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Mergulhando

na Adoração

Renato Marinoni
Índice

Introdução

PARTE I – O MINISTÉRIO DE LOUVOR

1 Descobrindo o meu chamado específico

2 O papel da música na sociedade, na Bíblia e no culto

3 O Ministério de Louvor – sua função e anatomia

4 Os cinco ministérios e o ministro de louvor

PARTE II – A FIGURA DO LÍDER DE LOUVOR

5 Entendendo o que é um líder de louvor

6 Funções de um líder de louvor

7 Qualificações de um líder de louvor

8 A preparação de um líder de louvor

9 O líder de louvor e a música

10 Um líder de louvor verdadeiramente líder

11 Conselhos gerais

PARTE III – A MINISTRAÇÃO DE LOUVOR

12 A principal tarefa do líder de louvor

13 O protocolo celestial

14 Fluindo com o rio de Deus

15 O mover profético e o momento de louvor

16 O cântico do Senhor

17 No campo de batalha

18 Seguindo uma direção clara

PARTE IV – FERRAMENTAS PARA UMA MINISTRAÇÃO EFICAZ

19 Como montar uma lista de canções que colaborem no fluir

20 O uso de sinais na facilitação do fluir
Introdução à edição ampliada e revisada

Sei que o que vou dizer pode parecer clichê, mas é exatamente como me sinto.
Desde que comecei a escrever este material, no final de 2007, até a sua publicação, em
setembro de 2010, sonhei em como seria ter esse livro publicado. Mesmo assim Deus me
surpreendeu.
Não há palavras que consigam expressar minha gratidão a Deus e minha alegria ao
ouvir, ler no Twitter, Facebook, por e-mail testemunhos de pessoas, ministérios, igrejas
que foram abençoados através desta leitura.
O texto que você tem em mãos é basicamente o mesmo da 1ª edição, claro que com
algumas correções e também com alguns acréscimos que julguei serem necessários.
Costumo dizer que este texto desta edição ampliada e revisada ficou mais “afiado”.
Além dessas pequenas modificações e acréscimos, também trazemos a você no
apêndice um guia de estudos em cima do conteúdo do livro, que foi elaborado por mim e
por minha irmã, Rebeca. Este guia tem o objetivo de criar e facilitar a discussão em grupo
dos assuntos tratados aqui.
Espero de todo o coração que vocês apreciem.
Cada vez mais tenho percebido a importância de falarmos, discutirmos e refletirmos
sobre o ministério de louvor e suas implicações. O fato de você estar lendo este livro já é
um sinal de que você está buscando se capacitar mais. Deus o abençoe nesta leitura.

Renato Marinoni
Introdução

Minha experiência com Ministério de Louvor começou bem cedo, mais ou menos
aos 8 anos, quando realmente me interessei pela música como parte do culto. Entrei no
ministério como retroprojetista, e para mim, naquela época, aquilo era o máximo – poder fazer
parte da equipe de música projetando na parede as letras dos cânticos para que a
congregação pudesse seguir. Foi ali que comecei a participar de ensaios, reuniões, e a ter uma
noção real de como o ministério funcionava. Desde então nunca mais deixei de estar envolvido
com a música dentro do contexto do culto a Deus.
Meu envolvimento com música também começou cedo, pois comecei a estudar
piano aos 5 anos de idade. Do retroprojetor, fui para o teclado. Tínhamos um grupo de juvenis
e ministrávamos o louvor de vez em quando. Aquele foi um tempo de preparação e muito
aprendizado. Bem verdade que o aprendizado veio mais através das disciplinas e correções,
pois éramos todos muito novos, mas tínhamos o desejo sincero de servir a Deus. Naquela
época mais ensaiávamos do que ministrávamos.
Hoje entendo o porquê de tudo isso. Para estar no ministério, a primeira coisa
necessária é ter a consciência plena de onde você está, da sua responsabilidade e da
importância de tudo aquilo.
Apesar de sempre saber que tinha um chamado específico na área da música e do
louvor e da adoração, foi somente aos 15, 16 anos que fui tomando uma consciência mais
precisa de como era esse chamado. Nessa idade fui me libertando de medos, complexos e
enfrentei o desafio de estar diante de uma congregação para realmente liderar o louvor. Antes
me escondia atrás de um teclado e de um microfone.
Dos 15 aos 17, vivi experiências tremendas com Deus, e Ele estava preparando tudo
em minha vida. Foi uma fase de amadurecimento e crescimento espiritual, quando me firmei
na Rocha da Palavra e aprendi como viver em espírito. Foi nessa época que Deus começou a
me usar na área de ministração profética, algo novo para mim até então.
Aos 18 anos tinha a convicção de que queria me preparar para atuar principalmente
na área de louvor e adoração. Depois de um ano na faculdade de Jornalismo, no ano de 2004,
abri mão do meu curso e obedeci à voz de Deus. Fui para o recém-inaugurado Centro de
Treinamento Ministerial Diante do Trono (CTMDT), hoje, uma escola já bastante reconhecida
em nosso país.
Foi ali que Deus me ensinou e me mostrou muitas coisas. Foi ali que tive minha visão
alargada e pude aprender tanto. Ao me formar, no final de 2005, tive a grata surpresa de ser
convidado para permanecer na escola. Era Deus cumprindo mais algumas de suas promessas
na minha vida.
Trabalhei como professor no CTMDT por 6 anos, tanto no curso de Missões, na área
de Idiomas (Inglês), quanto no curso de Louvor e Adoração, com as matérias História da
Música Cristã Contemporânea no Brasil e Liderança de Louvor, quando tive a grande
responsabilidade de substituir a Ana Paula Valadão.
Hoje tenho viajado por todo o Brasil em ministrações, oficinas, congressos, na maioria
das vezes sobre adoração ou especificamente para o Ministério de Louvor.
Deus tem colocado em meu coração dia após dia este desejo de levar pelo Brasil e
onde Ele quiser que eu vá um ensino específico na área de adoração, englobando toda a Igreja
e falando também exclusivamente para ministérios de louvor e artes, tratando de assuntos
práticos, espirituais, visando às necessidades específicas deste ministério.
E é isso que tenho feito. Onde Deus tem aberto portas, eu e outros companheiros de
caminhada temos ido e levado esse ensino, essa capacitação, essa orientação. A maioria dos
problemas enfrentados por muitas equipes e ministérios em nosso país seria resolvida
facilmente se houvesse um maior ensino específico nessa área.
Em 2006, juntamente com dois colegas de caminhada ministerial, Jean Haberman e
Josué Camargo, criamos o Curso de Capacitação de Ministros de Louvor e de Artes
“AdorArte”, com o apoio total do Pr. Gustavo Bessa e de Ana Paula Valadão Bessa, diretores do
CTMDT, visando alcançar pessoas que não poderiam dedicar dois anos de suas vidas se
preparando no CTMDT ou em qualquer outro seminário, mas que precisam do ensino.
Em 2011 dei suporte a outra iniciativa de capacitação ministerial, que foi a criação do
portal Apoio Ministerial, pelo amigo Jean Haberman. Na própria definição de Jean, o portal
“surgiu com a proposta de trazer ferramentas de auxílio no desenvolvimento das atividades
ministeriais na igreja local, tornando-se uma fonte de pesquisas para ministros e ministérios”.
Realmente acredito em iniciativas como essa.
E esse é o motivo deste livro também. Levar até você o que temos aprendido em
nossa caminhada. Meu objetivo não é cobrir todos os aspectos que envolvem o Ministério de
Louvor e a ministração propriamente dita, mas esclarecer alguns pontos que, com certeza,
irão te ajudar na estruturação e no desenvolvimento desse ministério na sua igreja.
Outro objetivo deste livro é despertar em você a consciência do seu chamado. Oro
para que líderes de louvor se descubram lendo este livro. Oro para que backing vocals
entendam o seu chamado lendo este livro. E assim aconteça também com instrumentistas,
arranjadores, sonoplastas, cada um operando em seu lugar. Oro também para que, se este não
for o ministério para o qual Deus tem te chamado, você possa entender isso através deste
livro. E também descobrir qual é o seu chamado verdadeiro.
Acima de tudo, a minha oração se baseia na oração do apóstolo Paulo aos efésios,
para que, ao ler este livro, o Senhor te dê espírito de revelação e de sabedoria, e abra os olhos
do seu coração para que você possa entender qual é a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus para sua vida. Deus te abençoe.

Renato Marinoni

Poços de Caldas, fevereiro de 2012.
PARTE I

O MINISTÉRIO DE LOUVOR
Capítulo 1 – Descobrindo o meu chamado específico

Não é pela nossa força

À medida que vamos conhecendo igrejas e ministérios e nos inteirando das
dificuldades enfrentadas por cada um, tenho a consciência mais clara de que o primeiro
desafio a ser vencido no Ministério de Louvor e artes se refere ao chamado ministerial.
O que mais vemos por aí são pessoas certas nos lugares errados. Sabe o que isso
significa? Pessoas que têm um coração sincero para servir a Deus e fazer a Sua obra, mas que
estão atuando no lugar errado. Com isso, vários problemas são gerados para a própria pessoa
e também para o ministério em que ela está inserida.
Essa pessoa que atua no lugar errado sempre se sente como “um peixe fora do
aquário”, nunca se sente confortável, e o trabalho no ministério para ela é feito com muito
esforço. Muitos pensam que esse sentimento de desconforto e esse esforço demasiado são
naturais, mas biblicamente isso não é verdade.
É claro que o ministério requer perseverança e diligência. Isso, com certeza. Vemos,
por exemplo, nas epístolas de Paulo a Timóteo como o apóstolo incentiva seu jovem discípulo a
perseverar no ministério apesar das dificuldades que se apresentavam no caminho. Mas a
Bíblia também nos fala da graça e da unção que Deus nos dá quando estamos operando no
ministério que Ele tem para cada um de nós.
Temos muitos exemplos na Bíblia de pessoas que cumpriram seu ministério debaixo
da graça de Deus porque estavam no lugar certo. Eu poderia citar Gideão. Ou Elias. Ester.
Isaías. Jeremias. Homens e mulheres que entenderam o propósito de suas vidas e estavam no
lugar certo.
Quando estamos no lugar certo, temos um sentimento de paz no espírito. Vemos a
mão de Deus operando, direcionando, guiando, e repito – apesar das dificuldades que temos
de enfrentar dia após dia. Quando estamos no lugar que Deus preparou para nós, percebemos,
e as pessoas ao nosso redor percebem ainda mais claramente, a graça de Deus em nossa vida
para a realização da tarefa.
Mas quando você está no lugar errado, toda essa paz interior desaparece. Parece que
tudo tem de acontecer com muita dificuldade. É um esforço diferente da fé e da perseverança
que acompanham os ministérios frutíferos. O ministério se torna um fardo, e tanto você
quanto as pessoas à sua volta percebem que existe algo errado.
Estou chamando sua atenção para as pessoas à sua volta porque acredito firmemente
que a igreja testifica o nosso chamado. Seus líderes, pais, amigos próximos percebem
claramente o chamado de Deus na sua vida, às vezes mais claramente do que você mesmo. Por
isso é tão importante que o nosso chamado ministerial testifique no coração da igreja que nos
cerca.
Além disso, se temos nos esforçado sem chegar a lugar algum, talvez estejamos
fazendo a obra de Deus com nossas próprias forças, e esse não é o caminho de Deus. É preciso
lembrar que o ministério, antes de ser nosso, é de Deus. E não devemos realizá-lo nas nossas
forças, mas no braço do Senhor dos Exércitos.
Vejamos o exemplo de Moisés. A Bíblia nos relata em Êxodo que, aos 40 anos, Moisés
entendeu o seu chamado: ser o libertador do povo de Israel. Mas o que ele fez? Quis realizar o
ministério no seu braço, do seu jeito, com suas forças. Afinal, ele era o príncipe do Egito,
educado pelos melhores professores. Foi preparado para ser o sucessor de faraó. O que
poderia dar errado? Bem, você sabe o resultado, não é? A morte do egípcio e a fuga para o
deserto.
Mais quarenta anos se passaram, Moisés sozinho naquele deserto, onde Deus o
forjaria para que ele entendesse que o ministério não se faz do nosso próprio jeito, mas do
jeito de Deus. Até que, aos 80 anos, Moisés se encontra com Deus naquela sarça ardente.
Aquele Moisés que se coloca diante de Deus já não é o mesmo de quarenta anos antes. Ao
ouvir o que Deus lhe diz e o que quer que faça, a resposta do velho Moisés poderia ser: “Mas é
claro, Senhor. Até que enfim o Senhor me chamou! Pôxa... me deixou quarenta anos esperando
aqui no deserto. Eu posso acabar com faraó e libertar o teu povo do Egito”.
Mas a resposta que saiu dos lábios daquele homem foi tão diferente dessa. “E-e-e-e-
eu, Senhor? Ma-ma-mas e-e-eu nã-nã-não se-sei ne-ne-nem fa-fa-fa-lar...” Aquele homem, que
antes confiava na sua própria força, na sua própria inteligência, no seu próprio braço,
aprendeu no deserto que não era nada sem Deus. O precioso deserto mais uma vez ensinando
que o melhor é depender de Deus.
O resto da história você já sabe. À medida que Moisés foi confiando nas forças do
Grande EU SOU, o seu ministério foi eficaz. Ele teve a graça de Deus para cumprir o seu
chamado a partir de então.
Pessoas certas nos lugares errados se tornam um fardo para o resto do ministério.
Permita-me a franqueza, mas elas impedem que haja um crescimento verdadeiro onde estão
inseridas. Acabam criando situações constrangedoras, porque todos percebem que elas não se
encaixam ali.
Esta é uma tarefa difícil para o coordenador ou líder do Ministério de Louvor.
Identificar entre todos os seus liderados quais são e quais não são as pessoas corretas para
estarem ali. É uma tarefa dolorosa, mas necessária. Dolorosa no presente, mas que no futuro
trará muitos frutos. Frutos para a própria pessoa, que será desafiada a sair do seu lugar de
conforto e a buscar de Deus o lugar ministerial correto para estar, e frutos para o ministério,
que poderá crescer de forma adequada, com as pessoas corretas inseridas nele.

O chamado específico para o louvor e a adoração

O Ministério de Louvor não faz parte da lista de cinco ministérios dada pelo apóstolo
Paulo em sua carta aos coríntios. Portanto, o Ministério de Louvor não é um fim em si mesmo.
Deus chama apóstolos para atuarem através da música. Deus chama profetas para atuarem
através da música e das artes. E assim também acontece com os evangelistas, pastores e
mestres.
Preste atenção nisso que acabo de dizer: Não existe ninguém que seja somente um
líder ou ministro de louvor, ou instrumentista, ou dançarino, ou pintor. Todos nós nos
encaixamos em um dos cinco ministérios listados pelo apóstolo Paulo, e podemos atuar através
da música e das artes. O que pode e deve ocorrer em nossas vidas é usarmos a música e as
artes para exercermos esses ministérios em nós.
Vejamos o que a Bíblia nos diz sobre o chamado específico para o louvor e a
adoração.

O sacerdócio levítico e a ordem de Melquisedeque

Um dos termos mais comuns usados para designar as pessoas envolvidas com o
Ministério de Louvor e de artes nas igrejas é “levita”. Vamos rapidamente estudar um pouco
sobre o que significa esse termo e as suas aplicações.
Nós vemos no livro de Números, no capítulo 1, versículos 49 a 53: O Senhor falara a
Moisés, dizendo: Somente não contarás a tribo de Levi, nem levantarás o censo deles entre os
filhos de Israel; mas incumbe tu os levitas de cuidarem do tabernáculo do Testemunho, e de
todos os seus utensílios, e de tudo o que lhe pertence; eles levarão o tabernáculo e todos os
seus utensílios; eles ministrarão no tabernáculo e acampar-se-ão ao redor dele. Quando o
tabernáculo partir, os levitas o desarmarão; e, quando assentar no arraial, os levitas o
armarão; o estranho que se aproximar morrerá. Os filhos de Israel se acamparão, cada um no
seu arraial e cada um junto ao seu estandarte, segundo as suas turmas. Mas os levitas se
acamparão ao redor do tabernáculo do Testemunho, para que não haja ira sobre a
congregação dos filhos de Israel; pelo que os levitas tomarão a si o cuidar do tabernáculo do
Testemunho.
Os levitas eram os responsáveis pelo Tabernáculo do Senhor. Veja bem, não estamos
falando que os levitas eram os responsáveis pela música do Tabernáculo, porque, até o
Tabernáculo de Davi, a música não fazia parte do culto a Deus.
Eram eles os que desmontavam e montavam a tenda, carregavam os utensílios e,
principalmente, eram eles que carregavam a Arca do Senhor. Durante todo o tempo de
peregrinação pelo deserto e pela Terra prometida, foram os levitas os responsáveis por armar
e desarmar o Tabernáculo.
Os levitas não tiveram terras como herança, pois o Senhor lhes disse que Ele mesmo
era a sua herança. Eles eram sustentados pelas outras tribos de Israel para se dedicarem
exclusivamente ao serviço do Tabernáculo. Em Números 3:12 o Senhor diz a Moisés: Eis que
tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que
abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus.
Muitos séculos depois, quando Davi se tornou rei de Israel e trouxe para Jerusalém a
Arca que estivera fora do Tabernáculo por muitos anos, por causa da desobediência dos filhos
de Samuel, ele não a colocou novamente no Tabernáculo de Moisés, que ficava em Gibeão,
mas trouxe a Arca para Jerusalém, e a colocou em uma tenda que ficou conhecida como
Tabernáculo de Davi. Ali sim foi introduzida a música, por ordem de Davi, que planejou e
arquitetou todo um esquema de adoração 24 horas diante da presença de Deus. Ele dividiu os
sacerdotes, músicos, porteiros e todos os levitas envolvidos com o Tabernáculo em turnos para
que houvesse ministração diante da Arca 24 horas.
Muitos estudiosos e líderes de louvor utilizam o termo “levita” para designar uma
pessoa que está envolvida no Ministério de Música e Louvor. Existe uma contenda teológica
sobre isso, porque outra corrente de pensamento afirma que o sacerdócio levítico se encerrou
juntamente com a Velha Aliança. E nós, que estamos debaixo da Nova Aliança, fomos feitos
sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque, como diz o livro de Hebreus, em várias
passagens (5:6; 6:20; 7:11; 7:15; 7:17)
Melquisedeque aparece na Bíblia pela primeira vez em Gênesis 14:18, e é
apresentado como rei de Salém. Ele vem até Abraão e traz pão e vinho. E a Palavra nos diz
que, além de rei, ele era “sacerdote do Deus Altíssimo”. Muitos teólogos dizem que
Melquisedeque é uma figura de Cristo, o Rei e Sacerdote, e é isso o que a Palavra nos afirma
em Hebreus. E, segundo essa corrente, o sacerdócio levítico foi findado com a Velha Aliança, e
o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque passou a vigorar. Não podemos deixar de
nos lembrar da passagem de 1 Pedro 2:9, que nos diz: Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes
as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
Portanto, não deveríamos chamar os músicos de levitas, mas enxergarmos todos os
crentes como sacerdotes, que ministram igualmente diante do Senhor, através da Sua
adoração. O propósito desta exposição é mostrar que sempre houve e ainda há pessoas
chamadas especificamente para servir a Deus através da música.

Como descobrir se eu sou chamado para isso?

Meu propósito principal não é me aprofundar nessa questão, e sim mostrar que
biblicamente sempre existiram pessoas separadas por Deus para se dedicarem ao Ministério
de Música e de Artes. Inclusive nos céus. Vemos pela Bíblia que os querubins são os anjos
encarregados de ministrar à presença de Deus, e, como símbolo disso, Deus ordenou que se
colocassem querubins nas extremidades da Arca (Êxodo 25:19-20).
Mas como descobrir se sou chamado por Deus para este ministério? Quero
apresentar aqui três passos que nos ajudam a entender e a discernir o chamado de Deus em
nossas vidas, aplicando-os especialmente no caso do Ministério de Louvor e Adoração.

1) Orando e jejuando

Na vida cristã não existe atalho. A primeira forma de saber de Deus qual é o nosso
chamado, seja ele em que área for, é buscando a Sua presença. É com muita oração que
ouvimos a voz de Deus. É jejuando que nos tornamos mais sensíveis à Sua voz. Ele é a fonte de
todas as respostas. Não existe um manual onde podemos encontrar tudo pronto. Precisamos
buscar intimidade com o Pai para saber onde Ele nos quer realizando a Sua obra.

2) Olhe para os seus talentos naturais

A Bíblia nos diz no Salmo 139 que, antes mesmo que nascêssemos, todos os nossos dias já
estavam escritos. Deus plantou em cada um de nós talentos, habilidades que Ele sabe que são
necessários para cumprirmos o propósito d'Ele em nossas vidas.
No nosso caso, envolvendo música e artes, se Deus te separou para estes ministérios, Ele
provavelmente colocou em você algumas habilidades. Talvez Ele tenha te dado uma bela voz,
uma boa afinação, facilidade com instrumentos, capacidade de interpretação, uma boa
elasticidade e jeito para dançar, uma grande criatividade.
Esses são pequenos sinais de que talvez você tenha sido separado para trabalhar com
dança, teatro, pintura, música. Isso não significa que as pessoas já nascem prontas. Pelo
contrário. Mais à frente vamos falar detalhadamente sobre isso, pois todas essas áreas
artísticas requerem muito estudo, mas estamos falando de habilidades naturais que nos
apontam para algo, nos sinalizam alguma coisa da arte de Deus, que nos criou.
Por exemplo, eu sei que não fui chamado para dançar. Como sei disso? Se você me
conhecesse concordaria comigo de primeira. Não tenho o equilíbrio necessário para a dança.
Não tenho a elasticidade necessária. O “swing” necessário. Claro que talvez pudesse ter
estudado e, com muito esforço, me tornado um dançarino. Mas estamos falando de
habilidades naturais. Você, que quer se envolver com o departamento de música e artes,
possui essa facilidade com as notas, um bom ouvido musical, uma voz afinada, facilidade para
desenhar, expressar em movimentos o que está no coração?

3) Tente, experimente e esteja disposto a errar

Muitas pessoas não descobrem o seu lugar ministerial porque não estão dispostas a
se expor e a errar. Ficam sempre na sua zona de conforto, não querendo ser repreendidas por
ninguém. Mas para descobrirmos o nosso lugar precisamos nos expor.
Peça para fazer um teste vocal. Peça a alguém que o ouça tocando. Faça aulas de
piano. Ou, quem sabe, de pintura. Não existe nada de errado em tentar. É tentando que vamos
descobrir se realmente gostamos de algo ou não. Como saber se você prefere violão ou piano
se você nunca tentou nenhuma das duas opções? Como saber se você tem talento para a
dança se você nunca se inscreveu em uma aula?
Precisamos nos livrar do nosso orgulho e permitirmos a nós mesmos que erremos.
Mas para isso também precisamos estar dispostos a ser corrigidos e rejeitados. Quem sabe
você vai ouvir um “não” do regente do coral? Ou quem sabe um “não” da líder do Ministério
de Dança?
Muitas pessoas estão estagnadas porque um dia ouviram um “não” de alguém e
desde então nunca mais tentaram nada. Estão afundadas no ódio e no rancor e na
autocomiseração. Essa não é a postura correta. Precisamos saber que poderemos ouvir um
“não” ou uma crítica, e que isso irá doer sim, mas que precisamos aprender com eles e
continuar em frente, até encontrarmos o nosso lugar.
Lembre-se: um ministério frutífero é composto por pessoas certas que estão nos
lugares certos. Descubra o seu lugar!

Capítulo 2 – O papel da música na sociedade, na Bíblia e no culto

Antes de falarmos mais profundamente sobre o papel da música no culto de
adoração, a sua importância, e sobre o Ministério de Louvor, temos de analisar rapidamente o
papel da música na sociedade, o que a Bíblia nos diz sobre música e fazermos uma breve
análise histórica da música dentro do contexto eclesiástico.

A importância da música

É impossível negar a importância da música em nossas vidas. Como diz o Pr. João A.
de Souza Filho, no seu livro Ministério de Louvor: revolução na vida da igreja, “Sem dúvida
alguma, a música influencia o comportamento da sociedade em todos os seus níveis, fato
comprovado por pesquisadores e estudiosos do tema”.
Atribui-se a Platão a frase: “Não se deve confiar em um homem que não tenha música
na alma, porque seu espírito é atrofiado, suas paixões, desequilibradas e sua noção do certo e
do errado, sempre errada. A música é o princípio fundamental que preserva o mundo de cair
num caos de incoerência”.
A Aristóteles atribui-se a linda frase: “A música é celeste, de natureza divina e de tal
beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”.
A música nos cerca por todos os lados. Seja nos jingles dos comerciais, nas trilhas
sonoras de filmes, nas rádios, enquanto estamos andando na rua, dentro das lojas.
Definitivamente a música faz parte de nossas vidas.
Ela tem o poder de penetrar profundamente em nossa mente, em nossas emoções e
em nossas memórias. Você já teve a experiência de, ao ouvir uma música, lembrar-se de algum
momento específico, das pessoas que estavam com você, ou até mesmo de um cheiro
específico? Até mesmo os professores e educadores já descobriram que a música facilita o
processo de memorização, por isso o sucesso de músicas que trazem nas suas letras fórmulas
matemáticas, por exemplo. Muitas vezes não nos lembramos do que fizemos há cinco dias,
mas conseguimos lembrar de um certo jingle, numa propaganda de determinada marca que já
passou há mais de dez anos.
Aristóteles, em A política (p. 206), é quem nos diz que a música existe para a apreciação,
para o “repouso”, mas também deve ser aplicada na educação.
A música definitivamente exerce uma grande influência no ser humano. Ela afeta
nossas emoções e nossas ações. Vemos por toda a história como ela influenciou a sociedade
em cada época, refletindo a vivência de cada povo. Lembremo-nos das marchas de guerra que
estimulavam os soldados no campo de batalha. Aristóteles disse: “Emoções de toda espécie
são produzidas pela melodia e pelo ritmo. Através da música, por conseguinte, o homem
costuma experimentar as emoções certas”.
Você já imaginou como seria assistir “Indiana Jones” sem a famosa trilha que nos
instiga? Ou como seria ver a lendária cena de “E o Vento Levou...” sem a sua romântica trilha
que emociona? Ou como seria assistir “Tubarão” sem aquela música que, com apenas duas
notas, nos deixa com os nervos à flor da pele?
Somos seres musicais, e a música está profundamente ligada com a nossa natureza
humana. Existe um elo, criado por Deus, eu acredito, entre a música e o reino espiritual, entre
a música e Deus e depois entre a música e nós, seres humanos.

A música na Bíblia

A Bíblia também está recheada de referências à música. O que dizer do livro dos
Salmos? As mais famosas canções já escritas, preservadas por quase 3 mil anos! Vemos, em
várias passagens, homens e mulheres de Deus que foram cheios de Deus, e de suas bocas fluiu
um novo cântico, como Moisés, Miriã, Maria, Isabel, Zacarias, entre outros. Temos um livro
escrito por Salomão que se chama Cântico dos Cânticos. Em Apocalipse, vemos, em vários
momentos da visão narrada pelo apóstolo João, que os anjos, e seres viventes, e até mesmo os
remidos, entoam, diante do trono do Senhor, cânticos. E em praticamente todas as visões dos
profetas do trono de Deus, é mencionada a música ao redor dele.
Eliseu, como nos narra o capítulo 3 do Segundo Livro dos Reis, certa vez mandou
chamar um tangedor para que pudesse profetizar. Essa passagem nos mostra claramente
como a música pode e deve ser usada como uma ferramenta para facilitar o fluir e o agir do
Espírito de Deus, do mover profético.
Davi, quando Saul ficava possesso por um demônio, era chamado ao palácio para
tocar a sua harpa (1 Samuel 16:23). E então, enquanto Davi tocava, Saul ficava livre daquele
demônio. A música por si só não traz libertação, mas vemos que quando aliamos o poder da
música com um instrumentista, com um tangedor com a vida santificada, uma vida de
intimidade com Deus, esse som traz libertação.
A Bíblia faz referência a vários tipos de instrumentos, inclusive nos estimulando a
usá-los como forma de adoração. Um exemplo claro disso é o Salmo 150. A Bíblia nos fala de
instrumentos de cordas, como a harpa e o saltério. Também nos fala de instrumentos de sopro,
como a flauta, a trombeta, e também de instrumentos de percussão, como o pandeiro, o adufe,
o tamborim, entre outros. Não podemos nos esquecer também de outro instrumento muito
importante, que é a própria voz humana, que deve ser usada para a glorificação do nosso
Deus.
A primeira referência feita à música na Bíblia se encontra logo nos primeiros
capítulos de Gênesis. A Bíblia Ilúmina nos fala um pouco mais sobre isso: “A música é
mencionada logo no início e constantemente na Bíblia. A primeira referência é a Jubal, o pai
de todos os que tocam harpa e flauta (Gênesis 4:21). Essa descrição de um músico tão cedo na
história mostra a sua importância.” A música é mencionada em toda a Bíblia mais de
oitocentas vezes.
Existe um intrigante versículo que nos diz que o próprio Deus canta. Ele fica lá em
Sofonias 3:17. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje nos diz: Pois o Senhor, seu Deus, está
com vocês; Ele é poderoso e os salvará. Deus ficará contente com vocês e por causa do seu
amor lhes dará nova vida. Ele cantará e se alegrará, como se faz num dia de festa. Várias
versões em inglês atestam a mesma coisa. O nosso Deus é um Deus de música, que canta
sobre o Seu povo para livrá-lo e protegê-lo!

A música na adoração

A música também desenvolve um importante papel na adoração. A Bíblia nos mostra
a conexão existente entre ambas. Vejamos um exemplo em Apocalipse:
(...) e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de
incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar
o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os
que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e
sacerdotes; e reinarão sobre a terra. (Apocalipse 5:8-10)
Diante do trono do Todo-Poderoso, os anjos, os anciãos, os seres viventes adoram ao
Senhor com cânticos. O Salmo 96 nos encoraja a adorarmos a Deus com um cântico novo. E
em várias outras passagens podemos encontrar essa conexão entre música e adoração (veja
Ap. 4:8-11; Ap. 15:2-4; Salmo 98; Salmo 105:1-3; Salmo 108; 2 Cr. 5:11-14; Lc. 1:46-56).
Sempre é importante lembrar que, apesar de essa conexão ser muito forte, a
adoração não está limitada ao âmbito musical. Adoração nos fala de um estilo de vida. Não
vou me deter neste assunto, porque não é meu objetivo principal. Existem vários livros
cristãos excelentes que tratam da adoração como estilo de vida.
Apesar de a Bíblia nos mostrar essa relação entre música e adoração, a música nem
sempre esteve presente nos rituais de adoração. No Tabernáculo de Moisés, não existia
música nos rituais de culto. Isso não é intrigante? Apesar de o povo hebreu sempre estar
rodeado por música, a música não fazia parte do culto no Tabernáculo erigido por Moisés.
Como já mencionei anteriormente, a música só foi oficialmente instituída nos rituais
de adoração do povo judeu por Davi, quando ele trouxe a Arca para Jerusalém e ali edificou
uma tenda que ficou conhecida como “Tabernáculo de Davi”.
Ali então Davi instituiu levitas específicos para cuidar da parte musical, que foi
estabelecida na liturgia oficial de culto. Davi criou um complexo esquema de funcionamento
24 horas para o Tabernáculo, inicialmente, e depois para o Templo construído por Salomão.
Você pode estudar mais sobre esse assunto lendo os capítulos 15, 23, 24 e 25 de 1 Crônicas.
Davi instituiu cantores, instrumentistas, porteiros e sacerdotes. Em cada função, havia um
grupo específico para cada hora, totalizando 24 grupos de levitas designados para servirem na
Casa do Senhor.

O papel da música no culto – Uma breve análise histórica

Se olharmos para a história da música cristã, desde a Igreja Primitiva, poderemos
encontrar relatos de música relacionados à adoração. Este costume foi herdado da cultura
judaica, na qual, como já vimos, a música sempre foi um elemento importante e muito
presente na vida diária do povo.
Ralph Martin, em seu livro Worship in the Early Church (Adoração na Igreja
Primitiva, sem tradução em português), cita um comentário de A. B. Macdonald, segundo o
qual, a priori, nós deveríamos esperar que um movimento que liberou tanta emoção, e
lealdade, e entusiasmo encontrasse expressão em canções. Ele ainda nos lembra de que os
grandes avivamentos (como o grande avivamento do século XVIII) foram acompanhados por
uma explosão de canções. Então, seria estranho se a igreja permanecesse sem canções
quando a luz de Cristo veio e tornou tudo novo (Martin, p. 40).
De acordo com Justo Gonzalez e Ralph P. Martin, os cristãos dos primeiros dias não
criam que pertenciam a uma nova religião. Gonzalez diz: “Eles haviam sido judeus toda a sua
vida, e continuavam sendo. Sua fé não consistia em uma negação do judaísmo, mas consistia
antes em uma convicção em que a idade messiânica, tão esperada pelo povo hebreu, havia
chegado.” (Gonzalez, p. 34.)
De acordo com Martin, os cânticos antifonais datam de antes do exílio babilônico.
Muitos salmos foram feitos para serem cantados no Templo. E vemos que a comunidade dos
rolos do Mar Morto também tinha música em seu culto. Martin diz: “Quando olhamos para o
contexto do Novo Testamento, na prática do judaísmo dos rabinos, nós admitimos que existem
algumas dúvidas de como o canto de louvores a Deus se desenvolveu nas sinagogas na
Palestina no primeiro século. É provável que as sinagogas da dispersão – judeus exilados que
viviam fora da Terra Santa – fossem mais avançadas no uso dos Salmos do que seus irmãos da
Palestina, mais conservadores.
Mas mesmo assim, a música que era usada nos rituais do Templo exerceu pouca
influência sobre o Cristianismo emergente. Músicos profissionais, acompanhamento
instrumental e música para sacrifícios eram estranhos à experiência cristã recente, de acordo
com Edward B. Foley (Foley, p. 41).
Mas vemos nos escritos do Novo Testamento os Salmos sendo usados em Atos, em
Hebreus, com uma ótica nova, uma ótica messiânica.
A música na Igreja Primitiva, no entanto, se restringia mais à voz, devido às heranças
judaicas do canto responsório, usado nas sinagogas. Mais tarde, a música já era muito
presente na vida da Igreja, mas sempre foi um tema que suscitou grandes debates entre os
“pais da Igreja”. Eles recusavam o uso de instrumentos, por ainda os considerarem objetos
pagãos, sendo associados aos cultos pagãos gregos e romanos (Dickinson, p. 54).
Com a perseguição séria que a Igreja sofreu, principalmente no terceiro século, os
cultos cristãos eram realizados de forma sorrateira e escondida. Muitos cultos aconteciam nas
catacumbas, embaixo da terra, para que não fossem ouvidos. Portanto a música usada nos
cultos tinha de ser discreta. Quando Constantino acabou com a perseguição e declarou o
Cristianismo a religião oficial do Império, o culto cristão sofreu muitas mudanças. “O canto
cristão saiu, então, das catacumbas e pôde ser cantado livremente em todas as igrejas, pelo
povo que se convertia à nova religião”, afirma Nilsa Zimmermann.
Até mesmo o uso da polifonia (divisão em várias vozes) foi motivo de grande debate,
e, durante muitos anos, os cantos usados na liturgia eram executados em uníssono.
É interessante perceber, ao estudar a fundo a história do uso da música na liturgia,
que alguns intervalos eram considerados “divinos”, e outros, “demoníacos”; com isso, só
alguns eram usados nas composições cristãs.
No século VI, o canto gregoriano, canto em uníssono, com notas longas e cânones
(melodias intercaladas), passou a dominar a liturgia, e foi amplamente usado durante séculos,
até por volta do século X; ainda hoje se encontram amostras deste tipo de canto. Ele não era
um canto congregacional, era executado somente por cantores “profissionais”.
A Reforma Protestante trouxe um novo vigor para a música litúrgica. Com a defesa do
“sacerdócio de todos os santos”, houve uma mudança da perspectiva sobre a forma como a
música era vista nos cultos. Ela já não deveria ser executada somente por “profissionais”, e
sim por todos os cristãos. Lutero percebeu rapidamente o poder que havia na música, e ele
mesmo foi compositor de vários hinos, dentre eles o famoso “Castelo Forte”, considerado “o
hino da Reforma Protestante”. Sandro Baggio (2005, p. 29) diz que Lutero “considerava a
música como o mais nobre dom de Deus aos homens, ao lado da Teologia”. Além de compor
suas melodias, Lutero usava melodias populares da época e trocava as letras, substituindo-as
por um conteúdo cristão e propagador de suas novas doutrinas. A partir da Reforma
Protestante, o cântico litúrgico passou a ser congregacional.
Calvino também escreveu sobre a importância da música, tinha uma visão mais
conservadora do que Lutero, dizendo que não se podia cantar músicas cujas letras não
tivessem sido tiradas das Escrituras. Edmund Keith diz: “Calvino numa reação contra os
ornamentos da liturgia católica, voltou-se para a Bíblia como a única fonte do canto cristão”
(Keith, 1960).
“Eric Routley resume o pensamento de Calvino sobre a música na Igreja com os três
seguintes pontos:
1-A música é para o povo, então deve ser simples.
2- A música é para Deus, então deve ser modesta.
3-Estes objetivos melhor se obtêm por vozes sem acompanhamento.
Mas Calvino foi o organizador do Saltério Genebrino, um dos hinários mais usados na
história, que combinava as melhores versões métricas dos Salmos com melodias compostas
pelos melhores músicos daquele tempo. (...) diz que essas melodias são precursoras da
melodia do hino moderno, assim como o salmo métrico foi o precursor do hino moderno.”
Com o passar do tempo, a música congregacional passou a ocupar um lugar importante
nos cultos de adoração. Hinólogos usados por Deus marcaram a história com seus hinos de
adoração. Dentre os mais importantes, podemos citar: Isaac Watts, Charles Wesley, na
Inglaterra, e, mais recentemente, Fanny Crosby, nos Estados Unidos, dentre tantos outros.
Hinos que marcaram muitas gerações e ainda continuam falando tanto ao nosso coração, e
que, infelizmente, às vezes são discriminados pela Igreja dos nossos dias. Eles trazem consigo
a história, o amor e a dedicação de homens e mulheres de Deus que doaram suas vidas para a
obra do Senhor. Cada um desses hinos nos conta uma história própria.
Além disso, esses hinos são um reflexo do mover de Deus no passado. Reflexo de
avivamentos, do mover do Espírito nos últimos séculos. Mas eles não ficam presos ao passado.
Eles ainda falam conosco nos nossos dias.

E hoje?

Atualmente a música continua ocupando um papel de destaque nos nossos cultos. Há
alguns anos, mais precisamente nos anos 1960 e 1970, começamos a passar por uma transição
da hinologia antiga, aqueles hinos do hinário, para uma hinologia mais contemporânea,
músicas mais conhecidas como "corinhos".
Esse processo de transição não foi fácil, mas hoje encontra-se quase totalmente
completo. São poucas as igrejas em que esse novo tipo de música de “louvor e adoração” não
pode fazer parte do culto. Já que citei o termo “louvor e adoração”, foi nos anos 1960 que ele
começou a ser usado, principalmente entre os revolucionários do “Jesus Movement”, nos
Estados Unidos.
Outro aspecto a ser ressaltado é que, atualmente, tanto no Brasil quanto no mundo,
de forma geral, temos um mercado de música cristã estabelecido. Nunca houve em toda a
história tamanha produção e divulgação de música cristã como temos em nossos dias.
Voltando ao contexto de culto, a música continua ocupando um lugar especial dentro
dos nossos cultos, entretanto, na maioria das vezes, nem sabemos o porquê. Simplesmente
cantamos e tocamos porque nos foi ensinado que assim deve ser. Você já se perguntou,
honestamente, para que serve o momento de louvor e adoração no culto?

