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ESCOLA CONVERGÊNCIA

de teologia & vida cristã

COMO CONSTRUIR
UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Monte Mor/SP
2018
Esta apostila foi redigida a partir das videoaulas ministradas na Escola
Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD (Ensino a Distância) e
outros materiais didáticos relacionados, cujas referências constam no
corpo da mesma.

Copyright© 2018 por Escola Convergência
Todos os direitos reservados

Autor:
Felipe Moraes

Compilação e Elaboração de Texto:

Camila Brum

Revisão Teológica:
Harlindo de Souza

Revisão Final:
Gabriel Brum

Diagramação:
Daniel Sousa

Esta apostila ou qualquer parte dela não pode ser reproduzida
ou usada de forma alguma sem autorização expressa da Escola
Convergência, exceto pelo uso de citações breves desde que
mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.

ESCOLA CONVERGÊNCIA
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SUMÁRIO
Aula 1
O chamado à oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Aula 2
A comunidade do coração ardente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Aula 3
Características da oração eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Aula 4
Permanecendo em Cristo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Aula 5
Plano prático para crescer em oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Aula 6
Fundamentos da intercessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Aula 7
O chamado para a intercessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Aula 8
O valor de usar as orações bíblicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Aula 1
v.1.0.0

O CHAMADO
À ORAÇÃO
INTRODUÇÃO

Nesta disciplina estudaremos o chamado sublime da oração, focando em como


construir uma vida dedicada a tal atividade. Embora tenhamos o hábito de enxergar
a oração de uma perspectiva mística, é preciso ressaltar que ela é, também, uma
ação muito prática.
Percorreremos uma jornada de oito aulas abordando os seguintes tópicos: (1) o cha-
mado à oração; (2) o que é a comunidade do coração ardente; (3) características da
oração eficaz; (4) como permanecer em Cristo; e ainda: (5) um plano prático para
crescer em oração; (6) os fundamentos da intercessão; (7) o chamado para a inter-
cessão; e (8) o valor de usar as orações bíblicas.
Portanto, nosso objetivo nesta aula é equipar você para o lugar secreto. Não quere-
mos “teorizar” muito, mas tornar acessíveis as ferramentas para ajudá-lo a crescer
em sua vida de oração com Deus.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Nesta primeira aula trataremos do chamado elevado da oração, que Tim Keller
define como “a maneira de conhecermos a Deus; o caminho para, enfim, tratá-lo
como Deus”.1

O QUE É A ORAÇÃO?

A oração pode assumir muitas formas, mas toda oração é essencialmente uma con-
versa com o Senhor. Em todos os casos, é sempre Deus quem dá o primeiro passo.
Por isso, o ouvir é essencial e sempre deve preceder o pedir. Além disso, é impor-
tante ressaltarmos que Deus é um ser relacional, que dialoga com seus amigos por
meio da oração.
Quanto mais claro for o nosso entendimento de quem é Deus, mais eficazes serão
as nossas orações. A oração como dom espiritual é uma conversa genuína e pessoal
em resposta à revelação específica e verbal de Deus. Contudo, a oração pode ser
ainda mais que isso.

“Orar é estar na companhia de Deus.”2

Muitas de nossas conversas, talvez a maioria delas, são superficiais, ou seja, consis-
tem em meras trocas de informações prosaicas, sem que nos revelemos muito uns
aos outros. Algumas conversas vão mais a fundo, e, quando isso acontece, ambas as
partes envolvidas revelam não apenas informações, mas o seu próprio ser.
Portanto, o objetivo de nossas conversas não é só compartilhar ideias, mas também
a nós mesmos. O convite à oração é semelhante: ele nos propõe a entrar em contato
com Deus, aprofundando nosso relacionamento com ele, para assim o conhecer-
mos e sermos conhecidos mais profundamente. É nesses termos que a Bíblia se
refere à oração:

“Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas de-
pois veremos face a face. Agora conheço em parte, mas depois conhecerei
plenamente, assim como também sou plenamente conhecido.” (1 Co 13.12)

1. KELLER, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo. Ed.Vida Nova,
2016. p 24.
2. HOUSTON, James. A Oração: o caminho para quem busca a amizade com Deus. Brasília. Ed
Palavra, 2009. p. 9.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“No passado, quando não conhecíeis a Deus, costumáveis servir aos


que por natureza não são deuses; agora, porém, que já conheceis a
Deus, ou melhor, sendo conhecidos por ele, como podeis voltar para
esses princípios elementares fracos e pobres, aos quais de novo quereis
servir?” (Gl 4.8,9)

Dessa forma, orar é dar continuidade a uma conversa que Deus iniciou por meio
de sua Palavra e graça, que com o tempo vai se transformando em um completo
encontro com ele.

DEUS É PESSOAL

Pense um pouco no glorioso privilégio da oração. Nós nos acostumamos a ouvir a


respeito de oração, mas reflita bem. Estamos conversando com o Deus que não foi
criado. Nunca houve um momento em que ele viesse a existir, porque ele é e sem-
pre foi — Ele é eterno. Ele é o Deus do universo e está ouvindo você com atenção
e carinho. Deus não é apenas atencioso, ele responde às suas orações revelando o
seu próprio coração a você.
Nesse sentido, veja o que James Houston fala em seu livro “A Oração” sobre o papel
do Espírito Santo: “O Espírito de Deus fala ao mais íntimo de nosso ser, revelando os
planos que Deus tem para nós”3. Deus não pensa em nossos erros enquanto oramos,
mas se alegra ao ouvir a nossa voz. Com isso, ele se sente movido a nos transmitir
aquilo que está em seu coração.
Você consegue ver a beleza que há neste sublime relacionamento de Deus conos-
co? Conhecer a Deus é mais do que apenas saber a seu respeito. Amigos abrem
seus corações um para o outro por meio do que dizem e fazem. Não podemos
perder de vista o fato de que conhecer a Deus requer um relacionamento profundo
com ele, assim como o relacionamento entre duas pessoas.
A fim de concretizar isso, o próprio Deus se fez carne e habitou entre nós. Jesus
Cristo é a Palavra de Deus encarnada; não há comunicação da parte de Deus mais
abrangente, pessoal e bela do que ele. Quando olhamos para Jesus, como nos é
mostrado nas Escrituras, contemplamos a glória de Deus através do filtro de uma
natureza humana:

3. Id. Ibid., p. 130.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“No passado, por meio dos profetas, Deus falou aos pais muitas vezes
e de muitas maneiras; nestes últimos dias, porém, ele nos falou pelo
Filho, a quem designou herdeiro de todas as coisas e por meio de quem
também fez o universo. Ele é o resplendor da sua glória e a representação
exata do seu Ser” (Hb 1.1-3a)

Por meio de Cristo, a oração se transforma em uma conversa sincera e próxima


com Deus; nele temos acesso ao Pai pelo Espírito. Veja o que Paulo declara:

“E vindo ele, proclamou a paz para vós que estáveis longe e também
para os que estavam perto; pois por meio dele ambos temos acesso ao Pai
no mesmo Espírito.” (Ef 2.17-18)

A CENTRALIDADE DAS ESCRITURAS

Deus sempre age por meio de sua Palavra. Observe o que diz o livro de Hebreus:

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer


espada de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e é capaz de perceber os pensamentos e intenções do
coração.” (Hb 4:12)

Logo, o modo de Deus se mostrar ativo e dinâmico em nossa vida é por meio da
Bíblia. Compreender as Escrituras não significa apenas adquirir informações sobre
Deus, mas também escutar a sua voz e encontrá-lo. Para isso precisamos nos ache-
gar a elas com confiança e fé.
Sabemos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida e que ninguém vai ao Pai senão
por ele (Jo 14.6). Só existe um meio de acesso ao Pai – Jesus. Precisamos do teste-
munho bíblico para que possamos conhecê-lo e, consequentemente, conhecer o
Pai. Só iremos saber a quem nos dirigimos em oração se, primeiramente, aprender-
mos quem ele é na Bíblia.
E a única forma de compreendermos como orar é assimilando nosso vocabulário
com o da Bíblia. Devemos ouvir e estudar as Escrituras; pensando, refletindo e
ponderando sobre elas até que haja uma resposta em nosso coração e mente.
Veja o que Richard Foster declara no livro “Oração: o Refúgio da Alma”:

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Devemos ter a mente ocupada e disciplinada pelas Escrituras antes de


podermos, com real benefício, chegar à presença do Santo numa comu-
nhão direta. Assim, será possível assumirmos a atitude do justo no salmo
que serve de introdução a todo o Saltério: “...sua satisfação está na lei do
Senhor, e nessa lei medita dia e noite” (Salmo 1.2).”4

A NECESSIDADE DE NOS ESFORÇARMOS

Talvez a primeira coisa que descobriremos ao tentar orar é o nosso vazio espiritual.
Estamos tão acostumados a ser vazios, que não reconhecemos essa condição até
que tentemos, de fato, orar. Esse primeiro passo é importante para alcançarmos
a comunhão com Deus, mas é um passo que, por vezes, nos deixa desorientados.
É por isso que devemos lutar para estabelecer nossa vida de oração. Ela não se
desenvolverá por conta própria. Temos que nos empenhar em construí-la e nos
derramar diariamente diante do Senhor. A menos que você seja intencional em
desenvolver sua vida de oração, ela não se desenvolverá automaticamente.
Um dos principais enganos a respeito do crescimento da vida pessoal de oração,
gerado por um entendimento errado sobre o que é a graça, é considerar que o seu
crescimento virá de forma natural e involuntária, sem qualquer disciplina e diligên-
cia. As Escrituras, porém, deixem claro que a vida cristã envolve esforço
Essa constatação, no entanto, não deve gerar peso de condenação caso você erre no
processo. Pois o Espírito Santo está comprometido em fazê-lo crescer em intimi-
dade com Ele, o Pai e o Filho. E não somente isso, ele também deseja alegrá-lo no
lugar de oração. Veja o que Isaías profetizou a respeito do que o Senhor faria com
seu povo:

“Eu os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha casa de


oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu
altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os
povos.” (Is 56.7)

Ele se referiu a um novo paradigma: a oração caracterizada pela alegria. Podemos


chamar isso de “oração agradável”. Ainda que nossa vida de oração comece como
um dever, com o tempo ela se tornará um deleite. Deus promete nos alegrar em sua
presença! Muitos povos se surpreenderão com a alegria de se comunicar com ele.

4. FOSTER, Richard. Oração: o refúgio da alma. São Paulo. Ed. Vida, 2008. p 205

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

TODOS NÓS SOMOS CHAMADOS


PARA CRESCER EM ORAÇÃO

Deus chama todo cristão para crescer em relacionamento com ele. Dessa forma, o
chamado para uma vida de oração é o chamado mais importante para todos nós. A
própria Bíblia deixa claro que todo cristão foi comprado pelo sangue de Jesus para
ser um sacerdote (Ap 1.5-6), ou seja, para ir até a presença de Deus e se relacionar
com Ele.
Todos que amam Jesus são chamados para a intimidade com ele. Esse é um chama-
do que nunca iremos superar, porque nos perseguirá por toda a vida. Nós nunca
iremos conhecê-lo o suficiente. Portanto, esse chamado é mais importante que o
chamado para ser um cônjuge, um pai, uma mãe, um pastor, um pregador ou um
líder no mercado de trabalho.
E, certamente, seremos cônjuges, pais e líderes melhores se dedicarmos tempo
para crescer em oração. Algumas pessoas têm a ideia errada de que, se passarem
muito tempo em oração, suas vidas serão enfraquecidas e seus relacionamento afe-
tados. A verdade, porém, é que amaremos muito mais as pessoas à nossa volta, se
tivermos uma vida centrada na oração.
Veja o que Larry Lea fala em seu livro “Nem Uma Hora”: “Nem todos os crentes são
chamados para pregar, mas todos somos chamados para orar. Orar, para nós, é um
dever; e também um privilégio.”5 A oração não é uma atividade opcional, mas essen-
cial para o bem estar de nossa condição espiritual. Nossa vida depende do nosso
relacionamento com Deus.
Jesus fez uma declaração absoluta sobre a nossa incapacidade de caminhar na pleni-
tude do nosso destino em Deus sem crescer em oração. Leia a seguir suas palavras:

“Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5)

A menos que permaneçamos nele, nunca iremos dar frutos ou amadurecer espi-
ritualmente. Não espere por uma experiência espiritual especial para começar a
crescer em oração. Você cresce em oração simplesmente orando e, assim, o Espíri-
to Santo o tocará.
Creia nesta verdade e desfrute de uma vida constante de comunhão com o Senhor.
Não espere por uma experiência sobrenatural antes de estar determinado a crescer

5. LEA, Larry. Nem Uma Hora? Como reencontrar o gozo e a alegria de um contato vivo com
Deus na oração. Curitiba. Ed Betânia, 1989. p 35.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

em oração. Você cresce em oração orando, é assim que acontece. Estudar sobre
oração é muito importante, mas isso não basta; estar perto de pessoas que oram é
muito importante, mas isso também não basta. É preciso orar!

DO DEVER AO PRAZER

É comum pensarmos na oração como uma tarefa entediante. Há uma ideia errônea
de que orar é uma atividade reservada para anciãos ou grupos específicos que se
reúnem para interceder por motivos específicos, quando necessário. A princípio,
a oração parece ser chata e cansativa; algo necessário que devemos suportar para
recebermos mais bênçãos. Mas isso não é verdade.
A oração é tanto uma conversa quanto um encontro com Deus. Esses dois con-
ceitos nos oferecem uma definição de oração e um conjunto de ferramentas para
aprofundar nossa vida de oração. As formas tradicionais de oração – adoração, con-
fissão, ações de graça e súplicas – são práticas concretas e experiências profundas.
Precisamos encontrar o prazer e o deleite na oração, pois ela é uma jornada de re-
lacionamento com a pessoa de Deus. É na prática dela que vamos conhecer a reve-
rência de louvar a glória Dele, a intimidade de encontrar sua graça, e a luta de pedir
sua ajuda. Essas experiências durante a oração poderão maravilhosamente nos levar
a conhecer a realidade da presença de Deus.
Nem sempre, porém, sentiremos tudo isso toda vez que orarmos; mas a nossa dis-
ciplina e insistência na oração acabará fazendo com que ela se torne um deleite. A
sequidão será gradualmente substituída por um diálogo vibrante com Deus, que
mudará nossas vidas e resultará em muitas orações respondidas.
A oração é muito mais do que um dever religioso a ser suportado; é um lugar de
encontro, uma maneira de receber bênçãos e uma expressão de parceria com Deus.
Nessa dinâmica da oração podemos tocar o coração de Deus, nos unir a ele e não
apenas sermos abençoados. Entender isso é fundamental na sua vida de oração.

UM LUGAR DE ENCONTRO

Nossa vida de oração não é um dever orientado por resultados. Nós não precisamos
“pagar o preço” ou provar nossa dedicação ao Senhor para recebermos o seu favor. O
que ele deseja, em primeiro lugar, é nos encontrar e ter um relacionamento conosco.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Segundo Tim Keller, “a oração nos mergulha na plenitude de quem ele é e seu amor
se torna mais real do que a rejeição ou o desapontamento que estamos vivendo.”6 Ou
seja, a oração é o meio pelo qual sentimos a presença de Deus e recebemos o seu
amor; e isso acontece à medida que entendemos quem ele é.
Na oração nos inclinamos para receber uma nova visão do coração de Deus à medida
que novos desejos se formam em nossos próprios corações. João Calvino argumen-
tou: “A Palavra de Deus não é recebida pela fé como se pairasse no topo do cérebro, mas
quando cria raízes no fundo do coração”.7 Por isso, não devemos nos contentar com
uma mente bem informada, sem que o nosso coração também esteja engajado.
Declarar o conhecimento do amor de Cristo por nós nem sempre significa com-
preender quão amplo, extenso, alto e profundo é o seu amor. Existe uma diferença
entre considerar um princípio verdadeiro e apropriar-se plenamente dele e vivê-lo
profundamente no seu interior e no seu coração.
Observe a oração que Paulo faz aos Efésios:

“para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais
interiormente fortalecidos com poder pelo seu Espírito. E que Cristo
habite pela fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e fundamen-
tados em amor, vos seja possível compreender, juntamente com todos
os santos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade desse
amor”. (Ef 3.16-18)

E, para que não vivamos uma vida de contradições com o que declaramos que cre-
mos, precisamos aplicar essas verdades em nossos corações dia após dia. Paulo ora,
em Efésios 3, para que pelo poder do Espírito possamos ter nosso coração e nossos
afetos envolvidos e moldados pelas verdades da fé que abrigamos na mente.
Tim Keller diz o seguinte a respeito desse processo:

“Se você for exposto à “luz” da verdade cristã de que Deus é santo, e
se o Espírito Santo sensibilizou seu coração, você então responderá não
só com emoção — com lágrimas, tremor ou alegria — mas mudará em
caráter permanente o modo de viver e se comportar no mundo. Quando
seus sentimentos e comportamentos são afetados, quer dizer que, de certa
forma, você captou uma verdade específica acerca de Deus. A luz entra e
causa impressões permanentes.”8

6. KELLER, op. cit., p. 236


7. Id. Ibid., p. 197
8. Id. Ibid., p. 201.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Portanto, quando passamos do conhecimento racional acerca de Deus para experi-


mentar sua presença de forma direta, iremos nos deparar com sua graça e seu amor,
e, então, seremos transformados segundo a beleza de sua santidade.
Paulo pede, mais uma vez em Efésios, para que o Espírito Santo sensibilize nosso
coração de modo que provemos essas verdades:

“sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual é a


esperança do chamado que ele vos fez, quais são as riquezas da glória da
sua herança nos santos” (Ef 1.18)

Precisamos experimentar o poder do que nos foi dado em Cristo, de modo que
nossas atitudes, sentimentos e comportamentos sejam transformados. Se estamos
em Cristo, fomos adotados pela família do Pai e temos a vida divina em nosso inte-
rior — o Espírito Santo. A verdade que rege nossa vida de oração e comunhão com
o Pai é que somos amados e aceitos em Cristo!
Talvez você saiba de todas estas coisas e, no entanto, não as conheça nem as com-
preenda verdadeiramente. É possível que os maus hábitos o persigam e que, com
frequência, você ainda se sinta ansioso, entediado, desencorajado ou com raiva.

“Esses problemas têm uma só raiz: o fato


de que você é rico em Cristo, mas ainda
vive como pobre.”9

CONCLUSÃO

O chamado à oração é um chamado para participar do amor que sempre queimou no


coração de Deus. Desde a eternidade, o Pai amou o Filho com todo o seu coração, e
o Filho amou o Pai com a mesma intensidade. O principal fator nos relacionamentos
do Pai, tanto dentro da Trindade quanto com o seu povo, é o amor sincero.
A dinâmica familiar entre Pai, Filho e Espírito Santo baseia-se nesse amor sincero e
flui dele. Tal amor é a realidade fundamental do Reino de Deus. Participamos dela
enquanto crescemos na oração. Fazemos isso recebendo o amor de Deus e respon-
dendo com o mesmo amor ao Senhor e às pessoas.

9. Id. Ibid., p. 200.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

O Pai queima de amor pelo Filho, o Filho e o Espírito queimam de amor pelo Pai,
cujo coração queima por nós. O Pai está dizendo: “Venha e participe, envolva-se
nesta dinâmica familiar da qual você fará parte por toda a eternidade”. Somos cha-
mados para participar da dinâmica familiar da qual o Pai, o Filho e o Espírito Santo
participam!
Na próxima aula estudaremos sobre um conceito sistematizado por Mike Bickle e
intitulado “A Comunidade do Coração Ardente”. Tomando por base esta primeira
aula, reflita sobre os seguintes pontos:
•Como tem sido a sua vida de oração?
•Suas orações são centradas nas Escrituras?
•Você encara a oração como um dever ou um prazer?
O desejo de Deus é que você cresça em comunhão com Ele, portanto, o Senhor
quer mudar sua perspectiva a respeito do que é a oração e de como orar de forma
eficaz — ouvindo o que Ele diz, recebendo suas respostas e crescendo em relacio-
namento com Ele e com o próximo. Dessa forma, encare o chamado à oração como
algo grandioso e sublime, pois, de fato, ele é.

