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MÉTODOS DE ESTUDOS BÍBLICOS

1. INTRODUÇÃO
 
A Reforma Protestante trouxe uma grande conquista para a Igreja de
Cristo. Lutero considerava que a distância entre o povo de Deus e
Sua Palavra levaria a Igreja à corrupção; assim, se propôs ao estudo
dos idiomas originais e ao ensino da Bíblia como única autoridade e
regra de fé para a Igreja, “Sola Scriptura”. Aos 31 de outubro de
1517, as 95 teses luteranas foram fixadas na Igreja do castelo de
Wittenberg.
Antes da Reforma, a leitura da Bíblia estava reservada aos
conhecedores dos idiomas originais e do latim; Lutero inicia um
sistema de educação para que o povo pudesse aprender a leitura
bíblica em alemão, de modo que a Bíblia passa ser acessível a todos.
Assim, a Bíblia passa a ter o devido reconhecimento como verdadeira
Palavra de Deus.
Ao aproximar-se da Bíblia, o cristão deve ter a consciência de que
não se trata simplesmente de mais um livro. Embora seja um
material compilado por seres humanos e que deve ser estudado
segundo regras comuns de interpretação textual, a verdadeira
Palavra de Deus está revelada na Bíblia Sagrada, segundo a
inspiração divina sobre os escritores do Antigo e do Novo
Testamentos.
 
 
1.1.        O ESTUDO PESSOAL DA BÍBLIA
 

O estudante da Bíblia deve ter uma postura de reverência para


com ela, devido ao conhecimento de seu Autor (1Ts 2.13); de desejo
por encontrar-se com o Senhor, pois Ele assim promete (Jr 29.13);
de disposição e humildade para obedecer ao Senhor (Sl 25.9; Is
66.2; 1Co 2.14-15); de perseverança, pois a Bíblia serve de bússola
para a  jornada até Deus (Jo 8.31; 2Pe 1.3-11).
 
Além da postura necessária para estudar o Texto Sagrado, o cristão
deve se aproximar da Bíblia buscando mais do que acúmulo de
conhecimento. Deve buscar na Bíblia, em primazia, a salvação (Jo
5.24, 39, 6.68; Ef 1.13; 2Tm 3.15; Tg 1.21); a direção para os seus
caminhos (Sl 119.105); fé (Rm 10.17); a esperança (Rm 15.4; 2Pe
1.19); a alegria (Sl 19.8; Jr 15.16); a paz (Sl 119.65); o sustento (Dt
8.3; Mt 4.4; 1Tm 4.6); o crescimento (1Pe 2.2); a pureza (Sl 119.9;
Jo 15.3; Ef 5.26; 1Pe 1.22); a santidade (Jo 17.17; Ef 5.26); a
maturidade (Hb 5.12-14); a sabedoria (Sl 119.98-100; 2Tm 3.15); as
defesas espirituais (Mt 4.1-11; Ef 6.17); a eficácia espiritual (2Tm
3.16-17); a introvisão (Hb 4.12; Tg 1.22-25); a cosmovisão (Rm
16.25-27) e a bem-aventurança (Sl 119.1; Lc 11.27-28; Ap 1.3).
 
O estudo pessoal da Bíblia capacita o cristão a pensar por si mesmo a
respeito de sua fé e das doutrinas bíblicas, de modo a experimentar a
alegria da descoberta pessoal. Também capacita o estudante a
avaliar palestras, preleções e materiais de estudo de maneira crítica,
auxiliando os demais na compreensão e aplicação da Palavra de
Deus. Estudar a Bíblia devocionalmente leva o cristão a conhecer
melhor e desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus, que
se revela em Sua Palavra. Isso é crescimento espiritual.
Além disso, o estudo pessoal prepara o estudante para manejar bem
a Palavra da verdade (2Tm 2.15), evitando erros quanto ao contexto
e aplicação de textos bíblicos (2Pe 1.20; 1Co 2.13).
 
 
1.2.        A BÍBLIA COMO REVELAÇÃO DE DEUS
 
            Uma vez que a Bíblia se apresenta como a verdade revelada
de Deus, deve ser compreendida como obra sobrenatural deste.
 
 
1.2.1.   Inspiração
 
Para que a Bíblia chegasse aos dias atuais na forma como está, Deus
se valeu de autores humanos, que foram inspirados por Ele para a
compilação dessa obra (1Ts 2.13). Inspirado significa soprado,
exalado por Deus, ou seja, embora escrevendo segundo seu próprio
ponto de vista (Js 10.13), produziram obras segundo a vontade de
Deus.
 
 
1.2.2.   Iluminação
 
Ao passo que a inspiração foi a obra mediante a qual Deus usou
homens para a produção literária de sua revelação, a iluminação é o
ministério do Espírito Santo, que esclarece as verdades reveladas na
Bíblia para seus leitores (Jo 16. 12-15).  É importante que o
estudante sincero peça que o Espírito de Deus sonde seu coração (Sl
139.23,24), confessando seus erros (Sl 32.5; 51.2,7,10,17; 66,18;
1Jo 1.9), segundo o Espírito Santo ensina mediante a Palavra de
Deus e, assim, pedir um coração receptivo, sedento e obediente (Sl
42.1,2; Pv 23.12; Hb 10.22).
 
