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Mantenedora
Faculdade Vitória em Cristo
Diretor Geral
Prof. Me. Isaías Luis Araújo Júnior
Vice-diretor-Geral
Prof. Me. Ronaldo de Jesus Alves
Diretor Financeiro
Oldair Leal Santos
Diretor Administrativo
Josué de Souza Sobrinho
Equipe Multidisciplinar
atividades, oferece a você a oportunidade de aprender muito mais acerca dos itinerários
Nesta disciplina, você primeiramente irá aprender algumas noções gerais sobre
ocidentais. Consequentemente, sua visão sobre a História dessas tradições não será
mais a mesma!
da Contemporaneidade.
dos Pais da Igreja, também conhecido como época patrística. Na quarta Unidade, a era
quinto ao XV. O ponto de partida dessa Unidade será o intervalo histórico entre o
Revolução Protestante, a partir do século XVI, será o tema central da quinta Unidade,
com uma análise dos desdobramentos históricos que sucederam às Igrejas e teologias
na era moderna, e que concernem ainda à quinta Unidade. Por fim, na Unidade
modernos.
tornou mais uma “religião de museu” como tantas outras que atravessaram alguns
perguntas você poderá responder a partir das reflexões que se seguem. A Teologia já
tem oferecido argumentos que visam responder essas questões, tendo a fé como base.
Por sua vez, a pesquisa em História também oferece material apreciável para nos
esclarecer e ainda sugerir outras perspectivas e novos diálogos. Esse é o objetivo central
desta disciplina.
Bons estudos!
graduação traz alguns afazeres, e estar preparado é fundamental para se chegar ao fim
desta jornada. Assim, antes de iniciarmos nossa disciplina, preparamos algumas dicas
para tornar seus estudos mais fáceis, práticos e agradáveis. Vamos lá?
Tenha Compromisso
O caminho para o sucesso da disciplina passa por você e por sua vontade e
procrastine.
Cada passo conta como uma vitória, o conhecimento adquirido é seu, somente
seu, e não esqueça que o nosso cérebro é o órgão do nosso corpo que, quanto mais
você mesmo e evite ao máximo trocar seus estudos por outra atividade qualquer. O
O ideal é estabelecer uma meta diária de horas de estudo e buscar todos os dias
atingir essa meta. Mas calma, se a semana ficou difícil e você não conseguiu, lembre
que pode reajustar a rota e recuperar o tempo perdido. Só não faça da exceção, a
regra.
Pontualidade é a chave do sucesso! Não deixe para a última hora, não perca
aprendizagem.
Se prepare
Se prepare! Encontre um lugar adequado, separe tudo o que vai precisar, não
Toda dúvida precisa ser sanada, não deixe de pedir auxílio, o professor/tutor está
Crie uma lista de dúvidas e prioridades, não deixe que acumulem e peça sempre
las, elas são importantes ferramentas para que você perceba como anda sua
bem o que se pede. Após as correções, busque a melhoria contínua, aprenda com os
APRESENTAÇÃO 4
1 14
2 31
Os Cristianismos antigos 31
2.1 As Fontes 32
2.2 Rumo ao seguimento de Jesus 33
2.3 Uma nova seita? 39
2.4 Caracterização das comunidades cristãs? 42
2.5 As perseguições contra os cristãos 45
2.6 Epílogo: Constantino e o fim às perseguições 51
2.7 Síntese da Unidade 52
3 55
Unidade Revisional 1 82
Atividades de Aprendizagem 88
4 92
A ERA MEDIEVAL 92
4.1 Introdução à Primeira Idade Média (séculos V a X) 95
4.2 A Questão dos Bárbaros 98
4.3 A Alta Idade Média (séc. X a XIII) 101
4.4 Baixa Idade Média (séc. XIII a XV) 108
4.5 Síntese da Unidade 113
5 116
Gabarito 186
que é História?”. É importante refletir sobre o caráter científico da História e seus limites,
considerada uma Ciência? Somente após essas primeiras discussões, poderemos refletir
dita.
Geral, refletiremos sobre algumas distinções que deverão ser feitas no campo das
que pode ocorrer entre uma “História do Cristianismo” (de caráter predominantemente
diálogo com a Teologia sempre que for necessário, para um melhor entendimento em
da História. Especialmente entre o fim da década de 1920 e meados dos anos 1970,
havia posturas que a qualificaram como não-ciência. Tanto umas como outras
Ciência.
objetos de estudo são ideais, a partir dos quais uma teoria pode ser comprovada
vantagem por estarem mais próximas da Física do que a História, esta última
estaria mais próxima de uma arte ou de uma técnica, mas não de uma ciência.
da Escola dos Annales, na França, pelos historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch
A primeira tendência revela que a História pode ser estabelecida de modo que
2001), de forma mais positiva, situando a História como Ciência de fato. Uma
terceira posição, mais ponderada, fortalece a ideia de História como Ciência, mas
rupturas profundas entre História e Ciência. Outras, por sua vez, tecem vínculos que se
43), “num certo sentido, (...) é verdade para qualquer ciência: vimos que os cientistas já
profissional.
funções da pessoa que pesquisa a História: sua dimensão profissional e sua posição
pode ser conceituada sem muitas ressalvas como um conhecimento racional, rigoroso,
sistemático, exato, verificável, e também falível, isto é, dela não se deve pressupor
da pesquisa.
ressalta os saberes e práticas com base nos fins, na utilidade e na conveniência para
Sendo assim, convém refletir sobre o objeto da História, não apenas sobre o
sujeito que pesquisa, o que já vimos anteriormente. Bloch (2001) descartou a ideia de
que História seja uma “Ciência do passado”, ideia absurda segundo o autor. Assim, ele
propôs que a História é a “Ciência dos homens no tempo”, isto é, uma ciência que
investiga as relações das ações humanas com o tempo considerado como tempo
histórico.
astronômicas, físicas, das rotações dos astros e do cosmo de forma ampla. O tempo
cronológico é relativo à divisão dos dias, semanas, meses, anos, concepção ligada a
relações que a espécie humana estabelece com suas percepções de tempo cronológico
econômicas, etc.
O objeto da História, portanto, pode ser visto como sendo o próprio ser humano
existência humana.
que ele estabelece com a percepção do tempo em sua própria geração e em sua
própria cultura.
fontes históricas. Essas fontes podem ser classificadas em geral entre Fontes primárias
Segundo
História”.
outras.
impõem ao trabalho das pessoas que desejam conhecer melhor sobre a História da
religião cristã.
não confundirmos seu campo de atuação com o trabalho dos teólogos e sacerdotes. É
Teologia publicando trabalhos sob o título de “História da Igreja”. Mas, apesar dos
esforços empregados com honestidade por parte de seus autores, essas publicações
trazem em sua formação eclesiástica e que tornam sua leitura da História, em alguns
casos, um tanto parcial, e em outros casos nem tanto. Em virtude disso, faz-se
ciência histórica sobre o itinerário das tradições cristãs ao longo do tempo histórico.
Com todos os méritos que podem ser identificados em obras de cunho mais
teológico, as quais dão certa ênfase ou até mesmo privilegiam determinadas tradições
que consideram com máxima imparcialidade os fatos que marcaram o passado das
Igrejas. Apesar de não haver absoluta neutralidade no campo das ciências, o rigor
em grande estima por quem quiser obter uma compreensão ampla e enriquecida da
História.
atravessada pelas questões da fé. Essa tensão não se resolve tão facilmente, mas o fato
é que a Teologia considera a Igreja em um duplo aspecto: ao passo que ela é uma
também é considerada pela fé como o povo de Deus instaurado por Jesus Cristo e
sendo que somente o aspecto humano da Igreja pode ser captado pelos historiadores
e por seu método científico (PEÑA, 2014, p. 19). Por outro lado, a Igreja percebida por
Cristianismo, esta última bem mais recente. As tradições cristãs, desde suas origens,
possuem grande interesse em relatar sua história, a partir de seu ponto de vista de fé
Como já foi dito, apesar da elaboração dessa cátedra universitária ter sido uma
Igreja, especialmente em Eusébio de Cesareia. Assim afirma Chappin (1999, p. 23): “Se
o tratado de história da Igreja pode ser definido como uma criação relativamente
recente, o interesse da Igreja pela própria história é tão antigo quanto a própria Igreja”.
