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RODRIGO SILVA

Enciclopédia
Histórica da
Vida de
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ENCICLOPÉDIA HISTÓRICA DA VIDA DE

JESUS
Expediente

E d ito r
C ris tia n M u n iz

Coordenação Pedagógica e Editorial


G e o v a n a M u n iz

Revisão
A n a P au la R ib e iro

Projeto Gráfico e Diagramação


W K E d ito ria l

Capa
R afael C a rv a lh o

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silva, Rodrigo Pereira da


Enciclopédia da vida de Jesus / Rodrigo Pereira da
Silva. ‫ ־־‬São Paulo : Pae Editora, 2019.
Bibliografia
ISBN: 978-85-5558-095-6
1. Jesus Cristo - Enciclopédias 2. Jesus Cristo -
Ensinamentos 3. Jesus Cristo - Historicidade 4. Jesus
Cristo - Pessoa e missão I. Título.

17-05187 CDD-232.903

índices para catálogo sistemático:


1. Vida dejesus : Cristologia : Enciclopédias
232.903

fZ & z y T odos os direitos desta edição reservados à PAE E ditora


J T L Av. Rudge, 346
01134-000 - São Paulo - SP
Tel: 11 3222-9015
p 1 ‫ח‬ t o p a w w w .pae.com .br Impresso no Brasil
ENCICLOPÉDIA HISTÓRICA DA VIDA DE

JESUS

RODRIGO SILVA
Prefácio

C onheço o autor desde década de 1990. R odrigo Pereira da Silva sem pre
foi dedicado pesquisador das Escrituras Sagradas, com viés para a área ar-
queológica, da qual é D outor, pela U niversidade de São Paulo. Tive o pri-
vilégio de com por a banca que o declarou D outor, após sua tese ter sido
aprovada p o r unanim idade.
C ertam ente sua obra Enciclopédia Histórica da Vida de Jesus é um a grande
contribuição aos leitores interessados em conhecer m elhor a Bíblia Sagra-
da e ver com o a A rqueologia tem contribuído para um a m elhor com preen-
são desse livro, em cujas páginas se encontra delineado o plano da salvação
de Deus para o ser hum ano, através de vida e obra do Senhor Jesus Cristo.

M esm o sendo obra de elevada erudição, o autor discorre sobre a pessoa


de C risto com linguagem acessível, e isso faz com que o leitor consiga,
sem m uito esforço, com preender os assuntos e argum entos relacionados a
C risto - o Em anuel, Deus Conosco, e com o esse conhecim ento é de vital
im portância no que diz respeito à vida eterna, disponível àqueles que o
aceitam com o Salvador pessoal.
C ertam ente que, após ler essa obra, a leitura da Bíblia Sagrada adquirirá
novo sabor e significado ao leitor atento e interessado em com preender o
plano que Deus tem para sua vida, bem com o para toda hum anidade.

Ozeas C. Moura
D outor em Teologia Bíblica, pela PUC - RJ
xdução

O Fam oso escritor e filósofo B ertrand Russell foi, sem dúvida, um dos
m aiores opositores à existência de Deus e relevância do cristianism o. Em
seu livro “Por que não sou C ristão”, lançado em 1927 ele foi taxativo em
dizer que era praticam ente nula a chance de Jesus ter existido. Sendo assim,
não via porque p erder tem po com um personagem cujas características,
em sua opinião, eram pueris e questionáveis.

Em que pese o brilhantism o de Russell, tão aclamado p o r m uitos, fico


m e perguntando o que teria ocorrido para que ele odiasse tanto a figu-
ra bíblica de Jesus? Afinal, caso se trate de um personagem literário mal
construído não há porque sentir-se ameaçado p o r ele, nem trata-lo com
tam anho desprezo. Jam ais vi um filósofo de prestigio escrevendo um livro
apenas para desm erecer a figura m itológica de Papai Noel.

Por isso, o protesto intelectual de Russell m e faz perceber que Jesus


é m uito mais do que um m ito natalino, ou personagem inofensivo. Seu
nom e ameaça e não condiz com a ten tativa de m inim izar sua m ensagem
fazendo-a parecer pueril. Existe algo em suas palavras e história que arre-
piam até o m aior dos descrentes.

Jo h n Stuart M ill um dos mais influentes econom istas britânicos do sé-


culo 19, adm itiu apesar de seu ceticism o religioso que o próprio Jesus era
a m aior prova de sua existência. Afinal, se C risto não existisse, nem nós
nem seus discípulos não teríam os condições de inventar alguém assim.
C.S. Lewis, ele m esm o um ex ateu, colocou isso de m aneira mais poética:
“seria preciso alguém m aior que Jesus para in v en tar Jesus. A causa sem pre
será m aior que o efeito”.

Caso eu trabalhasse com qualquer hipótese m ínim a de Jesus te r sido


fruto de um a criação hum ana, então deveria adm itir que aquele que o criou
m ereceria m ais que um prêm io N obel em literatura, m ereceria um altar.
Afinal, Jesus é sim plesm ente, a resposta últim a para a inquietação hum ana.
Por que, então, alguém da estirpe intelectual de Russell não o adm ite
com o Senhor de sua vida? Não sei com certeza, mas um a coisa posso afir-
m ar: aquele que conhece o evangelho e ainda assim rejeita sua m ensagem ,
ten tará em vão preencher o vazio existencial da alma, am pliado p o r sua
descrença. No lugar de Cristo, Russell sugere que sejamos fascinados por
Pitágoras, um filósofo e m atem ático que m uitos historiadores nem sabem
ao certo se existiu.

A filosofia pode existir sem Sócrates e poesia pode existir sem Carlos
D rum m ond de A ndrade, m as o cristianism o não terá sentido se Jesus for
fictício. Ele é a razão de nossa fé e o m otivo de nossa esperança. Por isso
revelo m eu sentim ento de alegria e reverência ao apresentar ao público
essa enciclopédia história da vida de Jesus.

Ela não pretende substituir os evangelhos ou torna-los mais com pletos.


E ntenda a obra a seguir com o um sinal que aponta para algo m aior que ela
m esm a. Ademais, as páginas que se seguem revelam m inha p ró p ria con-
fissão acadêmica diante do com plexo m undo da teologia: quando adentrei
o sem inário, disseram -m e que Deus era infinito e eu não entendi nada.
Que ele era todo-poderoso e eu continuei sem entender. Que era eterno,
sem com eço e sem fim. D iante disto m inha ignorância aum entava cada
vez mais. Por fim, contaram -m e que ele um dia “se fez carne e habitou no
m eio de nós” (Jo 1:14). Ai comecei a te r um a ideia do que poderia ser Deus
e gostei daquilo que descobri.

A história de Jesus é a própria história de Deus, contada de um a form a


que intelectuais se espantam , perdidos criam esperança e crianças com pouco
esforço entendem . Sem dúvida alguma, a m aior história de todos os tem pos.
Sumário

09 Jesus mito ou realidade


16 Buscando o Jesus histórico
Jesus Existiu?
28 Aspectos físicos da Terra de Jesus
45 Populações da Terra Santa
Família e sociedade
76 Quatro evangelhos - uma história
Jesus Humano
O Messias do Mar Morto
118 Preparação para o Messias
138 Quando Nasceu Jesus?
154 Ministério de Jesus
187 Milagres de Jesus
220 Julgamento e crucifixão de Cristo
265? Conciso dicionário sobre a vida de Jesus
Apêndice Cristológico
Jesus: mito ou realidade? U m a pesquisa feita no shopping B rent Cross, em
Londres, na Inglaterra, e divulgada pelo jornal “Daily
M irro r”, m ostra que as crianças não se preocupam
O teólogo René Latourrelle escreveu: “O proble-
com 0 Natal e não conhecem o significado da data.
m a da credibilidade cristã decorre da grandeza do
cristianism o, principalm ente po r causa da radicalida- M il jovens foram entrevistados e 20% deles acharam
de das suas exigências”1. De fato, Jesus de Nazaré foi que Jesus C risto era um jogador do Chelsea. M ais da
o único hom em que em sã consciência disse ser Deus m etade acredita que o dia 25 de dezem bro seja a data
e convidou outros a aceitarem isso. Hoje bilhões de de aniversário do Papai Noel, razão pela qual ganham
pessoas em todo o m undo norteiam sua filosofia de presentes dos familiares.
vida baseadas nos ensinos desse hom em que viveu há O questionário foi feito com a pergunta “Q uem é
mais de dois m il anos. Seria ele um louco? U m em -
Jesus Cristo?”. As opções de resposta eram: A) joga-
busteiro? O u a figura real de Deus entre os hom ens?
dor do Chelsea, B) filho de Deus, C) apresentador de
T V , D) candidato de um show de calouros ou E) um
A fê no mundo astronauta. A prim eira opção foi eleita por um em
cada cinco entrevistados3.
T odas as pesquisas sobre filiação religiosa fei-
Este pode parecer um episódio isolado e de pou-
tas até o m o m en to m o stram que a m aio r p arte do
ca im portância, mas não é. C hegaria a ser engraçado,
m undo ocidental se diz cristã. N a verdade, o cris-
se não fosse tragicôm ico. A perda de conhecim ento
tianism o segue sendo a m aior religião do m undo,
teórico e relacionai dos cristãos com o fundador do
em bora alguns estatísticos pensem que 0 n ú m ero de
cristianism o tem perturbado m uita gente.
m ulçum anos deve igualar ao de cristãos até 2050 e
superá-lo em 21002. Países fundam entais na história do cristianism o
que foram palco de im portantes acontecim entos ou
Em bora países da Europa ocidental ten h am se to r-
nado cada vez m enos religiosos, o núm ero de pessoas berço de relevantes m ovim entos estão se torn an d o
que creem em Jesus ainda é m ajoritário no Ocidente. cada vez m enos cristianizados.
E a tendência, segundo Jean-M arc Leger, presidente
da W IN /G allu p International é aum entar.

A Escócia fo i, no início do
século XX, p io n eira de um mo-
" 0 estudo revela que 0 to ta l de pessoas v im e n to m issio n á rio de alcance
que se consideram crentes é, na verdade, m undial. H oje, porém , 0 percen-
alto. E com a crescente te ndê ncia global de tu a l de cristã o s caiu para pouco
uma ju ve n tu d e re ligiosa, podem os assum ir m ais de 55% e, a cada ano, d im i-
que 0 núm ero de crentes contin uará aum en- nui em pelo m enos 1 %. Há m uita
ta n d o ", diz J e a n -M a rc Leger, p residente da incerteza e n tre os m em bros da
W IN /G a llu p In te rnationa l. igreja. Nas igrejas p ro te sta n te s
(evangélicas), 23% dos e n tre vis-
tados disseram não a cre d ita r que
Je sus fo i alguém real, enquanto
14% dos m em bros da Igreja Ca-
tó lic a pensam 0 m esm o.
C ontudo, algumas situações dem onstram que
existe um hiato entre o que a m aioria diz crer e o que
eles, de fato, conhecem sobre essa crença.
História da fé
A com preensão mais com um ente aceita entre cris-
tãos acerca de Jesus é que este seria 0 filho de Deus
em form a hum ana e teria um a natureza divina. Assim
declara o antigo credo apostólico, cujas origens são
desde o final do I ou II século d.C.;

"Creio em Jesus Cristo, seu único Filho,


nosso Senhor, 0 qual foi concebido por obra
do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria;
padeceu sob 0 poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; ressurgiu
dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu;
está sentado à direita de Deus Pai Todo-po-
deroso, donde há de vir para julgar os vivos
e os mortos. "

Este, contudo, é um dado da fé cujo alcance histó-


rico só se dá em nível testem unhai. O u seja, ele não
prova que Jesus era o Filho de Deus, m as apenas tes-
tem u n h a a antiguidade desta crença entre os cristãos.
A inform ação, contudo, não deixa de ser valiosa.

Jesus era um ser extraordinário de natureza única.


Seu corpo possuía, de um m odo inexplicável, toda a
plenitude da divindade (Col. 2:9). Sua natureza eter-
nam ente divina to rn o u -se historicam ente hum ana,
Sistematszações filosóficas
sem que um a anulasse a existência da outra. Jesus
Pesa-se, porém , a crítica de que no percurso da
Cristo é o único ser em todo universo que possui duas
história alguns concílios a ten h am enfeitado demais
naturezas, divina e hum ana.
com um com plicado jogo de conceitos filosóficos que
Essa declaração confessional tem base bíblica nem sem pre ajudaram a esclarecer o sentido mais
(I Cor. 15:3-8 ss), em bora ten h a sido form ulada aos profundo de seu conteúdo.
poucos, à m edida que se com preendia m elhor os en-
sinos do N ovo T estam ento. G rupos dissidentes, no Especialm ente no período posterior a Niceia (325
entanto, tentaram , desde os tem pos apostólicos, ne- d.C.), os que duvidavam do dogm a cristológico eram
gar essa declaração de fé, mas ela “sobreviveu” rela- reputados p o r segm entos m arginais, à sem elhança do
tivam ente bem através dos séculos, sendo ecoada ofi- arianism o ou, antes dele, dos vários grupos gnósticos
cialmente desde os credos de Niceia e C onstantinopla que produziram os evangelhos apócrifos nunca reco-
até à R eform a P rotestante e o Ilum inism o europeu. nhecidos pela Igreja. Todos os que negassem a divin-
Hoje o cenário é diam etralm ente oposto. A Igreja
M edieval perdeu seu poder de indução. Não legisla
mais o conceito de verdades eternas. Apesar da efer-
vescência ainda existente em torno do nom e de Jesus,
é cada vez m aior o núm ero de pessoas dentro e fora das
religiões que questionam a veracidade histórica daque-
le hom em chamado Jesus de Nazaré ou, de m odo mais
confessional, Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Mudança de rumo
As m udanças de perspectiva sobre a figura de Jesus
com eçaram no século XVIII, quando os tem pos da
certeza confessional deram lugar a um a nova época
de questionam entos racionais à fé. V ários pensadores
com eçaram a duvidar das declarações tradicionais da
Teologia. Os critérios desta vez eram m odernam ente
mais racionalistas e baseavam sua argum entação na
m etodologia histórica até então jamais usada para
descobrir algo a respeito da fé. Sabia-se pelo credo
e pelos evangelhos que Jesus veio ao m undo de um a
form a sobre-hum ana, que pregou o am or e realizou
m ilagres. Depois foi m orto na cruz, ressuscitou ao
terceiro dia e subiu aos céus, deixando a certeza de
que vai voltar, trazendo consigo o juízo final sobre
os hom ens.

M osaico Bizantino do Cristo Pantocrator. "H ouve tem po em que os des-


crentes, sem am or a Deus e sem
religião, eram raros. Tão raros que
eles m esm os se espantavam com
dade de Jesus eram , à um a, relegados à condição de sua descrença e a escondiam , como
hereges,. seguidores de seitas e inim igos de Deus. se ela fosse uma peste contagio-
sa... M as algum a coisa ocorreu, 0
Se um intelectual da Idade M édia m ostrasse de-
céu, m orada de Deus e seus anjos,
sejo de en co n trar m aiores indícios da h isto rid d ad e ficou de repente vazio. Virgens não
e divindade de jesus, os teólogos im ediatam ente o m ais apareceram em grutas. A ciên-
confrontariam com o princípio agostiniano do fides cia e a te cnologia avançaram triu n -
credere, isto é, “fé é crer”, sem questionar, sem buscar fa lm e n te , construindo um mundo
m aiores evidências, senão aquelas já oferecidas pela em que Deus não era m ais necessá-
autoridade eclesiástica. N o contexto original d?, ex- rio "5. Ruben A lves
pressão, A gostinho escreveu que “fé é crer no que não I
se vè, pois a recom pensa dessa fé será ver aquilo no
que se acredita” {Est autem fides credere quod nondum A h istó ria de Jesus não agradava m ais aos o u v i‫־׳‬
vides; cuiusfidei metres est videre quod credis)4. dos do pensador ilum inista, sua realidade histórica
deveria ser reestudada à luz dos novos critérios do
racionalism o.

O contexto político e social que resultou nessa


nova m aneira de encarar a Jesus é m uito m ais amplo
e precisa ser apresentado. A m udança de perspectiva
em relação à d outrina de C risto veio se desenrolando
aos poucos e se fez n o tar principalm ente durante os
séculos que separam a R eform a P rotestante e a Revo-
lução Francesa. N este hiato de 1517 a 1789 acentuou-
-se um processo de desescatologização da m ensagem
cristã que já tivera início no século IV d.C., quando
o im perador C onstantino pretensam ente declarou-se
convertido ao cristianism o.

Δ α. ‫ ב‬..™λ
O
c.
Você Sabia?
A palavra “desescatologização”vem de es-
chathon, um adjetivo grego para se referir às
realidades últimas. Assim os teólogosfalam de
escatologia individual para se referir ao que
acontece a cada um depois de sua morte e escatolo-
gia geral ou coletiva para se referir àquele evento
último para onde apontam todos os acontecimen-
tos da história: a segunda vinda de Cristo, seguida O que antes era chamado de "pax rom ana” passou a
do Juízo final. Desescatologização, portanto, é a
ser agora a “pax ecclesiae” (paz da Igreja), a qual se apre-
perda de interesse na esperança cristã da segunda
sentou para o m undo como um sistema único de legi-
vinda de Cristo.
timação do poder eclesiástico dentro e fora da Europa.

‫־‬Grrfc
"A Igreja dos m ártires recebe
férias de m artírio. A am eaça perm a-
nente de te r de te stem unh ar com a
ü m novo cristianismo
vida a própria fé a cada m om ento
e por isso a necessidade de uma { I
Com o se deu a desescatologização do cristianism o?
vig ilâ n cia escatológica de to ta l de-
E preciso esclarecer que esse processo não significou
sapego afasta-se com a pax cons-
um a perda total da dim ensão escatológica da Igreja,
ta n tin ia n a . A Igreja troca as cata-
m as um a dim inuição do clima de im inente expectati-
cum bas pelos palácios. Com isso,
va ou até m esm o anseio pelo final dos tem pos. E que
a proxim idade im inente da Parusia
com a cham ada “conversão de C onstantino” a Igre-
[i.e. a V olta de C risto] já não se faz
ja de R om a ganhou um espaço que antes não tinha.
nenhum desejo ardente. A ta re fa é
Depois acentuou ainda mais sua instalação no m un-
a construção da Cidade de Deus na
do do poder, quando se to rn o u , no século VI d.C., a
te rra ." João B atista Libânio6
autoridade m áxim a de toda a cristandade e de todo
continente europeu.
As expectativas, p o rtan to , deixaram de se estender
para o futuro final. Não se vislum brava m uita coisa
depois do “daqui a pouco ’. A h istória era um a coleção
de eventos passados e presentes sem, nenhum a rela-
ção com o p o rv ir predito po r Deus.

Então veio a Revolução Francesa e com ela a cria-


ção do conceito de progresso que, em bora descorti-
nasse um horizonte m ais além , m isturava predições
de anseio m essiânico com prognósticos racionalistas
e realidades previsíveis. A esperança na razão e não
m ais nas prom essas divinas conduzia agora os novos
rum os da hum anidade.

O
j

Fato im portante
A Revolução Francesa que se instaurou na
Europa fo i fruto do discurso de intelectuais
contrários à religião, que motivaram 0povo a
expurgar por completo a imagem traumati-
zante de Deus que por séculos lhesfo i imposta.
A modernidade rejeitou as caricaturas de Deus
juntamente com as verdades bíblicas acerca de
Cristo e o tem p o sua pessoa. Terminaram negando importantes
conceitos revelados por Deus, inclusive sua
própria existência e sua revelação por
A acom odação gradual da Igreja, som ada às dispu-
intermédio de Jesus Cristo.
tas teológicas com a R eform a P rotestante a p artir do
século XVI, fizeram com que o interesse pelo Juízo ‫ר‬
O
Final e pelos dogm as de fé perdesse sua im portância.
‫־ס־ם־‬
A própria R eform a Protestante com eçou a dar mais
prioridade a assuntos sociais e políticos (especial-
m ente na Suíça e A lem anha) que aos tem as bíblicos
A sociedade com eçou a respirar um a nova m oda-
relacionados ao fim do m undo.
lidade de interpretação da história que ecoava aque-
O futuro passou'a ser apenas um cam po de pro- les ideais escatológicos perdidos pela Igreja, p orém
babilidades, e o presente, um espaço para o controle sem a base bíblica que os sustentava. O horizonte era
do Estado absolutista. O passado era a tradição, isto prom issor, mas não havia n enhum Deus lá na frente.
é, um a form a histórica de legitim ar o poder de quem As pessoas passaram a ter um a percepção otim ista da
atuava no presente, a saber, o clero e a m onarquia realidade, destituída da noção de providência divina.
Foi-se a terrível Idade M édia e o futuro não seria ape-
com seus senhores feudais. Os eventos não eram mais
nas novo, seria m elhor.
articulados à providência divina, mas a um em ara-
nhado de possibilidades atreladas exclusivamente à E quanto ao passado? Bem, esse agora não era visto
ação política dos hom ens. C risto não era mais o se- mais com o argum entos para legitim ação de um con-
n h o r da H istória. ceito. A tradição estava sob suspeita, ninguém queria
v oltar à Idade das Trevas. O futuro era prom issor e E ntão um novo conceito surgiu: o term o Historie
o passado som brio. O que se foi tin h a de ser analisa- voltou a ser usado para designar o fato literal, ocorri-
do com cuidado, não só para desm ascarar as m enti- do. Geschichte seria a interpretação posterior, rom an-
ras que foram contadas, mas tam bém para im pedir o ceada, que, em bora não precise ser necessariam ente
reto rn o daquilo que consideravam lendas. A história um "engodo”, estaria longe de um a descrição exata do
tradicional de Jesus era alistada entre os antigos m itos que realm ente ocorreu. E um m ito, um exagero que
a serem evitados. nada tem a ver com a realidade dos fatos.

Novo conceito de história


Os pensadores, sobretudo alemães, sugeriram en-
tão um novo conceito de história que rom peu com a
fórm ula “historia m agistra vitae” (a história é a mes-
tra da vida), cunhada por Cícero e apropriada p o r his-
toriadores ligados à tradição da Igreja. E que até m e-
ados do século XVIII, os alemães usavam o vocábulo
estrangeiro Historie, assim sem pre no plural, para se
referir à narrativa, ao relato de um evento. Então re-
solveram substituir o term o po r outro mais germ âni-
co que seria Geschichte, um a designação do fato em si
Como é praticam ente im possível tra -
e não do relato que se fazia sobre ele.
duzir em português a distin ção precisa
Com o passar do tem po, Geschichte sofreu sem ân- entre Historie e Geschichte, um exem -
tica e passou a ju n ta r o sentido de fato, acontecim en- pio talvez fa c ilite a com preensão dos
to, com o de relato, narrativa. Assim a palavra ficou dois term os: Você certam ente já viu os
m uito filosófica e foi quase im possível elaborar um clássicos quadros com a im agem de
conceito único e inequívoco a p artir das m uitas afir- Tiradentes, 0 M á rtir, pintados por ilustres
m ações que se faziam dela. a rtistas como Pedro A m érico, Eduardo de
Sá, Cândido P ortinari e outros. Com uma
P or detrás dessa ebulição intelectual na A lem anha
ou duas exceções, todos m ostram 0 herói
estavam a ideologia francesa e sua poderosa Revo-
inconfidente de cabelos e barbas longas
lução no decênio de 1789-1799. A em ancipação dos
vestindo um roupão branco à sem elhança
poderes m onárquicos e religiosos, a queda da Basti-
de Jesus Cristo.
lha, a prisão do papa Pio VI, a decapitação de nobres,
clérigos e da p rópria fam ília real em Paris form aram
um ineditism o dos novos tem pos que tom ou toda a
Pois bem , de acordo com alguns especialistas, essa
E uropa de surpresa. Até o continente am ericano foi
é um a im agem inventada que chega a agredir a his-
atingido. Afinal o que foi a independência dos Esta-
tória real e a lógica dos fatos. T iradentes era m ilitar
dos U nidos e tam bém do Brasil senão o fruto de ide-
e, com o tal, não teria barba nem cabelo longos. Ade-
ologias francesas?
mais, de acordo com os autos da época, ele teve barba
Todos esses acontecim entos tam bém cunharam e cabelos raspados no dia do seu enforcam ento, não
o m odo dos alemães interpretarem a história. Nada usou nenhum a túnica branca e m uito provavelm ente
podia se com parar aos eventos extraordinários que se não foi traído p o r um de seus seguidores. T odos esses
seguiram a 1789. O ser hum ano finalm ente se firm ou elem entos foram criados propositadam ente para as-
com o o agente dos acontecim entos, o único com ca- sem elhar T iradentes a C risto e fazer com que os que
pacidade de avaliar e m odificar o curso da história. ouvissem sua história ou vissem sua im agem sentis-
N em m esm o L utero conseguiu tam anha proeza. sem profunda sim patia p o r ele. Afinal o Brasil era um
país de m aioria cristã e a República precisava de um On f JCÜ,
Τ
herói para despertar a sim patia do povo. O Ο
c J
E m bora a h istó ria registre a insurreição liderada J Você sabia?
p o r um dentista m ilitar cham ado Joaquim José da
Silva X avier, aquele T irad en tes das p in tu ra s a óleo Anacronismo é um erro de cronologia que
jam ais existiu! O p rim e iro seria um personagem his- consiste em atribuir a uma época ou a uma
personagem idéias e sentimentos que são pró-
tórico (.Historiche) que realm ente existiu. Já o segun-
prios de outra época, ou em representar, nas
do (das p inturas), um ser mitológico (Geschíchtlich) ou
obras de arte, costumes e objetos de uma época
,‘histo riai”, conform e um neologism o inglês sugeri-
a que não pertencem. Isso aconteceu muito com
do p o r H eidegger. as imagens de Jesus construídas ao longo dos
séculos. Muitos 0 modelaram de acordo com
Note que não se trata de história e estória, pois o fato
seu próprio código de valores, criando uma
realmente aconteceu. O embate é entre história real ver-
bifurcação entre 0 J esus que realmente existiu
sus história romanceada. Tudo para tornar o relato mais
e outro que a cultura projetou.
belo e atrativo, convencendo pessoas a se apaixonarem
c
por ele ou pela ideologia que ele representa. O
JQJ
‫־ס־שי‬
n % 'ld r c v n d s ã o
sobre 3 m a
CLLgtAj
T ‫— ־ ־‬ ‫— ־‬ cn= jos que a íé

Fato im portante »S*&


í/kááS*

Existem muitos exemplos de tentativas de acon- fã ^ P ° È 0 h 0ixlerr ‫ד‬ ^ m T n fc


dicionar Jesus aos interesses ou a ideologias de
um grupo ou indivíduo. Jefferson, <j«e antes de
tudo era descrente, tornou-se 0primeiro erudito
estadunidense que, em um processo de corte e
colagem de textos bíblicos, deu origem ao que g ue& euiujv, y ^ ju ò u iic a n*1 ΖίπκΓΚΓΤΠΡ!
chamam de Jesus Americano. GMááo■epormeio üi f*k | ‫^״‬ £
IffKSS?. ’ ^hám a m o
Malcom X , 0 líder na luta pelos direitos civis
declarou; “Jesus Cristo era negro!”E Swami
Vivekananda, que fundou várias sociedades
,jetom,
* t o
antesestabel^ pquenãosom
^ / « > ia í é ? fie 7 ™ *Ρ Μ μ

hindus na América, afirmou que Jesus Cristo 20l mas(jus fan


era um Yogui (ou Yogi), isto é, um mestre C
e praticante da ioga. ‫ר‬
C O
LTTTTj ■ ‫ם־תזזד‬

^ 3 E sc á tu rz? C r
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Desde 0 século XVII, vários teólogos Y)m7JP Λ Ip Í n n a w « ,·*‫״‬.


com eçaram a traba lh ar com esta nova
percepção de H istória, mas quem final- 'WÈMff·w»v*
m ente a sugeriu como m étodo para se
pesquisar a vida de Jesus fo i M a rtin
pJtefaoto ^pela fé, para d
Kãhler, em sua obra Der sogenann- a graça, a ím de συ!
te historische Jesus und der geschi- % m Ê f * âsm
chtliche, biblische Christus, publicada
em 1892 - 0 títu lo é quase m aior que ^ 31z b e m - ^ V àqueéda lei m>
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1[quem Deus ^® à q u e é d ã fé d p áu
0 próprio livro de apenas 50 páginas!
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S ie,es cuias ffítrifoc Pnr r

Para os escritores liberais da Alemanha, haveria um tória de Jesus. Seu nom e era H erm an Samuel Reim a-
Jesus histórico (que realmente existiu) e um Cristo da rus (1694-1768), um professor de línguas O rientais
fé (criado e m antido pela Igreja ao longo dos anos). Se- na cidade de H am burgo. Influenciado pelo deísm o in-
parar ambos era a tarefa principal de sua teologia. glês, ele não acreditava que Deus estivesse intervindo
nos negócios deste m undo. Sendo assim, a pregação
Porém , antes de eclodir a Revolução Francesa ou evangélica tradicional de um Deus encarnado, que
de K ãhler publicar suas ideias acerca de um Jesus his- e n tro u na história dos hom ens e possibilitou a salva-
tórico e outro historiai, houve pelo m enos um autor ção da hum anidade m ediante sua p rópria m orte na
que preconizou os ventos da dúvida ao tra tar da his- cruz, não fazia o m enor sentido.
‫ □־‬s a q u e m
xado.
[venturaflÇ3
1te, ou

nemtão pouco par.


do ventre de Sara,
2 0 E n ã o d u v id o u
s na
D e u s p o r in c r e d u lid a d e ,
jn d s ã o , ! fic a d o n a fé , d a n d o g tó r i?
£3va n a
2 \ E estandocer
paí d e ele tínha prometido
e s ta m -
deroso para 0 fezen
Z qne l 22 Pelo que isso lhe
ciada,* putado como justiça,
jsque-1 23 Ora não só por cã gf%tá es
^und- críto, que lhe fosse to: wp. conta
‫־‬ás pi-124 Mas também por p e m ser.
:?aão, tomado em conta; remos na
I quelequedos itouajesu Reim arus afirm ou que qualquer investigação
crítica sobre a vida de Jesus C risto “deve m anter
s pecados foi eu a distinção clara entre o que Jesus realm ente fez e
ensinou em sua vida e aquilo que foi narrado pelos
?tou P3^ nossa just'
ãcação,m m * apóstolos em seus escritos.” De acordo com sua teo-
i sao ‫ן‬
~ ‫־· ־‬- ■
‫׳‬ ria, Jesus foi apenas um judeu com o outro qualquer,

:essa | Justificação peta m unido de um espírito agitador e político. M otiva-


do po r um m essianism o nacionalista, ele teria em -
fê e paz com Deus preendido um a frustrada revolta contra o im pério
TJe C SENDO pois justificados pela fê rom ano, m as acabou abandonado po r seus segui-
dores e condenado à m orte na cruz. Os discípulos,
então, para não adm itir o fracasso do m ovim ento,
ί **** ‫־‬
......................... ........................ ---------------------m m m , * roubaram seu corpo e inventaram a história da res-
surreição e da redenção universal da hum anidade
com o form a de m an ter aceso o ideal m essiânico que
ele havia pregado.
Reimarus projetou uma enciclopédia de
4.000 páginas na qual pretendia reconstruir D epois de Reim arus, vários outros teólogos sur-
de modo científico uma nova versão para a giram apresentando suas próprias versões sobre o
história da religião cristã. Entretanto, foi ape- que seria de fato o Jesus histórico e o que seria o
nas após a sua m orte que a parte dedicada C risto da fé, criado pela teologia e m antido pela tra-
à vida de Jesus foi publicada anonim am en- dição da igreja.
te por um editor chamado G. Efraim Lessing.
0 títu lo proposital foi "-Fragmentos de um es-
critor anônimo-" (Wolfenbütteler Fragmente
Teologia liberal
[1774-1778]), que em pouco tem po recebeu
Teólogos liberais criaram um Jesus ético ou ideal;
0 apelido de Fragmentenstreit ou "fragm en-
teólogos racionalistas, um Jesus revolucionário.
tos de controvérsia". 0 texto não teve m uitos
Cada grupo pintava o retrato do M essias com as co-
seguidores a princípio, mas causou grande
res de sua própria cosm ovisão filosófica. No final de
im pacto com 0 passar do tem po.
tudo, o que sobrara não foi um quadro de com o era
Jesus, m as com o cada um queria que ele fosse.
Heinrich Eberhard Gottlob Paulus (1761- Ferdinand Christian Baur (1792-1860) foi
1851), racionalista alemão e influenciador de outro discípulo de Hegel que se inspirou no
Hegel. Procurava encontrar uma razão natural esquema d ialético para fa la r do m ovim ento de
para todos os supostos milagres realizados por Jesus em term os de tese, antítese e síntese. A
Cristo. A transfiguração, por exemplo, deu-se tese seria os cristãos judaizantes, seguidores
porque, depois de Jesus e seus apóstolos dor- de Pedro, que queriam obrigar os não judeus
mirem uma noite inteira ao relento, Pedro, ain- a cum prirem as leis cerim oniais do A ntigo Tes-
da sonolento, viu 0 Mestre, que havia acordado tam ento. A antítese seria os cristãos liberais,
antes, de pé diante do sol nascente conversan- seguidores de Paulo, que queriam desobrigar
do com dois discípulos secretos que já estavam os não judeus da prática cerim onial. A síntese
de partida. Então equivocadamente entendeu seria a Igreja que por m eio dos evangelhos (to-
os raios do sol como sendo a glória de Cristo e dos posteriores ao séculoll) tentaria uma conci-
os dois seguidores como sendo M oisés e Elias. ação entre as duas vertentes cristãs.

Rudolf Bultmann (1884-1976) - um dos teólogos mais


David Friedrich Strauss (1808 - 1874), influentes do século 20, professor de Novo Testamento
teólogo e exegeta form ado em Tübingen, na Universidade de Marburg, na Alemanha. Influenciado
que se tornou m uito conhecido após publicar, pelo filosofia de Heidegger, Bultmann concluiu que a hu-
em 1835, uma controvertida versão sobre a manidade contemporânea, acostumada com os avanços
Vida de Jesus. Inspirado na filosofia de He- da ciência, não poderia mais aceitar 0 conceito m itológi-
gel, ele afirm ava que os m ilagres de Jesus co do mundo expresso nos escritos bíblicos. Logo, tudo
e outros eventos de sua vida eram apenas aquilo na vida de Cristo que não fosse alcançado pela
m itos inventados pelos apóstolos e evange- razão humana deveria ser tom ado como m ito e interpre-
listas com fins teológicos e não históricos. 0 tado de forma alegórica. A ressurreição, por exemplo,
detalhe dos ladrões crucificados com Jesus seria apenas uma forma comparativa de entender 0 res-
era apenas um enfeite m itológico para fazer surgimento da mensagem de Cristo no coração dos discí-
eco à poesia de Isa. 53:12: "Ele foi contado pulos, mesmo depois da morte de seu M estre e não uma
entre os pecadores". ressurreição literal como anunciava 0 credo cristão.
Fato importante
Apesar de arriscar certas afirmativas sobre
como teria nascido 0 mito da ressurreição de
Cristo, Bultmann não acreditava ser posável
alcançar 0Jesus histórico. Em outras palavras,
0Jesus que realmente existiu não pode ser
conhecido do pesquisador atual, por causa da
distância temporal entre ambos. Assim ele troca
0Jesus histórico pela proclamação de Cristo
(Querigma) e neste busca sefundamentar.

Um missionário descrente
Albert Schweitzer (1875-1965) destacou-se por
produzir um resum o crítico de todas as principais teo-
rias sobre o Jesus histórico levantadas desde Reimarus
até W rede. O riginalm ente publicado em 1906, seu li-
vro teve com o título De Reimarus a Wrede, uma Histó-
ria da Investigação sobre a Vida de Jesus (von Reimarus zu
Wrede: Geschichte derLeben Jesu-Forschung).

Em 1913, surgiu um a segunda edição ampliada,


e Schweitzer, que ainda era jovem , foi aclamado no
m undo teológico europeu. Suas ideias ficaram mais
populares depois que o livro ganhou um a edição in-
glesa quando foi traduzido p o r W . M ontgom ery e
publicado em Londres, em 1910.

Schw eitzer dizia que Jesus era apenas um religioso


equivocado que com partilhava as ideias escatológicas
do judaísm o de seu tem po. Ele acreditou errônea-
m ente que era o M essias e com base nesta ilusão pre-
gou a chegada im inente do reino.

Com o este não veio, Jesus decidiu virar um m ártir


de sua p rópria causa, pois pensava que assim pode-
ria te r um a intervenção divina em seu favor. Então
provocou a ira dos rom anos e foi pendurado na cruz.
M ais um a vez frustrado, ele questiona: “Deus m eu,
Deus m eu, por que m e desam paraste?”
Além de teologia, Schw eitzer era form ado em
m edicina e tocava órgão com o ninguém . Chegou a
abandonar a confortável vida em Estrasburgo para
dedicar-se a obras de assistência social com o m édi-
co m issionário na África. C onstruiu um hospital para
" 0 Jesus de Nazaré que se apre- carentes e foi agraciado em 1952 com o prêm io Nobel
sentou em público como M essias, que da paz devido às suas atividades hum anitárias.
pregou a ética do reino de Deus, que
fundou 0 reino do céu na terra e morreu E claro que é difícil saber se todos os episódios ci-
para co n fe rir uma consagração final à tados sobre ele são reais ou lendários. C ontudo, é fato
sua obra, ja m a is existiu. Essa im agem que esse pensador deixou um a profunda m arca no co-
foi traçada pelo racionalism o, revivifi- ração do povo africano.
cada pelo libera lism o e revestida pela
M as, 11o que diz respeito ao sentim ento religio-
te o lo g ia m oderna com roupagens histó-
so, m esm o sendo um a figura eclética e cosm opolita,
ric a s ."7 Schweitzer
Schw eitzer não conseguiu ro m p er com as estruturas
m entais da cultura franco-germ ânica e sua tendência
para o secularismo.
Oo

Fato im portante
Apesar de não acreditar na historicidade de
Cristo, Schweitzer dizia admirar esta figura
lendária chamada Jesus e procurava fazer dela
seu próprio modelo de vida. Jesus, para ele, fo i
um homem virtuoso por não desistir de sua cren-
ça mesmo em face da morte e da não realização
de seus planos. Além disso, fo i coerente com 0
que falou, não negando sua mensagem diante
dos líderes que estavampara condená-lo.

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Conta-se que um missionário que visitou


certa vez a ex-colônia francesa do Gabão
se surpreendeu ao ouvir de um nativo um
curioso depoimento sobre 0 Dr. Schweitzer.
Jesus Seminar (Seminário sobre
0 missionário estava tentando evangeiizaro
Jesus) - Fundado em 1985 por Robert
homem falando-lhe de como Jesus era bon-
Funk e John D om inique Crossan, esse
doso com os enfermos e como tratava bem
in stitu to reúne teólogos de vários paí-
as pessoas. 0 nativo então lhe interrompeu:
ses com 0 in tu ito de estudar a vida e os
"Eu conheço esse homem, mas, pelo que eu
ensinam entos de Cristo. Sendo a versão
saiba, 0 nome dele é Dr. Albert Schweitzer!"
contem porânea m ais atual dos críticos
alem ães do passado, seus filia d o s pro-
põem uma busca pelo Jesus histórico
desvinculada dos elem entos confessio-
nais m ais conservadores.
*£ L

P
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Você sabia?
Embora movesse de íntima compaixão pelos As conclusões do Jesus Sem inar diferem m uito do
nativos da Africa, Albert Schweitzer considera- que a quase totalidade das denom inações cristãs acre-
να-os “infantis"por manterem suafe' religiosa dita. Seus m em bros não creem na inspiração bíblica,
mesmo em face aos piores sofrimentos. Para ele n a historicidade dos m ilagres de C risto e na sua m or-
religião era apenas um movimento e'tico-social te expiatória enquanto filho de Deus. Em bora creiam
para preservação da vida, nada mais. que os evangelhos contêm verdades históricas, ape-

f nas 15 frases citadas de Jesus são reputadas com o pro-


vavelm ente verdadeiras. As demais seriam reconstru-
ções teológicas que nada têm de veracidade histórica.
Em term os de conquista, ninguém avançou mais
Jesus existiu? com seu exército do que Alexandre M agno. No en-
tanto, em bora se acredite que m uita coisa ten h a sito
T eria Jesus de Nazaré, a quem cham aram de Cris-
escrita a seu respeito, nada sobreviveu que fosse con-
to, existido com o um ser hum ano real? O hom em
tem porâneo a ele. A biografia m ais antiga que tem os
“Jesus C risto”, conform e o texto de I T im óteo 2:5 fez
a seu respeito vem de D iodoro Sículo e foi produzida
parte da história hum ana ou é um personagem fictí-
p o r volta de 250 anos após a sua m orte.
cio, equiparado a Peter Fan?
O ra se em se tratando de governantes e conquista-
dores há pouquíssim as inform ações contem porâneas,
não se esperaria que com Jesus fosse diferente. Longe
Bruno Bauer (1809-1882)
de um palácio, exércitos e avanços m ilitares, Jesus vi-
fo i 0 prim eiro acadêm ico a du-
vid a r da existência histórica de via cercado de pessoas simples e nunca andou sequer
Jesus. Sua posição, no entan- 10% do trajeto que esses hom ens percorreram . As in-
to, não angariou m uitos segui- form ações, p o rtan to , que se têm a seu respeito, apesar
dores nem na ala m ais liberal de poucas, são im portantes, não devendo nada para
da te o lo g ia europeia. Hoje, até inform ações sobre outros vultos da história. O pássa-
mesm o autores ateus como do é um objeto que se estuda a p a rtir de fragm entqs!
B art D. Ehrman defendem que, Ademais, é notório, até onde se pode saber, que
de fa to , e xistiu na história um n en h u m autor não cristão da A ntiguidade (mesmo
homem cham ado Jesus de Na-
em seu mais acirrado ataque ao cristianism o) negou a
zaré. M as onde estão as pro-
existência histórica de Jesus de Nazaré. Isso dem ons-
vas de sua existência? tra que eles sabiam p o r diversas fontes que ele real-
m ente existiu, m esm o que não aceitassem ser ele o
Filho de Deus.

Fontes históricas As fontes históricas extrabíblicas sobre Jesus po-


dem ser divididas em dois tipos: clássicas (para as fon-
Em bora os docum entos cristãos que m encionem tes greco-rom anas) ou judaicas (Josefo, Talm ude). As
Jesus possuam seu valor histórico, quando a questão é fontes cristãs serão discutidas em o utra seção.
verificar se ele existiu, essas fontes parecem não valer
para m uitos investigadores, porque parece um argu-
m ento em círculos. O u seja, pessoas piedosas afirm an-
Fontes clássicas
do aquilo que elas mesmas acreditam. Assim, quando
As fontes clássicas m ais antigas referindo-se a Je-
alguns pedem provas docum entais de que Jesus existiu,
sus e aos cristãos datam do final do I século e começo
geralm ente estão se referindo a fontes fora do Novo
do II. Naquele tem po, o seguim ento cristão era consi-
T estam ento ou dos prim eiros autores eclesiásticos.
derado nos m eios rom anos com o simples superstiçd,o.
Essas fontes existem? Sim, m as em quantidade
M ara Bar-Serapião era um filósofo estoico da pro-
lim itada. Não obstante, tal escassez de docum entos
víncia rom ana da Síria que se to rn o u am plam ente
contem porâneos sobre um personagem histórico não
conhecido em função de um a carta que teria escrito
é algo incom um . Veja o caso de Pôncio Pilatos. Qual
a seu filho, tam bém cham ado Serapião, p o r volta do
a evidência arqueológica de sua existência? Apenas
ano 73 d.C. M uitos a consideram a m ais antiga refe-
um a placa de pedra encontrada em Cesareia M aríti-
rência não judaica e não cristã a Jesus C risto.8
m a e dois tipos de m oedas cunhadas p o r seu governo
(e n enhum a delas traz seu próp rio nom e). N ada além * ‫“ ־‬Que proveito os atenienses obtiveram em■ condenar
disso. E no te que se trata de um governador rom ano Sócrates à morte? Fome e peste lhe sobrevieram como cas-
sobre a Judeia! tigo pelo crime que cometeram. Qu.e vantagem os habitan­
tes de Samos obtiveram ao pôr fogo em Pitágoras? Logo Há alguns outros que, embora dominados pela mesma
depois sua terra ficou coberta de areia. Que vantagem os loucura, eram cidadãos romanos. Quanto a estes eu apenas
judeus obtiveram com a execução do seu sábio rei? Foi anotei a ocorrência e os enviei para Roma. Como acontece
logo após esse acontecimento que 0 reino dos judeus fo i em casos semelhantes, estendendo-se a acusação no proces-
aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte desses três so do inque'rito, logo se apresentam diferentes casos.
sábios: os atenienses morreram de fome; os habitantes
Foi afixado uma lista anônima, relacionando vários
de Samos foram surpreendidos pelo mar; os judeus ar-
nomes [denunciando pessoas que seguiam a seita]. Aos
ruinados e expulsos de sua terra, vivem completamente
que negavam ser cristãos, quer no presente ou no passa-
dispersos. Mas Sócrates não está morto, ele sobrevive nos
do, se invocassem os deuses segundo as palavras que eu
ensinos de Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive
ia ditando e se sacrificavam vinho e incenso (?) diante da
na estátua de Hera, Nem 0 sábio rei está morto; ele sobre-
tua imagem que eu mandava trazer e, alem de tudo isso,
vive nos ensinos que deixou".
se blasfemavam 0 nome do Cristo - coisas que, segundo se
*Plínio, o Jovem (61-112A.D.): Procedente de fa- diz, nenhum cristão legítimo faria - pensei que poderia
mília abastada e amigo particular de Trajano, Plínio foi deixá-los ir. Havia [ainda] outros cujo nome também esta-
encarregado pessoalmente pelo im perador para reor- va na denúncia feita pelo delator e que confessaram terem,
ganizar a província da Bitínia que se encontrava m eio de fato, sido cristãos, mas que abandonaram [a seita], uns
desordenada. Assim, em 111 - 112 o jovem “legado há três anos, outros há mais tempo, até vinte anos; todos
rom ano”(título que recebera do im pério) encontrou- estes adoraram a tua imagem e as imagens dos deuses e
-se pela prim eira vez com os cristãos e, para ter cer- blasfemaram 0 Cristo.
teza do agrado do im perador quanto a tudo que fazia,
m andou-lhe um a carta solicitando instruções sobre De resto, disseram-me que toda a falta deles, ou seu
com o lidar com aquela “seita”. Eis o trecho em que erro, limitava-se a um costume de se reunirem num dia
m enciona o fato: fix o , antes do amanhecer, e então cantarem em seu meio
um hino a Cristo como se este fosse um Deus. Também, de
“Senhor, é norma para mim submetera ti todos ospon- se comprometerem por juramento a não cometer nenhum
tos sobre os quais tenho dúvidas; quem melhor do que 0 crime, nem roubo, nem pilhagem, nem adultério, a cum-
senhor poderia orientar-me quando hesito ou instruir-me prirem com 0 prometido e a não deixarem de dar um de-
quando ignoro? pósito reclamado em justiça.
Nunca participei de processos contra os cristãos; não Terminados estes ritos, tinham 0 costume de se separa-
sei, por isso, a quais fatos e em que medida se aplicam or- rem e de se reunirem outra vez para a sua refeição, que,
dinariamente a pena ou as execuções. Eu me pergunto, não
a despeito daquilo que muitos dizem, parece ser simples
sem perplexidade, se há diferenças a serem observadas no e inocente; mesmo porque, esta prática fora por eles re-
que diz respeito à idade, ou se até 0 neném está no mesmo
nunciada depois de meu edito - baseado nas tuas próprias
nível de um adulto; se se deve perdoar a quem se arrepende
instruções -, segundo 0 qual eu proibia as heterias.
ou se quem é cristão não ganha nada quando se retrata;
se é necessário punir 0 simples fato de se denominarem Julguei tanto mais necessário extrair a verdade de duas
cristãos, mesmo que não houver crimes, ou se devo punir escravas, que eram chamadas diaconisas, mesmo subme-
apenas os crimes ligados com 0 nome. tendo-as à tortura. Tudo 0 que encontrei fo i uma supersti-
ção insensata e exagerada.
Eis, portanto, a norma que eu mesmo tenho seguido
para com aqueles que me foram denunciados como cris- Devido a tudo isso, resolvi interromper 0 procedimen-
tãos: aos que confirmavam, eu pergunto uma segunda e to [contra os cristãos] e solicitar teu parecer. Julguei que a
uma terceira vez, ameaçando-os sempre com 0 suplício. questão mereceria que eu ouvisse sua orientação, princi-
Aos que perseveram na confissão, eu mando executá-los, palmente devido ao grande número dos acusados. Há uma
mesmo sem saber detalhes sobre 0 que acreditam, porque multidão de pessoas de todas as idades, de todas as classes e
só a sua obstinação e teimosia inflexíveis já me são moti- dos dois sexos que estão ou serão postos em perigo. Não so-
vo de pena capital. mente nas cidades, mas também nos vilarejos e nos campos
espalhou-se 0 contágio desta superstição. Contudo, acredito
ser possível detê-la e curá-la.’ (Carta X, 96)

A resposta de T rajano a Plínio tam bém está pre-


servada:

“Meu caro Plínio, tu seguiste a conduta que devias ter


seguido no exame das causas daqueles que haviam sido
denunciados como cristãos. Afinal, não é posúvel instituir
uma regra geral que tenha, digamos, uma prescrição fix a
para todos. Não há motivos para persegui-los ‘ex-oficcio.
Se forem denunciados e a acusaçãofo r provada, que sejam
condenados, mas com a seguinte ressalva: que aquele que
negar ser cristão, e der provas disto pelos seus atos, quero
dizer, sacrificando aos nossos deuses, mesmo que ele seja
suspeito no que se refere ao passado, obterá 0 perdão como
prêmio de seu arrependimento. * Tácito: descrevendo por volta do ano 115 o in-
cêndio de Rom a, ocorrido em 64 d.C., este historia-
Quanto às denúncias anônimas, não devem ser levadas
dor fala da perseguição de N ero aos cristãos e m en-
em consideração em nenhum caso; este era 0 costume de um
ciona o nom e de C risto que, para seu entendim ento,
detestável procedimento que não deve mais ser seguido em
não era um título, mas um nom e próprio:
nosso tempo.”(Carta X, 97).
“Nenhum esforço humano, nem 0 poder do imperador,
nem as cerimônias para aplacar a ira dos deuses faziam
cessar a opinião infame de que 0 incêndio [de Roma]
havia sido mandado. Por isso, com vistas a abafar 0 ru-
mor, Nero apresentou como culpados e condenou à tortu-
ra aquelas pessoas odiadas por sua própria torpeza, que a
populaça chamava de ‘cristãos’. Tal nome vem de Cristo,
que no principado de Tibério, 0 procurador Pôncio Pilatos
entregou ao suplício. Reprimida na ocasião, essa execrável
superstição fez-se irromper novamente, não só na Judeia,
berço daquele mal, mas tambe'm em Roma, para onde con-
verge e onde se espalha tudo 0 que há de horrendo e vergo-
nhoso no mundo. Começou-se, pois, por perseguir aqueles
que confessavam; depois, por denúncia deles, uma multi-
dão imensa, e eles foram reconhecidos culpados, menos do
crime de incêndio... À sua execução acrescentaram zomba-
rias, cobrindo-os com peles de animais para que morres-
sem devido à mordida de cães de caça, ou pregavam-lhes
em cruzes, para que, após of i m do dia, fossem usados como
tochas noturnas e assim consumidos”. (Anais, XV, 44).

* Suetônio (69? - 122?), outro historiador rom a-


no, apresenta p o r volta de 120 A.D., dois registros
históricos, um da vida de Cláudio, e outro da vida de
Busto de Nero, imperador de Roma e
opositor dos seguidores de Cristo. N ero, nos quais ele m enciona algo que pode ser um a
referência a Cristo. N o prim eiro texto ele com enta a
tes eram servidas nesses lugares comidas de todos os
tipos; os cristãos, espécie de gente dada a um a supers-
tição nova e perigosa, foram entregues ao suplício;
foram proibidas as peram bulações dos condutores
de quadrigas9, autorizados p o r um costum e antigo a
vagabundear pela cidade, enganando e roubando os
cidadãos para se divertirem ; foram proibidos os pan-
tom im os10 e suas atuações.” {A Vida de Nero, XVI).

* Luciano de Samosata (c. 115- c 181 d.C.) - era um


autor satírico greco-siríaco, mas de ancestralidade semi-
ta, que escreveu A Passagem do Peregrino, sobre um ex-
-cristão que mais tarde se tom ou um famoso filósofo cí-
nico e revolucionário, m orrendo em 165 d.C.. Em duas
Primeiros cristãos da era pós-apostólica cultuando Cristo. seções do texto, há tuna menção satírica a Jesus, mesmo
que seu nom e não seja mencionado diretamente:
expulsão dos judeus de R om a p o r volta do ano 49 (Cf.
“Foi então que ele [Proteus] conheceu a maravilhosa
Atos 18:2), durante o reinado de Cláudio e ali m en-
doutrina dos cristãos, associando-se a seus sacerdotes e es-
ciona um a estreita ligação entre os judeus e um certo
cribas na Palestina. (...) E 0 consideraram como protetor e 0
“C hrésto” que poderia ser um a grafia errada do nom e
de Cristo. tiveram como legislador, logo abaixo do outro [legislador],
aquele que eles ainda adoram, 0 homem que fo i crucifica-
“Como os judeus se sublevavam continuamente por do na Palestina por dar origem a este culto.(...) Os pobres
instigação de Chrésto; [Cláudio] os expulsou de Roma" (A infelizes estão totalmente convencidos de que eles serão
Vida de Cláudio, XXV). imortais e terão a vida eterna, desta form a eles desprezam
a morte e voluntariamente se dão ao aprisionamento; a
Falando de repressões rigorosas instituídas pelo
governo de N ero, ele com enta: maior parte deles. Alem disso, seu primeiro legislador os
convenceu de que eram todos irmãos, uma que vez que eles
"... foi proibido vender nas tabernas qualquer ali- haviam transgredido, negando os deuses gregos, e adoram
m ento cozido, fora legum es e hortaliças, quando an- 0 sofista crucificado vivendo sob suas leis....’'(Passagem do
Peregrino, 1 1- 13. )

“Os cristãos, vocês sabem, adoram um hom em


neste dia - a distinta personagem que lhes apresentou
suas cerim ônias e foi crucificado p o r esta razão.” (A
M orte do Peregrino, 11-13)

Fontes judaicas
* Flávio Josefo (37/8 - 100 A.D.?) - A p a rtir do
século XVI, m uitos autores colocaram em dúvida a
autenticidade destes parágrafos que, se pertencentes
à obra, datariam do ano 93/4 A.D. Alguns mais cépti-
cos tentam argum entar que estas partes seriam inter-
polações feitas posteriorm ente p o r escribas cristãos
0 martírio cristão. que viviam enclausurados em m osteiros produzindo
cópias de m anuscritos.
C ontudo, vários especialistas hoje advogam a au-
tenticidade da m aior parte do trecho. Todas as tradu-
ções mais antigas e todos os m anuscritos gregos de
Josefo (desde os m elhores até os m enos confiáveis)
trazem , com pequenas variações, o conteúdo deste
‫ואי‬ * - - - ‫ח ן‬
SJ4
‫ע ל ״ פ נ י‬ ‫י ל‬
tex to 11. A versão abaixo é a mais aceita p o r grande ! ‫ד ו‬ ‫ו‬ 0 ‫ *׳ ל ״י‬, ‫י‬ ,‫״‬ · ‫י‬
parte dos acadêmicos:

“Por esse tem po, surgiu Jesus, hom em sábio. Pois


‫א *י מ * * ־‬ ·
ele era obrador de feitos extraordinários, m estre dos ‫*־‬ !*·‫״‬
hom ens que aceitam alegrem ente coisas estranhas e
arrastou após si m uitos judeus e m uitos gregos. Ele ♦ ‫כי‬ -
era considerado M essias. Em bora Pilatos, p o r acusa-
ções dos nossos chefes o condenasse à cruz, aqueles
que o tinham am ado desde o princípio não cessariam ψ%
[de proclam ar que] passado o terceiro dia, apareceu-
-lhes novam ente vivo; os profetas de Deus tinham
respeito dele. Ademais, até o presente, a estirpe dos
cristãos, assim cham ada p o r referência a ele, não ces-
sou de existir.” (Ant. XVIII, 3, 3).

Falando do golpe de Estado dado pelo sum o sacer-


g M
##
*m S 1
dote A nã (ou Hananias), após a m o rte de Festo (62-
■MHflIlf
A.D.), Josefo diz que o sacerdote saduceu: “C onvocou
um a assem bleia (Sinédrio) de juizes e colocou diante
U m desses textos é um a tradição externa suple-
deles o irm ão de Jesus que é cognom inado M essias,
m entar, baraíta, inserida no Talm ude Babilônico para
de nom e Tiago, e alguns outros. A cusou-os de terem
com entar o procedim ento correto quanto a um con-
transgredido a lei e os entregou para serem apedreja-
denado ao apedrejam ento. M as ele é confuso porque
dos.” (Ant. XX, 9, 1).
fala de apedrejam ento e cita com o exem plo um a pes-
* Talm ude Babilônico: Há uns poucos trechos tal- soa que foi pendurada ou enforcada e que, alguns cre-
m údicos que alguns autores entendem fazer referên- em, pode ser um a referência a Jesus de Nazaré:
cias distantes à pessoa de Jesus. Não se trata, porém ,
de um a alusão clara à sua pessoa. Parecem , no máxi- “N a véspera do pessá (Páscoa), penduraram Jeshu
m o, um eco distante de sua existência. (.há-nozri). D urante 40 dias um arauto esteve andando
à volta dele. [Mas] ele é conduzido ao apedrejam ento
Mas ele é tratado como personagem histórico. Com p o r te r praticado m agia e levado 0 povo a com eter
críticas ou não, Yeshua (Jesus) não é negado como per- idolatria, além de desviar Israel. ‘Se alguém conhece
sonagem histórico pelos judeus, pelo m enos baseados algum a coisa em seu favor, que venha e dê o teste-
na tradição Talmúdica. Contudo, existem m uitos per- m u n h o ’. M as não se encontrou n enhum a testem unha
sonagens que foram confundidos com ele no Talmude. favorável a ele e enforcaram -no na véspera do pessá.”
‫״‬A um enta o problem a a confusão acerca da pos- (Sanhedrin 43a)
sibilidade de passagens que originalm ente não alu- N esta passagem possivelm ente m enciona-se Jesus
diam a Jesus não terem sido mais tarde entendidas e seus discípulos - em bora o núm ero pareça deles
com o referentes a ele. Textos rabínicos que tratam de
equivocado:
outras figuras (por exemplo, Ben Stada, Peloni Ben
N etzer) m ais tarde foram aplicados erroneam ente a “Nossos rabinos ensinaram : Yeshu tin h a cinco
Jesus”12. (Rabino M ichael J. Cook). discípulos: M atai, Nakai, N etser, Buni e Todá. [...]
Oo
‫א׳‬ ‫? ל א‬ *
‫רך‬ F ato importante
• *Ψ | Segundo a apologia de Orígenes escrita
por volta de 178 a um judeu chamado
‫ ־ » א ם‬o n y n ,» · S « ; Celso (cuja obra contra o cristianismo se
perdeu completamente), havia uma acu-
sação de que Jesus seria um filho bastardo,
nascido da união adúltera de Maria e um
legionário romano chamado Panthera
(Contra Celsum I, 28 e 68). Como o nome
ben Panthera aparece no Sanhedrin 107b
e no b Sota 47a, é possível que ali exista
uma referência indireta a Jesus.

‫׳צרס״דם‬ ‫כ ח־ סדר‬

Museu de Israel - Ossuário alguém


tam bém cham ado Jesus

HiíÉSl
Uma caixa controversa
Ομαηάο Matai fo i trazido [perante a corte] ele lhes disse
; os juizes]: Matai deverá ser executado? Pois está escrito: Os judeus do século I costum avam guardar ossos de
Quando [hb. Matai] eu virei e aparecerei perante D ’us? (SI seus ancestrais dentro de caixas de pedra chamadas os-
43.3). Im ediatam ente ele replicou: Sim, M atai será suários e depositá-las em túm ulos da família feitos nas
executado, pois está escrito. Q uando [Matai] m orrer, rochas. Essas caixas costum avam trazer um a inscrição
seu nom e perecerá (SI 41:6). (Sanhedrin 43a) tum ular que identificava os restos m ortais daquele que
estava ali sepultado. Um ossuário em especial trazia os
H a. seguintes dizeres grafados em aramaico - um a língua
próxim a ao hebraico e largam ente falada nos tem pos
de Cristo: “Tiago, filho de José, irm ão de Jesus.”
Você sabia?
Q uem prim eiro anunciou essa descoberta foi o pa-
A existência histórica de Jesus de Nazaré
não é defendida apenas por cristãos piedo- leógrafo A ndré Lam aire13. Ele cham ou a atenção para
sos. N a verdade é praticamente um consenso o fato de que a expressão “Tiago, filho de José” pode-
entre os historiadores de que Jesus existiu ria não indicar m uita coisa, pois era a fórm ula com um
defato no século I de nossa era. Até mesmo daqueles dias (“fulano, filho de sicrano”). C ontudo, o
acadêmicos ateus e agnósticos como Bart com plem ento “irm ão de Jesus” seria algo com pleta-
Ehrman, Maurice Casey e Paula Fredri- m ente inédito pois não se colocava o nom e de outro
ksen ou ainda judeus como Geza Vermes e parente além do pró p rio pai. A m enos, raciocinou
HyamMaccoby defendem a historicidade Lam aire, que esse parente fosse fam oso o bastante
do fundador do cristianismo. O para m erecer tal destaque.
‫ר‬
ô Daí o que se seguiu foi um jogo de probabilida-
C'O'TU des com binadas. Qual a chance m atem ática de haver
dois Tiagos na Jerusalém do século I que teriam um -CL2l -C-0-4-P
pai cham ado José e um irm ão fam oso cham ado Je- Q
c
sus? Praticam ente nenhum a. Logo, cogitou-se a forte Fato importante:
possibilidade de ser este Tiago o m esm o m encionado c
“Diremos que a história do Evangelho fo i
em M ateus 13:55 e M arcos 6:3. Ou seja, o irm ão do
inventada por prazer?Meu amigo, não é
Salvador que se to rn o u um dos prim eiros líderes da
assim que se inventa... Nunca os autores
Igreja após a ressurreição de Cristo. judeus teriam encontrado nem esse tom nem
essa moral. Os Evangelhos têm traços de
A favor desta identificação há o fato de que Josefo
verdade tão grandes, tão impressionantes, tão
tam bém m enciona Tiago com o irm ão de Jesus em sua
perfeitamente inimitáveis, que seu inventor
obra historiográfica acerca dos judeus. Hoje a questão
seria mais espantoso do que 0 herói Contu-
está dividida nas seguintes teorias. Para uns, tudo não do, esses mesmos Evangelhos estão cheio de
passa de um a grosseira falsificação feita p o r algum coisas incríveis queferem a razão. Coisas
com erciante de antiguidades, para outros, o ossuário que 0homem comum não pode conceber e nem
seria verdadeiro, mas a inscrição não. O utros ainda c admitir.”Jean Jacques Rousseau
pensam que a prim eira parte, “Tiago filho de José”, C
seria verdadeira, enquanto a segunda, “irm ão de Je- O . ‫־‬t n y r a
T73‫־‬
sus” seria falsa. E há tam bém os que julgam a peça
genuína em todos os aspectos.
Aspectos físicos da terra
Estudos futuros poderão ilum inar m elhor a ques-
tão ou deixá-la ainda em aberto, um a vez que questões
de Jesus
políticas e judiciais tam bém fizeram parte do episódio.
Por outro lado, ainda que não se possa afirm ar para Ao estudar a narrativa dos Evangelhos, o leitor m o-
longe de qualquer dúvida a autenticidade deste artefa- derno pode perceber a ênfase e a perspectiva geográ-
to, já existem elem entos suficientes para apontar Jesus fica dos autores ao apresentar a vida e obras de Jesus.
como um a legítim a personalidade histórica. Os textos fazem constantes referências tanto a lugares

Οο Π . ‫־‬.. ‫־־־‬ 1. 1■ '


O o
t I ‫ג‬

J Você sabia? c
O caso do ossuário deTiagofoi parar nos
tribunais e vários artefatos foram levados a
juízo. Finalmente, no dia 14 de março de 2012,
0juizÁaronFarkash da suprema corte de
Jerusalém, que também tinha graduação em
arqueologia, declarou numa sentença oficial
que “não há evidência alguma de que qualquer
destes principais artefatos [incluindo 0 ossuá-
rio de T iago] foram forjados, e a promotoria
não conseguiu provar que suas acusações pode-
riam ir além de uma razoável dúvida".

c ‫ר‬
q o Caixa de pedra contendo os ossos de Tiago;
-j-4____ Q Γ— — —*‫־‬ -
para alguns, 0 irmão de Jesus Cristo.
ü ‫ ׳‬í ‫״‬g j í ■z z ~ : ..... — ............. 0 0‫כח־־‬
imediatos - beira-m ar, alto da m ontanha, interior de um a casa - quanto a territórios mais amplos - as regiões de
T iro e Sidon, as bandas de Cesareia de Filipe, o deserto da Judeia.

Demarcações geográficas
A superfície da ‫״‬terra de Jesus” variou consideravelm ente no decorrer dos séculos, ora sendo mais extensa -
com o nos dias de Davi e Salomão - , ora mais reduzida, especialm ente quando atacada p o r povos estrangeiros
como assírios, babilônios, gregos e rom anos.

E não se pode deixar de anotar a ru p tu ra in tern a ocorrida após a m orte de Salomão, que dividiu as 12 tribos
em R eino do N o rte e R eino do Sul - um a rivalidade que deixou m uitas conseqüências.

De m odo geral, mas não uniform e, pode-se dizer que estes seriam os lim ites geográficos aproxim ados da
terra dos judeus nos dias de Jesus:

N orte - fronteira com a Síria e a Fenícia.

Sul - fro n teira com o deserto do Sinai.

Leste - fronteira com parte da Síria e da Arábia.

Oeste - lim ite litorâneo banhado pelo M ar M editerrâneo.


m édia nacional da população brasileira no m esm o
Um roteiro limitado espaço de tem po!

T udo começa com um a viagem de N azaré para M as esses lim ites geográficos da atuação de Jesus
Belém, onde nasce o m enino Jesus. A seguir ele é le- tornam -se secundários se com parados ao alcance pos-
vado em fuga para o Egito. D epois aparecem em cena terio r de seus ensinos que hoje percorrem o m undo
Nazaré, o deserto da Judeia, um m o n te não nom eado inteiro e trazem especial atenção para aquelas antigas
e sua pregação na Galileia, Judeia e arredores, onde paisagens que hoje com preendem Israel, o territó rio
ele exerceu praticam ente todo seu m inistério público. Palestino e parte da Jordânia, Síria e Líbano.
Regiões com o Decápolis, Pereia e Sam aria tam bém
contaram com a presença física de Jesus, m as em si-
tuações raras e bastante específicas. Esses lugares não
parecem te r sido parte de sua rota costum eira. £ lsx. s£L
c O
c ‫ג‬
Οί
Fato importante
O território que Jesus percorreu em vida fora
bem menor que 0 imaginado para alguém que
Você sabia? teve tanta fam a em seu tempo e depois dele.
Com base nos relatos evangélicos, pode-se esti-
Ao contrário de Paulo, que era um homem de edu-
mar que 0 “país" de Jesus tinha uma extensão
cação urbana, Jesus identifica-se mais com uma
aproximada de 25 a 30.000 km2. Seu compri-
pessoa do interior. Com exceção de Jerusalém, ele
mento em direção norte-sul era de 250 km e a
parecia evitar os grandes centros, concentran-
largura média de 120 km. Uma área 12 vezes
do-se apenas nas vilas e arredores (cf. Marcos
menor que a atual Itália. Comparando-se
7:31;8:27). Seus exemplos, parábolas e expressões
com Estados brasileiros, é um território pouco
revelam a profundidade de um homem sábio,
maior do que 0Estado do Espírito Santo.
mas acostumado ao dia a dia do campo.
O
c
C 773“
‫־‬773 ‫־‬

C onsiderando que a m aior parte dos três anos e


Encruzilhada das nações
m eio do m inistério de Jesus fora concentrada na re-
gião da Galileia, com poucas idas a Jerusalém e outros A terra que em Jesus nasceu era o m esm o territó -
territórios, a extensão geográfica de seus m ilagres e rio prom etido p o r Deus ao patriarca Abraão e seus
pregações fica anda mais reduzida. descendentes (Gên. 12:7; 13:14-17). Em term os geo-
gráficos, aquele pedaço de chão to rn o u -se o e n tro n -
N os três anos e m eio que passou pregando, Jesus
cam ento de grandes povos do antigo O riente M édio.
não se distanciou m ais que 200 km da cidade de Na- As m aiores civilizações da A ntiguidade (Egito, Babi-
zaré, onde fo ra criado. C ontudo, isso não significa lônia, Assíria, Pérsia e reino Hitita) se assentaram ao
que ficou ocioso ou parado num único lugar. C onsi- red o r do territó rio com um ente conhecido po r ‫״‬T erra
derando que m uitas de suas viagens eram a pé, com Santa” que é apenas um nom e piedoso para o Israel
base nos relatos evangélicos das várias idas e vin- descrito na Bíblia. Não é por m enos que antigos au-
das de C risto pelo te rritó rio , pode-se calcular que tores, desde os tem pos bíblicos (Ezequiel 5:5; 38:12)
ele ten h a cam inhado pelo m enos 34.600 km du ran te até à Idade M édia, referiam -se a Jerusalém com o o
seu m in istério terrestre . Isso é dez vezes m ais que a “cen tro ” do m undo.
de sua vida em Rom a. A ntipas (o m esm o que m an-
O mundo de Jesus dou m atar João Batista) ficou com a Galileia e A rque-
lau, m encionado textualm ente em M ateus 2:22, 23;
O m undo geográfico em que Jesus viveu integrava
herdou a Judeia, Sam aria e Idum eia, m as governou
o im pério rom ano, que abrangia todo o en to rn o do
pouco tem po devido a um a desastrosa atuação que
M ar M editerrâneo, envolvendo territó rio s da África,
desagradou o centro do poder em Roma.
Ásia e Europa. É difícil atualm ente precisar os lim ites
fronteiriços da terra dos judeus no tem po de Cristo. Após o banim ento de A rquelau, a Judeia passou a
O que se sabe é que a Judeia foi conquistada pelos ro- ficar sob a jurisdição de prefeitos e mais tarde de procu-
m anos em 63 a.C. e anexada ao im pério com o reino radores rom anos que tinham residência oficial não em
sem iautônom o, isto é, com direito a ser governado Jerusalém , m as em Cesareia M arítim a, junto ao m ar
p o r um rei local. M editerrâneo. Pilatos, que participou do julgam ento
de Jesus, foi um desses representantes legais do im pe-
Esse rei, apontado pelos rom anos, era Herodes, o
rador, adm inistrando com m ão de ferro o país.
Grande, o "rei da Judeia” po r ocasião do nascim ento de
Cristo e de João Batista, que recebera extensas porções
C om exceção de um breve reinado de Herodes
de terra concedidas pelo senado rom ano (Lucas 1:5).
Agripa, como rei da Judeia (Atos 12:1), e outro parcial
N o auge de seu poder, seu dom ínio incluía as re- de Agripa II, a terra dos judeus nunca mais teve um rei
giões da Judeia, Galileia, Idum eia, Pereia, Sam aria e local que dominasse todo o território. Os enviados de
outros redutos m enores. Porém , após sua m orte, o Rom a perm aneceram governando a região até à re-
territó rio foi dividido entre seus filhos. Filipe ficou volta dos judeus em 66 d.C.; que culm inou na destrui-
com a parte leste do Jordão, mas viveu a m aior parte ção de Jerusalém e do Tem plo Judeu no ano 70 d.C.

Geografia - 0 mundo mediterrâneo O AUGE DO


dos tempos de Cristo
IMPÉRIO ROMANO
·.·<■‫׳‬

OCEAN
Gália
ATLÂNTICO
Macedonia
Mar Negro

Espanha V * Λ V ^ ‫·־‬ , .‫ל‬ ‫־‬ ‫־‬


Greeia ASIA MENOR

it '*

Mar Mediterrâneo
AFRICA
Os Herodes da Bíblia
Após a m orte de Herodes, o G rande, alguns de
seus herdeiros usaram o designativo “H erodes” com o
título de realeza. Desse m odo é possível e n co n trar no
N T a m enção de pelo m enos seis Herodes:
1 - H erodes, o G rande, que m andou m atar as
crianças em Belém; (M at. 2:2);
2 - H erodes A rquelau ou etnarca, que assum iu a
Judeia após a m orte do pai (M at. 2:22);
3 - Herodes A ntipas ou T etrarca, pois governou
um quarto do territó rio . Foi ele que assassinou João
Batista e teve um breve encontro com C risto durante
seu j ulgam ento em Jerusalém (Luc. 3:19; 9:7; 23:7);

4 - Herodes Filipe, outro Tetrarca que governou a


Itureia, Traconites, Gaulanites, Auanites e Bataneia.
Não sendo um a figura central, foi rapidamente mencio-
nado em M ateus; 16:13; Marcos 8:27 e Lucas 3:1 [19];
5 - H erodes Agripa I, neto de H erodes, o Grande,
cham ado de “rei H erodes”, em Atos 12:1, que m andou
m atar Tiago, à espada;

6 - H erodes A gripa II, bisneto de H erodes, o G ran- r>O


de, fam oso p o r seu encontro com o apóstolo Paulo, c
conform e registrado em Atos 25:13; 26:32. c

........................................................ ‫■״ י‬:...... - ........... -— :— — —


Fato im portante
0 famoso Herodes, 0 Grande, escolhido como
rei dos judeus pelos romanos, não era ele mes-
mo judeu, masldumeu. Herodes nascera filho
de uma princesa nabateia chamada Cypros e
não possuía nenhum parentesco com os judeus
fQ ‫ח‬ senão mediante uma tribo distante deEsaú, a
saber, osedomitas.
Você sabia? Apesar de seus esforços para adular Roma e
Herodes, 0 Grande, era um individuo tão ao mesmo tempo ganhar simpatia dos judeus
odiado que, quando os arqueólogos encontra- com grandes construções no seu território, ele
ram seu túmulo em 2007, se surpreenderam era um monarca odiado pela população e vivia
sob 0constante temor de ser assassinado ou
ao ver que fora destruído não por ação do
deposto a qualquer momento. Em virtude disso,
tempo, mas por vândalos que provavelmente
mandou matar vários membros de suafamí-
0profanaram poucas décadas depois de sua
lia, inclusivefilhos, 0 que explica 0genocídio
morte. Quem disse issofo i EhudNetzer, 0
de Belém que ele ordenou ao saber que ali havia
chefe da expedição que, tragicamente,
nascido um menino que seria 0 “rei dos judeus".
morreu depois de um acidente, no mesmo
O
local da descoberta.
­‫ג‬ e
.........................

‫ס‬ C
173 i ‫־‬r 5 ‫־‬f u ‫?־‬7 3 ‫־‬ ‫־ ס די‬
Cronologia
4.a.C.
O ctaviano (o futuro Augusto Cé- Possível ano do nasci- H erodes, o G rande, m orre entre
sar) assume o poder em Rom a e, m ento de Jesus. m arço e abril na cidade de Jericó.
após a batalha de Ácio, m antém Seu filho A rquelau leva seu corpo
Herodes no controle da região. para 0 H erodion, palácio no de-
No m esm o ano H erodes se casa serto que serviu de túm ulo do rei.
com M ariana I, neta de A ristó-
bulo II e H ircano II e conquista

X1 d .,M®
M orre Augusto César (Luc. 2:1) Pilatos governa com o Jesus inicia seu m inistério
e T ibério assum e seu lugar (Luc. prefeito da Judeia a

44 d.C. 48 d.C. 56 d.C.


Herodes m o rre em Cesareia co- Passado um tem po após N ero aum enta o territó rio dom i-
m ido p o r verm es, conform e Atos a m orte de seu pai, He- nado por A gripa II que, para adu-
12:20-25. Após sua m o rte a Ju- rodes Agripa II é no- lar o im perador, m uda o nom e da
deia é incorporada à prefeitura da m eado p o r Cláudio rei cidade de Cesareia para N eronias.
Síria e volta a ser controlada por de parte n o rte e nordes- N este interim ele ouve a defesa de
representantes de Rom a, desta te do territó rio judeu. Paulo, conform e Atos 25:13-32,
vez, procuradores. adm ite (por sinceridade ou zom -
baria) que este p o r pouco fez dele
um cristão - Atos 26:28.
Principais províncias e cidades
TERRITORIO DE FELIPE
^ GRANDE HÉRM( IN

o CESAREIA DE FiLIPE

OPAS DEJESUS IDROSCENA


TRACON T

O AKCIB
LAGO
O GISCALA '
QUEDESD t MEROM
OMEIERON ;
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CORAZIM O GAULANITIDE
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SICAMIN( ΌΤ/ PATA
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-----------O ARBELA

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‫ כ‬LÍDIA O ATAROT
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XARIMATEA BERO‫־‬D

N GABAONO
O ESEBOM
O EMAUS DA MONTANHA
DE JORDÃO
:-SEMES O EMAÚS DA PLANÍCIE QN
ECROM

JERUSALÉMO
NARQUERONTE

M MAGDALGAD
O AZOTO BELÉI/lo,
Q ASCALÃO O YAI A i
ECUt

BETSUR O

o HÉBRON

YUTTA O

O KERIOT

MASADA

MOABE

EDOM

PETRA
■4 ‫־‬ .

A região na qual Jesus viveu é uma terra de muitas vez mais até desem bocar no M ar M orto a 390 m abai-
m ontanhas, vales e um imenso deserto. Daí a Bíblia cha- xo do nível do m ar. Sua extensão é de, aproxim ada-
má-la de “terra de m ontes e vales” (Deut. 11:11). Prati- m ente 190 k m .
camente todas as cidades do tem po de Jesus estavam si-
A com panhando o vale do Jordão, desde o M ar da
tuadas em algum ponto de um a extensa cordilheira que
Galileia até o M ar M orto, é possível identificar com
desce desde os atuais limites com o Líbano e a Síria, até
m ais facilidade algumas das principais regiões, cida-
às áreas desérticas do Negev ao sul do país. A parte norte
des, localidades e acidentes geográficos m encionados
está a aproximadamente 1300 m etros acima do nível do
no N ovo T estam ento. V indo do N orte para o Sul, são
M editerrâneo e a parte sul, bem ao contrário, acerca de
estas as regiões ou divisões políticas da T e rra Santa,
400 m etros abaixo do nível do mar.
durante a vida de Jesus:
Essa cadeia m ontanhosa que inicia com os maci-
1 - G alileia - U m lugar com plicado na época por-
ços do Líbano e o M o nte H erm on é entrecortada pelo
que, ainda que a população fosse judaica em sua m aior
vale de Jezreel (Josué 17:16) que a divide deixando ao
parte, ali era territó rio com um de m uitos judeus
norte os m ontes da Galileia e ao Sul os desvios das
e não judeus. Por isso era cham ada de “Galileia dos
m ontanhas de Samaria. E do H erm on, cuja parte sul
gentios” (Isa. 9:1 e M at. 4:15). Gentio era um a alcunha
se funde com as famosas colinas do Golan, que des-
não m uito am istosa para falar do não judeu; seria o
cem as principais nascentes do Rio Jordão. Este, po r
m esm o que cham ar alguém de pagão.
sua vez, atravessa os lagos Hulé e segue até form ar
o M ar da Galileia, na verdade um lago de água doce Ao contrário do que se pensava anteriorm ente, a
com com 21 km de com prim ento e area de 166 km 2. arqueologia revelou um am biente bem religioso na
A seguir, esse rio continua seu curso descendo cada Galileia, porém , m enos piedoso que o de Jerusalém .
BMggjgggg

Modernos samaritanos celebrando a


páscoa sobre 0 monte Gerizin.

T anto era assim que os habitantes da Judeia consi- Era no en to rn o do M ar da Galileia que ficavam as
deravam os da Galileia “judeus de segunda categoria” principais cidades pelas quais Jesus se m o v im e n ta v a -
(João 1:46; 7:25). em bora nem todas estejam precisam ente localizadas:
C afarnaum (M at. 17:24; M c 1:23-28); C orazim (Mat.
O sotaque e a dicção dos galileus era outra m oti-
11:21), Betsaida (M t 11.21; 6.45; 10: 13; Jo 1.44),
vação para serem discrim inados pelos que viviam na
Caná (João 2:1 e 21:2), G enesaré (M arcos 6:53-56),
Judeia. U m galileu geralm ente usava expressões ara-
M agadala (Luc. 8:2), Gergesa ou Gadara M at 8:28 e
m aicas estranhas, com descuido gram atical e p ro n ú n -
Luc. 8:26 e N aim (Luc. 7:11-17). O utras cidades não
cia indistinta de algumas letras. Isso perm ite entender
m encionadas no relato bíblico seriam M erom , Tela,
p orque Pedro foi im ediatam ente reconhecido como
Giscala, Tiberíades, Tesá, Cabul, Aczibe. M as é bom
galileu p o r sua “form a de falar” quando estava no pá-
lem brar que a parte leste do M ar da Galileia tem um a
tio do palácio de Caifás p o r ocasião do aprisionam en-
jurisdição m ais im precisa, de m odo que as cidades
to de C risto (M at. 26:73).
que estão do outro lado do Lago são às vezes m ostra-
T udo isso to rn a m ais que curiosa a inform ação bí- das com o pertencentes a Decápolis, à T etrarquia de
blica de que Jesus inicia justam ente ali seu m inistério Felipe ou à p rópria Galileia.
e todos os seus apóstolos (com possível exceção para
2 - D ecáp olis - C onform e o próp rio nom e grego,
Judas) eram galileus. C onsiderando que N azaré ficava
significa literalm ente as “dez” (deka) “cidades” (pólis).
na Galileia e Jesus fora criado neste vilarejo, ele m es-
D e acordo com Plínio, o V elho, essas cidades seriam:
m o fora, em virtude disso, considerado galileu (Mat.
Dam asco, Filadélfia, Rafana, Citópolis (Bete-Seã),
26:69 e 73).
Gadara, Flipos, D iom , Pela, Gerasa e C anata (Natu-
A região era ainda subdividida em alta e baixa Ga- ralis Historia V, 74). Em bora exista certa divergência
lileia. A prim eira, m uito m ontanhosa e isolada, não se sobre o que representavam essas cidades, a opinião
destaca no relato bíblico. Já a segunda, a baixa Gali- prevalecente é a de que se tratava de um a confede-
leia, serviu de am biente para a m aioria dos episódios ração cosm opolita fortem ente m arcada p o r um a cul-
descritos nos evangelhos. Era um lugar fértil, com tu ra helenística com um . O único problem a é que o
bastante chuva que, segundo Flávio Josefo, não teria estudo das fontes até agora realizado não descobriu
n en h u m a te rra sem ser cultivada (G uerra dos Judeus nenhum a evidência de arranjos comerciais, políticos
3.42-43). ou m ilitares entre seus m em bros.
Seja com o for, eram todas cidades g reco -ro m a- gares com o Betel e D an. A capital do rein o do N o rte
nas que partilh av am um a m esm a cu ltu ra não judai- ficou sendo Sam aria.
ca, m as que se sen tiram atraídas pelo m in isté rio de
Em 722 a.C., Israel fora conquistado p o r Sal-
Jesus de N azaré. A ssim , m u ito s de seus seguidores
m anazar, rei da A ssíria, e m u ito s israelitas foram
v in h am dessas cidades e, em b o ra fosse um lugar
tra n sp o rta d o s p ara ou tras p artes do seu im pério.
evitado p o r religiosos judeus m ais conservadores,
Em c o n tra p artid a , pessoas de ou tras nações tam -
não é inverossím il concluir que Jesus te n h a tido al-
bém subjugadas foram trazidas p a ra a Sam aria (II
gum tip o de atividade efetiva n a região (M at. 4:25;
Reis 17:23-24).
M ar - 5:1-20; 7:31). M esm o po rq u e, recentes pes-
quisas m o stram que algum as cidades da D ecápolis Esses novos cidadãos assim ilaram m u ito da re-
tin h a m presença judaica em seu te rritó rio com o é o ligião judaica, m as a m istu ra ram com sua p ró p ria
caso de Bete Sean, G erasa e H am ate G ader. cultura, criando um a visão ainda m ais sincrética da
fé judaica. T al situação, agravada pelos casam entos
3 - P e r e ia - Localizada logo abaixo da Decá-
c o n tín u o s de judeus e não judeus, fez com que os
polis, a Pereia não é d ire tam e n te citada no N ovo
h ab itan tes de Ju d á desprezassem os sam aritanos e
T estam en to , a não ser p o r um a v arian te tex tu al de
não m ais os considerasse gente de sua p ró p ria etnia.
Lucas 6:17. Q uem a cham a p o r esse no m e é Flávio
Josefo. T odavia, sabe-se que “Pereia” vem do gre-
go “P e ran ” e quer dizer “além ”. Logo, nos vários
m o m en to s em o E vangelho m en cio n a a expressão
"além do J o rd ã o ’', certam en te está se referin d o a
0 rabi Eliezer é cita d o no Tal-
esta região (M at. 4:15, 25; 8:18; M ar. 3:8; 10:1 etc.). m ude com o te n d o d ito que "a q u e -
T am bém era ali que ficava a cidade de Jericó do le que a ce ita um pedaço de pão
N ovo T e sta m en to , local do palácio de H erodes, da dado por um sa m aritano é sem e-
pregação de João B atista e do batism o de Jesus. Foi lh a n te àquele que com e carne de
tam b ém na P ereia que Jesus jejuou p o r 40 dias, na p o rco " - algo co m p le ta m e n te im -
parte que conhecem os com o deserto da Judeia. pensado para um ju d e u .54

A Pereia era o cam inho ideal p ara o ju d eu que


quisesse ir de Ju d á p ara a G alileia (ou vice-versa),
evitando passar pelas te rra s da Sam aria, pois os ju-
deus não se davam com os sam aritanos.
Os sam aritanos, po rtan to , seguiram um a form a
4 - S a m a r ia - A rivalidade dos judeus com os m odificada da Lei de M oisés. A creditavam que o local
h ab itan tes da Sam aria era acentuada nos tem pos de correto de adoração a Deus era no m onte Gerizim ,
C risto, m as as origens dessa d isputa vem de m ui- em Samaria, não no T em plo de Jerusalém . Assim,
tos séculos antes. T u d o com eçou após a divisão do tan to judeus quanto sam aritanos evitavam um o ca-
povo de Israel em duas nações, após a m o rte de Sa- m inho do o utro, m esm o sendo Sam aria a ro ta mais
lom ão em to rn o de 930 a.C. U m a foi o rein o do Sul, curta en tre a Judeia e a Galileia. Jesus, po rtan to , deve
cham ado Ju d á e a o u tra o rein o do N o rte, cham ado te r escandalizado bastante os m ais conservadores ao
Israel. optar algumas vezes p o r passar pela Sam aria em sua
trajetória entre a Judeia e a Galileia (Luc. 9:51, 52;
O povo de Ju d á seguia adorando D eus em Je ru -
17:11; Jo. 4:4 e 5).
salém. M as o povo de Israel m istu ro u seu culto com
tradições de o u tro s povos, criando um sincretism o 5 - J u d e ia - Nos dias de Jesus a ju d eia era, indubi-
in co n g ru e n te com a Lei de M oisés. Sendo assim , tavelm ente, a região mais im p o rtan te para os judeus.
deixaram de ir a Jerusalém para as festas religiosas e M as o m otivo disso não estaria na sua geografia nem
se v o ltaram para san tu ário s m istos erguidos em lu ­ na sua beleza natural. Pelo contrário, a Galileia era
um lugar m uito mais aprazível em term os de tem pe- M as era na Judeia que ficava a grande cidade de
ratura, fontes d agua, vegetação e terren o fértil. Jerusalém , capital escolhida p o r Davi. Ali estava o
T em plo do Senhor, o centro da religiosidade judaica,
A Judeia, em contrapartida, revela-se um a região
para onde peregrinavam judeus do m undo inteiro a
po r um lado m ontanhosa (o que dificulta a agricultu-
fim de adorar o Deus de Israel.
ra) e, p o r outro, desértica, o fam oso deserto da Judeia
várias vezes m encionado no N ovo T estam ento (Mat. Belém, a cidade do rei Davi; Jericó, a prim eira
3:1; 4 :1 ). Ela tam bém varia grandem ente em altitude, conquista hebreia da região e H ebron, local do túm u-
pois um a de suas partes, o m onte H ebron, eleva-se a 10 de Abraão e Sara eram outros im portantes sítios na
1.020 m etros, enquanto outra - na direção do M ar região da Judeia. T udo isso aum entava a im portância
M o rto - desce a pouco mais de 400 m etros abaixo do daquele territó rio , fora o fato de que, após o fim do
nível do m ar, sem dúvida a depressão mais profunda cativeiro babilônico, a Judeia to rn o u -se essencial-
do planeta T erra. m ente o territó rio ocupado pelo rem anescente que
voltou do exílio. E com o a m aioria deles era da tribo
Q uanto às chuvas, a quantidade de água que cai na
de Judá, o term o “judeu” passou a designar indistinta-
Judeia (entre 100 e 600 m m ) é m ínim a se com para-
m ente todos os descendentes de Abraão ou seguido-
da à que cai na Galileia (900-1.200 m m ). Isso fora o
res da fé abraâm ica e seu territó rio reconhecido com o
clima bem complicado. É que, localizada num a zona
com o Judá ou Judeia.
fronteiriça entre o clima úm ido do M editerrâneo a
oeste e a zona desértica a leste, a Judeia acaba produ- 6 - A D iásp ora - Em bora não exista n enhum a re-
zindo um a vegetação em parte desértica, em parte de gião na T e rra Santa cham ada “diáspora”, essa poderia
estepes, próprias do clima árido e sem iárido. Assim a ser considerada um territó rio sim bólico para abarcar
região fica pobre de árvores, sendo mais caracteriza- aquela grande parcela dos judeus que não m oravam
da, p o r um grande tapete de gram íneas (herbáceas). nas terras bíblicas, mas no estrangeiro.
A diáspora refere-se aos diversos deslocam entos üa.
forçados dos judeus pelo m undo, devido à conquista
de sua terra p o r um a nação estrangeira (especialmen-
te assírios e babilônios). Em virtude disso, m uitas co-
m unidades judaicas foram fundadas m undo afora e, V‫׳‬òcê sabia?
m esm o quando tiveram a oportunidade de regressar Sempre houve espaço, entre os judeus, para
a Israel, preferiram continuar vivendo no exterior. um aculturamento greco-romano. T anto que
a língua principal deles passou a ser 0grego,
Assim, já no tem po de C risto havia grandes popu- razão pela qual os evangelhosforam escritos
lações de judeus vivendo no Egito, na Síria, Grécia e nesse idioma e não em hebraico ou aramaico,
tam bém em Rom a. Estim a-se que som ente a popula- que seriam as línguas mais comuns para os
ção judaica vivendo na capital do im pério ultrapas- discípulos de Jesus. 0 intuito seria usar 0
saria 100 m il pessoas e a de Alexandria, 1 milhão! A grego para disseminar a mensagem de Jesus
estim ativa de é que havia cerca de 6 m ilhões de ju- além do território de Israel.
deus espalhados pelo im pério rom ano. Desse m odo, é
possível dizer que os judeus da T e rra Santa represen- c
tavam apenas um a pequena fração de um conjunto G
m aior de pessoas, cuja m aioria vivia fora de Israel. (ΓΓζΤΤ a . ‫־‬c13‫־‬m

Apesar das diferenças entre si, as com unidades ju-


daicas da diáspora tinham alguns elem entos em co-
"a nação judaica invadiu quase todas as
m um , que as faziam perm anecer unidas m esm o num
cidades, a ponto de to rn a r d ifícil encontrar
um único lugar em to d o 0 universo em que am biente tão desafiador. Elas m antinham toda sema-
não haja jude us". Estrabão, geógrafo grego, na o culto sabático em suas sinagogas, eram rigorosos
I século a.C.15 quanto às leis alim entares do Levítico, observavam o
calendário das festas judaicas e, em ocasiões de sole-
nidade, m uitos se esforçavam para peregrinar até 0
T em plo em Jerusalém .
H a.
Foi po r isso que a cidade de Jerusalém estava tão
cheia p o r ocasião da m orte de C risto. Era a festa da
Páscoa e judeus do m undo inteiro vieram para ceie-
Fato importante
brá-Ia na cidade sagrada. U m a vez ali, puderam tes-
Sinagogas eram espalhadas por todo esse tem u n h ar a execução de Jesus de Nazaré, fato que
território estrangeiro e 0desafio dos judeus provavelm ente os im pactou bastante. T an to que,
que moravam ali era alinhavar 0 equilíbrio
sem anas mais tarde, em o utra festa cham ada Pente-
entre 0 diálogo com seus vizinhos não judeus
costes, os discípulos pregam para um a m ultidão de
e, ao mesmo tempo, preservar sua identidade
étnica. A tarefa não era fácil e os modos de li- judeus da diáspora e vários deles voltam crendo que
dar com 0problema variavam de cidade para Jesus era o Messias.
cidade. Em algumas localidades os judeus
começam a ir ao teatro e assumir comporta- Um pouco antes disso, líderes judeus, tentando
mentos comuns da vida greco-romana. Em entender as palavras de despedida de Jesus, pergunta-
outras sefechavam, mantendo certa distância ram uns aos outros se ele não objetivava com aquilo
entre si mesmos e 0 ambiente que os envolvia. dizer que sua intenção era pregar aos judeus da “Dis-
persão, en tre os gregos, com o fim de lhes ensinar”
(Jo. 7:35). O ra, essa é um a referência explícita aos ju-
o
‫־סדר‬ deus da diáspora que viviam fora de Israel.
A origem dos gafifeus m enciona), deu seus principais ensinam entos, cha-
m o u seus discípulos e deu instruções após ressusci-
ta r den tre os m ortos.
U m grande debate que se arrasta nos congressos
e publicações acadêmicas sobre Jesus tem a v er com O problem a começa séculos antes de Cristo quan-
as origens e diferenças entre os judeus da Judeia e os do a Galileia foi dividida para as tribos de Zebulom ,
demais que viviam na Galileia. O p o n to da discussão Naftali, Isacar e Aser. Na época da unificação, o ter-
que divide opiniões é: Q uem seriam , de fato, os gali- ritó rio foi incorporado ao reino de Davi. M as após a
leus durante os tem pos de Cristo?
m o rte de seu filho Salomão, houve um a ru p tu ra no
A con tro v érsia to rn a -se especialm ente signi- reino. Dez tribos se juntaram ao n o rte tendo p o r ca-
ficativa para o estudo de Jesus porque, em bora ele pitai Sam aria e duas ficaram ao sul tendo p o r capi-
nascesse em Belém da Judeia, a m aio r p arte de seu tal Jerusalém . A Galileia pertencia ao n o rte e assim
m in istério foi vivida na Galileia. Ali ele o p ero u a form aram -se os reinos de Israel (norte) e Judá (sul),
m aior p arte de seus m ilagres (27 dos 35 que a Bíblia quase sem pre em conflitos um com o outro.
Então veio Tiglat Pilezer III e conquistou Israel, mesmo com os idumeus, antes dele. Isso foi em 106 a.C.
em 733 a.C. U m a década depois, sob a adm inistração e, sendo assim, os judeus da Galileia seriam "distintos”
de Salm anazar V, aquele reino havia desaparecido. daqueles que viviam na Judeia. Eles não eram judeus por
Neste p o n to m uitos historiadores acreditam que o ascendência, mas itureanos convertidos à força.
costum e assírio de relocar populações inteiras de um
A princípio, pode parecer coisa com um , de m enor
lugar para o outro fez com que o territó rio do antigo
im portância ou até inspirada em segregação racial.
reino do n o rte ficasse praticam ente vazio.
M as não é o caso. Se a Galileia não era com posta por
De acordo com o testem unho bíblico (II Rs 17), o judeus “de fato” isso teria implicações m uito sérias
rei da Assíria repovoou a Sam aria com estrangeiros para o m ovim ento de Jesus que nasceu naquele lugar.
vindos da Babilônia, m as não há m enção algum a de
É com o se Nagasaki e H iroshim a fossem com ple-
que a Galileia tam bém tenha sido repovoada. Ao que
tam ente repovoadas com coreanos naturalizados ja-
parece, ela perm aneceu vazia e fora dos registros his-
poneses. Com o tem po, a cultura nipônica produzida
tóricos por, pelo m enos, 600 anos.
naquelas cidades já não seria tão “japonesa” como
Estudos arqueológicos na região dem onstram que aquela produzida em outros redutos com m en o r pre-
foi exatam ente isso que aconteceu. Um a investigação sença de estrangeiros.
de superfícies indica que não houve ocupação hum ana
Porém nen h u m docum ento do passado identifica
na Galileia por pelo m enos 200 anos após a conquista
ou acusa os habitantes da Galileia de serem m eio-ju-
dos assírios. E o que se encontra despois disso são as-
deus. Ademais, verifica-se um a singular ausência de
sentam entos ínfimos e pequenas ocupações militares.
indícios arqueológicos que confirm e a presença de
C ontudo, a evidência arqueológica m o strou que itureanos vivendo na Galileia. A inda que seja verda-
esse quadro foi alterado no século I a.C. Q uando um a deiro o relato da conversão forçada de estrangeiros
grande leva populacional concorreu para a região ao judaísm o - algo totalm ente estranho ao judaísm o
to rn an d o -a novam ente habitada. Em poucas décadas - , não se pode dizer que a Galileia foi o destino desse
várias vilas e depois cidades com eçaram a ser funda- grupo de estrangeiros recém -convertidos.
das, especialm ente no en to rn o do M ar da Galileia.

A pergunta, pois, que se faz nesta sequencia dos fa- Migrações judaicas
tos é: Quem seriam esses novos habitantes da Galileia?
Josefo diz que Alexandre Janeu, lider dos judeus de
102 a 76 a.C., estendeu para o norte as fronteiras do
Galileus: judeus ou reino centralizado em Judá e, a partir daí, a Galileia
itureanos? voltou a fazer parte do território judeu - em bora al-
guns entendam que ela já estaria anexada como heran-
ça israelita desde os tem pos de Aristóbulo e Hircano.
Uma leitura equivocada de um texto ambíguo de
Josefo e do I Livro dos Macabeus, fez m uitos histo- N um prim eiro m om ento, apenas m ilitares haviam
riadores acreditarem po r gerações que os galileus não sido enviados para lá. C ontudo, com o tem po, outras
eram 100% de sangue judeu. Eram descendentes de itu- famílias vindas da Judeia tam bém m igraram para a re-
reanos convertidos à força ao judaísmo. Isso colocaria gião. Os ancestrais do carpinteiro José, originalm ente
o m ovim ento de Jesus num eixo central m uito afastado vindos de Belém, poderiam estar nessa leva dos novos
daquela herança judaica que chega até Abraão. habitantes do lugar.

O relato em questão diz que, quando Aristóbulo, o fi- Os achados arqueológicos tam bém confirm am , a
lho de João Hircano, assumiu o poder como governador p a rtir de cerâmicas e utensílios dom ésticos, hábitos
hasmoneu da Judeia, ele repovoou o lado ocidental da com uns àqueles encontrados na Judeia. Tratava-se,
baixa Galileia com famílias da Itureia que foram obriga- p o rtan to , de famílias judaicas que m igraram da Judeia
das a se converter ao judaísmo. Seu pai já havia feito o para o n o rte e não de agrupam entos de não judeus.
suir Jerusalém e o T em plo - sím bolos m áxim os do
judaísm o daquele tem po.

A evidência é fragm entária, mas perm ite dizer que


os galileus não sustentavam em m assa o T em plo em
Jerusalém com seus im postos, dízim os e ofertas. Não
que eles rejeitassem a T orá, m as talvez fosse um a for-
m a de protesto contra a obrigatoriedade de m andar
esses recursos para um a aristocracia subserviente a
Rom a. Jesus, porém , preferiu não sonegar este tribu-
to (Cf. M at. 17:24-27).

É que o Sinédrio de Jerusalém , trabalhando mais


com a diplom acia e a adulação dos rom anos, conse-
guira instituir um a lei que obrigava judeus de todas as
partes a devolverem tributos para o Tem plo.

Para com plicar a situação, a Judeia estava sendo


com andada p o r um p ro cu ra d o r ro m an o que vivia
em C esareia M arítim a - região da Sam aria. Os ga-
lileus ainda eram governados pelos descendentes de
H erodes, sem n en h u m a interm ediação ro m an a en tre
As cidades e aldeias escavadas revelam que os que ali o povo e o governado. Assim , praticam en te n e n h u m
m oravam tin h am com portam ento religioso simi- galileu poderia p articipar da representatividade ju-
lar dos demais que m oravam em Jerusalém . A dieta daica reu n id a no Sinédrio. T odos eram da região de
local, p o r exemplo, não continha nada proibido em Judá. O term o “galileu”, em algum as circunstâncias,
Levítico 11. N enhum osso de porco foi encontrado passou a ser sinônim o pejorativo de “estran g eiro ”,
nas cozinhas, no m ercado ou nos lugares de refeição “cidadão de fora”.
com unitária.
Os m oradores de Jerusalém , especialm ente da
Assim, pode-se dizer que é errado supor que os ha- elite dos anciãos, consideravam os galileus fracos
bitantes da Galileia eram descendentes de pessoas que espiritual, política e intelectualm ente. Não que seja
tin h am se convertido ao judaísm o som ente cem anos verdade afirm ar que fossem rudes e pouco intelectu-
antes. T am bém é m ito dizer que os galileus eram em ais, contudo, sua in terp retação da T o rá e dos dem ais
sua m aior parte pessoas incultas, rudes ou sem serie- escritos judaicos era vista com reservas pela elite do
dade religiosa. Pelo contrário, algumas cidades eram T em plo. Os fariseus, em particular, eram os m enos
tão rigorosas em seu judaísm o com o qualquer bairro im pressionados com a observância religiosa dos ga-
dentro da cidade de Jerusalém . lileus que consideravam frouxa.

A Galileia, p o r sua vez, era m uito m ais engajada


Judeia versus Galileia em lutas arm adas que o resto do país. A m aior parte
dos líderes rebeldes que se ergueram contra os rom a-
As evidências dem onstram que havia sérias rivali-
nos veio dali. A Judeia era p o r demais acom odada em
dades entre as províncias da Judeia e Galileia, p rin -
aceitar a presença do invasor estrangeiro no seu país.
cipalm ente no que diz respeito às interpretações re-
ligiosas. Com o já foi dito anteriorm ente, os judeus As acusações e preconceitos eram m útuos e foi
provenientes da Galileia eram recebidos com certo neste turbilhão de preconceitos in tern o s que surgiu o
desdém na Judeia que arvorava a vantagem de pos­ m ovim ento de Jesus.
Or, Jdü.
C
c
0 Talmude de Jerusalém recorda 0 deses-
pero de um sábio judeu do século I, chamado
Você sabia?
Yohanan ben Zakkai, que não pode fazer mais As narrativas dos Evangelhos e 0 simbolismo das
que duas perguntas sobre a lei em todos os parábolas de Cristo remetem constan temente a
18 anos que passou ensinando na G alileia: uma geografia eaum ecossistema que perma-
"Oh G alileia, Oh G alileia! No final das contas neceram em grande parte inalterados até os dias
você vai acabar cheia de m a lfe ito re s !"16 de hoje. A cidade “edificada sobre um monte"
(Mat. 5:14), os lírios do campo (Mat. 6:28), as
raposas em seus covis (Mat. 8:20) são elementos
ainda vistos em diversos cantos da Terra Santa,
especialmente na Galileia onde Jesus exerceu a
maior parte de seu ministério.

c
G
eH‫־‬c r ‫׳‬b ü '3 ‫־‬T u

Populações da Terra Santa


Fato importante
Mateus, citando Isaias, chama as cidades do De acordo com dados oficiais, a população de Is-
rael entrou no segundo decênio do século XXI com
—c o

entorno do Lago de “Galileia dos gentios", isto é,


“Galileia dos não judeus" (Mat. 4:15). O qua- aproxim adam ente 8 m ilhões de habitantes, sendo 6
dro demográfico da região ajuda a entender 0 m ilhões judeus e 2 m ilhões de palestinos, árabes e ou-
apelido. tras etnias. M as os núm eros no tem po de Jesus eram
bem inferiores a isso17.
Mesmo que a miscigenação entre judeus e não
........ - ............ ■■‫ ־‬............... - 1

judeus na Galileia não tenha sido uma realidade Dados recolhidos da arqueologia, m étodos dedu-
histórica propriamente dita ou confirmada, sua
tivos, análise dem ográfica, restos de censos rom a-
região era literalmente cercada por territórios
nos e escritos de alguns autores (com o T ácito, Filo
cujos moradores, além de estrangeiros, não eram
e Josefo) p e rm ite m te r um a ideia da quantidade de
bem aceitos na convivência com judeus mais zelo-
sos da Lei. Estas regiões seriam: Samaria, Pereia e pessoas existentes nas regiões p o r onde passou Je-
os centros romanos da extensa Decápolis. sus. O problem a, porém , é que essas fontes não são
precisas. A lgum as m o stram -se exageradas, publici-
Isso inseriu geograficamente a região num tárias ou incongruentes.
mosaico de culturas, cujo contato com elementos
estrangeiros era inevitável. Centros urbanos M esm o entre os autores m odernos, os núm eros
mais conservadores como Cafarnaum e Magdala variam de estudo para estudo. Assim, o que se pode
tinham de conviver com cidades completamente te r são estim ativas, sem a m en o r pretensão de serem
romanizadas como T iberíades e Séforis. Para núm eros exatos ou absolutos18.
muitos, a convivência gerava uma perda de
valores e uma paganização cultural do ambiente. Acredita-se que o território percorrido pelo M estre
‫ ס‬o ».....

Lugar inapropriado para surgir umMessias! da Galileia contava com algo entre 500 e 700 m il habi-
tantes ou 1 m ilhão se forem incluídos os não judeus.
De m odo mais específico, eis alguns núm eros aproxi-
‫־‬U ^r m ados de lugares de destaque na vida de Jesus Cristo:
LOCAL NÚMERO APROXIMADO DE HABITANTES

Jerusalém 50 mil (chegando a 250 mil durante as festas religiosas)

Cafamaum 600 a 1.500

Belém 1.000 '

Nazaré 200 a 500

Magdala 40.000 (de acordo com Josefo)

Betsaida 200

200 a 400 mil - Josefo fala de 3 milhões, mas os historiadores consideram isso
Galileia
um exagero

Judeia 100 a 150 mil

jClq. £ ‫ ׳‬2. e essênios), m uitos pensam que o judaísm o seria um


O bloco m onolítico de características não m uito diver-
o sificadas. T rem endo erro!
Você sabia?
T al negligência to rn a -se ainda m ais agravante
Especialistas em demografia afirmam que
quando estas noções m onolíticas são im portadas
nos tempos de Cristo a população de todo 0
planeta girava em torno de 300 milhões de p ara um a te n ta tiv a de reconstrução h istó rico -co n -
habitantes, menor que a população atual dos textual do m undo que recebeu o cristianism o prim i-
Estados Unidos. O número de judeus espalha- tivo. N a realidade, a p ró p ria esperança m essiânica
dos pelo império romano, residindo fora de deveria ser vista d e n tro de um arcabouço m ultifa-
Israel, seria de4a6 milhões de pessoas. cetado. C om o diz N eufeld, aludindo ao judaísm o do
c ‫ר‬ Segundo Tem plo: “C o n trário à suposição tradicio-
G O
nal de um m essianism o inequívoco e consistente
t‫ ׳‬o no judaísm o p rim itiv o , num erosos estudos recentes
têm d em onstrado que o m essianism o era um fenô-
m eno fluido e diversificado”19.
Um judaísmo pfurai
Kay Sm ith com pleta: “A p a rtir, aproxim adam en-
U m dos erros mais com uns com etidos p o r deter- te, do III século a.C. ao II século d.C., o m undo do
m inadas abordagens do judaísm o dos dias de Jesus é a judaísm o era trem en d am en te pluralístico. D u ran -
desconsideração de seu caráter plural. A inda que re- te o p eríodo do Segundo T em plo, os judeus in te r-
conheçam a existência de um ou o u tro segm ento ju- p reta ra m e in terag iram com suas E scrituras de um
daico m encionado no N T (fariseus, saduceus, zelotas m odo bem diferente do atual.”20
Uma das características dominantes entre os judeus relação com um m o v im en to cham ado apocalipsis-
que viveram no período em que nasceu o m ovim ento m o, que surgiu nos tem pos do A ntigo T estam ento,
de Jesus era justam ente a proliferação de múltiplas seitas gerou estilos de livros cham ados “apocalipse”, den-
judaicas, em bora várias delas possivelmente ainda per- tre eles o que aparece p o r últim o nas Bíblias de hoje.
maneçam desconhecidas para nós. O curioso, no entan-
P risioneiros da A ssíria, B abilônia e depois de A n-
to, era que o povo com um da época (talvez a maioria)
tíoco e Rom a, o povo judeu quase perdeu suas espe-
não se filiava oficialmente a nenhum desses segmentos
ranças e sua alegria. C om essas perdas, uns viam sua
que propositalm ente advogavam certo elitism o em seu
fé esm orecer en q uanto o u tro s se sentiam atraídos
processo de filiação.21
pela idolatria pagã. E, com o se não bastasse, os en-
É im p o rta n te tam bém evitar o anacronism o de sinos da palavra de D eus estavam ficando cada vez
encarar essa diversidade d en tro do judaísm o anti- m ais esquecidos, especialm ente depois da am eaça
go com o sendo um decalque exato dos segm entos ideológica do helenism o. O cham ado “m ilagre gre-
independentes que hoje tem os no O cidente, onde é go” m erg u lh ara o m undo n u m m odo de com preen-
possível reco n h ecer m últiplas ‫״‬religiões” d e n tro da são da realidade bem diferente daqueles ensinados
religiosidade m aior cham ada “cristianism o”. Fari- p o r M oisés e os profetas.
seus e Saduceus não são segm entos do judaísm o se-
m elhantes a presb iterian o s e adventistas d en tro do O povo precisava de um a revelação, de um a de-
cristianism o. m onstração divina de que ainda havia esperança. E
é exatam ente isso que significa o term o apocalip-
Do m esm o m odo, o conceito de "seitas” judaicas se e seus derivados (apocalipsismo, apocalíptica).
não se enquadra dentro da caracterização m oderna E tm ologicam ente falando, a palavra vem da junção
de “seitas” com um ao debate evangélico atual acerca de dois term os gregos: Apó - que quer dizer ‫״‬afastado
da ortodoxia versus sectarism o no m ovim ento cris- de”, “contrário a” e kaliptô - esconder, ocultar. Assim,
tão. Josefo, p o r exem plo, usa prodigam ente a palavra apocalipse é literalm ente a ação de retira r do escon-
grega hairesis para todos os segm entos judaicos que derijo, trazer para as claras, em suma, “revelar”.
m enciona, m as m ais frequentem ente para fariseus e
saduceus. O livro de A tos, p o r sua vez, aplica o term o Foi, p o rta n to , vivendo a realidade do cativeiro
ao próprio m ovim ento de Jesus (24:5,14; 28:22). Essa e a necessidade de um a resposta espiritual para o
term inologia, com o lem bra M aier, corresponde ao povo que escritores anônim os com eçaram a p ro d u -
uso corrente das escolas helênicas de filosofia22. zir livros n u m estilo “apocalíptico”, com o objetivo
de resta u ra r a tradição perdida e dar algum confor-
A dem ais, é im p o rta n te reconhecer que o que to para aqueles que já haviam perdido a esperança
geralm ente cham am os de “cristianism o p rim itiv o ” quanto ao futuro. Seus tratad o s consistiam , pois, de
ou, talvez m elhor, “o m o v im en to de Jesus” é, na visões e experiências m ísticas acerca do fim do m u n -
verdade, um d e n tre m uitos grupos ou seitas judai- do e da in tervenção de Javé para lib e rta r seu povo.
cas que disputavam espaço ta n to no c o rre d o r sírio
palestinense do p rim e iro século quanto na diáspora Alguns, de linha mais m essiânica, transform avam
estabelecida n a geografia do M ed iterrân eo . Ao que seu escrito num a defesa à vinda do Salvador prom e-
tudo indica, essas distinções no judaísm o são frutos tido. A perspectiva, porém , era de um a salvação poli-
do apocalipsism o que se acentuou n a cultura judaica tica. Alguém que v iria com um exército, enviado por
especialm ente a p a rtir do cativeiro babilônico23. Deus, para libertar o povo judeu de seus opressores.

A m aioria desses autores, é claro, não seria ins-


O que é apocalipsismo? pirada p o r Deus. E ram apenas judeus, talvez de boa
intenção, refletindo sobre sua fé e p ro cu ran d o con-
Q uando se fala em A pocalipse, m uitos im ediata- solar o povo. M as houve e n tre eles alguns autores
m ente pensam no fam oso livro que leva esse nom e. inspirados com o João, no N ovo T estam en to e Da-
M as a palavra tem um sentido m ais am plo. Ela tem niel, no Antigo.
T oda a literatura apocalíptica é, p o rtan to , esca- É claro que não tem os condições de afirm ar os
tológica e m essiânica em sua essência. Ela aborda a graus de relacionam ento entre Zoroastro e os judeus
questão do tem po do fim, 0 térm ino deste m undo no período Persa (ou se houve efetiva comunicação
conform e o conhecem os e o começo de um novo ci- entre ambos). Contudo, percebe-se que já havia mes-
cio, ou, em alguns casos, o começo da eternidade. Seu m o naquele am biente gentílico a ideia de um a renova-
objetivo principal era dar esperança aos que a liam. ção cosmológica do m undo trazida por um a persona-
C ontudo, é inseguro afirm ar que essa literatura tenha gem singular na história que os judeus reconheceriam
se tornado 0 centro do judaísm o pensante. com o sendo o Messias.

O rabinism o contem porâneo a Jesus praticam en- No que diz respeito ao judaísm o p ro p ria m e n te
te ignorou essa literatura. Porém , na boca do povo dito e aos livros que com põem o cânon do A ntigo
simples, tais relatos parecem ter ganhado m uita fama. T estam en to , é n o tó rio que as concepções de fim do
Afinal, eles eram sofredores nas m ãos rom anas, não m u n d o e juízo universal de D eus são an terio res até
tinham a cultura dos escribas, não sabiam brigar m esm o ao p eríodo Persa. Os Salmos 96 a 98, p o r
com o os zelotas, nem podiam fazer política com o os exem plo, são claram ente do p eríodo m onárquico e
saduceus e fariseus. Sua esperança repousava na cer- trazem vividas descrições da in tervenção últim a de
teza da intervenção divina. Com o a m aior parte des- Deus na história. Logo, ao co n trário do que defen-
tes foi atraída pela palavra de Cristo, não é sem razão deu N o rm an C o h n 26, não se pode afirm ar que os he-
que o espírito apocalíptico tam bém ten h a feito parte b reus ten h a m derivado de Z o ro astro aa noção apo-
do ensino de Cristo, conform e visto em M ateus 24, calíptica de fim do m undo.
po r exemplo, e tam bém da pregação da Igreja cristã
As raízes do apocalipsism o judaico não estão de
prim itiva.
m odo algum fincadas no m undo não judeu que o
circundava. As coincidências entre um a e o utra es-
Movimento apocalíptico e catologia (judaica e persa, p o r exemplo) podem ser
explicadas na possível interação durante o cativeiro,
esperança messiânica na influência deixada pelos judeus no m undo pérsico
ou no fato de ambos os m ovim entos estarem ecoando
A perspectiva apocalíptica do antigo Israel não um a tradição escatológica longínqua que se conhecia
nasceu de n enhum a revolução do período dos m aca- desde os prim órdios da hum anidade. Seja com o for,
beus com o intentam alguns autores m odernos24. N em a linha de desenvolvim ento do apocalipsism o judeu
m esm o a literatu ra apocalíptica apócrifa ou pseudepí- deve ser traçada até aos próprios profetas hebreus e
grafa, em bora fortem ente influenciada pelos aconte- não a oráculos pagãos27.
cim entos intertestam entários, pode ser identificada
com o p ro d u to de um a crise política ou de um a revol- U m fenôm eno curioso, observado especialm ente
ta arm ada com o aquela liderada po r Judas M acabeu nos profetas, é o exercício herm enêutico de m istu-
contra o governo dos selêucidas em 164 a.C. ra r eventos histórico-contem porâneos com eventos
escatológicos do futuro. O profeta Am ós, por exem -
A utores com o Bickerm an têm procurado de- pio, já anunciava no século VIII a.C. que o fim estava
m o n strar que os prim eiros textos apocalípticos fora chegando para Israel (Amós 8:2). Aqui é claro que ele
da Bíblia, com o, p o r exemplo,, algumas partes do se referia ao fim do reino do N orte, mas no capítulo
livro de Enoque, seriam anteriores ao período dos 5:18-20, que faz parte da m esm a tem ática profética,
m acabeus25. Sua argum entação talvez não seja total- ele descreve exponencialm ente o cham ado “dia do Se-
m ente conclusiva, mas supõe um a razoável probabi- n h o r”, que certam ente abarca m uito mais do que um
lidade. O próprio tom escatológico encontrado no juízo im inente sobre a casa de Israel. Isaías igualm en-
zoroastrism o do século VI a.C. aponta para essa rea- te m istura as prom essas de um novo céu e um a nova
lidade mais antiga, senão da literatura, pelo m enos do terra escatológica com as prom essas históricas de um
sentim ento apocalíptico no seio do judaísm o. Israel abençoado m ediante à fidelidade a Deus (Isa.
66). E m esm o nos tem pos de Davi, Natã fez-lhe um a para a m anutenção de seu santuário. A té Jesus pagou
promessa que m isturava o acom panham ento divino esse im posto (cf. M at. 17:24-27).
sobre Salomão com o estabelecim ento eterno do trono
A ordem pública era assegurada in tern am en te pelo
davídico (II Sam. 7:11-17) - esse com portam ento do
prefeito e pelas milícias rom anas. M as deixavam para
oráculo é um claro sinal de perspectivas messiânicas.
os juizes locais e a polícia judaica a jurisdição de ques-
Jesus tam bém usou o m esm o recurso de m istura tões ordinárias do judaísm o em si. Os rom anos não
de eventos atuais com eventos futuros em seu discur- queriam envolvim ento com polêm icas da religião dos
so escatológico registrado em M ateus 24. Os m otivos, judeus, em razão disso poderiam legislar sobre seus
evidentem ente, poderiam ser outros, mas o m étodo é casos. Só não poderiam sentenciar alguém à m orte.
trem endam ente parecido. Isso cabia exclusivam ente a Rom a. P or isso Jesus foi
preso pela guarda do T em plo, mas transferido poste-
A Bíblia hebraica, p o rtan to , m uito antes e além de
rio rm en te para o palácio de Pilatos.
qualquer influência estrangeira, m ostra-se fortem en-
te m arcada pela esperança de um “m undo vin d o u ro ”
Olam habbah) e um a personagem m essiânica que A centralidade do Templo
propiciaria a Salvação. M as a versão profética mais
antiga não lim ita a esperança do M essias à vinda de N o tem po de Cristo, o poder judaico se centraliza-
um futuro rei, idealizado aos m oldes m onárquicos, va no T em plo de Jerusalém . Logo, m esm o que'a Ju-
que traria a projeção política de Israel entre as nações. deia pertencesse à jurisdição rom ana com o qualquer
Pelo contrário, ela apontava para a natureza vicária outra província, o governador respeitava a organiza-
do M essias visto com o o servo sofredor de Isaías 53. ção in tern a do territó rio ocupado e só intervinha em
casos extrem os, a fim de evitar desnecessários confli-
Estrutura política do tos com os subjugados.

judaísmo Assim, todos os cerca de 6 m ilhões de judeus espa-


lhados pelo im pério rom ano dependiam da jurisdição
Toda estru tu ra política é dem arcada p o r três pila- de Jerusalém para tra tar de assuntos in tern o s do ju-
res nos quais o poder é exercido: daísmo. E qual era a dinâm ica política para atender a
todo esse contingente de pessoas?
1) a cobrança e o direcionam ento dos im postos;

2) a ordem pública; O Sinédrio


3) a elaboração e a execução do direito e da justiça.
C onfigurou-se ju n to ao T em plo o Sinédrio ou Sa-
Nos tem pos de Cristo esses três setores eram es- nhedrin, um a assembleia de anciãos existente desde os
rritam ente controlados p o r Rom a, m esm o que usasse tem pos helenísticos, mas cujas raízes conceituais vêm
:uncionários judeus para o exercício do dever. Era o dos dias de M oisés (N úm eros 11:16). O Sinédrio - pa-
caso dos publicam os que coletavam im postos da po- lavra que literalm ente significa “assem bleia sentada”
pulação para entregar aos rom anos e, p o r isso, eram - era um a espécie de Suprem a C orte da lei judaica que
:‫׳‬diados pelo povo. M ateus, um dos apóstolos de tinha p o r função adm inistrar a justiça, interpretando
Cristo, era um ex-publicano. e aplicando a T o rá (ou Lei de M oisés), tan to em seu
aspecto oral quanto escrito. Ele exercia, sim ultanea-
Os judeus, é claro, não suportavam m uito essa
m ente, a representação legal do povo judeu peran te a
"introm issão adm inistrativa” de estrangeiros em sua
autoridade rom ana.
:erra. C ontudo, adm itia-se que os rom anos tam bém
Deneficiavam o povo ao pavim entar estradas de aces- Existem várias referências nos evangelhos ao Siné-
so a Jerusalém e garantir a segurança e o tran sp o rte drio e àqueles que o com punham . Sobre o julgam ento
áo im posto do T em plo cobrado dos próprios judeus de Cristo é dito: “E ntão os principais sacerdotes e os
anciãos do povo se reuniram no palácio do sum o sa-
cerdote, cham ado Caifás” (Mat. 26:3). De igual m odo, 0
c ‫ג‬
os evangelhos esclarecem que foram os com ponentes
do Sinédrio que processaram Jesus ju n to a Pilatos e
instigaram o povo a escolher Barrabás para ser solto, Você sabia?
ao invés de libertar Cristo (M at. 27:11-26; cf. M at. Roma ergueu em seu território um conjun-
5:22; 26:59 e M ar. 15:1). to de fortificações, delimitações e ocupações
chamadas “limes”que configuram as bor-
T odas as cidades que tin h am um a com unidade
das de seu império. Para eles, os limites de
judaica poderiam possuir um pequeno Sinédrio, ou Roma eram os limites do mundo civilizado.
Sinédrio M enor, com posto p o r 23 juizes. M as ape- O que estavafora dessas linhas deveria ser
nas Jerusalém poderia te r o G rande Sinédrio com considerado bárbaro, inferior, sub-huma-
71 m em bros, a saber: o sum o sacerdote (presiden- no. Assim, reforçava-se a propaganda que
te), um vice presidente ou chefe de justiça e m ais 69 insistia em dizer aos povos conquistados que
m em bros rotativos. Apenas o chefe dos sacerdotes, considerassem um privilégio fazer parte do
grandioso império romano.
anciãos, escribas, fariseus e saauceus eram elegíveis
h C.
p ara assum ir um a cadeira no concilio. Exigia-se dos
c ' ‫ר‬
m em bros: m odéstia, decência, força, coragem e po- d p
pularidade e n tre seus pares. 9 ^ 5 ^ ζ ιιζ ιζ ιιζ τ ζ τ ζ ^ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ^ τ π τ Ε

...... -
- ^ 5 ....................... · =
= - :........ Partidarismos e
ri b
fü........................................Lp? messianlsmos
cf
‫ץ‬ Fato importante
im portante c
E m bora houvesse diferentes e divergentes expec-
A política no tempo de Jesus
Jesus era instável. Os judeus . . , , , ‫ ך‬T ‫׳‬ , . ,.
, • 1 1 i . , . tativas en tre os judeus do século 1, e possível dizer que
ja
jâ vinham traumatizados de uma longa trajetória
trajetona
j ~
de ocupações · . r ■.
ocupacoes e conquistas feitas .
jeitas por outros povos m uitos deles aguardavam
& com ansiedade um Messias
sobre seu próprio território. Primeiro vieram os clue fosse um conquistador político e religioso. Al-
asúrios, depois os babilônios, os gregos e a cada §uém <lue‫ ׳‬à semelhança do rei Davi, os liderasse num
nova ocupação, 0 povo era espalhado pelos quatro grande exército e expulsasse os rom anos de seu terri-
ventos 0 que aumentava 0 desafio de manter sua tório. T al anseio não parecia corresponder à proposta
identidade e sua etnia. Alguns eram circunstan- trazida p o r Jesus de Nazaré.
cialmente mais liberais ou “tolerantes" em relação
ao estrangeiro "invasor”, enquanto outros acalen- Nesse quadro m essiânico e pluricultural, diferen-
tavam maior xenofobia. tes grupos rivalizavam pelo poder e pela influência
sobre o povo. Destes, pelo m enos três disputavam as
Foi em meio a esse caos que emergiam os romanos, A ■ ‫ י‬c. ‫׳‬, · 3 1 · ‫י‬
‫י‬ * ' cadeiras do Sm edno: os saduceus (o m aior partido,
os novos dominadores estrangeiros. Eles eram r , , , , ‫\י‬ , ,
. , · ■ _ , . , . form ado pela ciasse sacerdotal), os anciaos (chefes
efetivos na administração
admimstraçao dos territórios
territories con-
.. j u .· j ‫ ג‬c■ de fam ília rica que eram indicados pelos rom anos) e
quistados e nao
não aceitavam nenhum tipo de desafio n r
à soberania de Roma. Para eles, quem não era os escribas (° Partido m inoritário, form ado em sua
cidadão romano, eraerabárbaro
bárbaro e, portanto, incapaz m aior parte por fariseus). Os três nem sem pre esta-
de governar a si mesmo. De fato, elesforam tão vam de acordo, mas acabavam fazendo alianças por
bem-sucedidos que um terço do mundo conhecido de m otivos políticos de interesse com um entre eles.
.^ então estava sob 0domínio de César. ÇJ
cl b‫׳‬j Os dois prim eiros partidos, form ados pelos sadu-
^‫כ‬ ^ p ^o ceus e anciãos, tinham m ais pontos de afinidade. Já o
ütõn 9 .........
u o à L·-......... ....... ‫״‬....,,‫״‬...... ... CIT3TD
‫ ל‬.Ft p l u partido dos fariseus representava a oposição. Segun-
Maquete do antigo Templo de Jerusalém

do Flávio Josefo, havia cerca de 6.000 fariseus apenas, tilo legalista, mas inteiram ente inovador. Assim, os fa-
mas o núm ero de sim patizantes era elevado se com - riseus eram irrepreensíveis aos olhos do povo, ao pas-
parado aos demais. O segredo de sua influência era so que os sacerdotes-saduceus eram quase totalm ente
o duplo com portam ento que m antinham . Prim eira-
desconhecidos e os anciãos do povo, irrelevantes.
m ente, diante da massa popular, os fariseus dem ons-
travam um a piedade judaica tão elevada (orações C onsiderando que os três principais partidos
públicas, guarda do sábado, pagam ento integral dos juntos som avam algo em to rn o de 10.000 a 25.000
dízimos etc.), que os mais simples lhes consideravam partidários, pode-se dizer que 95% da população de
hom ens santos. todo o territó rio judeu não era diretam ente filiada a
Por outro lado, se opunham à nobreza sacerdotal nenhum a dessas correntes. A população era leiga em
e dos anciãos da área religiosa, constituindo-se um a relação à m aioria das discussões religiosas dessa elite
nova classe de interpretação das Escrituras com um es­ da fé judaica.
Os partidos Judaicos afastam ento das massas populares, ignorantes, vulga-
res e pecadoras.

A ntes de apresentar os partidos ou seitas do tem po Com o se não bastasse tal incoerência, os fariseus
de Jesus, é im portante esclarecer que esta linguagem ocuparam um lugar no Sinédrio p o r causa de sua ori-
não deve ser confundida com o sentido m oderno de gem hum ilde e sua suposta influência sobre o povo.
partido político ou seita religiosa. T ratava-se antes Considerados inicialm ente um grupo religiosam ente
de um a escola de pensam ento com ensinam entos ou leigo (em bora alguns fossem levitas), os fariseus re-
princípios que deviam ser observados p o r aqueles que presentavam certa im agem de dem ocracia no conse-
se filiam àquela agremiação. lho dos sacerdotes e anciãos do povo.

Para falar dos partidos existentes entre os judeus Os fariseus eram , p o rtan to , trem endam ente con-
do tem po de C risto, tam bém é preciso levar em con- servadores, avessos às influências estrangeiras sobre
sideração duas realidades históricas: prim eiro, que o o judaísm o e teoricam ente inim igos tan to da aris-
judaísm o do século I, longe de ser um bloco m onolí- tocracia sacerdotal (os sacerdotes-chefes) quanto da
tico, revelava-se um m osaico de ideias e segm entos aristocracia leiga (os anciãos). O m otivo estava no
com m uitas diversidaaes de interpretação. Segundo, com prom etim ento desses segm entos tan to com a
que a distinção m oderna entre política e religião não política rom ana quanto com as influências gregas na
era com um naqueles tem pos; as questões políticas com preensão da Lei de M oisés. Isso fora certas diver-
m esclavam -se com as religiosas, de m odo que a hber- gências doutrinárias. M as o poder político os m anti-
tação dos rom anos, p o r exemplo, era tan to um anseio nha, pelo m enos em. parte, unidos. Era com o se fos-
social quanto um a expectativa messiânica. A seguir, sem um congresso nacional com partidos de situação
você verá os principais partidos judaicos dos tem pos e oposição discutindo leis e votações.
de C risto, tan to os que atuavam no Sinédrio quanto
os que coexistiam paralelos a ele: Os fariseus são constantem ente associados aos es-
cribas, isto é, profissionais jurídicos especializados na
1 - F a ris e u s - com punham um a associação de explicação da lei ou to rá (M at. 22:35; 23:2; Luc. 5:17
judeus piedosos cujas origens rem etem ao período etc.). M uitos fariseus tornaram -se escribas até para
dos m acabeus. No período de João H ircano (135-104 assegurar m elhor seu lugar no Sinédrio, mas nem to-
a.C.) e Alexandre Janeu (103-76 a.C.), já existem, re- dos os escribas eram de fato fariseus.
ferências a esse grupo religioso. Eles tratavam -se en-
tre si com o “com panheiros”, organizavam -se em co- 2 - S a d u c e u s - em bora as origens desse grupo
m unidades, tom avam refeições em com um e tinham ainda sejam incertas, tudo leva a crer que seu poder
intervenções piíblicas quando preciso. O regim e de com eçou tam bém nos dias de João H ircano, cerca
admissão e exclusão do grupo era bem severo. Seu tí- de 130 anos antes de Cristo, quando certas questões
tulo ‫״‬fariseu” vinha da palavra hebraica perushim, que públicas com eçaram a surgir perante o povo. Talvez
quer dizer ‫״‬separados ou separatistas”. viessem das classes ricas, mas tudo leva a crer que a
aristocracia sacerdotal foi o berço desse seguim ento.
A tradição rabínica posterior usou um a ironia para T anto que o T em plo e o sum o sacerdote foram sem-
retratar o separatismo dos fariseus ao dizer que um fa- pre a coluna m estra do poder dos saduceus. Não se
riseu jamais comeria, p o r exemplo, na presença de um deram bem com H erodes e seus filhos, mas agiram
hom em com doença venérea, m esm o que ele próprio desde o ano 6 a 70 d.C. com o árbitros na política de
já estivesse antes contam inado pela m esm a doença. conciliação dos judeus com os rom anos.

O curioso, no entanto, é que a m aioria dos fari- Enquanto os fariseus se espalhavam po r todo o
seus vinha das classes m edianas da sociedade, m uitos, territó rio , os saduceus cstavam mais concentrados
antes de serem recrutados para a seita, haviam sido em Jerusalém . N a verdade eram poucos em núm e-
artesãos ou pequenos com erciantes. C ontudo, com o ro, mas influentes em term os políticos. T inham total
0 próp rio nom e dá a entender, seu ideal de vida era o apoio dos rom anos que m antinham seus privilégios
em troca de sua fidelidade. Praticam ente todos os sa- cinco livros de M oisés a qualquer o u tro produzido
cerdotes e aristocratas dos tem pos de C risto eram sa- pelo judaísm o.
duceus. Pouquíssim os evitaram o envolvim ento com
Assim, o que im portava era a sobrevivência atu-
o partido. Provavelm ente Zacarias, o pai de João Ba-
al da nação. A ssuntos com o ressurreição de m ortos,
tista, fosse um desses. existência de anjos e recom pensa eterna era algo que
M as, apesar de poderosos e influentes, os sadu- reputavam com o acréscim os tardios que nada t in h am
ceus não gozavam da sim patia do povo e viviam ex- a v er com a revelação dada a M oisés (M at. 22:23-33;
M ar. 12;18-27; Luc. 20:27-40).
cluídos (mais que os fariseus). Se p o r um lado eram
bastante liberais no diálogo com o m undo greco -ro - 3 - A n c iã o s d o P o v o - diferente da sociedade atual
m ano, p o r o u tro , seguiam um d o u trin a m e n to con- que tende a considerar os mais velhos com o ultrapas-
servador, coerente com sua posição política. Eram sados, o “ancião do povo” foi um a figura sem pre res-
defensores da ordem estabelecida e privilegiavam os peitada na cultura do O riente M édio, especialm ente
na Bíblia. O hom em idoso era costum eiram ente tido H erodes, o G rande, quanto seu sobrinho, Herodes
em alta estim a tanto p o r sua experiência quanto pelo Agripa, pretenderam ser os escolhidos de Deus para
seu conhecim ento, sabedoria e bom senso. Assim não governar Israel. Logo, não é estranho supor que este
era incom um as pessoas recorrerem aos anciãos para m onarca, ou pelo m enos seus defensores, tivessem
decidirem casos litigiosos, pendências jurídicas ou até pretensões messiânicas ao defender o reinado de al-
m esm o disputas doutrinárias (Núm. 16:25; Lev. 4:15; guém tão odiado pela m aioria da população.
IS am . 15:30; I Reis 20:7).
Talvez essa possível visão m essiânica explique o
P orém , com o crescim ento da população em áre- porquê da forte oposição que os herodianos fizeram
as urbanas e o estabelecim ento de certas form as de contra Jesus, unindo-se até m esm o com fariseus para
governo, a expressão “ancião do p o v o ” já não dizia destruí-lo (M at.l4 :l-1 2 ; 22:16; M ar. 3:6; 12:13; Luc.
respeito a todos os idosos da nação, m as apenas a 23:7-12). Afinal de contas, se Herodes era seu M es-
um a elite assim designada para o rie n ta r e legislar sias, Jesus de Nazaré seria um forte concorrente e ti-
sobre todos. nha de ser elim inado.

N o tem po de C risto, os anciãos eram aqueles che- 5 - E ssênios - representavam um a com unidade
fes de fam ília de origem pura e rica que poderiam ser m onástica que vivia no deserto da Judeia, separada
elegíveis para atuar no Sinédrio. Os rom anos esco- dos grandes centros urbanos, especialm ente Jerusa-
lhiam dentre eles aqueles que deveriam servir de lí- lém. A credita-se que, pelo fato de não aceitarem a po-
deres sobre o povo judeu ao lado dos sacerdotes. A lítica incorreta que se fazia no Sinédrio e no Tem plo,
ideia é que os anciãos m anteriam o povo calmo e, em um grupo de levitas rom peu com suas funções sacer-
contrapartida, R om a faria certa “vista grossa” acerca dotais, fundando a seita que existiu do II ou III século
de suas próprias fortunas que estariam atreladas ao a.C. até cerca do ano 68 d.C. no deserto da Judeia,
recolhim ento de im postos no país. T udo não passava
próxim o ao M ar M orto.
de um jogo de interesses.
N orm alm ente, acredita-se que eles form avam a
4 - H e ro d ia n o s - após a m orte de Herodes, o Gran-
com unidade que havia em Q um ran, da qual só resta-
de, e a divisão do reino entre seus filhos, quem mais se
ram ruínas. T am bém associa-se a eles a produção ou
destacou no governo foi Herodes Antipas que ficou com
pelo m enos preservação dos fam osos m anuscritos do
a jurisdição da Galileia onde m orava Jesus. Ali, Flávio
M ar M orto, descobertos em 1947.
Josefo afirma ter surgido um grupo de judeus militan-
tes cuja função era apoiar a todo custo a perm anência de O N ovo T estam ento não faz m enção deles, contu-
Herodes no poder e a ampliação de seu controle. do, seus textos perm item te r um a ideia do que acre-
ditavam , além de lançar luz em m uitos aspectos do
T am bém na Judeia havia partidários dessa agre-
ensino de Cristo. Eles, por exem plo, consideravam o
miação que, certam ente, eram beneficiados com a ad-
sacerdócio de Jerusalém ilegítim o, um a vez que m ui-
m inistração herodiana desde os tem pos de H erodes, o
tos já não eram mais da fam ília de Zadoque. Rejeita-
Grande. Ele nom eou com o sum o sacerdote um certo
vam a validade dos ofícios do T em plo e entendiam ,
Simão, filho de Boetos, e com isso teve grande apoio
p o r estudos de antigas profecias, que o M essias estava
desta poderosa fam ília de judeus até m esm o nas gera-
p o r vir em seu tem po. Alguns de seus textos, porém ,
ções seguintes.
dão a en tender que eles aguardavam a vinda de não
Não eram um grupo expressivo. Ao que tudo indi- apenas um , mas de dois Messias.
ca, seu objetivo era fortalecer o poder de H erodes A n-
6 - Z e lo te s - com o o p ró p rio nom e diz, “Z elote”
tipas sobre toda a nação, obtendo tem porariam ente o
ou “Zelota” significa alguém que tem um zelo, um a
apoio de Rom a, até que estivessem fortes o bastante
paixão, um fervor, em bora com certo tom de fana-
para quebrar o jugo dos rom anos.
tism o. Eles eram tam bém conhecidos com o sicários
Em bora não haja nenhum a alusão direta a H ero- ou hom ens do punhal. “Sica” era um pequeno pu-
des A ntipas com o M essias, é sabido que tan to seu pai, nhal rom ano.
Os zelotes eram , enfim , um grupo intensam ente serem a mais baixa classe de funcionários públicos
patriótico. Eles advogavam que qualquer m étodo, do que recolhiam os im postos para César. C om o se não
m artírio ao assassinato, seria válido na ten tativ a de bastasse, eles eram reconhecidos p o r sua desonesti-
livrar os judeus do jugo de Roma. dade, desvio de fundos e extorsão de pessoas m enos
favorecidas (M at. 6:46).
Em term os religiosos, Josefo diz que eles separa-
vam -se até m esm o dos fariseus, p o r considerá-los Os publicanos cobravam taxas ilegais e, de alguma
m uito indulgentes com a presença de estrangeiros em m aneira, R om a não parecia se im p o rtar com isso. O
seu país. M as tam bém eram fervorosos com a lei ju- que im portava era que o m o n tan te m ínim o esperado
daica. T an to que censuraram os judeus que aceitavam chegasse aos cofres do im pério. O que o coletor lu-
pagam ento vindo do trib u to dado aos rom anos e po r crasse além disso era problem a dele, os representan-
adm itirem chefes m ortais ao lado de Deus. Seu intui- tes do im pério não se m eteriam . Afinal, o interesse do
to era p ro m o v er um a reform a radical que envolveria pró p rio coletor em angariar m ais im postos a fim de
a sociedade, um a revitalização das instituições mais aum entar sua propina term inava deixando o sistem a
im portantes do país (especialm ente o Tem plo) e um a seguro para o governo, que tin h a seu m o n tan te m in i-
m anutenção de sua identidade original. m o sem pre garantido.

C ontudo, não eram tão bons na arte da guerra, N orm alm ente, os publicanos não tinham respon-
m uito m enos nas reform as que pretendiam . Seu m o- sabilidade sobre as taxas de propriedade ou decla-
vim ento foi um verdadeiro fracasso, em bora insistis- ração de ren d a dos indivíduos. Sua função era taxar
sem em m uitas investidas contra Roma. produtos com erciais que entravam e saiam no país -
im portação e exportação. E m bora trabalhassem para
U m dos apóstolos de Jesus cham ado Simão é re-
o governo, eram contratados: um a espécie de funcio-
conhecido pela alcunha de “o zelote” (Luc. 6:15 e At.
nário público terceirizado.
1:13). M as isso pode ser tan to p o r um a possível asso-
ciação anterior com o partido dos zelotes quanto por Seus direitos e deveres não podem ser definidos
causa de sua personalidade em relação à lei. Afinal, em detalhes. C ontudo se sabe que um coletor de im -
Paulo era fariseu antes de se u n ir ao cristianism o, mas postos que lograsse o título de cidadão rom ano teria
tam bém se descreveu certa vez com o um zelote reli- total isenção das taxas im postas po r outros publica-
gioso (At. 22:3). nos provinciais.

C ontudo, m esm o sendo im possível afirm ar cate- A expressão “publicanos e pecadores” (Luc. 15:1;
goricam ente se Simão era um ex-zelote que resol- M at. 21:31) é um a evidência clara do nível de im po-
veu seguir C risto, pode-se dizer que o pensam ento pularidade que estes cidadãos gozavam . Associar-se a
revolucionário desse grupo estava presen te entre os eles sem ser m al visto ou torná-los honestos era um a
discípulos de Jesus. Eles esperavam que seu M estre tarefa im possível para a m entalidade daquela época.
expulsasse os rom anos e reestabelecesse o reino a
Os rabinos diziam que quem entrasse na casa de um
Israel (At. 1:6). Em algumas ocasiões m ostravam -se
cobrador de impostos estaria im undo e quem recebesse
violentos e p ro n to s para o com bate arm ado, m as Je-
sus recusou a violência (Mat. 26:51 e 52). O reino que um em casa tam bém . Os publicanos eram vulgarm ente
comparados a prostitutas, e os rom anos os com para-
Jesus proclam ara não seria deste m undo (Jo. 18:36).
vam aos donos de bordel. Talvez por isso Jesus disse
7 - P u b lica n o s - não constituíam bem um parti- ironicam ente aos líderes judeus: “Publicanos e prosti-
do político, m uito m enos religioso, mas um a classe de tutas vos precedem no reino de Deus” (Mat. 21:31).
cidadãos odiados p o r todo m undo. Apenas os lepro-
As conversões de Zaqueu, em Jericó, e Levi M a-
sos e estrangeiros dom inadores eram m ais rejeitados
teus em Cafarnaum , certam ente assom braram m uitas
que eles.
pessoas e escandalizaram os que estavam consideran-
Os publicanos tam bém eram judeus, mas a abo- do a m ensagem de Cristo. O fato de Jesus associar-se
m inação de seus com patriotas se dava pelo fato deles a esse tipo de gente trouxe interrogações ao seu m i-
nistério. Afinal os publicanos não eram bem -vindos "Dai a César 0 que é de César"
nem na sinagoga nem nas dependências do Tem plo. Estima-se que a Judeia era uma das pro-
Poucos deles devem ter tido a chance de ouvir um a víncias com maior taxa de impostos no império
pregação de Jesus d entro de um a sinagoga. Se fossem, romano. Na época de Herodes, 0 Grande, have-
seriam banidos dali (Luc. 15:1 e 2). ria peio menos 250,000 trabalhadores ativos do
sexo masculino e todos deveriam pagar impos-
C ontudo, talvez pela influência de M ateus, que se tos para 0 governo - 0 que certamente engor-
to rn ara seu discípulo, m uitos outros publicanos pas- dava os cofres de Roma e do próprio Herodes.
saram a seguir Jesus (M ar. 2:14 e 15). A lista dos m ar- Em síntese, havia quatro tipos de tributos:
ginalizados em sua com panhia não parecia pequena. Tributo da terra (Tributum soli)- agriculto-
A todos, porém , C risto ordenava o abandono da de- res, grandes e pequenos, fazendeiros e demais
sonestidade e da corrupção (Luc. 3:12-13; 19:18). homens do campo deveriam tributar 10% de
tudo que produziam anualmente para os cofres
do governo. Quem morava nas cidades pagava
0 mesmo percentual como imposto pela casa,
ainda que fosse alugada.
Tributo do censo (Tributum capitas) - b a -
seado na contagem da população. Depen-
dendo do número de habitantes, poderia ser
de 1 denário por pessoa, tanto m ulheres de
12-65 anos, quanto homens de 14-65 anos.
Crianças eram isentas.
Imposto aduaneiro (Portoria) - ta x a s de co-
mércio eram cobradas por oficiais de porto, de
fronteira e também de coletoria que fiscaliza-
va todos os que entrassem e saíssem de uma
cidade. 0 percentual variava entre 2% e 5%
sobre 0 valor do produto comercializado. Con-
tudo, cabia ao publicano avaliar 0 preço real do
produto. Além disso, numa longa viagem, pas-
sando por diferentes cidades, portos e postos
aduaneiros, um mercador poderia te r seu pro-
duto taxado diversas vezes.
Tributo do Templo - meio Shekel (ou si-
cio) de prata era exigido como imposto para 0
Templo em Jerusalém. Este imposto já estava
previsto na lei dos judeus (Êx. 30:11-16) e foi
mantido na administração romana dos tempos
de Jesus (M at. 20:2). Nesta época 0 meio Siclo
eqüivaleria a 2 dracmas.
Todo judeu que residisse dentro ou fora de
Jerusalém deveria pagar esse tributo oficial-
mente e os publicanos também ficavam res-
ponsáveis por arrecadá-lo, embora em algumas
circunstâncias outros poderiam ser encarrega-
dos de fazê-lo para que pessoas tão execrá-
veis moralmente não tivessem contato com 0
dinheiro consagrado para Deus (M at 17:24-27).
8 - 0 p o v o da T erra - apesar de toda a concor- debilitava as mãos do povo de Judá e inquietava-os no
rência política e religiosa que os diferentes grupos edificar”. Vários com entaristas creem que o texto se re-
provocavam , um a boa parte da população (talvez a fira aos agricultores e camponeses que, p o r não serem
m aioria) não professava seguir n enhum desses seg- transportados com a aristocracia judaica para a Babi-
m entos em particular. Por isso foram com um ente lônia, ficaram para trás, adquirindo costum es pagãos.
chamados de am há- ’aretz, isto é, “povo da terra ”.
Seja qual for a identificação desse grupo, fica claro
Esse grupo não negava suas raízes judaicas, mas que o sentido de am há- ’aretz não é dos m elhores. Por
não era tão m eticuloso no cum prim ento de certos isso, o Talm ude vai identificar o “povo da terra ” como
rituais com o, p o r exemplo, as leis de purificação. A "judeus ignorantes da T o rá” (ignoramus).
m aioria dos que se identificavam com o ‘a m há- ’a retz
Jesus parece ter sido sim pático a esse tipo de gente.
eram cam poneses, artesãos, gente do povo. C ontu-
Seu interesse era salvá-los, pois eram “com o ovelhas
do, em term os gerais, m esm o um rico judeu que não
que não têm pastor” (Mar. 6:34). Ademais, o fato de
seguisse ao pé da letra os rituais do judaísm o poderia
alguns seguidores de Cristo com erem sem lavar ceri-
ser classificado com essa alcunha.
m onialm ente as mãos dem onstra que Jesus se asso-
O interessante é que a expressão am há- ’a retz não ciou ao “povo da terra ”.
tinha nos tem pos antigos o caráter pejorativo dos dias
de C risto. Em Gênesis 23, ela aparece com o sentido Família e sociedade
de “conselho tribal”, eram os interm ediários da com -
pra que A braão fez da cova de Macpela. Em outras Os evangelhos ainda oferecem um retrato m uito
passagens, ‘am há- ’aretz significava apenas “povo, na- específico da form a de vida dos judeus daquela época.
ção” e poderia ser aplicado a Israel, Judá ou a qualquer De um m odo geral, as famílias eram m onogâm icas,
outro grupo étnico especificado ou não (Gên. 42:6; patriarcais e indissolúveis - em bora houvesse legali-
Lev. 4:27; 20:2; Jó 12:24). dade para o divórcio. Jesus faz seu prim eiro m ilagre
num a festa de casam ento e usa o tem a das bodas em
Ao que tudo indica, foi com o fim do cativeiro ba-
várias de suas parábolas.
bilônico e o retorno dos judeus para Jerusalém e Judá
que a expressão começou a assum ir um tom negativo. Era, enfim , um a sociedade com elem entos tanto
Esdras 4:4 afirma que “o povo da terra (am há- ’aretz) com uns com o estranhos à cultura ocidental m oderna.
Aqui você verá alguns temas com uns sobre profissões, saíam da aldeia local para m o rar em o u tro centro. O
educação, infância e entenderá m elhor o dia-a-dia dos com um era ficarem por ali m esm o, casarem -se entre
tem pos de Jesus Cristo. si e fortalecerem a perm anência do lugar, gerando a
m aior quantidade possível de filhos.

G erando filhos A principal tarefa da m ulher era cuidar da casa e


gerar filhos para seu m arido. Poucas escapavam dessa
Nos tem pos bíblicos, a união de um hom em e um a função social. N um a sociedade com poucos recursos
m ulher em casam ento era a sem ente de um a nova de segurança e, talvez, elevada m ortalidade infantil,
família. Várias famílias reunidas num m esm o espaço te r m uitos filhos era um seguro de vida. Principal-
rural ou urbano geraram um a sociedade que seria tão m ente quando esses filhos se encarregavam de levar
forte quanto a união daqueles que viviam dentro de adiante o nom e e a linhagem daquela família.
seus lim ites.
As grávidas, de m odo geral, não davam à luz dei-
M esm o que cada casa norm alm ente fosse cercada tadas, mas sentadas e com o am paro de um a ou duas
p o r m uros altos com apenas um a p o rta de entrada, as parteiras. O pai, pelos costum es da época, não partici-
residências eram praticam ente coladas um as às outras, pava do parto; esse era um trabalho em que só m ulhe-
de m odo que todos viviam m uito próxim os. Poucos res tom avam parte. O hom em ficava fora e só podia
entrar na casa depois de autorizado pelas m ulheres. seguida. Jesus, po r exem plo, teve o nom e revelado
Porém , assim que a criança nascia, ele recebia um antes do nascim ento.
m ensageiro - dependendo de onde estivesse - que lhe
No m undo ocidental o nom e de um bebê é escolhi-
inform ava se era um m enino ou um a m enina.
do p o r m otivos mais convencionais que qualitativos.
O recém -nascido tin h a im ediatam ente seu um bi- Por exemplo: nasce um a criança e os pais revolvem
go cortado e atado, a seguir era lavado com água e dar a ela o nom e de um dos avós ou de um famoso
delicadam ente esfregado com sal e óleo, depois dis- artista da T V e tam bém tem o caso de que o nom e
so o bebê era envolto em faixas geralm ente de linho. escolhido sim plesm ente é um nom e que a m ãe achou
Foi po r essa razão que Lucas 2:7 m enciona que M aria b onito e resolveu registrar assim o seu filho.
enfaixou o m enino e que, em seguida, ele foi visitado
N os tem pos bíblicos não era assim. Cada nom e
pelos pastores que estavam no campo.
hebreu tin h a um significado, e ele se torn av a parte
As faixas eram geralm ente tiras de aproxim ada- im portante da vida da criança. C onhecer o nom e era
m ente 10 cm de largura, que enrolavam todo o cor- conhecer a p rópria pessoa. Basta citar a escolha do
pinho da criança incluindo suas pernas e braços. Só nom e Jacó, que quer dizer “agarrador de calcanhar”,
a cabeça ficava parcialm ente de fora. E um pouco es- ou “suplantador”. Q uando ele m udou de vida, Deus,
tranho para a cultura m oderna, mas eles literalm en- em pessoa, m odificou seu nom e para Israel.
re em pacotavam o recém -nascido com o se fosse um
pequeno em brulho. Essa era um a form a de proteger O significado de um nom e tinha, geralm ente, algo
o corpinho do bebê contra o frio da m adrugada ou da a ver com o caráter, personalidade ou com a história
picada de algum inseto, e tam bém ajudava na hora de de vida de um a pessoa. P or isso, o anjo disse a M aria
:ransportá-lo ju n tam ente com sua m ãe no lom bo de que seu m enino deveria se cham ar Jesus, que quer di-
im animal. zer "O Senhor Salva”. Afinal, o que seria ele senão o
salvador do povo? Isso está em M ateus 1:21.
Bebês eram sem pre bem -vindos. C ontudo, se fos-
5e um a m enina, seu valor social era m en o r em relação
2 um bebê do sexo m asculino. Não havia a igualdade Educação
que se busca hoje.
De acordo com o T alm ude e a M ishná, a prim eira
Para eles, o m enino continuaria para sem pre par- grande redação da tradição oral judaica, as crianças do
:e da família. M as a m enina, ao se casar, passaria a tem po de Jesus deveriam freqüentar a escola dos 5 ou
pertencer à fam ília de seu esposo e já não teria mais 6 até os 13 anos28. E ntão eram entregues a um rabino
relação social com a fam ília que a gerou. Seus filhos local e aprendiam um a profissão - geralm ente a mes-
seriam para p erpetuar a geração de seu esposo e não m a do pai - e com eçavam a trabalhar com o aprendi-
ie seu próp rio pai. zes. Era um trabalho pedagógico conjunto que envoi-
via o pai do aluno e o professor da com unidade.
Dando nome ao bebê Foi talvez baseado nisso, que Josefo afirm ou or-
gulhosam ente a elevada alfabetização do povo judeu:
G eralm ente quem escolhia o nom e de um a criança
era a mãe. C ontudo, a Bíblia relata m om entos - com o “Acim a de tudo, podem os nos orgulhar da educa-
no caso de João Batista - em que o pai se encarregou ção de nossos filhos, pois esta encontra-se entre os
dessa tarefa e até os vizinhos intentaram participar na aspectos essenciais da vida na observação de nossas
escolha (Luc. 1:57-66). leis e práticas piedosas, baseadas, sobretudo, naquilo
que tem os recebido”.29
De m odo geral, era com um esperar até o oitavo
dia, no m om ento da circuncisão, para então escolher Seria esse um program a educacional realístico
du pelo m enos anunciar o nom e da criança. Em bora, que, de fato, atingia todos os filhos de judeus espa-
novam ente, houvesse casos em que essa regra não era lhados m undo afora? Ou seria apenas um ideal não
concretizado, senão na m ente do autor? A lim itação flitantes dos rabinos a esse respeito. Em bora ten-
das evidências im pede um a resposta absoluta. dência m aior era excluir as m ulheres do “m undo dos
hom ens” - tradicionalm ente elas não pudessem ju rar
C onsiderando, pois, que apenas entre 5% e 10% n um tribunal, nem ensinar num a sinagoga - , havia
da população greco-rom ana saberia ler e escrever, rabinos que vetavam e rabinos que aceitavam partici-
alguns pensam que os judeus seriam um a exceção à pação fem inina no universo das discussões religiosas.
regra pois tin h am sua identidade étnica baseada nas
“Escrituras”, o que fazia deles um a população m ajori- Uns, com o o rabino Eliezer, do século I, chegam à
tariam ente letrada ou, pelo m enos, com índices m ui- beira da m isoginia. Ele dizia que ensinar a T o rá para
to acim a das culturas em redor. A m aior parte dos um a filha seria o m esm o que ensiná-la um a obsce-
acadêmicos, porém , sugere que este seria um a visão nidade. As m ulheres não têm inteligência para com -
idealística e que o percentual de judeus alfabetizados p reen d er a T orá. M elhor v er a T o rá queim ada que
não passaria de 3%.30 recitada pelos lábios de um a m ulher.