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Aula 2
v.1.0.0

A DEFINIÇÃO
DO CORAÇÃO
ARDENTE
INTRODUÇÃO

Na aula anterior, vimos que a oração é um chamado sublime e de grande valor, pois
ela dá ensejo a um relacionamento profundo com Deus. Além disso, enfatizamos a
necessidade de capacitação para atuar nesse chamado. E, mesmo que seja possível
desenvolver uma vida de oração intensa em um curto período de tempo, o cresci-
mento verdadeiro desse chamado não será medido em dias ou meses apenas, mas
em décadas. Por isso, invista tempo e recursos com o intuito de estabelecer funda-
mentos sólidos e desenvolver uma vida de oração duradoura.
Nesta segunda aula, trataremos de um assunto que nem sempre é associado direta-
mente à oração: o coração de Deus. Entender a maneira pela qual Deus queima de
amor por Ele mesmo e pelo seu povo, porém, assim como de que forma é possível

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

despertar tal amor em seus filhos — para que possam amá-lo com tudo o que tem,
sem reservas — está totalmente relacionado à oração.
Este assunto é absolutamente fundamental para o crescimento neste chamado. Es-
tudar a respeito da comunhão trinitária de Deus pode, a princípio, parecer algo
que não possui nenhum valor prático para a vida cristã. Contudo, a realidade é que
toda a vida cristã, desde o início, é vivida à luz do fato de que fomos batizados “em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Talvez o verdadeiro ponto
de partida na vida de oração seja entender essa realidade.
Esse é o coração e o cerne dos privilégios do evangelho. Antes éramos estranhos à
família de Deus, opostos a Cristo, sem desejo de agradá-lo ou poder para fazê-lo.
Mas agora, por meio do Filho — enviado ao mundo pelo Pai para nos salvar — e do
Espírito que nos traz todos os recursos de Cristo, alcançamos “a graça do Senhor
Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo” (2 Co 13.14).
A seguir, extraímos e traduzimos do estudo “The Fellowship of the Burning He-
art1” — A Comunidade do Coração Ardente (tradução livre) —, de Mike Bickle, os
principais ensinamentos a respeito deste assunto:

A REALIDADE FINAL DO REINO DE DEUS

A oração é um convite para participar da comunidade de amor da Trindade. Sendo


assim, crescer em oração está profundamente relacionado com abraçar o primeiro
mandamento. Por esse motivo, a prioridade do Espírito é estabelecê-lo na Igreja.
O próprio Jesus declarou que esta é a maior prioridade para Deus Pai e também
deixou claro que deve ser o principal chamado do cristão. Veja o que Ele diz:

“Mestre, qual é o maior mandamento na Lei? Jesus lhe respondeu: Ama-


rás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o
entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento.” (Mt 22:36-38)

Nossa prioridade deve ser amar a Deus acima de todas as coisas! O foco de nosso
ministério não é causar impacto ou ser reconhecido. Primeiramente, devemos fazer

1. BICKLE, Mike. The Fellowship of The Burning Heart. mikebickle.org, 2022. Dispo-
nível em: <https://backup.storage.sardius.media/file/akamaiBackup-ihopkc-103762/
IHOP/465/402/20140905_The_Fellowship_of_the_Burning_Heart_GIP02.pdf>. Acesso em:
01/09/2022.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

com que este mandamento cresça em todos os aspectos de nossa vida. Devemos
buscar transmitir essa realidade para outras pessoas através de tudo o que fizermos.
Esse é o alicerce e o fundamento para um ministério que verdadeiramente cause
impacto. O Senhor não quer apenas que as pessoas fiquem empolgadas ou impres-
sionadas com seus ministérios, mas que as pessoas andem no primeiro mandamen-
to, ou seja, que o amor por Ele esteja em primeiro lugar na vida delas.
Nesse sentido, é de extrema importância entender que o amor que temos por Deus
não começa em nós, isto é, o mandamento de amar a Deus com todo o nosso coração
não tem início em nós. Esse amor é uma expressão do coração de Deus, que arde
continuamente com amor perfeito dentro da comunhão das três pessoas da Trindade.
Logo, este amor é a expressão da realidade última do reino. Uma realidade que
existe muito antes da criação do mundo. O coração de Deus queima de amor desde
a eternidade, muito antes de nós existirmos. Ou seja, antes mesmo de ele nos dizer
para amá-lo com todo nosso coração, ele já nos amava de todo o seu coração. As
Escrituras atestam desta verdade quando declaram que Deus é amor:

“E conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nesse amor. Deus
é amor; quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.”
(1 Jo 4.16)

O amor é a essência do que Deus pensa e sente. Não é apenas algo que ele faz,
mas que está no centro do seu ser. Portanto, crescer em oração é fundamentado na
compreensão dessa realidade. Compreendemos melhor o primeiro mandamento
ao vê-lo em seu contexto eterno de comunhão na divindade, uma vez que ele não é
apenas um aspecto da ética do Reino (como, por exemplo, não se irar, não roubar,
servir uns aos outros, etc). Antes, ele é o fundamento da vida cristã.
Dessa forma, devemos corresponder a Deus com todo o nosso coração a fim de re-
fletir quem ele é e quem ele nos criou para ser. Pois fomos criados à imagem Dele,
em consequência de seu sincero e íntegro amor. Essa é a essência de nossa salvação
e relacionamento com ele. E a obra do Espírito Santo consiste em aperfeiçoar nos-
so amor para que o amemos da mesma forma com que ele nos ama.
No livro “Oração - experimentando intimidade com Deus”, o autor Tim Keller cita
Agostinho em sua grande obra De Trinitate [Da Trindade], a respeito desta verdade:

“Nossa capacidade de amar outras pessoas é apenas uma imagem do


amor interno da Trindade que fomos criados para refletir. Podemos ver,
então, por que um Deus triúno nos chamaria para conversar com ele,

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

conhecê-lo e com ele nos relacionarmos — porque deseja compartilhar


a alegria que sente. Orar é nosso modo de participar da felicidade do
próprio Deus.”2

Deus nos ama com a mesma intensidade que ama a Jesus (Jo 15.9), essa é uma alega-
ção fundamental das Escrituras. Portanto, Deus deseja que o amor que flui entre a
Trindade e para o seu povo cubra toda a Terra, começando nesta era e continuando
eternamente após novos céus e nova terra. Essa é a realidade última do reino de Deus.
Concluímos, então, que amar a Deus de todo o coração envolve conhecê-lo e ser
transformado pelo conhecimento de quem Ele é, a ponto de toda a nossa vida ser
por Ele e para Ele. E, conforme dito anteriormente, nesta jornada de conhecer a
Deus nos deparamos com um amor que queima em seu coração. Veremos a seguir
que ele pode ser manifesto através de cinco expressões principais, que estão intrin-
secamente ligadas ao crescimento em oração.

AS CINCO EXPRESSÕES DO AMOR DE DEUS

1. O amor de Deus por Deus: Cada pessoa na Trindade ama intensamente às
outras com todo o seu coração.
2. O amor de Deus por seu povo: Deus ama o seu povo com todo o seu cora-
ção, mente e força. Ele ama os redimidos com a mesma intensidade que ama
dentro da comunhão da Trindade.
3. Nosso amor por Deus: O Espírito transmite o próprio amor de Deus ao
seu povo.
4. Nosso amor por nós mesmos: Amamos a nós mesmos no amor de Deus e
através do amor de Deus.
5. Nosso amor pelos outros: Amamos as pessoas quando experimentamos
um transbordar do amor de Deus em nós.

Essas cinco expressões de amor constituem o que chamamos de comunidade do


coração ardente de Deus. Nosso destino é participar desse amor que rege a dinâmica
familiar da Trindade.

2. KELLER, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo. Ed.Vida Nova,
2016. p 93.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

PERMANECENDO EM SEU AMOR

Antes de definirmos as cinco expressões do amor de Deus, é preciso reforçar o que


significa “permanecer em seu amor”. O chamado à oração é, na verdade, um chama-
do para permanecer no amor de Deus e na comunhão com Ele — viver e refletir
continuamente quem Ele é. Nosso principal objetivo de vida é estar focado em
conhecer, receber e expressar esse amor.

“E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a


Jesus Cristo, que enviaste.” (Jo 17.3)

A essência da vida eterna é conhecer a Deus. Conhecer nesse caso significa mais do
que apenas obter informação: trata-se de algo que devemos experimentar. Há um
convite nas palavras “permanecei no meu amor”. Pesquise, estude e fique focado
nele. Ore e fale sobre isso, isto é, compartilhe com os outros. Procure andar nele e
experimentá-lo. Isso não é apenas algo que faremos nesta era, pois continuaremos
a crescer nesse conhecimento mesmo na era vindoura, quando tivermos um corpo
ressurreto e estivermos contemplando Deus face a face (1 Co 13.12).
A salvação é muito mais do que apenas escapar do inferno; é um convite à comu-
nhão com Deus. Assim como os discípulos no caminho de Emaús sentiram seus
corações queimarem enquanto eles falavam com Jesus (Lc 24.32), nós precisamos
experimentar ter o nosso coração queimando pelas palavras do Senhor.
A seguir, conheceremos melhor cada uma das expressões do amor de Deus:

1. O AMOR DE DEUS POR DEUS

A primeira expressão do amor perfeito que queima no coração de Deus é encon-


trada nas relações das pessoas da Trindade. O Filho ama o Pai (Jo 14.31), o Pai ama
o Filho (Jo 5.20) e o Pai ama o Filho da mesma maneira que o Filho ama o Espírito,
e assim por diante.
Entender o amor que existe na trindade é extremamente profundo e libertador, pois
o mesmo amor que flui na comunidade de amor divina é o amor com que somos ama-
dos. Veja a seguir algumas características dessa comunidade de amor — a Trindade:
a) Existe um Deus que habita para sempre em três pessoas distintas, que são
iguais como pessoas divinas.
b)O Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem plenamente todos os atributos de
Deus.

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c) Cada pessoa da Trindade é diferente das outras em função e autoridade em


seu trabalho, que é totalmente unificado.
A maneira como Deus ama no relacionamento da Trindade é a única maneira
pela qual ele nos ama — ele sempre ama em plenitude.
Ele não nos ama apenas com uma parte de seu amor, pois isso negaria seu caráter. A
unidade na Trindade nos revela a natureza, a qualidade e a intensidade do seu amor.
Esse é o modelo e a fonte pela qual nos relacionamos com Deus e com as pessoas
ao nosso redor. O amor de Deus nunca irá diminuir ou aumentar, pois é infinito
em medida e dura eternamente.
Deus vive em amor perfeito, eterno e sincero. Isso é quem ele é, ele nunca muda
e não pode mudar. Deus negaria a verdade a respeito de quem é se mudasse. Seu
amor é infinito em medida e eterno em duração; não pode aumentar e dura para
sempre. Ele vai amar você intensamente daqui a um bilhão de anos, assim como
ama hoje. Deus não nos ama com apenas parte do seu coração, com parte do seu
amor — ele nos ama com todo o seu coração.

2. O AMOR DE DEUS POR SEU POVO

O caráter leal de Deus, expresso por seu amor constante por seu povo, é evidencia-
do nos seguintes versos do livro do profeta Jeremias:

“Com amor eterno te amei; por isso, com fidelidade te atraí.” (Jr 31.3b)

Logo, o amor com que Deus ama seu povo é um amor eterno — não terá fim. Além
disso, Jesus declarou que ama os redimidos com a mesma intensidade com que o
Pai o ama (Jo 15.9). E afirmou também que o Pai ama os redimidos com essa mesma
intensidade:

“Eu lhes dei a glória que me deste, para que sejam um, assim como nós
somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam levados à plena
unidade, a fim de que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste,
assim como me amaste.” (Jo 17.22-23)

Pai, Filho e Espírito amam os redimidos com todo o seu coração, mente, alma e
força. Você já parou para pensar que, quando Deus deseja algo, nunca se trata de
um desejo fraco? Ele não é como os homens que, diversas vezes, são indiferentes
em relação a algo e que se questionam se realmente desejam aquilo. Em Deus não

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há espaço para dúvidas, ele sabe exatamente o que quer e o que ama. Quando Deus
deseja, ele deseja com intensidade e afinco.

Em nossas vidas, sempre enfrentaremos desafios, dificuldades e retrocessos, mas


considere a seguinte afirmação: Jesus nos ama da mesma maneira que ama o Pai, e
também como o Pai o ama. Precisamos crer, abraçar e permanecer nesta verdade,
pois isso mudará completamente a maneira como encaramos a vida nesta era!
Deus criou os seres humanos para participar dessa gloriosa comunhão, porque ele
é amor e nada lhe falta, isto é, ele não possui necessidade alguma. Ele não criou a
humanidade porque estava sozinho, descontente ou tinha uma necessidade emo-
cional, mas para que fôssemos inseridos neste transbordar de amor.

3. O NOSSO AMOR POR DEUS

A prioridade do Espírito Santo nesta era é estabelecer, em nós, o primeiro manda-


mento em primeiro lugar:

“Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de


toda a alma e de todo o entendimento. Este é o maior e o primeiro man-
damento.” (Mt 22.37,38)

Deus nos ama com todo o seu coração e quer uma resposta de nós, ou seja, deseja
reciprocidade. Ele deseja que entreguemos nosso “tudo” para o relacionamento
com ele, não porque se sente solitário ou rejeitado quando amamos a outros, mas
porque ele é íntegro em amor e espera o mesmo de nós. Deus é digno do nosso
amor; pois é sua herança recebê-lo.
Só entraremos na plenitude de nossa herança e destino, se amarmos a Deus com
todo nosso coração. E o próprio Espírito Santo transmite o amor de Deus ao seu
povo. Dessa forma, iremos crescer em amor a Deus se observarmos e provarmos
cada vez mais do seu amor por nós:

“e a esperança não causa decepção, visto que o amor de Deus foi derra-
mado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rm 5.5)

E veja que interessante, no evangelho de João, Jesus relaciona o amor a Deus à obe-
diência ao fazer a seguinte declaração:

“Se me amardes, obedecereis aos meus mandamentos. (...) Aquele que


tem os meus mandamentos e a eles obedece, esse é o que me ama. E
aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me mani-

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festarei a ele. (...) Jesus lhe respondeu: Se alguém me amar, obedecerá


à minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele
morada.” (Jo 14.15,21,23)
Ou seja, não existem definições de amor a Deus nas Escrituras que sejam desas-
sociadas do espírito de obediência. Isso não significa que acertaremos todas as ve-
zes, mas que precisamos ter nosso coração sempre pronto a obedecer. Nosso amor
pode ser fraco, porém, se for real, significará muito para Deus.
No entanto, não podemos amar a Deus nos nossos próprios termos, condições ou
sentimentos. Podemos ter sentimentos religiosos e até “sentir algo” em um culto
de adoração, mas a Bíblia não chama isso de amor. A Palavra diz que o coração do
homem é enganoso (Jr 17.9). Se não estivermos comprometidos a andar em obedi-
ência, não amaremos verdadeiramente a Deus.
Encontraremos liberdade na comunhão do coração ardente de Deus. Nesse lugar
de intimidade e relacionamento com o Senhor, seremos libertos do espírito de con-
denação, rejeição, luxúria, frieza e tédio. Não se trata de ter liberdade para viver se
envolvendo com o pecado. É ter liberdade para viver com o coração vibrando de amor
ao Senhor, à medida que encontramos seu amor por nós em nossa caminhada diária.

4. NOSSO AMOR POR NÓS MESMOS

Os redimidos devem amar-se no amor de Deus e através do amor de Deus. Nós


nos amamos através das lentes da revelação de Jesus, da sua cruz e do nosso grande
valor para ele.

“Daquele que não tinha pecado Deus fez um sacrifício pelo pecado em
nosso favor, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5.21)

Nós recebemos o dom da justiça de Deus e, em Cristo, somos considerados justos


perante ele. Temos valor e mérito indescritíveis para Deus, pois, quando ele nos vê,
contempla o sacrifício do seu filho sobre nós. Entender isso muda a maneira como
nos sentimos a respeito de Deus, de nossas vidas e das pessoas ao nosso redor.

“Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de


toda a alma e de todo o entendimento. Este é o maior e o primeiro man-
damento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo.” (Mt 22.37-39)

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Entender nossa nova identidade, destino e valor no amor de Deus capacita-nos a


amar a nós mesmos através do Espírito Santo. Nunca amamos os outros mais do
que amamos a nós mesmos pela graça de Deus.
No entanto, quando as Escrituras falam sobre amarmos a nós mesmos, não se trata
de um amor egocêntrico nos moldes humanistas atuais. A Bíblia nos chama tanto
para amarmos a nós mesmos (Mt 22.39), quanto para odiarmos nossas vidas (Lc
14.26). Vamos entender melhor cada um desses chamados:
• Chamados para “amar a nós mesmos”: É possível amar nossa nova identidade em
Cristo. Portanto, não despreze nem subestime seu valor para o Senhor. Mesmo que
seu serviço a Ele tenha sido fraco e pequeno, ecoará por toda a eternidade. Pode ser
pouco aos seus olhos, mas não subestime o que você faz em obediência à vontade de
Deus. Na verdade, a maior parte do nosso amor e serviço a Jesus consiste em peque-
nos atos de obediência que movem o seu coração e nos trarão recompensas eternas.

“E o seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel sobre
pouco; sobre muito te colocarei; participa da alegria do teu senhor!”
(Mt 25.21)

• Chamados a “odiar nossas vidas”: Quando as Escrituras falam sobre odiarmos


nossa vida neste mundo (Jo 12:25), trata-se de odiarmos quem nós somos fora de
Cristo. Por isso, devemos odiar nossa inclinação ao pecado. E isso não nos impede
de amar quem somos na graça de Deus.
Nós glorificamos o nome de Jesus quando nos amamos de acordo com o seu
amor por nós e honramos seu “investimento” em nossas vidas.
Jesus se deleita em quem somos na graça de Deus, por isso, quer que amemos a
pessoa que ele ama e que apreciemos o quanto ele gosta de nós – para que assim
nos deleitemos no quanto ele se deleita em nós!
A falta de amor próprio, o ódio a si mesmo, resulta em um profundo sentimento de
rejeição, que prejudica nossa capacidade de amar e receber amor. Deus deseja liber-
tar o nosso coração do ódio a nós mesmos. Desse modo não desejaremos mais ser
outra pessoa, mas ser genuinamente gratos por sermos quem ele nos fez para ser.

5. NOSSO AMOR POR OUTROS

Devemos amar uns aos outros no fluir do próprio amor de Deus (Jo 15.12). O Se-
nhor deseja compartilhar conosco aquilo que sente sobre os outros. Isso transfor-
mará completamente a maneira pela qual vemos as pessoas e interagimos com elas.

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“O meu mandamento é este: Amai-vos uns aos outro, assim como eu vos
amei” (Jo 15.12)
Deus não quer apenas que conheçamos o que ele sente sobre nós. Quando co-
nhecemos o seu amor por nós e entendemos nossa identidade em Cristo, somos
mais capacitados e equipados para entender o que ele sente a respeito de outras
pessoas.
O primeiro e o segundo mandamento estão profundamente conectados e não po-
dem andar separadamente. O amor de Deus em nós irá transbordar de nossas vidas,
por isso, devemos amar até mesmo aqueles que nos perseguem:

“Mas digo a vós, que ouvis: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos
que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam e orai pelos que vos
maltratam.” (Lc 6.27-28)

Nós iremos nos deleitar para sempre uns nos outros, da mesma maneira pela qual
Deus nos ama e se deleita em nós, o seu povo.

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Aula 3
v.1.0.0

CARACTERÍSTICAS
DA ORAÇÃO EFICAZ
INTRODUÇÃO

Até aqui, vimos a oração como um chamado elevado de comunhão entre os cristãos
e a comunidade divina (Pai, Filho e Espírito Santo). Nesta terceira aula, entende-
remos melhor esse chamado, que se trata de uma parceria com Deus através de
orações eficazes.
É preciso dar a devida importância à oração, uma vez que ela não é uma atividade
efêmera nem descartável. Orar não é erguer a voz e clamar por algo que corre o
risco de não ser ouvido ou que pode ser ignorado, antes, é a certeza de que nossas
palavras chegam aos ouvidos de Deus. As orações ganham vida diante dele, e o seu
coração de Pai está focado nelas.
No livro “Propósito na Oração” o autor Edward M. Bounds diz, aliás, que “as
orações se perpetuam para além daqueles que as pronunciam; elas sobrevivem a uma

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geração, a uma época, a um mundo.”1 Você crê que Deus escolheu moldar o mun-
do através da oração dos seus filhos? E que as diretrizes de Deus estão de acordo
com a quantidade e eficiência das orações que sobem a ele? Observe o que as
Escrituras declaram:

“Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e a porta vos será aber-
ta.” (Mt 7.7)

Logo, a oração é definida como sendo a única condição para se viver a plenitude dos
propósitos de Deus. Dessa forma, a lição mais importante para o cristão é aprender
como orar. Portanto, nesta aula, estudaremos as características da oração eficaz —
aquela que faz diferença e alcança os objetivos desejados.
Há diversos homens e mulheres de Deus que têm trabalhado para restaurar o lu-
gar valioso da oração na vida do crente. James Gilmour, um cristão missionário na
Mongólia, declarou o seguinte a respeito disso:

“Meu credo me leva a pensar que a oração é eficaz e, certamente, pedir


a Deus que governe os eventos do dia para o bem não é tempo perdido.
Mesmo assim, há um sentimento geral de que quando um homem está
orando ele não está fazendo nada, e esse sentimento nos faz dar impor-
tância indevida ao trabalho, às vezes a ponto de apressarmos ou negli-
genciarmos a oração. Será que em nossos dias descansamos demais no
que se refere à carne? Será que as mesmas maravilhas do passado podem
acontecer hoje? Os olhos do Senhor ainda passeiam por toda a terra para
mostrar-se forte em favor daqueles que confiam nele? Que o Senhor me
conceda uma fé mais prática nele! Onde está o Deus de Elias? Ele está
esperando que Elias clame por ele.”2

Oração, em primeiro lugar, é o relacionamento com Deus, mas, como consequên-


cia, ela gera resultados que servem aos propósitos e à vontade Dele na Terra. É in-
crível pensar que a grande Majestade que se assenta no mais alto trono intervenha
milagrosamente na história simplesmente porque falamos com ela.

