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Guerra Espiritual

Kris Vallotton

2017 Editora SE7E MONTES


Tradução: Marly da Mota Monteiro
Edição Digital por Samek Ocimas

Originalmente publicado nos


Estados Unidos sob o título Spirit Wars

Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan


2a edição: 2017.
DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a toda pessoa que esteja atada em uma prisão espiritual,
ansiando ser liberta e lutando por paz.
Que você possa encontrar descanso para sua alma, paz para sua mente e
alegria para o coração enquanto viaja através das páginas deste livro.
PREFÁCIO

Minha esposa e eu somos amigos de Kris e Kathy Vallotton e seus filhos por
mais de 32 anos. Eles são as duas pessoas mais importantes em nossas vidas. Nossos
filhos cresceram juntos. Simplesmente temos vivido juntos. Na verdade, por um
período, eles moraram conosco até que sua casa fosse construída. Assisti Guerra
Espiritual se desenrolar. O que você tem nas mãos é a coisa mais distante da teoria
que poderia imaginar. É verdadeiro, sóbrio e promissor, tirado de uma vida treinada
nas trincheiras. Por mais que gostaria de promover o estilo de vida de “felizes para
sempre”, sou lembrado que nascemos dentro de uma batalha—uma batalha que já
foi ganha.
Kris é conhecido por seu incrível ministério profético. E com razão. O
impacto agora é internacional. Fico espantado com as portas abertas e com a
ousadia que Kris tem para entrar em situações impossíveis e trazer mudanças para a
glória de Deus. Ele também é conhecido pelo poder no ministério. Não importa se
é necessidade por cura ou libertação; ele ministra bem em ambos. É também
conhecido no mundo como um pregador do Evangelho do Reino extremamente
capaz. O impacto do seu dom de ensino será medido somente na eternidade. Acho
que tanto o céu como o inferno conhecem seu nome por outra razão, algo que
somente os que estão mais perto dele veriam. Céu e inferno, ambos veem que não
importam as circunstâncias, Kris Vallotton acredita em Deus. Ele é
verdadeiramente um amigo de Deus.
Assistir esta história se desenrolar às vezes foi divertido e outras vezes
doloroso. Contudo, não posso deixar de pensar na bem conhecida passagem em
Romanos a respeito disso: Para mim tenho por certo que as aflições deste tempo
presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada
(Romanos 8:18). As vitórias que têm acompanhado Kris, tanto para sua família
quanto através de seu ministério, têm colocado a dor envolvida no seu lugar certo —
diretamente debaixo dos pés de Kris.
Kris escreveu muitos livros, todos têm trazido vida, identidade e insight a
um grande número de pessoas. Mas, não acho que tenha ficado mais empolgado
acerca de nenhum de seus livros como estou acerca deste. Em muitas ocasiões
pessoas veem a mim precisando de ajuda e insight para suas lutas espirituais
incomuns. Essas lutas sempre me fazem lembrar a história de Kris. Tenho
encorajado as pessoas a obterem uma cópia do testemunho de Kris em CD, porque
os que o ouvem são transformados. Porém, por melhor que seja o CD, este livro é
muito mais completo. Ele capta o âmago da questão quando se trata do conflito
espiritual, de uma maneira que o CD não poderia nunca tocar. Além do mais, pode
ser usado como manual e lido repetidas vezes.
Ainda que Kris seja um amigo íntimo, não estaria nem um pouco
entusiasmado como estou acerca de seu ministério e deste livro, se ele glorificasse a
guerra e criasse uma consciência demoníaca excessiva. Contudo, tenho observado
sua vida. Ele se recusa, não importa o que tenha acontecido, a colocar seus olhos no
inimigo. Eles estão em Jesus, o autor e consumador da sua fé — da nossa fé.
É dito com frequência que as vidas dos profetas são parábolas. Eles passam
por situações que trazem uma mensagem para o Corpo de Cristo. Se isso for
verdade, e eu creio que, então, a liberdade de Kris trará aumento exponencial para a
glória de Deus, porque o que o inimigo intentou para o mal, Deus o tornou em
bem. O libertado é um libertador!
É com grande emoção que recomendo este livro a você, sabendo que esse
fruto aumentará até Jesus receber Sua completa recompensa.
Bill Johnson Autor de Quando o Céu Invade a Terra e Face a Face com
Deus
Pastor Senior da Bethel Church, Redding, California
AGRADECIMENTOS

Kathy, obrigado pelos anos difíceis que você permaneceu ao meu lado
quando estava lutando para encontrar minha saída do cativeiro espiritual. Obrigado
por todas as vezes que você se levantou no meio da noite para orar por mim.
Obrigado por acreditar em mim quando eu estava realmente destruído. E acima de
tudo, obrigado por me amar por toda nossa vida.
INTRODUÇÃO

Escrevi seis livros antes deste. Sempre que você submete um manuscrito às
editoras, uma das primeiras perguntas que eles fazem é: O que o qualifica para
escrever este livro? Tenho certeza que estão esperando algumas letras antes do seu
nome, ou um diploma de uma importante universidade. Porém, fui inspirado a
escrever este livro a partir da minha própria experiência com o reino demoníaco.
Sendo um jovem cristão, passei mais de três anos muito influenciado por demônios.
Tenho um Ph.D. em medo, opressão e ansiedade, o que faz com que este seja o
livro mais difícil que já escrevi.
A luta não é porque eu não saiba acerca do que estou falando; o problema
verdadeiro é que eu sei! Escrever este livro me exigiu recordar as piores experiências
da minha vida. Todavia, fiz uma aliança com o Senhor no dia que Ele me libertou
que passaria minha vida ajudando outros a encontrar a liberdade. Por conseguinte,
nas últimas três décadas ajudei literalmente milhares de cativos e prisioneiros a se
libertarem. Contudo, há três anos algo aconteceu que me fez ficar ainda mais
vigilante. Minha própria filha, e mais tarde meu filho ficaram debaixo de um ataque
demoníaco que quase os destruiu e ameaçou eliminar nossa família toda. Em meio a
esta batalha intensa, decidi que nunca mais deixaria a filha, o filho, o pai ou a mãe
de outra pessoa ser destruída enquanto ficaria parado assistindo. Minha oração e
meu objetivo é que através deste livro milhões de pessoas sejam equipadas para
fugirem da prisão e destruírem as obras do diabo na sua saída do campo de
prisioneiros.

O Que os Olhos não Veem o Coração não Sente?

Muitos dizem que o que os olhos não veem o coração não sente, mas Deus
diz: Meu povo é destruído porque lhe falta o conhecimento (Oséias 4:6). Fico
surpreso com a quantidade de pessoas (incluindo cristãos) que desconhecem que
não habitamos, mas coabitamos neste planeta. O apóstolo Paulo começou a
desvendar este mistério para nós quando escreveu: Ora, a respeito dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes (1 Coríntios 12:1). A palavra
dons aqui não aparece no texto original grego. O versículo na verdade deveria ser
lido: Ora, a respeito do espiritual, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Depois
Paulo continua a usar os dons do Espírito como um exemplo de como o reino
espiritual funciona.
Embora os cristãos geralmente reconheçam este reino invisível a certo nível
intelectual, pessoalmente não acho que eles realmente acreditam que o mundo
espiritual tem efeito sobre suas vidas diárias. Ensinar algumas pessoas sobre o
mundo espiritual se parece muito com tentar convencer alguém nos anos de 1800
que realmente existiam coisas como germes e que estes germes poderiam fazê-los
doentes e até matá-los. Nos últimos dois séculos, descobertas médicas e
tecnológicas avançaram nosso entendimento desta esfera natural não vista
anteriormente, e salvaram milhões de vidas.
Semelhante à transição que ocorreu com os avanços médicos no natural, a
transição agora está ocorrendo no espiritual. A sociedade está cada vez mais faminta
para entender o reino espiritual. Anjos e demônios se tornaram rapidamente o
assunto de muitos livros e filmes. Parece que as dimensões invisíveis de vida, que
constantemente alcança o véu do inexplicável, fascina o mundo inteiro. Livros e
filmes como Harry Potter e O Senhor dos Anéis são exemplos contemporâneos da
fome que as pessoas têm para compreender e participar nesta dimensão. É
imprescindível que entendamos os efeitos que anjos e demônios podem ter sobre
nossas vidas ou que podemos nos tornar vítimas do mundo invisível. Paulo
escreveu: Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais
costumavam viver, quando seguiam a presente ordem a deste mundo e o príncipe
do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência
(Efésios 2:1-2 NVI). Em outras palavras, antes de conhecermos Jesus éramos
literalmente fantoches de espíritos demoníacos.
Muitas pessoas em países de Primeiro Mundo acham difícil imaginar que
existe um “príncipe do poder do ar” controlando os pensamentos das pessoas todos
os dias. A ideia de que o mundo é habitado por seres invisíveis é, para elas, uma
metáfora ou até mesmo um conto de fadas como Papai Noel, ou o Coelhinho da
Páscoa. As pessoas em países em desenvolvimento, por outro lado, não têm
problema em acreditar em um reino espiritual porque os efeitos de demônios são
declarados. Bruxos, curandeiros e sacerdotes vodus dominam suas culturas a ponto
de quase todos que vivem em tais lugares já terem experimentado o reino
demoníaco de primeira mão.

Guerreiros da Liberdade

Quando pensamos sobre pessoas lutando para se libertarem dos espíritos


malignos, com frequência imaginamos um guerreiro primitivo resvalando sobre o
chão de uma cabana de barro no meio de uma floresta em algum lugar. Contudo
minha própria experiência tem me convencido que os espíritos maus são tão
influentes nos países de Primeiro Mundo quanto em nações em desenvolvimento
como África — eles apenas se manifestam de forma diferente. Talvez não tenhamos
muitos bruxos ou sacerdotes vodus nos Estados Unidos, por exemplo, mas as
pessoas estão tão influenciadas por demônios na “terra do livre e no lar do valente”
quanto em outro lugar. Entender como dissipar demônios e enviar anjos pode fazer
a diferença entre viver uma vida cheia de alegria ou tornar-se cativo de alguma
cilada maligna.
Você talvez esteja pensando que sou o tipo de cara que vê um “demônio
debaixo de cada pedra”. Não sou! Devo admitir, contudo, que no início quando me
libertei dos anos de escravidão, absolutamente passei por essa fase. Penso que
enquanto lê este livro, no entanto, você descobrirá que faço uma abordagem
equilibrada da vida em suas páginas. Trabalhei arduamente para balancear minha
experiência, o conselho de profissionais de saúde física e mental e a Palavra de Deus
ao escrever cada capítulo. Ao aprender mais a partir deste livro acerca de como
ganhar a batalha invisível contra o pecado e o inimigo, espero que você encontre
liberdade e alegria em suas páginas.
1 – LUTANDO PELA PAZ

Em 1975, finalmente me casei com a mulher dos meus sonhos. Esperei


cinco longos anos por ela. Conheci Kathy quando ela tinha doze anos (eu tinha
quinze), flutuando em um bote no meio de um lago. Ficamos noivos quando ela
tinha treze anos! Os pais de Kathy nos proibiram de casar até que ela tivesse
terminado o Ensino Médio, então ela fez aulas extras e trabalhou duro para graduar
um ano antes. Esperar todos aqueles anos para casar era tortura. Para piorar a
situação, morávamos a 18 quilômetros de distância, então somente nos víamos nos
fins de semana. Eu chegava sexta-feira e ficava na casa dos pais da Kathy. Quando
ia para casa todo domingo, Kathy ficava no meio da rua e chorava enquanto acenava
adeus. Durante a semana passávamos horas ao telefone todos os dias, muitas vezes
conversando durante a noite. As horas pareciam dias e dias pareciam meses,
enquanto ansiávamos começar nossa vida juntos.
Graduei-me na Sunnyvale High School em Sunnyvale, Califórnia, em
1973. A música dos Carpenters “We’ve Only Just Begun” era um grande sucesso
naquele ano e foi o tema de nosso livro do ano do Ensino Médio. Também se
tornou uma declaração profética sobre Kathy e eu, quando nos tornamos cristãos
alguns meses antes de me graduar. Encontramos Deus no Movimento Jesus, e nós
dois tivemos experiências de conversão poderosas. Estávamos muito empolgados
acerca da nossa fé.
O dia do nosso casamento finalmente chegou em um ensolarado dia de
julho. Sob o olhar de trezentas pessoas, repetimos nossos votos e demos um longo
beijo enquanto todos aplaudiam. Nosso navio foi finalmente lançado no que
provaria ser os altos mares de uma grande história de amor. Ao contrário de muitos
casamentos, nosso primeiro ano juntos foi como céu na terra. Parecia que tudo que
fazíamos era brincar, explorar um ao outro e dar muita risada. Eu tinha um
emprego de técnico de automóveis, gerenciando uma oficina de consertos na área
da Baía, e Kathy era nossa escriturária. Juntos ganhávamos bem e logo pudemos
comprar uma casa nova. Preferiria que esperássemos um pouco para ter filhos, mas
Kathy queria ter imediatamente e ela continuava me incitando como somente uma
esposa pode fazer. Em um momento de fraqueza ela obteve o melhor de mim e logo
estava grávida do nosso primeiro filho.

Um Tempo de Lamento

Então de repente, a estação mudou e nosso pequeno barco encontrou uma


enorme tempestade que quase nos afundaria. Começou com a gravidez de Kathy,
que a fez ficar incrivelmente doente. Ela vomitava cerca de cinquenta vezes por dia
e perdeu peso até o oitavo mês de gravidez. Ela mal podia sair do sofá.
Enquanto Kathy estava lutando com sua gravidez eu estava carregando
toneladas de responsabilidades na oficina. Gerenciar treze pessoas quando tinha
vinte anos era extremamente desafiador. Trabalhava doze horas por dia, seis dias
por semana e raramente parava para almoçar. Consequentemente, minha dieta
consistia principalmente de doces, coca cola e batatas fritas.
Certa noite, exausto depois de uma semana de trabalho dura e longa, entrei
na banheira para relaxar meu corpo cansado enquanto Kathy estava deitada doente
no sofá. Por volta de uma hora depois, começava a sair da banheira para me secar.
Porém, ao me levantar um forte pensamento me atingiu: Vou morrer!
Como com qualquer pessoa no mundo, os maus pensamentos não me eram
estranhos, mas este era diferente. Este pensamento foi tão forte que trouxe pânico
ao meu ser inteiro como gado em debandada! Meu corpo inteiro tremia, meu
coração batia fortemente no peito e meu pulso batia de forma descontrolada. Todas
as minhas forças se foram e lutei para sair da banheira. Cai de volta na água gritando
desesperadamente por Kathy para me ajudar. Grávida de oito meses, ela lutou para
sair do sofá. Correu para o banheiro onde eu estava deitado indefeso e assustado,
branco como um fantasma. Mal podia falar, mas murmurei algo acerca de ter um
ataque cardíaco. Ela se esforçou para me ajudar a sair da banheira e ir para o sofá.
Depois correu para a cozinha para ligar para nosso médico da família, que era um
cliente nosso na oficina. Ele transmitiu algumas perguntas para mim através de
Kathy e concluiu que eu estava tendo um ataque de pânico, não um ataque cardíaco.
Mal sabia eu que este era o início de uma viagem de três anos e meio através do
inferno.

Viajando pelo Inferno e Clamando pelo Céu

Aquele primeiro ataque de pânico deu início a um estado de medo


constante em mim. Ir para o trabalho se tornou realmente difícil. Era preciso toda
força que pudesse reunir somente para sair da cama todas as manhãs. Durante o dia
todo na oficina, níveis elevados de ansiedade oprimiam minha alma como ondas
quebrando na praia em uma tempestade violenta. Tudo que podia fazer era apenas
concentrar no meu trabalho. Se os dias eram difíceis, as noites eram muito piores.
Os ataques de pânico continuavam, se tornando em pesadelos atormentadores e
sem fim. Imagens horríveis enchiam minha mente enquanto imaginava coisas
terríveis me acontecendo ou me via realizando atos terríveis. Embora soubesse em
meu coração que essas imagens e pensamentos eram ilusões, elas ainda pareciam
muito reais. Muitas vezes me perguntava se estava perdendo a cabeça. Não
conseguia dormir muito e molhava os lençóis de suor todas as noites.
Poucos meses em meu suplício e nossa filha Jamie nasceu. Kathy e eu
estávamos entusiasmados com nossa primeira filha, mas o estresse acrescentado
com a chegada do bebê intensificou minha guerra. Kathy foi maravilhosa em tudo
isso. Levantar várias vezes durante a noite para cuidar do bebê ou para me consolar
era mais do que a maioria das mulheres poderia suportar, mas Kathy raramente se
abalava. Posso apenas concluir que Deus lhe deu graça especial para a guerra. Ela
era um conforto na tempestade, uma força de paz em uma situação muito
problemática.
Um ano se passou sem nenhum alívio. Finalmente Kathy e eu decidimos
deixar nossos empregos e nos mudarmos para as montanhas para encontrar um
ritmo de vida mais lento. Mudamos para Lewiston, Califórnia, uma cidade
pequena com cerca de 900 habitantes lá em Trinity Alps. Morar no deserto era
definitivamente mais lento que o trânsito pesado da cidade que deixamos para trás.
Contudo, isso acabou servindo apenas para intensificar minha consciência da luta
que estava ocorrendo dentro de mim.
Com o passar do tempo, o medo se intensificou afetando cada parte de
nossas vidas. Tornei-me claustrofóbico a tal ponto que tinha que dirigir com as
janelas do cano abertas (mesmo no inverno) para não entrar em pânico.
Embora minha personalidade seja naturalmente sociável, me tornei recluso
e não queria ficar ao redor das pessoas. Quando os amigos vinham visitar, pedia a
Kathy para se livrar deles. Não suportava multidões, o que eliminou shoppings,
restaurantes, cinema ou qualquer coisa em público. Embora continuasse a
frequentar a igreja, sentava atrás e saía várias vezes durante o culto para reduzir
minha ansiedade com multidões.
Como era de se esperar, Kathy continuou enfrentando tudo numa boa.
Embora fosse tão jovem, de certa forma ela tinha muita fé que passaríamos por tudo
isso. Olhando para trás, posso ver como o Senhor a preparou para esta batalha
desde jovem. A mãe de Kathy tinha epilepsia severa e sofria de quarenta a cinquenta
ataques por mês. Com seu pai fora na maioria das vezes, era Kathy quem ficava em
casa para cuidar da sua mãe. Mesmo sendo uma menina, ela se tornou uma força
estabilizadora na família. Agradeço a Deus porque ela trouxe essa mesma dinâmica
para o nosso relacionamento.

Ataques Terroristas e uma Fuga da Prisão

Abrimos uma pequena oficina de carros em Weaverville, Califórnia, uma


cidade cerca de 32 quilômetros de Lewiston. Embora os negócios estivessem bem,
as finanças estavam apertadas. Levantávamos cedo todas as manhãs, colocávamos
Jamie na cadeirinha no carro e íamos pescar para o alimento no rio descendo a rua
de nossa casa. Passar pela transição de duas fontes de renda bem significativas na
cidade para viver com um salário magro nos cafundós foi um choque cultural. (O
estilo de vida The Little House on the Prairie [série de televisão traduzida como Os
Pioneiros] é definitivamente exagerado).
Passaram-se mais dois anos sem nenhum alívio. Então, exatamente quando
achava que não podia piorar, comecei a experimentar visitações demoníacas. Os
demônios vinham literalmente ao nosso quarto à noite e me atormentavam. As
luzes apagavam e acendiam, e quadros espontaneamente caíam da parede! O
telefone tocava constantemente com pessoas dizendo coisas malucas do outro lado
da linha. Estou ciente que muitas pessoas não acreditam em espíritos, demônios e
anjos, portanto este parágrafo pode ser um pouco difícil de digerir. Mas se você está
lendo este livro e teve ou está tendo experiências semelhantes, espero que agora você
acredite.
No terceiro ano desta terrível tempestade, Kathy já tinha tido nossa segunda
linda filha, Shannon, contudo minha vida estava ficando insuportável. O estresse
fez meu equilíbrio enlouquecer, me deixando nauseado o tempo todo. O alimento
passava por mim; tinha constante diarreia. Amo muito a minha família, mas meu
tormento interior era tão intenso que não queria mais viver. Não iria me matar;
somente pensava que minha família ficaria muito melhor se Deus me levasse para
casa e Kathy encontrasse um marido “normal”. Clamei a Deus repetidamente, mas
Ele parecia distante... até mesmo indiferente. Parecia que o amor que conheci nos
primeiros anos do meu caminhar com Deus tinha desaparecido, substituído pelo
medo intenso.
Então, cedo em uma manhã fria de inverno, algo surpreendente ocorreu.
Nós quatro ainda morávamos em Lewiston, e como de costume, não podia dormir.
Levantei-me por volta das 3:00 da manhã, enrolei-me com um cobertor e fui para a
sala. Liguei o aparelho de som no volume baixo e deitei perto da caixa de som para
não acordar minha família. A recepção do nosso rádio não era muito boa lá nas
montanhas, mas pensei que encontraria um programa de entrevista de fim de noite
para ajudar a tirar minha mente dessa condição.
Finalmente, sintonizei com um pregador. A interferência era tão ruim que
podia apenas ouvir a cada três ou quatro palavras de sua mensagem. Contudo, em
meio ao barulho, o ouvi dizer algo que mudaria a minha vida para sempre. Ele citou
a exortação de Paulo a Timóteo: Porque Deus não nos deu o espírito de timidez,
mas de poder, de amor e de moderação (2 Timóteo 1:7). “Medo é um espírito!
Alguns estão pensando que estão ficando loucos, vocês somente estão ouvindo o
espírito de loucura! Nem todos os seus pensamentos são seus. Os espíritos malignos
falam com você dando-lhes seus pensamentos”.
Fiquei chocado! Fui ensinado que os cristãos poderiam estar mentalmente
doentes, mas não influenciados por demônios. O que não percebi até aquela noite
foi que fui ensinado no que seria minha solução.
Desliguei o rádio e perguntei a Jesus o que deveria fazer. Imediatamente
ouvi uma voz dentro do meu espírito dizer: Você tem ouvido o espírito de loucura e
o espírito de medo. Diga-lhes para deixarem você agora!
Deitado de costas no chão da sala de estar, disse com uma voz silenciosa,
mas confiante: “Espírito de medo e espírito de loucura, saiam de mim agora em
nome de Jesus!”
Não podia ver nada, porém de repente senti algo sair do meu corpo.
Fisicamente parecia que um cobertor de chumbo, do tipo que os dentistas usam
durante raios-X foi tirado e estava sendo levantado do meu ombro. Meu tremor
parou completamente, a paz encheu minha alma e minha mente estava clara
novamente. A alegria dominou completamente meu coração e ri em voz alta pela
primeira vez em mais de três anos. Um milagre tinha acontecido em minha vida e
estava ansioso para contar a Kathy.

Aprendendo a Permanecer Livre

Sabia que tinha experimentado algo incrível naquela noite, contudo não
entendia completamente que recebi uma libertação verdadeira. A única ministração
de libertação que tinha testemunhado antes desta, foi algo que era semelhante a
uma pessoa tendo uma grande convulsão, com os cristãos se reunindo ao redor da
pobre alma e gritando aos demônios para “saírem!” A pessoa com frequência saía
daquelas sessões mais traumatizadas pelos cristãos do que pelos demônios. Não
queria fazer parte deste tipo de ministério. (Tenho certeza que havia ministério de
libertação saudável ocorrendo na Igreja, mas não tinha sido exposto a ele).
O que experimentei naquela noite não foi um tipo de simulação espiritual
nem acontecimento psicossomático. Fui liberto! Desfrutei da liberdade completa
por mais de uma semana. Após três anos de inferno, ser cheio com a paz foi
maravilhoso. Minha alegria retornou, meu apetite voltou e meus sintomas físicos
desapareceram. As visitações demoníacas se foram e pela primeira vez em anos
dormi a noite inteira.
Contudo, logo encontrei a dura realidade de que ser liberto e permanecer
livre são duas coisas bem diferentes. Numa noite escura e fria, estava dirigindo de
volta para casa do trabalho em meu Jeep, nas curvas sinuosas da floresta em uma
estrada estreita e sem luz que seguia um amplo riacho. Estava tão empolgado com
minha recém- descoberta liberdade que gritei bem alto: “Vou contar a todos acerca
disso — vou ajudar milhares de pessoas a se libertarem!”
Em seguida uma voz em minha mente gritou de volta: Se você contar a
alguém acerca disso, vou te matar!
Subitamente, todos os meus sintomas retornaram. Tive um ataque de
pânico tão grande que nem podia dirigir. Encostei o carro em uma valeta ao longo
da estrada. Meu coração estava disparado e estava respirando aceleradamente.
Então uma voz tranquila, mas poderosa me perguntou: O diabo odeia você?
(Sabia instintivamente que era o Espírito Santo falando comigo desta vez).
“Sim!”, respondi.
Então por que ele não te matou quando você foi salvo? A voz pressionou.
“Não sei”, respondi, ainda tentando me recompor.
Porque ele não pode! Ele não tem poder sobre você a não ser que você lhe
dê, a voz insistiu.
A paz começou a penetrar em minha alma e a ansiedade se foi nos minutos
seguintes.
Comecei a gritar novamente: “Estou livre! Estou livre!”
Essa cena se repetiu muitas vezes pelos próximos anos enquanto aprendia
pouco a pouco como permanecer livre e manter minha paz.

Livre para Viver em Paz

Quase três décadas se passaram desde aquela fatídica noite, quando deitei
no chão de nossa pequena casa lá na floresta e encontrei liberdade. Nestes últimos
trinta anos ajudei milhares de pessoas a se libertarem, encontrarem consolo e
aprenderem a viver em paz.
Contudo, há dois anos me encontrei em outra guerra pessoal intensa que
durou quase sete meses. Aprendi muito nesta luta e ela me ajudou a entender outro
lado da guerra contra o medo, a ansiedade, opressão e depressão. Sinto como se
tivesse um doutorado no assunto. Toda vez que compartilho minhas experiências
em local público sou inundado com pessoas me contando suas histórias e
implorando ajuda.
Li muitos livros cristãos e seculares sobre depressão, opressão, medo,
ansiedade e pânico. Mas, francamente, muitos livros não são apenas imprecisos, são
também destrutivos e na verdade conduzem a uma escravidão maior.
Também já conversei com vários profissionais de saúde mental, bem como
com médicos e descobri que poucos entendem realmente as raízes destes sintomas.
Parte do problema é porque muitos profissionais de saúde, quer sejam cristãos ou
não, veem o mundo espiritual como algum tipo de conto de fadas perpetuado por
almas incultas e desconhecedoras.
Também descobri que muitos conselheiros cristãos que acreditam no
mundo espiritual e ministram nesta dimensão têm muito pouco discernimento
acerca de como nosso ser trino está entrelaçado. Somos compostos de espírito, alma
e corpo e poucos conselheiros entendem o quanto cada dimensão afeta as demais.
Estas pessoas com frequência acham que todo sintoma negativo em uma pessoa está
enraizado no espírito. São completamente ineficazes, portanto, ao lidar com
problemas que têm suas origens nos outros dois terços do nosso ser, a alma e o
corpo.
Preciso esclarecer que existem sim conselheiros cristãos, cheios do Espírito
Santo que ministram a cada dimensão do nosso ser trino, mas pode-se contar nos
dedos. Certamente precisamos de mais destes conselheiros sábios e perspicazes, que
entendam as raízes e não apenas tratam problemas sintomáticos.
Minha mais recente descoberta finalmente me inspirou a escrever este livro
sobre o assunto. Na realidade comecei este livro antes da minha descoberta, em
meio à pior luta da minha vida — o que dá a determinados capítulos uma
perspectiva de campo de batalha único.
Este livro não pretende ser a última palavra sobre saúde mental e espiritual.
Contudo, foi escrito por alguém que tem experiência em primeira mão de encontrar
paz para si mesmo e ajudar multidões de outros a fazerem o mesmo.
Uma das verdades essenciais que aprendi através da minha jornada é que
somos novas criaturas em Cristo (veja II Coríntios 5:17), e portanto, nossas guerras
na vida nunca são com nossa velha natureza. Nossa carne talvez seja fraca (veja
Marcos 14:39), mas não é mais corrupta. O inimigo trabalha arduamente para nos
convencer do contrário, para que em vez de resisti-lo, fiquemos contra nós mesmos.
Auto sabotagem é um denominador comum em todas as formas de ansiedade e
depressão, quer ela esteja enraizada no corpo, alma ou espírito. Meu objetivo
principal para este livro é te ajudar a receber insight sobre a maneira como
sabotamos a nós mesmos, te dar sabedoria acerca de como se libertar destes padrões
destrutivos e transmitir coragem para você enfrentar as verdadeiras guerras na
vida—batalhas que você foi feito para ganhar. Irá aprender como viver na alegria,
cultivar paz e se proteger das investidas das forças inimigas. Encontrará nova
liberdade para si mesmo e aprenderá novas habilidades que te ajudarão a ajudar
outros a viver uma vida sem estresse.
Que o Príncipe da Paz te encontre nas páginas deste livro e te conduza a
plenitude completa — espírito, alma e corpo!
2 – VOCÊ ESTÁ VIVENDO EM UMA
CASA MAL-ASSOMBRADA?

Situada nos altos pinheiros em uma estrada estreita que segue o seu
caminho através das montanhas está uma velha cabana de madeira. Um penhasco
íngreme ofusca este bangalô de um velho mineiro, fazendo com que raramente veja
a luz do dia. Uma sensação estranha vem sobre você ao se aproximar da bem
desgastada varanda da frente, passar sobre as vigas apodrecidas e alcançar a
maçaneta enferrujada da porta. A porta range com resistência enquanto você força a
submissão, finalmente revelando um ambiente sombrio. Um odor podre de mofo
assalta os seus sentidos, mas você enfrenta o limite e entra. Espiando adiante, você
vê uma lareira primitiva de pedras coberta por fuligem negra de anos de uso. A
direita está uma cadeira de balanço antiga feita a mão, construída de uma árvore
cortada daquela própria montanha. Os moradores dizem que cerca de cem anos
atrás, o velho mineiro que morava ali foi assassinado naquela mesma cadeira...

***

Espero que isso soe como o início de uma história fantasma, porque é —
uma que aconteceu comigo mesmo. Aquela velha cabana fica em Trinity Alps, e um
casal de amigos meus, desesperados por um lugar barato para morar, certa vez a
alugaram — e logo descobriram que era assombrada! Não estou brincando com
você. O povo da cidade os advertiu sobre isso, mas eles não acreditaram. Então, em
uma noite escura, sem luar, o velho mineiro apareceu naquele quarto, acordando-os
de um sono profundo e dando-lhes um grande susto. Essas visitações aconteceram
por meses, até que finalmente decidiram vir conversar comigo a respeito.
Dirigimos para a cabana e forcei minha passagem pela porta com meus dois
amigos a reboque. O medo, tão tangível como um nevoeiro pesado, instalou-se em
minha mente enquanto avançava para dentro da sala escura. De repente, ele
apareceu!
“Caramba!”, estremeci. O cabelo atrás da minha cabeça ficou de pé.
Contudo, o que aconteceu a seguir mudou para sempre minha perspectiva sobre o
reino espiritual. Fui imediatamente dominado pelo pensamento: Este não é o velho
mineiro que voltou da morte para aterrorizar meus amigos, mas um demônio
disfarçado do falecido!
Essa revelação liberou um novo sentido de autoridade em mim.
Corajosamente ordenei ao demônio perverso que saísse da construção e nunca mais
voltasse. Meus amigos assistiam enquanto os dois reinos lutavam pelo domínio
naquela pequena sala. Porém, dentro de alguns minutos, o demônio se foi e a velha
cabana estava limpa.

Chutando um Cadáver

Minha história fantasma confirma uma poderosa realidade, a verdade que


Paulo ensinou aos efésios: Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue, e, sim,
contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes (Efésios 6:12,
ênfase acrescentada). Contudo, tenho visto que multidões de cristãos têm sido
vítimas dessa mesma farsa demoníaca que meus amigos experimentaram.
Disseram-lhes no batismo que seu velho eu, foi submerso na crucificação. Eles
citam Gálatas 2:20 e dizem que foram “crucificados com Cristo”. Todos leram a
carta aos Romanos, que lhes diz mais de trinta vezes que estão mortos, que
morreram, que sua velha natureza foi crucificada, que devem se considerar
mortos...mortos, mortos, mortos, mortos, mortos! (Como eu gosto de dizer: somos
os originais Mortos Agradecidos). Contudo, descobrem que continuam sendo
“assombrados” pelo que parece ser seu velho homem. Algumas dessas pessoas
acabam passando a vida inteira chutando um cadáver, lutando com uma carcaça e
desperdiçando sua energia com um inimigo que já morreu, enquanto o verdadeiro
adversário dá risadas sarcasticamente através das cadeias em suas vidas.
Esses cristãos vivem em prisão domiciliar. Como arqueólogos espirituais,
passam a maior parte do tempo cavando nos cemitérios de suas velhas vidas,
buscando desenterrar alguns tesouros de esperança escondidos. Mas tudo que
descobrem são os ossos secos de desencorajamento, condenação e medo.
Como pode tantos cristãos estar vivendo em casas assombradas? É simples,
eles não aprenderam realmente como viver na realidade dos versículos que citam
acerca de estarem crucificados com Cristo. Não entenderam realmente a diferença
entre quem eles eram e quem se tornaram. Um dos motivos para isso é que muitos
interpretam mal a maneira como o Novo Testamento usa a palavra carne.
Praticamente todos os que acreditam que estão lutando contra “a carne”
recebem essa ideia do apóstolo Paulo. Ele descreve sua própria batalha com a sua
carne pecaminosa em Romanos 7:18-24:

Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum. Com
efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Pois não faço o bem
que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já
não o faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que,
quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Pois segundo o homem interior,
tenho prazer na lei de Deus, mas vejo nos meus membros outra lei que batalha
contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está
nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta
morte?

Eu sei o que você está pensando: Se o grande apóstolo Paulo, que escreveu
treze livros do Novo Testamento, estava sujeito a sua carne pecaminosa, que
chances há de que não lutarei com o pecado? Esta seria uma boa pergunta se Paulo
estivesse descrevendo uma luta que ele teve enquanto era um apóstolo. Mas a
verdade é que nesta passagem, Paulo está contando a história da sua vida antes de
Cristo, não sua vida em Cristo. Ele usa a linguagem do verbo no presente para
enfatizar a luta do tempo passado que teve como fariseu. Ele está descrevendo como
era ser um mestre da Lei de Deus sem conhecer Cristo. A Lei ensinou-lhe o certo
do errado, mas não lhe deu nenhum poder para andar em retidão. E quanto mais ele
aprendia sobre a Lei de Deus, mais culpado se tornava (veja Romanos 5:20).
Para entender realmente a dissertação de Paulo sobre o que aconteceu
quando ele passou de a.C. para d.C., temos que retornar aos capítulos anteriores de
Romanos para podermos entender o contexto de seus comentários em Romanos 7.
O que segue é um conceito frequentemente mal interpretado e desafiador.
Permaneça comigo enquanto edifico um fundamento das Escrituras aqui e logo
você perceberá que verdades transformadoras, Paulo está apresentando sobre o
pecado e o cristão. Vejamos alguns versículos em Romanos 6:

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça aumente?


De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda
nele? ... Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para
que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado; porque
aquele que está morto está justificado do pecado.
Versículos 1-2, 6-7

Nestes versículos Paulo deixa claro que nosso velho homem “foi
crucificado” com Cristo (tempo passado), o que resultou em que não somos mais
escravos do pecado, porque pessoas mortas não pecam! E mais, nosso “corpo de
pecado” (o mesmo “corpo desta morte” sobre o qual ele fala no capítulo 7) foi
destruído. Em outras palavras, aquele velho defunto que a pessoas acham que estão
chutando nem sequer existe mais! Quando acreditamos que ele pode retornar,
fortalecemos uma mentira — o que dá a Satanás, o pai da mentira, a oportunidade
de estabelecer sua casa assombrada em nossas vidas. É por isso que Paulo nos instrui
a alinhar nossa fé com a verdade Assim também vós considerai-vos como mortos
para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. ... Pois o pecado
não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da
graça... Fostes libertados do pecado, e vos tornastes escravos da justiça (Romanos
6:11,14,18).
Devemos nos considerar mortos para o pecado. Essa palavra considerar no
grego é um termo da contabilidade. Literalmente quer dizer que devemos levar em
conta os fatos e chegar a esta conclusão:
Estamos mortos para o pecado. É como resolver um problema de
matemática que já sabemos a resposta. Se fizermos as contas e chegarmos a um
resultado diferente, precisamos voltar e checar nossos fatos.
Um Novo Casamento Tem Seus Privilégios

Agora que já vimos como Paulo foi claro quanto a estarmos mortos para o
pecado, examinemos as suas declarações iniciais em Romanos 7, imediatamente
antes de falar acerca da luta com sua carne, para ver se podemos receber algum
insight mais profundo com sua exortação:

Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que conhecem a lei), que a lei tem
domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? Por exemplo, a mulher que
está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está ligada a ele pela lei, mas morto o
marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada
adúltera se unir- se a outro homem. Mas, morto o marido, está livre da lei, e assim
não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais
mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que
ressurgiu dentre os mortos, a fim de darmos fruto para Deus. Quando estávamos na
carne, as paixões dos pecados, realçadas pela lei, operavam em nossos membros a
fim de darem fruto para a morte. Mas agora estamos livres da lei, pois morremos
para aquilo em que estávamos retidos, a fim de servirmos em novidade de espírito, e
não na velhice da letra.
Romanos 7:1-6

Paulo descreve nossa jornada para sair da escravidão do pecado usando a


analogia do casamento. O casamento, assim como a lei é uma aliança somente
quebrada pela morte. Se uma mulher se divorcia do seu marido e casa com outro, a
lei diz que ela é uma adúltera. Mas se seu primeiro marido morre e ela casa
novamente, ela não é mais uma adúltera porque a morte de seu marido dissolveu a
união entre eles.
Como a analogia de Paulo se aplica a nós? A Lei — A Antiga Aliança —
era nosso primeiro marido. Mas em nosso caso, fomos nós que morremos. Quando
Cristo morreu na cruz, morremos com Ele e nossa aliança com a Lei terminou.
Então, quando Cristo ressurgiu, nós ressurgimos com Ele e nos unimos (casamos)
com Ele na Nova Aliança. Cristo, que nos resgatou das garras da Lei, também se
tornou nosso novo marido! E neste novo casamento, nós não estamos mais sujeitos
as exigências do antigo casamento.
Ouvi uma ótima história há alguns anos que demonstra a diferença entre
estar casado com nosso primeiro marido, o Sr. Lei, e estar casado com o Sr. Graça,
Jesus Cristo. O relato é supostamente uma história verdadeira, embora eu nunca
tenha sido capaz de confirmá-la. Uma linda jovem se casou com o seu namorado de
infância. Imediatamente depois do casamento, seu marido revelou-se como um
mau tirano e irado. Sentado na cama na noite da lua de mel, ele entregou-lhe uma
lista de tarefas e responsabilidades que exigia que ela cumprisse como esposa. Ela
passou os dez anos seguintes tentando obedecer todas as suas regras, mas nunca
estava a altura. Um dia, seu marido caiu morto por um ataque cardíaco.
Alguns anos depois, essa maravilhosa mulher se casou de novo. Desta vez,
ela se casou com um verdadeiro príncipe! Ele a amava e a cobria de afeição. Eles
tinham um casamento maravilhoso. Muitos anos se passaram e um dia ela estava
limpando seu antigo baú e encontrou a lista que seu primeiro marido tinha lhe dado
na lua de mel. Enquanto revia suas exigências a ansiedade começou a tomar conta
do seu coração. Então algo extraordinário aconteceu. De repente, ela percebeu que
todas as exigências que ela nunca pode cumprir quando estava casada com o marido
mau, se tornaram as coisas que ela fazia naturalmente com paixão, por anos para o
seu príncipe!
Isso é exatamente o que Paulo está dizendo em Romanos 7. Ele está
relatando a sensação terrível de escravidão que experimentou quando vivia debaixo
de regras, mas não conhecia seu amado. Ele fez isso para nos ajudar a entender o
contraste maravilhoso entre o casamento antigo e o novo casamento.

