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Diretor Geral
Prof. Me. Isaías Luis Araújo Júnior
Vice-diretor-Geral
Prof. Me. Ronaldo de Jesus Alves
Diretor Financeiro
Oldair Leal Santos
Diretor Administrativo
Josué de Souza Sobrinho
Equipe Multidisciplinar
importante para todo cristão. Sendo assim, não restam dúvidas de que, para teólogos,
trata-se de uma tarefa imprescindível. Isto porque, de forma explícita e plena, é nos
Evangelhos que temos o clímax da revelação de Deus por meio de Jesus Cristo e os
Evangelhos constituem, por assim dizer, um centro teológico das Escrituras. Eles
apresentam, entre outros temas, os seguintes assuntos fundamentais sobre Jesus Cristo
comissionamento.
Ainda que apresentem dados biográficos, eles não são biográficos. Ainda que apresentes
fatos históricos, eles não são historiográficos. A proposta é teológica, afinal, o foco está
na apresentação da boa notícia de que Deus irrompeu na história, por meio de Jesus
Cristo, e veio ao encontro do ser humano, que estava em uma condição de perdição,
com a finalidade de salvá-lo (Jo 20.31). Portanto, o foco é Jesus. Ele é o Messias que
veio para cumprir o que o Antigo Testamento apontava e que, portanto, exerce um
“Evangelho de Jesus” segundo escreveu Mateus, Marcos, Lucas ou João. Ainda assim,
fica óbvio que eles também manifestam suas percepções e traços específicos na
composição da obra. Afinal, os Evangelhos não surgem do nada; eles estão inseridos em
estavam inseridos.
É a partir destes pressupostos que pretendemos dar início ao nosso estudo dos
de que sejamos cada vez mais despertados para a fé na obra de Cristo e assumamos
traz alguns afazeres, e estar preparado é fundamental para se chegar ao fim desta
jornada. Assim, antes de iniciarmos nossa disciplina, preparamos algumas dicas para
Tenha Compromisso
O caminho para o sucesso da disciplina passa por você e por sua vontade e
procrastine.
Cada passo conta como uma vitória, o conhecimento adquirido é seu, somente
seu, e não esqueça que o nosso cérebro é o órgão do nosso corpo que, quanto mais
Se organize, crie uma agenda própria para estudar, faça um compromisso com
você mesmo e evite ao máximo trocar seus estudos por outra atividade qualquer. O
O ideal é estabelecer uma meta diária de horas de estudo e buscar todos os dias
atingir essa meta. Mas calma, se a semana ficou difícil e você não conseguiu, lembre
que pode reajustar a rota e recuperar o tempo perdido. Só não faça da exceção, a regra.
Pontualidade é a chave do sucesso! Não deixe para a última hora, não perca seus
Se prepare
Se prepare! Encontre um lugar adequado, separe tudo o que vai precisar, não
Toda dúvida precisa ser sanada, não deixe de pedir auxílio, o professor/tutor está
Crie uma lista de dúvidas e prioridades, não deixe que acumulem e peça sempre
Exercícios e Avaliações
elas são importantes ferramentas para que você perceba como anda sua aprendizagem
o que se pede. Após as correções, busque a melhoria contínua, aprenda com os erros
APRESENTAÇÃO 4
1 13
1.1.1 Período babilônico (605 a 539 a.C.) e período medo-persa (539 a 331 a.C.) 16
1.1.2 Período grego (331 a 167 a.C.) 19
1.1.3 Período Macabeu ou Hasmoneu (166 a 37 a.C.) 22
1.1.4 Período Romano (63 a.C. a 135 d.C.) 24
2 41
3 65
O Evangelho de Marcos 65
3.1 Autoria 66
3.2 Data e local da escrita 69
Atividades de Aprendizagem 94
4 97
O Evangelho de Mateus 97
4.1 Autoria 98
4.2 Data e local da escrita 101
4.2 Público-alvo 103
4.3 Gênero literário 107
4.4 Estilo 107
6 154
Gabarito 206
Mateus, Marcos, Lucas e João, importa que conheçamos melhor quais eram as
ministério de Jesus.
boa parte do que passa acontecer nas narrativas dos evangelistas. Precisamos também
lembrar que alguns conceitos, que são aceitos como parte do cotidiano da vida na
época haviam mudado, passando do Persa para o Grego e deste para o Romano. Nessas
e Romano (diáspora judaica) e se teve início uma transformação sútil de uma sociedade
agropastoril, como era a do Israel do AT, para uma sociedade com fortes características
também apocalíptica. Por sua vez, emerge a ideia de um messianismo político como
É exatamente estes últimos aspectos que precisam ser melhor entendidos nessa
introdução, que ainda está em transição do Antigo para o Novo Testamento. Nossa
análise será, inicialmente, do fundo histórico que permeia esse tempo a partir de três
surgida nesse período. Ao final, vamos considerar a questão sinótica que envolve os três
primeiros evangelhos.
obra da inspiração do próprio Deus, ela também é fruto da realidade de escritores que
estavam inseridos em um contexto histórico, social, político, cultural, religioso etc. com
relacionam diretamente com o texto que chegou até nós. Portanto, tanto aquilo que
precedeu como aquilo que sucedeu os dias do ministério público de Jesus são aspectos
importantes que devem ser percebidos para que, assim, ocorra uma melhor apreensão
Deste modo, precisamos entender sobre que tipo de mundo estamos falando
de João Batista, o último profeta do Antigo Pacto que, porém, antecede o ministério de
Jesus (Mt 11.7-15, Lc 16.16)? A verdade é que o cenário do Novo Testamento nos
apresenta vários termos e conceitos, sociais, políticos e religiosos, que são, até então,
forma, existem fatos que surgem na narrativa do NT, mas que, porém, não estão
como algo que já faz parte da vida cotidiana das pessoas no ambiente do NT. Precisamos
conhecer e identificar estes fatos para que possamos entender melhor o que está
da pregação de João Batista. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma
época em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus
canônicos. Apesar disso, precisamos lembrar que tal silêncio foi apenas profético e que
O texto do Novo Testamento não fornece informações sobre esse período. Por
de Joséfo, historiador judeu do primeiro século da era cristã, que temos as principais
fontes de informação sobre esse período. Todavia, antes mesmo de entrar entender
melhor o Período Intertestamentário, importa lembrar, ainda que brevemente, qual era
1.1.1 Período babilônico (605 a 539 a.C.) e período medo-persa (539 a 331
a.C.)
Depois que o Reino do Norte, Israel, tinha sido levado para o cativeiro Assírio em
722 a.C. (2Rs 17.6-22) e diante da rebeldia contínua do povo de Deus que ainda vivia
no Reino do Sul, Judá, o próprio Deus permitiu que um dos grandes impérios da
ocorrendo nos anos de 605, 597 e 587 a.C. (2Rs 24.12 – 25.21).
Judá foi levado ao exílio, onde foi afligido e passou por grande servidão. Esse
período que envolve o exilio babilônico (antes, durante e depois) se caracteriza pela
havia mais liberdade em todos os aspectos da vida do povo judeu em seu exílio. É a
partir desse contexto que, por exemplo, surge o Judaísmo e se começa a entender a
importância de abandonar a idolatria que existia entre o povo de Deus (TENNEY, 1984).
Contudo, logo o Império babilônico também ruiu e deu espaço ao Império Medo-
Persa (539-331 a.C.). Ciro II (559-530 a.C.), deu início à dinastia Aquemênida e realizou
imperadores dos medo-persas que, em sua maioria, estão descritos na Bíblia, foram Ciro
I (600-580 a.C.), Cambises I (580-559 a.C.), Ciro II, o grande (559-530 a.C.), Dario I (521-
486 a.C.), Xerxes I (485-465 a.C.), Artaxerxes I (465-424 a.C.), Xerxes II (424 a.C., por
apenas 45 dias), Sogdiano (424-423 a.C.), Dario II (423-405 a.C.) e Artaxerxes II (404-359
a.C.).
decretar e financiar a volta do povo de Deus para a Palestina em 538/537 a.C. (Is 45.1).
Ainda que muitos judeus não tenham optado pelo retorno – por se acharem felizes onde
● Zorobabel (537-535 a.C.) – deu início à reconstrução do Templo que foi concluído
em 516 a.C.,
● Esdras (458 a.C.) – renovou o culto a Deus no tempo em que Artaxerxes era o rei,
● Neemias (446-445 a.C.) – reconstruiu os muros (reforma política); deu fim aos
social).
e pelo preconceito racial e religioso entre os dois povos. É nesse contexto que um
templo no Monte Gerizim foi construído pelos samaritanos. O povo de Deus, por sua
vez, passou a desenvolver uma maior observância à Lei de Moisés e renovou sua
esperança messiânica.
aramaico, além de ocorrer uma sutil adaptação do povo judeu aos costumes dos
profética e o destaque da liderança do sumo sacerdote, visto que não havia mais reis. E
assim o Antigo Testamento termina com as palavras de Malaquias, que profetizou entre
que se estendeu de 331. a.C. até a revolta dos Macabeus em 167 a.C. Esse foi um dos
grega teve início com Alexandre Magno que em, aproximadamente, 336 a.C. passou a
comandar o exército grego e avançou com suas tropas por várias partes do mundo
daquela época. A força desse exército era tanta que em, aproximadamente, 331 a.C.
demostrando certa consideração pelo povo. Diferentemente de outros, por exemplo, ele
não destruiu Jerusalém. Do mesmo modo, apesar de serem pagãos, eles eram tolerantes
Um dos aspectos mais importantes deste período foi a idealização de uma cidade
importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas de outrora. Entre suas
trouxe para a cidade de Alexandria vários judeus. E por isso mesmo, essa cidade se
e partes da Trácia,
● Seleuco (falecido em 281 a.C.): governou a região do atual Irã, o Iraque, a Síria e
partes da Ásia Central. Foi dele que mais tarde surgiu o Império Selêucida,
Ptolomeus (Reis Gregos do Egito, que foram descendentes do General Ptolomeu I Sóter).
A Palestina esteve sob esse governo de 323 a 204 a.C., proporcionado um tempo de
relativa paz para os judeus. É nesse período que a tradução grega do AT, a Septuaginta,
foi desenvolvida.
Já os Selêucidas eram os Reis Gregos da Síria e foram originados pelo seu primeiro
general, Seleuco Nicator. Eles governaram a Palestina de 204 a 166 a.C. Diferentemente
do período anterior, esse foi um período difícil para os judeus. Em especial, o povo judeu
enfrentou grande dificuldade sob o governo de Antíoco IV Epifânio, entre 175 e 163 a.C.
Entre tantas coisas que aconteceram, podemos destacar um pouco sobre alguns fatos o
Em Israel, o governo local era exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo,
Epifânio comercializou o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Ele
também se esforçou para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si
a inimizade dos judeus. Em certa ocasião, enquanto estava em viagem para o Egito,
uma porca sobre o altar em Jerusalém e entrou no Santo dos Santos (o que era proibido,
pois era um lugar em que apenas o sumo sacerdote entrava uma vez por ano). Em seus
atos blasfemos, ele ordenou que o Templo dos judeus fosse dedicado a Zeus, o principal
circuncisão e a observância da Lei mosaica. Uma simples posse de uma cópia da Lei se
tornou ofensa punível com a morte. E para piorar, esses atos religiosos proibidos foram
Ainda que tenha sido um momento de inúmeras dificuldades, esse período foi de
O helenismo foi difundido pelo mundo, por meio da cultura, da arte, da filosofia,
da literatura etc.
tempos se organizarem,
estudiosos da lei,
Hasmoneu, resistiu vigorosamente aos éditos dos emissários da Síria que tentavam fazer
um cidadão se ofereceu para oferecer sacrifício no altar aos deuses pagãos, Matatias o
matou e aos poucos, passou a crescer o número daqueles que se puseram ao lado dos
Macabeus.
Os Sírios laçaram três campanhas contra esses fiéis judeus, sendo que uma foi
realizada pelo próprio Antíoco Epifânio; porém, nenhuma teve êxito. Algum tempo
depois Epifânio morreu e, então, se irrompeu uma guerra civil. Judas Macabeu, que havia
sucedido seu pai Matatias, estendeu seu controle sobre grande parte da Palestina,
incluindo partes de Jerusalém. Três anos após o dia da profanação de Epifânio, em 165
isso mesmo, ele não gozou de paz por muito tempo. Sem querer correr qualquer risco,
Judas Macabeu apelou para os romanos, pedindo assistência contra a Síria. Tal iniciativa
e, por causa da fraqueza da Síria, ele se tornou um comandante quase que independente
na Judéia. Depois de morrer, ele foi sucedido por seu outro irmão, chamado Simão, que
conquistou a independência definitiva dos Sírios em 142 a.C. e que perdurou até 63 a.C.,
permitindo, assim, que seu trono se tornasse hereditário. Deste modo, sucessivamente,
Israel, chegando a ter uma extensão semelhante àquela que existiu nos dias do
Rei Davi. Ele também sofreu a oposição dos fariseus e passou a receber o apoio
dos saduceus,
● Alexandra Salomé, esposa de Alexandre Janeu (76-67 a.C.): foi uma governante
● Hircano II e Aristóbulo II (67-63 a.C.): Aristóbulo II era muito ambicioso e por isso
brigou pelo poder com seu irmão, Hircano II, que era mais brando e havia
recebido o trono de sua mãe. Este último desistiu do trono, mas continuou com
o ofício de sumo sacerdote que logo foi cobiçado por Aristóbulo II. Em 63 a.C.,
colocou Hircano II apenas como sumo sacerdote, sem, porém dar a ele o título
nome era Antípater (que, aliás, tinha sido um conselheiro de Hircano II).
É nesse contexto, por exemplo, que temos o surgimento dos partidos políticos-religiosos
dos fariseus, dos saduceus e dos essênios. Igualmente, nessa ocasião surge o Sinédrio,
que era formado por uma assembleia judia de anciãos da classe dominante à qual foram
sua vez, em Roma, o governo era exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César, formando,
assim, o primeiro Triunvirato. Após uma briga entre os três, Júlio César venceu e se
Fasael como governador da Judeia e Herodes como governador da Galileia. Pouco tempo
Roma. Surge, então, um novo triunvirato romano com Otávio (sobrinho de César), Marco
Antonio e Emílio Lépido. Antonio e Otávio concederam a Herodes o título de “Rei dos
sacerdotal, Herodes casou-se com Mariamne, neta de Hircano, com o objetivo de tornar-
a.C. a 4 a.C. – e fez muitas amizades entre os poderosos. Embora não fosse bem aceito
pelos judeus, ele conseguiu governar com certa harmonia dos judeus com os romanos.
Houve um período de paz. Entretanto, ele mesmo vivia sob o pavor de que um
descendente dos macabeus subisse no poder para tomar-lhe o trono. Tendo Aristóbulo,
irmão de Mariamne, sido nomeado sumo sacerdote, sua popularidade fez com que
Nos anos seguintes ele tornou-se cada vez mais vingativo, e seus atos sangrentos
durante boa parte do seu governo provocaram a ira dos judeus. Assim sendo, para tentar
acalmar a hostilidade dos Judeus, ele deu início a um programa de construção de muitas
obras públicas e baniu muitos salteadores da época. Tudo isso trouxe certa prosperidade
Perto do fim da vida, esse governante, dominado pelo medo, ordenou o massacre
dos infantes em Belém quando Jesus nasceu (Mt 2.16-17), visto que Jesus era percebido
como um rival por Herodes, que, como sabemos, não era o legitimo rei dos judeus.
principal delas foi a Pax romana, um momento de aparente paz, ordem, prosperidade
econômica, expansão e segurança entre Roma e as suas províncias. Por sua vez, apesar
de tentar influenciar o mundo com sua cultura e valores, a política romana era favorável
posterior do cristianismo.
(sinagogé) que é composta de σύν [sýn], “com, junto”, e ἄγω ['ago], “conduta, educação”,
recebe o nome de כנסת, ( ביתbeit knésset) que é traduzido para "casa de reunião".
Também pode ser chamada תפילה, ( ביתbeit tefila), ou seja, "casa de oração". Na prática,
Ainda que alguns digam que a Sinagoga teve início com Moisés, parece-nos que
judeu estava longe de seu Templo (que havia sido destruído) e, portanto, precisavam de
um lugar para se reunir para celebrar, orar, ler as Escrituras e discorrer sobre sua fé
(HALE, 2001).
para a existência de inúmeras Sinagogas espalhadas por Israel e por outras cidades do
Império Romano nos tempos bíblicos. O termo aparece 56 vezes no texto do NT e com
exceção de uma citação na carta de Tiago e duas no livro do Apocalipse, todas as outras
menções estão nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos. Acredita-se que
A celebração, quando se forma um quórum, era feita todos os dias, com a leitura
das Escrituras, cujos rolos eram retirados da Arca (heikhal) e transportados até o púlpito
(Tebá). Aliás, havia uma série trienal da leitura sinagogal, em momentos distintos, que
poderiam contemplar as três partes do que hoje conhecemos como cânon hebraico (Lei,
Profetas e Escritos), além do Shemá Israel (TENNEY, 1984). Alguns mestres eram
convidados a ler e explicar e parece que foi isso que aconteceu no início do ministério
começavam suas incursões de pregação numa sinagoga e é por isso que elas exerceram
Uma outra instituição é o Templo que, sob todos os pontos de vistas, é o centro
religioso de Israel. O primeiro foi construído por Salomão e destruído quando Jerusalém
mais modesto. Ele ficou conhecido como Templo de Zorobabel, sendo reconstruído após
a volta do exílio e inaugurado em 516 a.C. nos tempos dos profetas Ageu e Zacarias. Em
intensão era de que esse Templo superasse a beleza do Templo de Salomão. Por isso,
ficou conhecido como o Templo de Herodes. Contudo, poucos anos depois, em 70 d.C.,
o Templo foi novamente destruído pelos romanos (TENNEY, 1984; HALE, 2001).
época, o Templo estava corrompido. Ainda assim, tanto Jesus como os apóstolos
NT, o Sinédrio tinha jurisdição apenas de caráter religioso-civil entre aqueles que viviam
na Palestina. Entre outras funções, por exemplos, o Sinédrio poderia dar uma sentença
mostram a força dessa instituição (Mt 26.57, 59; At 5.21). Por causa da tradição e prestígio
ou partidos religiosos”, como denomina Hale (2001) ou também “seitas”, como afirma
Tenney (1984). Isso é importante porque estes grupos, apesar de desconhecidos no AT,
estão bem presentes no contexto do NT. Tenney (1984) lembra que apesar dessas seitas
procurarem manter lealdade para com a Lei, elas divergiam entre si em questões
teológicas e políticas. Vale apena ressaltar, ainda, conforme afirma Hale (2001), o
historiador judeu Flavio Joséfo (37-100 d.C.), em suas duas obras mais importantes
“Guerra dos Judeus” e “Antiguidades Judaicas”, fala com maestria sobre esses partidos.
