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RODRIGO SILVA
Enciclopédia
Histórica da
Vida de
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poníveís. É muito fácil, basta apenas
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que complementarão sua leitura.
ENCICLOPÉDIA HISTÓRICA DA VIDA DE
JESU
S
Expediente
E d i to r
C ristian M u n iz
Revisão
A n a Paula R ibeiro
Capa
Rafael C arvalho
17-05187 CDD-232.903
JESU
S
RODRIGO SILVA
Prefácio
Ozeas C. Moura
D outor em Teologia Bíblica, pela PUC - RJ
xdução
A filosofia pode existir sem Sócrates e poesia pode existir sem Carlos
D rum m ond de Andrade, mas o cristianism o não terá sentido se Jesus for
fictício. Ele é a razão de nossa fé e o m otivo de nossa esperança. Por isso
revelo m eu sentim ento de alegria e reverência ao apresentar ao público
essa enciclopédia história da vida de Jesus.
Em bora países da Europa ocidental tenham se tor- que foram palco de im portantes acontecim entos ou
nado cada vez m enos religiosos, o núm ero de pessoas berço de relevantes m ovim entos estão se tornando
que creem em Jesus ainda é m ajoritário no Ocidente. cada vez m enos cristianizados.
E a tendência, segundo Jean-M arc Leger, presidente
da W IN /G allup International é aum entar.
A Escócia fo i, no in íc io do sé
cu lo XX, p io n e ira de um m o- v
" 0 estu d o revela que 0 to ta l de pessoas que se im e n to m is s io n á rio de alca n ce m
co n sid era m cre n te s é, na verdade, a lto . E com a u n d ia l. H oje, porém , 0 p e rce n - tu
cre sce n te te n d ê n c ia g lo b al de um a ju v e n tu d e a l de c ris tã o s caiu para pouco m ais
re lig io s a , podem os a ssu m ir que 0 núm ero de cre de 5 5 % e, a cada ano, d im i- nui em pelo
n te s co n tin u a rá aum en- ta n d o ", diz J e a n -M a m enos 1 % . Há m u ita in ce rte za e n tre
rc Leger, p re sid e n te da W IN /G a llu p In te rn a tio os m em bros da ig re ja . N as ig re ja s
n a l. p ro te s ta n te s (e va n g é lica s), 23%
dos e n tre v is - ta d o s d isse ra m não a
c re d ita r que J e su s fo i a lg u ém re a l,
e n q u a n to 14% dos m em bros da Ig
re ja Ca- tó lic a pensam 0 m esm o.
Mudança de rumo
As mudanças de perspectiva sobre a figura de Jesus
começaram no século XVIII, quando os tem pos da
certeza confessional deram lugar a um a nova época
de questionam entos racionais à fé. Vários pensadores
começaram a duvidar das declarações tradicionais da
Teologia. Os critérios desta vez eram m odernam ente
mais racionalistas e baseavam sua argum entação na
m etodologia histórica até então jamais usada para
descobrir algo a respeito da fé. Sabia-se pelo credo
e pelos evangelhos que Jesus veio ao m undo de uma
forma sobre-hum ana, que pregou o am or e realizou
milagres. Depois foi m orto na cruz, ressuscitou ao
terceiro dia e subiu aos céus, deixando a certeza de
que vai voltar, trazendo consigo o juízo final sobre
os homens.
Δα.
ב..™λ
O
c.
Você Sabia?
A palavra “desescatologização”vem
dees-
chathon, um adjetivo gregopara se referir às
realidades últimas. Assim os teólogosfalam de
escatologia individualpara sereferir aoque
acontecea cada um depois de sua morte
eescatolo- giageral ou coletivapara se referir
àquele evento últimopara onde apontam todos
osacontecimen- tos da história: a segunda O que antes era chamado de "pax romana” passou a
vinda de Cristo, seguida do Juízofinal. ser agora a “pax ecclesiae” (paz da Igreja), a qual se apre-
Desescatologização, portanto, éa perda de sentou para o mundo como um sistema único de legi-
interesse na esperança cristã da segunda vinda timação do poder eclesiástico dentro e fora da Europa.
de Cristo.
O
j
Fato importante
A Revolução Francesa que se instaurou na
Europafoi fruto do discurso de intelectuais
contrários à religião, que motivaram 0povo a
expurgar por completo a imagem traumati-
zante de Deus quepor séculos lhesfo i imposta.
A modernidade rejeitou as caricaturas de
Deus juntamente com as verdades bíblicas
Cristo e o tem po acerca de sua pessoa. Terminaram negando
importantes conceitos reveladospor Deus,
A acomodação gradual da Igreja, somada às dispu- inclusive sua própria existência e sua
tas teológicas com a Reform a Protestante a partir do revelaçãopor intermédio de Jesus Cristo.
século XVI, fizeram com que o interesse pelo Juízo ר
Final e pelos dogmas de fé perdesse sua importância. O
A própria Reform a Protestante começou a dar mais ־ס־ם־
prioridade a assuntos sociais e políticos (especial-
m ente na Suíça e Alemanha) que aos temas bíblicos
relacionados ao fim do mundo. A sociedade começou a respirar um a nova moda-
lidade de interpretação da história que ecoava aque-
O futuro passou'a ser apenas um campo de pro-
les ideais escatológicos perdidos pela Igreja, porém
babilidades, e o presente, um espaço para o controle
sem a base bíblica que os sustentava. O horizonte era
do Estado absolutista. O passado era a tradição, isto
prom issor, mas não havia nenhum Deus lá na frente.
é, uma form a histórica de legitim ar o poder de quem
As pessoas passaram a ter um a percepção otim ista da
atuava no presente, a saber, o clero e a m onarquia
realidade, destituída da noção de providência divina.
com seus senhores feudais. Os eventos não eram mais Foi-se a terrível Idade M édia e o futuro não seria ape-
articulados à providência divina, mas a um emara- nas novo, seria melhor.
nhado de possibilidades atreladas exclusivamente à
ação política dos hom ens. Cristo não era mais o se- E quanto ao passado? Bem, esse agora não era visto
mais como argum entos para legitimação de um con-
nhor da História.
ceito. A tradição estava sob suspeita, ninguém queria
voltar à Idade das Trevas. O futuro era prom issor e Então um novo conceito surgiu: o term o Historie
o passado sombrio. O que se foi tinha de ser analisa- voltou a ser usado para designar o fato literal, ocorri-
do com cuidado, não só para desmascarar as m enti- do. Geschichte seria a interpretação posterior, rom an-
ras que foram contadas, mas tam bém para im pedir o ceada, que, em bora não precise ser necessariamente
retorno daquilo que consideravam lendas. A história um "engodo”, estaria longe de um a descrição exata do
tradicional de Jesus era alistada entre os antigos mitos que realm ente ocorreu. E um m ito, um exagero que
a serem evitados. nada tem a ver com a realidade dos fatos.
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S ie,es cuias ffítrifo Pnr r
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Para os escritores liberais da Alemanha, haveria um tória de Jesus. Seu nom e era Herm an Samuel Reima-
Jesus histórico (que realmente existiu) e um Cristo da rus (1694-1768), um professor de línguas Orientais
fé (criado e mantido pela Igreja ao longo dos anos). Se- na cidade de Hamburgo. Influenciado pelo deísmo in-
parar ambos era a tarefa principal de sua teologia. glês, ele não acreditava que Deus estivesse intervindo
nos negócios deste m undo. Sendo assim, a pregação
Porém, antes de eclodir a Revolução Francesa ou evangélica tradicional de um Deus encarnado, que
de Kãhler publicar suas ideias acerca de um Jesus his- entrou na história dos hom ens e possibilitou a salva-
tórico e outro historiai, houve pelo menos um autor ção da hum anidade m ediante sua própria m orte na
que preconizou os ventos da dúvida ao tratar da his- cruz, não fazia o m enor sentido.
□־s a q u e m
xado.
[venturaflÇ3
1te, ou
Teologia liberal
Teólogos liberais criaram um Jesus ético ou ideal;
teólogos racionalistas, um Jesus revolucionário.
Cada grupo pintava o retrato do Messias com as co-
res de sua própria cosmovisão filosófica. No final de
tudo, o que sobrara não foi um quadro de como era
Jesus, mas como cada um queria que ele fosse.
Heinrich Eberhard Gottlob Paulus (1761- 1851), Ferdinand C hristian Baur (1792-1860) foi outro
racionalista alemão e influenciador de Hegel. Procurava discípulo de Hegel que se inspirou no esquema d ia lé
encontrar uma razão natural para todos os supostos
tico para fa la r do m ovim ento de Jesus em term os de
milagres realizados por Cristo. A transfiguração, por
tese, antíte se e síntese. A tese seria os cristãos
exemplo, deu-se porque, depois de Jesus e seus
judaizantes, seguidores de Pedro, que queriam
apóstolos dor- mirem uma noite inteira ao relento,
obrigar os não judeus a cum prirem as leis cerim
Pedro, ain- da sonolento, viu 0 M estre, que havia
oniais do A n tig o Tes- tam ento. A antíte se seria os
acordado antes, de pé diante do sol nascente
cristãos liberais, seguidores de Paulo, que queriam
conversan- do com dois discípulos secretos que já
desobrigar os não judeus da prática cerim onial. A
estavam de partida. Então equivocadamente
síntese seria a Igreja que por m eio dos evangelhos (to-
entendeu os raios do sol como sendo a glória de Cristo
dos posteriores ao séculoll) te n ta ria uma conci-
e os dois seguidores como sendo M oisés e Elias.
ação entre as duas vertentes cristãs.