Um Novo Espírito, Alma e Corpo

Paulo começa Romanos 8 nos mostrando como somos completamente


diferentes, agora que nos “unimos a outro homem”. Nosso ser trino — corpo, alma
e espírito — passou por uma transformação radical:

Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, livrou-me da lei do pecado


e da morte. Pois o que era impossível à lei, visto que estava enferma pela carne,
Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado na carne.... Os que são segundo a carne inclinam-se para as
coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. A
inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz. A inclinação
da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade
o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém,
não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espirito de Deus habita em vós.
Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.... Se o Espírito
daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre
os mortos ressuscitou a Cristo Jesus vivificará também os vossos corpos mortais,
pelo seu Espírito que em vós habita.... porque todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois não recebestes o espírito de escravidão
para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual
clamamos: Aba, Pai!
Romanos 8:2-3, 5-9, 11, 14-15

Esta passagem nos mostra a condição do nosso espírito, alma e corpo antes
de Cristo, assim como nossa condição em Cristo. Quando estávamos casados com a
Lei, nosso espírito estava morto, separado de Deus por causa do pecado. Essa morte
espiritual deixou nossas mentes (almas) debaixo do controle das exigências
pecaminosas e paixões de nossos corpos corrompidos. Mas, Cristo acabou com
nossa separação de Deus levando sobre Si mesmo a condenação do pecado,
permitindo que nossos espíritos se unissem ao Seu Espírito e fossem vivificados.
Isso, por sua vez, permitiu nossa mente ser “colocada” em Seu Espírito, e acabou
com a guerra entre a mente e o corpo, trazendo-nos vida e paz. Finalmente nossos
corpos, que eram “carne do pecado”, partilharam na morte de Cristo. Isso matou a
doença do pecado e em Sua ressurreição, Ele trouxe vida a nossos corpos mortais.
Nossos corpos saíram dos castelos malignos, habitação da natureza pecaminosa que
“não pode agradar a Deus” para templos santos onde “habita” o Espírito Santo.
Deus não deixou nenhuma parte de nós inalterada quando Ele nos casou
com Seu Filho. É por isso que na segunda carta de Paulo aos Coríntios, ele diz que
somos uma “nova criação” — não apenas um novo espírito, mas um ser totalmente
novo (II Coríntios 5:17, NVI). Nossa própria natureza foi completamente
transformada. Fomos transformados de inimigos de Deus em santos que amam a
Jesus com todo seu ser—espírito, alma e corpo!
Mas espere, você talvez pense: Paulo não disse que a carne era inimiga de
Deus? Olhe de novo. Ele disse: A inclinação da carne é inimizade contra Deus. O
que isso significa? Ficará mais claro se você estudar como o Novo Testamento usa a
palavra grega sarx, que é normalmente traduzida por “carne”. Você descobrirá que a
palavra em si mesma não denota algo negativo ou positivo — tanto a velha natureza
como a nova criação são chamadas de “a came” (sarx) em contextos diferentes. Isso
nos diz que nosso corpo físico não é fonte de bem ou mal. Nossa carne é governada
pelo nosso espírito e nossa alma. Em especial, nossa alma é o sistema operacional do
corpo, o mediador entre o espiritual e o físico. A “inclinação da came” é uma
descrição da alma que está desconectada do Espírito Santo e está executando um
“programa” construído sobre mentiras e falso poder espiritual, como luxúria e
medo. Em sua carta aos Gálatas, Paulo descreve o comportamento que esta
inclinação produz: As obras da carne são conhecidas, as quais são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, pelejas,
dissensões, facções, invejas, bebedices, orgias, e coisas semelhantes a estas, acerca
das quais vos declaro, como já antes vos preveni, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus (Gálatas 5:19-21).
Outra vez, quando nossos espíritos foram vivificados em Cristo, nossas
almas foram libertas da tirania desta inclinação. Agora temos liberdade e
responsabilidade para “colocar nossas mentes” nas coisas do Espírito. Quando
nossas mentes são colocadas no Espírito, não somos mais controlados por nossas
paixões físicas. Em vez disso, temos o poder para dirigir nosso corpo segundo seu
verdadeiro valor e propósito espirituais.
Em primeiro lugar, Paulo nos ensina que devemos alimentar e cuidar da
nossa carne: Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo [carne] antes
o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros
do seu corpo (Efésios 5:29-30 NVI). A palavra grega para cuidar aqui é thalpo, a
mesma palavra grega que é traduzida por “acaricia” em 1 Tessalonicenses 2:7: Antes
fomos brandos entre vós, como a mãe que acaricia seus próprios filhos. Se a carne
do nosso novo homem estivesse em oposição a Deus, a Bíblia certamente não nos
ensinaria a cuidar dela como uma mãe acaricia seu filho.
Segundo, Paulo diz em Romanos 6:13 para apresentar vossos membros a
Deus, como instrumentos de justiça, e em Romanos 12:1 para apresentar vossos
corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Se você já leu o Antigo
Testamento, sabe que as únicas coisas que poderiam ser usadas como
“instrumentos” ou “sacrifícios” para a adoração a Deus eram as que tinham sido
purificadas e lavadas. Seria impossível aos judeus em Roma, para quem Paulo
escreve esta carta, perder a implicação deste verso: Nossos corpos estão limpos e
puros em Cristo.

Autoengano

Vamos ser práticos. Talvez você esteja se perguntando: Se realmente somos


nova criação e não mais lutamos contra a carne, então como é que os cristãos ainda
pecam? Isso não significa que ainda temos uma natureza pecaminosa?
Deixe-me fazer uma pergunta: Adão e Eva tinham uma natureza
pecaminosa quando caíram? A resposta é não. Adão e Eva provaram que você não
precisa de uma natureza pecaminosa para pecar. Depois que Deus criou Adão,
tanto homem como mulher, Ele olhou para tudo que tinha feito e disse que era
“muito bom” (Gênesis 1:31). Se Adão e Eva possuíssem uma natureza pecaminosa,
Deus não poderia tê-los chamado de “muito bom”.
Isto prova que tudo que você precisa para pecar é um livre arbítrio e a
capacidade de crer em uma mentira. Todos os cristãos possuem essas qualidades —
é por isso que o apóstolo João nos ensinou a não nos enganarmos a nós mesmos
acerca de quem éramos antes de sermos purificados do pecado e quem somos depois
que fomos purificados:

Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos,


e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça.... Meus filhinhos, estas
coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, porém, alguém pecar, temos um
Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
1 João 1:8-9; 2:1, ênfase acrescentada
João deixa claro que todos nós vamos a Cristo como pessoas que “têm
pecado” — isto é, inclinadas ao pecado. Afinal, Deus somente salva pecadores. Não
importa quão agradável, carinhosa, generosa ou amigável seja a pessoa, ela ainda
está por herança inclinada ao erro, se não conhece a Jesus. Assim, a primeira
maneira que podemos nos enganar é dizendo que não temos pecado que precisa ser
perdoado.
Contudo, o objetivo da carta de João é que não pecássemos, o que somente
é possível se a purificação que recebemos de Cristo removesse nossa antiga
inclinação ao pecado. É isso que a experiência de batismo da nova criação fez por
nós. Nossa antiga natureza submergiu e saímos da água com um novo espírito, um
espírito que clama: “Abba, Pai!” No profundo do nosso ser, agora somos pessoas
maravilhosas que por herança amam e anseiam por nosso Pai celestial, assim como
Cristo anseia. O mal não está intrinsecamente presente em nós. Temos o coração
celestial.
Na verdade, Deus trabalhou tanto para que tenhamos uma vida santa, que
se (não quando) pecarmos, precisamos mesmo de um advogado para ajudar a
defender nosso caso. Assim, depois que confessarmos nossos pecados, a segunda
maneira com que podemos nos enganar é dizendo que conhecemos Deus, enquanto
continuamos a praticar o pecado. E uma das melhores maneiras de se fazer isso é
adotar a crença que ainda somos pecadores por natureza. Se cremos que somos
pecadores, continuaremos a pecar.
É por isso que João nos ensina a crer que não pecaremos quando
aprendermos a permanecer em Cristo. Ele escreve: Todo aquele que permanece
nele não vive pecando, [n.t. não peca conforme a versão do autor] todo o que vive
pecando não o viu nem o conhece.... Aquele que é nascido de Deus não vive na
prática do pecado, porque a semente de Deus permanece nele; não pode continuar
pecando [pecar], porque é nascido de Deus" (I João 3:6,9).
Uau! Essas palavras são fortes: Aquele que é nascido de Deus não vive na
prática do pecado! Essas passagens realmente me levam ao ponto que quero chegar.
Aqueles de nós que conhecem a Deus não estão em guerra com nossa carne. Não
somos mais pecadores. Porém, temos sim um inimigo mal e desonesto que é
pecador. Ele acusa sem parar o Corpo de ter sua própria natureza ímpia. Ele está
tentando nos fazer acreditar nele, esquecer quem realmente somos e nos
desqualificar do nosso destino divino de colocá-lo debaixo de nossos pés.
Quero deixar claro que não estou dizendo que nunca escolheremos pecar ou
nunca precisaremos nos arrepender uma vez que nascemos de novo. Como disse,
tudo que é necessário para pecar é um livre arbítrio e a capacidade de acreditar nas
mentiras do inimigo — e os crentes possuem ambas. De fato, podemos escolher
pecar e consequentemente iremos nos arrepender. O que estou dizendo é que não
pecamos por natureza porque não temos mais a natureza pecaminosa que está
casada com a Lei. Nossa velha natureza foi crucificada com Cristo; somos novas
criaturas casados com Cristo na Nova Aliança.
Em oposição a esta verdade poderosa, uma teologia enganosa continua
circulando na Igreja — a doutrina que basicamente diz que ainda é de nossa
natureza, pecar depois que nascemos de novo. Estou convencido que esta é uma
doutrina de demônios. O diabo quer nos convencer que pecado, impiedade, vícios e
todas as outras formas de aprisionamentos estão arraigados em nossa natureza.
Dessa maneira, ele pode nos atormentar e culpar nosso velho homem. Mas, na
parábola da ovelha perdida, Jesus disse: Digo-vos que do mesmo jeito haverá alegria
no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que
não necessitam de arrependimento (Lucas 15:7). Esta parábola demonstra o estado
comum da maioria das pessoas no Reino — conforme Jesus, noventa e nove por
cento das pessoas que tem Deus, não precisa arrependimento! A vida cristã normal
não é para ser uma luta exaustiva com um morto, mas uma vida abundante, cheia de
alegria com Deus, salgada com um período ocasional de forte resistência do nosso
arqui-inimigo.

A Desgraça Adora Companhia

Essa percepção enganosa de que o crente, nascido de novo ainda é pecador


por natureza surgiu algum tempo atrás, quando eu estava ensinando um grupo
acerca da natureza divina de quem nasceu de novo. Estava dizendo na classe que
não somos mais pecadores, ao invés disso nos tornamos santos através do poder da
cruz.
Para ilustrar meu argumento, disse: “Há um rio que flui em nossas almas e
corre para em direção ao trono. Se nós não remarmos chegaremos à casa de Deus!
Você tem que se esforçar para pecar porque essa não é mais sua natureza”.
Um jovem alto no meio da sala não aguentava mais. Levantou-se
repentinamente e com toda a paixão que conseguiu gritou: “Você já passou um dia
sem pecar?”
“Sim, naturalmente que já passei”, disparei de volta.
“E uma semana?” ele pressionou, olhando-me diretamente nos olhos com
um olhar severo.
“Claro”, continuei, sorrindo para ele. “Na verdade, já passei várias semanas
diretas sem pecar”.
Ele despencou na cadeira, parecendo completamente derrotado. Pareceu
estranho que ele não achasse meus comentários encorajadores. Afinal, eu não estava
dizendo que era perfeito ou que tinha realizado algo maravilhoso por minhas
próprias forças ou autodisciplina. Sei muito bem que os melhores esforços do
homem somente conduzem a prisão da justiça própria. Estava somente testificando
da obra do Espírito Santo em minha vida. É responsabilidade do Espírito Santo
nos conduzir a toda verdade e nos aperfeiçoar de dentro para fora.
No capítulo anterior compartilhei minha própria história de
aprisionamento e tormento. Uma das principais razões porque minha batalha
durou tanto foi porque estava lutando contra o inimigo errado. Ensino equivocado
tinha me convencido que meus pensamentos atormentadores, terrores noturnos e
medo intenso eram manifestações da guerra que todos nós temos com o velho
homem. Ninguém jamais me disse que esta etapa aterrorizante era na verdade, uma
guerra com os espíritos demoníacos cujo objetivo era roubar, matar e destruir minha
vida. Através dos anos, desde então, aprendi que embora a guerra espiritual seja
parte normal de uma vida cristã em determinadas épocas, existem várias maneiras
através das quais, na verdade capacitamos os espíritos maus a nos torturarem. No
próximo capítulo iremos desvendar algumas das armadilhas enganosas em que os
cristãos frequentemente caem que aprisionam suas almas e mantém cativos seus
corações.
3 – REGRAS DE COMBATE

Os conflitos espirituais com frequência ocorrem quando entramos em um


novo território atualmente habitado por espíritos maus. Assim como os inimigos
lutaram com Josué na Terra Prometida e Neemias enquanto reedificava os muros
de Jerusalém, assim também nossos inimigos lutarão conosco quando começarmos
a tomar o terreno espiritual que Deus nos prometeu. A maioria dos cristãos,
contudo, desconhece completamente que a resistência que encontram ao entrar nas
promessas de Deus é na verdade, parte de uma guerra espiritual. Eles recuam ao
primeiro sinal de conflito porque falham em reconhecer a verdadeira fonte da
batalha ou a maneira na qual a guerra é travada no reino invisível.
Uma das maneiras mais comuns dos espíritos demoníacos nos atacarem é
dando pensamentos que a Bíblia descreve como dardos inflamados (veja Efésios
6:16). Porque estes pensamentos são, na verdade, manifestações de espíritos
malignos e não apenas más ideias, eles são convincentes — em outras palavras, há
anseio para cometer o ato que estamos contemplando, mesmo que estas ideias
sejam contrárias a nossa nova natureza. Depois estes mesmos espíritos nos acusam
de dar origem a estes pensamentos e impulsos. Se acreditarmos em suas acusações,
perdemos a confiança em nossa identidade e divagamos em emoções como
depressão, ansiedade e ódio a si mesmo.
O inimigo e seu bando também atacam nossa imaginação inspirando visões
e figuras terríveis que lutam contra nossa mente e podem ser profundamente
perturbadoras, principalmente se não entendermos a fonte destes ataques. O
mesmo fervor que acompanha falsos pensamentos normalmente acompanha estas
falsas visões.
Algumas pessoas experimentam guerra espiritual sem pensamento ou figura
na mente, mas com horríveis “sentimentos”, falsos impulsos ou fervor que se
enfurecem contra suas almas. Porém, não importa que manifestações espirituais a
guerra adote, o fato mais importante a se lembrar é que estes são sintomas das
astutas ciladas do inimigo para roubar nossa herança, matar nossa descendência e
destruir nossas próprias vidas.

Pesquisa Demoníaca

Recentemente comecei a me perguntar quantas pessoas realmente estão


cientes da guerra acontecendo em suas almas e afetando suas mentes. Decidi fazer
minha própria “pesquisa de ataque demoníaco” para descobrir. Nas conferências
que ministrava ao redor do mundo fiz esta simples pergunta: “Quantos de vocês ao
estar dirigindo na estrada, tratando da sua própria vida, sem mais nem menos tem o
pensamento de que deveria bater seu carro e se matar, seguido de um desejo tão
intenso que você sente como se tivesse que segurar o volante com as duas mãos para
não fazer algo estúpido? Por favor, levante sua mão se isso já aconteceu com você”.
Os resultados me deixaram espantado. Provavelmente pesquisei mais de
dez mil pessoas neste último ano, e dois terços delas reconheceu ter esta exata
experiência.
É confortador para as pessoas que responderam sim, olhar ao redor e
observar o número e qualidade das outras pessoas com suas mãos levantadas. A
maioria que confirma esta experiência é de santos equilibrados de grande reputação.
Muitos vêm a mim depois destes encontros para compartilhar como é reconfortante
saber que eles não estão loucos.
Paulo explica esta estratégia de guerra espiritual em II Coríntios 10:3-5,
quando diz que o inimigo nos ataca com pensamentos, argumentos e altivez. O
inimigo tenta nos fazer entreter e concordar com esses pensamentos. Se o fazemos,
tijolo a tijolo eles se tornam fortalezas, castelos maus de ideias destrutivas que
aprisionam nossas almas, nos fazendo ansiar por um príncipe para resgatar-nos das
garras de nosso perverso capturador.
O fato de Paulo descrever a maneira como tratamos essas coisas como
“destruição das fortalezas” (versículo 4) em vez de simplesmente mudar nossos
pensamentos, sugere que embora pensamentos, argumentos e altivez não sejam
tangíveis neste mundo, eles o são no mundo espiritual. São realidades inspiradas de
forma demoníaca que o inimigo busca realizar através de nossa cooperação.
Pensamentos são com frequência ideias aleatórias como a que compartilhei
no meu exemplo da batida do carro, ao passo, que argumentos e altivez são sistemas
de pensamento que são mais estrategicamente destruidores em seu foco.
Argumentos muitas vezes são caracterizados por perguntas como e se, que se não
forem controladas podem atormentar nossas almas. “E se eu tiver câncer?” “E se
minha esposa está chegando em casa tarde porque está tendo um caso?” “E se meu
filho ou minha filha estiver usando drogas?” “E se minha filha ficar grávida
namorando?” Veja que nenhuma dessas perguntas de e se sugerem coisas boas a
nós. Argumentos nos fazem prisioneiros de nossos medos, buscam abrir portas em
nossas vidas através das quais podem nos conduzir a escravidão.
Altivez são filosofias que nos fazem sentir que o diabo é grande e poderoso e
Deus é pequeno e impotente em nossas vidas. Expressões como: “Bem, acho que
tudo que podemos fazer agora é orar” são fruto da mentalidade de “altivez”.
Quando estamos debaixo da influência deste espírito, nossas circunstâncias
facilmente nos sobrecarregam. Sentimos como criancinhas em um mundo adulto.
Paulo também nos relembra que estas batalhas épicas que lutam contra
nossas mentes não são devido a nossa natureza humana. Não estamos lutando
contra carne e sangue, mas contra forças demoníacas do mal. Paulo estabelece esta
verdade em Efésios 6:12 quando diz: Pois não temos de lutar contra a carne e o
sangue, e, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes. No
capítulo anterior olhamos este versículo à luz da nossa nova natureza. Porém, quero
reiterar que, porque temos essa nova natureza, podemos ter certeza que estes
pensamentos não se originam em nossas mentes — eles são propagandas
patrocinadas pelo lado do mal. Uma das chaves mais importantes para se ganhar
essas batalhas é simplesmente reconhecer que estes pensamentos não são nossos e
rejeitar toda posse sobre eles. Como Paulo disse aos Filipenses, quando nos
recusamos a ficar intimidados, alarmados ou preocupados com estes pensamentos, é
sinal de destruição para nossos adversários e de vitória para nós (veja Filipenses
1:28).

O Demônio com Olhos Incandescentes

Há muitos anos, aprendi por experiência própria como aplicar Filipenses


1:28 quando os sonhos terríveis começaram a me atormentar. Com frequência
acordava em pânico vendo dois grandes olhos vermelhos incandescentes me
olhando no pé da cama. (Sei que isso parece uma cena de filme de terror, mas é
verdade). Isso aconteceu durante meses. Tentei de tudo que podia pensar para fazer
aquilo parar. Repreendi em nome de Jesus. Li as Escrituras para ele por horas.
Adorava a Deus enquanto ele me observava — nada parecia perturbá-lo. Então um
dia o Senhor me deu o princípio de Filipenses: Sem serdes intimidados pelos
adversários. Isso para eles, na verdade, é sinal de destruição, mas para vós de
salvação. Ele chamou isso de “o poder de ignorar”.
Naquela mesma noite o demônio voltou. Acordei com o mesmo cenário,
mas desta vez estava preparado. Com o coração palpitando no peito, olhei para o
demônio com olhos vermelhos incandescentes e disse com voz calma: “Oh, é
apenas você outra vez”. E então me virei e dormi. Nunca mais voltou depois daquela
noite. Entendi que quando o espírito maligno perdeu a capacidade de me assustar,
não teve mais poder sobre mim.
Através destas guerras aprendi vários princípios que são importantes para
relembrar nessas horas. Primeiro, os espíritos malignos não têm poder sobre os
cristãos (embora sintam como se tivessem) a menos que lhes demos poder. Nós
temos poder sobre eles! Em segundo lugar, essas batalhas vêm em ondas e elas não
durarão para sempre. E terceiro, é provável que não tenhamos feito nada errado
para produzir estas batalhas. Na verdade, normalmente estamos em uma guerra
porque estamos fazendo algo correto.

Engajando em Conflito

Quero identificar algumas “regras de combate” que retirei da história épica


de Neemias que irão nos ajudar a reconhecer e derrotar estes impulsos e ataques
demoníacos. Entender as regras do combate é primordial se queremos vencer essas
batalhas e não nos tornarmos prisioneiros de guerra em um campo de prisioneiros
demoníaco. O livro de Neemias nos dá vários insights nestas guerras.
Neemias era um copeiro judeu de um rei em um país estrangeiro. Hanani, o
irmão de Neemias, veio visitá-lo e lhe contou como estavam as coisas em Jerusalém
(veja Neemias 1:2-11). Anos antes, Esdras, o sacerdote, tinha liderado um grupo de
israelitas na reedificação do Templo de Salomão, que tinha sido destruído em uma
guerra com os babilônios. Mas, embora tenham conseguido reconstruir o Templo,
os israelitas achavam impossível apesar de anos de rigoroso esforço, reconstruir os
muros e colocar as portas ao redor de Jerusalém. Os muros eram necessários para
garantir a proteção do povo e definir as fronteiras da sua herança.
Quando Neemias ouviu acerca da condição deteriorante de Jerusalém, ficou
consternado e pediu ao rei uma licença para que pudesse avaliar a situação e ajudar
com a restauração da cidade. O rei lhe deu mais do que uma licença; ele
comissionou Neemias para reedificar os muros. Também enviou ajuda e provisão, e
estendeu o favor que tinha com as nações vizinhas lhes pedindo para assistirem
Neemias na procura de materiais de construção necessários para completar o
trabalho (veja Neemias 2:1-9).
O nome Neemias significa “consolador” e sua obra de reedificar os muros de
Jerusalém é uma linda figura de como o Consolador, o Espírito Santo, trabalha para
restaurar as fronteiras em nossas vidas e nos conduzir a perfeição (veja Hebreus
7:11; 1.1:40; 12:23; Tiago 3:2; I Pedro 5:10). Como a cidade de Jerusalém nos dias
de Esdras, quando recebemos Jesus como nosso Senhor, a primeira coisa que Deus
faz é reconstruir Seu templo dentro de nós. Contudo, nossos “muros e portas” ainda
necessitam de reparo. Isaías disse: Mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas
portas Louvor (Isaías 60:18). No Novo Testamento, a palavra grega para salvação,
sozo se refere não somente a ressurreição espiritual, mas também a restauração total
de nossos corpos e almas. O Espírito Santo reconstrói nossos “muros de salvação”
corrigindo nossos padrões de pensamentos antigos e quebrados e estabelecendo
novas fortalezas da verdade que trazem saúde e força a cada dimensão de nosso ser.
Enquanto o Espírito Santo nos restaura, Ele treina nossas vontades para escolher
pensamentos, valores e comportamentos que trazem louvor a Ele.
“Portas” representam pontos de acesso em nossos corações que dependem
das escolhas que fazemos. Quando os elementos malignos de engano infectam
muitas de nossas escolhas essenciais, nossas portas se tornam portas enferrujadas de
indiferença, desacostumadas a se fecharem para nos proteger do vento frio do
pensamento mundano. Ao permanecermos apáticos, letárgicos e passivos os
espíritos demoníacos por traz de nossas escolhas infectadas permanecem
escondidos e passam despercebidos, porque o inimigo tem livre acesso aos nossos
corações e mentes. Somente quando sacudimos
a complacência e fechamos as portas das nossas mentes para os
pensamentos demoníacos que todo o céu parece se abrir, O inimigo guerreia contra
nós quando pró- ativamente abraçamos nosso destino barrando-o nas portas.
Vamos dar uma espiada por trás do véu do tempo e ver se podemos ter um
vislumbre na natureza destes conflitos invisíveis que guerreiam sobre os muros e
portas de nossas almas. Espiaremos as estratégias do inimigo nas explorações
históricas de Neemias para reconstruir os muros de Jerusalém. Aqui está o próprio
relato de Neemias de como ele conseguiu instigar um conflito com o inimigo
quando determinou perseguir seu destino e reivindicar a herança do seu povo:

Então fui aos governadores dalém do Eufrates e entreguei-lhes as cartas do


rei. O rei também tinha enviado comigo oficiais do exército e cavaleiros. Quando
Sambalate, o horonita, e Tobias, o oficial amonita, ouviram isto, ficaram
extremamente perturbados que alguém viesse a promover o bem dos filhos de
Israel.
Neemias 2:9-10

O diabo odeia ver restauração em qualquer área de nossas vidas ou na vida


de outros. Outra vez, a guerra que ele faz contra nós, é com maior frequência, um
sinal de que temos verdadeiramente abraçado a busca apaixonada de nossa Terra
Prometida. Sou relembrado deste princípio ano após ano quando centenas de
estudantes participam da Escola de Ministério Sobrenatural Bethel. Reconheço um
tema comum com a maioria de nossos alunos enquanto ouço suas histórias pessoais.
A conversa se dá como algo assim: “Antes de vir para a escola, tudo em minha vida
era ótimo. Tinha paz, minha conexão com Deus era boa e meus pensamentos não
eram loucos! Mas, desde que comecei a escola as coisas têm sido muito difíceis. Não
tenho certeza do que estou fazendo de errado, mas sinto como se estivesse mais
fraco do que jamais estive antes...”.
O que a maioria dos estudantes falha em reconhecer é que, a batalha que
estão enfrentando não é um sinal de Deus de que eles escolheram o caminho errado,
mas antes uma indicação de que começaram um processo de restauração dos muros
e portas de suas vidas.

Restauração Estratégica

Quando Neemias chegou a Jerusalém, a primeira coisa que fez foi


inspecionar os muros e avaliar os problemas. Da mesma maneira, a obra do Espírito
Santo nos coloca em contato com nosso quebrantamento. Em nome da “fé”,
contudo, muitos recusam encarar seus problemas de frente. Com frequência dizem
aos outros que estão crendo em Deus por um milagre e, portanto, focados na Sua
Palavra e não nos seus problemas. Naturalmente, esta é uma estratégia espiritual
legítima que trataremos mais adiante no livro. Porém, sempre que não pudermos
olhar para os nossos desafios sem ficar desencorajados, estamos vivendo em
negação, não por fé. Por exemplo: se você não faz um balanço no talão de cheques
porque “acredita” que Deus cuida de suas finanças, irá provavelmente aprender este
famoso adágio da maneira mais difícil: “Quando sua despesa ultrapassa sua renda,
sua manutenção será a sua ruína”. Negação é o fruto do medo, não a raiz da fé. A fé
verdadeira pode avaliar as circunstâncias sem ficar desanimada, porque ela vê o
mundo através dos olhos de Deus.
Neemias era realista. Ele sabia que não poderia desenvolver uma estratégia
de reconstrução dos muros e portas até que tivesse avaliado os estragos com
precisão. Vejamos a maneira como Neemias conduziu sua avaliação:

Cheguei a Jerusalém, e depois de três dias ali, parti de noite, eu e uns poucos
homens comigo. Não declarei a ninguém o que o meu Deus me tinha posto no
coração para fazer em Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão o que eu
montava. Saí de noite pela Porta do Vale, na direção da Fonte do Dragão e da Porta
do Monturo, e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam derrubados, e as
suas portas, que tinham sido consumidas pelo fogo. Então passei à Porta da Fonte,
e à piscina do rei, mas não havia espaço suficiente para passar o animal que eu
montava; de maneira que de noite subi pelo vale e contemplei os muros. Finalmente
voltei e entrei pela Porta do Vale. Não souberam os magistrados aonde eu fora nem
o que eu fazia, porque até então eu não havia declarado coisa alguma, nem aos
judeus, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra.
Neemias 2:11-16

Neemias "partiu de noite” e "não declarou a ninguém” o que Deus colocou


em seu coração para fazer em Jerusalém. Esta é uma declaração profética acerca de
como o Espírito Santo trabalha em nossas vidas para nos restaurar e aperfeiçoar.
Descobri que é nas horas escuras (noite) de nossas vidas que o Senhor começa a
“levantar” e brilhar Seu holofote sobre nosso quebrantamento para nos fazer
completos. Mas nestes tempos noturnos quando Ele está fazendo a maior parte da
obra em nossas vidas, muitas vezes estamos totalmente inconscientes disso, ou
achamos que é o diabo. Precisamos discernir a diferença entre o holofote do
Espírito Santo, que avalia os prejuízos feitos a nossos muros para nos reedificar, e as
acusações dos espíritos malignos que apontam nossas fraquezas, mas não tem valor
redentor algum.
Observe o contraste entre a visão de Neemias da situação e a dos inimigos
de Israel, que focavam nas fraquezas que percebiam. A perspectiva de Neemias era
esta:

Então eu lhes disse: Bem vedes vós a aflição em que estamos: Jerusalém está
em ruínas, e as suas portas queimadas a fogo. Vinde, reedifiquemos os muros de
Jerusalém para que não estejamos mais em opróbrio. Também lhes declarei como a
mão do meu Deus me fora favorável, e bem assim as palavras que o rei me tinha
dito. Responderam eles: Levantemo-nos, e edifiquemos. De maneira que deram
início a esta boa obra.
Neemias 2:17-18, ênfase acrescentada

Os inimigos de Israel viram isso:

Quando Sambalate ouviu que reedificávamos o muro, ardeu em ira e se


indignou muito, e escarneceu dos judeus. Disse na presença de seus irmãos, e do
exército de Samaria: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isto?
Sacrificarão? Acabarão a obra num só dia?
Vivificarão dos montões de pó as pedras que foram queimadas? Tobias, o
amonita, que estava ao seu lado, disse: Ainda que reedifiquem, vindo uma raposa
derrubará o seu muro de pedra.
Neemias 4:1-3, ênfase acrescentada

Neemias, assim como o Espirito Santo em nossas vidas, tinha uma


perspectiva honesta sobre a condição dos muros e portas. Ele não a açucarou nem
minimizou; nem tentou fazer o povo se sentir culpado por sua condição. Pelo
contrário, ele disse: “Bem vedes vós a aflição em que estamos". Neemias declarou a
verdade sobre o problema e então assumiu sua parte também. Da mesma maneira,
quando o Espírito Santo confronta nosso quebrantamento, Ele diz: Venham,
vamos refletir juntos (Isaías 1:18 NVI). Em outras palavras: “Vamos entender isso
juntos e consertá-lo”. Contudo, até que assumamos nossa parte na situação Ele não
pode nos ajudar a resolvê-la. Enquanto insistirmos que uma péssima situação não é
culpa nossa ou culparmos outros por nossa confusão, nossos muros permanecem
quebrados. Permaneceremos fariseus que cruzam a rua para evitar a dor (veja Lucas
10:29-32) ou críticos que se distanciam ao criticar alguém que está tentando nos
ajudar. Somente quando assumimos a responsabilidade por um problema que
começamos a ser parte da solução.
Na história de Neemias, Sambalate e Tobias são como nosso arqui-inimigo
o diabo e seus demônios. Eles não têm nenhum interesse em ver nossos muros
restaurados. Somente querem nos relembrar nossas fraquezas, com a intenção de
nos destruir. Se não podem encontrar um verdadeiro problema em nossas vidas eles
o inventarão.
O apóstolo João descreveu o diabo como o acusador de nossos irmãos... o
qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite (Apocalipse 12:10). O diabo
se profissionalizou em nos atacar. Ele é um destruidor de oportunidades iguais. Não
se importa com nosso histórico. Ele emprega suas acusações contra nós, não
importa quem somos.

Especulações Mentirosas

Voltemos a olhar de volta no tempo naquela última passagem novamente


para ver o que mais podemos obter do diário de Neemias. Aqui os inimigos não
estão empregando nenhuma tática sutil como a tentação; estão recorrendo a um
ataque de acusação em cheio. Eles usam as mesmas cinco acusações que nosso
inimigo mais comumente dirige a nós como crentes!

1. Que fazem estes fracos judeus? — Em primeiro lugar o diabo ataca


nossa pessoa.
2. Permitir-se-lhes-á isto? — Depois o acusador questiona nossas
intenções.
3. Sacrificarão? — Então ele tenta nos fazer duvidar do nosso
relacionamento com Deus.
4. Acabarão a obra num só dia? Vivificarão dos montões de pó as pedras
que foram queimadas? — O inimigo tenta nos convencer que não temos capacidade
de realizar a missão.
5. Ainda que reedifiquem, vindo uma raposa derrubará o seu muro de
pedra — Finalmente ele ataca a qualidade do nosso trabalho.

Os esquemas, ciladas e planos do inimigo não mudaram em milhares de


anos. Você pensaria que por agora reconheceríamos seus estratagemas e evitaríamos
suas conquistas. Contudo, fico espantado com a frequência que vejo pessoas
baleadas na mesma cena de crime, com as mesmas especulações mentirosas que o
diabo tem usado por gerações, embora a cena esteja claramente marcada com a fita
de CUIDADO com centenas de Escrituras.
Aqui estão algumas chaves para vencer estes ataques comuns. Primeiro, é
imprescindível que nunca falemos do diabo sem que nosso advogado esteja
presente. Jesus é o nosso advogado (veja I João 2:1), e não devemos de maneira
alguma negociar com um terrorista! Sempre devemos deixar o Senhor tomar nossa
causa.
Observe como o Senhor lidou com Satanás quando ele trouxe acusações
contra Josué, o sumo sacerdote. Tenho certeza que Josué estava experimentando
um destes tempos difíceis em sua vida em que o diabo estava lhe relembrando dia e
noite seus fracassos, defeitos e pecados:

Então ele me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo
do Senhor, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor. O Senhor disse a
Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás! O Senhor, que escolheu Jerusalém, te
repreende! Não é este um tição tirado do fogo? Ora, Josué, vestido de trajes sujos,
estava diante do anjo. Então falando este, ordenou aos que estavam diante dele:
Tirai-lhe estes trajes sujos. E a Josué disse: Vê, tenho feito com que passe de ti a tua
iniquidade, e te vestirei de trajes finos.
Zacarias 3:1-4

A obra do Senhor em nossas vidas é uma repreensão aberta aos poderes das
trevas. Quando príncipes malignos mexem conosco, eles trespassam para território
perigoso. Somos justificados pelas obras de Deus e não por nossas próprias, e a
verdade da Sua graça invalida os fatos e falácias do diabo.
Jesus convida para que acheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da
graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, afim de sermos socorridos
no momento oportuno (Hebreus 4:16). Quando espíritos terroristas estão nos
perseguindo podemos correr para o palácio, pular no trono e sentar com Cristo. Na
verdade, se as coisas ficarem ruins demais podemos nos fingir de mortos e esconder
em Cristo (veja Colossenses 3:3). Quando minha alma está sitiada, muitas vezes
tenho essa visão de me sentar neste enorme trono com Jesus. A cadeira é tão alta
que Ele tem que me ajudar para me colocar no Seu colo. Com minhas pernas
balançando alguns metros do chão, sussurro em Seu ouvido, compartilhando com
Ele que alguém está me perseguindo e não me deixará em paz. O inimigo parece
aterrorizado quando espia pela janela do palácio e me vê sussurrando com o Senhor.
De repente ele foge do local quando o Senhor dá ordens para puni-lo por me
atormentar.