O papel da música no culto

Durante muitos anos, em nossas igrejas, principalmente as históricas, dominou uma
mentalidade de que o papel da música no culto era o de preparar o coração das pessoas para
ouvirem a Palavra pregada pelo pastor.
Este pensamento supõe que as pessoas chegam ao culto cheias de preocupações,
pensando nos seus afazeres diários, e que o momento de louvor seria um momento em que
elas, por meio da música, se desconectariam dessas preocupações e estariam mais atentas ao
sermão, que vem logo em seguida.
Essa ideia não é mentirosa. Isso realmente acontece. Vivemos em um mundo
atribulado. Todos nós estamos sempre com a agenda cheia, lotados de afazeres e
preocupações. Cada vez fica mais difícil nos desligarmos disso tudo e colocarmos nossas
mentes e corações focados somente em Deus, seja em um culto ou em um devocional diário.
A música no culto realmente exerce esse poder. Ela atrai a atenção das pessoas para
Deus. Ela realmente prepara o coração de cada um para o sermão que vem logo em seguida.
Portanto esse não é um pensamento mentiroso, mas é um pensamento limitado.
Há muito mais razões para o momento de louvor e adoração do que simplesmente
preparar o coração das pessoas. O momento de louvor e adoração é tão importante quanto o
momento da Palavra em um culto.
Deus age de forma tremenda enquanto Sua igreja o louva! Veja o que diz o Salmo
22:3, na Versão Corrigida:
Porém tu és Santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.
O salmista nos diz que o próprio Deus habita entre o Seu povo durante a adoração! E
o que acontece em um lugar onde o próprio Deus habita? Acontecem curas, libertação,
salvação, arrependimento de pecados, perdão, o amor flui, e muito mais, porque a presença de
Deus libera tudo isso.
Por isso me incomoda tanto saber que, em muitos lugares, o momento de louvor e
adoração só está preenchendo um tempo no culto. Semana após semana, as pessoas cantam,
às vezes batem palmas, mas não experimentam verdadeiramente o poder que existe no louvor
e na adoração.
Gosto muito de algo que ouvi certa vez em um seminário do Dr. Ron Kenoly,
renomado líder de louvor que muito contribuiu e contribui para o crescimento da Igreja
mundial nessa área. Ele disse algo que realmente me marcou sobre o propósito do louvor e da
adoração: Quando Deus criou os peixes, ele já havia criado a água, para que eles pudessem
habitar nela. Quando Ele criou as árvores, Ele já havia criado a terra, o firmamento, o ar e
tudo o mais para que as árvores pudessem existir. Quando Ele criou o homem, Ele já havia
criado uma série de condições ideais para que o homem pudesse viver. Mas isso no plano
físico, e o homem não se resume à dimensão física.
João 4:24 atesta que Deus é espírito. E nós só podemos nos comunicar com Deus em
espírito. Nós nunca conseguiríamos nos comunicar com Ele se não possuíssemos um espírito.
Por isso a Bíblia diz que fomos criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1:26) Deus
é espírito, e nós fomos feitos espírito.
Se Deus preparou todas as condições de sobrevivência ideais para o homem no
âmbito natural, não prepararia também no âmbito espiritual? Claro que sim! Deus estava
ligado com o homem. Adão e Eva podiam se comunicar livremente com Deus e experimentá-lO
sem nenhum empecilho. Mas quando eles pecaram, o espírito deles morreu, e, como
consequência, deixaram de experimentar a presença de Deus.
Deus já tinha um plano. Ele iria enviar Seu próprio Filho como sacrifício e assim
consertar todas as coisas, mas antes que o tempo de Jesus vir à terra chegasse, Deus criou
uma série de rituais que poderiam aproximar o homem dEle. Uma dessas ferramentas foi o
louvor e a adoração.
Esse é o propósito do louvor e da adoração: Restaurar aos homens a ligação com a
presença de Deus, através do novo e vivo caminho, que é o sangue de Jesus (Hebreus 10:20).
E mais! A nossa adoração terrena, congregacional, pode refletir a adoração celestial, que é
aquela que vimos acontecer ininterruptamente nos céus, como registra Apocalipse 5, por
exemplo. No reino espiritual, realmente podemos nos colocar diante do trono de Deus e nos
juntarmos aos adoradores celestiais, adorando ao Todo-Poderoso.
Quando tomamos consciência dessa verdade bíblica, as coisas começam a mudar para
nós. Eu realmente creio, e temos experimentado curas, libertações, salvação, Deus se
movendo durante o momento de louvor e adoração.

Capítulo 3 - O Ministério de Louvor – sua função e anatomia

O papel do Ministério de Louvor no contexto do culto congregacional

Entendendo realmente a verdade bíblica sobre o papel do louvor e da adoração no
contexto do culto congregacional, podemos começar a entender verdadeiramente o papel do
Ministério de Louvor na estrutura da igreja.
Nós, como ministros de louvor, tentamos criar uma atmosfera na igreja onde o Espírito
de Deus possa fluir livremente e se manifestar. É nosso papel estarmos sensíveis à voz do
Espírito, fluindo juntamente com Ele e evitando que sejamos empecilhos para o seu agir.
É nossa principal função tornar realidade tudo aquilo que foi discutido no capítulo
anterior. Você, ministro de louvor, líder de louvor, vocalista, instrumentista, sonoplasta etc.,
não se contente com nada menos do que isso: experimentar a presença de Deus durante o
tempo de ministração de louvor. A Palavra nos garante que isso é o que deve acontecer. Não
continue agindo como se o momento de ministração de louvor fosse apenas um “tapa-buraco”
no culto, para o culto demorar mais um pouquinho, e não limite a ministração a preparar as
pessoas para o sermão.
Claro que precisamos lembrar que o único que pode gerar adoração no coração das
pessoas é o Espírito Santo, portanto nosso papel é colaborar com a obra do Espírito Santo, e
não ser um empecilho. Nenhuma pessoa –pode ser o melhor ministro de louvor do mundo –
pode gerar adoração no coração de alguém. Por isso, tire esse peso dos seus ombros.
Bob Sorge diz: “Em última análise, nós não somos os líderes de louvor. O Espírito
Santo é o verdadeiro Líder de Louvor, com letra maiúscula. Como líderes de louvor, com letra
minúscula, somos simples instrumen tos através dos quais Ele opera”.
Nós usamos o poder da música de influenciar os seres humanos aliado com a
presença de Deus, e isso gera algo muito poderoso no reino espiritual. Algo que ainda, creio
eu, não conseguimos dimensionar por completo.
Como um ministro de louvor, atraia a presença de Deus ao culto e permita que toda a
congregação também participe desse mover! Isso é outra coisa muito importante. É nosso
papel, como ministros de louvor, criar na igreja a consciência de que nós não estamos
cantando para passar o tempo, ou porque achamos legal, e sim porque cremos que é algo
estabelecido por Deus. Use textos bíblicos, dê pequenas direções para a igreja a fim de que,
aos poucos, a consciência geral sobre a importância do louvor comece a ser criada. Acima de
tudo, tenha uma atitude perante a igreja de que você realmente acredita nisso. Quando a
igreja percebe que você está falando de algo em que você realmente crê (e, acredite, no altar
não se consegue esconder certas coisas), ela é estimulada a praticar o que está sendo dito.
Podemos ir mais além. Também é função do ministério de louvor ensinar à igreja que
cada pessoa pode experimentar o mesmo poder e a mesma presença de Deus no seu momento
de devocional individual. Muitas pessoas têm uma vida devocional fracassada porque não
aprendem isso de seus líderes.
Portanto, resumidamente, nossas três funções básicas como ministros de louvor são:
1) Criar uma atmosfera na igreja onde o Espírito Santo possa fluir livremente.
2) Trazer uma consciência a toda a igreja do que realmente significa o momento
de louvor e adoração no culto.
3) Ampliar ainda mais essa consciência na igreja, mostrando que esse agir de
Deus não está limitado ao culto congregacional, mas que cada um pode
experimentar o mesmo agir de Deus individualmente onde quer que estejam.

A anatomia do Ministério de Louvor

Quando falo sobre a anatomia do Ministério de Louvor, me refiro à sua estrutura
padrão de funcionamento. Quero examinar, juntamente com você, alguns elementos
imprescindíveis em uma equipe de louvor. Claro que existem exceções e variações,
dependendo do contexto e das necessidades de cada igreja e cada equipe, mas me preocupo
aqui em expor algo que se aplique de forma geral.
Uma equipe de louvor é basicamente formada pelos seguintes elementos:

1) Líder de louvor
2) Vocalistas (Backing vocals)
3) Instrumentistas
4) Sonoplasta
5) Responsável pela projeção das letras

Antes de tudo, a importância de ser “equipe”

Julgo importante enfatizar que nenhuma função é mais importante do que outra. Às
vezes somos levados a acreditar que o líder de louvor é muito mais importante do que o
responsável pela projeção das letras. Agora, pense comigo, como seria a ministração de um
líder de louvor sem que a igreja pudesse seguir as letras de forma adequada? Ou o que
adianta um vocalista ter a melhor voz de toda a igreja se o som está mal-equalizado e as
pessoas não conseguem ouvir o que ele está cantando?
Você consegue perceber? A equipe de louvor é apenas um reflexo do que o apóstolo
Paulo fala sobre o Corpo de Cristo em 1 Coríntios 12. Somos uma equipe, e cada um desses
elementos precisa do outro, cada um funcionando bem na função que lhe foi designada, para
que a equipe, no geral, tenha um resultado positivo.
Sempre que penso nisso, me lembro de um filme do qual gosto muito, “Mudança de
Hábito”, estrelado por Whoopi Goldberg, em que ela interpreta uma cantora de boate que foi
testemunha de um assassinato e que, para ser protegida, foi escondida em um convento, onde
precisou fingir ser uma freira. Ali no convento, ela é designada para cuidar do coro, que é um
horror. A pianista não consegue tocar no ritmo, por ser surda. As coristas não conseguem se
ouvir, e cada uma canta da maneira que bem entende. E a antiga regente ou não identificava
esses problemas, ou não tomava nenhuma atitude para resolvê-los.
Quando a falsa freira assume a regência do coral, a primeira coisa que faz é com que
cada corista escute a pessoa do lado. Ela resolve o problema de surdez da pianista com um
aparelho de audição e se coloca como uma líder que deve ser seguida. Agora ninguém mais
deveria cantar o que bem entendesse. Ela usa uma frase-chave: “Vocês são um grupo. Tentem
ouvir umas as outras”. E o resultado imediato é incrível!
Isso me lembra muitas equipes de louvor que conheço. Elas estão cheias de pessoas
mal-aproveitadas. Elas não são ruins, mas o resultado que apresentam é horroroso. Falta uma
liderança. Falta uma visão de equipe. Falta alguém que identifique os problemas e proponha
soluções.
Você já conheceu um guitarrista que se achava o “dono da banda”? Ou talvez um
backing vocal que cantava tão alto que não deixava ninguém ouvir o ministro? Quem sabe um
baterista que não conseguia manter o ritmo? Um tecladista que toca com o volume tão alto
que parece que está tocando sozinho?
Uma vez, enquanto fazia um módulo do Instituto Integrity de Adoração, ouvi o Dr.
Pete Sanchez, pastor e líder de louvor há muitos anos, dizendo que a maioria dos problemas
que ocorrem em uma equipe de louvor acontecem não por problemas teológicos ou de outra
ordem, mas por problemas de relacionamento. Isso é muito preocupante!
Precisamos aprender a nos relacionar uns com os outros, como uma equipe.
Precisamos aprender a respeitar o lugar de cada um. A respeitar a liderança sobre nós.
Precisamos aprender a andar como Corpo.
O problema não é a falta de capacidade e talento (na maioria das vezes), mas sim
falta de trabalhar em equipe. Um precisa ouvir o outro. Um precisa respeitar o espaço do
outro. E acima de tudo: toda equipe precisa de uma liderança bem definida.
Com um pouco de ordem, com cada papel bem definido, em pouco tempo podemos
alcançar resultados surpreendentes, e, além disso, estamos preparando a equipe para crescer.
Barry Liesch, em seu livro Nova adoração, fala sobre a importância de se trabalhar
em equipe: “Os membros da equipe de louvor geralmente melhoram as ideias do líder durante
os ensaios e oferecem críticas valiosas após o culto”.
Vamos ver o papel de cada elemento dessa equipe mais a fundo. O papel do líder de
louvor será profundamente estudado na segunda parte deste livro, mas o papel do restante da
equipe será analisado aqui, juntamente com algumas dicas técnicas básicas, como, por
exemplo, como fazer um arranjo para backing vocal ou qual é o papel de cada instrumento
dentro de uma banda de louvor.
Não tenho a pretensão de abordar todos os aspectos técnicos que envolvem o
assunto, mas simplesmente trazer uma pequena ajuda, já que este não é o tema principal do
livro. É altamente recomendável que cada instrumentista, backing vocal, líder de louvor
estude mais profundamente teoria musical, incorporando um conhecimento muito importante
para o bom desenvolvimento do seu ministério.

1) Líder de louvor

O líder de louvor é a pessoa designada para conduzir e direcionar a ministração como
um todo. Temos igrejas que possuem somente um líder de louvor, enquanto outras, por
possuírem mais de uma pessoa disponível, alteram o posto da liderança, geralmente por
escala.
A figura do líder de louvor é extremamente importante, e vamos falar sobre ela de
forma mais detalhada na parte II deste livro. Por enquanto vamos analisar algumas de suas
funções básicas.
Esse líder é a figura de autoridade máxima sobre a equipe. No caso de o ministério
funcionar com escala, naquele dia ele é a pessoa primariamente responsável. Ele é o
responsável por escolher a sequência das músicas. Ele é o responsável pela condução da
ministração.

2) Vocalistas (Backing vocals)

Os vocalistas, ou backing vocals, são as pessoas que ajudarão o líder de louvor na
parte vocal, podendo, em momentos definidos anteriormente, ter arranjos próprios que
enriqueçam a música.
O que acontece na maioria das equipes de louvor é que todos os vocalistas, às vezes
mais de quatro, cantam em uníssono. Isso é completamente desnecessário, e chego a afirmar
que prejudicial à sonoridade da música. (A não ser que o grupo não tenha condições de
encontrar as notas certas para cada naipe vocal. Antes em uníssono do que desafinado.) O
ideal é trabalharmos com a polifonia, ou a divisão em vozes, que funciona basicamente assim:

- As mulheres são divididas em sopranos (notas mais agudas) e contraltos (notas mais
graves)
- Os homens são todos colocados no tenor, pois em equipes de louvor normalmente
não trabalhamos com o baixo.

Classificação das vozes

A classificação das vozes pode ser feita ou por um dos instrumentistas da equipe que
possua esse tipo de conhecimento, ou por um professor de canto, o que é mais indicado. A
classificação é feita com base em alguns fatores:
1) A extensão vocal da pessoa, ou seja, até que nota a pessoa alcança com certo
conforto vocal, sem forçar demais.
2) A tessitura, que é o conjunto de notas que o cantor consegue emitir com
facilidade.
3) A altura tonal da voz falada.
4) A intensidade da voz, que permite que o cantor tenha uma certa potência, sem
que seja necessário grande esforço.

Vamos ver quais são as notas que abrangem a extensão vocal de cada uma das vozes.
Deixo claro que essa classificação varia muito, sendo possível encontrar outras
extensões para cada voz; no entanto essas variações não diferem muito das
apresentadas abaixo:

Vozes femininas

Soprano - Dó 3 ao Lá 4 - voz aguda
Mezzo - Lá 2 ao Fá 4 - voz intermediária
Contralto - Fá 2 ao Ré 4 - voz grave

Na maioria das vezes, lidamos com mezzo sopranos, ou seja, vozes que não são sopranos
de verdade, por não alcançarem as notas tão agudas, e também não são contraltos
verdadeiros, por não alcançarem as notas mais graves. Mas classificamos como sopranos
aquelas com maior facilidade para o agudo e como contraltos aquelas com maior facilidade
para o grave.

Vozes masculinas

Tenor - Dó 2 ao Lá 3 - voz aguda
Barítono - Lá 1 ao Fá 3 - voz intermediária
Baixo - Fá 1 ao Ré 3 - voz grave

Assim como acontece com as mulheres, a voz que é mais comum entre os homens é o
barítono, sendo que os barítonos com timbre mais grave, chamados de baixos-barítonos, nós
classificamos como baixos, e os barítonos com timbres mais agudos, chamados de barítonos-
altos, nós classificamos como tenores.

Arranjos para backing vocal

O que precisa ficar bem claro sobre os backing vocals é que os arranjos não precisam
ser extremamente elaborados. Pelo contrário, eles podem ser bastante simples. Mas eles
fazem toda a diferença na sonoridade de uma música.
No início pode parecer muito difícil, mas, com a prática, tudo fica mais fácil. O ouvido
se acostuma com a novidade, e então os arranjos são feitos com mais naturalidade.
Vamos ver como se faz um arranjo polifônico (de vozes) padrão.
Um acorde é formado basicamente por três notas, que denominamos tríade. Essa
tríade é formada pelos seguintes graus:
1) Tônica (I) – é a nota mais grave do acorde e a que dá nome a ele, sendo a
primeira nota da escala escolhida.
2) Terça (III) ou Mediante – é a terceira nota da escala escolhida e determina se o
acorde é maior ou menor.
3) Quinta (V) ou Dominante – é a nota mais importante da escala depois da tônica
e é a quinta nota da escala escolhida.
Um acorde não está limitado somente a essas três notas, podendo ser acrescido de
outros graus, de acordo com o arranjo e a sonoridade da música, tais como a Sétima (VII),
maior ou menor, a Nona, a Quarta (IV), ou Subdominante, entre outros.
Identificadas as notas de cada acorde da música em questão, os arranjos vocais
devem ser feitos com base nestas notas, através dos seguintes passos:

1) Deve-se identificar em qual grau encontra-se a melodia. Isso varia de música para
música.
2) Identificado o grau, automaticamente o tenor estará no grau acima do grau em que
está a melodia, o contralto estará no grau abaixo do grau da melodia e o soprano, com raras
exceções, cantará junto com a melodia.
3) É importante perceber se as notas dos vocais estão dentro das notas dos acordes.
Isso se torna mais importante se a nota em questão não é uma das notas da tríade, e sim notas
adicionais, como a quarta, a sétima ou a nona. É indispensável que haja essa harmonização.
4) Com a prática e com o tempo, os arranjos vão ficando mais elaborados e mais
naturais, podendo ocorrer uma inversão de notas para cada voz. Por exemplo, em certos
momentos, o contralto pode cantar algumas notas do tenor e vice-versa.
Vejamos um exemplo para melhor compreensão:
- Se o acorde em questão é G (Sol), o primeiro passo é identificar as notas que o
compõem.
- O acorde G (Sol) é formado pelas notas Sol (tônica), Si (terça ou mediante) e Ré
(quinta ou dominante).
- Se a melodia estiver no Si (terça ou mediante), o contralto vai cantar Sol (tônica), e
o tenor, Ré (quinta ou dominante). Caso a melodia esteja no Sol (tônica), o contralto vai cantar
Ré (quinta ou dominante), e o tenor, Si (terça ou mediante).
- Se no acorde houver outras notas além da tríade básica, como, por exemplo, uma
sétima ou nona, alguma das vozes pode entoar essa nota também, como uma outra opção. Por
exemplo, digamos que nosso acorde é G7+ (Sol com sétima maior). A sétima nota, ou sétimo
grau, da escala de Sol é Fá# (sustenido). Portanto, alguma das vozes, até mesmo o soprano,
pode entoar essa nota, que estará dentro do acorde, permitindo a harmonização correta com o
instrumental.

3) Instrumentistas

Uma equipe de louvor é formada basicamente pelos seguintes instrumentos:
- Teclado
- Violão
- Guitarra
- Bateria
- Baixo

É claro que uma equipe pode ter outros instrumentos além dos citados, tais como
violino, saxofone, flauta, entre outros, mas estão listados os instrumentos básicos que
compõem a equipe de louvor.
O maior problema que ocorre nas equipes, como já citei, é que cada integrante
se comporta como se fosse um solista, e não como se estivesse atuando em uma equipe. No
caso dos instrumentistas, ouso dizer que isso se torna ainda mais recorrente.
Na maioria das equipes que vejo e escuto, o lema que predomina é “Cada um
por si”. E é por isso que o resultado às vezes é tão desastroso. Precisamos saber qual é o papel
de cada um e, dentro desse papel preestabelecido, fazer o nosso melhor.
Novamente ressalto a importância do estudo, do aprendizado da técnica. O que
trago aqui são apenas algumas dicas para um melhor funcionamento da banda de louvor.

Teclado

O teclado faz parte dos instrumentos de base. Juntamente com o violão, é
responsável pela harmonia e, juntos, dão sustentação à música. É importante para o tecladista
dar mais ênfase à mão direita, e com a mão esquerda marcar o baixo, mas tomando muito
cuidado para não “chocar” com o baixo, que é o responsável por isso.

Violão

O violão é um instrumento de harmonia, juntamente com o teclado, embora o
teclado seja mais de sustentação, enquanto o violão se torna mais responsável pela “levada”
da música. Muitas vezes ele pode ser o responsável pelo ritmo, até que a bateria assuma esse
lugar. Mas é preciso tomar cuidado para que o violonista não marque o ritmo excessivamente,
chocando com a bateria e com o baixo.

Bateria

Instrumento responsável pelo ritmo, primordialmente. É ela que fará as marcações de
ritmo, juntamente com o baixo. A bateria segue um groove, ou seja, uma batida previamente
definida para a música, que pode ser alterada de acordo com a seção da música.

Baixo

O baixo é um instrumento que auxilia a bateria na marcação do ritmo da música. No
pop rock, que é o estilo da maioria de nossas canções, geralmente o baixo segue o mesmo
groove que a bateria, ou seja, as notas dadas pelo baixo devem sempre coincidir com as
batidas no bumbo. Isso evita a confusão rítmica e facilita um bom andamento para toda a
equipe.

Guitarra

A guitarra não tem responsabilidade direta nem pela harmonia e muito menos pelo
ritmo de uma canção, embora, em alguns casos, possa desempenhar essa função. É um
instrumento que deve predominar em alguns momentos específicos da música, previamente
definidos. O maior problema encontrado em relação à guitarra é o seu uso excessivo nas
músicas. Nem todos os momentos são adequados para solo. Nem todos os momentos são
adequados para o timbre da guitarra. Ela se torna um instrumento interessante quando usada
com equilíbrio. Esse uso equilibrado varia, obviamente, de estilo para estilo, mas, em uma
banda de louvor e adoração de forma geral, é preciso que se tome cuidado com os exageros.

Alguns conselhos acerca dos instrumentos

Para obtermos uma boa qualidade de sonoridade e de funcionalidade da nossa banda
de louvor, precisamos observar alguns quesitos:

Cifras

É imprescindível que toda a banda de louvor toque uma música com a mesma cifra
de base. O que acontece muito é os instrumentistas tocarem “de ouvido” e acabarem usando
notas diferentes, em alguns momentos, e isso atrapalha a sonoridade. É importante que todos
toquem os mesmos acordes o tempo todo.
Outro ponto importante a ser ressaltado sobre cifra é que todos devem ter sua
própria cifra, inclusive os bateristas. Isso é algo que aprendi com o maestro Sérgio Gomes, do
ministério Diante do Trono. Aliás, quase todos os conceitos que estou passando pra você nesta
seção sobre instrumentistas e sobre banda de louvor eu aprendi com ele, nas aulas de prática
em conjunto no CTMDT. Portanto, todos devem fazer suas anotações nas suas cifras.
Se o instrumentista souber escrever partitura, mesmo que somente o básico, ele pode
anotar na sua cifra algum arranjo específico.

Forma musical definida

É importante que a equipe de forma geral, e não só a parte instrumental, defina como
a música vai ser tocada. Quantas vezes se repetirá o coro, por exemplo, ou quantas vezes se
voltará ao início da canção. É importante definir onde haverá um solo de guitarra ou uma
frase musical.
É nesse momento que se define qual vai ser o TAG da música, e onde ele será
colocado.
E todos da equipe precisam estar bem cientes de qual será essa forma, de preferência
tendo a forma escrita na cifra.

Construindo a música

Uma consequência importante de se ter a forma musical definida é que, com essa
visão geral, a banda pode “construir” a música de forma adequada. O que significa “construir”
uma música? Significa saber como começá-la e como terminá-la, crescendo, decrescendo,
adicionando novos elementos à sua tessitura.
Um erro muito comum nas igrejas é a banda já começar a música mostrando todos os
seus elementos, com cada instrumentista dando “tudo de si” logo de início. Isso impede que a
música vá adquirindo novos elementos em cada seção e se torne nova a cada momento.
Um exemplo prático disso? A música fica muito mais interessante se, na primeira vez
em que o verso for cantado, somente o teclado e o violão tocarem; a bateria e o baixo só
entram na repetição. Ou talvez um solo de guitarra inesperado depois do coro, na
reintrodução da música.
Outra ferramenta importante é a modulação. Se a música possuir uma ponte, uma
modulação após essa seção traz um novo brilho à música.
Tudo isso, usado na medida certa, torna a música muito mais rica.

Região do timbre de cada instrumento

É preciso definir previamente em que região cada instrumento irá soar. Por exemplo,
se o violão for tocar em uma região mais mediana, o teclado não precisa ficar na mesma
região. A sonoridade fica muito melhor se, por exemplo, o teclado for para a região mais
aguda, enquanto o baixo fica na região mais aguda. Isso ajuda a construir a música também.
Observando esse pequeno detalhe, a banda evitará que haja uma sobrecarga de determinada
região e a falta de outra região na sonoridade geral.

Alguns termos importantes na concepção e no entendimento de uma música

Groove: é o andamento da música, a levada da música. Ele deve ser definido no ensaio por
toda a banda. Os principais responsáveis pelo groove são o baixo e a bateria.

Seção: cada parte da música, em separado – a introdução, o verso, o coro, a ponte.

Ponte: parte da música que não é o verso, nem o coro, geralmente cantada só uma vez e que
tem o groove diferente de todo o resto da música. Geralmente a ponte prepara a música para
a modulação

TAG: é uma determinada frase da música que se repetirá muitas vezes, para que facilite a
ministração. O TAG também prepara o caminho para os cânticos espontâneos.

4) Sonoplasta

Em muitas equipes, o sonoplasta é totalmente desvalorizado. Em outras ele nem
existe. Muitas vezes é um dos membros da equipe, que acaba acumulando duas funções. Mas
precisamos nos conscientizar da importância de termos um sonoplasta em quem confiamos na
nossa equipe.
Existe um estereótipo criado em torno dos sonoplastas (infelizmente conheço alguns
que só confirmam este estereótipo) de que eles são mau-humorados, sistemáticos, agem com
má vontade para com o restante da equipe, fazem somente o que querem etc. É verdade que
encontramos muitos sonoplastas assim em nossas igrejas, creio que devido à falta de pessoas
capacitadas nessa área, o que os faz pensar que são insubstituíveis.
Mas conheço, por outro lado, sonoplastas que sabem trabalhar em equipe, que são
bons no que fazem, amam o seu ministério e, por isso tudo, podem se tornar uma peça-chave
na equipe de louvor.
Uma vez ouvi o líder de louvor e professor Steve Bowersox dizendo que preferia abrir
mão de qualquer instrumentista de sua banda, qualquer vocalista, por mais que isso doesse,
do que abrir mão do seu sonoplasta. O motivo? Um bom instrumentista e um bom vocalista
são mais fáceis de se achar. Agora, um bom sonoplasta está em falta no mercado. E ele dizia
que demorou muito para treinar bem o sonoplasta de sua equipe.
Pensemos na importância desse elemento. Como diz meu amigo Jean Haberman, o
que seria do melhor líder de louvor se a congregação não conseguisse entender o que ele está
falando? O que seria dos melhores instrumentistas se o som que produzem não estivesse bem
equalizado?
Agora imagine a praticidade e a melhora técnica de se ter uma pessoa específica para
acertar o som enquanto o restante da equipe se ocupa somente em ensaiar, sem precisar que
alguém fique correndo pra lá e pra cá acumulando duas funções!
Infelizmente, são raros os sonoplastas treinados e capacitados nas igrejas. Na maioria
das vezes, por experiência própria, encontramos pessoas que possuem boa vontade. Mas
precisamos de pessoas realmente capacitadas e treinadas nessa área. Creio que Deus chama
pessoas com dons específicos para atuarem na sonoplastia.
É tempo de as igrejas e ministérios de louvor começarem a incentivar e a apoiar,
financeiramente inclusive, o treinamento de pessoas que se sintam chamadas a trabalhar
nessa área. E mais tarde nós colheremos os benefícios e o crescimento advindos desse
suporte. Se queremos maior qualidade, precisamos investir e parar de ficarmos somente no
amadorismo e na boa vontade das pessoas.
É importantíssimo que o sonoplasta seja membro da equipe de louvor, como qualquer
outra pessoa. É imprescindível que ele participe dos ensaios, pois conheço muitos que só
aparecem na hora do culto. É na hora dos ensaios que identificamos os problemas maiores,
que podemos parar, examinar, testar, embora imprevistos no momento da ministração sempre
aconteçam.

5) Responsável pela projeção das letras

Outra pessoa muito desvalorizada dentro das equipes de louvor é o
responsável pela projeção das letras. Em alguns casos, nem existe alguém específico
para esta função. Novamente, assim como o sonoplasta, essa função é de extrema
importância para o bom funcionamento de uma equipe de louvor.
O que adianta a equipe estar bem ensaiada, ter escolhido uma boa
música, ter bons arranjos vocais, se a igreja não conseguir acompanhar a letra? Uma
ministração em que a congregação não consegue seguir a letra se torna mais difícil de
fluir adequadamente. As pessoas precisam ter facilidade em ler e seguir as letras das
músicas que estão sendo ministradas, principalmente se forem canções com as quais a
igreja não está familiarizada.
A nossa técnica e a nossa excelência devem existir para evitar
distrações na hora da ministração e ajudarem as pessoas a fluírem junto com a equipe.
Uma grande distração e empecilho é a falta de uma projeção das
letras feita corretamente. Aconselho que o responsável por ela esteja presente em
todos os ensaios e seja parte integrante da equipe.
Como já disse no tópico anterior, não podemos ficar dependendo da
boa vontade dos outros, e sim nos organizarmos a fim de trazermos uma maior
qualidade para o nosso ministério.

Conclusão

O primeiro passo para que a mudança e o crescimento ocorram
consiste em tomarmos consciência dos nossos erros e das nossas limitações. Talvez, ao
ler este capítulo, você tomou consciência de muitos erros seus e de sua equipe que
ocorrem no Ministério de Louvor de que você faz parte. Eu sei bem como é esse
sentimento! Todos passamos por isso. Sentimo-nos pequenos, distantes do padrão de
qualidade que buscamos, mas quero, acima de tudo, deixar uma palavra de
encorajamento para você.
Tudo o que foi falado e tratado até aqui neste livro e tudo o que ainda
abordaremos não deve ser motivo de desânimo. Pelo contrário. Você, que já se
conscientizou dos seus erros e debilidades, já deu o primeiro passo. Agora é continuar
andando rumo ao crescimento e à busca por uma maior qualidade.
Por nem um instante eu tive a pretensão de trazer um estudo técnico
completo. Na verdade meu objetivo era estudar como funciona uma estrutura padrão
de um ministério de louvor e trazer algumas diretrizes e pequenos auxílios.
Meu objetivo será plenamente atingido se você, ao ler este capítulo,
não se sinta satisfeito com o que acabou de ler, mas que o que escrevi seja apenas um
incentivo para você buscar mais conhecimento e aperfeiçoamento.
Dependemos da unção e da graça do Senhor sim, mas precisamos
fazer a nossa parte e estudar, dar o nosso melhor para o ministério ao qual Deus tem
nos chamado.


Capítulo 4 – Os cinco ministérios e o ministro de louvor

Certa vez estava refletindo sobre algo extremamente importante que um ministro de
louvor precisa compreender e quero compartilhar com você esta minha reflexão.
Em Efésios 4:11-12, o apóstolo Paulo nos fala sobre os cinco ministérios que são
atuantes dentro do Corpo de Cristo: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo.
O primeiro ponto que precisa ser observado neste texto é que os ministérios existem
para “o aperfeiçoamento dos santos” e para “a edificação do corpo de Cristo”. Como esse
sentido precisa ser resgatado em nossos dias! A ideia que temos hoje de ministério é que ele é
um caminho para o sucesso ou para o reconhecimento público, para obtermos privilégios
sobre os outros. Mas a Bíblia nos confronta com um conceito exatamente oposto, pois o
apóstolo Paulo diz que ministério existe para servir a Igreja, para o crescimento do Corpo de
Cristo.
Um ministro de louvor pode ter, verdadeiramente, uma atitude de servo em seu
ministério, contrariando o senso comum de que os artistas precisam ser servidos e bajulados.
Somos artistas sim, porque trabalhamos com arte, mas não somos estrelas. A única estrela de
nosso ministério só pode ser Jesus, somente a Ele pertence toda a glória.
Quando adotamos uma atitude verdadeira de servos, tudo em nosso ministério é
afetado. A forma como nos relacionamos com Deus, a forma como nos relacionamos com as
pessoas em posição de autoridade em nossa vida, a forma como nos relacionamos com as
pessoas da congregação. Descobrimos que tudo o que fazemos é pela graça e misericórdia do
Senhor, que nos capacita dia após dia. Se quisermos ver a igreja crescendo, amadurecendo,
precisamos restaurar os cinco ministérios.
E isso nos leva ao segundo ponto. O apóstolo Paulo restringe toda a vida da Igreja em
apenas cinco ministérios. Se olharmos para os ministérios de nossas igrejas hoje, quantos
deles foram deixados de fora da lista do apóstolo! Na verdade, todo e qualquer ministério que
exercermos precisa estar dentro de um desses cinco ministérios colocados como pilares da
Igreja e listados no capítulo 4 de Efésios.
Por isso, tudo o que fizermos deve ser pautado nos seguintes pontos:
1) Ministério é sinônimo de serviço.
2) Toda e qualquer atuação ministerial que temos deve ser abrangida por um ou
mais destes cinco ministérios listados pelo apóstolo Paulo.
Mais à frente falaremos mais sobre o primeiro ponto, focalizando principalmente o
Ministério de Louvor e como podemos servir à congregação através de nossa música. Agora,
no entanto, quero me ater no segundo ponto e refletir com você sobre as áreas ministeriais de
atuação de um ministro de louvor. Afinal, você consegue achar o termo “ministro de louvor” ou
“líder de louvor” nesta lista ministerial de Paulo? Além disso, o Novo Testamento traz
pouquíssimas informações de como a Igreja Primitiva lidava com a música em seus cultos e
em nenhum lugar encontramos atributos específicos para um ministro de louvor.
Você consegue entender as implicações dessa importante verdade? Se ser líder de
louvor ou ministro de música não faz parte dos ministérios listados pelo apóstolo Paulo, logo,
como ministros de louvor, devemos estar debaixo da unção de um ou mais destes cinco
ministérios. Por isso creio firmemente em um ministro de louvor pastor, ou ministro de louvor
evangelista, ou em um ministro de louvor profeta. Vamos falar mais detalhadamente sobre
cada um dos cinco ministérios relacionados com o ministro de louvor. Andy Park – renomado
líder de louvor da Vineyard Canadá por mais de 25 anos – também faz algumas reflexões sobre
este assunto em seu livro Em Espírito e em Verdade semelhantes às que farei neste capítulo;
por isso, usarei algumas citações dele, crendo que essas citações irão abençoar a sua vida e
ajudar na exposição que pretendo fazer.

O ministro de louvor mestre

O mestre é aquele que tem como habilidade principal o dom do ensino, que estuda a
Palavra de Deus a fundo e descortina para as outras pessoas as verdades contidas nela. O
mestre é aquele que trabalha na construção e solidificação da fé das pessoas da congregação,
mostrando a elas os princípios de vida e fé contidos na Bíblia.
Andy Park diz que “Outra atividade que você desenvolve como líder de adoração é a
de professor. Ao cantar canções cheias da Palavra de Deus, você tem o privilégio de segurar a
pena enquanto Deus escreve Sua Palavra nas tábuas do coração da Sua igreja”.
Kevin Navarro completa: “Se você quer ser um líder de louvor completo, apaixone-se
pelas Escrituras e pelo Autor das Escrituras. Ore e cante em cima da Palavra”.
Barry Liesch, citando Donald P. Hustad, diz que um líder de louvor atua como mestre
“ao escolher músicas com textos bíblicos sólidos. Eles ensinam teologia e discipulado”.
Que verdade tremenda é essa! Enquanto estamos ministrando à congregação
através da música, podemos e devemos ensinar a Palavra de Deus. Primeiramente através das
letras das canções. Como é lindo quando cantamos trechos da Bíblia musicados! Ou mesmo
canções de inspiração humana, mas que refletem em seu conteúdo princípios e valores das
Escrituras.
Creio que esse é um dos principais pilares de um ministério de louvor que precisamos
restaurar em nossos dias. Infelizmente, temos visto muitas canções que não refletem os
princípios da Palavra de Deus em suas letras, ou trazem letras que expressam verdades
distorcidas das Escrituras, ou, pior ainda, que expressam teologias ou princípios que nem
mesmo se encontram na Bíblia.
Ministros de louvor e compositores precisam ter como prioridade máxima cantar ou
compor músicas que sejam biblicamente corretas. No CTMDT temos uma matéria no curso de
Louvor e Adoração, que eu leciono, que estuda a história da música cristã contemporânea no
Brasil. Ao olharmos para a nossa história recente, veremos compositores e ministros que se
preocupavam em fazer canções que expressassem verdades bíblicas. Mas, ao olharmos para
algumas canções atuais, infelizmente não podemos dizer a mesma coisa.
Quando aliamos o poder da Palavra de Deus com o poder da música, alcançamos um
resultado maravilhoso! Como podemos memorizar versículos e mais versículos da Palavra
através da música! Ainda me lembro de uma canção simples que aprendi quando criança, que
é um perfeito exemplo disso. Por meio dela, memorizei, desde meus 7 anos, 1 João 4:7-8.
Outro exemplo lindo é a canção “Salmo 96”, do querido Nelson Bomilcar, que nos faz
declamar poderosamente esta porção das Escrituras. Lembro-me ainda do “Salmo 84”, de
Jorge Camargo e Guilherme Kerr, que fixou em minha memória as palavras deste salmo
maravilhoso!
Eu poderia citar muitos outros exemplos de como podemos cantar a Palavra em
nossas canções. Mas mesmo que não façamos isso de forma literal, nossas canções têm de
refletir e conter verdades e princípios bíblicos.
Andy Park revela algo que nos traz muita responsabilidade: “Uma pesquisa nos
Estados Unidos mostrou que as pessoas esquecem 80% dos sermões no espaço de três dias
depois de tê-los escutado. Até mesmo a melhor das ilustrações de sermão normalmente é
esquecida. Do que as pessoas se lembram? Dos cânticos! As palavras das músicas grudam em
seus ouvidos por causa das ótimas melodias, ritmos e rimas conectados a elas”.
Que tremenda responsabilidade a nossa! Mas que privilégio tremendo ao mesmo
tempo! Se olharmos para a história da Igreja, veremos pessoas que compreenderam essa
verdade e se valeram do poder da música para propagarem suas doutrinas, como aconteceu
com Lutero, ao usar música para propagar os princípios protestantes. Não temos como fugir
dessa responsabilidade. Estamos doutrinando as pessoas da congregação enquanto cantamos
nossas músicas de louvor. Por isso é necessário e extremamente importante que examinemos
as letras das canções que cantamos ou compomos. Quantos problemas, discussões e divisões
poderiam ter sido evitados se apenas tivéssemos o cuidado de verificar se as doutrinas
expressas em nossas canções condizem com as puras doutrinas bíblicas.
Kevin Navarro, em seu livro O líder de louvor completo (The Complete Worship
Leader), diz que uma das funções principais do líder de louvor é ser teólogo. Ele diz: “Todo
líder de louvor deve se tornar um teólogo. Teologia é importante porque lida com nossas ideias
sobre Deus. Ela faz diferença em como nós adoramos a Deus”. Talvez você nunca tenha
pensado nisso, mas é justamente isso que somos, em parte; estamos doutrinando a
congregação enquanto cantamos nossas canções. Devemos ensinar quem Deus é, o que Ele
fez para nos justificar, sobre o sacrifício de Jesus, sobre a volta dEle nas nuvens, sobre as
consequências do pecado, sobre como podemos e devemos amar uns aos outros e muitos
outros ensinamentos bíblicos.

