou-se a um abismo epistêmico.
Como afirmam as seguintes palavras, “Pode, porventura, um cego guiar a
outro cego? Não cairão ambos no barranco? (Lucas 6:39). Portanto, pode-
se afirmar que a filosofia humana é insensatez e que as Escrituras tornam-
nos sábios (2 Timóteo 3:15). Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo
homem (Romanos 3:4).

1 Coríntios 2:13-16: As quais também falamos, não com palavras


que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina,
comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem
natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de
ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para
que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.

A Bigorna da Palavra de Deus

Ontem à noite eu parei à porta de um ferreiro,


E ouvi a bigorna a tocar o repique vespertino;
Então, olhando para dentro, eu vi no assoalho
Martelos velhos, gastos pelas batidas dos anos.
"Quantas bigornas você já teve," eu disse
"Para assim desgastar todos esses martelos?"
"Apenas um," ele disse e, com um piscar de olhos
"É a bigorna que acaba com os martelos, você sabe."
E assim, pensei, a bigorna da Palavra de Deus,
Por séculos os golpes dos céticos têm batido nela;
Mas, embora o ruído dos golpes fossem ouvidos,
A bigorna continua, sem danos, e os martelos se foram.

John Clifford de SHEEPISHDISCERNMENTS


APÊNDICE IV

CAPÍTULO I

1. O Ministério é uma Ordem Perpétua de Cristo para a Igreja, e


que os Ministros sejam recebidos como Embaixadores de Cristo, tanto
nos tempos primitivos como nos dias atuais – George Gillespie 155 156

Aquilo que há muito espreitou nos corações de muitos ateus, agora é


professado e defendido por aquele homem feroz e furioso chamado
Erastian, cujo livro foi publicado no ano passado em Franeker. Ele diz que
o mundo está sendo abusado com essa noção de um pretendido e chamado
ministério sagrado. Embora os apóstolos e outros que foram os primeiros a
pregar o evangelho, e foram realmente enviados e separados para aquele
chamado sagrado, também foi confirmado por sinais, prodígios e milagres,
e, portanto, eles deveriam ser recebidos e submetidos como embaixadores
de Cristo. Mas, os ministros e pastores de hoje, não devem ser

155
O Rev. George Gillespie (21 de janeiro de 1613 - 17 de dezembro de 1648) foi um teólogo escocês.
Seu pai era John Gillespie, ministro de Kirkcaldy. Ele estudou na St Andrews University, e dizem que se
formou M.A. em 1629, embora a data seja provavelmente aquela em que ele entrou na universidade. Ele se
tornou tesoureiro do Presbitério de Kirkcaldy. Ele se tornou capelão de John Visconde Kenmure; a John,
conde de Cassilis, e tutor de seu filho, James, Lord Kennedy. Ele foi ordenado a Wemyss em 26 de abril de
1638. Ele recebeu ligações para Aberdeen e St Andrews. Ele foi traduzido para Greyfriars, Edimburgo, 23 de
setembro de 1642. Ele foi membro da Assembléia dos Divinos de Westminster, 1643, e embora o membro
mais jovem, por seu conhecimento, zelo e bom senso, deu assistência essencial na preparação do Diretório e
Confissão de Fé. Ele deixou Westminster em 10 de julho de 1647 e apresentou a Confissão de Fé à
Assembléia Geral em 4 de agosto, obtendo sua ratificação. Hew Scott diz que descarta a lenda que o conecta
com o Catecismo Breve, que não foi iniciado até 5 de agosto. [1] O Dr. Hew Scott menciona a fábula que
Gillespie elaborou "no decorrer de uma única noite". Ele foi eleito para St Giles, Edimburgo, pelo Conselho
Municipal em 22 de setembro de 1647, e admitido logo depois disso. Ele foi eleito moderador da Assembleia
em 12 de julho de 1648. Morreu em Kirkcaldy em 16 de dezembro de 1648.
156
. A Treatise of Miscellany Questions: WHEREIN MANY USEFULL QUESTIONS AND CASES OF
CONSCIENCE ARE DISCUSSED AND RESOLVED: FOR THE SATISFACTION OF THOSE, WHO
DESIRE NOTHING MORE, THEN TO SEARCH FOR AND FINDE OUT PRECIOUS TRUTHS, IN THE
CONTROVERSIES OF THESE TIMES. - George Gillespie. Chapter
1http://www.covenanter.org/reformed/2016/4/21/a-treatise-of-miscellany-questions Tradução: Edu Marques,
pode ser encontrado em: https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2017/11/o-ministerio-e-uma-ordem-
perpetua-de.html
reconhecidos como os embaixadores de Cristo. Nenhum deles deve ser
reconhecido como tendo um chamado distinto e sagrado, ou separado
solenemente dos homens para o ministério da palavra e dos sacramentos.
Mas, qualquer um que esteja apto e dotado, embora não seja chamado ou
ordenado, pode pregar e ministrar os sacramentos, o batismo e a ceia do
Senhor. A seita dos Seekers também afirma que, não há neste momento,
nem foram durante muitas épocas, e que nem existe verdadeiros ministros e
nem embaixadores de Cristo. Agora, para a confusão desses erros, e para a
confirmação e a resolução de tais coisas, de qualquer maneira abalada ou
incomodada com isso, pensei bem aqui, em primeiro lugar, para garantir
esse princípio, que o ministério é distinto tanto da magistratura e dos
cristãos privados, e é uma ordenança perpétua de Cristo em sua Igreja até o
fim do mundo.

Primeiro. Isto fica provado em Mat. 28.19,20. A grande comissão:

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em


nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar
todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

2. Em Ef. 4.11-13, onde a ordenança de pastores e mestres, para a


obra do ministério, chega ao aperfeiçoamento de todo o corpo de Cristo, e a
união de todos os eleitos e, consequentemente até o fim do mundo.
3. Daquelas profecias evangélicas e promessas sobre pastores e
mestres, Jer. 3.15; 23,4; Isaías. 30,20; 62,6,7; 66,21; Ezeq. 44.23, não se
restringem apenas às Igrejas dos tempos primitivos, mas às verdadeiras
Igrejas de Cristo em todas as épocas.
4. Cristo nomeou o seu evangelho para ser pregado a todas as nações,
Mt. 24,14; Lucas 24.47; e em todo o mundo, Mat. 26,13; e a toda criatura
debaixo do céu, Marcos 16.15. A pregação do evangelho é o meio e o
caminho ordenado por Deus para salvar os que crêem, Rom. 10,14; 1
Cor.1.23. Agora, embora houvesse uma grande propagação do evangelho
nos tempos dos apóstolos, por todo o mundo, ainda que a comissão
universal não estava tão perfeitamente realizada e cumprida como deve
acontecer antes do fim. E, no entanto, todos os eleitos não foram reunidos
naquele momento, mas muitos deles ainda estão sendo reunidos, o que deve
ser feito pela pregação. E quem pode κηρύττειν portanto κήρυξ; - Quem
fará o trabalho de um arauto, mas aquele que é um heraldo? A palavra que
o Espírito Santo usa para a pregação é emprestada da heráldica157.
5. Cristo designou comissários fiéis e sábios como governantes da
sua casa, para dar-lhes a sua porção de carne no devido período de vida,
Lucas 12.42, que não foi apenas nomeado para os tempos primitivos, mas
até que ele volte como aparece nos versos 43-45:

Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier,


achar fazendo assim. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o
porá. Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em
vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a
embriagar-se,

157
Heráldica refere-se simultaneamente à ciência e à arte de descrever os brasões de armas ou escudos, que
foi desenvolvida na Europa a partir do século XII. As origens da heráldica remontam aos tempos em que era
imperativo distinguir os participantes das batalhas e dos torneios, assim como registrar visualmente os
serviços por eles prestados, que eram simbolizados nos seus escudos, mantendo essa função identificadora ao
longo de toda a sua história. No entanto, é importante notar que um brasão de armas é definido não
visualmente, mas antes pela sua descrição escrita, a qual é dada numa linguagem própria – a linguagem
heráldica. Ao ato de desenhar um brasão dá-se o nome de brasonar, que segue uma série de regras mais ou
menos estritas.
6. Em 1 Tim. 6.14. O Apóstolo tendo nessa carta, dado direção sobre
oficiais da Igreja, bispos, presbíteros, diáconos com muitos outros talentos
que pertencem ao ministério, quando ele vai para o encerramento da carta,
ele dá uma carga rigorosa e solene a Timóteo para manter este mandamento
sem mácula, irrepreensível, até a aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;
que não pode ser entendido pessoalmente a Timóteo, mas é uma ordem
dada a sua pessoa e a todos os ministros do evangelho que viverão até a
aparição de Cristo.
7. Em Apoc. 2.24,25. Há um ofício que já argumentamos até aqui; e
isso é dado a dois tipos de pessoas: Primeiro, ὑμῖν, vobis, para vocês bispos
ou pastores, pois havia mais deles do que um em Tiatira , assim como em
Filipos, Filip. 1.1; Antioquia, Atos 13.2; 15,35; Éfeso, Atos 20,17,28,36,37.
O mesmo pode ser observado de outras igrejas primitivas. Em segundo
lugar, λοιποῖς, para o resto de vocês, a saber, do rebanho e do corpo da
Igreja. Como o trabalho não pode ser restrito à Igreja de Tiatira, não pode
mais ser restrito ao ministério em Tiatira; Mas neles, Cristo encarrega todos
os ministros e membros da Igreja, de manterem firme a preciosidade do
evangelho até que Ele venha novamente.
8. É o privilégio da Nova Jerusalém que está acima, de que não há
templo ali, Apocalipse 21.22, nenhum ministério, nem pregação, nem
sacramentos no céu, mas Deus será tudo em todos. O gozo imediato de
Deus neste mundo sem ordenanças é apenas uma ilusão. Na Igreja, as
profecias vitoriosas chegarão ao fim, 1 Coríntios. 13.8; mas no trabalho da
Igreja, não despreze as profecias, 1 Tess. 5.20.

Se alguém objeta (como algumas pessoas fanáticas fizeram), Jer.


31.34 “E não ensinarão mais todos os homens, seu próximo,” 1 João 2,27,
“e não precisamos que qualquer homem te ensine.”
Eu respondo primeiramente, que as Escrituras devem ser
compreendidas comparativamente, no mesmo sentido em que Deus disse
que queria misericórdia e não sacrifício, Os. 6.6. O espírito de iluminação e
conhecimento serão derramados tão abundantemente sob o evangelho, e
que Deus deve assim, escrever suas leis nos corações do seu povo, para que
não exista tanta diferença entre os que estão sob a antiga aliança e os que
estão sob a nova aliança, como existe entre aqueles que precisam de um
mestre e aqueles que não precisam dele.
2. Como a lei não é feita para um homem justo, 1 Tim. 1.9, a saber,
para colocar como um freio a tal compulsão, mas não obedece de forma
filial e voluntária, a lei é feita para que o justo a tenha como uma regra de
obediência. Assim, os crentes, sob o evangelho, não precisam ser ensinados
pelos homens, como os ignorantes são ensinados, não estão sem entender
como o cavalo ou a mula, pois todos eles me conhecerão, diz o Senhor Jer.
31.32; E você sabe disso, 1 João2.20; no entanto, eles precisam de um
ministério de ensino para crescer no conhecimento, para a edificação,
fortalecimento e confirmação, e para lembrá-los e invocá-los, Ef. 4.12; 2
Pedro 1.12; 3.18; Filip. 1.9. Nunca haverá necessidade do ministério, tanto
para converter, como não são ainda convertidos, e para confirmar que são
convertidos. O Apóstolo, 1 Tess. 3.2, achou necessário enviar Timóteo à
Igreja dos tessalonicenses para que os estabelecesse e os confortasse.
3. Enquanto estivermos neste mundo, essa promessa de que não
precisamos de nenhum homem para nos ensinar não é perfeitamente
cumprida; pois sabemos que conhecemos em parte, 1 Cor. 13.9,12; Nós
sempre precisamos de um mestre até estarmos no céu e ver Cristo face a
face.
4. E, portanto, devemos entender essas Escrituras objetivamente, a
menos que as façamos contrariar outras Escrituras, Jer. 3.15; Rom. 10.14; 1
Cor. 1.23; de como um homem pode entender sem um mestre, Atos 8.31.
Objeção. 2. Mas, se acreditarmos que o ministério seja uma
ordenança perpétua e, se houver uma promessa de que Cristo estará com o
ministro até o fim do mundo, devemos também acreditar em uma sucessão
de ministros desde os dias dos apóstolos e que, no meio do próprio Papa,
Cristo tinha um verdadeiro ministério.
Resposta. Se acreditarmos na santa Igreja universal, e que, em todas
as épocas, Cristo tenha uma Igreja verdadeira, não inferirá que devemos
acreditar na Igreja, nem sempre visível, nem sempre pura, de modo que
acreditamos que um ministério perpétuo não deduz que, portanto, devamos
acreditar em uma sucessão linear ou visível de ministros, ou a sua pureza e
preservação pelo erro. Não há nada desse tipo que possa ser oposto contra a
nossa fé de um ministério perpétuo, mas cairá tão pesado sobre a nossa
crença na perpetuidade da Igreja.
Objeção. 3. A multidão de crentes que, sob o Novo Testamento, foi
feito um sacerdócio real, 1 Ped. 2.9; e Cristo nos fez reis e sacerdotes para
Deus, Apocalipse 1.6.
Resposta. 1. Pedro se explica, 1 Ped. 2.5, você é um santo sacerdote,
para oferecer sacrifícios espirituais, aceitáveis para Deus por Jesus Cristo.
O que são esses sacrifícios espirituais, podemos encontrar em outras partes
das Escrituras: a mortificação da carne e a oferta de nós mesmos a Deus,
Rom. 13.1; contrição, Salmo 51.17; oração e súplicas, Salmo 141.2; Heb.
5,7; Apoc. 5.8; ações de graças, Salmo 50.14,23; Heb. 13.15;; Heb . 13.16.
Quanto a isso, todos os crentes são, de fato, um sacerdote, mas não quanto
às administrações ministeriais públicas.
2. Esta objeção desencadeia a remoção da magistratura e do governo
civil, bem como do ministério, pois Cristo fez os reis dos crentes, bem
como os sacerdotes, e não reis de pessoas.
3. O mesmo foi dito ao povo de Israel, Êxod. 19.6: “E vós me sereis
um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos
filhos de Israel.” Contudo, Deus designou os filhos de Arão apenas para
serem sacerdotes quanto à administração pública das coisas sagradas.
4. O mesmo Deus que fez dos cristãos sacerdotes, prometeu à Igreja
do Novo Testamento, que Ele separará e levará de entre eles, ou deles (por
meio de distinção e vocação especial), sacerdotes, que deve ministrar antes
deles nas coisas sagradas, Isa. 66,21; Ezeq. 44.15, 16, etc., a quem Ele
chama sacerdotes, não no sentido judeu nem papal, mas pelo chamado dos
gentios a Deus pela pregação do evangelho e santificação pelo Espírito
Santo, Rom 15:16. Ou, podemos conceber que são chamados sacerdotes
pelos profetas, para que sejam entendidos melhor, falando na língua
daqueles tempos; mesmo quanto ao mesmo motivo, quando os profetas
falaram da Igreja do Novo Testamento, eles mencionam o monte Sião,
Jerusalém, sacrifícios, incenso, a festa dos tabernáculos, etc.
Mas, não devo esquecer o que Erastian Grallator, que faz com tanto
desprezo e escárnio, rejeita a saber, que não há apenas um ministério
perpétuo na Igreja, mas que os ministros legalmente chamados devem ser
recebidos como embaixadores de Cristo e como enviados por Deus. Se
ainda há um ministério perpétuo, aquele filho do diabo e inimigo de Cristo
(pois ele não pode ser outro inimigo do ministério da palavra e dos
sacramentos) não deixa de perverter os caminhos corretos do Senhor. Ele
nunca reconhecerá nenhum ministro nas Igrejas reformadas, para ser o
embaixador de Cristo, embora os apóstolos fossem. Parece que ele odeie
muito esse nome, e mais, por causa dos embaixadores, pelo direito das
nações, são pessoas invioláveis. Quanto mais, então, os embaixadores de
Cristo!
Mas deixe, então, agora ver se a palavra de Deus não dá um aumento
e autoridade até o ministério comum do evangelho como um embaixador
de Cristo. Quando Paulo disse: “Somos embaixadores de Cristo,” 2
Coríntios. 5.20, ele fala não em referência a qualquer coisa peculiarmente
apostólica, ou qualquer coisa incompetente para ministros comuns. O
contrário é mais simples do próprio texto. Ele nos comprometeu com a
palavra de reconciliação. Agora, então, somos embaixadores de Cristo,
como se Deus lhe falasse por nós, nós intercedemos no lugar de Cristo, que
seja reconciliado com Deus. Agora, se Paulo era o embaixador de Cristo,
porque ele havia cometido a ele a palavra de reconciliação, então todos os
verdadeiros ministros do evangelho são também os embaixadores de Cristo
pelo mesmo motivo.
Veja o chamado, Ef. 6.20, pelo qual sou embaixador. Para quê? Não
por fazer milagres, expulsar demônios, plantar Igrejas em vários reinos, ou
similares; mas por abrir minha boca com ousadia, para divulgar o mistério
do evangelho, ver. 19; em que ele deseja ser ajudado pelas orações dos
santos. Pelo mesmo motivo, todos os ministros fiéis e legalmente chamados
são os embaixadores de Cristo junto com os apóstolos. Mesmo no Antigo
Testamento, os sacerdotes que eram mestres comuns e chamados de
maneira comum, eram anjos ou mensageiros do Senhor dos Exércitos, Mal.
2.7, bem como os profetas, 2 Crôn. 36.16. Então, homens sábios e mestres,
são ditos que são enviados de Deus como profetas, Mat. 23.34. E os
ministros das sete Igrejas na Ásia, são chamados de anjos, Apoc. 2 e 3; e
um intérprete da palavra de Deus, é um mensageiro, Jó 33.23. Agora,
Cristo entregou aos pastores e mestres da Igreja, bem como aos apóstolos,
profetas e evangelistas, todos estes são ofícios do céu, e não dos homens.
CAPÍTULO V.