local em que ela esteja situada, revela-se como “uma instituição de características
complexas que subsiste até nossos dias, ainda que com mudanças lógicas que foram
se operando ao longo do tempo” (PEÑA, 2014, p. 19). Mesmo com essa longa e
complexa história assumida, é possível dizer que Igreja ainda é um termo geralmente
preferido por pessoas de fé, por ser bíblico e abrangente, enquanto para o pesquisador
sem um comprometimento de fé, Cristianismo (ou seu plural) revela-se como expressão
intercambiáveis sem confusão. Por outro lado, para alguns historiadores, a expressão
Igreja, por si, é ambivalente demais para encabeçar um olhar científico e disciplinar,
pois pode estar se referindo tanto à Igreja no nível institucional/ temporal (objeto da
ciência), como pode representar valores de fé, moral e religião que não
entre Teologia e História, sendo que a última se desenvolve a partir de dois princípios
Com uma leitura mais atenta das pesquisas em História do Cristianismo, por
formação plural das tradições orais e escritas em torno de Jesus de Nazaré, conforme
a reflexão a seguir.
sempre plural, com a sua base formativa sendo ampla demais para
(CHEVITARESE, 2016, p. 9)
Por fim, vale ressaltar que, além da pluralidade estabelecida em relação aos
termina com a queda do Império Romano Ocidental em 476 d.C. pela invasão
dos povos germânicos (bárbaros). O Cristianismo antigo (Unidade II) inicia com
Oriente (Constantinopla) pelo domínio dos turcos (1453) ou, segundo alguns
Você pôde notar, através das primeiras reflexões esboçadas nesta Unidade, que
confundir essa área com a História Eclesiástica ou com a Eclesiologia, mais ligadas a
não eram uniformes, embora buscassem a unidade da fé, o que denota uma pluralidade
Os Cristianismos antigos
partir do período dos apóstolos (século I) até pouco antes da queda do Império
realizaremos uma brevíssima síntese das situações concretas que correspondem aos
Nas primeiras partes da Unidade, temos uma averiguação das fontes históricas
da transição para o século II. Nas reflexões seguintes, alguns apontamentos indicando
2.1 As Fontes
Os escritos do Novo Testamento, produzidos por diversos indivíduos e
nascentes. Esses livros, cujas tradições orais subjacentes refletem a época entre as
materiais que oferecem testemunhos mais ou menos diretos acerca dos mesmos
contextos relatados na Bíblia, tanto em formas escritas, quanto em formas não escritas.
pobres e com eles permaneceu durante toda a sua vida terrena. Em sua proposta de
pregação entre os judeus, evocava-se o tema central do Reino de Deus (Marcos 1,14-
domínio do Império Romano. O centro de sua religião era a fé monoteísta judaica com
a constante referência ética à Torah, que reúne os livros sagrados que representam
Jerusalém. Há muito tempo, houvera o povo dali construído uma ênfase na observância
dos mandamentos divinos, com diversas vertentes mais ou menos rígidas. O povo judeu
sulista era orientado pelas classes de fariseus e saduceus, e os ritos diários eram
A Galileia, por outro lado, possuía a particularidade de ter sido uma das regiões
Observa-se também que, na época de Jesus, havia nas regiões galileias determinados
uma espécie de “religião popular” (VERMES, 2006, p. 272), cujo arquétipo poderia ser
encontrado na Bíblia Hebraica por meio das narrativas sobre os profetas Elias e Eliseu.
presente “também no mais vasto mundo grego e romano” (BARBAGLIO, 2011, p. 221).
muitas pessoas com arrependimento pelos pecados diante de Deus, para serem
batizadas. Inclusive o próprio Jesus foi por ele batizado (Mateus 3,1-17). Este entrou
Flávio Josefo que apontam para uma ligação entre João e seitas judaicas que praticavam
Bultmann (2005), em hipótese, Jesus teria participado do grupo de João pouco antes
de ter iniciado sua própria atividade e organizado seu próprio grupo de discípulos.
Figura 7: Flávio Josefo, escritor da famosa “História dos Hebreus”, originalmente em vários
volumes.
Fonte da Imagem: Google Imagens
popular judaico, com base em textos bíblicos emblemáticos como em alguns salmos e
nos últimos profetas das Escrituras Hebraicas. Havia possivelmente uma significativa
pretensão de criar uma nova religião ou seita, bem como teve consciência de que não
revolta armada contra o Império Romano. Ele anunciou o Reino de Deus e sua salvação
especialmente como o fez Maria Madalena (Marcos 16,1-20). A partir de então, surge
consolidações das Igrejas, para que enfim aparecessem as primeiras tradições em torno
dessa fé, em material escrito, através das cartas de Paulo, por exemplo. Assim se
Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois
foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive
Jesus havia feito muitos milagres entre eles, pregando o Reino de Deus e a Boa
Mensagem (Evangelho), tendo sido executado por infringir leis judaicas e por perturbar
a ordem pública da Pax Romana em Jerusalém, o que ficou de certo modo atestado
bandido por alguns e louco por outros, Jesus de Nazaré despertou um movimento
conhecidos como apóstolos (mensageiros) de Jesus eram judeus assim como Jesus, ou
religiosa.
2). A partir desse momento, iniciou-se a missão da comunidade dos crentes em Jesus
de Jerusalém como mais uma seita judaica acrescentada às outras que já existiam
comunidade israelita. Mas, se o Deus de Israel era celebrado também como Senhor de
todos os povos, a ressurreição de Jesus dizia respeito à salvação para o mundo inteiro,
não apenas para Israel. Daí a sua pretensão missionária desde Jerusalém (MUÑOZ,
1985, p. 77), passando também por Samaria, chegando à cidade de Antioquia na Síria.
Nessa cidade, desenvolveu-se uma Igreja em que congregavam Barnabé e Saulo, líderes
Império Romano.
identificada como uma seita judaica, pois não havia imposição dos costumes dos judeus
sobre seus membros (MUÑOZ, 1985, p. 81). Assim sendo, pela primeira vez na história,
do judaísmo, e por ela seus adeptos ficaram conhecidos como cristãos: “e em Antioquia
foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos 11,26 ACF). Em
Jerusalém, por outro lado, permaneceu um grupo mais conservador em torno dos
apóstolos Tiago (irmão de Jesus), Pedro e João. Esse grupo certamente estava convicto
Antioquia.
de uma moral restrita aos moldes tipicamente judaicos, já os mais próximos a Saulo e
Barnabé tinham uma interpretação mais flexível sobre o tema. A questão só se resolveu
após a intervenção do apóstolo Pedro diante do acalorado debate entre os dois grupos
que se reuniram numa espécie de concílio em Jerusalém (Atos 15,7), resultando, no fim,
em um acordo com bem poucas restrições aos cristãos gentios, isto é, a interpretação
Império Romano. Além dos eventos que culminaram no primeiro concílio da Igreja, em
Jerusalém (Atos 15, 1-29), Paulo representa grande parte dos esforços e iniciativas para
que o Cristianismo das origens se tornasse uma religião com identidade própria e
coesa, não desprezando suas origens judaicas. Judeu e cidadão romano, esteve ligado
Jerusalém, tutelado por Gamaliel. Viu a comunidade de Jerusalém como uma ameaça
à ordem e aos costumes judeus, especialmente diante da missão cristã dos helenistas
Estêvão, linchado em praça pública por causa de sua pregação (Atos 7, 54-60).
sentiu impelido a encabeçar uma perseguição local aos que se diziam seguidores de
Jesus Cristo, entre Jerusalém e Damasco, empreendimento que durou pouco tempo,
pois o fariseu teve uma experiência marcante com o próprio ressuscitado, segundo o
discordâncias de diversas naturezas e por diversas causas que não cabe aqui discutir.
Por outro lado, é igualmente necessário indicar que, embora divergentes e plurais
preocupação em comum voltada à unidade da fé, nos quesitos que lhes pareciam mais
importantes. Por isso, é possível uma descrição geral das características particularmente
primeiro século, o que sobressai também no início do século II, após a morte dos
primeiros apóstolos.
de ações rituais que tinham por culminância a ceia ou eucaristia, com acenos à
com sermões que estimulavam à reflexão sem muitos recursos literários naquela
rígida hierarquia sacerdotal, mas havia por certo uma ordem contínua, com
(1Coríntios 11,26).
expectativa da segunda vinda de Jesus Cristo, a qual foi esfriando nas gerações
não eram condições evidentes nos mais antigos relatos que descrevem as
por unidade foi, gradativamente sendo exercitada entre elas. Enquanto grupos
imperfeito realizado por pessoas sujeitas às mesmas e repetidas falhas. Sobre esse
humanas.
dominantes.