O maior e mais popular e influente grupo religioso é o partido dos Fariseus. Eles
conceito parash (separar) e por isso eram conhecidos como “separatistas”. Deste modo,
nacionalismo judaico-religioso, com forte apego à tradição dos pais, eles representavam
destaca que: “os fariseus foram o resultado final do movimento que teve seus primórdios
valor especial que suplantavam a Lei escrita, com o objetivo de, segundo eles, “facilitar
o cumprimento da lei” e, assim, evitar o ato de pecar. Eles se interessavam pelo poder
religioso e não político, apesar de exercer influência neste meio também. A sinagoga era
cristãos foram suscitadas pelos fariseus, tais quais: a ressurreição dos mortos, os
vezes pautada na justiça própria, eles praticavam com austeridade o jejum, a oração, a
hipócritas no NT, é certo que existiam fariseus virtuosos e bons, como o próprio
Nicodemus que teve um encontro com Jesus (TENNEY, 1984). Durante seu ministério
público, Jesus manteve várias controvérsias com os fariseus (Mt 9.11, 3 4; 12.2, 14, 24,
38; 15.1, 12; 16.6-12; Lc 11.37-44; 12.1 entre muitos outros textos). Eles foram os únicos
principais oponentes dos fariseus. Em menor número que estes últimos, a origem dos
pode ser que a origem esteja ligada a um certo Zadoque, que sucedeu Abiatar como
alinhando-se a eles em busca do poder político e civil. Por sua vez, também buscavam
do sumo sacerdote.
quais a ressurreição dos mortos, a existência dos demônios e dos anjos/espíritos. Como
se percebem, eles eram, portanto, bem racionalistas. Eles defendiam a ideia do livre-
Flávio Joséfo, Hale (2001) esse grupo surgiu por meio de Judas de Gamala, que se
revoltou com a taxação romana em 6 d.C. Eles eram devotos fervorosos que
representavam a extrema esquerda, bem mais acentuados que os fariseus. Como algo
negligenciando toda outra preocupação. O foco deles era o de sacudir o jugo romano
e anunciar o reino messiânico. Para tanto, eles advogavam o uso da violência para
deles estava bem presente entre os discípulos de Jesus. Como exemplo, Zelote é o nome
dado a Simão, um dos apóstolos (Mt 10.4, Mc 3.18). Eles esperavam que Jesus iria
expulsar os romanos e restabelecer o reino de Israel, mas Jesus lhes explicou que seu
Reino não era deste mundo (João 18.36). Alguns discípulos também estavam prontos
para lutar por Jesus, mas ele recusou a violência (Mt 26.51-52).
consistentes de que eles influenciaram vários personagens do NT, inclusive João e Jesus.
Tenney (1984) adverte que temos poucas informações sobre eles e que sua origem pode
ascética e posicionada à extrema direita dos fariseus. Teologicamente falando, eram bem
próximos dos fariseus. Eles insistiam na observação rigorosa da Lei e viviam de forma
Qumram foram por eles compilados. Uma das características desse grupo era o fato de
que eles aguardavam um messias que iria combinar as linhagens real e sacerdotal.
Temos ainda dois grupos de menor expressão, mas, que, precisam ser
O outro é o grupo dos Zadoqueus que, mesmo não sendo mencionados no NT,
fazem parte daquele contexto. Segundo Hale (2001), eles surgiram possivelmente em
saduceus, no início do segundo século. Eles representavam a ala direita dos saduceus e
messiânica. Alguns documentos de Qumram apontam para uma certa aproximação com
FARISEUS SADUCEUS
Sempre é importante lembrar que para além dos textos canônicos que temos em
nossas Bíblias, uma série de outros textos foram escritos no período intertestamentário.
Ainda que alguns tenham se perdido, uma parte significativa foi conservada,
consideramos dois tipos de texto para esse período, isto é, os apócrifos (falso, oculto) e
Escritura pelos judeus pelo fato de terem sido escritos depois do final do período persa.
Como se sabe, alguns desses livros foram alvo de discussão entre as diferentes
tradições cristãs e que, ainda que não sejam canônicos, podem apresentar valor histórico
filhos”
vimos, de fato, Jesus não poderia ter nascido em qualquer época. Ele teve um tempo
específico para nascer e Deus, em sua infinita sabedoria, preparou tudo para que o Verbo
se encarnasse no tempo certo (Jo 1.1, 14). Houve, ao que parece, da parte de Deus, um
preparo prévio para a vinda de seu Filho, ou seja, podemos ver Deus atuando na História
Desde que o ser humano pecou (Gn 3), Deus começou a trabalhar para salvá-lo.
Todo o esforço de Deus para tão nobre fim, fundamenta-se em preparar o mundo para
receber aquele que na cruz redimiria a humanidade. E, como percebemos, vários fatores
apropriado. Entre outros, percebemos uma convergência favorável dos fatores religioso,
palestina ficou sob o governo de 14 procuradores por quase todo o período do NT. O
poder deles não era absoluto, pois eram controlados por Roma. Normalmente, os
governadores eram escolhidos para pagar alguma dívida junto ao Imperador. Entre
outros, são citados no NT Pilatos, Félix e Festo. Do mesmo modo, Herodes, o Grande,
foi o grande Rei dos Judeus (morreu em 4 d.C.). Ele ficou marcado por uma administração
de progresso, mas ao mesmo tempo de intrigas, caos doméstico e muitas mortes, como
romanos era democrático, com certa liberdade religiosa. A revolta dos partidos religiosos
dos judeus, mais extremados e violentos, que deu início à perseguição dos romanos em
66 a.C. e com a completa destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. contribui com uma
(reunião dos deuses autorizados pelo estado) e se estendia do animismo até o culto ao
imperador. Os cultos aos deuses greco-romanos (Júpiter, Juno, Netuno, Plutão sob os
nomes gregos Zeus, Hera, Posídeon e Hades) eram marcados pela imoralidade e brigas
entre as divindades. O culto ao imperador era uma forma de unir o império e assegurar
modo, o judaísmo, fortalecido e formado no exílio babilônico, tinha forte influência persa
e babilônica, além de dividir o povo sob várias perspectivas e seitas religiosas. Emergia-
se, portanto, uma nova esperança religiosa. Havia necessidade de uma religião, com
valor prático, moral e espiritual para o indivíduo. A ideia de um Deus pessoal e íntimo
era real e havia no ser humano do primeiro século um coração aberto para a mensagem
cristã.
escriba – documentos e manuscritos bíblicos. Foram eles que deram a cada Sinagoga
uma porção das Escrituras, usada para leitura pública nos sábados. O zelo deles pelo
judaísmo, suas tradições, ritos e escritos, foi a causa da não degeneração do povo judeu
era formada por pequenos comerciantes, artesãos, donos de hotéis, sacerdotes comuns
e os levitas. Já a classe baixa tinha pessoas escravas (50% do povo), mendigos, escribas,
doentes etc. A família era desvalorizada na cultura greco-romana (o divórcio era banal),
tornou a língua oficial nos documentos. O hebraico era mais utilizado pelos estudiosos
helenizaram o mundo. Eles espalharam a cultura grega por todos os lugares que
conquistavam e faziam com que a língua grega se tornasse o segundo idioma daquela
nação. O povo, de uma forma geral usava o grego koiné. A educação grega era muito
tempo, a maioria do povo possuía um certo grau de instrução em boa parte do Império
Romano. O analfabetismo era bárbaro, ou seja, indivíduos que não faziam parte do
estratégica. Naquele tempo, era quase que uma rota obrigatória dos comerciantes que
precisam cruzar as regiões. De fato, todo o Império se valia desta importante rota
Concluímos, portanto, que Deus preparou o mundo para receber o seu Filho com
Roma estabelecendo a paz pela força entre os seus súditos (Pax Romana). A Grécia deu
ao mundo uma só língua e uma das melhores culturas já conhecidas pelo homem
daquele tempo. A Judéia contribuiu com seu tradicionalismo religioso e nacional voltado
para o monoteísmo bíblico. E assim, o mundo em que Jesus nasceu era o melhor de
toda a sua história para assistir o evento de tamanha significação e repercussão. Esse
era o mundo que antecedia a realidade narrada pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas
e João.
considerável parte daquilo que sabemos sobre Jesus Cristo estão relatados, quase que
palavras e as ações de Jesus em seu ministério público. Por assim ser, a leitura dos
pouco mais sobre os relatos sobre Jesus a partir das diferentes narrativas dos quatro
evangelistas. Vamos procurar entender, também, o que quer dizer o termo Evangelho,
do quarto Evangelho, isto é, de João. Por fim, vamos conhecer algumas curiosidades
o próprio Jesus sem prestarmos atenção nas narrativas dos evangelistas. E por que
afirmamos isso? A resposta é simples, afinal, é justamente porque eles relatam eventos
De forma geral, os evangelistas desejavam mostrar que Jesus era bem mais do que um
simples homem; ele era o próprio Filho de Deus que veio salvar a humanidade.
que os Evangelhos têm a ver com a mensagem proclamada por Jesus. Aliás, bem mais
que isso, o Evangelho é o próprio Jesus. Paulo, o apóstolo que exerceu um ministério
de proclamação aos gentios, compreendeu que Jesus era o conteúdo do Evangelho, por
meio da sua vinda, do seu ministério na terra, do seu sofrimento e morte e da sua
ressurreição (Rm 1.1-9; 15.19; 1Co 9.12,18). Ela era a Boa-nova em pessoa. Trata-se,
portanto, de uma mensagem vívida proclamada, um conceito não literário; isto é, tudo
menos um livro com textos distantes e sem vida. A vida de Jesus e a sua proclamação
são o Evangelho.
Ainda que toda a Palavra de Deus, em sua perfeita unicidade, seja fundamental
porque eles discorrem essencialmente sobre Jesus. Como afirma Simões (2017, p. 15), “o
ainda que sejam quatro livros, temos apenas um único Evangelho. É por isso que desde
(e não de) Marcos ou segundo cada um dos quatro evangelistas” (FLUCK, 2020, p.6), ou
(Rm 1.16-17).
Alguns criam uma confusão quando tentam definir o gênero literário destes
Evangelhos não pretender ser uma descrição completa da vida de Jesus. Eles não
evidenciam qual era a sua aparência externa e os dados biográficos apresentados são
escassos. Do mesmo modo, muitas vezes, eles não falam dos motivos das ações de Jesus
e não fazem uma narrativa baseada em uma sequência cronológica. O foco está
estabelecido desde o início; trata-se de uma proclamação sobre o Cristo e a sua Obra,
Nesse sentido, precisamos sempre lembrar que os Evangelhos, bem como toda a
Bíblia, não tem por propósito ser um livro de história, um livro cronológico, um livro
Evangelho, que nada mais é que anunciar as boas-novas, apresentando Jesus como o
Filho de Deus que havia sido prometido por todo o AT e que agora se manifestava por
meio da encarnação (Jo 1.1, 14). Devemos lembrar, aliás, que inicialmente, mais do que
realidade. Para ele, o que será descrito em sua obra é o “Princípio do evangelho de Jesus
Cristo, Filho de Deus” (Mc 1.1, NAA) ou ainda, como se apresenta em outra tradução,
trata-se de revelar “A boa notícia que fala a respeito de Jesus Cristo, Filho de Deus, [que]
começou a ser dada” (Mc 1.1, NTLH). Hörster (1996) lembra, inclusive, que essa afirmação,
introduzida por Marcos em sua obra, fez com que o termo Evangelho passasse a
escrever os Evangelhos se resume no texto de João que diz: “Estes, porém, foram
registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenham vida em seu nome” (Jo 20.31, NAA). Portanto, apesar de Jesus ter
realizado muitas outras coisas em seu ministério terreno – algumas escritas e outras não
–, o que era essencial tinha sido registrado, isto é, os Evangelhos existem com o
“Evangelhos” significa destacar que eles existem para anunciar a boa notícia de salvação
para os seres humanos que estavam perdidos e distanciados de Deus, por meio da obra
de Jesus Cristo – seu nascimento, sua vida, sua pregação, sua morte, sua ressurreição,
ensinos, os atos, as motivações e os exemplos de Jesus. De fato, tudo o que Ele fez
estabelece o padrão para tudo aquilo que nós devemos realizar. Tudo o que Ele fez, em
palavra ou em ação, serve como base para a nossa vida. Por meio da leitura dos
significava uma boa notícia dada por um imperador ao seu povo, principalmente quando
ocorriam vitórias ou conquistas militares. Hörster (1996) lembra que o termo ganhou um
tom de caráter religioso no império romano por causa do culto a César, o imperador
Por isso, tanto Hörster (1996) quanto Simões (2017) ainda acrescentam que o
A questão é que, nem sempre, de fato, o anúncio era uma boa notícia para o
do reino e gritava Euangelion. Ao escutar tal palavra, todos deveriam se reunir para
Hörster (1996) e Simões (2017) ainda destacam que o termo euangelion também
Jesus). Entre outros textos, o termo aparecia em algumas profecias de Isaias, nas ocasiões
em que o profeta anunciou uma boa notícia sobre a intervenção salvífica e libertadora
de Deus, inicialmente para com Israel – que em seu propósito sacerdotal deveria ser luz
para as nações – , mas, que, obviamente, se estenderia para toda a raça humana.
É por isso que, a partir de Jesus Cristo, tal realidade foi melhor compreendida,
especial para descrever uma verdade única e especial sobre Jesus Cristo e sua obra. O
daquela que era, de fato, “a boa notícia” e que não poderia haver qualquer paralelo
Entre outros aspectos, os Evangelhos surgiram das necessidades práticas das igreja
e fazem da vida de Jesus um modelo para as nossas” (SIMÕES, 2017, p. 28). A mesma
autora, junto com Hörster (1996) destaca outras finalidades que levaram os evangelistas
● Desenvolver um registro fiel do que Jesus tinha, de fato, realizado, afinal a morte
● Transmitir um texto correto e fiel para todos os lugares aonde Cristo seria
Cristo da fé,
● Evidenciar que a vida de Jesus se tornou um exemplo para os fiéis que o seguem,
● Mostrar o vínculo entre Jesus e seus discípulos, que passaram a formar uma
Sagradas não são fruto de um ditado literal¹ de Deus ao escritor. Como afirma o
seu ministério que estavam sendo compartilhados pelas testemunhas oculares e pelos
estrutura textual como a que temos atualmente, começou a tomar forma por meio da
Portanto, o processo de formação dos textos que temos nos Evangelhos, de modo
óbvio, foi algo que se desenvolveu de forma natural e gradativa. Diga-se mais uma vez,
os evangelistas não aspiravam escrever uma biografia (no sentido historiográfico atual),
muito menos uma história precisa de detalhes e cronologia; eles apenas escreveram
obras com um caráter intencionalmente teológico que demonstravam quem Jesus era e
Deste modo, tudo aquilo que Jesus falou e realizou, desde o início do seu
ministério terreno (Mt 4.12, Mc 1.14, Lc 4.14), até o dia em que ascendeu aos céus (At
1.9), foi naturalmente passando de uma oralidade pregada para pequenos textos
compartilhados. Era assim que surgiam as “coleções das palavras de Jesus (logia)”,
conforme afirma Barrera (1995, p. 118), que nada mais eram que uma espécie de
____________________________________________________________
¹ Ainda que uma vez ou outra isso possa ter acontecido.
conforme afirma Barrera (1995, p. 118), que nada mais eram que uma espécie de
coletânea de ditos de Jesus formados pelas sentenças, parábolas, ensinos e milagres que
passaram a servir de auxílio para aqueles que se tornaram evangelizadores e que, como
Trebolle Barrera (1995) ainda reitera que esses textos foram sendo compartilhados
naquele período por meio de folhas soltas de papiro, como uma forma de propagar a
fé cristã. Como se constata, mais tarde esses textos colaboraram na composição do que
se tornou os quatro Evangelhos. Portanto, devemos ter em mente que esse material
sobre Jesus “passou por um importante processo de formação que compreendeu etapas
A redação que compôs a obra final de cada evangelista deve ter ocorrido a partir
dos anos 60 d.C. E assim, segundo afirma Fluck (2020, p. 6), apenas “na geração posterior
ao apóstolo Paulo a Igreja tratou de dar forma aos quatro evangelhos para edificar sua
fé”. Por sua vez, de acordo com Simões (2017), foi também apenas no início do segundo
século que essas obras foram reunidas com a finalidade de compor o cânon das
a transmissão oral do Evangelho, que era o próprio Jesus e a mensagem que ele
anunciava,
2. Em segundo lugar, essa mesma mensagem foi transmitida, mais uma vez, de forma
aos céus, a transmissão oral continuou sendo anunciada ao passo em que foi
se apresentam atualmente.
de tempo. Não foi uma obra produzida em apenas um momento e nem mesmo uma
obra surgida do acaso. Hörster (1996, p. 10) afirma que os evangelistas juntam “o
com o que nos diz Lucas (1.1-4), ocorreu uma “tarefa de seleção da tradição recebida,
escolheram o que era de seus próprios interesses e objetivos teológicos. Para tanto, eles
fizeram isso utilizando-se de fontes orais e escritas que já circulavam naquele tempo.
Nesse processo, eles elaboraram uma síntese, com a finalidade de ensinar sobre Jesus
Todavia, com isso não se quer dizer que as testemunhas oculares que andaram
com Jesus, como Mateus e João, por exemplo, não tenham relatado algo daquilo que
com a finalidade tornar a mensagem sobre Jesus bem vívida aos leitores. Sendo assim,
tudo o que Jesus fez e ensinou foi transmitido por diferentes estilos; entre eles: parábolas
(cerca de 40), alegorias (ex.: videira verdadeira, Jo 15), relatos de milagres (cura,
bíblico, parece-nos que a resposta é que, de fato, um só Evangelho não bastaria e que,
Uma ressalva, entretanto, se faz necessária. Como bem adverte Tenney (1984), em
sua origem, os Evangelhos devem ser percebidos como obras separadas, afinal, foram
canônico, porque foi justamente assim que eles surgiram. E resta óbvio que cada autor
entendia que aquilo que havia sido escrito era suficiente para transmitir a mensagem
e ênfases diferentes. São quatro versões de uma mesma história. Alguns deles eram
testemunhas oculares, como Mateus e João, por exemplo; outros eram discípulos das
testemunhas oculares, como Marcos, por exemplo. E assim, eles estão ligados à tradição
apostólica transmitida e preservada pela igreja primitiva. Como afirma Simões (2017, p.
32), “os textos trazem em suas composições a interpretação de cada autor sobre os
0psis, vista, que, aplicado aos Evangelhos veio a significar: vistos de um ponto de vista
um mesmo ponto de vista, sem desconsiderar o fato de que nem sempre dizem as
Ainda que ocorra uma certa dependência literária entre eles –, provocada não
porque um dependia do outro para escrever, mas, sim, porque todos eles “eram
dependentes de coleções de fontes” (FLUCK, 2020, p. 8) –, também fica claro que cada
com que tenhamos uma melhor apreensão dos fatos ocorridos durante o ministério de
Galileia.
