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Enciclopédia
Histórica da
Vida de
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ENCICLOPÉDIA HISTÓRICA DA VIDA DE
JESUS
Expediente
E d ito r
C ris tia n M u n iz
Revisão
A n a P au la R ib e iro
Capa
R afael C a rv a lh o
17-05187 CDD-232.903
JESUS
RODRIGO SILVA
Prefácio
C onheço o autor desde década de 1990. R odrigo Pereira da Silva sem pre
foi dedicado pesquisador das Escrituras Sagradas, com viés para a área ar-
queológica, da qual é D outor, pela U niversidade de São Paulo. Tive o pri-
vilégio de com por a banca que o declarou D outor, após sua tese ter sido
aprovada p o r unanim idade.
C ertam ente sua obra Enciclopédia Histórica da Vida de Jesus é um a grande
contribuição aos leitores interessados em conhecer m elhor a Bíblia Sagra-
da e ver com o a A rqueologia tem contribuído para um a m elhor com preen-
são desse livro, em cujas páginas se encontra delineado o plano da salvação
de Deus para o ser hum ano, através de vida e obra do Senhor Jesus Cristo.
Ozeas C. Moura
D outor em Teologia Bíblica, pela PUC - RJ
xdução
O Fam oso escritor e filósofo B ertrand Russell foi, sem dúvida, um dos
m aiores opositores à existência de Deus e relevância do cristianism o. Em
seu livro “Por que não sou C ristão”, lançado em 1927 ele foi taxativo em
dizer que era praticam ente nula a chance de Jesus ter existido. Sendo assim,
não via porque p erder tem po com um personagem cujas características,
em sua opinião, eram pueris e questionáveis.
A filosofia pode existir sem Sócrates e poesia pode existir sem Carlos
D rum m ond de A ndrade, m as o cristianism o não terá sentido se Jesus for
fictício. Ele é a razão de nossa fé e o m otivo de nossa esperança. Por isso
revelo m eu sentim ento de alegria e reverência ao apresentar ao público
essa enciclopédia história da vida de Jesus.
A Escócia fo i, no início do
século XX, p io n eira de um mo-
" 0 estudo revela que 0 to ta l de pessoas v im e n to m issio n á rio de alcance
que se consideram crentes é, na verdade, m undial. H oje, porém , 0 percen-
alto. E com a crescente te ndê ncia global de tu a l de cristã o s caiu para pouco
uma ju ve n tu d e re ligiosa, podem os assum ir m ais de 55% e, a cada ano, d im i-
que 0 núm ero de crentes contin uará aum en- nui em pelo m enos 1 %. Há m uita
ta n d o ", diz J e a n -M a rc Leger, p residente da incerteza e n tre os m em bros da
W IN /G a llu p In te rnationa l. igreja. Nas igrejas p ro te sta n te s
(evangélicas), 23% dos e n tre vis-
tados disseram não a cre d ita r que
Je sus fo i alguém real, enquanto
14% dos m em bros da Igreja Ca-
tó lic a pensam 0 m esm o.
C ontudo, algumas situações dem onstram que
existe um hiato entre o que a m aioria diz crer e o que
eles, de fato, conhecem sobre essa crença.
História da fé
A com preensão mais com um ente aceita entre cris-
tãos acerca de Jesus é que este seria 0 filho de Deus
em form a hum ana e teria um a natureza divina. Assim
declara o antigo credo apostólico, cujas origens são
desde o final do I ou II século d.C.;
Mudança de rumo
As m udanças de perspectiva sobre a figura de Jesus
com eçaram no século XVIII, quando os tem pos da
certeza confessional deram lugar a um a nova época
de questionam entos racionais à fé. V ários pensadores
com eçaram a duvidar das declarações tradicionais da
Teologia. Os critérios desta vez eram m odernam ente
mais racionalistas e baseavam sua argum entação na
m etodologia histórica até então jamais usada para
descobrir algo a respeito da fé. Sabia-se pelo credo
e pelos evangelhos que Jesus veio ao m undo de um a
form a sobre-hum ana, que pregou o am or e realizou
m ilagres. Depois foi m orto na cruz, ressuscitou ao
terceiro dia e subiu aos céus, deixando a certeza de
que vai voltar, trazendo consigo o juízo final sobre
os hom ens.
Δ α. ב..™λ
O
c.
Você Sabia?
A palavra “desescatologização”vem de es-
chathon, um adjetivo grego para se referir às
realidades últimas. Assim os teólogosfalam de
escatologia individual para se referir ao que
acontece a cada um depois de sua morte e escatolo-
gia geral ou coletiva para se referir àquele evento
último para onde apontam todos os acontecimen-
tos da história: a segunda vinda de Cristo, seguida O que antes era chamado de "pax rom ana” passou a
do Juízo final. Desescatologização, portanto, é a
ser agora a “pax ecclesiae” (paz da Igreja), a qual se apre-
perda de interesse na esperança cristã da segunda
sentou para o m undo como um sistema único de legi-
vinda de Cristo.
timação do poder eclesiástico dentro e fora da Europa.
־Grrfc
"A Igreja dos m ártires recebe
férias de m artírio. A am eaça perm a-
nente de te r de te stem unh ar com a
ü m novo cristianismo
vida a própria fé a cada m om ento
e por isso a necessidade de uma { I
Com o se deu a desescatologização do cristianism o?
vig ilâ n cia escatológica de to ta l de-
E preciso esclarecer que esse processo não significou
sapego afasta-se com a pax cons-
um a perda total da dim ensão escatológica da Igreja,
ta n tin ia n a . A Igreja troca as cata-
m as um a dim inuição do clima de im inente expectati-
cum bas pelos palácios. Com isso,
va ou até m esm o anseio pelo final dos tem pos. E que
a proxim idade im inente da Parusia
com a cham ada “conversão de C onstantino” a Igre-
[i.e. a V olta de C risto] já não se faz
ja de R om a ganhou um espaço que antes não tinha.
nenhum desejo ardente. A ta re fa é
Depois acentuou ainda mais sua instalação no m un-
a construção da Cidade de Deus na
do do poder, quando se to rn o u , no século VI d.C., a
te rra ." João B atista Libânio6
autoridade m áxim a de toda a cristandade e de todo
continente europeu.
As expectativas, p o rtan to , deixaram de se estender
para o futuro final. Não se vislum brava m uita coisa
depois do “daqui a pouco ’. A h istória era um a coleção
de eventos passados e presentes sem, nenhum a rela-
ção com o p o rv ir predito po r Deus.
O
j
Fato im portante
A Revolução Francesa que se instaurou na
Europa fo i fruto do discurso de intelectuais
contrários à religião, que motivaram 0povo a
expurgar por completo a imagem traumati-
zante de Deus que por séculos lhesfo i imposta.
A modernidade rejeitou as caricaturas de Deus
juntamente com as verdades bíblicas acerca de
Cristo e o tem p o sua pessoa. Terminaram negando importantes
conceitos revelados por Deus, inclusive sua
própria existência e sua revelação por
A acom odação gradual da Igreja, som ada às dispu-
intermédio de Jesus Cristo.
tas teológicas com a R eform a P rotestante a p artir do
século XVI, fizeram com que o interesse pelo Juízo ר
O
Final e pelos dogm as de fé perdesse sua im portância.
־ס־ם־
A própria R eform a Protestante com eçou a dar mais
prioridade a assuntos sociais e políticos (especial-
m ente na Suíça e A lem anha) que aos tem as bíblicos
A sociedade com eçou a respirar um a nova m oda-
relacionados ao fim do m undo.
lidade de interpretação da história que ecoava aque-
O futuro passou'a ser apenas um cam po de pro- les ideais escatológicos perdidos pela Igreja, p orém
babilidades, e o presente, um espaço para o controle sem a base bíblica que os sustentava. O horizonte era
do Estado absolutista. O passado era a tradição, isto prom issor, mas não havia n enhum Deus lá na frente.
é, um a form a histórica de legitim ar o poder de quem As pessoas passaram a ter um a percepção otim ista da
atuava no presente, a saber, o clero e a m onarquia realidade, destituída da noção de providência divina.
Foi-se a terrível Idade M édia e o futuro não seria ape-
com seus senhores feudais. Os eventos não eram mais
nas novo, seria m elhor.
articulados à providência divina, mas a um em ara-
nhado de possibilidades atreladas exclusivamente à E quanto ao passado? Bem, esse agora não era visto
ação política dos hom ens. C risto não era mais o se- mais com o argum entos para legitim ação de um con-
n h o r da H istória. ceito. A tradição estava sob suspeita, ninguém queria
v oltar à Idade das Trevas. O futuro era prom issor e E ntão um novo conceito surgiu: o term o Historie
o passado som brio. O que se foi tin h a de ser analisa- voltou a ser usado para designar o fato literal, ocorri-
do com cuidado, não só para desm ascarar as m enti- do. Geschichte seria a interpretação posterior, rom an-
ras que foram contadas, mas tam bém para im pedir o ceada, que, em bora não precise ser necessariam ente
reto rn o daquilo que consideravam lendas. A história um "engodo”, estaria longe de um a descrição exata do
tradicional de Jesus era alistada entre os antigos m itos que realm ente ocorreu. E um m ito, um exagero que
a serem evitados. nada tem a ver com a realidade dos fatos.
^ 3 E sc á tu rz? C r
e m ih x fn í:‘ ^ Á[ P J ® £ 0 - . ;·״ ־׳:
Para os escritores liberais da Alemanha, haveria um tória de Jesus. Seu nom e era H erm an Samuel Reim a-
Jesus histórico (que realmente existiu) e um Cristo da rus (1694-1768), um professor de línguas O rientais
fé (criado e m antido pela Igreja ao longo dos anos). Se- na cidade de H am burgo. Influenciado pelo deísm o in-
parar ambos era a tarefa principal de sua teologia. glês, ele não acreditava que Deus estivesse intervindo
nos negócios deste m undo. Sendo assim, a pregação
Porém , antes de eclodir a Revolução Francesa ou evangélica tradicional de um Deus encarnado, que
de K ãhler publicar suas ideias acerca de um Jesus his- e n tro u na história dos hom ens e possibilitou a salva-
tórico e outro historiai, houve pelo m enos um autor ção da hum anidade m ediante sua p rópria m orte na
que preconizou os ventos da dúvida ao tra tar da his- cruz, não fazia o m enor sentido.
□־s a q u e m
xado.
[venturaflÇ3
1te, ou
Um missionário descrente
Albert Schweitzer (1875-1965) destacou-se por
produzir um resum o crítico de todas as principais teo-
rias sobre o Jesus histórico levantadas desde Reimarus
até W rede. O riginalm ente publicado em 1906, seu li-
vro teve com o título De Reimarus a Wrede, uma Histó-
ria da Investigação sobre a Vida de Jesus (von Reimarus zu
Wrede: Geschichte derLeben Jesu-Forschung).
Fato im portante
Apesar de não acreditar na historicidade de
Cristo, Schweitzer dizia admirar esta figura
lendária chamada Jesus e procurava fazer dela
seu próprio modelo de vida. Jesus, para ele, fo i
um homem virtuoso por não desistir de sua cren-
ça mesmo em face da morte e da não realização
de seus planos. Além disso, fo i coerente com 0
que falou, não negando sua mensagem diante
dos líderes que estavampara condená-lo.
c ר
d 0
r f f y 77ri- ^ ־...... ............................---------- — ^־־f 1. סn1״
P
ג
Você sabia?
Embora movesse de íntima compaixão pelos As conclusões do Jesus Sem inar diferem m uito do
nativos da Africa, Albert Schweitzer considera- que a quase totalidade das denom inações cristãs acre-
να-os “infantis"por manterem suafe' religiosa dita. Seus m em bros não creem na inspiração bíblica,
mesmo em face aos piores sofrimentos. Para ele n a historicidade dos m ilagres de C risto e na sua m or-
religião era apenas um movimento e'tico-social te expiatória enquanto filho de Deus. Em bora creiam
para preservação da vida, nada mais. que os evangelhos contêm verdades históricas, ape-
Fontes judaicas
* Flávio Josefo (37/8 - 100 A.D.?) - A p a rtir do
século XVI, m uitos autores colocaram em dúvida a
autenticidade destes parágrafos que, se pertencentes
à obra, datariam do ano 93/4 A.D. Alguns mais cépti-
cos tentam argum entar que estas partes seriam inter-
polações feitas posteriorm ente p o r escribas cristãos
0 martírio cristão. que viviam enclausurados em m osteiros produzindo
cópias de m anuscritos.
C ontudo, vários especialistas hoje advogam a au-
tenticidade da m aior parte do trecho. Todas as tradu-
ções mais antigas e todos os m anuscritos gregos de
Josefo (desde os m elhores até os m enos confiáveis)
trazem , com pequenas variações, o conteúdo deste
ואי * - - - ח ן
SJ4
ע ל ״ פ נ י י ל
tex to 11. A versão abaixo é a mais aceita p o r grande ! ד ו ו 0 *׳ ל ״י, י ,״ · י
parte dos acadêmicos:
׳צרס״דם כ ח־ סדר
HiíÉSl
Uma caixa controversa
Ομαηάο Matai fo i trazido [perante a corte] ele lhes disse
; os juizes]: Matai deverá ser executado? Pois está escrito: Os judeus do século I costum avam guardar ossos de
Quando [hb. Matai] eu virei e aparecerei perante D ’us? (SI seus ancestrais dentro de caixas de pedra chamadas os-
43.3). Im ediatam ente ele replicou: Sim, M atai será suários e depositá-las em túm ulos da família feitos nas
executado, pois está escrito. Q uando [Matai] m orrer, rochas. Essas caixas costum avam trazer um a inscrição
seu nom e perecerá (SI 41:6). (Sanhedrin 43a) tum ular que identificava os restos m ortais daquele que
estava ali sepultado. Um ossuário em especial trazia os
H a. seguintes dizeres grafados em aramaico - um a língua
próxim a ao hebraico e largam ente falada nos tem pos
de Cristo: “Tiago, filho de José, irm ão de Jesus.”
Você sabia?
Q uem prim eiro anunciou essa descoberta foi o pa-
A existência histórica de Jesus de Nazaré
não é defendida apenas por cristãos piedo- leógrafo A ndré Lam aire13. Ele cham ou a atenção para
sos. N a verdade é praticamente um consenso o fato de que a expressão “Tiago, filho de José” pode-
entre os historiadores de que Jesus existiu ria não indicar m uita coisa, pois era a fórm ula com um
defato no século I de nossa era. Até mesmo daqueles dias (“fulano, filho de sicrano”). C ontudo, o
acadêmicos ateus e agnósticos como Bart com plem ento “irm ão de Jesus” seria algo com pleta-
Ehrman, Maurice Casey e Paula Fredri- m ente inédito pois não se colocava o nom e de outro
ksen ou ainda judeus como Geza Vermes e parente além do pró p rio pai. A m enos, raciocinou
HyamMaccoby defendem a historicidade Lam aire, que esse parente fosse fam oso o bastante
do fundador do cristianismo. O para m erecer tal destaque.
ר
ô Daí o que se seguiu foi um jogo de probabilida-
C'O'TU des com binadas. Qual a chance m atem ática de haver
dois Tiagos na Jerusalém do século I que teriam um -CL2l -C-0-4-P
pai cham ado José e um irm ão fam oso cham ado Je- Q
c
sus? Praticam ente nenhum a. Logo, cogitou-se a forte Fato importante:
possibilidade de ser este Tiago o m esm o m encionado c
“Diremos que a história do Evangelho fo i
em M ateus 13:55 e M arcos 6:3. Ou seja, o irm ão do
inventada por prazer?Meu amigo, não é
Salvador que se to rn o u um dos prim eiros líderes da
assim que se inventa... Nunca os autores
Igreja após a ressurreição de Cristo. judeus teriam encontrado nem esse tom nem
essa moral. Os Evangelhos têm traços de
A favor desta identificação há o fato de que Josefo
verdade tão grandes, tão impressionantes, tão
tam bém m enciona Tiago com o irm ão de Jesus em sua
perfeitamente inimitáveis, que seu inventor
obra historiográfica acerca dos judeus. Hoje a questão
seria mais espantoso do que 0 herói Contu-
está dividida nas seguintes teorias. Para uns, tudo não do, esses mesmos Evangelhos estão cheio de
passa de um a grosseira falsificação feita p o r algum coisas incríveis queferem a razão. Coisas
com erciante de antiguidades, para outros, o ossuário que 0homem comum não pode conceber e nem
seria verdadeiro, mas a inscrição não. O utros ainda c admitir.”Jean Jacques Rousseau
pensam que a prim eira parte, “Tiago filho de José”, C
seria verdadeira, enquanto a segunda, “irm ão de Je- O . ־t n y r a
T73־
sus” seria falsa. E há tam bém os que julgam a peça
genuína em todos os aspectos.
Aspectos físicos da terra
Estudos futuros poderão ilum inar m elhor a ques-
tão ou deixá-la ainda em aberto, um a vez que questões
de Jesus
políticas e judiciais tam bém fizeram parte do episódio.
Por outro lado, ainda que não se possa afirm ar para Ao estudar a narrativa dos Evangelhos, o leitor m o-
longe de qualquer dúvida a autenticidade deste artefa- derno pode perceber a ênfase e a perspectiva geográ-
to, já existem elem entos suficientes para apontar Jesus fica dos autores ao apresentar a vida e obras de Jesus.
como um a legítim a personalidade histórica. Os textos fazem constantes referências tanto a lugares
J Você sabia? c
O caso do ossuário deTiagofoi parar nos
tribunais e vários artefatos foram levados a
juízo. Finalmente, no dia 14 de março de 2012,
0juizÁaronFarkash da suprema corte de
Jerusalém, que também tinha graduação em
arqueologia, declarou numa sentença oficial
que “não há evidência alguma de que qualquer
destes principais artefatos [incluindo 0 ossuá-
rio de T iago] foram forjados, e a promotoria
não conseguiu provar que suas acusações pode-
riam ir além de uma razoável dúvida".
c ר
q o Caixa de pedra contendo os ossos de Tiago;
-j-4____ Q Γ— — —*־ -
para alguns, 0 irmão de Jesus Cristo.
ü ׳í ״g j í ■z z ~ : ..... — ............. 0 0כח־־
imediatos - beira-m ar, alto da m ontanha, interior de um a casa - quanto a territórios mais amplos - as regiões de
T iro e Sidon, as bandas de Cesareia de Filipe, o deserto da Judeia.
Demarcações geográficas
A superfície da ״terra de Jesus” variou consideravelm ente no decorrer dos séculos, ora sendo mais extensa -
com o nos dias de Davi e Salomão - , ora mais reduzida, especialm ente quando atacada p o r povos estrangeiros
como assírios, babilônios, gregos e rom anos.
E não se pode deixar de anotar a ru p tu ra in tern a ocorrida após a m orte de Salomão, que dividiu as 12 tribos
em R eino do N o rte e R eino do Sul - um a rivalidade que deixou m uitas conseqüências.
De m odo geral, mas não uniform e, pode-se dizer que estes seriam os lim ites geográficos aproxim ados da
terra dos judeus nos dias de Jesus:
T udo começa com um a viagem de N azaré para M as esses lim ites geográficos da atuação de Jesus
Belém, onde nasce o m enino Jesus. A seguir ele é le- tornam -se secundários se com parados ao alcance pos-
vado em fuga para o Egito. D epois aparecem em cena terio r de seus ensinos que hoje percorrem o m undo
Nazaré, o deserto da Judeia, um m o n te não nom eado inteiro e trazem especial atenção para aquelas antigas
e sua pregação na Galileia, Judeia e arredores, onde paisagens que hoje com preendem Israel, o territó rio
ele exerceu praticam ente todo seu m inistério público. Palestino e parte da Jordânia, Síria e Líbano.
Regiões com o Decápolis, Pereia e Sam aria tam bém
contaram com a presença física de Jesus, m as em si-
tuações raras e bastante específicas. Esses lugares não
parecem te r sido parte de sua rota costum eira. £ lsx. s£L
c O
c ג
Οί
Fato importante
O território que Jesus percorreu em vida fora
bem menor que 0 imaginado para alguém que
Você sabia? teve tanta fam a em seu tempo e depois dele.
Com base nos relatos evangélicos, pode-se esti-
Ao contrário de Paulo, que era um homem de edu-
mar que 0 “país" de Jesus tinha uma extensão
cação urbana, Jesus identifica-se mais com uma
aproximada de 25 a 30.000 km2. Seu compri-
pessoa do interior. Com exceção de Jerusalém, ele
mento em direção norte-sul era de 250 km e a
parecia evitar os grandes centros, concentran-
largura média de 120 km. Uma área 12 vezes
do-se apenas nas vilas e arredores (cf. Marcos
menor que a atual Itália. Comparando-se
7:31;8:27). Seus exemplos, parábolas e expressões
com Estados brasileiros, é um território pouco
revelam a profundidade de um homem sábio,
maior do que 0Estado do Espírito Santo.
mas acostumado ao dia a dia do campo.
O
c
C 773“
־773 ־
OCEAN
Gália
ATLÂNTICO
Macedonia
Mar Negro
it '*
Mar Mediterrâneo
AFRICA
Os Herodes da Bíblia
Após a m orte de Herodes, o G rande, alguns de
seus herdeiros usaram o designativo “H erodes” com o
título de realeza. Desse m odo é possível e n co n trar no
N T a m enção de pelo m enos seis Herodes:
1 - H erodes, o G rande, que m andou m atar as
crianças em Belém; (M at. 2:2);
2 - H erodes A rquelau ou etnarca, que assum iu a
Judeia após a m orte do pai (M at. 2:22);
3 - Herodes A ntipas ou T etrarca, pois governou
um quarto do territó rio . Foi ele que assassinou João
Batista e teve um breve encontro com C risto durante
seu j ulgam ento em Jerusalém (Luc. 3:19; 9:7; 23:7);
ס C
173 i ־r 5 ־f u ?־7 3 ־ ־ ס די
Cronologia
4.a.C.
O ctaviano (o futuro Augusto Cé- Possível ano do nasci- H erodes, o G rande, m orre entre
sar) assume o poder em Rom a e, m ento de Jesus. m arço e abril na cidade de Jericó.
após a batalha de Ácio, m antém Seu filho A rquelau leva seu corpo
Herodes no controle da região. para 0 H erodion, palácio no de-
No m esm o ano H erodes se casa serto que serviu de túm ulo do rei.
com M ariana I, neta de A ristó-
bulo II e H ircano II e conquista
X1 d .,M®
M orre Augusto César (Luc. 2:1) Pilatos governa com o Jesus inicia seu m inistério
e T ibério assum e seu lugar (Luc. prefeito da Judeia a
o CESAREIA DE FiLIPE
O AKCIB
LAGO
O GISCALA '
QUEDESD t MEROM
OMEIERON ;
NEFTALIO
vO.SEFET 1 & AURANITI
CORAZIM O GAULANITIDE
PTOLEIMADACa
BAHIA
SICAMINON
ΒΑΤΑΝΙΛ
SICAMIN( ΌΤ/ PATA
iUERRILHAv
° TIBERíJDES t J
EIJÁ bao o Ía f^ A R E o * r |
mm ■o * S s b à t e %r!q
í 9 BELÉM DE GALILEIA $ 11 H3AMALA \
8 i ía1u,1ρ,λ NAIMO O ' OAFEÇ
O AERA
■י *COLINASDE* .
f P . MAGIDOO :
<5 ENGANNIM
-----------O ARBELA
oSAMARÍf
OBORZA
MONTE
GERIZIM
l O GERASA
JABES GA.AAD
, JOPE
HAIFA((
כLÍDIA O ATAROT
RAMOT
XARIMATEA BERO־D
N GABAONO
O ESEBOM
O EMAUS DA MONTANHA
DE JORDÃO
:-SEMES O EMAÚS DA PLANÍCIE QN
ECROM
JERUSALÉMO
NARQUERONTE
M MAGDALGAD
O AZOTO BELÉI/lo,
Q ASCALÃO O YAI A i
ECUt
BETSUR O
o HÉBRON
YUTTA O
O KERIOT
MASADA
MOABE
EDOM
PETRA
■4 ־ .
A região na qual Jesus viveu é uma terra de muitas vez mais até desem bocar no M ar M orto a 390 m abai-
m ontanhas, vales e um imenso deserto. Daí a Bíblia cha- xo do nível do m ar. Sua extensão é de, aproxim ada-
má-la de “terra de m ontes e vales” (Deut. 11:11). Prati- m ente 190 k m .
camente todas as cidades do tem po de Jesus estavam si-
A com panhando o vale do Jordão, desde o M ar da
tuadas em algum ponto de um a extensa cordilheira que
Galileia até o M ar M orto, é possível identificar com
desce desde os atuais limites com o Líbano e a Síria, até
m ais facilidade algumas das principais regiões, cida-
às áreas desérticas do Negev ao sul do país. A parte norte
des, localidades e acidentes geográficos m encionados
está a aproximadamente 1300 m etros acima do nível do
no N ovo T estam ento. V indo do N orte para o Sul, são
M editerrâneo e a parte sul, bem ao contrário, acerca de
estas as regiões ou divisões políticas da T e rra Santa,
400 m etros abaixo do nível do mar.
durante a vida de Jesus:
Essa cadeia m ontanhosa que inicia com os maci-
1 - G alileia - U m lugar com plicado na época por-
ços do Líbano e o M o nte H erm on é entrecortada pelo
que, ainda que a população fosse judaica em sua m aior
vale de Jezreel (Josué 17:16) que a divide deixando ao
parte, ali era territó rio com um de m uitos judeus
norte os m ontes da Galileia e ao Sul os desvios das
e não judeus. Por isso era cham ada de “Galileia dos
m ontanhas de Samaria. E do H erm on, cuja parte sul
gentios” (Isa. 9:1 e M at. 4:15). Gentio era um a alcunha
se funde com as famosas colinas do Golan, que des-
não m uito am istosa para falar do não judeu; seria o
cem as principais nascentes do Rio Jordão. Este, po r
m esm o que cham ar alguém de pagão.
sua vez, atravessa os lagos Hulé e segue até form ar
o M ar da Galileia, na verdade um lago de água doce Ao contrário do que se pensava anteriorm ente, a
com com 21 km de com prim ento e area de 166 km 2. arqueologia revelou um am biente bem religioso na
A seguir, esse rio continua seu curso descendo cada Galileia, porém , m enos piedoso que o de Jerusalém .
BMggjgggg
T anto era assim que os habitantes da Judeia consi- Era no en to rn o do M ar da Galileia que ficavam as
deravam os da Galileia “judeus de segunda categoria” principais cidades pelas quais Jesus se m o v im e n ta v a -
(João 1:46; 7:25). em bora nem todas estejam precisam ente localizadas:
C afarnaum (M at. 17:24; M c 1:23-28); C orazim (Mat.
O sotaque e a dicção dos galileus era outra m oti-
11:21), Betsaida (M t 11.21; 6.45; 10: 13; Jo 1.44),
vação para serem discrim inados pelos que viviam na
Caná (João 2:1 e 21:2), G enesaré (M arcos 6:53-56),
Judeia. U m galileu geralm ente usava expressões ara-
M agadala (Luc. 8:2), Gergesa ou Gadara M at 8:28 e
m aicas estranhas, com descuido gram atical e p ro n ú n -
Luc. 8:26 e N aim (Luc. 7:11-17). O utras cidades não
cia indistinta de algumas letras. Isso perm ite entender
m encionadas no relato bíblico seriam M erom , Tela,
p orque Pedro foi im ediatam ente reconhecido como
Giscala, Tiberíades, Tesá, Cabul, Aczibe. M as é bom
galileu p o r sua “form a de falar” quando estava no pá-
lem brar que a parte leste do M ar da Galileia tem um a
tio do palácio de Caifás p o r ocasião do aprisionam en-
jurisdição m ais im precisa, de m odo que as cidades
to de C risto (M at. 26:73).
que estão do outro lado do Lago são às vezes m ostra-
T udo isso to rn a m ais que curiosa a inform ação bí- das com o pertencentes a Decápolis, à T etrarquia de
blica de que Jesus inicia justam ente ali seu m inistério Felipe ou à p rópria Galileia.
e todos os seus apóstolos (com possível exceção para
2 - D ecáp olis - C onform e o próp rio nom e grego,
Judas) eram galileus. C onsiderando que N azaré ficava
significa literalm ente as “dez” (deka) “cidades” (pólis).
na Galileia e Jesus fora criado neste vilarejo, ele m es-
D e acordo com Plínio, o V elho, essas cidades seriam:
m o fora, em virtude disso, considerado galileu (Mat.
Dam asco, Filadélfia, Rafana, Citópolis (Bete-Seã),
26:69 e 73).
Gadara, Flipos, D iom , Pela, Gerasa e C anata (Natu-
A região era ainda subdividida em alta e baixa Ga- ralis Historia V, 74). Em bora exista certa divergência
lileia. A prim eira, m uito m ontanhosa e isolada, não se sobre o que representavam essas cidades, a opinião
destaca no relato bíblico. Já a segunda, a baixa Gali- prevalecente é a de que se tratava de um a confede-
leia, serviu de am biente para a m aioria dos episódios ração cosm opolita fortem ente m arcada p o r um a cul-
descritos nos evangelhos. Era um lugar fértil, com tu ra helenística com um . O único problem a é que o
bastante chuva que, segundo Flávio Josefo, não teria estudo das fontes até agora realizado não descobriu
n en h u m a te rra sem ser cultivada (G uerra dos Judeus nenhum a evidência de arranjos comerciais, políticos
3.42-43). ou m ilitares entre seus m em bros.
Seja com o for, eram todas cidades g reco -ro m a- gares com o Betel e D an. A capital do rein o do N o rte
nas que partilh av am um a m esm a cu ltu ra não judai- ficou sendo Sam aria.
ca, m as que se sen tiram atraídas pelo m in isté rio de
Em 722 a.C., Israel fora conquistado p o r Sal-
Jesus de N azaré. A ssim , m u ito s de seus seguidores
m anazar, rei da A ssíria, e m u ito s israelitas foram
v in h am dessas cidades e, em b o ra fosse um lugar
tra n sp o rta d o s p ara ou tras p artes do seu im pério.
evitado p o r religiosos judeus m ais conservadores,
Em c o n tra p artid a , pessoas de ou tras nações tam -
não é inverossím il concluir que Jesus te n h a tido al-
bém subjugadas foram trazidas p a ra a Sam aria (II
gum tip o de atividade efetiva n a região (M at. 4:25;
Reis 17:23-24).
M ar - 5:1-20; 7:31). M esm o po rq u e, recentes pes-
quisas m o stram que algum as cidades da D ecápolis Esses novos cidadãos assim ilaram m u ito da re-
tin h a m presença judaica em seu te rritó rio com o é o ligião judaica, m as a m istu ra ram com sua p ró p ria
caso de Bete Sean, G erasa e H am ate G ader. cultura, criando um a visão ainda m ais sincrética da
fé judaica. T al situação, agravada pelos casam entos
3 - P e r e ia - Localizada logo abaixo da Decá-
c o n tín u o s de judeus e não judeus, fez com que os
polis, a Pereia não é d ire tam e n te citada no N ovo
h ab itan tes de Ju d á desprezassem os sam aritanos e
T estam en to , a não ser p o r um a v arian te tex tu al de
não m ais os considerasse gente de sua p ró p ria etnia.
Lucas 6:17. Q uem a cham a p o r esse no m e é Flávio
Josefo. T odavia, sabe-se que “Pereia” vem do gre-
go “P e ran ” e quer dizer “além ”. Logo, nos vários
m o m en to s em o E vangelho m en cio n a a expressão
"além do J o rd ã o ’', certam en te está se referin d o a
0 rabi Eliezer é cita d o no Tal-
esta região (M at. 4:15, 25; 8:18; M ar. 3:8; 10:1 etc.). m ude com o te n d o d ito que "a q u e -
T am bém era ali que ficava a cidade de Jericó do le que a ce ita um pedaço de pão
N ovo T e sta m en to , local do palácio de H erodes, da dado por um sa m aritano é sem e-
pregação de João B atista e do batism o de Jesus. Foi lh a n te àquele que com e carne de
tam b ém na P ereia que Jesus jejuou p o r 40 dias, na p o rco " - algo co m p le ta m e n te im -
parte que conhecem os com o deserto da Judeia. pensado para um ju d e u .54
A pergunta, pois, que se faz nesta sequencia dos fa- Migrações judaicas
tos é: Quem seriam esses novos habitantes da Galileia?
Josefo diz que Alexandre Janeu, lider dos judeus de
102 a 76 a.C., estendeu para o norte as fronteiras do
Galileus: judeus ou reino centralizado em Judá e, a partir daí, a Galileia
itureanos? voltou a fazer parte do território judeu - em bora al-
guns entendam que ela já estaria anexada como heran-
ça israelita desde os tem pos de Aristóbulo e Hircano.
Uma leitura equivocada de um texto ambíguo de
Josefo e do I Livro dos Macabeus, fez m uitos histo- N um prim eiro m om ento, apenas m ilitares haviam
riadores acreditarem po r gerações que os galileus não sido enviados para lá. C ontudo, com o tem po, outras
eram 100% de sangue judeu. Eram descendentes de itu- famílias vindas da Judeia tam bém m igraram para a re-
reanos convertidos à força ao judaísmo. Isso colocaria gião. Os ancestrais do carpinteiro José, originalm ente
o m ovim ento de Jesus num eixo central m uito afastado vindos de Belém, poderiam estar nessa leva dos novos
daquela herança judaica que chega até Abraão. habitantes do lugar.
O relato em questão diz que, quando Aristóbulo, o fi- Os achados arqueológicos tam bém confirm am , a
lho de João Hircano, assumiu o poder como governador p a rtir de cerâmicas e utensílios dom ésticos, hábitos
hasmoneu da Judeia, ele repovoou o lado ocidental da com uns àqueles encontrados na Judeia. Tratava-se,
baixa Galileia com famílias da Itureia que foram obriga- p o rtan to , de famílias judaicas que m igraram da Judeia
das a se converter ao judaísmo. Seu pai já havia feito o para o n o rte e não de agrupam entos de não judeus.
suir Jerusalém e o T em plo - sím bolos m áxim os do
judaísm o daquele tem po.
c
G
eH־c r ׳b ü '3 ־T u
judeus na Galileia não tenha sido uma realidade Dados recolhidos da arqueologia, m étodos dedu-
histórica propriamente dita ou confirmada, sua
tivos, análise dem ográfica, restos de censos rom a-
região era literalmente cercada por territórios
nos e escritos de alguns autores (com o T ácito, Filo
cujos moradores, além de estrangeiros, não eram
e Josefo) p e rm ite m te r um a ideia da quantidade de
bem aceitos na convivência com judeus mais zelo-
sos da Lei. Estas regiões seriam: Samaria, Pereia e pessoas existentes nas regiões p o r onde passou Je-
os centros romanos da extensa Decápolis. sus. O problem a, porém , é que essas fontes não são
precisas. A lgum as m o stram -se exageradas, publici-
Isso inseriu geograficamente a região num tárias ou incongruentes.
mosaico de culturas, cujo contato com elementos
estrangeiros era inevitável. Centros urbanos M esm o entre os autores m odernos, os núm eros
mais conservadores como Cafarnaum e Magdala variam de estudo para estudo. Assim, o que se pode
tinham de conviver com cidades completamente te r são estim ativas, sem a m en o r pretensão de serem
romanizadas como T iberíades e Séforis. Para núm eros exatos ou absolutos18.
muitos, a convivência gerava uma perda de
valores e uma paganização cultural do ambiente. Acredita-se que o território percorrido pelo M estre
סo ».....
Lugar inapropriado para surgir umMessias! da Galileia contava com algo entre 500 e 700 m il habi-
tantes ou 1 m ilhão se forem incluídos os não judeus.
De m odo mais específico, eis alguns núm eros aproxi-
־U ^r m ados de lugares de destaque na vida de Jesus Cristo:
LOCAL NÚMERO APROXIMADO DE HABITANTES
Betsaida 200
200 a 400 mil - Josefo fala de 3 milhões, mas os historiadores consideram isso
Galileia
um exagero
O rabinism o contem porâneo a Jesus praticam en- No que diz respeito ao judaísm o p ro p ria m e n te
te ignorou essa literatura. Porém , na boca do povo dito e aos livros que com põem o cânon do A ntigo
simples, tais relatos parecem ter ganhado m uita fama. T estam en to , é n o tó rio que as concepções de fim do
Afinal, eles eram sofredores nas m ãos rom anas, não m u n d o e juízo universal de D eus são an terio res até
tinham a cultura dos escribas, não sabiam brigar m esm o ao p eríodo Persa. Os Salmos 96 a 98, p o r
com o os zelotas, nem podiam fazer política com o os exem plo, são claram ente do p eríodo m onárquico e
saduceus e fariseus. Sua esperança repousava na cer- trazem vividas descrições da in tervenção últim a de
teza da intervenção divina. Com o a m aior parte des- Deus na história. Logo, ao co n trário do que defen-
tes foi atraída pela palavra de Cristo, não é sem razão deu N o rm an C o h n 26, não se pode afirm ar que os he-
que o espírito apocalíptico tam bém ten h a feito parte b reus ten h a m derivado de Z o ro astro aa noção apo-
do ensino de Cristo, conform e visto em M ateus 24, calíptica de fim do m undo.
po r exemplo, e tam bém da pregação da Igreja cristã
As raízes do apocalipsism o judaico não estão de
prim itiva.
m odo algum fincadas no m undo não judeu que o
circundava. As coincidências entre um a e o utra es-
Movimento apocalíptico e catologia (judaica e persa, p o r exemplo) podem ser
explicadas na possível interação durante o cativeiro,
esperança messiânica na influência deixada pelos judeus no m undo pérsico
ou no fato de ambos os m ovim entos estarem ecoando
A perspectiva apocalíptica do antigo Israel não um a tradição escatológica longínqua que se conhecia
nasceu de n enhum a revolução do período dos m aca- desde os prim órdios da hum anidade. Seja com o for,
beus com o intentam alguns autores m odernos24. N em a linha de desenvolvim ento do apocalipsism o judeu
m esm o a literatu ra apocalíptica apócrifa ou pseudepí- deve ser traçada até aos próprios profetas hebreus e
grafa, em bora fortem ente influenciada pelos aconte- não a oráculos pagãos27.
cim entos intertestam entários, pode ser identificada
com o p ro d u to de um a crise política ou de um a revol- U m fenôm eno curioso, observado especialm ente
ta arm ada com o aquela liderada po r Judas M acabeu nos profetas, é o exercício herm enêutico de m istu-
contra o governo dos selêucidas em 164 a.C. ra r eventos histórico-contem porâneos com eventos
escatológicos do futuro. O profeta Am ós, por exem -
A utores com o Bickerm an têm procurado de- pio, já anunciava no século VIII a.C. que o fim estava
m o n strar que os prim eiros textos apocalípticos fora chegando para Israel (Amós 8:2). Aqui é claro que ele
da Bíblia, com o, p o r exemplo,, algumas partes do se referia ao fim do reino do N orte, mas no capítulo
livro de Enoque, seriam anteriores ao período dos 5:18-20, que faz parte da m esm a tem ática profética,
m acabeus25. Sua argum entação talvez não seja total- ele descreve exponencialm ente o cham ado “dia do Se-
m ente conclusiva, mas supõe um a razoável probabi- n h o r”, que certam ente abarca m uito mais do que um
lidade. O próprio tom escatológico encontrado no juízo im inente sobre a casa de Israel. Isaías igualm en-
zoroastrism o do século VI a.C. aponta para essa rea- te m istura as prom essas de um novo céu e um a nova
lidade mais antiga, senão da literatura, pelo m enos do terra escatológica com as prom essas históricas de um
sentim ento apocalíptico no seio do judaísm o. Israel abençoado m ediante à fidelidade a Deus (Isa.
66). E m esm o nos tem pos de Davi, Natã fez-lhe um a para a m anutenção de seu santuário. A té Jesus pagou
promessa que m isturava o acom panham ento divino esse im posto (cf. M at. 17:24-27).
sobre Salomão com o estabelecim ento eterno do trono
A ordem pública era assegurada in tern am en te pelo
davídico (II Sam. 7:11-17) - esse com portam ento do
prefeito e pelas milícias rom anas. M as deixavam para
oráculo é um claro sinal de perspectivas messiânicas.
os juizes locais e a polícia judaica a jurisdição de ques-
Jesus tam bém usou o m esm o recurso de m istura tões ordinárias do judaísm o em si. Os rom anos não
de eventos atuais com eventos futuros em seu discur- queriam envolvim ento com polêm icas da religião dos
so escatológico registrado em M ateus 24. Os m otivos, judeus, em razão disso poderiam legislar sobre seus
evidentem ente, poderiam ser outros, mas o m étodo é casos. Só não poderiam sentenciar alguém à m orte.
trem endam ente parecido. Isso cabia exclusivam ente a Rom a. P or isso Jesus foi
preso pela guarda do T em plo, mas transferido poste-
A Bíblia hebraica, p o rtan to , m uito antes e além de
rio rm en te para o palácio de Pilatos.
qualquer influência estrangeira, m ostra-se fortem en-
te m arcada pela esperança de um “m undo vin d o u ro ”
Olam habbah) e um a personagem m essiânica que A centralidade do Templo
propiciaria a Salvação. M as a versão profética mais
antiga não lim ita a esperança do M essias à vinda de N o tem po de Cristo, o poder judaico se centraliza-
um futuro rei, idealizado aos m oldes m onárquicos, va no T em plo de Jerusalém . Logo, m esm o que'a Ju-
que traria a projeção política de Israel entre as nações. deia pertencesse à jurisdição rom ana com o qualquer
Pelo contrário, ela apontava para a natureza vicária outra província, o governador respeitava a organiza-
do M essias visto com o o servo sofredor de Isaías 53. ção in tern a do territó rio ocupado e só intervinha em
casos extrem os, a fim de evitar desnecessários confli-
Estrutura política do tos com os subjugados.
...... -
- ^ 5 ....................... · =
= - :........ Partidarismos e
ri b
fü........................................Lp? messianlsmos
cf
ץ Fato importante
im portante c
E m bora houvesse diferentes e divergentes expec-
A política no tempo de Jesus
Jesus era instável. Os judeus . . , , , ךT ׳ , . ,.
, • 1 1 i . , . tativas en tre os judeus do século 1, e possível dizer que
ja
jâ vinham traumatizados de uma longa trajetória
trajetona
j ~
de ocupações · . r ■.
ocupacoes e conquistas feitas .
jeitas por outros povos m uitos deles aguardavam
& com ansiedade um Messias
sobre seu próprio território. Primeiro vieram os clue fosse um conquistador político e religioso. Al-
asúrios, depois os babilônios, os gregos e a cada §uém <lue ׳à semelhança do rei Davi, os liderasse num
nova ocupação, 0 povo era espalhado pelos quatro grande exército e expulsasse os rom anos de seu terri-
ventos 0 que aumentava 0 desafio de manter sua tório. T al anseio não parecia corresponder à proposta
identidade e sua etnia. Alguns eram circunstan- trazida p o r Jesus de Nazaré.
cialmente mais liberais ou “tolerantes" em relação
ao estrangeiro "invasor”, enquanto outros acalen- Nesse quadro m essiânico e pluricultural, diferen-
tavam maior xenofobia. tes grupos rivalizavam pelo poder e pela influência
sobre o povo. Destes, pelo m enos três disputavam as
Foi em meio a esse caos que emergiam os romanos, A ■ יc. ׳, · 3 1 · י
י * ' cadeiras do Sm edno: os saduceus (o m aior partido,
os novos dominadores estrangeiros. Eles eram r , , , , \י , ,
. , · ■ _ , . , . form ado pela ciasse sacerdotal), os anciaos (chefes
efetivos na administração
admimstraçao dos territórios
territories con-
.. j u .· j גc■ de fam ília rica que eram indicados pelos rom anos) e
quistados e nao
não aceitavam nenhum tipo de desafio n r
à soberania de Roma. Para eles, quem não era os escribas (° Partido m inoritário, form ado em sua
cidadão romano, eraerabárbaro
bárbaro e, portanto, incapaz m aior parte por fariseus). Os três nem sem pre esta-
de governar a si mesmo. De fato, elesforam tão vam de acordo, mas acabavam fazendo alianças por
bem-sucedidos que um terço do mundo conhecido de m otivos políticos de interesse com um entre eles.
.^ então estava sob 0domínio de César. ÇJ
cl b׳j Os dois prim eiros partidos, form ados pelos sadu-
^כ ^ p ^o ceus e anciãos, tinham m ais pontos de afinidade. Já o
ütõn 9 .........
u o à L·-......... ....... ״....,,״...... ... CIT3TD
ל.Ft p l u partido dos fariseus representava a oposição. Segun-
Maquete do antigo Templo de Jerusalém
do Flávio Josefo, havia cerca de 6.000 fariseus apenas, tilo legalista, mas inteiram ente inovador. Assim, os fa-
mas o núm ero de sim patizantes era elevado se com - riseus eram irrepreensíveis aos olhos do povo, ao pas-
parado aos demais. O segredo de sua influência era so que os sacerdotes-saduceus eram quase totalm ente
o duplo com portam ento que m antinham . Prim eira-
desconhecidos e os anciãos do povo, irrelevantes.
m ente, diante da massa popular, os fariseus dem ons-
travam um a piedade judaica tão elevada (orações C onsiderando que os três principais partidos
públicas, guarda do sábado, pagam ento integral dos juntos som avam algo em to rn o de 10.000 a 25.000
dízimos etc.), que os mais simples lhes consideravam partidários, pode-se dizer que 95% da população de
hom ens santos. todo o territó rio judeu não era diretam ente filiada a
Por outro lado, se opunham à nobreza sacerdotal nenhum a dessas correntes. A população era leiga em
e dos anciãos da área religiosa, constituindo-se um a relação à m aioria das discussões religiosas dessa elite
nova classe de interpretação das Escrituras com um es da fé judaica.
Os partidos Judaicos afastam ento das massas populares, ignorantes, vulga-
res e pecadoras.
A ntes de apresentar os partidos ou seitas do tem po Com o se não bastasse tal incoerência, os fariseus
de Jesus, é im portante esclarecer que esta linguagem ocuparam um lugar no Sinédrio p o r causa de sua ori-
não deve ser confundida com o sentido m oderno de gem hum ilde e sua suposta influência sobre o povo.
partido político ou seita religiosa. T ratava-se antes Considerados inicialm ente um grupo religiosam ente
de um a escola de pensam ento com ensinam entos ou leigo (em bora alguns fossem levitas), os fariseus re-
princípios que deviam ser observados p o r aqueles que presentavam certa im agem de dem ocracia no conse-
se filiam àquela agremiação. lho dos sacerdotes e anciãos do povo.
Para falar dos partidos existentes entre os judeus Os fariseus eram , p o rtan to , trem endam ente con-
do tem po de C risto, tam bém é preciso levar em con- servadores, avessos às influências estrangeiras sobre
sideração duas realidades históricas: prim eiro, que o o judaísm o e teoricam ente inim igos tan to da aris-
judaísm o do século I, longe de ser um bloco m onolí- tocracia sacerdotal (os sacerdotes-chefes) quanto da
tico, revelava-se um m osaico de ideias e segm entos aristocracia leiga (os anciãos). O m otivo estava no
com m uitas diversidaaes de interpretação. Segundo, com prom etim ento desses segm entos tan to com a
que a distinção m oderna entre política e religião não política rom ana quanto com as influências gregas na
era com um naqueles tem pos; as questões políticas com preensão da Lei de M oisés. Isso fora certas diver-
m esclavam -se com as religiosas, de m odo que a hber- gências doutrinárias. M as o poder político os m anti-
tação dos rom anos, p o r exemplo, era tan to um anseio nha, pelo m enos em. parte, unidos. Era com o se fos-
social quanto um a expectativa messiânica. A seguir, sem um congresso nacional com partidos de situação
você verá os principais partidos judaicos dos tem pos e oposição discutindo leis e votações.
de C risto, tan to os que atuavam no Sinédrio quanto
os que coexistiam paralelos a ele: Os fariseus são constantem ente associados aos es-
cribas, isto é, profissionais jurídicos especializados na
1 - F a ris e u s - com punham um a associação de explicação da lei ou to rá (M at. 22:35; 23:2; Luc. 5:17
judeus piedosos cujas origens rem etem ao período etc.). M uitos fariseus tornaram -se escribas até para
dos m acabeus. No período de João H ircano (135-104 assegurar m elhor seu lugar no Sinédrio, mas nem to-
a.C.) e Alexandre Janeu (103-76 a.C.), já existem, re- dos os escribas eram de fato fariseus.
ferências a esse grupo religioso. Eles tratavam -se en-
tre si com o “com panheiros”, organizavam -se em co- 2 - S a d u c e u s - em bora as origens desse grupo
m unidades, tom avam refeições em com um e tinham ainda sejam incertas, tudo leva a crer que seu poder
intervenções piíblicas quando preciso. O regim e de com eçou tam bém nos dias de João H ircano, cerca
admissão e exclusão do grupo era bem severo. Seu tí- de 130 anos antes de Cristo, quando certas questões
tulo ״fariseu” vinha da palavra hebraica perushim, que públicas com eçaram a surgir perante o povo. Talvez
quer dizer ״separados ou separatistas”. viessem das classes ricas, mas tudo leva a crer que a
aristocracia sacerdotal foi o berço desse seguim ento.
A tradição rabínica posterior usou um a ironia para T anto que o T em plo e o sum o sacerdote foram sem-
retratar o separatismo dos fariseus ao dizer que um fa- pre a coluna m estra do poder dos saduceus. Não se
riseu jamais comeria, p o r exemplo, na presença de um deram bem com H erodes e seus filhos, mas agiram
hom em com doença venérea, m esm o que ele próprio desde o ano 6 a 70 d.C. com o árbitros na política de
já estivesse antes contam inado pela m esm a doença. conciliação dos judeus com os rom anos.
O curioso, no entanto, é que a m aioria dos fari- Enquanto os fariseus se espalhavam po r todo o
seus vinha das classes m edianas da sociedade, m uitos, territó rio , os saduceus cstavam mais concentrados
antes de serem recrutados para a seita, haviam sido em Jerusalém . N a verdade eram poucos em núm e-
artesãos ou pequenos com erciantes. C ontudo, com o ro, mas influentes em term os políticos. T inham total
0 próp rio nom e dá a entender, seu ideal de vida era o apoio dos rom anos que m antinham seus privilégios
em troca de sua fidelidade. Praticam ente todos os sa- cinco livros de M oisés a qualquer o u tro produzido
cerdotes e aristocratas dos tem pos de C risto eram sa- pelo judaísm o.
duceus. Pouquíssim os evitaram o envolvim ento com
Assim, o que im portava era a sobrevivência atu-
o partido. Provavelm ente Zacarias, o pai de João Ba-
al da nação. A ssuntos com o ressurreição de m ortos,
tista, fosse um desses. existência de anjos e recom pensa eterna era algo que
M as, apesar de poderosos e influentes, os sadu- reputavam com o acréscim os tardios que nada t in h am
ceus não gozavam da sim patia do povo e viviam ex- a v er com a revelação dada a M oisés (M at. 22:23-33;
M ar. 12;18-27; Luc. 20:27-40).
cluídos (mais que os fariseus). Se p o r um lado eram
bastante liberais no diálogo com o m undo greco -ro - 3 - A n c iã o s d o P o v o - diferente da sociedade atual
m ano, p o r o u tro , seguiam um d o u trin a m e n to con- que tende a considerar os mais velhos com o ultrapas-
servador, coerente com sua posição política. Eram sados, o “ancião do povo” foi um a figura sem pre res-
defensores da ordem estabelecida e privilegiavam os peitada na cultura do O riente M édio, especialm ente
na Bíblia. O hom em idoso era costum eiram ente tido H erodes, o G rande, quanto seu sobrinho, Herodes
em alta estim a tanto p o r sua experiência quanto pelo Agripa, pretenderam ser os escolhidos de Deus para
seu conhecim ento, sabedoria e bom senso. Assim não governar Israel. Logo, não é estranho supor que este
era incom um as pessoas recorrerem aos anciãos para m onarca, ou pelo m enos seus defensores, tivessem
decidirem casos litigiosos, pendências jurídicas ou até pretensões messiânicas ao defender o reinado de al-
m esm o disputas doutrinárias (Núm. 16:25; Lev. 4:15; guém tão odiado pela m aioria da população.
IS am . 15:30; I Reis 20:7).
Talvez essa possível visão m essiânica explique o
P orém , com o crescim ento da população em áre- porquê da forte oposição que os herodianos fizeram
as urbanas e o estabelecim ento de certas form as de contra Jesus, unindo-se até m esm o com fariseus para
governo, a expressão “ancião do p o v o ” já não dizia destruí-lo (M at.l4 :l-1 2 ; 22:16; M ar. 3:6; 12:13; Luc.
respeito a todos os idosos da nação, m as apenas a 23:7-12). Afinal de contas, se Herodes era seu M es-
um a elite assim designada para o rie n ta r e legislar sias, Jesus de Nazaré seria um forte concorrente e ti-
sobre todos. nha de ser elim inado.
N o tem po de C risto, os anciãos eram aqueles che- 5 - E ssênios - representavam um a com unidade
fes de fam ília de origem pura e rica que poderiam ser m onástica que vivia no deserto da Judeia, separada
elegíveis para atuar no Sinédrio. Os rom anos esco- dos grandes centros urbanos, especialm ente Jerusa-
lhiam dentre eles aqueles que deveriam servir de lí- lém. A credita-se que, pelo fato de não aceitarem a po-
deres sobre o povo judeu ao lado dos sacerdotes. A lítica incorreta que se fazia no Sinédrio e no Tem plo,
ideia é que os anciãos m anteriam o povo calmo e, em um grupo de levitas rom peu com suas funções sacer-
contrapartida, R om a faria certa “vista grossa” acerca dotais, fundando a seita que existiu do II ou III século
de suas próprias fortunas que estariam atreladas ao a.C. até cerca do ano 68 d.C. no deserto da Judeia,
recolhim ento de im postos no país. T udo não passava
próxim o ao M ar M orto.
de um jogo de interesses.
N orm alm ente, acredita-se que eles form avam a
4 - H e ro d ia n o s - após a m orte de Herodes, o Gran-
com unidade que havia em Q um ran, da qual só resta-
de, e a divisão do reino entre seus filhos, quem mais se
ram ruínas. T am bém associa-se a eles a produção ou
destacou no governo foi Herodes Antipas que ficou com
pelo m enos preservação dos fam osos m anuscritos do
a jurisdição da Galileia onde m orava Jesus. Ali, Flávio
M ar M orto, descobertos em 1947.
Josefo afirma ter surgido um grupo de judeus militan-
tes cuja função era apoiar a todo custo a perm anência de O N ovo T estam ento não faz m enção deles, contu-
Herodes no poder e a ampliação de seu controle. do, seus textos perm item te r um a ideia do que acre-
ditavam , além de lançar luz em m uitos aspectos do
T am bém na Judeia havia partidários dessa agre-
ensino de Cristo. Eles, por exem plo, consideravam o
miação que, certam ente, eram beneficiados com a ad-
sacerdócio de Jerusalém ilegítim o, um a vez que m ui-
m inistração herodiana desde os tem pos de H erodes, o
tos já não eram mais da fam ília de Zadoque. Rejeita-
Grande. Ele nom eou com o sum o sacerdote um certo
vam a validade dos ofícios do T em plo e entendiam ,
Simão, filho de Boetos, e com isso teve grande apoio
p o r estudos de antigas profecias, que o M essias estava
desta poderosa fam ília de judeus até m esm o nas gera-
p o r vir em seu tem po. Alguns de seus textos, porém ,
ções seguintes.
dão a en tender que eles aguardavam a vinda de não
Não eram um grupo expressivo. Ao que tudo indi- apenas um , mas de dois Messias.
ca, seu objetivo era fortalecer o poder de H erodes A n-
6 - Z e lo te s - com o o p ró p rio nom e diz, “Z elote”
tipas sobre toda a nação, obtendo tem porariam ente o
ou “Zelota” significa alguém que tem um zelo, um a
apoio de Rom a, até que estivessem fortes o bastante
paixão, um fervor, em bora com certo tom de fana-
para quebrar o jugo dos rom anos.
tism o. Eles eram tam bém conhecidos com o sicários
Em bora não haja nenhum a alusão direta a H ero- ou hom ens do punhal. “Sica” era um pequeno pu-
des A ntipas com o M essias, é sabido que tan to seu pai, nhal rom ano.
Os zelotes eram , enfim , um grupo intensam ente serem a mais baixa classe de funcionários públicos
patriótico. Eles advogavam que qualquer m étodo, do que recolhiam os im postos para César. C om o se não
m artírio ao assassinato, seria válido na ten tativ a de bastasse, eles eram reconhecidos p o r sua desonesti-
livrar os judeus do jugo de Roma. dade, desvio de fundos e extorsão de pessoas m enos
favorecidas (M at. 6:46).
Em term os religiosos, Josefo diz que eles separa-
vam -se até m esm o dos fariseus, p o r considerá-los Os publicanos cobravam taxas ilegais e, de alguma
m uito indulgentes com a presença de estrangeiros em m aneira, R om a não parecia se im p o rtar com isso. O
seu país. M as tam bém eram fervorosos com a lei ju- que im portava era que o m o n tan te m ínim o esperado
daica. T an to que censuraram os judeus que aceitavam chegasse aos cofres do im pério. O que o coletor lu-
pagam ento vindo do trib u to dado aos rom anos e po r crasse além disso era problem a dele, os representan-
adm itirem chefes m ortais ao lado de Deus. Seu intui- tes do im pério não se m eteriam . Afinal, o interesse do
to era p ro m o v er um a reform a radical que envolveria pró p rio coletor em angariar m ais im postos a fim de
a sociedade, um a revitalização das instituições mais aum entar sua propina term inava deixando o sistem a
im portantes do país (especialm ente o Tem plo) e um a seguro para o governo, que tin h a seu m o n tan te m in i-
m anutenção de sua identidade original. m o sem pre garantido.
C ontudo, não eram tão bons na arte da guerra, N orm alm ente, os publicanos não tinham respon-
m uito m enos nas reform as que pretendiam . Seu m o- sabilidade sobre as taxas de propriedade ou decla-
vim ento foi um verdadeiro fracasso, em bora insistis- ração de ren d a dos indivíduos. Sua função era taxar
sem em m uitas investidas contra Roma. produtos com erciais que entravam e saiam no país -
im portação e exportação. E m bora trabalhassem para
U m dos apóstolos de Jesus cham ado Simão é re-
o governo, eram contratados: um a espécie de funcio-
conhecido pela alcunha de “o zelote” (Luc. 6:15 e At.
nário público terceirizado.
1:13). M as isso pode ser tan to p o r um a possível asso-
ciação anterior com o partido dos zelotes quanto por Seus direitos e deveres não podem ser definidos
causa de sua personalidade em relação à lei. Afinal, em detalhes. C ontudo se sabe que um coletor de im -
Paulo era fariseu antes de se u n ir ao cristianism o, mas postos que lograsse o título de cidadão rom ano teria
tam bém se descreveu certa vez com o um zelote reli- total isenção das taxas im postas po r outros publica-
gioso (At. 22:3). nos provinciais.
C ontudo, m esm o sendo im possível afirm ar cate- A expressão “publicanos e pecadores” (Luc. 15:1;
goricam ente se Simão era um ex-zelote que resol- M at. 21:31) é um a evidência clara do nível de im po-
veu seguir C risto, pode-se dizer que o pensam ento pularidade que estes cidadãos gozavam . Associar-se a
revolucionário desse grupo estava presen te entre os eles sem ser m al visto ou torná-los honestos era um a
discípulos de Jesus. Eles esperavam que seu M estre tarefa im possível para a m entalidade daquela época.
expulsasse os rom anos e reestabelecesse o reino a
Os rabinos diziam que quem entrasse na casa de um
Israel (At. 1:6). Em algumas ocasiões m ostravam -se
cobrador de impostos estaria im undo e quem recebesse
violentos e p ro n to s para o com bate arm ado, m as Je-
sus recusou a violência (Mat. 26:51 e 52). O reino que um em casa tam bém . Os publicanos eram vulgarm ente
comparados a prostitutas, e os rom anos os com para-
Jesus proclam ara não seria deste m undo (Jo. 18:36).
vam aos donos de bordel. Talvez por isso Jesus disse
7 - P u b lica n o s - não constituíam bem um parti- ironicam ente aos líderes judeus: “Publicanos e prosti-
do político, m uito m enos religioso, mas um a classe de tutas vos precedem no reino de Deus” (Mat. 21:31).
cidadãos odiados p o r todo m undo. Apenas os lepro-
As conversões de Zaqueu, em Jericó, e Levi M a-
sos e estrangeiros dom inadores eram m ais rejeitados
teus em Cafarnaum , certam ente assom braram m uitas
que eles.
pessoas e escandalizaram os que estavam consideran-
Os publicanos tam bém eram judeus, mas a abo- do a m ensagem de Cristo. O fato de Jesus associar-se
m inação de seus com patriotas se dava pelo fato deles a esse tipo de gente trouxe interrogações ao seu m i-
nistério. Afinal os publicanos não eram bem -vindos "Dai a César 0 que é de César"
nem na sinagoga nem nas dependências do Tem plo. Estima-se que a Judeia era uma das pro-
Poucos deles devem ter tido a chance de ouvir um a víncias com maior taxa de impostos no império
pregação de Jesus d entro de um a sinagoga. Se fossem, romano. Na época de Herodes, 0 Grande, have-
seriam banidos dali (Luc. 15:1 e 2). ria peio menos 250,000 trabalhadores ativos do
sexo masculino e todos deveriam pagar impos-
C ontudo, talvez pela influência de M ateus, que se tos para 0 governo - 0 que certamente engor-
to rn ara seu discípulo, m uitos outros publicanos pas- dava os cofres de Roma e do próprio Herodes.
saram a seguir Jesus (M ar. 2:14 e 15). A lista dos m ar- Em síntese, havia quatro tipos de tributos:
ginalizados em sua com panhia não parecia pequena. Tributo da terra (Tributum soli)- agriculto-
A todos, porém , C risto ordenava o abandono da de- res, grandes e pequenos, fazendeiros e demais
sonestidade e da corrupção (Luc. 3:12-13; 19:18). homens do campo deveriam tributar 10% de
tudo que produziam anualmente para os cofres
do governo. Quem morava nas cidades pagava
0 mesmo percentual como imposto pela casa,
ainda que fosse alugada.
Tributo do censo (Tributum capitas) - b a -
seado na contagem da população. Depen-
dendo do número de habitantes, poderia ser
de 1 denário por pessoa, tanto m ulheres de
12-65 anos, quanto homens de 14-65 anos.
Crianças eram isentas.
Imposto aduaneiro (Portoria) - ta x a s de co-
mércio eram cobradas por oficiais de porto, de
fronteira e também de coletoria que fiscaliza-
va todos os que entrassem e saíssem de uma
cidade. 0 percentual variava entre 2% e 5%
sobre 0 valor do produto comercializado. Con-
tudo, cabia ao publicano avaliar 0 preço real do
produto. Além disso, numa longa viagem, pas-
sando por diferentes cidades, portos e postos
aduaneiros, um mercador poderia te r seu pro-
duto taxado diversas vezes.
Tributo do Templo - meio Shekel (ou si-
cio) de prata era exigido como imposto para 0
Templo em Jerusalém. Este imposto já estava
previsto na lei dos judeus (Êx. 30:11-16) e foi
mantido na administração romana dos tempos
de Jesus (M at. 20:2). Nesta época 0 meio Siclo
eqüivaleria a 2 dracmas.
Todo judeu que residisse dentro ou fora de
Jerusalém deveria pagar esse tributo oficial-
mente e os publicanos também ficavam res-
ponsáveis por arrecadá-lo, embora em algumas
circunstâncias outros poderiam ser encarrega-
dos de fazê-lo para que pessoas tão execrá-
veis moralmente não tivessem contato com 0
dinheiro consagrado para Deus (M at 17:24-27).
