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Cristologia
Material Teórico
A Cristologia nos Concílios Ecumênicos
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
A Cristologia nos Concílios Ecumênicos
• Introdução;
• Concílios e o Concílio Ecumênico de Niceia (325);
• Concílio Ecumênico de Niceia (325): Jesus é Deus!
• Concílio Ecumênico de Constantinopla (381): Plenamente Homem;
• Concílio Ecumênico de Éfeso (431): Homem e Deus, sem Distinção
ou Confusão;
• Concílio Ecumênico de Calcedônia (451);
• Concílios Ecumênicos Constantinopla II (553) e Constantinopla III
(681): Questões de Cristologia.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Entender historicamente o processo de afirmação das verdades (Dogmas) sobre Cristo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Cristologia nos Concílios Ecumênicos
Introdução
Caro(a) estudante
Nosso olhar, nesse sentido, irá se voltar para uma fração de quinhentos anos em
que, por meio de Concílios foi sendo estruturado o pensamento teológico.
O objetivo desta sessão é entrar de maneira didática e prática naquilo que foi
estabelecido como verdade de fé, ao longo da História, em Concílios chamados
de ecumênicos.
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Concílios e o Concílio Ecumênico
de Niceia (325)
Antes de entrar na questão propriamente dita cristologica, tratada no Concílio de
Niceia, convém esclarecer ao estudante o que é um Concílio e qual é a relevância
dele para a composição de verdades teológicas (e de fé) na tradição Crista.
A rigor, um Concílio ecumênico é uma reunião extraordinária de todos os bispos
cristãos convocada para discutir, refletir e resolver problemas relativos a questões
de mote doutrinal e/ou disciplinar da Igreja Cristã. Ele distingue-se de outras reu-
niões como Sínodos ou Assembleias pela validade e abrangência com que suas
decisões são tomadas e seguidas.
O adjetivo que se associa à palavra Concílio, isto é, ecumênico, é derivado do
grego “οἰκουμένη” e que significa literalmente “todo o mundo habitado”, corrobora
essa ideia de que suas decisões são válidas para toda a fé cristã.
Aprofundando a definição de Sínodo:
Os concílios são assembleias, reuniões amplas, cujos participantes são fun-
damentalmente os bispos, ainda que possa haver a participação – sem di-
reito a voto – de outros clérigos e também de leigos. Durante os concílios
podem ocorrer debates de cunho teológico ou disciplinar, que geralmente
resultam na deliberação de uma norma, sentença ou esclarecimento dou-
trinal na forma de um cânone. O cânone é o pronunciamento final de
um concílio ou sínodo e, muitas vezes, é introduzido pela expressão latina
placuitintereos (concordou-se entre eles), a qual aponta para o caráter de
decisão colegiada, a qual suplanta, ou sobrepõe-se, no nível do individual,
do local. (CARVALHO JR, 2013, p. 2)
Para saber mais sobre Concílios, mormente aqueles celebrados no século IV e suas impli-
Explor
cações para a formação do Cristianismo leia: CARVALHO JR, Macário Lopes. Concílios ecle-
siásticos no século IV: uma janela para a formação do cristianismo tardo-antigo. XXVII.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA (ANPHU). Disponível em: https://goo.gl/21otGV. Acesso
em: 21 set. 2018.
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Julgando que havia no mundo um Panteon divino em que há um Deus, que
é o supremo Deus, buscou-se explicar a divindade de Jesus como uma subordi-
nação à Deus.
Chamavam essa explicação de Subordinacionismo. Outra corrente tentava dirimir
o problema, afirmando que existia apenas um Deus manifesto na História, de modos
diferentes, ora como Pai, ora como filho ou Espírito Santo.
Eram modos de Deus; a rigor, constituía-se um tipo de modalismo. Era sempre
a mesma pessoa divina, revelada de modos diferentes. Outras correntes filosóficas
também tentavam explicar a figura de Cristo negando seu corpo, sua divindade e
seu sacrifício.
Uma dificuldade maior gerada no seio da Igreja que causou grande desgaste nos
umbrais da celebração de Niceia era tese defendida por um presbítero de Alexandria
chamado Ario (256/60-336).
