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PROFETAS DE ISRAEL
COMUNAIS, ACRATAS E ANTICLERICAIS
por R.B.Y.Scoot
PREFÁCIO DO AUTOR
Se houver algo no que aqui vai que seja nôvo para os especialistas e
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R.B.Y.SCOTT
PREFÁCIO DO TRADUTOR
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Se, por influência desta obra, o leitor +descobrir» os profetas e for tomado do
desejo de aprofundar os aspectos mais técnicos de seu conhecimento deles,
poderá consegui-lo
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lendo, além de Skinner(*), já traduzido pela ASTE (1), as obras de, por exemplo,
T. H. Robinson (2), Guillaume (3), Neher (4), Heschel (5) e Lindblom (6). Se
sentir necessidade de pôr-se ao corrente dos problemas específicos de
+introdução» poderá ler, com proveito, Bentzen (7), Robert & Feuillet (8) e
Weiser (9).
CAPITULO 1
QUE É PROFECIA?
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obra dos profetas hebreus», cujos registros literários se encontram nas páginas
do Velho Testamento. A profecia hebraica não foi nem é inteiramente única, mas
continua incomparável em sua qualidade espiritual e valor permanente para a
religião. +Os profetas», por excelência, são os profetas de Israel e suas palavras
são o padrão da profecia, embora cheguem a nós na linguagem de um mundo
remoto e antigo. De fato, só por um grande esfôrço de imaginação, e assim
mesmo imperfeitamente, podemos recapturar o sentimento do instante em que,
pela primeira vez, um profeta falou a seus contemporâneos a palavra que Deus
lhe dera para falar.
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tulada +Os Profetas»; está na terceira divisão conhecida como «Os Escritos»,
uma coleção mais variada.
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Predição e Adivinhação
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A adivinhação, diz o Professor Herbert Rose (5), é uma prática que resulta não
só da curiosidade quanto ao futuro, mas também da incapacidade da mente não
desenvolvida
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Havia muito destas coisas no antigo Israel. Diz-se que José tinha uma taça pela
qual +adivinhava», observando as formas assumidas pelos sedimentos do vinho
ou pelo óleo derramado na água (6). Gedeão pediu e exigiu o sinal do novêlo
sêco no chão úmido e do novêlo úmido no chão sêco (7). Davi ouviu o estrondo
da marcha de um exército invisível pelas copas das amoreiras (8). O éfode e as
sortes sagradas, Urim e Tumim, eram instrumentos de adivinhação oficialmente
usados pelo sacerdócio, e foi somente quando Javé (9) não respondeu a Saul
+nem por sonho, nem por Urim, nem por profetas», que o rei recorreu à
necromante de Endor (10). Acaz, rei judaíta posterior, separou um altar especial
para +inquirir» por ele (11).
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Esses exemplos mostam que tais práticas eram familiares em Israel até no
período profético. Mas eram expressamente repudiadas pelos próprios profetas
como estranhas ao gênio e espírito de sua religião. Isto é feito enfaticamente no
Deuteronômio, recodificação das leis antigas sob a influência profética: +Não se
achará entre ti... nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem
feiticeiro, nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte
os mortos (isto é, médium espírita); pois todo aquêle que faz tal coisa é
abominação ao Senhor ... (mas) suscitar-lhes-ei um profeta do maior de seus
irmãos, semelhante a ti (isto é, Moisés); em cuja bôca porei as minhas
palavras» (12). Nada podia deixar mais claro do que isso que profecia na
tradição e maneira de Moisés é algo inteiramente diferente desses vários
métodos de devassar o futuro, denunciados como práticas pagãs, arrogantes e
erradas. O profeta não tem tal saber secreto e habilidade divinatória. Ele só
pode falar quando Deus lhe dá uma palavra, e então não pode deixar de falar:
+Falou o Senhor Deus, que não profetizará?» (13).