Jesus é apresentado como o Filho de Davi ou Jesus é apresentado como Filho de Deus
Filho do Homem
em Mateus amadurecimento
Páscoas
narrativa do texto a partir de uma perspectiva geográfica e não cronológica. Por sua vez,
João procura dar ênfase às questões do ministério de Jesus de forma mais sequencial e
Evangelhos); já João relata apenas sete milagres. Os sinóticos fazem uma narrativa breve;
João descreve grandes diálogos. Enquanto a designação Filho do Homem é mais comum
textos que se repetem neles em colunas paralelas, se consegue perceber facilmente suas
Hörster (1996) destaca algumas das semelhanças que permitiram que os três
primeiros Evangelhos fossem categorizados como sinóticos. Entre outros, o autor afirma
● Discursos de Jesus: são discursos com frases curtas e de fácil assimilação, com
chamado por alguns de problema sinótico. Afinal, quando comparamos os primeiros três
aspectos ou como podemos entendê-los melhor com base na história da origem dos
próprios Evangelhos? Tenney (1984, p. 208) levanta a questão de forma bem objetiva ao
totalmente independente de cada um dos outros, por que razão se parecem tão
intimamente uns com os outros, até à concordância verbal exata em muitos lugares?”
Hale (2001, p. 55) de forma simples questiona: “Por que eles têm tantas coisas em
todos eles. Afinal, existem várias teorias sobre as fontes de escrita dos Evangelhos.
Ressalta-se que são hipóteses que podem e foram questionadas muitas vezes. Contudo,
ainda assim, elas nos ajudam a entender um pouco mais a questão. Em uma síntese
elaborada a partir das obras de Tenney (1984), Hörster (1996) e Hale (2001),
interdependência, essa hipótese não se sustenta, visto que ela não explica as
● Teoria do documento único: essa teoria diz que os sinóticos tiveram um único
Mateus tinha sido o primeiro Evangelho, que Marcos era um resumo dele e que
época, essa teoria não resolve a questão sinótica do texto grego (teoria
improvável)
sinóticos se deu porque eles tem base na mesma tradição oral. Constamos a
Lucas (1.2) e do “ensino dos Apóstolos” no livro de Atos (2.42). Contudo, mesmo
que não deva ser descartada num todo, como a transmissão oral ocorreu no
aramaico, essa hipótese também não contribui muito com a questão sinótica que
● Teoria dos dois documentos: Diz que o Evangelho de Marcos foi o primeiro a
ser escrito e que ele foi usado por Mateus e Lucas como fonte de esboço. Além
disso, citam uma outra fonte denominada de Fonte Q (formada pelas logia/ditos
● Teoria dos quatro documentos (ou documentos múltiplos): diz que Mateus e
Lucas de fato se valeram dos registros de Marcos para terem um esboço similar,
escrita de Cesareia e outros lugares, para escrever àquilo que está presente apenas
4) nos dá a entender que existiam várias narrativas dos fatos acontecidos sobre Jesus
que estavam sendo transmitidos por testemunhas oculares e pelos ministros da Palavra.
E ele ainda conclui que realizou uma investigação cuidadosa e detalhada de todos os
fatos, desde a origem, produzindo, assim, um texto com base nesses inúmeros
Ainda que sejam apenas teorias, temos uma possível solução. A teoria dos 4
e que Mateus e Lucas escreveram depois dele. A questão sinótica evidencia que os dois
últimos evangelistas utilizam muito material redacional que está presente no Evangelho
de Marcos. Portanto, Mateus e Lucas compõem suas narrativas com um certo olhar e
reproduzido em Mateus e Lucas”. Por sua vez, estes dois reelaboram a história em suas
próprias palavras e acrescentam fatos novos a partir de outras fontes comuns aos dois
Simões (2017) ainda destaca sobre os ditos (logia) de Jesus que compõem a
chamada Fonte Quelle (Q) e que, apesar de não ter sido encontrada (por isso, uma
hipótese), está bem presente nos textos que formam os sinóticos. É esse documento
que “explica os textos que são paralelos entre os Evangelhos segundo Mateus e Lucas”
(SIMÕES, 2017, p. 45) e que são desconhecidos ou não utilizados por Marcos. Uma
característica interessante destes textos é que eles são formados, essencialmente, pelos
ensinamentos de Jesus com caráter moral e doutrinário. Como exemplo, temos Mt 5.1-
– que foi bem aceito no contexto do cristianismo primitivo –, tenha até impulsionado
Tais perspectivas nos ajudam a assegurar que a escrita dos Evangelhos não foi de
nos apresentaram aquilo que havia de melhor para descrever o ministério de Jesus. A
concordância entre eles nos ajuda a perceber isso e os relatos diferentes e exclusivos de
que os Evangelhos são narrativas de caráter teológico que apresentam Jesus e a Sua
se cumpriu e que Deus irrompeu na história por meio da encarnação de Seu Filho.
‘seres viventes’ descritos por Ezequiel (Ez 1.10) e João (Ap 4.7), da seguinte forma:
por uma questão lógica, não foram os primeiros escritos do cristianismo. Algumas (ou
várias) cartas foram escritas antes. Essa questão de datação será melhor apreendida nas
Por vezes, se ouve falar de que existem outros evangelhos que a igreja decidiu
esconder e não revelar às pessoas por apresentarem conteúdo diferente dos quatro
portanto, é preciso dizer que sim, existem outros evangelhos. Aliás, há uma grande
de Maria etc. Contudo, é preciso afirmar que a igreja nunca escondeu tais escritos e que
E por que, então, eles não foram aceitos? Simplesmente porque não passaram
e verídica em relação à vida de Jesus! Por sua vez, os cristãos creem que os quatro
Evangelhos que temos são dignos de confiança, pois não apenas contém verdades, mas
eles mesmos são a verdade sobre Jesus, o salvador, como bem afirmou o apóstolo Pedro
O Evangelho de Marcos
Ainda que na ordem canônica das nossas Bíblias o Evangelho de Marcos não seja
o primeiro a aparecer na lista, é justamente com ele que iniciaremos, afinal, como
pouco se dúvida nos atuais ambientes teológicos. E, como bem lembra Fluck (2020),
Para além destes aspectos, constatamos por meio de uma análise do texto em si
que um percentual muito significativo do conteúdo de Marcos está bem presente nos
outros dois sinóticos. Hale (2001, p. 73) ainda acrescenta que alguns dos versículos que
se repetem nos sinóticos e que tem como base o texto de Marcos “são idênticos quanto
ao vocabulário e ordem das palavras”. Trata-se de uma semelhança que não é um mero
acaso.
início de nossa análise de cada um dos Evangelhos. Aqui vamos discorrer sobre questões
seja, não temos nenhuma informação explicita no próprio livro sobre quem é o seu
autor. Contudo, já no início do segundo século, esse Evangelho foi atribuído como obra
da autoria de João Marcos, sendo que João é o nome judaico (semítico) e Marcos é o
nome romano (latino). Alguns afirmam que ele era um discípulo de Jesus (hipótese
pouco provável) ao passo que Tenney (1984) infere que Marcos deveria ter cerca de 20
Marcos aparece várias vezes em Atos e nas cartas do Novo Testamento. Acredita-
se que ele era de uma família cristã de Jerusalém e que sua a mãe, chamada Maria, tinha
afirma Tenney (1984, p. 163), se esses fatos forem verdade, “Marcos estava bem
com os principais líderes da igreja primitiva, como Pedro, Paulo e Barnabé. Deste modo,
é quase certo que mais tarde ele foi um assistente do apóstolo Pedro em Roma. O
próprio Pedro afirma que o amava como seu próprio filho (1Pe 5.13).
Paulo lembra que ele era um primo de Barnabé (Cl 4.10). Lucas destaca que ele
começou seu ministério por meio do chamado de Paulo e Barnabé (At 12.25), e que,
(At 13.13). Na segunda viagem missionária Paulo não quis mais a companhia do jovem
Marcos (At 15.37-38), permitindo com que tal desentendimento tenha contribuído para
por cerca de 10 anos –, Marcos retornou ao convívio de Paulo. Ele estava com o apóstolo
(Fm 24) e útil para o ministério de Paulo (2Tm 4.11). Além de Paulo, Marcos também
estava presente com Pedro e Silvano (Silas) na Babilônia, que, simbolicamente, deveria
fato de que o primeiro Evangelho escrito tenha sido o de Marcos, que foi elaborado a
partir das pregações e dos ensinos do apóstolo Pedro enquanto ambos estavam em
Roma (HORSTER, 1993; HALE, 2001). Essa afirmativa encontra fundamento na obra do
historiador Eusébio de Cesareia, em sua História eclesiástica, citando Papias (140 d.C.,
bispo em Hierápolis, discípulo de João). Eusébio, que era bispo em Cesareia, afirma que
[...]. Não ficavam satisfeitos apenas ouvindo-o uma vez, nem com o
boa vontade daquela gente e aprovou o escrito para ser lido nas
igrejas
Nas palavras do próprio Papias, citado por Hale (2001, p. 74) temos a informação
que ele lembrara das coisas ditas e feitas pelo Senhor, mas não em ordem. Pois nem ele
ouvira o Senhor, nem o seguira, mas posteriormente, como eu disse, Pedro adaptou seus
ensinos às necessidades (de seu ouvintes)”. Papias ainda ressalta que Marcos registrou
tudo com muita diligência, sem omitir nada do que ouviu e nem mesmo intentou
Outros, como Justino Mártir (159 d.C.) e Irineu de Lyon (130—202 d.C.) reforçaram
tal argumento na história. Como adverte Hale (2001, p. 74), o primeiro cita o Evangelho
de Marcos como “memórias de Pedro”; já Irineu de Lyon (130-202) diz que Marcos foi
escrito “quando Pedro e Paulo pregavam o Evangelho em Roma e fundaram a igreja ali”
e que depois da morte destes, “Marcos, discípulo de Pedro, nos forneceu por escrito o
escreveu enquanto Pedro ainda estava vivo, tendo a sua narrativa verificada e Origenes
afirma que Marcos escreveu o Evangelho conforme Pedro o explicava (TENNEY, 1984).
destes fatos e evidências quase que unânimes da história (com pouca divergência de
relatos) não há muitas dúvidas de que, de fato, João Marcos, tão conhecido entre os
apóstolos e tão presente nas narrativas do NT, seja o autor do segundo Evangelho.
Tenney (1984) ainda acrescenta que Marcos deve ter cooperado com a fé cristã durante
muito tempo – de 30 a 65 d.C– e que, de acordo com uma fonte da tradição preservada
dos livros bíblicos é uma questão apenas de aproximação, ou seja, na maioria dos casos
podemos apenas especular e inferir algumas possibilidades a partir de uma análise das
circunstâncias históricas, literárias e teológicas que envolvem o livro. Para além disso,
normalmente não há concordância nem mesmo entre os biblistas. Deste modo, com o
d.C. Tenney (1984) o situa entre 56 e 66 d.C. Simões (2017) o coloca entre 65-70 d.C. e
Fluck (2020), de forma aproximada, sugere 65-69 d.C. Horster (1993) e Hale (2001)
indicam a data de 64/65 d.C., o que, em síntese com os outros, parece ser bem provável.
ser uma resposta para a comunidade cristã que está em crise, por causa da perseguição
do Império Romano (Nero) aos cristãos da capital do império, ou seja, a cidade de Roma.
E talvez seja por isso mesmo que na abertura de seu Evangelho ele apresenta Jesus
considerava-se um deus e salvador. Sendo assim, Roma pode ser uma opção bem
evidências que Marcos esteve em Roma, tanto com Paulo quanto com Pedro (HALE,
2001).
3.2 Público-alvo
Diante das informações anteriores resta óbvio que o público-alvo da escrita deste
Evangelho são os gentios, ou seja, os não judeus. Algumas evidências internas podem
confirmar tal afirmativa. Como exemplo, Marcos normalmente faz questão de explicar
alguns costumes judaicos (7.14; 14.12; 15.42), o que não seria necessário para um público
judeu. Em outros casos, porém, ele omite elementos de interesse mais judaicos, tais
textos.
Marcos também traduz frases e palavras em aramaico (3.17, 5.41, 7.11 etc.) e faz
pouca referência ao AT, demonstrando que não fazia muito sentido recorrer ao AT para
um público que não precisava de tal informação. De outro modo, Marcos usa algumas
expressões latinas em vez do grego (5.9; 6.27; 12.15, 42; 14.44, 65; 15.15, 19, 44-45) e
faz uma contagem do tempo no sistema romano (6.48, 13.35). Ele também cita em Mc
15.21 os filhos de Simão Cirineu – Alexandre e Rufo – como pessoas bem conhecidas
pelos seus leitores e em Romanos 16.13 constatamos que Rufo estava em Roma.
anteriormente, é, de fato, bem possível, que Marcos tenha escrito esse Evangelho
HALE, 2001). Contudo, isso não quer dizer que, como era comum entre os escritos que
surgiram no primeiro século, esse Evangelho não deva ter alcançado também aos cristãos
gentios de outras comunidades cristãs daquele tempo. Por isso, o “destinatário também
é todo aquele que deseja conhecer e ser discípulo do Evangelho de Jesus Cristo”
Sendo um dos quatro primeiros livros do Novo Testamento, resta óbvio que
Marcos tem seu gênero literário definido como Evangelho. Aliás, mais que isso, sendo o
sentido, Horster (1993, p. 24) destaca que “o autor fez uma seleção de relatos sobre os
se que não se trata mesmo de uma biografia com a intenção de apresentar uma
Horster (1993) percebe que Marcos também faz constantes “inserções” em sua
narrativa. É algo como interromper o que vinha falando para apresentar um fato que ele
acha importante (3.21 e 31-35; 5.21-24 e 35-43; 6.14-29 e 30ss; 11.15-19 e 11.12-14, 20-
25 etc.).
3.4 Estilo
Cada autor manifesta no seu texto o seu estilo próprio e com Marcos não é
diferente. Tenney (1984, p. 167) destaca que esse Evangelho é obra de um jovem que
mesmo modo, Horster (1993, p. 22) ressalta que “a ênfase dessa narrativa está nos atos
de Jesus”. Fluck (2020, p. 8) ressalta que hoje se tem convicção de que “Marcos está
mais próximo do estilo oral”. Considerando a informação de que sua base perpassa pelas
Por isso, de fato, Marcos é caracterizado por um estilo, prático, conciso, rápido,
comparamos dois Evangelhos maiores que utilizam tal recurso em apenas poucas vezes.
Mateus utiliza 7 vezes e Lucas apenas uma vez. Marcos também usa uma linguagem
grega nada sofisticada; antes, pelo contrário, prefere uma abordagem rústica e mais
simples o possível. Fluxk (2020) destaca que o evangelista chega a preservar certos
geográficos (como João o faz), mas, sim, de determinar um lugar onde Jesus começa
seu ministério e no fim um lugar onde ele o conclui. Como diz Simões (2017, p. 70), “a
geografia está a serviço da teologia do evangelista”. Dessa forma, ele não leva em conta
mais breve e emocionante sobre a vida de Jesus e, por isso mesmo, dá pouca ênfase
aos ensinos e discursos de Jesus. Ele mostra Jesus em ação, na perspectiva de convencer
o leitor, a partir do que Jesus fez, que ele era o que realmente afirmava ser, ou seja, ele
De forma mais simples, um breve esboço deste Evangelho poderia ser o seguinte:
Texto Conteúdo
1.1-13 Introdução
3.6 Texto-chave
É claro que todo o texto do Evangelho escrito por Marcos é importante, contudo,
Ainda assim, outros textos também merecem um destaque especial (1.15; 10.45;
14.61-62).
● O Filho do Homem que sofreu por nossa causa como um servo (10.45)
Como lembra Fluck (2020), o Reino de Deus é um dos assuntos centrais nos
Jesus. Há, aproximadamente, 160 referências ao Reino por todo o texto do Novo
Testamento. Exclusivamente nos Evangelhos temos 127 textos que falam do assunto.
Não obstante, o próprio Jesus falou sobre o Reino de Deus cerca de 90 vezes. Para
ponto de um terço de Marcos ser dedicado aos milagres realizados por Jesus. De fato,
para o evangelista, o tema se sobressai diante daquilo que ele quer provar. Os
também. Já Marcos apresenta 18 milagres. Contudo, devemos lembrar que seu texto é
bem menor quando comparado com os demais evangelistas. Apenas para menção, João
cita 7 milagres. Tenney (1984, p. 174) justifica tal ênfase de Marcos ao dizer que ele
“pois apresenta o caminho a ser seguido pelos discípulos de Jesus Cristo” (SIMÕES, 2017,
p. 61). O ministério de Jesus, por cerca de 3 anos, intencionou um preparo junto ao seus
discípulos. Para tanto, Jesus os advertiu das renúncias necessárias e dos desafios postos
forma singular está no fato de que Jesus mantém em segredo o fato de ser o Messias
(8.27-30) e assim estaria se justificando o fato de que os judeus não creram em Jesus.
Hale (2001), entretanto, discorda dessa questão; para ele, o Evangelho é uma
chamada à fé em Cristo que, como homem, revelou também sua natureza divina. Simões
(2017) entende que Marcos tem uma motivação histórica e teológica sobre o assunto.
Essa autora acrescenta que se deve perceber dois tipos de segredos no texto. O segredo
quanto aos milagres não era obedecido; já quanto ao messianismo em si, tanto os
(2017), entende que Marcos quer proteger o ministério do Messias, visto que para Jesus
cumprir sua missão de forma completa ele precisaria de tempo e, assim sendo, revelar
e ao poder romano.
Evangelhos de forma geral. Contudo, cada evangelista também deixa transparecer alguns
● Propósito consolador: Marcos fala muito sobre perseguição (8.34-38, 10.30, 33-
45 etc.) e, assim, apresenta aos cristãos que sofrem alguém que também sofreu e
morreu, fazendo, assim, que todos venham se identificar com Cristo (8.31, 9.31,
10.32-34)
Jesus Cristo (1.14), ou seja, era “uma declaração clara e completa acerca de Jesus
● Propósito de fé: Marcos faz um convite para que o seu leitor tenha a fé em Cristo
escrito os fatos como eles haviam sido dados pelas testemunhas oculares,
● Marcos apresenta Jesus como àquele que tem poder para operar milagres.
Simões (20170 ainda faz uma boa síntese sobre a dimensão teológica do
sua parte final. De fato, boa parte dos estudiosos afirmam que a seção final que
contempla os versículo 9-20 do capítulo 16 não faziam parte do texto original. E por
que afirmam isso? Em primeiro lugar é porque precisamos reconhecer que essa parte
realmente não consta nos manuscritos mais antigos dos primeiros séculos. E, de acordo
com Hale (2001), é por isso que os primeiros Pais da Igreja (pais apostólicos, do I e II
Alguns acreditam que Marcos, por motivo de perseguição e fuga, não conseguiu
concluir seu Evangelho ou outros acreditam que essa parte se perdeu em algum
momento. Ainda alguns acreditam que Marcos pode ter escrito depois, em Alexandria,
terceiro século apresentam essa parte final com variações (uma mais curta, outra mais
também afirmam que o término em 16.8 é improvável, porque não faz parte do estilo
de escrita de uma literatura grega (não há precedente) terminar de forma abrupta (como
supostamente termina em 16.8) sem uma conclusão mais marcante como ocorre nos
Contudo, ainda que essa parte final não apresente fatos mentirosos (afinal o que
está ali narrado aparece aqui ou acolá nos Evangelhos), a crítica textual tem a tendência
de rejeitar essa parte final (9-20). Para esses eruditos, essa parte pode ser um acréscimo
dos copistas a partir do segundo século – que achavam que o término em 16.8 era
insuficiente –, e que, por isso mesmo, optaram por uma conclusão como uma forma de
repetição ao que já consta em Mateus, Lucas, João e Atos. Horster (1993) discorda e
entende que, mesmo que a questão exija constante reflexão, há a possibilidade desse
final ter saído, ainda que posteriormente, das mãos do próprio Marcos.