Guerra — Um Assunto Familiar

Voltemos para a história de Neemias:

Então os judeus que habitavam perto deles vieram e dez vezes nos disseram:
Eles nos atacarão de todos os lugares onde moram. Pelo que pus guardas por detrás
dos pontos mais baixos do muro, nos lugares descobertos, dispus o povo segundo as
suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos. Depois
de inspecionar a situação, levantei-me e disse aos nobres, aos magistrados e ao resto
do povo: Não os temais. Lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai por
vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas.
Neemias 4:12-14
Gosto muito do fato de Neemias ter feito da guerra um assunto familiar,
posicionando parentes nos lugares expostos dos muros. Esta história me faz lembrar
uma situação que enfrentamos com nosso filho mais novo, Jason. Quando ele estava
com quinze anos ele se achou em uma guerra terrível com a pornografia. Alguns
meses em sua luta, ele contou a Kathy e a mim sobre sua escravidão e sua luta sem
sucesso para se libertar. Aconselhamos a ele para contar ao resto da família e nos
deixar proteger os lugares derrubados nos muros da sua vida até que ele fortificasse
seu coração de novo. Ele concordou que nos ajuntássemos a ele na batalha.
A luta durou quase nove meses. Jason escorregou várias vezes de volta na
fossa pornô. Todos nós oramos por ele diariamente e relembramos com frequência
quem ele fora chamado para ser. Nós o responsabilizamos por seus pensamentos,
atitudes e comportamento de forma regular e ficamos próximos dele durante os dias
mais difíceis. A guerra intensa finalmente se foi e celebramos juntos. Nunca o
condenamos ou acusamos. Apenas continuamos dizendo-lhe que ele era
maravilhoso demais para agir assim. Ele foi chamado para ser um homem nobre e
não um vagabundo que sexualiza as filhas de Deus.
Jason está com 31 anos enquanto escrevo este livro e nunca mais caiu na
pornografia. Outro dia o ouvi dizer: “Com frequência me encontrava em
circunstâncias que eram grandes demais para mim. Mas nunca enfrentei nada na
vida que fosse grande demais para minha família”.
Neemias exortou aos judeus a lutarem por “vossos irmãos, vossos filhos,
vossas mulheres”. É importante que entendamos que nossas vitórias pessoais têm
ramificações coletivas. Ninguém nunca fracassa sozinho! Quando ganhamos
liberdade em nossas próprias vidas, somos fortalecidos a dá-la a outros como
herança.

Medo — Arsenal Nuclear dos Poderes Demoníacos

Neemias descobriu que o medo era o principal detrator da obra de Deus


sendo realizada na vida do povo. Medo é fé no deus errado. Quando colocamos
nossa fé em Jesus experimentamos o fruto do Espírito Santo: amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio
(Gálatas 5:22-23). Mas quando ouvimos o espírito errado, produtos envenenados
começam a crescer no espinheiro da ansiedade, colhendo uma safra de destruição.
O medo é o pecado mais aceito socialmente na Igreja. O medo é um
assassino em série, o principal suspeito na morte de mais pessoas no planeta do que
todas as outras doenças juntas. O medo de qualquer forma tem sido associado a
doenças do coração, câncer, doenças autoimunes, doenças mentais e muitas outras
doenças. O medo é o tapete de entrada para a atividade demoníaca em nossas vidas.
O profeta Isaías escreveu: A opressão estará longe de ti; já não temerás (Isaías
54:14). Quando rejeitamos o medo, vivemos em paz. Todavia, se permitirmos o
medo mover-se lentamente em nossas vidas, logo nos encontraremos oprimidos,
atormentados e torturados.
É importante entendermos a maneira crítica como Deus vê o medo. Por
exemplo: o rei Davi cometeu adultério com Bate-Seba e matou seu marido Urias,
contudo Deus não removeu dele o reino (veja II Samuel 11:1-27). Por outro lado,
porque Saul temeu o povo a quem Deus o chamou para liderar, ele desobedeceu ao
Senhor, e o Senhor rasgou o seu reinado e o deu a Davi (veja I Samuel 15:24-26).
Certamente adultério e assassinato são males terríveis que se qualificam
como males sociais. Não estou descartando isso; estou simplesmente tentando
enfatizar como a natureza destrutiva do medo com frequência passa despercebida
pela sociedade, embora o tempo todo esteja silenciosamente roubando nosso
destino, matando nossos corpos e destruindo nossas cidades.
A cura de Neemias para a ansiedade de seu povo era simplesmente
lembrai-vos do Senhor, grande e terrível (Neemias 4:14). O medo desmembra e
desfigura nossa perspectiva de Deus, fazendo-o parecer um refém impotente
controlado pelas nossas circunstâncias. Mas, quando relembramos do Senhor e
recontamos Suas obras, começamos a reformar nossa visão de Sua grandeza em
nossos corações. Ao meditarmos na Sua grandeza, a confiança começa a brotar no
solo de nossa fé e logo a fantasia do medo é desmascarada, açoitada e afugentada.

A Arma da Importância

O incrível sucesso de Neemias dependia do seu aprendizado em dominar o


medo e recusar a abandonar seu destino. Ele e os israelitas perseveraram e embora
literalmente tivessem que construir com uma ferramenta em uma mão e a arma na
outra, eles conseguiram terminar seu projeto em menos de dois meses! Este projeto
era tão ameaçador que os seus inimigos tentaram implacavelmente pará-lo até o
minuto final. Quando Sambalate e seu bando maligno viram que não podiam parar
o povo, decidiram destruir Neemias pessoalmente tentando distraí-lo:

Ouvindo Sambalate, Tobias, Gesém, o árabe, e o resto dos nossos inimigos


que eu tinha reedificado o muro, e que nele já não havia brecha alguma, embora até
esse tempo não tinha posto as portas nos portais, Sambalate e Gesém mandaram
dizer- me: Vem, encontremo-nos numa das aldeias, na planície de Ono. Porém
intentavam fazer-me mal; de modo que lhes enviei mensageiros com esta resposta:
Estou fazendo uma grande obra, e não poderei descer. Por que cessaria a obra,
enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco? Quatro vezes me enviaram a mesma
mensagem, e cada vez dei-lhes a mesma resposta.
Neemias 6:1-4

Sambalate convidou Neemias para encontrá-lo na planície de Ono. Ono


significa “força” — é a fortaleza de destruição para nós. Se você descer a esse tipo de
planície descobrirá porque eles a chamaram Oh-No! (trocadilho com oh não!).
Quando estamos debaixo de ataque devemos permanecer em terreno alto. Nunca
vamos querer lutar com nosso inimigo no lugar da sua força, onde ele tenha
vantagem estratégica para armar uma emboscada contra nós. A única exceção a esta
regra de batalha é quando o Espírito Santo nos conduz ao deserto — então, Ele nos
protegerá. Contudo, não queremos ser uma daquelas ovelhas que se dispersa e fica
sozinha, rodeada pelos lobos.
Neemias permaneceu fora do vale de Ono relembrando a si mesmo que foi
chamado para grandeza. Ele relembrou a seus acusadores a mesma coisa com esta
ousada declaração: “Estou fazendo uma grande obra, e não poderei descer”. Somos
todos chamados para grandeza, mas grandeza de uma maneira específica para uma
tarefa específica. Todos nós temos áreas em nossas vidas em que nos destacamos e
outras onde somos vulneráveis. O apóstolo Paulo disse: Pois pela graça que me é
dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que
saiba com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um
(Romanos 12:3). Paulo não está dizendo que devemos nos sentir mal acerca de nós
mesmos; ele está nos ensinando a entender a medida ou metron da nossa fé. A
palavra grega metron significa nosso lugar de influência ou esfera de autoridade.
Podemos sempre dizer o tamanho do nosso metron pela fé ou confiança que temos
em nossa capacidade de completar uma missão ou cumprir uma tarefa. Quando nos
sentimos sobrecarregados pelas circunstâncias ou situações, isto pode ser um sinal
de que estamos andando fora do nosso metron, expondo as áreas baixas de nossos
muros.
Tenho visto muitas pessoas tentarem assumir o metron de outros, e isso
somente as levam a se afogarem nos mares tempestuosos de insegurança e
desânimo. Quando permanecemos dentro do nosso metron, temos fé para o nosso
chamado que se manifesta na confiança em nossa capacidade dada por Deus para
cumprir nossa missão. Quer estejamos limpando banheiros ou liderando um país,
nunca devemos perder de vista o fato de que sempre que estamos fazendo algo para
Deus, estamos fazendo uma grande obra que faz nossa vida valer a pena. Este
sentido de importância é uma arma de guerra poderosa contra as hostes do inferno.
A importância é um terreno de força invisível que protege nossa confiança em
Deus. É um escudo de fé para nossas almas. Quando esquecemos que o que estamos
fazendo com nossas vidas importa para Deus, deixamos os portões do nosso coração
sem proteção, acessíveis a influência do inimigo.

Lembre-se De Quem Você É

Neemias era mestre em discernir as tramas do inimigo e em saber como


desativá-las. Na rodada final da premiada luta de Neemias com o inimigo, Neemias
desvia os golpes mentirosos do inimigo, e dá o nocaute quando se lembra de quem
ele é no Senhor:

Certo dia fui à casa de Semaias, filho de Delaias, filho de Meetabel, que
estava encerrado. Disse-me ele: Encontremo-nos na casa de Deus, dentro do
templo, e fechemos as portas do templo, porque virão matar-te; de noite virão
matar-te. Porém eu disse: Um homem como eu fugiria? e quem há, como eu, que
entre no templo para salvar a vida? De maneira nenhuma entrarei. Então percebi
que não era Deus quem o enviara, mas que ele tinha profetizado contra mim porque
Tobias e Sambalate o haviam subornado. Ele tinha sido subornado para me
intimidar, a fim de que eu assim fizesse, e pecasse, para que tivessem de que me
infamar, e assim me vituperassem. Lembra-te, ó meu Deus, de Tobias e de
Sambalate, conforme estas suas obras, e também da profetisa Noadia e dos demais
profetas que têm procurado intimidar-me. Assim, acabou-se o muro aos vinte e
cinco dias do mês de elul, em cinquenta e dois dias. Quando todos os nossos
inimigos ouviram isso, todos os gentios que havia em redor de nós temeram, e
abateram-se muito em seu próprio conceito, porque reconheceram que tínhamos
feito esta obra com a ajuda do nosso Deus.
Neemias 6:10-16, ênfase acrescentada

A prepotência não resistirá aos ataques do inimigo; na verdade, o orgulho


precede a queda. Mas a verdadeira confiança na obra de Deus em nossas vidas nos
protegerá das setas inflamadas do medo, terror e tormento. O objetivo de todos os
ataques do inimigo é assustar-nos e tirar-nos do nosso destino divino.
Muitas pessoas “se escondem no templo” formando alianças com espíritos
religiosos, esperando ser protegidas. Os espíritos religiosos inspiram as pessoas a
manterem regras, fórmulas e leis para protegê-las das investidas dos instrumentos
demoníacos. Contudo, isso é como pedir a máfia para guardar seus negócios. Logo
você se achará fazendo alianças com o destruidor e se tornará sua próxima vítima.
Naturalmente que a disciplina é algo bom se for inspirada pelo Espírito Santo e
fluir da intimidade com Ele. Porém, disciplina inspirada por espíritos religiosos te
conduzirá a colocar sua confiança em suas próprias forças em lugar da Dele. Tais
disciplinas são impotentes contra o inimigo, pois são patrocinadas pelos espíritos
malignos e somente conduzirão a opressão em nossas vidas.
É importante notar que foi somente após Neemias se assegurar da sua
identidade e recusar a se esconder por trás de formas religiosas (o templo), que teve
discernimento para reconhecer que Deus não tinha inspirado as declarações
negativas feitas contra ele. O medo obscurece nossas convicções e distorce nosso
discernimento. Quando enchemos nossa mente com predições negativas ou
permitimos que nossos pensamentos nos manipulem para pensar acerca de todos os
possíveis resultados negativos de nossa missão, convidamos o medo para paralisar
nosso progresso. Também pecamos contra Deus ao não avançar para cumprir nosso
chamado e realizar nossa missão. Porém, quando ultrapassamos a intimidação dos
espíritos demoníacos e nos comprometemos de forma mais resoluta a terminar
nossas tarefas divinas, atormentamos os atormentadores e eles perdem a confiança.
Vivamos para destruir as obras do diabo e dar a ele e seus bandidos um ataque de
nervos.
No próximo capítulo olharemos a guerra através da noite escura da alma e
veremos se podemos obter mais insight sobre este reino poderoso, contudo
invisível.
4 – O DESERTO

Moisés enviou Josué, Calebe e outros dez em uma missão para espiar a
Terra Prometida. Eles viram gigantes no meio do seu território dado por Deus.
Josué e Calebe queriam comprar uma briga com os gigantes e obter seu tesouro,
mas a multidão preferiu reduzir a promessa de Deus ao nível de seu medo.
O diabo sempre posiciona gigantes exatamente no meio de nossos
propósitos dados por Deus, e o Senhor com frequência os aprova. Lembra-se da
experiência de Jesus no deserto? Foi o Espírito Santo que conduziu Jesus ao deserto
para ser tentado pelo diabo. Era Deus que estava comprando uma briga com o
diabo. Deus atraiu o diabo para uma briga enfraquecendo a carne de Cristo com um
jejum de quarenta dias. Então, Jesus derrota o diabo com seu próprio jogo. Quando
você lê o relato em Mateus 3:16-4:1, percebe que tão logo Jesus recebeu a aprovação
divina de Deus em Sua identidade e chamado como Filho de Deus, Ele foi
conduzido ao deserto pelo Espírito Santo para encontrar o diabo na mãe de todas as
batalhas. A Bíblia é muito silenciosa sobre os trinta anos liderando a esta
confrontação — este parece ser o primeiro grande conflito que Jesus encontrou (a
não ser que você diga que quando seus pais o perderam por três dias foi algo
estressante). Mas, com Seu batismo, a preparação daqueles trinta anos estava
completa, e tinha chegado a hora para Ele entrar em Sua tarefa — destruir as obras
do diabo e lançar o “deus deste mundo” fora de um trono roubado.
No capítulo anterior vimos o mesmo padrão na história de Neemias. Antes
de a notícia chegar a Jerusalém, sua vida era bem simples. Ele vivia no palácio do rei
e sem dúvida tinha todos os privilégios que vem com ele. Mas, essa não era a vida
onde ele ganharia nome; somente o preparou ao posicioná-lo na presença do rei.
Quando chegaram as notícias de Jerusalém, algo se despertou em Neemias. Ele
percebeu que tinha nascido para fazer mais do que ficar no palácio e beber
espumante com o rei — ele foi chamado como catalisador de uma reforma que
libertaria seu povo das garras de um inimigo mal e lhes restauraria a antiga glória.
Porém, a primeira coisa que ele encontrou quando entrou no seu destino foi um
ataque inimigo sobre sua identidade. Na mesma maneira, Cristo, após ouvir Seu
Pai lhe falar do céu que Ele era Seu Filho amado, imediatamente encontrou uma
voz demoníaca que questionou Sua identidade como Filho de Deus. Centenas de
anos separaram Neemias e Jesus, mas a cilada demoníaca permaneceu a mesma.
Espero que você esteja começando a ver um padrão aqui. Os cães da
desgraça sempre ficam esperando às portas de nosso destino. Entre as promessas de
Deus em nossa vida e o palácio de nosso divino propósito está sempre o processo
que nos molda na pessoa que precisamos ser para permanecer sentado no palácio.
Joseph Garlington disse: “Deus fecha uma porta e abre outra, mas é inferno na
entrada”. É na “entrada” que precisamos lembrar as palavras do grande apóstolo
Paulo, que estava intimamente familiarizado com as experiências de “entrada”. Ele
escreveu: Mas graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo (II Coríntios
2:14). Com frequência citamos versículos como este, mas esquecemos de que não
existe vitória sem batalha, nem testemunho sem teste e nem milagre sem uma
circunstância impossível. Deus nos conduz em triunfo ao nos conduzir a batalhas,
testes e impossibilidades! Foi o Espírito Santo que conduziu Jesus ao deserto, Deus
que inspirou Neemias a reedificar os muros e Jesus que te conduziu a ler este livro
porque você nasceu para mudar o mundo!
É claro, em qualquer guerra estão sempre operando duas agendas. Com
frequência quando nos encontramos nestas batalhas épicas no deserto, onde nossas
almas estão sendo testadas ao limite, nos perguntamos se foi Deus ou diabo que nos
conduziu para lá. A resposta é sim — Deus e o diabo, ambos têm um plano para nós
na “noite escura da alma”, embora eles pretendam ter resultados inteiramente
diferentes. A pergunta é: ficaremos do lado do plano de quem? Somente após
termos enfrentado o diabo sozinho no deserto, acreditado em Deus e ganhado
nossa vitória pessoal que o Senhor pode nos confiar qualquer tipo de promoção
pública.

Tentação e Pecado

Uma má interpretação da diferença entre tentação e pecado tem feito


muitas pessoas acreditarem que estão perdendo suas batalhas no deserto, quando na
verdade estão ganhando. O escritor de Hebreus disse que Cristo como nós, em tudo
foi tentado, mas sem pecado (Hebreus 4:15). É importante entendermos que
tentação não é pecado. Para que algo nos tente temos que ter um desejo natural por
isso. Por exemplo: se não tivesse comido o dia todo e você me deixasse sozinho em
uma sala com um prato de sushi, não me tentaria porque odeio sushi. Por outro
lado, se eu estivesse com fome e você colocasse uma lagosta suculenta, quente na
minha frente, seria tentado! Foi por isso que o diabo tentou Jesus com “transforme
estas pedras em pão” — ele sabia que Jesus não tinha comido por quarenta dias. Foi
o fato de Jesus estar com fome que fez da sugestão uma tentação.
Você provavelmente esteja se perguntando: Quando uma tentação se torna
pecado? A tentação se torna pecado quando você concorda com a sugestão em vez
de resisti-la. Se uma linda mulher, nua correr em frente de uma multidão, todo
homem normal na multidão seria tentado porque Deus deu aos homens um
impulso sexual. Contudo, eles só terão pecado a partir do momento que
concordarem com a tentação. Se um homem na multidão dissesse a si mesmo, eu
realmente gostaria de fazer sexo com aquela mulher, agora ele teria cruzado a linha
da tentação e entrado no mundo do pecado. Embora naquele ponto ele não tenha
feito nada de errado fisicamente, já pecou em seu coração.
Recentemente tive uma conversa com um líder de alto nível que me disse
que pecava todo dia. Fiquei chocado. Quando perguntei o que ele queria dizer com
pecado, ele começou a descrever várias tentações diferentes que enfrentava no dia a
dia.
“Você concorda com estas tentações em sua mente quando elas vêm ao seu
coração?”, questionei.
“Não, é claro que não. Eu sei bem o que é isso”, foi sua resposta.
“Então você não tem pecado, apenas tem sido tentado. Tentação não é
pecado”, expliquei.
O líder ficou chocado com a verdadeira definição de pecado. Naquele
momento aquela pessoa foi liberta de uma vida inteira da culpa de sentir como se
tivesse continuamente falhado com o Senhor.

Força na Fraqueza
É importante destacar aqui que o diabo deixou Jesus sozinho “até um tempo
oportuno”. Satanás é um oportunista. Ele com frequência, estrategicamente espera
para atacar quando estamos com fome, fracos ou cansados. Embora o diabo seja
insano, ele não é estúpido. Mas o Espirito Santo é o estrategista mais brilhante. Ele
sabia que a maneira mais fácil de atrair Satanás para Sua armadilha era enfraquecer
Jesus. O plano funcionou perfeitamente!
A principal estratégia de Cristo no deserto foi jejuar. Parece loucura se
colocar em uma posição de fome, fraqueza e vulnerabilidade antes de ir contra um
inimigo — a menos que você entenda que o objetivo do deserto seja revelar a
capacidade infalível de Deus para te libertar. É por isso que Jesus jejuou. Ele queria
remover qualquer tentação que pudesse ter para derrotar o diabo com Suas próprias
forças. Tudo que restou após os quarenta dias foi uma escolha — a força de Deus ou
a falsa oferta de poder do diabo. Em Sua fraqueza Jesus simplesmente recusou ouvir
o diabo e confiou plenamente em Deus. Como disse Judas: Deus é poderoso para
vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos jubilosos e imaculados diante da sua glória
(Judas 24). É nossa responsabilidade confiar em Deus. É responsabilidade dEle nos
libertar, proteger e nos salvar.
Um antigo ditado continuamente circula por todo o Corpo de Cristo:
“Níveis maiores, demônios maiores”. O adágio basicamente significa que toda vez
que Deus promove alguém, Ele o expõe a mais ataques demoníacos. Congregações
cristãs inteiras, na verdade, acreditam que a doença, o conflito relacional e os
problemas são um sinal de que você foi promovido. O que esse povo falha em
reconhecer é que quando Deus te promove Ele te protege.
Pense sobre isso: A pessoa mais protegida nos Estados Unidos é o
presidente. Ele recebe a proteção ao mesmo tempo em que recebe a promoção.
Ninguém no seu perfeito juízo assumiria o cargo da presidência sem a proteção que
a promoção merece. Quanto melhor faria Deus, que tem legiões de anjos à Sua
disposição protege o povo que Ele promove? Naturalmente que ninguém, não
importa seu status no Reino, está imune de problemas da vida ou fraquezas da sua
própria personalidade. É por isso que Paulo escreveu:

Mas ele me disse: A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza. Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em
mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois quando
estou fraco, então é que sou forte.
II Coríntios 12:9-10

Deus não quer que nossa confiança esteja em nossa própria capacidade.
Filipenses 3:3 coloca desta maneira: Pois a circuncisão somos nós, que servimos a
Deus em Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. É
imprescindível que coloquemos nossa confiança inteiramente na obra que Deus
tem feito em nós. Justiça própria ou de quaisquer seguranças que não estejam
enraizadas em Cristo somente conduzirão a soluções temporárias que sempre
produzem efeitos negativos.
O propósito claro das batalhas do deserto é provar e estabelecer nossa fé. O
apóstolo Tiago nos disse para regozijarmos nas provações por causa do que elas
produzem em nós — a mesma maturidade e perfeição que Cristo demonstrou em
Sua completa dependência do Pai.

Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por provações,
sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança. Ora, a perseverança deve
terminar a sua obra, para que sejais maduros e completos, não tendo falta de coisa
alguma.
Tiago 1:2-4, ênfase acrescentada

Você percebeu que as provações não provam nosso caráter, que elas provam
nossa fé? Fé é fundamentalmente um termo relacional — não é em primeiro lugar
uma questão de o que você acredita, mas em quem você confia. A batalha por nossa
confiança é tão antiga quanto Adão e Eva. Em meio à batalha, pode parecer tão
complexo, mas quando a poeira assenta e a fumaça clareia, a verdadeira guerra é
sempre acerca da mesma questão — em quem acreditaremos? A quem ouviremos:
Deus ou o diabo?
Quando Adão e Eva pecaram no jardim do Éden, não somente
desobedeceram a Deus... eles obedeceram a Satanás. Com relação à árvore do
conhecimento do bem e do mal, o Senhor disse: Não comereis dele, nem nele
tocareis, para que não morrais. Mas o diabo disse: Certamente não morrereis!
(Gênesis 3:3-4). Eles escolheram obedecer ao diabo em vez de obedecer a Deus e
comeram da árvore proibida.
Quando fizeram aquela escolha eles escolheram o mestre errado. As
provações são projetadas para nos ajudar a determinar quem será nosso mestre, em
quem confiaremos, quem será nosso Senhor, e em que reino colocaremos nossa fé.

Vivemos com Medo ou em Paz?

A maioria de nós provavelmente argumentaria que nunca confiaríamos no


diabo. Porém, talvez não ocorra a nós que colocar nossa fé em alguém ou alguma
coisa além de Deus cria apenas cura sintomática e é na verdade idolatria. Um ídolo
é qualquer coisa em que você confia mais do que confia em Deus, ou qualquer coisa
que você tem que checar antes de dizer sim a Deus.
Em minha própria vida tenho lutado, por vezes, com o medo da morte. Se
eu tenho algum sintoma físico negativo, imediatamente vou ao médico para
descobrir o que está errado e o que pode ser feito para ajudar a curar-me. Deixe-me
esclarecer que de modo nenhum sou contra ir ao médico quando você está doente.
O próprio Jesus disse que os que estão doentes precisam de médico (veja Mateus
9:12). Contudo, após todos os exames serem realizados e termos os resultados,
ainda temos que decidir se confiaremos em Deus ou no homem.
É importante não confundir os fatos com a verdade. Os médicos, por
exemplo, são treinados para nos dar os fatos. É trabalho deles diagnosticar nossa
condição e identificar o melhor tratamento baseado em treinamento, experiência e
informação disponível. Mas a verdade — o que Deus diz acerca de uma situação ou
condição — sobrepõe os fatos. Um médico nunca deve ter a palavra final, portanto,
sobre nossa condição ou tratamento. Devemos sempre consultar o Grande Doutor
e ser guiado pelo Seu prognóstico antes até mesmo de nos submetermos ao
profissional médico.
Com frequência tememos o pior quando vamos ao médico ou nos
encontramos em alguma situação na qual nos sentimos impotentes. O apóstolo
João escreveu: No amor não há medo. Antes o perfeito amor lança fora o medo,
porque o medo produz tormento. Aquele que teme não é aperfeiçoado em amor (I
João 4:18). Pense assim — se nosso Pai é Deus e Ele fez todas as coisas no universo
simplesmente chamando a existência, e Ele nos amou tanto a ponto de enviar Seu
Filho para morrer por nós, então é lógico que se preocupar é completamente
irracional!
Não é verdade que toda ansiedade, medo e tormento na vida de um cristão
pode se remontar ao fato de que esquecemos quem nós somos e/ou de quem nós
somos? Isso nos leva de volta ao que aprendemos com a vida de Neemias e a
tentação de Cristo no deserto. Em ambos os casos, a estratégia astuta do inimigo foi
para tentar fazê-los questionar quem eles eram.
Se você está lidando com ansiedade, tormento, medo, baixa autoestima,
depressão ou qualquer outra emoção negativa, é bem provável que você tenha
esquecido que o Criador do universo te ama. Não entretenha as perguntas do
inimigo sobre o quão valioso você é. Como o pastor Bill Johnson diz: “Qualquer
pensamento que não inspira esperança está enraizado na mentira”. Paremos de
acreditar em mentiras! Abracemos a verdade e vivamos em paz.
5 – A CARNE É FRACA

Nós, seres humanos somos criaturas complexas. A natureza trina de nosso


ser cria um ecossistema belo e complexo de espírito, alma e corpo. Quando esse
ecossistema funciona conforme o projeto de Deus, é como poesia em movimento.
Na verdade, Paulo disse: Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as
boas obras (Efésios 2:10). A palavra grega para “feitura” é poiema, da qual deriva
nossa palavra em português poema. Em outras palavras, nós, seres humanos somos
poema de Deus. Deus falou e nós nos tomamos Sua mensagem viva para um
mundo desesperado e morrendo. Paulo também escreveu:

Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por
todos os homens. Já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós,
e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra,
mas nas tábuas de carne do coração.
II Coríntios 3:2-3

Que figura maravilhosa do amor eterno do nosso Criador.


Às vezes, contudo, nosso ecossistema trino complexo funciona mal e o
poema de Deus não rima mais. Suas canções começam a ficar desafinadas em nós,
por assim dizer. No capítulo anterior, exploramos a dimensão espiritual de nosso ser
trino e o efeito que o reino demoníaco pode ter sobre nossa identidade. Neste
capitulo, quero compartilhar algo que aprendi de maneira difícil há alguns anos
acerca do lado físico de nosso ser trino.

A Noite Escura da Carne

Uma experiência terrível que passei reforçou o fato de que até mesmo como
cristãos, nossa dimensão física — nossa carne — ainda é fraca. Não é mais maligna,
mas é fraca. Como Jesus disse a Seus discípulos que continuavam dormindo quando
Ele pediu para vigiar e orar: Na verdade o espirito está pronto, mas a carne é fraca
(Mateus 26:41). Isto foi revelado a mim de uma maneira nova, começando com
uma conversa que tive com Judy, a secretária de Bill Johnson. Ela me telefonou para
dizer que o Bill estava doente, e que os médicos mandaram que ele cancelasse todas
as viagens a fim de descansar por uns meses.
“Bill pediu para você assumir tantas conferências quanto puder enquanto ele
está doente”, Judy solicitou.
Eu já tinha minha agenda cheia, mas Judy e eu nos sentamos e descobrimos
uma maneira em que poderia voar de uma conferência para outra para cobrir a
maior parte dos compromissos de Bill sem perder nenhum dos meus. Por quase
dois meses estive voando por todo lugar; de estado a estado... país a país... fuso
horário a fuso horário. Meu relógio biológico ficou tão confuso que não conseguia
dormir muito, não importa onde estivesse.
Um dia em meio a este redemoinho de atividades, em algum lugar na
Austrália, estava me preparando para subir ao púlpito para falar quando meu celular
tocou. Meu identificador de chamadas mostrou que era um membro íntimo da
família. Pedi ao apresentador para adiar minha apresentação e saí para o saguão
para atender ao telefone.
“Você está bem?” perguntei.
“Não, estou tendo ataques de pânico e totalmente assustado!”, o membro da
família me respondeu.
Tentei confortá-la, mas não tinha tempo para realmente chegar à raiz do
medo naquela hora. Quando terminei de pregar, telefonei de novo e conversamos a
fundo naquela noite. Tentei ajudar a pessoa a trabalhar com seus medos irracionais.
Aquele primeiro telefonema se tornou em várias conversas por dias, enquanto eu
cruzava o mundo fazendo conferências. Estava completamente física e
emocionalmente exausto e tão cansado que minha imaginação começou a
enlouquecer com pensamentos de e se. Deitava acordado à noite imaginando a
minha ente querida cometendo suicídio ou sendo levada para um hospício. Como
isso poderia estar acontecendo? Fracassei com ela de alguma maneira?
Minha cabeça estava girando. Estava em frangalhos, mas é muito difícil não
atender ao telefone quando sua família precisa de ajuda. Tinha que manter minha
agenda lotada e também tirar tempo para trabalhar isso com a pessoa. Bill estava
ainda se recuperando e eu sentia como se todo o peso do mundo estivesse sobre
meus ombros.
Cerca de três meses neste pesadelo, meu filho, que é pastor na nossa equipe
veio ao meu escritório. Ele parecia em pânico.
“Qual o problema?”, perguntei.
“Papai, acho que meu casamento acabou!”, ele disse, cobrindo seu rosto com
as mãos.
“Não, filho!”, afirmei. “Deus pode resolver isso.”
Mas não era para ser... após dez anos e três filhos, seu casamento acabou.
Jason estava em frangalhos depois disso. Levou quase dois anos para ele se
recuperar. Embora tenha passado por um divórcio, ele e os filhos estão indo muito
bem agora. (Você pode ler nosso livro em coautoria O Poder Sobrenatural do
Perdão para a continuação desta história.) A situação de Jason, contudo, veio junto
com tudo mais que já estava lidando naquela época. Embora já estivesse
completamente exausto, não conseguia dormir. Ficava acordado a noite toda
imaginando os piores cenários. Como as crianças sobreviveriam a este divórcio? E
se meu filho tivesse um ataque de nervos? Como iríamos dizer a nossa igreja que
Jason, um dos líderes sêniores de nossa escola de ministério estava passando por um
divórcio? As especulações atormentavam minha mente.
Enquanto os dias se transformavam em semanas, minha ansiedade crescia.
Logo a ansiedade se agravou com ataques de pânico que ocorriam várias vezes por
dia. Estava quase completamente incapacitado. A guerra que estava acontecendo
em minha alma preocupava minha mente a ponto de quase não poder pensar em
outra coisa. A menor coisa me aborrecia. A ansiedade se agarrou de tal maneira a
minha alma que tinha medo de sair de casa.
Mas o pior ainda estava por vir. Um dia acordei sentindo que alguém tinha
me derrubado dentro de um buraco negro. Comecei a desesperar da própria vida e
perdi a vontade de viver. Perdi o apetite por comida, sexo ou qualquer outra coisa
que normalmente gostava de fazer. Nos três meses seguintes perdi 16 quilos. Estava
tão deprimido que mal podia sair do sofá. Fui a vários conselheiros. Inclusive um
casal de profissionais, mas nada fez muita diferença.
Estava tão desesperado que estava disposto a fazer qualquer coisa para sair
da depressão. Finalmente concordei em seguir o conselho da minha médica e tentar
remédios antidepressivos (eu a chamo de minha médica, mas ela é na verdade uma
enfermeira). Era alérgico aos quatro primeiros remédios que ela receitou, então
levou uns meses até começar a melhorar. A médica também receitou remédios para
me ajudar a dormir.
Levei meses para concordar em tomar algo para aliviar meus sintomas.
Tinha muito medo do que as pessoas iriam pensar de mim se soubessem que estava
tomando remédio para a cabeça. Também estava confuso sobre o porquê Deus não
tinha me libertado. Era isso um demônio de depressão? Estava com algum pecado
secreto? Estava mentalmente doente? Isso teria um fim? Teria que tomar remédio
para o resto da minha vida? Minha mente mantinha-se girando.
O remédio causava efeitos colaterais desconfortáveis como calor e suor frio.
Também me fazia sentir emocionalmente insensível. Mas a profunda depressão e
ansiedade saíram de forma considerável e era capaz de agir quase normalmente.
Cerca de quatro meses tomando antidepressivos, conversei com um amigo sobre
meus sintomas e condição. Ele me disse que muitos anos antes tinha sofrido dos
mesmos sintomas e depois de vários exames o médico finalmente descobriu que ele
tinha um desequilíbrio hormonal. Voltei a minha médica e pedi para fazer um
exame nos meus níveis de testosterona. Ela não achava que esse era o meu
problema, mas concordou em fazer outro exame de sangue. Alguns dias depois
recebi os resultados. Quase não tinha testosterona em meu sistema. Imediatamente
ela receitou testosterona. Dentro de sessenta dias parei de tomar os remédios
antidepressivos e para dormir. Depois de uma jornada de dez meses pelo inferno,
finalmente me senti plenamente normal outra vez.

O Que Aprendi no Inferno

Durante minha jornada de dez meses pelo inferno, li todos os livros que
pude sobre ansiedade e depressão. Descobri que ao mesmo tempo em que existem
muitas opiniões que se diferem sobre o assunto de saúde mental, a maioria dos
cientistas concordam sobre alguns temas comuns. Aprendi que literalmente
centenas de reações químicas ocorrem em nosso cérebro em qualquer momento.
Essas interações químicas têm um papel importante na maneira como sentimos,
pensamos e nos comportamos. A maioria dos cientistas concorda que um composto
químico chamado serotonina atua como neurotransmissor e é o principal
catalisador da saúde mental e emocional. Antidepressivos como Prozac estimulam
artificialmente a produção de serotonina em nosso corpo e ajuda a equilibrar a
química do cérebro quando há uma deficiência. (Devo também observar aqui que
outros neurotransmissores importantes como dopamina e norepinefrina podem
afetar o humor também. Remédios também estão disponíveis para ajudar pessoas
que sofrem de desequilíbrio nesses sistemas neurotransmissores.)
A maioria dos cientistas acredita que quatro fatores principais afetam a
estimulação natural de serotonina em nosso corpo. Estes fatores são sono, luz solar,
estresse e exercício físico. É interessante notar como estes fatores foram afetados
negativamente no século passado. Por exemplo: um estudo recente revelou que
desde a invenção da lâmpada elétrica, uma pessoa normal dorme uma hora a menos
por noite. Acrescentaria que a televisão, a internet e o entretenimento em geral
também são incentivos que geram empolgação e nos fazem ficar acordados até mais
tarde e dormir menos.
O segundo fator que tem um papel importante é a quantidade de tempo que
passamos no sol — ou não passamos. Desde que mudamos da era agrícola para a da
informação muitas pessoas vivem e trabalham em áreas internas. De forma simples,
as pessoas em países desenvolvidos não passam tanto tempo do lado de fora quanto
os seus ancestrais.
Estresse é o terceiro fator na produção de serotonina. Uma pessoa comum
hoje está exposta a mais notícias ruins em uma semana do que alguém há cinquenta
anos ouvia em um ano. Acrescenta-se a isso, que é quase impossível descansar em
nossa cultura. Existem tantas maneiras de se manter em contato com as pessoas —
telefone celular, correio de voz, e-mail, mensagem de texto, bips, Skype, iChat,
redes sociais... a lista é quase sem fim. A era da informação torna quase impossível
dar um tempo às pessoas. Há também o relógio do tempo. Nossas agendas diárias
são planejadas em volta dos minutos. O dia tem 1440 minutos e para a maioria de
nós, cada um deles é discutido com meses de antecedência. Para piorar, enquanto
estamos em qualquer reunião normalmente estamos recendo mensagens de texto,
telefonemas ou bips tornando impossível nos concentrar plenamente na tarefa em
mãos. Acrescente-se a isso o fato que a maioria de nós tem empregos que não
exigem muita força muscular, mas que sobrecarregam nossas mentes ao máximo o
dia todo. Não é de se admirar que estejamos tensos o tempo todo.
Provavelmente o fator que tem o maior efeito negativo sobre nosso estado
mental, entretanto, seja a mudança cultural na indústria de transportes. Com a
invenção de carros, aviões e trens as pessoas caminham muito menos. Fazemos
apenas uma fração do exercício que as pessoas faziam há cem anos. Pense sobre isso.
Quantas pessoas você acha que se exercitavam na academia na era agrícola? Não
havia necessidade disso devido os desafios físicos das suas vidas diárias!
É verdade que estes quatro fatores — sono, luz solar, estresse e exercício
físico—são os principais catalisadores para a produção de serotonina em nosso
cérebro, então não é preciso ser um gênio para entender porque tantas pessoas estão
tomando antidepressivos para se sentirem normais nesta geração.
O que faz o desequilíbrio dos hormônios ainda mais complexo é que a
serotonina não pode ser medida. Não há exame de sangue ou qualquer outro exame
para isso que você possa fazer para determinar o nível de serotonina no cérebro. A
reprodução de serotonina permanece de certa forma um mistério, e a sua ciência
permanece subjetiva. Por exemplo: existe debate sobre serotonina e sua interação
com o sono. A falta de sono em uma pessoa resulta em níveis reduzidos de
serotonina? Ou a serotonina de alguma forma primeiro fica baixa no corpo da
pessoa, o que então faz a pessoa perder o sono?
Os profissionais mantêm várias opiniões em relação à natureza catalisadora
da química do cérebro. Acrescenta-se a isso o fato que os avanços científicos estão
ocorrendo quase todos os dias nesta área, e alguns irão provavelmente suplantar os
dados neste capítulo antes que este livro chegue às lojas. É suficiente dizer que a
química do corpo é um fator importante no bem-estar do nosso espírito, alma e
corpo.