21
rei de Judá, que antes que uma criança, a nascer em breve, saísse da infância,
a ameaça a Judá se teria desvanecido; antes que outro infante fôsse capaz de
dizer +mamãe» e +papai», os adversários aliados de Judá teriam sido
despojados pelos assírios (15). Essas predições foram cumpridas,
aparentemente dentro de um ano. De nôvo, quando Jerusalém estava
ameaçada pelas fôrças de Senaqueribe em 701-700 a. C., Isaías garantiu ao rei
Ezequias que a cidade não seria tomada. Uma vez mais seu vaticínio foi
justificado pelos acontecimentos (16).
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Esses exemplos são típicos, e deve-se notar de que tipo eles são. Os profetas
predisseram desgraça num caso e livramento no outro -- degraça ou livramento
que estão para sobrevir ao povo a que o profeta se dirige. Mais importante,
esses advirão como conseqüência imediata de sua condição moral e espiritual,
no momento em que o profeta fala. As margens do tempo presente (por assim
dizer) são estendidas para incluir um futuro próximo, que está vital e moralmente
relacionado com esse presente. Essas predições não são vislumbres de um
futuro predeterminado que deve passar através do momento presente para o
passado, como um filme animado passando pelas lentes do projetor. O futuro
não é tão mecânícamente determinado. O que está para acontecer é a
conseqüência necessária de uma situação moral; e será, ao mesmo tempo, a
realização concreta da +Palavra» profética, que expressa em relação à situação
dada a vontade justa de Javé. Quando Deus está para agir, torna conhecido seu
propósito: +Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro
revelar o seu segrêdo aos seus servos, os profetas» (17). Essas predições estão
integralmente relacionadas com a situação espiritual daqueles que as ouvem;
além disso, são moralmente condicionadas por esse fato: +Contudo não vos
convertestes a mim, disse o Senhor... portanto, assim te farei, ó Israel!» (18) .
+Acautela-te e aquieta-te, não temas. Se o não crerdes, certamente não
permanecereis» (19).
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junto com a explicação dada um século mais tarde na própria Jerusalém de que
a contrição de Ezequias tinha levado Javé a mudar de propósito (22).
Outro ponto a ser lembrado é que essas predições são usualmente revestidas
de linguagem poética, imagens e hipérboles, que só um literalista muitíssimo
prosaico insistiria em tomá-las como uma descrição exata. Tomemos a
conhecida passagem: +Nos últimos dias acontecerá que o monte da casa do
Senhor será estabelecido no cume dos montes» (23). Quão distante de tal
literalismo rígido era a compreensão, por parte de Jesus, do modo como as
antigas profecias deviam ter cumprimento, evidencia-se em seu comentário
sobre João Batista: +E, se vos importais de crê-lo, ele
23
é o Elias, que estava para vir» (24). Muitos judeus esperavam, com base na
predição de Malaquias 4.5, 6, a volta real de Elias à terra. Seria difícil pretender
que Jesus ensinasse a reencarnação. Para ele o cumprimento da predição
estava num nível de significado mais pofundo, como quando ele disse, em outra
ocasião, que Moisés tinha escrito a respeito dele (25).
Porta-vozes da Crise
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Usar a palavra +crise» com a leviandade com que comumente a usam, torna-a
menos percuciente. Aos homens que necessariamente não podem ver sua
situação em perspectiva histórica, pode parecer tolice falar dela como carregada
de conseqüências inusualmente graves. Mas de fato tôda época é crítica para
os homens que vivem nela, pois nela são chamados a julgar, decidir e agir. Sua
crise pessoal é a única que são chamados a confrontar. Os profetas de Israel
podem tornar manifesta a realidade e natureza de nossa crise, mesmo quando
falam da sua própria. Eles nos confrontam com a responsabilidade de decidir em
resposta a Deus. Suas profecias expressam sua certeza moral e compreensão
espiritual do que será por causa do que é, porque Javé e não outro deus é
Senhor.