A doutrina de Ario negava a divindade de Cristo; mais ainda, negava a con-
substancialidade do Jesus (Filho) com o Deus (Pai); esvaziava com isso o valor
da Encarnação de Cristo.
O Messias, portanto, não era igual ao Pai, não é co-eterno com o Deus. Antes,
é uma criação de Deus, não é divino, não é Deus. Essa teoria em sínodos regionais
havia sido condenada; não obstante tal decisão, ela seguia viva em Niceia e mesmo
depois, como veremos mais à frente.
Em face desse cenário complexo, como dito, o Imperador Constantino convoca
um Concílio para maio e julho de 325. Na pauta, a definição da verdade acerca da
divindade de Jesus.
Subliminarmente, na convocação do Imperador, havia medo de que Ario e a
magnética fascinação que sua doutrina exercia sobre bispos pudesse gerar um esta-
do de anomalia social (RUBENSTEIN, 2001, p. 96), pondo em risco a autoridade
do Imperador que, em muitos aspectos, via no Cristianismo uma forma de exercí-
cio de poder (cf. CARVALHO JR, 2013, p. 4-5).
Ante tão complexa situação, o Concílio de Niceia formulou um conjunto de as-
sertivas que “regulamentavam”, melhor, delimitavam o entendimento sobre Jesus
e sua divindade.
Niceia recuperou o conceito grego de omousios – consubstancial – afirmando o
Filho como da mesma substância do Pai, nascido desde a eternidade.
Nos termos do próprio Concílio:
1- Cremos em um Só Deus, Pai todo-poderoso, Criador de todas as coi-
sas visíveis e invisíveis e em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus,
unigênito nascido do Pai. Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro.
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Largos traços, percebe-se que Niceia afirma sobre Cristo uma verdade que ainda
hoje é pregada e assumida por todas as tradições cristãs. Mesmo não professando
o chamado credo Niceno, é ponto pacífico para a Teologia a divindade do Cristo
e sua consubstância (homousiostôPatrí) com Deus.
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Em princípio, ele tinha como basilar elemento de discussão e definição a divin-
dade do Espírito Santo, bem como a necessidade de explicitar alguns artigos de
fé (credo) que, embora apontados em Niceia, não estavam suficientemente claros.
Jesus seria uma espécie de ser híbrido, que gozava de parte divina e de parte
humana. Constantinopla propõe-se a dirimir a celeuma sobre essa questão, ao lado
de outras.
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do Espírito Santo) é oportuno ler: FELIX, Élcio Rubens Mota. A controvérsia sobre a divindade
do Espírito Santo no século IV (d.C.), Revista de Cultura Teológica, v. 20, n. 80, out./dez.,
2012. Disponível em: https://goo.gl/WhUKbr.
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A rigor, bispos e teólogos de Constantinopla, mormente Nestório, afirmavam
que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Desse modo, Maria, tida
como mãe de Jesus, não era mãe de Deus, mas sim de Cristo.
Não seria possível falar de Teotokos (Mãe de Deus), mas de uma Cristotokos
(Mãe de Cristo).
Para entender essa aporia em torno da questão de Teotokos e Cristotokos, convém ler o sinté-
Explor
tico artigo: CAMPO, Ludimila Caliman. Entre christótokos e heótokos: a construção da figura
de Maria em Nestório de Constantinopla e Cirilo de Alexandria (séculos IV-V), Revista de
História, São Paulo, n. 174 jan./jun. 2016. Disponível em: https://goo.gl/1WkwPP.
Cristo, desse modo, é o filho de Deus que se fez homem. Não um homem divini-
zado, ou adotado por Deus; portanto, ele é, numa única natureza, homem e Deus.
Não realidades distintas, mas unidas.
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Deve-se, contudo, dizer que o próprio Cirilo de Alexandria, que presidira Éfeso,
reconheceu que alguns aspectos do ponto de vista dos antioques não tinham cen-
telhas de precisão. Ele, desse modo, mudou de posição e foi amaldiçoado pelos
monges alexandrinos. Apontando, assim, que mesmo sob a pecha de uma decisão
conciliar, a questão do homem Jesus não ficou resolvida
Por essa razão e por outras, foi necessário acontecer outro Concílio para dizer
que Jesus era realmente um homem e Deus. Dessa vez, em Calcedônia, vital no
entendimento da base das afirmações cristologicas.
