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Silva, Rodrigo
A Bíblia de álef a ômega : um guia para entender como a Bíblia chegou até nós / Rodrigo
Silva. -- São Paulo : Ágape, 2020.
Bibliografia
1. Bíblia - História 2. Bíblia - Miscelânea 3. Bíblia - Antiguidades 4. Arqueologia I. Título
Ainda me lembro com nostalgia quando, aos sete anos, pedi a meus
pais uma Bíblia Ilustrada de presente. Era uma manhã de domingo
e um vendedor chegou à minha casa oferecendo o precioso livro, já
que meu pai não comprara dele a enciclopédia que tentou lhe
vender. Com muita insistência, acabei ganhando aquele exemplar
sob a forte advertência de que aquele seria meu presente de Natal e
que não adiantava pedir outra coisa. Eu nem liguei. Já tinha o que
queria. Apesar de crescer num ambiente não religioso ― meus pais
eram “católicos não praticantes” ―, minha devoção pelo Santo
Livro começara desde cedo.
Era uma Bíblia grande, capa preta e dourada, ilustrada a quatro
cores, repleta de quadros renascentistas, alguns Caravaggio e
outros tipos que ilustravam as histórias do Antigo e do Novo
Testamentos. Eu decorei cada desenho e cava me exibindo para as
visitas, passando uma por uma as páginas ilustradas e dizendo do
que se tratava. Coisa de criança.
Depois vieram os estudos teológicos, o tempo passado em Israel
e outros estudos mais. Porém, nunca me desliguei desse livro. Eu
sempre soube que alguma coisa dentro dele daria um rumo especial
à minha vida. Não deu noutra: aqui estou eu publicando pela
Editora Ágape mais um título, visando tornar conhecido o
conteúdo do maior livro de todos os tempos.
A emoção é tanta que tomei a liberdade de escrever esta
introdução num tom autobiográ co. Como dizia Karl Barth, “tenho
lido muitos livros, mas a Bíblia é o único livro que me lê”. Verdade!
Nas páginas do Gênesis, sinto-me objeto do desejo do Deus que a si
mesmo bastava, mas resolveu contar com a humanidade. Quando
vou para Êxodo, é como se estivesse fugindo a pé do Egito na
companhia dos hebreus. O livro de Jó parece falar das minhas
tragédias e o de Eclesiastes, de minhas inquietudes. Os evangelhos
falam do meu herói (Jesus) e o Apocalipse, da minha esperança.
Dizem que um casal resolveu, certa vez e por conta própria,
estudar junto uma velha Bíblia que tinha em sua casa. Depois de
uma semana lendo todos os dias vários capítulos, o marido virou
para a esposa e falou:
― Se esse livro estiver certo, nós estamos errados.
Uma semana depois, foi a vez de a esposa falar para o marido:
― Se esse livro estiver certo, nós estamos é perdidos!
Na terceira semana, o marido concluiu, maravilhado:
― Se esse livro estiver certo, acho que nós podemos ser salvos!
E eu posso garantir para você: o livro está certo! São anos de
investigação acadêmica con rmando isso. Contudo, a convicção
com a qual escrevo agora ultrapassa em muito as ideias expressas
nesta pesquisa. Trata-se de uma certeza que advém da experiência
com o Autor do livro, Deus. Aquele que nos criou e inspirou os
profetas a traduzir verdades celestes num “sotaque” humano.
Homilético demais? Talvez. Então venha comigo conhecer a
história da Bíblia Sagrada. Aprenda como seus livros foram
escolhidos, como podemos saber que se trata de um livro divino,
quem o dividiu em capítulos e versículos, como podemos con ar na
transmissão de seu conteúdo… essas e outras temáticas, tenho
certeza, falarão à sua alma e fascinarão sua mente. Se você
permitir, o mesmo Deus que tocou em minha vida tocará hoje na
sua. A Bíblia ainda continua fascinando pessoas. Seja mais um a se
deixar ler pelo Sagrado Livro.
CAPÍTULO UM
A BÍBLIA COMO
LITERATURA
OQ E A BÍBLIA?
▶ Bíblia
Tudo indica que foi Crisóstomo, um autor cristão do século 4, que usou
pela primeira vez o nome Bíblia para se referir ao Antigo e Novo
Testamentos. Contudo, há indícios de que já em 223 d.C. o título era vez
ou outra usado por seguidores do cristianismo para referirem-se aos
escritos dos apóstolos e, antes deles, judeus helenistas que viviam em
Alexandria valiam-se da expressão “ta bíblia” (os livrinhos) para indicar
uma tradução grega do Antigo Testamento normalmente conhecida
como Septuaginta. Mais à frente você conhecerá a história dessa
tradução.
▶ Escritura Sagrada
Certa vez, ouvi que a Bíblia poderia ser comparada a uma piscina cheia
de água. Uma piscina com uma parte tão rasa que as crianças poderiam
ficar de pé e outra tão profunda que um elefante poderia nadar nela sem
qualquer dificuldade. Pois bem, a Bíblia é um maravilhoso compêndio
que contém passagens, em alguns casos, bem densas e profundas, mas,
de maneira geral, se apresenta como um conteúdo simples o bastante
para que qualquer um possa, por conta própria, ler e entender os
desígnios de Deus para cada pessoa. (Bruce Metzger, especialista em
crítica textual do Novo Testamento)3
LIVRO PERIGOSO?
2 Disponível em http://www.guinnessworldrecords.com/world-records/best-selling-book-of-
non- ction. Acesso em 2/6/2015.
COMO SURGIU
A BÍBLIA
A LING AGEM E DE S
INSPIRADOS POR DE S
Quando Paulo diz que toda Escritura é inspirada por Deus, está
evidentemente fazendo referência à já mencionada coleção de
livros sagrados que ele conhecia em sua época, a saber: a Lei, os
Profetas e os Salmos, conforme vimos em Lucas 24:44. Ele também
já considerava os evangelhos ou, pelo menos, os evangelhos de
Mateus e Lucas, pois em 1Timóteo 5:18 ele cita Deuteronômio 25:4,
associado a Mateus 10:10 e Lucas 10:7, e chama de “Escritura” (ver
1Coríntios 9:9,14). Ambos, Antigo e Novo Testamentos vieram de
Deus para os cristãos, e são igualmente considerados Escrituras
(1Coríntios 2:10-13; 1Timóteo 5:18; 2Pedro 3:15,16).
Isso nos leva a entender que a inspiração envolve, via de regra,
um agente humano usado por Deus. É, em outras palavras, a
operação divina que toma conta do autor sagrado, esclarecendo-o,
guiando-o, assistindo-o na execução de sua tarefa. Foi isso que o
autor aos Hebreus quis dizer ao a rmar que Deus falou nos tempos
antigos aos pais pelos profetas (Hebreus 1:1). Mas como se dava esse
processo?
O teólogo alemão Karl Rahner (1961) encontrou um modo
interessante de explicar o fenômeno da inspiração bíblica. Ele
percebeu que o uso do termo latino autor para designar Deus como
quem compôs as Escrituras poderia ser um tanto dúbio. Então ele se
lembrou de que, em alemão, você pode falar de alguém como autor
literário (Verfasser) ou como originador de um livro (Urheber).
Assim, segundo Rahner, Deus originou os livros sagrados, isto é,
propiciou que fossem produzidos, mas não os escreveu no sentido
de que ditou suas palavras ou utilizou-se do profeta como se fosse
uma máquina de escrever ou um teclado de computador. Na
verdade, Deus inspirou os pensamentos e os ensinos na mente de
seus servos, mas a linguagem e as imagens usadas nas Escrituras
eram do próprio profeta de acordo com a cultura e com a
cosmovisão em que ele estava inserido.
A Inspiração é uma operação do Espírito Santo, atuando nos homens,
de acordo com as leis da constituição humana; que não é neutralizada
pela influência divina, mas aproveitada como um veículo para a
expressão completa da mensagem de Deus. […] a Inspiração está
geralmente combinada com o progresso moral e espiritual do
Doutrinador, de maneira que há no todo uma conformidade moral entre
o Profeta e a sua doutrina. (Westcott apud APOLINÁRIO, 1989)
Veja esta declaração de Davi em 2Samuel 23:2: “O Espírito do
Senhor fala por mim […]” Somando o que foi dito com essa
declaração de Davi, podemos concluir que a Bíblia é um livro
divino, mas não caiu pronto do céu. Ela foi se formando ao longo do
tempo, admitiu rascunhos, contextos, pequenas edições. Para que a
Bíblia se concretizasse, o Espírito Santo se serviu de instrumentos
que eram humanos e que conservavam a respectiva personalidade,
caráter, talento e gênio, os hábitos intelectuais e poderes de estilo
típicos de sua época. Deus não violentou nem destruiu as
faculdades daqueles que escolheu para transmitir sua mensagem. O
autor continuava sendo um ser humano com suas peculiaridades e
seu próprio modo de pensar.
É claro que Deus não permitiria à humanidade do profeta
intervir de modo a prejudicar o conteúdo da revelação. Não
obstante, é notório, por exemplo, que homens simples como Pedro
e João escreveram de modo simples, com vocabulário reduzido e
expressões mais simplórias, bem diferente de Salomão ou Paulo
com toda a erudição que lhes dizia respeito. Por isso a carta aos
Romanos é muito mais primorosa e repleta de guras literárias que
o discurso de Pedro expresso no livro de Atos, capítulo 3.
De acordo com o que a própria Bíblia nos dá a entender, com a
história de Gênesis, capítulos 1 a 3, não era plano original de Deus
usar um livro para se comunicar com os seres humanos. Ao que
tudo indica, Adão e Eva tinham franca comunhão com seu Criador
e, possivelmente, com outros agentes celestiais. Mas a entrada do
pecado causou uma ruptura entre criatura e Criador (Isaías 59:2). O
Senhor agora tinha de usar outros meios de se comunicar com o ser
humano, e a revelação nos indica alguns deles:
OS PROFETAS
Os que foram eleitos para a tarefa de produzir a Bíblia eram
“movidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1:21); logo, as palavras, as
expressões e a concatenação das ideias poderiam até ser humanas,
mas a autoria, em última instância, era divina. Os agentes humanos
poderiam, portanto, se valer de pesquisa, depoimento de
testemunhas, descrição de eventos e até material que não fosse
inspirado (Lucas 1:1-4). Todos esses métodos, no entanto, tinham a
direção do Espírito Santo a m de que o lado humano não afetasse a
essência daquilo que Deus intentava transmitir (João 16:13 cf.
Apocalipse 22:19).
Esses escritores eram chamados profetas ou videntes de Deus.
Mas o quem seriam eles? Como reconhecê-los na História? Embora
o texto bíblico, especialmente o Antigo Testamento, traga várias
palavras hebraicas para de nir esses autores inspirados, chama-
nos a atenção que a palavra mais comum em português, “profeta”,
vinha originalmente do mundo grego e servia para referir-se ao que
fala algo em lugar de uma autoridade especialmente divina ou
sobrenatural. Por isso, o vidente bíblico é aquele que fala “por
Deus” aos homens e como tal ele pode, algumas vezes, dar uma
advertência, revelar uma situação especí ca ou ainda antever
acontecimentos futuros.
Vários povos, além dos judeus, diziam possuir mensageiros com
dom profético. Entre eles estavam os babilônios, hititas, gregos,
entre outros. No caso bíblico, a orientação é checar se um profeta
vem ou não de Deus, pois, assim como há verdadeiros profetas,
também há falsos líderes dizendo-se inspirados por Deus quando,
na verdade, não receberam nenhuma mensagem do Altíssimo (cf.
Deuteronômio 18:20-22; Mateus 7:15-20; Romanos 16:17,18;
1Tessalonicenses 5:20,21).
Como podemos reconhecer um falso profeta? Estudando a
Bíblia. Se alguém prega algo que vai contra as Escrituras, é falso
profeta. Mas note que este argumento se torna circular, a menos
que tenhamos primeiramente estabelecido que a Bíblia é, de fato, a
Palavra de Deus. Somente depois dessa certeza podemos tomá-la
como parâmetro de veri cação da autenticidade profética de uma
pessoa.
Também é importante ver se a profecia se cumpre. Se não se
cumprir, provavelmente é porque veio da imaginação da pessoa, e
não de uma revelação de Deus. Há casos, no entanto, que um
prognóstico pode ocorrer por coincidência, previsibilidade comum
ou manipulação de fatos. Novamente, em caso de dúvida, a Bíblia
será a regra de fé, prática e validação da mensagem apresentada.
Por isso, é possível dizer que a Escritura tem, em última
instância, autoridade e característica normativa. Ela não pode ser
desrespeitada (João 10:35) nem violada sem consequências (Mateus
5:17-20). Ela vem de Deus (Mateus 22:31; 2Pedro 1:18-20). Foi
revelada e inspirada pelo Senhor.
REVELA ES DE DE S
PALAVRA DE HOMENS?
SELEÇÃO DOS
LIVROS
▶ Critérios judaicos
▶ Critérios cristãos
▶ Cânon hebraico
▶ Cânon Alexandrino?
▶ Cânon cristão
Conspiração em Niceia?
Os 318 bispos reunidos em Niceia expediram um credo (symbolum), vinte
cânones e uma carta à igreja de Alexandria. As atas, é claro, chegaram até
nós de forma fragmentária, mas em nenhuma delas, nem mesmo no
registro dos historiadores que descreveram o encontro, há qualquer
indício que afirme que, no Concílio de Niceia, discutiu-se quais
evangelhos fariam ou não parte do Novo Testamento. Não há menção a
esse assunto em nenhuma das pautas, muito menos em relação ao
estabelecimento de uma lista oficial de livros que comporiam a Bíblia
Sagrada.
Uma obscura citação de Jerônimo sobre o livro de Judite, levou alguns a
crerem que houve, sim, uma discussão no encontro acerca do cânon e os
livros deuterocanônicos. Sabemos pelos Cânones Apostólicos (Cânon
LXXXV) e pelos Cânones do Concílio local de Cartago, em 397, que a
maioria dos livros deuterocanônicos foram incluídos no cânon do Antigo
Testamento, mas não há nenhum registro disso sendo confirmado pelo
Concílio de Niceia. Além disso, causa estranheza que Cartago tenha
emitido Cânones relacionados ao cânon das Escrituras em 397 se Niceia
já tivesse emitido um cânone em 325.
Portanto, ainda que tenha havido alguma discussão sobre a
canonicidade bíblica no Concílio de Niceia, não há razão para duvidar da
evidência de que os cristãos primitivos, muito antes desse encontro, já
tinham uma boa noção do que deveria ser incluído ou não na lista de
livros inspirados por Deus. Pode-se argumentar que a confusão veio
depois, não o consenso. E que houve amplo acordo a esse respeito
desde os tempos apostólicos.
▶ Antigos cânones
▶ Torá
Bereshit (No princípio…) ― Gênesis
Shemot (Os nomes…) ― Êxodo
Vayikra (E Ele chamou…) ― Levítico
Bamidbar (No deserto…) ― Números
Devarim (As palavras…) ― Deuteronômio
▶ Neviim (Profetas)
Yehoshua (Josué)
Shoftim (Juízes)
Shmuel (1 e 2Samuel)
Melakhim (1 e 2Reis)
Yeshayah (Isaías)
Yirmyah (Jeremias)
Yechezqel (Ezequiel)
▶ Ketuvim (Escritos)
Tehilim (Salmos)
Mishlei (Provérbios)
Iov (Jó)
Shir Ha-Shirim (Cântico dos cânticos)
Ruth (Rute)
Eichá (Lamentações)
Kohelet (nome do autor) (Eclesiastes)
Esther (Ester)
Daniel
Ezra e Nechemyah (Esdras e Neemias — tratados como um
só livro)
Divrei Ha-Yamim (As palavras dos dias) (Crônicas)
Tobias
Judite
1Macabeus
2Macabeus
Eclesiástico
Sabedoria
Baruque
Acréscimos a Ester
Acréscimos a Daniel
LISTA CRIST
▶ Evangelhos
Mateus
Marcos
Lucas
João
▶ Livro histórico
Atos dos apóstolos
▶ Cartas (Epístolas)
Romanos
1Coríntios
2Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
1Tessalonicenses
2Tessalonicenses
1Timóteo
2Timóteo
Tito
Filemon
Hebreus
Tiago
1Pedro
2Pedro
1João
2João
3João
Judas
▶ Livro profético
Apocalipse (Revelação)
LIVROS PERDIDOS,
BANIDOS, ADOTADOS
ESCRITOS PERDIDOS
PSE DOEPÍGRAFOS
Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão,
dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo
contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras
ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes
que ímpios pecadores proferiram contra ele. (v. 14,15)
▷ Apocalipses
Apocalipse de Abraão
Apocalipse de Adão
Apocalipse de Baruque
Apocalipse grega de Baruque
Apocalipse de Daniel
Apocalipse de Elias (copta)
Apocalipse de Elias (hebraico)
Apocalipse de Esdras ou 4Esdras
Apocalipse de Sidraque
Apocalipse de Moisés
Apocalipse de Sofonias
▷ Testamentos
Testamento de Abraão
Testamento de Adão
Testamento dos Doze Patriarcas
Testamento de Isaque
Testamento de Jacó
Testamento de Jó
Testamento de Moisés ou Assunção de Moisés
Testamento de Salomão
▷ Outros pseudoepígrafos do Antigo
Testamento
Ascenção de Isaías
4Baruque ou Omissões de Jeremias
Perguntas de Esdras
1Enoque ou livro de Enoque etíope
2Enoque ou Enoque eslavo
3Enoque ou Apocalipse hebraica de Enoque
Livro dos Jubileus
Livro de Janes e Jambres
Livro de José e Asseneth
Livro de Noé
5Macabeus
Odes de Salomão
Oráculos sibilinos
Oração de José
História de Achikar
História dos recabitas
Vida de Adão e Eva
Visão de Esdras
Vidas dos profetas
▷ Pseudoepígrafos ou apócrifos
presentes na versão grega da
Septuaginta
Esdras grego
Odes
Oração de Manassés
1Macabeus
2Macabeus
3Macabeus
4Macabeus
Salmos 151
Salmos 152-155
Salmos de Salomão
Judite
Eclesiástico (Sirac)
Baruque
Epístola de Jeremias
Suzana
Bel e o Dragão
▶ Pseudoepígrafos do Novo
Testamento
▷ Evangelhos apócrifos
Evangelhos da infância de Jesus
Protoevangelho de Tiago ou Evangelho da infância de Tiago
ou Evangelho de Tiago
Evangelho da infância de Tomé ou Evangelho do pseudo-
Tomé
Evangelho da infância de Mateus ou Evangelho do pseudo-
Mateus
▷ Evangelhos judaico-cristãos
Evangelho dos ebionitas
Evangelho dos nazarenos
Evangelho dos hebreus
▷ Evangelhos gnósticos
Apócrifo de João ou Livro de João evangelista ou Revelação
secreta de João
Diálogo do Salvador
Livro secreto de Tiago ou Apócrifo de Tiago
Livro de Tomé
Pistis Sophia ou Livro do Salvador
Evangelho de Apel
Evangelho de Bardesane
Evangelho de Basilide
Evangelho copta dos egípcios
Evangelho grego dos egípcios
Evangelho de Eva
Evangelho segundo Filipe
Evangelho de Judas
Evangelho de Maria ou Evangelho de Maria Madalena
Evangelho de Matias ou Tradição de Matias
Evangelho da perfeição
Evangelho dos quatro ramos celestes
Evangelho do Salvador ou Evangelho de Berlim
Sabedoria de Jesus Cristo ou So a de Jesus Cristo
Evangelho de Tomé ou Evangelho de Dídimo Tomé ou
Quinto Evangelho.
Evangelho da verdade
▷ Evangelhos da Paixão
Evangelho de Gamaliel
Evangelho de Nicodemos
Evangelho de Pedro
Declaração de José de Arimateia
▷ Outros evangelhos
Interrogatio Johannis ou Ceia secreta ou Livro de João
evangelista
Evangelho de Barnabás
Evangelho de Bartolomeu ou Questões de Bartolomeu
Evangelho de Tadeu
▷ Evangelhos perdidos, mas citados
por outras fontes
Pregação de Pedro
Evangelho de André
Evangelho de Cerinto
Evangelho dos Doze
Evangelho de Mani
Evangelho de Marcião
Evangelho secreto de Marcos
Evangelho dos Setenta
▷ Atos apócrifos
Atos de André
Atos de André e Matias
Capítulo 29 dos Atos dos Apóstolos
Atos de Barnabé
Atos de Bartolomeu ou Martírio de Bartolomeu
Atos de Santippe e Polissena
Atos de Felipe
Atos de João
Atos de Marcos
Atos de Mateus
Atos de Paulo
Atos de Paulo e Tecla
Atos de Pedro
Atos de Pedro e André
Atos de Pedro e dos Doze
Atos de Pedro e Paulo
Atos de Pilatos
Atos de Simão e Judas
Atos de Tadeu
Atos de Timóteo
Atos de Tito
Atos de Tomé
▷ Cartas apócrifas
Carta dos Apóstolos
Carta de Barnabé
Carta de Inácio
Carta dos Coríntios a Paulo
Carta aos Laodicenses
Carta de Paulo e Sêneca
3Coríntios
Carta de Pedro a Felipe
Carta de Pedro a Tiago Maior
Cartas de Jesus Cristo e do Rei Abgar de Edessa
Carta de Públio Lêntulo
▷ Apocalipses apócrifos
1Apocalipse de Tiago
2Apocalipse de Tiago
Apocalipse da Virgem (etíope)
Apocalipse da Virgem (grego)
Apocalipse de Pedro (grego)
Apocalipse de Pedro (copta)
Apocalipse de Paulo (grego)
Apocalipse de Paulo (copta)
Apocalipse de Estêvão
Apocalipse de Tomé
▷ Ciclo de Pilatos
Sentença de Pilatos
Anáfora de Pilatos
Paradosis de Pilatos
Cartas de Pilatos e Herodes
Cartas de Pilatos e Tibério
Vingança do Salvador
Morte de Pilatos
Cura de Tibério
▷ Outros pseudoepígrafos
Descida ao Inferno (de Jesus)
Doutrina de Addai
Duas vias ou Juízo de Pedro
Doutrina de Paulo
Doutrina de Pedro
Martírio de André apóstolo
Martírio de Mateus
Ressurreição de Jesus Cristo (de Bartolomeu)
Testamento de Jesus
Tradição de Matias
Dormição da Beata Maria Virgem ou Trânsito de Maria (de
João, o Teólogo)
Trânsito da Beata Maria Virgem (de José de Arimateia)
Vida de João Batista (de Serapião de Alexandria)
[…] como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato,
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas
difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como
também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.
2Pedro 3:15,16
LIVROS A MAIS O A MENOS?
OQ E DI EM OS CAT LICOS?
Apócrifos são livros que não fazem parte do cânon inspirado por
Deus e não podem ser reputados como Bíblia Sagrada. Vários de
seus autores usam pseudônimos, isto é, a rmam ser uma
personagem importante do Antigo Testamento, como Abraão ou
Enoque, mas tais livros foram, de fato, compostos séculos depois da
época em que viveu o suposto autor. Nisso não há discordância
entre os segmentos católico e protestante. A divergência surge
quanto ao grupo de livros presentes nas edições católicas que os
protestantes, por negarem sua inspiração, denominam de livros
apócrifos, e os católicos de deuterocanônicos, isto é, canonizados
posteriormente.
Os deuterocanônicos são livros do Antigo Testamento
questionados pelos protestantes, mas legitimados pela Igreja
Católica e algumas igrejas orientais. São assim chamados por não
constarem na Bíblia Judaica Palestinense (de nida pelos judeus da
Palestina em 90 d.C.), mas na Bíblia Judaica Alexandrina (por
referência aos judeus que viviam nesta cidade do Egito). Os livros
que coincidem em ambas versões são chamados de protocanônicos.
Foi Lutero que os denominou de “apócrifos” no século 16,
principalmente por conterem ensinos defendidos pela Igreja, mas
negados pelos reformadores, como a intercessão dos santos, a
oração pelos mortos e a realidade do purgatório.
▷ Inclusão na Septuaginta
Esses livros foram incluídos na tradução grega do Antigo
Testamento como livros canônicos. Essa tradução foi largamente
usada pelos judeus que viviam em Alexandria e noutras
comunidades da diáspora. Os autores do Novo Testamento usaram
grandemente o texto da Septuaginta em seus escritos, o que mostra
que a aceitavam como um todo, incluindo os livros
deuterocanônicos que ela contém.
Isso indica que estamos diante de uma crença cristã comum, e não
apenas de um dogma católico. As catacumbas de Roma, construídas
por cristãos primitivos, são pintadas com cenas descritas nos
deuterocanônicos, o que indica que eles tinham grande apreço por
esses livros. Importantes manuscritos bíblicos, como o Códex Álef
e B, intercalam os deuterocanônicos entre os livros do Antigo
Testamento, o que mostra que realmente faziam parte da Bíblia
Sagrada. Até ao século 19, versões protestantes da Bíblia
costumavam trazer os livros deuterocanônicos, o que indica que até
eles reconheciam sua canonicidade.
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
1Samuel (1Reis)
2Samuel (2Reis)
1Reis (3Reis)
2Reis (4Reis)
1Crônicas (1Paralipômenos)
2Crônicas (2Paralipômenos)
1Esdras
2Esdras (Esdras e Neemias)
Ester
Judite
Tobias
1Macabeus
2Macabeus
3Macabeus
4Macabeus
Salmos
Odes
Provérbios
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Jó
Sabedoria
Eclesiástico (Sirac)
Salmos de Salomão
Oseias
Amós
Miqueias
Joel
Obadias
Jonas
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Isaías
Jeremias
Lamentações
Baruque
Epístola de Jeremias
Ezequiel
Suzana (7)
Daniel
Bel e o Dragão.
Seria esse um antigo cânon judeu mais amplo, reconhecido por Jesus e
seus discípulos?
OQ E DI EM OS PROTESTANTES?
