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ESCOLA CONVERGÊNCIA

de teologia & vida cristã

O CRISTÃO
E A BÍBLIA
Como Ler e Estudar o Livro que Deus nos deu

Monte Mor/SP
2018
Esta apostila foi redigida a partir das videoaulas ministradas na Esco-
la Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD (Ensino a Distância)
e outros materiais didáticos relacionados, cujas referências constam
no corpo da mesma.

Copyright© 2018 por Escola Convergência
Todos os direitos reservados

Autor:
Angelo Bazzo

Compilação e Elaboração de Texto:

Camila Brum

Revisão Teológica:
Harlindo de Souza

Revisão Final:
Maria de Fátima Barboza

Diagramação:
Fabi Vieira

Esta apostila ou qualquer parte dela não pode ser reproduzida
ou usada de forma alguma sem autorização expressa da Escola
Convergência, exceto pelo uso de citações breves desde que
mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.

ESCOLA CONVERGÊNCIA
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Sumário
Aula 1
A Autoridade das Escrituras – Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Aula 2
A Autoridade das Escrituras – Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Aula 3
Princípios de Interpretação – Parte 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Aula 4
Princípios de Interpretação – Parte 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Aula 5
Traduções de como interpretar as Epístolas . . . . . . . . . . . . . . . 46

Aula 6
Como interpretar Narrativas e a Lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Aula 7
Como interpretar os Profetas e Salmos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Aula 8
Como Interpretar os Evangelhos, Parábolas e Apocalipse . . . . . 93
Aula 1

A AUTORIDADE
DAS ESCRITURAS
Nesta disciplina estudaremos a relação do cristão com o livro que Deus fez questão
de deixar para o seu povo - a Bíblia. Geralmente estudamos o que as Escrituras nos
dizem, no entanto, desta vez estudaremos a Bíblia em si. Ou seja, qual é a relevân-
cia da mensagem registrada nela para os cristãos.
Sendo assim, percorreremos uma jornada nas próximas oito aulas aprendendo so-
bre: a autoridade das Escrituras, os princípios de interpretação dela, as traduções
e a hermenêutica das epístolas. E ainda: como interpretar as narrativas, a Lei, os
profetas e Salmos e, por fim, os Evangelhos, as parábolas e o livro de Apocalipse.
É preciso deixar claro que, embora os cristãos reconheçam a importância da Bíblia,
muitos talvez não se relacionem de forma correta com o que está registrado em
suas páginas. Desta forma, faz-se necessário restaurar o seu real valor e papel na
história do plano de Deus.
O CRISTÃO E A BÍBLIA
Como Ler e Estudar o Livro que Deus nos deu

Afinal de contas, por que Deus nos deixou um livro? O cristianismo não é uma
religião focada em imagens, rituais ou orações, mas em um livro. Logo, como deve
ser nossa relação com este livro chamado Bíblia? Nosso objetivo nesta disciplina
é exatamente este: buscar um entendimento mais claro sobre como lidar com as
Escrituras, como abordar, estudar e interpretá-la da maneira correta.
Portanto, começaremos esta aula entendendo de que forma os cristãos devem en-
xergar a Bíblia. Esse é um assunto de suma importância para o tempo atual, visto
que nos últimos séculos, a “doutrina da palavra de Deus” sofreu severos ataques.

A BÍBLIA E SUA AUTORIDADE


SOBRE O POVO DE DEUS

Em sua carta à igreja em Éfeso, Paulo declara que a igreja está edificada sobre um
fundamento, vejamos:

"Assim, não sois mais estrangeiros, nem imigrantes; pelo contrário, sois
concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a
principal pedra de esquina. Nele, o edifício inteiro, bem ajustado, cresce
para ser templo santo no Senhor, no qual também vós, juntos, sois edifi-
cados para morada de Deus no Espírito." (Ef 2.19-22)

Sabemos que a fé precisa de fundamentos, mas qual fundamento Paulo está se re-
ferindo neste texto? Sobre qual alicerce a igreja é edificada? O texto é claro: "sobre
o fundamento dos apóstolos e profetas."

O que é o fundamento dos apóstolos e profetas?