Se as profecias e os profetas de 1 Coríntios14; e 1Cor.12.28;


Éfes:4.11; da Igreja primitiva eram extraordinárias, e assim não
devem mais continuar: Ou se são precedentes para a Pregação ou
Profecia de tais, como não são ministros ordenados, nem novatos para
o Ministério - George Gillespie158

Comissário escocês da Assembleia de Teólogos de Westminster.

Há três opiniões sobre esses profetas mencionados pelo apóstolo:

1. Que eles não tiveram inspirações extraordinárias e imediatas do


Espírito, nem ainda eram ministros comuns chamados para o ofício de
Ensino, mas os membros da Igreja fora do ofício, tendo dons de
interpretação das Escrituras, para a edificação, instrução e conforto da
Igreja, e, portanto, são tomados para a pregação ou profecia de membros da
Igreja que são bem dotados, não sendo Ministros nem pretendendo o
Ministério: Nem são apenas os independentes, mas os socinianos e os
arminianos também gritam que libertas prophetandi.
2. Que esses Profetas eram oficiais da Igreja, e não são apenas
mestres ou intérpretes comuns das Escrituras na Igreja: sem excluir os
filhos dos profetas, ou examinados na sua assembleia para exercer seus
dons na pregação em certas ocasiões e para crescimento de seus dons, ou
do seu aumento, ainda não me lembro de nenhum lugar no Novo
Testamento, onde os pastores comuns devem profetizar, exceto Apoc: 11.3
onde não obstante, a profecia é atribuída a eles em nenhum outro sentido,
do que o trabalho de milagres, vers: 6. “Estes têm poder para fechar o céu,

158
https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2019/04/capitulo-v-as-profecias-e-os-profetas.html
para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas
para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de
pragas, todas quantas vezes quiserem.”
3. Que eram profetas extraordinários, imediatamente e
extraordinariamente inspirados pelo Espírito Santo; e que sejam contados
entre essas outras administrações que não deveriam continuar, por não
serem comuns na Igreja. “Synop: pur: theol: disp: 42. thes: 22. Mártir, loc:
com: classe: 4. cap. 1. Aretius, probl: theol. loc: 62. Institutas de Calvino.
lib: 4. cap. 3: § 4. Diodati em 1 Cor. 14. 1. Anotações inglesas tardias em
1 Cor. 12. 28. Sr. Baine em Efes: 4. 11. juntamente com dois homens
eruditos do meu país, o Sr. David Dickson , em 1 Cor: 14. 31. e o Sr.
Rutherfurd” em seu argumento pacífico: cap. 16. Apóstolos, Evangelistas,
Operadores de milagres: Conheço muitos escritores protestantes de muito
boa erudição, que são da segunda opinião. Mas com todo o devido respeito:
tenho a terceira opinião, com Gerhard, loc: com: Tom: 6. pag: 72. e
diversos outros motivos que me motivam, e são estes.
1. O Apóstolo é distinguindo dos profetas, dos pastores e dos
mestres; 1 Cor: 12. 28, 29. Efes:4. 11. Os profetas são enumerados entre os
ministros públicos que Cristo deu à Igreja; No entanto, distintos dos
Pastores e mestres comuns;
2. Eles não se distinguem apenas dos Pastores e mestres, mas
também parecem estar diante deles; sim, antes dos evangelistas, Efésios: 4.
11. E deu alguns apóstolos, e alguns profetas, e alguns evangelistas, e
alguns pastores e mestres, ou como os siríacos lêem, e alguns pastores e
alguns mestres, assim distinguem os pastores dos mestres, como o Sr.
Bayne também entende aqui diferente daqueles que trabalham na Palavra e
na Doutrina, os três primeiros são extraordinários, os dois últimos comuns.
Eu sei que nem sempre é preferido em honra e dignidade, o que é
mencionado pela primeira vez.
No entanto, acho que nossos Irmãos dissidentes não pensam que se
encaixam, nem são adequados para enumerar seus membros talentosos e
profetas, ao lado dos Apóstolos, e antes dos Pastores, muito menos
Evangelistas, tampouco baseio meu argumento simplesmente sobre a
enumeração, mas sobre uma enumeração como se observa, com primeiro,
segundo e terceiro, 1 Cor: 12. 28. E Deus colocou alguns na Igreja,
primeiro apóstolos, em segundo lugar Profetas, em terceiro lugar Mestres,
onde Ele coloca sobre os profetas a maior eminência e a maior dignidade
ao lado dos apóstolos, que eu acho que os irmãos profetas da época não
devem procurar; Chrysostom, de divers: nov: Test: locis: serm: 50.
Prova a principal dignidade do apostolado a partir dessas palavras:
Primeiros apóstolos: não é um argumento tão bom para provar a maior
dignidade pertencer a profetizar a partir dessas palavras, e secundariamente
os Profetas. Esses verdadeiros ofícios são mencionadas antes dos governos
nesse mesmo texto. Mas, o Apóstolo deixou em sua ordem numérica, antes
de chegar a eles e, além disso, os Diáconos e o Anciãos, são oficiais da
Igreja e nenhum deles Pregadores, de modo que a desproporção não é tão
grande quando o Diácono que é chamado antes do ancião: mas que tais
pregadores ou intérpretes que não tinham nenhum ofício na Igreja,
deveriam ser enumerados, não apenas entre oficiais e ministros da Igreja,
mas antes dos mestres, e estão em quatro textos, Atos 13. 11. 1; Cor. 12.
28; ibid. vers: 29. Efes:4. 11; e ao lado dos Apóstolos também, e com uma
ordem, primeiro, segundo e terceiro, é para mim totalmente improvável e
incrível;
3. O apóstolo menciona os profetas com uma nota de singularidade,
não comum, mas muito especial, 1 Cor: 12. 29, 30. Porventura são todos
apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores
de milagres? Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas?
interpretam todos?
Aqui, o Apóstolo faz uma segunda enumeração de administrações
que eram as mais raras; singular, especial, digna e privilegiada, e não é
competente para todos os oficiais da Igreja, e muito menos para todos os
membros da Igreja: portanto, ele omite o Ancião e o Diácono; ele disse que
não são todos cooperadores? São todos os que governam? Como se ele
tivesse dito. Alguns oficiais são nomeados apenas para a disposição, alguns
nomeados apenas para ajudar e supervisionar os pobres, e esses oficiais não
são nem Apóstolos e nem Profetas.
E se profetizar não seja um privilégio de todos os oficiais da Igreja,
quanto menos de todos os membros da Igreja: eu posso acrescentar aqui, é
mais agradável à significação nativa da palavra Prophesy, que entendemos
que é extraordinário e uma coisa rara. Pois se você considerar que a própria
notação da palavra Profecia é a predição, e προφητεια é de προφημι,
prevejo, das quais muito mais a seguir.
4. Um dos Profetas dessa época, é claramente descrito como
inspirado por revelações extraordinárias, Atos 21. 10, 11. E, demorando-
nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; E,
vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios
pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em
Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos
gentios.
Havia outros profetas do mesmo tipo que Ágabo, pois corre o texto,
Atos 11. 27, 28. E naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para
Antioquia. E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender
pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso
aconteceu no tempo de Cláudio César.
5. Que esses profetas falaram na Igreja por inspiração e revelação
extraordinária, aparece em 1 Cor. 14. 26. Quando se juntaram, tinham um
Salmo, uma Doutrina, uma Língua, uma Revelação, uma Interpretação, não
apenas uma doutrina ou interpretação, mas uma revelação. Depois no verso
30 ele acrescenta, deixe os Profetas falarem, dois ou três; Se alguma coisa
for revelada a outro, que se assente, e cale-se o primeiro:

...sobre o qual o texto Gualther, Salmeron e outros, que


entendem profetizar nesse capítulo: o Ensino Ministerial
Ordinário, ainda isso é feito para reconhecer, que isso
revelando um pouco para outra pessoa, foi temporâneo e
extraordinário, e que não é necessário para o nosso tempo.159

P. Martyr, coloca essa diferença entre mestres e profetas, que os


mestres foram educados e instruídos por outros mestres. Já os profetas, sem
a ajuda humana; falaram como estavam de repente movidos pela inspiração
do Espírito Santo. Sim, embora eles ocupem o cargo e funções separados
de profetas e mestres, tenha sido um ao mesmo tempo. No entanto, ele
distingue-se assim entre eles. Então, Arecio, falando daqueles que ficaram
no ofício na Igreja primitiva, distinguem os Profetas dos Pastores e Mestres
nessa questão, que os Profetas não tinham apenas dons maiores para abrir
textos difíceis das Escrituras, mas que eles interpretaram as Escrituras com
o mesmo espírito profético, pelo qual foi ditado e escrito, e também prevê
as coisas que virão.
6. Foi observado pelo Sr. Bayne em Efes:4.11. e outros, que esses
graus são amplos e abrangentes um do outro para baixo, não para cima, isto
é; Um apóstolo pode profetizar e fazer o trabalho de um evangelista, pastor
e mestre: um profeta pode fazer o trabalho de um evangelista, pastor e
mestre: o evangelista pode fazer o trabalho de um pastor e mestre. Mas