A mensagem dos profetas é, portanto, relevante hoje num sentido mais profundo
e verdadeiro do que se tivessem predito nossa história como cigana a ler-nos a
sorte. Eles são contemporâneos de cada geração, porque a verdade que
declaram é permanentemente válida. O que dizem tem a qualidade intemporal e
o poder constrangedor da afirmação espiritual autêntica. Quanto mais lemos
suas palavras, mais nos impressiona seu desprendimento e destemor, sua rica
humanidade e gênio poético, sua penetração e autoridade espirituais. Nada há
no mundo pré-cristão que se compare à grande sucessão dos profetas hebreus.
Não é suficiente nenhuma explicação deles que não reconheça que por meio
deles o Deus eterno estava executando seu propósito para a criação e redenção
da humanidade.
26
pria vida e por meio da experiência religiosa do seu povo. De seu chamado para
o ministério, disse Amós simplesmente: +O Senhor me tirou de após o
gado» (27). A resposta pronta de Isaías à solicitação de Javé, que buscava
alguém para levar sua mensagem foi: +Eis-me aqui, envia-me a mim» (28). Por
seu devotamento, de todo o coração, ao Deus dos pais vinha-lhes um
entendimento mais profundo do significado para o tempo presente daquilo que
era essencial na fé dos antepassados. Por meio da obediência moral ao Deus
conhecido, vinha-lhes um nôvo conhecimento dele, e no reconhecimento de sua
presença, uma revelação nova e mais plena de sua natureza e de seu propósito.
Esses homens não eram inovadores conscientes. Se algo de nôvo emergiu
neles se deve a Javé, não a eles.
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A estrutura eclesiástica era para eles um entrave e seus ofícios uma ofença a
Deus, se ao mesmo tempo a situação humana real e os problemas morais
urgentes fossem ignorados: «Quando estendeis as vossas mãos, escondo de
vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço,
porque as vossas mãos estão cheias de sangue» (29). Isto era o que Javé dizia
enquanto prosseguiam os serviços no templo; mas só Isaías, entre tôda a
multidão de adoradores, o ouvia.
Outro fator que contribuía para o poder espiritual dos profetas era sua vívida
percepção da presença e atividade do Deus que adoravam no santuário,
influindo no tumulto da vida social cotidiana dos homens. Seu testemunho
supremo era de que o Deus que escolhera os pais e falara a Moisés, estava
presente e falava no seu tempo de modo igualmente real. Ele não era um deus
só dos começos mitológicos nem um deus como Baal Mercarte, que podia estar
«meditando,... de viagem ou a dormir». Era, antes, um Deus que estava para
+fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambos os
ouvidos» (29). Os profetas reconhe-
27
ciam que Deus estava operando no seu mundo contemporâneo, porque não
pensavam nêle somente em termos tradicionais e convencionais.
E, ainda, podemos aprender dos profetas algo quanto à maneira como a religião
pode tornar-se a dinâmica, e sua ética a diretiva da transformação social. A
religião vital que eles proclamavam e os padrões morais que estabeleceram tão
firmemente tiveram por fim uma profunda influência no espírito e +ethos» da
comunidade, e até mesmo em suas formas de culto e leis sociais. Uma nova
compreensão da religião e de suas exigências éticas totais se estabeleceu em
resultado de sua missão, embora, por certo, o povo comum estivesse longe da
plena compreensão e ainda mais longe de suas implicações para a conduta.
Não obstante, a religião de Israel e sua cultura foram recriadas por meio da
missão dos profetas, como se pode ver do fato de sua influência dominante,
mais tarde, na composição e compilação da Bíblia hebraica. A completa
transformação da superstição e da religião da natureza, do comêço da
monarquia, com suas concomitantes convenções sociais (31), na florescência
do judaísmo, no que ele tem de melhor, é a expressão do que, abaixo de Deus,
os profetas do VIII ao VI século a. C. realizaram.
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sua porta aberta -- para uma vida pessoal e comunitária que seja nobre e livre.