Pensamento Tripolar

Em minha temporada no inferno aprendi que nosso espírito, alma e corpo


estão tão intrinsecamente entrelaçados que é impossível afetar uma parte sem direta
ou indiretamente influenciar as outras duas. Tome por exemplo, a cor púrpura.
Todos sabem que púrpura não é uma cor primária; é o resultado da mistura de azul
com vermelho. Uma vez que o azul e o vermelho são misturados, te desafio a
separá-los de novo. Nosso ser trino é similar. Muitas vezes falamos sobre espírito,
alma e corpo como se eles vivessem em caixas separadas, mas a realidade é que a
vida na verdade não acontece desta maneira para nenhum de nós. Nosso
ecossistema trino flui junto com uma complexa série de interações. Os problemas
podem se originar ou estar enraizados em uma dimensão, mas não demora muito,
experimentamos os sintomas resultantes em todas as três esferas da nossa
identidade.
Em meu livro Desenvolvendo Um Estilo de Vida Sobrenatural,
compartilhei que Deus me mostrou que era Seu desejo curar a pessoa inteira.
Considere o caso do homem coxo na porta Formosa no livro de Atos:

Disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou. Em nome
de Jesus Cristo, o nazareno, levanta-te e anda. Tomando-o pela mão direita, o
levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. Saltando ele, pôs-se em pé e
começou a andar. Então entrou com eles no templo andando e saltando, e louvando
a Deus.
Atos 3:6-8, ênfase acrescentada

O homem andou porque ficou fisicamente curado. Ele saltou porque ficou
curado emocionalmente. E louvou a Deus porque ficou espiritualmente restaurado!
Quando uma dimensão do nosso ser trino está enferma, ela afeta nosso ser inteiro.
Quando entendemos isso faz sentido o Senhor trabalhar para restaurar a pessoa
inteira. Meramente curar nossos corpos seria somente uma solução temporária,
parcial.
Se junto com aqueles a quem ministramos devemos chegar à verdadeira
inteireza, é essencial que entendamos como esse sistema trino interage um com o
outro e como isso afeta nossas vidas e a saúde de nosso ser total. Quando tive a crise
não entendia o que estava errado comigo porque meus sintomas eram
multidimensionais. Minha mente estava em profunda dor, meu corpo exausto e
meu espírito debaixo de constante ataque. A perturbação onde meu problema se
originou era tão confusa que literalmente era responsável por metade do meu
estresse.

Pensamento do Espírito
Com o tempo, percebi que nosso cérebro recebe informação de três fontes.
A primeira fonte de influência sobre nosso pensamento é nosso espirito. Paulo
disse: e vos renoveis no espírito do vosso entendimento (Efésios 4:23). Em outras
palavras, temos a capacidade de pensar a partir do espírito do nosso entendimento.
Sabemos que se alguém tem um espírito maligno, isso afeta o modo como ele pensa.
Quer ele esteja endemoninhado ou apenas debaixo de ataque espiritual, os
combatentes do inimigo estão influenciando seus pensamentos. (Falamos sobre isso
no capítulo anterior.)
Nosso espírito lida com o mundo das trevas o tempo todo porque Jesus disse
que o acusador dos irmãos está acusando nosso espírito dia e noite (Apocalipse
12:10). Porque Deus nos projetou para sermos espiritualmente complacentes, na
maioria das vezes não estamos conscientes que este nível de negatividade esteja
acontecendo ao nosso redor, até que nossas necessidades espirituais chamem nossa
atenção para resistir proativamente a estas forças.
Quando precisa de reforços, uma das maneiras do nosso espírito se
comunicar com nossa mente consciente é através de sonhos. Um sonho em que
estamos sendo perseguidos, mas somente podemos correr em câmera lenta com
frequência é uma maneira do nosso espírito dizer que precisa da nossa ajuda para
prevalecer contra os agentes inimigos. Talvez precisemos jejuar, orar mais, ou nos
focarmos em algum aspecto da guerra espiritual que ajuda nosso espírito a se
proteger de um ataque demoníaco.

Pensamento do Corpo

Estamos todos cientes de determinados químicos, comida e hábitos de sono


que afetam nosso físico ou mente natural. Se não dormimos o suficiente ou se
tomamos certos medicamentos, isso afeta nossa maneira de pensar. Nossa mente
natural está também muito ocupada orquestrando um ecossistema inteiro que está
literalmente nos mantendo vivos. Está realizando tudo isso abaixo do nível
consciente.
É maravilhoso que nossa mente natural faça funcionar nosso corpo inteiro,
e raramente sequer pensamos sobre isso. Nossa mente natural tem um exército a sua
disposição para quando qualquer tipo de guerra biológica vir contra nosso ser físico,
ela coloque em combate milhões de soldados chamados anticorpos para combater
por nós. Nossa mente natural sabe de coisas que não deixa ciente a menos que
precise de nossa contribuição. Mas se nosso corpo encontra uma batalha que requer
nossa atenção, ele nos envia um sinal em forma de dor para que possamos participar
tratando da doença. Se quebrarmos uma perna, nossa mente natural sabe que não
pode curar a quebradura sem que estejamos cientes de que necessitamos parar de
andar sobre a perna o tempo suficiente para curá-la de dentro para fora. Nossa
mente natural, portanto nos envia uma mensagem em forma de dor que diz: “Ei,
companheiro, saia dessa perna enquanto estamos trabalhando nela!”

Pensamento da Alma

Nossa alma é o terceiro membro do nosso ser trino. Muitas vezes


chamamos esta dimensão de pensamento de “processo do coração”. Estou
totalmente convencido que nosso coração (alma) conhece coisas que os outros dois
elementos desconhecem completamente. O coração sente sua maneira através da
vida, e é sensível as emoções.
Da alma vêm as coisas fundamentais intangíveis, ilógicas, mas com
frequência, importantes do nosso ser. A alma é o lar onde coisas como amor, paixão
e misericórdia residem. Se, por exemplo, alguém fere seus sentimentos ou uma
pessoa próxima morre, isso afeta a maneira como você pensa. Sua alma lida com
feridas e decepções o tempo todo. Mas quando ela fica sobrecarregada e precisa da
sua ajuda para se curar, com frequência envia sinais em forma de dor emocional
como depressão, ira ou pesar. Davi disse do Senhor: refrigera a minha alma (Salmos
23:3).

A Interação Trina

Nosso corpo, alma e espírito funcionam de forma interdependente, pois eles


não meramente habitam, mas coabitam nosso ser. Em I Samuel, Ana estava
perturbada de forma terrível porque era incapaz de ter filhos. Ela foi ao templo para
orar, e fez tanto drama enquanto orava certo dia que Eli, o sacerdote, pensou que
ela estava bêbada. Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada
de espírito. Não bebi vinho nem bebida forte; mas estava derramando a minha alma
perante o Senhor (I Samuel 1:15, ênfase acrescentada). Veja que ela estava
atribulada no espírito, mas derramou sua alma. Este é um exemplo lindo do
relacionamento interdependente entre a alma e o espírito. A raiz do seu problema
era que ela estava atribulada no espírito, mas isso estava também afligindo sua alma.
Posso olhar de volta em minha crise agora e compreender que, embora
minha depressão tenha me afetado emocional e espiritualmente, na verdade estava
enraizada na dimensão física da minha mente e corpo. Eu ignorei vários sinais de
alerta que minha mente estava enviando meses antes que eu completamente
desabasse e esgotasse. Estava exausto, mas continuei pressionando a mim mesmo,
racionalizando que não tinha escolha. Muitos dias, deitava no chão durante a
adoração, antes de falar e caía no sono. Fiquei tão cansado de ministrar às pessoas
que as fiz ficar ressentidas. Estava continuamente sobrecarregado com o
pensamento de que não tinha nada mais para dar. Tomar qualquer decisão durante
aquela época me deixava ansioso. Ainda assim, ignorei todos os sinais e em pouco
tempo eu era física, emocional e espiritualmente um caso perdido.
Já conhecera estresse, ansiedade e guerra antes, mas desta vez era tão
intenso que não podia fazer-me sair do sofá por mais que tentasse. Diferente do
ataque demoníaco que experimentei anos antes, essa crise estava enraizada em meu
corpo. Recostei-me lá completamente incapacitado por quase três meses. Pessoas
em todo mundo oravam por mim e me encorajavam. Contudo, até a química do
meu corpo se estabilizar, eu não consegui atuar.
Tenho que confessar que nunca acreditei em antidepressivos. Quando
pregava, tinha na verdade, feito pouco caso de quem os usavam. Ainda acho que
eles não são a cura em longo prazo para muitas pessoas. Acho que podem muitas
vezes mascarar questões mais profundas em nossas vidas. Medicamentos
antidepressivos, contudo, podem exercer um papel importante para ajudar as
pessoas a funcionarem. Algumas pessoas que sofrem de deficiências
neurotransmissoras crônicas são ajudadas de forma tremenda com esses
medicamentos. Muitos profissionais de saúde acreditam que por danos no cérebro
ou predisposição genética, algumas pessoas não tem a capacidade física de regular
os níveis químicos do cérebro normalmente.
Se você pensar um pouco, nunca diríamos às pessoas que têm diabetes na
igreja que se elas passassem mais tempo com Deus ou orasse mais, poderiam parar
de tomar insulina (a não ser, é claro que Deus as cure). No entanto, é isso que
sugerimos as pessoas cujo desequilíbrio químico tem uma causa física. Embora
nosso cérebro seja um órgão como os pâncreas, vemos os distúrbios de humor que
tem raízes em nosso físico de maneira muito menos aceitável.
Acho que precisamos estender mais graça às pessoas nesta área. Não
podemos compreender a intensidade da depressão e ansiedade a menos que
tenhamos passado por isso, e nem todo desequilíbrio químico significa um
demônio. Às vezes precisamos dar permissão às pessoas para usarem medicamentos
se precisarem — algo que é, a propósito, um grande não em muitos círculos
cristãos. Com frequência essas pessoas são envergonhadas por tomarem tais
medicamentos. Em resultado, elas esperam mais tempo que deveriam para buscar
ajuda médica e retardam a cura. Sei disso porque sou uma dessas. Fui encorajado
por pessoas cuidadosas, bem-intencionadas a não tomar medicamentos, mas depois
de meses de inferno e centenas de horas de pesquisa decidi que precisava de mais
atenção médica. Meu objetivo neste capítulo é ajudar você a entender melhor nosso
ser trino e como cada uma das nossas três partes afetam as outras, para que, se você
se encontrar em uma situação como eu estive possa buscar o tipo de ajuda que
precisar e ser completo.

Aja!

Meu conselho a qualquer um que esteja lidando com altos níveis de


depressão, ansiedade e exaustão por períodos longos é agir! Sei que isso pode
parecer impossível — para mim era. Como disse, não me movi do sofá por três
meses. Contudo você pode fazer algumas coisas que o ajudarão nesse processo.
Primeiro, consulte um respeitável profissional de saúde e faça um exame
físico completo, inclusive sangue com teste de hormônio. Se a parte física da sua
mente que regula a química do cérebro está funcionando mal, é preciso intervenção
médica.
Também recomendo que você leia outros dois livros. O primeiro é From
Panic to Power de Lucinda Bassett2. O segundo é Who Switched Off My Brain?
Controlling Toxic Thoughts and Emotions da Dra. Caroline Leaf3. Já dei pelo
menos cinquenta livros destes. Eles realmente me ajudaram nas horas mais escuras.
Ambos contêm riqueza de informação sobre a química do cérebro e como
desintoxicar seus pensamentos.
Outra coisa importante é cuidar do seu corpo agora mais do que nunca.
Faça o que puder para dormir. Force a si mesmo para se exercitar mesmo quando
não sentir vontade. Coma alimentos saudáveis mesmo quando não estiver com
fome. Fique distante do açúcar e da cafeína. Tome sol o quanto puder e
mantenha-se ocupado.
Trabalhe duro no cultivo de momentos otimistas também. Assista filmes e
faça coisas que te fazem rir bastante. O riso é um remédio natural. Cerque-se de
bons amigos que te apoiem nesses momentos difíceis. Acredite em coisas positivas
que dizem sobre você, mesmo que as palavras não lhe pareçam verdadeiras.
O mais importante, ore para Deus curar e restaurar você. Lembre-se quem
você é e de quem você é!
Por último quero encorajá-lo dizendo que isso irá passar. Nos últimos anos,
conheci centenas de pessoas de todas as classes sociais — inclusive várias pessoas
famosas mundialmente — que passaram por esse tipo de situação em algum ponto
da vida. Eu sei que quando você está em meio a isso seu temor é: Vou viver assim a
minha vida toda? A resposta é não! Isso sempre passa. Você ficará bem!
6 – TRATANDO A SI MESMO
AMAVELMENTE

Uma das táticas que os espíritos malignos empregam é enganar as pessoas


levando-as a acreditar que maltratar-se é de certo modo espiritual. Muitos destes
confusos crentes estão convictos que agradam a Deus quando pensam de si mesmos
como perdedores, desgraçados ou pecadores. Estes crentes perderam de vista as
palavras de Paulo em Efésios 5:29: Nunca ninguém odiou a sua própria carne, antes
a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja. Portanto, já é hora de
aprendermos como cuidar gentilmente de nós mesmos, porque Jesus quer que nós
tenhamos uma vida excelente —espírito, alma e corpo.
Quando vivemos algo menos que justiça, paz e alegria não estamos
experimentando tudo que o Senhor pagou. Jesus coloca desse modo: O ladrão só
vem para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham em
abundância (João 10:10). É muito importante que não misturemos o ladrão e o
Senhor! Temos um inimigo que está tentando nos privar dos benefícios do Reino.
Falo mais sobre isso em meu primeiro livro Os Caminhos Sobrenaturais da Realeza
(em coautoria com Bill Johnson).
O diabo com frequência encontra uma porta aberta para nos condenar
quando fazemos algo errado. O Senhor nos convence quando pecamos. A diferença
entre condenação e convicção pode parecer sutil, mas pode ser mortal. A
condenação diz: “Você mentiu, portanto você é um mentiroso. Você ficou bêbado,
portanto, você deve ser um alcoólatra”. A condenação tenta nos convencer que
nossa ação má é fruto de sermos uma pessoa má.
Por outro lado, a convicção diz: “Você é maravilhoso demais para agir dessa
maneira”. A convicção nos faz lembrar nossa identidade dada por Deus e nos chama
para agir como filho ou filha de Deus, não como pecador.
Se ouvirmos o diabo, ele irá nos convencer que somos pessoas más que
merecem punição. É impossível experimentar a verdadeira alegria enquanto
acreditarmos que somos maus. Lembre-se, quando Jesus morreu na cruz por nós,
Ele transformou nossa natureza e nos tornamos parte da Família Real. Como disse
no capítulo 3, Jesus se tomou nosso defensor ou advogado, e é importante que
nunca conversemos com o diabo sem a presença do nosso advogado. Também não
devemos fazer ao diabo o que ele não pode fazer por si mesmo. Ele não pode nos
tocar; ele pode apenas falar conosco. Então, quando nos autodestruímos, estamos
fazendo para o diabo o que ele não pode fazer por si mesmo.

Falando Consigo Mesmo

Não somos pecadores, mas santos, e devemos lembrar a nós mesmos o


nosso status familiar. Uma das maneiras de nutrirmos nossa nova natureza é
falarmos conosco mesmo a respeito do que Deus pensa de nós. Quer sejamos jovens
ou idosos, homem ou mulher, introvertido ou extrovertido conversamos conosco
mais do que com os outros no mundo. Uma vez ouvi Dr. Lance Wallnau, um
reconhecido líder cristão no campo de transformação pessoal e organizacional, citar
um grande estudo universitário revelando que uma pessoa normal ouve mil e
duzentas palavras por minuto de conversa consigo mesma. O estudo descobriu que
mil e cem destas palavras são negativas na maioria das pessoas! Se você acrescentar a
isso o fato que temos a tendência de acreditar em nós mesmos mais do que em
qualquer outra pessoa, o que você acha que acontece quando falamos de forma
negativa, punitiva ou depreciativa conosco mesmos? O que acontece é que
destruímos nossa própria confiança, matamos nossa autoestima, e por fim
acabamos no cemitério da depressão, desesperança e medo.
Em contrapartida, quando pegamos a Palavra e os pensamentos de Deus e
começamos a falar a nosso novo homem, começamos a experimentar o fruto do
Espírito nas profundezas do nosso ser. A paz começa saturar nossas mentes, alegria
infiltra nossas almas e a vida de Deus é liberada em nossos corpos mortais.
Um dos grandes exemplos deste princípio está oculto na vida do
personagem Josué do Antigo Testamento. No período mais desafiador da sua vida,
ele aprendeu uma das lições mais importantes da sua vida. Enquanto descrevo as
circunstâncias, veja se você pode se relacionar com essa situação.
Deus tinha acabado de dizer a Josué que Moisés, seu líder e herói pessoal,
estava morto. Para deixar a situação ainda mais desafiadora, o Senhor também lhe
informou que a missão divina que Moisés falhou em cumprir agora estava sendo
designada a ele! Josué deve ter se sentido sozinho, assustado, desencorajado e
sobrecarregado. Diante de tudo isso, Deus lhe deu estas instruções:

Esforça-te, e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que
jurei a seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te, e sê muito corajoso. Cuida em
fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies,
nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer
que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei; medita nele dia e noite, para
que tenhas cuidado de fazer conforme tudo o que nele está escrito. Então farás
prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido. Não te mandei eu? Esforça-te, e
tem bom ânimo. Não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo
por onde quer que andares.
Josué 1:6-9

Veja como Deus deu a Josué o segredo para controlar suas emoções e
garantir a vitória. Aqui tem três chaves que Deus disse que determinaria seu
sucesso. Primeiro, a Lei do Senhor deveria estar em sua boca. Depois, ele deveria
meditar nela dia e noite. E finalmente, deveria fazer tudo acerca do que estava
falando e meditando. É interessante que a palavra meditar nesta passagem na
verdade significa proferir, refletir, ponderar, e até mesmo cantar sobre si mesmo!
Em outras palavras, Deus instruiu Josué a fazer mais do que apenas pensar sobre
Sua Lei; na verdade Ele ordenou a Josué falar, declarar, refletir e cantar para si
mesmo a Palavra de Deus.
Como Josué, quando passamos por um período intenso e desafiador em
nossas vidas, muitas vezes é preciso mais do que a simples memorização das
Escrituras para nos manter longe do desânimo, depressão, pânico e medo. Algo
poderoso acontece quando verbalizamos o que Deus pensa e diz sobre nós. Até o
mundo descobriu este segredo. Se você ler a maioria dos livros de autoajuda, com
frequência descobrirá um capítulo sobre falar gentilmente consigo mesmo. Os
psicólogos chamam este princípio de conversa positiva consigo mesmo. Eles
entendem que verbalizar palavras de afirmação e encorajamento ajuda a construir
autoconfiança e autoestima. Porém, quão mais poderoso é este princípio quando
em vez de apenas declarar coisas boas a nós mesmos, repetirmos o que Deus está
dizendo sobre nós!

Profecia —A Arma Secreta de Deus

Timóteo era um incrível gigante da fé. Ele era o braço direito de Paulo e o
líder da Igreja de Éfeso, que pode ter sido a maior igreja em todo o Novo
Testamento. Mas Timóteo lutava com o medo. Antes de enviá-lo a Corinto, Paulo
teve que escrever e pedir-lhes que não fizessem nada que assustasse Timóteo. Veja a
exortação de Paulo aos coríntios: E, se Timóteo for, vede que esteja sem temor
convosco, pois trabalha na obra do Senhor, como eu também (I Coríntios 16:10).
É difícil imaginar um apóstolo tendo que escrever de antemão de alguém
tão famoso como Timóteo, para que as pessoas não o estressassem, mas foi isso que
aconteceu. Paulo depois escreveu uma carta pessoal a Timóteo para relembrá-lo da
sua maravilhosa herança na fé e ensiná-lo que o medo com que estava lidando era
um espírito maligno, não apenas uma emoção humana:

Trazendo à memória a fé não fingida que há em ti, a qual habitou primeiro


em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti.
Por este motivo eu te exorto que despertes o dom de Deus, que há em ti pela
imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de timidez, mas
de poder, de amor e de moderação.
II Timóteo 1:5-7

Paulo também o instruiu: Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de
vinho, por causa do teu estômago, e das tuas frequentes enfermidades (I Timóteo
5:23). Isso é apenas uma suposição, é provável que faça sentido que os problemas
estomacais de Timóteo estivessem diretamente relacionados à sua luta com o
estresse. É provável que o vinho fosse receitado para acalmá-lo um pouco.
É um consolo para mim Timóteo ter batalhado com o medo, no entanto
isso não o desqualifica do seu grande chamado. Por alguma razão, em períodos de
conflito intenso muitas vezes nos sentimos como se fossemos os únicos que
passaram por tais coisas. Podemos nos sentir sozinhos, abandonados e isolados.
Mas a verdade é que não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos
homens (1 Coríntios 10:13 NVI). Não há nada que possamos experimentar que
outros já não tenham passado. Não há profundeza de medo, nem intensidade de
pânico, buraco negro de depressão e nem poder de desânimo que milhões de outros
não tenham experimentado. Nós não estamos sozinhos!
A profecia é uma das mais destrutivas armas de Deus contra as mentiras do
inimigo que nos isolam e separam do Corpo. A profecia é predizer e anunciar
antecipadamente nosso futuro. Predizer é revelar a história antes que aconteça, mas
anunciar provoca o futuro. Veja a exortação mais poderosa de Paulo a Timóteo:
Esta instrução te dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve
acerca de ti, por elas combatas o bom combate, conservando a fé, e a boa
consciência (I Timóteo 1:18- 19, ênfase acrescentada).

Profecia Preditiva

Podemos fazer guerra com declarações proféticas. Aprendi acerca do poder


da profecia preditiva no final da minha crise de nervos, que descrevi no capítulo de
abertura deste livro. Alguns irmãos me convenceram a participar de um retiro para
homens nas montanhas e um profeta chamado Dick Joyce estava falando. No meio
da sua mensagem, ele parou e olhou a congregação como se estivesse tentando
encontrar alguém. De repente, ele apontou direto para mim e pediu-me para ir à
frente. Setenta homens observavam enquanto eu de forma tímida caminhei para
frente do salão. Eu estava aterrorizado, pensando que ele iria revelar meus
pensamentos horríveis para toda a multidão. Porém, ele começou a profetizar para
mim acerca do meu futuro. Ele disse: “O Senhor te chamou para ser uma coluna na
casa de Deus. Você será um mestre e um pastor para Seu povo. Viajará o mundo
fortalecendo e encorajando o Corpo de Cristo. Será um patriarca e sua esposa será
uma matriarca para a Igreja”.
A palavra profética preditiva continuou sem parar, falando sobre meu alto
chamado, meu grande destino e minha incrível coragem. Transcrevi essa palavra
profética e carreguei-a no meu bolso por anos. Toda vez que começava a sentir
ansioso, com medo ou desanimado lia aquela palavra profética sobre mim mesmo
em voz alta. Essa palavra se tornou minha arma de guerra predileta contra as
investidas do inimigo. Como Timóteo, também fui tanto chamado para grandeza,
como atormentado pelo medo. Cheguei à conclusão que o medo era um espírito
maligno designado para me impedir de completar a minha missão dada por Deus.
Meditar nas palavras proféticas declaradas sobre nossas vidas nos faz lembrar o
desejo de Deus para nosso futuro e Sua capacidade para cumprir nosso destino.

Profecia Anunciadora

A profecia anunciadora não apenas prediz o futuro, ela provoca o futuro. O


livro de Ezequiel nos dá um grande exemplo deste princípio anunciador. O profeta
Ezequiel é levado para um campo de batalha antigo onde o vale inteiro está coberto
com ossos secos de soldados que morreram na batalha. Então o Senhor ordena ao
profeta a profetizar vida aos ossos secos. Quando Ezequiel declara vida aos ossos,
um poderoso exército de repente se levanta naquele cemitério empoeirado (veja
Ezequiel 37:1-10).
Esta dimensão da profecia anunciadora na verdade chama as coisas que não
são como se já fossem. Da mesma maneira que Deus chamou os mundos à
existência, estas palavras proféticas se tornam novos mundos da Sua divina criação.
A profecia é como uma arma nuclear nas mãos de um cristão. É importante
abraçarmos o tipo de cultura profética que chama nosso destino e nos faz lembrar a
obra de Deus em nossas vidas. Se menosprezamos, rejeitamos ou não acreditamos
em profecia, nos colocamos nas mãos do inimigo desprezando uma arma de nossa
guerra espiritual de vital importância.

Declarando Morte

Ezequiel falou a um cemitério e um poderoso exército emergiu. Contudo,


Salomão disse que a vida e a morte estão no poder da língua (veja Provérbios 18:21).
É também possível, portanto, tomar um poderoso exército e reduzi-lo a uma pilha
de ossos por meio de uma língua indomada! Veja a advertência que Tiago nos deu
sobre disparar nossas bocarras:

Vede também os navios que, sendo tão grandes, e levados por impetuosos
ventos, com um pequenino leme se voltam para onde queira o impulso do
timoneiro. Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes
coisas. Vede quão grande bosque um tão pequeno fogo incendeia.
Tiago 3:4-5
Nossa língua é como o leme de um navio. Pode nos conduzir a um porto
seguro até que os ventos da adversidade passem por nós. Porém, em vez de
navegarmos nosso navio para um refúgio adequado nas tempestades da vida, com
frequência temos a tendência de soltar o volante. Isso permite que as ondas das
circunstâncias dirijam o leme em vez de nossas posturas, virtudes e valores.
Já é difícil o bastante estar em uma intensa batalha em que você não pode
ver a floresta por causa das árvores. Mas é estúpido atear fogo a floresta com nossas
línguas. Uma das piores coisas que podemos fazer quando estamos guerreando
contra as investidas do inimigo e nossa mente está sitiada, é falar. Não quero dizer
que devemos evitar pedir ajuda ou ficar calados em um canto; estou falando sobre
verbalizar os pensamentos demoníacos, especulações ou coisas altivas sendo
propagadas contra nós. Enunciar essas setas venenosas somente ajuda a assimilá-las
em nossos corações e vivê-las em nossa alma.
Às vezes é necessário em uma situação de aconselhamento, compartilhar
com uma pessoa sábia o que está acontecendo em nossas mentes para que possamos
chegar à raiz do nosso conflito. Fora disso, andar por aí repetindo o que está sendo
falado contra nós no reino invisível somente ajuda a reforçar estas mentiras em
nossos próprios corações. Os políticos e os marqueteiros entendem o “princípio da
repetição” muito bem. Este princípio diz: “As pessoas tendem a acreditar no que
ouvem de forma repetida, quer seja verdade ou não”. Pense sobre isso — é possível
falar morte a si mesmo!

Plantando Pomares

Um dia no primeiro ano do Ensino Médio, tivemos uma professora


substituta na aula de história. Em vez de ensinar história, esta professora decidiu ler
a palma das mãos dos alunos na classe. Era jovem e não entendia o significado do
que era liberado através da adivinhação, então fiquei na fila para que lesse minha
mão como o restante dos meus colegas de classe. Quando chegou a minha vez, a
professora olhou para minha mão, suspirou fundo e recusou a ler.
Saí da sala perturbado. Minha cabeça estava rodando. Tudo que fazia era
pensar: Porque ela não leu minha mão? No fim do dia, retornei e implorei para ela
ler minha mão. Ela com relutância agarrou minha mão e começou a me dizer o que
viu.
“Sua linha de vida termina cedo. Quer dizer que você morrerá muito
jovem”, ela disse com voz tímida.
Meu rosto ficou pálido e meu corpo tremia incontrolavelmente enquanto
meus pensamentos eram como redemoinho em minha cabeça. Saí apressado da sala
e corri a maior parte do caminho para casa. Suas palavras me perseguiram por anos.
Eu gestei suas sementes destrutivas e elas finalmente germinaram quando tive a
crise no ano seguinte após me casar, como descrevi anteriormente. Palavras más são
como comer um fruto de uma árvore venenosa. O fruto mortal de palavras
destrutivas, nos cerca todos os dias. É nossa decisão não consumir nem assimilar
estas palavras ao permitir que elas se enraízem em nossas mentes e corações. Paulo
coloca desse modo:

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,


tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que aprendestes, e
recebestes, e ouvistes de mim, e em mim vistes, isso fazei. E o Deus de paz será
convosco.
Filipenses 4:8-9

Bill Johnson diz: “Não podemos nos dar ao luxo de ter um pensamento em
nossa mente que não esteja na Dele!” Precisamos colocar guardas na entrada de
nossos corações e mentes para proteger o Reino de Deus dentro de nós. Meditar em
palavras negativas é como abrir o portão do nosso coração e permitir que exércitos
inimigos invadam o palácio tranquilo de nossas almas. Nossos olhos e ouvidos são
dois portões de entrada para nossas almas. É essencial que administremos o que
ouvimos e vemos para que as sementes do engano não sejam plantadas no solo de
nossas almas.

Testemunhos Abrem Nossos Olhos

Em contrapartida, os testemunhos dos atos sobrenaturais de Deus são como


plantar as sementes de Deus em nossos corações. (Acho que você poderia dizer que
os atos de Deus são sementes para o coração.) No livro bestseller de Bill Johnson
Strengthen Yourself in the Lord: How to Release the Hidden Power of God in
Your Life2, Bill nos relembra como os testemunhos se tornaram rodovias para nosso
chamado divino. Na verdade, o livro de Apocalipse diz: Pois o testemunho de Jesus
é o espirito da profecia (Apocalipse 19:10).
Em outras palavras, o que Deus fez por alguém, Ele fará por você. Quando
esquecemos as obras de Deus, perdemos de vista sua capacidade sobrenatural de nos
resgatar de qualquer situação, não importa quão desesperadoras as circunstâncias.
Os filhos de Efraim são um grande exemplo do que acontece quando você gasta
toda sua energia se preparando para guerrear no reino invisível, mas ignora a
dimensão invisível do espírito:

Os filhos de Efraim, armados e trazendo arcos, retrocederam no dia da


peleja; não guardaram a aliança de Deus, e recusaram-se a andar na sua lei.
Esqueceram-se das suas obras, das maravilhas que lhes fizera ver.
Salmos 78:9-11, ênfase acrescentada

Estes famosos guerreiros se esqueceram dos milagres que Deus tinha


realizado em suas vidas e retrocederam na batalha. Na Igreja Bethel, trabalhamos
muito para não esquecer as obras de Deus na vida da nossa igreja. Um membro da
equipe, de tempo integral supervisiona um grupo inteiro que mantém registro dos
milagres que acontecem através do ministério de nossa congregação. É nosso desejo
administrar os testemunhos da maneira como algumas pessoas administram
propriedades ou finanças. Nós relembramos de forma proativa as obras que Deus
tem feito para que nos lembremos dos milagres que Ele está para realizar. Moisés
nos instruiu a guardar os mandamentos e os testemunhos (veja Deuteronômio
6:17).
Os testemunhos não somente nos fazem lembrar os milagres de Deus, eles
têm o propósito de abrir nossos olhos para outra esfera de provisão do Reino. Este
princípio foi trazido à luz de forma muita clara quando os discípulos se esqueceram
de levar pão em uma viagem de barco (veja Mateus 16:5-12). Jesus lhes disse:
Cuidado, acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus (v. 6). Os discípulos
estavam convencidos que Ele os estava repreendendo por serem irresponsáveis com
a provisão. Jesus os recordou que Ele alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e
quatro mil pessoas com sete pães, em ambos sobraram várias cestas de pão.
Portanto, Ele disse: Como não compreendestes que não vos falei a respeito de pão,
mas que vos acautelásseis do fermento dos fariseus e saduceus? (v. 11).
Ou seja, quando eles testemunharam o milagre de Jesus multiplicando os
pães (Ele multiplicou peixe também, mas eles estavam somente discutindo sobre
pão), o propósito era revelar outra dimensão de provisão para eles, a fim de que eles
nunca tivessem que se preocupar acerca da falta de pão novamente. O testemunho
da provisão sobrenatural era para lhes conceder fé para ver Deus de uma maneira
nova. Ainda assim, eles se esqueceram do milagre da multiplicação, que por fim
abriu uma porta para que a preocupação, medo e ansiedade se enraizassem em suas
vidas.
Na Igreja Bethel, iniciamos cada encontro com testemunhos das
intervenções milagrosas de Deus que testemunhamos em nossas circunstâncias.
Isso cria uma atmosfera de expectativa de que os desafios que enfrentamos todos os
dias serão respondidos com a habilidade de Deus, não nossa. Geralmente passamos
até uma hora compartilhando testemunhos nos encontros mensais da diretoria,
onde as finanças são o assunto mais comum. Você pode sentir o fardo sair e a fé
crescer em seu coração quando diferentes líderes compartilham suas histórias.
Quando finalmente “tratamos dos negócios”, abordamos os problemas práticos da
Bethel com as soluções sobrenaturais de Deus em mente.
Assim como os filhos de Efraim, devemos entrar nas batalhas espirituais
totalmente equipados com armas de guerra. Porém, não podemos esquecer as
vitórias passadas de Deus em nossas vidas, ou desfaleceremos e recuaremos no calor
da guerra. Por muitos anos mantenho um diário para me ajudar a lembrar das
vitórias passadas. Não sou muito disciplinado para escrever nele todos os dias, mas
em períodos difíceis sempre registro minhas lutas. Em tempos árduos, volto e leio
as anotações que fiz sobre meus medos passados e os livramentos de Deus em
minha vida. Lamentações de Jeremias 3:21 diz: Entretanto disto me recordo, e,
portanto, tenho esperança. Recordar a obra que o Senhor fez em nosso passado
realmente ajuda a trazer paz a nós em nossos períodos tempestuosos do presente.
Prepare Sua Mente Para Agir

Às vezes em meio a seus tramas e esquemas, o inimigo pode criar


circunstâncias que promovem tempestades em nossas vidas. É importante
prepararmos nossa mente para agir para que não sejamos pegos de surpresa e
caiamos em seus esquemas (veja I Pedro 1:13). Experimentei isso em 2004 quando
tive um problema sério no cólon. Depois de mais de um ano sangrando de forma
severa, decidi procurar um médico. Odeio ir a médicos porque tenho um medo
irracional de que eles encontrarão algo terminantemente errado comigo. Mas,
finalmente criei a coragem para marcar uma consulta.
Pelo que pareceu uma eternidade, sentei sozinho em uma sala de exame
esterilizada e fria no consultório do médico. Enquanto esperava impaciente,
imagens horríveis inundaram minha mente. Vi-me deitado em uma mesa de
cirurgia cercado por médicos. Todos estavam balançando as mãos agitados.
Quando finalmente o médico chegou, queria sair correndo da sala. Contei-lhe
meus sintomas, brincando para não o alarmar. Após um exame invasivo (te
pouparei os detalhes), ele concluiu que deveria procurar um especialista para uma
colonoscopia.
“Um especialista!”, reclamei. “Você não poderia me dar uma injeção ou um
comprimido... ou algo assim?”
“Não!”, o médico retrucou. “Isso pode ser algo pequeno ou algo sério!”
Ele tentou me explicar o exame, mas eu estava bêbado de medo. Sai do
consultório com minha cabeça girando. Naturalmente, o especialista só poderia me
ver em duas semanas! No dia seguinte saí para fazer uma conferência em Los
Angeles. O pastor anfitrião pegou Kathy e eu no aeroporto e nos levou para almoçar
antes da primeira reunião. Sentamos a mesa de um bonito restaurante e tivemos
pequenas conversas. Também sentei lutando contra o pânico enquanto visões do
meu funeral pressionavam minha mente. O garçom veio tirar nossos pedidos de
bebida. Ele parecia tão perturbado quanto eu, então decidi consolá-lo.
“Como você está?”, perguntei.
“Não muito bem”, respondeu sem hesitar.
“O que está te preocupando?”, persisti.
“Meu irmão morreu de câncer de cólon semana passada. Eu acabei de voltar
do médico hoje e descobri que tenho câncer de cólon”, ele disse, sufocando as
lágrimas.
Fiquei chocado, sem ter certeza do que fazer a seguir. Só consegui sussurrar,
“vou orar por você”.
Algumas horas depois, quando estava pregando na conferência, minha
cabeça ainda estava girando por causa da experiência no restaurante. Quando
terminei de falar, a equipe de oração veio ministrar aos enfermos. Permaneci na
plataforma e os direcionei. Um homem passou pela equipe de oração e fez um gesto
para que eu descesse para ele falar comigo. De forma relutante me curvei para ouvir
seu pedido.
“Acabei de ser diagnosticado com câncer de cólon”, ele disse. “Preciso que
você ore pessoalmente por mim!”
Não tenho ideia do que aconteceu na reunião depois disso. Eu estava
nadando em terror. Voei da conferência para casa dois dias depois, meus sintomas
pareciam piorar a cada hora. Fiquei obcecado com minhas circunstâncias e ainda
tinha que esperar uma semana antes de ir ao colonoscopista! Avancei com
dificuldade ao longo da semana, lutando contra as imagens de morte que
continuamente afligiam minha mente. Estava na nossa igreja na véspera do exame.
Bill estava pregando naquela manhã e quando concluiu a mensagem, ele pediu a
equipe de oração para subir e ministrar aos que precisavam de um milagre em seus
corpos. Pensei que seria bom orar por outras pessoas só para tirar minha mente dos
meus próprios problemas. Cerca de cinquenta pessoas estavam na equipe de oração
naquela manhã e umas duzentas pessoas enfermas ficaram na fila para oração.
Fiquei aliviado em ver apenas quatro pessoas na minha fila de oração. O
primeiro homem veio e me reclinei e sussurrei em seu ouvido: “Pelo que você
precisa oração?”
“Eu tenho câncer de cólon”, ele disse, com lágrimas descendo sobre seu
rosto. “Preciso que Deus me cure”.
Agora você provavelmente já adivinhou pelo que os outros três queriam
oração—câncer de cólon! Cada um deles! Caramba!
Mais tarde naquele dia, um jovem que foi curado de colite orou por mim.
Não senti acontecer nada quando ele me ministrou, mas todos os meus sintomas
desapareceram. Na manhã seguinte fui ao especialista para fazer a colonoscopia. Ele
não encontrou nada de errado comigo. Muitos anos se passaram desde aquela
experiência e meus sintomas nunca retornaram!
No capítulo anterior falamos sobre os esquemas do inimigo. Até passar pela
provação com a questão do cólon, nunca percebi quão complexos seus esquemas
poderiam ser. É muito importante que estejamos preparados para agir para não
sermos vítimas de jogos enganosos da mente que podem guerrear contra nossas
almas. Temos que lembrar a nós mesmos que somos um povo do Reino, destinados
a viver em justiça, paz e alegria. Precisamos cultivar continuamente o jardim dos
nossos corações alimentando o solo de nossas mentes com a verdade. Temos que
recusar crer nas mentiras acerca de nós mesmos que semeiam ervas daninhas em
nosso ser, sementes que destroem nossa autoconfiança e minam nosso destino.
Finalmente, devemos regar o pomar de nossos corações com palavras que nos
constroem, edificam e consolam entendendo que somos amados de Deus.
7 – ALEGRIA VERDADEIRA

Os cristãos deveriam ser as pessoas mais felizes no planeta! Pense um pouco


— Jesus orou: Agora vou para junto de ti, e isto digo enquanto estou no mundo,
para que tenham em si a medida completa da minha alegria (João 17:13). Jesus
deseja que sejamos cheios de Sua alegria! Hebreus 1:9 diz que Jesus foi ungido com
óleo de alegria mais do que a Seus companheiros. Isso significa que Ele era mais
feliz do que as pessoas com quem andava. Isso é muita alegria! Para nos fazer ainda
mais felizes, Deus enviou Seu Santo Espírito às nossas vidas para nos consolar. É
maravilhoso que Ele queira que estejamos confortáveis. Mas espere, fica ainda
melhor. A Bíblia diz que o fruto ou a evidência do Espírito Santo operando em nós
é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio (Gálatas 5:22-23). Aqui está aquela palavra alegria outra vez. Nós
temos tanto a alegria de Jesus quanto a alegria do Espírito Santo. Entendeu isso?
Foi-nos dada uma unção dobrada de alegria!
Se isso não te faz ficar empolgado, então que tal isto: Pois o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Romanos
14:17). Uau, um terço do Reino é alegria! O apóstolo Pedro disse que devemos
exultar com alegria indizível e gloriosa (I Pedro 1:8 NVI). Entretanto, a alegria é
uma emoção estranha para muitos cristãos porque os espíritos religiosos têm
penetrado de forma desonesta em suas almas e roubado a vida abundante que Jesus
comprou para eles.