cisão mais profunda entre cristãos e judeus, e ambos, desde então, passam a ter suas
características mais diferenciadas pelas pessoas que assistiram ao episódio das invasões
das tropas romanas. Se havia alguma vantagem restante para os judeus cristãos que
pregavam Jesus Cristo no Templo e nas sinagogas, a partir do ano 70, ela já não existiria
mais. Porém, vale lembrar que o governo romano, propriamente dito, já havia
hostilizado grupos cristãos em Roma sob o domínio do imperador Nero César em 64,
séculos II e III foram condicionadas por acusações diversas, esparsas e sem uma
● Os cristãos são ateus: Não participando do culto oficial imperial e das religiões
orientais tradicionais, os cristãos eram vistos como sem religião, algo inadmissível
populares.
limite fixo para o término dos cultos, por se chamarem sempre de “irmãos” e
comer a carne e beber o sangue de seu Senhor, por ocasião da ceia, não
classes sociais tão distantes da racionalidade dos filósofos. Essas posturas eram
sabe-se que entre as Igrejas havia não apenas grupos de iletrados e pobres, mas
participantes das solenidades e ritos civis dos romanos, sem frequentar o culto
interesses políticos imperiais, alegando que o poder secular não lhes importava
e inimigos do imperador.
acreditam que ele ressuscitou dos mortos, acreditam que ele voltará em corpo
Assim sendo, ficaram enumeradas algumas das mais divulgadas acusações que
foram endereçadas aos cristianismos no Império Romano, entre os séculos II e III. Com
metrópoles como em Roma e outras regiões na Itália, Palestina, Egito e outras partes
(Ireneu de Lyon, Tertuliano, Cipriano, por exemplo). Diante das divergências internas,
éticas, exortativas. Esse grupo inclui também os polemistas, mas com início desde os
Romano, como alguns dos teólogos citados acima. São conhecidos os testemunhos de
Valeriano, Diocleciano. Alguns mais brandos e tolerantes, outros mais implacáveis como
Décio e Diocleciano, nenhum deles deve ser responsabilizado de forma unilateral pelo
romano. Havia confluências que não surgiam apenas de cima ou do nada, mas se
vimos anteriormente no caso das acusações, como também se dá no exemplo das fake
declarado cristão, estabeleceu o Édito de Milão em 313, que colocava um ponto final
crise, diante das ameaças dos bárbaros ao redor de Roma. O imperador reedificou
nova sede única do Império durante seu domínio, preocupado com as investidas
bárbaras sobre a antiga sede. Uma observação: quão pouco sabemos sobre as tradições
da Igreja narra apenas os fatos que envolveram a parte ocidental da história. Necessário
é aprofundar a leitura desse outro lado da história, como em Irvin e Sunquist (2004) e
exército com apoio da sociedade civil, que contava já com uma quantidade enorme de
Igrejas. Isso foi alcançado em parte através de sua repentina “adesão” pública à fé
cristã, mas qual seria o preço a ser pago pelos cristianismos no Império e pelo povo
dos eventos que marcaram a trajetória dos cristianismos, desde suas origens apostólicas
nazareno. Observamos as relações dos seguidores de Jesus Cristo com sua cultura
Romano. Essas transições, de modo geral, equivalem a uma passagem da Era Antiga
serão estudadas na presente Unidade viveram entre os séculos II e V. Pode esse período
dos Pais da Igreja ser considerado, em alguns historiadores, até os séculos VII e VIII,
de acordo com Luigi Padovese (2004, p. 21). Estiveram esses personagens situados em
vários pontos geográficos em torno do Mediterrâneo, a maioria dos quais estava ainda
Figura 9: Luigi Padovese (1947-2010) foi um bispo católico italiano, professor de Teologia e
História na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e presidente da Conferência Episcopal Turca.
Padovese morreu aos 63 anos, assassinado a facadas no sul da Turquia quando ia se encontrar com o
papa em 2010.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
(2005, p. 11), Pais da Igreja designa “o título utilizado para descrever os escritores
grego pater, da qual veio a expressão “padre”), atribuída a um grupo seleto de pessoas
Através das páginas que se seguem, você, estudante, poderá investigar e refletir
mais sobre alguns pensadores cristãos que, em diálogo com suas respectivas
Patrística.
em determinados grupos cristãos e, por fim, uma breve introdução aos primeiros
tensão à época, com o constante apelo à antiguidade das tradições para provar sua
autores que foram consagrados como ortodoxos, menosprezando todos aqueles tidos
conhecidos através das citações combativas dos padres que eram seus opositores e
distinção entre hereges e ortodoxos estabelecida pela hierarquia da Igreja em favor das
efetivo às adaptações dos Cristianismos em ambientes que não lhes eram simpáticos.
A pesquisa atual não tem razões para estudar o Gnosticismo com o mesmo espírito
entre os pentecostalismos modernos, pode ser notada uma abordagem à Patrística não
tão ampla ou exaustiva sobre o tema, embora alguns nomes sejam pontualmente
fundo para uma boa imersão nos estudos patrísticos. Conhecer algumas dimensões
básicas dos contextos em que viveram os Padres da Igreja auxilia positivamente nas
para com as fontes judaicas. A evolução da Teologia e das principais reflexões cristãs
representa uma gradual ruptura com a sinagoga, incluindo diversas ressignificações das
com Kelly (1994, p. 11), a filosofia era uma espécie de “religião mais profunda da
estrutura intelectual para expressarem suas ideias”. Sabemos que filosofia e religião
são, em tese, concepções de mundo muito distintas, mas o que John Kelly propôs
social, cultural e religiosa. Sem eles, não fariam qualquer sentido à investigação as
desde Maria, mãe de Jesus e Maria Madalena até Tecla no século II, sobre quem
sabemos através de literatura cristã “apócrifa”. As mulheres realizaram não apenas uma
qua non para todo o processo de desenvolvimento e expansão das Igrejas pelo mundo
romano. Os mesmos Pais da Igreja que batalharam por coerência entre sua comunhão,
sintonia com o espírito do patriarcado que regia as relações sociais dos povos antigos
escrita e à leitura ou à instrução formal na mesma medida que os homens, e, por isso,
não deixaram material autoral escrito, são personagens relevantes desde os primeiros
Cartago (Tunísia), sendo que Felicidade era escrava. Acredita-se que Perpétua teria
escrito um diário sobre seus últimos dias antes do martírio, o qual foi divulgado
remete a não antes do século VI. Perpétua e Felicidade foram martirizadas, sob o
comando do imperador Septímio Severo, que reinou entre 193 e 211, investindo
bebê. Felicidade era sua escrava, ela mesma grávida de oito meses
Figura 12: Perpétua e Felicidade, duas jovens africanas martirizadas no século III, em virtude de
sua fé.
Fonte da Imagem: Google Imagens
Não há como refletir sobre a vida dos Pais da Igreja sem que se tome consciência
utilizados com a mesma intensidade do que nos séculos que lhe precederam, e,
novas traduções de coleções inteiras dos autores mais conhecidos da Patrística, como
O debate com os protestantes entre os séculos XVI e XIX fez com que
perspectiva católica, o que demarcou a divisão patrística entre Pais Gregos e Pais
Latinos.
oriental, Palestina, Síria e Egito. Nesse grupo, encontramos Irineu de Lyon, os padres
entre outros.
Europa ocidental e em grande parte do norte africano. Entre os mais conhecidos Pais
na concepção final das imensas coleções produzidas por tradutores e editores católicos
65 |História do Cristianismo - FVC
durante o século XIX, cujo exemplo mais famoso é do padre francês Jacques Paul Migne
(1800-1875). Seu trabalho é reconhecido por ter reunido a Patrologia Latina (PL) em
221 volumes e também a Patrologia Grega (PG) em 162 volumes, edições de referência
Sociedade de São Paulo, congregação religiosa católica fundada na Itália, tem em seu
acervo uma coleção de obras dos Pais gregos e latinos, sob o título “Patrística”,
contando atualmente com 51 volumes, revisada e editada a partir dos anos 1990
que não estão ligadas apenas ao aspecto linguístico, geográfico e cultural, como na
século II o título de Padres Apostólicos. São assim chamados porque, em sua grande
maioria, foram batizados pelos apóstolos de Jesus Cristo ou por discípulos da primeira
determinada tradição, texto ou ensino constituía quesito privilegiado para sua avaliação
como verdadeira ou falsa. A relação dos Padres Apostólicos conta com alguns autores
certo valor nesse aspecto, mas dizem muito sobre a vida das
Teologia, publicada em 1956, que os escritos dos Pais Apostólicos, “em sua grande
maioria de natureza incidental (cartas, homilias), são de valor para nós porque, ao lado
do Novo Testamento, são as fontes mais antigas que possuímos como testemunho da
que sem uma organização sistemática, muito do que se entende por fé cristã. Aspectos
Apologistas.
que se desenvolviam em algumas metrópoles do Império. Não apenas isso, mas merece
episcopais que deliberaram nos grandes concílios ecumênicos que visavam resolver os
é a verdadeira filosofia, e não aquela produzida por Sócrates ou Platão; aqueles que
entendiam que o Cristianismo é a verdadeira religião, ou, no mínimo, uma religião mais
aperfeiçoada do que aquela professada através das leis e ritos judaicos. Tanto os judeus
com seus sistemas rituais, quanto os gregos com a filosofia, eram considerados
com argumentos que buscavam a reafirmação dos valores que julgavam permanentes
na revelação de Jesus Cristo. De acordo com Boehner e GIlson (2012), alguns dos
cristã.