1. BOUNDS, E. M. Propósito na Oração. São Paulo. Ed.Vida, 2016. p 8.


2. Id. Ibid., p. 7

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A vida de oração dos heróis da fé era pautada nessa certeza. Eles não oravam como
uma atitude passageira, que enfraquecia com o tempo, os sentimentos ou as cir-
cunstâncias. A oração era o alicerce de sua comunhão com Deus. E Ele os ouvia e
respondia a eles; seus ouvidos sempre estiveram abertos ao clamor de seus filhos.
Assim, aqueles homens eram fortes na fé e na oração. Observe:

“Estes, por meio da fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcança-


ram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo, es-
caparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, tornaram-se pode-
rosos na guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros.” (Hb 11.33-34)

No entanto, nem sempre a resposta virá imediatamente. Por isso, a paciência e a


confiança no Senhor precisam ser exercidas dia após dia. Nesse sentido, George
Müller declara que:

“Não é suficiente começar a orar, ou orar direito, nem continuar durante


um tempo em oração. Precisamos continuamente, pacientemente, conti-
nuar em oração até obter uma resposta, acreditando que Deus realmente
nos ouve e que irá responder nossas orações.”3

O destino de cada cristão é liberar o poder e os recursos de Deus através de sua


oração, por mais simples que ela seja. Veja o que Tiago declara a respeito do tipo de
oração que pode ser caracterizada como verdadeiramente eficaz:

“A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver


cometido pecados, será perdoado. Portanto, confessai vossos pecados uns
aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A súplica de um
justo é muito eficaz. Elias era humano e frágil como nós; ele orou com in-
sistência para que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu
sobre a terra. Ele orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu
seu fruto.” (Tg 5.15-18)

Tiago ensinou que a oração da fé cura o doente (v. 15) e muito realiza (v. 16). Nossas
orações possuem muito mais eficácia do que imaginamos. Elas vão muito além daqui-
lo que percebemos com nossos cinco sentidos. Nossas perspectivas na vida mudarão
drasticamente quando crermos que nossas orações realmente fazem a diferença.

3. BELMONTE, Vanessa. George Müller e as condições para a Oração, 2016. Disponível em: <ht-
tps://vanessa-belmonte.medium.com/george-m%C3%BCller-e-as-condi%C3%A7%C3%B5es-
-para-a-ora%C3%A7%C3%A3o-ee1e61ae3d75>. Acesso em: 13/09/2022.

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CARACTERÍSTICAS DA ORAÇÃO EFICAZ

Há quatro características da oração eficaz que podem ser ressaltadas nesta passa-
gem de Tiago:

1. Oração fundamentada em fé: (Tg 5.15);


2. Oração no contexto de bons relacionamentos: (Tg 5.16);
3. Oração a partir de um estilo de vida de retidão: (Tg 5.16);
4. Oração fervorosa que é perseverante e séria: (Tg 5.17).

Vamos entender com maior profundidade cada uma delas a seguir.

1. ORAÇÃO FUNDAMENTADA EM FÉ

É a oração que está fundamentada na confiança tridimensional em Deus:


•1ª Dimensão: Confiança na autoridade de Jesus sobre o pecado, as doenças
e Satanás.
•2ª Dimensão: Confiança no sangue de Jesus que qualifica pessoas fracas,
como nós, para serem instrumentos que liberam seu poder e recebem suas
bênçãos. Podemos entrar na presença de Deus com ousadia pelo sangue de
Jesus (Hb 10.19). Não devemos ficar acuados por vergonha e culpa, porque ele
nos tem concedido sua própria justiça (2 Co 5.21).
•3ª Dimensão: Confiança no desejo do Pai de curar, libertar e abençoar seu
povo pelo poder e obra do Espírito Santo. Observe o que Jesus declarou aos
discípulos:

“E qual pai dentre vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou,
se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra em lugar do peixe? Ou, se pedir
um ovo, lhe dará um escorpião? Se vós, sendo maus, sabeis dar boas
coisas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo
aos que o pedirem.” (Lc 11.11-13)

Durante sua jornada com os discípulos, Jesus sempre enfatizou a importância da


oração com fé. E nossa fé é ancorada no conhecimento da autoridade de Jesus sobre
todo o poder existente. Atente para os seguintes versículos:
“Por isso vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que já o recebestes, e
o tereis.” (Mc 11.24)

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“E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi concedi-


da no céu e na terra.” (Mt 28.18)

Lembre-se da história do homem que leva seu filho epilético para os discípulos de
Jesus e percebe que não conseguem curá-lo, nem expulsar o demônio que o ator-
mentava. Note qual é a exortação de Jesus para eles:

“Mais tarde, os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, per-


guntaram-lhe: Por que não conseguimos expulsá-lo? Ele lhes disse: Por
causa da vossa pequena fe; pois em verdade vos digo que, se tiverdes
fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui
para lá, e ele passará; e nada vos será impossível.” (Mt 17.19-20)

Portanto, devemos orar com a confiança de que nossas orações produzirão resul-
tados e com a certeza de que Deus irá respondê-las. Pois fé é a qualidade inicial no
coração de um homem que experimenta falar com o Deus invisível. Finalmente, é
possível declarar que: a oração se resume em fé.
Somente Deus pode mover montanhas, mas fé e oração movem Deus. A indaga-
ção do Senhor pode, com certeza, ser a nossa: “Quando o Filho do homem vier, en-
contrará fé na terra?” (Lc 18.8). Cremos que ele encontrará! Cabe a nós, em nossos
dias, cuidar para que a lamparina da fé esteja acesa e preparada para esse grande dia.

2. ORAÇÃO NO CONTEXTO DE BONS RELACIONAMENTOS

Quando Tiago ensina sobre oração eficaz no texto base que estamos utilizando, ele
nos exorta a confessar nossos pecados uns aos outros (Tg 5.16). Precisamos seguir
essa exortação no contexto de relacionamentos sólidos. Alguns estão comprome-
tidos a crescer em seus relacionamentos, mas estão satisfeitos com uma vida de
oração fraca. Outros estão comprometidos a crescer em oração, mas se contentam
com relacionamentos rasos. A Bíblia posiciona esses dois valores lado a lado, com-
plementando um ao outro, não competindo entre si:
2.1 Vida de oração sólida gera relacionamentos sólidos
Uma vida de oração sólida nos leva a ter relacionamentos sólidos com as pessoas.
Oração não significa ser antirrelacional ou antissocial. A verdadeira oração tem o
efeito oposto e revela que tudo diz respeito ao amor – amar a Deus e às pessoas.
Pessoas de oração deveriam ser as mais capacitadas a amar.

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2.2 Relacionamentos saudáveis investem as orações com poder


O Senhor se importa muito com os nossos relacionamentos. À medida que nossa
vida de oração amadurece, a ênfase da honra em nossos relacionamentos cresce.
Os maridos, por exemplo, devem honrar suas esposas para que suas orações não
sejam impedidas. A medida da efetividade da oração do marido está relacionada ao
grau de honra que ele tem para com sua esposa. Ele pode orar com eloquência em
público, mas, se fala de maneira rude com sua esposa em particular, suas orações
serão impedidas. É isso que o apóstolo Pedro declara neste versículo:

“Da mesma forma, maridos, vivei com elas a vida do lar, com en-
tendimento, dando honra à mulher como parte mais frágil e herdeira
convosco da graça da vida, para que as vossas orações não sejam im-
pedidas.” (1 Pe 3.7)

3. ORAÇÃO A PARTIR DE UM ESTILO DE VIDA DE RETIDÃO

O compromisso com um estilo de vida justo é essencial para cultivar uma vida
de oração eficaz (Tg 5.16). Essa condição bíblica é com frequência menosprezada,
mesmo por aqueles que já possuem uma vida profunda de oração.

“(...) A súplica de um justo é muito eficaz.” (Tg 5.16)

Observe a seguir algumas características daqueles que procuram andar em retidão:


3.1 A pessoa justa, nesta passagem, é qualquer cristão que posiciona seu coração
para obedecer a Jesus, enquanto busca andar em piedade. Posicionar nosso coração
para obedecer é muito importante, ainda que venhamos a tropeçar em nossa ima-
turidade e na inconsistência de nossa obediência. Por mais maduros que sejamos
em justiça, precisamos entender que estaremos sujeitos a tentações e tropeços em
nossa caminhada com Deus.
3.2 A “súplica de um justo” inclui a oração de pessoas imperfeitas e fracas,
que buscam sinceramente andar em justiça, mesmo em meio às suas fraquezas.
3.3 O Senhor responde ao seu povo porque este busca obedecer seus manda-
mentos e agradá-lo, veja:

“e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, pois guardamos


seus mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista.” (1 Jo 3.22)

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3.4 Oração não substitui obediência. O Senhor não está pedindo para você
orar e jejuar mais, para “equilibrar” sua vida de desobediência. Oração é relaciona-
mento, nós obedecemos porque sabemos que o pecado nos afasta de Deus. Leia o
que as Escrituras falam a respeito disso:

“(...) mas as vossas maldades fazem separação entre vós e o vosso Deus;
e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos
ouve.” (Is 59.2)

Esse versículo trata de pecados não confessados. Não se trata de um pecado que
você cometeu, do qual se arrependeu e confessou, mas da permanência no pecado,
sem arrependimento e confissão. E o autor de Hebreus declara algo ainda mais
profundo nesse sentido:

“Procurai viver em paz com todos e sem santificação, sem a qual nin-
guém verá o Senhor.” (Hb 12.14)

3.5 Quando falhamos em obedecer, devemos reconhecer e confessar, e não


buscar racionalizar ou justificar nosso tropeço. Devemos dar nome ao pecado, nos
arrepender dele e receber o perdão de Deus.
3.6 Andar em obediência é viver em concordância com o amor, porque Deus
é amor. É comum serem feitos ensinamentos sobre oração que não enfatizam a
necessidade de obediência a Deus. Precisamos posicionar nossos corações para
obedecer a Jesus. Veja o que ele mesmo fala sobre isso:

“Aquele que tem os meus mandamentos e a eles obedece, esse é o que me


ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me
manifestarei a ele.” (Jo 14.21)

4. ORAÇÃO FERVOROSA E PERSEVERANTE

A oração persistente e fervorosa é uma das condições bíblicas primárias para que
a oração seja efetiva, pois ela flui de um coração que está engajado com Deus. Ser
fervoroso não significa apenas seguir um roteiro quando oramos. Observe a seguir:

“Elias era humano e frágil como nós; ele orou com insistência para que não
chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.” (Tg 5.17)

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Elias orou para que não chovesse e, de fato, não choveu. Em seguida, ele orou para
que chovesse e choveu (1 Rs 18:1,45). Não é apenas a fé de Elias que é ressaltada
nessa passagem de Tiago; com certeza aquele era um homem de muita fé, mas sua
persistência no lugar de oração foi incansável. A oração de Elias era forte, insistente
e irresistível em seus elementos de poder. Orações débeis não garantem resulta-
dos, não glorificam a Deus nem fazem bem ao homem.
Elias não aceitou que suas orações — que estavam em concordância com a vontade
de Deus — não fossem respondidas. E, assim como ele, nós devemos ser persisten-
tes, devemos orar com fé de que seremos respondidos e lutar com fervor em oração.
Em Lucas, Jesus ensinou uma parábola que enfatiza a oração persistente. O verbo
em grego para pedir, buscar e bater está no presente contínuo. Logo, o sentido é
que nosso papel deve ser o de pedir e continuar pedindo, buscar e continuar bus-
cando, bater e continuar batendo:

“Eu vos digo que, mesmo que não se levante para dar os pães por causa
da amizade, ele se levantará por causa do incômodo e dará quantos pães
o outro precisar. Por isso eu vos digo: Pedi, e vos será dado; buscai, e
achareis; batei, e a porta vos será aberta” (Lc 11.8-9)

Quando valorizamos algo com afinco, clamamos a Deus em favor disso com todo
o nosso coração. Porém, quando pedimos casualmente, sem esforço de focar nossa
mente no Senhor ou quando desistimos de orar porque ainda não vimos respostas,
isso expressa nossa falta de confiança em Deus e no fato de que ele responderá.

“Vós me buscareis e me encontrareis, quando me buscascardes de todo o


coração.” (Jr 29.13)

Outro ponto a respeito da oração fervorosa é que ela precisa ser alta e barulhenta.
Nós não deveríamos concluir que nossa oração é ineficaz ou que temos falta de fer-
vor simplesmente porque não temos um estilo eloquente, barulhento e agressivo
de orar em público.
Talvez seu estilo de oração seja mais suave do que o de outras pessoas, mas isso
não determinará a eficácia de sua oração. Por essa razão, mantenha-se firme e não
retroceda. Orações não precisam, necessariamente, ser feitas com grande emoção
e volume. Ana orou por um filho com grande angústia e em silêncio, por causa da
sua esterilidade. E, mesmo assim, foi ouvida, veja:

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Como Ana orava em silêncio, seus lábios se moviam, mas não se ouvia
sua voz; por isso, Eli pensou que ela estivesse embriagada. (...) Assim,
Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel,
pois ela dizia: Eu o pedi ao SENHOR.” (1 Sm 1.13,20)

A resposta de Deus às nossas orações não depende de como nos sentimos, mas
da pessoa de Jesus e de sua obra na cruz. Nossas orações são feitas baseadas nessa
verdade e em nossa convicção nela. Se nos medirmos através de uma ideia errada
do que é perseverança ou fervor na oração, seremos tentados a orar menos.

Deus responde a nossas orações por


causa do sangue de Jesus.

É comum que pessoas regridam em suas vidas de oração porque “não sentem” a
presença de Deus quando oram. Assim como quando se sentem cansadas, desen-
corajadas ou quando simplesmente não estão sentindo nada. No entanto, nossas
orações são eficazes mesmo quando nos sentimos desencorajados ou de mau hu-
mor. Oferecemos nossas orações ao Senhor, que está sempre de ótimo humor e
nunca se cansa.
Se pedirmos alguma coisa segundo a vontade de Deus, não importa o quão difícil
seja, ele irá nos responder. É isso que as Escrituras declaram:

“E esta é a confiança que temos nele: se pedirmos alguma coisa segundo


sua vontade, ele nos ouve.” (Jo 5.14)

Quando não recebemos uma resposta imediata, não devemos entender que nossa
oração está fora da vontade de Deus. Ele pode nos responder de uma maneira dife-
rente ou em um tempo diferente do que esperávamos:

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os


vossos caminhos são os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque, assim
como o céu é mais alto do que a terra, os meus caminhos são mais altos
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos que os vossos
pensamentos.” (Is 55.8-9)

33
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

O LADO DIVINO E HUMANO DA ORAÇÃO EFICAZ

•O lado divino da oração eficaz:


É a obra de Jesus na cruz e seu poder sendo liberado através de nós. Isso é possível
apenas pela graça que recebemos de Deus em nosso favor. Ela contribui para que,
através da oração, entremos em concordância com Deus em obediência e perseve-
rança e possamos experimentar mais daquilo que é oferecido gratuitamente a nós
por Jesus. O Senhor não irá nos amar mais se vivermos em maior concordância com
ele, pois já nos ama com todo o seu coração. Entretanto, a revelação da sua graça
nos impulsionará a ser mais usados por ele e mais capacitados a experimentar uma
medida maior de bençãos em nossas vidas.

•O lado humano da oração eficaz:


Ocorre quando concordamos com Deus, vivemos e oramos de acordo com a sua von-
tade, seu coração e suas prioridades. À medida que oramos com fé, também oramos
concordando com a autoridade de Deus e com a obra de Jesus na cruz. Consequen-
temente, vivemos de maneira justa, testemunhando o caráter dele ao mundo.
É possível concluir, portanto, que a oração eficaz é a oração fervorosa que está em
concordância com a vontade de Deus e oferecida em fé, no contexto de desenvolvi-
mento de relacionamentos fortes e sadios em Cristo, e em obediência à sua Palavra.

CARACTERÍSTICAS DA ORAÇÃO EFICAZ

•Fé (Mt 21.21,22; Mc 11.23,24; 1 Jo 5.15);


•Relacionamentos corretos, incluindo maridos honrando suas esposas (1 Pe
3.7);
•Uma vida justa e santa (Sl 66.18; Is 59.2; 1 Jo 3.19-22);
•Fervor e persistência (Is 30.18,19; 62.6,7; Mt 7.7-11; Lc 11.5-13; 18.1-8; Tg 5.17);
•Concordância com a Palavra de Deus (1 Jo 5.14,15);
•Feita em nome de Jesus (Jo 14.13,14, 26; 16.23,24);
•Motivação pura (Tg 4.2,3);
•Coragem (Hb 4.16);
•Perdão (Mt 5.23,24; 6.15);
•Feita em concordância e unidade (Mt 18.19,20).

34
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

NOSSAS ORAÇÕES PERMANECEM


EFICAZES PARA SEMPRE

De fato, nossas orações realizam muitas coisas nessa era, mas a plenitude da res-
posta de cada uma se dará apenas na era vindoura. Todas as orações feitas segundo
a vontade de Deus, durante a história, estão sendo armazenadas em taças de ouro,
junto ao trono de Deus. E, no dia em que as taças estiverem “cheias” das orações
dos santos, todas as respostas serão derramadas sobre a terra. Veja o que o apóstolo
João descreve em Apocalipse:

“Logo que pegou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro


anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma
harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos san-
tos.” (Ap 5.8)

“Veio outro anjo e colocou-se junto ao altar, segurando um incensário de


ouro; foi-lhe dado muito incenso para que ele o oferecesse sobre o altar de
ouro que está diante do trono, juntamente com as orações de todos os
santos.” (Ap 8.3)

O Senhor nunca se esquecerá do amor que demonstramos por ele quando minis-
tramos em favor de outros no lugar de oração ou quando realizamos outros atos de
serviço. Ele considera “injustiça” esquecer-se de qualquer coisa que fazemos por
amor a ele, por menor que seja. Isso precisa nos motivar a perseverar em oração,
pois mesmo nossas orações mais “fracas” nunca serão esquecidas por Deus, veja:

“Porque Deus não é injusto para se esquecer do vosso trabalho e do amor


que mostrastes para com o seu nome, pois servistes os santos, e ainda os
servis.” (Hb 6.10)

Nossas orações “vivem” (ou permanecem) para sempre no coração de Deus. Mes-
mo as orações de milhares de anos atrás continuam eficazes na presença de Deus.
As orações que oferecemos hoje continuarão eficazes num futuro distante, nas
próximas centenas ou milhares de anos.
Igualmente, as orações por avivamento e justiça, por exemplo, não “morreram”
quando foram parcialmente respondidas nos avivamentos na história passada. Elas
tiveram um resultado parcial e significativo em cada geração, mas terão um resulta-
do muito maior e mais completo no futuro, na era por vir.

35
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Existe uma relação muito íntima entre


o que oramos e fazemos hoje e o que
acontecerá na era vindoura.