O Poder do Riso

O que não pode ser manifestado em palavras é muitas vezes manifestado em


risadas. É muito difícil estar extremamente feliz e não dar risada! As pessoas sabem
que dar risada — uma gargalhada boa, honesta, não a de zombaria — faz você se
sentir melhor. Salomão disse isso há milhares de anos: O coração alegre é bom
remédio (Provérbios 17:22). No entanto, a medicina moderna tem estudado de
forma séria os benefícios específicos do riso por cerca de trinta anos.
Normam Cousins é mais frequentemente creditado por colocar o poder
curador do riso cientificamente no mapa. Cousins foi um jornalista político e
ativista que, depois de uma viagem esgotante a Rússia, desenvolveu espondilite
anquilosante, uma forma de artrite na coluna. Quase imobilizado pela dor, ele foi
informado pelo seu médico que somente uma pessoa em quinhentas se recuperava
desta condição. Ao ouvir isso, Cousins decidiu resolver as coisas por si mesmo.
Com a ajuda de um dos seus médicos ele desenvolveu um plano de tratamento não
ortodoxo. Ele se mudou do hospital para um quarto de hotel, parou de tomar
remédio para dor, começou a tomar altas doses de vitamina C e passar horas
assistindo filmes antigos dos Irmãos Marx e pegadinhas da Câmera Escondida para
inspirar riso.
“Funcionou”, registrou Cousins em seu livro Anatomy of an Illness
(Anatomia de uma Doença). “Fiz a alegre descoberta que dez minutos de
gargalhadas genuínas tinha um efeito anestésico e me davam pelo menos duas horas
de sono sem dor”.1 Depois de apenas algumas semanas de “tratamento”, a dor de
Cousins tinha diminuído o bastante para lhe permitir retornar ao trabalho e ele
continuou até a recuperação total.
Os cientistas agora têm várias teorias sobre a razão de o riso aliviar a dor.
Eles acham que libera endorfina, relaxa nossos músculos ou talvez simplesmente
nos distraia. Todos concordam, contudo, que Normam Cousins não era um caso
especial. O riso é definitivamente um analgésico! Todos também estão descobrindo
que o riso faz muitas outras coisas boas para o nosso corpo, mente, emoções e
relacionamentos.
O ato físico de dar risada ajuda nossos corpos de três maneiras básicas. Em
primeiro lugar ele produz essencialmente a mesma coisa que um exercício físico —
faz nosso pulmão respirar mais fundo, o coração bater mais rápido, e muitos
músculos se envolverem, desse modo melhorando nossa circulação e pressão
arterial. Em segundo lugar, relaxa nosso corpo e impede nossa mente de produzir o
hormônio do estresse que reprime nosso sistema imunológico, nos desgasta e
faz-nos vulneráveis a doenças. Em 2005, médicos do Centro Médico da
Universidade de Maryland declararam que o riso é um dos “melhores remédios”
para nos proteger da principal causa de morte nos Estados Unidos, as doenças do
coração, porque ele previne que o estresse deteriore o revestimento de nossos vasos
sanguíneos.2 Terceiro, a risada ativa nosso sistema imunológico. Estudos mostram
que o riso aumenta nossas defesas naturais contra o câncer, vírus e problemas do
trato respiratório superior.
Riso e humor são também ferramentas vitais para criar e sustentar a saúde
mental e emocional, que, naturalmente, afeta diretamente nossa saúde física. As
muitas tensões que experimentamos produzem emoções negativas como medo,
tristeza e raiva. A não ser que sejam processados por meio de liberação catártica
como riso, choro ou grito, elas intoxicam nossos corpos e mentes. O número
crescente de profissionais de saúde mental no movimento “terapia do riso”
argumenta que o riso a nível físico não só detém hormônios do estresse prejudiciais,
também estimula agentes benéficos de combate a doenças. Nos níveis mentais e
emocionais o riso não só dispersa pensamentos e emoções negativas, também
produz emoções positivas como esperança e entusiasmo, e nos permite criar
perspectivas novas, mais otimistas em nossas circunstâncias.
Sobrevivente do campo de concentração, Viktor Frankl viu em primeira
mão que o humor era uma habilidade poderosa para a sobrevivência, que capacitou
a ele e a outros prisioneiros manter a esperança e os sentidos em meio à época mais
tenebrosa de suas vidas. Frankl disse: “Humor, mais do que qualquer outra coisa na
constituição humana, proporciona um distanciamento e uma capacidade de
elevar-se acima de qualquer situação, mesmo que seja por alguns segundos”.4
Pesquisadores do riso têm descoberto inúmeras histórias de pessoas como Cousins
e Frankl que usaram o humor para sobreviver aos campos de prisioneiros de guerra,
câncer, guerras e outras perdas terríveis, traumas e doenças, assim como a rotina
diária de empregos estressantes.
É contraditório dar risada quando a vida parece tudo, menos engraçada.
Porém, segundo os defensores da terapia do riso, essa é precisamente a hora de dar
risada, pois o poder verdadeiro do riso não é visto em circunstâncias engraçadas,
mas nas difíceis. Riso terapia é fundamentalmente projetado para ensinar as pessoas
como usar o riso para se moverem no “espírito oposto” das suas circunstâncias. Ao
fazer isso, o riso se torna muito mais do que uma reação instintiva. Torna-se uma
habilidade pela qual as pessoas podem lidar com estresse e permanecer saudáveis —
uma habilidade que por acaso, é uma componente chave de inteligência emocional.
Os pesquisadores apresentam dois fatos que ajudam no desenvolvimento
desta habilidade de riso. Primeiro, ao contrário do que você talvez pense, o humor
não é a causa número um da risada. Robert Provine, que tem passado centenas de
horas estudando a risada das pessoas na vida diária, afirma que a risada e
primeiramente um fenômeno social, uma linguagem humana universal — ele na
verdade chama isso de “falar em línguas”— isso facilita a interação social e se mostra
na maioria dos cenários sociais.5 Por um lado, isso significa que estar com pessoas é
uma das melhores maneiras de desenvolver a habilidade do riso. Em contrapartida,
quer dizer que as pessoas que riem mais são naturalmente mais atrativas a outras e
tendem a desenvolver redes sociais mais fortes, o que é outro elemento importante
em lidar com estresse.
O fato número dois da pesquisa é este: A maneira mais segura de acabar em
um ataque de riso histérico é começar fingindo um. Uma das figuras líderes no
movimento de terapia do riso secular, Dr. Madan Kataria, começou um “clube do
riso” em sua terra natal, Índia para ver se conseguiria reproduzir os resultados que
Normam Cousins obteve com o riso. Após um grupo não ter mais piadas para
contar, Kataria descobriu que dar risada “sem motivo” funcionava do mesmo jeito.6
O ato físico de dar risada, mesmo quando inicialmente forçado, produz os mesmos
bons efeitos físico, emocional e mental que podem ser inspirados pelo humor ou
sugestões sociais, e estes efeitos reais por sua vez faz com que a risada seja sincera.
Tenho consciência que o Dr. Kataria é conhecido como o “fundador do
movimento ioga do riso” e que muitos cristãos encontram na ioga elementos
perturbadores de religiões orientais e do demoníaco (assim como eu). Não estou
defendendo a prática da ioga; estou simplesmente salientando que, mesmo os que
estão no mundo agora reconhecem os benefícios da terapia do riso. Veja os
resultados seculares apenas. A descoberta de Kataria, sobre a qual ele desenvolveu
um sistema completo de exercícios que ele chama “ioga do riso”, produziu uma
reação em cadeia — seu clube do riso multiplicou e se espalhou ao redor do mundo
como fogo de pólvora. Ele se apresentou no programa da Oprah e escreveu para o
New Yorker; Time e Forbes. Seu website transborda com testemunhos de pessoas
afirmando que o riso restaurou a alegria em suas vidas, ajudou-as a lidar com dores
crônicas e doenças, curou e fortaleceu relacionamentos tensos e de certa forma
transformou suas vidas. Muitos até dizem que a ioga do riso é a chave para a paz
mundial! Vídeos no site demonstram participantes do clube do riso dançando e
brincando, o tempo todo rindo em alvoroço. Tem momentos que quase parecem
estar em uma reunião de avivamento.
O que tudo isso me diz é que o mundo está sendo preparado para
reconhecer o poder e valor da alegria em suas vidas. A ioga do riso do Dr. Kataria
representa o melhor que o homem natural pode alcançar na sociedade secular com o
dom do riso dado por Deus. Você pode imaginar como será quando a versão
sobrenatural infundida com o poder de Deus atingir o mesmo ponto de
publicidade? Os religiosos provavelmente estarão se retorcendo com o que
chamamos riso santo, sobre o que irei falar mais daqui a pouco, mas o mundo estará
preparado para recebê-lo porque as pessoas já entendem o valor de dar risada “sem
motivo”. Quando o Corpo de Cristo finalmente mostrar-lhes o maior motivo para
dar risada — na verdade, transmitir a eles a alegria do Criador — tenho certeza que
eles nem hesitarão em se juntarem a festa.

Riso Santo

Falando de festas, em 1994, Deus desceu de forma sobrenatural sobre uma


pequena igreja em Toronto, Canadá. Uma das principais manifestações da presença
do Espírito no que ficou conhecido como a “Bênção de Toronto era o riso santo”.
Muitos religiosos do mundo rejeitaram o movimento, estigmatizando-o como
ridículo, não bíblico e/ou herético.
Não é difícil entender porque algumas pessoas rejeitaram as manifestações
deste movimento. À primeira vista, pessoas literalmente caindo e rolando no chão
enquanto riem histericamente sem motivo aparente pode parecer estúpido ou sem
propósito. Porém, começaram surgir relatos da Igreja Toronto Airport Vineyard de
pessoas sendo curadas e restauradas de dentro para fora. Tais relatos superaram a
aparência ridícula das manifestações de Deus. Isto resultou em milhões de pessoas
do mundo inteiro em massa indo à igreja!
Testemunhei pessoalmente milhares de pessoas sendo dominadas pela
presença invisível do Espírito Santo. Este movimento tocou de forma dramática
minha esposa, Kathy, que é uma pessoa muito equilibrada emocionalmente. Tem
períodos em que ela é tão dominada pela presença de Deus que se comporta como
se estivesse totalmente embriagada. Assistir Kathy agir de modo tão ridículo era
confuso a princípio, mas vejo que o fruto destas experiências tem sido de modo
esmagador positivo tanto para a vida dela como na vida de muitos outros. Isso tem
me feito ansiar pela mesma experiência.
Muito antes de ler qualquer coisa sobre o que os cientistas estavam
aprendendo em seus experimentos com o riso, Deus já estava fazendo Seu povo rir
para serem plenos. Enquanto muitos desdenhavam e zombavam, milhões de
pessoas estavam se tornando plenas. Acho que Salomão estava certo há milhares de
anos quando escreveu: O coração alegre é bom remédio (Provérbios 17:22). Talvez
seja a hora da Igreja do Deus Vivo tornar-se uma farmácia!
8 – A ARMADURA DE DEUS

É o ano 62 d.C. e os romanos prenderam o apóstolo Paulo outra vez. A cena


é sombria; sem ventilação ou ar fresco em sua cela, a prisão é quente e
insuportavelmente úmida. O fedor de dejetos humanos impregna a atmosfera. O
peso dos grilhões de ferro que prendem as mãos e os pés de Paulo fadiga o corpo
frágil deste velho homem. A forte segurança proíbe lâminas, deixando cabelos e
barba do prisioneiro crescer despenteado e emaranhado. Na cela sem janelas
prevalece a escuridão, e eventualmente os olhos de Paulo se ajustam o suficiente
para com dor conseguir escrever quatro cartas que serão depois chamadas de
“Epístolas da Prisão”.
Há pouca visitação neste buraco aparentemente esquecido por Deus, exceto
pela presença intimidadora dos guardas romanos que sem piedade espiam dentro
das celas para checar os prisioneiros. De modo estranho, estas sentinelas adversárias
se tornam um contraste bem-vindo às vidas dos prisioneiros, enquanto essas almas
solitárias lutam com seu destino e aguardam sua sentença dos impiedosos
magistrados romanos. Foi aqui que o grande apóstolo Paulo escreveu sua carta aos
Efésios. Em um belíssimo contraste com sua condição empobrecida, ele escreve:

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos que estão
em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus: A vós outros graça, e paz da parte de Deus nosso
Pai e do Senhor Jesus Cristo.
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos
abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Pois nos
elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante dele.
Efésios 1:1-4

Sua mensagem é clara: vocês podem prender meu corpo, algemar meus
membros e restringir minhas visitas, mas não podem encarcerar minha alegria,
acorrentar minhas bênçãos nem roubar minha herança. Muitas pessoas, vivendo no
conforto aconchegante do século XXI, algo que era alheio a reis há apenas cem
anos, reclamam de sua dura situação. Elas deixam de reconhecer que seu assento
celestial vindouro suplanta suas circunstâncias terrenas (veja Efésios 2:6).
Tenho um amigo muito rico que, muitos anos atrás, estava passando por
uma difícil situação. Seu casamento destruído, o relacionamento com seu único
filho tenso e seus negócios em sérios problemas financeiros. Ele ficou tão
deprimido com suas circunstâncias que pela primeira vez na vida, decidiu buscar um
conselheiro profissional. Depois de muita pesquisa, ele voou metade do país em seu
próprio avião para ver um dos psicólogos mais conceituados nos Estados Unidos.
Quando sentou no consultório do médico, o conselheiro lhe perguntou:
“Por que você veio me ver?”
“Meu casamento está com dificuldades, o relacionamento com meu filho
em más condições e meus negócios fracassando. Minhas circunstâncias estão me
deprimindo”, meu amigo respondeu.
“Não, a felicidade é um trabalho interno!” o psicólogo replicou.
Para choque do psicólogo, meu amigo se levantou, foi até sua mesa e
preencheu um cheque de 300 dólares. O médico disse: “O que você está fazendo?
Você está aqui apenas por cinco minutos”.
“Bem, já obtive aquilo que vim buscar”, respondeu. “Pensava que minhas
circunstâncias estivessem ditando minha depressão. Agora compreendo que minha
situação não determina minha condição interior. Entendo agora que o reino ao meu
redor não tem poder sobre o Reino dentro de mim. Obrigado por sua ajuda,
doutor”, meu amigo explicou quando saía do prédio. Ele voou para casa com uma
atitude totalmente nova, embora suas circunstâncias externas ficassem sem
mudanças ainda por quase dois anos.
As circunstâncias de muitas pessoas determinam suas atitudes. Elas se
tornam vítimas impotentes de ações a atitudes de outros. Acreditam de forma
errada que sua situação física é sua condição. A verdade é que nem sempre você tem
poder sobre o que acontece com você, mas você tem sim, completo controle sobre o
que acontece em você.
Assentado em Lugares Celestiais

Em Efésios, Paulo descreve três períodos distintos em nossas vidas. Ele usa
a postura de sentar, andar e estar de pé como metáfora para representar estes
períodos. Nos primeiros dias de encarceramento, Paulo escreveu:

Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que
nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez
assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus, para mostrar nos séculos vindouros
as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo
Jesus.
Efésios 2:4-7, ênfase acrescentada

Gosto muito dos períodos de “relaxar, descontrair e beber algo” das nossas
vidas. O Filho de Deus experimentou esses períodos. Lembra-se quando o Pai lhe
disse: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por estrado
dos teus pés (Salmos 110:1)? Tempos assim me fazem lembrar as palavras de Davi
em Salmos 23:2-3: Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas
tranquilas, refrigera a minha alma. Gostaria de dizer a Deus: “Oh Senhor, por
favor, faça-me deitar nesses pastos verdes... submerge-me com Tua bondade...
afaga-me com Teu consolo... extravasa-me com Tua magnificência... sussurra-me
Tuas doces palavras e beija-me em novas dimensões do Teu amor”.
São nestes momentos maravilhosos na vida que Deus nos ensina sobre Seu
amor, misericórdia e graça. Chamo esses períodos de “A essência é Deus”. Nestes
momentos, parece que se eu fizer maiores esforços como tentar trabalhar mais, orar
por longos períodos ou estudar com mais diligência, isso de certa forma atrapalha as
coisas. Sei que estes são momentos em que devo aprender a como descansar em
Deus e como confiar Nele com minha vida inteira, mas isso quase faz sentir como se
Deus estivesse sancionando a “preguiça”.
Permita-me ser claro aqui — eu sei que preguiça não é uma qualidade
admirável no Reino. Estou apenas tentando descrever a sensação quando estamos
em um período de descanso. Nestes momentos, frases que incluem palavras como
guerra, armas, lutas ou batalhas parecem irrelevantes. É como relaxar em uma
banheira quente enquanto se lê um mistério de assassinato. Estamos tão longe do
campo de batalha que se sente mais ficcional do que real.
Muitos crentes nunca experimentam primavera em Deus. É quase como se
eles nascessem na Antártida, espiritualmente falando, onde é sempre frio e não há
primavera. Encontro um denominador comum entre estes Congelados Escolhidos.
Para eles, “assentar nas regiões celestiais” é uma metáfora poética, uma filosofia
intelectual ou um desejo teológico e não uma realidade radical. Somente quando
aprendemos a viver de dentro para fora e não de fora para dentro, que somos
verdadeiramente livres para experimentar estes períodos. O Reino dentro de nós é
mais poderoso do que o reino ao nosso redor.
Como expliquei com grandes detalhes no meu livro Chuva abundante -
Como Podemos Transformar o Mundo Que Nos Cerca, temos dupla cidadania.
Somos cidadãos do céu e cidadãos da terra. A pergunta é: Vivemos da terra em
direção ao céu ou vivemos do céu em direção a terra? Quando nosso assento
celestial é apenas uma promessa distante, vivemos no modo defensivo o tempo
todo. Estamos sempre orando sobre algo que já aconteceu. Orações como: “Oh
Deus, cura meu amigo” ou “Oh Deus, conserte minhas finanças”, ou “Oh Deus,
ajude a restaurar meu relacionamento” são todas orações defensivas.
As circunstâncias difíceis de nossa existência provocam estas súplicas, e é
importante que oremos sobre qualquer coisa que esteja errada no mundo ao nosso
redor. Contudo, quando toda nossa vida de oração é motivada por circunstâncias
negativas que nos cercam, é um sintoma de nossa disposição de assentos. Assentos
terrenos criam orações reacionárias. Se sentarmos lá por muito tempo, acabaremos
tendo um grande diabo e um pequeno Deus.
Por outro lado, quando tomamos nosso lugar correto assentados com Cristo
em Seu trono celestial vivemos poderosa, ofensiva e relativamente em paz. Nossas
orações se tornam declarações proféticas que dirigem a história. O Reino dentro de
nós começa a direcionar o mundo ao nosso redor para que não sejamos mais
vítimas, mas vitoriosos! É nestes períodos de essência de Deus, “assentados” que
aprendemos a viver esta realidade radical.

Andando no Alto Chamado de Deus

Visualizo o idoso apóstolo Paulo perseverando através das longas e


perigosas noites naquele calabouço escuro e úmido. Ele se esforça para andar, seu
corpo marcado por espancamentos e apedrejamentos. Atormentado pela dor, o
homem velho começa a andar de lá para cá na sua cela, enquanto inscreve de modo
meticuloso esta frase no pergaminho: Portanto, como prisioneiro do Senhor,
rogo-vos que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados (Efésios
4:1, ênfase acrescentada).
Poderia ser que o grande apóstolo Paulo, com seu corpo enrijecido e fraco,
mas sua mente iluminada recorde as palavras do profeta Habacuque? O Senhor é a
minha força; torna os meus pés como os das corças, e me faz andar sobre os lugares
altos (Habacuque 3:19). Ou talvez o idoso santo esteja simplesmente inspirado pelo
vento de mudança do Espírito Santo ao sentir a temporada mudando. Seja o que for
que Deus usou para acender essas palavras sobre o andar em Paulo, elas se colocam
em contraste com as expressões de assentado que ele escreveu apenas alguns dias
antes.
Os períodos de andar são marcados por nossas iniciativas de colaborar com
os propósitos divinos de Deus, para estender as fronteiras do Reino na vida de
outros. Quando os ventos de mudança sopram sobre nossas vidas, os elementos
sopram diferentes atributos de Deus para emergir dentro da nossa personalidade. O
tempo de sentar descansando em Sua graça passou, agora é hora do Seu poder fluir
através de nossos esforços enquanto andamos em Seu alto chamado em nossas
vidas. Quando entendemos os períodos espirituais de nossas vidas, podemos
levantar nossas velas e deixá-Lo nos dirigir para as orlas do destino. Entretanto,
quando estamos assentados, quando deveríamos andar isso mina Seus caminhos e
atrapalha Seus propósitos.
Moisés experimentou este vento de mudança no livro de Êxodo. Ele
registrou dessa forma:

Moisés, porém, disse ao povo: Não temais. Estai quietos, e vede o


livramento do Senhor, que hoje vos fará. Aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais
vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis. Então disse o
Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem.
Êxodo 14:13-15

Compreendeu o que estava acontecendo aqui? Moisés disse ao povo para


estar de pé (na versão acima, estar quieto) e ver Deus trabalhar de forma milagrosa.
Mas, em essência Deus disse a Moisés: Pare de choramingar e comece a andar!
Tem épocas em nossas vidas que Deus simplesmente se recusa a fazer qualquer
coisa por nós a menos que Ele faça conosco! Lá estávamos, deitados em pastos
verdes... águas tranquilas refrigerando nossas almas... e Deus diz: O que você está
fazendo? Levante-se e comece a andar pelo vale!
Com frequência desejo dizer: “Ei, Senhor, fostes Tu que me fizeste deitar
aqui. Tu que dissestes para assentar aqui enquanto Tu colocas meus inimigos
debaixo dos meus pés. Que atitude nova é essa?” No entanto, de muitas maneiras,
os períodos de andar são os tempos mais emocionantes. Coisas poderosas
acontecem quando Deus está trabalhando em nós para destruir as obras do diabo.
Todos os tipos de vitórias normalmente marcam os períodos de andar—pessoas são
curadas ao impormos as mãos sobre elas, provisões milagrosas ocorrem quando
semeamos em Seu solo, casamentos são restaurados através de umas poucas palavras
sábias que podem parecer insignificantes. A vitória está no ar e a esperança enche
nossos corações.

Ficar de Pé na Presença dos Nossos Inimigos

Passaram-se várias semanas desde que o grande apóstolo Paulo começou a


escrever aos santos de Éfeso. A tarefa penosa tinha causado danos ao idoso estadista
enquanto ele, de forma persistente pressionava suas circunstâncias na prisão romana
para escrever sua epístola eterna.
Os apóstolos pareciam ter jeito para fugas da prisão. Por volta do ano 44
d.C. Pedro foi liberto de forma sobrenatural de uma prisão de alta segurança em
Jerusalém, o que resultou em uma ordem do rei Herodes para executar todos os
guardas (veja Atos 12:5-19). Paulo e Silas eram famosos por suas fugas da prisão.
Anos antes, os apóstolos estavam adorando em uma masmorra, quando de repente,
um terremoto sacudiu os alicerces da prisão. As portas da penitenciária se
escancararam e todos os grilhões dos prisioneiros caíram. Paulo por misericórdia se
recusou a sair da prisão para que a vida dos guardas fosse poupada (Atos 16:25-30).
Desta vez, os romanos não queriam correr nenhum risco com seu
prisioneiro notório. O rei ordenou um regimento de seus soldados mais leais, bem
equipados e cruéis para guardar a cela de Paulo. Embora os prisioneiros estivessem
atrás das grades, presos aos grilhões e em uma penitenciária reforçada com pedras,
todos os guardas estavam totalmente preparados para impedir qualquer plano de
fuga.
Um dia quando Paulo espiava pelas aberturas de sua cela, seus olhos foram
atraídos para o equipamento dos soldados. Enquanto ele observava as armas e
armaduras dos guardas, avaliou seus propósitos distintos e o Espírito Santo
começou a falar com ele:

No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.


Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as
astutas ciladas do diabo. Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue, e, sim,
contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes. Portanto,
tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo
feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo CINGIDOS OS VOSSOS
LOMBOS COM A VERDADE, e VESTIDA A COURAÇA DA JUSTIÇA, e
CALÇADOS OS PÉS NA PREPARAÇÃO DO EVANGELHO DA PAZ,
tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos
inflamados do maligno. Tomai também O CAPACETE DA SALVAÇÃO, e a
espada do Espirito, que é a palavra de Deus. E orai em todo o tempo com toda a
oração e súplica no Espírito. Vigiai nisto com toda a perseverança e súplica por
todos os santos.
Efésios 6:10-18, ênfase acrescentada

Antes de voltarmos à prisão e avaliarmos a armadura dos guardas romanos,


quero que veja algo profundo. Tinha passado várias semanas desde que o apóstolo
Paulo começou este livro que agora chamamos Efésios, e o período espiritual tinha
mudado de novo. Paulo não está mais falando conosco sobre assentar nos lugares
celestiais, nem está nos encorajando a andar em nosso alto chamado. Em vez disso,
o encontramos nos exortando a ficar firmes! Ele diz que quando tivermos feito tudo
para ficarmos firmes, então precisamos apenas ficar firmes. Estas palavras
representam os tempos perigosos quando o alvo de nossa existência cristã é ocupar
nosso terreno, não tomar mais território. São dias de guerra espiritual quando os
fatos parecem ficção e desejamos que isso fosse apenas um romance e não nossa
vida.
Posso imaginar que quando o prisioneiro escreveu seus últimos parágrafos
do que acredito ser um dos livros mais esclarecedores de sua vida, a resistência
demoníaca na cela deve ter aumentado de modo dramático. Uma luta intensa
provavelmente se sucedeu enquanto os principados e poderes lutavam contra a
própria alma de Paulo.
Os versículos finais que concluíram esta grande epístola se distinguem das
palavras vitoriosas que emolduraram seus pensamentos iniciais somente semanas
antes.
Em seis capítulos curtos Paulo nos levou do assentar com Cristo em Seu
trono usando o inimigo como estrado dos pés, para uma luta livre sem limites com
os espíritos demoníacos tentando destruir nossas vidas. Acho que algumas
passagens paradoxais a respeito do ministério de Cristo demonstram a sensação
destes períodos espirituais contrastantes. Lucas registrou um momento poderoso:

Certo dia ele estava ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e


doutores da lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judéia e de Jerusalém. E o
poder do Senhor estava com ele para curar.
Lucas 5:17, ênfase acrescentada

No entanto, Mateus registra um tempo quase impotente que aconteceu


quando Jesus estava ensinando em Sua cidade natal (parece engraçado que o Seu
pior dia ainda era melhor do que nossos melhores dias): E escandalizavam-se
nele.... E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles (Mateus
13:57-58, ênfase acrescentada).
Acho que você entendeu. Até mesmo Jesus experimentou diferentes
períodos espirituais em Sua vida e ministério. Gosto muito dos períodos de
“assentar”, e aprecio fazer uma longa e boa “caminhada” na faixa do destino em
períodos de frutificação, mas não posso dizer que gostei da luta livre dos períodos de
“ficar firme”!

Discernimento da Armadura
Passamos bastante tempo descrevendo a guerra espiritual nas páginas deste
livro. Agora voltemos à cela de Paulo e vejamos que discernimentos podemos obter
através desta revelação em Efésios 6 acerca dos equipamentos de batalha dos
soldados romanos.

1) Cingir Vossos Lombos com a Verdade: Todo soldado romano usava um


cinto largo, firme que colocava antes da sua armadura. O cinto segurava seus
músculos abdominais e ajudava a proteger seu tronco.

Implicações espirituais: A palavra para verdade nesta passagem não se refere


à Bíblia, embora a essência de toda verdade seja a Palavra de Deus. Esta palavra
verdade significa “autêntico”. Muitas pessoas se escondem por trás de uma fachada,
nunca permitem realmente que outros a conheçam. Como Adão e Eva cobrindo-se
com folhas de figo para esconder sua vergonha muitos crentes se vestem em
realidades produzidas por homens, que são facilmente penetradas por espíritos
demoníacos. Embora consigam enganar algumas pessoas com as aparências, na
hora de batalhas intensas sua falta de profundidade as exporá nas intempéries.
Paulo, portanto, nos exorta a sermos honestos, viver com integridade e sermos
autênticos com Deus e com as pessoas que Ele colocou em nossas vidas.
Desonestidade é uma porta aberta que destruirá nossas vidas, principalmente
durante qualquer tipo de cerco do inimigo.

2) A Couraça da Justiça: A couraça cobria o coração do soldado e outros


órgãos vitais.

Implicações espirituais: centenas de anos atrás o homem mais sábio do


mundo escreveu: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele
procedem as saídas da vida (Provérbios 4:23). Nosso coração é o assento de nossa
alma e o estrado do nosso espírito. Quando recebemos Cristo, passamos por um
transplante de coração. Jesus Cristo de boa vontade foi o doador. Nós não
produzimos justiça; nós a protegemos. A justiça é parte da nossa nova natureza que
recebemos como dom (veja Romanos 5:17). O inimigo amaria nos convencer de
que nosso coração é perverso e nossos caminhos maus, mas o diabo é um acusador
mentiroso. A justiça de Deus é a couraça da vida de todo cristão. Não se preocupe,
Ele te protege!
3) Os Calçados da Paz: As sandálias que os soldados romanos usavam
tinham travas na parte de baixo como alguns calçados atléticos hoje. Isso dava
estabilidade no combate. Chamo-as de “travas da paz”.

Implicações espirituais: Estas travas da paz nos ajudam em tempos de


guerra a permanecer conectados a nossa parte de baixo (fundação) de amor. É
interessante que quando Paulo escreveu aos romanos ele disse: E o Deus da paz
esmagará em breve a Satanás debaixo dos vossos pés (Romanos 16:20). Quando
amamos os que nos odeiam e oramos pelos que nos perseguem, estendemos o
evangelho da paz a um mundo destruidor e sem Deus. A humanidade é inimiga do
diabo; ele não tem amigos neste planeta. Ele trabalha duro para conseguir que as
pessoas destruam umas às outras. Jesus disse: Não resistais ao homem mau. Se
alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra (Mateus 5:39). O
Senhor não está promovendo um Evangelho passivo — pergunte aos mercadores
do Templo. Jesus está nos ensinando como transformar o ecossistema maligno. Por
exemplo, se alguém me bater e automaticamente eu o bater de volta, então estou
reagindo e as pessoas ao meu redor estão externamente controlando minhas ações.
Porém, se alguém me golpear e em resposta eu não o bater de volta, em vez de
reagir, eu quebro o ecossistema do mal e aumento o Evangelho da paz. Provo que
há uma força dentro de mim que é mais forte do que a força ao redor de mim. E por
fim, o diabo fica sabendo que meu inimigo não é a carne e o sangue, o que em
última análise derrota seus propósitos tortuosos.
Quando vim fazer parte da equipe da Igreja Bethel em 1998, vários bruxos
participavam de nossos cultos. Um dos bruxos principais de uma assembleia de
bruxos local tinha sido recentemente salvo em nossa igreja, então as pessoas dessa
assembleia vinham a nossa igreja para mexer com seu ex-líder tentando perturbar
nossos cultos. Elas lançavam maldições a nós enquanto estávamos pregando.
Nossos guerreiros de oração guerreavam de volta quebrando as maldições e
repreendendo os bruxos. Tudo isso continuou por mais de um ano. Às vezes, ficava
um pouco horripilante. O problema principal era que nossa congregação estava
assustada com nossos amigos e perdeu a paz. É claro que, quando você perde a paz,
perde seu equilíbrio e a fé dá lugar ao medo. Depois de vários meses desta guerra
caótica, fiquei farto. Decidi adotar uma nova estratégia. Sempre que discernia que
os bruxos estavam presentes em nossa assembleia, saía do meu lugar e ia onde eles
estavam assentados. Então dava um grande abraço em cada um e lhes dizia quanto
os amava. Eles não sabiam exatamente o que fazer com um abraço e um pouco de
amor. Isso os chocava. Eles estavam muito fortalecidos contra repreensões e
maldições, mas não tinham defesa contra o amor. No curso do ano seguinte, vários
deles receberam a Cristo e o restante finalmente parou de vir à igreja. O amor nunca
falha.

4) O Escudo da Fé: Um escudo romano era feito com uma moldura de


madeira e coberto com uma camada grossa de couro. Muitas vezes o couro era
colocado de molho para fazê-lo a prova de fogo (para apagar os dardos inflamados
do inimigo). O escudo tinha cerca de um metro e meio de altura e sessenta
centímetros de largura. Isso o fazia grande o bastante que um soldado podia se
agachar atrás dele e proteger seu corpo inteiro. Um regimento de soldados
sobrepunha seus escudos e criava um muro de fortificação contra os inimigos.

Implicações espirituais: Somos chamados de “crentes” por uma razão.


Fundamentalmente a verdadeira guerra é travada no campo de batalha da fé. A
pergunta simples, mas profunda é: Em quem acreditaremos? Acreditaremos nas
acusações do inimigo? Acreditaremos em nossas circunstâncias, em nossos amigos
bem-intencionados ou acreditaremos em Deus? Trinta e oito vezes no Novo
Testamento a frase “a fé” é usada para descrever nosso andar com Deus. Não se
engane; o reino demoníaco está aí para roubar nossa fé! A infame serpente no
jardim começou sua trama tortuosa para minar o destino da humanidade com as
palavras: É assim que Deus disse...? (Gênesis 3:1). Os nomes mudaram, mas a
estratégia é tão antiga quanto Adão e Eva: fazer com que as pessoas questionem as
promessas de Deus em suas vidas. Fazer o que for necessário —minar, torcer,
desafiar, questionar, diluir, mutilar, enfraquecer, poluir, contaminar, infectar,
disputar ou atrapalhar a Palavra de Deus nos corações das pessoas, contudo, quando
nos humilhamos atrás do nosso escudo da fé e recusamos acreditar em qualquer
coisa que seja contrária a Palavra de Deus e as promessas de Deus em nossa vida,
extinguimos as setas inflamadas do maligno. A trama é exposta; sua armadilha é
destruída e a vitória é garantida pela fé!
5) O Capacete da Salvação: Os romanos tinham alguns capacetes
diferentes. Um era feito de couro com placas de metal costuradas. Outro era
fundido de uma peça sólida de metal no formato da cabeça do guerreiro. Tem uma
grande história de um soldado romano chamado Brutus Máximos, que lutou em
uma violenta batalha com seu rosto totalmente coberto com uma máscara de aço.
Ele não fundiu a máscara com sua própria imagem; em vez disso, modelou-a com a
imagem de seu imperador, César Augusto. Usando-a não somente protegia seu
rosto e olhos, mas dizia a seus inimigos: “Eu te vejo através dos olhos do meu
imperador. Represento-o neste campo de batalha. Estou guerreando para sua
glória”.