159
Loc. com. classe. 4 Cap. 1. Sed in primitiva Ecclesia cum Prophetia vigeret, quid discriminis erat inter
Prophetam & Doctorem? Respondeo, quamvis idem fuerit utriusque munus, tamen Doctores instituebantur a
Praeceptoribus: Prophetae vero, bem Omni ope humana, repente afflatus Spiritus sancti concitatiloquebantur,
Probl: theol: loc: 61. Prophetae ampliora habebant dona ideo Scripturae obstrusiora loca illustrabant eodem
Spiritu, quo scripta Exercício -ideo de Scripturis rectius praedicabant. Então Calvin. Instit: loc: 4. cap. 3. § 4.
Abrir esse texto, Ephes. 4. 11. compreende pelos profetas, como as Revelações extraordinárias.
todo Pastor e Mestre não poderia fazer o trabalho de um Evangelista, ou de
um Profeta. Se essa observação for realizada, o que agradou a muitos, então
não podemos entender esses Profetas que não passaram mais do que de
Pastores e Mestres, ou seja, muito menos para terem sido menos do que
Pastores e Professores. Membros da Igreja, bem dotados para expor as
Escrituras de forma edificante, Chrysostom de divers: NT locis serm:50.
Inclui-se muito com essa mesma noção, pois ele chama os Apóstolos
da raiz, que era abrangente em um todo; um Profeta (diz ele) pode não ser
um apóstolo, mas um apóstolo era um profeta, evangelista, etc. Para provar
que um apóstolo profetizou, ele cita estas previsões proféticas, 2 Tim: 3.1.1
Tess. 4.15. Por que é manifesto que ele entende que a profecia mencionada
por Paulo é extraordinária.160
7. A menos que entendamos que aqueles profetas que Cristo deu à
Igreja, 1Cor.12.28, e o Cap.14; Efes:4.11; terem sido extraordinariamente
inspirados pelo Espírito Santo, então não poderemos provar nas Escrituras,
que Cristo deu à Igreja do Novo Testamento, qualquer profeta
extraordinário para prever as coisas vindouras. Mas, é certo que Cristo deu
tais profetas extraordinários à Igreja do Novo Testamento, como Ágabo e
as filhas de Filipe.
Eusébio nos diz que havia tais profetas na Igreja em seu tempo,
até nos dias de Justino Mártir; que nós também temos do próprio
Justinus. E agora tendo a ocasião, devo dizer isso para a glória de
Deus, que havia na Igreja da Escócia, ambos no tempo de nossa
primeira Reforma e, depois dessa Reforma, homens tão
extraordinários, que eram mais do que Pastores e Mestres comuns,
profetas consagrados recebendo revelações extraordinárias de Deus e
pregando diversas coisas estranhas e notáveis, que, portanto, vieram a