36
Aula 4
v.1.0.0

PERMANECENDO
EM CRISTO
O chamado para a união com Deus
Estamos nos encaminhando para a metade desta disciplina e, até agora, já estudamos
a respeito de a oração ser o chamado sublime de todo cristão, além de tratar-se de um
convite à comunhão da Trindade. Por fim, vimos que nossas orações, quando feitas
a partir desse lugar de parceria com a vontade de Deus, tornam-se muito eficazes.
Nesta aula, abordaremos um dos principais aspectos da oração: a permanência em
Cristo durante a jornada do chamado à comunhão com Deus através da oração. O
trecho mais emblemático nas Escrituras sobre esse assunto está entre os capítulos
13 e 17 do evangelho de João. Nele, está registrada uma série de discursos proferi-
dos por Jesus.
É importante destacar que Jesus sabia que logo estaria sem vida e pendurado no
madeiro — o Rei seria crucificado. Em meio a tudo isso, gentilmente nos faz lem-
brar de que este é o único caminho que leva à verdadeira frutificação. E, acerca do

37
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

nosso relacionamento com Deus, o capítulo de João 15, especificamente, é um dos


pontos mais altos das Escrituras.
Em seu discurso, Jesus diz que ele é a videira (a fonte de vida) e nos compara aos
seus ramos (a expressão da sua vida). Ele nos exorta a dar frutos que permaneçam e
mostra que o único meio para que isto aconteça é permanecermos nele. Leia abaixo
suas palavras:

“Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. (...) Não fostes
vós que me escolhestes; pelo contrário, eu vos escolhi e vos designei a ir
e dar fruto, e fruto que permaneça, a fim de que o Pai vos conceda tudo
quanto lhe pedirdes em meu nome.” (Jo 15. 5,16)

Fica evidente que Jesus nos escolheu para dar frutos que permaneçam para sempre.
No entanto, esta é uma realidade muito gloriosa para pessoas fracas e quebradas
como nós. Somente pela atividade do Espírito Santo em nós e através de nós pode-
mos dar frutos, que serão para sempre estimados pelo Senhor.
Deus se lembrará de tudo o que, em amor e obediência, fizemos em nossa busca
por comunhão com ele. Seu desejo é estar profundamente envolvido conosco. Nes-
se sentido, Mike Bickle declarou em seu livro “Crescendo em Oração” que: “os
galardões eternos são o modo de Jesus expressar como se sente a respeito do nosso
amor por Ele nesta era.”1
Em outras palavras, não estamos lidando com algo marginal ou opcional. Se não
estivermos unidos à videira para que a vida de Cristo flua para dentro de nós, então,
nossas palavras, nosso amor e nossa alegria serão totalmente estéreis. Nada de valor
eterno partirá de nós. E os frutos revelam se temos realmente uma vida de oração
que flui do lugar de intimidade com o Senhor, pois, se somos estéreis, é porque não
temos acesso à fonte de vida, que é o próprio Senhor.

Mas o que significa, na prática, dar frutos e permanecer em Cristo?


Pela graça de Deus, frutificamos interiormente em nosso caráter e exteriormente
em nosso ministério e serviço ao próximo. Frutificar inclui expressar amor, humil-
dade, pureza e inspirar outros a fazerem o mesmo. Nossa permanência prova se o
apego à videira é verdadeiro e se existe fluxo de vida em nós, ou se é meramente
algo artificial e externo.

BICKLE, Mike. Crescendo em Oração. Curitiba. Ed. Orvalho, 2018. p. 65.

38
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Portanto, permanecer e frutificar nos confirma como discípulos de Cristo. O con-


trário também é verdade, como Jesus deixa claro no livro de João:

“Quem não permanece em mim é jogado fora e seca, à semelhança do


ramo. Esses ramos são recolhidos, jogados no fogo e queimados.” (Jo 15.6)

Em suma, o significado essencial de nossa permanência ativa é o ato de receber e


confiar em tudo o que Deus é para nós em Cristo. Se um ramo permanece ligado à
videira, de tal forma que recebe tudo o que ela tem para dar, este se tornará seme-
lhante a ela. Acreditar é confiar em Jesus, permanecer em comunhão e conectar-se
com ele, para que tudo o que Deus é flua como uma seiva que nos trará vida e nos
transformará à sua imagem:

“Mas a todos que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes a
prerrogativa de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12)

E o que significa não permanecer em Cristo?


De acordo com o dicionário, a palavra permanecer significa aceitar e agir de acordo
com uma regra, decisão ou recomendação. Os sinônimos incluem obedecer, obser-
var, seguir, defender e prestar atenção. Esta definição não está longe do que Jesus
nos diz para fazer em João, no capítulo 15. Contudo, antes que chegue ao verdadei-
ro significado, ele nos dá uma imagem daquele que não permanece nele:

“Quem não permanece em mim é jogado fora e seca, à semelhança do


ramo. Esses ramos são recolhidos, jogados no fogo e queimados.” (Jo 15.6)

Jesus explica que, por não permanecermos nele, somos como plantas secas mise-
ráveis, que em breve cairão da videira — ou seja, cujas raízes por onde se recebe
nutrição nunca foram verdadeiramente plantadas. O fruto da videira é a prova da
nossa fé e não a perfeição, mesmo que o fruto seja apenas um pequeno botão.

Curiosidade: podemos perder a nossa salvação?


Podemos nascer de Deus (nascido de novo e unido a Cristo) e perder a nossa salva-
ção? Não! Por dois motivos isso não pode acontecer:

1. Ninguém pode ser arrancado das mãos do Pai:

“Dou-lhes a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrancará


da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; e
ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai.” (Jo 10.28-29)

39
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Em outras palavras, Jesus está dizendo: “Quando escolho alguém para mim, ele
ouve a minha voz e eu o considero minha ovelha e meu filho, isso nunca irá mudar”.

2. Pessoas que se afastam do Corpo revelam que


nunca estiveram conectadas:

Esse segundo motivo é a resposta para o que acontece com os ramos quebrados. O
seguinte texto pode ser interpretado como sendo uma descrição da igreja:

“Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos, pois se fossem dos
nossos teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram, para que se
manifestasse que não são dos nossos.” (1Jo 2.19)

Portanto, João nos fornece base para entender o apego superficial e externo a Jesus,
que não é um apego salvador. Isso pode resultar em uma vida infrutífera e vazia,
na qual não há seiva e os ramos são quebrados. Assim, pessoas que se afastam do
Corpo de Cristo provam que nunca estiveram, de fato, “conectadas” a ele.

A PRINCIPAL ATIVIDADE DO CRISTÃO:


PERMANECER EM CRISTO

Esta condição de permanecer significa muito mais do que apenas um sentimen-


to ou nomenclatura. “Permanecer em Jesus” significa ter sua natureza e defender
tudo o que ele defende — sua justiça, verdade, santidade e zelo. Significa ser um
com Deus assim como Jesus é — um em espírito, em vontade e em propósito.
Além disso, significa que habitamos nele e que Cristo ora através de nós, vive em
nós e brilha a partir de nós. E, também, que oramos pelo Espírito Santo de acordo
com a vontade de Deus. Finalmente, significa guardar seus mandamentos, confor-
me está escrito em Mateus 22.37-39.
Mas talvez você se questione como isso acontecerá. E há uma boa notícia se este
pensamento tem sido recorrente em sua mente: nós amamos Jesus porque ele nos
amou primeiro (1Jo 4.19). Não fomos nós que o escolhemos, ele nos escolheu. E
fomos escolhidos para a obediência, por isso, fora de Cristo nada podemos fazer.
Esta é a boa notícia para os cansados (que pensam que devem reunir forças para
buscar e conhecer a Cristo): ele fornece a graça e a força de que precisamos. Os fru-
tos são simplesmente evidências e consequências do relacionamento com Cristo,
que foi iniciado por ele mesmo, através de seu amor soberano.

40
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Em João, no capítulo 15, Jesus deixa claro o princípio de que o amor está atrelado
à obediência:

“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.” (Jo 15.13)

Portanto, Jesus chama de amigos aqueles que obedecem a ele. Logo, nossa obedi-
ência confirma a habitação dele em nós e também o nosso coração transformado. A
oferta para ser amigo de Jesus (o autor e consumidor da nossa fé, o Alfa e o Ômega,
que levou nossos pecados e transgressões) é irresistível para o cristão.

“E estou certo disto: aquele que começou a boa obra em vós irá aperfeiço-
á-la até o dia de Cristo Jesus.” (Fp 1.6)

“Quem vos chamou é fiel, e ele também o fará.” (1 Ts 5.24)

Essa união transformadora com Deus carrega em si dois importantes e essenciais


elementos: nós permanecemos em Cristo, e Cristo permanece em nós:

1. Nós Permanecemos em Cristo

A principal atividade do cristão é permanecer em Cristo. Isso envolve três coisas:


falar com Jesus, aplicar suas promessas e obedecer à sua liderança. Ou seja, significa
permanecer buscando Cristo como a nossa fonte de vida e liderança.
Vamos analisar melhor cada um desses aspectos da jornada de “Permanecer em
Cristo”:
a) Falar com Jesus: a vida cristã é um diálogo contínuo com uma pessoa real.
Ele tem muito a dizer, mas nos permite ditar o ritmo da conversa. Enquanto
mantivermos o diálogo ele continuará nos ouvindo e falando ao nosso coração.
b) Aplicar suas promessas: tomar posse das promessas da sua Palavra e apli-
cá-las em nossa vida nos dá poder para frutificar. Muitas vezes a vergonha, o
medo e a rejeição se levantam para desafiar aquilo que ele diz para nós sobre
seu amor, perdão, cura e provisão. Mas devemos resistir às mentiras confes-
sando a verdade da Palavra de Deus.
c) Obedecer à sua liderança: Jesus promete manifestar sua presença àqueles
que obedecem a ele. Desta forma, somente no contexto de amor e obediência
é que ele nos revelará as profundezas do seu coração. Por isso, devemos amar
a Deus nos seus termos — e a obediência é a expressão do nosso amor por
ele. Veja:

41
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Aquele que tem os meus mandamentos e a eles obedece, esse é o que me


ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me
manifestarei a ele. (...) Jesus lhe respondeu: Se alguém me amar, obede-
cerá à minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele
morada.” (Jo 14.21,23)

Nossa capacidade espiritual de sentir e experimentar o amor de Deus aumenta na


medida em que o obedecemos. Não conquistamos o amor de Deus ou suas bênçãos
por meio de nossa obediência, contudo, através da obediência nos posicionamos
para receber, expressar e experimentar mais de sua graça.

“Bem-aventurados os limpos de coração, pois verão a Deus.” (Mt 5.8)

Em João 15, Jesus é muito específico sobre o que está fluindo entre a videira e o
ramo — suas palavras, seu amor e sua alegria. Permanecer na videira significa: re-
ceber e confiar nas palavras de Jesus, receber o amor Dele pelo Pai e por seu povo e
também a alegria que ele tem no Pai e em nós.

2. Cristo permanece em nós

Cristo vive (permanece) em nosso espírito instantaneamente, no momento do novo


nascimento. Mas isso também é algo progressivo, que acontece à medida em que
ele manifesta sua presença em nosso coração, renovando nossa mente e emoções.
Paulo falou sobre Jesus “habitar em nosso coração”, permanecendo em nós através de
sua presença manifesta e também declarou que Cristo está sendo formado em nós:

“E que Cristo habite pela fé em vosso coração(...)” (Ef 3.17)

“Meus filhos, por quem sofro de novo dores de parto, até que Cristo seja
formado em vós.” (Gl 4.19)

Sendo assim, o próprio Espírito Santo em nós testemunha sobre o coração, a Pala-
vra e a vontade de Jesus. Ele mesmo nos inspira com coragem para permanecermos
buscando diligentemente a Deus, renova nossa mente e emoções e nos confere
poder para vivermos em amor obediente.
Veja a promessa de Jesus — de que o Espírito Santo fluirá como um rio de nossos
corações para trazer direção, inspiração e transformação — no versículo abaixo:

42
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Como diz a Escritura, rios de água viva correrão do interior de quem


crê em mim.” (Jo 7.38)

Nossa posição legal diante de Deus é baseada em nossa justificação gratuita pela
obra de Cristo — nos tornamos justiça de Deus em Jesus. Portanto, nossa condição
de vida (nosso comportamento) é baseada na nossa resposta à liderança do Espírito
Santo (Jo 15.5). E uma forma muito prática de aprofundar nosso relacionamento
com Deus e permanecer em Cristo é conversar com Jesus lendo e orando a Palavra.

CONVERSANDO COM JESUS:


LENDO E ORANDO A PALAVRA

Falar com Deus é a atividade central para permanecermos em Cristo. E, para di-
rigir nossos diálogos com Ele, precisamos da Palavra. Pois as Escrituras nos dão
“material de conversa” para sustentar nossa vida de oração. Este hábito consiste
em simplesmente, à medida que lemos, falarmos as verdades da Palavra de Deus de
volta para ele. Isso torna a oração prazerosa.

“Preparai vossas palavras e voltai para o SENHOR; dizei-lhe: Tira


toda a maldade e aceita o que é bom; e ofereceremos os sacrifícios dos
nossos lábios como novilhos.” (Os 14.2)

Na Bíblia existem dois tipos de passagens relacionadas a essa atividade:

1. Passagens com ênfases em promessas que devemos


crer

Essas são passagens que declaram verdades, como o amor de Deus, seu perdão,
liderança, proteção, provisão, etc. Enquanto lemos a Palavra, oramos de volta para
Deus as promessas que ele nos fez, como por exemplo:

“Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu


amor.” (Jo 15.9)

Em primeiro lugar, agradecemos a Deus por essa verdade em particular. Em segui-


da, basta transformá-la em uma simples, confiante e poderosa declaração de ação
de graça.

43
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Apenas diga:
— “Obrigado, Jesus, porque tu me amas assim como o Pai o ama, obrigado
por teres me perdoado”.
Ou declare:
— “Jesus, confio que tu vai me liderar, prover e proteger”.
Depois, pedimos a Deus para liberar e revelar mais dessa verdade para nós, como
por exemplo:
— “Jesus, revela o tamanho do seu amor por mim, revela mais a respeito do
seu perdão e da certeza da tua provisão”.

2. Passagens com ênfase em exortações para obedecer


à Palavra de Deus

Essas são passagens que nos encorajam a andar em pureza, frear nossas palavras,
servir ao próximo, ofertar nosso tempo e dinheiro para Deus, etc. Enquanto lemos
a Palavra, oramos de volta para Deus as exortações a que devemos obedecer, como
por exemplo:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,


tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.”
(Jo 14.21)

Em primeiro lugar, nos comprometemos a obedecer a Deus nas maneiras específi-


cas mostradas pela passagem bíblica. Faça declarações a respeito de sua decisão de
obedecer à Palavra, enquanto lê passagens sobre obediência.
Declare:
— “Eu posiciono meu coração para permanecer em ti com as minhas pala-
vras, tempo, dinheiro, etc.”
Depois, pedimos a Deus que nos invista de poder para obedecer a essa verdade
particular da Escritura. Peça a Deus ajuda, para que ele lhe dê sabedoria, motivação
e poder para obedecer em áreas específicas.
Ore:
— “Pai, ajuda-me a permanecer em ti e controlar as minhas palavras. Ajuda-
-me a usar meu tempo e dinheiro em obediência a ti.

44
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

E também:
— “Senhor, fortalece-me para te amar assim como Paulo te amou.”
Ler e orar a Palavra não são meios de conquistar o amor de Deus, mas podem nos
posicionar para onde receberemos mais desse amor.

COMUNHÃO COM O ESPÍRITO SANTO

Na oração, podemos focar as nossas mentes no Espírito Santo de Deus que habita
em nós (Rm 8.9). A comunhão com o Espírito Santo é destacada diversas vezes nas
saudações das cartas Paulinas:

“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do


Espírito Santo sejam com todos vós.” (2 Co 13.13)

Essa comunhão inclui ouvir e falar. O Espírito Santo não irá nos forçar a conversar,
mas, uma vez que dermos início à conversa, ele irá nos responder. Sua resposta
pode vir de várias maneiras. Elias, por exemplo, ouviu o Senhor através de uma voz
mansa e suave, observe:

“E Deus lhe disse: Vem para fora e sobe o monte diante do Senhor. Então
o Senhor passou, e um grande e forte vento separava os montes e des-
pedaçava os penhascos diante do Senhor; mas o Senhor não estava no
vento. Depois do vento veio um terremoto; mas o Senhor não estava no
terremoto. E depois do terremoto veio o fogo; mas o Senhor não estava
no fogo. E depois do fogo veio uma voz mansa e suave. Ao ouvi-la, Elias
cobriu o rosto com a capa e, saindo, ficou à entrada da caverna. E veio
uma voz que dizia: Elias, que fazes aqui?” (1Rs 19.11-13)

A realidade central do novo nascimento é que o Espírito Santo passa a habitar em


nós como uma pessoa real. O Santo dos Santos está agora no nosso espírito, e vida
flui do nosso interior. Veja:

“Mas, quem se une ao Senhor é um espírito com ele.” (1 Co 6.17)

“Como diz a Escritura, rios de água viva correrão do interior de quem


crê em mim.” (Jo 7.38)

45
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Iremos andar no Espírito somente à medida em que nos comunicarmos com ele.
É impossível obedecer ou andarmos no Espírito se não falamos com ele. A única
maneira de vencer nossos desejos carnais é dialogando com o Espírito Santo. Essa
é a mesma verdade de permanecer em Cristo.

“Mas eu afirmo: Andai pelo Espírito e nunca satisfareis os desejos da


carne.” (Gl 5.16)

Precisamos pedir com frequência ao Espírito para vermos o que ele vê e sentirmos
o que ele sente, a respeito de nós mesmos e de tudo o que nos cerca. Nesse sentido,
Tim Keller declara que: “Nossa vida de oração é o momento em que devemos exami-
nar nossa vida e encontrar os pecados aos quais, não fosse esse exame, permanecería-
mos insensíveis ou estaríamos ocupados demais para reconhecer.”2
Ao falar com ele, devemos ter tempo e fazê-lo sem pressa. Além disso, é interessan-
te falarmos devagar, de maneira suave, e usarmos frases curtas e simples. Larry Lea
exorta-nos no livro “Nem Uma Hora”: “Tenhamos cuidado para não nos limitarmos
a fazer uma oraçãozinha rápida apenas, mas permanecermos em intercessão até que o
Espírito Santo nos libere”.3
É importante também que, ocasionalmente, sussurremos com afeição as afirma-
ções do nosso amor por ele enquanto oramos gentilmente. Peça ao Espírito Santo
para liberar revelação da dimensão da glória de Deus e do seu coração e para forta-
lecer sua mente e emoções com seu poder. Peça-lhe que o ensine sobre a Palavra
de Deus, sua vontade e caminhos, dando-lhe sabedoria e ideias criativas para cada
área de sua vida. Peça-lhe que direcione e ordene os seus passos.

“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o
espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.17)

“Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu


nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que
eu vos tenho dito.” (Jo 14.26)

2. KELLER, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo. Ed.Vida Nova,
2016, p. 251.
3. LEA, Larry. Nem Uma Hora? Como reencontrar o gozo e a alegria de um contato vivo com
Deus na oração. Curitiba. Ed Betânia, 1989, p. 84-85.

46
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

A GLÓRIA DE DEUS

Finalmente, o objetivo de permanecer em Cristo é glorificar a Deus:

“Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus
discípulos.” (Jo 15.8)

Todo o desígnio de não sermos a videira, mas sermos ramos totalmente dependen-
tes — e enxertados na videira — é para a glória de Deus. Todo o projeto de depen-
der de um agricultor para gerenciar a forma externa da estrutura da videira e dos
ramos (nós) é para que Deus tenha a glória de fazer tudo isso.
O objetivo é, dia após dia, receber, descansar, confiar e desfrutar da palavra de
Cristo, do seu amor e da sua alegria, enquanto nos submetemos às misericordiosas
providências de Deus.

47
Aula 5
v.1.0.0

FERRAMENTAS
PARA CRESCER
EM ORAÇÃO
Introdução
À medida que vamos chegando à conclusão do estudo sobre “Como Construir uma
Vida de Oração”, adquirimos mais convicção da centralidade da oração na vida do
cristão. Paulo diz, em 1 Tessalonicenses 5.17, que devemos orar “sem cessar”. Esse
tipo de oração espontânea e constante ao longo do dia deve ser um hábito do cora-
ção. Contudo, jamais iremos desenvolvê-lo se não adotarmos a disciplina da oração
regular e diária, sendo esse o tema desta quinta aula.
A oração diária é uma prática bíblica que ocorre desde o princípio da história e é en-
contrada em toda a Escritura. No Éden, Deus se encontrava diariamente com o ho-
mem ao entardecer (Gn 3.8). O profeta Daniel ajoelhava-se e orava três vezes por dia.
Ele foi fiel a tal disciplina mesmo recebendo ordens do rei para não orar a nenhum
deus ou rei por trinta dias, sob a pena de ser lançado na cova dos leões (Dn 6.10).

