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Unindo Conhecimento Bíblico com o Fogo Pentecostal

O Comentário Bíblico Pentecostal é o primeiro comentário em volume único a


apresentar uma perspectiva distintamente pentecostal da Bíblia. Se você é um
crente pentecostal, este é um recurso que irá freqüentemente consultar para obter
uma compreensão do Novo Testamento mais aceita pelos teólogos pentecostais.
Escrevendo com habilidade e exatidão acadêmica, os diferentes colaboradores
representam o que há de melhor em teologia pentecostal, aliando conhecimento
bíblico com a chama espiritual. Este volume de qualidade única é um parceiro
perfeito da famosa Bíblia de Estudo Pentecostal, campeã de vendas no Brasil.
Neste comentário você encontra:

• Introduções detalhadas para cada livro do Novo Testamento, dando-lhe uma


compreensão do propósito do livro e o contexto no qual ele foi escrito.

• Comentários detalhados e ilustrativos com base nos originais gregos que irão Volume 1 Volume 1
aprofundar o seu entendimento das Escrituras e fortalecer sua fé.
Mateus – Atos Mateus – Atos
• Mapas, fotos, tabelas e gráficos para enriquecer visualmente seu estudo.

“O Comentário Bíblico Pentecostal deve ser usado por pastores com grande prazer
para a preparação de sermões e estudos bíblicos. É rico em recurso material.”
–– Thomas E. Trask, Superintendente-Geral das Assembléias de Deus nos Estados Unidos

“Um marco para os cristãos pentecostais. Milhões de crentes cheios do Espírito em todo o mundo irão
receber com alegria este maravilhoso novo recurso.”
–– Vinson Synan, Decano da Escola de Divindade, Universidade Regent

“Restaurador e encorajador, abrindo a mente do leitor para a realidade de como o Espírito Santo
pode capacitar o cristão. Esperava por um comentário como este.”
–– Wayde I. Goodall D. Min., Editor-Executivo da revista Enrichment

“Uma necessária contribuição acadêmica. Produzirá ricas e profundas compreensões


acerca de muitas passagens difíceis das Escrituras.”
–– Joseph L. Garlington, pastor sênior da The Covenant Church de Pittsburgh

Roger Stronstad e French Arrington, ambos com doutorado em Novo Testamento,


foram editores consultores da Full Life Study Bible (Bíblia de Estudo Pentecostal),
nos Estados Unidos. O Dr. Stronstad leciona na Western Pentecostal Bible College,
Editado por
em Clayburn, Colúmbia Britânica. O Dr. Arrington leciona na Church of God
School of Theology, em Cleveland, Tennessee. French L. Arrington
e Roger Stronstad

Membros da
Comissão Editorial
da Bíblia de Estudo Editado por French L. Arrington e Roger Stronstad
Pentecostal Membros da Comissão Editorial da Bíblia de Estudo Pentecostal
Volume 1

Rio de Janeiro
2015
Todos os direitos reservados. Copyright © 2003 para a língua portuguesa da Casa Publicadora
das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Título do original em inglês: Full Life Bible Commentary to the New Testament
Zondervan Publishing House
Grand Rapids, Michigan, USA
Primeira edição em inglês: 1999
Tradução: Luís Aron de Macedo (Mateus a Romanos) e Degmar Ribas Júnior (1 Coríntios a
Apocalipse)

Preparação de originais e revisão: Isael de Araujo, Joel Dutra, Alexandre Coelho, Luciana Alves,
Kleber Cruz e Daniele Pereira
Capa: Rafael Paixão
Projeto gráfico: Rodrigo Sobral Fernandes
Editoração: Alexandre Soares

CDD: 220 – Comentário Bíblico


ISBN: 978-85-263-0961-6

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, Edição de 1995, da
Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD,
visite nosso site: http//www.cpad.com.br

Casa Publicadora das Assembléias de Deus


Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

6ª Impressão/2015 - Tiragem: 1.000


SUMÁRIO

Lista de Colaboradores.............................................. vi
Prefácio.................................................................... vii
Fotos, Mapas, Quadros e Diagramas........................ ix
Abreviaturas............................................................. xi

Mateus........................................................................ 1
Marcos.....................................................................159
Lucas........................................................................301
João.........................................................................483
Atos dos Apóstolos.................................................621
LISTA DE COLABORADORES
Mateus James B. Shelton Professor da Oral Roberts University, em Tulsa,
Oklahoma, Estados Unidos
Marcos Jerry Camery-Hoggatt Professor da Southern California College, em
Costa Mesa, Califórnia, Estados Unidos
Lucas French L. Arrington Professor da Church of God Schoolof Theology,
em Cleveland, Tennessee, Estados Unidos
João Benny C. Aker Professor do Assemblies of God Theological
Seminary, em Springfield, Missouri, Estados
Unidos
Atos dos Apóstolos French L. Arrington Professor da Church of God School of Theology,
em Cleveland, Tennessee, Estados Unidos

vi
Prefácio

O que o saudoso Donald Stamps, autor (RC), da Sociedade Bíblica do Brasil, mas
das notas da Bíblia de Estudo Pentecostal os escritores ao comporem a exposição
(BEP), declarou sobre a referida Bíblia con- dos livros citam outras versões bíblicas
tinua verdadeiro para este comentário: onde uma ou mais traduções ajudam a
esclarecer o significado. Em alguns luga-
O propósito [...] é conduzir o leitor [...] res o texto grego é citado. Mesmo assim
a uma fé mais profunda na mensagem quando a língua original é mencionada, é
apostólica do Novo Testamento, a qual fornecida uma transliteração para que os
proporciona ao crente grande confiança leitores leiam e pronunciem as palavras.
de alcançar a mesma experiência dos Também é freqüente uma explicação estar
crentes do Novo Testamento, median- imediatamente ao lado da transliteração.
te a plenitude do Cristo vivo na Igreja, A intenção é expressar com precisão e de
como corpo (Ef 4.13), e a plenitude do modo interessante o significado do Novo
Espírito Santo no crente individualmente Testamento. Embora não seja explicitamente
(At 2.4; 4.31). devocional, este comentário proporciona
uma interpretação do texto que é a base
A Bíblia de Estudo Pentecostal e o Co- perfeita para uso devocional e aplicação
mentário Bíblico Pentecostal são volumes prática. Será útil para professores de Escola
companheiros. Ou seja, este comentário foi Dominical e obreiros cristãos, mas também
planejado e escrito para complementá-la. de ajuda considerável para pregadores e, em
Claro que a BEP lida com assuntos e temas particular, para estudantes de Teologia.
proeminentes das Escrituras, ao passo que Os comentários deste volume focalizam
este comentário enfoca o plano de fundo dos os livros do Novo Testamento. Cada cola-
livros do Novo Testamento e sua exposição. borador oferece uma introdução do livro,
Cada volume é exclusivo, completo em si um esboço, uma interpretação seção por
mesmo e pode ser usado independentemente. seção e uma breve bibliografia. As intro-
Um enriquece o outro, e usados juntos, a duções dão as informações e orientações
BEP e este comentário formam uma pequena necessárias para o estudo. A interpretação
biblioteca para o estudo bíblico. foi baseada na estrutura, língua e plano de
A equipe de colaboradores deste co- fundo do livro. O propósito ao abordar a
mentário está em grande débito com os interpretação desta maneira foi preservar
estudiosos da Bíblia do passado e do pre- o poder e o significado que o evangelho
sente, pois tem aprendido com suas obras teve durante o século I – os quais ainda
e insights da Palavra de Deus. Eles aceitam hoje tem.
a Bíblia como a Palavra de Deus inspira- Com gratidão lembramos Donald Stamps
da e autorizada, e vêm de formações que pela devoção manifestada a Deus e à sua
acentuam a importância da presença e dons Palavra. Estamos em imensa dívida com
do Espírito Santo na Igreja dos dias atuais. ele por prover uma Bíblia de Estudo para
Nossos colaboradores deram o máximo de cristãos pentecostais. Sua visão e obra na
si para não serem apologéticos, polêmicos BEP são em grande parte responsáveis pelo
ou excessivamente técnicos. A meta foi usar ímpeto e inspiração na preparação deste
um estilo e um vocabulário que tornassem Comentário Bíblico Pentecostal.
a mensagem do Novo Testamento acessível Fazemos referência distinta às aptidões
a todos os que lerem o comentário. e labores do staff editorial da Zondervan
A tradução deste comentário foi base- Publishing House. A pessoa que merece
ada na versão de João Ferreira de Almei- menção especial é o doutor Verlyn D.
da, Revista e Corrigida, edição de 1995 Verbrugge, o editor sênior, que desde

vii
PREFÁCIO
sua concepção inicial à sua forma final ainda dá poder aos cristãos e faz “sinais
carregou “a parte do leão” do encargo de e maravilhas” como Ele o fez no minis-
fazer com que este comentário se tornasse tério de Jesus e continuou fazendo no
realidade. Seu conhecimento, habilidades e ministério dos apóstolos. Desde o derra-
leitura cuidadosa de todos os manuscritos mamento inicial do Espírito Santo no Dia
foram vitais à conclusão e qualidade do de Pentecostes, o ministério do Espírito
trabalho. Foi um prazer estar associado permanece o mesmo. Sua obra ainda é:
com ele. Outrossim na complementação exaltar Jesus Cristo, conduzir-nos a toda
de nossa tarefa queremos agradecer a verdade e capacitar-nos ao seu serviço e
todos os colaboradores deste volume por para o evangelismo.
sua cooperação, paciência, generosidade
e trabalho. French L. Arrington e Roger Strons-
Oferecemos este comentário com a tad
oração de que ele venha a ser uma grande Editores
bênção a todos os que o usarem, sobre-
tudo aos que buscam a vontade de Deus N. do E.: As citações de livros não
para suas vidas estando “cheios com o canônicos por parte dos comentaristas
Espírito Santo”, e com a convicção de não têm nenhum caráter de autoridade
que a obra do Espírito Santo não está bíblico-doutrinário, apenas valor histórico-
limitada aos tempos bíblicos. O Espírito informativo.