160
Justin Martyr, discagem. porra. Trypho. Jud. Και μεχρι νυν προφητικα χαρισματα εστιν, & c. Até mesmo
neste momento presente, existem dons proféticos, para que possamos entender que os presentes que eram
antigos em sua nação são transferidos para nós.
acontecer pontualmente, para a grande admiração de todos os que
conheciam os detalhes, como o Sr. Wishart, o Mártir, o Sr. Knox, o
Reformador; também o Sr. John Welsh, o Sr. John Davidson, o Sr.
Robert Bruce, o Sr. Alexander Simson, o Sr. Fergusson, e outros: seria
muito longo para fazer uma narração aqui de todos esses detalhes, e há
muitos deles estupendos, que dar exemplo em alguns, pode parecer se
esquecer dos outros. Mas, se Deus me der a oportunidade, pensarei que
vale a pena fazer uma coleção dessas coisas: enquanto isso, embora tais
Profetas sejam extraordinários, e raramente sejam ressuscitados na
Igreja, ainda assim tem sido: eu ouso dizer, não apenas nos tempos
primitivos, mas entre os nossos primeiros Reformadores e muitos
outros. É sobre isso que as Escrituras nos ensinam sobre os tais
profetas extraordinários. Se não, somente alguns irmãos profetas que
aplicam as Escrituras, ou somente membros da Igreja dotados deste
dom.
8. Existem apenas três sentidos da palavra Profetizar, que posso
encontrar em qualquer outro lugar no Novo Testamento:
8.1. Por tal profecia, que é competente para todas as pessoas dotadas
e convertidas, quando são preenchidas com um espírito de iluminação, e
falam com outras línguas, como o Espírito lhes dá para se expressar, foi no
sentido em que o profeta Joel previu, tanto as filhas como os filhos, bem
como os servos e servas, jovens e velhos, devem profetizar, Atos 2. 17, 18.
O que foi cumprido no dia de Pentecostes, para os Atos 1. 14. e 2. 1 - 4.
Este Espírito de Profecia foi derramado sobre todos os discípulos, homens
e mulheres.
8.2. Por tal profecia, como é a pregação dos ministros comuns,
embora eu não conheça nenhum texto, onde sem qualquer controvérsia, a
palavra seja usada para a pregação ministerial ordinária; No entanto, eu
entendo a palavra a ser usada, nesse sentido (embora, por alusão, apenas de
antes). Apoc. 11. 3. E darei poder às minhas duas testemunhas, e
profetizarão mil e dois dias e sessenta dias vestidos de saco.
8.3. Por profecia extraordinária de inspiração imediata e milagrosa,
entendo no sentido que é frequentemente usado no Novo Testamento, como
vou demonstrar.
Mas um quarto sentido. A profecia de irmãos talentosos, (não irmãs)
fora do ofício, e que, publicamente, e por um dom comum, não consigo
encontrar em nenhum lugar; e se formos mais alto ou mais baixo, então a
pregação pastoral ordinária, as mulheres e os homens podem profetizar. Na
língua das Escrituras, profetas, bem como profetas.
9. O apóstolo claramente se distingue, Profetizar, tanto da palavra do
conhecimento quanto da palavra da sabedoria, 1 Coríntios. 12. 8. 9. 10:
Porque a um é dado pelo Espírito, a palavra de sabedoria, para outro a
palavra de conhecimento pelo mesmo Espírito, para outra profecia; agora,
o que é esse dom e manifestação do Espírito, que é supostamente ser dado
aos membros dotados e profetas, não deve cair nessa enumeração, 1 Cor:
12. 7, 8, 9, 10, 11.
É então, a interpretação ou a abertura das Escrituras, que é a parte
dos professores, a palavra do conhecimento: é tanto para interpretar e
aplicar a Escritura, que é a parte dos pastores, a palavra da sabedoria; É
para profetizar, isso é, nem a palavra do conhecimento, nem a palavra da
sabedoria, e é, portanto, distinta de ambos.
10. Nesse texto citado em último lugar, a profecia é mencionada, não
apenas como um dom pelo qual o Espírito opera para o ganho e a
edificação da Igreja, e para o Ministério, função e administração na Igreja,
como no versículo 4, 5, 6. O apóstolo nos ensina, que existem diversidades.
1. De presentes Χαρισματων, 2. De administrações, διακονιων. 3.
Das operações, Ἑνεργηματων, posteriormente, em referência a todos esses
três, ele adiciona a enumeração dos detalhes, ver. 8. 9, 10. Em um Profeta,
portanto, há διακονια Ministerium, bem como Χαρισμα, Ενεργεια ou
Ενεργημα. Agora, διακονια é freqüentemente usado no Novo Testamento
para o Ministério, não apenas de anciãos e diáconos, Rom: 12. 7. de
Pastores e Mestres; sim, de evangelistas e apóstolos, Efes: 4. 12. Col: 4. 17.
2 Tim: 4. 5. 11. Atos 1. 17. 25. e 12. 25. e 20. 24. e 21. 19. Rom. 11. 13. 2
Cor:4. 1. e 5. 18. e 6. 3. e 9. 1. e então, onde os tradutores ingleses nesses
lugares tornam-no às vezes Ministério, às vezes Ofício, às vezes, de fato,
διακονια é usado no Novo Testamento para qualquer Ministro para o
necessidades dos santos pobres por caridade e esmola. Mas nenhum corpo
que eu conheça imagina ou pode imaginar que este é o sentido da palavra, 1
Cor: 12 onde διακονια é associado com Χαρισμα e Ενεργημα. Portanto,
concluo que os Profetas nesses tempos primitivos tinham um ofício e um
Ministério na Igreja.
11. A palavra Profetizar é freqüentemente usada no Novo
Testamento, para o que é extraordinário, em Apocalipse, Mat. 26. 68.
Apoc. 1. 3. Atos21. 9. Lucas 1. 67. Revel. 22. 10. 19. Apoc. 10. 11.
Marcos: 7. 6. 1 Pedro 1. 10. Judas: 14. João Batista é chamado de Profeta,
Lucas 1. 76. e 7. 28. Mat: 21. 26. e 14. 5. Cristo é chamado de Profeta, Mat.
13. 57. Lucas 7. 16 e 24. 19. João 4. 19. e 9. 17. Elimas, o Feiticeiro, é
chamado de falso Profeta, Atos. 13. 6. Profetizando em nome de Cristo, é
unido a outros dons milagrosos, Mat: 7. 22. Muitos me dirão naquele dia,
Senhor, não profetizamos em seu nome? e em teu nome expulsaram
demônios, e em teu nome fizeram muitas obras maravilhosas, Atos 19. 6.
E, quando Paulo pôs as mãos sobre eles, o Espírito Santo veio sobre eles, e
falaram em línguas e profetizaram. Nesse sentido, a palavra é usada,
quando diz que Caifás profetizou, João 11. 51.
A mesma palavra é usada para a predição profética, 1 Tim: 1. 18. de
acordo com as profecias que precederam em Apoc. 2. 22. Jezabel chamou-
se de Profeta.
12. A profecia (como Paulo fala disso) está tão longe de ser um
privilégio comum de santos superdotados, que é um dos dons especiais e
mais raros que os próprios apóstolos tiveram ou poderiam ter, 1 Cor. 13. 2.
E, embora eu tenha o dom de profetizar, e compreender todos os mistérios,
e todo o conhecimento, que existe entre o dom das línguas e a fé dos
milagres: novamente, 1 Cor: 14. 16. Agora, irmãos, se Eu venho a você
falando em línguas, o que eu o beneficiarei, senão eu falo para você, seja
pela revelação, seja pelo conhecimento, seja pela Profecia, ou pela
Doutrina.
Os dois primeiros, revelação, e o conhecimento é imanente no
apóstolo: os outros dois profetizando e doutrina; são transitórios do
Apóstolo para a Igreja. O que o meu dom de línguas edifica, diz ele; ou
como você deve ser edificado ou satisfeito por isso, a menos que, ou eu
proferi alguma revelação para você, profetizasse, ou predissesse o meu
conhecimento para você pela doutrina, de modo que distinguir profecia da
doutrina é muito maior que isso; porque profecia procede da revelação,
doutrina do conhecimento daquele que ensina.
13. Eu tenho mais um outro motivo, que penso que será como algo
duro para nossos irmãos dissidentes, o Apóstolo compara com isso. Cap 14:
os dons das línguas e os dons da profecia. Ele recomenda ambos, como
desejáveis, vers: 1 e conheço todos esses dois dons, vers 6: Mas, antes
profetiza quanto comparativamente o melhor para edificar a Igreja. Et
magis & minus, espécie não variante. Há dois dons bons e desejáveis do
Espírito, dados para se beneficiar, 1 Cor. 12. 7, 10, 11. O apóstolo também
permite que tantos falem em línguas na Igreja, como ele permite profetizar
na Igreja; isto é, com dois ou três dos Profetas podem falar, por via natural,
em uma assembleia, então dois ou três podem falar, é claro, em uma língua
estranha, de modo que haja interprete, 1 Cor:14. 27, 29.
Além disso, enquanto os nossos irmãos dissidentes supõem que a
maioria ou a maioria da Igreja, exceto as mulheres, profetizaram; eles
devem, no mesmo terreno, supor que toda ou a maioria da Igreja, exceto as
mulheres; falou línguas estranhas na Igreja. Pois no mesmo lugar onde diz,
que cada um deles tinha Doutrina e Revelação, também dizia que cada um
tinha língua e uma Interpretação 1. Cor: 14. 26. Que as línguas
consideradas e comparadas juntas, será encontrado que, se os motivos
forem válidos, e as consequências também sejam válidas, que sejam
trazidas como profecia por membros talentosos fora do ofício, e que eles na
Igreja de Corinto tenha alguém que julgue as mesmas razões, e também
com as fortes consequências provarão que as duas ou três pessoas das
Igrejas, que terão o dom de línguas estranhas, podem falar com certeza na
Igreja, de modo que um interpreta e a Igreja de Corinto preside tão bem
para isso, quanto para o outro; Deixe os nossos Irmãos, portanto, realizar
ambos os dons (profecias e línguas) na Igreja de Corinto, por serem algo
extraordinário e milagroso, e assim nenhum deles para ser um presidente
comum: ou de outra forma, eles devem fazer com que ambos sejam
estabelecidos para padrões comuns, e então comece a chorar línguas, bem
como a profetizar, pois se o dom da profecia, seja tal como os homens
possam alcançar pelo estudo, assim como o dom das línguas: não sei como
perder o nó sem reconhecer que tanto o dom das línguas como o da
profecia eram extraordinários e milagrosos, que é de extrema verdade.
Estas são as razões pelas quais eu me inclino. Passo agora a
responder as objeções. As três primeiras objeções que encontro na διατριβη
em relação à ordenação: mas devo responder a outras objeções também
omitidas lá, mas que foram objetadas por outros como oposição.
Objeção. 1. Os Profetas, 1 Cor: 14 não são inspirados imediatamente
para previsão; Para as mulheres que foram tão inspiradas, podem entregar a
sua profecia na Igreja, mas as mulheres estão proibidas de falar, vers: 34.
Resposta: 1. Mas onde achamos que as mulheres que eram
profetizas e imediatamente inspiradas foram autorizadas a entregar suas
profecias na Igreja? Suponho que ele tenha respeitado 1 Cor: 11. 5. Mas
toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra sua
cabeça, que é a Assembleia pública, pois o Apóstolo está falando de cobrir,
ou descobrir a cabeça na Igreja. Mas, vários intérpretes compreendem aqui
por uma mulher que ora ou profetiza, uma mulher que se junta como
ouvinte na Assembleia pública, e por isso: 4. por um homem que ora ou
profetiza, um homem que é ouvinte e se junta as ordenanças. Para que a
anotação de Genebra no versículo 5, dê uma boa sensação desse texto:
aquelas mulheres que se mostram em assembleias públicas e eclesiásticas,
sem o sinal e o sinal de sua sujeição, isto é, descoberto, envergonhado.
Veja mais para isso em Junius suas anotações sobre a versão árabe sobre
isso.
2. Se o Apóstolo profetiza, 1 Cor: 11. 4. 5. Compreenda profetizar
por inspiração imediata, então a objeção pode ser retorcida e transformada
em um argumento contra os objetores: para o sentido da palavra
profetizando no 11. Cap: pode dar luz à palavra profetizando no 14. Cap. 3.
Peter Martyr, loc: com: eccles: 4. cap: 1. É de opinião que as mulheres que
eram profetizas e extraordinariamente inspiradas poderiam falar na Igreja,
desde que suas cabeças fossem cobertas, em sinal de sujeição feminina, e
que a proibição das mulheres para falar na Igreja, se estende a tal, e assim
ele se reconcilia, 1 Cor.14. 34. 1 Tim. 2. 13. com 1 Cor: 11. 5. Duvido que
sua opinião particular não esteja bem fundamentada, só que até agora eu
uso isso, que se 1 Cor: 11. 5. seja feito de profetizas, orando ou
profetizando na Igreja, (que o Objetor deve provar). Então, certamente, a
proibição das mulheres para falar na Igreja, não pode ser entendida
universalmente, mas com uma reserva e exceção de casos extraordinários:
Mas como essa exceção das profetizas é consistente com o texto, deixe suas
mulheres silenciarem-se na Igreja, Por que ὑμῶν, suas mulheres, que
tinham profetizado, como é suposto por estes de outra opinião, a partir de 1
Cor:11. 5. Não, mesmo suas mulheres devem ficar em silêncio, diz o
Apóstolo; e as razões que ele acrescenta, são tão universais que
compreendem até mesmo profetizas, são ordenados a estar sob obediência e
estarem sujeitas, que o próprio mártir observa, é válido para as mulheres
profetizarem, assim como outras, e para isso suas cabeças deveriam estar
cobertas: outro motivo é adicionado, 1 Tim. 2. 14. Adão não foi enganado,
mas a mulher que foi enganada, isso foi a transgressão: pode-se temer, diz
P. Martyr, se as mulheres pudessem falar na Igreja, Satanás deveria
retornar a sua primeira astúcia e enganar o homem pela mulher. Certamente
aquele que fez uso de Eva, também pode fazer uso de uma mulher profetiza
para enganar, e tanto mais, porque agora, desde a queda, o homem e a
mulher estão mais sujeitos à tentação. De modo que ambos os Apóstolos
mandam, e os motivos deles parecem claramente excluídos, mesmo
profetizando as mulheres e falando na Igreja, e se lhes permita entregar
profecias e revelações extraordinárias na Igreja; por que não também para
profetizar como outros membros talentosos. Se o que é maior seja
permitido, por que não o que é menor? E, se as profetizas forem excluídas
da regra, 1 Cor: 14. 34. Porque também não outras mulheres com
excelentes dons.
Objeção: 2. O Apóstolo, 1 Cor. 14. 24, 26, fala da profecia como um
dom para todos, ou para a maioria dos membros da Igreja, e não o proíbe a
ninguém, só as mulheres.
Resposta: 1. Já provei, 1 Cor: 12. 28, 29. e 13. 2. e 14. 6. que
profecia naqueles dias, não era um dom comum, mas raro e singular. Então,
ibid: vers. 5 quando ele disse: Eu gostaria que todos falassem em línguas,
mas sim que todos profetizassem; ele intimou que todos eles não
profetizaram.
2. Quando o Apóstolo fala por meio de suposição, vers; 24: Mas se
todos profetizarem, isso não prova que todos profetizavam, nem a
suposição pode ser entendida universalmente. Pois, se um incrédulo tivesse
entrado na Assembleia e ouvido todos, cada um deles profetizando, com
certeza ele tinha sido tão longe de ser ganho assim, que ele tinha sido mais
alienado de tal confusão.
3. O que dá a maior cor à objeção, é vers: 26. Quando você se unir,
cada um de vocês tem um salmo, tem uma doutrina, tem uma língua, tem
uma revelação, tem uma interpretação: Ofereço livremente meu julgamento
referente a este texto a ser considerado. Tenho a primeira sugestão de
Cajetan nesss lugar; Não se diz, cada um de vocês pode falar uma língua
estranha, ou pode pronunciar uma Revelação, & c. Mas εχει tem ou seja,
cada um na Igreja tem estas coisas para o bem e benefício de todos, quando
alguém profetiza, ou dois ou três, todos na Igreja têm profecias, como
Salmos, Línguas, etc. Mesmo como 1 Cor: 3. 21. 22, todas as coisas são
suas, seja Paulo ou Apolo, e onde pode ser verdadeiramente adicionado, ou
Salmos, ou Línguas, ou Doutrinas, ou Revelações, ou Interpretações, tudo
isso é seu, tudo isso, tem Cristo dado à Igreja para o bem dela, dizem os
homens que tenham essas coisas de que tenham bom fruto, uso, benefício,
pelo menos, podem ter, e podem ter o benefício disso, Lucas 16. 29 “eles
têm Moisés e os profetas”; Efésios: 1. 7. e Col. 1. 14. “Em quem temos a
redenção pelo seu sangue”; 1 Coríntios. 2. 16. “Mas nós temos a mente de
Cristo”; Filip. 3. 17. “nos façamos um exemplo”; Heb: 13. 10. “temos um
Altar”; 2 Ped. 1. 15. “Temos uma palavra de profecia mais segura e
semelhante”.
E assim entendo o texto agora nessa controvérsia, o Apóstolo tendo
desde o início desse Cap.14, persuadido de que os dons de línguas e
profecias possam ser usados, não para que os homens possam ser mais
admirados, mas para que a Igreja seja mais edificada, e não tanto os dons
como um uso lucrativo, mas para serem desejado, ele conclui este ponto,
vers: 26. Fazendo uma transição para certos Cânones, para ordem no uso de
línguas e profecias, como se ele tivesse dito: Se esses dons forem assim
melhorados para edificar, então, embora cada um de vocês tenha não os
dons das línguas, profetiza, etc. No entanto, quando vocês se juntarem,
cada um de vocês tem todas essas línguas, profecia, etc. Eles são seus, para
o seu bem e edificação.
4. Mas se nossos irmãos dissidentes não receberão nesse sentido, (o
que é bastante contrário ao deles). No entanto, neste texto, aqui, eles não
podem mais se estender a todos ou a maioria dos membros da Igreja, um
desses ramos, depois outro: se todos ou a maioria deles profetizassem,
então todos ou a maioria deles tinham o dom de línguas, e a interpretação
das línguas, e Revelações, e o dom de compor Salmos, e assim o mesmo
que dirige o culto deve trazer línguas estranhas, bem como profetizar, (do
que mais antes) além da composição dos Salmos. Eu dificilmente acredito
que os próprios irmãos dissidentes dirão que toda ou a maior parte da Igreja
de Corinto tinha o dom das línguas. Vejamos, então, como eles restringirão
as palavras ἕκαστος ὑμῶν cada um de vocês em referência a línguas, eles
devem permitir-nos fazer a mesma restrição em referência à profecia: mas
se eles disserem em geral, que a maioria ou a maioria da Igreja de Corinto
tiveram os dons de línguas, bem como o de profetizar, então eles são, de
alguma maneira perdedores, ao ceder o precedente da Igreja de Corinto
(naquele mesmo lugar sobre o qual eles constroem sua profecia) para ser
extraordinário e milagroso.
5. Considerando que a objeção diz que tudo ou a maioria deles
profetizaram, essa adição, da maioria deles, é fictícia e falaz para esconder
a fraqueza, pois o texto não tem tal coisa, mas diz a cada um de vocês:
“Eles não se atrevem a entender cada um de vocês, universalmente, mas
em um sentido restrito, pois então os Profetas e os Irmãos devem ser
acíclicos, e nomes conversíveis nas Epístolas aos Coríntios, e quando
"diz", os espíritos dos Profetas estão sujeitos aos profetas, 1 Cor. 14. 32”.
O sentido não deve ser mais, mas equivalente (sobre o assunto) a
isso, os espíritos de todos os Irmãos estão sujeitos aos Irmãos.
6. Portanto, cada um de vocês, vers: 26. (se entendido a profetizar)
não pode ser mais, mas cada um de vocês, profetas, como Isaías1. 23. “Isto
é, cada um dos príncipes”; Heb: 2. 9. “Jesus provou a morte por cada
homem; isto é, para todo homem que o Pai lhe deu, ou escolhido para ser
redimido”; 1 Cor. 12. 7. “Mas a manifestação do Espírito é dada a todo
homem; isto é, a todo homem dotado da Igreja, para se beneficiar”; Efes.
5. 33. “ὑμεῖς οἱ καθ' ἕνα, ἕκαστος, deixe cada um de vocês em particular,
então ame sua esposa; isto é, cada um de vocês maridos”, Isa: 9. 17.
“cada um é um hipócrita, isto é; Todo malvado que vem adorar antes de
mim”; Lucas 13. 15. “Não faça a cada um de vocês no sábado, perca seu
boi ou seu jumento, isto é, cada um de vocês que tem um boi ou um burro”;
muitos outros exemplos desse tipo podem ser dados pelas Escrituras.
7. Nota de Bullinger do grego Scholiast, que o apóstolo aqui, 1 Cor:
14. 26. usa ἕκαστος, para ὁσμεν, e ὁσδε, isto é, um de vocês tem um salmo,
outro uma doutrina, outro uma língua, etc. Beza nos dá o mesmo sentido, e
nos remete para 1 Cor: 1. 12. qual é um esclarecimento notável deste texto,
para a mesma frase: ἕκαστος ὑμῶν, que é usado: cada um de vocês diz: sou
de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo, mas cada um deles
não disse tudo isso, mas disse: Eu sou de Paulo, outro disse: Eu sou de
Apolo, & c. A versão siríaca confirma o mesmo sentido, para 1 Cor. 14. 26.
Ele faz assim: “Todo aquele de vós que tem um salmo, diga, e aquele que
tem doutrina, e aquele que tem uma revelação, e aquele que tem língua, e
aquele que tem uma interpretação”; então a versão árabe (que Junius em
suas anotações marginais sobre ela aqui elabora) corre assim. “Se algum de
vocês tem uma espécie de Salmo para dizer, e aquele que tem Doutrina, e
aquele que tem uma Revelação, e aquele que tem Língua, e aquele que tem
uma Interpretação, faça tudo isso para edificar”.
Objeção: 3. Esses dons que são requeridos em um Profeta, 1 Cor:
14. 3. 26, são tais que os homens normalmente podem, e alcançam pela
trabalho e estudo.
Resposta. 1. O contrário foi claramente provado, e esse mesmo
texto, vers: 26. prova; mais estranho é, que um texto que mencione
revelação, línguas, seja citado para estudos e trabalhos comuns.
2. "É verdade, vers: 3. O que profetiza, fala aos homens para
edificação, exortação e conforto. O que então? um profeta extraordinário,
um apóstolo, um evangelista não falou aos homens para edificação,
exortação e consolo? Ninguém se atreva a negar, mas eles fizeram, mas
isso não pode provar que os apóstolos e os evangelistas não eram
extraordinários. Ministros: a edificação e o fruto que vêm à Igreja por esses
profetas, é uma coisa, o caminho da revelação e inspiração pela qual a
profecia vinha, é outra coisa: o apóstolo está apenas comparando dois dons
extraordinários e milagrosos, línguas e profecias: dos dois, profecia é
bastante desejável, para a edificação da Igreja, pois aquele que fala uma
língua estranha não consegue edificar a Igreja, a não ser que seja
interpretada, mas aquele que profetiza, edifica a Igreja por seu próprio dom
de profecia, com menos negócios, e sem um intérprete; Este é o escopo e o
sentido do texto, que podemos descobrir a fraqueza desse terreno, sobre o
qual muitos supuseram que o Apóstolo não significa nada por profecia, mas
o dom comum de expor e aplicar a Escritura; profecia e revelação, são
proferidas de uma só vez, tanto para edificar como distinta é da doutrina e
revelação que são distintas do conhecimento, devem ser tomadas como um
dom e não serem contadas entre os dons comuns (como Junius sobre o
Árabe, em uma nota escreve) o que sempre aceita a palavra, podemos
encontrar mais em que nas Escrituras.
Objeção. 4. Mas o Apóstolo lhes pede a vontade de profetizar, vers:
1. Como alguém pode desejar ou orar na fé para um dom milagroso e
extraordinário do Espírito.
Resposta: 1. Ele lhes pede não só desejo, para que possam
profetizar, mas para que tenham outros dons espirituais, como os dons de
línguas, então vers: 1 e as interpretações de línguas, ele deseja a todos eles
o dom de línguas, agora o dom das línguas era extraordinário e milagroso,
como Atos 2. 6, 7, 8. Eles podem desejar tanto um dom como o outro, para
glorificar a Deus e se edificarem com isso. 1 Cor: 12. 7. sim, eles podem
orar por fé na fé para estes fins, e tanto mais, porque Marcos.17. 17. A
promessa é feita aos crentes daquela primeira idade. “E estes sinais
seguirão os que crerem, em meu nome expulsarão demônios, falarão com
novas línguas, etc”. E por que a oração de fé não pode obter o dom da
profecia, bem como curar os doentes, Tiago: 5. 15?
Embora nem o único nem o outro possam ser orado, com esse
absoluto desejo, como salvação, misericórdias e graças necessárias à
salvação, que é intimada em parte pela frase diferente, observada por
Erasmus, e outros a serem usados, 1 Cor: 14. 1. Seguir após a caridade,
διωκετε, persegui-la ou como (o Syriac) corre atrás dele, então segue após
o amor, para nunca ser satisfeito até que você o ultrapasse, e seja sincero na
busca dele. Mas, em relação a línguas, profecias e coisas semelhantes, ele
acrescenta; e deseja dons espirituais ζηλουτε uma palavra que cai fora do
outro, não significando qualquer afeto de qualquer coisa com todo o nosso
esforço (como a outra palavra), mas apenas uma alta estima, valorizando,
admirando, desejando uma coisa que, ainda assim, se for negado a nós,
devemos sentir-nos satisfeitos sem ele.
Objeção: 5. Mas esses profetas deveriam ser julgados, examinados e
julgados, 1 Cor: 14. 29. 32. Portanto, parece que eles não eram profetas
extraordinários infalivelmente inspirados.
Resposta: 1. Se aqueles que vieram sob o nome de profetas
extraordinários, não podem ser julgados e examinados, por que há tantas
advertências no Novo Testamento, para se cuidar de falsos profetas, Mat: 7.
15. e 24. 11, 24. 1 João 4. 1. O Senhor não admitiu a Moisés a sua objeção,
que, porventura, os filhos de Israel não acreditariam nele, que Deus havia
aparecido a ele e enviou-o, onde Deus iria satisfazê-los por sinais e
milagres, Êxod. 4.1. vers: 10. Não eram os Bereanos (Elogio), que em Atos
17. 11. Procuraram provar e tentar a doutrina dos próprios apóstolos pelas
Escrituras?
2. Embora, tais como o dom de profetizar, não fizeram, nem
pudessem errar, na medida em que foram inspirados pelo Espírito Santo
para profetizar, e muito menos na escrita das Escrituras, ainda que
pudessem ter, e alguns tiveram seus próprios erros e erros em casos
particulares; para o qual eu vou ter uma instância em Elias, que disse, que
ficou sozinho; mas o que Deus lhe responde, que tinha reservado para ele
mesmo sete mil, etc. Ele falou de seu próprio espírito, quando ele disse que
ficou sozinho, mas a resposta de Deus corrige seu erro. Outra instância
naqueles discípulos profetas, atos 21.4. Quem disse a Paulo pelo Espírito,
para que não subisse a Jerusalém. Portanto, prever e conhecer o perigo de
Paulo em Jerusalém, foi do espírito de profecia, mas a consequência que
eles tiraram daqui, para que, portanto, Paulo não subisse a Jerusalém. Esses
intérpretes concebem, eram apenas de seus próprios espíritos, embora eles
não concordassem com o Espírito de Deus.
3. "É bem observado nas anotações inglesas em 1 Cor. 14. 32, que,
embora essas profecias tenham sido infundidas pelo Espírito Santo, e que
não pode errar, mas todas as coisas nem sempre são reveladas de uma vez,
e aquilo que não é revelado de uma certa clareza, muitas vezes é revelado a
mais, e às vezes, de maneira mais clara. Pode haver também alguma coisa
misturada com aquilo que os profetas receberam, e podem errar, que o que
eles acrescentaram por meio de confirmação, ilustração ou aplicação, pode
ser justamente sujeito a censura, seja necessário e julgado pelos outros, se
as profecias procedem da inspiração do Espírito Santo e de acordo com o
domínio da fé, Isa. 8. 20.
Objeção: 6. O Apóstolo distingue a profecia do ministério, Rom. 12.
6, 7. Portanto, os que profetizaram, foram dotados de pessoas fora do
ofício.
Resposta: 1. Diversas pessoas resolveram esse texto assim, que
primeiro o Apóstolo faz uma divisão geral dos ofícios eclesiásticos.
Profecia compreendendo estes que trabalham na palavra e doutrina.
Ministério compreendendo aqueles que não trabalham na palavra e na
doutrina, e que, depois disso, o Apóstolo subdivide a profecia na função
pastoral e de doutorado: e Ministério, ele subdivide-se no ofício de ancião
dominante, Diácono para demonstrar misericórdia, que foi cometido às
vezes aos velhos, às vezes às viúvas.
2. Quando olho de novo e de novo para esse texto, prefiro entender
que profetizar ali, é a profecia extraordinária, e pelo Ministério, os ofícios
comuns na Igreja. Tendo então dons, diz o Apóstolo, e diferindo de acordo
com a graça que nos é dada, se profetizamos, profetizemos de acordo com a
proporção da fé, que sob a cor da profecia e da revelação, nós não trazemos
nada que não seja agradável a regra de fé, ou ao ministério. Se nosso ofício
e administração forem comuns, vamos participar dele; e não leve, porque é
comum. Então ele amplia esse último por uma enumeração dos ofícios
comuns na Igreja, Pastores, Mestres, Anciãos e Diáconos. Enquanto
escrevo essas coisas, encontro Gomarus sobre Rom. 12. 6, 7 da mesma
opinião, essa profecia significa aqui o que é extraordinário, o ministério
daquilo que é comum.
Objeção 7. Mas esse texto, os espíritos dos profetas estão sujeitos
aos profetas, é aplicado por muitos escritores presbiterianos, para defender
a autoridade dos Conselhos e Sínodos, o que não é um bom argumento
desses profetas, se esses profetas fossem extraordinários.
Resposta. Isso torna o argumento nada mais fraco, mas tanto mais
forte. Pois, se os Profetas que foram imediatamente inspirados, deveriam
estar sujeitos ao exame, ao julgamento e à censura de outros Profetas, e se
Paulo e Barnabé fizeram um relato, diante dos Apóstolos e dos Anciãos em
Jerusalém, de sua doutrina, tão contrária por alguns em Antioquia em
Atos15. E, se Pedro fosse acusado de entrar nos incircuncisos, foi levado a
defender-lhes em Jerusalém, Atos 11. Então, a fortiori, mais se tornam
pastores e professores comuns, para se submeter ao julgamento de uma
Assembleia de Pastores e Mestres. E, em geral, como na justiça civil, é uma
regra boa e igualitária, para que um homem seja julgado por pares, de
forma proporcional às censuras da Igreja, manterá entre oficiais da Igreja
ou Ministros, para que sejam julgados por pares, um Apóstolo pelo
Apóstolos, um Profeta pelos Profetas, um Ancião pelos Anciãos.
Objeção 8. Judas e Silas são chamados Profetas, Atos 15. 32. E eles
exortaram a Igreja, mas eles estavam fora do cargo, pois se distinguem dos
Apóstolos e dos anciãos, e diziam ser líderes entre os Irmãos, vers: 22.
Resposta: 1. Esta liderança carregará os irmãos profetas muito alto,
pois Silas é reconhecido por Teólogos como um Evangelista, que pode ser
chamado de sua viagem por tantos lugares com Paulo, para difundir o
Evangelho, Atos 16. 17 . Atos. 17. 4, 10. 14, 15. Atos.18. 5. outros pensam
que ele teve uma acusação ministerial em Jerusalém, mas a opinião anterior
parece estar melhor fundamentada.
2. A palavra Irmãos e Irmão, não é nunca observar como estavam
fora do ofício na Igreja, mas tem diversas vezes usados, (e então eu levá-la
aqui) de como eram nem fixadas como Anciãos nem tão eminente na Igreja
como Apóstolos, mas teve encargos especiais ou extraordinários, ou em
administrações da Igreja, como 2 Cor: 8. 18. 22, 23 1 Cor: 16. 12. 2 Cor: 1.
1. Heb: 13. 23. 1 Cor : 1. 1. 1 Animal de estimação: 5. 12. Efes: 6. 21. Col:
4. 7. Filem:1. 20. De que lugares é manifesto que os companheiros
apóstolos em suas extraordinárias administrações são frequentemente
chamados de irmãos, e entre esses irmãos, Judas e Silas eram líderes, seja
pela grandeza de seus dons, como por trabalhos mais abundantes.
E agora, no encerramento, meu conselho e exortação são para os
irmãos que tomam para si mesmo e caem sobre eles a pregação ou profecia,
sem serem, e nem pretenderem ser ordenados ao Ministério, que ainda os
levariam a pensamentos sérios sobre esse assunto. E vendo que profetizar o
que eles tomam para o seu líder, foi tão claramente provado ter sido
extraordinário, e vendo também que Cristo nomeou pastores e mestres para
o trabalho ordinário do ensino público, edificando a Igreja e aperfeiçoando
os santos, Efésios: 4.11-12.(que a ordenança é suficiente para esse fim),
esses irmãos devem fazer bem em melhorar seus dons de outra maneira,
escrevendo e exortando ocasionalmente, admoestando, instruindo,
reprovando, confortando os outros, dessa maneira fraterna, que é adequado
aos cristãos fora do ofício: se desejam qualquer outro trabalho na Igreja,
que desejem o ofício pastoral e se ofereçam a julgamento para isso, pois,
como Gregório de Nazianzeno diz, em sua oratória, cap: 7. “Cristo
designou Este pedido em sua Igreja, para que o rebanho seja uma coisa,
outros Pastores; E novamente, é um para um grande negócio ensinar,
mas é seguro e inofensivo para aprender, por que você é seu Pastor,
quando você é um dos rebanhos”.