Implicações espirituais: Coisas insanas podem acontecer no calor da


batalha, como observamos no livro de Neemias. O inimigo irá fazer o que for
preciso para roubar nossa confiança e minar nosso relacionamento com Deus. Mas
uma cabeça coberta com o capacete da salvação descansará nas águas tranquilas de
uma mentalidade de Reino. Paulo disse: E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus
(Filipenses 4:7).
O profeta Isaías colocou dessa maneira: Tu conservarás em paz aquele cuja
mente está firme em ti (Isaías 26:3). A maneira mais rápida de perdermos nossa paz
no meio de um conflito espiritual é esquecer que nossa salvação veio das Suas obras
e não das nossas. Se nossa salvação fosse conquistada por meio de nossos esforços,
então seria nossa decisão lutar por mantê-la. Nós não estamos lutando por nossa
salvação — estamos lutando a partir da nossa salvação. Nosso capacete deve ser
moldado a partir destes versículos de titânio: Pois é pela graça que sois salvos, por
meio da fé - e isto não vem de vós, é dom de Deus-não das obras, para que ninguém
se glorie (Efésios 2:8-9).
Não sei dizer quantas vezes pessoas vieram a mim e disseram que não se
sentiam mais salvas. A salvação não é sentimento, da mesma forma que ser humano
também não é. Você pode imaginar alguém indo ao médico e dizendo: “Doutor,
não sinto que sou mais humano?”
“Bem, Johnny”, o médico talvez respondesse: “Você sente como um
cachorro? Talvez você tenha se tornado um cachorro!”
Isso é ridículo, é claro. Mas muitos cristãos fundamentam seu
relacionamento com Deus nos seus sentimentos, o que também é ridículo. O diabo
brinca com estas mentalidades emocionais, nos colocando em um carrossel de
insegurança sem fim. Temos que sair deste carrossel com autoconfiança ou
permaneceremos tontos e desorientados. Nossa confiança precisa estar enraizada na
capacidade de Deus de nos redimir, não em nossa capacidade de salvarmos a nós
mesmos.

6) Espada do Espírito: A espada romana era na verdade, uma faca de


quarenta e cinco centímetros, de lâmina afiada nos dois lados. Era usada no
combate corpo a corpo.

Implicações espirituais: A “Palavra de Deus”, que é a espada do Espírito,


nesta passagem não se refere especificamente a Bíblia. A palavra grega aqui para
“Palavra de Deus” é Rhema, que a maioria dos eruditos gregos interpreta como
“soprada por Deus”. Se Paulo estivesse simplesmente falando sobre a Bíblia sendo a
espada do Espírito, teria usado de forma mais exata a palavra grega Logos. Gostaria
de sugerir que a Palavra de Deus que usamos para julgar os pensamentos e intenções
dos nossos próprios corações é uma espada diferente da que usamos para nos
defender contra os ataques demoníacos. Talvez fosse mais esclarecedor ler Efésios
6:17 assim: Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a
rhema de Deus, e ler Hebreus 4:12 assim: Pois a logos de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
intenções do coração’'’.
O escritor de Hebreus deixa claro que a Bíblia é o padrão pelo qual todos os
pensamentos e intenções do coração serão julgados, mas Paulo está deixando claro
algo diferente em Efésios. Ele está nos dizendo que ouvir o Espírito Santo e
profeticamente proclamar o que Ele diz é nossa única arma de defesa na guerra
espiritual. Tratamos disso anteriormente no livro, quando vimos à exortação de
Paulo a Timóteo para tomar as profecias que foram proferidas sobre ele
anteriormente, e com elas combater o bom combate (veja I Timóteo 1:18).
A espada do Espírito, entretanto, não pode ficar limitada somente as
declarações proféticas. Também incluiria qualquer coisa sobre a qual Deus soprar
quando estamos em uma luta livre com os poderes demoníacos. Por exemplo, com
frequência Deus sopra sobre o Logos e o transforma em Rhema em meio as nossas
maiores batalhas. A coisa mais importante a lembrar-se aqui é que, é a espada do
Espírito que está sendo empunhada. Todo nosso poder de fogo ofensivo está
investido no Espírito Santo. Ele nos protege, consola, ensina e conduz a toda
verdade. Quando o caos se estabelecer em nossas vidas, precisamos permanecer
perto do céu cultivando um relacionamento com o Espírito de Deus.
9 – EXPULSANDO DEMÔNIOS

Seu nome era Henry e ele era faxineiro na oficina de carros que eu
gerenciava em Weaverville, Califórnia. Henry tinha cerca de dezesseis anos quando
o conheci. Por ter crescido na floresta parecia um caipira. Era esguio e cerca de um
metro e setenta de altura, de cabelos loiros. Falava sem parar. Henry realmente não
precisava de nada sobre o que falar, simplesmente gostava de conversar. E Henry
definitivamente não era muito esperto. Por exemplo, um dia o entregador deixou
vários pacotes na minha bancada de trabalho. Abri os pacotes e retirei todas as peças
de dentro deles. Cerca de meia hora depois, Henry entrou e começou a conversar,
como de costume. Estava deitado embaixo de um carro e quase não podia prestar
atenção a ele, mas de vez em quando de forma cortês lhe dizia: “Ah-hum... sim...
entendo o que quer dizer... você está certo sobre... claro”.
De repente, algo que Henry disse chamou minha atenção. “Onde você
conseguiu estas caixas de biscoitinhos?”, perguntou. “Esse troço não tem gosto de
nada!”
Rolei de debaixo do carro a tempo de ver Henry comendo os amendoins das
embalagens de isopor das caixas de remessas. Nem preciso dizer que não vi Henry
por pelo menos uma semana. Seu pai falou que ele estava gripado.
Cerca de um ano depois que conheci Henry, levei-o a Cristo — ou pelo
menos eu achava. Mas suas palhaçadas continuaram por anos — cinco acidentes de
carro, várias prisões por embriaguez pública, quebrar isso, bater aquilo... nunca
terminava. No entanto, quanto mais conhecia o Henry, melhor entendia seu
comportamento. Seu pai o molestou desde pequenino até sua adolescência. Sua
mãe fingia não saber. Seu irmão mais velho era um alcoólatra violento que o
esmurrava regularmente. Sua irmã... bem, vamos apenas dizer que ela era o clone do
Henry. O clã inteiro me fazia lembrar a família Adams. Estava fazendo o melhor
que podia para discipular Henry, mas nunca tinha conhecido ninguém tão
atrapalhado em toda minha vida. Ele tinha tendências homossexuais e vícios em
álcool, drogas e pornografia. E para piorar as coisas, tinha ataques de ira e gritava
coisas obscenas para Deus no meio do estacionamento da igreja. Eu era jovem e
desconhecedor, e não sabia realmente o que fazer com ele.
Então um dia ele veio ao posto de serviço Union 76 que eu tinha comprado
recentemente. Era um dia de verão muito ocupado e estávamos atolados de
trabalho. É claro, Henry foi direto para os fundos da oficina onde eu estava
trabalhando em um cano.
“Preciso que você... preciso... preciso que você ore por mim!”, implorou.
“Tem algo dentro de mim e está tentando me matar!”
“Henry, não posso falar com você agora! Estou com trabalho até o pescoço.
Você precisa sair daqui”, insisti.
“Por favor, só uma rápida oração... tudo que preciso é uma rápida oração”,
lamentou.
“Tudo bem, Henry — trinta segundos, é tudo que estou lhe dando — trinta
segundos”, disse obviamente irritado. “Entre no depósito e irei orar por você”.
Meu objetivo era fazer uma rápida oração tipo “libero paz sobre você em
nome de Jesus”. Entramos no pequenino depósito do tamanho de um closet. Henry
inclinou a cabeça, coloquei minha mão sobre seu peito e comecei a orar.
Antes de chegar ao “em nome de Jesus”, Henry agarrou minha garganta e
começou a me sufocar, gritando com uma voz estranha: “Vim para te matar... Vim
para destruir você!”
Gritei de volta: “Eu te repreendo em nome de Jesus! Declaro o sangue de
Jesus sobre você! Em nome de Jesus, espírito assassino, saia!”
Nada parecia funcionar. Henry ficou mais violento. Estava me sacudindo,
sufocando, mordendo e arranhando. Em determinado momento, ele agarrou
minha camisa nova do uniforme e rasgou quase totalmente do meu corpo.
Esforçando para respirar, decidi mudar minha estratégia sufocando-o em
troca! Lutei com Henry por vários minutos, tentando desesperadamente me libertar
do seu controle. Batemos nas prateleiras que alinhavam as duas paredes opostas.
Elas estavam estocadas até o teto com filtros automotivos. As prateleiras caíram
sobre nós como dominós, nos deixando lutar debaixo de uma pilha de filtros de ar e
óleo. Continuei gritando repreensões enquanto lutava para me libertar de ser
estrangulado por Henry.
De repente, sem aviso, ele soltou meu pescoço, empurrou a pilha de
destroços para o lado e se levantou. “Eles se foram!”, disse com um suspiro, “Estou
livre!”
Henry agradeceu, entrou no carro e se foi... deixando-me só. Lá estava eu, o
rosto e o cabelo cobertos de sujeira, camisa rasgada quase ao meio, ombros, rosto e
peito todo arranhado, com marcas de dentes em minhas mãos. Parecia cena final de
um filme de Rambo.
Infelizmente a liberdade recém-descoberta de Henry não duraria muito
tempo. Esta cena se repetiu várias vezes em nossas vidas. Meu ministério de
libertação parecia muito mais com os sete filhos de Ceva do que com qualquer
discípulo de Jesus (veja Atos 19:14-16).
Nos dez anos seguintes vários “Henrys” vieram à minha vida. Teve uma
rainha de concurso de beleza de 32 anos que foi preciso quatro homens fortes para
segurá-la para que eu pudesse “libertá-la”, ela deu um salto e chutou meu peito,
machucando o lado direito das minhas costelas. Descobri que ela tinha sido campeã
mundial de caratê feminino por duas vezes.
Tinha uma moça que estava correndo na rua completamente nua. Quando
cheguei a sua casa para ajudá-la, eles a tinham enrolado em um lençol e a estavam
controlando. Desta vez estava certo que tinha a mente do Espírito: “Deixe-a ir!”,
insisti.
“Kris”, eles protestaram, “ela está nua e fora de controle!”
“Não tem problema, já está controlada”, assegurei-lhes. Um segundo depois
ela estava correndo na casa, ainda sem nada. “Controle-a!”, gritei. “Segure-a!”
Por anos, meu ministério de libertação se assemelhava com cenas diretas de
O Exorcista. (Na verdade nunca vi o filme. O trailer era mais do que eu podia
suportar).
Há muito tempo, estava compartilhando as histórias das minhas libertações
fracassadas em uma escola de ministério. Após várias narrativas loucas, um jovem
estudante não aguentava mais. Ele se levantou e me interrompeu, gritando:
“Quando eu digo aos demônios para sair, eles saem! Sou filho do Rei e não suporto
nenhuma de suas artimanhas
“Isso é maravilhoso”, disse, com um pouco de sarcasmo. “Quantas
libertações você já fez?”
“Três”, ele disse com confiança.
“Sorte de iniciante!”, brinquei.

Fazendo Certo

Você pode achar que alguém que uma vez foi influenciado por demônios
deveria saber libertar outra pessoa. A verdade é que embora tenha estado envolvido
em centenas de libertações, nos meus doze primeiros anos raramente vi alguém ficar
verdadeiramente livre. Às vezes os demônios de fato saíam por um período, mas
logo voltavam com força total. A pequena cidade de Weaverville forneceu um
grande laboratório no qual os cristãos podiam aprender como as pessoas poderiam
ficar livres. Com uma população de cerca de trezentas pessoas, a comunidade era
tão pequena que vivíamos bem próximos das pessoas que praticávamos libertação.
Isso nos deu uma excelente oportunidade para observar se elas de fato mudaram
quando foram “libertas”.
Tantas coisas insanas são feitas em nome da libertação que é assustador. Em
minha opinião, há mais pessoas que precisam ser libertas dos traumas de sua última
libertação do que pessoas que de fato precisam ser libertas de demônios. Por
exemplo, estava na Austrália recentemente quando um homem começou a se
manifestar endemoniado. Imediatamente os anciãos correram com um balde
grande e tentaram fazer o endemoninhado “vomitar” seus espíritos malignos. Em
2009 estava em um encontro na Holanda quando um endemoninhado começou a
perder o senso e jogar cadeiras. Vários líderes se reuniram ao redor dele, gritaram
repreensões e declararam o sangue de Jesus. Tempos atrás, uma senhora de meia
idade, bem vestida me perguntou se os demônios saem quando você despeja sal na
pessoa. Quando perguntei sobre seus métodos, ela me disse que seu pastor, que era
um membro proeminente da sua denominação, ensinou sua congregação que
colocar sal sobre a cabeça de um endemoninhado o libertaria da opressão.
Poderia encher um livro inteiro com histórias absurdas de libertações
fracassadas, muitas das quais eu mesmo conduzi. Algumas histórias são até
engraçadas, mas a coisa triste é que essas pessoas fortemente influenciadas por
demônios ou endemoninhadas saíram sem mudanças, ou pior ainda, ficaram
traumatizadas com os esforços de alguém para as libertarem.
Isso me leva a pergunta de um milhão de dólares: Como de fato as pessoas
são libertas? E, tão importante quanto essa, como elas permanecem libertas?

Cativos e Prisioneiros

Aprendi com o passar dos anos que a pergunta acerca de como as pessoas de
fato são libertas não pode ser respondida até que determinemos porque elas estão
aprisionadas. Isaías disse:

O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu


para pregar as boas-novas aos pobres. Enviou-me a restaurar os contritos de
coração, a proclamar liberdade aos cativos, e abertura de prisão aos presos.
Isaías 61:1, ênfase acrescentada

Veja que o profeta está descrevendo dois tipos de pessoas atrás das grades:
cativos e presos. Prisioneiros são criminosos que o juiz enviou para a prisão. É
preciso uma ordem judicial, vinda do Juiz para libertar os prisioneiros espirituais.
Cativas são pessoas que foram aprisionadas por meio de mentiras e enganos. É
preciso conhecimento da Verdade para libertá-las. Quando estamos trabalhando
para libertar alguém que está afetada por demônios, precisamos primeiro
determinar se a pessoa é um cativo ou prisioneiro.
Vamos dar uma olhada de perto em cada um destes e descobrir como
cativos e prisioneiros podem ser libertos e permanecer libertos. Começaremos
investigando a situação difícil dos prisioneiros sobre os quais Jesus fala em Mateus
18:21-35. Respondendo à pergunta de Pedro acerca de quantas vezes ele deveria
perdoar, Jesus compartilha uma história sobre nosso Rei e Seu Reino. Ele disse que
o Reino dos céus poderia ser comparado a um rei que desejou acertar as contas com
seus servos. Um servo devia ao rei o que seria hoje como um milhão de dólares. O
servo implorou por misericórdia e o rei perdoou tudo que ele devia. Mas aquele
mesmo servo foi ao seu companheiro servo, que lhe devia uma pequena
porcentagem em relação ao que ele devia ao rei e exigiu pagamento imediato.
Quando o moço pediu misericórdia, o primeiro servo se recusou e o jogou na prisão.
Quando o rei descobriu isso, ficou extremamente zangado. Ele disse: Servo
malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu
igualmente compadecer-te do teu companheiro, como também eu me compadeci
de ti? Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe
pagasse tudo o que devia. Assim vos fará também meu Pai celeste, se de coração não
perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas (versos 32-35).
Fica claro a partir desta história que Deus insiste com Seu povo para
perdoar uns aos outros. Muitos passam a vida odiando outros e planejando
vingança. Porém, a amargura não tem amigos. Ela sempre vaza naqueles que mais
amamos. Quando cristãos se recusam a perdoar, Deus tem um “comitê de modos e
meios” chamado de torturadores que ajudam a lançar fora a amargura e o ódio de
nossas vidas.
A falta de perdão aprisiona nossas almas e abre portas para os espíritos
malignos em nós. Em minha experiência, a falta de perdão é a razão número um
porque os cristãos estão oprimidos. Para que estes prisioneiros sejam libertos, eles
precisam convencer o Juiz da Suprema Corte que perdoaram aqueles que os feriram
e abusaram deles. O perdão inspira um decreto do Rei, que por sua vez nos dá
autoridade para ordenar estes espíritos malignos a libertarem seu prisioneiro. Sem
um decreto real, podemos dominar os espíritos demoníacos na vida de uma pessoa e
forçá-los a sair temporariamente, mas eles sempre retornam.
Os espíritos demoníacos estão sujeitos às leis do Reino de Deus. Eles sabem
muito bem quando o estilo de vida pecaminoso de alguém lhes dá acesso à alma da
pessoa. O poder do Espírito e a autoridade de Jesus Cristo são exigidos para que
alguém seja liberto e permaneça liberto da opressão demoníaca. Tentar libertar uma
pessoa que se recusa perdoar ou insiste em permanecer em um estilo de vida
pecaminoso é uma inútil perda de tempo.

Prisioneiros Livres

Não apenas precisamos perdoar outros, devemos também perdoar a nós


mesmos! Essa verdade foi enfatizada a mim recentemente quando estava
ministrando em uma conferência no Havaí. Depois que terminei minha última
sessão, duas jovens vieram a mim para oração. Podia ver a tristeza afligindo aquelas
jovens. Uma delas estava de pé ao meu lado, aguardando sua vez, enquanto a outra
estava se arranhando em pé a minha frente. Comecei a orar por ela. Rapidamente
entendi que esta não seria uma daquelas orações de “Jesus, vem e encha-a Estava
para entrar em uma batalha espiritual que pensei que seria fácil de ganhar, com toda
autoridade que nós cristãos recebemos em Cristo.
Quando começamos, ela disse: “Só quero que isso vá embora!”
“O que você quer que vá embora?”, perguntei.
“Quero que a punição vá embora! Não consigo parar de me punir!" ela
clamou.
Peguei-a pela mão para que ela não se ferisse mais, e comecei a procurar um
ponto de entrada da sua dor. Senti o Espírito Santo me convencendo a conduzi-la
pelo processo de amar a si mesma, então pedi que repetisse depois de mim, “eu me
amo".
A princípio minhas palavras caíram em ouvidos surdos. Ela tremia na
minha frente só de pensar em repetir essas palavras. Muito tempo se passou antes
que quebrasse a barreira da vergonha. Finalmente ela sussurrou: “eu me amo".
Continuamos este processo por um tempo, depois decidi que era hora de
perguntar por que ela estava se punindo. Ela explicou que tinha se entregado a um
rapaz que achava que a amava. Logo depois desta experiência, ele se foi e ela foi
deixada sozinha com a vergonha de perder sua inocência para um mentiroso. A
humilhação de perder sua virgindade de forma enganosa era mais do que podia
suportar. O pensamento do que tinha feito a atormentava como um incessante
pesadelo. Só pensar no ex-namorado a enfurecia. Incapaz de escapar da vergonha,
ela começou a se punir fazendo sexo com vários homens. Ódio a si mesma e falta de
perdão se tornaram seus amigos íntimos. Ela era uma prisioneira impotente do seu
próprio fracasso.
Iniciei-a em um processo de se perdoar. Raízes autodestrutivas tinham
crescido profundamente nela! Conduzi-a através da teologia do que Cristo fez por
nós na cruz e como Ele se fez justiça por nós, para que ela pudesse se perdoar. Então
a levei a perguntar a Jesus com Ele via o homem que roubou sua virgindade. (Essa
pergunta é uma grande ferramenta para dar as pessoas compaixão para com aqueles
que estão lutando para perdoar.) Jesus mostrou-lhe que Ele amava o homem, mas
lamentava por ele. Ela então foi capaz de sentir a compaixão de Deus por seu
ex-namorado e perdoá-lo. Finalmente ela quebrou a parceria que fez com aquele
que a punia quando Jesus lançou fora esse espírito.
Para surpresa, as duas moças naquela noite tinham o mesmo problema. A
falta de perdão tinha escravizado suas almas e aquele que as punia se tornou guarda
da prisão. Elas estavam amarradas por remorsos do passado, mas foram libertas
naquela noite e Deus as restaurou.

Cristãos Endemoninhados?

Meu testemunho pessoal no capítulo 1 com frequência inspira a pergunta:


Pode um cristão ser possuído por demônio? A palavra grega para “possesso”, de
forma interessante é a palavra echo. No contexto de demônios significa “ter ou
possuir a mente ou estar unido de perto a uma pessoa ou coisa”. A palavra grega
echo é usada em lugares como Lucas 8:27:
Quando Jesus desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um
homem que desde muito tempo estava possesso [palavra grega echo] de demônios,
e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
Naturalmente temos a sensação que os pensamentos, atitudes e
comportamentos da pessoa estavam ecoando o espírito demoníaco que o possuía.
O Novo Testamento tem duas palavras gregas para “opresso”. Uma é a
palavra grega thrauo, que significa “quebrar em pedaços”. Usada para descrever o
ministério de Jesus, a palavra aparece em Lucas 4:18:

O ESPÍRITO DO SENHOR ESTÁ SOBRE MIM, PELO QUE ME


UNGIU PARA EVANGELIZAR AOS POBRES. ENVIOU-ME PARA
APREGOAR LIBERDADE AOS CATIVOS, DAR VISTA AOS CEGOS,
PÔR EM LIBERDADE OS OPRIMIDOS [palavra grega thrauo].

A outra palavra para “opresso” no grego é katadunasteuo, que significa


“exercer poder sobre alguém”. É usada em Atos 10:38:

Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espirito Santo e com poder; o
qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos [palavra grega
katadunasteuo] do diabo, porque Deus era com ele.

Como cristãos não podemos ficar possessos no sentido que um demônio


controlaria nossas mentes e ações, porque quando recebemos Jesus, nossos corpos
se tornaram habitação do Espírito Santo. Em outras palavras, já somos possessão de
Deus, portanto nada mais pode nos possuir. Os cristãos podem, no entanto, ser
oprimidos por ficarem debaixo do controle de um espírito demoníaco e ter suas
vidas despedaçadas através de um estilo de vida pecaminoso, como falamos
anteriormente.
Acho que é importante mencionar aqui que quando falamos sobre o reino
do espírito, nosso entendimento tem a tendência de ser limitado pelas leis naturais
do mundo visível. Temos a tendência de explicar as realidades espirituais com
definições agradáveis, geniais que se encaixam em nosso vocabulário humano,
mesmo quando estamos argumentando sobre o significado de palavras especificas
nas línguas originais. Isto talvez nos ajude a sentir inteligentes e bem informados,
no entanto, o mundo espiritual não ficará nestas caixas bem definidas.
Qualquer um que já experimentou o reino demoníaco ou o reino angelical te
dirá que nosso vocabulário é insuficiente para descrever as realidades desta
dimensão. Por exemplo, temos princípios como leis da física que fazem nosso
mundo de certa forma previsível. Se alguém pular do telhado de uma casa, a lei da
gravidade decreta o destino da pessoa. Mas o mundo espiritual opera em um nível
superior que transcende nossas leis da física. Isso faz com que seja um pouco difícil
descrever coisas como possessão demoníaca ou opressão porque o mundo espiritual
não está confinado a espaço e tempo. Por exemplo, o Espírito Santo mora em todo
cristão ao mesmo tempo, então quando dizemos coisas como: “Nossos corpos são
templo do Espírito Santo e Ele nunca nos deixará ou nos abandonará”, as
implicações disto são muito diferentes do que nossa definição finita de uma pessoa
morando em uma casa e nunca saindo.
Observei coisas durante as libertações que desafiam as leis da física. Vi
literalmente com meus próprios olhos pessoas se curvarem a 180 graus quando não
havia articulações! Não estou exagerando — assisti coisas acontecerem durante
sessões de libertação que nos deixam alucinados e não têm explicação terrena.
Para os que nunca experimentaram ou observaram estas manifestações,
estas histórias podem parecer difícil de engolir. No entanto, elas são verdadeiras.
Outra razão porque o comportamento do mundo espiritual é difícil de
definir é que os demônios são anárquicos. Muito parecido com criminosos em
nosso mundo que quebram as leis da terra, os espíritos malignos com frequência
quebram as leis espirituais de Deus. Como veremos mais adiante neste capítulo,
muito do ministério de libertação envolve simplesmente policiar o reino espiritual
fazendo cumprir os princípios de Deus.

Necromancia

Necromancia significa conversar com os mortos. Mencionei anteriormente


que somos novas criaturas em Cristo. Nosso velho homem foi sepultado no batismo
e nossa natureza crucificada com Cristo. No entanto alguns crentes insistem em
conversar com o morto, seu velho homem. Parecem obcecados com o cemitério de
seu passado quando ficavam entre os túmulos dos mortos. Esqueceram-se da
exortação do anjo a Maria: Por que buscais entre os mortos quem está vivo? (Lucas
24:5). Como Lázaro, estes cristãos saíram do tumulo, mas permanecem amarrados
com as roupas da sua velha carne (veja João 11:44). As obras do velho homem levam
o novo homem a estar demonizadamente opresso! O apóstolo Paulo falou desses
coveiros em Gálatas 5:19-21:

As obras da carne são conhecidas, as quais são: prostituição, impureza,


lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, pelejas, dissensões,
facções, invejas, bebedices, orgias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos
declaro, como já antes vos preveni, que os que cometem tais coisas não herdarão o
reino de Deus [ênfase acrescentada].

Observe como o pecado humano abre porta para que feitiçaria e bruxaria
invadam nossas vidas. O melhor exemplo disso nas Escrituras é encontrado no
relacionamento entre o rei Saul e Davi. Os exércitos de Israel estavam voltando para
casa de uma das maiores vitórias da sua história. Tinham acabado de derrotar seus
arqui-inimigos, os filisteus. David matou o poderoso gigante Golias, o que resultou
em uma derrota palestina. Quando o vitorioso exército israelita retornava da guerra
para casa, as mulheres se enfileiraram nas ruas de Jerusalém para dar as boas-vindas
a seus bravos soldados com música e dança. O clima era de júbilo e celebração, até
que Saul ouviu o coro cantar: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez
milhares (I Samuel 18:7).
O medo e o ciúme inundaram o rei Saul. Indignado gemeu consigo mesmo:
Dez milhares deram a Davi, e a mim somente milhares. Na verdade, o que lhe falta,
senão só o reino? (verso 8). O jovem que certa vez irradiara humildade era agora um
rei idoso, atormentado pelo medo e oprimido pelos demônios. Aqui está o relato de
Samuel de seu rei desanimado:

No dia seguinte um espírito maligno da parte de Deus se apoderou de Saul.


Ele começou a profetizar em sua casa, enquanto Davi tocava a harpa como nos
outros dias. Saul trazia na mão uma lança, e a atirou, dizendo para si mesmo:
Encravarei a Davi na parede. Mas Davi se desviou dele duas vezes. Saul temia a
Davi, porque o Senhor era com este e se tinha retirado de Saul.
I Samuel 18:10-12

Paulo nos lembra em Gálatas 5:21 que as pessoas que vivem um estilo de
vida pecaminoso não herdarão o Reino de Deus! Muito parecido com a história que
Jesus contou em Mateus 18, onde os torturadores aprisionaram o servo que não
perdoou, ciúme e medo podem também liberar atormentadores em nossas vidas. A
vida de Saul é um perfeito exemplo de como o ciúme nos cega para a realidade e nos
leva a formar conclusões irracionais que finalmente encarceram nossas almas.

Cativos Libertos

Para recapitular o que aprendemos até aqui, quando estamos trabalhando


para libertar pessoas possessas ou influenciadas por demônios, precisamos primeiro
determinar porque elas estão amarradas—elas são cativas ou prisioneiras?
Prisioneiros são pessoas que convidaram a opressão demoníaca a suas vidas através
de um estilo de vida pecaminoso. Os demônios sabem que tem permissão para fazer
estragos nas almas dos prisioneiros até que eles se arrependam. Uma vez que o
prisioneiro se arrependeu, os espíritos malignos não têm mais autorização para
oprimir essa pessoa porque as raízes de pecado já foram tratadas. Na libertação, uma
simples ordem de “saia” deve fazer os demônios saírem e a pessoa ser liberta.
Agora olhemos para libertar os cativos. Cativos são as pessoas que foram
capturadas na batalha e levadas como prisioneiras de guerra. Essas pessoas não têm
problemas com estilo de vida pecaminoso em seus corações. Elas estão presas por
acreditarem em mentiras. Jesus disse: Então conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará (João 8:32). A palavra verdade aqui significa “realidade”. Muitos de nós
vivemos em uma “realidade virtual” — sente como se fosse real e parece real, mas
não é real. É apenas uma ilusão. Damos permissão ao diabo para nos punir porque
achamos que suas mentiras são verdades. Quando somos atormentados por causa
de mentiras, precisamos da revelação da verdade de Deus para que quebremos as
grades de ferro do engano.
Este testemunho ajudará a esclarecer meu argumento. Um dia estava
ensinando na parte superior da Escola de Ministério Sobrenatural Bethel, quando
estava mais ou menos na metade do meu sermão alguém veio correndo a mim com
uma mensagem urgente. Corremos para baixo juntos, finalmente chegamos ao
escritório de nosso conselheiro. Cerca de oito pessoas estavam orando
fervorosamente do lado de fora da sala. Abri a porta e deparei com uma cena
inquietante. Uma mulher enorme com o rosto no chão, e um dos nossos mais fortes
trabalhadores da manutenção sobre ela, tentando controlá-la. Dois dos nossos
conselheiros estavam de pé contra a parede, com os braços da senhora abraçando
suas pernas. Ela estava mordendo os calçados deles e rosnando para eles.
A primeira pergunta na minha mente foi: Por que os demônios têm
permissão para atormentar essa mulher? Ela era uma prisioneira que tinha
problemas com pecados e/ou perdão em sua vida, ou estava cativa por acreditar em
uma mentira?
Abaixei-me e comecei a pedir ao Espírito Santo por insight quanto ao seu
cativeiro. De repente, O ouvi dizer: Quando ela era uma menina, foi-lhe dito que
ela tinha blasfemado contra o Espírito Santo e, portanto, lançada no inferno. O
Espírito continuou: É mentira. Eu já a perdoei.
Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido: “O diabo lhe disse que quando você
era uma menina blasfemou contra o Espírito Santo, mas é mentira! Você nunca fez
isso. Renuncie essa mentira”.
A mulher imediatamente se acalmou e começou a rir. Dentro de poucos
segundos estava totalmente liberta. Conhecer a verdade o libertará!
Quebrando Contratos com os Espíritos Malignos

Era domingo de manhã, a equipe do louvor estava nos conduzindo em uma


jornada com o Espírito Santo. Sentado na primeira fila, me senti impulsionado a
começar a andar pela congregação e abençoá-los. O santuário estava cheio com
pessoas em pé cantando... totalmente absortas na adoração. Devagar me movia
entre a multidão, tentando não perturbar ninguém enquanto tocava gentilmente e
abençoava as pessoas. Mais ou menos no meio, percebi um casal idoso adorando,
diretamente a minha frente. Eles eram membros de nossa igreja a mais de trinta
anos. Cheguei por trás e impus as mãos de leve sobre seus ombros. Eles se viraram
em minha direção para ver quem os estava tocando. Sorrimos quando nossos olhos
se encontraram e eles continuaram adorando. Contudo, algo estranho aconteceu
quando impus minhas mãos sobre a esposa, Martha. Ouvi a palavra suicídio em
meu espírito. Martha era a última pessoa no mundo que eu pensaria que poderia
estar lutando com o suicídio. Era feliz e tinha uma reputação de uma cristã sábia e
comprometida.
Decidi arriscar. Inclinei-me e cochichei em seu ouvido: “Martha, por acaso
você está lidando com pensamentos suicidas?”
Ela abriu os olhos e balançou a cabeça, reconhecendo que estava lutando
contra o suicídio. Lágrimas rolaram no seu rosto queimado pelo sol quando ela se
inclinou e cochichou em meu ouvido: “Tenho sido atormentada com o pensamento
de que deveria me matar, por quase dois meses. Nunca fui suicida a minha vida
inteira! Sou uma pessoa feliz e equilibrada, não sei por que estou tendo estes
pensamentos horríveis”.
“Martha, você passou por algo doloroso recentemente e cogitou o
pensamento de que se morresse, e toda dor iria embora?”, sondei.
Seus olhos se arregalaram e o tom da sua voz se intensificou. “Sim... sim,
isso mesmo... foi exatamente o que aconteceu! Estava de fato passando por um
tempo difícil com um dos meus netos há uns dois meses. A situação era tão
desesperadora e feria tanto que disse para mim mesma: Poderia morrer em paz e
isso acabaria de vez”.
“A sensação terrível de que queria tirar sua própria vida começou logo após
isso?”, perguntei.
“Sim!”, respondeu, esquecendo-se de cochichar.
“Martha, quando você escolheu abraçar a morte para trazer paz, você fez
uma aliança com o espírito de suicídio para te consolar”, expliquei. “O ministério do
diabo é roubar, matar e destruir. Sempre que abraçamos um destes três elementos
que são o ministério dele, convidamos espíritos demoníacos para nos oprimir”.
Coloquei meus braços em torno dela para confortá-la. Martha colocou a
cabeça sobre meu ombro e disse rapidamente: “Como faço para me libertar?”
“Repita esta oração depois de mim”, instruí. “Jesus, perdoa-me por fazer
uma aliança com o diabo ao convidar a morte para me consolar. Obrigada por ter
me dado o Espírito Santo, que é meu Consolador e meu Amigo”.
Ela fez assim e eu continuei: “Agora, repita isto: Espírito de suicídio, rompo
meu acordo com você. Não te quero mais na minha vida. Ordeno que você saia em
nome de Jesus!”
Martha fez assim também. Passaram-se alguns segundos e então ela
começou a rir. “Ele se foi!” disse ela alto o bastante que o seu marido ouviu,
“Realmente se foi!”
Por volta de um mês depois, eu a vi na igreja novamente. Ela veio
diretamente a mim e me deu um abraço. “Muito obrigada por me ajudar a me
libertar daquela coisa suicida”, disse com empolgação. Nem precisei perguntá-la se
ainda estava livre... seu rosto me contou toda a história.
Além de um estilo de vida pecaminoso e acreditar em mentiras, as alianças
negativas são uma das maneiras mais comuns de cristãos convidarem opressão
demoníaca a suas vidas. Sempre que recorremos aos esquemas do diabo para
resolver questões de nossa alma, saímos de debaixo do guarda-chuva da proteção de
Deus e ficamos vulneráveis aos meios. A liberdade vem, como compartilhei acima,
ao quebrar estas alianças renunciando verbalmente cada uma delas. Quando estes
contratos são destruídos, nosso inimigo perde o direito legal de nos oprimir.

Autoridade

Quando Deus criou o mundo, Ele colocou o homem no controle,


ordenando que dominasse “sobre toda terra” (Gênesis 1:26). Como disse antes,
quando Adão e Eva pecaram, não foi apenas uma questão de desobediência a Deus
— eles trocaram de mestre ao obedecer a serpente.
A terra não era mais “um planeta debaixo de Deus, governado pelo
homem”. Em vez disso, Adão e Eva entregaram seu direito de dominar ao diabo.
Quando Jesus foi conduzido ao deserto para guerrear contra Satanás, o mesmo lhe
disse: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, pois a mim me foi
entregue, e a dou a quem eu quiser (Lucas 4:6, ênfase acrescentada). O diabo estava
certo; ele enganou Adão e Eva para lhe dar sua autoridade de dominar o mundo.
Porque Deus deu a humanidade o domínio da terra, seria preciso um ser
humano para tomá-lo de volta. Quando Jesus obedeceu a Deus morrendo na cruz
como homem, Ele lutou para tomar do diabo as chaves do domínio. É por isso que
quando ressuscitou dos mortos, Jesus disse: Foi-me dada toda a autoridade nos céus
e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-19
NVI, ênfase acrescentada). Jesus restaurou nosso mandato original de dominar a
terra.
É importante notar que Jesus disse: Toda a autoridade. Se Jesus tem toda
autoridade, isso significaria que o diabo não tem nenhuma! Estamos em Cristo,
portanto carregamos Sua autoridade em toda circunstância, toda área geográfica e
toda situação. A única maneira de Satanás ter autoridade é quando nós lhe
entregamos. É por isso que ele trabalha duro para que lhe demos autoridade através
de mentiras, pecados e acordos de alianças.
Quando os crentes se recusam ouvir o diabo, todavia, ele se torna um mero
instrumento dos propósitos divinos de Deus, sem poder. Vou deixar você com este
pensamento de Efésios 4:27: Não deis lugar ao diabo.
10 – MALDIÇÕES GERACIONAIS

Josué, encarregado por Deus para possuir a Terra Prometida, cruzou o rio
Jordão e começou sua conquista por volta de 1400 a.C. De forma sobrenatural ele
revistou Jericó, uma cidade fortificada, protegida por muros duplos. Em seguida,
após se recobrarem de um grave erro que foi resultado de pecado, os israelitas
destruíram Ai. Rumores começaram a circular por toda a terra de Canaã enquanto
os israelitas conquistavam cidade após cidade.
Quando os gibeonitas ouviram que Josué estava se movendo em direção a
sua cidade, ficaram aterrorizados. Eles elaboraram um plano para tentar convencer
os israelitas a fazerem uma aliança com eles. Os gibeonitas se vestiram com roupas
velhas, calçaram sandálias velhas e remendadas, pegaram comida bolorenta e foram
encontrar Josué. Eles lhe disseram que eram de uma terra muito distante e que
tinham ouvido da fama do Senhor e da grandeza do Seu povo, então vieram para
honrar os israelitas. É claro, eles estavam mentindo, mas Josué não sabia por que se
esqueceu de consultar a Deus acerca deles. Com um pouco de lábia, convenceram
Josué e os anciãos de Israel a fazer uma aliança com eles e deixar que vivessem. Três
dias depois Josué descobriu que tinha sido enganado. Os israelitas queriam destruir
Gibeom, mas os anciãos relembraram ao povo que palavra deles era seu laço (Josué
9:3-18).
Avancemos quatrocentos anos para o reinado do rei Davi. Havia uma
grande fome na terra e Davi estava consternado, mas não sabia o que fazer.
Finalmente, após três anos ele decidiu perguntar a Deus por que havia aquela fome.
(Você acharia que com todo aquele tempo de tabernáculo, aquele cara seria um
pouco mais rápido para conversar com o Senhor acerca de seus problemas. Acho
que até naquela época, os homens já se recusavam a pedir direção.) O Senhor
respondeu a Davi e disse:

É por causa de Saul e da sua casa sanguinária; porque matou os gibeonitas.