Seja com o for, a m aioria daqueles que tinham a Já o rabino Ben Azzai defendia que era obrigação
oportunidade de estudar encerrava os estudos nesta de um pai ensinar a T o rá para sua filha. Em um a pas-
época dos 13 anos. U ns poucos jovens, porém , se- sagem do T alm ude (M eguilá 23-A) fala-se da “pos-
guiam a carreira estudantil, aprofundando-se até se sibilidade”, porém desaconselhada, de que a m ulher
to rn arem discípulos form ais de algum grande rabino lesse a T o rá em público no Shabat.
que os aceitasse. Som ente m uito tem po depois, quan-
Em outro trecho, ainda, os sábios afirm avam que
do o jovem já estava com no m ínim o 30 anos, ele te-
diante dos m andam entos de Deus, os hom ens e as
ria a oportunidade de se to rn a r um m estre da Lei. Ele
m ulheres eram iguais, de m odo que era até aconse-
seria, então, um rabino. M as nem todos os que foram
Ihável que elas conhecessem a T o rá para que instruir
alunos (talmidim) logravam esse status.
seus filhos e instar seus m aridos a cum prirem suas
A sala de aula era simples e o currículo bem especí- obrigações religiosas. Recorde a m ulher virtuosa de
fico. Era geralm ente um anexo da sinagoga separado Provérbios 31, que adm inistra os negócios da família,
para esse fim. P or causa de sua ênfase nos livros ins- a fim de que seu m arido ten h a mais tem po para as
pirados, essa escola foi, m ais tarde, apelidada de Beyth discussões judiciais do dia a dia.
Há Sefer, que quer dizer “casa do livro”.
U m grupo de opinião m oderada entendia que em-
Os alunos sentavam -se no chão e escreviam na bora os preceitos de estudo da T o rá não fossem um a
areia ou em pedaços de cerâmica quebrada - o papel obrigatoriedade fem inina, não eram tam bém um a
de rascunho da época31. O professor tam bém ensina- proibição, de m odo que as m ulheres seriam benefi-
va sentado e o livro texto eram as Escrituras Judaicas ciadas de seu estudo.
- que os cristãos cham am de A ntigo T estam ento. Eles
De m odo geral, as m eninas ficavam sob os cuida-
aprendiam a ler os livros sagrados, copiá-los e m em o-
dos da mãe até o m om ento em que se casavam e iam
rizá-los. As principais passagens eram repetidas vá-
em bora de casa. Já os m eninos eram cuidados até aos
rias vezes, até estarem decoradas. De m odo especial,
5 ou 6 anos, quando então passariam a ser tutoreados
cada aluno deveria aprender os textos que coinciden-
pelo pai e um rabino local.
tem ente com eçaram e term inavam com a prim eira e
a últim a letra de seu próprio nom e.
Ocupações profissionais
E as mulheres? A m aior parte dos hom ens do tem po de Jesus, tal-
vez 80% ou 90%, trabalhava na agricultura. As m u-
A posição das m ulheres no judaísm o antigo não
lheres e crianças, em bora não tivessem necessaria-
parece ser algo uniform e, m esm o naquela época. O
m ente um a “vida profissional”, participavam nos dias
p ró p rio Talm ude m ostra, po r m eio de opiniões co n ­
de colheita. N a verdade, toda a com unidade - caso se
tratasse de um a aldeia ou pequena vila - era comis- não se pode esquecer dos servidores dom ésticos,
sionada a se envolver na colheita dos grãos. Portanto, escravos, diaristas contratados para serviços braçais
m esm o aqueles que não fossem agricultores p o r pro- e cobradores de im postos (certam ente um dos mais
fissão, tinham - por essa tarefa com unitária - um a odiados pelo povo).
experiência agrícola.
Com o acontece em toda sociedade urbana, era
Essa talvez seja a razão porque tem as agrícolas per- inevitável a prática da prostituição e da m endicância
fazem a m aior parte das parábolas de Jesus: a parábola m esm o na cidade de Jerusalém .
do sem eador (M at. 13:24-30), a sem ente de m ostarda
Mar. 4:30-32), o joio e o trigo (M at. 13:30-43), a co‫״‬
iheita (M ar. 4:26-29).
Agricultura
Além das profissões m ais com uns de agricultura e A vida era dura naqueles dias e o clima não coope-
pescaria, exerciam -se tam bém outras de caráter mais rava m uito. Estudos em solo revelam que apenas 15%
^rtesanal com o perfum istas, tecelões, curtidores, car- do que se plantava retornava em form a de colheita -
pinteiros, oleiros e fabricantes de tendas. T am bém isso num a boa safra.

BI
A razão para um percentual tão pequeno se deve
ao fato de que a terra boa de plantio era pouca e a
Atividade pesqueira
região m ontanhosa. O costum e então era construir
Os evangelhos não falam detalhes sobre a vida da
terraças de cultivo que eram um a espécie de degraus
m aior parte dos apóstolos de C risto. Sobre suas pro-
escalonados num a encosta. M uretas de arrim o feitas
fissões, fala-se apenas de M ateus com o coletor de
de pedra eram colocadas para segurar a terra e o sur-
im postos (M at. 10:3) e de quatro outros que seriam
gim ento de espinhos era inevitável nesse am biente.
pescadores, a saber: Pedro, A ndré, Tiago e João (Mat.
T al cenário condiz perfeitam ente com a parábo- 4:18-22; M ar. 1:16-20; Luc. 5:1-11).
la do sem eador e as sem entes que caíram nas pedras,
É difícil precisar quão valorizada era a atividade
nos espinhos e na terra fértil (M at. 13:1-23; M ar. 4:1-
pesqueira dos judeus antes de Jesus. C ontudo, há vá-
20; Luc. 8:4-15). A proporção de colheita m encionada
rias passagens do A ntigo T estam ento aludindo à arte
p o r C risto (“a cem, a sessenta e a trin ta p o r um ”) pode
da pesca (Isa. 19:8; Ezeq. 26:5, 4; 47:10; Hab. 1:15). O
ser considerada m uito acima do que n orm alm ente se
colhia. Esse era um indicativo espiritual dos resulta-
dos prom etidos p o r Deus diante do em penho pelo
anúncio do Reino.

Em term os gerais, um a colheita farta ou pobre era


o indicativo de um ano pró sp ero ou am argo e todos
tin h am consciência disso. Períodos de estiagem ge-
ralm ente traziam consigo épocas de fom e e priva-
ção, com o m encionado na parábola do filho pródigo
(Luc. 15:14).

Os produtos m ais com uns colhidos da terra e que


ocupavam a m aior parte das plantações eram : trigo,
cevada, figos, uva (para a produção de vinho), rom ã,
tâm aras (para a produção de mel) e azeitonas (para a
produção de azeite).

Ha_

Fato importante
Essa ocupação da terra colocava 0povo judeu
em contraste direto com a cultura idealizada
pela elite greco-romana, especialmente nos
grandes centros. Sua ênfase estava na ociosi-
dade, no teatro e nos jogos.) udeus helenizados
tinham a tendência de abandonar a vida no
campo em busca de diversão num ambiente
mais urbano e liberal - novamente evoca-se 0
quadro dofilho pródigo e sua busca por prazer
(Luc. 15:13).

Ό
O
~ü"3~
nom e “peixe” associado a vários lugares pode ser um a A cidade de M agdala, na encosta do M ar da Ga-
pista da im portância desse ofício para os judeus. A lileia, era conhecida em grego p o r Tarichaeae, que
existência de um m ercado de peixe regular em Je ru - quer dizer “o lugar onde os peixes são salgados”. Era,
salém é sugerida pelo nom e dado a um a das portas da po rtan to , um centro especializado em salgar pesca-
dos para a venda no m ercado. O sal era justam ente o
cidade: p o rta do peixe (II Cro. 33:14; Ne. 3:3; 12:39;
p roduto que garantia a viagem dos peixes desde sua
Sof. 1; 10).
origem até algum a cidade interiorana e não m arítim a
Essa atividade estava mais concentrada no M ar da com o no caso Jerusalém .
Galileia, em bora tam bém houvesse algum a indústria A pesca podia ser realizada com anzol (M at. 17:27;
de pesca no litoral m editerrâneo. O peixe do G rande Isa. 19:8), lança (conform e ilustrações do antigo Egi-
M ar, ou peixe do M editerrâneo era um a iguaria na to), arpão (em form a de um garfo grande) e gancho
ocasião (Ezeq. 47:10). (Jó 41:1-7). M as a pesca com redes era a mais com um
de todas (Ezeq. 26:5, 4; 47:10). O m odelo mais usado, te de caráter duvidoso. Só não perdiam em desprezo
conform e ilustrações da época e restos arqueológicos, para os publicanos, m as não ficavam m uito atrás des-
era parecido com a tarrafa usada em algumas regiões tes. Isso realm ente é um a surpresa para m uitos, con-
do Brasil. siderando o status que a atividade pastoral recebeu ao
longo da história do cristianism o.
De form a circular, com pesos de pedras nas bor-
das, ela era usada da seguinte m aneira: seja à m argem Se você voltasse no tem po indo para os dias de
das águas, de dentro de um barco ou subm erso até Abraão e os patriarcas, veria que a atividade pastoral
a cintura, o pescador via o cardum e, então lançava era um a nobre ocupação. Jabal era o ancestral dos que
a rede projetando-a no ar. Os pesos de pedra faziam habitavam em tendas e possuíam gado (Gên. 4:20).
com que a rede descesse e os peixes ficassem presos, Pastores eram , geralm ente, mais ricos que agriculto-
enroscados nela. O dispositivo era puxado p o r um a res. E não se pode esquecer que o prim eiro hom icídio
corda atada ao m eio do círculo que a fechava com o se da hum anidade se deu p o r causa de um a celeuma en-
fosse um a bolsa cheia de peixes. tre dois irm ãos: um agricultor, outro pastor de ove-
lhas (Gên. 4:8-16).
Ao que tudo indica, Pedro e A ndré estavam lan-
çando esse tipo de rede da m argem ou de bem perto T odos os grupos nôm ades eram invariavelm ente
dela, o que possibilitou que Jesus os chamasse e fosse constituídos de pastores com seus rebanhos (Gên.
ouvido (M ar. 1:16-17). 30:29; 37:12; Êxo. 2:16). Assim eram os filhos d ejacó
que, ao m igrarem para o Egito, depararam -se com um
Ü 3- ..c Q am biente bastante diferente daquele ao qual estavam
acostum ados. Os egípcios eram mais agricultores!

D ando mais valor ao plantio que ao pastoreio, os


Você sabia? egípcios evitavam os pastores pelo fato de que um re-
banho de ovelhas, cabras e bodes p erto de um a plan-
Na época doNovoTestamento, havia muitos tação era desastre na certa. E mais, na cultura egípcia,
peixes no Mar da Galileia. Acredita-se que
a ovelha e o carneiro eram inapropriados para fazer
algo em torno de 18 ou 24 diferentes espécies
sacrifício aos deuses. Sua carne, em bora consum ida
povoavam as águas locais, sendo a principal
delas a tilápia ou 0 “peixe de São Pedro”, que em algumas raras ocasiões, não era o cardápio mais
se adapta bem a viveiros e açudes de águas apreciado nas terras de faraó. Pastores eram um a abo-
mornas em várias partes do mundo32. m inação para os egípcios (Gên. 46:34).

Assim os anos que passaram vivendo no Egito, os


hebreus tiveram sem pre de enfrentar o preconceito
"ÜU egípcio contra a antiga profissão de seus ancestrais. É
claro que, um a vez estabelecidos ali, eles passaram a
trabalhar com a terra e o oficio pastoril, em bora ainda
Atividades p a sto ris m antido, já não era sua principal ocupação. N ote que
na ocupação da terra de Canaã nem todas as tribos
O ofício de pastor m erece um destaque à parte, eram pastoralistas (Núm. 32:lss).
p o r causa da sua am bigüidade social. É que a atividade
pastoril era por um lado essencial à vida dos judeus, A m edida que os hebreus se assentavam na terra
tanto no suprim ento de necessidades básicas (pro- prom etida, o ofício de criar rebanhos foi perdendo
dução de lã, leite, carne) quanto na m anutenção do cada vez mais a proem inência. Com a ascensão de Davi
T em plo (sem sacrifício de ovelhas não haveria ritual). ao trono, um ex-pastor de ovelhas, esse ofício teve
certa evidência principalm ente nos hinos que ele com-
Por outro lado, porém , os pastores eram vistos punha falando de Deus como um pastor que cuida e
com o trabalhadores de segunda categoria, sujos, gen­ protege. M as no tem po dos profetas, transform ar um a
terra em campo de pastores era o m esm o que torná-la o pastor”, mas sim “Eu sou o bom pastor”. E descreve as
abominável, desam parada (Sof. 2:6). características que o apontavam como tal.

O velho preconceito parece haver voltado e au-


m entado em tam anho até os dias de Cristo e tam bém
nas gerações seguintes. O tratado judaico da M ishná
descreve os pastores com o incom petentes, de m á ín-
dole e chega a insinuar que era perda de tem po salvar
um pastor que caísse num buraco.
Dia a dia
D ocum entos antigos m o stram que pastores de
ovelhas não tin h a m todos os direitos civis resguar- Assim como nos dias atuais, a vida nos tempos de Cris-
dados. Eles não podiam ser ouvidos com o testem u- to era um palco de contrastes. Isso pode ser graficamente
nha n u m processo judicial. O judaísm o rabínico os visualizado na parábola do Rico e Lázaro: “Ora, havia um
considerava p e rm a n en te m e n te im undos e não ade- hom em rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo,
quados para e n tra r n u m a sinagoga, nem m e o u tro e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia
am biente público. tam bém um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia
cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se
M uitos pastores talvez tivessem m esm o um com-
com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios
portam ento reprovável que reforçasse o preconceito.
cães vinham lamber-lhe as chagas”(Luc. 16:19-21).
O utros talvez fossem apenas vítim as de um estereótipo
social. Seja como for, os principais rabinos e sacerdotes Tal descrição não implica um exagero. Em bora al-
de Jerusalém haviam banido os pastores e seus reba- guns resistam usar a expressão “classe m édia” para os
nhos para lugares que ficassem distantes do perím etro dias de Cristo, é fato que havia os mais ricos (m ino-
urbano. E m uito surpreendente, neste contexto, que ria), os m iseravelm ente pobres ou excluídos e entre
Lucas abra a narrativa do seu evangelho com um grupo ambos os m undos um a classe m ediana de pessoas que
de pastores visitando o recém-nascido m enino Jesus. não passavam fome, mas tam bém não tinham grandes
somas de dinheiro e conforto.
■£■2-1.0
‫־‬c Os ricos, portanto, viveriam mais no luxo com aces-
0
c so a coisas que os mais simples talvez passariam toda a
Você sabia? vida sem ver ou experim entar. Um banheiro dentro
Mediante tais informações históricas, a imagem de casa ou a oportunidade de com er carne diariam ente
de Jesus como “0 bom pastor" deve surpreender eram privilégios que, naquela época, só pertenciam a
muita gente. E, defato, surpreende, não somente famílias m uito abastadas.
hoje, mas também no passado quando Jesus se
N o extrem o oposto estaria a realidade de grupos
equiparou a um deles dizendo: “Eu sou 0 bom
pastor, conheço as minhas ovelhas e elas me excluídos, como m endigos, leprosos ou viúvas que
conhecem”(Jo. 10:11). não tinham herança nem parentes para cuidar de suas
c necessidades básicas. Jesus provavelm ente pertencia
c àquela classe média, mas os evangelhos o m ostram
TTTJTÜ tanto relacionando-se com ricos quanto com pobres.

U m a família com um , nos dias de Cristo, teria seu


Assim com o fez com outros grupos m arginaliza-
dia começando bem cedo, com o raiar do sol. As pesso-
dos pela tradição e pelo sistema, Jesus não tra to u os
as naquele tem po dorm iam cedo e acordavam cedo! O
pastores como inimigos. Ele, ao contrário, viu virtude
pai sairia para o labor diário e a m ãe ficava em casa com
que pode até usar para descrever sua própria missão.
os filhos pequenos. Juvenis poderiam ir para a escola
Porém, considerando que havia realmente pastores rabínica ou com o pai para o trabalho, onde já começa-
mal-intencionados, Jesus não se limita a dizer: “Eu sou riam a aprender um a profissão.
C onsiderando, porém , que havia épocas de escassez de alim ento e desem prego, não era incom um encontrar
profissionais de um a área exercendo o u tra atividade. D iaristas e trabalhadores avulsos {freelances) poderiam ser
facilm ente encontrados p o r alguém que desejaria, p o r exemplo, contratar pessoas apenas para vindim ar as uvas
de sua fazenda. É o caso da parábola dos trabalhadores na vida citada em M ateus 20:1-16.

Pirâmide social
Assim seria um a pirâm ide social da sociedade onde viveu Jesus:

Classe abastada, mas não tão poderosa politicamente, representada por


fazendeiros, oficiais de governo e militares.

Classe média: artesãos, mercadores, construtores (carpinteiros), tecelões, pescadores/pro-


prietários (que tinham barcos e empregados), servos especiais (alguns escravos letrados eram
secretários especiais de um homem rico).

Classe baixa: pequenos agricultores, pescadores avulsos (que trabalhavam para outros ou pesca
apenas para consumo próprio), trabalhadores braçais diaristas, escravos por causa de dívidas contr

Rejeitados e marginalizados: leprosos, mendigos portadores de necessidades especiais, viúvas sem ampu

Refeições
Enquanto os rom anos costum avam ter quatro refeições ao dia, os judeus restringiam -se a duas ceias, um a prefe-
rencialmente às 10 horas ou perto do m eio-dia e outra ao final da tarde e cair da noite. Não havia um horário rígido.

A prim eira refeição deveria ser leve: pão, peixe, frutas secas, grãos torrados, queijo ou coalhada (Ecl. 10:16;
Jo 21:4,5, 9). Podia ser tom ada no local de trabalho ou a cam inho dele (Mat. 14:15; Ru. 2:14). N ote que após sua
ressurreição, Jesus aparece para seus discípulos nas m argens do M ar da Galileia e os convida para um a refeição
m atutina, que pode te r sido p o r volta das 10 horas ou Nessa segunda ceia, geralm ente havia algum ali-
m eio-dia. O cardápio era peixe e pão! (Jo. 21:5, 9-12). m ento quente, com o um a sopa de lentilhas e pão à
vontade. N orm alm ente um único prato era servido
A o utra refeição que era a m ais im portante - em -
bora não fosse necessariam ente m ais sofisticada - num só recipiente do qual participavam todos. Isso
ocorria no fim do dia com toda a fam ília reunida e explica o trocadilho de Cristo usado com M arta quan-
convidados especiais, se fosse o caso (Luc. 7:36; 10:40; do ela, preocupada com a comida, estaria perdendo o
17:7-9 e Jo. 12:2). ensino de Cristo. “Pouco é necessário [M arta] ou um a
só coisa, M aria escolheu a m elhor parte e essa não lhe M ar. 6:35; Luc. 9:12); celebrou a ceia pascal com os
será tirada” (Luc. 10:42). discípulos (Luc. 22:15; Jo. 13:2;21-30) e foi ungido
p o r M aria M adalena (Jo. 21:1-8).
Banquetes especiais com o a com em oração pela
volta do filho pródigo (Luc. 15:23 e 25) e a grande N o sábado havia um a refeição fam iliar especial ao
ceia (Luc. 14:15-24) eram geralm ente refeições no- p ô r do sol de sexta feira e o u tra após o serviço da si-
turnas ou servidas ao cair da tarde. Foi nesse horário nagoga ou do T em plo na m anhã seguinte (Luc. 14:1).
que Cristo m ultiplicou os pães e peixes (M at 14:15;

Regras de etiqueta
No O riente M édio, desde os tem pos de Abraão e
tam bém nos dias de Jesus, com partilhar um a refeição
é assinar um a garantia de paz, confiança e, em alguns
casos, reconciliação. C om partilhar a m esa é com par-
tilh ar a p rópria vida. Até hoje, dependendo de onde
você viajar pelo O riente M édio, quando alguém o
convida para com er em casa, está dizendo que quer
iniciar um a amizade com você. P or isso, m uitos en-
contros de C risto ocorriam durante um a refeição.

M as se você fosse convidado para com er na casa


de alguém naqueles dias, certam ente estranharia os
costum es bem diferentes dos atuais. C om er sem lavar
as m ãos e os pés num a bacia, nem pensar! T odos de-
veriam fazer isso e na frente uns dos outros. Todavia,
os três hábitos mais espantosos seriam: com er com as
m ãos, reclinar-se sobre um fino acolchoado e ter todo
o cerim onial em cim a da laje de um a casa.

T alheres resum iam -se à colher e faca (o garfo só


foi usado a p a rtir da Idade M édia). M esm o assim
eram raram ente usados. Na m aior parte das vezes, era
a m ão que levava o alim ento à boca. Sem pre a m ão
direita, com o se deduz do costum e oriental visto até
hoje entre tribos beduínas. Pedaços de pão m olhados
em vinho, sopa ou m olho substituíam bem as colhe-
res e pareciam mais apetitosos que com er de colher
(Veja Ru. 2:14).

As mãos eram cerim onialm ente lavadas antes e de-


pois das refeições. Eles não precisavam lavar a louça,
m as tinham de lavar as m ãos - não necessariam ente
p o r m otivo de higiene com o se pensaria na cultura
m oderna, mas p o r um a questão de purificação ritu-
alística - ; era, enfim , um com portam ento religioso.

Em bora não fosse incom um os convidados terem


pratos individuais, onde a porção de com ida era co-
locada, havia m om entos em que apenas um prato era
colocado ao centro e todos juntos participavam dele
(M at. 26:23). Os pratos geralm ente eram feitos de pe- C
c
dra, m adeira ou argila e pareciam tigelas, com o aque-
las próprias para com er cereais. Fato importante
Devido ao intenso calor, as refeições judaicas em O lavar das mãos antes de comer era, mais do
que um processo higiênico, um ritual religioso de
geral eram feitas ao ar livre ou no terraço das casas,
purificação. N ão se podia colocar as mãos numa
às vezes, sob um a cobertura feita de pele de anim al ou bacia d'água e esfregá-las com sabão. A ideia e
palha e nada m ais que isso. A exceção, é claro, seria no ter cerimonialmente outra água limpa despejada
inverno, quando a fam ília era quase confinada dentro sobre as mãos para mostrar que 0participante
de casa. estava limpo.

A m esa greco-rom ana - tam bém usada p o r judeus Era com grande orgulho que osfariseus e líderes
- era cham ada “triclínio” (triclinium). U m a espécie religiosos desempenhavam essa cerimônia na
frente de outras pessoas com o fim de serem
de sofá não m uito distante do chão, dividido em três
admirados por sua religiosidade. Havia muitas
partes com o se form asse um “U ” ou um retângulo in- tradições e muitos detalhes, que incluíam até
com pleto. Essa abertura perm itia que os alim entos e mesmo a posição das pontas dos dedos.
bebidas fossem trazidos para a “m esa” e nela distribuí-
As escolas rabínicas deHillel e Shammai sustenta-
dos. U m exem plar de triclínio encontrado em Pom -
vam posições distintas sobre 0procedimento exa-
peia m o stro u que o m esm o era um pouco elevado em
to, mas concordavam que 0 ritual de limpeza era
relação ao chão, perm itindo que um em pregado de pé essencial. Se alguém 0deixasse de observar estaria
ao centro pudesse servir a seus senhores. impuro diante de Deus e vulnerável à pobreza, à
destruição e aos ataques de um demônio específico
Nas regras rom anas, cada parte acom odaria três chamado Shibta.
pessoas, mas os gregos iam além disso e os judeus
tam bém - Jesus com eu com doze e seu “triclínio” tal- Foi por causa destas superstições semfundamento
nas Escrituras que Jesus, de propósito, deixa de se-
vez fosse um acolchoado mais simples e rente ao chão,
guir 0ritual quando convidado para comer na casa
conform e o costum e judaico. Almofadas ou “tatam es” de um dos principaisfariseus (Luc. 11:37-44). Em
especiais eram usados para acolchoar o chão em volta outra ocasião, seus discípulos também não seguem
do triclínio. Para com er, os convivas se reclinavam 0protocolo cerimonial (Mat. 15:1e2) e, em ambas
sobre seu braço esquerdo e m anuseavam alim entos e ocasiões, 0questionamento surge, dando oportuni-
bebidas com a m ão direita. dade para que Jesus demonstre afragilidade
de tal tradição.

O cardápio de Jesus
M uitos são curiosos para saber quais eram as re-
ceitas m ais com uns dos dias de C risto, com o era a
culinária daquele tem po. A lguns ingredientes são
conhecidos até hoje e alguns p ratos tam bém , mas
outros seriam to ta lm e n te estranhos à cultura oci-
dental m oderna.

A carne v e rm e lh a era pouco consum ida. U m a


fam ília n o rm a l te ria a o p o rtu n id a d e de com er car-
ne um as duas ou trê s vezes ao ano. L em bre-se, pão nosso de cada dia nos dai hoje”, para referir-se ao
o local era desértico com pouca pastagem . Logo, alim ento diário. Falar do “pão de cada dia” era com o
som ente em ocasiões m u ito s especiais com o um dizer “o arroz com feijão”, para o brasileiro.
casam ento, o n a scim en to de um a crian ça ou um a
O ingrediente básico era farinha de trigo ou ceva-
festa religiosa p o d e ria m te r carne em seu cardápio
da. O pão de cevada era m enos apreciado, mas p o r ser
(Luc. 15:29 e 30). T am b ém não se esp an te em saber
que o tem p e ro p rin c ip al de um a carn e era m el m is- m ais barato, era geralm ente consum ido pelos mais
tu ra d o com ervas! pobres (Jo. 6:9). Poderia ou não levar ferm ento, des-
de que não fosse usado em cerim ônias religiosas. Aí
As pessoas no tem po de Jesus com iam um a dieta deveria ser um pão ázimo, isto é, não ferm entado.
leve, baseada em vegetais. Naquela região do m undo,
lentilhas, grãos integrais, frutas, verduras, 'tâm aras, O pão diário poderia ainda ser acompanhado de um a
nozes e peixe eram m uito populares. Para lanches, pasta feita de figos, mel de tâm ara (mais com um que o
mel de abelha) ou coalhada salgada.
até m esm o algumas espécies de gafanhotos e grilos
podiam fazer parte de um a refeição! T odos esses ali-
m entos forneciam nutrição adequada e satisfatória, Uma receita de pão
sem excesso de gorduras ou colesterol.
O processo de preparo do pão começava na co-
M uitos alim entos eram consum idos crus. Com o
lheita. Para se fazer a farinha, prim eiro "separava-se
não havia geladeira, 0 sal era um bom elem ento de
o joio do trig o ”. Os grãos eram batidos na eira, tritu -
conservação, e frutas geralm ente eram desidratadas
rados com um a prancha de m adeira puxada p o r ani-
para serem comidas com o passas.
mais, depois jogados para cima (para separar a palha)
O pão, é claro, era a refeição de todos os dias. Daí e finalm ente abanados num a peneira grande e grossa
as expressões “p a rtir o pão”, “com er o pão” com um en- para elim inar qualquer elem ento estranho que pu-
te usadas para referir-se a um a ceia ou refeição. O utro desse ter sobrado, com o ervas daninhas, sem entes de
exemplo seria a fam osa expressão do “Pai nosso”: “O outras plantas ou a p rópria palha.
Depois, os grãos eram m oídos, esmagados entre O fermento dos fariseus
duas pedras de m ó, um a por cima - que girava - e
ou tra po r baixo, que era fixa. Assim você teria sua Έ Jesus disse-lhes: A dverti e acautelai-vos do fer-
porção de farinha. O próxim o passo era preparar a m ento dos fariseus e saduceus. Com o não com pre-
massa, juntando água ou azeite, sal e ferm ento (não endeis que não vos falei a respeito de pães? E sim:
se pu n h a este últim o ingrediente quando se tratava de acautelai-vos do ferm ento dos fariseus e dos sadu-
pães para fins religiosos). ceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se
U m pedaço de massa ferm entada, chamada “leve- acautelassem do ferm ento de pães, m as da doutrina
dura”, tirada da fornada anterior, era amassada com a dos fariseus e dos saduceus. (M at. 16:6,11-12).
massa nova, que era deixada para crescer. Antes de as- O pano de fundo dessas enigm áticas palavras de
sar, parte da massa era reservada para a “levedura” do Jesus vem dos tem pos do Êxodo, quando o povo de
dia seguinte. O pão era assado como um a to rta acha- Israel saiu do Egito. Para celebrar a libertação, os ju-
tada, em fornos rústicos, emborcados sobre fogueiras.
deus tinham a festa da Páscoa e antes dela a festa dos
pães Ázimos (ou Asm os), isto é, pães sem ferm ento.

No dia em que o povo foi liberto (14 de nisã, pe-


ríodo que com preende os meses de m arço e abril),
Você sabia? D eus ordenou que todo ferm ento deveria ser retirado
das casas, pois im plicaria contam inação, sim bolizan-
Quem introduziu 0 uso dofermento na massa
do 0 pecado, a corrupção e a m aldade. O povo tinha
foram os egípcios, e elefo i descoberto por
de confiar em Deus, obedecendo a cada ordem nos
acaso, quando 0fermento silvestre caiu sobre
m ínim os detalhes (Êx. 12:6, 18).
a massa antes de ser levada aoforno. Daí des-
cobriu-se que um pouco de massa fermentada
poderia iniciar 0 processo defermentação
na próxima massa a ser preparada, e, por
isso, um pouco de pão fermentado era sempre
guardado para isso.

Pão preparado sem fermento.


N os tem pos do N ovo T estam ento, os fariseus soas tinham um guarda roupas repleto de peças como
eram m uito zelosos com cada detalhe das cerim ônias os de hoje em dia. As roupas eram caras e, dificilmente,
religiosas e condenavam quem falhasse n u m só ponto um cidadão com um teria mais que duas ou três peças de
que fosse. M as com o m uitos só faziam isso p o r ce- vestuário. É este contexto que deve-se entender a exor-
rim onialism o e não de coração, Jesus os cham ou de tação de João Batista: “Quem tiver duas túnicas dê uma
hipócritas e ironicam ente fez o trocadilho falando do a quem não tem nenhum a; e quem possui o que comer,
“ferm ento (isto é, a contam inação) dos fariseus”. da mesm a m aneira reparta” (Luc. 3:11).

Vestuário e acessórios O í S L sl χ,Ω.,,ί,,ρ


O
‫כ‬
Existe algo sobre a m oda que vale tan to para os
tem pos bíblicos com o atualm ente. As vestim entas
Você sabia?
são trem endam ente ligadas a fatores culturais, étni- Nos dias de Jesus, não era costume usar pijamas
cos e valores sociais. Alguns chegam a conectar as ou roupas de dormir nofim do dia.
vestim entas a questões de ética e bom senso. 0 cidadão apenas afrouxava 0cinto e deitava-se
com a sua túnica, usando 0 manto de cobertor.
É claro que neste turbilhão de opiniões e estilos, exis-
te espaço para a individualidade e gosto pessoal, embora, c
C
a rigor, o modo “pessoal” de cada um se vestir reflete de
modo inconsciente ou não um coletivo com o qual ele(a) ‫־ס־סי‬
se identifica por circunstância ou ideologia.
£LSL· f»Q
‫?ד‬
Nos tem pos de Cristo, não havia tantos “estilos”
como hoje, o que não significa que as pessoas andassem
uniformizadas. Contudo, o tipo de roupa que cada um Fato im portante
usava era diretam ente ligada à sua etnia e sua posição
social. Rom anos vestiam -se diferente dos gregos e sa- Considerando que as pessoas tinham bem menos
peças de roupa em seu vestuário e que as roupas
cerdotes vestiam -se diferente de filósofos.
ficavam imundas pelo uso diário e contínuo, 0
A peça de roupa mais característica dos rom anos sistema de lavagem de roupas era muito apre-
teve origem com os etruscos. Som ente quem gozava ciado e caro (Mal. 3:2).
da cidadania rom ana tinha o direito de trajar a toga, e
as autoridades deviam cuidar para que os estrangeiros
JQ
não a vestissem. Quem, po r exemplo, era condenado e H -g rt J'‫־‬c ‫׳‬0 ‫ט‬
ao exílio perdia o ius togae (direito à toga).
Por isso, as roupas não eram lavadas com a fre-
Objetos adicionais, adereços ou acessórios pode- quência dos dias atuais, de m odo que um a veste
riam acom panhar a indum entária para dar mais des- branca, isto é, lim pa ou alvejada era um sím bolo de
taque ao status da pessoa ou até m esm o para identi- trem endo significado naqueles dias. Essa é a razão
ficá-la profissionalm ente. Com o advogados rom anos porque as vestes de Jesus na transfiguração cham a-
que carregavam varas nas mãos (fasces) ou médicos ram tan to a atenção dos discípulos, pois estavam “res-
que traziam um a bolsa com unguentários. plandecentes e sobrem odo brancas, com o nen hum
lavandeiro na terra as poderia alvejar” (M ar. 9:3).
Por fim, havia tam bém roupas especiais para oca-
siões especiais: trajes para dias de luto, para casamento, Vestes lim pas e bem lavadas eram exigidas da-
para cerimônias religiosas. Jesus mesmo se referiu num a queles que adentrassem o pátio do Tem plo levando
de suas parábolas à embaraçosa condição de um hom em consigo sacrifícios ou ofertas para oferecer a Deus. As
que entrou num a festa sem as vestes apropriadas para o roupas com uns, p o r estarem geralm ente sujas, eram
evento (Mat. 22:1-14). M as isso não significa que as pes- inapropriadas para o am biente.
Trajes comuns dos tempos bíblicos

Assim a pessoa se purificava nas águas correntes dos. As capas eram mais usadas quando o cidadão saía
de um tanque especial e em seguida vestia as roupas para um a viagem ou em local público (At. 12:8).
lim pas, de m odo a estar apto para com parecer peran-
Com o acessórios havia um a cobertura para a ca-
te o santuário de Deus (cf. Zac. 3:1-10 e, dependendo
beça na form a de um pequeno gorro, um cinto que
da versão, Apoc. 22:14).
poderia ser feito de couro ou de tecido e outro m ode-
lo de túnica (meil), sobreposta externam ente à túnica
Moda masculina básica e que funcionava com o um sobretudo ou pale-
tó. Poderia ser aberta na frente (im itando um casaco
A principal peça de vestuário usada p o r hom ens e m oderno) ou inteiriça, m as com m angas e cum pri-
m ulheres contem porâneos de Jesus era a túnica. As m ento um tanto m ais curtos que a túnica de baixo.
diferenças básicas eram o tipo de tecido, os adereços e Era usada mais na época do frio ou, com o as vestes
o com prim ento: a túnica dos hom ens era m ais curta e talares, p o r anciãos, sacerdotes e rabinos do povo.
ia até o tornozelo; a das m ulheres ia até os pés.
Os calçados tam bém eram opcionais e m uita gente an-
N o caso dos hom ens, apenas anciãos em posição de dava descalço, exceto quando empreendiam viagem para
destaque, como os sacerdotes, ou monarcas, usavam tú- algum outro território e teriam de caminhar a pé. Por
nicas compridas o bastante a ponto de cobrirem os pés. fim, é provável, mas não conclusivo, que houvesse ainda
São as chamadas “vestes talares” como as que Jesus usa um a tanga ou saiote sob a túnica como roupa de baixo.
na visão do Apocalipse 1:13. A palavra “talar” vem do la- Pedro possivelmente usava um a tanga assim quando fi-
tim talus e quer dizer “calcanhar”. Daí a expressão “veste cou “nu” ou “despido” no barco de pesca da família (Jo.
talar”, aquela cujo com prim ento vai até os calcanhares. 21:7). Jesus foi crucificado usando apenas a tanga, porque
os soldados já haviam removido suas vestes (Jo. 19:23).
Cada judeu norm alm ente usava duas peças básicas.
M ateus 5:40 faz referência a elas: um a seria a túnica
(‫׳‬Chalouk ou Ketoneth) e a outra a capa (simlah ou talith) Moda feminina
- um forro parecido com um cobertor pequeno que as
pessoas usavam nas costas em substituição aos turban- Segundo o tratado judaico do Shabbath, as m ulhe-
tes que eram mais usados pela classe dos mais abasta­ res mais ricas costum avam usar fitas de lã e seda nos
cabelos, além de arcos, presilhas e pentes feitos de to de um inseto do carvalho-querm es, o m esm o que
m arfim , m adeira, casco de tartaruga e couro enfeita- produz a cochinilha.
do de pedras preciosas.
Os tecidos mais baratos eram feitos de lã. Os de li-
Os cabelos eram a parte mais sensual para a m u- nho eram mais dispendiosos. A diferença estava tanto
lher da época, de m odo que era costum e daquelas no trabalho quanto no resultado final. De poucas ove-
mais influenciadas pela m oda grega tingi-los po r in- lhas era possível o bter lã para um a família. Já o linho,
teiro ou apenas um a mexa, às vezes de preto, ou mais colhido de um a planta que leva o m esm o nom e, tinha
frequentem ente de ruivo e loiro (principalm ente as um longo processo de colheita e fabricação. Além do
que já tinham algum tom grisalho). fato de que necessitava m uito mais m atéria-prim a
para se produzir um a única capa do tam anho de um
As mais jovens m andavam encaracolar a cabelei-
adulto. N o Egito, os faraós eram em balsam ados com
ra aplicando grande quantidade de óleo e perfum e.
o linho, sím bolo de poder e riqueza.
Perucas tam bém eram bem -vindas n u m a região, por
exemplo, infestada de piolhos. E, para com pletar o vi- O algodão já era comumente utilizado pelos persas,
suai, xales eram com um ente am arrados nos om bros e gregos e indianos, mas não há indícios de que os judeus
havia abundância de anéis, braceletes, argolas presas o cultivassem. A seda, por sua vez, era, mais do que qual-
no nariz e brincos, em bora, ao que tudo indique, as quer outro, o tecido mais caro do Oriente. Luxuoso e pró-
igrejas cristãs em seus prim órdios baniram esse cos- prio para reis que o compravam nas mãos de comercian-
tum e entre as m ulheres que se convertiam ao cristia- tes vindos do Extremo Oriente (Veja Apo. 18:11 e 12).
nism o (veja I Tim . 2:9 elO e I Ped. 3:3 e 4).

Cores e tecidos
Fato importante
As variações ficavam p o r conta do clima, do terre-
Alguns autores pensam que já no tempo de Jesus,
no ou das cores que cada um escolhia. M esm o assim
a capa tinha uma função religiosa como 0talith
não havia m uitas m udanças. Falando especificam ente usado pelos modernos judeus. Se assim fosse, esta
das cores, 0 processo de obtenção dos diferentes m a- seria uma peça indispensável para se aproximar
tizes era bastante caro e artesanal. do Templo ou entrar numa sinagoga. Outros,
no entanto, afirmam que esse costume litúrgico
Por isso nem todos tingiam suas vestes que, n o r-
de cobrir a cabeça em sinal de reverência fora
m alm ente feitas de lã, podiam te r um a variedade de praticado apenas a partir do IVséculo d.C. Seja
cores naturais, desde o branco até o m arrom escuro como for, a capa era uma peça tão importante
com vários tons interm ediários. U m a lã tingida de que podia ser usada como sinal de penhora no
púrpura era no m ínim o 40 vezes mais cara que um a pedido de algum empréstimo (Luc. 6:29).
sem n en h u m tipo de tintura.
Quando era esta a situação, a lei exigia que um
Sem m isturas sintéticas com o as que existem hoje, credor que tivesse por garantia de débito uma
os antigos recorriam a extratos do m undo anim al e capa, a devolvesse ao devedor antes do escurecer
vegetal a fim de produzir sua variedade de cores e (Ex. 22:26 eDeut. 24:12), pois em muitos casos
ela poderia servir de cobertor, colchão (se a
tons. Havia um caram ujo do m ar cham ado M urex
pessoa dormisse ao relento), capuz e até como
trunculus, cuja glândula liberava um fluido am arelo
tapete para dar as boas-vindas a um soberano
que, quando exposto à luz solar, tornava-se azul púr-
muito importante. Daí a atitude dos cidadãos,
pura e era utilizado para tin g ir tecidos finos. na entrada triun fal de Jesus em Jerusalém, ao
estender seus mantos para que ele passasse por
O am arelo era tirado das folhas da am endoeira e
cima montado no jumentinho (Mat. 21:11).
da casca m oída de rom ãs. O preto vinha da casca de ‫ג‬
m adeira da rom ãzeira e o verm elho poderia v ir tanto ‫ב‬
de um a planta cham ada ruiva dos tin tu reiro s quan­ u r g ir
‫״‬pQ
Quatro evangelhos - uma
HO

Você sabia? história


Profetas itinerantes e eremitas, em alguns
A tradição cristã reconhece com o oficiais quatro
casos, para proclamar a apostasia do povo
evangelhos que contêm a vida e as obras de Jesus de
ou anunciar quem eles eram, costumavam
usar uma peça única geralmente sem capa ao Nazaré. São eles: M ateus, M arcos, Lucas e João. Ape-
estilo das que usou João Batista. Eram feitas nas dois (M ateus e João) teriam sido discípulos de
de pelo de camelo tecido e na cintura traziam Jesus, ao passo que os demais (M arcos e Lucas) per-
uma tira de couro. Para os demais que não tenceriam possivelm ente a um a segunda geração de
se enquadravam na descrição de peregrinos
crentes, am bientados num tem po de pregação apos-
era comum usarem capas e tornozeleiras de
tólica ocorrido após a m o rte e ressurreição de Jesus.
couro durante uma longa viagem, principal-
mente para terras mais frias que Israel. Em bora um a antiga tradição aponte M arcos como
c ‫ר‬
C 0 presente nos eventos últim os da santa ceia, m orte e
a . ressurreição de C risto em Jerusalém .
‫־כ־ס־־דם‬ ‫כדז־ס־דד‬
Representações medievais
Na iconografia m edieval, os evangelistas costum am aparecer em quatro diferentes sím bolos extraídos de
um a visão de Ezequiel (capítulo 1) refletida no livro do Apocalipse cap. 4. As im agens n orm alm ente aparecem
com asas e form as que m isturam a face hum ana e a face de animais.

. ‫ ־‬- V-

Mateus: Homem com asas, pois des-


creve Jesus em seu aspecto humano.
Enfatiza a genealogia de Cristo e sua
ligação com 0 povo judeu.

Marcos: Leão com asas, pois sua cena


de abertura é a de Jesus em meio ao
deserto da tentação cercado de animais
selvagens. Sendo 0 ieão um símbolo
de realeza, também acentua‫־‬se Jesus
como rei dos reis.
Lucas: Novilho com asas, pois apre-
senta Jesus de um modo mais ecléti-
co e manso. Um Jesus que aceita sua
missão e não titubeia em cumpri-la.

João; Águia com asas, pois João é 0


que mostra Jesus descendo das altu-
ras para habitar entre os homens. É a
visão mais divina de Cristo e sua en-
carnação.

0 sentido desses ícones é com pletam ente poético e não se pode dizer que refletem realm ente 0 significado de cada
evangelho ou a intenção original das visões do A pocalipse e de Ezequiel. A dem ais, sua explicação variou de tem pos
em tem pos desde que apareceu numa das prim eiras sugestões fe ita s por Jerônim o. Seu va lo r hoje é apenas artístico
e não necessariam ente teológico. Permanece, contudo, a certeza de que os evangelhos são visões d ifere ntes, porém ,
com plem entares e harm ônicas da vida e das obras de Jesus de Nazaré.
O que é evangelho? ções geográficas ou tem porais das n arrativ as são, na
m aioria das vezes, genéricas: “na cidade”, “num alto
m o n te ”, “em casa”, “no cam in h o ”, “naquele tem p o ”,
C om um ente, a palavra “evangelho" é usada para se
“naquela h o ra ”.
referir às boas novas da Palavra de Deus - o que não
é de m odo algum errado, levando-se em conta que Assim, os evangelhos não são relatos biográficos
o term o grego euangélion, evidentem ente significa de C risto no sentido atual da palavra. São o anúncio
"boa notícia”. Essa era um a palavra com um no passa- do Kerygma, isto é, da m ensagem proclam ada po r
do, m esm o antes de surgir no m undo o m ovim ento aqueles que foram as prim eiras testem unhas do even-
cristão. A inscrição de Priene, datada do ano 9 a.C. e to e, a seguir, pela igreja de um m odo geral.
encontrada na Ásia M enor, celebra o nascim ento de
Augusto com o sendo as “boas novas” (euangelia) da Sua intenção é apresentar a Jesus com o M essias,
história da hum anidade. filho de Deus e Salvador. Seu conteúdo não pode ser
lido de m odo indiferente. T rata-se de quatro teste-
Em term os de ciências bíblicas, evangelho é um gê- m unhos, mas um m esm o convite à graça m anifestada
nero literário, m arcado po r características e estilos na história da hum anidade.
que precisam ser anotados para a boa com preensão
de seu conteúdo. M as ainda que se trate de um gêne-
ro literário, cada autor m anifestou sua peculiaridade,
Contradições ou
seu objetivo e seus enfoques pessoais, conform e as peculiaridades?
necessidades de seus destinatários. Não eram , porém ,
m eras biografias de Jesus Cristo. Há autores que tom am certos trechos aparente-
m ente divergentes dos evangelhos e assum em que
Os evangelistas não in te n ta ra m escrever porm e-
estes seriam contradições nunca harm onizáveis que
nores da vida de Jesus d eterm inando o que ele fez
indicam um a falta de coerência na produção de cada
em certa época do calendário. N ote que as indica­
um deles. M as essas m esm as divergências podem ser
lidas sob o u tro prism a legitim am ente válido, tan to à
luz da lógica quanto da crítica literária.
"Im aginem os dois livros escritos sobre M ar-
M ateus, p o r exem plo, acentua m uito mais as po- tinho Lutero por dois autores católicos, um em
lêmicas entre Jesus e os fariseus do que o faz Lucas. 1900, 0 outro em 1980. 0 prim eiro, de modo Ia-
Este últim o chega a sugerir um a amizade entre Jesus mentoso, escreverá nestes term os: lu te ro , este
e alguns fariseus no início de seu m inistério, algo to - monge que abandonou 0 hábito, que desprezou
talm ente inexistente no relato de M ateus. uma religião, levou, por seu próprio orgulho, a
Igreja e a Europa ao fogo e ao sangue 0 se-
C om pare a pregação agressiva do Batista, segundo gundo, por sua vez, já dirá: lu te ro teve sua fra-
Lucas, endereçada à m ultidão que o ouvia e de acor- queza como qualquer um de nós; mas devemos
do com M ateus, voltada especificam ente para os fari- considerar que aqui estamos diante de um monge
seus (Mat. 3:5-10 e Luc. 3: 7-9). M ateus é o único a trem endam ente religioso, apaixonado por Deus e
apresentar todo um discurso de lam entação dedicado preocupado com a salvação dos homens; ele per-
inteiram ente aos escribas e Fariseus (M at. 23:13-36). cebeu que a Igreja devia se reformar, voltar-se para
Enquanto isso, Lucas, em bora tam bém apresente as Escrituras, e a Igreja, por sua recusa, 0 expulsou
conflitos entre Jesus e o farisaísm o, não se esquiva de de seu seio..,". Etienne Charpentier33
apresentar Jesus com endo em casa de um líder fari- Ora, nenhum historiador sensato questionaria
seu (11: 37-44; 14:lss) e mais, sendo alertado p o r eles a historicidade de Lutero com base nesses depoi-
contra o perigo de H erodes, com o se quisessem sal- m entos diferentes. Nem poderia dizer que, embo-
var-lhe a vida (13: 31-33). ra diferentes, eles sejam contraditórios. Ambos
fazem uma leitura do mesmo fato: Lutero rompeu
João, por sua vez, enfatiza m uito mais a superio-
com 0 catolicism o. Um acentuou a responsabili-
ridade de Jesus em relação ao Batista do que fazem
dade do monge no processo, enquanto 0 outro
os demais evangelistas. Isso, com o você verá mais à
acrescentou a intolerância como tam bém respon-
frente, tam bém tin h a um m otivo pró p rio que justifi-
sável por m uito do que aconteceu. Possivelmente
cava essa linguagem .
houve, entre ambos os autores, 0 concilio Vatica-
Cada evangelho, pois, apresenta sua p ró p ria carac- no II, que tornou os católicos m ais otim istas em
terização do Cristo, que não deve de m odo algum ser relação ao protestantism o. Sendo assim, 0 que
entendida com o contradição histórica. viveu depois disso esboçou em seu livro as ca-
racterísticas do am biente mais tolerante no qual
vivera, enquanto 0 prim eiro apenas ecoou os ares
apologéticos de sua época.
Essa mesma analogia pode ser usada para
explicar as peculiaridades de cada evangelho ao
descrever Jesus de Nazaré, mesmo que pareçam,
a princípio, contraditórias. Cada evangelista nar-
rou a vida de Cristo com um colorido próprio de
personalidade, am biente e propósitos. Contudo,
nada há de dram aticam ente sério que coloque
em dúvida a reputação historiográfica daqueles
que produziram tais textos. A final, pequenos er-
ros, ainda que ocorram, são peculiares até mes-
mo dos mais exím ios historiadores modernos e
da Antiguidade.
,.,CLa-p -Cn .

Fato importante
n On .,C.,D Π
Muitos pensam erroneamente que, se os evangelis-
tas estivessem num tribunal, seu testemunho seria o
J
imediatamente rejeitado por causa das contradições
J
Você sabia?
que eles apresentam. A cura dos cegos (ou do cego) de
Jericó é um caso clássico. Mateus, a única testemu- J. Warner Wallace fo i um detetive de Los Angeles,
nha ocular a relatar 0episódio, diz que eram dois EUA, especializado em resolver casos envolven-
cegos, mas não oferece 0nome de nenhum deles. do homicídios. Ele é um especialista em utilizar
Lucas e Marcos, por sua vez, dizem que era apenas técnicas de investigação policial para resolver casos
um e Marcos ainda fornece seu nome “Bartimeu”. complicados de assassinato e apontar 0 criminoso.

E não para por aí. Mateus e Marcos dizem que a cura Sendo um ateu, ele utilizou sua especialização
se realizou quando Jesus estava saindo de Jericó. investigativa para avaliar 0grau de credibilidade
Lucas, porém, diz que isso ocorreu quando Jesus do testemunho dos evangelhos acerca de Cristo. A
estava chegando à cidade (c f Mat. 20:29-34; Mar. princípio pensava que encontraria razões de sobra
10:46-52; Luc. 18:35-43). para continuar incrédulo em relação ao conteúdo
bíblico. Mas suas investigações honestas 0 levaram
Mas será que contradições como essas invalidariam para outro rumo - 0 da convicção de que a narrati-
um testemunho diante de um tribunal? Veja 0 que diz va evangélica é histórica e real.
uma especialista no assunto, aDra. Suzana Camar-
goMiranta, desembargadora: Suas conclusõesforam posteriormente publicadas
num livro intitulado Cold Case C hristianity -
E possível divergências e ambas as testemunhas Cristianismo: Caso encerrado. c
estaremfalando a verdade - as culturas e conceitos c ­‫ג‬
C ‫ס‬
pessoais são agregados à pessoa. Toda testemunha
capta apenas parcialmente ofato (0 cérebro seleciona T73‫־‬
as informações ocorridas). É impossível a existência
de depoimentos idênticos. Testemunhos iguais
revelam que as testemunhas foram orientadas - a
A origem e formação dos Não se pode p ro v ar a existência da fonte Q. Por
isso, enquanto m uitos acadêmicos apostam nela, ou-
evangelhos tros a consideram inexistente.

Segundo as conclusões mais atualizadas sobre a his-


tória da produção dos evangelhos, um a grande parte
O testemunho de Papias
dos estudiosos têm chegado às seguintes ponderações:
Já no século II, Papias de Hierápolis (que segundo
1 - P o r co n terem um a grande quantidade de his- um a antiga tradição teria sido o secretário do apóstolo
tórias em com um , na m esm a seqüência, e, algum as João, que escreveu o evangelho sob seu ditado) afirm a
vezes, utilizando a m esm a e stru tu ra de palavras, que M arcos fora um. intérp rete da pregação de Pedro.
os evangelhos de M ateus, M arcos e Lucas são cha- Ele não escreveu tudo cronologicam ente organizado,
m ados sinópticos, isto é, possuidores de um a visão m as p ro cu ro u expor ao m áxim o as preleções do após-
conjunta. João, p o r sua vez, p erten ce a um a tradição tolo relativas aos feitos e ditos do Senhor. T am bém
in d ependente, form ada na Ásia M enor, no fim do afirm a que M ateus com pusera os ditos de C risto em
p rim eiro século. língua hebraica, que cada um depois in te rp re to u se-
gundo suas capacidades. Segundo suas palavras:
2 - C ronologicam ente falando, M arcos é o evan-
gelho m ais antigo, que serviu de fonte inform ativa Marcos, tendo se tornado 0 intérprete de Pedro, escre-
para M ateus e Lucas, e João foi o últim o evangelho a veu acuradamente tudo 0 que ele lembrava. Contudo, não
ser produzido. foi na ordem exata que Marcos relatou os ditos ou feitos
de Cristo. Pois ele nem ouviu 0 Senhor nem 0 acompanhou
3 - Há um a probabilidade, mas não certeza abso- pessoalmente. Por outro lado, porem, como eu disse, ele
luta, que houve num tem po an terio r aos evangelhos acompanhou Pedro que proveu as instruções necessárias
canônicos um ou mais docum entos (agrapha) que [para seus destinatários], mas não com a intenção de ofe-
continham as chamadas Logia de Jesus ou sentenças recer uma regular narrativa dos ditos do Senhor. De qual-
ditas p o r C risto. Esses docum entos, em especial um quer form a, deve ser dito que Marcos não cometeu erros
livro que os exegetas dão o nom e de Q, serviriam de ao escrever as coisas como ele as lembrava.... com respeito a
fonte para os sinópticos. Mateus, este ajuntou os oráculos [do Senhor] em língua he-
braica, e cada um os interpretou 0 melhor que pôde. [...] há
Com o se chegou a essas três conclusões? T udo
também uma história de uma mulher que fo i acusada de
com eçou com Karl Lachm ann em 1835. Ele perce-
muitos pecados perante 0 Senhor e que pode ser encontrada
beu que M ateus e Lucas coincidem na ordem de seus
no Evangelho segundo os hebreus35.
relatos apenas quando seguem o enredo de M arcos.
Q uando um deles difere, o outro sem pre concorda I
-‫ * ־ * י ״ ·׳־״‬.n v v 1 ·‫׳· ״ '>'"־‬ -N J b v ' ‘ * ! · * * + - ·‫־׳‬-” I
com M arcos. Além disso, as passagens que apareciam jfe t * » Aí ..‫ י« ן ־ »י·' ® ‘ »־‬Μ -·:*-«‫׳‬:‫׳‬-‫־‬ -‫■*·■*■·**■י‬ ‫י■י‬
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em M ateus e que M arcos não trazia eram , via de re- is,- itn>^1'>¥N! ‘ ) ‫·*ט‬. ■‫״‬.■. í i ‫ ׳**?י‬- ‫ ׳‬vs******* ■e»t -‫״־ץ‬-
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4‫ ^ ־ ״‬i»‫־‬is*íes» s- *i açp »Çfc' . *?‫»»י‬í‫*«״‬ ‫··'׳‬
um a tese de que, pelas coerentes observações de ·«·?«*‫ וי־?־‬5“‫׳י‬# ^*rrp«'- |4 fe*1‫־‬,*»* ‫׳‬ W·‫ *י‬f-
< 14 a ‫י‬ í~~ aí#*‫ *׳‬V"
L achm ann, deve-se concluir três coisas: que M arcos |á a t* ‫־‬v ‫׳‬. W « ^ * ‘ ■‫* ־ ״‬
ϊ . . ,‫ * *־׳’ ־‬í — * ^ ‫■ * ־‬i ‫״·־ ־ ״‬%*!K ‫««*י‬ ..te®»■‫ · * ‘ «״‬I t s· «: ‫ ׳‬Ã*.&fcia‫־‬sá‫ ״‬- *K* ***-i
•141fe.
4 , «*,*‫* י‬f*- ‫׳״‬--■·* ‫ ׳‬gw*e‫־‬-»‫־‬
|S^«e‫״־‬--,VÍ‫־‬í -!-*:«‫·«׳״·»־‬ ‫>*«־‬
precedia Lucas e M ateus, que M ateus e Lucas utili- !3
w >
, 1ün!i»>«r<r«e «i.tsus'tt ?·»fc , ■44 *■*5»,“'‫־;־ י‬
‫״‬sa %
- .‫־‬,‫־· ״‬. ·Uf%*.*· ‫־‬
^ ,
e » *sii.è!

zaram -se de M arcos na produção de seus evangelhos ‫ ·■יי ן‬í■λ I


»t i -- t ‫זיו״־־‬
ί “ί-'5« 1‫!־ יז‬#‫וי‬:* ·IV?' ‫·־‬
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+ M r » « |g f K > » n w t 1 > « H t i n i m '«*·»’«a «■ »*ss Ã:; ssíp V\, ‫·״‬ V
« - -
e, finalm ente, que haveria o u tro docum ento anterior ‫־‬- - ·«.‫־·י—ז‬ 1 1l w
i Á , . ,» M rd ‫ף^׳י י‬ Fp- * "íf***‫׳‬
iírf« ‫־‬ Lr s, ‫־‬. ·‫' «· ? » י־‬ | i í 'l <
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-‫־‬*
‫־‬'‫־׳‬
·*■*
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cs“4
'* ^
a M arcos que possuía um a coletânea de ditos do Se- JjÃ? 1fe. 16‫»׳‬-‫־‬1 ■‫“־י‬
‫•־‬11' :: J.* ·‫* ׳‬ru. 1‫־‬T^ ‘ <·‫**־״־‬
‫ “ י‬í^■ ”Wi*
nhor. Este seria posteriorm ente cham ado docum ento Canon Muratoriano - 4^ 5‫ *־‬- ' : - · ^ í

Q, que vem do alemão Quelle e quer dizer fonte.


Com o se pode ver, o fragm ento de Papias om i- já ocorreu) e gloriosa, com magnífico poder, na segunda
te qualquer alusão ao Evangelho de João, a não ser (que ainda ocorrerá)C ânon Muratori ou Muratoriano
que se queira en tender a “história da m ulher acusada”
Com o se pode ver, po r últim o, na ordem de com -
como sendo um a referência ao controvertido trecho
posição, estaria o Evangelho de João produzido em
da m ulher pecadora em João 8 e o título Evangelho
Éfeso, na Ásia, logo após o apóstolo te r sido libertado
segundo os hebreus com o um a titulação variada para o
da ilha de Patm os onde escrevera o Apocalipse.
IV Evangelho.

Ele tam bém não m enciona Lucas. Porém , o Câ-


Ώ
non Muratori (ou Muratoriano), que, segundo alguns, a
pertence igualm ente ao século II, apresenta -0 com o C
c
sendo p osterior a M arcos e M ateus. Fato Importante
Este Cânon Muratori, tam bém conhecido po r frag- Quanto a Mateus, osfilólogos mais conceituados
m ento m uratoriano ou fragm ento de M uratori, é têm concluído que 0 texto mateano, conforme apa-
rece na Bíblia hoje, não tem característica de ter
uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos li-
sido uma tradução grega de um original hebraico.
vros do Novo T estam ento. Foi descoberta na Biblio-
Logo, existe uma possibilidade de quePapias este-
:eca A m brosiana de M ilão, p o r Ludovico A ntonio
ja falando justamente daquela suposta coletânea
M uratori (1672-1750), e publicada em 1740. N a lista de ditos de Jesus que os acadêmicos chamaram
figuram os nom es dos livros que o autor considerava fonte Q. Note que 0clamor de Cristo “Deus meu,
idm issíveis, com alguns com entários. Deus meu, por que me desamparaste?’’ é apresen-
tado em Marcos no aramaico, enquanto Mateus 0
A lista está escrita em latim e encontra-se incom -
traz em língua hebraica (compare Mateus 27:46
pleta, daí ser cham ada de fragm ento. C ontudo, apa-
com Marcos 15:34).
rentem ente, o cânon aceita quatro evangelhos, dos c
G
quais dois são os evangelhos de Lucas e João. Os ou-
tros podem ser M ateus e M arcos, mas falta o princí- OJ
pio do m anuscrito, onde estariam os nom es dos dois
prim eiros evangelhos. O texto diz assim: _cjGL

"... 0 terceiro evangelho é 0 de Lucas. Lucas era me'dico c


c
?or profissão. [Mas] Depois da ascensão de Cristo, Paulo Você sabia?
‫ י‬tomou consigo porque era um estudante de leis [jurista],
Lucas escreveu sua narrativa a partir de opiniões [pes- Existem hoje cerca de5.500 antigas cópias manus-
juisadas] e afirm o u com seu próprio nome. Mesmo sem critas do Novo Testamento espalhados em museus
:er tido contato com 0 Senhor pessoalmente, se aplicou e bibliotecas do mundo inteiro. Eles podem estar em
form a de rolo, códices, ou até mesmo fragmentos
. começando] seu relato pelo nascimento de João Batista. O
de 6 x 8 cm como é 0 caso do Papiro 52, depositado
juarto Evangelho é 0 de João, um dos discípulos. Questio-
na Biblioteca de Johns Rylands, em Manchester.
nado por seus condiscípulos e bispos, disse: “Andai comigo Nenhum texto original saído das mãos do escritor
durante três dias a partir de hoje e que cada um de nós bíblico sobreviveu até os dias de hoje. Contudo, a
conte aos demais aquilo que lhe fo r revelado”. Naquela despeito das diferenças entre as cópias, técnicas
mesma noite fo i revelado a André, um dos apóstolos, que, de colação textual permitem reconstituir com
de conformidade com todos, João escrevera em seu nome. precisão mais de 95% do texto original. Os pontos
Assim, ainda que pareça que ensinem coisas distintas conflitantes são porções textuais periféricas que
nestes distintos Evangelhos, a f é dos fié is não difere, já não prejudicam 0 teor central do livro. É 0 caso,
que 0 mesmo Espírito inspira para que todos se contentem por exemplo, do binômio Gadara/Gerasa, ou da
sobre 0 nascimento, paixão e ressurreição [de Cristo], discutível terminação do Evangelho de Marcos. ^ .
assim como sua permanência com os discípulos e sobre O
suas duas vindas, depreciada e humilde na primeira (que ‫כ‬
A data de composição te não havia vo ltad o , é que reso lv eram escrever sua
h istó ria.
dos evangelhos Em M ateus 24 e Lucas 21:20 Jesus fala da destrui-
ção de Jerusalém , que ocorreu no ano 70 A.D. E im-
N o auge do questionam ento quanto à autenticida-
possível que alguém conseguisse falar com tan ta pre-
de histórica dos evangelhos, m uitos autores alemães
cisão de algo que ainda haveria de ocorrer. P or isso,
diziam que eles foram escritos no século II d.C. Atual-
alguns autores dizem que essa m ensagem profética
m ente essa ideia não é mais defendida na academia.
seria um vaticinium ex eventu, um a expressão teoló-
Os posicionam entos quanto à data de composição dos
gica vinda do latim , que traduzida significa “profecia
evangelhos podem ser divididos em três linhas:
feita depois do fato ocorrido”. Logo, os evangelhos não
Conservadores: sinópticos anteriores ao ano 60 e podem ser anteriores ao ano 70 d.C.
João c. 90AD
A divindade de Jesus está claram ente exposta nos
M oderados: M arcos ano 60, M ateus e Lucas ano evangelhos, mas esta só foi com preendida ou siste-
70; João 90-100 AD m atizada pela Igreja depois do ano 70. Os que assim
pensam afirm am que Jesus nuncase proclam ou Deus ,
Liberais: M arcos (talvez 50 ou 60) M ateus e Lucas
o que ocorreu foi um a deificação.
80-90; João 90-110 AD
0 conceito de Igreja, conform e expressão em Ma-
C om o não existem docum entos originais dos evan-
teus 16:18; 18:17 e 18, tam bém reflete um a teologia tar-
gelhos, m as apenas cópias feitas posteriorm ente, os
dia. Os prim eiros cristãos iam às sinagogas. Não havia
argum entos acerca de cada um desses posicionam en-
ideia de igreja, senão depois da destruição do Templo.
tos possuem um m ínim o de subjetividade e depen-
dem do pressuposto de cada investigador. C ontudo, A postura antirrabínica de M ateus 23:23ss parece
esse é um p o n to im portante porque, se os evangelhos ecoar o contexto de Jam nia nos anos 80, quando os
estão dem asiadam ente distantes dos eventos que eles judeus sistem atizaram vários ais contra os cristãos.
descrevem , aum enta-se o nível de confiança na preci- Logo, não poderia te r sido escrito antes disso.
são histórica daquilo que eles narram .
Não há nada no texto que confirm e a autoria de
M ateus, M arcos, Lucas ou João (a não ser indireta-
Documentos tardios? m ente em Jo. 21:24). M arcos, Lucas ou João (a não
ser indiretam ente em Jo. 21:24). A rgum enta-se que
De am bos os lados da questão, o que se pode dizer foram as com unidades.
é que os argum entos em favor de um a data mais anti-
ga ou mais recente dos evangelhos são em sua m aio-
ria de ordem subjetiva ou interna. Documentos antigos?
Os que afirm am que os evangelhos seriam do- Os autores que afirm am que os evangelhos se-
cum entos tardios, escritos m uito tem po depois dos riam d ocum entos antigos, próxim os aos eventos
acontecim entos que anunciam , apresentam os se- que apresentam , oferecem as seguintes respostas às
guintes argum entos: proposições apresentadas pelos defensores da data-
ção tardia:
Os discípulos v iviam n a expectativa da segunda
v in d a de C risto , tec n ica m e n te cham ada de parousia. 1 - E xpectativa quanto à parousia. N ão h á evi-
E n q u a n to esperavam pelo p ró x im o fim do m u n d o , dência conclusiva disto. I Tes. 5:1-11, o docum en-
não tin h a m m o tiv o s p a ra p re se rv a r escritos so b re a to m ais antigo do N T fala da v o lta de C risto como
vida d e je s u s (V eja I Tes. 4:16,17; M at. 10:23; M ar. algo re p e n tin o , não necessariam ente "próxim o”.
9:1). S om ente depois do d e sap o n ta m e n to , isto é, A dem ais, não h á n a carta nada que indique um a
décadas m ais tard e quando v ira m que ele re a lm e n ­ m udança radical de vida em face à chegada do fim
saberia que o referid o cerco de Jeru salém o co rreu
em o u tu b ro /n o v e m b ro de 66 d.C. (sob o com ando
de C estio Galo). Isso foi no o u to n o , não no in v er-
no. De igual m odo, os cristãos fugiram p ara Pela,
na T ran sjo rd ân ia. Logo, não faria sentido a ordem
genérica: “Fujam p a ra os m o n te s”...

3 - A divindade de Jesus - a afirm ação de que


os discípulos não e n te n d e ra m nada da divindade de
C risto é m era m e n te conjectural e baseada no silên-
cio. A dem ais, as afirm ações da divindade de C risto
nos evangelhos são progressivas e dedutíveis, assim
com o a com preensão dos discípulos. Veja confissão
de Pedro: “T u és o Filho de D eus” (M ateus 16:16),
a exclam ação de T om é: ‘M e u S enhor, m eu D eus”
(João 20:28). A té seus inim igos e n te n d e ra m sua au-
toafirm ação divina, do c o n trá rio não teriam te n ta -
do apedrejá-lo p o r blasfêm ia (João 10:33). A citação
en c o n trad a em I C or. 8:6 é u n a n im e m e n te rêco-
nh ecida com o um p rim itiv o credo cristão, a n te rio r
até m esm o a Paulo, o que indica a antiguidade da
crença em Jesus com o sendo Deus.

4 - Igreja, conceito tardio? O ra, Jesus não falou


Antigo manuscrito grego do Evangelho de Mateus grego e sim aram aico /h eb raico . Logo, em bora o
te rm o “igreja” possa p e rte n c e r a um a fase p o ste rio r
do cristianism o, ele p o d eria n a tu ra lm e n te estar se
do m undo. N o te que n in g u ém é aconselhado a ven-
referin d o ao vocábulo hebraico qahal, com unidade,
der tu d o , fugir das cidades ou estocar alim ento etc.
e que os tra d u to re s judeus da LXX já haviam diver-
(veja I Tes. 4:9-11). No 4:15, a expressão “os que
sas vezes trad u zid o p o r ecclesia no III século a.C.
ticarm os viv o s” era, segundo o gram ático da língua
grega, A. T . R o b ertso n , um a situação h ip o tética, 5 - A p o stu ra a n tirra b ín ic a de M ateus não p re-
não um a certeza de que alguns ficariam vivos. cisa ser tard ia. Ela se acom oda n a tu ra lm e n te ao
contexto de A tos 9 e 12, quando a Igreja com eça
2 - Seria um vaticinium ex eventu? O ra, se de fato
a ser perseguida p o r certos líderes do judaísm o de
se tratasse de um p ro g n ó stico dado após o cum pri-
Jerusalém .
m ento, o tex to deveria ser m ais explícito em alguns
detalhes fundam entais. D everia haver, p o r exem - 6 - A u to ria confirm ada - T odos os autores cris-
pio, um a n o ta do evangelista dizendo que aquilo tãos do século II e III são unânim es em co n firm ar as
realm ente aconteceu, conform e p rev isto p o r C ris- respectivas au to rias dos evangelhos. A ausência de
to. Veja que ele teste m u n h a a profecia, m as não seu no m e no corpo textual do livro não deve cau-
diz nada de seu cu m p rim en to . N ote que quando sar espanto algum . E ra com um , na A ntiguidade, o
M ateus fala de um ev en to o corrido p ara cu m p rir n o m e do a u to r não aparecer d e n tro de seu p ró p rio
algo dito a n te rio rm e n te , ele sem pre usa a expressão tex to , m as no sillybos ou sittybos - um a etiq u eta em
“para que se cum prisse o que fora dito pelo p ro fe ta ” fo rm a de couro ou p ap iro que ficava colada na haste
(1:22; 2:6, 17, 23; 12:17; 13:35; 21:4). O u tro aspec- do rolo ou aplicada em seu verso à vista do vende-
to: o pedido “para que a fuga não se dê no in v e rn o ” d o r ou leitor. Estas etiquetas eram a p rim e ira coisa
(M at. 24:20) não faz sentido se o evangelho estives- que se perd ia n u m ev entual estrago do m an u scrito ,
se sendo escrito após o o corrido. N este caso, o a u to r m as isso não seria um p ro b lem a se a o b ra já estives­
se p o p u larm en te identificada. Hoje, p o r exem plo, tó ria apenas até à prisão de Paulo não fazendo qual-
não h á necessidade de colocar Shakespeare com o quer m enção ao seu m artírio . É estranho que um
a u to r de “R om eu e Ju lie ta ” - to d o s que conhecem a livro que p rete n d e “h isto ria r” a igreja m encione
obra, sabem p o r quem foi escrita. a perseguição de C láudio e H erodes, m as não diga
nada sobre N ero e 0 incêndio em R om a (em bora
Paulo m orresse sob o governo de N ero). T am bém
q,,cO silencie sobre a destruição de Jerusalém , a fuga para
Pela etc. A tos tam bém não m enciona a m o rte por
O
‫ג‬ apedrejam ento do principal líder da Igreja, Tiago,
‫כ‬ c ocorrida em 62 d.C. e citada p o r Flávio Josefo. Atos
Fato importante 24:27-25:1 diz que Festo, apontado com o procura-
dor, m anteve Paulo encarcerado. D epois disso, ele
Os que negam a autoria tradicional dos evan- assum iu o governo da província. O ra, Festo subs-
gelhos supõem, que a escolha dos atuais nomes
titu iu Felix em 60 d.C. e ficou no p o d er até 62. É
se deu para legitimar 0conteúdo que outras
difícil, p o rta n to , supor que 0 livro de A tos seja es-
pessoas menos conhecidas escreveram. Será isso
verdade? Veja que Lucas só é mencionado poucas crito depois disso; e com o Lucas é a n te rio r ao livro
vezes pelo nome no NT. Marcos era um rapaz de A tos, sua com posição teria de o co rre r ainda mais
que abandonou Paulo (Atos 15), Mateus era um cedo n a histó ria do cristianism o.
apóstolo pouco destacado e marcado pelo passado
sombrio de cobrador de impostos. Se a intenção 3 - João (que certam ente é depois de 70) é o único
fosse dar autoridade ao documento, 0 ideal seria dos quatro evangelistas que não m enciona a profecia
que escolhessem nomes como de Pedro, Apoio, da destruição do T em plo e da cidade de Jerusalém . Os
Paulo, Tiago. E que deixassem bem explícita demais que a m encionam não falam nada do fim do
a autoridade de quem escreve. O próprio fato Tem plo, nem da fuga dos cristãos para Pela. Era de
dos nomes dos autores não aparecerem no texto
se esperar que o fizessem, caso fossem obras tardias
interno dos evangelhos demonstra que tal teoria
(veja, p o r exem plo, João 21:18).
não se sustenta à luz da evidência literária.
4 - A m ais antiga citação do E vangelho de M a-
teus vem de C lem ente (I C lem ente 13:1 e 2) de Iná-
cio de A ntioquia (Aos E sm irnianos, 1 e 5). C lem ente
£ '‫־‬C'0 I Ü m o rre u em 9 5 /6 e Inácio m o rre u p o r volta de 115,
então o evangelho já deveria estar em circulação
bem antes disso. A final, diferente dos dias de hoje,
a reprodução e circulação de um livro m anuscrito
Evidências de datação dem orava m uitos anos. Era grande o hiato e n tre o
mais antiga texto original e as cópias que se faziam dele, a pon-
to de p o d er ser citado p o r alguém geograficam ente
1 - A com unidade cristã não aceitaria os evan- distante de seu local de origem .
gelhos se não tivesse um a m ínim a ideia de quem 5 - Se os evangelhos são posteriores a 70 e foram
os escreveu. C om o os autores não são figuras clás- escritos para "instruir” a igreja, ficam sem sentido os
sicas, nem fundadores de Igrejas (exceto João), sua conselhos de C risto com o os registrados em M ateus
autoridade estaria na proxim idade e n tre autores e 5:23 e 24, pois, afinal, o T em plo já estaria destruído.
destinatários que reconheceriam seu caráter e seu
testem u n h o . 6 - I T im . 5:18 m enciona Lucas 10:7 com o “Es-
c ritu ra ”. Isso indica que o referido texto já estava es-
2 - E difícil su p o r que o livro de A tos ten h a sido crito e, de algum a form a, consolidado com o “Palavra
escrito depois da m o rte de Paulo, pois conta a his- de D eus”.
-----------------
q o
c >3

C O
J Você sabia? c

: Fato im portante £: Um grupo de cientistas encontrou 0 que talvez


seja a cópia mais antiga do evangelho em um
O Papyrus P52 da Biblioteca de Rylands, papiro reutilizado para construirá máscara de
conhecido como ofragmento de São João, é uma múmia egípcia. Craig Evans, um dos res-
um fragmento de papiro exposto na Biblio- ponsáveis pela descoberta, anunciou que 0 mesmo
teca de John Rylands, Manchester, Reino traz um fragmento do Evangelho deMarcos. Os
Unido. Escrito em grego e datado por volta pesquisadores acreditam que a origem do papiro
de 125 d.C., este fragmento contém parte do remonta ao século I d.C., entre os anos 80 e 90
Evangelho de João, sendo que na frente con- d.C., 0 que representa uma grande novidade.
tém partes do capitulo 18:31-33, e no verso, os Até então, as cópias mais antigas dos evangelhos
verdculos 37-38. datavam do século II em diante.

c ‫ר‬
G O
sO O r —‫׳־‬ ” ‫־־‬
c ‫׳״ ־‬C j r — —r u g ‫ב־ ״׳‬

As palavras de Jesus
De um m odo geral, acredita-se que os evangelhos
canônicos procedem de um a tradição oral aram aica e
hebraica que foi posteriorm ente traduzida para o gre-
go. Os ditos originais de Jesus certam ente não foram
proferidos em grego. Ele falava a m aior parte do tem -
po em aram aico. Sendo assim, o que os evangelhos
atuais apresentam seria um a tradução do que Jesus fa-
lou e não suas palavras originais.

A data de composição deste manuscrito é Os que defendem a hipótese da fonte Q incluem a


importante, porque muitos críticos diziam possível existência de algum docum ento escrito em
que o Evangelho de João teria sido escrito hebraico ou aram aico, mas que se perdeu ao longo
por alguém que não 0próprio apóstolo num
do tem po. Ele conteria o que os teólogos cham am de
tempo tardio do século II, provavelmente
Logia de Jesus, isto é, alguns ditos originais de Jesus,
depois do ano 130 d.C. Contudo, a descoberta
deste documento mostra que 0 evangelho pronunciados em seus discursos e ensinam entos.
já deveria ter sido escrito bem antes disso,
Alguns autores trabalham com a hipótese de que
ainda no século I, para que desse tempo de
ser copiado e estar em circulação no Egito - Jesus possuía entre seus ouvintes um a espécie de co-
.^ lugar da descoberta do fragmento. ^ . pistas ou estenógrafos, isto é, indivíduos capazes de
c ‫רן‬ acom panhar na escrita a rapidez da fala usando téc-
G p
nicas de estenografia. Em outras palavras, taquígra-
................. 1 ^ f ‫־‬T õ ‫־‬m
fos que copiaram alguns ditos de Jesus enquanto ele
discursava e, posteriorm ente, tiveram suas anotações
usadas pelos autores dos evangelhos.
to, isto é, as palavras exatas que ele falou, pode-se cer-
tam ente conhecer sua ipssima vox, isto é, sua voz exata
ou, o verdadeiro conteúdo de seus ensinam entos.
liAN È AYO>N A i A Y r‫ ׳‬vA Y N A 'l·
^ Μ« ‫י‬ , n AYU)í ΝΤΟΥΝ ο ύ

b
J Você sabia? L
c
Em Roma havia um escravo liberto chamado
MaroTúlioTiro, que trabalhou com Cícero e
inventou um sistema chamado “notas T ir one-
A .Τ Α 1^ ΓΛΝ4 N U N ‫)ך‬ anas”, a fim de poder anotar “em tempo real" ç
s T ____ ___ c "j os discursos de Cícero.
J 0
a k pY cj>«N
l ‫ " ־‬λ 01,9......................... , — Sj c q ‫ב־‬

fjAa 5 Tábuas forradas com um a camada de cera eram


2s:ooV.vycoA<jetiu coYnóÍAI AYnmqc
io y m c &comacAYamexA'f^e-ri e geralm ente utilizadas para fazer essas anotações abre-
Ίΐ ίχχε e<3ef μ h n ei a n wee* viadas, podendo ser reutilizadas assim que o trans-
"X !fn e iN MnM0Yn^<eiCMNTpeMv crito era decifrado e passado em escrita norm al para
çyme&yós <51se^N i- um a folha de papiro ou pergam inho. O problem a é
c ç r; saber até que p o n to essa prática estaria em voga no
S -
judaísm o e acessível ao m ovim ento de Jesus.
‫ ץ‬po exM n‫־‬rrtj><jne5cetc*ice«Y<^ a
^:oocnhtn JN{Ç1Nerècoií^Hrrttyr^
X e « c ^ n ^ e e r 'M t * T e f
e i €N^Mvm‫־‬NAfc\)Qfn'epcmft1ir‫־‬r e -
TTie^Y c9aníío octo HTF4kec^,a‫»־‬A. ...............
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A A c c X e e je tv n ^ r N A fφ ο ρ n e p c u t n c ‫ג‬
ΑΛΑΑγγμMTej>ocmΓτβτ13ί.ογκΐΆΥω
C m n e ^ g A A jtc r r X N e T e r N tu x M
j Fato im portante c
NTrtYTMT O TeceN A COYcÕ
E mínimo 0 número de acadêmicos que ainda acre-
dita na velha hipótese de que os quatro evangelhos,
Manuscrito apócrifo do Evangelho de Tomé
ou pelo menos alguns deles, teriam sido original-
encontrado em 1945 no Egito.
mente escritos em hebraico ou aramaico.

Essa é um a hipótese m uito difícil de ser confir- T radicionalmente, a chamada Igreja Oriental
ou Igreja N estoriana defende a originalidade de
mada. C ontudo, não deixa de ser possível. Sabe-se
um novo testamento aramaico que eles possuem.
atualm ente que o uso de estenógrafos não era algo in-
Mas 0 consenso é de que esse texto também é
com um no período greco-rom ano. A ntigos registros uma tradução do grego e não 0 que deu origem
m ostram profissionais desta área atuando desde o sé- a ele. Contudo, existe certo consenso em torno
culo II a.C. E, curiosam ente, eram escravos letrados, da hipótese de que os evangelhos atuaisforam
na m aioria das vezes, que desem penhavam esse papel. compilados a partir de várias fontes, algumas
delas em hebraico e aramaico. Também acredi-
O que se pode dizer de m ais concreto é que os ta-se que houve possivelmente uma antiga versão
evangelhos às vezes possuem trechos que denotam a judaico-cristã do evangelho escrita em hebraico/
citação de algum docum ento ou dito original em he- aramaico, mas a falta de elementos que possam
braico e aram aico, possivelm ente rem etente aos ditos fazer um lin k entre esse texto perdido e os evan-
originais de Jesus. .? gelhos atuais torna 0 tema um tanto especulativo. ^ .
c ‫ר‬
Seja como for, ainda que não se possa saber com j 0
certeza absoluta quais foram as ipsissima verba de Cris­ ... ::.............. ==‫ ־‬Ê f ^ 5 ‫־‬rfa
Semitismos nos Palavras hebraicas nos
evangelhos Evangelhos
Semitismos são certas características peculiares às lín- αμήν (amén) = ‫( א מן‬amén) - M ateus 5:18, 26; 6:2,
guas semíticas, neste caso específico, o hebraico e o ara- 5, 16; 8:10; 10:15, 23, 42; 11:11; 13:17; 16:28; 17:20;
maico. Por isso, m uitos preferem falar de hebraísmos ou 18:3, 13, 18, [19]; 19:23, 28; 21:21, 31; 23:36; 24:2,
aramaísmos que, em síntese, teriam o m esmo sentido. 34, 47; 25:12, 40,45; 26:13, 21, 34; M arcos 3:28; 8:12;
9:1,41; 10:15,29; 11:23; 12:43; 13:30; 1 4 :9,18,25,30;
No caso dos evangelhos, esses term os eqüivalem [16:20]; Lucas 4:24; 12:37; 18:17, 29; 21:32; 23:43
a certas expressões e m aneiras peculiares do idiom a
hebreu ou aram eu que ocorrem no texto grego dos βάτος (batos) = ‫( ב ת‬bat, um a m edida de quantida-
evangelhos e podem ser percebidos até m esm o nas de) - Lucas 16:6
traduções m odernas. O reconhecim ento prévio de al-
ήλ'ι (heli) = ‫( א לי‬eli, "meu Deus”) - M ateus 27:46 (2xx)
guns desses sem itism os ajuda no m om ento de se fazer
o devido uso das regras de interpretação bíblica. λαμά (lama) = ‫( למה‬lama, "Por que?”) - Mateus. 27:46

Os antigos hebreus, p o r exemplo, exprim iam m ui- σαβαχθανί (sabachthani) = ‫ש ב ק תני‬ (shevaktani,
tas vezes a qualidade ou característica de um a pessoa, “você me rejeitou”) - M ateus 27:46
utilizando não o adjetivo, mas um a expressão de
ώ σ α 1Λ‫׳‬ά (hosanna) = ‫ג א‬-‫( הו ש ע‬hosha-na) - M ateus.
filiação”, tendência essa seguida no grego do N ovo
21:9 (2xx); M arcos 11:9, 10
- estam ento. Assim, um a pessoa que tinha um a virtu -
ie ou era inclinada a certo mal era cham ada filho (a) Palavras comuns do hebraico e do aramaico
!essa virtude ou desse mal.
άββά (abba) = ‫( א ב א‬heb./aram . aba, "pai”) M arcos
“Filho da perdição” = perdido (Jo. 17:12) 14:36

“Filho da paz” = pacífico (Luc. 10:16) γέεν‫־‬να (geenna) = ‫; ג י[ א] הנ פ‬.(heb. ge hinom, "gehen-
na,” "inferno,” “Vale de H in n o m ”); ‫ ג י ה נ פ‬..(aram. gehi-
“Filhas de Jerusalém ” = hierosolim itas (Luc. 23:28)
nam, “gehenna,” "inferno”) - M ateus 5:22, 29, 30;
Não havia nas línguas semíticas a ideia de gostar 10:28; 18:9; 23:15, 33; M arcos 9:43,45,47; Lucas 12:5
de duas coisas, porém mais de um a do que da outra,
έφφαθά (ephphatha) = ‫( ה פ ת ח‬heb. hipatah, "ser
?ara eles, o am ar e o aborrecer eram usados para ex-
aberto”); ‫ חו??תא‬o r ‫( א פ ת ח‬aram. etpetah o ephtah, “ser
?ressar ideias de preferência de um a coisa à outra. De
aberto”) ‫ ־‬M arcos 7:34
igual m odo, as com parações eram geralm ente expres-
ias m ediante negações. Assim fica m ais fácil entender κορβάν (korban) = ‫( קרבן‬heb. korban, “dedicado ao
expressões com o estas: T em plo”); ‫( ק רבנ א‬aram. korbana, "dedicado ao T em -
pio”) - M arcos 7:11
“Se alguém vem a m im e não aborrece a seu pai, e sua
mãe, e m ulher e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua κορβανάς (korbanas) = ‫( קרבן‬heb. korban, “dedica-
própria vida, não pode ser m eu discípulo” (Luc. 14:26). do ao T em plo”); $«‫( קרב‬aram. korbana,“dedicado ao
T em plo”) - M ateus 27:6
“Q ualquer que a m im m e receber, não recebe a
mim, mas ao que m e enviou” (M ar. 9:37). κόρος (koros) = ‫( כד‬cor, um a m edida de quantida-
de); ‫( בורא‬Aram. cora, um a m edida de quantidade) -
O sentido da prim eira expressão é que de todos os
Lucas 16:7
bens que um discípulo possui, Jesus deveria ser o mais
precioso. Já a segunda em ite o conceito de que aquele μαμωνάς (mamonas) = ‫( מ מון‬heb. mamon, "mam -
que recebe Jesus não recebe som ente ele, mas tam - m on,” “riqueza”); ‫( מ מוג א‬aram. mamona, “m am m on,’’
bém Deus, o Pai. “riqueza”) - M ateus 6:24; Lucas 16:9, 11, 13
π ά σ χα (pascha) = ‫( פסח‬heb. pesah, “C ordeiro Pas- pQ
=‫יס‬
cal”); ‫( פסחא‬aram. pasha, “C ordeiro Pascal”) - M ateus. C
c
26:2, 17, 18, 19; M arcos 14:1, 12 (2xx), 14, 16; Lucas
Você sabia?
2:41; 22:1, 7, 8, 11, 13, 15
Mateusl2:18 diz: “Porei meu Espírito sobre ele, e
ραββί (rabbi) = ‫( רבי‬heb./aram . rabi, “rabbi,” “m eu aos gentios anunciará 0julgam entoA palavra
m estre”) - M ateus 23:7, 8; 26:25, 49; M arcos 9:5; “julgamento”(mishpat) no contexto hebreu era
11:21; 14:45 sinônimo da palavra “salvação”. Veja Sal. 89:14
“Justiça e Julgamento (salvação) são 0funda-
ραββουνεί (rabbounei) = ‫( רבוני‬heb. rabuni, “m eu mento de teu trono, 0amor e a fidelidade vão
m estre”) ; ‫(_ ר ב תי‬aram . raboni, “m eu m estre”) - M arcos adiante de ti.”Assim, 0 semitismo nas palavras
10:51 de Jesus esclarece seu ágnificado. Ele viria para
anunciara “salvação”aos gentios.
paxá (raka) = ‫( ריקה‬rekah, “em pty head”); ‫ריקא‬ c ‫ר‬
G O
(Aram, reka, “cabeça vazia”) - M ateus 5:22
GJ ‫־ס־זז‬
σάββατον (sabbaton) = ‫( ש ב ת‬heb. shabat, “Sabbath”);
‫( ש ב ת א‬hram . shabata, “Sabbath”) - M ateus 12:1, 2, 5, A narrativa evangélica:
8, 10, 11, 12; 24:20; 28:1 (2xx); M arcos 1:21; 2:23, 24,
27 (2xx), 28; 3:2, 4; 6:2; 16:1, 2, [9]; Lucas 4:16, 31; Mito ou história real?
6:1, 2, 5, 6, 7, 9; 13:10, 14 (2xx), 15, 16; 14:1, 3, 5;
C onsiderando que os evangelistas não intentaram
18:12; 23:54, 56; 24:1
escrever um a “biografia” de Jesus - no sentido m o-
σατανάς (satanas)^= '‫( שט ן‬heb. satan, “satan,” “acu- derno da palavra alguns têm concluído que essa
sador”); 0‫( טנא‬aram. satana, “satan,” “acusador”) - M a- narrativa sobre Ele não pode ser considerada histó-
teus. 4:10; 12:26 (2xx); 16:23; M arcos 1:13; 3:23 (2xx), rica. Estaria isso certo? T udo vai depender de como
26; 4:15; 8:33; Lucas 10:18; 11:18; 13:16; 22:3, 31 é com preendido esse “não com prom etim ento” do
evangelista com as norm as historiográficas usadas
σάτον ( saton ) = ‫( סאה‬heb. seah, um a m edida de atualm ente para se reproduzir um acontecim ento.
quantidade); ‫( סאתא‬aram. sata, um a m edida de quan-
De fato, não era o principal interesse dos autores
tidade) - M ateus 13:33; Lucas 13:21
bíblicos escrever os anais da vida de Cristo para deixar
σίκερα (sikera) = ‫( ש כ ר‬heb. shechar, “bebida fer- à história um legado de sua existência. Não obstante,
m entada,” “cerveja”); ‫( ש כ ר א‬aram. shichra, “bebida alguns fatores históricos e literários dem onstram que
nem M arcos, nem Lucas, M ateus ou João ficaram à
ferm entada,” “cerveja”) - Lucas 1:15
m ercê de suas próprias im aginações e devaneios bus-
P alavras aram aicas n o s e v a n g e lh o s cando criar m itologias ou lendas à sem elhança de La
Fontaine escrevendo suas fábulas.
έλω ϊ (eloi) = ‫( אלהי‬elahi, “m eu D eus”) - M arcos
15.34 (2xx) É preciso lem brar que “evangelho” é um gênero
bíblico-literário que dem anda um texto, um a teologia
χούμ ( koum ) = ‫ ( קום‬k m , “levante”) - M arcos 5:41 e um a história real. E um a narração “querigm ática”,
isto é, de proclam ação de certos feitos e ensinos de
λειμά (leima) = ftTih (lema, “p o r que?”) - M arcos Jesus escolhidos segundo o propósito de cada autor
15:34 (Cf. Luc. 1:1 - 4 e Jo. 21:24 e 25).

σαβαχθανεί (sabachthanei) = ‫( ש ב קי תן‬shevaktani ,


“você m e deixou”) - M arcos 15:34 Relatos lendários?
ταλιθά (talitha) = ‫ טליתא‬o r ‫( טלתא‬talyeta or telita, O apóstolo Paulo, que era sem dúvida um dos mais
“pequeno cord eiro /g aro ta”) - M arcos 5:41 eruditos autores do Novo T estam ento, adm itiu fra n ­
camente o problem a evangélico de seu tem po. Ele dalo constante causado pelo Jesus dos evangelhos.
cisse que pregava a um C risto que era “escândalo para Desde a ótica m oderna será talvez difícil perceber to -
os judeus e loucura para os gregos” (I Cor. 1:23). D en- dos os “atos escandalosos” de Jesus. M as, num a com -
tre os prim eiros destinatários de Paulo, havia pessoas paração com o contexto da época, torna-se claro que
altam ente intelectuais, instruídas na filosofia grega, n enhum a u to r do passado, intencionado em produzir
cue era o suprassum o cultural daqueles dias. um m ito, preservaria as ocorrências que os evange-
lhos apresentam . Veja alguns exemplos:
Sua admissão, no entanto, pode ser um grande
argum ento a favor da historicidade dos evangelhos. Os discípulos (que seriam líderes da Igreja C ristã
O tto B orchert, falecido teólogo alem ão, usou esse p rim itiva) são apresentados com o in d ivíduos com
‫ ־‬rincípio da loucura e contradição para argum entar m uitas falhas de caráter, in co n stan tes, precisando
porque os evangelhos são docum entos confiáveis. sem pre ser rep reendidos. P o r que p e rm itir que tais
Tudo se resum e num a questão única e factual: Quais elem entos v e n h a m ao co n h ecim en to do público?
são as características de um a obra lendária? Ora, le- Se os apóstolos q ueriam apenas su ste n tar sua capa-
vando-se em conta que o questionam ento de hoje não cidade de liderança do gru p o , não haveria po rq u e
e historicidade de Jesus, mas, sim, se ele fora de fato p e rm itir que seus defeitos fossem assim apresen ta-
iquilo que a Bíblia diz que ele era, é im portante en- dos sem a m e n o r cerim ônia. P edro n egando C ris-
:ender po r “lendária” um a referência àquelas biografias to, T o m é duvidando de sua ressurreição, T iago e
mitológicas que transform am o sujeito de m ero m ortal João pedindo autorização p ara d e stru ir um a cidade.
i semideus com poderes sobre-hum anos. E p raticam en te todos a b a n d o n an d o -o no m o m e n to
Em outras palavras, Jesus era realm ente aquele su- da cruz.
rito form idável que os evangelhos apresentam ? Ou
Pior que isso era a apresentação em detalhes da
esses textos seriam apenas o Photoshop de um rosto
crucifixão de seu M estre. A cruz hoje pode até ser
:om um sem nen h u m atrativo em especial?
um objeto sagrado para grande parte do cristianism o.
Ninguém questiona que a prática de “maquiagem bio- Porém , nos tem pos do im pério rom ano, era a form a
gráfica” era algo bastante comum na literatura antiga. O m ais vexatória de alguém ser m orto. A palavra crux
ronto é saber se os evangelhos também seguiram por esse (cruz em latim ) foi usada p o r algum tem po com o um
zaminho. Uma m era leitura das biografias “encomenda- xingam ento pelos rom anos e até os judeus conside-
:as por antigos líderes revela a prática de um a série de ravam m aldito aquele que m o rria no m adeiro (Deut.
riogios sutis, mesclados a certas descrições nada modestas 21:23 eG ál. 3:13).
icerca de determinado “herói”. E o caso da famosa Vida de
Zonstantino, escrita por Eusébio no século IV, ou a Vida de Se a intenção fosse a tra ir os que gostam de es-
Zaúdio, escrita por Díon Cássio, no século III. cândalos ou fossem politicam ente in co rreto s, os
evangelistas deveriam m odificar o relato da m o rte
São todas verdadeiros panegíricos de louvor aos
de C risto ou, pelo m enos, ocultar o m odo com o ela
:eitos do biografado, escondendo ao m áxim o seus
ocorreu. U m revolucionário m á rtir que tirasse a
.‫־‬exames e suas fraquezas. Em bora sejam histórias de
tranqüilidade de C ésar seria respeitado se m o rre s-
personagens reais, devem ser avaliadas com certo ce-
se decapitado, esfaqueado, envenenado, picado p o r
dcism o devido ao seu próprio conteúdo político que
um a serpente ou, principalm ente, n u m a batalha,
i e nega um a im parcialidade no relato.
com o alguns entendem poderia te r sido o caso de
Bar K ochba, um p reten so M essias, que se rebelou
O escândalo dos co n tra o im p erad o r A driano. A cruz era reservada
evangelhos p ara escravos, pobres ou ladrões de pequena im p o r-
tância. Em outras palavras, a m o rte de Jesus nem
E po r que os evangelhos não podem ser incluídos pod eria ser classificada na conta de um m á rtir res-
nessas biografias tendenciosas? Por causa do escân­ peitado. (M at. 26:37; Luc. 12:50).
0 dram aturgo Sêneca (4 a .C -6 5
d.C.) escrevendo a seu am igo Luci-
lius argum entava que preferia 0 sui-
cídio à m orte de cruz. (Epístola 101).
A ssim , a ênfase que os evangelhos
dão à cruz de Cristo - João diz que
ali ele fo i glorificado - não faz ne-
nhum sentido, a m enos que fosse
h istória real. Pois uma propaganda
biográfica tra ria coisas acerca de
Cristo que agradariam às m ultidões.
E não era esse 0 perfil do Cristo que
os judeus esperavam ou que os não
judeus aceitariam de bom grado.

Cicero, numa defesa que fez no ano


63 a.C., um senador rom ano cham ado
Rabirius, disse:
"C‫׳‬h! Quão grave seria ser desgra-
çado publicam ente por uma corte, quão
grave seria sofrer um castigo, quão
grave seria ser banido. M esm o assim ,
ainda em m eio a um desastre, gozaria-
mos certo grau de liberdade. M esm o se
form os condenados à m orte podem os
m orrer como hom ens livres. M as [...] a
sim ples m enção da palavra 'cruz‫ ׳‬deve-
ria ser rem ovida não apenas da pessoa
de um cidadão rom ano, mas até mesm o
de seus pensam entos, olhos e ouvidos.
[...] A sim ples menção dela é um des-
respeito a qualquer cidadão rom ano ou
hom em livre." (Rab. Perd. 16).

Sêneca, (4 a.C - 65) foi um dos mais célebres


advogados, escritores e intelectuais do império romano
S£L
Jesus humano Ü a.
77
c
c
Com o se não bastasse a vergonha de m o rre r cru-
cificado, os m om entos finais de Jesus envolvem dois
Faío im portante
elem entos desconcertantes na biografia de um herói: Ottfro aspecto a ser considerado sobre a historiei-
a relutância e o m edo que ele dem onstrou. Jade dos evangelhos, seriam as contradições dos
relatos. Se fosse uma propaganda intencional, elas
Jesus, em bora submisso, não parece aceitar na- deveriam ser corrigidas, senão na compilação dos
turalm ente o destino que lhe estava reservado. Tal textos, pelo menos ao longo dos anos pelos copistas.
Mas foram estranhamente preservadas. Nenhuma
com portam ento contrasta com o fam oso m artírio de
manifestação houve para harmonizá-las alteran-
Sócrates. O filósofo grego, na h o ra de m o rrer, b rin -
do dramaticamente 0 conteúdo dos evangelhos. Isso
ca com a p rópria sorte, até parece ansiar p o r aquele demonstra que nada fo i “editado”com o fim de
m om ento! Jesus, por sua vez, encontra-se apavorado minimizar posúveis desconfianças.
d
e não esconde sua angústia ao dizer: “Pai, se possível
‫ר‬
afasta de m im esse cálice”. O

N ote que os evangelhos não om item o m edo e a TT^‫־‬


relutância hum ana de C risto. Eles descrevem a an-
gústia de seu M essias em cores vivas, m esm o que isso
soasse um a covardia para quem lesse ou ouvisse o
Super Jesus?
episódio. Odisseu dizia dos grandes heróis que, ainda
U m a com paração com as tendências da época,
que fossem perseguidos pelos deuses, não tem eriam conform e a compilação de O tto B orchert36, m ostra
nada, nem vacilariam diante da m orte. Sófocles dizia com o deveria ser um “h eró i” fabricado para agradar
que os nobres m o rrem gloriosam ente. o gosto das m ultidões e seu contraste com o Cristo
descrito nos evangelhos.
Enfim , um Jesus C risto judeu que, em pleno
O riente M édio do século I, conversa com m ulheres
de vida duvidosa, to m a criancinhas no colo, m an- ü
da to le ra r os ro m an o s e m o rre v e rg o n h o sa m en te
num a cruz era um grande escândalo. Esses e o u tro s
detalhes de sua vida fo rm ariam um a pro p ag an d a
mais repulsiva que atrativa, do p o n to de vista po-
lítico-ideológico.

Logo, não é possível concluir que os autores do


Novo T estam ento, em especial os evangelistas, es-
tivessem intencionados em “fabricar” um a im agem
atrativa de Jesus apenas para angariar a sim patia do
grupo. E veja que não se tratava de criar um a im a-
gem politicam ente incorreta com o fim de atrair pelo
escândalo, pois o C risto dos evangelhos tam bém não
possuía n enhum a característica revolucionária que se
identificasse com grupos radicais ou pessoas de m en-
te rebelde.

Era, enfim, um a imagem autêntica e não um perso-


nagem criado para alim entar determ inado setor social.
SEGUNDO OS PADRÕES DA ÉPOCA, 0 QUE UM
HOMEM DEVERIA FAZER (OU EVITAR) PARA SER 0 QUE 0 JESUS DOS EVANGELHOS FEZ:
CONSIDERADO 0 HERÓI DE UM MOVIMENTO

Homero dizia que um homem magnânimo deve Jesus ensinou que quem quisesse ser 0 primei-
ser sempre 0 primeiro e estar antes dos demais. ro, que se tornasse 0 último (Mat. 9:35).

Aristóteles disse que um homem de mentalidade Jesus ensinou que 0 maior deve ser aquele que
elevada, não se acanha de receber grandes coi- serve aos demais: Luc. 22:27 e Jo. 13:4ss. Em ou-
sas, principalmente se a honra vier de homens de tra ocasião referiu-se a si mesmo como jamais
prestígio, pois ele sabe que é merecedor delas. recebendo a honra que vem dos homens: Jo. 5:41.

Ainda em Aristóteles, neste ponto seguido de


uma canção de Horácio, temos a prescrição de Jesus várias vezes aceitou homenagens de pes-
que um homem de mentalidade elevada, não se soas simples e de perfil moral duvidoso. Exem-
permite receber homenagens da população mais pios: Zaquel, 0 ladrão; Maria, a mulher adúltera
simples, pois isso não é bom para sua reputação em casa de Simão; os pobres de Jerusalém, du-
de sábio. Já dizia Horácio odi profanum vulgus rante sua entrada triunfal na cidade. Veja Lucas
etarceo ("odeio a populança e a conservo longe 15:1-3.
de mim").
!
------------ ------------------------------------------------------ -

Um filósofo sábio, segundo a cartilha aristoté- Jesus contava parábolas que 0 povo entendia e
lica, deve falar a verdade com clareza para os os mestres religiosos não. Veja: Mat. 9:29; 11:5,
doutos e com ironia para a população inculta. 25; Jo. 7:49.

Teognis sugere que se um médico recebesse


dos deuses 0 poder de operar curas, deveria ti- Que diríamos do episódio em casa de Zaqueu, 0
rar proveito disso e, para a preservação de sua publicano? 0 próprio Mateustambém era um co-
imagem, nunca tentar a recuperação de um ho- brador de impostos detestado por todos.
mem imoral ("não se pode reformar um vilão").

Jesus ensinou os discípulos a não revidarem 0


mal que lhes era feito pelos romanos e, ao ser
Voltando a outra máxima de Aristóteles, este ainda
ele mesmo vítima deste mal, agiu de igual manei-
diz que só um homem estúpido aceitaria os insul-
ra. Aceitou até mesmo 0 beijo de Judas que era
tos e ensinaria seus discípulos a fazer 0 mesmo.
0 pior insulto que se podia suportar. Jo. 8:1 e 23;
Mat. 5:43-48.

Jesus várias vezes pediu sigilo daqueles a quem


Por fim, Aristóteles dizia que 0 sigilo é conheci- curou. Por isso Marcos é considerado 0 evan-
do apenas dos medrosos. gelho do Messias sigiloso. Veja ainda Jo. 8:59;
12:36.
M esm o em face a esses e outros escândalos, os com m aterial sintético. C om esse m olde, a face do
evangelistas não cederam nem à om issão desses deta- contem porâneo de Cristo com eçou a ser delineada.
lhes, nem à distorção de com o tudo aconteceu. Algo Os olhos, os lábios, o queixo. Então, finalm ente, ca-
realm ente estranho para um a obra, caso esta não ti- m adas de argila foram usadas para form ar os traços
vesse um a fidelidade histórica para com aquilo que do rosto, com o nariz, queixo e bochechas.
estava narrando.
O resultado foi um rosto nada similar às figuras e ico-
nes tradicionais do cristianismo. Um Jesus, como disse
O rosto de Jesus o teólogo Joseph James, bem difícil de ser aceito. Mas
a despeito da seriedade do estudo e do sensacionalismo
M esm o para aqueles que não se reconhecem com o da mídia, é im portante m encionar, conform e admissão
cristãos, a figura de Jesus de Nazaré ainda é, sem dú- do próprio professor Neave, que essa tentativa forense
vida, um a das m aiores personalidades da história. tam bém possui suas limitações. Questões como cor da
Seus extraordinários feitos, hoje, levam pelo m enos pele e dos olhos, form a e tam anho do cabelo e certas car-
dois bilhões de pessoas a se dizerem - ainda que no- tilagens exteriores são fruto exclusivo da imaginação do
m inalm ente - seguidoras de sua doutrina. especialista, o que torna o resultado parcialmente artís-
tico e não 10096 científico como se supõe.
R ecentem ente um a pergunta de cunho confessio-
nal tem se tornado objeto de estudo de alguns cientis- Ademais, ele usou um crânio qualquer de um judeu
tas ao redor do m undo: Qual teria sido a fisionom ia que se supõe ter vivido nos tem pos de Cristo, mas ain-
de Jesus Cristo? Com o ou com quem ele se pareceria? da que assim o seja, o crânio usado como modelo pode
Seria alguém belo pelos padrões de nossa época? m uito bem ter sido o crânio de alguém como Barrabás,
Judas, Simão Pedro, José de Arimateia, enfim, qual-
Em 27 de m arço de 2001, foi divulgada pela BBC
quer um dos contem porâneos de Cristo, e isso, por si
de Londres a notícia sobre um a pesquisa feita com
só, desfaz a conclusão de que tem os em m ãos a recons-
ajuda de sofisticados com putadores e a impecável
trução exata do rosto do filho de Deus, a não ser que
coordenação de R ichard Neave, um dos m aiores es-
aceitemos a tese, nada coerente, de que todos os judeus
pecialistas em reconstituição facial do m undo.
do tem po de Jesus eram extrem am ente parecidos entre
Seu m aior fascínio, como ele m esm o adm itiu, é re- si, quase como irm ãos gêmeos uns dos outros. Algo, é
constituir rostos de pessoas que viveram na Antiguida- claro, com pletam ente sem sentido.
de. Um de seus mais curiosos trabalhos foi a reconstru-
ção do rosto de Luzia, um a m ulher convencionalm ente
considerada pré-histórica que, segundo a opinião de
Visão europeia de Cristo
alguns, teria vivido no Brasil acerca de 11.500 anos.
De qualquer m odo, os traços característicos da
No entanto, Neave tin h a um novo desafio: desco- época tam bém to rn am quase nula a possibilidade de
b rir com o seria o rosto de Jesus de Nazaré. Para estu- Jesus ser fisionom icam ente com o a tradição o com -
dos dessa natureza, Neave evidentem ente se basearia pôs, em outras palavras, seu rosto teria pouco ou qua-
no crânio do indivíduo. M as com o não tem os os os- se nada a ver com o que a cultura e a arte eclesiástica
sos de Jesus, afinal ele ressuscitou dentre os m ortos, im puseram ao longo dos anos. Jesus definitivam ente
alguns arqueólogos israelenses tiveram a ideia de en- não seria um hom em esguio, caucasiano, de cabelos
viar para o especialista um crânio do século I retirado loiros, m uito m enos de olhos azuis.
de um antigo cem itério p erto de Jerusalém .
O que pouca gente sabe é que grande parte dos
A p a rtir daí, a técnica em pregada foi a m esm a uti- quadros clássicos de Jesus eram feitos com base num
lizada em 1999 para reconstituir o rosto de Luzia. O program a de im itação dos perfis greco-rom anos, que
crânio em questão foi subm etido a um a tom ografia foram por m uito tem po reconhecidos com o o padrão
que prop o rcio n o u im agens tridim ensionais que, p o r m undial da beleza em detrim ento a todas as demais
sua vez, serviram de base para fazer um novo crânio culturas do planeta.
C ontudo, até m esm o esse padrão era “adaptado” e compassiva, o que, é claro, são realm ente atributos
para se to rn a r o m ais próxim o possível das feições fi- do Salvador. M as do ponto de vista histórico, ainda
sionôm icas da fam ília real francesa, especialm ente a estariam m uito distantes do biotipo judaico dos tem -
p a rtir de Luís XIV. Afinal, até que eclodisse a Revolu- pos de Jesus.
ção em 1789, aquela era a m onarquia que m ais tro u -
xe tran sto rn o s ao catolicism o europeu. A tendência n s ,0,0■ -C.Q..LP
forçada de retrata r C risto com o um m em bro da corte
francesa era um a form a de dizer que “a Igreja ainda
pertencia ao Rei de França”.
Você sabia?
N âofoi por mero capricho ou somente para
U m pouco antes da Segunda G uerra M undial, ou- dar uma dose maior de humor à sua obra que
tro m ovim ento se difundiu na A lem anha que com e- Ariano Suassuna, em “O Auto da Compade-
çava a abraçar os ideais nazistas de governo. O teó- cida”, apresentou um Jesus negro, causando
logo e político nacionalista Paul A nton de Lagarde impacto, e até mesmo risos nas platéias e nos
passou a divulgar na A lem anha a tese de que Jesus leitores de modo geral. Seu objetivo era, sem
tin h a sido um judeu ariano da Galileia, perseguido e dúvida alguma, quebrar 0estereótipo do Jesus
O inteiramente europeu.
sacrificado p o r judeus semitas da Judeia.
c
C
Ele procurava com isso convencer seus com pa-
triotas de que Jesus não podia descender de um povo -g jX ^ T C
sem ita do deserto, culturalm ente pobre, de pele m o-
rena, olhos escuros e nariz achatado. A ntes, ele deve-
ria p ro v ir de um a raça superior com o dos nórdicos, η,.,,Γ Ο
cujas características faciais exibem traços nobres e
bem delineados, pele clara, olhos e cabelos castanhos.
J Fato importante L
Esse m ovim ento nacionalista, envolvendo um va- 0 mais famoso quadro de Cristo fo i pintado
lor religioso de profundo significado para a fé popu- por Warner Sallman em 1941. Esta obra já
lar foi um dos precursores do nazism o de Hitler, que vendeu mais de 500 milhões de cópias em todo
propagou um a das m ais vergonhosas e sangrentas ex- 0 mundo. Aqui vê-se retratada a percepção
term inações raciais de toda a história. mais amplamente aceita de um homem belo
conforme os padrões ocidentais.
Seja como for, nestes e em outros exemplos que po-
deriam ser dados, o Ocidente term inou idealizando um A Segunda Guerra Mundial e a conseguinte
Cristo que se parecia com tudo, m enos com um judeu Guerra Fria também contribuíram para a di-
do século I. U m hom em de rosto meigo, quase femini- fusão da obra intitulada “A Cabeça de Cristo”.
Algumas organizações religiosas distribuíam
no, cabelos lisos, pele clara, olhos azuis e lábios finos.
aos soldados que partiam dos EUA para a
U m rosto, enfim, sublime, de todos o mais sublime: o
Europa e a Ásia versões de bolso da imagem.
mais belo retrato m asculino na visão ocidental. Assim, milhões de cópiasforam levadas para
as mais diferentes partes do mundo.
As Igrejas, é claro, sem pre se valeram dessa arte
p ara aproxim arem -se dos fiéis. E para isso, tiveram Sallman alcançou tanta popularidade que
sem pre os mais renom ados artistas de todas as escolas mesmo alguns protestantes, que histórica-
e de todas as épocas trabalhando em tem plos, cate- mente têm resistência ao uso de imagens,
drais ou em quadros clássicos que tivessem algum a contavam com um exemplar de seu quadro em
ligação pedagogia ou litúrgica com a fé. suas casas ou nas salas de evangelização das
O crianças. Dizem que ele criou um verdadeiro C
R econhecidam ente, m uitas dessas gravuras popu- c “imaginário coletivo". ‫ר‬
lares evocam um a resposta em ocional da m aioria das C 0
pessoas, pois elas veem ali um a figura suave, am orosa ü 6 ‫ג‬ uO U
Uma falsa descrição ou toque. (...), é um hom em alto, bem m odelado (...)
seu cabelo é da cor do vinho, desce ondulado sobre
de Cristo os om bros; dividido ao m eio, ao estilo nazareno. (...)
Barba abundante, da m esm a cor do cabelo; [.‫ ] ״‬as
Circula pela in te rn et o conteúdo dessa antiga carta m ãos, finas e com pridas; olhos claros, [plácidos e bri-
latina escrita p o r um certo Públius Lêntulus, que des- lhantes]. (...) A firm a publicam ente que os reis e es-
creve a fisionom ia de Jesus. Esse suposto autor seria cravos são iguais perante D eus”.
um "oficial de R om a na província da Judeia no tem po
de T iberius Caesar” . O núcleo essencial do docum en- A verdade dos fatos, no entanto, é que não exis-
to é este: te na história nen h u m governador de Jerusalém ou
procurador da Judeia cham ado Públius Lentulus. O
"Apareceu na Judeia um hom em de v irtude singu-
único Públius Lêntulus registrado em docum entos
lar, cujo nom e é Jesus C risto, a quem os bárbaros es-
rom anos viveu no prim eiro século a.C.
tim am com o profeta, m as que seus discípulos am am
e adoram com o se fosse a geração do Deus im ortal. Além disso, um procurador rom ano não escreve-
Ele cham a os m ortos para que saiam das sepulturas ria cartas para o senado com o parece vir na in tro d u -
e cura toda sorte de doenças com um a única palavra ção, m as diretam ente para o im perador. Fora o fato de
que algumas expressões usadas no texto com o “profe- velho do que pensaríam os em relação a um indivíduo
ta da verdade”, “filhos de hom ens” e “Jesus C risto” de hoje com 20 ou 30 anos.
não seriam jamais típicas de um escritor rom ano. São
Alguns - de posse da profecia de Isaias 53 - pen-
idiom atism os do hebraico tom ados diretam ente do
sam que Jesus não seria belo. Ali é dito a seu respeito:
N ovo T estam ento.
“Porque foi subindo com o renovo perante ele, e como
O excelente trabalho do teólogo alem ão E rnst V on raiz de um a terra seca; não tin h a beleza nem form o-
D obschutz publicado em 1899, m ostra que havia al- sura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência
gum as cópias circulando já na Idade M édia, e ela cer- nele, para que o desejássemos.” C ontudo, é m ais pro-
tam ente seria um a clara falsificação medieval. vável que esse texto se refira não ao seu aspecto nor-
mal, mas ao estado em que ele estaria no m om ento da
cruz, com pletam ente desfigurado, causando repúdio
Como seria Jesus? a todos que o contem plassem .

A Bíblia não traz em n enhum a parte algo que Sendo já um hom em feito, sua barba e bigode pro-
poderia ser um “retrato falado de C risto”. Porém , se vavelm ente seriam m uito m ais cheios e m enos apara-
aliarm os sua leitura às inform ações arqueológicas dos. Bem diferente dos quadros em geral. De acordo
disponíveis acerca do povo judeu, é possível encon- com a lei judaica, os hom ens eram proibidos de apa-
tra r poucas, porém razoáveis possibilidades. rarem pelos da face. Isto está em Levítico 19:27 que
diz: “Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos
Em p rim eiro lugar tem os a inform ação de que
da vossa cabeça, nem danificareis as extrem idades da
ele, em bora tivesse nascido em Belém da Judeia, foi
tua barba.” O m otivo de tal proibição talvez esteja no
criado na Galileia. Em outras palavras, era inques-
fato de que alguns povos pagãos costum avam cortar
tio n av elm en te sem ita.
a barba e oferecer aos deuses - algo que Deus proibiu
O ra, esses povos, que naquele tem po habitavam o Israel de praticar.
sul do M editerrâneo, eram predom inantem ente dis-
Ademais, os egípcios costumavam cortar ou tosquiar
tintos dos gregos e rom anos pela cor azeitonada de
suas costeletas, como pode ser visto nos sarcófagos das
suas peles; pelos olhos de azeviche, isto é, trem enda-
múmias e nas representações das divindades nos monu-
m ente negros; pelo cabelo escuro; pelo nariz arquea-
mentos. Mas os hebreus, para se separarem das nações
do e pela estatura m ediana.
vizinhas, ou talvez para colocar um fim a alguma supers-
E preciso tam bém levar em conta que Jesus de Na- tição existente, eram proibidos de imitar essa prática.
zaré foi um carpinteiro - um ofício que Ele aprendeu
Até hoje é possível ver esse costum e em m eio a
trabalhando ao lado de José. O trabalho m anual duro
judeus ortodoxos, que não cortam a barba e, especial-
envolvia não a fabricação de m óveis, com o m uitos
m ente, os cabelos que cobrem as têm poras.
supõem , mas o corte de pedras e de m adeiras para a
construção de casas. Por isso, as m ãos de Jesus deve- Em term os de tem peram ento, Jesus deveria ser
riam ser bem calejadas e seu físico típico de um traba- um a pessoa m uito carismática, pois até as crianças
lhador braçal. Só o fato dele conseguir ainda carregar - que não tinham na época as m esm as liberdades de
a cruz po r um tem po, depois de um a noite inteira de hoje - se sentiam à vontade para co rrer até ele. O
to rtu ras e sofrim entos, dem onstra um a considerável m esm o se pode dizer de m ulheres que não ousariam
força física. se dirigir a um hom em com um em público, principal-
m ente não sendo parentes próxim as dele.
E m bora Jesus possivelm ente gozasse de boa saúde,
a expectativa de vida entre os hom ens pobres da classe Algumas de suas parábolas têm um estilo bastante
trabalhadora estava na faixa dos 35-40 anos. Isso por próxim o ao h u m o r sapiencial da época, o que signifi-
causa dos rigores do trabalho pesado e do calor caus- ca que alguns de seus exemplos eram irônicos e puxa-
ticante do sol. Por causa desses fatores, a aparência vam risos do auditório. A m enção da im agem de um
de Jesus provavelm ente seria a de um hom em mais camelo passando no fundo de um a agulha realm ente
fez o auditório sorrir, em bora tal h um or, é claro, não ja diante de Rom a, fez com que as m anifestações ar-
deva jamais ser confundido com anedotas sem sen- tísticas do novo m ovim ento fossem bastante tím idas,
tido, mas com o elem ento didático para deixar um a em bora bonitas p o r sua simplicidade.
lição de m oral ao grupo.
Assim, im agens de âncoras e peixes mescladas com
Porém , se o m om ento exigisse, Jesus poderia im e- cenas bíblicas com o Daniel na cova dos leões ou o sa-
diatam ente se to rn a r enérgico com o quando m unido crifício de Isaque com eçaram a lotar as paredes das
de um chicote expulsou os vendilhões do Tem plo. Em prim eiras catacum bas cristãs de Rom a. U m a das mais
outras situações, ele se to m av a melancólico e chorava, famosas retrata os três hebreus na fornalha ardente.
como no caso da m orte de seu amigo Lázaro. Esta é um a boa ilustração da sim plicidade dos prim ei-
ros traços artísticos do cristianism o.
M as talvez o mais interessante de sua personali-
dade é que ele não tem ia dem onstrar emoções, ria A figura de Cristo dem orou um pouco para apare-
quando necessário, chorava se preciso fosse e adm itia cer. Ela veio a princípio com o tentativa não de des-
0 m edo que estava sentindo no G etsêm ani. Ele não crever o seu rosto, mas de dem onstrar o que ele dizia
era falso em seus sentim entos, ele os vivia no mais ser. É o caso da figura do Bom pastor, extraída do dis-
exato grau de sua realidade hum ana. curso de Cristo quando disse: “Eu sou o bom pastor,
que dá a vida p o r suas ovelhas” (Jo. 10:11).

O testemunho das D epois vieram ou tras cenas com o a ressurreição


de Lázaro e a últim a ceia de Jesus. C uriosam ente, até
catacum bas o início do século V, praticam en te não o correram
representações artísticas da cruz ou da crucificação.
A história revela que os prim eiros cristãos perse- Os p rim eiro s cristãos pareciam pouco inclinados a
guidos p o r Rom a, logo depois do período apostóli- destacar v isualm ente a m o rte h u m ilh an te do Filho
cos, costum avam desenhar nas paredes das catacum - de Deus, p referin d o retratá -lo em vida com o am igo,
bas gravuras que ilustrassem sua fé. Suas pinturas são se n h o r e p ro te to r.
chamadas de arte paleocristãs.
Foi som ente a p a rtir dos tem pos bizantinos que
As im agens de Jesus são raras, talvez para evita- com eçou-se a explorar mais as feições faciais de Cris-
rem qualquer tipo de aparência de idolatria. Ademais, to, com o se vê num desenho do século IV, pintado
a pobreza da m aior parte dos m em bros, naqueles idos na catacum ba de Com m odilla em Rom a. Ali Jesus já
de perseguição, e a situação de m arginalidade da Igre­ aparece com barbas e cabelos longos.
Porém , é im portante ressaltar o testem unho de C orrendo para o acam pam ento de sua tribo (os
Ireneu de Lion, um escritor da igreja que viveu no taamireh), ele cham ou um adulto e o levou até o local
século II d.C. e que estaria m uito m ais próxim o das do achado, na esperança de que se tratasse de um gran-
fontes apostólicas. Ele relata em seu livro Adversus de tesouro. Juntos eles escalaram a parede (pois a fenda
Haereses que já em seu tem po havia tentativas de re- ficava num escorregadio terreno na ponta do platô) e
tra ta r corpoream ente Jesus, mas que todas as im agens se surpreenderam ao encontrar dentro da gruta gran-
eram falsas. des jarros de barro com tam pa, o que aum entou a ideia
C onfirm ando essa declaração, tem os a opinião ca- de ouro ou pedras preciosas.
tegórica de A gostinho de H ipona que no começo do
Para sua frustração, no entanto, o que encontra-
século V escreveu: “ignoram os com pletam ente” o as-
ram nos potes eram im ensos rolos de m anuscritos en-
pecto físico de Jesus. Isso está em seu tratado sobre a
voltos em tecido. Alguns dizem que eles venderam os
d o utrina da Trindade.
vasos (sete ao todo) para um com erciante em Belém,
que chegou a enfeitar sua loja com os antigos perga-
m inhos. O utros já afirm am que foi para um sapatei-
ro cristão sírio que os com prou com o fim de usar o
couro no rem endo de sapatos. Seja com o for, ao que
Q
c parece, alguns m em bros do grupo perceberam que os
O V o c ê S a b ia ? C m anuscritos poderiam ser valiosos para colecionado-
T alvez 0 motivo pelo qual Deus não fo i tão res e investigaram po r conta p rópria outras cavernas
claro em revelar detalhes da fisionomia de em busca de novos pergam inhos. Até que finalm ente
Jesus épara que ele seja hoje aquilo que deve foram presos pelo D epartam ento de A ntiguidades da
ser: um Jesus de todos, com característica de Jordânia que proibia escavações clandestinas. O Es-
negros, brancos, pardos, amarelos. Um Jesus tado de Israel (reconhecido form alm ente apenas em
que realmente se identifica com 0 ser humano
14 de m aio de 1948) só ocuparia a C isjordânia após a
como ele é. Essa é a única form a de entender-
guerra dos Seis Dias em 1967, po r isso a região ainda
O moso rosto de Deus. c
estava sob dom ínio da Jordânia.

77*
a Sh THJ C om as pistas dadas pelos beduínos e a ajuda dos
arqueólogos da École Biblique de Jerusalém , da Ame-
rican School of O riental Research (hoje A lbright Ins-
titu te o f Archaological Research) e do Archaeological
M useum o f Palestine (hoje Rockefeller M useum ), 11

O Messias do Mar Morto grutas foram descobertas, pesquisadas e catalogadas


com o contendo m anuscritos antigos. E ntre os rolos
O achado dos fam osos m anuscritos do M ar M or- havia m uitas cópias de textos do A ntigo Testam ento,
to foi a m aior descoberta arqueológica relacionada ao datadas de aproxim adam ente 300 anos antes de Cris-
contexto da Bíblia Sagrada. T udo aconteceu p o r volta to .37 Além disso, cópias de vários tratados judaicos
de 1947, quando, segundo um a das m uitas versões, que circulavam nos dias de Jesus foram tam bém en-
um garotinho beduíno cham ado M uham m ed A hm ed contradas nas diversas grutas que há na região.
el-H am ed (conhecido com o “edh-D hib,” o lobo) saiu
à procura de algumas cabras perdidas e se deparou Em bora nen h u m dos textos até agora encontrados
com um a gruta na região de Q um ran que fica próxi- m encione qualquer coisa sobre Jesus, essa coleção de
m a ao M ar M orto, no sul da antiga Judeia. C urioso, m anuscritos lançou m uita luz sobre o judaísm o anti-
ele jogou um as pedras dentro da fenda (talvez para go. Graças a eles, é possível saber o que m uitos judeus
verificar se os anim ais estivessem lá dentro) e o que do século I pensavam acerca do fim do m undo e da
ouviu foi o barulho de jarros se quebrando. chegada do Messias.
jrJ2.
Que dizem os
O
‫כ‬ manuscritos?
Você sabia? Os mais recentes estudos sobre os m anuscritos do
Embora tenha se tornado uma voz isolada no M ar M o rto m inaram a convicção an terio r de que não
mundo acadêmico, 0professor Peter T hiede, havia expectativa m essiânica em Israel nos tem pos de
especialista em paleografia, afirmou que mi- Jesus. Por outro lado, a descoberta desses m anuscritos
núsculos fragmentos encontrados na caverna 7 revelava um a pluralidade de interpretações m essiâni-
de Çhimran seriam partes de uma antiga cópia cas no judaísm o antigo que até então não se im agina-
do Evangelho deMarcos. O assunto se tomou va que houvesse. Alguns textos fazem supor a espera
polêmico e, atualmente, caiu em esquecimento. não de um , mas de dois (ou talvez três) M essias, ao
Mas, caso sua tese se confirme, então teríamos m esm o tem po. U m no ofício de rei ou príncipe, outro
outro achado surpreendente que seria a presença
de sacerdote e provavelm ente um terceiro no ofício
de material cristão em meio à biblioteca judaica de
de profeta ou m ilitar 38.
Qumran. Uma conclusão inequívoca, no entanto,
contínua sendo apenas um sonho acalentado. Há textos, no entanto, que parecem aludir à ex-
e
c pectativa de apenas um M essias vindouro. E ntre seus
‫ר‬
G ò títulos tem os: Príncipe da Congregação, O Eleito, a
‫־‬U t r Sh Raiz de Davi, o Cetro.

Grutas de Qumran, nas pro;


foram descobertos os
Apesar disso, a m aioria dos autores fala não de um , Estas três figuras deveriam aparecer no tem po de-
m as de dois M essias em Q um ran. Os que entendem term inado pela profecia e a com unidade preparava-se
três se baseiam num a interpretação alternativa do para recebê-las. Isso é o que se deduz, po r exemplo,
“M anual de Disciplina” ou “R egra da C om unidade” de um docum ento encontrado n a gruta 4 conheci-
do com o Testimonia, que seria um a coleção de textos
(IQ s), que fala do preparativo dos fiéis que deveriam
bíblicos, elencados para p rovar um a tese ou ensina-
viver sob disciplina “até que venha o profeta e os M es-
m en to 40. Nele, cinco passagens bíblicas são organi-
sias de A rão e Israel” (Col. 9, linha l l ) 39. Neste caso,
zadas em quatro seções, para evidenciar as atividades
o profeta tam bém é entendido com o um M essias ao divinas no tem po do fim. Apenas a últim a seção traz a
lado dos demais, um a vez que os três eram norm al- citação de um apócrifo conhecido com o Salmo de Jo-
m ente ungidos para o cum prim ento de seu ofício (Êx. sué (tam bém encontrado em 4Q379), que é acompa-
29:29; I Sam. 16:13; I Re. 19:16; Sal. 105:15). nhado de um brevíssim o com entário interpretativo.

‫ו* י פ י נ י ח ן י׳‬11*‫׳׳׳יפיגי י‬ .,V ‫נ ^יוז ץ‬


.‫יי‬ tj
\ W , l aani <‫לאווגצר״‬£
w *‫גיזן‬1 ‫זזי״גד א ׳»ז י<^ יא‬ ‫ י י א‬1‫יטג ן‬ vj
‫ג‬ ‫^ אוג‬ ^‫ו* גו־יייזי ■יר‬1.31 ‫* ח ץ‬

ò y s \> > v \ ‫בד‬


V ‫*ייי׳ ויבמואוגן‬
!‫א צ י * ג׳ן‬ ‫א ^ ר‬ ‫א‬ ‫ ו ו‬1 ‫ני ־ א‬ ‫ » ך ך‬1^ < ‫ ץ ו ׳‬. ‫^ ! ץ ו‬ ‫ ד‬λ Α μ ‫\ך‬

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‫^יי־ א^ו*ו* י י‬-‫ צ‬. ‫בו*<ג‬ n m 1 t w o 1 *pií‫ ׳‬w1 ‫י ג ׳ ץ ן ל ו‬
‫ ר‬1‫ תגופ‬ttóV 1 1 ‫ז ו *^ ז‬ ‫ י[ ך‬17‫זד‬11
‫נ ^ו דו‬ í í t t í j
‫ח י‬ ‫ט‬ ‫ז זו‬ •» 1 1

‫ וי נו גו איןן‬νκ* 3
X 1 ‫נ גי ר‬

‫׳‬J11 ‫ך‬3‫ י‬y %‫ ב תיך נו‬. * w m ‫ וי ווו‬η * i f 1


1
/
‫ די‬üjW - jjv ‫<^י‬1‫נד‬ ‫׳‬miVwV ‫״זד׳ ט חי‬
Antigo manuscrito de Qumran
‫ ו י‬1 3 ‫■ ס‬
‫ך‬3‫ג<י‬:
mm m Textos messiânicos de
— Qumran
Testimonia 4Q175 (ou 4QTest) Estes são os textos Q um rânicos que trazem passa-
As quatro prim eiras passagens desse gens inequivocam ente messiânicas:
m anuscrito são bíblicas e referem -se à ex- H inos de Ação de Graças (lQ h )
pectativa m essiânica da com unidade. A pri-
m eira e a segunda são respectivas citações Regra da C om unidade (lQ s)
de D euteronôm io 5:28 a 29 e 18:18-1941,
Regra M essiânica (lQ S a ou lQ 28a)
em que Deus prom ete a M oisé s levantar
um profeta como ele. Am bas constituem a Apocalipse [ou Daniel] Aram aico (4Q246)
prim eira seção. A seguir, tem os N úm eros
24:15-17, que prevê a vinda de um rei con- Apocalipse M essiânico ( 4Q521)
quistador, que se ergue de Israel para do- 4Q Livro da G uerra (4Q285)
m inar os quatro cantos de M oabe. Esta é a
segunda seção. Finalm ente, a quarta passa- Oração de Enos (4Q369)
gem, disposta na terce ira seção, m enciona
Regra das Bênçãos (lQ S b ou lQS28b)
a bênção pronunciada por M oisé s sobre a
trib o de Levi e registrada em D euteronôm io Pesher de Isaías (4Q161)
33:8-11. Junta s, essas citações parecem
sugerir a espera de um grande profeta, um Florilegium M essiânico (4Q174)
príncipe conquistador e um sacerdote42.
A ntologia M essiânica (4Q175)

Pesher de Gênesis (4Q252)


‫למל‬ Eleito de Deus (4Q534 ou 4QM ess ar)

rtíntn T exto de A rão (ou T estam ento de Levi (4Q541)

11 Q M elquisedeque (11Q 13)

D ocum ento de Damasco (CD 4Q265-D73; 5Q12;


6Q15)
‫ יו לן‬1‫ ד‬3
A lgu m as passagens M essiân icas43:

1) H inos de ação de graças - 1QH 11:7-10

Ela dá a luz em meio a dores, aquela que carrega um


homem [no seu ventre]
Pois em meio à agonia da morte
Ela dará a luz um menino
E em meio às dores do inferno
Haverá uma fonte a jorrar de seu filho que será
Um maravilhoso, Poderoso Conselheiro [Isaías 9:5-6]
E um homem libertará os demais de [suas] agonias

2) Regra da C om unidade - 1QS 9:11

Eles ... serão governados p o r antigos preceitos


nos quais os hom ens da C om unidade foram Ele é a raiz de Davi que se levantará para interpretar a
prim eiram ente instruídos, até que venha o Profeta e lei [ao governo] em Sião [ao final] dos tempos. Como está
os messias de A rão e de Israel. escrito: eu erguerei a tenda de Davi que está caída [Amós
9:11], Ou seja, a tenda caída de Davi é ele quem erguerá
3) A Regra M essiânica (da Congregação) - lQ Sa
para salvar Israel.
(or lQ 28a) 2:11-12, 17, 21-22
7) A ntologia M essiânica - 4Q175 [V 5/495-96,
... quando Deus gerar 0 Messias ... e [quando] eles
G M /137-38, W A C /230] [este texto interpreta
juntos partilharem a mesa da comunhão, para comer e
D eut 18:18-19, N um 24:15-17, e D eut 33:8-11 como
beber 0 vinho não ferm entado ...depois disso, 0 Messias
significando a vinda de três líderes m essiânicos ou
de Israel estenderá sua mão sobre 0 pão e [sobre] toda
três papeis de um m esm o messias: com o rei, profeta
a congregação da Comunidade [pronunciará uma]
e sacerdote]
bênção...
[Deut 18:18] - “Eu erguerei para eles um profeta
4) Regra das Bênçãos - IQ Sb (or lQ 28b) 4:24-26; com o você [M oisés], ele saíra do m eio do seu povo.
5:20-29 [V 5/376, G M /433, W A C /149-50] Eu colocarei m inhas palavras em sua boca e ele dirá
tudo o que eu o tenho ordenado”.
Vocês serão como 0 Anjo da Presença no santo lugar
[Num 24:17] - “U m a estrela procederá de Jacó e o
para a Glória do Deus das hostes .... Compartilhando a
cetro não se arredará de Judá.”
sorte dos anjos da presença e 0 conálio da comunidade.
^ x 8) Apocalipse A ram aico ou Apocalipse de Daniel -
4Q246 [V 5/577, G M /138, W A C /269]
O Mestre abençoará 0 Príncipe da Congregação ... e
. . . ele sera um grande [rei] sobre [toda] a terra ... e
renovará com ele a aliança da comunidade, [pela qual] ele
[toda a humanidade] 0 servirá.
estabelece 0 reino de seu povo para sempre... Que 0 Senhor
[O Santo do Deus altíssimo] será como ele será
possa erguê-los às maiores alturas e [colocá-los] sobre uma
chamado.... 0 Filho de Deus ele será chamado e filho do
torre fortificada por uma alta muralha.
Altíssimo será seu sobrenome.
[Que você possa esmagar os povos] com 0 poder de sua
mão e vindicar a terra com seu cetro; que você possa trazer 9) Pesher de Gênesis - 4Q252 5:1-4 [V5/462D63,
morte ao ímpio pelo sopro de seus lábios. G M /215, W A C /277] [O n Genesis 49:10]
[Que possa ele fa zer resplandecer sobre você 0 Espírito
A soberania não será removida da tribo de fudá.
de Conselho] e 0 poder eterno, e 0 Espírito de conhecimento
Enquanto Israel tiver 0 domínio não faltará quem se
e temor do Senhor; possa a justiça cingir [os seus lombos]
assente sobre 0 trono de Davi, pois 0 estafe é a aliança da
e que seu reino seja cingido com [fidelidade] pois é Deus
realeza, os milhares de Israel serão seus pés ...
quem estabelece 0 seu cetro. Os governantes... [e todos os
A té que 0 Messias de Justiça venha, a raiz de Davi,
reis das] nações 0 servirão. Ele 0fortalecerá com seu santo
Pois para ele e seus descendentes fo i dada a aliança
nome e você será como um le[ão]
da realeza sobre seus filhos e por todas as gerações para
5) Pesher de Isaías - 4Q161 Frag 8, Col 3, 18-21 sempre...
[V 5/467, G M -186, W A C -211]
10) 4QR010 da G uerra- 4Q285 Frag 5, 3-4
Interpretação da palavra [em Isaías 11:1-5] concernente
[V 5/189, G M /124, W A C /293]
à raiz de Davi que brotará nos últimos dias, uma vez que
0 sopro de seus lábios executará seus inimigos, e Deus 0 Então haverá um broto do tronco de Jessé [...] 0 ramo
sustentará com 0 espírito de coragem... ele governará sobre de Davi e eles entrarão em juízo com [...] 0 Príncipe da
todos os povos e [sobre] Magog. Congregação, a 0 [ramo de Davi] 0 matará ...

6) Florilegium M essiânico - 4Q174, 11-13 11) Oração de Enos - 4Q369 5 [V 5/511, W A C -


[V 5/494, G M /136, W A C /227D 28] 329]
Você fará claro para ele seus bons julgamentos ... em. Aquele do qual Daniel disse [ate' que venha 0 ungido
eterna luz. [Messias], um príncipe (Dan. 9:25)...
E vocêfará dele um Primogênito para s i ...
16) D ocum ento de Damasco (CD, C airo Damascus;
Como ele para um Príncipe e Governador na sua porção
4Q265-73; 5Q12; 6Q15)
terrestre.
B 19:10-11 -
... a coroa dos céus e a glória das nuvens [você] colocará
Estes escaparão no dia da Visitação, mas aqueles que
sobre ele.
ficarem serão entregues à espada quando vier 0 Messias
12) Apocalipse M essiânico (Texto da Ressurreição) de Arão e Israel. [G M /45]
- 4Q521 [V 5/391-92, G M /394, W A C /421] B 20:1 - . . . Desde os dias quando 0 Único Mestre foi
tirado, ate' à vinda do Messias brotará de Arão e Israel.
Os céus e a terra obedecerão seu M essias ... [G M /46]
O Senhor cum prirá gloriosas coisas com o nunca 2:1 - . . . Desde 0 dia da reunião no Mestre da
;amais houve... comunidade até à vinda do Messias de Arão e Israel
Pois ele [Deus ou o Messias] curará os enferm os, [ V5/134]
Ressuscitará os m ortos e trará as boas novas aos 2:12 - E ele fará conhecido a todos 0 seu Santo Espírito
pobres (Isa. 61:1). pelas mãos de seus Messias e ele mostrará a verdade.
13) O Eleito de D eus- 4Q534 ou 4QM ess ar) [V 5/128; contrast G M /34: "Ele lhes falará pela mão
[V5/522, G M /263, W A C /428] de seu ungido através de seu Santo Espírito e através dos

Ele é o escolhido de Deus. Seus nascim ento e o videntes da verdade.’’]

sopro de seu fôlego [vêm de Deus] ... seus planos 7:16-21 - Os livros da lei são 0 tabernáculo do rei,
durarão para sempre. como Deus tem dito, Eu erguerei 0 tabernáculo de Davi
que estava caído [Amós 9:11]
14) T exto A arônico (Testam ento de Levi) 4 ‫־‬Q541 O rei está na congregação e as bases de [seus] estatutos
Frag 9, Col 1 ,1 -3 [V 5/527, G M /270, W A C /259] são os livros dos profetas cujos escritos Israel rejeitou. A
estrela é a intérprete da lei que virá a Damasco; como está
Ele fará expiação por todos os filhos desta geração
escrito, uma estrela procederá de Jacó e 0 cetro não será
E será enviado a todos os filhos de seu povo.
arrebatado de Israel [Núm. 24:17], O cetro é 0 Príncipe
Suas palavras são com o a palavra dos céus,
de toda a congregação e quando ele vier, esmagará a
E seus ensinos de acordo com a vontade de Deus.
descendência de Sete [Núm 24:17]
Seu sol brilhará eternam ente
14:18-19 - . .. até que se levantem os messias de Arão e
E seu fogo queim ará até os confins da terra;
Israel... elefará a expiação pelos pecados deles... [V 5 /143,
Então as trevas se desvanecerão de sobre a terra e
G M /44]
a catástrofe de sobre o globo.

15) llQ M elquisedeque - 11Q13 2:16-18 [V 5/501,


G M /140, W A C /457]

Este é 0 dia da [paz/salvação]


Segundo a qual Deus havia falado por intermédio do
Nota
profeta Isaías, que disso, 1 Esta lista foi retirada de Paul Sumner, “Messianic” Texts at
Quão belos são sobre os montes Qumran in www.hebrew-streams.org. As referências foram
propositadamente deixadas conforme a versão em inglês. As
Os pés dos mensageiros que proclamam a paz, fontes entre colchetes seguem a seguinte legenda: V 5 -G .
Vermes, The Complete Dead Sea Scrolls in English (New York/
Que trazem boas novas, que proclamam a salvação,
Londres:Penguin Books, 1997; rev. ed. 2004); GM - F. Garcia-
Que dizem a Sião: seu Elohim reina [Isa. 52:7]. -Martinez, The Dead Sea Scrolls in Translation (2d ed., Gran-
dRapids, Mich.: Eerdmans, 1996); W AC ‫ ־‬M. Wise, M. Abegg,
Eis a interpretação: os montes são os profetas ... e os
E. Cook, The Dead Sea Scrolls: A New Translation (New York:
mensageiros 0 Messias do Espírito, HarperCollins, 1996; rev. ed. 2005).
para a Judeia não oferecia perspectiva algum a senão a
Um Messias que redime fé abraâm ica de iniciar um a m etrópole onde simples-
m ente não havia nada.
A promessa da vinda de um Messias que sofre para
redim ir já estava presente na história bíblica, desde os Para pio rar a situação, povos vizinhos rechaçavam
prim órdios da hum anidade (Gên. 3:15). T anto o pri- o reto rn o dos exilados, dificultando ao m áxim o a re-
m eiro como o segundo advento de Cristo foram exten- construção do T em plo e a consolidação de sua cultura
samente anunciados pelos profetas do Antigo Testa- original. Cerca de dois séculos após a libertação inau-
mento. Contudo, a ênfase específica de cada período e gurada p o r Ciro em 538 a.C., o O cidente tam bém co-
o colorido cultural da geração que a recebia deram aos m eçou a se projetar graças às conquistas de Alexandre,
oráculos um tom de esperança adequado a cada situação. o G rande. A expansão do novo im pério grecom ace-
dônico iniciou um a nova política econôm ica m arca-
Em alguns m om entos esse tom foi dissonante,
da pelo im perialism o e dom inação cultural helenista
provocando erros de interpretação com o aquele que
que representou o utra b arreira adicional aos judeus.
m isturou os dois adventos, fazendo supor que o Cris-
Veio, então, a ditadura de A ntíoco IV Epifânio e toda
to viria um a única vez em glória para estabelecer o
a experiência traum ática que se seguiu até os dias do
reino e entregá-lo definitivam ente aos judeus. O as-
dom ínio rom ano que, novam ente, não fugiria m uito
pecto salvífico e expiatório da prim eira vinda, distin-
à regra dos conquistadores mais antigos. T udo isso
to da segunda vinda gloriosa, to rn o u -se diluído nesta
apenas reforçava os m últiplos im pedim entos que já se
mescla, de m odo que m uitos rabinos (mas não todos)
arrastavam desde a chegada de N abucodonosor para
já não podiam m ais aceitar a figura de um Messias
destruir Jerusalém e o T em plo do Senhor.
im olado com o o cordeiro do sistem a sacrifical. C on-
form e escreveu Alfred Edersheim : “O conceito geral U m a antiga aliança, no entanto, fazia os judeus te-
que elaboraram acerca do M essias diferia totalm ente rem esperança na restauração do reino. Em 2 Samuel
daquele que foi apresentado pelo profeta de N azaré”45. 7 (esp. V v 28 e 29); 22:50-51; I C ron. 17:1-15 e Salmo
18:50, Deus prom etera a Davi que sua dinastia perm a-
Essa nova concepção m essiânica que rivalizava
neceria para sempre. Ademais, o conceito universal
com a m ais antiga era de certa form a m oldada pelo
deste novo m onarca tam bém aparece nas ocasiões em
contexto de opressão enfrentado pelo povo judeu.
que se fala da casa de Davi governando sobre os povos
Logo em seguida à destruição de Jerusalém e a depor-
gentílicos (2 Sam. 22:44-51; Sal. 2:7-9; 18:44-50).
tação dos exilados para a Babilônia em 586 a.C., o ter-
ritó rio da Judeia converteu-se num a terra dom inada A dinastia davídica, po rtan to , seria eterna e uni-
por estrangeiros. U m territó rio de todos e ao m esm o versai. Logo, a interrupção da linhagem trazida pelos
tem po de ninguém . Cada im pério que se seguiu co- babilônios deveria ser tem porária e Javé, proveria um
locou a região sob seu controle político, m uitas vezes rei “M essias”, um novo ungido para restau rar o reino
exercido com pesada m ão de ferro! de Davi e cum prir as prom essas feitas desde o tem po
dos patriarcas. Com o declarou Jacó em sua bênção
M esm o com o patrocínio persa para que voltas-
profética: “O cetro não se arredará de Judá, nem o
sem à sua terra e reconstruíssem 0 seu Tem plo, os ju-
bastão de entre seus pés até que venha 0 dono do cetro46
deus ainda tinham m uitos desafios a enfrentar. U m a
e a ele obedeçam os povos” (Gên. 49:10). Os judeus
grande parte das famílias recusou-se a deixar o exílio.
conheciam bem essas prom essas. O M essias, portan-
A antiga Jerusalém já não era um lugar aprazível, mas
to, ainda era sua única e mais sublim e esperança. Mas
um territó rio depredado com aparência de “abando-
estavam eles desejosos p o r sua vinda?
nado p o r D eus”. Não era fácil convencer prósperos
judeus com erciantes, espalhados pela diáspora, a dei- Vejamos quão curioso é o caso de Isaías: E interes-
xarem o conforto de sua m orada no exterior para vol- sante que num contexto essencialmente m onoteísta
tar à terra de seus pais. M uitos deles, lem brem os, já este futuro indivíduo receba adjetivos divinos próprios
nasceram no exílio e, p o rtan to , não se sentiam tão es- apenas de Yahw eh e que não aparecem em nenhum
trangeiros com o os prim eiros deportados. O reto rn o outro lugar do A T nem são aplicados a qualquer outra
pessoa (Isa. 9:6-7). Isso faz desta personagem um sujeito, no m ínim o, acim a de todos os m ortais. Ele é um salva-
dor régio que traz grande luz a Israel, sem pre ameaçado pelo poder de outras nações (Isa. 9:1). U m a ampliação
de sua obra é dada pelo m esm o profeta. Ele é descrito com o restaurador futuro não apenas de Israel, mas de
toda a ordem criada (Isa. 11:1-2). O título “príncipe da paz” evocado ju n to aos já m encionados adjetivos divinos
elencados em Isa. 9:6 é explicado no verso 7 com o sendo a realização de um a paz perenal que estabelece de
m aneira definitiva, o direito e a justiça entre os hom ens. Paz (Shalôm), só para lem brar, abarca m uito mais em
hebraico que sim plesm ente “ausência de guerra”. Se valor etim ológico abarca a ideia de plenitude e bem -estar
total, tanto in te rio r com o exterior, é a posse e a definição últim a da salvação provida p o r Deus. P or isso, curio-
sam ente o verso 7 term in a dizendo: “O Zelo do Senhor dos Exércitos, fará isso”.

Em Isaías 11:1-5 esse descendente de Davi (descrito com o “rebento de Jessé”) recebe um a prerrogativa úni-
ca: a plenitude do E spírito de Y ahw eh e é enviado com o juiz não de condenação, mas de defeza dos fracos e
desampadados. N ote que aqui a tarefa m essiânica de salvar e redim ir em erge com grande força textual.

T am bém é possível encontrar descrições deste futuro “filho de Davi” m esclando as figuras ora de rei e
sacerdote (Sal. 110; Zac. 6:9-13), ora de sacerdote e servo, que purifica a nação p o r m eio de um a propiciação
sacerdotal (Isa. 52:13-15; cf. Lev. 4:6; Ez. 43:19-20).

Isaías 53
Quem creu em nossa m ensagem e a quem foi revelado 0 brago do Senhor?
Ele cresceu diante dele com o um broto tenro e como uma raiz saída de uma terra seca. Ele não tinha
qualquer beleza ou m ajestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que 0 desejássem os.
Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e fa m iliarizad o com 0 sofrim en to. Como
alguém de quem os hom ens escondem 0 rosto foi desprezado, e nós não 0 tínham os em estim a.
C ertam ente ele tom ou sobre si as nossas enferm idades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós
0 consideram os castigado por Deus, por ele a tin g ido e afligido.

M as ele fo i transpassado por causa das nossas transgressões, foi esm agado por causa de nossas iniqüi-
dades; 0 castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fom os curados.
Todos nós, ta l qual ovelhas, nos desviam os, cada um de nós se voltou para 0 seu próprio cam inho; e 0
Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
Ele foi oprim ido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para 0 m atadouro,
e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a boca.
Com julga m e nto opressivo, ele foi levado. E quem pode fa la r dos seus descendentes? Pois ele fo i e lim i-
nado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado.
Foi-lhe dado um tú m u lo com os ím pios e com os ricos em sua m orte, em bora não tivesse com etido qual-
quer vio lê ncia nem houvesse qualquer m entira em sua boca.
Contudo foi da vontade do Senhor esm agá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora 0 Senhor faça da vida dele uma
oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em sua mão.
Depois do so frim ento de sua alm a, ele verá a luz e ficará sa tisfe ito ; pelo seu conhecim ento, meu servo
ju sto ju stifica rá a m uitos, e levará a iniqüidade deles.
Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fo rte s, porquanto ele
derram ou sua vida até à m orte, e fo i contado entre os transgressores. Pois ele carregou 0 pecado de m uitos
e intercedeu pelos transgressores.
um desses pergam inhos o nom e de “Rolo de Ação de
O servo sofredor Graças” ou “H ino de Ação de G raças”, pois era com -
posto de Salmos, a m aioria iniciando com as pala-
O poem a do “Servo sofredor” escrito p o r Isaías,
vras “Eu darei graças so S enhor...”. O riginalm ente o
é um a das m ais belas e profundas, com posições do
nom e técnico do docum ento foi 1QH (lQ H o d a y o t)
A ntigo T estam ento. M uitos o in te rp re ta m com o
depois lQ H a.
sendo um a alusão profética ao trabalho do M essias
que sofre para red im ir a hum anidade. O utros, po- Esse prim eiro m anuscrito estava terrivelm ente
rém , negam essa ideia, afirm ando que 0 conceito de danificado e a opinião de alguns especialistas é a de
um M essias sofredor, divino e re d e n to r é invenção que esse tipo de dano não foi acidental ou fruto de
do cristianism o, pois jam ais um judeu da A ntiguida- um a m anipulação indevida dos beduínos. Deduzem
de in te rp re ta ra assim esse trech o de Isaías. que o m anuscrito foi propositadam ente m utilado na
A ntiguidade, em razão, possivelm ente, de seu cará-
R ecentem ente, p o rém , um estudo publicado p o r
te r heterodoxo50. A conclusão é altam ente hipotética
Israel K nohl, do D ep artam en to Bíblico da U niver-
K nohl a justifica: os outros pergam inhos com prados
sidade H ebraica de Jerusalém , veio d esm entir essa
p o r Sukenik estavam enrolados de m aneira norm al
assertiva. Ele indica que essa visão m essiânica do
(os beduínos aparentem ente não m exeram no con-
servo sofredor era co rren te no p eríodo de Q u m ran e
teúdo do jarros). Já o pergam inho do Rolo de Ação de
pode ser en co n trad a em alguns m anuscritos do M ar
Graças estava rasgado de um m odo aparentem ente
M o rto 47. De fato, aquela visão lim itadora do M essias
proposital. Ele estava guardado em duas partes sepa-
apenas com o rei era, com o acentuou Scardelai, um
radas. A prim eira a ser aberta continha três folhas do
fenôm eno posterior ao período dos m acabeus48 e não
m anuscrito (um a enrolada dentro da outra, mas cada
está de m odo algum refletindo o único m odo de en-
um a dobrada individualm ente). Ao que tudo indica
ten d e r o M essias nos tem pos do Segundo T em plo.
elas foram guardadas daquela m aneira na Antiguida-
C o n trarian d o , p o rta n to , a tese liberal de que Jesus
de. A segunda parte do m anuscrito estava com pri-
não pod eria te r previsto sua m o rte e ressurreição
m ida e am arrotada, form ada por setenta fragm entos
po rq u e tais eventos sim plesm ente não existiam no
grandes e pequenos de pergam inho.
m essianism o da época; o trabalho de K nohl m o stra
que nos tem pos de Jesus o conceito de sofrim ento, A conclusão de K nohl é que um m em bro da sei-
hum ilhação, assassinato e ressurreição do M essias ta havia separado as folhas do p ergam inho, dobra-
eram p arte in teg ran te da cultura judaica. do três e picado as dem ais em inú m ero s fragm ento?
com prim in d o -o s nu m a única bola de papel.
N o cham ado Rolo de Ação de Graças, em dois hinos
aí inseridos p o ste rio rm en te e em o u tro s m anuscri- E m bora seja difícil advogar essa hipótese da des-
tos encontrados na g ruta 4, tem -se o m aterial a par- truição p roposital na A ntiguidade, é n o tó rio que c
tir do qual K nohl desenvolve sua tese. h in o contém algo realm ente diferente das demais
descrições judaicas. V árias p erguntas se levantam
O Rolo de Ação de Graças, tam bém conhecido
im ediatam ente ao se ler o conteúdo que evidente-
com o Hodayot, p erten ce à p rim eira série de docu-
m en te só ficou m ais conhecido a p a rtir da descober-
m entos descobertos em Q u m ran e foi publicado pela
ta de outras cópias m elhor preservadas na g ruta 4.
p rim e ira vez em 1954. C onsidera os m anuscritos
que m o n tam esse texto com o “a joia m ais b rilh an te A p rim eira e m ais n atu ral indagação é quanto
d en tre todas as descobertas de Q u m ran ”49. Ele não a quem teria escrito o texto e com que propósi-
foi en co n trad o diretam en te pelos arqueólogos, mas to? M uitos estudiosos respondem a esta pergunta,
fez p arte dos p rim eiro s rolos que estavam em pos- ap o ntando para o M estre de Justiça ou o fundador
se dos beduínos que acharam os pergam inhos em da seita com o sendo o que com pôs esses salm os de
1947. Q uem com prou alguns desses m anuscritos ação de graças. U m a possível objeção seria o fato de
foi o p rofessor Eleazer L. Sukenik, da U niversidade que, em m uitas poesias judaicas de Q u m ran , o Mes-
H ebraica de Jerusalém . Foi ele tam bém quem deu a tre de Justiça é rep resen tad o pela com unidade. Mas
essa sim biose e n tre o D eus e seu povo não é algo
estranho ao gênio da litera tu ra judaica com o vere-
mos m ais à frente. Adem ais, os problem as descritos
no Rolo de Ação de Graças são específicos e detalha-
dos dem ais p ara serem p u ram e n te fictícios; parecem
h istó ria real p ren u n cian d o h istó ria fu tu ra (com o no
caso de Isaías que faz um p rognóstico fu tu ro possi-
relm ente a p a rtir de um evento real que seria o nas-
-m e n to de um a criança no palácio de Acaz, Isa. 7).
O texto assem elha-se em gênero a um a autobiogra-
à a espiritual (e ao m esm o tem p o m essiânica), com o
έ o caso do Salmo 22.