ORGANIZAÇÃO
DOS LIVROS
Pois não temos uma multidão inumerável de livros entre nós, discordando e
contradizendo um ao outro, [como os gregos têm], mas apenas 22 livros, que
contêm os registros de todos os tempos passados; que são justamente cridos
como divinos. Destes, cinco são os livros de Moisés, que compreendem as leis e
a história tradicional desde o nascimento do homem até a morte do
legislador. Este período só cai um curto tempo de três mil anos. Desde a morte
de Moisés até Artaxerxes, que sucedeu a Xerxes como rei da Pérsia, os profetas
posteriores a Moisés escreveram a história dos eventos de suas próprias
épocas em treze livros. Os restantes quatro livros contêm hinos a Deus e
preceitos para a conduta da vida humana. Desde Artaxerxes até os nossos
dias a história completa foi escrita, mas não foi considerada digna de crédito
igual aos registros anteriores, por causa da falta de sucessão exata dos
profetas. Nós damos prova prática de nossa reverência de nossas próprias
Escrituras. Pois, embora essas longas eras já tenham passado, ninguém se
aventurou nem a adicionar, remover, nem alterar uma sílaba, e é um instinto
com cada judeu, desde o dia do seu nascimento, considerá-las como os
decretos de Deus, respeitá-las, e, se necessário, alegremente morrer por elas.
ANTIGO TESTAMENTO
NOVO TESTAMENTO
ABREVIA O DO LIVRO LIVRO BÍBLICO Q ANTIDADE DE CAPÍT LOS
Mt Mateus 28
Mc Marcos 16
Lc Lucas 24
Jo João 21
At Atos dos Apóstolos 28
Rm Romanos 16
1Co 1Coríntios 16
2Co 2Coríntios 13
Gl Gálatas 6
Ef Efésios 6
Fp Filipenses 4
Cl Colossenses 4
1Ts 1Tessalonicenses 5
2Ts 2Tessalonicenses 3
1Tm 1Timóteo 6
2Tm 2Timóteo 4
Tt Tito 3
Fm Filemom -
Hb Hebreus 13
Tg Tiago 5
1Pe 1Pedro 5
2Pe 2Pedro 3
1Jo 1João 3
2Jo 2João -
3Jo 3João -
Jd Judas -
Ap Apocalipse 22
8 Epístola vem do grego antigo epistolê, e signi ca uma espécie de carta especial enviada a
um amigo ou a uma comunidade em particular, tratando de assuntos políticos, losó cos,
morais ou teológicos.
CAPÍTULO SEIS
A HISTÓRIA DA ESCRITA
Não era nada fácil aprender a ler e escrever nos dias de Abraão.
Inscrições da época descrevem o dia a dia na sala de aula e revelam que
os alunos recebiam castigos físicos, como golpes de vara nas costas, toda
vez que erravam uma lição ou falavam sem a permissão do professor.
Um simples atraso para a aula resultava numa surra em frente a todos os
colegas.
Antigos tabletes desenterrados no Curdistão mostram os exercícios que
os alunos faziam. Normalmente, consistiam em cópias na argila de
sentenças previamente escritas pelo professor, cuja leitura era exigida
posteriormente na frente dos colegas. O aluno, portanto, deveria copiar
nas costas do tablete a mesma coisa que estava na frente sem errar, caso
contrário, seria punido.
A princípio, a escrita era pictogrâmica e ideogrâmica onde os
sinais representavam coisas ou ideias. Mais tarde, os sinais
passaram a representar sons, primeiramente silábicos, algo como
lulu, que quer dizer homem, e lu-gal, que quer dizer rei, e assim por
diante. Por serem inicialmente feitas em tabuinhas de argila
cunhadas com uma pequena vara de junco, a escrita cou
conhecida pelo nome de cuneiforme, isto é, feita a partir de cunhas.
Os tabletes de argila, portanto, foram as primeiras “folhas de papel”
usadas na Antiguidade. É por isso, aliás, que os sumérios
chamavam as primeiras escolas de eduba, que quer dizer “casa das
tabuinhas”, isto é, dos tabletes de argila sobre o qual escreviam suas
lições.
Com o passar do tempo, os símbolos deixaram de representar
apenas objetos, como cavalos, bois ou carneiros, e começaram a
representar a linguagem humana. Atualmente, alguns arqueólogos
a rmam poder localizar o mais antigo registro dessa
transformação: uma tábua suméria de 3.000 a.C. encontrada na
cidade de Jemdet Nasr, no Iraque.
Nela, os pesquisadores encontraram o desenho de uma haste de
junco em posição horizontal numa lista de objetos do templo. O que
o desenho de uma haste de junco estaria fazendo numa relação de
objetos sagrados? Até que um dos responsáveis pela tradução
percebeu que o mesmo som que signi cava “junco” na língua dos
sumérios — gi — também signi cava “fornecer” ou “pagar”. O
responsável pela contabilidade do templo percebeu a semelhança
entre os sons das duas palavras e “pegou emprestado” o símbolo do
junco para criar outra palavra, em outro contexto.
E não pense que eles escreviam apenas coisas simples, ideias
soltas. Grandes obras literárias, poemas, tratados médicos,
matemáticos e astronômicos foram escritos pelos sumérios e depois
pelos babilônios, seus primeiros herdeiros literários.
▶ Egípcios
PROVIDÊNCIA DIVINA
A ESCRITA E MOIS S
▶ Expressões idiomáticas
▶ Hebraico e aramaico
A maior parte da Bíblia foi escrita em hebraico, com poucos trechos
em aramaico. O aramaico era um grupo de línguas e dialetos
aparentado à mesma origem da língua hebraica. Ambas são,
portanto, muito parecidas. O aramaico era falado não apenas em
Israel, mas em muitos outros povos dos tempos bíblicos (2Reis
18:26). Na Bíblia, ele às vezes aparece com o nome de siríaco ou
caldeu (cf. Daniel 2:4).
Os poucos trechos do Antigo Testamento escritos em aramaico
são Esdras 4:8―6:18; 7:12-26 e Daniel 2:4―7:28. Todo o restante do
Antigo Testamento, com exceção de uma palavra ou outra, foi
escrito originalmente em hebraico (cf. Gênesis 31:47; Jeremias
10:11). O Novo Testamento foi todo escrito em grego, mas algumas
expressões de Jesus aparecem em aramaico (cf. Marcos 5:41; 7:34;
15:34), e sobre Paulo é dito que ele optou pelo aramaico para
proferir um discurso a uma multidão de judeus (Atos 21:40; 22:2). O
hebraico também aparece em certas passagens do Novo
Testamento, como João 5:2; 19:13,17,20; 20:16; Apocalipse 9:11; 16:16.
Linguisticamente, o povo assírio original (que viveu antes dos
dias de Abraão) falava a antiga língua assíria, que estava no ramo
oriental da família semítica. A antiga língua assíria foi perdida com
o tempo, quando as pessoas no Oriente Médio começaram a falar
aramaico como língua franca, isto por volta de 800 anos antes de
Cristo.
O árabe e o aramaico têm muito mais em comum, sendo as
línguas semíticas do centro-oeste. O aramaico tem um pouco mais
em comum com o hebraico do que com o árabe, mas há muitas
raízes, fonemas, regras gramaticais e conceitos compartilhados.
Embora ambos, o aramaico e o hebraico, possuam suas diferenças,
eles eram línguas cognatas. Ambas possuíam um alfabeto de 22
consoantes. Elas não tinham, originalmente, vogais. Estas foram
acrescentadas muito tempo depois. Assim, as raízes dos verbos
(geralmente formadas por três letras) eram deduzidas pelo
contexto. Por exemplo, o verbo “escrever” era formado pelas
consoantes k, t, b, que permaneciam invariáveis em sua exão. Mas
o sentido poderia ser katab (“ter escrito”), koteb (“escrevendo” —
gerúndio), katub (“está escrito”), katob (“escrever”) ou ketob
(“escreva” ou “escreve” — imperativo). O contexto, como dissemos,
de nirá o tempo verbal apropriado.
Em hebraico, o artigo de nido é colocado no início da palavra
(“há’Shem” [o nome]). Em aramaico, é colocado no nal (“Shem’ah”
[“ah” é o artigo de nido em aramaico]).
O pão: há’lekhem (hebraico) em aramaico vira Lekhm ‘ah’ e assim
por diante.
Havia também uma mudança consonantal entre palavras
compartilhadas tanto pelo hebraico como pelo aramaico. A
principal mudança era o “tav” em aramaico que substituía a letra
“shin” em algumas palavras cognatas hebraicas. Por exemplo: alho
em hebraico se escreve shum, em aramaico tum [ah]. O numeral três
em hebraico seria shalosh, em aramaico Tlat [ah]. Quando, após a
destruição do segundo templo, os judeus foram novamente
espalhados pelo mundo, eles sentiram que o hebraico estava se
tornando ainda mais esquecido por causa do seu uso cada vez mais
raro. Então, na Idade Média, copistas judeus, chamados de
massoretas, criaram um sistema de pontos e sinais abaixo das
consoantes hebraicas que funcionariam como vogais. Esse sistema
de vocalização do hebraico cou conhecido como texto
massorético, e as partes em aramaico também receberam os
mesmos sinais vocálicos.
Tanto o aramaico quanto o hebraico é escrito da direita para a
esquerda, e utilizam o mesmo alfabeto. Alguns acadêmicos pensam
que o hebraico seria mais antigo que o aramaico em
aproximadamente duzentos anos, embora ambas sejam línguas
semíticas. A base do hebraico seria algum dialeto canaanita falado,
sobretudo, nas cercanias da cidade de Salém (que mais tarde viraria
Jerusalém). Já o aramaico teria sua origem na Síria, mais
propriamente em Damasco, e seria mais tarde usado por povos
estrangeiros, como os assírios e persas na sua ocupação daquela
terra. Isso fez com que o aramaico se tornasse uma língua universal
por muitos anos até ser suplantada pelo grego no 4º século a.C.
O aramaico, além de ter a mesma forma de escrita que o
hebraico, possui similaridade com ele em suas exões verbais,
nominais e pronominais. Os verbos têm dois estados, o imperfeito
(indicando ação incompleta) e o perfeito (signi cando ação
completada). O aramaico emprega substantivos no singular, no
plural e no dual, que é uma categoria substantiva numeral, distinta
do singular e do plural, expressando a quantidade “dois” nos
substantivos contáveis. Em geral, cam no dual os nomes de coisas
que ocorrem aos pares, como olhos, mãos, ombros etc., mas não
somente estes: palavras como céus (shammai) e águas (maim)
sempre vêm escritas na forma dual.
Os substantivos também têm dois gêneros, o masculino e o
feminino. Quanto ao som, o hebraico difere das outras línguas
semíticas por demonstrar preferência pelo som vocálico a, e, de
outros modos, inclusive certas preferências consonantais, tais
como d para z, e t para sh.
De acordo com a New Strong’s Exaustive Concordance [Nova
concordância exaustiva de Strong] (1990), a Bíblia hebraica conta
com aproximadamente 8 mil diferentes palavras derivadas de 1,5
mil diferentes raízes. Embora isso não signi que que estas seriam
as únicas palavras do hebraico bíblico, é possível a rmar que se
trata de um idioma pobre em termos de vocabulário. Só para você
ter uma noção, o dicionário Aurélio On-line traz um catálogo de 435
mil palavras!
Contudo, é uma língua rica em termos de de nição de assuntos
teológicos. As descrições de Deus, do Paraíso e da História da
humanidade, na perspectiva da salvação, são bastante belas e
esclarecedoras. Sua simplicidade gramatical, neste sentido, vem
para facilitar a compreensão de sua mensagem.
O hebraico quase não possui adjetivos ou pronomes pessoais,
porém é rico em advérbios. Uma forma de dizer que alguém é
inteligente seria chama-lo(a) de “ lho(a) da inteligência”; alguém
bonito, “ lho da beleza”. Jesus mesmo utilizou esse recurso quando
apelidou dois de seus apóstolos de “ lhos do trovão” ou quando se
referiu aos que o acusavam como “ lhos do diabo” (i.e.
“diabólicos”).
Igualmente, o hebraico é um idioma que praticamente não
trabalha com conceitos abstratos. Palavras abstratas para nós,
como fé, verdade e misericórdia, para eles eram completamente
concretas. Fé (emunah) é agarrar-se a algo para se salvar, verdade
(emeth) é o elemento que está no princípio, no meio e no m do
argumento e misericórdia (chesed) é aquele que abraçamos ao peito.
Diferentemente do português, seus pronomes pessoais são ligados
às formas verbais como se fossem su xos ou pre xos e, com raras
exceções, não faz uso de palavras compostas.
▶ Grego
Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu
e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu lho; trata-me como
um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele
ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-
se-lhe ao pescoço e o beijou. Disse-lhe o lho: Pai, pequei contra o céu e
diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu lho. Mas o pai disse aos
seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um
anel no dedo e alparcas nos pés.
ESCREVENDO A
PALAVRA DE DEUS
O PROCESSO DE ESCREVER
Você pode supor que seria uma questão de preguiça eu não escrever com a
própria mão, e se minhas palavras seriam exatamente aquilo. Eu não
posso dizer mais nada. Ademais, eu também posso detectar Alexis em sua
carta. (Cartas a Ático, 16:15. 1)
MATERIAIS DE ESCRITA
Q EM PODERIA PAGAR?
11 Bischo , Latin Palaeography: Antiquity and the Middle Ages [1990] 182
13 Arns, 65.
14 Rex Winsbury: The Roman Book. Books, Publishing and Performance in Classical Rome.
(Bristol Classical Press, London/Nova Iorque k, 2009), p. 19 e 20.
15 Joseph R. Dodson, David E. Briones, (ed.). Paul and Seneca in Dialogue. Ancient
Philosophy & Religion, 2. Leiden; Boston: Brill, 2017, p. 68.
CAPÍTULO OITO
A TRANSMISSÃO DO
TEXTO BÍBLICO
DE S INSPIRA E PRESERVA
P BLICIDADE J DAICA
DO PERGAMINHO
À INTERNET
O ROLO E O C DE
17 Bruce M. Metzger, “When Did Scribes Begin to Use Writing Desks?” in: Historical and
Literary Studies: Pagan, Jewish, and Christian, NTTS, ed. Bruce Metzger, vol. 8 (Grand
Rapids: Eerdmans, 1968), p. 123-34.
18 Filologia é o estudo rigoroso dos antigos documentos escritos e de sua transmissão, com
o m de recuperar, estabelecer, interpretar e editar esses textos na forma original como
saiu das mãos de seu autor primário.
19 Fato relatado pelo Dr. Robert Smith, falecido mestre do Trinity College, a seu aluno
Richard Watson, como algo que Newton teria expressado verbalmente ao escrever seu
Comentário sobre Daniel. Apology for the Bible. Londres: 1806, p. 57. Livro disponível em
PDF em https://archive.org/stream/twoapologiesonef00watsiala#page/56/mode/2up acesso
em 16/04/2020.
CAPÍTULO DEZ
CRÍTICA TEXTUAL DO
NOVO TESTAMENTO
Pelo que vimos até aqui, é fato que não possuímos mais os
autógrafos da Bíblia Sagrada, isto é, os textos originais, conforme
saíram da pena dos escritores inspirados. Mas isso não deve ser
motivo de perplexidade para a fé de ninguém. É claro que os
críticos tomaram esse fato para colocarem em dúvida a
con abilidade do texto que possuímos, contudo, precisamos levar
em conta algumas questões de ordem histórica.
Em primeiro lugar, leve-se em conta que material no qual se
escrevia não era tão resistente como gostaríamos, eles não
possuíam a diversidade de papéis que conhecemos hoje. O mais
comum deles, o papiro, era frágil, que logo se desgastava com a
leitura e o manuseio fazendo com que os textos fossem
obrigatoriamente recopiados.
A princípio, conforme você viu no capítulo 9, estas cópias eram
feitas em rolos de papiro e, mais tarde, em códices em formato de
cadernos. Nalguns momentos optou-se por escrever tudo junto de
forma contínua, como você também já estudou neste livro. Os
manuscritos gregos escritos todos com letras maiúsculas
receberam o nome de unciais, e os escritos somente com letras
minúsculas de códices minúsculos.
Havia ainda os chamados lecionários, uma coletânea de textos
bíblicos compilados num livreto que serviam para o uso litúrgico.
Depois começaram a aparecer mais cópias em pergaminho ou peles
de animais que a princípio eram evitados por serem muito mais
caros (os primeiros copistas cristãos tinham de trabalhar com
parcos recursos).
Some-se a tudo isso as repetidas perseguições que os cristãos
sofriam e que, certamente, causou destruição de muitos
exemplares que possuíam. Assim, é provável que os cristãos
primitivos tenham lido e relido os originais até que eles se
gastassem, desfazendo-se por completo e fossem, necessariamente,
substituídos por cópias feitas à mão. Foi, portanto, uma
circunstância natural que causou o desaparecimento dos originais,
e não uma espécie de negligência ou ação tendenciosa por parte da
igreja cristã primitiva.
CONFERINDO O TE TO
DISCREP NCIAS?
Em anos recentes, Bart D. Ehrman, professor na Universidade de
Chapel Hill, tem posto em dúvida a con abilidade da transmissão
do Novo Testamento, a rmando que o número de discrepância dos
manuscritos seria de 400 mil. Este número, comparado às 135 mil
palavras do texto grego do Novo Testamento, faz o autor desa ar a
veracidade textual da Bíblia, dizendo que temos mais variantes
textuais (isto é, contradições entre os manuscritos) que o texto
propriamente dito.
Mas, espere um pouco! Chamar as variantes textuais de
contradições não é uma equiparação precisa entre dois termos. O
que Barth não menciona é que a maioria destas variantes são
elementos redacionais pequenos e sem nenhum comprometimento
com o conteúdo original. São erros de troca de letras, ordem de
palavras, a substituição de um nome próprio por um pronome
pessoal, coisas dessa natureza.
Atualmente, uma boa parte dos especialistas em crítica textual
do Novo Testamento admite que 95% a 99% do texto original podem
ser recuperados a partir da comparação entre os antigos textos.
Enquanto a já citada Ilíada de Homero tem 764 linhas de texto ainda
disputadas, o Novo Testamento ― a despeito do montante
tremendamente maior de cópias ― conta com apenas quarenta
linhas dúbias. Mesmo assim, nenhuma delas traz qualquer
comprometimento a uma doutrina ensinada pelo cristianismo.20
Essa comparação é importante por vários motivos, primeiro
porque a Ilíada é o segundo clássico grego mais bem atestado em
número de manuscritos, o que confere ao Novo Testamento o
primeiro lugar inconteste. Além disso, enquanto 5% da Ilíada são
textualmente dúbios, apenas 1% do Novo Testamento pode ser
assim classi cado. Contudo, é estranho que não haja em relação à
obra de Homero o mesmo ataque e descon ança que vemos em
relação ao Novo Testamento. Infelizmente, o que aparenta ser um
arrazoado acadêmico pode con gurar-se um preconceito contra a
Bíblia Sagrada.
Ainda sobre a Ilíada, acrescente-se o fato de que, quando esse
trabalho de colação textual, isto é, comparação de cópias com
cópias na tentativa de reconstruir o texto original, foi
primeiramente feito por Bolling nos anos 1940,21 conheciam-se
apenas 643 cópias manuscritas do texto homérico. Hoje, o número
de manuscritos catalogados é maior que isso. Mesmo assim, desde
aquele tempo até os trabalhos mais recentes, preserva-se entre os
especialistas em manuscritos gregos a ideia de que é praticamente
impossível reconstituir o texto original da Ilíada a partir de um
arquétipo e por um conjunto de nido de famílias de manuscritos.22
Isso é bem diferente dos resultados obtidos pelo mesmo trabalho
realizado em relação ao Novo Testamento. Tal comparação mostra
como a crítica textual da Bíblia tem chegado a resultados muito
mais animadores do que qualquer dos mais famosos clássicos da
humanidade.
Outro elemento menos técnico que poderíamos mencionar em
favor da transmissão dedigna do texto bíblico seriam as pequenas
incongruências históricas que o texto apresenta. São elementos
periféricos, contudo vale a pena exempli car alguns deles: João
20:1 diz que Maria Madalena (aparentemente sozinha) foi ao
sepulcro de Jesus; já Mateus 28:1 diz que Maria Madalena estava
acompanhada de outra mulher também chamada Maria; e Marcos
16:1-2 diz que eram Maria, mãe de Jesus, Maria Madalena e Salomé
as mulheres que foram para ungir o corpo de Cristo.
Outro exemplo seria o da cura de Bartimeu. Jesus curou dois ou
um cego em Jericó? À primeira vista, parece que existe uma
confusão entre as narrativas, pois os evangelistas Mateus e Marcos
citam a cura de dois cegos, e Lucas cita a cura de um cego. Outras
dúvidas existem no texto: a nal, a cura ocorreu quando Jesus
entrou ou saiu de Jericó? (cf. Mateus 20:29-34; Marcos 10:46-52 e
Lucas 18:35-43).
O ponto que nos interessa neste momento não é predicar sobre
tais incongruências, mas tomá-las como argumento a favor da
transmissão do texto sagrado. A nal, considerando que a acusação
de muitos céticos é de que o texto bíblico foi “editado” com o passar
do tempo distanciando-se cada vez mais do seu original, era de se
esperar que, assim sendo, essas discordâncias textuais fossem
“corrigidas” pelos copistas a m de fazer o texto soar menos
problemático aos leitores. Ou seja, tais diferenças entre os relatos
tenderiam a desaparecer com o tempo, pois a igreja medieval
censuraria as cópias discordantes fazendo um texto o cial ― o que
na verdade nunca existiu. Isto, porém, não aconteceu, de modo que
o texto foi preservado pelos copistas em sua essência como estava, a
despeito de qualquer embaraço redacional que pudesse conter.
Correções mínimas foram feitas pelos copistas, mas não a ponto de
descon gurar o texto tornando-o irreconhecível. Tais variantes são
facilmente reconhecíveis. Portanto, é possível ― desde o ponto de
vista da crítica textual ― tomar a versão bíblica e saber que temos
um texto 90% igual ao que saiu das mãos do autor inspirado e que
nenhuma das incongruências são determinantes para colocar em
dúvida a legitimidade do texto transmitido.
Um elemento pouco observado no que diz respeito ao processo
de cópias e que também merece ser comentado é o papel dos
monges copistas medievais. Já em meados do 3º século, graças à
in uência de homens como Orígenes, Antão e Pacômio, muitos
religiosos cristãos foram gradualmente se retirando dos grandes
centros e se organizando em grupos isolados no deserto que vieram
a se tornar os famosos mosteiros medievais. Sua vida ali, isolados
de tudo e de todos, consistia em orações, plantio (para sua própria
subsistência) e reprodução manuscrita de livros que iam desde os
clássicos gregos e latinos até à Bíblia Sagrada.
Considere-se que este era um período de muitas guerras,
principalmente com exércitos bárbaros que atacavam
constantemente o império romano. Tanto o é que a transmissão do
mundo clássico para a Idade Média se deu com a queda de Roma
ocidental em 476 d.C. Os mosteiros, contudo, eram geralmente
poupados pelos exércitos que atravessavam o deserto porque, além
de não possuírem riqueza e não oferecerem qualquer tipo de reação
a soldados armados, serviam de posto de paragem às milícias que se
utilizavam de sua água, sua comida e até de sua medicina uma vez
que muitos monges eram também enfermeiros. Com isso, muitas
cópias manuscritas foram preservadas naquela terra de ninguém,
sem interferência de Roma ou ameaça bárbara. Os monges viam-se
livres apenas para copiar, plantar e orar. Foi um trabalho
inerrante? Certamente que não, os copistas às vezes erravam. Mas
por que não pensar que a Providência Divina usou esse contexto
para preservar cópias bíblicas para a posteridade?
TIPOS DE ERROS
Havia muitas preocupações na Antiguidade quanto à cópia e
reprodução do manuscrito, pois o autor não teria nenhum controle
dos textos derivados de seu original. Em seu De viris illustribus [Dos
homens ilustres], Jerônimo traduziu uma nota originalmente de
autoria de Ireneu de Lion que dizia: “Tu que transcreverás este
livro, eu te conjuro, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua
vinda gloriosa, na qual haverá de julgar os vivos e os mortos:
confronta o que tiveres copiado, corrige-o com cuidado nos
exemplares que tiveres escrito. Transcreve também do mesmo
modo esta súplica e coloca-a em tua cópia.”23 Esse pano de fundo
nos ajuda a entender a advertência de Apocalipse 22:18-20.
Por outro lado, o copista também se alegrava de chegar ao nal
do livro e pedia perdão por algum equívoco. O manuscrito Pasisinus
Gr. 633 traz ao m este colofão: “Perdoem-me, por favor, se eu me
equivoquei no acento agudo ou grave, no apóstrofo, no espírito
fraco ou forte, e assim Deus salvará a todos vocês.” Um outro texto
diz: “Como os peregrinos se alegram ao ver a pátria, assim também
os escribas [ao verem] o nal de um livro.”24
Os erros podem ser de natureza consciente ou inconsciente.
Algumas vezes, o escriba sem perceber saltou uma palavra ou
“comeu” uma letra. Em outras situações, a mudança foi deliberada
para harmonizar um texto com o outro, para fazer uma adaptação
doutrinária, litúrgica ou ainda para “corrigir” o autor inspirado. Os
erros resultam em diferentes tipos de variantes textuais.
Muitos manuscritos eram escritos numa forma escrita contínua,
sem espaço entre as palavras, o que tornava relativamente fácil
confundir alguns termos. Veja essas frases em português, seguindo
o modelo de escrita contínua dos manuscritos gregos:
CONHECIUMHOMEMCHAMADOZECARROCEIRO.
Note que podemos ler: “ZECA ROCEIRO” ou “ZÉ
CARROCEIRO”.
Outro exemplo:
ENCONTREIMECOMAMADOCASTELOBRANCO.
▶ A terminação de Marcos
▶ A Comma Joanina
EVANGELHOS AN NIMOS?