48
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

A vida de Daniel é um dos melhores exemplos de fidelidade e perseverança na


oração. Daniel não se esqueceu do Deus de seus pais, mesmo em uma terra estran-
geira, distante da casa de Deus e de seus cultos religiosos. Ele foi um exemplo mar-
cante de um jovem que buscou decisivamente o Senhor mesmo quando o ambiente
e as circunstâncias não lhe eram favoráveis.
Assim como Daniel, todos os homens de Deus, em um momento ou outro de suas
vidas, sofrem dificuldades. No entanto, elas geralmente são precursoras de grandes
triunfos. Qualquer que seja o motivo de suas necessidades — não importando o
grau, a fonte ou a sua natureza — a solução está sempre no lugar de oração.
Apesar disso, nem sempre recorremos à oração como fonte primária para sanar
nossas necessidades ou para encontrarmos prazer e deleite. Embora a prática da
oração diária seja bíblica e antiga, apenas recentemente houve um ressurgimento
dela. Tim Keller conta em seu livro que:

“(...) a prática de uma “hora silenciosa” única e diária foi considerada


obrigatória durante duas ou três gerações de estudantes universitários
cristãos. Nas décadas de 1930 e 1940, líderes evangélicos britânicos e
australianos produziram um pequeno livreto intitulado Quiet time: a
practical guide for daily devotions [Hora silenciosa: um guia prático
para devoções diárias]. (...) O livreto de 30 páginas viria a se tornar
um sucesso, vendendo um milhão de cópias, além de haver moldado e
influenciado no mínimo por 50 anos os livros e guias evangélicos que
surgiram depois dele.
Quiet time dedica boa parte de suas poucas páginas a insistir em que
a devoção diária é uma disciplina que requer um ato de vontade
bastante deliberado. Aconselha a encontrarmos um lugar tranquilo e
a acalmarmos nosso espírito com o pensamento de que o próprio Deus
busca um encontro conosco.”1

Fica evidente que os homens de oração da história estavam sempre em espírito


de oração, prontos para buscarem a Deus e se conectarem a ele pela oração. Ainda
hoje, Deus procura essas pessoas. O desafio lançado por Jesus aos discípulos ador-
mecidos ecoa até nós:

“Voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Vós


não pudestes vigiar comigo nem uma hora?” (Mt 26.40)

1. KELLER, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo. Ed.Vida Nova,
2016, p. 276.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

A PRÁTICA DA ORAÇÃO

Existe algo a mais no desenvolvimento de uma vida de oração do que apenas nosso
sentimento em relação a Deus. Questões práticas e bem simples nos ajudarão a
desenvolver a disciplina da oração. Há inúmeras dificuldades envolvidas nesse de-
senvolvimento; todavia, Deus promete nos sustentar e suprir nossas necessidades
nessa jornada, “segundo sua riqueza na glória em Cristo Jesus” (Fp 4.19).
Nesta aula, compartilharemos as seguintes ferramentas para ajudá-lo a crescer em
oração:
•Separe um horário diário em sua agenda e deixe-o reservado para oração: um
cronograma que estabeleça quando orar.
•Elabore uma lista de oração: essa ferramenta ajudará a ter clareza a respeito
do que orar.
•Semeie uma visão correta a respeito de quem Deus é: você terá desejo pelo
lugar de oração, pois é o lugar de encontro com Deus.

1. Separe um Horário para Oração

Nosso tempo é muito precioso e extremamente requisitado. Diariamente, infinitas


demandas surgem, disputando espaço em nossa agenda e da nossa atenção. Assim,
se não formos intencionais no desenvolvimento de uma vida de oração consistente,
nunca a desenvolveremos.
Se nós mesmos não definirmos nossos horários, outros farão isso por nós, e o resul-
tado será uma vida de oração virtualmente nula. Isso pode parecer simples, porém,
a definição de um horário regular vai impactar profundamente o desenvolvimento
da nossa vida de oração. Por isso, é importantíssimo definir e agendar, diariamente,
um tempo para tal atividade.
Isso não significa que nunca iremos falhar com o horário estabelecido. Nem sem-
pre vamos orar por todo o tempo pretendido, o que é normal de acontecer. Por
isso, pode ser necessário ajustar sua agenda de oração algumas vezes para mantê-la
funcionando. No entanto, devemos tratar nosso tempo de oração como um com-
promisso com o próprio Deus, ou seja, não podemos perdê-lo.
Além disso, a vida de oração não é limitada somente aos tempos de oração agenda-
dos. É possível orar durante os afazeres do dia a dia, e isto nos conecta a Cristo de
forma mais íntima e próxima. Não obstante, o tempo agendado para falar com Deus
posiciona nosso coração de forma muito mais consistente para manter um diálogo
permanente por mais tempo em nossa rotina.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Existem cento e sessenta e oito horas em cada semana. Se usarmos dez horas por
dia para dormir, comer e nos vestir (setenta horas semanais), isso nos deixa com
cerca de cem horas por semana para o trabalho e outras atividades. Com criativida-
de e perseverança, se realmente desejarmos, podemos encontrar uma hora ou mais
por dia para a oração.

2. Elabore uma Lista de Oração

A lista de oração é uma ferramenta simples que pode ajudar-nos a manter o foco du-
rante os momentos de oração. É comum, quando começamos a orar, ficarmos sem
“assunto” com Deus. Neste momento, as listas de oração vão enriquecer o diálogo
com o Senhor e nos ajudar a permanecer constantes. Isso não significa que seremos
reféns delas, ou que nossas orações serão “engessadas” e sem vida.
Pode acontecer que o Espírito Santo nos direcione a orar por outras coisas. Preci-
samos estar abertos e atentos a isso. Não há nada melhor que orar com a inspiração
e direção do Espírito. Não precisamos limitar as orações à nossa lista, mas usá-la
como um guia.
Veja abaixo alguns exemplos de listas de oração:
a) Vida pessoal: inclui nosso próprio coração, ministério e as circunstâncias
que nos cercam (físicas, financeiras e relacionais).
b) Pessoas e lugares: uma lista de indivíduos (família e amigos), ministérios
e cidades por quem oramos regularmente. É importante orarmos por nossa
própria cidade e por nações em que há perseguição aos cristãos. As Escrituras
também nos exortam a orar especificamente por Israel e Jerusalém (Sl 122.6;
Is 62.6). Devemos também orar pelas pessoas que exercem autoridade sobre
nossa cidade e nação (1 Tim 2.2).
c) Questões de justiça: esse é um tema abrangente que inclui questões relati-
vas ao governo e à sociedade, tais como o fim do aborto, do tráfico humano e
dos sistemas desleais de educação. Podemos incluir situações relacionadas à
injustiça econômica, agitação civil (terrorismo, motins, etc.), catástrofes na-
turais (furacões, tsunamis, terremotos, secas), surtos de doenças e pandemias
(Covid, etc.), crises sociais (fome, genocídio), e muito mais.

Legalismo x Liberdade no Espírito


Há quem diga que é legalismo a prática de agendar tempo para oração ou de usar
uma lista de oração. Porém, seria legalismo se elas fossem feitas como meios para
buscar aprovação ou merecimento do amor de Deus. A boa notícia do evangelho é
que não podemos merecê-lo, pois Deus oferece seu amor e graça livremente.

51
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

No entanto, essas ferramentas proporcionam consistência na oração (falar com o


Senhor regularmente, com foco e disciplina). Assim, elas vêm para o nosso bene-
fício, uma vez que nos posicionam diante de Deus mais vezes, tornando possível
que experimentemos mais da sua graça em nossa vida a partir do lugar de oração.
Separar horários regulares para a oração não é uma tentativa de ganhar o amor de
Deus, mas sim um reflexo do nosso desejo de assumir o controle de nossas agendas
e fazer com que a oração seja uma prioridade em nossas vidas. Não devemos cair na
velha mentira de que é “legalismo” qualquer forma de disciplina. Tal mentira tem
roubado muitas bênçãos que existem na vida de oração perseverante.
O que Jesus nos oferece em sua graça e aquilo que realmente experimentamos são,
muitas vezes, duas coisas diferentes. Ter liberdade na graça de Deus não significa ser
passivo e não ter posicionamento. Veja o que o apóstolo Paulo fala a esse respeito:

“Irmãos, fostes chamados para a liberdade. Mas não useis da liberdade


como pretexto para a carne” (Gl 5.13)

Tempo separado para Deus é uma expressão tanto de amor por ele como de fome
por mais dele. Não é uma tentativa de ganhar o amor daquele que dá seu amor li-
vremente e em abundância.

3. Semeie uma Visão Correta sobre Deus

Praticar um entendimento correto sobre Deus é um aspecto essencial do cresci-


mento em oração. A. W. Tozer, um consagrado teólogo e escritor cristão, iniciou
uma de suas principais obras questionando acerca do porquê devemos pensar cor-
retamente sobre Deus. Sua resposta é uma célebre frase cristã: “Aquilo que nos
vem à mente quando pensamos em Deus é a coisa mais importante a respeito de nós
mesmos”.2
Muitos crentes têm uma visão errada sobre Deus e vivem sob o engano de que ele é
um ser irado que nos obriga a orar e suportar esse tempo para que possamos provar
a ele a nossa devoção. Mas Deus é um Pai amoroso, que ama seus filhos com graça
e fidelidade, e Jesus é um Rei-Noivo apaixonado por sua noiva, a Igreja.
Conforme compreendemos e cultivamos essa verdade bíblica, somos cada vez mais
atraídos para buscar a Deus e experimentar novo deleite em nosso relacionamento
com ele. A vida de oração torna-se muito diferente quando chegamos a Deus com

2. TOZER, A. W. O Conhecimento do Santo. São Paulo. Ed.Impacto, 2018, p. 11.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

a certeza de que ele se agrada de nós. É agradável falar com alguém que realmente
gosta de você! Crescemos em nossa paixão por Deus quando entendemos sua pai-
xão por nós.
O encontro com o coração paterno de Deus é fundamental para crescermos em
oração. Jesus orou para que seu povo soubesse que o Pai os ama com o mesmo amor
que ele ama o próprio Jesus. Veja:

“A fim de que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, assim


como me amaste.” (Jo 17.23)

“Porque não recebestes um espírito de escravidão para vos reconduzir ao


temor, mas o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!” (Rm 8.15)

Abba, em hebraico, é um termo carinhoso para pai, muito parecido com o “papai”
em nossa cultura. É uma forma de chamar pelo pai que indica respeito, mas de
forma carinhosa e íntima. A compreensão de Deus como “Abba” e o conhecimento
de nossa identidade como seus filhos nos permite rejeitar as acusações de Satanás,
que aponta nossas falhas e nos diz para não termos esperança.
Esta verdade, a de que o Deus Abba tem prazer em nós, mesmo com nossas imper-
feições, nos dá confiança no lugar de oração. Como seus filhos e filhas, podemos
chegar ao seu trono com confiança, sem vergonha ou hesitação. Leia o que o autor
de Hebreus diz nesse sentido:

“Portanto, irmãos, tendo coragem para entrar no lugar santíssimo por


meio do sangue de Jesus, pelo novo e vivo acesso que ele nos abriu atra-
vés do véu, isto é, do seu corpo. Tendo um grande sacerdote sobre a casa
de Deus, aproximemo-nos com coração sincero, com a plena certeza da
fé, com o coração purificado da má consciência e tendo o corpo lavado
com água limpa. Sem vacilar, mantenhamos inabalável a confissão da
nossa esperança, pois quem fez a promessa é fiel.” (Hb 10.19-23)

Mike Bickle declara que: “Como noiva de Cristo, somos posicionados a experimentar
o coração de Deus.”3 Jesus é um Rei com poder e um Noivo com amor por seu povo.
Ele deseja compartilhar conosco seu coração, sua casa, seu trono, seus segredos e
sua beleza.

3. BICKLE, Mike. Crescendo em Oração. Curitiba. Ed. Orvalho, 2018, p. 80.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Podemos confiar no amor de Deus, sabendo que ele tem prazer em se relacionar
com seu povo, assim como um noivo tem prazer em sua noiva. Veja como o Senhor
se refere a ele mesmo e ao seu povo nesta passagem:

“Nunca mais te chamarão Desamparada, nem a tua terra se denomina-


rá Desolada; mas te chamarão Hefzibá, e à tua terra, Beulá, porque o
Senhor se agrada de ti; e a tua terra se casará. Pois, como um jovem se
casa com uma moça, assim teus filhos se casarão contigo; e, como o noivo
se alegra da noiva, assim o teu Deus se alegrará de ti.” (Is 62.4-5)

Portanto, conforme estudamos até aqui, Deus ordena para que nos aproximemos
dele em oração. Por isso, à medida que compreendemos a verdade a respeito de
quem ele é — Pai amoroso e apaixonado, Noivo que deseja se aproximar de nós
— gastamos muito mais tempo em oração.

ORAÇÃO: A ATIVIDADE MAIS IMPORTANTE


DE NOSSAS VIDAS

Geralmente, acreditamos que estamos muito atarefados e sem tempo para orar.
No entanto, é muito perigoso vivermos no ritmo atual (extremamente acelerado)
enquanto estamos espiritualmente vazios. Por tal motivo, o desejo do Senhor é que
todos os seus filhos, independentemente de suas ocupações (engenheiros, den-
tistas, psicólogos, esportistas, contadores, professores, pais, etc.), priorizem uma
vida de oração profunda e verdadeira acima de todas as coisas.
Todas as nossas atividades dependem de uma vida de oração consistente e efi-
caz. Contudo, há quem tema desenvolver sua vida de oração por pensar que irá
“perder tempo” nessa atividade, quando, na verdade, não há forma mais eficiente
de investir nosso tempo do que no lugar de comunhão com o Senhor.
Pessoas que oram regularmente amarão mais suas famílias, amigos e ao próximo.
Seus corações estarão cheios do amor de Deus, e o tráfego de suas emoções nega-
tivas diminuirá, permitindo-lhes amar de forma mais profunda e consistente. Toda-
via, para termos relacionamentos de qualidade, é preciso dedicarmos tempo para
estarmos com Deus e conectarmo-nos intimamente com Ele.
Não temos — em nós mesmos — os recursos emocionais necessários para nos
relacionarmos bem com outras pessoas, mas eles estão disponíveis e acessíveis em
Deus. Quando nos falta tempo de qualidade com Deus, nossa busca por relaciona-
mentos profundos com as pessoas, quase sempre, resulta em decepção, frustração

54
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

e um sentimento de solidão. E isso acontece, até mesmo, se nossa vida social esti-
ver agitada e requisitada, pois precisamos ser nutridos, originalmente, em Deus e
em suas palavras.
Frequentemente nos esquecemos de que, ao orar, entramos diante da maior das
autoridades, daquele que se assenta no Trono do Universo, que está acima de todos
os tronos. Sendo assim, a oração é, sem dúvidas, a maneira mais eficaz de investir
o nosso tempo.
Portanto, se praticarmos os três passos práticos apresentados nesta aula (separar
um horário para oração; elaborar uma lista de oração; e semear uma visão correta
sobre Deus), descobriremos que não vamos apenas crescer em oração, mas tam-
bém em amor a Deus e ao próximo. Acerca disso, Mike Bickle declara em seu livro
“Crescendo em Oração”:

“A melhor coisa que maridos e esposas, pais e mães, podem fazer para o
casamento e a família é crescer em oração. O mesmo se aplica a pastores e
líderes consagrados a Deus no mercado de trabalho. Não é uma questão
de escolhermos o trabalho ou a oração; devemos nos envolver em ambos
com o equilíbrio apropriado e na ordem certa. Jesus é o nosso exemplo,
e ele não permitia que o seu ministério aos outros atrapalhasse a sua
vida de oração, nem permitia que sua vida de oração atrapalhasse o seu
ministério aos outros.”4

Observe o comportamento do próprio Jesus nas passagens abaixo:

“Mas ele se retirava para lugares desertos, e ali orava.” (Lc 5.16)

“E, depois de mandá-la para casa, foi ao monte orar.” (Mc 6.46)

“Naqueles dias, Jesus se retirou para um monte a fim de orar; e passou


a noite toda orando a Deus.” (Lc 6.12)

Fica evidente que Jesus valorizava e priorizava a oração. Mesmo depois de ministrar
por várias horas, pregando e curando enfermos, ele se retirava para lugares desertos
a fim de orar, ter comunhão com seu Pai e ser fortalecido. Se orar era tão importan-
te para Jesus, quanto mais importante deve ser para nós.

4. Id. Ibid., p. 82.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

PRIORIZANDO A ORAÇÃO

É perfeitamente possível investirmos tempo em oração e, ainda assim, permane-


cermos engajados em bons relacionamentos, sermos responsáveis com as deman-
das da vida pessoal, do trabalho, etc. Por isso, é um erro pensar que devemos prio-
rizar qualquer atividade em detrimento da oração. Pois a ideia de que, estamos
“perdendo tempo” quando oramos é nociva e enganosa.
A verdade é que a maioria de nós pode ser mais diligente com o uso do tempo. É
possível trocar aqueles momentos em que as horas são desperdiçadas em redes
sociais ou entretenimento leviano por oração. E, apesar de sermos assediados por
tantos estímulos ao nosso redor, precisamos criar um “espaço sagrado” para nos
encontrarmos com Deus em nossas rotinas.
Acerca da abertura desse “espaço sagrado” para a oração, Henri Nouwen, autor do
livro “Espaço para Deus”, escreve: “O desejo de solitude muitas vezes é o primeiro
sinal de oração, a primeira indicação de que a presença do Espírito de Deus não passa
mais despercebida.”5 Fique atento aos primeiros sinais — quando sua alma já não se
sente mais satisfeita com as trivialidades do dia a dia —, provavelmente trata-se de
fome por Deus crescendo em seu interior.
Apesar de muitas circunstâncias contribuírem para que fiquemos cada vez mais
preocupados e ocupados, como cristãos (que reconhecem a importância da oração),
devemos planejar nosso tempo. Se não fizermos isso, outras pessoas farão por nós,
e assim viveremos na tirania da urgência — respondendo a qualquer evento social,
necessidade ou crise que se apresente no momento.
Somos chamados a viver vidas que glorificam ao Senhor, e uma das principais for-
mas de respondermos a tal chamado é utilizarmos nosso tempo em favor da oração.
Viver debaixo da pressão de tomar decisões influenciadas pelo impulso do momen-
to é algo muito prejudicial. Podemos correr o risco de olhar para trás e constatar-
mos que muitas decisões e oportunidades que se apresentaram como urgentes, na
verdade, não estavam conectadas com nosso destino em Deus.
Precisamos aprender a administrar nosso tempo e a priorizar o que realmente im-
porta, ou seja, o nosso relacionamento com o Senhor. Esse é o princípio ensinado
por Jesus no sermão do monte. Veja:

“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão acrescentadas.” (Mt 6.33)

5. NOUWEN, Henri. Espaço para Deus: um convite para a vida espiritual. São Paulo. Ed. Impac-
to, 2019, p. 71,72.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Pare um instante sua leitura e peça ao Senhor para sondar seu coração. Na maioria
dos casos, seria prudente diminuir o ritmo e separar mais tempo na agenda para
falar com Deus. Eliminar atividades não essenciais é infinitamente melhor do que
diminuir nosso tempo de comunhão com o Senhor.
Peça ao Espírito para orientá-lo a encontrar a melhor maneira possível, em cada
estação de sua vida, de como gastar o seu tempo. Paulo exortou os crentes em Éfe-
so, que estavam dormindo espiritualmente, para que despertassem de sua letargia
espiritual e a sacudisse. Observe:

“Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te ilumi-


nará. Olhai, portanto, cuidadosamente como andais, não como néscios,
mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.” (Ef 5.15-16)

O apóstolo Paulo os desafiou a gastar o tempo com sabedoria, como uma maneira
de experimentar Cristo brilhando em seus corações. Em outras palavras, usar o
nosso tempo de maneira correta (priorizando a oração) nos faz experimentar a pre-
sença de Cristo em nossos corações, presença essa que por sua vez nos estimula a
orar mais.
Não “conquistamos” a presença de Deus, mas nos posicionamos no lugar em que
podemos experimentar mais dela. Você já pensou no fato de que o tempo é um re-
curso não renovável? Ou seja, assim que o gastamos, não podemos obtê-lo de volta.
Consequentemente, estabelecer tempo para a oração é uma maneira de remir o
nosso tempo.
O tempo pode “comprar” coisas eternas que duram para sempre. Ao ser questiona-
do por Marta em relação às muitas tarefas que Maria havia deixado de fazer porque
estava aos seus pés, Jesus a corrige e nos deixa um ensinamento precioso:

“E o Senhor lhe respondeu: Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada


com muitas coisas; mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa par-
te, e esta não lhe será tirada.” (Lc 10.41-42)

Portanto, Jesus deixa claro que priorizar o tempo com ele é sempre escolher a boa
parte. Por isso, temos de aprender a não ceder às pressões ao nosso redor e dizer
não, até mesmo para o que é bom e lícito, a fim de crescermos em oração e em
intimidade com o Senhor. Dessa forma, nossos corações serão despertados da pas-
sividade e sonolência desta era. E, finalmente, experimentaremos mais da “luz da
presença de Deus” em nosso interior.