Se, em nosso orgulho e auto-suficiência, não dermos ouvidos à sua palavra e
exigências dela, veremos que hoje também seus juízos caem sôbre a terra.
CAPITULO 1
(1) Is 2.6.
(2) At 1. 7.
(3) Sôbre esta secção, ver Case, «The Millenial Hope», de que são tirados alguns dos
exemplos acima.
(4) Cf. Dn 7 e 10. 13-21.
(5) «Encyclopedia of Religion and Ethics», ed. Hastings, artigo: «Divination».
(6) Gn 44.5.
(7) Jz 6.36ss.
(8) II Sm 5.24.
(9) «Javé» é, provavelmente, a forma original do nome «Jeová». Esta não é palavra
hebraica, mas forma híbrida, na qual se combinam as consoantes de «Yahweh» ou «Javé»
com as vogais de «Adonai», palavra que significa «Senhor». As vogais desta sob as
consoantes daquela indicavam que, na leitura:«Adonai» devia ser pronunciado, em vez de
«Javé». A forma «Jeová» entrou em uso somente na Idade Média, devido à incapacidade
de reconhecerem como tal palavra viera a aparecer no texto hebraico do Velho
Testamento.
(10) I Sm 28.6.
(11) II Rs 16. 15.
(12) Dt 12.10-12, 18.
(13) Am 3.8.
(14) Essa é a razão do acusativo de duração, em Am 1.1: «durante dois anos antes do
terremoto»; cf. nota de autoria de Meek, no «Journal of the American Oriental Society»,
vol. 61, pp 62-63. (Ver também RSV, margem, in loco. Trad.). Há outra
referência ao mesmo terremoto, em Zc 14.5.
(15) Is 7.10-16; 8.3, 4.
(16) Is 37.33ss.
(17) Am 3.7.
(18) Am 4.10, 12.
(19) Is 7.4, 7.
(20) Is 38.1-6; Am 7.1-6.
(21) II Tm 2.13, na tradução de Moffatt.
(22) Cf. Mq 3.9-12 e Jr 26.17-19.
(23) Is 2.2.
(24) Mt 11.14, na tradução de Moffatt.
(25) Jo 5.46.
(26) Sôbre êsses três grupos de guias espirituais reconhecidos pela comunidade, ver Jr
18.18.
(27) Am 7.15.
(28) Is 6.8.
(29) Is 1.15.
(30) I Rs 18.27; 1 Sm 3. 11.
(31) Ver adiante, pp 181-188; 165-171.
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CAPITULO II
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Pelo fato de ser o interior da Arábia um deserto, os habitantes dessa região têm
continuado na sua quase totalidade povos de pastôres nômades, até o presente.
De tempos em tempos fizeram incursões nas terras mais férteis para o norte e o
oeste: Mesopotâmía, Síria, Palestina e Baixo Egito. Nessas regiões as tribos
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seu pai Joaz) se ajuntaram após ele (12). A tribo, também, era idealmente uma
família, e as +doze tribos» de Israel afirmavam tôdas sua descendência remota
de um dos filhos de Jacó. Mas que a tribo era algumas vêzes simplesmente uma
família artificial nós o sabemos, em vista da composição da tribo de Judá, que
se formou aliança +por pacto» de clãs distintos (13), do mesmo modo como a
+supertribo» de Israel foi formada por federacão de aliados que afirmavam,
contudo, ser Jacó o antepassado comum. A tribo pode ser definida como um
grupo de clãs que se declaram descendentes de um antepassado remoto
comum, os quais partilham de uma religião comum e reconhecem uma
autoridade comum.
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primeiro, o que ele tinha em comum com outros nômades semitas: crença em
espíritos e demônios e numa divindade que mantinha para com a tribo um
+pacto de sangue». É possível que tenha havido a crença num deus do céu,
supremo, +EI», reconhecido como o poder por trás de todos os fenômenos;
numa divindade lunar e numa deusa da fertilidade, originalmente associada com
os oásis. A essa herança nômade deviam ser atribuídas certas características
do culto hebraico posterior, como o sacrifício do primogênito do rebanho, e os
festivais da divindade lunar que guiava os peregrinos no deserto, através da
frescura da noite, +Pesach» (ou Páscoa) e Lua Nova (19).