Capítulo VII
Dos Profetas e Evangelistas – George Gillespie161

Esta questão, parece ser muito perplexa e espinhosa, no entanto, sou


conduzido por ela, tanto pelas controvérsias, sobre a necessidade de
missões e ordenação a todos os ministros das coisas santas, e também por
ocasião do que é mantida por alguns homens de aprendizagem, que ainda
existem ou podem ser evangelistas na igreja. Calvino sustenta de fato que
nesse tempo, Deus ergueu evangelistas para resgatar a Igreja do Papismo.
Instit liv. 4. Cap. 3. § 4. e o Sr. Hooker em sua Política Eclesiástica, lib. 5.
seita: 78. Diz-nos de Eusebius Eccles: hist: lib. 3. Cap: 34.
Que nos dias de Trajano, muitos dos Apóstolos e discípulos
estudiosos que estavam então vivos, venderam as suas posses e as deram
aos pobres, e se comprometendo a viajar, se comprometeram com o
trabalho dos evangelistas, ou seja, eles dolorosamente pregaram a Cristo, e
entregaram tudo a ele, para os que ainda não tinham ouvido a doutrina da
fé. Sobre os profetas, antes eu tenho que Justino Mártir, mostrou em seu
Diálogo com Trifão: Iud. “Que em seus dias havia ainda alguns na igreja,
que tinha um dom extraordinário de profecia, e tal tem havido também em
outros lugares, e em outros tempos.” De que pode haver diversas instâncias

161
Extraído de: A Treatise of Miscellany Questions: WHEREIN MANY USEFULL QUESTIONS AND
CASES OF CONSCIENCE ARE DISCUSSED AND RESOLVED: FOR THE SATISFACTION OF
THOSE, WHO DESIRE NOTHING MORE, THEN TO SEARCH FOR AND FINDE OUT PRECIOUS
TRUTHS, IN THE CONTROVERSIES OF THESE TIMES.by George Gillespie, late Minister at
Edinburgh..http://www.covenanter.org/reformed/2016/4/21/a-treatise-of-miscellany-questions Tradução: Edu
Marques, pode ser encontrado em: https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2017/07/dos-profetas-e-
evangelistas-george.html
dadas, eu vou aqui falar um pouco, primeiro do trabalho dos profetas e
evangelistas.
Seu trabalho e administração, eu entendo ser parcialmente ordinário,
e parcialmente extraordinário. Normalmente, porque os graus mais altos.
Ef. 4:11 são abrangentes do mais baixo, não contrário, um pastor faz o
trabalho de um mestre, um evangelista faz o trabalho de um pastor e
mestre, um profeta faz o trabalho de um evangelista, pastor e mestre, um
apóstolo o trabalho de todos eles, que eu antes, havia também seguindo o
pensamento de Crisóstomo e o Sr. Bayne.
Os profetas e evangelistas edificam a Igreja pregando, bem como
pastores ordinários, 1Cor. 14.3; Ef. 4. 11.12; 2Tim.4. 2.5. A partir do qual
as Escrituras e outros desse tipo, como Tit.1.5;1 Tim.3.15. Alguns
evangelistas reunidos tiveram um trabalho fixo em alguma igreja certa, e
que participaram e tomaram a supervisão dela, para o trabalho do
ministério com frequência, e contanto em que outras ocasiões urgentes e
públicas da Igreja poderia permitir. Veja Zepperus de Polit: eccl: lib: 2.
Cap: 1. aret: probl: theol: loc: 62.
Eu digo novamente que, o trabalho dos profetas e evangelistas foi
extraordinário, para uma propriedade distintiva, ou característica de um
profeta, ou seja, o máximo que eles poderiam fazer e que os oficiais
ordinários não poderiam, nem qualquer outro, é a revelação de grandes
mistérios ou predizer coisas futuras a vir, pela inspiração especial e
extraordinária do Espírito Santo.
Seu próprio nome tanto para προφήτης e προφητεύω vêm de
προφημι "prever". De acordo com o sentido da palavra, todos estes eram
chamados profetas antigos, que previram coisas que iriam acontecer, como
mágicos, astrólogos, prognósticos, natividades, & c. Veja Olivarius de
Prophetia Pag: 9.10. Os sacerdotes e intérpretes dos Oráculos também
eram chamados de profetas, e os Apóstolos: Tit.1.12 chama Epimênides de
profeta dos cretenses, qui quasi praesenserit futura, diz Erasmus. Como
também diz ele, porque esse livro de Epimênides fora do qual esse
versículo é citado tem o seu título Περὶ τῶν χρησμῶν de Oraculis. Mas na
noção da Igreja, essa palavra que nossos pais tiraram das Escrituras: a
profecia é uma previsão das coisas que vêm de uma inspiração especial
do Espírito Santo.
Mas qual é o trabalho de distinção e propriedade característica de um
evangelista, ou seja, que um pastor ordinário e um mestre não pode fazer, e
que ninguém poderia fazer senão um apóstolo ou um profeta?
Que eu possa falar com mais clareza, isto é para ser lembrado, que a
palavra "Evangelista" não está aqui tomada em um sentido restrito para
um escritor do Evangelho inspirado pelo Espírito Santo. Pois nesse sentido,
havia apenas quatro evangelistas, e dois deles eram apóstolos. Mas esta não
é a noção bíblica da palavra, que nos diz que Filipe e Timóteo foram
evangelistas, Atos. 21.8.; 2 Tim. 4. 5. e que Cristo deu evangelistas a sua
igreja para o trabalho do Ministério Ef. 4.11,12.
Agora, se tomarmos a palavra como a Escritura diz, o trabalho
adequado de um evangelista, ou seja, aquele que nenhum, mas um
Evangelista como um evangelista, ou aquele que era mais do que um
evangelista poderia fazer, eu digo duas coisas:
O primeiro é, para estabelecer as fundações das igrejas, e para pregar
Cristo a um povo descrente, que ainda não receberam o Evangelho, ou pelo
menos que não têm a verdadeira doutrina de Cristo entre eles. Então Filipe,
o Evangelista, pregou Cristo à cidade de Samaria, e batizou-os antes que
qualquer um dos Apóstolos viesse até eles. Atos 8.5.12. E se os 70
discípulos em Lucas 10 foram evangelistas (como muitos pensam, e
Calvino Instit: liv: 4. Cap: 3.4 pensa que é provável) seu trabalho adequado
como evangelistas, foi pregar o Evangelho para as cidades que não o
tinham recebido.
Seu segundo trabalho são viagens e negociações como mensageiros e
agentes para ocasiões extraordinárias, e em emergências especiais que é
muitas vezes entre uma igreja e outra, e tão distinta do primeiro que é uma
viagem entre eles que ainda não fizeram. Deste segundo existem diversos
exemplos nas Escrituras, como em 2 Cor.8.23. Filip: 2.19.25; 2Tim:4.9;
Tit:3.12; Ato:15.22-25.
Neste último exemplo, embora alguns são de opinião que Silas era de
Jerusalém, e tinha uma função ministerial ordinária lá, mas os melhores
escritores geralmente reconhecem Silas entre os evangelistas, e eu não
duvido, mas como também um profeta, Atos15.32. Assim também um
evangelista, que pode aparecer por sua viagem através de muitos lugares,
no trabalho de pregar o Evangelho, às vezes com Paulo como seu
companheiro de trabalho e ajudante: Atos 16:19 e 17.4.10. às vezes com
Timóteo, Atos:17.14.15. e 18:15.
Agora, quando eu chamo essas obras e administrações de profetas e
evangelistas extraordinários, meu significado não é que eles são
completamente e de todas as maneiras extraordinárias, mesmo como o
apostolado. Pois não ouso dizer que desde os dias dos Apóstolos nunca
houve, ou que até o fim do mundo nunca haverá qualquer um
levantado por Deus com tais dons, e para tais administrações, como eu
já descrevi ser adequado para os profetas e evangelistas, ou seja:
trazer à tona dizendo coisas que viriam acontecer, a viagem entre os
incrédulos para convertê-los pela pregação do Evangelho, e entre uma
igreja e outra, sobre mensagens extraordinárias.
Mas, eu chamo o trabalho de profetas e evangelistas extraordinário
no sentido de Calvino (expresso por ele no lugar antes citado) ou seja, não
é comum como o de pastores e mestres, que tem um lugar constantemente
nas melhores igrejas constituídas e estabelecidas. Em breve, tomo a palavra
extraordinária aqui, não para o que cessou com a primeira era da igreja
cristã, mas para o que não é, nem obreiro ser ordinário. E muito do seu
trabalho.