O p rim eiro h in o que parece aludir ao M essias é


conhecido com o Hino da Autoglorificação, quem lhe
ie u esse títu lo foi a pesquisadora E sther E sh e l51. Ele
está escrito em p rim e ira pessoa e foi reco n stru íd o
A reconstrução, com posição e tradução do hino
com base em vários m anuscritos. U m de seus tre -
publicada p o r Eshel em 1996 a p artir de outros frag-
chos, citado p o r K nohl, diz assim (4QHe, frg. 1-2):
m entos é ainda mais interessante (4Q431 e 4Q427,
frag. 7):
“Quem tem sido desprezado como eu?
1. [Eu sou] contado entre os anjos, minha habitação
E quem tem sido rejeitado pelos homens como eu?
está no santo
E quem se compara a mim em tolerar (suportar) 0 mal?
2. [concilio] Quem pode ser comparado a mim ? E
quem fo i desprezado como eu?
Quem é como eu dentre os anjos?
3. Quem tem sido mais desprezado pelos homens do
[Eu] sou 0 amado do rei, a companhia dos san[tos]”.
que eu? E quem seria semelhante a mim em não suportar 0
N um a segunda versão desse m esm o hino, é dito mal? Nenhum ensinamento
que o autor teve a experiência de assentar-se num
4. se compara com meu ensino. Pois estou sentado
tro n o no céu, ser contado entre os anjos, te r um de- nos céus.
sejo que não vem da carne e finalm ente ser o mais
desprezado e o m ais glorificado: 5. Quem é semelhante a mim dentre os anjos? Quem
poderia deter-se quando abro minha boca? E quem
“[Q luem foi considerado desprezível com o eu e,
no entanto, quem é igual a m im em m inha glória?” 6. poderia medir afluência de meus lábios? Quem
poderia associar comigo em minhas palavras ou comparar
E num outro hino da m esm a coleção é dito (4Q 491, comigo em meu julgamento? Pois eu sou
fr.l 1, col.l):
7. 0 amado do rei, a companhia dos santos, e não há
“A legrem -se vocês, justos dentre os anjos, [...] na quem possa me acompanhar.
santa m orada, entoai [-lhe] hinos
8. M inha glória é sem comparação, pois tenho meu
[...anun]ciai o som de um alarido [...] em eterno posto com os anjos e minha glória com os filhos do rei.
júbilo, sem [...]
9. Nem com ouro poderia eu ser coroado, nem com
[...] para estabelecer a trom beta do [seu] Mess[ias] 0 mais fin o ouro

[...] para to rn a r conhecida sua força em poder [...]” 10. [] canto, [ 0 amado
É no tó ria não só a sem elhança com Isa. 53 como teve ao abordar os evangelhos de um prism a mais ju-
tam bém a dicotom ia entre um M essias que sofre para daico. Segundo seu parecer, a form a de raciocínio 11-
depois ser glorificado. E mais, o texto fala de alguém terário dos escritores rabínicos deveria ser em grande
sem igual que dentre os hom ens. A com binação es- parte sem elhante à que se vê nos evangelhos. A chave
pecial de status divino e sofrim ento hum ano num a herm enêutica que desvenda a literatura rabínica se-
só pessoa é algo inédito na literatura judaica mais ria, pois, a m esm a para a com preensão de im portan-
antiga. N ote a com paração entre a retórica “quem é tes detalhes no estudo dos evangelhos.
com o eu dentre os anjos [lit. elim]?” e o texto de Êxo-
do 15:11: "Quem é igual a ti, oh Senhor, dentre os
deuses [elim]?”
O Midrash
Aliás, baseado nesta clara situação de divindade, U m dos principais elem entos reflexivos do judaís-
M aurice Baillet, chegou a sugerir que o autor não po- m o que mais cham a a atenção na com preensão dos
deria ser hum ano. Para ele o autor seria o arcanjo M i- evangelhos é o cham ado M idrash. M ais que um estilo
guel.53 M orton Sm ith, po r sua vez, rebateu o colega, literário, ele é, acim a de tudo, o m odo básico com o os
argum entando que a figura 11o texto é claram ente um judeus do tem po de jesus interpretavam as Escrituras,
ser hum ano ao qual se atribui status angelical (ou divi- a saber, o A ntigo T estam ento.
n o )54. Alguém, conclui o autor n o u tra pesquisa, equi-
Mas o que seria um M idrash? E um tipo de litera-
parado especialm ente a Jesus55. De fato, aqui tem os a
tura, tradicionalm ente oral ou escrita, que tem um a di-
expressão original de um a personagem histórica e di-
vin o -h u m an a que m orre (por Israel?) e é glorificado
p o r Deus. Nisto Knohl fe z uma grande contribuição para
os estudos do Novo Testamento. ‫“־‬ /
§11 1521;
ymct vaymm* m f ««
Os evangelhos e a •‫־־‬m

,.‫מ‬
i‘ ‘ ? ‫מ‬

w « « e ‫>׳‬b ‫־‬ψ 'm éuP P b jmjí


literatura rabínica ^ , ‫ * · ׳‬7 ‫^ יו &יי! ל( ש‬
‫ מ‬e*:c.‫י‬
if- ‫*עי י־מל<י> ?׳י י*־יז‬
0 ^ 1‫!יי‬3 ! ■
Pa« ‫ייי ך‬ fn W p tm
A p artir da segunda m etade dos anos 1950, houve 1‫^י «יי ה עגמצן«גגיי‬
no cam po das Ciências Bíblicas um novo m odo de in-
vestigar o N ovo T estam ento utilizando com o ferra- Vü« ‫׳י‬£*^*3 ‫ · י‬ά * a m
m enta os resultados de pesquisas previam ente feitas ‫י‬ ·i3 ‫׳‬7 43‫ף‬
na literatura rabínica. A lógica do processo pode ser m μ ο*αψ& í*%
entendida quase im ediatam ente: se Jesus e os evan- ‫*‘!יתיז‬:‫־־‬
gelistas (com possível exceção a Lucas) eram judeus e *»»mj·» èv
viveram com o tais nos prim órdios da Igreja, p o r que • ^iícíiky»‫* ע^יגי«נ*כך‬èw &$»*&&&
c*uwc<j Μ 'ψ » '
estudá-los à luz do pensam ento greco-rom ano?
T -m rn
M uitos pensavam que, pelo fato de o N ovo Testa- p rf'p it ■ ·!‫ מ‬v h 5 1 u ^ v ‫׳‬í*^
v ops # & φ Λ w !‫׳‬
m ento ter sido escrito em grego, o pano de fundo para
‫ מ הי‬Í5»>
entendê-lo deveria ser a literatura dos poetas, escrito- s^yi pyjr μ/J 0^>><‫ י‬902‫ג‬1‫*ן‬$‫י‬
res e filósofos gregos. C om entários bíblicos mais anti- ‫*־וימי‬ íP tm r& u
gos, especialmente produzidos na Europa, assemelha- >‫ » <עע*ג‬s ! ‫ע » ^ א » אי‬
‫* ך *־‬
vam Jesus Cristo mais a um filósofo nascido em Atenas
WíJiS)^!» «****' « 47 *1‫׳‬
que um judeu nascido em Belém da Judeia.
#
A tese de J. W . Doeve, publicada em 1954, parece
ter sido a pioneira na feliz m udança de ares que se
reta relação com o cânon escriturístico. Considera-o a que repete. N a essência, os principais acontecim entos
autêntica revelação de Deus e procura extrair dele um do m undo relacionados com o M essias e seu reinado.
significado espiritual que esboce acontecim entos mais Assim, os escribas midrásticos estão sem pre recontan-
recentes. Tal exercício é feito p o r m eio de um a inter- do a história de Israel num a nova roupagem a p artir
pretação exegética m uito com um nos dias em que o de outros acontecim entos.
Novo T estam ento estava sendo escrito. T om ando os livros da Bíblia conform e eram deno-
Dizendo de m odo mais simples, o M idrash é um a m inados no am biente judaico, percebem os que ori-
ginalm ente era o costum e dos religiosos nom ear os
visão espiritual da h istória com o palco das realizações
livros sagrados a p artir das prim eiras palavras de seu
divinas que acontecem em m eio aos erros e acertos da
texto. Assim, o Gênesis se cham aria “N o P rincípio”,
vontade p ró p ria dada aos hom ens. T oda a história do
o Êxodo “os nom es” e assim p o r diante. Agora, com -
m undo seria um a única corrente profética que se cen-
parando essa tradição ao prólogo dos quatro evange-
traliza no M essias e aponta para o reino escatológico
lhos, percebem os que todos eles usam em seu começo
de Deus na T erra. Disso conclui-se que cada acon-
a palavra “princípio” (o nom e hebreu para o Gênesis).
:ecim ento se to rn a sím bolo de ocorrências proféti- Seria essa um a designação de que seu propósito era
co‫־‬espirituais. Os atos hum anos (bons ou maus) são reler as Escrituras a p artir da vida do Messias? Pos-
reflexos de um grande conflito cósmico envolvendo sivelm ente. T anto o é que M arcos, possivelm ente o
o Bem e o Mal. P or essa razão é que, pela perspectiva m ais antigo evangelho, traz isso de m odo ainda mais
bíblica, a h istória é um fato que sem pre se atualiza, claro; ele diz: “[Este é] O Princípio (o Gênesis) do
Evangelho alusivo a Jesus C risto” (Mar. 1:1; Cf. Jo.
1:1; Luc. 1:2 e M at. 1:1).

M ateus, querendo acentuar o Messias como o novo


M oisés, selecionou propositalm ente alguns elementos
da vida de Jesus que coincidiam, pelo m enos em parte,
com a vida do líder hebreu e usou-os como arcabouço
ambiental da história que iria contar.

Em síntese, assim traz 0 início do Evan-


gelho de M ate us: M oisés nasce e é salvo
da perseguição de um rei que acaba m atan-
do m uitas crianças. Jesus tam bém nasce e
é salvo da perseguição de Herodes donde
são m ortas m uitas crianças. Depois, M o i-
sés acaba indo para 0 Egito, 0 mesm o lu-
gar para onde vão M a ria e José. De lá, eles
voltam para Nazaré, e Jesus, com idade
adulta, atravessa 0 Jordão (batism o) e vai
para 0 deserto por um período de 40 dias.
M oisés tam bém atravessa 0 M a r Verm elho
e vai para 0 deserto com 0 povo por 40 anos.
No deserto, M oisés sobe ao M o n te Sinai e
traz consigo as Tábuas da Lei. 0 Jesus de
M a te u s tam bém sobe num m onte e dá aos
discípulos a Nova Lei de seu reino.
O filme reúne fontes de inform ação variadas,
Jesus: um plágio? pretendendo p rovar que é possível as pessoas serem
m anipuladas po r grandes instituições, governos e po-
A fam osa G uerra Fria entre Estados U nidos e
deres econôm icos. Ele, então, divide sua apresenta-
U nião Soviética hoje é coisa do passado, o m uro de
ção em três grandes blocos que falam de religião, da
Berlim foi derrubado e as ameaças são outras. Porém ,
queda das torres gêmeas em N ova York e do Banco de
um a abordagem nascida naquele tem po continua em
Reserva Federal, sua form ação e habilidade ilegal de
voga atualm ente: as famosas teorias da conspiração.
controlar a econom ia. A parte de Jesus, é claro, está
Todos os grandes vultos da história já tiveram algu- no prim eiro bloco.
m a dessas teorias associadas ao seu nom e e não poderia
Segundo os produtores do filme, os quatro evan-
ser diferente com Jesus Cristo. U m a que sem pre volta
gelistas, M ateus, M arcos, Lucas e João, plagiaram mi-
à baila em docum entários e redes sociais seria a de que
tos pagãos para com por a h istória de Jesus. Existe até
os evangelhos e toda a história de Jesus não passam de m esm o um a suposição de que toda a Bíblia seria ba-
um plágio de antigos m itos pagãos, sobretudo, da In- seada em princípios astrológicos pertencentes a anti-
dia, Grécia, R om a e Egito. Será isso verdade? gas civilizações com o os egípcios e babilônios. Assim
os doze signos do zodíaco seriam a inspiração para a5
Os boatos doze tribos de Israel, os doze filhos de Jacó e os doze
apóstolos de Jesus.
N ão são novos os b o atos sobre o que m u ito s su-
põem ser a verd ad eira h istó ria de Jesus. O Código
da Vinci, de D an B row n, p rete n d eu que Jesus teria
um a filha com M aria M adalena e que M aria seria o
E specificam ente sobre Jesus são estes os
cálice sagrado cujo segredo foi guardado p o r um a
m itos dos quais, segundo 0 film e , os evange-
o rdem secreta eu ro p eia ligada ao V aticano. Ele
lhos te ria m copiado a sua história:
p ro p o sitalm e n te deixa para o le ito r a dúvida se seu
rom ance seria apenas um a ficção ou um a form a dis- Horus egípcio, 3000 a.C.
farçada de revelar um a verdade bom bástica para a • Nasceu em 25 de dezembro de uma virgem
hum anidade. - Isis M aria;
• Uma estrela no O riente proclam ou a sua
M ais diretos, Jam es C am eron e S im chajacobovi-
chegada;
ci p rete n d era m hav er en co n trad o a v erd ad eira tu m -
• Três reis foram adorar 0 "salva dor" recém -
ba de Jesus e com seus ossos lá dentro! O enredo
-nascido;
não é m uito diferente do livro A Conspiração de Jesus,
• A os 12 anos de idade, quando ainda um
de autoria de H older K ersten e E lm ar G ruber, cujos
m enino, ele tornou-se um professor prodígio
autores afirm am que o V aticano in terv eio para fa-
• A os 30, anos ele fo i "b a tiza d o " e começou
zer parecer que o Santo Sudário não seria autêntico, um "m in is té rio ";
p orque aquele pano pro v aria que Jesus não ressusci- • Era cham ado de KRST, 0 ungido;
to u den tre os m ortos. O p ró p rio K ersten já havia dí- • Hórus tin h a doze "d iscíp u lo s";
vulgado nos anos 1980 um a ideia de que Jesus viveu • Hórus fo i traído;
boa parte de sua vida na índia e m o rre u ali com o um • Ele fo i crucificado;
v erdadeiro hindu. • Ele fo i sepultado por três dias;
• Ele fo i ressuscitado depois de três dias.
São m uitas as sugestões de qual seria, afinal,
a verdadeira identidade de Jesus. M as a que po- Mitra (persa - romano) 1200 a.C
pularizou a teoria do plágio foi o docum entário • Nasceu dia 25 de dezembro;
“Zeitgeist”, lançado em 2007 e produzido po r Peter
Joseph.
dos que indique que seu personagem principal ten h a
nascido no dia 25 de dezem bro. M uito m enos Jesus.
• Nasceu de uma virgem ;
N enhum a passagem da Bíblia fornece essa data.
• Teve 12 discípulos;
• Praticou m ilagres; Sobre o nascim ento virginal, Isis, a m ãe de H orus,
• M orreu crucificado; era esposa de O siris e n enhum trecho do m ito egípcio
• R essuscitou no 3o dia; a descreve com o um a virgem p ro n ta para dar à luz. O
• Era cham ado de "A V erdade", "A Luz"; que o m ito diz é que, após a m o rte de seu com panhei-
• Veio para lavar os pecados da hum anidade; ro, ela se autofecundou usando o esperm a do m arido
• Foi batizado; m o rto e então ficou gravida de seu filho Horus.
• Como deus, tin h a um "filh o ", cham ado Zo-
roastro. Nana, a m ãe de Attis, de fato, engravidou após ter
colocado um a rom ãzeira sobre o peito. M as, em bora
Attis (Frigia - Roma) 1200 a.C.
não se trate de um nascim ento ocorrido a p a rtir de
• Nasceu dia 25 de dezembro; um a relação sexual, nada no m ito indica que ela era
• Nasceu de uma virgem ; um a virgem que deu a luz ao filho de Deus.
• Foi crucificado, m orreu e foi enterrado;
• R essuscitou no 3o dia. K rishna, o deus hindu, tam bém não nasceu de
um a virgem . Segundo o m ito, ele seria o oitavo fi-
Krishna (hindu - índia) 900 a.C
lho do casal Devaki e Vasudeva. A diferença é que
• Nasceu dia 25 de dezembro; seu nascim ento se deu p o r m eio de um a transm issão
• Nasceu de uma virgem ; m ental de Vasudeva no ventre de Devaki. N ovam en-
• Uma estrela avisou a sua chegada; te um nascim ento sem relações sexuais, m as que dei-
• Fez m ilagres; xa claro que o deus h indu era filho legítim o de Devaki
• A pós morrer, ressuscitou. e Vasudeva.
Dioníso (grego) 500 a.C O utra com paração quanto ao nascim ento virginal
• Nasceu de uma virgem ; seria relacionada ao deus M itra. C ontudo, a dita di-
• Foi peregrino (viajante); vindade não nasceu de um a m ulher. Sua concepção
• Transform ou água em vinho; se deu através de um a rocha, debaixo de um a árvore,
• Chamado de Rei dos reis, A lpha e Ômega; próxim o a um a fonte sagrada, conform e pode ser vis-
• Após a m orte, ressuscitou; to em algumas im agens e escassos textos antigos do
• Era cham ado de "F ilho pródigo de Deus". antigo culto m itraísta.

Os paralelos, po rtan to , seguem bastante artificiais.


E assim tam bém acontece com os outros tem as apre-
sentados. KRST, que segundo o filme, era um títu -
lo de H orus e significava “o ungido” - assim com o “
Fato ou boato? Christós para Jesus - , tam bém não procede, porque
esse título nunca foi aplicado a H orus. Além disso,
Antes de apresentar qualquer parecer sobre as ale-
KRST em egípcio significaria “sepultam ento” e não
gações de plágio é im portante dizer que até m esm o
“o ungido”.
estudiosos seculares sem qualquer filiação religiosa
ou com prom etim ento bíblico/cristão discordam das
alegações do filme. Magos, morte e
O prim eiro p o n to que cham a a atenção nos parale- ressurreição
lismos é a com pleta falta de evidências dos elem entos
citados quando o antigo m ito é lido em suas fontes O utro suposto paralelo seria a presença de três
prim árias. Não há, p o r exemplo, nada nos m itos lista­ reis m agos visitando o m en in o Jesus, logo após seu
nascim ento. Ainda que tal detalhe estivesse realm ente Igualm ente Atis, outro deus supostam ente res-
presente nos m itos - o que não é verdade - , deve-se suscitado, nunca foi crucificado nem ressuscitou ao
levar em consideração que essa é um a imagem tirada terceiro dia. O m ito rom ano original fala de um jo-
dos presépios e não da narrativa evangélica. Não há no vem infeliz no am or que, depois de castrar a si m e -
texto de M ateus (o único a m encionar os magos) qual- m o, ficou louco e fugiu para viver nas florestas. N esti
quer indicativo de que eram reis, nem quanto ao seu
versão, Atis era filho da grande deusa-m ãe Cibele e
núm ero. Ademais o texto não indica que chegaram ao
alguns supõem que m ais tarde o m ito evoluiu, falar*
local im ediatam ente após o nascim ento de Jesus. Con-
do algo acerca de um a possível ressurreição do filh:
form e a ordem de Herodes para m atar as crianças de
de Cibele, que era celebrada no festival das Hilárias
dois anos para baixo, lim ite que ele coloca com base na
inform ação dos magos, é possível que Jesus não fosse com em orado todo 25 de m arço.
mais um bebê recém-nascido. A respeito desse dado, a p rim eira questão diz res-
Finalm ente sobre a ressurreição, pode-se dizer que, peito à divergência e n tre os especialistas sobre se a
à semelhança dos demais casos, novam ente se tem aqui festival realm ente celebraria ou não a ressurreiçã:‫׳‬
um a comparação artificial. Osiris, por exemplo, foi do deus.
m orto e esquartejado po r seu irm ão Seth, mas nada ali
Ademais, esse m ito só foi criado depois do ano 1511
insinua um a ressurreição. O que se tem no m ito egíp-
cio é a imagem de Isis tom ando o corpo esquartejado d.C., ou seja, mais de cem anos após a origem do cri5-
do m arido e o costurando para que ele podesse viver tianism o. Logo, se houve m esm o tal celebração e uma
m umificado “no m undo dos m o rto s’. Ele não ressusci- conseguinte influência de um relato sobre o o u t r : .
ta para o m undo dos vivos. Ademais, nem m esm o a pa- certam ente o relato cristão, que é m ais antigo, ser‫־‬
lavra “ressurreição” faz parte do vocabulário da tram a. viria de inspiração para o segundo e não o c o n trá n :
Todas as comparações, portanto, dem onstram -se Em sum a, 0 que se pode dizer é que os evange-
orçadas e destituídas de evidências originais. Mas ain- lhos apócrifos p retendiam p reen ch er a vida de Jesus
da que um ou outro ponto pudesse ter alguma seme- com narrativas fantásticas e irreais acrescentando
lhança, isso não significaria necessariamente um plágio. fatos extrao rd in ário s à seqüência já presen te nos
Júlio Verne, po r exemplo, escreveu um rom ance no sé- evangelhos canônicos.
ailo XIX sobre a ida do hom em à lua e nem por isso se
rode dizer que o program a espacial americano (surgido
rosteriorm ente) seria inspirado em Júlio Verne.
D ivisão dos a p ócrifos:
De m odo geral, esta coleção de textos pode ser di-
Evangelhos apócrifos vidida da seguinte m aneira - m encionando, é claro,
apenas os textos mais im portantes:
M ateus, M arcos, Lucas e João são os únicos evange-
E van gelh os da in fâ n cia - textos focados em pre-
Jios canônicos, isto é, oficialm ente reconhecidos pelas
encher a principal lacuna dos evangelhos canônicos: a
igrejas cristãs com o inspirados po r Deus. Há, contudo,
infância de Jesus! M uitos deles foram escritos já pelo
:‫׳‬utros “evangelhos não autorizados” que têm desper-
século II, oferecendo verdadeiras trivialidades da in-
:ãdo o interesse de m uitos estudiosos atualm ente. Es-
fância de Jesus, porém , recheadas de eventos m iracu-
res evangelhos são chamados de “apócrifos”.
losos. Pela quantidade de m anuscritos encontrados,
A palavra apócrifo vem do grego e significa “ocul- deduz-se que foram bastante populares naquele tem po.
to”, “secreto”, algo “difícil de entender”. Posterior-
• Protoevangelho de Tiago (tam bém cham ado
m ente, tom ou o sentido de “exotérico”, algo que só
Evangelho da Infância de Tiago);
os iniciados num a seita com preendem . N a época de
7erônim o (ca 347-420 d.C.), o term o passou a ser apli- • Pseudoevangelho de M ateus (tam bém cham ado
cado aos livros não canônicos do A ntigo T estam ento Evangelho da Infância de M ateus);
e. po r extensão, tam bém do Novo. Os teólogos m e-
• Evangelho siríaco da infância;
dievais, p o rtan to , cham avam de apócrifo aquele m ate-
rial “não autêntico”, que pretendia ser “bíblico”. • H istória de José, o carpinteiro;

C ontudo, um a visão em inentem ente pejorati- • A vida de João Batista.


va pode levar ao erro. M uitos desses livros já foram
E v a n g elh o s ju d aico-cristãos - evangelhos con-
considerados úteis pela igreja, m esm o não sendo di­
tendo características mais judaico-cristãs e que foram
vinam ente inspirados. Eles podem conter elem entos
citados p o r autores antigos com o C lem ente de Ale-
de um a tradição paralela à dos evangelhos canônicos
xandria, O rígenes, Eusébio e Jerônim o. Alguns es-
que lança grande luz sobre a história do cristianism o.
pecialistas acreditam que havia um a ou mais versões
Além disso, não é im possível en co n trar ali fatos que
desse tipo de evangelho escritas em aram aico, hebrai-
possam ser historicam ente verídicos, m esm o que não
co e grego.
estejam nos livros canonizados.
N enhum desses evangelhos sobreviveu até os dias
Existem dezenas de "evangelhos” conhecidos. Al-
de hoje, m as um a tentativa de reconstrução é feita
guns são apenas m encionados na literatura dos cha-
a p a rtir das citações encontradas nos Pais da Igreja.
mados Pais da Igreja - antigos autores cristãos. Des-
T rês deles, pelo m enos, são mais citados e com enta-
tes não há n enhum a am ostra de seu conteúdo. O utros
dos pelos teólogos em geral:
existem apenas em fragm entos ou reproduzidos par-
cialm ente, conform e a citação em outras fontes. Al- • Evangelho dos Ebionitas;
guns, porém , sobreviveram em cópias com pletas ou
• Evangelho dos Hebreus;
quase completas. Os mais im portantes superam a casa
dos vinte. • Evangelho dos N azarenos.
Evangelhos da paixão - evangelhos que focam
mais na cham ada paixão de Cristo, isto é, prisão, jul-
gam ento, m orte e ressurreição).

• Evangelho de Pedro;

• Evangelho de N icodem os (ou Atos de Pilatos);

• Pseudo-C irilo de Jerusalém , sobre a vida e pai-


xão de Cristo;

• Evangelho de B artolom eu ou Perguntas de Bar-


tolom eu sobre a ressurreição.

Evangelhos gnósticos - atualm ente, m uitos tex-


tos descobertos, especialm ente no Egito, têm expos-
to um a form a esotérica de cristianism o cham ada de
gnosticism o. Os seguidores dessa antiga linha tam -
bém produziram "evangelhos” focados especialm en-
te em ensinam entos secretos supostam ente deixados
p o r C risto e que só os iniciados da seita poderiam
com preender cabalm ente. A m aior parte dos evan-
gelhos não canônicos existentes vem do segm ento
gnóstico.

• Evangelho de Tom é;

• Evangelho de Judas;

• Evangelho de Filipe;

• Diálogos do Salvador Ressuscitado;

• Evangelho grego dos egípcios;

• Evangelho copta dos egípcios;

• Evangelho de M aria;

• Evangelho secreto de João.

Apócrifos: proibidos
ou proveitosos?
Desde cedo a Igreja cristã rejeitou esses evange-
lhos, devido ao fato de não preencherem os critério;
básicos de canonicidade. Eles não foram escritos pe-
los apóstolos, nem po r ninguém ligado diretam ente í
eles. C ontudo, atribuíam falsam ente seu conteúdo ã
autoria de figuras-chave com o Felipe, Pedro, Barto-
M anuscrito do antigo evangelho apócrifo
lom eu e outros. M as são produções tardias, posterio-
de Tomé, encontrado no Egito em 1945.
res ao período apostólico.
como tu me empurraste, cai e não levantes mais. N o
m esm o instante, a criança caiu no chão e morreu.

XLIX. O PROFESSOR CASTIGADO


Conduziram-no, em seguida, a um professor mais
sábio e assim que o viu ordenou: “Dize Aleph!”

Quando o Senhor Jesus disse “Aleph”, o professor


pediu-lhe que pronunciasse Beth. O Senhor Jesus res-
pondeu-lhe: “Dize-m e o que significa a letra Aleph e
então eu pronunciarei Beth”. O mestre, irritado, le-
vantou a mão para bater nele, mas sua mão secou ins-
tantaneamente e ele morreu. Então José disse a Maria:
“Daqui por diante, não devemos mais deixar o m eni-
no sair de casa, pois qualquer um que se oponha a ele
é fulminado pela morte”.
M uitos acadêmicos tentaram acusar os evangelhos
canônicos do mesmo procedimento, afirmando que Admite-se que no período pós-apostólico alguns
sua autoria também não pertence a Mateus, Marcos, desses evangelhos chegaram a ser recebidos por um
Lucas nem João, mas a uma comunidade que utili- tempo com o leitura proveitosa. O Evangelho de Pe-
zou‫־‬se do nom e de ilustres pioneiros do evangelho. dro, por exemplo, foi recomendado ou pelo m enos
Isso, porém, não procede. Extensos trabalhos já fo- permitido por Serapião, bispo de Antioquia em 191
ram publicados, mostrando a nítida distinção entre os d.C. Mas ele m esm o, pouco tempo depois, retirou
evangelhos canônicos e os apócrifos. qualquer incentivo à leitura do livro. Ademais, mes-
mo em períodos de recomendação, nenhum desses
Exames criteriosos de lingüística, estatística dos livros foi considerado apostólico ou genuíno. Não se
termos, argumentação e estrutura confirmam que a admira, pois, que nenhum deles jamais apareça como
produção dos evangelhos canônicos está ambientada canônico em nenhuma lista primitiva ao lado de Ma-
no século I. Suas fontes são testemunhos de primei- teus, Marcos, Lucas ou João.
ra mão de pessoas que conviveram com o Cristo. O
mesmo exercício não logrou êxito com os evangelhos Eles são, de fato, desde as origens do cristianis-
apócrifos, que são historicamente estranhos ao con- m o, textos questionadores, cuja função era protestar
texto dos dias de Jesus. contra a visão oficial de Jesus ou amoldar a imagem
do Cristo a uma aceitação maior do m undo grego.
Os exemplos e recomendações morais encontra- Por isso preencheram as “lacunas” de sua vida com
dos nos apócrifos são pouco ou nada recomendáveis. episódios fantásticos, a fim de aproximar a imagem
Além do mais, suas narrativas acerca do Cristo reve- do Cristo àquela dos semideuses ou heróis da litera-
lam um caráter supersticioso, especulativo, em nada tura grega - uma visão mais herculana eu m essiâni-
associado à descrição encontrada em Mateus, Mar- ca do Filho de Deus.
cos, Lucas e João.
A despeito, porém, das histórias aberrantes que os
Basta citar dois exemplos, extraídos do Evangelho apócrifos apresentam, há de se admitir que eles po-
de Pedro: dem conter traços leves de historicidade, por exem-
pio, em algumas falas de Jesus. Afinal muitos desses
XLVII. UMA MORTE REPENTINA
textos são releituras feitas pelas comunidades de en-
Certa noite, o Senhor Jesus voltava para casa com tão. A pretensão de seus autores era “moldar” o Cris-
José, quando uma criança passou correndo na sua to existente e não criar um inteiramente novo. Logo,
frente e deu-lhe um golpe tão violento que o Senhor algo do original sempre permanece nas cópias feitas
Jesus quase caiu. Ele disse a essa criança: — Assim dele. Ademais, a “história” sobre Jesus encontrada nos
evangelhos canônicos não é toda a história. Há m uita Preparação para
coisa que não foi registrada. O próprio apóstolo João
adm ite isso (Jo. 21:25). o Messias
H a Π A Bíblia está repleta de profecias que anunciam
*5= a vinda de um poderoso hom em , que sairia do meio
c
c de Israel e dom inaria o m undo inteiro. Só no Antigo
Você sabia? T estam ento são mais de trezentas passagens que alu-
Eml945, emNagHamadi, noaltoEgito, dem à chegada desse m isterioso rei. E ntre os judeus,
foram encontrados, em língua copta, os ele é reconhecido pelo título de M essias, que quer di-
evangelhos de Tomé e de Maria Madalena. zer “o ungido”.
O Evangelho de Maria Madalena estava
bastantefragmentado. A presença de tantos Evidências históricas, no entanto, ainda que frag-
textos fragmentados pode ser atribuída, m entadas, dão a entender que m esm o povos fora do
além de outros fatores, aos decretos e reco- círculo judaico tinham a noção da vida de um salva-
mendações papais solicitando 0 não uso desses dor, que seria o filho de Deus entre os hom ens.
textos pelos cristãos. E conhecido 0 decreto do
Papa Gelásio, expedido no século V, contendo
uma lista de 60 livros apócrifos do Novo Expectativa ou apatia?
Testamento, cuja leitura era amaldiçoada. E
muitos livros apócrifos foram para afoguei- U m a das m ais recentes problem áticas em relação ao
ra. Para 0pesquisador moderno, 0 achado de
Judaísm o do final do prim eiro século a.C. é a defi-
manuscritos perdidos como estes ajuda na
nição quanto à sua expectativa ou descaso no que se
reconstituição da história do debate teológico
O acerca da pessoa de Jesus Cristo. refere à vinda de um M essias. Havia realm ente um a
c ‫ר‬ prom essa messiânica? Com o ela era interpretada? O
C O povo esperava o Salvador?

Sobre o term o ‫״‬M essias” (mãsiah em hebraico;


Christós, em grego), cham a-nos a atenção a relati-
‫י> ך‬0 va raridade com que o m esm o aparece no texto do
‫כ׳‬ A ntigo T estam ento (apenas 39 vezes)56. Adem ais, é
j n o tó rio o seu uso m ais am plo para abarcar outras
Fato importante ■ personagens e funções além do esperado Messias.
V anderkam lista algum as delas: 1) referências aos
A lista canônica mais antiga que existe é 0câ- reis de Israel (I Sam. 12:3, 5; 16:6; 24:7, 11); 2) ao
nonMoratoriano, datado do século II. O fato sum o sacerdote (Lev. 4:3, 5 16; 6:15; Sal. 84:10); 3)
de antigos autores comolrineu, Policarpo, de m aneira especial a C iro, rei da Pérsia, po r cum-
Clemente e T ertuliano concordarem basi-
p rir o desígnio do Senhor (Isa. 45:1); 4) aos patriar-
camente com ela indica sua universalidade.
cas (Salmo 105:15; I Cro. 16:22)57. O a u to r cita ainda
Logo, isso desmente ofato de que somente no
Concilio de Niceia, em 325 d.C., os evange- um q u into uso da palavra que, a nosso ver, deveria
lhos canônicosforam reconhecidos à parte ser identificado com o p rom etido M essias. T rata-se
dos apócrifos, por determinação puramente de textos com o o Salmo 2:2, que anuncia a vinda de
política comandada por Constantino. Eles já um fu tu ro rei, distinto de Davi ou Saul e identificado
eram desde 0 início do cristianismo reconheci- divinam ente com o “Filho de D eus” (cf. ainda II Sam.
dos como tais. 22:51; Sal. 18:51; 89:39, 52; 132:10 e 17). O utro texto
significativo seria D aniel 9: 25 e 26, que alude ao fu-
tu ro príncipe ungido, cuja m anifestação é agendada
Li ! 0‫צי‬3-2. na profecia das 70 semanas.
Provavelm ente essa “não exclusividade” do term o apócrifa da época, ele en tendeu que apenas quatro
que aparentem ente deveria ser aplicado apenas ao passagens aludiam diretam en te ao M essias. Dessas,
Salvador) se deva a três situações: p rim eiro o pró - apenas um a datava de antes de C risto. P o rta n to , sua
prio significado de “ungido”, que obrigatoriam ente conclusão foi a de que o m essianism o não seria as-
qualificaria todos os que, p o r sua função, recebessem sim tão im p o rta n te no judaísm o antigo com o pensa-
sobre a cabeça a unção com óleo (reis, sacerdotes, um va a teologia tradicional61.
convidado especial [cf. Salmo 23:5; 45:7 e 8; 92:10;
Lucas 7:37-38]). Segundo que possivelm ente a pa- A conclusão de C h a rle sw o rth seguiu um cam i-
lavra ungido teria originalm ente, apenas o sentido n h o parecido com o de M . de Jonge, que publicou,
ritualístico norm al, e, p o r sem ântica profética ou em 1966, um estudo sobre o uso da palavra “un -
ritualism o tipológico, passou a designar o Salvador gido” nos dias de Jesus. Ele tam bém negou a exis-
prom etido. Afinal, não é anorm al verm os n a cultu- tên cia de um a esperança m essiânica fixa e n tre os
ra bíblica alguns qualitativos hum anos usados para judeus do século I a.C. P artin d o do uso de mãsiah
Deus (comandante, pastor, rei, Senhor). P or fim , em com o títu lo , ele e n te n d e u que havia "um a relati-
terceiro lugar, não seria um erro in te rp re ta r certas va falta de im p o rtâ n c ia do te rm o no contexto das
personagens e suas funções ou experiências com o expectativas judaicas co n cern en tes ao fu tu ro , pelo
sendo “tipos” do M essias que haveria de vir: Davi é m enos nas fontes judaicas desse p erío d o , que estão
um exem plo clássico (Cf. Salmo 22). ao nosso alcance”62. A lógica de am bas as assertivas
de Jonge e C h a rle sw o rth baseia-se na raridade de
Alguns autores, no entanto, procuram negar
ocorrências do term o ou da d o u trin a m essiânica na
que a esperança m essiânica fizesse m esm o parte da
lite ra tu ra judaica p ré-cristã.
formação cultural do povo judeu na antiguidade. S.
M owinckel, 58 e H. R inggren59 insistem que o m es- O ra, a raridade de um term o técnico não deve ser
sianismo é um fenôm eno que só se desenvolveu no razão suficiente para se negar a existência de um con-
período p osterior ao cativeiro babilônico. ceito. Aliás, term os técnicos tendem a se firm ar ao
longo da história de um pensam ento quando deter-
O utros, no passado, chegaram até m esm o a negar
m inado conceito se solidificou o bastante para to r-
que a esperança m essiânica ten h a feito parte das con-
nar-se um a d outrina sistematizada. Ademais, não se
vicções religiosas dos antigos escribas e da população
deve esquecer que m uito m aterial literário do perío-
udaica em geral, m esm o nos dias de Jesus. Eles nunca
estiveram , em síntese, aguardando um M essias pes- do do A ntigo T estam ento certam ente se perdeu, de
soai. Em 1886 David Baron, um conhecido acadêmico m odo que não é estranho que encontrem os apenas
da linha judeico-m essiânica, escreveu: acenos textuais de um a d o utrina que certam ente seria
m ais difundida na oralidade popular.
“Em tem pos recentes m uitos inteligentes judeus,
influenciados p o r racionalistas assim cham ados cris- Se procurarm os um traçado vétero-testam entário
tã o s ,... negam que haja algo com o um a fé m essiânica do m essianism o que não se prenda apenas ao term o
nas Escrituras do A ntigo T estam ento e declaram que mãsiah, com o fizeram C harlesw orth e Jonge, certa-
as profecias sobre as quais os cristãos sustentam sua m ente encontrarem os um a clara prom essa da vinda
crença contêm apenas vagas antecipações e esperan- de um “filho de Davi”, em especial, que redim iria e
ças gerais, mas n enhum a predição específica sobre restauraria espiritualm ente Israel.
um M essias pessoal’. Deste m odo, a alegada concor-
Não se pode negar, porém , que a diversidade de
dância entre a história dos Evangelhos e as profecias
interpretações messiânicas, bem com o a pluralidade
é puram ente fictícia.”60
dos M essias esperados, pode ser fruto da p rópria falta
Jam es H. C h arlesw orth, um dos m aiores espe- de discernim ento espiritual dos líderes da ocasião. Por
cialistas em pseudoepigrafia judaica e cristã, tam - isso o povo ficava profeticam ente sem rum o, m igran-
bém nega a existência de um a esperança judaica nos do com o um pêndulo entre a esperança e, ao m esm o
dias de Jesus de N azaré. Ao pesquisar a litera tu ra tem po, a falta de qualquer perspectiva messiânica.
Tal reconstrução contextual se encaixa bem com narcas, o povo judeu tin h a p o r princípio u ngir com
o quadro descrito nos evangelhos que, p o r um lado, óleo santo a cabeça daquele que iria ser rei.
m ostra que havia sinceros do povo, com o Simeão,
A expectativa m essiânica é fundam ental para o
que “aguardava a consolação de Israel” (Luc. 2:25) e
Ana que testem unhou de Jesus a “todos os que es- judaísm o. D urante a Idade M édia, o rabino Moisés
peravam , a redenção de Jerusalém ” (Luc. 2:38). Por M aim onides preparou um tratado da crença israelita,
outro, não esconde o desapontam ento quanto à falta que assim prescreve em sua 12a regra de fé: “Deus en-
de receptividade no m om ento em que nasce o ver- viará o M essias anunciado pelos profetas.”
dadeiro M essias. Estrangeiros vieram de longe para
M as com o seria esse “M essias”? O que há de tão
prestar-lhe hom enagens e, decepcionados, encontra-
especial em to rn o de sua pessoa? Para fazer um a ava-
ram um rei com seus escribas sentado em Jerusalém
liação histórica da esperança m essiânica, é preciso
com pletam ente desapercebido do que estaria profeti-
v o ltar ao episódio descrito em Gênesis 3: o pecado e
cam ente ocorrendo na Judeia.
a conseqüente queda do gênero hum ano. Ali o texto
traz um a sentença contra a serpente ‫ ־‬sím bolo do mal
- e um a prom essa a Eva, a m ãe da hum anidade:

“Porei inim izade entre você [serpente] e a m ulher,


Fato importante entre a sua descendência e o descendente dela; este
lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gen.
Existem dois episódios nos evangelhos que
3:15).
ilustram a realidade de um pluralismo mes-
siânico em Israel O primeiro é a pergunta
U m a das provas de que os judeus antigos inter-
de João Batista quando encarcerado e 0 se-
pretavam esse texto com o um a prom essa messiânica
gundo, a pergunta de Jesus quando chamou
pode ser vista na form a com o eles parafrasearam esse
os discípulos à parte. N a primeira situação,
0 Batista manda inquirir do Mestre; "És tu texto para o aram aico no ano 50 a.C.:
aquele que já de vir, ou devemos esperar ou-
“M as eles [os seres hum anos] serão curados nos
tro?”(Luc. 7:19). Tal indagação demonstra
uma predisposição de se aceitar desde “can- passos [calcanhares] dos dias do Rei M essias” (Tar-
didatos”até pluralidades messiânicas, em gum Jonathan).
que um Mesúas complementa 0 trabalho do
M uitos eruditos judeus da A ntiguidade tam bém
outro. N a segunda situação é 0 próprio Jesus
quem indaga aos seus discípulos: “Quem di- entendiam que Eva esperava o M essias já em seu tem -
zem as multidões que sou eu?”(Luc. 9:18, cf. po. T anto que acreditou ser seu prim eiro filho, Caim.
Mar. 8:27) ou na versão de Mateus: “Quem o prom etido Salvador.
diz 0 povo ser 0 Filho do Homem?”(Mt.
16:13). As diferentes respostas (João Batista, A m esm a paráfrase do T argum de Jo n ath an pros-
Elias, um profeta ressuscitado) denunciam segue sua versão de Gênesis 4:1 e 25 dizendo: Έ Adão
as diferentes expectativas messiânicas da coabitou com sua esposa ... e ela concebeu e trouxe à
ocasiao. luz Caim, e ela disse: “Eu tenho obtido o hom em , o
c
G Anjo do Senhor”.
‫עז־ס־‬ ‫ךשי‬7 M oisés reforçou essa prom essa ao povo hebreu ao
declarar: “O Senhor teu Deus te suscitará um profeta
do m eio de ti, de teus irm ãos, sem elhante a m im , a ele
Promessas messiânicas ouvirás.” (Deut. 18:15).

O título “M essias” era um a referência clara à rea- No período m onárquico, mais propriam ente no
leza da criança p rom etida nas profecias. Ao contrário final do reinado de Davi, Deus lhe faz um reforço
dos países ocidentais que costum am “coroar” os m o ­ dessa prom essa messiânica.
Έ há de ser que, quando forem cum pridos os teus tudo, m uitos com entaristas veem aqui um a profecia
dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua descendên- de duplo cum prim ento. Salomão, de fato, construiu
cia depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o o T em plo, mas veio a falecer depois de algum tem po.
5eu reino. A prom essa, contudo, fala de um “filho de Davi” que

Este m e edificará casa; e eu confirm arei o seu tro - haveria de vir e cujo reino não teria fim. Deus em
no para sem pre. pessoa, seria seu Pai e ele seria seu filho. Desse m odo,
o Filho de Davi seria tam bém o Filho de Deus!
Eu lhe serei p o r pai, e ele m e será p o r filho; e a
m inha benignidade não retirarei dele, com o a tirei Os autores dos evangelhos foram cuidadosos em
daquele, que foi antes de ti. apresentar Jesus com o descendente de Davi, tanto
p o r parte de José quanto p o r parte de M aria. M uitas
Mas o confirm arei na m inha casa e no m eu reino
profecias apontavam para aquele que viria da raiz de
para sem pre, e o seu tro n o será firm e para sem pre.”
Davi e Jessé, o pai de Davi. Isto é, aquele que seria seu
(1 C ron. 17:11-14).
descendente (Jer. 23:5 e Isa. 11:1). Usando a imagem
À prim eira vista, o texto parece tra tar de Salomão, de um a árvore com o sendo a genealogia de Davi, o
o herdeiro de Davi, que construiu o Tem plo. C o n ­ M essias deveria ser um b ro to dessa árvore.
Outras profecias messiânicas

PASSAGEM PROFÉTICA TEOR DA PROFECIA Cumprimento

Gên. 3:15 Seria 0 descendente da mulher. Luc. 2:7; Gál. 4:4; Apoc. 12:5

Gên. 12:3,18:18 Seria 0 descendente de Abraão. Mat. 1:1; Luc. 3:34; Atos 3:25

Gên. 17:19 Seria 0 descendente de Isaque. Mat. 1:2; Luc. 3:34

Gên. 28:14; Núm. 25:17 Seria 0 descendente de Jacó. Mat. 1:2 e 3; Luc. 3:33

Gên. 49:10 Seria da tribo de Judá. Mat. 1:2,3; Luc. 3:33

Miq. 5:2 Nasceria em Belém. Mat. 2:1; Luc. 2:4-7

Nasceria de uma virgem.

Jer. 31:15 Haveria um massacre de crianças. Mat. 2:16-18

Ose. 11:1 Passaria pelo Egito. Mat. 2:14 e 15

Isa. 9:1 e 2 Teria um ministério na Galileia. Mat. 4:12-16

Deut. 18:15 Seria um profeta de Deus. Jo. 6:14

Sal. 2:2; Isa. 53:1 Seria rejeitado pelos judeus. Luc. 4:29; 23:18; Jo. 1:11

Seria traído por um amigo. Mat. 26:14-16


Zac. 11:12 e 13 Seria vendido por trinta moedas. Mat. 26:15
Zac. 11:13 Tal dinheiro seria devolvido. Mat. 27:3-10

Sal. 27:12; 35:11 Falsas testemunhas 0 acusariam. Mat. 26:60 e 61

Sal. 38:13 e 14; Isa. 53:7 Calar-se-ia ao ser acusado. Mat. 26:62 e 63; 27:12-14
Isa. 50:6 Seria ferido e cuspido. Mar. 14:65,15:17; Jo. 18:22
Sal. 69:4; 109:3-5 Seria odiado sem causa. Jo. 15:23-25
Isa. 53: 4-12 Sofreria em lugar do pecador. Mat. 8:16 e 17; Rom. 4:25
Seria morto com criminosos Mat. 27:38; Mar. 15:27 e 28
Sal. 22:16; Zac. 12:10 Teria as mãos e os pés traspassados. Jo. 19:37; 20:25-27
22 :6-8 Seria zombado e insultado. Mat. 27:39-44
Sal. 69:21 Dar-lhe-iam fel e vinagre. Mat. 27:34,48; Jo. 19:29

Sal. 22:8 Usariam a profecia para zombar dEle. Mat. 27:43

Zac. 12:10 Teria 0 lado traspassado. Jo. 19:34

Sal. 22:18 Lançariam sorte sobre Sua roupa. Mar. 15:24; Jo. 19:24

Êxo. 12:46; Sal. 34:20 Não teria nenhum osso quebrado. Jo. 19:23

Seria sepultado no lugar dos ricos. Mat. 27:57-60

Sal. 16:10 Ressuscitaria dentre os mortos. Mat. 28:9


Oo _CH
Os tempos messiânicos
9
rO

‫כ‬
E m bora alguns autores m odernos tendam a negar
Fato importante que a expectativa m essiânica sem pre fez parte da es-
A oliveira é uma árvore muito importante na perança de Israel, há elem entos claros nas Escrituras
cultura do antigo Oriente Médio. De seu fru to e na tradição judaica para afirm ar que a espera por
extraiam-se 0 combustível para as lampari- um Salvador não era algo inédito em Israel, mas fazia
nas, a liga das massas de pão, 0 unguento para parte da essência deste povo.
perfum e ou remédio, 0 sabão e, principalmen-
te, 0 azeite de oliva que era 0 elemento básico C ontudo, algo curioso ocorreu um pouco antes do
da unção. Reis e sacerdotes deveriam ser prim eiro século da cham ada Era C om um , exatam ente
especialmente ungidos e esta unção - ou um no tem po em que nasceu Jesus. Q uem fez essa des-
pouco de azeite sobre a cabeça - representava 0 coberta foi o rabino Abba Hillel Silver, figura chave
Espírito Santo de Deus. na criação do Estado de Israel, que escreveu um a tese
Assim houve vários “ungidos" na história de doutorai sobre o assunto e a publicou em 1927.
Israel. Eles, contudo, esperavam um Ungido
De acordo com seus estudos, ele percebeu que a
maior que receberia 0 Espírito de Deus de um
expectativa m essiânica ficara de certa form a adorm e-
modo pleno como jamais ninguém recebeu
cida na trajetória do povo judeu. M esm o em épocas
(Isa. 11:1 e2). Todos os outros “ungidos” eram
apenas urna fig u ra simbólica deste Messias de grandes expectativas, com o a conquista da Pérsia
porvir. p o r Alexandre, o G rande, o reinado dos Ptolom eus
c e Selêucidas, a perseguição iniciada p o r A ntíoco ou
C a guerra dos M acabeus, o interesse pelo Messias não
‫־זכ־ס־דם‬ era algo tão destacado na cultura do povo.

Talvez p o r isso, alguns autores concluíram que a


expectativa m essiânica não fazia parte da m ais antiga
herança cultural desse povo. Porém , exatam ente no
tem po em que Jesus de Nazaré apresentou-se com o o
ο 0 verdadeiro M essias de Israel, houve em Judá um a tre-
C. ‫כ‬
m enda explosão de esperanças messiânicas. O povo
Você sabia? daquele tem po parecia saber que aquela e não outra
“A palavra ungido” em hebraico é Mashiach, era a época do cum prim ento da profecia.
ou seja, “aquele que recebeu óleo sobre sua U m a confirm ação adicional desse fato é o im pres-
cabeça”. Acontece que o mundo de fala gre-
sionante aparecim ento de pretensos messias, que co-
ga chamava essa unção de Chrisma e aquele
m eçaram a surgir em todos os cantos do país, arre-
que a recebia de Christós.
gim entando sim patizantes e doutrinando discípulos.
Assim, como o grego se espalhou pelo Flávio Josefo descreve essa efervescência de Candida-
mundo inteiro, o prometido messias dos ju- tos a messias, levados pela convicção de que o tem po
deus ficou conhecido pelo titulo de Christós. da profecia havia chegado.
Em português, usa-se tanto os vocábulos
Cristo quanto Messias para se referir a esse Falando das guerras que culm inaram na destrui-
personagem, e ambos são apenas o aportu- ção do T em plo, ele diz:
guesamento dos termos grego e hebraico,
respectivamente, ambos com o mesmo ‫״‬M as o que m ais incitou os judeus à guerra foi
sentido de “ungido”. C um a am bígua profecia tam bém en contrada nas Sa-
c ‫ר‬ gradas Escrituras, segundo a qual, naquele tem po
O Ο ‘um ’ pro v en ien te de seu país to rn a r-se -ia o dom ina-
cH‫־־‬ü ‫־‬o‫ ־‬L ‫ב ח־ סזד־‬ do r do m u ndo.” 63
Fatos messiânicos garia ao m undo p o r volta do ano 3920 A nno M undi,
que eqüivaleria aos anos 3/2 a.C época próxim a ao
nascim ento de Jesus de Nazaré.
Um estudo da literatura judaica mais antiga per-
m ite e n co n trar algum as pistas que justifiquem po r Graças ainda à coleção de m anuscritos do M ar
que m uitos judeus do prim eiro século esperavam o M o rto descoberta em 1947, é possível dizer que para
M essias para o seu tem po. M uita coisa se perdeu, mas um considerável núm ero de judeus que viveram no
os m anuscritos sobreviventes revelam três coisas: século I d.C., aquele tem po m arcava a chegada de uma
era de salvação previam ente determ inada pela provi-
• O M essias deveria v ir n u m tem po apontado pela
dência divina. Nas palavras do Pesher (ou interpreta-
profecia;
ção) de Habacuque escrito no século I a.C.: “(...) todo
• O Segundo T em plo de Jerusalém estaria em ple- o tem po de Deus virá na cronologia fixada, com o ele
no funcionam ento quando ele viesse; m esm o determ inou nos m istérios de sua providên-
cia” (IQpHab vii, 1314 ‫־‬a).
• Ele seria reconhecido com o “Filho de D eus” e
um a estrela m arcaria seu nascim ento. Fato # 2

Fato # 1 Q uando Daniel escreveu sua profecia, o Prim eiro


T em plo erguido p o r Salomão estava destruído pelos
Sobre o tem po apontado de seu aparecim ento, o babilônios. Ele então anunciou a reconstrução de um
profeta Daniel, que viveu nos dias do exílio babilôni- Segundo T em plo e a conseguinte vinda do Messias
co escreveu um a visão, segundo a qual o M essias viria M as depois disso, esse Segundo T em plo tam bém seria
483 anos depois que houvesse a ordem para restaurar destruído (Dan. 9:26). O ra, é sabido pela história que
e edificar Jerusalém , bem com o o T em plo, que em os rom anos queim aram o T em plo judeu, justam ente
seu tem po estavam destruídos (Dan. 9:25). aquele previsto p o r Daniel. C onsiderando, pois, que
O ra, a saída da ordem dada pelos persas ocorreu o M essias deveria v ir antes disso, é possível deduzir
no ano 457 a.C. Som ados, pois, 483 anos chega-se ao que, pela profecia hebraica, o Salvador deveria surgir
antes do final de agosto do ano 70 d.C., data que mar-
ano 27 da era cristã, quando Jesus, de fato, iniciou seu
ca a destruição de Jerusalém e seu santuário.
m inistério a pa rtir de seu batism o no rio Jordão. Isaac
N ew ton, o descobridor da Lei da Gravidade, tam - Até m esm o o Talm ude, o mais im portante trata-
bém estudou as profecias de Daniel, concluindo que do rabínico de história e interpretação do judaísm o
o M essias deveria surgir coincidentem ente na época adm ite que o povo da época acreditava que o Messias
em que Jesus esteve neste m undo. havia chegado. Sua presença, contudo, fora ocultada
dos judeus p o r não estarem dignos de recebê-lo. Esse
Ademais, com o aquele ano m arcaria o início do
era o pensam ento da época.
m inistério de um M essias que tam bém seria sacerdote
de Deus, havia um a possibilidade de se concluir apro- O utras passagens adicionais tam bém suportam a
xim adam ente quando ele nasceria. De acordo com conclusão de que o M essias viria num a época em que
N úm eros 4:3,47, 30 anos era a idade m ínim a para um esse Segundo T em plo estivesse funcionando.
hom em iniciar-se no ofício de sacerdote. Logo, em 27
d.C. o M essias deveria ter em to rn o de 30 anos. Essa O Salmo 118, p o r exemplo, fora escrito prova-
era, de fato, a idade aproxim ada de Jesus, conform e o velm ente em 444 a.C. para m arcar as reconstruções
testem unho de Lucas 3:23. do Segundo T em plo e das m uralhas de Jerusalém . O
próprios rabinos diziam ser esta a m úsica que os ju-
Estudos feitos nos famosos M anuscritos do M ar deus cantariam quando o M essias houvesse chegado
M orto tam bém m ostram que os habitantes da comu- para visitar o Tem plo: “Rogam os a ti, ó SENHOR
nidade de Q um ran contavam os tem pos proféticos de salva-nos e faze-nos prosperar. Bendito seja o que
Daniel e dos jubileus judaicos, concluindo que o “M es- vem em N om e do SENHOR. Da Casa do Senhor‫׳‬, nós
tre de Justiça” - sua provável figura do Messias - che­ te bendizemosl” (Sal. 118:24 e 25). A conclusão é mais
Enciclopédia Histórica da Vida de Jesus
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que notória, se judeus dariam as boas-vindas ao M es- blem a sim bólico”, um “ser h u m an o ” ou até um “m ito”,
sias de dentro do Segundo T em plo, este deveria vir m as nunca com o o Filho de Deus.
num tem po em que esse santuário estivesse em pleno
N ote que “Filho de D eus”, neste contexto, não
funcionam ento.
eqüivale ao título espiritual de “filhos e filhas de
O profeta Ageu, que estava pessoalm ente em Je- D eus”, que pode ser aplicado aos seres hum anos em
rusalém enquanto o Segundo T em plo era erguido, geral. A filiação divina de Jesus im plica divindade,
fez um a previsão m essiânica ao dizer que “a glória pelo que, parece invenção do cristianism o. M uitos
deste últim o T em plo será m aior que a p rim eira” (Ag. autores m odernos entendem que o judaísm o de hoje
2:9). E M alaquias confirm a: “e de repente virá ao seu jam ais aceitaria um M essias “Filho de D eus”.
Tem plo o Senhor, a quem vós buscais; e o m ensagei-
ro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem , Mas nem sem pre foi assim. Em 1992 um estudo pu-
diz o SENHOR dos Exércitos.” (Mal. 3:1). O rabino blicado sobre os m anuscritos do M ar M orto m ostrou
Davi Kim chi, que viveu no século XII, afirm ou que, que, no século I d.C., determ inado segm ento do juda-
n a com preensão judaica de seu tem po, o Senhor, o ísmo entendia que o Messias era, entre outras coisas,
m ensageiro da aliança, e o Messias! o verdadeiro Filho de Deus. Até m esm o alguns m em -
bros do Sinédrio pareciam ter essa compreensão.
Assim, de acordo com essas revelações escriturís-
ticas, o Segundo T em plo judeu não apenas estaria em Q uando, durante um in terrogatório ilegal, os diri-
pleno funcionam ento quando o M essias viesse, mas gentes judeus perguntaram a Jesus se ele era o Filho
seria destruído pouco tem po depois de sua passagem de Deus, ele adm itiu que sim. Eles, então, im ediata-
pelo m undo. Assim, aquele tem plo inicialm ente re- m ente o levaram a Pilatos e no m om ento de proto-
construído p o r Esdras e Zorobabel, e depois amplia- colar a acusação disseram: “Ele afirm a ser o Cristo”
do por H erodes, foi o m esm o santuário no qual Jesus (Luc. 22:70-23:3). Isso perm ite supor que as expres-
esteve ensinando sua d o utrina e afirm ando que, após sões “Filho de D eus” e “M essias” estavam em paralelo
sua partida, ali não ficaria pedra sobre pedra que não no en ten d im ento deles.
fosse derribada (M at. 24:2). Cerca de quarenta anos
O livro dos Salmos tam bém traz um a declaração
depois, o T em plo foi destruído e nunca mais reer-
provocativa. Ali Deus fala a seu servo, o M essias, e
guido. O que existe hoje em seu lugar é um a m esqui-
o cham a de “m eu filho” (Sal. 2:1-7). M uitos hoje en-
ta e um m onum ental edifício m ulçum ano cham ado
tendem que o texto se refere a um ungido qualquer.
“D om o da Rocha”.
C ontudo, a tradição talm údica e a tradição midráxica
U m a das possíveis razões para o im p o rtan te vín- da Idade M édia - ambas escritas p o r eruditos judeus
cuio entre o M essias e o T em plo é que, segundo a opi- - sem pre entenderam que a passagem em questão se
nião de vários especialistas, ali estariam guardados os referia ao prom etido M essias de Israel.
docum entos genealógicos mais im portantes de Judá.
O utro fator preponderante é o anúncio de seu
D entre eles, estariam aqueles que com provariam a
nascim ento vinculado ao surgim ento de um a estrela
ascendência de qualquer indivíduo que se declarasse
especial. U m a antiga profecia já apontava nessa dire-
o M essias, filho de Davi. Caso esse acervo ten h a mes-
ção: “Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, m as não
m o existido, talvez foi ali que M ateus e Lucas pesqui-
de perto. U m a estrela surgirá de Jacó; um cetro se le-
saram a genealogia de Jesus e a apresentaram em seus
vantará de Israel” (Núm. 24:17).
respectivos evangelhos.
De algum a form a, os judeus do prim eiro século es-
F a to r # 3
peravam p o r aqueles dias o aparecim ento de tal corpo
N enhum título trouxe mais polêm ica sobre a fi- celeste, anunciador da vinda do prom etido Messias.
gura de Jesus que sua autodefm ição com o “Filho de Até m esm o Herodes valeu-se do sím bolo de um ca-
D eus”. Em tese, a m aioria absoluta dos judeus de hoje pacete e um a estrela para fazer em suas m oedas a pro-
entendem o M essias com o um a “nova era”, “um em ­ paganda messiânica.
Fato importante
Todo estudioso da história das religiões sabe que
0 chamado staurograma é um dos mais antigos
nmbolos do cristianismo. Ele combina duas le-
tras gregas num único símbolo: a letra Tau que se
assemelha a u m T e a letra Rho que se parece com
um P. Colocadas em conjunto elas lembrariam
0 Cristo crucificado. Recentemente, porém, 0
professor Larry Hurtado64escreveu um artigo
mostrando que esse símbolo já aparecia em
moedas cunhadas por Herodes 60 anos antes
da crucifixão de Jesus. A partir desse estudo,
alguns autores têm concluído que esse úmbolo,
originalmente reconhecido como cristão, era
na verdade um úmbolo judaico de messianismo
e que, ao usá-lo, Herodes queria dizer que ele
mesmo era 0 Messias esperado pelo povo.

T 7 r ‫־‬t

O Messias romano
F ragm entos de evidência histórica levam à conclu-
são de que a esperança judaica da vinda de um M es-
sias tam bém atingira pessoas fora de Israel. N o m un-
do greco-rom ano, m uitos que não tin h am nenhum a
relação com o judaísm o viviam a expectativa de que,
naqueles tem pos, a hum anidade receberia um a crian-
ça especial, que salvaria m uitos povos.

A razão especifica dessa certeza não sobreviveu


na história. M as antigos testem unhos da época dão a
Moeda de Herodes
entender que havia profecias, hoje desaparecidas, que
apontavam para a vinda de um indivíduo que seria o
Salvador e o Filho de Deus en tre os hom ens.
A dita profecia do aparecim ento de um a estrela es-
pecial foi tam bém utilizada durante os tem pos de tu- V irgílio, p o r exemplo, um dos mais fam osos poe-
multo que culm inaram nas guerras judaicas de 66-70 tas latinos que viveu no século I a.C. previu num de
d.C. Igualm ente os responsáveis pelos m anuscritos do seus poem as a chegada de um a idade de ouro, que se-
M ar M orto, os rebeldes am otinados em Masada e até guiria às dilacerantes guerras da hum anidade. Um a
os seguidores do líder rebelde Bar Kochba (“Estrela da época em que a terra ofereceria aos hom ens colheitas
M anhã”) valeram -se dela para legitim ar sua resistência douradas sem a necessidade prévia de plantio. As uvas
a Roma. Isso sem contar os prim eiros cristãos. dariam v inho sem ser preciso podá-las. O rebanho de
ovelhas não tem eria mais diante do leão. As serpentes Otávio Augusto Cristo?
seriam m ortas e 0 m el escorreria com o orvalho no
tronco das árvores65. Q uando O távio A ugusto, herdeiro de Júlio César,
Tal idade de paz seria anunciada pelo nascim ento de foi proclam ado o prim eiro im perador de Rom a, m ui-
um a criança especial, que reinaria como um deus num tos acreditaram ser ele a criança especial prom etida
m undo de fartura. U m a verdadeira criança messiânica. nos antigos oráculos. T anto que Suetônio testem u-
M as quem seria ela? Quando seria sua chegada? nhou: “Os presságios que ocorreram antes que ele
nascesse, no próp rio dia de seu nascim ento, e depois, ■
tornaram possível antecipar e perceber sua grandeza |J
futura e fortuna in in terru p ta e seu trabalho”

U m calendário encontrado em Priene, atual T u r- Tácito:


quia, apontava para o seu nascim ento com o sendo
"M u ito s estavam persuadidos de que
o cum prim ento das boas-novas da hum anidade.
constava das antigas profecias dos sacerdo-
C urioso que a palavra grega ali utilizada para “boas-
tes, que por este tem po 0 poder do oriente
novas” era euangelia, o plural da palavra Evangelho -
subiria; e da Judeia viriam os dom inadores
um jargão técnico para falar daquele que, na com pre-
do m undo ".68
ensão deles, seria o Filho de Deus, p rom etido pelos
oráculos divinos.66

U m a inscrição da m esm a época foi encontrada no


Egito com os seguintes dizeres: “[Augusto] o gover-
nador dos oceanos e continentes, o divino pai en tre
os hom ens, aquele que sustenta o m esm o nom e de
seu pai celestial - L ibertador, a m aravilhosa estrela
do m undo grego, brilhando com o brilho de um sal-
vador celestial.”67

Um a estrela ou com eta tam bém fizeram parte dos


prognósticos de sua vinda, bem com o da m o rte e dei-
ficação de seu pai adotivo, Júlio César. Isso fora o fato
de Augusto ser cham ado não apenas de Deus, mas de
filho de D eus” ou “deus filho” em vários m onum en-
tos públicos que traziam o seu nom e.

JC-Q.

Fato importante
Com a morte de Augusto, os romanos precisa-
vam de novos Messias. Além disso, sua vinda
não cumpriu uma importe parte do antigo
oráculo: 0 rei dos reis deveria vir da Judeia!
Então, a alternativa encontrada fo i aplicar 0
prognóstico não mais a Augusto, mas aTitoe
Vespasiano, após sua conquista de Jerusalém,
quando regressaram triunfalmente da Judeia
paraRoma. Isso também é testemunhado por
autores da época.

TTT-k ‫־ס־דו־‬
Anúncio em Nazaré
A história de Jesus começa num a pequena vila
cham ada Nazaré. U m anjo especial de Deus é enviado
a um a jovem em idade de casam ento cham ada M a-
ria. De acordo com M ateus 1:18, ela estava desposada,
isto é, com prom etida em casam ento com um hom em
cham ado José.

Suetônio: N azaré não era em nada parecida com algo que


se possa ser cham ado de “cidade”. Era um povoado
"A um entava em todo 0 O riente a a n ti-
com não m ais que 300 ou 400 habitantes. M uitos de-
ga e constante opinião que estava escrito
veriam ser parentes uns dos outros ou, pelo m enos.
no destino do m undo que da Judeia viriam
conhecidos.
naquele tem po os dom inadores do mundo...
Esta previsão, com o m ais tarde se provou, As escavações iniciadas ali em 1955, pelo arqueó-
dizia respeito aos dois im peradores rom a- logo italiano Belamino Bagatti, localizaram 23 se-
nos, Vespasiano e Tito, mas os rebeldes ju- pulturas ao norte, oeste e sul que ajudam a decifrar 0
deus, que a leram com o se referindo a eles contorno e o tam anho ínfim o da vila. Os cemitérios
próprio s " . 69 ficavam fora das cidades, logo, ali estaria seu limite.
U m declive na parte leste dem onstrou que Nazaré te-
ria algo em to rn o de 700 a 900 m etros de extensão.

O considerável núm ero de prensas para azeito-


nas e uvas, além de depósitos de água, vinho e pão
dem onstram que a ocupação de José não era o princi-
pal ofício do lugar. Além disso, tudo indica que seus
populares, no todo ou em sua m aioria, eram pobre;
e talvez incultos, e dedicados à produção de vinho e
azeite de oliva.

Fato importante
Confirmando a inúgnificância do vilarejo
onde viveu Jesus, é notório que nem 0 Antigo
T estamento, nem Josefo ou sequer 0 T almu-
de, mencionam seu nome em qualquer canto
de seus textos. Isso esclarece 0 comentário de
Natanael que disse: “Pode vir alguma coisa
boa de Nazaré?" (Jo. 1:46).

‫נד ה סזד־‬
‫ ך‬r»Q P or isso, alguns tradutores mais recentes têm su-
C 0 gerido que o verbo grego mnesteuo, que aparece tanto
c em M ateus com o em Lucas, deveria ser traduzido po r
Você sabia? “prom etida em casam ento” e não “casada”. O term o
“desposada” suaviza a situação, mas não a resolve por
De acordo com 0 “protoevangelho de Tiago”, ser dúbio, podendo significar tan to “casada” com o
documento apócrifo do século II d.C., Maria
“prom etida em casam ento”.
teria cerca de 12 anos quando se casou com.
José. Embora os evangelhos canônicos nâo
digam nada a respeito, isso é bem possível.
As meninas, nos tempos de Jesus, geralmente
O dote
eram dadas em casamento assim que iniciava
O dote era um a parte im portantíssim a de um con-
a puberdade. Não há nenhuma razão para
trato nupcial. Ele era provido neste ínterim entre o
pensar que com Maria seria diferente.
casam ento de acordo e o casam ento de fato. Ali as fa-
De acordo com 0Talmude, a idade apropriada mílias que iriam se u n ir pelo casam ento de seus filhos
de casamento para rapazes seria 18 anos (Avot. levantavam tipos especiais de dote que faziam parte
5:21). Mas geralmente os homens se casavam do contrato familiar. U m deles, o M ohar era um pre-
em algum período entre 16 e24 anos (Kidd.
ço pago ao pai da noiva com o indenização pela retira-
29b-30b).
c
c
TTJ- ~Z‫־‬Õ‫־‬

Desposada mas solteira?


M uitos leitores se espantam com a declaração de
M ateus 1:18 de que M aria era “casada” com José (al-
gumas versões dizem “desposada”), mas que eles ain-
da não haviam tido relações sexuais, nem m oravam
juntos. Lucas 1:26-38 conta essa história de m aneira
mais detalhada. Com o com preender isso?

Um a análise dos costumes da época esclarece a


questão. O casam ento nos tem pos bíblicos era, antes
de tudo, um contrato entre famílias. A m enina era pro-
m etida ao m enino - o que não significa que era obriga-
da a casar com ele (veja o caso de Rebeca em Gên. 24).

De acordo com as disposições encontradas na Lei de


Moisés, aproxim adam ente um ano antes do casam ento
de fato, havia os desposórios, isto é, as cerimônias con-
tratuais de prom essa de casam ento (Deut 20:7).

T ratava-se de um com prom isso de casam ento (Ki-


ddushim), isto é, de um noivado. M as era um com pro-
misso tão real que o noivo já se dizia “m arido” de sua
prom etida e não podia desfazer o acordo, senão po r
m eio de um docum ento de repúdio.
da de sua filha ou com pensação pelos anos que cuidou Xla.
dela. Era tam bém um a form a de m ostrar que o con-
tra to era sério, pois o noivo se esforçava para levantar
o m o n tan te exigido pelo futuro sogro (Gên. 34:12). Fafo importante
A Lei de M oisés prescrevia um m ínim o de 50 £ importante, porém, salientar que no período
shekels de dote (Êx. 22:15-16; Deut. 22:29). Esse va- de levantamento do dote, os noivos não pode-
lor poderia ser pago de várias form as, incluindo tra- riam ter relações sexuais de nenhuma espécie.
balhos (Gên. 29:20). Esse foi o caso de Jacó trabalhan- Qualquer gravidez nesse período seria uma
do sete anos para Labão, seu sogro, a fim de poder grave desonra para a jovem e toda sua família.
casar com sua filha Raquel. Logo, a informação de que estava grávida
gerava mais problemas quefacilidades para a
N o prim eiro século, contudo, a tradição judaica virgem Maria. Se não fosse a intervenção do
parece indicar que esse período de noivado não de- anjo, 0próprio José a teria abandonado
veria ser m aior que 12 meses para um a virgem ou 30 (Mat. 1:20-25).
dias para um a viúva70. Assim, não é difícil imaginar 0escândalo que
Além do levantam ento do dote, o período de noi- aquela noticia traria. José teria 0direito legal
de acusar Maria, afirmando que 0filho que
vado era ainda um tem po apropriado para que se fi-
ela trazia no ventre não era seu (Núm. 5:11-31).
zessem arranjos quanto à festa, à construção da casa
Ela corria ainda 0 risco de ser apedrejada,
dos noivos e à preparação do quarto de núpcias - em mesmo que os judeus não tivessem, nesse tem-
algumas ocasiões, um a tenda (huppá). Esse, às vezes, po, 0direito de exercer justiça com as próprias
era preparado na casa do pai do noivo, caso este não mãos (Deut. 22:20s). Seu amor à sua noiva,
estivesse ainda com sua casa pronta. O quarto de núp- somados à sua obediência ã voz do anjo, fize-
cias ou quarto da noiva deveria ser decorado apro- ram com que Joséfinalmente voltasse atrás de
priadam ente para receber a recém-casada. sua ideia de repúdio ou abandono da noiva e se
casasse com Maria. Ele talvez a levou para sua
casa antes do prazo previamente estabelecido
para 0noivado (Mat. 1:24 e 25).

c
jClo, siD . G
a .
‫דרם־‬

Você sabia?
Embora 0 acordo de noivado tivesse valor
matrimonial perante a lei, 0casamento
Encontro com Isabei
propriamente dito consistia, entre outras
O anúncio do anjo à virgem M aria aconteceu no
cerimônias, na condução solene efestiva
da noiva para a casa do esposo (Deut. 20:7). vilarejo de Nazaré. Ela, porém , não parece ter ficado
Assim, o problema com a passagem se deve a ali m uito tem po após o encontro com o anjo. Talvez
antigas traduções que apresentam os pais de antes que José resolvesse assum i-la po r esposa defini-
Jesus como sendo já casados. tiva, M aria foi visitar Isabel, sua parenta, que estava
grávida do profeta João Batista.

O local do encontro não é m encionado na Bíblia.


‫״‬c o ‫ט‬ Apenas é dito que M aria foi para a região m onta-
nhosa, a um a cidade de Judá. Desde o século VI , a
tradição aponta o lugar de visitação e nascim ento de
João Batista em A in Karin, 7 km a oeste de Jerusalém .
M esm o que não seja esse o lugar original, a distância M aria corria o risco de ser banida ou apedrejada pe-
m édia de Nazaré a qualquer cidade da região m onta- los m ais conservadores do povo.
nhosa de Judá é de 120 km , aproxim adam ente. Isso
Foram três meses na casa de Isabel até que nasces-
daria no m ínim o três dias de viagem.
se João Batista (Luc. 1:56). Depois disso, ao que tudo
Ela certam ente se ajuntou a um a das caravanas lo- indica, José aceitou M aria com o esposa e ela passou a
cais para cum prir esse trajeto, com o aliás era o cos- m o rar com ele (Mat. 1:24). Pouco tem po depois saiu
tum e da época. U m possível trajeto seria descer até a o decreto de recenseam ento e eles seguiram mais um a
planície do Esdrelão, tom ando a estrada que sobe as vez para a Judeia.
colinas da Sam aria e, de lá, subindo pela região ainda
mais m ontanhosa que é Judá. O casamento de María
O Evangelho de Lucas não esclarece as razões da O casam ento nos tem pos bíblicos não era realiza-
visita, m as, considerando as circunstâncias da gra- do no T em plo nem na sinagoga, mas nas casas dos
videz de M aria e o fato de que ela foi para lá “apres- noivos. Não havia, até onde as fontes indicam , ne-
sadam ente”, é possível concluir que a casa de Isabel nhum a cerim ônia envolvendo um sacerdote ou rabi.
to rn ara-se um refúgio para a jovem grávida. Os ha- A p ró p ria Bíblia é silente quanto a isso. O único texto
bitantes de N azaré sem pre se m o straram pouco re- que descreve um a cerim ônia m atrim onial é Tobias
ceptivos em relação a Jesus e não há m otivos para 7:12-14, mas que não consta na lista de livros inspira-
pensar que fosse diferente na época de sua gestação. dos nas edições protestantes.
Lá é dito que um pai colocou um a das m ãos sobre
a noiva e a o utra sobre o noivo, talvez pronunciou
um a bênção e, a seguir, firm aram um contrato. De-
pois disso, poderiam ter sua prim eira noite juntos.
N ão há razões para pensar que seria diferente com
Anno Domini
José e M aria.
A história m undial é com um ente
Fora da Bíblia, há um a fonte do Talm ude, segundo dividida em antes e depois de Cristo.
a qual a prática atual dos judeus de casarem -se sob C onvencionalm ente, os livros trazem as
um a tenda já era praticada no século II d.C. Essa prá- datas m ais antigas acom panhadas de si-
tica consiste na preparação de um a cobertura aberta glas que você já deve estar fam iliarizado :
dos lados e que os judeus cham am de Chupá. Ele re- a.C. - vem do latim ante Christo e
presentaria a casa dos noivos, sob a qual o patriarca quer dizer "a n te s de C risto". A plica-se a
da fam ília pronuncia um a bênção aos dois. Difícil é datas anteriores à era cristã.
precisar se já havia esse costum e nos tem pos do N ovo A.D, - tam bém bastante comum ,
Testam ento. abrevia a referência annus Dominie quer
dizer "ano do Senhor [Jesus C risto]".
d.C. - seria um sinônim o "tra d uzid o "
do a n te rio r e significa "d epois de C risto".
Tem, portanto, a mesma função de A.D.
Escritores que talvez prefiram não
On ‫ ך‬οΟ usar Cristo com o referência histórica
C O costum am a lte ra r essas siglas para E.C.
c ‫ג‬ e A.E.C., que em alguns livros abreviam
Você sabia? respectivam ente, Era Comum e A ntes da
Uma antiga form a usada por autores romanos Era Comum. M as, seja como for, 0 nasci-
para contar os acontecimentos era utilizar as m ento de Jesus ainda continua sendo 0
letras A.U.C., uma abreviatura para ab urbe centro de nossa cronologia básica. Isso
condita. Essa expressão latina significa “desde ninguém pode negar.
afundação da cidade". Para os latinos, afunda-
ção da cidade de Roma era 0 marco para a conta-
gem de sua cronologia. Assim, quando diziam que
algo aconteceu no ano 723 A.U.C. queriam dizer
que aquilo ocorreu 723 anos após afundação da
cidade de Roma.
Jesus antes de Cristo
A equiparação dessa forma de datação com 0
atual calendário gregoriano ajuda a determinar O atual sistem a cronológico dividido em antes e
(ainda que aproximadamente) a cronologia dos
depois de Cristo surgiu no século VI, quando o m on-
eventos da vida de Jesus.
ge D ionísio, o Exíguo resolveu datar as coisas a partir
C ‫ר‬
C Ο do nascim ento de Jesus Cristo. Assim, atribuiu o Is

£ ‫־כדס־‬
de janeiro do ano 1 d.C., ao 46° ano do calendário re-
form ado de Júlio César. Isso eqüivaleria ao ano 753
A.U.C, ou seja, 753 anos após a fundação de Roma.

O corre, no entanto, que D ionísio com eteu um


erro de quase m eia década que perpetuou nos calen-
dários seguintes. Som ente no século XVI, V arro, ou-
tro m onge cronologista, percebeu o deslize. Na ver-
anos contados de forma decrescente Anno Domini
v. e.
anos contados de forma crescente
daa.C daa.C ! 0.,década tLC 9‫ נ‬década d.C
daa.C tc a.C

‫ו‬ -» Ano 1 Depois de Cristo


-3► Século I a.C. Século í d.C. 4é-

A partir do “Anno Domini”, inicia-se o que A partir dos anos de vida de Cristo, os
chamamos de Era Cristã ou Era Comum. anos são contados de forma crescente.

dade, a era C ristã deveria ter com eçado, realm ente, Isso é sabido, p o r causa de um a citação de Flávio Jo-
entre os anos 747 e 749 A.U.C. Desse m odo, todas as sefo que diz que sua m orte se deu próxim a a um a festa
datas atuais deveriam ser avançadas em pelo m enos de Páscoa antecedida pela ocorrência de um eclipse71.
quatro ou cinco anos. Por que então isso não é feito? Segundo a astronom ia, de fato, houve um eclipse lu-
nar, visível na Judeia entre 12/13 de m arço do ano 4a
Devido à confusão que daria para corrigir o equí-
a.C. Esse deve ser 0 evento astronôm ico m encionado
voco de D ionísio. Im agine m udar todos os livros e p o r Josefo, pois está m uito próxim o a um a festa de
datas convencionais da história hum ana. O Brasil, Páscoa que, naquele ano, cairia em 11 de abril. Logo,
por exemplo, teria sido descoberto em 1505 e não em esses seriam os lim ites da m orte de H erodes e Jesus
1500, e a independência proclam ada em 1827, não em não poderia nascer depois disso.
1822. Isso sem contar que é difícil saber o retrocesso
deveria ser de 4 ou 5 anos. Com o se pode ver, o trans- H á , contudo, o u tra teoria cronológica para a m or-
to rno que isso causaria acabou deixando que o erro se te de H erodes que tam bém m erece ser considerada,
firmasse ao longo dos anos. em bora a m aior parte dos acadêm icos inclina-se em
favor do ano 4 a.C.
Portanto, po r mais irônico que pareça, devido a
esse erro de Dionísio, Jesus acabou nascendo antes de É que o pró p rio Josefo diz o seguinte sobre a m or-
Cristo, pois no ano 1 d.C., ele já tinha entre 4 e 6 anos. te desse rei:
M as,como chegou-se à conclusão de que o ano 1 não “[Herodes m orreu] depois de reinar 34 anos, con-
correspondia ao nascim ento do nosso Senhor? tando da época em que ele m andou m atar A ntígono
e, assim obter seu reino, ou 37 anos, contando da
O elem ento mais simples que dem onstra o erro do
época em que ele foi feito rei pelos rom anos”.72
cronologista m edieval é a m orte de H erodes, o G ran-
de. Você sabe, esse foi o cruel m onarca que ten to u O ra, considerando que H erodes recebeu o título
m atar Jesus e, para isso, ordenou a execução de várias de rei em 37 a.C., se você contar 34 anos de governo
criancinhas em Belém. Ora, H erodes m o rreu entre 4 chegará ao ano 3 a.C. O problem a é que não houve
e 3 a.C. Logo, Jesus só poderia te r nascido em algum n en h u m eclipse lunar visível em Jerusalém no ano 3
período antes disso. a.C., mas apenas no ano 4 a.C.

C ontudo, cálculos astronôm icos m ostram que


Morte de Herodes tam bém houve no ano 3 a.C. um eclipse, só que não
estava visível aos m oradores de Jerusalém . Daí al-
A m aior parte dos autores acredita que H erodes guns consideram a possibilidade de que esse fenôm e-
m o rreu entre 29 de m arço e 11 de abril do ano 4 a.C. no celestial pode te r sido calculado e catalogado po r
astrônom os caldeus e Josefo possa estar se referindo oco rre ra m de verd ad e na histó ria. M as não é sensa-
a essa ocorrência astronôm ica e não àquela ocorrida to ir tão rápido assim . A té autores céticos que exa-
a n te rio rm e n te 73. m in a ram o co n teú d o de Lucas adm item que ele é
preciso e m eticuloso nas inform ações que oferece,
Sobre a Páscoa m encionada p o r Josefo com o
ta n to de cunho h istó rico qu an to geográfico, con-
oco rren d o pouco depois da m o rte de H erodes, em -
textual e jurídico. Se ele m erece descrédito p o r essa
b o ra alguns achem que o hiato e n tre am bos os even-
ap aren te in co ngruência, o que se fará com o resto
tos não pode ser m uito m aior que um m ês, outros
de sua o b ra que parece im pecável?
pensam que pode te r havido um intervalo de 13
m eses e n tre o falecim ento do rei e o eclipse, o que
D izer, p o r o u tro lado, que ele acerto u em tudo,
favorece o ano 3 a.C74.
m as e rro u nesse quesito tam b ém não resolve a
E difícil ser dogm ático em relação a esse assunto, questão, pois o que se tem no caso do censo e do
em bora, com o foi dito, por diversas outras razões, go v ern o de Q u irin o é um a tre m e n d a pobreza de in-
grande parte dos acadêm icos prefere trabalhar com form ações e não um a gam a de fatos que provem ,
o intervalo de 12 de m arço (data do eclipse lunar) a p ara longe de qualquer q u estio n am en to , que Lucas
11 de abril (Páscoa) de 4 a.C. para a m orte do rei. O não estava dizendo a verdade.
nascim ento de Jesus teria de ocorrer antes disso.
W illiam M . R am say era um dos m aiores especia-
Contradição cronológica? listas em h istó ria da Ásia M e n o r que, com a in te n -
ção inicial de desacreditar os evangelhos sinópticos,
O Evangelho de Lucas diz que Jesus nasceu na especialm ente Lucas, viajou p o r to d o o M ed iterrâ-
época do censo decretado po r César Augusto e do go- neo coletando dados para m o n ta r um a tese c o n tra a
v erno de Q uirino (ou Cirênio), na Síria. Além disso, h istoricidade bíblica.
M ateus m enciona a presença de Herodes com o go-
v ern ad o r da Judeia (Mat. 2:1 e Luc. 2:1 e 2). Ao final de sua pesquisa, p o rém , ele se im pres-
Tais inform ações, no entanto, enfrentam um pro - sio n o u ao d escobrir que seus achados, ao co n trário
blem a cronológico ainda sem solução definitiva. É de d esm en tir o relato bíblico, confirm avam a exa-
que a única inform ação extrabíblica sobre esse censo, tidão dos costum es, locais, p ersonagens e títulos
ocorrido sob governo de Q uirino, o m enciona num a gov ern am en tais ali m encionados. Ele analisou as
data incom patível com os eventos m encionados em referências que Lucas faz a 32 países, 54 cidades e 9
M ateus e Lucas. ilhas e não achou um erro sequer. P o r fim , Ram say
concluiu: “Os grandes historiadores são os mais raros
Q uem fornece a inform ação é Flávio Josefo,75 que
dos escritores...[Eu reconheço Lucas] entre os historia-
coloca o censo e o governo de Q uirino no ano 6 d.C.
dores de primeira classe.”76
Ora, isso seria m uito depois da m orte de H erodes, o
G rande, de m odo que é praticam ente im possível en-
R am say e o u tro s especialistas descobriram em
co n trar um a harm onia entre as fontes. Para m aior
Lucas um h isto ria d o r im pecável. Logo, isso é mais
clareza, o problem a é que H erodes reinou na Judeia
que suficiente para d ar-lh e, no m ín im o , o beneplá-
de 37 a 4 a.C, ao passo que Q uirino foi Prefeito da
Síria en tre 6 e 12 d.C. cito da dúvida. Eis algum as sugestões hipotéticas
ou p ro v isó rias apresentadas p o r especialistas para o
p ro b lem a en co n trad o nesta p a rte de Lucas:
Lucas, historiador
ou mentiroso? 1 - Pensa-se m u ito no possível erro de Lucas,
m as Josefo já se m o stro u im preciso em m uitos da-
Para m uitos, a solução óbvia é dizer que Lu- dos que fornece. N ão é im possível su p o r que Lucas
cas e rro u e que os episódios que ele m enciona não esteja certo e Josefo errado ou pelo m enos in co m ­
pleto em seus dados. O u seja, o censo que ele m en- 6 - A favor da hipótese de que Q u irin o possa ter
ciona, bem com o a atuação de Q u irin o na Síria em exercido um a adm inistração co n ju n ta está o fato de
6 d.C. não foram únicos. O recen seam en to m encio- que a Síria parecia c o n ta r com m ais de um adm i-
nado no E vangelho pode te r sido o utro. n istra d o r ao m esm o tem po. S atu rn in o g o v e rn o u a
Síria de 9 a 6 a.C. e Q u in tílio V aro, de 7 a.C. a 4
2 - Lucas 2:2 diz: ‫״‬E ste, o p rim e iro recensea- d.C. - observe um a sobreposição de um ano e n tre
m ento, foi feito quando Q u irin o era g o v e rn a d o r da os dois períodos. A dem ais, segundo T e rtu lia n o , o
Síria.” A lguns gram áticos da língua grega enten d em Prefeito Sêncio S atu rn in o teria p rescrito um recen-
que a palavra “p rim e iro ” (prótos) p o d eria ser lida no seam ento, e nada im pede de Q u irin o te r sido aquele
sentido de “a n te rio r”, de m odo que se leria: “Este que o organizou. M esm o po rq u e ta n to S atu rn in o
recenseamento ocorreu antes daquele que fo i feito sob qu an to V aro não possuem um a c arreira que os de-
Quirino, Prefeito da Síria". fina com o h om ens to ta l de confiança, a p o n to de
executarem sozinhos um recenseam ento a m ando
3 - A inda sobre o uso da palavra “p rim e iro ” de César. A ssim , em ou tras palavras, Q u irin o teria
(prótós) em Lucas 2:2, m esm o que se negue a ideia sido encarregado da política ro m a n a na região, des-
de tra d u z i-la p o r “a n te rio r”, é fato que ela indica de o ano 12 a.C, e, com o tal, sob o m an d ato de Sa-
a existência de o utro(s) censo(s) praticado(s) p o r tu rn in o , da Síria, teria efetuado um recenseam ento
Q uirino na Síria. Caso c o n trá rio não te ria sentido a m ando do im perador.
cham á-lo de “p rim e iro ”. Q ue Lucas não ig n o rav a o
censo o co rrid o no ano 6 d.C. está claro pela m enção 7 - Existe um a possibilidade de Q u irin o te r sido
que faz a ele no livro em A tos 6:37. duas vezes g o v e rn a d o r da Síria. Essa h ipótese é um
d esd o b ram en to ou um a v a ria n te da an te rio r. Ela
4 - Q ue ho u v e um censo na Ju d e ia a n te rio r àque- se baseia no teste m u n h o de T ácito (55-120) e Stra-
ie do ano 6 d.C. está evidenciado pelo teste m u n h o bo (60 a.C - 20 d.C), que dizem que e n tre 12 a.C.
de T e rtu lia n o , que p o r volta de 220 d.C. escreveu: e 1 d.C. Q u irin o esteve na Cilícia (atual T urquia),
'C o n sta tere m sido efetuados recenseam entos, na que, na época, era p a rte da p ro v ín cia da Síria, e
Judeia sob A ugusto, p o r obra de Sêncio S atu rn in o , p ro m o v e u a g u e rra naquela região. O ra, som ente
Prefeito da Síria e n tre 9 e 6 a.C .” (Adversus Mareio- o P refeito ou G o v ern ad o r tin h a au toridade para
nem 4,19; 4,7). O teste m u n h o de T e rtu lia n o é de fazer g u erra m obilizando seus súditos. A lém dis-
particular v alo r po rq u e não depende de Lucas, m as, so, e n c o n tro u -se em R om a, no ano de 1764, um a
ao c o n trário , parece co n trad izê-lo , pois um fala de inscrição conhecida com o Lapis Tiburtinus, que,
Q uirino e o o u tro de Sêncio S atu rn in o . A fonte em em b o ra não forneça o n om e, contém inform ações
que T e rtu lia n o colheu a n o tícia são os Archiva Ro- que a m aioria dos p erito s reconhece que poderiam
mana (A rquivos R om anos). aplicar-se som ente a Q u irin o 77. Ela fala de um indi-
v íd u o que, ao ir p ara a Síria, to rn o u -se g o v ern ad o r
5 - A expressão grega hegemoneuo ou “gov ern a- (ou legado) pela “segunda v ez”.
dor”, usada em Lucas 2:2, pode ser trad u zid a p o r
encarregado” ou “a cargo de” sobre a p ro v ín cia da 8 - D evido às co nstantes guerras na região, 0
Síria, que com preendia a Judeia com o subdivisão censo pode te r se atrasado b astante, ta n to p ara co-
política. Isso, p o rta n to , seria antes de Q u irin o ser m eçar q u an to para ser concluído. E possível que
gov ern ad o r oficial ali no ano 6 d.C. O tex to evan- te n h a com eçado nos dias de S a tu rn in o e term in a-
gélico, p o rta n to , pod eria estar se referin d o ao pe- do nos dias de Q uirino. Assim , o responsável acaba
ríodo em que ele liderou um a cam panha m ilitar na sendo, para efeito histó rico , aquele que concluiu o
região e n tre 12 e 2 a.C. e atu o u ali com o um a espé- processo. P o r isso Lucas m en cio n a Q u irin o e não
cie de a d m in istra d o r adjunto ou in te rin o . o u tro em seu relato.
O
‫נ‬

Você sabia?
É verdade que, pelos costumes da época,
Maria talvez não fosse obrigada a seguir
viagem com José para a Judeia. Mas con-
siderando sua sennvel situação social entre
os moradores de Nazaré (lembre-se, uma
virgem que aparece grávida anunciando
Fato importante que seu bebê era 0filho de Deus), não é di-
fícil supor que José tivesse razões de sobra
Hoje 0 museu Britânico possui um papiro data- para não deixá-la sozinha em Nazaré.
do por Milligan e Deissmann como pertencente
ao ano 104 a.C. que traz a seguinte ordem:

“Gaio Víbio Máximo, Prefeito do Egito [decla-


ra]: É chegado 0 tempo para que 0 censo seja
L
feito de casa em casa. É necessário compelir a
todos que por alguma razão estejam residindo
fo ra de suas províncias a que retornem para Quando nasceu Jesus?
seu próprio domicílio de origem, para que
possam tanto levar a efeito a ordem regular do O evangelho confirma que o nascimento de Jesus te-
censo como também atender diligentemente ao ria ocorrido durante o governo de H erodes, o Grande
cultivo de sua seção". O ra, levando-se em conta que esse terrível rei m orreu
Há ainda 0 papiro Oxyrynchus 225, que diz: no ano 4 ou 3 a.C., conclui-se que Jesus não poderia
ter nascido depois desse tem po. Logo, deve-se apon-
“Eu 0 acima mencionado Termutario segui- tar o nascim ento de C risto em algum período antes
do por meu guardião chamado A polônio juro de 3 ou 4 a.C. e não no ano 1 com o convencional-
pelo ImperadorT ibério Cláudio César Augusto m ente alguns o fazem.
Germânico que seguramente 0 precedente
documento f a z eco ao verdadeiro retorno de C onsiderando ainda que existe um possível ciclo
todos os que vivem comigo, e que não há mais de 14 em 14 anos, verificado nos censos rom anos re-
ninguém comigo, nem estrangeiro, nem um m anescentes, e que o segundo censo de Q uirino teria
cidadão alexandrino, nem um [homem] livre, ocorrido no ano 6 d.C., o prim eiro censo pode ter
nem um cidadão romano, nem um egípcio a
sido p o r volta do ano 8 a.C. Assim, Jesus teria nascido
mais daquilo que relatei Se eu estiver dizendo a
em qualquer período entre 8 e 3-4 a.C. É m uito im-
verdade, que possas tu ser bondoso para comi-
provável que seu nascim ento ten h a se dado fora desse
go, mas se por falso, 0 contrário. No nono ano
intervalo.
do Imperador Tibério Cláudio César Augusto
Germânico."

Os textos possuem muitos paralelos impor- E o 25 de dezembro?


tantes com 0 relato de Lucas. A ordem para a
contagem do povo, 0 comando para retornarem É quase nula a chance de Jesus ter nascido no Na-
às suas próprias províncias, possivelmente tal, com em orado pelos cristãos ocidentais no dia 25
acompanhados por toda a fam ília, são elemen- de dezem bro.
tos que devem ser anotados.
c ­‫נ‬ No Hem isfério N orte, o inverno ocorre nos meses
C ‫ס‬ de dezem bro, janeiro e fevereiro de cada ano. Portan-
to, se Jesus tivesse nascido em algum desses meses.
seria um a época de m uito frio e não faria nenhum gens longas seriam: Páscoa, ou Pessá (abril), no co-
sentido o fato de existirem pastores e rebanhos acam- m eço do plantio; Pentecostes ou Shavuot (junho), sete
pados à noite sobre as colinas da Judeia (veja Luc. sem anas depois, quando os prim eiros frutos estavam
1:8). Essa é um a cena típica de estações quentes. m aduros, e T abernáculos ou Sukkot (outubro), quan-
Em bora não haja nada que im peça a com em ora- do os últim os frutos eram colhidos.
ção sim bólica no dia 25 de dezem bro, essa definitiva-
m ente não é a data historicam ente apropriada de seu
nascim ento.
O aniversário de Jesus
A Bíblia diz que quando Jesus nasceu, havia pasto- Qual seria, p o rtan to , a data certa para o nascim en-
res com seus rebanhos ao ar livre no alto das colinas to de Cristo?
Luc. 2:8-20). M anter os anim ais no cam po m esm o à
O dia é difícil dizer, mas existe um a possibilidade
noite era um a prática com um daqueles dias, mas ela
quanto ao mês. Para descobrir qual seria, basta fazer
era propícia para os meses da prim avera ao outono.
um a análise de três fontes: o Evangelho de Lucas, o
Dezem bro, que corresponde ao mês de Quislev, é o
período de inverno e fortes chuvas (cf. Jer. 36:22; Esd. calendário judeu e o livro de I Crônicas 24:10.
10:9; Zac. 7:1). N inguém deixaria o rebanho ao relen- Começando por Lucas, esse evangelista dá a infor-
to nessa época do ano.
mação de que antes do nascimento de Jesus houve o
Igualm ente a viagem de M aria e José não seria nascimento de João Batista. Lucas 1:5,23-28 diz que Isa-
apropriada num a época de inverno. Pelas lim itações bel ficou grávida de João quando seu marido, Zacarias,
da época, qualquer trajeto de mais de 100 km exigia ministrava no Tem plo como sacerdote. Ora, Zacarias
grande esforço. Assim, os tem pos próprios para via- trabalhava no chamado turno de Abias. O que seria isso?
I Crônicas 24 conta com o Davi dividiu os sacerdo-
tes em 24 tu rn o s de 15 dias cada um . Assim, os tu r-
nos cobririam o ano inteiro. O verso 10 diz que Abias
ficou com o oitavo tu rn o . C ontando que eram dois
tu rn o s p o r m ês e que o calendário judeu começava Você sabia?
no m ês de nisã que eqüivale a m arço/abril, entende- A data do 25 de dezembro como dia do nasci-
-se que a segunda quinzena de tamuz (julho) seria 0 mento de Jesus fo i fixada pela Igreja Católica
tem po do anúncio do nascim ento de João Batista e o em 525 para coincidir com asfestas pagãs do
início da gestação de Isabel. Oriente e de Roma. Segundo alguns historia-
dores, fo i 0Papa Joâol quem oficializou a
Com nove meses de gestação, Isabel deve ter dado
comemoração, embora alguns digam que ela já
a luz no mês de nisã, que seria m arço/abril. E quanto a existia desde os tempos do Imperador Constan-
Jesus? Lucas 1:26-36 diz que M aria ficou grávida quan- tino. Seja como for, os cristãos do Oriente ja-
do Isabel, sua parenta, estava no sexto mês de gestação, mais aceitaram essa data e até hoje os armênios
que seria o mês de tibete (dezem bro/janeiro). Logo, comemoram 0N atai em 6 de janeiro.
Jesus nasceria 9 meses depois disso, no mês de etanim O c
que seria setem bro/outubro. Essa, portanto, seria um a
hipótese bastante razoável para a época do nascim ento
de Jesus.

6omês de gravidez Nasce


de Isabel. João Batista
Maria concebe
Luc. 1;26-36

Turno de
Absas
Lc 1:5
I Cr. 24:10

Isabel concebe
Lc. 1:23-28
Nasce
Jesus
.. ft.. ‫־‬: _CJ2
C
c Circuncisão
Fato importante M ateus e Lucas fazem questão de frisar a etnia ju-
daica de Jesus. Aos oito dias de nascido, ele foi cir-
Mateus e Lucas são os dois evangelistas que
apresentam 0 nascimento de Jesus. Eles, cuncidado com o qualquer criança judia (Luc. 2:21).
porém, selecionaram episódios diferentes que Esse era o principal rito externo de identificação de
devem ser harmonizados. Vistos em conjunto, um sujeito com o judaísm o. Era tão im portante que
ambos os textos fornecem um quadro lógico dos até no sábado deveria ser praticada.
acontecimentos na ordem em que ocorreram.
O nom e da cerim ônia em hebraico é BritM ilá, que
c literalm ente significa "aliança da circuncisão”. Inte-
C ressante que essa palavra traduzida p o r aliança (brit)
ü Io j L ‫כדהס־ס־‬ pode significar tan to acordo com o corte.
A circuncisão era exatam ente um corte preci- As m ulheres que haviam acabado de dar à luz de-
so feito sobre o prepúcio, isto é, a pele que cobre a viam se purificar após terem seus bebês. Se fosse m eni-
cabeça do órgão genital m asculino. Seu significado, no, a m ulher deveria, segundo a lei mosaica, ficar im-
contudo, era bem m ais profundo do que sim plesm en- pura 7 dias e, se fosse m enina, 14. Depois disto, por um
te um corte visível na carne. A circuncisão m ostrava período de mais 33 ou 66 dias (dependendo do sexo do
que aquela criança fazia parte da aliança de Deus feita bebê), ela não podia sair de casa, nem tocar em objetos
com o povo de Israel. “M inha aliança estará m arcada sagrados - o que incluía o solo do Tem plo. T erm ina-
na carne de vocês com o aliança etern a” (Gên. 17:13). do o resguardo, ela peregrinava até Jerusalém (não era
necessário que o m arido fosse). Diante da porta de Ni-
Assim, a cerim ônia à qual Jesus foi subm etido fora
canor ela entregava a oferta prescrita ao sacerdote de
ordenada por Deus prim eiram ente a Abraão e seus
plantão. Depois disso m ergulhava-se em um dos tan-
descendentes e depois ratificada a M oisés, com o sinal
ques especialmente construídos para esse fim e podia
da aliança estabelecida entre o Senhor e o povo esco-
voltar às atividades norm ais da vida diária.
lhido. O rito, p o rtan to , fazia parte da herança com um
dos hebreus; era um a condição necessária na nacio- O Shulkhan Arukh, um catálogo de leis judaicas
nalidade judaica. com posto no século 16, com enta o código que pres-
creve em resum o o ensino da Torá: “Ela [a m ulher de
T oda criança de sexo m asculino devia ser circun-
resguardo] deverá im ergir p o r com pleto e de um a só
cidada no oitavo dia de seu nascim ento. “O que tem
vez o seu corpo, inclusive seus cabelos. Por isso, ela
oito dias será circuncidado entre vós, todo m acho nas
deve ficar m uito atenta durante a im ersão para que
vossas gerações” (Gen. 17.12).
não haja nada nela que venha estar separado da água,
A cerim ônia era simples e geralm ente reservada pois se isto acontecer, a tevilá será inválida.”
a m em bros da família. N o início, o m ohel - rabino
O segundo rito efetivado p o r José e M aria era em
encarregado do ritual - recitava um a bênção própria
função de Jesus p o r ser o prim ogênito do casal (Êx.
para o m om ento. A criança era então retirada dos
13:11-16 e Núm . 18:16). Ele é cham ado de Pidion ha-
braços da mãe e entregue para ser levada até um a ca-
ben, que quer dizer o "resgate da criança”.
deira que a tradição p osterior cham ou de “cadeira do
profeta Elias”. Ali 0 m ohel executava o ritual. O nom e A origem desse rito, segundo o judaísm o, na in-
da criança era, depois disso, anunciado a todos - o tenção divina de que cada prim ogênito judeu pudesse
m esm o se passou com Jesus (Luc. 2:21). Então segue- ser um sacerdote do Senhor. Foi essa a razão do anjo
-se um a refeição festiva. da m orte ter poupado os prim ogênitos dos hebreus
po r ocasião da últim a praga sobre o Egito. No en-
tanto, o povo pouco tem po depois, se rebelou contra
Deus, adorando um bezerro de ouro. Em virtude dis-
so, Deus teve de escolher um a única tribo (os levitas)
para m inistrar no santuário (e depois no Tem plo).

P id io n h a b e n
Apresentação no Templo
Assim, Deus requereu que todos os prim ogênitos
Q uando o bebê Jesus com pletou 40 dias de nasci-
(que não fossem levitas) deveriam ser resgatados do
m ento, sua fam ília foi ao T em plo realizar mais dois
serviço com um para Deus, p o r m eio de um a oferta ou
rituais litúrgicos: a Tevilá (purificação) e o Pidion ha-
pagam ento específico (ver N úm . 18:15).
ben (o resgate do Filho, ou consagração do prim ogê-
nito): o prim eiro era em função de M aria, que deve- O norm al, no caso do Pidion haben era o pagam en-
ria purificar-se após o parto para poder participar da to de 5 ciclos de prata mais a oferta de um cordeiro
vida religiosa judaica (Lev. 12:2-4). para 0 sacrifício que geralm ente era vendido no p ró ­
prio Tem plo. Os m ais pobres, no entanto, (incluam - que rem ontam aos m ais antigos profetas hebreus e,
-se aqui os pais de Jesus) ofertavam duas rolinhas ou até m esm o, a alguns videntes não judeus. Balaão, por
duas pom bas no lugar do cordeiro. exemplo, não era judeu e, em bora m ágico professo,
fazia as vezes de profeta do Senhor. É justam ente dele
A inda hoje esse rito é feito em hebraico dentre as
a profecia que dizia: V ê‫־‬lo-ei, m as não agora, con-
famílias m ais religiosas de Israel. O pai apresenta o tem plá-lo-ei, mas não de perto; um a estrela proce-
m enino num a bandeja e o sacerdote (Cohen) pergun- derá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá
ta-lhe se quer deixar o m enino ou se pretende resga- os term os dos m oabitas e destruirá todos os filhos de
tá-lo. O pai responde sim bolicam ente e o sacerdote Sete. (Núm. 24:17).
então repete três vezes: “T eu filho está resgatado!”
Com isso, a criança passa a ser legitim am ente judia
e o atual Estado de Israel propõe-se a resgatá-la em
qualquer que seja a situação. Segundo o costum e do
pidiin shevouyim (o resgate dos cativos), recuperar de
volta um judeu que está em cativeiro estrangeiro é
dever sagrado para os judeus.

Os magos do Oriente
Os magos que visitaram Jesus eram hom ens sábios
vindos do Oriente (Mat. 2:1), o que pode ser um a refe-
rência à Pérsia, Arábia ou Caldeia. Seu título grego {ma-
goi) referia-se na Antiguidade a eruditos que se distin-
guiam no campo da matemática, astronom ia e religião.
Estranhamente, porém , era um título tam bém aplicado
a mestres versados na arte da alquimia e da astrologia
(ciências totalm ente proscritas na Torá dos judeus).

Não se pode afirm ar que eram reis, m uito m enos


em n úm ero de três. Esse núm ero - bem com o os no-
m es Belchior, G aspar e Baltasar - constituem tradi-
ções lendárias posteriores, sem nenhum a base histó-
rica que as valide. Ademais, os cristãos orientais têm
consigo um a tradição que aponta para doze, o núm e-
ro dos sábios, enquanto alguns m osaicos do século IV
m ostram apenas dois.

Q uanto ao seu conhecim ento sobre a vinda do


Messias, deve-se lem brar que as tradições judaicas
não ficaram isoladas do restante do m undo. A diás-
pora já providenciara um considerável núm ero de
sinagogas em vários países fora dos lim ites de Israel.
Além disso, a versão grega da LXX possibilitou que
eruditos de outras culturas tivessem contato sólido
com o livro sagrado dos judeus.

E possível ainda que a tradição oral ten h a m anti-


do alguns oráculos (hoje não totalm ente conhecidos)
S1Q-

Fato importante
Um erro que muito se comete ao falar da visita
dos magos é imaginar que eles vieram visitar
Jesus recém-nascido, ainda com a placenta
cobrindo 0corpo. Isso não é verdade.

Mateus 2:11 diz que eles entraram “na casa”onde


estava 0 menino, 0 que indica que a família já
estava instalada na cidade. Talvez decidiram
continuar morando ali para que Maria não
fosse exposta a uma situação vexatória perante
os moradores de Nazaré que não deviam aceitar
muito a história da gravidez virginal.

173 ‫־‬

‫־‬i r » O

Você sabia?
Outrofato importante é que, de acordo com a in-
formação dada pelos magos a Herodes, 0menino
Jesus deveria ter um ou dois anos, razão pela
qual essa se tornou a idade limite do infanticídio
ordenado por Herodes (Mat. 2:16-18).

Esse hiato de um ou dois anos morando em V árias teorias são propostas. A prim eira diz que
Belém explicaria os movimentos da família,
foi um m eteoro incom um avistado no horizonte.
citados por Lucas (circuncisão e apresenta-
C ontudo, um objeto com o esse passa pelo céu em
ção no Templo), que cumpriram seus rituais
religiosos sem temer qualquer maldade da parte um a questão de segundos - m uito pouco para guiar
de Herodes. os m agos até os arredores de Belém.
c T am bém é im provável que se tratasse do cometa
C
Halley, que passou pela região em 12 a.C. Os astrô-
x ‫־‬0 ‫־־‬r a
nom os mais antigos não costum avam vincular passa-
gens de com etas ao nascim ento de reis im portantes.
C om entas eram vistos com o presságios ruins, indi-
A estrela do Natal cando fom e e enchentes, assim com o a m orte - não o
nascim ento - dos reis e m onarcas. Só para constar, o
“V im os a sua estrela no O riente e viem os para ado- fam oso “com eta” de César visível no ano 44 marcou
rá-lo” (Mat. 2:2). Essa declaração dos m agos encheu
para os rom anos sua deificação e não seu nascim ento.
de curiosidade os pensam entos de H erodes e tam bém
do leitor m oderno. O que seria afinal a estrela vista Pelo contrário, com etas eram sinal de m au agou-
pelos magos? ro: um com eta que passou p o r R om a no ano 44 foi
interpretado com o o anúncio da m orte de Júlio César o período apontado para a viagem dos magos. Ape-
e outro, visível em 11 a.C., o m arco da m orte do Ge- nas um registro aparece para um a nova, no ano 5 a.C.
neral Agrippa. C om esses episódios em m ente, dificil- M as os chineses que a notaram não afirm am ter sido
m ente alguém veria a passagem de um com eta com o a um grande evento, com m uito brilho.
:hegada de um grande rei.
Todas as tentativas que surgem para datar ou
Além disso, a data da passagem do Halley não con- identificar a estrela de Belém com corpos celestes são
diz em nada com os fatos políticos biblicam ente rela- de pouco valor. O próprio texto não perm ite supor
cionados ao nascim ento de Cristo. que se tratava de um a estrela real. N enhum corpo
celeste natural teria podido conduzir os viajantes do
Cogitou-se ainda que a estrela de Belém seria um a
O riente até Belém e estacionado sobre um a simples
nova ou surpernova. As novas são estrelas que aum en-
casa. Além disto, H erodes e os que com ele estavam
tam m uito seu brilho por um período curto de tem po
no palácio pareciam desconhecer totalm ente a exis-
e acontecem mais frequentem ente. Já as supernovas,
tência de tal “estrela” no céu. É óbvio que se tratava de
mais raras, são as famosas explosões estelares.
algo m iraculoso e não astronôm ico. O que os magos
Isso, de fato, daria um brilho visível até durante haviam visto era um “brilh o ” celestial que cham aram
o dia. C ontudo, há aqui um grande problem a: não de “estrela” (nom e, aliás, dado a toda e qualquer lum i-
há nenhum registro de um a nova brilhante durante nosidade celeste).
ÜQ l ‫ ר‬rO “Q uando ele [im perador A ugusto] ouviu que entre
‫=ר‬
o O os m eninos da Síria com m enos de dois anos de idade
c que H erodes, o rei dos judeus, tin h a m andado matar,
Fato importante tam bém estava seu filho que, igualm ente, havia sido
m orto, ele disse: ‘é m elhor ser o porco de H erodes do
Uma ideia bem consistente com a narrativa
que filho de H erodes.”78
evangélica sugere que a estrela de Belém seria
um brilho sobrenatural produzido por anjos
de Deus. Essa interpretação fo i sustentada
com muita ênfase, no século III, pelo escritor
Massacre anônimo
Origenes na sua apologia contra Celso. Segundo
seu parecer, a multidão de anjos mencionada O m assacre ordenado p o r Herodes em Belém não
por Lucas (2:8-20) somada à gloria da própria consta em n enhum outro relato, senão o de Mateus.
divindade foram as responsáveis pelo clarão Filóstrato (biógrafo de Herodes) nada escreveu a
observado do Oriente (Contra Celso, LX). esse respeito, nem Filo de Alexandria, nem Josefo ou
c qualquer escritor rom ano.
G
ítriy Tal silêncio faz com que alguns autores reputem c
episódio com o fantasioso79. U m a criação imagin^rU
do autor bíblico, para igualar o nascim ento de Jesu
ao de M oisés, que tam bém escapou de um infanticí-
O infanticídio de Belém dio ordenado p o r Faraó no Egito. Com o poderia um
crim e tão hediondo ficar no anonim ato?
M uitos se assom bram com o relato do massacre
infantil ordenado pelo rei para m atar as criancinhas O p rim e iro elem ento que deve ser anotado é
de Belém e arredores. Pensam ser isso um exagero do que, ten d o Belém no m áxim o 1.000 habitantes, c
evangelista (Mat. 2:16). Contudo, um a análise do cará- n ú m ero de bebês com m enos de dois anos não de-
ter de Herodes, o Grande, revela um hom icida incon- veria ser grande 0 bastante para causar ta n ta como-
sequente, bem de acordo com a autoria de tal barbárie. ção. Talvez um as 20 criancinhas80. M as m esm o que
causasse, isso não significa que os h istoriadores se
H erodes era dom inado por um a total ausência de
preocupariam em rep o rtá-las em seus anais. Veja 2
escrúpulos e piedade. U m hom em grandioso na arte
adm issão de Tácito:
de construir m onum entos e fazer o mal. O m otivo
dos m uitos assassinatos que encom endava era sem pre
“Não levo o intento de relatar todas as proposta
o m esm o: receio de que alguém tom asse a sua coroa.
feitas ao Senado, mas apenas as que se to rn aram no-
Foi assim que solicitou a M arco A ntônio a m orte táveis p o r decorosos ou vis81”.
de A ntígono (seu rival político) e mais 45 m em bros
do partido opositor. Depois m atou João H ircano II, o Ademais, não se pode esquecer que a atitude pr ; ‫־‬
chefe dos sacerdotes de Jerusalém , a quem ele m esm o tagonizada p o r H erodes no Evangelho de M ateus é
cham ava de pai. E com o se não bastasse, em preendeu perfeitam ente com patível com seu modus operand
um a série de assassinatos dos m em bros de sua pró - governam ental, afeito às ordens de assassinato. Is ;:
pria família. M andou m atar M ariam ne, a esposa que está claro em vários registros fora da Bíblia.
mais amava; três de seus filhos; um irm ão e diversos
Logo, não há porque duvidar do relato que o des-
dos que haviam sido seus m elhores amigos.
creve com o ordenando o m assacre de m eninos par,,
M acróbio, um autor não cristão do século IV, poder assassinar Jesus. José e sua fam ília só escaparar:
provavelm ente citando o m assacre de Belém ou um porque foram im ediatam ente para o Egito, conform::
sim ilar, atribuiu ao im perador A ugusto o seguinte a orientação do anjo. Ali devem te r perm anecido p : ‫־‬
com entário acerca do gênio assassino de Herodes: aproxim adam ente um ano.
J1D-.
Após Herodes
j Você sabia? £ Após a partida dos magos e a conseguinte fuga para
o Egito, Herodes m orreu em Jericó e a família de Jesus
A semelhança do nascimento de Jesus e de voltou para a Judeia. T em endo, porém , a crueldade de
Moisés pode realmente ter sido um elemento
Arquelau, o novo rei, desistiram de continuar residin-
propositalmente escolhido por Mateus. Isso não
do em Belém, preferindo regressar a Nazaré, onde o
implica, contudo, que seja lendário. A história
Cristo passaria toda a sua juventude até à fase adulta.
está repleta de coincidências do tipo.

Hitler, por exemplo, tinha muitas semelhanças Falando mais especificam ente sobre Arquelau,
comNápoleão, ambos queriam dominar a Euro- as inform ações históricas indicam que ele não era o
pa, tiveram como principal inimigo alnglater- sucessor único de seu pai. Com a m orte de Herodes,
ra e sofreram com ofrio da Sibéria. o G rande, o subjugado reino de Israel fora im edia-
tam ente dividido entre três de seus filhos que ainda
Lincoln e Kennedy foram mortos depois de uma
viviam , conform e a prescrição de seu testam ento, que
conspiração que envolvia os negros e seus direitos
civis. Lincoln fo i morto na sala Ford e Kennedy seria depois alterado p o r Augusto.
fo i morto num Lincoln Continental, que era um
O título de rei, por direito de herança, deveria pas-
modelo à parte (e exclusivo) da marca Ford.
sar para Arquelau, seu filho com M altace Sam aritana.
As coincidências entre Jesus e Moisés, portanto, C om ele ficaria ainda o governo da Judeia (incluin-
podem perfeitamente ter ocorrido na história. do Idumeia) e Samaria. A rquelau era 0 mais querido
^ Não houve fabricação, mas apenas justaposição q filho de H erodes, porém , enquanto governante, se
defatos coincidentes. revelou o p ior desastre adm inistrativo de toda a di-
nastia herodiana.
‫־‬tTÜ‫־‬
Falhando trem endam ente em responder aos re-
clames populares, A rquelau acabou aum entando o
-Ω-0- 4‫״‬c 9 poder dos zelotas, que inspiravam no povo a sede de
o independência. Isso acabou incitando a im paciência
‫ג‬
Fato importante do im perador, que fazia de tudo para evitar rebeliões
localizadas. Com o prim eira advertência, A ugusto re-
O local de destino dafamília deJesus no Egito nãofoi vogou sua titulação real, concedendo-lhe som ente o
revelado. Uma antiga tradição assinala sua estadia título de etnarca (soberano p o r questões de família).
num lugar, dentro do Cairo Velho, onde hoje existe a
M as os tum ultos não term inaram , e a violência nas
igreja copta deÁbuSarga. O lugar está próximo de
ruas de Jerusalém se intensificou sobejam ente. A r-
uma antiga sinagoga. Outra tradição, atestada ape-
nas após 0séculoXIII, assinala em Mataríye, 8 km ao quelau foi obrigado a ficar “ilhado” em seu palácio,
norte doCairo, oesconderijo dafamília deJesus. e R om a não teve o u tra saída senão retirá-lo do país
para não ser linchado pela população.
Contudo, hoje é sabido que havia naquele pais várias
comunidades judaicas bem estabelecidas em diversas Em seu lugar, A ugusto enviou Sabino, que ten-
cidades, comoLeontópolis, Elefantina, Crocodilópo- tou novam ente controlar o país. Invadiu o Tem plo,
lis, Alexandria e outras. Qualquer uma dessas pode queim ou arm azéns públicos e confiscou os tesouros
ter sido 0local de abrigo dafamília emfuga, José do Tem plo. Suas atitudes, no entanto, só aum enta-
pode ter se agregado a algum cçnádadão judeu do lu- ram ainda mais a fúria popular, que am eaçou invadir
garpara obter trabalho e usado ospresentes dos magos
o palácio e atear-lhe fogo.
I (ouro, incenso e mirra) parafinanciar a viagem.
A situação só foi definitivam ente controlada quan-
do V aro, então procurador rom ano da Síria, ocupou a
□‫ו־כ־ס־ד‬ cidade com um forte exército e m atou m uitos de seus
habitantes. Com o resultado, Rom a decidiu tirar da
Judeia o direito de possuir um “rei local”, tornando-a
m era província controlada desde então po r um repre-
sentante rom ano. Com esta perda de status, Jerusalém
deixou de ser a capital oficial do país e um a perm anen-
te guarnição rom ana passou a tom ar conta da cidade
e do Tem plo com um a fortificada base localizada na
T orre A ntônia, no canto norte do Tem plo judeu.

Assim, até a revolta judaica de 66 A.D., pela Judeia


passaram 14 procuradores e prefeitos rom anos, um
dos quais seria Pôncio Pilatos (26-36 A.D.), que sen-
tenciou a execução de Jesus Cristo.

Infância e juventude
de Jesus
Não foram somente os evangelhos apócrifos que ten-
taram preencher a lacuna da infância, adolescência e ju-
ventude de Jesus antes de seu ministério público. Outros
tam bém ficaram descontentes com esse hiato e procura-
ram repará-lo com a criação de mitos variados.

U m a antiga versão dizia que ele fora criado no Egi-


to, onde aprendeu m agia com os ilusionistas de Ale-
xandria82. Nas Crônicas A rturianas do final da Idade
M édia, o jovem Jesus foi residente na B ritânia e em
outra versão m ais recente, ele visitou a C achem ira, na
índia, onde se to rn o u um m estre Iogue,83

A tendência m aior hoje, tanto de acadêmicos li- Por algum a razão, M aria se perdeu de seu filho
berais quanto conservadores, é rejeitar essas versões depois da festa, e am bos, ela e José, voltaram a Jeru-
como sendo lendas criadas sem nenhum respaldo his- salém. Talvez pensassem que Jesus estava ju n to com
tórico. Os chamados “anos perdidos de Jesus” continu- outros parentes. F oram três dias de busca até poder
am sendo um m istério, exceto p o r um único episódio:
encontrá-lo no T em plo, discutindo as Escrituras corr
Sua visita ao Tem plo quando tin h a 12 anos de idade.
os doutores do judaísm o. U m a anotação textual cha-
m a a atenção: os que o ouviam se adm iravam de sua
Aos 12 anos inteligência e suas respostas.

Isso aconteceu quando Jesus tin h a 12 anos - uma


De acordo com Lucas 2:41-52, a fam ília de Jesus
subiu a Jerusalém para a festa da Páscoa. Essa era a ce- idade m uito im portante na tradição judaica. Ness*
lebração mais im portante da fé judaica e que m arcava ocasião, o jovem tem sua m aioridade reconhecida
o início do calendário hebreu, que é o dia 15 de Nisã, para assuntos religiosos. Estava m aduro o bastante
entre os atuais m eses de m arço e abril. Peregrinações para cum prir os m andam entos de Deus. Teoricam en-
com o essa eram um evento costum eiro que reunia te, é com o se ele fosse plenam ente reconhecido comc
m uitos religiosos judeus n a cidade p o r causa do T em - m em bro da com unidade e, p o rtan to , era necessário
pio que lá havia. Eram várias caravanas. celebrar com um rito de passagem.
........ .........................
o o
c p
"0 Você sabia?
N 0Talmude, a maioridade religiosa de um judeu
éfixada aos 13 anos: “Cinco anos é a idade para
[começar] 0estudo das Escrituras, dez para es-
tudar a Mishnáe, treze para se tomar sujeito aos
_ mandamentos”(Pikey Avot).

c
G
‫־‬C‫־?־‬f ‫־‬r : : : - ‫״׳‬..... ......... — : — ....... ± 3 ‫־‬c g ‫־‬

Como proposta para resolver a con-


tradição entre os 12 anos de Cristo e os
13 e stipulado pelo Talm ude, os autores
apresentam explicações diversas:
- a cerim ônia de Jesus aos 12 anos
era uma preparação para 0 Bar M itzvá;
- como as viagens eram difíceis de
se realizar, uma oportunidade fa ria com
que os envolvidos aproveitassem 0 mo-
m ento para an tecipar ritos religiosos;
- a contagem inclusiva usada pelos
judeus fazia com que uma criança de 12
Fato importante anos e 1 mês já fosse considerada uma
criança de 13 anos, Esse talvez fosse 0
No judaísmo atual ele é chamado de Bar Mitzvá, caso de Jesus;
isto é, “filho do preceito”, justamente por ter - não existe nenhum a relação entre 0
plenas condições de cumprir a lei. Mas é impor- episódio do Templo e 0 Bar M itzvá - não
tante que se diga que esse não era um costume
havia esse rito nos tem pos de Cristo.
dos tempos de Cristo. A menção mais antiga dele
Todas as explicações têm seu valor,
data do século XIII.
mas nenhum a define precisam ente 0
Alguns acreditam, no entanto, que as raízes m otivo dos 12 anos de Cristo e se esse,
do Bar Mitzvá retrocedem aos dias de Cristo e de fato, tem algum a relação com 0 Bar
que esse episódio de Lucas indica algum rito de M itzvá do judaísm o.
passagem existente já naquele tempo. É possível,
. Üp mas especulativo. ^ .
c ‫ר‬
G O
---------- - rs (‫ ר‬t_______
i± r ^ ;t í i ± z i z z = z z ^ ^ c 3 ~ rb
fam ília à vila de N azaré, m esm o sabendo dos precon-
ceitos que Jesus e M aria enfrentariam . Os aldeães por
certo descreram do nascim ento virginal de Jesus, o
que deve ter trazido um constante clima de suspeita
e preconceito.
η 09
Foi a falecida arqueóloga Shirley Jacson que suge-
riu, em 1926, que Jesus possivelm ente estivera entre
os trabalhadores braçais que edificaram Séforis. Ha-
Fato importante bitada predom inantem ente p o r judeus, essa grande
Que Jesus e seu pai trabalhavam no ofício cidade fora a residência oficial de A gripa e a capital da
de carpinteiros não constitui novidade para Galileia, até ser trocada pela Tiberíades dos rom anos
ninguém. A própria Bíblia revela que esta era p o r um a decisão do rei para lisonjear o im perador.
sua profissão (Mat. 13:55 eMar. 6:3). Mas 0
termo grego tekton, usado para referir-se ã
ocupação de Jesus, é mais amplo do que sim- A família de Jesus
plesmente indicar a tradição de um fabricante
de móveis. Aliás, isso seria mais 0 ofício de um O registro bíblico não m enciona nada sobre um
marceneiro que de um carpinteiro, tekton
possível casam ento de Jesus. Fora algumas dúbias
indica um trabalhador mais voltado para a
passagens dos evangelhos apócrifos e as famosas teo-
arte da construção, de modo que Jesus, seu
padrasto e possivelmente seus irmãos seriam rias da conspiração, não há nenhum a razão plausível
construtores de casas. para supor que Jesus fosse casado e os evangelistas
houvessem om itido isso.
c
C
Pelo contrário, os rabinos sem pre consideravam o
‫״נייס״ז״ם‬ Ti'Cfi ‫ט‬ casam ento um sinal de santidade (kidd.sh.in)84 e o re-
com endavam mais que o celibato. Logo, se fosse pari
om itir algo, o celibato de C risto, mais que um possí-
vel casam ento dele, seria o elem ento de escândalo a
ser om itido pelos evangelistas85.

Você sabia? Ao que tudo indica, Cristo veio à T e rra para fins
específicos que não prescreviam o casam ento. Mas.
Quando Jesus era menino e adolescente,
relem brando, se fosse casado, isso não seria um pro-
Herodes Agripa, que se tornara tetrarca
da Galileia, resolveu reedificar ao norte da blem a para o judaísm o da época.
região (a 6 km de Nazaré) a nova capital
da Galileia que se chamaria Séforis, a atual
Moshav Zippori.
Os irmãos de Jesus
c
O Além de José e M aria, os evangelhos tam bém fa-
lam dos irm ãos e irm ãs de Jesus (M ar. 3:32; 6:1-3;
d i‫־‬G j l '‫־‬co u
M at. 12:46; 13:55-56 etc.). C onsiderando que quatro
deles são hom ens citados pelo nom e (Tiago, José.
A edificação da m etrópole consum iu grande m ão Simão e Judas) e que, adicionalm ente, fala-se de ‫״‬ir-
de obra e levou cerca de 24 anos para ficar pronta. m ãs”, no plural, pode-se concluir que Jesus tinha no
O recrutam ento de carpinteiros e artesãos era gran- m ínim o seis irm ãos. Q uatro hom ens e, pelo menos.
de p o r volta do ano 4 a.C. e gerara m uitos em pregos. duas m ulheres. M as quem seriam eles? T rês hipóteses
Isso talvez co rroborou para o reto rn o de José e sua são com um ente levantadas:
HIPÓTESE OBSERVAÇÕES

0 grego tem uma palavra própria para primo, que é


São Jerônimo: os irmãos de Jesus seriam, na anépsios. E os evangelistas não a usam para falar
verdade, seus primos, pois a palavra grega desses parentes. Embora haja casos em que "irm ão"
adelfos pode significar um parente (Gên. significa metaforicamente uma relação não sanguí-
29:12); um próximo (Mat. 5:22-24), um meio nea (Mat. 5:22-24; Rom. 9:3), 0 contexto de Mateus
irmão (Mar. 6:17,18). 13:53-58 condiz mais com a ideia de parente sanguí-
neo que "irm ão" metafórico.

Não há nenhuma evidência, mesmo na tradição mais


antiga, que valide esta pressuposição de outros fi-
Autores protestantes: os irmãos de Jesus lhos de Maria. No ato da cruz, Jesus deixou sua mãe
seriam outros filhos legítimos que Maria teve aos cuidados do apóstolo João (Cf. Jo. 19:25). Ora, se
com José. Jesus seria 0 mais velho de uma Maria já tivesse outros filhos, não haveria necessi-
leva de, pelo menos, sete filhos. dade de Cristo entregá-la aos cuidados do discípulo
amado que, segundo a tradição, a teria levado para
Efeso, cuidando dela até seu falecimento.

Considerando que Jesus era 0 primeiro filho de Ma-


ria e que era constantemente repreendido por seus
0 Protoevangelium Jacobi, escrito no século irmãos, conclui-se, realmente, que seus irmãos eram
II, preserva uma tradição oral, segundo a mais velhos que ele. Afinal de contas, eles jamais 0
qual os irmãos e irmãs de Jesus eram mais tratariam assim se ele fosse 0 primogênito dentre
velhos que ele e frutos de um casamento eles. Logo, Jesus deveria ser irmão deles apenas
prévio de José, que era viúvo quando casou- por parte de pai. Como a poligamia entre judeus não
-se com Maria. parece estar mais em uso no século I, essa situação
permite supor que José seria mesmo um viúvo com
filhos, quando se casou com Maria.

Os irm ãos de Jesus não o aceitaram , de im edia- preferindo antes a com panhia dos seus próprios dis-
to, com o o M essias enviado de Deus (Jo. 7:5). Pelo cípulos (M at. 12:46-50).
contrário, todos os relatos envolvendo encontros do
Senhor com seus fam iliares aparecem recheados de Contudo, o livro de Atos 1:12-14 m enciona a mãe
rejeição e incredulidade. N um a ocasião, seus irm ãos e os irmãos do Senhor entre os discípulos que ficaram
chegaram a sugerir-lhe que fosse à Judeia, m esm o firmes em Jerusalém aguardando a vinda do Espírito
cônscios de que isso poderia significar sua m orte (Jo. Santo. Tiago, um dos irmãos citado pelo nom e, tom ou-
7:1-9). D outra feita, quiseram prendê-lo, reputando- -se firme colaborador e líder da Igreja que estava em Je-
-o p o r louco diante da m ultidão (M ar. 3:21). E, p o r rusalém (Gál. 1:19; 2:9 e At. 12:17). Segundo a tradição,
fim, Jesus já não se dem onstrava ansioso para vê-los, foi ele quem presidiu o Grande Concilio de 49 A.D. e
eca da Vida çleÜesu^i

le mosaico com a inscrição "doado por Cônon,


10 em Jerusalém". Alguns pensam que poderia
tar de um dos parentes de Cristo.

............... ....... ... = - ---------


O ‫ך‬
ajudou a form ular decretos de liberdade promulgados c
Você sabia? ‫ג‬
em favor das igrejas da Síria, Cilícia e Antioquia. 1 <
Ao que parece, como passar do tempo, N azaré se
tornou um polo missionário liderado por paren-
O martírio de Tiago tes de Jesus. Júlio Africano (160-240 A.D.), um
historiador e viajante cristão dofinal do século
D e acordo com Flávio Josefo86, Tiago, irm ão de II, afirmava ser Nazaré um centro da atividade
missionária judaico-cristã37.
Jesus, foi m o rto p o r um a m anobra política feita por
A nanus ben A nanus, sum o sacerdote de Jerusalém . Também existe a menção de um certo Cônon,
Sua m orte ocorreu en tre o falecim ento do procu- martirizado durante 0reinado de Décio, que teria
rad o r Pórcio Festo e a chegada de Lucceius Albinus confessado perante a corte romana; “Eu sou de
Nazaré [situada] na Galileia, sou da família de
para substituí-lo. Isso estabelece seu m artírio em al-
Cristo, ao qual eu ofereço um culto desde a época de
gum m om ento entre os anos 61 e 62 d.C. meus ancestrais.”88
Aproveitando-se de um a m om entânea falta de con- Um ponto vulnerável desses testemunhos é 0
trole rom ano sobre Jerusalém , Ananus reuniu o Siné- completo silêncio do Livro de Atos a respeito de um
drio e condenou Tiago, ‫״‬sob acusação de ter violado a centro missionário com sede em Nazaré. Todavia,
Lei”. Logo, em seguida, eles o apedrejaram. Josefo diz também é digno de nota que 0 autor canônico não
pretendia escrever uma minuciosa história do
ainda que o ato de Ananus tornou-se conhecido no
cristianismo primitivo. Há outras importantes
im pério como um exemplo de assassinato judicial que tradições como a crucifixão de Pedro e a decapita-
trouxe escândalo para as pessoas mais retas e justas da O ção de Paulo que também encontram-se ausentes no C
cidade. Alguns tentaram se encontrar com o procura- c texto produzido por Lucas.
dor Albinus para pedir-lhe que interferisse no assunto. O
O idioma de Jesus ência em hebraico. Foi possivelm ente nessa língua
que ele tra v o u debates e diálogos com diversos escri-
bas e fariseus.
Os evangelhos dão a entender que nas suas con-
versas diárias Jesus utilizava-se, na m aior parte do N o caso da sinagoga, o costum e era ler a T o rá em
tem po, do aram aico (M ar. 5:14, 34, 41; 7:34; 15:34 hebraico e depois fazer um a paráfrase (Targum) em
etc.). Essa era um a língua sem ítica m uito parecida aram aico. Afinal, não era pequeno o n úm ero dos que
com o hebraico e que fora usada com o idiom a form al não tin h am fam iliaridade com o idiom a hebreu.
do antigo im pério babilônico.
Q uanto ao latim e ao grego, há evidências de que
Q uando os judeus regressaram de seu longo cati- Jesus ten h a algum a vez recorrido a esses idiomas,
veiro na Babilônia, m uitos deles já não dom inavam a ou m esm o que pudesse com preendê-los. H ouve um
língua hebraica de seus pais. A p a rtir daí, o aram aico episódio, registrado em João 12:20-36, onde Jesus
tom ou o seu lugar em Israel e assim ficou até os dias em preendeu diálogo com um grupo de helenistas.
de Cristo. P rincipalm ente as cam adas m ais sim ples e C ontudo, é difícil saber se a conversa foi direta ou
os povoados da Galileia p referiam se com unicar nes- interm ediada pela tradução de um discípulo, no caso
se idiom a. Felipe, que provavelm ente era fluente em grego.

O hebraico ficou restrito ao discurso, à leitura da O fato da arqueologia de Israel ter descoberto ins-
T orá e ao am biente religioso. P or sua fam iliaridade crições latinas em placas e m onum entos do século I
com as Escrituras e sua atuação com o rabi nas sina- apenas evidencia a presença e o dom ínio rom ano na
gogas p o r onde pregava, Jesus certam ente teve flu- região; nunca um idiom a conhecido da m aioria.

V *

* ‫ ץ‬jg f

W
\ Λ

Inscrição hebraica e aramaica encontrada numa sina-


goga do En Gedi, Israel. 60. século d.C.
IE 5 i£

Você sabia? Um dos principais tem as do Evangelho


Os romanos não tinham 0 menor interesse em da Infância de Tomé (cerca de 185) era que
que os povos subjugados falassem correntemen- Jesus perm aneceu iletrado - no que diz
te 0 latim. Ao contrário, este parecia ser para respeito a te r freqüentado qualquer escola
os dominadores uma língua técnica e oficial
rabínica - mas que se tornou superior em
dos cidadãos romanos - uma espécie de patente
conhecim ento, obtendo uma cultura e co-
elitista. Assim dois patrícios poderiam con-
versar perante um escravo ou cidadão de uma nhecim ento que nenhum professor poderia
província conquistada, sem 0 receio de que sua lhe conferir.
conversa estivesse sendo entendida.

Além disso, os intelectuais latinos em geral se


davam muito bem com 0grego. Roma não pare-
cia se importar com ofato de ser ela a domina- Ministério de Jesus
dora política do mundo e a Grécia a domina-
dora cultural. Prova disso é que os intelectuais As evidências bíblicas e históricas parecem indicar
gregos de então não se davam ao trabalho de ■fc
que, antes de se manifestar para o m undo, Jesus optoi
aprender latim e os romanos eram cordatos em
por um a vida anônim a e campesina em Nazaré. De acor-
escrever algumas obras em grego para atender
0público de cultura helenista. do com os evangelhos, seu m inistério público começo‫־‬,
e ­‫ג‬ com seu batismo no rio Jordão e term inou em Jerusa-
O ‫ס‬
lém, com sua condenação nas mãos de Pôncio Pilatos.
‫ ■ודס״דם‬a . ‫־‬UTJTD
Lucas 2:23 declara que Jesus tin h a cerca de 30 ano·:
quando com eçou seu m ovim ento de pregação. Le-
sux. vando em conta as Páscoas m encionadas por João e
0 O um a possível cronologia para os eventos m encion—
c o
Fato im portante dos, estim a-se que o m inistério de Jesus teria durad :
em to rn o de 3 anos e meio.
E mbora algumas passagem bíblicas sugiram Jesus
como homem letrado (ex. Luc. 4:16, Jo. 8:6), não há
indícios de que ele tenha tido uma educaçãoformal Início do ministério
rabínica, seja no Templo ou em alguma casa de
estudos. A opinião de muitos estudiosos seria a de de Cristo
que a educação de Cristofundamentou-se mais no
ensino doméstico provido por seus pais e, talvez, no O início do m inistério de Cristo é apresentado en:
conteúdo vindo da sinagoga local (algo que todas as concordância com os dias finais do m inistério de outr:
crianças partirípavam). O mistério, portanto, seria famoso pregador, João Batista. Novam ente, a tarefa cb
de ondeJesus obteve adtura suficiente para saber ler, m uitos com entaristas é sugerir em que ano Jesus te‫־‬
escrever e discursar como um grande rabino? começado a pregar publicam ente para os judeus.
Esteé um tema de grande debate que tem dividido
Há três form as de se buscar um a data sugestfv
a opinião dos especialistas. Alguns duvidam das
um a que parta da m o rte de C risto e conte 3 anos
passagens que 0 mencionam lendo ou escrevendo,
enquanto outros pensam que ele tinha apenas uma m eio para trás (supondo que esse foi o tem po de d
boa quantidade de informação memorizada. ração de seu m inistério) e o utra que parta da infor
c o m ação fornecida p o r Lucas 3:1, de que o m inistéri
G O de João batista teve início no 15° ano do reinado
Ü! QO il co L1 T ibério, que foi o sucessor de César A ugusto89.
‫״ ” ׳‬1** '‫י‬ - ‫׳ ׳׳‬
vsiJmt &&$#‫·׳‬
·: I \ ¥7 <· ,- ‫־‬.

A terceira form a seria avaliar a inform ação dada de 26 a 36/37 d.C., o ano da m orte do Senhor tem de
em João 2:20 concernente à época de construção do ter ocorrido em algum período d entro desse decênio.
Segundo T em plo em Jerusalém .
A trelada à crucifixão de Cristo, existe a m enção de
um a Páscoa. Alguns pensam que sua m orte aconteceu
Festa da Páscoa no m esm o dia do sacrifício pascal (14° dia do mês de
nisã) outros, que seria um dia depois (no 15° dia de
C onsiderando que Jesus foi crucificado durante o nisã). Sendo assim, cálculos astronôm icos apresen-
governo de Pilatos e que esse durou 10 ou 11 anos, tam apenas 3 anos que possibilitariam um a quinta ou
sexta-feira caindo dentro das datas propostas. Seriam
os anos 30, 31 e 33 d.C.

Para os que consideram que Jesus m o rreu exata-


m ente no dia do sacrifício pascal (14 de nisã), a m orte
de Jesus teria se dado em 7 de abril de 30 d.C. ou 3 de
abril de 33 d.C. Essas são as únicas datas que perm i- Construção do Templo
tem um a Páscoa caindo na sexta-feira. Assim, o m i-
nistério de Jesus teria começado no ano 26 d.C. ou no João 2:20 diz que pouco tem po depois do início de
ano 29 d.C. - considerando que d urou 3 anos e meio. seu m inistério, Jesus e seus discípulos foram para Jeru-
salém. Era festa da Páscoa e essa é a prim eira menção
Já os que entendem que a m orte de Jesus foi um
dessa festividade relacionada ao cronogram a do minis-
dia depois do sacrifício pascal (você verá esse assunto
tério de Cristo. Portanto, a prim eira Páscoa que ele par-
na tem ática da crucifixão), a única data admissível se-
ticipou depois de ter se revelado como rabi e Messias.
ria 27 de abril de 31, pois nesse dia o 15 de nisã caiu,
de fato, num a sexta-feira. Nesse caso o m inistério de Ali, num diálogo nada am istoso com os comer-
Jesus com eçaria no ano 27 d.C. ciantes do T em plo, Jesus disse que eles poderiam der-
ru b ar o T em plo (Ele se referia a seu corpo) que ele o
reergueria em 3 dias. Eles então afirm aram ser jm -
Governo de Tibérlo possível, porque o T em plo - julgaram que Jesus se re-
feria ao edifício sagrado - dem orara 46 anos para ser
Lucas 3:1 diz que o m inistério de João Batista teve
erguido. Logo era im possível reerguê-lo em 72 horas
início no 15° ano do reinado de T ibério César. A di-
ficuldade aqui é saber se esse 15° ano deveria ser con- Essa edificação do santuário a que eles fizeram re-
tado a p artir da sua corregência, quando ele governou ferência certam ente era aquela superestrutura inicia-
ao lado de Augusto em 12/13 d.C., ou apenas depois da p o r ordem de H erodes, o G rande, em I o de nisã
da m orte de A ugusto em 14/15 d.C., quando ele, en- de 19 a.C. Se você som ar 46 anos após isso, chegari
tão, com eçou a reinar sozinho. ao ano 27 d.C. C ontudo, é im portante lem brar que.
com o não existe “ano zero”, a transição das datas a.C
A dicionando, pois, 15 anos para o início do m i-
e d.C. deve ter o acréscim o de um ano, pois term in i
nistério de João, pode-se chegar a duas datas: 27/28
no ano 1 a.C. e começa o ano 1 d.C.
d.C. ou 29/30 d.C. E im portante, porém , lem brar que
Lucas 3:1 oferece a data do início do m inistério de Assim, o episódio de João 2:20 ocorreu no ano 28
João. Logo, deve-se considerar algum hiato de tem - d.C. C onsiderando que Jesus foi batizado antes disso,
po entre essa data e o início do m inistério de Jesus, isto é, no ano an terio r seu m inistério com eçaria nc
pois o m esm o com eçou quando o trabalho de João já ano 27 d.C.
era am plam ente conhecido na região. Ele, inclusive,
já tin h a discípulos seguindo seus ensinos (Mat. 9:14;
11:2; Luc. 7:18-35; Jo. 4:2; At. 18:24; 19:6).

Esse hiato poderia ser de alguns meses, talvez. Entre


as possibilidades levantadas para 0 15° ano de Tibério,
Fato importante
alguns pensam que Lucas talvez fizesse um arranjo Lucas afirma que Jesus começara seu ministério
do calendário judeu ao calendário siríaco/m acedônio tendo “cerca de 30 anos”(Luc. 3:23). Note que 0
(como o fez Flávio Josefo)90. Se assim for, o 15° ano autor não oferece uma idadefechada, mas apro-
seria, na verdade, o período entre outubro de 26 e se- ximada. Considerando que Jesus deve ter nascido
entre 6e5a.C., ele teria 33 ou 34 anos ao iniciar
tem bro de 27 d.C. Esse quadro resolveria m elhor o es-
suas pregações públicas.
paço de tem po necessário entre o início do m inistério
de João e o de Jesus Cristo. Contudo, em que pese a
possibilidade, o assunto ainda perm anece em aberto.
Duração do ministério de Cristo
A m aior parte dos teólogos acredita que o m inistério público de Jesus durou em to rn o de 3 anos e meio. M as
como chegaram a essa conclusão?

Em prim eiro lugar, é im p o rtan te dizer que existe um a aparente discrepância, nesse sentido, en tre os evan-
gelhos sinóticos e o de João.

EVANGELHOS SINÓTICOS EVANGELHO DE JOÃO

Trazem poucas in fo rm a çõ e s sobre 0 tem po em que João estende 0 m inistério de Cristo para bem mais de 10
durou 0 m in isté rio de Jesus. Eles m encionam a par- meses. 0 difícil é precisar sua cronologia e acertar qual
tic ip a ç ã o de Jesus em apenas uma Páscoa - exata- calendário ele estaria utilizando. Em João 2:13,23, 0 autor
m ente aquela na qual Jesus fo ra m orto. A ntes disso, m enciona uma Páscoa (abril) que ocorreu não muito de-
m encionam um episódio em que os discíp ulos passam pois do início do m inistério de Jesus.
pelas ceara s m aduras e colhem algum as espigas de
trig o para com er. Ora, no A ntigo O riente M é dio , a ma- Em João 4:35, Jesus afirm a que ainda faltavam quatro me-
tu ra çã o do grão para a colheita o co rre ju sta m e n te na ses para a colheita. Como a colheita principal ocorria mais
prim avera, que seria no fin a l de m aio. C onsiderando próxima do fim de maio, a dita afirm ação de Cristo teria
que a Páscoa o co rre em abril, 0 hiato entre os dois ocorrido em meados de janeiro, no máximo no início de fe-
eventos (colh eita e próxim a Páscoa) seria de aproxi- vereiro. Assim, entre a m enção da primeira Páscoa (abril)
m adam ente 10 m eses - 0 tem po de d u ração do m inis- e a declaração de Cristo, havia se passado pouco menos
té rio de Cristo.
de um ano.

. . . ., | Em João 5:1 outra festa é mencionada por Cristo, mas 0


texto não diz qual seria. M uitos com entaristas pensam que
seria outra Páscoa e, se assim for, 0 início do m inistério de
Cristo já estaria com pletando pouco mais de 1 ano.

João 6:4 traz a m enção de outra Páscoa, a terceira até ago-


1 ra. E, logo depois, fala de duas outras festas, a dosTaberná-
culos (7:20) e da Dedicação (10:22).

Finalmente, a quarta e última Páscoa é citada em 11:55.


Justam ente aquela na qual Jesus foi morto.

Juntando esses feriados religiosos numa linha do tempo,


chega-se facilm ente ao tem po proposto de duração apro-
xímada do ministério de Cristo. Ele inicia suas atividades pú-
blicas pouco antes da primeira Páscoa e continua por mais
três outras, totalizando aproximadamente 3 anos e meio.

U m a form a de conciliar ambas as fontes (João e os N enhum deles é enfático em dizer que o m inis-
Sinóticos), nesse aspecto da duração do m inistério de tério de Jesus durou apenas 10 meses ou 1 ano. Ne-
Jesus, seria en ten d er que M ateus, M arcos e Lucas não nh u m evangelista diz isso explicitam ente. Ademais,
negam os 3 anos e m eio do 4o evangelho; apenas não em bora os evangelhos tragam um relato acurado dos
fazem m enção deles. fatos relativos a Cristo, eles não in ten tam ser sequen-
cialm ente exatos. Ou seja, a ordem de alguns eventos
que aparecem entre o início do m inistério de Jesus
Festas judaicas
e sua m orte e ressurreição estão arranjados mais por
O calendário judaico dos dias de Cristo contava
tópicos do que p o r seqüência cronológica. com seis festas ou feriados religiosos:
U m exem plo disso pode ser visto na cura da filha
Páscoa - 14 de nisã (abril/m aio), Êxodo 12:6.
de Jairo, intercalada pela cura da m ulher com fluxo de
sangue. N ote que M ateus e Lucas narram com deta- Festa das semanas ou Pentecostes - 50 dias de-
lhes esse episódio, mas o colocam em m om entos bem pois, Levítico 23:16; D euteronôm io. 16:10.
distintos (M at. 9:18 ss e Luc. 8:40 ss). M ateus o apre-
senta depois da conversa entre Jesus e os discípulos de
Dia da expiação - 10 de etanin (setem bro/outu-
bro), Levítico 23:27.
João acerca do jejum e Lucas depois do exorcism o em
Gadara. Esse é um típico caso em que os autores não Festa dos tabernáculos (ou das cabanas) - pou-
dem onstram interesse na ordem dos acontecim entos, cos dias após o dia da expiação, Levítico 23:34.
mas na tem ática que eles envolvem .
Festa da dedicação - m ês de kislev (novem bro/
Ademais, os eventos relacionados a C risto são co- dezem bro), I M acabeus 4:47-59.
locados por am ostragem de seus atos. Não são um
relatório exaustivo de tudo que ele fez. Assim, m uita Festa do Purim - mês de adar (fevereiro/m arço),
coisa foi om itida. N ote que o reto rn o de Cristo para relem brando a história de Ester.
a Galileia (Jo. 4:45), após sua prim eira Páscoa com o
M essias revelado, parece ser o m esm o m encionado
po r M arcos 1:14 e Lucas 4:14.
A pregação de
A terceira Páscoa m encionada por João 6:4 tem pa-
João Batista
ralelos m uito próxim os a M arcos 6:39ss e Lucas 9:12ss.
N enhum personagem se destaca m ais na prim ei-
Mas a coleta de trigo pelos discípulos em M arcos 2:23
ra parte dos evangelhos que João Batista, 0 distante
e Lucas 6:1, indica outra festividade pascal diferente da
parente de Jesus. Solitário pregador, vivendo mais
últim a em que Jesus foi m orto e daquelas m encionadas
em lugares desertos, João acreditava ser ele mesmo
em João 2:13 e 6:1. Isso, por si só, dem onstra que o
aquele apontado p o r Isaías com o o "preparador dos
m inistério de Jesus envolveu, no m ínim o, três Páscoas.
cam inhos do Senhor” - um a referência análoga aos
arautos que visitavam oficialm ente as cidades, anun-
ciando a chegada de um rei e preparando o lugar para
q-t-g.a. recebê-lo com dignidade real.

Suas vestes e com ida (gafanhoto e mel silvestre


tam bém são um a m aneira de pregar para o povo. Seu
jeito de vestir é absolutam ente igual ao do profeta Elias,
Fato importante
em bora houvesse outros profetas que tam bém tenham
I reneu de Lion, que viveu no século II d.C., se vestido de pele de anim al (Zac. 13:4; I Rs. 1:7).
afirmou que 0 ministério de Jesus durou
aproximadamente 15 a n o s J á Clemente de O Talm ude, num tom pessim ista, diz que Deuí
Alexandria, Júlio Africano e Filastrio Hi- deserdara Israel, pois não havia m ais profetas em sua
lario admitiam apenas 1ano para a duração terra. De fato, nos dias de C risto havia um a sede por
do ministério de Jesus. revelações que viessem de Deus. Ora, M alaquias - um
dos últim os profetas - profetizou a vinda daquele qut
chegaria com poder no espírito de Elias. As vestes de
João anunciavam o cum prim ento dessa promessa
T an to que sua identificação de “preparador dos cam:-
nhos” não se encontra apenas em Isaías, m as tam bém conhecido pelo apelido de Batista, isto é, aquele que
nos escritos do profeta M alaquias (3:1). batiza as pessoas.

O alim entar-se de gafanhotos e mel silvestre pode M as o que significava originalm ente esse rito?
>er um a referência ao alim ento celestial (o mel) e a Para responder a isso é preciso conhecer o rito judai-
escassez de alimentos na terra (o gafanhoto). N o caso co da im ersão em água, pois foi dali que João tiro u sua
específico desse animal, é certo que as leis levíticas per- prática, em bora com um sentido distinto do original.
mitiam o consum o de alguns tipos de gafanhoto (Lev. Q ue o ato não constituía novidade fica claro no fato
11:22). Não obstante, existe a possibilidade de que o de que em m om ento algum os fariseus e demais in-
Tim ento a que a dieta de João se refere fosse um fruto terlocutores m ostraram -se surpresos com o que João
da alfarroba. Essa possibilidade é baseada num a supos- Batista estava fazendo, nem m esm o perguntaram o
:a grafia de akródua (vagem) para akrídes (gafanhotos, que aquilo significava. Eles conheciam bem aquele
como está em todos os m anuscritos). Mas não se achou ritual. Apenas não entendiam com que autoridade
até agora nenhum m anuscrito com a palavra akródua. João fazia aquilo. M esm o porque, de form a geral, na
Essas vagens são doces e altam ente nutritivas, além de cultura do judaísm o antigo, a pessoa m ergulhava a si
íer 0 alim ento consum ido em épocas de escassez de co- m esm a sem necessidade de ajuda externa para efetuar
mida. Veja 0 caso do filho pródigo (Luc. 15:16). a purificação na água (Jo. 1:25).
Finalm ente, para com por o cenário de suas vesti-
O batism o judaico era cham ado evilá e era realiza-
duras e alim entação, o deserto é o local mais repre-
do geralm ente num mikveh, isto é, um a piscina espe-
sentativo do juízo e da preparação das pessoas para
ciai de água corrente. Os mais abastados tinham um
cum prir um a m issão especial de Deus. João não po-
mikveh particular em casa, enquanto o povo com um
deria ter escolhido local m ais apropriado para procla-
realizava o ritual em rios ou em tanques públicos es-
m ar sua m ensagem .
pecialm ente preparados para esse fim.

ηI Q.o Γ f*Q 1n Havia vários desses tanques nas circunvizinhanças


do Tem plo, onde as pessoas se m ergulhavam antes de
0
j
Você sabia? entrar no lugar sagrado. Era um banho de purificação,
J com o aliás os próprios discípulos de João vão identi-
As vestes e a estranha alimentação de João Batista ficar o rito que ele fazia (jo. 3:25). Foi possivelm ente
compõem 0 que poderia ser chamado de “ato do
nesses tanques do Tem plo que Pedro e os demais discí-
profeta”- uma ação ou dramatização ,com ofim
pulos batizaram os m ilhares de peregrinos em Jerusa-
de chamar a atenção das pessoas para a mensagem
lém, por ocasião da festa do Pentecostes (At. 2:37-41).
que precisa ser dada. Pode ser um ato, quebrar
um pote ou rasgar um manto para representar a João, porém , batizava no rio Jordão, próxim o a Je-
quebra de uma aliança, ou ainda, um comporta-
ricó - lugar do palácio de H erodes A ntipas. E todo o
mento inusitado, como 0 de Oseas, tratando com
povo afluía para ouvir o seu serm ão apocalíptico, suas
dignidade a mulher que o havia traído.
C denúncias dos pecados do rei H erodes, na verdade,
G
um “tetrarca” - título inferior ao de rei, significan-
‫בח־ס־דד‬
do “aquele que governa um a quarta parte do reino”.
F oram essas denúncias que resultaram em sua m orte
p o r decapitação no próprio palácio em Jericó (Mat.
Rito batismal 14:1-12; M arc. 6:14-19; Luc. 9:7-9).

E com o m inistério de João que surge na narrativa


do N ovo T estam ento 0 embrião judaico do batismo cris- Batismo judaico
tão. Seu rito de m ergulhar as pessoas na água m arca-
ria profundam ente a form a de iniciação adotada pos- N a com preensão do judaísm o antigo, o corpo era
terio rm en te pelas igrejas cristãs. Daí seu nom e ficar continuam ente contam inado, não necessariam ente
p or pecados cometidos, pois para estes havia o sacrifício (Ό
que expiava a culpa, mas, acima de tudo, por coisas nor-
mais do dia a dia - o contato com um cadáver, por exem-
pio. Um a vez maculado o corpo, bastava a água para
Fato importante
torná-lo apto ao exercício religioso, não necessitando, Flávio Josefo testemunha a existência histórica de
por isso, de um arrependim ento prévio, mas som ente da João Batista e sua pregação nas seguintes palavras:
“lavagem” da impureza. No dia seguinte, porém , o corpo
“Conforme a interpretação de alguns judeus, a
estaria novam ente im puro pela convivência diária com destruição do exército deHerodes [0Tetrarca] veio
coisas da terra e outra purificação se fazia necessária. como deúgnio de Deus efoi muito apropriada como
resultado do que ele havia feito com João, apeli-
Não havia limites para o núm ero de abluções. O de- dado de Batista. Pois Herodes 0 decapitou, mesmo
voto podia m ergulhar-se quantas vezes quisesse e quan- sendo ele um bom homem que ensinava aos judeus 0
tos dias fosse preciso. Um complexo como os tanques exercício da virtude, bem como os atos de justiça em
de Betesda e Siloé, ambos em Jerusalém, possivelmente relação uns aos outros, e ainda a piedade em relação
seriam tanques públicos que passaram a servir para a re- a Deus. Então ordenava-lhes 0 batismo, pelo que a
alização desse cerimonial. João utilizou-se livremente lavagem [na água] só seria aceitável para ele, se eles
[os batizandos]fizessem bom uso daquilo e não 0
desse rito, e Jesus também.
exercessem apenas por formalidade exterior, ou
Mas Jesus m esm o não batizava e sim seus discípulos para a remissão de alguns pecados, mas antes para
a purificação do corpo inteiro, supondo que a alma
0o. 4:2). Ao que tudo indica, como conseqüência da en-
já estivesse de antemão purificada por completo
trada de muitos seguidores de João para o m ovim ento
pela justiça.”(Antiguidades, XVIII, 5,2).
de Cristo, o próprio Senhor resolvera adotar este gesto
r
simbólico como rito de iniciação, em bora continuasse a G
deixar com seus discípulos a tarefa de exercê-lo. J CO _
do trabalho de desatar as sandálias (Jo. 1:27). Eis um a
frase de extrem a submissão, levando-se em conta
que desatar as sandálias de um m estre era algo tão
hum ilhante, que nem o m en o r dos discípulos estava
obrigado a fazê-lo92. E, para term in ar, censurou in-
diretam ente seus discípulos que n utriam ciúm es do
m ovim ento de Cristo (Jo. 3:25-30).
Jesus e João Batista
M as a recíproca de Jesus foi à altura. D evolvendo
João e Jesus eram parentes distantes, que cresceram ao prim o a hipérbole de um elogio, o M estre chegou
separados em sua juventude. Os pais de João Batista a pro n u n ciar certa vez que dos nascidos de m ulher
eram idosos, quando ele nasceu, pelo que não é difícil (o que quase o incluía) ninguém era m aior que João
imaginá-lo órfao ainda na meninice. Por alguma razão, Batista (Luc. 7: 24-35). Jesus chegou a citar em seus
ele optou em viver no deserto e não m orar com seus discursos frases que originalm ente foram ditas por
parentes em Nazaré, Jerusalém ou outra localidade. João, tal era o respeito que ele tin h a p o r seu m inisté-

Alguns pensam que João teria ficado p o r algum rio profético (comp. M at. 3:2 com 4:17 e Luc. 3:10 e
tem po em com panhia dos essênios no deserto da Ju- 11 com M at. 5:39-42).
*
deia. O fato é que, certa feita, ele m esm o adm itiu que
não conhecia a Jesus (Jo. 1:33). Foi preciso um a in ter- Local do batismo de João
venção direta de Deus (o Espírito em form a de pom -
ba) para que o Batista reconhecesse em Jesus, aquele
Dois lugares disputam o local original onde João
que haveria de vir (M at. 3:11-17).
Batista realizava seus batism os públicos: o prim eiro e
A p a rtir disso, se não travaram um a íntim a ami- m ais conhecido é um pequeno afluente do rio Jordão,
zade, pelo m enos se adm iraram em m útuo respeito. alim entado p o r cerca de cinco nascentes. O local se
João chegou a m andar que seus discípulos seguissem cham a W ad i K harrar e fica na zona de fronteira en-
a Jesus, ao invés dele m esm o (Jo. 1:35-41). N um a de- tre Israel e Jordânia. O lugar não é m uito distante de
term inada ocasião, referiu-se àquele que haveria de Jericó e a tradição diz que, na confluência dessas cinco
vir com o alguém de quem ele não seria digno nem fontes, João batizava.