 
2.    PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O ESTUDO BÍBLICO
 
 
2.1.        LEITURA
 
Uma vez que a revelação de Deus foi registrada através da escrita, é
imprescindível que o cristão se dedique em aprimorar sua capacidade
e seus hábitos de leitura. É preciso ler bastante, além de ser
necessário que se desenvolva gosto pela leitura, de modo que deixe
de ser uma obrigação e passe a proporcionar prazer para o leitor.
O temor do Senhor e a oração devem preceder, acompanhar e
suceder a leitura da Bíblia. O ambiente acadêmico não pode levar o
estudante a conceber a Escritura e a espiritualidade de seu conteúdo
como mero material de pesquisa.
Estudar exige atenção, interesse e entrega ao texto em questão. É
importante ler repetidamente e, se possível em mais de uma
tradução. Bíblias de estudo podem ser muito úteis, mas possuir
várias versões e diferentes traduções é ainda mais importante para
desenvolver a compreensão do texto por si só.
Ter paciência para a leitura e saber exatamente a que o texto está se
referindo é indispensável, além da meditação sobre o assunto,
extraindo aprendizado e compreendendo plenamente o objetivo da
passagem, descobrindo, assim, informações no texto que sejam úteis
para a vida prática.
Sublinhar ou destacar textos, utilizar as margens para fazer
anotações são hábitos que ajudam muito o estudante. 
 
 
2.2.        MEMORIZAÇÃO
 
Quanto à memorização, o treino é o melhor caminho, pois cada
pessoa tem uma forma específica para conseguir decorar; algumas
têm facilidade para lembrar o que ouvem, de modo que, lendo em
voz alta, obterão melhores resultados; outras pessoas lembram
melhor o que vêem, assim, marcar a Bíblia pode ajudar; os
sensitivos, por sua vez, podem optar por transcrever os textos.
Diferente do processo de estudo para a interpretação, onde uma
variedade de versões é significativamente melhor, no processo de
memorização o estudante deve optar por uma única versão.
 
 
2.3.        MATERIAIS DE APOIO
 
A Bíblia é a única fonte de material de estudo inspirada por Deus;
contudo, é importante fazer uso do que outros cristãos deixaram
como registro de suas pesquisas. Muitas informações contidas no
Texto Sagrado serão mais bem elucidadas por pessoas que tenham
conhecimento técnico em determinadas áreas do conhecimento
(geografia, história, literatura, etc.). Porém, o cristão deve ter no
texto a primazia de suas pesquisas para não se tornar mero
reprodutor de opiniões alheias.
A escolha de local e momento adequados, livres de interrupções, é
importante para o melhor rendimento dos estudos; além disso, o
estudante da Bíblia deve munir-se do material adequado:
 
 Análise e opiniões de estudiosos e pesquisadores do
assunto.Comentários Bíblicos:
 Dicionário da língua portuguesa: Para esclarecer o sentido das palavras antes de
tentar a interpretação.
 Dicionários bíblicos: Importantes para compreender o significado das palavras no
contexto em que aparecem no Texto sagrado.
 Concordância bíblica: Com esse material, é possível, através de palavras-chave,
encontrar a localização de textos na Bíblia.
 Atlas bíblicos: Trazem mapas das regiões bíblicas com informações como divisão
política, física, relevo, distâncias, entre outras de grande relevância, como as peregrinações
dos patriarcas ou as viagens dos apóstolos.
 Livros no contexto cultural: Como, por exemplo, de história secular, para a
verificação e sincronização dos fatos da história bíblica com outras nações no mesmo
período. Além de materiais das diversas áreas do conhecimento.
 Bíblias de estudo: São bíblias que trazem auxílios para o leitor no rodapé do texto
bíblico ou em espaços separados, facilitando o estudo e a compreensão.
 
Outros materiais importantes: Softwares de Bíblia; Enciclopédias;
Diversas versões da Escritura; Caderno para anotações; Computador.
 
 
3.    ETAPAS DO ESTUDO BÍBLICO
 
Independente do método ou do propósito do estudo bíblico (seja uma
leitura corriqueira, a preparação de um sermão ou mesmo uma
pesquisa de nível acadêmico), existem três etapas fundamentais para
a compreensão e estudo de qualquer passagem bíblica:
 
 Observação: “O que diz o texto?”
 Interpretação: “O que significa o que diz o texto?”
 Aplicação: “Como usar o que o texto diz na vida cotidiana?”
 
 
3.1.        OBSERVAÇÃO
 
Por vezes, ao estudar determinada passagem bíblica, o estudante não
consegue extrair todo o conteúdo que esta contém, de maneira a
pensar que aquele texto não contém tantas informações relevantes.
Porém, ao ler um comentário ou ouvir uma preleção feitos por outra
pessoa, fica impressionado com o conteúdo que o autor ou preletor
consegue obter através de um bom estudo.
Esta primeira etapa do estudo bíblico é a observação, na qual o
pesquisador se dedica a trazer à tona todo o conteúdo e a riqueza
dos detalhes da passagem que deseja estudar, a fim de extrair
subsídios para as demais etapas do estudo.
 
 
3.1.1.   O tema do estudo
 
Em primeiro lugar, o estudante deve estar interessado na pesquisa
que irá realizar, caso contrário, desistirá ou realizará um trabalho
superficial. O interesse pelo estudo de determinada passagem surge,
muitas vezes, de uma leitura descomprometida que o cristão faz por
prazer, a fim de simplesmente meditar em um trecho bíblico; disso
surgem curiosidades e o desejo de compreender melhor a amplitude
da revelação de Deus naquela passagem. Outras vezes, um tema que
gera polêmica ou dúvidas ao cristão e aos seus irmãos o incentivam a
pesquisar com interesse o assunto. De uma ou de outra forma, a
pesquisa será mais bem sucedida se partir de um interesse pessoal,
de um desejo sincero pelo assunto.
 
 
3.1.2.   A leitura do texto
 
Esforço e perseverança são fundamentais para que todos os
pormenores sejam extraídos do texto, fazendo o registro por escrito
de cada detalhe observado de modo sistêmico e de fácil consulta,
para possibilitar a posterior organização das informações.
É necessária atenção completa a cada detalhe, sem perder a visão
holística, dedicando concentração e tempo. Ler a passagem
cuidadosamente e repetidamente, meditando em cada palavra e
visualizando mentalmente o que o texto diz com bastante paciência.
 