O ministro de louvor evangelista

Além de ensinarmos aos que já são parte do Corpo de Cristo, temos a
responsabilidade de anunciarmos a obra do Calvário e a graça salvífica do Senhor aos que
ainda não as conhecem. Um dos cinco ministérios listados pelo apóstolo Paulo é o de
evangelista, e, como ministros de louvor, podemos agir dentro deste enfoque ministerial.
Um evangelista é alguém que tem como paixão e foco principal de sua vida proclamar
o Evangelho redentor de Jesus e ganhar pessoas para o Reino de Deus. Sempre me sinto
desafiado quando encontro um verdadeiro evangelista. Eles têm uma paixão sobrenatural em
compartilhar do amor restaurador do Senhor. Lembro-me de como fui tremendamente
impactado ao conhecer o renomado evangelista Reinhard Bonnke, que tem realizado cruzadas
evangelísticas por todo o continente africano e alcançado milhões de pessoas para Jesus. Isso
mesmo, você não leu errado, dezenas de milhões de pessoas para o Reino de Deus!
Como ministros de louvor, podemos agir como evangelistas, anunciando em nossas
canções e em nossas ministrações as consequências de uma vida sem Jesus e ensinando como
podemos aceitar a Jesus como Salvador. Como isso faz falta em nossos dias!
Mais uma vez convido você a olhar para a história recente de nossa música cristã
brasileira. Ao olharmos para as letras compostas na década de 1970 e 1980, encontramos
letras maravilhosas que expõem o vazio de uma vida sem Jesus e como uma vida pode ser
completa somente com Ele. Tomemos como exemplo a letra de uma conhecida canção do
Grupo Elo, cantada em todo o Brasil.

“Calmo, sereno, tranquilo, sinto descanso neste viver
Isso devo a um amigo, e só por Ele eu pude obter
Ele é Jesus, meu amigo, meu Senhor e Salvador
Só por Ele ganhei a vida eterna com Deus.
Triste foi sua história, levando a cruz sem pecado algum
Só porque me amou, morreu por mim e não hesitou
Ele é Jesus, meu amigo, meu Senhor e Salvador
Só por Ele ganhei a vida eterna com Deus”

(Calmo, sereno, tranquilo, Ivan Cláudio)

Ou então a famosa canção-título do revolucionário LP “De Vento em Popa”, dos Vencedores
por Cristo, composta por Aristeu Pires Jr., que narra de forma criativa e inteligente o vazio de
uma vida sem Deus. Embora a letra seja um pouco longa, eu peço que você a leia com muita
atenção.

“De vento em popa o sol por cima embaixo o mar
A voz tão rouca já desafina se vai cantar
E os dois no barco rasgando as ondas
Vagando ao som das canções do cais
Ou de outro pileque achando até que encontrou a paz

Mas veja lá no fim da história o que fica
Veja o que restou do pobre rapaz
Vendo que por baixo o mar já se agita
E por cima o sol calor já não traz

Pense talvez seja esta a sua vida
Lute até encontrar um mundo melhor
Onde a dor no peito não tem guarida
Onde brilhe sempre o sol

Jesus batendo na tua porta deseja entrar
Não lhe importa tua vida torta, quer te salvar
De um mundo torpe, de uma vida morta
De um sul sem norte, da morte enfim
E um novo riso te pôr nos lábios
Uma nova vida que não tem fim

Abre o coração, derruba a muralha
Deixa que Jesus te abrace também
Deixa que te inunde um amor que não falha
É o desejo de quem só te quer bem
Canta ao mundo inteiro uma vida tão linda
Conta o que é ter perdão pelo amor
Quantas bênçãos há na graça infinda
Vive pra Jesus o Senhor”

(De vento em popa, Aristeu Pires Jr.)

Veja mais um trecho de uma música extremamente evangelística, com uma letra
inteligente e divertida, do grande poeta, compositor, cantor e instrumentista Janires.

“Minha vida que era “muitcho” louca
Só faltei correr atrás de avião
Mas Jesus entrou no meu deserto
E inundou o meu coração
Inundou o meu coração

Eu era magro que dava dó
Meu paletó listrado era de uma listra só
Mas Jesus entrou no meu deserto
E inundou o meu coração
Inundou o meu coração

Sem Jesus é impossível
De se viver nesse mundão
Até parece que as pessoas estão morando no sertão...”

(Baião, Janires)

Como isso está em falta em nossas canções hoje! Como deixamos de cantar sobre a
salvação, sobre a obra da cruz, sobre o perdão de pecados! Eu creio ser muito importante
cantarmos sobre nossa intimidade com Deus, como recebemos o Seu amor, como queremos e
devemos nos entregar a Ele dia após dia, mas não podemos deixar de alcançar aqueles que
ainda não renderam suas vidas ao Senhor.
Ultimamente tenho me preocupado principalmente com o vocabulário de nossas
canções. Temos usado termos próprios, que eu costumo chamar de “evangeliquês”, e muitas
de nossas canções tornam-se incompreensíveis para pessoas que não possuem domínio nesse
“evangeliquês”.
Precisamos alcançar os perdidos através de nossas canções. A adoração atrai a
presença de Deus, e a presença de Deus produz arrependimento e convencimento de pecados.
Quando declaramos o nosso amor e dependência pelo Senhor, eu creio realmente que pessoas
podem ser tocadas a entregarem suas vidas ao Senhor, mas nem por isso precisamos deixar de
escrever músicas especificamente evangelísticas.
Quero deixar um desafio para você, compositor, que está lendo estas linhas neste
instante. Escreva sobre seu relacionamento com Deus, escreva sobre o amor do Pai, sobre a
liberdade no Espírito, mas lembre-se daqueles que ainda não têm acesso a esse amor. Escreva
canções que promovam um diálogo com as pessoas que não entregaram suas vidas a Jesus.
Também quero incentivar você a levar a sua equipe de louvor para adorar fora das quatro
paredes de uma igreja. Alcance pessoas com suas músicas e ministrações.

O ministro de louvor profeta

Mais à frente, na terceira parte deste livro, abordaremos especificamente o mover
profético na adoração. Mas neste momento quero apenas abordar alguns pontos que
reforçaremos e aprofundaremos posteriormente.
O ministério profético está muito além de uma simples previsão do futuro. O profeta
do Novo Testamento, como descrito pelo apóstolo Paulo, é aquele que promove a exortação,
edificação e o consolo da igreja. O ministro de louvor profeta é aquele que edifica o Corpo de
Cristo através das canções e palavras que ministra. Também é aquele que traz correção e
exortação quando necessário. Por último, é aquele que promove a consolação da igreja, com
uma mensagem de esperança, paz e alegria.
Um ministro de louvor profeta é aquele que desenvolveu sensibilidade para ouvir a
voz de Deus com clareza e aprendeu a obedecê-la. É aquele que se posiciona contra a
injustiça, contra o pecado e proclama a justiça de Deus e a Sua maravilhosa graça. É aquele
que ouve as palavras do Senhor para Sua igreja e as comunica.
Um ministro de louvor que atua no ministério profético dá plena liberdade para o
Espírito Santo agir durante suas ministrações, e ele mesmo se move de acordo com a direção
do Espírito.

O ministro de louvor pastor
(...)
Quando um ministro de louvor está exercendo seu ministério, ele passa a fazer parte
da vida das pessoas da congregação. As pessoas passam a se identificar com ele, querem
compartilhar seus testemunhos e experiências ou até mesmo pedir oração ou uma palavra de
encorajamento. Ao fazermos isso, estamos exercendo o ministério de um pastor.
Muitas vezes essa é a nossa responsabilidade, temos de cuidar das pessoas de nossa
congregação, aconselhá-las, encorajá-las, orar por elas ou simplesmente ouvi-las. Até mesmo
em nossas canções devemos demonstrar esse cuidado. Precisamos escolher músicas que
alimentem as pessoas espiritualmente, que fortaleçam a fé delas em um momento de
dificuldade, ou podemos providenciar uma oportunidade para que elas manifestem a sua
alegria e celebrem ao Senhor.
Barry Liesch, ainda citando Donald P. Hustad, diz que ministros de louvor pastores
“mostram amor e preocupação especial pelos membros de seus grupos musicais, dando
conselhos quando necessário, visitando-os em suas casas ou no hospital e ficando com eles nas
ocasiões de celebração, bem como em tempos de crise e tristeza”.
Falando especificamente sobre os integrantes da equipe de louvor, o líder de louvor, ou o
responsável pelo Ministério de Louvor, deve também ocupar esse posto de pastor. É ele quem
deve se preocupar com o discipulado e o treinamento de cada integrante do ministério. É ele
quem deve se preocupar com as necessidades de seus liderados e trabalhar para supri-las.
Abordando particularmente a questão do discipulado, como é importante que haja
dentro do Ministério de Louvor um discipulado específico, que aborde as necessidades
específicas de um ministro de louvor e acompanhe cada integrante da equipe, tirando suas
dúvidas, ensinando e corrigindo. Somente com uma liderança verdadeiramente pastoral
desenvolveremos um ministério ou equipe de louvor saudável.
Para isso, é necessário que o ministro de louvor possua um coração sensível para a
necessidade das pessoas, uma base profunda na Palavra de Deus, que saiba lidar com pessoas
e, acima de tudo, que seja um discipulador, ou, em outras palavras, um formador de novos
líderes e ministros de louvor.

O ministro de louvor apóstolo

Falar do ministério apostólico não é uma tarefa fácil. Hoje em dia, temos muitos
conflitos teológicos com relação ao ministério apostólico. Meu objetivo neste momento não é
debater sobre as questões teológicas envolvidas neste debate e nem defender a minha opinião
sobre esse assunto. Meu objetivo é apenas mostrar o que vemos na Bíblia sobre o ministério
apostólico e como nós ministros de louvor podemos agir debaixo dessa unção ministerial, não
importando o título que recebamos.
A Bíblia primeiramente nos apresenta os apóstolos como os que viveram com Jesus e
testemunharam sua morte, ressurreição e ascensão aos céus. Mas vemos que na história da
Igreja outros, que não vivenciaram estas coisas, também agiram debaixo da unção apostólica.
A Bíblia nos mostra que o apóstolo é aquele que vai à frente, que abre o caminho e
que dá suporte para todos os outros ministérios; além disso, atua debaixo da unção ministerial
de todos os outros quatro ministérios.
O ministro de louvor apóstolo é aquele ministro de louvor visionário, que propõe
desafios, metas, que vai abrindo o caminho e que, além disso, se preocupa em ajudar,
capacitar, dar suporte aos outros ministros. No caso do líder de louvor, é aquele que se
preocupa com a vida cristã de seus liderados, que exorta, que incentiva seus liderados a
seguirem, a aceitar desafios.
Barry Liesch, ainda citando Donald P. Hustad, diz que líderes de louvor apóstolos
“ajudam igrejas ao redor do mundo a desenvolver suas próprias expressões de adoração
musical”. É aquele que atua como profeta, como mestre, como pastor e como evangelista. O
apóstolo é aquele que dedica sua vida ao serviço do Reino, com todo o coração.

Conclusão

Como disse, Ministério de Louvor não faz parte dos cinco ministérios citados pelo
apóstolo Paulo. Por isso, enquanto ministros de louvor (instrumentistas, vocalistas, líderes de
louvor) temos de achar o ministério que Deus escolheu para trabalharmos e então passarmos
a agir debaixo dessa unção, usando os nossos dons para a edificação do Corpo de Cristo.
Não se limite à música, permita-se ser usado como um profeta, um pastor ou como
um evangelista, mestre ou apóstolo através da música!
PARTE II

A FIGURA DO LÍDER DE LOUVOR
Introdução à parte II

Nesta segunda parte do livro, vamos discorrer sobre a importância da figura do
líder de louvor, quais são suas funções e quais devem ser as qualificações necessárias para
alguém que já ocupa ou almeja ocupar esta função.
Muitas coisas contidas nestes capítulos que compõem a segunda parte deste livro
foram retiradas de conteúdo dado na aula de Liderança de Louvor, no CTMDT, por Ana Paula
Valadão.
Ana, por sua vez, baseou suas aulas no excelente livro “Exploring Worship”, de um
autor muito conhecido mundialmente chamado Bob Sorge. Para conhecê-lo mais, acesse:
www.oasishouse.net
Portanto, muitas terminologias usadas pela Ana e por mim em sala de aula, e depois
colocadas neste livro por mim, foram escritas originalmente pelo Bob Sorge. É claro que, em
cima dos apontamentos feitos por ele, nós colocamos nossa experiência e opinião, e o que você
encontra neste livro é fruto de uma reflexão minha em cima destes temas todos.
Capítulo 5 – Entendendo o que é um líder de louvor

Nesta segunda parte de nosso livro, vamos tratar exclusivamente de uma figura
imprescindível em uma equipe de louvor: o líder de louvor. No decorrer dos capítulos, vamos
falar sobre as suas funções, sobre a preparação que um líder de louvor deve ter na sua vida,
sobre musicalidade e muitas outras coisas, mas neste capítulo analisaremos qual é a
necessidade de um líder de louvor, e como a liderança de louvor é uma arte que pode ser
desenvolvida.

A necessidade de um líder de louvor

Tudo o que envolve a participação de muitas pessoas precisa de uma
hierarquia definida para que haja ordem. Não é assim em nossos governos? Temos
autoridades definidas para que haja uma ordem na hora em que as decisões forem
tomadas. Você já imaginou como seria se cada cidadão tivesse voz ativa em cada decisão?
Até mesmo dentro de uma sala de aula se elege um líder de classe, para que ele fale
em nome da classe, evitando que a direção da escola tenha de ouvir a opinião de aluno por
aluno.
Nesse momento me lembro de um ditado popular que diz “Cada cabeça uma
sentença”, e isso é uma verdade. Cada um de nós possui a sua singularidade, individualidade
e, consequentemente, a sua própria opinião! Glória a Deus por isso, porque Ele nos fez assim!
Mas isso pode se tornar um problema quando falamos em uma reunião coletiva.
Em nossos cultos, precisamos manter uma certa ordem e hierarquia.
Você já imaginou como seria um culto onde toda a congregação pudesse sugerir quais
seriam as músicas cantadas na hora do louvor? Eu já consigo imaginar a discussão!
“– Por que não cantamos essa música?”, diz um.
“– Ah, essa não! Essa é muito velha. Vamos cantar aquela outra.”, responde outro.
Ou imagine a desordem se o pastor ou dirigente do culto dissesse: “Tudo bem,
agora cada um comece a cantar a canção que quiser em seu lugar!”
Cada um de nós possui suas músicas preferidas, músicas de que não gosta,
ministérios e cantores favoritos. Portanto, o líder de louvor é necessário primeiramente para
trazer essa unidade ao momento de ministração. É ele quem define quais serão as músicas
daquele momento específico. É ele o responsável pela direção, pelo rumo da ministração.
Cabe a ele escolher músicas que se encaixem dentro do tema escolhido para aquela
ministração.
Mas não é somente essa unidade de direção que o líder de louvor traz. Voltemos à
ilustração de cada participante da congregação cantando sua própria música em seu lugar.
Todos na mesma hora! Você consegue imaginar cada um no seu tom, cada um no seu ritmo,
cada um começando e parando na hora que bem entender?
O líder de louvor, juntamente com toda a equipe que chefia, é o responsável por
trazer essa unidade rítmica e de tom de uma canção.
Resumidamente, o líder de louvor está ali para trazer essa ordem à liturgia do
nosso culto. Por isso podemos ter um louvor que chamamos de “congregacional”, em que toda
a congregação louva a uma só voz.
Existe um poder espiritual que é liberado quando os remidos se reúnem e juntos
começam a adorar ao Senhor. A Bíblia nos mostra isso em várias passagens. Veja o que
acontece na inauguração do templo de Salomão: e quando eles uniformemente tocavam as
trombetas e cantavam para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao Senhor, e
quando levantavam eles a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos músicos, para
bendizerem ao Senhor, porque era bom, porque a sua benignidade durava para sempre, então,
a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do Senhor. (2 Crônicas 5:13)
Veja o que o apóstolo Paulo nos diz: para que concordemente e a uma voz
glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. (Romanos 15:6)
Nos capítulos 4 e 5 de Apocalipse, vemos a multidão de remidos, os seres viventes,
os 24 anciãos adorando juntos, cantando um mesmo cântico diante do trono de Deus. Davi,
quando estabeleceu a ordem litúrgica do tabernáculo, estabeleceu e dividiu todos os levitas,
sacerdotes, porteiros, cantores e, dentre os cantores, estabeleceu o que poderíamos chamar
de “líderes de louvor”, que eram Asafe, Hemã e Jedutum. Veja o que a Bíblia nos diz: Todos
estes (cantores) estavam sob a direção respectivamente de seus pais, para o canto da Casa do
Senhor, com címbalos, alaúdes e harpas, para o ministério da Casa de Deus, estando Asafe,
Jedutum e Hemã debaixo das ordens do rei. (I Crônicas 25:6)
Esta é a função de um líder de louvor: trazer unidade aos momentos de louvor e
adoração em nossos cultos congregacionais. Veremos agora como a liderança de louvor é uma
arte que pode ser desenvolvida e aprendida.

A arte de liderar louvor

Muitas pessoas pensam que grandes líderes de louvor nascem prontos. Isso não
poderia estar mais longe da verdade. Grandes líderes de louvor não nascem prontos, mas
aprendem a exercer, dia após dia, sua função com excelência.
Liderar louvor é uma arte, e como toda arte precisa ser praticada, desenvolvida e
aperfeiçoada. Nenhum artista nasce pronto, por mais que tenha talento e habilidade natos.
Lembremo-nos do exemplo de Mozart, que já mostrava ser um incrível pianista e compositor
ainda quando criança, compondo aos 7 anos de idade. Mas mesmo assim, durante toda a sua
vida, foi se desenvolvendo, estudando e aperfeiçoando.
Se olharmos a biografia de Leonardo Da Vinci, veremos que, quando jovem, foi levado
ao atelier de um renomado artista da época, chamado Andrea del Verrocchio, para que se
aperfeiçoasse e aprendesse novas técnicas, que o tornaram um pintor de renome em toda a
História.
Por que com liderança de louvor seria diferente? Liderar louvor é também uma arte
que precisa ser praticada e desenvolvida! Esse é o primeiro passo que precisamos dar na
direção de nos tornarmos líderes de louvor com excelência. Precisamos tomar consciência de
que ninguém nasce pronto, mas vai adquirindo ferramentas, técnicas e experiência.
O Dr. John Maxwell, considerado hoje o maior especialista em liderança no mundo,
um grande homem de Deus, diz que “liderança não é um evento, mas sim um processo”. Como
essa frase é verdadeira! Você não aprende a ser um líder quando lê um livro sobre liderança.
Você não se torna automaticamente um bom líder somente porque participou de um seminário
de liderança. Assim é também com liderança de louvor. Ler este livro não vai tornar você um
grande líder de louvor. Esse é o nosso alvo constante e um processo de aprendizado que dura
a vida inteira.
Bob Sorge diz: “Liderar louvor é algo que podemos aprender. Líderes de louvor não
aparecem do dia pra noite. Assim como um pregador melhora suas habilidades de
comunicação, e um professor, com a experiência, aprende a ser efetivo, um líder de louvor
também pode aprender com o tempo e a prática”.
Essas são duas palavras-chave para que haja crescimento em qualquer área de sua
vida: tempo e prática. Todo crescimento não acontece do dia para a noite, não é mágico,
instantâneo. E quando praticamos, vamos errando, corrigindo, acertando, aperfeiçoando,
enfim, melhorando.
Antes de continuarmos, preciso fazer um parêntesis, para falar sobre algo que creio
ser extremamente importante. Como falamos no primeiro capítulo, eu creio que cada pessoa
possui um chamado específico. Não são todos que possuem um chamado para serem líderes
de louvor. Eu creio de todo o meu coração que Deus chama pessoas para serem backing
vocals, ou então instrumentistas, ou para qualquer outra função dentro de uma equipe.
Portanto, creio que todos podem se esforçar, se aperfeiçoar para se tornarem líderes de louvor
com excelência, mas este não é o chamado de todos.
Gostaria de que você me permitisse contar minha experiência com relação a isso. Eu
comecei a participar do Ministério de Louvor com 8 ou 9 anos de idade. Aos 11, já
ministrávamos na igreja com certa regularidade, em um grupo que tínhamos somente de pré-
adolescentes. Mas eu nunca me atrevia a ministrar louvor. Não tinha coragem para isso.
Simplesmente me escondia atrás do teclado e do microfone.
Em nosso grupo, tínhamos uma integrante, grande amiga de infância, Larissa, que
sempre foi uma pessoa mais extrovertida, e ela assumia com certa tranquilidade a condução
da ministração. Sempre que vou dar um workshop sobre esse assunto, brinco dizendo que,
nessa época, a maioria das “ministrações” no momento de louvor se resumiam a “declamar”
as três primeiras linhas da música a ser cantada. E em seguida o instrumental já iniciava a
introdução. Somente anos depois começaríamos a fluir de forma mais livre e espontânea nas
ministrações.
Mas voltando à minha experiência, minha zona de conforto não permitia que eu
ministrasse o louvor. No máximo conseguia orar no final do momento de louvor, com os olhos
fechados para não precisar encarar a igreja.
Mas um dia, Larissa disse que não iria mais ministrar sozinha. Ou seja, fui desafiado
a começar a ministrar. Tremendo, nervoso, esquecendo o que dizer, tive de vencer esse
desafio. Anos depois, já conseguia ministrar em minha igreja com tranquilidade. Já havia
vencido essa etapa.
Ao chegar no CTMDT, logo no primeiro mês fui chamado pelo Pr. João Osmar, capelão
da escola, para ministrar louvor, antes de um momento de intercessão que teríamos no
período da tarde. Ao pegar aquele microfone e encarar pela primeira vez aqueles duzentos
alunos, meus joelhos tremeram, minhas mãos começaram a suar, mas mais uma vez aquele
desafio teve de ser vencido. Na segunda vez ainda estava nervoso. Na terceira, menos. Até
que fui escalado para ministrar uma vez por semana na escola, e então me acostumei com o
ambiente.
Então fomos convidados para ministrar totalmente em inglês em um culto realizado
pela Igreja Batista da Lagoinha totalmente em inglês. Estava tão nervoso, que escrevi toda a
ministração para não correr o risco de esquecer o que falar.
Onde quero chegar contando essa história pessoal para você? Que todos nós temos
nossos desafios, e todos nós precisamos vencê-los. Passo a passo. Ninguém já começa a
ministrar para uma igreja lotada logo de cara! Tudo acontece passo a passo. Não é tão
aterrorizante liderar louvor em uma reunião de célula ou de grupo pequeno, com dez ou
quinze pessoas. Depois em uma reunião de senhoras à tarde na igreja. Em seguida o culto de
jovens no sábado. Percebe o que estou dizendo? Passo a passo.
Pergunte a Marcos Witt se ele começou a liderar multidões de dezenas de milhares
em momentos de louvor ou se começou a liderar louvor em sua pequena igreja no México.
Pergunte a Ana Paula Valadão se ela enfrentou uma multidão de dois milhões de pessoas
imediatamente ou se começou a ministrar e liderar louvor em uma Igreja Batista da Lagoinha
menor, antes de experimentar essa grande explosão. Pergunte a Darlene Zschech como
aprendeu a liderar dezenas de milhares de pessoas em adoração, se não foi em pequenas
reuniões na sua Hillsong Church. Uma coisa que marca minha vida e ministério é o
testemunho do querido Asaph Borba, um dos ministros mais importantes da história da música
cristã contemporânea em nosso país. Muitas vezes ouvi Asaph falando como começou a
ministrar ainda muito jovem, lá no Rio Grande do Sul, em uma pequena igreja Metodista, com
seu simples violãozinho. Foi ali que Deus o viu e o escolheu para ser um referencial em toda a
nação brasileira e em muitas outras. Ao vermos Asaph contando como tem ministrado em
dezenas de nações em todo o globo, podemos ser tentados a achar que sempre foi assim, e nos
esquecemos de que todos temos de começar do começo. Não existe atalho. Não existe uma
técnica mais fácil.
Não sei quanto a todos estes líderes de louvor, que são referenciais de vida e
ministério para mim, mas, quanto a mim, todas as vezes que subo no altar para liderar louvor
ainda sinto um “friozinho” na barriga. É nesse momento que lembro a mim mesmo o quanto
sou dependente do Senhor e do Seu direcionamento.

A necessidade de verdadeiros líderes de louvor

Ao terminar este capítulo, quero deixar uma palavra de encorajamento a você que se
sente chamado por Deus para ser um líder de louvor. Timidez todos nós temos, em maior ou
menor grau. Defeitos e debilidades também. Mas o importante é que a nossa capacitação vem
do Senhor.
Vou a muitos lugares pelo Brasil em que fico alarmado ao ver igrejas que não
possuem líderes de louvor. Não existe alguém responsável pela ministração. Em muitos
lugares, o que vejo é apenas um grupo de vocalistas.
Lembro-me de uma situação muito engraçada que vivenciei, quando fui ministrar em
uma igreja, em uma pequena cidade do noroeste de Minas, de um querido pastor, colega da
época de seminário. Sempre soube que cantar não era um dos dons mais latentes desse
amigo. Enquanto ministrava para o ministério de louvor dessa igreja, perguntei aos presentes
quem era, ou quem eram os líderes de louvor da igreja. Para minha surpresa, ninguém
levantou a mão. Então eu perguntei a esse pastor amigo quem ministrava louvor. Para minha
surpresa maior ainda, ele disse:
“– Eu!”
Então ele me contou que ministrava as canções, e, na hora de cantar, a equipe de
vocalistas assumia. Isso não é o ideal. Uma equipe, para funcionar bem, precisa ter uma figura
de autoridade de líder de louvor bem definida.
Quero que você permita que o Senhor fale ao seu coração, e se sentir que essa é a
direção dele para sua vida, saia de sua zona de conforto. Creio em meu coração que Deus está
levantando líderes de louvor profetas em nossa nação. Líderes de louvor que trazem uma
palavra revelada do Senhor na hora da ministração de louvor. Mas o Senhor não faz a nossa
parte. Tome a iniciativa. Crie coragem. Mais uma vez quero lembrar: um passo de cada vez. E
permita-se ser usado pelo Senhor de uma forma surpreendente.
No próximo capítulo veremos quais são as funções específicas de um líder de louvor.
E deixe o Senhor ir falando ao seu coração.
Capítulo 6 – Funções de um líder de louvor


O líder de louvor, como já mencionado, é a pessoa responsável primariamente pela
ministração, que comanda a equipe e se comunica com a igreja, conduzindo a ministração.
Portanto, as três principais funções de um líder de louvor são:
1) Ser o responsável primário pela ministração (pela direção que a ministração
deve tomar e por elaborar a lista de músicas)
2) Comandar a equipe de louvor, exercendo a função de líder
3) Conduzir a ministração junto à igreja, criando uma comunicação com a
congregação.

Vamos analisar cada uma dessas funções separada e detalhadamente.

1) Ser o responsável primário pela ministração

O líder de louvor é a pessoa responsável pelo rumo que a ministração deve tomar. Toda a
equipe tem a responsabilidade de buscar a Deus e de se santificar, tanto quanto o líder de
louvor, mas ele tem a responsabilidade de buscar de Deus a direção que Ele quer dar para
cada ministração.
É dele a responsabilidade de definir a lista de músicas que serão ministradas e
ensaiadas. É claro que cada integrante pode dar sua sugestão e também compartilhar o que
Deus tem lhe falado sobre a ministração, mas a palavra final tem de ser do líder de louvor.
Durante muitos anos de Ministério de Louvor, não soube da necessidade dessa
figura do líder de louvor. Lembro-me de como cada ministração era literalmente uma
aventura! Como não tínhamos essa figura definida, escolhíamos as músicas que seriam
ministradas na hora do ensaio. Lembro-me claramente desses momentos. Ficávamos todos em
volta do retroprojetor, e então alguém perguntava:
“– Quais serão as músicas de hoje?”
Então começava a maratona!
“– Que tal aquela?”, sugeria alguém.
“– Essa não. Não gosto muito dessa música”, dizia outro.
Algumas vezes acontecia que, depois de muito trabalho para acharmos uma música da
qual todos “gostássemos”, simplesmente descobríamos que os instrumentistas não sabiam
como tocá-la! E voltávamos para o trabalho de separar outra música.
Talvez você esteja se perguntando como eu estou conseguindo descrever com
tantos detalhes os ensaios da equipe de louvor da sua igreja!
A figura do líder de louvor existe para evitar toda essa confusão. É ele quem
traz a unidade e a direção para a ministração. Quando não temos essa figura de autoridade,
não existe essa unidade de direção do fluir da ministração.
É alguém que sugere uma música de celebração, e então outro sugere uma música de
quebrantamento, e depois alguém sugere uma música de perdão e por aí vai. Quando estou
dando oficinas sobre esse assunto, costumo chamar isso de “dar tiros pra todos os lados”.
Sempre digo brincando que, quando se “atira pra todos os lados”, uma hora tem que acertar!
Mas essa não é a forma mais correta de se conduzir uma ministração. O líder de
louvor tem a responsabilidade de chegar para cada ministração com uma direção clara e
preestabelecida, porque ele já buscou a Deus sobre isso.
Percebe como isso evita muita confusão? Eu tenho experimentado a eficácia
disso que estou falando. Quando o líder de louvor busca a Deus anteriormente, e chega ao
ensaio com um direção definida para a ministração, tudo começa a fluir melhor.
Quando isso acontece, o líder de louvor diz: “Pessoal, hoje nós vamos seguir pra essa
direção. Eu tenho sentido Deus nos dirigindo nesse sentido”.
O ensaio já não se torna tão cansativo. A equipe se sente mais segura. A igreja consegue
identificar para onde estamos querendo ir, e por isso consegue também participar mais.
Um dos princípios de liderança eficaz é esse: comunicar seus objetivos, suas metas para
sua equipe de colaboradores. Quando todos estão cientes do alvo a ser atingido, toda a equipe
trabalha melhor para atingir esse alvo.

2) Comandar a equipe de louvor, exercendo a função de líder

Metade da responsabilidade de ser líder de louvor é ser líder. Muitas vezes nos
esquecemos disso. Porque liderança requer responsabilidade. O líder de louvor é aquele que
deve ter a palavra final dentro do contexto de uma equipe de louvor.
Você já ouviu aquela expressão “muito cacique pra pouco índio”? Em muitas
equipes de louvor isso é uma verdade! Muitas pessoas querendo mandar, mas poucas
querendo obedecer. Em uma equipe onde não existe uma liderança forte estabelecida, a
probabilidade de que as coisas não corram da maneira adequada é muito maior.
O líder de louvor também tem essa função: liderar sobre toda a equipe de
louvor. Ele é o responsável por trazer ordem ao ensaio. Ele é o responsável final por todos os
arranjos.
Por isso que é muito importante que o líder de louvor tenha conhecimento musical. Por
mais que em uma equipe se tenha outros líderes, por exemplo, líder instrumental, líder vocal,
todos devem ser submissos à liderança geral do líder de louvor. Portanto, o líder de louvor
precisa assumir esse papel de líder. Ele não pode ser omisso nessa questão. Novamente digo,
por considerar importante: uma equipe sem uma liderança forte não pode funcionar
adequadamente.
Nesse tópico, queria abordar a questão das regras dentro de um Ministério de Louvor.
Em praticamente todos os lugares onde vou ministrar sobre Ministério de Louvor, o líder de
louvor, ou às vezes até mais de um líder, me procura dizendo que tem muitos problemas no
seu ministério com relação a regras.
Os músicos são conhecidos, inclusive no contexto secular, por serem avessos a
regras e disciplinas. Mas eu creio que faz parte do caráter cristão ser submisso e obediente a
regras estabelecidas por nossos líderes. A Bíblia nos ensina a sermos submissos às
autoridades. O próprio Jesus, ao contrário do que os judeus esperavam, não se rebelou contra
o Império Romano, dominante na época. Precisamos nos submeter aos nossos líderes e às
regras estabelecidas.
Geralmente esses líderes me procuram para expor problemas com pessoas
insubmissas dentro de suas equipes, que não vão aos ensaios, que não cumprem as regras
estabelecidas, não cumprem horários etc. Minha resposta é sempre a mesma, e eu gostaria de
compartilhá-la com você.
Sempre digo a essas pessoas que em um lugar onde não existem regras, não
existem motivos reais para cobranças. O que isso significa? Em um ministério, em uma equipe
onde as regras são muito flexíveis ou praticamente inexistentes, não existe um preço a ser
pago. Qualquer um pode estar ali, sem haver sacrifício ou renúncia de algum conforto,
comportamento ou algo do tipo. Em uma equipe ou ministério sem regras, também não
existem motivos de cobranças, e consequentemente não existe disciplina. Como vou corrigir
um instrumentista que chega atrasado ao ensaio se eu não tenho uma regra específica sobre o
horário do ensaio? Como vou colocar um vocalista em disciplina, deixando-o sem ministrar
(como dizemos popularmente, “no banco”), se eu não tenho uma regra rígida em minha
equipe?
Por isso creio que em nossos ministérios e em nossas equipes devemos ter
regras rígidas e bem definidas. Preste bem atenção no que direi agora: em um lugar com
regras rígidas e bem definidas, só ficam os verdadeiramente chamados. Como que isso
funciona? A partir do momento em que eu tenho de pagar um preço de responsabilidade, de
submissão para com o ministério, eu não fico ali a não ser que realmente seja chamado por
Deus para isso.
Quando falo sobre regras rígidas, não falo sobre tirania. Conheço casos de ministérios
que vivem ou viviam debaixo de uma verdadeira ditadura. Mas creio que as regras foram
criadas para se manter uma ordem.
É responsabilidade do líder de louvor (ou do coordenador do Ministério de Louvor,
dependendo da classificação que você usa) estabelecer essas regras e zelar por elas.
Quando digo que ser líder traz muitas responsabilidades, falo de algumas
responsabilidades não tão agradáveis assim. Essa é uma delas. Ser a pessoa que zela em
primeiro lugar pelo cumprimento das regras, e que aplica a correção e a disciplina quando
necessário.
Mas um líder de louvor não pode ser omisso nessa área. É seu dever e papel
ocupar essa posição, para que haja ordem. Somente em um ambiente de ordem, com regras
estabelecidas, é que pode haver um crescimento genuíno e bem solidificado. Do contrário, o
crescimento é desordenado, e seu fim é confusão.

3) Conduzir a ministração junto à igreja, criando uma comunicação com a
congregação

Já vimos anteriormente que o momento de ministração de louvor é muito parecido com
uma “caminhada”. Como ministros de louvor, e principalmente como líder de louvor,
precisamos nos tornar “guias” para a congregação durante essa “caminhada”. (...)
É muito importante que a igreja se sinta convidada a participar deste momento
de celebração e adoração, que as pessoas da congregação não se sintam somente meras
espectadoras enquanto a equipe de louvor apresenta seu repertório.
Barry Liesch cita uma sugestão de Paul Anderson sobre esse assunto: “Conduza o povo,
mas à medida que ele caminha, diga para onde está indo”.
Podemos, sim, ter momentos de apresentação de alguma música ou repertório especial,
mas é preciso que fique bem claro que, durante um momento de ministração de louvor
congregacional, é indispensável que a congregação também tome parte.
Somente assim as pessoas poderão experimentar a presença de Deus através das
músicas e das ministrações. Como é triste quando isso não acontece. Já vivenciei e
infelizmente já estive em ministrações onde parecia que a equipe estava em um ambiente e a
igreja em outro. Não havia comunicação entre os dois lados. Logo, o propósito principal da
equipe de louvor não era alcançado: conduzir as pessoas à presença de Deus através das
músicas. O que acontece, nesses casos, é que a igreja fica completamente deslocada. Isso gera
uma grande insatisfação para os dois lados.
Isso pode acontecer por várias razões. Algumas vezes pode ser por falta de uma
comunicação clara e eficaz do líder de louvor com a congregação. E essa falta de comunicação
gera uma falta de interação entre os dois lados. Logo, a igreja não se sente convidada a se
juntar à equipe nessa “jornada” de adoração.
O líder de louvor, como primeiro responsável pela ministração, deve fazer com que a
igreja se sinta convidada a ser participante juntamente com a equipe nessa busca pela
presença de Deus. O líder deve sempre trazer à consciência da congregação que em um culto
todos somos participantes, e não espectadores.
Em minhas ministrações, sempre gosto de começar o culto com uma palavra de
incentivo para que as pessoas realmente se entreguem ao Senhor naquele momento. Sempre
gosto de ministrar um cântico que expresse esse convite à entrega, rendição, que faça com
que as pessoas se lembrem do motivo de estarem ali cultuando ao Senhor. Isso é muito
importante.
Uma comunicação bem-sucedida é aquela que ocorre quando o receptor da mensagem
entende perfeita e claramente o que o interlocutor quis dizer. Em outras palavras, uma
comunicação bem-sucedida ocorre quando a congregação consegue entender completamente
o que o líder de louvor e a equipe estão querendo transmitir, através das ministrações e das
músicas.
Infelizmente, em nosso meio evangélico, isso está se tornando cada vez mais raro.
Quantas vezes cantamos músicas com letras de difícil entendimento para a congregação. Ou
quantas músicas trazem expressões evangélicas, clichês evangélicos, ou até mesmo termos
bíblicos que não são de domínio da maioria das pessoas, e líderes de louvor não se preocupam
em trazer um esclarecimento prévio. Tudo isso torna a comunicação entre líder de louvor e
congregação confusa.
Lembro-me de uma tendência que começou a invadir nossas igrejas há alguns
anos. Algumas pessoas diziam que a equipe de louvor não deveria se preocupar com a igreja,
pois não ministramos a homens, e sim a Deus. Portanto, pouco importa qual vai ser a resposta
da igreja.
E esse pensamento ia além. Dizia que ninguém deveria liderar ninguém em adoração.
Que a equipe de louvor não deveria incentivar as pessoas a dependerem da equipe para
adorar, e cada um deveria adorar individualmente. Quero analisar juntamente com você
alguns pontos dessa cosmovisão.
Esse é um pensamento muito perigoso, e, após alguns anos, percebo que muitas
igrejas que o adotaram já perceberam isso. Se estamos nos colocando à frente, enquanto
equipe de louvor, estamos sim assumindo um compromisso de liderar a igreja nessa “jornada”
de adoração. É bem verdade que cada um deve ser um adorador individual, que adora em
todos os momentos, com sua vida, sem que ninguém fique “puxando” ou estimulando.
Temos de tomar cuidado também com o outro extremo, que é a manipulação. Eu quero
liderar tanto que acabo manipulando a igreja para que as pessoas façam o que eu quero que
elas façam.
Mas em um contexto congregacional, como já abordamos, quando não existe uma
liderança estabelecida, não existe uma unidade. Por isso a necessidade de uma equipe que
esteja à frente da congregação, trazendo essa unidade à adoração congregacional.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é que, se nós estamos ali, ministrando,
consequentemente estamos servindo à igreja. Não devemos ser guiados pelo temor de
homens, mas devemos nos preocupar sim em envolver a igreja nesse momento de ministração.
Obviamente haverá momentos em que faremos o nosso melhor e mesmo assim
não obteremos uma resposta adequada da igreja, mas isso já não está no nosso controle, e sim
do Espírito Santo. Mas nós precisamos fazer a nossa parte e criar esse ambiente convidativo,
onde todos se sintam parte do momento de ministração de louvor e adoração.