Por fim, é bom ressaltar que essas hipóteses e especulações são apenas
conjecturais. Dito isto, reconhecemos que o texto que temos em mãos é aquele que
dos Evangelhos de Mateus e Lucas (mais de 90% estão nos dois Evangelhos sinóticos).
Contudo, ainda assim há alguns textos exclusivos neste Evangelho. São eles:
(Marcos 1.4)
Alguns estudiosos defendem que a casa onde a Última Ceia foi celebrada, era a
casa dos pais (ou, pelo menos, a mãe) de Marcos e que o Jardim de Getsêmani, onde
evangelista. Ainda que haja muita especulação nessas afirmações, se pelo menos parte
disso for verdade, é bem possível, também, que tenha sido nesse mesmo lugar os
Outros sugerem que Marcos pode ter aparecido em sua própria narrativa quando
fala, por duas vezes, de um jovem que estava coberto com um lençol branco e que
acompanhava Jesus, no Getsêmani, no dia de sua prisão (14.51-52). Essa última também
Por fim, Tenney (1984) destaca que Marcos é o Evangelho das reações pessoais.
Não obstante, encontramos reações como: admirados (1.27), criticavam (2.7), medrosos
(4.41), perplexos (6.14), espantados (7.37), hostis (14.1) etc., pois há cerca de 23
referências semelhantes. Simões (2017) indica que o evangelista também utiliza diversos
diminutivos, tais quais: filhinha (5.23, 7.21), cachorrinhos (7.27), peixinhos (8.7) etc.
3.13 Conclusão
Marcos define o tema de seu escrito desde o início. Em 1.14-15 ele demonstra
que o texto é concluído com a grande comissão em 16.15, evidenciando, assim, que a
mas ele é o primeiro que divulga e apresenta o Evangelho. Afinal, ele se auto apresenta
como “o evangelho de Deus”, em outras palavras a “boa nova” que Deus apresenta ao
● Unidade 1
bíblicos do NT apresentam esses fatos como algo que já faz parte da vida
estes fatos para que possamos entender melhor o que está acontecendo
dominaram Israel.
Deus, por meio dos seus costumes culturais (religião, língua, comércio etc.),
dos judeus às suas terras e deram mais liberdade a eles. Por sua vez, os
por meio dos generais que passaram a governar o mundo. Entre eles,
Antioco Epifânio causou muitos males aos judeus e à forma como os judeus
vez a região dos judeus passou a ser dominada por um povo estrangeiro,
o NT. O primeiro Templo, sonhado por Davi e construído por Salomão, foi
influenciaram a forma de viver e crer dos judeus. Ainda que não sejam
considerados inspirados por Deus, eles são uteis em seu caráter histórico e
teológico,
○ Por fim, constatamos que todo esse período, marcado por muitas
Deus revelasse ao mundo o seu plano por meio de Jesus Cristo. Isto é o
contribuíram para que tudo ocorresse da melhor forma possível para que
● Unidade 2
da questão sinótica,
evangelistas,
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
Cristo,
especial, pois, de fato, agora a palavra estava relacionada à uma boa notícia.
de Jesus – seu nascimento, sua vida, seu ministério, sua pregação, sua morte
na cruz, sua ressurreição ao terceiro dia, sua ascensão aos céus e sua
esse material foi compilado e organizado, dando origem ao que temos hoje
○ Existem muitas teorias que tentam explicar como se deu esse processo. Até
agora, a mais coerente defende que Marcos foi o primeiro a escrever e que
o que ele escreveu serviu de base e inspiração para Mateus e Lucas, visto
apresentá-los,
○ Contudo, isso não quer dizer que Mateus e Lucas também não tenham
utilizado uma fonte comum entre eles, chamada de “fonte Q” e que ambos
● Unidade 3
escrito,
de Roma. Contudo, isso não quer dizer que o escrito de Marcos não tenha
apresentar o Evangelho de Jesus Cristo (Mc 1.1). Para tanto, além de estar
geográfico para descrever onde começa (na Galileia) e onde termina (em
○ O texto chave é: “A boa notícia que fala a respeito de Jesus Cristo, Filho de
○ Para o Evangelista Marcos Jesus é: o Filho do Homem que sofreu por nossa
causa como um servo (10.45), o Filho de Deus que venceu o mal, isto é, o
acreditam que o final pode ter sido escrito por Marcos e ter sido incluído
Por sua vez, alguns sugerem que Marcos pode ter aparecido em sua própria
narrativa quando fala por duas vezes de um jovem que estava coberto com
especulações.
Para tanto, vamos promover uma discussão aqui neste espaço da seguinte forma:
Posteriormente, cada aluno precisa realizar uma postagem sobre o que mais
O Evangelho de Mateus
Ainda que, conforme se constatou na unidade anterior, Marcos possivelmente seja
praticamente todo o cristianismo da época (HALE, 2001) e “já aparecia em primeiro lugar
Numa perspectiva mais ampla, até hoje o Evangelho segundo escreveu Mateus é
uma referência acadêmica e teológica sobre a pregação de Jesus. Por isso, o aspecto
doutrinal se ressalta nesse Evangelho, tanto pelos ensinos realizados pelo Mestre como
pelos temas que intencionalmente são destacados em toda a obra. De forma singular,
esse Evangelho consegue construir uma ponte fundamental entre o Antigo Testamento
temos informações sobre quem, de fato, é o autor. Trata-se, portanto, de uma autoria
anônima. Todavia, ainda que não exista exatidão em relação à autoria, como há em
tradição da igreja como resultado do trabalho de Mateus. Nesse sentido, como afirma
Horster (1993, p. 36) o “nome de Mateus é citado no título do evangelho que surgiu no
personagem do NT.
Ele é um dos doze que consta em todas as listas de apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18;
Lc 6.15, At 1.13). Seu nome hebraico é Matatias (SIMÕES, 2017) e ele é filho de Alfeu
(Mc 2.14). Como Tiago, um dos doze, também tinha um pai com esse nome (Mt 10.3),
fica a dúvida se eles eram irmãos. Em Mateus 9.9-13 há o relato do seu chamado e em
78) ressalta que esse Mateus era “um judeu-cristão muito bem instruído nos métodos
dos escribas”.
Marcos e Lucas o chamam de Levi (Mc 2.13-17; Lc 5.27-32), o que pode pressupor
que ele tinha dois nomes, ou seja, seu nome poderia ser Levi Mateus ou, talvez, após a
sua conversão o nome Mateus tenha sido atribuído a ele, afinal, isso não é incomum na
a possibilidade de que o termo Levi (Leuín) utilizado por Marcos e Lucas poderia ser
traduzido como levita, o que pode pressupor que ele pertencia à tribo de Levi e não
próprio Mateus, quando descreve seu encontro com Cristo e seu respectivo chamado,
prefere, ele mesmo, utilizar Mateus. Apesar disso, não temos dados suficientes para
Hierápolis, discípulo de João), Orígenes (185-253 d.C., teólogo, filósofo, um dos Pais da
Igreja), entre outros, também afirmam que Mateus é o autor desse Evangelho. Eusébio,
bispo em Cesareia, na obra “História Eclesiástica” escrita no século IV, afirma que Marcos
afastava
Eusébio que, num consenso, atribuem esse Evangelho à autoria de Mateus, existem
ou com uma das fontes” (HALE, 2001, p. 86). De forma prática, a dúvida recai se as
primeiras fontes que circulavam na Palestina, escritas em aramaico (ou hebraico), que
são descritas por Eusébio ao se referir à “língua materna” de Mateus, sejam o alvo das
Nesse sentido, pode ser que o que é chamado de Evangelho de Mateus num
primeiro momento seja, na verdade, a Logia de Jesus (coleção dos ditos de Jesus, com
ensinos e relatos de milagres). Por isso, muitos afirmam que orginalmente esse
Evangelho – ou parte dele – foi escrito na língua hebraica (ou aramaica) e que traduções
foram sendo realizadas e compartilhadas pela igreja. Deste modo, pode ser que, apenas
mais tarde, “uma edição grega substituiu complemente a hebraica, ou aramaica, uma
vez que não foi encontrado nenhum fragmento de um Mateus em aramaico ou hebraico”
(HALE, 2001, p. 87). Ressalte-se que não se trata de uma tradução do aramaico/hebraico
para o grego; as cópias que temos desse Evangelho evidenciam que ele foi mesmo
escrito em grego. Tenney (1984) sugere que pode ter havido uma edição e não uma
tradução do aramaico.
que, ressalte-se, são apenas possibilidades. Para ele, pode ter acontecido que (1) Papias,
que foi o primeiro a dizer que Mateus escreveu o Evangelho em hebraico, se enganou,
visto que o estilo e a natureza da obra são bem judaicos. Pode ser também que (2)
Mateus fez uma primeira composição (Logia) em hebraico que serviu como base para a
Horster (1993) segue esse raciocínio, acreditando que é um outro escritor que fez a
compilação final. Finalmente, (3) pode ser que Mateus escreveu uma primeira versão em
posteriormente, usou Marcos como sua base grega em harmonia com outras fontes
(tanto as próprias, como outras). Tenney (1984) aponta essa possibilidade sugerindo que
A verdade é que não temos uma resposta para essas questões. Contudo, um fato
assim, resta pouca dúvida de que, seja numa edição anterior em hebraico/aramaico ou
mesmo numa redação posterior escrita na língua grega – como ora a concebemos –
Após a descrição dele em Atos 1.13 como um dos apóstolos, Mateus desaparece
das narrativas bíblicas. As variadas histórias afirmam que ele evangelizou a Etiópia, a
Macedônia, a Síria, a Pérsia e Média. Alguns afirmam que ele morreu de morte natural,
mas há uma boa possibilidade real que ele tenha sido martirizado com ferimento por
Mateus – assim como ocorre com os demais Evangelhos –, será mera aproximação.
d.C. Alguns, como Simões (2017) e Fluck (2020) tendem a situar a escrita desse Evangelho
em um data posterior ao ano 70 d.C., pelo fato de, entre outros aspectos, existirem na
Contudo, estes textos (capítulos 22 e 24) sugerem mais uma predição do que uma
informação. Por sua vez, Tenney (1984) diz que a tradição da igreja, por meio do
testemunho de Irineu, afirma que o Evangelho tinha sido escrito enquanto Paulo e Pedro
ainda estavam em Roma. Se essa afirmação for verdadeira, essa é mais uma razão para
Fluck (2020) acredita que o Evangelho de Mateus foi escrito entre 80-100 d.C.
Simões (2017) sugere a escrita depois de 80 d.C. Tenney (1984), sem definir um ano
específico, afirma que, possivelmente, o texto foi escrito entre 50 e 70 d.C. Horster (1993)
sugere o ano de 66 d.C. Hale (2001) sugere uma data inicial de 65 d.C., mas, que, porém,
pode se estender até 75 d.C., principalmente pelo fato de ser um período marcado pela
Simões (2017), Tenney (1984) e Horster (1993) indicam que possivelmente esse lugar é
cristianismo. Tenney (1984) acrescenta que uma versão grega do Evangelho tenha sido
elaborada exatamente para atender as necessidades dessa igreja e que a partir dela o
de Mateus passa, essencialmente, por uma cópia grega do Evangelho de Marcos (que é
um importante referencial em toda a obra de Mateus ainda que, por vezes, altere a
forma de uso) e pela Fonte “Q” (utilizada por Lucas também). Simões (2017) destaca
que Mateus é, de fato, uma síntese dessas duas fontes. Ainda assim, esse Evangelho
também utiliza uma fonte designada “M”, que se caracteriza por ter material exclusivo
de Mateus. Aliás, cerca de 1/5 do livro de Mateus não está em Marcos e Lucas e, assim,
Mateus poderia ter utilizado em sua composição outras fontes orais e escritas. Em
Mateus deixaram por meio de seus escritos “memórias das conversações do Senhor”
(CESAREIA, 2002, p. 65, Livro III, XXIV, 5). Deste modo, o fato de ter sido um dos doze e
de ter convivido com Jesus durante cerca de três anos, podem certamente ter
contribuído para uma percepção exclusiva de Mateus sobre Jesus seu ministério.
4.2 Público-alvo
escrito, tenha sua origem nas pregações de Mateus aos hebreus. Este fato é super
pelos judeus. Ele era um israelita a serviço de um poder estrangeiro, e por isso mesmo,
impuro que não podia realizar seus ritos religiosos. Entretanto, de forma graciosa, Mateus
é o Evangelho “mais judaico dos quatro” (HALE, 2001, p. 85), sendo praticamente certo
que esse texto foi escrito tendo os judeus cristãos, que tanto o odiaram no passado,
Essa percepção de uma autoria mateana com foco nos judeus é ressaltada por
Irineu (130-202 d.C., bispo, teólogo, um dos Pais da Igreja e considerado pai da ortodoxia
cristã) que, quando citado por Eusébio de Cesareia, diz que “Mateus publicou entre os
hebreus, em sua própria língua, um Evangelho também escrito, enquanto Pedro e Paulo
2002, p. 108, Livro V, VIII, 2). Na mesma obra, Eusébio cita Orígenes para afirmar que
Mateus “publicou para os fiéis procedentes do judaísmo” (CESAREIA, 2002, p. 137, Livro
Para além disso, algumas evidências internas do próprio livro corroboram tal
judaicos sem explicações (Ex.: Mt 15.2 com Mc 7.2) e a ênfase no Antigo Testamento
demostram que o leitor estava bem familiarizado com o conteúdo. De fato, em Mateus,
mosaica (Mt 5.19; 23.3). Em sua escrita, Mateus pressupõe que o leitor conhece bem os
utiliza a expressão “Reino dos Céus” (33x) ou “Reino” (15x) em vez de “Reino de Deus”
Mateus também faz uma série de citações reflexivas que se baseiam em alguns
promessas. Aliás, conforme pontua Hale (2001), existem mais de cem citações (40 diretas
Nessa perspectiva, procurando deixar claro esse vínculo entre os testamentos, que
expressão “para que se cumprisse” em sua obra. Por isso, como diz Fluck (2020, p. 34),
1.22-23 Is 7.14
2.6 Mq 5.1-3
2.15 Os 11.1
2.17 Jr 31.15
3.3 Is 40.3
8.17 Is 53.4
13.33-35 Sl 78.2
21.42 Sl 118.22
22.44 Sl 110.1
26.31 Zc 13.7
26.64 Dn 7.13
27.34, 48 Sl 69.21
27.35 Sl 22.18
27.39-40 Sl 22.7
27.43 Sl 22.8
27.46 Sl 22.1
27.57-60 Is 53.9
28.19-20 Is 66.18
evangelho ao dizer que o foco principal de Mateus é realmente formado pelos judeu-
cristãos, possivelmente de Antioquia da Síria, mas, que, por se tratar de uma comunidade
procedentes do paganismo” (2017, p. 97). Sem dúvida, podemos dizer que nós também
Em termos literários temos nas mãos um Evangelho que, por si só, já é um gênero
quando comparado aos outros sinóticos. Além de desenvolver sua narrativa utilizando
vários recursos de estilo semita, Mateus prefere textos mais breves quando comparados
a Marcos, por exemplo. Segundo Horster (1993, p. 33) trata-se de “uma formulação mais
Há, ainda, uma questão de estrutura literária que segundo Horster (1993, p. 32)
temáticas que, com o objetivo de ensinar, são transmitidos por meio de sermões
Mateus utiliza-se também das parábolas sobre o Reino de Deus (HORSTER, 1993,
p. 31) e estas constituem parte importante de sua estratégia de ensino sobre o Reino.
comuns da vida cotidiana com os valores eternos do Reino dos céus. Em outras partes,
ele retoma as parábolas a fim de trazer novos ensinamentos aos seguidores de Jesus.
4.4 Estilo
Mateus também aplica seu próprio estilo nas narrativas que apresenta sobre Jesus.
Enquanto Marcos valoriza a ação, Mateus dá um valor superior aos ensinos de Jesus e
ocupam três quintos de todo o Evangelho. Normalmente, sua escrita contém narrativas
históricas que geram discursos proferidos por Jesus que se apresentam em sequências
possível perceber esse aspecto. Em semelhança a Marcos, Mateus organiza o seu material
para Jerusalém – Jerusalém). Após a ressurreição, a aparição de Jesus aos seus discípulos
se dá novamente na Galileia.
Hale (2001, p. 85) destaca uma característica singular nesse Evangelho ao afirmar
que o “estilo claro e explanativo do autor é facilmente adaptado para a leitura pública”.
(2017) lembra que são repetições de palavras chaves do texto, como exemplo a palavra
justiça (7x) entre os capítulos 5-7. Entre outras, as palavras mais repetidas são: irmão
(39x), Cristo (16x), recompensa (10x), juízo 12x), justo (17x), mau (26x) etc.
Alguns dizem que esse Evangelho era um lecionário e que, assim sendo, ele tem
por finalidade registrar a vida e o ministério de Jesus com o objetivo de que seja lido
nos cultos (HORSTER, 1993). Há ainda a possibilidade de que exista uma escola teológica
por trás do Evangelho e que, portanto, ele serviu para instruir líderes e mestres da igreja
primitiva. Assim, o que foi ensinado resultou no Evangelho que foi utilizado pela igreja
blocos que contemplam uma narrativa inicial que é seguida por um discurso de Jesus.
No quadro abaixo uma seção será acrescentada ao final apenas para evidenciar o esboço
de todo o livro. Contudo, lembremos que a ênfase está nas cinco seções marcadas pelo
discursos de Jesus.
proferir essas palavras” (7.28, 11.1, 13.53, 19.1, 26.1). Simões (2017) destaca que o uso
desse recurso didático permite concluir o discurso e estabelecer uma transição com o
discurso seguinte.
Alguns sugerem que Mateus fez essa divisão em cinco partes em alusão (e possível
substituição) do Pentateuco, o que parece ser mera especulação, afinal, Jesus cumpriu,
respeitou, ampliou e reinterpretou a Lei mosaica. Como afirma Tenney (1984), no próprio
Sermão do Monte – que é central em Mateus – Jesus valoriza a Lei, mas demonstra que
está acima dela por causa da Sua plena Santidade. Como afirma Fluck (2020, p. 34), “a
lei é resumida por Jesus no Evangelho. Ela é cumprida pela graça de de Deus atuante
(8.1-11.1)
(11.2-13.53) ● Discurso:13.1-53
(13.54-19.1)
(19.2-26.1)
algumas importantes temáticas. Para ela, o primeiro discurso é marcado pelo Sermão do
Monte (5-7), que evidencia como se deve viver no Reino de Deus. O segundo discurso
discurso é o das parábolas (13), onde Mateus pretender inserir o leitor na compreensão
é que uma agência do Reino de Deus por meio de uma comunidade de irmãos (16, 18).