viii
FOTOS, MAPAS, QUADROS E DIAGRAMAS

O Império Romano na Terra Santa................2 O arco sobre a Via Dolorosa.....................473


Cronologia do Novo Testamento................19 Túmulo da família de Herodes..................475
Cesaréia........................................................21 A família herodiana....................................485
A fuga para o Egito......................................23 Jarros antigos.............................................503
Batismo no rio Jordão..................................28 Mapa de Samaria........................................510
Camadas de sal no mar Morto.....................45 Poço de Jacó..............................................511
Seitas judaicas..............................................58 Jesus em Samaria e Judéia.........................515
Milagres de Jesus....................................66,67 O Tanque de Betesda................................519
Jesus na Galiléia...........................................71 O mar Morto..............................................539
Ruínas de Qumran.......................................81 O Testemunho de João..............................547
Mapa da Galiléia..........................................96 O bom Pastor.............................................558
Monte Tabor...............................................105 O túmulo de Lázaro...................................566
Modelo do Templo de Herodes................119 Um jumentinho..........................................569
O monte das Oliveiras...............................131 A obra do Espírito Santo.....................584,585
Tijolos de barro secos ao sol.....................136 Calvário de Gordon...................................605
Semana da Paixão......................................141 O jardim do túmulo...................................605
A cidade de Jerusalém...............................151 Aparições da ressurreição..........................609
As viagens de Marcos com Paulo Pentecostes................................................630
e Barnabé...................................................166 Pedra dintel................................................647
Locusta.......................................................178 Ruínas de uma antiga igreja cristã.............661
O monte da tentação.................................183 A Porta do Leão.........................................667
A sinagoga de Cafarnaum..........................186 As viagens missionárias de
Os apóstolos..............................................202 Pedro e Filipe.............................................672
A região leste do mar da Galiléia..............217 Teatro romano em Samaria.......................673
Nazaré........................................................222 Damasco romana.......................................677
O mosaico de Tabgha................................228 A Porta Oriental de Damasco....................678
Galiléia e Decápolis...................................236 Plano horizontal dos telhados
Betsaida......................................................242 das casas....................................................683
Transjordânia.............................................255 Igreja em caverna do primeiro
Figueira......................................................263 século em Antioquia..................................690
Betânia.......................................................275 Monolito do período romano....................691
Segundo andar do cenáculo......................285 Primeira viagem missionária
Reino de Herodes, o Grande.....................319 de Paulo.....................................................698
Belém.........................................................328 Uma coluna açoitamento...........................698
Ruínas de Cafarnaum.................................342 Igreja do quarto século em Pafos..............698
Pescadores.................................................344 Mapa de Listra e Derbe..............................704
Parábolas de Jesus.....................................360 Segunda viagem missionária
Lâmpada de azeite.....................................366 de Paulo.....................................................718
Monte Hermon...........................................377 Cela da cadeia de Paulo e Silas
Mulher beduína arando um campo...........383 em Filipos...................................................724
Estrada romana entre Jericó Escultura funerária do Leão
e Jerusalém.................................................389 de Anfípolis................................................729
Ovelhas......................................................421 Terceira viagem missionária
Jericó..........................................................442 de Paulo.....................................................741
Sicômoro....................................................445 O Ágora Mercantil......................................748
O monte das Oliveiras...............................461 O templo de Vespasiano............................748
A sede do Sinédrio.....................................469 As montanhas de Tarso.............................761

ix
FOTOS, MAPAS, QUADROS E DIAGRAMAS
Cesaréia......................................................773 Milagres dos apóstolos..............................799
Viagem de Paulo a Roma...........................793 Todas as fotos, salvo indicação em contrário,
são de Neal e Joel Bierling.

x
ABREVIATURAS
1QM Rolo da Guerra
1QS Normas da Comunidade
AB Anchor Bible
Ant. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas
ARA Almeida Revista e Atualizada
ARC Almeida Revista e Corrigida
ASV American Standard Version
b. Talmude Babilônico
BAGD Bauer, W. F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New
Testament and Other Early Christian Literature, Chicago, 1979
BEP Bíblia de Estudo Pentecostal
BJ Bíblia de Jerusalém
CBQ Catholic Biblical Quarterly
CGTC Cambridge Greek Testament Commentary
CTJ Calvin Theological Journal
DJG Dictionary of Jesus and the Gospels, eds. J. B. Green e S. McKnight,
Downers Grove, 1992
DPL Dictionary of Paul and His Letters
DSB Daily Study Bible
EBC Expositor’s Bible Commentary
EDNT Exegetical Dictionary of the New Testament, eds. H. Balz e G. Schneider,
Grand Rapids, 1990-1993
EGGNT Exegetical Guide to the Greek New Testament
EGT The Expositor’s Greek Testament
EvQ Evangelical Quarterly
ExpTim Expository Times
GNB Good News Bible
Hist. Ecl. Eusébio, História Eclesiástica
HNTC Harper New Testament Commentary
ICC International Critical Commentary
Interp Interpretação
JBL Journal of Biblical Literature
JBP Tradução de J. B. Phillips
JETS Journal of the Evangelical Theological Society
JSNT Journal for the Study of the New Testament
KJV King James Version

xi
ABREVIATURAS
LXX Septuaginta
m. Misná
Meg. Megilá
Mek. Mequilta
MNTC Moffatt New Testament Commentary
NAB New American Bible
NAC New American Commentary
NASB New American Standard Bible
NCB New Century Bible
NCBC New Century Bible Commentary
NEB New English Bible
Neot Neotestamentica
NIBC New International Biblical Commentary
NICNT New International Commentary on the New Testament
NIDNTT New International Dictionary of New Testament Theology, ed. C.
Brown, 4 vols., Grand Rapids, 1975-1985
NIDOTTE New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis,
ed. W. A. VanGemeren, 5 vols., Grand Rapids, 1997
NIGTC New International Greek Testament Commentary
NJB New Jerusalem Bible
NKJV New King James Version
NovT Novum Testamentum
NRSV New Revised Standard Version
NTS New Testament Studies
NVI Nova Versão Internacional
RC Almeida Revista e Corrigida, Edição de 1995
REB Revised English Bible
RevExp Review and Expositor
RSV Revised Standard Version
RV Revised Version
SBLDS Society of Biblical Literature Dissertation Series
SEÅ Svensk exegtisk Årsbok
SJLA Studies in Judaism in Late Antiquity
TDNT Theological Dictionary of the New Testament, eds. G. Kittel e G. Friedrich,
Grand Rapids, 1964-1976
TEV Today’s English Version
TNTC Tyndale New Testament Commentary
TS Theological Studies
WBC Word Biblical Commentary
WTJ Westminster Theological Journal