8 - 0 p o v o da T erra - apesar de toda a concor- debilitava as mãos do povo de Judá e inquietava-os no
rência política e religiosa que os diferentes grupos edificar”. Vários com entaristas creem que o texto se re-
provocavam , um a boa parte da população (talvez a fira aos agricultores e camponeses que, p o r não serem
m aioria) não professava seguir n enhum desses seg- transportados com a aristocracia judaica para a Babi-
m entos em particular. Por isso foram com um ente lônia, ficaram para trás, adquirindo costum es pagãos.
chamados de am há- ’aretz, isto é, “povo da terra ”.
Seja qual for a identificação desse grupo, fica claro
Esse grupo não negava suas raízes judaicas, mas que o sentido de am há- ’aretz não é dos m elhores. Por
não era tão m eticuloso no cum prim ento de certos isso, o Talm ude vai identificar o “povo da terra ” como
rituais com o, p o r exemplo, as leis de purificação. A "judeus ignorantes da T o rá” (ignoramus).
m aioria dos que se identificavam com o ‘a m há- ’a retz
Jesus parece ter sido sim pático a esse tipo de gente.
eram cam poneses, artesãos, gente do povo. C ontu-
Seu interesse era salvá-los, pois eram “com o ovelhas
do, em term os gerais, m esm o um rico judeu que não
que não têm pastor” (Mar. 6:34). Ademais, o fato de
seguisse ao pé da letra os rituais do judaísm o poderia
alguns seguidores de Cristo com erem sem lavar ceri-
ser classificado com essa alcunha.
m onialm ente as mãos dem onstra que Jesus se asso-
O interessante é que a expressão am há- ’a retz não ciou ao “povo da terra ”.
tinha nos tem pos antigos o caráter pejorativo dos dias
de C risto. Em Gênesis 23, ela aparece com o sentido Família e sociedade
de “conselho tribal”, eram os interm ediários da com -
pra que A braão fez da cova de Macpela. Em outras Os evangelhos ainda oferecem um retrato m uito
passagens, ‘am há- ’aretz significava apenas “povo, na- específico da form a de vida dos judeus daquela época.
ção” e poderia ser aplicado a Israel, Judá ou a qualquer De um m odo geral, as famílias eram m onogâm icas,
outro grupo étnico especificado ou não (Gên. 42:6; patriarcais e indissolúveis - em bora houvesse legali-
Lev. 4:27; 20:2; Jó 12:24). dade para o divórcio. Jesus faz seu prim eiro m ilagre
num a festa de casam ento e usa o tem a das bodas em
Ao que tudo indica, foi com o fim do cativeiro ba-
várias de suas parábolas.
bilônico e o retorno dos judeus para Jerusalém e Judá
que a expressão começou a assum ir um tom negativo. Era, enfim , um a sociedade com elem entos tanto
Esdras 4:4 afirma que “o povo da terra (am há- ’aretz) com uns com o estranhos à cultura ocidental m oderna.
Aqui você verá alguns temas com uns sobre profissões, saíam da aldeia local para m o rar em o u tro centro. O
educação, infância e entenderá m elhor o dia-a-dia dos com um era ficarem por ali m esm o, casarem -se entre
tem pos de Jesus Cristo. si e fortalecerem a perm anência do lugar, gerando a
m aior quantidade possível de filhos.
Seja com o for, a m aioria daqueles que tinham a Já o rabino Ben Azzai defendia que era obrigação
oportunidade de estudar encerrava os estudos nesta de um pai ensinar a T o rá para sua filha. Em um a pas-
época dos 13 anos. U ns poucos jovens, porém , se- sagem do T alm ude (M eguilá 23-A) fala-se da “pos-
guiam a carreira estudantil, aprofundando-se até se sibilidade”, porém desaconselhada, de que a m ulher
to rn arem discípulos form ais de algum grande rabino lesse a T o rá em público no Shabat.
que os aceitasse. Som ente m uito tem po depois, quan-
Em outro trecho, ainda, os sábios afirm avam que
do o jovem já estava com no m ínim o 30 anos, ele te-
diante dos m andam entos de Deus, os hom ens e as
ria a oportunidade de se to rn a r um m estre da Lei. Ele
m ulheres eram iguais, de m odo que era até aconse-
seria, então, um rabino. M as nem todos os que foram
Ihável que elas conhecessem a T o rá para que instruir
alunos (talmidim) logravam esse status.
seus filhos e instar seus m aridos a cum prirem suas
A sala de aula era simples e o currículo bem especí- obrigações religiosas. Recorde a m ulher virtuosa de
fico. Era geralm ente um anexo da sinagoga separado Provérbios 31, que adm inistra os negócios da família,
para esse fim. P or causa de sua ênfase nos livros ins- a fim de que seu m arido ten h a mais tem po para as
pirados, essa escola foi, m ais tarde, apelidada de Beyth discussões judiciais do dia a dia.
Há Sefer, que quer dizer “casa do livro”.
U m grupo de opinião m oderada entendia que em-
Os alunos sentavam -se no chão e escreviam na bora os preceitos de estudo da T o rá não fossem um a
areia ou em pedaços de cerâmica quebrada - o papel obrigatoriedade fem inina, não eram tam bém um a
de rascunho da época31. O professor tam bém ensina- proibição, de m odo que as m ulheres seriam benefi-
va sentado e o livro texto eram as Escrituras Judaicas ciadas de seu estudo.
- que os cristãos cham am de A ntigo T estam ento. Eles
De m odo geral, as m eninas ficavam sob os cuida-
aprendiam a ler os livros sagrados, copiá-los e m em o-
dos da mãe até o m om ento em que se casavam e iam
rizá-los. As principais passagens eram repetidas vá-
em bora de casa. Já os m eninos eram cuidados até aos
rias vezes, até estarem decoradas. De m odo especial,
5 ou 6 anos, quando então passariam a ser tutoreados
cada aluno deveria aprender os textos que coinciden-
pelo pai e um rabino local.
tem ente com eçaram e term inavam com a prim eira e
a últim a letra de seu próprio nom e.
Ocupações profissionais
E as mulheres? A m aior parte dos hom ens do tem po de Jesus, tal-
vez 80% ou 90%, trabalhava na agricultura. As m u-
A posição das m ulheres no judaísm o antigo não
lheres e crianças, em bora não tivessem necessaria-
parece ser algo uniform e, m esm o naquela época. O
m ente um a “vida profissional”, participavam nos dias
p ró p rio Talm ude m ostra, po r m eio de opiniões co n
de colheita. N a verdade, toda a com unidade - caso se
tratasse de um a aldeia ou pequena vila - era comis- não se pode esquecer dos servidores dom ésticos,
sionada a se envolver na colheita dos grãos. Portanto, escravos, diaristas contratados para serviços braçais
m esm o aqueles que não fossem agricultores p o r pro- e cobradores de im postos (certam ente um dos mais
fissão, tinham - por essa tarefa com unitária - um a odiados pelo povo).
experiência agrícola.
Com o acontece em toda sociedade urbana, era
Essa talvez seja a razão porque tem as agrícolas per- inevitável a prática da prostituição e da m endicância
fazem a m aior parte das parábolas de Jesus: a parábola m esm o na cidade de Jerusalém .
do sem eador (M at. 13:24-30), a sem ente de m ostarda
Mar. 4:30-32), o joio e o trigo (M at. 13:30-43), a co״
iheita (M ar. 4:26-29).
Agricultura
Além das profissões m ais com uns de agricultura e A vida era dura naqueles dias e o clima não coope-
pescaria, exerciam -se tam bém outras de caráter mais rava m uito. Estudos em solo revelam que apenas 15%
^rtesanal com o perfum istas, tecelões, curtidores, car- do que se plantava retornava em form a de colheita -
pinteiros, oleiros e fabricantes de tendas. T am bém isso num a boa safra.
BI
A razão para um percentual tão pequeno se deve
ao fato de que a terra boa de plantio era pouca e a
Atividade pesqueira
região m ontanhosa. O costum e então era construir
Os evangelhos não falam detalhes sobre a vida da
terraças de cultivo que eram um a espécie de degraus
m aior parte dos apóstolos de C risto. Sobre suas pro-
escalonados num a encosta. M uretas de arrim o feitas
fissões, fala-se apenas de M ateus com o coletor de
de pedra eram colocadas para segurar a terra e o sur-
im postos (M at. 10:3) e de quatro outros que seriam
gim ento de espinhos era inevitável nesse am biente.
pescadores, a saber: Pedro, A ndré, Tiago e João (Mat.
T al cenário condiz perfeitam ente com a parábo- 4:18-22; M ar. 1:16-20; Luc. 5:1-11).
la do sem eador e as sem entes que caíram nas pedras,
É difícil precisar quão valorizada era a atividade
nos espinhos e na terra fértil (M at. 13:1-23; M ar. 4:1-
pesqueira dos judeus antes de Jesus. C ontudo, há vá-
20; Luc. 8:4-15). A proporção de colheita m encionada
rias passagens do A ntigo T estam ento aludindo à arte
p o r C risto (“a cem, a sessenta e a trin ta p o r um ”) pode
da pesca (Isa. 19:8; Ezeq. 26:5, 4; 47:10; Hab. 1:15). O
ser considerada m uito acima do que n orm alm ente se
colhia. Esse era um indicativo espiritual dos resulta-
dos prom etidos p o r Deus diante do em penho pelo
anúncio do Reino.
Ha_
Fato importante
Essa ocupação da terra colocava 0povo judeu
em contraste direto com a cultura idealizada
pela elite greco-romana, especialmente nos
grandes centros. Sua ênfase estava na ociosi-
dade, no teatro e nos jogos.) udeus helenizados
tinham a tendência de abandonar a vida no
campo em busca de diversão num ambiente
mais urbano e liberal - novamente evoca-se 0
quadro dofilho pródigo e sua busca por prazer
(Luc. 15:13).
Ό
O
~ü"3~
nom e “peixe” associado a vários lugares pode ser um a A cidade de M agdala, na encosta do M ar da Ga-
pista da im portância desse ofício para os judeus. A lileia, era conhecida em grego p o r Tarichaeae, que
existência de um m ercado de peixe regular em Je ru - quer dizer “o lugar onde os peixes são salgados”. Era,
salém é sugerida pelo nom e dado a um a das portas da po rtan to , um centro especializado em salgar pesca-
dos para a venda no m ercado. O sal era justam ente o
cidade: p o rta do peixe (II Cro. 33:14; Ne. 3:3; 12:39;
p roduto que garantia a viagem dos peixes desde sua
Sof. 1; 10).
origem até algum a cidade interiorana e não m arítim a
Essa atividade estava mais concentrada no M ar da com o no caso Jerusalém .
Galileia, em bora tam bém houvesse algum a indústria A pesca podia ser realizada com anzol (M at. 17:27;
de pesca no litoral m editerrâneo. O peixe do G rande Isa. 19:8), lança (conform e ilustrações do antigo Egi-
M ar, ou peixe do M editerrâneo era um a iguaria na to), arpão (em form a de um garfo grande) e gancho
ocasião (Ezeq. 47:10). (Jó 41:1-7). M as a pesca com redes era a mais com um
de todas (Ezeq. 26:5, 4; 47:10). O m odelo mais usado, te de caráter duvidoso. Só não perdiam em desprezo
conform e ilustrações da época e restos arqueológicos, para os publicanos, m as não ficavam m uito atrás des-
era parecido com a tarrafa usada em algumas regiões tes. Isso realm ente é um a surpresa para m uitos, con-
do Brasil. siderando o status que a atividade pastoral recebeu ao
longo da história do cristianism o.
De form a circular, com pesos de pedras nas bor-
das, ela era usada da seguinte m aneira: seja à m argem Se você voltasse no tem po indo para os dias de
das águas, de dentro de um barco ou subm erso até Abraão e os patriarcas, veria que a atividade pastoral
a cintura, o pescador via o cardum e, então lançava era um a nobre ocupação. Jabal era o ancestral dos que
a rede projetando-a no ar. Os pesos de pedra faziam habitavam em tendas e possuíam gado (Gên. 4:20).
com que a rede descesse e os peixes ficassem presos, Pastores eram , geralm ente, mais ricos que agriculto-
enroscados nela. O dispositivo era puxado p o r um a res. E não se pode esquecer que o prim eiro hom icídio
corda atada ao m eio do círculo que a fechava com o se da hum anidade se deu p o r causa de um a celeuma en-
fosse um a bolsa cheia de peixes. tre dois irm ãos: um agricultor, outro pastor de ove-
lhas (Gên. 4:8-16).
Ao que tudo indica, Pedro e A ndré estavam lan-
çando esse tipo de rede da m argem ou de bem perto T odos os grupos nôm ades eram invariavelm ente
dela, o que possibilitou que Jesus os chamasse e fosse constituídos de pastores com seus rebanhos (Gên.
ouvido (M ar. 1:16-17). 30:29; 37:12; Êxo. 2:16). Assim eram os filhos d ejacó
que, ao m igrarem para o Egito, depararam -se com um
Ü 3- ..c Q am biente bastante diferente daquele ao qual estavam
acostum ados. Os egípcios eram mais agricultores!
Pirâmide social
Assim seria um a pirâm ide social da sociedade onde viveu Jesus:
Classe baixa: pequenos agricultores, pescadores avulsos (que trabalhavam para outros ou pesca
apenas para consumo próprio), trabalhadores braçais diaristas, escravos por causa de dívidas contr
Rejeitados e marginalizados: leprosos, mendigos portadores de necessidades especiais, viúvas sem ampu
Refeições
Enquanto os rom anos costum avam ter quatro refeições ao dia, os judeus restringiam -se a duas ceias, um a prefe-
rencialmente às 10 horas ou perto do m eio-dia e outra ao final da tarde e cair da noite. Não havia um horário rígido.
A prim eira refeição deveria ser leve: pão, peixe, frutas secas, grãos torrados, queijo ou coalhada (Ecl. 10:16;
Jo 21:4,5, 9). Podia ser tom ada no local de trabalho ou a cam inho dele (Mat. 14:15; Ru. 2:14). N ote que após sua
ressurreição, Jesus aparece para seus discípulos nas m argens do M ar da Galileia e os convida para um a refeição
m atutina, que pode te r sido p o r volta das 10 horas ou Nessa segunda ceia, geralm ente havia algum ali-
m eio-dia. O cardápio era peixe e pão! (Jo. 21:5, 9-12). m ento quente, com o um a sopa de lentilhas e pão à
vontade. N orm alm ente um único prato era servido
A o utra refeição que era a m ais im portante - em -
bora não fosse necessariam ente m ais sofisticada - num só recipiente do qual participavam todos. Isso
ocorria no fim do dia com toda a fam ília reunida e explica o trocadilho de Cristo usado com M arta quan-
convidados especiais, se fosse o caso (Luc. 7:36; 10:40; do ela, preocupada com a comida, estaria perdendo o
17:7-9 e Jo. 12:2). ensino de Cristo. “Pouco é necessário [M arta] ou um a
só coisa, M aria escolheu a m elhor parte e essa não lhe M ar. 6:35; Luc. 9:12); celebrou a ceia pascal com os
será tirada” (Luc. 10:42). discípulos (Luc. 22:15; Jo. 13:2;21-30) e foi ungido
p o r M aria M adalena (Jo. 21:1-8).
Banquetes especiais com o a com em oração pela
volta do filho pródigo (Luc. 15:23 e 25) e a grande N o sábado havia um a refeição fam iliar especial ao
ceia (Luc. 14:15-24) eram geralm ente refeições no- p ô r do sol de sexta feira e o u tra após o serviço da si-
turnas ou servidas ao cair da tarde. Foi nesse horário nagoga ou do T em plo na m anhã seguinte (Luc. 14:1).
que Cristo m ultiplicou os pães e peixes (M at 14:15;
Regras de etiqueta
No O riente M édio, desde os tem pos de Abraão e
tam bém nos dias de Jesus, com partilhar um a refeição
é assinar um a garantia de paz, confiança e, em alguns
casos, reconciliação. C om partilhar a m esa é com par-
tilh ar a p rópria vida. Até hoje, dependendo de onde
você viajar pelo O riente M édio, quando alguém o
convida para com er em casa, está dizendo que quer
iniciar um a amizade com você. P or isso, m uitos en-
contros de C risto ocorriam durante um a refeição.
A m esa greco-rom ana - tam bém usada p o r judeus Era com grande orgulho que osfariseus e líderes
- era cham ada “triclínio” (triclinium). U m a espécie religiosos desempenhavam essa cerimônia na
frente de outras pessoas com o fim de serem
de sofá não m uito distante do chão, dividido em três
admirados por sua religiosidade. Havia muitas
partes com o se form asse um “U ” ou um retângulo in- tradições e muitos detalhes, que incluíam até
com pleto. Essa abertura perm itia que os alim entos e mesmo a posição das pontas dos dedos.
bebidas fossem trazidos para a “m esa” e nela distribuí-
As escolas rabínicas deHillel e Shammai sustenta-
dos. U m exem plar de triclínio encontrado em Pom -
vam posições distintas sobre 0procedimento exa-
peia m o stro u que o m esm o era um pouco elevado em
to, mas concordavam que 0 ritual de limpeza era
relação ao chão, perm itindo que um em pregado de pé essencial. Se alguém 0deixasse de observar estaria
ao centro pudesse servir a seus senhores. impuro diante de Deus e vulnerável à pobreza, à
destruição e aos ataques de um demônio específico
Nas regras rom anas, cada parte acom odaria três chamado Shibta.
pessoas, mas os gregos iam além disso e os judeus
tam bém - Jesus com eu com doze e seu “triclínio” tal- Foi por causa destas superstições semfundamento
nas Escrituras que Jesus, de propósito, deixa de se-
vez fosse um acolchoado mais simples e rente ao chão,
guir 0ritual quando convidado para comer na casa
conform e o costum e judaico. Almofadas ou “tatam es” de um dos principaisfariseus (Luc. 11:37-44). Em
especiais eram usados para acolchoar o chão em volta outra ocasião, seus discípulos também não seguem
do triclínio. Para com er, os convivas se reclinavam 0protocolo cerimonial (Mat. 15:1e2) e, em ambas
sobre seu braço esquerdo e m anuseavam alim entos e ocasiões, 0questionamento surge, dando oportuni-
bebidas com a m ão direita. dade para que Jesus demonstre afragilidade
de tal tradição.
O cardápio de Jesus
M uitos são curiosos para saber quais eram as re-
ceitas m ais com uns dos dias de C risto, com o era a
culinária daquele tem po. A lguns ingredientes são
conhecidos até hoje e alguns p ratos tam bém , mas
outros seriam to ta lm e n te estranhos à cultura oci-
dental m oderna.
Assim a pessoa se purificava nas águas correntes dos. As capas eram mais usadas quando o cidadão saía
de um tanque especial e em seguida vestia as roupas para um a viagem ou em local público (At. 12:8).
lim pas, de m odo a estar apto para com parecer peran-
Com o acessórios havia um a cobertura para a ca-
te o santuário de Deus (cf. Zac. 3:1-10 e, dependendo
beça na form a de um pequeno gorro, um cinto que
da versão, Apoc. 22:14).
poderia ser feito de couro ou de tecido e outro m ode-
lo de túnica (meil), sobreposta externam ente à túnica
Moda masculina básica e que funcionava com o um sobretudo ou pale-
tó. Poderia ser aberta na frente (im itando um casaco
A principal peça de vestuário usada p o r hom ens e m oderno) ou inteiriça, m as com m angas e cum pri-
m ulheres contem porâneos de Jesus era a túnica. As m ento um tanto m ais curtos que a túnica de baixo.
diferenças básicas eram o tipo de tecido, os adereços e Era usada mais na época do frio ou, com o as vestes
o com prim ento: a túnica dos hom ens era m ais curta e talares, p o r anciãos, sacerdotes e rabinos do povo.
ia até o tornozelo; a das m ulheres ia até os pés.
Os calçados tam bém eram opcionais e m uita gente an-
N o caso dos hom ens, apenas anciãos em posição de dava descalço, exceto quando empreendiam viagem para
destaque, como os sacerdotes, ou monarcas, usavam tú- algum outro território e teriam de caminhar a pé. Por
nicas compridas o bastante a ponto de cobrirem os pés. fim, é provável, mas não conclusivo, que houvesse ainda
São as chamadas “vestes talares” como as que Jesus usa um a tanga ou saiote sob a túnica como roupa de baixo.
na visão do Apocalipse 1:13. A palavra “talar” vem do la- Pedro possivelmente usava um a tanga assim quando fi-
tim talus e quer dizer “calcanhar”. Daí a expressão “veste cou “nu” ou “despido” no barco de pesca da família (Jo.
talar”, aquela cujo com prim ento vai até os calcanhares. 21:7). Jesus foi crucificado usando apenas a tanga, porque
os soldados já haviam removido suas vestes (Jo. 19:23).
Cada judeu norm alm ente usava duas peças básicas.
M ateus 5:40 faz referência a elas: um a seria a túnica
(׳Chalouk ou Ketoneth) e a outra a capa (simlah ou talith) Moda feminina
- um forro parecido com um cobertor pequeno que as
pessoas usavam nas costas em substituição aos turban- Segundo o tratado judaico do Shabbath, as m ulhe-
tes que eram mais usados pela classe dos mais abasta res mais ricas costum avam usar fitas de lã e seda nos
cabelos, além de arcos, presilhas e pentes feitos de to de um inseto do carvalho-querm es, o m esm o que
m arfim , m adeira, casco de tartaruga e couro enfeita- produz a cochinilha.
do de pedras preciosas.
Os tecidos mais baratos eram feitos de lã. Os de li-
Os cabelos eram a parte mais sensual para a m u- nho eram mais dispendiosos. A diferença estava tanto
lher da época, de m odo que era costum e daquelas no trabalho quanto no resultado final. De poucas ove-
mais influenciadas pela m oda grega tingi-los po r in- lhas era possível o bter lã para um a família. Já o linho,
teiro ou apenas um a mexa, às vezes de preto, ou mais colhido de um a planta que leva o m esm o nom e, tinha
frequentem ente de ruivo e loiro (principalm ente as um longo processo de colheita e fabricação. Além do
que já tinham algum tom grisalho). fato de que necessitava m uito mais m atéria-prim a
para se produzir um a única capa do tam anho de um
As mais jovens m andavam encaracolar a cabelei-
adulto. N o Egito, os faraós eram em balsam ados com
ra aplicando grande quantidade de óleo e perfum e.
o linho, sím bolo de poder e riqueza.
Perucas tam bém eram bem -vindas n u m a região, por
exemplo, infestada de piolhos. E, para com pletar o vi- O algodão já era comumente utilizado pelos persas,
suai, xales eram com um ente am arrados nos om bros e gregos e indianos, mas não há indícios de que os judeus
havia abundância de anéis, braceletes, argolas presas o cultivassem. A seda, por sua vez, era, mais do que qual-
no nariz e brincos, em bora, ao que tudo indique, as quer outro, o tecido mais caro do Oriente. Luxuoso e pró-
igrejas cristãs em seus prim órdios baniram esse cos- prio para reis que o compravam nas mãos de comercian-
tum e entre as m ulheres que se convertiam ao cristia- tes vindos do Extremo Oriente (Veja Apo. 18:11 e 12).
nism o (veja I Tim . 2:9 elO e I Ped. 3:3 e 4).
Cores e tecidos
Fato importante
As variações ficavam p o r conta do clima, do terre-
Alguns autores pensam que já no tempo de Jesus,
no ou das cores que cada um escolhia. M esm o assim
a capa tinha uma função religiosa como 0talith
não havia m uitas m udanças. Falando especificam ente usado pelos modernos judeus. Se assim fosse, esta
das cores, 0 processo de obtenção dos diferentes m a- seria uma peça indispensável para se aproximar
tizes era bastante caro e artesanal. do Templo ou entrar numa sinagoga. Outros,
no entanto, afirmam que esse costume litúrgico
Por isso nem todos tingiam suas vestes que, n o r-
de cobrir a cabeça em sinal de reverência fora
m alm ente feitas de lã, podiam te r um a variedade de praticado apenas a partir do IVséculo d.C. Seja
cores naturais, desde o branco até o m arrom escuro como for, a capa era uma peça tão importante
com vários tons interm ediários. U m a lã tingida de que podia ser usada como sinal de penhora no
púrpura era no m ínim o 40 vezes mais cara que um a pedido de algum empréstimo (Luc. 6:29).
sem n en h u m tipo de tintura.
Quando era esta a situação, a lei exigia que um
Sem m isturas sintéticas com o as que existem hoje, credor que tivesse por garantia de débito uma
os antigos recorriam a extratos do m undo anim al e capa, a devolvesse ao devedor antes do escurecer
vegetal a fim de produzir sua variedade de cores e (Ex. 22:26 eDeut. 24:12), pois em muitos casos
ela poderia servir de cobertor, colchão (se a
tons. Havia um caram ujo do m ar cham ado M urex
pessoa dormisse ao relento), capuz e até como
trunculus, cuja glândula liberava um fluido am arelo
tapete para dar as boas-vindas a um soberano
que, quando exposto à luz solar, tornava-se azul púr-
muito importante. Daí a atitude dos cidadãos,
pura e era utilizado para tin g ir tecidos finos. na entrada triun fal de Jesus em Jerusalém, ao
estender seus mantos para que ele passasse por
O am arelo era tirado das folhas da am endoeira e
cima montado no jumentinho (Mat. 21:11).
da casca m oída de rom ãs. O preto vinha da casca de ג
m adeira da rom ãzeira e o verm elho poderia v ir tanto ב
de um a planta cham ada ruiva dos tin tu reiro s quan u r g ir
״pQ
Quatro evangelhos - uma
HO
. ־- V-
0 sentido desses ícones é com pletam ente poético e não se pode dizer que refletem realm ente 0 significado de cada
evangelho ou a intenção original das visões do A pocalipse e de Ezequiel. A dem ais, sua explicação variou de tem pos
em tem pos desde que apareceu numa das prim eiras sugestões fe ita s por Jerônim o. Seu va lo r hoje é apenas artístico
e não necessariam ente teológico. Permanece, contudo, a certeza de que os evangelhos são visões d ifere ntes, porém ,
com plem entares e harm ônicas da vida e das obras de Jesus de Nazaré.
O que é evangelho? ções geográficas ou tem porais das n arrativ as são, na
m aioria das vezes, genéricas: “na cidade”, “num alto
m o n te ”, “em casa”, “no cam in h o ”, “naquele tem p o ”,
C om um ente, a palavra “evangelho" é usada para se
“naquela h o ra ”.
referir às boas novas da Palavra de Deus - o que não
é de m odo algum errado, levando-se em conta que Assim, os evangelhos não são relatos biográficos
o term o grego euangélion, evidentem ente significa de C risto no sentido atual da palavra. São o anúncio
"boa notícia”. Essa era um a palavra com um no passa- do Kerygma, isto é, da m ensagem proclam ada po r
do, m esm o antes de surgir no m undo o m ovim ento aqueles que foram as prim eiras testem unhas do even-
cristão. A inscrição de Priene, datada do ano 9 a.C. e to e, a seguir, pela igreja de um m odo geral.
encontrada na Ásia M enor, celebra o nascim ento de
Augusto com o sendo as “boas novas” (euangelia) da Sua intenção é apresentar a Jesus com o M essias,
história da hum anidade. filho de Deus e Salvador. Seu conteúdo não pode ser
lido de m odo indiferente. T rata-se de quatro teste-
Em term os de ciências bíblicas, evangelho é um gê- m unhos, mas um m esm o convite à graça m anifestada
nero literário, m arcado po r características e estilos na história da hum anidade.
que precisam ser anotados para a boa com preensão
de seu conteúdo. M as ainda que se trate de um gêne-
ro literário, cada autor m anifestou sua peculiaridade,
Contradições ou
seu objetivo e seus enfoques pessoais, conform e as peculiaridades?
necessidades de seus destinatários. Não eram , porém ,
m eras biografias de Jesus Cristo. Há autores que tom am certos trechos aparente-
m ente divergentes dos evangelhos e assum em que
Os evangelistas não in te n ta ra m escrever porm e-
estes seriam contradições nunca harm onizáveis que
nores da vida de Jesus d eterm inando o que ele fez
indicam um a falta de coerência na produção de cada
em certa época do calendário. N ote que as indica
um deles. M as essas m esm as divergências podem ser
lidas sob o u tro prism a legitim am ente válido, tan to à
luz da lógica quanto da crítica literária.
"Im aginem os dois livros escritos sobre M ar-
M ateus, p o r exem plo, acentua m uito mais as po- tinho Lutero por dois autores católicos, um em
lêmicas entre Jesus e os fariseus do que o faz Lucas. 1900, 0 outro em 1980. 0 prim eiro, de modo Ia-
Este últim o chega a sugerir um a amizade entre Jesus mentoso, escreverá nestes term os: lu te ro , este
e alguns fariseus no início de seu m inistério, algo to - monge que abandonou 0 hábito, que desprezou
talm ente inexistente no relato de M ateus. uma religião, levou, por seu próprio orgulho, a
Igreja e a Europa ao fogo e ao sangue 0 se-
C om pare a pregação agressiva do Batista, segundo gundo, por sua vez, já dirá: lu te ro teve sua fra-
Lucas, endereçada à m ultidão que o ouvia e de acor- queza como qualquer um de nós; mas devemos
do com M ateus, voltada especificam ente para os fari- considerar que aqui estamos diante de um monge
seus (Mat. 3:5-10 e Luc. 3: 7-9). M ateus é o único a trem endam ente religioso, apaixonado por Deus e
apresentar todo um discurso de lam entação dedicado preocupado com a salvação dos homens; ele per-
inteiram ente aos escribas e Fariseus (M at. 23:13-36). cebeu que a Igreja devia se reformar, voltar-se para
Enquanto isso, Lucas, em bora tam bém apresente as Escrituras, e a Igreja, por sua recusa, 0 expulsou
conflitos entre Jesus e o farisaísm o, não se esquiva de de seu seio..,". Etienne Charpentier33
apresentar Jesus com endo em casa de um líder fari- Ora, nenhum historiador sensato questionaria
seu (11: 37-44; 14:lss) e mais, sendo alertado p o r eles a historicidade de Lutero com base nesses depoi-
contra o perigo de H erodes, com o se quisessem sal- m entos diferentes. Nem poderia dizer que, embo-
var-lhe a vida (13: 31-33). ra diferentes, eles sejam contraditórios. Ambos
fazem uma leitura do mesmo fato: Lutero rompeu
João, por sua vez, enfatiza m uito mais a superio-
com 0 catolicism o. Um acentuou a responsabili-
ridade de Jesus em relação ao Batista do que fazem
dade do monge no processo, enquanto 0 outro
os demais evangelistas. Isso, com o você verá mais à
acrescentou a intolerância como tam bém respon-
frente, tam bém tin h a um m otivo pró p rio que justifi-
sável por m uito do que aconteceu. Possivelmente
cava essa linguagem .
houve, entre ambos os autores, 0 concilio Vatica-
Cada evangelho, pois, apresenta sua p ró p ria carac- no II, que tornou os católicos m ais otim istas em
terização do Cristo, que não deve de m odo algum ser relação ao protestantism o. Sendo assim, 0 que
entendida com o contradição histórica. viveu depois disso esboçou em seu livro as ca-
racterísticas do am biente mais tolerante no qual
vivera, enquanto 0 prim eiro apenas ecoou os ares
apologéticos de sua época.
Essa mesma analogia pode ser usada para
explicar as peculiaridades de cada evangelho ao
descrever Jesus de Nazaré, mesmo que pareçam,
a princípio, contraditórias. Cada evangelista nar-
rou a vida de Cristo com um colorido próprio de
personalidade, am biente e propósitos. Contudo,
nada há de dram aticam ente sério que coloque
em dúvida a reputação historiográfica daqueles
que produziram tais textos. A final, pequenos er-
ros, ainda que ocorram, são peculiares até mes-
mo dos mais exím ios historiadores modernos e
da Antiguidade.
,.,CLa-p -Cn .
Fato importante
n On .,C.,D Π
Muitos pensam erroneamente que, se os evangelis-
tas estivessem num tribunal, seu testemunho seria o
J
imediatamente rejeitado por causa das contradições
J
Você sabia?
que eles apresentam. A cura dos cegos (ou do cego) de
Jericó é um caso clássico. Mateus, a única testemu- J. Warner Wallace fo i um detetive de Los Angeles,
nha ocular a relatar 0episódio, diz que eram dois EUA, especializado em resolver casos envolven-
cegos, mas não oferece 0nome de nenhum deles. do homicídios. Ele é um especialista em utilizar
Lucas e Marcos, por sua vez, dizem que era apenas técnicas de investigação policial para resolver casos
um e Marcos ainda fornece seu nome “Bartimeu”. complicados de assassinato e apontar 0 criminoso.
E não para por aí. Mateus e Marcos dizem que a cura Sendo um ateu, ele utilizou sua especialização
se realizou quando Jesus estava saindo de Jericó. investigativa para avaliar 0grau de credibilidade
Lucas, porém, diz que isso ocorreu quando Jesus do testemunho dos evangelhos acerca de Cristo. A
estava chegando à cidade (c f Mat. 20:29-34; Mar. princípio pensava que encontraria razões de sobra
10:46-52; Luc. 18:35-43). para continuar incrédulo em relação ao conteúdo
bíblico. Mas suas investigações honestas 0 levaram
Mas será que contradições como essas invalidariam para outro rumo - 0 da convicção de que a narrati-
um testemunho diante de um tribunal? Veja 0 que diz va evangélica é histórica e real.
uma especialista no assunto, aDra. Suzana Camar-
goMiranta, desembargadora: Suas conclusõesforam posteriormente publicadas
num livro intitulado Cold Case C hristianity -
E possível divergências e ambas as testemunhas Cristianismo: Caso encerrado. c
estaremfalando a verdade - as culturas e conceitos c ג
C ס
pessoais são agregados à pessoa. Toda testemunha
capta apenas parcialmente ofato (0 cérebro seleciona T73־
as informações ocorridas). É impossível a existência
de depoimentos idênticos. Testemunhos iguais
revelam que as testemunhas foram orientadas - a
A origem e formação dos Não se pode p ro v ar a existência da fonte Q. Por
isso, enquanto m uitos acadêmicos apostam nela, ou-
evangelhos tros a consideram inexistente.
C O
J Você sabia? c
c ר
G O
sO O r —׳־ ” ־־
c ׳״ ־C j r — —r u g ב־ ״׳
As palavras de Jesus
De um m odo geral, acredita-se que os evangelhos
canônicos procedem de um a tradição oral aram aica e
hebraica que foi posteriorm ente traduzida para o gre-
go. Os ditos originais de Jesus certam ente não foram
proferidos em grego. Ele falava a m aior parte do tem -
po em aram aico. Sendo assim, o que os evangelhos
atuais apresentam seria um a tradução do que Jesus fa-
lou e não suas palavras originais.
b
J Você sabia? L
c
Em Roma havia um escravo liberto chamado
MaroTúlioTiro, que trabalhou com Cícero e
inventou um sistema chamado “notas T ir one-
A .Τ Α 1^ ΓΛΝ4 N U N )ך anas”, a fim de poder anotar “em tempo real" ç
s T ____ ___ c "j os discursos de Cícero.
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l " ־λ 01,9......................... , — Sj c q ב־
Essa é um a hipótese m uito difícil de ser confir- T radicionalmente, a chamada Igreja Oriental
ou Igreja N estoriana defende a originalidade de
mada. C ontudo, não deixa de ser possível. Sabe-se
um novo testamento aramaico que eles possuem.
atualm ente que o uso de estenógrafos não era algo in-
Mas 0 consenso é de que esse texto também é
com um no período greco-rom ano. A ntigos registros uma tradução do grego e não 0 que deu origem
m ostram profissionais desta área atuando desde o sé- a ele. Contudo, existe certo consenso em torno
culo II a.C. E, curiosam ente, eram escravos letrados, da hipótese de que os evangelhos atuaisforam
na m aioria das vezes, que desem penhavam esse papel. compilados a partir de várias fontes, algumas
delas em hebraico e aramaico. Também acredi-
O que se pode dizer de m ais concreto é que os ta-se que houve possivelmente uma antiga versão
evangelhos às vezes possuem trechos que denotam a judaico-cristã do evangelho escrita em hebraico/
citação de algum docum ento ou dito original em he- aramaico, mas a falta de elementos que possam
braico e aram aico, possivelm ente rem etente aos ditos fazer um lin k entre esse texto perdido e os evan-
originais de Jesus. .? gelhos atuais torna 0 tema um tanto especulativo. ^ .
c ר
Seja como for, ainda que não se possa saber com j 0
certeza absoluta quais foram as ipsissima verba de Cris ... ::.............. == ־Ê f ^ 5 ־rfa
Semitismos nos Palavras hebraicas nos
evangelhos Evangelhos
Semitismos são certas características peculiares às lín- αμήν (amén) = ( א מןamén) - M ateus 5:18, 26; 6:2,
guas semíticas, neste caso específico, o hebraico e o ara- 5, 16; 8:10; 10:15, 23, 42; 11:11; 13:17; 16:28; 17:20;
maico. Por isso, m uitos preferem falar de hebraísmos ou 18:3, 13, 18, [19]; 19:23, 28; 21:21, 31; 23:36; 24:2,
aramaísmos que, em síntese, teriam o m esmo sentido. 34, 47; 25:12, 40,45; 26:13, 21, 34; M arcos 3:28; 8:12;
9:1,41; 10:15,29; 11:23; 12:43; 13:30; 1 4 :9,18,25,30;
No caso dos evangelhos, esses term os eqüivalem [16:20]; Lucas 4:24; 12:37; 18:17, 29; 21:32; 23:43
a certas expressões e m aneiras peculiares do idiom a
hebreu ou aram eu que ocorrem no texto grego dos βάτος (batos) = ( ב תbat, um a m edida de quantida-
evangelhos e podem ser percebidos até m esm o nas de) - Lucas 16:6
traduções m odernas. O reconhecim ento prévio de al-
ήλ'ι (heli) = ( א ליeli, "meu Deus”) - M ateus 27:46 (2xx)
guns desses sem itism os ajuda no m om ento de se fazer
o devido uso das regras de interpretação bíblica. λαμά (lama) = ( למהlama, "Por que?”) - Mateus. 27:46
Os antigos hebreus, p o r exemplo, exprim iam m ui- σαβαχθανί (sabachthani) = ש ב ק תני (shevaktani,
tas vezes a qualidade ou característica de um a pessoa, “você me rejeitou”) - M ateus 27:46
utilizando não o adjetivo, mas um a expressão de
ώ σ α 1Λ׳ά (hosanna) = ג א-( הו ש עhosha-na) - M ateus.
filiação”, tendência essa seguida no grego do N ovo
21:9 (2xx); M arcos 11:9, 10
- estam ento. Assim, um a pessoa que tinha um a virtu -
ie ou era inclinada a certo mal era cham ada filho (a) Palavras comuns do hebraico e do aramaico
!essa virtude ou desse mal.
άββά (abba) = ( א ב אheb./aram . aba, "pai”) M arcos
“Filho da perdição” = perdido (Jo. 17:12) 14:36
“Filho da paz” = pacífico (Luc. 10:16) γέεν־να (geenna) = ; ג י[ א] הנ פ.(heb. ge hinom, "gehen-
na,” "inferno,” “Vale de H in n o m ”); ג י ה נ פ..(aram. gehi-
“Filhas de Jerusalém ” = hierosolim itas (Luc. 23:28)
nam, “gehenna,” "inferno”) - M ateus 5:22, 29, 30;
Não havia nas línguas semíticas a ideia de gostar 10:28; 18:9; 23:15, 33; M arcos 9:43,45,47; Lucas 12:5
de duas coisas, porém mais de um a do que da outra,
έφφαθά (ephphatha) = ( ה פ ת חheb. hipatah, "ser
?ara eles, o am ar e o aborrecer eram usados para ex-
aberto”); חו??תאo r ( א פ ת חaram. etpetah o ephtah, “ser
?ressar ideias de preferência de um a coisa à outra. De
aberto”) ־M arcos 7:34
igual m odo, as com parações eram geralm ente expres-
ias m ediante negações. Assim fica m ais fácil entender κορβάν (korban) = ( קרבןheb. korban, “dedicado ao
expressões com o estas: T em plo”); ( ק רבנ אaram. korbana, "dedicado ao T em -
pio”) - M arcos 7:11
“Se alguém vem a m im e não aborrece a seu pai, e sua
mãe, e m ulher e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua κορβανάς (korbanas) = ( קרבןheb. korban, “dedica-
própria vida, não pode ser m eu discípulo” (Luc. 14:26). do ao T em plo”); $«( קרבaram. korbana,“dedicado ao
T em plo”) - M ateus 27:6
“Q ualquer que a m im m e receber, não recebe a
mim, mas ao que m e enviou” (M ar. 9:37). κόρος (koros) = ( כדcor, um a m edida de quantida-
de); ( בוראAram. cora, um a m edida de quantidade) -
O sentido da prim eira expressão é que de todos os
Lucas 16:7
bens que um discípulo possui, Jesus deveria ser o mais
precioso. Já a segunda em ite o conceito de que aquele μαμωνάς (mamonas) = ( מ מוןheb. mamon, "mam -
que recebe Jesus não recebe som ente ele, mas tam - m on,” “riqueza”); ( מ מוג אaram. mamona, “m am m on,’’
bém Deus, o Pai. “riqueza”) - M ateus 6:24; Lucas 16:9, 11, 13
π ά σ χα (pascha) = ( פסחheb. pesah, “C ordeiro Pas- pQ
=יס
cal”); ( פסחאaram. pasha, “C ordeiro Pascal”) - M ateus. C
c
26:2, 17, 18, 19; M arcos 14:1, 12 (2xx), 14, 16; Lucas
Você sabia?
2:41; 22:1, 7, 8, 11, 13, 15
Mateusl2:18 diz: “Porei meu Espírito sobre ele, e
ραββί (rabbi) = ( רביheb./aram . rabi, “rabbi,” “m eu aos gentios anunciará 0julgam entoA palavra
m estre”) - M ateus 23:7, 8; 26:25, 49; M arcos 9:5; “julgamento”(mishpat) no contexto hebreu era
11:21; 14:45 sinônimo da palavra “salvação”. Veja Sal. 89:14
“Justiça e Julgamento (salvação) são 0funda-
ραββουνεί (rabbounei) = ( רבוניheb. rabuni, “m eu mento de teu trono, 0amor e a fidelidade vão
m estre”) ; (_ ר ב תיaram . raboni, “m eu m estre”) - M arcos adiante de ti.”Assim, 0 semitismo nas palavras
10:51 de Jesus esclarece seu ágnificado. Ele viria para
anunciara “salvação”aos gentios.
paxá (raka) = ( ריקהrekah, “em pty head”); ריקא c ר
G O
(Aram, reka, “cabeça vazia”) - M ateus 5:22
GJ ־ס־זז
σάββατον (sabbaton) = ( ש ב תheb. shabat, “Sabbath”);
( ש ב ת אhram . shabata, “Sabbath”) - M ateus 12:1, 2, 5, A narrativa evangélica:
8, 10, 11, 12; 24:20; 28:1 (2xx); M arcos 1:21; 2:23, 24,
27 (2xx), 28; 3:2, 4; 6:2; 16:1, 2, [9]; Lucas 4:16, 31; Mito ou história real?
6:1, 2, 5, 6, 7, 9; 13:10, 14 (2xx), 15, 16; 14:1, 3, 5;
C onsiderando que os evangelistas não intentaram
18:12; 23:54, 56; 24:1
escrever um a “biografia” de Jesus - no sentido m o-
σατανάς (satanas)^= '( שט ןheb. satan, “satan,” “acu- derno da palavra alguns têm concluído que essa
sador”); 0( טנאaram. satana, “satan,” “acusador”) - M a- narrativa sobre Ele não pode ser considerada histó-
teus. 4:10; 12:26 (2xx); 16:23; M arcos 1:13; 3:23 (2xx), rica. Estaria isso certo? T udo vai depender de como
26; 4:15; 8:33; Lucas 10:18; 11:18; 13:16; 22:3, 31 é com preendido esse “não com prom etim ento” do
evangelista com as norm as historiográficas usadas
σάτον ( saton ) = ( סאהheb. seah, um a m edida de atualm ente para se reproduzir um acontecim ento.
quantidade); ( סאתאaram. sata, um a m edida de quan-
De fato, não era o principal interesse dos autores
tidade) - M ateus 13:33; Lucas 13:21
bíblicos escrever os anais da vida de Cristo para deixar
σίκερα (sikera) = ( ש כ רheb. shechar, “bebida fer- à história um legado de sua existência. Não obstante,
m entada,” “cerveja”); ( ש כ ר אaram. shichra, “bebida alguns fatores históricos e literários dem onstram que
nem M arcos, nem Lucas, M ateus ou João ficaram à
ferm entada,” “cerveja”) - Lucas 1:15
m ercê de suas próprias im aginações e devaneios bus-
P alavras aram aicas n o s e v a n g e lh o s cando criar m itologias ou lendas à sem elhança de La
Fontaine escrevendo suas fábulas.
έλω ϊ (eloi) = ( אלהיelahi, “m eu D eus”) - M arcos
15.34 (2xx) É preciso lem brar que “evangelho” é um gênero
bíblico-literário que dem anda um texto, um a teologia
χούμ ( koum ) = ( קוםk m , “levante”) - M arcos 5:41 e um a história real. E um a narração “querigm ática”,
isto é, de proclam ação de certos feitos e ensinos de
λειμά (leima) = ftTih (lema, “p o r que?”) - M arcos Jesus escolhidos segundo o propósito de cada autor
15:34 (Cf. Luc. 1:1 - 4 e Jo. 21:24 e 25).
Homero dizia que um homem magnânimo deve Jesus ensinou que quem quisesse ser 0 primei-
ser sempre 0 primeiro e estar antes dos demais. ro, que se tornasse 0 último (Mat. 9:35).
Aristóteles disse que um homem de mentalidade Jesus ensinou que 0 maior deve ser aquele que
elevada, não se acanha de receber grandes coi- serve aos demais: Luc. 22:27 e Jo. 13:4ss. Em ou-
sas, principalmente se a honra vier de homens de tra ocasião referiu-se a si mesmo como jamais
prestígio, pois ele sabe que é merecedor delas. recebendo a honra que vem dos homens: Jo. 5:41.
Um filósofo sábio, segundo a cartilha aristoté- Jesus contava parábolas que 0 povo entendia e
lica, deve falar a verdade com clareza para os os mestres religiosos não. Veja: Mat. 9:29; 11:5,
doutos e com ironia para a população inculta. 25; Jo. 7:49.
A Bíblia não traz em n enhum a parte algo que Sendo já um hom em feito, sua barba e bigode pro-
poderia ser um “retrato falado de C risto”. Porém , se vavelm ente seriam m uito m ais cheios e m enos apara-
aliarm os sua leitura às inform ações arqueológicas dos. Bem diferente dos quadros em geral. De acordo
disponíveis acerca do povo judeu, é possível encon- com a lei judaica, os hom ens eram proibidos de apa-
tra r poucas, porém razoáveis possibilidades. rarem pelos da face. Isto está em Levítico 19:27 que
diz: “Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos
Em p rim eiro lugar tem os a inform ação de que
da vossa cabeça, nem danificareis as extrem idades da
ele, em bora tivesse nascido em Belém da Judeia, foi
tua barba.” O m otivo de tal proibição talvez esteja no
criado na Galileia. Em outras palavras, era inques-
fato de que alguns povos pagãos costum avam cortar
tio n av elm en te sem ita.
a barba e oferecer aos deuses - algo que Deus proibiu
O ra, esses povos, que naquele tem po habitavam o Israel de praticar.
sul do M editerrâneo, eram predom inantem ente dis-
Ademais, os egípcios costumavam cortar ou tosquiar
tintos dos gregos e rom anos pela cor azeitonada de
suas costeletas, como pode ser visto nos sarcófagos das
suas peles; pelos olhos de azeviche, isto é, trem enda-
múmias e nas representações das divindades nos monu-
m ente negros; pelo cabelo escuro; pelo nariz arquea-
mentos. Mas os hebreus, para se separarem das nações
do e pela estatura m ediana.
vizinhas, ou talvez para colocar um fim a alguma supers-
E preciso tam bém levar em conta que Jesus de Na- tição existente, eram proibidos de imitar essa prática.
zaré foi um carpinteiro - um ofício que Ele aprendeu
Até hoje é possível ver esse costum e em m eio a
trabalhando ao lado de José. O trabalho m anual duro
judeus ortodoxos, que não cortam a barba e, especial-
envolvia não a fabricação de m óveis, com o m uitos
m ente, os cabelos que cobrem as têm poras.
supõem , mas o corte de pedras e de m adeiras para a
construção de casas. Por isso, as m ãos de Jesus deve- Em term os de tem peram ento, Jesus deveria ser
riam ser bem calejadas e seu físico típico de um traba- um a pessoa m uito carismática, pois até as crianças
lhador braçal. Só o fato dele conseguir ainda carregar - que não tinham na época as m esm as liberdades de
a cruz po r um tem po, depois de um a noite inteira de hoje - se sentiam à vontade para co rrer até ele. O
to rtu ras e sofrim entos, dem onstra um a considerável m esm o se pode dizer de m ulheres que não ousariam
força física. se dirigir a um hom em com um em público, principal-
m ente não sendo parentes próxim as dele.
E m bora Jesus possivelm ente gozasse de boa saúde,
a expectativa de vida entre os hom ens pobres da classe Algumas de suas parábolas têm um estilo bastante
trabalhadora estava na faixa dos 35-40 anos. Isso por próxim o ao h u m o r sapiencial da época, o que signifi-
causa dos rigores do trabalho pesado e do calor caus- ca que alguns de seus exemplos eram irônicos e puxa-
ticante do sol. Por causa desses fatores, a aparência vam risos do auditório. A m enção da im agem de um
de Jesus provavelm ente seria a de um hom em mais camelo passando no fundo de um a agulha realm ente
fez o auditório sorrir, em bora tal h um or, é claro, não ja diante de Rom a, fez com que as m anifestações ar-
deva jamais ser confundido com anedotas sem sen- tísticas do novo m ovim ento fossem bastante tím idas,
tido, mas com o elem ento didático para deixar um a em bora bonitas p o r sua simplicidade.
lição de m oral ao grupo.
Assim, im agens de âncoras e peixes mescladas com
Porém , se o m om ento exigisse, Jesus poderia im e- cenas bíblicas com o Daniel na cova dos leões ou o sa-
diatam ente se to rn a r enérgico com o quando m unido crifício de Isaque com eçaram a lotar as paredes das
de um chicote expulsou os vendilhões do Tem plo. Em prim eiras catacum bas cristãs de Rom a. U m a das mais
outras situações, ele se to m av a melancólico e chorava, famosas retrata os três hebreus na fornalha ardente.
como no caso da m orte de seu amigo Lázaro. Esta é um a boa ilustração da sim plicidade dos prim ei-
ros traços artísticos do cristianism o.
M as talvez o mais interessante de sua personali-
dade é que ele não tem ia dem onstrar emoções, ria A figura de Cristo dem orou um pouco para apare-
quando necessário, chorava se preciso fosse e adm itia cer. Ela veio a princípio com o tentativa não de des-
0 m edo que estava sentindo no G etsêm ani. Ele não crever o seu rosto, mas de dem onstrar o que ele dizia
era falso em seus sentim entos, ele os vivia no mais ser. É o caso da figura do Bom pastor, extraída do dis-
exato grau de sua realidade hum ana. curso de Cristo quando disse: “Eu sou o bom pastor,
que dá a vida p o r suas ovelhas” (Jo. 10:11).
77*
a Sh THJ C om as pistas dadas pelos beduínos e a ajuda dos
arqueólogos da École Biblique de Jerusalém , da Ame-
rican School of O riental Research (hoje A lbright Ins-
titu te o f Archaological Research) e do Archaeological
M useum o f Palestine (hoje Rockefeller M useum ), 11
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sopro de seu fôlego [vêm de Deus] ... seus planos 7:16-21 - Os livros da lei são 0 tabernáculo do rei,
durarão para sempre. como Deus tem dito, Eu erguerei 0 tabernáculo de Davi
que estava caído [Amós 9:11]
14) T exto A arônico (Testam ento de Levi) 4 ־Q541 O rei está na congregação e as bases de [seus] estatutos
Frag 9, Col 1 ,1 -3 [V 5/527, G M /270, W A C /259] são os livros dos profetas cujos escritos Israel rejeitou. A
estrela é a intérprete da lei que virá a Damasco; como está
Ele fará expiação por todos os filhos desta geração
escrito, uma estrela procederá de Jacó e 0 cetro não será
E será enviado a todos os filhos de seu povo.
arrebatado de Israel [Núm. 24:17], O cetro é 0 Príncipe
Suas palavras são com o a palavra dos céus,
de toda a congregação e quando ele vier, esmagará a
E seus ensinos de acordo com a vontade de Deus.
descendência de Sete [Núm 24:17]
Seu sol brilhará eternam ente
14:18-19 - . .. até que se levantem os messias de Arão e
E seu fogo queim ará até os confins da terra;
Israel... elefará a expiação pelos pecados deles... [V 5 /143,
Então as trevas se desvanecerão de sobre a terra e
G M /44]
a catástrofe de sobre o globo.
Em Isaías 11:1-5 esse descendente de Davi (descrito com o “rebento de Jessé”) recebe um a prerrogativa úni-
ca: a plenitude do E spírito de Y ahw eh e é enviado com o juiz não de condenação, mas de defeza dos fracos e
desampadados. N ote que aqui a tarefa m essiânica de salvar e redim ir em erge com grande força textual.
T am bém é possível encontrar descrições deste futuro “filho de Davi” m esclando as figuras ora de rei e
sacerdote (Sal. 110; Zac. 6:9-13), ora de sacerdote e servo, que purifica a nação p o r m eio de um a propiciação
sacerdotal (Isa. 52:13-15; cf. Lev. 4:6; Ez. 43:19-20).
Isaías 53
Quem creu em nossa m ensagem e a quem foi revelado 0 brago do Senhor?
Ele cresceu diante dele com o um broto tenro e como uma raiz saída de uma terra seca. Ele não tinha
qualquer beleza ou m ajestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que 0 desejássem os.
Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e fa m iliarizad o com 0 sofrim en to. Como
alguém de quem os hom ens escondem 0 rosto foi desprezado, e nós não 0 tínham os em estim a.
C ertam ente ele tom ou sobre si as nossas enferm idades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós
0 consideram os castigado por Deus, por ele a tin g ido e afligido.
M as ele fo i transpassado por causa das nossas transgressões, foi esm agado por causa de nossas iniqüi-
dades; 0 castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fom os curados.
Todos nós, ta l qual ovelhas, nos desviam os, cada um de nós se voltou para 0 seu próprio cam inho; e 0
Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
Ele foi oprim ido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para 0 m atadouro,
e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a boca.
Com julga m e nto opressivo, ele foi levado. E quem pode fa la r dos seus descendentes? Pois ele fo i e lim i-
nado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado.
Foi-lhe dado um tú m u lo com os ím pios e com os ricos em sua m orte, em bora não tivesse com etido qual-
quer vio lê ncia nem houvesse qualquer m entira em sua boca.
Contudo foi da vontade do Senhor esm agá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora 0 Senhor faça da vida dele uma
oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em sua mão.
Depois do so frim ento de sua alm a, ele verá a luz e ficará sa tisfe ito ; pelo seu conhecim ento, meu servo
ju sto ju stifica rá a m uitos, e levará a iniqüidade deles.
Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fo rte s, porquanto ele
derram ou sua vida até à m orte, e fo i contado entre os transgressores. Pois ele carregou 0 pecado de m uitos
e intercedeu pelos transgressores.
um desses pergam inhos o nom e de “Rolo de Ação de
O servo sofredor Graças” ou “H ino de Ação de G raças”, pois era com -
posto de Salmos, a m aioria iniciando com as pala-
O poem a do “Servo sofredor” escrito p o r Isaías,
vras “Eu darei graças so S enhor...”. O riginalm ente o
é um a das m ais belas e profundas, com posições do
nom e técnico do docum ento foi 1QH (lQ H o d a y o t)
A ntigo T estam ento. M uitos o in te rp re ta m com o
depois lQ H a.
sendo um a alusão profética ao trabalho do M essias
que sofre para red im ir a hum anidade. O utros, po- Esse prim eiro m anuscrito estava terrivelm ente
rém , negam essa ideia, afirm ando que 0 conceito de danificado e a opinião de alguns especialistas é a de
um M essias sofredor, divino e re d e n to r é invenção que esse tipo de dano não foi acidental ou fruto de
do cristianism o, pois jam ais um judeu da A ntiguida- um a m anipulação indevida dos beduínos. Deduzem
de in te rp re ta ra assim esse trech o de Isaías. que o m anuscrito foi propositadam ente m utilado na
A ntiguidade, em razão, possivelm ente, de seu cará-
R ecentem ente, p o rém , um estudo publicado p o r
te r heterodoxo50. A conclusão é altam ente hipotética
Israel K nohl, do D ep artam en to Bíblico da U niver-
K nohl a justifica: os outros pergam inhos com prados
sidade H ebraica de Jerusalém , veio d esm entir essa
p o r Sukenik estavam enrolados de m aneira norm al
assertiva. Ele indica que essa visão m essiânica do
(os beduínos aparentem ente não m exeram no con-
servo sofredor era co rren te no p eríodo de Q u m ran e
teúdo do jarros). Já o pergam inho do Rolo de Ação de
pode ser en co n trad a em alguns m anuscritos do M ar
Graças estava rasgado de um m odo aparentem ente
M o rto 47. De fato, aquela visão lim itadora do M essias
proposital. Ele estava guardado em duas partes sepa-
apenas com o rei era, com o acentuou Scardelai, um
radas. A prim eira a ser aberta continha três folhas do
fenôm eno posterior ao período dos m acabeus48 e não
m anuscrito (um a enrolada dentro da outra, mas cada
está de m odo algum refletindo o único m odo de en-
um a dobrada individualm ente). Ao que tudo indica
ten d e r o M essias nos tem pos do Segundo T em plo.
elas foram guardadas daquela m aneira na Antiguida-
C o n trarian d o , p o rta n to , a tese liberal de que Jesus
de. A segunda parte do m anuscrito estava com pri-
não pod eria te r previsto sua m o rte e ressurreição
m ida e am arrotada, form ada por setenta fragm entos
po rq u e tais eventos sim plesm ente não existiam no
grandes e pequenos de pergam inho.
m essianism o da época; o trabalho de K nohl m o stra
que nos tem pos de Jesus o conceito de sofrim ento, A conclusão de K nohl é que um m em bro da sei-
hum ilhação, assassinato e ressurreição do M essias ta havia separado as folhas do p ergam inho, dobra-
eram p arte in teg ran te da cultura judaica. do três e picado as dem ais em inú m ero s fragm ento?
com prim in d o -o s nu m a única bola de papel.
N o cham ado Rolo de Ação de Graças, em dois hinos
aí inseridos p o ste rio rm en te e em o u tro s m anuscri- E m bora seja difícil advogar essa hipótese da des-
tos encontrados na g ruta 4, tem -se o m aterial a par- truição p roposital na A ntiguidade, é n o tó rio que c
tir do qual K nohl desenvolve sua tese. h in o contém algo realm ente diferente das demais
descrições judaicas. V árias p erguntas se levantam
O Rolo de Ação de Graças, tam bém conhecido
im ediatam ente ao se ler o conteúdo que evidente-
com o Hodayot, p erten ce à p rim eira série de docu-
m en te só ficou m ais conhecido a p a rtir da descober-
m entos descobertos em Q u m ran e foi publicado pela
ta de outras cópias m elhor preservadas na g ruta 4.
p rim e ira vez em 1954. C onsidera os m anuscritos
que m o n tam esse texto com o “a joia m ais b rilh an te A p rim eira e m ais n atu ral indagação é quanto
d en tre todas as descobertas de Q u m ran ”49. Ele não a quem teria escrito o texto e com que propósi-
foi en co n trad o diretam en te pelos arqueólogos, mas to? M uitos estudiosos respondem a esta pergunta,
fez p arte dos p rim eiro s rolos que estavam em pos- ap o ntando para o M estre de Justiça ou o fundador
se dos beduínos que acharam os pergam inhos em da seita com o sendo o que com pôs esses salm os de
1947. Q uem com prou alguns desses m anuscritos ação de graças. U m a possível objeção seria o fato de
foi o p rofessor Eleazer L. Sukenik, da U niversidade que, em m uitas poesias judaicas de Q u m ran , o Mes-
H ebraica de Jerusalém . Foi ele tam bém quem deu a tre de Justiça é rep resen tad o pela com unidade. Mas
essa sim biose e n tre o D eus e seu povo não é algo
estranho ao gênio da litera tu ra judaica com o vere-
mos m ais à frente. Adem ais, os problem as descritos
no Rolo de Ação de Graças são específicos e detalha-
dos dem ais p ara serem p u ram e n te fictícios; parecem
h istó ria real p ren u n cian d o h istó ria fu tu ra (com o no
caso de Isaías que faz um p rognóstico fu tu ro possi-
relm ente a p a rtir de um evento real que seria o nas-
-m e n to de um a criança no palácio de Acaz, Isa. 7).
O texto assem elha-se em gênero a um a autobiogra-
à a espiritual (e ao m esm o tem p o m essiânica), com o
έ o caso do Salmo 22.
[...] para to rn a r conhecida sua força em poder [...]” 10. [] canto, [ 0 amado
É no tó ria não só a sem elhança com Isa. 53 como teve ao abordar os evangelhos de um prism a mais ju-
tam bém a dicotom ia entre um M essias que sofre para daico. Segundo seu parecer, a form a de raciocínio 11-
depois ser glorificado. E mais, o texto fala de alguém terário dos escritores rabínicos deveria ser em grande
sem igual que dentre os hom ens. A com binação es- parte sem elhante à que se vê nos evangelhos. A chave
pecial de status divino e sofrim ento hum ano num a herm enêutica que desvenda a literatura rabínica se-
só pessoa é algo inédito na literatura judaica mais ria, pois, a m esm a para a com preensão de im portan-
antiga. N ote a com paração entre a retórica “quem é tes detalhes no estudo dos evangelhos.
com o eu dentre os anjos [lit. elim]?” e o texto de Êxo-
do 15:11: "Quem é igual a ti, oh Senhor, dentre os
deuses [elim]?”
O Midrash
Aliás, baseado nesta clara situação de divindade, U m dos principais elem entos reflexivos do judaís-
M aurice Baillet, chegou a sugerir que o autor não po- m o que mais cham a a atenção na com preensão dos
deria ser hum ano. Para ele o autor seria o arcanjo M i- evangelhos é o cham ado M idrash. M ais que um estilo
guel.53 M orton Sm ith, po r sua vez, rebateu o colega, literário, ele é, acim a de tudo, o m odo básico com o os
argum entando que a figura 11o texto é claram ente um judeus do tem po de jesus interpretavam as Escrituras,
ser hum ano ao qual se atribui status angelical (ou divi- a saber, o A ntigo T estam ento.
n o )54. Alguém, conclui o autor n o u tra pesquisa, equi-
Mas o que seria um M idrash? E um tipo de litera-
parado especialm ente a Jesus55. De fato, aqui tem os a
tura, tradicionalm ente oral ou escrita, que tem um a di-
expressão original de um a personagem histórica e di-
vin o -h u m an a que m orre (por Israel?) e é glorificado
p o r Deus. Nisto Knohl fe z uma grande contribuição para
os estudos do Novo Testamento. “־ /
§11 1521;
ymct vaymm* m f ««
Os evangelhos e a •־־m
,.מ
i‘ ‘ ? מ
• Evangelho de Pedro;
• Evangelho de Tom é;
• Evangelho de Judas;
• Evangelho de Filipe;
• Evangelho de M aria;
Apócrifos: proibidos
ou proveitosos?
Desde cedo a Igreja cristã rejeitou esses evange-
lhos, devido ao fato de não preencherem os critério;
básicos de canonicidade. Eles não foram escritos pe-
los apóstolos, nem po r ninguém ligado diretam ente í
eles. C ontudo, atribuíam falsam ente seu conteúdo ã
autoria de figuras-chave com o Felipe, Pedro, Barto-
M anuscrito do antigo evangelho apócrifo
lom eu e outros. M as são produções tardias, posterio-
de Tomé, encontrado no Egito em 1945.
res ao período apostólico.
como tu me empurraste, cai e não levantes mais. N o
m esm o instante, a criança caiu no chão e morreu.