Os cinco séculos do início da era cristã, por meio do que fora afirmado em vários
Concílios, testemunham essa certeza.
Nele, eivada por tensões, foi repudiada a doutrina de Eutiques relativa ao mono-
fisismo e declarada a dualidade humana e divina de Jesus.
Para esse monge, que atendia pelo nome de Eutiques, em Jesus há duas nature-
zas, a humana e a divina, mas unidas de tal maneira que ficavam fundidas e unifi-
cadas: a natureza humana ficava absorvida pela divina, de tal maneira que se podia
dizer que em Jesus há uma só natureza.
Mais profundo ainda, a natureza humana sucumbia diante da divina. A essa ideia
seria aplicado o nome de monofisismo.
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Ele, além de aprovar a decisão de Flaviano, enviou-lhe uma carta conhecida
como o Tomo de São Leão, em que afirmava uma doutrina conhecida como
“união hipostática” (Cf. ALBERIGO, 1997.p 100-102), tese, segundo a qual,
em Cristo, a união da natureza humana e da natureza divina é união segundo
a hipóstasis na Pessoa: há união das duas naturezas porque ambas pertencem
a mesma Pessoa, a divina. Em Cristo há uma única Pessoa, a divina, em duas
naturezas, a humana e a divina.
Sobre união hipostática e Cristologia de Calcedônia, pode-se ler mais em: FRAZÃO JUNIOR,
Explor
O Concílio continua a afirmar que, unidas numa única Pessoa, ficam assim
garantidas as propriedades de cada uma das naturezas, retificando que não há
confusão, supressão ou eliminação entre elas.
Essa acepção ajuda a entender que em Cristo há duas inteligências (uma divina,
uma humana), duas vontades (uma divina, uma humana), duas operações (ações
humanas e ações divinas) e distintas paixões (as corporais, as sensitivas e as espiri-
tuais) ou, como sintetizam Costa e Bernardes (2015, s/p):
Em resumo, “a chave do ensinamento do concílio de Calcedônia reside na
distinção entre pessoa e natureza: em Cristo duas são as naturezas e uma
é a pessoa. Esta distinção não nasce da filosofia helênica mas, sim, pelo
contrário, nasce da fé e transcende por completo o pensamento grego.
Além disso, estes termos não são tomados num sentido tecnicamente
filosófico, antes se usam no amplo significado corrente que distingue en-
tre o que é um (sua natureza ou modo de ser que é comum a outros: por
exemplo, um ser humano), e quem é um (a sua pessoa que é individual:
por exemplo, Pedro)”.
Ele sublinha que as duas naturezas estão unidas sem fusão nem confusão; sem
se alterarem uma a outra, sem se dividirem no sentido de se isolarem uma da outra,
sem possibilidade de separação. O humano já está unido ao divino, para sempre.
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A afirmação sobre as duas naturezas numa pessoa, embora não precisas, dei-
xava margem para questionamentos sobre até que ponto a natureza humana não
seria substituída pela divina, vez que só esta era pessoa, tornou necessário que
outros dois Concílios refletissem sobre o tema para definir essa relação de plena
autonomia do humano face ao divino.
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paulatinamente, apresentavam-se sobre a figura de Cristo, sem aprofundar como
essa relação se processa na pessoa de Jesus.
O III Concílio de Constantinopla (em 681), no entanto, notabilizou-se por sua
reflexão em termos cristológicos e foi convocado por Constantino IV (ALBERIGO,
1997, p. 141).
A essa assembleia sinodal afluíram, variando nas sessões, entre 50 e 170 membros.
Curiosamente, nesse Concílio, o imperador participou de diversas sessões e, inclusive,
assinou as atas conciliares; tal feito nunca havia sido protagonizado por nenhuma au-
toridade imperial (ALBERIGO, 1997, p. 141).
Em ordem dogmática, Constantinopla III condenou o monotelismo e o monoer-
guismo, doutrinas vista como heréticas no século VII.