57
Aula 6
v.1.0.0

FUNDAMENTOS
DA INTERCESSÃO
INTRODUÇÃO

Nas aulas anteriores, observamos que, apesar de a oração ser uma atividade que
requer uma aplicação prática — e, dependendo da maneira como é aplicada, tor-
nar-se mais ou menos eficaz — ela não é apenas uma atividade, tampouco somente
uma aplicação. Antes, a oração é um chamado sublime, é a vida que se encontra em
uma pessoa: Jesus.
O autor James Houston declara o mesmo em uma de suas obras: “O caminho da
oração é definido pelo próprio caráter e pela vida de Jesus. Ser como Cristo, que era
Deus vivendo como homem entre nós, torna-se o destino de nossa jornada em oração.”1

1. HOUSTON, James. A Oração: o caminho para quem busca a amizade com Deus. Brasília. Ed
Palavra, 2009, p. 163.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Quando as vendas de nossos olhos são retiradas e vemos Jesus em sua glória, nossa
atitude em relação à oração e à intercessão é completamente transformada. Orar,
interceder, colocar-se na brecha e fazer apelos não são mais, para nós, tarefas peno-
sas, mas uma de nossas maiores alegrias. O próprio Deus nos garante isso:

“eu os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha casa de ora-


ção; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar;
porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.”
(Is 56.7)

A principal razão para nossa oração tornar-se alegre e agradável é recebermos a


revelação de um Deus que constantemente se alegra em nós. Ora, se ele diz que
tem prazer em Jesus, e o próprio Jesus declara que o Pai nos ama com o mesmo
amor com que ama seu filho, então, o lugar de oração é o lugar de maior prazer que
alguém pode habitar. Leia:

“Depois de batizado, Jesus saiu logo da água. E viu o céu se abrir e o


Espírito de Deus descer como uma pomba, vindo sobre ele. E uma voz do
céu disse: Este é o meu Filho amado, de quem me agrado.” (Mt 3.16-17)

“a fim de que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, assim


como me amaste.” (Jo 17.23b)

Se nossa oração surge da convicção do amor e fidelidade de Deus a nós, — e, prin-


cipalmente, ao seu plano — certamente ele ouvirá. Deus fala conosco e move o
nosso coração, mas, quando nós falamos de volta, o seu próprio coração é movido
em nossa direção. Observe as palavras do próprio Jesus acerca disso:

“Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e a porta vos será aber-
ta. Pois todo o que pede recebe; quem busca acha; e, ao que bate, a porta
será aberta. Quem dentre vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma
pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vós, sendo maus,
sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está no
céu, dará boas coisas aos que lhe pedirem!” (Mt 7.7-11)

Dessa forma, Deus deseja que conheçamos o seu coração e sintamos as suas emo-
ções. Ele quer nos ouvir clamar pelos anseios do seu coração e ver que se tornaram
nossos próprios anseios. Essa é a verdadeira oração de intercessão. Esse é o cha-
mado para entrar em parceria com Deus, no nível mais íntimo possível, e há um
convite disponível para vivê-lo hoje.

59
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

No livro “Oração Incansável”, o autor Bob Sorge faz um paralelo entre o lugar de
intimidade e a intercessão dia e noite (24/7 — vinte e quatro horas por dia, sete
dias por semana). Leia a seguir:

“O atual movimento no Corpo de Cristo em direção a adoração e in-


tercessão 24/7 não é acidental ou incidental. É a resposta da Noiva à
pressão estratégica do Espírito Santo nesse momento final, enquanto
ele prepara a Terra para a volta de Cristo (...) À medida que os eleitos
aceitam o convite do Espírito para a oração dia e noite, os propósitos de
Deus são acelerados na Terra, e passamos a mover-nos muito mais ra-
pidamente em direção à consumação das eras. Essa é uma das formas
cruciais de cooperar com Deus para “apressar” a volta de Cristo para
a Terra (veja 2 Pe 3.12)”2

O MINISTÉRIO DE INTERCESSÃO EM JESUS

Para compreendermos a intercessão de maneira correta, precisamos primeiro en-


tender o ministério de Jesus como intercessor. A Palavra diz que ele é o sumo
sacerdote, que intercedeu por nós uma vez e que agora vive para sempre interce-
dendo em nosso favor. A respeito disso, leia o que é dito em Hebreus:

“Porque dele se dá este testemunho: Tu és sacerdote para sempre, se-
gundo a ordem de Melquisedeque (...) Este se tornou sacerdote com o
juramento daquele que lhe disse: O Senhor jurou e não mudará: Tu és
sacerdote para sempre (...) Mas ele tem um sacerdócio inalterável, porque
permanece para sempre. Portanto, também pode salvar perfeitamente os
que por meio dele se chegam a Deus, pois vive sempre para interceder por
eles.” (Hb 7.17, 21, 24-25)

Observe que o autor de Hebreus afirma a realidade de que há um homem à destra
de Deus que possui a capacidade de nos salvar completamente, e a sua salvação está
diretamente conectada à sua eterna intercessão. Sendo assim, o ministério de in-
tercessão de Jesus é o ponto de partida para a nossa intercessão e também o assunto
principal do livro de Hebreus, segundo as palavras do próprio autor:

2. SORGE, Bob. Oração Incansável. São Paulo. Ed.Impacto, 2018, p. 61.

60
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“O ponto principal do que estamos dizendo é este: Temos um sumo sa-


cerdote que se assentou à direita do trono da Majestade no céu,” (Hb 8.1)

Pense nisto: existe um tabernáculo no céu onde um Sumo Sacerdote vive eterna-
mente para interceder. Nosso objetivo nesta aula é considerar este homem como
nosso Intercessor, como aquele que nos trouxe a nós mesmo para nos unir a ele
neste ministério eterno chamado Intercessão.
Isso significa que o ministério intercessório de Jesus é o que nos garante segurança
em nossa jornada de fé. Leia o que Paulo fala em sua carta aos Romanos:

“Quem trará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus


quem os justifica; quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou,
pelo contrário, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita
de Deus e também intercede por nós.” (Rm 8.33-34)

Observe que o ministério eterno de intercessão de Jesus diz respeito à sua posição
de cordeiro que foi morto e ressuscitou — um sacrifício perpétuo diante de Deus,
que foi feito de uma vez por todas por nossos pecados. Dessa forma, Jesus é o nos-
so sumo sacerdote pelo fato de ter sido o cordeiro imolado e providenciado por
Deus desde antes da fundação do mundo.
Veja o que João Calvino comenta a respeito dessa passagem em Romanos:

“Não temos como medir esta intercessão pelo nosso critério carnal, pois
não podemos pensar do Intercessor como humilde suplicante diante do
Pai, com os joelhos curvados e com as mãos estendidas. Cristo, contudo,
com razão intercede por nós, visto que comparece continuamente diante
do Pai, como morto e ressurreto, que assume a posição de eterno Inter-
cessor, defendendo-nos com eficácia e vívida oração para reconciliar-nos
com o Pai e levá-lo a ouvir-nos com prontidão.”3

Jesus não está tentando convencer o Pai a fazer algo que ele não deseje ou queira.
Afinal, suas vontades não são divergentes. Antes, a vontade de Jesus é a vontade do
Pai. A. W. Tozer, escreveu o seguinte acerca disso:

“Quando o Filho de Deus caminhou sobre a Terra como Filho do Ho-


mem, ele falou com o Pai muitas vezes, e o Pai lhe respondeu; como Filho

3. CALVINO, João. Série Comentários Bíblicos Romanos (Edição do Kindle). São Paulo. Ed. Fiel,
2013, p. 352-353.

61
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

do Homem, ele agora intercede junto a Deus por seu povo. O diálogo en-
tre o Pai e o Filho que as Escrituras registram ocorreu entre o Pai Celes-
tial e o Homem Cristo Jesus. A comunhão imediata e instantânea entre
as Pessoas da Deidade, a qual existe desde a eternidade, não necessita de
som, esforço ou movimento.”4

Observe que a intercessão de Jesus pode ser contemplada em dois sentidos:


Sentido Amplo - diz respeito ao fato de Jesus ser o intercessor, o sumo sacerdote
e também o sacrifício perfeito. Ele é o próprio cordeiro que, desde a fundação do
mundo, havia sido providenciado para morrer em nosso favor. Esse é o sentido
amplo da intercessão que ele faz por nós.
Sentido Restrito - é a intercessão direta que Jesus faz ao Pai em nosso favor. Diz
respeito ao fato de que ele declara a vontade do Pai sobre nós, ou seja, ora e inter-
cede ao Pai em favor do nosso aperfeiçoamento e santidade.
Logo, Deus opera a partir desta premissa: que seu Filho ocupe uma posição central
no seu plano eterno. Pois somente através do sacrifício legal de Cristo (nosso subs-
tituto) é que podemos entrar em um relacionamento com o Pai. É apenas por meio
de Jesus que podemos participar dos privilégios que tal relacionamento oferece.
Por isso, oramos “no nome de Jesus” e nos aproximamos do Juiz do universo sobre
a base legal adequada, ou seja, por intermédio da obra consumada de Cristo. Por-
tanto, veremos a seguir alguns dos principais aspectos da verdadeira intercessão
para a qual somos chamados.

DEFININDO A INTERCESSÃO

Existem dois aspectos principais e distintos da intercessão, que abordaremos nesta


aula:
1. Intercessão é atuar entre duas partes visando reconciliar suas diferen-
ças: na cruz, Jesus reconciliou diferenças e atuou entre duas partes: o homem
pecador que odiava a Deus e o Deus santo e justo. Nossas injustiças nos afas-
tam de Deus, por isso, ele enviou o seu Filho como propiciação por nossos
pecados. Apesar de haver uma demanda contra nós, em Jesus o Pai solucio-
nou a problemática do pecado.

4. TOZER, A. W. O Conhecimento do Santo. São Paulo. Ed.Impacto, 2018, p. 49.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

2. Intercessão é o principal meio pelo qual Deus libera o seu poder e seus
recursos: a intercessão é muito mais profunda do que apenas a solução de
problemas; ela é o principal meio pelo qual o Senhor governa o universo.
Deus escolheu a intercessão como a maneira pela qual ele governa e libera
seu poder através de Jesus, em parceria com o seu povo.

INTERCESSÃO: A MANEIRA PELA QUAL DEUS


GOVERNA O UNIVERSO

Nós precisamos de revelação a respeito de dois aspectos que refletem por que a
intercessão é a principal forma de o Senhor governar o universo. São eles: a majes-
tade e o mistério da intercessão. Pois, apesar de ser algo muito simples, é extrema-
mente poderoso e requer entendimento.

O Mistério da Intercessão
O princípio básico da intercessão é dizer a Deus o que ele quer que digamos a ele.
Isso é profundamente simples, porém muito glorioso. Intercessão é a brilhante
estratégia de Deus para incluir os santos em seu governo. Creia! O mistério da in-
tercessão está na sua “fraqueza”, simplicidade, humildade e acessibilidade a todos.
Leia a seguinte passagem:

“Pelo contrário, Deus escolheu as coisas absurdas do mundo para enver-


gonhar os sábios; e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar
as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas
e as que são nada para reduzir a nada as que são, para que nenhum
mortal se glorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus,
o qual, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santifica-
ção e redenção, a fim de que, como está escrito: Quem se gloriar, glorie-se
no Senhor.” (1 Co 1.27-31)

Não podemos correr o risco de subestimar a sabedoria de Deus. Ele escolheu a


intercessão como meio de governar e liberar a sua vontade sobre a terra. Nós cor-
remos o risco de tropeçar justamente nessa simplicidade da intercessão e, por isso,
ignorá-la por ser algo tão simples e humilde.

A Majestade da Intercessão
A intercessão é uma posição real - uma posição de governo -, nisso está a sua ma-
jestade. Deus nos chama de reino de reis e sacerdotes e escolheu, através da inter-

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

cessão, governar junto com os seus santos. Ele não é um tirano que escolheu reinar
de maneira solitária. Dessa forma, nossa posição de governo está na intercessão, ou
seja, em nossa identidade sacerdotal.
Nos últimos anos, é possível observar o Senhor restaurando a intercessão no con-
texto da adoração corporativa, ou seja, no ajuntamento dos santos. Pois, quando a
intercessão do céu une-se à intercessão da terra, há uma convergência que libera a
vontade do Senhor sobre o universo.
Por isso, como Mike Bickle declara: “o centro governamental do Universo en-
contra-se no ministério de oração, que inclui todas as orações inspiradas pelo
Espírito, na terra e no céu, que convergem diante de Deus”.5
Portanto, o ministério de intercessão da igreja é a estratégia maravilhosa de Deus
para nos incluir em seu governo e nos transformar em agentes de sua vontade na
terra. A intercessão é a mais alta expressão do governo de Deus, é a arma mais po-
derosa que existe.

JESUS, O EXEMPLO DE INTERCESSOR

Nesse sentido, Jesus é o nosso exemplo de fiel e eterno intercessor. Ele operou no
princípio da intercessão desde o início, na criação dos céus e da terra. Leia a seguir
algumas passagens que deixam esse princípio evidente:

“A terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo,
mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus:
Haja luz. E houve luz.(...) E disse Deus: Produza a terra os vegetais:
plantas que deem semente e árvores frutíferas que, segundo suas espé-
cies, deem fruto que contenha a sua semente sobre a terra. E assim foi.”
(Gn 1.2-3,11)

“Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu.” (Sl 33.9)

“Pela fé, entendemos que o universo foi criado pela palavra de Deus, de
modo que o visível não foi feito do que se vê.” (Hb 11.3)

5. BICKLE, Mike. Crescendo em Oração. Curitiba. Ed. Orvalho, 2018, p. 115.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Jesus é o verbo, a Palavra de Deus — aquele que expressa a vontade de Deus em


palavras. Na criação de todas as coisas, Deus possuía um desejo. Jesus, portanto,
expressou esse desejo, e, através do poder do Espírito, o cosmos foi criado.
Podemos ver esse trabalho mútuo entre a trindade claramente descrito em Gênesis:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa se-


melhança” (Gn. 1.26).

Há ainda outros trechos das Escrituras que deixam claro esse princípio acerca da
intercessão de Jesus. Leia a seguir:

“Os céus foram feitos pela palavra do Senhor, e todo o exército deles, pelo
sopro da sua boca.” (Sl 33.6)

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito existiria.” (Jo 1.3)

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação;


porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e
as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
poderes; tudo foi criado por ele e para ele.” (Cl 1.15-16)

O Pai tem pensamentos e planos profundos queimando em seu coração. Jesus falou
o que queimava no coração do Pai, como um meio de liberar o poder do Espírito
na criação. E, atualmente, ele sustenta a ordem criada através de falar a Palavra
(intercessão) ao Pai.
Por isso é tão importante conhecer a Palavra de Deus! Sua vontade está revelada na
Bíblia. Se nós oramos segundo as Escrituras, a vontade de Deus será realizada na
terra, como é nos céus. Veja o que Bonhoeffer declara acerca disso:

“Nas Sagradas Escrituras encontramos o que Deus falou em Jesus Cris-


to. Se quisermos orar com certeza e alegria, então a Palavra das Escri-
turas deverá ser o fundamento sólido da nossa oração. Aqui, isto é, na
Escritura, sabemos o que Jesus Cristo, o Verbo de Deus, nos ensina a
orar. As palavras que procedem de Deus serão os degraus que nos fazem
chegar até Deus.”6

6. BONHOEFFER, Dietrich. Orando com os Salmos. Curitiba. Ed. Esperança, 2017, p. 12.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
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Quando Jesus foi tentado por Satanás no deserto, ele mesmo usou a Palavra para
atacar como uma espada cortante o domínio de Satanás. Esse é o nosso modelo de
como liberar o poder de Deus contra as trevas, veja:

“Então o tentador aproximou-se dele e disse: Se tu és Filho de Deus,


ordena que estas pedras se transformem em pães. Mas Jesus lhe res-
pondeu: Está escrito: Nem só de pão o homem viverá, mas de toda pa-
lavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à Cidade Santa,
colocou-o na parte mais alta do templo e disse-lhe: Se és Filho de Deus,
lança-te daqui abaixo; porque está escrito: aos seus anjos dará ordens a
teu respeito; e eles te sustentarão com as mãos, para que não tropeces em
pedra alguma. Jesus lhe respondeu: Também está escrito: não tentarás o
Senhor teu Deus.” (Mt 4.3-7)

Portanto, não é necessário ter experiências místicas ou “descobrir e destravar se-


gredos” para que nossa oração seja segundo a vontade de Deus — e libere seu
poder sobre as circunstâncias. O único requisito é sermos cheios de conhecimento
da Palavra de Deus, com a certeza de que, nas Escrituras, sua vontade é revelada
de forma clara.

INTERCEDENDO EM FAVOR DE OUTROS

Atualmente, Deus parece estar trazendo à evidência a oração intercessória na igre-


ja. Estamos cercados por um mundo necessitado — necessidades espirituais, emo-
cionais, físicas e muitas outras. Nós não temos os meios para atender essas neces-
sidades, porém, conhecemos aquele que os tem.
Orar pelos outros é um poderoso ministério, e uma bênção impressionante é ver
Deus trabalhando em suas vidas. Precisamos entender a verdade da Palavra de Deus
que é evidente em todas as Escrituras: não há nada mais poderoso no reino de Deus
do que a oração intercessória.
Richard Foster, um consagrado escritor acerca da espiritualidade cristã, afirma o
seguinte: “Quando realmente amamos as pessoas, desejamos para elas mais do que
lhes podemos dar, e isso nos leva a orar por elas. A intercessão é uma forma de amar o
próximo.”7

7. FOSTER, Richard. Oração: o refúgio da alma. São Paulo. Ed. Vida, 2008, p 267.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Deus está chamando seu povo para orar. Todos os cristãos são exortados a orar
pelos outros e ver Deus trabalhar de maneira espantosa e surpreendente. Algumas
pessoas são melhores nisso do que outras. Há algumas pessoas cujo principal dom
espiritual é a intercessão. Mas todos nós somos chamados à intercessão e a fazer a
diferença no mundo através dela.
Veja ainda o que Foster declara a respeito disso:

“A oração de intercessão é um ministério sacerdotal; e um dos ensina-


mentos mais desafiadores do Novo Testamento é o sacerdócio universal
de todo cristão. Como sacerdotes, escolhidos e consagrados por Deus,
temos a honra de chegar ao Sumo Sacerdote para interceder por outros.
Isso não é uma opção, e sim uma obrigação sagrada — e um precioso
privilégio — de todo o que toma o fardo de Cristo.”8

A maioria de nós não se vê como pessoas que têm o poder ou a influência para mu-
dar a direção das nações, e estamos corretos em pensar assim. Como cristãos afir-
mamos que é o poder de Deus que impacta as nações, porém, esse poder é liberado
através das orações de pessoas como você e eu.
Portanto, trilhe uma jornada de conhecer a vontade de Deus — seus desejos, an-
seios e decretos — à medida que mergulha no estudo das Escrituras e busque en-
trar em parceria com seu plano. Conheça o que está em seu coração e professe de
volta a ele essas palavras em intercessão.

8. Id. Ibid., p. 268.

67
Aula 7
v.1.0.0

O CHAMADO
PARA A
INTERCESSÃO
Introdução
Ser um intercessor é identificar-se com o ministério de Jesus. Sendo assim, con-
tinuaremos analisando o mistério e a majestade do convite que há para participar
com Ele dos seus planos — ao abraçarmos o chamado para a intercessão. E, para
entendermos de forma profunda como Jesus atuou em favor dos planos do Pai, é
importante conhecermos, primeiramente, a sua identidade.
A Bíblia refere-se a Jesus diversas vezes como a “Palavra de Deus” e, também,
como “O verbo de Deus”. Dessa forma, quando Jesus articula os pensamentos do
Pai, ele funciona como a Palavra Viva atuando. Essa é a razão pela qual as Escri-
turas declaram que Jesus é O verbo, pois ele é a palavra criativa que dá origem e
sustenta todo o cosmo.