O título “M essias” era um a referência clara à rea- No período m onárquico, mais propriam ente no
leza da criança p rom etida nas profecias. Ao contrário final do reinado de Davi, Deus lhe faz um reforço
dos países ocidentais que costum am “coroar” os m o dessa prom essa messiânica.
Έ há de ser que, quando forem cum pridos os teus tudo, m uitos com entaristas veem aqui um a profecia
dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua descendên- de duplo cum prim ento. Salomão, de fato, construiu
cia depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o o T em plo, mas veio a falecer depois de algum tem po.
5eu reino. A prom essa, contudo, fala de um “filho de Davi” que
Este m e edificará casa; e eu confirm arei o seu tro - haveria de vir e cujo reino não teria fim. Deus em
no para sem pre. pessoa, seria seu Pai e ele seria seu filho. Desse m odo,
o Filho de Davi seria tam bém o Filho de Deus!
Eu lhe serei p o r pai, e ele m e será p o r filho; e a
m inha benignidade não retirarei dele, com o a tirei Os autores dos evangelhos foram cuidadosos em
daquele, que foi antes de ti. apresentar Jesus com o descendente de Davi, tanto
p o r parte de José quanto p o r parte de M aria. M uitas
Mas o confirm arei na m inha casa e no m eu reino
profecias apontavam para aquele que viria da raiz de
para sem pre, e o seu tro n o será firm e para sem pre.”
Davi e Jessé, o pai de Davi. Isto é, aquele que seria seu
(1 C ron. 17:11-14).
descendente (Jer. 23:5 e Isa. 11:1). Usando a imagem
À prim eira vista, o texto parece tra tar de Salomão, de um a árvore com o sendo a genealogia de Davi, o
o herdeiro de Davi, que construiu o Tem plo. C o n M essias deveria ser um b ro to dessa árvore.
Outras profecias messiânicas
Gên. 3:15 Seria 0 descendente da mulher. Luc. 2:7; Gál. 4:4; Apoc. 12:5
Gên. 12:3,18:18 Seria 0 descendente de Abraão. Mat. 1:1; Luc. 3:34; Atos 3:25
Gên. 28:14; Núm. 25:17 Seria 0 descendente de Jacó. Mat. 1:2 e 3; Luc. 3:33
Sal. 2:2; Isa. 53:1 Seria rejeitado pelos judeus. Luc. 4:29; 23:18; Jo. 1:11
Sal. 38:13 e 14; Isa. 53:7 Calar-se-ia ao ser acusado. Mat. 26:62 e 63; 27:12-14
Isa. 50:6 Seria ferido e cuspido. Mar. 14:65,15:17; Jo. 18:22
Sal. 69:4; 109:3-5 Seria odiado sem causa. Jo. 15:23-25
Isa. 53: 4-12 Sofreria em lugar do pecador. Mat. 8:16 e 17; Rom. 4:25
Seria morto com criminosos Mat. 27:38; Mar. 15:27 e 28
Sal. 22:16; Zac. 12:10 Teria as mãos e os pés traspassados. Jo. 19:37; 20:25-27
22 :6-8 Seria zombado e insultado. Mat. 27:39-44
Sal. 69:21 Dar-lhe-iam fel e vinagre. Mat. 27:34,48; Jo. 19:29
Sal. 22:18 Lançariam sorte sobre Sua roupa. Mar. 15:24; Jo. 19:24
Êxo. 12:46; Sal. 34:20 Não teria nenhum osso quebrado. Jo. 19:23
כ
E m bora alguns autores m odernos tendam a negar
Fato importante que a expectativa m essiânica sem pre fez parte da es-
A oliveira é uma árvore muito importante na perança de Israel, há elem entos claros nas Escrituras
cultura do antigo Oriente Médio. De seu fru to e na tradição judaica para afirm ar que a espera por
extraiam-se 0 combustível para as lampari- um Salvador não era algo inédito em Israel, mas fazia
nas, a liga das massas de pão, 0 unguento para parte da essência deste povo.
perfum e ou remédio, 0 sabão e, principalmen-
te, 0 azeite de oliva que era 0 elemento básico C ontudo, algo curioso ocorreu um pouco antes do
da unção. Reis e sacerdotes deveriam ser prim eiro século da cham ada Era C om um , exatam ente
especialmente ungidos e esta unção - ou um no tem po em que nasceu Jesus. Q uem fez essa des-
pouco de azeite sobre a cabeça - representava 0 coberta foi o rabino Abba Hillel Silver, figura chave
Espírito Santo de Deus. na criação do Estado de Israel, que escreveu um a tese
Assim houve vários “ungidos" na história de doutorai sobre o assunto e a publicou em 1927.
Israel. Eles, contudo, esperavam um Ungido
De acordo com seus estudos, ele percebeu que a
maior que receberia 0 Espírito de Deus de um
expectativa m essiânica ficara de certa form a adorm e-
modo pleno como jamais ninguém recebeu
cida na trajetória do povo judeu. M esm o em épocas
(Isa. 11:1 e2). Todos os outros “ungidos” eram
apenas urna fig u ra simbólica deste Messias de grandes expectativas, com o a conquista da Pérsia
porvir. p o r Alexandre, o G rande, o reinado dos Ptolom eus
c e Selêucidas, a perseguição iniciada p o r A ntíoco ou
C a guerra dos M acabeus, o interesse pelo Messias não
־זכ־ס־דם era algo tão destacado na cultura do povo.
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que notória, se judeus dariam as boas-vindas ao M es- blem a sim bólico”, um “ser h u m an o ” ou até um “m ito”,
sias de dentro do Segundo T em plo, este deveria vir m as nunca com o o Filho de Deus.
num tem po em que esse santuário estivesse em pleno
N ote que “Filho de D eus”, neste contexto, não
funcionam ento.
eqüivale ao título espiritual de “filhos e filhas de
O profeta Ageu, que estava pessoalm ente em Je- D eus”, que pode ser aplicado aos seres hum anos em
rusalém enquanto o Segundo T em plo era erguido, geral. A filiação divina de Jesus im plica divindade,
fez um a previsão m essiânica ao dizer que “a glória pelo que, parece invenção do cristianism o. M uitos
deste últim o T em plo será m aior que a p rim eira” (Ag. autores m odernos entendem que o judaísm o de hoje
2:9). E M alaquias confirm a: “e de repente virá ao seu jam ais aceitaria um M essias “Filho de D eus”.
Tem plo o Senhor, a quem vós buscais; e o m ensagei-
ro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem , Mas nem sem pre foi assim. Em 1992 um estudo pu-
diz o SENHOR dos Exércitos.” (Mal. 3:1). O rabino blicado sobre os m anuscritos do M ar M orto m ostrou
Davi Kim chi, que viveu no século XII, afirm ou que, que, no século I d.C., determ inado segm ento do juda-
n a com preensão judaica de seu tem po, o Senhor, o ísmo entendia que o Messias era, entre outras coisas,
m ensageiro da aliança, e o Messias! o verdadeiro Filho de Deus. Até m esm o alguns m em -
bros do Sinédrio pareciam ter essa compreensão.
Assim, de acordo com essas revelações escriturís-
ticas, o Segundo T em plo judeu não apenas estaria em Q uando, durante um in terrogatório ilegal, os diri-
pleno funcionam ento quando o M essias viesse, mas gentes judeus perguntaram a Jesus se ele era o Filho
seria destruído pouco tem po depois de sua passagem de Deus, ele adm itiu que sim. Eles, então, im ediata-
pelo m undo. Assim, aquele tem plo inicialm ente re- m ente o levaram a Pilatos e no m om ento de proto-
construído p o r Esdras e Zorobabel, e depois amplia- colar a acusação disseram: “Ele afirm a ser o Cristo”
do por H erodes, foi o m esm o santuário no qual Jesus (Luc. 22:70-23:3). Isso perm ite supor que as expres-
esteve ensinando sua d o utrina e afirm ando que, após sões “Filho de D eus” e “M essias” estavam em paralelo
sua partida, ali não ficaria pedra sobre pedra que não no en ten d im ento deles.
fosse derribada (M at. 24:2). Cerca de quarenta anos
O livro dos Salmos tam bém traz um a declaração
depois, o T em plo foi destruído e nunca mais reer-
provocativa. Ali Deus fala a seu servo, o M essias, e
guido. O que existe hoje em seu lugar é um a m esqui-
o cham a de “m eu filho” (Sal. 2:1-7). M uitos hoje en-
ta e um m onum ental edifício m ulçum ano cham ado
tendem que o texto se refere a um ungido qualquer.
“D om o da Rocha”.
C ontudo, a tradição talm údica e a tradição midráxica
U m a das possíveis razões para o im p o rtan te vín- da Idade M édia - ambas escritas p o r eruditos judeus
cuio entre o M essias e o T em plo é que, segundo a opi- - sem pre entenderam que a passagem em questão se
nião de vários especialistas, ali estariam guardados os referia ao prom etido M essias de Israel.
docum entos genealógicos mais im portantes de Judá.
O utro fator preponderante é o anúncio de seu
D entre eles, estariam aqueles que com provariam a
nascim ento vinculado ao surgim ento de um a estrela
ascendência de qualquer indivíduo que se declarasse
especial. U m a antiga profecia já apontava nessa dire-
o M essias, filho de Davi. Caso esse acervo ten h a mes-
ção: “Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, m as não
m o existido, talvez foi ali que M ateus e Lucas pesqui-
de perto. U m a estrela surgirá de Jacó; um cetro se le-
saram a genealogia de Jesus e a apresentaram em seus
vantará de Israel” (Núm. 24:17).
respectivos evangelhos.
De algum a form a, os judeus do prim eiro século es-
F a to r # 3
peravam p o r aqueles dias o aparecim ento de tal corpo
N enhum título trouxe mais polêm ica sobre a fi- celeste, anunciador da vinda do prom etido Messias.
gura de Jesus que sua autodefm ição com o “Filho de Até m esm o Herodes valeu-se do sím bolo de um ca-
D eus”. Em tese, a m aioria absoluta dos judeus de hoje pacete e um a estrela para fazer em suas m oedas a pro-
entendem o M essias com o um a “nova era”, “um em paganda messiânica.
Fato importante
Todo estudioso da história das religiões sabe que
0 chamado staurograma é um dos mais antigos
nmbolos do cristianismo. Ele combina duas le-
tras gregas num único símbolo: a letra Tau que se
assemelha a u m T e a letra Rho que se parece com
um P. Colocadas em conjunto elas lembrariam
0 Cristo crucificado. Recentemente, porém, 0
professor Larry Hurtado64escreveu um artigo
mostrando que esse símbolo já aparecia em
moedas cunhadas por Herodes 60 anos antes
da crucifixão de Jesus. A partir desse estudo,
alguns autores têm concluído que esse úmbolo,
originalmente reconhecido como cristão, era
na verdade um úmbolo judaico de messianismo
e que, ao usá-lo, Herodes queria dizer que ele
mesmo era 0 Messias esperado pelo povo.
T 7 r ־t
O Messias romano
F ragm entos de evidência histórica levam à conclu-
são de que a esperança judaica da vinda de um M es-
sias tam bém atingira pessoas fora de Israel. N o m un-
do greco-rom ano, m uitos que não tin h am nenhum a
relação com o judaísm o viviam a expectativa de que,
naqueles tem pos, a hum anidade receberia um a crian-
ça especial, que salvaria m uitos povos.
JC-Q.
Fato importante
Com a morte de Augusto, os romanos precisa-
vam de novos Messias. Além disso, sua vinda
não cumpriu uma importe parte do antigo
oráculo: 0 rei dos reis deveria vir da Judeia!
Então, a alternativa encontrada fo i aplicar 0
prognóstico não mais a Augusto, mas aTitoe
Vespasiano, após sua conquista de Jerusalém,
quando regressaram triunfalmente da Judeia
paraRoma. Isso também é testemunhado por
autores da época.
TTT-k ־ס־דו־
Anúncio em Nazaré
A história de Jesus começa num a pequena vila
cham ada Nazaré. U m anjo especial de Deus é enviado
a um a jovem em idade de casam ento cham ada M a-
ria. De acordo com M ateus 1:18, ela estava desposada,
isto é, com prom etida em casam ento com um hom em
cham ado José.
Fato importante
Confirmando a inúgnificância do vilarejo
onde viveu Jesus, é notório que nem 0 Antigo
T estamento, nem Josefo ou sequer 0 T almu-
de, mencionam seu nome em qualquer canto
de seus textos. Isso esclarece 0 comentário de
Natanael que disse: “Pode vir alguma coisa
boa de Nazaré?" (Jo. 1:46).
נד ה סזד־
ךr»Q P or isso, alguns tradutores mais recentes têm su-
C 0 gerido que o verbo grego mnesteuo, que aparece tanto
c em M ateus com o em Lucas, deveria ser traduzido po r
Você sabia? “prom etida em casam ento” e não “casada”. O term o
“desposada” suaviza a situação, mas não a resolve por
De acordo com 0 “protoevangelho de Tiago”, ser dúbio, podendo significar tan to “casada” com o
documento apócrifo do século II d.C., Maria
“prom etida em casam ento”.
teria cerca de 12 anos quando se casou com.
José. Embora os evangelhos canônicos nâo
digam nada a respeito, isso é bem possível.
As meninas, nos tempos de Jesus, geralmente
O dote
eram dadas em casamento assim que iniciava
O dote era um a parte im portantíssim a de um con-
a puberdade. Não há nenhuma razão para
trato nupcial. Ele era provido neste ínterim entre o
pensar que com Maria seria diferente.
casam ento de acordo e o casam ento de fato. Ali as fa-
De acordo com 0Talmude, a idade apropriada mílias que iriam se u n ir pelo casam ento de seus filhos
de casamento para rapazes seria 18 anos (Avot. levantavam tipos especiais de dote que faziam parte
5:21). Mas geralmente os homens se casavam do contrato familiar. U m deles, o M ohar era um pre-
em algum período entre 16 e24 anos (Kidd.
ço pago ao pai da noiva com o indenização pela retira-
29b-30b).
c
c
TTJ- ~Z־Õ־
c
jClo, siD . G
a .
דרם־
Você sabia?
Embora 0 acordo de noivado tivesse valor
matrimonial perante a lei, 0casamento
Encontro com Isabei
propriamente dito consistia, entre outras
O anúncio do anjo à virgem M aria aconteceu no
cerimônias, na condução solene efestiva
da noiva para a casa do esposo (Deut. 20:7). vilarejo de Nazaré. Ela, porém , não parece ter ficado
Assim, o problema com a passagem se deve a ali m uito tem po após o encontro com o anjo. Talvez
antigas traduções que apresentam os pais de antes que José resolvesse assum i-la po r esposa defini-
Jesus como sendo já casados. tiva, M aria foi visitar Isabel, sua parenta, que estava
grávida do profeta João Batista.
£ ־כדס־
de janeiro do ano 1 d.C., ao 46° ano do calendário re-
form ado de Júlio César. Isso eqüivaleria ao ano 753
A.U.C, ou seja, 753 anos após a fundação de Roma.
A partir do “Anno Domini”, inicia-se o que A partir dos anos de vida de Cristo, os
chamamos de Era Cristã ou Era Comum. anos são contados de forma crescente.
dade, a era C ristã deveria ter com eçado, realm ente, Isso é sabido, p o r causa de um a citação de Flávio Jo-
entre os anos 747 e 749 A.U.C. Desse m odo, todas as sefo que diz que sua m orte se deu próxim a a um a festa
datas atuais deveriam ser avançadas em pelo m enos de Páscoa antecedida pela ocorrência de um eclipse71.
quatro ou cinco anos. Por que então isso não é feito? Segundo a astronom ia, de fato, houve um eclipse lu-
nar, visível na Judeia entre 12/13 de m arço do ano 4a
Devido à confusão que daria para corrigir o equí-
a.C. Esse deve ser 0 evento astronôm ico m encionado
voco de D ionísio. Im agine m udar todos os livros e p o r Josefo, pois está m uito próxim o a um a festa de
datas convencionais da história hum ana. O Brasil, Páscoa que, naquele ano, cairia em 11 de abril. Logo,
por exemplo, teria sido descoberto em 1505 e não em esses seriam os lim ites da m orte de H erodes e Jesus
1500, e a independência proclam ada em 1827, não em não poderia nascer depois disso.
1822. Isso sem contar que é difícil saber o retrocesso
deveria ser de 4 ou 5 anos. Com o se pode ver, o trans- H á , contudo, o u tra teoria cronológica para a m or-
to rno que isso causaria acabou deixando que o erro se te de H erodes que tam bém m erece ser considerada,
firmasse ao longo dos anos. em bora a m aior parte dos acadêm icos inclina-se em
favor do ano 4 a.C.
Portanto, po r mais irônico que pareça, devido a
esse erro de Dionísio, Jesus acabou nascendo antes de É que o pró p rio Josefo diz o seguinte sobre a m or-
Cristo, pois no ano 1 d.C., ele já tinha entre 4 e 6 anos. te desse rei:
M as,como chegou-se à conclusão de que o ano 1 não “[Herodes m orreu] depois de reinar 34 anos, con-
correspondia ao nascim ento do nosso Senhor? tando da época em que ele m andou m atar A ntígono
e, assim obter seu reino, ou 37 anos, contando da
O elem ento mais simples que dem onstra o erro do
época em que ele foi feito rei pelos rom anos”.72
cronologista m edieval é a m orte de H erodes, o G ran-
de. Você sabe, esse foi o cruel m onarca que ten to u O ra, considerando que H erodes recebeu o título
m atar Jesus e, para isso, ordenou a execução de várias de rei em 37 a.C., se você contar 34 anos de governo
criancinhas em Belém. Ora, H erodes m o rreu entre 4 chegará ao ano 3 a.C. O problem a é que não houve
e 3 a.C. Logo, Jesus só poderia te r nascido em algum n en h u m eclipse lunar visível em Jerusalém no ano 3
período antes disso. a.C., mas apenas no ano 4 a.C.
Você sabia?
É verdade que, pelos costumes da época,
Maria talvez não fosse obrigada a seguir
viagem com José para a Judeia. Mas con-
siderando sua sennvel situação social entre
os moradores de Nazaré (lembre-se, uma
virgem que aparece grávida anunciando
Fato importante que seu bebê era 0filho de Deus), não é di-
fícil supor que José tivesse razões de sobra
Hoje 0 museu Britânico possui um papiro data- para não deixá-la sozinha em Nazaré.
do por Milligan e Deissmann como pertencente
ao ano 104 a.C. que traz a seguinte ordem:
Turno de
Absas
Lc 1:5
I Cr. 24:10
Isabel concebe
Lc. 1:23-28
Nasce
Jesus
.. ft.. ־: _CJ2
C
c Circuncisão
Fato importante M ateus e Lucas fazem questão de frisar a etnia ju-
daica de Jesus. Aos oito dias de nascido, ele foi cir-
Mateus e Lucas são os dois evangelistas que
apresentam 0 nascimento de Jesus. Eles, cuncidado com o qualquer criança judia (Luc. 2:21).
porém, selecionaram episódios diferentes que Esse era o principal rito externo de identificação de
devem ser harmonizados. Vistos em conjunto, um sujeito com o judaísm o. Era tão im portante que
ambos os textos fornecem um quadro lógico dos até no sábado deveria ser praticada.
acontecimentos na ordem em que ocorreram.
O nom e da cerim ônia em hebraico é BritM ilá, que
c literalm ente significa "aliança da circuncisão”. Inte-
C ressante que essa palavra traduzida p o r aliança (brit)
ü Io j L כדהס־ס־ pode significar tan to acordo com o corte.
A circuncisão era exatam ente um corte preci- As m ulheres que haviam acabado de dar à luz de-
so feito sobre o prepúcio, isto é, a pele que cobre a viam se purificar após terem seus bebês. Se fosse m eni-
cabeça do órgão genital m asculino. Seu significado, no, a m ulher deveria, segundo a lei mosaica, ficar im-
contudo, era bem m ais profundo do que sim plesm en- pura 7 dias e, se fosse m enina, 14. Depois disto, por um
te um corte visível na carne. A circuncisão m ostrava período de mais 33 ou 66 dias (dependendo do sexo do
que aquela criança fazia parte da aliança de Deus feita bebê), ela não podia sair de casa, nem tocar em objetos
com o povo de Israel. “M inha aliança estará m arcada sagrados - o que incluía o solo do Tem plo. T erm ina-
na carne de vocês com o aliança etern a” (Gên. 17:13). do o resguardo, ela peregrinava até Jerusalém (não era
necessário que o m arido fosse). Diante da porta de Ni-
Assim, a cerim ônia à qual Jesus foi subm etido fora
canor ela entregava a oferta prescrita ao sacerdote de
ordenada por Deus prim eiram ente a Abraão e seus
plantão. Depois disso m ergulhava-se em um dos tan-
descendentes e depois ratificada a M oisés, com o sinal
ques especialmente construídos para esse fim e podia
da aliança estabelecida entre o Senhor e o povo esco-
voltar às atividades norm ais da vida diária.
lhido. O rito, p o rtan to , fazia parte da herança com um
dos hebreus; era um a condição necessária na nacio- O Shulkhan Arukh, um catálogo de leis judaicas
nalidade judaica. com posto no século 16, com enta o código que pres-
creve em resum o o ensino da Torá: “Ela [a m ulher de
T oda criança de sexo m asculino devia ser circun-
resguardo] deverá im ergir p o r com pleto e de um a só
cidada no oitavo dia de seu nascim ento. “O que tem
vez o seu corpo, inclusive seus cabelos. Por isso, ela
oito dias será circuncidado entre vós, todo m acho nas
deve ficar m uito atenta durante a im ersão para que
vossas gerações” (Gen. 17.12).
não haja nada nela que venha estar separado da água,
A cerim ônia era simples e geralm ente reservada pois se isto acontecer, a tevilá será inválida.”
a m em bros da família. N o início, o m ohel - rabino
O segundo rito efetivado p o r José e M aria era em
encarregado do ritual - recitava um a bênção própria
função de Jesus p o r ser o prim ogênito do casal (Êx.
para o m om ento. A criança era então retirada dos
13:11-16 e Núm . 18:16). Ele é cham ado de Pidion ha-
braços da mãe e entregue para ser levada até um a ca-
ben, que quer dizer o "resgate da criança”.
deira que a tradição p osterior cham ou de “cadeira do
profeta Elias”. Ali 0 m ohel executava o ritual. O nom e A origem desse rito, segundo o judaísm o, na in-
da criança era, depois disso, anunciado a todos - o tenção divina de que cada prim ogênito judeu pudesse
m esm o se passou com Jesus (Luc. 2:21). Então segue- ser um sacerdote do Senhor. Foi essa a razão do anjo
-se um a refeição festiva. da m orte ter poupado os prim ogênitos dos hebreus
po r ocasião da últim a praga sobre o Egito. No en-
tanto, o povo pouco tem po depois, se rebelou contra
Deus, adorando um bezerro de ouro. Em virtude dis-
so, Deus teve de escolher um a única tribo (os levitas)
para m inistrar no santuário (e depois no Tem plo).
P id io n h a b e n
Apresentação no Templo
Assim, Deus requereu que todos os prim ogênitos
Q uando o bebê Jesus com pletou 40 dias de nasci-
(que não fossem levitas) deveriam ser resgatados do
m ento, sua fam ília foi ao T em plo realizar mais dois
serviço com um para Deus, p o r m eio de um a oferta ou
rituais litúrgicos: a Tevilá (purificação) e o Pidion ha-
pagam ento específico (ver N úm . 18:15).
ben (o resgate do Filho, ou consagração do prim ogê-
nito): o prim eiro era em função de M aria, que deve- O norm al, no caso do Pidion haben era o pagam en-
ria purificar-se após o parto para poder participar da to de 5 ciclos de prata mais a oferta de um cordeiro
vida religiosa judaica (Lev. 12:2-4). para 0 sacrifício que geralm ente era vendido no p ró
prio Tem plo. Os m ais pobres, no entanto, (incluam - que rem ontam aos m ais antigos profetas hebreus e,
-se aqui os pais de Jesus) ofertavam duas rolinhas ou até m esm o, a alguns videntes não judeus. Balaão, por
duas pom bas no lugar do cordeiro. exemplo, não era judeu e, em bora m ágico professo,
fazia as vezes de profeta do Senhor. É justam ente dele
A inda hoje esse rito é feito em hebraico dentre as
a profecia que dizia: V ê־lo-ei, m as não agora, con-
famílias m ais religiosas de Israel. O pai apresenta o tem plá-lo-ei, mas não de perto; um a estrela proce-
m enino num a bandeja e o sacerdote (Cohen) pergun- derá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá
ta-lhe se quer deixar o m enino ou se pretende resga- os term os dos m oabitas e destruirá todos os filhos de
tá-lo. O pai responde sim bolicam ente e o sacerdote Sete. (Núm. 24:17).
então repete três vezes: “T eu filho está resgatado!”
Com isso, a criança passa a ser legitim am ente judia
e o atual Estado de Israel propõe-se a resgatá-la em
qualquer que seja a situação. Segundo o costum e do
pidiin shevouyim (o resgate dos cativos), recuperar de
volta um judeu que está em cativeiro estrangeiro é
dever sagrado para os judeus.
Os magos do Oriente
Os magos que visitaram Jesus eram hom ens sábios
vindos do Oriente (Mat. 2:1), o que pode ser um a refe-
rência à Pérsia, Arábia ou Caldeia. Seu título grego {ma-
goi) referia-se na Antiguidade a eruditos que se distin-
guiam no campo da matemática, astronom ia e religião.
Estranhamente, porém , era um título tam bém aplicado
a mestres versados na arte da alquimia e da astrologia
(ciências totalm ente proscritas na Torá dos judeus).
Fato importante
Um erro que muito se comete ao falar da visita
dos magos é imaginar que eles vieram visitar
Jesus recém-nascido, ainda com a placenta
cobrindo 0corpo. Isso não é verdade.
173 ־
־i r » O
Você sabia?
Outrofato importante é que, de acordo com a in-
formação dada pelos magos a Herodes, 0menino
Jesus deveria ter um ou dois anos, razão pela
qual essa se tornou a idade limite do infanticídio
ordenado por Herodes (Mat. 2:16-18).
Esse hiato de um ou dois anos morando em V árias teorias são propostas. A prim eira diz que
Belém explicaria os movimentos da família,
foi um m eteoro incom um avistado no horizonte.
citados por Lucas (circuncisão e apresenta-
C ontudo, um objeto com o esse passa pelo céu em
ção no Templo), que cumpriram seus rituais
religiosos sem temer qualquer maldade da parte um a questão de segundos - m uito pouco para guiar
de Herodes. os m agos até os arredores de Belém.
c T am bém é im provável que se tratasse do cometa
C
Halley, que passou pela região em 12 a.C. Os astrô-
x ־0 ־־r a
nom os mais antigos não costum avam vincular passa-
gens de com etas ao nascim ento de reis im portantes.
C om entas eram vistos com o presságios ruins, indi-
A estrela do Natal cando fom e e enchentes, assim com o a m orte - não o
nascim ento - dos reis e m onarcas. Só para constar, o
“V im os a sua estrela no O riente e viem os para ado- fam oso “com eta” de César visível no ano 44 marcou
rá-lo” (Mat. 2:2). Essa declaração dos m agos encheu
para os rom anos sua deificação e não seu nascim ento.
de curiosidade os pensam entos de H erodes e tam bém
do leitor m oderno. O que seria afinal a estrela vista Pelo contrário, com etas eram sinal de m au agou-
pelos magos? ro: um com eta que passou p o r R om a no ano 44 foi
interpretado com o o anúncio da m orte de Júlio César o período apontado para a viagem dos magos. Ape-
e outro, visível em 11 a.C., o m arco da m orte do Ge- nas um registro aparece para um a nova, no ano 5 a.C.
neral Agrippa. C om esses episódios em m ente, dificil- M as os chineses que a notaram não afirm am ter sido
m ente alguém veria a passagem de um com eta com o a um grande evento, com m uito brilho.
:hegada de um grande rei.
Todas as tentativas que surgem para datar ou
Além disso, a data da passagem do Halley não con- identificar a estrela de Belém com corpos celestes são
diz em nada com os fatos políticos biblicam ente rela- de pouco valor. O próprio texto não perm ite supor
cionados ao nascim ento de Cristo. que se tratava de um a estrela real. N enhum corpo
celeste natural teria podido conduzir os viajantes do
Cogitou-se ainda que a estrela de Belém seria um a
O riente até Belém e estacionado sobre um a simples
nova ou surpernova. As novas são estrelas que aum en-
casa. Além disto, H erodes e os que com ele estavam
tam m uito seu brilho por um período curto de tem po
no palácio pareciam desconhecer totalm ente a exis-
e acontecem mais frequentem ente. Já as supernovas,
tência de tal “estrela” no céu. É óbvio que se tratava de
mais raras, são as famosas explosões estelares.
algo m iraculoso e não astronôm ico. O que os magos
Isso, de fato, daria um brilho visível até durante haviam visto era um “brilh o ” celestial que cham aram
o dia. C ontudo, há aqui um grande problem a: não de “estrela” (nom e, aliás, dado a toda e qualquer lum i-
há nenhum registro de um a nova brilhante durante nosidade celeste).
ÜQ l רrO “Q uando ele [im perador A ugusto] ouviu que entre
=ר
o O os m eninos da Síria com m enos de dois anos de idade
c que H erodes, o rei dos judeus, tin h a m andado matar,
Fato importante tam bém estava seu filho que, igualm ente, havia sido
m orto, ele disse: ‘é m elhor ser o porco de H erodes do
Uma ideia bem consistente com a narrativa
que filho de H erodes.”78
evangélica sugere que a estrela de Belém seria
um brilho sobrenatural produzido por anjos
de Deus. Essa interpretação fo i sustentada
com muita ênfase, no século III, pelo escritor
Massacre anônimo
Origenes na sua apologia contra Celso. Segundo
seu parecer, a multidão de anjos mencionada O m assacre ordenado p o r Herodes em Belém não
por Lucas (2:8-20) somada à gloria da própria consta em n enhum outro relato, senão o de Mateus.
divindade foram as responsáveis pelo clarão Filóstrato (biógrafo de Herodes) nada escreveu a
observado do Oriente (Contra Celso, LX). esse respeito, nem Filo de Alexandria, nem Josefo ou
c qualquer escritor rom ano.
G
ítriy Tal silêncio faz com que alguns autores reputem c
episódio com o fantasioso79. U m a criação imagin^rU
do autor bíblico, para igualar o nascim ento de Jesu
ao de M oisés, que tam bém escapou de um infanticí-
O infanticídio de Belém dio ordenado p o r Faraó no Egito. Com o poderia um
crim e tão hediondo ficar no anonim ato?
M uitos se assom bram com o relato do massacre
infantil ordenado pelo rei para m atar as criancinhas O p rim e iro elem ento que deve ser anotado é
de Belém e arredores. Pensam ser isso um exagero do que, ten d o Belém no m áxim o 1.000 habitantes, c
evangelista (Mat. 2:16). Contudo, um a análise do cará- n ú m ero de bebês com m enos de dois anos não de-
ter de Herodes, o Grande, revela um hom icida incon- veria ser grande 0 bastante para causar ta n ta como-
sequente, bem de acordo com a autoria de tal barbárie. ção. Talvez um as 20 criancinhas80. M as m esm o que
causasse, isso não significa que os h istoriadores se
H erodes era dom inado por um a total ausência de
preocupariam em rep o rtá-las em seus anais. Veja 2
escrúpulos e piedade. U m hom em grandioso na arte
adm issão de Tácito:
de construir m onum entos e fazer o mal. O m otivo
dos m uitos assassinatos que encom endava era sem pre
“Não levo o intento de relatar todas as proposta
o m esm o: receio de que alguém tom asse a sua coroa.
feitas ao Senado, mas apenas as que se to rn aram no-
Foi assim que solicitou a M arco A ntônio a m orte táveis p o r decorosos ou vis81”.
de A ntígono (seu rival político) e mais 45 m em bros
do partido opositor. Depois m atou João H ircano II, o Ademais, não se pode esquecer que a atitude pr ; ־
chefe dos sacerdotes de Jerusalém , a quem ele m esm o tagonizada p o r H erodes no Evangelho de M ateus é
cham ava de pai. E com o se não bastasse, em preendeu perfeitam ente com patível com seu modus operand
um a série de assassinatos dos m em bros de sua pró - governam ental, afeito às ordens de assassinato. Is ;:
pria família. M andou m atar M ariam ne, a esposa que está claro em vários registros fora da Bíblia.
mais amava; três de seus filhos; um irm ão e diversos
Logo, não há porque duvidar do relato que o des-
dos que haviam sido seus m elhores amigos.
creve com o ordenando o m assacre de m eninos par,,
M acróbio, um autor não cristão do século IV, poder assassinar Jesus. José e sua fam ília só escaparar:
provavelm ente citando o m assacre de Belém ou um porque foram im ediatam ente para o Egito, conform::
sim ilar, atribuiu ao im perador A ugusto o seguinte a orientação do anjo. Ali devem te r perm anecido p : ־
com entário acerca do gênio assassino de Herodes: aproxim adam ente um ano.
J1D-.
Após Herodes
j Você sabia? £ Após a partida dos magos e a conseguinte fuga para
o Egito, Herodes m orreu em Jericó e a família de Jesus
A semelhança do nascimento de Jesus e de voltou para a Judeia. T em endo, porém , a crueldade de
Moisés pode realmente ter sido um elemento
Arquelau, o novo rei, desistiram de continuar residin-
propositalmente escolhido por Mateus. Isso não
do em Belém, preferindo regressar a Nazaré, onde o
implica, contudo, que seja lendário. A história
Cristo passaria toda a sua juventude até à fase adulta.
está repleta de coincidências do tipo.
Hitler, por exemplo, tinha muitas semelhanças Falando mais especificam ente sobre Arquelau,
comNápoleão, ambos queriam dominar a Euro- as inform ações históricas indicam que ele não era o
pa, tiveram como principal inimigo alnglater- sucessor único de seu pai. Com a m orte de Herodes,
ra e sofreram com ofrio da Sibéria. o G rande, o subjugado reino de Israel fora im edia-
tam ente dividido entre três de seus filhos que ainda
Lincoln e Kennedy foram mortos depois de uma
viviam , conform e a prescrição de seu testam ento, que
conspiração que envolvia os negros e seus direitos
civis. Lincoln fo i morto na sala Ford e Kennedy seria depois alterado p o r Augusto.
fo i morto num Lincoln Continental, que era um
O título de rei, por direito de herança, deveria pas-
modelo à parte (e exclusivo) da marca Ford.
sar para Arquelau, seu filho com M altace Sam aritana.
As coincidências entre Jesus e Moisés, portanto, C om ele ficaria ainda o governo da Judeia (incluin-
podem perfeitamente ter ocorrido na história. do Idumeia) e Samaria. A rquelau era 0 mais querido
^ Não houve fabricação, mas apenas justaposição q filho de H erodes, porém , enquanto governante, se
defatos coincidentes. revelou o p ior desastre adm inistrativo de toda a di-
nastia herodiana.
־tTÜ־
Falhando trem endam ente em responder aos re-
clames populares, A rquelau acabou aum entando o
-Ω-0- 4״c 9 poder dos zelotas, que inspiravam no povo a sede de
o independência. Isso acabou incitando a im paciência
ג
Fato importante do im perador, que fazia de tudo para evitar rebeliões
localizadas. Com o prim eira advertência, A ugusto re-
O local de destino dafamília deJesus no Egito nãofoi vogou sua titulação real, concedendo-lhe som ente o
revelado. Uma antiga tradição assinala sua estadia título de etnarca (soberano p o r questões de família).
num lugar, dentro do Cairo Velho, onde hoje existe a
M as os tum ultos não term inaram , e a violência nas
igreja copta deÁbuSarga. O lugar está próximo de
ruas de Jerusalém se intensificou sobejam ente. A r-
uma antiga sinagoga. Outra tradição, atestada ape-
nas após 0séculoXIII, assinala em Mataríye, 8 km ao quelau foi obrigado a ficar “ilhado” em seu palácio,
norte doCairo, oesconderijo dafamília deJesus. e R om a não teve o u tra saída senão retirá-lo do país
para não ser linchado pela população.
Contudo, hoje é sabido que havia naquele pais várias
comunidades judaicas bem estabelecidas em diversas Em seu lugar, A ugusto enviou Sabino, que ten-
cidades, comoLeontópolis, Elefantina, Crocodilópo- tou novam ente controlar o país. Invadiu o Tem plo,
lis, Alexandria e outras. Qualquer uma dessas pode queim ou arm azéns públicos e confiscou os tesouros
ter sido 0local de abrigo dafamília emfuga, José do Tem plo. Suas atitudes, no entanto, só aum enta-
pode ter se agregado a algum cçnádadão judeu do lu- ram ainda mais a fúria popular, que am eaçou invadir
garpara obter trabalho e usado ospresentes dos magos
o palácio e atear-lhe fogo.
I (ouro, incenso e mirra) parafinanciar a viagem.
A situação só foi definitivam ente controlada quan-
do V aro, então procurador rom ano da Síria, ocupou a
□ו־כ־ס־ד cidade com um forte exército e m atou m uitos de seus
habitantes. Com o resultado, Rom a decidiu tirar da
Judeia o direito de possuir um “rei local”, tornando-a
m era província controlada desde então po r um repre-
sentante rom ano. Com esta perda de status, Jerusalém
deixou de ser a capital oficial do país e um a perm anen-
te guarnição rom ana passou a tom ar conta da cidade
e do Tem plo com um a fortificada base localizada na
T orre A ntônia, no canto norte do Tem plo judeu.
Infância e juventude
de Jesus
Não foram somente os evangelhos apócrifos que ten-
taram preencher a lacuna da infância, adolescência e ju-
ventude de Jesus antes de seu ministério público. Outros
tam bém ficaram descontentes com esse hiato e procura-
ram repará-lo com a criação de mitos variados.
A tendência m aior hoje, tanto de acadêmicos li- Por algum a razão, M aria se perdeu de seu filho
berais quanto conservadores, é rejeitar essas versões depois da festa, e am bos, ela e José, voltaram a Jeru-
como sendo lendas criadas sem nenhum respaldo his- salém. Talvez pensassem que Jesus estava ju n to com
tórico. Os chamados “anos perdidos de Jesus” continu- outros parentes. F oram três dias de busca até poder
am sendo um m istério, exceto p o r um único episódio:
encontrá-lo no T em plo, discutindo as Escrituras corr
Sua visita ao Tem plo quando tin h a 12 anos de idade.
os doutores do judaísm o. U m a anotação textual cha-
m a a atenção: os que o ouviam se adm iravam de sua
Aos 12 anos inteligência e suas respostas.
c
G
־C־?־f ־r : : : - ״׳..... ......... — : — ....... ± 3 ־c g ־
Você sabia? Ao que tudo indica, Cristo veio à T e rra para fins
específicos que não prescreviam o casam ento. Mas.
Quando Jesus era menino e adolescente,
relem brando, se fosse casado, isso não seria um pro-
Herodes Agripa, que se tornara tetrarca
da Galileia, resolveu reedificar ao norte da blem a para o judaísm o da época.
região (a 6 km de Nazaré) a nova capital
da Galileia que se chamaria Séforis, a atual
Moshav Zippori.
Os irmãos de Jesus
c
O Além de José e M aria, os evangelhos tam bém fa-
lam dos irm ãos e irm ãs de Jesus (M ar. 3:32; 6:1-3;
d i־G j l '־co u
M at. 12:46; 13:55-56 etc.). C onsiderando que quatro
deles são hom ens citados pelo nom e (Tiago, José.
A edificação da m etrópole consum iu grande m ão Simão e Judas) e que, adicionalm ente, fala-se de ״ir-
de obra e levou cerca de 24 anos para ficar pronta. m ãs”, no plural, pode-se concluir que Jesus tinha no
O recrutam ento de carpinteiros e artesãos era gran- m ínim o seis irm ãos. Q uatro hom ens e, pelo menos.
de p o r volta do ano 4 a.C. e gerara m uitos em pregos. duas m ulheres. M as quem seriam eles? T rês hipóteses
Isso talvez co rroborou para o reto rn o de José e sua são com um ente levantadas:
HIPÓTESE OBSERVAÇÕES
Os irm ãos de Jesus não o aceitaram , de im edia- preferindo antes a com panhia dos seus próprios dis-
to, com o o M essias enviado de Deus (Jo. 7:5). Pelo cípulos (M at. 12:46-50).
contrário, todos os relatos envolvendo encontros do
Senhor com seus fam iliares aparecem recheados de Contudo, o livro de Atos 1:12-14 m enciona a mãe
rejeição e incredulidade. N um a ocasião, seus irm ãos e os irmãos do Senhor entre os discípulos que ficaram
chegaram a sugerir-lhe que fosse à Judeia, m esm o firmes em Jerusalém aguardando a vinda do Espírito
cônscios de que isso poderia significar sua m orte (Jo. Santo. Tiago, um dos irmãos citado pelo nom e, tom ou-
7:1-9). D outra feita, quiseram prendê-lo, reputando- -se firme colaborador e líder da Igreja que estava em Je-
-o p o r louco diante da m ultidão (M ar. 3:21). E, p o r rusalém (Gál. 1:19; 2:9 e At. 12:17). Segundo a tradição,
fim, Jesus já não se dem onstrava ansioso para vê-los, foi ele quem presidiu o Grande Concilio de 49 A.D. e
eca da Vida çleÜesu^i
O hebraico ficou restrito ao discurso, à leitura da O fato da arqueologia de Israel ter descoberto ins-
T orá e ao am biente religioso. P or sua fam iliaridade crições latinas em placas e m onum entos do século I
com as Escrituras e sua atuação com o rabi nas sina- apenas evidencia a presença e o dom ínio rom ano na
gogas p o r onde pregava, Jesus certam ente teve flu- região; nunca um idiom a conhecido da m aioria.
V *
* ץjg f
W
\ Λ
A terceira form a seria avaliar a inform ação dada de 26 a 36/37 d.C., o ano da m orte do Senhor tem de
em João 2:20 concernente à época de construção do ter ocorrido em algum período d entro desse decênio.
Segundo T em plo em Jerusalém .
A trelada à crucifixão de Cristo, existe a m enção de
um a Páscoa. Alguns pensam que sua m orte aconteceu
Festa da Páscoa no m esm o dia do sacrifício pascal (14° dia do mês de
nisã) outros, que seria um dia depois (no 15° dia de
C onsiderando que Jesus foi crucificado durante o nisã). Sendo assim, cálculos astronôm icos apresen-
governo de Pilatos e que esse durou 10 ou 11 anos, tam apenas 3 anos que possibilitariam um a quinta ou
sexta-feira caindo dentro das datas propostas. Seriam
os anos 30, 31 e 33 d.C.
Em prim eiro lugar, é im p o rtan te dizer que existe um a aparente discrepância, nesse sentido, en tre os evan-
gelhos sinóticos e o de João.
Trazem poucas in fo rm a çõ e s sobre 0 tem po em que João estende 0 m inistério de Cristo para bem mais de 10
durou 0 m in isté rio de Jesus. Eles m encionam a par- meses. 0 difícil é precisar sua cronologia e acertar qual
tic ip a ç ã o de Jesus em apenas uma Páscoa - exata- calendário ele estaria utilizando. Em João 2:13,23, 0 autor
m ente aquela na qual Jesus fo ra m orto. A ntes disso, m enciona uma Páscoa (abril) que ocorreu não muito de-
m encionam um episódio em que os discíp ulos passam pois do início do m inistério de Jesus.
pelas ceara s m aduras e colhem algum as espigas de
trig o para com er. Ora, no A ntigo O riente M é dio , a ma- Em João 4:35, Jesus afirm a que ainda faltavam quatro me-
tu ra çã o do grão para a colheita o co rre ju sta m e n te na ses para a colheita. Como a colheita principal ocorria mais
prim avera, que seria no fin a l de m aio. C onsiderando próxima do fim de maio, a dita afirm ação de Cristo teria
que a Páscoa o co rre em abril, 0 hiato entre os dois ocorrido em meados de janeiro, no máximo no início de fe-
eventos (colh eita e próxim a Páscoa) seria de aproxi- vereiro. Assim, entre a m enção da primeira Páscoa (abril)
m adam ente 10 m eses - 0 tem po de d u ração do m inis- e a declaração de Cristo, havia se passado pouco menos
té rio de Cristo.
de um ano.
U m a form a de conciliar ambas as fontes (João e os N enhum deles é enfático em dizer que o m inis-
Sinóticos), nesse aspecto da duração do m inistério de tério de Jesus durou apenas 10 meses ou 1 ano. Ne-
Jesus, seria en ten d er que M ateus, M arcos e Lucas não nh u m evangelista diz isso explicitam ente. Ademais,
negam os 3 anos e m eio do 4o evangelho; apenas não em bora os evangelhos tragam um relato acurado dos
fazem m enção deles. fatos relativos a Cristo, eles não in ten tam ser sequen-
cialm ente exatos. Ou seja, a ordem de alguns eventos
que aparecem entre o início do m inistério de Jesus
Festas judaicas
e sua m orte e ressurreição estão arranjados mais por
O calendário judaico dos dias de Cristo contava
tópicos do que p o r seqüência cronológica. com seis festas ou feriados religiosos:
U m exem plo disso pode ser visto na cura da filha
Páscoa - 14 de nisã (abril/m aio), Êxodo 12:6.
de Jairo, intercalada pela cura da m ulher com fluxo de
sangue. N ote que M ateus e Lucas narram com deta- Festa das semanas ou Pentecostes - 50 dias de-
lhes esse episódio, mas o colocam em m om entos bem pois, Levítico 23:16; D euteronôm io. 16:10.
distintos (M at. 9:18 ss e Luc. 8:40 ss). M ateus o apre-
senta depois da conversa entre Jesus e os discípulos de
Dia da expiação - 10 de etanin (setem bro/outu-
bro), Levítico 23:27.
João acerca do jejum e Lucas depois do exorcism o em
Gadara. Esse é um típico caso em que os autores não Festa dos tabernáculos (ou das cabanas) - pou-
dem onstram interesse na ordem dos acontecim entos, cos dias após o dia da expiação, Levítico 23:34.
mas na tem ática que eles envolvem .
Festa da dedicação - m ês de kislev (novem bro/
Ademais, os eventos relacionados a C risto são co- dezem bro), I M acabeus 4:47-59.
locados por am ostragem de seus atos. Não são um
relatório exaustivo de tudo que ele fez. Assim, m uita Festa do Purim - mês de adar (fevereiro/m arço),
coisa foi om itida. N ote que o reto rn o de Cristo para relem brando a história de Ester.
a Galileia (Jo. 4:45), após sua prim eira Páscoa com o
M essias revelado, parece ser o m esm o m encionado
po r M arcos 1:14 e Lucas 4:14.
A pregação de
A terceira Páscoa m encionada por João 6:4 tem pa-
João Batista
ralelos m uito próxim os a M arcos 6:39ss e Lucas 9:12ss.
N enhum personagem se destaca m ais na prim ei-
Mas a coleta de trigo pelos discípulos em M arcos 2:23
ra parte dos evangelhos que João Batista, 0 distante
e Lucas 6:1, indica outra festividade pascal diferente da
parente de Jesus. Solitário pregador, vivendo mais
últim a em que Jesus foi m orto e daquelas m encionadas
em lugares desertos, João acreditava ser ele mesmo
em João 2:13 e 6:1. Isso, por si só, dem onstra que o
aquele apontado p o r Isaías com o o "preparador dos
m inistério de Jesus envolveu, no m ínim o, três Páscoas.
cam inhos do Senhor” - um a referência análoga aos
arautos que visitavam oficialm ente as cidades, anun-
ciando a chegada de um rei e preparando o lugar para
q-t-g.a. recebê-lo com dignidade real.
O alim entar-se de gafanhotos e mel silvestre pode M as o que significava originalm ente esse rito?
>er um a referência ao alim ento celestial (o mel) e a Para responder a isso é preciso conhecer o rito judai-
escassez de alimentos na terra (o gafanhoto). N o caso co da im ersão em água, pois foi dali que João tiro u sua
específico desse animal, é certo que as leis levíticas per- prática, em bora com um sentido distinto do original.
mitiam o consum o de alguns tipos de gafanhoto (Lev. Q ue o ato não constituía novidade fica claro no fato
11:22). Não obstante, existe a possibilidade de que o de que em m om ento algum os fariseus e demais in-
Tim ento a que a dieta de João se refere fosse um fruto terlocutores m ostraram -se surpresos com o que João
da alfarroba. Essa possibilidade é baseada num a supos- Batista estava fazendo, nem m esm o perguntaram o
:a grafia de akródua (vagem) para akrídes (gafanhotos, que aquilo significava. Eles conheciam bem aquele
como está em todos os m anuscritos). Mas não se achou ritual. Apenas não entendiam com que autoridade
até agora nenhum m anuscrito com a palavra akródua. João fazia aquilo. M esm o porque, de form a geral, na
Essas vagens são doces e altam ente nutritivas, além de cultura do judaísm o antigo, a pessoa m ergulhava a si
íer 0 alim ento consum ido em épocas de escassez de co- m esm a sem necessidade de ajuda externa para efetuar
mida. Veja 0 caso do filho pródigo (Luc. 15:16). a purificação na água (Jo. 1:25).
Finalm ente, para com por o cenário de suas vesti-
O batism o judaico era cham ado evilá e era realiza-
duras e alim entação, o deserto é o local mais repre-
do geralm ente num mikveh, isto é, um a piscina espe-
sentativo do juízo e da preparação das pessoas para
ciai de água corrente. Os mais abastados tinham um
cum prir um a m issão especial de Deus. João não po-
mikveh particular em casa, enquanto o povo com um
deria ter escolhido local m ais apropriado para procla-
realizava o ritual em rios ou em tanques públicos es-
m ar sua m ensagem .
pecialm ente preparados para esse fim.
Alguns pensam que João teria ficado p o r algum rio profético (comp. M at. 3:2 com 4:17 e Luc. 3:10 e
tem po em com panhia dos essênios no deserto da Ju- 11 com M at. 5:39-42).
*
deia. O fato é que, certa feita, ele m esm o adm itiu que
não conhecia a Jesus (Jo. 1:33). Foi preciso um a in ter- Local do batismo de João
venção direta de Deus (o Espírito em form a de pom -
ba) para que o Batista reconhecesse em Jesus, aquele
Dois lugares disputam o local original onde João
que haveria de vir (M at. 3:11-17).
Batista realizava seus batism os públicos: o prim eiro e
A p a rtir disso, se não travaram um a íntim a ami- m ais conhecido é um pequeno afluente do rio Jordão,
zade, pelo m enos se adm iraram em m útuo respeito. alim entado p o r cerca de cinco nascentes. O local se
João chegou a m andar que seus discípulos seguissem cham a W ad i K harrar e fica na zona de fronteira en-
a Jesus, ao invés dele m esm o (Jo. 1:35-41). N um a de- tre Israel e Jordânia. O lugar não é m uito distante de
term inada ocasião, referiu-se àquele que haveria de Jericó e a tradição diz que, na confluência dessas cinco
vir com o alguém de quem ele não seria digno nem fontes, João batizava.
Wadi Kharrar, muitos creem que neste locai Jesus foi batizado.
João Batista e Qumran sua pregação (Mat. 3:3; M ar. 1:3; Luc. 3:4; Jo. 1:23 e
D ocum ento de Dam asco 7,12-14; 9,20). Seria p o r isso
que o cristianism o foi conhecido com o “o cam inho”?
A relação entre o m ovim ento de João Batista e o m o-
vim ento de Jesus é explícita nos evangelhos, logo, tam - João e Q um ran praticavam a im ersão/batism o
bém o será em relação a Q um ran e aos nazarenos. No que (Tevillah) com o sinal de arrependim ento. Os judeus
diz respeito à referência de João Batista como tendo um tam bém o praticavam , mas em João e Q um ran o ba-
“movimento''’em tom o de si, é notório que ele tinha discí- tism o parece te r um colorido m ais escatológico de ar-
pulos e ministrava sermões de arrependim ento (Jo. 1:35). rependim ento que a prática judaica m ais com um de
Lucas 1:80 m enciona que ele foi criado nos deser- purificação (M an. Disc. 3, 4f; v, 13; Doc. Dam. 10-
tos. Ora, Josefo afirm a que os essênios criavam filhos 10-13). Além é claro da m enção inédita do Espíjrito
de outras pessoas (Antiguidades 2,8,3). Talvez João Santo (Man. Disc. 4, 12-13).
ten h a sido criado na com unidade de Q um ran. As
M as há tam bém diferenças im portantes entre o
razões hipotéticas para que seus pais o tenham lava-
m ovim ento batista e aquele de Q um ran:
do até ali podem ser as seguintes: depois da m atança
das crianças em Belém, Isabel o levou para lá, porque Os essênios usavam branco (Antiguidades 2, 8, 3).
com o eram parentes de Jesus, filho de José e M aria, João usava vestes de pelo de camelo (M at. 3:4).
João poderia c o rrer perigo em Jerusalém com a dinas-
A com unidade não era evangelística, era fechada
tia dos Herodes no poder (note que ele depois se volta
em si m esm a e quase erem ita (M an. Disc. IX, 21-26 .
contra um dos Herodes que era adúltero).
João pregava na ribeira do Jordão e p erto da cidade
Essa razão é apresentada no evangelho apócrifo pois as pessoas v inham ouvi-lo. Ele, inclusive, viu Je-
protoeuangelion de Tiago. A o u tra razão seria que Za- sus passando p o r um a via pública quando disse ״eis o
carias, sendo um sacerdote se ju n to u aos essênios que cordeiro de D eus”.
eram da trib o de Levi e não mais aceitavam o m ovi-
Soldados e publicanos não eram aceitos entre 05
m ento sacerdotal de Jerusalém . Eles diziam seguir o
essênios, João lhes aconselha apenas que sejam ho-
sacerdócio de Zadoque (II Sam. 8:17; I Cr. 24:3 etc.).
nestos e não que abandonassem a profissão (Luc.
Isso explicaria o vegetarianism o de João, um a vez que
3:10-14).
dentre os essênios m uitos eram vegetarianos, rejei-
tando com er até m esm o o cordeiro pascal68. A im pressão que tem os é que João foi p o r algum
tem po do m ovim ento essênio, m as o abandonou em
João, portanto, vivia no deserto (em um a com uni-
certo período. Possivelm ente o m ovim ento dos naza-
dade? Sozinho?) [Luc. 1:80; Jo. 1:28], Sua m orada era
renos tam bém .
num local que distava apenas 8 milhas de Q um ran - na
verdade, as grutas onde os m anuscritos foram locali- As propostas, as perspectivas, os cenários são
zados estava a 5 milhas de onde João Batista batizava. m uitos com o se pode ver. C ontudo, com pensa tre-
m endam ente estudar a vida e os ensinos de Cristo. O
A gora vejam os as sim ilaridades entre o ensino de
acercam ento destes tem as traz, com certeza, muitos
João Batista e o de Q um ran:
benefícios a quem deles lança m ão, quer com o acadê-
Am bos (João e a com unidade de Q um ran) cita- m ico ou sim plesm ente com o sujeito de fé, refletinác
vam Isaías 40:3 com o um a profecia que antecipava sobre sua p rópria identidade confessional.
Aqueles que apoiam essa tradição fundam entam - de Jesus a João seria aquela que aponta para o m odo
-se nos seguintes pressupostos: (1) o local faz parte im pecável e exem plar com que Jesus deveria exercer
do deserto da Judeia; (2) A expressão “Betânia além seu m inistério, “Im pecável” no sentido de que ele não
do Jo rd ão ” (Jo. 1:28) com o a referência ao local dos poderia ter n enhum a m ácula e “exem plar ״porque de-
batism os não era necessariam ente um local no pró- veria ser um m odelo para a hum anidade.
prio rio, mas um pouco afastado dele; (3) este lugar
O M essias deveria ser rei e sacerdote. Rei, segundo
está intim am ente ligado com o rio; (4) os batism os
não poderiam ser exatam ente no rio p o r causa da sua sua ascendência de Davi e sacerdote, segundo a or-
forte correnteza, mas num lugar associado às águas dem de M elquisedeque, pois obviam ente ele não teria
do Jordão; (5) a presença de um grande núm ero de com o ser da tribo de Judá e Levi ao m esm o tem po
capelas erguidas ali nos séculos VII e VIII m ostra que (Sal. 110:4; Heb. 5:8-10, 6:20).
o lugar detinha algum a tradição que o apontava como Am bas as funções, de rei e sacerdote, exigiam a
local do batism o de João Batista93.
unção com óleo consagrado - sím bolo do Espírito
O segundo lugar provável do batism o foi aponta- Santo de Deus. O m ergulho de purificação na água
ão pelo arqueólogo Shim on G ibson94. Ele com andou era requisito básico para alguém que iria atuar com o
um a escavação num sítio arqueológico p erto de Ein sacerdote (Êx. 29:1 e 4). N o caso do rei, em bora a la-
Karim - lugar onde tradicionalm ente acredita-se que vagem com água não constitua um a exigência divina,
nasceu João Batista. Ali descobriram um a caverna percebe-se a presença de um a fonte no m om ento em
com sinais de acúm ulo de lam a e estruturas de pe- que Salomão é consagrado rei de Israel (I Rs. 1:45).
dra que serviam para form ar “piscinas”, canalizando e
A unção de C risto é superior a todas as demais. O
acum ulando a água da chuva d entro da rocha.
Espírito de Deus desce com o pom ba e vem sobre ele.
Além disso, há indícios de uso esporádico do lu- Depois a voz do Pai é ouvida do céu aclam ando o seu
gar durante todo o século I d.C. Ali encontram -se m ui- Filho. Um evento público, testem unhado p o r todos e
tas cerâmicas, mas sem sinal de que a ocupação tivesse reconhecido p o r João (Jo. 1:32 a 34).
sido doméstica. Era um local público. As paredes são
adornadas com desenhos bizantinos e trazem cruzes,
símbolos cristãos e o desenho de um hom em com rou-
pa de peles, um cajado e um aparente cordeiro do seu o
כ
lado. Para Gibson, um a representação de João Batista
> C
ao lado do “C ordeiro de Deus”, ou seja, Jesus.
Fato importante
Lucas informa que ao começar seu ministério
Por que Jesus Jesus teria em torno de 30 anos (Luc. 3:23).
foi batizado? A razão dessa nota não é meramente cro-
nológica. Lucas pretende mostrar que Jesus
começara seu ministério messiânico no tempo
Um a coisa que intriga m uitos leitores do Novo
certo apontado pelas Escrituras.
T estam ento é o fato de Jesus ser declarado sem pe-
cado e necessitar ser batizado. O próprio João Batista Sendo também um sacerdote, 0Messias deve-
se surpreendeu com 0 fato dizendo: “Eu é que preciso ria iniciar seu ofício na época certa apontada
pela Lei de Moisés. E esta era aos 30 anos de
ser batizado p o r ti e tu vens a m im ?” (Mat. 3:14). A
idade, conforme a prescrição de Números
resposta de Jesus é mais intrigante ainda: “Deixa po r
4:3,23,30 e 35.
enquanto, por que assim nos convém cum prir toda a
justiça” (M at. 3:15).
c ר
j O
Várias m otivações são apresentadas para esse
episódio. Talvez a mais com patível com a resposta
Jrç-τΊ- ?־...... ..^ k 0 lli
era fazer com que o M essias falhasse em sua m issã:
Ao concluir a narrativ a do em bate, em Lucas 4:13 é
Templo - Vista Geral Esquina,
Pináculo
dito que Satanás “o deixou até ocasião o p o rtu n a ”, :
que indica te r sido Jesus ten tad o em outras ocasiõe s
ainda que novos incidentes de co nfronto direto não
ten h am sido registrados.
Confronto com o mal C ontudo, em pelo m enos um a ocasião, é possívd
A ida de Jesus para o deserto, onde foi tentado pelo ver o diabo, desta vez através de Pedro, tentando dis-
diabo, tem um profundo significado dentro da reli- suadir C risto de sua m issão (Mat. 16:21-23). O pon-
giosidade da época. A ntes de conhecê-lo é im portante to im portante é que, apesar de m últiplas tentações. :
saber p o r que Deus expôs seu Filho à m ercê do p rín - testem unho bíblico é de que Cristo nunca pecou. M a־
cipe das trevas. qual o propósito em deixar que Cristo fosse tentadc ?
Após 0 batism o, Jesus foi “levado pelo E spírito O texto bíblico é claro: Cristo "foi levado pelo Es-
ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi ten ta- pírito ao deserto”. Tal expressão indica um propósito
do pelo diabo” (Luc. 4:1-2). O objetivo do inim igo divino naquela condução do Messias pelas terras maà
áridas da Judeia. O m otivo claro para isso é assegurar de trocar de lugar com o Altíssim o, recriando Deus à
que a hum anidade tivesse um sum o sacerdote capaz im agem e sem elhança dos caprichos e posições pes-
de se relacionar com as fraquezas e debilidades pró- soais, de m odo que a vontade do hom em passa a ser a
prias da raça hum ana (Heb. 4:15). vontade divina e, p o r isso, deve ser obedecida.
Cristo não sofreu, é claro, das mesmas coisas Cristo, po rtan to , enfrentou a tentação na sua base.
que cada indivíduo do mundo inteiro padeceu. E com o pano de fundo de cada um desses assédios sa-
Ele não teve a dor de sofrer um estupro na tânicos estava o m aior de todos os perigos: a indepen-
infância, ou 0 trauma de ver esposa efilhos dência de Deus.
mortos por bandidos na sua frente. Contudo,
elefo i tentado nos pontos básicos que todos os Assim, a natureza hum ana do Filho de Deus lhe
seres humanos também são. Ou seja, ele não perm itiu não apenas com preender a dor hum ana,
precisava passar pelas mesmas dores que cada mas sim patizar-se com ela. “Porque, tendo em vista o
um enfrenta, mas ter a experiência exata do que ele m esm o sofreu quando tentado, ele é capaz de
que é sentir dor, sede, sensação de abandono.
socorrer aqueles que tam bém estão sendo tentados”
Isso 0 torna hábil a compreender as debilidades
(Heb. 2:18). A palavra grega traduzida "tentado” aqui
humanas assim como um paciente com câncer
significa “ser colocado à p rova”.
pode entender a dor do outro com esclerose múl-
tipla, embora se tratem de doenças diferentes.
ר oO
O
S b ΤΓ& c O
c j
Você sabia?
O deserto assume na Bíblia e na cultura do
Oriente Médio um destaque muito especial.
Ali fo i 0 lugar para onde vários perso-
nagens bíblicos se dirigiram voluntária
ou circunstancialmente e encontraram
ambiente para 0preparo ou maturidade
Tentações no deserto espiritual. Abraão, Jacó, Moisés, Elias e
João Batista são alguns exemplos.
N a versão de M ateus 4:1-11, as três tentações so- Por isso a palavra “deserto" nas Escrituras
fridas p o r Cristo resum em a tríade de todo fracasso assume tanto um sentido literal de lugar,
espiritual. Prim eiro, a tentação da cobiça tam bém co- como também metafórico de circunstân-
nhecida com o concupiscência da carne: “M anda que cia da vida. É 0 lugar da provação (Heb.
essas pedras se transform em em pães”. O u seja fazer 3:8)■ da secura e aridez na companhia de
coisas escusas para alim entar os desejos do corpo e o animais perigosos (Deut. 8:15; Jó24:5;
prazer, custe o que custar. Mar. 1:13), e também 0 lugar da proteção
(Êx. 13:17 el8;Ap. 12:6), do livramento
A seguir, a tentação da arrogância espiritual: “A ti- (Jer. 31:2), do amadurecimento ou preparo
ra-te abaixo ... porque aos seus anjos ordenará a teu espiritual (Heb. 11:36-38).
respeito para que te guardem ”. Ou seja fazer coisas c
erradas em nom e da fé e de um suposto cum prim ento C
da vontade de Deus, bem com o a tentativa hum ana Sh
־זס־ס־
Endereços do Mestre
י O
cJ כ O relato dos evangelhos perm item apontar pelo
כ Fato importante c m enos cinco lugares onde Jesus m orou. O prim ei-
O jejum, bem como demonstram os textos ro, Belém, po r aproxim adam ente dois anos após seu
bíblicos e a tradição judaico-cristã, não era nascim ento. O segundo, alguma com unidade judaica
uma prática isolada, nem técnica destinada do Egito, talvez por cerca de um ano, enquanto Ele e
a provocar êxtase ou conseguir 0favor de
seus pais fugiam da ira de Herodes. O terceiro, Nazaré,
Deus. Trata-se antes de uma atitude des-
crita em hebraico como “afligir a própria onde fora criado e perm anecera talvez até próxim o aos
alma", isto é, demonstrar sensibilidade 30 anos. O quarto, algum lugar próxim o ao sítio onde
física e emocional em relação ao conflito João Batista realizava seus batismos. O quinto, Cafar-
cósmico que envolve a humanidade e posi- naum , a cidade onde residiu po r 3 anos e m eio até se-
cionar-se diante dele. guir para Jerusalém e ser crucificado diante de todos.