4. Uma Filosofia cristã tende a fazer maior seleção dos problemas discutidos.
segundo século. A obra mais conhecida de Justino chama-se Diálogo com Trifão (ou
Justino era a concepção segundo a qual a filosofia grega não era necessariamente um
Deus havia plantado sobre os povos antigos, preparando a história para a chegada do
Messias. Conforme Hägglund (2003, p. 23), a chave de compreensão desse termo não
era a conhecida filosofia estoica de onde o extraíram, mas sim, tratava-se de uma chave
Deus.
Outros autores também são reconhecidos pela Patrologia como Apologistas, por
170. Além destes, incluem-se Teófilo de Antioquia e dois textos anônimos: Carta a
Hipólito de Roma. Destes, Tertuliano era o mais divergente quanto à utilização dos
fé e nada mais desejamos crer. Pois começamos por crer que para
teologia que visava eliminar de cena grupos específicos geralmente interpretados como
uma ameaça à unidade das Igrejas e à coerência com os ensinos de Jesus. É comum
associar os grupos gnósticos com a heresia docetista, que apregoava que Jesus Cristo
não veio em carne de fato, possuía apenas aparência humana (do verbo grego dokeo,
parecer), como no caso de denúncias que foram feitas contra os gnósticos Marcião,
Valentim e seus seguidores. Trata-se de uma opinião atribuída a esses grupos, que em
tese acreditavam que Jesus não nasceu de Maria, mas através de Maria, não tendo
muito sabemos do que seus delatores escreveram sobre eles, a exemplo do famoso
3.6 Alexandrinos
Os Padres Alexandrinos formavam uma escola de pensamento cristão e
253), um dos mais criativos teólogos do século III. A interpretação alegórica ou exegese
pensadores.
É notável o fato de que a maioria dos teólogos alexandrinos não faz parte do
rol dos santos canonizados pela Igreja Católica, devido à heterodoxia de suas teses,
por suas críticas e dissonâncias face à visão das lideranças constituídas nas dioceses
fecundo diálogo com as filosofias de matriz grega, segundo Hägglund (2003, p. 49),
apesar dos mal-entendidos e debates sobre seus textos. Orígenes, por exemplo, é visto
3.7 Os Capadócios
Outro grupo a ser refletido brevemente neste parágrafo é o dos Padres
Capadócios, dos quais se destacam Basílio de Cesareia (ou Basílio Magno), Gregório de
Espírito Santo, de Basílio Magno, é um dos principais textos já produzidos sobre o tema
catolicismo pré-medieval, ressoando por toda a Idade Média. Ele tem sido reconhecido
século IV. Alguns concílios foram realizados desde a época de Constantino, com o
explicação:
individual, do local.
doutrina que ficou conhecida como arianismo, que buscava demonstrar que
Cristo não era consubstancial a Deus Pai. Dessa forma, o arianismo não concebia
o Filho como um ser divino na mesma condição do Pai, o que gerou muitas
Santíssima Trindade.
Espírito Santo, como no caso dos macedônios que negavam sua divindade, além
maternidade divina de Maria, considerando que ela foi mãe apenas do homem
metade do século V.
bem como para o encaminhamento das divisões mais antigas entre as tradições
negavam que Jesus Cristo tivesse duas naturezas inconfundíveis, por exemplo,
cada concílio.
Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens
e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito
mundo vindouro.
identidades institucionais das Igrejas antigas. Tratam-se de momentos que fazem parte
de uma transição para uma nova realidade, dentro da qual as Igrejas passaram da
Igrejas, busca por unidade no Cristianismo ocidental, um novo tipo de relação entre
Vamos revisar os pontos essenciais que foram tratados nas três primeiras
Unidades deste Livro. Lembrando que esta revisão não exime cada estudante de ler
quantas vezes forem necessárias as Unidades completas. Aqui você terá apenas um
resumo, uma síntese, uma revisão muito breve. Esperamos que você consiga fixar
revisão!
● Relembre-se bem que a História é uma ciência. Logo, ela possui em sua estrutura
teórica tudo o que diz respeito ao conhecimento científico, que é bem diferente
que uma visão válida é aquela de Marc Bloch, que propõe a História como a
científico da História.
científicos objetivos.
com pontos de vista bem particulares do autor, não deixa de ser uma fonte
Os Cristianismos Antigos
queda de Roma.
sua pregação sendo considerado uma seita judaica marginalizada por romanos
compreendendo seu propósito central que não era científico, havendo uma
narram.
● Toda memória tem um caráter subjetivo e recuperativo que nunca é exato, por
d.C.
século: uma liturgia simples com traços judaicos; forte apelo escatológico; senso
mas não se deve romantizar eventos como esse, como simplesmente vontade
● Veja que houve diversos fatores históricos e sociais relativos à perseguição aos
cristãos por alguns imperadores romanos. Sobre isso, tivemos acesso pela
irracionalidade.
do império, em 313, fato que significou uma grande reviravolta na História dos
cristianismos.
● O conceito de Padre ou Pai da Igreja tem uma conotação que deve ser referida
época, com o constante apelo à antiguidade das tradições para provar sua
legitimidade.
● Não se deve esquecer das Mães da Igreja, além das personagens bíblicas.
● A divisão geral dos Pais da Igreja do ponto de vista biográfico e literário foi
consolidada pelo padre Jacques Paul Migne, no século XIX, que estabeleceu dois
● Outra forma de dividir os grupos dos grandes teólogos da Igreja Antiga consiste
teólogos da história, além de ter sido um dos chamados oito grandes Padres da
profícuo e intenso.
Calcedônia (451).
Certo Errado
romana da Galileia.
Certo Errado
Certo Errado
4) Jacques Paul Migne criou uma divisão didática entre o grupo dos Pais da
Certo Errado
Certo Errado
queda de Constantinopla.
Certo Errado
imperial.
Certo Errado
permeáveis, que dialoga com inúmeros grupos religiosos circundantes, que rompe
A ERA MEDIEVAL
O período medieval teve início no século V e cobre um período de cerca de mil
anos. Para a História apenas da religião cristã, parece um período muito longo,
presente. Quando observamos a História geral dos povos e da própria Terra, a extensão
O século IV foi uma espécie de divisor de águas para a Antiguidade cristã. Não
apenas pelo grande crescimento numérico das Igrejas, suas complexidades, a superação
também porque suas primeiras divisões aconteceram nessa mesma época. Mal havia
das outras
Figura 18: Provável limite geográfico máximo do Império Sassânida, último domínio
persa antes da ascensão do Islã na Idade Média.
Fonte da Imagem: Google Imagens
A Idade Média, para grande parcela dos historiadores, iniciou-se com a queda
de Roma em 476 e teve fim por volta de 1453, com a queda de Constantinopla. Esse
período também é subdividido em Primeira Idade Média (476 até a primeira metade
(segunda metade do século X até metade do século XIII), e Baixa Idade Média (meados
do século XIII ao XV). Essas divisões foram feitas em tempos mais recentes, e há
alguma forma com os modos de vida e visões de mundo correntes em seu tempo.
quais constituem e tipificam a Era Medieval e suas divisões gerais. Alguns eventos,
a seguir, a modo de brevíssima introdução e uma síntese muito limitada, que seria
Cristandade.
que fortaleceram o Cristianismo na Europa como não simplesmente uma religião mais
numerosa ou destacada, mas, além disso, um modelo de vida, dos padrões morais e
social. Segundo Peña (2014, p. 130), o Cristianismo trazia uma sensação de segurança
estava mergulhado na decadência social, bélica e política. O fato das invasões bárbaras,
segundo Barros (2009¹, p. 56), constituiu apenas um dos muitos fatores que indicavam
derradeira por Odoacro, rei dos hérulos, que depôs o imperador romano Rômulo
Augusto em 476. Tudo isso já havia sido prenunciado pela derrota dos romanos diante
(2009², p. 551-552), esses eventos não devem ser conferidos isoladamente, mas dentro
Figura 19: Rômulo Augusto, último Cesar, deposto por Odoacro em 4 de Julho de 476, quando
tinha entre 14 e 17 anos de idade.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
Para Paul Johnson (2001, p. 83), o Édito de Milão sancionado pelo imperador
Cristianismo. O mesmo Johnson (2001, p. 81) chegou a indicar que esse caminho
constituía a passagem entre duas marcas muito distintas e extremas na história cristã,
período encontra-se nos reis carolíngios, que eram pertencentes ao reino bárbaro
franco consolidado dois séculos após a queda de Roma. O mais destacado desses
Figura 20: Carlos Magno, líder franco, um dos principais agentes de articulação entre
Cristianismo e conjunturas políticas na Idade Média.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
atravessada por relações com os povos bárbaros que subjugaram Roma e outras
metrópoles.