xii
MATEUS
James B. Shelton

INTRODUÇÃO narrativas acerca de Jesus estavam dispo-


níveis? A resposta acha-se na natureza da
A igreja primitiva uniu o escrito do Evan-
revelação cristã.
gelho de Mateus com um dos apóstolos
originais de Jesus chamado Mateus, também 1. O Agente É a Mensagem
conhecido por Levi, um ex-cobrador de Em outras religiões, relatos de revelações
impostos a serviço dos romanos ou ao mostravam a pessoa em um estado alterado,
títere local. Pela força das armas, o Império no qual sua vontade era ab-rogada e o
Romano tomou o poder da Terra Santa corpo tornava-se mero bocal do deus ou
em 63 a.C., e desde então vinha impondo espírito, e a pessoa sequer tinha consci-
opressivos impostos à nação. Muitos da ência do que estava sendo dito ou o que
população consideravam os cobradores de significava. Esta não era a norma para a
impostos como colaboradores dos romanos experiência de revelação hebraica ou cristã.
e traidores. Outros, sobretudo dentre o O profeta ou o escritor inspirado usava
estabelecimento religioso, ficavam escan- todas as suas faculdades físicas, mentais
dalizados com o fato de Jesus se associar e espirituais para comunicar o que lhe
e ministrar a “publicanos (cobradores de fora revelado. Seu vocabulário exclusivo
rendimentos públicos) e pecadores”, e ter era usado como também as expressões
chamado Mateus para ser seu discípulo. A comuns entre a comunidade. Às vezes até
esta objeção Jesus respondeu: “Eu não vim gramática ruim e sintaxe canhestra eram
para chamar os justos, mas os pecadores” usadas; contudo, em sua soberania e es-
(Mt 9.9-13). Em resposta à chamada de colha do recebedor da mensagem, Deus
Cristo, Mateus tornou-se grande mestre garantiu que o que Ele quis expressar
e preservador dos ensinos de Jesus. Por seria comunicado completamente e sem
esta razão a Igreja honrou o Evangelho impedimento.
que leva o nome de Mateus, colocando-o A revelação cristã foi baseada no mo-
na primeira posição na ordem canônica delo da inspiração, e não no modelo da
do Novo Testamento. possessão. De fato, os cristãos enten-
Quando Mateus começou a escrever o diam que a possessão (i.e., controle e
Evangelho, vários documentos relativos violação completos da vontade e pessoa
a Jesus já tinham sido compostos. Entre do indivíduo) era má — daí a idéia de
eles estavam as cartas dos apóstolos, uma possessão maligna. Até o apóstolo João,
coletânea dos discursos de Jesus, versões quando experimentou a revelação apo-
antigas dos relatos de sua vida e o Evan- calíptica das coisas celestiais com toda
gelho de Marcos. Por que esses escritos a sua espiritualidade, não ficou privado
não foram suficientes? Por que Mateus se da vontade; pelo contrário, esperava-se
sentiu compelido a escrever outra versão? que ele a usasse no meio da experiência
Numa época em que um único pedaço de (Ap 10.3,4). Esta reciprocidade entre o
papiro valeria muitos dólares pelos padrões divino e o humano na revelação é exa-
modernos e os serviços dos escribas eram tamente o que se esperaria, levando-se
caros, por que Mateus fez tais despesas, em conta o entendimento cristão da ver-
visto que poucas igrejas podiam se dar dade, pois Jesus Cristo é a Verdade (Jo
ao luxo de ter uma coleção extensiva de 14.6). Ele não apenas falou a verdade;
rolos de papel copiados à mão. Por que em seu estado divino-humano, Ele era
os cristãos primitivos estavam tão dis- a própria Verdade.
postos a arcar com as despesas, quando Não é de surpreender que a revelação
relatos orais, o livro de Marcos e outras cristã se assemelhasse à encarnação de

1
MATEUS
Deus com componentes humanos e divinos, estavam inclinados a ouvir o Evangelho
os quais não devem ser confundidos nem de Mateus. No prefácio do Evangelho
separados. As palavras de Deus tornam-se de Lucas, algo que nos Evangelhos se
as palavras dos seres humanos. Deus está assemelha a uma bibliografia, o evange-
tão livre de cuidados com sua soberania lista alista os diferentes tipos de fontes
que Ele permite que a vontade humana que usou: testemunhas oculares e fontes
coopere no seu empreendimento de co- orais e escritas. Contava-se que haveria
municação, não diferente da descrição multiplicidade no testemunho.
do dom de profecia feita por Paulo: “E os Visto que a Revelação última de Deus,
espíritos dos profetas estão sujeitos aos Jesus Cristo, aconteceu no tempo e no
profetas” (1 Co 14.32). Não é apenas o que a espaço (i.e., na história), Ele foi visto,
Palavra de Deus diz que é importante, mas ouvido e tocado pelas pessoas (1 Jo 1.1-
também como Ele a comunica; o agente 4). Este evento revelador foi narrado por
também é uma mensagem. Deus quer testemunhas oculares, testemunhos pessoais
que os seres humanos cooperem de moto e registros escritos. Como portador deste
próprio com os seus planos. A possessão registro histórico, Mateus merecia uma
e violação de criaturas racionais não é seu audiência entre seus contemporâneos.
método nem sua mensagem. O testemunho contido no seu Evangelho
não era o de alguém que por acaso viu o
2.Testemunhas Fiéis Jesus histórico, e sim o testemunho de um
O escritor de Mateus entendeu que a crente, um discípulo, alguém que prestava
revelação de Deus não poderia ser um testemunho apostólico de Jesus.
monólogo monolítico; a natureza do der- A Igreja aceitou o testemunho do Evan-
ramamento do Espírito Santo de Deus gelho de Mateus porque continha material
“sobre toda a carne” impedia tal feito (At que era reconhecido como ensino autêntico
2.11). Jesus prometeu o Espírito Santo daqueles que tinham seguido Jesus em
para que os discípulos fossem testemu- seu ministério terreno, e que tinham sido
nhas (At 1.8), e não apenas uma única comissionados por Ele como líderes da
testemunha. Eles não deveriam ser meros Igreja, e fiduciários e intérpretes da sua
instrumentos de música os quais Deus mensagem e ministério (Lc 24.44-49). A
tocava; eles não tinham de ser autômatos, Igreja incluiu no cânon do Novo Testa-
robôs sem raciocínio nem vontade própria. mento só os livros que foram escritos por
A igreja primitiva profeticamente dotada um apóstolo de Jesus do século I ou por
esperava ouvir mais que uma testemunha alguém estreitamente associado com um
inspirada; por conseguinte, eles também apóstolo. O relato tinha de ser baseado

Mar da
Galiléia

Mar Negro

Jerusalém Mar
Morto
Mar Mediterrâneo
Terra
Santa

A Terra Santa era apenas uma


O Império
pequena porção do Império Romano
Romano nos dias do Novo 14 d.C.
Testamento.

2
MATEUS
em fontes primitivas, e também tinha de Marcos estivesse disponível muito antes.
ser autorizado, isto é, apostólico. Os mem- Além disso, Mateus apresenta as instru-
bros da igreja primitiva “perseveravam na ções de Jesus concernentes à adoração
doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Estes judaica no templo, talvez indicando que
ensinos essenciais estavam na forma oral o templo ainda estava de pé na época
e escrita (Lc 1.1-4; 2 Ts 2.15). da escrita, antes de ser destruído em 70
A Igreja era considerada o árbitro destas d.C. (Mt 5.23,24). A data poderia ser já
coisas na função de “coluna e firmeza da na década de 50 d.C. Este comentarista
verdade” (1 Tm 3.15). Embora as comu- não tentará solucionar a questão, mas
nidades cristãs que tinham se desenvol- mostrará evidências que indicam a data
vido em torno dos apóstolos tivessem um anterior ou a posterior, à medida que
papel na compilação e preservação dos elas forem surgindo no texto.
seus ensinos, os próprios apóstolos eram Mais de noventa por cento de Marcos
responsáveis pelos ensinos que tinham está expresso em Mateus e Lucas. Por
recebido de Jesus, os quais eles explica- conseguinte os primeiros três Evangelhos
vam, aplicavam e passavam adiante para são chamados “sinóticos”, que significa
sucessores fiéis. As origens dos funda- “ver junto”. Mateus e Lucas também têm
mentos da fé cristã estavam “associadas, outra fonte de escrita em comum chamada
não com comunidades anônimas, mas “Q”, proveniente da palavra alemã Quelle,
com portadores da tradição, indivíduos que significa “fonte”. A fonte Q consiste
autorizados e bem conhecidos por todos” no material que Mateus e Lucas têm em
(Hengel, 1980, p. 26). comum, mas que Marcos não tem. Mateus
e Lucas seguem fielmente o material Q —
3. Como e Quando Mateus Escreveu muitas vezes, palavra por palavra, até a
Mateus foi escrito em grego koiné. Seu ponto de acompanhar a ordem desajeitada
estilo não é grego polido, em contraste das palavras gregas. Esta sintaxe grega
com o estilo clássico encontrado em Lucas incomum, provavelmente o resultado de
e na Epístola aos Hebreus. O grego de um original hebraico ou aramaico que
Mateus evoca um quê semítico, devido ao foi traduzido rigidamente para o grego,
seu grego coloquial, às fontes hebraicas/ mostra bom uso semítico.
aramaicas e à sua formação. Mateus usou A fonte Q versa primariamente sobre
fontes orais e escritas. O autor tentava ser os ensinos de Jesus. Mais uma vez, o tes-
preciso e lança mão de todos os recursos temunho de Papias é útil. Ele registra que
disponíveis para contar a história de Jesus. Mateus escreveu “as declarações [logia] do
Não devemos ser dissuadidos com a idéia Senhor” no “dialeto hebraico” (i.e., ara-
de fontes por trás de nossos Evangelhos. maico), e outros os traduziram conforme
Jesus veio a um mundo literato, e Deus puderam. Note que Papias não diz que
usou fontes orais e escritas para proclamar Mateus escreveu o Evangelho (euangelion)
e registrar sua mensagem (cf. Lc 1.1-4). de Jesus, mas as declarações ou ensina-
A maioria dos estudiosos acredita que mentos (logia) do Senhor. Esta pode ser
Mateus e Lucas usaram o Evangelho de referência ao material Q, um documento
Marcos, o Evangelho mais antigo exis- que já não existe. O Evangelho existente
tente, como fonte principal. Conforme que leva seu nome pode ter sido escrito
Papias, escrevendo por volta da virada pelo apóstolo ou por seus seguidores
do século, o Evangelho de Marcos re- vários anos depois da conclusão da fonte
gistra os ensinos de Pedro, que Marcos Q. O tom semítico da fonte Q expressa
escreveu depois do martírio do apóstolo sua antiguidade e proximidade com o
na perseguição da Igreja perpetrada pelo aramaico, idioma primo do hebraico e a
imperador Nero em 64 d.C. Se Mateus língua usada na vida cotidiana da Terra
usou Marcos, então uma data para este Santa no século I.
Evangelho estaria entre 70 e 90 d.C. Já Alguns estudiosos pensam que as pas-
foi alegado que uma versão anterior de sagens que Mateus e Lucas têm em comum