… o valor dos evangelhos é tão grande que recebe o testemunho até dos
próprios hereges… cada um pretendia apoiar suas teorias particulares em
um dos evangelhos. Por exemplo, a seita dos ebionitas tinha preferência
pelo evangelho de Mateus. O herege Marcião, pelo de Lucas. Já os
valentinianos se apegavam ao de João
O que Ireneu está nos dizendo é que até mesmo os mais antigos
dissidentes do cristianismo aceitavam Mateus, Marcos, Lucas e
João como respectivos autores dos quatro evangelhos que levam os
seus nomes. Portanto, ca óbvio concluir com Domenico Grasso
que: “Ninguém conhece um autor diferente daquele conhecido
pelos outros. Se em alguma região viessem a saber que o autor de
determinado evangelho não era o mesmo a quem se atribuía sua
autoria em outro lugar, era coisa fácil de ser conhecida.”27 Sobre a
autoria paulina das cartas que levam seu nome, o argumento dos
críticos circula em grande parte no fato destas possuírem estilos
diferentes entre si que, para eles, seria indicativo de serem escritas
por autores diferentes. Contudo, você viu no capítulo 7 que o
costume de se utilizar diferentes secretários e diferentes tipos de
ditado explicaria com muita razoabilidade o motivo de haver
diferentes estilos num conjunto de cartas de um mesmo autor.
Quanto aos evangelhos, conforme já adiantamos, sua autoria é
massivamente con rmada pela mais longa tradição da igreja. Não
há nenhum autor antigo que colocasse em dúvida essa realidade. O
ceticismo pertence à crítica moderna. Escritores cristãos do
segundo século em diante são unânimes em con rmar as mesmas
autorias que temos hoje e nem mesmo autores dissidentes do
cristianismo ou inimigos da fé cristã colocavam em dúvida, por
exemplo, que o evangelho de Mateus fora realmente escrito pelo
apóstolo do Senhor.
O fato de não trazerem o nome de seus autores, como
comumente esperaríamos desde uma perspectiva moderna, não
deve causar espanto. Na Antiguidade, os livros em forma de rolos
não tinham capa e dorso como temos hoje em dia. Os códices, isto é,
os livros em forma de cadernos costurados, só vieram mais tarde.
Na maioria das vezes o autor não tinha seu nome dentro do rolo de
papiro ou pergaminho, mas no sillybos ou sittybos — uma etiqueta
em forma de couro ou papiro que cava colada na haste do rolo ou
aplicada em seu verso à vista do vendedor ou leitor.
Com o passar do tempo essa parte era a mais sensível e poderia
facilmente se soltar ou ser arrancada. Isso, contudo, não criaria
problema para um bibliotecário caso se tratasse de uma obra
perfeitamente conhecida de todos. Aí era só repor a etiqueta. Eram
pouquíssimas as obras anônimas ou de autoria duvidosa. Lembre-
se, eles não tinham mídias eletrônicas, logo, quem sabia ler
conhecia tão bem os autores como um a cionado por futebol
conhece os jogadores apenas pelo rosto.
22 Bird, Graeme D. “Multitextuality in the Homeric Iliad: The Witness of the Ptolemaic
Papyri” (Washington, D.C. : Center for Hellenic Studies; Cambridge, Mass.: Distributed by
Harvard University Press, 2010), p. 27-60.
24 O’Callangan, 26 e 27.
27 Domenico Grasso, S.J. The Gospels, Historical and True (Surrey: Faith Pamphlets), pp. 5-
8 (in The Problem of Christ, Alba House, New York, 1969)
CAPÍTULO ONCE
CRÍTICA TEXTUAL DO
ANTIGO TESTAMENTO
OQ E AS C PIAS NOS DI EM
29 Apud COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Raízes da teologia contemporânea. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004., p 304.
COMPREENDENDO
AS ESCRITURAS
NOVOS M TODOS
32 G. Hasel. Old Testament Theology: Basic Issues in Current Debate. Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1974, p. 75.
33 Citado por R. Price. Searching for the Original Bible. Eugene, Oregon: Harvest
Publishers, 2007, p. 19.
35 Eldon J. Epp. “Issues in New Testament Textual Criticism: Moving from the
Nineteenth Century to the Twenty-First Century” in Rethinking New Testament Textual
Criticism, Ed. David A. Black. Grand Rapids, MI: Baker, 2002, p. 21.
37 Buscar a origem da língua era descobrir a origem do mundo. Havia duas escolas de
pensamento sobre a origem da língua: a dos anomalistas (ou da língua natural), a que
pertencem, sobretudo, os lósofos estoicos e os gramáticos da escola de Pérgamo; e a dos
analogistas (ou da língua convencional), dos gramáticos de Alexandria, sobretudo
Dionísio de Trácia e Apolônio Díscolo. Os anomalistas insistiam na frequência das
exceções e na presença de diversos tipos de analogias dentro de uma mesma classe de
palavras. Estabeleceram que a língua não podia depender da convenção do homem; se
assim fosse, deveria ser mais regular, porque a lógica prevaleceria sobre a irregularidade.
Resulta que a língua nasce da natureza, revelada no uso. A resistência à criação de línguas
planejadas, que acontece ainda em tempos modernos, apresenta-se como um resíduo
recessivo do anomalismo estoico. Admitiam os estoicos uma relação entre o signi cado da
palavra e seu portador material, de cuja forma natural este signi cado derivava. Ainda
que o uso corrompesse a palavra natural, ela permanecia, podendo ser procurada. Em
consequência, estimularam os estoicos à ciência da etimologia para estudo dos étimos
(étymos = verdadeiro, real, étimo).
38 Rita Copeland e Peter T. Struck (Eds). The Cambridge Companion to Allegory. Cambrigde:
Cambridge University Press, 2010, p. 2.
40 Theodore L. Kassier. The truth disguised: allegorical structure and technique in Gracian’s
“Criticon”. Londres: Tamesis Books Limited, 1976, 8 nota 19; Ellen Birnbaum. “Allegorical
Interpretation”. In: David Aune, Torrey Seland e Jarl Henning Ulrichsen (Eds).
Neotestamentica et Plilonica: Studes in Honor of Perder Borgen. Leiden: Brill, 2002, p. 308 e
309.
41 Jon Whitman. Allegory: the Dynamics of an Ancient and Medieval Technique Cambridge:
Harvard University Press, 1987, p. 2.
42 Rebecca Saunders. “The Agony and the Allegory: The Concept of the Foreign, the
Language of Apartheid, and the Fiction of J. M. Coetzee”. Cultural Critique, 47, (Winter
2001):223-224.
43 De Mund. Op. i.38; de conf. Ling. i. 405; Leg. All. i. 128; de Jos. Ii. 59.
46 e.g. Leg. all. i. 44; de Conf. Ling. i. 425; de Sosnn. 634; de Spec. Leg. ii. 329; de Agric. i.
324 etc.
47 Hoje existem autores que seguem outras abordagens alternativas, como a abordagem
narrativa, a abordagem retórica etc. Mas estes três segmentos ainda são os clássicos e
modernos métodos que se mostram apenas como desdobramentos deles. Para uma visão
geral das modernas abordagens veja J. A. Fitzmeyer, Escritura, a alma da Teologia. São
Paulo: Loyola, 1997,
48 Walter C. Kaiser, Jr., Toward an Exegetical Theology. Grand Rapids: Baker, 1981, p. 47;
David Stacey, Interpreting the Bible. Nova Iorque : Seabury, 1977.
49 Veja E. Krentz, The Historical Critical Method. Filadél a, PA: Fortress Press, 1975. Sobre o
predomínio do método nos estudos do Novo Testamento veja: W. G. Kümmel, The New
Testament: the History of the Investigation of Its Problems. Nashville, TN: Abingdon Press,
1972..
50 Cf. J. A. Fitzmyer. Escritura, a alma da Teologia. São Paulo, SP: Loyola, 1997, p. 26 e 27.
CAPÍTULO TREZE
A BÍBLIA
HOJE
A MORTE DO A TOR
▶ Criticismo retórico
▶ Análise do discurso
▶ Criticismo narrativo
▶ Criticismo redacional
▶ Criticismo cultural
▶ Intertextualidade
O estudo da intertextualidade é relativamente recente no campo da
hermenêutica bíblica. Por um tempo foi, como o criticismo
redacional, uma ferramenta de uso quase exclusivo da crítica
literária, mas hoje tem sido usada tanto por acadêmicos liberais
como por conservadores. Como é uma abordagem que brota entre
os teóricos da crítica literária, com pressupostos diferentes da
abordagem bíblica, é preciso considerar sua origem e os possíveis
riscos, demonstrando claramente as diferenças da
intertextualidade bíblica com a intertextualidade do campo da
teoria literária.
Em linhas gerais, a intertextualidade é uma abordagem que
sugere ao leitor a realidade de que todos os autores (modernos ou
antigos) escreveram seus textos desde a perspectiva de textos
anteriores, orais ou escritos.75 Essa relação intertextual, é
importante dizer, não precisa ser uma citação ipsis litteris nem
mesmo uma relação ipso facto, ou seja, a correlação entre dois
textos anularia ipso facto a possibilidade de outras correlações. A
intertextualidade, portanto, se ocupa da veri cação dos
intertextos, que são os textos que compõem esse diálogo, na busca
de uma melhor compreensão do sentido do texto nal que estamos
analisando.
Mas atenção: existem duas abordagens dentro da
intertextualidade que precisam ser diferenciadas — a sincrônica e a
diacrônica. Ambas têm em comum o reconhecimento da ampla
interdependência entre os escritos escriturísticos. Mas as
semelhanças terminam nesse aspecto. De forma diametralmente
oposta ao método diacrônico, a abordagem sincrônica considera o
texto em sua forma canônica ou nal. O objetivo não é veri car
como ou quando o escrito foi concluído, e sim seu papel dentro da
unidade escriturística. Como esse intertexto ajuda na compreensão
da mensagem intencionada pelo produtor? Por que o autor
recorreu a esse intertexto? Qual é o sentido desse intertexto no
contexto original?
Já a forma diacrônica, herdeira não modi cada do método
histórico-crítico, procura reconstruir a formação do texto ao longo
do tempo, exercício considerado desnecessário dentro da
abordagem sincrônica.
O grande mérito da intertextualidade é o reconhecimento de que
o autor não escreveu num vácuo nem dependeu de qualquer
inspiração verbal para reproduzir o conteúdo que lhe foi
especialmente revelado. Ele interagiu com o universo em que vivia.
Essa relação intertextual certamente ocorreu de um modo
“pluralístico”: na forma temática, estilística, contraditória,
corretiva, con rmativa, parafraseada, implícita, explícita ou até
tipológica (no caso da aplicação neotestamentária de textos do
Antigo Testamento).76 Não se trata, porém, de dependência
literária ou de redução do fenômeno escriturístico a fruto literário
da cultura do profeta. É revelação de Deus, matizada num tempo e
cultura especí cos sem a perda da originalidade de inspiração
divina.
51 Veja John B. Gabel. “The New Biblical Criticism and ‘The Literary Guide to the Bible’”.
Modern Language Studies 20:1 (Winter, 1990): 24-37; E. Charpentier, Une initiation à
l’analyse structurale. Paris: Editions Du Cerf, 1976, p. 5-27; B. Van Iersel. “O exegeta e a
linguística” in Concilium: teologia fundamental. os deslocamentos atuais e o futuro da
teologia. Petrópolis, v.135, n. 5, 1978.
52 Helen Gardner. The Business of Criticism. Oxford: Oxford University Press, 1959, p. 97.
53 Ferdinand de Saussure. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2002, p. 96.
57 Idem.
58 Wimsatt, William e Monroe C. Beardsley. “The Intentional Fallacy” in The Verbal Icon:
Studies in the Meaning of Poetry. Lexington: University of Kentucky, 1954, 3-18. Este artigo
está reproduzido no livro de Nigel Warburton, Ed., Philosophy Basic Readings. Nova
Iorque: Routledge, 2004, p. 480-492.
59 Veja mais sobre esta abordagem no trabalho de Northrop Frye, The Great Code: the Bible
and Literature. Nova Iorque : Harcourt Brace, 1982.
63 Kevin J. Vanhoozer. “The Reader in the New Testament Interpretation” in Hearing the
New Testament [Ed. Joel B. Green]. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995, p. 313-314.
67 E. Porter e J. T. Reed (eds), Discourse Analysis and the New Testament: Approaches and
Result. She eld: She eld Academic Press, 1999; D. A. Carson [ed] Discourse Analysis and
Other Topics in Biblical Greek. She eld: JSOT Press, 1995.
68 Gerald Prince. “Narratology”, in Johns Hopkins Guide to Literary Theory and Criticism
(ed.) Michael Groden e Martin Kreiswirth. Baltimore, MD: Johns Hopkins University
Press, 1994, p. 524.
69 Grant R. Osborne. The Hermeneutical Spiral. Downers Grove: InterVarsity Press, 1991, p.
154
72 Sobre a cautela com que se deve empregar esta ferramenta crítico-narrativa veja D. A.
Carson, “Redaction Criticism: On the Legitimacy and Illegitimacy of a Literary Tool” in
Scripture and Truth D. A. Carson e John Woodbridge [Eds] Grand Rapids, MI: Zondervan,
1983, p. 119-142.
73 Richard N. Soulen e R. Kendall Soulen, Handbook of Biblical Criticism, 3th ed. revised
and expanded. Atlanta, Ga, John Knox, 1981, p. 23.
75 Como disse H. R. Elam: “Texts are fragments without closure or resolution. No text is
self-su cient; each text is fraught with explicit or invisible quotation marks that dispel
the illusion of its autonomy and refer endlessly to other texts…”. “Intertextuality” in The
New Princeton Handbook of Poetic Terms Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994, p.
141-143.
76 Maria Flávia de Figueiredo Pereira Bollela. “A intertextualidade no texto bíblico”.
Coleção Mestrado em Linguística. Vol. 2 (2007). Disponível em:
<http://publicacoes.unifran.br/index.php/colecaoMestradoEmLinguistica/search/titles>.
CAPÍTULO QUATORZE
CONHECIMENTO
QUE LIBERTA
ISRAEL, MA E CE O?
79 Catherine Hezser. Jewish Literacy in Roman Palestine. Tübingen: Mohr Siebeck, 2001, p.
496.
80 Meir Bar-Ilan. “Literacy among the Jews in antiquity”, Hebrew Studies, 44, 1 (2003): 217-
222.
81 PEREZ, Luana Castro Alves. “Analfabetismo funcional”. Brasil Escola. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/analfabetismo-funcional.htm>. Acesso em:
19/04/2019.
83 Guthrie, G. Read the Bible for Life: your Guide to Understanding and Living God’s Word.
Nashville, TN: B&H, 2011, p. 4.
84 Crosby, Cindy. “Not Your Mother’s Bible”. Publisher’s Weekly, 27 Oct. 2006.
85 CF <https://www.barna.com/research/state-of-the-bible-2018-seven-top- ndings/>.
Acesso em: 22/04/2019.
86 Robert P, Lightner. The Savior and the Scriptures. Grand Rapids: Baker Book House,
1966, p. 30..
87 R. T. France. Jesus and the Old Testament. Vancouver: Regent College Publishing, 1998, p.
83ss.
OM TODO
A METODOLOGIA
Em muitos círculos acadêmicos, incluindo a teologia, as palavras
“método” e “metodologia” tornaram-se sinônimas. Há autores, de
fato, que as usam indistintamente. Contudo, por questões de
clareza, seria interessante seguir a corrente que sugere uma
distinção entre os dois termos.
Embora essa sugestão também não seja uniforme, poderíamos
seguir a seguinte de nição apresentada por Sandra Harding:
método é uma técnica para reunir coerentemente as evidências.
São ferramentas da heurística. Já a metodologia seria a teoria e a
análise de como essas ferramentas deverão ser usadas.98
Em outras palavras, o método é um procedimento técnico, um
modo de se fazer algo envolvendo práticas concretas. Já a
metodologia é o pressuposto racional ou teórico por trás do
método. Esses pressupostos é que conduzirão os modos de se
realizar a pesquisa.
É claro que, em virtude disso, haverá métodos e metodologias
que são incompatíveis por questões de pressuposto. A teologia
revela valores doutrinários a priori que acabam constituindo um
saber irredutível, onde uma nova luz nunca deve desmerecer ou
negar a luz anterior. É um saber progressivo, mas não
necessariamente “evolutivo”. Verdades presentes neste caso não
são sinônimos perfeitos de “verdades provisórias” em termos de
ciência moderna. Exemplo: diz a Bíblia que todo aquele que se
aproxima de Deus deve fazê-lo crendo que ele existe. Qualquer
método que negue esse pressuposto é inadequado a um exegeta
teísta que parta do princípio da existência autorreveladora de Deus.
A metodologia é o avaliador da legitimidade ou não do caminho
(método) a ser escolhido para estudar a Bíblia e, uma vez escolhido,
da maneira como se conduzirá esse exercício. En m, a escolha do
meio e do modo de se conduzir a hermenêutica.
Aliás, a denúncia de metodologias erradas no estudo da Bíblia
não é nada nova. Desde os tempos apostólicos já havia, da parte de
Pedro, o alerta contra os que deturpavam as cartas de Paulo e as
demais Escrituras (2Pedro 3:16). Preocupações com a crítica textual
já são apresentadas em Apocalipse 22:18, onde João determina que
ninguém acrescente nada à profecia, caso contrário colheria as
pragas descritas naquele livro. Timóteo é recomendado por Paulo a
continuar sendo alguém que “maneja bem a Palavra da verdade”. E
o próprio Paulo assegura seus leitores de sua própria metodologia
ao dizer que não estaria entre os que adulteram as Escrituras
(2Coríntios 4:2).
AF N O DA E EGESE
Gênesis 29:14
Hebraico: “Você é meu osso e minha carne.”
Nova Versão Internacional (NVI): “Você é sangue do meu sangue.”
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): “Sim, de fato você
é da minha própria carne e sangue.”
A mensagem: “Verdadeiramente és tu o meu osso e a minha
carne.”
1Samuel 25:22
Hebraico: “[…] se eu deixar permanecer ao menos um que urine
no muro […].”
NVI: “[…] caso eu deixe vivo um só do sexo masculino […].”
NTLH: “[…] se eu não matar até o último daqueles homens […].”
João 9:24
Grego: “Dá glória a Deus.”
NVI: “Para a glória de Deus, diga a verdade.”
NTLH: “Jure por Deus que você vai dizer a verdade.”
A mensagem: “Dá glória a Deus.”
Este é um passo sério que não pode ser negligenciado, pois uma
diferença de tradução pode gerar grande diferença de
interpretação.
▷ 3. Determine a delimitação da
perícope (contexto literário
imediato)
“Texto fora de contexto gera pretexto”, portanto, uma das
qualidades da boa exegese é a correta delimitação do texto. Isto é,
estabelecer os limites para cima e para baixo, onde ele começa e
onde termina. Pode ser uma tentativa de encontrar os parágrafos
ou subtítulos originais ou como estariam se o autor escrevesse num
estilo moderno.
O texto hebraico geralmente tem marcadores textuais diferentes
do texto grego. Estes marcadores podem ser vistos em manuais
técnicos como O manual da Bíblia hebraica, de Emanuel Tov, e
Metodologia da Exegese Bíblica, de Cassio Murilo Dias. De forma
mais simpli cada, os passos a seguir ajudam a orientar o leitor.
▷ 6. Análise gramatical
Com o contexto histórico bem de nido, podemos voltar ao texto e
fazer uma análise gramatical dele. Aqui daremos atenção às frases e
à sintaxe, bem como às palavras e à semântica. Alguns lembretes do
gênio da língua grega como aparece na Bíblia (koiné), serão úteis:
94 Stanley Grenz. Revisioning Evangelical Theology. Downers Grove, IL.: InterVarsity Press,
1993, p. 31..
95 Clark Pinnock e Delwin Brown. Theological Cross re, an Evangelical Liberal Dialogue.
Grand Rapids, MI.: Zondervan Publishing House, 1990, p. 37..
97 Millard Erickson. Christian Theology. Grand Rapids, MI: Baker, 1998, p. 70.
98 Sandra Harding é uma lósofa feminista, mas sua de nição pode ser aplicada
indistintamente em outras abordagens cognitivas. Sandra Harding. “Introduction” in
Feminism and Methodology, [ed. Sandra Harding] Bloomington: Indiana University Press,
1987, p. 2, 6-8..
100 Bernard Ramm. Protestant Biblical Interpretation. Grand Rapids, Mi: Baker Book
House, 1970, p. 1.
101 Anthony C. Thiselton. The Two Horizons. New Testament Hermeneutics and
Philosophical Description with Special Reference to Heidegger, Bultmann, Gadamer, and
Wittgenstein. Grand Rapids, MI: Eerdmans/Exeter Paternoster, 1980, p. 11.
104 Cf. Richard M. Davidson. “Biblical Interpretation” in Raoul Dederen (Ed.) Handbook of
Seventh-day Adventist Theology. Hargestown, MD: Review and Herald, 2000, p. 60.
105 Veja uma tentativa de distinção em: Stanley E. Porter. Handbook to Exegesis of the New
Testament. Leiden: Brill, 1997, p. 5-8.
106 Arthr G. Patzia e Anthony J. Petrott. Dictionary of Biblical Studies. Downers Grove, Il:
InterVarsity Press, 2002, p. 40.
107 G. Ebeling. Word and Faith. Londres: SCM Press, 1963, p. 321; C. F. Evans. Is “Holy
Scripture” Christian? Londres: SCM Press, 1971, p. 31.
108 Gordon D. Fee e Douglas Stuart. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 281-282.
109 John W. Welch (ed.). Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis. Hildesheim:
Gerstenberg Verlag, 1981; idem, “Criteria for Identifying the Presence of Chiasmus.”
Journal of Book of Mormon Studies 4:2 (1995): 1-14.
110 Leitmotiv é uma palavra alemã para indicar uma imagem, qualidade, ação ou objeto
que ocorre em toda a narrativa, poema ou oráculo, é o que costura o tema. Também se
refere a um tema que se repete em diferentes textos de um mesmo autor. Esta palavra é
muito usada num sentido mais losó co que técnico. Palavra-chave cabe melhor ao nosso
intento.
CAPÍTULO DEZESSEIS
QUE TRADUÇÃO
DEVO USAR?
ANTIGO TESTAMENTO
NOVO TESTAMENTO
VERS ES MODERNAS
Mesmo antes da Reforma Protestante houve muitas traduções da
Bíblia para as diversas línguas faladas. Em 1382, com John Wycli e,
teve início a Bíblia inglesa, com base na Vulgata Latina, por isso ela
inclui também os livros apócrifos. Em 1280 e 1400, surgiram
porções da Bíblia em português.
Para obter-se uma obra, para que não fosse volumosa, então
mais cara, os tradutores procuravam produzir o texto com
economia de palavras, perdendo em muito o signi cado das línguas
originais. Isso foi corrigido em tempo e começaram a surgir
traduções mais éis ao texto original, sem preocupação com
economia de palavras. Dessas novas traduções, destacam-se a
Ampli ed New Testament; The New Testament, de Charles B.
Williams, e The New Testament, an Expanded Translation, de
Kenneth S. Wuest.
Merece destaque neste contexto a Bíblia de Lutero que foi uma
tradução alemã das Escrituras feita por ele e impressa pela primeira
vez em 1534. Essa tradução é considerada como sendo em grande
parte responsável pela evolução moderna da língua alemã.
Outras traduções tornaram-se importantes: A Bíblia de Tyndale,
traduzida em 1525 diretamente do hebraico e do grego. A Versão do
Rei Tiago (King James Version), baseada na Bíblia de Tyndale sob a
encomenda do Rei Tiago, surgiu em 1611 e popularizou-se entre os
países de língua inglesa. The American Standard Revised Bible,
lançada por ingleses e americanos em 1901, sendo uma espécie de
revisão da versão do Rei Tiago. A partir de 1804, com a British and
Foreign Bible Society, surgiram as modernas Sociedades Bíblicas
que muito vêm contribuindo para a divulgação da Bíblia.
PRIMEIRAS VERS ES EM PORT G ÊS
▶ Traduções parciais
▶ Traduções completas
▷ A Bíblia de Rahmeyer
Manuscrito do comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que
residiu em Lisboa, e traduziu em meados do século 18. Esse
manuscrito está na Biblioteca do Senado de Hamburgo, Alemanha.
▷ Comparando versões
Muitos estudantes da Bíblia cam perplexos com o desa o de
selecionar a melhor versão, especialmente quando se deparam com
a variedade de versões a sua disposição. Em qualquer livraria cristã
é possível encontrar muitas traduções diferentes da Bíblia à
disposição para venda.112
Como a maioria não possui a habilidade de ler em hebraico,
aramaico ou grego, a solução, no caso, é depender da linguagem de
acadêmicos que traduziram a Palavra de Deus nos idiomas
modernos. Isso, porém, é um privilégio se considerarmos que
temos à nossa disposição maior acesso à Palavra de Deus do que os
cristãos nos séculos passados.
Contudo, se a tradução da Bíblia é somente uma questão de
conversão de línguas antigas para o português, por que há tantas
versões diferentes? A resposta para isso é que, diferentemente das
línguas modernas, o antigo hebraico, o aramaico e o grego são
fundamentalmente diferentes do modo de se expressar em nossos
dias. Como resultado, a tradução da Bíblia é muito mais do que
simplesmente converter palavras de sua língua original para a
nosso idioma.
Por exemplo, a tradução literal de palavra por palavra do grego
para o português de João 3:16 ca da seguinte forma: “Assim pois
amou Deus o mundo, que o Filho único deu, para que todo o que crê
em ele não pereça, mas tenha vida eterna.”
Como pode-se notar, uma simples tradução de “palavra por
palavra” não faz sentido para a maioria dos leitores. A m de
alcançar uma tradução funcional, a estrutura gramatical precisa de
mudanças signi cativas.
▶ Tipos de traduções
1. Essencialmente literal:
“Atire o seu pão sobre as águas, e depois de muitos dias você tornará a
encontrá-lo.”
(Nova Versão Internacional)
“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.”
(João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel)
1. Equivalência dinâmica:
“A generosidade tem recompensa. Jogue seu pão sobre a água, porque dias
depois você o encontrará.”