Noutras palavras, mostrar, pelas atitudes e
comportamento, que houve uma real opção
pelo lado de Deus na guerra do bem contra
Deixando Nazaré
.^ 0 mal. ^ .
c כ O início do m inistério público de Jesus aparece
0 ^ Ο
m arcado por, pelo m enos, duas m udanças de endere-
14W P -................................................. ^ ΓΤΓγ τ π ço. M esm o criado em Nazaré, ele já não residia ali no
m om ento em que se m anifestou com o M essias. A Bí- Os m otivos que fizeram C risto sair pela segunda
blia o m ostra visitando um a ou duas vezes o lugarejo, vez de N azaré, novam ente, não são esclarecidos pelo
mas sem pre em clima de rechaço e desconfiança po r evangelista. C ontudo, a possível m orte de José e a
parte de seus m oradores (M at. 13:53-58; M ar. 6:1-6; crescente rejeição de seus concidadãos seriam bons
Luc. 4:16-30). argum entos para sua m udança.
Pelo que se lê em João 1:25-42, Jesus já havia fixado Ademais, o verbo grego usado p o r M ateus para
residência em algum lugar da Judeia, provavelm ente referir-se à saída de Jesus de Nazaré é kataleipô, que
nas cercanias de Betânia ou Jericó, próxim o ao local carrega um sentido adicional de “deixar para trás”,
onde João Batista pregava e fazia batismos. Foi nessa “abandonar”, “esquecer”. Foi com esse tom pejorati-
circunstância que ele um dia solicitou ser batizado por vo, que M ateus usou esse verbo todas as vezes que se
oão Batista. E ntretanto, quando ouviu dizer que João referiu a um a retirada de Jesus de algum a localidade
havia sido preso, Jesus voltou para Nazaré, na Galileia (cf. M at.l6:4; 21:17). Não foi, enfim , um a saída pací-
Mat. 4:12). fica regada com lágrim as e festas de despedida.
M as por que C afarnaum e não C orazim , Betsaida ou outro centro urbano local? A resposta talvez esteja na
amizade firm ada com Pedro, o pescador e sua família, o que fez com que Jesus se sentisse bem acolhido naquele
lugar. O utra possibilidade, não excludente da prim eira, seria o fato de Jesus te r outros parentes vivendo ali, mas
que não o rejeitaram com o os de Nazaré. E, ainda, C afarnaum , nos dias de Cristo, era um im portante centro
com ercial da Galileia, e, assim, Jesus teria contato com m uitas pessoas nessa cidade.
Parentes de Jesus
N o Evangelho de M ateus, João e Tiago, que se to rn aram apóstolos de C risto, são cham ados de “filhos de
Zebedeu” (Mat. 4:21). Eles tam bém m oravam em C afarnaum e eram pescadores, juntam ente com seu pai.
M ateus ainda descreve sua mãe, a m ulher de Zebedeu, entre as seguidoras de C risto que ficaram ao pé da cruz
(M at. 27:56).
M arcos dá a entender que essa m esm a m ulher cham ava-se Salomé, e João com plem enta que ela seria a irmã
de M aria, m ãe de Jesus (Marc. 15:40; Jo. 19:25). U m a visão conjunta dos três relatos evangélicos esclarece me-
lhor o argum ento.
1 ־cO
Você sabia?
Esta provável relação parental lança luz no
episódio descrito em Mateus 20:21, onde “a A sinagoga local
mãe dosfilhos de Zebedeu pede a Cristo
que no seu reino um de seusfilhos fique à A sinagoga foi a prim eira das ruínas ali reconhe-
sua direita e 0outro à sua esquerda. Era um
cidas pelo relato do explorador am ericano E. Robin-
pedido bastante audacioso para uma mulher
son, em 1838. Seu edifício ergue-se no centro físico
da época. Ele só se justificaria se ela tivesse
alguma ascendência familiar sobre Jesus. Se da pequena cidade e as suas dim ensões são notáveis: a
realmente se tratar de sua tia, a requisição sala de oração, de planta retangular, m ede 23 m etros
fa z todo sentido, considerando queTiago e de com prim ento p o r 17 de largura e possui à volta
João seriam seus dois primos legítimos. outras salas e pátios.
De fato, T iago e João estão no círculo dos Ao contrário das casas particulares, com as suas
mais íntimos de Cristo ao lado de Pedro eAn- paredes negras de pedra basáltica, a sinagoga foi cons-
dré. João chega a ser chamado de “o discípulo tru íd a com blocos quadrados de pedra calcária branca,
amado”, “aquele que reclinava a cabeça no trazida de pedreiras localizadas a m uitos quilôm etros
peito de Jesus”- uma expressão típica para
de distância; alguns blocos pesam quatro toneladas.
demonstrar intimidade familiar.
Porém , aquela não é a sinagoga que Jesus conhe-
ceu. Estudos mais recentes revelaram ser aquela um a
d + 'G'T L בח־סזז construção dos séculos III ou IV d.C. N o local, foram
encontradas cerca de 30.000 m oedas do período ro-
m ano tardio, além de várias cerâmicas e pedaços de
um a arquitetura bizantina - elem entos que confir-
A vida em Cafarnaum m am um a datação tardia para o edifício.
E m bora o A ntigo T estam ento não faça m enção al- C ontudo, sob as ruínas dessa sinagoga, m ais espe-
gum a a essa cidade, existe um a tradição judaica que a cifícam ente sob a nave central, há um pavim ento de
identifica, talvez p o r causa de seu nom e, com o a vila pedras de basalto diferente do encontrado em outras
áreas do local; ju nto dele há cerâmicas, certam ente turião rom ano de quem Jesus curara um fiel em pre-
p ertencentes a um período bem anterior ao Bizan- gado (Luc. 7: 1-10). Ali tam bém havia um líder local
tino. Segundo a opinião de alguns sérios estudiosos cham ado Jairo, que teve sua filha de 12 anos ressusci-
esse pavim ento seria do século I e pode m uito bem tada p o r m ais um m ilagre de Jesus Cristo.
pertencer à m esm a sinagoga dos dias de Jesus, referi-
da em M ateus 8:5-13 e Lucas 7:1-10.
A casa que Jesus
O costum e oriental de construir novos edifícios de
culto sem pre sobre os escom bros de um outro edifício
frequentou
de culto explica o porquê de estarem as duas sinago-
Hoje, quem v isita C afarnaum v erá, elevada por
gas, a mais antiga e a tardia, edificadas no m esm o local.
sobre as ru ín as de um a das casas locais, um a igreja
Naquele lugar, portanto, o M estre esteve em vários sá-
m o d ern a in augurada em 1990. M as o que interessa,
bados, leu a T orá e pregou a vinda do reino dos céus.
em term o s arqueológicos, está em baixo dessa igre-
C onform e as inform ações dadas p o r Lucas, a sina- ja: um a sobreposição de três edificações, localizadas
goga de C afarnaum havia sido edificada p o r um cen- a 30 m etro s da sinagoga, cujo p rim e iro nível seria
Jesus, aliás, parece te r sido m uito aberto à entra- U m dos pontos de destaque do início do m inis-
da de m ulheres para seu discipulado - um a atitude, tério de C risto foi a escolha de 12 hom ens para que
senão inédita, pelo m enos rara naquele tem po. Um a o acom panhassem e dessem continuidade à sua obra
das m ais famosas passagens que confirm a tal disposi- após sua partida. Tal era sua im portância na organi-
ção é a que descreve M aria, irm ã de M arta, “assentada zação do grupo que Lucas revela que C risto passou
aos pés de Jesus”, conform e Lucas 10:38-42. Essa era um a noite inteira em oração antes de definir seus no-
um a típica postura/expressão de aprendizado diante mes (Luc. 6:12-13). Eles eram seus 12 apóstolos.
de um rabino. T an to que Paulo usa um a expressão
O n ú m ero 12 já revela um paralelo sim bólico
análoga, “instruído aos pés”, para falar de seu apren-
com o povo de D eus, um a vez que esse valor lem -
dizado ju n to ao grande rabino Gamaliel (At. 22:3).
brav a os doze filhos de Jacó, as 12 trib o s de Israel,
Isso coincide com um dito atribuído ao rabino os 12 pães da presença e as 12 pedras no p eitoral do
Yoser ben Yoser, que disse: “Deixe sua casa se trans- sum o sacerdote.
form ar num lugar de encontro para rabinos. Então
Para entender o papel desses hom ens dentre o
cubra-se a si m esm o com a poeira dos pés deles e beba
grupo m aior de seguidores de C risto é im p o rtan te es-
de suas palavras com o alguém sedento”.
tabelecer a diferença entre apóstolo e discípulo.
SlSL
O
O discípulo
c
Nas origens do m ovim ento de Jesus, a palavra
Você sabia? “discípulo”, em grego mathetês, era análoga aos ter-
m os “aluno”, “estudante”. Seria o correspondente do
No início do livro de Atos, Lucas descreve as
talmid, o aluno de um a escola rabínica. Os discípulos,
primeiras reuniões cristãs ocorrendo na cida-
p o rtan to , seriam os alunos do rabino Jesus.
de de Jerusalém. Esses encontros aconteciam
no cenáculo, um andar superior da casa, onde Eles devem ser distintos da grande m ultidão de se-
os apóstolos, algumas mulheres, a mãe e os
guidores ou adm iradores que se aglom erava ocasio-
irmãos de Jesus se reuniam.
nalm ente para ouvir Cristo e ver seus m ilagres, mas
Atos 12:12fala da casa de uma certa Maria, não o seguia com o um aluno acom panha o professor.
mãe de João Marcos - 0 mesmo autor do O núm ero, no entanto, de discípulos/alunos de Jesus
evangelho que leva seu nome - como sendo um não era pequeno. Lucas 10 fala de outros 70 designa-
lugar "onde várias pessoas se haviam reunido dos (haveria, p o rtan to , mais gente que isso), e Atos
para orar”(At. 12:12). A li refugiou-se o refere-se a um m o n tan te que iria de 70 a 120, to r-
apóstolo Pedro quando 0 anjo 0 libertou do
nando-se m ilhares em pouco tem po. M uitos desses, é
cárcere de Herodes. E ali, provavelmente,
claro, filiaram -se apenas após a m orte e ressurreição
ocorreu 0 batismo como Espírito Santo,
descrito em Atos 2. Com base nesses textos, de Jesus, tornando-se, na verdade, discípulos de seus
alguns deduzem que a casa de Marcos seria 0 discípulos - o que era perfeitam ente aceitável. N em
cenáculo original onde Cristo realizou sua úl- todos os alunos da escola de Hillel ou Sham nai tive-
tima ceia com os apóstolos e esta teria sido um ram aulas diretam ente com eles.
empréstimo de Maria, sua mãe, que também
era discípula de Cristo. Não existem registros de quantos alunos em m édia
tin h a cada rabino, nem com o era a distribuição dos
c conteúdos transm itidos po r ele ou seus imediatos.
O
M as há um a referência ao rabino Akiba com o tendo
ΤΓ0 24 m il estudantes96.
O apóstolo que todo apóstolo era um discípulo, m as nem todo
discípulo era um apóstolo.
A palavra "apóstolo” é mais restrita em seu signi- M arcos 3:14-19 lista os 12 apóstolos da seguinte
ficado que a palavra "discípulo”. E difícil precisar que m aneira: Simão, a quem acrescentou o nom e de Pe-
term o aram aico/hebraico estaria por detrás desse vo- dro; Tiago, filho de Zebedeu; João, irm ão de Tiago
cábulo oriundo do m undo grego. O que se pode dizer André; Felipe; Bartolom eu; M ateus; Tom é; Tiago
é que “apóstolo” vem da junção de duas palavras apó filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o Zelota e Judas Isca-
(para longe) + stellô (aprontar), literalm ente “aprontar- riotes, quem o traiu. M ateus 10:2-4 e Lucas 6 :1 2 -lt
-se para partir para longe”, em síntese: um emissário. contêm um a relação sim ilar de nom es.
C ontudo, o uso dessa palavra no m undo grego
tem caráter distinto daquele encontrado no Novo
T estam ento. Apóstolos, para os gregos, eram navios
de carga, frota enviada, docum ento expedido e, mais Você sabia?
tarde, com andante de um a expedição naval.
Todos os apóstolos que andavam com Jesus
Q ual a origem , po rtan to , do term o apóstolo, con- morreram como mártires, com exceção de dois:
form e usado no Novo Testam ento? É difícil dizer. Na Judas Iscariotes, que 0 traiu e acabou se enfor-
tradução grega da (Septuaginta), ele aparece apenas cando, e João, que, após ser exilado na ilha de
Patmos, obteve a liberdade e morreu de causa
um a vez (I Rs. 14:6) e, em Flávio Josefo, duas vezes.
natural possivelmente na cidade de Éfeso.
M as, considerando que, em pelo m enos duas dessas
três referências, o sentido parece ser de alguém en- PAULO, que não era oficialmente parte dos
viado com o em issário, o conceito não estaria m uito 12, fo i considerado “apóstolo dos gentios", por
distante daquele encontrado no m inistério de Cristo. causa da sua grande obra missionária no mun-
do greco-romano. Foi decapitado em Roma por
Em bora 0 discípulo tam bém pudesse ser um en- ordem de Nero.
viado, a exem plo dos 70 m encionados em Lucas 10, o
apóstolo parece ter um a m issão mais efetiva, de m odo
SIM ÃO PED R O pregou entre os judeus, chegan-
do até a Babilônia, esteve em Rom a, onde foi crucifi-
cado de cabeça para baixo
c ................׳.׳■׳■׳....... ב.
q p
c כ
)ין Fato importante c
0 termo “apóstolo”aparece nos evangelhos
como distintamente aplicado aos 12 discípulos
escolhidos por Cristo. Contudo, nas cartas de
Paulo e no Livro de Atos, 0 mesmo termo às ve-
zes aparece com um sentido mais amplo: Paulo
se refere a si mesmo várias vezes como apóstolo
de Jesus Cristo.
O texto tam bém não era m uito im pressionante, E claro que se fosse provado que Cristo fora ca-
oito linhas de um lado e seis do o utro, algumas até sado, isso decepcionaria m uitos cristãos ao redor dc
ilegíveis, mas o que cham ou a atenção foi a linha 4 do m undo. Não há nada na Bíblia que condene um casa-
m ento, desde que seja legítim o aos olhos de Deus. N 2
anverso que dizia : “ ...” Jesus declarou-lhes: “Mi-
verdade, não se justifica colocar o estado civil dejesu:
nha esposa... [
no m esm o nível ou na m esm a categoria de sua legi-
O restante da frase está perdido, mas a expressão tim idade messiânica. Jesus ser casado não é sinônim :
“m inha esposa”, que teria sido pronunciada pelos lá- de Jesus ter pecado! O u seja, ele não se casou porque
bios de Jesus, foi o suficiente para levedar a discussão. isso não fazia parte de sua missão e não porque o ca-
Ali estaria a prova de que Jesus fora casado, senão, sarnento fosse algo indigno que maculasse sua pesso:
pelo m enos um a evidência de que havia cristãos na
igreja prim itiva que afirm avam isso. Jesus solteiro
A p rópria Dra. King foi m uito precavida ao anun- Pelo visto anteriorm ente, pode-se dizer que não e
ciar a descoberta. Prim eiro porque o fragm ento fora o argum ento teológico que afirm a ser Jesus solteirc
adquirido por um p roprietário anônim o, num m er- São outras as razões:
cado de antiguidades - o que am pliava a possibilidade
1 - A rgum ento do Silêncio. Não há nenhum indíc:
de não ser verdadeiro. Aliás, poucos dias depois do
nos evangelhos mais antigos ou mesmo na literatura pi-
anúncio vários especialistas se levantaram pondo em
trística de que Jesus tenha sido casado. M aria é, na maio-
dúvida a autenticidade do docum ento, o que levou a
ria das vezes, m ostrada na Bíblia em conjunto com u c
U niversidade a suspender tem porariam ente a publi-
certo núm ero de mulheres que apoiavam o ministér. c
cação do artigo da Dra. King.
de Jesus. Em nenhum texto ela aparece num a condiçã:
Em segundo lugar, esse docum ento não seria ne- social que insinue um casamento com Jesus.
nhum a prova forense sobre o estado civil de Cristo,
2 - M esm o fora da Bíblia, apenas três evangelho:
um a vez que, caso seja verdadeiro, ele dataria de 3 sé-
apócrifos falam ou insinuam que M aria pudesse ser
culos e m eio depois da m o rte e ressurreição de Jesus.
casada com Jesus. M esm o assim, como já foi dito, sã:
Em suma, um a fonte histórica pouco confiável.
fontes m uito tardias e um tanto ambíguas: A prim e:: _
delas é o evangelho apócrifo de Felipe, datado do sécu-
Maria - a esposa Ιο III d.C.: Έ a com panheira de [...] M aria Madalena
[...] ela mais que aos discípulos, beijá-la na sua [...]
de Cristo? N ote que o texto de Felipe não diz que Jesus a be: -
A Dra. King tam bém destacou que o fragm ento seria java na boca, com o insinuam alguns. O texto é fra;-
m eram ente um olhar sobre um a discussão que ocorreu m entário e dúbio, pois o ósculo santo - o beijo entre
entre os prim eiros cristãos acerca do fato de Jesus ser ou irm ãos espirituais - tam bém era aceito na igreja cristi
não casado. Mas a despeito das devidas precauções aca- prim itiva (Rom. 16:16,1 Tes. 5:26)
dêmicas, a descoberta caiu como um a luva na mídia sen- A segunda fonte, o Evangelho de Maria Madaler.:
sacionalista que não esperou m uito para afirmar: “Sim! descreve M aria com o aquela “que o Salvador ama־::
mais que todas as m ulheres”. M as não com o com pa- G rande, pregado em 591 d.C. Ele fez um a ligação en-
nheira (koinosos), pelo m enos nos fragm entos restan- tre Lucas 7 e 8, supondo que M aria M adalena era a
tes deste texto, que está m uito m utilado. m ulher que ungiu os pés de Jesus. M as a bem da ver-
dade, com entaristas bíblicos questionam , se a unção
Por fim, o Evangelho de T om é, “Simão Pedro dis-
de Jesus, m encionada em Lucas 7:36-50 seria a mes-
se: ‘Que M aria vá em bora, porque as m ulheres não
m a registrada em João 12:1-8, essa sim realizada por
m erecem a vida!’ Jesus respondeu: “Eis, que eu farei
M aria M adalena.
de tal m odo que ela se to rn e hom em . Assim, ela tam -
bém se to rn ará espírito vivente, sem elhante a vós M as ainda que se trate da m esm a m ulher, M aria,
hom ens. T oda m ulher que se faz hom em , en trará no não se pode saber com certeza qual era esse “pecado”
reino dos céus”. N ovam ente, nada há no texto que ex- m encionado no texto. Nada ali diz que ela se to rn o u
plicitam ente diga ser Jesus casado com M aria. p rostituta. A expressão “um a m ulher pecadora”, em-
bora pudesse sim se referir a pecados sexuais, não se
3 - A Bíblia não teria m otivo para esconder o ca-
lim itava a isso. U m a m ulher sem filhos, doente, ou
;am ento de C risto. U m suposto casam ento do M estre abandonada seria considerada pecadora ou im pura
não seria algo, de m odo algum, censurável. Pelo con- diante das leis de purificação do judaísm o antigo.
trário, vários rabinos eram casados e nada na teologia
iudaica indicaria que o M essias devesse ser necessa- Considerando que Lucas 8:2 trate de M aria M a-
riam ente solteiro, pelo que, se Jesus fosse casado, os dalena, a anotação de que Jesus expulsou dela “sete
discípulos não teriam a m en o r razão para ocultar isso. dem ônios’, pode ser um a pista de que sua condição de
“pecadora” estava mais associada a um a questão espi-
4 - Paulo, na defesa do seu direito como apóstolo, ritual que a qualquer o utra coisa.
não cita Jesus entre os casados, nem faz alusão a um
pretenso casam ento de M estre (I Cor. 9:5). Ele m encio- M as o m odo com o o dram a é m encionado em Lu-
na Cefas (que é Pedro), os irm ãos do Senhor, mas não cas 7:40-43 leva a pensar que o próp rio Simão a indu-
cita o nom e de Jesus, nem p o r inferência. Ora, se Jesus ziu a algum tipo de pecado, provavelm ente de ordem
fosse realm ente casado com M aria M adalena, Paulo ja- sexual. M as, neste caso, um a simples relação com ele
mais deixaria de citar o seu nom e, pois o exemplo de (consensual ou po r estupro) já faria dela um a peca-
esus seria, sem dúvida, seu mais forte argum ento. dora aos olhos do conservadorism o da época, m esm o
que não houvesse se tornado um a prostituta.
5 - M aria provavelmente não tinha marido. Uma
prática natural daquele tem po era associar as mulheres
a seus maridos e filhos. O nom e desses funcionava como
........
um sobrenom e para ela. Este é o caso de Joana, m ulher
i 0
de Cusa; M aria mãe de Tiago e José etc. Mas ela é cha-
j Fato importante
mada tão somente, pela sua cidade: M aria de Magdala.
Uma antiga tradição cristã identifica Maria
6 - Não há evidências de que Jesus, p o r ser um ra- Madalena como a irmã de Lázaro, chamada
bino, devesse ser casado. Havia rabinos solteiros ou Maria deBetânia, 0 que é bastante plausível. A
que dem oraram m uito a casar, para ter m ais tem po aparente contradição dos sobrenomes pode ser
para o estudo da T orá. Além disso, Filo97 e Josefo98 explicada sefo r entendido que um se refere à
falam de pessoas que elogiavam o celibato dentro do sua cidade natal e 0 outro à cidade onde ela vi-
judaísmo e eles m esm os elogiam a conduta99. veu numa determinada parte de sua vida. Isso
era perfeitamente posúvel. Jesus mesmo era
chamado Jesus de Nazaré, embora seu lugar
Maria Madalena de nascimento fosse Belém da Judeia. Falta,
contudo, saber quando e por que exatamente ela
prostituta? . [p teria deixado um lugar para viver outro.
ר
A mais antiga citação de M aria M adalena como O
p rostituta vem de um serm ão do papa G regório, o
irU -r* ־
S lQ.
C
c
Você sabia?
Uma ligação errônea ou pelo menos impro-
vável das passagens evangélicas quefalam
de Maria levou muitos a identificá-la com a
mulher adúltera de João, capítulo 8. A referi-
da mulher era casada, senão não teria como ser
acusada de adultério!
Magdala
A cidade de M agdala foi um im portante núcleo de
pescadores da Galileia e que se to rn o u fam osa aos lei-
tores do Novo T estam ento p o r sua possível relação
com M aria M adalena, visto que esta parece te r sido
sua residência p o r algum tem po.
Nas escavações de M agdala, os arqueólogos encon- V ersões m odernas, e m enos acadêmicas, tam bém
traram várias casas, tanques de purificação religiosa, surgem aqui e ali propondo Jesus com o negro, iogue,
lugares para o preparo de peixes e o mais im portante hom ossexual e até com unista. Parece que cada grupo
achado da região: um a sinagoga original do século I. necessita que Jesus seja m em bro de sua agremiação,
C onsiderando que Jesus pregava em várias cidades da talvez para legitim ar m ais a sua causa, um a vez que se
Galileia, M agdala certam ente esteve em seu percurso. tra ta de um a figura ilustre da hum anidade. Seria real-
Assim são m uito fortes as chances deste te r sido um m ente possível enquadrar Jesus num a só ramificação?
lugar onde Jesus pregou alguns dos serm ões m encio-
nados no N ovo T estam ento.
O método de Jesus
P>>
Talvez um a form a coerente de responder a essa
o questão da identidade de Cristo seria avaliar seu mé-
c
todo de trabalho conform e exposto no N ovo Testa-
Você sabia?
m ento. O m étodo, com o se sabe, é o modus operandi,
Um curioso achado dentro da sinagoga de ou seja, o procedim ento, a form a de se fazer um a coisa
Magdala tem causado admiração e questiona- conform e um plano ou objetivo. Tal reconhecim en-
mento nos historiadores quanto ao seu sigxii- to lança luz sobre a identidade daquele que opta por
ficado. Trata-se de uma pedra bem decorada
aquele cam inho e não outro.
ao estilo dos dias do Rei Agripa, com rosas',
rodas de fogo, que podem ser uma referência M as é im portante evitar os anacronism os. Quando
à visão do profeta Ezequiel e um desenho de se fala do m étodo de Jesus, não se pode confundir esta
vasos ladeando uma menorá de sete chamas
busca com aquele com portam ento rigoroso próprio
como aquela queficava no interior doTemplo
da m etodologia cientifica ou das técnicas de oratória,
O em Jerusalém.
venda ou m arketing que se tem nos dias atuais. Em-
ר bora organizado, reconhecível e, em certos m om en-
O
tos, previsível, o m étodo de Jesus era mais um estilo
DTTTÜ־ "c0׳ u
de vida que um m anual de procedim entos.
D entre as opiniões prevalecentes, m uitos pensam Há ainda o risco de um a busca unilateral ou ex-
que se tratava de um altar, um a mesa de orações ou trem ista das características de Jesus. U m a seria vê-lo
um púlpito onde o rolo da T o rá era aberto e lido to- apenas com o reflexo de sua p ró p ria cultura. Jesus foi
dos os sábados. Se assim for, considerando a hipótese um personagem sem igual. O utra seria extrai-lo de-
m asiadam ente de seu tem po e contexto social a ponto son foi um dos pais da nação norte-am ericana. Jesus
de torná-lo um espectro historiai. U m personagem para ele foi um sábio e beneficente m estre da M oral.
que se encaixa em todos os períodos e ao m esm o tem - C ontudo, alguns de seus ditos e com portam entos não
po não se identifica com nen h u m deles. condiziam com as ideias expostas pelos pais fundado-
res da A m érica.
Esse foi o erro de m uitos autores m edievais e tam -
bém m odernos que ora transform am Jesus num eu- E ntão o que ele fez? T o m o u um a tesoura e cola,
ropeu renascentista, ora o convertem n u m reacioná- reco rto u vários trechos da Bíblia que considerava
rio esquerdista. U m a descrição para cada gosto. úteis - os demais ele cham ou de estrum e - e os colou
num a nova ordem , num caderno com um de notas.
Jesus adaptado M ais tarde ele in titulou esse m aterial com o nom e de
“A vida e a m oral de Jesus de Nazaré”.
Um exemplo clássico da tentativa de “adequação”
Nessa versão, Jefferson deixou de fora os m ila-
Je Cristo aos interesses particulares de um m ovi-
gres, com o Jesus andando sobre as águas, ressuscitan-
m ento pode ser visto na fam osa Bíblia de Jefferson, a
do Lázaro e m ultiplicando pães e peixes. Ele tam bém
prim eira tentativa, segundo alguns, de apresentar um
não considerou as alusões ao nascim ento virginal e à
Zristo mais “am ericano”.
sugestão de que Jesus é Deus. Por fim, sua colagem ter-
A utor da declaração de Independência dos EUA m ina com o sepultam ento de Jesus na sexta-feira, não
e terceiro presidente daquele país, T hom as Jeffer- com a ressurreição, no dom ingo de Páscoa.
Publicado posteriorm ente com o nom e de A Bíblia de H u m o r - é difícil para alguns imaginar Jesus contan-
Jefferson, esse livro se to rnou um dos títulos mais famo- do um a anedota. Tal quadro não parece se encaixar com
sos da história americana. Mas o que os evangelhos de figura fria, sem esboço de riso, que com um ente enfeita
fato dizem sobre os m odos e estilos da ação de Jesus? A os ícones das catedrais mais famosas do m undo. Um Je-
relação a seguir não é exaustiva, mas sugestiva a partir da sus sério, sem tem po para piadas, é mais condizente com
descrição encontrada nos evangelhos canônicos. os manuais de teologia sistemática e dogmática.
U m a comparação dessas parábolas com aquelas Isso foi m uito com um em vários discursos de Cris-
contadas por Cristo revelou muitas semelhanças: o uso to. Q uando ele apresenta um sam aritano dem ons-
trando mais m isericórdia que um sacerdote e um le-
do senso com um , de imagens do dia a dia, de hum or e
vita ou responde um a pergunta do interlocutor com
ironia ao final do relato. As parábolas eram um bem
o utra pergunta.
estabelecido sistema de ensino nos dias de Cristo.
É correto pagar trib u to a César? - desafia o inqui-
Foram m uitas as parábolas contadas po r Cristo
ridor. Jesus tom a na m ão um a m oeda de denário e
(Mar. 4:34). Elas tinham a vantagem de ajudar a me-
pergunta: “de quem é esta efígie e inscrição?”. Veja
m orizar os conteúdos a partir de lições do dia a dia.
que ele claram ente se vale de um a ironia retórica. To-
Algumas eram fictícias, outras baseadas em fatos - epi-
dos sabiam que era de César, m as ninguém imaginava
sódios com uns realm ente ocorridos. Contudo, não de- a conclusão final do M estre: “Então dai a César o que
vem nunca ser confundidas com as estórias da m itolo- é de César. E a Deus o que é de D eus” (M at. 22:15-22).
gia. São categorias bem distintas um a da outra. U m a resposta óbvia, porém inesperada.
As m itologias tran sp o rtam a m ente para o im a- H ip é rb o le - a hipérbole era outra form a bem hu-
ginário surreal, ao passo que as parábolas conduzem m orada de falar das peculiaridades do dia a dia, num
para o realidade concreta da vida testem unhada em viés hum orístico bem diferente do estilo ocidental.
redor. São exemplos do dia a dia usados para ensinar P o r isso Jesus pergunta: “Qual dentre vós é o hom em
verdades espirituais. que se o filho lhe pedir pão lhe dará pedra?” (Mat.
7:9) A resposta óbvia mas engraçada: ninguém ! N ou- gras básicas para aplicá-la e Jesus tam bém parece ter
tra feita ele adverte: “Q uando deres esm ola não to- feito uso dela.
ques trom beta diante de ti com o fazem os hipócritas”
Poesia - na cultura contem porânea ocidental, a
M at. 6:2). É claro que os hipócritas não faziam isso
poesia é um gênero literário caracterizado pela com -
literalm ente, mas o exagero retórico tin h a um objeti-
posição em versos estruturados de form a harm onio-
vo pedagógico bem definido.
sa. É um a m anifestação de beleza e estética retratada
C haradas - um exem plo de charada está em João pelo poeta em form a de palavras. O u seja, a poesia é
16:16-19, onde Jesus lança um a afirm ação que faz os antes de tudo um a m anifestação rom ântica e artística.
discípulos quebrarem a cabeça: “M ais algum tem po e
Em bora parte disso valha para a poesia bíblica, seu
já não m e vereis mais; m om entos depois, e m e vereis
conteúdo, estilo e objetivo eram sensivelm ente dis-
de novo.” Então, alguns dos discípulos com entaram
tintos. A com eçar pelo fato de que a poesia do Antigo
entre si: “O que Ele quer dizer com isto: ‘mais algum
O riente M édio era m ajoritariam ente m arcada pelo pa-
tem po e já não m e vereis m ais’ e ‘m om entos depois,
ralelismo e não pela rima. Se havia ou não m étrica é
e m e vereis de novo’ e ‘porque vou para o Pai’?” E se
ainda um assunto em aberto para os especialistas. Por
questionavam : “Que significa ‘algum tem po’? Não
isso, quando Jesus faz uso de repetições e paralelismos
com preendem os o que Ele quer dizer.”
(não de rimas), está falando em poesia. Exemplos:
M as Jesus sabia o que desejavam perg u n tar e lhes “O hom em bom tira do tesouro bom coisas boas;
disse: “Vós vos questionais sobre o que Eu quis dizer m as o hom em m au do m au tesouro tira coisas m ás”
quando declarei: ‘mais algum tem po e já não m e vereis (M at. 12:35).
mais; m om entos depois, e m e vereis de novo’? Em
verdade, em verdade Eu vos afirm o que chorarão e se “Vós sois cá de baixo, e sou lá de cima. Vós sois
lam entarão, enquanto o m undo se alegrará. Vós vos desse m undo, eu desse m undo não sou” (João 8:23).
entristecereis, porém a vossa tristeza se transform ará
Po
em grande alegria.”.
c
M idrash - esta é um a palavra hebraica pouco co- c
nhecida atualm ente. Ela vem do verbo derash, “inter-
Fato importante
pretar” e indica a busca p o r um sentido m ais profun- Embora a prosa também tenha sua beleza e
do do texto. É m uito tênue a diferença entre midrash emoção, a poesia para os ouvintes judeus de
e leitura alegórica do texto, mas am bos não devem ser Jesus tinha um peso maior no momento de ex-
confundidos. A diferença básica é que a alegoria busca pressar uma emoção. Por isso ela pode ser dita
um a aplicação superficial do texto tom ando seus ele- no meio de um discurso, inventada na hora.
Basta repetir 0 tópico ou colocar duas ideias
m entos e aplicando a qualquer situação não corres-
em paralelo: “vósjulgais segundo a carne/ eu
pondente. Já o midrash busca o sentido mais profundo
a ninguém julgo" (Jo. 8:15). Não precisava
que não foi artificialm ente colocado nele, m as que já ser longa nem ter muitos versos. Podia ser
estava ali. uma frase em meio ao discurso, um desabafo
emocionado em meio à dor. Sua mente já estava
P or isso Jesus am plia certos conceitos antigos ao
acostumada a se expressar assim.
dizer: “Eu sei o que foi dito aos antigos: ‘Não m ata-
rás’, e: Q uem m atar estará sujeito a julgam ento. Eu, Essa força emotiva da poesia somada ao fato
porém , vos digo que todo aquele que se irar contra de que ela é mais fácil de ser decorada pelo povo
seu irm ão estará sujeito a julgam ento, e quem profe- fazia com que as coisas mais sérias fossem
ditas em form a de poesia. Era como se houvesse
rir um insulto a seu irm ão estará sujeito a julgam ento
uma nota dizendo: muita atenção neste ponto!
do tribunal” (Mat. 5:21 e 22).
c ר
A técnica pode soar estranha, p o r parecer p o r de- C 0
mais subjetiva, m as os rabinos do passado tinham re עזזמי
ף Co r ך 1,11 falou do sinal do profeta Jonas (Mat. 12:38 a 40), das
C cidades de Sodom a, T iro e Sidom, que receberam a
c ira de Deus (M at. 11:20-24) e da arca de N óe (Mat.
Você sabia?
24:37-39). T udo para ilustrar e to rn a r m ais claro o
Jesus se valeu da poesia em vários momentos de seu ensino.
seu discurso, seja para expressar um lamento,
uma advertência, um oráculo de julgamento ou
até mesmo um elogio. Por isso ele disse acerca de Jesus e as autoridades
João Batista: “Que saístespara ver?Um pro f e-
ta?Sim vos digo, muito mais que um profeta Jesus viveu num a época de profunda corrupção
(Mat. 11:9). política e governam ental. V iver sob os auspícios do
c
C im pério rom ano e de líderes locais vendidos a Rom a
־זניס־ não era nada agradável. C ontudo, para desaponta-
m ento daqueles mais engajados politicam ente, o Je-
sus apresentado nos evangelhos não se envolveu o
D iálo g o s - apesar de ser um m estre bastante ocu-
com as questões políticas de seu tem po.
pado, Jesus não se furtou a travar diálogos particu-
lares com determ inadas pessoas ao longo de seu m i- E verdade que ele entrou em Jerusalém aclamado
nistério. É n o tó rio que nesses casos ele evitava falar como rei (Luc. 19:28-40) e expulsou os m ercadores do
sozinho. Estim ulava o outro atrávés de perguntas re- Tem plo (Luc. 19:45 e 46). C ontudo, essas eram m ani-
flexivas e com entava suas respostas. O encontro com
festações religiosas e proféticas que nada tinham que
N icodem os e a M ulher Sam aritana são bons exem -
ver com questões governam entais. Sobre os problem as
pios disso (Jo. 3-4).
políticos, Jesus se m anteve à parte deles, em bora não se
Ele tam bém conseguia m uitas vezes discernir além m ostrasse alienado às necessidades do seu povo.
da pergunta que lhe era feita o real m otivo p o r trás
Havia um a razão especial para que ele se m anti-
da indagação. M uitas vezes o questionam ento ético
vesse fora dos assuntos políticos de sua época. Jesus,
ou religioso ocultava um a questão em ocional mal
de fato, pregava a vinda do Reino do Céu. C ontudo,
resolvida. Poucos têm a capacidade perceptiva de vi-
seu referencial de transform ação era a ação últim a de
sualizar as m otivações reais p o r trás de um a queixa,
Deus e não os resultados do esforço hum ano. O plano
desabafo ou desafio.
final de Deus e seu M essias é substituir os governos
C o m p a ra ç õ e s - Jesus não econom izava traçar desse m undo e não reform á-los ou m elhorá-los. Não
paralelos entre o que dizia e elem entos da vida diá- se tra ta de um golpe de Estado, nem de um a indolên-
ria, especialm ente aqueles encontrados na fiatureza. cia dos crentes, mas da espera laboriosa pela inter-
C om para Deus a um Pai am oroso (Luc. 15:11), usa os venção últim a de Deus. O u seja, trabalhar fielm ente
pássaros e lírios para tra tar com o problem a da ansie- pelo reino enquanto se aguarda sua chegada.
dade (M at. 6:25-34), com para seus com patriotas ju-
deus a crianças m im adas, que nunca estão satisfeitas
com nada (M at. 11:16 e 17). Um Messias nada político
Citações escriturísticas - em bora Jesus diversi- C erta feita, um a m ultidão de pessoas beneficiadas
ficasse suas abordagens, nada era tão claro em seu dis- ou sabedoras do m ilagre feito p o r Cristo em m ulti-
curso quanto o apelo que fazia às Escrituras Sagradas. plicar pães e peixes para o povo veio até ele tentando
Ele sem pre as citava com o legítim a Palavra de Deus forçá-lo a ser o seu rei. Jesus se evadiu deles e foi so-
e lhes dava autoridade acima de qualquer o utra fonte zinho para um a m ontanha. N em seus discípulos ele
hum ana. levou consigo (Jo. 6:5-15).
Ele tam bém se valeu m uito das histórias do A ntigo E videntem ente que ele teria m uitos seguidores se
T estam ento, às quais o povo já estava acostum ado: intentasse rebelar contra os poderes políticos existen
tes. Talvez conseguisse mais seguidores do que teve resposta de Jesus estava em concordância com a es-
ao pregar o am or e curar os enferm os. M as ele defi- cola de Sham m ai, m esm o que em outros m om entos
nitivam ente não desejou se envolver com as políticas ele pareça ecoar o pensam ento de Hillel. N ovam en-
da sociedade de seu tem po. te a m otivação bíblica, mais que partidária, era o ar-
gum ento-chave para seu posicionam ento acerca de
Suas m ensagens de não resistência ao perverso,
qualquer tem a conflituoso.
de oferecer a o u tra face e andar a segunda m ilha com
um inim igo (M at. 5:38-42), eram trem endam ente
contrárias ao ideal de um M essias político. Q uando Sete tipos de fariseus
?ilatos lhe perg u n to u se ele era o rei dos judeus, Je-
sus respondeu: “M eu reino não é deste m undo!” (Jo. Segundo o T alm ude Babilônico100 havia sete tipos
18:33-36). de fariseus:
O interessante é que, m esm o não se envolvendo 1 - Os “de costa larga” - escreviam suas boas ações
em assuntos políticos de seu tem po, Jesus ensinou nas costas para serem vistos pelos demais.
os discípulos a respeitarem as autoridades constitu-
idas em todos os aspectos, exceto naqueles que im - 2- Os “vagarosos”, que deixavam de lado todos
plicassem prática pecam inosa (Mat. 15:3; 19:3-12; Jo. os com prim ossos sociais (inclusive o pagam ento de
19:11). Os im postos deveriam ser pagos honestam en- em pregados) só para cum prirem um a form alidade da
te (Mat. 17:24-27; 22:21) e os preceitos cum pridos, religião.
conform e a orientação dos sacerdotes (Mat. 8:4).
3 - Os “calculadores”, que contabilizavam as boas
obras até atingirem um a espécie de superávit espi-
Jesus e as Escrituras ritual que lhes perm itia certo grau de pecado sem o
risco de caírem em descrédito religioso.
N ão é de se espantar que o judaísm o dos tem pos
4 ־Os “ecônom os”, que buscavam pequenas atitu-
de C risto seja um m osaico de opiniões religiosas,
des que pudessem aum entar seu m érito perante Deus.
éticas e civis. As posições e sugestões éticas eram ,
realm ente, m uito variadas no m undo greco -ro m an o 5 - Os “escrupulosos”, que se policiavam cons-
e os judeus não estavam im unes a essa pluralidade. tan te m e n te acerca de pequenos pecados ocultos que
Aliás, o pluralism o nem sem pre é negativo. Há van- deveriam ser sanados com algum a obra de caridade
tagens na variedade. Porém , em se tra tan d o de va- bem realizada.
lores éticos, a opinião individual ou de grupos pode
ser perigosa. 6 - Os “tem erosos”, que evitavam pecados m ini-
m os para não sofrerem a desventura de Jó.
Sendo assim, é curioso n o tar que as posições de
Jesus não se baseavam no partido A, B ou C, mas nas 7 - Os “am áveis”, que agiam com o Abraão e, po r
Escrituras, conform e ele entendia serem inspiradas isso, eram os verdadeiros filhos de Deus.
p o r Deus.
nárias, pois isso m uitos faziam. As curas maravilhosas j Fato importante c'
não eram o “diferencial” do cristianismo. O im pério já
No pensamento bíblico, existem dois tipos
estava por demais repleto de taum aturgos e mágicos de defalsos milagres: aqueles que sãofr u to do
todas as partes que corriam o território de cidade em charlatanismo, da autossugestão, do truque.
cidade operando maravilhas. E a terra dos judeus não E aqueles que, embora verdadeiros na sen-
estava isenta disso. T anto que Simão, o Mago, fascina- tido da cura ou da sobrenaturalidade, não
va os samaritanos com seus prodígios (At. 8:9-11). procedem de Deus, mas de um a operação de
engano tram ada pelo mundo das trevas.
Essa generalização e ambigüidade dos milagres (os
que eram verdadeiros e os que eram falsos) agravava-se No m undo dos gregos, Paulo desmascarou
certa vez um elemento demoníaco por trás
com o apelo do sincretismo tão em voga naqueles dias.
de um a jovem escrava quefa z ia adivi-
Fora o fato de que esse sincretismo poderia ser asse-
nhaçôes para dar lucro a seus senhores
melhado à magia. Assim, a necessidade dos evangelis-
(A t. 16:16-18). Além disso, 0 próprio Jesus
tas não era apenas m ostrar que Jesus operava milagres, mencionou, no dia do juízo , a presença de
mas apresentar qual seria realm ente o seu diferencial. pessoas que fize ra m milagres, exorcismos e
predições em seu nome e nem por isso eram
O que era radicalmente único em Jesus não seria tan-
O verdadeiras diante de Deus (M at. 7:21-23). C_
to a quantidade e qualidade de milagres que ele operou, c ר
mas “por que ele os operou?” Para Jesus esses atos con- נ Ο
firmavam a chegada do Reino de Deus (Luc. 11:20).
4c - -^
־ο7T ׳t ± z z : :,״::,......... ο,
׳ ,............ — ד.: ............... ־._:
5 - Libertação do endem oniado (M arcos 1:23-28;
Tanque de Siloé Lucas 4:31-36).
22 - Cura de um surdo e gago (M arcos 7:31-37). “E ainda muitas outras coisas há que Jesus
fez■ as quais, sefossem escritas uma por uma,
creio que nem ainda no mundo inteiro cabe-
23 - Segunda m u ltip lica çã o de pães (M ate us 15:32- riam os livros que se escrevessem.”(Jo. 21,25).
39; M arcos 8:1-9).
a־rc3־ כח־סזד־
24 - Cura do cego de Betsaida (M arcos 8:22-26)
Caná da Galileia
27 - Cura de um cego (João 9:1-7).
O prim eiro sinal de Jesus C risto, conform e o rela-
to do Evangelho de João, ocorreu num a festa de casa-
28 - Cura de uma m ulher enferm a (Lucas 13:10-17). m ento na cidade de Caná da Galileia.
1 - 0 vinho fermentado, que nunca era tomado A razão era justamente evitar 0forte e rápido
puro, mas misturado com água, numa proporção efeito embriagador da bebida não diluída.
de duas ou três partes de água para uma de vinho. Beber vinho puro, sem mistura de água era
coisa de bárbaros, sem cultura ou refinamento.
2 - 0 vinho não fermentado ou suco, feito de
Platão, Heródoto, Xenófanes, Xenofonte e
uvas recém-colhidas.
Aristófanes são alguns dos autores daAntigui-
3 - 0 vinho feito à base de uvas passas fervidas dade que confirmam isso.
em água, cujo processo de fermentação havia
Outra vantagem desse comportamento era que
sido interrompido, se tornando mais um tipo de
0álcool possui um excelente efeito bacterid-
suco de uva não alcoólico.
da. Assim, adicionar água ao vinho era uma
form a de criar mais bebida numa época em
c que havia pouca água potável para ser consu-
O
mida.Nas cidades, onde asfontes d’água eram
Ü ÇjO
canalizadas, 0 vinho misturado com água era a
fonte segura de hidratação das pessoas. Até as
crianças 0 bebiam normalmente.
lÉISIi i
deus que, segundo alguns com entaristas, seria mais
provavelm ente a festa da Páscoa, em bora não seja
nula a chance de ser a festa do Pentecostes ou a festa
dos Tabernáculos.
Na v erdade, a palavra grega p ara tan q u e que E não era som ente Cristo quem condenava o para-
aparece no E vangelho de João é Kolumbetra, que doxo religioso da cidade. U m m anuscrito encontrado
seria m elh o r trad u zid a p o r piscina. Logo ainda que no M ar M orto e datado dos dias de Cristo tam bém fa-
ten h a sido o rig in a lm en te um tan q u e fundo para lava de Jerusalém como se tornando um “antro de im-
a rm azen ar água, foi tra n sfo rm a d o depois n u m lo- piedade pagã”.
cal em que as pessoas pudessem e n tra r nele. E ele De fato, ali estava repleto de m onum entos pagãos
era g ran d e, rea lm e n te das dim ensões de um a im en - especialm ente trazidos po r H erodes do m undo greco-
sa piscina pública. -rom ano. Esse m onarca tinha feito um teatro rom a-
no, um hipódrom o, um com plexo esportivo, banhos
De fato, Josefo fala de 2,5 m ilhões de pessoas que
rom anos e a fortaleza A ntônia, um a to rre m ilitar aco-
vinham anualm ente visitar o Tem plo em Jerusalém e
piada às paredes do pátio do Tem plo.
oferecer sacrifícios. A inda que soe exagerado, tal nú-
m ero não era im possível e qualquer percentual sim- Sendo assim, o tanque de Betesda já não era mais
pies que se interessasse pelo culto a Asclépio faria do um local absolutam ente judeu, mas antes um a insta-
tanque um local bastante concorrido. lação greco-rom ana afiliada ao deus da cura. Os res
ponsáveis pelo culto pagão acrescentaram cisternas, insistência, sem sucesso, de cair ou ser jogado no tan-
bancos nas salas cobertas e, possivelm ente, um altar que p o r anos pode te r cham ado a atenção de Cristo.
para sacrifícios.
Ele, portanto, cura o pobre hom em e, encontrando־c
Jesus vinha da Galileia, a cam inho de Jerusalém , depois no Templo, diz-lhe para não mais pecar, a fim:
quando chegou ao tanque, próxim o à porta das ove- de que não lhe sucedesse coisa pior (João 5:14). Em see
lhas, no lado n o rte da cidade. Nele se aglom erava um a compreensível desespero, ele, sendo possivelmente ju-
grande m ultidão de enferm os, buscando um a chance deu, buscara no paganismo a solução de seus problemas
para obter a cura. Contudo sua prática não podia ser endossada por nãc
condizer com aquilo que fora orientado por Deus.
Não sabem os ao certo as razões que conduziram
Jesus para aquele recinto ou m esm o porque ele se Deus, no entanto, m esm o em meio ao seu erro con-
dirigiu àquele hom em e não a outros. No entanto, o tem plou um coração sincero e buscou resgatá-lo. C
texto aponta um detalhe quanto ao tem po de seu so- propósito de João parece ser o de m ostrar aos leitore
frim ento que pode dar um a pista acerca das ações de a ação compassiva de um Salvador que percebe indi-
Jesus. Ele estava preso àquela situação p o r 38 anos. víduos na m ultidão e se im porta com seu sofrimente
M uita coisa pode ter acontecido neste m eio tem po. Um Cristo que vê e age em favor dos sofredores, me 5-
Ele, porém , jam ais deixou de ten ta r ser curado. Sua mo que sua ação pareça dem orada na ótica humana.
for, não se tra ta de contradições. Am bos focam os
m esm os princípios éticos do Reino.
O sentido do texto %
A palavra polulogia (excesso de palavras), que está logo abaixo na m esm a unidade literária de M ateus, tam bém
nos ajuda a entender as “vãs repetições” como abrangendo tanto as recitações declamativas sem sentido quanto o
excesso de formalidades e term os, e prolixidade desnecessária num a prece elevada a Deus.
A oração do Senhor
“Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nom e.
V enha o teu Reino; seja feita a tu a vontade, assim na terra com o no céu.
D á-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas, assim com o perdoam os aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sem-
pre. A m ém ’.” (M at. 6:9-13).
A oração do Pai nosso, em Lucas, é bem m en o r do que em M ateus e possui algumas pequenas variações de
conteúdo. Possivelm ente ambas as versões estavam em circulação entre os prim eiros cristãos, a de M ateus, no
entanto, seria de origem m ais tardia:
MATEUS LUCAS
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como E perdoa os nossos pecados: pois também
nós também temos perdoado aos nossos de- nós perdoamos a todo aquele que é grato a
vedores. nós.
Contudo, ainda existe algo de especial na ora- De todo m odo, o que pode ser dito é que, em bora
ção que ensina ao crente direcionar-se a Deus os acadêmicos ainda discutam os porm enores dessa
como “Pai Nosso”. N a Gemara, um comen- tem ática, o que se tem claro no judaísm o p osterior é
tário rabínico sobre a Mishná, é dito que um
o uso da palavra “reino” com o sím bolo do dom ínio ou
escravo não poderia chamar 0 dono da casa de
soberania de Deus.
“abba”, que seria normalmente seu título.
Assim, quando Jesus diz “Pai Nosso”quer ele- Esse pode ser tam bém o m elhor p o n to de partida
var os crentes acima da ideia de escravos, para para com preender o sentido da expressão nos evan-
consciência defilhos de Deus. gelhos. C onsiderando que “R eino dos Céus” é um a
c ר
C O expressão que só aparece em M ateus e que “Céus” é
□ תי״ ס־ד:
SL1״ει ס ׳1ם
um term o técnico para substituir o nom e “D eus”, po-
de-se concluir que, de fato, “R eino de D eus” e “Reino
■C12 ח ן dos Céus” são sinônim os perfeitos ou variações ter-
C m inológicas da m esm a realidade.
c
Fato importante A vinda desse reino “de Deus ou dos Céus” é o
A doxologia final do Pai Nosso (“porque teu é p o n to central da pregação de Jesus C risto. Falta, con-
0 reino, 0poder e a glória para sempre") não se tudo, definir qual o sentido, afinal, desse reino.
encontra nos melhores manuscritos gregos do
N ovam ente, as posições interpretativas se m ulti-
NT, nem nos mais antigos, nem nos mais rele-
vantes como 0 א, B, D. Em função disso, muitos plicam:
acreditam que esse trecho não teria sido parte
1 - 0 reino é a Igreja Cristã (Agostinho).
das palavras originais de Jesus, mas acréscimos
feitos posteriormente por um copista. 2 - 0 reino é a religião pura, profética, ensinada
Por isso, as edições críticas do Novo Testamento p o r Jesus no equilíbrio entre a paternidade de Deus e
grego (NA28 e UBS5) não a trazem na parte a irm andade en tre os hom ens (A. Harnack).
final no texto. Já as versões em português ou a
3 - Um reino totalm ente futuro e escatológico
omitem ou colocam-na entre colchetes, como é 0
caso da NVI, A21 e as versões de Almeida mais sem nenhum a relação com o presente (J. W eiss).
antigas. Contudo, é importante anotar que ela
4 - 0 reino é um a escatologia realizada, mas que
está em perfejta consonância com 0 tema original
aguarda consum ação fora da história hum ana. É um a
e os demais ensinamentos de Cristo.
c realidade apocalíptica que transcende ao tem po, mas
G que po r causa da vida e obra de Jesus, irro m p eu na
a .
LM O J X J I □ história (C. H. Dodd).
5 - 0 reino é, em algum sentido, um a realidade turo. Inquirido po r um indivíduo acerca de qual a
tanto presente quanto futura. (G. Ladd). quintessência das leis judaicas, ele respondeu: “O que
você não faria a si m esm o, não faça ao seu vizinho.
U m a com preensão que costura todas essas posi- A T o rah se resum e a isto; o resto é com entário.” (B.
ções seria aquela que entende o reino como o desdo- Shabbath 31a). T am bém o Rabi Akiba (m artirizado
bram ento da história da redenção. É o dom ínio real em 135 A.D.) disse que Levítico 19:18 seria o grande
de Deus em dois m om entos: um , o cum prim ento das m andam ento da lei.
promessas do Antigo T estam ento na prim eira vinda
de Jesus a esse m undo. O utro, na consumação da histó- Tentativas à parte, o fato é que rabinos m ais tardios
ria, por ocasião do fim dos tem pos e a inauguração da entenderam ser im possível resum ir os m andam entos
era vindoura que será após a segunda vinda de Cristo. ou dizer qual o m aior deles. Em uníssono afirm avam
que “não há m andam entos que sejam m aiores nem
m andam entos que sejam m enores”.
O amor como
Jesus, porém , conseguiu este feito, e de um a m a-
cumprimento da Lei neira superior à dos demais. Ele revelou o elem ento
distintivo do verdadeiro servo do seu reino: ele cum-
C erta vez Jesus foi abordado por um d o u to r da lei pre a lei p o r amor. Ele ama Deus e ama o seu irm ão.
que lhe perg u n to u qual era o principal de todos os
m andam entos. Em síntese, Jesus com binou D eutero- Nas demais sínteses, foram ditas coisas sábias e
nôm io. 6:4 com Levítico 19:18 e lhe respondeu que justas. Porém , o m áxim o que elas conseguem na prá-
era am ar Deus e seu próxim o. Esse episódio está rela- tica, é classificar os hom ens com o com petentes e in-
tado em M arcos 12:28-34 e M at. 22:34-40. com petentes, mas nunca com o verdadeiros ou falsos
servos de Deus. U m legalista bem treinado e acostu-
Pela tradição rabínica mais antiga, a m aior de to- m ado à rigidez das regras pode praticar regras com
das as questões, à qual som ente os grandes m estres do rigor. M as som ente um verdadeiro converso pode
judaísm o poderiam responder, tin h a que v er com a fazer isto m otivado pelo am or.
essência da Lei. Qual o m aior dos m andam entos que
abarcaria todos e lhes seria superior? E interessante que a ideia de am or, em hebraico
('ahav), em bora inclua o am or rom ântico e passional,
O tratado m ishnaítico do Pirkei Abhot (a ética dos é mais am pla do que isso. Ela extrapola os lim ites do
Pais) está cheio de aforism os e tentativas de resum o sentim entalism o. E um a decisão da alma, um a tom a-
da lei no m enor corpo possível de princípios éticos. da de atitude, enfim , um a escolha. O am or a Deus e
U m a tarefa deveras difícil, senão impossível, de ser ao próxim o, na Bíblia, é a adesão consciente a um a
cum prida. De acordo com o cálculo de M áim ônides pessòa que escolhem os servir. Esta escolha m otivará
(1180); se todos os m andam entos, norm as e preceitos todo o restante.
dados p o r Deus a Israel fossem juntados num a só car-
tilha, haveria um total de 613 regras irreduüveis: 365 Na versão de Lucas, é um in térp rete da lei quem
proibições e 248 ordens positivas (Sefer há-Mitzvot). faz este resum o e não Jesus (Luc. 10:25-28). M as isso
não indica um a contradição entre os sinóticos. O
C ontudo houve interessantes tentativas de resu- resum o de Jesus foi um silenciador de vozes lançado
m ir tudo isso num a só sentença. U m rabino, certa vez, sobre um grupo (fariseus ou escribas?) que queria co-
com entou num a preleção a sabedoria dos hom ens do locá-lo à prova.
passado. M oisés dera ao povo 613 m andam entos, mas
o rei Davi reduzira-os a l l (Sal. 15:2 - 5), Isaías a 6 Passado algum tem po um doutor da lei, que m uito
(Isa. 33:15), M iquéias a 3 (Miq. 6:8), Am ós a 2s (Am. provavelm ente vira a discussão anterior, desejou “tes-
tar” Jesus. Ele perguntou: “Que farei para herdar a vida
5:4) e Habacuque a 1 (Hab. 2:4).
eterna?”. Quando o M estre devolveu a inquirição (o
O rabi Hillel (ca. 20 a.C.) deu um parecer m uito que diz a lei?), o jovem repetiu as mesmas palavras de
próxim o do que haveria de responder Jesus no fu Jesus, pensando que com isso desarm aria o raciocínio
do M estre ou ganharia seu louvor. Por isso, provável- O próprio Cristo dem onstrou ser, em suas atitu-
m ente, ele aparece em Lucas como autor do resum o. des, a expressão m áxim a do am or de Deus. Nele resu-
m e-se o dito de João 3:16 e 17: "Deus am ou ao m undo
de tal m aneira que deu seu filho único para que todo
O amor de Deus aquele que nele crê não pereça, mas ten h a a vida eter-
na... Ele enviou o Seu Filho ao m undo, não para que
U m dos pontos altos do ensino de C risto foi o
am or de Deus. O conceito não era inteiram ente novo. condenasse o m undo, mas para que o m undo fosse
No A ntigo T estam ento há diversos textos falando salvo po r Ele”. É nisto que consiste o evangelho! E
do am or de Deus. C ontudo, o legalism o pós-exílico nisto que consiste a redenção!
levou m uitos judeus de seu tem po a desenvolveram
Por outro lado, Jesus nunca in ten to u passar um a
um a relação com portam ental e ritualística com Deus.
im agem frouxa do am or paternal de Deus. Ele m es-
O que im portava não era o sentim ento, a emoção m o ordenou seus seguidores a serem perfeitos com o
de estar diante do Senhor, mas o com portam ento ex- o Pai celestial, a praticarem o bem , a cum prirem os
terno e a prática do ritualism o religioso à risca. Essa m andam entos.
era a religião dos escribas e fariseus.
A diferença é que, na apresentação de Cristo, as
Q uando Jesus sugere um a "intim idade com o Pai” obras não são o m eio, a causa do am or de Deus, m as o
Mat. 6:6), isso soou trem endam ente revolucionário. resultado dele. Os súditos do seu reino não cum prem
O senso ético com um era conseguir o favor divino os m andam entos para serem salvos, mas porque o Pai
por m eio de obras perfeitam ente executadas. O bedi- os salvou. O com portam ento é um a resposta ao am or
ência legal e estrita era o acesso mais rápido às bên- de Deus e não um a p o rta de acesso a ele.
çãos celestiais. E o pecado, ou descum prim ento das
regras, o afastam ento delas.
O juízo final
Por isso, certo diajesu s e seus discípulos passaram
perto de um cego, e eles im ediatam ente pergunta- Apesar de não m uito com entado p o r especialistas
ram: “M estre, quem pecou, este ou os seus pais, para m odernos, o tem a do juízo final tam bém fez parte ati-
que nascesse cego?” (Jo. 9:2).
va dos ensinam entos de Jesus Cristo. São diversas as
Sua pergunta baseava-se no conceito popular da passagens em que ele o m enciona. Veja alguns exem-
relação en tre Deus e o mal. A crença difundida era pios som ente em M ateus: 5:22,29-30; 7:13-14, 21-23;
que o sofrim ento, a doença e própria a m orte eram 8:10-12; 10:28; 13:29-30, 49-50; 18:8 e 9; 22:11-14;
a punição, p o r parte de Deus, em virtude da prática 23:13, 32-33; 24:50-51; 25:29-30 etc.
do mal, quer pelo próprio sofredor ou alguém ligado
Na cena final, descrita p o r M ateus po r ocasião do
a ele. P or esse m otivo, com o se não bastasse o sofri-
fim do m undo, o Filho do H om em (Cristo) enfatica-
m ento, aquele que padecia arcava ainda com o fardo
de ser considerado um grande pecador, um m erece- m ente tom ará assento no juízo (M at. 25:31-46). Ele
dor daquele fardo. condena pessoas e absolve pessoas. Cada um a é apro-
vada ou não pela postura que assum iu diante da graça
Jesus corrige aquele erro, explicando em vividas oferecida. N ovam ente, as obras ali exem plarm ente
imagens, o am or de Deus pelos seus filhos. Ele tam - m encionadas são o fruto da relação espiritual com
bém introduz um elem ento novo, presente no A ntigo Deus e não um cam inho de acesso ao céu.
Testam ento, mas não tão bem explicitado com o no
Novo. A enferm idade e a do r são causadas p o r Sata- O cenário é vivido nos seus detalhes: um juiz se-
nás e seus dem ônios. U m a das ciladas do diabo con- parando cabritos de ovelhas. U m quadro com um do
siste em atribuir a Deus as suas próprias característi- O riente M édio era a criação conjunta de ovelhas e ca-
cas, de m odo que m uitos atribuem a Deus ações que bras. Am bos tin h am m uitas serventias para os seus
não provêm de sua pessoa. donos: eram fonte de leite e carne, m atéria-prim a de
tecidos (Isa. 7:21-22; Prov 27:27; Deut. 14:4; Lev. 13:47; Seja com o for, a im agem que Cristo passa é de uma
Êxo. 25:4). As ovelhas provinham a lã para o vestuário separação efetiva entre os que se preocupam com o
que aquecia nas noites de inverno e a cabra, o odre para seu sem elhante e os que desprezam seu irm ão. Não há
arm azenar água e vinho ( Mat. 9:17; M ar. 2:22). neutralidade entre os grupos. T odos deverão compa-
recer diante de Deus e seguir para um ou outro lado.
A analogia da separação desses animais - com os
o que definirá seu destino final.
cabritos representando os que se perdem - pode ser
devido ao fato destes últim os serem mais rebeldes, não U m pouco antes da descrição do grande julgam en-
ficarem facilmente dentro de cercas e ameaçarem um a to, Jesus enum erou um a série de coisas que acontece-
vegetação local po r sua form a desenfreada de com er riam ao m undo antes de sua volta. Elas estão anotada?
tudo que encontram pela frente. As ovelhas, por sua em M ateus 24, M arcos 13 e Lucas 21.
vez, são mais obedientes, ficam calm am ente dentro do
Ele prevê inicialmente a destruição de Jerusalém
cercado de seu rebanho e com em com parcimônia.
(Mat. 24:1-2) e, em seguida, fala de sinais que antece-
No que diz respeito à separação lateralizada dos dem o fim dos tempos: perseguição, guerras, fomes.
anim ais - uns à esquerda, outros à direita - , há quem terrem otos, um elem ento de sacrilégio posto no Tem -
suponha que isso pode ser um a im agem em prestada pio, sinais no sol, na lua e nas estrelas, o surgim ento áe
do julgam ento com um que ocorria no Sinédrio, onde falsos profetas e a pregação do evangelho no m undo
os prisioneiros absolvidos eram colocados à direita da inteiro. O evento a seguir é a própria vinda de Cristo
presidência e os condenados à esquerda. em poder e majestade para buscar seus redimidos.