Conselho importante referente à comunicação entre líder de louvor e
congregação

Uma comunicação de direção do fluir bem feita é clara, rápida e objetiva, sem que
haja necessidade de demora. Um discurso longo não é necessariamente um discurso eficiente.
Precisamos sempre nos lembrar de que o líder de louvor não é o pregador do culto.
Infelizmente, isso ocorre em muitas equipes e igrejas. O líder de louvor, na ânsia de
estabelecer essa comunicação, acaba estendendo seu discurso, e isso gera atritos com o
pastor e um sentimento de enfado na congregação. Muitas vezes achamos que é pelo muito
falar que nos faremos entendidos, mas isso não é verdade.
No começo deste livro, falei brevemente sobre o poder da música sobre o ser
humano, e muitas vezes, como líderes e ministros de louvor, nós subestimamos esse poder.
Gosto muito de uma história que ouvi certa vez, que ilustra bem o que estou querendo dizer.
John Wesley, fundador do movimento metodista, um dos maiores evangelistas da
história e figura central de um dos últimos grandes avivamentos, escreveu milhares de
sermões e livros. Era um homem das palavras. Seu irmão mais novo, Charles, era grande
colaborador do ministério do irmão, destacando-se na área musical. Charles escreveu mais de
6 mil hinos. Conta a história que John Wesley, ao perceber que se aproximava da morte,
chamou seu irmão Charles e lhe disse: “Eu trocaria todos os sermões que escrevi para ter
escrito um hino igual aos seus”.
Este grande homem de Deus compreendeu o poder da música aliado com a Palavra
de Deus. E é isso que nós, líderes de louvor, precisamos descobrir. Não é pelo muito falar que
obteremos uma comunicação eficaz com a congregação.
No próximo capítulo veremos mais profundamente alguns requisitos básicos para um
líder de louvor.
Capítulo 7 – Qualificações de um líder de louvor

Neste capítulo vamos falar de algumas qualificações necessárias para um líder de
louvor. Essas qualificações podem variar muito, dependendo do contexto em que esse líder
está inserido. Em algumas igrejas, o padrão para alguém se tornar um líder de louvor é mais
alto, em outras, nem tanto, talvez pelo fator “necessidade”. Mas os requisitos que serão
abordados neste capítulo são requisitos que podem ser aplicados em contextos diferentes.
Outro ponto que preciso esclarecer é que esses requisitos não são aplicados somente
ao líder de louvor, e sim a qualquer integrante da equipe de louvor. Portanto, em vez de usar
somente a palavra líder de louvor, vou usar a palavra ministro de louvor, para que o conceito
possa então ser aplicado a todos os integrantes da equipe.
Vamos então analisar oito características necessárias para que alguém se qualifique
como um ministro de louvor.

1) O ministro de louvor precisa ser um adorador

Por um motivo óbvio, esse é o primeiro requisito para um ministro de louvor. Se
vamos conduzir toda a congregação em adoração, o que se espera de toda a equipe é que
sejam adoradores.
Davi nos ensina como devemos proceder para entrarmos na presença de Deus. E essa
é a nossa função como ministros de louvor. Mas voltando ao requisito de sermos adoradores, a
minha pergunta é: Como podemos ser ministros de louvor e adoração se não sabemos o que é
adoração?
Imagine qual seria a sua reação se, ao contratar um guia turístico para traçar um
roteiro para você e acompanhá-lo nas visitas aos pontos turísticos, você descobrisse que ele
também nunca esteve naquele lugar.
É exatamente isso o que acontece quando um ministro de louvor se posiciona à frente
da congregação para liderar o momento de louvor sem ser adorador. O ministro de louvor
precisa, sem dúvida alguma, ser um adorador.
E ser adorador não se limita somente à área da música. Na verdade, gosto muito de
uma reflexão de Bob Sorge: “O líder deve ser um adorador. Alguém que não o seja não tem
como liderar outros em adoração. Alguns são colocados como líderes de louvor porque têm
uma boa voz ou um bom ouvido para música, ou porque gostam de cantar e até de adorar. Mas
existe diferença entre gostar de adorar e ser um adorador”.
Estamos falando de um estilo de vida de adoração. E o que significa ser um
verdadeiro adorador? Lembro-me de uma pregação inesquecível que ouvi certa vez do
pregador e pastor Ariovaldo Ramos, que, ao falar sobre adoração, disse à luz da Palavra de
Deus que adorar em espírito e em verdade nos fala sobre duas verdades bíblicas.
A primeira está em João 4: Deus é espírito, e importa que seus adoradores O adorem
em espírito. A Bíblia nos mostra em vários versículos que Deus nos criou à sua imagem e
semelhança, e, portanto, se Ele é espírito, Ele nos criou espírito. Nós só podemos nos
comunicar com Deus na dimensão do espírito. Quando Deus deu instruções a Adão e Eva
sobre o jardim, Ele disse que se eles comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal
certamente morreriam. Veja a resposta de Eva à serpente: Respondeu-lhe a mulher: Do fruto
das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim,
disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. (Gênesis 3:2-3) Mas
se continuamos a ler a história, veremos que, apesar de Adão e Eva terem pecado, eles não
morreram, mas foram expulsos do jardim.
Então de qual morte Deus estava falando? Da morte espiritual! É sobre essa morte
que o apóstolo Paulo nos fala em Romanos: Portanto, assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram. (Romanos 5:12) A partir de Adão, todos os homens já nascem
pecadores. Já nascem com essa morte espiritual. Foi essa morte espiritual que Jesus
experimentou quando disse na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Portanto, precisamos experimentar uma adoração e um estilo de vida e de
comunicação com Deus que vá muito além do mental e físico. Embora precisemos adorar com
nossa mente, no nosso “culto racional” precisamos nos comunicar com o Senhor em espírito. É
algo que transcende a nossa existência física. É algo que está dentro de nós.
A segunda verdade é que devemos adorar em verdade. Significa adorar com
sinceridade, sem hipocrisia, mas podemos ir muito além. Ainda me lembro do impacto dessas
palavras do Pr. Ariovaldo em minha vida. O próprio Jesus nos disse que Ele é o “caminho, a
verdade e a vida” (João 14:6). Adorar em verdade nos fala de adorarmos da mesma forma com
que Jesus adorava, vivermos da mesma forma que Jesus viveu, nos relacionarmos com o Pai da
mesma forma com que Jesus se relacionou enquanto estava aqui na Terra.
Pare de ler por alguns instantes e reflita na profundidade dessa verdade. Você
consegue imaginar a responsabilidade que pesa sobre nós? Jesus foi perfeito no seu
relacionamento com o Pai. Foi perfeito nas suas ações. E essa é a nossa meta. Portanto, um
ministro de louvor deve imprescindivelmente ser um adorador.
Park diz: “É possível ter uma linguagem de adoração sem um estilo de vida que venha
com ela? Sim, claro que é! Nós podemos ser os típicos membros de igreja, sabedores de todos
os jargões, mas, sem uma vida justa, as palavras não significam nada”.
Como isso é perigoso! Com o tempo, aprendemos como devemos nos comportar
dentro de um contexto eclesiástico. Aprendemos como devemos nos expressar, que tipo de
movimento ou expressão física devemos ter, o que devemos falar, mas sem que isso seja
genuíno. Viramos adoradores profissionais.
Certa vez, tive uma reunião com uma diretora de programação de uma emissora de
TV evangélica. Naquela reunião me impressionei com a capacidade daquela mulher. Ela me
apresentou os principais objetivos da emissora. Com suas próprias palavras: “O principal
objetivo nosso é evangelizar as pessoas, falar de Cristo”. Falava e agia como uma cristã, usava
os termos corretos e da forma correta. Mas qual foi a minha surpresa ao descobrir que esta
diretora não era uma verdadeira cristã. Ela não acreditava realmente naquilo que me dizia,
mas estava sendo extremamente profissional.
O Pr. João Osmar, capelão do CTMDT, sempre diz que nunca quer ser um profissional
da fé, mas sempre um apaixonado. Profissionais fazem o que fazem simplesmente por
obrigação. Eles cumprem o seu dever e nada além disso. Um apaixonado faz tudo com prazer
e sempre quer fazer mais do que lhe é pedido. Um profissional pode mentir para vender um
produto ou uma ideia, como vendedores que propagam qualidades de produtos que eles
mesmos não comprariam. Apaixonados são genuínos e verdadeiros.
Como líderes de adoração, nunca podemos nos acostumar com o que fazemos, mas
devemos sempre sondar o nosso coração e vermos se estamos completamente apaixonados
pelo Senhor e pelo ministério dEle em nós. Só assim seremos verdadeiros adoradores.

2) O ministro de louvor precisa ter uma profunda e comprovada caminhada espiritual

Essa é uma qualificação importante que devemos observar. O que acontece muitas
vezes é que muitas equipes de louvor são extremamente necessitadas de integrantes. Estou
completamente ciente de que em algumas igrejas a equipe de louvor é formada por apenas
uma ou duas pessoas. Alguns ministros são polivalentes. Ao mesmo tempo que tocam, também
cantam. E não é só isso. De repentes eles precisam correr para a mesa de som para ajustarem
tudo da melhor forma, ou então ficar de olho na projeção da letra da música.
Por causa dessa grande necessidade, uma situação não muito positiva acaba
acontecendo. Imagine uma equipe de louvor que precisa imensamente de um baterista. Todos
na equipe sentem a falta desse integrante. Um belo dia, converte ou aparece na igreja um
baterista, que ninguém sabe de onde veio. E agora, o que fazer? Tantos problemas poderiam
ser resolvidos com a adição desse novo integrante à equipe! E a necessidade muitas vezes
acaba falando mais alto.
Quantos problemas poderiam ser evitados se tomássemos mais cuidado com relação a
isso. Ministrar no altar é uma responsabilidade muito grande, e somente pessoas que têm
consciência disso deveriam tomar tal responsabilidade para si. Eu mesmo já vivenciei e já
soube de muitas situações embaraçosas que aconteceram em razão de termos pessoas novas
na fé ou imaturas ministrando no altar.
Crianças precisam ser ensinadas sobre todas as coisas. Se deixarmos um bebê
sozinho, é possível que ele acabe colocando o dedo na tomada. Ele não sabe que aquilo lhe
fará mal. Assim também acontece com crianças espirituais. Os erros são esperados. Só não
podemos deixar que esses erros aconteçam diante de toda a congregação.
Então o que devemos fazer com os noviços na fé que querem se tornar parte do
Ministério de Louvor? Eu realmente creio que eles são bem-vindos, mas para serem treinados.
Eles podem acompanhar os ensaios. Eles devem vivenciar como funciona o ministério. Se
possível, devem ser acompanhados e discipulados por um integrante veterano. Precisam ser
formados, forjados – no seu caráter e também nas suas habilidades.
Outra questão importante é que a congregação, a equipe e o pastor precisam ter
confiança no caráter do ministro em questão. Afinal um pensamento bem possível de passar
pela cabeça das pessoas da congregação é “Quem é esse que está me convidando e liderando
esse momento de louvor?”.
A congregação precisa ter esse vínculo de confiança com o ministro, para que os
corações das pessoas estejam abertos para receber a ministração. Se não existir esse vínculo
de confiança, certamente as pessoas fecharão os seus corações. Afinal, o ministro de louvor,
tanto quanto o pastor, acaba de forma indireta se tornando um referencial para a congregação
e uma pessoa de confiança. Por isso é importante que o ministro tenha uma profunda e
comprovada caminhada espiritual.

3) O ministro precisa ter tido tempo para conhecer a igreja em que está inserido

Esse requisito é na verdade uma continuação do anterior. Um ministro de louvor
precisa conhecer bem o contexto eclesiástico no qual está inserido para que não se envolva
em situações difíceis com a congregação. Um líder de louvor precisa escolher canções com as
quais a igreja possa se identificar. Por isso é necessário que ele saiba quais são as
características daquela congregação em particular.
Cada congregação possui seu ritmo de funcionamento, suas características próprias.
Algumas igrejas são formadas por pessoas mais cultas, outras por pessoas mais simples. Cada
denominação possui suas doutrinas próprias. Por isso é importante que o líder de louvor e
cada ministro não seja um causador de discórdias entre a congregação e o pastor.
Fico muito triste sempre que ouço histórias de divisões que acontecem em igrejas
causadas por ministros de louvor. (Toda divisão em rebeldia é triste, mas me entristeço mais
ainda quando são encabeçadas por ministros de louvor.)
Se conhecermos as tradições da igreja em que estamos inseridos, o perfil dos
membros, de qual tipo de música eles gostam, as pessoas nos seguirão com maior facilidade.
Isso realmente facilita nosso trabalho!
Sempre gosto de “perceber” como cada congregação reage. Como é gostoso quando
podemos interagir com as pessoas de uma forma que as ajude a abrir seus corações para as
ministrações! Quando ministro em minha igreja-mãe, na minha cidade natal, eu já sei, pelos
anos de ministério ali, de que tipo de canções a congregação gosta mais e o que vai ajudá-la a
participar mais ativamente da ministração.
Isso só acontece quando o ministro de louvor toma a iniciativa de perceber que está
ali para servir, e não para ser reconhecido por seu grande talento. Mais uma vez repito,
estamos ali para sermos facilitadores do fluir da ministração controlada primeiramente pelo
Espírito Santo.

4) O ministro de louvor precisa ter uma boa atitude com o pastor, com a igreja e com
o conjunto de doutrinas desta igreja

Pode parecer absurdo para alguns, mas o que mais acontece são brigas e
desentendimentos entre ministros de louvor e pastores. Um sempre parece achar defeitos no
outro.
Sempre que participo de congressos e seminários para ministros de louvor, percebo
isso. Existem algumas reclamações recorrentes de um ministro de louvor com relação a seu
pastor. Vejamos algumas delas:
“Meu pastor não me dá suporte. Ele não apoia meu ministério.”
“Meu pastor não entende esse 'mover' na hora da ministração de louvor.”
“Meu pastor sempre me dá pouco tempo para ministrar louvor.”
Você alguma vez já fez alguma dessas reclamações ou se sentiu assim? Creia-me, isso
é muito mais comum do que pensamos. Porém, essa insatisfação não acontece somente de um
lado. Ela é bilateral. Muitos pastores também vivem insatisfeitos com seus ministros de
louvor:
“Esse ministro é muito rebelde. Não respeita a minha liderança.”
“Esse ministro nunca se limita ao tempo de ministração que eu lhe dou. Parece que
quer ser o pregador do culto.”
Isso não é saudável em uma congregação. Um ministro de louvor precisa ter um bom
relacionamento com seu pastor. Um relacionamento de confiança. Um relacionamento de
discipulado. Um relacionamento de submissão. Dois ministros de louvor que, na minha vida, e
creio que na de muitos, são referência e exemplo disso que estamos falando: Asaph Borba e
Adhemar de Campos.
Asaph e Adhemar estão no ministério há mais de trinta anos, e continuam, desde o
início, debaixo da mesma liderança. Sujeitam suas vidas à autoridade de seus pastores, e eu
creio que essa é uma das razões para os ministérios tão frutíferos que eles exercem.
Muitos ministros não veem a hora de se tornarem famosos para poder se desvincular
da igreja local e de seu pastor. Isso não é o que a Bíblia nos ensina. A Bíblia instrui a estarmos
“plantados na casa do Senhor”, para florescermos (Salmo 92:13).
Certa vez ouvi o Pr. Marco Antônio, pastor-sênior da Comunidade Internacional da
Zona Sul, no Rio de Janeiro, contando que realizou um evento em Roma, na Itália, no qual teve
Darlene Zschech como líder de louvor, juntamente com toda a sua equipe de ministros da
Austrália. E o Pr. Marco Antônio contou que, antes do culto começar, Darlene, uma das líderes
de louvor mais respeitadas em todo o mundo, veio até ele perguntar se tinha alguma música
em mente para o momento de apelo após a palavra.
Darlene, em seu livro Adoração extravagante, diz: “A pior dificuldade que costumo
encontrar quando visito as igrejas é que os ministros de música não sabem o que seu pastor
quer. (...) Ele espera que trabalhemos em conjunto com ele. Esse é o nosso trabalho”.
Isso reflete um coração de servo. Muitos ministros não fazem isso com seu pastor.
Humilhe-se perante o seu pastor. Respeite a sua liderança sobre você. E Deus irá prosperar o
seu caminho. Esteja plantado em uma igreja local. Esteja submisso a uma liderança. E
somente assim o seu caminho estará protegido.

5) O ministro de louvor precisa ter um nível aceitável de musicalidade

Esse requisito varia muito de contexto para contexto, e abordaremos essa questão
com mais profundidade em um capítulo dedicado a ela, mas é importante ressaltarmos nesse
momento que, se estamos nos propondo a lidar com música, o mínimo que devemos possuir é
um talento ou tendência para a música. Isso é algo que deveria ser óbvio, mas percebo que
nem sempre é assim.
Novamente voltamos à questão do chamado específico. Se eu quero trabalhar com
artesanato, o mínimo requerido de mim é habilidade para trabalhos manuais. Se quero ser
pastor, devo ter o dom de expressar minhas ideias de forma clara. Se quero trabalhar com
música, devo ter talento para música, seja cantando ou tocando.
Nada atrasa mais uma equipe de louvor do que integrantes que não possuem
nenhuma musicalidade. Isso atrasa o crescimento de toda a equipe.
E quando falo sobre musicalidade, não falo que você precisa ter a voz mais bela da
congregação ou tocar melhor do que todos os outros. Musicalidade é uma facilidade ou dom
para a música. Uma pessoa pode ter musicalidade e não ter prática. Nesse caso pode haver
crescimento com a prática.

6) O ministro de louvor precisa funcionar bem em equipe

Esse tópico já foi abordado na primeira parte deste livro, no capítulo 3, sobre a
anatomia de um ministério de louvor, mas vamos apenas frisar melhor. Ninguém é
autossuficiente. Todos somos um Corpo, e Cristo determinou que esse seria o funcionamento
da sua Igreja.
Os músicos são conhecidos por seu temperamento difícil, excêntrico, egoísta. Mas
isso não pode ser verdade em nossas equipes de louvor. Como líderes de louvor, temos de
saber assumir a nossa liderança, mas ao mesmo tempo respeitar os liderados e delegarmos
tarefas. Como liderados, temos de cumprir nosso papel e darmos suporte ao líder. Em uma
equipe de louvor saudável deve haver um clima de cooperação mútua, sabendo que todos
estamos trabalhando para um objetivo comum. No Reino de Deus não existe competição. O
Reino de Deus não funciona como o mercado de trabalho. Nele cada um possui um lugar
específico.
Como equipes de louvor são prejudicadas por problemas de relacionamento,
competição, desavenças! Isso precisa acabar. Problemas virão, sim, mas não podem ser rotina
de uma equipe saudável.
Uma equipe funciona bem quando todos conhecem o seu lugar e fazem o seu melhor.

7) O ministro de louvor deve se comprometer e se autossacrificar pela posição que
ocupa

Esse é um assunto sobre o qual não gostamos de falar muito. Mas você conhece
aquele tipo de pessoa que você nunca sabe se vai poder contar com ela ou não na hora da
ministração? Sabe aquele instrumentista ou vocalista que nunca aparece no ensaio porque
sempre tem um imprevisto justificável?
Eu sempre digo que é preferível trabalhar com cinco pessoas altamente
compromissadas com a obra do que ter cinquenta descompromissados, com os quais você
nunca sabe se poderá contar. Pessoas descompromissadas atrasam o crescimento geral da
equipe.
Quando assumimos uma posição, um cargo, assumimos também uma
responsabilidade. E responsabilidade muitas vezes implica em renúncias. Um ministro de
louvor precisa renunciar algumas coisas pela posição que ocupa. O que significa isso?
Significa abrir mão de um passeio em que todo mundo vai, quando está escalado para
ministrar. Significa abrir mão de certos padrões de comportamento que todos podem ter, mas
que não é aconselhável para um ministro da Casa do Senhor. Significa abrir mão de um
joguinho de futebol no sábado à tarde para ir ensaiar. Ou abrir mão de um tempo a mais com o
namorado para chegar mais cedo para orar pelo culto.
Precisamos ter em nossas equipes pessoas compromissadas com a obra do Senhor,
apaixonadas por Ele, e que, como consequência, cumprem com zelo suas obrigações
ministeriais.
Imprevistos acontecem, mas como a própria palavra diz, eles não podem acontecer
sempre, senão não seriam imprevistos! Preste bem atenção no que eu vou dizer: o seu
compromisso com as responsabilidades do ministério reflete o seu amor e o valor que você
atribui ao seu chamado e à obra do Senhor.
Uma pessoa que vive faltando em ensaios, ou chegando atrasada, ou inventando
desculpas demonstra que não prioriza o seu chamado ministerial. Demonstra que não prioriza
o Reino de Deus na sua vida. Por isso sempre aconselho a líderes e coordenadores de
ministérios a confrontarem tais pessoas com essas questões, para que possamos ter em nossas
equipes somente pessoas verdadeiramente compromissadas com a obra.

8) O ministro de louvor precisa ter uma personalidade amigável e calorosa

Querendo ou não, tomando consciência ou não, a partir do momento em que nos
colocamos à frente da congregação para liderá-la em adoração, tornamo-nos modelos a serem
seguidos. Por isso abordamos anteriormente a seriedade de estar no altar ministrando. E
quando ministramos, de forma direta e indireta nos tornamos parte da vida das pessoas. Às
vezes uma palavra ministrada tocou fundo no coração de alguém na congregação. Ou Deus
pode ter nos usado para trazer direção a outro. Quem sabe alguém foi curado durante uma
ministração?
Portanto, um ministro de louvor deve ser amigável com as pessoas da congregação.
Ele deve ser simpático e acessível. Talvez algumas irão querer contar seus testemunhos.
Outras somente abraçá-lo. Mas o ponto importante é que elas precisam saber que somos
acessíveis e amigáveis.
Não consigo conceber um ministro simpático em cima do altar, mas que menospreza
o contato pessoal com as pessoas da congregação. Ministério significa lidar com pessoas.
Ministério trata de pessoas. Muitas vezes lemos nos Evangelhos Jesus abandonando as
multidões para se dedicar a uma pessoa ou a uma família.
De nada adianta sermos ministros de multidões e de plataforma se não somos gente
como todos os outros. As pessoas precisam saber que os ministros também cometem erros,
também pecam. Isso as encoraja. Precisamos criar esse elo de empatia. Gosto muito de uma
frase de minha amiga Nívea Soares, ministra muito conhecida em nossa nação: “No Brasil,
não precisamos mais de superministros. Mas precisamos de ministros que sejam gente”.
Esse é o segredo. As pessoas não estão buscando super-heróis nos púlpitos, ministros
perfeitos que somente fazem com que elas se sintam ainda piores. Mas elas precisam olhar e
reconhecer que não importa se somos ministros ou congregantes, somos todos iguais e
dependentes da graça do Senhor sobre nós.
Algo que sempre me inspira no ministério Diante do Trono, com o qual convivo
diariamente há alguns anos, é essa simplicidade preservada. Todos os dias eu vejo que são
pessoas que me inspiram a viver a vida cristã de forma melhor, mas também vejo seus erros,
suas debilidades e percebo que todos dependemos do Senhor. E vejo isso em tantos outros
ministros do Senhor em nossa nação. Simples de coração.
Precisamos, como ministros, sempre sondar o nosso coração e ser humildes
verdadeiramente, como Jesus nos ensinou, para que Ele nos exalte.

Conclusão

Essas qualificações básicas para um ministro de louvor não devem ser motivo de
desânimo. Pelo contrário, minha oração é para que, ao ler este capítulo, você seja encorajado
no Senhor a buscar alguma dessas qualificações que você nota que precisa em sua vida. Peça
isso ao Senhor, peça a Ele que aja em sua vida. E tenho certeza de que isso trará um
crescimento muito grande em sua vida, porque eu mesmo tenho procurado viver isso todos os
dias.
No próximo capítulo veremos os tipos de preparação existentes na vida de um líder
de louvor e que são parte relevante de um ministério bem-sucedido.
Capítulo 8 – A preparação de um líder de louvor

Um líder de louvor precisa passar por uma preparação para estar mais apto para a
função que ocupará. Eu diria que a vida de um ministro, bem como a de todo cristão, é uma
eterna preparação. Mas vamos falar mais especificamente de dois tipos de preparação pelos
quais o líder e o ministro de louvor devem passar: a preparação a longo prazo e a preparação
a curto prazo.
Como dissemos no capítulo anterior, toda posição de autoridade traz consigo
responsabilidades, e um líder de louvor deve estar preparado para assumir essas
responsabilidades. Muitas vezes vejo pessoas que usam a dependência do Senhor como
desculpa para a falta de responsabilidade e para a preguiça. O discurso que ouço é sempre o
mesmo: “Não vou ensaiar porque eu dependo da direção do Senhor” ou “Não preciso buscar
uma direção para a ministração antes porque o Senhor me direciona na hora no que devo
fazer”. Ou algumas vezes simplesmente esperamos que o Senhor faça por nós algo que é da
nossa responsabilidade.
Amar o chamado nos fala também de pagar o preço por ele. E nós demonstramos esse
amor não somente em palavras no momento da ministração, mas nos momentos em que nos
preparamos e abrimos mão de certas coisas tendo em vista o nosso aperfeiçoamento
ministerial em Cristo.
Vamos falar detalhadamente sobre cada uma dessas duas preparações pelas quais o
líder de louvor deve passar.

A preparação a longo prazo

Como abordamos no capítulo anterior sobre as qualificações necessárias para um
ministro de louvor, ele deve ser um adorador. Mas como isso acontece no dia a dia? Como
alguém se torna um adorador? Muitas vezes falamos isso em nossos livros, conferências,
músicas, cultos, e as pessoas acabam criando uma ideia “mística” do que é ser um adorador,
como se alguém pudesse ser transformado do dia para a noite, recebendo uma “unção do
adorador”, e todo o trabalho estivesse feito.
No meio desse Evangelho fraco que vem sendo pregado, precisamos novamente
redescobrir a mensagem de Jesus para nós de que a vida cristã não é fácil. Não existe um
atalho. É um preço a ser pago todos os dias, um compromisso renovado dia a dia.
Como um líder de louvor se torna sensível ao mover e ao direcionamento do Espírito
Santo? Como ele recebe discernimento e sabedoria para ministrar? Investindo horas na
presença do Senhor. Investindo em oração, jejum, leitura da Palavra de Deus. Lembro-me de
um de meus hinos favoritos, que diz: “Preciosas são as horas na presença de Jesus. Comunhão
deliciosa da minh'alma com a luz”.
Não dá para absorvermos a Bíblia por osmose. Não se decoram versículos bíblicos
somente segurando a Bíblia nas mãos. Precisamos investir tempo estudando, refletindo na
Palavra de Deus.
Um líder de louvor precisa ter em sua vida diária o exercício das disciplinas
espirituais, tais como a leitura da Palavra, a meditação diária, a oração, o jejum, a oração no
espírito (em outras línguas) etc. Nesses momentos é que recebemos de Deus a direção que
devemos seguir em uma ministração. Nesses momentos é que desenvolvemos o nosso
discernimento espiritual.
Os músicos são conhecidos no mundo inteiro como indisciplinados e inconstantes.
Mas os artistas cristãos não podem seguir esse padrão. Precisamos dessas disciplinas
espirituais.
Há alguns anos uma certa “onda” invadiu o Brasil. As pessoas diziam que não
preparavam listas de músicas antes porque na hora da ministração o Espírito Santo as guiava
no que Ele queria. Esse discurso pode soar muito espiritual, mas não vejo coerência nesse
raciocínio. Apesar de já ter tido a experiência de preparar uma lista de música e o Espírito
Santo mudar tudo na hora, eu não posso fazer disso uma regra. Eu creio num Deus que pode
me dar o direcionamento de uma ministração duas semanas antes de ela acontecer. Já
experimentei isso inúmeras vezes. O Senhor já me deu a direção de uma ministração muitos
dias antes, e na hora pude comprovar que realmente estava ouvindo a voz do Senhor ao
perceber como todo o culto foi conduzido debaixo da mesma direção.
Uma dica: é muito mais fácil você seguir a direção do Espírito se estiver
musicalmente preparado, senão essa “nova direção” pode se tornar uma grande confusão para
toda a equipe e colocar todo o trabalho a perder.
Antes de encerrar esse tópico, gostaria de frisar algo sobre a Palavra de Deus que
não se aplica somente a ministros de louvor, mas a todos os cristãos; porém quero ressaltar o
lado dos ministros de louvor. Nós como ministros da Casa do Senhor precisamos conhecer
profundamente a Palavra de Deus. Precisamos estudá-la, amá-la e valorizá-la. E você sabe qual
será a consequência disso? Em nossas ministrações vamos começar a derramar e transbordar
da Palavra de Deus. Cantaremos versos musicados da Palavra. Deus nos dará canções
baseadas em passagens bíblicas. Mas precisamos amar a Palavra de Deus como a verdade
absoluta e nosso guia de vida.
Tudo isso que foi mencionado faz parte da preparação a longo prazo de um ministro
e, como o próprio nome diz, é construído durante toda uma caminhada de vida com Deus.
Agora quero abordar um aspecto mais técnico sobre a preparação a longo prazo, que
é a preparação e a capacitação musical de um ministro. Ninguém se torna um excelente
instrumentista ou cantor do dia para a noite. Para ser um bom músico, você precisa gastar
tempo estudando teoria musical, fazendo exercícios, praticando, e então se desenvolvendo
pouco a pouco. Isso também é verdade com a técnica vocal. Portanto, se você quer ser um
ministro da música de excelência, estudar e se preparar na área musical também faz parte
dessa preparação a longo prazo.
Eu mesmo estudei mais de onze anos de piano clássico, e, apesar de me considerar
um pianista razoável, sei que estou longe de ser um pianista virtuoso. No próximo capítulo
vamos discorrer um pouco mais sobre a questão musical de um ministro de louvor.

A preparação a curto prazo

A preparação a curto prazo é a preparação que deve acontecer antes de cada
ministração ou de cada culto. Se temos uma vida de adoração contínua e de comunhão com
Deus, precisamos também ter uma preparação espiritual antes de ministrarmos. Precisamos
nos aquietar e nos conectar com Deus. Se vamos liderar a igreja em adoração, não podemos
nos conectar com Deus no mesmo instante da congregação. Já precisamos estar sensíveis à
sua voz antes.
Sobre este assunto, Barry Liesch diz assim: “Adore em particular primeiro. Você pode
não conseguir fazer isto satisfatoriamente em público, porque, quando você é um líder, deve
primeiro e, acima de tudo, dar-se ao povo. (...) Líderes devem estar buscando e desejando
Deus à medida que lideram, mas, ao mesmo tempo, devem estar atentos. Adore tão
completamente quando puder. Obviamente, líderes que querem que seu povo esteja faminto
pela adoração também devem comer!”.
Na correria do dia a dia, muitas vezes não temos tempo de pararmos e falarmos com
Deus ajoelhados ou dentro do quarto. Isso pode acontecer em momentos não tão
convencionais, como dentro do carro ou debaixo do chuveiro. Inúmeras vezes já recebi uma
direção específica do Senhor enquanto tomava banho.
Mas a preparação a curto prazo vai além. Um vocalista precisa estar com a voz
aquecida, para evitar que a voz se “quebre” durante as músicas. Um instrumentista precisa
estar com seu instrumento devidamente ligado e afinado, antes do culto começar. Já
presenciei instrumentistas que afinavam seus instrumentos enquanto o pastor fazia a abertura
do culto. Isso não pode acontecer. Toda a equipe precisa estar ciente de como a ministração
vai transcorrer.
Por isso, ensaio faz parte da preparação a curto prazo. Precisamos aprender a
valorizar nossos ensaios. E, além de valorizarmos, precisamos aprender a ensaiar
corretamente. Isso também é um encargo do líder de louvor: saber conduzir um ensaio. (Em
alguns casos, se o líder de louvor não tiver domínio instrumental, parte da condução do ensaio
pode ficar com um líder instrumental.)
Quantas vezes ensaiamos vez após vez mas na verdade estamos ensaiando nossos
erros! Precisamos identificar nossos erros e corrigi-los. Os ensaios têm o propósito de trazer
esse crescimento. Tudo isso faz parte da preparação a curto prazo, embora nosso
desenvolvimento musical faça parte da preparação a longo prazo.
Essas preparações, tanto a longo como a curto prazo, precisam ser constantemente
cumpridas pelo ministro de louvor, para que se tornem hábitos e sejam cumpridas
corretamente.
Capítulo 9 – O líder de louvor e a música

No capítulo anterior abordamos rapidamente a questão musical que envolve um
ministro de louvor. Isso é algo que precisamos realmente compreender e esclarecer em nosso
meio. Se vamos lidar com música, nós precisamos ter um chamado específico para a área.
Minha irmã Rebeca, como vice-coordenadora do ministério de louvor de nossa igreja
local, em Poços de Caldas, certa vez foi abordada por um rapaz que veio até ela e perguntou o
que teria de fazer para ser participante do Ministério de Louvor. Ela então lhe perguntou se
ele cantava. A resposta foi negativa. Logo, concluiu ela, ele deveria tocar algum instrumento.
Mas para sua surpresa ele também não possuía tal habilidade. Então ela gentilmente lhe
perguntou o que ele pretendia fazer em um ministério que trabalhava com música se ele não
possuía nenhum conhecimento ou nenhuma habilidade nessa área. Isso pode parecer até
engraçado, mas infelizmente acontece muitas vezes em nossas congregações.
Na primeira parte deste livro já falamos sobre a importância da música, na sociedade
e também no contexto do culto congregacional. Mas será que nós, como ministros de louvor,
estamos preparados para trabalhar realmente com ela?

O desenvolvimento musical

Como disse rapidamente no capítulo anterior, o desenvolvimento musical demanda
tempo e estudo. Quando eu tinha 5 anos, fui apresentado ao mundo da música. Era uma
linguagem completamente nova. Aprendi a ler notas em uma partitura enquanto aprendia a
ler o alfabeto. Estudei por anos e anos, e mesmo assim percebo o quão longe estou de me
considerar um grande músico.
Ser um ministro de louvor com conhecimento musical razoável deveria ser uma meta
para todo ministro de louvor, afinal, essa é a nossa área de atuação. Se lermos a descrição
dada pelo autor de 1 Crônicas, veremos que os levitas que Davi separou para o serviço do
templo eram todos mestres no que faziam, altamente capacitados. Além de saber fazer, ainda
sabiam transmitir o seu conhecimento.
Mas como é comum, em muitas de nossas igrejas, instrumentistas que não sabem dar
mais de três acordes, ou não conseguem dedilhar um acorde diminuto! Não compreendem do
que se trata uma quarta ou uma nona. Preste bem atenção no que irei dizer: quanto maior for
o seu conhecimento musical, mais Deus poderá te usar.
Quando um ministro de louvor tem uma boa noção musical, seus arranjos podem ser
mais elaborados, sua sonoridade se torna mais harmoniosa. Um líder de louvor que possui
conhecimento musical consegue identificar os erros e falhas da sua equipe, e, ainda mais,
consegue ajudá-la a solucioná-los.
É claro que estou ciente de que existem pessoas que não possuem conhecimento
musical mas mesmo assim tocam, muitas vezes aprendendo de ouvido, e são poderosamente
usadas por Deus. Eu realmente creio nisso. Mas eu também creio que quanto mais nós nos
preparamos e nos capacitamos, mais o Senhor pode nos usar.
Também estou ciente da dificuldade que algumas pessoas têm para acessar esse tipo
de informação. Certa vez fui a uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde desafiei
os membros do Ministério de Louvor a buscarem essa capacitação, mas me deparei com uma
falta de professores habilitados na cidade. Logo me lembrei da Internet, que hoje é uma
poderosa ferramenta de pesquisa e de informação. Creio, portanto, que hoje dificilmente
alguém não teria acesso a nenhum tipo de material de estudo.
No Brasil, de forma geral, temos uma mentalidade de que, se estamos a serviço do
Senhor, não precisamos nos capacitar ou nos preparar muito. Você já ouviu a terrível frase
“– Irmãos, não reparem nos erros, mas é para a glória do Senhor!”?
Até quando vamos oferecer o que temos de pior ao Senhor? Algo que me encanta nos
norte-americanos é que lá eles não têm essa mentalidade. Eles procuram estudar, se preparar
e dar o seu melhor para o Senhor. Nós precisamos adquirir tal mentalidade. Precisamos nos
capacitar na área específica à qual o Senhor nos chamou; no nosso caso, a música.
Recordo-me de uma época da nossa história da música cristã contemporânea em que
os músicos cristãos se sentiram desafiados pelo próprio contexto cultural a trazer essa
excelência musical para a música cristã. Era uma época em que despontavam grandes gênios,
como Tom Jobim, Vinícius de Morais, João Gilberto, Chico Buarque, e alguns de nossos
músicos cristãos não se acomodaram e buscaram trazer essa qualidade sonora e musical.
Quem não gosta de ouvir uma música do grande compositor Sérgio Pimenta? Ou uma
boa composição de Guilherme Kerr? Ou o bom violão e a boa voz de João Alexandre? Ou os
maravilhosos arranjos vocais de Vencedores por Cristo? Se você não conhece a obra desses e
outros grandes compositores dos anos 1970 e 1980 da música cristã brasileira, procure
conhecer e seja inspirado a buscar essa excelência.
A música pode ser uma ferramenta poderosa em prol do Reino de Deus, quando
usada com sabedoria.

Técnica aliada a unção

É claro que precisamos ressaltar a importância de um equilíbrio entre a técnica e a
unção, que vem de Deus. Como diz Barry Liesch: “Nós usamos técnicas, mas não confiamos
nelas”. Conheço excelentes músicos cristãos que não possuem caráter nenhum. Sabem ler
perfeitamente as notas musicais, mas não sabem obedecer à voz do Senhor. Precisamos ser
ministros cheios de técnica sim, mas também cheios do Espírito de Deus. Uma coisa não deve
anular a outra.
Muitas vezes sou questionado por líderes de louvor que se encontram em dificuldades
com liderados que são excelentes músicos, mas que são rebeldes. São excelentes cantores,
mas não conseguem obedecer às regras do ministério. Creio que isso acontece como
consequência do orgulho que é gerado no coração por causa da técnica que possuem. Esse
não é o nosso alvo.
O alvo que devemos perseguir é o padrão bíblico, que nos é mostrado em 1 Crônicas.
Homens peritos no que faziam, mas também cheios do Espírito de Deus. Nosso padrão é
colocarmos a nossa técnica a serviço do Reino de Deus.
Gostaria de terminar este tópico citando Darlene Zschech, líder de louvor da Hillsong
Church. Ela diz: “Eu prefiro o homem ou a mulher de Deus ao talento. O homem e a mulher de
Deus vêm em primeiro lugar. Há muita gente talentosa. Não é difícil encontrar essas pessoas,
em todo lugar há pessoas talentosas. Queremos ver homens e mulheres de Deus inflamados
com a causa de Cristo. Homens e mulheres que, quando tocam, fazem as pessoas ajoelharem-
se por causa da paixão de Cristo. Há uma visível diferença entre um músico talentoso e um
músico ungido”.

A excelência musical

Ao começar a falar sobre excelência, gostaria de citar novamente Darlene Zschech,
que faz uma reflexão muito enriquecedora sobre este assunto: “Servimos com excelência
porque conhecemos um Deus excelente, e dar-lhe menos do que o melhor de nós seria
vergonhoso”.
Que verdade maravilhosa! Nossa excelência deve ser consequência do nosso
compromisso com um Deus excelente! Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e por
isso devemos refletir a personalidade e as características do nosso Criador. Se o nosso Deus é
excelente, nós também devemos ser excelentes.
Muito é falado sobre a necessidade de possuirmos excelência musical. E ao usarmos
essa nomenclatura, muitos são levados a pensar que excelência musical se resume a criar
arranjos elaborados, fazer solos de guitarra com muitas notas por segundo, fazer uma boa
virada na bateria ou alcançar com a voz notas muito agudas.
Mas no nosso contexto de culto congregacional isso não é a excelência musical ideal.
A excelência adequada que buscamos para nossos momentos de louvor congregacional é
aquela que serve melhor à congregação. O que significa isso? Significa que, mesmo que eu
consiga cantar notas superagudas, eu vou abrir mão disso para cantar a música em um tom no
qual a igreja possa cantar confortavelmente. Significa que, mesmo que eu consiga fazer um
supersolo na minha guitarra, eu não vou ficar fazendo o tempo todo para não distrair a
congregação do propósito principal, que é adorar ao Senhor.
Park diz: “Uma palavra-chave para os membros da banda é moderação. A maioria dos
meus instrumentistas e vocalistas possuem muito mais habilidade do que eles mostram em um
determinado domingo. Pelo fato de eles compreenderem o objetivo de nossa adoração, eles
tocam para apoiar a experiência de adoração, não para ofuscá-la”.
Guarde bem o que vou dizer. Excelência no contexto congregacional diz respeito ao
que é mais adequado para a congregação. Um arranjo extremamente difícil não significa que
seja excelente. Um arranjo feito com zelo e cuidado, mas adequado à congregação, é
excelente. Compreende?
Se tocar cinco notas em vez de quinze naquele momento for o mais adequado, logo é
o mais excelente. Se cantar num tom mais baixo é mais adequado do que cantar num mais
alto, então é o mais excelente. Se cantar em um ritmo mais lento é o mais adequado em vez de
num mais rápido, então é o mais excelente.
Devemos nos capacitar, devemos estudar, praticar, mas pra quê? Para nos
orgulharmos disso e mostrarmos a todos como somos bons? Não! Simplesmente para
colocarmos nossos dons e nossas habilidades a serviço do Senhor, rendidos no altar, como um
sacrifício.
Podemos e devemos ter momentos de solos instrumentais. Ou momentos de
apresentação de uma música especial. Nessas ocasiões podemos ofertar ao Senhor toda a
nossa técnica e habilidade. Mas devemos sempre ter em mente que nosso principal propósito
é servir à congregação.