1. Paráfrase livre:
“Seja generoso, porque o que você der a outros acabará voltando para
você.”
(Bíblia Viva)
“Dá generosamente, porque os teus dons reverterão, mais tarde, a teu
favor.”
(Bíblia Gateway)
UMA COLETÂNEA
DE HISTÓRIAS
ANTIGO TESTAMENTO
▶ Pentateuco ou Torá
▶ Livros poéticos
▶ Livros proféticos
▶ Profetas maiores
Os profetas maiores são a coletânea de profecias mais extensas.
Assim, o termo “maior” refere-se ao tamanho ou ao tempo em que
tais profetas permaneceram profetizando.
▶ Profetas menores
▶ Livros apócrifos ou
deuterocanônicos
NOVO TESTAMENTO
▶ Evangelhos
▶ Atos
▶ Cartas de Paulo
▶ Gênesis
▷ Título e conteúdo
Em grego signi ca “origem”, pois ali está narrada a origem da
Terra, da humanidade e do povo hebreu. Os judeus o chamavam de
“Bereshith”, que quer dizer “no princípio”.
O livro também destaca, em meio às narrativas, a queda do
gênero humano, o primeiro homicídio, as principais genealogias
(ou gerações) que convergem para a formação do povo hebreu, o
dilúvio, a confusão de línguas na construção da torre de Babel e,
nalmente, as histórias patriarcais, nalizando com a migração de
Jacó e seus lhos para o Egito.
▷ Autor
As tradições judaica e cristã apontam Moisés como autor de toda
a série dos cinco primeiros livros até Deuteronômio. Sendo assim,
ele teria se valido, além da revelação divina, de tradições orais e/ou
escritas de fatos que ocorreram séculos antes de seu nascimento. Há
autores, no entanto, que supõem que o Gênesis seja um catálogo de
narrativas passadas oralmente de pai para lho e catalogadas
durante a monarquia de Israel.
▷ Data
O Gênesis cobre desde as origens do mundo até os dias de José
que, dependendo da cronologia adotada, vivera por volta de 1800 ou
1600 a.C.
▷ Localização
As histórias cobrem uma boa parte do Oriente Médio, incluindo
o que hoje seria o Iraque, a Síria, a Turquia, Israel e o Egito.
▷ Características literárias
Reconhecido como o primeiro livro da lei de Moisés, o Gênesis,
na verdade, traz poucos mandamentos divinos (2:16-27; 9:6-7). Com
exceção de poucas passagens escritas em estilo poético (3:14-19) e
extensas genealogias (cap. 5), a prosa é o estilo dominante em todos
os capítulos. Os capítulos 1—11 contêm a história das origens da
humanidade, e os capítulos 12—50, as origens do povo hebreu desde
Abraão até Jacó e seus lhos.
▷ Esboço114
Criação (1:1—2:3).
História de Adão e Eva (2:4—5:32).
História de Noé (6:1—11:32).
História de Abraão (12:1—25:18).
História de Isaque (25:19—28:9).
História de Jacó (28:10—36:43).
História de José (37:1—50:26).
▶ Êxodo
▷ Título e conteúdo
O título do livro vem da junção de duas palavras gregas. A
preposição ek quer dizer “movimento de saída”, e hodós, que quer
dizer “caminho”. Êxodo, portanto, signi ca caminho de saída e se
refere à saída do povo hebreu do Egito. Na Bíblia hebraica recebe o
título de Shemôt, isto é, “nomes”, de acordo com o hábito judaico de
intitular os livros a partir das suas palavras iniciais que em
hebraico seriam “We’elleh shemôt” (“E estes são os nomes”, 1:1).
Numa série de fortes intervenções miraculosas, Deus julga o
opressor e liberta o povo de Israel da escravidão, concedendo-lhes
leis e mandamentos que deveriam regê-los como indivíduos e como
nação.
▷ Autor
As tradições judaica e cristã apontam Moisés como autor. O
próprio livro indica que Deus ordenou que Moisés escrevesse
aquelas instruções que seriam os termos de um acordo entre Deus e
o seu povo (Êxodo 34:27). Jesus também se referiu ao Êxodo como
“os escritos de Moisés” (Marcos 12:26).
▷ Data
O Êxodo tem duas datas propostas pelos especialistas. Há os que
o estabelecem em torno de 1450 a.C., nos tempos de Tutmoses III e
Amenhotep II, e os que o estabelecem 200 anos mais tarde, nos
tempos de Ramsés II. A datação mais antiga é baseada em cálculos
bíblicos, como 1Reis 6:1, que cita a construção do templo (edi cado
por volta de 960 a.C.) ocorrida 480 anos depois do Êxodo. Já a
datação mais recente (ca. 1200 a.C.) baseia-se em Êxodo 1:11 que,
para muitos, seria uma referência a Ramsés II, que governou o
Egito de 1279 a.C. a 1212 a.C.
▷ Localização
Egito.
▷ Características literárias
Apesar de ser o segundo livro da lei de Moisés, ele tem mais
partes históricas que legislativas. Também escrito
majoritariamente em prosa, o texto possui um longo trecho poético
que seria a canção de Moisés no capítulo 15. Provavelmente, um dos
mais antigos hinos litúrgicos do povo de Israel.
▷ Esboço
Israel escravizado no Egito (1:1-22).
Deus escolhe Moisés (2:1—4:31).
Deus manda Moisés para o faraó (5:1—7:13).
As Dez Pragas (7:14—11:10).
A Páscoa (12:1-30).
O Êxodo do Egito (12:31—13:16).
Cruzando o Mar Vermelho (13:17—15:21).
Queixa no deserto (15: 22—18:27).
Os Dez Mandamentos e a Divulgação da Lei (19:1—24:18).
As instruções do Tabernáculo (25:1—31:18).
Quebrando a Lei (32:1—34:35).
Construção do Tabernáculo (35:1—40:38).
▶ Levítico
▷ Título e conteúdo
O livro leva esse nome por ter sido primariamente escrito para a
tribo de Levi. Só para lembrar, os sacerdotes que trabalhavam no
santuário eram todos membros dessa tribo e, por isso,
reconhecidos como levitas. Aqui, portanto, estão as leis
cerimoniais que deveriam reger as ações litúrgicas do santuário e,
posteriormente, do Templo judeu. Na Bíblia hebraica esse livro é
chamado de Vaiicrá = “e ele chamou”.
▷ Autor
As tradições judaica e cristã apontam Moisés como o autor. Mas
isso não invalida a possibilidade de que parte do conteúdo seja
anterior a Moisés e tenha sido transmitida oralmente. A prova
disso é que sacrifícios já existiam nos dias de Abel, Noé, Abraão,
Isaque e Jacó, de modo que eles deveriam ter prescrições dadas por
Deus sobre como realizá-los.
▷ Data
Alguns acadêmicos o colocam por volta de 1400 a.C. Outros, 200
anos mais tarde. Veja o comentário sobre a data do Êxodo.
▷ Localização
Em algum lugar aos pés do Monte Sinai, tradicionalmente
localizado na península egípcia que leva o mesmo nome.
▷ Características literárias
Trata-se de uma espécie de manual com regras sacerdotais. As
leis levíticas geralmente são iniciadas de dois modos: (1)
imperativos legais positivos e negativos — “Vocês deverão fazer isso
[…]” ou “Vocês não poderão fazer isso […]”; e (2) leis casuísticas: “Se
um homem […]”. Trata-se, portanto, de um código de leis muito
bem sistematizado à altura de grandes tratados antigos, como o
código de Hamurabi ou as Leis de Eshunma.
▷ Esboço
Instruções para ofertas (1—7).
Instruções para os sacerdotes de Deus (8—10).
Instruções para o povo de Deus (11—15).
Instruções para o altar e o Dia da Expiação (16).
Santidade prática (17—22).
Sábados, Estações, Festivais e Festas (23—25).
Condições para receber a bênção de Deus (26—27).
▶ Números
▷ Título e conteúdo
O nome curioso desse livro foi dado por causa dos dois
recenseamentos do povo de Israel mencionados nos capítulos 1—4 e
26. Os judeus o chamavam de Bemidbar, “no deserto...” Midbar pode
ser deserto, pastagem, como também discurso, fala = “e falou”. A
história deveria ser do retorno do povo hebreu para a Terra
Prometida, mas, em vez disso, mostra sua marca até à fronteira e a
espera. Por causa das transgressões, era necessário que toda aquela
geração morresse sem alcançar Canaã, apenas seus descendentes
entrariam ali.
▷ Autor
O livro não identi ca diretamente o autor, contudo a tradição
judaica e cristã, de longa data, o aponta como sendo Moisés. Alguns
teólogos modernos, no entanto, têm negado a autoria mosaica,
preferindo dizer que os livros de Gênesis a Deuteronômio viriam de
uma compilação de várias fontes reunidas especialmente nos
tempos da monarquia e do exílio babilônico. Embora seja possível
que haja algum trabalho editorial posterior, isso não elimina a
probabilidade maior de que Moisés seja o responsável pela maior
parte do material que formou os livros do Pentateuco.
▷ Data
Em ca. de 1450 a.C., ou 200 anos depois. Veja mais detalhes na
introdução de Êxodo.
▷ Localização
A história começa no entorno do Sinai, atual Egito, e termina no
território de Moabe, atual Jordânia.
▷ Características literárias
Parte da narrativa segue cronologicamente o enredo de Êxodo e
Levítico. Possui leis e registros históricos da peregrinação do povo
pelo deserto. Uma peculiaridade, porém, é o episódio envolvendo
um profeta não hebreu e seu oráculo acerca do povo de Israel
(capítulos 23—24). O oráculo está escrito em paralelismo poético
como outras profecias posteriores encontradas nos livros de Isaías e
Jeremias. O estilo de escrita hebraica é o mesmo encontrado nos
demais livros do Pentateuco.
▷ Esboço
Israel se prepara para a viagem à Terra Prometida (1:1—
10:10).
O povo se queixa, Miriã e Aarão se opõem a Moisés, e o povo
se recusa a entrar em Canaã por causa dos relatos dos
espiões in éis (10:11—14:45).
Durante 40 anos, as pessoas vagam pelo deserto até que a
geração sem fé seja consumida (15:1—21:35).
À medida que as pessoas se aproximam novamente da Terra
Prometida, um rei tenta contratar Balaão, feiticeiro e
profeta local, para colocar uma maldição sobre Israel (22:1—
26:1).
Moisés levanta outro recenseamento do povo, para
organizar um exército, e ordena Josué para sucedê-lo (26:1—
30:16).
Os israelitas se vingam dos midianitas e acampam nas
planícies de Moabe (31:1―36:13).
▶ Deuteronômio
▷ Título e conteúdo
O título vem de duas palavras gregas, deuterós, que quer dizer
“segundo”, + nomós, que quer dizer “lei”. Literalmente, “segunda
lei” ou “repetição da lei”, porque várias leis que aparecem no livro
de Êxodo são repetidas.
▷ Autor
O próprio livro refere-se a Moisés como seu autor (1:5;
31:9,22,24). Além disso, outras partes da Bíblia se referem a ele
como obra de Moisés (1Reis 2:3; 8:53; 2Reis 14:6; 18:12). Tanto Jesus
como Paulo igualmente reconheceram Moisés como autor dessa
parte das Escrituras (Marcos 10:3-5; João 5:46,47; Romanos 10:19).
Alguns especialistas, contudo, acreditam que se trate de uma obra
tardia compilada nos tempos de Josias por volta de 600 a.C. e
fraudulentamente atribuída aos tempos de Moisés.
Embora seja verdade que Moisés não poderia ter escrito a última
parte do livro que trata de sua própria morte, não há razões
plausíveis para se crer que o documento não seja autêntico e, em
sua maior parte, de autoria mosaica.
▷ Data
Em cerca de 1450 a.C., ou 200 anos mais tarde. Veja comentário
sobre o Êxodo.
▷ Localização
A leste do Rio Jordão, no que hoje seria a Jordânia, e Canaã, que
hoje seria o Estado de Israel.
▷ Características literárias
Diferentemente dos demais livros do Pentateuco, o
Deuteronômio mistura um estilo de sermão com narrativas, apelos
de arrependimento e repetição das leis de Deus. Juntos, eles
formam uma renovação da aliança feita entre Deus e seu povo, para
que os descendentes mais jovens possam entrar na terra que os
adultos não alcançarão. Finalmente, a chamada Canção de Moisés
(cap. 32) e sua bênção nal sobre Israel (cap. 33) fecham com chave
de ouro a narrativa antes do capítulo de apêndice que descreve a
morte de Moisés.
▷ Esboço
Moisés faz seu primeiro discurso sobre a história de Israel
(1:6—4:43).
Moisés faz seu segundo discurso sobre os requisitos básicos
da Lei (4:44—11:32).
Moisés continua seu segundo discurso sobre requisitos
detalhados da Lei (12:1—26:19).
Moisés faz seu terceiro discurso relativo às bênçãos e
maldições (27:1—28:68).
Moisés continua seu terceiro discurso com advertências e
incentivo (29:1—30:20).
A missão de Josué e as palavras nais de Moisés (31:1—
34:12).
▶ Josué
▷ Título e conteúdo
O livro leva o nome de seu protagonista, o comandante Josué,
que substituíra Moisés na liderança do povo. A despeito de seu
desempenho militar, não é a Josué que o livro atribui as conquistas
do povo hebreu, mas à intervenção divina. Canaã era uma Terra
Prometida por Deus, logo, não poderia ser mero fruto da conquista
humana.
▷ Autor
Desconhecido. Contudo, por causa de seu papel de destaque nos
relatos da conquista, a tradição tem apontado Josué como sendo o
autor do livro.
▷ Data
A conquista de Canaã pode ter se dado por volta de 1400 a.C. ou
1200 a.C. Para mais detalhes, veja a introdução do livro de Êxodo.
▷ Localização
A história começa a leste do rio Jordão, onde hoje é a Jordânia.
Então, os hebreus atravessam o rio para o lado oeste, chegando a
Canaã e dominando o território.
▷ Características literárias
O estilo literário do livro é a narrativa histórica. Seu autor se
prende bastante a uma espécie de relatório das conquistas militares
e conseguinte assentamento do povo na terra de Canaã. Os diálogos
e discursos de Josué são vivos. Talvez por isso, na Bíblia hebraica, o
livro é considerado o primeiro dos quatro antigos profetas ou
profetas narrativos (os demais são Juízes, Samuel e Reis).
▷ Esboço
Atribuição de Josué (1:1—5:5).
Raabe ajuda os espias (2:1-24).
O povo atravessa o rio Jordão (3:1—4:24).
Circuncisão e visita de um anjo (5:1-15).
Batalha de Jericó (6:1-27).
O pecado de Acã traz a morte (7:1-26).
A batalha contra a cidade de Ai (8:1-35).
A estratégia de Gibeão (9:1-27).
Derrotando os reis do Sul (10:1-43).
Capturando o Norte, uma Lista de Reis (11:1—12:24).
Divisão da Terra (13:1-33).
A terra ocidental do Jordão (14:1—19:51).
Mais distribuição de terras (20:1—21:45).
Louvor a Deus (22:1-34).
Josué admoesta o povo a permanecer el (23:1-16).
Aliança em Siquém, a morte de Josué (24:1-33).
▶ Juízes
▷ Título e conteúdo
O título traduz o hebraico Shoftim, que também pode ser
traduzido por “líderes” ou “libertadores”. Liderar e libertar foram
as principais tarefas desses heróis, enviados por Deus, cujos atos
são contados na narrativa. No período de sua atuação, os hebreus
ainda eram uma nação em desenvolvimento, semiautônomos, num
intervalo entre as batalhas de Josué e a uni cação monárquica das
tribos promovida por Davi. Não havia governo central, mas apenas
uma confederação de doze tribos unidas pela aliança com Javé e
constantemente ameaçadas por ataques inimigos, especialmente
dos listeus. Os ataques eram consequência da quebra da aliança
com Deus.
▷ Autor
Desconhecido. A tradição judaica diz que Samuel escreveu ou
compilou os relatos que deram origem ao livro. De fato, a repetida
expressão “naqueles dias, não havia rei em Israel” (17:6; 18:1; 19:1;
21:25) faz supor uma redação ocorrida no tempo da monarquia. Não
obstante, há quem entenda que o livro re ete uma perspectiva
posterior à conquista das tribos do norte pela Assíria em 722 a.C.
(18:30), o que levaria a composição do livro para depois dos dias de
Samuel. Seja como for, a história começa com a morte de Josué,
após a divisão da terra, e o início do reinado de Saul em 1050 a.C.
▷ Data
O livro traz a ação de 15 líderes que reinaram consecutivamente
(mas com alguma sobreposição) entre, aproximadamente, 1400 e
1000 a.C. (a data das conquistas de Josué ainda são ponto de debate
entre os acadêmicos).
▷ Localização
A maior parte do livro ocorreu nos territórios hoje formados por
Israel e Jordânia.
▷ Características literárias
Trata-se de uma narrativa histórica, composta em hebraico,
com um longo prólogo e um longo epílogo. A maior parte é em
prosa, mas também existe espaço para a poesia. A canção de Débora
(cap. 5), por exemplo, é da mais antiga forma de poesia hebraica.
▷ Esboço
Falha na conquista de Canaã (1:1—3:6).
Otniel (3:7-11).
Eúde e Sangar (3:12-31).
Débora e Baraque (4:1—5:31).
Gideão, Abimeleque, Tola e Jair (6:1—10:5).
Jefté, Ibsã, Elom, Abdom (10:6—12:15).
Sansão (13:1—16:31).
A idolatria de Mica e a tribo de Dã (17:1—18:31).
Iniquidade moral, guerra civil e suas consequências (19:1—
21:25).
▶ Rute
▷ Título e conteúdo
O título vem da protagonista da história, que é Rute. Trata-se da
história de uma jovem moabita que cara viúva de um hebreu. Fiel
à sua idosa sogra, Rute parte de sua terra e encontra amor e
proteção junto a um rico israelita chamado Boaz, que não tinha
esposa e faz todos os arranjos legais para se casar com ela.
▷ Autor
Desconhecido. A tradição judaica diz que Samuel escreveu ou
compilou os relatos que deram origem ao livro. De fato, a repetida
expressão “naqueles dias, não havia rei em Israel” (17:6; 18:1; 19:1;
21:25) faz supor uma redação ocorrida no tempo da monarquia. Não
obstante, há quem entenda que o livro re ete uma perspectiva
posterior à conquista das tribos do norte pela Assíria em 722 a.C.
(18:30), o que levaria a composição do livro para depois dos dias de
Samuel. Seja como for, a história começa com a morte de Josué,
após a divisão da terra, e o início do reinado de Saul em 1050 a.C.
▷ Data
Rute viveu provavelmente por volta de 1100 a.C. A dedução desta
data se dá pelo fato de ela ter sido a bisavó de Davi e de este ter se
tornado rei por volta do ano 1000 a.C.
▷ Localização
A história se passa entre Moabe, que hoje ca na Jordânia, e
Belém, que atualmente é parte do território palestino.
▷ Características literárias
Rute é colocada na Bíblia hebraica entre os livros chamados
“escritos” (Ketuvim), que seriam a outra seção ao lado da lei e dos
profetas. Embora seja uma narrativa contando uma história de
delidade e amor, o livro também tem um papel litúrgico para os
judeus. Nos Manuscritos do Mar Morto, o livro de Rute foi
identi cado como shavuoth ou “semanas”. Ele pertencia, portanto,
aos ritos de comemoração do Pentecostes que ocorria do m da
colheita de cevada e o início da colheita de trigo.
▷ Esboço
Rute retorna de Moabe a Judá com a sogra, Noemi (1:1-22).
Rute colhe grão no campo de Boaz. A lei exigiu que os
proprietários deixassem alguns grãos para os pobres e as
viúvas (2:1-23).
Seguindo os costumes judaicos, Boaz se elege para se casar
com Rute (3:1-18).
Boaz se casa com Rute. Juntos, eles cuidam de Noemi e têm
lhos (4:1-28).
▶ 1 e 2Samuel
▷ Título e conteúdo
O título é dado em referência ao profeta cuja história inicia o
livro. São dois livros, conhecidos como 1 e 2Samuel, e estão na seção
histórica da tradução grega do Antigo Testamento chamada
Septuaginta, e assim continua nas primeiras bíblias cristãs
traduzidas para o latim.
Ambos os livros gravitam em torno da história de três
personagens: Samuel, Saul e Davi. Cada um tem em sua biogra a
desdobramentos que afetam toda a história do povo de Israel.
O primeiro livro começa com a história de Ana e sua bela oração
de súplica a Deus para que pudesse ter o privilégio de ser mãe. Em
seguida, vem o nascimento de Samuel, seu lho, o mesmo que dá
nome aos livros. Então, a história prossegue relatando como
algumas tribos hebreias eram oprimidas pelos listeus, os milagres
envolvendo a arca da aliança, o começo da monarquia entre os
hebreus até chegar, no nal do segundo livro, ao episódio em que
Davi compra um terreno para a futura construção do templo e a
promessa de Deus de que a descendência do rei durará para sempre.
▷ Autor
A tradição judaica, desde longa data, aponta Samuel como o
principal redator da obra, que teve textos adicionados
posteriormente pelos profetas Gade e Natã. Mas teólogos que
seguem na linha da alta crítica a rmam que este livro pertence à
tradição deuteronomista composta entre 630 a.C. e 540 a.C., a
partir da compilação de textos independentes escritos em
diferentes períodos da história de Israel.
▷ Data
A narrativa de ambos os livros cobre, aproximadamente, de 1050
até 960 a.C., isto é, do nascimento de Samuel à morte de Davi.
▷ Localização
A narrativa começa em Siló, território israelita que na época
servia de “capital” ou “ponto de encontro” das tribos de Israel
durante as festas religiosas antes que houvesse monarquia, e se
estende para o chamado reino uni cado de Davi, que compreendia
grande parte do atual Estado de Israel, Líbano, Síria e Jordânia.
▷ Características literárias
O gênero é claramente histórico, o que demonstra um grande
avanço cultural por parte dos antigos israelitas, pois todos os mais
desenvolvidos povos da Antiguidade (como os egípcios, sumérios,
hititas e babilônios) cultivavam acentuadamente o hábito de
escrever registros reais de sua monarquia. Esse fato, por si só, já
demonstra o quanto o relato histórico era cultivado e estimado pelo
antigo povo de Israel.
Em termos de estilo, a diferença entre a historiogra a bíblica e a
literatura do Antigo Oriente Médio é que a maior parte dela é
compilada a partir de documentos triunfalistas, estelas
comemorativas de soberanos relatando em destaque suas vitórias e
extraordinárias façanhas. Já o texto bíblico é conciso em narrar as
vitórias dos reis, sempre atribuídas a Deus e nunca à genialidade do
monarca. Além disso, apresenta, sem restrições, os fracassos
trazidos por líderes de caráter duvidoso. E nem os sinceros homens
de Deus, como Davi, têm suas faltas ocultadas pelo redator. Pelo
contrário, ele as apresenta, bem como o genuíno arrependimento
do rei para que todos saibam que até os escolhidos de Deus falham e
têm a chance de pedir perdão. Esse mesmo gênero e estilo valem
para os livros de Reis e Crônicas.
Rigorosamente falando, os primeiros livros de Moisés,
incluindo o Gênesis, deveriam também ser considerados como
históricos. Contudo, para facilitar o entendimento, são
classi cados como Lei por causa de sua estreita relação com a leis
mosaicas.
▷ Esboço
1Samuel
I. Renovação sob Samuel (1:1—7:17)
Nascimento e infância de Samuel (1:1—2:36)
2Samuel
I. Os triunfos de Davi (1:1—10:19)
▶ 1 e 2Reis
▷ Título e conteúdo
Como o próprio nome diz, refere-se à história dos reis de Israel,
tanto na época do reino uni cado, após a morte de Davi e início do
reinado de Salomão, como após a divisão entre reino do Norte, com
a capital em Samaria, e reino do Sul, com a capital em Jerusalém.
Em algumas versões da Bíblia, os livros de 1 e 2Samuel são
denominados 1 e 2Reis, seguidos por estes dois livros, que são, por
esta forma, denominados 3 e 4Reis. Ou também, em poucos casos, 1
e 2Reis (para aqueles que chamamos de 1 e 2Samuel), e Reis Hebreus
para os que chamamos de 1 e 2Reis.
▷ Autor
Desconhecido.
▷ Data
O relato cobre do início do reinado de Salomão (ca. 970 a.C.),
seguido pelos reinados de reis de Judá e Israel desde o começo da
monarquia dividida (ca. 930 a.C.) até a queda do reino de Israel nas
mãos dos assírios, em 722 a.C. 2Reis relata a história dos reinos dos
reis sobreviventes do sul de Judá até o seu colapso nas mãos dos
babilônios, ocorrido em 587 a.C.
▷ Localização
A história compreende grande parte do território atual do
Estado de Israel, Líbano, Síria, Jordânia e Iraque.
▷ Características literárias
O gênero permanece histórico, como os livros de Samuel. Não
obstante, os feitos de cada monarca hebreu não são apresentados
sob a ótica de realizações políticas, mas sob critérios teológicos, ou
seja, sua delidade ou não à aliança do povo com Deus. A maioria
dos reis do reino do Norte são consequentemente vistos sob um
prisma negativo, uma vez que não reconhecem a legitimidade
exclusiva do culto divino no templo em Jerusalém.
Entre uma e outra ação governamental, Deus sempre envia
profetas, ora para confortar ora para advertir e revelar os Seus
desígnios tanto para a vida do monarca como para o destino do
povo de Judá e Israel. Por isso, os três maiores temas que costuram
toda a trama são as promessas de Deus, a apostasia do povo e as
consequências advindas do arrependimento ou da impenitência.
▷ Esboço
1Reis
A sucessão davídica (1:1—2:46).
Salomão em toda a sua glória (3:1—11:43).
O cisma político e a divisão do reino (12:1—13:34).
Os dois reinos até Elias (14:1—16:34).
O ciclo de Elias (17:1).