Monte das Oliveiras ־Igreja
das Nações
Fato importante
Diferentes autoresfizeram as contas e
calcularam que existem de1.800 a 2.000
referências bíblicas sobre a segunda vinda sua p rópria liturgia e m odos de relem brar aqueles im -
de Jesus. Esse, defato, éum assunto por portantes eventos do passado, todos revivem , de um a
demais importante para ser menosprezado. m aneira ou de outra, os últim os dias do m inistério de
C risto entre os hom ens.
De lá, Jesus seguiu com os discípulos (não so- Os ram os foram tom ados pelo grupo para forrar o
m ente os 12, mas um grupo maior) até o vilarejo de chão, à m edida em que Jesus ia passando. Era talvez
Betfagé- Casa dos Figos. Sem entrar no local, ele m andou um a form a dos mais pobres, que não tinham a capa de
que dois de seus seguidores tomassem com um colabo- cima, usarem as folhas com o substituto das vestes que
rador do grupo um jum entinho emprestado para que o eram lançadas para que o rei passasse p o r cima dela;
mestre pudesse m ontar nele e assim entrar em Jerusalém. (Cf. M ar. 11:8).
João afirma que os discípulos, a princípio, não en- Era precisam ente um dom ingo, poucos dias ante:
tenderam a atitude de Jesus ou o que ele pretendia com da festa da Páscoa, que inundaria anda mais Jerusalém
ela (Jo. 12:16). Até ali ele evitara a todo custo ser pro- de peregrinos judeus vindos de todas as partes para a:
clamado rei. Preferira a discrição e afirm ara reiteradas
vezes que seu reino não era deste m undo. Por que ago-
ra tom ava aquela atitude? É evidente que ele conhecia
as conseqüências de tal proclamação pública.
A área interna do Tem plo media 144.000 m 2. - o que, deveras, não o deixa em ne-
nhum a desvantagem, se comparado a outros famosos santuários do m undo clássico. É
evidente, tam bém, que a área interna era desenhada de m odo a ser uma simetria com-
plexa, incorporando restos do antigo Tem plo ao leste, sobre a base de um gigantesco
pátio com o novo Tem plo no centro.
Esquizofrenias reais à parte, Herodes fora de fato um gênio das construções. O ergui-
m ento de tal complexo sobre uma colina onde as condições de edificação eram totalmente
desfavoráveis é algo realmente impressionante.
Nesse im enso pátio havia átrios separados para cada classe de pessoas. Os mais
"consagrados”, na visão religiosa da época, tinham acesso mais franco ao lugar San-
tíssimo, no fundo do Tem plo, enquanto os outros, variando a “casta”, ficavam em
áreas mais afastadas. Assim tem os em ordem de prioridade sacramental: o átrio dos
sacerdotes, depois dos hom ens (ou israelitas), das m ulheres e finalm ente dos gentios.
Havia ainda no átrio um a câmara reservada a leprosos que haviam sido curados.
D entro dela um tanque de purificação era preparado para que o ex-leproso se banhas-
se e depois de oito dias se apresentasse ao Sacerdote que validaria sua cura. Curiosa-
m ente no N ovo T estam ento há várias referências a leprosos curados p o r Cristo e em
pelo m enos duas delas ele disse que os curados deveriam se apresentar ao sacerdote,
cum prindo a ordenança feita por M oisés (Luc. 5:12 e 17:12).
Templo - Pedras
Sobre o Tem plo propriam ente dito, isto é, seu edifício, as pedras que compunham
sua parede eram diferentes daquelas usadas para edificar os muros. Eram calcárias bran-
cas cortadas com precisão e polidas. A estrutura anterior fora desnuda até os fundamen-
tos e foram feitos novos alicerces. Segundo o desenho de uma moeda de Bar Kochba, a
lembrança que tinham do Templo, 65 anos depois de sua destruição, apresentava quatro
colunas na faixada (oito ou doze no total), que talvez sustentassem um telhado plano.
Acima do telhado parecia haver uma estrela (embora isso possa ser apenas um enfeite
na moeda).
<73
quanto aquela transm itida p o r João estariam corretas.
Ο
2 - João 19:14 d enom ina a sexta-feira da cruci- ΐ. 173 ־a כחי־ס־שי
fixão de “preparação da Páscoa". A palavra “prepa-
ração” é tradução do grego paraskeue, era um term o
ח0
com um ente utilizado para den o m in ar a sexta-feira מד
ο ο
com o dia de preparação p ara o sábado. A base dessa c J
expressão se en c o n tra em Êxodo 16:22-30. P o rtan - Você sabia?
to, quando João fala do dia da m o rte de Jesus com o
Segundo a lei judaica, o contato com um
a “parasceve da Páscoa”, sua intenção era sim ples- cadáver tomava a pessoa cerimonialmente
m en te de re tra ta r aquele dia com o um a sexta-feira impura para participar de cerimônias reli-
d e n tro da sem ana dos Pães Azim os e não com o o dia giosas. Assim, precauçõesforam tomadas
14 de nisã. para proteger operegrino que vinha em
direção a Jerusalém celebrar a Páscoa.
3 - Os judeus com eram n orm alm ente sua ceia.
Como era de costume sepidtar pessoas em
M as os líderes do povo estavam tão obcecados em
túmulos cavados nas rochas, um grupo
p ren d er Jesus e condená-lo que cancelaram sua ceia
especial de homens ia dias antes dafesti-
pascal do dia 15 para com ê-la atrasada no dia 16. vidade pintando de cal todos os túmulos
que houvesse pelo caminho, a fim de que os
4 - Não tem os todos os detalhes de como a ceia pas-
viajantes pudessem vê-los ao longe e evitar
cal era celebrada nos dias de Cristo. O form ato hoje se- a proximidade daquele campofúnebre. Al-
guido pelo judaísm o se desenvolveu apenas após o ano guns pensam que os textos de Mateus 23:27
70 d.C., quando o Tem plo e Jerusalém foram destru- e Lucas 11:44poderiam ter alguma relação c
idos pelo fogo. Assim, aquilo que aparenta um a con- com esse costume107.
ר
tradição se resum e num desconhecim ento das liturgias 0
pascais do tem po do Segundo Tem plo. T 73־
A ultima ceia de Cristo U m costum e, p o r exemplo, que esclarece dois as-
pectos da últim a ceia de Cristo é o fato de os com en-
sais usarem pedaços de pão com o talheres que eram
M uitos, ao lerem o relato da últim a ceia de C risto,
em bebidos num a m esm a tigela cheia de vinho. O re-
com todo o dram a da despedida e a revelação pública
cipiente único ficava posto no centro do tablado ou
de quem seria o traidor, pensam erroneam ente num
tapete usado para este fim, e todos, à m edida que iam
jantar ou até m esm o num a cerim ônia especial, mas
com as características de um a refeição ocidental. com endo, cortavam com a m ão um pedaço de pão,
em bebiam -no no vinho e depois levavam -no à boca.
N em m esm o pintores clássicos com o G hirlandaio Por isso Jesus anunciou que o traidor seria o que pu-
e Da V inci escaparam desse anacronism o. A postura, nha consigo a m ão no prato.
os gestos, a posição de cada um à mesa, praticam ente
nada corresponde aos costum es de um a refeição ju- O utro detalhe explicado po r esse contexto é o fato
daica dos tem pos de Cristo. de João ser descrito com o aquele que reclinava-se so-
bre o peito de Jesus - o que ficaria sem sentido se eles
N inguém com ia sentado em bancos com o nos qua- estivessem todos assentados com o figuram nas pin-
dros clássicos, m uito m enos em pé. “C om er ou beber turas clássicas da últim a ceia. Assim a expressão que
em pé tra n sto rn a todo o corpo do hom em ” - dizia um aparece no original grego do Novo T estam ento, “re-
outro provérbio rabínico. Por isso, a expressão bíbli- clinado à m esa”, faz todo sentido especialm ente em se
ca “assentaram -se pois e com eram ju n to s” (Jz. 19:5) tratando de um contexto de refeição. Cf. M ateus 9:10;
era algo bastante literal; eles literalm ente reclinavam - 26:20; M arcos 14:18; 16;14; João 12:2.
-se com o se estivessem indo deitar.
Oo I
negava o tributo e pretendia ser Rei no lugar de César - Ο
de fato, um terrível crime contra o império (Luc. 23:1 e 2; fj Você sabia?
ο μ
Mar. 15:1 e 2).
Além do palácio em Jerusalém, Pilatos possuía outra
C ontudo, eram tão absurdas as colocações dos lide- residência oficial localizada em Cesareia Maríti-
res em contraste ao silêncio de Jesus que Pilatos achou ma. Era uma espécie de Palácio de Verão, construído
por Herodes, mas que terminou servindo de “lar"
. .
im próprio condená-lo à m orte. Sabedor de que Jesus
era da Galileia e de que Herodes estava ali para parti- para os procuradores romanos que não apreciavam
cipar da festa pascal, resolveu enviar-lhe o caso para, muito a ideia de morar em Jerusalém. Cesareia
O procurador rom ano, pressionado po r um a tur- Em 1961, arqueólogos italianos que escavavam 0
ba de judeus arranjada pelos sacerdotes, resolveu agir teatro romano da cidade localizaram uma placa de
com outra estratégia. Ele propôs a escolha entre Jesus e pedra que estava sendo disposta no que os arqueó-
Barrabás. N ovam ente se frustra, pois o povo escolhe o logos chamam de “uso secundário", isto é, seu posto
salteador. Então ele, num a derradeira tentativa, ordena originalfora demolido já no passado e os escombros
usados posteriormente como alicerces de um novo
aos soldados que açoitassem o prisioneiro, pensando
edifício.
que assim conseguiria acalmar os ânim os de todos. Até
.
que, finalm ente, com m edo da pressão política que isso Assim, alguém de “vista mais atenta”percebeu que
podia causar, autorizou a crucificação de Jesus. entre as pedras reutilizadas na reconstrução do
anfiteatro no século IV havia uma disposta entre os
pisos de uma escadaria que parecia conter uma ins-
crição em latim. Removida, a inscrição parcialmen-
te destruída pôde ser decifrada. Ela dizia: “Pôncio
Pilatos, Prefeito da Judeia”. Ao que tudo indica,
Pilatos havia mandado construir em Cesareia um
Tiberium, isto é, uma estrutura em homenagem ao
imperador e, portanto, colocou ali 0 seu nome como
0 executor da obra. Mais um personagem bíblico que
í-J tem sua existência confirmada na história!
*f 1 י:יWi f f
W 1 0 fr γ ׳ י. . ‘ ד׳׳ יiFriBr 1 >7
יH ' 3SiX c
WÊa ׳■ ״I'm '
On -CΏ . m ais extrem a, mais cruel e angustiosa form a de puni-
ção”.115 Ele chegava até a evitar o uso da palavra crux,
que term in o u to rnando-se um a espécie de xingam en-
Fato importante to ou m aldição na sem ântica latina da época. Enfim ,
a p rópria pronúncia do term o não era de bom -tom .
Um detalhe apresentado por Mateus e Marcos leva
a crer que 0 local de execução de Cristo ficava à Em 63 a.C., Rabírio, um senador rom ano, foi acu-
beira da estrada, pois ambos mencionam a presen-
sado de alta traição e condenado à m orte de cruz. Cí-
ça de transeuntes que escarneciam de Cristo (Mat.
cero, então, saiu em sua defesa, argum entando que a
27:39, Mar. 15:29). Semelhante a essa ideia há um
simples m enção da palavra era algo inadm issível aos
curioso texto de Jeremias, que alguns autores inter-
pretam como sendo uma profecia messiânica. Ele ouvidos de um respeitado cidadão rom ano. Veja o
diz: "Não vos comove isto, a todos vós que passais que ele escreveu na ocasião:
pelo caminho?Considerai e vede se há dor igual a
‘O h ! Quão grave seria ser desgraçado publicam en-
minha, que veio sobre mim, com que 0Senhor me
afligiu no dia da sua ira" (Lam. 1:12). te p o r um a corte, quão grave seria sofrer um castigo,
quão grave seria ser banido. M esm o assim, em m eio
De acordo com uma tradição anotada desde 0sé- a um desastre, gozaríam os de certo grau de liberda-
cuio XVI em Beth hat Selzileh, uma gruta situada
de. M esm o se form os condenados à m orte, podem os
nas cercanias de Jerusalém seria 0 lugar onde 0
m o rre r com o hom ens livres. M as... a simples m en-
profeta escrevera esse oráculo, afirmando 0 que
seria visto, nofuturo, por aqueles que passassem ção da palavra cruz’ deveria ser rem ovida não apenas
naquele local. Seiscentos anos depois de Jeremias, da pessoa de um cidadão rom ano, mas até m esm o de
os romanos constroem diversas vias públicas e, ao seus pensam entos, olhos e ouvidos... A simples m en-
lado de uma delas, 0Filho de Deus é sacrificado ção dela é um desrespeito a qualquer cidadão rom ano
por amor à humanidade. ou hom em livre.”116
° Fato im portante ^
Conforme já fo i dito, as cruzes romanas geralmente possuíam duas partes. No caso
específico da immissa, havia 0 stipes também chamado de palus, que era a parte vertical da
peça. Ela geralmente ficava fix a no local ou poderia ser montada onde a cruz seria erguida.
Cruzando-a horizontalmente na parte superior havia 0patibulum que era 0 travessão, por
sobre 0 qual os braços do condenado seriam estendidos.
° Você sabia? c
Ao contrário do que diz a tradição de muitos círculos do cristianismo, não há
evidência alguma de que Jesus tenha carregado toda a cruz até 0Calvário. Todos
os dados históricos até agora levantados pelos pesquisadores levam a crer que
apenas 0patibulum ou 0 travessão era carregado pelo condenado.
Uma evidência de que este era 0costume normal das execuções romanas pode ser
visto em dois trechos de uma comédia latina escrita por Plauto dois séculos antes
de Cristo. Em ambos, ele menciona que 0condenado carregava 0patibulum pela
cidade e depois era amarrado à estaca vertical perfazendo a form a de cruz
( crux)126.
A posição do crucificado
A p rim e ira reação causada pelo achado de Givat
há M ívtar foi de espanto. E m bora houvesse algu-
m a discordância q u an to à reco n stitu ição ú ltim a da
m o rte de Yohanan, todos eram unânim es em afir-
m ar que ele fora realm en te crucificado e que in d í-
cios apontavam para um a posição nada condizente
com as im agens produzidas pela piedade c ristã 130.
C on tu d o , eram consistentes com certos detalhes re-
feridos nos evangelhos:
H a.
M useu A ntiquário do Palatino, ali está o desenho
C 0
satírico do século III feito provavelm ente p o r um c נ
adolescente estudante da escola im perial. Ele m os-
tra um m en in o em pé, em p o stu ra de adoração, com
Fato importante
um a m ão levantada. O objeto de sua devoção é um a Por mais de 35 anos, Frederick Zugibe, conceitua-
figura em um a cruz, um ho m em com a cabeça de um do perito criminal e professor da Universidade de
jum ento. D ebaixo dele está rabiscado: ״A lexam enos Columbia, procurou dissecar a morte de Jesus com
adora seu D eus.” a objetividade científica da medicina.
A interpretação de m uitos é que naquele lugar es- A fim de saber não só a causa mortis de Cristo,
tava um jovem cristão cham ado Alexam enos, que por mas se os pregos realmente se rasgariam com 0
peso do corpo, elefe z experimentos, usando um
causa de sua fé era ridicularizado pelos demais. O ges-
número de voluntários que aceitassem ficar sus-
to do garoto e o fato do condenado estar crucificado
pensos numa cruz por várias horas e em diversas
lança luz sobre a form a da crucifixão nos tem pos anti- posições. Nenhuma delas mutilava a carne ou
gos e com o os cristãos da época im aginavam a m orte danificava 0corpo. Zugibe utilizava luvas espe-
do Senhor. Afinal, a caricatura certam ente era feita ciais de couro para “pregar”as mãos no madeiro.
com base naquilo que os cristãos diziam acreditar. A A fim de demonstrar que um cravo pregado
cruz assem elha-se à immissa e possui duas partes. Os nas mãos podia suportar 0peso de vários quilos,
braços do condenado se acham estendidos sobre o em outra experiência, usou braços cortados de
patibulum e suas pernas apoiadas num a pequena pia- cadáveresfrescos, cravando-os pelos dois pontos
e colocou pesos neles. Muitos dizem que ele provou
taform a fixa no m adeiro.
sua teoria, mesmo que seu método seja considera-
A firm a-se que o utra inscrição feita p o r um a m ão do um tanto repulsivo.
diferente foi encontrada no m esm o sítio com os di- c ר
G Ο
zeres ״Alexam enos fiel.” Talvez isso foi sua p rópria
resposta ao desenho cruel.131 T Jtrí n . ־כדסי
m ₪ Ê Ê Ê Ê Ê ₪ B S₪ ₪ ₪ Ê B Ê ₪ Ê ^Ê I^^
Fato importante
Você sabia?
Âo todo já foram encontrados e catalogados
917 ossuários escavados nos arredores de Os judeus do tempo de Jesus não enterra-
Jerusalém, fora os túmulos e inscriçõesfeitas vam seus mortos. Eles depositavam 0 corpo
em objetos que estavam dentro de um contexto dofalecido em cavernas preparadas para
funerário. Dos 917 ossuários catalogados isso. De igual modo, 0 sepultamento não era
por Rahmanie publicadas pelo Instituto de completado no momento da morte.
Antiguidades delsrael, 231 (25,2%) tinham
Somente no dia em que os ossos eram depo-
inscrições com nomes gravados do lado defora
sitados nos ossuários de pedra, cumpria-se
na tampa ou na lateral. Destas, dez traziam
literalmente a expressão que dizia “0 morto
claramente o nome Jesus. AmósKloner,
finalmente encontrou os seus mortos”. E
arqueólogo israelense, declarou haver ainda71
somente nesse dia, tinha-se por cumprido 0
objetos tumulares que também traziam 0 nome
rito de um sepultamento. Ou seja, a pessoa
de Jesus além de um ou dois casos em que havia
só era defato sepultada por completo meses
0claro complemento “filho de José". Portanto,
depois de sua morte.
não seria uma coincidência tão improvável
encontrar em alguns ossuários os homônimos Este procedimento cultural ajuda a entender
de Josée Jesus. 0estranho pedido de um jovem a Cristo que
solicitou primeiro sepultar seu pai e, somente
depois, seguir a Cristo. A recusa do Mestre,
seguida da enigmática expressão “deixa os
mortos sepultar os seus mortos”(Mat. 8:22),
talvez indique que, naquele caso, não se
tratava de alguém deixando 0velório de seu
pai para seguir a Cristo. Antes era um jovem
que, preferindo os cuidados desta vida, deu
uma desculpa dizendo que preferia esperar
a morte de seu pai e os meses que se seguiriam
até seu sepultamento final para, somente
então, vir e seguir 0Mestre.
A ressurreição
Os discípulos estavam trem endam ente desanima-
dos pelos últim os acontecim entos. Seu M estre havia
sido m o rto e o corpo estava agora posto sem v ic!
n u m sepulcro. T oda esperança depositada no m ovi-
m ento parecia ter sido arruinada.
A “visão de Gabriel”
SSL.
Em 2008, Ada Yardeni, especialista em epigrafia
e paleografia sem ítica da U niversidade Hebraica de
Jerusalém , publicou um antigo texto paleohebrai-
Você sabia? co intitulado “A visão de Gabriel”, que, segundo ela,
Por causa do preconceito e da cultura pa- poderia ser um fragm ento de algum dos m anuscritos
triarcal da época, nenhum tribunal judaico do M ar M o rto 132. A publicação e tradução inéditas
aceitaria 0 depoimento de uma mulher. Seu contou com a colaboração do professor Binyam in
testemunho era totalmente irrelevante e dispen- Elitzur, tam bém da U niversidade Hebraica.
sável. Ainda mais se essa mulher tivesse afam a
de pecadora, como Maria Madalena. O texto inédito foi escrito com tinta em duas colunas
num a placa de pedra calcária medindo 90 cm de altura.
Sendo assim, fica estranho supor que os discí-
Ela foi provavelmente encontrada no lado jordaniano
pulos montaram a tese de uma suposta ressur-
reição para convencer os judeus de que Jesus do M ar M orto. Segundo se sabe, um negociante de anti-
era 0Messias. Se 0fizessem, jamais colocariam guidades da Jordânia a havia vendido por volta de 1997 a
as mulheres - em especial Maria Madalena um colecionador suíço-israelense chamado David Jesel-
- como as primeiras testemunhas oculares da sohn que a guardou todo esse tem po em sua própria re-
ressurreição de Cristo. sidência em Zurique. A peça foi negociada em Londres
כ׳ c e não no Oriente Médio. Não obstante, a autenticidade
da placa não foi até agora questionada por nenhum es-
pecialista. Yardeni datou o artefato em torno do final do
"CO t século I a.C. ou no começo do século I d.C. (fig. 2).
A raridade do texto está prim eiram ente no fato de A p artir disso, foi proposta um a nova interpreta-
que as palavras eram geralm ente esculpidas em pedra ção para alguns pontos borrados que Y ardeni prefe-
e não escritas com tinta, com o neste caso. Infelizm en- riu deixar em branco:
te, devido à ação do tem po e ao m anuseio indevido do
78. T u os resgatarás.... por dois[] ....[ ]
artefato, a deteriorização do texto provocou lacunas e
deixou m uitos vocábulos praticam ente ilegíveis. 79. De diante de ti os três sinais...[ ]
Em virtude de tais dificuldades, Y ardeni foi caute- 80. Em três dias, viva, eu Gabriel te ordeno
losa ao apresentar sua interpretação, pois reconhecia
81. Principie dos príncipes, o estrum e das fendas
as trem endas lacunas do texto e a dificuldade de se ler
das rochas
seguram ente alguns vocábulos e letras das 87 linhas,
dispostas em duas colunas do texto original. Deve ser esclarecido que o professor K nohl não
acredita num a ressurrreição sobrenatural de Jesus
O que se pode dizer é que o m anuscrito parece ser
nem na historicidade da mesma. N ovidade de sua tese
de natureza apocalíptica. Alguém de nom e Gabriel
está em querer explicar, com elem entos judaicos, que
(que se supõe seja um anjo) se dirige a o u tra perso-
o tem a ressurreição em três dias não é criação dos dis-
nagem usando a segunda pessoa do singular. Em
cípulos de Jesus. Já existia um a ideia a esse respeito,
várias partes textos bíblicos são citados ou aludidos
abraçada p o r judeus, m uito antes do m ovim ento cris-
in diretam ente.133 As linhas 78 a 81 foram as que mais
tão. Os seguidores de Jesus, po rtan to , apenas abraça-
cham aram a atenção, pois com põem o trecho do que
ram um a legítim a tradição judaica anterior.
seria possivelm ente um a revelação de Gabriel (Ha-
zon Gabriel) dizendo que iria despertar o Príncipe dos
Príncipes três dias, possivelm ente depois de sua m o r-
te. Veja abaixo a tradução feita p o r Y ardeni respei-
tando as lacunas originais.
ίψ
patriarcas. Ali ficaria ele preservado até que o M es- í!l· :'r ' ;׳־.
'% ' ־ ־־־*■'־ ·־: י.«דזז/*1’■*;״·־■«י־־
sias, filho de Davi, chegasse para ressuscitá-lo136. fc ;·■״־: :**ípMfrtMf .;· ׳<*׳,"·■a <*'·ו·׳ ■׳.-׳׳<זי. י
·י:־.ז.,׳־fif mi; ',tn·;, ?'" יי,s.Truti^.rv·!!‘4. ·^■׳ , ...
R esum indo pois as palavras de Simeão: Elas dão o Sendo assim, não é teologicam ente correto dizer
sentido form al, funcional, étnico, dim ensional e tem - que Jesus foi um simples “m ártir”. Afinal, os m ártires,
poral da obra de Jesus. p o r m ais que sejam louváveis e dignos de respeito,
não podem com seu sangue salvar-nos do juízo fi-
Sentido form al - seria um trabalho contraditório,
nal. O exemplo deles pode até inspirar gerações que
estranho e dolorido.
venham posteriorm ente, a luta deles pode até salvar
Sentido funcional - serviria para revelar a glória vidas (m uitos indianos foram poupados quando a
de Israel e a luz para os gentios, isto é, salvar pessoas. m o rte de G andhi cham ou a atenção do m undo para o
que acontecia em seu país). M as essa “salvação” é ape-
Sentido étnico - alcançaria judeus e gentios, ou
nas um retardam ento da m orte e um a prolongação da
seja, o m undo inteiro.
existência que tem os neste planeta. A salvação trazi-
D im ensional - era plano de Deus que perpassa por da p o r Cristo, diferentem ente, produz a vida eterna e
todos os hom ens e o universo estaria, de certa form a, não uns anos a mais de existência terrestre.
envolvido nessa obra.
P ortanto, em bora a m orte de Jesus ten h a algo de
T em poral - é an terio r ao seu nascim ento e sucede “m artírio ”, seu significado extrapola em m uito o sen-
à sua vida neste planeta alcançando até o juízo final. tido desta palavra. O m elhor seria defini-lo com o “re-
d e n to r”, para que se acentuasse a diferença entre ele e
Essas palavras indicam , com o bem apresentou a outros que m orreram p o r causas nobres.
lição, que “Cristo nasceu destinado a m o rre r”. Sua
m orte não foi um acidente. Foi um planejam ento que A m orte de C risto era um a coisa profeticam ente
envolve questões supra racionais. M as alguns que não esperada e anunciada desde a fundação do m undo
possuem conhecim ento bíblico sobre esta questão (Apoc. 13:8). Q uatro m il anos de história desde Adão
poderiam objetar: “Ora, todos nós indistintam ente até C risto passaram em anúncio contínuo do que es-
nascem os para m orrer. Afinal, a m orte é a única cer- taria para acontecer naquele dia, no Calvário. Prega-
teza que tem os quanto à nossa vida. Logo, o que tem ções, anúncios proféticos, livros inspirados (o Antigo
de especial na frase: 'C risto nasceu para m orrer?’”. Testam ento) e todo um ritual do santuário serviram
para dizer ao m undo que Ele viria m orrer. N enhum
Essa colocação pode ser estendida se com parar-
o utro h erói da história tem um a trajetória assim.
m os num a leitura rápida a obra de C risto e a obra
de outro m ártir qualquer que deu sua vida p o r um a
causa. Tiradentes, G andhi, M artin L uther King são O evento histórico
bons exemplos. E seu exemplo, ao m o rre r p o r um a
causa justa, ainda alim enta a esperança de m uitos que
da Cruz
vieram depois deles. O que diferencia Cristo desses
Os evangelhos não são biografias escritas sobre
hom ens?
Jesus nem intencionam ser. Eles são antes um a “teo-
Bem, um a parte dessa questão já está respondida logia” de sua vida. Isso é verdade. M as esse m esm o
na p rópria form a da lição definir a m orte de Cristo conceito, colocado nas páginas de um autor de linha
com o um “não acidente”. Veja, é claro que todos sa- liberal, pode ter um sentido estran h o à com preensão
bem os que vam os m o rrer, m as ninguém sabe como: dos m ais conservadores. Em outras palavras, esses
se será p o r acidente, po r doença fatal ou p o r um a de- autores até dizem o m esm o, m as com um significa-
pressão que leve ao suicídio. N enhum m ártir nasceu do bem diferente do exposto pela lição e devem os ter
destinado por Deus a m o rre r po r esta ou aquela cau- cuidado com isso. Eles dizem: “Bem os evangelhos são
sa. Seu m artírio sim plesm ente aconteceu; não estava apenas um a teologia da vida de C risto, não um a bio-
profetizado. Com Jesus foi diferente. Não tin h a com o grafia. Logo, são im agens filosóficas de Cristo e não
descrições históricas do que ocorreu”. Esse conceito A restauração
aparece em m uitos livros teológicos que saem po r aí.
L em bro-m e de um conceituado autor, especialista em Existem algum as palavras gregas usadas no N T
N ovo T estam ento, que, tendo em m ente esse concei- para ilu stra r o significado profético e resta u ra d o r
to de “evangelhos teológicos, mas não históricos”, es- da cruz ou da m o rte de C risto em lugar da h u m a-
creveu que a m ultiplicação dos pães não foi um evento nidade:
histórico. Foi um a parábola para explicar com o Jesus,
através de sua m ensagem , convencia os que tinham Prosphora - oferenda em form a de fragráncia, per-
pães a se ajuntarem com os que tin h am peixe, divi- fume, arom a. Paulo usa essa palavra em R om anos
dindo a com ida com os que não tinham nada. Logo, 15:16, ao exprim ir seu desejo de que a oferta (prospho-
não houve m ilagre algum a não ser o de convencer os ra) dos não judeus seja algo aceitável a Deus. Em Fili-
que tinham a dividir com os que não tinham . penses 4:18, ele fala das dádivas enviadas pelos irm ãos
com o sendo “um arom a suave, um sacrifício aceitável
A ressurreição de Jesus é outro evento que m uitos e aprazível a Deus. Em Efésios 5:2, ele conclam a seus
dessa linha tom am com o sendo não um a história real, leitores a serem com o C risto que se entregou p o r nós
mas um a parábola teológica dos evangelistas para ex- a D eus com o um “arom a suave” (prosphoran). O ra, o
plicar que a fé de Cristo não m o rreu com ele na cruz, arom a ou o perfum e tinham um significado m uito es-
mas continuou viva p o r m eio da pregação de seus pecial nos tem pos bíblicos. O banho naquelas condi-
seguidores. Sendo assim, a presença do cristianism o ções culturais era algo raro. Logo, o perfum e era algo
hoje é com o se Cristo ainda estivesse vivo simbólica- para neutralizar o m au odor; fazia parte da higiene.
m ente na continuidade do trabalho apostólico.
Os sacrifícios, geralm ente, p o r envolverem der-
Essas ideias são absurdas e perigosas. Os evan- ram am en to c o n tín u o de sangue e apresentação de
gelhos são, de fato, um a teologia, mas são tam bém carnes queim adas sobre o altar, tam bém poderia
um a história real. A teologia apenas dá significado ao apresen tar cheiros não m uito agradáveis, espe-
que aconteceu; ela não inventa os acontecim entos. A cialm ente quando eram realizados em m eio a um a
palavra evangelho é um term o técnico, que não foi m ultidão de ofertantes, todos sem banhos a dias.
criado pelos cristãos, mas já existia no m undo greco- N ovam ente, para n eu tralizar os m aus odores dessa
-rom ano para indicar o anúncio de um a boa coisa que situação, havia a queim a de incensos e especiarias
havia realm ente ocorrido. Se fosse inventado, não que produziam um a fum aça de cheiro agradável
podia ser evangelho. O nascim ento de César Augus- com o um incenso. Essa fum aça subia até D eus que,
to, p o r exem plo, é descrito num a inscrição rom ana na concepção da época, via o sacrifício feito e sen-
com o sendo o grande “evangelho do m undo”. Sendo tia um cheiro agradável. Afinal, a p resen tar algo m al
assim, seria estranho os autores do N ovo T estam ento cheiroso à divindade seria um desrespeito, segundo
darem o nom e técnico de “evangelho” para algo que a cultura da época.
não fosse legitim am ente histórico.
Isso nos ajuda a entender o ritual bíblico das ofer-
A história era, aliás, tão real, que seu ápice longe tas acom panhadas de incenso e arom as agradáveis
de ser um a invenção publicitária era um m otivo de que subiam até a presença de Deus (Êxodo 30:7; 34-
h o rro r e vexame. Afinal de contas, eles falavam da 35, 37, 38). As orações dos santos são, nesse contexto,
m orte do Filho de Deus. C uriosam ente, no entanto, a sim bolizadas com o um arom a agradável que sobe até
cruz se to rn a m otivo de alegria e paz, pois foi através Deus (Sal. 41:2 e Apoc. 5:8). A m orte de Cristo, por
dela que C risto salvou o m undo, dando àquele que sua vez, tam bém foi sim bolizada com o um incenso
crer a oportunidade de v oltar ao paraíso perdido por agradável a Deus, algo que perm ite a neutralização
Adão. N a cruz, céu e terra se uniram , o pecado foi ex- do m au odor que nossos pecados produzem . Ora,
tirpado, a graça inaugurada. E isso não ocorreu pelo um a pessoa com m aus odores é um a pessoa segrega-
m adeiro em si, m as p o r Aquele que ali estava pendu- da; ninguém quer ficar perto dela. Pois o m esm o se
rado, a saber o Filho de Deus. passaria com a hum anidade mal cheirosa p o r causa
de seus pecados. U m a hum anidade fadada à exclusão piciatória dada aos deuses quando estes, p o r alguma
da fam ília de Deus. M as a graça de C risto neutraliza razão, estavam irados com os hom ens. Daí o nom e
aquilo que naturalm ente causaria o repúdio dos ou- Hilasterion que vem da m esm a raiz das palavras gra-
tros em relação a nós e nos perm ite aproxim ar com cioso, bondoso, alegre. Os rom anos vertiam o term o
confiança (e “bom cheiro”) diante do tro n o de Deus. p o r hilaris, que deu origem à palavra hilário, em por-
tuguês. Havia até um deus com o nom e de Hilaros, a
Lutron - M ateus 20:28 (compare com M arcos saber, o deus da alegria. M as é claro, com o acentuou
10:45) traz a palavra Lutron, “resgate”, cujo sentido li- a lição, que os autores do N ovo T estam ento muitas
teral seria “pagam ento po r soltura”, “preço de um res- vezes tom am em prestado palavras do m undo grego
gate”. Essa palavra só aparece no Novo T estam ento mas dão-lhes um significado próprio, de acordo com
nos ditos de Cristo (veja po r exemplo: Lucas 22:27). a teologia bíblica, e não com a filosofia helenística. E
M as um adendo deve ser feito aqui: em nosso sentido o caso desse term o, que no conceito do N ovo Testa-
ocidental, resgate é algo que você paga a um bandido m ento, eqüivaleria ao antigo term o hebraico K ipper
que tem um ente querido como refém. Essa aplicação a que literalm ente significa “cobrir”, “perdoar”. Para os
Cristo poderia causar um embaraço por supor que Ele hebreus, a im agem de perdão (kippur) era um a ima-
estaria pagando “a Satanás” o preço pela nossa reden- gem de Deus cobrindo a nudez de nossa transgressão.
ção. E isso não é verdade. Para esclarecer é im portante P or isso o dia da expiação é cham ado, em hebraico, de
observar que o “preço de um resgate” nos tem pos bíbli- Yom K ippur e aquele pequeno chapéu que os judeus
cos envolvia m uitas vezes duas situações diferentes do usam é cham ado de K ippah - um a lem brança contí-
pagam ento ao seqüestrador que, creio, seriam a ima- nua de que estão na presença p erdoadora de Deus. A
gem original que o autor bíblico tinha de comparação tam pa da arca dos dez m andam entos era corretam en-
com o trabalho de Cristo. A prim eira era quando um te cham ada de propiciatório (kipper), pois o perdão
resgatador (um pai, um rei) gastava somas enorm es de cobre-nos com a justiça, sem encobrir a transgressão.
dinheiro para em preender um a viagem em busca de al- P or isso, no caso de C risto, a propiciação pelo peca-
guém que havia sido raptado ou que estaria preso nas do não envolvia apenas um consentim ento titu lar de
mãos de um inim igo. As custas do resgate eram altas e “perdoado”, mas a m o rte vicária de um inocente em
podiam envolver desde despesas de viagem até o alu- nosso lugar, para poder, de fato, cobrir-nos com o
guel de um exército se fosse necessário usar força física m anto de sua justiça.
para libertar o que estava cativo. O exemplo de Abraão
Katallage - esta é um a antiga palavra, que deno-
resgatando seu sobrinho Ló ilustra isso (Gên. 14:12-
tava a restauração do entendim ento original entre
17). O “preço do resgate”, portanto, não era um paga-
duas pessoas que estavam com as relações cortadas.
m ento ao seqüestrador, mas o preço gasto na operação
Não se tem notícia, no m undo grego, de seu em pre-
de salvam ento e guerra contra o inimigo. A segunda
go no am biente religioso, mas o N ovo T estam ento
situação era quando um pai, oferecia a si m esm o para
parece ter feito isso, em bora sem pre com o sentido
ser escravo no lugar do filho que havia sido escravi-
de reconciliar. No que diz respeito à relação entre o
zado. Essa prática legal tam bém era um tipo de preço
hom em e Deus, é curioso n o tar que as ocorrências
pelo resgate que envolvia a própria vida do indivíduo
parecem preferencialm ente v ir no passivo, “ser re-
com o pagam ento não ao “escravizador”, mas como
conciliado” (em bora existam tam bém casos ativos). O
substituto daquele que deveria, po r qualquer razão, ser
sentido passivo é profundo, ele m ede que a reconci-
escravo de outrem .
liação em bora dem ande a igualdade das partes após
Jesus não som ente to m o u nosso lugar na escravi- o acerto de contas, não é sinônim o de equivalência.
dão e no seqüestro, com o pagou um alto preço para Deus não é um ser de nosso nível, para que possam os
vir nos libertar, e esse preço não custou nada m enos “fazer as pazes” com Ele no m esm o pé de igualdade
que sua própria vida! que faríam os com um colega de trabalho com o qual
brigam os. Ele é o nosso amigo, mas é acima de tudo
Hilasterion - esta é um a palavra que aparece em nosso Senhor, não nosso “colega”. Adem ais, a ofensa
inscrições gregas com o sentido de um a oferta pro - p artiu de nós, não dEle. Nós é que precisam os ser re-
conciliados com Ele, pois fomos nós que quebram os a
aliança. Não obstante, é Ele quem tom a a iniciativa e
dá prim eiro passo.
21 E. P. Sanders, Judaism: Practice and B elief 63 BCE-66 CE (Londres: 36 Borchert, O. The O riginal Jesus, London: The Lutterworth
SCM Press; Philadelphia: T rinity Press International, 1992). Press, 1933.
Veja também: M. Smith, “The Dead Sea Sect in Relation to
Ancient Judaism,” New Testam ent Studies 7 (1960-61): 356: 37 A mais recente datação radiométrica chamada acelerador de
“Down to the fall of the Temple, the normative Judaism of massas espectroscópica, registrou que alguns manuscritos de
Palestine is that compromise of which the three principal ele- Q umran teriam cerca de 200 anos a mais que a data hasmonea
ments are the Pentateuch, the Temple, and the ‘amme ha’arez, dada pelos paleógrafos (300 a.C. e não 100 a.C.). Veja o relato-
the ordinary Jews who were not members of any sect.” rio em G. Bonani et. ali., “Radiocarbon Dating of the Dead Sea
Scrolls”, A tiqot 20 (Junho, 1991), 27-32; “Radiocarbon Dating of
22 Johann Maier, Entre os dois testamentos - História e religião na
Fourteen Dead Sea Scrolls” Radiocarbon 34/3 (1992), 843-849.
época do Segundo Templo [Coleção Bíblica Loyola 46] (São
Paulo: Loyola, 2005), 264.
38 Para mais detalhes sobre esse assunto veja: M artin G. Abegg,
23 Para autores que colocam Daniel e o apocalipsismo a partir do Jr., “The Messiah at Qumran: Are W e Still Seeing Double?” in
2°. Século a.C. veja: W .G. Lambert, The Background o f Jewish Dead Sea Discoveries Vol. 2, No. 2, Messianism (Jun., 1995), pp.
Apocalyptic. The Ethel M. W ood Lecture delivered before the 125-144 < Stable URL: http://www.jstor.org/stable/4201510>;
University of Londres on 22 February 1977. (Londres: The James VanderKam, “Messianism in the Scrolls,” in The Commu-
Athlone Press, 1978), 20; J. Goldingay Daniel, W ord Biblical n ity o f the Renewed Covenant {ed. Eugene Ulrich and James
Them es (Dallas: W ord Publishing Group: 1989), 132. Para VanderKam; Notre Dame: University of Notre Dame Press,
autores que colocam Daniel a partir do cativeiro veja: G. F. 1993) 21 Iff.; John J. Collins, “Messiahs in Context: M ethod in
Hasel “The Book o f Daniel: Evidences Relating to Persons and the Study o f Messianism in the Dead Sea Scrolls, in M ethods o f
Chronology.” Andrews University Seminary Studies 19 (1981): Investigation o f the Dead Sea Scrolls and the Khirbet Q um ran Site
211-225; J. G. Baldwin, “Is there Pseudonymity in the Old (ed. M. O. W ise et al.; New York: New York Academy of Scien-
Testament?” Themelios 4(1978-1979): 6-12. ces, 1994) 213ff.; idem, The Scepter and the Star: The Messiahs
o f the Dead Sea Scrolls and O ther A ncient Literature (New York:
24 Rad, G. v., Teologia do A ntigo Testamento, (São Paulo: ASTE, Double-day, 1995) 74ff.; and W . H. Schniedewind, “Structural
1974), vol. II: 298 - 317 Aspects o f Qumran Messianism in the Damascus Document,”
in The Provo International Conference on the Dead Sea Scrolls: New
25 E. J. Bickerman, The God o f the Maccabees: Studies on the Mea-
Texts, Reform ulated Issues, and Technological Innovations (ed. D.
ning and Origin of the Maccabean Revolt (Leiden: Brill, 1979).
W . Parry and E. C. Ulrich; Leiden: Brill, 1999) 523-36.
26 N. Cohn, Cosmos, Chaos, and the W o rld to come: The A ncient Roots
39 Tradução de Florentino García Martinez, Textos de Qum ran (Pe-
o f Apocalyptic Faith (New Haven: Yale University Press, 1993),
trópolis, RJ: Vozes, 1995), 56.
77ss; 220ss.
40 O texto foi encontrado em apenas uma folha e foi datado em ca.
27 J.J. Collins, “From Prophecy to Apocalypticism. The Expecta-
Do século 1 a.C. Quem o publicou pela primeira vez foi John
tion of End” in The Encyclopedia o f Apocalypticism - The Origins
of Apocalypticism in Judaism and Christianity - ed. JJ Collins Marco Allegro. Veja o texto completo em Martinez, Textos de
Qumran, 178.
(New York: Continuum, 2000) vol. 1:129.
28 Talmude Babilônico Bava Batra 21a; Avot [Tradição dos Pais] 41 Alguns entendem que a citação seria de Êxo. 20:22, conforme
5:21. a tradição textual encontrada no Pentateuco Samaritano que
combina os textos massoreticos de Deuteronômio 5:28-29;
29 Contra Apio 1.12#60 18:18-19. Alex P. Jassen, M ediating the Divine: Prophecy and Re-
velation in the Dead Sea Scrolls and Second Temple Judaism [Studies
30 A. Demsky and M. Bar-Ilan, W ritin g in Ancient Israel and on the Texts o f the Desert of Judah, 68] (Leiden/Boston: Brill,
Early Judaism’, Compendia R erum Iudaicarum ad N ovum Tes- 2007), 159.
tam entum , Section II, vol. I, MIKRA, M. J. Mulder (ed.), van
Gorcum, Assen / Maastricht & Fortress Press, Philadelphia 42 Cf. as diferentes interpretações deste documento em John
1988, pp. 1-38; M . Bar-Ilan, ‘I lliteracy in the Land o f Israel in the J. Collins, The Scepter and the Star (Nova Iorque: Doubleday,
F irst Centuries C.E.’, S. Fishbane, S. Schoenfeld and A . Goldschlaeger 1995), 74-101; Idem, “The W orks of the Messiah,” Dead Sea
(eds.), Essays in the Social Scientific Study o f Judaism and Jewish Discoveries 1 (1994) 98-112Marco Treves, “On the Meaning
Society, II, N ew Y ork:K tav, 1992, pp. 46-61. o f the Qumran Testimonia,” R evQ 2 (1960): 569-571; Joseph
A. Fitzmyer, “’4QTestimonia’ and the New Testament,” in
31 A lan M illard . R eading a n d W ritin g . In the T im e o f Jesus. Essays on the Semitic Background o f the New Testam ent (Lon-
(Sheffield Academic Press, 2000). dres: Geoffrey Chapman, 1971) 59-89.
43 Esta lista foi retirada de Paul Sumner, “Messianic” Texts at York University Conference in M emory o f Yigael Yadin,
Q umran in www.hebrew-streams.org. As referências foram Lawrence Shiffman, eds. (Sheffield: Journal for the Study of the
propositadamente deixadas conforme a versão em inglês. As Pseudepigrapha Supplement Series 8, 1990), 181-188.
fontes entre colchetes seguem a seguinte legenda: V5 - G. Ver-
55 M. Smith, “Two Ascended to Heaven—Jesus and the Author of
mes, The Complete Dead Sea Scrolls in English (New York/Lon-
4Q491,” in Jesus and the Dead Sea Scrolls, James H.Charleswor-
dres:Penguin Books, 1997; rev. ed. 2004); GM - F. Garcia-Mar-
tinez, The Dead Sea Scrolls in Translation (2d ed., GrandRapids, th, ed. (New York: Doubleday, ABRL, 1992), 290-301.
Mich.: Eerdmans, 1996); W AC - M. Wise, M. Abegg, E. Cook,
56 James Strong, The N ew Strong’s Expanded D ictionary o f Bible
The Dead Sea Scrolls: A N ew Translation (New York: Harper-
W ords (Nashville, TN: Thomas Nelson Publishers, 2001). Cf.
Collins, 1996; rev. ed. 2005).
também R. L. Harris; G. L. Archer, Jr; B. K. W altke, Dicionário
Internacional de Teologia do A ntigo Testamento (São Paulo: Vida
44 Como a linha inicial está danificada alguns lêem “God leads
Nova, 1999), 1255c.
[não begets] the Messiah”.
45 Alfred Edersheim, The Life and Tim es o fjesu s The Messiah. (Pea- 57 J. C. Vanderkam, “Messianism and Apocalypsism” 112, 113. In:
B. McGinn, J.J. Collins, SJ. Stein [Eds], The Continuum His-
body, MA: Hendrickson Publishers, 1993), 748.
tory od Apocalypsism (Nova Iorque: Continuum International
46 Um possível significado para a palavra Siló que aparece nalgu- Publishing Group, 2003).
mas traduções. Delitzsch, embora favoreça a idéia de ser Siló
58 S. Mowinckel, He T hat Cometh: The Messiah Concept In The
um nome próprio de uma cidade, menciona as outras possi-
bilidades. O Targum de Jerusalém, por exemplo, supõe que a Old Testam ent And Later Judaism (Grand Rapids, MI: Eerd-
leitura correta seria “até que venha o seu filho”. Cf. Franz De- mans, 2005), 3ss.
litzsch in CF Keil and Delitzsch, Commentary on the Old
59 H. Ringgren The M essiah in the Old Testament.. (Studies in Bibli-
Testament, (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1973). Vol. 1:394 e
cal Theology, No. 18.) (Londres: S.C.M. Press., 1956), 30.
395.
60 Baron, David, R ays o f M essiah’s Glory (Jerusalem, Israel: Kern
47 I. Knohl, The M essiah Before Jesus - the Suffering Servant of the
Ahvah Meshihit, 2000 reprint), 16.
Dead Sea Scrolls (Oakland, Ca: Regents of the University of
California, 2000). 61 James H. Charlesworth, “The Concept of the Messiah in Pseu-
depigrapha,” in A ufstieg und Niedergang derR õm ischen W elted .
48 D. Scardelai, M ovim entos messiânicos nos tempos de Jesus (São
Hildegard Tem porini and Wolfgang Haase (Berlin: W alter de
Paulo: Paulus, 1998), 26.
Gruyter; 1979): 188-218.
49 Jean Danielou, The Dead Sea Scrolls and P rim itive C hristianity
62 M. de Jonge, “The Use of the W ord A nointed’ in the Time of
(Baltmore, MD: Helicon Press, 1958), 69.
Jesus,” N o v T 8 [1966] 134.
50 Η. E. Del Medico, “L’etat dês manuscrits de Qumran I,” VT
63 A Guerra dos Judeus, livro VI, capítulo 5, secção 4
7 (1957), 135. Israel Knohl, 27 e 28. Mansoor, discorda desta
posição dizendo que o mesmo tipo de dano pode ser encontra- 64 “The Staurogram: Earliest Depiction of Jesus’ Crucifixion” the
do em outros manuscritos como o Manuscrito de Habacuque e M arch/April 2013
o Manual de Disciplina. M enahen Mansoor, The Thanksgiving
Hymns. (Leiden: Brill, 1961), 4. Não obstante é interessante 65 Virgil. Mynors, R. A. B. (1969). Opera: recognovit brevique ad-
que outros especialistas antigos não escondiam sua opinião notatione critica instruxit R. A. B. Mynors. Oxford: Clarendon
de que o modo seqüencial dos rasgos demonstrava que alguns Press. Met. 1.112
manuscritos, de fato, haviam sido maculados propositalmente
na antiguidade e não por mera ação do tempo. Dentre estes 66 APUD Evans, Craig A. M ark’s Incipit and the Priene Calendar
estariam J. Allegro e R. de Vaux. (Cf. H. Cotton and E. Larson,. Inscription: From Jewish Gospel to Greco-Roman Gospel.
“4Q460/4Q350 and Tampering with Qumran Texts in Anti- Journal of Greco-Roman Christianity and Judaism. 2000; 1:67-
quity?” in Emanuel: Studies in Hebrew Bible Septuagint and Dead 81
Sea Scrolls in H onor o f Em anuel Tov (eds. Shalom M. Paul, et al.;
Leiden/Boston: Brill, 2003), 123. 67 T radução do autor a partir de uma fotografia enviada.
54 M. Smith, “Ascent to the Heavens and Deification in 4QMa,” 74 William Whiston, tradutor das obras de Josefo para o ingles traz essa
in Archaeology and History in the Dead Sea Scrolls: The New anotação: “This Passover, when the sedition here mentioned was
moved against Archelaus, was not one, but thirteen months after the 94 Gibson, Shimon The Cave o f John the Baptist', Nova Iorque:
eclipse of the moon, already mentioned” (The Works ofJosephus, p. Doubledãy, 2004.
465, note a).
95 Avot [Tradição dos Pais] 2:2.
75 Antiguidades XVIII, 26 [ii. 1]
96 Talmude Babilônicô Yebamoth 62b
76 William Ramsay, St. Paul The Traveler and Roman Citizen. Grand Ra-
pids, MI: Baker Book House, 1962, p. 81 97 Da Vida Contemplativa 68ss; Hipotética 11.14-17.
77 (Corpus Inscriptionum Latinarum, editado por H. Dessau, Berlim, 1887, 98 Guerras 2.8.2.121· 122
Vol. 14, p. 397, N.° 3613)
99 McArthur, Harvey. “Celibacy in Judaism at the Time o f Chris-
78 Saturnalia, IV: 11. Para um estudo sobre esse autor veja: Alan Cameron tian Beginnings.”Andrews University Seminary Studies (AUSS)
(1967). “Macrobius, Avienus, and Avianus”. The Classical Quarterly 17 25.2(1987) 163-181.
(2): 385-399.
100 Berachot 14b.
79 Por exemplo: D.EHRMAN, Bart. Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não
Foi? Rio de Janeiro Editora: Ediouro Publicações, 2010; John Dominic 101 D. Martyn Lloyd-Jònes, Studies in the Sermon on the Mount (Grand
Crossan, Jesus: A Revolutionary Biography (San Francisco: Harper San- Rapids: Eerdmans, [1959,60] 1971), 1:23.
Francisco, 1994.
102 R. G. Gruenler, “Lord"s Prayer”, in Evangelical Dictionary of Theology..
80 Brown, Raymond. The Birth o f the Messiah. A Commentary on the Infan- 2d ed., ed. Walter A. Elwell (Grand Rapids, MI: Baker Book House,
cy Narratives in the Gospels o f Matthew and Luke. New York: Doubleday, 2001), 702.
1993, p. 205.
103 Joachim Jeremias,New Testament Theology (New York: Charles
81 Anais 157. Scribner’s , 1971), p. 67.
82 http://wasiesusamagician.blogspot.com.br/p/accusations-of-magic. 104 Barr, J. “Abba Isn’t Daddy.”Journal of Theological Studies 39, no.
html <acesso 03/02/2017). 1 [1988]: 28-47; Joseph A. Fitzmyer, “Abba and Jesus’ Relation
to God,” in A cause deL’Ev- angile, Lectio Divina 123 (Paris: Cerf,
83 Wace and Layamon (trans. Eugene Mason) Arthurian Chroni- 1985), 16-20.
cles (London: Dent, [1912] 1976)
105 Guerras 2:280.
84 Kiddushin, capítulo 1, Mishná 1.Para várias passagens rabínicas sobre
essa questão veja: McArthur, H., "Celibacy in Judaism at the Time of 106 Annie Jaubert, The Date of the Last Supper, (Alba House, Staten
Christian Beginnings”. AUSS, sumer 1987, vol 25., No 2, 165-181. Island, N.Y: 1965).
85 McArthur, Harvey. “Celibacy in Judaism at the Time o f Chris- 107 http ://biblehub.com/commentaries/matthew/23-27.htm <acesso em
08/02/20l7>
tian Beginnings." Andrews University Seminary Studies (AUSS)
25.2 (1987) 163-181.
108 Antiguidades 18:2, 2; 4, 3.
86 Antiguidades, 20, 9, 1.
93 Elaine Ruth “Archaeological evidence shifting views on site ofJesus’ 116 Cicero, In Defence ofRabirius, V. 16, tradução de H.G. Hodge, Cambrid-
baptism,” Elaine Ruth Fletcher of the Religion News Service, 8 March; ge Elementary Classics (Cambridge: University Press, 1956.
Mohammad Waheeb, Fadi Balaawi, and Yahya Al-Shawabkeh, “The
Hermit Caves in Bethany Beyond the Jordan (Baptism Site)”, Ancient 117 Tácito, Cornélio,. The Annals of Imperial Rome, III, 50,1, tradução de
Near Eastern Studies, Vol. 48 (2011), 177-198. Michael Grant (London: Penguin Books, 1996).
118 John Granger Cook, Crucifixion in the Mediterranean World. [Wis- 1970 Jewish Tombs at and near Giv-at ha־Mivtar. Israel Exploration
senschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 327]. (Tübin- Journal 20:18-32.
gen: Mohr Siebeck, 2015), 360ss.. 1985 Crucifixion—The Archaeological Evidence. Biblical Archaeology
Review 11:44-53.
119 Epístola 101, in Sêneca. Cartas a Lucilio. 2. ed. Lisboa: Fundação Ca- Yadin, Y.
louste Gulbenkian, 2004.. 1973 Epigraphy and Crucifixion. Israel Exploration Journal 23:18-22.
Zias, J. and Sekeles, E.
120 Diálogo 89, Justino, Dialogue w ith Trypho, Ante-Nicene Fathers, 1985 The Crucified Man from Giv’at ha-Mivtar: A Reappraisal. Israel
Vol. 1. Edited by Alexander Roberts, James Donaldson, and A. Cle- Exploration Journal 35:22-27.
veland Coxe. (Buffalo, NY: Christian Literature Publishing Co. 1889,
disponível em http://www.newadvent.org/fathers/0128.htm 131 Michael Green, D.D., Evangelism in the Early Church, Grand Rapids,
MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1970, pp. 174,175.
121 De constantia sapientisXX 3, Sêneca, De Constantia, in Moral Es-
says, ed. and trans. John W. Basore, Loeb Classical Library, 3 vols 132 A. Yardeni, “A New Dead Sea Scroll in Stone?” Biblical Archaeology Re-
(London: W. Heinemann, 1928-1935 reimpresso por Cambridge, MA: view 34/1 (2008) 60-61. A tradução, na verdade apareceu um ano antes
Harvard University, 1963-1970). numa publicação especializada, a revista Cátedra, mas como se tratava
de uma publicação em hebraico, a notícia ficou restrita a um grupo
bem pequeno de especialistas. Ada Yardeni and Binyamin Elitzur,
“Document: A First-Century BCE Prophetic Text Written on a Stone:
122 Veja os relatos dados por Josefo cm Antigüidades XVII 10:10 e Guerra First Publication,” Cathedra 123 (2007) 155-66.
JudaiqaV. XI: 1
133 A tradução completa oferecida por Yardeni pode ser vista em http://
123 Judicium vacalmm, 12, Lucian Works, with an English Translation by. www.bib-arch.org/news/dssinstone_english.pdf a transcrição do texto
A. M. Harmon. Cambridge, MA: Harvard University Press, London. hebraico pode ser encontrada em http://www.bib-arch.org/images/
William Heinemann Ltd. 1913 DSS-stone-hebrew.jpg.
124 Suetônio, Galba ix. SUETÔNIO. A vida dos doze Césares. 4* Ed. São 134 Israel Knohl, “The Messiah Son ofJoseph: ‘Gabriel’s Revelation’and
Paulo: Ediouro, 2002, the Birth of a New Messianic Model,” Biblical Archaeology Review
(September/October 2008) 58-62,78. Idem, “In Three Days, You Shall
125 Plínio, 0 Velho parece referir-se a este tipo de cruz quando diz que “o
Live” Haaretz, April 19, 2007; Ibdem, “By Three Days Live’: Messiahs,
rei encontrou um remédio novo que ninguém tinha imaginado antes
Resurrection, and Ascent to Heaven in Hazon Gabriel,”Journal of
dele: mandou pregar em cruzes os corpos de todos aqueles que se ti- Religion 88 (April 2008): 147-58.
nham matado, dando com isso um espetáculo aos cidadãos e uma presa
a ser dilacerada pelos animais selvagens e as aves de rapina.” (História 135 Citado por Knohl, “The Messiah Son ofJoseph..., 58.
Natural XXVI, 107),
136 Midr. Wayosha' and Agadat ha-Mashiah in Jellinek, “B. H.” i. 55 et seq.,
126 Mostellaria 1,56 ss , Plautus, The Rope and Other Plays, translated by E. F, iii, 141 et seq. A. Jellinek, Gedachtnifirede auf die im letzten Krie-
Watling, Penguin, London, 1964. ge gefallenen Soldaten israelitischer Religion] (Vienna: Herzfeld &
Bauer, 1867).Locus, nesidet essimus antestra? Mulinte aperi patilicis,
127 Diálogo 91.1, Justino, Dialogue w ith Trypho, Ante-Nicene quemus paris. et nonvendumum nulicaella re iuriptem dit factus clerum
Fathers, Vol. 1. Edited by Alexander Roberts, James Donaldson, and publicondes publinve, C. Vivirid capesciam.
A. Cleveland Coxe, (Buffalo, NY: Christian Literature Publishing Co.
1889, disponível em http://www.newadvent.org/fathers/0128.htm,
Vida deJesus
C O N C IS O D IC IO N Á R IO SOBRE Neste sentido, Jesus inaugurou um a form a extraordi-
nária de se dirigir a Deus, pois na literatura devocional
A V ID A DE JESUS 1
judaica jamais foi encontrado esse term o aplicado ao
Deus de Israel. Os judeus do prim eiro século tinham
em grande reserva o uso do nom e divino. Em lugar de
seu uso - para não pronunciá-lo inadequadam ente
preferiam dizer algo como “o Santo, bendito seja” ou
sim plesm ente chamá-lo de haShem, isto é, o nome.
A B O M IN Á V E L D A D E S O L A Ç Ã O
IN telO DO
ÍN VSR N O
lérrto
A ra g e m
PniMEIRAS'
CHWAS CALO R
DE OUTONO r-,.3. Ac palintea ma 11
«·ài«MÍftí n» H.ím 3
infernei 580 m n -íS S V ^
hzlrtKa,
Sua atuação com o governador da Galileia foi ape- C o n sid e ra n d o se tra ta r de u m a região desérti-
nas depois da m o rte e ressurreição de Jesus, p o r volta ca, as te rra s bíblicas são caren tes de fo n tes d’água
do ano 60 d.C. N um encontro com o apóstolo Paulo, p eren es. F o ra o J o rd ã o e o lago da G alileia, o ter-
ele se declarou p o r pouco persuadido a ser um cristão ritó rio dos judeus n ão d isp u n h a de grandes rios e
(At. 26:28). Os com entaristas discutem o verdadeiro lagos. Era, p o rta n to , bem m ais árido que outras
sentido dessas palavras. O texto é dúbio e pode reve- p ro v ín cias do im p ério ro m a n o . A estepe e o de-
lar tan to um a disposição para ser convertido com o serto eram realidades com uns p ara a m aio ria dos
um a ironia diante do prisioneiro. c o n te m p o râ n e o s de Jesus.
Havia, no entanto, um a precipitação m édia de A prim eira foi no poço de Jacó, onde ele se encon-
chuva suficiente para a agricultura, mas não para um a tro u com a m ulher sam aritana (Jo. 4:1-42). A segun-
realidade abundantem ente regada. Daí a consciência da, num dram ático discurso em Jerusalém , quando
bíblica do valor da água e das terríveis conseqüências m uitos queriam m atá-lo (Jo. 7:37-44).
da falta dela.
No encontro com a m ulher de Samaria, a expres-
Sua disponibilidade era garantida pelos poços e são aparece pela prim eira vez em João 4:10 e parece
nascentes, ou pela conservação da água da chuva em estar em pregada no seu sentido com um de água cor-
cisternas, piscinas, etanques. De fato, a arqueologia rente, m as no versículo 14 passa a significar a água da
descobriu um a quantidade considerável de complexas ״vida eterna”. Ao dizer que podia oferecer um a água
instalações hidráulicas para a canalização e arm azena- viva que saciaria para sem pre a sede de quem a bebes-
m ento de água nas diferentes m odalidades m encio- se, Jesus declarava ser o M essias. Som ente o M essias
nadas. Havia cisternas e poços públicos situados em poderia conceder essa dádiva que satisfaz a necessida-
diversas cidades: G uibeon (2 Sam. 2:12), H ebron (2 de existencial da alma hum ana.
Samuel 4:12), Sam aria (1 Rs. 22:38), Jerusalém (Isa.
A segunda ocorrência, no discurso em Jerusalém ,
7:3; 22,9:11; 36:2; Neem . 2:14).
não distancia m uito do sentido anterior, do contex-
U m grande n úm ero de lugares tin h a o nom e de to do diálogo com a m ulher sam aritana. Jesus aplica
algum a fonte que estivesse próxim a, sendo este fato mais um a vez a im agem da água a si m esm o, prom e-
indicado por m eio dos prefixos Ain e En. Fontes per- tendo que aqueles que bebessem dele, não som ente
pétuas, descritas com o nascentes de água viva, eram serão saciados, com o terão o privilégio de saciar a ou-
m uito apreciadas (Sal. 36:7 a 9; Isa. 49:10; Jr. 2:13; Joel tros (Jo. 7:37-39). Tal declaração ecoa a prom essa do
3:18; Zac. 13:1). Zacarias profetizara que um a fonte se A ntigo T estam ento de que o justo seria com o um a
abriria em Jerusalém , na qual podiam ser lavadas to- árvore plantada ju nto às águas correntes (lit. águas
das as im purezas da casa de Davi. vivas) que não se esgotam jam ais (Sal. 1:3 e je r . 17:8).
Com esse pano de fundo em m ente, é possível en- E ncontram os o “ai de...” com o advertência pública
tender as duas ocorrências em que Jesus usa em seus de C risto dirigida a pessoas que ele queria salvar, mas
ensinos a expressão “águas vivas”, para sim bolizar rea- pareciam reticentes à sua m ensagem e anestesiadas
lidades espirituais. Ambas estão no Evangelho de João. quanto ao juízo vindouro. Exemplos:
a) Luc. 6:24s (ai de vós, os ricos, pois fiaste-vos em nhecido. Esse é 0 nom e do pai de Levi M ateus, discí-
vossa riqueza...) pulo de Cristo, de acordo com M arcos 2:14 e M ateus
9:9. T am bém é o nom e do pai de Tiago (Mat. 10:3:
b) M at. 23:14 (ai de vós que devorais as casas das
M ar. 3:18; Luc. 6:15; Atos 1:13). Não se sabe ao certo
viúvas).
se se trata da m esm a pessoa, o que faria de Mateus
c) M at. 23:25 (ai de vós , escribas e fariseus, hipó- irm ão de Tiago, mas m uitos pensam que não.
critas...).