“Estava vestido com um manto salpicado de sangue, e seu nome é o Ver-


bo de Deus.” (Ap 19.13)

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos
olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo
da vida.” (1 Jo 1.1)

Jesus é quem revela as ideias secretas de Deus e as traz à existência. À medida que
Ele fala o que está em seu coração, revela o coração do Pai, ou seja, o que está na
mente de Deus. Veja o que Henri Nouwen declara acerca da relação de Jesus com
o Pai:

“Todas as coisas que pertencem ao Pai, ele as confia ao Filho (Lc


10.22), e todas as coisas que o Filho recebe, ele as devolve ao Pai. O
Pai se abre totalmente para o Filho e coloca todas as coisas em suas
mãos: todo o conhecimento (Jo 12.50), toda a glória (Jo 8.54), todo
o poder (Jo 5.19-21). E o Filho se abre totalmente para o Pai e dessa
forma devolve todas as coisas às mãos do Pai: “Vim do Pai e entrei no
mundo; todavia deixo o mundo e vou para o Pai”(Jo 16.28).”1

Por isso, ser portador da Palavra Viva significa absorver as palavras de Jesus —
sentir o pulsar do Espírito Santo sobre determinada verdade — e falar isso de volta
para Deus. Essa foi a forma que Deus escolheu para agir na terra e liberar seus re-
cursos sobre nós.
Portanto, nossa intercessão precisa estar de acordo com a intercessão de Cristo,
pois Nele os mistérios de Deus são conhecidos (Cl 1.26-27). Dessa forma, exami-
naremos, a seguir, com mais profundidade, o que as Escrituras declaram sobre a
pessoa de Jesus e a beleza do seu ministério como um eterno intercessor.

A BELEZA DE CRISTO COMO INTERCESSOR

“E fez com que conhecêssemos o mistério da sua vontade, segundo a sua


boa determinação, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos
tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão
no céu como as que estão na terra.” (Ef 1.9-10)

1. NOUWEN, Henri. Espaço para Deus: um convite para a vida espiritual. São Paulo. Ed. Impac-
to, 2019, p. 45,46.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Essa passagem resume o propósito de Deus na pessoa de Cristo Jesus. Embora o


abismo entre a glória de Deus e o pecado da humanidade pareça intransponível, em
Jesus e através de Jesus, todas as coisas serão reconciliadas ou julgadas.
A identidade de Cristo como intercessor está vinculada, principalmente, ao mis-
tério da encarnação. O Filho observou a disparidade entre a infinita perfeição de
seu Pai e as profundezas horríveis da depravação humana (decorrentes do pecado)
e se colocou na brecha, assumindo a forma da própria raça caída:

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e de verdade;


e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1.14)

“Sem dúvida, grande é o mistério da fé: Aquele que se manifestou em


carne foi justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre os gen-
tios, crido no mundo e recebido acima na glória.” (1 Tm 3.16)

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos
olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo
da vida (pois a vida foi manifestada, nós a vimos, damos testemunho
dela e vos anunciamos a vida eterna que estava com o Pai e a nós foi
manifestada).” (Jo 1.1-2)

O resultado dessa misteriosa união de divindade e humanidade na pessoa de Cristo


é que ele é intrinsecamente o Mediador, ou seja, o Intercessor. Quando a plenitude
da divindade habita em uma vida humana sem nenhum pecado e é sacrificada por
todos, a porta da verdadeira reconciliação se abre para toda a ordem criada.
A mediação de Cristo não se limita à justificação do homem apenas; ela alcança o
cosmos. Todas as coisas, seja no céu, seja na terra, são unidas em Cristo.

“Porque foi da vontade de Deus que nele habitasse toda a plenitude e,


havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que
estão no céu.” (Cl 1.19-20)

Deus desce em direção à humanidade, e esta se aproxima de Deus. Os dois movi-


mentos, antes opostos, entram agora em uma sintonia sem impedimentos. Estes
colidem em uma maravilhosa paz, no homem Jesus Cristo, e a lacuna que havia
entre Deus e o homem é finalmente preenchida.
Em sua análise sobre a profunda amizade e obediência do Filho ao Pai, James Hous-
ton declara:

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Por meio da obra de Jesus, ao morrer por nós, somos adotados como
“filhos de Deus”. Todos os efeitos do pecado em nossas vidas são re-
vertidos. Deus nos chama e nos concede uma nova identidade nele.
Somos renovados à imagem e semelhança de Deus e inseridos na
família de Deus, com tudo o mais que isso significa para os nossos re-
lacionamentos. Além disso, recebemos a esperança de uma herança
eterna. É como se todos os traços esquizofrênicos de nossa alienada
humanidade, da orfandade e da corrupção fossem tratados pelo Pai.”2

Qualquer um que contemple a vida de Jesus precisa ser profundamente consciente


de que algo impossível e escandaloso ocorreu: Deus, em seu ser absoluto, resolveu
se manifestar em uma vida humana. Isso deve escandalizar nossas mentes cartesia-
nas, e o mesmo “êxtase” de não compreensão que transbordou dos contemporâne-
os de Jesus, deve alcançar-nos.
A intercessão de Cristo no Calvário operou a expiação dos nossos pecados e, ao
mesmo tempo, introduziu um novo paradigma do que significa ser um intercessor
e do que é “fazer intercessão”. Somente a intercessão de Cristo promoveu a expia-
ção pelos nossos pecados; no entanto, o princípio da intercessão encontrado aqui
— de que a morte traz vida — permanece:

“Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo não cair na terra
e não morrer, ficará só; mas, se morrer, dará muito fruto.” (Jo 12.24)

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida pelos
seus amigos.” (Jo 15.13)

Intercessão significa literalmente entregar a vida em favor do outro, de modo que a


redenção possa alcançá-lo. Essa é a beleza de Cristo como intercessor! Jesus ficou
em silêncio diante de seus acusadores, foi espancado, machucado, chicoteado e
tinha uma coroa de espinhos sobre a cabeça. Sem dizer palavra, sua intercessão era
um grito:

“Jesus, porém, dizia: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”
(Lc 23.34)

2. HOUSTON, James. A Oração: o caminho para quem busca a amizade com Deus. Brasília. Ed
Palavra, 2009, p. 187.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Em Filipenses, Paulo nos exorta a deixar que a mesma mente que estava em Cristo
no momento de sua crucificação esteja em nós, para que o nosso amor sacrificial
em Cristo transborde e traga redenção para as pessoas ao nosso redor.

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que,


existindo em forma de Deus, não considerou o fato de ser igual a Deus
algo a que devesse se apegar, mas, pelo contrário, esvaziou a si mesmo,
assumindo a forma de servo e fazendo-se semelhante aos homens. Assim,
na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até a morte, e
morte de cruz. Por isso, Deus também o exaltou com soberania e lhe deu
o nome que está acima de qualquer outro nome” (Fp 2.5-9)

Portanto, este é o nosso chamado e o que configura a intercessão: ter o mesmo senti-
mento que houve em Cristo. Contudo, para sentirmos o que ele sente, é preciso ser-
mos cheios do conhecimento da sua vontade (Cl 1.9) que está revelada nas Escrituras.

A NECESSIDADE DE CONHECER
A VONTADE DE DEUS

Deus não age sozinho. Ele deseja que os crentes estejam em parceria com o seu
coração. Por isso, intercessão é estar em concordância com o que Deus prometeu.
Dessa forma, quando pedimos para que sua vontade seja feita, estamos declarando
que concordamos com os seus desejos, que eles são bons e que têm se tornado os
nossos desejos também.
Sendo assim, o ministério da intercessão nos preenche com o conhecimento da
vontade de Deus. Ou seja, daquilo que está em seu coração. No entanto, para fazer-
mos intercessão não basta apenas conhecermos seus planos, precisamos também
partilhá-los de volta para ele. Veja o que Mike Bickle declara acerca disso:

“O Pai ordenou que as suas ideias precisam ser declaradas, e, quando


assim o são, o Espírito libera poder. Uma lei fundamental do Reino é
que o Espírito se move em resposta à Palavra de Deus sendo procla-
mada por seu povo. (...) o poder de Deus é liberado pelo princípio de
intercessão, declarando a Palavra de Deus de volta a Ele.”3

3. BICKLE, Mike. Crescendo em Oração. Curitiba. Ed. Orvalho, 2018, p. 113.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Esse argumento é comprovado pelas palavras do apóstolo João:

“Se pedirmos alguma coisa segundo sua vontade, ele nos ouve. Se sabe-
mos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que já alcançamos o
que lhe temos pedido.” (1 Jo 5.14-15)

Mas observe a condição: “se pedirmos alguma coisa segundo sua vontade”. Logo,
o segredo da autoridade na intercessão é ser preenchido com os pensamentos e
os planos do Pai. Mas como alcançar o conhecimento da vontade de Deus? Cer-
tamente, uma das maiores necessidades hoje é a de que o Espírito de sabedoria e
revelação nos preencha com o conhecimento da sua vontade para, então, orarmos
com propriedade.
Esta é a principal oração do apóstolo Paulo em suas cartas, observe:

“para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê
o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, sendo
iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual é a esperan-
ça do chamado que ele vos fez, quais são as riquezas da glória da sua
herança nos santos” (Ef 1.17-18)

“Portanto, desde o dia em que soubemos disso, nós também não cessamos
de orar por vós e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da
sua vontade, em toda sabedoria e entendimento espiritual. Assim, ora-
mos para que possais viver de maneira digna do Senhor, agradando-lhe
em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de
Deus” (Cl 1.9-10)

Nessas duas passagens, Paulo deixa claro que o Espírito Santo é aquele que ilumina
as Escrituras e traz revelação do coração de Deus. Sendo assim, a resposta à per-
gunta anterior é simples. Não precisamos ser místicos demais ou destravar algum
segredo para liberarmos a vontade de Deus. Ela está revelada nas Escrituras! Por
isso, a resposta está em conhecermos sua Palavra.
O Espírito de sabedoria e de revelação é que nos habilita a sermos intercessores po-
derosos nas mãos de Deus. Contudo, isso ocorre apenas através de relacionamento
profundo com Jesus. Ele é quem revela os propósitos de Deus ao homem à medida
que o enche “do pleno conhecimento da sua vontade”.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Logo, a verdadeira intercessão consiste na união do sacerdócio da igreja ao sacer-


dócio eterno de Cristo. Pois a identidade sacerdotal dos filhos de Deus está dire-
tamente relacionada a uma vida de intercessão constante. Veja o que Pedro declara
sobre a identidade do povo de Deus:

“Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de pro-
priedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele
que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2.9)

Nesse trecho da epístola de Pedro, ele chama a igreja de um povo sacerdotal. A fun-
ção deste povo é anunciar as grandezas de Deus. Isso envolve conhecer e proclamar
sua vontade ao mundo. Verdadeiros intercessores conhecem a vontade de Deus
(que está expressa nas Escrituras) e são preenchidos por ela.

AS ESCRITURAS REVELAM A VONTADE DE DEUS

A Bíblia foi escrita para ser mais do que simplesmente uma lição de História. É mais
do que um relato da vida de pessoas que morreram há muito tempo. É mais do que
profecia, doutrina ou genealogia. Ela é a Palavra viva de Deus que permanece para
sempre.
Certamente, a Bíblia é, também, uma valiosa fonte de informação. Ela nos dá um
relato preciso da história da humanidade. Registra com fidelidade e imparcialidade
tanto os fracassos quanto os triunfos do povo de Deus. E, por isso, podemos ter
confiança de que a informação contida na Palavra de Deus é exata.
Contudo, se queremos conhecer a vontade de Deus, será necessário conhecê-lo.
E somente através da leitura bíblica é que podemos observar os registros de como
ele age e se revela. Existe uma grande diferença entre ter informações a respeito de
Deus e conhecê-lo. Ao ler a Bíblia, tenha sempre dois objetivos:
1. Informar-se: Existem partes das Escrituras que não são para meditação e leitura,
mas para serem estudadas; as genealogias são um exemplo disso. Podemos ler a his-
tória dos espias de Israel, que foram protegidos por uma prostituta chamada Raabe,
ou a linda história de Rute, que, mesmo não sendo judia, decidiu seguir o Deus da
Bíblia. Mas, somente quando estudamos as genealogias, descobrimos que Jesus foi
descendente tanto de Rute, como de Raabe.
Isso nos leva a pensar: “se o Filho de Deus tem, em sua linhagem, gente tão sim-
ples, então, não importa de onde eu vim, pois Deus poderá me usar como sou!”.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Chegar a conclusões desse tipo é o que significa conhecer a Deus através das Es-
crituras.
2. Ouvir a voz de Deus: Deus promete entrar em contato conosco enquanto lemos
sua Palavra. Se você fizer da leitura bíblica um hábito, logo notará que seus motivos
de intercessão e suas decisões diárias serão transformadas de acordo com o coração
dele:

“Eu te instruirei e ensinarei o caminho que deves seguir; eu te darei con-


selhos sob a minha vista.” (Sl 32.8)

No entanto, como dito anteriormente, essa é uma jornada de relacionar-se com


Jesus através das Escrituras. Ou seja, de deixar que o Espírito Santo ilumine sua
mente e coração em relação à sua vontade. Portanto, é necessário cultivar uma po-
sição de permanecer em sua Palavra.

PERMANECENDO EM JESUS E EM SUA PALAVRA

Perceba que existe uma conexão diretamente proporcional entre o quanto as nos-
sas mentes estão moldadas pelas Escrituras e o quanto as nossas orações são res-
pondidas. Jesus disse:

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em


vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido.” (Jo 15.7)

Será que a igreja entendeu o que Jesus quis dizer quando disse “se permanecerdes
em mim”? A relação dinâmica entre a Palavra que habita nos filhos de Deus e as
respostas às suas orações é compreendida? Talvez ainda não entendemos a dimen-
são dessas palavras em plenitude.
Toda a oração deve estar em conformidade com a Palavra de Deus e inspirada pelo
Espírito. Se vivermos na Palavra de Deus, meditando sobre ela dia e noite, lendo-as
todos os dias, memorizando porções e saboreando-as hora após hora, nossas ora-
ções serão moldadas pela Palavra. O que também significa que elas serão moldadas
pelo Espírito.
Precisamos experimentar a dinâmica da Palavra permanecendo em nós e libe-
rando respostas seguras à nossa oração. Se provarmos apenas uma fração disso,
entenderemos que existem possibilidades na vida de oração que nem imaginamos.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

O que as palavras em João 15.7 significam? Quais são as possibilidades de como a


Palavra que habita em nós pode produzir respostas seguras à oração? Vejamos algu-
mas possibilidades:

1. Pode ser que a Palavra habitando em nós funcione


para guiar nossas orações.

Em outras palavras:

“Se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.”
(1 Jo 5.14)

Talvez seja o cumprimento da Palavra de Cristo em nossas vidas que nos direciona
para o que é a vontade de Deus em oração. Então, oramos de acordo com a vontade
de Deus, e a resposta vem.

2. Pode ser que a Palavra que habita em nós funcione


para edificar nossa fé:

“A fé vem de ouvir e ouvir pela palavra de Cristo.” (Rm 10.17)

“Por isso vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que já o re-
cebestes, e o tereis.” (Mc 11.24)

Portanto, se a fé é essencial para a oração respondida, e se a Palavra que habita em


nós sustenta a fé, então, talvez seja isso que Jesus queira dizer quando diz que, se
suas palavras residirem em nós, teremos respostas para nossas orações.

3. Pode ser também que a Palavra que habita em nós


funcione para nos transformar.

Outras porções das Escrituras revelam que, se andarmos em pecado, nossas ora-
ções não são nem mesmo ouvidas, quanto mais respondidas. Observe:

“Se eu tivesse guardado o pecado no coração, o Senhor não me teria ou-


vido.” (Sl 66.18)

“Pedis e não recebeis, porque pedis de modo errado, só para gastardes em


vossos prazeres.” (Tg 4.3)

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

Logo, permanecer em Jesus e em sua Palavra pode significar ser transformado (mo-
ral e espiritualmente) por ela. De modo que passamos a viver um caminho reto ,
transformado e santificado pela Palavra e que leva à santidade e ao amor e, conse-
quentemente, à oração respondida. Pois a Palavra de Deus nos liberta do pecado:

“e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8.32)

4 PASSOS PRÁTICOS PARA PERMANECER EM


JESUS E EM SUA PALAVRA

Acerca da importância e da necessidade de um intercessor conhecer a vontade de


Deus — e permanecer nela —, fica evidente que esse conhecimento virá através
de uma imersão profunda em sua Palavra. Dessa forma, veremos a seguir alguns
passos práticos que auxiliam nessa jornada:

1. Meditar na Bíblia:

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em


vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido.” (Jo 15.7)

Uma das maneiras mais práticas de permanecermos em Jesus e sermos cheios da


vontade de Deus é através da meditação nas Escrituras. A meditação cristã não con-
siste em esvaziar a mente com o objetivo de transcender. Pelo contrário, meditar é
preencher a nossa mente e o nosso coração com as Palavras de Deus.
Pratique leituras lentas e repetitivas da Bíblia. E deixe que as verdades contidas
no texto não fiquem apenas no campo da mente, mas penetrem também o seu co-
ração. O conceito de meditação bíblica envolve os seguintes passos: ler, escrever,
falar, cantar e orar a Palavra.
Esse tipo de meditação é constante nas Escrituras, os Salmos estão recheados dele:

“Meu coração transborda de boas palavras; consagro ao rei o que com-


pus; minha língua é como a pena de um escritor habilidoso.” (Sl 45.1)

Observe que, somente nesse versículo, o Salmista declara que falou, escreveu e,
provavelmente, cantou ao Senhor (pois compôs palavras ao Rei). Portanto, separe
um trecho das Escrituras e experimente seguir cada um desses passos:

77
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

• Ler: leia com atenção aquelas palavras, meditando no significado de cada


uma e absorvendo em seu interior as verdades profundas que o Espírito pode
comunicar em seu interior nesse processo.
• Escrever: à medida que a luz do Senhor começar a brilhar em determinado
trecho, comece a escrever o que ele está transmitindo a você. Não despreze
nenhum pensamento que vem à sua mente nesse momento, registre as pe-
quenas e grandes percepções, tudo será precioso.
• Falar: Davi ordenava que sua alma louvasse ao Senhor (Sl 103.1-2). Da mes-
ma forma, devemos declarar em voz alta as verdade contidas na Palavra a res-
peito de quem Deus é e de quem nós somos nele.
• Cantar: não é necessário ser um cantor extremamente afinado para cantar
ao Senhor. Cantar tem o poder de tocar nossas afeições, e as melodias e can-
ções que nascem da nossa devoção são especiais para o Senhor. Além disso, a
música registra com mais rapidez e eficácia uma sentença em nossa memória.
• Orar: por fim, a oração é o nosso alvo! Orar não consiste apenas em pedir.
Como já foi dito anteriormente, a jornada da oração é um caminho para obter
intimidade e comunhão com o Senhor. Portanto, assim como o Salmista, leve
suas boas palavras ao Rei (Sl 45.1), transborde em louvores, petições, adora-
ção e ação de graças.

2. Comunhão com o Espírito Santo:

“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Es-


pírito Santo sejam com todos vós.” (2 Co 13.13)

O Espírito Santo é uma pessoa e ele habita dentro de nós. Por isso, a comunhão
com Ele é algo que nós precisamos cultivar. Assim como gastamos tempo ouvindo
e falando com nossos amigos mais próximos, é necessário fazermos o mesmo com
o Espírito. Mas como, na prática, é possível voltarmos nossa atenção a ele?
Peça por sua direção e revelação durante a leitura da Palavra. Enquanto lê, cultive
um coração desejoso de ouvi-lo. Peça: “Espírito, guia-me a toda a verdade” e agra-
deça: “Obrigado por sua habitação em mim, Espírito”. Conscientize-se de que ele
está com você em todo o tempo e creia que ele irá revelar a vontade do Pai através
do conhecimento de Jesus.
Finalmente, pratique a oração em línguas. Ao fazer isso, seu interior é edificado e a
vontade de Deus é revelada, veja:

78
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“Pois quem fala em uma língua não fala aos homens, mas com Deus,
porque ninguém o entende, mas pelo Espírito fala mistérios.” (1 Co 14.2)

O Espírito Santo conhece o coração de Deus. Ele conhece a mente dele e revela as
profundezas do seu ser a nós. A oração em línguas por longos períodos sensibiliza
nosso espírito à voz de Deus e à comunhão com o Espírito.

3. Silêncio:

“A terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo,
mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. E disse Deus:
Haja luz. E houve luz.” (Gn 1.2-3)

Assim como havia silêncio e vazio no princípio, do mesmo modo haverá em nos-
sa intercessão. A Palavra de Deus surgiu do silêncio e do vazio. Outro exemplo é
quando Deus declara que irá falar aos sacerdotes do meio dos querubins, ou seja,
do lugar vazio e silencioso, veja:

“Ali virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que


estão sobre a arca do testemunho, falarei contigo a respeito de tudo o que
eu te ordenar para os israelitas.” (Ex 25.22)

A prática do silêncio cala os ruídos internos e externos que, muitas vezes, impe-
dem que a voz de Deus seja ouvida por seu povo. É importante cultivar uma vida
de quietude diante do Senhor, pois isto é, também, um exercício de fé. Quando
esperamos no Senhor, cremos que somente ele tem as palavras de vida e direção
para guiar-nos à sua vontade.