O quinto discurso é escatológico (24-25), pois tem por foco alertar os discípulos sobre
4.6 Texto-chave
para destacar alguns dos temas principais da obra. Resta óbvio, portanto, que isso não
anula os outros textos aqui ausentes. Sendo assim, entre os textos-chave de Mateus,
● “— Vocês são o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar
o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
— Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto
confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; [33] mas aquele que me negar
diante das pessoas, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.”
coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até
aquele que é o Messias e Rei de Israel e que, portanto, o Reino chegou com o seu
Rei (Mt 3.2; 4.17). Assim como os outros Evangelhos, o assunto do Reino predomina a
obra; afinal, “Mateus usou cerca de 50 vezes a expressão ‘reino de Deus’ ou equivalente,
enquanto os outros evangelhos somados não alcançam esta quantidade” (FLUCK, 2020,
p. 37). Preferindo um título específico, Mateus afirma que o Reino dos Céus (33
seus leitores que Cristo era o ápice da revelação de Deus e que as inúmeras profecias
Filho do Homem, o Rei e Salvador. Para ele, Jesus é o Messias prometido a Israel.
Deste modo, o evangelista quer demonstrar, sem deixar dúvida alguma, que em Jesus
há o cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Ele faz isso indicando doze
textos como prova do Antigo Testamento que apontam para Cristo – sua vinda, eu
ministério e seu sofrimento – (1.22; 2.5, 15, 17, 23; 4.14. 8.17; 12.17; 13.35; 21.4; 26.56;
27.9). Tenney (1984, p. 153) destaca que a frase usada na genealogia de Mateus se
da promessa messiânica”.
Mateus toca numa questão sensível para os judeus, pois, para ele, Jesus, é o
grande mestre que cumpriu a lei (5.17), mas a reelaborou para uma lei melhor. Por
isso, como destaca Fluck (2020), a relação entre Jesus e a lei de Moisés se torna um
“vocês ouviram o que foi dito?” A resposta dele é acrescida de uma reinterpretação que
se inicia com a sentença “eu, porém, lhes digo” (5.21, 27, 33, 38, 43).
Com esse tipo de argumento, não poucas vezes Jesus teve que lidar com a
indignação dos principais grupos religiosos daquele tempo em Israel. Para tanto,
parte dos religiosos de sua época. Nesse sentido, Mateus procura responder algumas
calúnias levantadas pelos judeus contra a fé cristã, tais quais os fatos relacionados ao
Jesus. Desde o início (2.1-12) Mateus demonstra a reação contrária dos judeus com o
Messias que chegou. Trata-se de uma rejeição que inicialmente é focada nos líderes mas,
que com o tempo, passa a ser manifestada pelo povo em geral. É por isso que o Reino
não será nacionalista, mas, sim, será formado por discípulos de todas as nações (21.14,
28.22). Assim sendo, em seu próprio ministério público Jesus tratou de ampliar seu
Idumeia, Tiro, Sidon (Marcos 3.7-8), Decápolis (Marcos 5.19-20). Dedicar-se aos gentios
O Evangelho de Mateus procurar mostrar que Jesus era alguém que ensinava muito e
que ele fazia isso por meio dos seus discursos. Entre os diversos assuntos tratados,
alguns já apresentados, destacamos os ensinos sobre a volta de Cristo que, aliás, por
meio do termo parousia, aparece quatro vezes no Evangelho (16x em todo o NT). Outro
assunto bem presente é a justiça, sendo que o próprio Jesus veio para cumprir a justiça.
O termo aparece 7 vezes, já o termo justo aparece 17 vezes e juízo 12 vezes. Para tanto,
vida de Jesus Cristo” e por isso mesmo, “servia de orientação no preparo dos candidatos
ao batismo” (HORSTER, 1993, p. 31). É nesse Evangelho que temos uma ênfase missional
afinal, a ênfase no ide deste evangelista está em fazer discípulos (Mt 28.19) para que o
Reino de Deus seja estabelecido não apenas em Israel, mas em todo o mundo, afinal,
Partindo do princípio de que não há uma intenção biográfica na escrita, mas, sim,
Mateus é falar sobre o Cristo que, sendo enviado por Deus, nasceu, viveu, morreu e
ressuscitou para salvar os seres humanos. Mateus apresenta tais fatos por meio das
realidades históricas que ele mesmo vivenciou com Jesus. Nessa perspectiva, as
no Evangelho de Mateus:
● Propósito litúrgico: muitos acreditam que o Evangelho foi escrito para atender
tanto, Mateus escreve um texto fácil de se ler e entender para que se possa ser
usado no culto,
dos judeus (15.24, 10.5-6), ainda que não exclusivo a eles (8.11, 24.14, 28.19-20),
ser um texto para a instrução dos fiéis, afinal, os discursos de Jesus nesse
Davi (1.1).
● Ênfase Cristológica: se ensina sobre Jesus com o intuito de mostrar que Ele era
quem o povo de Israel esperava, isto é, Ele é o Messias, o Rei de Israel, o Filho de
Davi (aparece 9x no texto), que é um título messiânico (1.1; 12.23; 15.22; 21.9,15).
promessas de Deus, e com Davi, que também descendente de Judá, foi o glorioso
Rei de Israel. Mas depois, quase que como uma substituição ao Filho de Davi, a
ênfase recai sobre outro título, isto é, Jesus é o Filho de Deus (aparece 8x). Esse
é o título mais importante que Mateus utiliza em sua obra junto com o título de
inclusive Raabe e Rute, que eram duas gentias na genealogia,(13.38, 24.14, 28.19).
dedicando dois capítulos para o assunto (24-25). Para além disso, muitos aspectos
Ainda que reproduza boa parte de Marcos e tenha textos em comum com Lucas,
Mateus também tem uma ampla exclusividade quando comparada aos outros
de várias mulheres (Tamar, Raabe, Rute, Maria e Betseba, esta última de forma implícita),
sendo que algumas eram pagãs ou tinham um comportamento reprovável. Fluck (2020,
p. 38) ressalta esse papel importante das mulheres ao lembrar que elas “foram as
vitória sobre a morte. [...] Jesus envia, portanto, “a boa notícia a seus discípulos por meio
das mulheres”.
apresenta detalhes biográficos de forma distinta (2.6ss; 21.5, 27.9). Entre outros aspectos,
o uso da expressão “Pai” que Jesus faz em relação a Deus nos Evangelhos é também
que protege emocional e socialmente seus filhos e que também provê suas necessidades
(alimentação, vestuário, vida etc.). Trata-se de um Deus não autoritário, mas próximo e
ínitmo.
questão ética fundamental que extrapola o seu tempo e alcança a todas as gerações.
4.12 Conclusão
Mateus apresenta, pelo menos, quatro características próprias que evidenciam sua
intenção de escrita. Ele procura estabelecer um elo entre o AT e o NT, dando ênfase na
realeza e nos ensinos de Jesus. E ainda, já faz os apontamentos iniciais daquilo que viria
como o grande Messias, o Filho de Deus, o verdadeiro Rei Prometido de Deus e esperado
tantos anos pelos judeus. E ele faz isso por meio do seu tema principal que é o Reino
O Evangelho de Lucas
Como bem afirma Hale (2001, p. 103), o Evangelho de Lucas “é um dos mais belos
livros já escritos”. Sem dúvida, o terceiro Evangelho é singular. É uma obra bela,
distinguem dos outros sinópticos e que abrange “todos os fatos de maior relevo” no
ministério de Jesus (TENNEY, 1972, p. 178). Na obra de Lucas podemos captar a própria
Ainda de forma introdutória, uma questão a ser ressaltada é que esse texto não
pode ser analisado de forma isolada. Há uma unidade literária na obra produzida pelo
constituem uma única obra em dois volumes. No próprio livro de Atos, o autor faz
menção sobre a existência de uma obra anterior (1.1), procurando, assim, estabelecer
uma continuidade daquilo que estava escrevendo. Portanto, ambas as obras estão
entrelaçadas entre si e uma análise mais acurada deve contemplar os dois textos.
ação ministerial sendo realizada por meio dos apóstolos e da igreja. Nesse sentido, Hale
(2001, p. 104), com propriedade, afirma que “juntos, os dois relatam os dois estágios do
vamos estudar nessa unidade. Objetivamente, vamos discorrer sobre questões de autoria,
data e local de escrita, propósito e mensagem, público-alvo, estilo, esboço, entre outras
5.2 Autoria
Ainda que possa parecer algo repetitivo, precisamos reiterar que o terceiro
Evangelho, assim como os demais, não apresenta de forma explicita quem é o seu autor.
Trata-se, portanto, de uma autoria anônima, pois não há nenhuma informação no próprio
livro que esclareça sua origem. Mas isso não é um problema em si, pois, como já
Como lembra Tenney (1972), precisamos partir do pressuposto que esse autor
tinha uma alta capacidade literária e uma boa preparação intelectual. Era “um homem
(SIMÕES, 2017, p. 132). Deste modo, desde o segundo século acredita-se que Lucas, o
médico que era o companheiro de Paulo em boa parte das viagens missionárias e que,
igualmente, é apresentado pelo apóstolo nas suas cartas (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11), seja
o autor desse Evangelho. Tenney (1972) ressalta que esse Lucas era um gentio que fazia
um tempo aproximado que pode chegar até uns quinze anos após o Pentecostes (At 2).
Tal afirmativa não significa que discordâncias sobre essa autoria não tenham
seja um autor tão profícuo como se constata na maior obra do NT que é Lucas-Atos.
Sendo assim, se quisermos manter a posição ortodoxa que atribui a Lucas a autoria
desse Evangelho, sob uma perspectiva histórica, precisamos ouvir a tradição da igreja e
no século IV, cita Irineu (130-202 d.C., bispo, teólogo, um dos Pais da Igreja e
considerado pai da ortodoxia cristã) que escreveu por volta de 185 d.C., quando diz que
“Lucas, por sua parte, o seguidor de Paulo, colocou em livro o Evangelho que este havia
pregado” (CESAREIA, 2002, p. 108, Livro V, VIII, 3). Em outro momento, o próprio Eusébio
reforça a autoria de Lucas. Hale (2001) cita que Tertuliano (160-220 d.C., teólogo,
filósofo, um dos Pais da Igreja) afirmam a mesma coisa. Aliás, Tenney (1972) diz que
Tertuliano citou esse Evangelho como sendo de Lucas mais de quinhentas vezes.
No Cânon de Muratori, que é um fragmento antigo, escrito por volta de 170 d.C.,
e que apresenta uma cópia da lista mais antiga que se reconhece dos livros do Novo
Testamento que eram utilizados pela igreja no final do século II e que coincidem com
obra de Hale:
base em relatos. Ele não viu o Senhor na carne, mas, conforme pode
104).
tão grande que até mesmo Marcião, considerado pela ortodoxia cristã como um herege
que criou seu próprio cânon com os livros que ele concordava, usou apenas o terceiro
Para além da história, podemos inferir alguns aspectos a partir das informações
que o NT nos apresenta sobre esse evangelista (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11). Desse modo,
sobre o próprio Lucas, sabemos que ele tinha um contato expressivo com os discípulos
Paulo. Nesse sentido, Hale (2001) afirma que é justamente esse companheirismo com
Paulo que apresenta um argumento de maior peso quando se atribui a autoria da obra
demonstra que o autor dessa obra em dois volumes foi uma testemunha ocular apenas
a partir do Concilio de Jerusalém (At 15) e que dependeu de outras fontes para narrar
os acontecimentos anteriores. Ora, é exatamente isso que Lucas diz em seu prólogo
Tenney (1972) e Hale (2001) também acreditam que Lucas seja esse o autor que
entende que um deles é o autor de Lucas-Atos que usa o pronome “nós” – Lucas é,
companheiros de Paulo são eliminados por uma razão ou outra, apenas Lucas permanece
Para além disso, considerando que ele era um médico (Cl 4.14) e que ele é o único
que tem essa profissão citada no NT, uma análise detalhada do vocabulário do terceiro
Evangelho constatou que o autor, em contraste com outros escritores do NT, utiliza
muitos termos comuns apenas aos médicos em sua escrita (4.38; 5.18,31; 7.10; 8.44;
18.25; 21.34). A comparação se deu a partir da análise de outras obras antigas, escritas
por outros médicos que também utilizaram a língua grega (HALE, 2001). No entanto,
pesquisas mais recentes apontaram para o fato de que essa evidência não se confirmaria
expressões da área.
Todavia, uma coisa é clara: quando se compara Lucas com os outros autores do
NT, ele usa essas expressões de forma bem mais abundante e com muito mais habilidade
técnica do que qualquer outro autor neotestamentário. Até mesmo quando se compara
os relatos dos outros evangelistas nas mesmas situações de cura, Lucas se sobressai no
uso de termos médicos. Ele manifesta muito interesse no uso desses termos em vários
momentos (4.38; 5.18,31; 7.10; 8.44; 21.34 etc.). Quando afirma, por exemplo, que é mais
fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de
Deus, Mateus (19.24) e Marcos (10.25) se referem a uma agulha de coser no texto grego,
Sob uma perspectiva teológica, outra razão para acreditarmos na autoria lucana é
que o autor do evangelho tem uma afinidade significativa com a teologia paulina. Essa
percepção encontra respaldo na tradição quando ouvimos Eusébio de Cesareia dizer que
“Paulo costumava mencionar o Evangelho de Lucas sempre que, escrevendo, dizia como
se tratasse de um evangelho seu: segundo meu Evangelho” (CESAREIA, 2002, p. 53, Livro
III, IV, 7). Como exemplo, considerando o chamado de Paulo aos gentios, constatamos
na obra de Lucas alguns aspectos que evidenciam uma ênfase semelhante àquilo que
Paulo escrevia.
Entre outros exemplos, assim como Paulo, o autor desse Evangelho é enfático ao
falar de Jesus como o Kyrios (Senhor) de todos (HORSTER, 1993). Por isso, conforme
ênfase sobre a necessidade da fé (Lc 8.12; 18.8), a importância dada às mulheres (1.26-
38; 7.37; 10.38-42 etc.), a grande importância do amor de Deus pelos pecadores (Lc
15.11ss) e a consequente salvação para eles (Lc 19.9). Portanto, pelo fato de ser um
gentio convertido – possivelmente de Antioquia –, a ênfase dada por ele ao tema pode
evidenciar sua autoria. Hale (2001) ainda lembra que cerca de cem palavras utilizadas
Não temos informações suficientes nos livros que nos façam ter exatidão sobre a
data de composição de cada obra bíblica. Quando se sugere algo, trata-se, portanto, de
etc. que envolvem o texto. Nesse caso, quando sugerimos uma data para o terceiro
Evangelho, partimos do pressuposto que Lucas e Atos formam uma única obra em dois
volumes e que, resta óbvio, a escrita do Evangelho deve preceder o livro histórico.
Lembremos, nesse interim que, diante da conclusão abrupta de Atos, esse livro deve ter
sido escrito antes do fim da primeira prisão de Paulo em Roma (cerca de 67 d.C.). Além
disso, Lucas tem por base o Evangelho de Marcos, escrito entre 64/65 d.C.,
conservadores que sugerem uma data precipitada entre 60-64 d.C. e outros bem
progressistas que indicam uma composição apenas no segundo século. Parece-nos que
ambas as hipóteses são improváveis diante dos fatos históricos e teológicos que se
de algo fundamental que se impõe na tentativa de situar uma data para escrita do
terceiro Evangelho, é o fato provável de que a composição dessa obra acontece depois
da escrita de Marcos, mas não muito distante dela, pois Lucas tem por base o que
Marcos escreveu. Mais que isso, parece-nos que Lucas depende de Marcos em boa parte
de sua narrativa. Outrossim, Lucas também não menciona em sua obra completa – Lucas-
Atos – alguns fatos históricos importantes que aconteceram no ano 70 d.C. e que um
Dito isso, devemos ouvir os estudiosos que servem de base nessa obra. Tenney
escreveu em torno de 60 d.C., o que nos parece bem improvável. Horster rejeita uma
escrita tardia e sugere que o Evangelho tenha sido escrito em meados dos anos 60 d.C.
Hale (2001), por sua vez, sugere algo em torno do ano 70 d.C. Simões (2017) e Fluck
(2020) acreditam que a obra teve sua redação entre 80 e 90 d.C., o que parecer ser
de Lucas-Atos, temos, provavelmente, uma data próxima e posterior ao ano 65 d.C., sob
cristianismo é cada vez mais crescente; porém, trata-se de um tempo que ainda não
escatológico que parecem sugerir que Lucas já tinha passado pelo desastre da destruição
de Jerusalém em 70 d.C. são mais proféticos do que descritivos. Se de fato Lucas tivesse
narrado tais fatos, como argumentam alguns biblistas, a verdade é que estes estariam
bem incompletos, pois não descrevem tudo o que de fato aconteceu e que certamente
interferiram na vida da comunidade cristã primitiva. Como Lucas era rigoroso e detalhista,
é improvável que ele não tenha se atentado a fatos tão importantes como a destruição
O que é certo é que Lucas escreveu essa obra fora da Palestina com um foco em leitores
cristãos-gentios (TENNEY, 1984; HORSTER, 1993; HALE, 2001). De forma distintiva aos
outros Evangelhos, em Lucas temos mais informações sobre a fonte de suas pesquisas.
Afinal, Lucas afirma, de forma explicita e intencional, que seu Evangelho resulta de um
trabalho sério de investigação que considerou as diversas fontes orais e escritas que já
circulavam (1.1-4). Já que ele não participou diretamente dos acontecimentos, ele
de Jesus.
testemunhas oculares e dos ministros da palavra (1.2) que, como sabemos, são
essencialmente os apóstolos. Para ser um apóstolo era necessário ter andado com Jesus
(At 1.21-22) e resta óbvio que eles eram os único capazes de relatar com exatidão o que
tinham vivido e visto em Jesus (1Jo 1.14). Afinal, “no início, a tradição dos apóstolos foi
Assim sendo, para além de fontes orais e escritas diversas, Lucas pode ter recebido
ser Pedro, João, Tiago (irmão de Jesus) etc. Essas informações podem ter sido repassadas,
por exemplo, quando o próprio Lucas acompanhou Paulo em suas visitas a Jerusalém
Cesareia registra:
dos sinóticos de forma geral. Sua primeira fonte é o Evangelho de Marcos, que, para
Simões (2017), constitui o alicerce da obra lucana. De fato, Lucas repetiu 330 versículos
de Marcos (diminuídos para cerca de 300 em Lucas). Das 10.650 palavras de Marcos
7.040 são encontradas em Lucas. Não obstante, o evangelista descreve seu Evangelho
seguindo a mesma ordem de Marcos. Contudo, nem sempre ele segue à risca o que
Marcos escreveu, pois o que está em cena é a sua própria personalidade e intenção
Outra fonte importante desse Evangelho é o documento “Q”, afinal, cerca de 220-
basicamente, pelos discursos de Jesus (ensinos), conforme nos afirma Hale (2001).