ALABASTRO
T am bém cham ado de espato acetinado é um nom e
dado a dois tipos de m inerais distintos: o gesso e o
caLuc.ite. O segundo é geralm ente o alabastro dos
tem pos bíblicos, encontrado principalm ente no Egi-
to, de onde era exportado para outras regiões, com o a
Judeia. Por ser um m ineral de baixa dureza, era facil-
m ente esculpido e torneado em to rn o s rudim entares
ou ainda polido.
U m dos prim eiros discípulos de Cristo, irm ão de T am bém existem certas passagens que conectam
Pedro, que se to rn o u um dos doze apóstolos (Mat. 10:2; a presença de anjos no m inistério de Jesus. U m anjo
M ar. 3:18; Luc. 6:14). De acordo com João 1:44, era dirigiu José e M aria p o r ocasião da geração e nasci-
natural de Betsaida e seu nom e significa “m asculino”, m ento de C risto (Mat. 1:20; 2:13, 19); anjos cantaram
“viril”, “principal”. Seu pai cham ava-se João, tam bém para celebrar sua chegada (Luc. 2:13); m inistraram
apelidado d e jo n a s (M at. 16:17; Jo. 1:42). em favor dele no m onte da tentação (M at. 4:11), ro la
ram a pedra de sua tum ba e proclam aram sua ressur- A R A M A IC O
reição (M at. 28:2, 5-7). Foram tam bém dois anjos que
se puseram diante dos discípulos após a ascensão de Língua sem ítica próxim a ao hebraico e que era o
Cristo e com unicaram que ele haveria de voltar (At. idiom a corrente dos judeus nos dias de Jesus. Suas
1:10 e 11). origens indicam que teria sido um a língua comercial
vinda do A ntigo O riente. M ais tarde, nos tem pos da
Jesus tam bém deu inform ações im portantes sobre
Assíria e Babilônia (1100-538 a.C.), o aram aico tor-
esses m isteriosos seres. Ele disse que os anjos são su-
nou-se um idiom a de correspondência diplomática.
periores e de natureza diferente dos seres hum anos
Os oficiais dom inavam o seu uso e recorriam a ela
(M at. 22:30; M ar. 12:25) e tam bém revelou que exis- quando necessitavam conversar entre si.
tem anjos m aus (Mat. 25:41). O utros ensinos de Cris-
to referentes aos anjos podem ser vistos em M ateus Em 701 a.C., durante o reinado de Ezequias, um ge-
13:41; 18:10; 22:30; 25:41; Lucas 15:10. neral assírio apareceu com sua comitiva fora dos mu-
ros de Jerusalém . Ao tentar conversar com os que esta-
vam no m uro, foi-lhe pedido que falasse em aramaico,
Literalente poder, influência, dom ínio. Pode ser As razões da escolha têm desafiado p o r séculos o
exercida de m aneiras distintas. A autoridade no m un- entendim ento cristão, principalm ente considerando a
do m ilitar é diferente da autoridade no m undo civil inform ação de que ele era alguém que fora “preso com
ou religioso. Pode ser positiva, com o a autoridade am otinadores, os quais em um tum ulto haviam come-
que vem de Deus ou negativa com o a autoridade de tido hom icídio” (Mar. 15:7; cf. Luc. 23:19). João 18:40
um ditador sanguinário. acrescenta que Barrabás era tam bém assaltante.
Ainda que os sentim entos da m ultidão sejam difí- BARTOLOMEU
ceis de avaliar, a visão conjunta dos evangelhos per-
m ite teorizar que Barrabás poderia ter sido um “fora L iteralm ente Filho de T o lo m eu ou Tolm ai; em
da lei”, envolvido em algum tipo de insurreição con- aram aico (Bar + T H O L + uh+ m yu). U m nom e rela-
tra os rom anos, um judeu zelota com o m uitos que tivam ente com um que aparece tam bém nos escritos
agiram na Judeia e Galileia durante os dias de Jesus. de Flávio Josefo.
Se assim for, a tática de Pilatos para soltar Jesus N ada se sabe porém sobre esse apóstolo de Cris-
talvez fosse tira r proveito do clima político que en- to. Ele apenas é m encionado nas listas contendo
0 nom e dos discípulos (M at. 10:3; M ar. 3:18; Luc.
volvia o pedido popular de crucifixão. Lem brando
6:14; At. 1:13). T radições tardias, porém , datadas a
que não era todo o povo judeu que queria sentenciar
p a rtir do Século IV d.C., n a rra m pretensas histórias
Jesus à m orte, mas um a tu rb a incitada pelos m em bros
a seu respeito com o atuando na organização da Igre-
do Sinédrio.
ja Prim itiva. A lgum as versões tam bém aparecem ,
P or isso, Lucas afirm a que Pilatos intentava liber- incluindo algum as form as de m artírio que suposta-
tar Jesus e a opção de apresentar Barrabás ao povo m en te ele teria sofrido. E n tre tan to , existem m uitos
tinha tudo a ver com isso (Luc. 23:20). Os anciãos e conflitos e n tre tais relatos, que to rn a essas n arrati-
principais sacerdotes haviam ameaçado Pilatos. Indi- vas pouco confiáveis.
retam ente o acusaram de estar contra Rom a, soltando Inclua-se nisso as m enções a um certo evangelho
um hom em - Jesus - que se dizia rei no lugar de César de B artolom eu que havia se perdido. M uitos pensam
(Jo. 19:12). Pilatos, po rtan to , apresenta um verdadei- que este seria o m esm o texto cham ado de Q uestões de
ro inim igo do im perador, o insurgente Barrabás, de- Bartolom eu ou a Ressurreição de Cristo, ou m esm o
volvendo o dilema ao povo. Se escolhessem soltar um um terceiro livro distinto dos dois.
líder rebelde declarado, eles, sim, estariam assinando
A p artir do século IX, outras tradições surgiram
sua sentença perante César.
procurando identificar B artolom eu com o sendo o
M as, para surpresa do governador rom ano, o Natanael, que aparece ao lado de Felipe, no Evan-
povo escolheu Barrabás (Mat. 27:24-26; M ar. 15:14 gelho de João 1:43-5. Essa sugestão é levantada pelo
e 15; Luc. 23:24 e 24). M arcos 15:11, porém , explica fato de que os evangelhos sinóticos m encionam Fili-
que o estranho com portam ento foi um a incitação fei- pe e B artolom eu, onde o Evangelho de João m encio-
na Filipe e Natanael, além de João nunca m encionar
ta pelos principais sacerdotes de Jerusalém . Não era,
B artolom eu en tre os 12. Apesar de parecer lógica, a
po rtan to , um a legítim a vontade popular.
evidência não é conclusiva.
U m a curiosidade quanto à grafia do nom e de Bar-
V oltando, pois às referências bíblicas, é curioso o
rabás fica p o r conta de alguns poucos m anuscritos
fato de B artolom eu ser sem pre m encionado nas listas
com o o Y, teta e o C, que trazem a variante “Jesus
após Filipe. Em virtude disso, alguns acreditam que
B arrabás”, para M ateus 27:16, enquanto quase a to-
havia um agrupam ento quádruplo dos discípulos que
talidade dos m anuscritos unciais e a m aioria dos m i-
trabalhavam em duplas. De acordo com essa possibi-
núsculos trazem sim plesm ente “Barrabás”. O escri- lidade, então B artolom eu e Filipe eram com panhei-
to r O rígenes rejeitou a v arian te “Jesus B arrabás” em ros no segundo grupo, liderado p o r Filipe.
defesa da sim ples form a “B arrabás”, justificando que
o nom e “Jesus” não podia ser aplicado a alguém que BATISMO
praticasse o mal. Em bora esse argum ento seja de pe-
queno valor histórico, tudo indica que o nom e Jesus C erim ônia de iniciação, com raízes judaicas, pra-
Barrabás talvez foi um erro de copistas e não fazia ticada até hoje em, praticam ente, todos os ram os do
parte original do Evangelho de M ateus. cristianism o. C ontudo, seu significado teológico e a
form a de realizá-lo têm sido interpretados de diferen- As diferenças, contudo, resum em -se ao fato de que o
tes m odos ao longo da história. batismo de João já não figurava um a cerim ônia de pu-
rificação pessoal do religioso, mas a admissão pública
U m apanhado bíblico que rem ete aos tem pos an- de arrependim ento e reconciliação com as leis de Deus.
teriores ao Novo T estam ento perm ite perceber que a
preocupação com lim pezas cerim oniais, envolvendo Foi surpreendente, pois, que Jesus, o M essias,
água, já era evidenciada desde os dias de M oisés (ca. viesse para ser batizado p o r João. Ele m esm o se sur-
de 1450 a.C.). Textos com o Êxodo 30:17-21; Levítico preendeu com a atitude de Cristo. O episódio, porém ,
11:25 e N úm eros 19:17 são exem plos disso. segundo a p rópria explicação do Senhor, era necessá-
rio para fazer "cum prir toda justiça” (M at. 3:13-16).
Q uando os eruditos judeus que editaram a Septu- Assim, pois, João concordou em fazê-lo.
aginta - versão helenística das Escrituras - passaram
essas passagens para o grego, resolveram traduzir os Saindo Jesus logo da água, o Espírito Santo apa-
banhos de purificação pela palavra baptismos ou na receu com o pom ba e a voz do Pai no céu confirm ou
form a verbal baptizô, que seriam equivalentes aos ter- o m inistério de seu Filho. Os eventos seguintes do
m os batism o e batizar. deserto e o Serm ão da M o n tan h a (segundo a sequên-
cia de M ateus) conectam -se com o inaugurados po r
Essa prática de purificação se intensificou nos essa cerim ônia. O Espírito Santo havia ungido a Jesus
dias que antecedem o m in istério de Jesus. Sua evi- com o o M essias de Israel (cf. M ar. 1:9-11; Luc. 3:21-
dência está confirm ada p o r achados arqueológicos 23; Jo. 1:32 e 33).
de vários tanques de purificação - tan to públicos
Seguindo trajetória parecida com o m ovim ento
quanto privados - espalhados em to d o o te rritó rio
de João Batista, os prim eiros adeptos de Jesus C risto
judeu. N ão som ente em Jerusalém , m as em toda a
tam bém eram batizados. C ontudo, um a leitura atenta
Galileia e até na com unidade de Q um ran, que pro -
do Evangelho de João 3:22 e 4:1-2 deixa explícito que
duziu os m anuscritos do M ar M o rto , tanques de
Jesus m esm o não realizava a cerim ônia, mas delega-
im ersão foram encontrados.
va-a a seus discípulos.
M ikveh é o nom e hebraico que se dá para os tan-
M uitos questionam o porquê de Jesus não realizar
ques de purificação e tevilah, a cerim ônia de im ersão
diretam ente os batismos. U m a explicação possível se-
com pleta nas águas. A prática, ao que tudo indica, era
ria que se tratava do cum prim ento de um a expectativa
diária, em bora tam bém pudesse ser um rito de inicia-
messiânica. De acordo com M ateus 2:11 e jo ã o 1:33, a
ção do judaísm o.
função do Messias não era batizar as pessoas com água,
O contato inevitável com coisas im undas dem an- mas com o Espírito Santo e com o fogo. Por isso Jesus,
dava a prática freqüente, a fim de que o religioso não em bora não realizasse o rito, soprou seu fôlego sobre
estivesse contam inado no m om ento de se apresen- os discípulos, dizendo-lhes que recebessem o Espírito
tar diante de Deus num recinto sagrado. Por isso, de Santo 0o. 20:22). Mais tarde, no Pentecostes, os mes-
acordo com as leis rabínicas, a água do tanque tinha mos discípulos tiveram a confirmação desse batismo,
de ser corrente (lit. águas vivas). Tubulações encon- evidenciada com atos de poder e a presença de línguas
tradas em diferentes tanques dem onstram que real- com o de fogo vindo sobre cada um deles (At. 2:3).
m ente era assim que o ritual era realizado. Após esse episódio, a Igreja passa consistentem ente
a praticar esse rito, à m edida que aum enta o núm ero de
A prática de João Batista em realizar batism os no
seguidores de Cristo. Agora, porém , um novo signifi-
rio Jordão ou n u m lugar abastecido p o r suas águas
cado é agregado à cerimônia: o batism o era em nom e
está de acordo com a exigência das águas correntes
de Jesus, para a remissão de pecados e recebim ento do
(Mat. 3:6; M ar. 1:5). Do m esm o m odo, considerando
Espírito Santo (At. 2:38. Cf. I Cor. 1:13-17).
que o batism o judeu envolvia um a im ersão do indiví-
duo nas águas, João provavelm ente seguiu esse m o- Assim, quando o Novo T estam ento m enciona o
delo ao batizar seus novos discípulos. "batism o de João”, está indicando um a m ensagem de
expectativa da chegada do M essias. C um prida, porém , lugarejo simples te r sido o local do nascim ento c :
esta parte da história, os discípulos - após a m orte e M essias conform e a profecia de M iqueias 5:2.
ressurreição de Jesus - dão ao batism o 0 sím bolo de
No século II d.C., o im perador de Rom a, Adrianc
m orte e ressurreição com Cristo para um a nova vida
plantou um bosque idolátrico no sítio nas red o n d eza
de com unhão com Deus.
da cidade e, m ais tarde, Helena, m ãe do im perador
C onstantino, ediíicou um a igreja ali para dem arcar
BELÉM o suposto local do nascim ento de Jesus. Essa igre .
acha-se hoje circundada po r três conventos, perten-
centes às igrejas grega, latina e arm ênia.
BELZEBU
N om e de divindade pagã ligada a Baal. Alguns
pensam que seria um a form a jocosa de se referir à di-
vindade pagã. N o original aram aico, Bee + El + zay -
bu significaria “senhor das m oscas” ou “senhor da ca$i
[de dem ônios]”.
BETÂNIA
L iteralm ente “Casa das T âm aras”, mas há quem
BETSAIDA sugira que o sentido podia ser “Casa dos figos verdes’
e, p o r extensão, “Casa da Aflição” (do hebraico beit-
U m a vila de pescadores localizada às m argens do -teenah). Seja com o for, os evangelhos parecem fazer
M ar da Galileia, próxim a onde o rio Jordão deságua referência a dois lugares distintos com esse nom e.
nas águas do grande lago (Jo. 12:21). Seu nom e sig-
O prim eiro, mais conhecido, é aquele que a identi-
nifica “Casa da Pesca” e ela é m encionada tanto nos
fica com o local da casa de M aria, M arta e Lázaro, três
quatro evangelhos quanto pelo historiador rom ano
irm ãos que se to rn aram amigos amados de Jesus (Luc.
Flávio Josefo, segundo o qual, a cidade de Betsaida foi
10:38). Ali Jesus descansava quando estava na região
reconstruída pelo tetrarca Filipe e cham ada de Júlias,
da Judeia e num a ocasião, p erto de sua p rópria m orte
em hom enagem à filha de César A ugusto2.
ele realizou o m ilagre da ressurreição de Lázaro (Jo.
Ali ocorrerem im portantes fatos relacionados à vida 11:1; 38-44). Próxim o à casa de seus amigos, ficava a
de Jesus Cristo. Betsaida foi a terra natal de três dos 12 residência de Simão, o leproso (Mat. 26.6), em com-
Apóstolos, a saber: Pedro, A ndré e Filipe. O próprio panhia do qual Jesus foi ungido p o r M aria durante
Jesus visitou o vilarejo e realizou vários milagres ali. um a ceia (Mat. 26:6-13; M ar. 14:3-9; Jo. 12:2-8).
(Mar. 8:22-26; Luc. 9:10). Foi tam bém para Betsaida
D e Betânia Jesus, envia seus discípulos a um lugar
que, após a m orte de João Batista, Jesus retirou-se, jun-
próxim o para buscar o jum entinho no qual ele have-
tam ente com seus discípulos, e, num lugar próxim o,
ria de m o n tar e e n tra r em Jerusalém aclamado como
proveu m iraculosam ente alim ento a mais de de 5.000
rei em cum prim ento à profecia de Zacarias 9:9 (cf.
pessoas que se haviam ajuntado para ouvi-lo. (Luc.
M arcos 11:1). Recebido com louvor pela m ultidão de
9:10-17; M at. 14:13-21; Jo. 6:10.) Fora de Ali tam bém
seguidores, ele chega ao T em plo e de lá reto rn a com
ele restaurou a vista a um cego. (Mar. 8:22).
os discípulos para Betânia. Ali ele descansou de noite,
Visto que tais obras poderosas foram feitas na sua na sem ana an terio r à sua crucificação, e ai se realizou
vizinhança, o povo de Betsaida, em geral, ju n to com a sua ascensão aos céus (Mat. 21:17 e Luc. 24:50).
a população de C orazim , veio a m erecer censura po r
O segundo lugar cham ado Betânia estaria do ou-
causa da sua atitude im penitente (Luc. 10:13).
tro lado do Jordão. Ele é m encionado apenas uma
Por quase dois m ilênios, a localização de Betsaida vez no Evangelho de João 1:28. Ali era onde João re-
perm aneceu um m istério. V ários sítios já foram iden- alizava seus batism os e, ao que tudo indica, o lugar
tificados com o lugar e depois abandonados. Desde o onde o próp rio Jesus foi batizado. Pensando se tra-
século IV d.C., peregrinos ten taram em vão desco tar de um a confusão de nom es, O rígenes, no terceiro
século, substituiu o nom e Betânia p o r Betabara, e a sobre o lugar que devem os p ro cu rar ocupar duran-
versão Trinitariana seguiu nesta direção. C ontudo, os te um a festa de casam ento (Luc. 14:8-11). U m caso
m elhores m anuscritos gregos trazem Betânia, pelo bastante especial é a referência de Jesus a dez virgens
que parece que realm ente havia dois lugares com o que participariam de um processual de casam ento,
m esm o nom e. mas cinco perdem a oportunidade p o r seu descuido
em não p rover óleo suficiente para a espera do noivo
A tualm ente a prim eira Betânia, lar de M aria, M ar-
(Mat. 25:1-13).
ta e Lázaro, é identificada com a pequena aldeia de
el-'A zariyeh (El 'Eizariya), nom e árabe que significa
c
“o Lugar de Lázaro”, situada a 2,5 km da cidade velha
de Jerusalém . Já a segunda Betânia, dalém do Jordão,
ainda não teve seu lugar definido, mas presum e-se que
seria algum sítio um pouco ao sul do M ar da Galileia.
BARJONAS
CAIFÁS
Patroním ico de Pedro (M at. 16:17; Jo. 1:42) por-
que o nom e do seu pai era Jonas. O sobrenom e na Sum o sacerdote contem porâneo de Jesus que ficou
antiguidade judaica é o nom e do pai. Pedro foi o ape- oficialm ente no posto p o r m uitos anos, a p artir do
ano 18 até p o r volta do ano 36 quando foi deposto
lido que Jesus deu ao seu discípulo mas seu nom es era
Simão filho de Jonas. po r Vitélio. Seu nom e com pleto seria José Bar Cai-
fás e ele provavelm ente subiu ao poder p o r m eio de
jogos políticos e um casam ento arranjado com a filha
BODAS de Anás, sum o sacerdote que o antecedeu no poder.
A palavra bodas, assim sem pre no plural, vem do Citado várias vezes no N ovo T estam ento era um
latim V O TA , plural de V O T O , e significa “jura, pro- hom em de caráter bem duvidoso (M at. 26:3; 26:57;
messa, garantia”. É um term o, hoje não tan to utili- Luc. 3:2; 11:49; 18:13-14; Jo. 18:24-28 e At. 4:6). Cai-
zado, para referir-se à cerim ônia de casam ento em fás era o sum o sacerdote quando Jesus foi condenado
português. No original grego do Novo T estam ento, a m o rre r na cruz e peça chave na sua condenação ao
o term o é GAM OS, que possui o m esm o significado. provocar Pilatos para que o sentenciasse à m orte de
cruz. Ele tam bém era presidente do Sinédrio - o su-
Não existem m uitas inform ações diretas sobre prem o tribunal dos judeus.
com o era cada detalhe de um a cerim ônia de casam en-
to no tem po de Jesus. M esm o nas páginas do A ntigo A fonte literária mais confiável sobre sua vida é a
T estam ento, a cerim ônia m atrim onial propriam ente obra Antiguidades dos Judeus, com posta pelo historia-
dita só é m encionada na história de Sansão. dor do século I, Flávio Josefo.
E verdade, contudo, que o Evangelho de João De acordo com a Bíblia, Jesus foi preso pela guarda
conta as “Bodas de Canã com o sendo o contexto do do T em plo de Jerusalém e foi levado diante de Caifás,
prim eiro m ilagre de Cristo (Jo. 2:1-2). No mais as re- que o in terrogou e lhe acusou de blasfêmia, porém ,
com o o Sinédrio não tin h a autoridade para senten-
ferências de Jesus à cerim ônia de casam ento, usadas
ciar pessoas à m orte, Cristo foi levado para o gover-
sem pre com o m etáfora de realidades espirituais, se-
n ador rom ano Pôncio Pilatos, que teria o poder de
riam: a m enção profética de Jesus sobre a alegria de
realizar tal sentença.
se estar com o noivo antes de sua partida (M at. 9:15;
M ar. 2:19; Luc. 5:34); a indicação de que os anjos do Caifás, sabia que para os líderes judeus do período,
céu não se casam (Mat. 22:30; M ar. 12:25; Luc. 20:34- existiam preocupações sérias sobre o dom ínio dos ro-
35); a referência profética de N oé quanto à vida coti- m anos, e que essa m esm a liderança judaica via com te-
diana no tem po do fim (M at. 24:38; Luc. 17:27); a ad- m or qualquer reform ista ou líder religioso que pudesse
vertência quanto à vigilância (Luc. 12:36) e o ensino vir a negar-lhes sua própria legitimidade de governar.
Os rom anos, p o r sua vez, não aplicavam penas de da Vulgata, adota-se o term o latino Calvário, que é
m orte a violações da lei judaica e, po rtan to , a acusa- empregado como nom e próprio, “o lugar que se chama
ção de blasfêmia não faria qualquer diferença para Pi- Calvário”. E é este o nom e pelo qual é mais conhecido
latos. Caifás então ten to u convencer Pilatos que Jesus em português o local da crucificação de Jesus Cristo.
era um a ameaça para a estabilidade rom ana, culpado
não só de blasfêmia, pois este se proclam ava rei dos CANÁ DA GALILEIA
judeus e teria que m o rre r para evitar um a rebelião.
Para isso chegou a fom entar certa agitação populacio- Cidade, ou vila, notável pelo fato de ter sido ah
nal (possivelm ente pessoas com pradas) que agitadas que se operou o prim eiro m ilagre de Jesus Cristo (Jo.
diante do palácio de Pilatos exigiam a crucifixão de 2:1 a 11; 4:46), realizando o Salvador, m ais tarde, no
Jesus Cristo. m esm o lugar, outro sinal m aravilhoso (Jo. 4:54). Era.
tam bém , a terra natal do apóstolo N atanael (Jo. 21:2).
Logrado o desejo de m atar Jesus de Nazaré, Cai-
N enhum a dessas passagens, porém , perm item indi-
fás continuou ativo, perseguindo os seus seguidores,
car de um a m aneira precisa a localização precisa do
conform e m encionado no livro de Atos 4.
antigo assentam ento. O que se pode dizer, a p artir da
Em 1990, nos arredores da atual Jerusalém , foram Bíblia, é que aquela povoação não ficava m uito longe
descobertos 12 ossuários num a sepultura fam iliar de de C afarnaum (Jo. 2:12; 4:46).
um certo “Caifás”. U m dos ossuários estava inscrito
Não se sabe ao certo o local exato de sua antiga
com o nom e com pleto, em aramaico: “José, filho de
Caifás”, o m esm o nom e que Flávio Josefo atribui a localização. C ontudo, intervenções arqueológicas re-
Caifás. O utro ossuário tinha apenas o sobrenom e centes tendem mais a identificá-la com C urbete Caná.
que fica 10 km ao n o rte de Nazaré, e não mais com as
“Caifás”. C onsiderando a sem elhança dos nom es e a
datação do artefato que coincide com o século I d.C., ruínas de Q ueque Q uená, que fica 5 km ao nordeste
de Cafarnaum .
os restos m ortais contidos nesse recipiente bem po-
deriam ser os m esm os do personagem m encionado
nos evangelhos. Após serem exam inados, os ossos fo- CENTUR1ÃO
ram enterrados novam ente no M onte das Oliveiras.
Era um oficial do exército rom ano, o sexto na ca-
CALVÁRIO (GÓLGOTA) deia de com ando de um a legião. L iteralm ente o nom e
significa “aquele que com anda sobre cem ”, isto é, um a
centúria de hom ens. Assim, espalhados p o r todo ter-
Palavra que vem do latim calvarium, que significa
ritó rio do im pério rom ano, os centuriões com anda-
calvo, careca ou crânio. Aliás, é daí que nos veio a
vam grupos de 60 até 100 soldados, m antendo a or-
palavra calvo. E um a tradução do aram aico/hebraico
gólgota, ou gulgathan, que provavelm ente significa dem , garantido o pagam ento de im postos e prestando
serviços nas províncias, tendo com frequência com-
',colina arredondada” e designava um lugar nos arre-
petências judiciais ou m esm o adm inistrativas.
dores de Jerusalém onde Jesus foi crucificado.
Há quem pense que 0 nom e tem algo a ver com o Devido ao fato de, na m aioria das vezes, as legiões
form ato da colina que seria sem elhante a um a caveira. estarem distantes da pátria, os centuriões eram esco-
M as não há n enhum a fonte contem porânea aos tem - lhidos pelas suas capacidades de com ando e pela pron-
pos de C risto que confirm e a exatidão dessa hipótese. tidão em lutarem até à m orte. Dessa form a conseguiam
conquistar vitórias contra inim igos em núm eros bem
Três dos evangelistas conservam o nom e aramaico superiores, em territórios hostis onde era p o r vezes di-
do lugar que seria, Gólgota (a caveira), e acrescentam fícil de receberem reforços, ao contrário do inimigo.
a interpretação - L ugar da Caveira” (Mat. 27:33; M ar. Suas ordens eram prontam ente obedecidas pelos ho-
15:22; Jo. 19:17). Lucas om ite isto, e mais sim plesm ente m ens que lideravam, inclusive na rápida execução de
diz: “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali um a qualquer form ação m ilitar. Era deles a responsa-
o crucificaram” (Luc. 23:33). Na Vulgata, e traduções bilidade pela disciplina e instrução dos legionários.
A figura do centurião aparece com frequência nos côvado m edia aproxim adam ente 45 centím etros, po-
evangelhos em diferentes encontros com Cristo. Os rém essa m edida variava de região para região.
dois episódios mais famosos são a cura de um servo do
Ela aparece no discurso de Jesus com o um a inda-
centurião que m orava em Cafarnaum e ao m om ento
gação retórica: “Qual de vocês poderá, com toda preocupa-
da cruz em que um dos centuriões presentes reconhe-
ção, acrescentar mesmo um côvado à sua estatura?” (Mat.
ceu Cristo como o “Filho de Deus” (Mat. 8:5; 8.13; Luc.
6:27; Luc. 12:25). A pergunta de Cristo denota um a
7:2-6; M at. 27:54; M ar. 15:39-44; Luc. 23:47).
expressão figurada para indicar que m esm o que o ser
h um ano se preocupe o tan to quanto quiser, não será
capaz de acrescentar um a única m edida à duração de
sua vida, ou seja, nem um dia sequer de adiantam ento
do tem po ou acréscim o na expectativa de vida.
CÉSAR
CÉSAR (AUGUSTO)
Im perador rom ano (63 a.C .-14 d.C.). Sob seu go-
verno, R om a se firm ou com o um poderoso im pério
CÔVADO e teve um enorm e crescim ento cultural e comercial.
Foi tam bém durante seu reinado que expediram -se
U n id ad e de m ed id a que era a m p la m e n te u ti- vários censos, um deles m encionado no Evangelho de
iizada n o a n tig o O rien te M édio. G eralm ente o Lucas e relacionado ao nascim ento d ejesu s (Luc. 2:1).
O m encionado censo, com o todas as operações C ID A D E D E D A V I
dessa natureza, consistia em inscrever em registro
público o nom e, a idade, a profissão, a fortuna, os fi- Expressão que aparece no Evangelho de Lucas
lhos dos cabeças das famílias de um a com arca, cuja 2:11, referindo-se a Belém, cidade de origem do re:
intenção, na m aioria das vezes, era contabilizar a ar- Davi. C ontudo, o m esm o nom e tam bém fora dado a
recadação de im postos, evitando a sonegação fiscal no algum setor urbano de Jerusalem , que foi conquistada
territó rio do im pério. p o r Davi e transform ada em sua m orada (2Sm 5.6-9 .
O decreto estabelecido por César Augusto, o primei-
ro im perador rom ano, alcançava, conforme 0 propósito CÂNO N DO NO VO
dele, todos os territórios que fizessem parte das pro- TESTAMENTO
víncias romanas, reinos subjugados ou aliados, que de-
pendiam do imenso e potente império, designado pela C onjunto de 27 livros do N T que a igreja cristã
hiperbólica expressão de toda a população do império. reconhece com o genuínos e inspirados. O cânon do
Esse recenseam ento é um dos problem as mais difí- N T é igual para evangélicos e católicos. N o princípio
ceis de resolver no N T e m uito já foi escrito sobre ele. alguns livros foram aceitos com certa reserva, mas no
N enhum outro h istoriador daquela época m enciona final do quarto século o cânon atual já era aceito em
isso, mas a habitual fidelidade de Lucas é suficiente quase toda parte.
garantia de sua veracidade, tanto neste p o n to com o
em todos os outros. CLÉOFAS OU CLOPAS
CESAREIA DE FELIPE Esposo da M aria que estava aos pés da cruz com
a m ãe de Jesus (Jo. 19:25). Alguns sugerem que ele
Cidade pagã, construída ou am pliada p o r Herodes teria sido irm ão de José, esposo de M aria, m ãe de Je-
Filipe nas cabeceiras do rio Jordão. Perto dessa cida- sus; isto é, tio de Jesus. Talvez seria distinto do outro
de, Pedro confessou que Jesus era o M essias esperado Cléofas, um dos discípulos de Em aús (Luc. 24:8).
(Mat. 16:13-20).
C R IS T O
CIRCUNCISÃO
O term o de origem grega significa “ungido’e tra-
C erim ônia judaica para retirar cirurgicam ente o duz o term o hebraico “M essias”. Os sum os sacerdotes
prepúcio, p o r razões higiênicas e /o u religiosas. T ra- (Lev. 4:3-16; 6:15) e os reis de Israel (ISm . 12:3-5;
ta-se de um rito celebrado há m ilênios no judaísm o 24,7.11) eram cham ados “ungidos”. Os discípulos de
com o sinal de inclusão do indivíduo na com unidade Jesus deram -lhe o nom e de “C risto” (Ungido), re-
dos descendentes de Abraão. conhecendo-o com o o M essias prom etido (Jo. 1:41;
4:25; M at. 16:16).
Jesus foi circuncidado no oitavo dia, depois do nas-
cim ento, conform e a prática observada desde os dias
do A ntigo T estam ento (Gên. 17:12). Desde Abraão, C O R D E IR O
quando o rito foi estabelecido até os dias de hoje, a
circuncisão é praticada com o um sím bolo da aliança Filhote ainda novo da ovelha; carneirinho. Sua
estabelecida entre Deus e Abraão, extensiva aos seus carne servia de alim ento e era usada nos sacrifícios ju-
descendentes. A razão pela qual Jesus foi subm etido daicos conform e a orientação divina (Ex. 29:39). João,
a esse rito é um a dem onstração indelével de que ele percebendo, pela ilum inação do Espírito, o sentido ti-
pertencia a um a família de judeus praticantes e como pológico do ritual do santuário no m inistério de Cris-
tal exerceu todas as prescrições judaicas de seu tem po. to, apontou para ele, cham ando-o de o “C ordeiro de
(Luc. 2:21,23). Deus, que tira o pecado do m undo” (Jo. 1:29).
codem os (obra apócrifa, produzida no período pós-
DECÁPOLIS (DECÁPOLE)
c ׳
população, o caráter gentílico tam bém se to rn a claro,
um a vez que os judeus não criavam porcos, pois a lei
m osaica os considerava anim ais im puros.
— r ——*־־־־־η -------™״τητπιι.................... inuniinrn · — ~Μτ11Γ1πτηΓτπ1·ηί1· · ι ^ ι τ ־ί · · · 1Η1ιι1 · ־ι· ιι ιι · ι 1ί 1111111■ ■1■ .................... .................................... 11
INFERNO
HINOM
Castigo em que os perdidos estarão eternam ente se-
Vale situado a sudoeste de Jerusalém , en tre a es-
parados de Deus (Mat. 18:8-9; 25:46; Luc. 16:19-31; 2Pe.
trada que vai para Belém e a que vai para o M ar M or-
2:4; Ap. 20:14). “Inferno”, no N T, traduz as palavras ha-
to. Estava na divisa entre Judá e Benjam im (Js. 15:8).
des (uma vez) e geena (v. HINOM).
Ali se queim avam crianças no culto a M O LO Q U E
(2Rs. 23:10). M ais tarde era lugar onde se queim ava
lixo. Geena é a form a grega do hebraico ge-hinom, que
INRI
quer dizer “vale de H inom ”.
Em m eio à crucificação, foi colocada um a placa,
um a espécie de letreiro, bem em cim a da cruz, com
alguns dizeres em três línguas (hebraico, latim e ara-
?
maico): “Muitos judeus leram este título (...) e estava escri-
to em hebraico, latim e grego." (]o. 19:20)
JO Ã O
JERICO
O apóstolo, irm ão de Tiago, o “G rande” (Mat.
Cidade do Novo T estam ento em que Jesus realizou 4:21; M at 10:2; M ar. 1:19; M ar. 3:17; M ar. 10:35).
a cura do cego Bartim eu e recuperou um publicando Era um dos filhos de Zebedeu (M at. 4:21) e de Salo-
chamado Zaqueu (Mat. 20:29 - M ar. 10:46 a 52; Luc. m é (Mat. 27:56; comp. M ar. 15:40), provavelm ente o
18:35; 19:1 a 10). Não deve ser confundida com a Jeri- m ais novo, tendo nascido em Betsaida.
có do Antigo T estam ento destruída nos dias de Josué.
O seu pai era, aparentem ente, um hom em rico
Sobre a prim eira caiu um a maldição divina que senten-
(comp. M ar. 1:20; Luc. 5:3; Jo. 19:27). Ele foi, sem dú-
ciaria qualquer um que tentasse reedificar “esta cidade
vida, treinado em tudo o que constituía a vulgar edu-
de Jericó” (Js. 6:26). A condenação caiu, quinhentos
cação destinada aos jovens judeus. Q uando cresceu,
anos mais tarde, sobre Hiel, de Betei (1 Rs. 16:34).
seguiu a profissão de pescador, no lago da Galileia.
A Jericó dos tem pos de Jesus foi reconstruída po r Q uando João Batista com eçou o seu m inistério no
Herodes e se localizava a m ais de 1,6 km para o sul da deserto da Judeia, João, com m uitos outros, ju ntou-
Jericó do A ntigo T estam ento, era a segunda cidade -se a ele e foi profundam ente influenciado pelos seus
d a ju d e ia e abrigava o palácio do rei onde João Batista ensinos. Aí ele ouviu o anúncio “Eis o C ordeiro de
foi preso e decapitado. H ouve um tem po em que Jeri- D eus” e, im ediatam ente, a convite de Jesus, torn o u -se
có fizera parte da propriedade de C leópatra e lhe fora um discípulo, sendo contado entre os seus seguidores
dada com o presente de M arco A ntônio. M ais tarde (Jo. 1:36, 37) durante algum tem po. Ele e o seu irm ão
foi arrendada a H erodes, o G rande, que ali construiu voltaram , então, para a sua ocupação durante m ais al
gum tem po. Jesus cham ou-os novam ente (Mat. 4:21; Assim, em bora tivesse sido consagrado antes do seu
Luc. 5:1-11) e dessa vez eles deixam tudo, ligando-se nascim ento à missão de pregar e ensinar (Luc. 1:13 a
perm anentem ente à com panhia dos seus discípulos. 15), ele só deu início à sua obra quando chegou à ida-
de adulta, depois de ter passado vários anos isolado,
Fez parte do circulo mais íntim o de Jesus (Mat.
vivendo em abnegação. Há quem pense que ele se fi-
5:37; M at. 13:3; M at. 17:1; M at. 26:37). Ele foi o dis-
liou por um tem po à com unidade dos essênios, o que
cipulo amado. Pelo seu zelo e intensidade de carácter,
é possível, mas ainda que assim seja, se distanciou dela
foi cham ado “Boanerges” (M ar. 3:17). M as este espí-
quando iniciou seu m inistério junto ao rio Jordão.
rito foi dom ado (M at. 20:20-24; M ar. 10:35). Q uando
da traição de Jesus, ele e Pedro seguiram C risto de A m aneira com o João Batista apareceu pregando
longe, enquanto os outros fugiram apressadam ente cham ou a atenção de toda a gente. O seu vestido era
(Jo. 18:15). No julgam ento, seguiu C risto até a câ- feito de pelos de camelo, e ele andava cingido de um
m ara do concilio e depois até o pretó rio (Jo. 18:16, cinto de couro, sendo a alim entação do notável pre-
19, 28), indo tam bém até o lugar da crucificação (Jo. gador o que encontrava no deserto, gafanhotos e m el
19:26, 27). E a ele e a Pedro que M aria dá prim eiro as silvestre (Lv. 11:22 - Sl. 81:16 - M at. 3:4). O m inisté-
novas da ressureição (Jo. 20:2), e são eles os prim eiros rio de João com eçou “no deserto d a ju d e ia ” (Mat. 3:1;
a ver o que tudo aquilo significava. M ar. 1:4; Luc. 3:3; Jo. 1:6 a 28).
Após a ressureição, ele e Pedro voltam ao M ar da Ele pregava o arrependim ento e a vinda do reino
Galileia, onde o Senhor se lhes revelou (Jo. 21:1, 7). dos céus, e todo o país parecia ser m ovido pela sua
Após esses acontecim entos, vem os Pedro e João fre- palavra, pois vinham te r com ele as m ultidões para
quentem ente juntos (Jo 3:1; 4:13). A parentem ente, receberem 0 batism o (Mat. 3:5 e M ar. 1. S). Em ter-
João perm aneceu em Jerusalém como líder da igreja aí m os enérgicos censurou a falsa vida religiosa dos fari-
estabelecida (At. 15:6; Gl. 2:9). A sua história subse- seus e saduceus que se aproxim avam dele (Mat. 3:7),
quente não está registada. Ele não estava em Jerusa- avisando, tam bém , outras classes da sociedade (Luc.
lém, contudo, no m om ento da últim a visita de Paulo 3:7 a 14). Cham ava a atenção dos ouvintes para Jesus
(At. 21:15-40). Parece que se tinha retirado para Éfeso, C risto, o C ordeiro de Deus (Luc. 3:15 a 17 - Jo. 1:29
mas não sabemos em que altura. As sete igrejas da Ásia a 31), a quem batizou (M at. 3:13 a 17). O povo quis
foram objeto do seu especial cuidado (Ap. 1:11). So- saber se João era o Cristo prom etido (Luc. 3:15) - mas
freu perseguições e foi preso em Patm os (Ap. 1:9), de ele categoricam ente asseverou que não era (Jo. 1:20).
onde voltou para Éfeso. Aí m orreu provavelm ente em
A im portância do m inistério de João acha-se cia-
98 d.C., tendo sobrevivido a todos ou quase todos os
ram ente indicada nas referências de Jesus C risto e
amigos e com panheiros, m esm o os dos seus anos mais
dos apóstolos ao caráter e à obra notável do prega-
m aduros. Existem m uitas tradições interessantes sobre
dor. Depois de responder aos m ensageiros de João
João, enquanto ele viveu em Éfeso, m as a nenhum a se
(M at. 11:2 a 6; Luc. 7:19 a 23), falou Jesus às m ui-
pode atribuir um caráter de verdade histórica.
tidões sobre o caráter e m issão do Batista, declaran-
do: “E ntre os nascidos de m ulher, ninguém apareceu
JOÃO BATISTA m aior do que João Batista” (M at. 11:7 a l l ; Luc. 7:24
a 28). M ais tarde foi p o r Jesus, de um m odo preci-
Precursor de Cristo. Sua vinda fora profetizada por
so, identificado com o prom etido Elias (Mat. 17:10 a
Isaías 40:3 e Malaquias 4:5 (cf. Mat. 11:14). Seu nasci-
13; M ar. 9:11 a 13) - e tam bém o batism o de João foi
m ento tam bém foi anunciado a seus idosos pais por “um
assunto de que Jesus se serviu para discutir com “os
anjo do Senhor” (Luc. 1.5 a 23). Seu pai Zacarias era sa-
principais sacerdotes e os anciãos do povo”, colocan-
cerdote, e sua mãe Isabel “era um a das filhas de Arão”.
do-os em dificuldades (M at. 21:23 a 27) - e, pelo fato
Q uanto à sua infância, apenas se sabe que João Ba- de estes judeus rejeitarem o apelo de João, fez-lhes
tista “crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos sen tir o Salvador a sua responsabilidade (M at. 21:32).
desertos até o dia em que havia de m anifestar-se a Is- O batism o de João foi lem brado po r Jesus depois da
rael” (Luc. 1:80). sua ressurreição (At. 1:5) - a ele se referiu tam bém
Pedro (At. 1:22; 10:37 11:16 )־, e o apóstolo Paulo O utra possibilidade é que Iscariotes fosse usado
(At. 13:24,25). Apoio conhecia som ente o “batism o como apelido, em hebraico ish Qeryoth, que significa
de João” (At. 18:25), e m aior conhecim ento não havia hom em de Queriote. (Jo. 6:71; 13:26) Tam bém , podia
em certos discípulos de Efeso (At. 19:1 a 4). ser designado filho/descendente/natural de Queriote.
Queriote - de acordo com a interpretação inicialmen-
O m inistério corajoso de João parece ter alarm ado
te veiculada por São Jerônim o - seria o nom e simpli-
H erodes, o tetrarca da Galileia, que, segundo conta
ficado da aldeia, ou mais provavelm ente um conjunto
Josefo3, 0 considerava com o dem agogo e pessoa pe- de aldeias, de Q ueriote-Ezron (Jos. 15:21) - nom e que
rigosa. C om o João o tivesse censurado por ter casado
significa "cidades de Ezron” - localizada na província
com Herodias, m ulher de seu irm ão Filipe, que ainda rom ana da Judeia (no território da T ribo de Judá) e
estava vivo, lançou H erodes o seu censurador num a que é com um ente identificada com a m oderna Qirber
prisão. O m edo da indignação popular (Mat. 14:5) el-Qaryatein, situada a cerca de 20 km a sul de Hébron.
parece tê-lo im pedido de m atar João Batista, mas a
filha de Herodias, baseando-se num a inconsiderada Se proceder esta últim a hipótese J u d a s seria o úni-
prom essa de Herodes, obteve a m orte de João Batista co apóstolo de C risto que não era originário da região
(Mat. 14:3 a 12). da Galileia.
JUDAS ISCARIOTES
Um dos 12 apóstolos, o que traiu Jesus Cristo. E
chamado o filho de Simão Iscariotes 00. 6:71), daí ser
conhecido como Judas Iscariotes. Esse sobrenom e ou
apelido é fonte de muitas opiniões entre os especialis-
tas, sobretudo quanto à sua significação etimológica.
Foi nesse estado de alma que ele lançou aos pés 4. Judas de Damasco, hospedador de Saulo en-
dos sacerdotes as 30 moedas de prata, sendo por quanto cego (At. 9:11).
eles escarnecido. T ornou-se “o filho da perdição”
00. 17:12), não havendo para ele esperança de perdão 5. Judas de A ntioquia, enviado com Silas, pela as-
nesta vida - e assim ele “retirou-se e foi enforcar-se” sembleia local, para acom panhar Paulo e Barnabé (At.
(Mat. 27:5). As diversas descrições da sua m orte se 15:22,27,32).
harm onizam , sendo com preendido que Judas prim ei-
ram ente se enforcou em alguma árvore que estivesse à JUDEIA (JUDÁ)
beira de um precipício, e que, quebrando-se a corda ou
o ram o, ele foi despedaçado na queda. Em A tos 1:20 Estes nom es aplicam -se, algumas vezes, a todo o
liga-se a m o rte de Judas com as predições dos Sal- territó rio dos judeus (At. 28:21 - e talvez Luc. 23:5),
m os 69:25, e 109:8 (cf. Jo. 17:12). mas geralm ente só à parte m eridional do país. A ex-
tensão do territó rio que coube a Judá acha-se descrita
JUDAS m inuciosam ente em Josué 15. O lim ite n o rte do pri-
m itivo quinhão de Judá começava no lugar em que
N om e de origem hebraica, b astan te com um nos o Jordão entra no M ar M orto, e daí para o ocidente,
dias de C risto. V em da palavra Yehudah, trad u zi- passando p o r Bete-Sem es até Jabneel, perto de Ecrom ,
da em grego p o r ioudas e latim p o r Iudas. Significa distante 16 km do M editerrâneo. E a linha lim ítrofe
tom a depois a direção do sueste, quase em linha reta,
correndo ju nto ao país dos filisteus, e pelos lim ites de
Simeão até Cades-Barneia, na orla do deserto.
L
6.000 soldados de infantaria. A legião era dividida em
dez CO ORTES de 600 soldados, e cada coorte, em
seis CENTÚRIAS. T endo em vista o grande tam anho
de um a legião, o term o passou a designar um a m ulti-
—— n r - f u n iii-iiTn-n־rnir-ini־־mini■11 1— 1־־ ־rnTTfmwrwnmBTiwngiin nnwHV1rrn1~־w 1 — 1»11 wi'inriwwiintffTrmTiTTmrr*■
dão organizada (Mat. 26:53).
LEPTON
LAMENTO
A m enor m oeda judaica em circulação e a única
dessa origem citada no Novo Testam ento. Valia m uito O N ovo T estam ento em prega diversas expressões
pouco, cerca de 2% do valor do denário, ou seja, o paga- que retratam dor, angústia e choro hum ano. Ao refe-
m ento de 15 m inutos ou m enos de trabalho. T em o seu rir-se ao destino dos incrédulos, o evangelista coloca
nom e derivado do term o grego com o sentido de “des- nos lábios de Cristo o term o Brugmós, que tem o sen-
pojado da própria pele”, “desnudo”, “delgado”, “fin o ”, deli tido de rilhar, ranger os dentes, denotando raiva ou
Em bora os sentim entos de Deus sejam inegável-
m ente únicos e não com paráveis, pela encarnação do
Filho, pode-se dizer que o céu sim patizou literalm en-
te com a nossa angústia, Jesus sentiu na pele o que é
sofrer com o seus filhos hum anos sofrem .
LÂMPADAS
Sem eletricidade nas casas e com poucas janelas,
0 in te rio r das casas era um pouco escuro. Em vá-
rias residências a única ilum inação que havia eram
tigelinhas rasas, sem elhantes a um pires, onde ao
cen tro , m ais baixo que as bordas, ficava o pavio. As
tigelinhas do tem po de Jesus possuíam um a tam pa,
fechando-as. Nelas colocava-se um pouco de azeite,
onde se im ergia o pavio, que era de algodão ou li-
nho. As m ais sim ples eram feitas de b a rro , m as algu-
m as eram de m etais, com o o bro n ze, e m uitas eram
adornadas com desenhos. Os gentios ou não judeus
faziam lâm padas com form ato de anim ais, porém , os
dor intensa (M at. 8:12; 13:42,50; 22:13; 24:51; 25:30;
Luc. 13:28). judeus n ão adotavam esse tipo de form ato p o r abo-
m in arem a idolatria.
M as, tam bém em pregam -se expressões com o trê-
neô: prantear, lam entar, cantar um lam ento (Mat. Se um a casa estivesse to talm en te escura, podia-se
11:17; Luc. 7:32; 23:27; Jo. 16:20); klaiô: chorar, gri- te r certeza de que não havia ninguém . M esm o du-
tar (Mat. 2:18; 26:75; Luc. 19:41; A t 21:13,15). 5); ran te o dia, sem pre que houvesse um a pessoa d en tro
klauthmós: pranto, choro (M at. 2:18; At. 20:37) e Pen- de casa, haveria um a lâm pada acesa, já que o azeite
theô: chorar, lam entar, prantear, estar triste (M at. 5:4; era barato e de fácil acesso. A lém disso, o u tra razão
9:15; M ar. 16:10; Luc. 6:25). p ara m an te r as lâm padas acesas, era po rq u e era difí-
cil acendê-las; o fogo era feito com o a trito de duas
Para referir-se especificam ente à dor que C risto pedras ou dois to q u in h o s de m adeira que produziam
sentiu, os evangelistas utilizam -se ainda de term os faíscas. E n tre tan to , as pessoas m ais pobres econo-
com o parassô, que, na form a figurada e passiva, sig- m izavam no uso do azeite.
nifica angustiar-se, ficar agitado, alarm ado (Jo. 11:33;
12:27; 13:21). O u, de m aneira m ais solene, Lupeô e Q uando Jesus n a rro u a parábola da dracm a perdi-
seus derivados que significam “estar em luto, estar em da, os ouvintes entenderam perfeitam ente o fato de a
lam ento,” pois são term os que vêm de um a palavra m ulher ter usado um a candeia para p ro cu rar a drac-
raiz que significa “do r” do corpo e da m ente. Envolve m a nos cantinhos m ais escuros da casa (Luc. 15:8). E
tristeza m isturada com dor física (M at. 17:23; 18:31; na parábola das dez virgens, dá para perceber o dram a
26:37). 8; Luc. 22:45; Jo. 16:6,20,21,22). das que não tin h am levado azeite nas vasilhas. (Mat.
25:1). Sendo assim, dizendo sobre lâm padas e ilum i-
Q uando Jesus disse a seus discípulos que logo seria nação, Jesus expôs o evangelho em linguagem práti-
traído e m orto, eles se encheram de lam ento p o r sua
ca, m ostrando o dia a dia das pessoas.
perda im inente.“E m ata-lo-ão, e ao terceiro dia res-
surgirá. E eles se entristeceram grandem ente” (Mat. Pelo fato de as lâm padas ficarem na m aioria do
17:23). Textos assim revelam um a profunda partici- tem po acesas, sem pre havia um arom a agradável no
pação divina nos sofrim entos hum anos. ar, e qualquer pessoa que entrasse logo sentiria.
Podia-se colocar as lâm padas em vários pontos de princípios que envolvem todas as ações e relaciona-
um côm odo. Em alguns lugares costum ava-se fixar à m entos hum anos.
parede algo com o um a prateleira de pedra para colo-
car a lâm pada, ou então utilizavam -se veladores po r- O segundo conjunto de leis encontrado nos livros
táteis, levando-a para onde fosse necessária. Esses su- de M oisés é a lei cerim onial. Essas leis se referiam ao
portes, de m adeira ou cerâmica, eram colocados bem m odo com o Deus lidava com o problem a do pecado.
no alto para ilum inar ao m áxim o o local. As pessoas C oncentravam -se no santuário, em sacrifícios de san-
m ais ricas tin h am veladores de m etal. gue e no m inistério sacerdotal. A lei cerim onial é de
grande im portância porque prenuncia o valor de Je-
Q uando Jesus afirm ou que não devíam os ocultar sus e da natureza de sua obra.
nossa luz (Mat. 5:15), os ouvintes logo notaram o ri-
dículo da situação. Nós ligaríam os um a lanterna e a Existe um a terceira categoria de leis que devemos
guardaríam os dentro do bolso? M as Jesus disse que, observar. M as esta não está nos livros de Moisés.
quando se acende um a candeia, deve-se colocá-la no T rata-se da lei oral, ou seja, a interpretação da Lei de
velador, onde será de proveito para todos. Para com - M oisés pelos escribas e fariseus.
preenderm os bem essa ilustração, tem os que deixar
de lado p o r um m om ento as técnicas m odernas de U m texto que intriga m uitos leitores é a fala de
ilum inação e te r em m ente as antigas. C risto referente a um suposto térm ino de tudo no
m inistério de João Batista. Ele disse “A Lei e os Profe-
Naquele tem po, os povos deviam cuidar m uito
tas vigoraram até João; desde esse tem po, vem sendo
bem das lâm padas, e por isso tinham zelo pelos com -
anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo ho-
ponentes básicos: o recipiente, o azeite e o pavio, e
m em se esforça por e n tra r nele”. (Luc. 16:16).
sem pre tinham um a quantidade significativa em es-
toque, para não faltar, pois era desagradável ficar sem
O ponto de partida para a boa com preensão desse
eles de repente. A parábola das dez virgens ilustra
verso é saberm os que as palavras duraram , vigoraram
bem essa situação (Mat. 25:1-13).
ou existiram , que aparecem em algumas versões uqe
não se encontram no original.
LEi E OS PROFETAS
Na tradução de ‘A lm eida Revista e C orrigida” está
Q uando Jesus n arra sobre a lei e os profetas, está duraram em grifo, indicando que ela não se encon-
falando a respeito da Bíblia de seus dias - o A ntigo tra no original. Foi um acréscim o do tra d u to r para a
T estam ento. A lei consistia dos cinco livros de M oi- com plem entação do sentido.
sés e ia de Gênesis a D euteronôm io. E os profetas
eram os livros daqueles escritores posteriores da Bí- Para um a ap ro p riad a com preensão do sentido,
blia que ensinavam a lei, a interpretavam e a aplica- esta passagem deve ser colocada ao lado do texto pa-
vam ao povo de Israel. ralelo de M ateus 11:13, que diz a m esm a coisa, com
m ais clareza:
A lei era um conceito central na Bíblia, do início
ao fim. Por isso, é nosso dever to m ar tem po para en- "Porque todos os profetas e a lei profetizaram até
ten d er o assunto, cabe a nós to m ar um pouco de tem - João”. O sentido, portanto, é que as profecias ensina-
po para entender o assunto, principalm ente porque das pelos profetas com referência a C risto quando Ele
Jesus disse que isso é im portante. veio, deixaram de ser profecias e passaram a ser fatos
históricos consum ados.
A lei de M oisés consistia, na realidade, de al-
guns tipos de leis. A prim eira era a lei m oral dos Sobre Lucas 16:16, a palavra até (no grego “mé-
Dez M andam entos, que Deus escreveu em pedras chri”) jam ais autoriza a ideia de que os escritos da lei
no M o n te Sinai. A lei m oral co n stitui im p o rtan tes e dos profetas ten h am perdido o seu valor quando
João com eçou a pregar. O evangelho veio, não para assim com o M oisés determ inou, em testem unho para
ser colocado em lugar do A ntigo T estam ento, mas eles.” (Luc. 5:12-16; M at. 8:2-4; M ar. 1:40-45).
para cum pri-lo e dar-lhe sentido. Este é o significado
Q uando C risto enviou os 12 apóstolos, ele lhes
claro no qual méchri é usado aqui e tam bém em M a-
disse, entre outras coisas: “T o rn ai lim pos os lepro-
teus 28:15. Jesus m esm o afirm ou que, até que tudo se
sos.” (Mat. 10:8). M ais tarde, quando andava em Sa-
cum pra, ele m esm o não tiraria nem um “i” nem um
m aria e Galileia, Jesus curou dez leprosos num certo
til das Escrituras divinam ente inspiradas por Deus.
povoado. Apenas um deles, um sam aritano, “voltou,
(Mat. 5:18).
glorificando a Deus com voz alta”, e se lançou ao solo
diante dos pés de Jesus, agradecendo o que ele tinha
LEPRA feito em seu favor. (Luc. 17:11-19). Deve-se tam bém
observar que C risto estava em Betânia, na casa de Si-
A Bíblia, p rin cip alm en te no A ntigo T e sta m en to , m ão, o leproso (a quem Jesus talvez havia curado),
cita várias sobre o p ro b lem a da lepra. Q uando são quando M aria ungiu Jesus com o custoso óleo perfu-
citadas pessoas leprosas, significa um a doença da m ado, poucos dias antes de Sua m orte. (M at. 26:6-13;
pele, e pode envolver tip o s diferentes de doenças. M ar. 14:3-9; Jo. 12:1-8).
Além disso, a m esm a palavra fala de m anchas em
ro u p as ou paredes, o que nós p o deríam os cham ar Especificam ente sobre Simão, existe um a questão
hoje de fungo ou m ofo. em aberto para os especialistas no Novo T estam ento.
A dúvida é se ele era um leproso ou um fabricante
N a lei que D eus deu aos israelitas, um a pessoa de jarros, pois se era leproso não poderia m o rar em
leprosa era considerada im u n d a (Lev. 13:2-3). A Betânia. Pelos costum es e discrim inações da época,
doença foi vista com o um a praga. As vezes, a praga ele viveria isolado. Duas hipóteses têm sido indicadas
foi dada p o r D eus p ara re p re e n d e r o povo desobe- para solucionar a questão: prim eiro que a tradução
diente (Lev. 14:34). estaria equivocada, em aram aico leproso é Garlba e
fabricante de jarros é Garaba. Sendo assim, a simila-
Os ensinos sobre a lep ra serviam p ara co n te r
rida de no idiom a original de Jesus resultou em erro
um a doença m aligna, m esm o séculos antes de cien-
no texto grego de João. A segunda hipótese seria a de
tistas com p reen d erem com o doenças se espalham
que o term o usado não indica que Simão continuava
(Lev. 14:54-57; D eut. 24:8).
leproso, mas que contraíra a doença an terio rm en te e
N os tem pos de Jesus, a lepra era um a doença fora curado, possivelm ente p o r Cristo.
te rrív e l e incurável. D esde o m o m e n to em que era
diagnosticada a lepra, a pessoa co n tam in ad a era LEVITA
isolada do convívio com ou tras pessoas. O N ovo
T e sta m en to m o stra a situação dos leprosos, a vida A função dos levitas era o sacerdócio dada por
em cavernas, afastadas das pessoas. Se p o r acaso um Deus a eles [para A rão e seus filhos]. C antavam o
deles tivesse que se d irecio n ar ao e n c o n tro das pes- louvor, sendo cantores e instrum entistas. A rrum a-
soas, te ria que to car um sino para se auto an u n ciar vam e davam m anutenção no tabernáculo e no T em -
e d e te rm in a r a distância. A circunstância do leproso pio. Agiam com o guardas, porteiros, padeiros; enfim ,
era h u m ilh an te, visto que a lepra era considerada tudo que devia ser feito em relação à program ação no
no judaísm o um estado de grande im pureza, sua si- tabernáculo ou no T em plo era de responsabilidade
tuação sem solução. dos levitas. Era proibido que alguém de o u tra tribo
fizesse esse trabalho, pois era designado p o r D eus aos
Jesus, durante seu m inistério galileu, curou um
levitas.
leproso, descrito p o r Lucas com o “hom em cheio de
lepra”. Jesus ordenou-lhe que não o expusesse a nin- Na parábola do Bom Sam aritano (Luc. 10:25-37),
guém , e disse: “M as vai e m ostra-te ao sacerdote, e três personagens são m encionados po r Jesus na his-
faze um a oferta em conexão com a tu a purificação, tória: um sacerdote, um levita e um sam aritano. O
sacerdote e 0 levita eram religiosos, que estavam des- Contudo, a flor, conhecida pelo nom e de lírio do vale.
cendo de Jerusalém , o que indica que provavelm ente não está mencionada nas Sagradas Escrituras. Igualmen-
voltavam do culto a Deus, pois o Tem plo de adoração te, os “lírios do campo”, mencionados por Cristo em
dos judeus ficava em Jerusalém . M ateus 6: 28, podem se referir a flores silvestres”, con-
form e se deduz pelo term o grego usado no texto. Tam-
LINHO bém pertencem àquelas famílias de flores a tulipa, a íris.
o jacinto e a fritilária, bem como as anêmonas.
O “fino pano de lin h o ” do antigo Egito, u niver-
salm ente utilizado naquele país para fazer roupa e LÍTÓSTROTOS
envolver os corpos dos m ortos, e am plam ente ex-
p o rtad o , era feito das fibras da plan ta do linho. U m a - L itóstrotos é o local no tribunal onde Pôncio Pi-
das pragas do Egito foi a destruição, pela saraiva, das latos se assentou para julgar Jesus perante o povo. E
plantações desta plantade linho. U m pano tão leve, na verdade um term o grego que aparece no livro de
m acio e asseado era especialm ente adequado para João 19:13, com sua equivalência no hebraico: “Ou-
os vestidos das pessoas que tin h a m com o responsa- vindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e
bilidade os serviços religiosos. T a n to os sacerdotes assentou-se no tribunal, no lugar cham ado Litóstro-
judaicos, com o os do E gito deviam usar, p o r lei, os tos, e em hebraico Gabatá.”
vestidos de linho (Êx. 28 - Ez. 44:17 a 19). As corti-
O L itóstrotos ou Gabatá é um a área aberta com
nas do tabernáculo eram do m esm o tecido e b orda-
um pavim ento de pedra [lithos em grego significa “pe-
das (Êx. 26:1). Sam uel e D avi usavam estola de linho
dra”) que poderíam os cham ar de varanda e que possi-
(1 Sm. 2:18 - 2 Sm. 6:14). C riaturas angélicas foram
velm ente ficava num prim eiro piso bem à altura dos
vistas p o r Ezequiel e D aniel (Ez. 9:2 - D n. 10:5) olhos de todos.
vestidas de linho - e nas visões finais do A pocalip-
se anjos e santos glorificados aparecem adornados O com um seria executar o processo judicial den-
das m esm as sim bólicas vestim entas de pureza (Ap. tro do palácio, p o rém Pilatos o faz do lado de fora.
15:6 - 19:8, 14). Em P rovérbios (31:22 a 24) faz-se O m otivo do julgam ento de Jesus te r acontecido na
m enção ao trab alh o de fiar e tecer das m ulheres ju- v aran d a é explicado no p ró p rio evangelho: “E não
daicas. Os m antos finíssim os de lin h o acham -se, em e n tra ra m (os acusadores judeus) na audiência, para
tem pos de corrupção, e n tre aqueles objetos de luxo não co n tam in arem , m as poderem com er a Páscoa.
que as m ulheres usavam , e pelo que são censuradas E ntão Pilatos saiu para fora...” (C apítulo 19, V ersí-
n o livro do pro feta Isaías (3:23). O rico da parábola culos 28 e 29).
estava “vestido de linho fin o ” - e José de A rim ateia Pilatos se retiro u p o r um a questão política. Para
p resto u ao Salvador a h o n ra de envolver o Seu cor- evitar confrontos desnecessários, ele sai para atender
po n u m lençol de lin h o , antes de o depositar no tú- à lei judaica e aos líderes que levavam o caso de Jesus
m ulo (Luc. 16:19-23:53). até ele. E n tretan to , o procedim ento em si estava à
m argem da lei mosaica, que proibia qualquer pessoa
LÍRIO ser julgada e condenada em época de Páscoa, espe-
cialm ente à noite, quando Jesus foi traiçoeiram ente
Planta orig in ária da E uropa, Ásia e A m érica do preso por ordem dos sacerdotes.
N o rte. A lgum as espécies são nativas dos trópicos,
de regiões com altitude elevada. P orém , todas as es- LUCAS
pécies atuais são resultado de cruzam entos e n tre si,
dando origem a vários tipos e cores. Estas são cha- Lucas foi um m édico que escreveu o Evangelho de
m adas lírios híbridos. N os cam pos de Israel, especi- Lucas e Atos dos Apóstolos. Em acordo com o frag-
ficam ente, existem pelo m enos 39 diferentes tipos m ento do Cânon Muratoriano, datado do século II, ele
florescendo. tam bém seria jurista ou estudante de leis:
“(...) o terceiro evangelho é o de Lucas. Lucas era Os m agos seguiram a estrela, que p arou em cima
m édico por profissão. [Mas] Depois da ascensão de do lugar onde Jesus estava. Eles se prostraram e ado-
C risto, Paulo o tom ou consigo porque era um estu- raram o m enino e lhe presentearam com ouro, incen-
dante de leis [jurista]. Lucas escreveu sua narrativa a so e m irra (M at. 2:9-11). Depois, um anjo lhes disse
p artir de opiniões [pesquisadas] e a firm ou com seu para não voltar a Herodes. Assim, eles foram para
próprio nom e. M esm o sem ter tido contato com o casa p o r o u tro cam inho.