Fato importante
Apesar de não acreditar na historicidade de
Cristo, Schweitzer dizia admirar estafigura
lendária chamada Jesus e procuravafazer
dela seupróprio modelo de vida. Jesus, para
ele, foi um homem virtuoso por não desistir de
sua cren- ça mesmo emface da morte eda não
realização de seus planos. Além disso, fo i
coerente com 0 quefalou, não negando sua
mensagem diante dos líderes que
estavampara condená-lo.
c ר
d 0
r f f y 77ri- ^ — ---------- .............. .............. ......־ ^ ־f 1. סn 1 ״
Conta-se que um missionário que ele religião era apenas um movimento e'tico-social
visitou certa vez a ex-colônia francesa do para preservação da vida, nada mais.
Gabão se surpreendeu ao ouvir de um
nativo um curioso depoimento sobre 0 Dr.
Schweitzer. 0 missionário estava tentando f
evangeiizaro homem falando-lhe de como
Jesus era bon- doso com os enfermos e
como tratava bem as pessoas. 0 nativo
então lhe interrompeu: "Eu conheço esse
homem, mas, pelo que eu saiba, 0 nome
dele é Dr. Albert Schweitzer!"
* £L
P
ג
Você
sabia?
Embora movesse de íntima compaixão pelos
nativos da Africa, Albert Schweitzer considera-
να-os “infantis"por manterem suafe' religiosa
mesmo emface aos piores sofrimentos. Para
Jesus Seminar (Seminário
sobre Jesus) - Fundado em 1985 por R
obert Funk e John D om inique Crossan,
esse in s titu to reúne te ó lo g o s de vá rio s
paí- ses com 0 in tu ito de e stu d a r a vida
e os e n sinam entos de C risto. Sendo a
versão contem porânea m ais atual dos
crítico s alem ães do passado, seus filia d o s
pro- põem uma busca pelo Jesus h istó rico
desvinculada dos e le m e n to s con fe ssio
- nais m ais conservadores.
Peregrino, 11 - 13 . )
Fontes judaicas
* Flávio Josefo (37/8 - 100 A.D.?) - A partir do
século XVI, m uitos autores colocaram em dúvida a
autenticidade destes parágrafos que, se pertencentes
à obra, datariam do ano 93 /4 A.D. Alguns mais cépti-
cos tentam argum entar que estas partes seriam inter-
0 martírio cristão. polações feitas posteriorm ente por escribas cristãos
que viviam enclausurados em m osteiros
produzindo cópias de manuscritos.
Contudo, vários especialistas hoje advogam a au-
SJ4
tenticidade da m aior parte do trecho. Todas as tradu-
ções mais antigas e todos os m anuscritos gregos de
Josefo (desde os m elhores até os m enos confiáveis)
trazem , com pequenas variações, o conteúdo deste
וא * - - - ן ח ע ל ״ פ נ י י ל
texto 1 . A versão abaixo é a mais aceita por grande
parte dos acadêmicos:
“Por esse tem po, surgiu Jesus, hom em sábio. Pois
י
! ו דו 0 *׳ ל ״י, י ,״ · י
א *י מ * * ־ ·
1
cristãos, assim chamada por referência a ele, não ces-
sou de existir.” (Ant. XVIII, 3, 3).
*m S
Falando do golpe de Estado dado pelo sumo sacer- g M
dote Anã (ou Hananias), após a m orte de Festo (62- ##
A.D.), Josefo diz que o sacerdote saduceu: “Convocou
■MHflIlf
um a assembleia (Sinédrio) de juizes e colocou diante
deles o irm ão de Jesus que é cognominado Messias,
de nom e Tiago, e alguns outros. Acusou-os de terem Um desses textos é um a tradição externa suple-
transgredido a lei e os entregou para serem apedreja- m entar, baraíta, inserida no Talm ude Babilônico para
dos.” (Ant. XX, 9, 1). com entar o procedim ento correto quanto a um con-
denado ao apedrejam ento. Mas ele é confuso porque
fala de apedrejam ento e cita como exemplo uma pes-
* Talm ude Babilônico: Há uns poucos trechos tal- soa que foi pendurada ou enforcada e que, alguns cre-
múdicos que alguns autores entendem fazer referên- Netzer) mais tarde foram aplicados erroneam ente a
cias distantes à pessoa de Jesus. Não se trata, porém , Jesus”12. (Rabino Michael J. Cook).
de um a alusão clara à sua pessoa. Parecem, no máxi-
mo, um eco distante de sua existência.
׳צרס״דם כח־סדר
HiíÉSl
como Geza Vermes e HyamMaccoby
defendem a historicidade
Ομαηάο Matai fo i trazido [perante a corte] ele lhes disse
Ha.
Você
sabia?
A existência histórica de Jesus de Nazaré
não é defendida apenaspor cristãos piedo-
sos. Na verdade épraticamente um
consenso entre os historiadores de que
Jesus existiu defato no século I de nossa
era. Até mesmo acadêmicos ateus
eagnósticos como Bart Ehrman, Maurice
Casey ePaula Fredri- ksen ou ainda judeus
largamente falada nos tempos de Cristo: “Tiago, filho
Uma caixa controversa de José, irmão de Jesus.”
Os judeus do século I costumavam guardar ossos Quem prim eiro anunciou essa descoberta foi o pa-
de seus ancestrais dentro de caixas de pedra chamadas leógrafo André Lam aire13. Ele chamou a atenção para
os- suários e depositá-las em túmulos da família feitos o fato de que a expressão “Tiago, filho de José” pode-
nas rochas. Essas caixas costumavam trazer uma ria não indicar m uita coisa, pois era a fórm ula comum
inscrição tum ular que identificava os restos m ortais daqueles dias (“fulano, filho de sicrano”). Contudo, o
daquele que estava ali sepultado. Um ossuário em com plem ento “irm ão de Jesus” seria algo completa-
especial trazia os seguintes dizeres grafados em m ente inédito pois não se colocava o nom e de outro
aramaico - uma língua próxima ao hebraico e parente além do próprio pai. A menos, raciocinou
Lamaire, que esse parente fosse famoso o bastante
dofundador do O para m erecer tal destaque.
cristianismo. ר
ô Daí o que se seguiu foi um jogo de probabilida-
C'O'TU des combinadas. Qual a chance m atem ática de haver
dois Tiagos na Jerusalém do século I que teriam um
pai chamado José e um irm ão famoso chamado Je-
- -C-0-4-P
tam bém m enciona Tiago como irm ão de Jesus em sua verdade tão grandes, tão impressionantes,
obra historiográfica acerca dos judeus. Hoje a questão tão perfeitamente inimitáveis, que seu
está dividida nas seguintes teorias. Para uns, tudo não inventor seria mais espantoso do que 0herói
passa de um a grosseira falsificação feita por algum Contu- do, esses mesmos Evangelhos estão
com erciante de antiguidades, para outros, o ossuário cheio de coisas incríveis queferem a razão.
Coisas que 0homem comum não pode
seria verdadeiro, mas a inscrição não. O utros ainda c
pensam que a prim eira parte, “Tiago filho de José”, C conceber e nem admitir.”Jean Jacques
Rousseau
Οο Π . ־־ ־..־ 1 .1 ■ '
O o
t I ג
J Você sabia? c
O caso do ossuário deTiagofoi parar nos
tribunais e vários artefatosforam levados a
juízo. Finalmente, no dia 14 de março de
2012, 0juizÁaronFarkash da suprema corte
de Jerusalém, que também tinha graduação
em arqueologia, declarou numa sentença
oficial que “não háevidência alguma de que
qualquer destesprincipais artefatos
[incluindo 0ossuá- rio de Tiago] foram
forjados, eapromotoria não conseguiu
provar que suas acusaçõespode- riam ir além
de uma razoável dúvida".
c ר
q o Caixa de pedra contendo os ossos de Tiago;
-j-4 Q —*־
Γ— — - para alguns, 0 irmão de Jesus Cristo.
ü ׳í ״g j í ■z z ~ : .......................0 0 כח־־
imediatos - beira-mar, alto da m ontanha, interior de uma casa - quanto a territórios mais amplos - as regiões de
Tiro e Sidon, as bandas de Cesareia de Filipe, o deserto da Judeia.
Demarcações geográficas
A superfície da ״terra de Jesus” variou consideravelmente no decorrer dos séculos, ora sendo mais extensa -
como nos dias de Davi e Salomão - , ora mais reduzida, especialmente quando atacada por povos estrangeiros
como assírios, babilônios, gregos e romanos.
E não se pode deixar de anotar a ruptura interna ocorrida após a m orte de Salomão, que dividiu as 12 tribos
em Reino do N orte e Reino do Sul - um a rivalidade que deixou m uitas conseqüências.