Basicamente, esse fundamento diz respeito ao que foi dito e registrado pelos apósto-
los e profetas nas Escrituras. Ou seja, o Antigo e o Novo Testamento — a mensagem
completa da Bíblia — formam o fundamento no qual a igreja é constituída e edificada.
Veja o que Abner Chou declara em seu livro "A Hermenêutica dos Escritores Bíbli-
cos"¹ acerca dos escritos que compōem essa mensagem:

1 CHOU, A. A Hermenêutica dos Escritores Bíblicos. São Paulo: Impacto, 2021.

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O CRISTÃO E A BÍBLIA
Como Ler e Estudar o Livro que Deus nos deu

De maneira geral, os apóstolos retrataram a si próprios como sucessores dos pro-


fetas de várias formas diferentes. Isso é significativo, pois mostra que os apóstolos
não viam sua mensagem como divergente daquilo que os profetas diziam; pelo con-
trário, vez após vez se alinharam a eles. Essa mentalidade dominante demonstra
que os apóstolos criam estar em perfeita harmonia com os profetas, representando
uma continuidade de sua hermenêutica e de sua lógica.²
E ainda:
Os escritos de cada profeta e apóstolo deram continuidade à lógica de seus pre-
decessores, incrementando os significados teológicos da revelação anterior. Esses
escritos, por sua vez, preparam o cenário para que revelações futuras pudessem
continuar essa trajetória.³
Portanto, a necessidade de o cristão encarar corretamente a Bíblia perpassa pelo
reconhecimento da autoridade da mensagem que os profetas e apóstolos procla-
maram, pois é somente sobre este fundamento que a igreja é edificada e a nossa fé
pessoal alicerçada. Essa é a visão que o cristão deve ter a respeito da Bíblia!

A NECESSIDADE DA BÍBLIA

Conforme vimos anteriormente, a autoridade das Escrituras é o alicerce no qual


toda a igreja e cada cristão, individualmente, está firmado e edificado. Pois, embora
Deus possa se revelar da forma que ele quiser aos seus amigos e seu povo escolhido,
ele escolheu fazer isso através do registro da sua história nas Escrituras.
Na teologia, esta escolha do Senhor é denominada "doutrina da necessidade das
Escrituras". Vejamos o que John S. Feinberg diz a respeito disso em seu ensaio "The
Necessity of Scripture":

Por meio da revelação natural, pode-


mos tomar conhecimento da existên-
cia de Deus e de alguns de seus atribu-
tos. No entanto, não podemos saber
com certeza qual é a nossa posição

2 CHOU, op. cit., p. 153.


3. CHOU, op. cit., p. 252.

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Como Ler e Estudar o Livro que Deus nos deu

judicial perante Deus. Embora Deus


possa tê-la revelado a nós por meio
de alguma outra forma de revelação
especial, ele o fez mais claramente e
de modo completo pelas Escrituras.
Sem ela, saberíamos apenas algumas
coisas sobre Deus e suspeitaríamos de
que quebramos regras morais e, como
resultado, merecemos punição. Mas
nas Escrituras temos essas coisas
confirmadas, e o plano de salvação
de Deus revelado. Nenhuma outra
forma de revelação dá a toda a huma-
nidade, de maneira duradoura, a res-
posta de Deus à situação humana.4

Tendo isso em vista, é possível declarar que necessitamos de acesso ao conteúdo


registrado nas Escrituras para obtermos conhecimento salvífico. O próprio Jesus
declarou esta necessidade: "Vós examinais as Escrituras, pois julgais ter nelas a vida
eterna; e são elas que dão testemunho de mim" (Jo 5.39).
Esta afirmação de Jesus é chocante, e para o nosso tempo, talvez, ela seja mais cru-
cial do que nunca. Pois, no tempo em que Jesus disse essas palavras, era possível
ter um encontro pessoal com ele e perguntar coisas a seu respeito, sem ler a Bíblia.
Hoje, porém, as Escrituras são imprescindíveis se quisermos saber sobre Jesus.
No entanto, existem outras posições sobre o assunto que se baseiam em uma espé-
cie de teologia natural. Conceito que é explicado por Millard Erickson em sua obra
"Teologia Sistemática", veja o que ele declara:
O cerne da teologia natural é a ideia de que é possível chegar a um conhecimento
verdadeiro de Deus com base apenas na razão, sem um compromisso prévio de fé
com as crenças do cristianismo e sem depender de alguma autoridade especial, como
uma instituição (a igreja) ou um documento (a Bíblia). Razão, aqui, é uma referência à
capacidade humana de descobrir, compreender, interpretar e avaliar a verdade.5