A música foi criada por Deus

Outra coisa que precisamos compreender é que a música foi criada por Deus. O que
isso significa? Que todos os ritmos são de Deus. Não existe um ritmo que seja mais de Deus do
que outro. Anos atrás havia um preconceito ferrenho contra o rock and roll. Muitos pastores e
líderes cristãos se levantaram para dizer que o rock and roll era música do diabo. Mas eles
estavam equivocados.
O que pode acontecer é haver músicas consagradas ao diabo, músicos que se
dediquem a ele, que trabalhem em prol da construção do seu reino, mas nunca haverá um
ritmo que pertença a ele. Muitas vezes somos cegados pela religiosidade que domina nosso
coração. Achamos que Deus só age em determinada forma ou padrão. Encaixotamos um Deus
que preenche todo o Universo. Tentamos impôr limites ao próprio infinito.
Não podemos simplesmente entregarmos ritmos, instrumentos para o diabo, como se
fossem dele por direito. Lembro-me de um registro histórico que diz que quando os
Vencedores por Cristo gravaram o LP “De Vento em Popa”, em 1977, eles usaram alguns
instrumentos pouco usados no meio cristão, como instrumentos de percussão, que na época
eram considerados instrumentos usados em rituais de macumba. Não foi à toa que discos
foram quebrados em púlpitos em vários lugares do Brasil.
Hoje vemos instrumentos de percussão sendo usados para a glória do Senhor ao
redor do globo. Eu creio de todo o coração que Deus está levantando uma geração de músicos
e ministros que irão redimir as artes em prol do Reino de Deus. Que saberão usar todos os
ritmos com sabedoria vinda do céu, em prol do Evangelho. Samba, pagode, rock, axé, rap,
reggae, pop, techno, tudo usado na obra do Senhor e a seu serviço. Existe uma música do líder
de louvor Beto Tavares, missionário da Jocum, de que gosto muito, e é baseada no texto de
Sofonias 3:17. Essa música é um contagiante frevo! Ela traz em si um pedaço das raízes
culturais de nosso país. Ainda me lembro de uma versão do Salmo 23, de composição de
Gerson Ortega, em uma excelente bossa-nova. O que dizer da “brasilidade” musical usada
pelo grande compositor Janires, fundador do grupo Rebanhão?
Não posso deixar de citar tantos músicos cristãos que têm feito música cristã de
qualidade e com brasilidade: Stênio Marcius, Gerson Borges, Carol Gualberto, Gladir Cabral,
Carlinhos Veiga, Jorge Camargo, Baixo e Voz, entre tantos outros. Eu realmente encorajo você,
leitor, a conhecer a obra desses músicos. (Pra conhecer mais o trabalho maravilhoso que estes
músicos desenvolvem acesse: www.ajuntamento.org)
Os salmos nos ensinam a louvar ao Senhor com toda sorte de instrumentos! (Salmo
150) Algo que creio ser importante ressaltar é que tudo o que fazemos deve levar a marca da
santidade. Esse deve ser o nosso árbitro. Se fizermos uma música em ritmo de reggae, e ela
trouxer em si a marca da santidade, então ela estará aprovada. Se usarmos o rock and roll e
trouxermos a marca da santidade, então deveremos prosseguir.
Somente assim poderemos redimir as artes para o Senhor. Sempre sou estimulado
quando ouço a querida Helena Tannure, professora do CTMDT, integrante do ministério
Diante do Trono, falar sobre isso. Ela é uma pessoa que sonha em ver isso concretizado: a
Igreja usando as artes em prol do Reino de Deus.
E isso não diz respeito só à música. Estamos falando de teatro, cinema, literatura,
pintura etc. Nós já temos tido um pequeno vislumbre do que artistas cristãos podem produzir
e do impacto que podem criar na sociedade.
Nós servimos a um Deus que é infinitamente criativo. Ele é o criador de todas as
cores, formas, sons. Ouvi certa vez o Dr. Pete Sanchez, diretor do Instituto Integrity, pastor e
líder de louvor, dizer que o diabo não pode criar nada belo. Nele só existe trevas. Portanto, se
ouvimos uma bela canção, mesmo que não cristã, temos de saber que essa beleza foi originada
em Deus, mesmo que a música não esteja sendo usada para glorificar a Deus. Se um cantor
possui uma bela voz, esse belo talento veio de Deus, mesmo que não seja usado para exaltar o
nome do Senhor.
Não estou aqui incentivando a ouvirmos qualquer tipo de música, mesmo as não
cristãs, mas estou simplesmente mostrando como podemos nos tornar religiosos e limitados.
Como já disse, tentamos criar um padrão para que tudo aconteça dentro dele. Seja desafiado a
alargar as suas fronteiras e a perceber que servimos a um Deus que não possui limites de
criatividade, e que podemos usar nossos talentos e habilidades para o fim ao qual eles foram
criados: glorificar a Deus.
Permita-se ser usado por Deus como instrumento na redenção da nossa cultura
secular e torne-se um agente de transformação.
Capítulo 10 – Um líder de louvor verdadeiramente líder

Este capítulo talvez seja um dos mais importantes deste livro. Confesso que relutei
para escrevê-lo por não me considerar completamente capacitado. Mas resolvi escrevê-lo por
sentir que Deus está me dirigindo a isso.
Lembro-me de um livro que vi certa vez, ainda não traduzido para o português, de
Kevin Navarro, chamado O líder de louvor completo. Neste livro, o autor defende que, para
um líder de louvor ser completo, ele precisa possuir quatro elementos básicos: liderança,
discipulado, teologia e veia artística.
Muitas vezes nos preocupamos somente com a parte do louvor, a parte artística, ou
nos preocupamos com o caráter do adorador, com buscarmos ser discípulos de Jesus, mas
negligenciamos a parte da liderança que está envolvida nessa função.
Em março de 2008, participei de um grande evento na cidade de São Paulo com o
renomado palestrante e conferencista internacional John Maxwell, especialista em liderança.
Ao ouvi-lo falar naquele final de manhã e início de tarde, fui lembrado pelo Espírito como é
importante aplicarmos princípios de liderança na área do Ministério de Louvor. Afinal, o
próprio termo que usamos para designar esta figura possui a palavra líder. Portanto, vou
mesclar em minhas reflexões algumas citações do Dr. John Maxwell.
Bem, vejamos a importância de termos muito claro em nós a consciência de líderes e
como podemos trabalhar alguns princípios de liderança. Quero começar citando uma frase do
Dr. Maxwell: “A boa liderança sempre faz diferença”. É sobre isso que vamos refletir por
alguns instantes.

A importância de uma figura de autoridade

Uma ministração só pode fluir de forma adequada quando toda a equipe e toda a
igreja conseguem identificar quem está na liderança desta ministração.
Por que é importante que a equipe saiba quem ocupa essa posição? Para que todos
saibam para onde deverão seguir sem ficarem perdidos. Durante uma ministração, existem
vários momentos-chave, como por exemplo a transição de uma música para outra, ou algum
momento específico dentro de uma canção. Nesses momentos, se não existe um líder definido,
a equipe fica sem saber para onde seguir. (...)
Quantas vezes já passei por situações embaraçosas por essa razão! Algumas vezes o
instrumental vai para um lado e o vocal para outro. Ou então, sem um comando específico,
cada vocalista canta uma parte da música. Enquanto uns repetem o refrão, outros voltam para
o verso. Como isso é embaraçoso!
Em algumas ministrações de que participei, quando estávamos nos aproximando de
algum momento-chave, duas pessoas da equipe deram comandos diferentes e o restante da
equipe não sabia o que fazer.
Quando possuímos uma figura de autoridade clara, nesses momentos a equipe sabe
que deve estar atenta para os comandos que ela dará, sejam eles comandos de voz ou sinais
com as mãos. Isso evita que haja confusão e distrações para a congregação.
Nosso alvo como ministros de louvor é desaparecermos durante a ministração para
que os olhos das pessoas estejam focados somente no Senhor. Se a equipe se confunde na
hora de seguir uma direção, cria-se uma situação de distração para a congregação.
Falando sobre a congregação, é extremamente importante que ela consiga identificar
essa figura de líder dentro da equipe de louvor. Agora tento pensar não como ministro, mas
como alguém que está na congregação. Como é difícil fluirmos durante a ministração se não
sabemos ao certo a quem devemos seguir, quando se instala aquela impressão de falta de
rumo. Há algo importante que sempre ensino em minhas ministrações: a congregação fica
mais aberta ao mover do Espírito, sente-se mais segura quando consegue identificar que está
sendo liderada por alguém que parece mais experiente neste assunto.

A responsabilidade de ser exemplo

Existe um ensinamento do Dr. Maxwell que me impacta muito: “Para avaliar o
desempenho de um líder, observe seus liderados. As pessoas podem ensinar o que sabem, mas
refletem aquilo que são”.
Uau! Como isso é maravilhoso e ao mesmo tempo aterrorizante! Leia novamente o
pensamento acima e reflita um pouco sobre ele. Que tremenda responsabilidade para um líder
de louvor ser o exemplo de adorador para toda a congregação. Mas como isso é verdade!
Quando nos colocamos à frente da congregação com o intuito de liderá-la em
adoração, automaticamente nos tornamos um exemplo a ser seguido por todos. A congregação
reflete o estilo e a forma de adorar do líder de louvor e de todos os ministros da equipe, de
forma geral.
E quero ressaltar uma responsabilidade ainda maior: quando nos colocamos à frente
da congregação, parece que nos tornamos transparentes, todos conseguem perceber se
estamos ministrando o que vivemos realmente ou se são apenas palavras vazias. Por isso a
importância de um estilo de vida de adoração.
Andy Park ensina algo poderoso sobre isso: “Os líderes transmitem não apenas as
palavras de uma música, mas o espírito por trás daquela apresentação musical”.
Park continua dizendo algo que julgo realmente importante: “Em grande escala, a
adoração congregacional reflete o ensinamento e o exemplo da liderança. (...) Os costumes e o
estilo de adoração são estabelecidos por meio do ensino e do exemplo”.
A forma como nos dirigimos a Deus, as expressões físicas que temos durante a
adoração, nosso discurso, nossas ações, tudo é observado atentamente pela congregação e
considerado como um exemplo a ser seguido.
Barry Liesch diz: “A linguagem corporal que tanto músicos quanto pastores utilizam
publicamente é extremamente importante. (...) Músicos devem dar bom exemplo na audição
do sermão – e pastores no ato de cantar”.
Como líderes e ministros de louvor, devemos sempre estar atentos a isso. Devemos
ter a mesma atitude de Paulo, quando se colocou como exemplo para os crentes de Filipos:
“Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em
vós” (Filipenses 3:17).
Os líderes de louvor devem ser exemplos de adoradores, exemplos de pais, exemplos
de filhos, exemplos de submissão ao pastor, exemplos de músicos, exemplos em nossa forma
de nos dirigirmos a Deus, exemplos de entrega e rendição ao Senhor. Quão grande é essa
responsabilidade, que tremendo desafio! Mas que recompensa maravilhosa quando
percebemos que podemos e devemos influenciar as pessoas a se inspirarem em nós no nosso
modelo e forma de adorarmos ao Senhor. Na verdade, liderança nos fala a respeito de
influência, como ouvi John Vereecken, presidente da Lidere, uma organização de treinamento
de líderes em todo o mundo, dizer.
Um líder eficiente é aquele que influencia as pessoas que estão à sua volta. De forma
positiva ou negativa. Adolf Hitler foi um líder extremamente bem-sucedido em sua liderança,
pois conseguiu influenciar todo um país a acreditar e a lutar por seus ideais, mesmo que eles
tenham sido completamente maus. O que adianta motivos bons se o líder não consegue
influenciar ninguém? Talvez você mesmo tenha vivido esta experiência de ter os melhores
motivos para realizar algo mas frustrar-se por não conseguir influenciar ninguém a “comprar”
a sua ideia.

O que significa ser um líder?

Ser um líder significa assumir grandes responsabilidades. Muitas pessoas almejam a
liderança por buscarem algum tipo de privilégio. Como isso é tentador! Muitas vezes vemos
somente os benefícios e privilégios de que os líderes desfrutam, mas não conseguimos
dimensionar as responsabilidades da posição de liderança ou até mesmo as renúncias que um
líder precisa fazer em prol dessa posição.
Este não é um livro sobre liderança, mesmo porque temos excelente material literário
disponível, mas quero pontuar quatro considerações do Dr. Maxwell, as três primeiras de seu
livro O livro de ouro da liderança, e a quarta, de sua palestra que ouvi em São Paulo. Depois
farei alguns comentários aplicando ao ministério e à liderança de louvor.

1) Liderança é a disposição de assumir riscos

O risco da liderança está em nos tornarmos responsáveis por outras pessoas. Em uma
ministração de louvor, assumimos o risco de não sermos bem-sucedidos em nosso objetivo
final, que é levarmos a congregação a experimentar a presença de Deus através das canções.
Assumimos o risco de cometermos erros e de passarmos por situações embaraçosas.
Assumimos o risco ao nos expormos ao julgamento das pessoas. Tudo isso existe quando
tomamos uma posição de liderança. Quando algo der errado, sobre quem cai a
responsabilidade? Sobre o líder!
Sou um apaixonado por História. Uma pessoa que marcou a História e que sempre
me chama a atenção é Winston Churchill, primeiro-ministro inglês durante a 2ª Guerra
Mundial. Sempre fico maravilhado quando vejo quantos riscos ele assumiu, tomando nas mãos
o destino do seu país e de todo o planeta, até chegar à vitória sobre os nazistas.
Será que temos essa consciência de que, ao assumirmos uma posição de liderança,
estamos assumindo automaticamente uma série de riscos? Será que estamos dispostos a
levarmos nossa liderança até o fim, enfrentando até mesmo intimidação e oposição?
Termino este ponto citando outra frase do Dr. Maxwell: “Liderar é, acima de tudo,
coragem”.

2) Liderança é falar com o coração ao coração dos liderados

A nossa liderança não deve ser somente técnica. Como líderes de louvor,
não estamos lidando com uma organização ou com uma empresa, mas estamos lidando
com algo vivo e que transcende a existência humana, que é a presença do próprio Criador
do Universo, o Senhor Todo-Poderoso.
Portanto, ao ministrarmos e liderarmos a congregação, as pessoas devem
ser capazes de perceber a vida de Deus fluindo através de nós. Temos de ministrar com o
nosso coração. Ao tentarmos ministrar seguindo todos os conselhos, todas as regras,
observando tudo o que somos ensinados a fazer, podemos ser levados a ministrar de forma
racional.
Toda técnica, todo conselho, toda observação não deve ser um obstáculo
e um empecilho para que ministremos com o nosso coração. As pessoas devem ver
sinceridade em nós. Elas têm de se identificar conosco. Devemos procurar diretamente os
seus corações. Devemos mostrar que não estamos acima delas, como se fôssemos seres
mais espirituais, mas que somos todos simplesmente iguais e que temos o mesmo acesso
ao Pai. Não existem filhos favoritos de Deus. Nós temos de expressar isso em nossas
ministrações.

3) Liderança é inspirar outras pessoas com uma visão clara da contribuição que elas
podem oferecer

Nosso papel como líderes de louvor é inspirar as pessoas, através de nossa liderança,
a se entregarem ao Senhor e a se renderem a Ele durante os momentos de adoração em um
culto congregacional. Mais do que isso, nossa vida deve servir de incentivo a elas para que
busquem um estilo de vida de adoração.
Podemos inspirar as pessoas com nossas ações, com nossas palavras, com nossas
músicas. Além de inspirá-las, devemos trazer a elas a consciência de que elas não são
expectadoras de um show, mas participantes ativas e importantes do culto. Através de nossas
ministrações, de nossas palavras, de nossas canções, devemos mostrar que durante um
momento de louvor cada pessoa deve trazer diante do Senhor o seu próprio sacrifício de
louvor!
Como esse pensamento enche meu coração de felicidade! Sempre me inspira pensar
que meu papel é incentivar as pessoas a abrirem seus corações diante de Deus, a se dirigirem
ao Senhor com suas próprias palavras. Devemos sempre lembrar que, por mais que estejamos
lidando com uma massa, Deus não vê a congregação como uma massa, mas individualmente.
E no meio da massa, Ele consegue apreciar a individualidade.
Nosso ministério deve refletir todas essas verdades, e devemos ensinar as pessoas a
importância de vivê-las.

4) Um líder sabe se identificar com seus liderados e sabe valorizá-los

Bons líderes de louvor são aqueles que sabem se identificar com as pessoas da
congregação, que sabem que não estão ali para serem aplaudidos, para serem afirmados pela
congregação, mas estão ali cumprindo o seu chamado, o ministério de Cristo que lhes foi
dado.
Um grande líder de louvor é aquele que consegue criar empatia com a congregação.
As pessoas precisam olhar para ele e se encontrarem, se reconhecerem, se identificarem. Elas
precisam saber que um líder de louvor também tem problemas e conflitos. Parte de uma boa
liderança é saber criar essa empatia.
Não devemos manter uma postura de que somos perfeitos e nunca cometemos um
erro sequer. Isso não é um exemplo de boa liderança. Bons líderes sabem dar valor às pessoas
debaixo de sua liderança.
Vejamos três passos importantes para que um líder possa valorizar seus liderados e
criar essa empatia.

4.1) Valorize as pessoas

Jesus foi nosso maior exemplo. Ele não se deixou levar pelos inúmeros compromissos
do ministério. Ele nunca colocou suas metas acima de pessoas. Ele sabia abandonar a
multidão para se dedicar a ouvir e atender uma só pessoa. Ele sabia reconhecer uma
necessidade mesmo em meio à multidão.
Em nossas ministrações, temos de valorizar as pessoas, cada indivíduo deve se sentir
amado e importante, mesmo que esteja no meio de uma multidão de milhares de pessoas.
Certa vez participei de um concerto com Marcos Witt. Ainda me lembro de como fiquei
impressionado com algo. Embora eu estivesse no meio de uma multidão de mais ou menos dez
mil pessoas, eu tive a impressão de que naquele lugar só estávamos ele, eu e o Senhor.
Essa deve ser a nossa meta! Cada pessoa deve se sentir tocada através de nossas
ministrações. Cada pessoa deve se sentir valorizada por nós.

4.2) Entenda o que elas valorizam

Eu só consigo criar essa empatia quando eu me esforço para entender o que é
importante para aquelas pessoas às quais estou ministrando. Nunca me esqueço de certa vez,
quando a equipe de louvor da Hillsong, liderada por Darlene Zschech, esteve no Rio de
Janeiro, e todos ministraram louvor com a camiseta da seleção brasileira de futebol. O que
eles estavam fazendo ali? Simplesmente se identificando com a nossa cultura.
Lembro-me de outro exemplo: o ministério Diante do Trono, ao gravar em Salvador,
na Bahia, procurou se identificar com a cultura local ao incorporar no arranjo de uma das
músicas do CD “Esperança” um ritmo tipicamente baiano. Como gestos simples podem tocar o
íntimo das pessoas!
Ao ministrarmos louvor, devemos nos colocar na realidade das pessoas para as quais
estamos ministrando. Isso é especialmente verdade quando eu estou ministrando fora do meu
contexto natural. Tudo isso são ferramentas que usamos para amolecermos o coração das
pessoas para o que vamos cantar e falar.

4.3) Que você, líder, seja mais valoroso

Como líderes, nós precisamos sempre estar crescendo. Como é triste quando um líder
de louvor pensa que já atingiu o patamar de seu ministério. Eu afirmo categoricamente que
isso nunca vai acontecer, não importa o quão inteligente ou talentoso você seja.
Nós precisamos sempre amadurecer, buscar novas ferramentas, sempre estar
atualizados com músicas novas, ritmos novos, buscando sempre aprender mais. Um coração
de adorador sempre está aberto ao ensino, pois sua vida é governada pela humildade.
Novamente quero citar o Dr. John Maxwell. Ele diz que “crescimento não é um
processo automático, mas intencional”. Se quisermos crescer, precisamos primeiramente
tomar consciência de que precisamos buscar esse crescimento e então agirmos.
Fico entristecido ao ver líderes de louvor que estão parados no tempo. Eles tocam da
mesma forma há vinte anos, cantam as mesmas músicas há vinte anos, cometem os mesmos
erros há vinte anos e não pretendem mudar isso.
Minha oração é para que o Espírito Santo esteja tocando o seu coração neste
instante, enquanto você lê estas linhas, e despertando você para a necessidade de
crescimento. Precisamos crescer em nossa espiritualidade, em nossa maturidade espiritual,
em nossa técnica, em nosso talento. Mas o crescimento só vem com esforço e renúncia, com
perseverança.
Um exemplo claro disso são as memórias que tenho de quando estudava piano
clássico. Para chegar ao resultado final de tocar bem uma peça, existia todo um processo, que
podia durar meses, em que eu tinha de aprender as notas de cada mão separadamente,
praticar vezes e mais vezes, bem lentamente. Depois a professora me dizia para juntar as
notas das duas mãos, ainda mais lentamente do que com as mãos separadas e, aos poucos,
com muito treino, eu ia aumentando a velocidade, até adquirir domínio sobre as notas e poder
tocar a música no andamento correto.
Era um processo divertido e agradável? Claro que não! Quantas vezes pensei em
desistir, mas o resultado final sempre valia a pena. Isso também é verdade em nosso
ministério. Crescer espiritualmente requer renúncias e disciplina. Crescer em técnica requer
horas e horas de estudo e ensaio. Mas lembre-se: o resultado final sempre vale a pena.
Se um líder parar de crescer, seus liderados também irão parar. O ritmo de um líder
determina a velocidade de todo o grupo. Você quer que seu grupo cresça? Seja o primeiro a
crescer e motive-os com seu exemplo.

Conclusão

Precisamos urgentemente de líderes de louvor que sejam verdadeiramente líderes.
Pessoas que saibam a responsabilidade da função que exercem e que estejam dispostas a
pagar o preço. Não tive a pretensão de ter abordado todos os aspectos relativos à liderança
neste capítulo; meu intuito foi apenas observar este tema dentro do nosso estudo em relação
ao Ministério de Louvor e à liderança de louvor.
A minha oração é para que este capítulo tenha servido ao menos para te despertar
para a necessidade de sermos verdadeiros líderes. Recomendo que você busque capacitação
na área de liderança. Leia bons livros. Veja o que a Bíblia diz sobre liderança. Participe de
eventos que promovam capacitação de líderes. E, acima de tudo, coloque isso em prática em
sua vida e ministério.
Capítulo 11 – Conselhos gerais para um líder de louvor

Creio que nesta segunda parte pudemos compreender mais claramente a função de
um líder de louvor, suas responsabilidades e seus desafios. Neste último capítulo da segunda
parte, gostaria de discorrer sobre alguns conselhos de ordem prática, muito relevantes na
vida de um líder de louvor ou na vida de qualquer ministro de louvor.

1) O líder de louvor deve ser pontual

Vamos começar por um dos pontos mais difíceis na vida de um ministro de louvor.
Confesso que eu mesmo sempre preciso me vigiar e lutar contra o hábito de chegar atrasado
em meus compromissos. Na verdade, esse é um problema que extrapola a ordem pessoal e
chega a ser cultural.
Nós latino-americanos possuímos uma cultura de atraso. Parece que já nascemos com
os genes programados para nunca cumprirmos nossos horários. Já marcamos nossas
programações contando com isso. Quem nunca ouviu a frase, ou até mesmo a disse, ao
participar de alguma excursão ou programa coletivo da igreja:
“– Olha, estamos marcando às 8:00 para sairmos às 8:30. Por favor, não se atrasem!”
Sempre me perguntei o sentido dessa frase complementar, uma vez que já estamos
programando e contando com o atraso! Mas, na verdade, essa falta de compromisso com a
pontualidade se torna um ciclo vicioso, e tem grandes chances de se tornar um grande atraso
em nossas vidas ministeriais.
Os músicos já são conhecidos por serem indisciplinados, por isso creio que nós,
músicos cristãos, precisamos ser exemplo inclusive nessa área. Precisamos ser pessoas que
honram seus compromissos, como um reflexo da espiritualidade. Uma vez ouvi Joyce Meyer,
conferencista internacional, dizendo que, como cristãos, precisamos ser pessoas de palavra.
Se dissermos que vamos fazer algo, precisamos cumprir o que foi dito.
Portanto, nossos ensaios precisam começar na hora! A equipe de louvor precisa estar
com tudo preparado para que o culto possa começar na hora. E de preferência com todos os
integrantes presentes! Já conheceu aquele tipo de ministro que você nunca sabe se vai chegar
ou não para o culto? Não podemos ser assim.
Sempre confronto a mim mesmo com a verdade de que a nossa pontualidade (ou a
falta dela) reflete o nosso caráter. Se buscamos ter o caráter de Cristo, precisamos começar
honrando nossos compromissos.

2) O líder de louvor precisa ser natural

Conheço pessoas que, ao subirem no altar para ministrar, parecem assumir uma
outra identidade, e passam a agir diferentemente do que agem normalmente. Como se para
estar na presença de Deus precisássemos esconder a nossa humanidade. Isso não deve
acontecer. As pessoas da congregação não precisam ver pessoas perfeitas no altar
ministrando. Elas precisam olhar e ver pessoas com as quais possam se identificar.
Por isso é imprescindível que um ministro de louvor seja natural, seja ele mesmo ao
ministrar. Isso fica muito transparente quando estamos no altar. É como se quando estamos
ministrando diante da congregação as pessoas pudessem ver com maior clareza se estamos
sendo verdadeiros ou não.
Deus nos criou com uma personalidade, com uma identidade própria. Nada agrada
mais ao nosso Criador do que O adorarmos do nosso jeito, de acordo com nossas
características particulares. Não precisamos nos “maquiar” para estarmos na presença de
Deus. Em sua presença podemos ser apenas nós mesmos. Como isso é libertador!
Estamos acostumados com um mundo onde as aparências importam mais do que a
essência. Como consequência, muitas vezes somos obrigados a agir de acordo com os padrões,
a seguir um protocolo. Agimos como aquele adolescente que, para ser aceito pelos colegas,
adota padrões de comportamento que não lhe são naturais. Muitos, para se adequarem a uma
posição, a um emprego, ou para alcançarem algum status social, passam a falar e a agir em
função do que é esperado deles.
Mas diante do nosso Deus não devemos agir assim! Você, ministro de louvor, não
precisa ser como aqueles operadores de telemarketing. É impressionante como alguns
ministros agem exatamente assim. Já possuem um texto “politicamente correto”
preestabelecido e o recitam de forma automática, naquele ritmo cadenciado tão característico
desses operadores.
Darlene Zschech resume assim este assunto: “Seja uma pessoa genuína. Queremos
acabar com essa mentalidade de encenação. (...) Não queremos um grupo de 'atores'.
Precisamos apenas ser pessoas genuínas, autênticas em nosso louvor”.
Eu gostaria de desafiá-lo nesse momento a ser você mesmo, diante do Senhor e
diante da congregação. Somos encorajados pelo exemplo de Davi. E como somos impactados
pela transparência do salmista em suas orações, em suas canções para o nosso Deus. Ali ele se
despia de qualquer protocolo real, de qualquer formalidade, e se apresentava “nu” diante do
Senhor. Apenas um homem comum. E assim foi chamado de “o homem segundo o coração de
Deus”.
Muitas vezes reproduzimos no altar palavras que achamos corretas, mas nas quais
não acreditamos. Ou estamos passando por alguma tribulação e achamos que não podemos
demonstrar. Os salmos nos mostram que tudo o que nosso Deus quer é que O adoremos com a
nossa humanidade, nossas dificuldades, nossas inconstâncias, nossos defeitos, mas que
coloquemos a nossa esperança e confiança no Senhor somente.
Outro aspecto altamente relevante a ser mencionado é a questão da falta de
identidade ministerial, que gera “ministros-clones”. O que seria isso? A insegurança, a
timidez, o complexo de inferioridade levam um ministro de louvor a se projetar em um outro
ministro, geralmente mais conhecido, de forma exagerada.
A influência e a identificação ministerial são inevitáveis. Sempre haverá algum
ministro que admiramos, que ouvimos com maior frequência e, por isso, teremos com ele
algumas semelhanças, principalmente no início da caminhada ministerial. Mas, com o passar
do tempo, o saudável é que cada ministro desenvolva sua própria identidade.
O que vemos em muitos lugares são pessoas que, ao invés de procurarem sua própria
identidade, acabam adquirindo a identidade do outro. E aí temos o que chamamos de
“ministros-clones”, que imitam o jeito de cantar de determinado ministro de louvor, ou talvez o
jeito de falar, ou alguma característica mais forte dessa pessoa.
Mas mais uma vez repito: Deus nos criou seres individuais e singulares. Somos todos
únicos! E devemos adorar ao Senhor explorando essa individualidade, essa pluralidade que se
chama Igreja, debaixo de um só Espírito, uma só fé, um só batismo, um só Senhor.

3) Um líder de louvor não deve ficar o tempo todo de olhos fechados

Isso é algo com que realmente precisamos nos acostumar. Muitas vezes ficamos tão
envolvidos com a adoração que fechamos nossos olhos e nos esquecemos de que estamos ali
para servir à congregação. Sempre costumo brincar dizendo que em um culto, além do pastor,
somos os únicos que estamos trabalhando. Não podemos nos desligar como se nada estivesse
acontecendo.
De maneira direta, como sempre faz, Darlene Zschech aborda esse assunto: “Adore a
Deus com tudo o que você é, mas fique com 'um olho fechado e o outro aberto'. É muito fácil
ficar perdido no louvor, e isso é maravilhoso para você, mas pode facilmente levá-lo a perder
um momento grandioso. Você precisa ficar atento ao que está acontecendo. O trabalho no
palco é ficar atento para que, como equipe, possamos fazer as pessoas ficarem juntas”.
Quando permanecemos de olhos abertos, podemos visualizar o que está ocorrendo
na congregação, se ela está recebendo e assimilando a ministração, se está conseguindo fluir
juntamente com a equipe na caminhada da adoração. Quantas vezes todos da equipe de
louvor estão à frente, de olhos fechados, e se esquecem de que estão ali para ajudar a
congregação a fluir junto com eles. Se estamos à frente, temos de agir como esses canais e
facilitadores.
Outro aspecto importante é que, permanecendo de olhos abertos, poderemos estar
atentos a tudo o que está acontecendo na congregação. Estamos lidando com o mundo
espiritual, travando uma verdadeira batalha, por isso precisamos nos atentar para qualquer
movimentação anormal na igreja ou alguma intervenção não usual. Precisamos estabelecer
comunicação visual com todos os integrantes da equipe, para que haja um bom fluir da
ministração.
Isso é especialmente importante para sonoplastas e responsáveis pela projeção das
letras. Quantas vezes o sonoplasta começa a adorar e se esquece de ficar atento aos sinais
dos ministros de louvor. Ou um responsável pelas letras que se entrega em adoração e
esquece completamente de acompanhar a projeção.
Precisamos estar cientes de que estamos em serviço e, por isso, estar atentos. É
claro que também precisamos nos conectar com Deus e fluir em adoração, e podemos fechar
os olhos em alguns momentos, mas isso não pode acontecer o tempo todo. Sempre digo,
figurativamente, que devemos manter um olho aberto, observando a congregação e qualquer
eventualidade, e o outro fechado, totalmente conectado em Deus e com a nuvem do seu agir.

4) Um líder de louvor deve se lembrar de que não é o pregador do culto

Mais à frente iremos abordar a questão de como deve ocorrer a ministração
especificamente e de como podemos estabelecer uma comunicação efetiva com a igreja,
mostrando às pessoas qual será o nosso direcionamento. Mas creio que seja importante
mencionar neste tópico algo que tem sido a principal causa da discórdia entre líderes de
louvor e pastores.
Muitos líderes de louvor abusam das palavras e do discurso para se fazerem
entendidos pela congregação. Acham que pelo muito falar se farão compreendidos. Mas isso
não é verdade.
O líder de louvor deve sempre se lembrar de que está lidando com uma das
ferramentas mais poderosas que Deus deu ao homem, como já dissemos: a música. O poder
de fixação da música transcende o poder de simples palavras. Na maioria das vezes queremos
falar muito quando deveríamos nos ocupar em cantar mais.
A comunicação líder de louvor-congregação é imprescindível, mas ela não precisa ser
necessariamente delongada. Seja rápido e objetivo no seu discurso. Aproveite o tempo
disponível para deixar as próprias canções ministrarem aos corações das pessoas. Mais à
frente nos aprofundaremos nesta questão.

5) Tenha sempre em mente uma canção preparada para qualquer ocasião

Eu mesmo já vivi e presenciei situações embaraçosas durante um culto envolvendo
o Ministério de Louvor. Creio que um dos maiores pesadelos de ministros de louvor são
aqueles momentos em que o apelo final se aproxima, a conclusão da pregação, e de repente o
pastor pede para toda a igreja ouvir uma música que não sabemos tocar com segurança. (Pelo
menos esse sempre foi meu maior pesadelo.)
Como é ruim quando poderíamos cantar uma canção que se conectasse diretamente
com o tema da mensagem que está sendo pregada mas acabamos cantando uma música que
não se aplica tão fortemente. Sempre digo que existem algumas canções que nos salvam de
qualquer aperto, pois podem ser aplicadas em qualquer tema ou situação. Mas até quando
vamos ficar dependendo delas?
Como ministros de louvor, temos de desenvolver a capacidade de sempre termos
uma canção certa para a hora certa. Isso é um exercício constante. Precisamos nos preparar
para o inesperado. Temos de sempre ter uma canção adequada na ponta da língua.
Como disse, você pode se exercitar com relação a isso. Faça um teste. Pense, durante
a mensagem do pastor: “Se ele pedisse uma música agora, qual música eu cantaria?” “E
agora, que ele deu uma ênfase diferente em seu sermão? Qual é a melhor música?” Isso é
algo que nos traz crescimento, além de precisarmos sempre estar atentos às palavras que
estão sendo proferidas.
Na maioria das vezes, o melhor a ser feito é perguntar ao pastor, antes do culto, se
ele já tem em mente alguma música para o momento do apelo. Isso ajuda a evitar
constrangimentos.

Conclusão

Como disse no capítulo 4, liderar louvor é uma arte que podemos sempre
desenvolver. Estes conselhos são prova viva disso. Sempre devemos procurar cumprir essas
atitudes e sugestões. É um desafio constante. Creio que nunca chegamos ao ponto onde não
há mais nada a ser aprendido. Estes conselhos mencionados acima são apenas alguns dos
muitos que podemos encontrar em nossa caminhada, mas já são um ponto de partida para
buscarmos em nós esse crescimento e essa mudança.
PARTE III

A MINISTRAÇÃO DE LOUVOR
Capítulo 12 – A principal tarefa do líder de louvor

Na parte anterior, já vimos qual é a necessidade de um líder de louvor, quais são as
suas funções e as suas qualificações, mas ainda creio que é muito importante que estudemos
qual é a sua principal tarefa.
A principal tarefa do líder de louvor não é trazer músicas novas para serem cantadas
pela igreja. Nem fazer com que todos do backing vocal cantem afinados. Não é nem mesmo
ministrar as músicas que a congregação gosta de cantar. Embora tudo isso faça parte das
tarefas de um líder de louvor, precisamos sempre estar focados na principal função a ser
cumprida. Muitas vezes acabamos perdendo o nosso foco com as tarefas secundárias do
ministério e por isso não alcançamos o nosso objetivo principal.
Preste bem atenção nisso: a principal função do líder de louvor é providenciar a
melhor oportunidade possível para que as pessoas adorem ao Senhor, aproximem-se de sua
presença.
Antes de continuarmos, preciso pontuar algumas coisas bem importantes sobre o que
acabei de dizer. Quando digo que precisamos providenciar uma oportunidade para que as
pessoas adorem, não estou dizendo que somos responsáveis por fazer com que cada pessoa da
congregação adore. Na verdade, precisamos fazer a nossa parte somente e deixar que o
Espírito Santo se mova e toque cada coração. Alguns líderes de louvor se sentem
sobrecarregados porque levam nos ombros uma responsabilidade que não é deles. Eles
pensam que devem fazer com que todos na congregação fluam em adoração, e quando não
conseguem isso, se sentem frustrados. Mas na verdade não é esse o nosso papel.
Providenciar esta oportunidade significa observar alguns pontos que já foram
discutidos e outros que ainda serão mais à frente, tendo em vista um fluir melhor da
ministração. Portanto, estamos cumprindo essa tarefa quando cantamos afinados, ou quando
tocamos todos juntos. Estamos fazendo a nossa parte quando buscamos ao Senhor, e, ao
ministrarmos, seguimos a direção que Ele nos der. Ao observarmos as preparações na vida de
um ministro de louvor descritas no capítulo 7, também estaremos cumprindo o nosso alvo.
Em resumo, um líder de louvor cumpre a sua principal tarefa quando remove todos os
obstáculos naturais de uma ministração e deixa o caminho livre para o Espírito Santo agir e se
mover. Nossa tarefa é removermos todas as distrações possíveis e deixarmos que as pessoas
coloquem seus focos apenas no Senhor.
Quais seriam essas distrações? Pode ser alguém cantando desafinado, ou um
instrumentista chamando atenção para si, ou um som não muito bem balanceado, com volume
alto ou baixo. Quantos líderes de louvor são eles mesmos uma grande distração?
Gosto muito de algo que ouvi de Ana Paula Valadão, em uma aula, quando disse que
um líder de louvor deve procurar se tornar o mais invisível possível. Mas quantos parecem
buscar exatamente o contrário, e fazem de tudo para chamar toda a atenção para si? É certo
que um momento de louvor precisa de liderança, mas devemos fazer isso sem chamar a
atenção para nós mesmos.