2 Reis
▶ 1 e 2Crônicas
▷ Título e conteúdo
Os livros de Crônicas eram conhecidos como “livro dos
acontecimentos cotidianos”. Tratava-se de um único livro. O nome
refere-se à forma como os fatos históricos são apresentados nestes
dois livros, a saber em uma ordem sucessiva, mas não globalizante.
Nas bíblias hebraicas eles são chamados de Dibrê Hayyāmîm, que
quer dizer “em relação aos dias”, e concluem a terceira parte da
Tanak, que são os Escritos ou Ketubim. O primeiro livro começa
com as genealogias desde Adão até os descendentes de Isaque, Israel
(Jacó) e Edom (Esaú) e, em seguida, narra os principais eventos do
reinado de Davi. Já o segundo livro cobre o mesmo período de
2Reis, mas com ênfase em Judá, o reino do Sul, e seus governantes.
▷ Autor
Considerando que o livro termina com a conquista dos persas
sobre a Babilônia, em 538 a.C., muitos pensam que sua composição
teria sido após essa data, mas não se descarta o uso de material
prévio na compilação nal do livro. A tradição judaica aponta
Esdras como o responsável não apenas pela compilação dos livros
de Crônicas, mas também pelo livro de Esdras, que leva o seu nome,
e Neemias.
▷ Data
Embora a genealogia inicial parta de Adão e cubra os nove
primeiros capítulos de 1Crônicas, ambos os livros se concentram
mais no período da monarquia dividida de Israel, que vai desde 930
a.C. à chegada dos persas em 538 a.C. para derrotar a Babilônia e
permitir aos judeus cativos o retorno para sua terra. É, em síntese,
o mesmo espaço de tempo de Samuel e Reis. Distingue-se deles,
porém, pela extensão da matéria, pois, de um lado, restringe-se ao
reino de Judá e, de outro, acrescenta muitas informações acerca da
verdadeira adoração a Deus no Templo em Jerusalém.
▷ Localização
A história compreende grande parte do território atual do
Estado de Israel, Líbano, Síria e Jordânia, Irã e Iraque.
▷ Características literárias
O estilo de redação focado no templo em Jerusalém e suas
relações com o restante da história, fez alguns pensarem que o
gênero era cronista (daí o título usado até hoje), pois cobriria
detalhes não apresentados em Samuel e Reis. Outros autores, no
entanto, julgaram que os livros de Crônicas seriam um comentário
teológico das narrativas históricas escritas anteriormente. Talvez a
sugestão mais simples seja a mais viável, ou seja, que se trata de
uma fonte alternativa da história dos reis hebreus.
▷ Esboço
Registro das genealogias dos patriarcas e dos lhos de Jacó e
Esaú até ao rei Saul (1—9).
Um resumo do reinado de Davi (10—22).
A ascensão de Salomão ao trono substituindo Davi (23—29).
Um resumo do reinado de Salomão (1—9).
O reinado de Roboão e a divisão do reino do Norte e reino do
Sul (10—35).
O cativeiro babilônico e a chegada dos persas que permitem
aos judeus retornar para casa e reconstruir o templo
destruído pelos babilônios (36).
▶ Esdras e Neemias
▷ Título e conteúdo
No texto hebraico e na versão dos LXX, Esdras e Neemias
constituem um só livro, com o título comum de Esdras. Mas já no
tempo de Orígenes (início do século 3) eram divididos em dois. Na
Vulgata Latina são intitulados 1 e 2Esdras. Desde épocas longínquas,
porém, chamam-se habitualmente Esdras e Neemias, nomes
tomados dos principais personagens de cada um deles.
Sua principal temática é o retorno dos judeus do cativeiro
babilônico e a reconstrução do templo e dos muros da cidade de
Jerusalém.
Existem em algumas bíblias gregas e latinas um livro adicional
ora chamado 1Esdras ora 3Esdras. Trata-se de um livro curto,
composto de nove capítulos, e que apresenta versão diferente
daquela dos dois últimos capítulos das Crônicas, de todo o Esdras
(com a transposição da ordem de alguns capítulos) e de Neemias
8:1-12. Também apresenta uma disputa literária entre três sátrapas
da corte de Dario, o terceiro dos quais, Zorobabel, tendo saído
vencedor, obteve do rei a autorização para voltar à terra de Judá
com seus compatriotas judeus. Por ser um relato não canônico, isto
é, não inspirado, todo o livro foi colocado entre os apócrifos pela
tradição judaico-cristã.
▷ Autor
Tradicionalmente, Esdras é apontado como o autor desses dois
livros. Contudo, considerando que Neemias tem vários trechos
escritos em primeira pessoa, alguns acreditam que Esdras tenha
compilado parte do material que teria sido redigido pelo próprio
Neemias e preservado nesta forma nal que conhecemos.
▷ Data
Os eventos giram em torno do quinto século a.C., quando os
persas, sob o comando de Artaxerxes, autorizam os judeus a
voltarem para sua pátria e reconstruírem o templo e a capital
Jerusalém, que haviam sido destruídos pelos babilônios em 587 a.C.
▷ Localização
A história se situa entre o Irã, partes da atual Jordânia e
Jerusalém.
▷ Características literárias
Ambos os livros têm uma mescla de relatório cronista (a
reconstrução de Jerusalém passo a passo) com o acréscimo de
cartas e decretos o ciais, muitos escritos em aramaico, que era a
língua diplomática ainda em uso no período persa.
A importância da menção destes documentos o ciais está no
fato de que eles são o instrumento humano ― guiado por Deus ―
que permitiu as ações de Esdras e Neemias. Outros documentos
secundários também representam um elemento importante que faz
parar e recomeçar o trabalho de reconstrução dos muros e do
templo de Jerusalém.
▷ Esboço
Esdras
Neemias
▶ Ester
▷ Título e conteúdo
O livro leva o nome de sua protagonista, Ester. É a história de
uma jovem judia chamada Hadassa bat Avihail, que se tornou
esposa de Assuero, rei da Pérsia, e por isso cou conhecida pelo
nome de Ester. Sua coragem e delidade salvaram o povo judeu da
destruição e deram origem à Festa do Purim, celebrada anualmente
por judeus do mundo inteiro para relembrar outro momento de
libertação divina do povo no passado. Curiosamente, é o único livro
da Bíblia que cita nominalmente a Índia ao descrever os limites do
governo da Pérsia (1:1 e 8:9).
▷ Autor
Duas redações nos chegaram deste livro: a hebraica e a grega da
LXX. A diferença entre ambas está essencialmente na quantidade
de textos, pois a versão grega contém seis seções adicionais que,
tomadas em conjunto, igualam a dois terços do livro hebraico.
A autoria dessas redações é desconhecida, contudo, levando-se
em conta a precisão com a qual o autor descreve os costumes persas,
o palácio do rei em Susa con rmado por escavações arqueológicas,
e a ausência de anacronismos nos fazem supor que se trate de
algum judeu morador da Pérsia no mesmo tempo em que o episódio
ocorreu. Talvez o próprio Mardoqueu ou Mordecai, parente de
Ester, mencionado nominalmente na trama.
▷ Data
Pela própria indicação interna do livro, associada à Antiguidade
da celebração do Purim, acredita-se que a história de Ester se
passou em algum momento do quinto século a.C.
▷ Localização
Pérsia, atual Irã.
▷ Características literárias
No que tange ao gênero literário, existe uma grande diferença
entre as duas redações, hebraica e grega, que tem suas raízes
profundas nos costumes estilísticos das respectivas literaturas.
Jerônimo já havia observado essa diferença ao preparar sua
tradução latina.
O texto hebraico, que tem maior aceitação entre judeus e
protestantes, é uma narrativa, em forma de novela, porém com
matizes de historicidade muito fortes que abordam a vida judaica
num período de dominação estrangeira sobre aqueles que viviam
fora de seu domicílio de origem.
O texto grego, mais longo, é aceito por católicos e ortodoxos. Ele
busca dar maior religiosidade ao escrito, talvez por causa das
resistências que sofria para entrar no cânon. Nele estão as orações
de Mardoqueu e Ester, além de um sonho de Mardoqueu, no qual
previa tudo o que iria acontecer, e mais os decretos promulgados
pelo rei Assuero (tanto o da morte dos judeus como o da morte dos
que intentavam contra eles). Contém também os detalhes do
encontro de Ester com o rei e um último sonho profético de
Mardoqueu.
Um dos aspectos estilísticos empregado frequentemente pelo
autor de Ester é o uso abundante de símbolos ― um indivíduo ou
objeto que aparece em lugar de outro que não ele próprio. No livro
de Ester, as personalidades são ― elas próprias ― os mais fortes
símbolos, com a rainha representando o perturbado povo de Deus
― naquela época e da atualidade, que, ao mesmo tempo em que
toma decisões momentosas, aguarda o providencial plano divino
de libertá-lo.
▷ Esboço
Uma nova rainha é escolhida (1:1—2:18).
A vida do rei é salva (2:19-23).
Complô contra os judeus (3:1—4:17).
Mardoqueu é exaltado (5:1—6:14).
Hamã é enforcado (7:1-10).
Os judeus são salvos (8:1—9:17).
A Festa de Purim é estabelecida (9:18—10:3).
▶ Jó
▷ Título e conteúdo
A história de Jó é uma das mais conhecidas da Bíblia, e está
registrada no livro do Antigo Testamento que traz seu nome. Trata
da saga de um homem el a Deus que teve de descobrir em meio aos
mais terríveis sofrimentos como con ar em Deus e manter sua
integridade. Por trás dessa história está a grande pergunta da
teodiceia: se Deus é bom, por que sofrem aqueles que lhes são éis?
▷ Autor
A mais antiga tradição judaico-cristã aponta Moisés como o
autor desse livro que haveria de ser o primeiro texto escrito da
Bíblia Sagrada. Há acadêmicos, no entanto, que atribuem a autoria
de Jó a um dos antigos sábios, cujos escritos podem ser vistos em
Provérbios ou Eclesiastes. Talvez o próprio Salomão seria um deles.
▷ Data
Se considerarmos Moisés o autor do livro, este teria sido
composto em algum lugar em Midiã por volta do século 15 a.C. A
história, porém, deve ter acontecido bem antes disso. Elementos
internos do texto dão a entender que Jó teria existido no período
patriarcal ou até mesmo antes dele.
▷ Localização
Não se tem uma certeza de onde cava a terra de Uz, cidade de
Jó. Contudo, alguns autores entendem que seria aproximadamente
na área da moderna Jordânia a sudoeste e sul de Israel. A dedução
disso se dá por causa de um texto de Lamentações 4:21, que diz:
“Regozija-te e alegra-te, ó lha de Edom, que habitas na terra de Uz”
(grifos nossos). Ora, Edom é a atual Jordânia.
Contudo, um texto encontrado entre os Manuscritos do Mar
Morto, o chamado Manuscrito da Guerra, fala de Uz como estando
além do rio Eufrates, talvez em algum lugar da Síria. Há também
comentaristas que sugerem sua localização na Arábia ou no
Uzbequistão. Deve-se levar em conta que a Bíblia também traz o
nome Uz como nome próprio de pessoas e que no livro de Jó limita-
se a dizer que a Terra de Uz cava no Oriente, sem mais detalhes a
esse respeito.
▷ Características literárias
O livro de Jó possui duas seções, uma em prosa (cf. Jó 1—2; 42:7-
17) e outra em poesia (cf. Jó 3:2—42:6). A seção em prosa emoldura a
poesia dividindo-a em duas subseções: um prólogo (Jó 1—2) e um
epílogo (Jó 42:7-17). É um livro cheio de trocadilhos, expressões
idiomáticas acentuadas e descrito como um drama épico. Apesar de
a porção principal da composição ser de natureza poética e ter a
forma de um debate, o arcabouço em forma de prosa revela a
natureza histórica do drama. Neste sentido, a narrativa provê a
base para a discussão inteira acerca da providência divina versus o
sofrimento humano.
▷ Esboço
I. Introdução (1:1—2:13)
▶ Salmos
▷ Título e conteúdo
O livro de Salmos era o livro de cânticos do povo de Israel no
passado. Composto por diversos autores, ao longo de vários
séculos, serviam tanto à liturgia quanto às festas e demais
atividades religiosas e civis da comunidade. Muitos salmos não têm
seu autor identi cado, mas provavelmente eram cânticos
conhecidos por muitas pessoas e transmitidos de geração em
geração.
▷ Autor
Muitos associam o livro de salmos a Davi, o salmista. De fato,
menos da metade (73) dos 150 salmos é atribuída a ele; doze deles
são atribuídos a Asafe. Os lhos de Coré são associados a onze
salmos, dois são atribuídos a Salomão, um a Moisés, um a Etã
(Salmos 89)115 e um a Hermã, o resto é anônimo.
Asafe foi o chefe do coral que tocava címbalos diante da arca do
Senhor (1Crônicas 16:4-7; Salmos 50; 73; 83). Os lhos de Coré são
descendentes do levita que se rebelou no deserto e foi tragado pela
terra (Números 16:1-34; 26:10,11). De acordo com 2Crônicas 20:19,
alguns dos lhos de Coré permaneceram éis a Deus.
▷ Data
Sobre a datação dos salmos, a maioria deles é do período
monárquico, exílico e pós-exílico. Contudo, alguns podem ser
datados da época do assentamento dos hebreus em Canaã. É o caso
do salmo 90 (tradicionalmente atribuído a Moisés) e dos salmos 29 e
68, por imitarem o estilo poético cananita encontrado em Ugarite.
Alguns autores creem que, no início, os membros do coral do
templo eram recrutados de famílias cananitas que se ajuntaram à
comunidade israelita nos dias de Davi, conforme vemos no
primeiro livro dos Reis (veja 1Reis 4:31), a nal Hermã, Etã e Coré
não são típicos nomes israelitas. Contudo, o salmo 150 fala de
instrumentos usados pelos levitas no Templo, provavelmente estes
não poderiam cantar no templo em companhia ou acompanhados
por uma orquestra com músicos não judeus.
▷ Localização
É difícil precisar uma localidade para o livro dos Salmos. Alguns
parecem ter sido compostos na Babilônia, mas a maioria parece
pertencer ao território de Israel, especialmente Jerusalém. O salmo
atribuído a Moisés teria sido escrito durante a peregrinação de
Israel pelo deserto.
▷ Características literárias
Embora os salmos sejam, a rigor, poesias hebraicas, eles podem
ser subdivididos em categorias. A maior divisão de categorias dos
salmos seria:
. LOUVOR
. Ascensão ou PEREGRINAÇÃO
. LAMENTO
▷ Louvor
Tĕhillāh (plural Tehillim — canções de louvor; não confunda
com Tevila — a porção da lei na testa): louvor descritivo;
adoração a Deus por sua majestade (salmos de entronização
a Deus como rei do Universo: 47; 93; 96), grandiosidade etc.
Louvor a Deus por sua divindade.
Tôdāh: agradecimento narrativo adoração a Deus por uma
experiência de salvação pessoal ou coletiva ligada a um
evento especí co. Louvor a Deus por sua salvação.
▷ Peregrinação ou ascensão
Quem os caracterizou foi Klaus Seybold. São os salmos 120 a 134,
os quais o povo cantava quando estava voltando para Jerusalém
após o exílio da Babilônia e, posteriormente, nas festas anuais
quando iam para elas. Pierre Au ret acrescenta a esse grupo os
salmos 135-138, o que, para mim, faz sentido. Ele vê outro grupo (15
—24) como um grupo adicional em forma quiástica com o salmo 19
no centro, porém sua visão não é consensual entre os estudiosos.
Westermann vê o saltério original como composto do salmo 1 ao
119, e os demais acrescentados após o cativeiro, porém não dá para
ser dogmático quanto a isso. O problema para os especialistas são as
cópias de salmos encontradas na caverna 11 de Qumran, que
apresentam, como vimos, uma ordem diferente.
▷ Lamento
Busca por justiça.
Busca por refúgio.
Busca por livramento (da miséria, da doença, dos pecados —
conceito de perdão).
▷ Esboço
O livro parece arranjado em cinco distintivas divisões:
. 1—41, salmos de Davi a YHWH: há uma predominância do
nome de Sagrado como designação signi cativa de Deus (o
nome YHWH é usado 279 vezes, e Elohim, 45 vezes). Doxologia,
41:13: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, de eternidade a
eternidade. Amém e Amém.”
. 42—72, salmos eloísticos: Elohim aparece 262 vezes aqui.
Doxologia, 72:18-20: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel […]
amém e amém.”
. 73—89, enfatizam tanto Javé como Elohim. Alguns os
entendem como salmos dos lhos de Davi. Doxologia, 89:52:
“Bendito seja o Senhor para sempre, amém e amém.”
. 90—106, escritos possivelmente compilados após o cativeiro,
onde os judeus tinham outra visão de mundo. Um salmo é
atribuído a Moisés, um a Davi e o restante é anônimo.
Doxologia, 106:48: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, de
eternidade a eternidade, e todo o povo diga Amém e Aleluia.”
. 107—150, salmos cantados logo após o cativeiro na subida de
volta para Jerusalém, e também nas festas religiosas pelos
judeus da Diáspora subindo para Jerusalém. Doxologia, 150:1-6:
“Aleluia […] Aleluia […]”
▶ Provérbios
▷ Título e conteúdo
Trata-se de uma coletânea de aforismos e citações breves, porém
cheias de sabedoria, que guiavam moralmente o antigo povo de
Israel. Seu título em hebraico procede da palavra mashal, que tem
um sentido mais amplo que o termo “provérbio” em português.
Provérbio geralmente se limita a um dito curto, inteligente e
atrativo. Mashal, por sua vez, pode ser um pouco mais estendido e
vir na forma de um conto, uma parábola, uma comparação ou um
conselho.
▷ Autor
O rei Salomão é o principal autor ou compilador de Provérbios.
Seu nome aparece em Provérbios 1:1, 10:1 e 25:1. Se entendermos
Eclesiastes como sendo outro livro de Salomão, é possível que sejam
a esses provérbios que Eclesiastes 12:9 faz referência : “O Pregador,
além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando
e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.” Na verdade, o
título hebraico Mishle Shelomoh é traduzido como “Provérbios de
Salomão”.
▷ Data
Sendo Salomão o principal editor desse conjunto de sabedoria, o
livro deve ter sido criado por volta do século 10 a.C., quando viveu o
referido rei de Israel.
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
Apesar de quase metade do livro ser composta por “aforismos” e
ditos curtos, a outra parte é redigida em forma de longas seções
poéticas de tipos variados. Entre elas temos “instruções”,
advertências formuladas como conselhos de um professor a um
aluno ou de um pai a seu lho. Tem-se também conselhos que um
rei dá ao príncipe que lhe substituirá no trono. Há curiosas
personi cações dramatizadas como sendo a sabedoria e a tolice
munidas de sentimento próprio. Por m, há os “ditos dos sábios”,
mais longos que os ditos “salomônicos”, e mais curtos (e mais
variados) que as “instruções”.
▷ Esboço
Provérbios de Salomão, Filho de David, rei de Israel (1—9).
Provérbios de Salomão (10—22:16).
Os ditos dos sábios (22:17—24:22).
Estes também são ditos dos sábios (24:23-34).
Estes são outros provérbios de Salomão que os o ciais do rei
Ezequias de Judá copiaram (25:1—29:27).
As Palavras de Agur (30:1-33).
As Palavras do rei Lemuel de Massa, que sua mãe lhe
ensinou” (31:1-9).
A mulher sábia ideal (também chamado de “mulher de
substância”) (31:10-3).
▶ Eclesiastes
▷ Título e conteúdo
O nome Eclesiastes vem do grego, através do latim, e signi ca,
literalmente, aquele que chama, convoca uma assembleia para
ouvir um importante pronunciamento. É uma tentativa muito
próxima de traduzir o original hebraico que o chama de Qohelet.
Embora o signi cado preciso do termo seja um tanto incerto, sabe-
se que ele vem da palavra Qahal, que quer dizer assembleia,
reunião, de modo que o que convoca seria realmente um pregador
ou preletor (aquele que explica).
O convite, neste caso, é para ouvir a sabedoria de um velho
homem que viveu o bastante para re etir sobre a vaidade da vida e
das conquistas, levando os ouvintes/leitores a consideraram o que
realmente vale a pena: o temor e a glória de Deus. Um apelo
especial é dirigido aos mais jovens, que seriam os mais atingidos
pelas vaidades da vida.
▷ Autor
Pouco se sabe a respeito do autor de Eclesiastes, além da
descrição que ele dá de si mesmo como “o pregador, lho de Davi,
rei em Jerusalém” (Eclesiastes 1:1). Tal declaração tem feito com
que o texto seja, desde longa data, atribuído a Salomão, e não
existem razões claras para negar sua autoria.
▷ Data
Se aceitarmos a autoria salomônica, o livro deve ter sido
elaborado por volta do século 10 a.C., quando viveu o referido rei de
Israel. Contudo, sua forma nal pode ter sido criada mais tarde,
pois em Eclesiastes 1:1—11 e 12:8—14 o texto refere-se ao pregador na
terceira pessoa. Isso sugere que outra pessoa, e não o próprio
pregador, compilou seus escritos e ensinamentos algum tempo
depois que foram feitos. Quanto tempo depois, não sabemos.
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
O gênero sapiencial do livro tem um estilo provocador. É que,
embora o autor diga ser uma pessoa que crê em Deus, ousa fazer
perguntas como se não acreditasse. Isso obriga o leitor a ler tudo até
o m, pois tudo o que é dito insere-se obrigatoriamente em sua
conclusão, isto é, que todas as ações serão julgadas por Deus
(Eclesiastes 12:13-14).
Por um lado, o texto parece dirigido a pessoas descrentes, pois
sistematiza perguntas feitas por quem não tem esperança. Por
outro lado, provoca aos que estão acomodados em sua crença, para
que re itam sobre perguntas que o comodismo muitas vezes evita
tratar.
O pregador apresenta perguntas e a rmações com as quais
muitas dessas pessoas tendem a concordar, mas depois as ajuda a
ver quanto propósito e sentido é possível encontrar na vida se
formos éis aos mandamentos de Deus.
▷ Esboço
Prólogo (1:1-2).
O problema da vaidade (1:3-11).
Tentativas de solução para o problema (1:12—2:26).
Nulidade dos esforços humanos (3:1—6:12).
A sabedoria do dia a dia (7:1—8:9).
Novamente a nulidade da vida (8:10—9:18).
A sabedoria na prática (10:1—11:6).
O temor e a Glória de Deus (11:7—12:7).
A conclusão de todas as coisas (12:8-14).
▶ Cantares
▷ Título e conteúdo
Alguns preferem chamá-lo de “Cântico dos Cânticos”, um
superlativo que serve para indicar que embora existam outros do
mesmo autor este é o melhor dentre eles. Trata-se de um poema
lírico escrito para exaltar as virtudes do amor entre um homem e
uma mulher. O poema claramente apresenta o plano matrimonial
como ideal divino. Um homem e uma mulher devem viver juntos,
amando um ao outro plenamente com todas as faculdades físicas,
mentais e espirituais. Por essa mesma razão, o livro de Cantares,
em que pese o tom sexual de algumas passagens, é usado para
representar o amor de Deus por seu povo ou de Cristo por sua
Igreja.
▷ Autor
De acordo com o próprio livro, seu autor seria o rei Salomão.
Este cântico seria uma das 1005 canções que ele escreveu (1Reis
4:32).
▷ Data
Salomão provavelmente escreveu esse cântico durante a
primeira parte de seu reinado. Isso colocaria a data de composição
por volta de 965 a.C.
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
Trata-se de um longo poema que não nega ao objeto de afeição
qualquer demonstração de carinho. O sentimento pelo outro
explode em palavras na boca daquele que o expressa e sintetiza de
modo exponencial o ideal de Deus para o ser humano, que é o
complemento trazido pela união com o sexo oposto.
Mas o texto adverte contra o extremo do ascetismo (a negação de
todo o prazer) e do hedonismo (busca desenfreada pelo prazer). O
ideal do casamento, proposto por Deus, é aqui exempli cado numa
mistura de atenção, afeto, empenho e prazer.
▷ Esboço
A afeição mútua entre o esposo e a esposa (1:1—2:7).
A esposa fala de seu esposo. Seu primeiro sonho sobre ele
(2:8—3:5).
O cortejo nupcial. O segundo sonho da esposa. Sua conversa
com as lhas de Jerusalém (3:6—6:3).
O esposo continua louvando a beleza da esposa. O desejo
dela é para ele (6:4—8:4).
Expressões nais de amor mútuo (8:5-14).
▶ Isaías
▷ Título e conteúdo
O título segue o nome do autor. Trata-se de uma coletânea de
oráculos proféticos dados num longo espaço de tempo em que Judá
e Jerusalém convivem com uma série de problemas internos e
externos. Parte dos problemas estava na situação geográ ca de
Judá, que cava no caminho entre o Egito e a Assíria, duas
superpotências disputando o poder.
Pelo menos três grandes ataques e devastações são aludidos no
livro: a guerra sírio-efraimita (duas vezes) e a invasão da Assíria
(uma vez). Judá era constantemente ameaçado por estes povos, fora
a exploração dos ricos sobre os pobres num contexto em que os
próprios governantes de Jerusalém eram, em sua maioria,
corruptos e apartados da lei de Deus.
Quatro grandes temáticas perpassam todo o livro: a grandeza de
Deus, seu julgamento sobre as nações, sua relação com seu povo e a
vinda do Messias.
▷ Autor
A tradição judaico-cristã sempre apontou Isaías, denominado no
texto como o autor do livro que leva o seu nome. Contudo, a partir
do século 18, os promotores da alta crítica apresentaram teses que
negavam a unidade do livro de Isaías. A ideia ainda defendida por
muitos é de que se tratam de dois ou três autores, e não apenas um.
Assim, o livro seria composto de três partes distintas: a primeira (1
—39) seria do século 8 a.C., a segunda (40—55) seria do período do
exílio babilônico (587-538 a.C.), e a terceira (56—66) depois do exílio
babilônico, em que os judeus voltaram para restaurar Jerusalém. A
essas partes dá-se o nome de proto, deutero e trito-Isaías.