O papel do bispo de Roma se tornou cada vez mais proeminente desde o século
IV, e a partir dessa esfera de poder capitalizado, os valores e ideais cristãos, assim como
quais percorria diante da ascensão bárbara. Nesse sentido, foi de suma importância o
trabalho pastoral, missionário e político do papa Gregório I Magno, entre 590 e 604.
e à atividade missionária que respeitava os usos e costumes dos povos. Gregório deu
continente europeu, o que abriu espaço a outros reinos nesse contexto geográfico. A
pluralização em reinos menores e submissos ao Império Oriental, uma vez que Odoacro,
com as ameaças dos lombardos na Itália e com a ascensão da Igreja Cristã oriental
fé. Nesse período (século VIII), aparecia a prática dos papas nomearem os imperadores.
O auge dessa relação entre papado e dinastia carolíngia se deu com a coroação de
Carlos Magno na Basílica de São Pedro, pelo papa Leão III, no ano 800. Na ocasião, o
fortalecimento dos lombardos, francos, entre outros povos que, em seu conjunto,
coroação de Carlos Magno equivale a uma afronta do papa contra o poder bizantino
oriental, pois havia conferido ao rei um título imperial até então exclusivo dos que
o chamado Cisma do Oriente estabeleceu o fim das relações e das alianças político-
religiosas entre os dois lados, com a excomunhão mútua entre os dois bispos, de Roma
políticas entre os dois blocos do antigo império, ficou marcado pelo fim da dinastia
dizer que grandes massas da população europeia optaram por viver no campo,
social, religioso, econômico, etc., como bem apontou Peña (2014, p. 122).
propriedades ou domínios pertencentes à nobreza. Como paga pelos bens que a terra
judiciárias. Esses senhores, por sua vez, relacionavam-se com outros membros da
nobreza mediante juramentos de fidelidade prestados em troca das terras que eles
dominavam. Os suseranos investiam seus vassalos com terras ou feudos por intermédio
Igreja e dos reis e imperadores aliados, sobre a terra e o povo, instaurou o processo
Igreja repercutiram também na vida social em geral, de tal modo que, nas palavras de
denominado o último profeta com a revelação derradeira do Deus único, Allah. Sua
102 |História do Cristianismo - FVC
proposta buscou revolucionar as formas de vida entre as tribos do Oriente Próximo, de
características politeístas e nômades, e que viviam em conflitos constantes entre si. Islã,
em árabe, significa submissão. Essa religião apresentou uma crescente adesão entre
beduínos com base nos ensinos de Mohammed e do livro (Corão), cuja proposta é de
romano.
por exemplo, Síria e Palestina, incluindo Jerusalém (638), regiões persas (651), e Cartago
em 698, com praticamente todo o norte africano. Segundo a narrativa de Peña (2014,
francos diante da ascensão dos lombardos. De acordo com Johnson (2001, p. 214), em
período medieval, especialmente no que concerne aos tempos das Cruzadas, no afã
seguida, fez uma convocação oficial ao povo que estava aguardando seu
colaborasse com a Cruzada que pretendia libertar a Terra Santa dos governantes
islâmicos, assim exposto por Irvin e Sunquist (2004, p. 481). Esse chamado devolveu ao
papa certo prestígio entre populares e criou senso de união e uma causa em comum
Igreja, com suas espadas em formato de cruz) que se tornaram um total fracasso
entanto, houve benefício à cristandade, que se tornou mais unida em boa parte da
inserção da filosofia de Aristóteles (384-322 a.C.) na Europa, o que foi mediado pelos
ocidental. As obras de Aristóteles foram traduzidas para o árabe e o sírio no século IX,
801-873).
clérigos, em parceria com nobres na segunda metade do século XII, como parte de
metrópoles europeias, muitos deles trazidos pelos eruditos árabes através da Espanha.
época.
com Aristóteles. Alguns dos maiores expoentes desse movimento chamam-se João
escolásticos era a busca constante por articulação entre Teologia e Filosofia, entre Fé
emergência do período da Baixa Idade Média a partir do século XIII, que se caracterizou
Santo Ofício, cuja atividade gerou críticas e insatisfações quanto aos abusos de poder
dos suspeitos por transgressão das normas instituídas pela Igreja Católica.
investigador e de juiz, o que lhe garantia um enorme poder nos processos inquisitórios,
fora das jurisdições da Igreja, e que tinham maior senso de imparcialidade, mais
suspeitos, que terminavam quase sempre condenados sem direito à ampla defesa. O
contra a dignidade humana. Isso ficou atestado nas expectativas populares da chamada
era medieval, o que se podia entrever por meio do movimento da Renascença e das
século XIII já não era mais a mesma dos séculos anteriores. A cristandade havia
dominadas pelo Islã no norte da África, como em todo o Oriente próximo, e novos
Mapa 2: Note no mapa acima a Europa ao fim do século XIII, em que já se pode visualizar um esboço
da divisão posterior dos Estados-Nação ocidentais. Em lilás, o reino de Portugal; em verde o reino de
Castela, com os anexos de Navarra e o reino muçulmano de Granada (cinza escuro); em cinza claro o
reino de Aragão; em amarelo o reino da França; em vermelho o reino da Inglaterra, juntamente com
Irlanda e Escócia; o Sacro Império Germânico em roxo; na atual Itália, observam-se os Estados papais e
o reino da Sicília.
Fonte da Imagem: Google Imagens
Pierini (2006, p. 150). Diversos concílios foram convocados pelos papas para ampliar as
estratégias da Igreja em meio aos novos desafios que precisavam enfrentar. Os mais
conhecidos na transição entre Alta e Baixa Idade Média foram: Latrão I (1123), Latrão
II (1139), Latrão III (1179), Latrão IV (1215), Concílio I de Lion (1245), Concílio II de Lion
Florença (1431-1445).
monásticas como, por exemplo, a ordem dos franciscanos, conhecida como Ordem dos
Frades Menores (OFM), fundada por Francisco de Assis (1181-1226), bem como a
ordem dos dominicanos ou Ordem dos Pregadores (OP), fundada por Domingos de
mendicantes, e foram fundadas no século XIII. Elas foram criadas com o intuito principal
também como formas de protesto contra o acúmulo de riqueza dos altos setores da
Figura 26: São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores (Dominicanos).
Fonte da Imagem: Google Imagens.
Figura 27: Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (Franciscanos).
crítica velada nas práticas. Esses dois movimentos também buscaram enviar
(1300-1361) e Heinrich Suso (1295-1366) estão no rol dos seus grandes representantes.
que esse movimento ganhou mais expressividade na Europa. Ainda assim, a Devotio se
Figura 28: Tomás de Kempis, autor da obra Imitação de Cristo, uma das mais vendidas obras
da História ocidental.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
moderna.
Cristianismo.
geração com Nicolau de Cusa (1401-1464) e Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494),
Média, com sua tríplice divisão descrita por grande parte dos historiadores no tempo
presente: Primeira Idade Média, entre os séculos V e X; Alta Idade Média, do século X
a XIII; e Baixa Idade Média, a partir do século XIII e seguindo até o século XV.
internas e também externamente nas relações com o Império Romano. Com a chamada
territórios até então resistentes à pregação. Com a queda de Roma em 476, o império
perderem suas prerrogativas do poder, sujeitam-se aos acordos com reinos e nobres,
Por fim, refletimos sobre a Baixa Idade Média, a qual teve por característica
novo tempo, a chamada Modernidade. Mas antes de considerar esse novo, convém
considerar um dos eventos mais significativos para o início dos tempos modernos: a
relação a alguns de seus grandes dogmas e verdades de fé. Algumas guerras foram
instalou entre a Santa Sé e os seus críticos como Martinho Lutero, Thomas Müntzer e
plural e mais ampla, com a qual se relacionam diversas críticas e teologias que se
biográficos gerais situados em torno da vida e da obra de Martinho Lutero, bem como
europeus, suas teologias e outras rupturas que caracterizam o Protestantismo, com sua
5.1 Preâmbulos
Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483 na região de Eisleben, na
Confissões, uma das obras mais lidas e conhecidas do mundo ocidental. No entanto,
embora seja um gênero literário antigo, válido e influente que fomentou em grande
parte a cultura ocidental, a biografia enquanto escrita sobre a vida de alguém pode
trabalho do historiador.