3
MATEUS
são o resultado de Marcos e Lucas usarem de Mateus eram judeus de fala grega, que
Mateus, embora esta seja opinião minoritária. viviam fora da Terra Santa.
Um grupo ainda menor afirma a prioridade Mateus também enfatizou a persegui-
de Lucas. Muitos estudiosos advogam “a ção e a ordem eclesiástica nas passagens
hipótese de quatro fontes” proposta por B. exclusivas do seu Evangelho (material M).
H. Streeter ou uma variação dela. Advogam Isto levou alguns estudiosos a sugerir que
que Mateus e Lucas usaram Marcos e o a comunidade de Mateus (ou que seus lei-
material Q, e que Mateus e Lucas tinham tores) estava passando por perseguições. É
outras fontes exclusivas rotuladas, respec- presumível que Mateus tenha selecionado
tivamente, de “M” e “L”. As fontes M e L as declarações de Jesus que estavam parti-
representam as fontes orais e escritas. Este cularmente afinadas com este assunto.
comentário assume tal cenário. Não há dúvida de que Mateus teve ajuda
Alguém pode perguntar por que nos na compilação e escrita, assim como Paulo
aborrecermos com a identificação de fon- teve em suas cartas (e.g., Rm 16.22; Gl 6.11).
tes, visto que isso não afeta a mensagem. Marcos serviu como escrevente de Pedro. A
Três razões são apresentadas: ajuda de um amanuense não era incomum.
1) Demonstra o cuidado que os escritores Lembre-se também de que nenhum dos
dos Evangelhos tomaram sendo fiéis à textos do Evangelho traz o nome do autor.
mensagem. Eles não inventaram espa- Em cópias mais recentes a Igreja identificava
lhafatosamente histórias sobre Jesus sem o autor num título, ou às vezes com um
consideração ao testemunho de testemu- prefácio dando detalhes biográficos. A Igreja
nhas prévias; entendia que este Evangelho expressava
2) Sabendo que fontes Mateus usou, po- os ensinos que estavam associados com
demos identificar mais prontamente os Mateus, o apóstolo de Jesus.
diferentes insights dirigidos pelo Espírito
sobre o significado dos eventos de Jesus 5.Temas Distintivos de Mateus
que os escritores dos Evangelhos têm em Mateus, como os outros escritores dos Evan-
comum, mas dos quais eles têm entendi- gelhos, tem um programa de trabalho espe-
mentos únicos. (Por exemplo, todos os cífico. Há uma comunidade nos Evangelhos,
quatro Evangelhos mencionam a descida mas também uma diversidade. Mateus, por
do Espírito Santo sobre Jesus, mas cada um exemplo, destaca o ensino de Jesus, ao passo
postula uma verdade espiritual exclusiva que Marcos ressalta suas ações, registrando
de seu significado.); mais milagres que os outros escritores dos
3) Identificando as passagens peculiares de Evangelhos. Mateus levanta uma questão
Mateus vemos os temas especiais que o teológica característica que ele vê num
motivaram a escrever outro Evangelho. acontecimento da vida de Jesus, ao mesmo
tempo que os outros evangelistas, fazendo
4. Por que Mateus Foi Escrito? comentários sobre o mesmo acontecimento,
Cada Evangelho foi escrito para uma audiên- salientam uma ramificação diferente. Em
cia específica, a fim de atingir metas es- outras palavras, as ações de Jesus têm mais
pecíficas. Não eram meras biografias ou de um significado. É como se os quatro es-
compilações dos ensinos de Jesus; antes, critores dos Evangelhos pintassem o mesmo
foram escritos para expressar pontos te- quadro, mas usassem cores diferentes. Ve-
ológicos únicos, como também apresentar a mos a cor pelo contraste; assim, ao longo
mensagem básica de Cristo. Mateus escreveu do comentário poremos em contraste as
para atender necessidades específicas dos diferentes questões dos evangelistas em
seus leitores. Ele pressupõe, por exemplo, passagens em comum.
que seus leitores tenham conhecimento dos
costumes judaicos, ao passo que Marcos, a) Jesus, o Rei
quando relata os mesmos eventos, explica
as práticas culturais para sua audiência gen- O Evangelho de Mateus foi chamado “o
tia (e.g., Mt 15.1-9; Mc 7.1-13). Os leitores Evangelho Real” e por boas razões: O escritor

4
MATEUS
apresenta Jesus como o verdadeiro Rei de um Mestre-Rei. Jesus cumpre simultanea-
Israel. É por isso que Mateus toma grande mente os papéis de Moisés, o legislador,
cuidado em apresentar a genealogia de Jesus e de Davi, o rei. Não causa surpresa que
seguindo a sucessão dinástica de Davi, e Mateus apresente os ensinos de Jesus como
destaca o rei Davi como o principal ponto os ensinos do Reino ou Governo de Deus.
de divisão em sua apresentação. (Contraste Ele se refere ao “Reino dos Céus” por mais
com Lucas, que liga Jesus em sua genea- de trinta vezes e prefere esta expressão do
logia com Davi, mas por outra progressão que “o Reino”, “o Reino de Deus” ou “o
de antepassados que não se sentaram no Reino do Pai” (o que usa ocasionalmen-
trono de Jerusalém.) A atenção de Mateus te). Nenhum dos outros evangelistas usa
está voltada para Jesus como Rei, quando os “Reino dos Céus”; eles preferem “Reino de
outros evangelistas no mesmo ponto não o Deus”. O governo de Deus é a característica
mencionam. Por exemplo, no seu relato do principal do ensino de Jesus. Mateus usa
nascimento de Jesus, Mateus fala aos leitores “Reino dos Céus” como modo respeitoso de
sobre os magos que perguntaram: “Onde aludir ao Reino de Deus, a fim de conciliar
está aquele que é nascido rei dos judeus?” sua audiência judaica que, por reverência
(Mt 2.2). Lucas não nos diz nada sobre os a Deus, evitava falar seu nome diretamen-
magos, mas fala sobre os anjos do céu que te, mas se referia indiretamente a Ele por
anunciam aos pastores marginalizados, não “Senhor” ou fazia alguma menção ao céu
o nascimento de um Rei, mas do Salvador (e.g., Dn 4.26).
de todos os povos, tema que Lucas enfatiza Alguns estudantes da Bíblia tentaram
(Lc 2.10,11). Ao longo do Evangelho, Mateus fazer uma distinção entre o “Reino dos
sublinha a realeza de Jesus. Céus”, como um evento futuro, e o “Reino
Mateus também relaciona com Jesus as de Deus”, como um momento presente,
profecias do Antigo Testamento concernen- criando duas épocas ou dispensações
tes ao Messias. O termo messias provém distintas na maneira como vêem a história
da palavra hebraica que significa “ungir”; de salvação. Esta não é a intenção dos
no Novo Testamento é traduzido por “o evangelistas. As passagens paralelas em
Cristo”. Nos dias do Antigo Testamento, Marcos, Lucas e João equiparam clara-
os sacerdotes e reis eram ungidos com mente “Reino dos Céus” com “Reino de
óleo quando começavam seu mandato. Deus”. Ademais, Mateus usa o termo de
Este ato indicava que eles foram separa- forma intercambiável em Mateus 19.23,24.
dos para propósito santo. O Messias era Jesus quer que seus ensinos éticos sejam
aquEle a quem Deus levantaria para levar vivenciados no presente, e não em alguma
Israel de volta a Deus, guiá-lo à verdadeira era distante.
adoração de Deus e reger não só sobre Mateus organiza seu livro diferentemen-
Israel, mas sobre o mundo inteiro. Visto te dos outros escritores dos Evangelhos.
que Jesus era o novo Rei, Mateus também Ele tende a agrupar os ensinos de Jesus
ressaltou a natureza do Reino dos Céus de acordo com os tópicos. Ele coloca es-
como o reinado de Deus sobre o coração tes blocos ou seções declaratórias entre
e mente do gênero humano. outros blocos de material narrativo, que
descrevem as obras de Jesus e o avanço
b) Jesus, o Mestre de sua missão. É importante lembrar que
os Evangelhos não são meras biografias
Mateus apresenta mais dos ensinos cronológicas de Jesus, e sim testemunhos
de Jesus do que os outros escritores dos de quem Jesus é. O Espírito Santo im-
Evangelhos. Ele aumenta o relato de Mar- pressionou cada escritor para apresentar
cos com mais ensinos de Jesus, fazendo a mesma mensagem de modo diferente,
acréscimo crucial e necessário ao registro para que aspectos diferentes do ministério
escrito da Igreja. de Jesus fossem destacados.
Mateus apresenta Jesus como Rei e tam- Ao retratar Jesus como Mestre, Mateus
bém como Mestre (Rabi); por conseguinte, apresenta cinco grupos principais de en-