Quanto à vocação dos profetas e evangelistas

1. Eu não posso passar sem uma devida atenção, a uma passagem do


Sr. Hookers, em Política Eclesiástica. lib: 5 seita: 78. Onde ele não terá os
profetas mencionados, 1Cor 12. 28. para serem contado com aqueles a
quem ele chama (após o idioma então comum) o claro, porque os dons ou
as qualidades de nenhum homem podem fazer-lhe um ministro de coisas
Sagradas, a menos que a ordenação lhe dá o poder; e não encontramos
profetas que foram feitos essa ordenação. Se tomarmos a palavra profetas
tão amplamente como para compreender todos os que têm qualquer dom de
profetizar, e assim profetizas também, eu não vou lutar contra o que ele diz,
mas se entendermos que o Apóstolo nesse lugar enumera não só as
diversidades de dons, mas as diversidades de administrações, que Deus
nomeou na igreja (e isso pode facilmente aparecer comparando v. 28. com
v. 4. 5.) e assim ter profecia para uma administração ou serviço na igreja,
bem como um presente. Certamente não foi sem uma missão ou para uma
vocação. Pois eles eram ministros extraordinários, então eles tinham uma
missão extraordinária ou ordenação, bem como os apóstolos, Lucas 11. 49.
Cristo diz, vou enviar-lhes Profetas e Apóstolos, e 1Cor:12 28. Deus tem
definido ou nomeado profetas na igreja. Sim, como o seu trabalho era
parcialmente comum e comum aos pastores e mestres, de modo que um
profeta foi examinado e permitido por uma Assembleia de profetas, bem
como um ancião por uma Assembleia de anciãos, que eu recolho de
1Cor:14.32. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
Tocando a vocação de um evangelista, o autor das consultas sobre
ordenação, Quest. 19, iludi o nosso argumento para a ordenança
permanente de Cristo, para a ordenação dos ministros mostrado a partir de
1Tim. 4.14 e responde entre outras coisas, que Timóteo sendo um
evangelista, e evangelistas que são (pelo consentimento comum) chamando
de extraordinário, não teve nenhuma necessidade de passar através da porta
comum da ordenação. O evangelista não é tanto, sem controvérsia, com
uma simples imposição de mão não iria supor, como pode aparecer por
aquilo que eu tenho, e agora digo: Nem ele pode provar que naquele
momento, quando o presbitério colocou as mãos em Timóteo, ele era
mesmo um evangelista ou mais do que um presbítero. No entanto, isso eu
vou dizer, que como o trabalho, assim também a vocação dos evangelistas
foi parcialmente extraordinário e parcialmente ordinário, e como pode
haver ainda alguma ocasião para alguns de seus trabalhos extraordinários,
por isso deveria haver uma missão especial e para uma vocação, não só
interiormente pelo Espírito de Deus, agitando-se e permitindo o trabalho,
mas externamente também e ordenado na igreja. Os 70 discípulos foram
ordenados pelo próprio Cristo, Lucas 10.1. O Senhor nomeou outros 70
também, e enviou-lhes de dois em dois. Um anjo do Senhor falou a Filipe e
chamou-o de um lugar para outro, Atos 8.26. O apóstolo Paulo enviou
Epafrodito e resolveu enviar Timóteo à igreja dos Filipos, Filip:2.25.28.
Estes são exemplos de missão extraordinária, tal como eu quero dizer como
cessou nesse tempo, nenhum ser agora foi enviado imediatamente por
Cristo ou seus apóstolos. Mas há outros exemplos de uma missão, ou de um
chamado a um trabalho apropriado dos evangelistas, que não devem ser
restringidos somente naquele tempo. Para aqueles que eram agentes e
viajaram e negociaram em grandes e especiais assuntos da igreja, tinha uma
delegação especial e ordenada. Então, eu entendo que dos mensageiros das
igrejas, 2Cor: 8.23 e Epafrodito sendo enviado da Igreja de Filipos para
Paulo, é chamado de Apóstolo ou Mensageiro Filip. 2.25. Então, Judas e
Silas que saíram para o assentamento das igrejas distraídas, tinham uma
comissão especial e delegação, do Sínodo dos Apóstolos e Anciãos.
Portanto, mais agradável ao padrão primitivo, que onde Sínodos ou
pelo menos as classes podem ser tidos, e não são por perseguição dispersos
ou impedidos de atender, tais como empreender a quem quer ir e pregar o
Evangelho para infiéis, papistas, turcos ou assim, ou ir sobre qualquer
negociação no exterior em qualquer negócio comum da Igreja deve ser
aprovado , e autorizado por um sínodo nacional, ou (quando isso não pode
ser tido, e se houver grande perigo no atraso) por um sínodo provincial, ou
pelo menos, (onde isso não pode ele tinha) por uma ordem.

APÊNDICE V

“Espíritos Privados” na Confissão de Fé de Westminster § 1.10 e


no debate católico-protestante (1588-1652) Byron Curtis162

Às vezes entendemos mal as palavras que encontramos. Tais mal-


entendidos aparecem em todos os aspectos da vida humana, mas talvez em
nenhum lugar mais aparente para os cristãos (além das discussões entre os
cônjuges) do que no campo dos estudos bíblicos. A pregação bíblica é
frequentemente repleta de definições de dicionários, estudos de palavras,
análises contextuais, lexicografia comparativa e outros sinais de trabalho
exegético, tudo na esperança de determinar o verdadeiro significado dos
antigos textos hebraicos, aramaicos e gregos da Sagrada Escritura.

162
Pode ser encontrado em: https://escrituralistascarismaticos.blogspot.com/2019/04/espiritos-privados-na-
confissao-de-fe.html Tradução: Luan Tavares
Às vezes, métodos semelhantes precisam ser usados também na
literatura cristã posterior, mesmo naqueles escritos na própria língua. A
Confissão de Fé de Westminster (doravante abreviada como CFW) não é
exceção.163 Três séculos e meio se passaram desde que a Assembleia de
Westminster completou esta obra clássica de instrução cristã. Não é de
surpreender que algumas palavras e frases, bem conhecidas por eles, devam
ser obscuras para nós. Tal é o caso no primeiro capítulo da Confissão de
Fé. Na CFW §1.10 os teólogos confessam a supremacia da Escritura:

O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm


de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de
concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de
homens e ‘espíritos privados’, o Juiz Supremo em cuja sentença nos
devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na
Escritura.

Temos o cuidado de determinar precisamente o que a Assembleia de


Westminster queria dizer por “espíritos privados”. Muitas exposições do
CFW, como as de Robert Shaw, A. A. Hodge e G. I. Williamson, omitem a
referência a esse termo.164 As recentes paráfrases de Donald Remillard e
Douglas F. Kelly, e outros, interpretam isto como referindo opiniões
pessoais, como faz o recente comentário oferecido por John H. Gerstner, e

163
As citações da CFW são da edição de SW Carruthers (A Confissão de Fé. Comitê de Publicações da Free
Presbyterian Church of Scotland, 1970). Esta edição é baseada no autêntico manuscrito de 1646 escrito por
Cornelius Burgess. Também verifiquei diligentemente as citações com a edição de Philip Schaff (Os Credos
da Cristandade com Uma História e Notas Críticas, quarta edição, Volume 3, Harper and Brothers, 1919).
164
Notavelmente, Robert Shaw inclui comentários sobre os outros três itens da lista de 1.10, mas não discute
“espíritos privados” (Exposição da Confissão de Fé, Carlisle, PA: A Bandeira da Verdade, 1958 [Reprint of
1869 original; e GI Williamson, A Confissão de Fé de Westminster para as Classes de Estudo (Filadélfia:
Presbiteriana e Reformada, 1964). A exposição de Gordon Clark é uma rara exceção ao oferecer uma
explicação da frase; ele interpretou de forma pejorativa: O que a Confissão se refere como 'espíritos privados'
é a visão de que o Espírito fornece a alguns homens informações não contidas e muitas vezes contraditórias à
Bíblia. Exemplos são Swedenborg, Anne Hutchinson e Mary Baker Eddy” (What Do Presbyterians Believe -
A Confissão de Westminster: Ontem e Hoje, Filadélfia: Presbiteriana e Reformada, 1965: 24).
outros. 165
Outros ainda sugerem “revelações privadas”, ou “alegações de
revelações privadas”, ou, talvez, “impressões privadas”.166 Ambos os
sentidos para a palavra espírito — “opinião” e “revelação” — estão listados
no Oxford English Dictionary, e documentado para ser de uso comum nos
anos 1600.167 Como devemos definir essa frase na CFW § 1.10? Ao
contrário da CFW § 1.6, esta seção refere-se não às “revelações do
Espírito”, uma frase bastante comum, mas aos “espíritos privados”, uma
frase não comumente encontrada no inglês contemporâneo. Estes “espíritos
privados” são listados ao lado de “todos os decretos de concílios”,
“opiniões dos antigos escritores” e “doutrinas de homens” como itens
sujeitos ao teste e julgamento pelas Escrituras Sagradas — e
consequentemente não serem rejeitados sem análise prévia.
Significativamente, a Escritura é aqui descrita como o próprio Espírito
falando, e consequentemente, é apelado ao juiz supremo em todas as
controvérsias religiosas. A que se refere os “espíritos privados” na CFW §
1.10? A que as Escrituras Sagradas são recorridas para julgar: opiniões ou
revelações?

I. Espíritos privados em Certamen Religiousm (1646-52)

Temos a sorte de possuir duas fontes importantes que nos oferecem


ajuda substancial na definição de uma definição correta. A primeira é uma

165
Donald Remillard, uma edição contemporânea da Confissão de Fé de Westminster (Ligonier, PA: Presby
Press, 1988); Douglas E Kelly, e outros, The Westminster Confession of Faith: Uma Versão Moderna
Autêntica, terceira edição (Signal Mountain, TN: Summertown Texts, 1992); John H. Gerstner, et al, Um
Guia para a Confissão de Fé de Westminster: Comentário (Signal Mountain, TN: Summertown Texts, 1992)
23.
166
Respectivamente, a Revisão Verbal da Confissão de Fé de Westminster (manuscrito não publicado,
Pittsburgh, PA: Junta de Educação e Publicação, RPCNA, 1975) 2, preparado por um comitê conjunto da
Igreja Presbiteriana Ortodoxa e da Igreja Presbiteriana Reformada da América do Norte; a versão proposta do
estudo em inglês da Confissão de Fé (Igreja Presbiteriana Ortodoxa, edição de janeiro de 1993) 5; e o
Consenso da PCA em sua Proposta de Declaração para a Igreja Presbiteriana na América (publicada
privativamente, 1994) 3.
167
The Oxford English Dictionary (Oxford: The Clarendon Press, 1933).
fonte contemporânea da Assembleia de Westminster, uma obra agora rara
intitulada Certamen Religiosum, que supostamente registra uma disputa de
1646 entre Carlos I (1600-1649), rei da Inglaterra, e Henry Somerset
(1577-1646), marquês de Worcester, respeitando a religião. Nesta obra,
Carlos (ou mais provavelmente, seu escritor fantasma) defendeu a causa
protestante contra as reivindicações romanistas promovidas pelo marquês.
Em 1651, a disputa foi publicada postumamente, acompanhada de um
comentário anônimo, intitulado A Vindication of the Protestant Cause
[Uma Reivindicação da Causa Protestante].168
Como esta publicação foi bem recebida, o comentarista teve
coragem de acrescentar seu nome ao trabalho no ano seguinte: Christopher
Cartwright. Cartwright (1602-1658) foi um eminente teólogo anglicano,
erudito bíblico, hebraísta, polemista ocasional e pregador na St. Martin’s
Church, York. Ele parece ter estado cordialmente com os partidos puritano
e realista, um feito difícil naquela época tão dividida pela espada. O
puritano Richard Baxter pensou bastante nele que, quando escreveu o
primeiro de seus muitos livros, o submeteu a Cartwright para revisão
crítica. Após sua morte, Baxter chamou-o, apesar das divergências, de “um
homem muito instruído, pacífico e piedoso”.169 B. B. Warfield nomeou
Cartwright como possivelmente uma das principais fontes para a doutrina
das Escrituras de Westminster.170