Wadi Kharrar, muitos creem que neste locai Jesus foi batizado.
João Batista e Qumran sua pregação (Mat. 3:3; M ar. 1:3; Luc. 3:4; Jo. 1:23 e
D ocum ento de Dam asco 7,12-14; 9,20). Seria p o r isso
que o cristianism o foi conhecido com o “o cam inho”?
A relação entre o m ovim ento de João Batista e o m o-
vim ento de Jesus é explícita nos evangelhos, logo, tam - João e Q um ran praticavam a im ersão/batism o
bém o será em relação a Q um ran e aos nazarenos. No que (Tevillah) com o sinal de arrependim ento. Os judeus
diz respeito à referência de João Batista como tendo um tam bém o praticavam , mas em João e Q um ran o ba-
“movimento''’em tom o de si, é notório que ele tinha discí- tism o parece te r um colorido m ais escatológico de ar-
pulos e ministrava sermões de arrependim ento (Jo. 1:35). rependim ento que a prática judaica m ais com um de
Lucas 1:80 m enciona que ele foi criado nos deser- purificação (M an. Disc. 3, 4f; v, 13; Doc. Dam. 10-
tos. Ora, Josefo afirm a que os essênios criavam filhos 10-13). Além é claro da m enção inédita do Espíjrito
de outras pessoas (Antiguidades 2,8,3). Talvez João Santo (Man. Disc. 4, 12-13).
ten h a sido criado na com unidade de Q um ran. As
M as há tam bém diferenças im portantes entre o
razões hipotéticas para que seus pais o tenham lava-
m ovim ento batista e aquele de Q um ran:
do até ali podem ser as seguintes: depois da m atança
das crianças em Belém, Isabel o levou para lá, porque Os essênios usavam branco (Antiguidades 2, 8, 3).
com o eram parentes de Jesus, filho de José e M aria, João usava vestes de pelo de camelo (M at. 3:4).
João poderia c o rrer perigo em Jerusalém com a dinas-
A com unidade não era evangelística, era fechada
tia dos Herodes no poder (note que ele depois se volta
em si m esm a e quase erem ita (M an. Disc. IX, 21-26 .
contra um dos Herodes que era adúltero).
João pregava na ribeira do Jordão e p erto da cidade
Essa razão é apresentada no evangelho apócrifo pois as pessoas v inham ouvi-lo. Ele, inclusive, viu Je-
protoeuangelion de Tiago. A o u tra razão seria que Za- sus passando p o r um a via pública quando disse ‫״‬eis o
carias, sendo um sacerdote se ju n to u aos essênios que cordeiro de D eus”.
eram da trib o de Levi e não mais aceitavam o m ovi-
Soldados e publicanos não eram aceitos entre 05
m ento sacerdotal de Jerusalém . Eles diziam seguir o
essênios, João lhes aconselha apenas que sejam ho-
sacerdócio de Zadoque (II Sam. 8:17; I Cr. 24:3 etc.).
nestos e não que abandonassem a profissão (Luc.
Isso explicaria o vegetarianism o de João, um a vez que
3:10-14).
dentre os essênios m uitos eram vegetarianos, rejei-
tando com er até m esm o o cordeiro pascal68. A im pressão que tem os é que João foi p o r algum
tem po do m ovim ento essênio, m as o abandonou em
João, portanto, vivia no deserto (em um a com uni-
certo período. Possivelm ente o m ovim ento dos naza-
dade? Sozinho?) [Luc. 1:80; Jo. 1:28], Sua m orada era
renos tam bém .
num local que distava apenas 8 milhas de Q um ran - na
verdade, as grutas onde os m anuscritos foram locali- As propostas, as perspectivas, os cenários são
zados estava a 5 milhas de onde João Batista batizava. m uitos com o se pode ver. C ontudo, com pensa tre-
m endam ente estudar a vida e os ensinos de Cristo. O
A gora vejam os as sim ilaridades entre o ensino de
acercam ento destes tem as traz, com certeza, muitos
João Batista e o de Q um ran:
benefícios a quem deles lança m ão, quer com o acadê-
Am bos (João e a com unidade de Q um ran) cita- m ico ou sim plesm ente com o sujeito de fé, refletinác
vam Isaías 40:3 com o um a profecia que antecipava sobre sua p rópria identidade confessional.
Aqueles que apoiam essa tradição fundam entam - de Jesus a João seria aquela que aponta para o m odo
-se nos seguintes pressupostos: (1) o local faz parte im pecável e exem plar com que Jesus deveria exercer
do deserto da Judeia; (2) A expressão “Betânia além seu m inistério, “Im pecável” no sentido de que ele não
do Jo rd ão ” (Jo. 1:28) com o a referência ao local dos poderia ter n enhum a m ácula e “exem plar‫ ״‬porque de-
batism os não era necessariam ente um local no pró- veria ser um m odelo para a hum anidade.
prio rio, mas um pouco afastado dele; (3) este lugar
O M essias deveria ser rei e sacerdote. Rei, segundo
está intim am ente ligado com o rio; (4) os batism os
não poderiam ser exatam ente no rio p o r causa da sua sua ascendência de Davi e sacerdote, segundo a or-
forte correnteza, mas num lugar associado às águas dem de M elquisedeque, pois obviam ente ele não teria
do Jordão; (5) a presença de um grande núm ero de com o ser da tribo de Judá e Levi ao m esm o tem po
capelas erguidas ali nos séculos VII e VIII m ostra que (Sal. 110:4; Heb. 5:8-10, 6:20).
o lugar detinha algum a tradição que o apontava como Am bas as funções, de rei e sacerdote, exigiam a
local do batism o de João Batista93.
unção com óleo consagrado - sím bolo do Espírito
O segundo lugar provável do batism o foi aponta- Santo de Deus. O m ergulho de purificação na água
ão pelo arqueólogo Shim on G ibson94. Ele com andou era requisito básico para alguém que iria atuar com o
um a escavação num sítio arqueológico p erto de Ein sacerdote (Êx. 29:1 e 4). N o caso do rei, em bora a la-
Karim - lugar onde tradicionalm ente acredita-se que vagem com água não constitua um a exigência divina,
nasceu João Batista. Ali descobriram um a caverna percebe-se a presença de um a fonte no m om ento em
com sinais de acúm ulo de lam a e estruturas de pe- que Salomão é consagrado rei de Israel (I Rs. 1:45).
dra que serviam para form ar “piscinas”, canalizando e
A unção de C risto é superior a todas as demais. O
acum ulando a água da chuva d entro da rocha.
Espírito de Deus desce com o pom ba e vem sobre ele.
Além disso, há indícios de uso esporádico do lu- Depois a voz do Pai é ouvida do céu aclam ando o seu
gar durante todo o século I d.C. Ali encontram -se m ui- Filho. Um evento público, testem unhado p o r todos e
tas cerâmicas, mas sem sinal de que a ocupação tivesse reconhecido p o r João (Jo. 1:32 a 34).
sido doméstica. Era um local público. As paredes são
adornadas com desenhos bizantinos e trazem cruzes,
símbolos cristãos e o desenho de um hom em com rou-
pa de peles, um cajado e um aparente cordeiro do seu o
‫כ‬
lado. Para Gibson, um a representação de João Batista
> C
ao lado do “C ordeiro de Deus”, ou seja, Jesus.
Fato importante
Lucas informa que ao começar seu ministério
Por que Jesus Jesus teria em torno de 30 anos (Luc. 3:23).
foi batizado? A razão dessa nota não é meramente cro-
nológica. Lucas pretende mostrar que Jesus
começara seu ministério messiânico no tempo
Um a coisa que intriga m uitos leitores do Novo
certo apontado pelas Escrituras.
T estam ento é o fato de Jesus ser declarado sem pe-
cado e necessitar ser batizado. O próprio João Batista Sendo também um sacerdote, 0Messias deve-
se surpreendeu com 0 fato dizendo: “Eu é que preciso ria iniciar seu ofício na época certa apontada
pela Lei de Moisés. E esta era aos 30 anos de
ser batizado p o r ti e tu vens a m im ?” (Mat. 3:14). A
idade, conforme a prescrição de Números
resposta de Jesus é mais intrigante ainda: “Deixa po r
4:3,23,30 e 35.
enquanto, por que assim nos convém cum prir toda a
justiça” (M at. 3:15).
c ‫ר‬
j O
Várias m otivações são apresentadas para esse
episódio. Talvez a mais com patível com a resposta
Jrç-τΊ-‫ ?־‬...... ..^ k 0 lli
era fazer com que o M essias falhasse em sua m issã:
Ao concluir a narrativ a do em bate, em Lucas 4:13 é
Templo - Vista Geral Esquina,
Pináculo
dito que Satanás “o deixou até ocasião o p o rtu n a ”, :
que indica te r sido Jesus ten tad o em outras ocasiõe s
ainda que novos incidentes de co nfronto direto não
ten h am sido registrados.
Confronto com o mal C ontudo, em pelo m enos um a ocasião, é possívd
A ida de Jesus para o deserto, onde foi tentado pelo ver o diabo, desta vez através de Pedro, tentando dis-
diabo, tem um profundo significado dentro da reli- suadir C risto de sua m issão (Mat. 16:21-23). O pon-
giosidade da época. A ntes de conhecê-lo é im portante to im portante é que, apesar de m últiplas tentações. :
saber p o r que Deus expôs seu Filho à m ercê do p rín - testem unho bíblico é de que Cristo nunca pecou. M a‫־‬
cipe das trevas. qual o propósito em deixar que Cristo fosse tentadc ?

Após 0 batism o, Jesus foi “levado pelo E spírito O texto bíblico é claro: Cristo "foi levado pelo Es-
ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi ten ta- pírito ao deserto”. Tal expressão indica um propósito
do pelo diabo” (Luc. 4:1-2). O objetivo do inim igo divino naquela condução do Messias pelas terras maà
áridas da Judeia. O m otivo claro para isso é assegurar de trocar de lugar com o Altíssim o, recriando Deus à
que a hum anidade tivesse um sum o sacerdote capaz im agem e sem elhança dos caprichos e posições pes-
de se relacionar com as fraquezas e debilidades pró- soais, de m odo que a vontade do hom em passa a ser a
prias da raça hum ana (Heb. 4:15). vontade divina e, p o r isso, deve ser obedecida.

Por fim, a tentação da idolatria ou negociação da


alma com o diabo: “Tudo isso te darei, se prostrado me
adorares”. Pessoas que põem à venda sua salvação em
Fato importante troca de migalhas m ateriais e sensações agradáveis.

Cristo não sofreu, é claro, das mesmas coisas Cristo, po rtan to , enfrentou a tentação na sua base.
que cada indivíduo do mundo inteiro padeceu. E com o pano de fundo de cada um desses assédios sa-
Ele não teve a dor de sofrer um estupro na tânicos estava o m aior de todos os perigos: a indepen-
infância, ou 0 trauma de ver esposa efilhos dência de Deus.
mortos por bandidos na sua frente. Contudo,
elefo i tentado nos pontos básicos que todos os Assim, a natureza hum ana do Filho de Deus lhe
seres humanos também são. Ou seja, ele não perm itiu não apenas com preender a dor hum ana,
precisava passar pelas mesmas dores que cada mas sim patizar-se com ela. “Porque, tendo em vista o
um enfrenta, mas ter a experiência exata do que ele m esm o sofreu quando tentado, ele é capaz de
que é sentir dor, sede, sensação de abandono.
socorrer aqueles que tam bém estão sendo tentados”
Isso 0 torna hábil a compreender as debilidades
(Heb. 2:18). A palavra grega traduzida "tentado” aqui
humanas assim como um paciente com câncer
significa “ser colocado à p rova”.
pode entender a dor do outro com esclerose múl-
tipla, embora se tratem de doenças diferentes.
‫ר‬ oO
O
S b ΤΓ& c O
c j

Você sabia?
O deserto assume na Bíblia e na cultura do
Oriente Médio um destaque muito especial.
Ali fo i 0 lugar para onde vários perso-
nagens bíblicos se dirigiram voluntária
ou circunstancialmente e encontraram
ambiente para 0preparo ou maturidade
Tentações no deserto espiritual. Abraão, Jacó, Moisés, Elias e
João Batista são alguns exemplos.
N a versão de M ateus 4:1-11, as três tentações so- Por isso a palavra “deserto" nas Escrituras
fridas p o r Cristo resum em a tríade de todo fracasso assume tanto um sentido literal de lugar,
espiritual. Prim eiro, a tentação da cobiça tam bém co- como também metafórico de circunstân-
nhecida com o concupiscência da carne: “M anda que cia da vida. É 0 lugar da provação (Heb.
essas pedras se transform em em pães”. O u seja fazer 3:8)■ da secura e aridez na companhia de
coisas escusas para alim entar os desejos do corpo e o animais perigosos (Deut. 8:15; Jó24:5;
prazer, custe o que custar. Mar. 1:13), e também 0 lugar da proteção
(Êx. 13:17 el8;Ap. 12:6), do livramento
A seguir, a tentação da arrogância espiritual: “A ti- (Jer. 31:2), do amadurecimento ou preparo
ra-te abaixo ... porque aos seus anjos ordenará a teu espiritual (Heb. 11:36-38).
respeito para que te guardem ”. Ou seja fazer coisas c
erradas em nom e da fé e de um suposto cum prim ento C
da vontade de Deus, bem com o a tentativa hum ana Sh
‫־זס־ס־‬
Endereços do Mestre
‫י‬ O
cJ ‫כ‬ O relato dos evangelhos perm item apontar pelo
‫כ‬ Fato importante c m enos cinco lugares onde Jesus m orou. O prim ei-
O jejum, bem como demonstram os textos ro, Belém, po r aproxim adam ente dois anos após seu
bíblicos e a tradição judaico-cristã, não era nascim ento. O segundo, alguma com unidade judaica
uma prática isolada, nem técnica destinada do Egito, talvez por cerca de um ano, enquanto Ele e
a provocar êxtase ou conseguir 0favor de
seus pais fugiam da ira de Herodes. O terceiro, Nazaré,
Deus. Trata-se antes de uma atitude des-
crita em hebraico como “afligir a própria onde fora criado e perm anecera talvez até próxim o aos
alma", isto é, demonstrar sensibilidade 30 anos. O quarto, algum lugar próxim o ao sítio onde
física e emocional em relação ao conflito João Batista realizava seus batismos. O quinto, Cafar-
cósmico que envolve a humanidade e posi- naum , a cidade onde residiu po r 3 anos e m eio até se-
cionar-se diante dele. guir para Jerusalém e ser crucificado diante de todos.
Noutras palavras, mostrar, pelas atitudes e
comportamento, que houve uma real opção
pelo lado de Deus na guerra do bem contra
Deixando Nazaré
.^ 0 mal. ^ .
c ‫כ‬ O início do m inistério público de Jesus aparece
0 ^ Ο
m arcado por, pelo m enos, duas m udanças de endere-
14W P -................................................. ^ ΓΤΓγ τ π ço. M esm o criado em Nazaré, ele já não residia ali no
m om ento em que se m anifestou com o M essias. A Bí- Os m otivos que fizeram C risto sair pela segunda
blia o m ostra visitando um a ou duas vezes o lugarejo, vez de N azaré, novam ente, não são esclarecidos pelo
mas sem pre em clima de rechaço e desconfiança po r evangelista. C ontudo, a possível m orte de José e a
parte de seus m oradores (M at. 13:53-58; M ar. 6:1-6; crescente rejeição de seus concidadãos seriam bons
Luc. 4:16-30). argum entos para sua m udança.

Pelo que se lê em João 1:25-42, Jesus já havia fixado Ademais, o verbo grego usado p o r M ateus para
residência em algum lugar da Judeia, provavelm ente referir-se à saída de Jesus de Nazaré é kataleipô, que
nas cercanias de Betânia ou Jericó, próxim o ao local carrega um sentido adicional de “deixar para trás”,
onde João Batista pregava e fazia batismos. Foi nessa “abandonar”, “esquecer”. Foi com esse tom pejorati-
circunstância que ele um dia solicitou ser batizado por vo, que M ateus usou esse verbo todas as vezes que se
oão Batista. E ntretanto, quando ouviu dizer que João referiu a um a retirada de Jesus de algum a localidade
havia sido preso, Jesus voltou para Nazaré, na Galileia (cf. M at.l6:4; 21:17). Não foi, enfim , um a saída pací-
Mat. 4:12). fica regada com lágrim as e festas de despedida.

Mas Jesus não continuou m orando ali por m uito


tem po. Diz o Evangelho de Mateus: “... e [Jesus] dei- Nova residência
xando Nazaré, foi m orar em Cafarnaum , situada à
beira-m ar”(Mat. 4:13). O “m ar” é claro, seria “M ar da U m a vez na Galileia, Jesus escolheu Cafarnaum
Galileia”, o grande lago de água doce que dá nom e à com o seu centro referencial. Aquela cidade é sem pre
região. referida com o sendo o lugar de onde ele sem pre par-
tia em suas viagens evangelísticas e para onde voltava. A nova cidade chega a identificar-se tanto com o M estre
que M ateus e M arcos referem -se a ela com o sendo “a sua p rópria cidade [i.e. de C risto]” (M at. 9:1 e M ar.. 2:1).

M as por que C afarnaum e não C orazim , Betsaida ou outro centro urbano local? A resposta talvez esteja na
amizade firm ada com Pedro, o pescador e sua família, o que fez com que Jesus se sentisse bem acolhido naquele
lugar. O utra possibilidade, não excludente da prim eira, seria o fato de Jesus te r outros parentes vivendo ali, mas
que não o rejeitaram com o os de Nazaré. E, ainda, C afarnaum , nos dias de Cristo, era um im portante centro
com ercial da Galileia, e, assim, Jesus teria contato com m uitas pessoas nessa cidade.

Q uem seriam esses parentes? Qual o indício bíblico dessa possibilidade?

Parentes de Jesus
N o Evangelho de M ateus, João e Tiago, que se to rn aram apóstolos de C risto, são cham ados de “filhos de
Zebedeu” (Mat. 4:21). Eles tam bém m oravam em C afarnaum e eram pescadores, juntam ente com seu pai.
M ateus ainda descreve sua mãe, a m ulher de Zebedeu, entre as seguidoras de C risto que ficaram ao pé da cruz
(M at. 27:56).

M arcos dá a entender que essa m esm a m ulher cham ava-se Salomé, e João com plem enta que ela seria a irmã
de M aria, m ãe de Jesus (Marc. 15:40; Jo. 19:25). U m a visão conjunta dos três relatos evangélicos esclarece me-
lhor o argum ento.

MULHERES AO PÉ DA CRUZ DE CRISTO

Maria, mãe de Maria, mãe de


Lucas 23:49 Maria Madalena
Jesus Tiago e José

"M aria, mãe


Mateus 27:55, Maria, mãe de A mulher de
de Tiago e Maria Madalena
56 Jesus Zebedeu
José"

"M aria, mãe


Maria, mãe de
Marcos 15:40 de Tiago, 0 Maria Madalena Salomé
Jesus
menor, e José

"A irmã dela


Maria, mãe de "M aria, mulher
João 19:25 Maria Madalena [de Maria mãe
Jesus de Clopas"
de Jesus]"
N ote-se que am bos, M ateus e M arcos m encionam onde m orou o profeta Naum . Daí o nom e hebraico
três m ulheres que seguiram Jesus desde a Galileia e Kefar (ou Kaper) + Naum - vila de Naum .
perm aneceram com ele em Jerusalém durante o tu -
O sítio arqueológico de Cafarnaum (hoje conheci-
m ulto de seu julgam ento. U m a seria M aria, m ulher
da como Talhum pelos árabes) está situado perto das
de Clopas, m ãe de Tiago, o m enor, e José. A o utra se-
cidades de Tabgha (3 km) e Tiberíades (16 km). A ape-
ria M aria M adalena. E a terceira é apresentada com o
nas 5 km dali pode-se alcançar o curso do rio Jordão.
Salomé, talvez m ulher de Zebedeu (obviam ente a
mãe de Tiago e João). Dos edifícios ali escavados, cham am -nos a aten-
ção os restos de um a sinagoga e os alicerces de um a
O elem ento final fica p o r conta de João, que m en-
casa, com fo rte probabilidade de te r sido a residên-
ciona nom inalm ente apenas as duas prim eiras m u-
cia do apóstolo Pedro, m encionada nos sinóticos
lheres, m as acrescenta M aria, a m ãe de Jesus e, “a
com o sendo o lugar onde Jesus to m av a suas refei-
irm ã dela”. C om o não há m enção extra de Salomé
ções e algum as vezes dorm ia. T am bém foi ali que o
ou de um a quinta m ulher, o texto estaria falando da
M estre curou a sogra do apóstolo, episódio referido
m esm a pessoa.
em M ateus 8:14-15.

1‫ ־‬cO

Você sabia?
Esta provável relação parental lança luz no
episódio descrito em Mateus 20:21, onde “a A sinagoga local
mãe dosfilhos de Zebedeu pede a Cristo
que no seu reino um de seusfilhos fique à A sinagoga foi a prim eira das ruínas ali reconhe-
sua direita e 0outro à sua esquerda. Era um
cidas pelo relato do explorador am ericano E. Robin-
pedido bastante audacioso para uma mulher
son, em 1838. Seu edifício ergue-se no centro físico
da época. Ele só se justificaria se ela tivesse
alguma ascendência familiar sobre Jesus. Se da pequena cidade e as suas dim ensões são notáveis: a
realmente se tratar de sua tia, a requisição sala de oração, de planta retangular, m ede 23 m etros
fa z todo sentido, considerando queTiago e de com prim ento p o r 17 de largura e possui à volta
João seriam seus dois primos legítimos. outras salas e pátios.

De fato, T iago e João estão no círculo dos Ao contrário das casas particulares, com as suas
mais íntimos de Cristo ao lado de Pedro eAn- paredes negras de pedra basáltica, a sinagoga foi cons-
dré. João chega a ser chamado de “o discípulo tru íd a com blocos quadrados de pedra calcária branca,
amado”, “aquele que reclinava a cabeça no trazida de pedreiras localizadas a m uitos quilôm etros
peito de Jesus”- uma expressão típica para
de distância; alguns blocos pesam quatro toneladas.
demonstrar intimidade familiar.
Porém , aquela não é a sinagoga que Jesus conhe-
ceu. Estudos mais recentes revelaram ser aquela um a
d + 'G'T L ‫בח־סזז‬ construção dos séculos III ou IV d.C. N o local, foram
encontradas cerca de 30.000 m oedas do período ro-
m ano tardio, além de várias cerâmicas e pedaços de
um a arquitetura bizantina - elem entos que confir-
A vida em Cafarnaum m am um a datação tardia para o edifício.

E m bora o A ntigo T estam ento não faça m enção al- C ontudo, sob as ruínas dessa sinagoga, m ais espe-
gum a a essa cidade, existe um a tradição judaica que a cifícam ente sob a nave central, há um pavim ento de
identifica, talvez p o r causa de seu nom e, com o a vila pedras de basalto diferente do encontrado em outras
áreas do local; ju nto dele há cerâmicas, certam ente turião rom ano de quem Jesus curara um fiel em pre-
p ertencentes a um período bem anterior ao Bizan- gado (Luc. 7: 1-10). Ali tam bém havia um líder local
tino. Segundo a opinião de alguns sérios estudiosos cham ado Jairo, que teve sua filha de 12 anos ressusci-
esse pavim ento seria do século I e pode m uito bem tada p o r m ais um m ilagre de Jesus Cristo.
pertencer à m esm a sinagoga dos dias de Jesus, referi-
da em M ateus 8:5-13 e Lucas 7:1-10.
A casa que Jesus
O costum e oriental de construir novos edifícios de
culto sem pre sobre os escom bros de um outro edifício
frequentou
de culto explica o porquê de estarem as duas sinago-
Hoje, quem v isita C afarnaum v erá, elevada por
gas, a mais antiga e a tardia, edificadas no m esm o local.
sobre as ru ín as de um a das casas locais, um a igreja
Naquele lugar, portanto, o M estre esteve em vários sá-
m o d ern a in augurada em 1990. M as o que interessa,
bados, leu a T orá e pregou a vinda do reino dos céus.
em term o s arqueológicos, está em baixo dessa igre-
C onform e as inform ações dadas p o r Lucas, a sina- ja: um a sobreposição de três edificações, localizadas
goga de C afarnaum havia sido edificada p o r um cen- a 30 m etro s da sinagoga, cujo p rim e iro nível seria

Ruínas da sinagoga de Cafarnaum


um a casa feita de pedras basálticas e datada do sé- não tin h am sido devidam ente identificados. U m era
culo I d.C. o alicerce de outra igreja cem anos m ais velha que a
octogonal e o outro, abaixo desta, o alicerce de um a
Acim a dela estariam os alicerces de duas igrejas casa particular de m eados do século I.
cristãs, um a do IV o utra do século V d.C. A mais re-
cente tem um form ato octogonal, cujo significado,
em bora ainda desconhecido, está intim am ente ligado
a um a pia batism al típica daqueles tem pos e um m o-
saico que confirm ou se tra tar de um sítio sagrado do
cristianism o.

Foi som ente a p artir das escavações locais reini-


Seria a casa de Pedro?
ciadas em 1968 que em ergiu perante os arqueólogos a
No solo mais profundo (pertencente à casa) foram
história daquela construção. Os dois alicerces abaixo
encontrados dois anzóis de pesca enterrados junto a
da igreja octogonal seriam estratos mais antigos que
potes domésticos e lâmpadas de óleo que ajudaram na
datação do estrato e na identificação com a propriedade
de um pescador simples da Galileia. Mas até aí, o que
se podia afirm ar com base na evidência arqueológica
era que ali estavam os restos de um a casa particular do
século I que pertencera a certo pescador da localidade.
Identificá-la com a casa de Pedro era outro desafio.

A peça-chave para com pletar este quebra cabeça


veio de um a m enção do século IV feita por Egéria, pe-
regrina cristã oriunda da Espanha, que assim escreveu:

“A casa do príncipe dos apóstolos foi transform a-


da num a Igreja; contudo as paredes [da casa] ainda
estão de pé com o eram originalm ente. Ali o Senhor
curou o paralítico. T am bém existe lá a sinagoga onde
o Senhor curou o endem oninhado, a que se chega a
subir m uitos degraus; esta sinagoga está construída
com m uitas pedras quadradas”.

Este testem unho deve com pletar-se com outro es-


crito um século mais tarde p o r um certo A ntonino
Placentini, tam bém peregrino na região: “Chegam os
a Cafarnaum , a casa do bem aventurado Pedro, que
[hoje] é um a basílica”

O ra, esta era a cham ada domus ecclesia (igreja do


lar), m uito com um e n tre os cristãos dos p rim eiros
séculos que se reu n iam em casas particulares com o
fim de celebrar a ceia do S enhor, ao invés de irem
p ara a sinagoga dos judeus. C om o passar do tem po,
essas igrejas dom iciliares receberam m odificações
arquitetônicas e se tra n sfo rm ara m em capelas e de-
pois basílicas.
Às vezes acontecia de um dos m em bros possuir π ί θ ο ‫; ן‬............... . ............ 7 ‫ ר‬po Π
— o
um a casa m aior, com m elhor localização, que pode- O C
ria servir de local de reuniões. Q uando isso ocorria,
eles separavam aquele côm odo com o centro fixo de
Você sabia?
reuniões e davam -lhe o nom e de minim, que no latim Sendo Cafarnaum 0 trajeto obrigatório de muitos
bárbaro parecia significar “dim inuta”, ou “pequenina”. viajantes que saíam do norte em direção ao sul, He-
rodes resolvera estabelecer no local uma espécie de
Com a conversão de C onstantino e conseguinte aduaneira para cobrar impostos e uma guarnição
peregrinação de H elena pelas terras bíblicas, m uitas para controlar eventuais insurreições.
dessas igrejas dom ésticas foram transform adas em Não eram apenas impostos para Roma que eram
capelas m enores ou basílicas suntuosas, dependendo recolhidos. Também havia imposto do Templo em
do m aior ou m en o r dom ínio rom ano sobre a região. Jerusalém. Coletores especiais eram designados
Desse m odo, preservou-se de certa form a, sob 0 piso para esse ofício. Sua tarefa era coletar meio shekel
de algumas igrejas latinas, senão a form a, pelo m enos por cidadão adulto do sexo masculino e enviar a
o local de im portantes acontecim entos antigos. É evi- Jerusalém para a manutenção do santuário judeu.
Esse imposto fo i cobrado de Jesus numa das ocasi-
dente tam bém que lendas surgiram na dem arcação de
ões em que ele e seus discípulos entraram na cidade
lugares santos e cada caso tem de ser visto com m uito
(Mat. 17:24-27).
cuidado e rigor investigativo.
De fato, 0 evangelho relata que um dos discípulos
Resum indo, pois, a casa de Pedro teria sido usada de Jesus chamado Levi ben Alfeu (vulgo Mateus)
como local de reuniões cristãs a p artir de algum tem po trabalhava nessa coletoria de Cafarnaum, quando
dentro ainda do século I. Por iniciativa de cristãos não deixou tudo para seguir 0Mestre. D outra feita,
judeus, amparados pela proteção de Helena, a m ãe do também menciona um centurião, construtor da
sinagoga local, que era homem justo e solicitou a
im perador, construiu-se um a igreja por cima da resi-
Cristo que curasse seu empregado.
dência. U m século depois, no entanto, ela foi derru-
c
bada e deu lugar a outra igreja bizantina, que pode ser G
identificada a partir da últim a parte da década de 1960. T n irb
_aO. não tenha freqüentado a escola rabínica de seu tem -
o O po. C ontudo, m uitos o cham avam de rabi: seus dis-
c o cípulos (Luc. 7:40), doutores da lei (M at. 22:25-36),
° Fato im portante c pessoas leigas (Luc. 12:13), os ricos (M at. 19:16), os
fariseus (Luc. 19:39), os saduceus (Luc. 20:27-28).
Os cidadãos de Cafarnaum pareceram no Eram m uitas as classes de sim patizantes e não sim pa-
início estar receptivos ao Cristo (Cf.Mar. 1:21 tizantes que reconheciam seu rabinato.
e22). Depois, porém, num terrível lamento
sobre a cidade, Jesus os chama de impenitentes Deve ser esclarecido, no entanto, que nos dias
(Luc. 10:15 el6). Chega ao ponto de colocá-la de C risto, o cargo de rabino não era algo tão form al
como pior que Sodoma (Mat. 11:23 e24). com o se pensa hoje, em term os de um professor uni-
O O
versitário que necessita reconhecim ento oficial do
governo para poder atuar.
2. ê f Naqueles dias, o term o “rabino” ainda não tinha
nem m esm o o significado exato que se encontra no
judaísm o de hoje. Hoje em dia, “rabino” é um term o
usado autom aticam ente para quem se form a em um a
O movimento de Jesus Ieshiva, isto é, um a escola de instituição rabínica. Pára
os contem porâneos de Jesus, “rabino” era um term o
C om o todo rabino de seu tem po, Jesus tam bém
respeitoso para um grande professor. É nesse contex-
tinha seguidores e discípulos. Alguns eram mais pró-
to que se deve entender o título aplicado à sua pessoa.
ximos, outros m ais distantes. Porém , um a m ultidão
com eçou a segui-lo assim que sua fama se espalhou E m esm o que ninguém pudesse ser um rabino,
po r toda a região. sem antes ter sido orientado po r um o u tro rabino,
havia espaço para exceções. C onsidere que Jesus mes-
A m aior parte de seus correligionários se m ostrou
m o foi um M estre, apesar de não te r sido discípulo de
um desastre em vários aspectos do discipulado. Porém ,
rabino algum.
a firmeza e o com prom isso de Jesus em transform á-los
fez toda a diferença. Foram graças a esses seguidores Ao que tudo indica, conquanto houvesse demasia-
errantes que a doutrina de Cristo foi preservada e seu das exigências para um futuro m estre da lei, o reconhe-
ensinam ento reconhecido no m undo todo. cim ento popular demandava a legitimação do título,
m esm o por indivíduos que discordavam daquele novo
professor. Esse parece ter sido o caso de Jesus de Nazaré.
O rabino
E que nos dias de Jesus, o m ovim ento rabínico ain-
E m bora não apareça m encionado no A ntigo Tes- da estava em sua fase de pioneirism o. Logo, em bora
tam ento, o ofício de Rabi estava m uito em voga nos exigente em term os de estudos e dem onstração de co-
tem pos de C risto. Rabi ou rabino é um a palavra de nhecim ento, não possuía todas as demandas formais
origem hebraica (alguns dizem “aram aica”), que de- que surgiram posteriorm ente, como, po r exemplo, a
riva da palavra rabh, que significa “grande”, “distinto” ordenação form al (semikhá) para o exercício do cargo.
em conhecim ento). Rabi(no), p o r extensão, passou
a significar professor, e rabbi, “m eu professor”. No
judaísm o, o rabino representa aquele que tem a auto- O discipulado
ridade para ensinar e in terp retar a T orá.
E n trar para o círculo de discípulos de um rabino
Até que p o n to o acesso a um m estre era franquea- não era tarefa fácil. O indivíduo poderia até se candi-
do a todos, é difícil saber. O pró p rio grau de in stru- datar ou ser convidado espontaneam ente, mas a pala-
ção form al de Jesus perm anece um m istério, em bora, v ra final sem pre era do m estre, nunca do candidato.
como já foi dito, a possibilidade m aior é de que ele Os alunos de um rabi eram cham ados de talmidim e
ser reconhecido com o discípulo de um m estre do ju- doações da com unidade e das famílias de seus alunos.
daísm o era um a grande honra. O rabino Gamaliel aconselhava os seus discípulos £
com binar a prática da instrução da T o rá com um a ati-
Até m esm o 0 casam ento, em bora fosse fortem en-
vidade comercial não religiosa95.
te incentivado, ficava em segundo plano se com petis-
se com a indicação para fazer parte de um grupo de P or isso não era incom um um rabino gastar parte
talmidim. M uitos jovens retardavam ao m áxim o o en- de seu tem po ensinando e parte trabalhando para seu
volvim ento com um a noiva, a fim de ter m ais tem po próprio sustento. Seus discípulos fariam o mesmo
para estudar a T o rá sob a tutela de um grande rabi. Alguns rabinos procedentes de famílias de sacerdotes
Às vezes o próp rio rabino retardava seu casam ento poderiam até receber um estipêndio do T em plo, m t
para se dedicar mais ao estudo e ao ensino da Torá. a m aioria era com posta de artesãos, m ercadores ou
Gamaliel II, o neto do professor de Paulo, já tin h a dis- trabalhadores braçais.
cípulos adultos quando resolveu finalm ente se casar.
M uitos ensinavam apenas n o dia de sábado e nos
N orm alm ente um rabino estudava bastante o feriados religiosos, de m odo que seus discípulos e ele?
com portam ento, os dons e as potencialidades de um m esm os poderiam trabalhar e estudar ao m esm o tem-
novato antes de oficializá-lo com o seu discípulo. So- po. O utros optavam p o r um a carreira parcialmente
m ente os m elhores eram eleitos. itinerante, onde iam , de cidade em cidade, acomps.-
nhados p o r seus discípulos.
Neste ponto, Jesus assum iu um a postura diferente
dos demais rabinos de sua época. C om exceção de um Nessas viagens, os rabinos visitavam as sinago-
caso m encionado em Lucas 9:57, não há registro de gas locais e ajudavam na discussão de algum pon::
discípulos que tiveram coragem de se candidatar para escriturístico que n o rm alm en te acontecia naquela
segui-lo. Eles não se sentiam elegíveis. Assim quando com unidades (M at.4:23). Eles tam bém se valiam
Jesus disse “siga-m e” - um im perativo técnico para a da hospitalidade local e, nalgum as vezes, prom e-
aceitação oficial no grupo - provavelm ente os discí- viam seus ensinos n u m a casa de fam ília (Luc. 8:1-3:
pulos nem acreditaram no que estavam ouvindo. Eles 10:38-42).
eram cam poneses rudes, pescadores simples e alguns U m período próp rio para essas viagens era entre ;
até m arginalizados. N enhum deles jamais esperaria colheita e o próxim o plantio, quando os discípulos t
ser convidado para se to rn a r um talmid (form a singu- seu m estre interrom piam tem porariam ente seu tri-
lar de talmidim). balho com um , a fim de seguir viagem . N em o alu-
no nem seu m estre abandonavam em definitivo s
As escolas geralm ente eram associadas à sinagoga
profissão original. Os próprios Hillel e Sham m ai, dr
local. M as o rabino não tin h a n en h u m a autoridade
fam osos rabinos do tem po de Cristo, eram , respect:-
form al sobre a cidade onde ele vivia. Seu poder de
vãm ente, m arceneiro e construtor.
atuação se restringia aos lim ites da p rópria sinagoga.
C ontudo, cada com unidade de judeus aparentem ente M uitos pensam erroneam ente que Jesus e se
tin h a um professor que era contratado para ensinar discípulos não faziam o u tra coisa senão pregar e vi:-
seus filhos nas lições básicas do judaísm o. jar. M as, se o costum e da época valer tam bém p
C risto, eles intercalavam o estudo e a pregação com

Manutenção do grupo trabalho norm al de todo cidadão com um .

A m anutenção do grupo e de suas famílias neste


U m rabino nos dias de C risto n orm alm ente era período de traslados vinha de recursos guardados 0‫־‬.
proibido de cobrar para ensinar a Torá. Não havia ofertas geradas por sim patizantes do m ovim ento. Ξ
nen h u m tipo de “salário” vindo da sinagoga local. Em muitas m ulheres, inclusive viúvas, eram as princip
vez disso, os rabinos do século I tipicam ente pratica- contribuintes. Com Jesus não era diferente. O gru
vam algum a atividade profissional para sustentar seu recebia doações que vinham de m ulheres com o M;
m inistério de ensino que poderia ser com pletada p o r M adalena, Joana, m ulher do procurador de Herod
Salomé, mãe de Tiago e João, e um a certa Suzana (Mar. A escolha dos doze
15:40, 41; Luc. 8:1-3). E essas tam bém seguiam Jesus.

Jesus, aliás, parece te r sido m uito aberto à entra- U m dos pontos de destaque do início do m inis-
da de m ulheres para seu discipulado - um a atitude, tério de C risto foi a escolha de 12 hom ens para que
senão inédita, pelo m enos rara naquele tem po. Um a o acom panhassem e dessem continuidade à sua obra
das m ais famosas passagens que confirm a tal disposi- após sua partida. Tal era sua im portância na organi-
ção é a que descreve M aria, irm ã de M arta, “assentada zação do grupo que Lucas revela que C risto passou
aos pés de Jesus”, conform e Lucas 10:38-42. Essa era um a noite inteira em oração antes de definir seus no-
um a típica postura/expressão de aprendizado diante mes (Luc. 6:12-13). Eles eram seus 12 apóstolos.
de um rabino. T an to que Paulo usa um a expressão
O n ú m ero 12 já revela um paralelo sim bólico
análoga, “instruído aos pés”, para falar de seu apren-
com o povo de D eus, um a vez que esse valor lem -
dizado ju n to ao grande rabino Gamaliel (At. 22:3).
brav a os doze filhos de Jacó, as 12 trib o s de Israel,
Isso coincide com um dito atribuído ao rabino os 12 pães da presença e as 12 pedras no p eitoral do
Yoser ben Yoser, que disse: “Deixe sua casa se trans- sum o sacerdote.
form ar num lugar de encontro para rabinos. Então
Para entender o papel desses hom ens dentre o
cubra-se a si m esm o com a poeira dos pés deles e beba
grupo m aior de seguidores de C risto é im p o rtan te es-
de suas palavras com o alguém sedento”.
tabelecer a diferença entre apóstolo e discípulo.

SlSL
O
O discípulo
c
Nas origens do m ovim ento de Jesus, a palavra
Você sabia? “discípulo”, em grego mathetês, era análoga aos ter-
m os “aluno”, “estudante”. Seria o correspondente do
No início do livro de Atos, Lucas descreve as
talmid, o aluno de um a escola rabínica. Os discípulos,
primeiras reuniões cristãs ocorrendo na cida-
p o rtan to , seriam os alunos do rabino Jesus.
de de Jerusalém. Esses encontros aconteciam
no cenáculo, um andar superior da casa, onde Eles devem ser distintos da grande m ultidão de se-
os apóstolos, algumas mulheres, a mãe e os
guidores ou adm iradores que se aglom erava ocasio-
irmãos de Jesus se reuniam.
nalm ente para ouvir Cristo e ver seus m ilagres, mas
Atos 12:12fala da casa de uma certa Maria, não o seguia com o um aluno acom panha o professor.
mãe de João Marcos - 0 mesmo autor do O núm ero, no entanto, de discípulos/alunos de Jesus
evangelho que leva seu nome - como sendo um não era pequeno. Lucas 10 fala de outros 70 designa-
lugar "onde várias pessoas se haviam reunido dos (haveria, p o rtan to , mais gente que isso), e Atos
para orar”(At. 12:12). A li refugiou-se o refere-se a um m o n tan te que iria de 70 a 120, to r-
apóstolo Pedro quando 0 anjo 0 libertou do
nando-se m ilhares em pouco tem po. M uitos desses, é
cárcere de Herodes. E ali, provavelmente,
claro, filiaram -se apenas após a m orte e ressurreição
ocorreu 0 batismo como Espírito Santo,
descrito em Atos 2. Com base nesses textos, de Jesus, tornando-se, na verdade, discípulos de seus
alguns deduzem que a casa de Marcos seria 0 discípulos - o que era perfeitam ente aceitável. N em
cenáculo original onde Cristo realizou sua úl- todos os alunos da escola de Hillel ou Sham nai tive-
tima ceia com os apóstolos e esta teria sido um ram aulas diretam ente com eles.
empréstimo de Maria, sua mãe, que também
era discípula de Cristo. Não existem registros de quantos alunos em m édia
tin h a cada rabino, nem com o era a distribuição dos
c conteúdos transm itidos po r ele ou seus imediatos.
O
M as há um a referência ao rabino Akiba com o tendo
ΤΓ0 24 m il estudantes96.
O apóstolo que todo apóstolo era um discípulo, m as nem todo
discípulo era um apóstolo.
A palavra "apóstolo” é mais restrita em seu signi- M arcos 3:14-19 lista os 12 apóstolos da seguinte
ficado que a palavra "discípulo”. E difícil precisar que m aneira: Simão, a quem acrescentou o nom e de Pe-
term o aram aico/hebraico estaria por detrás desse vo- dro; Tiago, filho de Zebedeu; João, irm ão de Tiago
cábulo oriundo do m undo grego. O que se pode dizer André; Felipe; Bartolom eu; M ateus; Tom é; Tiago
é que “apóstolo” vem da junção de duas palavras apó filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o Zelota e Judas Isca-
(para longe) + stellô (aprontar), literalm ente “aprontar- riotes, quem o traiu. M ateus 10:2-4 e Lucas 6 :1 2 -lt
-se para partir para longe”, em síntese: um emissário. contêm um a relação sim ilar de nom es.
C ontudo, o uso dessa palavra no m undo grego
tem caráter distinto daquele encontrado no Novo
T estam ento. Apóstolos, para os gregos, eram navios
de carga, frota enviada, docum ento expedido e, mais Você sabia?
tarde, com andante de um a expedição naval.
Todos os apóstolos que andavam com Jesus
Q ual a origem , po rtan to , do term o apóstolo, con- morreram como mártires, com exceção de dois:
form e usado no Novo Testam ento? É difícil dizer. Na Judas Iscariotes, que 0 traiu e acabou se enfor-
tradução grega da (Septuaginta), ele aparece apenas cando, e João, que, após ser exilado na ilha de
Patmos, obteve a liberdade e morreu de causa
um a vez (I Rs. 14:6) e, em Flávio Josefo, duas vezes.
natural possivelmente na cidade de Éfeso.
M as, considerando que, em pelo m enos duas dessas
três referências, o sentido parece ser de alguém en- PAULO, que não era oficialmente parte dos
viado com o em issário, o conceito não estaria m uito 12, fo i considerado “apóstolo dos gentios", por
distante daquele encontrado no m inistério de Cristo. causa da sua grande obra missionária no mun-
do greco-romano. Foi decapitado em Roma por
Em bora 0 discípulo tam bém pudesse ser um en- ordem de Nero.
viado, a exem plo dos 70 m encionados em Lucas 10, o
apóstolo parece ter um a m issão mais efetiva, de m odo
SIM ÃO PED R O pregou entre os judeus, chegan-
do até a Babilônia, esteve em Rom a, onde foi crucifi-
cado de cabeça para baixo

JU D A S ISCA RIO TES - enforcou se, p o r rem o r-


so, depois de tra ir Cristo.

c ................‫׳‬.‫׳■׳■׳‬....... ‫ב‬.
q p
c ‫כ‬
‫)ין‬ Fato importante c
0 termo “apóstolo”aparece nos evangelhos
como distintamente aplicado aos 12 discípulos
escolhidos por Cristo. Contudo, nas cartas de
Paulo e no Livro de Atos, 0 mesmo termo às ve-
zes aparece com um sentido mais amplo: Paulo
se refere a si mesmo várias vezes como apóstolo
de Jesus Cristo.

Embora de maneira dúbia, ofinal da carta aos


O destino dos apóstolos Romanos parece aplicar 0 título a um casal de
parentes de Paulo, cujos nomes seriam: An-
E m bora não se possa confirm ar a “historicidade” drônico e Júnias (Rom. 16:7). Júnias é especial-
de cada um a das tradições alusivas aos apóstolos, são mente notável por ser 0nome de uma mulher!
estas as inform ações preservadas a seu respeito:
O livro deAtos, por sua vez, é mais claro em usar
MATIAS, que ficou no lugar de Judas Iscariotes, 0termo “apóstolo”tanto para os doze quanto
foi m artirizado na Etiópia. para outros que tambémforam enviados, a
saber, Paulo eBamabé(At. 2:12; 2614:4,14). Q
SIMÃO, o zelote, foi crucificado. c ‫כ‬
C O
JU D A S T A D E U m o rreu com o m ártir pregando o
evangelho na Síria e na Pérsia.

TIAGO (o m ais jovem ) pregou na Palestina e no


Egito, sendo ali crucificado. Maria Madalena
M ATEUS m o rreu com o m ártir na Etiópia.
M aria M adalena é, sem dúvida, um a das persona-
TO M É pregou na Pérsia e na índia, sendo m artiri- gens mais conhecidas do N ovo T estam ento. Citada
zado p erto de M adras, no m o n te de São Tom é. um as 12 vezes nos evangelhos canônicos, ela, mais
do que qualquer outro discípulo é, definitivam ente,
BARTOLOM EU serviu com o m issionário na A r- a que tem m aior destaque. M as o que a fez realm ente
m ênia, sendo golpeado até a m orte. fam osa foi a crença difundida de que ela foi um a ex-
-prostituta, que posteriorm ente teve algum a relação
FILIPE pregou na Frigia e m o rreu com o m ár-
afetiva com Jesus.
tir em Hierápolis.
Será isso verdade? Procede a dedução de que Cris-
A N D R É pregou na Grécia e Ásia M enor. Foi cru-
to fora casado? A versão popular sobre M aria cor-
cificado.
responde à realidade dos fatos? E a fam osa expressão
TIAGO (o m ais velho) pregou em Jerusalém e na “M aria M adalena arrependida”? Seria esse um exem -
Judeia. Foi decapitado p o r Herodes. pio legítim o de arrependim ento e transform ação?
Jesus casado? Jesus fora casado” e sua esposa não poderia ser outra se-
não M aria Madalena, a verdadeira Sra. Jesus Cristo.
Em setem bro de 2011, a Dra. K aren King, da U ni- A ntes disso, o fam oso livro, e depois filme, O Cód:-
versidade de H arvard, apresentou n u m congresso em go Da Vinci, já havia polem izado o assunto, quando o
Rom a um fragm ento de papiro inédito, escrito em autor, baseado no evangelho apócrifo de Filipe, afir-
copta e que trazia o trecho incom pleto de um diálo- m ava com o verdade histórica que Jesus se casou com
go entre Jesus e seus discípulos. O fragm ento não era M adalena e teve filhos com ela. M as isso não saiu do
grande. M edia 4 x 8 cm - pouco m aior que um cartão cam po da ficção, pois nem teólogos nem historiado-
de visitas. res liberais apostaram suas fichas nessa afirmativa.

O texto tam bém não era m uito im pressionante, E claro que se fosse provado que Cristo fora ca-
oito linhas de um lado e seis do o utro, algumas até sado, isso decepcionaria m uitos cristãos ao redor dc
ilegíveis, mas o que cham ou a atenção foi a linha 4 do m undo. Não há nada na Bíblia que condene um casa-
m ento, desde que seja legítim o aos olhos de Deus. N 2
anverso que dizia : “ ...” Jesus declarou-lhes: “Mi-
verdade, não se justifica colocar o estado civil dejesu:
nha esposa... [
no m esm o nível ou na m esm a categoria de sua legi-
O restante da frase está perdido, mas a expressão tim idade messiânica. Jesus ser casado não é sinônim :
“m inha esposa”, que teria sido pronunciada pelos lá- de Jesus ter pecado! O u seja, ele não se casou porque
bios de Jesus, foi o suficiente para levedar a discussão. isso não fazia parte de sua missão e não porque o ca-
Ali estaria a prova de que Jesus fora casado, senão, sarnento fosse algo indigno que maculasse sua pesso:
pelo m enos um a evidência de que havia cristãos na
igreja prim itiva que afirm avam isso. Jesus solteiro
A p rópria Dra. King foi m uito precavida ao anun- Pelo visto anteriorm ente, pode-se dizer que não e
ciar a descoberta. Prim eiro porque o fragm ento fora o argum ento teológico que afirm a ser Jesus solteirc
adquirido por um p roprietário anônim o, num m er- São outras as razões:
cado de antiguidades - o que am pliava a possibilidade
1 - A rgum ento do Silêncio. Não há nenhum indíc:
de não ser verdadeiro. Aliás, poucos dias depois do
nos evangelhos mais antigos ou mesmo na literatura pi-
anúncio vários especialistas se levantaram pondo em
trística de que Jesus tenha sido casado. M aria é, na maio-
dúvida a autenticidade do docum ento, o que levou a
ria das vezes, m ostrada na Bíblia em conjunto com u c
U niversidade a suspender tem porariam ente a publi-
certo núm ero de mulheres que apoiavam o ministér. c
cação do artigo da Dra. King.
de Jesus. Em nenhum texto ela aparece num a condiçã:
Em segundo lugar, esse docum ento não seria ne- social que insinue um casamento com Jesus.
nhum a prova forense sobre o estado civil de Cristo,
2 - M esm o fora da Bíblia, apenas três evangelho:
um a vez que, caso seja verdadeiro, ele dataria de 3 sé-
apócrifos falam ou insinuam que M aria pudesse ser
culos e m eio depois da m o rte e ressurreição de Jesus.
casada com Jesus. M esm o assim, como já foi dito, sã:
Em suma, um a fonte histórica pouco confiável.
fontes m uito tardias e um tanto ambíguas: A prim e:: _
delas é o evangelho apócrifo de Felipe, datado do sécu-
Maria - a esposa Ιο III d.C.: Έ a com panheira de [...] M aria Madalena
[...] ela mais que aos discípulos, beijá-la na sua [...]
de Cristo? N ote que o texto de Felipe não diz que Jesus a be: -
A Dra. King tam bém destacou que o fragm ento seria java na boca, com o insinuam alguns. O texto é fra;-
m eram ente um olhar sobre um a discussão que ocorreu m entário e dúbio, pois o ósculo santo - o beijo entre
entre os prim eiros cristãos acerca do fato de Jesus ser ou irm ãos espirituais - tam bém era aceito na igreja cristi
não casado. Mas a despeito das devidas precauções aca- prim itiva (Rom. 16:16,1 Tes. 5:26)
dêmicas, a descoberta caiu como um a luva na mídia sen- A segunda fonte, o Evangelho de Maria Madaler.:
sacionalista que não esperou m uito para afirmar: “Sim! descreve M aria com o aquela “que o Salvador ama‫־‬::
mais que todas as m ulheres”. M as não com o com pa- G rande, pregado em 591 d.C. Ele fez um a ligação en-
nheira (koinosos), pelo m enos nos fragm entos restan- tre Lucas 7 e 8, supondo que M aria M adalena era a
tes deste texto, que está m uito m utilado. m ulher que ungiu os pés de Jesus. M as a bem da ver-
dade, com entaristas bíblicos questionam , se a unção
Por fim, o Evangelho de T om é, “Simão Pedro dis-
de Jesus, m encionada em Lucas 7:36-50 seria a mes-
se: ‘Que M aria vá em bora, porque as m ulheres não
m a registrada em João 12:1-8, essa sim realizada por
m erecem a vida!’ Jesus respondeu: “Eis, que eu farei
M aria M adalena.
de tal m odo que ela se to rn e hom em . Assim, ela tam -
bém se to rn ará espírito vivente, sem elhante a vós M as ainda que se trate da m esm a m ulher, M aria,
hom ens. T oda m ulher que se faz hom em , en trará no não se pode saber com certeza qual era esse “pecado”
reino dos céus”. N ovam ente, nada há no texto que ex- m encionado no texto. Nada ali diz que ela se to rn o u
plicitam ente diga ser Jesus casado com M aria. p rostituta. A expressão “um a m ulher pecadora”, em-
bora pudesse sim se referir a pecados sexuais, não se
3 - A Bíblia não teria m otivo para esconder o ca-
lim itava a isso. U m a m ulher sem filhos, doente, ou
;am ento de C risto. U m suposto casam ento do M estre abandonada seria considerada pecadora ou im pura
não seria algo, de m odo algum, censurável. Pelo con- diante das leis de purificação do judaísm o antigo.
trário, vários rabinos eram casados e nada na teologia
iudaica indicaria que o M essias devesse ser necessa- Considerando que Lucas 8:2 trate de M aria M a-
riam ente solteiro, pelo que, se Jesus fosse casado, os dalena, a anotação de que Jesus expulsou dela “sete
discípulos não teriam a m en o r razão para ocultar isso. dem ônios’, pode ser um a pista de que sua condição de
“pecadora” estava mais associada a um a questão espi-
4 - Paulo, na defesa do seu direito como apóstolo, ritual que a qualquer o utra coisa.
não cita Jesus entre os casados, nem faz alusão a um
pretenso casam ento de M estre (I Cor. 9:5). Ele m encio- M as o m odo com o o dram a é m encionado em Lu-
na Cefas (que é Pedro), os irm ãos do Senhor, mas não cas 7:40-43 leva a pensar que o próp rio Simão a indu-
cita o nom e de Jesus, nem p o r inferência. Ora, se Jesus ziu a algum tipo de pecado, provavelm ente de ordem
fosse realm ente casado com M aria M adalena, Paulo ja- sexual. M as, neste caso, um a simples relação com ele
mais deixaria de citar o seu nom e, pois o exemplo de (consensual ou po r estupro) já faria dela um a peca-
esus seria, sem dúvida, seu mais forte argum ento. dora aos olhos do conservadorism o da época, m esm o
que não houvesse se tornado um a prostituta.
5 - M aria provavelmente não tinha marido. Uma
prática natural daquele tem po era associar as mulheres
a seus maridos e filhos. O nom e desses funcionava como
........
um sobrenom e para ela. Este é o caso de Joana, m ulher
i 0
de Cusa; M aria mãe de Tiago e José etc. Mas ela é cha-
j Fato importante
mada tão somente, pela sua cidade: M aria de Magdala.
Uma antiga tradição cristã identifica Maria
6 - Não há evidências de que Jesus, p o r ser um ra- Madalena como a irmã de Lázaro, chamada
bino, devesse ser casado. Havia rabinos solteiros ou Maria deBetânia, 0 que é bastante plausível. A
que dem oraram m uito a casar, para ter m ais tem po aparente contradição dos sobrenomes pode ser
para o estudo da T orá. Além disso, Filo97 e Josefo98 explicada sefo r entendido que um se refere à
falam de pessoas que elogiavam o celibato dentro do sua cidade natal e 0 outro à cidade onde ela vi-
judaísmo e eles m esm os elogiam a conduta99. veu numa determinada parte de sua vida. Isso
era perfeitamente posúvel. Jesus mesmo era
chamado Jesus de Nazaré, embora seu lugar
Maria Madalena de nascimento fosse Belém da Judeia. Falta,
contudo, saber quando e por que exatamente ela
prostituta? . [p teria deixado um lugar para viver outro.
‫ר‬
A mais antiga citação de M aria M adalena como O
p rostituta vem de um serm ão do papa G regório, o
irU -r* ‫־‬
S lQ.
C
c
Você sabia?
Uma ligação errônea ou pelo menos impro-
vável das passagens evangélicas quefalam
de Maria levou muitos a identificá-la com a
mulher adúltera de João, capítulo 8. A referi-
da mulher era casada, senão não teria como ser
acusada de adultério!

Nada no texto de João leva à ideia de que esta


seria a mesma visitada por Jesus. A história
da interpretação bíblica jamais associa ambas
como sendo a mesma pessoa.
0
0
U í QO TT^Ttl

Magdala
A cidade de M agdala foi um im portante núcleo de
pescadores da Galileia e que se to rn o u fam osa aos lei-
tores do Novo T estam ento p o r sua possível relação
com M aria M adalena, visto que esta parece te r sido
sua residência p o r algum tem po.

O T alm ude m enciona dois lugares com o nom e de


M agdala. Um situava-se no leste, no Y arm uk, perto
de Gadara, e seria conhecido com o M agdala Gadar.
O outro, m ais provavelm ente o lar de M aria, ficava
perto de Tiberíades, e era conhecido com o M agdala
Nunayya (‫״‬M agdala dos Peixes”), o que reforça sua lo-
calização na costa do lago.

Flávio Josefo m enciona um a cidade galileia des-


truída pelos rom anos na G uerra Judaica com o nom e
grego de Tarichez, que significaria algo com o “lugar
de salgar peixes”. Em bora ele não diga qual seria seu
nom e hebraico ou aram aico, m uitos pensam que es-
taria se referindo a Magdala.

De igual m odo, M ateus afirm a que, após Jesus fa-


zer o m ilagre da m ultiplicação de pães e peixes, ele
en tro u num barco e foi para o territó rio de M agadã,
que m uitos entendem com o sendo o utra referência a de Jesus ter pregado nesse lugar, ali estaria um artefa-
M agdala (M at. 15:39). to com o qual ele teve contato direto e quem o escul-
piu, provavelm ente visitou o T em plo de Jerusalém e
O nom e M agdala pode ter duas origens: pode vir do
obteve inform ação privilegiada (pessoalm ente ou por
aramaico Magdalah, que quer dizer elegante, grandioso
outrem ) de com o seria o in terio r do santuário judeu.
ou to rre - literalm ente “grande lugar”; ou pode v ir do
hebraico Migdal, significando to rre ou farol. N enhum
farol foi encontrado até agora no sítio arqueológico, Quem era Jesus?
mas, considerando sua vizinhança com o m ar da Ga-
lileia, o apelido seria bem apropriado. As buscas pelo Jesus histórico foram sem pre re-
cheadas de tentativas de definição coletiva de sua pes-
Há quem sugira, porém , que o nom e viria do ara-
soa. O u seja, com que grupo ele se associava? Com o
m aico Migdala Nunia e que significaria algo com o
classificar Jesus de Nazaré? U m filósofo cínico? Um
“to rre dos peixes” - o sentido então não seria, neste
pregador apocalíptico? U m taum aturgo? U m líder re-
caso, de um a to rre para ilum inar o cam inho dos bar-
volucionário?
cos, m as um lugar para salgar peixes.

Nas escavações de M agdala, os arqueólogos encon- V ersões m odernas, e m enos acadêmicas, tam bém
traram várias casas, tanques de purificação religiosa, surgem aqui e ali propondo Jesus com o negro, iogue,
lugares para o preparo de peixes e o mais im portante hom ossexual e até com unista. Parece que cada grupo
achado da região: um a sinagoga original do século I. necessita que Jesus seja m em bro de sua agremiação,
C onsiderando que Jesus pregava em várias cidades da talvez para legitim ar m ais a sua causa, um a vez que se
Galileia, M agdala certam ente esteve em seu percurso. tra ta de um a figura ilustre da hum anidade. Seria real-
Assim são m uito fortes as chances deste te r sido um m ente possível enquadrar Jesus num a só ramificação?
lugar onde Jesus pregou alguns dos serm ões m encio-
nados no N ovo T estam ento.
O método de Jesus
P>>
Talvez um a form a coerente de responder a essa
o questão da identidade de Cristo seria avaliar seu mé-
c
todo de trabalho conform e exposto no N ovo Testa-
Você sabia?
m ento. O m étodo, com o se sabe, é o modus operandi,
Um curioso achado dentro da sinagoga de ou seja, o procedim ento, a form a de se fazer um a coisa
Magdala tem causado admiração e questiona- conform e um plano ou objetivo. Tal reconhecim en-
mento nos historiadores quanto ao seu sigxii- to lança luz sobre a identidade daquele que opta por
ficado. Trata-se de uma pedra bem decorada
aquele cam inho e não outro.
ao estilo dos dias do Rei Agripa, com rosas',
rodas de fogo, que podem ser uma referência M as é im portante evitar os anacronism os. Quando
à visão do profeta Ezequiel e um desenho de se fala do m étodo de Jesus, não se pode confundir esta
vasos ladeando uma menorá de sete chamas
busca com aquele com portam ento rigoroso próprio
como aquela queficava no interior doTemplo
da m etodologia cientifica ou das técnicas de oratória,
O em Jerusalém.
venda ou m arketing que se tem nos dias atuais. Em-
‫ר‬ bora organizado, reconhecível e, em certos m om en-
O
tos, previsível, o m étodo de Jesus era mais um estilo
DTTTÜ‫־‬ "c0‫׳‬ u
de vida que um m anual de procedim entos.

D entre as opiniões prevalecentes, m uitos pensam Há ainda o risco de um a busca unilateral ou ex-
que se tratava de um altar, um a mesa de orações ou trem ista das características de Jesus. U m a seria vê-lo
um púlpito onde o rolo da T o rá era aberto e lido to- apenas com o reflexo de sua p ró p ria cultura. Jesus foi
dos os sábados. Se assim for, considerando a hipótese um personagem sem igual. O utra seria extrai-lo de-
m asiadam ente de seu tem po e contexto social a ponto son foi um dos pais da nação norte-am ericana. Jesus
de torná-lo um espectro historiai. U m personagem para ele foi um sábio e beneficente m estre da M oral.
que se encaixa em todos os períodos e ao m esm o tem - C ontudo, alguns de seus ditos e com portam entos não
po não se identifica com nen h u m deles. condiziam com as ideias expostas pelos pais fundado-
res da A m érica.
Esse foi o erro de m uitos autores m edievais e tam -
bém m odernos que ora transform am Jesus num eu- E ntão o que ele fez? T o m o u um a tesoura e cola,
ropeu renascentista, ora o convertem n u m reacioná- reco rto u vários trechos da Bíblia que considerava
rio esquerdista. U m a descrição para cada gosto. úteis - os demais ele cham ou de estrum e - e os colou
num a nova ordem , num caderno com um de notas.
Jesus adaptado M ais tarde ele in titulou esse m aterial com o nom e de
“A vida e a m oral de Jesus de Nazaré”.
Um exemplo clássico da tentativa de “adequação”
Nessa versão, Jefferson deixou de fora os m ila-
Je Cristo aos interesses particulares de um m ovi-
gres, com o Jesus andando sobre as águas, ressuscitan-
m ento pode ser visto na fam osa Bíblia de Jefferson, a
do Lázaro e m ultiplicando pães e peixes. Ele tam bém
prim eira tentativa, segundo alguns, de apresentar um
não considerou as alusões ao nascim ento virginal e à
Zristo mais “am ericano”.
sugestão de que Jesus é Deus. Por fim, sua colagem ter-
A utor da declaração de Independência dos EUA m ina com o sepultam ento de Jesus na sexta-feira, não
e terceiro presidente daquele país, T hom as Jeffer- com a ressurreição, no dom ingo de Páscoa.
Publicado posteriorm ente com o nom e de A Bíblia de H u m o r - é difícil para alguns imaginar Jesus contan-
Jefferson, esse livro se to rnou um dos títulos mais famo- do um a anedota. Tal quadro não parece se encaixar com
sos da história americana. Mas o que os evangelhos de figura fria, sem esboço de riso, que com um ente enfeita
fato dizem sobre os m odos e estilos da ação de Jesus? A os ícones das catedrais mais famosas do m undo. Um Je-
relação a seguir não é exaustiva, mas sugestiva a partir da sus sério, sem tem po para piadas, é mais condizente com
descrição encontrada nos evangelhos canônicos. os manuais de teologia sistemática e dogmática.

Contudo, assim como as parábolas, o bom hum or


tam bém fazia parte do antigo estilo judaico de ensino.
A sabedoria era encarada naquele tem po como símile
do bom hum or. Ambos se resum iam num a resposta
óbvia, mas que ninguém estaria esperando. Por isso ar-
rançavam do auditório tanto o riso quanto a reflexão.

Jesus como professor U m a distinção, porém , deve ser feita. Na cultura


do antigo judaísm o, o h u m o r não tinha a conotação
Jesus foi um professor p o r excelência, preocupa- do teatro greco-rom ano que inspirava o riso p o r am or
do, sobretudo, com a didática e a form a mais fácil de do próp rio riso. Não era, com o na interpretação dos
fazer sua m ensagem atingir os corações necessitados. atores, um a diversão da m ente ou fuga da realidade,
Eis algumas de suas técnicas de ensino: m as, ao contrário, um a form a descontraída de revelar
verdades que norm alm ente não seriam percebidas.
P a rá b o la s - m uitos leitores m odernos associam
as parábolas exclusivam ente a Jesus, com o se ele fosse I r o n ia - a ironia era um a m arca registrada da anti-
o único m estre a se expressar p o r m eio de ilustrações ga sabedoria oriental e Jesus refletiu m uito esse estilo
desse tipo. Isso, contudo, não é verdade. Os judeus de argum entação. Mas esse recurso não deve ser con-
sem pre foram proverbiais por contar histórias e um fundido com sarcasmo. Não se tratava de invalidar 0
exame da literatura rabínica desde os dias de C risto pensam ento do outro, mas estim ular-lhe o raciocínio
até a Idade M édia revela um m o n tan te de mais de pela dem onstração de elem entos que revelam um a in-
3.500 parábolas preservadas. versão de valores ou o contrário do senso comum.

U m a comparação dessas parábolas com aquelas Isso foi m uito com um em vários discursos de Cris-
contadas por Cristo revelou muitas semelhanças: o uso to. Q uando ele apresenta um sam aritano dem ons-
trando mais m isericórdia que um sacerdote e um le-
do senso com um , de imagens do dia a dia, de hum or e
vita ou responde um a pergunta do interlocutor com
ironia ao final do relato. As parábolas eram um bem
o utra pergunta.
estabelecido sistema de ensino nos dias de Cristo.
É correto pagar trib u to a César? - desafia o inqui-
Foram m uitas as parábolas contadas po r Cristo
ridor. Jesus tom a na m ão um a m oeda de denário e
(Mar. 4:34). Elas tinham a vantagem de ajudar a me-
pergunta: “de quem é esta efígie e inscrição?”. Veja
m orizar os conteúdos a partir de lições do dia a dia.
que ele claram ente se vale de um a ironia retórica. To-
Algumas eram fictícias, outras baseadas em fatos - epi-
dos sabiam que era de César, m as ninguém imaginava
sódios com uns realm ente ocorridos. Contudo, não de- a conclusão final do M estre: “Então dai a César o que
vem nunca ser confundidas com as estórias da m itolo- é de César. E a Deus o que é de D eus” (M at. 22:15-22).
gia. São categorias bem distintas um a da outra. U m a resposta óbvia, porém inesperada.

As m itologias tran sp o rtam a m ente para o im a- H ip é rb o le - a hipérbole era outra form a bem hu-
ginário surreal, ao passo que as parábolas conduzem m orada de falar das peculiaridades do dia a dia, num
para o realidade concreta da vida testem unhada em viés hum orístico bem diferente do estilo ocidental.
redor. São exemplos do dia a dia usados para ensinar P o r isso Jesus pergunta: “Qual dentre vós é o hom em
verdades espirituais. que se o filho lhe pedir pão lhe dará pedra?” (Mat.
7:9) A resposta óbvia mas engraçada: ninguém ! N ou- gras básicas para aplicá-la e Jesus tam bém parece ter
tra feita ele adverte: “Q uando deres esm ola não to- feito uso dela.
ques trom beta diante de ti com o fazem os hipócritas”
Poesia - na cultura contem porânea ocidental, a
M at. 6:2). É claro que os hipócritas não faziam isso
poesia é um gênero literário caracterizado pela com -
literalm ente, mas o exagero retórico tin h a um objeti-
posição em versos estruturados de form a harm onio-
vo pedagógico bem definido.
sa. É um a m anifestação de beleza e estética retratada
C haradas - um exem plo de charada está em João pelo poeta em form a de palavras. O u seja, a poesia é
16:16-19, onde Jesus lança um a afirm ação que faz os antes de tudo um a m anifestação rom ântica e artística.
discípulos quebrarem a cabeça: “M ais algum tem po e
Em bora parte disso valha para a poesia bíblica, seu
já não m e vereis mais; m om entos depois, e m e vereis
conteúdo, estilo e objetivo eram sensivelm ente dis-
de novo.” Então, alguns dos discípulos com entaram
tintos. A com eçar pelo fato de que a poesia do Antigo
entre si: “O que Ele quer dizer com isto: ‘mais algum
O riente M édio era m ajoritariam ente m arcada pelo pa-
tem po e já não m e vereis m ais’ e ‘m om entos depois,
ralelismo e não pela rima. Se havia ou não m étrica é
e m e vereis de novo’ e ‘porque vou para o Pai’?” E se
ainda um assunto em aberto para os especialistas. Por
questionavam : “Que significa ‘algum tem po’? Não
isso, quando Jesus faz uso de repetições e paralelismos
com preendem os o que Ele quer dizer.”
(não de rimas), está falando em poesia. Exemplos:
M as Jesus sabia o que desejavam perg u n tar e lhes “O hom em bom tira do tesouro bom coisas boas;
disse: “Vós vos questionais sobre o que Eu quis dizer m as o hom em m au do m au tesouro tira coisas m ás”
quando declarei: ‘mais algum tem po e já não m e vereis (M at. 12:35).
mais; m om entos depois, e m e vereis de novo’? Em
verdade, em verdade Eu vos afirm o que chorarão e se “Vós sois cá de baixo, e sou lá de cima. Vós sois
lam entarão, enquanto o m undo se alegrará. Vós vos desse m undo, eu desse m undo não sou” (João 8:23).
entristecereis, porém a vossa tristeza se transform ará
Po
em grande alegria.”.
c
M idrash - esta é um a palavra hebraica pouco co- c
nhecida atualm ente. Ela vem do verbo derash, “inter-
Fato importante
pretar” e indica a busca p o r um sentido m ais profun- Embora a prosa também tenha sua beleza e
do do texto. É m uito tênue a diferença entre midrash emoção, a poesia para os ouvintes judeus de
e leitura alegórica do texto, mas am bos não devem ser Jesus tinha um peso maior no momento de ex-
confundidos. A diferença básica é que a alegoria busca pressar uma emoção. Por isso ela pode ser dita
um a aplicação superficial do texto tom ando seus ele- no meio de um discurso, inventada na hora.
Basta repetir 0 tópico ou colocar duas ideias
m entos e aplicando a qualquer situação não corres-
em paralelo: “vósjulgais segundo a carne/ eu
pondente. Já o midrash busca o sentido mais profundo
a ninguém julgo" (Jo. 8:15). Não precisava
que não foi artificialm ente colocado nele, m as que já ser longa nem ter muitos versos. Podia ser
estava ali. uma frase em meio ao discurso, um desabafo
emocionado em meio à dor. Sua mente já estava
P or isso Jesus am plia certos conceitos antigos ao
acostumada a se expressar assim.
dizer: “Eu sei o que foi dito aos antigos: ‘Não m ata-
rás’, e: Q uem m atar estará sujeito a julgam ento. Eu, Essa força emotiva da poesia somada ao fato
porém , vos digo que todo aquele que se irar contra de que ela é mais fácil de ser decorada pelo povo
seu irm ão estará sujeito a julgam ento, e quem profe- fazia com que as coisas mais sérias fossem
ditas em form a de poesia. Era como se houvesse
rir um insulto a seu irm ão estará sujeito a julgam ento
uma nota dizendo: muita atenção neste ponto!
do tribunal” (Mat. 5:21 e 22).
c ‫ר‬
A técnica pode soar estranha, p o r parecer p o r de- C 0
mais subjetiva, m as os rabinos do passado tinham re ­ ‫עזזמי‬
‫ף‬ Co r ‫ך‬ 1,11 falou do sinal do profeta Jonas (Mat. 12:38 a 40), das
C cidades de Sodom a, T iro e Sidom, que receberam a
c ira de Deus (M at. 11:20-24) e da arca de N óe (Mat.
Você sabia?
24:37-39). T udo para ilustrar e to rn a r m ais claro o
Jesus se valeu da poesia em vários momentos de seu ensino.
seu discurso, seja para expressar um lamento,
uma advertência, um oráculo de julgamento ou
até mesmo um elogio. Por isso ele disse acerca de Jesus e as autoridades
João Batista: “Que saístespara ver?Um pro f e-
ta?Sim vos digo, muito mais que um profeta Jesus viveu num a época de profunda corrupção
(Mat. 11:9). política e governam ental. V iver sob os auspícios do
c
C im pério rom ano e de líderes locais vendidos a Rom a
‫־זניס־‬ não era nada agradável. C ontudo, para desaponta-
m ento daqueles mais engajados politicam ente, o Je-
sus apresentado nos evangelhos não se envolveu o
D iálo g o s - apesar de ser um m estre bastante ocu-
com as questões políticas de seu tem po.
pado, Jesus não se furtou a travar diálogos particu-
lares com determ inadas pessoas ao longo de seu m i- E verdade que ele entrou em Jerusalém aclamado
nistério. É n o tó rio que nesses casos ele evitava falar como rei (Luc. 19:28-40) e expulsou os m ercadores do
sozinho. Estim ulava o outro atrávés de perguntas re- Tem plo (Luc. 19:45 e 46). C ontudo, essas eram m ani-
flexivas e com entava suas respostas. O encontro com
festações religiosas e proféticas que nada tinham que
N icodem os e a M ulher Sam aritana são bons exem -
ver com questões governam entais. Sobre os problem as
pios disso (Jo. 3-4).
políticos, Jesus se m anteve à parte deles, em bora não se
Ele tam bém conseguia m uitas vezes discernir além m ostrasse alienado às necessidades do seu povo.
da pergunta que lhe era feita o real m otivo p o r trás
Havia um a razão especial para que ele se m anti-
da indagação. M uitas vezes o questionam ento ético
vesse fora dos assuntos políticos de sua época. Jesus,
ou religioso ocultava um a questão em ocional mal
de fato, pregava a vinda do Reino do Céu. C ontudo,
resolvida. Poucos têm a capacidade perceptiva de vi-
seu referencial de transform ação era a ação últim a de
sualizar as m otivações reais p o r trás de um a queixa,
Deus e não os resultados do esforço hum ano. O plano
desabafo ou desafio.
final de Deus e seu M essias é substituir os governos
C o m p a ra ç õ e s - Jesus não econom izava traçar desse m undo e não reform á-los ou m elhorá-los. Não
paralelos entre o que dizia e elem entos da vida diá- se tra ta de um golpe de Estado, nem de um a indolên-
ria, especialm ente aqueles encontrados na fiatureza. cia dos crentes, mas da espera laboriosa pela inter-
C om para Deus a um Pai am oroso (Luc. 15:11), usa os venção últim a de Deus. O u seja, trabalhar fielm ente
pássaros e lírios para tra tar com o problem a da ansie- pelo reino enquanto se aguarda sua chegada.
dade (M at. 6:25-34), com para seus com patriotas ju-
deus a crianças m im adas, que nunca estão satisfeitas
com nada (M at. 11:16 e 17). Um Messias nada político
Citações escriturísticas - em bora Jesus diversi- C erta feita, um a m ultidão de pessoas beneficiadas
ficasse suas abordagens, nada era tão claro em seu dis- ou sabedoras do m ilagre feito p o r Cristo em m ulti-
curso quanto o apelo que fazia às Escrituras Sagradas. plicar pães e peixes para o povo veio até ele tentando
Ele sem pre as citava com o legítim a Palavra de Deus forçá-lo a ser o seu rei. Jesus se evadiu deles e foi so-
e lhes dava autoridade acima de qualquer o utra fonte zinho para um a m ontanha. N em seus discípulos ele
hum ana. levou consigo (Jo. 6:5-15).

Ele tam bém se valeu m uito das histórias do A ntigo E videntem ente que ele teria m uitos seguidores se
T estam ento, às quais o povo já estava acostum ado: intentasse rebelar contra os poderes políticos existen­
tes. Talvez conseguisse mais seguidores do que teve resposta de Jesus estava em concordância com a es-
ao pregar o am or e curar os enferm os. M as ele defi- cola de Sham m ai, m esm o que em outros m om entos
nitivam ente não desejou se envolver com as políticas ele pareça ecoar o pensam ento de Hillel. N ovam en-
da sociedade de seu tem po. te a m otivação bíblica, mais que partidária, era o ar-
gum ento-chave para seu posicionam ento acerca de
Suas m ensagens de não resistência ao perverso,
qualquer tem a conflituoso.
de oferecer a o u tra face e andar a segunda m ilha com
um inim igo (M at. 5:38-42), eram trem endam ente
contrárias ao ideal de um M essias político. Q uando Sete tipos de fariseus
?ilatos lhe perg u n to u se ele era o rei dos judeus, Je-
sus respondeu: “M eu reino não é deste m undo!” (Jo. Segundo o T alm ude Babilônico100 havia sete tipos
18:33-36). de fariseus:

O interessante é que, m esm o não se envolvendo 1 - Os “de costa larga” - escreviam suas boas ações
em assuntos políticos de seu tem po, Jesus ensinou nas costas para serem vistos pelos demais.
os discípulos a respeitarem as autoridades constitu-
idas em todos os aspectos, exceto naqueles que im - 2- Os “vagarosos”, que deixavam de lado todos
plicassem prática pecam inosa (Mat. 15:3; 19:3-12; Jo. os com prim ossos sociais (inclusive o pagam ento de
19:11). Os im postos deveriam ser pagos honestam en- em pregados) só para cum prirem um a form alidade da
te (Mat. 17:24-27; 22:21) e os preceitos cum pridos, religião.
conform e a orientação dos sacerdotes (Mat. 8:4).
3 - Os “calculadores”, que contabilizavam as boas
obras até atingirem um a espécie de superávit espi-
Jesus e as Escrituras ritual que lhes perm itia certo grau de pecado sem o
risco de caírem em descrédito religioso.
N ão é de se espantar que o judaísm o dos tem pos
4 ‫ ־‬Os “ecônom os”, que buscavam pequenas atitu-
de C risto seja um m osaico de opiniões religiosas,
des que pudessem aum entar seu m érito perante Deus.
éticas e civis. As posições e sugestões éticas eram ,
realm ente, m uito variadas no m undo greco -ro m an o 5 - Os “escrupulosos”, que se policiavam cons-
e os judeus não estavam im unes a essa pluralidade. tan te m e n te acerca de pequenos pecados ocultos que
Aliás, o pluralism o nem sem pre é negativo. Há van- deveriam ser sanados com algum a obra de caridade
tagens na variedade. Porém , em se tra tan d o de va- bem realizada.
lores éticos, a opinião individual ou de grupos pode
ser perigosa. 6 - Os “tem erosos”, que evitavam pecados m ini-
m os para não sofrerem a desventura de Jó.
Sendo assim, é curioso n o tar que as posições de
Jesus não se baseavam no partido A, B ou C, mas nas 7 - Os “am áveis”, que agiam com o Abraão e, po r
Escrituras, conform e ele entendia serem inspiradas isso, eram os verdadeiros filhos de Deus.
p o r Deus.

C erta feita, num a disputa com os saduceus sobre Milagres de Jesus


a realidade da ressurreição, ele ficou ao lado dos fa-
riseus, não porque fosse mais sim pático a esse grupo, A despeito das traduções m odernas, não existe nos
mas porque a posição deles era a posição escriturística evangelhos nen h u m term o que seja exatam ente tra-
(M at 22:23; M ar 12:18-27; Atos 23:8). duzível p o r “m ilagre”. A palavra “m ilagre”, em por-
tuguês, vem do latim miraculum, que sim plesm ente
Em o u tra ocasião, o assunto era sobre o divórcio
evoca a ideia de algo “espetacular”.
e novam ente os judeus estavam divididos en tre um a
visão m ais am pla e o u tra m ais restrita do assunto, Os gregos cham avam essas ocorrências extraordi-
representadas pelas escolas de Sham m ai e Hillel. A nárias de thauma, que quer dizer “espanto”, “adm ira-
ção”. A força desse vocábulo está no sentim ento em o- X la.
cional que tom a conta da pessoa que testem unha um
evento com o esse. Fato importante
Já os evangelhos sinóticos cham am os m ilagres de Em todas as situações extraordinárias, quando
Jesus de teras, "m aravilhas”, e dynamis, “poder”. N un- 0 autor da fala nos evangelhos é 0próprio Jesus,
ca thauma. P or quê? Porque a ênfase bíblica não é no os milagres são chamados de erga, “obras/ações".
sentim ento ou reação em ocional produzida pelo fe- Qual a razão disso? Mostrar que Jesus não inten-
nôm eno, mas na transform ação perm anente que dei- tava fazer milagres apenas para atrair pessoas
como fa z um mágico num espetáculo ou um
xa sobre o indivíduo. O u seja, a em oção do m om ento,
curandeiro a troco de dinheiro.
assim com o o espanto diante dele, passa, mas o poder
que ele im prim e perm anece. E os m ilagres de Jesus Exatamente por isso, 0 apóstolo João preferiu
visavam transform ar pessoas e não apenas deixá-las referir-se aosfeitos de Cristo usando a palavra
adm iradas com seu poder. semeia, que quer dizer “sinais". Mais do que uma
propaganda de um novo movimento, os milagres
Jesus queria que todos se unissem a ele p o r con- de Cristo eram um sinal de quem ele era e da C
versão e não p o r m era adesão. Era um a questão de ser chegada do Reino de Deus.
salvo, transform ado, e não de e n tra r para um clube
üT çzr -C j
com andado p o r um líder carism ático. '^ 0 L
A singularidade de Jesus Jesus versus
c u r a n d e ir is m o
O antigo m undo greco-rom ano era fervilhado de
crenças em curas miraculosas, aparições extraordiná-
Bem diferente das práticas m iraculosas com uns
rias e experiências místicas. Relatos de viagem ao m un-
do m undo greco-rom ano, os feitos de Jesus se distin-
do dos m ortos, encontro com deuses e até ressurreição
guiam pelas seguintes características:
de m ortos não eram incom uns nas conversações do dia
a dia. Isso vale tanto para o período im ediatam ente an- 1 - N unca estavam associadas a encantam entos,
terior ao nascim ento de Cristo como tam bém para os feitiços, am uletos, palavras mágicas ou poções. O po-
anos que se seguiram à sua m orte e ressurreição. der estava em Jesus e na autoridade que ele m esm o
conferia a seus seguidores.
Até m esm o im peradores eram relacionados nos
casos m iraculosos. Augusto, que governava Rom a 2 - N enhum ato m iraculoso visava p u n ir alguém.
quando Jesus nasceu, era citado p o r calar um a grande T odos eram feitos para livrar o indíviduo de um des-
quantidade de sapos que o atrapalhavam durante um conforto físico ou espiritual.
discurso público. Vespasiano e M arco Aurélio, que
viveram depois de Cristo, tam bém podem ser m en- 3 - Os milagres não visavam um a propaganda so-
cionados. Do prim eiro é dito ter curado um aleijado e ciológica de agremiação a um determ inado m ovim en-
um cego e, do segundo, ter trazido chuva num a época to, mas eram o anúncio da chegada do reino dos céus.
de grande estiagem. 4 - Jesus nunca recom endou o uso de am uletos,
A Bíblia, em últim a instância, nunca questionou o poções mágicas ou talism ãs com o sím bolo da pro te-
fato de que curas, exorcismos e feitos m iraculosos pu- ção de Deus. Era o verdadeiro arrependim ento e a
vida vivida pela fé no Filho de Deus que garantiriam
dessem ser realizados de diversas form as, p o r um va-
a força contra o mal.
riado grupo de pessoas. N em m esm o assume que isso
seria um feito exclusivo de Cristo e seus discípulos.
c .-g.a pjjjr ^,|pQ| ‫י‬
Assim, a singularidade de Jesus não pode ser vista
? o
no fato de operar milagres ou fazer coisas extraordi- c j

nárias, pois isso m uitos faziam. As curas maravilhosas j Fato importante c'
não eram o “diferencial” do cristianismo. O im pério já
No pensamento bíblico, existem dois tipos
estava por demais repleto de taum aturgos e mágicos de defalsos milagres: aqueles que sãofr u to do
todas as partes que corriam o território de cidade em charlatanismo, da autossugestão, do truque.
cidade operando maravilhas. E a terra dos judeus não E aqueles que, embora verdadeiros na sen-
estava isenta disso. T anto que Simão, o Mago, fascina- tido da cura ou da sobrenaturalidade, não
va os samaritanos com seus prodígios (At. 8:9-11). procedem de Deus, mas de um a operação de
engano tram ada pelo mundo das trevas.
Essa generalização e ambigüidade dos milagres (os
que eram verdadeiros e os que eram falsos) agravava-se No m undo dos gregos, Paulo desmascarou
certa vez um elemento demoníaco por trás
com o apelo do sincretismo tão em voga naqueles dias.
de um a jovem escrava quefa z ia adivi-
Fora o fato de que esse sincretismo poderia ser asse-
nhaçôes para dar lucro a seus senhores
melhado à magia. Assim, a necessidade dos evangelis-
(A t. 16:16-18). Além disso, 0 próprio Jesus
tas não era apenas m ostrar que Jesus operava milagres, mencionou, no dia do juízo , a presença de
mas apresentar qual seria realm ente o seu diferencial. pessoas que fize ra m milagres, exorcismos e
predições em seu nome e nem por isso eram
O que era radicalmente único em Jesus não seria tan-
O verdadeiras diante de Deus (M at. 7:21-23). C_
to a quantidade e qualidade de milagres que ele operou, c ‫ר‬
mas “por que ele os operou?” Para Jesus esses atos con- ‫נ‬ Ο
firmavam a chegada do Reino de Deus (Luc. 11:20).
4c - -^
‫־‬ο7T ‫׳‬t ± z z : :,‫״‬::,......... ο,
‫׳‬ ,............ — ‫ד‬.: ............... ‫ ־‬._:
5 - Libertação do endem oniado (M arcos 1:23-28;
Tanque de Siloé Lucas 4:31-36).

6 - Cura da sogra de Pedro (M ateus 8:14,15; M arcos


1:29-31; Lucas 4:38,39).
Os milagres em números
7 - Purificação do leproso (M ateus 8:2-4; M arcos
Nos evangelhos sinóticos a redação da história de 1:40-45; Lucas 5:12-16).
Cristo é m uito semelhante, mas não exatam ente igual.
Há milagres que num evangelho aparecem com o um só 8 - Cura do paralítico (M ateus 9:2-8; M arcos 2:3-12;
evento, enquanto no outro aparece como sendo dois. Lucas 5:18-26).
C onsiderando, pois, esse detalhe literário, é possí-
vel dizer que os evangelhos relatam , ao todo, 35 m ila- 9 - Cura da mão ressequida (M ateus 12:9-13; M ar-
gres realizados p o r Jesus: M ateus e Lucas m encionam cos 3:1-5; Lucas 6.6-10).
20 deles; M arcos, 18 e jo ã o , 7.
10 - Cura do criado do centurião (M a teu s 8:5-13;
No caso de João, os m ilagres aparecem na prim eira
Lucas 7:1-10).
parte do seu evangelho e são cham ados de sinais. Por
isso, m uitos teólogos denom inam a prim eira parte do
Evangelho de João o “livro dos sinais”. 11 - R essurreição do filho da viúva de Nairn (Lucas
7:11-15).

12 - Cura de um endem oninhado m udo (M ateus


12:22 e Lucas 11:14).
Em term os m ais específicos, os 35 m ila-
gres de C risto podem ser assim distribuídos:
13 - Acalm a a tem pestade (M ate us 8:18,23-27;
-1 7 curas físicas;
M arcos 4:35-41; Lucas 8:22-25).
- 9 ações sobre a natureza;
- 6 exorcism os;
- 3 ressurreições. 14 - Cura do endem oniado geraseno (M ateus 8:28-
33; M arcos 5:1-14; Lucas 8:26-39).

15 ‫ ־‬Cura da m ulher enferm a (M ateus 9:20-22; M ar-


cos 5:25-34; Lucas 8:43-48).
LISTA DOS MILAGRES DE JESUS
16 - Ressurreição da filha de Jairo (M ateus 9:18,
23-26; M arcos 5:22-24,35-43; Lucas 8:41,42,49-56).
1 - Transform ação de água em vinho (João 2:1-11).

17 - Cura de dois cegos (M a teu s 9:27-31).


2 - Cura do filh o do oficial (João 4:46-54).

18 - Cura do mudo endem oninhado (M a teu s 9:32,33).


3 - Cura do p a ralítico de Betesda (João 5:1-9).

19 - Prim eira m u ltiplicaçã o de pães (M ateus 14:14-


4 - Prim eira pesca Lucas (5:1-11). 21; M arcos 6:34-44; Lucas 9:12-17; João 6:5-13).
Po
20 - Anda sobre as águas (M ateus 14:24-33; M ar-
cos 6:45-52; João 6:16-21).
Fato importante
21 - Cura da filha da Cananéia (M ateus 15:21-28; Esta lista não contempla tudo 0 que Jesus
M arcos 7:24-30). realizou. Conforme 0 testemunho final do
Evangelho de João:

22 - Cura de um surdo e gago (M arcos 7:31-37). “E ainda muitas outras coisas há que Jesus
fez■ as quais, sefossem escritas uma por uma,
creio que nem ainda no mundo inteiro cabe-
23 - Segunda m u ltip lica çã o de pães (M ate us 15:32- riam os livros que se escrevessem.”(Jo. 21,25).
39; M arcos 8:1-9).

a‫־‬rc3‫־‬ ‫כח־סזד־‬
24 - Cura do cego de Betsaida (M arcos 8:22-26)

25 - Cura do jovem possesso (M ateus 17:14-18;


M arcos 9:14-29; Lucas 9:38-42). Museu de Israel - Vasos
de Herodes

26 - Pagam ento do Im posto (M ate us 17:24-27).

Caná da Galileia
27 - Cura de um cego (João 9:1-7).
O prim eiro sinal de Jesus C risto, conform e o rela-
to do Evangelho de João, ocorreu num a festa de casa-
28 - Cura de uma m ulher enferm a (Lucas 13:10-17). m ento na cidade de Caná da Galileia.

‫״‬N o terceiro dia, houve um casam ento em Caná


29 - Cura de um hidrópico (Lucas 14:1-6) da Galileia, e a m ãe de Jesus estava lá... Este início
dos sinais, Jesus o realizou em Caná da Galileia. M a-
nifestou-se sua glória, e os seus discípulos creram
30 - Ressurreição de Lázaro (João 11:17-44)
nele.” (Jo. 2,1.11)

Poucas referências históricas e arqueológicas exis-


31 - Cura dos leprosos (Lucas 17:11-19).
tem de Caná, a m aioria das quais imprecisas. Ela já foi
identificada com o K afr Kanna, Kenet-l-Jalil (tam bém
32 - Cura do cego B artim eu (M ate us 20:29-34; M ar- cham ada de Khirbet Kana) e Ain Kana, em Israel, e
cos 10:46-52; Lucas 18:35-43). Qana, no L íbano. N enhum a, porém , conclusiva.

Por isso, sua localização geográfica não é m uito


33 - A m aldição sobre uma fig ueira (M ateus segura. Se for em Kefr Kanna, p o r exemplo, a anti-
21:18,19; M arcos 11:12-14). ga C aná ficaria aproxim adam ente a 8 km na direção
nordeste de N azaré, na Baixa Galiléia, encravada na
borda de ricos vales. M as se for em Khirbet Qanah, ai
34 - Restauração da orelha de M a lco (Lucas 22:49-
sua localização vai para cerca de 14 km ao n o rte de
51; João 18:10).
Nazaré. U m a leitura atenta do episódio descrito em
João 4:46-54 perm ite supor que, naqueles dias, um a
35 - Segunda grande pesca (João 21:1 -11). viagem de C afarnaum para Caná levaria pouco mais
de m eio dia.
Em apenas duas ocasiões, Caná é m encionada fora M aria com unica o fato a Jesus que age para resol-
do contexto bíblico: num a descrição do século II d.C. ver o problem a. Ele m anda encher de água as talhas de
(Eleazar Kleir) e num a inscrição rom ana encontrada pedra que havia no lugar. Estas geralm ente eram utili-
em Cesareia. zadas para lavar utensílios ou as mãos dos convidados
antes de cearem, pois acreditava-se que as pedras não
Além da ocorrência do “prim eiro sinal” de Jesus de
traziam nenhum tipo de contam inação que prejudicas-
N azaré (cf. Jo. 2:1-11), Caná é citada mais duas vezes
se a pureza ritual.
no N ovo T estam ento, um a p o r ocasião de um a se-
gunda visita de Jesus ao vilarejo (cf. Jo. 4:46) e outra Jesus então transform ou água em vinho e com isso
num a referência a N atanael, seguidor de C risto e na- deu início aos os sinais externos de seu m inistério
tural de C a n á , (cf. Jo. 21:2). Som ente o Evangelho de m essiânico. Seu trabalho, porém , com o rabi se inicia-
João faz referência a esta cidade. ra antes disso, visto que ele já estava acom panhado de
discípulos nesta festa.

A natureza do sinal A razão, porém , de tal m ilagre poderia ser um a de-


m onstração física das lim itações do judaísm o da épo-
A circunstância do evento foi relativam ente sim - ca. Além do mais, serviria para corresponder a uma
pies ou corriqueira. Não se tratava de alguém doente, expectativa geral de que quando viesse o M essias, rios
m o rto ou em profundo estado de sofrim ento físico. de vinho correriam livrem ente pela te rra de Canaã
Em m eio à festa nupcial, acabou o vinho. (Am. 9:13; Jl. 3:18).
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Fato importante Você sabia?


A Bíblia apresenta 0 vinho tanto como sinal de Já bem antes do período do Novo Testamento,
bênção, como emblema de corrupção, violência e era uma regra cultural para gregos e roma-
ira divina. No mundo greco-romano e, possivel- nos nunca beberem vinho puro. Eles sempre 0
mente, na terra onde viveu Jesus, havia três tipos misturavam com bastante água - às vezes 90%
de vinho em uso: de água elOXde vinho.

1 - 0 vinho fermentado, que nunca era tomado A razão era justamente evitar 0forte e rápido
puro, mas misturado com água, numa proporção efeito embriagador da bebida não diluída.
de duas ou três partes de água para uma de vinho. Beber vinho puro, sem mistura de água era
coisa de bárbaros, sem cultura ou refinamento.
2 - 0 vinho não fermentado ou suco, feito de
Platão, Heródoto, Xenófanes, Xenofonte e
uvas recém-colhidas.
Aristófanes são alguns dos autores daAntigui-
3 - 0 vinho feito à base de uvas passas fervidas dade que confirmam isso.
em água, cujo processo de fermentação havia
Outra vantagem desse comportamento era que
sido interrompido, se tornando mais um tipo de
0álcool possui um excelente efeito bacterid-
suco de uva não alcoólico.
da. Assim, adicionar água ao vinho era uma
form a de criar mais bebida numa época em
c que havia pouca água potável para ser consu-
O
mida.Nas cidades, onde asfontes d’água eram
Ü ÇjO
canalizadas, 0 vinho misturado com água era a
fonte segura de hidratação das pessoas. Até as
crianças 0 bebiam normalmente.

lÉISIi i
deus que, segundo alguns com entaristas, seria mais
provavelm ente a festa da Páscoa, em bora não seja
nula a chance de ser a festa do Pentecostes ou a festa
dos Tabernáculos.

O evangelho inform a que havia em Jerusalém ,


O qu e Je su s ensinou perto da p orta das Ovelhas, um tanque que, em he-
braico e aram aico, era cham ado Betesda. Betesda
Os ensinam entos proferidos p o r Jesus são m en- (Beyt+tseda) significa casa da m isericórdia.
sagens profundas, apresentadas num a form a que até
O tanque tin h a cinco entradas em volta. Ali costu-
crianças podem entender. Seus exemplos, ilustrações
m ava ficar grande n úm ero de pessoas doentes e invá-
e parábolas não eram m atizados em conceitos abstra-
lidas: cegos, m ancos e paralíticos. Eles esperavam um
tos ou filosofias metafísicas. Ele usava os objetos do
m ovim ento nas águas. A creditava-se que de vez em
cotidiano, as realidades do dia a dia, as experiências
quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas.
vividas p o r pessoas com uns, a fim de tran sm itir ver-
O prim eiro que entrasse no tanque, depois de agitada
dades eternas e revelar o caráter de Deus.
as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.
Suas m ensagens não eram para ser apenas ouvi- U m dos que estavam ali era paralítico fazia 38 anos.
das, mas acima de tudo vividas. Foi ele m esm o quem Q uando o viu deitado e soube que ele vivia naque-
disse: “T odo aquele que ouve estas m inhas palavras e le estado durante tanto tem po, Jesus lhe perguntou:
não as pratica será com parado a um hom em insensa- "Você quer ser curado? “
to que construiu sua casa sobre a areia” (M at. 7:26).
Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém
Basicam ente, Jesus ensinou que ele era o cum pri- que m e ajude a en trar no tanque quando a água é
m ento único da prom essa messiânica. A presentou o agitada. Enquanto estou ten tan d o entrar, outro che-
am or a Deus e ao sem elhante com o requisito básico ga antes de m im ”. Então Jesus lhe disse: “Levante-se!
para a cam inhada neste m undo e no porvir. E, final- Pegue a sua maca e ande”. Im ediatam ente o hom em
m ente, anunciou as boas-novas da salvação. ficou curado, pegou a m aca e com eçou a andar. Isso
aconteceu num sábado.
Em term os m ais específicos, ele ordenou: “Qual-
quer que te ferir na face direita, volta-lhe tam bém a O texto bíblico é realm ente intrigante não só pela
ou tra” (Mat. 5:39), “am ai vossos inim igos” (M at 5:44) descrição do evento, mas tam bém por um a questão
e a fam osa regra de ouro: “O que quereis que os ou- de crítica textual. M as o que é isso?
tros vos façam, fazei vós a eles” (Luc 6:31).
Infelizm en te n e n h u m o riginal da Bíblia sobre-
O que Jesus ensinou não se destacava tan to pela viveu até nossos dias. O que se te m são cópias fei-
novidade. A regra de ouro, po r exem plo, pode ser tas à m ão que perfazem m ais de 5.500 m an u scrito s
encontrada em Confúcio e em outras tradições filo- apenas do N ovo T e sta m e n to grego. A lguns estão
sóficas greco-rom anas, em bora ela venha usualm ente m ais com pletos, o u tro s b a sta n te frag m en tad o s. As-
no sentido negativo (não faça aos outros, o que não sim , o lev a n tam e n to feito p ara se rec u p e ra r a for-
quer que eles façam a você). Assim, era a autoridade m a orig in al do tex to envolve m u ito s especialistas e
de Jesus, m ais que o ineditism o de seus pensam entos, exaustiva com paração dos m an u scrito s que sobre-
que cham ava a atenção para o seu discurso. viv eram à ação do tem p o . Esse tra b a lh o é cham ado
“crítica te x tu a l”.
A cura d o P a ra lític o O que o levantam ento dos m anuscritos tem de-
m onstrado é que há um a parte do texto de João, aquela
De acordo com o Evangelho de João (5:1-18), Jesus que diz que um anjo vinha e agitava as águas, que não
subiu novam ente a Jerusalém para um a festa dos ju ­ está nos m elhores e mais antigos m anuscritos de seu
evangelho. Logo, tudo indica que essa foi um a anota- Figuras votivas de argila em form ato de partes do
ção textual ou um acréscimo feito posteriorm ente e corpo hum ano, bem com o um a estátua quebrada de
que não constava no texto original, mas apenas num a cabeça de hom em e corpo de serpente - provável-
cópia tardia. Som ente no V século essa parte aparece m ente Asclépio - reforçam a presença deste culto no
pela prim eira vez num palimpsesto, isto é, num texto p erím etro urbano de Jerusalém .
que foi apagado e reescrito. Algo m uito difícil de ler.
E m bora este santuário seja p osterior ao do Século
E po r isso que em algumas versões da Bíblia essa II d.C., sua construção nos arredores do A ntigo T em -
passagem ou esse trecho aparece entre colchetes, indi- pio de Jerusalém , dem onstra certo sincretism o entre
cando que não fazia parte do texto grego original ado- pagãos e judeus que pode rem eter aos dias de Jesus.
tado. Mas por que algumas Bíblias ainda a apresentam? Afinal, existem indícios de que nos dias do Novo Tes-
tam ento havia em Jerusalém pessoas que praticavam
Porque ainda existe um a possibilidade m ínim a de
o culto a E shm un, a versão sem ítica para Asclépio,
que esse trecho disputado seja autêntico. Não se pode
que tam bém representava o deus da cura.
dizer com absoluta certeza que não é verdadeiro,
em bora neste caso a chance m aior é de que seria um Som e-se a isso o fato de que outros achados indi-
acréscimo feito posteriorm ente p o r algum copista. cam a existência de pequenas grutas com água para
cura já existentes na região m uito antes da constru-
Assim , e n tre o risco de m u tila r as E scrituras e
ção do santuário. As form as de uso dessa água àinda
deixar an o tad o um v erso cuja originalidade seria
suspeita, a segunda opção se to rn o u p referível aos não estão claras. Porém , de qualquer m odo, tudo isso
editores m o d ern o s que p referiram deixá-la assina- contribui para traçar um pano de fundo para 0 capí-
lada p o r colchetes. tulo 5 de João.

M uitos, é claro, deveriam p ro testar contra a pre-


A origem de uma lenda sença de um a prática pagã na cidade sagrada. M as,
considerando que nos dias de Cristo Jerusalém ainda
Caso o detalhe do anjo m ovendo as águas seja m es- não havia sido am pliada por H erodes Agripa I, Betes-
mo um a anotação textual posterior, resta p erg u n tar da ficava fora dos m uros da cidade e isso am enizaria
o porquê desse acréscim o. A im pressão redacional é a crise.
que a parte acrescentada pode te r sido a princípio um
O local, neste tem p o , ainda era a d m in istrad o
com entário m arginal anotado nas cópias do Evange-
pelos sacerdotes do T em p lo , pois ali eram lavadas
lho de João, a fim de esclarecer algo que realm ente
as ovelhas que seriam sacrificadas n o san tu ário .
acontecia nas águas de Betesda. Neste caso, elas real-
O ra, Jo ão diz que o tan q u e ficava p e rto da p o rta
m ente se m ovim entariam de tem po em tem po.
das ovelhas e, p o r essa razão, ele tam b ém era co-
A redação original, apesar de não trazer explicação n h ecid o com o piscina probática, um a palavra que
alguma a esse respeito, parecia exigir uma. Então, poste- vem do grego probaton e q u er dizer ovelha (no plu-
riorm ente, a nota deve ter sido incorporada por copis- ral probata).
tas ao texto do quarto evangelho, popularizando-se nos
C onsiderando, pois, que o local ficava repleto de
manuscritos bizantinos e no textus receptus, que foi um
peregrinos judeus de todas as partes é hipoteticam en-
texto grego preparado por Erasmo de Roterdã e publi-
te possível que quando sacerdotes abrissem e fechas-
cado entre 1681 e 1753. Mas isso ainda é uma hipótese.
sem o canal d agua do tanque isso provocasse algum
O fato é que a arqueologia pode fornecer um a pista m ovim ento incom um nas águas. Sendo assim, bas-
de onde viria essa lenda das águas se m ovim entando taria alguém apresentar um a suposta cura e visão de
no tanque. Nas camadas superiores do antigo local de um anjo para que o m ito estivesse criado. Se assim
Betesda, foram escavadas as ruínas de um santuário for, a atitude de Cristo em curar aquele paralítico não
pagão dedicado a Serápis ou a Asclépio, tam bém cha- envolvia n en h u m endosso da lenda, mas um ato de
m ado de Esculápio, o deus da m edicina. com paixão p o r alguém sincero, porém enganado.
Fato importante
Esse antigo mosaico de Madaba, encontrado na A ntiguidade, em Jerusalém , o m ercado principal da5
Jordânia e datado do século VI d.C., traz 0 mapa ovelhas, que Josefo cham a de Beteza, se encontrava ao
de Jerusalém como era conhecida naqueles dias e n o rte da área do Tem plo, próxim o à to rre A ntônia.
aponta a porta das ovelhas, hoje chamada porta
dos leões. Ele também mostra a igreja de Santa Até o século XIX, não havia nenhum a evidência ex-
Maria logo depois dela. Isso ajuda a comprovar terna a João para a existência desse tanque. Além disso,
a antiguidade do sítio identificado como sendo o a descrição bíblica de que ele tinha cinco pavilhões n ã :
local do tanque de Betesda. fazia sentido. Os historiadores pensavam num tanque
em form a de pentágono, isto é, com cinco lados, e nac^
parecido com isso havia sido encontrado nem para ser-
vir de modelo arquitetônico.

Até que em 1888 escavações para reparo foram fei-


tas na antiga igreja de Santa Ana, que data do ano de
1138, e som ente então os prim eiros indícios do tan-
O formato do tanque que foram localizados. A igreja, um a das mais antigas
ainda preservada, fica dentro do bairro m uçulm ano
Sobre a localização do tanque, o Evangelho de
na cidade velha de Jerusalém .
João se lim ita a dizer que ele ficava “perto da p orta
das ovelhas”. Isso poderia ser no setor noroeste da ci- Q uem dirigiu as escavações foi o professor e ar-
dade, pois segundo Josefo e algumas autoridades da queólogo C onrad Shick. Ele desenterrou a área to ­
tal dos escom bros até o nível rom ano, descobrindo Ü Ü .- ■
dois grandes tanques com cinco pórticos e num erosos O
o
fragm entos de colunas e capitéis; tudo isso em estilo
rom ano, mas evidentem ente um pouco mais recen-
Fato importante
te que a época de Cristo. Havia degraus em pinados Existem várias versões de seu mito, mas as mais
em form a de espiral que conduziam à parte de baixo, correntes 0 apontam comofilho de Apoio, um deus,
onde se encontravam os tanques. e Corònis, uma mortal. Teria nascido de cesa-
riana após a morte de sua mãe, e levado para ser
As escavações continuaram em 1930, desta vez sob criado pelo centauro Quiron, que 0educou na caça
a direção do arqueólogo israelense Jerem ias Joachim . e nas artes da cura. Aprendeu 0 poder curativo das
As novas cam panhas de escavação revelaram que o ervas e a cirurgia, e adquiriu tão grande hahilida-
tanque original tinham quatro colunatas em to rn o de de que podia trazer os mortos de volta à vida.
suas bordas e um a em seu meio. O seu culto disseminou-se por uma vasta região do
mediterrâneo - Europa, norte da África - epor
T al achado foi m uito im p o rtan te porque ajudou a
todo 0Oriente, sendo homenageado com inúmeros
esclarecer o texto de João que dizia te r o tanque cinco templos e santuários, que atuavam como hospitais.
pavilhões. O complexo era form ado por dois grandes Eram mais de 400 templos a Asclépio espalhados
tanques separados po r um pórtico e ligados um ao em todo 0 império romano. Legionários romanos
outro. Q uatro outros pórticos localizados nas partes estavam entre seus principais devotos.
laterais da piscina com pletavam o projeto. Isso jus- c
G
tifica a referência de João aos cinco pórticos. O erro
■— ‫־ ^׳‬ I l 0 b
estava nos exploradores que até então buscavam um
pentágono, quando na verdade deveriam pensar em
outro form ato.
O milagre de Jesus
A fo rm a dos dois tanques, p o rta n to , era tra -
pezoidal com um a p ro fu n d id ad e considerável de O episódio da cura do paralítico em Jerusalém
aproxim adam ente 15 m etros. A p rim e ira p a rte ti- m ostra com o a cidade era um sinal visível de con-
n ha 66 m etro s de extensão e a segunda 60 m etros, o tradição. Por um lado, o rigor da lei cerim onial, por
sitio in te iro tin h a apro x im ad am en te 5.000 m etro s o u tro , os traços evidentes de com un h ão com o pa-
quadrados, o que indica a im p o rtâ n c ia do lugar re- ganism o. É po r essa razão que Jesus ironiza a prática
alm ente público. farisaica de ‫״‬coar m osquitos e engolir camelos”.

Na v erdade, a palavra grega p ara tan q u e que E não era som ente Cristo quem condenava o para-
aparece no E vangelho de João é Kolumbetra, que doxo religioso da cidade. U m m anuscrito encontrado
seria m elh o r trad u zid a p o r piscina. Logo ainda que no M ar M orto e datado dos dias de Cristo tam bém fa-
ten h a sido o rig in a lm en te um tan q u e fundo para lava de Jerusalém como se tornando um “antro de im-
a rm azen ar água, foi tra n sfo rm a d o depois n u m lo- piedade pagã”.
cal em que as pessoas pudessem e n tra r nele. E ele De fato, ali estava repleto de m onum entos pagãos
era g ran d e, rea lm e n te das dim ensões de um a im en - especialm ente trazidos po r H erodes do m undo greco-
sa piscina pública. -rom ano. Esse m onarca tinha feito um teatro rom a-
no, um hipódrom o, um com plexo esportivo, banhos
De fato, Josefo fala de 2,5 m ilhões de pessoas que
rom anos e a fortaleza A ntônia, um a to rre m ilitar aco-
vinham anualm ente visitar o Tem plo em Jerusalém e
piada às paredes do pátio do Tem plo.
oferecer sacrifícios. A inda que soe exagerado, tal nú-
m ero não era im possível e qualquer percentual sim- Sendo assim, o tanque de Betesda já não era mais
pies que se interessasse pelo culto a Asclépio faria do um local absolutam ente judeu, mas antes um a insta-
tanque um local bastante concorrido. lação greco-rom ana afiliada ao deus da cura. Os res­
ponsáveis pelo culto pagão acrescentaram cisternas, insistência, sem sucesso, de cair ou ser jogado no tan-
bancos nas salas cobertas e, possivelm ente, um altar que p o r anos pode te r cham ado a atenção de Cristo.
para sacrifícios.
Ele, portanto, cura o pobre hom em e, encontrando‫־‬c
Jesus vinha da Galileia, a cam inho de Jerusalém , depois no Templo, diz-lhe para não mais pecar, a fim:
quando chegou ao tanque, próxim o à porta das ove- de que não lhe sucedesse coisa pior (João 5:14). Em see
lhas, no lado n o rte da cidade. Nele se aglom erava um a compreensível desespero, ele, sendo possivelmente ju-
grande m ultidão de enferm os, buscando um a chance deu, buscara no paganismo a solução de seus problemas
para obter a cura. Contudo sua prática não podia ser endossada por nãc
condizer com aquilo que fora orientado por Deus.
Não sabem os ao certo as razões que conduziram
Jesus para aquele recinto ou m esm o porque ele se Deus, no entanto, m esm o em meio ao seu erro con-
dirigiu àquele hom em e não a outros. No entanto, o tem plou um coração sincero e buscou resgatá-lo. C
texto aponta um detalhe quanto ao tem po de seu so- propósito de João parece ser o de m ostrar aos leitore
frim ento que pode dar um a pista acerca das ações de a ação compassiva de um Salvador que percebe indi-
Jesus. Ele estava preso àquela situação p o r 38 anos. víduos na m ultidão e se im porta com seu sofrimente
M uita coisa pode ter acontecido neste m eio tem po. Um Cristo que vê e age em favor dos sofredores, me 5-
Ele, porém , jam ais deixou de ten ta r ser curado. Sua mo que sua ação pareça dem orada na ótica humana.
for, não se tra ta de contradições. Am bos focam os
m esm os princípios éticos do Reino.

T om ando p o r base a versão m ais conhecida de


M ateus, o que se percebe no início da leitura é o
elevado padrão de exigência que o texto apresenta.
Isso fez com que N ietzsche e Jeffers o repudiassem e
N aum ann o considerasse um a utopia n u m universo
capitalista.

Em princípio, a ideia de não “resistir ao perverso”,


“am ar o inim igo” e “oferecer a ou tra face” parecia cho-
car-se com as noções de justiça, direito e condenação.
Os presos deveriam ser soltos e as dívidas perdoadas.
Isso seria um caos.

O sentido do texto %

Existem atualm ente pelo m enos 36 diferentes in-


terpretações para o sentido dessa m ensagem ética de
C risto. As principais seriam:

1 - 0 padrão apresentado p o r Cristo representa a


impossibilidade hum ana de cum prir a Lei de M oisés
(Lutero).

O Sermão da Montanha 2 - 0 serm ão não se aplica à igreja em geral,


m as apenas aos santos e ao clero da igreja (espe-
O famoso “Sermão da M ontanha” com sua conhe- cialm ente às ordem m onásticas), os únicos capazes
cida série de “Bem -aventuranças” tem sido um a inspi- de a tin g ir o seu ideal de c o m p o rtam e n to (teologia
ração e um desafio para pessoas de todos os tempos. católica m edieval).
Até m esm o pensadores não cristãos como M ahatm a
3 - 0 serm ão deve ser encarado com o um a obriga-
Gandhi e o rabino G. C. M ontefiori dem onstraram
ção m oral de todo crente, seja clérigo, seja leigo. São
apreciação po r seu conteúdo. Quase dois m il anos se
regras de conduta literais (anabatistas).
passaram desde que essas palavras foram pronunciadas
por Cristo e ainda assim elas não perderam seu vigor. 4 - 0 serm ão apresenta a solução para todo conflito
arm ado, para fome e para as injustiças sociais. Som ente
O serm ão propriam ente dito aparece em duas ver-
se o hom em viver segundo esses princípios, Deus esta-
sões sim ilares, m as com algumas descontinuidades.
belecerá seu reino na terra (Evangelho Social).
M ateus 5-7, po r sua localização, é aquele que ficou
conhecido com o Serm ão do M onte. E Lucas 6:17-49, 5 - 0 serm ão era um a ética especial, para um a
tam bém p o r causa da localização, é cham ado serm ão época especial, baseada na crença equivocada de Jesus
da planície. de que o fim de todos os tem pos estava para acontecer
(A. Schweitzer).
As diferenças podem se dar po r causa do objetivo
literário de cada evangelista ou pelo fato de se trata- 6 - 0 serm ão refere-se àquilo que Deus exigirá de
rem de dois serm ões tem aticam ente iguais, p ro n u n - seus filhos do tem po da grande tribulação (Dispensa-
ciados p o r C risto em situações diferentes. Seja com o cionalistas).
7 - 0 serm ão perm anece com o um ideal a ser N a prática é que se vê a coerência do ensino de
constante buscado ainda que não seja necessariam en- C risto. O exibicionism o religioso conduz os crentes à
te alcançável (escatologia inaugural). exaltação p ró p ria ou ao êxtase descontrolado.

Talvez um a boa sugestão no m om ento de se con-


fro n ta r com essas possibilidades interpretativas seria Exibicionismo piedoso
seguir o conselho de M artyn Lloyd-Jones que disse:
“Cuidem os da tendência de ficar discutindo contra Jesus prim eiram ente descreve os exibicionistas
esses princípios; cuidem os para não os fazerm os pa- com o religiosos que gostam de ser “vistos pelos ho-
recer ridículos; e acautelem o-nos para não in terp re- m ens”. Literalm ente eles gostam de theathênai, um
tá-los de tal m aneira que julguem os ser im possível a term o grego curioso que deu origem ao vocábulo “te-
aplicação de qualquer um deles.”101 atralism o”. Em outras palavras, os que se exibem em
orações públicas estão apenas “interpretando o pape’
Como orar? de piedosos sem que o sejam de fato”.

O outro problem a apontado nesta fala do M estre


A cham ada “Oração do Senhor”, ou oração do “Pai
é a extravagância espiritual, que pode levar à histe-
N osso”, está registrada em dois dos quatro evangelhos.
ria. Era com um na cultura do A ntigo O riente Médio
Lucas se lim ita a dar um resum o dela, dizendo apenas
elevar hinos ou preces de lam entação a Deus. Esse la-
que os discípulos pediram a C risto que os ensinasse
mentar era expresso p o r um antigo verbo grego (kop-
a o rar assim com o João fizera com seus seguidores.
tô) que significa “cortar”, ou “cortar-se a si m esm o'
M ateus apresenta, além do m odelo oferecido, um a
série de regras ou sugestões práticas que deveriam ser se estiver na voz média. T rata-se de um tipo fanáticc
seguidas quando um indivíduo estivesse conversan- de em ocionalism o que leva as pessoas a retalharem
do com Deus. U m a efetiva com paração dessas regras seu próp rio corpo a fim de expressar um a profun-
com os costum es litúrgicos da época poderá oferecer da angústia ou descontrolado êxtase emocional. Um
interessantes conclusões. exem plo seria o com portam ento dos profetas de Baa!
no em bate com Elias que, aflitos pelo silêncio do se‫־‬:
Os ensinos de Jesus, registrados em M at. 6:5-8, deus, com eçaram a cortar o pró p rio corpo com faca5
podem ser assim resum idos: e lanças (I Rs. 18:28).

Como Como Vãs repetições


OS
costumavam deveríamos
RELIGIOSOS Além do sentim entalism o excessivo, Jesus também
orar orar
critica a repetição desnecessária de preces decorada!
sem n e n h u m sentido efetivo. A expressão grega (bc
tologein) traz um a form a verbal de difícil significação
Com De modo etimológica. R obertson a explica com o sendo m era
JUDEUS DA
ostentação e íntimo e onom atopéia (blá-blá-blá).
ÉPOCA
exagero discreto
A lbright e Jo h n so n a traduzem respectivam ente
p o r “gaguejar” e “tagarelar”. E Adam Clark, na ma:;
interessante explicação do term o, cita um a infor-
GENTIOS mação atribuída a Seudas, cujo term o original seria
(NÃO Com vãs Com serena battos, um a palavra m orm ente traduzida p o r “gago" e
JUDEUS) repetições confiança “tagarela, mas que nos seus prim órdios significaria :1
DA ÉPOCA nom e de um hom em com positor de hinos m uito pro-
lixos com desnecessária repetição de ideias.
N esta m esm a linha, há um testem unho de H eródoto (4,155) sobre um rei de C irene, cham ado Battus, que
era terrivelm ente gago. Esses pareceres não precisam se excluir m utuam ente. A ntes, em sua variedade, ajudam
a com preender m elhor o significado do dito de Cristo.

A palavra polulogia (excesso de palavras), que está logo abaixo na m esm a unidade literária de M ateus, tam bém
nos ajuda a entender as “vãs repetições” como abrangendo tanto as recitações declamativas sem sentido quanto o
excesso de formalidades e term os, e prolixidade desnecessária num a prece elevada a Deus.

A oração do Senhor
“Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nom e.
V enha o teu Reino; seja feita a tu a vontade, assim na terra com o no céu.
D á-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas, assim com o perdoam os aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sem-
pre. A m ém ’.” (M at. 6:9-13).

A oração do Pai nosso, em Lucas, é bem m en o r do que em M ateus e possui algumas pequenas variações de
conteúdo. Possivelm ente ambas as versões estavam em circulação entre os prim eiros cristãos, a de M ateus, no
entanto, seria de origem m ais tardia:

MATEUS LUCAS

Pai nosso que estás nos céus, santificado


Pai, santificado seja 0 teu nome.
seja oteu nome.

Venha 0 Teu Reino. Seja feita tua vontade,


Venha 0 Teu Reino.
como no céu assim na terra.

Dá-nos hoje 0 nosso pão: 0 pão [grego repar-


Dê-nos a cada dia 0 nosso dia [repartida] pão.
tida ou necessária].

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como E perdoa os nossos pecados: pois também
nós também temos perdoado aos nossos de- nós perdoamos a todo aquele que é grato a
vedores. nós.

E não nos deixeis cair em tentação, mas li-


vrai-nos do mal. [Aditamento em muitos ma-
E não nos deixeis cair em tentação.
nuscritos: Porque teu é 0 reino e 0 poder, e a
glória, para sempre. Amém!]
A despeito dessas singularidades en tre as versões m ília de Deus, que está acima de transição dos valores
de M ateus e Lucas, o Pai N osso se to rn a um a oração terrenos.
com pleta, ju stam en te p o r sua sim plicidade e obje-
1. Prim eiro pedido: “Que o teu nom e seja santifi-
tividade das palavras. Ele abrange todas as áreas da
cado”. Esta oração reconhece a reivindicação de so-
existência h u m an a conform e pode ser visto no es-
boço a seguir: berania de Deus sobre o m undo e antecipa a resposta
hum ana e a consum ação final na era escatológica (cf.
Rm. 10:13;. 15:09, Fil. 2,9-11).
Oração do Pai nosso: M at. 6:9-13
2. Segunda petição: “Que venha o teu reino”. Esta
PRESENÇA oração exerce sobre a urgência escatológica do “já
Pai nosso que está no céu
ainda não” da realeza de Jesus inaugurou.
PROTEÇÃO LOUVOR
Não nos Santificado 3. Terceira petição: “Seja feita a tua vontade, assim
deixe cair em seja teu nome na terra como no céu”. Esta é um a expansão do tema
tentação mas
livra-nos do ma unificado das duas prim eiras petições, indicando c
objetivo soberano do plano escatológico de Deus e da
im portância do papel do crente, orando e agindo par.
abreviar a vinda final do reino. *
PERDÃO
P R 0 P 0 S IT 0
Perdoe nossas dí-
vidas assim como
Teu reino venha,
tua vontade se
Endereço para o Pai, para
temos perdoado
a quem nos tem
PROVISÃO
faça
as necessidades humanas
ofendido
0 pão nosso de cada
dia nos dai hoje
4. Q uarta petição: “D á-nos hoje o nosso pão para o
dia de am anhã.” Não são apenas as necessidades diá-
rias em foco aqui, m as tam bém bastante provável qur
um antegozo do banquete messiânico.
As petições do Pai Nosso
5. Q uinta petição: “E perdoa-nos as nossas dívidaj
R. G. G ru en ler102 apresenta o Pai nosso num con-
assim com o nós tam bém tem os perdoado aos nos-
texto de pregação escatológica de Jesus. Sendo assim, o
sos devedores”. O ponto aqui é de atitude adequada
sentido básico da prece é fornecer um m odelo resum i-
com o na definição m aior de M at. 6:1-21. A m eno;
do para ordenar corretam ente as prioridades do Reino.
que se esteja em um estado de espírito perdoando, nc
Dessa forma, tanto M ateus quanto Lucas preserva- sentido de M ateus 6:14-15, ele ou ela não vai pedir ou
ram; em essência, a ordem de Jesus: Deus em prim eiro receber o perdão divino.
lugar, em seguida, as necessidades humanas. Seu intento
prim ário não é um a elaboração litúrgica, em bora nada 6. Sexta petição: “E não nos deixeis cair em ten-
impeça de ser usado num culto, mas sistematizar de for- tação, mas livra-nos do m al.” A tentação é para ser
m a consciente as sensibilidades de um coração redimido. entendida com o teste (peirasm os), cf. Lucas 22:28; 1
Pet. 1:6. (M at. 24:21, M ar. 13:24; 1 Pd. 4:12). A ver-
são de M ateus pode ser traduzida: “M as livra-nos do
Petição para o Pai m al”, isto é, do dem ônio. A petição é repleta de tensão
para a sua glória escatológica, porque Jesus sabe que a inauguração do
reinado de Deus em territó rio inim igo ocupado vai
Introdução: “Pai nosso que estás no céu”, reconhe- significar teste e tanto sofrim ento para si e para seu;
ce a íntim a relação entre Jesus e os crentes para a fa­ seguidores até o fim.
.,OSLf
Reino dos céus
O
c
Você sabia? N o Novo Testam ento, as expressões “Reino de Deus
e ‘‘Reino dos Céus” aparecem de modo intercambiável.
Abba é a palavra aramaica usada para se di-
A rigor, alguns sugerem que “Reino de Deus” refere-se à
rigír a Deus, conforme se vê em Marcos 14:36,
atividade m antenedora e hierárquica de Deus sobre todo
Romanos 8:15 e Gálatas 4:6. Num clássico tra-
balho dos anos 1970, Joachin Jeremias sugeriu o Universo. Já o “Reino dos Céus” seria um a parte dele.
que Abba era uma form a infantil da criança se
Essa, no entanto, é um a conclusão aparentem ente
dirigir ao pai, como se 0 chamasse de papai-
poética, um a vez que não existe paralelo bíblico ou ju-
zinho103. Hoje muitos acadêmicos discordam
disso. Ao que parece Abba era um termo usado daico que lhe sustente. N a verdade, ambas as expres-
tanto por adultos como crianças e seu sentido sões, “R eino de D eus”, “R eino dos Céus” raram ente
era mesmo “pai”, assim como “ab”104. aparecem na literatura judaica antes dos dias de Jesus.

Contudo, ainda existe algo de especial na ora- De todo m odo, o que pode ser dito é que, em bora
ção que ensina ao crente direcionar-se a Deus os acadêmicos ainda discutam os porm enores dessa
como “Pai Nosso”. N a Gemara, um comen- tem ática, o que se tem claro no judaísm o p osterior é
tário rabínico sobre a Mishná, é dito que um
o uso da palavra “reino” com o sím bolo do dom ínio ou
escravo não poderia chamar 0 dono da casa de
soberania de Deus.
“abba”, que seria normalmente seu título.

Assim, quando Jesus diz “Pai Nosso”quer ele- Esse pode ser tam bém o m elhor p o n to de partida
var os crentes acima da ideia de escravos, para para com preender o sentido da expressão nos evan-
consciência defilhos de Deus. gelhos. C onsiderando que “R eino dos Céus” é um a
c ‫ר‬
C O expressão que só aparece em M ateus e que “Céus” é

□ ‫ תי״ ס־ד‬:
SL1‫״‬ει ‫ס‬ ‫׳‬1‫ם‬
um term o técnico para substituir o nom e “D eus”, po-
de-se concluir que, de fato, “R eino de D eus” e “Reino
■C12 ‫ח ן‬ dos Céus” são sinônim os perfeitos ou variações ter-
C m inológicas da m esm a realidade.
c
Fato importante A vinda desse reino “de Deus ou dos Céus” é o
A doxologia final do Pai Nosso (“porque teu é p o n to central da pregação de Jesus C risto. Falta, con-
0 reino, 0poder e a glória para sempre") não se tudo, definir qual o sentido, afinal, desse reino.
encontra nos melhores manuscritos gregos do
N ovam ente, as posições interpretativas se m ulti-
NT, nem nos mais antigos, nem nos mais rele-
vantes como 0 ‫ א‬, B, D. Em função disso, muitos plicam:
acreditam que esse trecho não teria sido parte
1 - 0 reino é a Igreja Cristã (Agostinho).
das palavras originais de Jesus, mas acréscimos
feitos posteriormente por um copista. 2 - 0 reino é a religião pura, profética, ensinada
Por isso, as edições críticas do Novo Testamento p o r Jesus no equilíbrio entre a paternidade de Deus e
grego (NA28 e UBS5) não a trazem na parte a irm andade en tre os hom ens (A. Harnack).
final no texto. Já as versões em português ou a
3 - Um reino totalm ente futuro e escatológico
omitem ou colocam-na entre colchetes, como é 0
caso da NVI, A21 e as versões de Almeida mais sem nenhum a relação com o presente (J. W eiss).
antigas. Contudo, é importante anotar que ela
4 - 0 reino é um a escatologia realizada, mas que
está em perfejta consonância com 0 tema original
aguarda consum ação fora da história hum ana. É um a
e os demais ensinamentos de Cristo.
c realidade apocalíptica que transcende ao tem po, mas
G que po r causa da vida e obra de Jesus, irro m p eu na
a .
LM O J X J I □ história (C. H. Dodd).
5 - 0 reino é, em algum sentido, um a realidade turo. Inquirido po r um indivíduo acerca de qual a
tanto presente quanto futura. (G. Ladd). quintessência das leis judaicas, ele respondeu: “O que
você não faria a si m esm o, não faça ao seu vizinho.
U m a com preensão que costura todas essas posi- A T o rah se resum e a isto; o resto é com entário.” (B.
ções seria aquela que entende o reino como o desdo- Shabbath 31a). T am bém o Rabi Akiba (m artirizado
bram ento da história da redenção. É o dom ínio real em 135 A.D.) disse que Levítico 19:18 seria o grande
de Deus em dois m om entos: um , o cum prim ento das m andam ento da lei.
promessas do Antigo T estam ento na prim eira vinda
de Jesus a esse m undo. O utro, na consumação da histó- Tentativas à parte, o fato é que rabinos m ais tardios
ria, por ocasião do fim dos tem pos e a inauguração da entenderam ser im possível resum ir os m andam entos
era vindoura que será após a segunda vinda de Cristo. ou dizer qual o m aior deles. Em uníssono afirm avam
que “não há m andam entos que sejam m aiores nem
m andam entos que sejam m enores”.
O amor como
Jesus, porém , conseguiu este feito, e de um a m a-
cumprimento da Lei neira superior à dos demais. Ele revelou o elem ento
distintivo do verdadeiro servo do seu reino: ele cum-
C erta vez Jesus foi abordado por um d o u to r da lei pre a lei p o r amor. Ele ama Deus e ama o seu irm ão.
que lhe perg u n to u qual era o principal de todos os
m andam entos. Em síntese, Jesus com binou D eutero- Nas demais sínteses, foram ditas coisas sábias e
nôm io. 6:4 com Levítico 19:18 e lhe respondeu que justas. Porém , o m áxim o que elas conseguem na prá-
era am ar Deus e seu próxim o. Esse episódio está rela- tica, é classificar os hom ens com o com petentes e in-
tado em M arcos 12:28-34 e M at. 22:34-40. com petentes, mas nunca com o verdadeiros ou falsos
servos de Deus. U m legalista bem treinado e acostu-
Pela tradição rabínica mais antiga, a m aior de to- m ado à rigidez das regras pode praticar regras com
das as questões, à qual som ente os grandes m estres do rigor. M as som ente um verdadeiro converso pode
judaísm o poderiam responder, tin h a que v er com a fazer isto m otivado pelo am or.
essência da Lei. Qual o m aior dos m andam entos que
abarcaria todos e lhes seria superior? E interessante que a ideia de am or, em hebraico
('ahav), em bora inclua o am or rom ântico e passional,
O tratado m ishnaítico do Pirkei Abhot (a ética dos é mais am pla do que isso. Ela extrapola os lim ites do
Pais) está cheio de aforism os e tentativas de resum o sentim entalism o. E um a decisão da alma, um a tom a-
da lei no m enor corpo possível de princípios éticos. da de atitude, enfim , um a escolha. O am or a Deus e
U m a tarefa deveras difícil, senão impossível, de ser ao próxim o, na Bíblia, é a adesão consciente a um a
cum prida. De acordo com o cálculo de M áim ônides pessòa que escolhem os servir. Esta escolha m otivará
(1180); se todos os m andam entos, norm as e preceitos todo o restante.
dados p o r Deus a Israel fossem juntados num a só car-
tilha, haveria um total de 613 regras irreduüveis: 365 Na versão de Lucas, é um in térp rete da lei quem
proibições e 248 ordens positivas (Sefer há-Mitzvot). faz este resum o e não Jesus (Luc. 10:25-28). M as isso
não indica um a contradição entre os sinóticos. O
C ontudo houve interessantes tentativas de resu- resum o de Jesus foi um silenciador de vozes lançado
m ir tudo isso num a só sentença. U m rabino, certa vez, sobre um grupo (fariseus ou escribas?) que queria co-
com entou num a preleção a sabedoria dos hom ens do locá-lo à prova.
passado. M oisés dera ao povo 613 m andam entos, mas
o rei Davi reduzira-os a l l (Sal. 15:2 - 5), Isaías a 6 Passado algum tem po um doutor da lei, que m uito
(Isa. 33:15), M iquéias a 3 (Miq. 6:8), Am ós a 2s (Am. provavelm ente vira a discussão anterior, desejou “tes-
tar” Jesus. Ele perguntou: “Que farei para herdar a vida
5:4) e Habacuque a 1 (Hab. 2:4).
eterna?”. Quando o M estre devolveu a inquirição (o
O rabi Hillel (ca. 20 a.C.) deu um parecer m uito que diz a lei?), o jovem repetiu as mesmas palavras de
próxim o do que haveria de responder Jesus no fu ­ Jesus, pensando que com isso desarm aria o raciocínio
do M estre ou ganharia seu louvor. Por isso, provável- O próprio Cristo dem onstrou ser, em suas atitu-
m ente, ele aparece em Lucas como autor do resum o. des, a expressão m áxim a do am or de Deus. Nele resu-
m e-se o dito de João 3:16 e 17: "Deus am ou ao m undo
de tal m aneira que deu seu filho único para que todo
O amor de Deus aquele que nele crê não pereça, mas ten h a a vida eter-
na... Ele enviou o Seu Filho ao m undo, não para que
U m dos pontos altos do ensino de C risto foi o
am or de Deus. O conceito não era inteiram ente novo. condenasse o m undo, mas para que o m undo fosse
No A ntigo T estam ento há diversos textos falando salvo po r Ele”. É nisto que consiste o evangelho! E
do am or de Deus. C ontudo, o legalism o pós-exílico nisto que consiste a redenção!
levou m uitos judeus de seu tem po a desenvolveram
Por outro lado, Jesus nunca in ten to u passar um a
um a relação com portam ental e ritualística com Deus.
im agem frouxa do am or paternal de Deus. Ele m es-
O que im portava não era o sentim ento, a emoção m o ordenou seus seguidores a serem perfeitos com o
de estar diante do Senhor, mas o com portam ento ex- o Pai celestial, a praticarem o bem , a cum prirem os
terno e a prática do ritualism o religioso à risca. Essa m andam entos.
era a religião dos escribas e fariseus.
A diferença é que, na apresentação de Cristo, as
Q uando Jesus sugere um a "intim idade com o Pai” obras não são o m eio, a causa do am or de Deus, m as o
Mat. 6:6), isso soou trem endam ente revolucionário. resultado dele. Os súditos do seu reino não cum prem
O senso ético com um era conseguir o favor divino os m andam entos para serem salvos, mas porque o Pai
por m eio de obras perfeitam ente executadas. O bedi- os salvou. O com portam ento é um a resposta ao am or
ência legal e estrita era o acesso mais rápido às bên- de Deus e não um a p o rta de acesso a ele.
çãos celestiais. E o pecado, ou descum prim ento das
regras, o afastam ento delas.
O juízo final
Por isso, certo diajesu s e seus discípulos passaram
perto de um cego, e eles im ediatam ente pergunta- Apesar de não m uito com entado p o r especialistas
ram: “M estre, quem pecou, este ou os seus pais, para m odernos, o tem a do juízo final tam bém fez parte ati-
que nascesse cego?” (Jo. 9:2).
va dos ensinam entos de Jesus Cristo. São diversas as
Sua pergunta baseava-se no conceito popular da passagens em que ele o m enciona. Veja alguns exem-
relação en tre Deus e o mal. A crença difundida era pios som ente em M ateus: 5:22,29-30; 7:13-14, 21-23;
que o sofrim ento, a doença e própria a m orte eram 8:10-12; 10:28; 13:29-30, 49-50; 18:8 e 9; 22:11-14;
a punição, p o r parte de Deus, em virtude da prática 23:13, 32-33; 24:50-51; 25:29-30 etc.
do mal, quer pelo próprio sofredor ou alguém ligado
Na cena final, descrita p o r M ateus po r ocasião do
a ele. P or esse m otivo, com o se não bastasse o sofri-
fim do m undo, o Filho do H om em (Cristo) enfatica-
m ento, aquele que padecia arcava ainda com o fardo
de ser considerado um grande pecador, um m erece- m ente tom ará assento no juízo (M at. 25:31-46). Ele
dor daquele fardo. condena pessoas e absolve pessoas. Cada um a é apro-
vada ou não pela postura que assum iu diante da graça
Jesus corrige aquele erro, explicando em vividas oferecida. N ovam ente, as obras ali exem plarm ente
imagens, o am or de Deus pelos seus filhos. Ele tam - m encionadas são o fruto da relação espiritual com
bém introduz um elem ento novo, presente no A ntigo Deus e não um cam inho de acesso ao céu.
Testam ento, mas não tão bem explicitado com o no
Novo. A enferm idade e a do r são causadas p o r Sata- O cenário é vivido nos seus detalhes: um juiz se-
nás e seus dem ônios. U m a das ciladas do diabo con- parando cabritos de ovelhas. U m quadro com um do
siste em atribuir a Deus as suas próprias característi- O riente M édio era a criação conjunta de ovelhas e ca-
cas, de m odo que m uitos atribuem a Deus ações que bras. Am bos tin h am m uitas serventias para os seus
não provêm de sua pessoa. donos: eram fonte de leite e carne, m atéria-prim a de
tecidos (Isa. 7:21-22; Prov 27:27; Deut. 14:4; Lev. 13:47; Seja com o for, a im agem que Cristo passa é de uma
Êxo. 25:4). As ovelhas provinham a lã para o vestuário separação efetiva entre os que se preocupam com o
que aquecia nas noites de inverno e a cabra, o odre para seu sem elhante e os que desprezam seu irm ão. Não há
arm azenar água e vinho ( Mat. 9:17; M ar. 2:22). neutralidade entre os grupos. T odos deverão compa-
recer diante de Deus e seguir para um ou outro lado.
A analogia da separação desses animais - com os
o que definirá seu destino final.
cabritos representando os que se perdem - pode ser
devido ao fato destes últim os serem mais rebeldes, não U m pouco antes da descrição do grande julgam en-
ficarem facilmente dentro de cercas e ameaçarem um a to, Jesus enum erou um a série de coisas que acontece-
vegetação local po r sua form a desenfreada de com er riam ao m undo antes de sua volta. Elas estão anotada?
tudo que encontram pela frente. As ovelhas, por sua em M ateus 24, M arcos 13 e Lucas 21.
vez, são mais obedientes, ficam calm am ente dentro do
Ele prevê inicialmente a destruição de Jerusalém
cercado de seu rebanho e com em com parcimônia.
(Mat. 24:1-2) e, em seguida, fala de sinais que antece-
No que diz respeito à separação lateralizada dos dem o fim dos tempos: perseguição, guerras, fomes.
anim ais - uns à esquerda, outros à direita - , há quem terrem otos, um elem ento de sacrilégio posto no Tem -
suponha que isso pode ser um a im agem em prestada pio, sinais no sol, na lua e nas estrelas, o surgim ento áe
do julgam ento com um que ocorria no Sinédrio, onde falsos profetas e a pregação do evangelho no m undo
os prisioneiros absolvidos eram colocados à direita da inteiro. O evento a seguir é a própria vinda de Cristo
presidência e os condenados à esquerda. em poder e majestade para buscar seus redimidos.
Monte das Oliveiras ‫ ־‬Igreja
das Nações
Fato importante
Diferentes autoresfizeram as contas e
calcularam que existem de1.800 a 2.000
referências bíblicas sobre a segunda vinda sua p rópria liturgia e m odos de relem brar aqueles im -
de Jesus. Esse, defato, éum assunto por portantes eventos do passado, todos revivem , de um a
demais importante para ser menosprezado. m aneira ou de outra, os últim os dias do m inistério de
C risto entre os hom ens.

O relato dos evangelhos é bastante vivido. A leitura


atenta dos textos correspondentes transporta o indiví-
duo para um clima de tal compenetração que a paixão do
Últimos dias na Terra Cristo se m istura com a própria realidade daquele que a
relembra. E como se a vida de Jesus e do leitor m oderno
A m edida que o calendário se aproxim a do feriado se tornasse um a em memória, meditação e segurança.
de Sem ana Santa, cristãos do m undo inteiro se prepa- Afinal é sua vitória sobre a m orte que garante àquele que
ram para com em orar a m orte e a ressurreição de Je- crê a certeza de que os sofrimentos deste m undo um dia
sus Cristo. Em bora cada ram o do cristianism o tenha chegarão ao seu fim e o bem triunfará.

... .. .. ‫ ׳‬: .V ' . . : . ‫׳‬... ' .


& :*■■■
Visão panorâm ica de Jerusalém

frente, o utra m ultidão de pessoas curadas ou simpa-


Jesus vem a Jerusalém tizantes do N azareno perm anecia à espera de Cristo
evidenciando que a entrada triunfal foi algo previa-
Aproxim ando-se do fim de seu m inistério, Jesus re-
m ente planejado, senão em detalhes, pelo m enos en‫־‬
solveu subir a Jerusalém vindo de Jericó, onde estivera
parte (Mat. 11:9). Q ue a m ultidão aclamava-o comc
desde sua últim a descida da Galileia para o sul. Estava
rei torna-se óbvio pelos gestos de reverência muitc
chegando a festa da Páscoa e Jerusalém estava repleta
parecidos com os recebidos p o r Jeú quando este fo:
de peregrinos que vinham de todas as partes do m undo
proclam ado rei de Israel (II Rs. 9:13).
onde havia um a com unidade judia espalhada.
Ao contrário da tradição latina relativa ao Domingc
Porém antes de entrar na cidade, Jesus decide parar
de Ramos, os ram os que o povo segurava não tinham
e descansar na casa de seu amigo Lázaro que ficava em
por finalidade acenar para Jesus. Esta seria um a atitude
Betânia (provavelm ente a atual el-Azariye). O vilare-
mais apropriada à cerim ônia dos lulab na festa dos Ta-
jo distava apenas 3 km das m uralhas de Jerusalém , na
vertente leste do M onte das Oliveiras. bernáculos, que ocorreria meses depois deste eventq.

De lá, Jesus seguiu com os discípulos (não so- Os ram os foram tom ados pelo grupo para forrar o
m ente os 12, mas um grupo maior) até o vilarejo de chão, à m edida em que Jesus ia passando. Era talvez
Betfagé- Casa dos Figos. Sem entrar no local, ele m andou um a form a dos mais pobres, que não tinham a capa de
que dois de seus seguidores tomassem com um colabo- cima, usarem as folhas com o substituto das vestes que
rador do grupo um jum entinho emprestado para que o eram lançadas para que o rei passasse p o r cima dela;
mestre pudesse m ontar nele e assim entrar em Jerusalém. (Cf. M ar. 11:8).

João afirma que os discípulos, a princípio, não en- Era precisam ente um dom ingo, poucos dias ante:
tenderam a atitude de Jesus ou o que ele pretendia com da festa da Páscoa, que inundaria anda mais Jerusalém
ela (Jo. 12:16). Até ali ele evitara a todo custo ser pro- de peregrinos judeus vindos de todas as partes para a:
clamado rei. Preferira a discrição e afirm ara reiteradas
vezes que seu reino não era deste m undo. Por que ago-
ra tom ava aquela atitude? É evidente que ele conhecia
as conseqüências de tal proclamação pública.

C ontudo, percebendo que seu m inistério estaria


chegando ao fim e que seria crucificado, Jesus resol-
veu fazer um a derradeira e mais ampla proclam ação
de seu m essianism o. Com este fim, convocou seus se-
guidores e colaboradores, talvez um as cento e poucas
pessoas (At. 1:15), que voluntariam ente o seguiram a
pé até o local onde ele m o n to u o jum ento. Seu destino
era Jerusalém , o coração da religiosidade judaica.

A cla m a d o como rei


Foi a p artir daí, entre a subida e depois descida
do M onte das Oliveiras, que a com itiva com eçou a
aclamar Jesus com o rei dos judeus (Luc. 19:37). À sua
festividades religiosas. Do alto do Olival, Jesus para por vou mais de 50 anos para ser concluída (Jo. 2:20) e
um instante com sua comitiva e contem pla o cenário da em pregou cerca de 18 m il pedreiros. Seu acabam ento
cidade com trem endo destaque para o seu Tem plo. Sua só se deu entre 66 e 68 A.D., pouco antes de ser nova-
visão não poderia ser mais contraditória, num m isto m ente destruído pelo ataque dos rom anos no ano 70
de beleza e tem eridade, religião e apostasia. Assim era d.C. H erodes, é claro, não sobreviveu para ver total-
Israel contem plado por seu Messias. m ente o fruto de sua engenharia.

O conhecim ento que hoje se tem do T em plo de


H erodes, deve-se praticam ente às descrições de Jo-
sefo, da M ishná (tratado Middoth), de um desenho
num a das m oedas de Bar Cochba e às explorações ar-
queológicas da região.
O Templo As conduções arqueológicas perm itiram concluir
que Herodes expandiu a área do Tem plo para além
De cima do M ontedas Oliveiras, era clara a visão
da dim ensão natural do M onte M oriá sobre 0 qual ele
do pátio do Tem plo repleto de pessoas em suas mais
fora edificado. Esse m esm o m onte, segundo a tradição
diversas atividades. Em term os de edificação, esta deve
bíblica, teria sido o local onde, outrora, Abraão quase
ter sido um a suntuosa paisagem vista po r Jesus. O mes-
levara a efeito o ato de sacrificar Isaque ao Senhor.
mo, contudo, não se pode dizer da ação do povo.
O cham ado T em plo M onte, ou Har ha Beyth, por-
O Templo, outrora destruídos pelos babilônios, re-
que a área era de fato um a m ontanha, era original-
erguido no tem po dos Persas e danificado por Antíoco,
m ente um recinto fechado de form ato retangular,
estava agora entre as maiores construções empreendidas
com os lados possuindo um cum prim ento irregular.
por Herodes, o Grande. Embora boa parte do edifício já
O m aior era o lado oriental com a extensão de sua
houvesse sido reerguida desde os tempos de Esdras e Ne-
m uralha atingindo p erto de 485 m etros. Os m uros
emias, foi este rei quem deu definida suntuosidade ao edi-
ficio sagrado, aumentando, inclusive, sua área e tamanho. n o rte e ocidental m ediam respectivam ente 315 e 485
m etros de com prim ento. E o m uro do sul, o m en o r de
O projeto de reform a e ampliação herodiano foi todos, 280 m etros. Estas são m edidas, evidentem en-
um a grande obra iniciada entre 20 e 18 a.C., que le- te, aproxim adas e os com prim entos podem variar de
acordo com diferentes pesquisadores.

Os m uros em si não eram lisos como hoje se vê, mas


eram cunhados com frisos típicos que contornavam o
bloco como um a borda em baixo relevo (característica
precisa do período herodiano). Cada pedra usada na cons-
tração das muralhas media de 1 a 2 metros de altura, com
comprimento horizontal de até 23 metros. Mas a largura
parece ser uniforme (algo em tom o de 3,5 metros).

O peso m édio de cada pedra variava em to rn o de 50


toneladas ou mais. Só no canto sudoeste foi encontra-
da um a pedra de esquina cujo peso é estimado em 100
toneladas. Essas medidas e pesos extraordinários aju-
dam a entender m elhor a admiração dos discípulos ao
com entarem com Jesus a suntuosidade das pedras e da
construção daquele Santuário. Qual não deve ter sido
sua supresa ao Jesus afirm ar que ali não ficaria pedra
sobre pedra que não fosse derrubada! (Mar. 13:1)
i
As técnicas usadas na construção ainda não são totalmente claras. As pedras presu-
mivelmente foram carregadas do norte de Jerusalém até o m onte Moriá. Mesmo com o
uso de tração animal e roldanas, esse transporte exigiu dos operários grande força e muita
habilidade braçal, devido ao exagerado peso de cada bloco maciço.

A área interna do Tem plo media 144.000 m 2. - o que, deveras, não o deixa em ne-
nhum a desvantagem, se comparado a outros famosos santuários do m undo clássico. É
evidente, tam bém, que a área interna era desenhada de m odo a ser uma simetria com-
plexa, incorporando restos do antigo Tem plo ao leste, sobre a base de um gigantesco
pátio com o novo Tem plo no centro.

Esquizofrenias reais à parte, Herodes fora de fato um gênio das construções. O ergui-
m ento de tal complexo sobre uma colina onde as condições de edificação eram totalmente
desfavoráveis é algo realmente impressionante.

Nesse im enso pátio havia átrios separados para cada classe de pessoas. Os mais
"consagrados”, na visão religiosa da época, tinham acesso mais franco ao lugar San-
tíssimo, no fundo do Tem plo, enquanto os outros, variando a “casta”, ficavam em
áreas mais afastadas. Assim tem os em ordem de prioridade sacramental: o átrio dos
sacerdotes, depois dos hom ens (ou israelitas), das m ulheres e finalm ente dos gentios.

Havia ainda no átrio um a câmara reservada a leprosos que haviam sido curados.
D entro dela um tanque de purificação era preparado para que o ex-leproso se banhas-
se e depois de oito dias se apresentasse ao Sacerdote que validaria sua cura. Curiosa-
m ente no N ovo T estam ento há várias referências a leprosos curados p o r Cristo e em
pelo m enos duas delas ele disse que os curados deveriam se apresentar ao sacerdote,
cum prindo a ordenança feita por M oisés (Luc. 5:12 e 17:12).

Templo - Pedras

Sobre o Tem plo propriam ente dito, isto é, seu edifício, as pedras que compunham
sua parede eram diferentes daquelas usadas para edificar os muros. Eram calcárias bran-
cas cortadas com precisão e polidas. A estrutura anterior fora desnuda até os fundamen-
tos e foram feitos novos alicerces. Segundo o desenho de uma moeda de Bar Kochba, a
lembrança que tinham do Templo, 65 anos depois de sua destruição, apresentava quatro
colunas na faixada (oito ou doze no total), que talvez sustentassem um telhado plano.
Acima do telhado parecia haver uma estrela (embora isso possa ser apenas um enfeite
na moeda).

Q uanto às dim ensões aproxim adas, o lugar santo deveria te r em to rn o de 20


m etros de com prim ento por dez de largura e trin ta de altura. N o seu in terio r havia
um candeeiro de ouro, a m esa com os pães da proposição e o altar de incenso. No
fundo havia um véu ou dois para separá-lo do lugar santíssim o, que possuía dim en-
sões m enores, em to rn o de 10 m 2. p o r 30 m de altura. Ali não havia m obília, mas
apenas um a pedra que, desde Zorobabel, ficava no centro do côm odo, em substi-
tuição sim bólica à arca da aliança, desaparecida desde os tem pos de Jerem ias. Com
efeito, aquele era considerado um lugar inviolável.
Jesus diante da porta
dourada
o A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém foi um
Você sabia? dos pontos m ais altos de seu m inistério. V indo des-
de o vilarejo de Betânia, o M estre escolhera a estra-
Das escavações empreendidas no Templo
da m ais direta que passava pelo dorso do M onte da:
Monte, adeC. Warren entre 1867 el869foi
Oliveiras, indo em direção à p o rta dourada que dava
a pioneira e talvez uma das mais significa-
tivas. Suas descobertas iluminaram signifi- acesso à entrada oeste do Tem plo.
cativamente as pesquisas e os levantamentos
feitos por C. Wilson eml964, numa das
mais valiosas reconstituições de como deve-
ria ser o Templo que Jesus conheceu.

Mais recentemente, entre1968 el978, novas


escavaçõesforam feitas de modo extensivo
ao longo dos lados sul e sudeste. À frente do Pelo relato de M arcos (11:11), já era tarde quando a
trabalho estava 0 arqueólogo B. Mazar, da com itiva que acom panhava o Senhor chegou às mura-
Universidade Hebraica de Jerusalém, que lhas da cidade. Por esse detalhe da narrativa, podemos
muito contribuiu para uma mais atualizada com m uita probabilidade, supor que tal acontecimentc
reconstrução artística de como seria 0 Tem- se dera por volta das 15 horas, ou seja, no momento
pio visto por Jesus. em que era realizado o sacrifício da tarde e o pátio dc
Tem plo se encontrava repleto de adoradores.
‫ר‬
O M ontado sobre o jum entinho, Jesus seguiu prova-
!0 XLj velm ente em direção da p orta de Susa ou p o rta orien-
T73-
tal, que hoje é conhecida com o p o rta dourada. Esta
era, sem dúvida, a m ais óbvia passagem para quem do “salve” latin o (ave) oferecido aos im p erad o res
estivesse vindo do alto do M onte Olival. ro m a n o s (“ave C ésar”).

Ao atravessar as im ensas colunas em direção ao Em seguida, evocando talvez um lem a preparado


p órtico real do lado sul, Jesus com eçou a sen tir ain- para a ocasião, eles prosseguiam dizendo: “Bendito o
da m ais o peso da realeza que 0 povo im p u n h a sobre Reino que vem do nosso pai Davi! H osana no mais
seus om bros. A p ró p ria exclamação popular, que é a alto dos céus” (M arcos 11:9-10).
citação do Salmo 118:25 e 26, sugeria um acréscim o U m a vez dentro das dependências sagradas, Jesus
apelativam ente político ao conteúdo da passagem . andava vagaroso p o r e ntre as majestosas paredes que,
E nquanto o salm o em p o rtuguês tra z apenas “bendi- de acordo com Josefo, dispunham de 162 colunas
to o que vem em nom e do S en h o r” (v. 26), o clam or m onolíticas. Ali funcionavam várias salas chamadas
dos seguidores de C risto acrescenta a expressão “ho- hanuyyoth, que serviam de escritórios para os cam-
sana” eu tem um sentido m uito especial no texto. No bistas e lojas para os com erciantes que Jesus haveria
original hebraico do Salmo 118 aparece a expressão de expulsar na m anhã do dia seguinte (M ar. 11:11-15).
Y hw h h o sh i’ah na. Y hw h é o nom e sagrado de D eus
M as, voltando um pouco o transcurso dos aconte-
traduzido p o r “S enhor”. H oshi’ah quer dizer “salva”
cim entos, é possível im aginar Jesus m om entos antes
p resum ivelm ente “salva-nos”, pois o objeto d ireto é
de e n tra r pela p o rta de Susa. Segundo os evangelistas,
opcional em hebraico e pode ser deduzido pelo con-
os fariseus, escribas e outros representantes do povo,
texto). O na no final da sentença é difícil de trad u -
tem endo que o M estre Galileu fosse aclamado rei, in-
zir, mas pode indicar um a expressão de polidez, algo
sistiram com ele para que m andasse seus discípulos se
com o “p o r favor”. Sendo assim , Y hw h h o sh i’ah na
calarem. A isso Jesus respondeu que, ainda que eles se
quer dizer “ó S enhor, salva-nos, p o r favor”.
calassem, as próprias pedras clam ariam (Luc. 19:40).
O ra se a ju n ta rm o s essas palavras n u m só term o Por essa declaração podem os pressupor duas ex-
abreviado, a p ro n ú n c ia aram aica seria algo bem plicações: um a m etafórica onde as pedras representa-
pró x im o de “H O SA N A ”, o te rm o que aparece nos riam os não judeus que estavam no local e que presen-
evangelhos. E m ais, h á um elem ento p ro fético nes- ciavam o acontecim ento. Em favor dessa leitura está
ta exclam ação se lem b rarm o s que “o S e n h o r salva” inegociável a atitude de Pilatos em dizer que Jesus era
é exatam ente o significado do n o m e “Je su s”. A ssim , rei dos judeus (Luc. 23:38) e a afirm ação do soldado
os discípulos de C risto faziam um a versão aram aica rom ano de que ele era um hom em justo (Lc. 23:47).
P or o u tro lado, porém , é possível decifrar aqui Os dias finais de Jesus
um a referência profética ao A ntigo T estam ento. Ob-
servando os enorm es blocos, Jesus declara que estes Os dias que antecedem a m orte e ressurreição de
haveriam de testem unhar sua entrada triunfal na ci- Jesus C risto são cruciais na estru tu ra dos evangelhos.
dade. Sua fala parece um midrash do texto de Ezequiel A narrativa parece te r sito escrita para apontar esse
44:1 e 2. Lá o profeta é ordenado a voltar-se para a episódio e deixar ao leitor o entendim ento quanto ao
p o rta oriental da cidade. M as eis que ela estava fecha- seu significado. Ali a história dos hom ens en tra em
da. O m otivo disso? Assinalar o m om ento em que o confluência com a história de Deus.
Deus de Israel viera visitar seu Santuário.