 
3.1.3.   Análise do texto
 
 Identificação e anotação de quem são os personagens
envolvidos no contexto, como falante, ouvinte, escritor,
destinatários.Quem?
 O que? O contexto em que a cena se desenvolve, o que está acontecendo e o que os
personagens estão dizendo.
 Onde? O lugar onde a cena acontece ou onde o autor de determinada epístola ou
livro se encontra no momento da composição, o lugar onde estão os destinatários.
 Quando? O momento em que a cena acontece e a relevância disso dentro do
contexto histórico.
 Por quê? Fatos que motivaram o acontecimento ou a composição da obra por parte
de seu autor ou do personagem central.
 Como? As maneiras como os acontecimentos se desenrolaram.
 
 
3.1.4.   Estrutura literária do texto
 
Passo indispensável para uma observação completa é determinar a
estrutura literária do texto, pois a forma de interpretar será definida
por essa estrutura: Narrativa (Gn 6); Didática (Mt 5); Admoestação
(Gl 1.6-12); Poesia (Salmos, Cântico dos Cânticos); Parábolas (Mt
13.3-19); Profecia (Isaías, Jeremias, Ezequiel); História (Josué);
Sabedoria (Provérbios, Eclesiastes); Epistolas; Escatologia
(Apocalipse). Perceba-se que um livro ou passagem pode estar
inserido em mais de um gênero literário ao mesmo tempo.
 
 
3.1.5.   Palavras-chave
 
Palavras cuja definição determina o significado de pontos cruciais da
passagem como um todo. Por exemplo, a palavra aliança (gr:
diatheke) que aparece em Hb 12.24 significa “um contrato celebrado
entre duas pessoas onde o contratante estabelece as cláusulas e
condições a serem aceitas pelo contratado”. Jesus é o mediador desta
nova aliança estabelecida entre Deus e homens. A partir do momento
em que tal aliança é feita por iniciativa de Deus, as bênçãos
relacionadas a ela serão desfrutadas por todos quantos fizerem parte
desta aliança.
 
Por fim, é necessário fazer um apanhado geral das anotações e
observações para que os detalhes não se percam.
 
 
3.2.        INTERPRETAÇÃO
 
Uma vez feita a observação, é necessário interpretar os textos em
análise. Para não cometer distorções e evitar possíveis erros, é
necessária a observação das regras hermenêuticas, ou seja, as regras
de interpretação do texto bíblico.
A hermenêutica é a ciência, arte e técnica de interpretar
corretamente a Palavra de Deus. A regra fundamental da
hermenêutica bíblica é:
 
A Escritura Sagrada interpreta a si mesma.
 
O primeiro a transgredir a regra mais básica da interpretação bíblica
foi Satanás, distorcendo o significado das palavras de Deus, omitindo
parte do conteúdo e citando apenas o que lhe convinha:
 
“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo
que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que
Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher
à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do
fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não
comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a
serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus
sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos,
e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Gn 3.1-5
 
Ao se deparar com interpretações diferentes ou contraditórias, o
intérprete deve buscar o texto na Bíblia, tendo a regra fundamental
como norte para sua averiguação da veracidade do significado do
texto. Pedro ensina que nenhuma escritura é de particular
interpretação (2Pe 1.20), ou seja, a Bíblia interpreta a própria Bíblia.
Partindo desta regra, há cinco regras básicas e indispensáveis para a
interpretação de todo e qualquer texto bíblico:
 
 
3.2.1.   Primeira Regra da Hermenêutica
 
Enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu
sentido usual e ordinário.
 
Os escritores bíblicos escreveram com o propósito de deixar uma
mensagem clara ao povo de Deus e ao mundo, usando palavras
conhecidas pelo povo em geral da época em que o texto foi escrito.
Assim, devem-se interpretar as palavras no sentido simples do que
elas significam e do que elas significavam para os seus destinatários
originais. 
 
Exemplo:
“Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés
tudo lhe puseste:  ovelhas  e bois, todos, e também os animais
do campo; as aves do céu, e os  peixes do mar, e tudo o que
percorre as sendas dos mares”. Sl 8.6-8.
 
No texto acima, as ovelhas seriam os crentes em Cristo e os peixes
os homens que precisam de evangelização? Esse é um tipo de erro
comum que pode ser evitado se a primeira regra for respeitada:
Ovelhas são ovelhas e peixes são peixes, simplesmente.
 
Exemplo:
“Se o teu olho direito te faz tropeçar,  arranca-o  e lança-o de
ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não
seja todo o teu corpo lançado no inferno”. Mt 5.29
 
É óbvio que Jesus não está sugerindo a automutilação, mas usando
um modo próprio de expressão do idioma original, enaltecendo a
vantagem de sacrificar algo valioso com o objetivo de obedecer à
vontade de Deus – ainda mais valiosa.
 
 
3.2.2.   Segunda Regra da Hermenêutica
 
É absolutamente necessário tomar as palavras no sentido que
indica o conjunto da frase.
 
É preciso questionar o pensamento do autor para determinar o
sentido correto que a palavra assume dentro de uma frase, pois,
tanto na Bíblia quanto em qualquer outra literatura, o sentido das
palavras muda de acordo com a frase em que estão inseridas.
Por exemplo, o significado assumido pela palavra sangue nos diversos
textos bíblicos:
 
 Sangue = percepção humana:
Mt 16.17: “Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu
Pai, que está nos céus”.
 
 Sangue = pessoa:
Mt 27.4: “Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém,
responderam: Que nos importa? Isso é contigo”.
 
 Sangue = assassinato:
Mt 27.6: “E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram:
Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço
de sangue”.
 
 Sangue = culpa:
Mt 27.25: “E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e
sobre nossos filhos!”.
 
 Sangue = sangue:
Jo 19.34: “Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e
logo saiu sangue e água”.
 