Contudo, a pesquisa de Lucas foi tão eficaz que ele tem uma fonte própria que
contempla cerca de 30 a 40% do seu Evangelho. São fatos inéditos que não estão
presentes nos outros Evangelhos. Trata-se da Fonte “L”, que possivelmente representa
uma tradição palestina sobre Jesus, isto é, um ponto de vista judaico-cristão, talvez de
Jerusalém mesmo (HALE, 2001). É bem provável que essa fonte seja oral, afinal, ela
nascimento e infância de Jesus nos dois primeiros capítulos da obra. Ainda que seja
tem estrutura e estilo diferentes. Hale (2001) aponta que estudiosos acreditam se tratar
5.4 Público-alvo
(1.3), que tem “um nome composto por duas palavras gregas (theo + filos) e que significa
fato, de uma pessoa real, Horster (1993) sugere que ele poderia ser um homem culto,
era um cristão. Assim sendo, Lucas escreve para confirmar os fatos sobre Jesus e
em foco era o pleno conhecimento da verdade histórica sobre Jesus e o que ele fez.
romano que buscava respostas sobre a fé em Cristo. Tenney (1972) também ressalta tal
possibilidade ao destacar que esse Teófilo era um homem de alta categoria e que o
pronome de tratamento “excelentíssimo” que antecede seu nome só poderia ser utilizado
(1972) e Simões (2017), Teófilo poderia ser até mesmo o patrocinador da obra. Se assim
o fosse, pode ser que ele “representa um público bem mais amplo que necessitava de
autor tenha os cristãos-gentios também como alvo de sua escrita (HORSTER, 1993;
SIMÕES, 2017). A tradição da igreja afirma tal fato. Eusébio de Cesareia, na obra “História
Eclesiástica” cita Orígenes para afirmar que “o terceiro é o Evangelho de Lucas, o que
Paulo elogiou e que ele fez para os que vinham dos gentios” (CESAREIA, 2002, p. 137,
Livro VI, XXV, 6). Deste modo, “o destinatário do Evangelho segundo Lucas é também
todo aquele que acolhe a fé em Jesus Cristo e tem sede de conhecê-la por meio dos
Sem querer ser repetitivo, importa-nos lembrar que, assim como ocorreu com os
outros livros já contemplados nas unidades anteriores, Lucas também tem um gênero
Evangelhos são formados por uma coleção de ensinamentos de Jesus que tem o
propósito principal de anunciar que, por meio de Cristo, há uma boa notícia de Deus
rigor e atenção na descrição dos detalhes. Consequentemente, essa obra é a mais longa
autor do NT, pois a ele devemos a obra Lucas-Atos. Em relação ao Evangelho, mais
especificamente, a obra de Lucas tem 96 páginas no texto grego, enquanto Mateus, por
Seu foco é a narrativa histórica de forma ordenada e, por isso mesmo, ele se
caracteriza por ser predominantemente histórico. Ele faz isso detalhando nomes, datas,
locais etc. Deste modo, “ele foi mais econômico na transmissão de palavras de Jesus do
Sendo um escritor gentílico com foco nos leitores de fala grega, também não usa
uma única palavra no hebraico. A exceção a isso se dá apenas nos primeiros dois
capítulos que, resultantes de uma fonte exclusiva e específica, traz uma forma de
linguagem mais semita. Como exemplo, o cântico de Maria (Lc 1.47-55), chamado de
Simeão (Lc 2.29-32), chamado de Nunc dimittis, têm uma linguagem semelhante aos
Salmos. Nesse sentido, ressalte-se que entre os recursos literários utilizados por Lucas,
quatro belas canções enriquecem essa narrativa (1.47-55; 1.68-79; 2.14; 2.28-32).
Lucas tem um estilo literário bem mais refinado (HORSTER, 1993), pois utiliza um
vocabulário rico e diversificado. Simões (2017, p. 126) diz que Lucas, de fato,
qualidade de estilo mostram que a obra de Lucas é digna de ocupar um lugar respeitável
Diferentemente de Marcos, que tem um estilo rápido e Mateus que tem um estilo
explicativo (1.1-4) foi designado como “uma perfeita joia de arte grega” (HALE, 2001, p.
103). Deste modo, ele não apresenta palavras semitas (ou hebraicas) e se concentra mais
na narrativa do que na transmissão das palavras de Jesus. Com base em seu caráter de
obra.
organiza o seu material seguindo o mesmo ponto de vista geográfico (Galileia – Região
da Galileia – viagem para Jerusalém – Jerusalém). Ainda assim, Lucas faz certas
num lugar excluído pela elite religiosa da Judeia. A Galileia era um lugar cheio de
carências espirituais e sociais (Lc 4.14-19), formada por gente simples que era vista com
na parte central, na seção onde encontramos uma espécie de relato da viagem de Jesus
(capítulos 10-19). Por fim, diferentemente dos outros dois evangelistas, Lucas conclui sua
obra com o Cristo ressuscitado em Jerusalém porque, a partir deste ponto, o foco
missional é dado em Atos, com o objetivo de alcançar o mundo todo (Lc 24.46-49, At
1.8)
Jesus e a história do mundo (HORSTER, 1993). Como exemplo, ele faz questão de
de Jesus. Em 2.1 ele situa a data de nascimento de Jesus, em 3.1 ele apresenta o contexto
político no momento do nascimento de João Batista e em 23.4, 14, 20, 22, 47 ele faz
uma relação entre o Cristo que é julgado e o estado romano que o julga.
material que ele tinha à disposição. Nesse interim, ele também discorre sobre o objetivo
e os métodos utilizados na escrita, afirmando que utilizou diversas fontes, que podem
ser orais e escritas. De forma especial, ele assegura que se firmou na tradição dos
apóstolos, que eram testemunhas oculares dos fatos que ocorreram “entre nós”. Diante
dessa explicação inicial, esse Evangelho é único no NT, pois ele intenciona dar
Nesse sentido, Horster (1993, p. 42) afirma que “ele se aprofundou no assunto,
testou tudo minuciosamente e depois registrou suas conclusões num relato bem
ordenado”
forma que Lucas, a parte central de Lucas resulta mais abrangente (9.51—19.27). Nesse
trecho ele destaca o caminho de Jesus para Jerusalém, como um tempo de preparo para
o sofrimento. Muito do que é enfatizado por Lucas está nesse trecho. Nas outras partes
das fontes “Q” e “L”. Numa perspectiva mais teológica, “o material de Lucas está
viveu a vida perfeita e representativa do Filho do Homem pelo poder do Espírito Santo”
sessões:
Texto Conteúdo
Quadro 7: Subdivisões
Fonte: Elaborado pelo autor
5.8 Texto-chave
textos-chave ocorre tão somente para ressaltar alguns dos assuntos mais importantes
da obra. Deste modo, tais escolhas não excluem ou limitam a importância dos outros
· “O anjo, porém, lhes disse: — Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer
boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo: é que hoje, na cidade
de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11, NAA)
● O homem cheio do Espírito Santo (1.15; 3.22; 4.1, 14, 18; 10.21)
● O descendente pro metido da linhagem de Davi (1.27; 1.32; 2.4, 11; 3.31-
assuntos contemplados por Lucas estão relacionados ao amor que Jesus tem pelos
assumidos e de outros que são assim rotulados pela sociedade (Lc 5.1-11; 7.36-50;
15.1-32; 18.9-14; 19.1-10 etc.). Além de salvá-los, Jesus comia com eles e os chamava
(Lc 10.25-37; 17.11-19) e mais que isso, “Lucas apresentou o samaritano como alguém
que manifesta concretamente uma misericórdia que expressa justiça” (FLUCK, 2020, p.
atenção que Jesus dá às mulheres (Lc 7.12,15; 8.1-5; 10.38-42; 23.27-31). Simões (2017,
pp. 135, 151) ressalta que “Lucas é o único evangelista que menciona a companhia
feminina de Jesus (8.1-3)” e que “as mulheres são mais mencionadas do que qualquer
outro texto do Novo Testamento”. Fluck (2020, p. 48) acrescenta que “Jesus teve entre
seus seguidores várias mulheres, e Lucas é o evangelista que mais fala a favor da mulher”.
Maria, Isabel, Ana, Maria, Marta, viúva de Naim, mulher pecadora e aquelas que proviam
sustentam o ministério de Jesus (várias), eram reconhecidas como discípulas e eram alvo
da cura (sempre que um homem é curado, uma mulher também é), elas também
Fluck (2020, p. 51), “as mulheres são as últimas a sair do túmulo de Jesus e as primeiras
a retornar a ele”. É interessante notar que Jesus aparece primeiro a elas, após a
ressurreição, tendo inclusive seus nomes citados, afinal, os homens tinham fugido e se
escondido. Por isso, Tenney (1972) reforça que Lucas utiliza a palavra “mulher” em 43
crianças têm um destaque especial. Nesse sentido, Jesus se interessa nas relações
Como exemplo, os pobres e aqueles que são oprimidos têm um lugar especial
nesse Evangelho (4.18-19; 12.13-21; 16.19-31; 21.1-4). Alguns chegam até a denominar
Lucas como o evangelista dos pobres. Nesse sentido, Fluck (2020, p. 48) diz que Lucas
sublinha essa identificação da vida de Jesus com os pobres”. Assim, Lucas os percebe
Simões (2017) descreve que entre os pobres existiam três categorias de pessoas
naquela época. Em primeiro lugar tinham (1) aqueles que tinham todo tipo de carências,
por serem miseráveis, mendigos, famintos, humilhados, aleijados, coxos, mancos, viúvas
necessitadas, mulheres estéreis etc. (1.48-53; 6.21; 14.13-21; 16.20-22; 18,22; 19.8; 21.3).
Essas pessoas constituam um grupo privilegiado da obra de salvação descrita por Lucas.
Em segundo lugar (2) existiam aqueles que foram perseguidos e se tornaram miseráveis
por causa da fidelidade ao chamado de Cristo (6.2-23) e, por fim, em terceiro lugar (3)
existiam aqueles que renunciaram a tudo e escolheram uma vida com restrições porque
e às riquezas. Como afirma Horster (1993), nesse Evangelho, Jesus não critica tanto a
exploração, mas a própria posse em si, pelo fato de que as pessoas buscam a realização
de suas vidas na riqueza (6.20; 12.13-21; 16.1-9; 16.19-31). Nesse sentido, Simões (2017,
Para além desses aspectos mais amplos, Lucas acentua que Jesus se interessa
pelo indivíduo. Como exemplo, personagens como Zacarias, Isabel, Maria, Marta e
Maria, Zaqueu, Levi etc. sempre aparecem. Para além disso, Jesus vai ao encontro do
relato exclusivo do Samaritano (10.25-37) e do filho perdido que tem um pai amoroso
(15.11-32). Algo especial é o cuidado amoroso de Jesus para com dois discípulos que,
cristianismo – morte e ressurreição – Jesus ainda busca dois indivíduos que não têm
Em termos práticos da vida cristã Lucas destaca o papel da oração (3.21; 5.15-16;
6.12; 9.28-36; 9.18-22; 10.21; 11.1-4; 22.39-46; 23.34,46 e outros) e o lugar do júbilo,
louvor e alegria na caminhada cristã (1.14, 44, 47; 10.21; 6.21,23; 15.23,32).
Considerando ainda a influência paulina exercida sobre Lucas, “a doutrina tem relevo no
Jesus (1.35, 4.41, 9.35), a atuação do Espírito Santo (4.1, 14) e a salvação oferecida por
Os evangelistas são mais que meros contadores das histórias que descrevem o
ministério de Jesus. Em seus textos, eles manifestam seus propósitos teológicos. Nessa
perspectiva, como afirma Horster (1993, p.44), “o tema central do terceiro Evangelho é
Jesus, o Senhor”. Por isso, em seu Evangelho, Lucas tem como propósito central
apresentar a Jesus como o Senhor, o Kyrios (2.10; 4.21, 5.8; 7.13; 10.1,41; 22.61 etc.) e o
Salvador. Há, portanto, uma salvação oferecida à todas as pessoas. Para tanto, podemos
● Propósito catequético: Seja quem for esse Teófilo, Lucas quer garantir que a
instrução anteriormente repassada sobre quem é Jesus e salvação que ele oferece
seja validada com os dados que ele apresenta. De forma geral, Lucas procura
cristã.
de vista histórico com a intenção de que o leitor – Teófilo – “tenha plena certeza
das verdades em que foi instruído” (1.4). A história é o veículo para se contar os
teológico.
existentes em sua época, quer dar um relato ordenado e organizado, ou seja, ele
faz uma “exposição em ordem” (1.3) e, por isso mesmo, há uma sequência lógica,
cristianismo imparcial, que se acentuava cada vez mais nesse tempo (cerca de 70
tempo em que justifica como a separação ocorreu. Para ele, Jesus era o Messias
● Propósito legal: Segundo Hale (2001), Lucas também tenciona mostrar que o
cristianismo não representa qualquer perigo ao estado romano e que todo tipo
de insurreição e agitação política advém dos judeus. Lucas mostra que a missão
de Jesus é apolítica (4.16-19). Por todo o texto aparecem indícios desta tentativa
cruz, Jesus é absolvido pelos romanos, depois de ter sido acusado pelos judeus.
crucificação e que, por isso, Jesus era inocente daquilo que os judeus o acusam
Sem perder o vínculo estreito com os propósitos mencionados acima que, aliás,
poderiam ser acrescidos por outros, existem, igualmente, algumas ênfases teológicas
na sua intenção. Portanto, essa salvação não é exclusiva aos judeus. Deste modo,
Jesus na cruz (1.15, 35, 41, 67; 2.25-27; 4.1,14; 5.17; 11.13; 24.44-49). O próprio
Jesus é guiado e conduzido pelo Espírito Santo (4.1, 18). Além disso, “Lucas fala
de estar cheio do Espírito Santo (Lc 1.15, 41, 67). Jesus experimenta a plenitude
do Espírito (Lc 4.1), recebe seu poder (Lc 4.14) e ensina sobre ele (Lc 11.13; 12.10;
21.15), prometendo-o aos discípulos (Lc 12.11-12), que deviam pedir pelo
Espírito(Lc 11.13). Jesus foi ungido pelo Espírito para ser poderoso em palavras e
obras (Lc 24.19)” (FLUCK, 2020, pp. 53-54). Existem 17 referências ao Espírito Santo
Para Lucas, o tema do fim não é tão urgente, ainda que ele não deixe de falar
que o dia da parousia chegará (3.9, 17; 10.9, 11; 18-7-8; 21.32). Semelhante a
versículos 7 ao 36.
Isaias havia profetizado (Lc 4.16-19). Essa missão é ampla, abrangente e holística,
relacionarmos a maioria abaixo, é bom lembrar que “há muitas outras peculiaridades em
que foi uma resposta aos erros de Marcião – em que se afirma que Lucas ficou com
Paulo até o martírio, serviu ao Senhor sem cessar e era cheio do Espírito Santo, era
solteiro e não teve filhos, vindo a morrer com a idade de 84 anos na Beócia.
ênfase está na descendência humana e não na linhagem étnica (Abraão) e ou real (Davi).
As parábolas escolhidas por Lucas e que são exclusivas a ele tem a intenção de
evidenciar que a missão de Jesus alcança aos gentios (TENNEY, 1972). Contudo, mesmo
que seu público-alvo prioritário sejam os gentios, Lucas procura mostrar que Jesus é o
Messias enviado por Deus e que nEle as Escrituras (AT) se cumprem perfeitamente (Lc
24.25-27, 44). Mais que isso, Jesus é o hermeneuta que explica as Escrituras aos discípulos
que iam para Emaús e ao círculo apostólico, mas é, igualmente, a chave hermenêutica
Fluck (2020, p. 54) ainda destaca que “o Evangelho de Lucas manifesta uma
Israel (Lc 16.16-17: a Lei e os profetas vigoraram até João Batista, sendo a partir de Jesus
anunciado o Evangelho do reino de Deus)”. Para tanto, o evangelho lucano tem uma
● A época do AT, que também pode ser denominada a época da lei e dos
profetas;
dos Apóstolos.
volumes de uma mesma obra. De forma organizada, ele conseguiu contar a história de
Jesus e a história da igreja sem perder o vínculo com a história de Israel e a história do
mundo.
5.14 Conclusão
salvação dentro da história humana” (SIMÕES, 2017, p. 124). De fato, sem a obra dele,
de tudo o tema de um relato geral. O evangelho é a primeira parte desse relato geral.
Todavia, como vimos, uma das grandes verdades de Lucas é que Deus não terminou sua
obra em Jesus, mas continua através da Igreja (descrita em Atos). E assim, a missão da
O Evangelho de João
autor destacar um aspecto ou outro de forma individual, eles possuem muita semelhança
dos Sinóticos, pois destaca apenas alguns atos de Cristo. Por sua vez, a ênfase desse
Evangelho está nos sinais e nas declarações que revelam Deus por meio de Jesus Cristo
(HORSTER, 1993).
Por este motivo, como afirma Hale (2001), esse Evangelho é o mais sublime. Seu
caráter teológico é incomparável. Sua mensagem, simples e objetiva, que revela quem
Jesus é o que Ele fez por nós, com base em seu amor, tem levado milhares de pessoas
a aceitarem a fé em Cristo. Talvez, poderia se dizer que João, sendo o último Evangelho
escrito, é também aquele que interpreta Jesus de forma distinta e singular. Nessa obra,
Jesus não é apenas o Filho de Deus; Ele é o próprio Deus. Porém, isso não quer dizer
que a historicidade esteja ausente nos diversos relatos. Pelo contrário, João é bem
histórico em sua narrativa sobre Jesus, sobre o Seu ministério na terra e sobre as pessoas
Marcos e Lucas, a verdade é que esse Evangelho não foi escrito para contrariar os
Sinóticos; ele apenas os complementa de forma especial, pois ele tem uma intenção
teológica clara e consistente em sua narrativa. Ele é o Evangelho da fé, que tem como
propósito fundamental exercitar a crença em Jesus, o Cristo, naqueles que lerão as suas
páginas (20.31).
Esses aspectos serão estudados nessa unidade. Para além disso, de forma objetiva,
vamos entender o porquê desse Evangelho não ser considerado um sinótico, tentando
perceber o que o distingue dos demais. Vamos ainda discorrer sobre questões de autoria,
data e local de escrita, propósito e mensagem, público-alvo, estilo, esboço, entre outras
6.2 Autoria
Evangelhos, aqui também não há uma informação explicita no livro de quem é o autor.
Trata-se, portanto, de uma autoria anônima. Além disso, para dificultar a questão,
essas disputas continuam acirradas até hoje nos ambientes acadêmicos. Na maioria das
vezes, temos sérias divergências sobre quem é, de fato, o autor dessa obra.