4. https://www.thegospelcoalition.org/essay/the-necessity-of-scripture/ - tradução livre


5. RICKSON, M. J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.

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O CRISTÃO E A BÍBLIA
Como Ler e Estudar o Livro que Deus nos deu

SIGNIFICADO DO TERMO "PALAVRA DE DEUS"

“A Bíblia é a palavra de Deus” — Você já ouviu essa afirmação alguma vez? O que
você conclui sobre ela? Para alguns é algo tão corriqueiro que nem mesmo gastam
tempo para pensar sobre isso.
Antes de entendermos a Bíblia como sendo a palavra de Deus é preciso entender
o significado do termo “palavra de Deus”, para não cairmos no engano de afirmar
algo sem compreender o seu conteúdo.
Veremos a seguir alguns aspectos ou ediçōes da palavra de Deus:

AS SETE EDIÇŌES DA PALAVRA DE DEUS

1. A palavra de Deus é uma pessoa

A primeira edição da palavra de Deus que iremos abordar é a palavra de Deus reve-
lada na pessoa de Jesus. O apóstolo João menciona diversas vezes a pessoa de Jesus
como o Verbo (a Palavra), vejamos:

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus." (Jo 1.1)

"O Verbo estava no mundo, e este foi feito por meio dele, mas o mundo
não o reconheceu." (Jo 1.10)

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e de verdade;
e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai." (Jo 1.14)

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos
olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo
da vida (pois a vida foi manifestada, nós a vimos, damos testemunho
dela e vos anunciamos a vida eterna que estava com o Pai e a nós foi
manifestada)." (1 Jo 1.1-2)

"Então, vi no céu aberto um cavalo branco, e seu cavaleiro chama-se


Fiel e Verdadeiro. Ele julga e luta com justiça. Os seus olhos eram como

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chama de fogo; sobre a cabeça trazia muitas coroas. E tinha um nome


escrito, que ninguém conhece, senão ele mesmo. Estava vestido com um
manto salpicado de sangue, e seu nome é o Verbo de Deus." (Ap 19.11-13)

Todo cristão deve admirar-se diante dessas palavras! De forma simples e direta o
apóstolo João afirma que Jesus Cristo, o filho de Deus, a segunda pessoa da Trinda-
de, é a própria palavra de Deus.
Contudo, a maravilha dessa afirmação é concluirmos que: assim como nosso
Senhor Jesus era plenamente homem e plenamente Deus, da mesma forma a Bíblia
é um livro escrito por homens, porém, totalmente inspirado por Deus. Ou seja,
assim como Jesus é a expressão de Deus que revela o Pai, do mesmo modo a Bíblia
é a Palavra que revela e expressa a pessoa de Deus.

2. A criação como um tipo (manifestação)


de palavra de Deus

A segunda edição da palavra de Deus é a sua manifestação na criação. Leia o que


diz no Salmo 19: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as
obras das suas mãos." (Sl 19.1). O que o salmista declara neste trecho é que a criação
possui uma espécie de discurso sem palavras anunciando a grandeza e a glória de
quem Deus é.
Este conceito é tão verdadeiro que Paulo, ao falar sobre o conhecimento de Deus,
declara: "Pois os seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, são vistos
claramente desde a criação do mundo e percebidos mediante as coisas criadas, de modo
que esses homens são indesculpáveis" (Rm 1.20).
O que o apóstolo Paulo está dizendo é que há uma revelação tão clara de Deus na
criação, ao ponto de ser usada como base para julgar aqueles que não creram em
Deus e não o obedeceram.

3. A consciência dos homens

A terceira edição da Palavra de Deus que podemos considerar é a consciência dos


homens. Pode-se dizer que, intrinsecamente, todos os seres humanos têm desejo
por justiça e religião. E embora a busca desenfreada por muitas religiões e a própria
idolatria sejam alvos incorretos de devoção, ainda assim, são provas do anseio do ho-
mem por Deus. Isso é uma testificação interior de que eles sabem que Deus existe.

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O CRISTÃO E A BÍBLIA
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Considere o que Paulo declara no livro de Romanos: "demonstrando que o que a lei
exige está escrito no coração deles, tendo ainda o testemunho da sua consciência
e dos seus pensamentos, que ora os acusam, ora os defendem" (Rm 2.15) O que o
apóstolo está dizendo é que os seres humanos serão julgados de acordo com a sua
consciência que os acusa e defende — ou seja, uma prova que Deus existe. Desta
forma, pode-se dizer que a consciência dos homens traz uma revelação da pessoa
de Deus, por isso, ela é uma pista do que Deus fala.