De m odo geral, mas não uniform e, pode-se dizer que estes seriam os limites geográficos aproximados da
terra dos judeus nos dias de Jesus:
O 773“
c
C
־773־
·.·<■׳
OCEAN
Gália
ATLÂNTICO
Macedonia
Mar Negro
it '*
Mar Mediterrâneo
AFRICA
Os Herodes da Bíblia
Após a m orte de Herodes, o Grande, alguns de
seus herdeiros usaram o designativo “Herodes” como
título de realeza. Desse modo é possível encontrar no
NT a menção de pelo m enos seis Herodes:
1 - Herodes, o Grande, que m andou m atar as
crianças em Belém; (Mat. 2:2);
2 - Herodes Arquelau ou etnarca, que assumiu a
Judeia após a m orte do pai (Mat. 2:22);
3 - Herodes Antipas ou Tetrarca, pois governou
um quarto do território. Foi ele que assassinou João
Batista e teve um breve encontro com Cristo durante
seu j ulgamento em Jerusalém (Luc. 3:19; 9:7; 23:7);
Fato importante
0 famoso Herodes, 0Grande, escolhido como
rei dosjudeus pelos romanos, não era
elemes- mo judeu, masldumeu. Herodes
nascerafilho de uma princesa nabateia
fQ ח chamada Cypros e nãopossuía nenhum
parentesco com osjudeus senão mediante
Você sabia? uma tribo distante deEsaú, a saber,
osedomitas.
Herodes, 0 Grande, era um individuo tão
Apesar de seus esforços para adular Roma
odiado que, quando os arqueólogos
encontra- e ao mesmo tempo ganhar simpatia
dosjudeus comgrandes construções no seu
território, ele
m O
ram seu túmulo em 2007, se depois de um acidente, no mesmo local da
orr
surpreenderam ao ver quefora destruído eu descoberta.
não por ação do tempo, maspor vândalos
que provavelmente 0profanaram poucas
décadas depois de sua morte. Quem disse
issofo i EhudNetzer, 0 chefe da expedição
que, tragicamente,
ס C era um monarca odiado pela população e
vivia
sob 0constante temor de ser assassinado ou
deposto a qualquer momento. Em virtude
disso, mandou matar vários membros de
suafamí- lia, inclusivefilhos, 0que explica
0genocídio de Belém que ele ordenou ao
173 3 7 ?־
i ־r 5 ־f ־סדי
u ־
........
.............. .............. .............. .............. י ״
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Cronologia
4.a.C.
Octaviano (o futuro Augusto Cé- Possível ano do nasci- Herodes, o Grande, m orre entre
sar) assume o poder em Roma e, m ento de Jesus. m arço e abril na cidade de Jericó.
após a batalha de Ácio, m antém Seu filho Arquelau leva seu corpo
Herodes no controle da região. para 0 Herodion, palácio no de-
No mesmo ano Herodes se casa serto que serviu de túm ulo do rei.
com M ariana I, neta de Aristó-
bulo II e Hircano II e conquista
X1 d .,M®
M orre Augusto César (Luc. 2:1)
Pilatos governa como Jesus inicia seu m inistério
e Tibério assume seu lugar (Luc. prefeito da Judeia a
o CESAREIA DE FiLIPE
IDROSCENA
O AKCIB
LAGO
O GISCALA '
QUEDESD
NEFTALIO t MEROM
AURANIT
OMEIERON ; I
vO.SEFET 1& GAULANITID
PTOLEIMADACa E
BAHIA
SICAMINON CORAZIM O
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ΒΑΤΑΝΙΛ
SICAMIN(
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EIJÁbao o Ía f^ A R E o * r |
mm ■o * S s b à t e %r!q H3AMALA \
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f P . MAGIDOO :
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MONTE OBORZA
GERIZIM
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JABES GA.AAD
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HAIFA((
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כLÍDIA RAMOT
XARI BERO ־D
MATE
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N GABAONO
O ESEBOM
DE JORDÃO
O EMAUS DA MONTANHA
ECROM
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JERUSALÉMO
NARQUERONTE
M MAGDALGAD O AZOTO
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BELÉI/lo,
O YAI A i
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BETSUR O
o HÉBRON
YUTTA O
O KERIOT
MASADA
M OABE
EDOM
PETRA
■4־ .
Tanto era assim que os habitantes da Judeia consi- Era no entorno do M ar da Galileia que ficavam as
deravam os da Galileia “judeus de segunda categoria” principais cidades pelas quais Jesus se m ovim entava-
(João 1:46; 7:25). em bora nem todas estejam precisam ente localizadas:
O sotaque e a dicção dos galileus era outra m oti- Cafarnaum (Mat. 17:24; M c 1:23-28); Corazim (Mat.
vação para serem discriminados pelos que viviam na 11:21), Betsaida (M t 11.21; 6.45; 10: 13; Jo 1.44),
Judeia. Um galileu geralm ente usava expressões ara- Caná (João 2:1 e 21:2), Genesaré (Marcos 6:53-56),
maicas estranhas, com descuido gramatical e pronún- Magadala (Luc. 8:2), Gergesa ou Gadara M at 8:28 e
cia indistinta de algumas letras. Isso perm ite entender Luc. 8:26 e Naim (Luc. 7:11-17). Outras cidades não
porque Pedro foi im ediatam ente reconhecido como mencionadas no relato bíblico seriam M erom , Tela,
galileu por sua “form a de falar” quando estava no pá- Giscala, Tiberíades, Tesá, Cabul, Aczibe. Mas é bom
tio do palácio de Caifás por ocasião do aprisionam en- lem brar que a parte leste do M ar da Galileia tem uma
to de Cristo (Mat. 26:73). jurisdição mais imprecisa, de m odo que as cidades
que estão do outro lado do Lago são às vezes m ostra-
Tudo isso torna mais que curiosa a informação bí- das como pertencentes a Decápolis, à Tetrarquia de
blica de que Jesus inicia justam ente ali seu m inistério Felipe ou à própria Galileia.
e todos os seus apóstolos (com possível exceção para
Judas) eram galileus. Considerando que Nazaré ficava 2 - D ecápolis - Conform e o próprio nom e grego,
na Galileia e Jesus fora criado neste vilarejo, ele mes- significa literalm ente as “dez” (deka) “cidades” (pólis).
m o fora, em virtude disso, considerado galileu (Mat. De acordo com Plínio, o Velho, essas cidades seriam:
26:69 e 73). Damasco, Filadélfia, Rafana, Citópolis (Bete-Seã),
Gadara, Flipos, Diom, Pela, Gerasa e Canata (Natu-
A região era ainda subdividida em alta e baixa Ga-
ralis Historia V, 74). Em bora exista certa divergência
lileia. A prim eira, m uito m ontanhosa e isolada, não se
sobre o que representavam essas cidades, a opinião
destaca no relato bíblico. Já a segunda, a baixa Gali-
prevalecente é a de que se tratava de um a confede-
leia, serviu de am biente para a m aioria dos episódios
ração cosmopolita fortem ente marcada por um a cul-
descritos nos evangelhos. Era um lugar fértil, com
tura helenística comum. O único problem a é que o
bastante chuva que, segundo Flávio Josefo, não teria
estudo das fontes até agora realizado não descobriu
nenhum a terra sem ser cultivada (Guerra dos Judeus
nenhum a evidência de arranjos comerciais, políticos
3.42-43).
ou militares entre seus m em bros.
Seja com o for, eram todas cidades greco-rom a- gares com o Betel e Dan. A capital do reino do N
nas que partilhavam um a m esm a cultura não judai- orte ficou sendo Samaria.
ca, mas que se sentiram atraídas pelo m inistério de
Jesus de Nazaré. Assim, m uitos de seus seguidores Em 722 a.C., Israel fora conquistado p o r Sal-
vinham dessas cidades e, em bora fosse um lugar m anazar, rei da Assíria, e m uitos israelitas foram
evitado p o r religiosos judeus mais conservadores, transportados para outras partes do seu im pério.
não é inverossím il concluir que Jesus ten h a tido al- Em contrapartida, pessoas de outras nações tam -
gum tipo de atividade efetiva na região (M at. 4:25; bém subjugadas foram trazidas para a Sam aria (II
M ar - 5:1-20; 7:31). M esm o porque, recentes pes- Reis 17:23-24).
quisas m ostram que algum as cidades da Decápolis Esses novos cidadãos assim ilaram m uito da re-
tinham presença judaica em seu territó rio com o é o ligião judaica, mas a m isturaram com sua própria
caso de Bete Sean, Gerasa e H am ate Gader. cultura, criando um a visão ainda mais sincrética da
3 - P e re ia - Localizada logo abaixo da Decá- fé judaica. Tal situação, agravada pelos casam entos
contínuos de judeus e não judeus, fez com que os
polis, a Pereia não é diretam ente citada no N ovo
habitantes de Judá desprezassem os sam aritanos e
Testam ento, a não ser p o r um a variante textual de
não mais os considerasse gente de sua própria etnia.