Evitando a manipulação

Nenhum líder de louvor pode mover o coração de uma só pessoa. Esse é o trabalho do
Espírito Santo. Barry Liesch diz: “Líderes de louvor têm a obrigação de jamais manipular as
pessoas. Eles devem ganhar, e nunca trair, a confiança que o povo coloca neles”. Bob Sorge
diz que ser um líder de adoração não significa ser um “condutor” ou “controlador” da
adoração. Ele diz mais: “Quando líderes de louvor tentam manipular as pessoas a terem uma
certa reação ou expressão, eles estão entrando em uma área proibida”.
O máximo que podemos fazer, como líderes de louvor, é incentivarmos as pessoas a
fluírem em adoração. Como funciona isso?
Podemos incentivá-las a abrirem seus corações para o mover do Espírito com nossas
palavras, com nossas músicas, mas principalmente com nossas atitudes. Nossas atitudes de
adoração falam mais alto do que qualquer outra coisa. Por isso é tão necessário que tenhamos
uma vida de adoração genuína, pois, enquanto estamos no altar ministrando, de alguma forma
que ainda não consigo entender completamente, as pessoas da congregação conseguem
perceber se estamos sendo verdadeiros ou não. A igreja precisa olhar para nós e se sentir
incentivada a fluir em adoração.
Quando não temos a consciência de que é o Espírito Santo que move os corações e
tomamos para nós a responsabilidade de fazer as pessoas adorarem, corremos o risco de
manipulá-las para que ajam da forma que esperamos que ajam.
Permita-me contar algo: com o passar do tempo, nós realmente aprendemos como
manipular a congregação. Certa vez, quando conversava com Don Moen, o mundialmente
conhecido compositor e líder de louvor da Integrity Music, e ele me disse que algo que o
assustou bastante no início da caminhada ministerial foi perceber que, através da música, ele
conseguia manipular as pessoas.
Por que não tocar num tom menor para deixar as pessoas mais contritas? Ou quem
sabe falar algumas palavras de efeito? Ou usar um ritmo marcante para prender a atenção da
congregação?
Devemos usar o poder que a música exerce, mas não para manipular as pessoas. E
essa é uma linha muito tênue. Em quantas igrejas encontramos o que eu chamo de “líder-de-
louvor-animador-de-torcida”! Sabe aquela atitude de direcionar o que as pessoas devem fazer
o tempo todo?
“– Você pode aplaudir ao Senhor agora?”
“– Levante as suas mãos. Agora feche os seus olhos.”
“– Pule pro Senhor no seu lugar! Agora pule com o pé direito. Com o pé esquerdo
agora.”
Estou exagerando um pouco, para que você entenda melhor o que quero dizer. Não
há nada de errado em trazermos algumas palavras de incentivo e direção, mas tudo o que
ocorre em demasia não é saudável. Se o nível de resposta da igreja depende do nível de
estímulo do líder de louvor, algo não está bem.
Barry Liesch diz algo realmente enriquecedor sobre esse assunto: “O líder de louvor
não deveria tentar criar, induzir, ou, ainda pior, comandar a presença de Deus.” E ele ainda
continua, dizendo: “Em geral, líderes de louvor devem estabelecer controle desde o início. À
medida que as pessoas acomodam-se na adoração, no entanto, você precisa abrir mão de
algum controle a fim de que não seja o objeto visual dominador. Conforme o culto caminha na
direção da intimidade, deixe a congregação concentrar-se em Deus sem distração”.
Mais uma vez quero frisar: não há nada de errado em trazermos direção e incentivo à
igreja. Na verdade, isso é parte de uma boa comunicação entre líder de louvor e congregação,
mas precisamos sempre observar se estamos agindo assim com o objetivo de manipular.

Mas o que fazer quando as pessoas não respondem?

Você já ficou extremamente empolgado com uma música nova que pretendia ensinar
para a igreja ou com uma direção de ministração recebida pelo Senhor e criou uma
expectativa de que tudo iria correr bem e que as pessoas iriam fluir e permitir que o Espírito
Santo se movesse, mas o que aconteceu na hora foi exatamente o contrário?
Eu já passei por essa experiência desagradável. Quantas vezes em minha mente tudo
parecia tão perfeito, mas no momento do louvor nada funcionou direito. E o pior de tudo é
percebermos que as pessoas não estão respondendo à nossa ministração e não estão fluindo
em adoração. É nestes momentos que somos tentados a dar “uma ajudinha” para o Espírito
Santo, como se Ele precisasse disso.
Precisamos sempre nos lembrar de que o Espírito Santo está no controle. Seja
quando a ministração ocorre da melhor forma possível, seja quando tudo parece fora do
planejado. Isso é um exercício de fé. Precisamos crer que, por mais que nossos olhos naturais
não estejam vendo, se fizermos a nossa parte corretamente, o Espírito Santo irá fazer a dEle.
A nossa confiança deve residir no fato de que Ele nunca falha, nem mesmo quando nós
falhamos.
Esse é um exercício constante. Não estou dizendo que é algo fácil, porque não é.
Devemos estar muito sensíveis ao Espírito para recebermos dEle a direção do que fazer nestes
momentos. O Espírito pode trazer aos nossos corações alguma música específica a ser
entoada, ou quem sabe uma palavra específica a ser ministrada, ou então uma outra direção.
Já passei por situações em que a igreja não respondia à ministração, e recebi a
direção clara de direcionar a igreja para um momento de batalha espiritual. Quando o Espírito
nos direciona nesse sentido, podemos começar a guerrear em oração contra todo levante do
inferno contra a igreja, ou também levar a igreja a entoar um hino de guerra espiritual.
Momentos assim são necessários, e devem acontecer debaixo da direção do Espírito.
Mas também já passei por momentos assim e não senti a direção de guerrear.
Algumas vezes o Espírito nos leva simplesmente a continuarmos a jornada de adoração,
crendo que Ele está agindo e movendo. Por isso precisamos estar sempre ligados com o
Espírito, porque não existe um manual com as regras de como agir nessas situações.
Portanto, a melhor forma de agirmos nessas situações em que não obtemos uma
resposta satisfatória da igreja é buscarmos uma direção do Espírito. Assim, com toda a
certeza, não erraremos e nem manipularemos a congregação.
Para encerrar este assunto, gostaria de citar mais uma vez Andy Park: “Todos os
líderes de louvor deveriam sentir uma dose sadia de dependência de Deus quando iniciam um
momento de adoração. Somente Deus pode fazer com que as coisas realmente aconteçam nos
cultos. É Deus – e não nós – quem controla a liberação do Espírito Santo. Nossa tarefa é orar,
preparar e confiar nEle quanto aos resultados”.

O líder de louvor servo

Falemos um pouco sobre a atitude de servo que cada um deve ter. O primeiro
pensamento que precisamos ter bem claro em nossas mentes é que o ministério não é para
nós. Na verdade, quando dizemos “o meu ministério”, temos de ter sempre em mente que não
possuímos ministério algum. O ministério sempre foi e sempre será de Cristo. Nós apenas
somos colaboradores no seu Reino.
Ministério é serviço, portanto nós, como ministros, somos servos. Como tudo seria
diferente em nossas igrejas se todos os ministros tivessem esse entendimento. Um servo não
busca a sua vontade, mas simplesmente obedece a vontade do seu senhor. Um servo não
busca glória para si, mas se alegra somente em fazer suas obrigações bem feitas e ver o seu
senhor feliz.
Darlene Zschech é muito direta ao dizer: “Como adorador extravagante, seja alguém
dedicado ao serviço”.
Bob Sorge diz: “O líder de louvor deve se guardar das visões de grandeza... Ele deve
ser um servo, um ministro, um ajudador”.
Ao invés de termos um ministro que se sente uma grande estrela e que precisa ser
servido por todos na congregação, passamos a ter um ministro que entende que deve ser o
primeiro a servir. Na cultura secular os artistas são tratados como megaestrelas, e por isso
devem ter todas as suas vontades e exigências satisfeitas. Com o artista moldado pelo Espírito
isso não acontece.
Ao invés de buscar reconhecimento, ou o cumprimento das suas próprias vontades,
ao invés de buscar ser servido e reconhecido, um líder de louvor servo entende que em tudo o
que ele fizer deve buscar servir ao Corpo de Cristo.
Qual é a aplicação prática disso em nossos cultos? Tendo essa atitude de servos,
temos de pensar que tudo o que fazemos é pra ajudar as pessoas a se conectarem com Deus
em adoração, desde as canções escolhidas até detalhes técnicos. Um líder de louvor servo
canta as músicas no tom que for mais adequado para a congregação, e não no tom em que ele
pode mostrar melhor sua habilidade vocal. Um líder de louvor servo não canta somente as
músicas de que gosta ou deixa de cantar as de que não gosta. Ele sabe que está ali para
ministrar as canções que servem melhor a congregação. Um líder de louvor servo sempre está
disponível para organizar cabos, guardar instrumentos, limpar e arrumar a igreja ou a sala de
instrumentos.
Essa mudança de mentalidade acaba sendo refletida em todas as nossas ações.
Lembro-me de algo que marcou minha vida e ministério, que li no livro O que faremos com
estes músicos?, de Marcos Witt. Tomo a liberdade de contar essa história com minhas próprias
palavras, mas de forma fiel.
Ele relata que, ainda muito jovem, enquanto estudava em um seminário teológico em
Santo Antônio, no Texas, Estados Unidos, ele foi contratado como líder de louvor por uma
igreja. Ele então pensava em como poderia fazer lindos arranjos com o coral ou como poderia
trazer crescimento para a equipe de louvor. Qual foi a sua surpresa quando, no primeiro dia,
foi chamado pelo pastor para substituir, por uma semana, o funcionário da limpeza que havia
sido demitido.
Marcos, então, com boa vontade, disse que poderia servir na limpeza durante uma
semana. Mas passaram-se quatro semanas e ele ainda continuava na limpeza. Então um dia,
enquanto limpava o vaso sanitário, ele disse para o Senhor:
“– Olha, Deus, o Senhor não me chamou para limpar banheiros. Eu fui chamado para
liderar louvor. Eu fui chamado para reger o coral. Eu fui chamado para fazer lindos arranjos.”
E então ele ouviu a voz suave do Senhor falando ao seu coração:
“– Marcos, se você não pode me servir limpando um banheiro, então não quero ouvir
nenhuma nota sua no meu altar.”
Que dura verdade é essa, não é mesmo? Muitas vezes queremos impressionar outros
com o nosso dom, mas não estamos prontos para servir. Essa deve ser nossa meta ministerial,
algo que realmente guardamos em nosso coração. Temos de viver para servir ao Senhor e ao
Corpo de Cristo.
Essa é a nossa tarefa. Fomos criados para servir.
Capítulo 13 – O protocolo celestial

A Bíblia é tão maravilhosa que ela mesma nos ensina a como nos aproximarmos da
presença de Deus. É imprescindível, ao falarmos sobre o fluir de uma ministração, que
estudemos o que a Palavra nos ensina sobre o protocolo, o processo que deve acontecer para
que entremos na presença de Deus.
Como eu já disse anteriormente, este livro tem como objetivo ser um guia prático
para um ministro de louvor e para o bom funcionamento de um Ministério de Louvor, e não
um livro sobre adoração e louvor. Nós temos ótimos livros sobre esses assuntos em nosso
país. Livros que tenho lido e que muito têm me edificado.
Mas creio ser importante para um ministro de louvor, como condutor principal de
uma ministração, saber quais são os passos bíblicos para nos aproximarmos do Senhor.
Nossas ministrações devem manifestar esses três passos. Tudo o que fizermos e cantarmos
deve nos direcionar para o alvo final, que é entrarmos na presença do Todo-Poderoso.
Portanto vamos ver o que a Bíblia nos ensina sobre o protocolo celestial.

A figura do tabernáculo

Em Hebreus 10:1 lemos que a lei, o Antigo Testamento, era uma sombra do que viria
a ser revelado através de Cristo e a Nova Aliança. Lemos ainda em Hebreus 8:5 que o
ministério sacerdotal daquela época também era uma sombra do sacerdócio a ser revelado
em Jesus, o sacerdócio celestial.
Ainda nesse verso vemos que o tabernáculo era a sombra de uma verdade celestial.
O tabernáculo representava o que é necessário para que o homem entre na presença de
Deus. Ele foi projetado pelo próprio Deus e descrito detalhadamente a Moisés, dividido em
três partes: o átrio exterior, o Santo Lugar e o Santo dos Santos. Essas três divisões do
tabernáculo nos revelam algo muito profundo sobre o protocolo celestial, sobre como
devemos entrar na presença de Deus.
Vamos falar sobre os três estágios para um encontro real com o Senhor: o primeiro,
ações de graças; o segundo, louvor; e o terceiro, adoração.

Ações de graças

O salmo 100:4a nos diz: Entrai por suas portas com ações de graças (...). As ações de
graças a Deus são a porta de entrada para a sua presença. No tabernáculo podemos
comparar este estágio com o átrio exterior. É o primeiro estágio para atingirmos o Santo dos
Santos. A primeira atitude que temos de ter para entrarmos rumo ao Santo dos Santos é
gratidão.
Como isso é difícil em nossos dias! Vivemos em um mundo cheio de ingratidão, de
insatisfação. As pessoas nunca estão contentes com o que têm. É o consumismo gerando a
insatisfação em nossos corações. Pense comigo se isso não é verdade. Se temos alguma coisa
legal, sempre aparece alguém com algo melhor, que passamos a almejar.
Sempre achamos que alguém nos deve alguma coisa. Pensamos que o governo está
em dívida conosco. Que o nosso patrão está em dívida conosco. Que a nossa família está em
dívida conosco. Ou seja, sempre nos vemos como vítimas da história e imaginamos como
poderíamos ser muito mais felizes.
Mas veja o que diz Romanos 1:21: porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios
raciocínios.
Aquele que é ingrato não glorifica a Deus. E ainda mais, a ingratidão gera a falta de
discernimento. Veja o que diz o versículo acima. Por causa da ingratidão, tornaram-se nulos
em seus próprios pensamentos.
Nós precisamos viver uma vida regada pela gratidão. O nosso nível de gratidão está
diretamente relacionado ao nosso nível de espiritualidade. Se queremos ser mais espirituais,
devemos começar sendo mais gratos. Efésios 5:20 nos diz: dando sempre graças por tudo a
nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
E talvez você pergunte como podemos ser gratos a Deus por tudo o que nos
acontece. O segredo está em conhecer verdadeiramente a Deus. Em minha caminhada tenho
descoberto que só poderemos ser verdadeiramente gratos se conhecermos quem Deus é.
Se acharmos que Deus é um velho mal-humorado e se não soubermos que Ele nos
ama em todas as situações, não conseguiremos ser gratos. E eu não estou falando de um
conhecimento mental ou intelectual. Estou falando de um conhecimento revelado, verdadeiro
e profundo.
Quando sabemos em nossos espíritos que Deus nunca perde o controle de nossas
vidas, que Ele nunca se esquece de nós, que Ele nunca nos abandona, podemos ser gratos a
Ele, mesmo quando não entendemos o porquê de muitas coisas. Não devemos ser gratos
somente quando tudo está bem. Quando confiamos inteiramente no Senhor, mesmo nas horas
incertas poderemos ser gratos. Esse era o segredo da gratidão do apóstolo Paulo, mesmo nas
horas mais difíceis. Por isso ele podia dizer para sempre sermos gratos por tudo (1
Tessalonicenses 5:18).
No átrio exterior do tabernáculo havia o altar de holocaustos e a bacia de bronze. É
ali que devemos oferecer esse sacrifício de ações de graças, nos oferecermos como sacrifícios
vivos. Abrirmos mão da nossa compreensão humana, da nossa razão. Não é fácil termos
sempre essa atitude de gratidão. Muitas vezes não sentimos de fazê-lo, mas sabemos que
devemos, pela fé. Esse é o sacrifício.
É ali que devemos agradecer e nos lavar no sangue de Jesus. É nesse momento que
nos apropriamos do sangue de Jesus, que, como diz a Palavra em Hebreus, é a nossa
confiança para podermos entrar na sala do trono. Não é pelos nossos merecimentos, mas pela
graça e misericórdia do Senhor.
Quando somos gratos, nosso coração é liberto de medos, pois experimentamos o
amor do Senhor. Quando somos gratos, caminhamos em direção ao Pai e alegramos o seu
coração. Quando somos gratos, liberamos um poder espiritual secreto, um poder que vem do
próprio Deus em favor daqueles que O amam. Quando somos gratos possuímos a paz de Deus
em nosso espírito e sabemos que nenhuma circunstância pode nos abalar, pois estamos
firmados na Rocha, por mais que as circunstâncias pareçam contrárias.
Em nossas ministrações, devemos dar oportunidade para as pessoas expressarem
sua gratidão ao Senhor. Devemos cantar canções que expressem isso para gerarmos nos
corações das pessoas da congregação esse sentimento de gratidão. Devemos ensiná-las sobre
como é importante esse exercício de darmos graças a Deus. É nesse momento que devemos
incentivá-las a pensar sobre o sacrifício de Jesus e a se apropriarem do poder do seu sangue.
Esse é o primeiro passo para termos um encontro real com o Rei dos reis. Vejamos agora o
segundo passo.

Louvor

O segundo passo em nossa caminhada pelo tabernáculo é o Santo Lugar. O salmo
100:4 continua dizendo: Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios com
hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
Se entramos no átrio exterior com ações de graças, devemos entrar pelo Santo Lugar
com um hino de louvor. Louvor nos fala de declarar quem Deus é e suas poderosas obras.
Louvor nos fala de festa. O salmo 100:1-2 diz: Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras.
Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.
Devemos providenciar para a congregação uma oportunidade de celebrarem ao
Senhor com festa e júbilo. Devemos ministrar músicas que demonstrem a alegria do Senhor
em nossas vidas.
Não estou falando de uma alegria forçada, mas de uma alegria genuinamente gerada
no Espírito. Nosso Deus é um Deus de alegria. Por isso nós podemos dançar, celebrar, bradar
e pular. Como ministros de louvor, precisamos sempre propiciar momentos assim para a
congregação.
Barry Liesch diz: “As pessoas não podem simplesmente chegar na igreja e mergulhar
na adoração sem preparação. Pessoas precisam de tempo antes que estejam prontas para
expressar intimidade e adoração genuínas. E começar com o louvor faz sentido também. A
maioria das pessoas precisa acordar e ser estimulada através de uma música animada no
início do culto”.
Além dessa festa, existe um grande poder no louvor. Não é o que vemos em 2
Crônicas 20? O rei Josafá, rei de Judá, foi desafiado pelos moabitas e pelos amonitas, e sabia
que não tinha chance de vencê-los. Então ele convocou todo o povo de Judá para juntos
clamarem ao Senhor. E o Senhor lhe deu uma palavra. Que eles não deveriam pelejar, mas
somente tomar posição. E então o rei Josafá ordenou que os levitas, cantores, fossem à frente
do povo entoando somente uma simples canção. Mas que canção poderosa é essa! “Rendei
graças ao Senhor, porque a Sua misericórdia dura para sempre.”
Você consegue ver o poder do louvor aliado com o poder das ações de graças?
Somente com essa canção nos lábios, o povo de Judá viu todo o exército inimigo ser derrotado
miraculosamente pelo Senhor.
Eu creio nesse louvor que traz a vitória. Eu creio de todo o meu coração que,
enquanto adoramos ao Senhor, e O engrandecemos, e proclamamos seus poderosos feitos, Ele
luta a nosso favor.
Eu creio em um louvor que traz liberdade, como aquele louvor tremendo que foi
entoado por Paulo e Silas na prisão. Mais uma vez uma poderosa canção de louvor que foi
originada em corações gratos. Paulo e Silas poderiam estar completamente deprimidos e
decepcionados, afinal estavam cumprindo a obra do Senhor e foram maltratados,
perseguidos, açoitados e agora estavam presos, provavelmente amarrados. Mas, ao invés de
colocarem murmuração nos lábios, eles começaram a cantar, como a Bíblia diz em Atos 16,
“louvores ao Senhor”, e as cadeias começaram a se soltar.
Nós temos experimentado esse louvor que traz libertação. Libertação de prisões da
alma, de decepções, de mágoas, de complexos. Libertação de vícios e de comportamentos que
não agradam a Deus. Quando nós começamos a liberar um louvor genuíno, o Senhor começa
a mandar o terremoto que faz as cadeias caírem em nossas vidas. Você crê nisso?
O Salmo 22:3 diz na versão Corrigida: Porém tu és Santo, tu que habitas entre os
louvores de Israel. Você consegue compreender a profundidade desta afirmação? O próprio
Criador do Universo se faz presente quando o seu povo, o seu Israel O louva
verdadeiramente. Por isso milagres e curas acontecem. Por isso libertações e restaurações
acontecem. Porque o próprio Deus se faz presente, e onde a sua presença habita todas essas
coisas começam a acontecer.
No Santo Lugar encontramos três objetos. A mesa dos pães da proposição, o
candelabro e o altar de incenso. É no Santo Lugar que encontramos nossa provisão. Os pães
nos falam disso. Falam-nos da provisão material, mas também nos falam da provisão
espiritual. Proposição significa literalmente presença, são os pães da presença. É ali que nos
alimentamos da presença de Deus e somos fortalecidos. O louvor fortalece os nossos
espíritos.
O candelabro logo nos remete à figura do fogo. Mas para que houvesse fogo era
necessário óleo. O próprio Deus ordenou a Moisés que aquelas lâmpadas nunca se
apagassem. É no Santo Lugar que encontramos óleo, azeite, unção do Espírito Santo para que
o fogo nunca se apague em nossos corações. O fogo da santidade, o fogo da pureza, o fogo da
paixão pela presença do Senhor.
Durante a ministração de louvor as pessoas da congregação precisam ser impactadas
por esse fogo, por essa paixão, e precisam receber, do próprio Deus, esse óleo, essa unção,
essa capacitação que vem dos céus.
E por último temos o altar de incenso. Esse altar era o último objeto que o sacerdote
encontrava antes de entrar no Santo dos Santos. O incenso nos fala das orações dos santos
elevadas a Deus. O nosso momento de louvor deve ser um momento em que cada pessoa
entrega a Deus o seu clamor, as suas orações. É nesse momento que nos conscientizamos de
quem Deus é e do que Ele tem feito por nós, que apresentamos a Ele as nossas petições,
sabendo e crendo que Ele nos ouve.
Como eu gosto do som de toda a congregação levantando um clamor sincero diante
de Deus! Sempre que ministro, procuro separar um momento para que as pessoas façam isso.
Depois de agradecerem ao Senhor, depois de celebrarem, depois de declararem quão
poderoso Ele é, depois de se alimentarem de sua presença e de receberem a sua unção, então
é tempo de elevarem o seu clamor a Deus.
E então, estaremos prontos para entrar na presença do Todo-Poderoso, no Santo dos
Santos.

Adoração

Quando entramos no Santo dos Santos, não achamos rituais que nos satisfaçam, não
temos argumentos plausíveis, não temos mais palavras, simplesmente estamos diante da
presença do Deus de Israel. Aqui não há mais nada senão um móvel. A arca da aliança. A
própria presença de Deus manifesta entre nós.
Quando o sumo sacerdote entrava pelo véu no Santo dos Santos e ficava diante da
arca, ele sabia que não havia mais o que pudesse fazer, a não ser adorar ao Senhor. Diante da
presença de Deus, ficamos sem reação, só conseguimos adorá-Lo e adorá-Lo.
O Santo dos Santos é lugar de humilhação. É lugar de plena consciência da nossa
humanidade e de quão pequenos somos, mas também de plena consciência da grandeza de
Deus. Quando o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, ele estava, na verdade,
entregando tudo o que tinha, inclusive sua vida, pois não sabia se sairia vivo dali. O Santo dos
Santos é um lugar de entrega.
Aqui você não celebra mais os grandes feitos de Deus. Aqui você simplesmente O
adora por quem Ele é. O Santo dos Santos é um lugar de adoração, de veneração suprema à
presença de Deus.
É aqui que nós entregamos nossos sonhos, nossa vontade própria, nossos
pensamentos, nossa razão, enfim, toda a nossa vida. É aqui que encontramos nossa plena
realização pessoal.
Como ministros de louvor, nosso alvo deve ser guiar toda a congregação até a
entrada da sala do trono e então encorajá-la a entrar confiantemente. Ali somente o sumo
sacerdote entrava. A adoração verdadeira acontece em um lugar de solitude. É só você e
Deus. Por mais que você esteja rodeado de pessoas em uma congregação, no Santo dos
Santos é só você e Deus. O Santo dos Santos não é um lugar para muitos, como o átrio
exterior, mas um lugar para poucos.
Baseado em minha própria experiência, posso lhe dizer que o Santo dos Santos pode
vir a ser um lugar frustrante para líderes de louvor. Quando levamos a igreja até ali, nós já
não sabemos mais o que falar ou o que fazer. Subitamente todas as nossas direções se vão, e
parece que tudo está saindo do controle. Só nos resta nos entregarmos em adoração também.
Você já experimentou essa sensação? Eu já vivi experiências de ter me jogado ao
chão enquanto dirigia louvor, pois a presença de Deus era tão palpável que eu sabia que não
precisava mais dar uma única palavra de direção. Tudo o que eu tinha a fazer era me render e
adorar.
Quando tocamos a presença do Senhor, nossa vida é mudada para sempre. Apenas
um toque da presença do Senhor e somos transformados. Por isso é tão importante que nós,
como ministros de louvor, lideremos nossas congregações até este ponto, para que vidas
sejam renovadas e transformadas.
Foi diante da presença manifesta do Senhor que Isaías recebeu o seu chamado. Foi
diante dessa mesma presença que Saulo teve sua vida completamente mudada. Foi diante do
trono do Altíssimo que João caiu como morto e ali pôde ser usado como mensageiro do
Senhor.
Será que é isso que nós queremos? Será que é isso que estamos buscando de todo o
nosso coração? A minha oração é para que este seja o alvo contínuo de nossas vidas e
ministérios!

Conclusão

Se quisermos liderar a congregação em uma genuína experiência de adoração, é
extremamente importante que, durante a ministração de louvor que estivermos dirigindo, nós
vivenciemos estes três pontos, para que todos possam experimentar da presença genuína do
Senhor como resultado final. Ações de graças, louvor e adoração são as chaves que abrem o
caminho para que entremos até a sala do trono.
Capítulo 14 – Fluindo com o rio de Deus

Neste capítulo iremos abordar algumas questões referentes ao fluir de uma
ministração de louvor. Apesar de este ser um assunto difícil de analisar, pois cada ministração
é única, ainda mais se for feita debaixo da direção do Espírito Santo, eu me proponho a
estudar alguns elementos que devem estar presentes em uma ministração dirigida pelo
Espírito.

Dependência de Deus

Gosto muito da expressão “jornada de adoração”. Ela expressa o que realmente acontece
durante esses momentos. Na Bíblia, sempre que temos alguma jornada mencionada, ela nos
fala de total dependência de Deus. Lembremo-nos da jornada de Abrão. Ele foi desafiado a sair
da sua zona de conforto, do seio de sua família e partir para uma terra estranha, onde ele
dependeria somente do Senhor. Foi durante essa jornada que Abrão recebeu um novo nome,
Abraão, pai de multidões.
Jacó, em sua jornada de volta à sua terra para enfrentar o seu passado, teve um
encontro verdadeiro com Deus. Ali seu nome foi trocado de “Enganador” para “Príncipe de
Deus.” Com o povo de Israel, na sua jornada pelo deserto, não foi diferente. Ali, durante
quarenta anos, eles aprenderam que a única saída é depender totalmente do Senhor. Os que
não conseguiram entender isso morreram ali mesmo no deserto.
Em uma jornada de louvor e adoração, não existe outro meio de obtermos
sucesso a não ser quando nos tornamos totalmente dependentes do Senhor. Ali, como o povo
no deserto, temos de aprender a abrirmos mão de nossas vontades, de nossa forma de
fazermos tudo, e buscarmos a vontade do Senhor.
Em uma jornada de adoração verdadeira, temos um encontro com Deus e temos
nossas vidas transformadas, assim como Jacó. Durante essa jornada, recebemos as promessas
do Senhor e a fé de que Sua palavra se cumprirá.


O mover da nuvem

Gosto sempre de me lembrar do povo de Israel no Egito. Eles eram guiados naquela
jornada pela nuvem do Senhor, que os acompanhava durante o dia, e pela coluna de fogo,
durante a noite. Quando a nuvem andava, o povo levantava acampamento juntamente com ela.
Os levitas desmontavam toda a estrutura do tabernáculo, cada família juntava seus pertences
e iam atrás da nuvem.
Quando ela parava, todos paravam e armavam acampamento. Tudo era novamente
armado – o tabernáculo, as tendas de habitação etc. E ficavam ali até que a nuvem se movesse
novamente.
Assim devemos ser também. Devemos nos mover com a nuvem do Senhor. Para
onde ela está indo? Essa não é uma tarefa fácil! Requer esforço, obediência e, principalmente,
sensibilidade e discernimento. Porque, nos nossos dias, essa nuvem não é mais visível. Nós
temos de contemplá-la com nossos olhos espirituais. Devemos ter visão profética.
E aqui creio que uma discussão é muito válida e necessária. Muitas vezes a nuvem do
Senhor se move e nós não percebemos, ficando parados. Sabe aquelas ministrações em que
parece que nossas notas e palavras não ultrapassam o teto da igreja? Em que tudo parece
difícil? Na verdade, a nuvem do Senhor já se moveu e nós ficamos para trás.
Ficamos para trás algumas vezes por estarmos presos a antigas fórmulas, a
antigos hábitos, e não nos abrimos para o novo de Deus. Ficamos para trás por falta de uma
sensibilidade espiritual apurada. Ao invés de experimentarmos o novo, continuamos a nos
satisfazer com o velho. Comigo já aconteceu muitas vezes, até que eu aprendesse a disciplina
de buscar esse discernimento (e, mesmo assim, às vezes ainda fico para trás). Algumas vezes
preparamos uma ministração e escolhemos, por exemplo, quatro músicas. Mas, durante a
segunda música, a nuvem do Senhor para. Naquele momento você percebe a congregação
recebendo algo novo de Deus, Deus tocando as pessoas, se movendo. Só que você ainda tem
duas músicas programadas, e precisa cumprir sua lista. Então você prossegue com a equipe.
Mas a nuvem do Senhor continuou parada, e você avançou. Quando você
percebe, todo aquele mover do Senhor passou.
Precisamos aprender a nos mover com a nuvem dia após dia. E o que eu acho mais
desafiador é que não existe uma fórmula para isso. Só existe uma chave espiritual:
dependência completa do Senhor.
Por isso a figura do líder de louvor é tão necessária na equipe de louvor. É ele quem vai
dar o comando para toda a equipe. A responsabilidade primária é dele. Primeiramente,
precisamos aprender a discernir o mover dessa nuvem do Espírito.
Mais adiante também falaremos sobre o mover profético na adoração. Na verdade, criou-
se um mito sobre esse mover dentro da igreja evangélica no Brasil, quando o fundamento
básico da ministração profética é simples: aprender a se mover debaixo da direção de Deus,
ouvindo a sua voz.

Novidade

Existe uma figura usada nas Escrituras para nos falar da presença de Deus, que é o
rio. O salmista fala do rio que flui do trono de Deus e que alegra a cidade do Altíssimo (Salmo
46). Jesus disse que esse rio fluiria em nós, através de nós e sairia de nós em direção a
outros.
Bob Sorge, em seu livro Following the River, nos lembra de que só
experimentaremos a plenitude deste rio quando chegarmos “ao outro lado”, na vida eterna,
mas que podemos experimentar deste rio agora mesmo, nesta vida, mesmo que em uma
medida menor.
A figura do rio de Deus nos fala do agir do Espírito e nos traz um elemento interessante.
O leito por onde ele corre é sempre o mesmo. E o que seria esse leito para nós? Os
fundamentos da vida cristã: jejum, oração, leitura da Palavra, intimidade com Deus, busca
pela sua direção, uma vida de adoração. Isso propicia um leito adequado para que as águas
fluam por ele.
Mas as águas deste rio estão sempre se renovando. Não estamos falando de uma
“represa de Deus”. Não temos como estocar a direção do Espírito. Essas águas estão sempre
fluindo, e cabe a nós somente entrarmos nessa correnteza.
A direção de ontem já não serve mais para hoje. Como isso é verdade! Certa vez
quando ministrei louvor em minha igreja local e naquele dia realmente pudemos
experimentar da presença do Espírito, bebermos das águas do rio de Deus. No entanto,
algumas semanas depois, fui ministrar novamente o louvor. Ao perceber que a igreja não
estava respondendo como eu esperava, decidi cantar a mesma música pela qual
experimentamos um tremendo agir de Deus algumas semanas antes. Qual foi minha surpresa
ao perceber que nada do que havia acontecido estava se repetindo.
O rio de Deus não está preso a rituais ou a fórmulas mágicas. Guarde bem essas
palavras: não podemos controlar o rio de Deus. Ele flui livremente. E para nadarmos neste rio
devemos viver em novidade de vida no Espírito.
É a mesma figura do maná dado pelo Senhor para os hebreus no deserto. Eles não
podiam guardar, senão o maná apodrecia, exceto na sexta-feira, por causa do sábado. Jesus
também mencionou essa verdade na sua oração do Pai Nosso: “O pão nosso de cada dia nos
dai hoje...” – o nosso sustento diário.
É por isso que fluir juntamente com o rio de Deus é tão desafiador! Sempre temos de
estar atentos ao agir específico de Deus para aquele momento. No próximo capítulo
falaremos sobre o mover profético durante o momento de louvor e adoração e veremos como
fluir debaixo deste mover.
Capítulo 15 – O mover profético e o momento de louvor

Em nossos dias foi criado um misticismo em cima da palavra “profético”. Algo
semelhante aconteceu na década de 1990 com a palavra “gospel”, como sinônimo de tudo o
que se referia ao meio cristão. CDs que traziam essa marca vendiam mais. Eventos “gospel”
atraíam mais pessoas. Portanto, acabou virando um filão de mercado lucrativo.
Hoje vivemos uma situação bem parecida com o movimento “profético”. Podemos
encontrar “CDs proféticos”, “adoração profética”, “seminário profético” etc. Mas o que
realmente significa “profético”?
Mais uma vez quero reforçar o propósito principal deste livro, que é ser um guia
prático para ministros de louvor. Portanto, não vou me delongar analisando o ministério
profético na Bíblia, e sim o mover profético aliado à música e ao momento de louvor e
adoração.

O que é o mover profético

Primeiro é preciso desfazer esse misticismo em torno do mover profético. Muitas
pessoas falam disso como se fosse algo muito místico ou irreal. Muitos entendem o profético
como simplesmente prever o futuro, mas nada poderia estar mais longe da verdade. É bem
verdade que, no Antigo Testamento, prever coisas que viriam a acontecer fazia parte do
ministério profético. Mas também era ofício do profeta fazer a vontade do Senhor conhecida
no meio do povo de Israel. Era ele quem tinha a última palavra sempre, porque, naqueles
dias, as pessoas não tinham o Espírito Santo para testificar no espírito de cada um.
Mas isso foi radicalmente mudado com o envio do Espírito Santo, quando Jesus foi
levado aos céus depois de ressurreto. Agora todo cristão nascido de novo tem o próprio
Espírito morando dentro de si, e por isso cada um tem livre acesso ao Pai. Veja o que nos diz o
apóstolo João: E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento (I João
2:20).
Portanto, prever o futuro é apenas uma das muitas manifestações do dom de
profecia. O apóstolo Paulo fala sobre isso com mais detalhes: Mas o que profetiza fala aos
homens, edificando, exortando e consolando. (1 Coríntios 14:3).
O ministério profético do Novo Testamento traz edificação, exortação e também
consolo à igreja. Portanto, como ministros de louvor, para nos movermos debaixo de uma
unção profética, precisamos promover esses três conceitos em nossas ministrações. Será que
quando ministramos estamos trazendo edificação à igreja? Será que temos trazido exortação
à congregação? Muitas pessoas confundem exortação com repreensão. Já vi isso acontecer, e
confesso que muitas vezes já fui tentado a fazê-lo. Já presenciei líderes de louvor
repreendendo algum comportamento da igreja, ou expondo alguém de forma indelicada no
momento da ministração. A Bíblia não nos ensina a fazer isso, pois tudo o que fazemos deve
ser medido e determinado pelo amor. A exortação nos moldes bíblicos deve acontecer
também pautada no amor. Podemos e devemos promover a obediência à Palavra de Deus.
Devemos ensinar qual é o melhor caminho a ser seguido. Em alguns casos específicos,
podemos trazer alguma correção à igreja quanto a algum comportamento ou quanto a uma
situação particular, mas devemos sempre nos lembrar de que devemos ser guiados pelo
Senhor e fazer tudo cheios de amor.
Por último, nossas ministrações devem manifestar o consolo de Deus para a
congregação. Será que as pessoas se sentem confortadas pelo Senhor enquanto ministramos?
Será que elas se sentem menos ansiosas e mais encorajadas a prosseguir? Esse deve ser o
alvo de nossos ministérios: promover a edificação, a exortação e o consolo à igreja.
Acho necessário esclarecer que acredito que o Senhor revela aos seus servos coisas
que acontecerão no futuro. Creio que Deus dá visões, sonhos e palavras sobre coisas que
ainda estão para ocorrer. Eu mesmo já recebi palavras específicas do Senhor nesse sentido.
Só não podemos limitar o ministério profético a isso.
Mover-se profeticamente na adoração também nos fala sobre nos movermos de
acordo com a vontade do Senhor momento após momento durante a ministração. Precisamos
estar sempre conectados com o Espírito Santo para sabermos como devemos conduzir cada
momento da ministração. Isso também é mover-se profeticamente em adoração.
Eu fico maravilhado com o Evangelho. Ao mesmo tempo que tudo é muito simples,
nada é fácil. Isso também é verdade com relação ao verdadeiro mover profético. Ao mesmo
tempo que ele é simples, nada místico, ele não é fácil, pois, para estar conectado com o
Espírito, um preço precisa ser pago, em oração, em jejum, em leitura da Palavra e em
comunhão com o Senhor.
Como precisamos agir debaixo da direção do Senhor em nossas ministrações!
Quando ministramos na direção do Espírito, não tem como errarmos. O Espírito Santo pode
ajudar o ministro de louvor a cumprir a sua tarefa. Você já experimentou uma daquelas
ministrações em que tudo parece estar errado? Você não sabe ao certo se o problema é com a
congregação, com a equipe de louvor, com a sua liderança ou com as músicas escolhidas.
Nesses momentos é que o Espírito pode nos ajudar a discernir qual é o problema e então nos
guiar ao que devemos fazer. Essa é a unção profética que todo ministro de louvor deve buscar
para o seu ministério.
Barry Liesch, citando Graham Kendrick, diz: “Na adoração aberta, devemos 'esperar
o inesperado' e 'estar livres para alterar ou abandonar os planos que fizemos' (...) Liderar a
adoração é liderar pessoas (...) Estar diante de Deus em favor delas, buscando sua saúde e
bem-estar (...) É um processo de fé ativa liderar pessoas ao ser guiado pelo Espírito”.

A música e o mover profético

A música é uma poderosa aliada do mover profético. Podemos encontrar na Bíblia
essa verdade. Veja o relato de 2 Reis 3:4-20. Josafá, rei de Judá, e Jorão, rei de Israel, vieram
até o profeta Eliseu buscar uma palavra do Senhor com relação aos moabitas. No versículo 15
Eliseu manda chamar um tangedor, um instrumentista, para que ele pudesse profetizar. Veja o
que diz o relato bíblico: Quando o tangedor tocava, veio o poder de Deus sobre Eliseu.
Que profunda revelação! A música criada por Deus e feita por pessoas cheias do
Espírito libera o profético! Veja o que nos diz 1 Crônicas 25:1: Davi, juntamente com os
chefes do serviço, separou para o ministério os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, para
profetizarem com harpas, alaúdes e címbalos.
Outro verso que atesta o que estamos falando está em 1 Samuel 10:5-6: Então,
seguirás a Gibeá-Eloim, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando na
cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, precedidos de saltérios, e
tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão profetizando.
Nós podemos e devemos usar essa ferramenta poderosa que o Senhor nos deu para
liberarmos e agirmos debaixo do mover profético. Quando fazemos assim toda a igreja é
edificada, exortada e consolada!
Você já experimentou do poder profético da música? Os instrumentos podem liberar
essa unção profética. Já participei de momentos poderosos de ministração instrumental. Já vi
pessoas sendo tocadas pelo Espírito, sendo curadas, libertas somente ao som dos
instrumentos. O segredo não está na técnica ou nos instrumentos, mas na autoridade
espiritual de quem tange os instrumentos, que são ferramentas que dão vazão a essa unção
profética. Ouso afirmar que a música potencializa o mover profético.
Nós, como ministros de louvor, devemos experimentar e usar o poder espiritual
disponível, que é fruto da união da música com a unção profética em todos os momentos do
nosso ministério.