5
MATEUS
sinos, com Jesus como o novo Moisés. Há Evangelho que tem o estilo mais judaico e
os que sugerem que o propósito de Mateus uma audiência judaica em mente, é o que
era traçar um paralelo entre os ensinos também apresenta a mensagem como um
de Cristo e os primeiros cinco livros no evangelho para todas as nações e povos.
Antigo Testamento, conhecidos como Inicialmente as boas-novas são reserva-
Pentateuco. Esta é a razão de os ensinos de das para as ovelhas perdidas da casa de
Jesus terem sido chamados “a nova Torá” Israel (Mt 10.6), mas Mateus conclui seu
(i.e., a nova lei). Estas seções pedagógicas trabalho com uma comissão: “Ensinai
estão emolduradas pelo começo do Evan- todas as nações [ou, Fazei discípulos de
gelho (Mt 1—4, incluindo a genealogia todas as nações]” (Mt 28.19). Por vezes
e nascimento de Jesus, o ministério de ele é um crítico da nação judaica (e.g., Mt
João Batista e o começo do ministério de 8.10-12; 21.43; 23.29-39; 27.24,25). Mateus
Jesus) e a conclusão (Mt 26—28, incluindo luta com a tensão entre o bom da velha
a trama para matar Jesus, a Última Ceia e ordem e o programa maior do Reino dos
a paixão, morte e ressurreição de Jesus). Céus sempre em expansão. É significativo
Os cinco discursos de ensino são: que só Mateus registre a declaração de
Jesus: “Todo escriba instruído acerca do
1. O Sermão da Montanha (5.1—7.29) Reino dos céus é semelhante a um pai
2. A Chamada para a Missão (9.35—10.42) de família que tira do seu tesouro coisas
3. As Parábolas do Reino (13.1-52) novas e velhas” (Mt 13.52).
4. As Instruções de Jesus à Igreja (18.1-35) Provas das Escrituras. Mateus constan-
5. O Discurso no Monte das Oliveiras temente emprega provas bíblicas. A frase
(24.1—25.46) “Para que se cumprisse o que fora dito
pelo profeta”, é uma de suas expressões
Cada seção conclui com palavras se- triviais. Quando os evangelistas mencio-
melhantes: “Concluindo Jesus este dis- nam o mesmo evento na vida de Jesus, só
curso” (Mt 7.28); “Acabando Jesus de dar Mateus comenta que se cumpre a profecia
instruções” (Mt 11.1); “Jesus, concluindo do Antigo Testamento. É a referência à
essas parábolas” (Mt 13.53); “Concluindo geografia, o lugar onde se deu o acon-
Jesus esses discursos” (Mt 19.1); “Quando tecimento, que ativa o reconhecimento
Jesus concluiu todos esses discursos” (Mt de Mateus de que o acontecimento na
26.1). Este esquema contém a maior parte vida de Jesus cumpre o acontecimento
dos ensinos de Mateus (veja Bruce, 1972, do Antigo Testamento que ocorreu no
pp. 66-67). mesmo local.
Interesses eclesiásticos. Mateus está
c) Outros Assuntos preocupado com as questões eclesiásticas
Característicos (i.e., relativas à Igreja). Alguns exemplos
são o Sermão da Montanha, a ética do
Orientação judaica. Mateus endereça o Reino (Mt 13.1-33), a autoridade de Pedro
Evangelho aos judeus. Esta orientação está na Igreja (Mt 16.17,19) e as diretivas para
expressa em seu respeito pela lei judaica disciplina na Igreja (Mt 18.15-20).
e as freqüentes referências aos fariseus. Predições de perseguição. Mateus
Mateus lhes reconhece a sabedoria e de- tem várias seções de avisos e instruções
fende que suas instruções sejam guardadas concernentes a perseguição (Mt 5.1-12;
(Mt 19.17,18; 23.2,3); não obstante, ele 10.16-23; 19.30; 20.16; 24.9-13), provavel-
os condena por fazerem acréscimos aos mente porque o povo a quem ele escrevia
mandamentos de Deus, “ensinando [...] estava sendo perseguido (cf. acima).
preceitos dos homens” (Mt 15.9), e por Narrativa da infância. Dos quatro
pregarem mas não praticarem as estipu- evangelistas, apenas Lucas e Mateus dão
lações da lei de Deus (Mt 23.1-3). detalhes acerca do nascimento de Jesus. Só
Ênfase nos gentios. Mateus desta- Mateus nos fala sobre as visitações angelical
ca o lugar dos gentios. Ironicamente, o a José, a matança dos inocentes por ordem

6
MATEUS
de Herodes, a visita dos sábios, a estrela 7) O Espírito do Pai falará através dos cren-
natalina e a fuga para o Egito. Em todos estes tes, quando eles forem confrontados pelas
acontecimentos ele apresenta Jesus como autoridades (Mt 10.19,20).
Rei ou como o cumprimento da profecia 8) Falar contra as obras de Jesus é falar contra
do Antigo Testamento. Mateus se concentra o Espírito Santo, que é pecado capital (Mt
em José no nascimento de Jesus, ao passo 12.22-32).
que Lucas ressalta o papel de Maria. 9) Como Marcos, o poder de Jesus fazer exor-
cismos e confrontar o Diabo é atribuído por
6. Mateus e o Espírito Santo Mateus à capacitação que Jesus recebeu
A apresentação de Mateus acerca do do Espírito Santo (Mt 12.28).
Espírito Santo é mais extensa que a de 10) Os profetas falaram pelo Espírito Santo
Marcos, mas não é tão desenvolvida quan- (Mt 22.43).
to a de Lucas ou João. As características 11) Os discípulos de Jesus devem batizar em nome
salientes de sua pneumatologia incluem do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Toda
o seguinte: autoridade é dada a Jesus. Antes da ressurrei-
1) O Espírito Santo foi o agente da concepção ção, Jesus opera pela autoridade do Espírito
de Jesus (Mt 1.18). Santo. Jesus dispensa poder aos discípulos
2) O batismo com o Espírito Santo e com na Grande Comissão (Mt 28.18-20).
fogo distingue o ministério de Jesus do O material de Mateus sobre o Espírito
de João Batista (Mt 3). O fogo é principal- Santo serve a dois de seus interesses dis-
mente um batismo de julgamento. João tintos: o papel da Igreja (eclesiologia) e a
Batista declara que Jesus é quem batiza identificação de Jesus (cristologia). Mateus
para avisar os fariseus e saduceus que Ele fala das questões da Igreja quando os outros
fará justiça (Mt 3.11,12); Mateus indica escritores dos Evangelhos não o fazem (e.g.,
aqui e em outro lugar (Mt 28.19) que o Mt 16.17-19; 18.15-20; 20.1-16; 28.18-20).
batismo com o Espírito Santo e o batismo Mateus vê o Espírito Santo como a fonte de
de fogo são dois batismos diferentes. Os inspiração e autoridade para a Igreja (Mt
dois grupos endereçados na pregação 10.19,20; 28.18-20). Seguindo a direção de
de João Batista em Mateus são: (a) os Marcos, Mateus ressalta a ligação de Jesus
verdadeiramente arrependidos; e (b) os com o Espírito Santo para demonstrar sua
fariseus e saduceus. Como está implícito filiação. Ele mostra que embora Jesus tenha
na fórmula batismal em Mateus 28.19, o se humilhado, aceitando o batismo pelas
batismo com o Espírito Santo é para os mãos de João Batista, Jesus é maior que
crentes arrependidos. O fogo é para as João Batista. A descida do Espírito Santo em
árvores que não dão frutos (Mt 3.8-10). resultado do batismo de Jesus comprova a
3) Como em Marcos, a cena do batismo em profecia de João Batista, de que o que viria
Mateus identifica que Jesus é quem está depois dele lhE seria superior no Espírito
associado com o Espírito Santo e que, por- Santo (Mt 3.11-17).
tanto, é quem batiza. Nesta mesma ocasião, O entendimento da obra do Espírito
a voz do céu associa Jesus com o Messias, Santo, comum ao material paulino e jo-
o Ungido (Mt 3.16,17). anino e a Lucas e Mateus, indica uma
4) O Espírito Santo guia Jesus (Mt 4.1). pneumatologia muito difusa e básica, que
5) O Espírito de Deus capacita Jesus a procla- excede o conteúdo apresentado em Marcos
mar julgamento e levar a justiça à vitória. (Shelton, 1991, pp. 7-9).
Mateus considera esta capacitação como
cumprimento da profecia relativa à capa-
cidade de Jesus curar e/ou sua manifesta ESBOÇO
evitação de conflito com os fariseus. Mateus
vê o Espírito como a fonte da autoridade 1. As Narrativas da Infância (1.1—2.23).
de Jesus (Mt 12.15-21). 1.1. A Genealogia de Jesus Cristo (1.1-17).
6) Os títulos “o Espírito”, “o Espírito Santo” e “o 1.2. A Concepção e Nascimento de Jesus
Espírito de Deus” são sinônimos (Mt 12). (1.18-25).