C uriosam ente, depois da m orte de Jesus, a por- Â última Páscoa


ta de Susa perm aneceu ainda p o r algum tem po sem
n enhum a novidade que lhe dissesse respeito. D o ano Todos os evangelistas são unânim es em afirm ar
70 em diante, p o r diversas vezes as m uralhas foram que Jesus subiu da Galileia para Jerusalém , pela últi-
quase totalm ente destruídas. A parte oriental, no en- m a vez, a fim de celebrar a Páscoa dos judeus.
tanto, teve um a boa parte de seu alicerce preservado.
Essa era a festividade religiosa instituída po r Deu;
E a cada nova edificação, o plano geográfico daquela
no A ntigo T estam ento, a fim de celebrar a liberta-
entrada era m antido exatam ente com o era nos tem -
ção do povo hebreu da escravidão do Egito (Êxo.12)
pos de Jesus. Apenas com um a diferença: seu acesso
Com o parte do processo, um cordeiro sem defeito
perm anecia bloqueado.
deveria ser sacrificado ao entardecer do dia 14 de
O m otivo do bloqueio se deu devido a um boato abib, m ais tarde cham ado de nisã, e que corresponde
propagado entre judeus e palestinos que habitaram a a m eados de m arço/abril.
região depois de Adriano. O boato dizia que no fim dos
Na noite do dia seguinte, 15 de nisã, o cordeiro
tem pos o Messias israelita entraria po r aquela p orta e
sacrificado deveria ser com ido num a ceia, acompa-
tom aria a cidade para seus com patriotas judeus.
nhado de ervas am argas e pão sem ferm ento. Oraçõe;
Sendo assim, m esm o com a construção da M es- especiais eram recitadas e o evento do Êxodo era re-
quita de Al Aqsa e do D om o da Rocha sobre o local do lem brado em fam ília.
A ntigo Tem plo, os ocupantes m uçulm anos evitavam Essa era justam ente a data da saída do povo dc
abrir aquele acesso para não p erm itir que o oráculo se Egito e, p o r causa disso, todos os anos em 14 de nisã
cum prisse a favor do povo judeu. (m arço/abril) o feriado deveria ser celebrado. O mè:
Finalm ente, no período da ocupação dos m am elu- judaico, diferente dos padrões atuais, começava na Iuí
nova. Seu prim eiro dia era determ inado p o r observa-
cos em 1542, um a nova porta, que estava sendo aberta
ção visual da lua.
para servir de principal entrada ao D om o e à m esqui-
ta, tam bém foi m isteriosam ente interditada, acredi- A ordem divina para im olar os cordeiros pascaii
ta-se pelo m esm o tem o r de que o M essias chegasse. era na tarde (entre as duas tardes) do dia «quatorze d :
Além disso, um cem itério islâmico foi estabelecido no prim eiro m ês», isto é, 14 de A bibe/N isã (Ex. 12.6; Lv
local, ao lado da m uralha para garantir que o M essias, .23.5; Nm . 9.3-5; Dt. 16.6). M as não esquecer que os
de fato, não en traria ali. Afinal, sendo ele um sacer- judeus contam o dia de pô r do sol a pôr do sol. Assim
dote, não pisaria em túm ulos, pois isso seria contra as ao p ô r do sol do dia 14 já com eçaria o dia 15, de mode
leis de purificação do p ró p rio judaísm o. que, naquela m esm a noite p o sterio r ao sacrifício dc
cordeiro, a ceia pascal tinha de ser consum ida.
Até hoje quem visita Jerusalém pode ver na sua
m uralha oriental os entalhes de um a porta que nunca Nos dias de Jesus, apenas em Jerusalém poderia ser
foi aberta. Precisam ente abaixo dela jaz, tam bém in- celebrada a Páscoa, pelo fato do Tem plo ser o únicc
terditada, a p orta original pela qual passou Jesus. lugar apropriado para o sacrifício do cordeiro pascal
Logo, todos os que quisessem participar da cerimônia Sem elhante a M arcos, M ateus 26:17 m ostra os dis-
peregrinavam para cidade em caravanas que, no m ini- cípulos interpelando Cristo sobre a preparação da ceia:
mo, quintuplicavam a população local que saltava de 50 “No prim eiro dia da Festa dos Pães Asmos, vieram os
mil para 250 mil pessoas. Josefo chega a m encionar uma discípulos ajesus e Lhe perguntaram : Onde queres que
ocasião em que 3 milhões de peregrinos vieram de uma Te façamos os preparativos para comeres a Páscoa?”
só vez a Jerusalém para celebrar 0 feriado pascal105.
Esse foi, com certeza, o dia 14 de nisã, pois era nele
Difícil é im aginar o trabalho que se tin h a para sa- que se faziam os preparativos para a celebração da
crificar tal quantidade de cordeiros num único dia ceia, a qual só ocorria depois do p ô r do sol, isto é, já
dentro do recinto sagrado do Tem plo. Afinal, o com - nas horas do dia 15 (Êxodo 12:8 e 42; e M ateus 26:20).
parecim ento dos peregrinos era obrigatório som ente
Finalm ente, Lucas confirm a a m esm a ideia: “Che-
à ceia pascal (Deut. 6:7).
gou o dia da Festa dos Pães Asmos, em que im porta-
Q uanto às acom odações para tan ta gente, tudo in- va com em orar a Páscoa.” (Lucas 22:7). A expressão
dica que a hospitalidade era um a m arca registrada de genérica “com em orar a Páscoa” literalm ente significa
Jerusalém nestes dias festivos. As casas de família se “sacrificar a Páscoa”.
abriam para receber os peregrinos e m uitos dorm iam ,
Assim, no dia seguinte, 15 de nisã, Jesus foi cru-
nos pátios internos, nos tetos ou alojados num único
cificado e m orreu p o r volta das 15 horas conform e, o
aposento. Não havia luxo, mas os peregrinos não pa-
testem unho de M ateus 26:30, 47 e 57; e 27:1, 2, 26,
reciam se im p o rtar m uito com isso, tudo era válido
31, 33, 35, 45 e 50 e Lucas 22:14, 39, 47, 54 e 66; e
pela oportunidade de celebrar a festa em Jerusalém .
23:1,7, 1 1 ,2 4 ,2 5 , 33, 44 e 46.
Adicionava-se a isso o fato de que muitos dos ceie-
João, porém , parece contradizer essa ordem dos fa-
brantes obtinham alojamentos fora dos m uros da cidade,
tos. Ele afirma que Jesus foi conduzido, na m anhã de
especialmente em Betfagé e Betânia, dois povoados nas sexta-feira, da casa de Caifás para o pretório; porém ,
encostas do M onte das Oliveiras (Mar. 11:1; 14:3). Fa- os judeus não quiseram entrar no prédio rom ano “para
zendas, lojas, galpões para prensa de oliveiras, abrigo de não se contam inarem , mas poderem com er a Páscoa”
animais - tudo virara hospedaria para os visitantes. Até (João 18:28). O que dá a entender que ainda não ha-
mesmo o sumo sacerdote emprestava algumas partes de viam comido o cordeiro pascal. Logo, a festa da Páscoa
sua rica mansão para receber os judeus de fora, razão pela não poderia ter sido na noite anterior de quinta-feira.
qual foi fácil para Pedro e João entrarem ali até o pátio no
m om ento em que Jesus era julgado pelo Sinédrio. Além disso, João denom ina a sexta-feira da sema-
na da crucifixão de “preparação pascal” (João 19:14).
Com o os preparativos para a com em oração da Pás-
Uma aparente contradição coa eram realizados no dia 14, essa declaração faria
daquela sexta-feira o dia em que o cordeiro devia ser
Algumas aparentes incongruências no relato dos sacrificado. P or fim, o dia em que Jesus perm aneceu
evangelhos deixam no ar um a dúvida sobre as circuns- no sepulcro é cham ado “Sábado grande” (João 19:31),
tâncias exatas da últim a ceia de Cristo com seus discí- que, segundo alguns, assim se cham aria p o r causa da
pulos. Seria aquela um a cerim ônia pascal? Os evange- coincidência de se ter um sábado e um a ceia pascal
lhos sinóticos (Mateus, M arcos e Lucas) dão a entender ocorrendo no m esm o dia.
que sim, enquanto João parece dizer que não.
O problem a parece pequeno, m as não é. M esm o
M arcos 14:12 é o texto mais enfático que afirm a ter que aparentem ente pareça mais im portante sincroni-
Jesus se preparado para a ceia “no prim eiro dia dos pães zar a m orte de Jesus com a do cordeiro pascal - se-
sem ferm ento, quando 0 cordeiro da Páscoa era sacrifica- guindo assim a cronologia de João - , isso sugeriria que
do”. Ora, se o preparo foi para um a ceia posterior ao Cristo participou da ceia pascal no dia errado, trans-
sacrifício, como o texto parece supor, essa só poderia gredindo assim a lei da Páscoa: “C um pra esta determ i-
ser a ceia pascal que os judeus chamavam de Seder. nação na época certa, de ano em ano ...” (Êxo. 13:10).
Harmonizando os relatos ‫ ן ף‬Oo Γ
Algumas possibilidades são levantadas para resol-
ver essa questão:
Fato importante
Um dosfatores que leva alguns a suspeitarem
1 - João e os sonóticos usavam calendários dife-
de que Jesus não celebrou uma festa pascal está
rentes. Q uem apresenta essa hipótese é A nnie Jau- nofato de que, excetuando 0pão sem fermento,
b e rt106 que, estudando os m anuscritos do M ar M orto, os demais elementos do cardápio de Jesus não
sublinha a existência no tem po de C risto de dois ca- têm relação alguma com 0cardápio pascal Os
lendários. Em Jerusalém , no T em plo, usava-se o ca- evangelhos não falam do cordeiro, nem das
lendário controlado pelo Sinédrio, calendário lunar, ervas amargas, mas apenas do pão e do vinho.
enquanto que em Q um ran seria usado um calendário Uma maneira de resolver isso é lembrando que
solar. Isso causava certa discrepância nas festividades. a Mishná testifica ofato de que havia muitas
disputas entre rabinos efariseus quanto ao
Jesus possivelm ente celebrara a últim a ceia segun-
formato da Páscoa no século I. Os essênios, por
do 0 calendário solar de Q um ran, na noite entre a ter- exemplo, se abstinham do cordeiro pascal, a
ça e a quarta-feira (conform e dito pelos sonóticos) e fim de celebrar a festa em form a de protesto
teria m orrido dois dias m ais tarde, na sexta-feira, pre- contra 0Templo e seu sacerdócio corrupto.
paração para a Páscoa, segundo o calendário oficial do
Portanto, não há razões concretas para se
T em plo (conform e dito p o r João).
duvidar dos passos de Cristo em relação à sua
Assim, tanto as inform ações dadas pelos sinóticos última ceia pascal
c

<73
quanto aquela transm itida p o r João estariam corretas.
Ο
2 - João 19:14 d enom ina a sexta-feira da cruci- ΐ. 173 ‫ ־‬a ‫כחי־ס־שי‬
fixão de “preparação da Páscoa". A palavra “prepa-
ração” é tradução do grego paraskeue, era um term o
‫ח‬0
com um ente utilizado para den o m in ar a sexta-feira ‫מד‬
ο ο
com o dia de preparação p ara o sábado. A base dessa c J
expressão se en c o n tra em Êxodo 16:22-30. P o rtan - Você sabia?
to, quando João fala do dia da m o rte de Jesus com o
Segundo a lei judaica, o contato com um
a “parasceve da Páscoa”, sua intenção era sim ples- cadáver tomava a pessoa cerimonialmente
m en te de re tra ta r aquele dia com o um a sexta-feira impura para participar de cerimônias reli-
d e n tro da sem ana dos Pães Azim os e não com o o dia giosas. Assim, precauçõesforam tomadas
14 de nisã. para proteger operegrino que vinha em
direção a Jerusalém celebrar a Páscoa.
3 - Os judeus com eram n orm alm ente sua ceia.
Como era de costume sepidtar pessoas em
M as os líderes do povo estavam tão obcecados em
túmulos cavados nas rochas, um grupo
p ren d er Jesus e condená-lo que cancelaram sua ceia
especial de homens ia dias antes dafesti-
pascal do dia 15 para com ê-la atrasada no dia 16. vidade pintando de cal todos os túmulos
que houvesse pelo caminho, a fim de que os
4 - Não tem os todos os detalhes de como a ceia pas-
viajantes pudessem vê-los ao longe e evitar
cal era celebrada nos dias de Cristo. O form ato hoje se- a proximidade daquele campofúnebre. Al-
guido pelo judaísm o se desenvolveu apenas após o ano guns pensam que os textos de Mateus 23:27
70 d.C., quando o Tem plo e Jerusalém foram destru- e Lucas 11:44poderiam ter alguma relação c
idos pelo fogo. Assim, aquilo que aparenta um a con- com esse costume107.
‫ר‬
tradição se resum e num desconhecim ento das liturgias 0
pascais do tem po do Segundo Tem plo. T 73‫־‬
A ultima ceia de Cristo U m costum e, p o r exemplo, que esclarece dois as-
pectos da últim a ceia de Cristo é o fato de os com en-
sais usarem pedaços de pão com o talheres que eram
M uitos, ao lerem o relato da últim a ceia de C risto,
em bebidos num a m esm a tigela cheia de vinho. O re-
com todo o dram a da despedida e a revelação pública
cipiente único ficava posto no centro do tablado ou
de quem seria o traidor, pensam erroneam ente num
tapete usado para este fim, e todos, à m edida que iam
jantar ou até m esm o num a cerim ônia especial, mas
com as características de um a refeição ocidental. com endo, cortavam com a m ão um pedaço de pão,
em bebiam -no no vinho e depois levavam -no à boca.
N em m esm o pintores clássicos com o G hirlandaio Por isso Jesus anunciou que o traidor seria o que pu-
e Da V inci escaparam desse anacronism o. A postura, nha consigo a m ão no prato.
os gestos, a posição de cada um à mesa, praticam ente
nada corresponde aos costum es de um a refeição ju- O utro detalhe explicado po r esse contexto é o fato
daica dos tem pos de Cristo. de João ser descrito com o aquele que reclinava-se so-
bre o peito de Jesus - o que ficaria sem sentido se eles
N inguém com ia sentado em bancos com o nos qua- estivessem todos assentados com o figuram nas pin-
dros clássicos, m uito m enos em pé. “C om er ou beber turas clássicas da últim a ceia. Assim a expressão que
em pé tra n sto rn a todo o corpo do hom em ” - dizia um aparece no original grego do Novo T estam ento, “re-
outro provérbio rabínico. Por isso, a expressão bíbli- clinado à m esa”, faz todo sentido especialm ente em se
ca “assentaram -se pois e com eram ju n to s” (Jz. 19:5) tratando de um contexto de refeição. Cf. M ateus 9:10;
era algo bastante literal; eles literalm ente reclinavam - 26:20; M arcos 14:18; 16;14; João 12:2.
-se com o se estivessem indo deitar.

N em os mais conservadores judeus se sentiam O traidor


chocados, neste ponto, de se assem elhar aos gregos e
rom anos que com iam estendidos sobre pequenos di- Em bora a Bíblia não traga m uitas inform ações
vãs ou tablados com um acolchoado tendo ao centro acerca de todos os apóstolos, é possível deduzir que
um a pequena m esa com a refeição com unitária. se tratava de hom ens simples, rudes, oriundos em sua

A Última Ceia, de Jacopo Bassano 1542, visão artística do período Renascentista


m aioria da Galileia. A única exceção parece ser Judas, M as ele foi descoberto. Desmascarado e denuncia-
que seria um jovem prom issor vindo da Judeia. do, Judas abandonou o recinto da ceia e saiu disposto a
cum prir com seu plano de entregar Jesus nas mãos de
De acordo com um a interpretação iniciada p o r Je-
seus inimigos. Porém , tal foi o respeito de Jesus po r sua
rônim o no século IV, o sobrenom e Iscariotes seria um a
pessoa que ele não saiu sem receber seu bocado da ceia.
helenização grega do hebraico ish Qeryoth, "hom em de
Jesus de alguma form a am enizou o am biente, a ponto
Q ueriote” (Jo. 6:71; 13:26). Q ueriote era o nom e sim-
dos discípulos pensarem que estava tudo bem, que ele
plificado de um a aldeia ou de um conjunto de aldeias
saíra para com prar algo a pedido de Jesus Qo. 13:29).
de Q ueriote-Ezron (Jos. 15:21), no território de Judá.
De fato, existe até hoje um a cidade chamada Q irbet
el-Qaryatein, situada a 20 km ao sul de H ebron, que O pacto da traição
m uitos pensam ser a cidade original de Judas.
P or que Judas traiu Jesus Cristo? Essa é um a per-
Por ter m elhor conhecim ento nas letras e núm e-
gunta que tem levado m uitos a um a reflexão dem ora-
ros, ele to rn o u -se o tesoureiro dos apóstolos e foi de-
da. As razões mais íntim as de um a alm a talvez nunca
signado para cuidar do dinheiro com um . M as o evan-
poderão ser com pletam ente diagnosticadas pela ação
gelho revela seu caráter corrupto com a nota: “T endo
hum ana. No entanto, algumas pistas podem sugerir
a bolsa, tirava o que nela se lançava” (Jo. 12:6). Aos
certas conclusões.
olhos hum anos, Judas seria o mais prom issor discípu-
10 de Cristo e foi justam ente aquele que o traiu.
Museu de Israel - Menorá,
U m detalhe, no entanto, em relação à m esa da úl- Moedas do Templo
tim a ceia, revela que C risto instou até o fim para ga-
n h ar o coração de Judas, m esm o sabendo o que ele
estava para fazer.
João 6:64 talvez indique que sua adesão ao movi-
Sabe-se que em volta dos braços do triclínio, os m ento de Jesus não foi m otivada po r um a crença sin-
convidados se dispunham num a ordem hierárquica: cera de que aquele era o prom etido Messias, o Filho de
o lugar de h o n ra era o m eio do "braço” esquerdo onde Deus. Ao contrário dos outros discípulos que chama-
ficava o chefe da casa ou o p ro m o to r do banquete. A ram Jesus de "Senhor” (que é de grande im portância em
p a rtir daí iam tom ando assento os m enos destacados várias formas), Judas preferia chamá-lo unicam ente de
na com posição hierárquica. “rabi”. Aqui talvez esteja um indicativo de que ele não
Ladeando o anfitrião, do seu lado esquerdo e di- via Jesus senão como um grande m estre do judaísmo.
reito, ficavam seus im ediatos mais íntim os ou aque- Se assim for, não é difícil supor que ele - à seme-
las pessoas que ele queria cativar, colocando-as perto lhança de m uitos outros - aderiu a Cristo por uma
de si. N ovam ente, o grau de im portância era da di- questão de oportunism o e interesse m aterial. Afinal
reita (lugar de um prim ogênito, p o r exemplo) para Jesus, a princípio, parecia ser um sucesso do ponto
a esquerda. Daí a expressão usada em vários papiros de vista político e social. Seu m ovim ento crescia dia
da época que falam dos privilegiados que na ceia da após dia e as m ultidões o amavam. Era um a questão
eternidade terão um lugar junto ao “seio de Abraão, de tem po e ele seria o m aior rabino de Israel, pro-
Isaque e Jacó”. vavelm ente ocupando um a cadeira no Sinédrio ou
Ora, pelo que diz 0 quarto evangelho, João, o dis- erguendo o m ovim ento que finalm ente expulsaria os
cípulo am ado deveria ser aquele que estava reclina- rom anos do país.
do à esquerda, ao peito de Jesus (Jo. 13:23). Do outro O fato roubar o dinheiro que lhe era confiado e de-
lado, porém , à sua direita, estava Judas - aquele que m onstrar ganância disfarçada de caridade (Jo. 12:5-6
estendeu com C risto a m ão sobre o prato. Se ele não revela um caráter doentio, não reconhecedor de sua
estivesse im ediatam ente ao lado do M estre, não con- própria impiedade. Na versão de M ateus 26:25, o pró-
seguiria fazer isso. Jesus, p o rtan to , o hon ro u , m esm o prio Judas teve a coragem de, junto aos demais, per-
sob circunstâncias tão desfavoráveis. guntar a C risto se seria ele quem haveria de traí-lo.
Este espírito m aquiavélico é explicitado na expres- “salve, rabi” indicariam aos soldados qual dos 12 era
são do evangelho “e n tro u nele Satanás” (Jo. 13:27). Jesus de Nazaré (Mat. 26:49).
Judas era frio e calculista e acreditava de algum a m a-
neira que os fins justificam os meios. Por essa razão, _CJ2
pouco antes da Páscoa, ele ratificara um possível 0
‫ג‬
acordo prévio com os m em bros do Sinédrio de que Você sabia?
entregaria Jesus a eles
Seguindo uma prescrição que vinha desde os
Com binou-se então que Jesus seria aprisionado, às dias de Moisés, os judeus do tempo de Cristo pa-
ocultas, im ediatam ente, no retiro onde costum ava ir gavam uma taxa de meio siclo ou meio shekel de
para orar e m editar. Assim, desde m uitos dias antes da prata para a manutenção do Templo. A origem
noite da traição, teve ele oportunidade de pensar em dessa obrigação está em Êxodo 30:11-16, embora
seu erro e se arrepender. M as isso não aconteceu. no tempo de Moisés não houvesse pagamento em
moedas e, sim, em pedaços de prata derretida.
Firm ado em sua ideia de que Jesus era um bom ra-
bino com grande potencial político, Judas deve ter se A coleta acontecia todo ano a partir do primeiro
irritado ao ouvir o M estre reiteradas vezes dizer que dia do mês de adar e terminava no primeiro dia
seu reino não era deste m undo. Ele tinha que achar do mês de nissã. Mas apenas 0 shekel de Tiro,
algum m odo de forçar C risto a se apresentar com o por ter uma composição de prata mais pura, po-
filho de Deus. Quiçá um a prisão pública ou a deten- deria ser aceito no interior do santuário. Assim
ção num cárcere obrigaria Cristo a lançar m ão de seus os que tinham outros tipos de moeda, deveriam
primeiramente ir a um cambista queficava nas
poderes e executar um m ilagre que evidenciaria a to-
adjacências do Templo e trocar 0seu dinheiro
dos a sua capacidade.
pelo shekel do Templo.
M elhor ainda se esse m ilagre fosse feito em Jeru -
Era uma moeda de aproximadamente 13 gr a-
salém, com a cidade cheia de gente - com o estava na
mas, tendo no verso um rosto deMelqart, 0 deus
festa da Páscoa. M as não podia ser um m ilagre para
chefe da cidade de T iro, e no anverso a imagem
beneficiar um pobre coitado. Desta vez, deveria ser de uma águia.
um a m anifestação de poder para m ostrar quem Jesus
era de fato. Sua glória seria irresistível e seus im edia- Quando a Bíblia diz que Judas recebeu 30
tos, é claro, tom ariam carona nela. moedas de prata para trair Jesus Cristo,
considerando que ele as recebeu das mãos dos
O utra possibilidade seria se a guarda o prendesse e sacerdotes, muitos concluem que as moedas
o levasse ao Sinédrio. Cristo, diante do risco de ser sagradas do Templo seriam as mesmas usadas
condenado, em itiria um a luz radiante e faria com que para subornar 0 apóstolo de Cristo.
todos no recinto reconhecessem que ele era de fato o
novo rei dos judeus.
T73 "c0‫ ־‬u
M as tal coisa não aconteceu. Saindo nervoso da
últim a ceia, Judas inform ou os líderes que Jesus, dali
a poucas horas, estaria com os discípulos orando no
M onte das Oliveiras. E ntretanto, era noite e possível- Litróstorod
m ente as pessoas estivessem com o rosto parcialm en-
te coberto p o r causa da friagem da m adrugada (que
era frio naquela noite pode ser visto em João 18:18).

N um grupo de mais de dez pessoas seria difícil sa- Julgamento e crucifixão


ber quem era o M estre e tudo tinha de ser feito o mais de Cristo
discreto possível para que ele não fugisse. Este pro-
blem a Judas resolveu sugerindo um a senha que iden- C onform e a interpretação mais tradicional da teo-
tificasse qual deles era 0 líder. U m beijo e a saudação logia cristã, o evento da cruz não se resum e a um as-
sassinato, um a execução legal, m uito m enos um m ar- Anás, 0 sogro de Caifás, foi o prim eiro a interrogar
tírio. A m o rte de Cristo representa mais do que isso. Jesus. A seguir, falsas testem unhas foram convocadas,
Ela culm ina, em últim a instância, no ato salvífico de mas os depoim entos eram contraditórios. Então re-
Deus em prol da hum anidade. solveram acusar Jesus de blasfêm ia (Mat. 26:57-68).
Naquele m om ento de sacrifício, céu e te rra se uni- Pela referência dada em Lucas 22:60 e João 18:28, o
ram : o plano da redenção finalm ente executado e a julgam ento deve ter term inado depois das 3h da m a-
graça inaugurada. Com sua m orte, diz o mais antigo nhã, seguindo para o raiar do dia.
credo, Jesus desceu à m ansão dos m ortos e conferiu a
todos a esperança de vida eterna no reino de seu Pai.

Hoje, p o r inform ações históricas e arqueológicas,


é possível reconstruir, ainda que hipoteticam ente,
parte do dram a de Cristo desde a sua prisão no H orto
das Oliveiras até sua m orte na tarde de sexta feira.
Você sabia?
E evidente, porém , que a reconstituição dos fatos se Em novembro de 1990 profissionais da constru-
lim itará a elem entos históricos que nunca poderão ção civil, trabalhando em um parque aquático
abarcar, na totalidade, o significado mais profundo na Peace Forest, sul da cidade velha de Jerusa-
daquele m om ento. létn, encontraram uma tumba selada desde a
guerra romana de 70 A.D.

Um processo ilegal Os arqueólogos da Universidade Hebraica


correram ao local e encontraram 12 ossuários
(caixas para ossosfeitas de calcário). Dentro
Jesus foi preso e levado até às autoridades judaicas
delas havia os restos mortais de pelo menos 63
que o aguardavam na casa de Caifás. Só o fato de estarem indivíduos, todos possivelmente aparentados
reunidos noite adentro já indica a ilegalidade do proces- entre si, pois se tratava de um jazigo familiar.
so. Primeiro porque os rom anos não autorizavam reu-
niões judaicas em período noturno devido ao seu tom Um dos ossuários, 0 mais ornamentado deles,
surpreendeu a todos. Conforme costume
subversivo. Segundo porque o próprio tratado da Mish-
da época, alguns desses caixões traziam na
ná (Sanhedrin 4,1) prescrevia que, “em casos de crimes
tampa ou do lado 0 nome daquele que estava
sujeitos à pena de m orte, o julgamento deverá sempre ali sepultado. A inscrição aramaica estava sufi-
ser feito durante o dia”. Além disso, a mesma passagem cientemente bem preservada para ser lida pelos
prescreve que nenhum julgamento poderia ser feito na especialistas. Ela dizia: Yoheph barKapha ou
véspera de um sábado ou de um a festa religiosa. “Joséfilho de (ou da família de) Caifás." Este
era exatamente 0 nome completo do sumo sa-
Os criados acordados e um a fogueira acesa no pá- cerdote que prendeu Jesus. A Bíblia limita-se a
tio da casa confirm a que, apesar da pressa (eles que- chamá-lo de Caífas, mas 0 restante de seu nome
riam condenar Jesus antes do sábado), todos os ar- está bem documentado nos escritos de Josephus
ranjos haviam sido feitos para reu n ir 0 conselho e que assim se refere à sua pessoa108.
trabalhar em todo o tem po n o tu rn o até conseguirem
No interior do ossuário existiam os restos de
elem entos para um a acusação form al contra Jesus. um homem de aproximadamente 60 anos, o que
aumentam as chances de ser 0 mesmo Caifás
Pedro e João conseguiram acom panhar o processo
descrito no Novo Testamento. Esse memorável
do pátio da casa, porque João, de algum a form a, era
achado provê, pela primeira vez, os restosfísi-
conhecido do sum o sacerdote e usou isso a seu favor. cos de alguém mencionado nas Escrituras.
Ele então foi até a em pregada e pediu que tam bém
deixe Pedro en trar, sob a alegação de se juntarem a
outros em to rn o da fogueira externa (Jo. 18:15-24;
M at. 26:69-75; M ar. 14:66-72 e Luc. 22:55-62). á T T trt ‫־בדזז־‬
Enciclopédia Histórica da Vida de Jesus

O fato, porém , é que Pedro negou com veem ência


que era discípulo de Jesus ou ao m enos que conhecia
Igreja do galo cantou esse hom em . Ele chegou a praguejar e ju rar apenas
para convencer a todos que ele não era discípulo de
Cristo (Mar. 14:71).

Esse fatídico m om ento term in a com três situações


O galo cantou? emblemáticas: um galo que canta, Jesus que é transfe-
rido de um a sala para o u tra e troca olhares com Pedro
A negação de Pedro é um episódio triste neste en-
(Luc. 22:61) e o próp rio apóstolo que chora amarga-
redo. Pessoas que estavam na casa o reconheceram
m ente arrependido pelo que fizera (Luc. 22:62).
pelo seu forte sotaque da Galileia e entenderam que
ele estava com Jesus. Os evangelhos não inform am A incógnita neste caso é quanto ao canto do galo men-
porque João, que o introduzira no recinto, já não es- cionado na predição de Cristo: “Antes que o galo cante
tava m ais com ele. [duas vezes] três vezes m e negarás”. Seria isso literal?
Em bora o galo seja um anim al lim po para consu- U m a form a de se resolver essa questão, em bora
m o, de acordo com as regras do Levítico, ele não era não adm itida p o r todos os com entaristas, seria assu-
condizente com um am biente religioso da m agnitude m ir que não se trata de um galo de verdade. M as ha-
de Jerusalém , exatam ente por causa do Tem plo e dos veria elem entos argum entativos para isso? Provável-
sacrifícios que eram feitos ali. N ovam ente a M ishná, m ente. Se for considerado o fato de que os rom anos
no tratado de Baba Kama 7.7, prescreve as orientações tinham um a tro m b eta m ilitar que tocava à noite para
de pureza da cidade e diz: “Não é perm itido criar galos m arcar a troca da guarda e o raiar do dia e que essa
em Jerusalém por causa das Coisas Santas, nem os sa- trom beta tinha o apelido de galo (gallicinium), talvez
cerdotes podem criá-los Lem qualquer lugar] na T erra era disso que jesus estava falando.
de Israel”.
Os sentinelas responsáveis pelo toque ficavam na
Sendo assim, fica difícil im aginar que um galo de Fortaleza A ntônia e toda a cidade poderia ouvir seu
verdade cantasse na casa do sum o sacerdote, ou nas som. A credita-se que havia um toque para m arcar a
redondezas dela, e fosse ouvido p o r todos. É prati- terceira vigília da noite (m eia-noite às 3h) e outro
cam ente nula a chance de haver um galinheiro ali na para m arcar o nascer do dia (3h às 6h). N este segundo
casa do chefe do Sinédrio de Jerusalém . toque teria Pedro term inado de negar Cristo.
Perante Pilatos
Quando raiou a manhã de sexta-feira, os líderes ju-
deus mal haviam pregado os olhos para um breve cochi-
10. Mesmo assim, novamente reuniram o Sinédrio bem
cedo para formalizar a sentença dada durante a madru-
gada (lembremos: eles tinham pressa e o interrogatório
da noite não possuía valor jurídico). Como Pilatos pouco
ligava para questões religiosas dos judeus, a acusação de
blasfêmia de nada adiantaria para o procurador autorizar
a execução (Jo. 18: 28-32). Talvez, por isso, ao se aproxi-
marem do procurador logo de manhãzinha, os sacerdotes
η Οο ‫ן‬ 1' c
mudaram levemente o teor da acusação dizendo que Jesus Ο

Oo I
negava o tributo e pretendia ser Rei no lugar de César - Ο
de fato, um terrível crime contra o império (Luc. 23:1 e 2; fj Você sabia?
ο μ
Mar. 15:1 e 2).
Além do palácio em Jerusalém, Pilatos possuía outra
C ontudo, eram tão absurdas as colocações dos lide- residência oficial localizada em Cesareia Maríti-
res em contraste ao silêncio de Jesus que Pilatos achou ma. Era uma espécie de Palácio de Verão, construído
por Herodes, mas que terminou servindo de “lar"

. .
im próprio condená-lo à m orte. Sabedor de que Jesus
era da Galileia e de que Herodes estava ali para parti- para os procuradores romanos que não apreciavam
cipar da festa pascal, resolveu enviar-lhe o caso para, muito a ideia de morar em Jerusalém. Cesareia

......................................................................... ......... .............. ..........................................


Marítima fo i por muito tempo 0 maior porto
quiçá, livrar-se daquele julgam ento (Luc. 23:5-12).
romano do leste do Mediterrâneo. Dali partiam
H erodes, porém , ridicularizando a situação, vestiu as grandes navegações em direção a Roma. Paulo
Jesus com um m anto pavoroso e o devolveu a Pilatos embarcou várias vezes nesse local, inclusive na sua
que continuou em seu to rm en to sem saber que solu- última viagem quando fo i finalmente levado preso
ção daria para aquele caso. para comparecer perante 0 tribunal de César.

O procurador rom ano, pressionado po r um a tur- Em 1961, arqueólogos italianos que escavavam 0
ba de judeus arranjada pelos sacerdotes, resolveu agir teatro romano da cidade localizaram uma placa de
com outra estratégia. Ele propôs a escolha entre Jesus e pedra que estava sendo disposta no que os arqueó-
Barrabás. N ovam ente se frustra, pois o povo escolhe o logos chamam de “uso secundário", isto é, seu posto
salteador. Então ele, num a derradeira tentativa, ordena originalfora demolido já no passado e os escombros
usados posteriormente como alicerces de um novo
aos soldados que açoitassem o prisioneiro, pensando
edifício.
que assim conseguiria acalmar os ânim os de todos. Até
.

que, finalm ente, com m edo da pressão política que isso Assim, alguém de “vista mais atenta”percebeu que
podia causar, autorizou a crucificação de Jesus. entre as pedras reutilizadas na reconstrução do
anfiteatro no século IV havia uma disposta entre os
pisos de uma escadaria que parecia conter uma ins-
crição em latim. Removida, a inscrição parcialmen-
te destruída pôde ser decifrada. Ela dizia: “Pôncio
Pilatos, Prefeito da Judeia”. Ao que tudo indica,
Pilatos havia mandado construir em Cesareia um
Tiberium, isto é, uma estrutura em homenagem ao
imperador e, portanto, colocou ali 0 seu nome como
0 executor da obra. Mais um personagem bíblico que
í-J tem sua existência confirmada na história!

‫ ךדם‬7‫ ־ס‬L±z=zzr-z::::::::;:;.......... ==^


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........
O açoitamento e sus tam bém fez parte da propaganda do Reich para
convencer soldados a exterm inar os judeus da face da
humilhação de Jesus te rra 110. Jesus, para os filósofos do nazism o, não era
um judeu, m as um ariano que sofreu nas m ãos de um
A condenação final de Jesus aconteceu no pretório, povo covarde e perigoso.
ou seja, na residência oficial de Pilatos em Jerusalém .
A segregação co n tin u a ativa hoje. Além dos
Em 1856, o padre A lphonse R atisbonne, co fundador
skinheads e das gangues da suprem acia branca, a so-
da ordem dos Padres de Sion, com prou um sobrado
ciedade convive com resquícios de um passado an-
perto do arco cham ado Ecce Homo onde, desde a Idade
tissem ita. Perceba as anedotas contadas que sem pre
M édia, cria-se ser o local onde Pilatos pron u n cio u as
falam dos judeus com o “sovinas”, trapaceiros e gente
palavras: “Eis aqui o vosso rei”.
de pouca confiança. A té a língua po rtu g u esa p erm i-
Investigações posteriores dem onstraram que esse tiu em seu vocabulário palavras com o "judiar”, “ju-
arco era parte de um arco tríplice construído po r diaria” e “judiação” que, originalm ente, significavam
A driano em 135 A.D. C ontudo, no trabalho de rem o- “m altra ta r alguém , com o é típico do povo judeu” -
ção de entulho com o fim de am pliar o convento para um a referência depreciativa óbvia em função do que
as religiosas de Sion, que ficaram responsáveis pelo fizeram com Je su s111.
lugar, descobriu-se um a plataform a m uito antiga po r
Esse preconceito vem desde os prim eiros séculos
baixo dos arcos de A driano109.
da era cristã. Intentando defender o cristianism o de
Escavações feitas pelo Dr. Hugues V incent, em seus detratores, os prim eiros Pais da Igreja queriam
1930, revelaram ser aquele lugar a fortaleza A ntô- m ostrar a R om a que os cristãos não eram um a seita
nia datada dos tem pos do N ovo T estam ento. Entre judaica cheirando a sublevação. E que m ovim entos
as ruínas foram encontradas plataform as maciças que revolucionários judeus com o a guerra dos hasm oneus
form avam parte do antigo pátio. Sobre essas lajes es- e a revolta de Bar K ochba ainda ecoavam negativa-
tavam gravados alguns jogos que os soldados rom a- m ente nos ouvidos dos rom anos.
nos usavam para m atar o tem po. Ali tam bém acha-
P or isso, os prim eiros cristãos não queriam ser
vam -se ossos usados com o dados.
vistos com o judeus. E para provar o que diziam, eles
U m a dessas plataform as pode te r sido usada para passaram a afirm ar com m aior ênfase a culpabilida-
a hum ilhação de Jesus, quando os soldados lhe bate- de judaica no julgam ento de Cristo, em detrim ento à
ram e lhe cham aram rei, pois as descrições desse pavi- responsabilidade rom ana sobre a questão. O rígenes
m ento (lithóstotos) é trem endam ente harm ônica com chegou a dizer que o sangue de Jesus caiu não só so-
o que nos diz João 19:13. bre os judeus daquela época, m as sobre todos os seus
descendentes até o fim do m u ndo.112

Quem matou Jesus? C ontudo, o acento exagerado nessa distinção fez


com que a Igreja se afastasse do judaísm o e se apro-
D urante m uitos séculos, o povo judeu sofreu a ximasse, sobrem aneira, da cultura greco-rom ana.
m arca indelével de serem “assassinos de C risto” ou M esm o antes da controversa conversão do Im pera-
“culpados de deicídio”. Isso pesou tan to em fom entar dor C onstantino, igrejas inteiras pararam de se reu-
0 antissem itism o no m undo que até m esm o a inqui- n ir publicam ente no sábado e adotaram a prática de
sição espanhola e o holocausto nazista tiveram nes- com er as carnes proibidas de Levítico 11, apenas para
ta afirm ação parte de seu argum ento para aniquilar serem distinguidas dos judeus.
aqueles de sangue hebreu.
O resultado a m édio e longo prazo foi a perda das
E m bora o com prom isso de H itler com a religião raízes judaicas do cristianism o. C hegou-se a cunhar o
não seja visto de m odo unânim e pelos historiadores, dito de que ser cristão era, em sim ples palavras, nunca
a m aioria deles concorda que a m orte injusta de Je ­ ser um judeu. Hoje, vários especialistas estão tentando
corrigir esse erro, redescobrindo o perfil judaico de para o Filho de Deus? Esta é um a antiga problem á-
Jesus e dos evangelhos113. tica no m undo acadêm ico. N a teologia m edieval, ela
era cham ada de contradictio in adjecto, o u seja, por
De fato, um a análise criteriosa dos relatos bíblicos um a estran h a razão, o povo, que antes que aclamava
m ostra que nem todos os judeus da época se envolve- Jesus com o rei, resolveu condená-lo à cruz.
ram no processo condenatório de Cristo. M uitos des-
cendentes de Abraão estavam espalhados pela diáspora Em princípio, três elem entos podem te r m otivado
e nem se deram conta do que se passava em Jerusalém. a reação popular:
O processo se concentrou mais nos líderes do povo e
Decepção com as palavras pregadas p o r Jesus - seu
nos agrupam entos civis que eles influenciaram.
serm ão não era politicam ente correto, pois não om i-
O problem a é que a linguagem do N ovo Testa- tia verdades para agradar a m aioria. Adem ais, ele se
m ento se to rn a generalizada em algumas passagens. dizia Deus, o que era um a blasfêmia diante dos mais
O u seja, falam da situação com o um desprezo nacio- conservadores (Jo. 6:41-71; 7:1).
nal de Israel ao seu legítim o Messias. Talvez os que
Jesus não aceitou ser o tipo de M essias que a m aio-
pediam a crucifixão representassem um a considerá-
ria esperava. Ele não pregou a revolução contra os
vel parcela da tu rb a agitadora que, instigada pelos lí- rom anos, nem incitou os zelotes à guerra.
deres, pedia a Pilatos que condenasse Jesus (Luc. 22:2,
52, 54; 23:1, 4, 13, 35, 51; Jo. 12:42 e 43). Devido à crescente incredulidade, Jesus dim inuíra
a manifestação de milagres e curas na Galileia. Desse
Por outro lado, porém , tom ar a parte pelo todo era m odo, é bem provável que m uitos interessados so-
um a form a com um de expressão na m entalidade do m ente nesses aspectos, perdessem a m otivação para
antigo O riente M édio. A linguagem , de fato, implica segui-lo. Contudo, estando eles mesm os em Jerusalém,
num a responsabilidade coletiva pelo “lincham ento” para celebrar a Páscoa, uniram -se aos inim igos de Cris-
de um inocente. C ontudo, é possível en co n trar no to a fim de destruí-lo, pedindo sua m orte (Mat. 13:58;
pró p rio texto do N ovo T estam ento três fatores que Jo. 6:25-27). Os sonóticos apresentam , por exemplo,
inibem um a acusação generalizada e desautorizam o Sinédrio subornando testem unhas vindas de todas
qualquer atitude antissem ítica. as regiões do país para apresentarem perjúrios contra
Jesus, quando estivessem diante de Pilatos (Mat. 26:57-
Prim eiro: m uitos agiram , segundo a Bíblia,
68; M ar. 14:53-65 e Luc. 22: 66-71).
pela ignorância, levados pela consciência coletiva
(Atos 3:12-26).

Segundo: O que aconteceu foi perm itido p o r Deus


O calvário
para o cum prim ento de seus planos. (At. 2:14-39;
Dois lugares disputam hoje a identificação como
4:27-28; 13:16-41).
lugar original onde Jesus teria sido crucificado. Um
Terceiro: O povo é posteriorm ente cham ado ao seria a igreja do Santo Sepulcro, dentro da cidade ve-
arrependim ento, ou seja, se reconhecessem sua culpa, lha, e o outro o Jardim de G ordon, localizado no lado
Deus voltaria a perdoá-los individualm ente e daria a de fora, próxim o à porta de Damasco. A discussão é
cada um os m esm os benefícios salvíficos de qualquer longa e ainda não foi resolvida. Pode até ser que não
seguidor de Jesus C risto (At. 5:29-32; 7:52-53, 60). se trate de nen h u m desses lugares.

A ideia de que Jesus foi sepultado na igreja do


Por que Jesus foi Santo Sepulcro vem de um a tradição que rem o n ta à
Helena , mãe do Im perador C onstantino, que era uma
rejeitado? peregrina cristã. Eusébio de Cesareia foi o prim eiro
historiador cristão a fornecer algum a inform ação so-
O que teria, no entanto, levado as pessoas a apoia- bre o assunto. Ele disse que hom ens perversos haviam
rem a decisão do Sinédrio em pedir a pena de m orte coberto com terra o local do Calvário, construindo
sobre ele um tem plo para a deusa Vênus. C onstanti- P ortanto, am bos os lugares podem ter seu valor
no, p o rtan to , teria tirado dali a estrutura pagã e cons- espiritual para aqueles que querem relem brar a m orte
truído um a igreja para dem arcar o local da crucifixão do Senhor. M as não podem ainda possuir um a coàfir-
e ressurreição de Jesus. m ação arqueológica e histórica inquestionável. Não
se sabe hoje o local exato onde Jesus foi crucificado.
C ontudo, os desencontros de inform ação dentro
dos p róprios escritos de Eusébio e a atm osfera políti- Ao que tudo indica, a p rópria igreja cristã prim i-
ca com o tudo aconteceu, têm levado alguns a nutri- tiva não se preocupou m uito em apontar a exatidão
rem profundas suspeitas quanto a essa tradição. de alguns desses sítios. A prim eira razão é porque os
que viviam na cidade conheciam bem os locais e não
U m a segunda sugestão m ais recente foi feita
precisariam de m apas para apontá-los. Em segundo
no final do século XIX pelo teólogo O tto T h en iu s
lugar, alguns opinam que o fato do Novo T estam ento
e um certo G eneral G ordon. A m bos identificaram
não te r dado um endereço m inucioso de cada evento
um a pequena elevação rochosa, p róxim a à p o rta de
da vida de Cristo - diz apenas a cidade, mas não onde
Dam asco, do lado de fora da cidade, com o sendo o
dentro dela - se m otive no desinteresse dos próprios
lugar da condenação de Jesus. O pequeno penhas-
discípulos em fazer de determ inados pontos, centros
co tin h a dois grandes buracos que pareciam olhos
de peregrinação religiosa. Seu interesse estava volta-
e um a p arte erodida abaixo que parecia um a boca.
do para Jerusalém e o juízo final im inente. Eles não
Pela sem elhança com um a caveira, enten d eram ser
queriam que a geografia do evento se tornasse m aior
esse o lugar do Calvário.
do que aquilo que aconteceu naquele lugar. Seu inte-
Ali certam ente era um lugar utilizado para sepul- resse era proclam ar o fato de C risto e não dar detalhes
tam entos desse o período bíblico até os tem pos bi- m inuciosos de onde aconteceu.
zantinos. U m desses túm ulos poderia te r sido o de Assim, o que se pode dizer em term os históricos
Cristo. O problem a, porém , é que os desgastes da ro- ou geográficos é apenas o seguinte:
cha podem ter sido provocados posteriorm ente pelas
séries de guerras e terrem otos locais. Nada faz supor Calvário é a form a latina de Gólgota, que quer di-
que realm ente existissem nos tem pos do N ovo Testa- zer crânio ou caveira (Luc. 23:33).
m ento. Ademais, 0 túm ulo que G ordon pensou ser o
O lugar ficava fora dos m uros da cidade, m as não
de Cristo fora escavado e usado en tre os séculos VII
afastado dela (Mat. 27:33; Jo. 19:17-22; Heb. 13:12).
e VIII a.C., logo não condizente com a inform ação de
João 19:41, de que “era um túm ulo novo, onde nin- Perto do local havia um a estrada e um túm ulo
guém havia ainda sido p o sto ”. num jardim (M at. 27:39; M ar. 15:29; Jo. 19:41).
Poderia ser um local de certa elevação, pois os con- Luc. 23:33; Jo. 19:17). Essa é um a tradição posterior,
denados poderiam ser vistos à distância (M ar. 15:40; encontrada prim eiram ente nos textos de Cirilo de
Luc. 23:49). Jerusalém e do Peregrino de Bordeaux, am bos do 4o.
século d.C. Rufino, no século V, falava da “rocha do
Porém , nada na Bíblia indica que seria um m onte G ólgota”. M as apenas depois do século VI d.C. que
ou colina. Os evangelhos se resum em a cham á-lo de popularizou-se a tradição de fazer do calvário um a
“o lugar cham ado C alvário” (M at. 27:33; M ar 15:22; m o n tan h a sagrada com o o Sinai e o Horebe.

*f 1 ‫י‬:‫י‬Wi f f
W 1 0 fr γ ‫׳ י‬. . ‘‫ ד׳׳ י‬iFriBr 1 >7
‫י‬H ' 3SiX c
WÊa ‫ ׳■ ״‬I'm '
On -CΏ . m ais extrem a, mais cruel e angustiosa form a de puni-
ção”.115 Ele chegava até a evitar o uso da palavra crux,
que term in o u to rnando-se um a espécie de xingam en-
Fato importante to ou m aldição na sem ântica latina da época. Enfim ,
a p rópria pronúncia do term o não era de bom -tom .
Um detalhe apresentado por Mateus e Marcos leva
a crer que 0 local de execução de Cristo ficava à Em 63 a.C., Rabírio, um senador rom ano, foi acu-
beira da estrada, pois ambos mencionam a presen-
sado de alta traição e condenado à m orte de cruz. Cí-
ça de transeuntes que escarneciam de Cristo (Mat.
cero, então, saiu em sua defesa, argum entando que a
27:39, Mar. 15:29). Semelhante a essa ideia há um
simples m enção da palavra era algo inadm issível aos
curioso texto de Jeremias, que alguns autores inter-
pretam como sendo uma profecia messiânica. Ele ouvidos de um respeitado cidadão rom ano. Veja o
diz: "Não vos comove isto, a todos vós que passais que ele escreveu na ocasião:
pelo caminho?Considerai e vede se há dor igual a
‘O h ! Quão grave seria ser desgraçado publicam en-
minha, que veio sobre mim, com que 0Senhor me
afligiu no dia da sua ira" (Lam. 1:12). te p o r um a corte, quão grave seria sofrer um castigo,
quão grave seria ser banido. M esm o assim, em m eio
De acordo com uma tradição anotada desde 0sé- a um desastre, gozaríam os de certo grau de liberda-
cuio XVI em Beth hat Selzileh, uma gruta situada
de. M esm o se form os condenados à m orte, podem os
nas cercanias de Jerusalém seria 0 lugar onde 0
m o rre r com o hom ens livres. M as... a simples m en-
profeta escrevera esse oráculo, afirmando 0 que
seria visto, nofuturo, por aqueles que passassem ção da palavra cruz’ deveria ser rem ovida não apenas
naquele local. Seiscentos anos depois de Jeremias, da pessoa de um cidadão rom ano, mas até m esm o de
os romanos constroem diversas vias públicas e, ao seus pensam entos, olhos e ouvidos... A simples m en-
lado de uma delas, 0Filho de Deus é sacrificado ção dela é um desrespeito a qualquer cidadão rom ano
por amor à humanidade. ou hom em livre.”116

Talvez casos com o esse serviram de jurisprudên-


cia para que fosse criada um a disposição legal de que
173‫־‬
n en h u m cidadão rom ano, salvo em casos m uito ex-
cepcionais, pudesse ser sentenciado à m orte de cruz.
O horror da crucifixão N um outro processo envolvendo certo senador
p o r nom e M anio Lépido - quem conta sua história
Por causa da m orte de Cristo e a condição m ajo-
é C ornélio Tácito - , a defesa argum entou que a cru-
ritária do cristianism o no O cidente, a cruz torn o u -se
cifixão só deveria ser cogitada quando “nem a prisão
atualm ente um elem ento de respeito, proteção e re-
ou o garrote ou m esm o a m ais severa to rtu ra fossem
verência. C ontudo, nem sem pre foi assim.
adequadas para o condenado”117.
No tem po dos rom anos, a cruz era algo tão h o r-
A rigor, a m orte p o r crucifixão não era um a in-
rível que, nos m eios latinos, passou a designar todo
venção dos rom anos. De origens um tan to obscuras,
tipo de sofrim ento em geral. De acordo com um estu-
suas prática já era vista entre os persas e cartaginenses
do lexicográfico sobre a obra De Medicina, escrita por
por volta do século VI a.C.. Há quem diga que o empa-
Celso no século I d.C., as palavras mais relacionadas
lamento praticado pelos assírios no século VIII a.C. já
com sofrim ento hum ano são: puncio (dor latejante),
era um a espécie de crucifixão prim itiva, em bora fosse
tormentum (angústia m ental), dolor (dor) e a p ior de
feita apenas com um a estaca pontiaguda inserida no
todas, crucio ou cruz, para designar todo tipo de to r-
corpo da vítim a pelo ânus, vagina ou um bigo até que
tura infringida a alguém, seja ela física ou m ental114.
ocorresse a m o rte do torturado. A vítim a, atravessa-
N o âm bito jurídico, Cícero se referia variavel- da pela estaca, era deixada para m o rre r sentindo do-
m ente à cruz com o summum, supremum, ultimum ou res indescritíveis, que eram agravadas pela constante
crudelissimum taeterrimumque supplicium, isto é, “a sensação de sede.
Seja com o for, os rom anos gostaram da ideia e cificar”, “empalar” ou “suspender” são ambíguas em
praticaram a crucifixão p o r quase 500 anos, até a prá- algumas ocorrências, de m odo que o contexto deve ser
tica ser com pletam ente proibida p o r ordem de Cons- analisado em cada caso.
tan tin o no século IV d.C. Essa, contudo, não era a
O próprio Sêneca testem unhou no século I a exis-
única m aneira de p u n ir um delinqüente.
tência de diferentes tipos de cruz:
De fato, os rom anos tinham m uitas outras formas
“Ali eu vi cruzes ali, não de um tipo específico, mas
cruéis de executar um a pessoa. A degola seria o modo
de diferentes formas, feitas por diferentes pessoas. Al-
mais m isericordioso, reservado aos cidadãos apenas.
gumas tinham a vítim a suspensa com a cabeça caída em
Além dela, havia o dram a e as naumachias; em que o in-
direção ao solo; outras tinham um a estaca perfurando
divíduo m orria interpretando um a peça com batalhas
reais e o Damnatio ad bestias quando seria exposto num as partes íntim as e outras, ainda, estendiam os braços
circo para ser devorado vivo por animais selvagens.118 em um a peça de m adeira. Eu vi cordas, eu vi açoites. E,
para cada m em bro ou articulação específicos, mecanis-
Os desenhos desses m étodos, encontrados em m o- m os específicos causam ferim entos.”121
saicos dom iciliares, po r todo o im pério, faz supor que
essas form as de execução eram m ais aceitáveis que a Havia tam bém casos em que a quantidade de crucifi-
cruz, ausente dos m esm os quadros. A crucifixão era cados era tão grande que faltava m adeira e “improvisa-
um a condenação p ró p ria para crim inosos desprezí- ções” provavelmente eram feitas. Dois casos que levam
veis e escravos. N unca para hom ens livres. O dram a- a esse entendim ento foram a ação de Varo para sufocar
turgo Sêneca, escrevendo a seu am igo Lucílio, argu- um a rebelião judaica em 4 a.C., que levou a crucifixão de
m entava que preferia o suicídio à m orte de cruz119. 2.000 pessoas num só dia e o cerco de Jerusalém no ano
70 d.C., quando o general Tito crucificou tantos fugiti-
Se os rom anos viam com h o rro r a crucificação, o vos da cidade que não se podia encontrar “espaço... para
mesmo se dava com os judeus, em bora por motivos as cruzes, nem cruzes para os corpos”.122
diferentes. Considerando que as línguas hebraica e ara-
maica não faziam distinção entre “m adeiro” e “cruz”, en- Porém , de m odo geral, ainda que existam exceções
tre “enforcam ento” e “crucificação”, os judeus autom ati- e atividade semântica do term o, as evidências conver-
camente aplicavam aos crucificados a terrível declaração gem para a conclusão de que o costum e com um era
do Antigo Testam ento que diz: “O que for pendurado usar duas peças de m adeira na m ontagem de um a cruz.
no madeiro é maldito de Deus” (Deut. 21:23). Não é sem razão que a palavra latina crux dê origem
aos term os cruzar, cruzamento, cruzeiro e cruzado - to-
Sendo assim era de se esperar um a grande resistência dos com o sentido de atravessar, de fazer com que dois
judaica à pregação do evangelho. Eles não podiam crer elem entos passem um pelo outro.
que o Messias de Deus m orreria sob a maldição divina,
pendurado num madeiro. No dizer de Trifo, um judeu, O m esm o se pode dizer do term o grego staurós.
a quem Justino tentava apresentar a mensagem cristã: norm alm ente trazido po r “cruz” nas Bíblias modernas.
“Quanto a este ponto sou excessivamente incrédulo”120. Acredita-se que ele seja derivado da letra TA U, que na 5
form as mais prim itivas do alfabeto fenício, grego e he-
braico era desenhada na form a de um X ou de um T
Formato da cruz Logo, stauros seria originalm ente algo como “na forma
de T A U ” ou na form a de X e T.
M uitos autores debatem acirradam ente sobre o
form ato da cruz de Cristo, havendo quem diga que U m a passagem atribuída ao escritor sírio do século
ele m orreu de braços abertos - conform e os quadros II, Luciano de Samosata, traz essa inform ação que con-
tradicionais do cristianism o - ou, então, pregado num corda com essa versão sobre a origem do term o:
único poste com as mãos juntas acima de sua cabeça.
“As pessoas choravam e m urm uravam acerca do sen
Deve-se adm itir que tanto a term inologia grega,- destino e algumas vezes amaldiçoavam a Cadmos [o su-
quanto a latina para as palavras “cruz”, “estaca”, “cru­ posto inventor do alfabeto], por ter trazido o Tau para
o conjunto de letras. A razão era que os tiranos se inspi-
ravam nesta figura [o T ou X] e imitavam seu formato,
ajuntando duas vigas no mesmo form ato a fim de cruci-
ficar pessoas nelas. É a partir deste [TAU] que o maldito
nom e [staurós] é ligado ao maldito instrum ento. Pois a Cruz s im p le x
cruz [staurós] foi criada a partir desta letra [o TAU], de (ou stip e s)
m odo que assim as pessoas a chamam.”123

Assim, segundo dados históricos, os autores m o-


dernos geralm ente falam de quatro tipos de cruzes: a
comissa (em form a de T), a decussata (em form a de X),
a grega (em form a de + ) e a immissa (em form a de t).
Com o se pode ver, a últim a delas se refere àquela cruz P a tib u lu m
tradicionalmente vista nos diversos quadros e pinturas (ou fu rca )
da cristandade. Ela tam bém é chamada de cruz latina.
Sua escolha se dá devido a vários detalhes apresentados Cruz co m p a cta
nos evangelhos canônicos.

Prim eiram ente percebe-se que som ente ela e a cruz


grega perm itiam a colocação de qualquer placa acima da
cabeça do indivíduo, conform e a Bíblia diz que ocorreu
no caso de Jesus. Era norm al que o condenado levasse
Cruz im m issa
em seu pescoço um a tabuleta narrando o seu crim e ou
(ou c a p ita )
o m otivo porque fora crucificado. Essa tabuleta tinha
o nom e latino de titulus e, no caso de Jesus, é dito que
ela fora fixada po r cima de sua cabeça, logo, deveria
haver um prolongam ento da m adeira acima dele (Mat.
27:37).

As cruzes, especialmente nos prim eiros tem pos,


tendiam a ser baixas. Som ente em situações especiais,
em que o governador desejava to rn a r excepcionalmen-
Cruz co m m isso
te exem plar e pública a condenação, o poste vertical era
(ou ta u )
elevado acima do norm al. Este foi o procedim ento no
caso de um crim inoso, para o qual Galba m andou que
se erguesse um a cruz bem alta e que a pintasse de bran-
co para ficar bem visível a todos124.

A cruz de Cristo tam bém parecia ser alta. De acor-


do com João 19:29 e 34, os soldados precisaram de um
caniço para alcançar sua boca com um a esponja m o-
lhada em vinagre e um a lança (não um a espada) para
d e cu ssa ta
perfurar-lhe a costela. A cruz grega nunca ultrapassava
a altura de dois m etros, para facilitar o ataque de lobos
e hienas que dilaceravam a carne dos condenados nesta
form a de m artírio (damnati ad bestias) 125. Por isso, a
cruz latina ou immissa seria a que mais se encaixa no
relato evangélico da m o rte de Jesus.
‫ זהדדיק‬37 .‫ בדקכלי בר‬zzvsn
Enciclopédia Histórica da Vida de Jesus
ΙΗΣΟΥΣNAZOÍCEfiíSAEYI OMQM
lESVS N‫־‬sZTv\Js\?SEK JVEfiCKVM
n i Ga - f r j - .......... ........................ :1 ‫׳‬ P
C ‫כ‬
c ‫נ‬

° Fato im portante ^
Conforme já fo i dito, as cruzes romanas geralmente possuíam duas partes. No caso
específico da immissa, havia 0 stipes também chamado de palus, que era a parte vertical da
peça. Ela geralmente ficava fix a no local ou poderia ser montada onde a cruz seria erguida.
Cruzando-a horizontalmente na parte superior havia 0patibulum que era 0 travessão, por
sobre 0 qual os braços do condenado seriam estendidos.

N 0 local da crucificação, é provável que 0 stipes permanecesse deitado no chão à espera da


parte que lhe completava. Sobre ele, então, fixavam 0patibulum e, em seguida, pregavam
a vítima. Depois soerguiam a peça inteira até que caísse com violência num buraco previa-
mente preparado para estefim . Esse movimento provocaria intensa dor no crucificado.
o ' d
c ‫כ‬
C p
□+ 175 ^ ‫ — ׳‬:‫״‬....;;............................................................ ::::: ΓΓ^τ Ε

c , ...... ‫־‬..‫־‬ ‫ ־‬, ^.,| ,c 9 ‫ח‬


Ο
cj Jb

° Você sabia? c
Ao contrário do que diz a tradição de muitos círculos do cristianismo, não há
evidência alguma de que Jesus tenha carregado toda a cruz até 0Calvário. Todos
os dados históricos até agora levantados pelos pesquisadores levam a crer que
apenas 0patibulum ou 0 travessão era carregado pelo condenado.

Uma evidência de que este era 0costume normal das execuções romanas pode ser
visto em dois trechos de uma comédia latina escrita por Plauto dois séculos antes
de Cristo. Em ambos, ele menciona que 0condenado carregava 0patibulum pela
cidade e depois era amarrado à estaca vertical perfazendo a form a de cruz
( crux)126.

A peça se chamava Miles Gloriosus, e nela um soldado fanfarrão descreve 0


processo de crucificação aplicado pelos romanos. Elefa z menção a duas peças de
madeira, 0stipes, tronco, estaca vertical, fincada no solo e 0 patibulum, a viga
transversal. Então comenta com ironia “isto é para ti, que hás de morrerfora da
porta, de mão estendida, depois de trazeres 0patibulum”.

Essa descrição é confirmada mais tarde por Justino, 0Mártir, um escritor


cristão que viveu no século II. Ele compara 0Cristo crucificado com a postura
de Moisés de abrir os braços na guerra contra os amalequitas (Êxodo 17): “Com
efeito, uma haste da cruz se ergue verticalmente e dela surge a parte superior,
quando se ajustou a haste transversal.”127
P C
c ‫ר‬
ü 0
:3 r = = ^ 7- z 1 = . : — : - j r h r g í b
M as a intervenção de José de A rim ateia, som ada à
S in g u la rid a d es judiciais condição religiosa da festa de Páscoa e à Providência
divina não perm itiram que o corpo de Jesus tivesse
Os detalhes apresentados no relato do N ovo Tes-
esse fim. Além de Jesus, existe apenas um outro caso
tam ento acerca da crucifixão de Cristo condizem com
na história que atesta a exceção de um crucificado
a docum entação descoberta dos antigos procedim en-
com direito ao sepultam ento.
tos rom anos. Apenas dois elem entos não encontram
paralelo na literatura latina.

O prim eiro diz respeito ao ato dos soldados darem


v inho ou vinagre para Jesus beber, a fim de m inim i- 0
c
zar seu sofrim ento. Há quem suponha que tal bebida
Fato importante
seria a fam osa Posca - um a m istura de vinagre e água
m uito com um no m eio m ilitar rom ano. Com base em relatos antigos do império, é
possível se ter uma ideia de quantas pessoas
Porém , não existem indícios de que havia tal cos- os romanos crucificavam num curto espaço
tum e entre os rom anos, isto é, de oferecer anestésicos de tempo:
para qualquer tipo de condenado. Apenas a literatura
Na revolta de Espartacos de 71 a.C., os roma-
judaica posterior entendia ser um gesto de m isericór-
nos crucificaram 6.000 rebeldes na estrada
dia oferecer a um condenado um copo de vinho m is- que ia de Roma a Capua.
turado com m irra ou incenso a fim de que ele perdes-
se a consciência e tivesse sua dor dim inuída128. Na revolta judaica do ano 7 d.C., Çhiintílio
Varo, legado romano da Síria, crucificou de
A razão de Jesus não ter aceito a bebida oferecida uma só vez 2.000 judeus diante dos muros de
parece estar no fato de que ele não queria perder sua Jerusalém.
consciência, a despeito da dor que sentia. Difícil, no
E, finalmente, durante 0cerco da cidade de
entanto, é saber por que os soldados tiveram este gesto. Jerusalém no ano 70 d.C., Tito costumava
crucificar por dia 500 homens, mulheres e
Alguns autores pensam que seria igualm ente um
crianças, numa barbárie que durou meses.
ato de m isericórdia, considerando que alguns rom a-
nos, com o o centurião, adm itiram ser Jesus o Filho
de Deus ou pelo m enos um hom em justo (Mat. 27:54; CΠ-ζΓΤ‫־‬ -C j
M ar. 15:39; Luc. 23:47).

O utros, com base em João 19: 29, entendem que


seria outro gesto de escárnio, talvez o pior de todos. Encontrando um
G eralm ente, nos banheiros públicos rom anos, era co-
m um o indivíduo usar um caniço com um a esponja cru cifica d o
do m ar na ponta, a fim de lim par-se, após o uso da
latrina. Esse instru m en to era cham ado Tersorium e Em junho de 1968, um ano após a guerra dos seis
considera-se que ficava disposto dentro de um vaso dias, tropas israelenses ocuparam Jerusalém e dali co-
m andaram as novas construções da parte central do
com vinagre, po r questões de assepsia129. Se assim for,
país. D istante pouco mais de 2 km da cidade velha,
sua intenção era, novam ente, hum ilhar Jesus.
havia um lugar cham ado Givat há M ivtar (Colina da
O segundo elem ento diferencial da m orte de Jesus F ronteira), que o governo m andara aplainar com o
foi o fato de seu corpo te r sido rem ovido da cruz e fim de construir um conjunto habitacional para colo-
liberado para ser sepultado. O norm al, neste caso, era nos judeus que vinham de toda a parte. Então, aciden-
deixar o corpo lá p o r dias (a fim de servir de exemplo) talm ente, os tratores bateram em algumas rochas que
e, depois disso, jogar a carcaça em um lixão a fim de revelaram ser 15 túm ulos judeus contendo os esque-
ser consum ido pelos anim ais e pela putrefação. letos de 25 pessoas.
ser exam inados). P or m eio dela, reconstituiu-se um a
das prováveis form as com o os rom anos crucificavam
as pessoas.

A posição do crucificado
A p rim e ira reação causada pelo achado de Givat
há M ívtar foi de espanto. E m bora houvesse algu-
m a discordância q u an to à reco n stitu ição ú ltim a da
m o rte de Yohanan, todos eram unânim es em afir-
m ar que ele fora realm en te crucificado e que in d í-
cios apontavam para um a posição nada condizente
com as im agens produzidas pela piedade c ristã 130.
C on tu d o , eram consistentes com certos detalhes re-
feridos nos evangelhos:

As p ernas estavam quebradas e, de acordo com


O Dr. Vasilius Tzaferis, diretor do departam en- Haas, isso teria ocorrido com o indivíduo ainda vivo.
to de A ntiguidades e M useus do Estado de Israel, foi Para o u tro s foi um evento post-mortem. Seja com o
ao local e constatou, depois de m uitas pesquisas, que for, não é inverossím il cogitar que fora aplicado ao
eram túm ulos que podiam ser datados desde 70 a.C. sujeito o ato do crurifragium, isto é, q uebrar as per-
até 70 d.C. Sua atenção voltou-se m ais especialm ente nas do indivíduo quase na h o ra de sua m orte. Para
para um a caixa que continha a ossada de um a crian- alguns isso p rev e n iria a fuga, p ara o u tros, apressaria
ça e um jovem adulto. Fora estava o nom e aram aico a m o rte do condenado p o r asfixia. De acordo com o
Yehohanan ben Hagakol que m uito provavelm ente se relato de João 19:32, os ladrões que estavam cruci-
refira ao mais velho dos esqueletos. O m ais interes- ficados com C risto tiveram suas pernas quebradas
sante, porém , é que a ossada do adulto possuía um pelos rom anos, m as Jesus, p o r já estar m o rto , não
cravo atravessando um dos calcanhares - um indício teve seus m em bros golpeados.
claro de que aquele sujeito m o rreu crucificado e, po r
A presença de um prego de 11,5 cm feito de fer-
algum a excepcionalidade, à sem elhança de Jesus, teve
ro, perfurando o calcanhar e com traços de m adeira
seu corpo retirado do m adeiro e posto para ser devi-
nas duas extrem idades, confirm a que as pessoas eram
dam ente sepultado.
m esm o “pregadas” no m adeiro. Aliás restos de m adei-
O Dr. N iqu Haas, um rom eno que na época era ra de oliveira encontrados no prego levaram Haas a
diretor da Seção de A natom ia na Faculdade de M edi- supor que oliveiras poderiam servir de m atéria-pri-
cina da U niversidade Hebraica, pediu para exam inar m a para a fabricação de cruzes em Jerusalém , já que
o esqueleto e não som ente confirm ou a m orte po r outras árvores são trem endam ente escassas. Alguns
crucificação, m as concluiu ainda que se tratava de um chegaram a cogitar se a oliveira não seria, igualm en-
jovem de 20 a 30 anos, com 1,65 de altura, que usava te, a m adeira original da p rópria cruz de Cristo. Mas
barba e jam ais realizara qualquer trabalho árduo (o quanto a isso não há dados que perm itam um a afir-
que indica pertencer a um a classe abastada). Sua única m ação conclusiva.
deform idade física era 0 palato m eio to rto e um a sali-
O prego to rto fixado no calcanhar tam bém evi-
ência no crânio devido, talvez, a problem as de parto.
denciava que, diferente do que se cria, os pés não
Esta é a prim eira e única ossada inteira que se tem eram sobrepostos um sobre o outro, mas fixados com
de um hom em que m o rre u crucificado (há outras, pregos distintos. Am bos ficariam posicionados late-
m as com ossos m uito fragm entados, im possíveis de ralm ente, um de cada lado do m adeiro.
Sobre as m ãos, a evidência é inconclusa. Para Haas, m inim izado se for entendido que o corpo tam bém
existem m arcas en tre o cúbito e o rádio do antebraço, poderia ser am arrado p o r cordas, em bora isso ainda
que indicam perfuração p o r pregos. M as Zias e Seke- seja um assunto controverso. Adem ais, a presença de
les, que tam bém exam inaram os ossos, entenderam um pequeno banco ou plataform a cham ado sedicula
que não há indícios conclusivos quanto à presença de sustentava o peso, im pedindo sua queda para frente.
qualquer lesão traum ática do antebraço e m etacarpos
O condenado ficava provavelm ente nu, com as ná-
da mão. Isso os levou a sugerir que os braços do con-
degas apoiadas sobre a sedicula. Seus braços poderiam
denado foram am arrados em vez de pregados na cruz.
estar atados ao m adeiro ou pendurados em V num
Logo, é m ais provável que Yohanan estivesse prega-
ângulo de 60 ou 70 graus.
do nos calcanhares, mas com os braços am arrados no
travessão superior. M as é preciso sem pre lem b rar os já m encionados
testem u n h o s de Sêneca e Josefo sobre o fato de ha-
A iconografia cristã geralm ente m ostra os pregos
v er m uitas form as de crucificação. N ada indica que
nas palm as das m ãos de Jesus e não nos punh os ou Jesus e o h o m em encontrado em Givat há M ivtar te-
antebraços. C ontudo, é im portante dizer que ne- n h am sofrido da m esm íssim a form a. Inclusive, há
nhum dos evangelhos descreve com precisão o local o u tro achado arqueológico que pode assegurar essa
dos cravos, se nas m ãos ou nos punhos de Jesus. A diversidade.
razão disso talvez seja que o term o hebraico usado
para “m ão”, yad, e traduzido po r cheir em grego, tem
um significado am plo, podendo se referir à “m ão” e ao Grafites da cruz
“braço” (Êx. 4:2; Jer. 38:12; Jo. 20:25).
U m curioso grafite foi en co n trad o na parede
A dificuldade para alguns é que as palm as das mãos de um dos alojam entos de estudantes im periais no
não sustenta o peso de um corpo. M as isso pode ser M o n te Palatino em Rom a. D isposto atualm ente no
Outro curioso desenho foi encontrado em 1959 num
C om m ons

grupo de oito tabernas escavadas em Puteoli, Itália. Ele


encontra-se na taberna 5 e é um ou dois séculos mais an-
Público / W ikim edia

tigo que o de Alexamenos. Ali está retratada a imagem de


40x26 cm, contendo uma m ulher crucificada. Acredita-
-se que, neste caso, 0 desenho seja dos tempos de Adria-
no, o que faz supor que a m ulher seria um a das muitas
vítimas de sua batalha contra os judeus de Bar Kochba.
Public Domain / W ikim edia C om inonsD oim nio

O nom e da m ulher, inscrito sobre o lado esquerdo


da im agem e acim a do om bro, era Alkimila. O fato
do nom e estar escrito nessa posição indica mais um a
m aldição p o r parte de quem fez do desenho do que
um a recordação de um fato histórico. A condenada
ainda ostenta riscos nas costas, provavelm ente indi-
cando um flagelo causado p o r açoites.

Não há, contudo, nen h u m indício, nesse caso, de


que se tratasse de um a m ulher cristã. A contribuição
desse achado é a de conferir evidência descritiva so-
bre o form ato da cruz rom ana.

H a.
M useu A ntiquário do Palatino, ali está o desenho
C 0
satírico do século III feito provavelm ente p o r um c ‫נ‬
adolescente estudante da escola im perial. Ele m os-
tra um m en in o em pé, em p o stu ra de adoração, com
Fato importante
um a m ão levantada. O objeto de sua devoção é um a Por mais de 35 anos, Frederick Zugibe, conceitua-
figura em um a cruz, um ho m em com a cabeça de um do perito criminal e professor da Universidade de
jum ento. D ebaixo dele está rabiscado: ‫״‬A lexam enos Columbia, procurou dissecar a morte de Jesus com
adora seu D eus.” a objetividade científica da medicina.

A interpretação de m uitos é que naquele lugar es- A fim de saber não só a causa mortis de Cristo,
tava um jovem cristão cham ado Alexam enos, que por mas se os pregos realmente se rasgariam com 0
peso do corpo, elefe z experimentos, usando um
causa de sua fé era ridicularizado pelos demais. O ges-
número de voluntários que aceitassem ficar sus-
to do garoto e o fato do condenado estar crucificado
pensos numa cruz por várias horas e em diversas
lança luz sobre a form a da crucifixão nos tem pos anti- posições. Nenhuma delas mutilava a carne ou
gos e com o os cristãos da época im aginavam a m orte danificava 0corpo. Zugibe utilizava luvas espe-
do Senhor. Afinal, a caricatura certam ente era feita ciais de couro para “pregar”as mãos no madeiro.
com base naquilo que os cristãos diziam acreditar. A A fim de demonstrar que um cravo pregado
cruz assem elha-se à immissa e possui duas partes. Os nas mãos podia suportar 0peso de vários quilos,
braços do condenado se acham estendidos sobre o em outra experiência, usou braços cortados de
patibulum e suas pernas apoiadas num a pequena pia- cadáveresfrescos, cravando-os pelos dois pontos
e colocou pesos neles. Muitos dizem que ele provou
taform a fixa no m adeiro.
sua teoria, mesmo que seu método seja considera-
A firm a-se que o utra inscrição feita p o r um a m ão do um tanto repulsivo.
diferente foi encontrada no m esm o sítio com os di- c ‫ר‬
G Ο
zeres ‫״‬Alexam enos fiel.” Talvez isso foi sua p rópria
resposta ao desenho cruel.131 T Jtrí n . ‫־כדסי‬
m ₪ Ê Ê Ê Ê Ê ₪ B S₪ ₪ ₪ Ê B Ê ₪ Ê ^Ê I^^

Sepultamento rocha, para sepultar seus entes queridos. De acordo


com a Bíblia, foi a benevolência de José de Arima-
O sepultam ento de Jesus seguiu de p erto o ritual teia, influente m em bro do conselho, que possibilitou
a C risto um sepultam ento com dignidade.
fúnebre judaico do século I. C ontudo, considerando
sua posição cam pesina e sua origem pobre, ele não Os túmulos de pessoas mais abastadas eram cavados
teria condições financeiras de te r um túm ulo nas nas rochas e encostas das colinas, ficando fora dos mu-
imediações da cidade de Jerusalém . Som ente pessoas ros da cidade. Uma pedra bem talhada servia de bloque: c
m uito ricas poderiam ter condições de com prar um para a entrada da gruta onde o corpo ficava depositado,
terren o , na verdade, um a gruta natural ou cavada na sem a possibilidade de ser maculado por estranhos.
D entro do túm ulo geralm ente havia um ou mais nos ossuários, que eram , p o r sua vez, colocados nos
com partim entos para 0 depósito de um corpo recém - vãos m enores, ocupando, assim, m en o r espaço.
-falecido e am bientes m enores serviam para a coloca-
U m ossuário poderia conter ossadas de vários
ção dos ossuários ou pequenas caixas de pedra. O pro-
m em bros da m esm a família, que poderiam ou não
cesso de um funeral complexo. Após todo o ritual de
te r os seus nom es escritos na tam pa ou na lateral da
choros, lam entos e luto, o corpo era lavado, perfum ado
caixa. E um túm ulo poderia ser várias vezes utilizado
e colocado com bandagens de linho dentro do túm ulo
p o r diferentes m em bros de um a m esm a família. Essa
que então era lacrado. Por questões de purificação ce-
condição esclarece o com entário de João 19:41: “No
rim onial, todos os objetos usados no rito - lam parinas,
lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim , e
vasos de azeite perfum ado e pedaços de tecido, eram
no jardim , um sepulcro novo, onde ninguém jamais
deixados no lugar. Nada era levado para casa.
havia sido colocado.
Pelas mesmas razões da não contaminação religiosa,
Com o não havia transferência de túm ulos de um a
geralmente eram as mulheres que faziam esse serviço
fam ília para outra, José de A rim ateia apenas "em-
fúnebre. Afinal, pelas regras da época, elas não tinham
prestara” o túm ulo para ali depositarem o corpo de
tantas obrigações cerimoniais como os hom ens e po-
Jesus até a época de tran sp o rtarem seus restos m or-
deriam passar mais tempo em casa se purificando. Mas,
tais para Nazaré, sua cidade de origem . Portanto, se-
talvez por causa da urgência do rito e da pressa em tirar o
gundo os costum es da época, caso Jesus não houvesse
corpo de Cristo da cruz, Nicodemos e José de Arimateia
acabaram participando em atividades que norm alm ente ressuscitado, seus ossos teriam sido posteriorm ente
eram designadas às mulheres (Jo. 19:38-40). colocados num ossuário e rem ovidos para lá, onde
estariam sepultados os demais m em bros de sua fam í-
Algum tem po depois - geralm ente um ano - , cer- lia, eles não ficariam de m odo algum em Jerusalém .
to parente que ficara responsável pelo corpo retirava Aliás, foi exatam ente assim que ocorreu no caso de
o lacre da entrada e, com autorização oficial, rem ovia José, que teve seus ossos levados para fora do Egito
os ossos para depositá-los nas caixas de pedra - ou assim que os hebreus saíram das terras de Faraó.
1 ‫ ף‬° 'i ‫־‬f 5
O ‫ג׳‬
c ‫ב‬

Fato importante
Você sabia?
Âo todo já foram encontrados e catalogados
917 ossuários escavados nos arredores de Os judeus do tempo de Jesus não enterra-
Jerusalém, fora os túmulos e inscriçõesfeitas vam seus mortos. Eles depositavam 0 corpo
em objetos que estavam dentro de um contexto dofalecido em cavernas preparadas para
funerário. Dos 917 ossuários catalogados isso. De igual modo, 0 sepultamento não era
por Rahmanie publicadas pelo Instituto de completado no momento da morte.
Antiguidades delsrael, 231 (25,2%) tinham
Somente no dia em que os ossos eram depo-
inscrições com nomes gravados do lado defora
sitados nos ossuários de pedra, cumpria-se
na tampa ou na lateral. Destas, dez traziam
literalmente a expressão que dizia “0 morto
claramente o nome Jesus. AmósKloner,
finalmente encontrou os seus mortos”. E
arqueólogo israelense, declarou haver ainda71
somente nesse dia, tinha-se por cumprido 0
objetos tumulares que também traziam 0 nome
rito de um sepultamento. Ou seja, a pessoa
de Jesus além de um ou dois casos em que havia
só era defato sepultada por completo meses
0claro complemento “filho de José". Portanto,
depois de sua morte.
não seria uma coincidência tão improvável
encontrar em alguns ossuários os homônimos Este procedimento cultural ajuda a entender
de Josée Jesus. 0estranho pedido de um jovem a Cristo que
solicitou primeiro sepultar seu pai e, somente
depois, seguir a Cristo. A recusa do Mestre,
seguida da enigmática expressão “deixa os
mortos sepultar os seus mortos”(Mat. 8:22),
talvez indique que, naquele caso, não se
tratava de alguém deixando 0velório de seu
pai para seguir a Cristo. Antes era um jovem
que, preferindo os cuidados desta vida, deu
uma desculpa dizendo que preferia esperar
a morte de seu pai e os meses que se seguiriam
até seu sepultamento final para, somente
então, vir e seguir 0Mestre.

A ressurreição
Os discípulos estavam trem endam ente desanima-
dos pelos últim os acontecim entos. Seu M estre havia
sido m o rto e o corpo estava agora posto sem v ic!
n u m sepulcro. T oda esperança depositada no m ovi-
m ento parecia ter sido arruinada.

Jesus, no entanto, havia dado claras declarações a


que aquilo haveria de ocorrer. Ele tinha dito o qve
haveria de sofrer em Jerusalém e com o ressuscitaria te tudo o que registrou na m ente foi que o corpo do
no terceiro dia. M as eles não pareciam te r entendido Senhor havia desaparecido. Ela correu para contar
suas palavras. aos apóstolos e, encontrando Pedro e João, disse a
eles: "Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos
D om ingo, de m adrugada, M aria M adalena e algu-
onde o puseram ” (Jo, 20:2).
mas outras m ulheres fiéis foram ao sepulcro do Sal-
vador, levando especiarias e unguentos para com ple- Pedro e João correram até o local e confirm aram
tar a unção iniciada quando o corpo do Senhor foi realm ente que o sepulcro estava vazio, vendo “no
apressadam ente colocado na tum ba antes do sábado chão os lençóis (...) e que o lenço, que tin h a estado
que se aproxim ava. Para surpresa delas, o lugar pa- sobre a sua cabeça (...) estava (...) enrolado num lu-
recia te r sido violado. A pedra que lacrava a entrada gar à p arte”.1 João aparentem ente foi o prim eiro a
estava rem ovida e o túm ulo vazio. com preender a m agnífica m ensagem da ressurreição.
De acordo com o relato, dois anjos declararam : Ele escreveu que “viu, e creu”, ao passo que os outros
“Por que buscais o vivente entre os m ortos? Não está até aquele m om ento "ainda não sabiam a Escritura,
aqui, mas ressuscitou. Lem brai-vos com o vos falou, que era necessário que [Jesus] ressuscitasse dentre os
estando ainda na Galileia, dizendo: C onvém que o Fi- m o rto s” (Jo. 20:8-9).
lho do hom em seja entregue nas m ãos de hom ens pe-
Pedro e João partiram , mas M aria perm aneceu
cadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite”
ali chorando. Nesse ínterim , os anjos reto rn aram e
(Luc. 24:5-7; Cf. M at. 28:6-7).
p erguntaram ternam ente: "M ulher, p o r que choras?
C onform e os anjos lhe instruíram , M aria M adale- Ela lhes disse: Porque levaram o m eu Senhor, e não
na olhou para dentro do sepulcro, m as aparentem en­ sei onde o puseram ” (Jo. 20:13). Naquele m om ento, o
próp rio Cristo ressurreto aparece e lhe diz: “M ulher, 6) Os cristãos seriam os mais infelizes de todos
po r que choras? Q uem buscas? Ela, cuidando que era os hom ens (v. 19), pois sua esperança está no fato de
o jardineiro, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize- que, se C risto realm ente ressuscitou dos m ortos e é
-m e onde o puseste, e eu o levarei” (Jo. 20:15). “as prim ícias dos que dorm em ” (v. 20), então têm -se
assegurado que os que o seguirem podem contar com
Ao reconhecer que era Jesus e não o jardineiro, M a- a ressurreição final.
ria M adalena tornou-se a prim eira pessoa a ver e a falar
Além disso, Paulo e todo o restante do N ovo Tes-
com Cristo ressuscitado. M ais tarde, naquele m esm o
tam en to falam da ressurreição com o um evento sem
dia, Ele apareceu a Pedro, em Jerusalém ou arredores; a
igual. U m a ocorrência dentro da história, mas que, ao
dois discípulos na estrada de Emaús e, à noite, a alguns
m esm o tem po, rom pe 0 âm bito dos acontecim entos
dos apóstolos reunidos no cenáculo e a outras pessoas.
e os ultrapassa. A ressurreição de Cristo não foi, por-
“Vede as m inhas mãos e os meus pés, que sou eu mes-
tanto, apenas a reanim ação de um cadáver sem vida.
m o; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne Não se trata do m esm o evento que ocorreu com ou-
nem ossos, como vedes que eu ten h o ”. Depois, para tro s personagens bíblicos com o a filha de Jairo (cf.
convencê-los ainda mais, “não o crendo eles ainda po r Mc. 5, 22-24) ou Lázaro (cf. Jo. 11, 1-44), que foram
causa da alegria, e estando m aravilhados”, ele com eu trazidos de volta à vida p o r Jesus, mas que, m ais tarde,
peixe e um favo de mel diante deles. Mais tarde, Cris- n u m certo m om ento, m o rreram novam ente.
to os instruiu dizendo: “Ser-m e-eis testem unhas, tanto
Em síntese, se a ressurreição de Cristo realm en-
em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até
te aconteceu, tem os aí um a im p o rtan te alegação que
aos confins da terra” (At. 1:8).
suscita vários outros elem entos. Com o um a corrente
de afirmações.
A importância da Se Cristo, de fato, ressuscitou dentre os m ortos
ressurreição conform e diz a Bíblia, então não se pode duvidar da
existência de Deus e sua intervenção neste m undo.
A ressurreição de C risto é, sem dúvida, um dos fa- A creditar na ressurreição implica acreditar em Deus.
E, um a vez que Deus realm ente existe, e Ele criou o
tos mais intrigantes e significativos da história. Ela
universo e tem poder sobre o m esm o. Ele tem o po-
é tão essencial para o cristianism o que o a p ó s to lo
der para ressuscitar Jesus.
P a u lo c h e g o u a escrever: “Se C risto não ressuscitou,
a nossa pregação é vazia, e vazia tam bém a vossa fé” Uma vez que Deus tem poder e estava em Cristo, ele é
(IC or. 15, 14). um ser moralmente digno de nossa adoração. Não apenas
porque nos criou, mas também porque nos ama e inten-
E ele delineia, neste m esm o capítulo de I C oríntios ta nos salvar. Finalmente, a ressurreição de Cristo é um
15, as conseqüências para o cristianism o, caso a res- testemunho da ressurreição de seres humanos, e um a evi-
surreição não houvesse ocorrido: dência singular da doutrina cristã. Ao contrário de outras
religiões, o cristianismo possui um fundador que trans-
1) pregar sobre C risto seria em vão (v. 14);
cende a m orte e prom ete que os seus seguidores farão o
2) fé em Cristo seria vã (v. 14); mesmo. Todas as outras demais seriam fundadas por ho-
mens e profetas cujo fim foi o túmulo.
3) todas as testem unhas e pregadores da ressurrei-
ção - incluindo ele m esm o - seriam m entirosos (v. 15); O túm ulo vazio de C risto significa que ele hoje
vive e se senta à direita do Pai, no Céu, de onde volta-
4) ninguém poderia ser redim ido do pecado, pois rá para levar os justos de volta ao paraíso.
a m orte de Cristo não passaria de um m artírio. Não
seria um evento red en to r (v. 17); Fato ou lenda?
5) todos os cristãos que dorm iam , isto é, m o rre- T eria Jesus realm ente ressuscitado dentre os m or-
ram , teriam perecido para sem pre (v. 18); tos? Existem razões para se crer na história do túm ulo
vazio? Jesus, respondendo ao incrédulo Tomé, disse curador Pôncio Pilatos entregou ao suplício.” Anais
que felizes eram os que não viram e creram. Mas isso XV, 44.
não significa ter deixado Tomé e demais “não especta-
Com tais elementos em mente, testifica-se não
dores” sem qualquer evidência desse grandioso evento.
apenas a existência de Jesus Cristo, mas a tradição
Escrevendo em cerca do ano 56 de nossa era, o bastante antiga de que ele havia mesmo ressuscitado
apóstolo Paulo menciona que mais de 500 pessoas dos mortos. Logo, devemos aceitar que houve uma
testemunharam a ressurreição de Cristo e muitas de- história ou um depoimento tradicional acerca do de-
las estavam ainda. Sua declaração está em I Coríntios saparecimento do corpo de Cristo que nos vem, desde
15:6 e significava um desafio aos que ainda duvida- os dias dos apóstolo, tornando-se conhecido até mes-
vam, pois poderiam consultar pessoalmente aqueles mo de pessoas fora do círculo cristão.
que viram e conversaram com o senhor ressurreto.
Não é por menos que uma pedra descoberta em
Essa evidência histórica que se vale de tantas 1930, em Nazaré, e que hoje fica na coleção do Museu
testemunhas é mais que suficiente para satisfazer a do Louvre em Paris, menciona um decreto de um dos
curiosidade de um inquiridor honesto! E, diga-se de Césares, estipulando que nenhum corpo deveria ser
passagem, o próprio apóstolo Paulo fora um inqui- removido do túmulo para benefício político pessoal.
ridor da fé cristã. Ele não testemunhou pessoaimen- Esse talvez seja o mais antigo testemunho imparcial
te o fato da ressurreição e se tornou um dos mais aa ressurreição, baseado nos comentários externos de
céticos e ferrenhos inimigos do cristianismo. Porém que os discípulos teriam roubado o corpo de Cristo e
se deu por satisfeito diante dessa evidente nuvem de criado a história da ressurreição.
testemunhas oculares. E quanto a nós que não vimos
nada do que aconteceu nem podemos mais entrevis-
tar as testemunhas?
Um engodo?
Frank Morison, que era um jornalista agnóstico, O antigo livro judaico Toledoth Jesu, dedicado a
fez a mesma pergunta e resolveu escrever um livro combater o cristianismo - já trazia a acusação de que
refutando a ressurreição de Cristo. Porém, após anos os discípulos tinham roubado o corpo para forjar a
de investigação, suas opiniões mudaram e ele mes- prova de uma sepultura vazia. Mas, sendo assim, a
mo se tornou de ateu a seguidor apaixonado de Jesus pergunta óbvia seria: se os discípulos houvessem in-
Cristo. O livro finalmente saiu, mas com um con- ventado aquela história, por quanto tempo consegui-
teúdo bem diferente daquele intentado no começo. riam manter o seu segredo? Note que no grupo havia
Seu título acabou sendo “Who moved the stone?” Ou pessoas de todas as idades, posição social e sexo.
',Quem moveu a pedra?”
Logo, quanto tempo os discípulos conseguiriam
Morison descobriu que Jesus foi morto realmen- manipular essa gente para repetir a mesma história
te e que seu corpo foi publicamente colocado numa sem se contradizer e correndo risco de morte, o que
sepultura. Não havia nenhuma intenção de se escon- era mais terrível. Em outras palavras: se a ressurrei-
der isso. Aliás, até historiadores oficiais do primeiro ção fosse uma mentira, como explicar a imensa mui-
século, esse que não eram seguidores de Cristo, tes- tidão de discípulos que estiveram dispostos a en-
temunharam este fato. Cornélio Tácito, descrevendo frentar o martírio pela fé na pessoa de Jesus? Muitos
por volta do ano 115 0 incêndio de Roma ocorrido foram perseguidos, caçoados e machucados. Alguns
cinco décadas antes, fala da perseguição de Nero aos morreram das piores formas que se pode imaginar,
cristãos e menciona o nome de Cristo, ele diz: inclusive os próprios apóstolos. Mas por que fize-
ram isso? O que os motivou ao martírio? Somente
‘Nero apresentou como culpados e condenou à uma coisa: a certeza de que a história de Jesus não
tortura aquelas pessoas odiadas por sua torpeza, a era um mito; ela ocorrera de verdade e eles não po-
quem a população chamava de 'cristãos’. Tal nome diam se calar diante disso, mesmo que algumas coi-
vem de Cristo que, no principado de Tibério, o pro- sas parecessem absurdas. Assim temos a certeza de
que algo realm ente aconteceu (C risto foi m o rto , e que foram baseados em fatos, m as que foram exage-
segundo m uitos, apareceu n o vam ente vivo deixan- rados, são, sem exceção, desenvolvidos ao longo de
do para trás de si um sepulcro vazio) e ainda teve m uito tem po e têm po r característica to m ar forma
um a grande m ultidão disposta a e n fre n ta r a m o rte m ais com pleta som ente depois que m uitas gerações
nas m ãos dos ro m an o s apenas porque acreditaram passaram desde a época do evento original.
que realm ente a ressurreição foi um evento h istó ri-
co bastante real. Afinal, n e n h u m deles, em sã cons- Veja, p o r exemplo, o caso do m ítico herói Kad-
ciência, m o rre ria p o r um a lenda. m os. A m aioria dos especialistas em literatura grega
sugere que esse personagem , que, segundo a lenda,
Assim resta perg u n tar quais são as probabilidades teria semeado a terra com dentes de dragão e colhido
para o túm ulo estar vazio naquela m anhã de dom in- dela um a safra de soldados arm ados, seria na verdade
go? Que grupos poderiam te r tido interesse em tom ar um a pessoa real, posteriorm ente mitificada. Ele havia
o corpo de Jesus? Os rom anos, em prim eiro lugar, originalm ente em igrado da Fenícia e fundado a cida-
deveriam ser descartados porque não fazia nen h u m
de de Tebas. Foi ele tam bém quem levou aos gregos
sentido supor que roubassem o cadáver de um judeu,
os conhecim entos rudim entares do alfabeto, trans-
principalm ente levando-se em conta a im inência de
form ando para sem pre sua sociedade.
um a guerra civil, gravitando em to rn o daquele que
havia sido m orto. Logo, roubar o seu corpo seria dar O corre, no entanto, que foram necessárias muitas
força argum entativa àqueles que afirm avam sua res- gerações entre o Kadm os histórico e o Kadm os m ito-
surreição. Os rom anos, po rtan to , não seriam candi- lógico para que a lenda tom asse a form a m ítica hoje
datos adequados fortes para esse quesito. conhecida. Ademais, neste estágio já m itologizado as
versões da vida de Kadm os são cheias de contradi-
Tem os então outro grupo, os judeus. Ora esses
igualm ente não teriam interesse em roubar o corpo ções não periféricas com o no caso dos evangelhos
de Cristo, pois previam os traum as que isso podia re- m as antes contradições fundam entais, p o r exemplo:
sultar. T anto o é que, de acordo com M ateus 27, eles várias fontes incluindo H erodoto e Eurípedes dizem
mesmos pediram reforço m ilitar para protegerem o que sua história se passou na Fenícia, enquanto ou-
túm ulo e certificarem que ninguém m exeria no cor- tras falam que foi no Egito.
po. Resta-nos, portanto, os próprios discípulos: teriam
U m a fonte m ais tardia ten ta corrigir as discrepân-
eles realm ente roubado o corpo de Jesus? É claro que
cias anteriores, dizendo que ele era filho do fundador
não, pois, como foi dito, eles não ariscariam m orrer
de Tebas (não a Tebas da Grécia, mas a Tebas do Egi-
no futuro po r algo que não considerassem verdadeiro.
to). E assim vão as incongruências.
Assim resta-nos a hipótese m ais plausível diante
No caso da Bíblia é diferente: ainda que João e Lu-
dos fatos: Jesus C risto ressuscitou dentre os m ortos.
cas m encionem a presença de dois anjos no sepulcro,
Os discípulos podem não te r tido um a tecnologia acu-
e M arcos apenas um , isso é um detalhe insignificante
rada com o a do século XXI, mas certam ente sabiam a
no relato com o um todo. Nas partes essenciais como
diferença entre um m orto e um vivo, principalm ente
o local da m orte, o detalhe do túm ulo vazio ou de te-
quando esse “m o rto ” volta a viver. Com o afirm ou Pe-
dro, que m o rreu m ártir em virtude daquilo que cria: rem sido as m ulheres as prim eiras a chegar ao local,
“Porque não vos fizemos saber a v irtude e a vinda de nisto não há contradição alguma.
nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificial- Sobre a data do testem unho, ainda que existam
m ente com postas, mas nós m esm os testem unham os estudiosos que questionem que os evangelhos sonó-
a sua m ajestade” (I Pe. 1:16).
ticos (isto é, M ateus, M arcos e Lucas) rem ontem à
prim eira m etade do século I - o que é um questio-
A gênese de um mito nam ento altam ente especulativo, existe um consenso
acadêmico de que as epístolas consideradas paulinas
Os m itos levam tem po para se desenvolverem e foram escritas bem cedo quando Paulo ainda estava
os discípulos não tiveram esse tem po. Aqueles m itos vivo. I Tessalonicenses, po r exem plo, foi escrita por
volta do ano 49 ou 50 e lá Paulo já falava da ressurrei- ÜQ.
ção de Cristo em várias passagens. O
o
Ora, 0 hiato entre esse texto de Paulo e a cruci-
fixão de Jesus é de apenas 18 ou 19 anos, um tem po Fato importante
abreviado demais para se produzir um m ito. E mais,
Se os discípulos estivessem mesmo procurando
Paulo utiliza-se de citações de hinos e credos cristãos
criar um mito para aplacar 0escândalo da
prim itivos, certam ente anteriores à produção de suas
cruz, eles certamente teriam outras teorias
cartas ou de qualquer um dos evangelhos e que já mais plauúveis para 0 término do ministério
m encionavam a certeza da ressurreição do Senhor. E de Cristo. As ideias sobre a vida além-túmulo
0 caso de I Tessalonicenses 4:14 que diz: “Se crem os eram muito mais atraentes do que a história de
que Jesus m o rreu e ressuscitou, assim tam bém Deus, uma ressurreição. Essa última doutrina só in-
m ediante Jesus tra rá juntam ente em sua com panhia teressava a uns poucos religiosos judeus e estes,
os que dorm em ”. Essa é, segundo a m aioria dos, um a mesmo assim, criam apenas na ressurreição
citação que Paulo faz de um credo certam ente ante- final e não num soerguimento contemporâneo
rior ao ano 49, p o rtan to bem mais próxim a histórica- de alguém que antes estivera morto. 0 Cristo
m ente da data em que Jesus m orreu. vivo não era, portanto, uma invenção com fin s
publicitários. Era uma história admitidamente
O utra passagem interessante é I C oríntios 15:3- difícil de acreditar, mas fantástica para ser
8, que tam bém parece citar um a antiga confissão da omitida por quem testemunhou 0evento.
igreja bem mais com pleta e tam bém an terio r à pro-
dução da epístola. N ovam ente, conclui-se que não
houve espaço de tem po suficiente entre a cruz e as
declarações de ressurreição para que se criasse um
m ito e o pregasse ao m undo.

A “visão de Gabriel”
SSL.
Em 2008, Ada Yardeni, especialista em epigrafia
e paleografia sem ítica da U niversidade Hebraica de
Jerusalém , publicou um antigo texto paleohebrai-
Você sabia? co intitulado “A visão de Gabriel”, que, segundo ela,
Por causa do preconceito e da cultura pa- poderia ser um fragm ento de algum dos m anuscritos
triarcal da época, nenhum tribunal judaico do M ar M o rto 132. A publicação e tradução inéditas
aceitaria 0 depoimento de uma mulher. Seu contou com a colaboração do professor Binyam in
testemunho era totalmente irrelevante e dispen- Elitzur, tam bém da U niversidade Hebraica.
sável. Ainda mais se essa mulher tivesse afam a
de pecadora, como Maria Madalena. O texto inédito foi escrito com tinta em duas colunas
num a placa de pedra calcária medindo 90 cm de altura.
Sendo assim, fica estranho supor que os discí-
Ela foi provavelmente encontrada no lado jordaniano
pulos montaram a tese de uma suposta ressur-
reição para convencer os judeus de que Jesus do M ar M orto. Segundo se sabe, um negociante de anti-
era 0Messias. Se 0fizessem, jamais colocariam guidades da Jordânia a havia vendido por volta de 1997 a
as mulheres - em especial Maria Madalena um colecionador suíço-israelense chamado David Jesel-
- como as primeiras testemunhas oculares da sohn que a guardou todo esse tem po em sua própria re-
ressurreição de Cristo. sidência em Zurique. A peça foi negociada em Londres
‫כ׳‬ c e não no Oriente Médio. Não obstante, a autenticidade
da placa não foi até agora questionada por nenhum es-
pecialista. Yardeni datou o artefato em torno do final do
"CO t século I a.C. ou no começo do século I d.C. (fig. 2).
A raridade do texto está prim eiram ente no fato de A p artir disso, foi proposta um a nova interpreta-
que as palavras eram geralm ente esculpidas em pedra ção para alguns pontos borrados que Y ardeni prefe-
e não escritas com tinta, com o neste caso. Infelizm en- riu deixar em branco:
te, devido à ação do tem po e ao m anuseio indevido do
78. T u os resgatarás.... por dois[] ....[ ]
artefato, a deteriorização do texto provocou lacunas e
deixou m uitos vocábulos praticam ente ilegíveis. 79. De diante de ti os três sinais...[ ]

Em virtude de tais dificuldades, Y ardeni foi caute- 80. Em três dias, viva, eu Gabriel te ordeno
losa ao apresentar sua interpretação, pois reconhecia
81. Principie dos príncipes, o estrum e das fendas
as trem endas lacunas do texto e a dificuldade de se ler
das rochas
seguram ente alguns vocábulos e letras das 87 linhas,
dispostas em duas colunas do texto original. Deve ser esclarecido que o professor K nohl não
acredita num a ressurrreição sobrenatural de Jesus
O que se pode dizer é que o m anuscrito parece ser
nem na historicidade da mesma. N ovidade de sua tese
de natureza apocalíptica. Alguém de nom e Gabriel
está em querer explicar, com elem entos judaicos, que
(que se supõe seja um anjo) se dirige a o u tra perso-
o tem a ressurreição em três dias não é criação dos dis-
nagem usando a segunda pessoa do singular. Em
cípulos de Jesus. Já existia um a ideia a esse respeito,
várias partes textos bíblicos são citados ou aludidos
abraçada p o r judeus, m uito antes do m ovim ento cris-
in diretam ente.133 As linhas 78 a 81 foram as que mais
tão. Os seguidores de Jesus, po rtan to , apenas abraça-
cham aram a atenção, pois com põem o trecho do que
ram um a legítim a tradição judaica anterior.
seria possivelm ente um a revelação de Gabriel (Ha-
zon Gabriel) dizendo que iria despertar o Príncipe dos
Príncipes três dias, possivelm ente depois de sua m o r-
te. Veja abaixo a tradução feita p o r Y ardeni respei-
tando as lacunas originais.

78. T u salvará a eles. Fato importante


79. De diante de ti os três sinais,.... A tradição judaica do Talmudefala pouco acer-
ca da pessoa e atividades deste Messias, filho de
80. Em três dia viverei, eu, Gabriel... José, alternativamente chamado de “filho de
Efraim”. Num dos textos clássicos do Talmu-
8 1 .0 príncipe dos p rin c ip ie s,..., buracos estreitos de Babilônico (TM Sukkah 52a), sua morte é
mencionada em contraste com 0Messias, filho
Com o se vê, o texto é m uito fragm entário para afir-
de Davi:
mações conclusivas. Isso, contudo, não im pediu que
alguns especialistas o interpretassem como sendo um a “Os rabinos ensinaram: O Messias ben David,
evidência que antes de Jesus havia alguns que espera- que (como esperamos) vai aparecer em um
ram um a m orte e possível ressurreição do Messias. futuro próximo, 0Santo, bendito seja Ele,
irá dizer-lhe: Peça-me e dar-te-ei, como está
Os que assim entendem afirmam que nesse trecho escrito [Salmo 2:7-8]: ‘Vou anunciar 0 decreto
o anjo Gabriel estaria revelando um a profecia acerca da ... Peça-me, e darei’ etc. Mas como 0Messias ben
vinda de um Messias sofredor, o filho de José, que serviu David terá visto que 0Messias ben Joseph, que
0precedeu fo i morto, ele vai dizer diante do
de modelo para Jesus de Nazaré134. O fato, porém , é que
Senhor: ‘Senhor doUniverso, nada peço aTi,
o texto não menciona nem uma vez os termos Messias
senão a vida. E 0Senhor irá responder: “Isso
e José, m uito menos a expressão “Filho de José”. Para o já fo i profetizado pelo teu pai Davi a ti [Salmo
professor Israel Knohl, um dos que estudaram o manus- 21:5]: Ά vida que ele pediu a ti, tu deste a ele’”.
crito, Jesus era 0 Messias, “filho de José”, não literalmen- c
C
te, mas simbolicamente. Ele, portanto, sabia que seria o
Messias sofredor e não o Messias vencedor, filho de Davi. OTTT3
U m outro texto apocalíptico do século VII, conhe- P or essas razões, m uitos objetam identificar Jesus
cido com o Sefer Zerubabel, diz que o “M essias, filho com esse suposto M essias ben José da tradição rabíni-
de José”, foi m o rto pelo ím pio “A rm ilus” e acrescenta ca. C ontudo, ela é interessante p o r apresentar as vá-
que foi posteriorm ente ressuscitado pelo M essias, fi- rias linhas m essiânicas que havia nos tem pos de Jesus
lho de Davi e pelo profeta Elias135. - algumas envolvendo as noções de divindade, m orte
e ressurreição do esperado Messias.
A tradição midráxica é um pouco mais explícita. Ela
afirma que esse Messias ben José é fruto de um a pro-
fecia feita por Raquel, m ãe de José do Egito, segundo a
qual José seria o ancestral de um “Messias”, que surgiria
no fim dos tem pos. Nas descriçãos saaditas de Emunot
vê-De’ot, cap. viii e Taam Zekenim, 59, esse Messias, fi-
lho de José, apareceria antes do Messias, filho de Davi.
Ele reuniria os filhos de Israel ao seu redor e m archaria
junto com eles para Jerusalém . U m a vez lá, depois de
ter vencido as hostes do mal, reestabeleceria a adoração
do Tem plo e ergueria o seu dom ínio.

Então, segundo outro grupo de fontes m idráxicas, ^ ' 5jy

o ím pio A rm ilus, representado p o r Gogue e M ago- ‫״\ ־ ־‬ j '


• ' - ' ‫ ' י י‬. - ‫ ־‬. « -f - r - 0

gue, apareceria com seu exército em Jerusalém , lu- ;‫ ־'הד‬.,*‫די‬.«.. !?«·


taria contra o M essias, filho de José, e o m ataria com ‫ לי׳‬- 1‫;״· ׳‬-;‫· יז״‬Jfe,,‫״‬,«‫״‬,‫״‬
sua p rópria espada. Seu corpo ficaria estendido nas ' ‫“י ־‬ ·W .‫· י‬

ruas de Jerusalém sem que ninguém se im portasse em ··\‫ד‬---!‫׳י‬-‫׳‬1‫‘!«י־י‬ !t .

, ‫ ־־‬ro *·‫»״*י‬-‫־‬-. ‫״‬


sepultá-lo. Até que, segundo o u tra fonte midráxica, όνοι:! »f** 1« ‫״־‬,, .v ,**m■
jj,v>, ,íjy
Í ‫·^ י‬Λ..-··ίν -5&;
viessem os anjos esconder seu corpo ju n to com 0 dos ti& n ria n x n iA * ! · Λ r*■j*rç ^
‫־‬-'‫' ׳‬. Tttfl
.. $ ■‫י>' י‬ **‫׳‬

ίψ
patriarcas. Ali ficaria ele preservado até que o M es- í!l· :'r ' ;‫׳־‬.
'%‫ ' ־ ־־־*■'־ ·־‬: ‫י‬.‫«דזז‬/*1’■‫*;״·־■«י־־‬
sias, filho de Davi, chegasse para ressuscitá-lo136. fc ;‫·■״־‬: :**ípMfrtMf .;·‫ ׳<*׳‬,"·■a <*'·‫ו·׳‬ ■‫׳‬.-‫׳׳<זי‬. ‫י‬
·‫י‬:‫־‬.‫ז‬.,‫׳־‬fif mi; ',tn·;, ?‫'" יי‬,s.Truti^.rv·!!‘4. ·‫^■׳‬ , ...

fr-x■·. . ‫ ז‬: - ‫«·' · ״ · ׳‬ ·Λ , ·


O M essias, filho de José, passou a receber os aspec- v IS-
tos tem porais e m ateriais que antes eram vistos com o ‫׳‬,‫׳‬v .-n t

parte do “trabalho” do M essias Único. Já o M essias, ‫לי‬ ‫'־‘* ־'ץ‬.‫י‬ *K’OZ

filho de David, passou a ser cada vez mais visto com o


o M essias escatológico, o M essias que traria a ressur- λα‫· ׳·׳־׳‬3‫*י»י‬.

reição dos m ortos, o julgam ento final (M idrash va


Yosha).

Essas tradições, no entanto, são reconhecidam ente ■


1‫יי;ן‬.‫'י‬-‫ץ־;׳‬
posteriores aos dias de Jesus e alguns as interpretam
com o um a resposta judaica em reação ao im pacto do
cristianism o sobre o judaísm o. D ocum entos rabíni-
cos m ostram a disposição de m uitos pensadores de
vincularem o ‫״‬M essias, filho de José” a Bar Kochba
e seu frustrado m ovim ento m essiânico. Além disso,
Jesus nunca se declarou filho de Efraim. O José rela-
cionado com sua história não era o patriarca do Egi-
to, mas um desconhecido carpinteiro de Nazaré. E, Famosa pedra com inscrições
finalm ente, Jesus se identificava várias vezes com o o acerca do Messias, filho de José.
Filho de Davi.
Significado teológico obra (alguns caem com o Judas, o u tro s se levantam
com o Pedro) quanto na form a pela qual ele realiza-
da cruz ria sua obra (m orte que traz vida, ira que traz a paz,
condenação que traz livram ento). M aria e José, é
Jesus de Nazaré tornou-se, sem qualquer som bra claro, não en tendiam a profundidade do que Simeão
de dúvida, o nom e mais difundido de toda a histó- dizia, p o r isso se adm iravam de suas palavras (verso
ria. M esm o que ainda exista um a m aioria do globo 33) Aliás, talvez nem o p ró p rio Sim eão - que ali fa-
que não se diga “cristã”, nen h u m outro personagem lava m ovido pelo E spírito de D eus - estivesse com -
recebeu tan ta atenção quanto aquele “desconhecido” pletam ente in teirad o do p rofundo alcance de suas
judeu da Galileia, que se identificou com o o verdadei- palavras. M as todos, de algum a m aneira, entende-
ro ‫״‬Filho de D eus”. ram que a obra daquela criança envolveria trem enda
dor que M aria, com o m ãe, teste m u n h a ria qual um a
Hoje o turism o de Jerusalém recebe cerca de 3 m i-
espada traspassando sua p ró p ria alma.
lhões de pessoas a cada ano m otivadas em conhecer
os lugares onde o Senhor esteve. O ra, esse núm ero se A língua grega, na qual essas palavras foram con-
to rn a bastante expressivo quando lem bram os que a servadas pelo evangelista (pois certam en te Simeão
cidade não possui mais que 800 m il habitantes. Aliás, estaria falando aram aico ou hebraico), revela-nos
o país inteiro tem algo em to rn o de 8 m ilhões de ha- um fato interessante. Q uando se diz “este m enino
bitantes. Logo, o núm ero de visitantes “interessados está destinado... para ser alvo de contradição”, o au-
em Jesus” é quase a m etade da população nacional e to r usa um particípio presen te passivo, o que quer
mais que o triplo da capital, Jerusalém . dizer que aquilo seria um a ação contínua, que segue
indefinidam ente desde aquele tem p o até o dia de
É surpreendente que num m undo com tendências
hoje. L iteralm ente o texto está dizendo “para conti-
tão secuiarizantes e antirreligiosas o nom e de Jesus
n u a r sendo hoje alvo de contradição”. Isso quer di-
ainda atraia tan ta gente. M esm o entre com erciantes
zer que o trabalho de Jesus não se restrin g iria a seus
palestinos ou de orientação m uçulm ana é com um ver
co ntem porâneos, m as duraria para outras gerações
a venda ostensiva de artefatos religiosos ligados à fi-
vindouras.
gura de um “judeu” cham ado Jesus. De acordo com
a Revista de Antropologia Experimental, o turism o re- O utro fato revelado pelo grego é a form a como
ligioso, especialm ente o de orientação cristã, m ovi- o a u to r reproduziu as palavras finais de Simeão (ou
m enta anualm ente 4,5 trilhões de dólares e gera dire- quem sabe seria um a anotação/com entário do pró-
ta ou indiretam ente 192 m ilhões de empregos. prio Lucas?) de que aquilo tudo seria para que “se
m anifestem os pensam entos de m uitos corações”.
M as aqui cabe perguntar: será que esses m ilhões
M uitos aqui significa “todos” em grego. Aqui está im-
de adm iradores, aficionados, com erciantes, seguido-
plícita a ideia do juízo final e planejam ento divino an-
res, enfim , “pessoas direta ou indiretam ente envolvi-
terior. Com o sabem os disto? Existe um a o u tra form a
das com C risto”, têm um a noção real do que signifi-
verbal (cham ada tecnicam ente aoristo do subjuntivo,
cou sua m orte na cruz? Será que eles entendem o que
passivo) depois da expressão “para que”, que indica
aquilo quis dizer e a relação intrínseca entre sua vida
que a frase “para que se m anifestem ” era um propó-
hoje e a m orte daquele judeu ontem ?
sito (logicam ente “divino”) que antecedia em m uito o
que haveria de acontecer. Logo, a obra de Jesus não
Mártir ou redentor? iniciou com seu nascim ento, m as com eçou m uito
antes dele (indicação indireta de sua preexistência) e
A lição inicia com a declaração profética de Si- alcança até o fim, o juízo, que é manifestação últim a
m eão, anunciando Jesus com o um a criança nascida (o m elhor seria “revelação”) de todas as decisões, se-
para resgatar Israel e os gentios de um a m aneira “con- gredos, planos e com portam entos que proveem (assim
trad itó ria” e “dolorosa” (Luc. 2: 32, 34 e 35). A “con- está no grego) do coração dos hom ens. Em outras pa-
tradição” pode ser vista tan to nos resultados de sua lavras, o m om ento em que os frutos da vida de cada
um de nós serão trazidos à luz diante do julgam ento escapar da sentença, a m enos que decidisse não salvar
últim o de Deus. a hum anidade.

R esum indo pois as palavras de Simeão: Elas dão o Sendo assim, não é teologicam ente correto dizer
sentido form al, funcional, étnico, dim ensional e tem - que Jesus foi um simples “m ártir”. Afinal, os m ártires,
poral da obra de Jesus. p o r m ais que sejam louváveis e dignos de respeito,
não podem com seu sangue salvar-nos do juízo fi-
Sentido form al - seria um trabalho contraditório,
nal. O exemplo deles pode até inspirar gerações que
estranho e dolorido.
venham posteriorm ente, a luta deles pode até salvar
Sentido funcional - serviria para revelar a glória vidas (m uitos indianos foram poupados quando a
de Israel e a luz para os gentios, isto é, salvar pessoas. m o rte de G andhi cham ou a atenção do m undo para o
que acontecia em seu país). M as essa “salvação” é ape-
Sentido étnico - alcançaria judeus e gentios, ou
nas um retardam ento da m orte e um a prolongação da
seja, o m undo inteiro.
existência que tem os neste planeta. A salvação trazi-
D im ensional - era plano de Deus que perpassa por da p o r Cristo, diferentem ente, produz a vida eterna e
todos os hom ens e o universo estaria, de certa form a, não uns anos a mais de existência terrestre.
envolvido nessa obra.
P ortanto, em bora a m orte de Jesus ten h a algo de
T em poral - é an terio r ao seu nascim ento e sucede “m artírio ”, seu significado extrapola em m uito o sen-
à sua vida neste planeta alcançando até o juízo final. tido desta palavra. O m elhor seria defini-lo com o “re-
d e n to r”, para que se acentuasse a diferença entre ele e
Essas palavras indicam , com o bem apresentou a outros que m orreram p o r causas nobres.
lição, que “Cristo nasceu destinado a m o rre r”. Sua
m orte não foi um acidente. Foi um planejam ento que A m orte de C risto era um a coisa profeticam ente
envolve questões supra racionais. M as alguns que não esperada e anunciada desde a fundação do m undo
possuem conhecim ento bíblico sobre esta questão (Apoc. 13:8). Q uatro m il anos de história desde Adão
poderiam objetar: “Ora, todos nós indistintam ente até C risto passaram em anúncio contínuo do que es-
nascem os para m orrer. Afinal, a m orte é a única cer- taria para acontecer naquele dia, no Calvário. Prega-
teza que tem os quanto à nossa vida. Logo, o que tem ções, anúncios proféticos, livros inspirados (o Antigo
de especial na frase: 'C risto nasceu para m orrer?’”. Testam ento) e todo um ritual do santuário serviram
para dizer ao m undo que Ele viria m orrer. N enhum
Essa colocação pode ser estendida se com parar-
o utro h erói da história tem um a trajetória assim.
m os num a leitura rápida a obra de C risto e a obra
de outro m ártir qualquer que deu sua vida p o r um a
causa. Tiradentes, G andhi, M artin L uther King são O evento histórico
bons exemplos. E seu exemplo, ao m o rre r p o r um a
causa justa, ainda alim enta a esperança de m uitos que
da Cruz
vieram depois deles. O que diferencia Cristo desses
Os evangelhos não são biografias escritas sobre
hom ens?
Jesus nem intencionam ser. Eles são antes um a “teo-
Bem, um a parte dessa questão já está respondida logia” de sua vida. Isso é verdade. M as esse m esm o
na p rópria form a da lição definir a m orte de Cristo conceito, colocado nas páginas de um autor de linha
com o um “não acidente”. Veja, é claro que todos sa- liberal, pode ter um sentido estran h o à com preensão
bem os que vam os m o rrer, m as ninguém sabe como: dos m ais conservadores. Em outras palavras, esses
se será p o r acidente, po r doença fatal ou p o r um a de- autores até dizem o m esm o, m as com um significa-
pressão que leve ao suicídio. N enhum m ártir nasceu do bem diferente do exposto pela lição e devem os ter
destinado por Deus a m o rre r po r esta ou aquela cau- cuidado com isso. Eles dizem: “Bem os evangelhos são
sa. Seu m artírio sim plesm ente aconteceu; não estava apenas um a teologia da vida de C risto, não um a bio-
profetizado. Com Jesus foi diferente. Não tin h a com o grafia. Logo, são im agens filosóficas de Cristo e não
descrições históricas do que ocorreu”. Esse conceito A restauração
aparece em m uitos livros teológicos que saem po r aí.
L em bro-m e de um conceituado autor, especialista em Existem algum as palavras gregas usadas no N T
N ovo T estam ento, que, tendo em m ente esse concei- para ilu stra r o significado profético e resta u ra d o r
to de “evangelhos teológicos, mas não históricos”, es- da cruz ou da m o rte de C risto em lugar da h u m a-
creveu que a m ultiplicação dos pães não foi um evento nidade:
histórico. Foi um a parábola para explicar com o Jesus,
através de sua m ensagem , convencia os que tinham Prosphora - oferenda em form a de fragráncia, per-
pães a se ajuntarem com os que tin h am peixe, divi- fume, arom a. Paulo usa essa palavra em R om anos
dindo a com ida com os que não tinham nada. Logo, 15:16, ao exprim ir seu desejo de que a oferta (prospho-
não houve m ilagre algum a não ser o de convencer os ra) dos não judeus seja algo aceitável a Deus. Em Fili-
que tinham a dividir com os que não tinham . penses 4:18, ele fala das dádivas enviadas pelos irm ãos
com o sendo “um arom a suave, um sacrifício aceitável
A ressurreição de Jesus é outro evento que m uitos e aprazível a Deus. Em Efésios 5:2, ele conclam a seus
dessa linha tom am com o sendo não um a história real, leitores a serem com o C risto que se entregou p o r nós
mas um a parábola teológica dos evangelistas para ex- a D eus com o um “arom a suave” (prosphoran). O ra, o
plicar que a fé de Cristo não m o rreu com ele na cruz, arom a ou o perfum e tinham um significado m uito es-
mas continuou viva p o r m eio da pregação de seus pecial nos tem pos bíblicos. O banho naquelas condi-
seguidores. Sendo assim, a presença do cristianism o ções culturais era algo raro. Logo, o perfum e era algo
hoje é com o se Cristo ainda estivesse vivo simbólica- para neutralizar o m au odor; fazia parte da higiene.
m ente na continuidade do trabalho apostólico.
Os sacrifícios, geralm ente, p o r envolverem der-
Essas ideias são absurdas e perigosas. Os evan- ram am en to c o n tín u o de sangue e apresentação de
gelhos são, de fato, um a teologia, mas são tam bém carnes queim adas sobre o altar, tam bém poderia
um a história real. A teologia apenas dá significado ao apresen tar cheiros não m uito agradáveis, espe-
que aconteceu; ela não inventa os acontecim entos. A cialm ente quando eram realizados em m eio a um a
palavra evangelho é um term o técnico, que não foi m ultidão de ofertantes, todos sem banhos a dias.
criado pelos cristãos, mas já existia no m undo greco- N ovam ente, para n eu tralizar os m aus odores dessa
-rom ano para indicar o anúncio de um a boa coisa que situação, havia a queim a de incensos e especiarias
havia realm ente ocorrido. Se fosse inventado, não que produziam um a fum aça de cheiro agradável
podia ser evangelho. O nascim ento de César Augus- com o um incenso. Essa fum aça subia até D eus que,
to, p o r exem plo, é descrito num a inscrição rom ana na concepção da época, via o sacrifício feito e sen-
com o sendo o grande “evangelho do m undo”. Sendo tia um cheiro agradável. Afinal, a p resen tar algo m al
assim, seria estranho os autores do N ovo T estam ento cheiroso à divindade seria um desrespeito, segundo
darem o nom e técnico de “evangelho” para algo que a cultura da época.
não fosse legitim am ente histórico.
Isso nos ajuda a entender o ritual bíblico das ofer-
A história era, aliás, tão real, que seu ápice longe tas acom panhadas de incenso e arom as agradáveis
de ser um a invenção publicitária era um m otivo de que subiam até a presença de Deus (Êxodo 30:7; 34-
h o rro r e vexame. Afinal de contas, eles falavam da 35, 37, 38). As orações dos santos são, nesse contexto,
m orte do Filho de Deus. C uriosam ente, no entanto, a sim bolizadas com o um arom a agradável que sobe até
cruz se to rn a m otivo de alegria e paz, pois foi através Deus (Sal. 41:2 e Apoc. 5:8). A m orte de Cristo, por
dela que C risto salvou o m undo, dando àquele que sua vez, tam bém foi sim bolizada com o um incenso
crer a oportunidade de v oltar ao paraíso perdido por agradável a Deus, algo que perm ite a neutralização
Adão. N a cruz, céu e terra se uniram , o pecado foi ex- do m au odor que nossos pecados produzem . Ora,
tirpado, a graça inaugurada. E isso não ocorreu pelo um a pessoa com m aus odores é um a pessoa segrega-
m adeiro em si, m as p o r Aquele que ali estava pendu- da; ninguém quer ficar perto dela. Pois o m esm o se
rado, a saber o Filho de Deus. passaria com a hum anidade mal cheirosa p o r causa
de seus pecados. U m a hum anidade fadada à exclusão piciatória dada aos deuses quando estes, p o r alguma
da fam ília de Deus. M as a graça de C risto neutraliza razão, estavam irados com os hom ens. Daí o nom e
aquilo que naturalm ente causaria o repúdio dos ou- Hilasterion que vem da m esm a raiz das palavras gra-
tros em relação a nós e nos perm ite aproxim ar com cioso, bondoso, alegre. Os rom anos vertiam o term o
confiança (e “bom cheiro”) diante do tro n o de Deus. p o r hilaris, que deu origem à palavra hilário, em por-
tuguês. Havia até um deus com o nom e de Hilaros, a
Lutron - M ateus 20:28 (compare com M arcos saber, o deus da alegria. M as é claro, com o acentuou
10:45) traz a palavra Lutron, “resgate”, cujo sentido li- a lição, que os autores do N ovo T estam ento muitas
teral seria “pagam ento po r soltura”, “preço de um res- vezes tom am em prestado palavras do m undo grego
gate”. Essa palavra só aparece no Novo T estam ento mas dão-lhes um significado próprio, de acordo com
nos ditos de Cristo (veja po r exemplo: Lucas 22:27). a teologia bíblica, e não com a filosofia helenística. E
M as um adendo deve ser feito aqui: em nosso sentido o caso desse term o, que no conceito do N ovo Testa-
ocidental, resgate é algo que você paga a um bandido m ento, eqüivaleria ao antigo term o hebraico K ipper
que tem um ente querido como refém. Essa aplicação a que literalm ente significa “cobrir”, “perdoar”. Para os
Cristo poderia causar um embaraço por supor que Ele hebreus, a im agem de perdão (kippur) era um a ima-
estaria pagando “a Satanás” o preço pela nossa reden- gem de Deus cobrindo a nudez de nossa transgressão.
ção. E isso não é verdade. Para esclarecer é im portante P or isso o dia da expiação é cham ado, em hebraico, de
observar que o “preço de um resgate” nos tem pos bíbli- Yom K ippur e aquele pequeno chapéu que os judeus
cos envolvia m uitas vezes duas situações diferentes do usam é cham ado de K ippah - um a lem brança contí-
pagam ento ao seqüestrador que, creio, seriam a ima- nua de que estão na presença p erdoadora de Deus. A
gem original que o autor bíblico tinha de comparação tam pa da arca dos dez m andam entos era corretam en-
com o trabalho de Cristo. A prim eira era quando um te cham ada de propiciatório (kipper), pois o perdão
resgatador (um pai, um rei) gastava somas enorm es de cobre-nos com a justiça, sem encobrir a transgressão.
dinheiro para em preender um a viagem em busca de al- P or isso, no caso de C risto, a propiciação pelo peca-
guém que havia sido raptado ou que estaria preso nas do não envolvia apenas um consentim ento titu lar de
mãos de um inim igo. As custas do resgate eram altas e “perdoado”, mas a m o rte vicária de um inocente em
podiam envolver desde despesas de viagem até o alu- nosso lugar, para poder, de fato, cobrir-nos com o
guel de um exército se fosse necessário usar força física m anto de sua justiça.
para libertar o que estava cativo. O exemplo de Abraão
Katallage - esta é um a antiga palavra, que deno-
resgatando seu sobrinho Ló ilustra isso (Gên. 14:12-
tava a restauração do entendim ento original entre
17). O “preço do resgate”, portanto, não era um paga-
duas pessoas que estavam com as relações cortadas.
m ento ao seqüestrador, mas o preço gasto na operação
Não se tem notícia, no m undo grego, de seu em pre-
de salvam ento e guerra contra o inimigo. A segunda
go no am biente religioso, mas o N ovo T estam ento
situação era quando um pai, oferecia a si m esm o para
parece ter feito isso, em bora sem pre com o sentido
ser escravo no lugar do filho que havia sido escravi-
de reconciliar. No que diz respeito à relação entre o
zado. Essa prática legal tam bém era um tipo de preço
hom em e Deus, é curioso n o tar que as ocorrências
pelo resgate que envolvia a própria vida do indivíduo
parecem preferencialm ente v ir no passivo, “ser re-
com o pagam ento não ao “escravizador”, mas como
conciliado” (em bora existam tam bém casos ativos). O
substituto daquele que deveria, po r qualquer razão, ser
sentido passivo é profundo, ele m ede que a reconci-
escravo de outrem .
liação em bora dem ande a igualdade das partes após
Jesus não som ente to m o u nosso lugar na escravi- o acerto de contas, não é sinônim o de equivalência.
dão e no seqüestro, com o pagou um alto preço para Deus não é um ser de nosso nível, para que possam os
vir nos libertar, e esse preço não custou nada m enos “fazer as pazes” com Ele no m esm o pé de igualdade
que sua própria vida! que faríam os com um colega de trabalho com o qual
brigam os. Ele é o nosso amigo, mas é acima de tudo
Hilasterion - esta é um a palavra que aparece em nosso Senhor, não nosso “colega”. Adem ais, a ofensa
inscrições gregas com o sentido de um a oferta pro - p artiu de nós, não dEle. Nós é que precisam os ser re-
conciliados com Ele, pois fomos nós que quebram os a
aliança. Não obstante, é Ele quem tom a a iniciativa e
dá prim eiro passo.

O m undo grego tendia a ver o ser hum ano com o


naturalm ente bom . Era o am biente que nos estraga-
va. M as na visão bíblica, com o conseqüência da trans-
gressão de Adão, os seres hum anos não são natural-
m ente bons. Eles precisam de reconciliação, resgate e
redenção, que ninguém m en o r que Deus poderia dar.

Notas Josefo, cf. GOLDBERG, G. J. “The Coincidences o f the Testimo-


nium o f Josephus and the E m m aus N arrative o f Luke", The Journal
f o r the Study o f the Pseudepigrapha 13 (1995) pp. 59-77; Feldman,
1 Latourelle, s.j., Laccès àjésus par les Evangiles. Histoire et Louis H., “The Testimonium Flavianum: The State of the
herméneutique (coll. Recherches, 20). Tournai, Desclée - Mon- Question,” Christological Perspectives, Eds. Robert F. Berkley and
tréal, Bellarmin, 1978, p. 8 Sarah Edwards, New York, 1982; Paul W inter, “Josephus on
Jesus and James,” in E. Schurer, The History o f the Jewish People
2 http:// www.pewforum.org/2015/04/02/religious-projec- in the Age o f Jesus Christ, rev. and ed. by G. Vermes and F. Millar
tions-2010-2050/ <acesso 28/01/2017> (Edinburgh: Clark, 1973), pp. 428-441; J. Neville Birdsall, “The
Continuing Enigma o f Josephus’ Testimony about Jesus,” BJRL
3 http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol- 67 (1984); Ch. M artin, “Le Testimonium Flavianum. Vers
-ingles/noticia/ 2014/12/pesquisa-criancas-inglesas‫־‬acham‫־‬que‫־‬jesus- une solution definitive?” Revue beige de philologie etdiiisto ire 20
-cristo-e-jogador-do-chelsea.html <acesso 28/01/2017> (1941), pp. 409-46; Shlomo Pines, A n Arabic Version o f the
T estim onium F lavianum and its Implications, (Jerusalem: Israel
4 Agostinho, Sermão 43,1.
Academy of Sciences and Humanities, 1971).
5 ALVES, Ruben. O que é religião? São Paulo: Loyola, 2002, p. 9. 12 COOK, Michael J. “Evolving Views ofjesus,” in B. Bruteau, ed.,
Jesus Through Jewish Eyes (Orbis, 2001), 22.
6 Libânio, J. B., Bingemer, Maria Clara L ucchetti. Escatologia
Cristã, Petrópolis, RJ: Vozes, 1989, p. 16 e 17. 13 Lemaire, André. Burial box of James the brother ofjesus. Bi-
blical Archaeology Review, 28:6 (November/December) 2002,
SCHWIETZER, A., Geschichte derLeben Jesu-Forschung, Tübin- 24-33, 70.
gen: M ohr, 1913- tradução inglesa de W . M ontgomery sob o
título: The Quest f o r the Historical Jesus, New York: Macmillan 14 Mishná Shevi’it 8:10
Company, 1968, PP. 398/9.
15 Citado por Josefo, Antiguidades 14.115.
8 VOORST, Robert E. Jesus outside the N ew Testament: A n intro-
duction to the ancient evidence. Eedermnans, 2000, pp.53ss 16 Shabbat 16:7, 15d.

9 Conjunto de quatro cavalos que puxam um carro. 17 http://wwwl.cbs.gov.il/ts/ databank/series_one.html?codets=3763


acesso em 31/01/2017
10 Pantomimos eram artistas circenses que viviam nas praças
à noite alegrando o povo com mímicas, teatro de sombras e 18 Magen Broshi, The Population of W estern Palestine in the Ro-
coisas do gênero. man-Byzantine Period, Bulletin o f the Am erican Schools o f Oriental
Research, No. 236, p.7, 1979; Jack Pastor, Land and Economy in
11 Sobre o debate acerca da autenticidade ou não deste trecho de Ancient Palestine, Routledge, 2013 p.6; Brownstein, Robert. M a kin g
Jesus the Messiah: Saint Paul and the God-fearers: a M a rket View. 32 Burge, Gary M. “Fishers of Fish: The maritime life of Galilee's
Nova Iorque: W riter’s Showcase Press, 2000, pp. 90ss. north shore, Jesus’ headquarters.” Christian History. 59 (1998):
36-37; Jackson, Samuel M. Ed. The new Schaff-Herzog encyclo-
19 Dietmar Neufeld. “And W hen That One Comes: Aspects of pedia o f religious knowledge. Grand Rapids, M I.: Baker Book
Johannine Messianism.” Eschatology, M essianism, and the Dead House, 1977. p. 310.
Sea Scrolls. Ed. Graig A. Evans and Peter W . Flint. (Grand
Rapids: Eerdmans Publishing, 1997), 120. 33 Charpentier, E., Pour Lire Le Nouveau Testament, Paris: Cerf,
1981, p. 14.
20 Kay Silberling Smith, The M essiah o f Israel (Unpublished Lee-
ture Notes - Beth Emunah Messianic Synagogue, Agoura Hills, 34 http://advpretel.blogspot.com.br/2009/03/psicologia-do-teste-
CA., 1997). Citado por Joshua Brumbach “Complexity in Early m unho.h... <acesso 12?12/2016>
Jewish Messianism” publicado em Kesher, a Journal o f Messia-
nic Judaism. (Verão de 2010, issue 24). 35 Fragmento VI-10

21 E. P. Sanders, Judaism: Practice and B elief 63 BCE-66 CE (Londres: 36 Borchert, O. The O riginal Jesus, London: The Lutterworth
SCM Press; Philadelphia: T rinity Press International, 1992). Press, 1933.
Veja também: M. Smith, “The Dead Sea Sect in Relation to
Ancient Judaism,” New Testam ent Studies 7 (1960-61): 356: 37 A mais recente datação radiométrica chamada acelerador de
“Down to the fall of the Temple, the normative Judaism of massas espectroscópica, registrou que alguns manuscritos de
Palestine is that compromise of which the three principal ele- Q umran teriam cerca de 200 anos a mais que a data hasmonea
ments are the Pentateuch, the Temple, and the ‘amme ha’arez, dada pelos paleógrafos (300 a.C. e não 100 a.C.). Veja o relato-
the ordinary Jews who were not members of any sect.” rio em G. Bonani et. ali., “Radiocarbon Dating of the Dead Sea
Scrolls”, A tiqot 20 (Junho, 1991), 27-32; “Radiocarbon Dating of
22 Johann Maier, Entre os dois testamentos - História e religião na
Fourteen Dead Sea Scrolls” Radiocarbon 34/3 (1992), 843-849.
época do Segundo Templo [Coleção Bíblica Loyola 46] (São
Paulo: Loyola, 2005), 264.
38 Para mais detalhes sobre esse assunto veja: M artin G. Abegg,
23 Para autores que colocam Daniel e o apocalipsismo a partir do Jr., “The Messiah at Qumran: Are W e Still Seeing Double?” in
2°. Século a.C. veja: W .G. Lambert, The Background o f Jewish Dead Sea Discoveries Vol. 2, No. 2, Messianism (Jun., 1995), pp.
Apocalyptic. The Ethel M. W ood Lecture delivered before the 125-144 < Stable URL: http://www.jstor.org/stable/4201510>;
University of Londres on 22 February 1977. (Londres: The James VanderKam, “Messianism in the Scrolls,” in The Commu-
Athlone Press, 1978), 20; J. Goldingay Daniel, W ord Biblical n ity o f the Renewed Covenant {ed. Eugene Ulrich and James
Them es (Dallas: W ord Publishing Group: 1989), 132. Para VanderKam; Notre Dame: University of Notre Dame Press,
autores que colocam Daniel a partir do cativeiro veja: G. F. 1993) 21 Iff.; John J. Collins, “Messiahs in Context: M ethod in
Hasel “The Book o f Daniel: Evidences Relating to Persons and the Study o f Messianism in the Dead Sea Scrolls, in M ethods o f
Chronology.” Andrews University Seminary Studies 19 (1981): Investigation o f the Dead Sea Scrolls and the Khirbet Q um ran Site
211-225; J. G. Baldwin, “Is there Pseudonymity in the Old (ed. M. O. W ise et al.; New York: New York Academy of Scien-
Testament?” Themelios 4(1978-1979): 6-12. ces, 1994) 213ff.; idem, The Scepter and the Star: The Messiahs
o f the Dead Sea Scrolls and O ther A ncient Literature (New York:
24 Rad, G. v., Teologia do A ntigo Testamento, (São Paulo: ASTE, Double-day, 1995) 74ff.; and W . H. Schniedewind, “Structural
1974), vol. II: 298 - 317 Aspects o f Qumran Messianism in the Damascus Document,”
in The Provo International Conference on the Dead Sea Scrolls: New
25 E. J. Bickerman, The God o f the Maccabees: Studies on the Mea-
Texts, Reform ulated Issues, and Technological Innovations (ed. D.
ning and Origin of the Maccabean Revolt (Leiden: Brill, 1979).
W . Parry and E. C. Ulrich; Leiden: Brill, 1999) 523-36.
26 N. Cohn, Cosmos, Chaos, and the W o rld to come: The A ncient Roots
39 Tradução de Florentino García Martinez, Textos de Qum ran (Pe-
o f Apocalyptic Faith (New Haven: Yale University Press, 1993),
trópolis, RJ: Vozes, 1995), 56.
77ss; 220ss.
40 O texto foi encontrado em apenas uma folha e foi datado em ca.
27 J.J. Collins, “From Prophecy to Apocalypticism. The Expecta-
Do século 1 a.C. Quem o publicou pela primeira vez foi John
tion of End” in The Encyclopedia o f Apocalypticism - The Origins
of Apocalypticism in Judaism and Christianity - ed. JJ Collins Marco Allegro. Veja o texto completo em Martinez, Textos de
Qumran, 178.
(New York: Continuum, 2000) vol. 1:129.

28 Talmude Babilônico Bava Batra 21a; Avot [Tradição dos Pais] 41 Alguns entendem que a citação seria de Êxo. 20:22, conforme
5:21. a tradição textual encontrada no Pentateuco Samaritano que
combina os textos massoreticos de Deuteronômio 5:28-29;
29 Contra Apio 1.12#60 18:18-19. Alex P. Jassen, M ediating the Divine: Prophecy and Re-
velation in the Dead Sea Scrolls and Second Temple Judaism [Studies
30 A. Demsky and M. Bar-Ilan, W ritin g in Ancient Israel and on the Texts o f the Desert of Judah, 68] (Leiden/Boston: Brill,
Early Judaism’, Compendia R erum Iudaicarum ad N ovum Tes- 2007), 159.
tam entum , Section II, vol. I, MIKRA, M. J. Mulder (ed.), van
Gorcum, Assen / Maastricht & Fortress Press, Philadelphia 42 Cf. as diferentes interpretações deste documento em John
1988, pp. 1-38; M . Bar-Ilan, ‘I lliteracy in the Land o f Israel in the J. Collins, The Scepter and the Star (Nova Iorque: Doubleday,
F irst Centuries C.E.’, S. Fishbane, S. Schoenfeld and A . Goldschlaeger 1995), 74-101; Idem, “The W orks of the Messiah,” Dead Sea
(eds.), Essays in the Social Scientific Study o f Judaism and Jewish Discoveries 1 (1994) 98-112Marco Treves, “On the Meaning
Society, II, N ew Y ork:K tav, 1992, pp. 46-61. o f the Qumran Testimonia,” R evQ 2 (1960): 569-571; Joseph
A. Fitzmyer, “’4QTestimonia’ and the New Testament,” in
31 A lan M illard . R eading a n d W ritin g . In the T im e o f Jesus. Essays on the Semitic Background o f the New Testam ent (Lon-
(Sheffield Academic Press, 2000). dres: Geoffrey Chapman, 1971) 59-89.
43 Esta lista foi retirada de Paul Sumner, “Messianic” Texts at York University Conference in M emory o f Yigael Yadin,
Q umran in www.hebrew-streams.org. As referências foram Lawrence Shiffman, eds. (Sheffield: Journal for the Study of the
propositadamente deixadas conforme a versão em inglês. As Pseudepigrapha Supplement Series 8, 1990), 181-188.
fontes entre colchetes seguem a seguinte legenda: V5 - G. Ver-
55 M. Smith, “Two Ascended to Heaven—Jesus and the Author of
mes, The Complete Dead Sea Scrolls in English (New York/Lon-
4Q491,” in Jesus and the Dead Sea Scrolls, James H.Charleswor-
dres:Penguin Books, 1997; rev. ed. 2004); GM - F. Garcia-Mar-
tinez, The Dead Sea Scrolls in Translation (2d ed., GrandRapids, th, ed. (New York: Doubleday, ABRL, 1992), 290-301.
Mich.: Eerdmans, 1996); W AC - M. Wise, M. Abegg, E. Cook,
56 James Strong, The N ew Strong’s Expanded D ictionary o f Bible
The Dead Sea Scrolls: A N ew Translation (New York: Harper-
W ords (Nashville, TN: Thomas Nelson Publishers, 2001). Cf.
Collins, 1996; rev. ed. 2005).
também R. L. Harris; G. L. Archer, Jr; B. K. W altke, Dicionário
Internacional de Teologia do A ntigo Testamento (São Paulo: Vida
44 Como a linha inicial está danificada alguns lêem “God leads
Nova, 1999), 1255c.
[não begets] the Messiah”.

45 Alfred Edersheim, The Life and Tim es o fjesu s The Messiah. (Pea- 57 J. C. Vanderkam, “Messianism and Apocalypsism” 112, 113. In:
B. McGinn, J.J. Collins, SJ. Stein [Eds], The Continuum His-
body, MA: Hendrickson Publishers, 1993), 748.
tory od Apocalypsism (Nova Iorque: Continuum International
46 Um possível significado para a palavra Siló que aparece nalgu- Publishing Group, 2003).
mas traduções. Delitzsch, embora favoreça a idéia de ser Siló
58 S. Mowinckel, He T hat Cometh: The Messiah Concept In The
um nome próprio de uma cidade, menciona as outras possi-
bilidades. O Targum de Jerusalém, por exemplo, supõe que a Old Testam ent And Later Judaism (Grand Rapids, MI: Eerd-
leitura correta seria “até que venha o seu filho”. Cf. Franz De- mans, 2005), 3ss.
litzsch in CF Keil and Delitzsch, Commentary on the Old
59 H. Ringgren The M essiah in the Old Testament.. (Studies in Bibli-
Testament, (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1973). Vol. 1:394 e
cal Theology, No. 18.) (Londres: S.C.M. Press., 1956), 30.
395.
60 Baron, David, R ays o f M essiah’s Glory (Jerusalem, Israel: Kern
47 I. Knohl, The M essiah Before Jesus - the Suffering Servant of the
Ahvah Meshihit, 2000 reprint), 16.
Dead Sea Scrolls (Oakland, Ca: Regents of the University of
California, 2000). 61 James H. Charlesworth, “The Concept of the Messiah in Pseu-
depigrapha,” in A ufstieg und Niedergang derR õm ischen W elted .
48 D. Scardelai, M ovim entos messiânicos nos tempos de Jesus (São
Hildegard Tem porini and Wolfgang Haase (Berlin: W alter de
Paulo: Paulus, 1998), 26.
Gruyter; 1979): 188-218.
49 Jean Danielou, The Dead Sea Scrolls and P rim itive C hristianity
62 M. de Jonge, “The Use of the W ord A nointed’ in the Time of
(Baltmore, MD: Helicon Press, 1958), 69.
Jesus,” N o v T 8 [1966] 134.
50 Η. E. Del Medico, “L’etat dês manuscrits de Qumran I,” VT
63 A Guerra dos Judeus, livro VI, capítulo 5, secção 4
7 (1957), 135. Israel Knohl, 27 e 28. Mansoor, discorda desta
posição dizendo que o mesmo tipo de dano pode ser encontra- 64 “The Staurogram: Earliest Depiction of Jesus’ Crucifixion” the
do em outros manuscritos como o Manuscrito de Habacuque e M arch/April 2013
o Manual de Disciplina. M enahen Mansoor, The Thanksgiving
Hymns. (Leiden: Brill, 1961), 4. Não obstante é interessante 65 Virgil. Mynors, R. A. B. (1969). Opera: recognovit brevique ad-
que outros especialistas antigos não escondiam sua opinião notatione critica instruxit R. A. B. Mynors. Oxford: Clarendon
de que o modo seqüencial dos rasgos demonstrava que alguns Press. Met. 1.112
manuscritos, de fato, haviam sido maculados propositalmente
na antiguidade e não por mera ação do tempo. Dentre estes 66 APUD Evans, Craig A. M ark’s Incipit and the Priene Calendar
estariam J. Allegro e R. de Vaux. (Cf. H. Cotton and E. Larson,. Inscription: From Jewish Gospel to Greco-Roman Gospel.
“4Q460/4Q350 and Tampering with Qumran Texts in Anti- Journal of Greco-Roman Christianity and Judaism. 2000; 1:67-
quity?” in Emanuel: Studies in Hebrew Bible Septuagint and Dead 81
Sea Scrolls in H onor o f Em anuel Tov (eds. Shalom M. Paul, et al.;
Leiden/Boston: Brill, 2003), 123. 67 T radução do autor a partir de uma fotografia enviada.

51 O Hino da auto-glorificação é composto a partir de testemu- 68 TÁCITO.HISTORIAE. V13


nhos textuais diferentes dentro do corpus dos M ss do Mar
69 SUETONIO. VIDAS DOS DOZE CÉSARES, VESPASIANO
Morto: 4Q471b, 4Q491, 4Q427, and lQ H a XXV-XXVI. Os
XXXVIII, 11
fragmentos da gruta 4 também são identificados, dependendo
do autor, como 4QHa, 4QHb, 4QHc, 4QHd e 4QHe. Alguns 70 Mishná, Ket. 5:2.
autores afirmam que o 4Q471b e o 4Q431 seriam duas partes
de um mesmo manuscrito (4QHe). Esther Eshel, “4Q471b: A 71 Antiguidades XVII, 6,4; Guerras II, 1,3.
Self-Glorification Hymn,” R evQ 17/65-68 (1996): 186-94.
72 Antiguidades XVII 6, 4.
52 Lit. Quem é como eu dentre os deuses? (elim).
73 Bao-Lin in Canon Of Lunar Eclipses 1500 B.C. - A.D. 3000, published
53 M. Baillet, Discoveries in the Judean Desert VII, Qumran by Willmann-Bell, Inc. in 1998; APUD OLIVEIRA, Juarez. Chro-
Grotte, 4, III (4Q482-4Q520) (Oxford: Clarendon Press, 1982), nological Studies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27. Engenheiro
26-29. Coelho-SP: Unaspress, 2004

54 M. Smith, “Ascent to the Heavens and Deification in 4QMa,” 74 William Whiston, tradutor das obras de Josefo para o ingles traz essa
in Archaeology and History in the Dead Sea Scrolls: The New anotação: “This Passover, when the sedition here mentioned was
moved against Archelaus, was not one, but thirteen months after the 94 Gibson, Shimon The Cave o f John the Baptist', Nova Iorque:
eclipse of the moon, already mentioned” (The Works ofJosephus, p. Doubledãy, 2004.
465, note a).
95 Avot [Tradição dos Pais] 2:2.
75 Antiguidades XVIII, 26 [ii. 1]
96 Talmude Babilônicô Yebamoth 62b
76 William Ramsay, St. Paul The Traveler and Roman Citizen. Grand Ra-
pids, MI: Baker Book House, 1962, p. 81 97 Da Vida Contemplativa 68ss; Hipotética 11.14-17.

77 (Corpus Inscriptionum Latinarum, editado por H. Dessau, Berlim, 1887, 98 Guerras 2.8.2.121· 122
Vol. 14, p. 397, N.° 3613)
99 McArthur, Harvey. “Celibacy in Judaism at the Time o f Chris-
78 Saturnalia, IV: 11. Para um estudo sobre esse autor veja: Alan Cameron tian Beginnings.”Andrews University Seminary Studies (AUSS)
(1967). “Macrobius, Avienus, and Avianus”. The Classical Quarterly 17 25.2(1987) 163-181.
(2): 385-399.
100 Berachot 14b.
79 Por exemplo: D.EHRMAN, Bart. Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não
Foi? Rio de Janeiro Editora: Ediouro Publicações, 2010; John Dominic 101 D. Martyn Lloyd-Jònes, Studies in the Sermon on the Mount (Grand
Crossan, Jesus: A Revolutionary Biography (San Francisco: Harper San- Rapids: Eerdmans, [1959,60] 1971), 1:23.
Francisco, 1994.
102 R. G. Gruenler, “Lord"s Prayer”, in Evangelical Dictionary of Theology..
80 Brown, Raymond. The Birth o f the Messiah. A Commentary on the Infan- 2d ed., ed. Walter A. Elwell (Grand Rapids, MI: Baker Book House,
cy Narratives in the Gospels o f Matthew and Luke. New York: Doubleday, 2001), 702.
1993, p. 205.
103 Joachim Jeremias,New Testament Theology (New York: Charles
81 Anais 157. Scribner’s , 1971), p. 67.

82 http://wasiesusamagician.blogspot.com.br/p/accusations-of-magic. 104 Barr, J. “Abba Isn’t Daddy.”Journal of Theological Studies 39, no.
html <acesso 03/02/2017). 1 [1988]: 28-47; Joseph A. Fitzmyer, “Abba and Jesus’ Relation
to God,” in A cause deL’Ev- angile, Lectio Divina 123 (Paris: Cerf,
83 Wace and Layamon (trans. Eugene Mason) Arthurian Chroni- 1985), 16-20.
cles (London: Dent, [1912] 1976)
105 Guerras 2:280.
84 Kiddushin, capítulo 1, Mishná 1.Para várias passagens rabínicas sobre
essa questão veja: McArthur, H., "Celibacy in Judaism at the Time of 106 Annie Jaubert, The Date of the Last Supper, (Alba House, Staten
Christian Beginnings”. AUSS, sumer 1987, vol 25., No 2, 165-181. Island, N.Y: 1965).

85 McArthur, Harvey. “Celibacy in Judaism at the Time o f Chris- 107 http ://biblehub.com/commentaries/matthew/23-27.htm <acesso em
08/02/20l7>
tian Beginnings." Andrews University Seminary Studies (AUSS)
25.2 (1987) 163-181.
108 Antiguidades 18:2, 2; 4, 3.

86 Antiguidades, 20, 9, 1.

87 Cf. Julio Africano, “The Extant Writings”, em ANF, v. 6, p. 125-139;


110 Steigmann-Gall, Richard The Holy Reich: Nazi Conceptions o f Christianity.
Ray A. Pritz, Nazarene Jewish Christianity: From the End of the New
Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
Testament Period Until Its Disappearance in the Fourth Century (Jeru-
salém: Magnes Press, The Hebrew University Press, 1992). J. Murphy- 111 https://www.gramatica.net.br/origem-das-palavras/etimologia-de-ju-
-O'Connor, The Holy Land: An Oxford Archeological Guide from Earliest diar/
Times tò 1700 (Nova York: Oxford University Press, 1998), p. 374.
112 C om entário sobre M ateus, ser. 124
88 Apud J. Murphy-O’Connor, p. 374.
113 Veja por exemplo: Vermes, G. Jesus e 0 M u n d o do Judaísm o, São Paulo:
89 OLIVEIRA, Juarez. Chronological Studies Related to Daniel 8:14 Ed. Loyola, 1996; Porto, H e Schlesinger, H.,Jesus era Judeu , São Paulo:
and 9:24-27. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress, 2004 Paulinas, 1979 e Charlesworth, J. H.,Jesus dentro do Judaísm o, [Col.
Bereshit], Rio de Janeiro: Imago, 1993.
90 J. Doukhan, Drinking at the Sources (Boise, ID: Pacific Press, 1981), 135;
Jack Finegan, Handbook o f Biblical Chronology (Peabody, Mass: Hendri- 114 Maire,Brigitte Greek’ and ,Roman’ in Latin Medical Texts: Stu-
ckson Publishers, 1964), 259-273. dies in Cultural Change and Exchange in Ancient Medicine (Leiden:
Brill, 2014), 138.
91 Contra Heresias II, 22. 3-6.
115 Verr. II.5.165 e 168, Andrew Roy Dick, A Commentary on Cice-
92 Ketouvoth 96a, Rabi Yehosua ben Levi disse: Todos os trabalhos ro: DeLegibus (Ann Arbor: University of Michigan Press 2004), 318.
devidos por um escravo a seu senhor, 0 discípulo também os deve a seu Berger, Adolf, Encyclopedic dictionary o f Roman law (Filadélfia:
mestre, menos o de tirar as sandálias”. American Philosophical Society, 1991).

93 Elaine Ruth “Archaeological evidence shifting views on site ofJesus’ 116 Cicero, In Defence ofRabirius, V. 16, tradução de H.G. Hodge, Cambrid-
baptism,” Elaine Ruth Fletcher of the Religion News Service, 8 March; ge Elementary Classics (Cambridge: University Press, 1956.
Mohammad Waheeb, Fadi Balaawi, and Yahya Al-Shawabkeh, “The
Hermit Caves in Bethany Beyond the Jordan (Baptism Site)”, Ancient 117 Tácito, Cornélio,. The Annals of Imperial Rome, III, 50,1, tradução de
Near Eastern Studies, Vol. 48 (2011), 177-198. Michael Grant (London: Penguin Books, 1996).
118 John Granger Cook, Crucifixion in the Mediterranean World. [Wis- 1970 Jewish Tombs at and near Giv-at ha‫־‬Mivtar. Israel Exploration
senschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 327]. (Tübin- Journal 20:18-32.
gen: Mohr Siebeck, 2015), 360ss.. 1985 Crucifixion—The Archaeological Evidence. Biblical Archaeology
Review 11:44-53.
119 Epístola 101, in Sêneca. Cartas a Lucilio. 2. ed. Lisboa: Fundação Ca- Yadin, Y.
louste Gulbenkian, 2004.. 1973 Epigraphy and Crucifixion. Israel Exploration Journal 23:18-22.
Zias, J. and Sekeles, E.
120 Diálogo 89, Justino, Dialogue w ith Trypho, Ante-Nicene Fathers, 1985 The Crucified Man from Giv’at ha-Mivtar: A Reappraisal. Israel
Vol. 1. Edited by Alexander Roberts, James Donaldson, and A. Cle- Exploration Journal 35:22-27.
veland Coxe. (Buffalo, NY: Christian Literature Publishing Co. 1889,
disponível em http://www.newadvent.org/fathers/0128.htm 131 Michael Green, D.D., Evangelism in the Early Church, Grand Rapids,
MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1970, pp. 174,175.
121 De constantia sapientisXX 3, Sêneca, De Constantia, in Moral Es-
says, ed. and trans. John W. Basore, Loeb Classical Library, 3 vols 132 A. Yardeni, “A New Dead Sea Scroll in Stone?” Biblical Archaeology Re-
(London: W. Heinemann, 1928-1935 reimpresso por Cambridge, MA: view 34/1 (2008) 60-61. A tradução, na verdade apareceu um ano antes
Harvard University, 1963-1970). numa publicação especializada, a revista Cátedra, mas como se tratava
de uma publicação em hebraico, a notícia ficou restrita a um grupo
bem pequeno de especialistas. Ada Yardeni and Binyamin Elitzur,
“Document: A First-Century BCE Prophetic Text Written on a Stone:
122 Veja os relatos dados por Josefo cm Antigüidades XVII 10:10 e Guerra First Publication,” Cathedra 123 (2007) 155-66.
JudaiqaV. XI: 1
133 A tradução completa oferecida por Yardeni pode ser vista em http://
123 Judicium vacalmm, 12, Lucian Works, with an English Translation by. www.bib-arch.org/news/dssinstone_english.pdf a transcrição do texto
A. M. Harmon. Cambridge, MA: Harvard University Press, London. hebraico pode ser encontrada em http://www.bib-arch.org/images/
William Heinemann Ltd. 1913 DSS-stone-hebrew.jpg.

124 Suetônio, Galba ix. SUETÔNIO. A vida dos doze Césares. 4* Ed. São 134 Israel Knohl, “The Messiah Son ofJoseph: ‘Gabriel’s Revelation’and
Paulo: Ediouro, 2002, the Birth of a New Messianic Model,” Biblical Archaeology Review
(September/October 2008) 58-62,78. Idem, “In Three Days, You Shall
125 Plínio, 0 Velho parece referir-se a este tipo de cruz quando diz que “o
Live” Haaretz, April 19, 2007; Ibdem, “By Three Days Live’: Messiahs,
rei encontrou um remédio novo que ninguém tinha imaginado antes
Resurrection, and Ascent to Heaven in Hazon Gabriel,”Journal of
dele: mandou pregar em cruzes os corpos de todos aqueles que se ti- Religion 88 (April 2008): 147-58.
nham matado, dando com isso um espetáculo aos cidadãos e uma presa
a ser dilacerada pelos animais selvagens e as aves de rapina.” (História 135 Citado por Knohl, “The Messiah Son ofJoseph..., 58.
Natural XXVI, 107),
136 Midr. Wayosha' and Agadat ha-Mashiah in Jellinek, “B. H.” i. 55 et seq.,
126 Mostellaria 1,56 ss , Plautus, The Rope and Other Plays, translated by E. F, iii, 141 et seq. A. Jellinek, Gedachtnifirede auf die im letzten Krie-
Watling, Penguin, London, 1964. ge gefallenen Soldaten israelitischer Religion] (Vienna: Herzfeld &
Bauer, 1867).Locus, nesidet essimus antestra? Mulinte aperi patilicis,
127 Diálogo 91.1, Justino, Dialogue w ith Trypho, Ante-Nicene quemus paris. et nonvendumum nulicaella re iuriptem dit factus clerum
Fathers, Vol. 1. Edited by Alexander Roberts, James Donaldson, and publicondes publinve, C. Vivirid capesciam.
A. Cleveland Coxe, (Buffalo, NY: Christian Literature Publishing Co.
1889, disponível em http://www.newadvent.org/fathers/0128.htm,

128 Talmude, Sanhedrin 13:2 e 43a.

129 James B, Tschen Emmons. Artifacts from Ancient Rqme, (Santa


Barbara, California: Greenwood, an imprint of ABC CLIO. I.i.C.
2014), 176.

130 Para as diferentes posições acerca do assunto veja: Davis, John |.


2002 Bones, Burials and Biblical History: The Results of Burial Kscava
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Tzaferis, V.
*f _
Conciso Dicionário sobre a

Vida deJesus
C O N C IS O D IC IO N Á R IO SOBRE Neste sentido, Jesus inaugurou um a form a extraordi-
nária de se dirigir a Deus, pois na literatura devocional
A V ID A DE JESUS 1
judaica jamais foi encontrado esse term o aplicado ao
Deus de Israel. Os judeus do prim eiro século tinham
em grande reserva o uso do nom e divino. Em lugar de
seu uso - para não pronunciá-lo inadequadam ente
preferiam dizer algo como “o Santo, bendito seja” ou
sim plesm ente chamá-lo de haShem, isto é, o nome.

C uriosam ente, A bbá era tam bém o term o que os


discípulos usavam quando se referiam a um professor
querido no judaísm o prim itivo. Jesus, porém , o utili-
zou para se referir a Deus, e, pelo que consta, só ele e
seus seguidores oravam a Deus dessa m aneira.

Assim, depois da m orte e ressurreição de Jesus, ins-


pirados no seu próprio exemplo, as prim eiras comu-
nidades cristãs continuaram invocando a Deus como
Abbá, Pai (Abbá, ho patér). A expressão, pois repre-
senta o grau de intim idade que Cristo tinha com Deus

Á e que, através dele, seus discípulos tam bém podem ter.