O fluir espontâneo

Outro ponto que precisamos abordar neste capítulo é o fluir espontâneo nas
ministrações. Há alguns anos nós não tínhamos espaço para fluirmos espontaneamente
durante os momentos de louvor. Acabava uma música já emendávamos em outra, uma atrás
da outra, seguindo a lista de louvor.
Mas, de uns anos para cá, o Senhor tem trazido o entendimento do poder do fluir
espontâneo durante esses momentos de louvor. Estes momentos espontâneos acontecem
quando saímos da melodia e da letra preestabelecidas de uma canção e começamos a cantar
e a dizer coisas que não estavam preparadas ou não foram ensaiadas.
Talvez você esteja se perguntando qual a função dessa ministração espontânea, e eu
gostaria de explicar isso porque creio que este é um assunto relevante referente ao ministério
de louvor, principalmente nos dias atuais.
O fluir espontâneo é uma das ferramentas que temos e que nos permite que trazer
para a nossa ministração algo fresco, a unção do momento. Assim como podemos ter uma
oração, oração em línguas com interpretação ou uma exortação. Neste momento espontâneo,
o Senhor pode nos trazer uma direção fresca, algo revelado somente a nós para aquele
momento.
Ali podemos nos dirigir ao Senhor com nossas próprias palavras e encorajar a
congregação a fazer a mesma coisa. Nós, ministros de louvor, devemos incentivar as pessoas
da igreja a abrirem seus lábios e se dirigirem ao Senhor com suas próprias palavras.
Existe algo importante a ser dito. Muitas vezes podemos cantar as canções sem
nenhuma parte “improvisada” e isso ser algo espontâneo, verdadeiro naquele momento. O
importante é termos esse senso de que temos de oferecer algo fresco para Deus, seja uma
canção já escrita ou alguma palavra que flui naquele momento.
Vou tentar ser mais claro ainda. Podemos cantar “cânticos espontâneos” e fazer isso
de forma mecânica, assim como já vi ministros copiando até os espontâneos de um CD. E
podemos cantar uma canção que já cantamos centenas de vezes e ela se tornar fresca pra nós
naquele momento.
Dito isso, tecnicamente, para fluirmos espontaneamente, devemos estar preparados
como equipe. Para isso é necessário que haja uma boa comunicação entre líder de louvor e
equipe. É necessário que os instrumentistas estejam preparados e saibam quais notas tocar
nesses momentos. Os vocalistas devem estar atentos e seguirem as direções do líder. O líder,
por sua vez, deve ser cuidadoso com o que vai ministrar, se está sendo bíblico, pois somos
responsáveis por aquilo que dizemos. Por isso um ministro de louvor deve estudar as
Escrituras regularmente, para poder ministrar de acordo com a Palavra do Senhor. Se esses
cuidados não forem observados, tudo vira uma completa bagunça!
A seguir quero listar alguns cuidados práticos que devemos ter ao fluirmos
espontaneamente.

1) Devemos separar um momento específico em uma canção para que
possamos fluir espontaneamente.

Ao fazermos isso, evitamos confusão e problemas. Quando definimos um momento
específico em uma canção para podermos fluir espontaneamente cada um pode se preparar
de forma adequada. Os instrumentistas poderão definir quais serão as notas tocadas e assim
evitam que cada um toque as notas que quiserem. O líder de louvor poderá definir ao menos a
direção em que poderá seguir. E os vocalistas saberão se terão alguma frase ou palavra a
cantar.

2) Sinais devem ser definidos

Na última parte deste livro, falaremos sobre as ferramentas que podemos usar para
facilitar uma ministração, e uma delas são os sinais que podem e devem ser estabelecidos
entre os integrantes da equipe. Os sinais evitam que todos fiquem sem saber para onde devem
seguir. Isso é especialmente perigoso durante os momentos espontâneos. Por isso devemos
definir anteriormente quais serão os sinais usados para a comunicação entre líder e equipe e
também alguma frase-chave que defina o momento de voltarmos à canção normalmente, sem
buracos, para que o bom fluir não seja interrompido.

3) O líder de louvor deve estar bem fundamentado na Palavra

É muito importante que o líder de louvor seja bem fundamentado nas Escrituras
para evitar ministrar qualquer coisa que não esteja de acordo com elas, durante uma
ministração espontânea. Isso é sempre necessário em qualquer ministração, mas em uma
ministração espontânea é ainda mais importante. Quando estamos ministrando sem um texto
ou letra definido, nosso raciocínio funciona de forma mais rápida, e por isso precisamos estar
completamente fundamentados na Palavra para sabermos o que falar.

4) Sabendo a hora certa

Fluir espontaneamente é algo extremamente maravilhoso! Mas precisamos saber a
hora certa para o fazermos. Precisamos ser guiados pelo Senhor inclusive nesse aspecto.
Nosso discernimento espiritual deve ser usado neste momento. Tudo o que não tem equilíbrio
torna-se não saudável. Uma ministração com espontâneos em exagero pode se tornar confusa,
longa demais, e podemos gerar desinteresse na congregação, que não tem como cantar
conosco. Em uma ministração saudável, tudo precisa ser equilibrado, inclusive a hora certa de
ministrarmos espontaneamente.
O contrário também é verdade. Uma ministração engessada, rígida e sem espaço
para nenhum tipo de ministração espontânea também pode se tornar pouco interessante. Por
isso esse equilíbrio é tão importante.

5) É praticando que se aprende

O fluir espontâneo, por ser tão singular, é difícil de ser definido ou descrito. Mas com
a prática vamos aprendendo a corrigir os erros, vamos adquirindo maior segurança e vamos
aprendendo a lidar com a situação. Portanto, não existe uma outra forma de aprender a fluir
espontaneamente. Podemos ouvir CDs e ministérios que tenham tal prática, podemos estudar
o que a Bíblia diz a respeito, mas só conseguiremos realmente dimensionar do que se trata
quando experimentarmos na prática.

Um cântico novo

Ainda falando sobre o uso da música no fluir profético espontâneo, quero abordar
mais especificamente algo muito importante que a Bíblia nos ensina sobre entoarmos ao
Senhor um cântico novo. Quando estamos abertos para o fluir profético e espontâneo,
devemos estar preparados para o cântico novo, que é parte desse mover.
O salmo 96:1 nos diz: Cantai ao Senhor um cântico novo (...). O salmista Davi ainda
nos ensina: E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus.
Existe um cântico novo, que, como já dissemos, é espontâneo e específico para cada
momento, e ultimamente o Senhor tem me levado a estudar e a experimentar o poder que
existe neste cântico novo, o que tenho sempre ensinado às pessoas por onde tenho
ministrado.
O cântico novo tem o diferencial de refletir a atmosfera espiritual, a situação do
momento. O cântico novo tem um caráter muito individual. Cada pessoa irá cantar para o
Senhor da sua própria experiência, usando o seu estilo musical.
Uma coisa que precisamos entender é que o cântico novo trabalha com o poder da
música aliado ao poder profético da palavra, e por isso torna-se uma arma muito poderosa
nas mãos do cristão.
Certa vez ouvi o Pr. Antônio Cirilo dizendo que podemos cantar um cântico novo em
todas as situações. Você pode cantar um cântico novo em sua casa, profetizando sobre a vida
de seus filhos, marido, esposa. Ou então cantar um cântico novo em seu trabalho,
profetizando sobre a vida de seu chefe, de seus colegas. Você pode cantar um cântico novo
enquanto lava a louça ou enquanto passa a roupa. Você pode cantar um cântico novo dentro
do carro, enquanto está preso no trânsito. O cântico novo é a sua oração musicada.
Mais uma vez quero lembrar que o cântico novo não precisa necessariamente ser
uma canção que nunca foi cantada. Pode ser um hino já escrito há mais de trezentos anos. Se,
naquele momento em que for cantado, ele for novo, fresco, tiver um significado profundo e
verdadeiro em você, ele é o seu cântico novo.
Vejamos algumas características do cântico novo e o que a Bíblia nos fala sobre ele.

1) Quando cantamos um cântico novo, nós refletimos a adoração celestial

Vemos em Apocalipse 14:3 o seguinte relato: Entoavam novo cântico diante do trono,
diante dos quatro seres viventes e dos anciãos (...). Também em Apocalipse 5:8-10 lemos: e,
quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que
são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de
abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que
procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e
sacerdotes; e reinarão sobre a terra.
Através destes textos podemos perceber que o novo cântico está presente nos céus.
Ali, diante do trono de Deus, cada um entrega ao Senhor o seu próprio cântico, algo nascido
ali mesmo, diante da visão da glória do Todo-Poderoso. E quando cantamos um cântico novo,
nós nos unimos a essa adoração celestial. Nós nos unimos aos quatro seres viventes, nos
unimos aos vinte e quatro anciãos e à multidão de remidos e experimentamos poderosamente
a presença de Deus.

2) O cântico novo proclama as maravilhas de Deus, quem Ele é e o que Ele faz por
seu povo

Em Êxodo 15:1-19 está registrado o cântico de Moisés. Esse cântico surgiu em um
momento um tanto quanto inusitado! Moisés havia acabado de liderar o povo de Israel,
milhões de pessoas, por uma caminhada através do Mar Vermelho, experimentando um
verdadeiro milagre de libertação. Eu realmente creio que naquele momento, ao ver o
espantoso livramento trazido pelo Senhor, aquele novo cântico começou a borbulhar no
espírito de Moisés, e então ele começou a declarar os poderosos feitos do Senhor. Vejamos os
três primeiros versos deste maravilhoso cântico:
Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o seu
cavaleiro. O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu
Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei. O Senhor é
homem de guerra; Senhor é o seu nome.
O salmo 96:3, após nos ordenar que cantemos um cântico novo ao Senhor, nos diz:
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas. Com nosso
cântico novo devemos proclamar o que o Senhor tem feito por nós e a sua fidelidade.

3) O cântico novo carrega o profético

A Bíblia nos relata sobre um maravilhoso cântico novo, particularmente o meu
favorito, que é o cântico de Maria, mãe de Jesus. Esse cântico pode ser encontrado em Lucas
1:46-56. Maria, após receber a visita do anjo Gabriel e tomar conhecimento de que estava
gerando o próprio Messias, o Filho de Deus, resolveu visitar sua prima Isabel, que também
estava grávida de João Batista. Ao chegar na casa de Isabel, as duas crianças se reconheceram
no ventre e Maria foi movida pelo Senhor a cantar um cântico novo a Ele. E naquele momento
ela começou a profetizar sobre a vinda do Messias, seu próprio filho.
Um pouco depois, neste mesmo capítulo, lemos o cântico de Zacarias, pai de João
Batista. Desde que recebera a visita do anjo contando-lhe sobre o nascimento de seu filho,
Zacarias estava mudo, mas, logo após seu nascimento, sua língua foi destravada, e então um
novo cântico fluiu do seu interior. E Zacarias também cantou profeticamente sobre o
ministério de seu filho. Vejamos, por exemplo, o versículo 76: Tu, menino, serás chamado
profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos.
O cântico novo tem esse poder. Algumas vezes o Senhor irá gerar esse cântico
profético prevendo coisas que acontecerão no futuro no nosso interior, para nos preparar para
o que vamos experimentar e nos trazer fé e esperança.
Capítulo 16 – O cântico do Senhor

A adoração tem o poder de promover um diálogo entre Deus e sua Igreja. Quando
entramos em adoração, no nosso caso de ministros de louvor, através de cânticos, nos
expressamos para Deus, dizemos coisas que estão em nosso coração, palavras de amor,
palavras de gratidão, palavras de exaltação, mas muitas vezes nos esquecemos de ouvir a
resposta de Deus a todas essas palavras.
Falamos, falamos, nos derramamos diante do altar do Senhor, mas não guardamos um
tempo para ouvir a sua resposta a tudo o que dissemos. Na adoração congregacional moderna,
temos nos esquecido de que mais importante do que nos derramarmos no altar do Senhor e
nos expressarmos para Ele é ouvirmos a sua voz falando diretamente a nós.
O nosso Deus é um Deus interessado em se comunicar com o seu povo. A Bíblia é a
maior prova disso. Ele é um Deus que está interessado na história humana e interfere nela
diretamente. Nosso Deus é relacional, gosta de dialogar com o seu povo. E, além disso, é um
Deus que criou a música e, posso afirmar, é um Deus que também se comunica através dela. O
versículo 17 do capítulo 3 de Sofonias é uma prova bíblica clara de que o nosso Deus é um
Deus que canta sobre o seu povo. A nossa versão atualizada em português diz: O Senhor, teu
Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-
te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Mas na versão King James, na língua inglesa,
e em algumas outras versões em outras línguas, como o espanhol, lemos, em vez de
simplesmente “júbilo”, a expressão “com cantos de júbilo”.
Eu sempre me emociono quando imagino essa cena! O próprio Criador do Universo
cantando sobre seu povo, com alegria e júbilo. Quando eu entendi essa verdade reveladora
das Escrituras, toda a minha forma de perceber a adoração congregacional e particular
mudou. Eu agora me dirijo ao Senhor, exaltando-O e adorando-O, mas também espero uma
resposta vinda diretamente dEle para mim.
O Salmo 22:22 diz: “A meus irmãos declararei o Teu nome; cantar-te-ei louvores no
meio da congregação”. Sobre esta passagem Bob Sorge nos diz: “O Salmo 22 é um Salmo
messiânico e portanto fala muito sobre o Senhor Jesus. O autor de Hebreus também torna
claro que Jesus era quem estava falando na primeira parte desta passagem. Em outras
palavras, Jesus diz que quando nós louvarmos ao Senhor na congregação, ele se juntará a nós
em louvor ao Pai! Então, temos a canção do Pai, que canta sobre os seus santos, e a canção do
Filho, que canta no meio da congregação”.
Existe um grande poder quando liberamos o cântico do Senhor sobre a sua Igreja. Eu
não consigo explicar humanamente o que acontece, porque não podemos medir isso no reino
natural, mas um grande poder é liberado no reino espiritual quando o próprio Deus se dirige
ao seu povo usando vasos de barro como eu e você.
Você pode estar se perguntando qual é a vantagem ou a razão para que ocorra o
cântico do Senhor. A resposta é muito simples. Não existe nada no mundo que possa produzir
tamanho impacto em nossas vidas quanto ouvirmos a voz de Deus falando diretamente
conosco.
Imagine que um dia você está despreocupado em sua casa, assistindo TV ou lendo
algum livro, e de repente o telefone toca e, ao atender, você descobre que é o presidente da
República que está te ligando. Uau! Que surpresa maravilhosa seria, não?
Agora imagine o próprio Criador do Universo se dirigindo a você especificamente.
Isso é muito melhor do que ouvir a voz do presidente da República, porque te faz saber que,
apesar de o mundo ser habitado por 6 bilhões de pessoas, Deus se importa especialmente com
você!
Muitas vezes Deus me usou para dar palavras específicas a algumas pessoas. Eu
sempre me emociono quando isso acontece. É lindo ver o impacto que isso causa nas pessoas.
Vai muito além do que nós, ministros de louvor e músicos, podemos ir. A mão do Senhor
penetra no mais profundo do coração do indivíduo. É Ele quem nos sonda.

Minha experiência

Quando comecei a experimentar esse fluir do cântico do Senhor em meu ministério,
tudo começou a mudar. Ainda me lembro da surpresa e do espanto que senti quando o Senhor
começou a colocar as suas palavras na minha boca. Como já mencionei, quando eu tinha por
volta de 15 anos, o Senhor começou a me usar e a me dar cânticos espontâneos, e eu comecei
a perceber que devia incentivar isso em alguns momentos da ministração, pois em momentos
espontâneos as pessoas poderiam se expressar com suas próprias palavras ao Senhor, e algo
fresco realmente fluía do trono de Deus.
Mas certo dia, ainda me lembro, comecei a receber em minha mente palavras que
não vinham de mim mesmo. No início achei que fosse fruto da empolgação do momento ou
palavras que já tinha ouvido e voltavam à tona, mas cada vez isso se tornou mais forte. E eu
sentia que precisava liberá-las. Eram palavras vindas do próprio Deus para o seu povo. Mas eu
me sentia (ainda me sinto) tão indigno de ser o portador dessas palavras, que tinha certeza de
que tudo isso era um engano.
Mas, depois de algum tempo, eu não consegui mais reter esse mover e comecei a
liberar essas palavras que o Espírito trazia ao meu espírito e que chegavam à minha mente.
Algo novo realmente começou a acontecer nessas ministrações. Eu sentia como se estivesse
ministrando em um novo nível, não por mérito meu, mas simplesmente por me dispor nas
mãos do Senhor e me permitir ser usado por Ele.
Lembro-me de que ainda tinha muito receio de liberar essas palavras, mas fui
grandemente encorajado ao ouvir os testemunhos das pessoas da congregação que foram
tocadas por essas palavras vindas do Senhor. “Olha, hoje o Senhor te usou para falar
exatamente o que eu estava precisando ouvir.” Outra vez um membro de minha igreja local me
disse que o Senhor tinha me usado para falar as palavras exatas que estavam na sua mente.
Eu não tenho a habilidade de ler mentes! Só mesmo o Senhor pode fazer isso! Aleluia!
Quantas palavras de cura, de restauração, de esperança, ou até mesmo de exortação
foram liberadas do Senhor através de mim. Sempre que o Senhor me usa eu fico maravilhado
com a riqueza dos detalhes que Ele me dá. Eu confesso que logo no início fui tentado a pensar:
“Puxa, o próprio Senhor fala através de mim”. Mas, ao longo da caminhada, cada vez mais
percebo como esse pensamento era tolo.
Eu nunca, nem de longe, seria capaz, por mim mesmo, de saber certas coisas que o
Senhor me revelou nessa caminhada. Eu percebo que não há como me gloriar, pois nem que
eu quisesse poderia dizer que palavras de cura, restauração, libertação vieram de mim, pois
nunca conseguirei penetrar no coração das pessoas para saber o que está ali dentro. Somente
o Senhor pode fazer isso.

Como fluir no cântico do Senhor

Como acontece com muitas coisas no mundo espiritual, não existe uma receita que
garanta como ser bem-sucedido em fluir no cântico do Senhor. Às vezes alguém me pergunta
como eu recebo essas palavras em minha mente. Sinceramente, nunca consegui explicar. É
algo tão sobrenatural que não encontro palavras para definir esse processo. Como dizia um
querido mestre da Palavra que muito abençoou minha vida, “somente sei que sei”. É uma
testificação que vem diretamente ao meu espírito. Mas eu creio que existam alguns princípios
que cooperam para que isso aconteça.
O primeiro princípio que existe é o de intimidade com Deus. Não existe como Deus
compartilhar o seu coração conosco se nós não tivermos intimidade com Ele. E para termos
essa intimidade, não existe um atalho, ou um caminho mais fácil. Precisamos gastar horas com
Ele, lendo a sua Palavra, adorando no nosso lugar secreto.
Como tenho sido impactado nesses últimos tempos com relação a isso! Muitas vezes,
como ministros do Senhor, nos tornamos tão ativistas na obra de Deus que nos esquecemos de
investir horas na sua presença, ouvindo a sua voz, nos aconchegando em seus braços de amor.
Não conseguimos liberar o cântico do Senhor se não estivermos cheios da sua
presença. Precisamos também estar cheios da sua Palavra. Como é importante investirmos
tempo lendo a Bíblia, meditando, deixando que cada texto se torne vivo dentro de nós. Quando
estamos cheios da Palavra, diminuímos o risco de falarmos alguma heresia.
É tão fácil nos distrairmos e perdermos o foco da Palavra em nossa vida. Temos
tantos livros cristãos bons para ler, que nos edificam tanto, que até mesmo substituímos a
Bíblia.
Fico muito alarmado quando percebo que muitos ministros não possuem um bom
conhecimento da Palavra de Deus. Sobem para ministrar mas estão vazios. Precisamos nos
encher do conteúdo dessas Escrituras vivas. Quando estamos cheios da Bíblia, o Senhor nos
toca e nos usa para liberarmos essas palavras.
Quando adquirimos intimidade com o Senhor, Ele nos dá uma série de coisas que
precisamos ter para liberarmos o seu cântico. Uma das coisas mais importantes em relação ao
cântico do Senhor é o discernimento vindo dEle. Como isso é relevante! Precisamos ter um
nível tal de intimidade com Deus a ponto de sabermos quando uma palavra ou uma direção
vem dEle e quando não vem. Isso acontece com todos nós. Nossas mentes podem nos pregar
peças, por isso o discernimento é tão importante.
Nos dias de hoje, tenho visto tantas e tantas coisas que são feitas no nome de Deus,
tantos pastores e ministros que dizem “Deus está me dizendo”, mas, se formos olhar nas
Escrituras, não encontramos base bíblica para nada disso. Isso é alarmante!
Eu tenho muito temor de falar coisas que Deus não me mandou falar. Sempre peço ao
Senhor que me direcione em cada palavra que irei proferir, para que não venha a falar o que
não devo. Por isso precisamos cada dia buscar do Senhor o discernimento para saber o que
procede dEle para sua Igreja.
Outra coisa que só aprendemos quando temos intimidade com Deus é a desenvolver a
nossa sensibilidade para o fluir profético, como discorri no capítulo anterior. Mas essa
sensibilidade também é desenvolvida com a experiência. Quanto mais ousamos fluir no cântico
do Senhor, mais sensibilidade adquirimos para saber em quais momentos devemos fluir.
Tudo o que é feito em excesso deixa de ser sadio. Devemos sempre ficar atentos se
não estamos focando demais no fluir espontâneo, até mesmo no cântico do Senhor, e com isso
impedindo que as pessoas se conectem com Deus. Até mesmo nossas ministrações
espontâneas e nossas ministrações fluindo no cântico do Senhor podem se tornar uma
distração para a congregação. Esse não é o nosso alvo. Devemos fazer tudo debaixo da direção
do Espírito.
Outra coisa que creio ser extremamente importante sobre esse assunto é que Deus
flui através de nós, passando por nós. Você consegue entender o que estou querendo dizer?
Deus fala, Deus age, Deus move, mas Ele escolheu fazer tudo isso através de nós. Ou seja, o
mover de Deus passa pela nossa humanidade, o cântico do Senhor passa pela nossa
humanidade, por isso é tão importante que sejamos naturais, e não “místicos” e “irreais”.
Tenho aprendido que o mover sobrenatural de Deus acontece na simplicidade; nós é
que gostamos de espetáculos. Eu quero te encorajar a ser você mesmo, a deixar Deus te usar
com as características que Ele mesmo colocou em você.
Por último, neste capítulo estou ressaltando o fluir do cântico do Senhor em um
contexto de culto congregacional, mas o Senhor pode falar conosco, cantar para nós em nosso
momento devocional particular. Como é lindo quando isso acontece. Deus já me tomou e falou
comigo, cantou para mim quando eu estava sozinho em meu quarto adorando-O ou orando. Na
verdade, penso que, como ministros de louvor, devemos ensinar a congregação que esse fluir
não está limitado ao momento de culto, mas que cada um pode desenvolver e experimentar
esse fluir do cântico do Senhor em seus momentos particulares com Deus.

Alguns cuidados que devemos tomar

Como tudo na vida cristã, principalmente no ministério, o cântico do Senhor é algo
que traz muita responsabilidade. Por isso devemos sempre tomar algumas precauções que nos
ajudam a evitar o erro.

1) Esteja aberto à correção

Quando ousamos fluir no cântico do Senhor, corremos o risco, principalmente no
início, de cometermos alguns erros ou falarmos algo que julgávamos ser do Senhor, mas que
no fundo era fruto de nossa mente. Precisamos estar abertos à correção, principalmente se ela
vier de nossa liderança. Não devemos adotar uma postura de não admitirmos a correção,
como se sempre estivéssemos certos. Deus usa as pessoas, principalmente nossos líderes,
para nos corrigir. Um coração humilde é o que faz toda a diferença neste caso. Não aja como
se você fosse o dono da razão. Aja em humildade e submissão.

2) Seja responsável por aquilo que disser

Temos de ter bem claro em nossas mentes que somos responsáveis por tudo o que
dizemos no altar, diante da congregação, especialmente se estamos falando em nome de Deus.
Muitas pessoas fogem dessa responsabilidade dizendo que estavam como em um “transe” e
não tinham domínio sobre o que falavam.
Eu sou obrigado a discordar dessa postura, pois eu não encontro base pra ela nas
Escrituras. A Bíblia diz que o espírito do profeta está sujeito ao profeta (1 Coríntios 14:32).
Nós devemos ser completamente responsáveis por aquilo que fazemos. Eu já fui tomado pela
presença de Deus tão fortemente que palavras começaram a jorrar dentro de mim, como se
nem passassem pela minha mente, fluindo diretamente do meu espírito, mas mesmo assim eu
tinha todo o controle sobre mim e sobre o que estava falando.
Uma diferença clara que vejo entre o agir de Deus e o agir do diabo é que nosso
inimigo, quando usa as pessoas, seus “cavalos”, ele as deixa inconscientes, sem saber o que
estão fazendo. Nosso Deus é um Deus que age também em nossa consciência. Ele nos usa
poderosamente, mas nunca nos deixa sem controle do nosso próprio corpo e mente. Por isso o
apóstolo Paulo nos fala do culto racional.

3) Cuidado com a postura de independência

Uma tendência humana é querer se gloriar no que não devíamos. Quando falamos
especialmente sobre sermos porta-vozes de Deus, isso é especialmente verdade. Temos de
manter sempre em mente que o poder não vem de nós. Ele somente flui através de nós. A
glória sempre é de Deus. Como disse há pouco, eu já fui grandemente tentado com relação a
isso, e seria mentiroso se dissesse que não sou mais, mas, todas as vezes em que luto contra
esse orgulho, lembro a mim mesmo de que não conseguiria liberar palavras de cura,
restauração, libertação, salvação sem o fluir de Deus, de que a minha dependência está no
Senhor.
Nunca ache que você domina completamente o fluir do agir do Espírito de Deus. É
quando pensamos assim que Ele vem e nos mostra quão dependentes somos dEle. Por isso
precisamos sempre manter um coração humilde e quebrantado em sua presença.

Conclusão

O cântico do Senhor é algo tremendamente importante e deve ser restaurado em
nossas igrejas e em nossas vidas devocionais. O Senhor anseia por dialogar com sua Igreja.
Devemos ser canais livres e limpos por onde Ele possa fluir. Por isso, devemos sempre vigiar
nosso coração, nossas intenções, e, acima de tudo, mantermos a nossa dependência do
Senhor.
Enquanto escrevo essas linhas, sinto da parte de Deus que devo, mesmo de forma
escrita, liberar sobre a sua vida, querido leitor, essa autoridade para liberar o cântico do
Senhor, porque eu realmente creio que ele é extremamente importante e imprescindível para
a edificação da Igreja. Eu profetizo sobre a sua vida e libero no mundo espiritual a autoridade
para que o cântico do Senhor flua através de você e que, através da sua vida, a Igreja do
Senhor seja edificada, restaurada, ministrada, em nome de Jesus. Que você receba em seu
espírito, na hora em que estiver ministrando, ou até se preparando, palavras vindas
diretamente do trono para ministrar sobre a congregação. Em nome de Jesus. Amém.
Capítulo 17 – No campo de batalha

Como cristãos, estamos constantemente em uma guerra espiritual. Assim que
aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador e nascemos de novo, somos alistados no
exército do Senhor e, consequentemente, lutamos contra satanás e o seu exército. Quer
tenhamos consciência ou não, somos soldados de Cristo e vivemos lutando para estabelecer o
seu Reino nesta terra. Por isso enfrentamos a resistência de satanás, que quer frustrar o
avanço dos soldados de Cristo.
Uma das armas que ele usa para imobilizar os cristãos é criar uma consciência de que
essa batalha espiritual não existe, mas é fruto da imaginação das pessoas. Precisamos nos
conscientizar de que essa guerra existe sim e precisamos desenvolver a cada dia nossa
sensibilidade e pedirmos ao Senhor que nos revista com a sua autoridade dia após dia.
O apóstolo Paulo aborda essa questão quando nos diz na sua carta aos efésios,
capítulo 6, versículo 12: porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes.
Não quero sair do foco deste livro me delongando em explicar o que é a batalha
espiritual, quais são as armas que devemos usar nessa luta etc. Creio que muitas coisas já são
ditas e escritas sobre esse assunto. Muitas dessas coisas, em minha opinião, não passam de
experiências pessoais, que em sua maioria não possuem um embasamento bíblico. Creio que
precisamos ter muita sabedoria ao lermos estes materiais, pedindo a Deus direção e buscando
o fundamento bíblico de cada assunto tratado. Porém, existe um excelente material literário
disponível que com certeza trará um grande aprofundamento neste assunto. É nossa
obrigação como cristãos, e muito mais como ministros de louvor, conhecer e colocar em
prática a intercessão e as armas que o Senhor preparou para nós.

Adoração como arma de guerra

Nós, ministros de louvor, enfrentamos uma grande resistência do inferno, porque
estamos lidando com a adoração, e o nosso inimigo sabe que ela promove o Reino de Deus. A
adoração promove cura, libertação, restauração. Por isso precisamos estar sempre com nossos
olhos espirituais abertos e atentos para os ataques que podemos sofrer em nosso ministério.
(...)
Recordo-me do relato do ministro Bob Fitts, que certa vez foi ministrar em um país
extremamente idólatra, e bem no lugar onde ele ministraria havia um poste-ídolo do deus
daquele país. E ali eles adoraram ao nome do Senhor e O engrandeceram. Algum tempo
depois, ele recebeu a notícia de que aquele ídolo havia caído. Então as pessoas daquele país
decidiram reconstruí-lo, mas, para surpresa de todos, pouco tempo depois ele caiu novamente.
Lembremos do exemplo bíblico relatado em 2 Crônicas 20, quando Josafá busca
direção do Senhor para saber se deveria ou não ir à guerra e como deveria lutar, e o Senhor
lhe direciona a colocar os levitas na frente, cantando apenas a simples canção: “Rendei graças
ao Senhor, porque a sua misericórdia dura para sempre”. E ao chegarem a um lugar alto,
olhando para o deserto, Israel viu que todos os inimigos já estavam mortos.
Enquanto nós adoramos, o Senhor batalha as nossas guerras por nós e nos dá a
vitória. Quando adoramos ao Senhor, nós estamos dizendo a Ele da nossa total confiança, e
então ficamos livres para darmos graças em toda e qualquer situação, como a Bíblia nos
ensina. Essas ações de graças liberam um poder sobrenatural do Senhor, e então recebemos a
vitória para o nosso problema.
É isso que vemos acontecer em Atos 16, quando Paulo e Silas estão presos em Filipos
e começam a adorar. Mesmo na circunstância mais contrária, o poder do Senhor se
manifestou, um terremoto abriu as portas daquela prisão e eles e todos os outros presos foram
libertos. Eles poderiam ter reclamado e questionado o Senhor, afinal estavam fazendo a obra
dEle, pregando a sua Palavra e foram presos e açoitados. Mas, ao invés disso, ergueram um
cântico de graças, uma adoração sincera, mostrando com isso que a confiança deles estava
totalmente depositada no Senhor. E naquela noite houve salvação e livramento.
Nós precisamos experimentar isso em nossa adoração! Esse deve ser o nosso alvo em
cada ministração! A adoração é uma arma poderosa que o Senhor tem nos dado como Igreja
dos últimos dias para conquistarmos terreno para o Reino de Deus e para vencermos o
maligno.

A importância de uma vida santificada

Como ministros, é muito importante que tenhamos uma vida santificada para
estarmos em posição de ministrarmos a outros. Assim como os sacerdotes da lei mosaica,
precisamos nos purificar para entrarmos na presença de Deus. Se lermos o livro de Levíticos
atentamente, veremos como Deus leva a sério a purificação do seu povo e muito mais dos seus
ministros.
Quando temos uma vida santificada, e subimos no altar para ministrarmos, o Senhor
pode nos usar livremente, e teremos autoridade para ministrarmos em seu nome. Como é
triste vermos ministros de Deus sem nenhuma autoridade no mundo espiritual exercendo seu
ministério na sua própria força.
Você se lembra daquela passagem no livro de Atos sobre alguns judeus que foram
expulsar um demônio em nome do Senhor e acabaram sendo feridos pelos possessos? Vejamos
essa passagem:
E alguns judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus
sobre possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega.
Os que faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. Mas o
espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? E o
possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e, de tal modo prevaleceu
contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa. (Atos 19:13)
Para que nossa nação experimente uma transformação genuína, para que nossas
igrejas experimentem um avivamento genuíno, precisamos ter no altar ministros que
verdadeiramente sejam cheios da autoridade do alto. A mesma autoridade que estava sobre
Jesus enquanto Ele estava na terra. Nós temos o mesmo Espírito que estava sobre Ele, e
podemos, debaixo da autoridade do seu nome, operar os mesmos sinais e maravilhas que Ele
operou.
Precisamos ser conhecidos do inferno, como o apóstolo Paulo era. Como é lindo
quando ministros cheios da autoridade do Espírito agem debaixo dessa unção e desse poder.
Mas essa autoridade só é conquistada com uma vida de santidade, de renúncia à vontade
própria, de renúncia de reconhecimento próprio, de leitura e meditação da Palavra de Deus,
de oração, jejum e intimidade com o Senhor.
Precisamos lançar fora de nossas vidas toda impureza e buscarmos a santidade do
Senhor para nós. Sermos separados, diferentes, movidos não pelas leis deste mundo, mas
pelas leis celestiais do Reino de Deus. E isso em todas as áreas da nossa vida: financeira,
sentimental, familiar, sexual, na escola, no trabalho, onde quer que seja!
Como é linda a experiência de vermos a autoridade do Senhor fluindo de nossas
vidas! Nós experimentamos uma ousadia que não vem de nós, uma fé que não vem de nós, e
sim do Senhor. Ele é quem nos capacita, nos dá as armas certas para lutarmos essa guerra
espiritual. Vemos nos relatos bíblicos como as pessoas ficavam impressionadas com a
autoridade que Jesus possuía ao ensinar e ao curar os enfermos.
Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas
da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.
(Mateus 7:28-29)
Os escribas eram aqueles que sabiam de toda a lei, velavam pelo seu cumprimento,
mas que não possuíam um modo de vida condizente com o que pregavam e com o que
ensinavam. O Pr. Márcio Valadão tem uma frase que sempre gosto de aplicar: “Antigamente se
dizia que deveríamos viver aquilo que pregávamos, mas o que devemos buscar para nossas
vidas é pregarmos aquilo que vivemos”. Quando pregamos o que é fruto do que vivemos, uma
autoridade dos céus flui de nossas vidas e de nosso ensinamento.
Aplicando essas verdades para o Ministério de Louvor, julgo muito importante deixar
bem claro que a obrigação de ter uma vida santificada não é somente do líder de louvor, mas
de toda a equipe. Uma pessoa que não está em santidade pode atrapalhar o fluir da
ministração; portanto, todos os integrantes da equipe de louvor devem buscar essa santidade
no viver.
Sempre fico maravilhado ao notar esse fluir de autoridade na vida de Ana Paula
Valadão. Uma característica da sua personalidade é a sua doçura no falar, até mesmo no
cantar, e aos olhos humanos ela nos parece tão frágil, até mesmo pela sua estatura física. Mas
quando a vemos ministrando, debaixo da unção do Senhor, vemos como ela parece uma
gigante no mundo espiritual. Seus olhos, sua expressão refletem a autoridade que flui do
Senhor na vida dela. Vemos que ali ela está completamente tomada pelo agir do Senhor.
Em meu ministério, tenho experimentado esse fluir! O Senhor nos dá autoridade para
irmos contra fortalezas do diabo, para repreendermos doenças, para desamarrarmos laços do
inimigo contra as vidas dos eleitos do Senhor. Busque essa autoridade do Senhor para o seu
ministério.
Para possuirmos essa autoridade também precisamos saber quem somos em Cristo.
Uma das armas mais usadas por satanás é criar em nossas mentes uma imagem distorcida de
quem nós somos em Deus. Encha-se da Palavra de Deus, encha-se da verdade que Ele nos ama
e nos deu autoridade no seu nome para operarmos e guerrearmos contra satanás. Você não é
um pobre coitado, mas possui a autoridade de Filho do Rei do Universo.
Vejamos algumas passagens que nos enchem de fé e nos mostram a nossa posição em
Cristo:
Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos
imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades. (Mateus 10:1)
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na
terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado
(Mateus 28:18-20)
Juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus (Efésios 2:6)
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para
a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9)

A importância do discernimento

Algo tremendamente importante quando falamos de batalha espiritual na adoração é
a questão do discernimento. Nós precisamos saber discernir no espírito aquilo que está
acontecendo no mundo espiritual. Precisamos ser direcionados pelo Espírito de Deus para
sabermos contra o que estamos lutando. Barry Liesch diz: “Discernimento vem através da
experiência e da prática da sensibilidade espiritual após um período de tempo. (...) Liderar o
louvor requer tanto habilidades práticas quanto percepção espiritual”.
Já tive experiências em que o momento de louvor não estava fluindo, e perguntei ao
Senhor o que estava acontecendo, e o Senhor me deu direções específicas para aquele
momento. Algumas vezes, Ele me orientou a repreender espíritos de perturbação, ou espíritos
de distração. Em outros momentos fui direcionado pelo Senhor a cantar um hino de guerra,
proclamando a vitória do Senhor e a derrota do diabo. Em outras vezes o Senhor me
direcionou a convocar toda a igreja a orar e a clamar, lutando contra a opressão do diabo.
Já experimentei momentos em que o Senhor me direcionou a cantar músicas que
exaltassem o nome de Jesus e proclamassem que Ele é o Rei de toda a terra. Quem sabe o
Senhor te direcione a pedir a toda a igreja que marche declarando a vitória do povo de Deus?
Esteja sensível à voz do Espírito, pois não existe uma receita mágica para que essa
batalha seja vencida. Precisamos que o Espírito Santo nos guie no nosso modo de proceder,
porque Ele é o melhor líder de louvor. Não podemos adotar aquela postura de “Eu fiz assim da
outra vez e deu certo”, mas precisamos estar atentos ao direcionamento do Espírito para cada
ministração.
Algo também maravilhoso é vermos como Cristo opera através do seu corpo. Muitas
vezes, enquanto liderava louvor, recebi o direcionamento do Senhor através de outras pessoas
que estavam ministrando comigo. Outras vezes, durante a ministração, o Senhor revelou
coisas aos seus intercessores que intercediam pelo culto que também me foram passadas. Nós
devemos sempre nos lembrar de que não detemos todas as respostas. Deus trabalha através
de toda a sua Igreja. Precisamos nos abrir para recebermos essas direções de pessoas em
quem confiamos.
Em 2002 estávamos ministrando em um acampamento na cidade de Campo Grande.
Enquanto ministrava sobre um rapaz, eu sentia que havia uma grande resistência em seu
coração, mas não sabia ao certo o que era. Naquele mesmo momento, uma outra pessoa da
equipe veio e me disse: “Ore repreendendo isso e aquilo”. E assim eu fiz. Naquele mesmo
momento vi lágrimas brotando dos olhos daquele rapaz, e vi o seu coração se quebrantando
diante do Senhor.
Precisamos estar atentos ao agir de Deus, com nossos olhos e nossos ouvidos
espirituais abertos para recebermos o seu direcionamento para podermos ser mais efetivos
nessa guerra na qual estamos lutando. Nós já falamos sobre como o discernimento é
importante quando falamos do fluir profético na adoração, mas ele é especialmente necessário
quando falamos sobre batalha espiritual na adoração. Busquemos, portanto, do Senhor esse
discernimento para podermos ser soldados mais eficazes no campo de batalha em que
estamos inseridos.
Capítulo 18- Seguindo uma direção clara