7
MATEUS
1.2.1. O Noivado e Casamento na Comu- 3. O Sermão da Montanha: A Lei do Reino
nidade Judaica do Século I (1.18a). (O Primeiro Discurso: 5.1—7.29).
1.2.2. A Concepção da Virgem (1.18b). 3.1. As Bem-aventuranças (5.1-12).
1.2.3. O Dilema de José (1.19). 3.1.1. O Prólogo do Sermão (5.1,2).
1.2.4. O Sonho de José (1.20,21). 3.1.2. Os Pobres de Espírito (5.3).
1.2.5. O Cumprimento da Profecia 3.1.3. Os que Choram (5.4).
(1.22,23). 3.1.4. Os Mansos (5.5).
1.2.6. A Obediência de José (1.24). 3.1.5. Os Famintos e Sedentos de Justiça
1.2.7.A Virgindade de Maria Redeclarada (5.6).
(1.25). 3.1.6. Os Misericordiosos (5.7).
1.3. Os Magos, Herodes e o Novo Rei 3.1.7. Os Limpos de Coração (5.8).
(2.1-23). 3.1.8. Os Pacificadores (5.9).
1.3.1. Os Magos Vão a Jerusalém (2.1,2). 3.1.9. Os Perseguidos por causa da Justiça
1.3.2. A Reação de Herodes e de Jerusalém (5.10-12).
diante das Novas (2.3-8). 3.2. O Sal e a Luz (5.13-16).
1.3.3. Os Magos Seguem a Estrela para o 3.3. Jesus É o Cumprimento da Lei (5.17-48).
Novo Rei (2.9-12). 3.3.1. O Princípio Básico (5.17-20).
1.3.4. A Fuga para o Egito (2.13-15). 3.3.2. A Raiva e o Assassinato (5.21-26).
1.3.5.A Matança dos Inocentes 3.3.3. O Adultério e o Divórcio (5.27-32).
(2.16-18). 3.3.4. Os Juramentos (5.33-37).
1.3.6. A Volta do Egito para Nazaré 3.3.5. A Vingança e os Direitos (5.38-42).
(2.19-23). 3.3.6. O Amor pelos Inimigos (5.43-48).
3.4. Os Atos de Justiça (6.1-18).
2. A Preparação para o Ministério 3.4.1. As Esmolas (6.1-4).
(3.1—4.25). 3.4.2. A Oração e a Oração do Senhor
2.1. João Batista Prepara o Caminho (3.1- (6.5-15).
12). 3.4.2.1. A Oração Secreta (6.5,6).
2.1.1. João, o Batista (3.1,2). 3.4.2.2. A Oração Vã (6.7,8).
2.1.2. João, o Cumpridor da Profecia 3.4.2.3. A Oração do Senhor (6.9-15).
(3.3,4). 3.4.2.3.1. “Pai Nosso, que estás nos céus”
2.1.3. Os Frutíferos e os Infrutíferos (6.9a).
(3.5-10). 3.4.2.3.2. “Santificado seja o teu nome”
2.1.4. A Profecia de João Batista acerca do (6.9b).
Batismo com o Espírito Santo (3.11,12). 3.4.2.3.3. “Venha o teu reino. Seja feita a
2.2. O Batismo de Jesus (3.13-17). tua vontade, tanto na terra como no céu”
2.2.1. Jesus É Maior do que João Batista (6.10).
(3.13,14). 3.4.2.3.4. “O pão nosso de cada dia dá-
2.2.2. Por que Jesus se Submeteu ao Batis- nos hoje” (6.11).
mo? (3.15). 3.4.2.3.5. “Perdoa-nos as nossas dívidas,
2.2.3. O Testemunho Divino no rio Jordão assim como nós perdoamos aos nossos
(3.16,17). devedores” (6.12,14,15).
2.3. A Tentação de Jesus (4.1-11). 3.4.2.3.6. “E não nos induzas à tentação,
2.3.1. As Peregrinações no Deserto (4.1). mas livra-nos do mal” (6.13a).
2.3.2. A Primeira Tentação (4.2-4). 3.4.2.3.7. “Porque teu é o Reino, e o poder,
2.3.3. A Segunda Tentação (4.5-7). e a glória, para sempre. Amém!” (6.13b).
2.3.4. A Terceira Tentação (4.8-11). 3.4.3. O Jejum (6.16-18).
2.4. O Começo do Ministério Público de 3.5. Declarações Sapienciais (6.19—7.27).
Jesus (4.12-25). 3.5.1. Tesouros Terrenos e Tesouros Ce-
2.4.1. Jesus Volta para a Galiléia (4.12-17). lestiais (6.19-21).
2.4.2. A Chamada de Jesus aos Primeiros 3.5.2. Olhos Bons e Olhos Maus (6.22,23).
Discípulos (4.18-22). 3.5.3. Dois Senhores: Deus e o Dinheiro
2.4.3. O Ministério Triplo de Jesus (4.23-25). (6.24).

8
MATEUS
3.5.4. Cuidado e Preocupações (6.25-34). 5.3.3.3. Inevitabilidade da Rejeição
3.5.5. Não Julgar ou Ser Julgados (7.1-5). (10.21-25).
3.5.6. Cães e Porcos (7.6). 5.3.3.4. Testemunho Ousado (10.26-33).
3.5.7. O Bom Pai Dá Bons Presentes 5.3.3.5. Espada e Cruz (10.34-39).
(7.7-11). 5.3.3.6. Recompensa (10.40-42).
3.5.8. A Regra de Ouro: O Resumo da Lei
6. O Ministério e Confrontação: Narra-
(7.12).
tiva (11.1—12.50)
3.5.9. Dois Caminhos: O Largo e o Estreito
6.1. João Batista (11.1-19).
(7.13,14).
6.1.1. A Pergunta de João Batista (11.1-6).
3.5.10. Os Verdadeiros Profetas e os Fal-
6.1.2. Jesus explica o Ministério de João
sos Profetas (7.15-23).
Batista (11.7-15).
3.5.11. Os Construtores Sábios e os Cons-
6.1.3. Os Meninos nas Praças (11.16-19).
trutores Tolos (7.24-27).
6.2. Os Ais nas Cidades Galiléias (11.20-
3.6. O Epílogo do Sermão (7.28,29).
24).
4. Jesus e os Milagres: Narrativa 6.3. Jesus É Grato ao Pai (11.25-27).
(8.1—9.34). 6.4. O Jugo de Jesus É Suave (11.28-30).
4.1. A Cura do Leproso (8.1-4). 6.5. Jesus Confronta os Fariseus (12.1-50).
4.2. A Cura do Criado do Centurião 6.5.1. Os Discípulos de Jesus Violam
(8.5-13). o Sábado (12.1-8).
4.3. A Cura da Sogra de Pedro (8.14,15). 6.5.2. Uma Cura no Sábado (12.9-14).
4.4. Os Doentes Curados à Tarde 6.5.3. AquEle que Cura Gentilmente
(8.16,17). (12.15-21).
4.5. Sobre Seguir Jesus (8.18-22). 6.5.4. Belzebu e Blasfêmia (12.22-37).
4.6. Até os Ventos lhe Obedecem 6.5.4.1. Os Fariseus Atribuem o Poder de
(8.23-27). Jesus a Belzebu (12.22-24).
4.7. Os Endemoninhados Gadarenos 6.5.4.2. Um Reino Dividido não Pode
(8.28-34). Permanecer (12.25-30).
4.8. A Cura do Paralítico (9.1-8). 6.5.4.3. A Blasfêmia contra o Espírito
4.9. A Chamada de Mateus, o Cobrador de Santo (12.31-37).
Impostos (9.9-13). 6.5.5. O Sinal de Jonas (12.38-42).
4.10. O Novo Jejum e o Velho Jejum (9.14- 6.5.6. O Retorno do Espírito Imundo
17) (12.43-45).
4.11. A Filha de Jairo e a Mulher com 6.5.7. As Verdadeiras Mães, Irmãos e Ir-
Hemorragia (9.18-26). mãs (12.46-50).
4.12. Os Dois Cegos (9.27-31).
4.13. O Mudo Endemoninhado (9.32-34).
7. As Parábolas do Reino
(O Terceiro Discurso: 13.1-53).
5. A Chamada para a Missão 7.1. A Parábola dos Tipos de Terra e sua
(O Segundo Discurso: 9.35—10.42). Interpretação (13.1-9,18-23).
5.1. Os Trabalhadores para a Colheita 7.2. As Razões de Jesus Usar Parábolas
(9.35-38). (13.10-17).
5.2. A Comissão dos Doze Apóstolos 7.3. A Parábola do Trigo e do Joio e sua
(10.1-4). Interpretação (13.24-30,36-43).
5.3. As Instruções aos Doze Apóstolos 7.4. Duas Parábolas de Crescimento:
(10.5-42). O Grão de Mostarda e o Fermento
5.3.1. Diretrizes para a Missão (10.5-8). (13.31-33).
5.3.2. Provisões para a Missão (10.9-16). 7.5. Jesus e o Uso de Parábolas (13.34,35).
5.3.3. Diretivas para as Perseguições 7.6. O Valor do Reino: O Tesouro Escondi-
(10.17-42). do e a Pérola (13.44-46).
5.3.3.1. Estar Prevenido (10.17,18). 7.7. A Parábola da Rede de Pesca (13.47-50).
5.3.3.2. Palavras de Testemunho Providas 7.8. A Parábola das Coisas Velhas e Novas
pelo Espírito (10.19,20). (13.51-53).