Lucas 6:17. Q uem a cham a p o r esse nom e é Flávio
Josefo. Todavia, sabe-se que “Pereia” vem do gre-
go “Peran” e quer dizer “além ”. Logo, nos vários
m om entos em o Evangelho m enciona a expressão
"além do Jordão’', certam ente está se referindo a
0 rabi E liezer é c ita d o no Tal- m
esta região (M at. 4:15, 25; 8:18; M ar. 3:8; 10:1 etc.).
ude com o te n d o d ito que "a q u e -
Tam bém era ali que ficava a cidade de Jericó do le que a c e ita um pedaço de pão dado
Novo T estam ento, local do palácio de Herodes, da por um s a m a rita n o é sem e- lh a n te à
pregação de João Batista e do batism o de Jesus. Foi q u e le que com e carne de p o rc o " - a
tam bém na Pereia que Jesus jejuou por 40 dias, na lg o c o m p le ta m e n te im - pensado
parte que conhecem os com o deserto da Judeia. para um ju d e u .54
o
"a nação ju d a ic a invadiu quase to d a s as ־סדר
cidades, a ponto de to rn a r d ifíc il enco n tra r um
único lu g a r em to d o 0 universo em que não haja
ju d e u s ". Estrabão, geó g ra fo grego, I século
a.C.15
Ha.
Fato importante
Sinagogas eram espalhadaspor todo esse
território estrangeiro e 0desafio dosjudeus
que moravam ali era alinhavar 0equilíbrio
entre 0diálogo com seus vizinhos não judeus
e, ao mesmo tempo, preservar sua
identidade étnica. A tarefa não erafácil eos
modos de li- dar com 0problema variavam
de cidadepara cidade. Em algumas
localidades osjudeus começam a ir ao teatro
eassumir comporta- mentos comuns da vida
greco-romana. Em outras sefechavam,
mantendo certa distância entre si mesmos e
0ambiente que os envolvia.
Apesar das diferenças entre si, as
comunidades ju- daicas da diáspora tinham
alguns elem entos em co- m um , que as
faziam perm anecer unidas mesmo num am
biente tão desafiador. Elas m antinham toda
sema- na o culto sabático em suas sinagogas,
eram rigorosos quanto às leis alimentares do
Levítico, observavam o calendário das festas
judaicas e, em ocasiões de sole- nidade, m uitos
se esforçavam para peregrinar até 0 Tem plo
em Jerusalém.
A pergunta, pois, que se faz nesta sequencia dos fa- Migrações judaicas
tos é: Quem seriam esses novos habitantes da Galileia?
Josefo diz que Alexandre Janeu, lider dos judeus de
c
0 Talm ude de Jerusalém recorda 0 deses- pero de
um sábio judeu do século I, chamado
Você
sabia?
Yohanan ben Zakkai, que não pode fazer mais que As narrativas dos Evangelhos e 0simbolismo
duas perguntas sobre a lei em todos os 18 anos das parábolas de Cristo remetem
que passou ensinando na G alileia: "Oh G alileia, Oh constantemente a uma geografia eaum
G alileia! No final das contas você vai acabar cheia ecossistema que perma- neceram em grande
de m a lfe ito re s !"16 parte inalterados até os dias de hoje. A cidade
“edificada sobre um monte" (Mat. 5:14), os
lírios do campo (Mat. 6:28), as
c
G
eH־c r ׳b ü '3 ־T u
Betsaida 200
200 a 400 mil - Josefo fala de 3 milhões, mas os historiadores consideram isso um
Galileia exagero
O rabinism o contem porâneo a Jesus praticam en- No que diz respeito ao judaísm o propriam ente
te ignorou essa literatura. Porém, na boca do povo dito e aos livros que com põem o cânon do Antigo
simples, tais relatos parecem ter ganhado m uita fama. Testam ento, é notório que as concepções de fim do
Afinal, eles eram sofredores nas mãos romanas, não m undo e juízo universal de Deus são anteriores até
tinham a cultura dos escribas, não sabiam brigar m esm o ao período Persa. Os Salmos 96 a 98, por
como os zelotas, nem podiam fazer política como os exemplo, são claram ente do período m onárquico e
saduceus e fariseus. Sua esperança repousava na cer- trazem vividas descrições da intervenção últim a de
teza da intervenção divina. Como a m aior parte des- Deus na história. Logo, ao contrário do que defen-
tes foi atraída pela palavra de Cristo, não é sem razão deu N orm an C ohn 26, não se pode afirm ar que os he-
que o espírito apocalíptico tam bém tenha feito parte breus tenham derivado de Zoroastro aa noção apo-
do ensino de Cristo, conform e visto em M ateus 24, calíptica de fim do m undo.
por exemplo, e tam bém da pregação da Igreja cristã
prim itiva. As raízes do apocalipsismo judaico não estão de
m odo algum fincadas no m undo não judeu que o
circundava. As coincidências entre um a e outra es-
Movimento apocalíptico e catologia (judaica e persa, por exemplo) podem ser
2) a ordem pública;
O Sinédrio
3) a elaboração e a execução do direito e da justiça.
Configurou-se junto ao Tem plo o Sinédrio ou Sa-
Nos tem pos de Cristo esses três setores eram es- nhedrin, um a assembleia de anciãos existente desde os
rritam ente controlados por Roma, m esm o que tem pos helenísticos, mas cujas raízes conceituais vêm
usasse dos dias de Moisés (Números 11:16). O Sinédrio - pa-
:uncionários judeus para o exercício do dever. Era o lavra que literalm ente significa “assembleia sentada”
caso dos publicamos que coletavam impostos da po- - era uma espécie de Suprema Corte da lei judaica que
pulação para entregar aos rom anos e, por isso, eram tinha por função adm inistrar a justiça, interpretando
:׳diados pelo povo. M ateus, um dos apóstolos de e aplicando a T orá (ou Lei de Moisés), tanto em seu
Cristo, era um ex-publicano. aspecto oral quanto escrito. Ele exercia, simultanea-
Os judeus, é claro, não suportavam m uito essa m ente, a representação legal do povo judeu perante a
"intromissão adm inistrativa” de estrangeiros em sua autoridade rom ana.
:erra. Contudo, admitia-se que os rom anos tam bém
Existem várias referências nos evangelhos ao Siné-
Deneficiavam o povo ao pavim entar estradas de aces-
drio e àqueles que o com punham . Sobre o julgamento
so a Jerusalém e garantir a segurança e o transporte
de Cristo é dito: “Então os principais sacerdotes e os
áo imposto do Tem plo cobrado dos próprios judeus
anciãos do povo se reuniram no palácio do sumo sa-
cerdote, chamado Caifás” (Mat. 26:3). De igual modo, 0
os evangelhos esclarecem que foram os com ponentes c ג
do Sinédrio que processaram Jesus junto a Pilatos e
instigaram o povo a escolher Barrabás para ser solto, Você sabia?
ao invés de libertar Cristo (Mat. 27:11-26; cf. Mat.
Roma ergueu em seu território um conjun-
5:22; 26:59 e M ar. 15:1).
to defortificações, delimitações e
Todas as cidades que tinham um a com unidade ocupações chamadas “limes”que
judaica poderiam possuir um pequeno Sinédrio, ou configuram as bor- das de seu império.
Sinédrio M enor, com posto por 23 juizes. Mas ape- Para eles, os limites de Roma eram os
nas Jerusalém poderia ter o Grande Sinédrio com limites do mundo civilizado. O que
71 m em bros, a saber: o sumo sacerdote (presiden- estavafora dessas linhas deveria ser
te), um vice presidente ou chefe de justiça e mais 69 considerado bárbaro, inferior, sub-huma-
m em bros rotativos. Apenas o chefe dos no. Assim, reforçava-se apropaganda que
sacerdotes, insistia em dizer aospovos conquistados
que considerassem um privilégiofazer
parte do
h
para assum ir um a cadeira no concilio. Exigia-se dos c ' ר
m em bros: m odéstia, decência, força, coragem e po- d p
pularidade entre seus pares. 9 ^ 5 ^ ζ ιιζ ιζ ιιζ τ ζ τ ζ ^ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ζ ^ τ π τ Ε
- ^ 5 ...... -
. .. .. .. .. .. ... ......... · = = - :........
ri Partidarismos e b
Ocupações profissionais
E as mulheres?
A m aior parte dos hom ens do tem po de Jesus, tal-
A posição das m ulheres no judaísmo antigo não vez 80% ou 90%, trabalhava na agricultura. As mu-
parece ser algo uniform e, mesmo naquela época. O lheres e crianças, em bora não tivessem necessaria-
próprio Talm ude m ostra, por meio de opiniões m ente um a “vida profissional”, participavam nos dias
con de colheita. Na verdade, toda a comunidade - caso se
tratasse de um a aldeia ou pequena vila - era comis- não se pode esquecer dos servidores domésticos,
sionada a se envolver na colheita dos grãos. Portanto, escravos, diaristas contratados para serviços braçais
mesmo aqueles que não fossem agricultores por pro- e cobradores de impostos (certam ente um dos mais
fissão, tinham - por essa tarefa com unitária - uma odiados pelo povo).
experiência agrícola.
Como acontece em toda sociedade urbana, era
Essa talvez seja a razão porque temas agrícolas per- inevitável a prática da prostituição e da mendicância
fazem a m aior parte das parábolas de Jesus: a parábola
mesmo na cidade de Jerusalém.
do semeador (Mat. 13:24-30), a semente de m ostarda
Mar. 4:30-32), o joio e o trigo (Mat. 13:30-43), a co״
iheita (Mar. 4:26-29). Agricultura
Além das profissões mais comuns de agricultura e A vida era dura naqueles dias e o clima não coope-
pescaria, exerciam-se tam bém outras de caráter mais rava m uito. Estudos em solo revelam que apenas 15%
^rtesanal como perfumistas, tecelões, curtidores, car- do que se plantava retornava em form a de colheita -
pinteiros, oleiros e fabricantes de tendas. Tam bém isso num a boa safra.