Senhor pessoalm ente, se aplicou [com eçando] seu re-
N os países a leste de Israel, com o a Pérsia, um
lato pelo nascim ento de João Batista.”
m ago era um hom em sábio que tin h a conhecim ento
Segundo a Bíblia, Lucas ainda acom panhou Paulo de astrologia.
em suas viagens m issionárias e investigou atenciosa-
Eram , p o rtan to , hom ens com m uito conhecim en-
m ente os relatos da vida de Jesus para escrever seu to sobre as estrelas, a natureza e tam bém de m agia e
evangelho. A Bíblia fala pouco sobre ele. adivinhação.
Lucas provavelm ente era um gentio convertido E um tan to curioso que Deus ten h a usado “es-
pelos prim eiros discípulos de Jesus. Ele foi o único pecialistas em astrologia” - ciência proscrita na Lei
autor conhecido de um livro da Bíblia que não era ju- de M oisés, para receber o M essias ao m esm o tem po
deu. Era um hom em m uito culto, com conhecim en- em que os líderes de Jerusalém pareciam alheios à
tos não só de m edicina, mas tam bém de investigação sua chegada (cf. D euteronôm io 18:9-14; Isaías 8:19;
histórica e escrita (Col. 4:14). Levítico 19:31; 20:6, 27; 2 Reis 21:6; Ezequiel 13:18;
M alaquias 3:5). E ntretanto, talvez nesse episódio es-
Lucas esteve com Paulo em algumas partes de suas
tej a dem onstrado o fato de que Deus tem filhos sin-
viagens m issionárias. Q uando Paulo foi preso, Lucas
ceros em todas as esferas da hum anidade em todos os
o acom panhou n a viagem até R om a para o julgam en-
lugares do m undo.
to. Ele estava com Paulo quando o navio naufragou
pelo cam inho e ficou do seu lado enquanto perm ane- Além disso, m esm o Daniel, sendo profeta de Deus,
ceu preso em R om a (Atos 28:16). foi nom eado chefe dos m agos, isto é, dos astrólogos
da Babilônia (Dan. 5:11), em bora dificilm ente ele fa-
ria qualquer coisa que contrariasse os ditos e a v on-
tade de Deus.
Há autores que atribuem a origem do nom e M aria à Em N azaré, M aria e José cuidaram e educaram
raiz egípcia mry, que significa “am ar”. Algumas teorias o m en in o Jesus m u ito bem , a co m p an h an d o seu
que traduzem o nom e M aria para “m ar de am argura”, crescim en to e sua form ação h u m an a , co n stitu in d o
“a forte”, “a que se eleva” ou, ainda, “estrela do m ar”. um a v e rd a d e ira e u n id a fam ília, cheios de a m o r e
de co m p reen são (Luc. 2:51-52). Q uando o m en in o
Além disso, o u tra versão supõe que o nom e Jesus tin h a 12 anos, eles o levaram ao T em plo de
M aryam teria surgido a p a rtir das palavras assí- Jeru salém , em p ereg rin ação p a ra a Páscoa judaica
rias YamoMariro, que significa “oceano azedo”, ou (Luc. 2:41-50).
“ácido” no idiom a aram aico assírio.
M aria particip o u da vida de Jesus C risto, sendo
MARIA, MÃE DE JESUS sua m ãe e, ao m esm o tem po, sua discípula (M ar.
3:31-35). Ela sabia g uardar os m istérios da fé em seu
A tradição da Igreja afirm a que os pais de M aria se coração (Luc. 2:19; 51). N o com eço do m inistério
cham avam Joaquim e Ana. Não há m enção deles na público de Jesus, M aria esteve com Ele nas bodas
Bíblia Sagrada. Essa inform ação aparece pela prim ei- de Caná, no seu p rim eiro m ilagre (Jo. 2:1-12). Ela
ra vez num docum ento do século II, cham ado Proto sem pre soube o uvir a Palavra de D eus, anunciada
evangelho de Tiago. p o r Jesus, e vivenciá-la (Luc. 11:27-28). Foi um a ge-
n ero sa com panheira e a hum ilde serva do Senhor,
Pelas informações colhidas dos evangelhos, pode-se acom panhando os passos de Jesus com atenção, fé,
dizer que M aria era um a m ulher simples do povo, discrição e docilidade.
cam ponesa, que habitava em Nazaré, um povoado pe-
queno da Galileia, localizado ao n o rte do atual Estado A té m esm o na paixão de C risto, M aria esteve jun-
de Israel (Luc. 1:26). Era esposa de José, carpinteiro to à cruz, em pé, firm e, quando o entregou ao Pai e
justo e honrado (M at. 1:18-25). Pessoa de fé e m uito foi dada p o r seu Filho com o M ãe dos H om ens, po r
sensível às necessidades dos outros (Luc. 1:39-45:56). João (Jo. 19:25-27). Ela se revelou com o m ulher for-
te, conservando sua fidelidade constantem ente, tanto
Deus escolheu M aria para ser a m ãe do Salvador
nos m om entos alegres, quanto nos cruciais.
(Luc. 1:30-33; Gl. 4:4). M ovida pelo E spírito Santo,
entendeu sua missão, dedicando-se ao cuidado da Jesus C risto não p erm an eceu m o rto , Ele ressus-
criança que era, na verdade, o Filho de Deus (Luc. citou e está v ivo, ju n to do Pai do Céu, com o os p ri-
1:26-38). m eiros cristãos teste m u n h a ra m (Jo. 20:1-29; Luc.
24:1-43; M ar. 16:9-20; M at. 28:1-10). M aria, p ere-
M aria concebeu Jesus em Nazaré, da Galileia (Luc.
g rin a na fé, com toda certeza, acreditou na ressu r-
1:26; M at. 1:1-25). E ntretanto, deu à luz ao Messias
reição de seu Filho.
(Mat. 2:1-8) em Belém, Judá, pois M aria acom pa-
n h o u José até lá para recenseam ento. No tem po cor- M aria esteve presente com os apóstolos e os dis-
reto, M aria e José levaram o m enino Jesus para ser cípulos no cenáculo de Jerusalém , perseverante e em
dedicado a Deus no Tem plo de Jerusalém , cum prindo oração, p o r ocasião de Pentecostes (At. 1:12-14).
m era m anifestação de poder, m as todos, natural-
m en te, oco rreram segundo as circunstâncias e para
um fim benéfico em relação à obra de C risto, o
A rauto, o F u n d ad o r do reino dos Céus”. Eles assim
são entendidos pelo p ró p rio Salvador (M ar. 2:10; Jc.
MESSIAS
5:36). Os m ilagres ajudam a destacar o p o d er e a di-
Messias foi o título dado a Jesus, o salvador espera- vindade de Jesus. As Sagradas E scrituras dizem , em
do pelo povo judeu. Com origem do hebraico Mashiach, João 2:11: “Assim deu Jesus início aos seus sinais em
que significa “o ungido”, derivado de mashah, que quer Caná da Galileia, e m anifestou a sua glória; e os seus
dizer “u ngir”. Este nom e é citado na Bíblia no A ntigo discípulos creram nele.”
T estam ento. T em o m esm o significado de C risto, a C ontudo, os m ilagres não devem nunca excluir
p a rtir do nom e grego Christós, que tam bém quer di- a necessidade de um a fé pessoal em C risto. Em João
zer “ungido”. 20:29-31 está escrito: “D isse-lhe Jesus: Porque me
U m dos tem as centrais da Bíblia Sagrada era justa- viste, creste? B em -aventurados os que não viram e
m ente a vinda do M essias prom etido p o r Deus para creram . Jesus, na verdade, agiu n a presença de seus
salvar o Seu povo. A ndré, antes de se to rn a r apóstolo, discípulos ainda m uitos o u tro s sinais que não estão
dem onstra que tal expectativa pode ser vista na ati- escritos neste livro; estes, p o rém , estão escritos para
tude de A ndré que corre a Pedro e diz “A cham os o que creiais que Jesus é o C risto, o Filho de Deus, e
M essias...” (Jo. 1:41). O povo judeu esperava ansioso- para que, crendo, tenhais vida em seu n o m e.”
sam ente o surgim ento de um Salvador, que era cha-
Os o u tro s m ilagres do N ovo T estam en to devem
m ado p o r eles de o M essias que haveria de vir.
ser considerados à luz do que foi ordenado p o r Jesus
aos apóstolos (M at. 10:8) e aos dem ais crentes (Mar.
MILAGRE 16:17), em bora esse últim o texto seja controverso
do p o n to de vista da crítica textual.
Palavra o riginária do latim (miraculum), que, em
sentido lato, aplica-se a qualquer acontecim ento m a-
ravilhoso. M as n a Bíblia usa-se em sentido restrito , MOEDAS
significando ,'um ato de D eus, que de um m odo vi-
sível é um desvio das conhecidas operações do Seu As principais moedas dos tem pos de Jesus eram o
p o d e r com o fim de auten ticar um a m ensagem di- denário e aureus, ou libra. Uma libra valia quarenta de-
vina, em bora possa servir para o u tro s fins”. M uitas nários. O denário é citado muitas vezes no Novo Tes-
palavras em hebraico (Mopheth, Pele, oth) se tra d u - tam ento e é traduzido por dinheiro. O seu valor mo-
zem no A ntigo T estam en to p o r m ilagre, m aravilha netário atual seria por volta de dezessete centavos de
e sinal. Já n o N ovo T estam en to usa-se a palavra D u- dólar (americano), embora o seu valor de compra fosse
nam is (poder) para significar m ilagre Ofc 9:39) - e consideravelmente maior. Com punha o salário de um
Sem eion (sinal), tam bém com o m esm o significado dia de trabalho de um hom em no Oriente (Mat. 20:2).
(Luc. 23:8). Esta é a palavra característica que se em - M uitas das cidades do império tinham o direito de criar
prega no E vangelho de João. Os m ilagres de Jesus as suas próprias moedas e as moedas das nações conquis-
são tam bém narrados p o r erga, “obras” - (Jo. 5:20; tadas não eram retiradas de circulação. Então poderiam
7:3; 10:25; 15:24 etc.), e terata, ‘prodígios’ - (Jo. 4:48; ser usadas vários tipos de dinheiro concorrentem ente
At. 2:22). O sentido de m ilagre p ara co n firm ar um a dentro do domínio. Os cambistas faziam um negócio
m ensagem divina é claram ente indicado. rentável para si, aproveitando-se dos peregrinos que
chegavam a Jerusalém, como o m ostra o episódio da pu-
Desse m odo, os m ilagres de Jesus C risto “devem
ser com preendidos segundo a Sua m essiânica obra, riíicação do Tem plo por Jesus (Mat. 21:12).
e acom odados aos interesses do rein o de Deus. Ne- A seguir há a tabela das m oedas m encionadas no
n h u m m ilagre, seja qual for, pode ser considerado N ovo T estam ento e o valor de cada um a delas:
N o v o T e s ta m e n to :
Moeda romana de
Asse (Mat. 10:29, ״ceitil) ״ 1/16 do denário 1/16
cobre
OBS.: Calculando que uma diarista no Brasil ganhe 0 equivalente a 10 dólares por dia (igual a um denário), um talen to
de prata valeria 60.000 dólares. 0 talen to de ouro valia umas trin ta vezes mais do que 0 ta le n to de prata.
c
ODRE
Os odres são recipientes para arm azenar líquidos Típico odre para armazenar vinhos.
com o água e azeite. Eles eram , e ainda são, feitos de
ÓLEO discípulos. C ertam ente, era algo m uito com um , em-
bora as curas feitas p o r Jesus aparentem ente não uti-
As oliveiras produziam as azeitonas que, p o r sua lizavam o óleo com o elem ento auxiliar.
vez, produziam o azeite. O azeite era e é usado na
alim entação (lR s. 17:12) e tam bém para colocar
S ffi
em ferim entos (Luc. 10:34), para passar no corpo
com o cosm ético (Sl. 104:15), para ilum inação (M at. A oliveira
j É j |j
25:4), p ara a unção de doentes (Tg. 5:14) e de hóspe-
:.פ/=ר£|rf=
₪ í!
des (Luc. 7:46). Pela unção, pessoas eram separadas
O L IV E iR A
p ara serviço especial (Reis: ISm . 10:1; Profetas: lR s.
19:15-16; e Sacerdotes: Ex 28:41) e tam bém objetos
A oliveira (em hebraico zayit, que significa olivei-
sagrados (Êx. 30:22-33).
ra, azeitona) é um a das árvores m ais im pressionantes
A aplicação do óleo sobre a cabeça ou o corpo (un- da T e rra e um a das árvores m ais im portantes citadas
ção), ou ainda sobre um a oferta (libação) era um ato na Bíblia Sagrada, p o r ser tão utilizada pelo povo de
m uito significativo na cultura do antigo Israel. No Israel e tam bém pela riqueza de ilustrações represen-
caso da unção de seres hum anos, representava a capa- tadas p o r ela. Ela é da fam ília das oleáceas e se origi-
citação dada po r Deus a algum a pessoa, credencian- n o u na região do m editerrâneo.
do-a para cum prir um a missão específica, especial, Os povos orientais classificavam-na como um sím-
dentro de propósitos divinos. P or isso Jesus foi ungi- bolo de beleza, força, da bênção divina e da prosperida-
do pelo E spírito Santo, “para evangelizar os pobres”, de. A perenidade das oliveiras é um a das características
“curar os quebrantados do coração, apregoar liber- mais impressionantes. M esm o o solo sendo pobre e
dade aos cativos... a p o r em liberdade os oprim idos” seco, elas crescem e vivem bem em praticam ente qual-
(Luc. 4:18). Ele foi ungido “com óleo de alegria” (Hb. quer condição, nas m ontanhas ou nos vales, nas pedras
1:9). (V er Is. 61:1; At. 10:38; 1 Cr. 16:22). ou na terra fértil, contando que suas raízes possam en-
terrar-se em profundidade. Crescem sem problemas
U m a m u lh er ungiu os pés de Jesus (Luc. 7:38) e
sob o intenso calor e tem peratura elevada, com pouca
Ele cham ou a atenção do anfitrião p o r não tê-lo un-
água e são quase indestrutíveis, resistindo m uito bem
gido a cabeça (Luc. 7:46). Este, p o rta n to era um ges-
a todas estações. Seu desenvolvim ento é lento, porém
to de significado ta n to espiritual quanto de hospita-
contínuo. Quando é bem cuidada, pode atingir um
lidade e cortesia. Pelas inform ações dadas no A ntigo
grande porte chegando aos 7 m etros de altura. A copa
T estam en to , supõem -se que o azeite era m isturado
não é alta, mas tem alto poder de regeneração. M esmo
com perfum e para fazer a unção o que está em acor-
se cortar a copa, rapidam ente acontece um novo bro-
do com o gesto da m u lh er pecadora. O azeite con-
tam ento. Até as oliveiras doentes continuam a brotar
sagrado era com posto de especiarias, n o rm alm en te novos ram os. Algumas árvores têm troncos torcidos e
m irra, canela arom ática, cálam o arom ático, cássia e velhos, mas sem pre com folhas verdes.
azeite de oliveiras, (ver Êx. 30:22-25). Era o “azeite
da santa unção”. Esta era, sem dúvida, a árvore mais referida e sim-
bólica de toda a E scritura Sagrada. Os judeus a viam
N o Novo T estam ento, a palavra unção (do gr. chris- com o fonte de alim ento, luz, higiene e cura. Cada ár-
ma) só ocorre três vezes (ver 1 Jo. 2:20,27). O verbo vore pode produzir até 80 litros de azeite p o r ano.
ungir (chrío) aparece cinco vezes (Luc. 4:18; At. 4:27;
20:38; 2 Co. 1:21; Hb. 1:9). Já o adjetivo christós (Cristo, O azeite era tão abundante em Israel que era um
o ungido) ocorre mais de 500 vezes, em várias referên- dos produtos regularm ente exportado. Salomão en-
cias, como em M ateus 1:1 e Apocalipse 22:21. viou ao rei de T iro 4.391.064 litros de azeite: “E Saio-
mão dava a Hirão vinte mil coros de trigo, para sustento
Os discípulos tam bém ungiam pessoas enferm as, da sua casa, e vinte mil coros de azeite batido. Isso fazia de
com o descrito no texto de M aros 6:13. Esta é a úni- ano em ano” (I Rs. 5:11). M il anos depois, nos tem pos
ca referência nos evangelhos sobre esse trabalho dos de Jesus, o azeite é m encionado com o o único pro-
duto de exportação da região de Jerusalém . O M onte Exemplos cle oração intercessória aparecem nos ca-
das Oliveiras, localizado logo a leste da Cidade V elha sos de M oisés (Êx. 32:31,32), de Davi (2 Sm. 24:17; 1
de Jerusalém , testem unha a presença das oliveiras ao Cr. 29:18), de Estêvão (At. 7:60) - de Paulo (Rm. 1:9).
redor da cidade. T am bém foi no Jardim do Getsêm a- Solicitações para oração intercessória se encontram
ni (Gat Shemen, em hebraico - literalm ente, o lugar em Êx. 8:8, Nm . 21:7; 1 Rs. 13:6; At. 8:24, Rm. 15:30
da prensa de azeite) onde Jesus passou m uito do seu a 32 - e as respostas a essas orações em Êx. 8:12,13, e
tem po em Jerusalém com os seus discípulos: “Jesus Nm . 21:8,9; 1 Rs. 13:6; At. 12:5 a 8. Cp com 2 Co. 12:8.
saiu e, como de costume, fo i para 0 Monte das Oliveiras, e O próprio exemplo de Jesus a respeito da oração é de-
os seus discípulos 0 seguiram” (Luc. 22:39). cisivo. Ele indicou o fundam ento sobre o qual repou-
sa a crença na oração, e que é o cuidado providencial
ORAÇÃO de um Pai onisciente (Mat. 7:7 a 11). Ele ensinou aos
discípulos com o deviam orar (Mat. 6:5 a 15; Luc. 11:1
A oração cristã está fundam entada na convicção de a 13) - assegurou-lhes a certeza da resposta de Deus
que o Pai Celeste, que tem providencial cuidado sobre a um a oração reta (Mat. 7:7; 18:19; 21:22; Jo. 15:7, e
nós (Mat. 6:26,30; 10:29,30), que é “cheio de tern a m i- 16:23,24); associou a oração com a vida de obediência
sericórdia” (Tg. 5:11), ouvirá e responderá às petições (Mar. 14:38; Luc. 21:36), tam bém nos anim a a serm os
dos seus filhos da m aneira e no tem po que Ele julgue persistentes e m esm o im portunos na oração (Luc. 11:5
m elhor. A oração deve, então, ser feita com toda a con- a 8 e 18:1 a 7), procurou os lugares retirados para orar
fiança (Fp. 4:6), m esm o Deus sabendo de tudo aqui- (Mat. 14:23; 26:36 a 46; M ar. 1:35; Luc. 5:16). Ele fez
lo que necessitamos, antes m esm o de Lhe pedirm os
uso da oração intercessória na súplica, conhecida pela
(Mat. 6:8,32). A Sua resposta pode ser dem orada (Luc.
designação da Sua alta oração sacerdotal (Jo, 17) - orou
11:5 a 10) - talvez a oração seja im portuna (Luc. 18:1
durante a agonia da cruz (Mat. 27:46; M ar. 15:34; Luc.
a 8), e repetida, com o no caso de Jesus C risto (Mat.
23:34,46). A oração em nom e de Cristo é autorizada
26:44) a resposta pode não ser bem o que se pediu
pelo próprio jesus (jo. 14:13,14, e 15,16) e pelo após-
(2 Co. 12:7 a 9) - , mas o crente pode deixar toda a sua
tolo Paulo (Ef. 5:20; Cl. 3:17). Além disso, o Espírito
ansiedade de lado, descansando na paz de Deus (Fp.
Santo tam bém intercede po r nós (Rm. 8:26).
4:6,7). Não falando na oração relacionada com o culto,
ou na oração em períodos estabelecidos (Sl. 55:17; Dn.
6:10), orava-se quando e onde era preciso: dentro do OVELHAS, BODES E CABRAS
“grande peixe” (Jn. 2:1) - sobre os m ontes (1 Rs. 18:42;
M at. 14:23), no terraço da casa (At. 10:9), num quarto Estes são anim ais m uito presentes nas Escritu-
in terio r (Mat. 6:6), na prisão (At. 16:25), na praia (At. ras Sagradas e nos ensinam entos de Jesus. A pala-
21:5). O tem plo era, principalm ente, a “casa de oração” v ra ovelha, na Bíblia, pode significar um a ovelha ou
(Luc. 18:10), e todos aqueles que não podiam juntar-se um a cabra; a m esm a palavra é usada para am bas em
no Tem plo com os outros adoradores voltavam -se várias ocasiões. O leite de cabra não só era im p o r-
para ele, em oração (1 Rs. 8:32; 2 Cr. 6:34; Dn. 6:10). tan te p o r causa da quantidade (cerca de três litros
N otam -se várias posições na oração, tanto no A nti- p o r dia), m as tam bém podia ser usado para fazer um
go T estam ento com o no N ovo Testam ento: Em pé (1 tipo de iogurte ileben) e queijo (Pv. 27:27). U m a ca-
Sm. 1:10,26; Luc. 18:11) - de joelhos (Dn. 6:10 - Luc. b ra era, p o rta n to , deixada com a fam ília, em bora as
22:41), curvando a cabeça e inclinando-a à terra (Êx. o u tra fossem com o pastor, e se to rnava, em geral,
12:27; 34:8), prostrado (Nm. 16:22; M at. 26:39). Em um anim al de estim ação. O anim al podia ser usado
pé ou de joelhos, na oração, as mãos estavam estendi- para o sacrifício (Lv. 1:10), e a carne consum ida em
das (Ed. 9:5), ou erguidas (Sl. 28:2; cp. com 1 Tm . 2:8). algum a refeição (Jz. 15:29), m esm o que não fosse
As m anifestações de contrição e de dor eram algumas tão gostosa quanto de cordeiro ou vitela (veja Luc.
vezes acom panhadas de oração (Ed. 9:5; Luc. 18:13).
15:29), m as era substancial.
A oração intercessória (Tg. 5:16 a 18) é prescrita tan-
to no A ntigo T estam ento com o no Novo T estam ento Na Prim avera, depois da chuva de inverno, havia
(Nm. 6:23; Jó 42:8; Is. 62:6,7; M at. 5:44; 1 Tm . 2:1). m uita pastagem perto da aldeia. D epois que o cereal
era colhido, as ovelhas tinham perm issão para co- Era com um às famílias m ais pobres com prarem
m er tudo o que sobrasse. Q uando isso acabava, era dois cordeiros na Páscoa. U m era consum ido de acor-
necessário deixar a região e procurar a erva seca que do com a lei e o outro m antido para a engorda du-
perm anecia sob sol quente (1 Cr. 4:39, 40) lugares de rante o verão. Ele se tornava 0 bichinho de estimação
erva fresca onde houvesse suprim ento de água (águas da família, de um m odo que o bode jamais era aceito.
tranqüila, quando disponível) tornavam esse m ovi- O cordeirinho dorm ia em geral com as crianças e até
m ento possível (Sl. 23:2). Q uando a água da super- partilhava do m esm o recipiente para beber. Era um a
fície desaparecia, era preciso usar água de poço para tragédia para os filhos da casa o dia em que o cordeiro
as ovelhas. Era costum e cobrir o m anancial com um a era sacrificado e preservado na gordura da sua pró-
pedra tão pesada que exigia vários hom ens para le- p ria calda. Essa é a prática subentendida na parábola
vantá-la, protegendo assim os direitos à água. de Natã, em 2 Samuel 12:1-7.
Os pastores geralm ente colocavam as cabras na É possível tam bém ler neste costum e a força da de-
frente das ovelhas. P ortanto, um a cabra se achava na signação de C risto com o C ordeiro de Deus, em João
frente de Isaías a ideia dos reis guiando o povo (veja 1:29 e 1:36. A dor do Pai em sacrificar seu Filho, 0
Is. 14:9; Dn. 8:9; Zc. 10:12). A relação entre ovelhas cordeiro celestial, p o r am or da raça hum ana, é um
e cabra pode estar p o r trás das palavras de Jesus, de sentim ento cujas palavras jamais conseguirão plena-
que ele iria separar os hom ens com o o pastor sepa- m ente descrever.
ra as ovelhas dos bodes (Mat. 25:32). Um bordão era
usado para separá-los, os bodes sendo enviados num a
direção e as ovelhas em o utra - “debaixo da vara”. As
ovelhas e os bodes eram m antidos próxim os uns dos
outros porque ambos precisavam pastar e p o r com e-
rem m ais ou m enos a m esm a coisa.
PARQUSIA
As palavras do evangelho de João que descrevem a
Paixão de Jesus são resultado de um a elevadá concep- T am bém grafada com o “parusia”, é um term o gre-
ção da pessoa de Cristo. N ota-se m enos alento nar- go que significa “presença, vinda”. Usada m uitas vezes
rativo na hum ilhação e nos sofrim entos hum anos de com o a chegada de um rei, ela é em pregada no Novo
Jesus, e mais tocantes expressões no divino sacrifício T estam ento em sentido escatológico, para expressar o
daquele que, em bora na Sua submissão, perm anece reto rn o de C risto no final dos tem pos. No N ovo Tes-
S enhor e Rei (Jo. 18:6,36; 19:11). tam ento, a palavra é utilizada em contexto de alegria,
pois anuncia a vinda e a presença do Senhor, consu-
PARÁBOLA m ando a história. O anelo pela parusia é um elem en-
to im portante da vida cristã (cf. M at. 24:3.27.37.39;
Parábola é um a narrativa, im aginada ou verdadei- IC or. 15:23; lT s. 2:19; 3:13; 4:15; 2Ts. 2:1; 2Pd. 1:16).־
ra, que ao final, tem o objetivo de ensinar um a m o-
ral, um a verdade. Esta, neste ponto, é diferente do PÁSCOA
provérbio: não é a sua apresentação tão concentrada
com o a daquele, contém m ais porm enores, exigindo Festa religiosa com em orada p o r judeus e cristãos.
m en o r esforço m ental para se com preender. E dife Páscoa vem da palavra hebraica pessah e significa p a s
sagem . Para os antigos hebreus, significava a come- sagrado ou eclesiástico, e no 14° dia desse mês, entre
m oração de sua saída do Egito. Para os cristãos é a as tardes, isto é, entre a declinação do sol e o seu p ô r
passagem de Jesus da m o rte para a vida, trazendo sal- do sol, deviam os israelitas m atar o cordeiro pascal e
vação para todos que creem nele (Jo. 5:24). Jesus veio deixar de com er pão ferm entado. O cordeiro oferta-
à terra com um grande objetivo. Q uando Ele m orreu do devia ser sem defeito, m acho e do prim eiro ano.
e ressuscitou, pagou o preço do pecado, nos dando Q uando não se encontrava cordeiro, os israelitas po-
um a nova oportunidade para ter um relacionam ento diam m atar um cabrito.
pessoal com D eus (Rom. 8:1 e 2). V oltando ao signi-
ficado judaico da festa, em algum período na história N o dia seguinte, o 15°, a contar desde o p ô r do
do povo hebreu eles ficaram escravos po r séculos no sol anterior, começava a grande festa da Páscoa, que
Egito, vivendo sob a opressão de tem idos faraós. M as, durava sete ou oito dias, dependendo da situação. Na-
p o r interm édio de M oisés, Deus providenciou a li- quela m esm a noite, ou seja, no começo do 15° dia,
bertação de seu povo. o cordeiro devia ser com ido, sem que os seus ossos,
fossem quebrados, assado, com pão asm o e um a sa-
Dez pragas caíram no Egito com o juízo divino que,
lada de ervas amargas. Além disso, se sobrasse algu-
ao m esm o tem po em que punia os opressores, abria
m a coisa para o dia seguinte, tudo era queim ado. Os
espaço para revelar a soberania do Deus dos hebreus.
que com iam a Páscoa precisavam estar na atitude de
Assim, na últim a da praga, os prim ogênitos egípcios
viajantes, cingidos os lom bos, tendo os pés calçados,
foram visitados pelo anjo da m orte, ao passo que os
com os cajados nas m ãos, alim entando-se apressada-
prim ogênitos hebreus foram poupados.
m ente para lem brar a saída apressada do Egito.
O livram ento da m o rte dava-se pelo em blem a
D urante os sete ou oito dias da Páscoa, não deviam
posto nas habitações dos israelitas, cujas portas ti-
fazer uso de pão levedado, em bora fosse perm itido pre-
nham sido aspergidas com o sangue do cordeiro pas-
parar comida, sendo isto, proibido no sábado (Êx. 12).
cal, m o rto na ocasião (Êx. 12:11 a 27).
A Páscoa era um a das três festas em que todos os va-
Assim, cham a-se “a Páscoa do Senhor” (Êx. rões haviam de “aparecer diante do Senhor” (Êx. 23:14
12:11,27) - a “festa dos pães asmos” (Lv. 23:6 - Luc. a 17). Por isso o evangelho m ostra algumas situações
22:1), os “dias dos pães asm os” (At. 12:3; 20:6). A pala- em que Jesus sobe a Jerusalém para celebrar a Páscoa
vra Páscoa é aplicada não som ente à festa no seu todo, com seus discípulos (Mat. 26:17 a 20; Luc. 22:15; Jo
mas tam bém ao cordeiro pascal e à refeição preparada 2:13,23).
para essa ocasião solene (Luc. 22:7; 1 Co. 5:7; M at.
26:18,19; Hb. 11:28). A festividade pascal no tem po de Jesus C risto só
podia realizar-se em Jerusalém . Havia tan ta gente que
O ritual realizado na prim eira Páscoa, que é descri- não era possível acom odarem -se todos d entro dos
to em Êxodo 12:1-20, deveria, então, a p artir daquele m uros da cidade. P or essa razão que os m agistrados
m om ento, ser observado todos os anos pelas próxi- queriam que Jesus não fosse preso, pois receavam
mas gerações. E foi assim que aconteceu. N o livro de
algum tum ulto da parte da m ultidão, que estava em
Êxodo 12:27 está a explicação que deveria ser dada
Jerusalém para a celebração da Páscoa (M at. 26:5).
quando os filhos daquelas pessoas perguntassem o
que eram aqueles rituais simbólicos feitos na Páscoa. Após a m o rte e ressurreição de Jesus, a Páscoa m u-
dou sua form a, m as não seu significado. Jesus, através
“Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SE-
de Seu sangue derram ado na cruz em sacrifício, nos
NH O R, que passou p o r cim a das casas dos filhos de
libertou da escravidão do pecado. Jesus é com o aquele
Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as
cordeiro que ofereceu o seu sangue para que o povo
nossas casas” (Êxodo 12:27).
que vivia com o escravo vivesse e fosse totalm ente li-
O riginalm ente, a m aneira de celebrar a Páscoa se- vre. Pelo sangue de Jesus vivem os a liberdade. Ele foi
guia conform e o preceito de Deus: o m ês da saída do o sacrifício que nos trouxe vida e libertação da conde-
Egito (nisã-abibe) devia ser o prim eiro m ês do ano nação e da escravidão do pecado.
A Páscoa cristã (Santa Ceia) com em ora, então, o ro. A tosquia era feita depois da pastagem de verão,
sacrifício e a ressurreição de Jesus C risto. Jesus é o quando os lucros eram distribuídos e seguiam -se vá-
nosso C ordeiro pascal (1 C orintios 5:7). Ele nos p ro - rios dias de festa.
piciou a liberdade através de Seu sangue e da Sua vi-
Havia pastores mais pobres, que tinham um pe-
tó ria na cruz. Essa com em oração deve ser lem brada
queno rebanho. E ntão os grandes criadores de ove-
todos os dias e não som ente na Páscoa.
lhas em pregavam tais pastores para cuidar de seus
vastos rebanhos. As famílias mais pobres usavam os
filhos m enores para cuidar do rebanho.
PEDRA ANGULAR
PASTOR C ham ada tam bém de pedra de esquina ou pedra de
V árias referências são encontradas na Bíblia Sa- toque. Esta era literalm ente o canto inferior de um a
grada ao ofício de pastor de ovelhas. G randes per- construção (alicerce) ou a parte central de um arco
sonagens do A ntigo T estam ento são descritos como (M ar. 12:10). Pode fazer tropeçar (lP e. 2:8) ou cair
pastores: Abraão, M oisés, Davi. O pró p rio Davi, em sobre alguém (Mat. 21:44; Luc. 20:17 e 18).
um de seus salmos (23), expressou de form a m uito
Jesus faz referência à profecia da pedra rejeitada
apropriada as responsabilidades e as preocupações de
no discurso apresentado logo depois de proferir a
um bom pastor.
parábola dos trabalhadores maus. O incidente estava
A profissão de pastor continuava ativa e essencial relacionado com a edificação do Prim eiro Tem plo de
nos tempos de Cristo, pelo que ele referiu a si mesmo um a ocorrência verdadeira da história de Israel.
como “o bom pastor” e tirou lições disso (Jo. 10:2-4,11).
Ao ser erguido o T em plo de Salomão, as imensas
Curiosamente, Deus Pai tam bém é reconhecido como
pedras para as paredes e os fundam entos foram in-
um bom pastor em pelo m enos duas ocasiões no Antigo
teiram ente preparadas na pedreira; n en h u m instru-
Testam ento em Isaías 40:10 e 11 no Salmo 23:1-4.
m ento devia ser em pregado nelas depois de serem
Provavelm ente os pastores no Israel antigo cui- levadas para o local da construção; os trabalhadores
davam de vários tipos de ovelhas, entre elas, a cara- só tin h am que as colocar na posição correta. Pedras
cul, um a raça síria com cauda gorda e lã grossa. Os de dim ensões extraordinárias e de singular feitio fo-
m achos dessa raça têm chifres, m as as fêmeas, não. ram levadas para serem colocadas na fundação, mas
São anim ais dóceis, podem ser facilm ente conduzidos os construtores não conseguiam achar um lugar para
pelo pastor mas tam bém são m uito vulneráveis a pre- ela e não a queriam aceitar.
dadores e a outros perigos.
A pedra to rn o u -se um em pecilho, ficando sem
Os pastores cuidavam de cabras que podiam ser utilidade. Por m uito tem po, esta ficou com o pedra re-
pretas ou m arrons. E nquanto escalavam encostas ro- jeitada. M as, quando chegou o m om ento de colocar a
chosas e pastavam , m uitas vezes elas feriam suas ore- pedra angular, os construtores procuraram p o r m uito
lhas com pridas em arbustos e espinhos. tem po um a de tam anho e resistência suficientes e do
devido form ato, para ocupar aquele lugar e suportar
E nsinar as ovelhas e as cabras a obedecerem aos o grande peso que sobre ela ficaria.
pastores, era um dos constantes desafios. M as os bons
pastores eram pacientes e cuidavam com carinho dos Várias pedras devem ter sido escolhidas, várias ve-
anim ais de seu rebanho, até m esm o dando-lhes no- zes, mas, sob a pressão de imensos pesos, elas se des-
mes que os anim ais reconheciam (Jo. 10:14,16). pedaçavam. O utras provavelm ente não suportavam a
prova das m udanças atmosféricas. Com isso, a atenção
Havia duas épocas im portantes para o pastor: o dos construtores foi atraída para a pedra que fora re-
nascim ento dos cordeiros e a tosquia das ovelhas. O jeitada po r tanto tem po, então eles a analisaram. Esta
nascim ento se dava geralm ente em jan eiro /fev erei ficou exposta ao ar, ao sol e à tem pestade, sem apre
sentar nenhum desgaste e mudança. Suportara todas cair ou quebrar um a perna.
as provas, m enos uma. Se pudesse resistir à prova de
N a Bíblia hebraica, o term o para ״pedra de tro -
vigorosa pressão, decidiriam que iriam aceitá-la para
peço” é mikshowl, citado na Septuaginta com o skan-
ser a pedra angular. A prova foi feita a pedra e aceita.
dalon. A palavra em português “escândalo” tem ori-
Foi levada para o lugar que lhe era designado, verifi-
gem no term o grego da Septuaginta skandalon, que
cando-se se poderia ajustar-se perfeitam ente.
p o r sua vez tem origem no term o hebraico mikshowl.
Além disso, foi m ostrado a Isaías, em profética vi- Skandalon tem um significado m uito diferente ao que
são, que essa pedra era um sím bolo de Cristo. Diz ele: n orm alm ente é atribuído nos dias de hoje para a pa-
“Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o lavra escândalo.
vosso tem or, e seja Ele o vosso assom bro. Então Ele
Ao substantivo grego skandalon tam bém é associa-
vos será santuário; m as servirá de pedra de tropeço, e
do um verbo, skandalizo (“escandalizar”), significando
de rocha de escândalo, às duas casas de Israel; de laço
literalm ente “fazer alguém tropeçar” ou, idiom atica-
e rede aos m oradores de Jerusalém . E m uitos den-
m ente, “conduzir alguém a pecar.”
tre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e
enlaçados e presos.” (Isa. 8:13-15). Levado em visão No N ovo T estam ento são usadas duas palavras
adiante, ao prim eiro advento, é m ostrado ao profe- que transm item o sentido de algo contra o que al-
ta que Cristo devia sofrer provas e experiências das guém tropeça. São os gregos proskomma, “pedra de
quais era um sím bolo o que se fizera à pedra de esqui- tropeço” e o já m encionado skandalon.
na do T em plo de Salomão. “P ortanto assim diz o Se-
n h o r Jeová: Eis que ponho em Sião um a pedra, um a Am bos aparecem em diferentes contextos. Em
pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está R om anos 14:13 e 1 C oríntios 8:9, a expressão “pedra
bem firm e e fundada; aquele que crê não se apresse.” de tropeço” é aplicada aos cristãos que, p o r algum
(Isa. 28:16). m otivo, podem to rn ar-se um obstáculo ou um a cau-
sa de tropeço para os irm ãos m ais fracos. O u seja, ao
Jesus Cristo é o fundam ento que Deus, com tan- exercerem toda sua liberdade pela com preensão do
to am or e bondade, nos concedeu. Esta é a obra do ensinam ento de Cristo, alguns cristãos poderiam m a-
Senhor. Ele é colocado em Sião, na igreja, no M onte goar e ofender outros que ainda não tin h am com pre-
Santo. Ele é um a pedra provada, rejeitada, mas úni- endido tal liberdade.
ca capaz de sustentar o edifício. U m a pedra de toque
(conform e alguns entendem ), que fará distinção en- Além de skandalon a expressão idiom ática “pedra
tre o verdadeiro e o falso. Ele é um a pedra preciosa, de tropeço” tem um segundo significado na palavra
representada pelos fundam entos da N ova Jerusalém grega proskomma (,“tropeçando”). Am bas palavras são
(Apoc. 21:19), um a pedra de esquina, sobre a qual os usadas juntas em 1 Pedro 2:8; isto é a “pedra de tro p e-
lados do edifício estão unidos. ço” (lithos proskommatos) e a “rocha que faz cair” (petra
skandalou).
Q R
QUADRANTE
RAABE
M enor m oeda rom ana em circulação nos dias de
Cristo. As duas pequenas m oedas da viúva, ofertadas Raabe significa, altivez insolência, orgulho. É um
no T em plo, tam bém cham ada de Lepton. nom e poético do Egito (SL 87:4; 89:10; Is. 51:9), pelo
que parece, baseado num antigo conto m itológico, nha p o r com paração os líderes judeus que, ao m enti-
em que Raabe aparece com o m onstro m arinho. rem e se oporem ao verdadeiro M essias, conduziam o
povo à perdição e, com o víboras, contribuíam para a
Esta, m encionada na Bíblia Sagrada, foi um a pros-
destruição de sua p ró p ria espécie.
titu ta de Jericó, que ocultou os espias que tin h am sido
m andados por Josué. Com o recom pensa do seu ato,
sua vida foi poupada, quando a cidade foi conquista-
RENOVO
da (Js 2,e 6.25). Casou com Salmom, um príncipe de
A palavra “renovo” foi usada figurativam ente em
Judá, e dela descendeu Davi e Jesus (M at. 1.5). O au-
Isaías (11:1) significando M essias. “D o tronco d e je s -
to r da carta aos H ebreus engrandece a sua fé (11:31)
sé sairá um rebento, e das suas raízes um reno vo”.
- e Tiago a m encionou com o exem plo daquela fé, que
Q uando se representa Cristo com o um delgado re-
produz boas obras (2:25).
bento, saindo do tronco de um a velha árvore, des-
bastada até à p ró p ria raiz e enfraquecida, e to m a n d o -
R A B I, RABONI -se depois um a árvore poderosa, faz-se referência à
dignidade real de Cristo, provindo da decaída casa de
Em pregado pelos judeus, Rabi, R aboni é um títu -
Davi, e tam bém à posição altíssim a que havia de ter
lo hebraico de honra, que significa “M estre” (Raboni
o M essias, após a Sua condição hum ilde sobre a terra
seria “M eu M estre”), sendo m uitas vezes esse o trata-
(Jr. 23:5; 33:15; Zc. 3:8; 6:12).
m ento dado a Jesus (M at. 23:7,8; 26:25,49; M ar. 9:5;
11:21; 14:45; Jo. 1:38,49; 3:2,26; 4:31; 6:25; 9:2; 11:8).
“Rab”, na sua significação de grande, entra na com po- RESGATE
sição de m uitos nom es de altos cargos.
Resgate é o preço que se paga para obter um a
pessoa ou coisa, que alguém m antém em seu poder.
RACA
T udo o que se dá em com pensação de um a pessoa é
o seu resgate, e assim se diz que um hom em resgata a
Raca significa “vil”, “desprezível” (M at. 5:22), sen-
sua vida (Êx. 21:30), dá pela sua vida um a certa quan-
do um term o popular de insulto. Está m uito próxi-
tidade de dinheiro (Êx. 30:12; Jó 36:18; Sl. 49:7) - e
m o em conexão com a palavra “rekim ”, que em Juí-
algumas espécies de sacrifícios podiam ser considera-
zes (11:3) se acha traduzida por “hom ens levianos”.
dos com o resgates, isto é, eram feitos em substituição
Os rabinos ensinavam que o uso dessa expressão era
da pessoa que fazia a oferta.
quase com o com eter um crim e com o o assassinato.
D esta m aneira se diz a respeito de Jesus C risto,
RAÇA DE VÍBORAS quando Ele deu a Sua vida “em resgate p o r m uitos”
(M at. 20:28; M ar. 10:45; 1 Tm . 2:6), substituindo-os,
Raça de víboras foi uma expressão de advertência e carregando com as suas dores, suportando a pena
sentença pronunciada tanto por Cristo quanto por João de que eles teriam de sofrer (veja tam bém Rm. 3:24;
Batista, para se referir aos fariseus e aos que se opunham ICo. 1:30; Ef. 1:7; 4:30; Hb. 9:15; 1 Pe. 1:18).
à mensagem do reino (Mat. 3:7; 12:32; 23:33; Luc. 3:7).
RUA
H ouve um a in ten sa m udança operada nos após- U m a rua que, de algum m odo, adapta-se à descri-
tolos quando eles se certificaram da ressurreição: A ção que está em Apocalipse 22:2 é um a rua em Esm ir-
h istó ria da Igreja de C risto tem a sua explicação no na, banhada p o r um rio, com árvores de um lado e de
fato da sua crença e da sua dependência daquele que outro. Até o tem po dos rom anos, as ruas raram ente
disse: “Estive m o rto , m as eis que estou vivo pelos eram calçadas, e é algo notável que um a das glórias
séculos dos séculos (Ap. 1:18). da Jerusalém Celestial é a pavim entação de suas ruas.
s m eros concretos, a população sam aritana no tem po
de Jesus era com parável àquela dos judeus e incluiu a
grande diáspora.
T1BERÍADES
u
UNGUENTO
N om e alternativo para o M ar da Galileia, tam bém Em Êxodo 30:25 se diz “o óleo sagrado para a un-
cham ado Lago da Galileia ou Lago de Genesaré, que ção”. O unguento com o qual Jesus foi ungido era um
é um lago de água doce, o m aior de Israel, com um p roduto do nardo (Mat. 26:7; Jo. 12.3).
com prim ento de 19 km e largura m áxim a de 13 km .
Nele deságua e prossegue o rio Jordão, que desce em U N IG Ê N IT O
direção ao M ar M orto. O lago fica 213 m etros abaixo
Expressão referente a Jesus com o Filho U nigênito
do nível do M ar M editerrâneo.
de Deus, enviado para salvar a hum anidade, confor-
m e João 3:16. A princípio, significa o único gerado
TiBÉRIO CESAR p o r seus pais; filho único. M as a rigor, seria um erro
de tradução do grego m onogenês, cujo sentido mais
Im perador rom ano que iniciou seu governo em 18 apropriado seria o de único da espécie, alguém sem igual.
Cinto - era colocado ao red o r da túnica, p erm itin- Na figura da videira, o Pai é o cultivador, que zela
do baixar ou elevar a altura do traje conform e a ne- pela frutificação do ram o.
cessidade.
z____
VINHA DO SENHOR
Símbolo de um cam po de trabalho espiritual. Nas
Escrituras, a expressão a V inha do Senhor geralm en-
te se refere à casa de Israel ou ao R eino de Deus na
T erra. Às vezes se refere aos povos do m undo em
geral. Jesus ensinou a parábola dos trabalhadores da ZEBEDEU
vinha (Mat. 20:1-16).
Era pescador da Galileia, pai de Tiago e João, discí-
N a parábola, um dono de um a fazenda tem um a pulos de Cristo, e m arido de Salomé. Alguns supõem
em preitada em sua propriedade e precisará de um teria sido tio de Jesus. Seus dois filhos foram chamados
bom núm ero de trabalhadores para a realização dela. por Cristo, na ocasião em que estavam no barco de seu
Ele sai e com eça a co n tratar pessoas. Lá pelas 6h da pai, ajudando-o a consertar as redes. A família tinha
m anhã contrata alguns trabalhadores que deverão bens suficientes para ter em pregados ao seu serviço. As
trabalhar das 8h às 18h. Ele com bina que lhes pagará relações entre João e o sumo sacerdote tam bém suge-
ao final do dia um denário. Lá pelas 9h e 12h, encon- rem , para alguns, um a certa posição de destaque social
tra mais alguns e com bina o m esm o valor pelo tra- (Mat. 4:21; 27; M ar. 1:20; 15:40; Jo. 18:15).
balho das 13h às 18h. Às 15h, contrata ainda alguns,
para trabalhar das 16h às 18h, pelo m esm o valor.
ZAQUEU
N o fim do expediente, o dono da fazenda vai fa-
zendo os pagam entos e aqueles trabalhadores que H om em desonesto e odiado p o r seu povo, que se
com eçaram o trabalho mais cedo acusam o dono da converteu após um encontro com Cristo. E ncontra-
fazenda de ser injusto, achando que ele deveria lhes m os a história de sua conversão no Evangelho de Lu-
pagar mais po r terem trabalhado mais. cas (19:1-10). T udo ocorreu a p a rtir do encontro que
teve co m jesu s em sua cidade, Jericó e, posteriorm en-
O interessante é que este hom em realm ente con-
te, em sua p ró p ria casa, onde Jesus se hospedou.
trata vários trabalhadores ao longo do dia, em dife-
rentes horários, e, consequentem ente, ao final do dia, Dele só sabem os que era chefe dos publicanos,
uns tin h am trabalhado m ais do que outros, e m esm o o que indica que fazia um trabalho de supervisão da
assim todos foram recom pensados da m esm a m anei- coleta dos im postos que eles efetuavam . Esse seu tra-
ra. E justam ente nesse p o n to que o principal ensino balho causava um a im popularidade e até indignação
da Parábola dos T rabalhadores da V inha começa. da parte dos judeus, um a vez que os cobradores de
im postos retinham um a parte da arrecadação para si
Sem dúvida, essa parábola traz a ideia principal de
e repassavam ao governo rom ano apenas a parte es-
que a recom pensa de Deus é dada conform e a sua so-
tipulada no contrato. E m uitas vezes, p o r isso, a co-
berana vontade, sendo Ele justo e totalm ente bondo-
brança de im postos era abusiva, tam bém para garan-
so, em bora essa justiça nem sem pre pareça coerente
tir o que deveria ser repassado. A parte a ser paga era
aos olhos hum anos.
estipulada pelo governo, com base em um a estim ati-
Alguns estudiosos tam bém aplicam a essa parábo- va das rendas e era inferior ao que era arrecadado. E,
la um a interpretação mais exclusiva relacionada aos por isso, eles enriqueciam .
ZELOTES p r im o distante do m estre, e que antecedeu o início de
seu m inistério na terra.
G rupo extrem ista de rebeldes judeus, que lutava Era casado com Isabel, um a descendente de Arão
pela independência do país nos tem pos da dom inação (irm ão mais velho de M oisés) e parenta de M aria,
rom ana. O nom e “zelotes" possivelm ente foi dado p o r m ãe de Jesus. Isabem era um a m ulher virtuosa, mas
eles próprios, aludindo ao seu zelo p o r Deus e pelo tam bém que era estéril. Porém deu à luz João Batista
cum prim ento da Lei. T am bém pensavam que, em bo- em idade m uito avançada, com o sua ancestral Sara,
ra a salvação seja concedida p o r Deus, estavam con- esposa de Abraão. Zacarias era tam bém um sacerdote
vencidos de que o Senhor contava com a colaboração no T em plo de Jerusalém , do tu rn o de Abias (1 C rôn.
hum ana, para se obter essa salvação. 24: 10-19).
Essa colaboração se m ovia prim eiro n u m âm bi- Não se sabe mais detalhes acerca de sua vida. U m a
to puram ente religioso, no zelo pelo cum prim ento tradição m antida p o r O rígenes diz que o Zacarias
estrito da Lei. M ais tarde, a p a rtir da década de 50, m encionado em M ateus 23:35, m orto entre o T em -
consideravam que tam bém havia de se m anifestar no pio e o altar, seria o m esm o pai de João Batista.
âm bito m ilitar, razão pela qual não se podia recusar
o uso da violência quando essa fosse necessária para Segundo a tradição cristã ortodoxa e o Proto
vencer, nem se devia te r m edo de perder a vida em Evangelho de Tiago (Cap. XXIII), durante o massa-
com bate, pois era com o um m artírio para santificar o cre de crianças ordenado p o r H erodes, Zacarias havia
nom e do Senhor. om itido onde estava o m enino João Batista, que esta-
ria escondido com Isabel nas m ontanhas. P or recusar
a dizer onde estava a criança, foi m orto. Porém , outra
ZACARIAS tradição tam bém antiga inform a que Zacarias e Isabel
teriam educado o filho, fazendo dele um nazireu e que
E m bora haja outros com esse nom e, aquele dire- o m esm o m o rrera em 12 d.C. E difícil posicionar-se
tam ente ligado à vida de jesus é o pai de João Batista, diante de qualquer um a dessas fontes.
Notas
1 Este pequeno dicionário não pretende ser uma fonte exaustiva
de pesquisa, mas apenas um complemento à Enciclopédia. Além
das notas particulares do autor, várias fontes foram utilizadas
para prepará-lo, de modo que as informações seguintes podem
coincidir ou não com outros dicionários. Haverá, portanto,
semelhanças redacionais que não intencionam plágio, mas tam-
bém descontinuidades em função da coerência metolodógica
adotada nesta obra. Algumas das fontes utilizadas foram: A nchor
Bible Dictionary; Barnes's Bible Encyclopedia, Biographical, Geogra-
phical, Historical and D octrinal; N ew Interpreter’s D ictionary o f the
Bible; Standard Bible Dictionary; A N ew Comprehensive D ictionary
o f the Bible; International Standard Bible Encyclopedia ; http://biblia.
com.br/dicionario-biblico/; http://www.abiblia.org/index.php; http://
www.bibUaonline.net/?lang=pt״BR; http://www.do wnloadsgospel.
com.br/enciclopedia/#.
Cristológico
C ristologia é, tecnicam ente falando, o estudo ou Já a cristologia “from above” segue em sentido
a doutrina acerca de Jesus C risto. Esse ram o do saber contrário. U m Cristo que vem de cima para se revelar
lida com os aspectos da Revelação voltados à pessoa, aos hom ens. Esta é a ênfase encontrada no Evangelho
obra e m inistério de Jesus. Sua natureza divina e hu- de João que inicia seu relato apresentando Jesus como
m ana, sua consciência de Deus, seu papel salvífico, 0 V erbo ou o Logos D ivino que “desce” do céu, da
enfim tudo que ten h a a v er com o ser de Cristo. eternidade, para e n tra r na história hum ana. A teolo-
gia norte-am ericana e dos países do O riente tendem
Q uando conceituam os o Filho de Deus em seus
para essa form a de aproxim ação do tem a.
mais variados aspectos, estam os fazendo ou cons-
tru ind o um a “cristologia”. P ortanto, o u tro m odo de Ambas as abordagens têm seu respectivo valor, pelo
expressar esse conceito seria definir que m ais do que que são claram ente vistas nos próprios evangelhos ca-
um verbete, um conjunto de palavras ou um a decla- nônicos. Contudo, a ênfase desequilibrada em qual-
ração de fé, a cristologia com o tal tem a v er com a quer um a delas pode gerar discrepâncias em relação ao
relação epistem ológica entre o crente e a pessoa de tem a que term inam beirando à especulação e histeria.
Jesus, reconhecido desde os m ais antigos credos com o Certa vez um professor definiu m uito sabiam ente as
o Filho de Deus em figura hum ana. grandes heresias da história como “um lado da verda-
de que ficou louco” e isso se to rn a bem apropriado ao
Há quem sugira que, em havendo um a hierarquia
alerta acerca da cristologia que construím os.
de saberes nas verdades divinas, pode-se dizer que o
conhecim ento acerca de Jesus Cristo é superior - em - C orre-se o risco de enfatizar tan to a natureza hu-
b ora não excludente - a qualquer verdade religiosa m ana de C risto que no fim sua divindade é negada e
jam ais ensinada. ele passa a ser visto com o um bom “ser hu m an o ”, mas
não diferente de qualquer o u tro grande líder que já
Os dois tipos básicos de cristologia, conform e a
existiu. Por outro lado, é possível, à sem elhança dos
nom enclatura anglo-saxônica, seriam: a cristologia
antigos gnósticos, acentuar em dem asia sua divinda-
“from below ” (partindo de baixo) e cristologia “from
de ao p o n to de negar que ele, de fato, ten h a se to rn a-
above” (partindo de cima). Am bas nasceram das pre-
do hum ano.
missas e da ênfase de cada abordagem à pessoa de Je-
sus C risto, conform e visto em vários credos e m anu- O m esm o se pode dizer da tendência de alguns que
ais de teologia produzidos ao longo da história. separam tanto o cham ado Jesus histórico do C risto
da fé, que criam o falso dilema de se saber qual dos
A cristologia “fro m below ” com eça com o cham a-
dois será o centro da reflexão cristológica. R udolf
do “Jesus da h istó ria ” e ten d e a enfatizar sua hum a-
Bultm ann, p o r exemplo, defendeu a tese de que é im -
nidade. Os autores que se m oldam p o r essa lin h a de
possível saber qualquer coisa do Jesus histórico, pois
apresentação reforçam m uito os aspectos de sim ila-
esse se perdeu na p oeira do tem po, restando apenas o
ridade e n tre Jesus e os dem ais m em bros da fam ília
C risto da fé ou do Q uerigm a, proclam ado pela Igreja
hum ana. D estacam sua encarnação, sua n atu reza fí-
e construído pelos dogmas.
sica e m oral, sua vida pública e seu m in istério desde
a te rra até a ascensão e a glorificação no céu. Por Focar em demasia sobre um a cristologia “from be-
isso é cham ada “from below ”, pois p arte do C risto low ” pode levar à conclusão de que Jesus era apenas
te rre n o - a quem dá m aio r ênfase - para chegar ao h um ano e em nada divino, a não ser, talvez, em sua
C risto celestial. consciência de Deus (Schleierm acher) - algo que, em
tese, qualquer um de nós poderia ter.
Esta, pode-se dizer, é a cristologia encontrada nos
evangelhos sinópticos, a saber, M ateus, M arcos e Lu- U m cristologia para ser essencialm ente bíblica não
cas. Tem , po rtan to , m uito valor para a com preensão, pode tra tar as abordagens “from below ” e “from abo-
sobretudo, histórica de C risto. As teologias europeia ve” com o se fosse algo do tipo “um ou o u tro ”. O mais
e latino-am ericana tendem a pautar-se por esse tipo antigo entendim ento cristão (a despeito de vozes
de reflexão acerca do Filho de Deus. m arginais que existiram ao longo da história) susten
ta que, após a encarnação, Jesus foi “Deus e hom em ’ Deus: “N unca te vi, oh S enhor m eu Deus, nada sei a
ao m esm o tem po. De um m odo superior a qualquer teu respeito. O que fará, oh A ltíssim o Senhor, este
explanação hum ana, sua natureza divina recebeu em pobre ser exilado longe de ti? O que fará teu servo,
seu seio um a natureza hum ana que passou a fazer ansioso de am or p o r ti, porém , desprovido de tua
parte do seu ser. Assim, de um m odo espetacular, presença? Ele se esforça p ara te v er, e tu estás dem a-
pode-se dizer que a cristologia é onde a teologia e a siado longe. T e n to ir a ti, tu a m orada, no en tan to , é
antropologia se encontram na pessoa de Jesus Cristo. inacessível. Q uero te e n c o n tra r e não sei onde estás.
Desejo buscar-te, m as não reconheço teu rosto. O h
A Invisibilidade de Deus S enhor, tu és m eu D eus, todavia nunca te contem -
piei. És m eu C riador, fizeste-m e do nada e puses-
Para entender as razões da encarnação de Cristo, tes em m im todas as bênçãos, e ainda assim não te
é preciso prim eiram ente reconhecer as dim ensões conheço. P or últim o, fui C riado para contem p lar-
do Deus que se to rn o u hum ano. Assim, existe um a -te, contudo, não m e foi dado o p ro p ó sito da m in h a
reflexão acerca do divino que antecede o m istério da existência”.
encarnação. C onsiderando que Deus existe, que ele é?
Qual seu tam anho? Qual sua dim ensão e unicidade,
isto é, que elem entos o to rn am único?
“Então ele disse: R ogo-te que m e m ostres a tua “Com quem vocês m e com pararão? Q uem se asse-
glória. P orém ele disse: Eu farei passar toda a m i- m elha a mim? “, pergunta o Santo. Ergam os olhos e
nha bondade p o r diante de ti, e proclam arei o nom e olhem para as alturas. Q uem criou tudo isso? Aquele
do SENHOR diante de ti; e terei m isericórdia de que põe em m archa cada estrela do seu exército ceies-
quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem tial, e a todas cham a pelo nom e. Tão grande é o seu
eu me com padecer. E disse mais: Não poderás ver a poder e tão im ensa a sua força que nen h u m a delas
minha face, porquanto homem nenhum verá a deixa de com parecer!” (Isaías 40:25,26).
minha face, e viverá. Disse mais o SENHOR: Eis
aqui um lugar ju n to a m im ; aqui te porás sobre a pe- Falando da onipresença e onisciência divinas em
nha. E acontecerá que, quando a m inha glória passar, face à pequenez hum ana, o salm ista declara: ״Tal
pô r-te-ei num a fenda da penha, e te cobrirei com a ciência é para m im m aravilhosíssim a; tão alta que não
m inha m ão, até que eu haja passado. E, havendo eu a posso atingir. Para onde m e irei do teu espírito, ou
tirado a m inha m ão, m e verás pelas costas; mas a mi- para onde fugirei da tu a face? Se subir ao céu, lá tu
nha face não se verá.” (Êxodo 33:18-23). estás; se fizer no inferno a m inha cama, eis que tu ah
estás tam bém . Se tom ar as asas da alva, se habitar nas
P ortanto, ver Deus “face a face” é um a expressão
extrem idades do m ar, até ali a tua m ão m e guiará e a
idiom ática que não coincide com o ato de “ver literal-
tu a destra m e susterá. Se disser: decerto que as trevas
m ente o rosto de Deus”. U m a figura de linguagem si-
m e encobrirão; então a noite será luz à roda de m im .
m ilar aparece em N úm eros 14:13 e 14: Έ disse M oisés
N em ainda as trevas m e encobrem de ti; mas a noite
ao SENHOR: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto
resplandece com o o dia; as trevas e a luz são para ti a
com a tu a força fizeste subir este povo do m eio deles.
m esm a coisa” (Salmos 139:6-12).
E dirão aos m oradores desta terra, os quais ouviram
que tu, ó SENHOR, estás no m eio deste povo, que Finalm ente Salomão tam bém acena a incom ensu-
face a face, ó SENHOR, lhes apareces, que tua nuvem rável natureza da dim ensão divina ao dizer: “habitaria
está sobre ele e que vais adiante dele num a coluna de Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não
nuvem de dia, e num a coluna de fogo de noite.” te podem co n te r” (I Reis 8:27, cf. II Crônicas 6:18).
O texto, em outras palavras, parece dizer que não há m ina fazendo dele um ser “à nossa im agem conform e
espaço que caiba Deus, seu centro está em todas as nossa sem elhança”. É o Deus do com entário crítico
partes e a periferia não cabe em parte alguma. de X enófanes que disse: “Se os bois e os cavalos tives-
sem m ãos e pudessem p in tar e produzir obras de arte
M as note que não se tra ta de panteísm o, m onism o
sim ilares às do hom em , os cavalos pintariam os deu-
ou holism o divino. Deus é distinto daquilo que ele
ses sob form a de cavalos e os bois pintariam os deuses
cria. Seu espírito pode até habitar em suas criaturas,
sob form a de bois”.
mas não deve ser confundido com elas.
Cristo revelador do Pai P ortanto, o prim eiro elem ento n o rtead o r da visi-
bilidade divina é um paradoxo necessário: Deus, para
se revelar, tem de se esconder. Lutero dizia que os
M ediante o que já foi exposto, é possível dizer que
hom ens usam m áscaras para se esconder, Deus, ao
Deus é, em essência, incognoscível. N inguém é capaz
contrário, usa um a m áscara para se revelar.
de diretam ente conhecê-lo (Sal. 139:6; Rom . 11:33-
34). Porém , nossa salvação depende de conhecê-lo e Sua revelação se dá p o r m uitas m aneiras, espe-
de relacionarm o-nos com ele (Jo. 17:3; cf. Jr. 9:23,24). cialm ente, através de suas obras e sua Palavra (cf.
Logo, qual seria a solução? Deus se revela (M at. 11:27; D eut. 29:29; Sal. 19:1-2; 139:14; Rom . 1:20; II T im .
Rom . 1:19), pois jamais o conheceríam os p o r nossa 3:16). P orém , o suprassum o da m anifestação divina
p rópria capacidade (I Co. 1:21). ou sua revelação suprem a se deu através da pessoa
de Jesus Cristo.
C onsidere-se, contudo, que em virtude da gran-
diosidade incom parável de seu poder e glória, o único A ssim inicia o a u to r da carta aos H ebreus: “Ha-
m odo do ser hum ano contem plar Deus seria se ele vendo D eus an tig am en te falado m uitas vezes, e de
m esm o restringisse seu fulgor. Se é im possível con- m uitas m aneiras, aos pais, pelos profetas, a nós
tem plar a olho nu o sol do m eio-dia, im agine um a falou-nos nestes últim os dias pelo Filho, a quem
exposição desprotegida à luz de Deus, ainda que seja c o n stitu iu h erd e iro de tudo, p o r quem fez tam bém
apenas um a fagulha do seu poder. o m undo. O qual, sendo o resp len d o r da sua glória,
N o caso do Filho, p o r interm édio de quem o Pai
se revelou nos últim os tem pos, o uso da preposição
grega “én”foi análogo ao caso dos profetas, mas a au-
sência do artigo definido confere certa indeterm ina-
ção à identidade desse Filho, perm itindo que a ênfase
recaia sobre a sua natureza em com pleta distinção da-
queles que o antecederam .