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A conquista de Canaã por Israel foi um processo que se estendeu por várias
gerações, e foi realizada provavelmente tanto por penetração pacífica como por
fogo e espada (22). Com algumas exceções, como Jericó e Hazor no norte, as
tribos não podiam tomar as cidades muradas, mas estabeleciam-se entre os
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Depois de o solo pedregoso ter sido suficientemente limpo, era arado, com
auxílio de bois, e semeado por homens +andando e chorando» levando a
preciosa semente (24). A colheita era um tempo de festas, quando os homens
metiam a foice no cereal e o atavam em molhos. Na eira, o grão era batido com
um mangual, ou pisado sob um pesado trilho cortante; era então jogado na
corrente do vento com uma «pá» ou trôlha chata, para separar a palha. O grão
era comido tostado, ou era moído e transformado em farinha. As uvas eram
cultivadas em vinhas cuidadosamente tratadas (25), e eram pisadas num lugar
escavado na rocha ou postas a secar para serem usadas como passas. As
azeitonas eram pisadas para extração do azeite, usado na cozinha e para unção
das pessoas. Figos, romãs, tâmaras e mel acrescentavam variedade ao
cardápio.
O cultivo dos cereais, das árvores e das vinhas era uma arte que teve de ser
aprendida com os canaanitas. Os israelitas aprendiam ao mesmo tempo com
eles a reverenciar os +baalins» locais, espíritos da fertilidade cujo favor era
necessário para a garantia de uma boa colheita. Isso não era uma deslealdade
óbvia a Javé, pois esses baalins não eram divindades propriamente, mas
espíritos menores e locais, semelhantes àqueles em que acreditavam os povos
do deserto. O culto de baal, em Canaã, incluía esse animismo popular junto com
o culto do grande deus da tempestade, Baal ou Hadade. Javé era o deus da
federação e povo de Israel, o único deus da sociedade política. Os baalins,
gênios menores dos campos e das vinhas, eram considerados como operantes
numa esfera completamente distinta. Foi só quando, ao tempo de Acabe e Elias,
a manifestação local de Baal, o deus da tempestade e deus da cidade de Tiro,
se tornou rival de Javé, na esfera política, que se produziu o conflito
irreconciliável. A condenacão familiar pelo editor pós-profético de Reis:
+Edificaram altos, estátuas, colunas e postes-ídolos no alto de todos os
elevados outeiros e debaixo de tôdas as árvores verdes» (26) supõe as
condições e julga pelos padrões do século VII. Pois, do próprio Jacó se diz que
erigiu um desses pilares sagrados em Betel, e Samuel tinha sacrificado num
+lugar alto» local (27). A extensão em que as formas israelitas de culto foram
influenciadas pelos precedentes ca-
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Deve ser lembrado que Israel própriamente era uma minoria na população total,
uma minoria que se estabelecera como classe dominante, adotando embora, em
grande parte, o estilo de vida, havia muito, estabelecido na terra. Como
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Como a terra de Israel era relacionada com a totalidade psíquica do povo, assim
a terra da família era ligada à alma da família. Nabote, cidadão plebeu, rejeitou,
com indignação, a sugestão do rei no sentido de ele trocar ou vender sua
propriedade ancestral: +Guarde-me o Senhor de que eu dê a herança de meus
pais» (32). As leis de propriedade real no Velho Testamento objetivam manter a
terra no domínio da família, e facilitar sua recuperação, se perdida. A lei que
estabelece o resgate pelo parente mais próximo (Lv 25.25), a lei que ordenava o
cancelamento periódico dos débitos (Dt 15.1-3) e a chamada lei do Jubilei (33)
anulando tôdas as transferências de terra no fim de cinqüenta anos (mesmo que
esta última pareça nunca ter realmente estado em vigor), tôdas objetivavam
manter a ligação sagrada da família com seu próprio solo. O proprietário
mantinha a terra como representante de sua família; tinha só o usufruto, não o
direito de dispor. O princípio envolvido era fundamental do ponto de vista
religioso: +A terra nco se vendera em perpetuidade, porque a terra i minha; vss
sois para mim estrangeiros e pereginos; Lev 25:23 (34).