História é a representante desta cientificidade, uma vez que ela é a responsável por
empreendimento. Isso inclui tanto as narrativas mais justas quanto as mais idealizadas
até mesmo fantasias e ficções que visam nem sempre distorcer intencionalmente os
fatos, mas tornar mais claros e sublinhados os elementos que conferem maior sentido
que trata uma biografia, embora essa característica seja muito comum nesse gênero
biografado, pois todas as suas ações, das mais simples às mais complexas, estão
o que envolve também outras relações com seu entorno, sejam de ordem política,
118 |História do Cristianismo - FVC
religiosa, ideológica, econômica, afetiva, psicossocial ou simplesmente incidental, sem
Assim sendo, voltemos à apresentação biográfica sobre Lutero, em face das obras
atribuídas ao seu nome, às pesquisas sobre seu gênio ao longo dos séculos, as de
Lutero, em sua formação católica, foi testemunha de uma época em que a Igreja
âmbito moral, ministerial, litúrgico, político e social. Até mesmo as ordens monásticas
generalizada.
bárbaros germânicos. Durante todo o século XV, tanto o Império quanto a Igreja
Reclamava-se assim por uma reforma no interior das estruturas da Igreja Católica,
Morus (1478-1535). Certamente, esses intelectuais entre outros, antes mesmo de Lutero
vir a público com suas teses contra determinadas práticas da Igrejas, já haviam
produzido uma série de críticas, manifestos e reflexões que visavam uma renovação
atuação eclesiástica.
havia lideranças além das já existentes, que, por sua vez, representam outras espécies
Formavam-se, assim, novas congregações religiosas com viés em parte inovador e com
resposta do catolicismo diante da Reforma iniciada por Lutero, mas também apresentou
Martinho Lutero e suas teses contra a prática de indulgências na Igreja Católica. Nascido
das crenças que então circulavam nos espaços que frequentou na juventude
Antes dos acontecimentos que iriam definir o futuro do Ocidente cristão, Lutero
Lutero havia visitado Roma, e tudo indica que essa experiência foi importante para que
questões teológicas, o que foi amadurecendo uma concepção de justificação pela fé, à
luz das Escrituras. O monge agostiniano, que também exercia uma função importante
momento.
Lendo a carta aos Romanos, encontrou um dia o que ele considerou resposta a
seus questionamentos: o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Rm 3,28).
Desse modo, Lutero compreendeu que Deus salva o homem pela única ação da sua
pregava em sua cidade uma indulgência com o objetivo de ajudar a construir a Basílica
de São Pedro e a cobrir os gastos do bispo da Magúncia, que devia pagar um imposto
sentia grande revolta contra a prática de indulgências levada a Wittenberg, revolta essa
que atinge seu ponto mais alto em 31 de outubro de 1517, quando, em Wittenberg,
pagamentos pelas benesses divinas nesse sentido. Havia, dependendo de cada região,
uma intensidade diferente dessa prática, e na cidade Wittenberg tornou-se algo muito
Aos poucos, Lutero foi percebendo que sua inquietação pertencia também à
grande maioria do povo das cidades alemãs, cansado de pagar impostos à corte papal
alemão, e retirou alguns livros do Antigo Testamento, que chamou de apócrifos, bem
pois já eram sentidos como potenciais revoltas temporariamente contidas, mas que a
Figura 32:O mapa apresenta a difusão das tradições cristãs no século XVI, incluindo a católica e
as mais proeminentes do protestantismo, bem como as áreas islamizadas.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
Católica convocou o Concílio Trento, organizado pelo papa Paulo III. O Concílio, entre
os anos 1545 e 1563, estabeleceu diretrizes para conter o avanço protestante e ratificar
De acordo com Johnson (2001), após produzir cerca de trinta escritos entre 1517
e 1520, Lutero, com o episódio das suas teses, não se retratou com a Igreja, manteve
firme sua postura crítica, o que resultou em excomunhão pelo Papa Leão X. Em 1520,
lema Sola Scriptura (Somente a Escritura), de que decorrem outros “solas”, como Sola
Gratia e Sola Fides, que se referem à graça divina e à fé, respectivamente, provocou
mesmo, outras perspectivas foram desenvolvidas em cada região da Europa por onde
Por assim dizer, Lutero não foi um homem sem defeitos e limitações, por isso
não vale romantizar ou idealizar sua imagem, todavia ele permanece historicamente
serviram de inspiração a outros grupos, séculos mais tarde. Esse provavelmente foi o
Não eram unânimes as convicções sobre o que fazer no caminho que se abria à
de pelo menos outros dois líderes nesse contexto. Andreas Karlstadt e Tomás Müntzer.
vistos até hoje, visto que elas enfatizam que o pecador pode obter
de teologia.
(GALIZA, 2017)
batismo. Escreveu 151 teses contra a corrupção na Igreja, publicadas em período bem
adeptos ao movimento.
relações com o clero local e não produziu extensa obra teológica, muito embora tenha
camponeses.
que eram explorados pela Igreja, Lutero voltou atrás e não apoiou o empreendimento
Karlstadt que também flertou com a proposta revolucionária mas mudou de direção
O fato é que Lutero não mobilizou expressamente qualquer tipo de guerra contra
saudável de ideias com o Papa, debate que, conforme sabemos, não aconteceu. Lutero
não concebeu com bons olhos a produção de conflitos físicos contra a nobreza e a
fundo, Lutero deve ter se sentido dividido em algum momento, entre a autenticidade
Então, optou pela sobrevivência daquilo que ele havia começado a desenvolver, como
uma nova Igreja. E rejeitou qualquer iniciativa que pusesse em risco o movimento.
Inclusive a Reforma Radical de Tomás Müntzer. Nos poucos anos de relação entre
Lutero e Müntzer, houve questões tensas, que podem ser resumidas a partir do relato
1521.
(SANTOS, 2009, p. 130)
pregador da região de Praga, o qual foi condenado pelo Concílio de Constança (1414-
as diferenças teológicas entre ele e Lutero, sobretudo com a publicação de outro texto
insatisfações, tanto com os católicos, quanto com os rumos iniciais da Reforma, também
substituído pelo Sola Experientia, conforme registrou Carter Lindberg (2001). Isso ficou
atestado em uma carta que escreveu ao líder colaborador de Lutero, o famoso Filipe
isso, a luta por apropriação forçosa dos grandes lotes de terra, antigos feudos
inutilizados. Com isso, o alemão passou a ser considerado real ameaça para os velhos
Assim sendo, com ampla divulgação de suas ideias por diversas cidades e aldeias,
Müntzer arrebanhou dezenas de famílias camponesas para lutar contra a nobreza que
amargar uma sequência de derrotas que se estenderam até maio de 1525, na região
exército local, o que pôs um ponto final em seu projeto revolucionário. A cabeça de
Müntzer foi exposta nos portões da cidade como troféu pela vitória épica sobre a
Romanos 13. Seria esse o começo do fortalecimento dos regimes autoritários entre os
biografias de Lutero. A exceção a essa regra veio somente com as reflexões de Karl
Marx e Friedrich Engels no século XIX, ao avaliar a história da luta de classes e dos
entretanto, já foram oferecidos até aqui e são suficientes para um contato inicial com
se deu em Zurique e em Genebra, cidades suíças que distam cerca de 280 Km uma da
outra. Zurique e Genebra constituem cenários históricos para a atividade pastoral dos
A grande maioria das obras que conhecemos sobre Reforma Protestante não menciona
a ruptura do rei Henrique VIII com o Papa, devido às permanentes questões que
buscam avaliar até que ponto a Igreja Anglicana rompeu com a Católica Romana e se
ela realmente teria algo em comum com os reformadores do século XVI. Henrique VIII
foi excomungado pelo Papa Clemente VII em 1534, devido às questões conjugais do
rei. Desde então, foram cortadas as relações entre a Igreja de Roma e a Igreja na
Inglaterra.
radicais .
Ulrico Zuínglio (1484-1531) foi sacerdote católico suíco, muito influenciado pelas
cidade. Em 1525, as autoridades locais adotaram cultos públicos em vez das missas, e
a cidade assumia uma tendência protestante, que conflitava com as tradicionais famílias
católicas que ali residiam que, ao que parece, estavam perdendo adeptos mais
Guerra Civil em Zurique que também ficou conhecida como Batalha de Kappel em
1529. Na continuidade dessa guerra, em 1531, o pioneiro da reforma suíça foi morto
Ceia do Senhor.