9
MATEUS
8. Ministério e Oposição: Narrativa 9. As Instruções de Jesus à Igreja
(13.54—17.27). (O Quarto Discurso: 18.1-35).
8.1. Rejeição em Nazaré (13.54-58). 9.1. O Maior É uma Criança (18.1-4).
8.2. A Opinião de Herodes sobre Jesus e a 9.2. Pedras de Tropeço para os Pequeni-
Morte de João Batista (14.1-12). nos (18.5-9).
8.3. A Alimentação para Cinco Mil Pessoas 9.3. Os Pequeninos e a Ovelha Perdida
(14.13-21). (18.10-14).
8.4. Jesus Anda por cima do Mar (14.22- 9.4. A Disciplina na Comunidade
33). (18.15-20).
8.5. Jesus, AquEle que Cura (14.34-36). 9.5. Perdoar Setenta vezes Sete (18.21,22).
8.6. Tradição e Mandamento (15.1-20). 9.6. O Servo Irreconciliável (18.23-35).
8.6.1. A Acusação dos Fariseus contra os
Discípulos de Jesus: “Por que transgridem 10. A Viagem a Jerusalém: Narrativa
os teus discípulos a tradição dos anciãos?” (19.1—20.34).
(15.1,2). 10.1. Jesus Inicia a Jornada a Jerusalém
8.6.2. O Contra-ataque de Jesus: “Por que (19.1,2).
transgredis vós também o mandamento de 10.2. Sobre o Divórcio (19.3-9).
Deus pela vossa tradição?” (15.3-11). 10.3. Sobre o Celibato (19.10-12).
8.6.3. A Explicação Particular de Jesus aos 10.4. Jesus Abençoa os Pequeninos
Discípulos (15.12-20). (19.13-15).
8.7. Jesus e a Mulher Cananéia 10.5. O Jovem Rico (19.16-22).
(15.21-28). 10.6. O Custo e a Recompensa do Disci-
8.8. Mais Curas (15.29-31). pulado (19.23-30).
8.9. A Alimentação para Quatro Mil Pesso- 10.7. A Parábola dos Trabalhadores na
as (15.32-39). Vinha (20.1-16).
8.10. A Oposição dos Inimigos (16.3-12). 10.8. Jesus Prediz sua Paixão pela Tercei-
ro Vez (20.17-19).
8.10.1. Os Fariseus e Saduceus Buscam
10.9. A Ambição e a Verdadeira Grandeza
um Sinal (16.1-4).
(20.20-28).
8.10.2. O Fermento dos Fariseus (16.5-12).
10.10. Jesus Cura Dois Cegos (20.29-34).
8.11. Jesus É o Messias (16.13—17.27).
8.11.1. A Confissão de Pedro (16.13-16). 11. O Ministério em Jerusalém
8.11.2. Jesus Abençoa Pedro (16.17-20). (21.1—23.39).
8.11.2.1. Simão Torna-se Pedro (16.17,18a). 11.1. A Entrada Triunfal (21.1-11).
8.11.2.2. A Igreja (16.18b). 11.2. A Purificação do Templo (21.12-17).
8.11.2.3. As Chaves do Reino (16.19,20). 11.3. A Figueira É Amaldiçoada (21.18-22).
8.11.3. Jesus Prediz sua Morte (16.21-23). 11.4. “Com que Autoridade”? (21.23-27).
8.11.4. O Discípulo Seguirá seu Mestre 11.5. A Parábola dos Dois Filhos (21.28-
(16.24-28). 32).
8.11.5. A Transfiguração de Jesus 11.6. A Parábola dos Lavradores Maus
(17.1-13). (21.33-46).
8.11.5.1. Jesus É Transfigurado (17.1,2). 11.7. A Parábola das Bodas (22.1-14).
8.11.5.2. A Aparição de Moisés e Elias 11.8. O Tributo a César (22.15-22).
(17.3,4). 11.9. Jesus Fala sobre a Ressurreição
8.11.5.3. A Voz da Nuvem (17.5-9). (22.23-13).
8.11.5.4. Elias Vem Primeiro (17.10-13). 11.10. O Grande Mandamento (22.34-40).
8.11.6. Jesus Cura o Menino Possuído por 11.11. O Filho de Davi (22.41-46).
um Espírito (17.14-21). 11.12. Ai dos Escribas e Fariseus (23.1-36).
8.11.7. Jesus Prediz novamente a Paixão 11.12.1. Indiciamento Geral (23.1-4).
(17.22,23). 11.12.2. Filactérios e Borlas (23.5).
8.11.8. O Messias Submete-se ao Imposto 11.12.3. Rabi, Pai, Mestre (23.6-12).
do Templo (17.24-27). 11.12.4. Os Ais (23.13-36).

10
MATEUS
11.12.4.1. O Primeiro Ai: Sobre não (26.17-19).
Entrar nem Deixar Outros Entrarem no 13.1.5. Jesus Prediz sua Traição
Reino (23.13). (26.20-25).
11.12.4.2. O Ai Interpolado: Sobre Roubar 13.1.6. A Ceia do Senhor (26.26-29).
de Viúvas à Guisa de Oração (23.14). 13.1.7. Predição da Negação de Pedro
11.12.4.3. O Segundo Ai: Sobre Tornar 13.2. Jardim do Getsêmani, Prisão, Julga-
Prosélitos em Filhos do Inferno (23.15). mento Judaico e a Negação
11.12.4.4. O Terceiro Ai: Sobre Fazer de Pedro (26.36-75).
Juramentos (23.16-22). 13.2.1. Jesus no Jardim do Getsêmani
11.12.4.5. O Quarto Ai: Sobre Dizimar (26.36-46).
(23.23,24). 13.2.2. A Prisão de Jesus (26.47-56).
11.12.4.6. O Quinto e Sexto Ais: Sobre 13.2.2.1. O Ato Traidor de Judas
a Impureza Interior (23.25-28). (26.47-50).
11.12.4.7. O Sétimo Ai: Sobre Construir 13.2.2.2. A Espada (26.51-54).
Sepulcros para os Profetas (23.29-36). 13.2.2.3. Jesus É Abandonado (26.55-56).
11.13. O Lamento de Jesus sobre Jerusa- 13.2.3. Jesus diante do Sinédrio (26.57-
lém (23.37-39). 68).
12. O Discurso no Monte das Oliveiras 13.2.4. Pedro Nega o Senhor (26.69-75).
(O Quinto Discurso: 24.1—25.46). 13.3. Jesus É Entregue a Pilatos e a Morte
12.1. Predição da Destruição do Templo de Judas (27.1-10).
(24.1,2). 13.4. Jesus Comparece Perante Pilatos
12.2. Acontecimentos antes do Fim (27.11-31a).
(24.3-8). 13.4.1. A Acusação (27.11-14).
12.3. Predição de Perseguições 13.4.2. Jesus ou Barrabás?
(24.9-14). (27.15-18,20-23).
12.4. A Abominação que Causa Desolação 13.4.3. A Esposa de Pilatos (27.19).
(24.15-22). 13.4.4. Pilatos lava as Mãos (27.24,25).
12.5. Falsos Cristos e Falsos Profetas 13.4.5. Jesus É Açoitado (27.26).
(24.23-28). 13.4.6. Os Soldados Zombam de Jesus
12.6. A Vinda do Filho do Homem (24.29- (27.27-31a).
31). 13.5. A Crucificação (27.31b-56).
12.7. A Parábola da Figueira (24.32-35). 13.5.1. Simão Carrega a Cruz de Jesus
12.8. O Sinal do Dilúvio (24.36-42). (27.31b,32).
12.9. O Alerta do Pai de Família 13.5.2. Jesus É Pregado na Cruz (27.33-44).
(24.43,44). 13.5.3. A Morte de Jesus (27.45-50).
12.10. A Parábola dos Dois Servos (24.45- 13.5.4. Testemunhos Apocalípticos
51). da Morte de Jesus (27.51-54).
12.11. A Parábola das Dez Virgens (25.1- 13.5.5. As Mulheres Testemunham
13). a Crucificação (27.55-56).
12.12. A Parábola dos Dez Talentos 13.6. O Sepultamento de Jesus (27.57-61).
(25.14-30). 13.7. A Colocação da Guarda à Entrada do
12.13. O Último Julgamento (25.31-46). Sepulcro (27.62-66).
13. Paixão e Ressurreição: Narrativas 13.8. A Ressurreição de Jesus (28.1-20).
(26.1—28.20). 13.8.1. As Mulheres Testemunham do
13.1. Acontecimentos que Levam ao Jar- Sepulcro Vazio e do Jesus Ressurreto
dim do Getsêmani (26.1-35). (28.1-10).
13.1.1. Jesus Prediz de novo sua Morte 13.8.2. A Conspiração dos
(26.1-5). Principais Sacerdotes e dos Guardas
13.1.2. A Unção em Betânia (26.6-13). (28.11-15).
13.1.3. Judas Trai Jesus (26.14-16). 13.8.3. Jesus Aparece aos Discípulos
13.1.4. Preparação para a Páscoa e os Comissiona (28.16-20)