168
Christopher Cartwright, Certamen Religiosum - com Uma Reivindicação da Causa Protestante (W. Lee:
Londres, 1652). O título completo do trabalho composto é: Certamen Religiosum : Ou, UMA
CONFERÊNCIA ENTRE o falecido Rei da INGLATERRA, e o falecido Lo: Marquesse de Worcester, sobre
a RELIGIÃO. Juntamente com Uma Reivindicação da Causa Protestante, dos Preteses do Marquêsem seus
últimos Documentos; qual a necessidade dos Reis Affaires denyed Ele Oportunidade (sic) para responder,
TAMBÉM O calúnias do Marquesse, lançada sobre os famosos Divines, Instrumentoschiefe dos protestantes
Porque, viz., Lutero, Calvino, Qwinglius, Melanchton, e Beza, bastante apagado À Worke com apreendendo
todos os Pontos Materiall controvertido 't wixt protestantes eromanistas. Este título ultra- protestante para o
trabalho, bem combinado por seu conteúdo, põe em dúvida a alegação de que Charles I participou de sua
autoria; daí a minha suposição de um escritor fantasma.
169
Citado em Leslie Stephen e Sidney Lee, Dicionário de Biografia Nacional (London: Oxford University
Press, 1922) 3.1129-30
170
Benjamin Breckinridge Warlield , The Westminster Assembly e seu trabalho (Nova York: Oxford
University Press, 1931) 161.
Eu lidarei bastante com o Certamen, porque é uma fonte
contemporânea altamente importante para entender o idioma de
Westminster em § 1.10. Em resposta ao chamado do marquês para
interpretar as Escrituras pela regra (alegadamente) infalível dos pais e da
igreja, Carlos, apelando para a Sagrada Escritura, o sopro de Deus,
responde com uma retórica florescente:

Existe um melhor juiz da verdade divina do que Deus? Ou


onde Deus declara mais claramente a si mesmo então em sua
própria Palavra? Em que sopro acreditaremos então, mas
aquilo que é o sopro de Deus; as Sagradas Escrituras? […]
Como deveríamos então concluir ao contrário do apóstolo em 1
Co. 2.12 não receberam o espírito do mundo, mas o espírito que
é de Deus, para que pudéssemos conhecer as coisas que nos são
dadas gratuitamente por Deus. Aqueles que não conhecem este
espírito, zombam dele: mas este espírito está o Maná escondido,
Ap. 2.17 [...] Por isso vemos que a Escritura é a regra pela qual
todas as diferenças podem ser compostas: é a luz em que
devemos caminhar: o alimento de nossas almas: um antídoto
que expulsa qualquer infecção: a única espada que derrota o
inimigo: o único gesso que pode curar nossas feridas: e os
únicos documentos que podem ser dados para a obtenção da
salvação eterna (ênfases originais; grafias originais retidas aqui
e abaixo).171

Assim, Carlos argumenta, a boa moda protestante, que há apenas


uma regra infalível de interpretação das Escrituras, e essa regra é a própria
Escritura, a palavra do Espírito de Deus. Contra esta resposta o marquês
brande sua própria espada retórica em defesa dos pais e da igreja:

171
Cartwright, Certamen Religiosum 51-92
Sua Majestade está satisfeita [...] em recorrer às Escrituras. Eu
humildemente peço permissão para perguntar a vossa
Majestade que heresia que alguma vez existiu não o fez? Como
o maior herético do mundo será confundido ou censurado? Se
alguém pode ser autorizado a apelar para as Escrituras:
margens com suas próprias notas, sendo com o seu próprio
significado, e entreteres com seu próprio espírito privado? Até
que ponto os mares foram tão plenamente, tanto pelos Profetas,
Apóstolos e nosso Salvador, se não os usamos? 172

O marquês interpreta mal o apelo de Carlos à Escritura e para a


fonte da Escritura no Espírito Santo. Ao fazer isso, ele divide a Palavra do
Espírito, o que implica que o rei aprova a prática de certos “hereges” que
apelam para suas próprias revelações privadas como uma regra infalível de
interpretação. Por isso, “aqueles mares” estabelecidos por Cristo — ou seja,
“Universidade, Antiguidade, Visibilidade, Sucessão de Pastores, Unidade
na Doutrina e Conversões das Nações” — indicam os pais e a igreja como
o regra necessária e infalível na interpretação das Escrituras. Este parágrafo
é significativo para nossa interpretação da CFW 1.10, pois deixa claro que
na Inglaterra do meio do século XVII havia um significado estabelecido
para a expressão “espíritos privados” denotando revelações pessoais. 173

Carlos responde que, uma vez que até mesmo os apóstolos poderiam errar
individualmente — tais como Pedro negando Cristo na casa de Caifás e
separando-se dos gentios em Antioquia — e até mesmo os concílios
poderiam errar — como o Conselho de Ariminum que confirmou o
arianismo — é tanto mais necessário respeitar a única regra infalível, a
própria Escritura. Para isso, o marquês objeta:

172
Cartwright, Certamen Religiosum 52-3
173
Assim, a Oxford English Dictionar y refere-se a Certamen Uso do religiosum de ‘espírito privado’ no
estabelecimento de sua definição de ‘privado’ como ‘peculiar a determinada pessoa’ (8,1389,col. 1, nº 8).
Quanto a suas Majestades objetando os erros dos Santos
Apóstolos, e os Escritores do Espírito Santo, e sua inferência
sobre isto, viz. que a Verdade se encontra somente na Sagrada
Escritura: sob a correção de suas Majestades, considero este o
maior argumento contra o Espírito privado (instigado por
vossa Majestade) que nos leva a toda a Verdade, que poderia
ser descoberta. Pois se tais homens (como eles) induziram com
o Espírito Santo, insensibilizados com o poder de operar
milagres, tão santificados em seus chamados, e iluminados em
seus entendimentos, poderiam errar: como pode qualquer
homem (menos qualificado) assumir a si mesmo um isento de
erros, com a ajuda de um Espírito privado? 174

O marquês parece aqui ter essa assistência por um Espírito privado


de revelação no entendimento das Escrituras é de fato possível. A
hagiografia e espiritualidade Católica, podemos observar, de passagem,
estão equipados com pretensões de revelações pessoais, tais como aqueles
descritos por João da Cruz (1542-1591).175 E na Inglaterra daquele dia
havia em alguns círculos — como o incipiente movimento Quaker —
reivindicações de revelação privada que eram postas até mesmo acima das
Sagradas Escrituras.176 Mas, mesmo tal orientação, diz o marquês, não deve
ser reivindicada como uma regra inerrante, já que até mesmo os apóstolos
individualmente poderiam errar (embora, como ele nota em outro lugar,
corporativamente eles não pudessem errar). O ponto importante a notar
para interpretar a Confissão de Fé, como sempre, é o uso da frase “espírito

174
Cartwright, Certamen Religiosum 56; cf. 119-20
175
Suas obras são agora convenientemente extraídas da série Os Clássicos da Espiritualidade de Westem, em
um volume intitulado João da Cruz: Escritos Selecionados, editado por Kieran Kavanaugh (Nova York:
Paulist, 1987).
176
O fundador Quaker George Fox, a partir de 1646, relatou ter recebido infalíveis revelações do Espírito
Santo. Em um encontro notável em uma igreja anglicana, depois que o sacerdote admoestou sua congregação
de que a Escritura era o teste de toda a doutrina, Fox exclamou: “Oh não, não são as Escrituras”. Fox então
exortou a congregação que “era o Santo. Espírito, segundo o qual opiniões, religiões e julgamentos deveriam
ser julgados.” Ver E. Glenn Hinson, editor, The Journal of George Fox, em The Doubledory Devotional
Classics, Volume I (Garden City, NY: Doubleday & Company, 1978) 59.
privado” para se referir não só a uma revelação pessoal, mas que poderia
ser falível percebido pelo seu destinatário. O marquês acreditava que Deus
é infalível, que os apóstolos agindo corporativamente eram infalíveis, mas
que os cristãos (até os apóstolos) podiam cometer erros, mesmo quando
recebiam ajuda reveladora.
Neste ponto, nossos discordantes se voltam para outros assuntos com
os quais não estamos preocupados agora. Mas se nos voltarmos para o
comentário de Cartwright que acompanha The Vindication of the Protestant
Cause [A Vindicação da Causa Protestante], nós descobrimos suas
respostas às duas declarações do marquês sobre espíritos privados que
esclarece mais este exame da CFW § 1.10. Para a primeira dessas
declarações, Cartwright responde:

É verdade, ninguém pode apelar para Escrituras destacada


com suas próprias notas, com sua própria interpretação, e
dando sentido com o seu próprio espírito privado. Não há
nenhum propósito para supor a Escritura, exceto nesse sentido,
em que é suposta, pode ser provada pela Escritura. O Rabino
Judeu (como o Mestre Selden o cita) bem disse, Toda a
interpretação (da Escritura) que não está fundamentada na
Escritura é vã. Mas o que isso faz contra suas Majestades
recorrerem às Escrituras, ou contra qualquer homem que tome
esse rumo em disputas dessa natureza, eu não vejo. Para isso a
sua Majestade o faça para recorrer às Escrituras, o marquês
não diz, nem qualquer homem deve ser acusado de algo desse
tipo, exceto se puder ser provado que ele é culpado.177

Cada Escritura, Cartwright insiste à moda Protestante, tem apenas


um sentido e não pode ser interpretado de outra forma. E esse sentido pode
ser “provado”, isto é, demonstrado em outras Escrituras. Por isso,

177
Cartwright, Certamen Religiosum 116
Cartwright concorda de uma vez com o marquês, que ninguém pode
justamente apelar para revelações privadas na interpretação da Escritura.
Além disso, Cartwright insiste, o rei não fez isso, e é repreensível inferir
que ele o fez sem prova positiva. Para a segunda das referências do
marquês, Cartwright responde:

1. Sua Majestade estava longe de pensar, que os apóstolos,


como os homens da pena do Espírito Santo, pudessem Erre.
Pois então não havia espaço para essa inferência, Que a
Verdade não é um lugar para encontrar senão na Sagrada
Escritura.178 2. Sua Majestade não falou de nenhum Espírito
privado, mas do Espírito de Deus levando-nos a toda a verdade.
É verdade, se for o caso sob o pretexto do Espírito vão contra a
Palavra, (como muitos vão) sejam eles pessoas particulares, ou
concílios gerais que assim o fazem, é um espírito particular,
viz., o próprio Espírito deles pelo qual eles são guiados.
Portanto, São João prescreve: Não creiais em todo o espírito,
mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos
profetas (muitos dos quais falsamente fingem o Espírito) se têm
levantado no mundo, 1 João 4.1. Mas quem quer que seja que
vá de acordo com a Palavra, embora sejam pessoas particulares
e privadas, ainda não é o seu próprio espírito particular e
privado, mas o Espírito de Deus que os guia [...] O que é
obscuro em um lugar, deve ser claro em algum outro lugar, ou
então sem revelação extraordinária, não vejo como devemos
alcançar a compreensão disso (ênfase original).179

178
Estas declarações, incidentalmente, indicam que a doutrina da inerrância verbal não era uma invenção
moderna (assim Jack B. Rogers, Escritura na Confissão de Westminster, [Grand Rapids: Eerdmans, 1967]),
nem a única propriedade dos escolásticos reformados continentais (assim, CA Briggs [Whither ?, 1889],
citado em Warfield, The Westminster Assembly , 263), mas fazia parte da fé de anglicanos como Charles I
(ou seu escritor fantasma) e Christop seu Cartwright em meados de 1600. s.
179
Cartwright, Certamen Religiosum, 120-21
Esta citação, conclui nossas citações do Certamen Religiosum e sua
acompanhante Vindication. Cartwright transfere seu uso do termo de
denotar um “espírito” privado de revelação — que se refere ao ministério
do Espírito Santo ou talvez anjos — para um uso pejorativo para aqueles
que “sob a pretensão do Espírito vão contra a Palavra”. Também nos leva a
exibir mais o curso de significado para “espíritos privados” entre 1646 e
1652. Eu coloquei quatro conclusões, as duas primeiras dos quais são
certos e a terceira e quarta são hesitantes. (1) O marquês (1646) e
Cartwright (1651— 52) concordam na definição de “espírito privado”
como revelação pessoal. (2) Nenhuma das partes, no entanto, pensa muito
bem em tais alegações de revelação, já que ambas concordam em rejeitar a
infalibilidade no receptor. (3) O marquês parece aceitar a legitimidade de
pretensões modestas à revelação que não inferem qualquer reivindicação de
infalibilidade no receptor. (4) Não está claro se Cartwright aceita uma
legitimidade limitada às revelações fora da Escritura, mas pode haver
concordância com o marquês aqui também; a última frase citada acima
talvez implique na crença de Cartwright em sua extraordinária
possibilidade, pois é claro que ele normalmente não espera que tais
revelações ocorram. Para Cartwright, “muitos... sob pretexto do Espírito,
vão contra a Palavra.”180 Talvez em sua opinião, alguns outros não farão
disto um erro, mas verdadeiramente seguirão a direção do Espírito.

II. Disputatio de Sacra Scriptura de William Whitaker (1588)

Essa interpretação da frase “espíritos privados” recebe a confirmação


da segunda fonte significativa aludida acima. Em 1588, o teólogo

180
Veja o livro do controversialista inglês Recusan James Sharpe, The Tria do Protestant Private Spirit
(1630; reeditado como Volume 157 em Inglês Recusant Literature, Scolar Press: Menston, Inglaterra, 1973)
para uma avaliação vituperativa desse “espírito privado”. Para Sharpe, o espírito privado protestante era
demoníaco ou uma ilusão autocriada. A declaração anterior perpetua a acusação católica comum da era da
Reforma inicial de que os protestantes eram possuídos por demônios.
reformado inglês William Whitaker (1547/48-1595) publicou um
Disputatio de Sacra Scriptura dirigido contra o erudito jesuíta Robert
Cardeal Bellarmine.181 Belarmine levantou a questão se Deus designou
algum juiz para controvérsias dentro da igreja. Escritura é a lei da igreja -
então o cardeal argumenta - mas toda lei precisa de um juiz para interpretá-
la e aplicá-la; portanto, Deus designou o pontífice romano para suprir essa
necessidade. Whitaker respondeu:

Deus, de fato, deixou sua igreja um juiz; mas a questão agora


é: Quem é esse juiz, sob a qual uma controvérsia é levantada
entre nós e os papistas? Dizemos que o juiz é o Espírito Santo
falando nas Escrituras.182 Mas o jesuíta elabora três
afirmações sobre esse assunto. Primeiro, ele diz que esse juiz
não é algum espírito de revelação privada, eu respondo: nós
admitimos isso. A autoridade de tal espírito é secreta, oculta e
privada; mas o juiz procurado deve possuir uma autoridade
pública, aberta e universalmente notória.183

Mais uma vez Whitaker escreve:

A lei divina é tanto o juízo quanto o juiz, o intérprete e a regra.