Chamou o rei os gibeonitas, e lhes falou (ora, os gibeonitas não eram dos filhos de
Israel, mas do restante dos amorreus; os filhos de Israel lhes tinham jurado
poupá-los, porém Saul procurou destruí-los no seu zelo pelos filhos de Israel e de
Judá).
II Samuel 21:1-2, ênfase acrescentada

Vamos ter certeza que entendemos o que aconteceu. Josué erradamente fez
uma aliança com Gibeom e permitiu que vivessem na Terra Prometida, contra as
ordens de Deus. Cerca de 370 anos depois, o rei Saul matou os gibeonitas por causa
de seu zelo pelo povo de Deus. Mais tarde Saul morre em uma guerra e Davi se
torna rei. Ele reinara por muitos anos antes de vir essa terrível fome. Quando veio a
fome, ele pediu direção de Deus, o que o levou a descobrir uma maldição
hereditária que ocorrera na geração anterior. Em outras palavras, não chovera por
três anos, a colheita estava arruinada, as ovelhas e o gado estavam morrendo e Israel
foi forçado a uma depressão tudo por causa de um rei que morrera há muito tempo,
ter pecado contra os gibeonitas. Foi Josué quem estragou tudo e desobedeceu a
Deus. Foi Saul quem quebrou uma aliança israelita de gerações com os gibeonitas
para cometer genocídio contra eles. Contudo, foi Davi quem colheu os efeitos dos
pecados deles. Isso que é chamado de “maldição hereditária” e muitas pessoas são
afetadas por elas sem saber.

Minha História

Vou te levar de volta ao meu pesadelo na banheira e compartilhar “o resto da


história” que guardei de você até agora. Você se lembra de que no capítulo 1 falei
sobre um ataque de pânico que tive que durou mais de três anos? Isso começou com
um forte pensamento, eu vou morrer!
No terceiro ano do meu ataque de nervos, estava em um quarto de hotel em
Los Angeles. Tinha acabado de comprar aquele posto Union 76 e a companhia
exigiu que eu participasse de uma semana de treinamento. Nunca tinha voado
antes, e para piorar as coisas, tinha uma grande claustrofobia. Quando finalmente
cheguei ao quarto do hotel no centro de Los Angeles, estava acabado. Teria que
passar uma semana no meu quarto de hotel sozinho. Fiquei aterrorizado por estar
sozinho em uma cidade grande. O tormento naquela semana se intensificava
enquanto lutava com o espirito de morte. Então, certa noite, próximo ao fim da
semana, em meio a uma guerra, perguntei a Deus: “Como o espírito de morte teve
acesso a minha vida?”
Imediatamente ouvi o Senhor dizer: Um homem estava apaixonado por sua
mãe quando ela era jovem, e ele a convenceu a deixar que ele lesse as cartas de tarô
para ela. Por causa do ciúme, ele amaldiçoou sua família, matou seu pai e destruiu o
futuro da sua mãe.
Fiquei chocado! Passava da meia noite, todavia fui compelido a ligar para
minha mãe. Ela atendeu ao telefone, meio adormecida, mas ouviu com toda
atenção quando relatei o que o Senhor tinha me mostrado. Então eu disse:
“Mamãe, você sabe alguma coisa acerca dessa situação?”
Houve um longo silêncio. Podia ouvir minha mãe chorando do outro lado
da linha. “Mamãe... Mãe, você sabe alguma coisa acerca disso?”, pressionei.
“Sim”, ela disse, com voz tremendo. “Quando eu era adolescente e estava
namorando seu pai, um homem muito mais velho se apaixonou por mim. Era um
amigo íntimo do seu avô e tinha muito ciúme do seu pai. Um dia ele veio a nossa
casa e perguntou se podia ler meu futuro. Eu era jovem e sem conhecimento, não
tinha ideia do que ele realmente estava fazendo. Não queria decepcioná-lo, então
concordei. Ele pegou um jogo de cartas de tarô e começou a falar do meu futuro”.
‘“Você irá se casar três vezes’, pronunciou. ‘Seu primeiro casamento
terminará em desastre e os outros dois serão cheios de problemas”.
Agora, minha mãe estava chorando sem controle ao telefone.
“Mamãe, você entende que este homem não só declarou o seu futuro... ele o
fez acontecer!” disse-lhe. “Ele amaldiçoou você, liberando espíritos malignos para
executar essas declarações!”
“Sim, entendo isso agora”, confessou. Ela continuou contando mais da
história. “Seis meses antes que o seu pai se afogasse na represa Anderson, ele
acordava todas as noites gritando: ‘Eu vou morrer! Vou morrer! Eu sei que vou
morrer!’ Tentava muito confortá-lo, mas nada parecia ajudar”, ela disse, como se
estivesse revivendo um pesadelo. “Embora fosse um excelente nadador, alguns
meses depois ele se afogou”.
“Mamãe, você precisa pedir perdão a Deus por permitir que um homem
lesse as cartas de tarô para você. Reconheço que você permitiu isso por inocência e
falta de conhecimento, mas ainda assim abriu a porta da destruição para nossa
linhagem familiar. A maldição do medo da morte passou para mim e meus filhos, e
está tentando me matar, como fez com meu pai”.
Naquela noite minha mãe se arrependeu por ter pecado e renunciou
qualquer aliança que tivesse feito com aquele homem ao abraçar suas palavras. Mal
sabia que isso estabeleceria as bases para minha libertação que ocorreu alguns meses
depois.
O espírito de morte se revelaria um inimigo tremendo em todos da nossa
família. Meu filho Jason e minha filha Jaime ambos experimentaram vários ataques
deste espírito. No entanto, quando minha mãe se arrependeu, a maldição
geracional foi quebrada. O inimigo não tem mais convite ou direito de nos molestar
ou oprimir. Salomão colocou desta forma: A maldição sem causa não encontra
pouso (Provérbios 26:2). Quando Jesus morreu na cruz, Ele se fez a maldição por
nós, para que pudesse nos libertar de todas as maldições (veja Gálatas 3:13). O
diabo e seus demônios são criminosos sem lei do reino do espírito. Eles quebrarão
as leis de Deus sempre que virem falta de autoridade. Como na cidade de Nova
Orleans após o furacão Katrina, onde centenas de saqueadores devastaram as casas
das pessoas por falta de policiais nas ruas, os espíritos demoníacos irão ilegalmente
devastar vidas de pessoas na falta de verdadeira autoridade espiritual. Cristãos sem
conhecimento criam culturas impotentes, resultando em um mundo que
experimenta um diabo desenfreado!
Penso que é importante explicar a diferença entre poder e autoridade. Um
policial exemplifica tanto poder como autoridade. Sua arma lhe dá poder, mas é seu
distintivo que lhe dá autoridade.
A palavra grega para poder é dunamis, que significa “força ou poder
miraculoso”. A palavra grega para autoridade é exousia, que significa “o direito de
agir, jurisdição, domínio ou estar em controle”. Jesus disse: Eu lhes dei autoridade
[palavra grega exousia] para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder
[palavra grega dunamis] do inimigo; nada lhes fará dano (Lucas 10:19 NVI).
Então, em Atos 1:8 Jesus diz: Mas recebereis poder [palavra grega dunamis], ao
descer sobre vós o Espirito Santo.
Não se engane, o diabo tem poder, força e habilidade para fazer milagres
(chamado falsos sinais e maravilhas), mas ele não tem autoridade. Os cristãos têm
autoridade sobre o poder do mundo demoníaco, e temos poder maior que o poder
do diabo! Sempre que os espíritos malignos estão exercendo poder sobre um crente,
eles estão trespassando sobre propriedade de Deus (a menos que, é claro, os cristãos
os convidem para seu domicilio, como expliquei no capítulo anterior).

Quebrando Maldições Geracionais

É fácil quebrar maldições geracionais quando a pessoa que as criou ainda


está viva e disposta a se arrepender dos seus pecados. Contudo, o que você faz se sua
família, cidade ou nação está debaixo de maldição geracional e as pessoas que
causaram a maldição estão mortas ou não se arrependem? A resposta é
“arrependimento por identificação”. O arrependimento por identificação quebra
maldições geracionais. Um grande exemplo de arrependimento por identificação
ocorre na vida dos israelitas durante os dias de Neemias. Os israelitas tinham
reconstruído o templo, mas não foram capazes de construir os muros e portões ao
redor da sua cidade, como descrevi no capítulo 3. Quando Neemias ouviu da
condição devastada do seu país natal, compreendeu que era uma maldição trazida
pelo pecado de seus antepassados, então ele fez essa oração:

Faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que temos cometido
contra ti: também eu e a casa de meu pai pecamos. Temos procedido perversamente
contra ti, e não temos obedecido aos mandamentos, nem aos estatutos, nem aos
juízos, que ordenaste a teu servo Moisés. Lembra-te da palavra que ordenaste a teu
servo Moisés, dizendo: Se fordes infiéis, eu vos espalharei entre os povos, mas se
voltardes para mim, e obedecerdes aos meus mandamentos, e os cumprirdes, ainda
que os vossos exilados estejam na extremidade do céu, de lá os ajuntarei e os trarei
ao lugar que escolhi para ali fazer habitar o meu nome.
Neemias 1:6-9, ênfase acrescentada

Acredite ou não, a palavra chave na oração de Neemias é nós. Não foi


Neemias que pecou, foram seus antepassados. Mas ele se responsabilizou pelos
pecados deles para que o povo colhesse os benefícios desse arrependimento.
Quando Neemias abraçou o pecado dos seus antepassados como seu próprio, ele foi
capaz de se arrepender como se fosse participante de seus atos e atitudes.
O mesmo princípio foi estabelecido no padrão da redenção. Um cordeiro
era oferecido todo ano por uma família inteira. O apóstolo Paulo trouxe este
princípio para dentro da nova aliança quando disse: Pois o marido incrédulo é
santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente.
Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, mas agora são santos (I Coríntios
7:14). Em outras palavras, a posição justa de um crente tem poder para quebrar as
maldições de qualquer um em seu metron, ou esfera de autoridade (veja capítulo 3).
Naturalmente, não quero dizer com isso que quando aceitamos a Cristo nossa
família toda está salva, mas em lugar de maldições, eles experimentam bênçãos de
um Reino superior desde que permaneçam debaixo da nossa cobertura.
Pessoalmente acredito que quando recebemos a Cristo, toda maldição, não
importa sua origem, deveria ser quebrada automaticamente em nossas vidas. Fomos
feitos nova criação e as coisas velhas passaram. Recebemos um novo coração e uma
nova mente. Somos da linhagem real de Jesus Cristo. Pecados, doenças hereditárias
e pobreza sistêmica não fazem parte de um status real. Entretanto, na realidade,
espíritos demoníacos invasores muitas vezes interferem nos benefícios plenos de
nossa herança. Depende de nós entendermos nossos direitos e vigiar os céus.
Lembre-se que o diabo é um destruidor com igualdade de oportunidades!

A Criança é um Guerreiro

Terroristas islâmicos estão treinando crianças em técnicas de guerra e


ensinando-as a lutar por suas causas. Os homossexuais e pornógrafos criaram
estratégias elaboradas para capturar o coração de nossas crianças. Mas, por algum
motivo, não tem ocorrido à maioria dos cristãos que as crianças não recebem um
Espírito Santo júnior. O arsenal completo das armas de nossa guerra está disponível
para crianças de todas as idades. O rei Salomão escreveu: Os filhos são herança do
Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão do valente, assim
são os filhos da mocidade (Salmos 127:3-4, ênfase acrescentada). As crianças
nasceram para serem flechas nas mãos dos guerreiros. Elas penetram nas
profundezas quando golpeiam os corações de nossos inimigos.
As escolas cristãs com frequência se tornam santuários confortáveis onde as
crianças estão abrigadas dos estratagemas do inimigo, em lugar de serem centros de
treinamento terrorista do Espírito Santo, que afiam estas setas para destruição das
forças inimigas. É hora de darmos a nossas crianças mais do que um Lanche Feliz.
Precisamos ensiná-las a lidar com as forças destrutivas do mal desde pequenas. O
treinamento de combate do Reino deveria fazer parte de toda educação escolar em
casa, todo currículo de escola cristã e toda instrução dos pais.
Deveria ser óbvio a todos nós que os espíritos malignos não selecionam seus
estratagemas destrutivos. Por algum motivo, os cristãos parecem surpresos quando
criancinhas ficam debaixo de ataques extremos. Satanás talvez odeie crianças hoje
mais do que em outras gerações. Quando Moisés era bebê, o diabo varreu uma
geração inteira de crianças em uma tentativa impiedosa de destruí-lo. Quando Jesus
era bebê, o diabo fez isso outra vez. E agora, o maior holocausto na história humana
está ocorrendo em úteros de mulheres enquanto milhares de crianças indefesas são
abortadas todos os dias.

Mesha

Dez anos atrás recebi uma profunda revelação dos propósitos destrutivos do
inimigo para com crianças. Minha neta mais velha, Mesha, vê anjos desde que
começou a falar. Ela costumava chamá-los de “pássaros”. Ela estava descrevendo
estes “pássaros” com seu vocabulário limitado por meses. Porque ela tinha apenas
dois anos, pensávamos que estava só fazendo de conta. Então certa manhã Mesha
estava tomando banho com sua mãe. A presença de Deus encheu o banheiro como
uma nuvem. Mesha se levantou na banheira e gritou: “Os pássaros estão aqui... os
pássaros estão aqui!” Muitas vezes a pegávamos em seu quarto interagindo com os
anjos, como se brincaria com um amigo. À medida que foi ficando mais velha, suas
experiências angelicais ficaram mais empolgantes e intensas.
Quando Mesha estava com cerca de quatro anos, começou a acordar no
meio da noite gritando: “Os anjos estão me assustando!” Isto continuou várias vezes
na noite por semanas. Minha filha e meu genro, que são pastores, corriam para seu
quarto e tentavam consolá-la sem sucesso. Não demorou muito e estavam me
chamando às duas e três da manhã. Certa noite, quando já tínhamos acordado
algumas vezes orando por ela, disse-lhes que lhe perguntasse de que cor eram os
anjos.
“Papai, ela disse que são negros”.
“Oh”, pensei, “aposto que são demônios. Diga a Mesha para ordenar os
demônios para saírem”.
Alguns segundos depois, ouvi uma pequenina voz gritar: “Saiam! Saiam
agora!”
Os demônios saíram, mas retornaram na noite seguinte. Às três da manhã,
Jaime e Marty acordaram com Mesha gritando: “Saiam, vocês anjos maus! Saiam
agora!”
Correram para seu quarto, e viram a pequena Mesha na sua cama em pé no
escuro, apontando para fora com uma voz dura e ordenando aos demônios que
saíssem. Quando eles ligaram a luz, Mesha empolgada disse: “Fiz os anjos negros
saírem”.
Enquanto escrevo este livro Mesha está com doze anos, e nunca teve medo
de demônios novamente. Ela raramente recebeu ataques depois daquela segunda
noite de ordenar aos demônios que saíssem.
É difícil imaginar, mas tenho convicção de que os demônios têm mais medo
de crianças do que de adultos. Há algo sobre a fé e inocência infantil que Deus
protege de maneira extraordinária!
11 – TREINAMENTO NO LOCAL DE
TRABALHO

Quero te dar um pouco de treinamento no local de trabalho neste capítulo,


principalmente com base na minha experiência em ajudar pessoas a se libertarem
das fortalezas demoníacas. Nos dois capítulos anteriores, falamos sobre maneiras
diferentes nas quais os cristãos convidam ou permitem a opressão demoníaca.
Agora quero falar sobre algumas coisas práticas a ter em mente quando expulsar
espíritos malignos das pessoas. Antes de tudo, nunca expulse demônios de alguém
que não conhece ao Senhor. Se você estiver ministrando a uma pessoa que não
conhece a Jesus, conduza-a a Cristo primeiro, antes de tentar libertá-la.
Estou dizendo que os cristãos são os únicos que deveríamos libertar? Bem,
sim e não. Deixe-me explicar o que quero dizer citando Jesus:

Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos buscando
repouso, mas não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa de onde saí. E,
voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros
sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali. E são os últimos atos desse
homem piores do que os primeiros.
Mateus 12:43-45

O Senhor deixa claro nesta passagem que quando um espirito maligno é


forçado para fora da vida de alguém, sempre retorna com reforços mais perversos do
que si mesmo, com quem tenta intimidar para voltar ao corpo da pessoa. Se
encontrar sua antiga casa vazia, aqueles oito espíritos malignos entram e a pessoa
fica pior do que quando apenas tinha um espírito maligno. Expulsar espíritos
malignos de pessoas que não tem ou não querem ter o Espírito Santo em suas vidas
é, portanto, irresponsável ou perigoso. Muitas pessoas não acreditam em expulsar
demônios de cristãos, mas estou te dizendo, os cristãos são as únicas pessoas que
você deveria libertar.
Digamos que você encontrou alguém que não conhece ao Senhor e está
muito atormentado. O que deve fazer? Simples — conduza-o a Cristo, ajude-o a
receber o Espírito Santo e lhe dê uma purificação espiritual. Com frequência você
descobrirá que quando uma pessoa recebe Jesus, o tormento cessa
automaticamente. Mas, se permanecer, conduza a pessoa através dos passos que
você aprendeu no capítulo 9 e então ordene que os demônios saiam.
Depois que você ordenar que os espíritos saiam, a pessoa deverá se sentir
livre e em paz. Se este não for o caso, pergunte ao Espírito Santo se existe qualquer
outra razão por que a pessoa ainda está perturbada. O Espírito Santo é muito bom
em revelar os problemas enraizados na base das fortalezas demoníacas. Faça a
pessoa tratar as questões que Deus revelou. Depois disso, ordene aos espíritos para
saírem novamente. Como erva daninha, quando a raiz é cortada, a planta irá
morrer. Continue este processo até que a pessoa se sinta livre e em paz.
Neste ponto, é importante assegurar a pessoa que você também discerne
que ela está livre. Gosto de olhar seus olhos e deixar que ela saiba que vejo um
coração limpo e uma alma livre. Você deseja que ela saia confiante na libertação,
portanto, sua garantia é essencial para o bem-estar dela.
Também é importante que ensinemos aos que são libertos que muitas vezes
os espíritos malignos voltam para fazer uma visita, juntamente com seus co
destruidores demoníacos e batem à porta do coração de uma pessoa liberta. Isso não
é nada com que se preocupar; é somente uma parte normal da limpeza espiritual.
Instrua a pessoa a manter sua mente no Senhor e não ir para o terreno das
perguntas: O que fiz de errado para convidar estes espíritos de volta a minha vida?
Fazer caça às bruxas em nossas almas é fazer o jogo das estratégias do diabo. Não é
à toa que ele é chamado de acusador dos irmãos. Ele é mestre em tomar de volta,
convencendo as pessoas que sua recém-descoberta liberdade é imerecida. Em
minha experiência, essas revisitações normalmente ocorrem três ou quatro vezes
nos primeiros meses de libertação de uma pessoa, e depois eles normalmente
deixam a pessoa em paz de vez. Lembre-se que a capacidade de Deus para nos
proteger é muito maior do que qualquer poder do nosso inimigo para nos destruir.
Toda pessoa que é liberta deveria memorizar as palavras de Paulo em Romanos
8:37-39:

Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que
nos amou. Pois estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a
profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor.

Discernindo Espíritos Malignos

Muitos me perguntam: “Como você sabe que tipo de demônios está


oprimindo as pessoas?” Você pode determinar a natureza dos espíritos malignos de
algumas maneiras diferentes. Uma maneira é por meio de manifestação de
tormento ou escravidão. Se a pessoa está atormentada com pensamentos de
suicídio, como no exemplo que dei sobre Martha, a escravidão está provavelmente
enraizada em um espírito de suicídio.
Outra maneira para identificar que tipo de espírito está atormentando uma
pessoa é através do dom de discernimento (veja I Coríntios 12:10). Este dom,
também chamado de distinção de espíritos em algumas traduções da Bíblia, é um
dom dado pelo Espírito Santo. Você não pode adquiri-lo; pode apenas pedi-lo. Ele
está disponível a todo cristão.
O dom de discernimento opera de forma diferente em variadas pessoas. A
maneira mais comum deste dom se manifestar em nós é pelo sentir, ouvir, cheirar
ou provar qualquer que seja o espírito que esteja perturbando a pessoa em cuja
metron nós estamos.
Antes de nos aprofundarmos neste assunto de discernimento, precisamos
refrescar nossas memórias sobre metrons e esferas de autoridade acerca das quais
falamos abreviadamente no capítulo 3. Este conceito vem do significado de duas
palavras gregas. A primeira é metron que significa “medida” ou “padrão”. A
segunda é kanon que significa “governar uma esfera”. Ambas são usadas na
exortação de Paulo aos coríntios. Leia-a vagarosamente:

Porém não nos gloriaremos além da medida [palavra de raiz grega metron],
mas conforme a reta (na versão do autor a palavra aqui é esfera) [palavra grega
kanon] medida [metron] que Deus nos deu, para chegarmos até vós... Nem nos
gloriando além da medida [metron] nos trabalhos alheios. Temos esperança de que,
crescendo a vossa fé, seremos abundantemente engrandecidos entre vós, conforme a
nossa medida (aqui a versão do autor é esfera) [kanon]
II Coríntios 10:13, 15, ênfase acrescentada

De modo simples, Paulo está dizendo que os de Corinto estão dentro dos
limites da sua autoridade espiritual dada por Deus. Infelizmente, os ocultistas e os
da Nova Era são os únicos que conheço que tem um vocabulário para este conceito.
Eles chamam de aura. Eles acreditam que as pessoas têm uma aura ao redor delas
que influencia a atmosfera que os cerca. Na verdade, isto é um conceito bíblico.
Toda pessoa tem um metron (espaço medido) sobre a qual ela governa ou
influencia. O tamanho do metron da pessoa é determinado pela sua influência
espiritual dada por Deus. Um metron pode estar restrito ao tamanho de um
indivíduo, ou pode ser tão grande quanto sua esfera de autoridade.
Por exemplo, você já entrou em uma loja e imediatamente se sentiu exausto?
Você comprou o que precisava bem rápido e saiu. Tão logo chegou ao seu carro e se
afastou dali, ficou bem... o sentimento de cansaço se foi. É bem provável que o dono
ou gerente daquela loja tivesse um espírito de fadiga ou fraqueza. (Isaías 61:3 diz
que o Senhor nos dará veste de louvor por espírito angustiado.) Porque toda
autoridade vem de Deus e é Ele quem determina o tamanho do metron de uma
pessoa (veja Romanos 13:1; 11 Coríntios 10:13-15), o metron de um dono ou
gerente seria do tamanho da loja. Quando entrou na loja você, na verdade, entrou
no espaço espiritual da pessoa em autoridade lá, e você discerniu os espíritos
governantes da pessoa que os convidou àquele “espaço”.
Em um nível pessoal, se você tem o dom de discernimento e senta ao lado
de alguém atormentado por um espirito maligno de pornografia, é bem provável
que irá experimentar pensamentos ou imagens pornográficas enquanto está no
“espaço” daquela pessoa. Ou se você tocar alguém lidando com um demônio de
depressão, de repente ficará deprimido. Devo deixar claro que o reino espiritual
afeta todos os cristãos, quer esteja ciente dele ou não. O dom de discernimento
simplesmente dá a você a capacidade para distinguir que espírito ou espíritos estão
agindo em uma pessoa ou ambiente.

Ferramentas de Aconselhamento
Quando me uni à equipe da Igreja Bethel, uma das minhas
responsabilidades principais era o aconselhamento. Quando pessoas vinham ao
meu escritório para aconselhamento, eu impunha as mãos sobre elas, e orava antes
que me contassem por que vieram me ver. Orava por sabedoria e insight, mas
honestamente, o que estava realmente fazendo era tocando-as para discernir se
havia um espírito maligno envolvido na sua situação. Se impusesse as mãos sobre
uma pessoa e não ficasse incomodado por algo, então sabia que qualquer coisa que
fosse que o aconselhando estivesse lidando era puramente humana e não
demoníaca. Por outro lado, se sentisse ira, assassinato, ódio, medo, paranoia ou
qualquer outra manifestação negativa, sabia que espíritos malignos tinha se atado a
situação e, portanto, somente aconselhamento não resolveria o problema da pessoa.
Teríamos que nos assegurar que os espíritos malignos foram expulsos após lidarmos
com as raízes do seu convite.
Enquanto estamos no assunto, quero deixar claro que, pessoas podem
entrarem algumas situações terríveis sem a ajuda do diabo. Pornografia, ódio e
depressão, por exemplo, não são necessariamente manifestações de espíritos
demoníacos. Muitas vezes são frutos das próprias escolhas da pessoa. Porém, se os
demônios foram de alguma forma, atraídos a uma pessoa, circunstância ou lugar,
somente conversar não vai solucionar o problema!
Tempos atrás estava ensinando nossa igreja sobre o ministério de libertação
e o dom de discernimento e compartilhei como toco as pessoas para discernir se elas
estão atormentadas por espíritos malignos. Ao final da mensagem, quando fiquei
na porta da saída para cumprimentar as pessoas que saíam, percebi que a maioria
mudou de direção e foi pela saída oposta. Por vários minutos fiquei perplexo com o
comportamento delas, até que uma alma corajosa veio à porta, estendeu sua mão e
disse: “Pastor, se você sentir um espírito maligno em mim, faça-o sair!”
Percebi então que as pessoas estavam saindo na porta oposta porque
pensavam que eu talvez sentisse que elas estavam influenciadas por demônios. Isso
me fez rir muito! Agora sou mais discreto quando compartilho meus exemplos do
púlpito.

Bipolar?
A capacidade para distinguir espíritos malignos é uma ferramenta
maravilhosa que pode ajudar a libertar pessoas. Contudo, se você não entender
como usar este equipamento, ele pode te fazer sentir louco. Acho que muitos
cristãos com um forte dom de discernimento são diagnosticados com um distúrbio
bipolar porque não sabem que tem esse dom. Eles acham que estão experimentando
mudanças de humor, mas não compreendem que estão simplesmente sentindo a
atmosfera espiritual em um metron em particular.
Enquanto estamos falando sobre discernimento também quero te advertir
sobre suspeitas. A suspeita é a malvada irmã de criação do discernimento. Ela pode
se disfarçar como discernimento e por fim nos conduzir a escravidão. A suspeita é o
dom de discernimento sendo usado pelo espírito de medo. Por exemplo, antes de o
rei Saul ser atormentado pelos demônios, a Bíblia diz que “Saul trazia Davi sob
suspeita” (1 Samuel 18:9). Suspeita leva a amargura, falta de perdão e tormento;
resultará na pessoa sendo lançada em uma prisão espiritual onde todos os guardas
trabalham para o lado mal. Os espíritos que guardam as grades desta prisão têm
nomes como doença, depressão, ódio e assassinato.
Muitas vezes nos últimos anos, assisti literalmente a suspeita em ação
quando alguém “discernia” que uma pessoa tinha um espírito maligno de um tipo
ou outro e fazia algo para destruir a reputação dessa pessoa. Quando cheguei a
Igreja Bethel, um de nossos “profetas” “discerniu” que um funcionário da liderança
do governo em nossa cidade era secretamente um bruxo. O profeta circulou de
forma livre esta informação para várias pessoas proeminentes em nossa igreja para
“oração”. Um ano depois, conheci o funcionário da cidade e descobri que ele era na
verdade, um crente firme que amava a Deus. Todavia, o “insight” do membro da
nossa igreja já tinha me contaminado, então fiquei longe dele. Eu levei um longo
tempo para perceber que o que estava sendo vendido como “dom de discernimento”
era, na verdade, suspeita enraizada em uma perspectiva política diferente.
Quando você tem uma forte opinião negativa sobre alguém, não confie em
seu “dom de discernimento”. Salomão disse que um bom nome é mais desejável do
que uma grande riqueza (veja Provérbios 22:1). O objetivo de qualquer dom do
Espírito é construir confiança e ajudar pessoas crescerem em Deus. Nenhum dom
do Espírito deve ser usado para destruir reputação de pessoas, matar sua paixão por
Deus nem roubar sua identidade. Mesmo que seu discernimento demonstre
precisão e um espírito demoníaco esteja perturbando a pessoa, a reputação dela deve
ser protegida e sua personalidade sempre honrada como alguém criado a
semelhança de Deus.

Sem Medo

Quando estiver ajudando alguém se libertar de opressão demoníaca, é


importante que esteja confiante no poder de Deus para libertar. Se você ficar com
medo em uma sessão de libertação, os espíritos malignos sentirão sua ansiedade.
Eles saberão que você não tem fé para libertar sua vítima e se recusarão a sair. Já
assisti pessoas tentarem superar o medo de um espírito maligno gritando para que
os demônios saíssem. Levantar sua voz não vai aumentar sua autoridade. Os
demônios não respondem à ira, manipulação nem controle. Eles somente
respondem
a autoridade. Em Atos, o lenço de Paulo expulsava demônios (veja Atos
19:11-12). Sem grito, sem chamar nomes, sem drama, apenas um lenço! Ao
contrário da opinião pública, são os espíritos imundos que às vezes, clamam em alta
voz quando saem de uma pessoa (veja Marcos 1:26).
Relembro uma vez que estava orando por um rapaz enorme em uma fila de
oração na igreja. Tão logo coloquei minha mão sobre seu ombro, uma voz estranha
gritou para mim: “Tenho estado aqui há gerações e não vou sair!"
“Não me importo há quanto tempo você tem estado aqui, você vai sair”,
disse em voz baixa, mas com confiança.
“Não vou, não!", a voz gritou mais alto.
“Oh, sim você vai”, respondi.
“Eu vou te matar!" a voz gritou enquanto o homem tentava me acertar com
sua mão direita. Ele encontrou uma força invencível cerca de centímetro do meu
rosto. Permaneci de pé confiante olhando nos seus olhos.
Ele gritou, rosnou e esbravejou com toda força, “Você está morto!" Então
levantou a mão esquerda e me lançou um nocaute! Pude sentir o vento do seu
punho quando se aproximou do meu rosto. Booooooooml Seu punho bateu em
algo invisível, mas sólido! Isto enraiveceu o espírito maligno dentro dele.
“É minha vez”, anunciei. Coloquei minha mão sobre sua cabeça e disse:
“Clamo o fogo de Deus para queimar os inimigos deste homem! Fogo, mais fogo,
batizo este homem em fogo!”, disse com ousadia.
O homem grande começou a vibrar como uma britadeira. Por quatro ou
cinco minutos, ele literalmente vibrava de cima a baixo, gritando enquanto
calmamente mantinha minha mão sobre sua cabeça, orando para o fogo de Deus
encher sua alma.
Finalmente uma voz alta gritou de dentro dele: “Satanás me ajude! Satanás,
por favor, me ajude!" “Ele não vai te ajudar. Agora saia!”, disse duramente. Alguns
segundos depois o espírito lançou-o ao chão e saiu. O homem estava livre, e agora
tínhamos que ter certeza que as portas estavam fechadas, para que os espíritos
imundos não voltassem mais.

Manifestações de Libertação

As pessoas experimentam muitos tipos diferentes de manifestações quando


estão sendo libertas. Você não pode medir o nível de liberdade de alguém pela
quantidade de drama que um demônio demonstra ao sair. Na verdade, a maioria
das libertações é normalmente experimentada com o mínimo de drama. Uma
pessoa talvez quase não sinta o espírito imundo sair, mas pode sentir um enorme
peso sendo levantado ou uma sensação nova de intensa paz.
A dignidade da pessoa deve ser nossa prioridade durante qualquer sessão.
Sempre tento fazer a pessoa se sentir segura e amada quando trabalhamos para
libertá-la. Os demônios gostam muito de atenção, por isso eles gostam de fazer a
cena maior possível quando saem. Quando os que ministram libertação perguntam
aos espíritos malignos seus nomes, ou fazem a pessoa vomitar ou fazer qualquer
coisa que crie ansiedade e drama, isso é apenas fazer o jogo dos esquemas malignos
dos demônios. Até mesmo perguntar ao demônio seu nome é raramente necessário.
A não ser que você fosse Jesus, eles provavelmente mentirão para você, de qualquer
jeito.
Em situações de libertação, se mantenha calmo, fale com uma voz normal e
permaneça confiante. Os demônios têm que sair quando trazemos a público a raiz
de sua atração. Lembre-se, você foi ungido para soltar cativos e libertar prisioneiros!
Principados e Poderes

Embora o âmbito deste livro envolva principalmente guerra pessoal,


sinto-me provocado a lhe dar alguns dos meus insights sobre a escala mais ampla de
principados e poderes. Sinto que fui capaz de escrever com grande autoridade até
este ponto, já que as coisas que ensinei até aqui vieram de minha própria experiência
pessoal de viver a Palavra de Deus na minha vida. Este capitulo não carrega o
mesmo nível de autoridade da minha parte, uma vez que muito da revelação é
subjetiva, portanto, da sua parte ele deve ser julgado e escrutinizado. No entanto,
ofereço os pensamentos seguintes para sua consideração.
Volte comigo ao assunto de metrons e esferas de autoridade que tratamos
no capítulo anterior e deixe-me oferecer a você alguns insights na guerra contra
principados e poderes. Você percebeu que quando estudamos a armadura de Deus
mais cedo, aprendemos que não temos de lutar contra a carne e o sangue, e, sim,
contra os principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes (Efésios
6:12)? A luta que enfrentamos nos períodos “de pé” em nossas vidas não é
simplesmente contra demônios. Leia o versículo novamente — nossa batalha é
contra principados, contra as potestades, contra os poderes deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais da maldade.
Lembre-se que Jesus disse que quando um demônio é expulso, sete espíritos
mais malignos do que os primeiros tentarão retornar. Existem níveis de autoridade
no demoníaco, tanto quanto no mundo natural. Os demônios de alta patente são
com frequência, referidos como principados e poderes. Paulo expressa assim:

Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais


costumavam viver, quando seguiam a presente ordem a deste mundo e o príncipe
do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência.
Efésios 2:1-2 NVI

Em Romanos 8:38-39, Paulo nos assegura que principados e poderes não


podem nos separar do amor de Deus. Estes principados e poderes são espíritos
malignos dominantes que têm grandes metrons e esferas. Paulo nos ensina em
Efésios que quatro tipos de principados governantes guerreiam contra nós. Estes
não são demônios típicos — são espíritos malignos de alto nível que estão tomando
autoridade sobre territórios geográficos e demográficos. Em outras palavras, eles
querem governar cidades, nações ou indústrias como a pornografia. Mas eles
somente têm autoridade se os crentes lhes derem. Por exemplo, Jesus disse aos
cristãos para fazer discípulos de nações. A maneira como os principados recebem
autoridade sobre uma nação é quando os crentes deixam suas metrons e esferas
dadas por Deus vagas.

Erradicando Poluição do Ar Espiritual

Jesus se deparou com essa situação na província dos gerasenos quando


desceu do barco e encontrou um homem endemoninhado. Jesus disse: Sai deste
homem, espírito imundo. Então Jesus lhe perguntou: Qual é o teu nome?
Respondeu ele: Legião é o meu nome, pois somos muitos. E rogou-lhe muito que
não os enviasse para fora daquela província" (Marcos 5:8-10, ênfase acrescentada).
É provável que os principados territoriais estivessem usando aquele homem,
conhecido como Legião, como base para seus ataques contra a província. O fato de
aquela região criar porcos nos dá algum insight quanto ao pecado corporativo que
provavelmente abriu a porta para este ataque histórico. Os porcos eram
considerados imundos nas leis do Antigo Testamento e, portanto, não deveriam ser
criados. Não estou propondo que apenas o fato de criar porcos abriu portas para
espíritos territoriais governar os gerasenos, mas estou sugerindo que o completo
desrespeito dos habitantes para com a Palavra de Deus deu aos principados acesso a
sua província. A libertação pessoal de Legião conduziu uma província inteira a
aceitar Cristo mais adiante.
A maior parte da armadura de Deus descrita em Efésios 6 é usada para nos
proteger destes espíritos de alta patente. Somos instruídos a “ficar firmes” durante
estes ataques. Então, como os principados são destronados? As palavras de Jesus em
Lucas 10:17-20 nos dão algum insight nesta pergunta:

Voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os
demônios se nos submetem. Disse-lhes Jesus: Eu vi Satanás, como raio, cair do céu.
Eu vos dei autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e
nada vos fará dano algum. Mas não vos alegreis porque os espíritos se vos
submetem, alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus [ênfase
acrescentada].