Contudo, há também autores de linha mais conservadora que
ainda defendem, com base no texto original, que se trata de um
único autor escrevendo o livro em três diferentes períodos de sua
vida, cuja compilação nal se deu apenas após a sua morte.
▷ Data
Isaías viveu entre 765 e 681 a.C. Seu chamado se deu no ano da
morte do rei Uzias, em 740 a.C., e seu ministério profético foi
exercido no reino Judá durante os reinados de Uzias (c. 2Crônicas
26; 22), Jotão, Acaz, Ezequias e Manassés.
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
O livro é repleto de oráculos, paralelismos e estruturas
concêntricas. O oráculo é o anúncio da mensagem de Deus que o
profeta precisava entregar. O paralelismo é um estilo menor que
aparece dentro dos oráculos. Ele ocorre quando o escritor expressa
uma ideia e, em seguida, repete ou contrasta a ideia usando uma
estrutura textual semelhante com palavras diferentes. Isaías 1:2 é
um exemplo: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra.” Esse tipo de
introdução não apenas chama todos a ouvirem seu discurso, como
facilita a memorização daquilo que será dito.
O mesmo se dá com a estrutura concêntrica, que repete os
paralelos de forma cônica, direcionando a mensagem para um
ponto central. É o caso de Isaías 55:8-9:
A Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
B Nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
C Porque assim como os céus são mais altos que a terra
B’ Assim são os meus caminhos mais altos que os vossos
caminhos
A’ E os meus pensamentos mais altos que os vossos
pensamentos.
▷ Esboço
Oráculos sobre Judá e Jerusalém (1:1—6:13).
Livro da Consolação (7:1—12:6), que corresponde ao tempo
da guerra siro-efraimita. Também é chamado “Livro do
Emanuel”.
Oráculos contra as nações estrangeiras (13:1—23:18).
Apocalipses (24:1—27:13 e 34:1—35:10), que anunciam a
renovação futura (escatologia) e são de um autor pós-exílico.
Oráculos de salvação de Israel e Judá (28:1—33:24).
Apêndice histórico, relacionado ao reinado de Ezequias (36:1
—39:8).
Deus Libertador (40:1—48:22).
Restauração de Sião (49:1—55:13).
Promessas e orientações aos que vierem da Babilônia (56:1—
66:24).
▶ Jeremias
▷ Título e conteúdo
Este é outro livro profético denominado a partir do nome de seu
autor. Trata-se de uma coletânea de profecias que registram o
destino nal de Judá, advertindo-lhes sobre a destruição que se
aproxima. O juízo de Deus viria pelas mãos dos babilônios que
destruiriam a cidade de Jerusalém por causa de sua impenitência,
imoralidade e idolatria. Jeremias, que era sacerdote e profeta,
conclama ao povo que se arrependa, mesmo sabendo que já era
tarde demais.
Contudo, ainda existe uma esperança. O mesmo profeta que
anuncia a vinda do cativeiro também prediz o tempo de sua
duração. O povo haveria de voltar, Deus não os rejeitaria para
sempre. Uma nova aliança seria feita e Deus restauraria a alegria de
seu povo (Jeremias 31:31-33).
▷ Autor
Jeremias.
▷ Data
O livro de Jeremias foi escrito entre 630 e 580 a.C.
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
Seguindo a linha dos livros proféticos, Jeremias também possui
vários oráculos revelados por Deus que deveriam ser transmitidos
ao povo. Contudo, ele tem uma peculiaridade: a narrativa profética
geralmente foca sua atenção na mensagem, e não na vida do
profeta. Jeremias, no entanto, contém informações biográ cas
extensivas acerca do seu autor. O texto mostra, além de suas
mensagens, o lado humano do profeta, sua angústia emocional e
seu con ito interno diante da oposição que sofrera por pregar a
palavra de Deus (cf. Jeremias 8:18—9:2; 15:15-18; 20:7-9; 26; 32; 37;
38).
▷ Esboço
Pregação durante o reinado de Josias. Jerusalém seria
destruída (1—6).
Pregação em vários lugares de Jerusalém, inclusive no
portão do templo, usando várias metáforas para suplicar ao
povo que melhore os seus caminhos (7—20).
Pregação durante o reinado do rei Zedequias. Babilônia
conquistaria Jerusalém (21—38).
Jerusalém é conquistada e muitos judeus são levados cativos
para a Babilônia. Os que permanecem em Judá rejeitam a
mensagem do profeta (39—44).
Jeremias promete a Baruque, seu escriba, que o Senhor vai
preservar sua vida (45).
Jeremias profetiza sobre a destruição dos listeus,
moabitas, babilônicos e povos de outras nações (46-52).
▶ Lamentações
▷ Título e conteúdo
Textos de lamentação são comuns na literatura do Antigo
Oriente Médio. Eles geralmente evocam a dor individual ou coletiva
causada pela destruição de uma cidade, pela morte de um ente
querido ou pelo castigo in igido por uma divindade. No contexto
bíblico não é diferente. Há salmos de lamentação e seções em
diversos profetas. Neste caso, o livro inteiro é um grande lamento
profético pela destruição do templo e da cidade de Jerusalém pelos
babilônios em 587 a.C. Seu próprio título em hebraico é uma
exclamação de luto.
▷ Autor
Embora o próprio livro não pareça denominar seu autor, uma
antiga tradição que remonta ao período da LXX o identi ca com
Jeremias. Nesta versão grega os judeus acrescentaram a seguinte
anotação antes do capítulo 1:1: “Aconteceu que, depois da redução
de Israel ao cativeiro e de Jerusalém ao deserto, o profeta jeremias
sentou-se chorando; ele proferiu esta lamentação sobre Jerusalém e
disse.”
▷ Data
Ca. de 587 a.C.
▷ Localização
Não sabemos onde Jeremias estava quando escreveu o livro, mas
pode ter sido em Jerusalém ou no Egito (ver Jeremias 43:6-7).
▷ Características literárias
O livro inteiro de Lamentações foi escrito em poesias muito bem
construídas. Os quatro primeiros capítulos formam acrósticos. Um
acróstico é uma forma poética na qual as primeiras letras de cada
linha formam uma sequência signi cativa. Esse recurso aparece
também nos assim chamados “Salmos alfabéticos”, como é o caso
do salmo 119. O livro de Lamentações contém composições de
acrósticos com base nas 22 letras do alfabeto hebraico.
Os capítulos 1, 2 e 4 contêm 22 versículos cada, e cada um começa
com uma letra diferente do alfabeto hebraico, em ordem alfabética.
O capítulo 3 contém 66 versos. Os três primeiros começam com álef,
a primeira letra do alfabeto hebraico, os próximos três versículos
começam com a segunda letra, beth, e assim por diante. O último
capítulo contém 22 versículos, mas não é um acróstico.
▷ Esboço
O primeiro poema: a miséria, o pecado e a oração de
Jerusalém (1:1-22).
O segundo poema: a destruição mandada por Deus e a
reação do profeta (2:1-22).
O terceiro poema: a severidade e misericórdia de Deus; a
submissão e a oração do povo (3:1-66).
O quarto poema: devastação, o resultado da desobediência
(4:1-22).
O quinto poema: uma oração registrando o sofrimento e
apelos nais de Jerusalém (5:1-22).
▶ Ezequiel
▷ Título e conteúdo
Livro profético que leva o nome de seu autor. O profeta era
contemporâneo de Jeremias e Daniel. Aos 30 anos de idade,
Ezequiel teve uma visão da glória de Deus e foi chamado para ser
profeta (Ezequiel 1:1-3). A partir daí, ele iria profetizar para o povo
de Israel espalhado pelo império babilônico.
▷ Autor
Ezequiel.
▷ Data
O livro de Ezequiel foi provavelmente escrito entre 593 a.C. e 565
a.C., durante o cativeiro babilônico dos judeus.
▷ Localização
Jerusalém e Babilônia (atual Iraque).
▷ Características literárias
No livro existem relatos de visões, mescladas de atos simbólicos,
parábolas e alegorias. É certo que os outros profetas também
empregam os mesmos elementos literários em sua mensagem, mas
em Ezequiel esses elementos se ampliam. As visões são mais
extensas e escritas com mais pormenores do que em outros
profetas. Há quem diga que ele seria o primeiro autor do Antigo
Testamento a utilizar o estilo apocalíptico de revelação profética.
▷ Esboço
O chamado de Ezequiel (1:1—3:21).
Oráculos sobre a destruição de Jerusalém (3:22—24:27).
Oráculos sobre a destruição das nações estrangeiras (25:1—
32:32).
Profecias de restauração (33:1—48:35).
▶ Daniel
▷ Título e conteúdo
Título dado após seu autor tradicional. Conta a história de
Daniel, que viveu a maior parte de sua vida como exilado na
Babilônia e na Medo-Pérsia Contém uma parte histórica, narrando
a própria vida do profeta, e outra profética, apresentando sonhos e
visões relacionadas ao juízo de Deus e o m dos tempos. É o livro do
Antigo Testamento que tem mais relações literárias com o
Apocalipse de João.
▷ Autor
Tradicionalmente, acredita-se que foi o próprio Daniel quem
escreveu este livro, embora sua edição nal possa ter sido obra de
outra pessoa. Os proponentes da alta crítica, no entanto, atribuem
o livro a um ou mais judeus anônimos que viveram durante o
período dos Macabeus.
▷ Data
A abordagem mais conservadora atribui a composição do livro
aproximadamente entre 605 e 520 a.C. Os partidários da alta crítica
colocam o livro durante o período das guerras entre os Ptolomeus e
Selêucidas e o reinado de Antíoco Epífanes IV (175-164 a.C.).
▷ Localização
Jerusalém, Babilônia (atual Iraque) e Pérsia (atual Irã).
▷ Características literárias
O livro começa como narrativa, destacando a biogra a de Daniel
e seus companheiros levados como cativos pelo rei da Babilônia.
Então, a partir do capítulo 7, inicia-se uma cadeia de simbolismos
proféticos, envolvendo bestas, feras, luta do bem contra o mal e
bastante teor apocalíptico. Ao falar de coisas terrenas, o autor tem
uma preferência pelo uso da prosa, ao passo que, ao falar de coisas
celestiais, opta pela poesia.
▷ Esboço
O cativeiro (1:1-21).
O sonho, a imagem de ouro e a humilhação do rei da
Babilônia (2:1—4:37).
Juízo sobre o rei da Babilônia (5:1-31).
Daniel na cova dos leões (6:1-28).
Visão dos quatro animais (7:1-28).
Visão do Carneiro e do Bode (8:27).
Oração de Daniel e a profecia das setenta semanas (9:1-27).
Visões na Pérsia (10:1—12:13).
▶ Oseias
▷ Título e conteúdo
Traz a mensagem e a vida de um dos profetas de Israel que teve
sua situação matrimonial usada por Deus para exempli car o
perdão dado ao povo que se desviara da aliança. A condição
adúltera de Israel, o chamado ao arrependimento e as alusões ao
Juízo de Deus são o elemento-chave de todo o livro.
▷ Autor
Não se sabe exatamente quem escreveu o livro, porém, a
considerar pelas informações autobiográ cas que aparecem no
texto, pode-se dizer que o próprio Oseias seria o autor do livro que
leva o seu nome.
▷ Data
Provavelmente no oitavo século a.C., durante o reinado de
Jeroboão II, rei de Israel (782-753 a.C.). Há quem diga, no entanto,
que devido às suas constantes referências ao reino de Judá, a
composição do livro só se deu após a queda de Samaria, em 722 a.C.
▷ Localização
Samaria, capital do reino de Israel.
▷ Características literárias
O livro possui um estilo narrativo e biográ co. Contudo, a
condição infeliz de um homem que é traído por sua esposa em uma
sociedade altamente patriarcal e a perdoa posteriormente é tido
por muitos como sinal de que não se trata de uma história
verdadeira, mas apenas uma metáfora para reforçar o simbolismo
da mensagem do profeta. Contudo, não existem elementos factíveis
para se negar a historicidade da trama.
O único ponto de dubiedade no texto é quanto à condição civil de
Gomer, esposa do profeta, antes de seu casamento. A nal, Deus lhe
mandara tomar por esposa uma mulher que lhe trairia ou uma
prostituta que não teria direito ao matrimônio comum? O fato é
que eles se casaram, Gomer gerou três lhos e depois foi, ou voltou,
para a vida de desonra. O texto não esclarece qual seria a
“prostituição” da mulher, mas no capítulo 3 Deus ordena a Oseias
que retome a esposa que o havia traído. A dura experiência do
profeta é usada no livro para ilustrar a situação divina em retomar
para si um povo que também lhe traíra indo após outros deuses.
▷ Esboço
A família de Oseias (1:1—3:5).
A in delidade de Israel (4:1-19).
O julgamento divino (5:1-15).
Pecado e arrependimento não genuíno (6:1—7:16).
O juízo de Deus (8:1—9:17).
Ilustrações do campo (10:1-15).
O convite de Deus (11:1—12:14).
Ingratidão do povo (13:1-16).
Promessas de Deus (14:1-9).
▶ Joel
▷ Título e conteúdo
Trata-se de um livro pequeno (apenas três capítulos) que leva o
nome de seu mensageiro, o profeta Joel. O texto pode ser dividido
em duas grandes temáticas. A primeira seria um convite ao povo
para que aceite o luto e supliquem a misericórdia de Deus após
enfrentarem uma invasão de gafanhotos na Judeia. A segunda seria
o julgamento das nações e conseguinte vitória de Javé, bem como
de Israel sobre seus inimigos.
O tema principal do livro de Joel é o Dia do Senhor, um dia da ira
e do juízo divino. Contudo, há uma mensagem especial sobre a
misericórdia de Deus, que tem a capacidade de perdoar e aplacar
sua própria ira se o povo se dispuser a mudar de atitude. Outro
ponto fundamental é o tema do derramamento do Espírito Santo
(3:1-2). O Novo Testamento retomará estes versos para interpretar o
fenômeno de Pentecostes, ocorrido após a ascensão de Cristo (Atos
2:16-21).
▷ Autor
De acordo com o livro, o autor seria o próprio Joel que dá nome à
obra.
▷ Data
O livro de Joel foi provavelmente escrito entre 835 e 800 a.C. Há
autores, no entanto, que o datam em algum tempo após o cativeiro
da Babilônia, no século 5 a.C.
▷ Localização
Judeia.
▷ Características literárias
Conforme dito acima, são duas partes que compõem a obra.
Uma fala da praga de gafanhotos e a outra do juízo de Deus sobre as
nações. A prosa e a poesia profética predominam em toda a
narrativa. Contudo, a diferença entre as duas partes seria apenas
em termos sequenciais, pois se a primeira for entendida como
símbolo do juízo de Deus (os gafanhotos seriam exércitos do juízo
divino), pode-se dizer que temos no começo a proclamação dos
juízos históricos de Deus, permitindo a a ição de seu povo e no
nal a proclamação do juízo escatológico de Deus, que seria o acerto
de contas nal com a humanidade.
Muitos autores percebem no livro os traços iniciais da literatura
apocalíptica. Joel, neste sentido, seria uma ponte entre a profecia
clássica e a literatura apocalíptica que estava nascendo. Daí a
linguagem metafórica baseada na praga de gafanhotos.
▷ Esboço
I. A mão do Senhor no presente (1:1—2:27).
▶ Amós
▷ Título e conteúdo
Como nos demais livros proféticos, este também leva o nome de
seu principal contribuidor, o profeta Amós. Pouco se sabe sobre sua
vida, exceto alguns excertos presentes no livro. Em 1:1 diz-se que
era pastor, e em 7:14 sua pro ssão (que para alguns seria melhor
traduzida por boiadeiro) é rea rmada, acrescentando que também
cultivava sicômoros. Aparentemente, seu ofício faz dele uma
pessoa, a princípio, pobre e sem cultura. Amós, contudo, se revela
um grande escritor. O profeta, ou escriba, que teria escrito suas
sentenças produziu uma exímia peça literária de denúncia à
idolatria e injustiça do povo de Israel, profetizando a destruição do
reino do Norte por causa do pecado.
▷ Autor
Ao que tudo indica, o próprio Amós seria o autor do livro que
leva seu nome, ainda que tenha usado um secretário letrado para
escrever suas visões.
▷ Data
Considerando as informações internas do livro acerca do
terremoto ocorrido nos dias do rei Uzias, acredita-se que o seu
ministério profético foi em algum período dentro do oitavo século
a.C.
▷ Local
A cidade de Tecoa, de onde procedera o profeta, seria uma vila
situada a, aproximadamente, 16 km ao sul de Jerusalém, 9 km de
Belém, e 20 km a oeste do Mar Morto. Contudo, considerando que
ele profetizou contra o reino do Norte, seu ministério pode ter se
estendido para outras localidades de Israel.
▷ Características literárias
O livro possui uma linguagem e vocabulário que demonstram a
familiaridade do autor com a vida no campo e as atividades
agropastoris. Apesar de se declarar homem simples, o autor
demonstra grande conhecimento da geogra a e política do povo de
Israel de seu tempo, bem como domínio teológico de temas
importantes, como a aliança entre Yahweh e seu povo.
Demonstra conhecimento legal das regras mosaicas e faz
referência a vários episódios históricos narrados no Pentateuco,
como a destruição de Sodoma e Gomorra, o Êxodo, a conquista de
Canaã, além da menção dos patriarcas Isaque, Jacó e José. Por isso,
há quem diga que haveria algum escriba letrado auxiliando o
profeta na redação de sua mensagem.
▷ Esboço
Título e prólogo (1:1-2).
Oráculos contra sete nações vizinhas de Israel e contra Judá
e Israel (1:3—2:16).
Oráculos contra Israel (3:1—6:14). Nesta parte encontram-se
as principais críticas de Amós contra a corrupção social e
religiosa e o anúncio do castigo (3:13-15; 5:1-3,16-20; 6:8-14).
Castigos divinos (7:1—9:10). São cinco visões, das quais as
primeiras quatro começam com a mesma fórmula e a quinta
é diferente. No meio das visões encontra-se a narração da
expulsão de Amós do santuário de Betel (7:10-17) e outros
oráculos (8:1-14; 9:7-10).
Esperança messiânica como oráculo de salvação (9:11-15).
▶ Obadias
▷ Título e conteúdo
O livro que leva o nome de Obadias traz uma mensagem
profética dura acerca da animosidade histórica entre Jacó e Esaú,
bem como entre seus descendentes, e a terrível vinda de
Nabucodonosor, rei da Babilônia, para destruir Jerusalém e o
templo de Deus.
Por causa da forte mensagem de dor, devido à opressão trazida
pelos babilônios, o livro de Obadias costuma ser chamado de “A
oração indignada de Obadias” e “Hino da ira”. O tom nacionalista
de seu lamento justi ca os codinomes alternativos da obra.
Embora existam outros Obadias mencionados em 1Reis, 1 e
2Crônicas, Esdras e Neemias, não devemos confundir nenhum
desses com o profeta que produzira este livro. Com exceção do fato
de que Obadias era um profeta no reino do sul (Judá), não sabemos
nada sobre seu passado ou ministério
▷ Autor
Há quem a rme que Obadias, que quer dizer “servo do Senhor”,
seria um pseudônimo e não o verdadeiro nome do profeta que
escreveu esta obra. Contudo, esse nome era comum naquele
momento e não há razões plausíveis para se duvidar de sua
originalidade. Segundo a tradição judaica, Obadias era mordomo
do rei Acabe. Porém esta a rmação tem incoerência cronológica
com as informações contidas no livro.
▷ Data
A profecia de Obadias foi feita pouco depois de uma das capturas
de Jerusalém, provavelmente a conquista pelos babilônios cerca de
587 a.C.
▷ Localização
Jerusalém (Judá) e Jordânia (Edom).
▷ Características literárias
Obadias escreve sob a perspectiva da animosidade dos
descendentes de Esaú, que se tornaram Edom, contra os
descendentes de Jacó, que se tornaram Judá e Israel. Outros
profetas também já haviam proclamado mensagens de reprovação
aos edomitas, contudo, a novidade deste profeta está em que ele
agrava o sentimento de alegria dos moradores de Edom, pela
derrota de Judá, pelo fato de que estes eram parentes que deviam
ser solidários a seus irmãos e não celebrantes de sua destruição.
Com linguagem altamente nacionalista, ele fala da crueldade de
Edom em car de lado enquanto seus irmãos eram destruídos, em
Jerusalém. Pior ainda foi o fato deles se alegrarem com o infortúnio
dos primeiros. Edom entrou em alianças com outras nações, para
tão somente destruir, aniquilar Judá. Eles chegaram até vender
judeus como escravos para seus inimigos. Deus se lembraria disso
no dia da restauração de Jerusalém. Esta era a assertiva do profeta.
▷ Esboço
Profecia contra Edom (1:1-4).
Alegria em Edom e dor em Jerusalém (1:5-10).
Consequências (1:11-16).
O Reino será do Senhor (1:17-21).
▶ Jonas
▷ Título e conteúdo
O livro leva o nome de um profeta israelita da tribo de Zebulom,
lho de Amitai, natural de Gete-Héfer. Seu ministério ocorreu
durante o reinado de Jeroboão II, rei de Israel. Sua mensagem é
incomum porque conclama ao povo de Nínive, e não a seus
compatriotas, que se arrependam. Além de sua resistência em
pregar para seus inimigos, o livro traz a surpreendente decisão do
rei de Nínive e seus súditos que aceitam a mensagem do profeta,
mudam de vida e, com isso, evitam a destruição anunciada pelo
profeta, situação que lhe traz grande perplexidade diante de Deus.
▷ Autor
Provavelmente Jonas, embora alguns autores pensem que seria
obra de um escriba posterior.
▷ Data
Se Jonas escreveu o livro, este seria, obviamente, datado
durante o reinado de Jeroboão II, no início do século 8, de 793 a.C. a
753 a.C. Se foi obra de um escriba posterior, ele poderia ter sido
produzido em algum tempo depois dos acontecimentos descritos
no livro, após a destruição de Nínive, que se deu em 612 a.C.
▷ Localização
Israel, porto de Haifa (ou Jope), Nínive, capital da Assíria, atual
Iraque.
▷ Características literárias
O uso de certos aramaísmos (1:5-7; 3:7; 4:11) leva alguns a
deduzirem que houve algum elemento redacional após o regresso
do cativeiro da Babilônia. Contudo, o que mais chama a atenção é a
peculiaridade do autor em não usar o substantivo profeta (nabi, em
hebraico), nem a fórmula típica das narrativas proféticas. Sua
mensagem se resume a uma frase: “Dentro de quarenta dias, Nínive
será destruída” (Jonas 3:4).
Uma mensagem é extraída de um evento real, que seria uma
decisão coletiva de arrependimento liderada pelo governador de
Nínive, a partir da mensagem dada pelo profeta. O contexto
histórico, no entanto, é extremamente reduzido e pobre de
detalhes.
▷ Esboço
Jonas opõe-se à vontade de Deus e foge para Társis. Ele é
engolido pelo peixe e vomitado na praia (1:1—2:11).
Jonas prega em Nínive, que se converte, e o profeta se
ressente (3:1—4:11).
▶ Miqueias
▷ Título e conteúdo
O título refere-se à mensagem de um profeta que dirigiu sua
mensagem tanto ao reino do Sul como ao reino do Norte. Por isso,
sua profecia contempla as cidades de Jerusalém, capital do reino de
Judá, e Samaria, capital do reino de Israel. Sua profecia contempla
a destruição de Samaria pelo exército da Assíria, o futuro cativeiro
da Babilônia, a revelação do juízo de Deus sobre os pecados do povo
e a restauração que seria iniciada após o cativeiro, garantindo que a
casa de Davi seria erguida mais uma vez e reinaria sobre o mundo
inteiro, trazendo paz para o povo de Deus.
▷ Autor
O autor do livro teria sido o próprio profeta Miqueias.
▷ Data
Miqueias foi provavelmente escrito entre 735 a.C. e 700 a.C.
▷ Local
Judá, Israel.
▷ Características literárias
A linguagem e o estilo se assemelham ao do profeta Isaías. Aliás,
existe uma clara semelhança em uma pequena parte dos textos (cf.
Isaías 2:2-4 e Miqueias 4:1-3). Talvez a contemporaneidade de
ambos estaria por trás dessa coincidência literária. Em seu livro,
Miqueias mostra ser um habilidoso escritor que organiza e alterna
os temas em sua mensagem com muita elegância e simetria. Parte
do livro é escrita na forma de um discurso público feito por alguém
com grande habilidade de oratória.
Contudo, em que pese a elegância de seu texto, o teor da
mensagem faz supor que ele exercera seu ministério entre os mais
simples do povo, ao passo que Isaías se dirigia aos membros da corte
judaica.
▷ Esboço
Tema: Quem é como o Senhor?
O julgamento precedido por Deus. (1:1-2:13)
A condenação dos líderes corruptos (3:1-12).
A realidade do reino de Deus (4:1—5:15).
As queixas de Deus contra seu povo (6:1—7:6).
Perdão e restauração de Deus sobre seu povo (7:7-20).
▶ Naum
▷ Título e conteúdo
Naum, cujo nome signi ca “consolo”, é um profeta que delineia
com sua mensagem o signi cado bíblico da História. Vivendo ainda
sob os ares da destruição de Samaria, ele dirige parte de seu
discurso aos assírios, responsáveis pela destruição e que sentiriam
em breve a pesada mão do Deus de Israel. Ele também faz acenos à
ocupação de Judá pelos inimigos e garante-lhes o pagamento por
sua maldade.
▷ Autor
Tudo leva a crer que o próprio Naum estaria por trás do texto do
livro que leva seu nome.
▷ Data
Por informações internas do próprio livro, Naum pode ter sido
escrito em qualquer período após o cerco assírio de Jerusalém, em
701 a.C., e antes da queda de Nínive, que ocorreu por volta de 612
a.C.
▷ Localização
Jerusalém, Judá (Israel), Nínive, Assíria (atual Iraque).