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abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado». (38).
Como o culto tribal de Javé tinha sido a religião no período nômade, e como
uma mistura do culto de baal e de javismo tinha predominado no período inicial
do estabelecimento na terra, assim os desenvolvimentos urbanos e comerciais
também tiveram seus paralelos religiosos. Esses apareceram, em primeiro lugar,
como resultado da função exercida no culto de tôdas as monarquias correntes
pelo rei semidivino e, em segundo lugar, do reconhecimento mútuo das
divindades nacionais, o qual acompanhava as alianças comerciais e políticas.
Deuses babilônicos, sírios e egípcios vinham tendo, desde muito, seus
santuários entre a população mista de Canaã. Agora eram honrados em
Jerusalém e talvez mesmo no templo de Javé, o qual, afinal de contas, era
naquele tempo uma capela real mais do que a catedral da nação. O culto
cerimonial de Javé no templo de Salomão seguia o padrão do antigo e difundido
culto das monarquias no mundo contemporâneo, o mito e ritual do deus como
criador e rei, e do rei humano como o filho divino e símbolo da vida do povo.
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O mundo dos profetas tinha horizontes mais vastos do que o reino de Davi em
sua máxima extensão ideal. A estrada real nas nações, na paz e na guerra,
atravessava o corredor palestiniano. Sucessivas ondas de invasão do deserto,
das planícies mesopotâmicas e das montanhas do Norte acrescentavam sua
quota ao sangue e cultura dos canaanitas. No décimo quinto século a. C., a
Palestina tinha-se tornado uma parte do império egípcio e, embora a efetividade
do
43
A maior potência do mundo então era a Assíria, chamada com razão +cruel
Assíria», por causa dos novos métodos de brutalidade na guerra estabelecidos
pelo agressivo Assurnasirpal, no IX século. O primeiro movimento da Assíria em
direção ao poder tinha sido feito dois séculos antes, quando ela acabou com os
impérios hitita e egípcio. Agora foi feito nôvo avanço em direção do
Mediterrâneo, e em 853 a. C. Acabe, de Israel, foi um dos doze aliados que
lutaram e detiveram o grande Salmanasar III em Karkar, no vale do Orontes;
embora pouco mais tarde Jeú, sucessor de Acabe, fôsse forçado a pagar-lhe
tributo. Ainda no século VIII, depois de um intervalo de tumulto interno, os
assírios moveram-se para o ocidente, e nôvo alarme se espalhou através da
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Para o fim do VII século, esgotada por 200 anos de guerra e enfraquecida ainda
mais por atacantes bárbaros do Norte, a Assíria caiu, pelos ataques conjugados
dos medos e caldeus. Este povo, que tinha estabelecido a sede do seu poder
em Babilônia, empenhava-se agora numa luta mortal contra o Egito pela
herança do império assírio mundial. Nesse meio tempo, Josias de Judá declara
sua independência em 621, depurando do culto de Javé todos os traços de
influências assírias e de outras procedências. Em 608, Josias foi morto pelos
egípcios, e um preposto do faraó foi colocado no trono de Judá, três anos mais
tarde, as ambições egípcias foram finalmente frustradas no campo de batalha de
Carquemis, Judá se tornou um estado satélite vassalo de Babilônia. Mas sua
fidelidade vacilava. Um partido pró Egito agia ativamente na política interna, e a
segunda de duas revoltas resultou na destruição de Jerusalém por
Nabucodonosor, em 586 a. C., e na deportação de seus cidadãos principais e o
fim da monarquia davídica.