 
3.2.3.   Terceira Regra da Hermenêutica
 
É necessário tomar as palavras no sentido que indica o
contexto, isto é, os versos que precedem e seguem o texto
que se estuda.
 
Quando a frase ou versículo não são suficientes para definir o
significado do termo, deve-se recorrer aos versículos que antecedem
ou sucedem o trecho bíblico.
 
Exemplo:
Ef 3.4: “...pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu
discernimento do mistério de Cristo”.
 
Com base no trecho sublinhado, é possível admitir que Paulo
soubesse coisas a respeito de Cristo que não registrou na Bíblia?
Poderia o pregador deste texto incentivar os ouvintes a orarem em
busca da revelação deste mistério? A análise dos versículos que
antecedem e sucedem este trecho revela que não:
 
“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor
de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da
graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma
revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há
pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender
o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras
gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como,
agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no
Espírito,  a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do
mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por
meio do evangelho” Ef 3.1-6.
 
O texto na íntegra revela que o mistério nada mais é do que a
participação dos gentios na Nova Aliança em contraste com a Antiga.
 
Exemplo
Pv 8.17: “Eu amo os que me amam; os que de madrugada me
procuram me acham”.
.
Com base neste texto, é possível afirmar que Deus não ama os
pecadores? E quanto a dizer que Deus amou o mundo (Jo 3.16)? Ou
o texto que diz que Deus é amor (1Jo 4.8)? Será que há limites para
o amor de Deus? É verdade que Deus prefere as orações feitas de
madrugada a outras em qualquer outro horário? Veja-se o contexto:
 
“Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de
conhecimentos e de conselhos. O temor do SENHOR consiste em
aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca
perversa, eu os aborreço.  Meu é o conselho e a verdadeira
sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza. Por meu
intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça. Por meu
intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da
terra. Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram
me acham. Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça”.
Pv 8.12-18.
 
O contexto revela que o texto se refere à sabedoria, que só ama os
que a amam e só é achada por aqueles que passam as madrugadas
estudando e meditando para adquiri-la. Deus ama a todos e ouve as
orações realizadas em qualquer hora e lugar.
 
A regra do contexto não se limita aos versículos ou mesmo ao
capítulo que está sendo analisado, pois este pode não ser suficiente
para esclarecer o seu sentido. Assim, a regra do contexto é
gradativa: Palavra – Frase – Capítulo – Livro – Bíblia.
 
 
3.2.4.   Quarta Regra da Hermenêutica
 
É preciso tomar em consideração o desígnio ou objetivo do
livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões
obscuras.
 
Para compreender o desígnio ou objetivo do livro, é necessário
estudá-lo e analisá-lo exaustiva e minuciosamente, considerando a
época e o contexto de sua escrita. Algumas vezes o objetivo do livro
está expresso em seu próprio texto: Pv 1.1-4; Jo 20.31; 2Pe 3.2.
Determinar o objetivo do livro elimina aparentes contradições e
facilita o exegeta a pensar como o escritor, olhando na mesma
direção, facilitando a interpretação.
 
Por que João parece tão diferente de Lucas ao contar a mesma
história? Porque o objetivo de João não era fazer uma acurada
investigação dos fatos como Lucas (Lc 1.1-4) para possível
comprovação histórica, mas mostrar para os crentes a verdadeira
identidade do Senhor Jesus (Jo 20.31) e tudo o que ele escreve visa o
cumprimento deste objetivo. Assim, ao ler Lucas, o intérprete terá
em mente sua dedicação por detalhar fatos para alguém que,
provavelmente, não conhecia a história de Jesus; mas ao ler João,
pensará em um livro que visa mostrar a verdadeira personalidade do
Cristo e causar um efeito vivificador nos leitores cristãos.
 
 
3.2.5.   Quinta Regra da Hermenêutica
 
É indispensável consultar as passagens paralelas explicando
as coisas espirituais pelas espirituais.
 
O intérprete deve consultar as passagens bíblicas que fazem
referência umas às outras, possuem alguma ligação entre si ou
tratam do mesmo assunto. Há três classes de paralelos:
 
 
Paralelos de palavras
 
Quando é feita uma busca de determinada palavra em outros textos
para explicar seu significado no texto estudado.
 
Atos 13.22: “E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual
também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé,
homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade”.
 
Com base neste texto, é possível admitir que Deus aprovou todos os
atos de Davi? E quanto ao adultério, à poligamia, ao homicídio e
outros erros que Davi cometeu? Para solucionar esta dificuldade de
interpretação é necessário fazer uma consulta a outros textos bíblicos
que falem a respeito de Davi.
 
1Sm 2.35: “Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que
procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-
ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para
sempre”.
 
Este texto mostra que Davi foi um homem segundo o coração de
Deus em sua missão de rei-sacerdote, a qual cumpriu muito bem. O
texto de 1Samuel 13.14 confirma esta verdade.
 
 
Paralelos de idéias
 
Mt 16.18: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela”.
 
Com base neste texto, é possível admitir que o apóstolo Pedro é a
pedra sobre a qual a igreja está edificada? Não seria muito perigoso
que Jesus tivesse estruturado sua igreja sobre um homem, ainda que
de Deus, limitado e sujeito a errar? Uma análise a respeito dessa
idéia - a pedra fundamental - esclarece a questão.
Em Mateus 21.42, Jesus é a pedra angular. Em Efésios 2.20,21, Jesus
é a Pedra sobre a qual os apóstolos, dos quais Pedro era um,
trabalharam na edificação da igreja. Paulo afirma em 1Co 3.10,11
que Jesus é o único fundamento e que outro não pode ser posto. Por
fim, o próprio Pedro diz em sua carta que Cristo é a Pedra.
 
1Pe 2.4-8: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim,
pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós
mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para
serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na
Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e
preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado.
Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para
os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a
ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa.
São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o
que também foram postos”.
 