A B O M IN Á V E L D A D E S O L A Ç Ã O

ABBÁ Essa enigm ática expressão aparece em M ateus 24:


15-25, quando Jesus discursa sobre a destruição do
Esse é o term o aram aico para "pai”, dito num a for- T em plo e o fim dos tem pos. A referência é às pro-
m a de intim idade familiar. Talvez a tradução mais fecias de Daniel 11:31 e 12:11. M uitos com entaristas
aproxim ada seria “querido pai”. N o passado, prevale- veem aqui a figura de A ntíoco Epifânio, que profa-
ceu entre os com entaristas o trabalho d e jo a c h in Jere- nou o Tem plo, construindo ali um altar a Zeus e ofe-
m ias, que entendeu se tra ta r de um balbucio infantil, recendo porcos no altar do santuário, em 168 a.C.
de m odo que Abba seria algo com o “papaizinho” ou
“papai”. Hoje há reservas em relação a essa conclusão. Jesus, porém , parece referir-se a um acontecim ento
N o entanto, ainda é aceito o fato de que o term o traz futuro, de proporções semelhantes, mas de significado
um a noção de intim idade en tre um a criança e seu pai. tanto físico quanto espiritual. Pode ser a presença das
insígnias rom anas no Tem plo antes de sua destruição
N os evangelhos, Jesus chama a Deus de Pai mais no ano 70 d.C. e tam bém um a manifestação futura de
de 200 vezes e a m aior parte das ocorrências está no contradição explícita às verdades de Deus.
Evangelho de João. Lucas coloca Jesus referindo-se a
Deus com o seu Pai na prim eira e na últim a referência
às suas palavras. N o prim eiro registro Jesus diz: “Não
ACELDAM A
sabíeis que m e cum pria estar na casa de m eu pai?”
Ou Akeldama, literalm ente campo de sangue. Este
(Luc. 2:49). E na sua últim a súplica na cruz ele tam -
term o aramaico aparece em M ateus 27:8 e refere-se a
bém diz: “Pai, nas tuas m ãos entrego m eu espírito”
um lugar na periferia de Jerusalém , com prado pelos sa-
(Luc. 23:46).
cerdotes com o dinheiro pago pela traição de Jesus Cris-
Abbá aparece apenas um a vez nos lábios de Cristo, to. Quando Judas aceitou entregar o Senhor nas mãos
em M arcos 14:36. Contudo, acredita-se que se trata- dos sacerdotes, foi acertado que ele receberia 30 moedas
va de seu m odo original de se expressar no aramaico. de prata. Então foi feito conform e o combinado.
O rem orso, no entanto, tom ou conta do apósto- T estam ento e não era diferente no prim eiro século.
10 traidor, que tentou, em vão, desfazer o trato, lan- A Galileia produzia o m elhor trigo, enquanto a ceva-
çando as m oedas no piso do T em plo diante dos que da era produzida na parte mais sudoeste e servia para
haviam encom endado o serviço (M at. 27:3-10). Sen- alim entar anim ais ou fazer um pão m enos n u tritivo,
do um dinheiro sujo, usado num a traição, que levou consum ido pelas classes mais baixas. As uvas eram
alguém à m orte, foi cham ado “dinheiro de sangue” e, comidas frescas, na época da colheita, ou em form a
po rtan to , não poderia reto rn ar aos cofres do Tem plo. de passas em outras épocas do ano. T am bém eram
usadas para fazer vinho.
D ecidiu-se, pois, que seria usado para com prar
um te rre n o , a fim de tran sfo rm á-lo n u m cem itério As azeitonas eram outro p roduto da terra im por-
para estrangeiros. A tradição costum a localizar esse tantíssim o na vida dos judeus, pois p rovinha o azei-
cam po no Vale de H inom , situado a sudoeste de Je- te, que era m atéria-prim a para diferentes produtos,
rusalém . com o com bustível para lam parinas, sabão, ingredien-
te de culinária, perfum e, rem édio e outros. Não é por
ADVERSÁRIO m enos que a palavra Cristo ou M essias significa lite-
ralm ente aquele que é ungido com azeite.
Um term o geralm ente usado com o sentido de T âm aras, figos, rom ãs, lentilhas e cebolas eram
oponente, inim igo. Nos lábios de Jesus, no entanto, alguns dos outros pro d u to s plantados e largam ente
ela aparece m ais com o sentido técnico de oponente usados, especialm ente, nas receitas. Algum as frutas
num processo legal. Assim está em M ateus 5:25 e Lu- ajudavam a adoçar tortas e bolos, e as tâm aras, em
cas 12:58. Em am bos os casos, Jesus apela à reconci- especial, serviam para p roduzir um melaço que subs-
liação e não à dem anda, custe o que custar. tituía, com propriedade, o m el de abelhas, m ais raro
Em Lucas 18:3,0 sentido é um tanto distinto e cor- na ocasião.
rige a ideia de que jam ais podem os levar pedidos jurí- O calendário da agricultura era assim: de m eados
dicos às autoridades constituídas. N este caso, o juiz é de setem bro a m eados de outubro, havia a colheita e
tom ado com o um paralelo espelhado de Deus, isto é, prensagem das azeitonas para extração do azeite. Em
se até um juiz sem coração atende a um a viúva ousa- novem bro ocorriam as prim eiras chuvas que perm i-
da, que não desiste de seu pedido p o r justiça, quanto tiam o começo do plantio. Os cam pos então eram ara-
mais Deus, que está sem pre disposto a com padecer de dos e semeados.
seus filhos. Basta pedir-lhe em oração.
As chuvas continuavam caindo po r intervalos du-
AGONIA rante os meses de dezem bro até m arço/abril. O risco,
porém , eram as chuvas de inverno, que podiam acabar
Sentim ento de intenso sofrim ento m ental que, às com o plantio. As chuvas de m arço/abril eram as mais
vezes, supera a dor física. O term o português vem do ansiadas, pois am adureciam o plantio para a colheita.
grego agôn, que quer dizer luta ou em bate. É exata- Os meses seguintes eram de seca, até o novo ciclo em
m ente assim que o texto bíblico descreve o conflito setem bro/outubro.
de Cristo no G etsêm ani (Luc. 22:44). O utras palavras Jesus tiro u m uitas lições espirituais das atividades
gregas para agonia envolvem tanto a dor física como agrícolas de seu tem po. Ilustrou o cuidado de Deus,
a em ocional (cf. Luc. 16:24, 25). lem brando as aves do céu e a erva do cam po (Mat.
6:30). C om parou o evangelho a um a sem ente lançada
AGRiCULTURA em diferentes solos (M ar. 4:1-20). Ele tam bém com -
parou pessoas com árvores que dão bons ou maus fru-
O plantio e a colheita eram elem entos intrinse- tos (Luc. 6:43-45) e identificou-se com o um a vinha, à
cam ente conectados à vida diária dos dias de Cristo. qual os crentes deveriam estar unidos caso quisessem
Sua im portância já vinha desde os dias do A ntigo produzir frutos (Jo. 15:1-8).
CH U VA FORTE
DE INVERNO-,

IN telO DO
ÍN VSR N O

lérrto

A ra g e m

PniMEIRAS'
CHWAS CALO R
DE OUTONO r-,.3. Ac palintea ma 11
«·ài«MÍftí n» H.ím 3
infernei 580 m n -íS S V ^
hzlrtKa,

AGRÍPA ÁGUA V!VA


A gripa era neto de H erodes, o G rande, o m esm o A expressão “água viva” é encontrada em diversas
rei que ten to u m atar Jesus no infanticídio de Belém passagens da Bíblia Sagrada, significando, acima de
da Judeia (M at. 2: 16-18). Ele nasceu em 27 d.C., épo- tudo, um a forte corrente em oposição ao conceito de
ca em que Cristo iniciava seu m inistério, e m orreu água parada (Lev. 14:5; 14:50 - 53; Lev. 15:13; Núm
p o r volta do ano 100 d.C. 19:17; 20:6;; Prov. 18:4; Is. 58:11; Jer. 17:13; Zac.l4:8).

Sua atuação com o governador da Galileia foi ape- C o n sid e ra n d o se tra ta r de u m a região desérti-
nas depois da m o rte e ressurreição de Jesus, p o r volta ca, as te rra s bíblicas são caren tes de fo n tes d’água
do ano 60 d.C. N um encontro com o apóstolo Paulo, p eren es. F o ra o J o rd ã o e o lago da G alileia, o ter-
ele se declarou p o r pouco persuadido a ser um cristão ritó rio dos judeus n ão d isp u n h a de grandes rios e
(At. 26:28). Os com entaristas discutem o verdadeiro lagos. Era, p o rta n to , bem m ais árido que outras
sentido dessas palavras. O texto é dúbio e pode reve- p ro v ín cias do im p ério ro m a n o . A estepe e o de-
lar tan to um a disposição para ser convertido com o serto eram realidades com uns p ara a m aio ria dos
um a ironia diante do prisioneiro. c o n te m p o râ n e o s de Jesus.
Havia, no entanto, um a precipitação m édia de A prim eira foi no poço de Jacó, onde ele se encon-
chuva suficiente para a agricultura, mas não para um a tro u com a m ulher sam aritana (Jo. 4:1-42). A segun-
realidade abundantem ente regada. Daí a consciência da, num dram ático discurso em Jerusalém , quando
bíblica do valor da água e das terríveis conseqüências m uitos queriam m atá-lo (Jo. 7:37-44).
da falta dela.
No encontro com a m ulher de Samaria, a expres-
Sua disponibilidade era garantida pelos poços e são aparece pela prim eira vez em João 4:10 e parece
nascentes, ou pela conservação da água da chuva em estar em pregada no seu sentido com um de água cor-
cisternas, piscinas, etanques. De fato, a arqueologia rente, m as no versículo 14 passa a significar a água da
descobriu um a quantidade considerável de complexas ‫״‬vida eterna”. Ao dizer que podia oferecer um a água
instalações hidráulicas para a canalização e arm azena- viva que saciaria para sem pre a sede de quem a bebes-
m ento de água nas diferentes m odalidades m encio- se, Jesus declarava ser o M essias. Som ente o M essias
nadas. Havia cisternas e poços públicos situados em poderia conceder essa dádiva que satisfaz a necessida-
diversas cidades: G uibeon (2 Sam. 2:12), H ebron (2 de existencial da alma hum ana.
Samuel 4:12), Sam aria (1 Rs. 22:38), Jerusalém (Isa.
A segunda ocorrência, no discurso em Jerusalém ,
7:3; 22,9:11; 36:2; Neem . 2:14).
não distancia m uito do sentido anterior, do contex-
U m grande n úm ero de lugares tin h a o nom e de to do diálogo com a m ulher sam aritana. Jesus aplica
algum a fonte que estivesse próxim a, sendo este fato mais um a vez a im agem da água a si m esm o, prom e-
indicado por m eio dos prefixos Ain e En. Fontes per- tendo que aqueles que bebessem dele, não som ente
pétuas, descritas com o nascentes de água viva, eram serão saciados, com o terão o privilégio de saciar a ou-
m uito apreciadas (Sal. 36:7 a 9; Isa. 49:10; Jr. 2:13; Joel tros (Jo. 7:37-39). Tal declaração ecoa a prom essa do
3:18; Zac. 13:1). Zacarias profetizara que um a fonte se A ntigo T estam ento de que o justo seria com o um a
abriria em Jerusalém , na qual podiam ser lavadas to- árvore plantada ju nto às águas correntes (lit. águas
das as im purezas da casa de Davi. vivas) que não se esgotam jam ais (Sal. 1:3 e je r . 17:8).

Além de sím bolo de salvação, a água envolvia um a


questão social. Os direitos sobre ela eram m uitas ve- Al
zes m otivo de disputa e seu uso assegurado p o r m eio
de pagam ento. Isaías 55:1 faz supor que vendia-se A expressão ‫״‬ai” é m uito com um nos textos do A n-
água nas grandes cidades de Judá, em bora nem sem - tigo Testam ento (1 Rs. 13:30; Jer. 22:18; 34:5; Am.
pre o recurso natural fosse cobrado (Núm. 20:19). 5:16ss; 6:1, 3-7), é um a exclamação para lam ento pelos
Afinal, devido à escassez, era um gesto de hospitali- m ortos (luto) ou então com o declaração de m orte ou
dade oferecer água ao viajante sedento, tan to para be- desgraça im inente. Fazia parte tam bém de um gênero
ber quanto para lavar-se, m esm o que fosse necessário literário m uito com um nos salmos e em alguns profe-
retirá-la de um poço profundo (Gên. 24:17; Jó 22:7; tas (como Jerem ias), conhecido como textos de lam en-
Isa. 32:6; M at. 10:42; M ar. 9:41; Luc 7:44). tação ou execração. Não som ente em Israel, mas em
todo O riente M édio, especialmente Egito, Babilônia e
N orm alm ente, cabia às m ulheres, a tarefa de tira r
Ugarite são encontrados textos de lamentação.
água do poço, prática ainda observada em aldeias do
m oderno O riente M édio (Gên. 24:11; 1 Sam. 9:11). A lam entação, p o rtan to , não é apenas um a expres-
Mas nem sem pre era assim. Jesus m esm o pediu a seus são de dor, mas tam bém de sentim ento de tristeza po r
discípulos para procurarem um hom em que levava algo eticam ente errado ou ainda com o adm oestação
um cântaro d ag u a (M ar 14:13; Luc 22:10). profética, apelo e advertência.

Com esse pano de fundo em m ente, é possível en- E ncontram os o “ai de...” com o advertência pública
tender as duas ocorrências em que Jesus usa em seus de C risto dirigida a pessoas que ele queria salvar, mas
ensinos a expressão “águas vivas”, para sim bolizar rea- pareciam reticentes à sua m ensagem e anestesiadas
lidades espirituais. Ambas estão no Evangelho de João. quanto ao juízo vindouro. Exemplos:
a) Luc. 6:24s (ai de vós, os ricos, pois fiaste-vos em nhecido. Esse é 0 nom e do pai de Levi M ateus, discí-
vossa riqueza...) pulo de Cristo, de acordo com M arcos 2:14 e M ateus
9:9. T am bém é o nom e do pai de Tiago (Mat. 10:3:
b) M at. 23:14 (ai de vós que devorais as casas das
M ar. 3:18; Luc. 6:15; Atos 1:13). Não se sabe ao certo
viúvas).
se se trata da m esm a pessoa, o que faria de Mateus
c) M at. 23:25 (ai de vós , escribas e fariseus, hipó- irm ão de Tiago, mas m uitos pensam que não.
critas...).

Em M ateus 23 as frases com “ai” são direcionadas ALIANÇA


ao grupo dos fariseus, mas há tam bém textos que fa-
lam acerca de cidades inteiras que estão sob a im inên- Acordo feito po r duas partes com o fim de firm ar
cia do juízo divino (M at. 11:21; 10:13). Nalguns casos, um projeto. Na Bíblia esse acordo reflete de manei-
o ai tom a proporções não apenas de advertência, mas ra especial o pacto de salvação que Deus fez com a
de anúncio de veredito. O fato já está consum ado e a hum anidade. D em onstrações pontuais desse pactc
condenação decretada. foram vistas nos acordos de Deus com N oé (Gên
9:8-16), Abraão (Gên. 12:1-3), Davi (Sal. 89:3,4) e Sa-
Não se trata, porém , de um a condenação fria da
lom ão (II Cro. 7:11-22). De m odo coletivo, tam bém
parte de C risto. O ai que ele usava em seus discursos
houve um a acordo de Deus com Israel (Êxo. 19:5
nascia do lam ento, da do r da perda de um filho im pe-
que é renovado p o r Josué no período da conquista de
nitente, a m esm a dor expressa nos cânticos fúnebres
do A ntigo T estam ento (Am. 5:16s; Nm . 21:29-31). Canaã (Jos. 24:14-25).

As relações de Deus com seu povo sofreram , in-


ALELUIA felizm ente, várias quebras de contrato p o r parte da-
queles que deveriam ser fiéis. Daí a necessidade de
Essa é um a transliteração direta do hebraico Hal- confissão, arrependim ento e perdão.
lelu + Yah, literalm ente, “louvai ao S enhor”. Apesar
de sua fam a nas religiões judaica e cristã, é curioso N o N ovo T estam ento, revela-se a ação máxima
n o ta r que essa palavra só ocorre 23 vezes no A ntigo de Deus em fazer um a "nova aliança” com os hom em
T estam ento, todas na seção que com preende os Sal- p o r m eio de Jesus C risto que seria a divindade encar-
m os 104-150. Com o ela sem pre está no com eço ou nada em form a hum ana (Heb. 9:14),
no final de cada salm o, m uitos acreditam que seria
N o m om ento de sua despedida, Jesus participa
um a espécie de resposta congregacional no m om en-
com os discípulos da últim a ceia antes de sua m orte e.
to da adoração.
no m om ento de oferecer o cálice, ele diz:
Sua ocorrência continua rara no N ovo T estam en-
“Pois isto é meu sangue, 0 sangue da Aliança (Nova!
to, aparecendo apenas no livro do Apocalipse, onde é
que e' derramado por muitos para a remissão dos pecados.
entoada p o r criaturas no céu, em louvor a Deus pela
(Mat. 26:28), Bíblia de Jerusale'm.
v itó ria sobre as forças do m al (Apoc. 19:1, 3, 4, 6).
Há teólogos que interpretam essa nova aliança
P or seu significado profundo, Aleluia te rm in ou
com o um a anulação da antiga. Considerando a quebra
sendo incorporada pelas prim eiras com unidades cris-
do pacto anterior, Deus teria de estabelecer um nove
tãs a passou a fazer parte da liturgia do cristianism o,
acordo com seu povo, m ediante C risto Jesus.
especialm ente para celebrar a ressurreição e a divin-
dade de Jesus Cristo. O utros, contudo, entendem que, a despeito das
expressões "antigo” e "novo pacto”, a Bíblia fala, na
ALFEU verdade, de um a única aliança feita originalm ente
com Adão (Gên. 3:15) e diversas vezes renovada ao
Esse nom e aparece nos evangelhos com o transli- longo da história. A nova aliança seria, nessa visão
teração grega do nom e Chalpay, de significado desco­ o ápice do acordo firm ado desde a entrada do pecado
no m undo e que coincide com a p rópria história da lem brar, um único denário eqüivalia ao salário de um
redenção hum ana (Apoc. 13:8). U m pacto firm ado no dia inteiro de trabalho (Mat. 18:28; M ar. 12:15; Luc.
Éden, confirm ado no Sinai e cum prido no Calvário. 20:24). Com esse m esm o m ontante, dava para com -
p rar 800 quilos de pão.
ALFA E OMEGA O evangelho não esconde a indignação de Judas,
dizendo que o perfum e usado para u ngir os pés de
Literalm ente, a prim eira e a últim a letra do alfabeto Cristo poderia ser vendido p o r 300 denários. Logo,
grego, indicando o princípio e o fim. Algo sem elhante ela deve ter trazido pelo m enos 1.500 gram as de per-
a dizer: “de A a Z”. Usada como identificação divina,
fum e - um a pequena fortuna para a ocasião.
a expressão aparece três vezes no Apocalipse, relacio-
nando Cristo e com Deus Pai (Apoc. 1:8; 21:6; 22:13)» O vaso levado pela m ulher deveria ser belíssim o
para carregar um a quantidade tão grande de um per-
A im agem que o texto p ro p o rcio n a é de um C ris-
fum e tão caro.
to D ivino, C riador, E tern o e M a n te n e d o r da ordem
cósmica. E ele quem com eça e conclui a h istó ria h u -
m ana. É ele quem com anda a eternidade, ao lado de
ALFARROBEIRA
Deus, o Pai.

ALABASTRO
T am bém cham ado de espato acetinado é um nom e
dado a dois tipos de m inerais distintos: o gesso e o
caLuc.ite. O segundo é geralm ente o alabastro dos
tem pos bíblicos, encontrado principalm ente no Egi-
to, de onde era exportado para outras regiões, com o a
Judeia. Por ser um m ineral de baixa dureza, era facil-
m ente esculpido e torneado em to rn o s rudim entares
ou ainda polido.

U m vaso feito de alabastro não era um produto


barato, p o r isso era utilizado para fins m uito especí-
ficos, com o porta-cosm éticos, tin teiro ou recipiente
de unguentos e perfum es. Em M arcos 14:3-9 há a
m enção de um a m ulher, M aria, irm ã de Lázaro, que,
de m aneira ousada, mas ao m esm o tem po hum ilde e
despretensiosa, e n tro u no recinto com um vaso de
alabastro, ungiu Jesus com um perfum e precioso, re-
gou seus pés com lágrim as e o secou com seus pró-
prios cabelos. O m esm o incidente aparece com va-
riantes em outras passagens: M ateus 26:6-13; Lucas
7:36-50 e João 12:1-8. Alguns pensam que se trata de
episódios distintos. U m a típica árvore da família das legum inosas,
m uito com um no in te rio r de Israel e na costa do M e-
O perfum e que M aria trazia tam bém era raro. O diterrâneo. A alfarrobeira atinge um a altura de até
nardo, proveniente de T arso, na Cilícia - terra natal 9 m e possui folhas pequenas e reluzentes. Seu fruto,
do apóstolo Paulo - era um dos mais caros arom as a alfarroba, é um a vagem com estível, que pode m edir
da ocasião. O escritor rom ano Plínio, em sua obra de 15 a 25 cm de com prim ento e cerca de 2,5 cm de
Naturalis Historia, escrita entre 77 e 79 d.C., diz que largura. D entro tem várias sem entes parecidas com
500 gram as de N ardo custariam 100 denários. Só para ervilha, separadas po r um a poupa com estível de cor
marrom-escuro e sabor adocicado. E m uito rica em AMÉM
valor nutricional.
Transliteração de um termo hebraico normal-
Acredita-se que os antigos egípcios a utilizavam
mente usado para indicar uma confirmação solene:
no processo de mumificação e os romanos mastiga-
Verdadeiramente! Digno de crédito!
vam suas vagens secas como se fossem doces. Os gre-
gos deram-lhe o nom e de keration e, por pensarem er- Por causa das traduções grega e latina das escritu-
roneamente que as sementes da alfarroba eram todas ras judaicas, amém foi incorporado em vários idiomas
de igual peso, eles as utilizavam para pesar diamantes. ao redor do mundo. Poucos, no entanto, conhecem a
Assim surgiu o nom e Quilate, para designar a unida- raiz etimológica por detrás do termo.
de de peso usada para metais e pedras preciosas.
Pensou-se por um tempo que Amém vinha
Por ser árvore resistente à seca e à estiagem pro- do nom e de um antigo deus egípcio chamado Amum
longadas, 0 fruto da alfarrobeira era distribuído aos (que, em alguns casos, aparece chamado de Amen
animais, durante o período de pouca pastagem. Por N o entanto, a maior parte dos especialistas crê que
essa razão, acredita-se que as alfarrobas seriam as bo- isso não passa de uma mera coincidência fonética.
lotas dadas aos porcos e que o filho pródigo desejava
comer, para matar sua fome. A proposta mais aceita atualmente é que Amém
viria da raiz hebraica aman (‫)אמ ן‬, que tem o significa-
Alguns presumem ainda que a alfarroba seria o ali- do de “ser firme, ser fiel, ser verdade”, “algo no qual
m ento de João Batista, mencionado em Mateus 3:4. pode-se firmar” - como um tronco em m eio a uma
Daí a antiga tradição que a chama de Pão-de‫־‬São- enxurrada ou um mastro em m eio a um vendaval.
-João. Acredita-se que a palavra grega traduzida como
“gafanhotos” pode se referir ao fruto da alfarroba, ao Da mesma raiz surgiram ainda as palavras “verda-
invés do inseto. Isto é sugerido porque os termos he- de” (em et ‫ )תמא‬e “fidelidade” ou “confiança” (emunah
braicos para “gafanhotos” (hagavim) e “alfarrobeiras” ou seja, !‫ אמונן‬- traduzida como fé em nossas Bíblias).
(haruvim) são muito similares. Especialmente o Evangelho de João apresenta Jesus
iniciando alguns de seus ditos com a frase “amém,
Complementando o argumento, existe outra tra- amém”, que muitas Bíblias traduzem por “em verda-
dição transmitida por antigos autores cristãos de lín- de, em verdade”. Apenas Jesus se expressa dessa ma-
gua grega, segundo os quais o termo grego traduzido neira, indicando a confiabilidade daquilo que ele diz.
por gafanhoto ( acris) designaria mais propriamente
outras coisas que não o inseto.
ANÁS
Considerando que a alfarrobeira demorava nos
tempos antigos para dar frutos, o Talmude dispõe ain- Sumo sacerdote e um dos mais influentes mem-
da de uma interessante parábola acerca dessa árvore: bros do Sinédrio nos dias de Cristo. Segundo o relato
bíblico, esse líder religioso participou ativamente do
Um hom em idoso estava plantando uma árvore. processo contra Jesus (Jo. 18:15-24). Era sogro de Cai-
Um jovem passa e pergunta, “O que você está plan- fás, outro sumo sacerdote, que também era inimigo de
tando?” Cristo e concorreu para acelerar sua condenação.
“Uma árvore de alfarroba”, responde o velho ho- O historiador judeu, Flávio Josefo, diz que Anás
mem. foi nomeado ao cargo por ordem de Quirino, gover-
nador da Síria, logo após a remoção de um certo Joa-
“Ora seu tolo”, disse o jovem. “Você não sabe que le-
zar, que ocupava a função de sumo sacerdote no ano 6
vam 70 anos para uma árvore de alfarrobas dar frutos?”
ou 7 d.C. Diferente do Antigo Testamento, em que o
“Não há problema,” disse o velho homem. “Assim sacerdote era vitalício e escolhido por uma indicação
como outros plantaram para mim, eu planto para as espiritual, aqui o cargo havia se tornado uma moeda
futuras gerações.” de troca de políticos.
Por essa razão, supõe-se que Anás era um hom em E m bora fosse pescador, era tam bém discípulo de
de m uito prestígio e acordos políticos com os pode- João Batista, que indicou-lhe Jesus de Nazaré com o o
rosos de Rom a. Afinal de contas, ele ficou no poder “C ordeiro de Deus”. A ndré, p o r sua vez, apresentou
até o ano 15 d.C., quando foi destituído pelo procu- Pedro para Cristo e am bos aceitaram o cham ado para
rador rom ano V alério G rato. M esm o assim, conse- se to rn arem pescadores de pessoas (Mar. 1:16-17; Jo.
guiu em possar, em seqüência, cinco filhos e um genro 1:41-42).
(Caifás), o que dem onstra que ele ainda tin h a bastan-
A ndré acom panhou Jesus d u ran te seus três anos
te poder sobre o Sinédrio.
e m eio de m inistério. Sendo um dos que dem ons-
A m enção de Lucas 3:2, que anuncia Anás e Caifás tra m m ais entusiasm o em an unciar C risto, sua fi-
com o sum o sacerdotes de Jerusalém , ao m esm o tem - gura aparece em vários episódios dos evangelhos. É
po, é no m ínim o estranha. Ela indica que, apesar de ele quem en c o n tra o garoto com cinco pães e dois
oficialm ente destituído, ele ainda continuava a m a- peixes, p o r ocasião do m ilagre da m ultiplicação dos
nipular o poder. Ademais, o fato de Jesus ser levado pães (Jo. 6:8 e 9). Foi tam bém ele quem auxiliou Feli-
im ediatam ente para a casa de Anás, após ter sido pre- pe a acom panhar alguns gregos que queriam conhe-
so, e som ente depois para Caifás, confirm a a suposi- cer pessoalm ente Jesus (Jo. 12:20-22). F inalm ente,
ção de que ele ainda com andava o jogo político po r A ndré aparece ju n ta m e n te com Pedro, T iago e João,
trás dos bastidores (Jo. 18:15-24). indagando a Jesus acerca do fim do m u n d o (M ar.
13:3 e 4).
Ao que tudo indica, a fam ília de Anás fez fortu na
m anipulando a venda de itens necessários ao sacrifí- Diz a tradição que A ndré foi crucificado em Acáia,
cio no T em plo, com o pom bas, ovelhas, azeite e vi- segundo a ordem do proconsul Eges, cuja esposa se
nho, que eram vendidos nas imediações do Tem plo. convertera ao ouvir sua pregação. Ele teria sido posto
Tal pano de fundo faz sentido à luz do ato de Cris- num a cruz decussata (X), depois conhecida com o a
to em purificar duas vezes o T em plo, expulsando cruz de Santo A ndré. Diz-se que foi atado, e não era-
os cambistas e vendedores que lá havia (Jo. 2:13-16; vado, à cruz, para assim prolongar seus sofrim entos.
M at. 21:12-13). Estes certam ente eram funcionários
a serviço da fam ília de Anás. As palavras de Cristo ANJOS
eram um a denúncia ao seu com portam ento: “Está es-
crito: A m inha casa será cham ada casa de oração; vós, Seres celestiais, criados p o r Deus, superiores ao
porém , a transform ais em covil de salteadores.” ser hum ano e com issionados com o m ensageiros do
Altíssimo. Talvez, p o r causa disso, a palavra anjo,
N um a situação posterior, Josefo diz que A nanus quer na sua form a grega ou hebraica (aggelos e mal’ak)
(Ananias), filho de Anás, tinha “servos tão m aus que significa m ensageiro.
iam ... to m ar à força as décimas [dízimos], que per-
tenciam aos sacrificado res [sacerdotes], e batiam nos Há diversas passagens na Bíblia em que anjos
que se recusavam a dá-las”. Esse m esm o A nanus par- aparecem com o m ensageiros celestiais enviados
ticipou de um julgam ento contra o apóstolo Paulo ao m undo (Gên. 19:1; 28:12; Êxo 3:2; 14:19; N úm .
(At. 23:11-10). 22:22; Jz. 6:11 etc.). M as há textos tam bém em que
m ensageiros rep resen tam apenas seres h um anos em
função de em issários (2 Sam. 3:14; Ezeq. 23:16; M at.
ANDRÉ 11:10; Luc. 7:24).

U m dos prim eiros discípulos de Cristo, irm ão de T am bém existem certas passagens que conectam
Pedro, que se to rn o u um dos doze apóstolos (Mat. 10:2; a presença de anjos no m inistério de Jesus. U m anjo
M ar. 3:18; Luc. 6:14). De acordo com João 1:44, era dirigiu José e M aria p o r ocasião da geração e nasci-
natural de Betsaida e seu nom e significa “m asculino”, m ento de C risto (Mat. 1:20; 2:13, 19); anjos cantaram
“viril”, “principal”. Seu pai cham ava-se João, tam bém para celebrar sua chegada (Luc. 2:13); m inistraram
apelidado d e jo n a s (M at. 16:17; Jo. 1:42). em favor dele no m onte da tentação (M at. 4:11), ro la­
ram a pedra de sua tum ba e proclam aram sua ressur- A R A M A IC O
reição (M at. 28:2, 5-7). Foram tam bém dois anjos que
se puseram diante dos discípulos após a ascensão de Língua sem ítica próxim a ao hebraico e que era o
Cristo e com unicaram que ele haveria de voltar (At. idiom a corrente dos judeus nos dias de Jesus. Suas
1:10 e 11). origens indicam que teria sido um a língua comercial
vinda do A ntigo O riente. M ais tarde, nos tem pos da
Jesus tam bém deu inform ações im portantes sobre
Assíria e Babilônia (1100-538 a.C.), o aram aico tor-
esses m isteriosos seres. Ele disse que os anjos são su-
nou-se um idiom a de correspondência diplomática.
periores e de natureza diferente dos seres hum anos
Os oficiais dom inavam o seu uso e recorriam a ela
(M at. 22:30; M ar. 12:25) e tam bém revelou que exis- quando necessitavam conversar entre si.
tem anjos m aus (Mat. 25:41). O utros ensinos de Cris-
to referentes aos anjos podem ser vistos em M ateus Em 701 a.C., durante o reinado de Ezequias, um ge-
13:41; 18:10; 22:30; 25:41; Lucas 15:10. neral assírio apareceu com sua comitiva fora dos mu-
ros de Jerusalém . Ao tentar conversar com os que esta-
vam no m uro, foi-lhe pedido que falasse em aramaico,

ANTICRISTO pois assim facilitaria o entendim ento (2 Rs. 18:26-28).

Ao que tudo indica, o aram aico suplantou a língua


Literalm ente, um oponente de C risto, que procu- hebraica depois do fim do cativeiro babilônico. M ui-
ra usurpar-lhe a adoração. Esse term o aparece apenas tos judeus que ficaram no cativeiro perderam fluên-
nas cartas do apóstolo João, que tam bém o escreve cia na língua hebraica e essa aos poucos foi relegada
no plural, referindo-se à vinda de m uitos “anticristos” à função de língua litúrgica para uso nas sinagogas
(I Jo. 2:18; 4:3). Em bora não se m encione o nom e, durante o shabat.
acredita-se que Paulo refere-se ao m esm o persona-
U m indício disso está n u m episódio envolvendo
gem em sua adm oestação aos cristãos de Tessalônica
Esdras que liderou o povo na reconstrução de Jeru-
(2 Tes. 2:3-4; 8-10).
salém. N um m om ento em que as Escrituras hebraicas
Jesus tam bém falou da vinda de falsos cristos e fal- eram lidas em público, houve a necessidade de inter-
sos profetas (Mat. 24:24). Na interpretação joanina, o pretar ou traduzi-las para o aram aico, a fim de que a
anticristo é alguém que nega a encarnação de C risto, população pudesse en ten d er seu conteúdo.
além de pro ferir outros ensinos contrários ao evan-
Com o não há qualquer indício de retom ada da lín-
gelho (1 Jo. 2:22; 2Jo. 1:7).
gua hebraica até os tem pos de C risto, é m uito prová-
A ideia da vinda desse poderoso oponente teve um vel que ele e seus discípulos falassem correntem ente
destaque especial no im aginário apocalíptico cristão. o aram aico. O hebraico era usado no estudo das Es-
N o Didachê, um m anual de d o u trinam ento cristão do crituras e não podem os afirm ar o grau de aprofun-
início do segundo século, é dito que o A nticristo apa- dam ento dos discípulos no idiom a sagrado. O grego
recerá um dia operando m ilagres e fazendo-se passar talvez fosse conhecido apenas superficialm ente para
pelo Filho de Deus. possibilitar pequenas transações comerciais.

Poucos anos mais tarde Ireneu de Lion, um dos ARIMATEIA


Pais da Igreja, apresentou um parecer que rem etia ao
apóstolo João, segundo o qual, o anticristo seria o im - Nom e de um a aldeia de Israel cuja localidade ainda
pério rom ano. é desconhecida pelos arqueólogos. Pensa-se, sem m ui-
ta certeza, que poderia ser o equivalente às cidades de
Paulo afirm ou que nos últim os dias esse indivíduo
Ramah, Ram at ou Ram ataim do Antigo Testam ento.
(ou o poder que ele representa) seria revelado, des-
m ascarado e destruído pela m anifestação da vinda de De acordo com o N ovo T estam ento, um m em bro
C risto (2 Tes. 2:6 e 8). do Sinédrio cham ado José, que não aceitara o que fi­
zeram com Jesus e, p o r isso m esm o, em prestou seu A palavra grega para autoridade é exousia, que
túm ulo para que o Senhor fosse sepultado, era prove- quer dizer capacidade e liberdade para agir externa-
niente dessa cidade. P or isso os evangelhos o cham am m ente, isto é, para fora de si m esm o. Poder sobre ou-
de José de A rim ateia (Mat. 27:57-60; M ar. 15:43; Luc. tra pessoa ou situação, o que im plica um a habilidade
23: 50-53; Jo. 19:38). ou direito de exercer o controle e tam bém um poder
m aior que confere a autoridade ao indivíduo.
ASCENÇÃO DE JESUS O p ró p rio C risto declara ter “autoridade sobre a
terra ” (M ar. 2:10). De fato, todos os que lhe ouviam
Q uarenta dias após sua ressurreição, Jesus foi eleva-
e testem unhavam seus m ilagres adm itiam que ele
do ao céu em retorno para a glória de seu Pai. Ao que
falava e agia com um a autoridade acim a de todas as
tudo indica, ele não havia ainda subido definitivam en-
outras (Mat. 7:29). Não apenas seu controle sobre as
te ao céu após ressuscitar dentre os m ortos, mas ficara
ondas e os ventos, seu poder de ressuscitar m ortos
junto aos discípulos em aparições corpóreas, dando-
e expelir dem ônios lhe conferiam adm iração dos po-
-lhes os últim os ensinam entos a respeito do reino dos
vos, mas, acima de tudo, seu caráter e coerência entre
céus. Som ente depois disso, à vista de todos, ele final-
as atitudes e aquilo que dizia.
m ente subiu corporalm ente às alturas e um a nuvem o
encobriu. Dois anjos apareceram e anunciaram que do A autoridade de Cristo não consistia num m ero tí-
m odo com o subiu, ele haveria de voltar (At. 1:9-11; cf. tulo dado pelos hom ens, nem num a influência política
M at. 16:19; Luc. 24;50, 51; 2 Tes. 1:7-10). sobre os demais, porém , na revelação que ele fazia do
Esse evento possui três significados básicos para Pai. A vontade de Deus era apresentada sem rodeios
0 cristianism o: prim eiro, que a ascensão de C risto, em seu discurso, de m aneira clara, objetiva e coerente.
tal qual sua ressurreição, coroam de êxito seu traba-
P or isso ele pode conferir a m esm a autoridade ou
lho redentor. E a garantia de que ele conseguiu sal-
o m esm o poder aos que o recebem . Eles podem ser
var a raça hum ana e agora pode assentar-se ju n to à
cham ados filhos de Deus (Jo. 1:12).
m ajestade nos céus (Fil. 2:9-11; Ef. 1:20-22). Em se-
gundo lugar, sua subida ao Pai cham a a atenção não
apenas para sua obra, realizada n a cruz, m as tam bém
para seu m inistério sacerdotal diante de Deus (Heb.
10:11-14). U m a vez sentado ao tro n o de majestade,
ele pode interceder pelos que nele creem (Rom. 8:34;
Heb. 4:14; 6:20; 7:25).
B
■” ” ‫־‬n-rr·“ ■“"— —πτ τ - .... — ‫־‬-τρ-ητηπτπιι-------mw imr-------πιιπ— -ηη‫־‬-η‫־‬...nni iiinn■ ... tu— nu ................ 1Γ« 1τ « τηι11ι■ ■ miram■....
Em terceiro lugar, ao m esm o tem po que exerce o pa-
BARRABÁS
pel intercessor, Cristo prepara um lugar na casa do Pai
para seus filhos (Jo. 14:1-3). Completada sua obra minis-
Literalm ente Filho (Bar) do pai (Abba), em ara-
tradora, ele voltará com os anjos, em glória, para buscar
maico. T rata-se do prisioneiro que, durante o julga-
seus redimidos. Virá de m aneira corpórea e literal, assim
m ento de Jesus, foi apresentado à m ultidão, que deve-
como subiu para comparecer perante o Pai no céu.
ria escolher quem haveria de ser solto e quem haveria
de ser condenado. Todos, estranham ente, clam aram
A U T O R ID A D E pela liberdade de Barrabás.

Literalente poder, influência, dom ínio. Pode ser As razões da escolha têm desafiado p o r séculos o
exercida de m aneiras distintas. A autoridade no m un- entendim ento cristão, principalm ente considerando a
do m ilitar é diferente da autoridade no m undo civil inform ação de que ele era alguém que fora “preso com
ou religioso. Pode ser positiva, com o a autoridade am otinadores, os quais em um tum ulto haviam come-
que vem de Deus ou negativa com o a autoridade de tido hom icídio” (Mar. 15:7; cf. Luc. 23:19). João 18:40
um ditador sanguinário. acrescenta que Barrabás era tam bém assaltante.
Ainda que os sentim entos da m ultidão sejam difí- BARTOLOMEU
ceis de avaliar, a visão conjunta dos evangelhos per-
m ite teorizar que Barrabás poderia ter sido um “fora L iteralm ente Filho de T o lo m eu ou Tolm ai; em
da lei”, envolvido em algum tipo de insurreição con- aram aico (Bar + T H O L + uh+ m yu). U m nom e rela-
tra os rom anos, um judeu zelota com o m uitos que tivam ente com um que aparece tam bém nos escritos
agiram na Judeia e Galileia durante os dias de Jesus. de Flávio Josefo.

Se assim for, a tática de Pilatos para soltar Jesus N ada se sabe porém sobre esse apóstolo de Cris-
talvez fosse tira r proveito do clima político que en- to. Ele apenas é m encionado nas listas contendo
0 nom e dos discípulos (M at. 10:3; M ar. 3:18; Luc.
volvia o pedido popular de crucifixão. Lem brando
6:14; At. 1:13). T radições tardias, porém , datadas a
que não era todo o povo judeu que queria sentenciar
p a rtir do Século IV d.C., n a rra m pretensas histórias
Jesus à m orte, mas um a tu rb a incitada pelos m em bros
a seu respeito com o atuando na organização da Igre-
do Sinédrio.
ja Prim itiva. A lgum as versões tam bém aparecem ,
P or isso, Lucas afirm a que Pilatos intentava liber- incluindo algum as form as de m artírio que suposta-
tar Jesus e a opção de apresentar Barrabás ao povo m en te ele teria sofrido. E n tre tan to , existem m uitos
tinha tudo a ver com isso (Luc. 23:20). Os anciãos e conflitos e n tre tais relatos, que to rn a essas n arrati-
principais sacerdotes haviam ameaçado Pilatos. Indi- vas pouco confiáveis.
retam ente o acusaram de estar contra Rom a, soltando Inclua-se nisso as m enções a um certo evangelho
um hom em - Jesus - que se dizia rei no lugar de César de B artolom eu que havia se perdido. M uitos pensam
(Jo. 19:12). Pilatos, po rtan to , apresenta um verdadei- que este seria o m esm o texto cham ado de Q uestões de
ro inim igo do im perador, o insurgente Barrabás, de- Bartolom eu ou a Ressurreição de Cristo, ou m esm o
volvendo o dilema ao povo. Se escolhessem soltar um um terceiro livro distinto dos dois.
líder rebelde declarado, eles, sim, estariam assinando
A p artir do século IX, outras tradições surgiram
sua sentença perante César.
procurando identificar B artolom eu com o sendo o
M as, para surpresa do governador rom ano, o Natanael, que aparece ao lado de Felipe, no Evan-
povo escolheu Barrabás (Mat. 27:24-26; M ar. 15:14 gelho de João 1:43-5. Essa sugestão é levantada pelo
e 15; Luc. 23:24 e 24). M arcos 15:11, porém , explica fato de que os evangelhos sinóticos m encionam Fili-
que o estranho com portam ento foi um a incitação fei- pe e B artolom eu, onde o Evangelho de João m encio-
na Filipe e Natanael, além de João nunca m encionar
ta pelos principais sacerdotes de Jerusalém . Não era,
B artolom eu en tre os 12. Apesar de parecer lógica, a
po rtan to , um a legítim a vontade popular.
evidência não é conclusiva.
U m a curiosidade quanto à grafia do nom e de Bar-
V oltando, pois às referências bíblicas, é curioso o
rabás fica p o r conta de alguns poucos m anuscritos
fato de B artolom eu ser sem pre m encionado nas listas
com o o Y, teta e o C, que trazem a variante “Jesus
após Filipe. Em virtude disso, alguns acreditam que
B arrabás”, para M ateus 27:16, enquanto quase a to-
havia um agrupam ento quádruplo dos discípulos que
talidade dos m anuscritos unciais e a m aioria dos m i-
trabalhavam em duplas. De acordo com essa possibi-
núsculos trazem sim plesm ente “Barrabás”. O escri- lidade, então B artolom eu e Filipe eram com panhei-
to r O rígenes rejeitou a v arian te “Jesus B arrabás” em ros no segundo grupo, liderado p o r Filipe.
defesa da sim ples form a “B arrabás”, justificando que
o nom e “Jesus” não podia ser aplicado a alguém que BATISMO
praticasse o mal. Em bora esse argum ento seja de pe-
queno valor histórico, tudo indica que o nom e Jesus C erim ônia de iniciação, com raízes judaicas, pra-
Barrabás talvez foi um erro de copistas e não fazia ticada até hoje em, praticam ente, todos os ram os do
parte original do Evangelho de M ateus. cristianism o. C ontudo, seu significado teológico e a
form a de realizá-lo têm sido interpretados de diferen- As diferenças, contudo, resum em -se ao fato de que o
tes m odos ao longo da história. batismo de João já não figurava um a cerim ônia de pu-
rificação pessoal do religioso, mas a admissão pública
U m apanhado bíblico que rem ete aos tem pos an- de arrependim ento e reconciliação com as leis de Deus.
teriores ao Novo T estam ento perm ite perceber que a
preocupação com lim pezas cerim oniais, envolvendo Foi surpreendente, pois, que Jesus, o M essias,
água, já era evidenciada desde os dias de M oisés (ca. viesse para ser batizado p o r João. Ele m esm o se sur-
de 1450 a.C.). Textos com o Êxodo 30:17-21; Levítico preendeu com a atitude de Cristo. O episódio, porém ,
11:25 e N úm eros 19:17 são exem plos disso. segundo a p rópria explicação do Senhor, era necessá-
rio para fazer "cum prir toda justiça” (M at. 3:13-16).
Q uando os eruditos judeus que editaram a Septu- Assim, pois, João concordou em fazê-lo.
aginta - versão helenística das Escrituras - passaram
essas passagens para o grego, resolveram traduzir os Saindo Jesus logo da água, o Espírito Santo apa-
banhos de purificação pela palavra baptismos ou na receu com o pom ba e a voz do Pai no céu confirm ou
form a verbal baptizô, que seriam equivalentes aos ter- o m inistério de seu Filho. Os eventos seguintes do
m os batism o e batizar. deserto e o Serm ão da M o n tan h a (segundo a sequên-
cia de M ateus) conectam -se com o inaugurados po r
Essa prática de purificação se intensificou nos essa cerim ônia. O Espírito Santo havia ungido a Jesus
dias que antecedem o m in istério de Jesus. Sua evi- com o o M essias de Israel (cf. M ar. 1:9-11; Luc. 3:21-
dência está confirm ada p o r achados arqueológicos 23; Jo. 1:32 e 33).
de vários tanques de purificação - tan to públicos
Seguindo trajetória parecida com o m ovim ento
quanto privados - espalhados em to d o o te rritó rio
de João Batista, os prim eiros adeptos de Jesus C risto
judeu. N ão som ente em Jerusalém , m as em toda a
tam bém eram batizados. C ontudo, um a leitura atenta
Galileia e até na com unidade de Q um ran, que pro -
do Evangelho de João 3:22 e 4:1-2 deixa explícito que
duziu os m anuscritos do M ar M o rto , tanques de
Jesus m esm o não realizava a cerim ônia, mas delega-
im ersão foram encontrados.
va-a a seus discípulos.
M ikveh é o nom e hebraico que se dá para os tan-
M uitos questionam o porquê de Jesus não realizar
ques de purificação e tevilah, a cerim ônia de im ersão
diretam ente os batismos. U m a explicação possível se-
com pleta nas águas. A prática, ao que tudo indica, era
ria que se tratava do cum prim ento de um a expectativa
diária, em bora tam bém pudesse ser um rito de inicia-
messiânica. De acordo com M ateus 2:11 e jo ã o 1:33, a
ção do judaísm o.
função do Messias não era batizar as pessoas com água,
O contato inevitável com coisas im undas dem an- mas com o Espírito Santo e com o fogo. Por isso Jesus,
dava a prática freqüente, a fim de que o religioso não em bora não realizasse o rito, soprou seu fôlego sobre
estivesse contam inado no m om ento de se apresen- os discípulos, dizendo-lhes que recebessem o Espírito
tar diante de Deus num recinto sagrado. Por isso, de Santo 0o. 20:22). Mais tarde, no Pentecostes, os mes-
acordo com as leis rabínicas, a água do tanque tinha mos discípulos tiveram a confirmação desse batismo,
de ser corrente (lit. águas vivas). Tubulações encon- evidenciada com atos de poder e a presença de línguas
tradas em diferentes tanques dem onstram que real- com o de fogo vindo sobre cada um deles (At. 2:3).
m ente era assim que o ritual era realizado. Após esse episódio, a Igreja passa consistentem ente
a praticar esse rito, à m edida que aum enta o núm ero de
A prática de João Batista em realizar batism os no
seguidores de Cristo. Agora, porém , um novo signifi-
rio Jordão ou n u m lugar abastecido p o r suas águas
cado é agregado à cerimônia: o batism o era em nom e
está de acordo com a exigência das águas correntes
de Jesus, para a remissão de pecados e recebim ento do
(Mat. 3:6; M ar. 1:5). Do m esm o m odo, considerando
Espírito Santo (At. 2:38. Cf. I Cor. 1:13-17).
que o batism o judeu envolvia um a im ersão do indiví-
duo nas águas, João provavelm ente seguiu esse m o- Assim, quando o Novo T estam ento m enciona o
delo ao batizar seus novos discípulos. "batism o de João”, está indicando um a m ensagem de
expectativa da chegada do M essias. C um prida, porém , lugarejo simples te r sido o local do nascim ento c :
esta parte da história, os discípulos - após a m orte e M essias conform e a profecia de M iqueias 5:2.
ressurreição de Jesus - dão ao batism o 0 sím bolo de
No século II d.C., o im perador de Rom a, Adrianc
m orte e ressurreição com Cristo para um a nova vida
plantou um bosque idolátrico no sítio nas red o n d eza
de com unhão com Deus.
da cidade e, m ais tarde, Helena, m ãe do im perador
C onstantino, ediíicou um a igreja ali para dem arcar
BELÉM o suposto local do nascim ento de Jesus. Essa igre .
acha-se hoje circundada po r três conventos, perten-
centes às igrejas grega, latina e arm ênia.

BELZEBU
N om e de divindade pagã ligada a Baal. Alguns
pensam que seria um a form a jocosa de se referir à di-
vindade pagã. N o original aram aico, Bee + El + zay -
bu significaria “senhor das m oscas” ou “senhor da ca$i
[de dem ônios]”.

N os dias de Jesus essa figura era ligada ao príncipe


dos dem ônios (M ar. 3:22; Luc. 11:5). Os três prim ei-
ros evangelhos m ostram a acusação dos inim igos de
C risto em dizer que seus atos de exorcism o eram rea-
lizados pelo poder de Belzebu, um a acusação gratuita
Cidade de Judá, tam bém cham ada de Efrata, si- m otivada pelo ciúm e e a inveja da influência de Jesus
tuada cerca de 10 km a sudoeste de Jerusalém (Gên. sobre o povo (M at. 12:23).
35:16; 48:27 e Rt. 4:11). Ali nasceram Davi e Jesus Os fariseus tentavam argum entar que os m ilagre‫״‬
(lSam . 17:12; Luc. 2:4-7). 2). E ra cham ada Belém da de C risto eram obra de dem ônios, o que faria dele
Judeia, para distingui-la de o u tra cidade do m esm o tam bém um dem ônio entre os hom ens. Ao que Jesus
nom e, situada no te rritó rio de Z ebulom , a n oroeste contra-argum entou: “Se Satanás expulsa Satanás
de N azaré (Sal. 132:6; Jos. 19:15). está dividido contra ele próprio. C om o poderá então
O nom e Belém (Beyth 4- lehem ) significa literal- subsistir o seu reino? ” (Mat. 12:25). O u seja, sua lógi-
m ente “casa do pão” e Efrata “frutífera”. É, p o r sinal, ca não fazia sentido. Era mais um a tentativa infunda-
da de negar que o M essias havia chegado e com ele a
este o nom e com que ela é referida na história de Jacó.
dem onstração do poder de Deus.
Raquel foi sepultada perto deste lugar, m as foi Salma,
n eto de Calebe que ficou conhecido na história com o
“pai dos belem itas”, isto é, dos m oradores de Belém BETESDA
(I C rôn. 2:51 e 54). A história de R ute tam bém tem
relação direta com esse lugar. Pelo livro de Ed 2.21, Local em Jerusalém , nas adjacências do Antigo
sabe-se que 123 hom ens de Belém voltaram do cati- Tem plo, tam bém cham ado de piscina probática, por
veiro com Zorobabel (Ne. 7:26). ser originalm ente um tanque d’água para se lavar ove-
lhas. O term o grego probaton (ou seu plural probata)
C ontudo, a despeito de ser palco de im portantes denotava, n u m sentido mais am plo, todos os quadrú-
ocorrências, dentre elas o nascim ento de Davi, a ci- pedes (especialm ente os dom esticados), em contraste
dade nunca ganhou destaque entre as demais de Judá. com os que voavam , nadavam ou rastejavam. Porém ,
N enhum m o n u m en to de grande p o rte foi edificado m ais especificam ente, designava “ovelhas e cabras”.
ali. Tais dados to rn am m em orável o fato daquele Daí o nom e probática.
Ali, acredita-se, seria o local em que se lavavam Isabel começa a cantar “Beatitude”(Luc. 1.42)
as ovelhas que seriam sacrificadas no Tem plo. Por
Maria vem em seguida, entoando 0 “Magnificat"
isso, João, ao descrever o local, m enciona o tanque de
(Luc. 1:46-50)
cinco pavilhões e tam bém a proxim idade da cham ada
“p o rta das ovelhas”. Zacarias é 0 terceiro solista, apresentando 0 “Benedic-
tus”(Luc. 1:68-79)
Com o passar do tem po, porém , é provável que o
m esm o ten h a se transform ado num tanque público Eis que retumba 0 Coral de Anjos, ressoando “Gloria in
de purificações para judeus peregrinos que viessem excelsis Deo”(Luc. 2:14)
adorar no T em plo em Jerusalém . Assim, o tanque da
Simeão, então, finaliza solando 0 “Nunc Dimits" (Luc.
p o rta das ovelhas, ao n o rte do tem plo (um a piscina,
2:29-32)
na verdade) jxmtam ente com o tanque de Siloé na par-
te sul serviriam aos ritos de purificação do judaísm o. O cântico de Zacarias, especificam ente, é um hino
de louvor a Deus p o r ocasião do nascim ento de João
As evidências arqueológicas, no entanto, dem ons- Batista, seu único filho. M as ele tam bém alude à his-
tram que o local foi transform ado n u m tem plo pagão tó ria de Israel e à prom essa m essiânica de alguém que
em hom enagem a Asclépio, deus da cura, que os ro- viria para salvar o seu povo, do qual seu filho seria o
m anos cham avam de Esculápio. O paganism o loca- profeta anunciador.
lizado nas adjacências do T em plo não deve te r agra-
Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visi-
dado aos m ais conservadores, pelo que até m esm o
to u e rem iu o seu povo,
judeus que deveriam evitar o lugar iam até ali a fim de
obter cura para seus males. E nos suscitou um libertador poderoso na casa de
Davi, seu servo,
E assim ocorreu com um hom em paralítico que ja-
zia ali há anos à espera de um m ilagre. Seu encontro (Com o anunciou desde o princípio pela boca dos
com Cristo está registrado em João 5:1-9. Que razões seus santos profetas),
levaram o Salvador a se deslocar para aquele setor da
Para nos livrar dos nossos inim igos e da m ão de
cidade não sabemos. M as que a m isericórdia em re-
todos os que nos odeiam;
lação àquele indivíduo estaria nos m otivos de Cristo,
isto não se pode negar. Para usar de m isericórdia com nossos pais,

E lem brar-se da sua santa aliança,


BENEDICTUS
Do juram ento que fez a Abraão, nosso pai,
N om e latino que significa “bendito” ou “abençoa-
De conceder-nos que, livres da m ão dos nossos
do”. Desde provavelm ente o século VI d.C. que os
inim igos, O servíssem os sem tem or,
m osteiros m edievais usaram esse título para referir-
-se à canção de Zacarias, que aparece em Lucas 1:67- Em santidade e justiça diante dele p o r todos os
79. Alguns pensam que poderia se tra ta r de um antigo nossos dias.
hino cristão colocado propositalm ente pelo evange-
Sim, e tu, m enino, serás cham ado profeta do Al-
lista para fazer coro a outras duas canções litúrgicas o
tíssim o, porque irás ante a face do Senhor p reparar os
“M agnificat” e o “N unc diittis”, que tam bém aparecem
seus cam inhos,
nos capítulos iniciais do texto lucano.
Para dar ao seu povo conhecim ento da salvação na
Alguns sugerem que os dois prim eiros capítulos
rem issão dos seus pecados,
do Evangelho de Lucas podem ser lidos com o um a
parte de um a ode ou de um oratório sacro. Ali verifi- D evido à entranhável m isericórdia de nosso Deus,
ca-se a presença de cinco m ovim entos: pela qual nos visitará a aurora lá do alto,
Para alum iar os que estão de assento nas trevas e b rir o local exato do antigo vilarejo, em bora, a rigor,
na som bra da m orte, para dirigir os nossos pés no ca- a identificação bíblica que ora a chama de ‫״‬aldeia’
m inho da paz. (M ar. 8:22, 23) ou “cidade” (Luc. 9:10) tem gerac:
certa discussão entre os especialistas.
BET A tualm ente dois lugares ocupam destaque entre
os arqueólogos com o sendo o antigo sítio de B etsaiái
Em nom es próprios Bet (ou Beth) significa “casa”.
al T el - um grande m onte localizado a dois quilò-
Assim lugares m encionados no evangelho teriam esse
m etros do M ar da Galileia.
prefixo associado ao seu significado. Betânia - Casa das
Tâm aras, Betesda - Casa da M isericórdia, Betsaida - el-Araj - um pequeno sítio localizado às margens
Casa da Pesca, Belém (or. Bethlehem) - Casa do Pão. do M ar da Galileia.

C ontudo, ainda não se têm certeza absoluta que


aponte para um ou outro assentam ento.

BETÂNIA
L iteralm ente “Casa das T âm aras”, mas há quem
BETSAIDA sugira que o sentido podia ser “Casa dos figos verdes’
e, p o r extensão, “Casa da Aflição” (do hebraico beit-
U m a vila de pescadores localizada às m argens do -teenah). Seja com o for, os evangelhos parecem fazer
M ar da Galileia, próxim a onde o rio Jordão deságua referência a dois lugares distintos com esse nom e.
nas águas do grande lago (Jo. 12:21). Seu nom e sig-
O prim eiro, mais conhecido, é aquele que a identi-
nifica “Casa da Pesca” e ela é m encionada tanto nos
fica com o local da casa de M aria, M arta e Lázaro, três
quatro evangelhos quanto pelo historiador rom ano
irm ãos que se to rn aram amigos amados de Jesus (Luc.
Flávio Josefo, segundo o qual, a cidade de Betsaida foi
10:38). Ali Jesus descansava quando estava na região
reconstruída pelo tetrarca Filipe e cham ada de Júlias,
da Judeia e num a ocasião, p erto de sua p rópria m orte
em hom enagem à filha de César A ugusto2.
ele realizou o m ilagre da ressurreição de Lázaro (Jo.
Ali ocorrerem im portantes fatos relacionados à vida 11:1; 38-44). Próxim o à casa de seus amigos, ficava a
de Jesus Cristo. Betsaida foi a terra natal de três dos 12 residência de Simão, o leproso (Mat. 26.6), em com-
Apóstolos, a saber: Pedro, A ndré e Filipe. O próprio panhia do qual Jesus foi ungido p o r M aria durante
Jesus visitou o vilarejo e realizou vários milagres ali. um a ceia (Mat. 26:6-13; M ar. 14:3-9; Jo. 12:2-8).
(Mar. 8:22-26; Luc. 9:10). Foi tam bém para Betsaida
D e Betânia Jesus, envia seus discípulos a um lugar
que, após a m orte de João Batista, Jesus retirou-se, jun-
próxim o para buscar o jum entinho no qual ele have-
tam ente com seus discípulos, e, num lugar próxim o,
ria de m o n tar e e n tra r em Jerusalém aclamado como
proveu m iraculosam ente alim ento a mais de de 5.000
rei em cum prim ento à profecia de Zacarias 9:9 (cf.
pessoas que se haviam ajuntado para ouvi-lo. (Luc.
M arcos 11:1). Recebido com louvor pela m ultidão de
9:10-17; M at. 14:13-21; Jo. 6:10.) Fora de Ali tam bém
seguidores, ele chega ao T em plo e de lá reto rn a com
ele restaurou a vista a um cego. (Mar. 8:22).
os discípulos para Betânia. Ali ele descansou de noite,
Visto que tais obras poderosas foram feitas na sua na sem ana an terio r à sua crucificação, e ai se realizou
vizinhança, o povo de Betsaida, em geral, ju n to com a sua ascensão aos céus (Mat. 21:17 e Luc. 24:50).
a população de C orazim , veio a m erecer censura po r
O segundo lugar cham ado Betânia estaria do ou-
causa da sua atitude im penitente (Luc. 10:13).
tro lado do Jordão. Ele é m encionado apenas uma
Por quase dois m ilênios, a localização de Betsaida vez no Evangelho de João 1:28. Ali era onde João re-
perm aneceu um m istério. V ários sítios já foram iden- alizava seus batism os e, ao que tudo indica, o lugar
tificados com o lugar e depois abandonados. Desde o onde o próp rio Jesus foi batizado. Pensando se tra-
século IV d.C., peregrinos ten taram em vão desco­ tar de um a confusão de nom es, O rígenes, no terceiro
século, substituiu o nom e Betânia p o r Betabara, e a sobre o lugar que devem os p ro cu rar ocupar duran-
versão Trinitariana seguiu nesta direção. C ontudo, os te um a festa de casam ento (Luc. 14:8-11). U m caso
m elhores m anuscritos gregos trazem Betânia, pelo bastante especial é a referência de Jesus a dez virgens
que parece que realm ente havia dois lugares com o que participariam de um processual de casam ento,
m esm o nom e. mas cinco perdem a oportunidade p o r seu descuido
em não p rover óleo suficiente para a espera do noivo
A tualm ente a prim eira Betânia, lar de M aria, M ar-
(Mat. 25:1-13).
ta e Lázaro, é identificada com a pequena aldeia de
el-'A zariyeh (El 'Eizariya), nom e árabe que significa

c
“o Lugar de Lázaro”, situada a 2,5 km da cidade velha
de Jerusalém . Já a segunda Betânia, dalém do Jordão,
ainda não teve seu lugar definido, mas presum e-se que
seria algum sítio um pouco ao sul do M ar da Galileia.

BARJONAS
CAIFÁS
Patroním ico de Pedro (M at. 16:17; Jo. 1:42) por-
que o nom e do seu pai era Jonas. O sobrenom e na Sum o sacerdote contem porâneo de Jesus que ficou
antiguidade judaica é o nom e do pai. Pedro foi o ape- oficialm ente no posto p o r m uitos anos, a p artir do
ano 18 até p o r volta do ano 36 quando foi deposto
lido que Jesus deu ao seu discípulo mas seu nom es era
Simão filho de Jonas. po r Vitélio. Seu nom e com pleto seria José Bar Cai-
fás e ele provavelm ente subiu ao poder p o r m eio de
jogos políticos e um casam ento arranjado com a filha
BODAS de Anás, sum o sacerdote que o antecedeu no poder.

A palavra bodas, assim sem pre no plural, vem do Citado várias vezes no N ovo T estam ento era um
latim V O TA , plural de V O T O , e significa “jura, pro- hom em de caráter bem duvidoso (M at. 26:3; 26:57;
messa, garantia”. É um term o, hoje não tan to utili- Luc. 3:2; 11:49; 18:13-14; Jo. 18:24-28 e At. 4:6). Cai-
zado, para referir-se à cerim ônia de casam ento em fás era o sum o sacerdote quando Jesus foi condenado
português. No original grego do Novo T estam ento, a m o rre r na cruz e peça chave na sua condenação ao
o term o é GAM OS, que possui o m esm o significado. provocar Pilatos para que o sentenciasse à m orte de
cruz. Ele tam bém era presidente do Sinédrio - o su-
Não existem m uitas inform ações diretas sobre prem o tribunal dos judeus.
com o era cada detalhe de um a cerim ônia de casam en-
to no tem po de Jesus. M esm o nas páginas do A ntigo A fonte literária mais confiável sobre sua vida é a
T estam ento, a cerim ônia m atrim onial propriam ente obra Antiguidades dos Judeus, com posta pelo historia-
dita só é m encionada na história de Sansão. dor do século I, Flávio Josefo.

E verdade, contudo, que o Evangelho de João De acordo com a Bíblia, Jesus foi preso pela guarda
conta as “Bodas de Canã com o sendo o contexto do do T em plo de Jerusalém e foi levado diante de Caifás,
prim eiro m ilagre de Cristo (Jo. 2:1-2). No mais as re- que o in terrogou e lhe acusou de blasfêmia, porém ,
com o o Sinédrio não tin h a autoridade para senten-
ferências de Jesus à cerim ônia de casam ento, usadas
ciar pessoas à m orte, Cristo foi levado para o gover-
sem pre com o m etáfora de realidades espirituais, se-
n ador rom ano Pôncio Pilatos, que teria o poder de
riam: a m enção profética de Jesus sobre a alegria de
realizar tal sentença.
se estar com o noivo antes de sua partida (M at. 9:15;
M ar. 2:19; Luc. 5:34); a indicação de que os anjos do Caifás, sabia que para os líderes judeus do período,
céu não se casam (Mat. 22:30; M ar. 12:25; Luc. 20:34- existiam preocupações sérias sobre o dom ínio dos ro-
35); a referência profética de N oé quanto à vida coti- m anos, e que essa m esm a liderança judaica via com te-
diana no tem po do fim (M at. 24:38; Luc. 17:27); a ad- m or qualquer reform ista ou líder religioso que pudesse
vertência quanto à vigilância (Luc. 12:36) e o ensino vir a negar-lhes sua própria legitimidade de governar.
Os rom anos, p o r sua vez, não aplicavam penas de da Vulgata, adota-se o term o latino Calvário, que é
m orte a violações da lei judaica e, po rtan to , a acusa- empregado como nom e próprio, “o lugar que se chama
ção de blasfêmia não faria qualquer diferença para Pi- Calvário”. E é este o nom e pelo qual é mais conhecido
latos. Caifás então ten to u convencer Pilatos que Jesus em português o local da crucificação de Jesus Cristo.
era um a ameaça para a estabilidade rom ana, culpado
não só de blasfêmia, pois este se proclam ava rei dos CANÁ DA GALILEIA
judeus e teria que m o rre r para evitar um a rebelião.
Para isso chegou a fom entar certa agitação populacio- Cidade, ou vila, notável pelo fato de ter sido ah
nal (possivelm ente pessoas com pradas) que agitadas que se operou o prim eiro m ilagre de Jesus Cristo (Jo.
diante do palácio de Pilatos exigiam a crucifixão de 2:1 a 11; 4:46), realizando o Salvador, m ais tarde, no
Jesus Cristo. m esm o lugar, outro sinal m aravilhoso (Jo. 4:54). Era.
tam bém , a terra natal do apóstolo N atanael (Jo. 21:2).
Logrado o desejo de m atar Jesus de Nazaré, Cai-
N enhum a dessas passagens, porém , perm item indi-
fás continuou ativo, perseguindo os seus seguidores,
car de um a m aneira precisa a localização precisa do
conform e m encionado no livro de Atos 4.
antigo assentam ento. O que se pode dizer, a p artir da
Em 1990, nos arredores da atual Jerusalém , foram Bíblia, é que aquela povoação não ficava m uito longe
descobertos 12 ossuários num a sepultura fam iliar de de C afarnaum (Jo. 2:12; 4:46).
um certo “Caifás”. U m dos ossuários estava inscrito
Não se sabe ao certo o local exato de sua antiga
com o nom e com pleto, em aramaico: “José, filho de
Caifás”, o m esm o nom e que Flávio Josefo atribui a localização. C ontudo, intervenções arqueológicas re-
Caifás. O utro ossuário tinha apenas o sobrenom e centes tendem mais a identificá-la com C urbete Caná.
que fica 10 km ao n o rte de Nazaré, e não mais com as
“Caifás”. C onsiderando a sem elhança dos nom es e a
datação do artefato que coincide com o século I d.C., ruínas de Q ueque Q uená, que fica 5 km ao nordeste
de Cafarnaum .
os restos m ortais contidos nesse recipiente bem po-
deriam ser os m esm os do personagem m encionado
nos evangelhos. Após serem exam inados, os ossos fo- CENTUR1ÃO
ram enterrados novam ente no M onte das Oliveiras.
Era um oficial do exército rom ano, o sexto na ca-
CALVÁRIO (GÓLGOTA) deia de com ando de um a legião. L iteralm ente o nom e
significa “aquele que com anda sobre cem ”, isto é, um a
centúria de hom ens. Assim, espalhados p o r todo ter-
Palavra que vem do latim calvarium, que significa
ritó rio do im pério rom ano, os centuriões com anda-
calvo, careca ou crânio. Aliás, é daí que nos veio a
vam grupos de 60 até 100 soldados, m antendo a or-
palavra calvo. E um a tradução do aram aico/hebraico
gólgota, ou gulgathan, que provavelm ente significa dem , garantido o pagam ento de im postos e prestando
serviços nas províncias, tendo com frequência com-
',colina arredondada” e designava um lugar nos arre-
petências judiciais ou m esm o adm inistrativas.
dores de Jerusalém onde Jesus foi crucificado.

Há quem pense que 0 nom e tem algo a ver com o Devido ao fato de, na m aioria das vezes, as legiões
form ato da colina que seria sem elhante a um a caveira. estarem distantes da pátria, os centuriões eram esco-
M as não há n enhum a fonte contem porânea aos tem - lhidos pelas suas capacidades de com ando e pela pron-
pos de C risto que confirm e a exatidão dessa hipótese. tidão em lutarem até à m orte. Dessa form a conseguiam
conquistar vitórias contra inim igos em núm eros bem
Três dos evangelistas conservam o nom e aramaico superiores, em territórios hostis onde era p o r vezes di-
do lugar que seria, Gólgota (a caveira), e acrescentam fícil de receberem reforços, ao contrário do inimigo.
a interpretação - L ugar da Caveira” (Mat. 27:33; M ar. Suas ordens eram prontam ente obedecidas pelos ho-
15:22; Jo. 19:17). Lucas om ite isto, e mais sim plesm ente m ens que lideravam, inclusive na rápida execução de
diz: “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali um a qualquer form ação m ilitar. Era deles a responsa-
o crucificaram” (Luc. 23:33). Na Vulgata, e traduções bilidade pela disciplina e instrução dos legionários.
A figura do centurião aparece com frequência nos côvado m edia aproxim adam ente 45 centím etros, po-
evangelhos em diferentes encontros com Cristo. Os rém essa m edida variava de região para região.
dois episódios mais famosos são a cura de um servo do
Ela aparece no discurso de Jesus com o um a inda-
centurião que m orava em Cafarnaum e ao m om ento
gação retórica: “Qual de vocês poderá, com toda preocupa-
da cruz em que um dos centuriões presentes reconhe-
ção, acrescentar mesmo um côvado à sua estatura?” (Mat.
ceu Cristo como o “Filho de Deus” (Mat. 8:5; 8.13; Luc.
6:27; Luc. 12:25). A pergunta de Cristo denota um a
7:2-6; M at. 27:54; M ar. 15:39-44; Luc. 23:47).
expressão figurada para indicar que m esm o que o ser
h um ano se preocupe o tan to quanto quiser, não será
capaz de acrescentar um a única m edida à duração de
sua vida, ou seja, nem um dia sequer de adiantam ento
do tem po ou acréscim o na expectativa de vida.

CÉSAR

Nom e ou título que, após o governo de Júlio César,


passou a ser usado por todos os imperadores que o su-
cederam. Por extensão e semântica, passou a significar
“governante”, “rei” ou “im perador” e pelo m enos os onze
prim eiros imperadores rom anos se valeram dele como
título de nobreza (Luc. 20:25). No N T são mencionados
quatro césares: Augusto (Luc. 2:1); Tibério (Mat. 22:17;
Jo. 19:12), Cláudio (At. 17:7) e N ero (At. 25; Fp. 4:22).

O significado etim ológico de César, em bora não


consensual, pode vir de duas raízes: do latim caesaries,
que significa “o que tem cabelo com prido” ou “o cheio
de pelos”. A segunda possibilidade é que venha da ex-
pressão tam bém latina “a caeso matris utero” ou “o cor-
te do ú tero da m ãe”, onde caeso significaria “cortado,
talhado”. Daí vem a palavra “cesária”, nom e da cirur-
gia em que se retira o feto de dentro do útero através
de um corte na barriga da mãe.

Diz um a lenda que o nom e surgiu com o im pera-


dor rom ano Júlio César, que teria nascido através de
um a cesariana e p o r isso obteve esse nom e.

CÉSAR (AUGUSTO)
Im perador rom ano (63 a.C .-14 d.C.). Sob seu go-
verno, R om a se firm ou com o um poderoso im pério
CÔVADO e teve um enorm e crescim ento cultural e comercial.
Foi tam bém durante seu reinado que expediram -se
U n id ad e de m ed id a que era a m p la m e n te u ti- vários censos, um deles m encionado no Evangelho de
iizada n o a n tig o O rien te M édio. G eralm ente o Lucas e relacionado ao nascim ento d ejesu s (Luc. 2:1).
O m encionado censo, com o todas as operações C ID A D E D E D A V I
dessa natureza, consistia em inscrever em registro
público o nom e, a idade, a profissão, a fortuna, os fi- Expressão que aparece no Evangelho de Lucas
lhos dos cabeças das famílias de um a com arca, cuja 2:11, referindo-se a Belém, cidade de origem do re:
intenção, na m aioria das vezes, era contabilizar a ar- Davi. C ontudo, o m esm o nom e tam bém fora dado a
recadação de im postos, evitando a sonegação fiscal no algum setor urbano de Jerusalem , que foi conquistada
territó rio do im pério. p o r Davi e transform ada em sua m orada (2Sm 5.6-9 .
O decreto estabelecido por César Augusto, o primei-
ro im perador rom ano, alcançava, conforme 0 propósito CÂNO N DO NO VO
dele, todos os territórios que fizessem parte das pro- TESTAMENTO
víncias romanas, reinos subjugados ou aliados, que de-
pendiam do imenso e potente império, designado pela C onjunto de 27 livros do N T que a igreja cristã
hiperbólica expressão de toda a população do império. reconhece com o genuínos e inspirados. O cânon do
Esse recenseam ento é um dos problem as mais difí- N T é igual para evangélicos e católicos. N o princípio
ceis de resolver no N T e m uito já foi escrito sobre ele. alguns livros foram aceitos com certa reserva, mas no
N enhum outro h istoriador daquela época m enciona final do quarto século o cânon atual já era aceito em
isso, mas a habitual fidelidade de Lucas é suficiente quase toda parte.
garantia de sua veracidade, tanto neste p o n to com o
em todos os outros. CLÉOFAS OU CLOPAS

CESAREIA DE FELIPE Esposo da M aria que estava aos pés da cruz com
a m ãe de Jesus (Jo. 19:25). Alguns sugerem que ele
Cidade pagã, construída ou am pliada p o r Herodes teria sido irm ão de José, esposo de M aria, m ãe de Je-
Filipe nas cabeceiras do rio Jordão. Perto dessa cida- sus; isto é, tio de Jesus. Talvez seria distinto do outro
de, Pedro confessou que Jesus era o M essias esperado Cléofas, um dos discípulos de Em aús (Luc. 24:8).
(Mat. 16:13-20).
C R IS T O
CIRCUNCISÃO
O term o de origem grega significa “ungido’e tra-
C erim ônia judaica para retirar cirurgicam ente o duz o term o hebraico “M essias”. Os sum os sacerdotes
prepúcio, p o r razões higiênicas e /o u religiosas. T ra- (Lev. 4:3-16; 6:15) e os reis de Israel (ISm . 12:3-5;
ta-se de um rito celebrado há m ilênios no judaísm o 24,7.11) eram cham ados “ungidos”. Os discípulos de
com o sinal de inclusão do indivíduo na com unidade Jesus deram -lhe o nom e de “C risto” (Ungido), re-
dos descendentes de Abraão. conhecendo-o com o o M essias prom etido (Jo. 1:41;
4:25; M at. 16:16).
Jesus foi circuncidado no oitavo dia, depois do nas-
cim ento, conform e a prática observada desde os dias
do A ntigo T estam ento (Gên. 17:12). Desde Abraão, C O R D E IR O
quando o rito foi estabelecido até os dias de hoje, a
circuncisão é praticada com o um sím bolo da aliança Filhote ainda novo da ovelha; carneirinho. Sua
estabelecida entre Deus e Abraão, extensiva aos seus carne servia de alim ento e era usada nos sacrifícios ju-
descendentes. A razão pela qual Jesus foi subm etido daicos conform e a orientação divina (Ex. 29:39). João,
a esse rito é um a dem onstração indelével de que ele percebendo, pela ilum inação do Espírito, o sentido ti-
pertencia a um a família de judeus praticantes e como pológico do ritual do santuário no m inistério de Cris-
tal exerceu todas as prescrições judaicas de seu tem po. to, apontou para ele, cham ando-o de o “C ordeiro de
(Luc. 2:21,23). Deus, que tira o pecado do m undo” (Jo. 1:29).
codem os (obra apócrifa, produzida no período pós-

D -apostólico), capítulo 9, verso 4, os dois m alfeitores


são identificados com o Dim as e Gestas. Já no capítu-
lo 10, verso 2, do m esm o evangelho apócrifo, Dimas
é identificado com o aquele que repreendeu o outro
DENÁRiO OU DINHEIRO m alfeitor por suas blasfêmias (ver Luc. 23:40-42).

A pesar de não serem canônicos ou inspirados,


livros apócrifos podem c o n te r inform ações h istó -
ricas, co rroboradas p o r o u tras fontes confiáveis
da época. P orém , pelo fato de não ser confirm ada
pelos q u atro evangelhos canônicos ou o u tra fonte
m ais confiável, a tradição de se identificar os dois
m alfeitores pelos nom es a n te rio rm e n te m enciona-
dos não passa de m era possibilidade.

DECÁPOLIS (DECÁPOLE)

C onjunto das dez cidades da T ransjordânia, de


população quase exclusivam ente pagã, anexadas por
Alexandre Janeu ao territó rio judaico, mas desde 63
a.C. tornadas cidades independentes da província ro-
m ana da Síria. São elas: Dam asco, Filadélfia, Ráfana,
Citópolis, Gádara, Hipos, D ion, Péla, Gérasa e Câ-
nata. Em bora judeus piedosos evitassem passar pelo
lugar para que não se contam inassem com os pagãos,
A tradução do grego denarion. O denário era um a
Jesus, em várias ocasiões de seu m inistério, através-
m oeda de prata rom ana (Mat. 22:19-21), no valor de
sou o territó rio da Decápole e realizou curas na re-
m ais ou m enos 17 centavos no tem po de C risto. Era o
gião (M ar. 5:20; 7:31).
pagam ento ordinário de um operário agrícola po r um
dia (Mat. 20:2,9,13). O hospedeiro do b om sam arita-
no recebeu dois denários para cuidar do judeu ferido.
DEMÔNIO
E n tretan to ele p rom eteu suplem entar essa som a se as
Ao lado dos anjos bons, o judaísm o rec o n h e -
despesas excedessem a isso (Luc. 10:35). Os apósto-
ce a existência de esp írito s m aus, ou anjos m aus,
los calcularam que seriam precisos 200 denários para que causam m al aos h o m en s. São to d o s su b o rd in a-
com prar pão suficiente para alim entar 5.000 pessoas dos ao "diabo”, tam bém conhecido com o Satanás,
(M ar. 6:37). Isso seria um denário para cada vinte e o g ran d e ad v ersário do F ilho de D eus (M at. 4:1;
cinco pessoas, ou dois terços de um centavo para cada 13:39; 25:41; Jo. 6:70; At. 10:38; 2 C or. 12:7; 2Tm .
pessoa. Em Apocalipse 6:6, os preços eram daqueles 2:26; Ap. 2:10; 12:7).
de m uita carência que estavam à m orte.
Jesus expulsou m uitos dem ônios ou espíritos im -
puros” durante seu m inistério, além de curar doenças,
DIMAS então popularm ente atribuídas à ação de dem ônios
(M at. 9:34; 10:8; 11:18; 12:24).
A Bíblia não m enciona o nom e dos “dois ladrões”
que foram crucificados com Cristo, “um à Sua direi- Os evangelhos, portanto, concebem o m undo domi-
ta, e outro à Sua esquerda” (M at. 27:38; M ar. 15:27; nado po r forças maléficas (demônios), cujo chefe é Sata-
Luc. 23:32 e 33; Jo. 19:18). M as no Evangelho de Ni- nás, ao qual Cristo veio vencer. Em oposição ao Reino
de Cristo e os seus santos está o Reino de Satanás e dos os criticou p o r seu relativism o teológico, sua incoe-
seus aliados. rência jurídica e sua conduta hipócrita. Por isso, os
evangelhos apresentam m uitos em bates entre Cristo
DRACMA e os doutores da lei, em bora tam bém m encione al-
guns que aceitaram o cham ado de C risto, com o foi o
A dracm a (em grego, drachma) é o nom e de um a caso de N icodem os e José de Arim ateia.
antiga unidade m on etária encontrada em m uitas ci-
dades-estados gregas e Estados sucessores, e em m ui-
tos reinos do O riente M édio do período helenístico.
M esm o nos tem pos do im pério rom ano, continuou
sendo utilizada em todas as províncias, principal-
m ente na Judeia e Galileia dos tem pos de Cristo. A
dracm a era a mais antiga m oeda ainda em circulação
na Grécia até ser substituíds pelo euro.
E
EFATÁ
DÍDIMO
T erm o aram aico usado p o r Jesus em um a de suas
curas e quer dizer “abre-te”. Ele ocorre um a única vez
Nom e de origem grega, provém de Didymos, que
no N ovo T estam ento, no texto de M arcos 7:34.
significa literalm ente “gêmeo”, “nascido do mesmo par-
to”, de dís, o mesmo que “duas vezes”, em português. O Segundo o Evangelho de M arcos, Jesus seguia para
nom e eqüivale em significado a Tom é, que vem do ara- a Galileia, pelos confins de Decápolis. D urante o tra-
maico teoma, tam bém com o sentido literal de gêmeo. jeto, trouxeram -lhe um hom em surdo e gago. Após
ouvir o clam or pela cura, Jesus o tiro u à parte, e pôs-
E o nom e um dos doze apóstolos de Jesus que de-
-lhe os dedos nos ouvidos, em seguida, tiro u de sua
m on stro u lealdade, mas tam bém dúvida ao ouvir a
saliva e tocou-lhe na língua. Depois disso, ergueu os
notícia da ressurreição do M estre (Mat. 10:3; M ar.
olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá, isto é, “abre-te”
3:18; Luc. 6:15; Jo. 11:16; 14:5; 20:25-29). C ontudo,
e o hom em ficou curado.
ele aparentem ente perm aneceu firm e depois disso,
pelo que é visto com os discípulos no M ar da Galileia, Os especialistas divergem quanto ao sentido do
após a ressurreição de Jesus (Jo. 21:2). gesto de Jesus: há quem defenda que ele “cuspiu” ou,
sim plesm ente, tocou em sua saliva e a pôs no hom em .
Q uanto ao título de “gêm eo”, há quem diga que se
São divergências m eram ente culturais, da tradução
trate de um nom e próp rio ou da indicação que T om é
das Escrituras, mas que não descaracterizam a reali-
tinha, de fato, um irm ão gêmeo. M as a Bíblia é silente
dade m aior do m ilagre realizado.
a esse respeito e a tradição tam bém . Diz um a tradi-
ção po sterio r que T om é pregou o evangelho na índia,
C hina e em várias ilhas de p erto e de longe. Os cris- E F R A IM ( C I D A D E D E )
tãos da igreja de S. T om é, sobre a Costa de M alabar,
consideram -no seu fundador. Cidade “vizinha ao deserto”, para onde Jesus Cris-
to se retirou, após ressuscitar Lázaro. Nesse contexto
DOUTOR DA LEI era viva a hostilidade e rejeição dos líderes judeus de
Jerusalém (Jo. 11:54). Existe um a possibilidade, mas
T am bém cham ado de escrita, é o especialista nas não um a certeza absoluta, de que essa vila seria o mes-
leis de com portam ento do judaísm o, tan to civis quan- m o local m encionado em 2 Samuel 13:23. Há tam bém
to religiosas (Luc. 5:17; M at. 23:3). Eles recebiam o quem sugira que a antiga Efraim onde Jesus perm ane-
títu lo honorífico de rabi (Mat. 23:7s) e ensinavam a ceu oculto p o r um tem po seria a m oderna cidade de
Lei ao povo (Luc. 2:46; Rm. 2:20). Seu trabalho de Taybeh, localizada no territó rio palestino, próxim a a
instrução era elogiado no judaísm o tardio mas Jesus Ram allah, uns 15 km a noroeste de Jerusalém .
ELIAQUIM Escrituras religiosas e da tradição oral. Dedicavam
sua m aior atenção às questões relativas à observância
A quem Deus estabelece. 1. U m dos oficiais da corte das leis de pureza ritual, inclusive fora do Tem plo.
de Ezequias. Sucedeu a Sebna com o m ordom o da casa
As norm as de pureza sacerdotal, estabelecidas para
real e foi nom eado para conferenciar com o rei da As-
o culto, passaram a m arcar para eles um ideal de vida
síria, que estava então cercando a cidade de Jerusalém
em todas as ações da vida cotidiana, que ficava assim
(2 Rs. 18 e 19 - Isa. 22:20). 2. Filho e sucessor do rei
ritualizada e sacralizada. Ju n to à Lei escrita (T orah
Josias. Foi posteriorm ente cham ado Jeoaquim (2 Rs.
ou Pentateuco), foram com pilando um a série de tra-
23:34). 3. Sacerdote que assistiu à festa da dedicação
dições e m odos de cum prir as prescrições da Lei, às
dos m uros, no tem po de Neem ias (Ne. 12:41). 4. e 5.
quais se concedia cada vez um m aior apreço até que
Antepassados de Jesus C risto (M at. 1:13; Luc. 3:30).
chegaram a ser recebidas com o T o rah oral, atribuída
tam bém a Deus. Segundo suas convicções, essa T o rah
oral foi entregue ju nto com a T o rah escrita a M oisés
ELOÍ, ELOÍ, LAMA SABACTÂNl? no Sinai e, dessa form a, ambas tinham idêntica força
vinculante. Os evangelhos estão repletos de situações
Expressão de dor, clamada p o r C risto na cruz do em que os fariseus tratam essas tradições com o equi-
Calvário. Q uer dizer: Deus m eu, Deus m eu, p o r que valentes à Palavra de Deus (Mat. 9:14; 15:1-9; 23:5;
m e desam paraste? E a quarta das sete últim as palavras 23:16, 23; M ar. 7:1-23; Luc. 11:42).
de Cristo na cruz (M ar. 15:34). M ostra que naquela
h ora Jesus sentiu que estava carregando o peso dos Jesus, porém , denunciou m uito de sua atitude
pecados de toda a hum anidade e tem eu ficar p o r toda com o sendo um com portam ento vazio e hipócrita.
a eternidade afastado do Pai. Por isso, m uitos deles se to rn aram inim igos de Jesus
(M ar. 14:53; 15:1; Jo. 11:48-50). C ontudo, tam bém é
EMANUEL verdade que alguns fariseus se uniram ao m ovim ento
de C risto ou, pelo m enos, tornaram -se sim patizantes
(Deus Conosco). N om e sim bólico da criança que à sua m ensagem no inicio de seu m inistério.
ia nascer pela prom essa que Deus fez ao rei Acaz, p o r
N um desses encontros Jesus aceitou o convite para
m eio do profeta Isaías. Esse nom e indicava que Deus
to m ar um a refeição com um fariseu, provavelm ente
estaria presente no m eio do seu povo (Is. 7:13-14).
durante o dia. (Luc. 11:37, 38; veja Luc. 14:12.) A n-
Essa profecia se cum priu prim eiro, de m odo parcial,
tes de com er, os fariseus seguiam o ritual de lavar as
provavelm ente com o segundo filho de Isaías e, de-
m ãos até os cotovelos. M as Jesus não fez isso. (Mat.
pois, de m odo com pleto, com o nascim ento de Jesus
15:1, 2). Não era algo que Deus exigia.
(Mat. 1:23).
O líder fariseu ficou surpreso porque Jesus não se-
guiu o protocolo de purificação. Então o M estre lhe
diz: “O ra, vocês, fariseus, lim pam por fora o copo e o

F p rato, mas p o r dentro estão cheios de ganância e de


maldade. Insensatos! Aquele que fez o exterior tam -
bém fez o interior, não fez?” — (Luc. 11:39, 40).

M uitos fariseus evitavam tem áticas políticas, mas,


FARISEUS para um a parte deles, a dim ensão política desem pe-
nhava um a função decisiva em seu posicionam ento
Partido judaico de m aior apreço no m eio popular e estava ligada ao em penho pela independência na-
dos tem pos de C risto. Seu nom e, em hebraico pe- cional. Foi talvez p o r essa razão ideológica que eles
rushim e significa “os separados”. Surgidos no século se uniram aos saduceus - seus inim igos ideológicos
II a.C., os fariseus viviam na estrita observância das - para condenar Jesus à m orte.
FLAUTA A comparação de Jesus gira em to rn o das semelhan-
ças entre sua geração e as crianças brincando na pra-
Instrum ento feito de dois pedaços ocos de bam bu. ça. As crianças eram os judeus que deviam observar
O som era obtido soprando num a das extrem idades a advertência (arrependim ento sincero) e a esperança
e as notas eram controladas bloqueando os orifícios (conversão e preparação para as bodas do Messias).
com os dedos em cada tubo. Elas podiam fornecer
Veio João Batista, “aquele que en to o u lam enta-
m úsica alegre nos desfiles dos dias santos (1 Rs. 1:40)
ções”, com sua advertência e convite ao arrependi-
e tam bém m úsica triste (Jr. 48:36). As flautas eram
m ento, mas eles não choraram , nem se penitenciaram
fáceis de fazer e tam bém quebravam com facilidade.
de seus pecados. Veio o C risto, o noivo m essiânico de
Q uando se estragavam eram jogadas fora e se fazia Israel e eles, novam ente, recusaram participar das bo-
outras novas. Q uando foi dito de Jesus que “não es- das - com o toque festivo de flautas.
m agará a cana quebrada”(M at. 12:20),o profeta estava
afirm ando que, contrário à prática com um , 0 m étodo T al im penitência e endurecim ento em relação à
de Jesus era e é consertar o que está quebrado, em vez chegada do M essias era o que mais agoniava trazia
de jogá-lo fora. pesar ao coração de Cristo em relação ao seu povo
escolhido.
Jesus usou ainda a im agem da flauta em sua adver-
tência aos judeus de sua época e à rejeição que faziam
das m ensagens vindas do céu. Trata-se de um a m ini
FILHO DE DEUS
parábola narrada em M ateus 11:16-19 e Lucas 7:31-35.
Expressão em pregada para designar a pessoa de Je-
A cena com parativa foi extraída d ire tam e n te do sus Cristo, em seu aspecto divino. Ele era o Filho ceies-
cotidiano. Jesus descreve um a situação com um em tial em relação ao Pai eterno (Mat. 3:17; Jo. 5:18-40).
que crianças, in v en ta n d o suas brincadeiras, im itam Tam bém pode significar sim bolicamente os filhos hu-
situações com uns do m u n d o dos adultos e as rep re- m anos de Deus que, pelo novo nascim ento, passaram
sentam . a pertencer à família de Deus, relacionando-se com ele
como filhos em relação a um pai am oroso (Luc. 20:36;
O faz de contas podia se dar assim: vários m eninos Rm. 8:14; Gl. 3:26; Fp. 2:15; Hb. 12:7). Aos filhos de
e, talvez, m eninas (não se sabe ao certo se ambos os Deus se contrapõem os filhos do Diabo (At. 13:10).
sexos brincariam juntos), estariam brincando na pra-
ça de um a cidade, enquanto os adultos se ocupavam FILHO DO HOMEM
em suas atividades. Algum as crianças queriam b rin -
car de casam ento. Além da noiva e do noivo, precisa- T ítulo que Jesus usava para referir-se a si m esm o
vam de um tocador de flauta, pois um grupo deveria com o o escolhido de Deus (M ar. 10:45). A expressão
dançar na festa. Em bora o noivo e a noiva estivessem faz jus à condição hum ilde de Cristo, bem com o apela
prontos, e um a das crianças providenciasse a m úsi- para a sua hum anidade (M ar. 8:31; Luc. 9:58) e tam -
ca de flauta, o resto das crianças se recusou a dançar, bém à sua futura glória (Mat. 25:31; M ar. 8:38).
pois queriam brincar de fazer funeral.
No A ntigo T estam ento, o m esm o título era aplica-
U m a delas tin h a que se fingir de m orta, enquanto do ao ser hum ano, debilitado e m ortal. Essa expressão
outras cantavam um canto fúnebre, um a lam entação. aparece um as cem vezes em Ezequiel (por exemplo,
As demais tinham que chorar, mas tam bém se recu- 2:1) e um a vez em D aniel (8:17).
saram . Não queriam participar daquela brincadeira.
Então as próprias crianças que tin h am inventado as F IL H O D E D A V I
brincadeiras sentaram -se e com eçaram a discutir en-
tre elas mesmas: “Nós tocam os flauta e não dançastes” T ítulo que os judeus davam ao M essias. Ele seria
- reclam aria o prim eiro. “E ntoam os lam entações e descendente de Davi e viria para ser rei de Israel. Je-
não chorastes” - responderia o segundo. sus foi diversas vezes cham ado “Filho de Davi” por
pessoas que queriam ser curadas p o r ele (M at. 12:23; Sendo um nom e de origem sem ita, G adara signi-
21:15; Luc. 18:39). fica “recinto” ou “confim ”. Hoje m uitos a identificam
com U m m Qais na região da Jordânia.
FELIPE (FILIPE) Nos tem pos de Cristo, G adara havia sido um a
grande cidade fortificada da Pereia, na extrem idade
N om e que aparece nos evangelhos referindo-se noroeste das m ontanhas de Gileade, à distância de oito
a três diferentes pessoas: Filipe, filho de H erodes, o quilôm etros ao oriente do Jordão e quase dez quilô-
G rande e C leópatra, tetrarca da Itureia e T raconites m etros a sudeste do M ar da Galileia. Foi tam bém um a
(Luc. 3:1), que governou de 2 a 34 d.C.; Filipe, filho das cidades m ais im portantes de Decápolis. C unhava
de H erodes com M ariam ne II, o qual era casado com sua p ró p ria m oeda e era referência em cultura, pois
Herodíades, que o abandonou para viver com H ero- abrigava vários poetas clássicos e filósofos. Era na sua
des A ntipas (M at. 14:3) e, finalm ente, Filipe apóstolo, m aior parte um a cidade grega, até ser capturada pelos
natural de Betsaida (Jo. 1:43-46). É m encionado na rom anos e dada p o r A ugusto a H erodes, o Grande.
m ultiplicação dos pães (6:5-7) com o interm ediário
entre Jesus e alguns pagãos (12:21s) e num diálogo Provavelm ente Gerasa era um a vila e G adara era
com Jesus (14:8-10). a cidade mais im portante da região. T anto G adara
com o Gerasa eram cidades situadas a uns 48 km a su-
deste do M ar da Galileia.

E m bora se notasse um forte elem ento judaico na

c ‫׳‬
população, o caráter gentílico tam bém se to rn a claro,
um a vez que os judeus não criavam porcos, pois a lei
m osaica os considerava anim ais im puros.
— r ‫——*־־־־־‬η -------‫™״‬τητπιι.................... inuniinrn · — ~Μτ11Γ1πτηΓτπ1·ηί1· · ι ^ ι τ ‫־‬ί · · · 1Η1ιι1‫ · ־‬ι· ιι ιι · ι 1ί 1111111■ ■1■ .................... .................................... 11

As ruínas locais com preendem dois teatros, um a


G AD AR A E GERASA basílica, um tem plo e um a bela estrada com um a colu-
nata de cada lado. Ao longo das bordas do M ar da Ga-
Cidades m encionadas no N ovo T estam ento em re- lileia, p erto de Gadara, ainda se podem ver os restos
lação a um a das mais im pressionantes curas realizadas de antigos sepuLuc.ros, cavados nas rochas, estando
po r Jesus - o exorcism o sobre um jovem que passava voltados para o m ar.
dias e noites nas cavernas e nos cem itérios, feria-se
de propósito, gritava pelas estradas, tin h a um a força
GALILEIA
capaz de arrebentar correntes de ferro, era violento e
perigoso, andava nu e assustava todo m undo.
Região norte do antigo território judeu que formava,
A historia é descrita nos Evangelhos de M ateus, junto com a Pereia, o conjunto de cidades administradas
M arcos e Lucas, porém , M ateus foi o único a contar por Herodes (4 a.C. a 37 d.C.). Sua população era forma-
que não era apenas um hom em a viver nos sepulcros da sobretudo de judeus. Mas, por causa de sua cultura e
de Gadara, sob dom ínio de Satanás, mas dois: “E ten- dialeto próprio (Mat. 26:73), os galileus eram despreza-
do chegado ao o u tro lado, a província dos Gadarenos, dos pelos judeus da Judeia como se fossem ignorantes e
saíram -lhe ao encontro dois endem oniados, vindos não observadores da Lei (Jo. 7:41; Mar. 14:70). Cidades
da Galileia, como Nazaré, Caná, Cafarnaum, Betsaida e
dos sepulcros; tão ferozes eram que ninguém podia
Tiberíades, além do lago da Galileia, são o cenário mais
passar p o r aquele cam inho” (Mat. 8:28).
familiar da vida pública de Jesus.
A aparente discrepância pode ser explicada pelo
fato de que um seria m ais velho e o o u tro um a m ulher GÓLGOTA
ou criança, indivíduos que não eram o brigatoriam en-
te m encionados num a história relatada. Eles podiam T erm o aram aico que significa “lugar do crânio ”ou
ou não ser citados. Era a cultura da época. da caveira (em latim Calvaria, de onde vem a palavra
“C alvário”); é o lugar onde Jesus foi crucificado (Mat. corpo lançado no in ferno [geena]”. M as o que era
27:33; Jo. 19:17). Era, provavelm ente, um a pequena esse geena, de que C risto ta n to falava? Geena era c
colina, fora dos m uros de Jerusalém , onde os conde- nom e dado ao Vale de H inon, que se localizava ac
nados eram executados. sul de Jerusalém . E ra um v erdadeiro “lixão público’’,
local onde se deixavam os resíduos, bem com o toda .
GEENA sorte de cadáveres de anim ais e m alfeitores, e im u r-
dícies de todas as espécies, recolhidas da cidade.
P alavra que aparece em d e te rm in a d o s discursos
de C risto e que n o rm a lm e n te é tra d u z id a p o r in - N este local, era aceso um “fogo que nunca se
fern o . O sen tid o p arece ser o de castigo que exis- apagava”, pelo fato de que estava constantem en:^
tirá após a ressu rreição . Jesus p e rg u n to u aos fa- aceso, ten d o em v ista que su p o rta v a to d o s os tipc í
riseus: “C om o vocês escaparão da condenação do de lixo e carniça que eram ali despejados. Os de-
in fe rn o [geena]?” (cf. M at. 23:33). T am b ém disse jetos que não eram rap id a m e n te consum idos p e’^
aos fariseus que eles faziam discípulos p ara depois ação do fogo eram consum idos pela devastação dc 5
os to rn a re m “duas vezes m ais filho do in fe rn o [ge- v erm es que ali se achavam - um cen ário m uito ‫בז‬-
ena] do que v ó s” (cf. M at. 23:15), e que “é m elh o r pico de u m v e rd a d e iro lixão público - , que devora-
e n tra r na vida aleijado do que, ten d o os dois pés, vam as e n tra n h a s dos cadáveres dos im p en iten tes
ser lançado no in fe rn o [geena]” (cf. M ar. 9:45). que lá eram lançados, em um espetáculo realm en ‫־‬e
Q ualq u er um que disser “lo u co ” ao ser irm ão , “cor- a te rra d o r.
re risco de ir p ara o fogo do in fe rn o [geena]” (cf.
M at. 5:22). P o r isso m esm o, o fogo não po d ia ser apagado,
p a ra a preservação da saúde do povo que viva na-
quelas redondezas. Esse q uadro h istó ric o do “Vale
de H in o n ” ou “Geena" tam b ém é o q u ad ro espiritual
do fim dos pecadores que, de acordo com a Bíblia,
serão ali lançados. Esse é ex atam en te o m esm o qua-
dro tam b ém relatado p o r Isaías, no ú ltim o capítulo
de seu livro:

“E sairão, e v erão os c a d á v e r e s d o s h o m e n s que


p rev a ric a ra m c o n tra m im ; p o rq u e o seu verm e
n u n c a m o rre rá , nem o seu fogo se apagará; e s e rà o
u m h o r r o r a to d a a c a r n e ” (cf. Isaías 66:24).

E x atam en te o m esm o cenário h istó ric o é retra-


tado p o r Isaías com o o cen ário do juízo final. Isaías
não co n tem p lav a “alm as” ou “e sp írito s” vivos entre
as cham as, m as, sim , c a d á v e r e s , ou seja, pessoas
mortas. N ão existe vida e te rn a no geena. O geena
era um local de im purezas, e no R eino de D eus “não
A passagem m ais clara de que o v erdadeiro infer- e n tra rá nela coisa algum a que co n tam in e, e com eta
no à luz da Bíblia (que é o geena) não é um local para abom inação e m en tira ; m as só os que estão inseri-
espíritos incorpóreos, m as para onde vão os corpos tos n o liv ro da vida do C o rd e iro ” (cf. Ap. 21:27).
físicos dos ím pios, é M ateus 5:29, onde C risto diz A quilo que era considerado im p u reza era lançado
que, “se o teu olho d ireito te escandalizar, a rran ca -0 no geena p a ra ser c o m p letam en te consum ido e de-
e atira-o p ara longe de ti; pois te é m elh o r que se v o rad o pelo fogo e pelos verm es, o m esm o cenário
perca um dos teus m em bros do que seja todo o teu do d estino final dos pecadores!
lileia, isto é, Itureia, G aulanites, Bataneia, T raconites

H e A uranites (Luc. 3:1).

5) Herodes Agripa I governou, de 41 a 44 d.C., toda


a terra de Israel, como havia feito Herodes, o Grande,
seu avô. Esse Agripa m andou m atar Tiago (At. 12:1-23).
HOSANA
6) H erodes A gripa II, que governou o m esm o ter-
Palavra que em hebraico são duas (hoshiah na), ritório que Filipe havia governado (50-70 d.C.). Pau-
que querem dizer “salva, pedim os” (SL 118:25; v. HA- lo com pareceu perante esse A gripa (At, 25:13; 26:32).
LEL). Com 0 tem po essa oração se to rn o u um a excla-
m ação de louvor (M at. 21:9).
HERODIAS
A palavra hosana aparece 6 vezes na Bíblia, nos
evangelhos (M at. 21:9[2x].15; M arcos 11:9; João H erodias casou-se com seu tio, Filipe, e tiveram
12:13). A transcrição do vocábulo grego é Osanna. um a filha cham ada Salomé. Herodias abandonou seu
C ontudo não é um a palavra grega, mas hebraica. T ra- m arido para viver com seu cunhado, o rei Herodes
ta-se do verbo hosha (salvar) no im perativo hifil, se- Antipas, hom em mais poderoso do que seu m arido.
guido da partícula enclítica de súplica na, que às vezes Ela era m uito ambiciosa. C ertam ente, ela pensou que,
é traduzida com o “te em ploro”. P ortanto, poderíam os casando-se com seu cunhado teria um a posição m e-
traduzir hosana com o “Salva, te imploro”. lhor, teria m ais poder, um acréscim o de riqueza. Ela
era um a m ulher sem escrúpulos e m anipuladora, con-
No Antigo Testam ento não aparece a form a literal seguiu com que Herodes se divorciasse de sua esposa.
“hosana”, mas no Salmo 118:25 tem os a form a impera- Ela tam bém divorciou-se de seu esposo Filipe, o m eio
tiva longa (hoshi‘ana): “Salva-nos, agora, te pedimos, ó SE-
irm ão de H erodes, e se casaram.
NHOR; ó SENHOR, te pedimos, prospera-nos". Esta citação
é im portante para entender o contexto em que era usado Esse casam ento foi m uito ofensivo aos judeus.
este termo. O Salmo 118 era usado por ocasião da festa João Batista, um grande hom em de Deus, foi preso
dos Tabernáculos e o versículo 25 tinha a função especial po r ordem de H erodes porque o repreendeu publi-
de dar o sinal para começar a agitação dos ram os (lulab). cam ente p o r ter tom ado Herodias, a m ulher de seu
irm ão Filipe (M ar. 6:17,18).
HERODES H erodias passou a o d iar Jo ão B atista com g ran -
de ira, a p o n to de desejar a m o rte dele. (M ar. 6:19)
N om e com um de vários reis IDUM EUS que
governaram a Palestina, de 37 a.C. até 70 d.C. O ódio, a obsessão m aldosa de H erodias de fazer
1) H erodes, o G rande (37 a 4 a.C.), construiu Cesa- m al a João Batista realizou-se quando sua filha Sa-
reia, reconstruiu o T em plo e m andou m atar as crian- lom é dançou na festa de H erodes, diante de todos, o
cinhas em Belém (Mat. 2:1-18). Q uando m orreu, o agradando, ao ponto de Herodes p ro m eter dar a ela
seu reino foi dividido en tre os seus três filhos: A rque- o que ela quisesse. Herodias, im ediatam ente, influen-
lau, A ntipas e Filipe. ciou è m anipulou, convenceu sua filha Salomé a pedir
a cabeça de João Batista em um prato. (M at. 14:8).
2) A rquelau governou a Judeia, Sam aria e Idum eia
de 4 a.C. a 6 d.C. (M at. 2.22).

3) Herodes Antipas governou a Galileia e a Pereia, de


HIDRÓPSCO
4 a.C. a 39 d.C. Foi ele quem m andou m atar João Batista
Pessoa que sofre de hidropisia, doença que consis-
(Mat. 14:1-12). Jesus o chamou de “raposa” (Luc. 13:32).
te no acúm ulo de líquido e inchaço no corpo todo ou
4) Filipe, TETR A R C A que governou, de 4 a.C a num a de suas partes, com o, p o r exem plo, no ven tre
34 d.C., a região que ficava a nordeste do lago da Ga- (barriga d-água) (Luc. 14:2).
Há um a pessoa citada com o hidrópica na Bíblia igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
(Luc. 14:2), que p ro cu ro u Jesus e po r ele foi curada. E verdadeiram ente a igreja prim itiva de Cristo foi pri-
Parte dos com entaristas bíblicos traduzem sua enfer- m eiro edificada fundam entada na doutrina dos apósto-
m idade com o barriga d agua. A palavra na língua gre- los (At. 2:47), hoje, é edificada no "IDE”de cada um dos
ga (língua utilizada no N ovo T estam ento) é hydropi- que tem com prom isso de servir a Deus em Espírito e
kós e dá um sentido de acúm ulo de líquido. em Verdade (Ef. 2:19, 20).

INFERNO
HINOM
Castigo em que os perdidos estarão eternam ente se-
Vale situado a sudoeste de Jerusalém , en tre a es-
parados de Deus (Mat. 18:8-9; 25:46; Luc. 16:19-31; 2Pe.
trada que vai para Belém e a que vai para o M ar M or-
2:4; Ap. 20:14). “Inferno”, no N T, traduz as palavras ha-
to. Estava na divisa entre Judá e Benjam im (Js. 15:8).
des (uma vez) e geena (v. HINOM).
Ali se queim avam crianças no culto a M O LO Q U E
(2Rs. 23:10). M ais tarde era lugar onde se queim ava
lixo. Geena é a form a grega do hebraico ge-hinom, que
INRI
quer dizer “vale de H inom ”.
Em m eio à crucificação, foi colocada um a placa,
um a espécie de letreiro, bem em cim a da cruz, com
alguns dizeres em três línguas (hebraico, latim e ara-

?
maico): “Muitos judeus leram este título (...) e estava escri-
to em hebraico, latim e grego." (]o. 19:20)

Esse “títu lo ” escrito nessa placa continha em la-


tim a expressão (lesus Nazarenus Rex Iudaeorum), que
significa: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS." (Jo.
IGREJA
19:19).“l. N.R.I.” são as iniciais dessa expressão. Essa
m esm a expressão tam bém estava escrita em hebraico
Tradução da palavra grega e k k le s ia , signifi-
e grego com o vim os em (Jo. 19:20).
ca assembleia, ajuntam ento dos servos de Deus.
G rupo de seguidores de Cristo que se reúnem em
determ inado lugar para adorar a Deus, receber en-
sinam entos, evangelizar e ajudar uns aos outros
(Rom. 16:16). A palavra considera igreja a totalida-
de das pessoas salvas em todos os tem pos (Ef. 1:22).
Segundo a palavra, podem os observar neste conceito
que igreja não é a estrutura m aterial construída por
J
m ãos hum anas. Para tanto, a prim eira vez que a palavra JOSÉ DE A R IM ATEIA
igreja fora pronunciada no Novo T estam ento deu-se no
Evangelho de M at. 16:14-18, ocasião em que o Senhor M em bro do Sinédrio, simpatizante do m ovim ento
Jesus interrogou seus discípulos, dizendo: Quem dizem de Jesus e que assumiu publicamente sua decisão ao lado
os homens ser 0 Filho do Homem?E eles disseram: Uns, João de Cristo, por ocasião de seu julgamento na corte judaica.
Batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos profetas. Era provavelmente um hom em de posses e emprestou
Disse-lhes então Jesus: E vós, quem dizeis que eu sou? E seu próprio túm ulo familiar para colocarem o corpo do
Simão Pedro, respondendo, disse: Tu e's 0 Cristo, 0 Filho do Senhor (Mat. 27:57; Luc. 23:50) Era natural de Arima-
Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado teia, provavelmente a cidade de Ramá, citada no Antigo
és tu, Simão Barjonas, porque não fo i carne e sangue quem Testam ento (lSm . 1:19). Foi ele quem intercedeu junto
te revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu a Pilatos e pediu o corpo de Cristo. Após a certificação
te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha do óbito e autorizada a remoção do corpo, José imedia­
tam ente adquiriu um pano de linho fino (Mar. 15:46) estava esperando deveria se cham ar Jesus (Mat. 1:21).
e seguiu para o Gólgota, a fim de tirar o corpo da cruz. Depois da revelação que teve, José assum iu M aria
Ali foi ajudado por Nicodemos e algumas mulheres que com o sua esposa e desem penhou o papel de “pai” para
ungiram o corpo do Senhor com a m irra e o aloés que o m enino Jesus. Após o nascim ento de Jesus, em Be-
o próprio Nicodemos trouxera (Jo. 19:39). Depois disso, lém , José o levou a Jerusalém para a purificação (Luc.
transportaram -no para o túm ulo talhado, que pertencia 2:22), e depois, com o chefe da família, fugiu com ele
à família de José e lá 0 deixaram (Luc. 23:53, 55). Isso para o Egito a fim de escapar da perseguição invejosa
foi feito apressadamente, por causa da chegada do sába- de H erodes, conform e a instrução recebida do anjo do
do. E ali Cristo perm aneceu até ressuscitar na m anhã do Senhor (M at. 2:13-15).
prim eiro diada semana. Fora esses detalhes, nada mais é
Q uando voltou do Egito, José se estabeleceu no-
dito acerca desse seguidor de Jesus Cristo.
vãm ente em Nazaré, onde Jesus foi criado e aprendeu
sua profissão (M ar. 6:3). A nualm ente José levava sua
JOSÉ, PA! DE JESUS fam ília para Jerusalém , p o r ocasião da celebração da
Foi marido de Maria, mãe de Jesus. Em bora o mais Páscoa (Luc. 2:41-52).
correto seria chamá-lo “padrasto” de Jesus - pois ele não É difícil saber se José ainda estava vivo quando Je-
teve participação biológica na geração de Cristo - , algu- sus iniciou seu m inistério público. Alguns estudiosos,
mas passagens se referem a ele como pai de Jesus Cris- baseados em João 6:42, sugerem que talvez ele ainda
to, porque agia legalmente dessa maneira. Os próprios estivesse vivo, porém adm item que provavelm ente
judeus da época consideravam Jesus como filho de José ele ten h a m orrido durante esse período, visto que
(Luc. 3:23; 4:22; Jo. 1:45; 6:42). ele não é m encionado juntam ente com M aria e os ir-
São bem poucas as informações sobre a vida de m ãos de Jesus em outras referências (Mat. 12:46-50;
José. Sabe-se que ele era um descendente legítimo da M arcos 3:31-35 e Lucas 8:19-21).
casa do rei Davi, conforme registrado na genealogia de Além disso, p o r José não ser m encionado na oca-
Jesus apresentada em Mateus 1. sião da crucificação de Jesus, e pelo fato de M aria te r
Já a genealogia presente no Evangelho de Lucas, pos- sido recom endada aos cuidados do apóstolo João, po r
sivelmente não é a de José, mas a de Maria. De qualquer Jesus, conclui-se que José já havia m orrido nesse tem -
forma, ambos os evangelhos dem onstram claramente po. Apesar dos poucos detalhes, certam ente pode-se
que Jesus não era filho José. M esmo a genealogia re- afirm ar que José, o pai de Jesus no sentido legal, era
gistrada em M ateus enfatiza que “Jacó gerou José, marido um hom em de grandes qualidades, fiel e obediente ao
de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo” (Mat. Senhor.
1:16).

José era um carpinteiro que vivia em Nazaré, uma


JO AN A
pequena aldeia na região da baixa Galileia. O Censo de
Form a feminina do nom e João. Vem do hebraico
Lucas, no entanto, sugere que ele era originário de Belém
Yehohanan, composto por Yah, que é a abreviação de
da Judeia. Sua aparição no texto bíblico começa como o
Yahweh (o nom e de Deus) e por hanan, que significa
noivo de Maria, um a virgem que m orava no mesmo vi-
“teve misericórdia”. Significa, literalmente, “Deus teve
larejo de Nazaré.
misericórdia” ou tam bém “Dom de Deus”. Era um nom e
José é mencionado em todos os evangelhos, menos dado pelos pais aos filhos m uito esperados, nascidos
no de Marcos. Ele recebe m aior destaque em Mateus, quando os pais já tinha perdido a esperança, como no
onde está registrada a revelação que teve de um anjo, caso de João, o Batista.
alertando-o, em sonho, sobre o perigo que o m enino Je-
Joana é citada na Bíblia apenas duas vezes no Evan-
sus corria de ser m orto por Herodes (Mat. 1:20-25).
gelho de Lucas (8:1-3; 24:1-10). Na prim eira referência,
O m esm o anjo ordenou-lhe tom ar, sem m edo, M a- encontram os a única informação sobre sua vida pessoal,
ria p o r esposa, além de revelar que o m enino que ela no caso, o nom e de seu esposo.
O texto do evangelho nos diz que seu marido, Cuza, m uitos palácios e edifícios públicos. Foi, finalm ente,
era “procurador de Herodes” (Luc. 8:3). Com base nessas destruída pelos rom anos, cerca do ano 230 d.C.
palavras, não se sabe exatamente se Cuza era oficial da É possível en tender os episódios em que Jesus
casa de Herodes, ou seja, um m ordom o, ou se ele era um curou os hom ens cegos nas Escrituras, quando en-
oficial de seu governo, isto é, um tipo de chanceler. tendem os que Jesus estava passando pelajericó antiga
Na mesma passagem, Joana é citada, juntam ente com (M at. 20:29; M arcos 10:46) e se aproxim ando da Jeri-
M aria M adalena e Suzana, como pertencendo a um gru- có de H erodes (Luc. 18:35). Q uando Jesus passava por
po de mulheres que serviam ao Senhor Jesus e seus dis- Jericó (Luc. 19:1), ele conheceu e com eu com Zaqueu,
cípulos com seus próprios bens, ou seja, a contribuição um rico coletor de im postos da nova Jericó rom ana.
dessas mulheres ajudava a sustentar o m inistério itine- A cidade tam bém aparece na parábola do Bom Sarna-
rante do Senhor, que percorria de “cidade em cidade e de ritano (Luc. 10:30-37).
aldeia em aldeia”(Luc. 8:1).

O fato de m ulheres serem citadas acom panhando JESUS


Jesus e os doze apóstolos é bastante significativo e inco-
N om e dado ao salvador, mas tam bém um nom e
m um , pois os rabinos da época se recusavam a ensinar
com um nos tem pos do N ovo Testam ento. Era a for-
mulheres. Portanto, era raro encontrar qualquer m u-
m a grega ( Yesus) do nom e Josué aram aico: Yeshua, e
lher envolvida dessa form a em algum grupo religioso.
em hebraico: Yehoshua. Seu sentido é, “o Senhor sal-
Em Lucas 8:2 som os inform ados de que as m u- va”. P or isso o Anjo disse a José que este deveria ser
lheres m encionadas pelo Evangelista, o que possível- o nom e da criança, pois "ele salvará o seu povo dos
m ente inclui Joana, tinham sido curadas de “espíritos pecados deles” (Mat. 1:21).
malignos e de enfermidades”.
Existe o u tro Jesus seguidor e cooperador do após-
tolo Paulo, a quem ele afetuosam ente cham a de “Je-
sus, conhecido p o r Ju sto ”. Sua referência encontra-se
em Colossenses 4:11.

JO Ã O
JERICO
O apóstolo, irm ão de Tiago, o “G rande” (Mat.
Cidade do Novo T estam ento em que Jesus realizou 4:21; M at 10:2; M ar. 1:19; M ar. 3:17; M ar. 10:35).
a cura do cego Bartim eu e recuperou um publicando Era um dos filhos de Zebedeu (M at. 4:21) e de Salo-
chamado Zaqueu (Mat. 20:29 - M ar. 10:46 a 52; Luc. m é (Mat. 27:56; comp. M ar. 15:40), provavelm ente o
18:35; 19:1 a 10). Não deve ser confundida com a Jeri- m ais novo, tendo nascido em Betsaida.
có do Antigo T estam ento destruída nos dias de Josué.
O seu pai era, aparentem ente, um hom em rico
Sobre a prim eira caiu um a maldição divina que senten-
(comp. M ar. 1:20; Luc. 5:3; Jo. 19:27). Ele foi, sem dú-
ciaria qualquer um que tentasse reedificar “esta cidade
vida, treinado em tudo o que constituía a vulgar edu-
de Jericó” (Js. 6:26). A condenação caiu, quinhentos
cação destinada aos jovens judeus. Q uando cresceu,
anos mais tarde, sobre Hiel, de Betei (1 Rs. 16:34).
seguiu a profissão de pescador, no lago da Galileia.
A Jericó dos tem pos de Jesus foi reconstruída po r Q uando João Batista com eçou o seu m inistério no
Herodes e se localizava a m ais de 1,6 km para o sul da deserto da Judeia, João, com m uitos outros, ju ntou-
Jericó do A ntigo T estam ento, era a segunda cidade -se a ele e foi profundam ente influenciado pelos seus
d a ju d e ia e abrigava o palácio do rei onde João Batista ensinos. Aí ele ouviu o anúncio “Eis o C ordeiro de
foi preso e decapitado. H ouve um tem po em que Jeri- D eus” e, im ediatam ente, a convite de Jesus, torn o u -se
có fizera parte da propriedade de C leópatra e lhe fora um discípulo, sendo contado entre os seus seguidores
dada com o presente de M arco A ntônio. M ais tarde (Jo. 1:36, 37) durante algum tem po. Ele e o seu irm ão
foi arrendada a H erodes, o G rande, que ali construiu voltaram , então, para a sua ocupação durante m ais al­
gum tem po. Jesus cham ou-os novam ente (Mat. 4:21; Assim, em bora tivesse sido consagrado antes do seu
Luc. 5:1-11) e dessa vez eles deixam tudo, ligando-se nascim ento à missão de pregar e ensinar (Luc. 1:13 a
perm anentem ente à com panhia dos seus discípulos. 15), ele só deu início à sua obra quando chegou à ida-
de adulta, depois de ter passado vários anos isolado,
Fez parte do circulo mais íntim o de Jesus (Mat.
vivendo em abnegação. Há quem pense que ele se fi-
5:37; M at. 13:3; M at. 17:1; M at. 26:37). Ele foi o dis-
liou por um tem po à com unidade dos essênios, o que
cipulo amado. Pelo seu zelo e intensidade de carácter,
é possível, mas ainda que assim seja, se distanciou dela
foi cham ado “Boanerges” (M ar. 3:17). M as este espí-
quando iniciou seu m inistério junto ao rio Jordão.
rito foi dom ado (M at. 20:20-24; M ar. 10:35). Q uando
da traição de Jesus, ele e Pedro seguiram C risto de A m aneira com o João Batista apareceu pregando
longe, enquanto os outros fugiram apressadam ente cham ou a atenção de toda a gente. O seu vestido era
(Jo. 18:15). No julgam ento, seguiu C risto até a câ- feito de pelos de camelo, e ele andava cingido de um
m ara do concilio e depois até o pretó rio (Jo. 18:16, cinto de couro, sendo a alim entação do notável pre-
19, 28), indo tam bém até o lugar da crucificação (Jo. gador o que encontrava no deserto, gafanhotos e m el
19:26, 27). E a ele e a Pedro que M aria dá prim eiro as silvestre (Lv. 11:22 - Sl. 81:16 - M at. 3:4). O m inisté-
novas da ressureição (Jo. 20:2), e são eles os prim eiros rio de João com eçou “no deserto d a ju d e ia ” (Mat. 3:1;
a ver o que tudo aquilo significava. M ar. 1:4; Luc. 3:3; Jo. 1:6 a 28).

Após a ressureição, ele e Pedro voltam ao M ar da Ele pregava o arrependim ento e a vinda do reino
Galileia, onde o Senhor se lhes revelou (Jo. 21:1, 7). dos céus, e todo o país parecia ser m ovido pela sua
Após esses acontecim entos, vem os Pedro e João fre- palavra, pois vinham te r com ele as m ultidões para
quentem ente juntos (Jo 3:1; 4:13). A parentem ente, receberem 0 batism o (Mat. 3:5 e M ar. 1. S). Em ter-
João perm aneceu em Jerusalém como líder da igreja aí m os enérgicos censurou a falsa vida religiosa dos fari-
estabelecida (At. 15:6; Gl. 2:9). A sua história subse- seus e saduceus que se aproxim avam dele (Mat. 3:7),
quente não está registada. Ele não estava em Jerusa- avisando, tam bém , outras classes da sociedade (Luc.
lém, contudo, no m om ento da últim a visita de Paulo 3:7 a 14). Cham ava a atenção dos ouvintes para Jesus
(At. 21:15-40). Parece que se tinha retirado para Éfeso, C risto, o C ordeiro de Deus (Luc. 3:15 a 17 - Jo. 1:29
mas não sabemos em que altura. As sete igrejas da Ásia a 31), a quem batizou (M at. 3:13 a 17). O povo quis
foram objeto do seu especial cuidado (Ap. 1:11). So- saber se João era o Cristo prom etido (Luc. 3:15) - mas
freu perseguições e foi preso em Patm os (Ap. 1:9), de ele categoricam ente asseverou que não era (Jo. 1:20).
onde voltou para Éfeso. Aí m orreu provavelm ente em
A im portância do m inistério de João acha-se cia-
98 d.C., tendo sobrevivido a todos ou quase todos os
ram ente indicada nas referências de Jesus C risto e
amigos e com panheiros, m esm o os dos seus anos mais
dos apóstolos ao caráter e à obra notável do prega-
m aduros. Existem m uitas tradições interessantes sobre
dor. Depois de responder aos m ensageiros de João
João, enquanto ele viveu em Éfeso, m as a nenhum a se
(M at. 11:2 a 6; Luc. 7:19 a 23), falou Jesus às m ui-
pode atribuir um caráter de verdade histórica.
tidões sobre o caráter e m issão do Batista, declaran-
do: “E ntre os nascidos de m ulher, ninguém apareceu
JOÃO BATISTA m aior do que João Batista” (M at. 11:7 a l l ; Luc. 7:24
a 28). M ais tarde foi p o r Jesus, de um m odo preci-
Precursor de Cristo. Sua vinda fora profetizada por
so, identificado com o prom etido Elias (Mat. 17:10 a
Isaías 40:3 e Malaquias 4:5 (cf. Mat. 11:14). Seu nasci-
13; M ar. 9:11 a 13) - e tam bém o batism o de João foi
m ento tam bém foi anunciado a seus idosos pais por “um
assunto de que Jesus se serviu para discutir com “os
anjo do Senhor” (Luc. 1.5 a 23). Seu pai Zacarias era sa-
principais sacerdotes e os anciãos do povo”, colocan-
cerdote, e sua mãe Isabel “era um a das filhas de Arão”.
do-os em dificuldades (M at. 21:23 a 27) - e, pelo fato
Q uanto à sua infância, apenas se sabe que João Ba- de estes judeus rejeitarem o apelo de João, fez-lhes
tista “crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos sen tir o Salvador a sua responsabilidade (M at. 21:32).
desertos até o dia em que havia de m anifestar-se a Is- O batism o de João foi lem brado po r Jesus depois da
rael” (Luc. 1:80). sua ressurreição (At. 1:5) - a ele se referiu tam bém
Pedro (At. 1:22; 10:37 11:16 ‫)־‬, e o apóstolo Paulo O utra possibilidade é que Iscariotes fosse usado
(At. 13:24,25). Apoio conhecia som ente o “batism o como apelido, em hebraico ish Qeryoth, que significa
de João” (At. 18:25), e m aior conhecim ento não havia hom em de Queriote. (Jo. 6:71; 13:26) Tam bém , podia
em certos discípulos de Efeso (At. 19:1 a 4). ser designado filho/descendente/natural de Queriote.
Queriote - de acordo com a interpretação inicialmen-
O m inistério corajoso de João parece ter alarm ado
te veiculada por São Jerônim o - seria o nom e simpli-
H erodes, o tetrarca da Galileia, que, segundo conta
ficado da aldeia, ou mais provavelm ente um conjunto
Josefo3, 0 considerava com o dem agogo e pessoa pe- de aldeias, de Q ueriote-Ezron (Jos. 15:21) - nom e que
rigosa. C om o João o tivesse censurado por ter casado
significa "cidades de Ezron” - localizada na província
com Herodias, m ulher de seu irm ão Filipe, que ainda rom ana da Judeia (no território da T ribo de Judá) e
estava vivo, lançou H erodes o seu censurador num a que é com um ente identificada com a m oderna Qirber
prisão. O m edo da indignação popular (Mat. 14:5) el-Qaryatein, situada a cerca de 20 km a sul de Hébron.
parece tê-lo im pedido de m atar João Batista, mas a
filha de Herodias, baseando-se num a inconsiderada Se proceder esta últim a hipótese J u d a s seria o úni-
prom essa de Herodes, obteve a m orte de João Batista co apóstolo de C risto que não era originário da região
(Mat. 14:3 a 12). da Galileia.

Seu m au caráter, bem como sua atitude final, foi


JO ÃO MARCOS sempre do conhecim ento de Jesus 0o. 6:64). A sua frà-
queza logo se m anifestou na cena da unção em Betâ-
M issionário, autor de um dos evangelhos canôni- nia 00. 12:4,5). As palavras, “po r que não se vendeu?”
cos. Era filho de M aria, um a das seguidoras de Jesus e manifestavam o sentim ento dos 12 — mas a ideia de
proprietária da casa em Jerusalém onde provavelm en- que o unguento devia ser vendido para socorrer os po-
te Jesus realizou a últim a ceia com os discípulos. Era bres era de Judas, como o dá a entender o apóstolo João,
tam bém prim o ou sobrinho de Barnabé. Apenas cinco acrescentando que ele tinha proposto a venda daquela
vezes ele é chamado pelo nom e de João (At. 12:12,25 e essência por ser ladrão, pois “tendo a bolsa, tirava (isto
13:5,13 e 15:37). Nas demais passagens é o nom e M ar- é, subtraía) o que nela se lançava” (Jo. 12:4 a 6).
cos que prevalece.

JUDAS ISCARIOTES
Um dos 12 apóstolos, o que traiu Jesus Cristo. E
chamado o filho de Simão Iscariotes 00. 6:71), daí ser
conhecido como Judas Iscariotes. Esse sobrenom e ou
apelido é fonte de muitas opiniões entre os especialis-
tas, sobretudo quanto à sua significação etimológica.

A mais provável traz um a conotação política, li-


gando-o ao grupo dos sicários, um a ramificação do
grupo dos zelotes que perpetrava violentos ataques
- geralm ente com punhais, e daí o seu nom e latino
de sicarii - contra as forças rom anas na Palestina.
Por isso, argum enta-se que Judas Iscariotes, alegada-
m ente, teria sido um m em bro desse grupo e que o
seu nom e seria a transliteração de hom em do punhal,
em hebraico ish sicari. O utros derivam o seu nom e do
aram aico saqar, palavra que significava alguém “m en- Por essa revelação já se explica o ato que mais tar-
tiroso”, que é “falso”. de praticou. Sendo ele, pois, cobiçoso, e não podendo
conform ar-se com a natureza da missão de Jesus Cristo, “lo u v o r a D eus”, “exaltação a D eus” e resu lta de um a
foi-se fortalecendo no seu espírito aquele sentim ento expressão hebraica feita em agradecim ento a D eus
que se acha indicado pelas palavras: “E ntrou nele Sata- “Yah hu Dah”.
‫ ח‬ás” (Jo. 13:27) - e a triste conseqüência foi o pacto com
Além de Judas Iscariotes, o discípulo que traiu
os principais sacerdotes, e a entrega de Jesus Cristo.
Cristo, o N ovo T estam ento m enciona pelo m enos
Depois do episódio em Betânia, as más ideias con- cinco outros indivíduos que levam esse nom e:
tinuaram a afetar sua m ente (Mat. 26:14). Judas, então,
foi ter com os príncipes dos sacerdotes a fim de nego- 1. Judas, escolhido e nom eado p o r C risto p ara ser
ciar traiçoeiram ente a rendição de Cristo (Luc. 22:3,4). um dos 12 A PÓ STO LO S (Jo. 14:22), tam b ém é cha-
Provavelm ente ele esperava mais do que as 30 moedas m ado de “T ad eu ” (M at. 10:3), é irm ão de u m T iago
de prata (Mat. 26:15), porque houve discussão sobre a (At. 1:13) (que não é apóstolo (nota M at. 4:21). Este
quantia que lhe haviam de dar. Judas não é irm ão de Jesus p o rq u e todos os irm ãos
de Jesus não creram n este d u ran te sua vida n a te rra
Tam bém é provável que quisesse, com seu ato, pro- (M r 3:21; Jo. 7:5), andaram encium ados e antago-
vocar a revelação pública de Jesus que, segundo seu n izan d o -o (Jo. 7:3-8) e longe dele (M ar. 3:31-32),
entendim ento, usaria seus poderes para se libertar dos m as, após a ressurreição, C risto apareceu a seu ir-
grilhões assim que fosse preso pelos soldados. Assim, m ão T iago (1C0. 15:7) e, so m en te então, ele e todos
revelaria sua identidade messiânica de um m odo mais
seus irm ãos se a rrep en d eram , creram , e a ju n taram -
eficiente que aquele até então escolhido pelo Mestre:
-se aos discípulos (At. 1:14). P o rta n to , os irm ãos
curar doentes, na sua m aioria pobres e campesinos, e
T iago e Judas, m encionados em At. 1:13, não são
pedir a m uitos que não dissessem ser ele o Messias.
irm ãos de Jesus.
M esm o desem penhando o papel de traidor, Judas
2. Judas, irm ão de Jesus (M at. 13:55; M r 6:3; At
não se separou de Jesus. A guardava ocasião oportu-
1:13) não é apóstolo, pelos m otivos já citados. Escre-
na para entregá-lo. E esta aconteceu n o m om ento em
veu a epístola de Judas, aproxim adam ente no ano 66,
que Jesus orava 11o Jardim do G etsêm ani (Jo. 18:2).
não é certo de onde.
E ntregando, com um beijo o M estre, foi tom ado não
p o r um arrependim ento genuíno, m as pelo rem orso 3. Judas Galileu, um rebelde dos dias do alistam en-
(Mat. 27:3,4). to (At. 5:37).

Foi nesse estado de alma que ele lançou aos pés 4. Judas de Damasco, hospedador de Saulo en-
dos sacerdotes as 30 moedas de prata, sendo por quanto cego (At. 9:11).
eles escarnecido. T ornou-se “o filho da perdição”
00. 17:12), não havendo para ele esperança de perdão 5. Judas de A ntioquia, enviado com Silas, pela as-
nesta vida - e assim ele “retirou-se e foi enforcar-se” sembleia local, para acom panhar Paulo e Barnabé (At.
(Mat. 27:5). As diversas descrições da sua m orte se 15:22,27,32).
harm onizam , sendo com preendido que Judas prim ei-
ram ente se enforcou em alguma árvore que estivesse à JUDEIA (JUDÁ)
beira de um precipício, e que, quebrando-se a corda ou
o ram o, ele foi despedaçado na queda. Em A tos 1:20 Estes nom es aplicam -se, algumas vezes, a todo o
liga-se a m o rte de Judas com as predições dos Sal- territó rio dos judeus (At. 28:21 - e talvez Luc. 23:5),
m os 69:25, e 109:8 (cf. Jo. 17:12). mas geralm ente só à parte m eridional do país. A ex-
tensão do territó rio que coube a Judá acha-se descrita
JUDAS m inuciosam ente em Josué 15. O lim ite n o rte do pri-
m itivo quinhão de Judá começava no lugar em que
N om e de origem hebraica, b astan te com um nos o Jordão entra no M ar M orto, e daí para o ocidente,
dias de C risto. V em da palavra Yehudah, trad u zi- passando p o r Bete-Sem es até Jabneel, perto de Ecrom ,
da em grego p o r ioudas e latim p o r Iudas. Significa distante 16 km do M editerrâneo. E a linha lim ítrofe
tom a depois a direção do sueste, quase em linha reta,
correndo ju nto ao país dos filisteus, e pelos lim ites de
Simeão até Cades-Barneia, na orla do deserto.

Ao o rie n te era lim itada a trib o pelo M ar M o rto


e m o n ta n h a s de Seir na te rra de M oabe. M as de-
pois da m o rte de Salom ão, a trib o de B enjam im fez
aliança com a casa de D avi, ficando assim in co rp o -
radas as duas trib o s. E p o r essa fo rm a ficou Jeru sa-
lém d e n tro dos lim ites do novo rein o , to rn a n d o -se
um a cidade real Sm 2.9).

P arte de Sim eão (1 Sm. 27:6) e o u tra de D ã (2 Cr.


11:10) foram tam bém incluídas em Judá. M ais tarde
foi au m en tad a essa área pela inclusão de p a rte de
Efraim (2 Cr. 13:19; 15:8, e 17:2). O to tal do te rri-
tó rio achava-se dividido em q u atro regiões, e tin h a
a extensão de quase 72 km do n o rte ao sul, sendo
de 80 km a distância do o rie n te ao ocidente. C om -
p ree n d iam essas regiões a que se achavam ao Sul, as
terras de pastagens e os desertos da pa rte m ais baixa
da P alestina (Js. 15:21). Esta ú ltim a p a rte tam b ém se
cado”, “leve”. V em do verbo lepo, que significa “pelar”,
cham ava o D eserto de Ju d á (Jz. 1:16).
“descascar”, “desnudar”. Podem os n o tar pelos significa-
Ju d á sobreviveu aos avanços da A ssíria, m as dos do nom e que a m oeda não tinha nenhum a cama-
g ran d e p a rte da sua população foi d ep ortada pelos da externa de prata ou ouro, mas era feita de materiais
babilônios (2 Rs. 23-25; Jer. 52, c. 597- c. 538 a. C; -»· m enos nobres como o cobre ou bronze, extrem am ente
C ativeiro). O re to rn o do exílio tro u x e um a restau- fina ou delgada, portanto de pequeno peso e destituída
ração de Judá, m as sem a m o n arq u ia (cf. Ezr. - Ne.). de valor m onetário. Foram duas moedas dessas que a
Ju d á ficou cada vez m ais sob influência helenística, viúva elogiada por Cristo deu como oferta no Tem plo
especialm ente sob a pressão do im pério selêucida em Jerusalém. De acordo com a Bíblia, isso era tudo o
sírio. A pós o exílio na B abilônia, Ju d á to rn o u -se um que ela possuía (Mar. 12:42).
no m e favorito e n tre os judeus.
LEGIÃO
C orpo do exército rom ano de mais ou m enos

L
6.000 soldados de infantaria. A legião era dividida em
dez CO ORTES de 600 soldados, e cada coorte, em
seis CENTÚRIAS. T endo em vista o grande tam anho
de um a legião, o term o passou a designar um a m ulti-
—— n r - f u n iii-iiTn-n‫־‬rnir-ini‫־־‬mini■11 1— 1‫־־‬ ‫ ־‬rnTTfmwrwnmBTiwngiin nnwHV1rrn1~‫־‬w 1 — 1»11 wi'inriwwiintffTrmTiTTmrr*■
dão organizada (Mat. 26:53).
LEPTON
LAMENTO
A m enor m oeda judaica em circulação e a única
dessa origem citada no Novo Testam ento. Valia m uito O N ovo T estam ento em prega diversas expressões
pouco, cerca de 2% do valor do denário, ou seja, o paga- que retratam dor, angústia e choro hum ano. Ao refe-
m ento de 15 m inutos ou m enos de trabalho. T em o seu rir-se ao destino dos incrédulos, o evangelista coloca
nom e derivado do term o grego com o sentido de “des- nos lábios de Cristo o term o Brugmós, que tem o sen-
pojado da própria pele”, “desnudo”, “delgado”, “fin o ”, deli­ tido de rilhar, ranger os dentes, denotando raiva ou
Em bora os sentim entos de Deus sejam inegável-
m ente únicos e não com paráveis, pela encarnação do
Filho, pode-se dizer que o céu sim patizou literalm en-
te com a nossa angústia, Jesus sentiu na pele o que é
sofrer com o seus filhos hum anos sofrem .

LÂMPADAS
Sem eletricidade nas casas e com poucas janelas,
0 in te rio r das casas era um pouco escuro. Em vá-
rias residências a única ilum inação que havia eram
tigelinhas rasas, sem elhantes a um pires, onde ao
cen tro , m ais baixo que as bordas, ficava o pavio. As
tigelinhas do tem po de Jesus possuíam um a tam pa,
fechando-as. Nelas colocava-se um pouco de azeite,
onde se im ergia o pavio, que era de algodão ou li-
nho. As m ais sim ples eram feitas de b a rro , m as algu-
m as eram de m etais, com o o bro n ze, e m uitas eram
adornadas com desenhos. Os gentios ou não judeus
faziam lâm padas com form ato de anim ais, porém , os
dor intensa (M at. 8:12; 13:42,50; 22:13; 24:51; 25:30;
Luc. 13:28). judeus n ão adotavam esse tipo de form ato p o r abo-
m in arem a idolatria.
M as, tam bém em pregam -se expressões com o trê-
neô: prantear, lam entar, cantar um lam ento (Mat. Se um a casa estivesse to talm en te escura, podia-se
11:17; Luc. 7:32; 23:27; Jo. 16:20); klaiô: chorar, gri- te r certeza de que não havia ninguém . M esm o du-
tar (Mat. 2:18; 26:75; Luc. 19:41; A t 21:13,15). 5); ran te o dia, sem pre que houvesse um a pessoa d en tro
klauthmós: pranto, choro (M at. 2:18; At. 20:37) e Pen- de casa, haveria um a lâm pada acesa, já que o azeite
theô: chorar, lam entar, prantear, estar triste (M at. 5:4; era barato e de fácil acesso. A lém disso, o u tra razão
9:15; M ar. 16:10; Luc. 6:25). p ara m an te r as lâm padas acesas, era po rq u e era difí-
cil acendê-las; o fogo era feito com o a trito de duas
Para referir-se especificam ente à dor que C risto pedras ou dois to q u in h o s de m adeira que produziam
sentiu, os evangelistas utilizam -se ainda de term os faíscas. E n tre tan to , as pessoas m ais pobres econo-
com o parassô, que, na form a figurada e passiva, sig- m izavam no uso do azeite.
nifica angustiar-se, ficar agitado, alarm ado (Jo. 11:33;
12:27; 13:21). O u, de m aneira m ais solene, Lupeô e Q uando Jesus n a rro u a parábola da dracm a perdi-
seus derivados que significam “estar em luto, estar em da, os ouvintes entenderam perfeitam ente o fato de a
lam ento,” pois são term os que vêm de um a palavra m ulher ter usado um a candeia para p ro cu rar a drac-
raiz que significa “do r” do corpo e da m ente. Envolve m a nos cantinhos m ais escuros da casa (Luc. 15:8). E
tristeza m isturada com dor física (M at. 17:23; 18:31; na parábola das dez virgens, dá para perceber o dram a
26:37). 8; Luc. 22:45; Jo. 16:6,20,21,22). das que não tin h am levado azeite nas vasilhas. (Mat.
25:1). Sendo assim, dizendo sobre lâm padas e ilum i-
Q uando Jesus disse a seus discípulos que logo seria nação, Jesus expôs o evangelho em linguagem práti-
traído e m orto, eles se encheram de lam ento p o r sua
ca, m ostrando o dia a dia das pessoas.
perda im inente.“E m ata-lo-ão, e ao terceiro dia res-
surgirá. E eles se entristeceram grandem ente” (Mat. Pelo fato de as lâm padas ficarem na m aioria do
17:23). Textos assim revelam um a profunda partici- tem po acesas, sem pre havia um arom a agradável no
pação divina nos sofrim entos hum anos. ar, e qualquer pessoa que entrasse logo sentiria.
Podia-se colocar as lâm padas em vários pontos de princípios que envolvem todas as ações e relaciona-
um côm odo. Em alguns lugares costum ava-se fixar à m entos hum anos.
parede algo com o um a prateleira de pedra para colo-
car a lâm pada, ou então utilizavam -se veladores po r- O segundo conjunto de leis encontrado nos livros
táteis, levando-a para onde fosse necessária. Esses su- de M oisés é a lei cerim onial. Essas leis se referiam ao
portes, de m adeira ou cerâmica, eram colocados bem m odo com o Deus lidava com o problem a do pecado.
no alto para ilum inar ao m áxim o o local. As pessoas C oncentravam -se no santuário, em sacrifícios de san-
m ais ricas tin h am veladores de m etal. gue e no m inistério sacerdotal. A lei cerim onial é de
grande im portância porque prenuncia o valor de Je-
Q uando Jesus afirm ou que não devíam os ocultar sus e da natureza de sua obra.
nossa luz (Mat. 5:15), os ouvintes logo notaram o ri-
dículo da situação. Nós ligaríam os um a lanterna e a Existe um a terceira categoria de leis que devemos
guardaríam os dentro do bolso? M as Jesus disse que, observar. M as esta não está nos livros de Moisés.
quando se acende um a candeia, deve-se colocá-la no T rata-se da lei oral, ou seja, a interpretação da Lei de
velador, onde será de proveito para todos. Para com - M oisés pelos escribas e fariseus.
preenderm os bem essa ilustração, tem os que deixar
de lado p o r um m om ento as técnicas m odernas de U m texto que intriga m uitos leitores é a fala de
ilum inação e te r em m ente as antigas. C risto referente a um suposto térm ino de tudo no
m inistério de João Batista. Ele disse “A Lei e os Profe-
Naquele tem po, os povos deviam cuidar m uito
tas vigoraram até João; desde esse tem po, vem sendo
bem das lâm padas, e por isso tinham zelo pelos com -
anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo ho-
ponentes básicos: o recipiente, o azeite e o pavio, e
m em se esforça por e n tra r nele”. (Luc. 16:16).
sem pre tinham um a quantidade significativa em es-
toque, para não faltar, pois era desagradável ficar sem
O ponto de partida para a boa com preensão desse
eles de repente. A parábola das dez virgens ilustra
verso é saberm os que as palavras duraram , vigoraram
bem essa situação (Mat. 25:1-13).
ou existiram , que aparecem em algumas versões uqe
não se encontram no original.
LEi E OS PROFETAS
Na tradução de ‘A lm eida Revista e C orrigida” está
Q uando Jesus n arra sobre a lei e os profetas, está duraram em grifo, indicando que ela não se encon-
falando a respeito da Bíblia de seus dias - o A ntigo tra no original. Foi um acréscim o do tra d u to r para a
T estam ento. A lei consistia dos cinco livros de M oi- com plem entação do sentido.
sés e ia de Gênesis a D euteronôm io. E os profetas
eram os livros daqueles escritores posteriores da Bí- Para um a ap ro p riad a com preensão do sentido,
blia que ensinavam a lei, a interpretavam e a aplica- esta passagem deve ser colocada ao lado do texto pa-
vam ao povo de Israel. ralelo de M ateus 11:13, que diz a m esm a coisa, com
m ais clareza:
A lei era um conceito central na Bíblia, do início
ao fim. Por isso, é nosso dever to m ar tem po para en- "Porque todos os profetas e a lei profetizaram até
ten d er o assunto, cabe a nós to m ar um pouco de tem - João”. O sentido, portanto, é que as profecias ensina-
po para entender o assunto, principalm ente porque das pelos profetas com referência a C risto quando Ele
Jesus disse que isso é im portante. veio, deixaram de ser profecias e passaram a ser fatos
históricos consum ados.
A lei de M oisés consistia, na realidade, de al-
guns tipos de leis. A prim eira era a lei m oral dos Sobre Lucas 16:16, a palavra até (no grego “mé-
Dez M andam entos, que Deus escreveu em pedras chri”) jam ais autoriza a ideia de que os escritos da lei
no M o n te Sinai. A lei m oral co n stitui im p o rtan tes e dos profetas ten h am perdido o seu valor quando
João com eçou a pregar. O evangelho veio, não para assim com o M oisés determ inou, em testem unho para
ser colocado em lugar do A ntigo T estam ento, mas eles.” (Luc. 5:12-16; M at. 8:2-4; M ar. 1:40-45).
para cum pri-lo e dar-lhe sentido. Este é o significado
Q uando C risto enviou os 12 apóstolos, ele lhes
claro no qual méchri é usado aqui e tam bém em M a-
disse, entre outras coisas: “T o rn ai lim pos os lepro-
teus 28:15. Jesus m esm o afirm ou que, até que tudo se
sos.” (Mat. 10:8). M ais tarde, quando andava em Sa-
cum pra, ele m esm o não tiraria nem um “i” nem um
m aria e Galileia, Jesus curou dez leprosos num certo
til das Escrituras divinam ente inspiradas por Deus.
povoado. Apenas um deles, um sam aritano, “voltou,
(Mat. 5:18).
glorificando a Deus com voz alta”, e se lançou ao solo
diante dos pés de Jesus, agradecendo o que ele tinha
LEPRA feito em seu favor. (Luc. 17:11-19). Deve-se tam bém
observar que C risto estava em Betânia, na casa de Si-
A Bíblia, p rin cip alm en te no A ntigo T e sta m en to , m ão, o leproso (a quem Jesus talvez havia curado),
cita várias sobre o p ro b lem a da lepra. Q uando são quando M aria ungiu Jesus com o custoso óleo perfu-
citadas pessoas leprosas, significa um a doença da m ado, poucos dias antes de Sua m orte. (M at. 26:6-13;
pele, e pode envolver tip o s diferentes de doenças. M ar. 14:3-9; Jo. 12:1-8).
Além disso, a m esm a palavra fala de m anchas em
ro u p as ou paredes, o que nós p o deríam os cham ar Especificam ente sobre Simão, existe um a questão
hoje de fungo ou m ofo. em aberto para os especialistas no Novo T estam ento.
A dúvida é se ele era um leproso ou um fabricante
N a lei que D eus deu aos israelitas, um a pessoa de jarros, pois se era leproso não poderia m o rar em
leprosa era considerada im u n d a (Lev. 13:2-3). A Betânia. Pelos costum es e discrim inações da época,
doença foi vista com o um a praga. As vezes, a praga ele viveria isolado. Duas hipóteses têm sido indicadas
foi dada p o r D eus p ara re p re e n d e r o povo desobe- para solucionar a questão: prim eiro que a tradução
diente (Lev. 14:34). estaria equivocada, em aram aico leproso é Garlba e
fabricante de jarros é Garaba. Sendo assim, a simila-
Os ensinos sobre a lep ra serviam p ara co n te r
rida de no idiom a original de Jesus resultou em erro
um a doença m aligna, m esm o séculos antes de cien-
no texto grego de João. A segunda hipótese seria a de
tistas com p reen d erem com o doenças se espalham
que o term o usado não indica que Simão continuava
(Lev. 14:54-57; D eut. 24:8).
leproso, mas que contraíra a doença an terio rm en te e
N os tem pos de Jesus, a lepra era um a doença fora curado, possivelm ente p o r Cristo.
te rrív e l e incurável. D esde o m o m e n to em que era
diagnosticada a lepra, a pessoa co n tam in ad a era LEVITA
isolada do convívio com ou tras pessoas. O N ovo
T e sta m en to m o stra a situação dos leprosos, a vida A função dos levitas era o sacerdócio dada por
em cavernas, afastadas das pessoas. Se p o r acaso um Deus a eles [para A rão e seus filhos]. C antavam o
deles tivesse que se d irecio n ar ao e n c o n tro das pes- louvor, sendo cantores e instrum entistas. A rrum a-
soas, te ria que to car um sino para se auto an u n ciar vam e davam m anutenção no tabernáculo e no T em -
e d e te rm in a r a distância. A circunstância do leproso pio. Agiam com o guardas, porteiros, padeiros; enfim ,
era h u m ilh an te, visto que a lepra era considerada tudo que devia ser feito em relação à program ação no
no judaísm o um estado de grande im pureza, sua si- tabernáculo ou no T em plo era de responsabilidade
tuação sem solução. dos levitas. Era proibido que alguém de o u tra tribo
fizesse esse trabalho, pois era designado p o r D eus aos
Jesus, durante seu m inistério galileu, curou um
levitas.
leproso, descrito p o r Lucas com o “hom em cheio de
lepra”. Jesus ordenou-lhe que não o expusesse a nin- Na parábola do Bom Sam aritano (Luc. 10:25-37),
guém , e disse: “M as vai e m ostra-te ao sacerdote, e três personagens são m encionados po r Jesus na his-
faze um a oferta em conexão com a tu a purificação, tória: um sacerdote, um levita e um sam aritano. O
sacerdote e 0 levita eram religiosos, que estavam des- Contudo, a flor, conhecida pelo nom e de lírio do vale.
cendo de Jerusalém , o que indica que provavelm ente não está mencionada nas Sagradas Escrituras. Igualmen-
voltavam do culto a Deus, pois o Tem plo de adoração te, os “lírios do campo”, mencionados por Cristo em
dos judeus ficava em Jerusalém . M ateus 6: 28, podem se referir a flores silvestres”, con-
form e se deduz pelo term o grego usado no texto. Tam-
LINHO bém pertencem àquelas famílias de flores a tulipa, a íris.
o jacinto e a fritilária, bem como as anêmonas.
O “fino pano de lin h o ” do antigo Egito, u niver-
salm ente utilizado naquele país para fazer roupa e LÍTÓSTROTOS
envolver os corpos dos m ortos, e am plam ente ex-
p o rtad o , era feito das fibras da plan ta do linho. U m a - L itóstrotos é o local no tribunal onde Pôncio Pi-
das pragas do Egito foi a destruição, pela saraiva, das latos se assentou para julgar Jesus perante o povo. E
plantações desta plantade linho. U m pano tão leve, na verdade um term o grego que aparece no livro de
m acio e asseado era especialm ente adequado para João 19:13, com sua equivalência no hebraico: “Ou-
os vestidos das pessoas que tin h a m com o responsa- vindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e
bilidade os serviços religiosos. T a n to os sacerdotes assentou-se no tribunal, no lugar cham ado Litóstro-
judaicos, com o os do E gito deviam usar, p o r lei, os tos, e em hebraico Gabatá.”
vestidos de linho (Êx. 28 - Ez. 44:17 a 19). As corti-
O L itóstrotos ou Gabatá é um a área aberta com
nas do tabernáculo eram do m esm o tecido e b orda-
um pavim ento de pedra [lithos em grego significa “pe-
das (Êx. 26:1). Sam uel e D avi usavam estola de linho
dra”) que poderíam os cham ar de varanda e que possi-
(1 Sm. 2:18 - 2 Sm. 6:14). C riaturas angélicas foram
velm ente ficava num prim eiro piso bem à altura dos
vistas p o r Ezequiel e D aniel (Ez. 9:2 - D n. 10:5) olhos de todos.
vestidas de linho - e nas visões finais do A pocalip-
se anjos e santos glorificados aparecem adornados O com um seria executar o processo judicial den-
das m esm as sim bólicas vestim entas de pureza (Ap. tro do palácio, p o rém Pilatos o faz do lado de fora.
15:6 - 19:8, 14). Em P rovérbios (31:22 a 24) faz-se O m otivo do julgam ento de Jesus te r acontecido na
m enção ao trab alh o de fiar e tecer das m ulheres ju- v aran d a é explicado no p ró p rio evangelho: “E não
daicas. Os m antos finíssim os de lin h o acham -se, em e n tra ra m (os acusadores judeus) na audiência, para
tem pos de corrupção, e n tre aqueles objetos de luxo não co n tam in arem , m as poderem com er a Páscoa.
que as m ulheres usavam , e pelo que são censuradas E ntão Pilatos saiu para fora...” (C apítulo 19, V ersí-
n o livro do pro feta Isaías (3:23). O rico da parábola culos 28 e 29).
estava “vestido de linho fin o ” - e José de A rim ateia Pilatos se retiro u p o r um a questão política. Para
p resto u ao Salvador a h o n ra de envolver o Seu cor- evitar confrontos desnecessários, ele sai para atender
po n u m lençol de lin h o , antes de o depositar no tú- à lei judaica e aos líderes que levavam o caso de Jesus
m ulo (Luc. 16:19-23:53). até ele. E n tretan to , o procedim ento em si estava à
m argem da lei mosaica, que proibia qualquer pessoa
LÍRIO ser julgada e condenada em época de Páscoa, espe-
cialm ente à noite, quando Jesus foi traiçoeiram ente
Planta orig in ária da E uropa, Ásia e A m érica do preso por ordem dos sacerdotes.
N o rte. A lgum as espécies são nativas dos trópicos,
de regiões com altitude elevada. P orém , todas as es- LUCAS
pécies atuais são resultado de cruzam entos e n tre si,
dando origem a vários tipos e cores. Estas são cha- Lucas foi um m édico que escreveu o Evangelho de
m adas lírios híbridos. N os cam pos de Israel, especi- Lucas e Atos dos Apóstolos. Em acordo com o frag-
ficam ente, existem pelo m enos 39 diferentes tipos m ento do Cânon Muratoriano, datado do século II, ele
florescendo. tam bém seria jurista ou estudante de leis:
“(...) o terceiro evangelho é o de Lucas. Lucas era Os m agos seguiram a estrela, que p arou em cima
m édico por profissão. [Mas] Depois da ascensão de do lugar onde Jesus estava. Eles se prostraram e ado-
C risto, Paulo o tom ou consigo porque era um estu- raram o m enino e lhe presentearam com ouro, incen-
dante de leis [jurista]. Lucas escreveu sua narrativa a so e m irra (M at. 2:9-11). Depois, um anjo lhes disse
p artir de opiniões [pesquisadas] e a firm ou com seu para não voltar a Herodes. Assim, eles foram para
próprio nom e. M esm o sem ter tido contato com o casa p o r o u tro cam inho.
Senhor pessoalm ente, se aplicou [com eçando] seu re-
N os países a leste de Israel, com o a Pérsia, um
lato pelo nascim ento de João Batista.”
m ago era um hom em sábio que tin h a conhecim ento
Segundo a Bíblia, Lucas ainda acom panhou Paulo de astrologia.
em suas viagens m issionárias e investigou atenciosa-
Eram , p o rtan to , hom ens com m uito conhecim en-
m ente os relatos da vida de Jesus para escrever seu to sobre as estrelas, a natureza e tam bém de m agia e
evangelho. A Bíblia fala pouco sobre ele. adivinhação.
Lucas provavelm ente era um gentio convertido E um tan to curioso que Deus ten h a usado “es-
pelos prim eiros discípulos de Jesus. Ele foi o único pecialistas em astrologia” - ciência proscrita na Lei
autor conhecido de um livro da Bíblia que não era ju- de M oisés, para receber o M essias ao m esm o tem po
deu. Era um hom em m uito culto, com conhecim en- em que os líderes de Jerusalém pareciam alheios à
tos não só de m edicina, mas tam bém de investigação sua chegada (cf. D euteronôm io 18:9-14; Isaías 8:19;
histórica e escrita (Col. 4:14). Levítico 19:31; 20:6, 27; 2 Reis 21:6; Ezequiel 13:18;
M alaquias 3:5). E ntretanto, talvez nesse episódio es-
Lucas esteve com Paulo em algumas partes de suas
tej a dem onstrado o fato de que Deus tem filhos sin-
viagens m issionárias. Q uando Paulo foi preso, Lucas
ceros em todas as esferas da hum anidade em todos os
o acom panhou n a viagem até R om a para o julgam en-
lugares do m undo.
to. Ele estava com Paulo quando o navio naufragou
pelo cam inho e ficou do seu lado enquanto perm ane- Além disso, m esm o Daniel, sendo profeta de Deus,
ceu preso em R om a (Atos 28:16). foi nom eado chefe dos m agos, isto é, dos astrólogos
da Babilônia (Dan. 5:11), em bora dificilm ente ele fa-
ria qualquer coisa que contrariasse os ditos e a v on-
tade de Deus.