Alguns defendem que devemos nos importar mais sobre o conteúdo e menos
com a autoria. Porém, ainda que haja certa verdade nisso, não podemos ignorar o fato
de que tentar descobrir o autor também seja algo importante, afinal, se esse autor foi
De forma resumida, Hale (2001) descreve o que se diz sobre a autoria desse
Evangelho. Inicialmente ele afirma que uma parte dos estudiosos mais modernos
preferem acreditar que o apóstolo João não é o autor desse Evangelho e o máximo que
aceitam é que talvez ele esteja por trás da tradição que originou esse livro. Outros
acreditam que um certo ancião, também de nome João, que viveu em Éfeso no final do
primeiro século seja o seu autor. Há ainda alguns que sugerem outros nomes como João
Marcos, Lázaro ou um João qualquer. Por outro lado, existem aqueles que, partindo de
creditar a autoria ao apóstolo João, mesmo que ele tenha utilizado um amanuense 1
Dito isso, o que podemos fazer? Inicialmente precisamos entender que para se
tentar descobrir o autor, algumas evidências podem e devem ser consideradas, tanto em
seu aspecto interno (o texto) quando em seu aspecto externo (a história). E ainda que
não tenhamos um resultado absoluto, podemos inferir boas possibilidades sobre essa
autoria.
Sob uma perspectiva ortodoxa e histórica, afirma-se que João, um dos doze
apóstolos de Cristo, é o autor do quarto Evangelho. Irineu (130-202 d.C., bispo, teólogo,
um dos Pais da Igreja e considerado pai da ortodoxia cristã) escreve: “Depois disso João,
o discípulo do Senhor, que tinha reclinado ao lado dele, ele mesmo publicou o evangelho
visto que ele foi um discípulo de Policarpo (69-155 d.C., bispo em Esmirna no século II)
que, por sua vez, foi discípulo do próprio João. Por meio de Policarpo existia, portanto,
[1] Assim como Tércio foi para Paulo (Rm 16.22) e Silvano foi para Pedro (1Pe 5.12)
No Cânon de Muratori, que é um fragmento antigo, escrito por volta de 170 d.C.,
e que apresenta uma cópia da lista mais antiga que se reconhece dos livros do Novo
Testamento que eram utilizados pela igreja no final do século II e que coincidem com
quase todos os livros atuais do Novo Testamento, temos a afirmativa que o quarto
deveria ficar “reconhecido como autêntico seu Evangelho, que é lido por inteiro em
todas as igrejas sob o céu” (CESAREIA, 2002, p. 64, Livro III, XXIV, 2). Hale (2001)
acrescente-se, nenhum autor ortodoxo dos primeiros séculos negou tal autoria. Mais
preponderadamente a favor da autoria joanina” (TENNEY, 1984, p. 194). Aliás, não apenas
entre os ortodoxos, mas até mesmo autores gnósticos que emergiam à época atribuem
a autoria a João.
conteúdo, esse Evangelho foi amplamente utilizado como base dos ensinos heréticos do
primeiros líderes rejeitariam tal escrito, pois anular a autoria joanina beneficiaria a
ortodoxia cristã diante da heresia gnóstica que se alastrava. Porém, por que o
João quando poderia se livrar dele diante das heresias que eram ensinadas? Por que
outros? Ora, como afirma Hale (2001), a resposta para ambas as questões parece óbvia:
argumentos com sustentação histórica e arqueológica – que para ele são irrefutáveis –
sobre a autoria joanina desse Evangelho. Junto a eles, Tenney (1984) faz argumentações
semelhantes. Vejamos:
Parece-nos que, de fato, o autor pode ter sido uma testemunha ocular, ou seja,
demonstra ser alguém que, em seu relato, está descrevendo coisas que realmente viu e
que não apenas recebeu de alguém. Ao final da obra, esse Evangelho dá uma espécie
encontro de sete dos discípulos. Nesse cenário, no último capítulo, entre os versículos
20 a 24, afirma-se que o autor é um certo discípulo “a quem Jesus amava”. Em uma
leitura cuidadosa do quarto Evangelho, constatamos que essa expressão “a quem Jesus
Constatamos que esse discípulo era também um dos mais próximos a Jesus, ou
seja, ele estava entre os amigos mais reservados e sempre fazia parte do círculo
relacional mais íntimo do mestre. Como sabemos, João, junto com seu irmão Tiago e
Pedro, formavam esse pequeno grupo. Principalmente nas narrativas dos Sinóticos,
percebemos que, sempre que Jesus buscava por uma companhia ou precisava de
evento da Transfiguração (Mt 17.1-8), na ressurreição da filha de Jairo (Lc 8.51), no Jardim
das Oliveiras quando Jesus foi preso (Mc 13.33) etc. Aliás, mesmo após a ascensão de
Jesus, Pedro e Tiago continuaram juntos (At 3.11, 4.13, 8.14; Gl 2.9).
Na última Ceia, o discípulo a quem Jesus amava havia se reclinado sobre o mestre
(13.23, 21.20). Parece também ter sido ele quem, por ser alguém conhecido do sumo
e diferente dos outros, esse discípulo estava presente na crucificação (19.26) e procurou
ressaltar que a sua presença, como uma testemunha ocular dos fatos, atestava a
veracidade do que aconteceu com Cristo no Calvário (19.32-37). Esse mesmo discípulo
ficou responsável por cuidar de Maria, a mãe de Jesus, após a morte do nosso Senhor
(19.26-27) e junto com Pedro, foi o primeiro a receber a notícia da ressurreição e a correr
Mar de Tiberíades. O texto informa que eram apenas sete, e não os doze, e afirma que
entre estes estavam presentes Pedro, Tomé, Natanael, João e Tiago (dois filhos de
Zebedeu). Infelizmente, o texto não cita o nome dos outros dois discípulos que também
estavam lá. A narrativa, porém, acrescenta que “o discípulo a quem Jesus amava” estava
Agora, vejamos: como já afirmamos, o Evangelho descreve (em 21.20-24) que esse
“discípulo a quem Jesus amava” é o próprio autor da obra. Do mesmo modo, quando
discípulo amado só pode ser um dos doze, afinal ele estava na última Ceia (13.23) e na
última pescaria (21.1-14). Não obstante, como em ambos os cenários apenas Jesus e os
De forma progressiva, também sabemos que esse discípulo amado era um dos
três amigos mais íntimos de Jesus entre os apóstolos. Resta-nos, assim, Pedro, Tiago e
João. Por eliminação, descartamos Tiago, que foi martirizado logo no início da igreja (At
12.2) e também o próprio Pedro, pois, a mesma narrativa que afirma que o autor é o
discípulo amado informa, ao mesmo tempo, que Pedro está diante dele, o que exclui a
possibilidade de uma autoria petrina (21.20). Mais que isso, não há qualquer indício
Todavia, depois de todas essas deduções, o fato que chama a atenção é que as
inúmeras referências demonstradas acima, que falam do “discípulo a quem Jesus amava”,
não citam diretamente o nome do apóstolo João. Mas, parece-nos que isso não é um
Sinóticos, afinal, a ênfase a João (junto a Pedro e Tiago) é evidente nos outros
evangelistas (18 citações). Por inferência, parece-nos, então, que o autor prefere não
citar seu nome em seu próprio relato, ainda que faça questão de afirmar que “o seu
aceitar, ainda que com vários questionamentos, é que no máximo “o texto original do
Evangelho vem de João, o filho de Zebedeu”, ainda que não se deva ser ignorada a
hipótese de que, em sua redação final, essa obra pode também ter sido “desenvolvida
para a forma em que hoje encontramos o Evangelho por um aluno de João”. Apesar
disso, mesmo que não tenhamos plena convicção sobre quem é o discípulo a quem
Jesus amava e como esse processo de composição de fato ocorreu, olhando para o
quarto Evangelho e para a tradição histórica da igreja, parece-nos óbvio que o autor é
Sobre sua origem, sabemos apenas que ele era filho de Zebedeu, irmão de Tiago,
e possivelmente sócio de Pedro e André (Mc 1.19-20). Ele era da região da Galileia e foi
um dos primeiros a seguir Jesus; aliás, talvez seja por isso mesmo que, intencionalmente,
apresentaram (TENNEY(, 1984). Pode ser também que tenha sido um primo de Jesus,
sendo Salomé, a mãe de João, uma irmã de Maria, a mãe de Jesus (Mt 27.56, Mc 15.40,
Jo 19.25). Ele foi incluído na lista dos doze (Mt 10.1-2) e também foi o último
2002).
uma data para a escrita desse Evangelho também é controversa. Aqueles que, por
exemplo, não aceitam a autoria joanina dessa obra, sugerem uma datação tardia – já no
ou redacionais, se mostram cada vez mais inconsistentes (HALE, 2001). Outros, mais
conservadores, situam a escrita antes do ano 70 d.C., com certa antecedência ou mesmo
Cesareia em sua obra “História Eclesiástica”, “os três evangelhos anteriormente escritos
já haviam sido distribuídos para todos, inclusive para o próprio João, e diz-se que este
os aceitou e deu testemunho de sua veracidade” (CESAREIA, 2002, p. 65, Livro III, XXIV,
7). Assim sendo, ainda que tenhamos apenas hipóteses, parece-nos que ambas as
texto do Evangelho de João (18.31-33, 37-38), provavelmente escrito entre 100 e 160
anterior, afinal, esse fragmento foi encontrado no Egito. Deve-se, portanto, ter levado
desse manuscrito num lugar tão distante de seu possível lugar de origem e de maior
difusão.
suas origens antes do ano 70 d.C., mas, porém, teve sua publicação apenas depois da
morte de João que, por ser o mais jovem entre os apóstolos e de acordo com a tradição
da igreja, pode ter falecido de morte natural, em 103 d.C. na cidade de Éfeso, quando
comenta sobre o Evangelho ter sido escrito em meados dos anos 80-90 d.C. Mas, ao
final de sua análise, recomenda que seria melhor se a data de composição da obra
ficasse em aberto e que não deveríamos desconsiderar datas mais antigas dentro do
primeiro século. Tenney (1984), também sem definir uma data, acredita que a obra foi
escrita no fim do primeiro século e Fluck (2020) sugere uma data semelhante, perto do
ano 100 d.C. Como se constata, é realmente muito difícil definir essa data. Creio que
Evangelho para um amanuense (um secretário) em Éfeso, na Ásia. Tenney (1984, p. 197)
contribui ao afirmar que, de fato, esse Evangelho “parece ter sido escrito num ambiente
gentílico, pois as festas e os costumes dos judeus são explicados em benefício daqueles
que não estavam familiarizados com elas (Jo 2.13; 4.9; 19.31)”. Sendo assim, outros
lugares possíveis, por vezes considerados na história, tais quais Alexandria no Egito ou
Antioquia da Síria, são descartados pela maioria dos estudiosos (TENNEY, 1984;
Afinal, as fontes utilizadas nos Sinóticos são, em tese, mais fáceis de ser percebidas e
dependência dessa obra em relação aos outros três Evangelhos, afinal, cerca de 90% de
João é exclusivo (HALE, 2001). A exceção se dá nas seguintes narrativas: (1) multiplicação
dos pães em 6.1-15, (2) Jesus anda sobre o mar (6.16-21), narrativa do julgamento, morte
até chegaram a propor certa semelhança do texto de João com 12 versículos de Marcos,
que tenhamos duas tradições paralelas que serviram de fontes para os evangelistas; uma
é da região da Galileia e outra da Judeia. Se isso for verdade, Marcos e Mateus seguiram
a tradição da Galileia, Lucas contemplou a ambas (e talvez mais) e João, por sua vez,
baseou-se na tradição da Judeia. Ainda que seja apenas uma hipótese, há certa
intencionou escrever e ressaltar aspectos que os outros evangelistas não trataram. Isso
parece ser verdadeiro, tanto nos assuntos que priorizou quanto na ordenação geográfica
que aplicou em sua narrativa, pois o foco de João está na Judeia e não tanto na Galileia
viagens realizadas por Jesus entre a Galileia e a Judeia. Aliás, ressalte-se que é por meio
dessa narrativa mais cronológica de João que podemos descobrir que Jesus exerceu seu
Local Referência
Galileia 2.1-2
Por isso, ainda que existam algumas resistências, parece-nos que João, de fato,
outras fontes, não necessariamente vinculadas aos Sinóticos, foram utilizadas por João
em sua obra. Além disso, é claro que devemos lembrar e considerar o fato de que o
próprio apóstolo João foi uma testemunha ocular e ele mesmo pode ter isso uma fonte.
Como já afirmamos, repetidamente, por si só, esse livro faz parte de um gênero
específico designado como “Evangelho”. Trata-se uma produção literária que tem por
finalidade apresentar Jesus, a sua vida, a sua obra e a sua mensagem. Entretanto, como
também é comum nos demais Evangelhos, dentro desse gênero podemos encontrar
O texto está em grego, porém o autor, por vezes, utiliza recursos linguísticos
próprios da língua hebraica. Como exemplo, ele utiliza os vocábulos Rabi (1. 38; 3.2),
Rabôni (20.16), Messias (1.41; 4.25), Cefas (1.42), amém (25 vezes no texto), hosana
(12.13), maná (6.31, 49) etc. Não obstante, esses termos semíticos são traduzidos na
maioria das vezes no próprio texto. Seguindo uma aproximação ao AT, aparecem na
narrativa alguns simbolismos, principalmente para se referir a Jesus. Por meio de uma
mensagem figurada em que o autor utiliza aspectos importantes para Israel, Jesus é
apresentado como o pão, como a luz, como a água, como o pastor etc.,
Horster (1993), reitera ainda que João apresenta os discursos de Jesus de forma
diferente dos Sinóticos. Segundo ele, “temos no evangelho de João, a pregação de Jesus
em uma linguagem que era adequada aos leitores de fala grega. Mesmo assim, o autor
Nessa perspectiva, parece-nos que João utiliza uma forma não ocidental de se
organizar e transmitir uma ideia. De fato, parece-nos que as ideias são algumas vezes
esteja em outro assunto. Em síntese, poderíamos dizer, então, que João escreve de uma
forma cíclica e nem sempre retilínea e objetiva. Por causa disso, alguns chegaram a
sugerir que o texto deveria ser reorganizado (veja na seção das dificuldades, abaixo).
6.5 Estilo
Como afirma Tenney (1984, p. 193), embora possua algumas similaridades com os
fato, essa é uma característica que diferencia esse Evangelho. Há uma intenção e uma
seleção de conteúdo que o autor pretende transmitir e isso se ressalta de uma forma
clara e fácil de se perceber. Assim sendo, o Evangelho de João exige uma leitura
cuidadosa e reflexiva, principalmente pelo caráter teológico que nele se ressalta. Como
relação aos outros evangelistas. Porém, em sintonia com a tradição da Igreja e como
bem ressalta Fluck, também pode-se pressupor que o evangelista “teve conhecimento
da divindade de Jesus que “dizem respeito principalmente a Sua Pessoa e não à doutrina
ética do Reino” (TENNEY, 1984, p. 193). É por isso que o ápice do seu discurso está na
sentença afirmativa de sua origem e identidade quando diz “EU SOU”. Além dos
o início do ministério de Jesus, por exemplo, é ressaltada por meio da realização de seu
Evangelho parece ter sido organizado para dar mais valor aos dados históricos, indicando
importam. João fala de lugares que outros não mencionam. Em seu estilo, João quer
mostrar que Jesus, de fato, é um ser histórico que irrompeu na história para viver uma
Enquanto os sinóticos descrevem apenas uma possível viagem de Jesus, da Galileia para
Jerusalém, João apresenta mais viagens. De fato, no Evangelho de João ele faz pelo
Galileia, João dá maior evidência ao que ocorreu em e ao redor de Jerusalém por ocasião
das festas judaicas. Aliás, alguns chegam a dizer que Jesus adotava até mesmo um estilo
diferente de ensinar quando estava em Jerusalém, que era a capital e o centro teológico
de Israel.
caráter biográfico. Porém, não no sentido historiográfico atual, pois João não quer contar
tudo da vida das pessoas. Ainda assim, nessa obra, João dá mais valor ao contato de
posta em relevo em João. Vinte e sete entrevistas são anotadas, umas extensas e outras
breves”.
pessoas (1.40, 44; 6.71; 11.16; 13.2, 26; 14.22; 20.24; 21.2). É por isso que também
vocabulário pequeno, sentenças simples, com pano de fundo semítico nas frases e
Jesus diz sobre si mesmo, mas não descreve as parábolas como Mateus, por exemplo
6.6 Texto-chave
textos-chave ocorre tão somente para ressaltar alguns dos assuntos mais importantes
da obra. Deste modo, tais escolhas não excluem ou limitam a importância dos outros
● “De novo, Jesus lhes falou, dizendo: — Eu sou a luz do mundo. Quem me
segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (8.12, NAA).
● “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, sairá e
mim, ainda que morra, viverá. [26] E todo o que vive e crê em mim não
nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada”
(15.5).
● “Estes, porém, foram registrados para que vocês creiam que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida em seu nome”
(20.31, NAA).
que aquele que o lê dificilmente a perderá” (TENNEY, 1984, p. 200). De fato, trata-se de
Conteúdo Texto
Conteúdo Texto
Prólogo 1.1-8
realidade religiosa do Judaísmo daquela época (HALE, 2001). Não obstante, é claro que
não havia um único Judaísmo, pois como boa parte dos movimentos religiosos, nele
Sinóticos, o texto de João é caracterizado por uma certa influência do AT, tanto por
meio de citações diretas ou de alusões mais amplas (1.45; 2.22; 10.34). Por meio de
cumpriu todo o AT (1.29 e 19.36 relacionado a Ex 12.45, entre outros). Para além do
Judaísmo em três outras perspectivas, pelo menos, como discorrem Horster (1993) e
Hale (2001).
rabínico (7.25-31, 40-44; 12.34). Esse movimento judaico está basicamente centralizado
que estas instituições foram apresentadas na primeira unidade. Em João, Jesus estabelece
e em muitos casos o assunto gira em torno da tradição rabínica (5.10-18, 37-47; 7.15-
24; 8.13-19; 10.31-38). A própria autoidentificação de Jesus como o “Eu Sou” (4.26; 6.20,
35, 41. 48, 51; 8.13, 24, 28, 58; 10.7, 9, 11, 14; 11.25; 14.6; 15.1), que teologicamente se
rabínico.