Logo, a obscuridade e dificuldade de interpretação de um único texto
isolado – Mateus 16.18 – são esclarecidas por inúmeros textos
bíblicos que apontam Jesus como “a única Pedra angular”.
 
 
Paralelos de ensinos gerais
 
Algumas questões de difícil interpretação devem ser analisadas de
acordo com os ensinos gerais da Bíblia. Por exemplo, Deus é descrito
como Onisciente, Onipotente, Transcendente, Espírito Perfeito, mas
há textos que descrevem Deus com características de homem,
limitando-o a tempo, lugar, espaço, etc. Para compreender este tipo
de aparente contradição, levam-se em consideração os ensinos gerais
da Bíblia que, apesar de ser uma obra inspirada por Deus, foi escrita
para seres humanos, e revela Deus de modo que os seres humanos o
possam compreender. A esse fenômeno, a teologia chama
antropomorfismo – Deus se revela com aparência de homem e
antropopatia – Deus se revela com sentimentos de homem. Assim,
quando há referência a Deus de maneira limitada, não se deve
esquecer que faz parte daquela passagem isolada, sendo o ensino
geral o que deve prevalecer para formulação de conceitos teológicos.
 
 
3.3.        APLICAÇÃO
 
“A Bíblia não foi dada para aumentar o nosso conhecimento, mas
para mudar a nossa vida”. D. L. Moody,
 
A Bíblia Sagrada não é um livro de caráter informativo, mas útil para
transformar a vida do ser humano (Dt 32.46-47; Tg 1.22). Assim, ela
deve servir para guiar a vida dos cristãos em todos os momentos da
vida cotidiana. O uso das observações devidamente interpretadas na
vida diária é a aplicação da Palavra de Deus. Para tanto, é necessário
investigar o texto de forma prática, procurando um exemplo a ser
seguido, um pecado a ser evitado, um modelo de oração, uma
condição estabelecida por Deus, algum princípio a ser assimilado, etc.
Para isso é preciso ser específico, relacionando o texto com situações
reais da vida, sem generalizações, estabelecendo atitudes e um
comportamento que condiga com o texto aplicado.
A questão cultural deve ser observada. Há distinção entre os
elementos teológicos (imutáveis) e os elementos culturais (mutáveis)
de um determinado preceito. A hermenêutica é a ferramenta para
fazer tal distinção.
Uma auto-avaliação periódica é vital, pois o estudante de teologia,
que será (ou já é) um professor entre os irmãos, deve ser um
referencial, não apenas no conhecimento, mas no procedimento.
Assim, é importante avaliar, à luz da Bíblia, o comportamento
pessoal.
 
 
3.3.1.   Passos para a Aplicação
 
 Conhecimento
Para um conhecimento pleno do texto são necessárias observação e
interpretação exaustivas. Existe uma única interpretação, mas são
possíveis várias aplicações, o que torna o texto útil para todos os
tempos. Além disso, é importante conhecimento da realidade que
envolve a vida do ser humano em geral e da comunidade da qual o
estudante faz parte, para que sua aplicação tenha um foco real.
 
 Relacionamento
A partir conhecimento do texto e da realidade presente, a Palavra de
Deus deve ser direcionada para a experiência pessoal (a Palavra é
direcionada para a realidade humana, nunca o contrário). Essa
relação torna a teoria do estudo em prática de vida cristã.
 
  Meditação
Meditar não é mero exercício mental ou uma tentativa de entrar em
contato com algum “eu” superior em busca de desenvolvimento
espiritual, como dizem algumas seitas orientais; é ponderar acerca
das verdades reveladas na Bíblia, com o objetivo de que esta auxilie
na renovação de uma mentalidade que esteja de acordo com a
vontade do Senhor (Rm 12.1,2).
 
 Pratica
O propósito último de todo estudo bíblico é cumprir a vontade de
Deus segundo revelado em Sua Palavra. Assim, o estudante deve ter
a preocupação de avaliar e submeter sua vida a essa vontade.
 
 
4.    MÉTODOS DE PESQUISA
 
No que se refere ao raciocínio, serão analisadas as justificações
epistemológicas, ou seja, a apresentação de um argumento em que
um conjunto de sentenças com relação lógica serve de razão para a
aceitação de uma conclusão.
Para tanto, existem duas formas estruturais que diferem em
importância na constituição das ciências. Estas são a dedução e a
indução.
 
 
4.1.        DEDUÇÃO
 
O método dedutivo procura transformar enunciados complexos,
universais em particulares, de maneira que a conclusão resulte de
uma ou várias premissas, fundamentando-se no raciocínio dedutivo.
Este método propõe solucionar problemas justificando o contexto da
descoberta através da própria razão, sendo este método o símbolo do
racionalismo moderno.
Ao ser identificado o problema, o pesquisador começa a conjecturar
sobre possíveis soluções que poderiam explicá-lo; assim, trabalha a
dedução sobre o problema geral para chegar às questões mais
particulares. Exemplos:
 
 Premissa 01: “Todos os homens são pecadores”.
 Premissa 02: “João é homem”.
 Logo: “João é pecador”.
 
Porém, se existe um erro em uma das premissas, a conclusão será
equivocada:
 
 Premissa 01: “Todos os homens são pecadores” (Informação
correta).
 Premissa 02: “Jesus Cristo é homem” (informação incompleta).
 Logo: “Jesus Cristo é pecador” (conclusão equivocada).
 
 
4.1.1.   Etapas do método de raciocínio dedutivo:
 
 Evidência
O problema ou fato em análise deve ser observado da forma como se
apresenta, sem prevenções, preconceitos ou precipitações.
 
 Análise
O problema deve ser fracionado em várias partes para que cada parte
seja analisada separadamente, detalhando melhor a pesquisa.
 