H Im portante tam bém levar em conta que na oca-


sião não havia distinção m oderna entre astrônom o
e astrólogo. Isso indica que a profissão de m ago não
------------------------ ------------------------ ------------------------ ------------------------ ------------------------ ------------------------ ‫״‬----------------------- ------------------------
era apenas ritos de adivinhação e prognóstico. P ro-
r1TTTTm1»11TTt1nrm‫־‬T1r‫־‬Trt11‫־‬fTm1111T‫׳‬rT11n1Tn»—rnnrrrmTn1>1rM1r1Tnr1[i ·‫׳■«»וו־‬

M AGOS vavelm ente alguns estudavam m ais a magia, outros


a filosofia e ainda outros conhecim entos científicos.
Q uando Jesus nasceu, os m agos do O riente foram
C ontudo, é possível que os m agos tivessem acesso
o adorar guiados p o r um a estrela. Eles eram hom ens
às Escrituras, pois ainda havia m uitos judeus na Babi-
sábios, e sua história só aparece um a vez na Bíblia, em
lônia (que ficava no O riente) no tem po de Jesus, e eles
M ateus 2:1-12.
sabiam que a estrela indicava o nascim ento do grande
Eles estudavam as constelações e perceberam um a rei dos judeus.
estrela que indicava que o rei dos judeus tinha nascido.
Sendo assim, foram para a capital dos judeus, Jerusalém, MANSO E HUMILDE
para 0 procurar (Mat. 2:1-2). O rei Herodes, quando
ouviu isso, ficou m uito perturbado, porque não queria N o fam oso Serm ão do M onte, Jesus p ronunciou
um rival. Os sacerdotes e os mestres da lei explicaram as seguintes palavras: “B em -aventurados os m ansos,
que o Cristo deveria nascer em Belém. porque herdarão a terra.” (Mat. 5:5). In terpretando
esse texto pelo significado com um e com o é entendida do etc., ou de sua condição socioeconôm ica: pobre,
a palavra “m anso”, pode-se concluir de que Jesus fa- oprim ido etc. Ele tam bém não estava se apresen-
lava dos "de gênio brando, ou índole pacífica; bondo- tando com o alguém que “não se levanta m uito do
sos, pacatos”, ou de quem é “sereno, sossegado, tra n - chão”, no sentido de condição m odesta e nem com o
quilo, quieto”. M as a palavra grega usada para m anso, alguém que foi hum ilhado.
no texto grego, “praus”, refere-se à pessoa submissa
Na verdade, ao dizer que era "m anso e hum ilde
para com Deus, sem resistir à sua vontade.
de coração”, C risto reivindicou seu senhorio, di-
Além disso, não se diz só no co m p o rtam en to ex- zendo: "Tom ai sobre vós o m eu jugo, e aprendei de
te rio r da pessoa, nem em relação com o próxim o ou m im ...” (M at. 11:29). Jesus enfatiza que é necessário
na sua m era disposição natural. A ntes é um a en tre- to m a r sobre si o seu jugo e carregar o seu fardo (
laçada graça da alma; e cujas ações são p rim eira e M at. 11:30).
p rim ariam en te p ara com Deus. E o tem p eram en to
de espírito onde aceitam os Seus p rocedim entos co- N o m esm o discurso em que se declara m anso e
nosco com o bons, e, p o rta n to , sem disputar ou re- hum ilde de coração, Jesus exige subm issão e não se
sistir. [...] Sendo em p rim eiro lugar um a m ansidão priva da condição de guardião das coisas entregues
p e ra n te D eus, tam bém há diante dos hom ens, até de pelo Pai “T odas as coisas m e foram entregues por
h om ens m aus. m eu Pai...” (M at. 11:27). Essa declaração de Jesus so-
b re m ansidão e hum ildade se dá após d em o n strar ser
N o Serm ão do M o n te, Jesus referia-se especial- 0 único que conhece Deus, e que só Ele pode revelar
m en te àqueles que aceitam a vontade de D eus nas o Pai aos hom ens, 0 que d em onstra que a hum ildade
suas vidas sem questionar. Longe de ser um a fraque- de Jesus não é à base do priv ar-se do que é ou possui.
za de caráter, um a calm a excepcional, e sim a quem
é subm isso a D eus e en tende que m esm o quando Q uando Jesus diz: “Todas as coisas m e foram en-
ofendido, trata-se de um a perm issão de D eus para tregues p o r m eu Pai”, estava se apresentando com o
refiná-lo. o Filho de D eus pro m etid o a Davi, o reb en to da raiz
d e je ssé ( Is. 11:1-4; 2Sm. 7:14).
O p ró p rio Jesus se descrevia com o m anso e hu -
m ilde de coração (M at. 11:29). M esm o assim, não Im p o rta n te ressaltar que consta no Apocalipse
en ten d eu o term o com o falta de autoridade quando 13:8 um a m enção a C risto com o cordeiro m o rto
fosse preciso agir em no m e de Deus. Sua ira ao ex- desde a fundação do m undo. Falando figuradam en-
pulsar os vendedores am bulantes do T em plo é um te nos Salmos, C risto é representado com o alguém
exem plo disso. colocado na aljava de Deus. O ra, a flecha na aljava
ap o n ta para a filiação divina de Jesus (Sal. 127:4-5).
N o Evangelho de M ateus 11:29, especificam ente,
o term o grego traduzido p o r hum ilde é “tap ein o s” D eus concede apenas aos filhos o privilégio de
que significa, e n tre outras coisas “exercer funções O servirem . Ser servo de D eus é h o n ro so , de m odo
hum ildes”. Sendo assim , Jesus queria dizer que se ele que não cabe no term o “hum ildade” um m au sentido
se subm eteu à vontade do Pai, ou seja, aqueles que q uanto a ser servo de Deus. O m au sentido de "hu-
se subm etem a ele têm de se sujeitar a D eus com o ele m ildade” procede dos eventos recentes n a histó ria
m esm o o fez. da hum anidade “Com o livres, e não ten d o a liber-
dade p o r c o b ertu ra da m alícia, m as com o servos de
Nessa sentença, C risto não perd eu sua consciên-
D eus” (IP d. 2:16).
cia de ser divino. Ao afirm ar ser m anso e hum ilde
(em relação àquilo que o Pai lhe pedira), Jesus estava
ao m esm o tem p o exigindo que os h om ens se sujei-
MARIA
tassem a ele na condição de servos.
N om e próp rio com um nos tem pos no N ovo Tes-
Jesus não estava falando de suas em oções e sen- tam ento. Esse era o nom e da m ãe de Jesus e de algu-
tim en to s com o se estivesse triste, abatido, d ep rim i­ m as de suas seguidoras. N o N ovo T estam ento tem os
ao todo oito referências a “M arias”, que, dentre elas, assim a lei judaica (Luc. 1:21-38). O m enino tam bém
cinco ou seis provavelm ente são pessoas distintas, foi circuncidado. Em Belém, M aria e José presencia-
sendo estas: 1. M aria, m ãe de Jesus; 2. M aria M ada- ram a vinda dos m agos do O riente, que vieram visitar
lena; 3. M aria, m ãe de Tiago, M aria, esposa de Cleo- o m enino Jesus (Mat. 2:1-12).
pas, a o utra M aria; 4. M aria, irm ã de M arta e Lázaro;
Algum tem po depois, M aria e José foram com Je-
5. M aria, m ãe de João M arcos; e 6. M aria, saudada
sus para o Egito, para escapar da perseguição do rei
pelo apóstolo Paulo. M aria é um nom e de origem hi-
H erodes (M at. 2:13-18). Ficaram po r lá certo tem po,
potética, provavelm ente se originou a p artir do he-
braico M yriam, que significa “senhora soberana” ou e voltaram para Nazaré quando o rei Herodes m orreu

“a V idente”. (Mat. 2:19-23).

Há autores que atribuem a origem do nom e M aria à Em N azaré, M aria e José cuidaram e educaram
raiz egípcia mry, que significa “am ar”. Algumas teorias o m en in o Jesus m u ito bem , a co m p an h an d o seu
que traduzem o nom e M aria para “m ar de am argura”, crescim en to e sua form ação h u m an a , co n stitu in d o
“a forte”, “a que se eleva” ou, ainda, “estrela do m ar”. um a v e rd a d e ira e u n id a fam ília, cheios de a m o r e
de co m p reen são (Luc. 2:51-52). Q uando o m en in o
Além disso, o u tra versão supõe que o nom e Jesus tin h a 12 anos, eles o levaram ao T em plo de
M aryam teria surgido a p a rtir das palavras assí- Jeru salém , em p ereg rin ação p a ra a Páscoa judaica
rias YamoMariro, que significa “oceano azedo”, ou (Luc. 2:41-50).
“ácido” no idiom a aram aico assírio.
M aria particip o u da vida de Jesus C risto, sendo
MARIA, MÃE DE JESUS sua m ãe e, ao m esm o tem po, sua discípula (M ar.
3:31-35). Ela sabia g uardar os m istérios da fé em seu
A tradição da Igreja afirm a que os pais de M aria se coração (Luc. 2:19; 51). N o com eço do m inistério
cham avam Joaquim e Ana. Não há m enção deles na público de Jesus, M aria esteve com Ele nas bodas
Bíblia Sagrada. Essa inform ação aparece pela prim ei- de Caná, no seu p rim eiro m ilagre (Jo. 2:1-12). Ela
ra vez num docum ento do século II, cham ado Proto sem pre soube o uvir a Palavra de D eus, anunciada
evangelho de Tiago. p o r Jesus, e vivenciá-la (Luc. 11:27-28). Foi um a ge-
n ero sa com panheira e a hum ilde serva do Senhor,
Pelas informações colhidas dos evangelhos, pode-se acom panhando os passos de Jesus com atenção, fé,
dizer que M aria era um a m ulher simples do povo, discrição e docilidade.
cam ponesa, que habitava em Nazaré, um povoado pe-
queno da Galileia, localizado ao n o rte do atual Estado A té m esm o na paixão de C risto, M aria esteve jun-
de Israel (Luc. 1:26). Era esposa de José, carpinteiro to à cruz, em pé, firm e, quando o entregou ao Pai e
justo e honrado (M at. 1:18-25). Pessoa de fé e m uito foi dada p o r seu Filho com o M ãe dos H om ens, po r
sensível às necessidades dos outros (Luc. 1:39-45:56). João (Jo. 19:25-27). Ela se revelou com o m ulher for-
te, conservando sua fidelidade constantem ente, tanto
Deus escolheu M aria para ser a m ãe do Salvador
nos m om entos alegres, quanto nos cruciais.
(Luc. 1:30-33; Gl. 4:4). M ovida pelo E spírito Santo,
entendeu sua missão, dedicando-se ao cuidado da Jesus C risto não p erm an eceu m o rto , Ele ressus-
criança que era, na verdade, o Filho de Deus (Luc. citou e está v ivo, ju n to do Pai do Céu, com o os p ri-
1:26-38). m eiros cristãos teste m u n h a ra m (Jo. 20:1-29; Luc.
24:1-43; M ar. 16:9-20; M at. 28:1-10). M aria, p ere-
M aria concebeu Jesus em Nazaré, da Galileia (Luc.
g rin a na fé, com toda certeza, acreditou na ressu r-
1:26; M at. 1:1-25). E ntretanto, deu à luz ao Messias
reição de seu Filho.
(Mat. 2:1-8) em Belém, Judá, pois M aria acom pa-
n h o u José até lá para recenseam ento. No tem po cor- M aria esteve presente com os apóstolos e os dis-
reto, M aria e José levaram o m enino Jesus para ser cípulos no cenáculo de Jerusalém , perseverante e em
dedicado a Deus no Tem plo de Jerusalém , cum prindo oração, p o r ocasião de Pentecostes (At. 1:12-14).
m era m anifestação de poder, m as todos, natural-
m en te, oco rreram segundo as circunstâncias e para
um fim benéfico em relação à obra de C risto, o
A rauto, o F u n d ad o r do reino dos Céus”. Eles assim
são entendidos pelo p ró p rio Salvador (M ar. 2:10; Jc.
MESSIAS
5:36). Os m ilagres ajudam a destacar o p o d er e a di-
Messias foi o título dado a Jesus, o salvador espera- vindade de Jesus. As Sagradas E scrituras dizem , em
do pelo povo judeu. Com origem do hebraico Mashiach, João 2:11: “Assim deu Jesus início aos seus sinais em
que significa “o ungido”, derivado de mashah, que quer Caná da Galileia, e m anifestou a sua glória; e os seus
dizer “u ngir”. Este nom e é citado na Bíblia no A ntigo discípulos creram nele.”
T estam ento. T em o m esm o significado de C risto, a C ontudo, os m ilagres não devem nunca excluir
p a rtir do nom e grego Christós, que tam bém quer di- a necessidade de um a fé pessoal em C risto. Em João
zer “ungido”. 20:29-31 está escrito: “D isse-lhe Jesus: Porque me
U m dos tem as centrais da Bíblia Sagrada era justa- viste, creste? B em -aventurados os que não viram e
m ente a vinda do M essias prom etido p o r Deus para creram . Jesus, na verdade, agiu n a presença de seus
salvar o Seu povo. A ndré, antes de se to rn a r apóstolo, discípulos ainda m uitos o u tro s sinais que não estão
dem onstra que tal expectativa pode ser vista na ati- escritos neste livro; estes, p o rém , estão escritos para
tude de A ndré que corre a Pedro e diz “A cham os o que creiais que Jesus é o C risto, o Filho de Deus, e
M essias...” (Jo. 1:41). O povo judeu esperava ansioso- para que, crendo, tenhais vida em seu n o m e.”
sam ente o surgim ento de um Salvador, que era cha-
Os o u tro s m ilagres do N ovo T estam en to devem
m ado p o r eles de o M essias que haveria de vir.
ser considerados à luz do que foi ordenado p o r Jesus
aos apóstolos (M at. 10:8) e aos dem ais crentes (Mar.
MILAGRE 16:17), em bora esse últim o texto seja controverso
do p o n to de vista da crítica textual.
Palavra o riginária do latim (miraculum), que, em
sentido lato, aplica-se a qualquer acontecim ento m a-
ravilhoso. M as n a Bíblia usa-se em sentido restrito , MOEDAS
significando ,'um ato de D eus, que de um m odo vi-
sível é um desvio das conhecidas operações do Seu As principais moedas dos tem pos de Jesus eram o
p o d e r com o fim de auten ticar um a m ensagem di- denário e aureus, ou libra. Uma libra valia quarenta de-
vina, em bora possa servir para o u tro s fins”. M uitas nários. O denário é citado muitas vezes no Novo Tes-
palavras em hebraico (Mopheth, Pele, oth) se tra d u - tam ento e é traduzido por dinheiro. O seu valor mo-
zem no A ntigo T estam en to p o r m ilagre, m aravilha netário atual seria por volta de dezessete centavos de
e sinal. Já n o N ovo T estam en to usa-se a palavra D u- dólar (americano), embora o seu valor de compra fosse
nam is (poder) para significar m ilagre Ofc 9:39) - e consideravelmente maior. Com punha o salário de um
Sem eion (sinal), tam bém com o m esm o significado dia de trabalho de um hom em no Oriente (Mat. 20:2).
(Luc. 23:8). Esta é a palavra característica que se em - M uitas das cidades do império tinham o direito de criar
prega no E vangelho de João. Os m ilagres de Jesus as suas próprias moedas e as moedas das nações conquis-
são tam bém narrados p o r erga, “obras” - (Jo. 5:20; tadas não eram retiradas de circulação. Então poderiam
7:3; 10:25; 15:24 etc.), e terata, ‘prodígios’ - (Jo. 4:48; ser usadas vários tipos de dinheiro concorrentem ente
At. 2:22). O sentido de m ilagre p ara co n firm ar um a dentro do domínio. Os cambistas faziam um negócio
m ensagem divina é claram ente indicado. rentável para si, aproveitando-se dos peregrinos que
chegavam a Jerusalém, como o m ostra o episódio da pu-
Desse m odo, os m ilagres de Jesus C risto “devem
ser com preendidos segundo a Sua m essiânica obra, riíicação do Tem plo por Jesus (Mat. 21:12).
e acom odados aos interesses do rein o de Deus. Ne- A seguir há a tabela das m oedas m encionadas no
n h u m m ilagre, seja qual for, pode ser considerado N ovo T estam ento e o valor de cada um a delas:
N o v o T e s ta m e n to :

NOME TIPO CORRESPONDENTE BÍBLICO PROPORÇÃO

Lepto (Mar. 12:42, "peque- Moeda de cobre ou


1/2 quadrante ou 1/128 do denário 1/128
nas moedas") bronze

Quadrante (Mar. 12:42, Moeda romana de


% do asse ou 1/64 do denário 1/64
RA;RC, "cinco réis") cobre

Moeda romana de
Asse (Mat. 10:29, ‫״‬ceitil‫) ״‬ 1/16 do denário 1/16
cobre

Denário (unidade básica, Moeda romana de


Salário de um dia de trabalho 1
Mat. 20:2, ‫״‬dinheiro") prata

Dracma (unidade básica,


Moeda grega de prata Igual a 1 denário 1
Luc. 15:8)

Didracma (Mat. 17:24) Moeda grega de prata 2 dracmas ou 2 denários 2

Tetradracma (Mat. 26:15,


Moeda grega de prata 4 dracmas ou 4 denários 4
"moedas de prata")

Estáter (Mat. 17:27) Moeda grega de prata 2 didracmas ou 4 denários 4

Mina (Luc. 9:13) Moeda grega de ouro 100 denários 100

Talento (Mat. 25:15) Prata ou ouro 6.000 denários 6.000

OBS.: Calculando que uma diarista no Brasil ganhe 0 equivalente a 10 dólares por dia (igual a um denário), um talen to
de prata valeria 60.000 dólares. 0 talen to de ouro valia umas trin ta vezes mais do que 0 ta le n to de prata.

MONTE DAS OLIVEIRAS da Ascensão”; (3) os “Profetas”, nom e originário de


um a singular gruta, cham ada “os túm ulos dos profe-
Cham ado tam bém de M onte Olivete ou M onte tas”; (4) “o M o nte da Ofensa”, p o r ser ali que Salomão
Olival. T rata-se de um a elevação m ontanhosa, com edificou um alto (1 Rs. 11:7; 2 Rs. 23:13). Pela subida
um pouco mais de um quilôm etro e m eio de com pri- do M o nte das Oliveiras Davi fugiu po r causa da re-
m ento, ao oriente de Jerusalém (Ez 11.23 - Zc 14.4). volta de Absalão (2 Sm. 15:30; 16:1,13). Os judeus fo-
Este m onte está separado da cidade pelo estreito vale
ram buscar no M onte ram os para celebrar a festa dos
do Cedrom . Cerca de 90 m etros m ais alto do que o
Tabernáculos, depois da volta do cativeiro (Ne. 8:15).
m onte do Tem plo e vai gradativam ente subindo des-
Ali foi o lugar de onde Jesus partiu, quando realizou a
de a parte n o rte da cidade na direção do oriente até à
Sua entrada triunfal em Jerusalém , indo pela estrada
distância de, aproxim adam ente, 1200 m etros ao sul de
Harã, onde o C edrom se desvia para o oriente, indo entre os cumes (3 e 4) - e ali tam bém proferiu a Sua
para o m ar M orto. O m onte possui quatro cimos: (1) últim a profecia. E no cim o oriental, perto de Betânia,
o Galileu, ou V iri Galilaei (hom ens da Galileia), o tra- realizou a Sua ascensão (Mat. 26:30; M ar. 14:26; Luc.
dicional lugar sobre o qual os anjos falaram , dizendo 22:39; Jo. 8:1; M at. 21:1 a 11; M ar. 11:1; Luc. 19:29,
“V arões galileus” (At. 1.11); (2) o tradicional “M onte 37; M at. 24:3; M ar. 13:3; Luc. 21:37; 24:50; At. 1:12).
N
fazer perfum es. Além disso, esse m esm o óleo pode
ser usado tam bém para fins m edicinais, mais com um
em países com o Nepal, C hina e índia.

N a Bíblia Sagrada, os óleos eram usados para ungir


N A !M um a determ inada pessoa, norm alm ente com o objetivo
de conceder autoridade a um a pessoa que vai exercer
Naim era o nom e de um a cidade à entrada da qual alguma função, como um rei ou um profeta, p o r exem-
o Senhor Jesus ressuscitou o filho único da viúva, con- pio. Além disso, a unção com óleo tam bém acontecia
form e narrado em Lucas 7:11 ss. No hebraico, signi- quando alguém necessitava de cura. O óleo feito com as
fica deleite, beleza. Essa cidade não é m encionada em flores de nardo é m encionado 24 vezes na Bíblia.
qualquer outro trecho da Bíblia Sagrada. E ntretanto,
A expressão “fazer descer o n ardo” pode significar
tem sido identificada com Nairn, um a aldeia cerca de
ungir alguém com esse óleo.
dez quilôm etros a sudeste de Nazaré, e a quase cinco
quilôm etros a nordeste de Solem, o lugar onde tinha O episódio mais conhecido com o óleo de nardo
habitado a m ulher sunam ita, quando Eliseu ressusci- ocorreu em João 12:3: “Então M aria pegou um frasco
tou seu filho. Nas redondezas desse local há algumas de nardo puro, que era um perfum e caro, derram ou-o
cavernas antigas, usadas com o sepulcros, localizados sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabe-
no lado oriental da cidade. O cam inho que conduz à los. E a casa encheu-se com a fragrância do perfum e”.
localização geral, segundo dizem alguns arqueólogos,
é o m esm o onde a m ultidão se encontrou com Jesus, No Evangelho de M arcos, capítulo 14, é citado que
quando o cortejo fúnebre prosseguia em direção ao o frasco de perfum e em questão custava 300 denários,
local do sepultam ento. Jesus ficou em ocionado dian- valor que correspondia aproxim adam ente a 300 dias
te da triste cena de um a viúva que perdera seu filho de salário, o que significa que era um óleo m uito caro.
único, interveio e ressuscitou o rapaz, para espanto de
toda cidade. Som ente Lucas, em seu evangelho, narra NAZARENO
o acontecido, sendo esse um dos 13 textos onde Lucas
usa o título “o Senhor”, para indicar Jesus (ver o vs. 13). Nazareno era chamado o habitante de Nazaré. Era
um term o frequentem ente usado para se referir a Jesus,
A m oderna aldeia de Nain, identificada com o
talvez em algumas ocasiões por desprezo, sendo depois
aquela do N ovo T estam ento, fica cerca de 16 quilô-
adotado e glorificado pelos discípulos. Todos os habi-
m etros ao sul e levem ente a leste de Nazaré, perto
tantes da Galileia, em que se achava situada a cidade
de Kefar Yeledim e de M ahne Yisrael. A tualm ente é
de Nazaré, eram olhados com desprezo pelo povo da
um povoado islâmico. Os frades franciscanos erigi-
Judeia por causa da singularidade das suas m aneiras e
ram ali um a pequena capela, para com em orar aquele
da sua fala. O dem érito de Nazaré, a que se refere um
m ilagre feito p o r Jesus. Josefo {Guerras 4.9.4,5) m en-
hom em , que era galileu (Jo. 1:46), pode ter-se originado
ciona um a cidade com esse nom e, que um certo revo-
na m á reputação pela falta de religiosidade e pelo rela-
lucionário, de nom e Simão, fortificou; mas esse lugar
xam ento de costumes. A palavra hebraica, vertida para
ficava na Idum eia, ao sul de M assada, e não pode ser
nazareno, é “netser”, que significa “renovo”, e é idêntica
o m esm o lugar m encionado p o r Lucas.
à palavra usada em Isaías 11:1: “Do tronco de Jessé sai-
rá um rebento, e das suas raízes um renovo.” E desta
NARDO m aneira, todas as vezes que chamaram a Jesus o “Na-
zareno”, estavam pronunciando, com conhecim ento ou
É um a planta da fam ília das gram íneas (Nardosta-
sem o saber, um dos nom es do anunciado Messias. E
chys jatamansi), que pode crescer até 1 m etro de altura
assim se explica a m enção em M ateus 2:23. O codino-
e possui flores brancas e cor rosa em form ato de sino.
me de nazareno é aplicado com desprezo aos seguidores
A palavra nardo tam bém pode ser sinônim o de de Jesus, em Atos 24:5. O term o ainda existe em árabe,
perfum e, pois o óleo arom ático da planta é usado para como um a simples designação dos cristãos.
NICODEMOS peles de anim ais. As peles são despegadas dos anim ais
com o m aior cuidado - separam -se do corpo, depois
Nicodemos, cujo nom e em grego significa “con- de rem ovida a cabeça e as extrem idades, com o um a
quistador do povo”, é citado no Novo Testam ento. Era luva bem ajustada - e depois são cozidas as aberturas
provavelm ente um dos principais líderes da nação, pelo à exceção do pescoço, que é atado com o um saco p o r
que João o chama em seu evangelho de fariseu e “che- m eio de um cordel de chicote. Estes odres eram de
diversos volum es, conform e era o tam anho grandes
fe [lit. príncipe] dos judeus” (Jo. 3:1). A explicação por
seu nom e ser de origem grega dá-se pelo fato de que, a das peles. E nquanto a pele ainda está fresca, é curtida
para que se to rn e p ró p ria para conter não som ente
partir do período dos governantes macabeus, tornou-se
água, mas vinho, leite e outros líquidos. O curtim en-
com um um a m istura de nom es gregos entre os judeus e
to é feito com casca de carvalho ou de acácia, sendo
esse era um nom e com um nos tem pos de Cristo.
deixada de fora a parte cabeluda. A pele dos suínos
Nicodemos aparece apenas no Evangelho segun- nunca é utilizada para este fim pelos judeus, porque
do João, o que desperta o interesse das pessoas sobre o porco é anim al “im u n d o ”. D urante as longas cam i-
sua história. E especialmente o episódio em que ele se nhadas no deserto, estas vasilhas de couro, principal-
encontra com Jesus à noite e ambos conversam sobre o m ente as de pele de cabra, to rn am -se secas e gretadas
novo nascim ento (cap. 3). com o os “odres de v inho, velhos, rotos, e conserta-
dos” que os gibeonitas tro u x eram a Josué, querendo
Possivelmente, tratava-se de um hom em de grandes
enganá-lo quanto à duração da sua viagem . Os odres
posses (Jo. 3:1,10; 19:39). Não se sabe praticam ente nada
que ficavam com fendas pelo seu uso eram conserta-
sobre sua vida pessoal, além do que é relatado no livro
dos, m as depois já não tin h am grande utilidade (M at.
de João. Alguns estudiosos tentam identificá-lo com um
9:17). Os odres, feitos de peles de anim ais, não eram
hom em rico e generoso, chamado Naqdimon Ben Gorion,
som ente usados pelos árabes: na E uropa, Ásia e Á fri-
mencionado no Talmude, um dos livros básicos do ju- ca estava m uito generalizado o seu uso. A tualm en-
daísmo. Entretanto, tal identificação é incerta. te na Espanha e em Portugal há as borrachas, para
Nicodemos aparece mais duas vezes no Evangelho. vinho, que são m uito sem elhantes às da Arábia. Os
A prim eira no episódio citado em João 7:50-52, em que gregos, os rom anos e os egípcios tam bém faziam o
ele se m ostra contrário aos sacerdotes e fariseus que ha- uso dessas vasilhas com o m esm o objetivo. N a Pérsia
viam tentado prender Jesus. eram as peles conservadas, sendo barradas de breu.
“Já m e assem elho a um odre na fum aça:” Esta pas-
Por último, ele reaparece no sepultam ento de Jesus, sagem do Sl. 119 (vers. 83) é um a referência à ação
onde ajuda outro m em bro do Sinédrio, José de Arim a - do calor sobre a pele, secando-a e gretando-a - mas
teia, na preparação do corpo (Jo. 19:38-42). A narrativa em M at. 9:17 fala-se da expansão produzida pela fer-
diz que Nicodemos levou um a grande quantidade de es- m entação.
peciarias, cerca de cem libras em peso (algo em torno de
30 quilos), para a unção do corpo de Jesus.

c
ODRE

Os odres são recipientes para arm azenar líquidos Típico odre para armazenar vinhos.
com o água e azeite. Eles eram , e ainda são, feitos de
ÓLEO discípulos. C ertam ente, era algo m uito com um , em-
bora as curas feitas p o r Jesus aparentem ente não uti-
As oliveiras produziam as azeitonas que, p o r sua lizavam o óleo com o elem ento auxiliar.
vez, produziam o azeite. O azeite era e é usado na
alim entação (lR s. 17:12) e tam bém para colocar
S ffi
em ferim entos (Luc. 10:34), para passar no corpo
com o cosm ético (Sl. 104:15), para ilum inação (M at. A oliveira
j É j |j
25:4), p ara a unção de doentes (Tg. 5:14) e de hóspe-
:.‫פ‬/‫=ר‬£|rf=
₪ í!
des (Luc. 7:46). Pela unção, pessoas eram separadas
O L IV E iR A
p ara serviço especial (Reis: ISm . 10:1; Profetas: lR s.
19:15-16; e Sacerdotes: Ex 28:41) e tam bém objetos
A oliveira (em hebraico zayit, que significa olivei-
sagrados (Êx. 30:22-33).
ra, azeitona) é um a das árvores m ais im pressionantes
A aplicação do óleo sobre a cabeça ou o corpo (un- da T e rra e um a das árvores m ais im portantes citadas
ção), ou ainda sobre um a oferta (libação) era um ato na Bíblia Sagrada, p o r ser tão utilizada pelo povo de
m uito significativo na cultura do antigo Israel. No Israel e tam bém pela riqueza de ilustrações represen-
caso da unção de seres hum anos, representava a capa- tadas p o r ela. Ela é da fam ília das oleáceas e se origi-
citação dada po r Deus a algum a pessoa, credencian- n o u na região do m editerrâneo.
do-a para cum prir um a missão específica, especial, Os povos orientais classificavam-na como um sím-
dentro de propósitos divinos. P or isso Jesus foi ungi- bolo de beleza, força, da bênção divina e da prosperida-
do pelo E spírito Santo, “para evangelizar os pobres”, de. A perenidade das oliveiras é um a das características
“curar os quebrantados do coração, apregoar liber- mais impressionantes. M esm o o solo sendo pobre e
dade aos cativos... a p o r em liberdade os oprim idos” seco, elas crescem e vivem bem em praticam ente qual-
(Luc. 4:18). Ele foi ungido “com óleo de alegria” (Hb. quer condição, nas m ontanhas ou nos vales, nas pedras
1:9). (V er Is. 61:1; At. 10:38; 1 Cr. 16:22). ou na terra fértil, contando que suas raízes possam en-
terrar-se em profundidade. Crescem sem problemas
U m a m u lh er ungiu os pés de Jesus (Luc. 7:38) e
sob o intenso calor e tem peratura elevada, com pouca
Ele cham ou a atenção do anfitrião p o r não tê-lo un-
água e são quase indestrutíveis, resistindo m uito bem
gido a cabeça (Luc. 7:46). Este, p o rta n to era um ges-
a todas estações. Seu desenvolvim ento é lento, porém
to de significado ta n to espiritual quanto de hospita-
contínuo. Quando é bem cuidada, pode atingir um
lidade e cortesia. Pelas inform ações dadas no A ntigo
grande porte chegando aos 7 m etros de altura. A copa
T estam en to , supõem -se que o azeite era m isturado
não é alta, mas tem alto poder de regeneração. M esmo
com perfum e para fazer a unção o que está em acor-
se cortar a copa, rapidam ente acontece um novo bro-
do com o gesto da m u lh er pecadora. O azeite con-
tam ento. Até as oliveiras doentes continuam a brotar
sagrado era com posto de especiarias, n o rm alm en te novos ram os. Algumas árvores têm troncos torcidos e
m irra, canela arom ática, cálam o arom ático, cássia e velhos, mas sem pre com folhas verdes.
azeite de oliveiras, (ver Êx. 30:22-25). Era o “azeite
da santa unção”. Esta era, sem dúvida, a árvore mais referida e sim-
bólica de toda a E scritura Sagrada. Os judeus a viam
N o Novo T estam ento, a palavra unção (do gr. chris- com o fonte de alim ento, luz, higiene e cura. Cada ár-
ma) só ocorre três vezes (ver 1 Jo. 2:20,27). O verbo vore pode produzir até 80 litros de azeite p o r ano.
ungir (chrío) aparece cinco vezes (Luc. 4:18; At. 4:27;
20:38; 2 Co. 1:21; Hb. 1:9). Já o adjetivo christós (Cristo, O azeite era tão abundante em Israel que era um
o ungido) ocorre mais de 500 vezes, em várias referên- dos produtos regularm ente exportado. Salomão en-
cias, como em M ateus 1:1 e Apocalipse 22:21. viou ao rei de T iro 4.391.064 litros de azeite: “E Saio-
mão dava a Hirão vinte mil coros de trigo, para sustento
Os discípulos tam bém ungiam pessoas enferm as, da sua casa, e vinte mil coros de azeite batido. Isso fazia de
com o descrito no texto de M aros 6:13. Esta é a úni- ano em ano” (I Rs. 5:11). M il anos depois, nos tem pos
ca referência nos evangelhos sobre esse trabalho dos de Jesus, o azeite é m encionado com o o único pro-
duto de exportação da região de Jerusalém . O M onte Exemplos cle oração intercessória aparecem nos ca-
das Oliveiras, localizado logo a leste da Cidade V elha sos de M oisés (Êx. 32:31,32), de Davi (2 Sm. 24:17; 1
de Jerusalém , testem unha a presença das oliveiras ao Cr. 29:18), de Estêvão (At. 7:60) - de Paulo (Rm. 1:9).
redor da cidade. T am bém foi no Jardim do Getsêm a- Solicitações para oração intercessória se encontram
ni (Gat Shemen, em hebraico - literalm ente, o lugar em Êx. 8:8, Nm . 21:7; 1 Rs. 13:6; At. 8:24, Rm. 15:30
da prensa de azeite) onde Jesus passou m uito do seu a 32 - e as respostas a essas orações em Êx. 8:12,13, e
tem po em Jerusalém com os seus discípulos: “Jesus Nm . 21:8,9; 1 Rs. 13:6; At. 12:5 a 8. Cp com 2 Co. 12:8.
saiu e, como de costume, fo i para 0 Monte das Oliveiras, e O próprio exemplo de Jesus a respeito da oração é de-
os seus discípulos 0 seguiram” (Luc. 22:39). cisivo. Ele indicou o fundam ento sobre o qual repou-
sa a crença na oração, e que é o cuidado providencial
ORAÇÃO de um Pai onisciente (Mat. 7:7 a 11). Ele ensinou aos
discípulos com o deviam orar (Mat. 6:5 a 15; Luc. 11:1
A oração cristã está fundam entada na convicção de a 13) - assegurou-lhes a certeza da resposta de Deus
que o Pai Celeste, que tem providencial cuidado sobre a um a oração reta (Mat. 7:7; 18:19; 21:22; Jo. 15:7, e
nós (Mat. 6:26,30; 10:29,30), que é “cheio de tern a m i- 16:23,24); associou a oração com a vida de obediência
sericórdia” (Tg. 5:11), ouvirá e responderá às petições (Mar. 14:38; Luc. 21:36), tam bém nos anim a a serm os
dos seus filhos da m aneira e no tem po que Ele julgue persistentes e m esm o im portunos na oração (Luc. 11:5
m elhor. A oração deve, então, ser feita com toda a con- a 8 e 18:1 a 7), procurou os lugares retirados para orar
fiança (Fp. 4:6), m esm o Deus sabendo de tudo aqui- (Mat. 14:23; 26:36 a 46; M ar. 1:35; Luc. 5:16). Ele fez
lo que necessitamos, antes m esm o de Lhe pedirm os
uso da oração intercessória na súplica, conhecida pela
(Mat. 6:8,32). A Sua resposta pode ser dem orada (Luc.
designação da Sua alta oração sacerdotal (Jo, 17) - orou
11:5 a 10) - talvez a oração seja im portuna (Luc. 18:1
durante a agonia da cruz (Mat. 27:46; M ar. 15:34; Luc.
a 8), e repetida, com o no caso de Jesus C risto (Mat.
23:34,46). A oração em nom e de Cristo é autorizada
26:44) a resposta pode não ser bem o que se pediu
pelo próprio jesus (jo. 14:13,14, e 15,16) e pelo após-
(2 Co. 12:7 a 9) - , mas o crente pode deixar toda a sua
tolo Paulo (Ef. 5:20; Cl. 3:17). Além disso, o Espírito
ansiedade de lado, descansando na paz de Deus (Fp.
Santo tam bém intercede po r nós (Rm. 8:26).
4:6,7). Não falando na oração relacionada com o culto,
ou na oração em períodos estabelecidos (Sl. 55:17; Dn.
6:10), orava-se quando e onde era preciso: dentro do OVELHAS, BODES E CABRAS
“grande peixe” (Jn. 2:1) - sobre os m ontes (1 Rs. 18:42;
M at. 14:23), no terraço da casa (At. 10:9), num quarto Estes são anim ais m uito presentes nas Escritu-
in terio r (Mat. 6:6), na prisão (At. 16:25), na praia (At. ras Sagradas e nos ensinam entos de Jesus. A pala-
21:5). O tem plo era, principalm ente, a “casa de oração” v ra ovelha, na Bíblia, pode significar um a ovelha ou
(Luc. 18:10), e todos aqueles que não podiam juntar-se um a cabra; a m esm a palavra é usada para am bas em
no Tem plo com os outros adoradores voltavam -se várias ocasiões. O leite de cabra não só era im p o r-
para ele, em oração (1 Rs. 8:32; 2 Cr. 6:34; Dn. 6:10). tan te p o r causa da quantidade (cerca de três litros
N otam -se várias posições na oração, tanto no A nti- p o r dia), m as tam bém podia ser usado para fazer um
go T estam ento com o no N ovo Testam ento: Em pé (1 tipo de iogurte ileben) e queijo (Pv. 27:27). U m a ca-
Sm. 1:10,26; Luc. 18:11) - de joelhos (Dn. 6:10 - Luc. b ra era, p o rta n to , deixada com a fam ília, em bora as
22:41), curvando a cabeça e inclinando-a à terra (Êx. o u tra fossem com o pastor, e se to rnava, em geral,
12:27; 34:8), prostrado (Nm. 16:22; M at. 26:39). Em um anim al de estim ação. O anim al podia ser usado
pé ou de joelhos, na oração, as mãos estavam estendi- para o sacrifício (Lv. 1:10), e a carne consum ida em
das (Ed. 9:5), ou erguidas (Sl. 28:2; cp. com 1 Tm . 2:8). algum a refeição (Jz. 15:29), m esm o que não fosse
As m anifestações de contrição e de dor eram algumas tão gostosa quanto de cordeiro ou vitela (veja Luc.
vezes acom panhadas de oração (Ed. 9:5; Luc. 18:13).
15:29), m as era substancial.
A oração intercessória (Tg. 5:16 a 18) é prescrita tan-
to no A ntigo T estam ento com o no Novo T estam ento Na Prim avera, depois da chuva de inverno, havia
(Nm. 6:23; Jó 42:8; Is. 62:6,7; M at. 5:44; 1 Tm . 2:1). m uita pastagem perto da aldeia. D epois que o cereal
era colhido, as ovelhas tinham perm issão para co- Era com um às famílias m ais pobres com prarem
m er tudo o que sobrasse. Q uando isso acabava, era dois cordeiros na Páscoa. U m era consum ido de acor-
necessário deixar a região e procurar a erva seca que do com a lei e o outro m antido para a engorda du-
perm anecia sob sol quente (1 Cr. 4:39, 40) lugares de rante o verão. Ele se tornava 0 bichinho de estimação
erva fresca onde houvesse suprim ento de água (águas da família, de um m odo que o bode jamais era aceito.
tranqüila, quando disponível) tornavam esse m ovi- O cordeirinho dorm ia em geral com as crianças e até
m ento possível (Sl. 23:2). Q uando a água da super- partilhava do m esm o recipiente para beber. Era um a
fície desaparecia, era preciso usar água de poço para tragédia para os filhos da casa o dia em que o cordeiro
as ovelhas. Era costum e cobrir o m anancial com um a era sacrificado e preservado na gordura da sua pró-
pedra tão pesada que exigia vários hom ens para le- p ria calda. Essa é a prática subentendida na parábola
vantá-la, protegendo assim os direitos à água. de Natã, em 2 Samuel 12:1-7.

Os pastores geralm ente colocavam as cabras na É possível tam bém ler neste costum e a força da de-
frente das ovelhas. P ortanto, um a cabra se achava na signação de C risto com o C ordeiro de Deus, em João
frente de Isaías a ideia dos reis guiando o povo (veja 1:29 e 1:36. A dor do Pai em sacrificar seu Filho, 0
Is. 14:9; Dn. 8:9; Zc. 10:12). A relação entre ovelhas cordeiro celestial, p o r am or da raça hum ana, é um
e cabra pode estar p o r trás das palavras de Jesus, de sentim ento cujas palavras jamais conseguirão plena-
que ele iria separar os hom ens com o o pastor sepa- m ente descrever.
ra as ovelhas dos bodes (Mat. 25:32). Um bordão era
usado para separá-los, os bodes sendo enviados num a
direção e as ovelhas em o utra - “debaixo da vara”. As
ovelhas e os bodes eram m antidos próxim os uns dos
outros porque ambos precisavam pastar e p o r com e-
rem m ais ou m enos a m esm a coisa.

Há várias diferenças en tre os dois anim ais. Os bo-


P
des são geralm ente escuros e as ovelhas, brancas. Os PAIXÃO DE C R IS T O
bodes sobem m ontanhas e penhascos com facilidade,
mas as ovelhas preferem os vales planos. Os bodes A Paixão de Jesus Cristo é o últim o ciclo da Sua
com em as folhas das árvores (no geral ajudados pelo vida. Nele estão todos os episódios que decorrem des-
pastor que derruba os galhos m enores com a vara), de a Ú ltim a Ceia até a m orte na cruz. O term o “pai-
enquanto as ovelhas preferem pastar. Os bodes pas- xão” provém do latim passio, que significa sofrim ento.
tam o dia inteiro, mas as ovelhas deitam -se ,à som bra Já a expressão “Paixão de C risto” ou “Paixão do
quando o sol está m ais forte (Ct. 1:7). S enhor” abrange mais do que o m om ento exato em
que C risto foi crucificado. Na verdade, ela antecede o
O bode sem pre foi m enos popular que a ovelha
evento e o supera. N ota-se que no Evangelho de João
para a m aioria das pessoas. Um desses anim ais se to r-
2:27, Cristo afirma: “Agora, está angustiada a m inha
nou o “bode expiatório”, levando os pecados do povo
alma, e que direi eu? Pai, salva-m e desta hora? Mas
para o deserto (Lv. 16:22). Os “bodes” foram reserva-
precisam ente com este propósito vim para esta hora.'
dos p o r jesus à destruição, enquanto Ele descreveu a
vinda do Filho do H om em (Mat. 25:33,41). Essa im - O sintom a da Sua paixão é essa angústia da alma de
popularidade pode ser porque os bodes são destruti- Cristo. Ele dem onstra, com exclamação que, m esm o
vos; eles com iam a erva m ais p erto do solo do que as antes de ser preso e to rtu rad o fisicam ente, já estava
ovelhas e destruíam a pastagem . Os gregos acredita- sofrendo. T al episódio ocorreu seis dias antes, quan-
vam em criaturas m ísticas, m etade bode e m etade ho- do entrou em Jerusalém e foi aclamado pela multidão.
m em , cham ada sátiros. Baco era m etade bode e m eta- C ontraditoriam ente, Jesus se vê angustiado num mo-
de hom em . A profecia de Isaías sobre o juízo contra a m ento em que todos parecem reconhecer sua realeza
Babilônia m enciona bodes (sátiros) (Is. 13:21; 34:14). e sua condição de Messias.
M as Ele sabia, pelo relacionam ento íntim o que que o cálice da am argura seja afastado, acabando o in-
tin h a com o Pai, qual era sua missão neste m undo: cidente com a vitoriosa subm issão à vontade do Pai,
salvá-lo pelo seu próprio sofrim ento expiatório. Por não produzem alteração na substância.
isso, a Paixão de C risto significa m ais que um ato de
2. A prisão: M arcos não refere palavra algum a
m artírio ou sofrim ento físico. Era um sofrim ento em
de Jesus em resposta ao beijo da traição. M ateus diz:
lugar dos pecadores. Sua dor representa a m áxim a ex-
“Am igo, para que vieste?”. E Lucas narra: "Judas, com
pressão do sofrim ento hum ano, que, na sua entrega
um beijo trais o Filho do hom em ?”. A narrativa se
com o R edentor da hum anidade, recebe um sentido
com pleta em alguns pequenos porm enores, recor-
novo e m ais profundo ao ser associado ao am or de
rendo aos três autores.
Deus po r seus filhos (Jo. 3:16).
3. A zom baria: Os três evangelhos referem -se à
Assim, em bora o term o tam bém apareça no Novo
zom baria na casa do sum o sacerdote. Em M arcos e
T estam ento para falar de sofrim entos hum anos de
M ateus esse caso vem exposto em seguida à condena-
um m odo geral, sua ênfase parece ser naquilo que
ção, onde em Lucas acha-se antes. M arcos e M ateus
Jesus sofreu em p rol da hum anidade. L iteralm ente,
falam da flagelação e da zom baria, levadas a efeito pe-
a frase “depois de te r padecido” significa “depois de
los soldados de Pilatos. Lucas om ite estes fatos, mas
Ele te r sofrido”, fazendo v er que todos os incidentes
apresenta um caso an terio r de zom baria, que os sol-
da traição e da m o rte de Jesus C risto se co n cen tra-
dados de H erodes praticaram .
ram num só grandioso fato de redenção (Luc. 24:46;
At. 1:3; 3:18; 17:3; Hb. 2:18; 9:26; 13:12; 1 Pe. 2:21; 4. A crucifixão: Os sarcasm os do povo, dos m a-
3:18; 4:1). gistrados e dos soldados, ju nto à cruz, aparecem nas
três narrações: segundo M arcos e M ateus, am bos os
No Evangelho de M arcos, Jesus prenuncia os Seus
ladrões crucificados se uniram nas injúrias ao Salva-
sofrim entos po r três vezes (Mar. 8:31; 9:31; 10:33).
dor - mas Lucas descreve o lindo acontecim ento do
Além dessas m enções, Ele refere-Se um a vez à m orte,
ladrão arrependido. M ateus fala p o r duas vezes da be-
com o “resgate p o r m uitos” (10:45), e um a vez tam -
bida que foi oferecida a Jesus, revelando esses atos a
bém ao Seu “sangue da [nova] aliança, derram ado em
favor de m uitos” (14:24). com paixão dos oferentes: era a costum ada bebida es-
tupefaciente (“v inho com fel”), que era dada aos cru-
C ontudo, durante os acontecim entos, que de um cificados, e que Jesus recusou, e, num a esponja, algum
m odo im ediato têm relação com a cruz, e que não vinagre (ou vinho azedo), para aliviar as dores nos
chegaram a du rar um a semana, consagra M arcos últim os instantes de esgotam ento. M ateus apresenta
mais que um terço de todo o seu livro. Se a exposição prim eiro, com o sendo um ato adicional de crueldade
até à últim a sem ana era fragm entária, torna-se afinal (“vinho com fel”), Lucas m enciona o oferecim ento do
diária - torna-se agora um relato diário, m inucioso. vinagre, com o ato de escarnecim ento dos soldados,
A Paixão, m orte e ressurreição de Jesus era 0 assunto logo que Jesus foi crucificado.
essencial da igreja cristã prim itiva.
5. As sete palavras na cruz: a provável ordem por
Os fatos contados nos evangelhos podem ser resu- que foram as sete palavras proferidas, cotejando os
m idam ente com parados, com respeito aos incidentes Evangelhos, é a seguinte:
da Paixão.
(1) “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fa-
1. Getsêm ani: na triste em oção de Jesus, M arcos zem ” (Luc. 23:34).
põe na descrição um sinal de “assom bro”, ou de “es-
(2) “Em verdade te digo hoje: Estarás com igo no
pantosa surpresa”, om itido p o r M ateus. Lucas nota-
paraíso” (Luc. 23:43).
velm ente abrevia essa parte da narrativa e registra só
o aparecim ento do anjo e a “agonia” (Luc. 22:43,44). (3) “M ulher, eis aí o teu filh o !... Filho, eis aí a tua
As pequenas variantes que aparecem na oração para m ãe” (Jo. 19:26,27).
(4) “Deus m eu, Deus m eu, p o r que m e desam pa- re da alegoria, porque esta personifica atributos e as
raste?” (M at. 27:46; M ar. 15:34). (5) “T enho sede” (Jo. próprias qualidades, ao ponto que a parábola nos faz
19:28). ver as pessoas na sua m aneira de proceder e de viver.
E tam bém difere da fábula, visto com o aquela se limi-
(6) “Está consum ado!” (Jo. 19:30).
ta ao que é hum ano e possível. No A ntigo T estam en-
(7) “Pai, nas tuas m ãos entrego o m eu espírito” to a narração de Jotão (Jz. 9:8 a 15) é mais um a fábula
(Luc. 23:46). do que um a parábola, mas a de N atã (2 Sm. 12:1 a 4),
e a de Joabe (14:5 a 7) são verdadeiros exemplos. Em
Isaías 5:1 a 6, vim os a semi parábola da vinha, e, em
28:24 a 28, a de várias operações da agricultura.

Jesus fez o uso contínuo das parábolas e isso em


perfeita concordância com o m étodo de ensino minis-
trado ao povo no Tem plo e na sinagoga. Os escribas e
os doutores da Lei faziam grande uso das parábolas e da
linguagem figurada para ilustração em seus sermões.
Tais eram os Hagadote dos livros rabínicos. A parábola
usada tantas vezes po r Jesus, no Seu m inistério (Mar.
4:34), servia para esclarecer os Seus ensinam entos, re-
ferindo-se à vida com um e aos interesses hum anos,
para patentear a natureza do Seu reino, e para expe-
rim entar a disposição dos Seus ouvintes (Mat. 21:45;
Luc. 20:19). As parábolas do Salvador diferem m uito
umas das outras. Algumas são breves e mais difíceis
de com preender. Algumas ensinam um a simples lição
m oral, outras um a profunda verdade espiritual. Nean-
der classificou as parábolas do Evangelho, tendo em
consideração as verdades nelas ensinadas e a sua cone-
xão com o reino de Jesus Cristo.

PARQUSIA
As palavras do evangelho de João que descrevem a
Paixão de Jesus são resultado de um a elevadá concep- T am bém grafada com o “parusia”, é um term o gre-
ção da pessoa de Cristo. N ota-se m enos alento nar- go que significa “presença, vinda”. Usada m uitas vezes
rativo na hum ilhação e nos sofrim entos hum anos de com o a chegada de um rei, ela é em pregada no Novo
Jesus, e mais tocantes expressões no divino sacrifício T estam ento em sentido escatológico, para expressar o
daquele que, em bora na Sua submissão, perm anece reto rn o de C risto no final dos tem pos. No N ovo Tes-
S enhor e Rei (Jo. 18:6,36; 19:11). tam ento, a palavra é utilizada em contexto de alegria,
pois anuncia a vinda e a presença do Senhor, consu-
PARÁBOLA m ando a história. O anelo pela parusia é um elem en-
to im portante da vida cristã (cf. M at. 24:3.27.37.39;
Parábola é um a narrativa, im aginada ou verdadei- IC or. 15:23; lT s. 2:19; 3:13; 4:15; 2Ts. 2:1; 2Pd. 1:16).‫־‬
ra, que ao final, tem o objetivo de ensinar um a m o-
ral, um a verdade. Esta, neste ponto, é diferente do PÁSCOA
provérbio: não é a sua apresentação tão concentrada
com o a daquele, contém m ais porm enores, exigindo Festa religiosa com em orada p o r judeus e cristãos.
m en o r esforço m ental para se com preender. E dife­ Páscoa vem da palavra hebraica pessah e significa p a s ­
sagem . Para os antigos hebreus, significava a come- sagrado ou eclesiástico, e no 14° dia desse mês, entre
m oração de sua saída do Egito. Para os cristãos é a as tardes, isto é, entre a declinação do sol e o seu p ô r
passagem de Jesus da m o rte para a vida, trazendo sal- do sol, deviam os israelitas m atar o cordeiro pascal e
vação para todos que creem nele (Jo. 5:24). Jesus veio deixar de com er pão ferm entado. O cordeiro oferta-
à terra com um grande objetivo. Q uando Ele m orreu do devia ser sem defeito, m acho e do prim eiro ano.
e ressuscitou, pagou o preço do pecado, nos dando Q uando não se encontrava cordeiro, os israelitas po-
um a nova oportunidade para ter um relacionam ento diam m atar um cabrito.
pessoal com D eus (Rom. 8:1 e 2). V oltando ao signi-
ficado judaico da festa, em algum período na história N o dia seguinte, o 15°, a contar desde o p ô r do
do povo hebreu eles ficaram escravos po r séculos no sol anterior, começava a grande festa da Páscoa, que
Egito, vivendo sob a opressão de tem idos faraós. M as, durava sete ou oito dias, dependendo da situação. Na-
p o r interm édio de M oisés, Deus providenciou a li- quela m esm a noite, ou seja, no começo do 15° dia,
bertação de seu povo. o cordeiro devia ser com ido, sem que os seus ossos,
fossem quebrados, assado, com pão asm o e um a sa-
Dez pragas caíram no Egito com o juízo divino que,
lada de ervas amargas. Além disso, se sobrasse algu-
ao m esm o tem po em que punia os opressores, abria
m a coisa para o dia seguinte, tudo era queim ado. Os
espaço para revelar a soberania do Deus dos hebreus.
que com iam a Páscoa precisavam estar na atitude de
Assim, na últim a da praga, os prim ogênitos egípcios
viajantes, cingidos os lom bos, tendo os pés calçados,
foram visitados pelo anjo da m orte, ao passo que os
com os cajados nas m ãos, alim entando-se apressada-
prim ogênitos hebreus foram poupados.
m ente para lem brar a saída apressada do Egito.
O livram ento da m o rte dava-se pelo em blem a
D urante os sete ou oito dias da Páscoa, não deviam
posto nas habitações dos israelitas, cujas portas ti-
fazer uso de pão levedado, em bora fosse perm itido pre-
nham sido aspergidas com o sangue do cordeiro pas-
parar comida, sendo isto, proibido no sábado (Êx. 12).
cal, m o rto na ocasião (Êx. 12:11 a 27).
A Páscoa era um a das três festas em que todos os va-
Assim, cham a-se “a Páscoa do Senhor” (Êx. rões haviam de “aparecer diante do Senhor” (Êx. 23:14
12:11,27) - a “festa dos pães asmos” (Lv. 23:6 - Luc. a 17). Por isso o evangelho m ostra algumas situações
22:1), os “dias dos pães asm os” (At. 12:3; 20:6). A pala- em que Jesus sobe a Jerusalém para celebrar a Páscoa
vra Páscoa é aplicada não som ente à festa no seu todo, com seus discípulos (Mat. 26:17 a 20; Luc. 22:15; Jo
mas tam bém ao cordeiro pascal e à refeição preparada 2:13,23).
para essa ocasião solene (Luc. 22:7; 1 Co. 5:7; M at.
26:18,19; Hb. 11:28). A festividade pascal no tem po de Jesus C risto só
podia realizar-se em Jerusalém . Havia tan ta gente que
O ritual realizado na prim eira Páscoa, que é descri- não era possível acom odarem -se todos d entro dos
to em Êxodo 12:1-20, deveria, então, a p artir daquele m uros da cidade. P or essa razão que os m agistrados
m om ento, ser observado todos os anos pelas próxi- queriam que Jesus não fosse preso, pois receavam
mas gerações. E foi assim que aconteceu. N o livro de
algum tum ulto da parte da m ultidão, que estava em
Êxodo 12:27 está a explicação que deveria ser dada
Jerusalém para a celebração da Páscoa (M at. 26:5).
quando os filhos daquelas pessoas perguntassem o
que eram aqueles rituais simbólicos feitos na Páscoa. Após a m o rte e ressurreição de Jesus, a Páscoa m u-
dou sua form a, m as não seu significado. Jesus, através
“Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SE-
de Seu sangue derram ado na cruz em sacrifício, nos
NH O R, que passou p o r cim a das casas dos filhos de
libertou da escravidão do pecado. Jesus é com o aquele
Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as
cordeiro que ofereceu o seu sangue para que o povo
nossas casas” (Êxodo 12:27).
que vivia com o escravo vivesse e fosse totalm ente li-
O riginalm ente, a m aneira de celebrar a Páscoa se- vre. Pelo sangue de Jesus vivem os a liberdade. Ele foi
guia conform e o preceito de Deus: o m ês da saída do o sacrifício que nos trouxe vida e libertação da conde-
Egito (nisã-abibe) devia ser o prim eiro m ês do ano nação e da escravidão do pecado.
A Páscoa cristã (Santa Ceia) com em ora, então, o ro. A tosquia era feita depois da pastagem de verão,
sacrifício e a ressurreição de Jesus C risto. Jesus é o quando os lucros eram distribuídos e seguiam -se vá-
nosso C ordeiro pascal (1 C orintios 5:7). Ele nos p ro - rios dias de festa.
piciou a liberdade através de Seu sangue e da Sua vi-
Havia pastores mais pobres, que tinham um pe-
tó ria na cruz. Essa com em oração deve ser lem brada
queno rebanho. E ntão os grandes criadores de ove-
todos os dias e não som ente na Páscoa.
lhas em pregavam tais pastores para cuidar de seus
vastos rebanhos. As famílias mais pobres usavam os
filhos m enores para cuidar do rebanho.

PEDRA ANGULAR
PASTOR C ham ada tam bém de pedra de esquina ou pedra de
V árias referências são encontradas na Bíblia Sa- toque. Esta era literalm ente o canto inferior de um a
grada ao ofício de pastor de ovelhas. G randes per- construção (alicerce) ou a parte central de um arco
sonagens do A ntigo T estam ento são descritos como (M ar. 12:10). Pode fazer tropeçar (lP e. 2:8) ou cair
pastores: Abraão, M oisés, Davi. O pró p rio Davi, em sobre alguém (Mat. 21:44; Luc. 20:17 e 18).
um de seus salmos (23), expressou de form a m uito
Jesus faz referência à profecia da pedra rejeitada
apropriada as responsabilidades e as preocupações de
no discurso apresentado logo depois de proferir a
um bom pastor.
parábola dos trabalhadores maus. O incidente estava
A profissão de pastor continuava ativa e essencial relacionado com a edificação do Prim eiro Tem plo de
nos tempos de Cristo, pelo que ele referiu a si mesmo um a ocorrência verdadeira da história de Israel.
como “o bom pastor” e tirou lições disso (Jo. 10:2-4,11).
Ao ser erguido o T em plo de Salomão, as imensas
Curiosamente, Deus Pai tam bém é reconhecido como
pedras para as paredes e os fundam entos foram in-
um bom pastor em pelo m enos duas ocasiões no Antigo
teiram ente preparadas na pedreira; n en h u m instru-
Testam ento em Isaías 40:10 e 11 no Salmo 23:1-4.
m ento devia ser em pregado nelas depois de serem
Provavelm ente os pastores no Israel antigo cui- levadas para o local da construção; os trabalhadores
davam de vários tipos de ovelhas, entre elas, a cara- só tin h am que as colocar na posição correta. Pedras
cul, um a raça síria com cauda gorda e lã grossa. Os de dim ensões extraordinárias e de singular feitio fo-
m achos dessa raça têm chifres, m as as fêmeas, não. ram levadas para serem colocadas na fundação, mas
São anim ais dóceis, podem ser facilm ente conduzidos os construtores não conseguiam achar um lugar para
pelo pastor mas tam bém são m uito vulneráveis a pre- ela e não a queriam aceitar.
dadores e a outros perigos.
A pedra to rn o u -se um em pecilho, ficando sem
Os pastores cuidavam de cabras que podiam ser utilidade. Por m uito tem po, esta ficou com o pedra re-
pretas ou m arrons. E nquanto escalavam encostas ro- jeitada. M as, quando chegou o m om ento de colocar a
chosas e pastavam , m uitas vezes elas feriam suas ore- pedra angular, os construtores procuraram p o r m uito
lhas com pridas em arbustos e espinhos. tem po um a de tam anho e resistência suficientes e do
devido form ato, para ocupar aquele lugar e suportar
E nsinar as ovelhas e as cabras a obedecerem aos o grande peso que sobre ela ficaria.
pastores, era um dos constantes desafios. M as os bons
pastores eram pacientes e cuidavam com carinho dos Várias pedras devem ter sido escolhidas, várias ve-
anim ais de seu rebanho, até m esm o dando-lhes no- zes, mas, sob a pressão de imensos pesos, elas se des-
mes que os anim ais reconheciam (Jo. 10:14,16). pedaçavam. O utras provavelm ente não suportavam a
prova das m udanças atmosféricas. Com isso, a atenção
Havia duas épocas im portantes para o pastor: o dos construtores foi atraída para a pedra que fora re-
nascim ento dos cordeiros e a tosquia das ovelhas. O jeitada po r tanto tem po, então eles a analisaram. Esta
nascim ento se dava geralm ente em jan eiro /fev erei­ ficou exposta ao ar, ao sol e à tem pestade, sem apre­
sentar nenhum desgaste e mudança. Suportara todas cair ou quebrar um a perna.
as provas, m enos uma. Se pudesse resistir à prova de
N a Bíblia hebraica, o term o para ‫״‬pedra de tro -
vigorosa pressão, decidiriam que iriam aceitá-la para
peço” é mikshowl, citado na Septuaginta com o skan-
ser a pedra angular. A prova foi feita a pedra e aceita.
dalon. A palavra em português “escândalo” tem ori-
Foi levada para o lugar que lhe era designado, verifi-
gem no term o grego da Septuaginta skandalon, que
cando-se se poderia ajustar-se perfeitam ente.
p o r sua vez tem origem no term o hebraico mikshowl.
Além disso, foi m ostrado a Isaías, em profética vi- Skandalon tem um significado m uito diferente ao que
são, que essa pedra era um sím bolo de Cristo. Diz ele: n orm alm ente é atribuído nos dias de hoje para a pa-
“Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o lavra escândalo.
vosso tem or, e seja Ele o vosso assom bro. Então Ele
Ao substantivo grego skandalon tam bém é associa-
vos será santuário; m as servirá de pedra de tropeço, e
do um verbo, skandalizo (“escandalizar”), significando
de rocha de escândalo, às duas casas de Israel; de laço
literalm ente “fazer alguém tropeçar” ou, idiom atica-
e rede aos m oradores de Jerusalém . E m uitos den-
m ente, “conduzir alguém a pecar.”
tre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e
enlaçados e presos.” (Isa. 8:13-15). Levado em visão No N ovo T estam ento são usadas duas palavras
adiante, ao prim eiro advento, é m ostrado ao profe- que transm item o sentido de algo contra o que al-
ta que Cristo devia sofrer provas e experiências das guém tropeça. São os gregos proskomma, “pedra de
quais era um sím bolo o que se fizera à pedra de esqui- tropeço” e o já m encionado skandalon.
na do T em plo de Salomão. “P ortanto assim diz o Se-
n h o r Jeová: Eis que ponho em Sião um a pedra, um a Am bos aparecem em diferentes contextos. Em
pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está R om anos 14:13 e 1 C oríntios 8:9, a expressão “pedra
bem firm e e fundada; aquele que crê não se apresse.” de tropeço” é aplicada aos cristãos que, p o r algum
(Isa. 28:16). m otivo, podem to rn ar-se um obstáculo ou um a cau-
sa de tropeço para os irm ãos m ais fracos. O u seja, ao
Jesus Cristo é o fundam ento que Deus, com tan- exercerem toda sua liberdade pela com preensão do
to am or e bondade, nos concedeu. Esta é a obra do ensinam ento de Cristo, alguns cristãos poderiam m a-
Senhor. Ele é colocado em Sião, na igreja, no M onte goar e ofender outros que ainda não tin h am com pre-
Santo. Ele é um a pedra provada, rejeitada, mas úni- endido tal liberdade.
ca capaz de sustentar o edifício. U m a pedra de toque
(conform e alguns entendem ), que fará distinção en- Além de skandalon a expressão idiom ática “pedra
tre o verdadeiro e o falso. Ele é um a pedra preciosa, de tropeço” tem um segundo significado na palavra
representada pelos fundam entos da N ova Jerusalém grega proskomma (,“tropeçando”). Am bas palavras são
(Apoc. 21:19), um a pedra de esquina, sobre a qual os usadas juntas em 1 Pedro 2:8; isto é a “pedra de tro p e-
lados do edifício estão unidos. ço” (lithos proskommatos) e a “rocha que faz cair” (petra
skandalou).

PEDRA DE TROPEÇO O m odo com que as expressões “pedra de tropeço”


e “rocha de escândalo” aparecem em algumas passa-
Pedra de tropeço é um a expressão idiom áti- gens bíblicas nos adverte para a realidade de que em
ca da Bíblia Sagrada e do N ovo T estam ento e de- algumas ocasiões pode acontecer de um cristão ten ta r
nom ina a atitude ou o com portam ento de alguém alguém a pecar, e tal com portam ento deve ser evi-
que conduz outro a pecar. Essa expressão pode estar tado a todo custo ou corrigido rapidam ente. É nesse
relacionada com a condição das estradas nos luga- sentido que em Apocalipse 2:14 lem os sobre alguns
res p o r onde passou Jesus. Além de ser um a região cristãos professos da igreja em Pérgam o que estavam
m ontanhosa nem todos os lugares tinham estradas apegados aos ensinos de Balaão e se entregando aos
pavim entadas feitas pelos rom anos. Assim, algumas prazeres do paganism o, fazendo concessões ao m un-
viagens ou cam inhadas p o r determ inados tipos de do e servindo de escândalo. Esse texto está se referin-
terren o podiam ser perigosas, principalm ente à noite, do ao episódio registrado no livro de N úm eros, onde
pois não era difícil tropeçar num a pedra desregular e Balaão deu conselhos a Balaque que fizeram com que
Israel tropeçasse (Num. 22:5; 25:1-4; 31:15,16).Vale de Jesus, esteve com o M estre nas bodas de Caná (Jo.
destacar tam bém o episódio registrado em M ateus 2:1 a 11), e é possível que o acom panhasse na Su í
16:23, onde Pedro ten to u insistir para que Jesus desis- viagem pela Judeia (Jo. 2:12; 4.4), voltando depo:>
tisse do sofrim ento na cruz. Na ocasião o Senhor lhe ao seu ofício de pescador (Jo. 4:43). D epois disto re-
cham ou de “pedra de tropeço”, pois estava expressan- cebeu o cham ado definitivo para o m inistério (Mat.
do o p o n to de vista insensato e m eram ente hum ano. 4:18 a 22; M ar. 1:16 a 20; Luc. 5:1 a 11), quando
Pedro foi incluído aos 12 apóstolos (M at. 10:2 a 4;
U m a passagem que confunde m uitos leitores é o
M ar. 3:13 a 19; Luc. 6:12 a 16).
texto de I Pedro 2:8, que com para Jesus a um a pedra
de tropeço. Porém , se o m esm o for lido à luz de Lucas Daqui em diante Pedro é o mais notável dos 12 dis-
2:34 e R om anos 9:33 (cf. Isa. 28:16), esse problem a cípulos nas narrativas do evangelho. Foi testem unha
se desfaz. O que a Bíblia quer dizer é que C risto é, em da ressurreição da filha de Jairo (Mar. 5:37; Luc. 8:51) -
últim a instância, o elem ento com um tanto nos que se andou sobre a água para ir ao encontro de Jeaus (Mat.
salvam com o nos que se perdem . Afinal, é sua acei- 14:28 a 31) - confessou que Jesus era “o Cristo, o Filho
tação ou sua rejeição que definem o destino de cada do Deus vivo”, e foi abençoado por Ele (Mat. 16:13 a
ser hum ano, tan to judeus quanto não judeus. Por isso 20; M ar. 8:27 a 30; Luc. 9:18 a 21) - m esm o assim, foi
Ele é, paradoxalm ente, o elem ento que salva, mas ao censurado pelo Senhor, pelo m otivo das suas petições
m esm o tem po que leva à perdição. para que os sofrim entos preditos po r Cristo fossem
Jesus é pedra de tropeço som ente para os que não dele afastados (M at.l6:22,23) - esteve com Jesus no
obedecem ou vão contra a Palavra de Deus. Q uem M onte, e foi testem unha da transfiguração (Mat. 17:1
não crê, tropeça e cai, e se escandaliza nEle, pois não a 4; M ar. 9:2 a 6; Luc. 9:28 a 32; 2 Pe 1:17,18).
com preende ou confia em Seu agir. M as Ele é a pedra
Ele foi buscar a m oeda do tributo, encontrando-a
angular daqueles que O servem e creem nEle acima de
na boca do peixe (M at. 17:24 a 27) - p rocurou saber
todas as circunstâncias.
de Jesus a respeito da prática do perdão (Mat. 18:21
- recebeu a prom essa a respeito da futura glória da-
PEDRO (SIMÃO) queles que tinham deixado tudo para seguir a Cristo
(M at. 19:27 a 30) - juntam ente com outros in terro -
Pedro (Simão), o apóstolo filho de Jonas (Mat. gou o D ivino M estre sobre as desgraças anunciadas
16:17), era um pescador de Betsaida, na Galileia (Mat. para a cidade de Jerusalém (M ar. 13:1 a 4) - e foi
4:18 e ref.). Os galileus atribuem um tem peram ento
m andado com João preparar a Páscoa (Luc. 22:8). Na
que se revela através da energia, independência, e na
últim a Ceia não queria que Jesus lavasse seus pés (Jo.
demasiada franqueza de Pedro. A sua fala tam bém era
13:6 a 9) - sugeriu a João que perguntasse o nom e do
característica da Galileia (Mar. 14:70; A t 2:7). Pro-
traid o r (Jo. 13:24) - declarou a sua firm e fidelidade
vavelm ente antes de ser cham ado para seguir Jesus,
a Jesus, m as foi avisado da sua próxim a queda (Mat.
ele já era casado, visto com o a cura da sua sogra está
26:33 a 35; M ar. 14:29,31; Luc. 22:31 a 34; Jo. 13:36 a
descrita em M ateus 8:14 e seguintes - e m ais tarde
38). Pedro acom panhou Jesus ao jardim do G etsêm a-
teria sido acom panhado pela esposa em suas viagens
ni (M at. 26:36 a 48; M ar. 14:33 a 42; Luc. 22:40 a 46).
m issionárias (1 Co. 9:5).
Q uando chegou àquele lugar, onde povo queria
Sem dúvida, aquele “m eu filho M arcos”, que é ci-
p ren d e r o Salvador, Simão Pedro resistiu e chegou
tado na I a epístola de Pedro (5:13), era João M arcos,
a c o rta r um a orelha de M alco (Jo. 18:10,26), depois
e não um filho natural de Pedro, pois o título de filho
foi seguindo de longe o seu M estre até o palácio do
era m uitas vezes aplicado a discípulos.
sum o sacerdote, onde e n tro u p o r in term éd io de
Q uando Jesus esteve em B etânia, no o u tro lado João (Jo. 18:16) - e foi d u ran te o julgam ento que ele
do Jo rd ão (Jo. 1:28), A ndré, irm ão de Simão, levou- p o r três vezes negou conhecer o seu M estre, cho-
-o a je s u s (Jo. 1:40,41). Foi então que C risto lhe deu rando depois am argam ente p o r sua falta (M at. 26:69
o nom e de Cefas (Jo. 1:42). Pedro, já sendo discípulo a 75; M ar. 14:66 a 72; Luc. 22:55 a 62; Jo 18:17,18,25
a 27). D epois da crucifixão, Pedro visito u o sepul- de Zebedeu, já tin h a sido executado (At. 12:2). Seis
cro, acom panhado de João (Luc. 24:12; Jo 20:2 a anos depois ele foi encontrado em Jerusalém discu-
6), e recebeu do S enhor um a m ensagem , que suge- tindo com os outros apóstolos o assunto da circun-
ria um a renovação de confiança (M ar. 16:7). C ris- cisão. M as ele não foi o presidente daquele concilio,
to, ressuscitado, apareceu-lhe quando ele estava só nem apresentou as suas deliberações (At. 15). Foi em
(Luc. 24:34; 1 Co 15:5) - e tam bém Jesus se m ani- A ntioquia, não m uito depois do concilio, ou, segun-
festou estando Pedro com o u tro s discípulos “no m ar do alguns, antes dessa grande reunião, que houve o
de T iberíades”, sendo ali in terro g ad o pelo m esm o, m em orável conflito entre Pedro e Paulo (Gl. 2:11 a
e nov am en te encarregado de an u n ciar o E vangelho 14). Pedro parecia estar indeciso sobre a questão da
(Jo. 21:1 a 23 - 2 Pe. 1:14). Esteve p resen te nas reu - igualdade dos gentios. Paulo denunciou a conduta de
niões que os apóstolos tiveram depois da ascensão Pedro, e então o mais velho subm eteu-se ao apósto-
(At. 1:13) - foi ele quem sugeriu a nom eação de um lo mais novo, ficando para sem pre seu amigo (2 Pd.
apóstolo para o lugar de Judas (At. 1:15 a 25) - e foi 3:15). N ada se sabe a respeito dos últim os anos da vida
quem explicou as m anifestações do E spírito Santo de Pedro, a não ser as tradições que se contam , que ele
no dia de Pentecoste (At. 2:14 a 40). O acontecim en- foi para Rom a, onde sofreu o m artírio. Porém , essa
to de c u rar o coxo, que ju n to da P o rta F orm osa do história não é contada pela Bíblia. M as há alusões à
T em plo pedia esm ola, resu lto u no seu discurso ao crucificação de Pedro, na profecia de Jesus sobre esse
povo, bem com o a sua prisão (At. 3,4.1 a 26). Ele apóstolo, em João 21:18, 19.
censurou A nanias e Safira (At. 5:1 a 11) - e em v ir-
tude de certos m ilagres, foram os apóstolos presos, C lem ente foi o prim eiro a testem unhar a presen-
açoitados e depois soltos (At. 5:12 a 42), ça de Pedro a R om a que, escrevendo aos gregos de
C orinto, diz que “Pedro, que p o r iníqua inveja, teve
Pouco tem po depois, Pedro e João, representa- que suportar inúm eras penas, deu testem unho e as-
ram os apóstolos e foram m andados para confirm ar sim alcançou o lugar reservado a ele 11a glória”4. Pro -
os convertidos em Sam aria (At. 8:14) - e achando ali vavelm ente C lem ente fala do período da perseguição
cristãos batizados, que não tinham recebido o Espíri- de N ero contra os cristãos, p o r volta do ano 64 de-
to Santo, im puseram sobre eles as suas m ãos. Então pois de Cristo. Clem ente, porém , não diz com o Pe-
Simão M ago patenteou os seus sentim entos anticris- dro m orreu. O utros indícios da presença de Pedro em
tãos, propondo a Pedro que lhe fosse vendido o po- Rom a podem ser encontrados num a carta de Inácio
der de dar o Espírito Santo p o r m eio da imposição de A ntioquia aos rom anos. Há ainda um a referência
das m ãos (At. 8:18-24). T rês anos depois aconteceu o
no livro Ascensão de Isaías, que foi escrito p o r volta
prim eiro encontro m encionado de Pedro e Paulo (At.
do ano 100 depois de Cristo. Os textos que falam de
9:26; Gl. 1:17,18). Foram realizados dois m ilagres de
Pedro (e Paulo) nos anos sucessivos se m ultiplicam .
cura (Eneias, Dorcas), enquanto Pedro andava visi-
tando as igrejas ao sul da Palestina. A um a visão que Sobre o m odo com o Pedro foi m artirizado, tem os
ele teve, seguiu-se a conversão de C ornélio, sendo re- um texto do historiador Eusébio, que cita Orígenes,
m ovidas da alm a de Pedro as suas dúvidas quanto à segundo o qual Pedro foi crucificado com a cabeça
possibilidade de os pagãos se to rn arem cristãos sem para baixo. O texto de Eusébio diz: “Em Rom a, Pe-
ser necessário que fossem prim eiram ente circuncida- dro foi crucificado com a cabeça para baixo, form a
dos (At. 10). A fam ília de C ornélio recebeu o E spírito de m artírio que ele m esm o tin h a considerado justa”.
Santo, sendo os seus m em bros batizados p o r Pedro, Eusébio fala tam bém das sepulturas de Pedro e Paulo:
que p o r esse fato ofendeu os seus conterrâneos (At. “Eu poderia m ostrar-vos os túm ulos dos apóstolos; se
11:2). D efendeu-se, contudo, convencendo-os de que vêm ao V aticano ou à Via Óstia, encontrarão os se-
“tam bém aos gentios foi p o r Deus concedido o arre- pulcros daqueles que ergueram a nossa igreja.”5
pendim ento para a vida” (At. 11:18).
O utra tradição diz que no período em que devia
Seguiu-se a prisão de Pedro p o r ordem de Herodes ser crucificado, encontrou, às portas de Rom a, Jesus
A gripa I e o seu m iraculoso livram ento. Tiago, o filho que lhe perguntou: quo vadis? (aonde vai?). Isso acon­
teceu enquanto Pedro estava fugindo de R om a para sim, Deus enviaria anjos para salvar Cristo e o evento
evitar a m orte; o encontro teria m udado a sua decisão seria testem unhado po r milhares que transitavam pelo
e ele teria voltado para Roma. local do edifício. Mas Jesus não aceitou a sugestão do
inim igo e o repulsou (Mat. 4:5-7 e Luc. 4:9-12).
PILATOS (PÔ NCIO ) E m bora não se ten h a um a certeza sobre qual par-
te seria o “pináculo do T em plo1’ que Jesus conheceu,
Procurador ou governador da Judeia, quando go- dois setores do antigo edifício são considerados pelos
vernava o im perador Tibério, de 26 a 36 d.C., M ostra- historiadores com base nos levantam entos arqueo-
va-se cruel nos negócios públicos e particulares (veja lógicos e nas descrições de Flávio Josefo, que viu o
Luc. 13:1), e durante os dez anos do seu governo foi T em plo pessoalm ente antes de ser destruído. U m se-
ele a principal causa de constantes perturbações e re-
ria um elevado parapeito de onde o trom beteiro to-
voltas. Pilatos fez algumas tentativas para livrar Jesus,
cava seu instru m en to convidando o povo às orações
porque ele sabia a causa da hostilidade para com o Rabi
e anunciando a hora do sacrifício. O o u tro seria o te-
da Galileia (Mat. 27:18), e tam bém porque a sua m ulher
lhado do Sinédrio, onde alguns fariseus, sacerdotes e
tinha ficado perturbada com um sonho. Naquela oca-
anciãos do povo se reuniam .
sião ele estava ansioso por conservar a paz pública e por
isso procurou apaziguar os judeus, m andando açoitar A contece que a esplanada do T em plo era literal-
Jesus (Mat. 27:26; Jo 19.1), mas ao m esm o tem po de- m ente um caixote de arrim o com pesadas pedras fei-
sejou libertá-lo no dia da Páscoa. Por fim, para se livrar to p o r H erodes, o grande. O lado sul desse “caixote"
de dificuldades, enviou Jesus a Herodes, esperando que era m ais elevado que os demais p o r causa do desnível
este o julgasse (Luc. 23:7,8). Todos essas tentativas não do pró p rio m onte onde o T em plo estava edificado.
deram resultado - e então, com receio de ofender os Ali, p o rtan to , era o lado mais elevado e, consequen-
judeus e o im perador (Jo. 19:12 a 15), entregou Jesus tem ente, m ais provável para a localização do pináculo
aos inimigos para ser crucificado, lavando em público do Tem plo. T an to o telhado do Sinédrio quanto o pa-
as suas mãos para fazer crer que estava inocente naque- rapeito do trom beteiro ficavam neste lado.
le crime (Mat. 27:23,24). A inscrição que foi colocada
Este lado tin h a cerca de 50 m etros acim a da rocha
sobre a crucificada vítima revela que ele se arrependeu
original, po r isso havia um a ram pa no lado ocidental
da ação que julgou necessário tom ar (Jo. 19:19). O úl-
da extrem idade sul (hoje cham ada arco de R obinson)
tim o ato de Pilatos, descrito no Novo Testam ento, foi
que conduzia os oficiais até o nível do átrio superior.
ter m andado um a guarda para junto do túm ulo, onde
De fato, considerando a historicidade do confronto
estava o corpo de Jesus (Mat. 27:64). Depois de dez anos
entre Cristo e Satanás, a sugestão do inim igo para que
a Judeia foi perturbada po r Pilatos, sendo por fim, no
ele pulasse to rn a um a situação m uito m ais tensa do
ano de 36 d.C. deposto por Vitélio, o proconsul da Síria,
conflito entre ambos.
e m andado para Roma, a fim de dar conta dos seus atos
perante o im perador. Quando estava em viagem para
Roma, m orreu Tibério - mas Caligula, o seu sucessor, POMBA
desterrou Pilatos para Vienne da Gália, onde caiu em tal
extremidade que atentou contra a sua existência. A prim eira referência que se faz da pom ba na Bí-
blia é em Gênesis 8:8,10,12. N oé usou esta ave com o
objetivo de saber o quanto às águas do dilúvio tinham
PINÁCULO baixado. Nas terras bíblicas, as pom bas são abundan-
tes, tan to soltas com o dom esticadas. São classificadas
A palavra pináculo significa literalm ente a ponta de
p o r M oisés en tre os anim ais lim pos e sem pre foram
um telhado em form a triangular ou o ponto mais alto
aves da mais alta estim a nas nações orientais.
de um edifício. A expressão “pináculo do Tem plo” tor-
nou-se conhecida com o episódio da tentação de Cristo, A m aioria das referências bíblicas à pom ba está as-
onde é dito que o diabo o levou até o pináculo do Tem - sociada às experiências positivas e pacíficas. Citamos
pio e sugeriu que ele se atirasse dali à vista de todos. As­ com o exemplo Gênesis 8:8-12; Salmos 55:6; Salmos
68:13. O Salmo 68:13 refere-se ao brilho de suas asas, 27:3,5,6,9, um a provável referência aos trin ta siclos
quando começam a voar. Lê-se em Isaías 60:8: “Quem que se pagavam p o r um escravo (Zc. 11:12,13). Em
são estes que vêm voando como nuvens, e como pom - Lucas 15:8,9 a m oeda perdida cham a-se “dracm a”,
bas ao seu pombal?” A pele brilhantem ente averm elha- peça grega equivalente ao denário rom ano de prata.
da, em volta dos olhos pretos da rola, explica as palavras
de Cantares. 5:12. Além disso, o esterco dos pom bos é PRÓDIGO
m uito utilizado para adubar as terras no O riente.
Do latin, pródigu. É o nom e que dá título a um a das
A pom ba é m encionada com o sím bolo de sim pli-
m ais conhecidas parábolas de C risto acerca de um pai
cidade, de inocência, gentileza, afeição e fidelidade
am oroso e seus dois filhos. O mais m oço que junta sua
(Os. 7:11; M at. 10:16) e podia ser oferecida em sacri-
herança e sai pelo m undo, vivendo desregradam ente
fício p o r gente pobre, quando não podia ofertar algo
e o m ais velho que perm anece em casa, mas sem m ui-
mais custoso. Foi nessas condições que M aria ofere-
ta afetividade para com o seu pai. O destaque m aior
ceu “um p ar de rolas ou dois pom binhos”, depois do
cai sobre o que saiu do lar. Por isso, os teólogos, desde
nascim ento de Cristo (Lv. 12:8; Luc. 2:22 a 24).
longa época, cham am esse conto de “A parábola do
No N ovo T estam ento a pom ba está relacionada filho pródigo”. Pródigo, neste caso, representa aquele
ao batism o do Senhor Jesus (M at. 3:16; M arcos 1:10; que gasta excessivam ente; que dá espontaneam ente;
Lucas 3:22 e João 1:32). Após Seu batism o, o Espírito gastador; dissipador; esbanjador; perdulário.
de Deus, na form a corpórea de um a pom ba, desceu
sobre Ele. PROSTITUIÇÃO
C risto necessitava de um a capacitação m aior para
A prostituição era dissem inada no im pério rom a-
a obra que deveria realizar, com o qualquer ser hu-
no. Chegava a ser realizada em cabines portáteis ins-
m ano, lim itado pela n atu reza hum ana. P o r Si m es-
taladas nas ruas. C om as diversas m enções a m eretri-
m o, Ele não poderia fazer nada. C risto necessitava
zes no N ovo T estam ento, indica-se que Jesus estava
de um p o d er adicional para cu m p rir tudo quanto
fam iliarizado sobre isso. Não havia preocupação com
precisava fazer.
doenças sexualm ente transm issíveis: sífilis e gonor-
O apóstolo Pedro revela o seguinte: “C oncernente reia não eram conhecidas.
a Jesus de Nazaré, com o Deus O ungiu com o Espírito
Santo e com poder; o qual andou p o r toda parte, fa- PUBLfCANO
zendo o bem e curando a todos os oprim idos do dia-
bo, porque Deus era com Ele.” (Atos 10:38). Ocupação que aparece várias vezes nos evangelhos
de M ateus, M arcos e Lucas. Além disso, era a profis-
Depois de ser tentado p o r Satanás, no deserto, Jesus são de M ateus, um dos apóstolos de C risto. Os publi-
foi a Nazaré, entrou na sinagoga no dia de sábado e, canos norm alm ente eram tratados com m uita resis-
segundo o Seu costume, leu um a passagem do profeta tência pelo povo com um .
Isaías que falava a Seu respeito: “O Espírito do Senhor
está sobre M im , porquanto M e ungiu para anunciar O publicano era um cobrador de im postos que
boas-novas aos pobres; enviou-M e para proclam ar li- o im pério rom ano escolhia entre o próprio povo judeu
bertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para cobrar seu próprio povo em nom e do império.
para po r em liberdade os oprim idos, e para proclam ar Em vários textos da Bíblia essas pessoas eram compa-
o ano aceitável do Senhor.” (Luc. 4:18-19). radas aos piores tipos de gente: “Por que, se amardes os
que vos amam, que recom pensa tendes? Não fazem os
publicanos tam bém o mesmo?” (Mat. 5:46).
PRATA, MOEDAS DE
Os m otivos para sua im popularidade generalizada
N o A ntigo T estam ento, essa expressão refere-se, podem ser com preendidos pela análise da sua função
provavelm ente, ao siclo, sendo, em M ateus 26:15 e social e do contexto da época.
Em prim eiro lugar, p o r trabalharem para o im pé- QUERUBIM
rio rom ano, que dom inava com violência. As pessoas
os viam com o um a espécie de traidores. Em segundo M esm o sendo m uito com um na iconografia cris-
lugar, havia m uitos im postos abusivos cobrados pelo tã, os querubins não são m encionados nom inalm ente
im pério, que, ao invés de trazer benefício ao povo, no N ovo T estam ento, exceto em H ebreus 9:5. Q uan-
trazia m uita dificuldade e consequentem ente enri- do se fala desses m isteriosos seres, pensa-se imedia-
quecia cada vez mais o im pério e seus governantes, tam ente nas im agens de crianças gordinhas e fofas,
trazendo revolta ao povo trabalhador. Além disso, a com asas que estam pam cartões de Natal ou imagens
m aioria dos publicanos eram m uito corruptos, co- católicas relacionadas à M aria, m ãe de Jesus. Não se
brando além do que era taxado pelo im pério. Com sabe exatam ente com o essa im agem foi criada, pois
isso, m uitos deles enriqueciam pela corrupção e ex- esses seres na Bíblia que, ao que tudo indica, seriam
ploração de seu próprio povo, atraindo o ódio deles um a espécie de anjos, aparecem com algumas descri-
ções diferentes, porém nunca com o crianças. Em al-
contra os que trabalhavam com o publicanos.
guns trechos eles são descritos com o seres parecidos
Na Bíblia, tem os dois exem plos bastante famosos com os hom ens, mas com asas. Em outros, aparecem
de publicanos, que são os do apóstolo que é cham ado com o form as de anim ais ou ainda com um a aparência
de Levi ou tam bém de M ateus e Zaqueu. São exem- mais estranha, com quatro rostos.
pios de publicanos que se converteram através da
N o A ntigo T estam en to os querubins aparecem
m ensagem de Jesus C risto. Zaqueu, p o r exemplo, ar-
com o seres celestiais, m in istro s da v o n tad e divina.
rependido, p rom eteu devolver quadruplicadam ente
M as as referências nos deixam em dúvida quanto
tudo aquilo que tin h a roubado: “Entrementes, Zaqueu
ao seu aspecto e quanto às suas funções. Em G êne-
se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos po-
sis 3:24 eles são colocados ao o rien te do Jardim, do
bres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho Éden, “para g uardar o cam inho da árv o re da vida”.
defraudado algue'm, restituo quatro vezes mais. ” (Luc. Em cada um a das extrem idades da c o b ertu ra da arca,
19:8). M ateus largou o trabalho de cobrador de im pos- ou pro p iciató rio , estava um querubim de ouro, de
tos e seguiu Jesus. asas abertas (Êx. 25:18 a 22; Hb. 9:5). T am bém se
achavam tecidas figuras de querubins nas cortinas
Jesus foi acusado algumas vezes pelos religiosos -
e no véu do tabernáculo (Êx. 26). Estas form as an-
encium ados - p o r estar na presença de publicanos: “E
gélicas achavam -se representadas, com grande m ag-
sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publica-
nificência, no T em plo de Salomão (1 Rs. 6 - veja
nos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus
tam bém 2 Rs. 19:15; Sl. 80:1 e Is. 37:16), e aparecem
discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos
n a visão de Ezequiel a respeito da Jerusalém restau-
discípulos: Por que come 0 vosso Mestre com os publicanos rada (Ez. 41:18, 20, 25). C ontudo, a m ais com pleta
e pecadores?”(Mat. 9:10-11) descrição está em Ezequias 10. No h ebreu, ckerub é
singular, e cherubim é plural.

Q R
QUADRANTE
RAABE
M enor m oeda rom ana em circulação nos dias de
Cristo. As duas pequenas m oedas da viúva, ofertadas Raabe significa, altivez insolência, orgulho. É um
no T em plo, tam bém cham ada de Lepton. nom e poético do Egito (SL 87:4; 89:10; Is. 51:9), pelo
que parece, baseado num antigo conto m itológico, nha p o r com paração os líderes judeus que, ao m enti-
em que Raabe aparece com o m onstro m arinho. rem e se oporem ao verdadeiro M essias, conduziam o
povo à perdição e, com o víboras, contribuíam para a
Esta, m encionada na Bíblia Sagrada, foi um a pros-
destruição de sua p ró p ria espécie.
titu ta de Jericó, que ocultou os espias que tin h am sido
m andados por Josué. Com o recom pensa do seu ato,
sua vida foi poupada, quando a cidade foi conquista-
RENOVO
da (Js 2,e 6.25). Casou com Salmom, um príncipe de
A palavra “renovo” foi usada figurativam ente em
Judá, e dela descendeu Davi e Jesus (M at. 1.5). O au-
Isaías (11:1) significando M essias. “D o tronco d e je s -
to r da carta aos H ebreus engrandece a sua fé (11:31)
sé sairá um rebento, e das suas raízes um reno vo”.
- e Tiago a m encionou com o exem plo daquela fé, que
Q uando se representa Cristo com o um delgado re-
produz boas obras (2:25).
bento, saindo do tronco de um a velha árvore, des-
bastada até à p ró p ria raiz e enfraquecida, e to m a n d o -
R A B I, RABONI -se depois um a árvore poderosa, faz-se referência à
dignidade real de Cristo, provindo da decaída casa de
Em pregado pelos judeus, Rabi, R aboni é um títu -
Davi, e tam bém à posição altíssim a que havia de ter
lo hebraico de honra, que significa “M estre” (Raboni
o M essias, após a Sua condição hum ilde sobre a terra
seria “M eu M estre”), sendo m uitas vezes esse o trata-
(Jr. 23:5; 33:15; Zc. 3:8; 6:12).
m ento dado a Jesus (M at. 23:7,8; 26:25,49; M ar. 9:5;
11:21; 14:45; Jo. 1:38,49; 3:2,26; 4:31; 6:25; 9:2; 11:8).
“Rab”, na sua significação de grande, entra na com po- RESGATE
sição de m uitos nom es de altos cargos.
Resgate é o preço que se paga para obter um a
pessoa ou coisa, que alguém m antém em seu poder.
RACA
T udo o que se dá em com pensação de um a pessoa é
o seu resgate, e assim se diz que um hom em resgata a
Raca significa “vil”, “desprezível” (M at. 5:22), sen-
sua vida (Êx. 21:30), dá pela sua vida um a certa quan-
do um term o popular de insulto. Está m uito próxi-
tidade de dinheiro (Êx. 30:12; Jó 36:18; Sl. 49:7) - e
m o em conexão com a palavra “rekim ”, que em Juí-
algumas espécies de sacrifícios podiam ser considera-
zes (11:3) se acha traduzida por “hom ens levianos”.
dos com o resgates, isto é, eram feitos em substituição
Os rabinos ensinavam que o uso dessa expressão era
da pessoa que fazia a oferta.
quase com o com eter um crim e com o o assassinato.
D esta m aneira se diz a respeito de Jesus C risto,
RAÇA DE VÍBORAS quando Ele deu a Sua vida “em resgate p o r m uitos”
(M at. 20:28; M ar. 10:45; 1 Tm . 2:6), substituindo-os,
Raça de víboras foi uma expressão de advertência e carregando com as suas dores, suportando a pena
sentença pronunciada tanto por Cristo quanto por João de que eles teriam de sofrer (veja tam bém Rm. 3:24;
Batista, para se referir aos fariseus e aos que se opunham ICo. 1:30; Ef. 1:7; 4:30; Hb. 9:15; 1 Pe. 1:18).
à mensagem do reino (Mat. 3:7; 12:32; 23:33; Luc. 3:7).

V íboras é um a expressão que faz alusão a cobras


RESSURREIÇÃO
venenosas de tam anho pequeno, do m esm o tipo que
A ressurreição dos m ortos, com o é com preen-
norm alm ente subia na vegetação à beira do rio Jo r-
dida nas Sagradas Escrituras, deve-se distinguir da
dão para fugirem das enchentes e, p o r isso, acabava
ressuscitação, ou restabelecim ento da ordinária vida
sendo m uito perigosa ao indivíduo desavisado.
hum ana. A ressuscitação é a restauração da vida que
C onsiderando que m uitas víboras com em os p ró - se deixou; é a entrada num novo estado de existência.
prios filhotes e outras serpentes da m esm a espécie, Há três narrativas de ressuscitação no A ntigo T esta-
talvez o sentido em pregado no N ovo T estam ento te ­ m ento, e cinco no N ovo T estam ento a restauração do
filho da viúva de Sarepta p o r m eio de Elias (1 Rs. Com respeito à ressurreição do corpo, o argum en-
17:17 a 23) - a restauração do filho da Sunam ita pela to de Paulo em 1 C oríntios 15:35 a 53 m ostra:
obra de Eliseu (2 Rs. 4:18 a 36) - o recobram ento da
(a) que é real;
vida, que teve o hom em lançado no sepuLuc.ro de
Eliseu (2 Rs. 13:20,21) - Jesus ressuscitou a filha de (b) que esse corpo é, em qualidade e poder, m uito
Jairo (M ar. 5:35 a 42; Luc. 8:49 a 56) - e o filho da mais sublim e do que o terrestre;
viúva de N aim (Luc. 7 : l l a l 5 ) - e a Lázaro (Jo. 11:1
(c) que, de algum m odo, é o resultado deste, (veja
a 44) - e foi n arrado dois casos nos A tos - o de T abita
Ressurreição de Jesus Cristo)
(9:36,42) - e o de Êutico (20:9 a 12).

No A ntigo T estam ento, são poucos os indícios de RESSURREIÇÃO DE JESUS


um a crença na ressurreição (Jó 14:13 a 15; Sl. 49:15;
CRISTO
73:24; Is. 26:14,19; D n. 12:2) - diz-se que não era
para os inim igos de Deus (Sl 49:14 - cp. com Is 26:14)
N a história da vida terrestre de Jesus, n e n h u m fato
- m as, sim bolicam ente, essa esperança era aplicada à
é tratado com mais particularidade, quer pelos evan-
nação (Ez 37:1 a 14 - Os 6:2). A crença foi aum entan-
gelistas, quer pelos autores dos Atos e das Epístolas,
do na igreja judaica, e cada vez se to rn a m ais distinta
do que a Sua ressurreição. Este interesse corresponde
à m edida que nos aproxim am os do tem po de Jesus
à im portância que Paulo lhe dá nos seus argum entos
Cristo. No tem po do nosso Salvador a ressurreição
(1 Co. 15:14) e justifica a conclusão do bispo W est-
geral era um a do u trin a consideravelm ente adm iti-
cott: ‫״‬C onsiderando todos os elem entos de p r o v a ,...
da, em bora os saduceus, aceitando o p o n to de vis-
não há um incidente histórico m elhor ou mais diver-
ta do Eclesiástico, a negassem . D este m odo M arta,
sam ente sustentado do que a ressurreição de Cristo.”
quando Jesus lhe afirm ou que seu irm ão havia de
Presságios da ressurreição podem ver-se no Salmo.
ressurgir, respondeu: “Eu sei que ele há de ressur-
16:9,10 (At. 2:31) e em Isaías. 26:19. O pró p rio Se-
gir na ressurreição, no últim o dia” (Jo. 11:23,24 - cp.
n h o r predisse a Sua ressurreição não m enos aberta-
com At. 24:15). Q uando Jesus tra to u da ressurreição m ente do que a Sua m o rte (M at. 12:40; 16:21; 17:23;
dos m ortos, Ele, na verdade, não declarou que essa 20:19; 26:32; 27:63; M ar. 9:9; 14:28; Luc. 24:7; Jo.
d o u trin a estava reconhecida pela Lei, ou pelos profe- 2:19, 21). A ação de Pedro (Mat. 16:22) m ostra o es-
tas, m as fez ver que se subentendia nas palavras que p írito com que esses avisos eram recebidos. Os fatos
D eus dirigiu a M oisés na sarça ardente, acrescentan- sobre a ressurreição acham -se descritos pelos evan-
do: “O ra, ele não é D eus de m ortos, e, sim, de vivos” gelistas, em M ateus 28; M arcos 16; Lucas 24; e João
(M ar. 12:27). Em verdade, jesu s claram ente ensinou 20 e 21. Essas narrativas registram aparecim entos de
um a ressurreição geral dos justos e dos injustos (Mat. Jesus a M aria M adalena, no jardim (M ar. 16:9,10; Jo.
22:23 a 33; M ar. 12:18 a 27; Luc. 20:27 a 38; Jo. 5:28). 20:14,17) - às m ulheres, que voltavam do sepulcro
Jesus C risto associou de um m odo definitivo a volta (M at. 28:9) - aos discípulos, no cam inho de Emaús
à vida com a Sua p ró p ria obra de expiação pelo Seu (M ar. 16:12,13; Luc. 24:13 a 35) - a Pedro, em Je-
povo (Jo. 6:39, 44, 54; 11:25, 26 - 14:19). A dou tri- rusalém (Luc. 24:34; 1 Co. 15:5) - aos dez apóstolos,
n a apostólica era esta tam bém (At. 4:2; Rm . 6:5,8; 1 num a sala superior (Luc. 24:36; Jo 20:19) - aos onze
Co. 15:20 a 22; 1 Pe 1:3,4). M as em R om anos 8:11 apóstolos, quando estavam à m esa (M ar. 16:14; Jo.
descreve que: “[D eus]... vivificará os vossos corpos 20:26) - aos discípulos no m ar de Tiberíades (Jo. 21:1
m ortais, p o r m eio do seu Espírito que em vós ha- a 24) - aos onze apóstolos, n u m m onte da Galileia
bita,” A ressurreição é, de um m odo geral, no N ovo (Mat. 28:16) - aos apóstolos, na Sua ascensão (Mar.
T estam en to atribuída a Deus, ao Pai, ou ao Filho (Jo. 16:19; Luc. 24:50, 51; At. 1:4 a 10). Além desses fatos,
5:21; 6:39; 11:25; 2 Co. 4:14), m as não som ente ao 0 apóstolo Paulo refere a um a aparição a 500 irm ãos
E spírito Santo. (Em 1 Pe. 3:18 deve entender-se que de um a vez - a Tiago - e a ele próprio (1 Co. 15:6 a
C risto m o rre u no corpo, m as foi trazido a um a nova 8). A linguagem de Atos 1:3 sugere que essas m enções
vida pelo Seu espírito.) estão incom pletas. As m anifestações apontadas são
claram ente distintas de qualquer coisa que se possa ROLO
classificar de visão ou alucinação. Jesus ressuscitado
falou com os Seus discípulos, com eu com eles e foi Rolo era um a referência aos livros no tem po de Je-
p o r eles tocado. As circunstâncias foram várias - e os sus, especialmente as Escrituras Sagradas dos judeus,
aparecim entos se realizaram , entre discípulos já pre- tam bém chamado de pergam inho. U m livro nos tem -
parados para isso, ou entre pessoas não preparadas. A pos antigos continha um a simples tira de papiro ou de
ressurreição desde o princípio foi um ponto essencial pergam inho, que habitualm ente se conservava enro-
do ensino apostólico. lado em duas varas - e quando alguém queria lê-lo o
desenrolava.

O E vangelho de Lucas (4:16-30) diz que em um


sábado Jesus estava n a sinagoga de N azaré, quando,
depois das orações prelim inares e da leitura de um a
passagem da T o rá , foi convidado a co m en tar um
trech o de um dos profetas e Lhe foi entregue o rolo
de Isaías.

RUA

N os evangelhos existem pelo m enos sete m en-


ções de C risto às ruas de seu tem po. Ele usa o te r-
m o em quatro situações: a de não se exibir nas ruas,
com o faziam os hipócritas (M at. 6:2 e 5); a realidade
de um M essias discreto que não ficava se anuncian-
O sucessor de Judas para o colégio apostólico foi
do pelas ruas ou praças (M at. 12:19); o servo que sai
escolhido para ser um a testem unha da “sua ressur-
às ruas convidando os rejeitados para 0 banquete do
reição” (At. 1:22). O testem unho apostólico foi sem-
seu se n h o r (M at. 22:9; Luc. 14:21) e, finalm ente, as
pre argum ento básico (At. 2:32; 3:15; 10:41; 13:30).
cidades im p en iten tes, em ruas-onde Jesus e os que
Era o tem a dos discursos dos apóstolos (At. 4:2,33;
proclam avam sua vin d a já andaram . (Luc. 10:10 e
17:18; 23:6). Sem elhantem ente, nos A tos e nas Epis-
13:26).
tolas, os apóstolos, com o hom ens que reconheciam
a im portância da ressurreição, evangelizaram , nessa G eralm ente, as ruas das cidades orientais eram
ideia, aqueles que, m ortos em delitos e pecados, fo- estreitíssim as, tendo algumas vezes 90 a 120 cm de
ram regenerados “para um a viva esperança m ediante largura e sendo quase sem pre tortuosas. Em m uitos
a ressurreição de Jesus C risto dentre os m o rto s” (1 Pe lugares, um a pessoa não podia passar com segurança
1:3). E declara-se que essa ressurreição foi “p o r causa p o r um camelo carregado, m as devia com prim ir-se
da nossa justificação” (Rm. 4:25) - que “serem os sal- ju n to a um a porta, ou abaixar-se m uito, para deixar o
vos pela Sua vida” (Rm. 5:10) - que são princípios de anim al passar. A ru a onde A nanias achou Saulo, em
salvação, confessar ao Senhor Jesus e crer em C risto Dam asco, tin h a 0 nom e de "Direita” (At. 9:11). Essa
ressuscitado (Rm. 10:9) - que a Sua ressurreição é a rua ainda existe e tem um a cobertura em todo o seu
garantia da nossa própria (1 Co 15:20 a 23). com prim ento, cerca de dois quilôm etros.

H ouve um a in ten sa m udança operada nos após- U m a rua que, de algum m odo, adapta-se à descri-
tolos quando eles se certificaram da ressurreição: A ção que está em Apocalipse 22:2 é um a rua em Esm ir-
h istó ria da Igreja de C risto tem a sua explicação no na, banhada p o r um rio, com árvores de um lado e de
fato da sua crença e da sua dependência daquele que outro. Até o tem po dos rom anos, as ruas raram ente
disse: “Estive m o rto , m as eis que estou vivo pelos eram calçadas, e é algo notável que um a das glórias
séculos dos séculos (Ap. 1:18). da Jerusalém Celestial é a pavim entação de suas ruas.
s m eros concretos, a população sam aritana no tem po
de Jesus era com parável àquela dos judeus e incluiu a
grande diáspora.

(3) Os sam aritanos acreditavam que o centro de


adoração de Israel não deveria te r sido o M onte Sião.
SAMARITANOS mas sim o M o nte Gerizim. Eles argum entaram que
Sam aria é o nom e de um a província m encionada este era o local do prim eiro sacrifício Israelita na T er-
p o r diversas vezes no N ovo T estam ento situada no ra (Deut. 27: 4 ) e que continuou a ser o centro da
alto de um m onte entre a Judeia e a Galileia. Atual- atividade sacrificial dos patriarcas de Israel. Este era o
m ente, a região está entre Israel e a Cisjordânia. No lugar onde as bênçãos foram pronunciadas pelos an-
total, existem cerca de 700 sam aritanos que vivem em tigos Israelitas. Os sam aritanos acreditavam que Bete’
H olon, Israel, e em Nablus, Cisjordânia. (relacionado a Jaco), o M onte M oriá (relacionado a
Abraão) e o M onte G erizim eram o m esm o lugar.
A palavra sam aritano, em sentido figurado, signi-
fica um a pessoa caridosa, que tem bom coração e se (4) Os sam aritanos tinham essencialm ente um
preocupa com os outros. Este significado teve origem credo quádruplo: 1) um Deus, 2) um Profeta, 3) um
na parábola do “Bom Sam aritano”, narrada p o r Jesus livro e 4) um lugar.
em Lucas 10:30-37. E, além disso, o nom e sam arita-
(5) Os sam aritanos acreditavam que as pessoas que
no, traduzido literalm ente do hebraico, significa os
se cham avam judeus (crentes no Deus de Israel situa-
guardiões (de leis e tradições originais).
dos na Judeia) haviam tom ado o cam inho errado em
Os samaritanos têm a sua própria doutrina religiosa: sua prática religiosa, pela im portação de novidades
o samaritanismo. Eles não se consideram um povo judeu, para a terra durante o reto rn o do exílio Babilônico
e sim descendentes dos antigos israelitas que habitaram
6) Os sam aritanos autênticos rejeitaram a supre-
a histórica província de Samaria. Além disso, eles eram
m acia da dinastia Davídica em Israel. Eles acredita-
considerados impuros pelos judeus. Da Bíblia do judaís-
vam que os sacerdotes levitas em seu tem plo eram os
mo, seguem apenas o Pentateuco. Atualmente, as línguas
legítim os líderes de Israel.
falada pelos samaritanos é o hebraico e o árabe. Nos cul-
tos religiosos, resgatam a antiga língua falada pelos seus Com esse resum o parcial, levando-se em conta o
ascendentes: o hebraico e o aramaico samaritano. outro lado da história e as crenças dos sam aritanos,
vam os nos voltar para a versão judaica da m esm a his-
As fontes nos apresentam , pelo m enos, duas histó-
tória. Este registro essencialm ente origina-se de dois
rias diferentes dos sam aritanos. Um a, de acordo com
Talm uds e sua interpretação da Bíblia Hebraica, de
sam aritanos israelitas, e a o utra de acordo com judeus
Josefo e do N ovo T estam ento:
israelitas. E nquanto existem dificuldades sobre a con-
fiabilidade dos docum entos antigos contam inados (1) Os sam aritanos eram um grupo de pessoas
pela polêm ica judaica-sam aritana, bem com o a data- com m isturas teológicas e étnicas. Eles acreditavam
ção tardia das fontes de am bos os lados. Algumas coi- em um Deus único. Além disso, eles associavam seu
sas podem , contudo, ser estabelecidas. A estória sa- Deus, com o Deus que deu a T o rá ao povo de Israel.
m aritana de sua história e identidade correspondem Os sam aritanos são geneticam ente relacionados aos
aproxim adam ente ao seguinte: rem anescentes das tribos do n o rte que foram deixa-
dos na terra após o exílio assírio. Eles se casaram com
(1) Os sam aritanos cham avam -se a si m esm os de
gentios, que foram transferidos para Sam aria p o r um
Bnei Israel (filhos de Israel).
im perador assírio. Este ato de desapropriação e trans-
(2) Os sam aritanos eram um grupo considerável ferência de sua terra natal foi feito com um a tentativa
de pessoas que acreditavam preservar a religião origi- estratégica de destruir a identidade do povo israelita e
nal do antigo Israel. M esm o sendo difícil falar em n ú ­ prev en ir qualquer potencial de futura revolta.
(2) Nos escritos rabínicos judaicos, os sam aritanos nifica “paz”. Há pelo m enos duas m ulheres com esse
são geralm ente m encionados pelo term o “K uthim .” O nom e citadas no N ovo T estam ento: a filha de H ero-
term o está provavelm ente relacionado a um local no dias, enteada de H erodes, e um a discípula de Jesus,
Iraque do qual foram im portados exilados não israe- provavelm ente irm ã de sua m ãe M aria.
litas para Samaria (2 Reis 17:24). O nom e K uthim ou
Kuthites (de Kutha) foi usado em contraste com o ter-
mo “sam aritanos” (os guardiões da lei). Os escritos ju- SALOMÉ DISCÍPULA
daicos enfatizaram a identidade estrangeira da religião
e prática samaritanas, em contraste com a verdadeira fé Seguidora ativa de Jesus e provável parenta do
de Israel. Mas a interpretação rabínica posterior acerca M estre. U m a com paração de M ateus 27:56 com M ar-
dos sam aritanos não foi totalm ente negativa. cos 15:40 talvez indique que Salomé era a m ãe dos
filhos de Zebedeu — Tiago e João, que eram apósto-
(3) De acordo com 2 Crônicas 30:1-31:6, a alegação los de Jesus C risto. O prim eiro texto m enciona duas
de que as tribos do norte de Israel foram todas exiladas M arias, a saber, M aria M adalena e M aria, a m ãe de
pelos assírios e, portanto, aqueles que ocuparam a terra Tiago (o M enor) e de José; e ju nto com elas m enciona
(samaritanos) eram de origem não israelita é rejeita- tam bém a m ãe dos filhos de Zebedeu que estava pre-
da em um a leitura mais atenta da Bíblia Hebraica. Esta sente quando Jesus foi pregado na cruz; ao passo que
passagem diz que nem todas as pessoas do reino do o últim o texto m enciona a m ulher que estava com as
norte foram exiladas pelos assírios. Alguns, talvez con- duas M arias com o Salomé.
firm ando a versão samaritana, perm aneceram m esm o
após a conquista assíria da terra no século 8 a.C. Em bases sim ilares conjectura-se que Salomé era
tam bém irm ã carnal de M aria, m ãe de Jesus. Isso foi
(4) Os judeus acreditam que não só os samaritanos sugerido porque o texto de João 19:25 m enciona as
optaram p o r rejeitar as palavras dos profetas a respeito m esm as duas M arias, M aria M adalena e a “esposa de
da suprem acia de Sião da dinastia Davídica, mas tam - Clopas” (que se entende, em geral, ser a m ãe de Tiago,
bém deliberadam ente m udaram a própria T o rá para o M enor, e de José), e diz tam bém : “Ju n to à estaca de
ajustar sua teologia e práticas heréticas. Esta é um a das cruz de Jesus, porém , estavam paradas a sua m ãe e a
visões que pode ser tirada da comparação dos dois pen-
irm ã de sua m ãe.” Se este texto (além de m encionar a
tateucos, a T o rá dos sam aritanos e a T o rá dos judeus. m ãe de Jesus) estiver falando das m esm as três pessoas
O texto sam aritano perm ite um a leitura m uito m elhor m encionadas p o r M ateus e p o r M arcos, isto indicaria
do que o m esm o judeu. Em alguns casos, as histórias
que Salomé era a irm ã da mãe de Jesus.
da T o rá judaica parecem truncadas, com pouca lógica
e fluxo narrativo não claro. Em contraste, os textos da Por outro lado, M ateus 27:55 e M arcos 15:40, 41
T o rá sam aritana parecem ter um fluxo narrativo m uito declaram que estavam presentes m uitas outras m u-
mais suave. Superficialmente, isto torna a T orá judaica lheres que haviam acom panhado Jesus, e, po rtan to ,
problemática. Após um a análise mais aprofundada, no Salomé pode te r estado entre estas.
entanto, isso poderia levar ao argum ento de que o pen-
Salomé era discípula do Senhor Jesus Cristo, es-
tateuco sam aritano seria um a revisão ou edição tardia
tando en tre as m ulheres que o acom panhavam e lhe
do texto judaico anterior. Com base nesse e em outros
m inistravam dos seus bens, conform e M ateus, M ar-
argum entos, estamos de acordo com a visão judaica,
cos e Lucas (8:3) dão a entender.
argum entando que a T orá sam aritana é um a revisão
magistral e teologicam ente dirigida dos prim eiros tex- Se a identificação dela com o m ãe dos filhos de Ze-
tos judaicos correspondentes. bedeu for correta, então foi ela quem se chegou a Je-
sus com o pedido de que se concedesse aos filhos dela
SALOMÉ sentar-se à direita e à esquerda de Jesus no seu Rei-
no. M ateus retrata a m ãe com o fazendo o pedido, ao
N om e hebraico, provavelm ente a form a fem inina passo que M arcos indica que Tiago e João o fizeram .
do nom e Salomão. V iria dum a raiz hebraica que sig­ Pelo visto, os filhos tin h am esse desejo e induziram
a m ãe a fazer a solicitação. Isso é apoiado pelo relato zendo a ideia de que o státer era o valor e a m oeda
de M ateus, no sentido de que os outros discípulos, ao instituída e fixada com o base no sistem a m onetário
saberem desse pedido, ficaram indignados, não com grego. Foi encontrado no in te rio r do peixe que Pedro
a mãe, mas com os dois irm ãos. (Mat. 20:20-24; M ar. pegou com anzol, a m ando de Jesus, a fim de pagar o
10:35-41). trib u to de am bos (Mat. 17:27).

Ao rom per da alva, no terceiro dia depois da m or-


te de Jesus, Salomé estava entre as m ulheres que fo-
ram ao túm ulo de Jesus para u n tar o corpo dele com
arom as, m as encontraram a pedra rolada na frente do
túm ulo e dentro dele um anjo que lhes anunciou: “Ele
foi levantado, não está aqui. Eis o lugar onde o deita-
ram .” (M ar. 16:1-8).
TADEU
SALOMÉ, DE HERODIAS Provável variante do grego Teudas, ou um a palavra
aramaica significando o seio fem inino. Se assim for,
Filha de Herodes Filipe e filha única de sua mãe He- seria então um apelido carinhoso. Este nom e está vin-
rodias. Com o tem po, Herodes Antipas casou-se com a culado ajudas, não o traidor, mas um dos 12 apóstolos
mãe de Salomé, tendo-a tom ado de form a adúltera de (Mat. 10.3; M ar. 3.18). Alguns o entendem como sig-
seu m eio-irm ão Filipe. Pouco antes da festa da Páscoa, nificando Judas, irm ão (ou filho) de Tiago (Luc. 6.16;
Herodes Antipas ofereceu um a festa, em celebração de At. 1.13).
seu aniversário. Ele convidou a princesa Salomé, então
sua enteada, a dançar perante os presentes, que con-
sistiam em “seus dignitários e com andantes militares, TALENTO
e os principais da Galileia”. Herodes agradou-se tanto
da apresentação de Salomé que prom eteu dar-lhe tudo U nidade m onetária usada nos tem pos bíblicos des-
o que pedisse — até a m etade do seu reino. Seguindo de a A ntiga M esopotam ia e consolidada com poucas
o conselho de sua iníqua mãe, Salomé pediu a cabeça variações de peso na Grécia, Egito, Babilônia, Israel e
de João Batista. Herodes, em bora contristado, “em res- Rom a. Era o peso legal, de cerca de 27 kg, e poderia
peito pelos seus juram entos e pelos que se recostavam ser de ouro, p rata ou cobre. T anto o term o grego ta-
com ele, ordenou que lhe fosse entregue; e m andou e lanton, quanto o hebraico kika, traduzidos p o r “talen-
fez que João fosse decapitado na prisão. E a cabeça dele to ”, podem se referir a um objeto na form a de um pão
foi trazida num a travessa e entregue à donzela, e ela a redondo, um disco de chum bo ou um peso. Sendo de
levou à sua m ãe”. (Mat. 14:1-11; M ar. 6:17-28. um valor m onetário altíssim o, o talento pode equiva-
ler a cerca de 6.000 denários, ou algo com o 6.000 dias
E m bora o nom e dela não seja m encionado nas
de trabalho braçal com um .
Escrituras, é preservado nos escritos de Josefo. Ele
fala tam bém do casam ento dela, sem ter filhos, com O hom em da parábola dos talentos, de M ateus
o governante distrital Filipe, outro m eio-irm ão de 25:14-30, entregou somas altíssimas à confiança de
H erodes A ntipas. Após a m o rte de Filipe, diz o relato seus criados ou servos, a saber: 1) ao prim eiro entre-
de Josefo, ela casou-se com o seu prim o A ristóbulo e gou 5 talentos, 30.000 denários (ou dinheiros), mais
deu-lhe três filhos hom ens. do que um hom em poderia angariar em toda sua vida:
mais de 90 anos de trabalho. 2) ao segundo conferiu
STÁTER OU ESTÁTER 2 talentos, ou 12.000 denários, ou m esm o 40 anos de
trabalho. 3) ao últim o deu apenas um talento, cuja re-
M oeda de ouro ou prata, é originada do term o lação já conhecem os. Os dois prim eiros dobraram os
grego istêmi, tam bém significa “fixar”, “in stitu ir”, tra ­ valores recebidos, m ostrando terem em preendido e
aplicado de m aneira eficiente tais somas. O últim o TIAGO
nada fez.
O nom e Tiago é um a derivação em grego do nom e
O m esm o valor hiperbólico aparece na parábola
Jacó. Existem quatro personagens com esse m esm o
do c red o r incom passivo, que devia 10.000 talentos
nom e citados no N ovo T estam ento:
ao seu senhor, algo com o 60.000.000 denários (Mat.
18:24). O objetivo dessa ilustração é m o strar com o (1) Tiago, o filho de Zebedeu, é um dos 12 após-
a dívida h u m an a era im pagável p e ra n te o Senhor. tolos escolhidos e nom eados p o r C risto (M at. 10:2),
é irm ão do apóstolo João (Mat. 10:2) (à parte do qual
TALITÁ CUHI nunca é m encionado). Ju n tam en te com este e com
Pedro, foi especialm ente íntim o do Senhor Jesus
Expressão aram aica usada p o r Jesus C risto ao res- (M at. 17:1; M ar. 5:37; 9:2; 14:33) e foi m artirizado
suscitar a filha de Jairo. Significa: “M enina! Levanta- po r H erodes (At. 12:2).
-te!” (M ar. 5:41). O nom e próprio T alita originou-se
dessa frase e to rn o u -se m uito popular, especialm ente (2) Tiago, o filho de Alfeu (ou Cléopas, ou Cio-
no m eio evangélico. pas) e de M aria (a irm ã de M aria, a m ãe de Jesus, Jo.
19:25), talvez prim o de Jesus, é um dos 12 apóstolos
escolhidos e nom eados p o r C risto (M at. 10:3), é ir-
TEÓF1LO
m ão de José (M ar. 15:40), e é cham ado de “Tiago, o
M en o r” (talvez em estatura) (M ar. 15:40).
N om e do destinatário do Evangelho de Lucas e do
livro de Atos. Seu nom e significa “amigo de D eus”, (3) Tiago, o irm ão do S enhor (M at. 13:55; M ar.
pelo que m uitos sugerem que se trate de um nom e 6:3; Gl. 1:19 (Não está escrito que esse T iago é após-
fictício, para referir-se a todos os cristãos. Os que as- tolo!)). T al com o todos os irm ãos de Jesus, não
sim pensam , argum entam que, p o r causa da persegui- creu nEste d u ran te Sua vida na te rra (M ar. 3:21; Jo.
ção suscitada pelos judeus contra os cristãos, Lucas 7:5), andou encium ado e o antagonizou (Jo. 7:3-8) e
teria criptografado a identidade de seus destinatários, longe dEle (M ar. 3:31-32), mas, após a ressurreição,
para poupá-los da m orte. C risto lhe apareceu (IC o . 15:7) e, som ente então,
Tal hipótese, contudo, carece de m aior embasa- Tiago e todos os seus irm ãos se arrep en d eram , cre-
m ento. As fortes indicações são de que Lucas não es- ram e ajuntaram -se aos discípulos (At. 1:14). Veio
creveu para cristãos que estivessem dentro da Judeia a ser o líder da assem bleia em Jerusalém (At. 12:17;
ou Galileia. Adem ais, a utilização de personagens fic- 15:13; 21:18; Gl. 1:19; 2:9,12).
tícios é estranha aos escritores bíblicos. Seria m uito
(4) Tiago, pai do apóstolo Judas (Luc. 6:16; At.
m elhor não fazer n enhum a dedicatória, com o M ar-
1:13). Este T iago não é um dos doze apóstolos nem
cos, M ateus e João, do que fazê-la de form a fictícia. o irm ão de Jesus (M at. 10:4).
O utra hipótese mais sustentável, sugere que esse
Teófilo seria um a pessoa real, com um nom e bonito, TIBÉRIAS
em bora não incom um , um a pessoa que deveria estar
ocupando um a alta posição no m undo rom ano, e con- Cidade na praia ocidental do M ar da Galileia, dan-
vertido ao S enhor Jesus. O adjetivo “excelentíssim o”, do o seu nom e ao M ar (Jo. 6.1,23; 21.1). Foi edificada
que ele om ite em Atos, mas que utiliza no seu prim ei- p o r Herodes A ntipas, que lhe deu esse nom e em h on-
ro volum e (evangelho), m orm ente é destinado para ra do im perador T ibério, e a fez capital da Galileia.
qualificar a condição social de um a pessoa ou para se Esse H erodes, o assassino de João Batista, residia em
referir a algum a autoridade, conform e exem plo no li- Tibérias, ficando assim explicado o fato de ele n u n -
vro de Atos, quando T értulo, um advogado, se dirige ca ter visto Jesus e observado qualquer m ilagre, pois
ao governador Felix (At. 24: 3), durante o processo parece que nunca o Salvador visitou aquela cidade.
m ovido contra Paulo pelos judeus. Tibérias, era de m odo predom inante, um a cidade
gentílica, e o trabalho de Jesus Cristo efetuava-se en-
tre aquelas populações mais ao n o rte do lago, as quais
eram quase inteiram ente judaicas.

T1BERÍADES
u
UNGUENTO

N om e alternativo para o M ar da Galileia, tam bém Em Êxodo 30:25 se diz “o óleo sagrado para a un-
cham ado Lago da Galileia ou Lago de Genesaré, que ção”. O unguento com o qual Jesus foi ungido era um
é um lago de água doce, o m aior de Israel, com um p roduto do nardo (Mat. 26:7; Jo. 12.3).
com prim ento de 19 km e largura m áxim a de 13 km .
Nele deságua e prossegue o rio Jordão, que desce em U N IG Ê N IT O
direção ao M ar M orto. O lago fica 213 m etros abaixo
Expressão referente a Jesus com o Filho U nigênito
do nível do M ar M editerrâneo.
de Deus, enviado para salvar a hum anidade, confor-
m e João 3:16. A princípio, significa o único gerado
TiBÉRIO CESAR p o r seus pais; filho único. M as a rigor, seria um erro
de tradução do grego m onogenês, cujo sentido mais
Im perador rom ano que iniciou seu governo em 18 apropriado seria o de único da espécie, alguém sem igual.

de setem bro de 14 d.C. e o concluiu com sua m orte em


16 de m arço de 37. Era filho de T ibério Cláudio N ero
e Lívia Drusa. Foi o segundo im perador de Rom a
pertencente à dinastia júlio-claudiana, sucedendo ao
padrasto, Augusto. Foi durante o seu reinado que, na
província rom ana da Palestina, Jesus C risto foi cru-
/
cificado. A sua fam ília aparentou-se com a fam ília
im perial quando sua m ãe, com 19 anos e grávida,
VESTES
se divorciou do seu pai e co n traiu m atrim ô n io com
As roupas usadas no tem po de Jesus seguiam mais
O taviano, o fu tu ro im p erad o r A ugusto. M ais tarde,
ou m enos a m oda do m undo greco-rom ano. C ontu-
ele casou-se com a filha de A ugusto, Júlia, a Velha. do, havia distinções próprias de cada povo. Era pos-
Foi adotado fo rm alm en te p o r A ugusto em 26 de ju- sível, p o r exem plo, reconhecer pelos trajes se um
n h o de 4 d.C., passando a fazer parte da gens Júlia. indivíduo era judeu, grego ou rom ano. T am bém era
possível pela roupa saber a posição social de um a pes-
soa e a profissão que ela exercia.
TO M É
As vestes largas, flutuantes, dos hebreus davam lu-
T am bém cham ado de D ídim o, o nom e atual vem gar a um a variedade de ações simbólicas: quando as
do aram aico teoma, com o sentido literal de gêmeo. rasgavam, era esse gesto expressivo de várias emoções,
como o desgosto (Gn. 37:29,34 - 2 Sm. 1:2; Jó 1:20),
E o nom e de um dos 12 apóstolos de Jesus, que de-
o m edo (1 Rs. 21:27; 2 Rs. 22:11,19), a indignação (2
m o n stro u lealdade, mas tam bém dúvida ao ouvir a
Rs. 5:7; 11:14; M at. 26:65), o desespero (Jz. 11:35; Et.
notícia da ressurreição do M estre (Mat. 10:3; M ar.
4:1). Geralm ente, apenas a vestidura exterior é que
3:18; Luc. 6:15; Jo. 11:16;14:5; 20:25-29). C ontudo, era rasgada (Gn. 37:34; Jó 1:20; 2:12) - mas, em certos
ele, aparentem ente, perm aneceu firm e depois disso, casos, a interior (2 Sm. 15:32) - e em outras ocasiões
pelo que é visto com os discípulos no M ar da Galileia, tanto um a como outra (Ed. 9:3; M at. 26:65). Sacudir
após a ressurreição de Jesus (Jo. 21:2). os vestidos, ou o pó, era sinal de rejeição (At. 18:6).
Estendê-los diante de um a pessoa significava lealdade sou a ser en ten d id a, n a linguagem com um religio-
e recepção festiva (2 Rs.9:13; M at. 21.8); envolvendo sa, com o aquilo que dá vida, que te m capacidade de
com eles o rosto m anifestava-se tem or (1 Rs. 19:13), fo rn e c e r alim en to , seja físico e ou espiritual. "Jesus
ou dor (2 Sm. 15.30; Et. 6:12; Jr. 14:3,4) - arrojá-los disse: Eu sou a v id eira verdadeira ”{]o. 15:1).
de si era indício de excitação (At. 22:23) e segurá-los
Isto tam bém estaria em acordo com sua etim olo-
queria dizer súplica (1 Sm. 15:27; Is. 3:6; 4:1; Zc. 8:23).
gia latina, pois a videira é norm alm ente atribuída às
D u ra n te as viagens, os vestidos exteriores eram plantas do gênero vitis, que, p o r sua vez, tem relação
cingidos (1 Rs. 18.46), e lançados fora quando em - com as palavras vita, vital, vitalício, vitam ina.
baraçavam os m ovim entos do corpo (M ar. 10:50 -
Em sua alegoria da videira e dos ram os (Jo. 15),
Jo. 13:4; At. 7:58). A expressão “tens ro u p a ” (Is. 3:6)
é quase certo que Jesus estava pensando em Israel,
indicava abastança, porque as m udanças de roupa
a videira escolhida, que Deus Pai havia plantado em
constituíam um dos m uitos elem entos de riqueza
Canaã, e supondo a continuidade entre Israel e a nova
(Jó 27:16; M at. 6:29; Tg. 5:2). As m ulheres da casa
com unidade de Deus. A m ensagem essencial da ale-
faziam os vestidos (Pv. 31:22; At. 9:39), sendo cer-
goria é clara, a saber, que o propósito de Deus é que
to que, em v irtude da grande sim plicidade do corte,
seu povo frutifique, do m esm o m odo que é função da
não era preciso grande arte para os confeccionar.
videira produzir uvas.
O pro feta Isaías (3:16) refere-se à extravagância no
vestuário (e tam bém Jr. 4:30; Ez. 16:10; Sf. 1:8; 1
T m . 2:9; 1 Pe. 3:3).

05 elementos básicos de uma roupa comum seriam:

Túnica - roupa casual, feita de linho ou lã, coloca-


da pelo pescoço e com mangas. Existiam m odelos di-
ferentes para hom ens e m ulheres. As peças coloridas
eram mais difundidas entre as m ulheres.

Manto - enrolado 11o corpo, p o r cim a da túnica, em


ocasiões form ais ou em dias frios. Incôm odo, era re-
m ovido para atividades físicas. P or ser caro, era alvo
de ladrões. Só os abastados possuíam mais de um.

Roupa de baixo - os hom ens às vezes usavam um a


espécie de tanga, feita de lã. No trabalho sob o sol
quente, essa podia ser a única vestim enta. As m ulhe-
res vestiam um a peça desse tipo quando m enstruadas.

Cinto - era colocado ao red o r da túnica, p erm itin- Na figura da videira, o Pai é o cultivador, que zela
do baixar ou elevar a altura do traje conform e a ne- pela frutificação do ram o.
cessidade.

Véu - um a particularidade do vestuário da m ulher,


VIGÍLIA
no O riente. Rebeca cobriu o rosto quando, pela pri-
Os judeus dividir a noite em três vigílias: a pri-
m eira vez, viu Isaque (Gn. 24:65).
m eira, “princípio das vigílias” (Lm. 2:19), ia desde o
sol posto até às 10 horas da noite; a segunda, “a vigília
VIDEIRA m édia” ou da m eia-noite (Jz. 7:19), principiava às 10
horas da noite e prolongava-se até às duas horas da
P lanta que p ro d u z uvas; p arre ira . P o r causa de m adrugada; e a terceira, a “vigília da m anhã” (1 Sm.
sua referên cia nos en sin o s de Jesus, a v id eira p as­ 11:11), desde as duas horas da m anhã até o nascer
do sol. Em tem pos posteriores, a noite era dividida, judeus e aos gentios, sendo que, em bora o evange-
segundo o costum e dos rom anos, em quatro vigílias lho ten h a sido pregado prim eiro aos judeus, poste-
(desde as 6 horas da tarde às 6 horas da m anhã), de rio rm en te tam bém foi anunciado aos gentios, e estes
três horas cada um a (M at. 14:25; Luc. 12:38). Em receberam os m esm os privilégios e vantagens dos ju-
M arcos 13.35, as quatro vigílias são designadas pelo deus, que foram cham ados prim eiro.
nom e especial de cada uma.

z____
VINHA DO SENHOR
Símbolo de um cam po de trabalho espiritual. Nas
Escrituras, a expressão a V inha do Senhor geralm en-
te se refere à casa de Israel ou ao R eino de Deus na
T erra. Às vezes se refere aos povos do m undo em
geral. Jesus ensinou a parábola dos trabalhadores da ZEBEDEU
vinha (Mat. 20:1-16).
Era pescador da Galileia, pai de Tiago e João, discí-
N a parábola, um dono de um a fazenda tem um a pulos de Cristo, e m arido de Salomé. Alguns supõem
em preitada em sua propriedade e precisará de um teria sido tio de Jesus. Seus dois filhos foram chamados
bom núm ero de trabalhadores para a realização dela. por Cristo, na ocasião em que estavam no barco de seu
Ele sai e com eça a co n tratar pessoas. Lá pelas 6h da pai, ajudando-o a consertar as redes. A família tinha
m anhã contrata alguns trabalhadores que deverão bens suficientes para ter em pregados ao seu serviço. As
trabalhar das 8h às 18h. Ele com bina que lhes pagará relações entre João e o sumo sacerdote tam bém suge-
ao final do dia um denário. Lá pelas 9h e 12h, encon- rem , para alguns, um a certa posição de destaque social
tra mais alguns e com bina o m esm o valor pelo tra- (Mat. 4:21; 27; M ar. 1:20; 15:40; Jo. 18:15).
balho das 13h às 18h. Às 15h, contrata ainda alguns,
para trabalhar das 16h às 18h, pelo m esm o valor.
ZAQUEU
N o fim do expediente, o dono da fazenda vai fa-
zendo os pagam entos e aqueles trabalhadores que H om em desonesto e odiado p o r seu povo, que se
com eçaram o trabalho mais cedo acusam o dono da converteu após um encontro com Cristo. E ncontra-
fazenda de ser injusto, achando que ele deveria lhes m os a história de sua conversão no Evangelho de Lu-
pagar mais po r terem trabalhado mais. cas (19:1-10). T udo ocorreu a p a rtir do encontro que
teve co m jesu s em sua cidade, Jericó e, posteriorm en-
O interessante é que este hom em realm ente con-
te, em sua p ró p ria casa, onde Jesus se hospedou.
trata vários trabalhadores ao longo do dia, em dife-
rentes horários, e, consequentem ente, ao final do dia, Dele só sabem os que era chefe dos publicanos,
uns tin h am trabalhado m ais do que outros, e m esm o o que indica que fazia um trabalho de supervisão da
assim todos foram recom pensados da m esm a m anei- coleta dos im postos que eles efetuavam . Esse seu tra-
ra. E justam ente nesse p o n to que o principal ensino balho causava um a im popularidade e até indignação
da Parábola dos T rabalhadores da V inha começa. da parte dos judeus, um a vez que os cobradores de
im postos retinham um a parte da arrecadação para si
Sem dúvida, essa parábola traz a ideia principal de
e repassavam ao governo rom ano apenas a parte es-
que a recom pensa de Deus é dada conform e a sua so-
tipulada no contrato. E m uitas vezes, p o r isso, a co-
berana vontade, sendo Ele justo e totalm ente bondo-
brança de im postos era abusiva, tam bém para garan-
so, em bora essa justiça nem sem pre pareça coerente
tir o que deveria ser repassado. A parte a ser paga era
aos olhos hum anos.
estipulada pelo governo, com base em um a estim ati-
Alguns estudiosos tam bém aplicam a essa parábo- va das rendas e era inferior ao que era arrecadado. E,
la um a interpretação mais exclusiva relacionada aos por isso, eles enriqueciam .
ZELOTES p r im o distante do m estre, e que antecedeu o início de
seu m inistério na terra.
G rupo extrem ista de rebeldes judeus, que lutava Era casado com Isabel, um a descendente de Arão
pela independência do país nos tem pos da dom inação (irm ão mais velho de M oisés) e parenta de M aria,
rom ana. O nom e “zelotes" possivelm ente foi dado p o r m ãe de Jesus. Isabem era um a m ulher virtuosa, mas
eles próprios, aludindo ao seu zelo p o r Deus e pelo tam bém que era estéril. Porém deu à luz João Batista
cum prim ento da Lei. T am bém pensavam que, em bo- em idade m uito avançada, com o sua ancestral Sara,
ra a salvação seja concedida p o r Deus, estavam con- esposa de Abraão. Zacarias era tam bém um sacerdote
vencidos de que o Senhor contava com a colaboração no T em plo de Jerusalém , do tu rn o de Abias (1 C rôn.
hum ana, para se obter essa salvação. 24: 10-19).

Essa colaboração se m ovia prim eiro n u m âm bi- Não se sabe mais detalhes acerca de sua vida. U m a
to puram ente religioso, no zelo pelo cum prim ento tradição m antida p o r O rígenes diz que o Zacarias
estrito da Lei. M ais tarde, a p a rtir da década de 50, m encionado em M ateus 23:35, m orto entre o T em -
consideravam que tam bém havia de se m anifestar no pio e o altar, seria o m esm o pai de João Batista.
âm bito m ilitar, razão pela qual não se podia recusar
o uso da violência quando essa fosse necessária para Segundo a tradição cristã ortodoxa e o Proto
vencer, nem se devia te r m edo de perder a vida em Evangelho de Tiago (Cap. XXIII), durante o massa-
com bate, pois era com o um m artírio para santificar o cre de crianças ordenado p o r H erodes, Zacarias havia
nom e do Senhor. om itido onde estava o m enino João Batista, que esta-
ria escondido com Isabel nas m ontanhas. P or recusar
a dizer onde estava a criança, foi m orto. Porém , outra
ZACARIAS tradição tam bém antiga inform a que Zacarias e Isabel
teriam educado o filho, fazendo dele um nazireu e que
E m bora haja outros com esse nom e, aquele dire- o m esm o m o rrera em 12 d.C. E difícil posicionar-se
tam ente ligado à vida de jesus é o pai de João Batista, diante de qualquer um a dessas fontes.

Notas
1 Este pequeno dicionário não pretende ser uma fonte exaustiva
de pesquisa, mas apenas um complemento à Enciclopédia. Além
das notas particulares do autor, várias fontes foram utilizadas
para prepará-lo, de modo que as informações seguintes podem
coincidir ou não com outros dicionários. Haverá, portanto,
semelhanças redacionais que não intencionam plágio, mas tam-
bém descontinuidades em função da coerência metolodógica
adotada nesta obra. Algumas das fontes utilizadas foram: A nchor
Bible Dictionary; Barnes's Bible Encyclopedia, Biographical, Geogra-
phical, Historical and D octrinal; N ew Interpreter’s D ictionary o f the
Bible; Standard Bible Dictionary; A N ew Comprehensive D ictionary
o f the Bible; International Standard Bible Encyclopedia ; http://biblia.
com.br/dicionario-biblico/; http://www.abiblia.org/index.php; http://
www.bibUaonline.net/?lang=pt‫״‬BR; http://www.do wnloadsgospel.
com.br/enciclopedia/#.

2 Jewish A ntiq u ities [Antiguidades Judaicas], XVIII, 28, [ii, 1]).

3 Antiguidades Judaicas XIII, 5.2.

4 I Epístola de Clemente aos Coríntios 5:4.

5 Eusehio de Cesareia História Eclesiástica 3,1.


Apêndice

Cristológico
C ristologia é, tecnicam ente falando, o estudo ou Já a cristologia “from above” segue em sentido
a doutrina acerca de Jesus C risto. Esse ram o do saber contrário. U m Cristo que vem de cima para se revelar
lida com os aspectos da Revelação voltados à pessoa, aos hom ens. Esta é a ênfase encontrada no Evangelho
obra e m inistério de Jesus. Sua natureza divina e hu- de João que inicia seu relato apresentando Jesus como
m ana, sua consciência de Deus, seu papel salvífico, 0 V erbo ou o Logos D ivino que “desce” do céu, da
enfim tudo que ten h a a v er com o ser de Cristo. eternidade, para e n tra r na história hum ana. A teolo-
gia norte-am ericana e dos países do O riente tendem
Q uando conceituam os o Filho de Deus em seus
para essa form a de aproxim ação do tem a.
mais variados aspectos, estam os fazendo ou cons-
tru ind o um a “cristologia”. P ortanto, o u tro m odo de Ambas as abordagens têm seu respectivo valor, pelo
expressar esse conceito seria definir que m ais do que que são claram ente vistas nos próprios evangelhos ca-
um verbete, um conjunto de palavras ou um a decla- nônicos. Contudo, a ênfase desequilibrada em qual-
ração de fé, a cristologia com o tal tem a v er com a quer um a delas pode gerar discrepâncias em relação ao
relação epistem ológica entre o crente e a pessoa de tem a que term inam beirando à especulação e histeria.
Jesus, reconhecido desde os m ais antigos credos com o Certa vez um professor definiu m uito sabiam ente as
o Filho de Deus em figura hum ana. grandes heresias da história como “um lado da verda-
de que ficou louco” e isso se to rn a bem apropriado ao
Há quem sugira que, em havendo um a hierarquia
alerta acerca da cristologia que construím os.
de saberes nas verdades divinas, pode-se dizer que o
conhecim ento acerca de Jesus Cristo é superior - em - C orre-se o risco de enfatizar tan to a natureza hu-
b ora não excludente - a qualquer verdade religiosa m ana de C risto que no fim sua divindade é negada e
jam ais ensinada. ele passa a ser visto com o um bom “ser hu m an o ”, mas
não diferente de qualquer o u tro grande líder que já
Os dois tipos básicos de cristologia, conform e a
existiu. Por outro lado, é possível, à sem elhança dos
nom enclatura anglo-saxônica, seriam: a cristologia
antigos gnósticos, acentuar em dem asia sua divinda-
“from below ” (partindo de baixo) e cristologia “from
de ao p o n to de negar que ele, de fato, ten h a se to rn a-
above” (partindo de cima). Am bas nasceram das pre-
do hum ano.
missas e da ênfase de cada abordagem à pessoa de Je-
sus C risto, conform e visto em vários credos e m anu- O m esm o se pode dizer da tendência de alguns que
ais de teologia produzidos ao longo da história. separam tanto o cham ado Jesus histórico do C risto
da fé, que criam o falso dilema de se saber qual dos
A cristologia “fro m below ” com eça com o cham a-
dois será o centro da reflexão cristológica. R udolf
do “Jesus da h istó ria ” e ten d e a enfatizar sua hum a-
Bultm ann, p o r exemplo, defendeu a tese de que é im -
nidade. Os autores que se m oldam p o r essa lin h a de
possível saber qualquer coisa do Jesus histórico, pois
apresentação reforçam m uito os aspectos de sim ila-
esse se perdeu na p oeira do tem po, restando apenas o
ridade e n tre Jesus e os dem ais m em bros da fam ília
C risto da fé ou do Q uerigm a, proclam ado pela Igreja
hum ana. D estacam sua encarnação, sua n atu reza fí-
e construído pelos dogmas.
sica e m oral, sua vida pública e seu m in istério desde
a te rra até a ascensão e a glorificação no céu. Por Focar em demasia sobre um a cristologia “from be-
isso é cham ada “from below ”, pois p arte do C risto low ” pode levar à conclusão de que Jesus era apenas
te rre n o - a quem dá m aio r ênfase - para chegar ao h um ano e em nada divino, a não ser, talvez, em sua
C risto celestial. consciência de Deus (Schleierm acher) - algo que, em
tese, qualquer um de nós poderia ter.
Esta, pode-se dizer, é a cristologia encontrada nos
evangelhos sinópticos, a saber, M ateus, M arcos e Lu- U m cristologia para ser essencialm ente bíblica não
cas. Tem , po rtan to , m uito valor para a com preensão, pode tra tar as abordagens “from below ” e “from abo-
sobretudo, histórica de C risto. As teologias europeia ve” com o se fosse algo do tipo “um ou o u tro ”. O mais
e latino-am ericana tendem a pautar-se por esse tipo antigo entendim ento cristão (a despeito de vozes
de reflexão acerca do Filho de Deus. m arginais que existiram ao longo da história) susten­
ta que, após a encarnação, Jesus foi “Deus e hom em ’ Deus: “N unca te vi, oh S enhor m eu Deus, nada sei a
ao m esm o tem po. De um m odo superior a qualquer teu respeito. O que fará, oh A ltíssim o Senhor, este
explanação hum ana, sua natureza divina recebeu em pobre ser exilado longe de ti? O que fará teu servo,
seu seio um a natureza hum ana que passou a fazer ansioso de am or p o r ti, porém , desprovido de tua
parte do seu ser. Assim, de um m odo espetacular, presença? Ele se esforça p ara te v er, e tu estás dem a-
pode-se dizer que a cristologia é onde a teologia e a siado longe. T e n to ir a ti, tu a m orada, no en tan to , é
antropologia se encontram na pessoa de Jesus Cristo. inacessível. Q uero te e n c o n tra r e não sei onde estás.
Desejo buscar-te, m as não reconheço teu rosto. O h
A Invisibilidade de Deus S enhor, tu és m eu D eus, todavia nunca te contem -
piei. És m eu C riador, fizeste-m e do nada e puses-
Para entender as razões da encarnação de Cristo, tes em m im todas as bênçãos, e ainda assim não te
é preciso prim eiram ente reconhecer as dim ensões conheço. P or últim o, fui C riado para contem p lar-
do Deus que se to rn o u hum ano. Assim, existe um a -te, contudo, não m e foi dado o p ro p ó sito da m in h a
reflexão acerca do divino que antecede o m istério da existência”.
encarnação. C onsiderando que Deus existe, que ele é?
Qual seu tam anho? Qual sua dim ensão e unicidade,
isto é, que elem entos o to rn am único?

A dim ensão antropológica dessas perguntas reside


no aspecto de que a existência e a natureza divinas re-
fletem diretam ente no sentido de nossa p rópria exis-
tência e destino. Em outras palavras, se Deus existe,
quem ele é? Se não existe, quem som os nós? Que será
de nossa existência?

De acordo com a Bíblia, Deus não apenas existe, mas


tem planos para nós, Suas criaturas. Diz Isaías 45:18:
“Porque assim diz o Senhor, que c r io u os céus, o Deus
que form ou a terra, que a fez e a estabeleceu, n ã o a
criando para s e r u m caos, mas para s e r habitada”. Ao
que C risto com plem enta: “eu v im p a r a q u e tenham
v id a , e a tenham com abundância” (João 10:10).

M as é n o tório tam bém adm itir que esse m esm o


D eus está efetivam ente oculto à nossa contem plação.
Podem os até dizer que o enxergam os pela fé, mas sua
pessoa ainda parece distante de nossos sentidos. Sen-
tim os na pele a realidade incôm oda de um Deus que
parece escondido de nós. O texto bíblico tam b ém não olvida a realidade do
ocultam ento divino: “N inguém jam ais viu a Deus,
Tal sensação não pode ser negada sem o preço de o D eus u n ig ên ito que está no seio do Pai foi quem
se criar um a teologia falsa. C om o dizia Blaise Pascal: 0 revelou”. (João 1:18). Paulo parece dizer que os
“U m a vez que Deus se escondeu, toda religião que
hom ens não podem sobreviver a um a visão direta
não diz qtxe Deus está escondido não é verdadeira; e
de D eus, quando descreve o S enhor com o ser que
toda religião que não explica a razão deste ocultamen-
habita em um a “lu z in a c e s s ív e l” (I T im ó teo 6:16).
to não in s tr u i.... Vere tu es Deus absconditus”(Isa. 45:15).
C hegar p e rto de D eus é com o se aproxim ar de um a
Já no século XI, A nselm o, bispo da C antuária, fornalha acessa, (veja tam bém Êxodo 33:2-5; 20; I
apresentava seu proslógio acerca do ocultam ento de T im ó teo 1:17).
M uitos podem achar contraditório esse oculta- N ote que a aparição ‫״‬face a face” significa um a visi-
m ento diante da declaração bíblica de que M oisés bilidade circunstancial da ‫״‬presença” divina guiando o
falou com Deus “face a face”. T rata-se, contudo, de povo através de um a nuvem que de dia era um a som-
um a figura de linguagem . O bservem os, p o r exemplo, bra e à noite um a coluna de fogo. Assim podem ser
a parte inicial de Êxodo 33: entendidos outros textos do A T que aparentem ente
sugerem um a visão direta de Deus.
“E sucedia que, entrando M oisés na tenda, descia
a coluna de nuvem , e punha-se à p o rta da tenda; e o
SENHOR falava com M oisés. E, vendo todo o povo A dimensão divina
a coluna de nuvem que estava à p o rta da tenda, todo
o povo se levantava e cada um , à porta da sua tenda, As razões bíblicas do o cu ltam en to d ivino po-
adorava. E falava o SENHOR a Moisés face a face, dem ser resum idas em duas realidades: a pequenez
como qualquer um fala com o seu amigo; depois h u m an a, incapaz de alcançar o c o n h e cim e n to ple-
tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem no de D eus, e a ru p tu ra causada pela e n tra d a do
Josué, filho de N um , nunca se apartava do m eio da pecado na h istó ria.
tenda”. (Êxodo 33:9-11)
A inda que a Bíblia use determ inadas im agens an-
O ponto-chave destas palavras, conform e as partes tropom órficas para falar de Deus, ela continua única
sublinhadas, não é que M oisés ten h a realm ente visto em apresentá-lo com o acim a de qualquer descrição
a face de Deus, mas que ele falou i n t im a m e n te com hum ana. T udo o que disserm os a seu respeito não es-
o Altíssim o. Isso se to rn a particularm ente claro nos gota, nem resum e a com plexidade do seu ser. Basta
versos seguintes: para isso im aginar as obras de suas mãos.

“Então ele disse: R ogo-te que m e m ostres a tua “Com quem vocês m e com pararão? Q uem se asse-
glória. P orém ele disse: Eu farei passar toda a m i- m elha a mim? “, pergunta o Santo. Ergam os olhos e
nha bondade p o r diante de ti, e proclam arei o nom e olhem para as alturas. Q uem criou tudo isso? Aquele
do SENHOR diante de ti; e terei m isericórdia de que põe em m archa cada estrela do seu exército ceies-
quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem tial, e a todas cham a pelo nom e. Tão grande é o seu
eu me com padecer. E disse mais: Não poderás ver a poder e tão im ensa a sua força que nen h u m a delas
minha face, porquanto homem nenhum verá a deixa de com parecer!” (Isaías 40:25,26).
minha face, e viverá. Disse mais o SENHOR: Eis
aqui um lugar ju n to a m im ; aqui te porás sobre a pe- Falando da onipresença e onisciência divinas em
nha. E acontecerá que, quando a m inha glória passar, face à pequenez hum ana, o salm ista declara: ‫״‬Tal
pô r-te-ei num a fenda da penha, e te cobrirei com a ciência é para m im m aravilhosíssim a; tão alta que não
m inha m ão, até que eu haja passado. E, havendo eu a posso atingir. Para onde m e irei do teu espírito, ou
tirado a m inha m ão, m e verás pelas costas; mas a mi- para onde fugirei da tu a face? Se subir ao céu, lá tu
nha face não se verá.” (Êxodo 33:18-23). estás; se fizer no inferno a m inha cama, eis que tu ah
estás tam bém . Se tom ar as asas da alva, se habitar nas
P ortanto, ver Deus “face a face” é um a expressão
extrem idades do m ar, até ali a tua m ão m e guiará e a
idiom ática que não coincide com o ato de “ver literal-
tu a destra m e susterá. Se disser: decerto que as trevas
m ente o rosto de Deus”. U m a figura de linguagem si-
m e encobrirão; então a noite será luz à roda de m im .
m ilar aparece em N úm eros 14:13 e 14: Έ disse M oisés
N em ainda as trevas m e encobrem de ti; mas a noite
ao SENHOR: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto
resplandece com o o dia; as trevas e a luz são para ti a
com a tu a força fizeste subir este povo do m eio deles.
m esm a coisa” (Salmos 139:6-12).
E dirão aos m oradores desta terra, os quais ouviram
que tu, ó SENHOR, estás no m eio deste povo, que Finalm ente Salomão tam bém acena a incom ensu-
face a face, ó SENHOR, lhes apareces, que tua nuvem rável natureza da dim ensão divina ao dizer: “habitaria
está sobre ele e que vais adiante dele num a coluna de Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não
nuvem de dia, e num a coluna de fogo de noite.” te podem co n te r” (I Reis 8:27, cf. II Crônicas 6:18).
O texto, em outras palavras, parece dizer que não há m ina fazendo dele um ser “à nossa im agem conform e
espaço que caiba Deus, seu centro está em todas as nossa sem elhança”. É o Deus do com entário crítico
partes e a periferia não cabe em parte alguma. de X enófanes que disse: “Se os bois e os cavalos tives-
sem m ãos e pudessem p in tar e produzir obras de arte
M as note que não se tra ta de panteísm o, m onism o
sim ilares às do hom em , os cavalos pintariam os deu-
ou holism o divino. Deus é distinto daquilo que ele
ses sob form a de cavalos e os bois pintariam os deuses
cria. Seu espírito pode até habitar em suas criaturas,
sob form a de bois”.
mas não deve ser confundido com elas.

Como falar de Deus


Em term os m etafísicos podem os predicar ou falar
de três m odos acerca da realidade em existente, lem -
brando, é claro, que predicar é dizer algo acerca de
um sujeito. Podem os falar dos seres p o r univocidade:
o que dizem os de um vale integralm ente para o outro.
Por exemplo: a m acieira é um a árv o re frutífera. A pe-
reira é um a árvore frutífera. O adjetivo de um a serve
igualm ente para a outra.

Podem os tam bém falar po r equivocidade: o que di-


zemos de um , não serve definitivam ente para o outro.
Exemplo: Fiquei tocado ao ver um hom em cego e seu
cão. A beata saiu correndo, pois cria que o sujeito esta-
va possuído pelo cão. O sentido de cão, é claro, tem um
significado bem distinto do prim eiro para 0 segundo
caso, pelo que não podem ser em nada com parados
um com o outro, em bora se trate do m esm o vocábulo.

Finalm ente, podem os falar p o r analogia: É um


m eio term o entre os anteriores. O que dizem os de
um a coisa pode ilustrar, mas não rep etir em essência,
o que significaria 0 ser da outra. Não é unívoco, nem
equívoco, é análogo. T rata-se, po rtan to , de realidades
que se assem elham no ser (pois estão aí), mas desasse-
m elham na essência e no m odo de ser.
Lem brem os que Deus ama, nós tam bém amam os,
O ra, o Deus apresentado na Bíblia é um ser do qual m as não am am os com o ele nos ama. Nosso am or é
pode-se falar p o r analogia, mas nunca p o r univocida- circunstancial, ou seja, am am os, mas poderíam os não
de, m uito m enos p o r equívoco. O discurso excessi- am ar. Ele não tem com o não am ar. Nós am am os, mas
vãm ente com parativo de Deus pode conduzir a um a Deus é am or (I João 4:8). Não se pode separar seus
descrição catafática do altíssimo que tende a torn á-lo atos de seus atributos absolutos. Suas ações são a ex-
um a extensão de nossas próprias pretensões e carac- pressão exata de seu ser. Essência e atitude não se se-
terísticas. E o discurso da não com paração absoluta param no ser de Deus.
(aquele que nega a analogia) tende para um conceito
Por isso não se pode falar dele como sendo um de
apofático que conduz ao deísmo.
nós. O credo, por exemplo, afirma o conceito de trin-
A abordagem catafática é aquela que descreve dade onde três seres perfazem a unicidade da divindade.
Deus de m aneira tão m inuciosa e pequena que te r­ M as não se trata do “três da m atemática” em que um
algarismo pode ser adicionado e este se torna quatro ou
em que outro pode ser subtraído e o resultado passa a
ser dois. Não há acréscimos, subtrações ou operações
aritméticas nesse valor divino de aparência numérica.

Por outro lado, porém , seria um erro responder às


descrições catafáticas com um discurso apofático de
Deus. C ontrário à proposta anterior, o viés apofático
assum e com o pressuposto a afirm ação de Santo T o-
m ás de A quino, segundo o qual “não podem os saber
nada a respeito do que D eus realm ente é ... p o r isso só
podem os dizer o que ele não é”.1

A teologia apofática fundam enta-se no fato de que


Deus está acima de todas as categorias e descrições
hum anas e, p o r isso, é im possível atribuir-lhe carac-
teres positivos ou determ inados.

Levada, porém , a extrem o, essa visão dilui qual-


quer possibilidade real de conhecim ento do divino
e pode conduzir ao deísm o e ao ateísm o. Ademais,
não se pode esquecer que, a despeito das lim itações da
linguagem hum ana, até a descrição negativa de Deus
pode co ntribuir para dizer o que ele é. Ele não é ódio,
logo, é am or. Ele não é m ortal, logo, é im ortal e assim
p o r diante. M as isso ainda é pouco para criar um re-
lacionam ento autêntico entre Deus e suas criaturas,
pois oferece apenas um a dim ensão conceituai, porém ,
não afetiva. Não gera com unhão divino-hum ana.

Cristo revelador do Pai P ortanto, o prim eiro elem ento n o rtead o r da visi-
bilidade divina é um paradoxo necessário: Deus, para
se revelar, tem de se esconder. Lutero dizia que os
M ediante o que já foi exposto, é possível dizer que
hom ens usam m áscaras para se esconder, Deus, ao
Deus é, em essência, incognoscível. N inguém é capaz
contrário, usa um a m áscara para se revelar.
de diretam ente conhecê-lo (Sal. 139:6; Rom . 11:33-
34). Porém , nossa salvação depende de conhecê-lo e Sua revelação se dá p o r m uitas m aneiras, espe-
de relacionarm o-nos com ele (Jo. 17:3; cf. Jr. 9:23,24). cialm ente, através de suas obras e sua Palavra (cf.
Logo, qual seria a solução? Deus se revela (M at. 11:27; D eut. 29:29; Sal. 19:1-2; 139:14; Rom . 1:20; II T im .
Rom . 1:19), pois jamais o conheceríam os p o r nossa 3:16). P orém , o suprassum o da m anifestação divina
p rópria capacidade (I Co. 1:21). ou sua revelação suprem a se deu através da pessoa
de Jesus Cristo.
C onsidere-se, contudo, que em virtude da gran-
diosidade incom parável de seu poder e glória, o único A ssim inicia o a u to r da carta aos H ebreus: “Ha-
m odo do ser hum ano contem plar Deus seria se ele vendo D eus an tig am en te falado m uitas vezes, e de
m esm o restringisse seu fulgor. Se é im possível con- m uitas m aneiras, aos pais, pelos profetas, a nós
tem plar a olho nu o sol do m eio-dia, im agine um a falou-nos nestes últim os dias pelo Filho, a quem
exposição desprotegida à luz de Deus, ainda que seja c o n stitu iu h erd e iro de tudo, p o r quem fez tam bém
apenas um a fagulha do seu poder. o m undo. O qual, sendo o resp len d o r da sua glória,
N o caso do Filho, p o r interm édio de quem o Pai
se revelou nos últim os tem pos, o uso da preposição
grega “én”foi análogo ao caso dos profetas, mas a au-
sência do artigo definido confere certa indeterm ina-
ção à identidade desse Filho, perm itindo que a ênfase
recaia sobre a sua natureza em com pleta distinção da-
queles que o antecederam .

A ideia seria de que Deus falou aos pais de m uitos


m odos "pelos” profetas, finalm ente nos falou “no fi-
lho” ou “em um filho”, não m eram ente através dele.
Não que o Pai e o Filho sejam a m esm a pessoa, mas
sim que a unidade entre ambos é tal que, em C risto,
D eus falou “filialm ente” aos hom ens.

Disse Jesus: “Eu e o Pai somos um ” ... “quem m e vê


a m im , vê o Pai” (João 10:30; 14:9). Por isso, a com uni-
cação divina que recebemos de Jesus é um m ovim ento
revelador m uito mais profundo e lum inoso; a revela-
ção ocorre não apenas po r m eio do Filho, mas, sobre-
tudo pelo fato dele ser o “Filho Ú nico” de Deus, e, não
apenas um profeta dele. Cristo não era um hom em ins-
pirado po r Deus, mas Deus falando em form a hum ana.