BI
A razão para um percentual tão pequeno se deve
ao fato de que a terra boa de plantio era pouca e a Atividade pesqueira
região m ontanhosa. O costume então era construir
terraças de cultivo que eram um a espécie de degraus Os evangelhos não falam detalhes sobre a vida da
escalonados num a encosta. M uretas de arrim o feitas m aior parte dos apóstolos de Cristo. Sobre suas pro-
de pedra eram colocadas para segurar a terra e o sur- fissões, fala-se apenas de M ateus como coletor de
gim ento de espinhos era inevitável nesse ambiente. impostos (Mat. 10:3) e de quatro outros que seriam
pescadores, a saber: Pedro, André, Tiago e João (Mat.
Tal cenário condiz perfeitam ente com a parábo- 4:18-22; M ar. 1:16-20; Luc. 5:1-11).
la do semeador e as sementes que caíram nas pedras,
nos espinhos e na terra fértil (Mat. 13:1-23; M ar. 4:1- É difícil precisar quão valorizada era a atividade
20; Luc. 8:4-15). A proporção de colheita m encionada pesqueira dos judeus antes de Jesus. Contudo, há vá-
por Cristo (“a cem, a sessenta e a trinta por um ”) pode rias passagens do Antigo Testam ento aludindo à arte
ser considerada m uito acima do que norm alm ente se da pesca (Isa. 19:8; Ezeq. 26:5, 4; 47:10; Hab. 1:15). O
colhia. Esse era um indicativo espiritual dos resulta-
dos prom etidos por Deus diante do em penho pelo
anúncio do Reino.
Ha_
Fato importante
Essa ocupação da terra colocava 0povojudeu
em contraste direto com a cultura idealizada
pela elite greco-romana, especialmente nos
grandes centros. Sua ênfase estava na ociosi-
dade, no teatro e nosjogos.) udeus
helenizados tinham a tendência de
abandonar a vida no campo em busca de
diversão num ambiente mais urbano e liberal
- novamente evoca-se 0 quadro dofilho
pródigo esua buscapor prazer (Luc. 15:13).
Ό
O
~ü"3~
nom e “peixe” associado a vários lugares pode ser uma A cidade de Magdala, na encosta do M ar da Ga-
pista da im portância desse ofício para os judeus. A lileia, era conhecida em grego por Tarichaeae, que
existência de um mercado de peixe regular em Jeru- quer dizer “o lugar onde os peixes são salgados”. Era,
salém é sugerida pelo nom e dado a um a das portas da portanto, um centro especializado em salgar pesca-
cidade: porta do peixe (II Cro. 33:14; Ne. 3:3; 12:39; dos para a venda no mercado. O sal era justam ente o
Sof. 1; 10). produto que garantia a viagem dos peixes desde sua
origem até alguma cidade interiorana e não m arítim a
Essa atividade estava mais concentrada no M ar da como no caso Jerusalém.
Galileia, em bora tam bém houvesse alguma indústria
A pesca podia ser realizada com anzol (Mat. 17:27;
de pesca no litoral m editerrâneo. O peixe do Grande
Isa. 19:8), lança (conforme ilustrações do antigo Egi-
M ar, ou peixe do M editerrâneo era um a iguaria na
to), arpão (em form a de um garfo grande) e gancho
ocasião (Ezeq. 47:10). (Jó 41:1-7). Mas a pesca com redes era a mais comum
de todas (Ezeq. 26:5, 4; 47:10). O m odelo mais usado, te de caráter duvidoso. Só não perdiam em desprezo
conform e ilustrações da época e restos arqueológicos, para os publicanos, mas não ficavam m uito atrás des-
era parecido com a tarrafa usada em algumas regiões tes. Isso realm ente é um a surpresa para m uitos, con-
do Brasil. siderando o status que a atividade pastoral recebeu ao
De form a circular, com pesos de pedras nas bor- longo da história do cristianismo.
das, ela era usada da seguinte maneira: seja à m argem
Se você voltasse no tem po indo para os dias de
das águas, de dentro de um barco ou submerso até
Abraão e os patriarcas, veria que a atividade pastoral
a cintura, o pescador via o cardume, então lançava
era um a nobre ocupação. Jabal era o ancestral dos que
a rede projetando-a no ar. Os pesos de pedra faziam
habitavam em tendas e possuíam gado (Gên. 4:20).
com que a rede descesse e os peixes ficassem presos,
Pastores eram , geralm ente, mais ricos que agriculto-
enroscados nela. O dispositivo era puxado por uma
res. E não se pode esquecer que o prim eiro hom icídio
corda atada ao meio do círculo que a fechava como se
da hum anidade se deu por causa de uma celeuma en-
fosse um a bolsa cheia de peixes.
tre dois irmãos: um agricultor, outro pastor de ove-
Ao que tudo indica, Pedro e A ndré estavam lan- lhas (Gên. 4:8-16).
çando esse tipo de rede da m argem ou de bem perto
Todos os grupos nôm ades eram invariavelmente
dela, o que possibilitou que Jesus os chamasse e fosse
constituídos de pastores com seus rebanhos (Gên.
ouvido (Mar. 1:16-17).
30:29; 37:12; Êxo. 2:16). Assim eram os filhos dejacó
que, ao m igrarem para o Egito, depararam -se com um
Ü3- ..c Q ambiente bastante diferente daquele ao qual estavam
acostumados. Os egípcios eram mais agricultores!
■£■2-1.0
־c
0
c
Você
sabia?
Mediante tais informações históricas, a
imagem de Jesus como “0 bompastor" deve
surpreender muita gente. E, defato,
surpreende, não somente hoje, mas também
no passado quando Jesus se equiparou a um
deles dizendo: “Eu sou 0bom pastor, conheço as
minhas ovelhas e elas me conhecem”(Jo. 10:1 ).
c
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Dia a dia
Assim como nos dias atuais, a vida nos tempos de Cris-
to era um palco de contrastes. Isso pode ser graficamente
visualizado na parábola do Rico e Lázaro: “Ora, havia um
homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo,
e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia
também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia
cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se
com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios
cães vinham lamber-lhe as chagas”(Luc. 16:19-21).
Pirâmide social
Assim seria um a pirâm ide social da sociedade onde viveu Jesus:
Classe baixa: pequenos agricultores, pescadores avulsos (que trabalhavam para outros ou pesca
apenas para consumo próprio), trabalhadores braçais diaristas, escravos por causa de dívidas contr
Rejeitados e marginalizados: leprosos, mendigos portadores de necessidades especiais, viúvas sem ampu
Refeições
Enquanto os romanos costumavam ter quatro refeições ao dia, os judeus restringiam-se a duas ceias, uma prefe-
rencialmente às 10 horas ou perto do meio-dia e outra ao final da tarde e cair da noite. Não havia um horário rígido.
A prim eira refeição deveria ser leve: pão, peixe, frutas secas, grãos torrados, queijo ou coalhada (Ecl. 10:16;
Jo 21:4,5, 9). Podia ser tom ada no local de trabalho ou a caminho dele (Mat. 14:15; Ru. 2:14). Note que após sua
ressurreição, Jesus aparece para seus discípulos nas m argens do M ar da Galileia e os convida para um a refeição
m atutina, que pode ter sido por volta das 10 horas Nessa segunda ceia, geralm ente havia algum ali-
ou meio-dia. O cardápio era peixe e pão! (Jo. 21:5, 9-
m ento quente, como um a sopa de lentilhas e pão à
12).
vontade. N orm alm ente um único prato era servido
A outra refeição que era a mais im portante - em- num só recipiente do qual participavam todos. Isso
bora não fosse necessariamente mais sofisticada - explica o trocadilho de Cristo usado com M arta quan-
ocorria no fim do dia com toda a família reunida e do ela, preocupada com a comida, estaria perdendo o
convidados especiais, se fosse o caso (Luc. 7:36; 10:40; ensino de Cristo. “Pouco é necessário [Marta] ou uma
17:7-9 e Jo. 12:2).
só coisa, M aria escolheu a m elhor parte e essa não M ar. 6:35; Luc. 9:12); celebrou a ceia pascal com os
lhe será tirada” (Luc. 10:42). discípulos (Luc. 22:15; Jo. 13:2;21-30) e foi ungido
Banquetes especiais como a comemoração pela por M aria M adalena (Jo. 21:1-8).
volta do filho pródigo (Luc. 15:23 e 25) e a grande No sábado havia um a refeição familiar especial ao
ceia (Luc. 14:15-24) eram geralm ente refeições no- pôr do sol de sexta feira e outra após o serviço da si-
turnas ou servidas ao cair da tarde. Foi nesse horário nagoga ou do Tem plo na m anhã seguinte (Luc.
que Cristo m ultiplicou os pães e peixes (M at 14:15; 14:1).
Regras de etiqueta
No O riente M édio, desde os tem pos de Abraão e
tam bém nos dias de Jesus, com partilhar um a refeição
é assinar um a garantia de paz, confiança e, em alguns
casos, reconciliação. Com partilhar a mesa é com par-
tilhar a própria vida. Até hoje, dependendo de onde
você viajar pelo O riente M édio, quando alguém o
convida para comer em casa, está dizendo que quer
iniciar um a amizade com você. Por isso, m uitos en-
contros de Cristo ocorriam durante uma refeição.