4. A palavra de Deus como uma ordem (um decreto)

A quarta edição da palavra de Deus é como sendo uma ordem, ou seja, quando
Deus declara algo. Esta percepção é nítida durante os decretos de Deus na criação.
Em Gênesis 1, por exemplo, ele decreta: "haja luz"6 e, de fato, a luz passa a brilhar.
Veja também o que diz este Salmo: "Os céus foram feitos pela palavra do SENHOR,
e todo o exército deles, pelo sopro da sua boca." (Sl 33.6). O Salmista deixa claro que,
por meio da palavra de Deus, tudo foi criado e veio a existir.
Somos ensinados que o universo foi criado7 e é sustentado pela palavra de Deus8,
mas obviamente esta palavra não é a Bíblia. Se prestarmos atenção à maneira como
Deus falou, em Gênesis 1, veremos que está falando como um rei (um soberano)
dando ordens para que todo o universo venha a existir e se organize de acordo com
seu bom desígnio.

5. Homens falando a palavra de Deus

A quinta edição da Palavra de Deus é quando ela é dita por meio do homem.
Veja o texto a seguir:

"Então o SENHOR me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Le-


vantarei do meio de seus irmãos um profeta semelhante a ti e lhe porei
na boca as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
E pedirei contas de todo aquele que não ouvir as minhas palavras que ele
falar em meu nome." (Dt 18.17-19)

Em Jeremias, lemos o seguinte: "Então o SENHOR estendeu a mão, tocou-me a boca


e me disse: Ponho as minhas palavras na tua boca." (Jr 1.9).

6. Gn 1.3
7. Ap 4.11
8. Hb 1.3
9. Is 6.6-7

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Deus colocou as palavras dele na boca de Jeremias. Isso deve nos causar espanto,
pois Jeremias era um homem caído. Imagine as palavras de um Deus santo na boca
de um pecador, é exatamente isto que está acontecendo nesta passagem.
Vejamos o contraste da nossa situação em relação à santidade de Deus:
A) Deus é santo – os seres humanos são pecadores.
B) A palavra de Deus é santa – as palavras dos homens não são santas.
C) A palavra de Deus não falha – as palavras dos homens são falhas e mentirosas.
Mesmo sua palavra sendo santa Deus conseguiu, de forma inigualável, que ela fosse
falada por lábios de pecadores, e, ainda assim, não fosse de forma alguma adultera-
da. Talvez seja esse um dos motivos do profeta Isaías ter tido seus lábios queimados
com brasas9. O Senhor precisava purificá-lo com fogo antes de enviá-lo como um
mensageiro de sua palavra.

6. Palavras (específicas) de Deus para indivíduos

A sexta edição da Palavra de Deus é revelada através de palavras que são liberadas,
especificamente, a indivíduos. Vemos isto acontecer em Atos, capítulo 10, quando
Deus fala exclusivamente com Cornélio:

"Havia um homem em Cesareia, cujo nome era Cornélio, centurião do


regimento militar chamado Italiano. Esse homem era piedoso e temente
a Deus com toda a sua casa; dava muitas esmolas ao povo e continu-
amente orava a Deus. Por volta da hora nona do dia, viu claramente
numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e lhe dizia: Corné-
lio! Fitando nele os olhos e atemorizado, ele perguntou: Que é, Senhor?
O anjo lhe respondeu: Tuas orações e esmolas têm subido como memo-
rial diante de Deus. Então, envia agora homens a Jope e manda buscar
Simão, também chamado Pedro. Ele está hospedado com um certo
Simão, o curtidor de peles, cuja casa fica à beira-mar. Ele te dirá o que
deves fazer." (At 10.1-6)

E na mesma passagem, Deus também fala com Pedro, vejamos: "Pedro ainda estava
meditando sobre a visão, quando o Espírito lhe disse: Dois homens te procuram. Levan-
ta-te, desce e vai com eles; e não duvides de nada, porque eu os enviei a ti." (At 10.19-20).
Portanto, vemos aqui o Espírito Santo falando especificamente a Cornélio e a
Pedro. Ele, inclusive, cita os nomes desses dois homens especificamente, deixando
claro que essa é uma forma da palavra de Deus ser expressa.