Seu m inistério terrestre é m encionado em seguida


no texto de Fíebreus: “Com o escaparem os nós, se não
atentarm os para um a tão grande salvação, a qual, co-
m eçando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois
confirm ada pelos que a ouviram ; testificando tam -
bém Deus com eles, p o r sinais, e m ilagres, e várias
m aravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos po r
e a expressa im agem da sua pessoa, e su sten tan d o
sua vontade? (Hebreus 2:3-4).
todas as coisas pela palavra do seu p o d e r.” (H ebreus
l:l-3 a .). A missão de Jesus foi vir e dem onstrar com o o Pai
é realm ente e estabelecer a com unhão da hum anida-
O original grego dessa passagem traz um a peculia- de com a divindade. P ortanto, o m elhor m eio de co-
ridade pouco notada. Ao citar os profetas, p o r m eio nhecer Deus é conhecer Jesus. Ele disse: “Se vós m e
dos quais Deus havia falado, o autor faz uso de um a tivésseis conhecido, conheceríeis tam bém a M eu Pai”
preposição mais um artigo definido dativo {én + tois). (João 14:7).
Ao m encionar, porém , o filho, repete-se a preposi-
O Filho de Deus estava com o Pai desde o princípio
ção, m as exclui-se o artigo. A diferença parece ser de
de todas as coisas (João 1:1-2). Som ente Ele verdadei-
m enos im portância, mas não o é.
ram ente viu o Pai (6:46), e, por isso, foi capaz de re-
O sentido da prim eira expressão poderia ser tra- velar as coisas que presenciou enquanto estava com o
duzido de diferentes m odos: Deus falou aos pais... “pe- Pai (8:38). Além disso, sua m orte expiatória na cruz é o
acontecim ento que propicia a salvação dos pecadores e
los profetas” (BJ■ ARO, A R A ; EO, RVR; KJ & RSV); “por
a revelação final de Deus para toda a hum anidade.
meio dos profetas’’ {NVl) ou “nos profetas”, conform e
A Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), em bora esta seja Jesus Cristo é “a imagem do Deus inviável”(Cl. 1:15).
uma sugestão incom um e m ais literal. Ele assum iu a form a hum ana para tran sp o r a barreira
en tre o divino e 0 hum ano e se relacionar de perto sendo em form a de Deus, não teve po r usurpação ser
com suas criaturas. Por isso, é corretam ente cham ado igual a Deus. M as esvaziou-se a si m esm o, tom ando
Em anuel, que quer dizer “Deus conosco” (Mat. 1:23). a form a de servo, fazendo-se sem elhante aos hom ens.
Sua encarnação não é um a analogia da divindade, é E, achado na form a de hom em , hum ilhou-se a si mes-
Deus em form a hum ana. m o, sendo obediente até à m orte, e m o rte de cruz”
(Filipenses 2:5-8).

O preço da encarnação O texto é claro em m o strar um m ovim ento escalo-


n ar descendente. C risto vai descendo degrau p o r de-
Cristo não perdeu sua divindade ao assum ir a na- grau desde sua condição original na “form a de D eus”,
tureza hum ana (João 1:14). C ontudo, sua m o rte na passado pela form a de servo e pela sem elhança hum a-
cruz era o preço a ser pago pelo resgate do m undo que na, até alcançar a m orte na cruz - o m ais hum ilhante
havia caído em pecado. “Porque Deus am ou ao m un- ponto a que ele poderia chegar.
do de tal m aneira, que deu o seu Filho único, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas ten h a a vida O verbo grego traduzido p o r “esvaziou-se” vem do
eterna” (João 3:16). substantivo kenosis ou ekénose cujo sentido é esvazia-
m ento, to rn ar-se oco, deixar sair o seu conteúdo. O
A m orte de Cristo na cruz não pode ser com pre- sentido dado p o r Paulo é forte, porém , bastante claro.
endida na form a de um m artírio. T rata-se de um ato Cristo voluntariam ente esvaziou-se de sua glória e
redentor. M uito m enos podem os atribuir-lhe um ca- resplendor celestial, a fim de revelar Deus e ser capaz
ráter m eram ente físico, sem elhante à experiência fú-
de m o rre r pela hum anidade.
nebre a que todos os seres estão sujeitos.
H ebreus 10:5-7 traz o que possivelm ente seria um
“V em os, todavia, Aquele que p o r um pouco foi
antigo hino cristão, expressando um a fala poética do
feito m en o r do que os anjos, Jesus, coroado de h on-
Filho em relação ao Pai, à m edida em que ele desce
ra e de glória p o r te r sofrido a m orte, para que, pela
para se encarnar entre os hom ens. “P or isso entrando
graça de Deus, em favor de todos, experim entasse a
no m undo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas
m o rte ”. (Hebreus 2:9).
corpo m e form aste; não te deleitaste em holocaustos
N ote a força do texto: C risto experim enta a m o r- e sacrifícios pelos pecados. E ntão eu disse: Eis aqui
te “em favor de to d o s”, trata-se, pois, de um ato sal- venho (No rol do livro está escrito de m im ) para fa-
vífico e m ediador do Filho de Deus. M as com o pode zer, ó Deus, a tua vontade.”
alguém de n atu reza divina m o rre r, principalm ente
Esse esvaziam ento, porém , não pode ser enten-
considerando que seu sacrifício seria um a m o rte
dido com o um a perda de seus atributos ou de sua
eterna, a m esm a que todos nós m erecíam os (Apoc.
natureza divina. Deus não pode deixar de ser Deus.
20:11-15)?
Isaías 43:10 diz: “Vós sois as minhas testemunhas, diz 0
Grupos gnósticos do final do século I d.C. tentaram SENHOR, 0 meu servo a quem escolhi; para que 0 saibais,
resolver o dilema com ensinos que iam desde a negação e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de
de um a verdadeira encarnação de Cristo até propostas mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum
surrealistas de que ele havia sobrevivido ao calvário ou haverá”. A im utabilidade de D eus está patente no ver-
que seu sofrim ento havia sido um a encenação, pois ele so acima, de m odo que negar a im utabilidade de Deus
não poderia m orrer de verdade. Apesar de rejeitados é negar Deus e a Escritura.
pela tradição cristã, tais posicionam entos levantam
O que Cristo fez foi voluntariam ente deixar de usar
ainda o dilema que continua m oderno: Com o poderia
seus atributos a fim de se tornar verdadeiramente um
um Deus eterno sinceram ente m orrer?
m em bro da raça humana. Ele assumiu verdadeiramente
A resposta está na explanação de Paulo em Filipen- a nossa natureza que agora é ancorada à sua natureza di-
ses 2:5-8, que diz: “De sorte que haja em vós o m esm o vina. Existem muitas formas de expressar esse conceito,
sentim ento que houve tam bém em C risto Jesus. Que, mas fundam entalmente, pode-se dizer que a kenosis de
Cristo, isto é, o seu esvaziamento foi “a troca voluntária m o um a natureza hum ana e se hum ilhou. Esse era o
de um a form a de existência por outra” (Thommasius). preço eterno a ser pago p o r nossa redenção (Rom a-
nos 5:12-21).
U m dono de carro que deixa seu autom óvel na ga-
ragem e anda a pé ou de ônibus não perdeu sua con- P or isso m esm o em sua volta ao céu, Jesus continua
dição de m otorista ou proprietário. Pelo contrário, retendo um corpo hum ano, glorificado, na verdade,
reforçou seu senhorio sobre o bem que ele possui, porém “hum ano'’ de m odo que Ele, voluntariam ente
tom ando a livre iniciativa de usá-lo ou não conform e deixou de ser a glória das glórias para ser um hom em
sua p rópria vontade. glorificado pelo Pai (Atos l : 1 0 e l l ) . N a continuidade
do texto kenótico (isto é, o hino do “esvaziam ento”
C risto, da m esm a form a, deixou de lado seus atri-
de C risto”, Paulo passa a apresentar um m ovim ento
butos divinos, sem perder sua natureza divina. Ele
ascendente de C risto desde o hum ilhante degrau da
agora precisava ser um de nós e, para tanto, deixou-se
cruz até a volta ao Pai:
depender do Pai e do poder do E spírito para vencer o
pecado em sua carne. Não cessou de ser D eus durante “Pelo que Deus o exaltou sobrem aneira e lhe deu o
o Seu m inistério terren o , m as subm eteu-se com ple- nom e que está acima de todo nom e, para que ao nom e
tam ente à vontade do Pai.
de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e de-
Por isso, em bora sendo de origem divina, enquanto baixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
ser hum ano ele foi tão dependente, frágil e susceptível o Senhor para a Glória de Deus Pai” (Fil. 2:9-11).
às mesmas dores e m edos que todos nós enfrentam os.
N ote a força do verso: o Pai dá um nom e a Cristo!
Porém ainda era perfeitam ente justo e santo, sem pe-
Esta outorga ficaria sem sentido se ele não levasse al-
cado algum que pudesse ser usado contra sua pessoa.
gum a autolim itação para o céu. Não se pode atribuir
“E, visto com o os filhos participam da carne e do nada a Deus que ele já não ten h a e o sentido do ver-
sangue, tam bém ele participou das m esm as coisas, so não parece ser figurativo. Pelo contrário, o mes-
para que pela m orte aniquilasse o que tin h a o im pé- m o conceito repete-se em H ebreus 1:4, onde diz que
rio da m orte, isto é, o diabo. E livrasse todos os que, Cristo h erdou um nom e superior ao dos anjos, e em
com m edo da m orte, estavam p o r toda a vida sujeitos Apocalipse 2:28 em que ele dá aos seus servos um a
à servidão” (Hebreus 2:14-15). estrela com o ele m esm o recebeu de seu Pai.

Existe porém um dado dessa teologia da Kenosis O sentido parece ser o de que C risto era e sem pre
que precisa ser ressaltado. Ao tra tar do assunto, m ui- será Deus p o r natureza. Porém , após sua hum ilde re-
tos se concentram naquilo de que Jesus abriu m ão. A signação, seu esvaziam ento e sua m orte de Cruz, ele
kenosis, contudo, tam bém lida com aquilo que C risto tam bém se to rn a Deus p o r “causa hon ro sa”. Em ou-
assum iu p o r toda eternidade. Ele tom ou sobre si m es­ tras palavras, C risto é Deus (natureza) e m erece ser

S £ & 1■
Deus (encarnação). Pois dem onstrou um caráter e Assim, m uitos dos ataques e dúvidas levantadas
um a nobreza divina, m esm o quando voluntariam en- hoje já fizeram parte do debate desde o princípio
te abriu m ão de seus atributos para revelar a divinda- da história do C ristianism o, nem p o r isso barraram
de e salvar a hum anidade. a divulgação da m ensagem da cruz. De igual modo
seria anacrônico supor que a igreja cristã prim itiva
recebeu o maior de to-
C risto, o Filho de Deus,
fosse um tipo fundam entalista de m ovim ento similar
dos os nomes por mérito e conquista (Col. 2:15). a grupos anti-intelectuais ou anticientíficos que sur-
Ele triu n fo u sobre os principados e potestades na
giram nos séculos posteriores.
cruz, despojando-os e decretando sua consum ada
derrota. Foi na cruz que ele, usando seu “caráter” de Por m eio de quatro diferentes relatos da vida de
Deus, em lugar de seus “poderes” de Deus, arrancou a Jesus, isto é, quatro evangelhos, é possível dizer que
arm adura do valente e o expôs ao desprezo, vencen- a descrição dos fatos não seguiu nenhum padrão his-
do o diabo, o pecado e a m orte. “Pelas suas pisaduras toriográfico m oderno, m uito m enos a criação de um
fostes curados” (Isa. 53:5). m ito com fms propagandísticos. Os relatos poderiam
não ter a precisão descritiva de todos os m ínim os de-
No suprem o ato de hum ildade, o Deus do universo
talhes, mas eram fiéis ao testem unho e desprovidos de
tornou-se um ser hum ano e m orreu po r Sua criação.
embelezam entos folclóricos. Eram narrativas de fatos
A kenosis, portanto, é Cristo assum indo a natureza hu-
por demais extraordinários, mas que, por sua singula-
m ana com todas as suas limitações, exceto o pecado.
ridade, tornavam o evento impossível de não ser pro-
clamado. Esse é o sentido do Kerygma, term o técnico
Respostas humanas que representa a proclamação cristã do evangelho.

A pesquisa acadêmica m oderna sobre o m ovim en-


A identidade de Cristo, sua natureza e atitude são
to de Jesus e suas conseqüências para a hum anidade
conceitos que ultrapassam os limites de um credo ecle-
pode ser dividida em três ondas surgidas a p artir dos
siástico. São dados que dem andam um a decisão por
anos 1700 que inauguraram a busca pelo Jesus his-
parte daquele que é confrontado com tais elementos.
tórico, contraposto ao Cristo da fé. Elas tam bém são
E impossível assum ir postura de neutralidade diante
prim eira, segunda e terceira “busca” (Quest) p o r Jesus.
desse m istério anunciado e relevado aos hom ens.
A prim eira seria aquela que poderia ser chamada de
O que se pode, po rtan to , dizer acerca das m oder-
“a busca liberal”. Ela se inicia com o trabalho de Her-
nas correntes céticas em relação a Jesus? A prim eira
m ann Samuel Reimarus, então reconhecido como o
observação é que m uitos dos ditos atuais que negam a
“pai” da busca histórica de Jesus. Seu m étodo consistia
veracidade histórica de Jesus e da m ensagem evangé-
em aplicar princípios do Ilum inism o para interpretar
lica não são os criadores, mas apenas os propagadores
as declarações singulares de Jesus, especialmente aque-
das dúvidas que já foram lançadas há m uitos séculos.
las que o identificavam como Filho de Deus.
U m exem plo é a negação do nascim ento virginal
O pressuposto dessa corrente liberal é a dúvida sis-
de C risto que m uitos pensam estar advogado de m a-
tem ática contra todo e qualquer tipo de ocorrência
neira inédita. Isso já era insinuado p o r contem porâ-
que desafia as com preensões do racionalism o ou que
neos de Jesus que se to rn aram seus inim igos (João
se situa fora do alcance dele. T udo, po rtan to , que foge
8:41). O teólogo alemão R eim arus pode ter escrito
à racionalidade hum ana (os m ilagres, p o r exemplo)
extensivam ente sobre a ressurreição, argum entando
são descartados a priori com o não históricos. T rata-
que os discípulos roubaram 0 corpo de Jesus. Mas
-se, pois, de um a busca não racional, mas racionalista
esse era um ru m o r que já estava anotado no Evange-
de Deus, que confina todas as coisas aos lim ites da ra-
lho de M ateus 28:11. De igual m odo, Strauss não foi
zão hum ana, especialm ente a razão do século XVIII.
o prim eiro a rejeitar o m istério da encarnação. Celso
e Porfírio (filósofos pagãos do século II e III d.C.) já P or isso, a visão liberal dos evangelhos é a de que
diziam isso. as descrições bíblicas de Jesus são falsas em sua essên­
cia. Não desonestas, porém , folclóricas e de pouco va- um a autobiografia idealizada de si m esm o, conform e
lor histórico. O propósito da teologia bíblica conclui visto na proposta de Friedrich Schleiermacher.
esse segm ento, é o de separar Jesus e história com o
A p rópria crítica das fontes e a crítica das form as,
dois m ovim entos excludentes e pouco com unicantes.
conduzidas para recriar o evangelho original ou as
A p a rtir desse pressuposto, todas as demais teses libe-
origens textuais do N ovo T estam ento, tam bém fo-
rais foram erguidas sobre quem seria Jesus de Nazaré.
ram m unidas de tanto subjetivism o que no final era
im possível falar de “crítica”, assim no singular, mas
sim de “críticas”, no plural, tão variadas quando o nú-
m ero daqueles que as propunham .

Finalm ente, o outro dilema dessa visão liberal é


que, ao contrário do que se supõe, seus proponentes
não advogavam um ateísm o antirreligioso, mas um a
contribuição para a p rópria cam inhada da Igreja. O
problem a porém é que a crítica das form as não logrou
revelar n enhum evangelho m elhor que os canônicos
que já possuíam os e o cham ado C risto querigm ático,
isto é, o Cristo do púlpito dem onstrou-se ineficaz po r
não possuir os principais elem entos históricos que o
legitim em . A proposta, po rtan to , tornava-se cada vez
mais teórica e nada prática ou relevante.

A fé, contudo, destituída de um a racionalidade,


não se sustenta e pode conduzir à credulidade ingê-
nua. A inda que um teólogo se posicione de m odo
conservador em relação aos evangelhos, deve reco-
nhecer que os m ovim entos liberais levantaram im -
po rtantes questões que talvez não seriam im aginadas
se não houvesse um a sacudida das estruturas confes-
sionais do cristianism o.

Assim surgiu um a segunda onda de pesquisas so-


bre Jesus e história, tam bém cham ada de N ew Quest
na literatura inglesa. Ela com eçou no século XX a
O problem a com essa abordagem , percebido ao p artir de um diálogo interconfessional entre teólogos
longo dos tem pos, foi que o descarte do texto bí- católicos e protestantes.
blico, ao invés de tra z er objetividade nas pesquisas,
U tilizando-se de diferentes critérios, esses acadê-
am pliou o espectro do subjetivism o e n tre os pesqui-
micos pretenderam identificar distintos graus de cer-
sadores. Cada um estabelecia seu c ritério de h isto ri- teza nas declarações acerca de Jesus. Não há dúvidas
cidade elegendo p o r si m esm o o que seria histórico de que o trabalho deles produziu valiosos conheci-
ou m itológico nos evangelhos e que fatia percentual m entos da área. M uitos, porém , tornaram -se céticos
cada um representava. ou dúbios demais em sua form a de reco n stru ir o Jesus
da história.
O próprio Albert Schweitzer, que era um autor li-
beral, dem onstrou de m odo convincente o subjetismo Para eles o Jesus histórico seria apenas um frag-
vigente nas pesquisas sobre Jesus publicadas em seu m ento daquele Jesus real que existiu no século I. E
tem po. No final das contas, cada um recriava um Jesus m uitos, com o B ultm ann, chegaram ao ponto de de-
diferente à sua própria imagem e que term inava sendo sestim ular a busca p o r um Jesus “da história”. Faltou
tam bém à proposta um a consciência filosófica mais m ann (1884-1976) que considerava a busca pelo Jesus
acentuada acerca do que é possível ou não se des- histórico um beco sem saída.
cobrir da história antiga. Q ualquer evento histórico
Essa terceira onda, na verdade, refere-se a três dis-
precisa ser entendido com o um recorte particular de
tintos grupos acadêmicos: 1) o W ester Institute em
um a estru tu ra geral e, p o rtan to , análogo a eventos e
conjunto com o Jesus Sem inar, fundado por R obert
pessoas passíveis de serem investigadas, senão em to-
Funk; 2) o grupo pós-m oderno propondo aborda-
dos os detalhes, pelo m enos em sua essência.
gens revolucionárias e genitivas de Cristo (Jesus a
Porém , em que pese a legitim idade dos critérios p artir dos pobres, das m ulheres, dos negros, dos ex-
que surjam desse entendim ento de história, ele não cluídos etc.) e, po r últim o, 3) aqueles que redescobri-
é capaz de excluir a possibilidade de um evento inco- ram a identidade judaica de Jesus.
m um ou prever um evento inédito. P or isso, seria um
Por isso, a proposta da terceira onda poderia ser
erro os historiadores m inim izarem ou m axim izarem
cham ada de cristologia pluralística, pois abarca várias
aquilo que é verdadeiram ente único no evento de Je-
reconstruções de Jesus ao m esm o tem po. U m pon-
sus. Com o categorizar, p o r exem plo, a ressurreição?
to, porém , que unifica esse novo projeto é a crença
A tribuir a ela qualquer categoria com um ou im pos-
de que Jesus não foi o personagem construído pela
sível de acontecer é negar a p ró p ria existência de um
teologia liberal protestante, nem pelos proponentes
Deus T odo-Poderoso que intervém nos negócios da
da nova busca, mas um a figura histórica cuja vida e
hum anidade. Em outras palavras, a única coisa que
atitudes estavam enraizadas no judaísm o do prim eiro
precisam os para que a ressurreição de C risto seja um a
século, especialm ente dentro de seu contexto religio-
possibilidade é que Deus exista.
so, político, social e econôm ico.
Nesse sentido, é im possível aplicar a um evento
Este insight não deixa de ser um a proposta inte-
dessa natureza critérios positivistas, principalm ente
ressante. Ele finalm ente procura contextualizar Jesus
considerando que é um evento singular, jam ais repe-
dentro de seu am biente histórico, o que facilita m uito
tível em laboratório, ainda que subm etido a condições
a com preensão de suas ações, diálogos e expressões
e am biente controlados. O conhecim ento que advém
que certam ente não podem ser interpretadas fora de
dele só pode v ir do testem unho factual de pessoas que
contexto. C ontudo, ainda existe o perigo do anacro-
o presenciaram e descreveram em prim eira mão. Não
nism o e da tendência intelectual do pesquisador que
se pode isolar um fato de sua interpretação. Isso seria
fica tentado buscar no Jesus histórico um eco para sua
p erder o sentido do depoim ento.
p ró p ria agenda de ideias.
Tem os, finalm ente, a terceira onda ou Third Quest
Falando especificamente dos três grupos vistos nesse
- term o cunhado pelo teólogo britânico N .T . W rig h t.
m ovim ento, podemos traçar os seguintes comentários:
Surgida nos anos 1980 e 1990 a p a rtir das tendências
deixadas pela “N ew Q uest”, ela representa a continui- O Jesus Seminar e o W ester Institute são um grupo
dade da busca histórica de Jesus num m o v im ento de de acadêmicos que se reúne periodicamente desde 1985
reto rn o às origens de Jesus. para discutir assuntos relacionados com o Jesus Histó-
rico. No início o foco era mais nos autênticos “ditos de
Vale lem brar que a segunda onda (N ew Quest) ha-
Jesus”, isto é, a plausibilidade ou não dos discursos de
via surgido de um desapontam ento com os resultados
Cristo terem sido conforme nos inform am os Evange-
inconclusos deixados pela T eologia Liberal Protes-
lhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Eles ainda acres-
tante acerca da busca histórica de Jesus. Ela, portanto,
centaram o texto apócrifo de Tom é como um quinto
era um a crítica pela busca de um Jesus histórico, sur-
relato, de m odo que falavam em cinco evangelhos.
gida entre os anos 1890 a 1910 a p a rtir do pensam en-
to de acadêmicos com o M artin K ãhler (1835-1920), Sem elhante a um com itê de condom ínio, eles deci-
W illiam W re d e (1859-1906) e A lbert Schw eitzer dem p o r voto entre si os textos que teriam ou não sido
(1875-1965). Depois, então, veio o mais p roem inente ditos p o r C risto a p artir de um grau de confiabilidade.
representante deles, o teólogo alemão R udolf Bult- Eles ainda dividem p o r cores os graus, de m odo que
os versículos que pintam de rosa referem -se a coisas o que foi até agora dito, especialm ente os tem as tra-
que Jesus talvez ten h a dito ou que sejam m uito pró- cionais do cristianism o. E assim conseguem cham ar a
ximas ao que ele realm ente ensinou. O grupo cinza atenção para sua “agenda”.
refere-se a palavras que ele não disse, m as que seriam
próxim as aos que ele pensava. E a cor p reta refere-se
a coisas que, pelo voto do grupo, decidiu-se que Jesus
jamais teria dito. São na verdade palavras posterio-
res, frutos de algum conflito in tern o do cristianism o
e que foram propositadam ente introduzidas nos ditos
de Cristo para legitim ar a autoridade da declaração,
m esm o que ela jamais tenha sido pronunciada pelo
Senhor.

É trem endam ente questionável a m etodologia


científica desse exercício, principalm ente conside-
rando que eles partem de um pressuposto não com -
provado de que o Jesus histórico não teria nada a ver
com a Igreja cristã posterior. Logo, quanto m ais si-
m ilaridade h ouver entre um dito atribuído a C risto e
um a declaração de fé feita pelo cristianism o, m aior a As pessoas não querem mais saber da “velha e feliz
chance daquilo nunca ter sido dito pelo M estre, mas história”, nem da letra original de “noite feliz”, m uito
acrescentado posteriorm ente. m enos do Cristo bíblico. Sendo assim, novas propos-
tas surgem rem odelando o Filho de Deus, tornando-o
Para os acadêmicos do Jesus Sem inar, 80% dos
um Jo h n Lennon, um Che Guevara ou um Cínico dos
ditos atribuídos a C risto cairiam nas cores cinza ou
tem pos greco-rom anos. Enfim qualquer ser que aten-
preta. A penas 20% seriam autênticos. C ontudo, suas
da a um ou outro setor da sociedade. As palavras ditas
propostas corretivas beiram os lim ites do achismo. A
por Cristo são para esses proponentes apenas um jogo
declaração “bem -aventurados os pobres de espírito”,
de aforismos sem qualquer potencialidade salvadora.
por exemplo, é corrigida pela alternativa “parabéns
aos pobres”, nada, porém , existe que legitim e histori- Assim, dilui-se da figura de Cristo o papel de re-
cam ente a sugestão apresentada. d entor da hum anidade to rn an d o propostas com o es-
tas apenas um a form a m utante da velha busca liberal
Existe ainda no Jesus Sem inar um a super ênfase e
que com entam os anteriorm ente.
um a preferência aberta po r textos tardios e m arginais
em relação à tradição apostólica que seriam os evan- O segundo grupo (pós-m oderno) tam bém é consti-
gelhos apócrifos, especialmente os encontrados na tuído po r teólogos liberais de form ação ou m entalida-
biblioteca de Nagi Hammadi. O evangelho de Tom é, de sociológica, focados em questões como feminismo,
por exemplo, apesar de m uito posterior aos evange- socialismo e teologia da libertação. Seus resultados não
Ihos canônicos é mais autêntico na opinião deles que os são m uito distintos da prim eira proposta.
tradicionais relatos de M ateus, M arcos, Lucas e João.
Por ter um viés pluralista, as pesquisas pós-m o-
A últim a crítica a esse grupo consiste no curioso dernas sobre o Jesus histórico term inam recebendo
com entário que Luke T im o th y Jo h n so n faz a seu res- diferentes enfoques: sabedoria divina; Jesus profeta do
peito2. Para ele, seus proponentes se to rn aram experts cum prim ento das expectativas dos últim os tem pos; es-
em sensacionalism o e m anipulação da m ídia. O u seja, tudos sobre o contexto histórico-social da Palestina do
aproveitando que o tom de “denúncia”, “ineditism o” século I d.C. - a Galileia; a guerra judaica; o m ovim en-
e “revelação” potencializam discursos, eles sem pre to de Jesus; as influências helênicas no m ovim ento de
aparecem em docum entários de T V ou revistas não Jesus; Jesus como um fem inista à frente de seu tem po;
científicas fazendo declarações que antagonizam tudo Messias m arginalizado e hom em santo e carismático.
Finalm ente, o terceiro grupo, que para uns seria Conclusão
um desdobram ento do segundo, destaca m ais Jesus
dentro do judaísm o do século I. M as note que m uitas N enhum a das propostas anteriores colocadas tan-
vezes é difícil separar os grupos de m odo tão distinto. to para a sistematização cristológica quanto para um a
Eles se m esclam m uitas vezes nos próprios m étodos busca pelo Jesus histórico, pode ser inteiram ente con-
que utilizam . sagrada ou rechaçada. Todas têm seus pontos positi-
vos e seus problem as. Ademais, m uitos dos m étodos
G erd T heissen3, p o r exemplo, um dos m ais desta-
sugeridos podem ser úteis ou desastrosos dependen-
cados autores atuais, faz um a abordagem sociológica
do da ênfase unilateral ou da predisposição acadêmica
do m ovim ento que Jesus supostam ente teria funda-
do pesquisador em curso.
do, mas o recria dentro de um arcabouço ou releitura
do que seria o judaísm o de seu tem po. Sua conclusão C onform e já acentuado, o risco do anacronism o e
é a de que Jesus e seus seguidores seriam um grupo de da subjetividade investigativa continua presente em
carism áticos itinerantes vagando de cidade em cidade todas as frentes de pesquisa. U m exem plo palpável
à sem elhança dos cínicos gregos que tam bém renun- disso é a criação de m uitos esboços da vida de Jesus
ciavam família, posses e cidade de origem para vagar que acabam direcionando as publicações a respeito
pelo m undo buscando sabedoria. do assunto. De acordo com acadêmicos com o Craig
Evans, m uito do labor dos críticos tem produzido um
Considere-se, porém , que essa tentativa de encon-
“Jesus Fabricado”, que, aliás, é praticam ente o título
tra r Jesus d entro do judaísm o de seu tem po tem boas
em inglês de um de seus livros mais conhecidos -
contribuições e defensores tanto do lado conservador
Fabricating Jesus. E ele não usa eufem ism os em sua crí-
quando do mais liberal. N om es de peso com o Klaus-
tica. Nas suas próprias palavras:
ner, Buber, M ontefiore, Fluser, H agner, C hilton,
C harlesw orth, Riesner, M eyer, M oule e B randon Fabricando Jesus é um livro que examina com serie-
fazem parte do rol daqueles que adotam essa abor- dade alguns dos estudos desleixados e das teorias equivo-
dagem do Jesus histórico. Seu p onto de partida são cadas que têm sido apresentados em anos recentes. Fico
questões como: P or que Jesus e n tro u em conflito com consternado com muitos desses trabalhos. Alguns deles são,
determ inadas correntes de seu tem po? Qual era sua francamente, uma vergonha.4
relação com as disputas políticas e religiosas do judaís-
M esm o adm itindo que nem tudo pode ser redes-
m o antigo? Por que ele m orreu afinal?
coberto e que há um hiato intransponível de dois
A T hird Quest, portanto, contém vários autores, m il anos entre nós e o Jesus histórico, não podem os
cuja definição das principais características varia m uito. m inim izar a im portância da pesquisa. Parafraseando
Nesse sentido, algumas das imagens que foram cons- Jo h n M eier, o Jesus histórico que encontrarm os po-
truídas a respeito de Jesus são: Jesus, a cabeça falante derá não ser exatam ente o Jesus que existiu, e o Jesus
- talking head (Jesus Seminar); Jesus, o filósofo cínico que existiu poderá não ser exatam ente o Jesus históri-
irritante - nas obras de Jo h n Dom inic Crossan, Burton co que descrevem os, m esm o assim não podem os de-
M ack e Gerald Dow ning; Jesus, o hom em do espírito sanim ar de sua busca. A fé cristã, diferente de outras
propostas religiosas ou filosóficas, precisa do evento
- nas obras de M arcus Borg, Geza Verm es e Graham
histórico para ser realm ente autêntica. Ela não pode
H. Twelftree; Jesus, o profeta escatológico - nas obras
se basear n u m m ito, m uito m enos num achism o ou
de E. P. Sanders e M aurice Casey; Jesus, o profeta da
num credo decorado.
m udança social - nas obras de Gerd Theissen, Richard
Horsley e David Kaylor; Jesus, a saga: a sabedoria de A m ensagem dos evangelhos não pode ser enten-
Deus - nas obras de Elisabeth Schüssler Fiorenza e Ben dida com o um a vaga atitude existencial, um a m aneira
W hiterington; Jesus, judeu marginal ou Messias Judeu? de ser ou um a filosofia espiritual. Ela está enraizada
- nas obras de Jo h n M eier, James D unn, M arinus de n u m evento que, de fato teve lugar na história e en-
Jonge, M arcus Backmuehl e N. T. W right. contra-se vinculada a alguém especial cujas ações e
palavras podem ser situadas num tem po e local es- tativa m essiânica antes do século I d.C. M as a p artir
pecífico da história hum ana. Por isso o cristianism o do ano 1 d.C. até à geração que testem u n h o u a des-
verdadeiro não pode tem er qualquer escrutínio refe- truição do Segundo T em plo, o fervor m essiânico au-
rente à sua proclam ação. A penas espera-se que a ho- m en to u exponencialm ente. A razão disso, a seu ver,
nestidade intelectual esteja na vanguarda das pesqui- era simples: "não era um a intensificação [de esperan-
sas acadêmicas, seja de quem investiga, seja de quem ça] resultante da perseguição de Rom a, mas sim da
confessa sua adesão a Cristo. prevalescente crença induzida pela cronologia popular
daquele dia [da vinda do Messias] cuja idade estava no
N o dizer de E rnest K esem ann, a fé cristã dem an- lim iar do m ilênio... O M essias [portanto] era espera-
da n atu ralm en te o Jesus histórico, caso contrário, o do para algum tem po em to rn o da prim eira m etade
cristianism o não será baseado em o u tra coisa senão do século I d.C., porque o m ilênio estava às portas.
num m ito insustentável para m an ter as radicais afir- Antes desse tem po ele não era aguardado.”6
mações que ele apresenta: salvação, esperança, vida
eterna. Nas suas palavras, “a vida histórica de Jesus Em bora m encione algumas fontes prim árias com o
era essencial para a fé, p o r um a razão m uito simples: Josefo e determ inados pseudoepígrafos, Abba Hillel
0 Senhor terren o e exaltado [nos céus] constituem não provê textos originais que revelem explicita-
a m esm a pessoa”5. C om esse pensam ento resum e-se m ente qualquer relação entre a virada do m ilênio e a
vinda do M essias. Adem ais, não tem os indícios para
a razão de todas as inform ações coletadas an terio r-
supor que o calendário da época m arcasse para aquele
m ente nesta enciclopédia.
tem po qualquer tipo de “passagem de ano m ilenar”. A
não ser que entendam os com o segura a possibilidade
Silenciando a profecia de que o rabino Jose ben Halafta - o mais antigo cro-
nologista judeu a calcular o ano da criação - já tives-
O rabino Abba Hillel Silver publicou um livro em se em m ente a ideia de anos m ilenares com pondo o
1917, no qual afirm ou que de fato não havia expec­ A nno M undi e que suas inform ações procederiam de

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um a tradição a n te rio r à produção de sua obra Seder com o já foi dito, com 1240 de nosso calendário.
Olam Rabbah, escrita em to rn o do ano 165 d.C. Logo, o M essias deveria v ir antes disso, pois após
esta data a profecia talm údica não teria com o ser
T al ideia, no en tan to , não conta com o um a com -
cum prida. E ntão, os anos que se seguiram até 1240
provação textual direta que a confirm e, e são várias
foram de trem en d a expectativa p ara alguns judeus.
as p ropostas rabínicas p ara o ano da criação. N ão se
pode afirm ar inequivocam ente que o nascim ento de A proxim adam ente um século antes de Rizba, mais
Jesus coincidia com um a virada m ilenar nos côm - p ropriam ente em 1172 d.C., M aim ônides fez um a
putos da época. A dem ais, M aim ônides afirm a que o revelação tardia, mas m uito digna de consideração,
calendário A nno M u ndi só foi in v entado em to rn o principalm ente pela possibilidade de se basear em
do século VI d.C. e que os judeus só passaram a uti- fontes ainda mais antigas. Em sua C arta ao Iêm en
lizá-10 no século X III7. (Iggeret Teiman) escrita para confortar e o rientar ju-
deus pobres do Iêm en que eram enganados p o r um
Existe, a bem da verdade, um a obscura fonte ci-
falso M essias árabe, M aim ônides observa:
tada p o r Israel Jacob Y uvaPque foi preservada num
antigo m anuscrito hebraico descoberto na Bibliote- “D aniel tem desvendado para nós o conhecim en-
ca M unicipal de D arm stadt. Yuval infelizm ente não to do tem p o do fim. N o en tan to , um a vez que ele
fornece n e n h u m dado quanto à datação do m anus- ainda é um secreto, os sábios [rabis] têm im pedido o
crito (se é cópia ou original), m as info rm a um a parte cálculo dos dias da vin d a do M essias, de m odo que a
substancial de seu conteúdo. O títu lo do docum en- população não o rien tad a não seja levada ao desâni-
to era “H om ílias do Rei M essias e G oque e M ago- m o quando v irem que o tem po do fim já com eçou,
gue”. O autor, que perm anece anônim o, apenas se m as que não tem os ainda n e n h u m sinal do M essias”.
apresenta com o um discípulo do rabino Isaac ben 9

A braham (conhecido pelo apelido de Rizba) e que


A p e rg u n ta é: p o r que os rabinos desistim ulavam
foi um im p o rta n te p ensador franco-judeu que viveu
os co ntínuos estudos da profecia de Daniel? Duas
no com eço do século XIII d.C.
hipóteses não excludentes podem resp o n d er a essa
O m anuscrito revela com o principal tem a a con- questão: p rim eiro , o tem po da chegada passou e o
vicção judaica de que o M essias se revelaria antes M essias de fato veio na pessoa de Jesus de Nazaré,
de 5000 anno m undi, que em nosso calendário daria m as com o não podiam aceitar que esse fosse o p ro -
algo em to rn o de 1240 d.C. O cálculo profético é feito m etido rei dos judeus, ficaram retard an d o ao m áxi-
com base n a tradição talm údica de que este m u n - m o o cu m p rim en to do vaticínio até que, ao não po-
do existiria p o r apenas 6.000 anos divididos em três derem m ais esticar a linha do tem po, p a rtira m para
períodos de 2.000 anos cada um . O p rim e iro seria o a inibição do estudo que certam ente apontava para
p eríodo do Caos, m arcado pelo dilúvio. O segundo Jesus e esse não podia ser reconhecido com o M es-
o perío d o da T o rá e o terceiro o p erío d o do M essias. sias. A segunda hipótese é a de que esse desistím ulo
O ra, se o perío d o do M essias com eçaria em 4000 pode advir desde os tem pos do Segundo T em plo, o
(anno m undi) e, de acordo com a cronologia profé- que d em o n stra um a efevercência m essiânica p o r um
tica do T alm ude Babilônico (B T Sanhedrin 97 a), de- lado (efetivada pelos que estudavam as profecias de
veria d u rar dois m il anos. Seu nascim ento, p o rta n to , Daniel) e um a indiferença do o u tro (form ada p o r
deveria ser em qualquer p eríodo e n tre 4001 e 4999 aqueles que desistim ulavam seu estudo). O fato é
anno m undi, para que (pela contagem inclusiva) pu- que se os rabinos chegaram a p ro ib ir o cálculo das
desse-se falar de 2 m ilênios de era m essiânica (pelo 70 sem anas é po rq u e m uitos já o estavam fazendo.
m enos “u m ” ano d e n tro do p rim e iro m ilênio e parte
A lfred E dersheim afirm ou: “O rabinism o tardio,
dos m il anos do segundo).
não podendo e n c o n tra r um m odo natu ral de com -
O ra, o G rande Rabi Rizba m o rre ra em 1210 d.C. p ree n d e r as profecias do livro, chegou a declarar que
e o p rim e iro ano do 5000 anno m u n d i coincidiria, D aniel estava equivocado”10.
C uriosam ente, o T alm ude Babilônico (com pila- los, m as que o M essias não viera p o r causa da apos-
do e n tre os séculos III e V d.C.) já acenava às p ro - tasia do p o v o 13. O u tro s diziam que o M essias veio
fecias do tem po de D aniel com o estando cum pridas quando o T em plo foi destruído, m as perm aneceria
no passado. O contexto envolve especialm ente a escondido até que Israel fosse digno de recebê-lo.14
profecia das 70 sem anas. O rab i Judá, um dos p rinci-
A certeza de que o Salvador v iria antes da des-
pais com piladores das regras talm údicas, definiu que
truição do T em plo era tam an h a que até no m om en-
“todas as datas predestinadas [para a redenção] já se
to da destruição do T em plo pelos rom anos, houve
passaram ” (B T Sanhedrin 97 b)n .
quem se apegasse a isso com o certeza de que o M es-
O grande problem a discutido nesta seção do tra- sias v iria antes da viração do dia:
tado talm údico é que a dita redenção (i.e. o M essias)
“U m falso p rofeta estava ali na ocasião em que o
não havia vindo conform e esperavam . E ntão houve
povo estava sendo destruído, ele fez um a proclam a-
grandes discussões e n tre os rabinos na ten ta tiv a de
ção pública na cidade [de Jerusalém ] de que naquele
re in te rp re ta r o p ro gnóstico escriturístico. U m de-
m esm o dia, D eus o havia com andado a seguir para
les, o rab in o Sam uel b. N ahm ani chegou a am aldi-
o T em plo e que lá eles deveriam ficar até receber
çoar em nom e do rabino Jo n a th a n os que insistis-
os m iraculosos sinais de livram ento. P or causa dis-
sem em estudar e ensinar a cronologia profética de
so, houve um grande n ú m ero de falsos profetas ...
D aniel. “Q ue sequem os ossos, disse ele, daquele que
[dizendo] para esperarem pelo liv ram en to de D eus.”
calcular o advento do M essias”12. A razão do am ai-
(G uerras, VI, 5,2).
d içoam ento, co n tin u a o rabino, estaria no fato de
que “um a vez que 0 tem po determ inado veio e ele O texto co n tin u a dizendo que cerca de 6.000 ho-
[o M essias] não chegou, então ele nu n ca v irá” - esta m ens, m ulheres e crianças se refugiaram no pátio
seria, na conclusão dele, a opinião que tais m estres do T em plo. Os soldados, p o rém , m esm o sem terem
inculcariam no povo. {BTSanhedrin 97b). recebido ordens para isso, incendiaram o T em plo e
todos m o rreram . N en h u m escapou.
O que a profecia de D aniel 9:26 claram ente reve-
lava - e m uitos rabinos assim o com preendiam - era No tra tad o talm údico do Yoma 39 b, tem os um
que o M essias deveria exercer seu m in istério duran- curioso testem u n h o histórico. O T alm ude cita um
te o p eríodo do Segundo T em plo, pois em sequên- Baraisa15 que discute um estran h o fenôm eno que
cia disso viria um povo e um príncipe estrangeiros oco rreu no T em plo d u ran te o serviço do Yom Ki-
que d estru iriam a cidade (Jerusalém ) e o santuário ppur. Ali diz que era costum e colocarem na cabe-
(0 T em plo). ça do Bode Azazel um a faixa de lã tingida de ver-
m elho-escarlata. N o rm alm en te essa fita se to rn av a
O ra o T em plo foi, de fato, destruído pelos rom a- branca na presença de to d a a m ultidão que se reu n ia
nos em 70 d.C., logo o M essias deveria te r vindo an- no T em plo naquele dia. O povo en ten d ia que essa
tes disso. M as, conform e o e n te n d im e n to rabínico, m udança de cor era um sinal de que seus pecados
ele não veio. A lguns enten d eram que isso se deveu estavam perdoados.
à apostasia do povo, o u tro s que sua vinda realm ente
deveria ser depoisda destruição do T em plo, pois o C ontudo, c o n tin u a o T alm ude, 40 anos antes da
M essias v iria para restaurá-lo. Essas são algum as das destruição do T em plo, n e n h u m a m udança de cor
discussões encontradas nesta parte do Talm ude. pôde ser m ais verificada. A fita continuava ver-
m elh a16. A in terp retação do T alm ude era de que
Os rabinos Shlom o Yitzaki (m ais conhecido isso oco rreu p o r causa dos pecados e da apostasia
com o Rashi) e Eliyahu de V ilna (mais conhecido do povo que se to rn a ra m cada vez m ais intensifi-
com o V ilna G aon) foram sem dúvida os m ais fa- cados depois da m o rte de Sim eão, o Ju sto (310-291
m osos talm udistas dos séculos XI e XVIII. A m bos ou 300-273 a.C.) que foi um dos m ais im p o rtan tes
afirm aram - baseados n o T alm ude - que os tem pos e piedosos sacerdotes do p eríodo do Segundo T em -
m essiânicos já haviam realm ente com eçado há sécu­ pio. Diz a h istó ria (Josefo e o p ró p rio Talm ude) que
ele conduziu o povo de m an eira m uito espiritual, m atinais (y. Yoma 6:43c; b. Yoma 39b). T al even-
m as que o povo m erg u lh o u nov am en te na apostasia to foi in te rp re ta d o pelos rabinos com o um sinal da
depois de sua m orte. grande destruição (Sifrê D eut. § 328 [sobre Deut.
32:38]). O evento se rep e tiu p o r oito sábados con-
Então os m ilagres que com eçaram a o c o rre r em
secutivos:
seu tem p o , d im in u íram progressivam ente até que
40 anos antes da destruição as fitas nu n ca m ais m u- “Q u aren ta anos antes do T em plo ser destruído,
daram de cor. A ocupação ro m an a do T em plo foi a ... as portas de Helek (o santíssim o) se abriram por
conseqüência m aior disso. si m esm as, até o rabino Y ohanan B. Zakkai as re-
p reen d eu dizendo: Hekel, Kekel, po rq u e vocês estão
E in teressan te que com putando 40 anos antes da
nos alarm ando? Nós sabem os que a arte que está em
destruição do T em plo no ano 70 d.C., chegam os po r
vocês está para ser destruída...” (b. Yoma 39 b).
volta do ano 30 d.C. Ora, Jesus m o rre u na Páscoa
de 31 d.C.e os Sinópticos tam bém m encionam um U m dos rabinos talm udistas, R. A lexandri, citan-
estran h o evento relacionado ao serviço no T em plo: do o R. Jo sh u a b. Levi, afirm ou: “Se eles [os judeus]
a c o rtin a do santuário se rasgou de alto a baixo em forem m eritó rio s, [o M essias] v irá nas nuvens do
sinal do o corrido na cruz (M at. 27:51; M ar. 15:38; céu; se não forem , v irá hu m ild em en te m o n tad o so-
Luc 23:45). Josefo disse que o véu tin h a as m esm as bre um ju m en to .” (TB Sanhedrin, 98 a).
dim ensões das p o rtas de o uro que ficavam atrás dele
N ão seria in co n g ru en te com as interpretações
separando o Santo do Santíssim o. As dim ensões se-
talm údicas e n te n d e r que, além da apostasia, os fe-
riam 50 côvados de algura p o r 16 côvados de lar-
n ôm enos ocorridos no T em plo eram um a m aneira
gura, algo em to rn o de 18,30 m x 9,15m (G uerras
5.5.4). de D eus revelar que seu serviço chegara ao fim , pois
- a despeito da apostasia - o M essias havia vindo
A paren tem en te o véu era trocado a cada ano. A conform e o p ro m etid o , não necessitavam m ais sa-
M ishná tam bém ap o n ta p ara esse fato (em bora con- crificar. M as povo rejeitara o p ro m e tid o de Deus.
tradiz as m edidas de Josefo): “R aban Sim eão, o filho
de G am aliel diz, em nom e do Rabi Sim eão, o filho
do chefe [dos sacerdotes]: O véu era de um a m ão
de largura em espessura e era tecido em 74 cordas,
Expectativas messiânicas
cada corda com posta de 22 segm entos. Era de 40 cô- no Século I a.C. e
vados de co m p rim en to e 20 côvados de largura, e
era com posto de 82 vezes 10.000 (fios). E ram feitos Século I d.C.
2 véus cada ano, e 300 sacerdotes eram necessários
p ara m ergulhá-lo.” (Shekalim 8, 5). M uitos docum entos de Q um ran e outras fontes da
época do Segundo Tem plo tam bém nos dão indícios
T am bém é in teressan te que Lucas ten h a cham a- claros de que um a parcela significativa dos judeus es-
do tan to a atenção para a coincidente presença de perava para aquele tem po a chegada de seu M essias
o u tro Sim eão, o Justo, exatam ente na apresentação e isso certam ente não foi um m ovim ento pequeno
de Jesus no T em plo. O evangelista deveria conhecer ou escondido. O incôm odo chegou dem andar um a
a tradição sobre o que aconteceu depois da era do reinterpretação do oráculo po r parte dos próprios ro-
Sim eão original e, p o r isso, reg istro u o fato (Luc. m anos a fim de que pudessem acom odar a profecia
2:25-35). dentro de seus próprios interesses. Isto é o que nos
revelam duas passagens de Tácito e Suetônio:
O u tra curiosa tradição talm údica diz que 40 anos
antes da destruição do T em plo, suas enorm es e pe- “M uitos [no séc. I] estavam persuadidos de que
sadas p o rtas de ouro a p aren tem en te se abriram so- constava, das antigas escrituras dos sacerdotes, que,
zinhas d u ran te a n o ite e foram encontradas abertas p o r este tem po, o poder do O riente subiria. E da Ju-
pela m en h ã p o r sacerdotes que iam fazer as preces deia viriam os dom inadores do m undo. Esse texto
am bíguo anunciava Vespasiano e T ito; m as a popula- “Ele (M elquisedeque) proclam ará liberdade para
ção [judaica], com o geralm ente acontece com a pai- eles, para libertá-los da [dívida] de todas as suas ini-
xão hum ana, in te rp re to u esta grandeza fatal em seu quidades. E isto [acontecerá] na prim eira sem ana do
favor.” (Tácito, Historiae, V, 13 = partes entre colche- jubileu que segue aos nove jubileus. E o dia [da ex-
tes suprim idas do texto original). piação] é o fim do décim o jubileu no qual expiação
será feita para todos os filhos de [Deus] e para os ho-
“A um entava em todo o O rien te a antiga e cons-
m ens da porção de M elquisedeque ... M elquisedeque
tan te opinião de que estava escrito no destino do
executará a vingança dos juízos de Deus [neste dia, e
m undo que da Judeia viriam , naquele tem po, os do-
eles serão libertados das mãos] de Belial e das m ãos de
m inadores do m u n d o .” (Suetônio, Vidas, V espasia-
todos os esp[íritos do seu grupo]”.
no, XXXVIII, 11).
Esse trecho m ostra a com preensão de que os co-
Talvez aludindo ao m esm o contexto de Tácito e
m unitários de Q um ran tinham o M essias com o sa-
Suetônio, Josefo descreve o surgim ento de um a m ui-
cerdote segundo a ordem de M elquisedeque, algo
tidão de falsos messias incentivados pela convicção de
coincidentem ente ensinado p o r Paulo, caso o enten-
que havia chegado o tem po de cum prir as profecias
dam os com o o autor de Hebreus 5 :l-1 0 1s.
messiânicas. Isso teria sido p o r volta da guerra judaica
que antecedeu a destruição do Tem plo no ano 70 d.C. O utro destaque da passagem é 0 sentido crono-
lógico da esperança m essiânica que m ostra um a real
“M as, o que m ais incitou [os judeus] à guerra foi
expectativa cronológica sustentada pelos jubileus re-
um a am bígua profecia, tam bém m encionada nas Es-
lacionados a Daniel 9.
crituras, segundo a qual, naquele tem po alguém pro-
veniente de sua própria terra haveria de se to rn a r Aliás, essencial para os m em bros da com unida-
o ‘dom inador do m u n d o ’... Este [oráculo] foi inter- de de Q um ran era a noção historicista da profecia,
pretado pelos judeus com o um a alusão a um de seus conform e podem os nos fragm entos de 4Q180 e 181
com patriotas, e m uitos se equivocaram com essa in- (ou 4Q PerC r), denom inados “Períodos da criação”.
terpretação. O oráculo, na verdade se referia ao do- Ali tem os a história hum ana dividida em períodos, o
m ínio de Vespasiano, aclamado com o im perador da próp rio docum ento se diz um “pesher [i.e. interpreta-
Judeia”. (G uerras VI, 5) ção] sobre os períodos que Deus fez: um período para
Hoje é sabido, conform e sinalizou Tabor, que “o com pletar [tudo o que existe] e o que haverá de ser.”
grupo de Q um ran [também] estava intensam ente in- (4Q180 frag. 1 linhas 1 e 2). Fala-se da “ordem exata
teressado na profecia das ‘Setenta Semanas’ de Daniel. dos períodos”, “dos períodos de Ju ízo ” e “do juízo do
Eles mesmos tentaram se localizar dentro deste esquema conselho” (que é o juízo final). T udo previsto nas tá-
cronológico conform e seu entendim ento do eschaton. buas celestes para os filhos dos hom ens.
Eles tam bém devem ter feito alguma dedução daquela
No 4Q181 linha 3, m enciona-se algo em relação à
figura do Messias que seria cortado [i.e. m orto].”17
chegada da septuagentésim a sem ana (certam ente de
O Pesher escatológico de M elquisedeque (11Q M el- Daniel 9), m as o texto está m uito fragm entado. As
ch ou 11Q13), largam ente baseado em Levítico 28 e linhas dão a entender que seria um tem po em que os
na lei do jubileu, indica que os m em bros de Q um ran hom ens deveriam se preparar, pois haveria um ajuste
estavam se preparando para a vinda im inente de um a de contas com Deus.
era de paz anunciada pelo “M essias (lit. [o un]gido do
Flávio Josefo, p o r sua vez, tam bém testem unha
espírito) de quem falou o profeta D aniel”.
acerca de Daniel dizendo que ele “não apenas profeti-
Esta mescla entre M elquisedeque, Daniel e os ju- zou o futuro, com o outros profetas o fizeram , mas re-
bileus é m uito interessante e m erece ser com entada. velou especificam ente quando as coisas iriam o correr”
A ludindo especialm ente a Daniel 9 (i.e à profecia das (Antiguidades x, 268). Essa convicção profético-cro-
Setenta Semanas), o texto diz: nológica certam ente serviu de inspiração a m uitos
judeus no período do Segundo T em plo e apontava sábado, tem os um a ordem an terio r em Levítico 25:2
seguram ente para a chegada do Messias. que diz: ’,Quando entrardes no país que eu vos darei, a
terra deverá guardar 0 seu sábado consagrado ao Senhor ".
U m targum tadio alude possivelm ente ao livro de
N ote-se o to m septenário e tem poral do discurso.
Daniel, com o tendo o poder de revelar a data da vinda
Com o bem acentuou Sam son Raphael H irsch, fam o-
do M essias. No TB M egillah 3a, tem os esta declara-
so rabino alem ão do século XIX: “o calendário é o ca-
ção: “[Jonatan bem Uzziel] procurou revelar através
tecism o dos judeus”22.
de um targum dos ketuvim (os escritos)19, m as a bath
kol [a voz divina] se antecipou e disse: Basta! Qual D eus d eterm in ara que a p a rtir da e n trad a n a ter-
seria a razão para isso? - ora, porque a data doM essias ra p rom etida, os hebreus deveriam co n tar seis anos
estava lá profetizada, anunciada.” nos quais a te rra era sem eada, cultivada e ceifada.
O sétim o ano, p o rém , deveria ser um ano sabático.

A contagem das Isto é, um ano de descanso p ara a terra. Nele não se


podia fazer nem sem eadura, nem poda. N em m es-
70 semanas m o o que germ inasse de grãos acidentalm ente caí-
dos d u ran te a colheita a n te rio r poderia ser ceifado.
Com o os judeus que esperavam o M essias faziam O que se p erm itia era um a colheita individual para
suas contas para te r certeza de que era chegado o consum o p ró p rio . P o r exem plo, se nascesse aciden-
tem po da redenção?20 N ovam ente os M anuscritos de talm ente um a fru ta ou cereal, este ficava à disposi-
Q um ran nos dão um a pista. Foram encontradas nas ção de qualquer um que quisesse pegar e com er fosse
grutas diversas cópias do livro canônico de D aniel e ou não dono daquela p ropriedade onde g erm in o u o
do pseudoepígrafo dos Jubileus. A interpretação con- fruto. Os anim ais tam bém não eram im pedidos de
junta de ambos revela que a com unidade tin h a grande com er as plantas que cresciam p o r si m esm as (Lev.
interesse na datação da vinda do M essias. 25:2-7; Êx. 23:10, 11).

O livro dos Jubileus enfatiza que Deus faria grandes Além disso, aos hebreus foi ordenado contarem
coisas durante o chamado ano jubileu - ocorrido a cada sete desses períodos de sete anos ( 7 x 7 = 49). O ano
49 anos (cf. 11Q Melch. #15). Juntando essa tradição seguinte, o 50°, deveria ser considerado um ano de
do jubileu ao côm puto daniélico da chegada do “ungi- jubileu. T oques program ados de tro m b eta proclam a-
do” (Dan. 9:24-25), Q um ran traz - com o verem os a se- riam a chegada daquele ano que sim bolizaria a liber-
guir - interessantes pistas de que m uitos (senão todos dade em todo o país (Lev. 25:8-10). O jubileu tam bém
em sua comunidade) esperavam que o Messias viesse com partilhava alguns elem entos com o ano sabático.
em algum tem po entre o ano 3 a.C. e 2 d.C.21 Nele a terra tin h a novam ente um repouso completo.
Isso significa que os produtos do 48° ano de cada ciclo
Com o dissem os anteriorm ente, os m em bros da
de 50 anos deveriam ser estocados para servirem de
com unidade mesclavam a figura de M elquisedeque, a
alim ento para os dois anos seguintes e alguns meses a
noção de jubileus e as setenta semanas de Daniel 9 (às
mais até que chegasse o tem po da colheita no 51° ano,
vezes equiparadas exegeticam ente aos setenta anos de
ou o prim eiro ano após o jubileu. A fidelidade a Deus
cativeiro babilônico).
garantiria ao povo um a bênção especial de Javé so-
O jubileu bíblico está fundam entado em Levítido bre a colheita do 6o e do 48° anos para suprir a nação
25:10: “D eclarareis santo o quinquagésim o ano e pro- durante o ano sabático, o ano jubilar e um a parte do
clam areis a libertação de todos os m oradores da terra. próxim o até à época da colheita seguinte (Lev. 25:20-
Será para vós um jubileu: cada um de vós reto rn ará a 22). C um prir essa cerim ônia significava para o povo
seu patrim ônio, e cada um de vós voltará a seu clã.” a dem onstração de sua fé na liberdade e nas provisões
prom etidas por Deus.
É im portante n o tar não apenas o aspecto social,
mas, sobretudo, o significado teológico, profético e Em Q um ran encontraram -se cinco cópias de um
sabático p o r detrás desse m andam ento. N o caso do m anuscrito cham ado “livros dos jubileus” que é parte
da epigrafia judaica e foi certam ente produzido po r dade essênia), os 490 anos deveriam com eçar com o
vários autores provavelm ente 200 anos antes do nas- reto rn o do cativeiro babilônico. Eles tam bém enten-
cim ento de C risto. Nele existem indícios im portantes diam que partindo da datação anno m undi, esse even-
sobre a interpretação profética da com unidade e sua to teve lugar no ano 3430 A.M. Logo, eles projetavam
expectativa quanto à im inente vinda do M essias atre- os 490 anos para depois dessa data e concluíram que
lada à profecia de Daniel. o M estre de Justiça deveria chegar p o r volta de 3920
A.M ., quer eqüivaleria aos anos 3/2 a.C.
O utro texto im portante é o docum ento de Damasco
que prevê um ciclo profético que vai desde o cativeiro É possível dizer que para um considerável n úm ero
até a revelação da verdadeira Lei de Deus e o apareci- de judeus o início daqueles tem pos era determ inado
m ento de um futuro M estre de Justiça que ensinaria a para a esperança hum ana da salvação ansiosam ente
retidão no final desse período. D entro desse espaço de aguardada. Esse tem po, no entando, não era indeter-
tem po, haveria a “era da iniqüidade’ (também conhe- m inado, mas nas palavras do Pesher de Habacuque:
cida como “época da Ira”), que seria caracterizada por “(...) todo o tem po de Deus virá na ordem fixada,
um a grande apostasia dentre o sacerdócio no Tem plo com o determ inou para eles nos m istérios de sua pro-
de Jerusalém. Nesse tem po, a lei de Deus foi seriamente vidência” (IQpHab VII, 13-14a).
posta de lado e não com pletam ente obedecida. A valida-
de de um a tradição legal dos judeus (leis cerimoniais?) O rabino José ben Halaphta (c. 140 d.C.) forneceu
teria seu fim com a chegada desse M estre de Justiça que no Seder Olam Rabbah 28 um a outra descrição de como
purificaria o Tem plo e restauraria a verdade. seria a contagem para a chegada dos tem pos messiâ-
nicos. Com o os m em bros de Q um ran, eles tam bém
A era da iniqüidade duraria 390 anos e se esten- faziam suas contas a partir de Daniel e tam bém con-
deria desde a queda de Jerusalém em 586 a.C. até a cluíam que o Messias viria num ciclo jubileu ou sabáti-
form ação da com unidade. Depois haveria outros 20 co anual, dentro do século I de nossa era. Seu côm puto,
anos então viria o M estre de Justiça23 e daí outros 40 no entanto, era diferente; eles vinculavam os 490 anos
anos se passariam desde a m orte do M estre de Justiça aos períodos das diferentes hegem onias sobre Judá.
até 0 julgam ento de Deus. Os detalhes são obscuros
e, p o r isso, im precisos para averiguação total24, mas Exílio babilônico 70 anos
a últim a seção que fala de 40 anos entre a m orte do
D om ínio persa 34 anos (sic)
M estre de Justiça e a vinda do juízo de Deus é algo
realm ente fascinante: D om ínio selêucida 180 anos

Έ desde os dias em que o M estre único foi recolhi- H asm oneus 103 anos
do até ao fim dos hom ens de guerra que se rebelaram
juntam ente com o hom em da m entira, haverá cerca H erodianos 103 anos
de quarenta anos” (CD MS B 20:13-15).25

N orm alm ente os textos de Q um ran m encionavam 490 anos


dez jubileus para o cum prim ento dessa profecia. Os ju-
bileus seriam 70 anos, mas como se fala de “semana de Para esse rabino, os 490 anos term inariam em 10
anos”, entendiam como 70 x 7 ou 490 anos como está de abib de 70 (ou de acordo com o côm puto do calen-
em Daniel 926. Esses seriam, na sua com preensão, um dário rabínico, 9 de abib de 68).
período de terrível apostasia em Israel, especialmente
Tais fatos nos perm item concluir que havia, sem
dentre o sacerdócio. No décimo jubileu se cum pririam
dúvida, um im portante clima de expectativa no ar,
as profecias e viria o juízo/salvação de Deus.
exatam ente na época do nascim ento de Jesus. Aquela
R. T. Beckw ith27, que estudou profundam ente o geração sabia que era chegado o m om ento de teste-
assunto, concluiu que na cronologia profética dos m unharem um grande evento profético. Os 70 anos
essênios (ele pressupõe Q um ran com o um a com uni­ de ira m encionados em Daniel 9:3 figuravam p ro e ­
m inentem ente no Manuscrito da Guerra. Os judeus de ser um livro inspirado por Deus - o paralelismo
tem iam a volta do cativeiro ou a continuação da torna-se, em alguns pontos, forçado. Não se tem , por
opressão p o r não estarem prontos para a chegada dos exemplo, como afirm ar que o acordo de A ntíoco com
tem pos messiânicos. Seu com portam ento, porém , os sacerdotes durou exatam ente um a semana, no meio
destoava com esse tem o r e m uitos adm itiram isso. da qual Onias fora m orto e o sacrifício interrom pido. A
correlação cronológica é totalm ente improvável.

Entendimentos modernos Ademais, a proposta pretende corrigir até m esm o


a interpretação de Cristo em M ateus 24:15, que pro-
A profecia das 70 semanas referida no cap. 9 do li- jeta a profecia de Daniel para tem pos futuros, poste-
vro de Daniel não é um tem a partilhado da m esm a for- riores ao seu m inistério, ao passo que A ntíoco estaria
m a em todas as denom inações cristãs ou no judaísmo. no passado.

Alguns, negando a possibilidade de haver profecias D en tro da ala mais conservadora, ainda que não
reais nas Escrituras, preferem entender o texto como exista consenso em todos os detalhes, pode-se dizer
um vaticínio ex eventu. O que significa isso? Partin- que estam os diante de um a profecia messiânica, reve-
do do latim , essa expressão se refere a profecias feitas lada a Daniel no século VI a.C. e que se cum pre preci-
depois do evento haver ocorrido. Desse m odo, não sam ente no m inistério de Jesus de Nazaré.
constituem previsões reais, mas interpretações espi-
rituais posteriores ao evento ocorrido. É o exercício No contexto de Daniel, um anjo aparece ao pro-
de se atrib u ir causas espirituais a eventos m eram ente feta, após sua oração intercessora pelos judeus, e lhe
hum anos ou naturais. revela um a verdade cronológica acerca dos futuros
acontecim entos ligados ao povo de Israel. Eis a trans-
Assim, tais especialistas leem o texto de m odo ale- crição do texto.
górico ou preterista. Em am bos os casos, o contexto
da passagem seria a crise judaica ocorrida p o r ocasião “Setenta semanas estão determinadas sobre 0 teu povo e
dos ataques de A ntíoco IV Epifânio no século II a.C. sobre a tua santa cidade, para fa zer cessar a transgressão,
Proponentes dessa abordagem afirm am que 0 autor para dar f im aos pecados, para expirar a iniqüidade, para
de Daniel nunca viveu realm ente na Babilônia e não trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e
visava de m odo algum dissertar profeticam ente sobre para ungir 0 Santo dos Santos.
a vinda do M essias ou o fim dos tem pos. Pelo con-
Sabe e entende: desde a saída da ordem para res-
trário, sua pretensão seria sustentar a fé dos judeus e
tau ra r e para edificar Jerusalém , até o U ngido, o Prín-
encorajar sua resistência diante da perseguição pro-
cipe, 7 sem anas e 72 semanas; as praças e as circun-
m ulgada por A ntíoco. Por isso, m ostrava, através de
valações se reedificarão, m as em tem pos angustiosos.
sím bolos, que a opressão e a perseguição um dia ha-
verão de acabar. Depois das 72 sem anas, será m o rto o U ngido e já
não estará; e o povo de um príncipe que há de vir des-
Os versículos 24 a 27 do cap. 9, p o rtan to , trariam
tru irá a cidade e o santuário, e o seu fim será num di-
porm enores relacionados ao que ocorreu em 170
lúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são de-
a.C. O sum o sacerdote Onias III, assassinado covar-
term inadas.
dem ente p o r seus rivais, seria o único sum o sacer-
dote justo, p o rtan to , o ungido m encionado no verso Ele fará firm e aliança com m uitos, p o r um a sema-
26). A seguir, A ntíoco IV invade Jerusalém e coloca na; na m etade da sem ana, fará cessar o sacrifício e a
no T em plo um a estátua de Jú p ite r (ídolo abom iná- oferta de m anjares; sobre a asa das abom inações virá
vel), fazendo com os sacerdotes do T em plo um acor- o assolador, até que a destruição, que está determ ina-
do ou aliança durante um a semana. da, se derram e sobre ele.” (Daniel 9:11; 24 a 27).

O problem a com tal abordagem é que, além de negar N um apanhado geral, a texto aponta para o ano do
o caráter sobrenatural das Escrituas - elas deixariam aparecim ento do M essias (seu batism o no ano 27),e
sua m orte (para m uitos no ano 31). Depois chega- M essias. Em bora haja algum a leve discordância sobre
-se ao que seria o térm ino da exclusividade aos ju- o com eço e 0 térm ino desse período, é n o tório que se
deus com o sendo “o povo de D eus”. A p a rtir daí o passariam pelo m enos 500 anos entre a ordem para
evangelho seria levado para os não judeus (tam bém reconstruir Jerusalém e a vinda de Cristo. Logo, as
cham ados “gentios”) e tam bém pregado p o r eles. Se- sem anas seriam de anos e não literais.
gundo um côm puto, isso se daria a p artir da m ote de
Estevão no ano 43 e descrita em A tos 6 e 7. 0 cômputo da profecia ficaria, portanto, deste modo:

Há, porém , várias interpretações. Alguns afirm am 70 sem anas x 7 dias = 490 dias proféticos = 490
que as 69 sem anas ou 483 anos se cum prem exata- anos literais
m ente no ano em que Jesus com eçou seu m inistério Partindo desse pressuposto, a expressão “desde a
na Galileia. O utros afirm am que os 483 anos coinci-
saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusa-
dem no ano em que Cristo foi crucificado.
lém até o U ngido [i.e., o M essias], ao Príncipe, sete
Seja com o for, é bastante razoável supor que côm- sem anas e sessenta e duas sem anas”, com putariam
puto dessas datas se dá pela equivalência profética do um total de 483 anos:
cham ado dia/ano. De acordo com um a hipótese bas-
tante aventada p o r teólogos conservadores, 1 dia em 62 semanas + 7 sem anas = 69 semanas
profecia eqüivale a 1 ano literal e supondo-se que isto
69 sem anas x 7 dias = 483 dias proféticos = 483
se aplique à profecia das 70 s e m a n a s , então elas se-
anos literais
riam na verdade um a representação profética de 490
anos literais.
Porém sobra a últim a sem ana para com pletar as
U m exame profundo a esse respeito revela que 70 semanas.
existem precedentes bíblicos para se falar de anos em
term os de dias. Em Gêneses 29:27-28, Jacó trabalha 7 sem anas + 62 sem anas e 1 SEMANA
“um a sem ana” po r Raquel: “C um pre a sem ana desta;
então te darem os tam bém a outra, pelo serviço que 7 sem anas = 49 anos
ainda outros sete anos com igo servires. E Jacó fez as-
62 sem anas = 434 anos
sim, e cum priu a sem ana de Lia; então lhe deu por
m ulher Raquel sua filha.” Esse período de sete dias
1 sem ana = 7 anos
é na verdade claram ente de sete anos: “Assim serviu
Jacó sete anos p o r Raquel; e estes lhe pareceram como
= 490 anos
poucos dias, pelo m uito que a am ava.” (29:20).
Em term os gerais, um ponto em com um em várias
Em N ú m ero s 14:34, os 40 anos no d eserto resul-
leituras cristólogicas do texto seria o de que tan to o
tara m dos 40 dias de espionagem : “Segundo o n ú -
“U ngido, o Príncipe” do verso 25 quanto o “U ngido”
m ero dos dias em que espiastes esta te rra , q u a re n ta
dias, cada dia re p re se n ta n d o um ano, levareis sobre do verso 26 eqüivalem a Cristo que tam bém é enten-
vós as vossas iniquidades q u a re n ta anos, e co n h e- dido, em algumas fontes com o o “santo dos santos”
cereis o m eu a fa stam e n to .”. Ezequiel 4:6 em prega o ungido no verso 24 - assim se entende pelas versões
m esm o padrão de m edida pro fética que D aniel: “E, da Septuaginta e da Peshita.
quando tiv eres cu m p rid o estes dias, to rn a rte -á s a
M as tam bém vale dizer que alguns estudiosos en-
d e ita r so bre 0 teu lado d ire ito , e levarás a in iquida-
tendem que o “U ngido” (ou Messias) citado no versí-
de da casa de Ju d á q u a re n ta dias; u m dia te dei para
culo 25 pode não ser um a referência a Cristo, m as a
cada a n o ”.
um rei usado p o r Deus com o instru m en to para reali-
D aniel 9:25 diz que seriam 69 sem anas desde a re- zar sua vontade. N este caso, geralm ente é utilizada a
construção do T em plo de Jerusalém até a vinda do data do decreto de Ciro. Todavia, o contexto in tern o
da passagem sugere que a m elhor interpretação é que pois do decreto de C iro, a cidade p erm an eceu p o r
tal passagem recebe-se realm ente ao Messias. m uitos anos ainda com um a população esparsa e
sem m uros.
M uitos pais da Igreja tam b ém viam em C risto o
c u m p rim e n to da expressão “um p rín cip e que have- N otem os que D aniel fala de um a o rd em para
ria de v ir” (v. 24), em bora o u tro s o en ten d am com o “re sta u ra r” Jeru salém (D aniel 9:25), o que certa-
um a figura do fu tu ro a n ticristo ou do oficial ro m a- m en te envolve a restauração com pleta da cidade,
n o responsável pela destruição de Jeru salém e do com suas ruas, praças e m uros. T a n to o é que a p ró -
T em plo no ano 70 d.C. p ria profecia destaca “... as ruas e o m u ro se reedifi-
carão, m as em tem pos angustiosos.” (D aniel 9:25).
De qualquer m odo, no que diz resp eito aos pe-
Os judeus não em p reen d eram essa restauração an-
ríodos proféticos (7 sem anas + 62 sem anas + 1 se-
tes do século V a.C..
m ana), grande p a rte dos co m en tário s bíblicos os
e n ten d em com o consecutivos, isto é, não sobrepos- A ssim o decreto de Esdras 7, expedido d u ran te 0
tos cronologicam ente, e que alcançam 0 m o m en to sétim o ano de A rtaxerxes I, parece a m elh o r possi-
h istó rico da unção de C risto, a saber, seu batism o bilidade. Esdras certam en te e n te n d e u esse decreto
ou início de seu m in istério.
com o um a perm issão do rei para a reco n stru ção de
Jerusalém , com eçando p o r seus m u ro s e circunva-
Em relação ao evento da crucifixão, m u ito s teó -
lações.
logos conservadores enten d em que a expressão
“co rtad o ” p resen te em 9:26 refere-se à m o rte do
A p a rtir desse dado, podem os lançar m ão de
M essias que o c o rre ria na m etade da ú ltim a sem ana.
estudos cronológicos atuais que ap o n tam com re-
P orém , a nova c o rre n te dispensacionalista, p o p u -
lativa precisão o sétim o ano de A rtaxerxes en tre
larizada pelas referências da Bíblia an otada de Sco-
4 58 /4 5 7 a. C. e o re to rn o de Esdras o co rre n d o em
field, tem um a in te rp re ta ç ã o d istin ta que lança tais
457 a.C. Esse, p o rta n to , seria o início das p rim eiras
eventos para o fu tu ro , d u ran te o reinado do anti-
duas divisões do perío d o das 70 sem anas (7 + 62
cristo p red ito no A pocalipse.
sem anas = 483 anos), a conclusão dos 483 anos é
O u tra questão é o terminus ad quo destes eventos, 27 d.C., o ano da “un ção ” de C risto, isto é, quando
isto é, quando a profecia tem início? De acordo com ele in au g u ra seu m in isté rio sendo batizado p o r João
a p ró p ria visão de D aniel o tem p o deveria ser con- (Luc. 3:21-23).
tado “desde a saída da ordem para restaurar e para edi-
fic a r Jerusale'm“. De acordo com a Bíblia, isso ocor- O p rim e iro p erío d o de 7 sem anas pode ser um a
reu no sétimo ano do reinado de Artaxerxes I referência aos 49 anos que a p a re n te m e n te cobrem
(Esdras 7:7,8), quando ele emitiu seu primeiro o p erío d o de reco n stru ção de Jerusalém . Os judeus
“decreto” (vs. 11-26). rec o n stro e m a cidade d u ra n te esse tem po, em m eio
à oposição e “tem pos difíceis” (N eem ias 4:18; Da-
Houve outro decreto, é verdade, expedido niel 9:25).
por Ciro em 538 a.C. e mencionado em II C rô n i-
cas 36:22-23 e Esdras 1:1-4; 5:13, 17; 6:3. De fato, O segundo perío d o , de 62 sem anas, estende-se
C iro dá um a o rd em p ara reco n stru ção da cidade da conclusão da reco n stru ção de Jeru salém até à
(Isaías 44:28). C o n tu d o , o cerne dessa o rd em é a inauguração h istó rica do m in isté rio do M essias em
reco n stru ção do T em plo que N ab u codonosor havia Israel, o que en ten d em o s te r se cum prido em seu
d estruído. D aniel, no e n ta n to , fala especificam ente batism o (D aniel 9:25). Isso ocorre p o r v o lta de 27
de um decreto p ara “re sta u ra r e re c o n stru ir Jeru sa- d.C. T eólogos conservadores concordam am pla-
lém ”, o que é um dado im p o rta n te p ara estabelecer m en te com essa in te rp re ta ç ã o , que é v irtu a lm en te
o com eço da profecia. A final de contas, apesar do u niversal e n tre os exegetas cristãos - exceto e n tre
esforço de m u ito s para re c o n stru ir Jerusalém de­ os já m encionados dispensacionalistas.
Cálculo Historicista dos 70 Períodos
(Shabuím = Semanas) de Daniel 9:24 a 27
408 3 .C . 27 d.C. 34 d.C.
O ©

31 d.C.

7 semanas 62 semanas 1 semana

49 anos 434 anos 7 anos é O


Mashiach
no meio
da última
Mikvê de semana Apedrejam ento
I9 Decreto de Reconstrução
Yeshua de Estevão.
Artaxerxes de Jerusalém
Pregação
aos goin’s.
Shaul aceita
Yeshua como
Mashiach(?).

Conclusão M essias que circularam entre a diáspora, Judeia, Pe-


reia, Galileia e arredores nos tem pos cercanos im e-
diatam ente antes e depois do m ovim ento de Jesus.
A inda que o leitor se entusiasm e mais p o r um a
Difícil é precisar qual a relação clara entre o historia-
interpretação do que outra, é n o tório que, adotando
dor judeu e os m ovim entos que m enciona. Não é cia-
qualquer um dos cenários, e som ando os testem u-
ro que ele considerava todos eles, pretensos M essias,
nhos históricos apontados nesta enciclopédia, é pos-
mas sua ânsia po r realeza e pelo título de libertadores
sível afirm ar que havia um a expectativa m essiânica
certam ente nos m otiva a considerá-los assim.
p o r ocasião do prim eiro século d.C. Tal situação cor-
robora com a historicidade de textos com o M ateus A princípio, parece-nos que Josefo não nega acre-
11:3; M arcos 15:43; Lucas 1:76-79; 2:25; 26; 38; 3:15. ditar no cum prim ento de um a antiga profecia judaica
que anunciava a vinda de um libertador. C ontudo,
é n o tó rio que, com exceção de duas ocorrências no
Candidatos a Messias28 cham ado “testem unho flaviano” sobre Jesus, o histo-
riador jam ais utiliza a palavra Christos em qualquer
Josefo ainda é a m elhor fonte que tem os a este res- de seus escritos. Isso talvez se deva ao fato de que a
peito e ele nos revela a existência de vários pretensos tradição judaica de um “filho de D avi” que viria se in s­
talar em Jerusalém e, de lá, governar outras nações C om o diz Foakes Jackson:
certam ente incom odaria a sensibilidade im perial ro-
“Se ele (Josefo) estava ansiosam ente buscando um
m ana. Em razão disso, provavelm ente para perm ane-
M essias no sentido exato da palavra, ele então parece
n e r na política de adular os rom anos, Josefo conclui
ter ficado satisfeito com alguém com o V espasiano.”29
que esse libertador seria Vespasiano:
Essa interpretação de Josefo, aliás, coincide com as
“M as agora, o que m ais m otivaria os judeus em
já m encionadas interpretações de Tácito e Suetônio.
prosseguir nesta guerra era um era um am bíguo orá-
C ontudo, n enhum desses autores dá indicações claras
culo que fora encontrado em seus escritos sagrados,
da “fonte” deste “am bíguo oráculo”. Se Josefo estava
dizendo que, ‘po r este tem po, um dentre seu país se
se referindo a algum a parte das Escrituras hebraicas,
to rn aria governador de toda terra habitada’. Os ju-
não há n enhum m eio seguro de sabê-lo. C ontudo, al-
deus tom aram essa profecia com o pertencendo a si
guns autores arriscam certas possibilidades.
m esm os em particular; e m uitos dentre os sábios se
enganaram em sua interpretação. É claro que este N. T. W rig h t supõe que Daniel 2 estaria p o r detrás
oráculo certam ente se referia ao governo de Vespa- deste oráculo m encionado, pois ao falar de Rom a (cer-
siano que foi proclam ado im perador no territó rio da tam ente o últim o dos quatro reinos30), é dito: “M as nos
Judeia” (G uerras, VI, 5, 4 [6.312-314]). dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que
não será jamais destruído. Este reino não passará a ou- Esse texto nos ajuda a com preender m elhor o pano
tro povo; esmiuçará e consum irá estes reinos, mas ele de fundo da advertência de C risto em M ateus 24:23-
m esm o subsistirá para sem pre.” (Dan. 2:44)31. 26 e M arcos 13:21-22. É claro que o complexo qua-
dro ideológico que m arcava a esperança messiânica,
C uriosam ente em o u tra passagem sobre Daniel, som ado à apostasia generalizada e à falta de harm onia
Josefo titubeia em oferecer o verdadeiro significado doutrinária em assuntos im portantes com o redenção
da últim a parte do sonho de N abucodonosor. O m oti- e escatologia, contribuiu em m uito para o surgim ento
vo, é claro, esta parte apontava para o fim do im pério de falsários e charlatães. Além disso, o caráter profé-
rom ano, e ele não queria escrever coisas com prom e- tico daqueles dias e o clima m essiânico que pairava
tedoras. Afinal Josefo parecia satisfeito com a ideia no ar favoreciam a agregação de pessoas em to rn o de
de que o im perador rom ano cum prira aquela antiga qualquer figura carism ática que aproveitando os “si-
profecia do dom ínio m essiânico m undial. nais dos tem pos” fizesse propaganda de si mesma.
Donizete Scardelai32 segue um raciocínio diferen- 0 poder rom ano, é claro, via nesses líderes caris-
te para supor que texto bíblico estaria por detrás do m áticos um a ameaça em potencial à ordem estabele-
prognóstico m encionado p o r Josefo. Ele acom panha cida e à subversão das massas. E Galileia, com o ve-
duas possíveis pistas. Um a seria um relato do Tam ude rem os, foi o celeiro mais proem inente gerando não
(G ittin 56b), onde se discute sobre a reputação do sábio apenas líderes zelotas, mas tam bém figuras apocalíp-
rabino Yohanen ben Zakkai, contem porâneo da des- ticas, taum aturgos e praticantes de m agia33.
truição do Segundo Tem plo, que num encontro com
Vespasiano teria dito ao im perador: “T u és verdadeira- 1 - Judas, filho de Ezequias ou Judas Galileu
m ente rei, senão, Jerusalém jamais teria sido entregue (4 a.C.-6 d.C.)34
em suas m ãos”. Josefo tam bém “profetizou”, suposta-
Fontes: G uerras 11,56 and A ntiguidades XVII,
m ente que Vespasiano seria im perador antes mesmo 271-272; XVIII, 4-6, 23
de ser oficializado como tal (Guerras III.8.9 399-408).
A sustentação “bíblica” de tal declaração pode ser ex- História: no ano 4 a.C., com a m orte de Herodes,
traída de interpretações proféticas de textos como o G rande, surgiram um série de revoltas contra o go-
Isaías 10:34; Jerem ias 31:21 e D euteronôm io 3:25. v erno de seu filho Arquelau.

A o utra pista de Scardelai viria da expectativa re- “H ouve um hom em cham ado Judas, filho de Eze-
dentora de orientação zelota que deve ter levado Jo- quias, que era tido com o o chefe dos bandidos. Eze-
sefo a in te rp re ta r o oráculo à luz dos últim os acon- quias tin h a sido um hom em m uito forte e foi com
tecim entos. Afinal de contas, com o já m ostram os dificuldade que H erodes o capturou. Judas, tendo re-
anteriorm ente, havia um a expectativa clara quanto à unido em Séforis, na Galileia, um a grande m ultidão
chegada, naqueles tem pos, de um red en to r m essiâni- de hom ens de caráter duvidoso, assaltou o palácio que
co cum prindo a profecia de Daniel cap. 9. ali havia e apossou-se de todas as arm as ali deposi-
tadas, arm ando com elas todos os que estavam con-
Justam ente p o r isso, tem os a seguinte descrição do sigo. Ele tam bém levou ju nto o dinheiro do palácio.
clima que envolvia o m undo judeu daquela época: T o rn o u -se terrível para todos os hom ens, assaltando
e rendendo todos os que se aproxim avam dele. T udo
“Inúm eros profetas, de fato, foram naquele perío-
isso a fim de se afirm ar e de alim entar seu am bicio-
do subornados p o r tiranos para enganar o povo. Es-
so desejo por dignidade real - pois ele esperava obter
tes pro p u n h am [ao povo] que esperassem pela ajuda
dignidade não com o recom pensa p o r um a virtuosa
divina, a fim de que as deserções pudessem ser sub-
m orte em batalha, mas p o r sua extravagância em fa-
jugadas e que os que estivessem sob o tem o r ou de-
zer m aldades.” (Antiguidades XVII, 271-272).
sencorajados pudessem ser m otivados pela esperança
(...) Assim, aconteceu do povo m iserável ser iludido “H ouve um hom em , Judas, o Galileu, de um a ci-
naqueles dias p o r charlatães que se diziam pretensos dade cujo nom e era Gamala. Ele, tom ando consigo
m ensageiros de D eus” (G uerras VI, 266-8). Zadoque, um fariseu, torn o u -se zeloso em conduzir
o povo à revolta. Am bos diziam que esta cobrança de que foram eles os responsáveis pela ira rom ana que
im postos não era m elhor do que um regim e de escra- resultou na destruição de Jerusalém e do T em plo no
vidão. Sendo assim, exortavam a nação a lutar p o r sua ano 70 d.C.
liberdade. (...) Eles tam bém diziam que Deus, de outra
2 - Simão de Pereia (4 a.C.)
m aneira, não os assistiria, e que p o r sua união uns
com os outros eles seriam bem -sucedidos (...) assim Fontes: G uerra II, 57-59 e A ntiguidades XVII,
os hom ens recebiam com alegria o que eles diziam, 273-277; Tácito, H istórias 5:9:2
e este m ovim ento pretendeu atingir um a grande di-
m ensão”. (Antiguidades XVIII, 4-6). História: logo após a m orte de Herodes, ele liderou
um a revolta, intitulou-se o “Rei dos judeus” e queim ou
“Judas, o Galileu foi o autor do quarto segm ento da o Palácio de Herodes, forçando a intervenção do lega-
Filosofia judaica. Estes hom ens concordam em todas do rom ano na Síria (Publius Quinctilius Varus).
as outras coisas com as noções farisaicas; m as eles tem
um vínculo inegociável com a liberdade e dizem que “D epois da m orte de H erodes, um certo Simão
Deus é seu unido G overnante e Senhor. Eles tam bém assum iu o nom e de rei, sem esperar pela decisão de
não valorizam qualquer tipo de m orte, nem valori- César. Ele, no entanto, foi condenado à m orte por
zam a m orte de seus parentes e am igos”. (A ntiguida- Quictilius Varus, governador da Síria; os judeus fo-
des XVIII, 23) ram reprim idos e o reino foi dividido em três partes
e dado aos filhos de Herodes. Sob T ibério tudo ficou
Observações: Ezequias, em bora bandido, parece calm o.” (Tácito, Histórias 5:9:2)35.
que era amado do povo, pois este líder foi peça-cha-
ve no desenvolvim ento posterior de toda um a geração “H ouve tam bém Simão, que tin h a sido escravo do
de revolucionários judeus que se inspiravam em seu rei H erodes, m as que em outros aspectos tin h a sido
exemplo. Ele foi um a espécie de bandido-revolucioná- um a pessoa com edida, de grande estatura e corpo
rio que inspirava a luta arm ada conduzindo um com- robusto. Ele era m uito m ais superior aos outros de
portam ento guerrilheiro contra o dom ínio rom ano e sua classe (...) esse hom em foi elevado durante o es-
a família de Herodes que era altam ente com prom etida tado caótico dos acontecim entos e chegou ao ponto
com esse dom ínio. Dois de seus filhos (Tiago e Simão de colocar um diadem a sobre sua cabeça, ao m esm o
[Antiguidades XX, 102]) seguiram o ideal guerrilheiro tem po em que um certo n ú m ero de pessoas aderiram
do pai e foram igualm ente executados. ao seu com ando e o declararam rei. Ele m esm o se
achava mais digno do que qualquer o u tro de receber
Josefo não nos oferece inform ações adicionais esta honra.
quanto ao fim que levou Judas, mas alguns supõem
que ele foi capturado pelo governador rom ano da Ele queim ou o palácio real que ficava em Jericó e
Síria (Publius Q uinctilius Varus) que m archou até o pilhou o que sobrou [do incêndio]. Ele tam bém in-
reino de A rquelau com o objetivo de restaurar a or- cendiou m uitas outras casas do rei em vários lugares
dem. D e fato, Atos 5:36 e 37 diz que ele foi executado. do país e, depois de destruir tudo, p erm itiu que aque-
A credita-se tam bém que o Judas filho de Ezequias se- les que o acom panhavam pilhassem o que sobrou
ria o m esm o Judas Galileu que se revoltou po r ocasião destas residências. Ele teria conquistado m uito se não
do censo judeu em 6 d.C. Sua pregação revolucionária fosse a ação im ediata [do governo] em reprim i-lo. [O
era sustentada em dois pilares: prim eiro a repugnante com andante da infantaria de Herodes] G ratus arregi-
política rom ana de contar o povo judeu (proibida em m en to u alguns soldados rom anos e foi ao encontro
II Sam. 24:1-17, esp. verso 10). Segundo, a elevação de Simão. D epois de um a grande e dem orada bata-
de im postos que certam ente adviria disso. lha, não sobrou nada daqueles que haviam vindo da
Pereia (um desorganizado agrupam ento de hom ens,
O quarto segm ento da Filosofia judaica a que m en- lutando sem nenhum a ordem ). T odos foram destruí-
ciona Josefo é o m ovim ento dos zelotes, os outros dos. Em bora Simão tenha conseguido escapar, fugin-
três são: os saduceus, essênios e fariseus. Josefo rela- do através de um vale, G ratus o alcançou e cortou sua
ciona os zelotes com os piores adjetivos pois acredita cabeça.” (Antiguidades XVII, 273-276).
O b se rv aç õ e s: Foakes Jackson deduz que o sim- que aconteceu com o próp rio A tronges. O fato de que
pies fato de Simão e A tronges (que verem os a seguir) ele era um pastor antes da revolução, tornava-o um
terem usado um a coroa (lit. diadema) é um indicativo tipo do rei Davi que tam bém era pastor de ovelhas.
de que ambos se proclam aram em algum a espécie de
4 - U m p r o f e ta S a m a r ita n o (36 d.C.)
M essias36.
Fontes: A ntiguidades XVIII, 85-87
3 - A tro n g e s (4 a.C. - 6 d.C.)
História: em 35 d.C., Pôncio Pilatos teve de en-
Fontes: G uerras II, 60-65; A ntiguidades XVII,
fren tar um a grave rebelião na Samaria.
278-284

Έ depois houve A tronges, hom em cuja em inência “Para um hom em que fez a luz de m entira e em
não p rovinha nem do renom e de seus antepassados, todos os seus projetos eram de acordo com a escó-
nem da superioridade de seu caráter, nem da exten- ria, reuniram -se [os sam aritanos], oferecendo-se ir
são de seus recursos. Era obscuro pastor, mas notável em um grupo com ele para o M onte Gerizim , que,
pela sua estatura e sua força. Ele ousou aspirar à reale- em sua opinião, é a m ais sagrada das m ontanhas. Ele
za pelo m otivo de que, um a vez obtido esse nível, ele garantiu que em sua chegada ele iria m ostrar-lhes os
poderia deleitar-se com m ais libertinagem . Q uando vasos sagrados, que foram enterrados lá, onde M oisés
se tratava de enfrentar a m orte, ele não tin h a m edo os tin h a depositado. Seus ouvintes, vendo este conto
de p ô r em risco a p rópria vida em tais circunstâncias. com o plausível, apareceram com arm as. Eles coloca-
T am bém tin h a quatro irm ãos. Estes eram igualm ente ram -se em um vilarejo, cham ado T irath an a e, como
hom ens de grande estatura, confiantes de que vence- eles planejaram subir a m o n tan h a em um a grande
riam em v irtude de seus feitos de força e esperando m ultidão, deram boas-vindas para as suas fileiras os
sólido apoio para a sua tom ada do reino. Cada um de- recém -chegados que iam entrando. M as antes que
les liderava um bando bem arm ado, pois um a m ulti- pudessem subir, Pilatos bloqueou a ro ta projetada
dão se reu n ira em to rn o deles. Em bora fossem gene- até a m ontanha com um destacam ento de cavalaria e
rais, estavam subordinados a ele, sem pre que faziam infantaria fortem ente arm ados, e num encontro com
incursões para lutar po r sua própria conta. Usando o os prim eiros chegados na aldeia, m ataram alguns em
diadem a real, A tronges reunia um conselho para deli- um a batalha campal e puseram os demais em fuga.
b erar sobre o que devia ser feito, ainda que em últim a M uitos prisioneiros foram levados, dos quais Pilatos
instância tudo dependesse de seu próp rio julgam ento. sentenciou [vários] à m orte: os principais líderes e
M anteve o poder p o r longo tem po, tendo sido desig- aqueles que foram mais influentes entre os fugitivos”.
nado rei e podendo fazer o que quisesse sem interfe- (Antiguidades XVIII, 85-87).
rência. Ele e seus irm ãos atuaram vigorosam ente na
m atança de tropas rom anas e herodianas, agindo com O b se rv aç õ e s: tam bém é polêm ica a identificação
ódio sem elhante contra ambas, contras as tropas re- deste sujeito com o um pretenso M essias, porque ele
ais p o r causa dos abusos que estas com eteram duran- era Sam aritano. C ontudo, o equivalente sam aritano
te o reinado de H erodes (...) Com o passar do tem po do prom etido M essias é o Taheb, um profeta-restau-
tornaram -se cada vez mais brutais, sem consideração rad o r “sem elhante a M oisés”, conform e anunciado
p o r ninguém . As vezes agiam na esperança de fazer em D eut. 18:15-18. N ote tam bém sua peregrinação
despojos, outras sim plesm ente porque estavam acos- ao M onte G erizim que era o anúncio da restauração
tum ados a derram ar sangue (...) Seus irm ãos continu- do tem plo Sam aritano que ficava ali. C om pare com
aram suas ações de guerrilha p o r m uito tem po ... mas João 4:25.
depois foram capturados e feitos prisioneiros (...)”.
5 - T e u d a s (45 o u 46 d.C.)
(Antiguidades XVII, 278-285/10:7).
Fontes: A ntiguidades XX, 97 e 98 e A tos 5:36
O b se rv aç õ e s: a rebelião de A tronges pode ter du-
rado pelo m enos dois anos. C uriosam ente Josefo diz História: mais um pretenso M essias, possivelm en-
o que aconteceu a seus irm ãos, mas nega-se a dizer o te helenista, pois alguns supõem que seu nom e seja
com posto p o r duas raízes gregas e significaria “p re- “U m golpe ainda m ais duro foi dado aos judeus
sente de D eus”. O utro s pensam nu m a origem sem i- pelo falso p ro feta egípcio. U m charlatão, que tin h a
ta que significaria “fui com o as águas”. P roclam an- obtido p ara si p ró p rio a reputação de profeta, esse
d o ‫־‬se um h e ró i enviado p o r D eus, ele rec o rre u à h o m em apareceu no país e re u n iu atrás de si uns
tradição nacional do M essias M osaico assegurando 30 m il tolos, e lid e ro u -o s p o r um cam inho to rtu o so
que tin h a poderes para a b rir as águas do Rio Jordão. do d eserto até o m o n te d en om inado das O liveiras.
Dali p re te n d e u e n tra r à força em Jeru salém e, após
“Passando um tem p o , en q u an to C uspius Fadus
d o m in a r a guarnição ro m an a, to rn a r-s e tira n o do
era p ro cu ra d o r da Judeia, um certo charlatão, cujo
povo, em pregando os que o tivessem acom panha-
nom e era T eudas, p e rsu ad iu m uitas pessoas do
do n a invasão com o sua guarda pessoal [...] Com o
povo sim ples a to m a r seus haveres e acom panhá-
resultado, o egípcio escapou com alguns de seus
-lo até o rio Jo rd ão . Dizia que era p ro feta e que à
seguidores, a m aior p a rte da força que 0 acom pa-
sua ordem o rio se separaria abrindo fácil passagem
nh av a foi m o rta ou to m ad a com o prisio n eira; o res-
p ara eles. C om essas palavras, iludiu a m uitos. M as
ta n te dispersou-se e v o lto u d iscretam en te aos seus
Fadus não p e rm itiu que eles consum assem essa lou-
lares” (G uerras II, 261-263).
cura. E nviou um a unidade de cavalaria c o n tra eles,
que m ato u m u ito s n u m ataque de surpresa e tam - 7- João de Giscala (66 - 70 d.C.)
bém c a p tu ro u m u ito s vivos. T e n d o capturado T e u -
das, co rta ra m -lh e a cabeça e a levaram a Jeru salém ” F ontes: G uerras II - VI
(A ntiguidades XX, 97 e 98).
H istória: Jo ão de Giscala, filho de Levi, atu o u
Observações: existe um a dificuldade c ro n o - na G alileia nos anos 66 a 70 d.C., época da G u erra
lógica na identificação e n tre este T eudas e aquele Judaica c o n tra R om a. Ele fora um p o b re cam ponês
m encionado em A tos. É que o T eudas citado p o r que “usava um a foice p ara ceifar”, m as que se to r-
Josefo aparece no tem p o de C láudio. M as o T eudas no u , m ais tard e, um rev o lu c io n á rio . N a sua época,
m encionado p o r G am aliel em A tos teria vivido an- a situação de rev o lta p o p u la r c o n tra R om a tin h a
tes disso. V árias soluções já foram p ro p o stas, mas to m ad o p ro p o rç õ e s sem p reced en tes. N o início de
n e n h u m a conclusiva. seu m o v im en to , João de Giscala defendia um acor-
do pacífico com os ro m a n o s depois se to rn o u v io-
6 - Um anônimo profeta egípcio (52 e 58 d.C. to . Josefo o tra ta v a com o um in im igo pessoal.
len
aproximadamente) Foi o p rete n so M essias m ais atacado pelo h isto ria -
do r judeu.
F onte: G uerras II, 259-263; A ntiguidades XX,
169-171; A tos 21:38 D epois que os ro m an o s co n q u istaram a parte
n o rte do país no início das G uerras Judaicas, João e
História: o profeta egípcio aqui m encionado condu-
seus 600 h o m en s fugiram para o sul, onde assum iu
ziu 30 mil hom ens (4 mil dos quais eram assassinos e
o c o n tro le de Jerusalém . À m edida que se aproxi-
hom ens violentos) ao deserto, prom etendo-lhes liber-
m ava da cidade, ele recebia um a eufórica recepção,
dade, diversos sinais da parte de Deus, e o fim do do-
o que indica que o povo viu nele um a espécie de
m ínio rom ano. Félix, evidentem ente, m atou a m aioria
re d e n to r p o p u lar ou quem sabe um rei.
desses hom ens e assim ficou patente que aquele Cristo
era falso. Josefo escreve que m uitos apareceram afir- J á no com ando de Jerusalém , ele designou P han-
m ando ter recebido revelações divinas e orientação dos nias com o sum o sacerdote e passou a g o v e rn a r o
céus, fazendo toda sorte de declarações bombásticas. T em plo. Josefo o descreve com o um tira n o e dés-
Simão, o M ago, persuadiu os habitantes de Samaria pota. E m bora Jo ão tivesse um a grande inspiração
que ele era o grande poder de Deus, e evidentem ente se zelota, tam b ém teve algum as oposições. Alguns
vangloriava, entre os judeus, de ser o filho de Deus (ver zelotas se rev o ltaram c o n tra ele, m as foram todos
Atos 8:9,10). Em Atos 21:38 Paulo é confundido com m o rto s à espada. Segundo a in te rp re ta ç ã o de Jose-
esse profeta e tem de se explicar ao tribuno rom ano. fo, foi a sua descida p ara Jerusalém que pro p icio u
o ataque ro m an o à cidade. Q uando T ito ca p tu ro u ser abandonado se fossem atacados fazia -0 p ô r sua
Jerusalém , João se ren d e u e foi sentenciado à p ri- única esperança na fuga: seu fim era e n g an ar T ito e
são perp étu a. Josefo cham a os seguidores de João fugir de noite; há m otivo de se c rer que D eus o quis
de sicários ou sicarii (nom e derivado de sua espada p rese rv ar p ara a ru ín a de Jerusalém .
curta: sica)37.
C hegou a n o ite e os ro m an o s não m o n ta ram
“E n q u an to estava encarregado dos negócios guarda; ele, então, fugiu p ara Jeru salém e não so-
da G alileia [Josefo aqui fala de si m esm o], eis que m en te levou consigo o que tin h a de soldados, m as
apareceu em cena um am ate de intrigas, n a tu ra l da tam b ém alguns dos principais h ab itan tes com suas
Giscala, cham ado João, filho de Levi, um dos in- fam ílias. (...)” (G uerras IX, 297).
divíduos m ais inescrupulosos e astutos que já ha-
“N o m o m e n to da e n tra d a de João de Giscala em
via surgido, o que lhe co nferiu n o to rie d ad e p o r tal
Jerusalém , to d a a população se lançou à sua fren te e
reputação de recursos. P obre desde o início de sua
cada um dos fugitivos estava cercado p o r um a vasta
carreira, sua p e n ú ria p o r m u ito tem p o o incom o-
m u ltid ão ” (G uerras IV, 121).
dou ta n to que ele chegou a ficar fru strad o diante
de seus p ro p ó sito s de vida. [Ele era] um im p o sto r “Q uando João e os revoltosos que o haviam se-
astuto e m u ito bem p rep arad o p ra o b te r lucros m e- guido chegaram a Jerusalém , to d o o povo reu n iu -se
diante suas fraudes (...) o p rospecto do lucro fez ju n to deles p ara lhes p e d ir notícias sobre a desgraça
dele o m ais sanguinário dos h o m en s, sem pre cheio que havia desabado sobre a infeliz nação: (...)Jo ão e
de ilim itadas am bições.” (G uerras II, 585-7/21.1). os seus assim falando, ap resen taram a retirad a com
um p rete x to tão h o n esto que m u ito s acharam que
“R estava então som ente Giscala, única cidade
era verdade e a n arração de alguns p risio n eiro s es-
da G alileia que ainda não tin h a sido tom ada. U m a
p a n to u de tal m odo o povo, que ele considerou a
p a rte daqueles que lá estavam desejava a paz, p o r-
ru ín a de Giscala com o a de Jerusalém . (...)”
que quase to d o s eram trab alh ad o res, cujos bens
consistiam em tu d o o que podiam tira r do seu em - “E ra grande a p ertu rb ação e a confusão que rei-
prego e trab alh o . Havia, p o rém , o u tro s, em m uito nava em Jerusalém ; antes da rebelião que surgiu em
grande n ú m ero e m esm o dos h a b ita n te s do lugar, seguida, um a p a rte do povo do cam po já se tin h a
que haviam sido co rro m p id o s pelas suas relações com eçado a dividir. (...) A divisão com eçou pelas
com os ladrões e assaltantes, e João, filho de Levi, fam ílias que já há m u ito eram inim igas; passou de-
os im pelia à revolta. E ra um ho m em m u ito m au, pois ao povo, que antes era tão unido e cada qual
grande m en tiro so , in co n sta n te em seus afetos e se colocava no p artid o dos que tin h a m as m esm as
que não p u n h a lim ites às suas esperanças; tu d o fa- ideias e m anifestavam a um grande n ú m ero . Assim ,
zia para conseguir os seus fins, e n in g u ém duvidava tu d o era agitação e os que desejavam a revolução e
de que assim procedia pelo desejo de se elevar em a g u e rra prevaleciam p o r sua m ocidade e coragem
autoridade, incitan d o com ta n to a rd o r esta g u e rra .”
(G uerras IV, 84-86).
“Em tal confusão cada qual roubava, p o r p ri-
“(...) João to m o u a palavra p o r todos e disse que m eiro; m as depois de se tere m reu n id o praticavam
aceitava o o ferecim ento e p e rsu ad iria os o u tro s a a b ertam en te to d a so rte de fu rto e não causavam
aceitá-la tam bém ou a isso os ob rig aria pela força; m enos m al que os rom anos. A ssim não havia o u tra
m as rogava que lhe concedesse ainda aquele dia diferença e n tre o m al que as pessoas sofriam de uns
p ara a observância de suas leis, que os obrigavam e de o u tro s, senão que era m u ito m ais doloroso ser
a santificar o sábado e não lhes p e rm itia o u tro ssim assim tra tad o p o r h o m en s de sua p ró p ria nação do
fazer naquele dia tra tad o s de paz, bem com o to m a r que p o r estran g eiro s.” (G uerras X, 298 e 299).
as arm as para fazer a guerra, (...)”
O b se rv aç õ e s: enquanto dom inou Jerusalém , João
"... M as não era p o r respeito ao dia de sábado m andou cunhar m oedas de prata e de bronze com a
que João havia falado daquele m odo. O te m o r de inscrição “ano x da liberdade de Sião” (67 d.C.).
dado pelo slogan herut tzion (pela ou da “liberdade de
Sião”). A ânfora no o u tro lado talvez seria para guar-
dar o p roduto da uva, o vinho. Com o existem m uitas
variações, os arqueólogos creem que as m oedas foram
cunhadas em diferentes lugares.

8 - Simão bar Giora de Gerasa (66-70 d.C.)


Fontes: G uerras, IV-VII.

História: Simão era um rebelde Idum eu e foi o


opositor mais forte de João de Giscala. C om petente
general, ele arregim entou 40 m il seguidores e 15 m il
soldados, prom etendo liberdade para escravos e re-
com pensas para os livres. Josefo tam bém odiava esse
hom em . Ele tam bém conseguiu conquistar os habi-
tantes dejeru salém que eram opositores de João e es-
tes lhe pediram para governarem ali 0 que ele aceitou,
tirando Giscala do poder (em bora de algum m odo
esse continuou m orando ali).

M as em pouco tem po, Simão se m ostrou igual-


m ente déspota. U m grupo de zelotes que não aceita-
ram sua liderança seqüestraram sua esposa pensando
que com isso o fariam ceder, mas ele acabou agindo
com grande ira e praticou um a verdadeira carnifici-
na en tre os cidadãos. Alguns ele to rtu ro u , outros ele
cortou as m ãos e disse que faria o m esm o com todos
os cidadãos até que sua esposa fosse libertada. Os ze-
lotes, é claro, cederam diante da situação.

A ntigos sim patizantes de Giscala passaram para o


seu lado e ele proclam ou um a guerra santa contra os
rom anos para proteger Jerusalém que, em seu enten-
der, não seria jam ais dom inada.
M oeda da Revolta Judaica

Sim ão e n tro u na cidade em m eados de abril


m aio de 69 d.C. e g o v e rn o u com o um rei até ser
Essa é a m oeda de bronze de João de Giscala. T em obrigado a se re n d e r p a ra os ro m a n o s, cerca de um
o diâm etro de um dim e am ericano. N o verso tem os ano depois. D ifere n te de Jo ão de Giscala, ele não
um vaso com duas alças (um a ânfora), circundado foi sen ten ciad o à prisão p e rp é tu a, m as foi condu-
pela data em antigas letras hebraicas (shanat shtayim zido a R om a p o r ordem do gen eral T ito e subm e-
= ano dois ou shanat shalosh = ano três). As datas em tid o a um v e rg o n h o so tra ta m e n to (foi conduzido
todas as m oedas da revolução passam a contar do ano com o tro fé u de g u e rra na m arca triu n fal). D epois
66 quando com eçou a revolta judaica. G eralm ente as foi conduzido à m o rte.
m oedas do terceiro ano diferenciam -se pelo form ato
da ânfora, que tem um a tam pa decorada. O reverso C uriosam ente, no dia do assalto rom ano à cidade
das m oedas de bronze traz um cacho de uva circun­ em 70 d.C., Josefo diz que ele se refugiu entre as pas­
sagens secretas deixadas pelos escom bros da cidade M oedas de “bar G iora”:
que já estava bastante destruída pelas milícias rom a-
nas. M as vencido pela fom e e pela sede, teve de sair
e para isso usou um artifício, no m ínim o, inusitado:
apareceu no m eio das pedras vestido de túnica branca
e m anto púrpura. Ele supôs que essa “aparição” as-
sustaria os soldados. N o início eles realm ente se sur-
preenderam com o surgim ento daquele indivíduo,
mas 0 capturaram sem m uita dificuldade.
M oeda de prata traz no verso um cálice e a inseri-
“Parece, pelo que eu acabo de dizer, que nenhum ção “shekel de Israel” e as letras Shin e Heh (abreviando
acidente hum ano, nem flagelo algum m andado por “ano 5”). No reverso está a inscrição “Jerusalém , a San-
Deus, jamais causou ruína de tão grande núm ero de ta” e traz ao centro três rom ãs (símbolo de sacerdócio).
pessoas como as que pereceram pela peste, pela fome,
pelas armas e pelo fogo, durante esse grande cerco, ou
que foram levadas como escravos pelos rom anos. Os
soldados buscaram até nos esgotos e nos sepulcros,
onde m ataram todos os que encontraram mais de dois
mil que se haviam m atado uns aos outros ou a si mes-
mos, ou que tinham sido m ortos pela fome. O m au
cheiro que saía desses lugares infectados era tão grande
que vários, não podendo suportá-lo, abandonaram -
-no. Mas outros sabendo que lá estavam escondidas N o verso [LG’LT SYW N] “ano quatro [da] ou
m uitas riquezas, não tiveram receio de pisar naque- pela redenção de Sim ão” as palm eiras com sete ram os
les cadáveres para procurá-las e satisfazer assim à sua representam a festa dos tabernáculos, abaixo cestas
insaciável ambição. De lá retiraram -se várias pessoas de frutos. No reverso: [SN T’RB'HSY] “ano quatro e
que João e Simão tinham feito prender acorrentadas; m eio” duas palm eiras pequenas e um frasco (?).
a crueldade desses tiranos era m aior do que m esm o no
9 - Menahem ben Ezequias (66-70 d.C.)
extrem o a que se encontravam reduzidos. Mas Deus os
castigou como eles mereciam. João, que se havia escon- Fontes: G uerras II, 433-450
dido num esgoto, com seus irm ãos, foi atorm entado de
História: de acordo com Josefo, esse M enahem se-
tal fome que, não podendo mais suportá-la, im plorou
ria filho de Judas, o Galileu. M as isso parece ser um
a m isericórdia dos rom anos, que ele tinha tantas vezes
erro do historiador, pois as cronologias não batem
insolentem ente desprezado. Simão, depois de ter com- (ele deve ter sido neto de Judas e bisneto do revo-
batido contra a m á sorte, entregou-se a eles como di- lucionário Ezequias). O fato é que este M enahem se
rem os em seguida. Foi reservado para o triunfo e João auto proclam ava filho de Ezequias p o r descendência
condenado à prisão perpétua. Os rom anos queim aram (assim com o Jesus tam bém era reconhecido com o
o que restava da cidade e derrubaram -lhe as m uralhas.” “Filho de Davi”). A ntigas tradições rabínicas, com o
(Guerras VI, 46, 499). o Lam entações Rabbah I, 16, trazem inform ações
im portantes sobre o nom e M enahem (que quer di-
Observações: Simão tam bém cunhou um a m oeda zer “consolador”) com o sendo um título m essiânico.
própria, mas diferente daquelas cunhadas p o r Gisca- T am bém é dito que esse M enahem deveria ser da li-
la, ele escreveu ali “para a redenção [geullah] de Si- nhagem de Ezequias - coincidentem ente o ancestral
m ão”. Alguns autores supõem que isso faria dele um de M enanhem tin h a esse nom e (TB Sanhedrin 98b).
líder mais m essiânico e João de Giscala um líder mais Além disso, existe a im portância talm údica dada a ou-
político38. tro M enahem que foi m o rto pelo regim e herodiano.
Suas investidas se deram no começo das guerras Outras seitas e
judaicas (em 66 d.C.). Com eçou atacando Massada,
derrotou as tropas de herodes Agripa II e cercou a for- movimentos judaicos
taleza A ntônia em Jerusalém. Ele ordenou a m orte do
antigo sumo sacerdote Ananias e seu irm ão Ezequias. Josefo ainda faz m enção de três (ou talvez qua-
Mas term inou sendo m orto por outro líder Zelota, tro) segm entos judaicos especialm ente em Guerras
Eleazar ben Ananias. De acordo com Josefo, isso acon- II, 119-166 e A ntiguidades XVIII, 11-25. Ele chama
teceu quando ele apareceu no pátio do Tem plo vestido esses segm entos de “filosofias” provavelm ente por
em trajes reais, revelando seu interesse em ser rei. causa de seus leitores de cultura grega. São eles: os
fariseus, os saduceus, os essênios e a m enção pejorati-
“Neste tem po, surgiu um certo M enahem , filho de
va de um a “quarta filosofia” fundada ou inspirada por
Judas, o Galileu, que reuniu seus seguidores e m ar-
Judas Galileu.
chou para M asada onde invadiu o palácio de H ero-
des. Ele tom ou o arsenal [do rei] e m u n iu de arm as C om exceção deste últim o m ovim ento, Josefo não
seus seguidores e outros bandidos. Depois voltou a m enciona as origens, os fundadores, nem os princi-
Jerusalém na condição de rei e, to rn an d o -se líder da pais líderes dos grupos anteriores. C ontudo, um apa-
insurreição, organizou 0 cerco ao palácio [a fortaleza nhado de suas m enções esparsas perm ite reconstruir
A ntônia}” (G uerras, II 433-4/17:8). algo do que cada segm ento acreditava40:

‫(״‬...) mas a redução das fortalezas e o assassinato do Os saduceus não criam na im ortalidade da alma,
sum o sacerdote A nanias fizeram com que M anahem nem na ressurreição final dos hom ens. Para eles, o
se exaltasse e se brutalizasse a tal p o n to que sua ou- ser hum ano é responsável por seu próprio destino e
sadia o fez supor que não teria rivais a sua altura. Ele sua vida se lim ita a esse planeta. Eles obedeciam a Lei
to rn o u -se um tirano intolerável (...) assim [seus ini- de M oisés, mas rejeitavam a tradição dos pais. Talvez
migos] m aquinaram de m atá-lo enquanto estivesse po r isso, poucos aceitavam seus ensinos e eles aca-
no T em plo, para onde ele teria ido com a intenção de bavam artificialm ente plagiando ensinos e conceitos
fazer suas devoções [propositadam ente] vestido com farisaicos para te r m aior suporte popular.
um m anto real, ao m esm o tem po em que era seguido
p o r um séquido de fanátidos arm ados. Os fariseus aparen tem en te criam na im ortalida-
de da alm a, na ressurreição final e na recom pensa
Então, Eleasar e seus partidários caíram violen-
últim a dos justos. Para eles a h istó ria era a som a-
tam ente sobre ele, bem com o o resto do povo, to-
tó ria dos atos de D eus em cooperação ou conflito
m ando pedras para atacá-lo, eles atiravam as pedras
com os atos hum anos. Eram m ais próxim os do povo
no M estre39, supondo que um a vez que ele estives-
e geralm ente não dem onstravam -se possuidores de
se m o rto todo 0 seu m ovim ento fadaria ao fracasso.
grandes quantias. O povo era m ais inclinado à sua
M enahem e seu seus hom ens resistiram po r um pou-
liderança do que a de qualquer o u tro grupo. Sua in-
co de tem po [à m uldidão], mas percebendo que não
fluência era m u ito grande. A lgum as vezes eram as-
poderiam suportar p o r mais tem po, fugiram cada um
sociados com os escribas (profissinais da lei) outras
para um lado. Os que foram pegos foram m ortos e
eram distintos deles41.
os que se esconderam com eçaram a ser procurados.
U ns poucos conseguiram escapar para M asada [...]. E Os essênios acreditavam no juízo final, eram de-
0 próp rio M enahem correu para o palácio de Ophla, term inistas (a vontade de Deus era soberana sobre os
e lá ficou escondido, mas eles 0 encontraram vivo e hom ens). Viviam em com unidades separadas, eram
0 trouxeram perante a m ultidão. Então o to rtu raram celibatários, dividiam os bens entre si, não possuíam
com m uitos tipos de torm entos e depois o m ataram escravos e se abstiveram do serviço do tem plo em Je-
[apedrejado], com o tam bém seus líderes im ediatos.” rusalém . A parentem ente eram ex-sacerdotes ou pes-
(G uerras II, 442-448). soas an terio rm en te ligadas à classe sacerdotal.
Já a cham ada “quarta filosofia” seria sem elhante mais antiga desta afirm ação pode ter sido Hegesipo
aos fariseus em suas concepções teológicas, com a di- que viveu por volta de 180 d.C. e foi, ele m esm o, um
ferença de que n utriam um exagerado am or à liber- cristão convertido do judaísm o44.
dade com radical oposição ao dom ínio dos rom anos.
Epifânio, m ais com pleto que a citação de Eusébio,
Isso os faz parecer com os zelotes, mas o quadro geral
nos diz que os nazarenos eram um m ovim ento sepa-
esboçado p o r Josefo acerca desse grupo é m uito con-
ratista do judaísm o com um que antecedia o cristia-
fuso e im preciso42.
nism o (e essa é um a inform ação preciosa para nós):
Josefo dizia que os fariseus eram geralm ente bon- “Então houve os nazarenos dentre os judeus antes dos
dosos e amistosos com o povo, enquanto os saduceus dias de C risto” [Adversus Haereses XXIX, 6, 1). Logo,
eram mais arrogantes e, p o r isso, mais rejeitados eles não estão na fase de derivação, mas nas origens
(G uerras II, 162). A parentem ente todos esses grupos do cristianism o. A inda segundo Epifânio, eles guar-
consistiam de pessoas letradas (talvez m enos de 10% davam a T orá, incluindo a circuncisão e a observân-
da população em geral). cia do sábado e que liam as Escrituras em hebraico45.
De acordo com Josefo, os fariseus som avam seis Eles tam bém possuíam um certo evangelho em he-
m il m em bros e os essênios quatro m il (Antiguidades braico, se entenderm os que a citação que Eusébio faz
XVIII, 20). O núm ero pode parecer exagerado, mas, de Hegesipo se refere a este grupo.
pelo m enos em relação aos essênios, o côm puto é
Diz Eusébio:
confirm ado por Filo que acrescenta a inform ação de
que os essênios costum avam viver “juntos em gran- “O m esm o autor [Hegesipo] tam bém m enciona as
des com unidades em várias cidades da Judeia e em antigas heresias que surgiram entre os judeus nas se-
m uitas vilas” (Apologia pro Judaeis, 1; Quod omnis homo guintes palavras: ‘Houve, ainda, várias opiniões acer-
probus liber sit, 75). ca da circuncisão entre os filhos de Israel. Os seguin-
tes foram aqueles que se opuseram à trib o de Judá e

Os nazarenos e as origens ao Cristo: os essênios, os hem erobatistas, os m asbo-


teanos, os sam aritanos, os saduceus e os fariseus’. Ele
do Movimento de Jesus tam bém escreveu de m uitos outros assuntos, que nós
tem os em parte m encionado, contextualizando os re-
Os m em bros da prim eira geração de cristãos (e tal- latos em seus devidos lugares. E tam bém acerca do
vez até da segunda) eram em sua m aioria ou em sua evangelho siríaco de acordo com os hebreus, do qual
totalidade judeus (quer po r conversão ao judaísm o ou ele cita algumas passagens em língua hebraica, o que
p o r nascim ento). Esse é um fato óbvio, porém negli- dem onstra que ele era um convertido dentre os he-
genciado po r m uitos historiadores do cristianism o breus. Ele tam bém m enciona outros assuntos como
prim itivo. tirados da tradição não escrita dos judeus”. (História
Quais seriam , p o rtan to , os traços judaicos desse Eclesiástica, IV, 22, 6 e 7).
m ovim ento? Lem brando que o judaísm o do prim ei-
C uriosam ente fala-se m uito dos ebionitas e quase
ro século era um m osaico de segm entos, conform e
nada sobre os nazarenos. Aliás, até m esm o alguns pais
vim os até aqui, de qual ramificação teriam saído os
da Igreja dos séculos III e IV parecem fazer algum a
prim eiros cristãos ou o pró p rio Jesus?
confusão entre os dois m ovim entos. M as as inform a-
E interessante m encionar um a inform ação patrís- ções de Epifânio são im portantes demais para serem
tica da fuga dos cristãos para Pella e Decápolis, pouco negligenciadas. Aliás, em Atos 24:5 vem os que ainda
antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Ela nos dias do julgam ento de Paulo perante o governa-
nos dá a entender que os seguidores de Jesus, antes dor Félix, os seguidores de Jesus eram identificados
de serem cham ados de “cristãos”, foram reconhecidos com o a “seita dos nazarenos”, segundo os laudos do
pelo apelido de “nazarenos”. Q uem nos dá essa infor- p ro m o to r T értu lo que acusa Paulo de ser um dos lí-
m ação é Eusébio citando Epifânio43, contudo, a fonte deres do m ovim ento.
É claro que esse títu lo vem de Jesus de N azaré. O com o significando procedência. A form a aram aica/
curioso, no en tan to , é a form a grega com o os evan- hebraica de N azaré em bora tardia tam bém nos diz
gelhos o atribuem a Jesus. Ela aparece cerca de 18 algo a esse respeito e quem anota esse detalhe é o pro-
vezes no N T (dependendo das variantes textuais) e fessor Daniel G ershenson do departam ento de estu-
é grafada de diversas form as. Só o substantivo apa- dos clássicos da U niversidade de T el Aviv50.
rece com o Nazaret, Nazará e Nazareth (com as três
Ela seria nzrt (que se lê Nazrat ou Nazaret). Mas a
form as atestadas no E vangelho de M ateus (2:23;
form a grega Iesous ho nazaraios, sem o “t” parece mais
4:13; 21:11)46. A lém disso há duas form as adjetivais:
adequado à raiz nzr que ocorre inclusive no targum de
Nazarenos (M arcos usa apenas essa form a - a não
Isaías 44:13, onde o rabino Jinathan ben Uzziel traduz
ser que aceitem os a varian te Nazôraios que aparece
Maqtsuot (formão) com o nazora (desprezível). Isso se
em M arcos 10:47 segundo os m ss R e G ) e Nazôraios
coaduna com a proposta de que a referência de Ma-
(M ateus, João e A tos usam essa form a). Lucas usa as
teus concernente a Cristo como “nazareno” refere-se
duas form as.
mais à atitude pejorativa de seus contem porâneos em
Nazarenos: M arcos 1:24; [10:47 L T T r W H ]; relação à sua pessoa e de seus seguidores. De fato, João
14:67; 16:6; Lucas 4:34; [24:19 L m rg. T T r txy. W H ], 1:26 to rna evidente que Nazaré era um lugar desprezí-
vel (cf. Isaías 53:3 e Salmo 22:6-8). “Contudo, a mes-
Nazôraios: M ateus 2:23; 26:69 [var. Galilaios], 71;
m a raiz nzr aparece tam bém em sentido positivo nos
[M arcos 10:47 segundo R G ]; Lucas 18:37; [24:19 R
textos aramaicos. N o targum de Isaías 26:2 ela substitui
G L tx t m rg]; Jo ão 18:5 e 7; 19:19; A tos 2:22; 3:6;
emunim que quer dizer “fiéis” ou “guardadores da lei”51.
4:10; 6:14; [9:5, L b r.]; 22:8; 26:9 e 24:5, aplicado
aos cristãos47. O utra sugestão implica to m ar a raiz nasar, de onde
deriva o term o netzer (ram o, broto) e entender que
Em bora Nazarenos seja naturalm ente entendido
o adjetivo “nazareno” seria um trocadilho profético
como “nazareno” ou oriundo de Nazaré, Nazôraios não
para Isaías 11:1 - um a clara prom essa m essiânica -
é um term o que se liga naturalm ente a Nazaret em gre-
que justificaria o fato de que Jesus havia “crescido” em
go. A transição lingüística de Nazaret a Nazôraios, como
N azaré52. Epifânio, de fato, com o já m ostram os, nos
acentua o léxico de Bauer, é complexa e várias tenta-
inform a que antes que os discípulos fossem cham ados
tivas não conclusivas já foram feitas para explicá-la48.
de cristãos, eles foram p o r um tem po reconhecidos
Apesar de m uitas Bíblias traduzirem a expressão com o Iessaoi (pan 29,1, 3-9; 4, 9). Esse nom e viria, se-
lesou Nazaré e lesou tou Nazôraiou p o r “Jesus de Naza- gundo ele, de Jessé o pai de Davi. Epifânio não m en-
ré”, alguns gram áticos sugerem que o mais correto se- ciona Isaías 11:1, m as é possível que esse texto esteja
ria “Jesus, o N azareno” e que o título nada teria a ver p o r detrás de sua inform ação. A dificuldade com essa
com a procedência de Jesus, m esm o porque ele era hipótese lingüística é que a palavra mais com um para
nascido em Belém (M ateus 26:71; M arcos 1:24; 10:47; “ram o” nas profecias m essiânicas é tzemach (Jer. 23:5;
14:67; Lucas 4:34; João 17:5; Atos 2:22). Curiosa- 33:15; Zec. 3:8; 6:12).
m ente, o Evangelho de Felipe diz o seguinte acerca
Pensou-se tam bém , baseado num a referência do
do significado de N azaré49:
Talm ude acerca de Iesu Há N ozri, que o term o viria
“47. Os prim eiros apóstolos o cham avam assim: de N osri que significa “aquele que guarda [a lei]”.
Jesus N azareno M essias, que quer dizer Jesus Naza-
N enhum a dessas sugestões é conclusiva e nenhum a
reno Cristo. A últim a palavra é Cristo; a prim eira Je-
tam bém nega a realidade histórica de um lugarejo ou
sus, no m eio, N azareno. A palavra M essias tem dois
com unidade cham ado Nazaré. As m enos prováveis,
significados: C risto e rei. Jesus em hebraico significa
no entanto, seriam: em prim eiro lugar a adequação
Salvador. Nazara é V erdade. N azareno é Rei e Jesus
que alguns autores ten taram fazer no passado entre
tam bém é Rei.”
os vocábulos “nazareno” e “nazireu”. Jesus obviam en-
E m bora se trate de um texto apócrifo, ele apon- te não era um nazireu (M ateus 11:19; Lucas 7:33 e 34
ta para um a antiga tradição que não via “nazareno” cf. N úm eros 6:2). Em segundo lugar de im probabili­
dade estaria um a o utra sugestão m ais recente de que deram não chegando até nós. O utra possibilidade seria a
“nazareno” seria um nom e derivado do m andeanism o de que aqui seria a referência à profecia em geral, não a
p o r interm édio do m ovim ento de João Batista. um profeta, mas “aos profetas”. Seria um cum prim ento
sumarizado e não específico. E, finalmente, uma tercei-
O m andeanism o é um a religião dualísca e m onote-
ra hipótese, a de que M ateus esteja se referindo a Isaías
ísta de origens obscuras, que m antém cerca de 70 mil
11:1 que já comentam os anteriorm ente poderia ter em
seguidores em sua m aioria localizados no Irã, Iraque hebraico uma correlação com o term o N azaré. Note que
e A rábia Saudita. Eles cultuam a m em ória de Adão,
na seqüência da narrativa (Mateus 3:3) o evangelista ci-
Abel, Sete, Enos, Noé, A rão e, especialm ente, João
tará textualm ente o livro de Isaías.
Batista. É a única religião gnóstica que ainda existe
em nossos tem pos53. Arqueologicam ente falando tem os vários proble-
mas em relação à cidade de Nazaré. Fora essa m enção
Sua conexão, no entanto, com o m ovim ento d e je -
do Novo Testam ento, tal cidade é, como já foi dito,
sus é im procedente. Não tem os n enhum a inform ação
praticam ente desconhecida na Antiguidade. Josefo não
de que os discípulos de João Batista fossem m andea-
faz nenhum a menção dela na longa lista de 200 cidades
nos ou se identificassem com o nazarenos. Ademais,
e vilarejos da Galileia que apresenta. O Talm ude, em-
vários autores estão colocando em questão a teoria de
bora relacione 63 cidades da Galileia, não faz m enção
que os m andeanos seriam um grupo judeu/gnóstico
de Nazaré. O m esm o pode ser dito da antiga literatura
pré-cristão54. Alguns questionam até m esm o se eles
rabínica, do AT, de Paulo e dos prim eiros historiado-
seriam de fato judeus, pois, dentre outras coisas, não
res e geógrafos. N enhum deles dem onstrou o m enor
praticavam a circuncisão, não observavam o sábado
interesse em m encionar sequer a existência de um as-
nem oravam voltados para Jerusalém 55.
sentam ento chamado Nazaré. Som ente no século IV
Seja com o for, em bora a Bíblia não nos dê m uitas ela aparecerá citada num docum ento não cristão.
inform ações a esse respeito, pelo que se coleta de vá-
As escavações em Nazaré com eçaram em 1955
rios pais da Igreja, o term o “nazarenos” era um adjeti-
sob a liderança do italiano Belarm ino Bagatti. M as o
vo dos discípulos que antecede o apelido de “cristãos”.
achado que revelou sua mais antiga m enção ocorreu
Talvez seja an terio r ou contem porâneo ao apelido
em 1962. Em agosto daquele ano, arqueólogos sob a
“seguidores do cam inho”.
liderança de M ichael Avi-Yonah escavavam um a si-
Alguns supõem que o term o cristãos/cristianoi se- nagoga em Cesareia M arítim a, datada possivelm ente
ria inicialm ente um apelido nascido no contexto dos do século III e IV d.C. O grupo encontrou entre os
prim eiros contatos com conversos gentios, enquanto alicerces três fragm entos de um m árm ore escureci-
“nazarenos” seria usado na palestina para referir-se do contendo inscrições hebraicas. U m a com paração
aos judeus aderentes a um a nova seita m essiânica56. com alista de I Crônicas 24:7-19, que relaciona os 24
tu rn o s sacerdotais, ajudou a restaurar o texto que era
um a fórm ula técnica repetitiva57.
Origem dos nazarenos
Juntos, os fragm entos revelaram o nom e de algu-
Vários acadêmicos têm tentado traçar um a hipótese mas famílias sacerdotais (provavelm ente de um gru-
sobre as obscuras origens dos nazarenos. Um a das pri- po de 24) que p o r volta dos tem pos de A driano em
meiras dificuldades vem do próprio texto evangélico: “E 135 d.C., foram obrigadas a m igrar dos arredores de
ele [José] foi e habitou em um a cidade chamada Naza- Jerusalém para assentam entos sem presença de gen-
ré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: tios que estivessem próxim os à cidade de Séforis ou
‘e ele será chamado um nazareno’” (Mateus 2:23). Que no en to rn o do M ar da Galileia. A parentem ente eles
profeta disse isso? N enhum texto do Antigo Testam en- ainda seguiam o curso de 24 tu rn o s advindo desde os
to corresponde exatamente a esse prognóstico. Aqui tem pos do AT. A 18a fam ília sacerdotal, p o r nom e
tem os três possibilidades: prim eiro que M ateus estaria Hapizzez, estabeleceu-se em. Nazaré que, alguns pen-
citando um profeta não canônico cujas profecias se per­ sam, estaria desabitada.
Evans lem bra que já desde o período pós-destrui- É essa possível “refundação” que nos interessa
ção do T em plo em 70 d.C., as famílias sacerdotais para reconstruir as origens do m ovim ento de Jesus.
eram identificadas não apenas pelo nom e, mas pela M esm o as antigas fundações encontradas (túm ulos,
localidade onde m oravam 58. O mais im portante, po- evidência a g ric u ltu ra l, silos, prensas de oliveiras etc.)
rém , desse achado é a presença da m ais antiga m enção m ostram que o assentam ento nunca foi grande. Ha-
não cristã à cidade de Nazaré. via ali apenas um a cisterna, o que corrobora para a
ideia de um a população bem pequena.
Assim, confirm a-se o com entário de Jam es Stran-
ge: “Nazaré não é m encionada em antigas fontes ju- Em 2009 a arqueóloga israelense Y ardena Alexan-
daicas anteriores ao século III d.C. Essa lacum a de dre escavou o estrato que possivelm ente dataria dos
m enções reflete [na opinião do autor] a falta de proe- dias de Cristo, no começo do dom ínio rom ano. Um a
m inência [de Nazaré] tan to na Galileia quanto na casa foi encontrada!62
Judeia”59. Strange supôs an terio rm en te que a cidade
O fato de M ateus 2:23 cham ar Nazaré de “cidade”
de N azaré deveria possuir em to rn o de 1.600 a 2.000
não nos deve p render à descrição m oderna de um as-
habitantes, mas num a publicação posterior, ele indica sentam ento urbano, nem m esm o à ideia de um a pó-
que ali havia, no m áxim no, 480 m oradores.60 lis ou um a urbe com pletas (cf. ainda Lucas 1:26; 2:4,
“Apesar da obscuridade de Nazaré (o que tem le- 39). Em bora pólis possa ser traduzido p o r cidade, seu

vado alguns críticos a sugerirem apenas um a recente sentido prim ário é “lugar de habitação” e no uso do
N ovo T estam ento ela não denota necessariam ente
fundação da cidade), a arqueologia indica que o vila-
um a ideia de organização m unicipal. “O uso de pólis
rejo já era ocupado desde o século X a.C., em bora ele
no N T é de fato com pletam ente não político”63.
possa te r experim entado algum tipo de refundação’
no século II a.C.”61 D eduz‫־‬se isso p o r causa da cerâm i- Veja que polis é usada pelos evangelistas em inter-
ca localizada no local que vai de 900 a 600 a.C. Depois câmbio como kâmê, que quer dizer povoado, aldeia,
tem os um hiato até 100 a.C. quando talvez a cidade lugar de descanso para trabalhadores do campo [fazen-
foi reocupada. Nesse tem po seriam aproxim adam en- da]64. Veja: Betsaida é chamada de kômêem Marcos 8:23,
te 50 casas num cam po de 4 acres de terra. 26 e de pólis em M ateus 11:20. Belém é chamada de kômê
em João 7:42 e de pólis em Lucas 2:4. O term o kômópolis N azaré, p o rtan to , continuou contando com a pre-
em M arcos 1:38 é m udado para pólis em Lucas 4:43. sença ativa de cristãos. Alguns destes podem ter fun-
dado no Século V a igreja sobre a casa onde M aria
T am bém devem os anotar que a LXX usa a palavra teria supostam ente vivido. O fundador pode ter sido
pólis para traduzir um term o hebraico que não sig- um certo C ônon de Jerusalém (não confunda com 0
nifica necessariam ente um assentam ento urbanísti-
C ônon de N azaré), pois seu nom e aparece num m o-
co no sentido m oderno da palavra. T rata-se de “ir”
saico local ao lado noroeste da igreja, datado do sécu-
que pode significar um a torre, um lugar para sacri-
10 V d.C.
fícios, um a fortaleza, um a fazenda, enfim , qualquer
povoação perm anente sem referência a tam anho ou Hegesipo tam bém m enciona os parentes de C risto
situação política. A única distinção básica de “ir” nos ao falar da perseguição sob D om iciano (81-96 d.C.)66.
tem pos do A T é que ela frequentem ente tin h a m u- Julius Africanus (250 d.C.) m enciona com o os paren-
ros, enquanto vilas m enores não. C ontudo, D eutero- tes de Jesus (de o utra geração) ainda eram zelosos em
nôm io 3:5 m enciona a existência de cidades que não m an ter viva a m em ória de seus ancestrais67.
tinham m uros65.
Os escritos apócrifos am pliam ainda mais a ativi-
Os dados, po rtan to , parecem apontar para a m i- dade dos parentes de Jesus. Eles tentam recolher dos
gração de algum grupo judaico que aguardava o M es- parentes inform ações da infância e juventude de Je-
sias e se ajuntou coletivam ente naquela região da sus, m uitas, é claro, já transform adas em lendas.
Galileia. Não é inverossím el supor que tenha havido
algum a ligação prévia deles com os essênios ou ainda
que esse grupo seria um a subdivisão daquele anterior Nazarenos e essênios
p o r discordar de algumas ideias.
Supondo a teoria mais com um atualm ente de que
Os parentes de Jesus, que creram que ele seria o
os essênios seriam os habitantes da com unidade de
M essias, continuaram m orando em Nazaré. Segundo
Q um ran, é interessante n o tar alguns paralelism os
o testem unho de Atos 1:14, os irm ãos de Jesus aceita-
entre a seita e o m ovim ento de Jesus. Esses paralelos
ram seu m essianism o após a ressurreição e se uniram
não indicam de m aneira n enhum a que Jesus seria um
aos apóstolos em Jerusalém . Isso aconteceu em algum
essênio (eles podem ser apenas eco de um a cultura
tem po durante os dias em que Jesus ressurreto apare-
judaica com um entre os dois m ovim entos). C ontudo,
ceu aos discípulos tan to na Judeia quanto na Galileia.
pelo m enos indicam as origens mais específicas do
Eles provavelm ente não estavam em Jerusalém du-
m ovim ento de Jesus dentro do m osaico de segm entos
ran te crucifixão de Jesus e, se estivessem , certam ente
do judaísm o do Segundo Tem plo.
não estariam do lado dele.
“Aquele que pratica a verdade”(Joào 3:21 e M anual
Depois do Pentecostes, aparentem ente, os paren-
de D isciplina 3, 21).
tes de Jesus voltaram para Nazaré. Talvez tem essem
as ameaças que haviam sobre o grupo em Jerusalém “O bras de D eus” (João 6:28 e M anual de Disciplina
- o m artírio de Tiago já sinalizava os novos tem pos. 4, 4).
A exceção foi M aria, que, de acordo com a tradição
“Anjo de Satanás” (II Cor. 12:7 e D ocum ento de
posterior, seguiu para Éfeso em com panhia de João.
Dam asco 16, 4).
Os nazarenos, contudo, continuaram sendo persegui-
dos e em 44 d.C. Pedro e João foram presos. “Belial”(II Cor. 6:14 e M anual de Disciplina 1, 16
ss., D ocum ento de Dam asco 4, 13 etc.).
D urante a perseguição prom ovida p o r Décio
(249-251), um hom em cham ado C ônon foi preso. Ele O dualism o ético entre luz e trevas e a batalha dos
então disse à corte: “eu sou de Nazaré, na Galileia. Eu filhos da luz co n tra os filhos das trevas (Rom. 13:12;
sou m em bro da fam ília de C risto, a quem ofereço cul- 11 Cor. 6:14; Ef. 4:17; 5:14 comp. com D ocum ento de
to desde os tem pos de m eus ancestrais”. Dam asco 4, 3).
“Luz da vida”(João 8:12 e M anual de Disciplina 3,7). O utra expressão paralela é "livro selado com sete
selos” (Apoc. 5:1 comp. com 4Q550; col. 4 linha 5).
“aquele que anda nas trevas” (João 8:12; 12:35 e
M anual de Disciplina 3, 21) U m dos m ais im pressionantes paralelos estará en-
tre M ateus 11:4-6 (Luc. 7:22) e 4Q521. Veja os crité-
“filhos da Luz” (Luc. 16:8; Jo. 12:36; Ef. 5:8; I Tes.
rios m essiânicos da versão qum rânica:
5:5 e M anual de Disciplina 1,9;2:24; I Qm).
[os cé]us e a terra ouvirão o seu Messias e ninguém
A expressão “água viva” de João 4:10 aparece na li-
ali apartará dos m andam entos do Santo. Vós que bus-
teratu ra rabínica para descrever as águas que correm
cais o Senhor, fortaleçam -se em seu service. Todos vós
na cerim ônia do Tevillah (o batism o). Em Q um ran as
tenhais esperança em vossos corações, não achareis o
“águas vivas” correm do poço de Jacó e trazem a vida
Senhor em tudo isso? Pois o Senhor considerará os
eterna (M anual de Disciplina). João 4 parece seguir
piedosos (Hasidim) e cham ará os justos pelo nome.
essa tem ática (conf. Núm . 21:18).
Sobre os pobres, haverá de pairar o seu Espírito e re-
A expressão “Espírito Santo” só aparece duas ve- novará os fiéis com seu poder. E ele m esm o glorificará
zes no AT, mas é abundante seu uso em Q um ran. O os piedosos sobre o tro n o do reino eterno. E ele quem
E spírito Santo é o “Espírito da verdade” que, com o as liberta os cativos, restaura a vista aos cegos, fortalece os
águas de purificação, lim pam o hom em de sua m alda- quebrantados ... ele curará as enfermidades, ressuscita-
de (M anual de Disciplina 4, 12-13). A m esm a missão rá os m ortos e trará boas-novas aos pobres, (baseado
do Espírito Santo no NT. na tradução de M ichael O. W ise)
Disponível online in http://w ww .yashanet.com /library/tem -
Notas p le/yoma39.htm.

17 J ames D. Tabor, A Pierced or Piercing Messiah? — The Verdict


1 Questão terceira da Parte I da Suma T eológica.
is Still Out Biblical” Archaeology Review 18 (Nov/Dec 1992):
2 Luke Tim othy Johnson, The Real Jesus: The Misguided Quest 58-59, cf. também Michael O. W ise e James D. Tabor, “The
for the Historical Jesus and the T ruth o f the Traditional Gos- Messiah at Qumran.” BAR 18 (Nov/Dec 1992): 60-61, 65.
pels San Francisco: HarperSanFrancisco, 1998.
18 P. Rainbow, “M elchizedek as a M essiah at Q um ran,” BBR 7 (1997)
3 Gerard Theissen, Sociology o f Early Palestinian Christianity, 179-94. 21; J. A F itz m y e r ,“F urther L ig h t On M elchizedek From
Philadelphia: Fortress Press, 1978. Q um ran Cave 11" JBL 86 (1967) 25—41 e J. Carmignac, “Le do-
cument de Qumran sur Melchisédeq,” R evQ 7 (1970), 343-78.
4 Craig A. Evans, Fabricating Jesus: How M odern Scholars Distort
the Gospels. Downers Grove: IVP, 2006. 19 Deduz-se que seja Daniel, pois este se encontra entre os “escri-
tos” na divisão hebraica da Tanak.
5 E. Kasemann, “The Problem of the Historical Jesus” In: Essays
on N ew Testam ent Themes SBT41 London and Nashville, 1964, p. 20 Não podemos esquecer que depois da helenização do templo em
33. 175 a.C. e também depois da destruição do templo em 70 d.C.,
alguns rabinos, mas não todos, começaram a interpretar Daniel
6 Abba Hillel Silver, A History of Messianic Speculation in Isra- 9 (esp. o verso 25) de um modo não messiânico. Muitos comen-
el (Nova Iorque: Macmillan Co., 1927),5-7. tários sobre Daniel priorizam a utilização dessa interpretação
não messiânica, contudo, como acentua Beckwith, “as interpre-
7 Cf. Israel Drazin, Maimônides: Reason Above All (Jerusalém: tações mais usuais do judaísmo [sobre as setena semanas] até
Gefen Publishing House Ltd, 2009), 13 depois do ano 70 e do cristianismo ao final do século 19 eram
todas de natureza messiânica”. Roger T. Beckwith Calendar and
8 Israel Jacob Yuval, “Jewish M essianic Expectations towards 1240 chronology, Jewish and Christian: biblical, intertestamental and
and Christian Reactions” in Peter Schafer, Mark R. Cohen patristic studies (Leiden: Brill, 2001), 260.
(ed.), Toward the Millennium: Messianic Expectations from
the Bible to W aco (Leiden: Brill, 1998), 105 e 106. 21 Roger Beckwith, “The Significance of the Calendar for Inter-
preting Essene Chronology and Eschatology” RvQ 10 (1980),
9 Para uma versão inglesa completa, veja Iggeret Teiman, 12, 179-80; idem, “Daniel & the Date o f Messiah’s Coming,” RvQ
baseado na tradução inglesa de Boaz Cohen e disponível online 10 (1981), 523-25.
em h ttp ://en.wikisource.org/wiki/Epistle_to_Yemen/XII
22 Samson Raphael Hirsch, Gesammelte Schriften, ed. Naphtali
10 Alfred Edersheim, The Life and Times o f Jesus The Messiah Hirsch, (Frankfurt: J. Kauffmann, 1908), vol l:3;citado por
(Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2000), 957. Ron H. Feldman, “The Sabbath versus the new moon: a critique
of Heschel’s valorization of the Sabbath from Judaism” artigo
11 Citado de acordo com a versão do Soncino Babylonian Talmud
provido por Find Articles at BNET.
[traduzido por I. EPSTEIN] versão eletrônica disponível em
h ttp :// www.come-and-hear.com/tcontents.html
23 Knibb, porém, entende que os 390 anos teriam uma aplicação
espiritual e não cronológica. Cf. M. A., Knibb. The Qumran
12 Uma variante diz lit. “aqueles que calcularem o fim”. Cf. a nota
Community. (Cambridge: Cambridge University Press. 1987), 20.
editorial da versão de Soncino Press.
24 Alguns como Vanderkam fizeram tentativas históricas de
13 Para uma descrição do pensamento de Rashi e Vilna Gaon, com
encontrar esse M estre de Justiça. Pensaram no Sumo Sacerdote
referências bibliográficas veja Michael L. Brown, Answering
Onias III que foi exilado e provavelmente assassinado e desde
Jewish Objections to Jesus. Volume 1: General and Historical
sua m orte seguem a João Hircano como o “ímpio” mas para isso
Objections (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 2005), 70-
assumem que os “anos” da profecia seriam artificiais. Cf. J. C.
75, 78-79.
Vanderkam.J.C. The Dead Sea Scrolls Today. (Grand Rapids,
14 Lloyd Gaston No Stone on Another. The Significance o f the Fall MI: W m B. Eerdmans Publishing Company. 1994) 105, O
of Jerusalem in the Synoptic Gospels (Leiden: E. J. Brill, 1970), pesher de Habacuque (i QpHab x, 5c-13) também fala de um
463. pregador de M entira e um homem de mentira e falta saber se se
tratam de duas personagens ou apenas uma. Ademais temos ο
15 Baraisa é uma citação fe ita por um Tanna ( um Rabino intérprete da Sacerdote ímpio. O assunto é bastante vasto e discutido entre os
M ishná), mas que não não havia sido incluído na M ishná pelo Rabino especialistas (cf. James H. Charlesworth, “Historical Allusions
Yehuda Ha nasi (aprox. 200 d.C.). in the Pesharim” in The Qumran and Qumran History: Chaos
and Consensus, (Grand Rapids: W illiam B. Eerdman’s Publ.
16 Veja o texto talmúdico conforme uma tradução inglesa: “Our Co., 2002), 80- 118; John J. Collins, “The Time of the Teacher:
Rabbis taught: During the last forty years before the destruction An Old Debate Renewed” in peter W . Flint, Emmanuel T ov &
o f the Temple the lot [‘For the Lord’] did not come up in the James C. VanderKam, Studies in the Hebrew Bible, Qumran
right hand; nor did the crimson-coloured strap become white; and the Septuagint, (Leiden: Brill, 2006), 212-229; Frank M.
nor did the westernmost light shine; and the doors o f the Hekal Cross, “The Righteous Teacher and the W icked Priest” in
would open by themselves, until R. Johanan b. Zakkai rebuked Frank M. Cross, The Ancient Library o f Qumran, 3rd Ed.,
them, saying: Hekal, Hekal, why wilt thou be the alarmer Minneapolis: Fortress Press, 1995, pp. 100-119; A. S. Van der
thyself? I know about thee that thou wilt be destroyed, for Ze- W oude, “W icked Priest o r W icked Priests? Reflections on the
chariah ben Ido has already prophesied concerning thee: Open Identification of the W icked Priest in the Habakkuk Commen-
thy doors, O Lebanon, that the fire may devour thy cedars.” tary”, JJS (33, 1982), pp. 349-359.
25 Citado conforme a tradução de J. Charlesworth and F. M. Cross, judéia” e os zelotas como sendo “um movimento sacerdotal”.
eds., The Dead Sea Scrolls: Hebrew, Aramaic, and Greek T exts with Hans Kippenberg, Religião e formação de classes na antiga
English Translations (Louisville: W estm inster/John Knox, M ohr Judéia, (São Paulo: Paulinas, 1988),121.
Siebek, 2006), vol. 3.
38 B. Kanael, ‘The Historical Background o f the Coins Ύ ear F o u r... of
26 Alguns autores fazem a conta um pouco diferente: propõem que the Redemption o f Zion” ', BASOR 129 (1953), 18-20.
seriam 7 x 7 = 49 anos, adicionam um ano extra para o ano jubi-
leu = 50 então multiplicam por 50 ficando 500 anos e não 490. 39 Esta designação de Josefo faz alguns suporem que Menanhem
seria o “Mestre de Justiça” mencionado em Qumran.
27 O autor analisa detidamente aquelas cronologias proféticas que,
a seu ver, deram sentido à profecia messiânica de 70 sema- 40 As descrições a seguir baseiam-se em Gerd Thíesen e Annete
nas de Daniel. A literatura antiga judaica, propõe três tipos Merz, O Jesus Histórico, Um Manual, (São Paulo: Loyola,
principais de linha do tempo: essênios (que seguem 0 texto 2002), 159 ss. Cf. também: Antiguidades XVIII, 1 (§ 11-25),
hebraico samaritano tipo), gregos (seguindo a Septuaginta ) e XIII, 5, XIII, 9 e XIII, 10 (§ 171-173 e 297), GuerrasII, 8, 2 (§
fariseus / Zealotas (de acordo com 0 texto massorético). Es- 118-166).
sas interpretações são expostas em vários livros apócrifos e
pseudepígrafos, especialmente Jubileus, Assunção de Moisés, 41 JoachimJeremias, Jerusalem in the Time ofjesus, ( Londres:
Pseudo-Demétrio. Os fariseus sucessivamente retomaram as SCM Press LTD, 1969), 246-267.
Interpretações múltiplas que também aparecem em Josephus,
2 Esdras e Pseudo-Philo.R.T. Beckwith, “D aniel 9 and the Date of 42 Tessa Rajak, Josephus, (Londres: Duckworth, 1983), 140. Cf.
the M essiah's C om ing in Essene, Hellenistic, Pharisaic, Zealot também M artin Hengel, The Zealots. Investigations into the
and Early Christian Computation”, RvQ 10, (1981 ),521 -42. De Jewish Freedom Movement in the Period from Herod I until 70
modo mais completo veja seu livro: R.T. Beckwith Calendar and A.D. (Edimburgh: T&T Clark, 1989), 150, 237-240,245 e 251.
Chronology, Jewish and Christian: Biblical, lntertestam ental and
Patristic Studies. (Leiden: E.J. Brill, 1996), 217-272. 43 Eusébio, História Eclesiática, III, 5,3; Epifânio, panarion 29,
1 - 7 . Panarion é o nome grego, na literatura judaica a obra de
28 Cf. o resumo e comentários sobre os vários pretensos Messias Epifânio é chamada de Adversus Haereses.
em: Craig A. Evans, Jesus and His Contemporaries: Comparative
Studies (AGJU 25; Leiden: Brill, 1995), 53-82; R. A. Horsley, 44 Ray A. Pritz, Nazarene Jewish Christianity - from the end of
“Popular Messianic Movements around the Time ofjesus,” the New Testam ent period until its disappearance in the fourth
CBQ46 (1984), 47-95; R. A. Horsley e j. S. Hanson, Bandits, Century, (Jerusalém: Magnes Press e Hebrew University Press,
Prophets, and Messiahs: Popular Movements at the Time of 1992), 10 nota 4.
Jesus (New Voices in Biblical Studies; Minneapolis: W inston,
1985; repr. San Francisco: Harper & Row, 1988); S. Talmon, 45 David C. Sim The Gospel o f M atthew and Christian Judaism ,
“Types of Messianic Expectation at the T urn o f the Era,” in SNTW . (Edinburgh: T&T Clark. Stanton, Graham, 1998) 182.
Talmon (ed.), King, Cult and Calendar in Ancient Israel (Jeru-
salem: Magnes, 1986), 202-24; T. Rajak, “Hasmonean Kingship 46 Mesmo nos primeiros documentos cristãos fora do Novo
and the Invention of Tradition,” in P. Bilde et al. (eds.), Aspects Testamento, a cidade é gravada de diferentes modos: Nazara
of Hellenistic Kingship (Studies in Hellenistic Civilization 7; é como grafa Sextus Julius Africanos em cerca de 200 d.C.;
Aarhus: Aarhus University Press, 1996), 99-115. Origenes (185-254 d.C.) demonstra conhecer as formas Nazara
e Nazaret [Comment. In Joan. Tomus X (Mígne, Patrologia
29 F. J. Foakes Jackson, Josephus and the Jews: The Religion and Graeca 80:308-309.) ] e Eusébio (traduzido por Jerônimo) traz
History of the Jews as Explained by Flavius Josephus (Londres:- em seu Onomasticon o termo Nazara.
Society for Promoting Christian Knowledge, 1930), 90.
47 Joseph Henry Thayer, The New Thayer’s Greek-English
30 W right entende o último reino (os pés) como uma extenção do Lexicon of the New Testament with Index, (Peabody, MA:
quarto reino de ferro e não um quinto poder. Hendrickson, 1981), 422 #3479 e 3480.

31 N. T. W right, The N ew Testam ent and the People o f God - Vol. 1 48 William F. Arndt e F. W ilbur Gingrich, A Greek-English
: Christian Origins and the Question of God (Londres: SPCK: Lexicon of the New Testament and O ther Early Christian
1992), 304. Literature - a translation na adaptation of the fourth revised
and augmented edition of W alter Bauer’s Griechisch-Deuts-
32 Donizete Scardelai, Movimentos Messiânicos no Tempo de
ches W õrterbuch zu den Schriften dês Neuen Testaments und
Jesus, (São Paulo: Paulus, 1998), 116 e 117
der übrigen urchristlichen Literatur, (Chicago e Londres: The
33 Scardelai, 124. University of Chicado Press, 1979), 523.

34 Seguimos, com adaptações, a estrutura de apresentação que se 49 Disponível online em http://w w w .sw am i-center.org/en/text/
encontra em http://w w w .livius.org. gospelofphiIip.pdf

35 Citado conforme a versão em inglês do Texto de Tácito que se 50 Apud David Donnini “Estratti da alcuni Vangeli Apocrifi”
encontra online em h ttp :// penelope.uchicago.edu/Thayer/E/ disponível em http://w ww .nostraterra.it/apocrifi/apocrifi.htm l
R om an/T exts/T acitus/Histories/5A*.html#9
51 Para os textos aramaicos de Isaías veja Bruce D. Chilton,
36 Foakes Jackson, 87. ed., The Isaiah Targum: introduction, translation apparatus and
notes. (Edinburgh: T & T Clark, 1987). (Vol. 11 o f the Aramaic
37 Diferença entre Sicários e Zelotas: Kippenberg, apoiando-se em Bible series), versão eletrônica.
Baumbach e em documentos judaicos, diz que o termo sicários
“foi a denominação dada ao movimento revolucionário rural da 52 SDABC V, 293.
53 K u rt Rudolph, Gnosis: The N ature and History o f Gnosticism ( San A. Archaeology, History & Society in Galilee. (Valley Forge PA:
Francisco, CA: Harper & Row, 1983), 343. Trinity Press International, 1996), 107-112.

54 Edwin M. Yamauchi, Pre-Christian Gnosticism: A Survey of the 63 Strathmnn, polis, in TDNT, VI, 520.
Proposed Evidences (Grand Rapids, MI: Baker, 1983), 117-142.
64 Thayer, #2968, 367.
55 Pritz, 12.
65 Carl Schultz, “,ir” in R, Laird Harris et. alii, Eds, Dicionário
56 “Messianic,” or “Messianics,” Greek Christianoi, which could Internacional de Teologia do Antigo Testamento, (São Paulo:
be rendered... as in other translations, “Christians.” .. .the Vioda Nova, 1999), #1615, 1110 e 1111.
name “Christianoi” was applied to Gentile believers by Gentile
66 Citado por Eusébio História Eclesiástica, III, 19,20, 1-6.
nonbelievers. The name nonbelieving Jews gave to Jewish
believers was “Natzaratim”... (“Nazarenes”),...” - David H., 67 Idem, História Eclesiastica, 1,7,13-14
Stern, Jewish New Testam ent Commentary. (Jewish N ew Testa-
m ent Publications: 2004). 68 Na verdade, os gafanhotos eram comida Kosher segundo Lev.
1:20-23. Do mesmo modo os Manuscritos de Qumran afirmam
57 M. Avi-Yonah, “A List of Priestly Courses from Caesarea” Israel que os gafanhotos podiam ser comidos, desde que bem cozidos
Exploration Journal 12: (1962), 137-139. ou assados (Documento de Damasco xii, 11 -15). Contudo, vários
autores advogamque João era vegetariano. Uma longa revisão de
58 Craig A. Evans, Jesus and the Ossuaries, (Waco, TX: Baylor
toda a discussão acadêmica sobre o vegetarianismo em João e entre
University Press, 2003), 48.
os essênios pode ser encontrada em: Jameds A. Kelhoffer, The Diet
o f John the Baptist “Locusts and W ild Honey" in Synoptic and. Patristic
59 James Strange, “Nazareth” in the Anchor Bible Dictionary,
(New York: Doubleday, 1992). interpretation (WUNT 176; Tübingen: Mohr Siebeck, 2005),
esp. pp. 19-21. Veja também sobre o vegetarianismo em Qumran:
60 E. Meyers & J. Strange, Archaeology, the Rabbis, & Early Chris- Y izhar H irschfeld. Qumran in Context: Reassessing the Archaeologi-
tianity. (Nashville TN: Abingdon, 1981), 57. cal Evidence. (Peabody: Hendrickson Publishers, 2004). Ellen W hite
afirma que João tinha uma dieta vegetariana, (Maranata, 1977). E
61 Idem, 56-57. há quem sugira, embora com base no argumento do silêncio e nada
mais, que a ceia pascal de Jesus e os discípulos fora celebrada sem o
62 Cf. também Rousseau, John J. & Rami Arav, Jesus & H is W orld, cordeiro pascal à semelhança do que se fazia em Qumran, embora
(Minneapolis: Fortress Press, 1995), 248-251, Horsley, Richard essa seja uma afirmação possível, porém, inconclusa.
nciclopédia Histórica da Vida de Jesus é uma obra idealizada para aque-
les que querem conhecer melhor a Bíblia Sagrada e comprovar como a Ar-
queologia tem contribuído para uma melhor compreensão desse livro. Em
suas páginas você encontrará as mais modernas descobertas arqueológicas
que se relacionam com a vida de Jesus Cristo. Mesmo sendo uma obra de ele-
vada erudição, o autor discorre sobre a pessoa de Cristo com uma linguagem acessível,
tornando a leitura muito agradável e instigante. Mapas, imagens, lugares históricos e
tecnologia QRcode com vídeos feitos pelo autor em lugares históricos proporcionará
uma imersão histórica nos passos do Cristo - o Emanuel, Deus Conosco.

O escritor, apresentador e professor Rodrigo Silva éDou-


tor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade Católica
de Teologia N. S. Assunção- atualmente vinculada à PUC
-SP. Doutor em arqueologia clássica pela Universidade
de São Paulo, fe z estudos pós doutorais em arqueologia
bíblica pela Andrews University (EUA) e participou de
escavações em Israel, Espanha, Sudão e Jordânia. Atual-
mente e' professor de Teologia e Arqueologia do Centro
Universitário Adventista de São Paulo - Campus Enge-
nheiro Coelho, SP (UNASP-ec), curador do Museu de
Arqueologia do Unasp e apresentador do documentário
semanal “Evidências", transmitido pela T V Novo Tempo.
Seu canal no YouTube possui mais de 200 mil seguidores
com milhares de visualizações de seus vídeos e programas.
Já teve diversos artigos publicados em revista e periódicos
indexados, entrevistas em rádio e na TV. Na Rede Globo
fo i entrevistado 3 vezes pelo Jô Soares em seu “talk show”
(Programa do Jô), na T V Record participa de documentá-
rios, entrevistas e presta consultoria histórica e arqueoló-
gica para series, documentários e novelas.

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