Embora já tenha mencionado este tema, decidi dedicar todo um capítulo para
falarmos sobre como devemos e como podemos seguir uma direção clara em um período de
ministração de louvor, dada a relevância do assunto.
Eu realmente creio que essa é uma das principais tarefas a ser aprendidas por um
líder de louvor. O que mais acontece em nossos dias, pelo que tenho visto, são momentos de
louvor que começam sem lugar definido e acabam em lugar nenhum. Como isso é triste!
Nós, líderes e ministros de louvor, precisamos entender que temos de ter em mente
que uma ministração de louvor precisa de um início, de um meio e de um fim. Sempre brinco
quando estou ministrando oficinas e workshops que, às vezes, temos a impressão de que
chegamos atrasados em uma ministração de louvor e parece que saímos antes de acabar,
quando na verdade estivemos lá o tempo todo. Isso é consequência de ministrações que não
têm início nem tampouco final.
Imaginemos uma situação: você está em uma viagem a uma linda cidade e
contrata um guia turístico para te ajudar a conhecer melhor o local e detalhes interessantes
que só pessoas experientes na cidade conhecem. Agora pense comigo qual seria sua reação ao
descobrir, no meio do passeio, que este guia também está na cidade pela primeira vez e não
tem a mínima ideia do que está fazendo!
Isso não parece absurdo? Mas infelizmente é exatamente isso o que acontece
semana após semana em nossas igrejas. Permito-me ser um pouco repetitivo e lembrar você
da metáfora da caminhada. Estamos em uma jornada. Equipes e líderes de louvor que se
propõem a ser “guias turísticos” na caminhada, na jornada da adoração, durante essa
caminhada mostram que não têm a menor ideia de onde estão indo.
Quando sabemos todo o roteiro que iremos percorrer, estaremos devidamente
preparados para enfrentá-lo. Muitas vezes começamos uma caminhada e, no meio dela,
descobrimos que estamos com falta de suprimentos. O contrário também é verdade: às vezes
exageramos e trazemos de volta muita comida. Isso não pode acontecer em nossos momentos
de louvor. Faz parte da nossa preparação de curto prazo prepararmos tudo.
Existe um modelo de cinco fases da adoração que Barry Liesch nos apresenta,
elaborado por John Wimber, pastor importantíssimo no movimento Vineyard. Vejamos quais
são essas cinco fases:
1) Convite: um chamado para a adoração. As letras são direcionadas ao povo,
não a Deus. Na fase de convite, os líderes continuam até que tenham feito contato
com o povo e todos estejam concentrados.
2) Engajamento: as pessoas começam a se achegar a Deus. A letra agora é
dirigida ao Senhor.
3) Exaltação: as pessoas cantam “ao Senhor”, com força, dando expressão
significativa às palavras de transcendência – como “grande”, “majestoso”, “digno”,
“reina”, “Senhor”.
4) Adoração: a dinâmica gradual diminui, e aborda a proximidade de Deus.
Estamos cantando para Deus.
5) Intimidade: é a fase mais silenciosa e pessoal. Trata do proskuneo, do
prostrar-se.
Logo depois, vem o fechamento, já preparando o povo para a próxima etapa do culto,
que geralmente é o sermão.
Percebe como este modelo nos apresenta algumas sugestões de como podemos
“construir” o nosso momento de adoração? Talvez você esteja se perguntando quais são os
benefícios de se construir a ministração de louvor dessa forma. Eu creio que o maior benefício
é que, agindo assim, evitamos a confusão, e a congregação se sente mais confiante a se
entregar em adoração.
Algumas considerações são necessárias. Vejamos:
Creio que a igreja brasileira em geral tem caminhado bem em relação às fases da
exaltação, da adoração e da intimidade, mas temos sido um pouco falhos com relação às duas
primeiras fases.
O convite é essencial para que a congregação se sinta parte da equipe de louvor. Nós
não estamos ali para nos apresentar às pessoas. Queremos interagir com elas. Sempre que
lidero louvor, gosto de usar um cântico de invocação, tanto da presença de Deus quanto da
participação das pessoas. Cânticos que usem verbos no imperativo, para atrair a atenção da
congregação. Um exemplo muito claro disso é o cântico “Vem, esta é a hora da adoração”, de
Brian Doerksen.
Em nosso mundo tão ativista, a fase do convite se torna ainda mais relevante, pois as
pessoas chegam aos cultos das maneiras mais variadas, muitas vezes vindas diretamente do
serviço ou cheias de preocupações, não estando com a mente focada no Senhor.
A fase do engajamento também é de extrema importância porque proporcionamos às
pessoas uma oportunidade de declararem ao Senhor o que estão fazendo ali em um culto. Um
exemplo de canção muito adequada para esse momento é “Vim para adorar-te”.
Músicas de convite não são tão comuns e certamente não são fáceis de se encontrar. Por
isso, muitas vezes, a fase do convite pode ser uma oração de abertura, uma leitura bíblica ou
até um convite verbal feito pelo ministro. Neste caso, a música de engajamento faria o papel
da “abertura” do culto.
Assim como o convite, a intimidade não precisa ser uma canção específica. Pode ser uma
oração de fechamento, um instrumental, a repetição de alguma frase da música da fase de
adoração.
Outra coisa que precisamos dizer é que nem sempre cada fase precisa de uma música
específica. Por exemplo, podemos cumprir as cinco fases com apenas três canções. Como isso
ocorre? Quando entendemos que algumas músicas cumprem duas fases, chamadas músicas de
transição. Se fizermos o convite com um versículo de abertura, e a intimidade com uma oração
de fechamento, também poderemos cumprir as cinco fases com apenas três canções, por
exemplo. Ou, quem sabe, se você tiver mais tempo, também pode colocar mais de uma canção
por fase, totalizando mais de cinco canções. Lembre-se de que isso é apenas um modelo para
ajudá-lo.
Mas juntamente com esse processo de estabelecermos diferentes fases em nossas
ministrações, devemos estabelecer o processo de seguirmos uma direção clara, para também
auxiliarmos na compreensão da congregação do momento de louvor e assim estabelecermos
uma confiança ainda maior entre congregação e equipe.
Você pode estar se perguntando o que eu quero dizer quando falo sobre seguir uma
direção. Eu me refiro a termos uma palavra do Senhor, um direcionamento, uma impressão no
espírito do rumo que devemos tomar na ministração.
Algo importante de ressaltar é que essa busca por um direcionamento deve acontecer
em cada ministração, pois cada ministração é diferente da outra. Não podemos liderar uma
reunião com um direcionamento que nos foi dado pelo Senhor para o culto da semana
anterior. Por isso discorremos sobre a importância de uma vida de relacionamento com Deus.
Somente assim conseguiremos obter esse direcionamento específico para cada culto.
Como isso faz diferença na vida prática da igreja! As pessoas podem não saber o
quanto você se preparou, mas com certeza vão sentir a diferença quando você tiver buscado
um direcionamento específico de Deus para aquele culto. Mais uma vez, isso é algo que
acontece de maneira sobrenatural.
Quando falo sobre direção, refiro-me a um alvo específico para aquele momento de
louvor. Quando temos esse alvo claro diante de nós, podemos trabalhar para o atingirmos. Um
exemplo prático: o Senhor nos dá uma direção para o momento de louvor para que
trabalhemos sobre arrependimento e transformação. Então vamos escolher músicas que falem
sobre esses assuntos. Se o Senhor nos der um direcionamento sobre celebração, então
devemos preparar uma lista que colabore com essa direção, escolhendo músicas que
incentivem as pessoas a celebrar.
Mais uma vez reforço o que acredito sobre o agir de Deus. O nosso Deus é soberano,
e Ele age da forma como quer. Muitas pessoas não se preparam anteriormente e ficam
esperando o agir sobrenatural de Deus na hora da ministração. Eu já tive a grata experiência
de ver o Espírito Santo virar todo o meu programa de pernas pro ar e fazer tudo de uma outra
forma. Mas nas centenas de ministrações de que participei e liderei, poucas foram as vezes
em que isso aconteceu. Eu creio que Deus faz isso para nos mostrar que sempre precisamos
ser dependentes dEle, e que Ele somente é Deus e age do jeito que quer.
Mas eu creio que Deus é onisciente, e se Ele pode nos dar uma direção na hora da
ministração, Ele pode nos dar essa direção duas semanas antes! Eu já experimentei isso em
meu ministério. Em algumas ministrações o Senhor me deu com duas semanas de
antecedência a direção que eu deveria seguir. E quando cheguei para o culto, com imensa
surpresa constatei que tanto o dirigente do culto quanto o pregador estavam debaixo da
mesma direção. O Senhor é tão lindo que me lembro de algumas vezes quando o versículo que
Ele me deu para iniciar a ministração foi o mesmo dado para o dirigente do culto.
Quando buscamos a direção do Senhor antecipadamente, podemos nos preparar de
forma mais adequada. Podemos pensar, refletir nas músicas. Podemos gerar a ministração no
espírito, podemos amadurecê-la em nossos corações. A atmosfera espiritual é outra quando
estamos preparados para uma ministração. A igreja consegue, de alguma forma, sentir esse
reflexo.
Portanto, também é importante que a igreja seja comunicada sobre como vai acontecer
esse fluir em determinada ministração e sobre o objetivo do líder de louvor e de toda a equipe
para aquele momento. Uma comunicação clara da direção específica a ser seguida durante o
louvor diminui a resistência no coração das pessoas. Quando as pessoas da igreja
compreendem por onde estão “passando” durante a “jornada” de louvor, elas se rendem mais
facilmente.
Por isso existe o momento de ministração falada antes de cada música, como
uma preparação para os cânticos. E então, nosso objetivo como equipe de louvor será
alcançado mais facilmente. O oposto também é verdadeiro. Quando não há uma comunicação
clara da direção do fluir por parte do líder e da equipe, as pessoas se sentem deslocadas e
demoram mais a abrir o coração e se entregar ao mover do Espírito.
Vejamos algumas formas pelas quais um líder de louvor pode comunicar de
forma bem-sucedida a direção que recebeu do Senhor à congregação:

1) Leia um versículo que esteja de acordo com essa direção

Não existe autoridade maior para incentivar a igreja e para abrir o coração das
pessoas do que as Escrituras. Alguns versos, ou mesmo um versículo, são poderosos o
suficiente para quebrar resistências no coração das pessoas. Porções das Escrituras são
extremamente eficazes para mostrarmos à congregação qual a direção que vamos seguir. Por
exemplo, se queremos iniciar um período de louvor ministrando sobre gratidão, podemos usar
o salmo 100:4: Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de
louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Uau! Como esse versículo é inspirador.
Ou se vamos caminhar em direção ao arrependimento, seja de pecados pessoais ou
pecados coletivos, podemos usar 2 Crônicas 7:14: Se o meu povo, que se chama pelo meu
nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu
ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Se vamos caminhar para a exaltação e proclamação de quem Deus é e das suas
grandes obras, podemos usar o salmo 145:1-3: Exaltar-te-ei, ó Deus meu e Rei; bendirei o teu
nome para todo o sempre. Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome para todo o
sempre.Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável.
Eu realmente creio que nós, ministros de louvor, precisamos e devemos restaurar a
autoridade das Escrituras em nossas reuniões, até mesmo em nossas ministrações.

2) Faça uma oração. Enquanto você se dirige a Deus, indiretamente mostra à
igreja o caminho que estará seguindo

Eu aprendi que isso é realmente muito eficaz. Às vezes pode haver um desgate se
sempre nos dirigirmos diretamente às pessoas. Elas podem “se cansar” de nós. Portanto,
enquanto nos dirigimos a Deus, indiretamente estamos ministrando às pessoas. Quando
expressamos, em oração, o que sentimos, servimos de exemplo para toda a congregação.
Gostaria de um exemplo prático? Se você, liderando louvor, entre uma música e outra diz:
“Sim, Senhor. Realmente é nosso desejo te adorar nesta reunião; nós nos entregarmos
completamente a ti. Nós entregamos nossos sonhos, nossos desejos, nossas vontades, toda a
nossa vida é tua, Senhor”, você inclui todas as pessoas em sua oração e as estimula a abrirem
o coração para o Senhor.

3) Dirija-se diretamente à congregação. Comunique brevemente o que está
em seu coração, para que haja clareza e propósito durante toda a ministração

A comunicação direta com a congregação também é muito eficaz, se feita com
equilíbrio. Mais uma vez lembro a você de que o ministro de louvor não é o pregador do culto!
Sempre que digo isso me lembro de que, certa vez, até apelo eu fiz em uma ministração de
louvor, e inclusive chamei as pessoas à frente! Sempre dou risadas ao lembrar disso, mas foi
algo debaixo da direção do Espírito e com a autorização do pastor. Coisas assim podem
acontecer, mas, via de regra, devemos ser sucintos em nossas ministrações.
Podemos comunicar às pessoas o direcionamento do Senhor. Por exemplo: “Essa noite
nós vamos caminhar em direção ao amor do Senhor. Vamos mergulhar no seu amor por nós”.
Isso esclarece tudo para a igreja, porque eles sabem, juntamente com a equipe, onde
queremos chegar.

4) A lista das músicas tem um papel fundamental nessa comunicação

Vamos dedicar um capítulo, na próxima parte deste livro, exclusivamente para
falarmos sobre a importância de uma lista de louvor montada de forma a facilitar o fluir.
Portanto, agora só gostaria de citar que a lista de música é imprescindível na transição do
fluir.

Conclusão

Minha intenção com este capítulo, e espero ter alcançado meu objetivo, é
conscientizar você, leitor, da importância de sabermos realmente o que estamos fazendo
quando ministramos louvor. De nada adianta tocarmos bem, termos uma boa banda, fazermos
bons arranjos, se não temos um direcionamento claro para seguir. Busque do Senhor e siga a
sua direção para cada ministração que você for liderar.
PARTE IV

FERRAMENTAS PARA UMA MINISTRAÇÃO
EFICAZ
Capítulo 19- Como montar uma lista de canções que colaborem
no fluir

Como dissemos no último capítulo, é imprescindível que um líder ou ministro de
louvor saiba qual direção vai tomar em uma ministração. Tenho aprendido que a melhor forma
de colocarmos esse direcionamento em prática é através da lista de canções que escolhemos
para compor o repertório daquele dia.
As músicas que escolhemos e a sequência que determinamos para tocá-las são
elementos essenciais para um momento de louvor bem-sucedido. Gostaria de começar este
capítulo citando Dan Wilt, que é líder de louvor, conferencista e editor da revista Inside
Worship, além de trabalhar com o ministério Vineyard no Canadá. Dan descreve como são os
“grandes líderes de louvor”:

Grandes líderes de louvor aprendem como construir um pacote de adoração de uma maneira
consistente e sistemática, se eles se preparam bem.
Grandes líderes de louvor sabem como extrair o melhor de cada grupo de canções, como se fossem
frescas, mesmo que já sejam familiares, centradas em Deus e facilmente aprendidas por todas as faixas
etárias.
Grandes líderes de louvor sabem como deixar as canções liderarem o louvor e como dar aos
adoradores a linguagem da adoração. Eles não sentem a necessidade de falar muito ou orar muito para
manter a energia fluindo.

Ele usa duas expressões-chaves neste texto, quando diz que estamos construindo um
pacote de adoração, e quando fala sobre deixarmos as canções liderarem o louvor por si só.
Essa deve ser a nossa meta e o nosso objetivo: termos uma lista de canções tão bem
elaboradas que elas, sozinhas, sem ministrações, versículos, orações e tudo o mais que
falamos acima, comuniquem a direção que estamos seguindo. É claro que todas essas coisas
citadas são ferramentas que devemos usar, mas devemos aprender a fazer uma lista de
canções que colaborem e indiquem o fluir daquela ministração específica.
Barry Liesch diz que as canções devem fluir cada uma para a outra, “e transições devem
ser feitas habilidosamente para produzir o efeito de uma peça de roupa sem costuras”.
A montagem dessa lista vai muito além da concepção que muitos têm de que, colocando
uma música agitada no começo, outra mais embalada no meio e uma mais lenta no final,
teremos “músicas de adoração”. Vejamos o que podemos aprender sobre isso.

Quem deve escolher as canções?

Houve um tempo no Ministério de Louvor em que, ao chegarmos para o ensaio, não
havia uma figura de autoridade definida, ninguém estava estabelecido como líder de louvor da
equipe. Sem esta figura, ninguém preparava o repertório. Portanto nos reuníamos em volta do
retroprojetor e começávamos a longa caminhada para a escolha das músicas que seriam
cantadas.
Era uma tremenda confusão! Um dava palpite aqui, o outro discordava ali dizendo “Não
gosto dessa música!”, e tentávamos todos chegar a um acordo. Recordo-me ainda quando
encontrávamos mais dificuldades para achar as músicas certas e então pegávamos a pasta de
transparências, e ficávamos folheando, até encontrarmos alguma música “legal”. Nenhuma
música ligava com outra, pois não havia uma unidade de direcionamento.
Essa é uma das responsabilidades do líder de louvor: trazer essa unidade de direção.
Portanto ele é quem escolhe as músicas. É claro que os líderes de louvor podem ouvir e
receber sugestões de outros membros da equipe. Às vezes, quando me parecia que algo não
estava encaixando no repertório que preparava ou alguma música não estava bem clara na
minha mente, alguém da equipe fazia uma sugestão que no mesmo instante testificava em
meu espírito.
Mas note bem: a palavra final deve ser sempre do líder de louvor. Também já vivi
experiências em que recebi do Senhor uma direção e algumas pessoas na equipe não
entenderam e discordaram quando lhes comuniquei. Mas nós precisamos ser firmes quando
temos convicção de que recebemos uma direção do Senhor e automaticamente nos tornamos
responsáveis por nossas escolhas. Mas se depois percebermos que erramos, saibamos
reconhecer isso.

Entendendo os ganchos

Uma lista de louvor bem feita é aquela que trabalha com os ganchos das músicas.
Vamos entender isso de forma mais profunda. Quando recebemos um direcionamento,
devemos começar a escolher as músicas dentro dele. Por exemplo, se o Senhor nos deu a
direção de começarmos com ações de graças, devemos escolher uma canção que incentive as
pessoas a agradecerem ao Senhor pelo que Ele tem feito. Uma música perfeita para essa
ocasião seria “Te agradeço”, versionada pelo ministério Diante do Trono.
E assim vamos caminhando. Dentro de uma mesma ministração, podemos ter vários
temas que vão se sucedendo. Por exemplo, começamos com arrependimento, passamos a
cantar sobre perdão, e depois cantamos sobre sermos agradecidos, em seguida exaltamos ao
Senhor e terminamos a ministração adorando-O pelo que Ele é.
Por isso é tão importante que entendamos o que são os ganchos de uma música. Cada
canção possui um tema específico e algumas frases que são mais marcantes. A frase que fica
na cabeça das pessoas é a frase forte da música. Por exemplo, na canção “Sonda-me, usa-me”,
de Aline Barros, a frase forte é o pedido ao Senhor: “Usa-me, Senhor!”.
Essas frases fortes são o que nós chamamos de ganchos. São esses temas fortes que
vamos usar para conduzir a ministração, ligando gancho com gancho, e assim vamos mudando
de música. Sabendo qual é o gancho de cada cântico, o ministro vai enfatizar essa seção da
música.
Certa vez estávamos em Petrópolis, na região serrana do estado do Rio de Janeiro, e
eu liderava o louvor em uma querida igreja que havia nos convidado. Eu havia feito a lista de
louvor pensando em tudo o que estou ensinando neste capítulo, mas mesmo assim alguns
detalhes me fugiram, mas o Espírito Santo, que é o melhor líder de louvor, nos lembra e nos
ajuda.
Estávamos cantando a canção “Bem-aventurado”, da Hillsong, versionada pela Aline
Barros, e em seguida íamos cantar a canção “Rei dos Reis”, do Diante do Trono. Enquanto
cantávamos uma frase da primeira canção, que diz “Que o teu Reino venha sobre nós,
queremos tua glória sobre nós”, o Espírito Santo chamou a minha atenção e imediatamente eu
dei instruções para que a equipe começasse a repetir essas duas frases somente.
Quando eu fiz isso, trouxe a atenção da igreja para essa parte da música. E assim fiz
o gancho para mudar para a música “Rei dos Reis”, que fala justamente sobre vivermos o
Reino de Deus. Glória a Deus pelo Espírito Santo, que nos guia e nos inspira!
Você consegue compreender? Quando trabalhamos com os ganchos, criamos uma
transição mais tranquila de uma música para outra, evitando que a congregação se disperse.
Outra coisa que devemos notar é que uma mesma música pode ter vários ganchos, e podemos
usá-los de acordo com o direcionamento preestabelecido.
Outro exemplo que podemos usar para ilustrar o que está sendo explanado é ligarmos
as músicas “Diante do trono, Senhor”, do ministro Fernandinho, com a música “Eu nasci para
adorar”, de Asaph Borba. A primeira diz “Eu só quero Te adorar / Te adorar / Eu nasci pra Te
adorar / Te adorar / E dizer que Te amo / Te amo / Te amo...”, e a segunda também diz: “Eu
nasci para adorar / Eu nasci para adorar / Para proclamar a glória do Senhor / Para ser um
verdadeiro adorador”.
Muitas vezes o gancho não vai ser tão evidente quanto esse do exemplo acima, por
isso poderemos usar outras ferramentas que nos ajudarão a construir esses ganchos, como ler
um versículo, dar uma pequena palavra ou fazer uma oração.
Você pode se questionar sobre o porquê de tudo isso. Talvez você ache tudo isso
desnecessário, mas eu posso garantir que, fazendo assim, nós tornamos o “caminho da
adoração” mais suave para que as pessoas passem. Nós as ajudamos a não perder o foco da
ministração.
Eu falei sobre a possibilidade de termos vários temas em uma mesma ministração,
como se estivéssemos percorrendo um roteiro preestabelecido, mas algumas vezes o Espírito
pode nos direcionar a ficarmos em apenas um tema durante toda a ministração. Já fui
direcionado pelo Espírito a exaltar o nome de Jesus em toda a ministração. Por isso escolhi
uma música de convite, uma música de celebração, uma música de exaltação e outra de
adoração que colaborassem para que toda a congregação exaltasse o nome de Jesus.
A maior chave e o maior segredo que eu posso ensinar é que devemos estar sempre
com nossos ouvidos espirituais sensíveis para ouvirmos a direção do Senhor para cada
ministração.

Usando os medleys

Existe uma outra forma de ligarmos músicas diferentes, sem que seja através dos
ganchos. Para isso podemos usar os medleys.
Medley é o termo que se usa quando duas músicas são unidas em um arranjo de
forma que não haja intervalo entre elas ou até mesmo pareçam ser uma mesma música. Quais
são os benefícios de um medley?
Um primeiro benefício é o elemento surpresa para a congregação. Podemos pegar
duas músicas já bastante conhecidas da congregação e juntá-las em um mesmo arranjo
fazendo com que a congregação note que há uma mudança. Com essa nova roupagem,
estamos estimulando as pessoas a adorarem de forma mais intensa.
Outro benefício é que evitamos a pausa que se estabelece enquanto trocamos de uma
música para outra. Durante esses breves segundos de transição, as pessoas podem se distrair
do objetivo principal e começarem a divagar sobre coisas não relacionadas ao momento de
adoração. Quando excluímos essa pausa, excluímos automaticamente essa possibilidade de
distração.
Eu gosto muito de usar medleys. Meus companheiros de equipe sempre brincam
quando sugiro um novo medley: “Lá vem o Renato com seus medleys!” Mas realmente creio
que ele seja uma ferramenta poderosa que podemos usar em nossas ministrações. Mas como
funciona um medley na prática? Como podemos unir duas músicas diferentes em um mesmo
arranjo?
A primeira coisa que precisamos observar é a tonalidade dessas músicas. O mais
simples é pegarmos músicas na mesma tonalidade, mas não se resume só a isso. As músicas
não necessariamente precisam estar no mesmo tom, mas para isso alguns aspectos técnicos
musicais precisam ser observados, como empréstimos modais, homônimos e relativos. Estes
são aspectos mais elaborados e que requerem maior conhecimento musical e de como fazer
um bom arranjo.
Além da tonalidade, devemos observar também o andamento das canções. Para que
elas se encaixem perfeitamente, precisamos atentar ao ritmo em que estamos tocando a
primeira canção e o ritmo em que deveremos tocar a segunda. Algumas músicas simplesmente
não se casam, não combinam. Outras podem ser unidas somente com um arranjo instrumental
mais elaborado. No entanto, outras podem ser unidas com muita facilidade por possuírem um
andamento semelhante e por estarem na mesma tonalidade.
Um medley bem feito vai além do lado musical e entra na esfera do conteúdo das
letras. Já vi medleys de duas músicas com a mesma tonalidade, com andamentos compatíveis,
mas com um pequeno detalhe esquecido: as letras não tinham nada em comum!
Precisamos analisar também esse elemento de conteúdo, além dos elementos
musicais, para que tenhamos um medley feito de forma adequada. Alguns são tão bem feitos
que, para muitas pessoas, as duas músicas se tornam apenas uma. Um exemplo disso é o
medley feito pelo Pr. Adhemar de Campos com quatro músicas – três versões e uma de sua
autoria. São elas “Louvemos ao Senhor”, “Magnifiquemos”, “Hosana”, e “O motivo do louvor”.
O medley é tão bem feito que muitas pessoas nem sequer sabem que são quatro músicas
diferentes e outras são incapazes de definir onde cada uma começa e termina.

Fatores que devem ser levados em conta na montagem de uma lista de louvor

1) O tempo de ministração

Uma das coisas mais importantes a serem observadas pelo responsável por montar uma
lista de louvor é o tempo disponível para a ministração. Isso faz toda a diferença! Observando
o tempo que temos disponível não vamos nos tornar um pesadelo para o pastor nem um peso
para toda a igreja.
Aproveito este tópico para fazer um pequeno parêntesis de algo que julgo muito
importante. Muitos líderes de louvor reclamam que seus pastores disponibilizam pouco tempo
para a ministração de louvor. Mas sempre devemos agir debaixo de obediência. Deus não está
limitado pelo tempo. Já presenciei Deus agindo poderosamente em ministrações de 10
minutos, com apenas uma canção, e também já participei de ministrações de uma hora, com
mais de 7 canções, e não senti a presença de Deus de forma tão forte. Devemos sempre nos
submeter à nossa liderança e respeitarmos o tempo que ela nos dá para ministrarmos.
Dito isso, analisemos como a duração da ministração influencia na montagem do
direcionamento.

Ministração de curta duração

Em um período curto de louvor, de cerca de 15 minutos, em que duas ou três músicas
serão ministradas, não existe a possibilidade de uma troca constante de direção. Um único
tema deve ser mantido e trabalhado, para que haja maior eficácia na ministração.

Ministração de média duração

Já em uma ministração de média duração, de cerca de 30 a 40 minutos, com cinco ou
seis músicas, existe a possibilidade de uma troca de direção, visando atingir um alvo maior.
Ela começa falando da alegria de estar na presença de Deus, depois sobre a liberdade de
adorar e termina com uma música de contemplação da presença de Deus, de adoração.
Essas ministrações de média duração são as mais comuns em nossas liturgias de
culto atual. Um fator importante que deve ser levado em conta é que um dos papéis dos
ministros de louvor é deixar a igreja preparada para ouvir a palavra que vai ser pregada,
portanto devemos observar a forma como terminamos nossa ministração, nessa transição
entre o momento de louvor e a palavra.

Ministração de longa duração

Quase não existem os cultos específicos para ministração de louvor, de cerca de 1
hora, 1 hora e meia ou até mais. E temos de ter em mente que muito do que deve ser evitado
em ministrações de curta e média duração pode ser feito em ministrações de longa duração.
Por exemplo, a ministração falada pode ser mais longa e, em algum momento do culto,
acontecer algo como uma “pequena pregação” baseada nas músicas cantadas.
Em algumas igrejas, esse tipo de ministração é conhecido como “Louvorzão” ou é
alguma programação específica e festiva da igreja. Neste caso, o momento de louvor não
precisa dividir o tempo com a pregação da palavra, embora possa haver uma pequena
pregação nestas programações.
Outra característica deste tipo de ministração é que ela pode abranger várias
direções nesse período de tempo. Por exemplo: começa com regozijo e alegria, passa pelo
momento de guerra, de libertação, de quebra das amarras que prendem as pessoas e as
impedem de louvar, então fala-se sobre o amor de Deus, de como ele é bom e então termina
contemplando e desfrutando da presença de Deus.

2) O público-alvo

Temos de ter sempre em mente o tipo de público para o qual estamos ministrando. Já
abordamos essa questão brevemente em um capítulo anterior. O ministro de louvor precisa
conhecer a igreja em que está inserido para saber o tipo de música que escolherá.
Em uma igreja com uma grande porcentagem de pessoas idosas e uma história de
tradição, devemos sempre procurar incluir em nossas listas alguns hinos do hinário, para que
possamos servi-los também e preservar a história. Em uma igreja com um perfil mais jovem,
podemos incluir músicas mais dinâmicas, que atraia as pessoas dessa comunidade, lembrando
sempre que as canções que ministramos devem estar de acordo com as doutrinas da igreja,
para evitarmos qualquer divisão ou problema com o pastor e com a liderança.
Devemos buscar esse discernimento com relação a diferentes cultos em que vamos
ministrar. Uma lista de músicas para um culto de jovens deve ser diferente da lista de um
culto de senhoras. Isso influi diretamente no fluir da adoração e em como as pessoas reagirão
à ministração. Como podemos cantar rock em uma reunião de senhoras ou um hino tocado no
órgão em um culto de jovens?
Para ilustrar, lembro-me de quando fui ministrar com uma equipe do CTMDT em uma
igreja em Santa Luzia, cidade de Minas Gerais onde está sediado o nosso seminário. Eu tinha
já preparado uma lista de músicas para aquele culto, e incluía algumas músicas bem
contagiantes, mas em estilo pop rock. Ao chegarmos, um membro da equipe me chamou e me
disse: “Dá um look na igreja”. Quando me virei, vi várias senhoras sentadas, e então entendi o
que ele estava querendo me dizer. As músicas que tinha escolhido para começar o momento
de louvor, por melhores que fossem, não eram adequadas para o tipo de público que tínhamos
naquela igreja. No mesmo momento troquei a lista e então cantamos uma conhecida canção
pentecostal.
A essência é sempre a mesma – adorarmos ao Senhor –, os princípios bíblicos são
sempre os mesmos, mas a forma pode ser variada. Uma forma não é melhor do que a outra.
São apenas diferentes. Cresci dentro de um contexto eclesiástico tradicional, e vivi a transição
para um contexto mais avivado. Como é complicado quando há esse conflito de gerações. E
uma das questões mais debatidas nesse conflito é sobre as músicas que são tocadas. Por isso é
necessário buscarmos essa adequação da forma e do estilo ao tipo de público para o qual
estamos ministrando.
Outro ponto que tem me incomodado muito nesses últimos dias é com relação a um
evento ou culto evangelístico. Quando vamos ministrar em um momento evangelístico,
devemos cantar músicas que proclamem o amor de Deus, falem da sua misericórdia, mas que
não estejam cheias de expressões, o que eu chamo de “evangeliquês”. Já participei de eventos
evangelísticos e sei, pelas músicas que foram cantadas, que as pessoas que precisavam ser
verdadeiramente alcançadas mal conseguiram entender o que estava sendo cantado. Não por
uma má dicção ou má qualidade do som, mas por usarmos canções que foram feitas para um
contexto de culto congregacional no momento errado. Precisamos saber quem é o nosso
público-alvo. Se vamos evangelizar, cantemos canções que tenham um enfoque evangelístico,
para que as pessoas possam ser alcançadas.
Aprendi a duras penas essa questão do público-alvo. Eu tive a experiência de
trabalhar em um colégio cristão, em Belo Horizonte, da Igreja Batista da Lagoinha, e ali eles
têm cultos semanais, com todos os alunos. Eu fui contratado para liderar o louvor nos cultos
de 5ª série até o 3º ano do Ensino Médio, e também montar bandas de alunos. Como era difícil
escolher as músicas certas para cada culto. As músicas que os alunos de 12, 13 anos gostavam
não eram as mesmas que os meninos de 16, 17 curtiam. E para economizar tempo (tempo era
algo precioso em meus ensaios com eles!) eu sempre ensaiava as mesmas músicas com todas
as bandas. Uma música que era altamente empolgante para uma faixa etária era
extremamente chata para outra.
Isso também acontece em nossas igrejas, de forma menos intensa, é claro. Mas
precisamos aprender a lidar com essas diferenças e buscarmos formas de atingirmos e
impactarmos essas pessoas com nossas canções.

Trazendo músicas novas

É bom também evitar uma lista de louvor com músicas com as quais a igreja não
esteja familiarizada. Quando cantamos muitas músicas novas, impedimos que as pessoas se
concentrem totalmente na adoração. Elas precisam ficar seguindo a letra, prestando atenção
na nova melodia, tentando aprender como cantá-la. Isso impede que a igreja “decole” em
adoração. Quando cantamos uma música com que a igreja já está familiarizada, as pessoas
podem se concentrar somente em adorar, pois já sabem a letra e a melodia.
Entenda bem o que estou dizendo. O outro extremo também deve ser evitado. O
ministro de louvor deve estar sempre buscando as boas músicas novas que estão surgindo no
meio cristão. As músicas que estão sendo geradas no “agora” refletem o mover de Deus no
“agora”, ou pelo menos deveriam.
Eu amo, valorizo, canto as músicas mais antigas. Além disso, ainda ensino sobre elas
e como elas devem ser valorizadas, mas músicas novas devem ser sempre incluídas em nossos
repertórios, com equilíbrio. Elas trazem um sentimento de surpresa. A igreja se sente
motivada.
A quantidade correta de músicas novas a ser ensinada para a congregação varia de
igreja para igreja. Em algumas, pode-se ensinar uma música nova por semana que a igreja
consegue absorver. Em outras, pode-se ensinar apenas uma por mês, pois a assimilação
acontece de forma mais lenta. Aprenda a conhecer a sua igreja, e traga elementos novos para
a mesa! Assegure-se de repetir a canção ensinada. Sempre que ensino uma canção nova,
procuro repeti-la mais do que o normal, para que as pessoas já consigam aprender ou pelo
menos se familiarizar com a melodia e a letra. Depois repita a canção nas semanas
consecutivas, para que as pessoas possam cantá-la sem preocupação.
O que acontece muitas vezes é que músicas e mais músicas vão sendo ensinadas, mas
ninguém se preocupa com o fato de que elas não estão sendo assimiladas, são cantadas
apenas uma vez e esquecidas. Precisamos repeti-las e garantir que a igreja consiga incorporá-
las ao repertório de adoração.
Visito muitas igrejas que ainda estão cantando somente canções da década de 1990.
Essas músicas, em sua maioria, são lindas, mas, como disse, precisamos buscar o novo. O
salmo 96 nos encoraja a sempre termos um cântico novo para cantarmos ao Senhor.
Voltando a falar sobre o que deve ser evitado, não faça um repertório de muitas
músicas novas. Já tive essa infeliz experiência. Muitas vezes, na ânsia de querermos trazer
tudo de uma vez só, cantamos várias canções novas, e as pessoas da congregação se sentem
desmotivadas e perdidas.
Muitas vezes, quando viajava (e ainda viajo) com a banda do CTMDT, sempre nos
preocupávamos em saber quais canções a igreja tinha o costume de cantar. Lembro-me de ver
o Paulinho olhando a pasta de transparências para saber com quais canções a igreja já estava
familiarizada. Muitas vezes perguntei ao líder de louvor da igreja que estávamos visitando, ou
até mesmo ao pastor, se eles conheciam tais ou tais cânticos. Com isso, evitamos que a igreja
se torne expectadora, mas sim participante.
Mas algo que preciso ressaltar é que, em todas as igrejas, sempre fazemos questão
de ensinar uma música que seja. Uma música que vai marcar aqueles dias, que quando as
pessoas ouvirem vão se lembrar daqueles momentos. Você consegue se lembrar de uma
canção que marcou aquele acampamento de carnaval? Ou uma música que te lembra de
algum Congresso em sua igreja? Isso é saber lidar com o poder de uma nova canção de forma
adequada. Seja um bom “guia”! Faça tudo com equilíbrio e sabedoria do Senhor.
Capítulo 20 – O uso de sinais na facilitação do fluir

Outra ferramenta importante na facilitação do fluir de uma ministração é o uso de
sinais para a comunicação entre líder e equipe. Os sinais devem ser usados para mostrar à
equipe como a música deve seguir. Eles evitam que haja um excesso de comunicação oral
durante a ministração. Sabe o que isso significa? Os sinais evitam que o líder de louvor
precise ficar a todo momento falando ou até mesmo gritando as direções para onde a música
deve seguir. Com isso, voltamos àquele princípio de que temos de fazer tudo que está ao nosso
alcance para nos tornarmos o mais “invisíveis” possível.
Neste capítulo irei ensinar e ilustrar alguns sinais que são usados pelo Ministério
Diante do Trono e que são ensinados no CTMDT como padrão, mas esses sinais podem ser
mudados, desde que atenda as necessidades da equipe e todos possam compreendê-los
facilmente.
Outro fator importante é que os sinais, apesar de serem facilitadores do fluir, se
tornam mais uma responsabilidade para o líder de louvor e para toda a equipe. Todos devem
estar atentos aos momentos-chave da música em que o líder de louvor vai direcionar para
onde se deve caminhar. O líder deve ter total confiança de que toda a equipe estará de olho
nos seus sinais durante a ministração.
Isso não significa que toda a equipe deve ficar olhando para o líder o tempo todo.
Com o passar do tempo, a equipe acaba se acostumando com o uso dos sinais e aprendendo os
momentos-chave em que deve estar atenta aos sinais do líder.
Vejamos então quais são estes sinais:


Sinal de repetição: este sinal indica que iremos repetir a seção
da música na qual estamos. Se estivermos no verso um, e o líder
der esse sinal, então significa que iremos repetir o verso um. Se
estivermos no coro, então repetiremos o coro, e assim por diante.



Sinal de ponte: este sinal significa que a música caminhará
para a ponte.





Sinal de prosseguimento: este sinal indica que a música
seguirá para a próxima seção. Por exemplo, imaginemos que
estamos em uma música que é composta somente de um verso e coro. Se estivermos no final
do verso, este sinal indica que iremos para o coro. Se ele for dado no final do coro, significa
que iremos novamente para o início. Suponhamos que, depois do coro, tenhamos decidido
fazer um instrumental. Então este sinal significará que iremos para a parte instrumental.



Sinal de modulação: sinal usado para indicar o momento
em que a música deverá modular, ou seja, subir de tom.






Sinal de TAG: este sinal indica que


determinada frase em
particular será repetida. Enquanto o líder permanecer com a mão
assim, como na figura, significa que deveremos continuar
repetindo determinada frase, que chamamos de TAG, que geral-
mente é a frase final da música. Um exemplo muito claro de TAG é o
da música “Águas Purificadoras”, do Ministério Diante do Trono. O TAG da música em questão
se encontra na frase: “Tu és o rio, Senhor. Tu és a fonte, Senhor.”. Essa frase pode ser
repetida quantas vezes o líder achar necessário, e, na maioria das vezes, o TAG dá abertura
para que venham os cânticos espontâneos.


Sinal de encerramento: este sinal indica que a música irá
terminar. Um exemplo: depois de cinco vezes repetindo um
TAG em determinada música, usando o sinal acima, quando
quisermos encerrá-la, deveremos usar este sinal ao lado.















CONCLUSÃO

Estamos chegando ao fim desta jornada, deste “mergulho”, como o título do livro
sugere. Certamente, este não é o fim. Se eu fui bem-sucedido, você, leitor, percebeu que tudo
o que foi tratado aqui neste livro é apenas um início. Tem muito mais para se mergulhar, tanto
no aspecto espiritual quanto no aspecto técnico.
No aspecto espiritual, minha intenção com este livro foi de trazer a você um desejo de
buscar mais a Deus, de conhecê-lo mais e de servi-lo com mais intensidade, através do
chamado que Ele colocou em sua vida. Embora eu tenha dito que este livro não tem a função
de se aprofundar nas questões bíblicas da adoração, meu desejo é que tudo o que foi tratado
aqui tenha despertado você para mergulhar na Palavra de Deus, na graça de Deus e também
para ler outros materiais que te ajudarão neste aspecto. No nosso caso, como ministros de
louvor, é impossível lidarmos só com a técnica. Somos seres espirituais e exercemos o nosso
chamado de forma espiritual.
No aspecto técnico, nenhum livro do mundo conseguiria reunir tudo o que precisa ser
dito. Eu tentei trazer este panorama de vários assuntos tão relevantes, trazendo minha
contribuição para a Igreja brasileira neste ministério que tem sido tão fundamental em nossas
igrejas atualmente. Espero ter despertado em você, leitor, a necessidade de buscar mais
conhecimento, mais técnicas, aulas, cursos, livros, enfim, toda ferramenta que irá te ajudar a
se capacitar mais. O terreno é bem mais fundo, portanto, você pode continuar mergulhando
mais profundamente.
Não desanime. Não se acomode. Busque realmente servir ao Senhor com o seu
melhor, pois Ele merece nada menos do que isso. E eu tenho certeza de que o Senhor irá te
capacitar dia a dia, fazendo de você cada vez mais um obreiro preparado para servi-lo nesta
terra. Esta é a minha oração por você.
Obrigado pela confiança. Deus te abençoe.





BIBLIOGRAFIA

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——————. Following the river. Oasis House, 2004.

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ZIMMERMANN, Nilsa. A música através dos tempos. São Paulo, Paulinas, 1996.

ZSCHECH, Darlene. Adoração extravagante. Belo Horizonte, Atos, 2003.


Na internet

http://www.danwilt.com/great-worship-leaders-consistency/

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