 Síntese
Os problemas definidos ao fracionar, devem ser agrupados em graus,
ou seja, comparação de problemas simples com outros também
simples e problemas complexos com outros também complexos.
 
 Enumeração
Seleção de parâmetros e dados que sejam necessariamente
pertinentes à solução do problema.
 
A observação destas etapas diminui o risco da formulação de uma ou
mais premissas equivocadas, maximizando a possibilidade de uma
conclusão verdadeira.
 
 
4.2.        INDUÇÃO
 
Na indução, a relação entre as premissas não é implicação (como na
dedução), mas de probabilidade, ou seja, uma conclusão pode ser
mais ou menos provável em relação às premissas que a sustentam. O
método indutivo baseia-se no princípio da formulação de uma lei
geral a partir de observações de alguns casos particulares. Observe-
se o exemplo anterior: “Todos os homens são pecadores” é uma
premissa para uma conclusão dedutiva, mas o que dá a certeza dessa
premissa? A resposta para essa pergunta será encontrada em uma
argumentação indutiva que toma como base as afirmações da Bíblia
Sagrada. Da mesma forma, a premissa “Jesus é homem” é
incompleta em si mesma se não for exposta a um raciocínio indutivo,
pois, de fato, Jesus foi homem e de fato todos os homens são
pecadores. Se não houver uma argumentação indutiva para a
formulação hipotética dessas premissas, a conclusão será absurda:
Jesus é pecador.
 
Um exemplo para diferenciar os dois métodos:
 
 Dedução: Todos os homens são pecadores; João é homem,
logo, João é pecador.
 Indução: João é pecador; Pedro é pecador, logo, é possível que todos os homens
sejam pecadores.
 
 
4.2.1.   Método indutivo segundo Galileu
 
Segundo Galileu, a lei não exprime a totalidade, entretanto, expressa
uma parte dos fenômenos; assim, é possível a aplicação da conclusão
de um ou mais fatos particulares para todos os fatos semelhantes.
 
1)    Observação: Coleta de dados sobre o fenômeno;
2)    Análise: Relação quantitativa entre os elementos do fenômeno;
3)    Hipótese: Uma pressuposição do conhecimento sobre o
fenômeno;
4)    Teste experimental: Comprovação do conhecimento;
5)    Modelo: Representação do conhecimento;
6)    Generalização: Formulação de lei científica com base nos
resultados.
 
 
4.2.2.   Método indutivo segundo Bacon
 
O método indutivo proposto por Bacon baseia-se na observação
sistemática e na experiência dos fenômenos e fatos naturais, de
modo que cabe à experiência confirmar a verdade. Esse método tenta
impedir a formulação de generalizações  que extrapolem os limites de
validade dos resultados alcançados em determinado experimento.
 
1)    Experimentação: Coleta de dados sobre o fenômeno de forma
experimental;
2)    Formulação de hipóteses: Fundamentadas na análise dos
resultados obtidos dos experimentos, buscando explicar a relação
causal dos fatos entre si;
3)    Repetição da experimentação: Por outros cientistas em outros
lugares, com a finalidade de acumular dados que possam servir para
a formulação de hipóteses;
4)    Repetição do experimento: Para teste das hipóteses, procurando
obter novos dados e novas evidências que as confirmem;
5)    Generalização: Formulação das leis, pelas evidências obtidas,
generalizando as explicações para todos os fenômenos da mesma
espécie.
 
 
4.2.3.   Método indutivo no estudo da Bíblia
 
Mesmo nos argumentos dedutivos existe um aspecto indutivo, pois
nem todas as idéias correspondem com a realidade e nem todos os
argumentos tidos como verdadeiros podem ser provados.
Por exemplo, como considerar a idéia da existência de Deus? Com
base em um argumento indutivo, pois uma visão ateísta, ainda que
lógica, não pode explicar essa idéia. A Teologia Reformada lista
argumentos em prol da existência de Deus, mas estes são baseados
na Bíblia, ou seja, a base destes argumentos não é aceita por todos
os homens e não pode ser comprovada cientificamente. Exemplos do
pensamento indutivo na formulação de doutrinas e conceitos bíblicos:
 
A Trindade
É correto afirmar que a Bíblia não usa o termo “Trindade” para se
referir à divindade em nenhum único texto. Como chegar, com
clareza, à doutrina da Trindade?
 
 Premissa 01: A Bíblia ensina a existência de um único Deus
 Premissa 02: A Bíblia ensina a divindade do Deus Pai
 Premissa 03: A Bíblia ensina a divindade de Jesus
 Premissa 04: A Bíblia ensina a divindade do Espírito Santo
 Premissa 05: A Bíblia ensina que o Pai e o Filho são pessoas distintas
 Premissa 06: A Bíblia ensina que o Espírito santo é uma Pessoa distinta do Pai e do
Filho, ao atribuir a Ele características pessoais
 Conclusão: O Pai é Deus, Jesus é Deus e o Espírito Santo é Deus, contudo, não há
três deuses, mas um único Deus que subsiste eternamente em três pessoas: o Pai, o Filho e
o Espírito Santo. Poderiam ser listadas diversas outras premissas para a formulação dessa
doutrina.
 
Deus não se arrepende
 Premissa 01: A Bíblia ensina que Deus é eterno;
 Premissa 02: A Bíblia ensina que Deus sabe todas as coisas em todos os lugares;
 Premissa 03: A Bíblia ensina que os desígnios de Deus são eternos;
 Premissa 04: A Bíblia ensina que Deus não muda;
 Conclusão: Deus não pode se arrepender (a despeito de textos isolados das
escrituras identificarem arrependimento em Deus).
 