▷ Características literárias
Naum escreveu na forma poética, utilizando imagens e
simbolismo que o fazem próximo da literatura apocalíptica. Seu
tom é marcantemente hostil contra Nínive, da qual ele descreve
com maestria a futura destruição. O tema da ira divina choca-se
com aquelas visões mais românticas da divindade que negam
descrevê-lo como juiz e vingador. Porém, é importante reconhecer
que, por trás da ira do Senhor em relação a Nínive, há uma
profunda preocupação pelo sofrimento de vários povos que tinham
sido conquistados, mortos, escravizados e aterrorizados por esse
poder estrangeiro. Ou seja, o caráter irado de Deus justi ca-se no
sofrimento dos justos e opressão dos mais necessitados.
▷ Esboço
I. O Decreto de Deus contra Nínive (1:1-15).
II. A vingança de Deus contra Nínive (2:1-13).
III. O triunfo de Deus sobre Nínive (3:1-19).
▶ Habacuque
▷ Título e conteúdo
Habacuque é o relato profético de um mensageiro de Deus que
viveu pouco antes da destruição de Jerusalém causada pelos
babilônios. Ele não esconde sua indignação face às atrocidades e
injustiça social cometidas dentro do território de Judá. A vinda
destruidora dos babilônios seria uma clara consequência dessa
apostasia que os afastava da proteção de Deus. Um destaque
literário na obra é a oração de Habacuque.
▷ Autor
Ao que tudo indica seria o próprio Habacuque o autor do livro
que leva o seu nome.
▷ Data
O livro teria sido composto entre o nal do reinado de Josias
(609 a.C.) e a queda do Império Assírio (612 a.C.).
▷ Localização
Jerusalém.
▷ Características literárias
Enquanto os demais profetas anunciam juízo sobre esta ou
aquela nação, Habacuque desenvolve um diálogo franco e honesto
entre um único homem (ele mesmo) e seu Deus. Ele questiona ao
Senhor o motivo do sofrimento e demanda respostas do Altíssimo.
Mais do que isso, ele pede socorro a Deus.
Primeiramente, Deus lhe responde na forma de um diálogo que
antecipa a chegada de um exército invasor (os assírios) para efetivar
o decreto judicial de Deus. Isso, porém, não consola o profeta, pois
o invasor não vem para libertar, mas para punir. Seria trocar uma
opressão pela outra.
No arremate nal do diálogo, Deus estabelece que o justo viverá
por sua delidade. Com isso, os que sofrem as consequências da
violência são chamados a ser agentes na história, opondo-se aos
ímpios e realizando a justiça.
▷ Esboço
A perplexidade do profeta (1).
A resposta de Deus (2).
A oração do profeta (3).
▶ Sofonias
▷ Título e conteúdo
Trata-se de outro profeta do 7º século a.C. que discursa com
veemência acerca do juízo nal, ao destrinchar o termo técnico
“Dia do Senhor”, como referente ao último acerto de contas de Deus
com as nações, inclusive Judá e sua capital, Jerusalém.
▷ Autor
Segundo a tradição, seria o próprio Sofonias o autor do livro.
▷ Data
Considerando que Sofonias foi contemporâneo de Jeremias e
Habacuque, seu livro é datado em torno de 625 a.C.
▷ Localização
Judá.
▷ Características literárias
Neste livro, predomina a forma poética, o que dá destaque à sua
mensagem, que deveria ser memorizada pelos ouvintes. Traz uma
linguagem pesada de advertência e ameaça ― o juízo do Dia do
Senhor está chegando. Contudo, também fala do tempo oportuno
oferecido pela promessa de salvação trazida por Deus.
▷ Esboço
Introdução (1:1).
Uma advertência do juízo iminente (1:2-18.)
Uma exortação ao arrependimento imediato (2:1—3:8).
A promessa da salvação futura (3:9-20).
▶ Ageu
▷ Título e conteúdo
Este livro traz a mensagem de Ageu, o primeiro profeta a
oferecer uma mensagem de conforto aos judeus que voltaram do
cativeiro babilônico. Há quem pense que seu nome seria um
pseudônimo hebraico que signi ca “comemoração, festa ou festival
de ação de graças”.
▷ Autor
Provavelmente o próprio Ageu.
▷ Data
Considerando que o profeta seria contemporâneo de Zacarias, e
que escrevera logo após o m do cativeiro, a composição do livro é
datada por volta de 520 a.C.
▷ Localização
Judá.
▷ Características literárias
Trata-se de um sermão profético escrito em prosa. Ele usa os
eventos passados para conclamar o povo ao arrependimento ―
para que não precisem passar novamente pelo sofrimento recém
experimentado. Também adiciona promessas e revela
acontecimentos futuros referentes ao templo e à chegada do
Messias.
▷ Esboço
A reconstrução do Templo (1:1-15).
A glória maior do novo Templo (2:1-9).
A promessa messiânica de Deus (2:10-19).
A promessa de vitória para o povo de Deus (2:20-23).
▶ Zacarias
▷ Título e conteúdo
O livro tem o nome do profeta Zacarias e traz outro conjunto de
visões e profecias ao povo que voltara do cativeiro da Babilônia.
▷ Autor
O próprio Zacarias.
▷ Data
Em torno de 530 a.C.
▷ Localização
Judá.
▷ Características literárias
Elementos simbólicos presentes no texto conferem um estilo
apocalíptico a algumas visões do profeta. Ele não difere muito dos
elementos comuns da preleção profética anterior e posterior ao
cativeiro: o apelo ao arrependimento, a previsão do juízo ― neste
caso, a lembrança do juízo que viera, a promessa messiânica
relacionada ao templo e a cidade de Jerusalém.
▷ Esboço
I. O chamado ao arrependimento (1:1-6)
II. As oito visões (1:7—6:15)
▶ Malaquias
▷ Título e conteúdo
O livro que fecha a lista do Antigo Testamento refere-se a um
profeta que viveu por volta do quinto século a.C., e que repreendeu
o povo de Judá porque ainda insistia nos mesmos erros de seus
ancestrais que viveram antes do cativeiro babilônico. Os desvios
estavam especialmente vinculados ao templo de Jerusalém, aos
sacrifícios e à negligência do dízimo. Malaquias também anuncia a
chegada do Messias, o grande mensageiro que viria no mesmo
espírito de Elias para restaurar todas as coisas como eram em sua
origem.
▷ Autor
Malaquias.
▷ Data
Em torno de 450 ou 420 a.C.
▷ Localização
Judá.
▷ Características literárias
Escrito em forma de prosa, o autor mistura elementos proféticos
de exortação com predições ainda distantes em relação à vinda do
Messias. Ao levantar a sua voz severa contra a degradação moral e
religiosa do seu tempo, Malaquias prepara a comunidade dos
crentes para o reencontro com Deus, através da chegada de seu
Messias.
▷ Esboço
O amor de Deus pelo seu povo (1:1-5).
Processamento contra os sacerdotes e levitas (1:6—2:9).
Reprovação da in delidade do povo (2:10-16).
Anúncio do “Dia do Senhor” e da visita do seu mensageiro
(2:17—3:5).
Ordens para o restabelecimento dos dízimos e das ofertas
(3:6-12).
Promessas de restauração para os éis (3:13-18).
Novo anúncio da vinda do “Dia do Senhor” (3:19-21).
Promessas de envio de um novo Elias (3:22-23).
NOVO TESTAMENTO
▶ Mateus
▷ Título e conteúdo
O título desse livro refere-se ao seu autor tradicional, que foi um
dos discípulos de Jesus e escreveu sua vida em forma de anúncio ou
kerygma.
▷ Autor
Apesar da negação feita pela alta crítica, a tradição mais
longínqua aponta Mateus como o autor desse evangelho que leva o
seu nome.
▷ Data
Os críticos assumem que Mateus teria sido composto por volta
do ano 90 d.C., contudo, há indicativos fortes o su ciente para
estabelecer uma data mais antiga por volta do ano 60 d.C.
▷ Localização
A história se passa nas regiões da Judeia, Galileia, Pereia, Egito e
outras localidades por onde Jesus passou, mas o local de
composição do texto parece ter sido Antioquia da Síria ou em
alguma localidade entre Judá e a Galileia.
▷ Características literárias
Os evangelhos não são meras biogra as de Jesus Cristo, e isso é
importante para entender o estilo de Mateus. Trata-se, antes, de
um anúncio, de um kerygma. Mateus escreve num grego popular
(koiné), mas de forma concisa e polida, embora esteja repleto de
aramaísmos e hebraísmos, isto é, formas de se expressar semitas
que nem sempre são adaptadas ao grego. A tradição cristã diz que
Mateus colecionou ditos originais de Cristo em aramaico e pode tê-
las usado na composição de seu evangelho, embora o consenso
entre os especialistas seja de que a presente forma não contém
indícios de ser uma tradução do aramaico, mas a redação de um
texto originalmente escrito em grego.
▷ Esboço
Prólogo: Genealogia e narrativa da infância de Jesus (1:1—
2:23).
Proclamação do Reino dos Céus (3:1—7:29).
Discurso: O Sermão da Montanha (5:1—7:29).
O ministério de Jesus na Galileia (8:1—11:1).
Discurso: Missão e martírio (9:35—11:1).
Histórias e parábolas em meio a controvérsias (11:2—13:52).
Discurso: Parábolas do Reino (13:1-52).
Narrativa, controvérsia e discurso (13:53—17:27).
Discurso: Ensino sobre a Igreja (18:1-35).
Jesus na Judeia e em Jerusalém (19:1—25:46).
Discurso: Os ensinos escatológicos de Jesus (24:1—25:46).
A narrativa da morte e ressurreição (26:1—28:1-20).
▶ Marcos
▷ Título e conteúdo
O evangelho que recebe o nome de Marcos tem por trás de seu
texto a gura do apóstolo Pedro. Marcos seria um redator que
escreveu o texto com base naquilo que Pedro dizia, pois ele mesmo
não havia sido apóstolo nem testemunha ocular da maioria das
coisas que escreveu. Por isso, alguns sugerem Pedro como coautor
de Marcos. Esse evangelho traz o anúncio da vida e obras de Jesus.
▷ Autores
Marcos e Pedro (?).
▷ Data
Os críticos o colocam em torno do ano 70 d.C., mas há evidências
de que ele teria sido composto por volta da década de 50 d.C.
▷ Localização
A vida de Jesus é passada na região da Judeia, Galileia e
arredores. Quanto ao local de produção do evangelho, presume-se
que tenha sido em Roma. Apenas uns pouquíssimos autores
supõem que Marcos escreveu o evangelho em Alexandria.
▷ Características literárias
Marcos é chamado de o evangelho do anonimato ou evangelho
do segredo messiânico, pois é o autor que mais enfatiza o pedido de
Jesus para que os que se aproximavam dele não revelasse sua
identidade, a m de que os eventos nais que estavam preditos por
Deus não acontecessem antes do esperado. Ele usa de descrições
simples e claras, como se estivesse escrevendo para crianças. O
caráter sintético de sua mensagem pode ter in uência de Pedro,
que também era um homem simples e de poucas letras.
▷ Esboço
Introdução (1:1-13).
Declaração sumária (1:1).
Cumprimento da profecia do Antigo Testamento (1:2-3).
O ministério de João Batista (1:4-8).
O batismo de Jesus (1:9-11).
A tentação de Jesus (1:12-13).
▶ Lucas
▷ Título e conteúdo
O texto em si não contém o nome do seu autor, contudo, a mais
antiga tradição cristã aponta para Lucas, o amado médico,
discípulo e companheiro de Paulo. Seu texto, referente à vida e
obras de Jesus de Nazaré, vincula-o ao livro de Atos dos Apóstolos e,
juntos, podem ter sido preparados para compor o dossiê de defesa
de Paulo perante o tribunal de Roma.
▷ Autor
Lucas.
▷ Data
Em torno de 60 d.C.
▷ Localização
Roma.
▷ Características literárias
Lucas escreve do modo mais erudito de todos os evangelistas,
embora use largamente o grego comum, e não esconde os fortes
traços de aramaísmos que podem signi car alguma ascendência
judaica por parte de sua família ou o uso de fontes mais antigas que
não estariam escritas em grego. O prefácio segue um claro estilo
grego clássico e a continuidade judaica. O que em Mateus pode ser
entendido de modo circunscrito ao judaísmo, em Lucas é uma
tarefa universal de Cristo, vindo para salvar toda a humanidade.
Lucas é o que mais enfatiza o papel das mulheres no ministério
de Jesus, a fé genuína de crianças e a salvação estendida a todos os
não judeus que aceitassem o Messias.
▷ Esboço
Prólogo (1:1-4).
A narrativa da infância (1:5—2:52).
Preparação para o ministério público (3:1—4:13).
O ministério galileu (4:14—9:50).
A narrativa de viagem (no caminho para Jerusalém) (9:51—
19:28).
O ministério de Jerusalém (19:29—21:38).
A paixão e glori cação de Jesus (22:1—24:53).
▶ João
▷ Título e conteúdo
O evangelho que leva o nome do discípulo amado é um dos mais
profundos acerca do ministério de Jesus. De todos, é o que mais
acentua sua divindade, pré-existência e corporeidade após a
ressurreição. Possui uma forma de narrar os fatos da vida de Cristo
que combate grupos dissidentes da Igreja Primitiva, especialmente
os gnósticos, que negavam a doutrina da encarnação.
É um evangelho ricamente doutrinário, principalmente no
tocante à sua apresentação da morte de Cristo como sacrifício
expiatório pela humanidade e o uso extensivo do título de “Filho de
Deus” aplicado à pessoa de Jesus Cristo.
▷ Autor
A tradição da Igreja, de longa data, aponta João, o discípulo
amado, como sendo o autor do evangelho que leva o seu nome.
Alguns, no entanto, tendem a negar essa autoria, falando antes de
uma comunidade joanina que produziu o texto em nome do
apóstolo João. Tal hipótese, contudo, carece de mais evidências que
a corroborem.
▷ Data
Fim do século 1 d.C.
▷ Localização
A vida de Jesus se passa no eixo entre a Judeia e a Galileia, mas o
evangelho foi quase seguramente redigido na cidade de Éfeso, atual
Turquia.
▷ Características literárias
O fato de acentuar a natureza divina de Jesus muito mais que os
outros evangelhos, faz com que João utilize de algumas fórmulas
especí cas não encontradas assim em outras partes da Bíblia. Uma
delas é o extensivo uso de “eu sou” referindo-se a Cristo como eco
da apresentação divina a Moisés onde o Altíssimo se revela como
“Eu sou aquele que é”. Em João, Jesus se apropria dessa expressão
para autode nir-se.
Além disso, o autor desenvolve algumas ideias-chave de forma
crescente e concêntrica. É o caso de sua dissertação sobre a luz, a
hora, a vida, o mundo. Do mesmo modo, o evangelho evita a
palavra “milagres”, preferindo o uso de “sinais”, porque estes
revelam a verdadeira identidade de Jesus.
▷ Esboço
O PRÓLOGO (1:1-18)
O EPÍLOGO (21:1-25)
▶ Atos
▷ Título e conteúdo
Este livro traz a continuação da narrativa evangélica a partir do
texto de Lucas, que novamente se dirige a Teó lo e lhe con a o
manuscrito que estava preparando. Em que pese a tradição do
nome “Atos dos Apóstolos”, é notório que não se trata de uma
narrativa sobre a obra de todos os doze apóstolos de Jesus. Da
maioria deles não se têm nenhum relato. O que se acentua na
narrativa são atos de Paulo (o apóstolo dos gentios), com alguma
atuação de Pedro e Tiago. Conta-se, en m, a história dos primeiros
anos da Igreja após a ascensão de Cristo. Seus dramas, sua
perseguição, seu fervor missionário e desa os teológicos. Alguns
propõem que, devido à ação divina destacada na história, o mesmo
deveria se chamar Atos do Espírito Santo, em vez de Atos dos
Apóstolos.
▷ Autor
Lucas.
▷ Data
Em torno do ano 60 d.C.
▷ Localização
Israel, Síria, Grécia (Ásia Menor), Roma.
▷ Caraterísticas literárias
O texto é narrativo e com características de alto valor cultural.
Seu autor não fazia parte do ciclo original de discípulos, mas
recebeu instruções detalhadas daqueles que foram testemunhas do
evento e, com base nisso, o escreveu. Ele emprega com rigor os
detalhes históricos, políticos, o nome de cada personagem
envolvido e os títulos que possuía.
Ao descrever, porém, as obras de Paulo, o autor muda de estilo e
passa a redigir sob a ótica de quem estava lá, que testemunhou
aquilo que escrevera, pois estivera todo o tempo ao lado de Paulo.
Há quem acredite que o livro de Atos, em conjunto com o livro de
Lucas, seriam partes de uma mesma peça jurídica usada em defesa
de Paulo por ocasião de seu julgamento em Roma.
▷ Esboço
ATOS 1—5: A Igreja Primitiva em Jerusalém
Em Jerusalém (21:17—23:25).
Em Cesareia (24:1—26:32).
A viagem para Roma (27:1—28:16).
Paulo em Roma (28:17-31).
▶ Romanos
▷ Título e conteúdo
O livro refere-se a uma carta escrita por Paulo aos cristãos de
Roma. Nela, ele trata de alguns assuntos referentes ao andamento
da igreja de Roma, como sua futura visita àquela congregação, a
ajuda aos necessitados de Jerusalém e seu próprio itinerário para
Espanha, através da Itália. Mas o apóstolo também aproveita o
ensejo da missiva para esclarecer alguns pontos doutrinários e
defender sua teologia, especialmente no que diz respeito à relação
entre a lei e a justi cação pela fé, bem como o bom convívio entre
cristãos gentios e judeus.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Provavelmente na primavera de 57 d.C.
▷ Localização
Acredita-se que esta carta fora enviada para os cristãos de Roma
a partir da cidade de Corinto.
▷ Características literárias
É a carta mais longa e mais teológica do Novo Testamento. Nela,
Paulo usa muito o recurso da diatribe, que consiste na exposição de
uma ideia, doutrina ou argumento em forma de diálogos
imaginários, possuindo gênero coloquial e dotado de sentenças
curtas ou condicionais, com o interesse de despertar a atenção do
leitor, como se ele estivesse assistindo a um debate.
Por isso, encontramos em Romanos muitas perguntas retóricas,
mas também muitas declarações incisivas, imperativos e paralelos
contrastantes. A força de sua linguagem se assemelha àquela
encontrada em grandes escritores da época, como Epíteto e Sêneca.
▷ Esboço
Introdução e tema (1:1-17).
A humanidade precisa da salvação (1:18—3:20).
A via da salvação que Deus propõe (3:21—4:25).
A nova vida em Cristo (5:1—8:39).
Israel no plano de Deus (9:1—11:36).
Conduta cristã (2:1—15:13).
Conclusão e saudações (15:14—16:27).
▶ 1 e 2Coríntios
▷ Título e conteúdo
Trata-se de duas cartas inspiradas de um total de quatro (duas
outras estão perdidas) que foram escritas pelo apóstolo Paulo em
resposta às notícias que recebia da igreja de Corinto. Esta era uma
comunidade muito problemática desde a sua fundação. Nela, havia
problemas morais, doutrinários, litúrgicos e litigiosos que são
devidamente tratados pelo apóstolo em ambas as missivas. A
segunda parece mais ampla que a primeira, pois é endereçada não
apenas aos coríntios, mas a todos os irmãos que estavam
espalhados pela Acaia.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 56 d.C.
▷ Localização
A primeira provavelmente foi escrita em Éfeso e a segunda, na
Macedônia.
▷ Características literárias
Ambas as cartas não têm um caráter sistemático como acontece
na Epístola aos Romanos. Elas têm uma função mais pragmática
que é responder aos problemas que estavam ocorrendo na
comunidade de crentes, bem como animar-lhes a fé para que não se
esmoreçam seguindo guias heréticos ou ensinamentos espúrios. Há
também um grande tom de exortação diante dos graves problemas
morais que eram trazidos perante o apóstolo.
▷ Esboço
1Coríntios
Prólogo (1:1-9).
Divisões na igreja de Corinto (1:10—4:21).
Escândalos na igreja (5:1—6:20).
Resposta a questões concretas (7:1—11:1).
A Assembleia Litúrgica (11:2-34).
Os carismas (12:1—14:40).
A ressurreição dos mortos (15:1-58).
Epílogo (16:1-24).
2Coríntios
Prólogo (1:1-11).
Paulo justi ca sua postura diante da igreja (1:12—7:16).
Paulo dá instruções (8:1—9:15).
Paulo justi ca novamente sua postura diante da igreja (10:1
—13:13).
▶ Gálatas
▷ Título e conteúdo
Esta carta foi endereçada a um certo grupo de igrejas que caria
ao norte da Galácia ou em suas fronteiras com a Frígia. O fato é que,
em se tratando de comunidades cristãs desta região, o nome Gálatas
parece muito apropriado.
Nela, Paulo apresenta mais uma vez sua preocupação com
aqueles que estavam se afastando da mensagem de Cristo para
seguir ensinos dissidentes, como aqueles que exigiam dos não
judeus que se convertiam a necessidade de circuncidar-se antes de
se unir à igreja. Ao mesmo tempo em que corrige as distorções,
Paulo levanta uma apaixonante defesa de seu ministério apostólico
que parecia negado até mesmo por líderes in uentes do
cristianismo. Alguns certamente estavam usando essa oposição
interna para minar a credibilidade autoritativa do ensino de Paulo.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 57 d.C.
▷ Localização
Paulo provavelmente escreveu esta carta por ocasião de sua
viagem pela Macedônia.
▷ Características literárias
É uma carta de estilo fortemente apologético e exortativo. Nela,
Paulo dirige uma severa repreensão tanto aos membros da igreja
que estavam se afastando quanto aos falsos mestres que os estavam
desencaminhando. Em sua defesa, o autor ainda imprime um
caráter autobiográ co em certa parte do texto que oferece
importantes informações sobre sua própria personalidade e
desa os pessoais.
▷ Esboço
Introdução (1:1-10).
Origem divina do Evangelho (1:11—2:21).
O Evangelho faz-nos lhos de Deus (3:1—4:7).
O Evangelho faz-nos livres (4:8—5:12).
Vida cristã, caminho de liberdade (5:13—6:10).
Conclusão (6:11-18).
▶ Efésios
▷ Título e conteúdo
O título desta epístola vem da ideia de que ela fora escrita para a
comunidade de crentes que residia em Éfeso, conforme as palavras
introdutórias do autor, aos “santos que estão em Éfeso”. Contudo,
as cópias mais antigas dessa carta não possuem tal expressão, o que
leva muitos a julgarem que se trata de uma mensagem direcionada
não especi camente a uma igreja apenas, mas a diversas
comunidades cristãs, incluindo a de Éfeso.
Esta carta tem como tema central o propósito eterno de Deus:
Jesus Cristo é o cabeça da Igreja, que é formada a partir de muitas
nações e raças.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 62 d.C.
▷ Localização
Provavelmente escrita da prisão domiciliar de Paulo em Roma.
▷ Característica literária
A carta é escrita em forma de homilia, mas usando o modelo de
epístola. Traz um tom pastoral e mais paterno que as cartas de
caráter apologético.
▷ Esboço
Apresentação (1:1-2).
▷ Título e conteúdo
Dirigida à comunidade de Filipos, esta carta não tem uma
estrutura teológica bem organizada como Romanos, mas trata de
alguns ensinos especiais colocados numa temática de relação
fraterna entre o apóstolo e a comunidade. A ênfase desta carta está
no gozo que o crente em Cristo encontra em todas as circunstâncias
da vida. Os acontecimentos dramáticos aos quais a epístola faz
referência são vistos por Paulo como uma fonte de esperança para o
anúncio de sua mensagem.
▷ Autor
Paulo.
▷ Data
A data de produção desta carta é disputada entre os especialistas,
alguns a colocam em torno de 55 d.C., enquanto outros a situam
num período mais tardio, entre 60 e 62 d.C.
▷ Localização
Imprecisa.
▷ Características literárias
A escrita é claramente epistolar, mas o que chama a atenção é
que na primeira parte Paulo escreve num estilo menos combativo.
Ele parece contente com aquilo que anuncia. Chama-nos também a
atenção os frequentes usos do caso genitivo, que indica posse ou
origem, e as frases são mais extensas que o normal.
▷ Esboço
Introdução (1:1-11).
Prisão de Paulo (1:12-26).
Deveres da comunidade (1:27—2:18).
Solicitude pela comunidade (2:19—3:1).
O apóstolo, modelo da comunidade (3:2—4:1).
Conclusão (4:2-23).
▶ Colossenses
▷ Título e conteúdo
Trata-se de uma carta preocupante que Paulo, já prisioneiro em
Roma, envia para os cristãos da cidade de Colossos devido às
notícias que recebera de que falsas doutrinas estavam sendo
ensinadas aos membros da comunidade fundada por Epafras,
provável discípulo de Paulo e que viajara até Roma para dar-lhe um
relatório do que estaria acontecendo à comunidade. A carta tem
como objetivo esclarecer pontos doutrinários divergentes e
combater os ensinos que estavam minando a fé original do
cristianismo.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 62 d.C.
▷ Localização
Roma.
▷ Características literárias
O tom da carta parece indicar que Paulo não os conhecera
pessoalmente, mas apenas ouvira falar a seu respeito. O estilo é
exortativo e catequético, ou seja, Paulo escreve da perspectiva de
um apóstolo investido de autoridade, que os conclama a
permanecerem rmes contra os ensinamentos que diferem
daqueles recebidos anteriormente por Epafras. A divindade de
Cristo é fortemente anunciada através de sua identi cação como
Senhor, Cabeça, Salvador e Criador de todas as coisas. Qualquer
doutrina que se afaste disso é denominada como “ loso a e vãs
sutilezas” dos homens (2:8).
▷ Esboço
Introdução (1:1-23).
O Evangelho de Paulo (1:24—2:5).
Fidelidade ao Evangelho (2:6-23).
Viver segundo o Evangelho (3:1—4:6).
Conclusão (4:7-18).