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7. A palavra de Deus escrita

A sétima e última edição da palavra de Deus é em sua forma escrita. Observe o tex-
to bíblico a seguir: "Quando acabou de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhe
as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus." (Ex
31.18). Observe que Deus escreveu com seus próprios dedos sua palavra escrita.
Veja outro exemplo: "Moisés escreveu esta lei e a entregou aos sacerdotes, filhos de
Levi, que levavam a arca da aliança do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel."
(Dt 31.9). Pare um minuto e pense sobre este fato: Moisés escreveu a lei de Deus.
Certamente ele foi inspirado e suas palavras foram santificadas pelo Espírito Santo,
mas o que ele registrou na lei foram as próprias palavras de Deus.
Vejamos mais exemplos da Palavra de Deus escrita no Antigo Testamento:

"Josué escreveu essas palavras no livro da lei de Deus; e, tomando uma


grande pedra, a pôs ali debaixo do carvalho que estava junto ao santuá-
rio do SENHOR" (Js 24.26)

"Vai agora, escreve isso numa tábua diante deles, registra-o num livro,
para que fique como testemunho para o futuro, para sempre." (Is 30.8)

"Assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: Escreve num livro todas as


palavras que te falei." (Jr 30.2)

No entanto, esses registros não se encontram apenas no Antigo Testamento, veja-


mos exemplos da Palavra escrita de Deus também no Novo Testamento:

"Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu


nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que
eu vos tenho dito." (Jo 14.26)

"Ainda tenho muito que vos dizer; mas não podeis suportá-lo agora.
Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá a toda
a verdade. E não falará de si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido e vos
anunciará as coisas que hão de vir. (Jo 16.12,13)

O Espírito Santo foi enviado tendo como um de seus propósitos o de atuar na me-
mória dos apóstolos, para que estes lembrassem tudo o que Jesus tinha ensinado.
Desse modo, temos o Novo Testamento como um registro confiável para nosso
relacionamento com Deus.

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Concluímos, portanto, que Deus registrou suas palavras na Bíblia para que seu
povo pudesse conhecer seus pensamentos a respeito de todas as coisas. Essa deve
ser a forma como o cristão aborda a Bíblia, entendendo que ela é um registro que
se origina em Deus.

INFORMAÇŌES GERAIS SOBRE A BÍBLIA

A Bíblia é uma coleção de livros que, juntos, contam uma só história. Ela é com-
posta por sessenta e seis livros, escritos por, aproximadamente, quarenta autores
divinamente inspirados, que viveram em épocas diferentes num período de mil e
quinhentos anos. A palavra de Deus foi registrada na língua hebraica e no grego,
sendo que algumas partes dos livros de Daniel e Esdras foram escritos em aramaico
– a língua irmã do hebraico.
A Bíblia traz diferentes estilos de escrita e sua mensagem é destinada à humanidade.
Ela é um relato fiel e verdadeiro do próprio Espírito Santo sobre a realidade, a criação, a
história e a existência. Por mais variado que sejam os estilos, os autores, os personagens
e os cenários bíblicos, a mensagem é única, coerente e coesa com a realidade.

VANTAGENS DE TERMOS UM REGISTRO ESCRITO DA PALAVRA DE


DEUS:
a) Não dependemos da nossa memória
Se vivêssemos numa cultura com apenas a tradição oral, para preservarmos as pala-
vras de Deus, poderíamos sentir-nos prejudicados e temerosos por não conseguir-
mos guardar tudo que foi dito. Ainda que saibamos que no passado este método foi
muito usado por Deus, louvamos a ele por nos providenciar sua palavra por escrito,
permitindo-nos assim uma experiência muito mais precisa com ela.
b) Podemos estudá-la
Pelo fato de termos a Bíblia em nossas mãos, podemos ler vez após vez o mes-
mo texto a ponto de fazer como um médico que examina cuidadosamente o seu
paciente. É uma benção podermos examinar diligentemente a Bíblia para nosso
próprio benefício e para a maior glória de Deus.
c) Podemos multiplicá-la
Ter a palavra de Deus escrita, depois do advento da imprensa, nos proporciona a
multiplicação de cópias para muitas línguas. Isso, por si só, já é um milagre, pois
pessoas do mundo inteiro podem acessar as palavras de vida que Deus nos conce-
de. Louvado seja Deus por isso!

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