Embora o estudante possa ter uma primeira impressão de que se
trata de um argumento dedutivo, o mesmo não ocorre. Não é
possível – senão pela argumentação – provar, de forma científica, a
existência de Deus, a divindade ou a pessoalidade do Espírito santo
ou mesmo a inerrância da Bíblia, da qual procedem as bases para a
elaboração dessas premissas.
Essa situação se repete em questões como a predestinação ou livre-
arbítrio, dicotomia ou tricotomia, contemporaneidade ou não dos
dons espirituais, entre outras questões que apenas podem ser temas
de debates com base nos argumentos indutivos dos envolvidos, não
podendo ser provados cientificamente, ainda que alguma das escolas
teológicas possua mais textos bíblicos ou uma melhor argumentação
a favor de suas doutrinas.
 
É comum que o iniciante em estudos bíblicos entenda a indução como
acréscimo à Bíblia, pois formula doutrinas com base em premissas e,
tais doutrinas, nem sempre são nomeadas na Bíblia. É o caso da
Trindade, como supracitado, da onisciência de Deus, pois é uma
designação não-bíblica, do próprio termo “teologia”, que soa em
extremo estranho para alguns o “estudo de Deus”, dos sacramentos,
do costume de celebrá-los mensal ou anualmente, entre tantos
outros. É fato que não se deve acrescentar à Bíblia coisa alguma,
portanto, o estudante deve se resumir ao que ela diz. Porém,
pesquisas baseadas em dedução, indução, lógica ou princípios, não
devem deixar de ser realizadas e ensinadas por medo de lidar com as
implicações resultantes.
 
 

5.    MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO


 
 
5.1.        MÉTODO ANALÍTICO DE ESTUDO BÍBILICO
 
O método analítico consiste em um exame cuidadoso do versículo ou
da passagem bíblica, estudando o objeto em seus pormenores,
atentando para os menores aspectos, analisando as partes que
compõe o todo.
Para que o estudante selecione versículos para análise e pesquisa, é
importante que tenha um programa de leitura bíblica constante e
devocional.
 
 
5.1.1.   Análise de um versículo
 
1)     Deve ser escolhido um versículo que apresente uma idéia
completa em si mesmo ou, caso contrário, o texto escolhido deve ser
delimitado em seu contexto;
2)     Observações ou aplicações devem ser anotadas, dificuldades
devem ser detalhadamente especificadas. Isso é feito através de
perguntas para ao versículo: Quem? O que? Onde? Quando? Por quê?
Como?
3)     Verbos e substantivos devem ser anotados nessa parte;
4)     Reproduzir o versículo (ou versículos) com palavras próprias e
expressar a idéia central do autor facilitam a compreensão;
5)     Procurar textos paralelos ou idéias semelhantes pode ajudar a
esclarecer possíveis dificuldades;
6)     Extrair a idéia central do versículo. Geralmente, quando o texto
convoca a uma ação, a idéia central estará em seus verbos; quando é
uma passagem de caráter doutrinário, estará em seus substantivos;
7)      Após listar as possíveis aplicações para o texto, é necessário
escolher, em oração, uma delas, especificando um problema, um
exemplo de problema e uma solução prática extraída do texto.
 
 
5.1.2.   Análise de uma passagem mais extensa
 
1)    Leitura cuidadosa da passagem, anotando todas as observações
– o que deverá ser feito em cada passo do estudo. Isso é feito
através de perguntas para a passagem: Quem? O que? Onde?
Quando? Por quê? Como?
2)    Verbos e substantivos devem ser anotados nessa parte;
3)    Elaboração de uma lista onde conste a idéia central de cada
versículo,
4)    Encontrar o fluxo da argumentação do autor, relacionando os
versículos entre si;
5)    Ligação dos pensamentos-chave em uma única idéia central.
Para tanto, é necessário fazer a divisão do texto em parágrafos ou
pensamentos, pois a divisão em capítulos e versículos não é inspirada
e nem sempre fornece uma sistemática clara do pensamento do
autor.
6)    Identificação das aplicações e escolha da mais relevante para o
estudo em questão, estabelecendo o problema, o exemplo do
problema e a solução proposta pelo texto.
 
 
5.2.        MÉTODO SINTÉTICO DE ESTUDO BÍBILICO
 
Em contraste com o método analítico, o sintético busca uma
compreensão holística de cada livro da Bíblia, em sua unidade, não
dedicando esforço hermenêutico aos pormenores, mas à mensagem
geral, considerando questões como o propósito do escritor, o que
este tinha em mente quando da escrita, o método e os caminhos
usados para atingir seus objetivos e outras questões tais.
Este é o melhor método para a compreensão da mensagem central
de cada livro da Bíblia, que capacita o estudante a compreender
melhor o autor de cada obra inspirada e evita erros de interpretação.
 
1)    Leitura cuidadosa de todo o livro, anotando:
a)  As observações – pensamentos-chave e argumentos principais
que ocorrem pelo livro, além de acontecimentos, lugares e nomes. o
que deverá ser feito em cada passo do estudo.
b)  As dificuldades, sem generalizações; é importante especificar o
que não foi compreendido;
c)  Referências em outros livros ao assunto tratado pelo escritor;
d)  Possíveis aplicações para as passagens.
 
2)    Identificação do tema central do livro. Para isso, é necessário
que:
a)    O estudante leia o livro quantas vezes forem necessárias;
b)    Não permita que a divisão em capítulos e versículos destrua a
linha de raciocínio presente na composição original;
c)     Desenvolva um esboço do livro, a partir de títulos ou frases-
resumo para cada parte;
d)    A partir deste esboço, resuma os vários títulos em um título
principal que manifeste o tema encontrado nas porções do livro;
 
3)    Uma visão geral do conteúdo do livro deve ser desenvolvida:
a)    O escritor do livro e o que este revela acerca daquele;
b)    Os destinatários originais do livro e os fatos que envolvem estes
últimos;
c)    Local, época, circunstâncias e ambiente em que o livro foi
escrito;
d)    Motivos da escrita, como um problema que levou à sua escrita
(Gl 1.6) ou um desejo de compartilhar conhecimento (Pv 1.1-4), etc.
 