Os Patriarca de Constantinopla, Sérgio Pirro, Paulo e Pedro, bem como todos
os patriarcas de Alexandria assumiram posturas nas quais defendiam que, em Jesus,
mesmo havendo duas naturezas, há um só tipo de operações (monoerguismo) e uma
única vontade (monotelismo); doutrinas que já haviam sido anatematizadas em 553
e que agora ganhavam reforço na condenação.
Dado a essa condenação, o III Concílio de Constantinopla (680-681) pontificou
explicações sobre as vontades presentes no Cristo.
A assembleia conciliar atestou que no Cristo há vontades naturais e duas opera-
ções naturais. As duas vontades em Cristo não se opõem uma a outra; a sua vontade
humana não resiste à vontade divina, mas a ela se sujeita. Esses princípios não se
contradizem; pelo contrário, o divino otimiza o humano.
Em síntese, Constantinopla II e III concorreram para aprofundar definições de
Concílios anteriores e para condenar erros doutrinários.
O III Concílio de Constantinopla notabiliza-se porque, além das condenações,
conseguiu pontificar uma acurada explicação sobre a relação entre as duas naturezas
de Cristo e como elas agem, atuam e operam na mesma pessoa.
Em Síntese Importante!
Caro(a) estudante
À guisa de conclusão e revisão desta Unidade, destacamos, do primeiro tópico à última
sessão, os seguintes pontos:
1. Que os Concílios ecumênicos, aceitos ou não por toda a tradição cristã, foram elemen-
tos basilares da formulação teológica sobre Cristo;
2. Que as principais aporias dos Concílios, ligadas à Jesus Cristo orbitavam em torno
da ideia se ele era ou não Cristo ou Deus, e como essas realidades habitavam na
mesma pessoa;
3. Todos os Concílios dirimiram dúvidas e condenaram posições que não delineavam a
profunda imagem de Cristo;
4. Por fim, que Cristo é: plenamente humano e plenamente divino; que nele habitam
as duas naturezas e duas vontades numa única pessoa, sem confusão e ou distinção.
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UNIDADE A Cristologia nos Concílios Ecumênicos
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
História dos concílios ecumênicos
ALBERIGO, G. (org.). História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.
Leitura
Concílios eclesiásticos no século IV: uma janela para a formação do cristianismo tardo-antigo
CARVALHO JR, Mácario Lopes. Concílios eclesiásticos no século IV: uma janela
para a formação do cristianismo tardo-antigo. XXVII. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA (ANPHU).
https://goo.gl/21otGV
A controvérsia sobre a divindade do Espírito Santo no século IV
FELIX, Élcio Rubens Mota. A controvérsia sobre a divindade do Espírito Santo no
século IV (d.C.); Revista de Cultura Teológica, v. 20, n. 80, out/dez, 2012.
https://goo.gl/WhUKbr
Abordagem Contemporânea da Cristologia do Concílio de Calcedônia
FRAZÃO JUNIOR, Valtemario Silva. Abordagem Contemporânea da Cristologia
do Concílio de Calcedônia. 2015. (Tese de Doutorado) – PUC, RJ, 2015.
https://goo.gl/F8c2Wb
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Referências
AQUINO, Tomás de. Compêndio de Teologia, 204,4. Rio de Janeiro: Presença, 1977.
BARRIENDOS Vicente Ferrer, Jesus Cristo nosso Salvador. Lisboa: Diel, 2008.
CARVALHO JR, Mácario Lopes. Concílios eclesiásticos no século IV: uma ja-
nela para a formação do cristianismo tardo-antigo. XXVII. SIMPÓSIO NACIONAL
DE HISTÓRIA (ANPHU). Disponível em: <http://snh2013.anpuh.org/resources/
anais/27/1364917081_ARQUIVO_Concílios_no_cristianismo_tardo-antigo-comcor-
recoes.pdf>. Acesso em: 21 set. 2018.
FELIX, Élcio Rubens Mota. A controvérsia sobre a divindade do Espírito Santo no sé-
culo IV d.C., Revista de Cultura Teológica, v. 20, n. 80, out./dez.,2012. Disponível
em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/14407/10506>.
Acesso em: 07.11. 2018.
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