Em segundo lugar, o texto de João reflete o judaísmo palestino, que pode ser
(2001), há uma certa expectativa apocalíptica presente nesses grupos que se manifestam,
algumas vezes, na narrativa joanina (Filho do Homem: 1.51, 3.13-14; Reino: 3.3-5, 18.36;
Juízo: 5.27-29; Tribulação: 16.33; Ressurreição: 11.23-26). Junto com Lucas, João também
odiado e rejeitado pelos judeus (4.1-30). Mais que isso, “João destaca que o Evangelho
reconcilia e que a missão de Jesus começa pelo mais difícil: quem os judeus menos
chegam até a tentar manter um vínculo mais filosófico entre os dois mundos,
principalmente em relação ao prólogo que discorre sobre o Logos (1.1-4). Contudo, Hale
(2001) aponta que essa relação se deu mais no tipo de vocabulário utilizado por João
em seu Evangelho e nas formas de pensamento dos gregos que dominavam muitos
Evangelho de João e que, por assim ser, constituem um perigo à fé. Sabe-se que o
transparecer que a doutrina gnóstica que se solidificou mais tarde teve seu início, ainda
que de forma incipiente, já no primeiro século. Nesse sentido, conforme afirma Hale
(2001, p. 160), “o quarto Evangelho parece ter estado familiarizado com algumas das
É por isso que, João, por vezes, parece querer corrigir os erros desse proto-
gnosticismo que apregoava uma dualidade entre o mundo físico e o espiritual, entre o
bem e o mal. Nessa concepção, para os gnósticos seria impossível que um Deus bom,
que é espírito, tomasse a forma física humana, que é má. Se Jesus fosse homem não
poderia ser divino e vice-versa. Deste modo, João mostra que o Logos -– que é o Criador
a não fugir do mundo (17.5), mas servir nele como Cristo o fez (13.1-20). Aliás, de forma
bem mais ampla, se comparado aos Sinóticos, João dá ênfase ao mundo (Kosmos),
nascimento de Jesus, mas estabelece sua origem antes de todas as coisas. Na narrativa
joanina, Jesus é eterno (1.1-2) ao mesmo tempo em e é terreno (1.14). Para provar tal
fato, o livro destaca sete sinais (milagres) e sete declarações (discursos), indicando, assim,
quem é Jesus. Como já afirmado, nas sete declarações o próprio Jesus faz questão de
utilizar a expressão “EU SOU”, evidenciando assim sua origem e seu relacionamento com
o Pai. Como reitera Fluck (2020, p. 79) “as declarações de Jesus sobre quem ele é são
auto anunciar.
Jesus. Por isso, parece que ele foi escrito aos cristãos, judeus e não-judeus, que
estavam sendo influenciados pelo gnosticismo (uma heresia que negava a divindade
assim como fizeram os líderes religiosos (na maioria das vezes chamados de judeus,
qual é o seu propósito verdadeiro, ou seja, João afirma que ““Na verdade, Jesus fez
diante dos seus discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes,
porém, foram registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
e para que, crendo, tenham vida em seu nome” (Jo 20.30-31, NAA). Tenney (1984) afirma
que três palavras devem receber melhor atenção, a saber: sinais, creiam e vida. Os sinais
mostram quem Jesus é e o poder que Ele tem; a crença é um reconhecimento e uma
entrega total da pessoa a esse Cristo e a vida é o resultado de tudo o que o crente
recebe por meio da salvação. Esses três aspectos relacionados por toda a obra apontam
para começar a crer ou (2) para continuar crendo. Se o primeiro caso for o correto, o
fortalecer a fé dos cristãos. Tenney (1984, p. 198) simplifica afirmando que o mais
Contudo, o cerne do texto é o que mais importa, ou seja, Jesus, aquele mesmo
que nasceu como homem em Nazaré, é o Messias (1.41; 4.25), é o Cristo (forma grega
para Messias), é o Filho de Deus! E crer nele é o alvo de todo leitor, seja judeu ou não.
Considerando que a expressão “crer” aparece 99 vezes no Evangelho (HALE, 2001), não
há dúvidas que João tem como foco esse pressuposto. Fluck (2020, p. 77) complementa
(TENNEY, 1984, p. 193). Assim sendo, para levar seu leitor a crer e ter uma vida
transformada, de forma proposital João apresenta algumas provas: Jesus realiza 7 sinais
que advoga para Si a deidade, quando afirma “EU SOU”, que, como se sabe, era uma
expressão utilizada pelo próprio Deus no Antigo Testamento (Ex 3.14). Senão, vejamos:
● AS SETE DECLARAÇÕES
● OS SETE SINAIS
Tenney (1984, p. 198) acrescenta que “estes sinais se deram precisamente nas
que afetem sua vida”. De fato, por meio delas Jesus evidencia seu poder sobrenatural.
Para além disso, João também apresenta, pelo menos, cinco ênfases teológicas e todas
elas não são independentes uma da outra. Elas estão relacionadas entre si e só podem
ser percebidas nesse vínculo necessário do texto como um todo. São elas:
Evangelho (20.31). Essa será inclusive a razão para a morte de Jesus (19.7).
de Deus que tem um relacionamento especial com o Pai (1.3, 17, 41, 49;
3.8, 23; 4.9,15). A expressão “EU SOU” utilizada por Jesus e os sinais
do Filho em ação no mundo. Devemos lembrar ainda que “em João, Theós
33; 3.5-8, 34; 7.39; 14.15-31; 15.26; 16.4-15; 20.22). O Espírito é Aquele que
sem medida aos que creem, é Aquele que habita no crente, é o Consolador,
Lembremos, inclusive, que boa parte dos textos sobre o Espírito estão
84).
pessoas e é eficiente para aqueles que creem. (2) Em segundo lugar, João
terceiro lugar (3), João dá um grande valor ao chamado à fé (3.16, 36; 5.24;
de Mateus, o termo ekklesia não aparece. Porém, é certo que quem lê com
ele ora por seus seguidores para que sejam unidos e, por fim, Ele os envia
futuras”. Como exemplo, em João 5.24 aquele que crê já tem a vida eterna;
porém, em João 6.40, apesar de também crer, essa pessoa será ressuscitada
apenas no último dia. Mas isso não é uma contradição; trata-se do conceito
“já e ainda não”, que também aparece nos textos de Paulo, por exemplo.
Por fim, a volta de Cristo é reafirmada por meio de sua parusia (21.22),
35).
mostrado que Jesus é muito mais do que um ser humano; ele é Deus, e sempre foi Deus.
de Cristo e a maravilhosa graça manifesta por meio da encarnação. João é singular nessa
constituem aspectos exclusivos que são enfatizados por João. Para além disso,
É possível que o Evangelho de João tenha sido escrito como uma tentativa
por dar ao publico novas informações que não tinham sido usadas antes
parecem ser cruciais ao Evangelho, mas João utiliza pouco ou mesmo não as utiliza em
momento algum. Hale (2001) cita alguns exemplos destes termos mais ausentes: reino,
demônio, povo, poder, compaixão, evangelho, orar, pregar, parábola, publicano etc.
Porém, a verdade é que João também utiliza termos fundamentais ao Evangelho com
certa regularidade e que, por sua vez, não estão presentes ou não são abundantes nos
Sinóticos. Segundo Hale (2001) são eles: amor, verdade, saber, mundo, vida, luz,
Consolador etc. Essa percepção aponta para a singularidade desse Evangelho e para a
Evangelho de João foram levantadas por pesquisadores. Para esses, a forma como o
Evangelho se apresenta hoje não seria a forma como ele realmente foi escrito. Hale
(2001) resume dois tipos principais de dificuldades nesse sentido, a saber: para alguns,
(1) existem textos que estão “fora de lugar” na narrativa, ou seja, são supostos
deslocamentos e (2) existem textos que não constam nos manuscritos mais antigos e,
que, em tese, “há vários lugares onde pareceria que a sequência de eventos e
a sugerir que pudesse ter ocorrido uma troca de folhas no trabalho dos copistas; já,
outros, sugerem que as diferentes fontes utilizadas podem ter causado a confusão ou
que mesmo uma revisão redacional posterior – talvez, elaborada por um discípulo de
João – tenha contribuído para isso. Há ainda alguns que sugerem que João escreveu por
partes e com constantes interrupções e isso pode ter levado à inserção de novos textos
Entre esses textos “problemáticos”, destacamos apenas alguns junto com Horster
porém, nos capítulo 5 e 6 ele está na Judeia. Por isso, alguns perguntam se os
● Capítulos 15-17: por fim, alguns também afirmam que esses capítulos parecem
sem sentido, que apenas mutilariam o Evangelho, e não o reorganizariam como afirmam.
Para Hale (2001) a estrutura proposta por João no formato atual é contínua, sim, pois
geográfica) do autor.
Uma questão mais complicada é o texto entre 7.53 e 8.11. De fato, esse texto –
da mulher adúltera – não consta nos manuscritos mais antigos do NT e, por isso, pode
mesmo ter sido acrescentado ao Evangelho de João a partir de outras fontes. Contudo,
ainda que seja um acréscimo, precisamos lidar com o texto como ora o recebemos. E
aliás, devemos considerá-lo canônico como a igreja o considerou. Afinal, mesmo que
acontecido e o relato não muda alguma coisa na forma como Deus se revelou. Além
Outro problema ocorre com o capítulo 21, como lembra Hoster (1993). Para
muitos, esse capítulo parece ser um epílogo de outro autor, já que em 20.30-31 é feito
o encerramento do Evangelho. Devemos nos atentar para o fato de que em 21.24 a mão
de alguém que ajudou o autor é evidente. Contudo, ainda que seja um epilogo posterior,
não há nada no texto que altere a forma de Jesus se revelar aos seus apóstolos. Por fim,
reitero que entendo ser esse um texto do próprio autor, ainda que ele tenha utilizado
O Evangelho de João contém alguns dos versículos mais conhecidos e dos temas
mais recorrentes de toda a Bíblia. Não é por acaso que o grande tema de João é o
AMOR (3.16). Aliás, esse tema permeia toda a obra. Vejamos o contexto entre os
perder Jesus e estavam preocupados com o que aconteceria com eles na ausência do
mestre. Em sua resposta a esta ansiedade, Jesus estabelece a maneira sobre como eles
conseguiram continuar: amando uns aos outros e, assim, apoderar-se dos laços de amor
Alguns, erroneamente, afirmam que pelo estilo de escrita (escrevendo sobre “os
judeus” e sobre as autoridades religiosas que se opuseram a Jesus), João parece ser
Por fim, devemos lembrar que João foi um dos poucos junto a Cruz e um dos
discípulo do amor, ele foi antes tratado por Jesus em relação ao seu temperamento
6.14 Conclusão
Em sua narrativa, seletiva e intencional, João tem um propósito e por isso mesmo,
ele tem um estilo próprio (20.30-31). Esse Evangelho se destina a todos que querem
refletir com maior profundidade a respeito de Jesus. Por isso, é mais do que um relato
do que Jesus fez. Bem mais que isso, é uma afirmação poderosa e profunda sobre quem
Ele é. Por ser amigo de Jesus, João passou muito tempo com Ele. E por isso sua
mensagem é clara: Jesus é o Filho de Deus (Mt 17.5 – João estava lá).
de que, se citarmos alguns versículos isolados, facilmente eles serão reconhecidos. Como
exemplo, João 3.16 é o que muitos chamam de resumo de toda a Bíblia. E seu Evangelho
também se resume nesse amor de um Deus que se encarnou, morreu em nosso lugar,
abaixo:
Unidade 4
● O livro de Mateus também não temos informações sobre quem, de fato, é o autor.
● Pode ser que em uma forma anterior, o Evangelho de Mateus tenha sido
elaborado em hebraico/aramaico
escrita do Evangelho escrito Mateus em uma data aproximada entre os anos 65-
70 d.C.
● As fontes de escrita de Mateus são: obra de Marcos, Fonte “Q” e Fonte “M”, que
● Como todos os quatro primeiros livros do NT, Mateus faz parte de um gênero
● Mateus utiliza-se também das parábolas, que constituem uma parte importante
● Mateus dá um valor superior aos ensinos de Jesus e ele organiza esses ensinos
em blocos
de blocos que contemplam uma narrativa inicial que é seguida por um discurso
apologético.
Eclesiológica e escatológica
nos ensinos de Jesus. E ainda, já faz os apontamentos iniciais daquilo que viria a
Deus, o verdadeiro Rei Prometido de Deus e esperado tantos anos pelos judeus.
E ele faz isso por meio do seu tema principal que é o Reino dos Céus que tem
Unidade 5
● O Evangelho de Lucas é um dos mais belos livros já escritos, é uma obra bela,
● Há uma unidade literária na obra produzida por Lucas, assim, os livros de Atos
apresenta a ação ministerial sendo realizada por meio dos apóstolos e da igreja
quem é o seu autor. Trata-se, portanto, de uma autoria anônima, pois não há
● O autor desse Evangelho tinha uma alta capacidade literária e uma boa
● Ainda que algumas discordâncias sobre essa autoria tenham surgido, desde o
segundo século acredita-se que Lucas, o médico que era o companheiro de Paulo
em boa parte das viagens missionárias, seja o autor desse Evangelho. A tradição
autoria lucana é que o autor do evangelho tem uma afinidade significativa com a
teologia paulina
pressuposto que Lucas e Atos formam uma única obra em dois volumes e que,
● Diante da conclusão abrupta de Atos, esse livro deve ter sido escrito antes do fim
da primeira prisão de Paulo em Roma (cerca de 67 d.C.). Além disso, Lucas tem
por base o Evangelho de Marcos, escrito entre 64/65 d.C., provavelmente, e esse
ano 65 d.C.
● Ainda que não se tenha convicção do local de onde Lucas escreveu, é certo que
Lucas escreveu essa obra fora da Palestina com um foco em leitores cristãos-
gentios
● Em Lucas temos mais informações sobre a fonte de suas pesquisas. Afinal, Lucas
circulavam (1.1-4)
● As fontes de Lucas são: obra de Marcos, a Fonte “Q”, a Fonte “L” (exclusiva a
● Lucas é claro ao apresentar seu destinatário. Trata-se de Teófilo (1.3), que tem
“um nome composto por duas palavras gregas (theo + filos) e que significa ‘amigo
de Deus’”, que pode ser uma pessoa real (um homem culto, um funcionário
sua escrita
Evangelho. Ainda assim, ele se utiliza da outros recursos literários que o ajudam
predominantemente histórico
● Lucas tem um estilo literário bem mais refinado, pois utiliza um vocabulário rico
● Diferentemente de Marcos, que tem um estilo rápido e Mateus que tem um estilo
2. O homem cheio do Espírito Santo (1.15; 3.22; 4.1, 14, 18; 10.21)
18.38; 20.41)
● Os pontos e assuntos principais de Lucas são: amor que Jesus tem pelos grupos
outros que são assim rotulados (os samaritanos, as mulheres por exemplo).
● Para Lucas, Jesus é o Salvador de todas as pessoas. Até mesmo as crianças têm
um destaque especial. Por isso, Jesus se interessa muito nas relações sociais,
que são oprimidos têm um lugar especial nesse Evangelho o Lucas também
apologético e legal.
● A obra produzida por Lucas retrata, sem dúvida, o empreendimento literário mais
humana”
Unidade 6
● O Evangelho de João é diferente dos Sinóticos, pois destaca apenas alguns atos
de Cristo. Por sua vez, a ênfase desse Evangelho está nos sinais e nas declarações
revela quem Jesus é o que Ele fez, com base em seu amor, tem levado milhares
● Talvez, por ser o último Evangelho escrito, João é também aquele que interpreta
Jesus de forma distinta e singular. Nessa obra, Jesus não é apenas o Filho de
Evangelho não foi escrito para contrariar os Sinóticos; ele apenas os complementa
de forma especial, pois ele tem uma intenção teológica clara e consistente em
sua narrativa.
● Ele é o Evangelho da fé, que tem como propósito fundamental exercitar a crença
o autor desse Evangelho e o máximo que aceitam é que talvez ele esteja por trás
● Outros acreditam que um certo ancião, também de nome João, que viveu em
Éfeso no final do primeiro século seja o seu autor. Há ainda alguns que sugerem
autoria ao apóstolo João, mesmo que ele tenha utilizado um secretário nessa
composição
candidato mais provável, afinal, entre os cristãos dos primeiros séculos e até
do quarto do Evangelho
Diante dos fatos históricos e teológicos analisados, podemos ficar com uma data
obra em relação aos outros três Evangelhos, afinal, cerca de 90% de João é
exclusivo
ambas (e talvez mais) e João, por sua vez, baseou-se na tradição da Judeia
● Tanto nos assuntos que priorizou quanto na ordenação geográfica que aplicou
em sua narrativa, o foco de João está na Judeia e não tanto na Galileia como
descreveram os sinóticos.
● João quer que seus leitores creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e assim
tenham vida em seu nome (20.31). Se esse propósito está relacionado ao público-
alvo, o mais correto é partir do pressuposto que o foco está, na verdade, nos
leitores – quer sejam judeus, quer sejam gentios – que poderiam estar sendo
● Por si só, esse livro faz parte de um gênero específico designado como
“Evangelho”. Trata-se uma produção literária que tem por finalidade apresentar
● Em seu estilo, João escreve de uma forma cíclica e nem sempre retilínea e objetiva;
caráter teológico que nele se ressalta. Ele reforça a divindade de Jesus por meio
● Em seu estilo, João quer mostrar que Jesus, de fato, é um ser histórico que
irrompeu na história para viver uma vida entre as pessoas da Palestina daquela
época.
para Jerusalém, João apresenta mais viagens. De fato, no Evangelho de João ele
vocabulário pequeno, sentenças simples, com pano de fundo semítico nas frases
e expressões utilizadas
Além disso, a heresia gnóstica estava aparecendo, ainda que de forma incipiente
● Entre os propósitos fundamentais, constatamos que João foi escrito aos cristãos,
propósito verdadeiro, ou seja, João afirma que “Na verdade, Jesus fez diante dos
seus discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes,
porém, foram registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenham vida em seu nome” (Jo 20.30-31, NAA)
mostrado que Jesus é muito mais do que um ser humano; ele é Deus, e sempre
foi Deus. A manifestação do Verbo no início (1.1- 18) tem a intenção de mostrar
de fato não está presente nos manuscritos mais antigos, o último capítulo tem
● O Evangelho de João contém alguns dos versículos mais conhecidos e dos temas
mais recorrentes de toda a Bíblia. Não é por acaso que o grande tema de João é
o AMOR
● Em sua narrativa, seletiva e intencional, João tem um propósito e por isso mesmo,
ele tem um estilo próprio (20.30-31). Esse Evangelho se destina a todos que
querem refletir com maior profundidade a respeito de Jesus. Por isso, é mais do
que um relato do que Jesus fez. Bem mais que isso, é uma afirmação poderosa e
profunda sobre quem Ele é. Por ser amigo de Jesus, João passou muito tempo
com Ele. E por isso sua mensagem é clara: Jesus é o Filho de Deus
1. Sabemos que Deus conduziu a história para revelar seu Filho no tempo certo. A
história do mundo, entre o final do AT e o início do NT, convergiu para um
momento significativo e por isso, diante de tudo o que vimos, de fato, Jesus não
poderia ter nascido em qualquer época. Ele teve um tempo específico para nascer
e Deus, em sua infinita sabedoria, preparou tudo para que o Verbo se encarnasse
no tempo certo. Qual nome a Bíblia dá para esse tempo?
a. Alexandria, no Egito
b. Jerusalém em Israel
c. Antioquia da Síria
d. Éfeso, na Grécia
a. Mateus dá um valor superior aos ensinos de Jesus e ele organiza esses ensinos
em blocos
b. Marcos dá um valor superior aos ensinos de Jesus e ele organiza esses ensinos
em blocos
c. Lucas dá um valor superior aos ensinos de Jesus e ele organiza esses ensinos
em blocos
d. João dá um valor superior aos ensinos de Jesus e ele organiza esses ensinos em
blocos
a. Mateus
b. Lucas
c. Marcos
d. João
1. B 6. A
2. C 7. D
3. A 8. B
4. D 9. A
5. C 10. A
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