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Roboão de Judá, cuja loucura tinha dividido em dois o reino de Davi, continuou a
considerar os israelitas como rebeldes, e iniciou as hostilidades, que
continuaram esporadicamente por cinqüenta anos. O apêlo a Damasco por parte
de seu neto Asa, pedindo ajuda contra o reino do Norte, começou uma longa
série de guerras entre os sírios e Israel, das quais Judá derivava pouco
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final na luta intestina com o outro povo de Yahweh. No profeta do VIII século,
Miquéias (6:16), há uma referência curiosa a respeito dos +estatutos de Omri»,
aparentemente um código de comercialismo individualista, que estava tomando
o lugar da antiga economia comunitária do passado de Israel.
O filho de Omri, Acabe, não foi como Salomão para com seu pai Davi. Foi um rei
mais capaz do que Salomão, e um sucessor à altura de Omri. O livro de Reis
consagra seis capítulos ao seu reinado, porque foi também o período do profeta
Elias (43). Israel agora está debaixo da sombra da ameaça assíria. Duas
notáveis batalhas de Acabe contra Damasco (44), resultaram provavelmente de
uma tentativa da parte de Damasco para forçá-lo a aderir à aliança anti-Assíria.
Eventualmente Acabe fêz isso, e contribuiu com o maior contingente de carros
de guerra para as fôrças aliadas, que enfrentaram Salmanasar III em Karkar.
Internamente, em tempo de paz, Acabe dedicava-se à construção de cidades e
de uma casa, ou palácio, +de marfim», que se tornou famosa, e dos
remanescentes da qual têm sido recuperados entalhes de marfim, em tempos
modernos (45).
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O fim de seu reinado encontra Acabe, de nôvo, em guerra com Damasco. I Reis
22 dá um relato circunstanciado da batalha para recuperar Ramote-Gileade, e
do estratagema com o qual Acabe esperava que o rei judaíta atraísse o fogo do
inimigo, enquanto ele mesmo lutaria despercebido nas fileiras. Mas enquanto o
homem propõe, Deus dispõe, e o historiador não pode deixar de estender-se
com amarga satisfação sôbre o fim do marido de Jezabel e inimigo de Elias (46).
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Elias começou assim uma revolução em nome da +religião dos velhos tempos»
revolução que terminaria numa orgia de sangue em Jizreel e Jerusalém. A igreja
convocou o braço secular para expurgar o Estado, quando Elias providenciou a
unção de Jeú ben Ninsi como rei de Israel (47). Se violência, batalha, assassínio
e morte repentina fizessem a obra de Javé, Jeú seria o homem. A história de
sua selvagem corrida a Jizreel e da matança de dois reis e uma rainha é uma
das mais vívidas da Bíblia (48). Isso foi somente o comêço dos horrores. Todos
os príncipes reais de ambas as dinastias, que Jeú pôde encontrar, foram mortos,
e os adoradores de Baal tírio chacinados quando estavam indefesos no seu
templo. Jeú escusava essa orgia de sangue invocando o nome de Deus;
encontrando-se com o chefe da seita puritana dos recabitas convidou-o
alegremente a testemunhar seu «zêlo para com Javé» (49). Foi assim que a
dinastia de Omri teve um terrível fim.
O rei de Judá também pereceu nas mãos de Jeú. Mas em Jerusalém Jeú foi
igualado por alguém tão rápido e brutal como ele mesmo, Atalia, a rainha-mãe,
filha de Acabe. Vendo que seu filho, o rei, estava morto, ela matou a família real
judaica até o último (conforme pensava), e se estabeleceu no trono. Mas seu
neto infante foi salvo e escondido, até que seis anos mais tarde, foi colocado no
trono pelo sacerdócio de Jerusalém e pela guarda do Templo. A própria Atalia
foi morta, então, e sua morte foi o sinal para o término, em Judá, da revolta
contra as pretensões de Baal no domínio de Javé.
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CAPITULO II
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