▶ 1 e 2Tessalonicenses
▷ Título e conteúdo
As duas cartas que levam esse nome foram endereçadas aos
cristãos da cidade de Tessalônica. São provavelmente os mais
antigos escritos do Novo Testamento, redigidas até mesmo antes
dos quatro evangelhos. Elas abrangem, de modo geral, instruções
doutrinárias às comunidades cristãs recém-formadas pelo trabalho
evangelístico de Paulo.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
A primeira carta foi escrita provavelmente em torno de 49 d.C. e
a segunda, cerca de um ano depois. Os que não reconhecem a
autenticidade da segunda epístola atribuem-na a uma produção
anônima posterior ao ano 70 d.C.
▷ Localização
Paulo as escreveu em Corinto.
▷ Características literárias
Na primeira epístola o tom é mais pastoral. Paulo escreve como
um pai preocupado com a sedução que o paganismo poderia ter
sobre seus lhos recém-nascidos na fé cristã. Em suas sentenças,
sobressaem a gratidão, o entusiasmo e a con ança que desejava
transmitir aos crentes.
A segunda tem um tom menos apaixonado. A iminência da volta
de Jesus que Paulo pregara anteriormente, e que aparece destacada
na primeira epístola, foi interpretada por muitos como
signi cando que o Senhor já havia voltado ou que, devido à sua
brevidade, era importante para aquela geração alcançar a volta de
Cristo em vida. Em outras palavras, os que morreram sem ver a
volta do Senhor estariam perdidos. Então, Paulo esclarece tais
pontos de desentendimento a rmando que a ressurreição faz parte
dos planos de Deus e que o Dia do Senhor, embora iminente, ainda
estaria no futuro.
▷ Esboço
1Tessalonicenses
2Tessalonicentes
Saudação (1:1-2).
Conforto na tribulação (1:3-12).
A volta de Cristo (2:1—3:5).
O perigo da ociosidade cristã (3:6-15).
Despedida (3:16-18).
▶ 1 e 2Timóteo
▷ Título e conteúdo
As duas cartas enviadas a Timóteo abrem uma seção chamada
“epístolas pastorais” de Paulo, mediante as quais se dirige a seus
auxiliares, nominalmente Timóteo e Tito, instruindo-os a como
dirigirem as igrejas. Paulo sentia que estava para morrer na mão
dos romanos e fazia planos para deixar substitutos cheios do
Espírito Santo, que pudessem dar continuidade a sua obra.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 62 d.C.
▷ Localização
Paulo escreve de sua prisão em Roma para Timóteo, que estaria
pastoreando as igrejas a partir da cidade de Éfeso.
▷ Características literárias
São duas cartas de cunho bastante fraternal e paterno. Paulo
insta Timóteo que não tenha medo, que não se acanhe por causa de
sua pouca idade e nem permita que alguém o rebaixe devido à sua
juventude. Também o orienta a ser el e a não dar margens para
que seu comportamento ou de qualquer outro líder macule a
missão da igreja. Ele também se despede e prepara o jovem pastor
para a sua (a de Paulo) breve morte, mas revisa a trajetória de sua
vida, puxando do arquivo de sua memória as di culdades e os
livramentos proporcionados por Deus. Finalmente, lembra que
todo esforço feito nesta vida redunda no recebimento da coroa da
vida eterna.
▷ Esboço
1Timóteo
2Timóteo
▶ Tito
▷ Título e conteúdo
Como as epístolas endereçadas a Timóteo, esta breve carta
instrui a Tito, outro discípulo de Paulo e líder no ministério da
Igreja Cristã. Tito é mencionado na Carta aos Gálatas (2:3), na qual
se lê que ele não foi obrigado a ser circuncidado quando se
converteu ao cristianismo. Ele também é mencionado em algumas
sentenças de 2Coríntios como um comprometido colaborador do
apóstolo Paulo.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca do ano 62 d.C.
▷ Localização
Paulo escreve de Roma para Tito, que estava na ilha de Creta.
▷ Características literárias
É muito parecida com 1Timóteo, talvez porque, à semelhança
daquela, Paulo também vê a necessidade de instruir Tito a como
liderar as igrejas cristãs da Ásia Menor, especialmente a
comunidade que ele presidia. A igreja estava se organizando e logo
surgiam os primeiros problemas de doutrina e unidade dos crentes.
▷ Esboço
Saudação (1:1-4).
Orientações a Tito (1:5-9).
Os falsos mestres (1:10-16).
A moral cristã (2:1-15).
Deveres sociais (3:1-11).
Recomendações nais (3:12-14).
Despedida (3:15).
▶ Filemon
▷ Título e conteúdo
A carta endereçada a um certo Filemon é de cunho único em
todo o conjunto de epístolas Paulinas. Não se trata de orientação
doutrinária ou pastoral, mas de um pedido de perdão que Paulo faz
em benefício de Onésimo, escravo fugitivo de Filemon e que agora
voltava para casa.
▷ Autor
Apóstolo Paulo.
▷ Data
Cerca de 60 ou 61 d.C.
▷ Localização
A carta foi escrita de um dos últimos cativeiros de Paulo, que
pode ter sido em Éfeso, Cesareia ou Roma. É destinada a Filemon,
que residia na cidade de Colosso.
▷ Características literárias
A carta não apresenta um escopo teológico, mas ético e
pragmático. É uma das mais breves epístolas de Paulo, escrita num
tom pessoal, a m de resolver um caso bastante especí co, a volta
de Onésimo a seu senhor.
▷ Esboço
Saudação (1-3).
Ação de graças com base na qualidade cristã de Filemon (4-
7).
Pedido em favor de Onésimo (8-11).
Saudações da parte de amigos de Paulo (23-24).
Bênção (25).
▶ Hebreus
▷ Título e conteúdo
Embora seja comumente denominada de Epístola de Paulo aos
Hebreus, há sérias dúvidas de que se trata realmente de uma
epístola direcionada aos hebreus ― termo este que seria uma
referência étnica aos antigos israelitas ou judeus, como são
comumente chamados no Novo Testamento. O conteúdo parece
mais com o de um sermão ou discurso pregado, se não por Paulo,
por alguém muito próximo dele, pois a essência teológica do texto é
claramente paulina.
Embora seja difícil de nir seus destinatários, o texto remete a
algum grupo judaico-cristão muito bem a nado com a linguagem e
liturgia do judaísmo, o que justi ca o título “aos hebreus”, ainda
que este tenha um cunho meramente metafórico.
▷ Autor
Os especialistas se dividem, havendo quem diga que o texto é de
Paulo ou de algum discípulo ligado a ele. De fato, há muito de Paulo
neste conteúdo. A estrutura mecânica da carta se assemelha a das
cartas de Paulo ― primeiro a discussão doutrinária, a seguir a
exortação;
Uma famosa coleção dos primeiros manuscritos de papiro do
Egito (início do terceiro século), conhecida como Papiro Chester
Beatty II, traz Hebreus entre as cartas paulinas.
Os mais importantes manuscritos unciais do quarto século, Álef,
Alexandrino, Vaticano e Efraimita, con rmam a autoria paulina. A
maioria dos pais da Igreja se posicionaram a favor de Paulo como o
autor de Hebreus, dentre eles temos Cirilo, João Crisóstomo,
Agostinho e Jerônimo.
▷ Data
A data exata é desconhecida, mas considerando a expressão “os
da Itália vos saúdam” (13:24), deve-se entender que ela foi produzida
em algum período em que a mensagem cristã já havia alcançado a
Europa e antes da destruição do Templo de Jerusalém, pois esta
parece referir-se ao santuário judeu como em pleno
funcionamento. Por isso, qualquer data entre os anos 60 d.C. é
relativamente plausível.
▷ Localização
Talvez em alguma região da Itália.
▷ Características literárias
O texto traz uma característica de discurso ou pregação
transcrita. O autor nunca escreve, mas sempre “fala”. Somente no
nal do texto é que temos uma despedida típica de epístolas. Por
isso, considera-se que estamos diante de um sermão anotado por
um escriba e direcionado a diferentes comunidades cristãs.
▷ Esboço
Prólogo (1:1-4).
A supremacia do Filho de Deus (1:5—2:18).
O sacerdócio do Filho de Deus (3:1—5:10).
O sacerdócio de Cristo (5:11—10:18).
A fé que opera e persevera (10:19—12:29).
Recomendações (13:1-25).
Bênção e saudação nal (13:20-25).
▶ Tiago
▷ Título e conteúdo
Com Tiago, inicia-se o ciclo das chamadas “epístolas universais”
ou “epístolas gerais”. Eusébio foi o primeiro a cunhá-las com o
título grego de katholie (católicas), cujo sentido seria exatamente o
de algo universal e, portanto, direcionado não a uma comunidade
especí ca, mas para todas as igrejas cristãs.
O título vem de seu autor e seu conteúdo versa sobre diferentes
temas que vão surgindo ao longo do texto. Fala-se de questões
básicas da vida cristã em comunidade, que seriam atitudes frente às
provações da vida, a verdadeira religião baseada na caridade, a
sabedoria que vem do alto, a ameaça aos avarentos, a paciência e a
constância cristã, o cuidado dos doentes e a complexa relação entre
fé e obras.
▷ Autor
O autor, ao que tudo indica, era um Tiago conhecido da igreja.
Ele se identi ca apenas como “servo de Deus e de Jesus Cristo”.
Vários Tiagos são mencionados no Novo Testamento, e todos, em
princípio, parecem ter chances iguais de ser o autor da epístola.
Contudo, a maioria dos comentaristas o identi ca como sendo
Tiago “irmão de Jesus” e presidente da igreja em Jerusalém. Esta
parece ser a melhor hipótese.
▷ Data
A data de produção desta epístola é tema de grande controvérsia.
Muitos autores a colocam por volta do ano 45 d.C., ou da
perseguição de Cláudio, entre 50 d.C. e 52 d.C. E há também os que a
colocam como posterior ao ano 70 d.C., sendo a diáspora referida
àquela que se seguiu à destruição de Jerusalém pelos romanos.
▷ Localização
Alguns autores pensam que seria Jerusalém o lugar de produção
da epístola. Outros a colocam como oriunda de Roma, Antioquia,
Cesareia ou Alexandria.
▷ Características literárias
A carta possui um grego muito bem redigido em pé de igualdade
com o livro de Hebreus. Nele, há elementos de retórica grega e
citações de prováveis ditos de Cristo não encontrados em outras
partes do Novo Testamento. O autor também lança mão da diatribe
cínico-estoica, pequenos diálogos com um interlocutor imaginário
(2:18-19), perguntas retóricas (2:4, 5b, 14,16; 3:11-12; 4:4-5) e
interpelações incisivas (1:16,19; 4:13; 5:1). Contudo, se o argumento
nal não é grego, mas semítico, o ensinamento é claramente
cristão.
Os temas, no entanto, não aparecem na ordem de um tratado
teológico, como no caso de Hebreus. Sua organização é delineada a
partir de um diálogo ou argumentação imaginária que faz com que
os assuntos tratados surjam espontaneamente, mas não de modo
improvisado. O autor sabe muito bem a que temas sapienciais
pretende conduzir o leitor e os esmiúça com o rigor de um escriba
judeu que transita com facilidade entre os modos gregos e rabínicos
de argumentação.
▷ Esboço
A atitude cristã perante as provações (1:1—2:25).
A verdadeira religião (1: 26—3:12).
A verdadeira sabedoria (3:13—4:12).
Ameaças dos ricos opressores (4:13—5:6).
Advertências nais (5:7-20).
▶ 1 e 2Pedro
▷ Título e conteúdo
As duas cartas são atribuídas tradicionalmente a Pedro, mas
muitos atualmente lançam dúvida sobre a autoria petrina de ambos
os textos. O primeiro é autodenominado como sendo uma carta de
Pedro (1:1), por meio de seu secretário Silvano (5:12). Seu conteúdo
gira em torno de uma severa perseguição à Igreja e é escrita para
cristãos perseguidos que são instados a não perderem a fé. A
segunda carta, bem diferente do estilo da primeira, evoca a
iminente morte do autor (1:14), suas memórias e uma visão que teve
da glória de Cristo no dia de seu batismo (1:17). Também traz uma
admoestação contra os falsos ensinos e menciona heresias
destruidoras que ameaçavam a unidade da igreja.
▷ Autor
A tradição longamente aponta Pedro como o autor de ambas as
cartas que levam o seu nome.
▷ Data
Em algum período em torno do ano 60 d.C.
▷ Localização
De Roma para os cristãos espalhados por todo o território
daquele império.
▷ Características literárias
O estilo de ambas é claramente epistolar. A primeira carta é mais
pastoral e animadora, a segunda tem um tom mais apologético. A
primeira tem uma elegância e estilo comparável ao de Tiago, mas a
segunda é redigida de modo mais simplório. As duas juntas têm
muitos pontos de contato com outras partes do Novo Testamento,
especialmente as epístolas de Paulo e Tiago. Contudo, a relação não
constitui dependência literária de em relação à outra, mas apelo à
fonte comum que era a do ensino apostólico cristão.
▷ Esboço
1Pedro
Saudação (1:1-12).
Exortação à santidade (1:13—2:10).
Os cristãos perante o mundo (2:11—3:12).
Os cristãos perante o sofrimento (3:13—4:11).
Últimas exortações (4:12—5:14).
2Pedro
Saudação (1:1-2).
Exortação à perseverança na fé (1:3-21).
Denúncia dos falsos mestres (2:1-22).
A segunda vinda do Senhor (3:1-16).
Despedida (3:17-18).
▶ 1, 2 e 3João
▷ Título e conteúdo
Aqui temos o conjunto de três cartas tradicionalmente
atribuídas ao apóstolo João. A primeira destina-se a uma
comunidade cristã minada por algum tipo de heresia gnóstica, que
parecia ter surgido dentro de algum grupo de ex-membros e que
agora ameaçavam a unidade da Igreja. Talvez por isso o termo
grego koinonia (comunidade) seja uma palavra essencial na
argumentação do autor.
Na segunda carta, o autor, que se autodenomina “o ancião”,
previne a “senhora eleita” (uma líder local ou uma metáfora para
designar a comunidade como um todo) contra a in ltração dos
dissidentes. Para tanto, ele insta no mandamento do amor e na
unidade doutrinária como forma de combater os hereges.
Finalmente, fala da cristologia e os pontos que estavam sendo
distorcidos.
Finalmente, a terceira carta é direcionada a Gaio,
recomendando-lhe a hospitalidade a um grupo de missionários
liderados por Demétrio e que chegariam até sua cidade. Ela
também o encoraja a advertir contra um certo Diótrefes que se
opusera à liderança do ancião que escreve aquela epístola.
▷ Autor
João, muito provavelmente o discípulo amado e apóstolo de
Cristo, embora alguns autores pensem que seria outro ancião de
mesmo nome do apóstolo.
▷ Data
Em torno do ano 90 d.C.
▷ Localização
Provavelmente, as epístolas foram escritas da cidade de Éfeso.
▷ Características literárias
As cartas têm um caráter fortemente doutrinário e apologético.
Preocupa-se também com o lado prático das admoestações ao
direcionar como as coisas deveriam ser geridas nas comunidades
cristãs, bem como quem estava ou não autorizado a ensinar em
nome dos apóstolos.
▷ Esboço
1João
A encarnação (1:1-10).
A vida de justiça (2:1-29).
A vida dos lhos de Deus (3:1—4:6).
A fonte do amor (4:7-21).
O triunfo da justiça (5:1-5).
A garantia da vida eterna (5:6-12).
Certezas cristãs (5:13-21).
2João
Introdução (1-3).
Elogio pela lealdade passada (4).
Exortações (5-11).
Conclusão (12-13).
3João
Saudação (1).
Mensagem a Gaio (2-8).
Condenação à arrogância de Diótrefes (9-11).
Elogio a Demétrio (12).
Conclusão (13-14).
▶ Judas
▷ Título e conteúdo
A epístola que leva o nome de Judas é tão pequena e destituída
de elementos formais de uma epístola comum que muitos a
reputam por folha anti-herética ou bilhete de urgência enviado às
igrejas com o m de preveni-las dos mesmos perigos apontados nas
cartas de Tiago e João, a saber, forças dissidentes que haviam
adentrado na Igreja Cristã primitiva.
▷ Autor
O Novo Testamento fala efetivamente de “Tiago e Judas” entre
os irmãos do Senhor (Marcos 6:3), assim, alguns pensam que este
deveria ser um ponto de referência para a identi cação desse Judas.
Embora esta pareça uma identi cação razoável, devemos lembrar
que a identi cação do Tiago da epístola com o irmão de Cristo é
hipotética. Seja como for, esse Judas se identi ca como “servo de
Jesus Cristo” (como na epístola de Tiago) e “irmão de Tiago”. O que
corrobora não com a certeza, mas com a possibilidade de que seria o
mesmo Judas mencionado em Marcos 6:3.
▷ Data
Este é um dos textos do Novo Testamento mais difícil de datar.
Os comentaristas o colocam em qualquer período entre os anos 50
d.C. e 90 d.C.
▷ Localização
Inde nida.
▷ Características literárias
Um dos problemas em aberto com relação a Judas é que, por um
lado, ela não é uma verdadeira carta, como Romanos ou Gálatas —
faltam elementos pessoais entre o remetente e os destinatários. Por
outro lado, porém, não é um tratado como Hebreus. Alguns
biblistas a classi cam como uma “folha volante anti-herética”, o
que combina com seu conteúdo. Quanto à classi cação epistolar,
devemos levar em conta que nem todas as cartas precisavam ter
todo o conteúdo formal das principais epístolas de Paulo. Algumas
missivas de guerra (como as óstracas ou as cartas de Amarna) têm
características de bilhetes que denotam sua urgência ou o
aproveitamento de um viajante que se dispõe a levar a mensagem.
Note que a epístola assume bem esse caráter de urgência em
meio a uma guerra espiritual. O autor apresenta uma situação
difícil, criada pela intromissão de pessoas subversivas na
comunidade e centraliza suas linhas na denúncia dos erros que
motivaram o escândalo. A comparação com erros do passado nos dá
a entender que se tratavam de pessoas (talvez cristãos gnósticos)
que pretendiam ter uma vida licenciosa baseados na crença de que
eram especiais por causa do conhecimento que possuíam (isso nos
lembra bastante o m da epístola de 2Pedro).
▷ Esboço
Saudação (1-2)
I. Advertência contra os falsos mestres dentro da comunidade
(3-19)
Manter a fé (20-21).
Resgatar os enganados (22-23).
Doxologia (24-25).
▶ Apocalipse
▷ Título e conteúdo
O Apocalipse, ou ainda, Apocalipse de João, é o título de um tipo
especí co de literatura profética vista no Antigo Testamento e aqui
no último livro do Novo Testamento. Conforme a tradução do
grego, Apocalipse signi ca “revelação”, e é este o conteúdo da
profecia uma revelação dada por Jesus Cristo acerca de si mesmo,
dos acontecimentos futuros e do destino nal deste mundo.
O conteúdo é bastante simbólico e um dos mais difíceis de se
decifrar em toda a Escritura. Fala da luta entre o bem e o mal,
dramatizada em forma de animais monstruosos que saem do mar e
da terra, de anjos que voam pelo meio do céu e eventos
cataclísmicos que atingem a natureza. Em meio a tudo isso estão
acontecimentos reais no céu e na terra simbolizados pelos
elementos literários que o livro utiliza para transmitir sua
mensagem de conforto e advertência.
▷ Autor
Há muita polêmica entre os comentaristas sobre quem seria esse
João que assina o livro. A tradição mais antiga do cristianismo o
tem identi cado com o apóstolo João, também chamado “o
discípulo amado”, que seria o último dos apóstolos a estar com vida
no nal do primeiro século da nossa era.
▷ Data
Acredita-se que o Apocalipse tenha sido composto entre os anos
90 e 96 d.C.
▷ Localização
Ilha de Patmos.
▷ Características literárias
Trata-se de um texto repleto de símbolos e imagens surreais que
apontam para realidades históricas e supraterrenas. Ele toma por
paradigma literário quatro elementos típicos desse tipo de
literatura: uma revelação que é dada por Deus; a transmissão que é
dada por um mediador, o vidente que recebe a mensagem, e os
temas que dizem respeito ao passado, presente e futuro do povo de
Deus.
▷ Esboço
Introdução (1:1-20).
As sete Igrejas (2:1—3:22).
O Trono de Deus-Pai e do Cordeiro (4:1—5:14).
Os seis primeiros selos (6:1-17).
Os 144 mil selados/multidão (7:1-17).
O sétimo selo: sete trombetas/interlúdio — o anjo com o
livrinho e as duas testemunhas (8:1—11:19).
O dragão e a mulher (12:1-12).
O dragão, a mulher e as bestas (12:13—13:18).
Os 144 mil selados/os seis anjos/multidão (14:1-20).
Um outro sinal: sete pragas/julgamento de Babilônia (15:1—
18:24).
As Bodas do Cordeiro/a volta de Cristo/Milênio (19:1—20:15).
A Nova Jerusalém (21:1—22:5).
Conclusão (22:6-21).
113 A palavra “católica”, embora hoje designe o nome do maior ramo eclesiástico do
cristianismo, tinha outro sentido no passado. Ela vem do grego katholikós. É esse o sentido
usado em relação às epístolas não paulinas do Novo Testamento.
114 Os esboços aqui apresentados são adaptados de múltiplas fontes e representam apenas
uma tentativa de delineamento do livro. Não se trata, portanto, de uma sistematização
exata ou uniforme em todas as Bíblias. Variações de esboço são muito comuns neste
sentido.
115 Etã, o ezraíta (Salmos 89) — este Etã é associado a um certo Hermã, entre os cantores de
Davi (1Cr 15:17-19), mas também há referências a um Etã entre os sábios de Israel (1Reis
4:31).
CAPÍTULO DEZOITO
FATOS E CURIOSIDADES
BÍBLICAS
1 Nisã (ou Aviv) Êxodo 12:2; 23:15; Neemias 2:1; Ester 3:7 março-abril
2 Lyar (ou Zive) 1Reis 6: abril-maio
3 Sivã Ester 8:9 maio-junho
4 Tamuz Ezequiel 8:14 junho-julho
5 Abe (ou Av) 2Reis 25:8; Números 33:38 julho-agosto
6 Elul Neemias 6:15 agosto-setembro
7 Tisri (ou Etanim) 1Reis 8:2; Levítico 23:24; Neemias 8:13, setembro-outubro
14:16
8 Heshvan (ou Bul) 1Reis 6:38 outubro-novembro
▷ Medidas
I. Medidas de comprimento
Alqueire
Do árabe alkail, medida equivalente ao módio dos romanos. As
citações dos Evangelhos de Mateus 5:15, Marcos 4:21 e Lucas 11:33
referem-se especialmente à vasilha com tal capacidade, que servia
para medir os cereais.
Bato
Uma medida hebreia de capacidade usada para medir líquidos
(2Reis 7:26,38; 2Crônicas 2:10; 4:5; Esdras 7:22). A décima parte de
um ômer, correspondendo em volume ao efa, uma medida de
capacidade para secos (Ezequiel 45:10,11,14). Medida padrão
equivalente em volume ao efa, ao almude e à metreta, 32 litros.
Cabo
Uma medida hebreia para sólidos, contendo, de acordo com a
tradição rabínica, um sexto de um módio ou uma centésima
octogésima parte de um ômer (1 litro e 778 mL).
Coro ou ômer
[Um montão]. Uma medida para substâncias líquidas e sólidas.
Equivale a dez batos ou efas (Ezequiel 45:11,14) ou 100 ômeres (320
litros) (Êxodo 16:36).
Efa ou e
[Derivado talvez de uma antiga medida egípcia denominada
oiphi]. Uma medida de capacidade contendo 10 ômeres (Êxodo
16:36), e usada para artigos como farinha (Juízes 6:19) ou cevada
(Rute 2:17). Era equivalente a um bato ou uma décima parte de um
coro (Ezequiel 45:11,14), e continha uma metreta ática ou setenta e
dois sextários (logues). (Antig. 8. 2, 9; 9.4,5; e 15.9,2, onde leia-se
metretas para medimnoi)
Comerciantes desonestos às vezes possuíam um efa de
capacidade insu ciente e usavam-no para fraudar (Amós 8:5). (As
medidas efa, bato, alamude e metreta são da mesma capacidade, 32
litros)
Him ou Hin
Uma medida líquida hebraica, contendo mais ou menos um
galão e três quartos (6 litros e 623 mL, quase 1/5 do efa) (Êxodo
29:40).
Ômer ou Gômer ou Gomor
Uma medida para substâncias secas. Contendo a décima parte
do bato ou efa (3,2 litros) (Êxodo 16:36).
20 geras = 1 shekel.
50 shekeis = 1 mane.
60 manes = 1 talento.
Narrativo/histórico.
Legislativo.
Sapiencial.
Profético.
Cânticos.
Evangelho.
Epistolar.
Apocalíptico.
Trata de fatos reais, sendo que, às É toda enigmática e codificada. A realidade é escondida em
vezes, usa parábolas e gestos figuras e códigos.
simbólicos.
Expressa mais a Palavra de Deus que Expressa mais visões dos atos que as Palavras de Deus (Ex. “vi e
uma visão (Ex. “Assim diz o Senhor”). ouvi”).
Tem uma visão otimista do mundo. Tem uma visão catastrófica do mundo. É dualista e só acredita
Diz que se o povo for fiel, as bênçãos numa restauração escatológica.
existentes neste planeta serão
derramadas sobre eles sem medida.
116 Baseado no Novo Dicionário da Bíblia de John Davis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ackroyd, P.R.; Evans, C.F., eds. The Cambridge History of the Bible
[História da Bíblia]. Cambridge University Press, 1970.
Beal, Timothy. The Rise and Fall of the Bible; The Unexpected History
of an Accidental Book [O nascimento e a queda da Bíblia: a História
inesperada de um livro accidental]. Nova Iorque : Houghton
Mi in Harcourt, 2011.
Green, Joel B., ed. Hearing the New Testament: Strategies for
Interpretation [Ouvindo o Novo Testamento: estratégias para
interpretação]. Grand Rapids: Eerdmans, 1995.
Schroeder, H.J. The Canons and Decrees of the Council of Trent [Os
cânones e decretos do Concílio de Trento]. Charlotte: TAN
Books, 1978.