Existe porém um dado dessa teologia da Kenosis O sentido parece ser o de que C risto era e sem pre
que precisa ser ressaltado. Ao tra tar do assunto, m ui- será Deus p o r natureza. Porém , após sua hum ilde re-
tos se concentram naquilo de que Jesus abriu m ão. A signação, seu esvaziam ento e sua m orte de Cruz, ele
kenosis, contudo, tam bém lida com aquilo que C risto tam bém se to rn a Deus p o r “causa hon ro sa”. Em ou-
assum iu p o r toda eternidade. Ele tom ou sobre si m es tras palavras, C risto é Deus (natureza) e m erece ser
S £ & 1■
Deus (encarnação). Pois dem onstrou um caráter e Assim, m uitos dos ataques e dúvidas levantadas
um a nobreza divina, m esm o quando voluntariam en- hoje já fizeram parte do debate desde o princípio
te abriu m ão de seus atributos para revelar a divinda- da história do C ristianism o, nem p o r isso barraram
de e salvar a hum anidade. a divulgação da m ensagem da cruz. De igual modo
seria anacrônico supor que a igreja cristã prim itiva
recebeu o maior de to-
C risto, o Filho de Deus,
fosse um tipo fundam entalista de m ovim ento similar
dos os nomes por mérito e conquista (Col. 2:15). a grupos anti-intelectuais ou anticientíficos que sur-
Ele triu n fo u sobre os principados e potestades na
giram nos séculos posteriores.
cruz, despojando-os e decretando sua consum ada
derrota. Foi na cruz que ele, usando seu “caráter” de Por m eio de quatro diferentes relatos da vida de
Deus, em lugar de seus “poderes” de Deus, arrancou a Jesus, isto é, quatro evangelhos, é possível dizer que
arm adura do valente e o expôs ao desprezo, vencen- a descrição dos fatos não seguiu nenhum padrão his-
do o diabo, o pecado e a m orte. “Pelas suas pisaduras toriográfico m oderno, m uito m enos a criação de um
fostes curados” (Isa. 53:5). m ito com fms propagandísticos. Os relatos poderiam
não ter a precisão descritiva de todos os m ínim os de-
No suprem o ato de hum ildade, o Deus do universo
talhes, mas eram fiéis ao testem unho e desprovidos de
tornou-se um ser hum ano e m orreu po r Sua criação.
embelezam entos folclóricos. Eram narrativas de fatos
A kenosis, portanto, é Cristo assum indo a natureza hu-
por demais extraordinários, mas que, por sua singula-
m ana com todas as suas limitações, exceto o pecado.
ridade, tornavam o evento impossível de não ser pro-
clamado. Esse é o sentido do Kerygma, term o técnico
Respostas humanas que representa a proclamação cristã do evangelho.
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um a tradição a n te rio r à produção de sua obra Seder com o já foi dito, com 1240 de nosso calendário.
Olam Rabbah, escrita em to rn o do ano 165 d.C. Logo, o M essias deveria v ir antes disso, pois após
esta data a profecia talm údica não teria com o ser
T al ideia, no en tan to , não conta com o um a com -
cum prida. E ntão, os anos que se seguiram até 1240
provação textual direta que a confirm e, e são várias
foram de trem en d a expectativa p ara alguns judeus.
as p ropostas rabínicas p ara o ano da criação. N ão se
pode afirm ar inequivocam ente que o nascim ento de A proxim adam ente um século antes de Rizba, mais
Jesus coincidia com um a virada m ilenar nos côm - p ropriam ente em 1172 d.C., M aim ônides fez um a
putos da época. A dem ais, M aim ônides afirm a que o revelação tardia, mas m uito digna de consideração,
calendário A nno M u ndi só foi in v entado em to rn o principalm ente pela possibilidade de se basear em
do século VI d.C. e que os judeus só passaram a uti- fontes ainda mais antigas. Em sua C arta ao Iêm en
lizá-10 no século X III7. (Iggeret Teiman) escrita para confortar e o rientar ju-
deus pobres do Iêm en que eram enganados p o r um
Existe, a bem da verdade, um a obscura fonte ci-
falso M essias árabe, M aim ônides observa:
tada p o r Israel Jacob Y uvaPque foi preservada num
antigo m anuscrito hebraico descoberto na Bibliote- “D aniel tem desvendado para nós o conhecim en-
ca M unicipal de D arm stadt. Yuval infelizm ente não to do tem p o do fim. N o en tan to , um a vez que ele
fornece n e n h u m dado quanto à datação do m anus- ainda é um secreto, os sábios [rabis] têm im pedido o
crito (se é cópia ou original), m as info rm a um a parte cálculo dos dias da vin d a do M essias, de m odo que a
substancial de seu conteúdo. O títu lo do docum en- população não o rien tad a não seja levada ao desâni-
to era “H om ílias do Rei M essias e G oque e M ago- m o quando v irem que o tem po do fim já com eçou,
gue”. O autor, que perm anece anônim o, apenas se m as que não tem os ainda n e n h u m sinal do M essias”.
apresenta com o um discípulo do rabino Isaac ben 9
O livro dos Jubileus enfatiza que Deus faria grandes Além disso, aos hebreus foi ordenado contarem
coisas durante o chamado ano jubileu - ocorrido a cada sete desses períodos de sete anos ( 7 x 7 = 49). O ano
49 anos (cf. 11Q Melch. #15). Juntando essa tradição seguinte, o 50°, deveria ser considerado um ano de
do jubileu ao côm puto daniélico da chegada do “ungi- jubileu. T oques program ados de tro m b eta proclam a-
do” (Dan. 9:24-25), Q um ran traz - com o verem os a se- riam a chegada daquele ano que sim bolizaria a liber-
guir - interessantes pistas de que m uitos (senão todos dade em todo o país (Lev. 25:8-10). O jubileu tam bém
em sua comunidade) esperavam que o Messias viesse com partilhava alguns elem entos com o ano sabático.
em algum tem po entre o ano 3 a.C. e 2 d.C.21 Nele a terra tin h a novam ente um repouso completo.
Isso significa que os produtos do 48° ano de cada ciclo
Com o dissem os anteriorm ente, os m em bros da
de 50 anos deveriam ser estocados para servirem de
com unidade mesclavam a figura de M elquisedeque, a
alim ento para os dois anos seguintes e alguns meses a
noção de jubileus e as setenta semanas de Daniel 9 (às
mais até que chegasse o tem po da colheita no 51° ano,
vezes equiparadas exegeticam ente aos setenta anos de
ou o prim eiro ano após o jubileu. A fidelidade a Deus
cativeiro babilônico).
garantiria ao povo um a bênção especial de Javé so-
O jubileu bíblico está fundam entado em Levítido bre a colheita do 6o e do 48° anos para suprir a nação
25:10: “D eclarareis santo o quinquagésim o ano e pro- durante o ano sabático, o ano jubilar e um a parte do
clam areis a libertação de todos os m oradores da terra. próxim o até à época da colheita seguinte (Lev. 25:20-
Será para vós um jubileu: cada um de vós reto rn ará a 22). C um prir essa cerim ônia significava para o povo
seu patrim ônio, e cada um de vós voltará a seu clã.” a dem onstração de sua fé na liberdade e nas provisões
prom etidas por Deus.
É im portante n o tar não apenas o aspecto social,
mas, sobretudo, o significado teológico, profético e Em Q um ran encontraram -se cinco cópias de um
sabático p o r detrás desse m andam ento. N o caso do m anuscrito cham ado “livros dos jubileus” que é parte
da epigrafia judaica e foi certam ente produzido po r dade essênia), os 490 anos deveriam com eçar com o
vários autores provavelm ente 200 anos antes do nas- reto rn o do cativeiro babilônico. Eles tam bém enten-
cim ento de C risto. Nele existem indícios im portantes diam que partindo da datação anno m undi, esse even-
sobre a interpretação profética da com unidade e sua to teve lugar no ano 3430 A.M. Logo, eles projetavam
expectativa quanto à im inente vinda do M essias atre- os 490 anos para depois dessa data e concluíram que
lada à profecia de Daniel. o M estre de Justiça deveria chegar p o r volta de 3920
A.M ., quer eqüivaleria aos anos 3/2 a.C.
O utro texto im portante é o docum ento de Damasco
que prevê um ciclo profético que vai desde o cativeiro É possível dizer que para um considerável n úm ero
até a revelação da verdadeira Lei de Deus e o apareci- de judeus o início daqueles tem pos era determ inado
m ento de um futuro M estre de Justiça que ensinaria a para a esperança hum ana da salvação ansiosam ente
retidão no final desse período. D entro desse espaço de aguardada. Esse tem po, no entando, não era indeter-
tem po, haveria a “era da iniqüidade’ (também conhe- m inado, mas nas palavras do Pesher de Habacuque:
cida como “época da Ira”), que seria caracterizada por “(...) todo o tem po de Deus virá na ordem fixada,
um a grande apostasia dentre o sacerdócio no Tem plo com o determ inou para eles nos m istérios de sua pro-
de Jerusalém. Nesse tem po, a lei de Deus foi seriamente vidência” (IQpHab VII, 13-14a).
posta de lado e não com pletam ente obedecida. A valida-
de de um a tradição legal dos judeus (leis cerimoniais?) O rabino José ben Halaphta (c. 140 d.C.) forneceu
teria seu fim com a chegada desse M estre de Justiça que no Seder Olam Rabbah 28 um a outra descrição de como
purificaria o Tem plo e restauraria a verdade. seria a contagem para a chegada dos tem pos messiâ-
nicos. Com o os m em bros de Q um ran, eles tam bém
A era da iniqüidade duraria 390 anos e se esten- faziam suas contas a partir de Daniel e tam bém con-
deria desde a queda de Jerusalém em 586 a.C. até a cluíam que o Messias viria num ciclo jubileu ou sabáti-
form ação da com unidade. Depois haveria outros 20 co anual, dentro do século I de nossa era. Seu côm puto,
anos então viria o M estre de Justiça23 e daí outros 40 no entanto, era diferente; eles vinculavam os 490 anos
anos se passariam desde a m orte do M estre de Justiça aos períodos das diferentes hegem onias sobre Judá.
até 0 julgam ento de Deus. Os detalhes são obscuros
e, p o r isso, im precisos para averiguação total24, mas Exílio babilônico 70 anos
a últim a seção que fala de 40 anos entre a m orte do
D om ínio persa 34 anos (sic)
M estre de Justiça e a vinda do juízo de Deus é algo
realm ente fascinante: D om ínio selêucida 180 anos
Έ desde os dias em que o M estre único foi recolhi- H asm oneus 103 anos
do até ao fim dos hom ens de guerra que se rebelaram
juntam ente com o hom em da m entira, haverá cerca H erodianos 103 anos
de quarenta anos” (CD MS B 20:13-15).25
Alguns, negando a possibilidade de haver profecias D en tro da ala mais conservadora, ainda que não
reais nas Escrituras, preferem entender o texto como exista consenso em todos os detalhes, pode-se dizer
um vaticínio ex eventu. O que significa isso? Partin- que estam os diante de um a profecia messiânica, reve-
do do latim , essa expressão se refere a profecias feitas lada a Daniel no século VI a.C. e que se cum pre preci-
depois do evento haver ocorrido. Desse m odo, não sam ente no m inistério de Jesus de Nazaré.
constituem previsões reais, mas interpretações espi-
rituais posteriores ao evento ocorrido. É o exercício No contexto de Daniel, um anjo aparece ao pro-
de se atrib u ir causas espirituais a eventos m eram ente feta, após sua oração intercessora pelos judeus, e lhe
hum anos ou naturais. revela um a verdade cronológica acerca dos futuros
acontecim entos ligados ao povo de Israel. Eis a trans-
Assim, tais especialistas leem o texto de m odo ale- crição do texto.
górico ou preterista. Em am bos os casos, o contexto
da passagem seria a crise judaica ocorrida p o r ocasião “Setenta semanas estão determinadas sobre 0 teu povo e
dos ataques de A ntíoco IV Epifânio no século II a.C. sobre a tua santa cidade, para fa zer cessar a transgressão,
Proponentes dessa abordagem afirm am que 0 autor para dar f im aos pecados, para expirar a iniqüidade, para
de Daniel nunca viveu realm ente na Babilônia e não trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e
visava de m odo algum dissertar profeticam ente sobre para ungir 0 Santo dos Santos.
a vinda do M essias ou o fim dos tem pos. Pelo con-
Sabe e entende: desde a saída da ordem para res-
trário, sua pretensão seria sustentar a fé dos judeus e
tau ra r e para edificar Jerusalém , até o U ngido, o Prín-
encorajar sua resistência diante da perseguição pro-
cipe, 7 sem anas e 72 semanas; as praças e as circun-
m ulgada por A ntíoco. Por isso, m ostrava, através de
valações se reedificarão, m as em tem pos angustiosos.
sím bolos, que a opressão e a perseguição um dia ha-
verão de acabar. Depois das 72 sem anas, será m o rto o U ngido e já
não estará; e o povo de um príncipe que há de vir des-
Os versículos 24 a 27 do cap. 9, p o rtan to , trariam
tru irá a cidade e o santuário, e o seu fim será num di-
porm enores relacionados ao que ocorreu em 170
lúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são de-
a.C. O sum o sacerdote Onias III, assassinado covar-
term inadas.
dem ente p o r seus rivais, seria o único sum o sacer-
dote justo, p o rtan to , o ungido m encionado no verso Ele fará firm e aliança com m uitos, p o r um a sema-
26). A seguir, A ntíoco IV invade Jerusalém e coloca na; na m etade da sem ana, fará cessar o sacrifício e a
no T em plo um a estátua de Jú p ite r (ídolo abom iná- oferta de m anjares; sobre a asa das abom inações virá
vel), fazendo com os sacerdotes do T em plo um acor- o assolador, até que a destruição, que está determ ina-
do ou aliança durante um a semana. da, se derram e sobre ele.” (Daniel 9:11; 24 a 27).
O problem a com tal abordagem é que, além de negar N um apanhado geral, a texto aponta para o ano do
o caráter sobrenatural das Escrituas - elas deixariam aparecim ento do M essias (seu batism o no ano 27),e
sua m orte (para m uitos no ano 31). Depois chega- M essias. Em bora haja algum a leve discordância sobre
-se ao que seria o térm ino da exclusividade aos ju- o com eço e 0 térm ino desse período, é n o tório que se
deus com o sendo “o povo de D eus”. A p a rtir daí o passariam pelo m enos 500 anos entre a ordem para
evangelho seria levado para os não judeus (tam bém reconstruir Jerusalém e a vinda de Cristo. Logo, as
cham ados “gentios”) e tam bém pregado p o r eles. Se- sem anas seriam de anos e não literais.
gundo um côm puto, isso se daria a p artir da m ote de
Estevão no ano 43 e descrita em A tos 6 e 7. 0 cômputo da profecia ficaria, portanto, deste modo:
Há, porém , várias interpretações. Alguns afirm am 70 sem anas x 7 dias = 490 dias proféticos = 490
que as 69 sem anas ou 483 anos se cum prem exata- anos literais
m ente no ano em que Jesus com eçou seu m inistério Partindo desse pressuposto, a expressão “desde a
na Galileia. O utros afirm am que os 483 anos coinci-
saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusa-
dem no ano em que Cristo foi crucificado.
lém até o U ngido [i.e., o M essias], ao Príncipe, sete
Seja com o for, é bastante razoável supor que côm- sem anas e sessenta e duas sem anas”, com putariam
puto dessas datas se dá pela equivalência profética do um total de 483 anos:
cham ado dia/ano. De acordo com um a hipótese bas-
tante aventada p o r teólogos conservadores, 1 dia em 62 semanas + 7 sem anas = 69 semanas
profecia eqüivale a 1 ano literal e supondo-se que isto
69 sem anas x 7 dias = 483 dias proféticos = 483
se aplique à profecia das 70 s e m a n a s , então elas se-
anos literais
riam na verdade um a representação profética de 490
anos literais.
Porém sobra a últim a sem ana para com pletar as
U m exame profundo a esse respeito revela que 70 semanas.
existem precedentes bíblicos para se falar de anos em
term os de dias. Em Gêneses 29:27-28, Jacó trabalha 7 sem anas + 62 sem anas e 1 SEMANA
“um a sem ana” po r Raquel: “C um pre a sem ana desta;
então te darem os tam bém a outra, pelo serviço que 7 sem anas = 49 anos
ainda outros sete anos com igo servires. E Jacó fez as-
62 sem anas = 434 anos
sim, e cum priu a sem ana de Lia; então lhe deu por
m ulher Raquel sua filha.” Esse período de sete dias
1 sem ana = 7 anos
é na verdade claram ente de sete anos: “Assim serviu
Jacó sete anos p o r Raquel; e estes lhe pareceram como
= 490 anos
poucos dias, pelo m uito que a am ava.” (29:20).
Em term os gerais, um ponto em com um em várias
Em N ú m ero s 14:34, os 40 anos no d eserto resul-
leituras cristólogicas do texto seria o de que tan to o
tara m dos 40 dias de espionagem : “Segundo o n ú -
“U ngido, o Príncipe” do verso 25 quanto o “U ngido”
m ero dos dias em que espiastes esta te rra , q u a re n ta
dias, cada dia re p re se n ta n d o um ano, levareis sobre do verso 26 eqüivalem a Cristo que tam bém é enten-
vós as vossas iniquidades q u a re n ta anos, e co n h e- dido, em algumas fontes com o o “santo dos santos”
cereis o m eu a fa stam e n to .”. Ezequiel 4:6 em prega o ungido no verso 24 - assim se entende pelas versões
m esm o padrão de m edida pro fética que D aniel: “E, da Septuaginta e da Peshita.
quando tiv eres cu m p rid o estes dias, to rn a rte -á s a
M as tam bém vale dizer que alguns estudiosos en-
d e ita r so bre 0 teu lado d ire ito , e levarás a in iquida-
tendem que o “U ngido” (ou Messias) citado no versí-
de da casa de Ju d á q u a re n ta dias; u m dia te dei para
culo 25 pode não ser um a referência a Cristo, m as a
cada a n o ”.
um rei usado p o r Deus com o instru m en to para reali-
D aniel 9:25 diz que seriam 69 sem anas desde a re- zar sua vontade. N este caso, geralm ente é utilizada a
construção do T em plo de Jerusalém até a vinda do data do decreto de Ciro. Todavia, o contexto in tern o
da passagem sugere que a m elhor interpretação é que pois do decreto de C iro, a cidade p erm an eceu p o r
tal passagem recebe-se realm ente ao Messias. m uitos anos ainda com um a população esparsa e
sem m uros.
M uitos pais da Igreja tam b ém viam em C risto o
c u m p rim e n to da expressão “um p rín cip e que have- N otem os que D aniel fala de um a o rd em para
ria de v ir” (v. 24), em bora o u tro s o en ten d am com o “re sta u ra r” Jeru salém (D aniel 9:25), o que certa-
um a figura do fu tu ro a n ticristo ou do oficial ro m a- m en te envolve a restauração com pleta da cidade,
n o responsável pela destruição de Jeru salém e do com suas ruas, praças e m uros. T a n to o é que a p ró -
T em plo no ano 70 d.C. p ria profecia destaca “... as ruas e o m u ro se reedifi-
carão, m as em tem pos angustiosos.” (D aniel 9:25).
De qualquer m odo, no que diz resp eito aos pe-
Os judeus não em p reen d eram essa restauração an-
ríodos proféticos (7 sem anas + 62 sem anas + 1 se-
tes do século V a.C..
m ana), grande p a rte dos co m en tário s bíblicos os
e n ten d em com o consecutivos, isto é, não sobrepos- A ssim o decreto de Esdras 7, expedido d u ran te 0
tos cronologicam ente, e que alcançam 0 m o m en to sétim o ano de A rtaxerxes I, parece a m elh o r possi-
h istó rico da unção de C risto, a saber, seu batism o bilidade. Esdras certam en te e n te n d e u esse decreto
ou início de seu m in istério.
com o um a perm issão do rei para a reco n stru ção de
Jerusalém , com eçando p o r seus m u ro s e circunva-
Em relação ao evento da crucifixão, m u ito s teó -
lações.
logos conservadores enten d em que a expressão
“co rtad o ” p resen te em 9:26 refere-se à m o rte do
A p a rtir desse dado, podem os lançar m ão de
M essias que o c o rre ria na m etade da ú ltim a sem ana.
estudos cronológicos atuais que ap o n tam com re-
P orém , a nova c o rre n te dispensacionalista, p o p u -
lativa precisão o sétim o ano de A rtaxerxes en tre
larizada pelas referências da Bíblia an otada de Sco-
4 58 /4 5 7 a. C. e o re to rn o de Esdras o co rre n d o em
field, tem um a in te rp re ta ç ã o d istin ta que lança tais
457 a.C. Esse, p o rta n to , seria o início das p rim eiras
eventos para o fu tu ro , d u ran te o reinado do anti-
duas divisões do perío d o das 70 sem anas (7 + 62
cristo p red ito no A pocalipse.
sem anas = 483 anos), a conclusão dos 483 anos é
O u tra questão é o terminus ad quo destes eventos, 27 d.C., o ano da “un ção ” de C risto, isto é, quando
isto é, quando a profecia tem início? De acordo com ele in au g u ra seu m in isté rio sendo batizado p o r João
a p ró p ria visão de D aniel o tem p o deveria ser con- (Luc. 3:21-23).
tado “desde a saída da ordem para restaurar e para edi-
fic a r Jerusale'm“. De acordo com a Bíblia, isso ocor- O p rim e iro p erío d o de 7 sem anas pode ser um a
reu no sétimo ano do reinado de Artaxerxes I referência aos 49 anos que a p a re n te m e n te cobrem
(Esdras 7:7,8), quando ele emitiu seu primeiro o p erío d o de reco n stru ção de Jerusalém . Os judeus
“decreto” (vs. 11-26). rec o n stro e m a cidade d u ra n te esse tem po, em m eio
à oposição e “tem pos difíceis” (N eem ias 4:18; Da-
Houve outro decreto, é verdade, expedido niel 9:25).
por Ciro em 538 a.C. e mencionado em II C rô n i-
cas 36:22-23 e Esdras 1:1-4; 5:13, 17; 6:3. De fato, O segundo perío d o , de 62 sem anas, estende-se
C iro dá um a o rd em p ara reco n stru ção da cidade da conclusão da reco n stru ção de Jeru salém até à
(Isaías 44:28). C o n tu d o , o cerne dessa o rd em é a inauguração h istó rica do m in isté rio do M essias em
reco n stru ção do T em plo que N ab u codonosor havia Israel, o que en ten d em o s te r se cum prido em seu
d estruído. D aniel, no e n ta n to , fala especificam ente batism o (D aniel 9:25). Isso ocorre p o r v o lta de 27
de um decreto p ara “re sta u ra r e re c o n stru ir Jeru sa- d.C. T eólogos conservadores concordam am pla-
lém ”, o que é um dado im p o rta n te p ara estabelecer m en te com essa in te rp re ta ç ã o , que é v irtu a lm en te
o com eço da profecia. A final de contas, apesar do u niversal e n tre os exegetas cristãos - exceto e n tre
esforço de m u ito s para re c o n stru ir Jerusalém de os já m encionados dispensacionalistas.
Cálculo Historicista dos 70 Períodos
(Shabuím = Semanas) de Daniel 9:24 a 27
408 3 .C . 27 d.C. 34 d.C.
O ©
31 d.C.
A o utra pista de Scardelai viria da expectativa re- “H ouve um hom em cham ado Judas, filho de Eze-
dentora de orientação zelota que deve ter levado Jo- quias, que era tido com o o chefe dos bandidos. Eze-
sefo a in te rp re ta r o oráculo à luz dos últim os acon- quias tin h a sido um hom em m uito forte e foi com
tecim entos. Afinal de contas, com o já m ostram os dificuldade que H erodes o capturou. Judas, tendo re-
anteriorm ente, havia um a expectativa clara quanto à unido em Séforis, na Galileia, um a grande m ultidão
chegada, naqueles tem pos, de um red en to r m essiâni- de hom ens de caráter duvidoso, assaltou o palácio que
co cum prindo a profecia de Daniel cap. 9. ali havia e apossou-se de todas as arm as ali deposi-
tadas, arm ando com elas todos os que estavam con-
Justam ente p o r isso, tem os a seguinte descrição do sigo. Ele tam bém levou ju nto o dinheiro do palácio.
clima que envolvia o m undo judeu daquela época: T o rn o u -se terrível para todos os hom ens, assaltando
e rendendo todos os que se aproxim avam dele. T udo
“Inúm eros profetas, de fato, foram naquele perío-
isso a fim de se afirm ar e de alim entar seu am bicio-
do subornados p o r tiranos para enganar o povo. Es-
so desejo por dignidade real - pois ele esperava obter
tes pro p u n h am [ao povo] que esperassem pela ajuda
dignidade não com o recom pensa p o r um a virtuosa
divina, a fim de que as deserções pudessem ser sub-
m orte em batalha, mas p o r sua extravagância em fa-
jugadas e que os que estivessem sob o tem o r ou de-
zer m aldades.” (Antiguidades XVII, 271-272).
sencorajados pudessem ser m otivados pela esperança
(...) Assim, aconteceu do povo m iserável ser iludido “H ouve um hom em , Judas, o Galileu, de um a ci-
naqueles dias p o r charlatães que se diziam pretensos dade cujo nom e era Gamala. Ele, tom ando consigo
m ensageiros de D eus” (G uerras VI, 266-8). Zadoque, um fariseu, torn o u -se zeloso em conduzir
o povo à revolta. Am bos diziam que esta cobrança de que foram eles os responsáveis pela ira rom ana que
im postos não era m elhor do que um regim e de escra- resultou na destruição de Jerusalém e do T em plo no
vidão. Sendo assim, exortavam a nação a lutar p o r sua ano 70 d.C.
liberdade. (...) Eles tam bém diziam que Deus, de outra
2 - Simão de Pereia (4 a.C.)
m aneira, não os assistiria, e que p o r sua união uns
com os outros eles seriam bem -sucedidos (...) assim Fontes: G uerra II, 57-59 e A ntiguidades XVII,
os hom ens recebiam com alegria o que eles diziam, 273-277; Tácito, H istórias 5:9:2
e este m ovim ento pretendeu atingir um a grande di-
m ensão”. (Antiguidades XVIII, 4-6). História: logo após a m orte de Herodes, ele liderou
um a revolta, intitulou-se o “Rei dos judeus” e queim ou
“Judas, o Galileu foi o autor do quarto segm ento da o Palácio de Herodes, forçando a intervenção do lega-
Filosofia judaica. Estes hom ens concordam em todas do rom ano na Síria (Publius Quinctilius Varus).
as outras coisas com as noções farisaicas; m as eles tem
um vínculo inegociável com a liberdade e dizem que “D epois da m orte de H erodes, um certo Simão
Deus é seu unido G overnante e Senhor. Eles tam bém assum iu o nom e de rei, sem esperar pela decisão de
não valorizam qualquer tipo de m orte, nem valori- César. Ele, no entanto, foi condenado à m orte por
zam a m orte de seus parentes e am igos”. (A ntiguida- Quictilius Varus, governador da Síria; os judeus fo-
des XVIII, 23) ram reprim idos e o reino foi dividido em três partes
e dado aos filhos de Herodes. Sob T ibério tudo ficou
Observações: Ezequias, em bora bandido, parece calm o.” (Tácito, Histórias 5:9:2)35.
que era amado do povo, pois este líder foi peça-cha-
ve no desenvolvim ento posterior de toda um a geração “H ouve tam bém Simão, que tin h a sido escravo do
de revolucionários judeus que se inspiravam em seu rei H erodes, m as que em outros aspectos tin h a sido
exemplo. Ele foi um a espécie de bandido-revolucioná- um a pessoa com edida, de grande estatura e corpo
rio que inspirava a luta arm ada conduzindo um com- robusto. Ele era m uito m ais superior aos outros de
portam ento guerrilheiro contra o dom ínio rom ano e sua classe (...) esse hom em foi elevado durante o es-
a família de Herodes que era altam ente com prom etida tado caótico dos acontecim entos e chegou ao ponto
com esse dom ínio. Dois de seus filhos (Tiago e Simão de colocar um diadem a sobre sua cabeça, ao m esm o
[Antiguidades XX, 102]) seguiram o ideal guerrilheiro tem po em que um certo n ú m ero de pessoas aderiram
do pai e foram igualm ente executados. ao seu com ando e o declararam rei. Ele m esm o se
achava mais digno do que qualquer o u tro de receber
Josefo não nos oferece inform ações adicionais esta honra.
quanto ao fim que levou Judas, mas alguns supõem
que ele foi capturado pelo governador rom ano da Ele queim ou o palácio real que ficava em Jericó e
Síria (Publius Q uinctilius Varus) que m archou até o pilhou o que sobrou [do incêndio]. Ele tam bém in-
reino de A rquelau com o objetivo de restaurar a or- cendiou m uitas outras casas do rei em vários lugares
dem. D e fato, Atos 5:36 e 37 diz que ele foi executado. do país e, depois de destruir tudo, p erm itiu que aque-
A credita-se tam bém que o Judas filho de Ezequias se- les que o acom panhavam pilhassem o que sobrou
ria o m esm o Judas Galileu que se revoltou po r ocasião destas residências. Ele teria conquistado m uito se não
do censo judeu em 6 d.C. Sua pregação revolucionária fosse a ação im ediata [do governo] em reprim i-lo. [O
era sustentada em dois pilares: prim eiro a repugnante com andante da infantaria de Herodes] G ratus arregi-
política rom ana de contar o povo judeu (proibida em m en to u alguns soldados rom anos e foi ao encontro
II Sam. 24:1-17, esp. verso 10). Segundo, a elevação de Simão. D epois de um a grande e dem orada bata-
de im postos que certam ente adviria disso. lha, não sobrou nada daqueles que haviam vindo da
Pereia (um desorganizado agrupam ento de hom ens,
O quarto segm ento da Filosofia judaica a que m en- lutando sem nenhum a ordem ). T odos foram destruí-
ciona Josefo é o m ovim ento dos zelotes, os outros dos. Em bora Simão tenha conseguido escapar, fugin-
três são: os saduceus, essênios e fariseus. Josefo rela- do através de um vale, G ratus o alcançou e cortou sua
ciona os zelotes com os piores adjetivos pois acredita cabeça.” (Antiguidades XVII, 273-276).
O b se rv aç õ e s: Foakes Jackson deduz que o sim- que aconteceu com o próp rio A tronges. O fato de que
pies fato de Simão e A tronges (que verem os a seguir) ele era um pastor antes da revolução, tornava-o um
terem usado um a coroa (lit. diadema) é um indicativo tipo do rei Davi que tam bém era pastor de ovelhas.
de que ambos se proclam aram em algum a espécie de
4 - U m p r o f e ta S a m a r ita n o (36 d.C.)
M essias36.
Fontes: A ntiguidades XVIII, 85-87
3 - A tro n g e s (4 a.C. - 6 d.C.)
História: em 35 d.C., Pôncio Pilatos teve de en-
Fontes: G uerras II, 60-65; A ntiguidades XVII,
fren tar um a grave rebelião na Samaria.
278-284
Έ depois houve A tronges, hom em cuja em inência “Para um hom em que fez a luz de m entira e em
não p rovinha nem do renom e de seus antepassados, todos os seus projetos eram de acordo com a escó-
nem da superioridade de seu caráter, nem da exten- ria, reuniram -se [os sam aritanos], oferecendo-se ir
são de seus recursos. Era obscuro pastor, mas notável em um grupo com ele para o M onte Gerizim , que,
pela sua estatura e sua força. Ele ousou aspirar à reale- em sua opinião, é a m ais sagrada das m ontanhas. Ele
za pelo m otivo de que, um a vez obtido esse nível, ele garantiu que em sua chegada ele iria m ostrar-lhes os
poderia deleitar-se com m ais libertinagem . Q uando vasos sagrados, que foram enterrados lá, onde M oisés
se tratava de enfrentar a m orte, ele não tin h a m edo os tin h a depositado. Seus ouvintes, vendo este conto
de p ô r em risco a p rópria vida em tais circunstâncias. com o plausível, apareceram com arm as. Eles coloca-
T am bém tin h a quatro irm ãos. Estes eram igualm ente ram -se em um vilarejo, cham ado T irath an a e, como
hom ens de grande estatura, confiantes de que vence- eles planejaram subir a m o n tan h a em um a grande
riam em v irtude de seus feitos de força e esperando m ultidão, deram boas-vindas para as suas fileiras os
sólido apoio para a sua tom ada do reino. Cada um de- recém -chegados que iam entrando. M as antes que
les liderava um bando bem arm ado, pois um a m ulti- pudessem subir, Pilatos bloqueou a ro ta projetada
dão se reu n ira em to rn o deles. Em bora fossem gene- até a m ontanha com um destacam ento de cavalaria e
rais, estavam subordinados a ele, sem pre que faziam infantaria fortem ente arm ados, e num encontro com
incursões para lutar po r sua própria conta. Usando o os prim eiros chegados na aldeia, m ataram alguns em
diadem a real, A tronges reunia um conselho para deli- um a batalha campal e puseram os demais em fuga.
b erar sobre o que devia ser feito, ainda que em últim a M uitos prisioneiros foram levados, dos quais Pilatos
instância tudo dependesse de seu próp rio julgam ento. sentenciou [vários] à m orte: os principais líderes e
M anteve o poder p o r longo tem po, tendo sido desig- aqueles que foram mais influentes entre os fugitivos”.
nado rei e podendo fazer o que quisesse sem interfe- (Antiguidades XVIII, 85-87).
rência. Ele e seus irm ãos atuaram vigorosam ente na
m atança de tropas rom anas e herodianas, agindo com O b se rv aç õ e s: tam bém é polêm ica a identificação
ódio sem elhante contra ambas, contras as tropas re- deste sujeito com o um pretenso M essias, porque ele
ais p o r causa dos abusos que estas com eteram duran- era Sam aritano. C ontudo, o equivalente sam aritano
te o reinado de H erodes (...) Com o passar do tem po do prom etido M essias é o Taheb, um profeta-restau-
tornaram -se cada vez mais brutais, sem consideração rad o r “sem elhante a M oisés”, conform e anunciado
p o r ninguém . As vezes agiam na esperança de fazer em D eut. 18:15-18. N ote tam bém sua peregrinação
despojos, outras sim plesm ente porque estavam acos- ao M onte G erizim que era o anúncio da restauração
tum ados a derram ar sangue (...) Seus irm ãos continu- do tem plo Sam aritano que ficava ali. C om pare com
aram suas ações de guerrilha p o r m uito tem po ... mas João 4:25.
depois foram capturados e feitos prisioneiros (...)”.
5 - T e u d a s (45 o u 46 d.C.)
(Antiguidades XVII, 278-285/10:7).
Fontes: A ntiguidades XX, 97 e 98 e A tos 5:36
O b se rv aç õ e s: a rebelião de A tronges pode ter du-
rado pelo m enos dois anos. C uriosam ente Josefo diz História: mais um pretenso M essias, possivelm en-
o que aconteceu a seus irm ãos, mas nega-se a dizer o te helenista, pois alguns supõem que seu nom e seja
com posto p o r duas raízes gregas e significaria “p re- “U m golpe ainda m ais duro foi dado aos judeus
sente de D eus”. O utro s pensam nu m a origem sem i- pelo falso p ro feta egípcio. U m charlatão, que tin h a
ta que significaria “fui com o as águas”. P roclam an- obtido p ara si p ró p rio a reputação de profeta, esse
d o ־se um h e ró i enviado p o r D eus, ele rec o rre u à h o m em apareceu no país e re u n iu atrás de si uns
tradição nacional do M essias M osaico assegurando 30 m il tolos, e lid e ro u -o s p o r um cam inho to rtu o so
que tin h a poderes para a b rir as águas do Rio Jordão. do d eserto até o m o n te d en om inado das O liveiras.
Dali p re te n d e u e n tra r à força em Jeru salém e, após
“Passando um tem p o , en q u an to C uspius Fadus
d o m in a r a guarnição ro m an a, to rn a r-s e tira n o do
era p ro cu ra d o r da Judeia, um certo charlatão, cujo
povo, em pregando os que o tivessem acom panha-
nom e era T eudas, p e rsu ad iu m uitas pessoas do
do n a invasão com o sua guarda pessoal [...] Com o
povo sim ples a to m a r seus haveres e acom panhá-
resultado, o egípcio escapou com alguns de seus
-lo até o rio Jo rd ão . Dizia que era p ro feta e que à
seguidores, a m aior p a rte da força que 0 acom pa-
sua ordem o rio se separaria abrindo fácil passagem
nh av a foi m o rta ou to m ad a com o prisio n eira; o res-
p ara eles. C om essas palavras, iludiu a m uitos. M as
ta n te dispersou-se e v o lto u d iscretam en te aos seus
Fadus não p e rm itiu que eles consum assem essa lou-
lares” (G uerras II, 261-263).
cura. E nviou um a unidade de cavalaria c o n tra eles,
que m ato u m u ito s n u m ataque de surpresa e tam - 7- João de Giscala (66 - 70 d.C.)
bém c a p tu ro u m u ito s vivos. T e n d o capturado T e u -
das, co rta ra m -lh e a cabeça e a levaram a Jeru salém ” F ontes: G uerras II - VI
(A ntiguidades XX, 97 e 98).
H istória: Jo ão de Giscala, filho de Levi, atu o u
Observações: existe um a dificuldade c ro n o - na G alileia nos anos 66 a 70 d.C., época da G u erra
lógica na identificação e n tre este T eudas e aquele Judaica c o n tra R om a. Ele fora um p o b re cam ponês
m encionado em A tos. É que o T eudas citado p o r que “usava um a foice p ara ceifar”, m as que se to r-
Josefo aparece no tem p o de C láudio. M as o T eudas no u , m ais tard e, um rev o lu c io n á rio . N a sua época,
m encionado p o r G am aliel em A tos teria vivido an- a situação de rev o lta p o p u la r c o n tra R om a tin h a
tes disso. V árias soluções já foram p ro p o stas, mas to m ad o p ro p o rç õ e s sem p reced en tes. N o início de
n e n h u m a conclusiva. seu m o v im en to , João de Giscala defendia um acor-
do pacífico com os ro m a n o s depois se to rn o u v io-
6 - Um anônimo profeta egípcio (52 e 58 d.C. to . Josefo o tra ta v a com o um in im igo pessoal.
len
aproximadamente) Foi o p rete n so M essias m ais atacado pelo h isto ria -
do r judeu.
F onte: G uerras II, 259-263; A ntiguidades XX,
169-171; A tos 21:38 D epois que os ro m an o s co n q u istaram a parte
n o rte do país no início das G uerras Judaicas, João e
História: o profeta egípcio aqui m encionado condu-
seus 600 h o m en s fugiram para o sul, onde assum iu
ziu 30 mil hom ens (4 mil dos quais eram assassinos e
o c o n tro le de Jerusalém . À m edida que se aproxi-
hom ens violentos) ao deserto, prom etendo-lhes liber-
m ava da cidade, ele recebia um a eufórica recepção,
dade, diversos sinais da parte de Deus, e o fim do do-
o que indica que o povo viu nele um a espécie de
m ínio rom ano. Félix, evidentem ente, m atou a m aioria
re d e n to r p o p u lar ou quem sabe um rei.
desses hom ens e assim ficou patente que aquele Cristo
era falso. Josefo escreve que m uitos apareceram afir- J á no com ando de Jerusalém , ele designou P han-
m ando ter recebido revelações divinas e orientação dos nias com o sum o sacerdote e passou a g o v e rn a r o
céus, fazendo toda sorte de declarações bombásticas. T em plo. Josefo o descreve com o um tira n o e dés-
Simão, o M ago, persuadiu os habitantes de Samaria pota. E m bora Jo ão tivesse um a grande inspiração
que ele era o grande poder de Deus, e evidentem ente se zelota, tam b ém teve algum as oposições. Alguns
vangloriava, entre os judeus, de ser o filho de Deus (ver zelotas se rev o ltaram c o n tra ele, m as foram todos
Atos 8:9,10). Em Atos 21:38 Paulo é confundido com m o rto s à espada. Segundo a in te rp re ta ç ã o de Jose-
esse profeta e tem de se explicar ao tribuno rom ano. fo, foi a sua descida p ara Jerusalém que pro p icio u
o ataque ro m an o à cidade. Q uando T ito ca p tu ro u ser abandonado se fossem atacados fazia -0 p ô r sua
Jerusalém , João se ren d e u e foi sentenciado à p ri- única esperança na fuga: seu fim era e n g an ar T ito e
são perp étu a. Josefo cham a os seguidores de João fugir de noite; há m otivo de se c rer que D eus o quis
de sicários ou sicarii (nom e derivado de sua espada p rese rv ar p ara a ru ín a de Jerusalém .
curta: sica)37.
C hegou a n o ite e os ro m an o s não m o n ta ram
“E n q u an to estava encarregado dos negócios guarda; ele, então, fugiu p ara Jeru salém e não so-
da G alileia [Josefo aqui fala de si m esm o], eis que m en te levou consigo o que tin h a de soldados, m as
apareceu em cena um am ate de intrigas, n a tu ra l da tam b ém alguns dos principais h ab itan tes com suas
Giscala, cham ado João, filho de Levi, um dos in- fam ílias. (...)” (G uerras IX, 297).
divíduos m ais inescrupulosos e astutos que já ha-
“N o m o m e n to da e n tra d a de João de Giscala em
via surgido, o que lhe co nferiu n o to rie d ad e p o r tal
Jerusalém , to d a a população se lançou à sua fren te e
reputação de recursos. P obre desde o início de sua
cada um dos fugitivos estava cercado p o r um a vasta
carreira, sua p e n ú ria p o r m u ito tem p o o incom o-
m u ltid ão ” (G uerras IV, 121).
dou ta n to que ele chegou a ficar fru strad o diante
de seus p ro p ó sito s de vida. [Ele era] um im p o sto r “Q uando João e os revoltosos que o haviam se-
astuto e m u ito bem p rep arad o p ra o b te r lucros m e- guido chegaram a Jerusalém , to d o o povo reu n iu -se
diante suas fraudes (...) o p rospecto do lucro fez ju n to deles p ara lhes p e d ir notícias sobre a desgraça
dele o m ais sanguinário dos h o m en s, sem pre cheio que havia desabado sobre a infeliz nação: (...)Jo ão e
de ilim itadas am bições.” (G uerras II, 585-7/21.1). os seus assim falando, ap resen taram a retirad a com
um p rete x to tão h o n esto que m u ito s acharam que
“R estava então som ente Giscala, única cidade
era verdade e a n arração de alguns p risio n eiro s es-
da G alileia que ainda não tin h a sido tom ada. U m a
p a n to u de tal m odo o povo, que ele considerou a
p a rte daqueles que lá estavam desejava a paz, p o r-
ru ín a de Giscala com o a de Jerusalém . (...)”
que quase to d o s eram trab alh ad o res, cujos bens
consistiam em tu d o o que podiam tira r do seu em - “E ra grande a p ertu rb ação e a confusão que rei-
prego e trab alh o . Havia, p o rém , o u tro s, em m uito nava em Jerusalém ; antes da rebelião que surgiu em
grande n ú m ero e m esm o dos h a b ita n te s do lugar, seguida, um a p a rte do povo do cam po já se tin h a
que haviam sido co rro m p id o s pelas suas relações com eçado a dividir. (...) A divisão com eçou pelas
com os ladrões e assaltantes, e João, filho de Levi, fam ílias que já há m u ito eram inim igas; passou de-
os im pelia à revolta. E ra um ho m em m u ito m au, pois ao povo, que antes era tão unido e cada qual
grande m en tiro so , in co n sta n te em seus afetos e se colocava no p artid o dos que tin h a m as m esm as
que não p u n h a lim ites às suas esperanças; tu d o fa- ideias e m anifestavam a um grande n ú m ero . Assim ,
zia para conseguir os seus fins, e n in g u ém duvidava tu d o era agitação e os que desejavam a revolução e
de que assim procedia pelo desejo de se elevar em a g u e rra prevaleciam p o r sua m ocidade e coragem
autoridade, incitan d o com ta n to a rd o r esta g u e rra .”
(G uerras IV, 84-86).
“Em tal confusão cada qual roubava, p o r p ri-
“(...) João to m o u a palavra p o r todos e disse que m eiro; m as depois de se tere m reu n id o praticavam
aceitava o o ferecim ento e p e rsu ad iria os o u tro s a a b ertam en te to d a so rte de fu rto e não causavam
aceitá-la tam bém ou a isso os ob rig aria pela força; m enos m al que os rom anos. A ssim não havia o u tra
m as rogava que lhe concedesse ainda aquele dia diferença e n tre o m al que as pessoas sofriam de uns
p ara a observância de suas leis, que os obrigavam e de o u tro s, senão que era m u ito m ais doloroso ser
a santificar o sábado e não lhes p e rm itia o u tro ssim assim tra tad o p o r h o m en s de sua p ró p ria nação do
fazer naquele dia tra tad o s de paz, bem com o to m a r que p o r estran g eiro s.” (G uerras X, 298 e 299).
as arm as para fazer a guerra, (...)”
O b se rv aç õ e s: enquanto dom inou Jerusalém , João
"... M as não era p o r respeito ao dia de sábado m andou cunhar m oedas de prata e de bronze com a
que João havia falado daquele m odo. O te m o r de inscrição “ano x da liberdade de Sião” (67 d.C.).
dado pelo slogan herut tzion (pela ou da “liberdade de
Sião”). A ânfora no o u tro lado talvez seria para guar-
dar o p roduto da uva, o vinho. Com o existem m uitas
variações, os arqueólogos creem que as m oedas foram
cunhadas em diferentes lugares.
(״...) mas a redução das fortalezas e o assassinato do Os saduceus não criam na im ortalidade da alma,
sum o sacerdote A nanias fizeram com que M anahem nem na ressurreição final dos hom ens. Para eles, o
se exaltasse e se brutalizasse a tal p o n to que sua ou- ser hum ano é responsável por seu próprio destino e
sadia o fez supor que não teria rivais a sua altura. Ele sua vida se lim ita a esse planeta. Eles obedeciam a Lei
to rn o u -se um tirano intolerável (...) assim [seus ini- de M oisés, mas rejeitavam a tradição dos pais. Talvez
migos] m aquinaram de m atá-lo enquanto estivesse po r isso, poucos aceitavam seus ensinos e eles aca-
no T em plo, para onde ele teria ido com a intenção de bavam artificialm ente plagiando ensinos e conceitos
fazer suas devoções [propositadam ente] vestido com farisaicos para te r m aior suporte popular.
um m anto real, ao m esm o tem po em que era seguido
p o r um séquido de fanátidos arm ados. Os fariseus aparen tem en te criam na im ortalida-
de da alm a, na ressurreição final e na recom pensa
Então, Eleasar e seus partidários caíram violen-
últim a dos justos. Para eles a h istó ria era a som a-
tam ente sobre ele, bem com o o resto do povo, to-
tó ria dos atos de D eus em cooperação ou conflito
m ando pedras para atacá-lo, eles atiravam as pedras
com os atos hum anos. Eram m ais próxim os do povo
no M estre39, supondo que um a vez que ele estives-
e geralm ente não dem onstravam -se possuidores de
se m o rto todo 0 seu m ovim ento fadaria ao fracasso.
grandes quantias. O povo era m ais inclinado à sua
M enahem e seu seus hom ens resistiram po r um pou-
liderança do que a de qualquer o u tro grupo. Sua in-
co de tem po [à m uldidão], mas percebendo que não
fluência era m u ito grande. A lgum as vezes eram as-
poderiam suportar p o r mais tem po, fugiram cada um
sociados com os escribas (profissinais da lei) outras
para um lado. Os que foram pegos foram m ortos e
eram distintos deles41.
os que se esconderam com eçaram a ser procurados.
U ns poucos conseguiram escapar para M asada [...]. E Os essênios acreditavam no juízo final, eram de-
0 próp rio M enahem correu para o palácio de Ophla, term inistas (a vontade de Deus era soberana sobre os
e lá ficou escondido, mas eles 0 encontraram vivo e hom ens). Viviam em com unidades separadas, eram
0 trouxeram perante a m ultidão. Então o to rtu raram celibatários, dividiam os bens entre si, não possuíam
com m uitos tipos de torm entos e depois o m ataram escravos e se abstiveram do serviço do tem plo em Je-
[apedrejado], com o tam bém seus líderes im ediatos.” rusalém . A parentem ente eram ex-sacerdotes ou pes-
(G uerras II, 442-448). soas an terio rm en te ligadas à classe sacerdotal.
Já a cham ada “quarta filosofia” seria sem elhante mais antiga desta afirm ação pode ter sido Hegesipo
aos fariseus em suas concepções teológicas, com a di- que viveu por volta de 180 d.C. e foi, ele m esm o, um
ferença de que n utriam um exagerado am or à liber- cristão convertido do judaísm o44.
dade com radical oposição ao dom ínio dos rom anos.
Epifânio, m ais com pleto que a citação de Eusébio,
Isso os faz parecer com os zelotes, mas o quadro geral
nos diz que os nazarenos eram um m ovim ento sepa-
esboçado p o r Josefo acerca desse grupo é m uito con-
ratista do judaísm o com um que antecedia o cristia-
fuso e im preciso42.
nism o (e essa é um a inform ação preciosa para nós):
Josefo dizia que os fariseus eram geralm ente bon- “Então houve os nazarenos dentre os judeus antes dos
dosos e amistosos com o povo, enquanto os saduceus dias de C risto” [Adversus Haereses XXIX, 6, 1). Logo,
eram mais arrogantes e, p o r isso, mais rejeitados eles não estão na fase de derivação, mas nas origens
(G uerras II, 162). A parentem ente todos esses grupos do cristianism o. A inda segundo Epifânio, eles guar-
consistiam de pessoas letradas (talvez m enos de 10% davam a T orá, incluindo a circuncisão e a observân-
da população em geral). cia do sábado e que liam as Escrituras em hebraico45.
De acordo com Josefo, os fariseus som avam seis Eles tam bém possuíam um certo evangelho em he-
m il m em bros e os essênios quatro m il (Antiguidades braico, se entenderm os que a citação que Eusébio faz
XVIII, 20). O núm ero pode parecer exagerado, mas, de Hegesipo se refere a este grupo.
pelo m enos em relação aos essênios, o côm puto é
Diz Eusébio:
confirm ado por Filo que acrescenta a inform ação de
que os essênios costum avam viver “juntos em gran- “O m esm o autor [Hegesipo] tam bém m enciona as
des com unidades em várias cidades da Judeia e em antigas heresias que surgiram entre os judeus nas se-
m uitas vilas” (Apologia pro Judaeis, 1; Quod omnis homo guintes palavras: ‘Houve, ainda, várias opiniões acer-
probus liber sit, 75). ca da circuncisão entre os filhos de Israel. Os seguin-
tes foram aqueles que se opuseram à trib o de Judá e
vado alguns críticos a sugerirem apenas um a recente sentido prim ário é “lugar de habitação” e no uso do
N ovo T estam ento ela não denota necessariam ente
fundação da cidade), a arqueologia indica que o vila-
um a ideia de organização m unicipal. “O uso de pólis
rejo já era ocupado desde o século X a.C., em bora ele
no N T é de fato com pletam ente não político”63.
possa te r experim entado algum tipo de refundação’
no século II a.C.”61 D eduz־se isso p o r causa da cerâm i- Veja que polis é usada pelos evangelistas em inter-
ca localizada no local que vai de 900 a 600 a.C. Depois câmbio como kâmê, que quer dizer povoado, aldeia,
tem os um hiato até 100 a.C. quando talvez a cidade lugar de descanso para trabalhadores do campo [fazen-
foi reocupada. Nesse tem po seriam aproxim adam en- da]64. Veja: Betsaida é chamada de kômêem Marcos 8:23,
te 50 casas num cam po de 4 acres de terra. 26 e de pólis em M ateus 11:20. Belém é chamada de kômê
em João 7:42 e de pólis em Lucas 2:4. O term o kômópolis N azaré, p o rtan to , continuou contando com a pre-
em M arcos 1:38 é m udado para pólis em Lucas 4:43. sença ativa de cristãos. Alguns destes podem ter fun-
dado no Século V a igreja sobre a casa onde M aria
T am bém devem os anotar que a LXX usa a palavra teria supostam ente vivido. O fundador pode ter sido
pólis para traduzir um term o hebraico que não sig- um certo C ônon de Jerusalém (não confunda com 0
nifica necessariam ente um assentam ento urbanísti-
C ônon de N azaré), pois seu nom e aparece num m o-
co no sentido m oderno da palavra. T rata-se de “ir”
saico local ao lado noroeste da igreja, datado do sécu-
que pode significar um a torre, um lugar para sacri-
10 V d.C.
fícios, um a fortaleza, um a fazenda, enfim , qualquer
povoação perm anente sem referência a tam anho ou Hegesipo tam bém m enciona os parentes de C risto
situação política. A única distinção básica de “ir” nos ao falar da perseguição sob D om iciano (81-96 d.C.)66.
tem pos do A T é que ela frequentem ente tin h a m u- Julius Africanus (250 d.C.) m enciona com o os paren-
ros, enquanto vilas m enores não. C ontudo, D eutero- tes de Jesus (de o utra geração) ainda eram zelosos em
nôm io 3:5 m enciona a existência de cidades que não m an ter viva a m em ória de seus ancestrais67.
tinham m uros65.
Os escritos apócrifos am pliam ainda mais a ativi-
Os dados, po rtan to , parecem apontar para a m i- dade dos parentes de Jesus. Eles tentam recolher dos
gração de algum grupo judaico que aguardava o M es- parentes inform ações da infância e juventude de Je-
sias e se ajuntou coletivam ente naquela região da sus, m uitas, é claro, já transform adas em lendas.
Galileia. Não é inverossím el supor que tenha havido
algum a ligação prévia deles com os essênios ou ainda
que esse grupo seria um a subdivisão daquele anterior Nazarenos e essênios
p o r discordar de algumas ideias.
Supondo a teoria mais com um atualm ente de que
Os parentes de Jesus, que creram que ele seria o
os essênios seriam os habitantes da com unidade de
M essias, continuaram m orando em Nazaré. Segundo
Q um ran, é interessante n o tar alguns paralelism os
o testem unho de Atos 1:14, os irm ãos de Jesus aceita-
entre a seita e o m ovim ento de Jesus. Esses paralelos
ram seu m essianism o após a ressurreição e se uniram
não indicam de m aneira n enhum a que Jesus seria um
aos apóstolos em Jerusalém . Isso aconteceu em algum
essênio (eles podem ser apenas eco de um a cultura
tem po durante os dias em que Jesus ressurreto apare-
judaica com um entre os dois m ovim entos). C ontudo,
ceu aos discípulos tan to na Judeia quanto na Galileia.
pelo m enos indicam as origens mais específicas do
Eles provavelm ente não estavam em Jerusalém du-
m ovim ento de Jesus dentro do m osaico de segm entos
ran te crucifixão de Jesus e, se estivessem , certam ente
do judaísm o do Segundo Tem plo.
não estariam do lado dele.
“Aquele que pratica a verdade”(Joào 3:21 e M anual
Depois do Pentecostes, aparentem ente, os paren-
de D isciplina 3, 21).
tes de Jesus voltaram para Nazaré. Talvez tem essem
as ameaças que haviam sobre o grupo em Jerusalém “O bras de D eus” (João 6:28 e M anual de Disciplina
- o m artírio de Tiago já sinalizava os novos tem pos. 4, 4).
A exceção foi M aria, que, de acordo com a tradição
“Anjo de Satanás” (II Cor. 12:7 e D ocum ento de
posterior, seguiu para Éfeso em com panhia de João.
Dam asco 16, 4).
Os nazarenos, contudo, continuaram sendo persegui-
dos e em 44 d.C. Pedro e João foram presos. “Belial”(II Cor. 6:14 e M anual de Disciplina 1, 16
ss., D ocum ento de Dam asco 4, 13 etc.).
D urante a perseguição prom ovida p o r Décio
(249-251), um hom em cham ado C ônon foi preso. Ele O dualism o ético entre luz e trevas e a batalha dos
então disse à corte: “eu sou de Nazaré, na Galileia. Eu filhos da luz co n tra os filhos das trevas (Rom. 13:12;
sou m em bro da fam ília de C risto, a quem ofereço cul- 11 Cor. 6:14; Ef. 4:17; 5:14 comp. com D ocum ento de
to desde os tem pos de m eus ancestrais”. Dam asco 4, 3).
“Luz da vida”(João 8:12 e M anual de Disciplina 3,7). O utra expressão paralela é "livro selado com sete
selos” (Apoc. 5:1 comp. com 4Q550; col. 4 linha 5).
“aquele que anda nas trevas” (João 8:12; 12:35 e
M anual de Disciplina 3, 21) U m dos m ais im pressionantes paralelos estará en-
tre M ateus 11:4-6 (Luc. 7:22) e 4Q521. Veja os crité-
“filhos da Luz” (Luc. 16:8; Jo. 12:36; Ef. 5:8; I Tes.
rios m essiânicos da versão qum rânica:
5:5 e M anual de Disciplina 1,9;2:24; I Qm).
[os cé]us e a terra ouvirão o seu Messias e ninguém
A expressão “água viva” de João 4:10 aparece na li-
ali apartará dos m andam entos do Santo. Vós que bus-
teratu ra rabínica para descrever as águas que correm
cais o Senhor, fortaleçam -se em seu service. Todos vós
na cerim ônia do Tevillah (o batism o). Em Q um ran as
tenhais esperança em vossos corações, não achareis o
“águas vivas” correm do poço de Jacó e trazem a vida
Senhor em tudo isso? Pois o Senhor considerará os
eterna (M anual de Disciplina). João 4 parece seguir
piedosos (Hasidim) e cham ará os justos pelo nome.
essa tem ática (conf. Núm . 21:18).
Sobre os pobres, haverá de pairar o seu Espírito e re-
A expressão “Espírito Santo” só aparece duas ve- novará os fiéis com seu poder. E ele m esm o glorificará
zes no AT, mas é abundante seu uso em Q um ran. O os piedosos sobre o tro n o do reino eterno. E ele quem
E spírito Santo é o “Espírito da verdade” que, com o as liberta os cativos, restaura a vista aos cegos, fortalece os
águas de purificação, lim pam o hom em de sua m alda- quebrantados ... ele curará as enfermidades, ressuscita-
de (M anual de Disciplina 4, 12-13). A m esm a missão rá os m ortos e trará boas-novas aos pobres, (baseado
do Espírito Santo no NT. na tradução de M ichael O. W ise)
Disponível online in http://w ww .yashanet.com /library/tem -
Notas p le/yoma39.htm.
31 N. T. W right, The N ew Testam ent and the People o f God - Vol. 1 48 William F. Arndt e F. W ilbur Gingrich, A Greek-English
: Christian Origins and the Question of God (Londres: SPCK: Lexicon of the New Testament and O ther Early Christian
1992), 304. Literature - a translation na adaptation of the fourth revised
and augmented edition of W alter Bauer’s Griechisch-Deuts-
32 Donizete Scardelai, Movimentos Messiânicos no Tempo de
ches W õrterbuch zu den Schriften dês Neuen Testaments und
Jesus, (São Paulo: Paulus, 1998), 116 e 117
der übrigen urchristlichen Literatur, (Chicago e Londres: The
33 Scardelai, 124. University of Chicado Press, 1979), 523.
34 Seguimos, com adaptações, a estrutura de apresentação que se 49 Disponível online em http://w w w .sw am i-center.org/en/text/
encontra em http://w w w .livius.org. gospelofphiIip.pdf
35 Citado conforme a versão em inglês do Texto de Tácito que se 50 Apud David Donnini “Estratti da alcuni Vangeli Apocrifi”
encontra online em h ttp :// penelope.uchicago.edu/Thayer/E/ disponível em http://w ww .nostraterra.it/apocrifi/apocrifi.htm l
R om an/T exts/T acitus/Histories/5A*.html#9
51 Para os textos aramaicos de Isaías veja Bruce D. Chilton,
36 Foakes Jackson, 87. ed., The Isaiah Targum: introduction, translation apparatus and
notes. (Edinburgh: T & T Clark, 1987). (Vol. 11 o f the Aramaic
37 Diferença entre Sicários e Zelotas: Kippenberg, apoiando-se em Bible series), versão eletrônica.
Baumbach e em documentos judaicos, diz que o termo sicários
“foi a denominação dada ao movimento revolucionário rural da 52 SDABC V, 293.
53 K u rt Rudolph, Gnosis: The N ature and History o f Gnosticism ( San A. Archaeology, History & Society in Galilee. (Valley Forge PA:
Francisco, CA: Harper & Row, 1983), 343. Trinity Press International, 1996), 107-112.
54 Edwin M. Yamauchi, Pre-Christian Gnosticism: A Survey of the 63 Strathmnn, polis, in TDNT, VI, 520.
Proposed Evidences (Grand Rapids, MI: Baker, 1983), 117-142.
64 Thayer, #2968, 367.
55 Pritz, 12.
65 Carl Schultz, “,ir” in R, Laird Harris et. alii, Eds, Dicionário
56 “Messianic,” or “Messianics,” Greek Christianoi, which could Internacional de Teologia do Antigo Testamento, (São Paulo:
be rendered... as in other translations, “Christians.” .. .the Vioda Nova, 1999), #1615, 1110 e 1111.
name “Christianoi” was applied to Gentile believers by Gentile
66 Citado por Eusébio História Eclesiástica, III, 19,20, 1-6.
nonbelievers. The name nonbelieving Jews gave to Jewish
believers was “Natzaratim”... (“Nazarenes”),...” - David H., 67 Idem, História Eclesiastica, 1,7,13-14
Stern, Jewish New Testam ent Commentary. (Jewish N ew Testa-
m ent Publications: 2004). 68 Na verdade, os gafanhotos eram comida Kosher segundo Lev.
1:20-23. Do mesmo modo os Manuscritos de Qumran afirmam
57 M. Avi-Yonah, “A List of Priestly Courses from Caesarea” Israel que os gafanhotos podiam ser comidos, desde que bem cozidos
Exploration Journal 12: (1962), 137-139. ou assados (Documento de Damasco xii, 11 -15). Contudo, vários
autores advogamque João era vegetariano. Uma longa revisão de
58 Craig A. Evans, Jesus and the Ossuaries, (Waco, TX: Baylor
toda a discussão acadêmica sobre o vegetarianismo em João e entre
University Press, 2003), 48.
os essênios pode ser encontrada em: Jameds A. Kelhoffer, The Diet
o f John the Baptist “Locusts and W ild Honey" in Synoptic and. Patristic
59 James Strange, “Nazareth” in the Anchor Bible Dictionary,
(New York: Doubleday, 1992). interpretation (WUNT 176; Tübingen: Mohr Siebeck, 2005),
esp. pp. 19-21. Veja também sobre o vegetarianismo em Qumran:
60 E. Meyers & J. Strange, Archaeology, the Rabbis, & Early Chris- Y izhar H irschfeld. Qumran in Context: Reassessing the Archaeologi-
tianity. (Nashville TN: Abingdon, 1981), 57. cal Evidence. (Peabody: Hendrickson Publishers, 2004). Ellen W hite
afirma que João tinha uma dieta vegetariana, (Maranata, 1977). E
61 Idem, 56-57. há quem sugira, embora com base no argumento do silêncio e nada
mais, que a ceia pascal de Jesus e os discípulos fora celebrada sem o
62 Cf. também Rousseau, John J. & Rami Arav, Jesus & H is W orld, cordeiro pascal à semelhança do que se fazia em Qumran, embora
(Minneapolis: Fortress Press, 1995), 248-251, Horsley, Richard essa seja uma afirmação possível, porém, inconclusa.
nciclopédia Histórica da Vida de Jesus é uma obra idealizada para aque-
les que querem conhecer melhor a Bíblia Sagrada e comprovar como a Ar-
queologia tem contribuído para uma melhor compreensão desse livro. Em
suas páginas você encontrará as mais modernas descobertas arqueológicas
que se relacionam com a vida de Jesus Cristo. Mesmo sendo uma obra de ele-
vada erudição, o autor discorre sobre a pessoa de Cristo com uma linguagem acessível,
tornando a leitura muito agradável e instigante. Mapas, imagens, lugares históricos e
tecnologia QRcode com vídeos feitos pelo autor em lugares históricos proporcionará
uma imersão histórica nos passos do Cristo - o Emanuel, Deus Conosco.