4. Jejum:

“Naqueles dias, eu, Daniel, estava chorando por três semanas inteiras.
Não comi nada agradável, nem carne nem vinho entraram na minha
boca, nem me ungi com óleo, até que se cumpriram as três semanas com-
pletas (...) Então ele me disse: Não temas, Daniel, porque as tuas pala-
vras foram ouvidas desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a
compreender e a humilhar-te diante do teu Deus, e eu vim por causa das
tuas palavras.” (Dn 10.2-3,12)

79
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

O jejum é uma estratégia bíblica para aproximarmo-nos do coração de Deus. Daniel


se humilhou diante de Deus em jejum e orações com o intuito e desejo de discernir
sua vontade. Portanto, o jejum é uma ferramenta fundamental nesse processo.
A vontade de Deus não é conhecida de forma instantânea, antes, está relacionada
a uma vida inteira aos pés do Senhor. Trata-se da jornada de devoção a Deus, com
coração desejoso, inclinado ao Espírito Santo e, principalmente, aberto a compre-
ender seu caráter e seus propósitos.
Um coração humilde, aliado à prática diligente das ferramentas citadas acima, cer-
tamente o levará a conhecer o coração do Pai, assim como Jesus o conhecia. Esse é
o fundamento de uma vida de intercessão poderosa e eficaz, que acessa os recursos
disponíveis em Deus e identifica-se ao chamado sacerdotal de Jesus — o sumo sa-
cerdote e eterno intercessor entre Deus e os homens.

80
Aula 8
v.1.0.0

O VALOR DE USAR
AS ORAÇÕES
BÍBLICAS
Introdução
A oração cristã é decisivamente marcada pela petição. Essa forma de oração expõe
o verdadeiro estado das circunstâncias ao nosso redor. Ela nos lembra que Deus é
a fonte de todo o bem e que somos completamente dependentes e necessitados de
sua provisão em tudo o que vivemos.
Contudo, nossas petições tendem a deslizar facilmente em um egocentrismo pe-
caminoso. Por isso, elas precisam estar em conformidade com as Escrituras. E a
Bíblia está repleta de orações que nos ensinam como orar. O livro de Salmos, por
exemplo, é um livro inteiro com o registro das orações do povo de Deus. James
Houston declara o seguinte acerca disso:

“A oração é necessária em toda e qualquer etapa da jornada do cristão


ao longo da vida e em cada aspecto de seu modo de vida. Eis a razão

81
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

por que os Salmos podem ser divididos em uma grande variedade


de orações, algumas cheias de louvor, outras de desespero, e ainda
outras refletindo as mudanças efetuadas por Deus no coração do ado-
rador. Os Salmos são como um tipo de livro-texto da oração, orien-
tando-nos em nossa oração.”1

A oração é o recurso ordenado por Deus para transmitir suas bênçãos ao seu povo.
Logo, devemos orar de acordo com sua vontade, seus valores, em conformidade
com seu caráter e propósitos e clamando por suas promessas. No entanto, como
orar segundo a vontade de Deus? A resposta sempre estará nos exemplos registra-
dos nas Escrituras.
Desta forma, estudaremos nesta aula as orações de Jesus, Paulo e Pedro. As “ora-
ções apostólicas”, como são denominadas, foram registradas nas Escrituras para o
nosso benefício. São orações que o próprio Jesus fez como o nosso grande apóstolo
(Hebreus 3.1) e que, também, foram concedidas pelo Espírito Santo aos discípulos
e apóstolos de Cristo.
Ao todo, há cerca de trinta dessas orações registradas no Novo Testamento. E,
visto que Deus não muda em seus desejos e planos, elas são um presente valioso,
porque expressam a linguagem de seu coração a nós. Por essa razão, essas orações
são poderosas e garantidas, pois são como cheques em branco, já assinados no céu,
apenas esperando que a igreja os use.
Finalmente, ao analisarmos profundamente todas essas petições, é possível notar
que elas seguem um padrão. Todas contêm valores que nos ensinam sobre o coração
e a vontade de Deus acerca do conteúdo e da forma que ele deseja que essas orações
sejam feitas. A seguir, estudaremos três aspectos centrais das orações apostólicas:
1. As orações apostólicas são centradas em Deus.
2. As orações apostólicas são positivas.
3. As orações apostólicas são voltadas à Igreja.

AS ORAÇÕES APOSTÓLICAS SÃO


CENTRADAS EM DEUS

Todas as orações no Novo Testamento são centradas em Deus — cada uma delas é
dirigida, especificamente, a Deus e não a Satanas ou a influências malignas. A ora-

1. HOUSTON, James. A Oração: o caminho para quem busca a amizade com Deus. Brasília. Ed
Palavra, 2009, p. 117.

82
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

ção centrada em Deus (mesmo em guerra espiritual) é o modelo estabelecido no


Novo Testamento para a igreja.
Tal modelo foi usado pela igreja primitiva para resistir a forças demoníacas e desa-
lojar barreiras culturais. Observe o que Paulo declara aos Coríntios nesse sentido:

“Pois, embora vivendo como seres humanos, não lutamos segundo os


padrões do mundo. Pois as armas da nossa guerra não são humanas,
mas poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos raciocínios
e toda arrogância que se ergue contra o conhecimento de Deus, levando
cativo todo pensamento para que obedeça a Cristo.” (2 Co 10.3-5)

Todas as orações de Jesus registradas na Bíblia foram direcionadas ao Pai. Da mes-


ma forma, na ocasião em que ele estava ensinando os discípulos a orar, deixou claro
que deveriam iniciar suas petições dirigindo-as ao Pai. Observe:

“Ele então lhes falou: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu
nome; venha o teu reino” (Lc 11.2)

Semelhantemente, observe a seguir que as orações dos apóstolos também são dire-
cionadas ao Pai e sempre centradas nas riquezas do conhecimento da glória de Deus:

“Por isso também eu, tendo ouvido falar da fé no Senhor Jesus que há
entre vós, e do vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar
graças por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o
Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de
sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele.” (Ef 1.15-17)

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das mise-
ricórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa
tribulação, para que também sejamos capazes de consolar os que passam
por alguma tribulação, por meio da consolação com que nós mesmos so-
mos consolados por Deus.” (2 Co 1.3-4)

Portanto, este é o padrão bíblico das orações: a certeza da filiação e de que Deus
é um bom Pai que está interessado nas petições dos seus filhos (Mateus 7.11). Por
isso, nossa oração deve estar sempre centrada em Deus, e nossos pedidos devem
ser feitos ao Pai, em nome do Filho pelo Espírito Santo.

83
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

ORAÇÕES APOSTÓLICAS SÃO POSITIVAS

As orações apostólicas são orações positivas, ou seja, os apóstolos sempre oravam pela
transmissão de aspectos positivos do que Deus podia fazer e não pela remoção dos
aspectos negativos que enfrentavam. Por exemplo, quando Paulo orou aos Filipenses,
note que ele pediu para que o amor abundasse e não para que o ódio fosse removido:

“E peço isto em oração: Que o vosso amor aumente cada vez mais no
pleno conhecimento e em todo entendimento.” (Fp 1.9)

Ele também orou em favor da unidade e não contra a divisão na carta aos Roma-
nos. Leia:

“Que o Deus da perseverança e do ânimo vos dê o mesmo modo de pen-


sar entre vós, segundo Cristo Jesus.” (Rm 15.5)

Pediu pelo aumento da paz e não pelo fim do medo, também na carta aos Romanos:

“Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz na vossa fé, para
que transbordeis na esperança pelo poder do Espírito Santo.” (Rm 15.13)

E aos Tessalonicenses ele não orou contra o pecado, mas pediu pelo aumento da
santidade, da pureza e do amor. Observe:

“e o Senhor vos faça crescer e transbordar em amor uns para com os


outros e para com todos, como também nós transbordamos em relação
a vós; para fortalecer o vosso coração, tornando-vos irrepreensíveis em
santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus
com todos os seus santos.” (1 Ts 3.12-13)

Note que, mesmo os pedidos de Paulo para ser livre dos homens maus são posi-
tivos e focam na libertação do povo de Deus em vez de expor e difamar aqueles
que os perseguiam:

“Por fim, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor seja divulgada
e glorificada, como também aconteceu em vosso meio, para que nos livremos
de homens perversos e maus; pois a fé não é para todos.” (2 Ts 3.1-2)

Orações de cunho negativo têm seu foco no pecado e no cenário caído da humani-
dade. Por isso, muitas vezes transparecem raiva, justiça própria e geram divisão —

84
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

principalmente em contextos coletivos —, visto que nem todos concordarão com


o ponto de vista ou com a maneira pela qual foi expressado.
Focar no negativo também revela a posição de um coração incrédulo, cuja espe-
rança não está no poder do evangelho e do sangue de Cristo. Logo, as “orações
positivas” são uma forma de alcançar a unidade e o amor na igreja. Nesse sentido,
o autor Henri Nouwen comenta sobre a importância da Palavra de Deus ser decla-
rada coletivamente. Leia:

“Ouvir coletivamente a palavra de Deus pode libertar-nos de nossa


competição e rivalidade e permitir que reconheçamos nossa verdadeira
identidade como filhos do mesmo Pai amoroso, irmãos do nosso Senhor
Jesus Cristo e consequentemente uns dos outros.”2

Logo, orar por virtudes positivas e não concentrar os pedidos na remoção de ca-
racterísticas negativas unifica intercessores e pode trazer cura para as emoções.
À medida que a igreja aprender a orar como os apóstolos oravam, ou seja, de for-
ma positiva, desenvolverá misericórdia e bondade em relação às deficiências ainda
operantes no corpo de Cristo. Dessa forma, o foco positivo também ajuda o povo
de Deus a caminhar em fé.
Assim sendo, as orações apostólicas fornecem uma boa teologia para a igreja vito-
riosa do fim dos tempos. Essas orações foram inspiradas pelo Espírito e, no tempo
adequado, serão plenamente respondidas. Por essa razão, temos a garantia e a es-
perança de que a igreja irá andar em grande poder, pureza e unidade antes da volta
de Jesus.
Apesar da tentação de julgar negativamente o estado atual da igreja e apontar os
evidentes erros que comete, o papel do povo de Deus é abrir os olhos da fé e enxer-
gar aquilo que Deus prometeu que fará. Portanto, as orações apostólicas positivas
são um dos principais recursos deixados por Deus para a cooperação da unidade e
edificação da fé na igreja.

ORAÇÕES APOSTÓLICAS SÃO


VOLTADAS À IGREJA

A maior parte das orações dos apóstolos estão focadas no fortalecimento da igreja.
Isso se contrapõe à ideia de que nossas orações precisam ser direcionadas aos per-

2. NOUWEN, Henri. Espaço para Deus: um convite para a vida espiritual. São Paulo. Ed. Impac-
to, 2019, p. 83.

85
COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

didos ou à “transformação” da sociedade. Contudo, esse fato não quer dizer que
Deus não se importa com tais temas ou que não devemos orar por essas pautas.
O fato é que a sociedade e os perdidos serão tocados pela realidade de Deus atra-
vés da atuação da igreja. Foi dessa forma, em parceria com seu povo, que Deus
escolheu agir. E é por esta razão que as orações no Novo Testamento são voltadas
à igreja, pois será a partir dela que a mensagem do evangelho será proclamada —
trazendo salvação e libertação — e que o Senhor fará justiça.
A única oração no Novo Testamento focada na salvação dos perdidos está em Ro-
manos 10.1, em que Paulo ora por Israel e os judeus, para que eles sejam salvos. No
entanto, o plano principal de Deus para alcançar o perdido e impactar uma cidade
é usar a sua igreja, em poder e amor — esse é o motivo pelo qual as orações apos-
tólicas são focadas na igreja e não no perdido.
A oração para que a igreja de uma cidade seja avivada em amor e poder gera res-
postas e um impacto enorme não somente sobre ela, mas também sobre a cidade
em que está estabelecida. Observe esse princípio funcionando na cidade de Éfeso.
O que aconteceu ali foi tão poderoso, que todos os que viviam na Ásia “ouviram a
palavra do Senhor”:

“Isso aconteceu durante dois anos; de maneira que todos os que habi-
tavam na Ásia, tanto judeus como gregos, ouviram a palavra do Se-
nhor. (...) Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia com poder.”
(At 19.10,20)

A igreja precisa perseverar em oração por um aumento da unção do Espírito sobre


ela, certa de que uma colheita irá acontecer — muitos incrédulos inevitavelmente
verão Jesus, e a sociedade será transformada. Nada pode impedir os perdidos de
virem a Jesus em grande número quando a igreja é avivada e opera em unidade, na
unção do Espírito.
Uma questão importante a ser destacada é que, talvez, haja uma facilidade maior de
orar por pessoas e nações que estão distantes do que por quem está mais perto —
ou seja, a família da fé — pois conhecemos as fraquezas dos mais próximos e isso,
muitas vezes, gera desesperança. No entanto, é justamente neste momento que
nossas orações pela igreja devem ser intensificadas.
Portanto, as fraquezas internas da igreja não devem impedi-lo de orar por ela a par-
tir das perspectivas de Deus. Ele deseja que seus filhos amem e orem pela igreja,
assim como oram pelos perdidos. Pois todo o seu plano de redenção inclui a atua-
ção de seu povo na terra.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

O FOCO DA INTERCESSÃO

Jesus exortou seus discípulos a fazerem dois pedidos principais ao Pai quando in-
tercederem: mais do Espírito Santo e mais da Sua justiça.

“Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto
mais o Pai celestial dará o Espírito Santo aos que o pedirem.” (Lc 11.13)

“E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a
ele, mesmo que pareça demorado em responder-lhes?” (Lc 18.7)

Como cristãos, recebemos o Espírito em nosso novo nascimento (Jo 3.3-5 e Rm


8.9-11). Logo, não oramos para que o Senhor “nos dê” o Espírito Santo, pois Ele já
habita em nós. Contudo, podemos pedir que ele libere uma medida maior do mi-
nistério do Espírito em nós e por nós.
As Escrituras referem-se a uma maior medida do Espírito sobre a igreja como uma
“maior medida de graça”, observe:

“Todavia, ele nos dá maior graça.” (Tg 4.6a)

“E com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do


Senhor Jesus, e em todos havia imensa graça.” (At 4.33)

Igualmente, devemos orar pela liberação de uma maior medida de justiça sobre a
terra. Há dois lados da Justiça de Deus: salvação e julgamento. Nós, como filhos do
amor de Deus, vivemos a justiça de sua salvação. A justiça do julgamento de Deus
acontece quando os ímpios, aqueles que se rebelam contra os caminhos retos e jus-
tos de Deus, são impedidos e removidos de sua comunhão ou até mesmo punidos
por suas transgressões.
Vale lembrar que ambos os aspectos da justiça de Deus acontecerão em plenitude
no Dia do Senhor — entretanto, é possível experimentar e pedir, hoje, a liberação
dos sinais que se manifestarão em plenitude naquele dia.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

TRÊS TEMAS PARA ORAÇÃO

A seguir, sugerimos três temas principais para guiar suas orações, independente-
mente de qual tipo de oração seja feita. Esses temas cobrem a grande maioria das
promessas bíblicas relacionadas à oração por pessoas ou lugares:
1. Liberação dos dons do Espírito.
2. Liberação dos frutos do Espírito.
3. Liberação da sabedoria do Espírito.

1. Liberação dos dons do Espírito:

Ore por um romper, por um grande liberar dos dons do Espírito. Isso significa orar
pela liberação do poder de Deus, incluindo seu favor, provisão e proteção sobrena-
tural. Peça por uma medida maior da manifestação do poder de Deus em sua vida,
na vida das pessoas que o cercam ou em localidades específicas.

“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para benefício co-


mum. Porque a um é dada, pelo Espírito, a palavra de sabedoria; a ou-
tro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento. A outro, pelo mes-
mo Espírito, é dada a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, dons de curar;
a outro, a realização de milagres; a outro, profecia; a outro, o dom de
discernir os espíritos; a outro, variedade de línguas; e a outro, interpre-
tação de línguas.” (1 Co 12.7-10)

2. Liberação dos frutos do Espírito

Ore pela liberação dos frutos do Espírito, ou seja, peça para o caráter de Deus ser for-
mado na vida das pessoas. Peça para que a plenitude dos frutos do Espírito — “amor,
alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, amabilidade e domínio
próprio” (Gl 5.22-23) — seja estabelecida naqueles que são alvos de suas orações.
Uma das maneiras de pedir ao Senhor que isso aconteça é clamar por um derramar
do “espírito de convicção” e “espírito de sabedoria e de revelação de Deus” sobre
a pessoa. Ter convicção do pecado e compreender a verdade de quem é Deus gera
um aumento do temor do Senhor e fascínio por Jesus e, assim, a formação de um
caráter divino naquela pessoa.

“E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juí-


zo.” (Jo 16.8)

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

“para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o
espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele.” (Ef 1.17)

3. Liberação da sabedoria do Espírito:

Orar pela liberação da sabedoria do Espírito é o mesmo que pedir um aumento do


entendimento e do discernimento a respeito do plano de Deus e de sua vontade
revelada nas Escrituras. Paulo orou muito por sabedoria e entendimento espiritual
para a igreja:

“Portanto, desde o dia em que soubemos disso, nós também não cessamos
de orar por vós e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da
sua vontade, em toda sabedoria e entendimento espiritual. Assim, ora-
mos para que possais viver de maneira digna do Senhor, agradando-lhe
em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de
Deus.” (Cl 1.9-10)

FORMAS DE ORAR PELA IGREJA

Conforme já estudamos, nossas orações devem ser centradas em Deus e não em
demônios ou no pecado. Esse é o modelo que o Novo Testamento estabelece. O
principal impulso das orações deve ser para um maior liberar do ministério do Es-
pírito sobre toda a igreja e para a transmissão das virtudes positivas do reino, tais
como o amor, a santidade, a unidade, a esperança e a paz.
A seguir, extraímos do livro “Crescendo em Oração”, de Mike Bickle, uma lista
com os principais temas de oração pela igreja — baseado nas orações apostólicas:
• “Ore para que a presença de Deus se manifeste nos cultos da igreja e para
que as pessoas sejam salvas, libertas, curadas e revigoradas pelo Espírito
durante a adoração, pregação e tempos de ministração.
• Ore para que o amor abunde e que o povo de Deus aprove as coisas que
Deus chama de excelente (Fl 1.9-10).
• Ore para que uma unção de convicção esteja presente na pregação da Pa-
lavra de modo que ambos, crentes e não crentes, experimentem um grande im-
pacto (Jo 16.8).
• Ore para que o espírito de santidade e amor prevaleça na congregação.

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COMO CONSTRUIR UMA VIDA DE ORAÇÃO
Como Orar Mais e Melhor por Décadas

• Ore por um grande aumento dos dons do Espírito na igreja e pela manifesta-
ção destes dons – através de palavras de conhecimento, palavras de sabedoria,
discernimento de espíritos, curas, milagres e assim por diante.
• Ore para que o espírito profético aumente sobre os pregadores, equipe de
adoração, e líderes de ministério.
• Ore para que o Espírito capacite e motive cada vez mais os cristãos para
compartilhar o evangelho, para que Ele compartilhe com os fiéis o Seu coração
a respeito do evangelismo (Mt 9.37-38).
• Ore para que o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento
de Deus, Sua vontade e Seus caminhos seja dado aos líderes da igreja, assim
como para toda a congregação (Ef 1.17).
• Ore para que seus irmãos na fé sejam fortalecidos com poder, pelo Espírito,
no seu homem interior (Ef 3.16).
• Ore pela unidade entre todos os crentes e todas as famílias da igreja
(Jo 17.21-23).
• Ore pela liberação e um aumento do espírito de oração na igreja (Zc 12.10).
• Ore para que cada membro de sua família seja salvo e curado, ore para que
cada família prospere com empregos seguros e fixos (3 Jo 2).”3

3. BICKLE, Mike. Crescendo em Oração. Curitiba. Ed. Orvalho, 2018, p. 130,131.

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Como Orar Mais e Melhor por Décadas

CONCLUSÃO

A oração que é feita corretamente, com base nas Escrituras, produz o gracioso
trabalho de Deus nos seus filhos e através deles. E, apesar de ser feita por homens,
a oração é, ao mesmo tempo, a obra poderosa de Deus que atua neles pelo seu
Espírito. Logo, ao usarmos esse recurso designado por Deus, tornamo-nos um ins-
trumento para realizar aquilo que Ele mesmo determinou.
Portanto, se nos mantivermos focados naquilo que Deus revelou sobre si mesmo,
isto se tornará a base para a nossa adoração — um incentivo para nos aproximarmos
deste Deus soberano e amoroso e interceder a ele de acordo com o seu próprio pla-
no declarado nas Escrituras, para a glória de seu Filho e o bem do seu povo.

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