Houve também uma passagem dos anabatistas por Zurique, entre 1522 e 1524,
com críticas à teologia de Zuínglio, desgastando sua imagem entre alguns discípulos.
prestígio, por suas divisões internas e pelo desastroso conflito em Münster, onde
tentaram implantar uma teocracia que substituísse o Sacro Império, entre 1532 e 1535.
movimento menonita, seria ainda o mais aclamado dessa geração, pela sua postura
Brasil (IPB) fundada em 12 de agosto de 1859, no Rio de Janeiro, por Ashbel Green
Simonton.
chegando a Genebra em 1536 devido aos rumores de guerra entre França e Alemanha.
A cidade suíça havia sido então recentemente tomada pelos ideais protestantes de
Guilherme Farel (1489-1565), expoente com quem Calvino manteve uma relação de
A proposta do reformador francês era tornar Genebra em uma cidade cristã que
ministério bem preparado, de leis que expressassem uma ética bíblica e de um sistema
cristão e suas implicações. Foi essa a origem das Igrejas reformadas (continente
a Hungria e a Escócia, esta última sob influência do pregador John Knox (1513-1572),
protagonistas da Reforma Protestante. Não cabe romantizar nenhum deles, pois todos
eram seres humanos, com suas falhas, desavenças, vaidades, anseios e esperanças, nem
a trama protestante foi tecida, de modo que seus grandes protagonistas deixaram uma
divulgação das Escrituras e de uma tendência cada vez mais inclinada à autonomia do
proteção ao movimento que mais crescia naquele momento histórico. Tomás Müntzer,
por outro lado, radicalizou as concepções de Lutero em campo de batalha, movido por
questões sociopolíticas, tendo sido derrotado pelos poderes vigentes. Müntzer ainda
reações católicas para tentar conter o avanço protestante. Isso não foi suficiente,
violências cometidas em nome de Deus e dos ideais religiosos dos líderes eclesiásticos.
Figura 35: O famoso Muro dos Reformadores, em Genebra, na Suíça, celebra os quatro
pioneiros do protestantismo naquela região do mundo: Guilherme Farel (1489-1565), João Calvino
(1509-1564), Teodoro de Beza (1513-1605) e João Knox (1513-1572).
Fonte da Imagem: Google Imagens.
com o fim da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), uma das maiores guerras religiosas
três quartos dos territórios da Europa Ocidental e fora desse continente também.
principado.
Nesse período, enquanto a Igreja Católica lutou por séculos para conter a Revolução
Protestante, as novas Igrejas se tornaram cada vez mais indiferentes a qualquer forma
o início marca o movimento protestante, revelou-se sempre mais clara em cada nova
cisão que ocorria nessas comunidades. Por outro lado, convém lembrar que nas
protestantes.
fornece três chaves de leitura que não pretendem esgotar um assunto tão rico como
é nossa última Unidade, portanto, aproveite bem este estudo, e absorva ao máximo o
Sola Scriptura fomentou um maior senso de autonomia e liberdade dos fiéis em relação
segundo o qual a justiça de Deus é concebida como um ato de pura graça, tendo a fé
também em diversas áreas sociais, que, aos poucos, foram deixando de ter
reformadores. Entre essas divergências, incluem-se o debate sobre a Ceia cristã, sobre
favorecem qualquer forma de fuga do mundo: “A Igreja protestante recusa tudo o que
de escape”.
sacerdote, bem como qualquer outra ação sua, que não terá prestígio caso se, por ela,
se tente garantir soluções fáceis para qualquer demanda apresentada pelos fiéis.
errar. O culto deve ressaltar a condição humana pecadora e a graça do único Deus a
longe, a mesma centralidade na vida cristã e nos cultos das comunidades. Isso se
(1 Pedro 2,5). Essa forma de estruturação da Igreja foi influente para a construção de
Berkeley e David Hume. Essa tradição, embora nascida em solo anglicano inglês, surgiu
matemático católico René Descartes. O racionalismo cartesiano também, por sua vez,
organização das sociedades por eles penetradas. O protestantismo, por assim dizer,
reflete uma nova ordem social, configurada entre os séculos XVI e XVIII. Segundo
quaresma ou das indulgências, assim como outras reformas (...) foram, do ponto de
autor chega a indicar que, mesmo com a criativa produção filosófica e humanista do
protestantes das duas ou três primeiras gerações que nasceram entre o fim do século
europeia podem ser encontradas nessas elaborações, que, apesar das distorções
● Para um protestante, a realidade da graça deve ser expressa com toda a ousadia
e riscos.
efetivamente por uma natureza laica do Estado, em que pese sua autonomia
Estado.
de qualidade.
de Lutero.
moderno é protestante por natureza, uma vez que o trabalho foi expresso por
luz da experiência bíblica. Trabalho, para Lutero, é Beruf, termo alemão que
designa vocação divina atribuída a todo ser humano, em vista de sua edificação
Igreja Católica.
povo”.
apresentam relações históricas com o catolicismo. No entanto, isso pode não ser
filiação religiosa da maioria de sua população. Note que, entre os países com
alguns com maioria protestante, como Noruega, Islândia, Suécia, Estados Unidos,
presentes nessa lista, por exemplo, Irlanda, França, Áustria e Itália. Esse é o
mas ainda assim sempre mais conservadora de seus valores tradicionais, do que aberta
juridicamente. No entanto, essa visão não tinha em vista um horizonte de diálogo, pois
ainda estava atravessada pelo clericalismo e pelo dogmatismo em suas posições. Esse
quadro foi sendo gradualmente transformado durante todo o século que sucedeu o
século XX.
renovação litúrgica do Vaticano II tem um início bem anterior ao século XX, pois
passando pelos pontificados de Bento XIV, Pio X, Pio XII e João XXIII, estes três últimos
Esse movimento veio ganhando forças no final do século XIX e início do século
povo.
histórico, pois a participação efetiva dos membros da Igreja nos processos litúrgicos
não acontecia, tudo estava de certa forma centralizado no Clero, sendo os ministros
sacerdócio. Assim, os leigos eram apenas meros expectadores, não entendiam muito
(bispos, padres). A assembleia (povo) era um participante quase inativo, assistente, sem
participação e muito menos compreensão do que ouvia e via, visto que o celebrante
rezava em latim, de costas para o povo. Esta forma de celebrar era ritualista, e não
tratando-se o referido assunto com uma especial atenção para as mudanças que
estavam começando a acontecer, pois o objetivo deste movimento era trazer o povo
litúrgico como uma perspectiva de melhorias e reformas nas práticas do culto católico
(HOPING, 2015).
mas se deu como processo instaurado pelo Movimento Litúrgico e pelas propostas de
alguns papas nesse âmbito, conforme Hoping (2015). Esse movimento teve grande
influência do líder que foi S. Pio X (1904-1914). Esse papa apresentava a participação
litúrgicas, foi o papa S. Pio XII (1938-1958), que foi quem de fato começou a reforma
vernácula (rituais bilíngues e missal bilíngue), a reforma da vigília Pascal (1951), seguida
instituição de música sacra em “De musica sacra et sacra liturgia" (1958). O movimento
litúrgico foi um dos maiores, senão o maior propulsor, para a realização do Concílio
Vaticano II.
de Deus, e daí se entende que a atuação do Espírito Santo foi fundamental para
convencer os líderes religiosos a vivenciar uma unidade na Igreja, em que todos podem
mundo moderno, para que a Igreja pudesse ser mais dinâmica e relevante em sua
missão. Isso a tal ponto que, segundo Lafont (2000), o movimento litúrgico teria sido
culto.
Então, observando esse breve contexto histórico da Igreja, podemos concluir que
sendo esclarecidas na reflexão teológica sobre a palavra de Deus. Cabe ressaltar que o
papa Pio XII protagonizou essa iniciativa, tomando providências no campo social e
abriu a Igreja para dois movimentos significativos: bíblico e o litúrgico, sendo este
bíblica. Na exegese, nos estudos críticos, Alemanha, Holanda e Reino Unido reuniram
Igreja Católica não poderia se manter por muito tempo em atitude de mera apologética
de que existem diversos gêneros literários e métodos de interpretação. Vão aos poucos
relembrou Lafont (2000). Sendo assim, eles deixam de fazer uma leitura tradicional e
do exegeta. Sem dúvida, com essa encíclica, Pio XII abre nova era
estudos das Sagradas Escrituras com maior profundidade científica, abrindo-se uma
nova era para as pesquisas e investigações dos textos sagrados. O Concílio Vaticano II
renovação da vida cristã, e a pesquisa bíblica foi um dos grandes avanços e contributos
Cabe ainda uma palavra sobre ecumenismo. Devido às grandes rupturas das
pelo conflito com Roma a partir de uma experiência profunda em tensão com o
com o objetivo de uma única evangelização cristã. Nesse momento, ficou conhecido o
efetivamente por iniciativa católica. Esse congresso deve ser visto apenas como marco
2008).