Para que regra aquele juiz a quem os papistas se propõem na
interpretação da Escritura? Ele não tem nenhum? Isso, espero,
eles não ousam afirmar. Agora, se ele seguir qualquer regra,
ela precisa ser pública ou privada. Se ele seguir uma regra

181
Guilielmo Whitaker, Disputatio de Sacra Scriptura (Cantabria) 1588 [Ann Arbor, MI: Microfilms da
Universidade 425366, Reel 1468]. A versão em inglês é Disputation on Holy Scripture (Cambridge: The
University Press, 1849; reeditada London: Johnson Reprint Co., 1968).
182
Esta frase e perto equivalente s freqüentemente aparecem na Disputa de Whitaker; em WCF 1.10, a frase
reaparece como o clímax de todo o parágrafo. 21 Disputation 1849: 444-45.
183
O original diz: “Reliquit quidem Deus iudicem Ecclesiae suae; sed quis ille sit iam quaeritur, & inter nos
ac Papistas controvertitur. Nos dicimus hunt iudicemesse Spiritum sanctum em Scripturis loquente. Iesuita
ve rô hac de re tria asserit. Primò, ait hunt iudicem não esse Spiritum privatum revelantem. Respondeo: Nos
hoc fate mur, Huiusmodienim Spiritus autoritas oculta, arcana, ac privata est: sediste iudex publicam,
apertam, & omnibus notam authoritatem habere debet” (Disputatio 1588: 331-32).
privada e oculta, ela não deve ser recebida, porque duvidosa e
incerta, e não melhor que o testemunho pessoal do Espírito;
enquanto todas as regras devem ser certas e conhecidas [...]. Os
argumentos dos papistas [...] são, na maior parte, irrelevantes,
sendo dirigidos contra o espírito privado, que não é o juiz que
reconhecemos.184

Não precisamos de prosseguir o seu debate mais adiante. O contexto


do discurso de Whitaker é essencialmente o mesmo que o do Certamen
Religiosum: o debate entre Católicos e Protestantes sobre a autoridade em
julgar a controvérsia religiosa. Para Whitaker, e depois, para os Teólogos
de Westminster, esse juiz só pode ser o Espírito Santo. Este Espírito não é
uma autoridade privada, pois Ele fala nas Escrituras para toda a igreja. O
significado das frases de Whitaker, “espírito de revelação privada”
(Spiritum privatum revelantem) e ‘espírito privado’ (privatus spiritus) é
óbvio: as frases funcionam da mesma maneira que o equivalente de
Certamen Religiousum, “espírito privado” e significam “Revelação para
uma pessoa particular (privada)”. Wayne R. Spear demonstrou
recentemente que o tratado de Whitaker de 1588 exerceu uma influência
mais direta sobre a composição do CFW § 1 do que qualquer outra obra já
conhecida. O Professor Spear destaca com razão que a CFW § 1.1 espelha
os tópicos: ordem, doutrinas e até mesmo o próprio texto (como o primeiro
citação acima já sugere) da Disputatio de Whitaker.185 Além disso, Spear
observa que Whitaker foi o teólogo mais frequentemente citado nos debates

184
Disputation 1849: 446- 47. O original diz: “Lex verô divina e iudicium, e iudex, e interpres, e regula est.
Quam enim regulam sibi proponet iudex ille, quem ipsi Papista solteira, em Scripturisinterpretandis?
Nullamnê? id, ut spero, não audente aflirmare. Si verô ullam sequetur regulam, ea auto privata, aut publica
sentar necesse est.
Si privatam & occultam aliquam regulamsequatur, illa quidem recipienda non est, quia dubia est & incer ta,
ne melhor esse potest privato testemunho spiritus: regula verô omnis certa atque nota esse debet. Atqu e
hactenus quidem dePapistarum argumentis diximus, qu ae feré aliena sunt, cóm priva tum spiritum
oppugnent, quem nos iudicem non facimus” (Disputatio 1588: 333-34).
185
Essa comparação também é confirmada na versão latina do CFW da Assembleia de Westminster (contida
no relatório de Schaff). Credos da Cristandade, volume 3).
registrados nos últimos anos da Assembleia de Westminster.186 O uso da
CFW § 1.10 de “espíritos privados” inferimos, segue o uso de Whitaker em
sua Disputatio.

III. Onde a evidência leva

A evidência histórica e linguística indica que a frase da WCF § 1.10


“espíritos privados” tinha um significado claramente reconhecido que pode
ser traçado nas controvérsias entre o teólogo reformado William Whitaker
e o jesuíta Robert Bellarmine e entre o leigo católico inglês Henry
Somerset, Marquês de Worchester, Carlos I (ou seu escritor fantasma) e o
teólogo anglicano Christopher Cartwright. Esse significado reconhecido
denota revelação privada, não opinião pessoal. A CFW § 1.10, ecoando
Whitaker, afirma “o Espírito Santo falando na Escritura” como “o juiz
supremo pelo qual todas as controvérsias da religião devem ser
determinadas”.
O parágrafo 1.10 então lista quatro itens que devem ser examinados
pelo Espírito. Estes quatro são “todos os decretos de conselhos, opiniões de
escritores antigos, doutrinas dos homens e espíritos privados”. Aplicando
as nossas conclusões do Certamen religiosum e da Disputatio de Whitaker
para a Confissão de Westminster, deve-se examinar a possibilidade que os
redatores do § 1.10 pretendiam listar as revelações pessoais ao lado de
outros pretendentes à verdade religiosa que deve ser julgada pela palavra
infalível do Espírito Santo, a Sagrada Escritura. Este ponto levanta uma
questão séria sobre a opinião recebida em alguns círculos, que, como
Robert Reymond disse uma vez, “dificilmente se pode conceber uma
afirmação mais forte da cessação da revelação do que se encontra aqui” na

186
A obra do Professor Spear (“William Whitaker e a Doutrina de Wesminster”, The Reformed Theological
Journal 7 [1991]; 38-48) aumenta significativamente o campo de guerra (The Westminster Assembly, 169-
90) sobre as fontes do CFW 1.
CFW § 1, e que a cessação de todos os modos de revelação especial é “uma
parte integral do ‘sistema de doutrina’ estabelecido na Confissão de Fé
Westminster”.187
Em vez disso, nossa evidência sugere que a CFW § 1 é mais
provavelmente uma declaração compromisso entre os vários partidos na
Assembleia de Westminster. Embora nenhum registro de discussão ao
longo dessas linhas sobreviva (um problema frequente na reconstrução da
obra da assembleia), pelo menos três partes podem ser identificáveis nesta
questão. Primeiro foram os cessacionistas estritos, que podemos representar
por Edward Reynolds (1593-1676), que participaram do comitê que
elaborou o CFW e por John Lightfoot (1602-1675), o mais eminente
hebraísta da assembleia.
Segundo esses homens, todos os modos de revelação especial devem
necessariamente ter cessado desde a conclusão do cânon da Sagrada
Escritura.188 Em segundo lugar, havia os Independentes, representados por
William Bridge (1600? -1670), que acreditavam que uma revelação
limitada, não fundacional, não canônica era ainda remotamente possível.189

187
Robert L. Reymond, E as Revelações e Milagres na Igreja Presbiteriana Hoje? (Phillipsburg, NJ:
Presbyterian and Reformed, 1977) 21; 2, n. 2
188
Reynolds escreveu: “As Escrituras são a única regra de todas as controvérsias… Então, a única luz pela
qual as diferenças devem ser decididas, é a palavra, sendo um cânon completo da vontade revelada de Deus:
pois o Senhor não faz agora, como antigamente vezes, tornar-se conhecido por sonhos ou visões, ou qualquer
outra forma diate Imme (Obras V, 1826: 152 -53; como citado em Warfield, The Westminster Assembly,
256). Lightfoot escreveu: “Não há promessa nas Escrituras, pelo que o espírito da revelação deve ser
esperado após a queda de Jerusalém ... Na queda de Jerusalém, toda a Escritura foi escrita e a plena vontade
de Deus revelada; de modo que não havia mais necessidade de profecia e revelação” (Works Vol. VI: 236-
42; conforme citado em Warfield, The Westminster Assembly, 287-88). Lightfoot não manteve essa opinião
casualmente. Sua dissertação de doutorado de Cambridge foi intitulada Post canonem Seripturae consig
natum, não sunt revelações expectandae. O título está intimamente Pará redigidas em Inglês nas próprias
palavras de Lightfoot: “[A] f ter Deus havia preenchido e assinado a escritura-cânones, os cristãos devem
expec t revelações não mais” (Funciona VI: 287; como citado em Warfield, The Westminster Assembly,
281).
189
Em um sermão publicado em 1656, e provavelmente pregado no ano 1640, Bridge escreve: “Deus não fala
por visões e revelações extraordinárias, nestes nossos dias?” Ele responde: Sim, sem dúvida, ele pode: Deus
não deve ser limitado, ele pode falar de que maneira ele quer. O que Deus pode fazer não vou contestar: ele
pode assim falar aos homens, se lhe agradarem; sim, e se pudermos dar crédito a histórias conhecidas, o
Senhor tem falado assim algumas vezes a alguns de seus servos desde o tempo dos apóstolos… Contudo, há
uma grande diferença entre a fé na promessa e uma visão ou revelação. Possivelmente, então, o Senhor pode
falar de tal maneira como isto é para alguns de seus servos. Mas agora, que você pode ter um limite neste
Terceiro, e aqui atipicamente os aliados do segundo partido, onde os
Comissários escoceses, que podemos representar por um dos mais
eminentes debatedores da Assembleia, o Covenater George Gillespie
(1613-1648), que, em comum com muitos presbiterianos escoceses, que
John Knox, George Wishart e outros heróis da Reforma Escocesa eram de
fato profetas.190 Em nossa leitura proposta, então, a CFW § 1.10 faz um
ponto semelhante ao feito pelo Arcebispo James Ussher. Ussher — mais
conhecido agora por seu cálculo da data da criação como 4004 a. C. — foi
um dos grandes teólogos da época.
Muitos dos Teólogos de Westminster o reverenciaram, apesar de ele
ter recusado o convite do Parlamento para servir entre seus membros na
assembleia. B. B. Warfield demonstrou que os Teólogos de Westminster
191
usavam extensivamente as obras de Usher para escrever a CFW. Em
Sum e Substance of the Christian Religion [Soma e Substância da Religião
Cristã] de Ussher, uma obra que provavelmente foi lida por alguns dos
Teólogos de Wesminster em 1645—46,192 aparece a seguinte declaração
que mostra que esse teólogo, tão influente na Assembleia de Westminster,
ensinou o que nossa interpretação da CFW § 1.10 sugere:

Estas Sagradas Escrituras são a regra, a linha, a base, a luz,


por meio do qual se examina e julga todos os juízos e sentenças

assunto… Embora Deus possa assim falar com alguns de seus servos, ainda que eu tenha um desejo ardente
depois de visões e revelações, está doente.

O Senhor pode operar um milagre e, estando forjado, Tam deve recebê-lo; mas eu não posso colocar Deus no
trabalho de um milagre. Então, aqui, se Deus fala assim comigo, ele pode; mas não posso colocá-lo nele sem
tentá-lo; sim, devo estar tão longe de desejar que Deus fale desta forma de visão, como estou obrigado a estar
atrasado para isso. Um desejo ardente depois de visões, argumenta que um homem não está contente com a
Escritura. (William Bridge, "Luz da Escritura, a Luz Mais Segura ", As Obras da Ponte de William, 1845, I
.417-18 [ repr] . Beaver Falls, PA: Soli Deo Gloria, 1989].)
190
Gillespie escreveu que eles eram "homens extraordinários, mais do que pastores e mestres comuns, até
mesmo profetas santos, recebendo revelações extraordinárias de Deus, e predizendo coisas estranhas e
notáveis, que: consequentemente, aconteceram pontualmente " (Tratado de Questões Diversas). Edimburgo,
1844: 30). Quero agradecer ao Professor Wayne R. Spear por chamar essa referência para minha atenção.
191
Warfield, The Westminster Assembly, 175; 169-90 passim
192
Então Warfield, The Westminster Assembly, 176-77 e n. 35
dos homens e dos anjos. Todas as tradições, revelações,
decretos de conselhos, opiniões de doutores, etc., devem ser
adotadas tão longe quanto possam ser provadas das divinas
Escrituras, e não de outra maneira.193

193
Como citado em Warfield, The Westminster Assembly, 190.
Bibliografia:

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19.Joy Unspeakable, p. 39 -278. "I am certain that the world outside is not
going to pay much attention to all the organized efforts of the Christian
church. The one thing she will pay attention to is a body of people filled
with the spirit of rejoicing. Tha. (s.d.).
20.Lloyd-Jones, M. (s.d.). Pregação e Pregadores. Fiel.
21.Lloyd-Jones, M. (s.d.). Romanos: Exposição sobre o capítulo 12 - O
Comportamento Cristão, PES, 2003. p. 290-1.
22.Poole, M. (s.d.). Comentário de Hebreus.
23.Robert Kendall, Calvin and English Calvinism to 1649, 1979, p. 205).
(s.d.).
24.The Nature of Saving Faith From William Perkins (1558–1602) to the
Westminster Assembly (1648. (s.d.).
25.The Pious Communicant Encouraged, pp.95, 96, 104,15. (s.d.).
26.The Works of Thomas Goodwin, 8:366. (s.d.).
27.Verdade”, N. M. (s.d.).

28.Genebra, B. d. (2014). Edição Revisada e Ampliada. São Paulo:


Cultura Cristã.
29.Pregador, H. c. (1892). COMENTÁRIO do Livro de Josué. Nova
Iorque: FUNK & Wagnalls COMPANY.
30. Commentary of Vincent Cheung on Malachi, pág. 54. - Tradução:
Luan Tavares
31.A Busca da Verdade, livro VI, Nicolas Malebranche.
32.Martin Luther, The Bondage of the Will; translated by J. I. Packer and
O. R. Johnston; Fleming H. Revell ,1957 God Control.
33.Coletânea nº85, parágrafo adicionado. http://edwards.yale.edu.
34. O Filósofo Presbiteriano, Douglas Douma, Tradução: Cosmovisão
Escrituralista
35.Comentário Bíblico Broadman.
36.Comentário Bíblico do AT Editota Cultura Cristã.

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