C Fato importante
dra, m adeira ou argila e pareciam tigelas, como aque-
O lavar das mãos antes de comer era, mais do
c que um processo higiênico, um ritual religioso
de purificação. N ão sepodia colocar as mãos
las próprias para comer cereais. numa bacia d'água e esfregá-las com sabão. A
ideia e ter cerimonialmente outra água limpa
Devido ao intenso calor, as refeições judaicas em
despejada sobre as mãos para mostrar que
geral eram feitas ao ar livre ou no terraço das casas,
0participante estava limpo.
às vezes, sob um a cobertura feita de pele de animal ou
palha e nada mais que isso. A exceção, é claro, seria no Era com grande orgulho que osfariseus e
inverno, quando a família era quase confinada dentro líderes religiosos desempenhavam essa
cerimônia na frente de outraspessoas com
de casa.
ofim de serem admirados por sua
A mesa greco-rom ana - tam bém usada por judeus religiosidade. Havia muitas tradições e muitos
- era chamada “triclínio” (triclinium). Um a espécie detalhes, que incluíam até mesmo aposição
de sofá não m uito distante do chão, dividido em três daspontas dos dedos.
partes como se formasse um “U” ou um retângulo in- As escolas rabínicas deHillel e Shammai
completo. Essa abertura perm itia que os alimentos e sustenta- vam posições distintas sobre
bebidas fossem trazidos para a “mesa” e nela distribuí- 0procedimento exa- to, mas concordavam que
dos. Um exemplar de triclínio encontrado em Pom- 0ritual de limpeza era essencial. Se alguém
peia m ostrou que o mesmo era um pouco elevado em 0deixasse de observar estaria impuro diante de
relação ao chão, perm itindo que um em pregado de pé Deus evulnerável à pobreza, à destruição e aos
ao centro pudesse servir a seus senhores. ataques de um demônio específico chamado
Shibta.
Nas regras romanas, cada parte acomodaria três
Foi por causa destas superstições
pessoas, mas os gregos iam além disso e os judeus
semfundamento nasEscrituras queJesus,
tam bém - Jesus comeu com doze e seu “triclínio” tal-
depropósito, deixa dese- guir 0ritual quando
vez fosse um acolchoado mais simples e rente ao chão,
convidadopara comer na casa deum
conform e o costum e judaico. Almofadas ou “tatam es” dosprincipaisfariseus (Luc. 11:37-44). Em outra
especiais eram usados para acolchoar o chão em volta ocasião, seus discípulos também não seguem
do triclínio. Para comer, os convivas se reclinavam 0protocolo cerimonial (Mat. 15:1e2) e, em ambas
sobre seu braço esquerdo e m anuseavam alimentos e ocasiões, 0questionamento surge, dando
bebidas com a mão direita. oportuni- dadepara queJesus demonstre
afragilidade de tal tradição.
O cardápio de Jesus
M uitos são curiosos para saber quais eram as re-
ceitas mais com uns dos dias de Cristo, como era a
culinária daquele tem po. Alguns ingredientes são
conhecidos até hoje e alguns pratos tam bém , mas
outros seriam totalm ente estranhos à cultura oci-
dental m oderna.
Objetos adicionais, adereços ou acessórios pode- evento (Mat. 22:1-14). Mas isso não significa que as pes-
riam acom panhar a indum entária para dar mais des-
taque ao status da pessoa ou até mesmo para identi- ficá-
la profissionalm ente. Como advogados rom anos que
carregavam varas nas mãos (fasces) ou médicos que
traziam um a bolsa com unguentários.
Assim a pessoa se purificava nas águas correntes tes que eram mais usados pela classe dos mais
de um tanque especial e em seguida vestia as roupas abasta
limpas, de modo a estar apto para comparecer peran-
te o santuário de Deus (cf. Zac. 3:1-10 e, dependendo
da versão, Apoc. 22:14).
Moda masculina
A principal peça de vestuário usada por hom ens e
m ulheres contem porâneos de Jesus era a túnica. As
diferenças básicas eram o tipo de tecido, os adereços e
o com prim ento: a túnica dos hom ens era mais curta e
ia até o tornozelo; a das m ulheres ia até os pés.
Moda feminina
Segundo o tratado judaico do Shabbath, as mulhe- res
mais ricas costumavam usar fitas de lã e seda nos
cabelos, além de arcos, presilhas e pentes feitos de to de um inseto do carvalho-querm es, o mesmo que
marfim, madeira, casco de tartaruga e couro enfeita- produz a cochinilha.
do de pedras preciosas.
Os tecidos mais baratos eram feitos de lã. Os de li-
Os cabelos eram a parte mais sensual para a mu- nho eram mais dispendiosos. A diferença estava tanto
lher da época, de modo que era costum e daquelas no trabalho quanto no resultado final. De poucas ove-
mais influenciadas pela moda grega tingi-los por in- lhas era possível obter lã para uma família. Já o linho,
teiro ou apenas um a mexa, às vezes de preto, ou mais colhido de um a planta que leva o mesmo nom e, tinha
frequentem ente de ruivo e loiro (principalm ente as um longo processo de colheita e fabricação. Além do
que já tinham algum tom grisalho). fato de que necessitava m uito mais m atéria-prim a
As mais jovens m andavam encaracolar a cabelei- para se produzir um a única capa do tam anho de um
ra aplicando grande quantidade de óleo e perfume. adulto. No Egito, os faraós eram embalsamados com
Perucas tam bém eram bem -vindas num a região, por o linho, símbolo de poder e riqueza.
exemplo, infestada de piolhos. E, para com pletar o vi- O algodão já era comumente utilizado pelos persas,
suai, xales eram com um ente amarrados nos om bros e gregos e indianos, mas não há indícios de que os judeus
havia abundância de anéis, braceletes, argolas presas o cultivassem. A seda, por sua vez, era, mais do que qual-
no nariz e brincos, embora, ao que tudo indique, as quer outro, o tecido mais caro do Oriente. Luxuoso e pró-
igrejas cristãs em seus prim órdios baniram esse cos- prio para reis que o compravam nas mãos de comercian-
tum e entre as m ulheres que se convertiam ao cristia- tes vindos do Extremo Oriente (Veja Apo. 18:11 e 12).
nismo (veja I Tim. 2:9 elO e I Ped. 3:3 e 4).
Cores e tecidos
Fato importante
As variações ficavam por conta do clima, do terre-
no ou das cores que cada um escolhia. M esmo assim Alguns autores pensam que já no tempo de
Jesus, a capa tinha umafunção religiosa como
não havia muitas mudanças. Falando especificamente
0 talith usadopelos modernos judeus. Se
das cores, 0 processo de obtenção dos diferentes ma-
assimfosse, esta seria uma peça indispensável
tizes era bastante caro e artesanal.
para se aproximar do Templo ou entrar numa
Por isso nem todos tingiam suas vestes que, nor- sinagoga. Outros, no entanto, afirmam que
malmente feitas de lã, podiam ter um a variedade de esse costume litúrgico de cobrir a cabeça em
cores naturais, desde o branco até o m arrom escuro sinal de reverênciafora praticado apenas a
com vários tons interm ediários. Uma lã tingida de partir do IVséculo d.C. Seja comofor, a capa era
púrpura era no m ínim o 40 vezes mais cara que um a uma peça tão importante quepodia ser usada
sem nenhum tipo de tintura. como sinal depenhora no pedido de algum
empréstimo (Luc. 6:29).
Sem m isturas sintéticas como as que existem hoje,
Quando era esta a situação, a lei exigia que
os antigos recorriam a extratos do m undo animal e
um credor que tivesse por garantia de débito
vegetal a fim de produzir sua variedade de cores e
uma capa, a devolvesse ao devedor antes do
tons. Havia um caramujo do m ar chamado Murex
escurecer (Ex. 22:26 eDeut. 24:12), pois em
trunculus, cuja glândula liberava um fluido amarelo
muitos casos ela poderia servir de cobertor,
que, quando exposto à luz solar, tornava-se azul púr-
colchão (se a pessoa dormisse ao relento),
pura e era utilizado para tingir tecidos finos.
capuz e até como tapete para dar as boas-
O amarelo era tirado das folhas da am endoeira vindas a um soberano muito importante. Daí
e
a atitude dos cidadãos, na entrada triunfal
de Jesus em Jerusalém, ao estender seus
mantos para que elepassassepor
da casca m oída de romãs. O preto vinha da casca de made ira da rom ãzeira e o verm elho poderia vir
tanto de uma planta chamada ruiva dos tintureiros cima montado no jumentinho (Mat. 21:1 ).
quan ג
urgir ב
״pQ Quatro evangelhos -
uma história
HO
Você sabia?
Profetas itinerantes e eremitas, em A tradição cristã reconhece como oficiais quatro
alguns casos, para proclamar a apostasia evangelhos que contêm a vida e as obras de Jesus de
do povo
. ־- V-
0 se n tid o desses ícones é co m p le ta m e n te po é tico e não se pode dizer que re fle te m re a lm e n te 0 sig n ifica d o de cada evangelho
ou a inte n çã o o rig in a l das visões do A p o ca lip se e de Ezequiel. A dem ais, sua e xplicação variou de tem pos em tem p o s desde
que apareceu num a das p rim e ira s sugestões fe ita s por Je rô n im o . Seu v a lo r hoje é apenas a rtís tic o e não nece ssa ria m e n te te o
ló g ico . Perm anece, contudo, a certeza de que os evangelhos são visões d ife re n te s , porém , co m p le m e n ta re s e harm ônicas
da vida e das obras de Jesus de Nazaré.