4)    Verificação do estilo utilizado pelo autor na apresentação de seus
argumentos.
5)    Verificação do papel e das contribuições que o livro estudado
traz ao todo da Bíblia.
6)    Escolher uma aplicação dentre as que forem possíveis ao livro.
 
Para enriquecimento da pesquisa bíblica, o estudante pode utilizar os
dois métodos acima estudados, embora sejam contrastantes, são
complementares um ao outro.
 
 
5.3.        MÉTODO TEMÁTICO DE ESTUDO BÍBILICO
 
O método tópico ou temático apresenta princípios técnicos para o
estudo Bíblico por temas, ou seja, é a investigação sobre um tema
escolhido, em toda a Bíblia ou em determinada parte dela. Este
método de estudo não está diretamente ligado ao texto (embora
jamais seja desvinculado do mesmo), mas ao assunto de que trata.
Feita a escolha de um tema para análise, é importante pesquisá-lo
por toda a Bíblia ou em determinada parte dela, como por exemplo, o
estudo da salvação segundo a carta aos Romanos ou o estudo das
profecias messiânicas segundo Isaías. Essa delimitação pode ser feita
devido à extensão do tema.
 
1)    Escolha do tema;
2)    Delimitação do material bíblico para estudo: será analisado um
livro, uma das divisões da Bíblia (Pentateuco, históricos, Poéticos,
etc.) ou a Bíblia como um todo;
3)    Escolha de um objetivo para o estudo do tema, para que o
estudante possa ter um norte a seguir durante o processo; escolher
um assunto e começar a ler versículos sobre ele sem um propósito
final pode ajudar a adquirir conhecimento, mas não levará a um
estudo sistemático e lógico;
4)    Relacionar as referências concernentes ao tema no livro
escolhido; isso deve ser feito com o auxílio de uma concordância
bíblica, referências cruzadas (a maioria das bíblias trazem esse
recurso em seu rodapé) ou programa de computador;
5)    Anotação das observações que deverá ser realizada durante todo
o estudo; nesse ponto, devem ser anotadas:
a)    Dificuldades devidamente especificadas;
b)    Possíveis aplicações para o conteúdo;
c)    Definição do significado das palavras;
 
6)    Extrair o pensamento principal de cada referência;
7)    Elaboração de uma cadeia de categorias para os versículos
anotados, mediante semelhanças entre estes, com base no
pensamento-chave de cada um;
8)    Formação de um esboço segundo as categorias encontradas
para os versículos; nesse ponto, é importante haver lógica, de
preferência evolutiva;
9)    Extrair do esboço o pensamento-chave de cada categoria;
10) Extrair um pensamento principal de todo o esquema traçado até
este ponto;
11) Por fim, é importante trabalhar as aplicações práticas nas quais a
pesquisa resultou.
 
 
5.4.        MÉTODO BIOGRÁFICO DE ESTUDO BÍBILICO
 
Para desenvolver este método de estudo, o pesquisador pode se valer
dos princípios do método temático a fim de encontrar, listar e extrair
o conteúdo dos trechos ou versículos bíblicos a respeito da vida de
determinado personagem.
O método biográfico é um estudo a respeito da vida dos personagens
bíblicos com o propósito de extrair aplicações práticas para a vida da
Igreja de Cristo, sejam eles positivos – a serem imitados ou
negativos – a serem evitados. O material para esse tipo de estudo é
farto, pois há cerca de dois mil e novecentos personagens na Bíblia.
 
1)    A escolha do personagem a ser estudado; se a biografia deste
for muito extensa ou variada, é possível delimitar o tema a
determinado período de sua vida, por exemplo, a vida de Paulo pode
ser estudada durante as viagens missionárias, durante a estadia em
determinada região ou cidade, durante os anos de prisão, etc.
2)    Observações devem ser feitas e anotadas durante todo o
estudo;
3)    Com o auxílio de uma concordância bíblica, referências cruzadas
(a maioria das bíblias trazem esse recurso em seu rodapé) ou
programa de computador, o estudante deve relacionar os principais
acontecimentos da vida deste personagem;
4)    O pano fundo, o contexto histórico, as circunstâncias pessoais e
culturais devem ser levadas em conta;
5)    Em ordem cronológica, deve ser feito um resumo imparcial da
vida do personagem, listando acontecimentos importantes em
parágrafos;
6)    O próximo passo é a intitulação de cada parágrafo, de modo a
definir quem foi o personagem e o que ele fez;
7)    É importante registrar as qualidades e as debilidades, acertos e
erros observados;
8)    Definição de um versículo-chave sobre a vida desta pessoa e, a
partir deste, uma frase central que defina um conceito negativo ou
positivo a respeito do mesmo;
9)    Observação dos valores, motivações e objetivos do personagem;
10) Contraste com outras figuras bíblicas;
11) Das aplicações possíveis, escolher a mais relevante para o
objetivo do estudo.
 
 
 
Referências
 
BERKHOF, Louis. Princípios de interpretação Bíblica. JUERP, Rio
de Janeiro
Bíblia de Estudo de Genebra, Edição Ampliada.
 
FELTRIN, Marcelo. Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, IBCU.
 
GADELHA, Vítor. Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, Apostila
Teológica.
 
HENRICHSEN, Walter.  Métodos de Estudo Bíblico. São Paulo, ed.
Mundo Cristão, 1993.
 
LACHLER, Karl. Prega a Palavra. Edições Nova vida
 
MARQUES, Max Clayton. A Pregação e o Pregador. São Paulo,
2010. Apostila Teológica
 
MARTIN, Walter. Curso Interdenominacional de Teologia. Jundiaí,
ICP, 2003
 
REIFLER, Hans Ulrich. A pregação ao alcance de todos. Edições
Nova Vida

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