Os setenta estavam expulsando demônios das pessoas, mas Jesus viu


Satanás, como raio, cair do céu. Ao contrário da opinião popular, o raio começa da
terra para cima. Quando os demônios são expulsos da pessoa no reino natural (a
nível terreno), o território é tomado no reino espiritual (nos céus) porque todos nós
ocupamos duas dimensões simultaneamente. Os principados que governam o ar
têm como base as pessoas. Quando estas pessoas são libertas, suas esferas e reinos
recebem liberdade e a “poluição do ar espiritual” é erradicada. Contudo, minha
experiência diz que encontrar um príncipe do mal de alto nível em uma pessoa que
está governando um território é bem diferente de lidar com um “demônio regular”.
Libertar pessoas que se tornaram prisioneiras desta maneira pode ser uma luta ou
esforço, como Efésios 6:12 expressa. Libertar este tipo de pessoa exigirá que você
seja extremamente vigilante, superpaciente e muito persistente.

O Avivamento Samaritano

Agora olhemos o relato do Dr. Lucas do avivamento samaritano e vejamos


se podemos descobrir algumas semelhanças com o que estamos falando. O
evangelista Filipe desceu para Samaria pregando o Reino, operando milagres e
expulsando demônios. De repente, ele encontrou um feiticeiro chamado Simão.
Aqui está seu relato:

Estava ali certo homem chamado Simão, que anteriormente exercera


naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido a gente de Samaria. Dizia ser um
grande homem, e todos o atendiam, desde o menor até o maior, dizendo: Este é o
grande poder de Deus. Eles o atendiam porque já desde muito tempo os havia
iludido com artes mágicas. Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca
do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, batizavam-se, tanto homens como
mulheres. Creu até o próprio Simão, e, sendo batizado, ficou de contínuo com
Filipe. E, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.
Ouvindo os apóstolos que estavam em Jerusalém que Samaria recebera a
palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Quando chegaram, oraram por eles
para que recebessem o Espírito Santo.
Atos 8:9-15

É possível que o principado que governava Samaria morasse em Simão, o


feiticeiro? Quando Simão aceitou a Cristo, e quando os apóstolos em Jerusalém
ouviram que Samaria recebera o Reino, enviaram Pedro e João até eles. O poder de
Deus destituiu o poder do diabo através do ministério evangelístico de Filipe, e o
governo de Deus substituiu os principados governantes pela autoridade apostólica
de Pedro e João.
É importante entendermos que quando os principados caem como raio
sobre uma cidade e não reinam mais as mentes das pessoas, é imprescindível que a
autoridade do Reino substitua o príncipe caído. Senão, a condição da cidade se
torna pior do que antes, os reforços demoníacos tentam de forma vigilante forçar
seu caminho de volta no assento de autoridade.
Iraque é um bom exemplo atual de um poder lutando para governar um
território. Como destaquei em Chuva Abundante, meu livro que mencionei
anteriormente, a guerra no Iraque nos ensinou algumas lições profundas sobre
principado. Aprendemos, e ainda estamos aprendendo da maneira mais difícil que
destituir um ditador mau não é tão difícil como substituí-lo. Nós depomos Saddam
Hussein em 37 dias e declaramos vitória do convés do porta-aviões USS Abraham
Lincoln. Mas, temos passado vários anos e perdido muito mais soldados tentando
estabelecer a democracia em um país que somente conheceu tirania por centenas de
anos. Terroristas lutam de forma violenta retomar a autoridade no país.
Este é um claro retrato no reino natural da maneira como se deve lidar com
os principados espirituais no reino espiritual. Jesus nunca repreendeu o espírito
governante sobre uma cidade ou país. Ele simplesmente viajava de cidade em
cidade, libertando as pessoas enquanto ia. A liberdade estava se levantando da terra
para cima. E sem conhecimento da maior parte do mundo, Satanás estava caindo
como raio!
12 – POR AMOR A DEUS

Depois de toda opressão em minha vida e dos anos ajudando pessoas a se


libertarem, estou certo que a verdadeira origem de toda atividade demoníaca é a
falta do amor a Deus. João, chamado de o apóstolo a quem Jesus amava, disse: No
amor não há medo. Antes o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo
produz tormento. Aquele que teme não é aperfeiçoado em amor (I João 4:18). Se as
pessoas realmente soubessem o quanto o Pai as ama, e se recebessem Seu amor no
profundo de suas almas, nunca se permitiriam ficar opressas ou atormentadas de
forma alguma.
O grande apóstolo Paulo expressou assim: Pois estou certo de que, nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades [poderes],
nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso
Senhor (Romanos 8:38-39, ênfase acrescentada). A realidade é que muitos crentes
podem repetir esses versículos bíblicos, mas nunca realmente experimentaram o
amor do Pai.

Minha História

Meu pai era jogador de futebol americano e minha mãe líder de torcida no
Ensino Médio quando eles se apaixonaram. Foi um caso de amor tipo contos de
fada até minha mãe ficar grávida de mim fora do casamento. Era os anos de 1950,
uma época quando a sociedade era mais apegada à vergonha da imoralidade do que
hoje. Quando meu avô materno descobriu que sua filha estava grávida, ele repudiou
minha mãe e meu pai, embora tivessem fugido e se casado antes que eu nascesse.
Um ano depois, meu pai surpreendeu meu avô vindo a sua porta dos fundos. Antes
que meu avô tivesse a chance de mandá-lo embora, meu pai se ajoelhou e implorou
perdão. Felizmente, meu avô o perdoou naquela manhã. Meu avô provaria ser
indispensável a nós no desastre que breve se seguiu.
Dois anos mais tarde, meu pai estava pescando quando uma grande
tempestade subitamente virou o barco onde estava. Meu pai resgatou meu tio e o
levou para a margem, então voltou para pegar o barco. Ele nunca retornou. Como
mencionei no capítulo 10, meu pai se afogou e naquela noite tempestuosa de 1958
minha vida mudou para sempre. Quando meu pai morreu, meu avô fez uma aliança
no funeral que tomaria conta de nós.
Minha mãe se casou novamente duas vezes. Nosso primeiro padrasto veio a
nossas vidas quando eu estava com cinco anos e minha irmã três. Meu novo
padrasto deixou claro para nós que éramos o lixo que veio com o tesouro. E se isso
não fosse ruim o suficiente, ele também era um alcoólatra violento. Brutalidade e
crueldade se tornaram um modo de vida para nós. Passei todos os meus primeiros
anos de crescimento tentando ser invisível. Evidentemente, meu padrasto tinha um
objetivo similar quanto ao meu pai biológico. Ele tentou bastante nos fazer livrar de
todas as memórias do nosso pai. Destruiu tudo que pertencia a meu pai e nos
proibiu de ver nossos parentes. Finalmente minha mãe se divorciou deste homem
quando eu tinha treze anos. Ela se casou outra vez quando eu estava com dezesseis,
mas a situação não era melhor. O abuso continuou.

Meu Avô

Embora meus dois padrastos mal pudessem tolerar minha presença, meu
avô me amava. Minha avó e meu avô possuíam quatro casas velhas precárias todas
situadas em um grande terreno. Quando meu pai morreu, nós nos mudamos para
uma dessas casas, ao lado da do meu avô. Naquela época meu avô trabalhava como
zelador em uma escola de Ensino Médio. Eu passava bastante tempo em casa
sozinho enquanto minha mãe trabalhava para sustentar a casa. Todos os dias eu
esperava ansiosamente meu avô chegar à casa, vindo do trabalho em seu Ford 53
preto. Ouvia o velho Ford subindo a longa entrada da garagem e corria para
recebê-lo. Eu pulava para cima e para baixo... pendurava em suas pernas... puxava
seus braços... fazia o que fosse para ter sua exclusiva atenção. (Você pode imaginar
como eu ansiava por uma atenção masculina.)
Meu avô parecia nunca ficar chateado ou agir como se eu fosse um intruso
no seu tempo. Ele passava a mão sobre meu cabelo cortado à escovinha e dizia:
“Como foi seu dia, cabeçudo?” (cabeçudo era o apelido do meu avô para aqueles que
ele gostava.) Eu passava o resto do dia atrás do meu avô enquanto ele trabalhava na
sua casa. Ele trabalhou na fazenda toda a sua vida, o que fez suas mãos grossas e
amareladas com calos. Quando você apertava sua mão, sentia como se estivesse
segurando uma luva de couro. Vovô tinha cerca de um metro e sessenta e cinco de
altura e quase o mesmo de largura... não estou dizendo que ele era gordo; era só
robusto. Ele na verdade, não andava... arrastava os pés. Sempre usava um macacão
velho que se recusava a abotoar (embora minha vó o atazanasse constantemente por
isso). Era uma das primeiras coisas que você percebia no meu avô, porque ele não
usava roupa de baixo.
Quando eu era jovem meu avô teve uma infecção nas gengivas e teve que
arrancar todos os dentes. Por algum motivo deixaram seus quatro caninos e fizeram
dentaduras que se encaixavam ao redor. Porque meu avô odiava seus dentes falsos,
que ele chamava de “talhadores” mantinha-os no bolso do seu macacão, pendurados
de forma que pudesse pegá-los caso precisasse mastigar algo. Tinha a mania de
chupar os lábios dentre os caninos e parecia que tinha presas. Vovô não se
importava com as aparências. Seu sistema de valores era baseado em trabalho duro e
honestidade.
Todos os dias eu e ele íamos à loja de ferragens para comprar coisas para
consertar as casas velhas. Eu corria para nossa casa, esticava a cabeça na porta e
gritava: “Estou indo a loja de ferramentas com vovô!”
Minha mãe sempre gritava de volta: “Não se atreva a pedir ao seu avô para
comprar nada! Está me ouvindo, Christopher John?” (Meu nome não é
Christopher nem John, mas por algum motivo minha mãe me chamava assim
sempre que tentava enfatizar que estava falando sério.)
“Não vou!” eu gritava de volta. A verdade é que nunca tinha que pedir; vovô
comprava alguma coisa para mim toda vez que íamos à loja.
Na saída do quintal, o velho Ford dava marcha ré devagar enquanto eu
agarrava a porta do lado do passageiro e pulava dentro. Era a maneira de o meu avô
me dizer que não gostava de esperar por ninguém ou de perder tempo. Ele chamava
os preguiçosos de vagabundos, que era o tipo de vida mais baixo que uma pessoa
poderia ter, na sua perspectiva.
Recordo uma vez em particular na loja de ferramentas quando vovô disse:
“Vá dar uma volta. Encontro você quando terminar de pegar essas peças para o
encanamento”.
Gravitei para o corredor de ferramentas e fiquei hipnotizado com os
martelos pendurados nos tabuleiros cinza. Fiquei lá por um longo tempo,
contemplando as ferramentas.
Vovô veio e disse: “Ei, cabeçudo você quer um martelo desses?”
“Ah... não, tudo bem”, respondi relutante.
“Sua mãe te disse para não pedir nada?” ele disse, agindo um pouco
aborrecido.
“Sim!”, disse encabulado.
“Corra e pegue um daqueles martelos”, ele respondeu como se estivesse
dizendo à minha mãe quem mandava.
Quando chegamos a casa, corri para mostrar a minha mãe meu martelo
Stanley de cabo azul novinho em folha. “Olha o que vovô comprou para mim!”
disse, segurando.
“Christopher John! Você pediu esse martelo a seu avô?” ela perguntou
severamente.
“Não! Ele comprou sem eu pedir! Honestamente, não pedi. Verdade,
mamãe, não pedi” disse com convicção. (Relembrando agora, tenho certeza que
minha mãe sabia que meu avô amava comprar coisas para mim. Acho que ela
apenas sentia mal porque éramos pobres e não queria que seu pai pensasse que
estávamos tentando tirar vantagem da sua bondade).
Por dois dias martelei cada prego que encontrei naquelas casas velhas.
Finalmente fiquei tão enjoado de martelar pregos que decidi construir um kart.
Procurei madeira em todo lugar, de repente percebi que o lado de fora do galpão do
meu avô era feito de tábuas que eram sobrepostas para criar a lateral. Agarrei meu
martelo novinho Stanley azul e comecei a puxar as tábuas para afrouxar os pinos até
onde eu podia alcançar. Fui para a garagem e tirei as rodas do cortador de gramas.
Passei a maior parte da tarde pregando as tábuas juntas em algo parecido com um
kart. Quando terminei de montar a estrutura, peguei algumas pontas de ferros e
coloquei no buraco central dos pneus, anexando-os ao meu carro de corrida.
Tinha acabado de construir meu carro de corrida quando minha mãe
chegou do trabalho. Ela saiu do carro e parou olhando fixamente para mim com um
olhar perplexo. Após o que pareceu uma eternidade, perguntou com hesitação:
“Christopher John, onde foi que você conseguiu essa madeira?”
Apontando para o galpão, respondi mansamente: “Da... garagem...” A luz
preenchia o galpão inteiro enquanto o sol brilhava através dos pinos das tábuas que
estavam faltando.
Enfurecida, mamãe me agarrou pelo pescoço e gritou: “E onde você pegou
aquelas rodas?”
“Do... cortador de gramas...” eu fiz um chiado, lágrimas rolando do meu
rosto.
“Seu avô vai te matar! Você está me entendendo? Seu avô vai te matar!” ela
gritou. “Vá para o seu quarto até ele chegar à casa!”
Cerca de uma hora depois, ouvi o Ford 53 entrar na garagem. Meu coração
começou a bater forte quando ouvi o som dos passos pesados vindo em direção ao
meu quarto. Minha mãe me agarrou pelo pescoço e levou a força para encontrar
meu avô.
Apertando meu pescoço com força, ela exigiu: “Diga ao seu avô o que você
fez!”
Pendendo minha cabeça com vergonha, disse: “Construí um kart”.
Vovô andou até meu carro de corrida feito às pressas e sorriu. “Muito legal”,
comentou. Depois perguntou: “Onde você conseguiu a madeira?”
“Consegui... veio da garagem... mais ou menos”, respondi, movendo em
direção ao galpão.
Quando vovô viu o sol brilhando pelo lado da parede, deu risada!
“Bem, acho que teremos que pegar compensado e cobrir aquela parede.
Onde você conseguiu aquelas rodas?”, perguntou, ainda rindo consigo mesmo.
Sentindo um pouco aliviado, suspirei: “Do cortador de grama...”
“Vamos, pula no carro. Corra cabeçudo, vamos comprar eixos e rodas de
verdade para o seu carro”, ele disse, sacudindo a cabeça e rindo mais um pouco
consigo mesmo.
Quando entrei no velho Ford, olhei para trás para minha mãe. Ela estava
me encarando, como se dissesse: “Você deveria ter levado uma coça. Seu avô mima
você, seu pirralho!”
Aprendi com meu avô que, quando alguém acredita em você antes que você
o mereça, isso te transforma.

Vida na Fazenda

Alguns anos mais tarde, meu avô e minha avó compraram uma fazenda em
Oakdale, Califórnia. Fiquei com eles todos os verões da minha adolescência e
trabalhava na fazenda. Meu avô construiu uma casa na árvore maravilhosa para
mim, em um enorme carvalho ao lado do morro no pomar. Tinha um telhado, uma
ponte de acesso ao morro e até um banheiro... sofrível. Você não ia querer estar
debaixo dele quando alguém apertasse a descarga, mas ainda era a casa na árvore
mais legal que tinha visto. Então no ano seguinte meu avô comprou para mim uma
motocicleta de trilhas Honda 90 vermelha novinha, no natal.
Meu avô trabalhava para a fábrica da Hershey na cidade. Ele deixava uma
longa lista de tarefas para eu fazer enquanto estava no trabalho. Quando eu
terminava, permitia que eu andasse na minha motocicleta ou apenas fizesse alguma
coisa na fazenda. Um dia após terminar minhas tarefas, estava na minha casa na
árvore e percebi que uma árvore crescera ao lado dela, então decidi arrancá-la com
minha motocicleta. Agarrei cerca de 12 metros de corrente, enrolei em volta do
tronco da árvore intrusa e segurei a outra ponta na minha motocicleta. Acelerando o
motor, vooom, vooom, coloquei a marcha e saí. A próxima coisa que me recordo foi
voar sobre o guidom e aterrissar na terra. Furioso com minha situação caminhei até
a árvore, como se ela fosse uma pessoa e disse: “Árvore, você mexeu com a pessoa
errada!”
Acelerei de volta morro acima o mais rápido que minha Honda 90 me
levaria... falando palavrões enquanto dirigia. Correndo para o galpão, juntei todas
as correntes que encontrei. Enrolei várias vezes ao redor do meu pescoço (eu parecia
o Rambo) e corri de volta para minha casa na árvore. Descobri que precisava de
alguma potência, então subi no topo da árvore, arrastando a corrente comigo.
Firmei a corrente no topo da árvore, rapidamente voltei para a motocicleta e
enganchei a corrente a estrutura. Queria conseguir o máximo de velocidade, então
arrastei a motocicleta por trinta metros de ré morro acima. Pulei na moto, girando o
guidom para acelerar totalmente. O motor se ajustava quando passava pelas
marchas... primeira... segunda... terceira. Quando cheguei a quarta, passei pela
árvore a minha direita. Estava indo a toda velocidade. A corrente ficou esticada,
forçando a árvore para o chão. O tempo parou quando a Honda bateu fazendo uma
parada súbita, lançando-me para longe da moto! Caí de costas a tempo de ver a
motocicleta rodando trinta metros no ar. Ainda consigo lembrar o som — estalo!...
Voom!... Rush! A moto voou, e por fim parou no topo do morro.
Enlouquecido de raiva, gritei para a árvore: “Você vai cair!'" Marchei para o
topo do morro e liguei o trator do meu avô, dirigindo furiosamente na estrada para
a casa na árvore. (Eu não deveria usar o trator a não ser que meu avô estivesse
comigo, mas sabia que ele entenderia que era uma emergência. Nenhum salgueiro
invasor de casa na árvore era permitido ficar de pé com orgulho diante de um
Vallotton.) Posicionei os garfos da frente do trator nos dois lados da árvore. Enrolei
a corrente em volta da árvore, unindo de forma apertada aos garfos. Pulei no assento
do trator e pisei fundo no acelerador. O motor acelerou tanto que os para-lamas e
caput vibraram loucamente. Naquele momento puxei a alavanca, forçando os garfos
para cima. A corrente apertou, mas a árvore se recusou a ceder. De repente, para
meu espanto total, os garfos da frente se curvaram direto no chão!
Imediatamente voltei ao meu juízo. Desengatei a corrente e devagar dirigi o
trator de volta morro acima e estacionei no celeiro. “Vovô vai me matar! Eu sou um
idiota! Vovô vai me matar! Estou morto!" Continuei repetindo para mim mesmo
várias vezes.
Os minutos pareciam horas enquanto esperava meu avô chegar à casa vindo
da Hershey. Finalmente ouvi o velho Ford vindo em direção à fazenda. Minha
cabeça suava de pingar quando o carro parou. Vovô saiu do carro e andou devagar
em minha direção.
“Como foi seu dia, cabeçudo?”, brincou.
“Ah... foi bom”, disse, tentando esconder meu pânico. “Conseguiu fazer
tudo?” perguntou inquisitivo.
“Sim, consegui fazer... mais ou menos”, respondi em partes.
“Você está bem, Kris? Tem alguma coisa te preocupando, filho?”, ele
pressionou.
“Estou bem... mais ou menos... não! Na verdade, eu realmente estraguei
tudo!”
Ele inclinou a cabeça como se fosse dizer: O que você fez? Fiz sinal para ele
me seguir até o celeiro. Os garfos do trator estavam retos no chão do galpão. Vovô
caminhou devagar em volta da frente do trator, cuidadosamente inspecionando os
estragos. Meu coração batia forte no peito quando nossos olhos se encontraram.
“Cabeçudo, como você curvou os garfos do trator?”, perguntou
pragmaticamente.
Expliquei para ele a guerra que travei contra a árvore e minha missão para
arrancá-la. Ele sorria enquanto eu relatava minhas palhaçadas.
“Já há algum tempo queria te ensinar a usar os maçaricos, então esta é uma
ótima oportunidade para você aprender. Pegue os maçaricos e vamos consertar essa
coisa”, ele disse virando-se, rindo consigo mesmo.
Estava começando a aprender com meu avô que o amor cobre uma
multidão de pecados e que eu era mais importante para ele, do que suas coisas.

O Velho Caminhão Plataforma

Meus avós vieram da Espanha. Em uma família hispânica, os mais velhos


são sempre respeitados. Todos os membros da família os visitavam em feriados
importantes como o Dia de Ações de Graças ou Natal para mostrar-lhes
consideração. Naturalmente, minha avó preparava uma enorme refeição e insistia
que todos ficassem e celebrassem.
Quando eu tinha quinze anos e morava na fazenda do meu avô, a família
toda veio para o Dia de Ações de Graças. Eles não eram cristãos, então todos
bebiam muito e festejavam. Sete primas adolescentes estavam lá com seus pais.
Meu avô pegou as chaves do caminhão plataforma de duas toneladas Dodge 1950 e
disse: “Pegue essas chaves do velho caminhão e dê uma volta com suas primas pelo
pomar”.
“Tudo bem!”, concordei.
Minhas primas educadinhas da cidade pularam na parte de trás do
caminhão.
“Segura firme!” disse, me amostrando.
Nós corremos pelo pomar como um homem em chamas enquanto as
meninas seguravam firme o velho caminhão enferrujado. A poeira nos cobria ao
retumbarmos pelo pomar. De repente ficamos presos em um montão de lama.
“Meninas, saiam e empurrem!”, demandei.
“Nem pensar! Não vou me sujar”, uma delas disse.
“Nem eu”, as outras protestaram.
“Vamos, só empurrem um minutinho! Vocês ficarão bem”, insisti.
Ainda resmungando, as meninas saíram da traseira e começaram a
empurrar. Acelerei o motor e desfiz a embreagem. As rodas duplas criaram um rabo
de galo de seis metros de altura que cobriu minhas primas de lama quando o velho
Dodge foi adiante, finalmente se livrando da sujeira.
“Pula aí!" gritei, rindo comigo mesmo.
Gritando as meninas correram para pegar o caminhão em movimento.
Envolto em uma nuvem de poeira novamente, corremos pelo pomar.
Subindo um cume de 2 metros, caímos em uma estrada estreita que seguia um rio
sinuoso que ficava cerca de quinze metros abaixo. Pisei no acelerador até o chão e o
caminhão deu uma guinada adiante. O caminhão plataforma V-8 grilava de dor
quando arrochava antes de mudar cada marcha. O caminhão vibrava e fazia barulho
de forma violenta enquanto ganhava velocidade — 50, 55, 60, 65, 70 km/h.
Esquivando de buracos e desmoronamentos, lutava com o grande volante para
manter o velho equipamento na estrada. Espiando pelo retrovisor, via as meninas
segurando com toda força nos trilhos de compensado do lado. De repente, percebi
que a estrada foi completamente arrastada por cerca de cinquenta metros a nossa
frente. Freei rapidamente e paramos na beira de um barranco. As meninas caíram
atrás da cabina em um baque. Com o rio de um lado da estrada e um precipício do
outro, não havia como virar. Teríamos que voltar cinco quilômetros para o pomar.
“Abra a porta e cuidado para não cair no precipício do seu lado”, ordenei
minha prima Denise que estava do lado do carona.
Agora as meninas atrás estavam gritando: “Pare! Deixe-nos descer do
caminhão! Queremos caminhar!”
Ignorando o apelo delas, virei minha cabeça, espiando pela pequenina janela
traseira. Acelerando o motor, forcei a mudança para marcha ré. As marchas
entraram sem misericórdia, grrr-bang! O velho equipamento deu uns solavancos
para trás quando, por fim, a transmissão se ajustou. O caminhão gemeu de agonia
quando aceleramos de ré a toda velocidade. De repente ouvi um enorme estrondo!
Rasgão! Estalo! Dei uma olhada no lado do passageiro a tempo de ver uma grande
árvore rasgar a porta inteira do caminhão. Pisei nos freios, derrapamos e paramos,
mas era tarde demais — o estrago estava feito. A porta, curvada completamente ao
meio, mal pendurava na dobradiça inferior.
Horrorizada, Denise começou a gritar: “Seu idiota! O que você está
fazendo? Seu avô vai TE MATAR!”
Neste momento o restante das minhas primas estava gritando palavrões
semelhantes para mim.
Devagar nos movemos furtivamente de volta para a fazenda, onde a festa
estava a todo vapor. Estacionei o caminhão bem longe da casa.
“Não digam a ninguém que nós destruímos o caminhão”, ordenei.
“O que?” Elas protestaram. “Você bateu o caminhão, não nós!”
Ainda cobertas de lama elas correram em direção à festa e gritaram: “Kris
arruinou o caminhão! Kris destruiu o caminhão!”
Dois dos meus tios (pais das meninas) vieram correndo. Olhando o que
sobrou da porta do passageiro, vieram em minha direção, esbravejando em alta voz:
“O que você fez desta vez? Você é algum maluco? Poderia ter matado aquelas
meninas!” (Enquanto isso, minhas primas estavam rindo sarcasticamente nos
fundos.)
Exatamente então, meu avô chegou e exigiu que dissesse o que aconteceu.
“Sparky [o apelido do meu avô], este idiota do seu neto destruiu o caminhão
da fazenda e quase matou as meninas!”, lhes disseram.
Meu avô olhou para mim como se dissesse: Não fale. Tenho isso sob
controle. Fiquei lá em pé quieto, engasgado com as lágrimas, enquanto meu avô
avaliava os estragos.
“Oh” ele disse com segurança, “é só a porta. Queria tirar essas portas desse
velho caminhão da fazenda há um bom tempo.... Somente não tive a chance. Abrir
e fechar essas portas é um grande desperdício de tempo! Kris, pegue algumas
ferramentas e tire essas duas portas”, ele ordenou com uma piscadela.
Meus tios ficaram furiosos! Continuaram gritando até que finalmente meu
avô ouviu o suficiente. Interrompendo-os ele disse: “O rapaz tem serviço para fazer.
Deixe-o em paz!”
Embora meu avô fosse um ateu até o ano antes de morrer, ele me ensinou
mais sobre o amor de Deus do que qualquer outra pessoa no mundo. Ele me amava
apesar dos meus erros estúpidos. Ele nunca me fez sentir que as regras eram mais
importantes que nosso relacionamento. Muitas vezes me corrigia, mas se recusava a
me punir. Na verdade, acredito que meu avô conhecia mais acerca do amor antes de
conhecer a Cristo do que a maioria dos cristãos maduros conhece. Sua capacidade
de amar incondicionalmente transformou minha vida. Foi o “amor que sentia” por
mim que me manteve longe das drogas e do álcool naqueles anos difíceis da
adolescência.

Sacrifício e Paixão

Muitas coisas se disfarçam como amor, contudo são na verdade apenas


imitações baratas do verdadeiro. As reproduções com frequência parecem nobres no
lado de fora, mas conduzem a turbilhões profundos de vazio e escravidão. A
verdadeira liberdade somente ocorre quando quebramos os grilhões do medo e
abraçamos a cultura de misericórdia e graça. Tenho certeza que meus tios tinham a
motivação certa ao querer me bater, todavia punir pessoas por causa dos seus erros
cria ecossistemas autodestrutivos que convidam opressão demoníaca.
Por outro lado, o verdadeiro amor erradica o medo que nos vacina contra a
punição. Lembra-se da exortação de João que citei no início deste capítulo? Ele
escreveu que o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo envolve punição. É
por isso que o Evangelho inteiro pode ser resumido em amar a Deus e amar uns aos
outros.
As imitações sintéticas do amor têm muitas faces, mas o pseudônimo mais
comum é o sacrifício. A Bíblia diz: E ainda que distribuísse toda a minha fortuna
para o sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria (I Coríntios 13:3). É importante
entender que podemos sacrificar, e ainda, não amar! Muitas pessoas trocam
sacrifícios por amor. Estas pessoas medem a profundidade de sua espiritualidade
pela lista de disciplinas e situações ministeriais difíceis que fazem para Deus. São
enganadas e levadas a acreditar que o sacrifício lhes concede o favor de Jesus.
Muito tempo atrás, meu bom amigo John teve um encontro com Deus que
me fez chegar a esta conclusão. John tinha se disciplinado a passar longos períodos
em oração e adoração. Sempre que fracassasse no seu objetivo, ele se sentia culpado
e passava várias horas se arrependendo. Finalmente um dia Deus estava farto dos
esforços de John. Ele lhe disse: John, eu quero ser seu amigo, não seu hábito!
Meu avô me amava simplesmente porque me amava... não era obrigação ou
hábito. Era um amor honesto em seu coração. Ele não tinha que sentir, fingir ou
fazer qualquer coisa para provar. Ele apenas amava. Ele construiu uma casa na
árvore para mim e me ajudava com minhas coisas, mas sinceramente, o que mais me
recordo é que ele acreditava em mim e tinha paixão por mim. Compreendo que o
mundo substituiu amor por luxúria, então falar sobre paixão inspira visões de
pornografia ou perversão. No entanto, o verdadeiro amor desperta paixão no
verdadeiro sentido da palavra, que resulta em entusiasmo, empolgação e zelo.
É hora de Jesus acordar Sua Noiva com um beijo. O cristianismo oco deve
dar lugar ao amor cheio de risco, sincero a Deus e as pessoas. Heidi e Rolland Baker
abriram mão de uma vida de luxo para se sentarem na poeira com crianças nas
florestas da África. Heidi tem um doutorado e Rolland tem um QI de gênio. As
pessoas que não os conhecem bem com frequência me falam sobre o sacrifício dos
Bakers. É verdade que tiveram que entregar suas vidas para Deus, mas eles não
foram para África somente para sofrer por Jesus. Somos amigos íntimos e passamos
horas conversando sobre seu ministério. Sempre que surge o assunto de alcançar os
pobres ou transformar a África, os olhos deles brilham, o tom da voz muda e a
empolgação começar a jorrar deles como um rio desenfreado. Como meu avô, eles
amam as pessoas! Eles as amam somente porque as amam. Eles não estão tentando
ganhar alguma posição especial com Deus ou impressionar as massas. Eles somente
não conseguem controlar. São possuídos por uma paixão; ela goteja deles. (A paixão
sempre parece sacrifício para as pessoas que não estão apaixonadas.)
Quando a paixão nos possui, nossos corações são limpos e nossas almas
cheias de vida. Não importa se sete ou setenta espíritos malignos voltam para tentar
fazer moradia — não há lugar para eles. O lugar está tão abarrotado com poder que
ele se infiltra em cada rachadura na parede! A paixão nos fará viver em lugares em
que o sacrifício apenas morreria.
Falando de paixão, mencionei no início que conheci Kathy quando éramos
jovenzinhos, mas no dia que a conheci decidi que teria que tê-la. Como eu disse a
você anteriormente, nós morávamos cerca de 50 quilômetros de distância. Minha
pequena motocicleta Honda era pequena demais para andar na autopista, então eu
levava uma hora e meia de viagem nas rodovias secundárias para ir vê-la. Não
importava se estava chovendo a cântaros ou se estava congelando — eu tinha que
ver meu amorzinho! Com frequência chegava à sua casa encharcado até as roupas
íntimas, meu rosto azul e minhas mãos duras de frio. Porém, nos cinco anos que
namoramos, nunca perdi um único fim de semana.
Ninguém jamais me sentou e disse: “Kris, se você realmente ama esta
mulher, você vai ter que entregar sua vida por ela”. Essas palavras são para pessoas
que perderam sua paixão, aquelas cujas casas podem estar limpas, contudo
permanecem sem móveis, ecos vazios de amor oco... nuvens sem chuva.
Amantes apenas amam — está em seus ossos — eles não conseguem
controlar. Entretanto, o amor verdadeiro também precisa ser cultivado em nossas
vidas ou logo o fogo se apaga e nossos relacionamentos são reduzidos à obrigação e
sacrifício. O rei Salomão e sua noiva Sulamita são um grande exemplo de pessoas
que cultivaram seu amor um ao outro. Ler suas cartas de amor te faz ruborizar e
dizer: “Ei, pessoal, vá para o quarto!” Olhemos algumas trocas entre Salomão e sua
noiva.

A Noiva Sulamita

Beije-me ele com os beijos da sua boca; pois melhor é o seu amor do que o
vinho.
Cantares de Salomão 1:2

Ouço a voz do meu amado; ei-lo que vem saltando sobre os montes,
pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da
gazela. Olhai, ele está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, lançando os
olhos pelas grades.
Cantares de Salomão 2:8-9

Levantar-me-ei, agora, e rodearei a cidade, pelas ruas e pelas praças buscarei


aquele a quem ama a minha alma.
Cantares de Salomão 3:2
Salomão o Noivo

Como és formosa, amada minha! Como és formosa! Os teus olhos são


como os das pombas, e brilham através do teu véu. O teu cabelo é como o rebanho
de cabras que pastam no monte de Gileade. Os teus dentes são como o rebanho das
ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e
nenhuma há estéril entre elas. Os teus lábios são como um fio de escarlate, a tua
boca é doce. A tua fronte é qual pedaço de romã por detrás do teu véu. O teu
pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas. Mil escudos
pendem dela, todos broquéis de valorosos. Os teus dois seios são como dois filhos
gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios. Antes que refresque o dia, e
caiam as sombras, irei ao monte da mirra, e ao outeiro do incenso. Tu és toda
formosa, amada minha; em ti não há defeito.
Cantares de Salomão 4:1-7

Isto é coisa de apaixonado! (Tentei um pouco dessa coisa de “o teu pescoço


é como a torre e os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas” com
Kathy, e não funcionou muito bem. Acho que você tem que usar palavras
diferentes.) Eu e Kathy estamos juntos por mais de quarenta anos e nosso
casamento nunca foi enfadonho. Viver a vida juntos de forma apaixonante é uma
aventura. Contudo, me pergunto como seria ser rico como Salomão e sua noiva, que
tinham coros seguindo-os o dia todo cantando canções de amor para eles!
O mundo está à procura de algo pelo qual vale a pena morrer, para que
tenha algo pelo qual realmente vale a pena viver. A vida está tão chata para a
maioria das pessoas que elas ficam hipnotizadas com televisão e filmes. Muitas
pessoas passam seus dias sentadas em frente à tela esperando a vida começar. Sua
paixão é desviada enquanto de forma negligente olham fixamente algum ator ou
atriz vivendo uma realidade que elas desejam ter. Não sei quem criou a declaração
“mente vazia é oficina do diabo”, mas é verdade. Quando se acampa em lugares
perigosos, é sempre recomendado que você mantenha uma fogueira acesa para
manter os predadores distantes. Quando nossos corações estão em fogo, os
predadores demoníacos ficam fora do nosso acampamento, o qual é meu ponto
principal neste capítulo.
O apóstolo Paulo coloca melhor: O amor nunca falha (veja I Coríntios
13:8). Passamos vários capítulos falando sobre como vencer as batalhas espirituais
em nossa própria vida e na vida de outros. Todavia, quando tudo mais fracassar,
lembre-se disso: O amor não pode ser derrotado. Não existe prisão tão segura da
qual o amor não possa te livrar. Não existe capturador tão forte que o amor não
possa te libertar. Não há pecado tão terrível que o amor não possa te restaurar. O
amor verdadeiro é urna arma secreta para a qual nosso inimigo não tem resposta.
Sempre que o estendemos no campo de batalha, Satanás cai como raio.
Que o amor nos encha, o Espírito Santo nos conduza e o Pai nos abrace. É
hora de realmente vivermos novamente!
NOTAS

Capítulo 5: A Carne é Fraca

Kris Vallotton and Jason Vallotton, The Supernatural Power of


Forgiveness: Discover How to Escape Your Prison of Pain and Unlock a Life of
Freedom (Ventura, Calif.: Regal, 2011).

Lucinda Bassett, From Panic to Power: Proven Techniques to Calm Your


Anxieties, Conquer Your Fears, and Put You in Control of Your Life (New York:
Harper, 1996).

Caroline Leaf, Ph.D., Who Switched Off My Brain? Controlling Toxic


Thoughts and Emotions (Nashville: Thomas Nelson, 2009).

Capítulo 6: Tratando a Si Mesmo Amavelmente

Bill Johnson, Strengthen Yourself in the Lord: How to Release the Hidden
Power of God in your Life (Shippensburg, Penn.: Destiny Image, 2007).

Capítulo 7: Alegria Verdadeira

Norman Cousins, Anatomy of an Illness (New York: W.W. Norton &


Company, 1979), 43.
Michelle W. Murray, “Laughter Is the ‘Best Medicine’ For Your Heart,”
(14 de julho de 2009), http://www. umm. edu/features/laughter.htm.

Marshall Brain, “How Laughter Works,” (01 de abril de


2000),.howstuffworks.com/mental-health/human-nature/
other-emotions/laughter. htm.

Paul McGhee, Ph.D., Humor: The Lighter Path to Resilience and Health
(Bloomington, Ind.: Author House, 2010), 82.

Robert Provine, “The Science of Laughter,” http://www.


psychologytoday.com/articles/200011/the-science- laughter.

Madan Rataria, Laugh for No Reason (Bengaluru, índia: Madhuri


Intemational, 1999).
ACERCA DO AUTOR
Kris e Kathy Vallotton estão casados há 36 felizes anos. Eles têm quatro
filhos e oito netos. Três dos seus filhos estão em ministério vocacional de tempo
integral. Kris é o cofundador e supervisor sênior da Escola de Ministério
Sobrenatural Bethel, que já passou de mil e trezentos estudantes de tempo integral
em treze anos. Ele é também o fundador e presidente de Revolução Moral, uma
organização dedicada à transformação cultural.
Kris é líder associado sênior da Igreja Bethel em Redding, Califórnia, e tem
servido com Bill Johnson por mais de 33 anos. É autor de outros seis livros,
inclusive o best-seller Chuva Abundante e também Os Caminhos Sobrenaturais da
Realeza (de coautoria com Bill Johnson). A maneira bem-humorada de falar e o
insight revelador de Kris fazem dele um conferencista internacional muito
procurado.

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