A Igreja Católica em princípio não se abre para esse Movimento Ecumênico que
os protestantes iniciaram, mas aos poucos a Igreja foi se despertando para a ideia.
Inicialmente, para os bispos, a Igreja católica seria a única verdadeira igreja de Cristo.
Logo, o movimento ecumênico católico teve por primeira finalidade receber de volta
tempo também surge o desejo de dialogar com as várias religiões cristãs e não-cristãs,
especial:
Então, durante esse período, foi possível para os católicos entender que o
movimento ecumênico teve a inspiração do Santo Espírito, atuando na vida das pessoas
para trazer as transformações necessárias para que se possa olhar para os outros com
Igreja ao mundo moderno, temos também o Movimento dos Leigos como último
O Movimento dos Leigos foi algo fundamental para a atuação da Igreja na esfera
pública, pois colocou o povo para trabalhar em prol de certo entendimento do reino
com o ambiente que os cerca, envolvendo-se nas questões sociais e políticas, na prática
moderno, especialmente sob a leitura da chamada Ação Católica, que teve o cardeal
de poder da Igreja nos países por ela colonizados, no entendimento de Dussel (1999).
cristã no Brasil, a Ação Católica no em nosso país, representada por diversos segmentos
modificado para aquele que seria seu evento mais marcante no século XX. O Concílio
atrair os cristãos afastados da religião, o papa João XXIII convida bispos de todo o
mais sobre o Concílio Vaticano II. Quando a Igreja Católica no dia 9 de outubro de
1958, chorava a morte de Pio XII, um dos mais importantes pontífices do século, foi
escolhido para papa o cardeal Roncalli, um homem de idade avançada e que era visto
as aptidões intelectuais de seu antecessor. Cabe mencionar que o cardeal Roncalli foi
o papa de transição chamado de João XXIII que teve a coragem e a firmeza de convocar
da Igreja. O pontificado de João XXIII foi breve, mas intenso, colocando a Igreja, por
Grohe (2015).
religiões não-cristãs. João XXIII nomeou novos cardeais, entre eles pela primeira vez
José Maria Pires, arcebispo que foi um padre conciliar, considera o testemunho
expressa esse direito nas palavras do Cânon 215, que reza: "Os
fins”.
Percebemos que, para o espírito que permeou o Concílio, todos fazem parte do
povo de Deus e todos estão no mesmo nível perante Deus, sendo Cristo o cabeça da
Igreja e não o clero. Essa é uma constatação resultante dos anos de reflexão e atenção
celebração o papa João XXIII anuncia sua decisão de convocar um concílio ecumênico,
o que trouxe a possibilidade de reflexão de toda a Igreja a viver a unidade cristã (CNBB,
indicou alguns sinais para superar esses graves dilemas. Para exemplificar essa sua
preocupação com as questões sociais, o papa em suas duas encíclicas sociais Mater et
Nota-se que no pontificado sob a liderança de João XXIII, a Igreja Católica se aproxima
cada vez mais de um mundo laico e abre um caminho para um futuro, onde a Igreja
Logo, através de uma nova perspectiva teológica que a Igreja Católica está se
mais profundo na vida interna da Igreja e de sua relação com a modernidade e com
aparelho religioso fechado aos novos horizontes teológicos, havendo uma evolução
Igreja (Lumen Gentium); Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina (Dei verbum);
social; Perfectae Caritatis – Decreto sobre a renovação da vida religiosa; Optatam Totius
apostolado dos leigos; Christus Dominus – Decreto sobre o múnus pastoral dos bispos
publicadas nos documentos. Nos anos seguintes que sucederam 1965, houve o esforço
por parte das conferências episcopais católicas para traduzir e adaptar as resoluções
Figura 38 e 39: Karl Barth, considerado um dos maiores teólogos reformados do século XX, e
um dos fundadores da teologia neo-ortodoxa, representou os protestantes no Concílio Vaticano II,
com grande respeito do papa João XXIII e de grande parte do episcopado católico na Europa.
Fonte da Imagem: Google Imagens.
6.4 Finalizando
A pluralidade religiosa é uma realidade social dificilmente eliminável, para não
sociedades industriais, e o crescente grupo dos sem religião, tudo isso colabora para
como nunca vista antes. Enquanto a Igreja Católica, com suas pequenas divisões
internas, não deixa de ser apenas UMA Igreja, temos uma pulverização protestante,
relação ao calvinismo está presente na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), desde 1859.
A Igreja Metodista, cuja teologia remete a John Wesley, também se faz presente desde
sua primeira missão no Brasil (1835). Em 1855, chega ao nosso país o casal Robert
Kalley e Sarah Kalley, que fundaram em 1858 a primeira Igreja criada em solo brasileiro,
que não seria reprodução de uma denominação já existente em outros países. Esse foi
de 1858.
entre 1871 em Santa Bárbara d’Oeste (SP) e 1882 em Salvador (BA). Oriundos da
ano de 1911, pelos missionários suecos Adolph Gunnar Vingren (1879-1933) e Gustaf
litúrgicas. O italiano também tinha passado por Chicago conhecendo outro grupo de
pentecostais em torno do pastor William Howard Durham (1873-1912), líder que foi
neopentecostais, iniciadas no Brasil a partir dos anos 1970, como a Igreja Universal do
Figura 42:Frida Maria Strandberg e Gunnar VIngren, casal sueco pioneiro das Assembleias de
Deus no Brasil.
Fonte da Imagem: Google Imagens
Figura 43: Daniel Berg, missionário sueco e um dos pioneiros do assembleianismo no Brasil.
Fonte da Imagem: Google Imagens
esgotar uma riqueza tão grande de temas e situações narradas. Indicamos que se atente
uma melhor assimilação não apenas desta Unidade, mas de todo este Material Didático.
conflito entre protestantes e católicos, tendo em vista que as Igrejas ortodoxas são
Católica no século XX, que prepararam os caminhos para o Concílio Vaticano II (1962-
Agora, vamos revisar os pontos essenciais que foram tratados nas três últimas
Unidades deste Livro. Lembrando que esta revisão não exime cada estudante de ler
quantas vezes forem necessárias as Unidades completas. Aqui você terá apenas um
resumo, uma síntese, uma revisão muito breve. Esperamos que você consiga fixar
revisão!
A era medieval
anos. Para a História apenas da religião cristã, parece um período muito longo,
Cristianismo passava por sua primeira grande divisão (Igreja Cristã da Pérsia).
Idade Média (segunda metade do século X até metade do século XIII), e Baixa
● A Primeira Idade Média foi marcada pela crise que se abateu sobre o Império
● O papel do bispo de Roma se tornou cada vez mais proeminente desde o século
os declives pelos quais percorria diante da ascensão bárbara. Nesse sentido, foi
● Sobre a relação entre Igreja e sistema feudal, este, conjugado com a noção do
direito divino da Igreja e dos reis e imperadores aliados, sobre a terra e o povo,
Latrão I (1123), Latrão II (1139), Latrão III (1179), Latrão IV (1215), Concílio I de
Lion (1245), Concílio II de Lion (1274), Vienne (1311-1312), Pisa (1409), Constança
de 1525, quando Müntzer foi morto pelas tropas que chefiavam Frankenhausen.
Teologia de Lutero e do movimento que ele liderou, por conta de uma renovada
● Notar a reação católica por meio das exigências do Papa Leão X, para que Lutero
Escrituras.
posteriormente, como acrescentamos: Sola Fides, Sola Gratia, Solus Christus, Soli
Deo Gloria.
João Calvino.
e leigos.
promoveu reformas internas muito importantes entre os séculos XIX e XX, entre
1965).
documentos que abrem novos caminhos para o catolicismo em crise no século XX. Um
suas várias vertentes que alcançou maior crescimento no último século em nosso país.
Daniel Berg.
Certo Errado
Reforma Radical.
Certo Errado
3) O Estado laico pode ser considerado uma contribuição muito mais católica
Certo Errado
Certo Errado
Certo Errado
Certo Errado
Certo Errado
políticos de nosso Estado? Até que ponto se pode atribuir ao Catolicismo tal
Unidade Revisional 1
1. Certo
2. Errado
3. Certo
4. Certo
5. Errado
6. Certo
7. Certo
8. Resposta:Sugere-se que o(a) estudante exercite a capacidade de refletir
Unidade Revisional 2
1. Certo
2. Certo
3. Errado
4. Certo
6. Errado
7. Certo
8. Resposta: A sugestão é que o(a) estudante consiga questionar sobre as
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