O que é evangelho? ções geográficas ou tem porais das narrativas são, na
m aioria das vezes, genéricas: “na cidade”, “num alto
Com um ente, a palavra “evangelho" é usada para se m onte”, “em casa”, “no cam inho”, “naquele tem po”,
referir às boas novas da Palavra de Deus - o que não “naquela hora”.
é de m odo algum errado, levando-se em conta que
Assim, os evangelhos não são relatos biográficos
o term o grego euangélion, evidentem ente significa
de Cristo no sentido atual da palavra. São o anúncio
"boa notícia”. Essa era uma palavra com um no passa-
do Kerygma, isto é, da mensagem proclamada por
do, mesmo antes de surgir no m undo o m ovim ento aqueles que foram as prim eiras testem unhas do even-
cristão. A inscrição de Priene, datada do ano 9 a.C. e to e, a seguir, pela igreja de um m odo geral.
encontrada na Ásia M enor, celebra o nascim ento de
Augusto como sendo as “boas novas” (euangelia) da Sua intenção é apresentar a Jesus como Messias,
história da hum anidade. filho de Deus e Salvador. Seu conteúdo não pode ser
lido de modo indiferente. Trata-se de quatro teste-
Em term os de ciências bíblicas, evangelho é um gê- m unhos, mas um mesmo convite à graça manifestada
nero literário, m arcado por características e estilos na história da humanidade.
que precisam ser anotados para a boa compreensão
de seu conteúdo. Mas ainda que se trate de um gêne-
ro literário, cada autor m anifestou sua peculiaridade, Contradições ou
seu objetivo e seus enfoques pessoais, conform e as
necessidades de seus destinatários. Não eram, porém ,
peculiaridades?
meras biografias de Jesus Cristo.
Há autores que tom am certos trechos aparente-
Os evangelistas não intentaram escrever porm e- m ente divergentes dos evangelhos e assumem que
nores da vida de Jesus determ inando o que ele fez estes seriam contradições nunca harm onizáveis que
em certa época do calendário. N ote que as indica indicam um a falta de coerência na produção de
cada
um deles. Mas essas mesmas divergências podem ser
lidas sob outro prism a legitim am ente válido, tanto à
luz da lógica quanto da crítica literária.
"Im aginem os dois livros escritos sobre M ar- tin h
M ateus, por exemplo, acentua m uito mais as po- o Lutero por dois autores católicos, um em 1900, 0 outro
lêmicas entre Jesus e os fariseus do que o faz Lucas. em 1980. 0 prim eiro, de modo Ia- m entoso,
Este últim o chega a sugerir um a amizade entre Jesus escreverá nestes term os: lu te r o , este m onge que
e alguns fariseus no início de seu m inistério, algo to- abandonou 0 hábito, que desprezou uma religião, levou,
talm ente inexistente no relato de M ateus. por seu próprio orgulho, a Igreja e a Europa ao fogo e
ao sangue 0 se- gundo, por sua vez, já dirá: lu te r o teve
Com pare a pregação agressiva do Batista, segundo
sua fra- queza como qualquer um de nós; mas devemos
Lucas, endereçada à m ultidão que o ouvia e de acor-
considerar que aqui estam os diante de um monge trem
do com M ateus, voltada especificamente para os fari-
endam ente religioso, apaixonado por Deus e preocupado
seus (Mat. 3:5 -10 e Luc. 3: 7 -9 ). M ateus é o único a
com a salvação dos homens; ele per- cebeu que a Igreja
apresentar todo um discurso de lamentação dedicado
devia se reformar, voltar-se para as Escrituras, e a Igreja,
inteiram ente aos escribas e Fariseus (Mat. 23:13-36).
por sua recusa, 0 expulsou de seu seio..,". Etienne
Enquanto isso, Lucas, em bora tam bém apresente
Charpentier3
conflitos entre Jesus e o farisaísmo, não se esquiva de
Ora, nenhum h isto ria d o r sensato questionaria a h
apresentar Jesus comendo em casa de um líder fari-
istoricidade de Lutero com base nesses depoi- m entos
seu (11: 37-44; 14:lss) e mais, sendo alertado por eles
diferentes. Nem poderia dizer que, embo- ra diferentes,
contra o perigo de Herodes, como se quisessem sal- eles sejam contraditórios. Am bos fazem uma leitura do m
var-lhe a vida (13: 31-33). esm o fato: Lutero rompeu com 0 catolicism o. Um
acentuou a responsabili- dade do m onge no processo,
João, por sua vez, enfatiza m uito mais a superio-
enquanto 0 outro acrescentou a intolerância como tam
ridade de Jesus em relação ao Batista do que fazem
bém respon- sável por m uito do que aconteceu. Possivelm
os demais evangelistas. Isso, como você verá mais à
ente houve, entre am bos os autores, 0 concilio Vatica-
frente, tam bém tinha um m otivo próprio que justifi-
no II, que tornou os católicos m ais o tim ista s em relação ao
cava essa linguagem.
protestantism o. Sendo assim , 0 que viveu depois disso
Cada evangelho, pois, apresenta sua própria carac- esboçou em seu livro as ca- racterísticas do am biente
terização do Cristo, que não deve de m odo algum ser mais to le ra n te no qual vivera, enquanto 0 prim eiro
entendida como contradição histórica. apenas ecoou os ares apologéticos de sua época.
Essa mesma analogia pode ser usada para explicar
as peculiaridades de cada evangelho ao descrever
Jesus de Nazaré, mesm o que pareçam, a princípio,
contraditórias. Cada evangelista nar- rou a vida de
Cristo com um colorido próprio de personalidade, am
biente e propósitos. Contudo, nada há de dram aticam
ente sério que coloque em dúvida a reputação
historiográfica daqueles que produziram ta is textos. A
final, pequenos er- ros, ainda que ocorram , são
peculiares até mes- mo dos mais exím ios historiadores
m odernos e da A ntiguidade.
,.,CLa- -Cn .
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Fato
n On .,C.,D Π
importante
Muitos pensam erroneamente que, seosevangelis-
o
tas estivessem num tribunal, seu testemunho
seria imediatamente rejeitadopor causa Você sabia? J
Com o se chegou a essas três conclusões? Tudo Mateus, este ajuntou os oráculos [do Senhor] em língua he-
começou com Karl Lachmann em 1835. Ele perce- braica, e cada um os interpretou 0 melhor que pôde. [ ] há
beu que M ateus e Lucas coincidem na ordem de seus
também uma história de uma mulher que fo i acusada de
relatos apenas quando seguem o enredo de M arcos.
Quando um deles difere, o outro sempre concorda muitos pecados perante 0 Senhor e que pode ser
encontrada no Evangelho segundo os hebreus35.
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com Marcos. Além disso, as passagens que apareciam - * ־ * י ״ ·׳־״v v .n 1 ·׳· ״ "'>'־ -N J b v ' ‘ * ! · * * +- · ־׳-” I
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e, finalmente, que haveria outro docum ento anterior
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a M arcos que possuía uma coletânea de ditos do Se- iírf« ־ Lr s, · י ־ .' « · ? »־ |i í 'l
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nhor. Este seria posteriorm ente chamado docum 1•'־ :J.* · ׳ru. 1 ־T^ ‘ <· ־
ento Q, que vem do alemão Quelle e quer dizer fonte. Canon Muratoriano *״־
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Como se pode ver, o fragm ento de Papias omi- já ocorreu) e gloriosa, com magnífico poder, na segunda
te qualquer alusão ao Evangelho de João, a não ser (que ainda ocorrerá)Cânon Muratori ou Muratoriano
que se queira entender a “h istória da m ulher acusada”
como sendo um a referência ao controvertido trecho Como se pode ver, por últim o, na ordem de com-
da m ulher pecadora em João 8 e o título Evangelho posição, estaria o Evangelho de João produzido em
segundo os hebreus como um a titulação variada para o Éfeso, na Ásia, logo após o apóstolo ter sido libertado
IV Evangelho. da ilha de Patmos onde escrevera o Apocalipse.
Lucas escreveu sua narrativa a partir de opiniões [pes- de conformidade com todos, João escrevera em seu nome.
juisadas] e afirm ou com seu próprio nome. Mesmo Assim, ainda que pareça que ensinem coisas distintas
sem nestes distintos Evangelhos, a f é dos fié is não difere, já
que 0 mesmo Espírito inspira para que todos se contentem
:er tido contato com 0 Senhor pessoalmente, se aplicou
sobre 0 nascimento, paixão e ressurreição [de Cristo], assim
. começando] seu relato pelo nascimento de João Batista. O como sua permanência com os discípulos e sobre suas duas
juarto Evangelho é 0 de João, um dos discípulos. Questio- vindas, depreciada e humilde na primeira ( que
nado por seus condiscípulos e bispos, disse: “A ndai comigo
durante três dias a partir de hoje e que cada um de nós
conte aos demais aquilo que lhe fo r revelado”. Naquela
mesma noite fo i revelado a André, um dos apóstolos, que,
Existem hoje cerca de5.500 antigas cópias
manus- critas do Novo Testamento espalhados
em museus ebibliotecas do mundo inteiro. Eles
podem estar em forma de rolo, códices, ou até
mesmofragmentos de 6 x 8 cm como é 0caso
do Papiro 52, depositado na Biblioteca de Johns
Rylands, em Manchester. Nenhum texto original
saído das mãos do escritor bíblico sobreviveu
até osdias de hoje. Contudo, a despeito das
diferenças entre as cópias, técnicas de colação
textual permitem reconstituir com precisão mais
de 95% do texto original. Ospontos conflitantes
sãoporções textuais periféricas que não
prejudicam 0 teor central do livro. É 0caso, por
exemplo, do binômio Gadara/Gerasa, ou da
O
כ
9:1). Som ente depois do desapontam ento, isto é,
A data de décadas mais tarde quando viram que ele realm en
composição dos
evangelhos
No auge do questionam ento quanto à autenticida-
de histórica dos evangelhos, m uitos autores alemães
diziam que eles foram escritos no século II d.C. Atual-
m ente essa ideia não é mais defendida na academia.
Os posicionam entos quanto à data de composição dos
evangelhos podem ser divididos em três linhas:
Documentos tardios?
De ambos os lados da questão, o que se pode dizer
é que os argum entos em favor de um a data mais anti-
ga ou mais recente dos evangelhos são em sua maio-
ria de ordem subjetiva ou interna.
Documentos antigos?
Os autores que afirm am que os evangelhos se- riam
docum entos antigos, próxim os aos eventos que
apresentam , oferecem as seguintes respostas às
proposições apresentadas pelos defensores da data-
ção tardia:
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G O
rO sO —־־ ”׳־
c ׳״ ־g u —r — r j C ב־ ״׳
As palavras de Jesus
De um m odo geral, acredita-se que os evangelhos
canônicos procedem de uma tradição oral aramaica e
hebraica que foi posteriorm ente traduzida para o gre-
go. Os ditos originais de Jesus certam ente não foram
proferidos em grego. Ele falava a m aior parte do tem -
po em aramaico. Sendo assim, o que os evangelhos
atuais apresentam seria um a tradução do que Jesus fa-
lou e não suas palavras originais.
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Em Roma havia um escravo liberto chamado
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inventou um sistema chamado “notas T
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E mínimo 0número deacadêmicos que ainda
acre- dita na velha hipótesede que osquatro
evangelhos, oupelomenos alguns deles, teriam
sido original- mente escritos em hebraicoou
aramaico.
Os antigos hebreus, por exemplo, exprimiam m σαβαχθανί (sabachthani) = שבק תני (shevaktani,
ui-
26; 4:15; 8:33; Lucas 10:18; 11:18; 13:16; 22:3, 31 σαβαχθανεί (sabachthanei) = ( תן קי ב שshevaktani ,
“você me deixou”) - M arcos 15:34
σάτον (saton) = ( סאהheb. seah, um a medida de
quantidade); ( סאתאaram. sata, um a medida de quan- ταλιθά (talitha) = טליתאor ( טלתאtalyeta or
tidade) - M ateus 13:33; Lucas 13:21 telita,
15.34 (2xx)
Considerando que os evangelistas não intentaram
escrever uma “biografia” de Jesus - no sentido mo- derno
da palavra alguns têm concluído que essa narrativa sobre
Ele não pode ser considerada histó- rica. Estaria isso
certo? Tudo vai depender de como é compreendido
esse “não com prom etim ento” do evangelista com as
norm as historiográficas usadas atualm ente para se
reproduzir um acontecim ento.
Relatos lendários?
O apóstolo Paulo, que era sem dúvida um dos mais
eruditos autores do Novo Testam ento, adm itiu fran
camente o problem a evangélico de seu tem po. Ele dalo constante causado pelo Jesus dos evangelhos.
cisse que pregava a um Cristo que era “escândalo para Desde a ótica m oderna será talvez difícil perceber to-
os judeus e loucura para os gregos” (I Cor. 1:23). Den- dos os “atos escandalosos” de Jesus. Mas, num a com-
tre os prim eiros destinatários de Paulo, havia pessoas paração com o contexto da época, torna-se claro que
altamente intelectuais, instruídas na filosofia grega, nenhum autor do passado, intencionado em produzir
cue era o suprassumo cultural daqueles dias. um m ito, preservaria as ocorrências que os evange-
Sua admissão, no entanto, pode ser um grande lhos apresentam . Veja alguns exemplos:
argumento a favor da historicidade dos evangelhos.
Os discípulos (que seriam líderes da Igreja C ristã
Otto Borchert, falecido teólogo alemão, usou esse
prim itiva) são apresentados como indivíduos com
־rincípio da loucura e contradição para argum entar
m uitas falhas de caráter, inconstantes, precisando
porque os evangelhos são docum entos confiáveis.
sem pre ser repreendidos. Por que p erm itir que tais
Tudo se resume num a questão única e factual: Quais elem entos venham ao conhecim ento do público?
são as características de um a obra lendária? Ora, le- Se os apóstolos queriam apenas sustentar sua capa-
vando-se em conta que o questionamento de hoje não
cidade de liderança do grupo, não haveria porque
e historicidade de Jesus, mas, sim, se ele fora de fato
p erm itir que seus defeitos fossem assim apresenta-
iquilo que a Bíblia diz que ele era, é im portante en-
dos sem a m enor cerim ônia. Pedro negando Cris-
:ender por “lendária” uma referência àquelas biografias
to, T om é duvidando de sua ressurreição, Tiago e
mitológicas que transform am o sujeito de m ero m ortal
João pedindo autorização para d estruir um a cidade.
i semideus com poderes sobre-humanos.
E praticam ente todos abandonando-o no m om ento
Em outras palavras, Jesus era realm ente aquele su- da cruz.
rito formidável que os evangelhos apresentam? Ou
esses textos seriam apenas o Photoshop de um rosto Pior que isso era a apresentação em detalhes da
:omum sem nenhum atrativo em especial? crucifixão de seu M estre. A cruz hoje pode até ser
um objeto sagrado para grande parte do cristianismo.
Ninguém questiona que a prática de “maquiagem bio- Porém , nos tem pos do im pério rom ano, era a form a
gráfica” era algo bastante comum na literatura antiga. O mais vexatória de alguém ser m orto. A palavra crux
ronto é saber se os evangelhos também seguiram por esse (cruz em latim) foi usada por algum tem po como um
zaminho. Uma mera leitura das biografias “encomenda- xingam ento pelos rom anos e até os judeus conside-
:as por antigos líderes revela a prática de uma série de ravam maldito aquele que m orria no m adeiro (Deut.
riogios sutis, mesclados a certas descrições nada modestas
21:23 e G ál. 3:13).
icerca de determinado “herói”. E o caso da famosa Vida de
Zonstantino, escrita por Eusébio no século IV, ou a Vida de Se a intenção fosse atrair os que gostam de es-
Zaúdio, escrita por Díon Cássio, no século III. cândalos ou fossem politicam ente incorretos, os
evangelistas deveriam m odificar o relato da m orte
São todas verdadeiros panegíricos de louvor aos
de Cristo ou, pelo m enos, ocultar o m odo como ela
:eitos do biografado, escondendo ao m áximo seus
ocorreu. Um revolucionário m ártir que tirasse a
.־exames e suas fraquezas. Em bora sejam histórias de
tranqüilidade de César seria respeitado se m orres-
personagens reais, devem ser avaliadas com certo ce-
se decapitado, esfaqueado, envenenado, picado por
dcismo devido ao seu próprio conteúdo político que
um a serpente ou, principalm ente, num a batalha,
i e nega uma imparcialidade no relato.
com o alguns entendem poderia ter sido o caso de
Homero dizia que um homem magnânimo deve ser Jesus ensinou que quem quisesse ser 0 primei- ro, que
sempre 0 primeiro e estar antes dos demais. se tornasse 0 último (Mat. 9:35).
Aristóteles disse que um homem de mentalidade elevada, Jesus ensinou que 0 maior deve ser aquele que serve aos
não se acanha de receber grandes coi- sas, demais: Luc. 22:27 e Jo. 13:4ss. Em ou- tra ocasião
principalmente se a honra vier de homens de prestígio, referiu-se a si mesmo como jamais recebendo a honra
pois ele sabe que é merecedor delas. que vem dos homens: Jo. 5:41.
"Apareceu na Judeia um hom em de virtude singu- lar, cujo nom e é Jesus Cristo, a
quem os bárbaros es- tim am como profeta, mas que seus discípulos amam e adoram
como se fosse a geração do Deus imortal. Ele chama os m ortos para que saiam das
sepulturas e cura toda sorte de doenças com um a única palavra
ou toque. (...), é um hom em alto, bem modelado (...) seu cabelo é da cor do vinho,
desce ondulado sobre os ombros; dividido ao meio, ao estilo nazareno. (...) Barba
abundante, da mesma cor do cabelo; [. ] ״as mãos, finas e compridas; olhos claros,
[plácidos e bri- lhantes]. (...) Afirma publicam ente que os reis e es- cravos são iguais
perante Deus”.
Além disso, um procurador rom ano não escreve- ria cartas para o senado como
parece vir na introdu- ção, mas diretam ente para o im perador. Fora o fato de