11
MATEUS 1
COMENTÁRIO é evidenciada quando partes correspon-
dentes da genealogia de Lucas têm mais
1. As Narrativas da Infância (1.1—2.23). gerações alistadas (Lc 3.24-38). O mistério
do significado dos grupos de quatorze
fica mais complexo quando notamos
1.1. A Genealogia de Jesus que o último grupo de Mateus só tem
Cristo (1.1-17) treze gerações. Talvez seja o resultado
de Mateus perceber que os quatorze do
Mateus começa sua apresentação sobre último grupo estão implícitos, já que o
Jesus em conformidade com a prática do segundo grupo não registra que Jeoa-
Antigo Testamento de unir personalidades quim é o pai de Jeconias (Joaquim) e
importantes com seus antepassados, for- que Josias era de fato o avô de Jeconias
necendo um fluxo ininterrupto dos atos (veja 2 Rs 23.31—24.17).
salvadores de Deus na história. Ele faz Levando-se em conta estas anomalias,
assim não somente para conformar-se com temos de perguntar o que Mateus queria
a convenção literária, mas também para dizer com estes três grupos de quator-
unir Jesus com Abraão (o pai da nação ze. Há os que sugerem que quatorze
de Israel), com Davi (o rei da promessa é múltiplo de sete, que é considerado
messiânica) e com a totalidade da história o número completo. Tanto três vezes
de salvação precedente, para mostrar que quatorze, quanto seis vezes sete são
Jesus os cumpriu todos. quarenta e dois; assim, Jesus dá início
A estrutura de Mateus para a lista à última época ou à conclusão da his-
genealógica é evidente: “De sorte que tória de salvação, o que é paralelo a
todas as gerações, desde Abraão até uma divisão das eras encontradas no
Davi, são catorze gerações; e, desde livro pseudepigráfico de Enoque — mas
Davi até a deportação para a Babilônia, isto na melhor das hipóteses não passa
catorze gerações; e, desde a deportação de conjetura (Brown, 1977, p. 75). Não
para a Babilônia até Cristo, catorze ge- podemos falar com certeza acerca do
rações” (Mt 1.17). Este arranjo de três significado numerológico da apresentação
grupos de quatorze levanta a pergunta de Mateus. As genealogias eram impor-
se Mateus compôs a lista sozinho ou se tantes para a nação judaica sobretudo
ele a recebeu já pronta. Mateus pode depois do exílio, quando a identidade
ter usado uma genealogia existente, à racial e a ortodoxia religiosa eram as
qual ele acrescentou os nomes de José principais preocupações.
e Jesus, e então notou a característica Comparação entre a Genealogia de
simétrica da lista revista (Brown, 1977, Mateus e a de Lucas. Inevitavelmente
p. 70). A lista é uma seleção de alguns notamos as diferenças marcantes entre
dos antepassados de Jesus, pois os três as apresentações feitas sobre Jesus em
grupos são constituídos por 750, 400 e Mateus 1.1-16 e Lucas 3.23-38. As princi-
600 anos, respectivamente. pais diferenças são:
Quando a lista de Mateus é compa- 1) Mateus trabalha de trás para frente, enquanto
rada com a sucessão dos reis no Anti- que Lucas trabalha de frente para trás.
go Testamento, percebemos que ele 2) O número dos nomes difere, sendo que a
omitiu Acazias, Joás e Amazias (cf. 1 lista de Lucas é mais longa: Mateus começa
Cr 3.10-14). Alguns sugerem que estes com Abraão, ao passo que Lucas volta a
foram omitidos por causa da maldade Adão (e Deus); Mateus tem quarenta e um
que cometeram, mas tal procedimento nomes de Jesus a Abraão, ao mesmo tempo
é inverossímil, visto que Mateus retém que Lucas tem cinqüenta e sete.
o rei mais execrável de todos os reis 3) Muitos dos nomes nas listas não são idên-
de Judá, Manassés, que até recorreu a ticos. Por exemplo, em Mateus a linhagem
sacrifícios humanos. A impressão de que de Davi emerge de Salomão e Roboão,
Mateus usa uma lista abreviada também enquanto que em Lucas o neto de Davi

12
MATEUS 1
é dado por Matatá, filho de Natã. Talvez 6) A lista é basicamente histórica, mas alguns
seja o resultado de Mateus estar seguin- pontos ficaram confusos pela transmissão.
do a descendência dinástica, ao passo Esta teoria, ainda que afirme o caráter
que Lucas traça um descendência mais histórico da genealogia, não demonstra
genética. Qualquer conceito de filiação sem possibilidade de controvérsias que
era aceitável na mentalidade do antigo as irregularidades estavam na fonte de
Oriente Próximo. Lucas e de Mateus. Esforços em explicar
Várias explicações foram dadas para a natureza e função das genealogias para
as diferenças nas genealogias: uma audiência dos dias atuais são cerca-
1) Mateus arrola a genealogia de José, ao dos de dificuldades. Nenhuma solução é
mesmo tempo que Lucas segue a família completamente satisfatória.1
de Maria com a filiação de José sendo cum- Personalidades Importantes e as
prida pelo fato de ele ser genro de Eli. Esta Principais Razões para a Genealogia
idéia foi popular durante séculos; contudo, em Mateus. As pessoas na lista de Mateus
em outro lugar Lucas se refere à linhagem fazem veemente declaração teológica sobre
davídica da família de José (Lc 1.27). a missão de Jesus.
2) As listas estão incompletas. Esta é ocor- 1) Abraão associa Jesus com o pai da nação
rência comum em listas de reis no antigo de Israel, com quem os judeus se identi-
Oriente Próximo nos séculos precedentes ficavam (cf. Mt 3.9). Jesus produzirá um
aos dias de Jesus. Às vezes só os ancestrais novo povo da fé.
importantes eram arrolados. 2) Jesus é identificado como descendente do
3) A genealogia de Mateus é uma lista dinás- rei Davi e o sucessor do trono. Pela família
tica, e a de Lucas é uma verdadeira lista de de Davi seriam cumpridas as promessas
descendentes (como mencionado acima). messiânicas de restauração, prosperi-
As genealogias judaicas eram feitas prima- dade e fidelidade a Deus. Israel perdeu
riamente para mostrar as origens judaicas o rei no cativeiro babilônico, por causa
da família, e não necessariamente para de infidelidade, e excetuando um breve
apresentar uma contabilidade exaustiva momento histórico de glória sob a dinas-
de cada parente antigo. tia levita e não-davídica dos hasmoneus
4) Algumas das diferenças podem ser explicadas (167-163 a.C.), os judeus permaneceram
pela prática do levirato. Sob a lei hebraica, em grande parte sujeitos à vontade de
se um homem morresse e não deixasse nações estrangeiras e pagãs. Através de
nenhum herdeiro do sexo masculino para Jesus o trono de Davi e o Reino de Deus
perpetuar-lhe o nome entre os israelitas, seriam cumpridos numa escala além da
então o irmão sobrevivente ou outro parente compreensão daqueles que esperavam
masculino era obrigado a se casar com a a restauração de Israel.
esposa do defunto para dar um herdeiro Na lista dos ancestrais de Jesus, Ma-
para o nome do irmão dele (Dt 25.5-10). teus inclui quatro mulheres: Tamar, a
Isto explicaria algumas das divergências, nora de Judá, que o enganou para ficar
mas em geral não é considerada a solução grávida dele com o propósito de cumprir
para todas as diferenças. O problema fica a obrigação de levirato e ter filhos que
mais complicado pela possibilidade de levassem o nome do finado marido; Raabe,
outros tipos de adoção. a prostituta de Jericó, que escondeu os
5) As listas são construções com significado espias israelitas antes da queda da cidade
talvez simbólico ou numerológico. Inven- diante dos filhos de Israel que estavam
cionice sem preocupação pela historicidade tomando posse da Terra Prometida; Rute,
é improvável à luz do uso judaico de genea- a moabita politeísta que se juntou à co-
logias para estabelecer árvores genealógicas munidade de Israel e se tornou a avó de
bona fide; contudo, o significado dos vários Davi, e Bate-Seba, a mulher de Urias, com
ancestrais que pode ter sido evidente para quem Davi cometeu adultério e mais tarde
a igreja primitiva, para o leitor moderno é engendrou a morte do marido dela para
de difícil compreensão. encobrir o pecado cometido. Embora as

13
MATEUS 1
mulheres fossem ocasionalmente men- anos para gerar filhos. Elas se casavam
cionadas nas genealogias hebraicas, na com homens mais velhos, que já estavam
maioria das vezes a sucessão masculina estabelecidos em seus negócios e podiam
era destacada. prover as necessidades básicas da esposa.
Ficamos a imaginar por que Mateus Devemos lembrar que a expectativa de
apresenta estas determinadas mulheres, vida era menor, que o romance era um
algumas das quais não tinham credenciais assunto periférico e que a sobrevivência
excelentes. Umas foram identificadas como e o bem-estar da família eram interesses
pecadoras; todas eram estrangeiras (ou primários. As mulheres eram raramente
casadas com estrangeiros, i.e., Bate-Seba, vistas em público e somente com véu, o
a esposa de Urias, o heteu). É possível que tornava impossível o reconhecimento
que estas características expressem a meta de seus traços faciais. Só na procissão de
de Jesus salvar os pecadores, e também casamento era considerado adequado que
expliquem o fato de serem incluídos maus uma mulher apa­recesse em público sem
exemplos régios como Salomão, Roboão, o véu. O judeu raramente — talvez nunca
Acaz, Manassés, Jeoaquim e outros reis — falava com uma mulher em público.
infiéis de Judá. A presença de mulheres A proposta de casamento era feita entre
estrangeiras na genealogia pressagia a o pretendente e o pai da noiva em pers-
extensão do Reino de Deus aos gentios pectiva. A menina menor de doze anos e
no ministério de Jesus e seus seguidores. meio podia ser noiva de qualquer homem
O que estas mulheres têm em comum é sem o consentimento dela. Depois desse
que todas estavam envolvidas numa união tempo a menina podia ter algum grau de
fora do comum, que contribuía para a influência na união proposta. O noivado
ascendência do Messias. Neste aspecto o ocorria um ano antes da finalização do
nascimento virginal de Jesus encaixa-se matrimônio e era o processo por meio
com o padrão que Mateus reconhecia nos do qual a futura esposa era transferida
ancestrais de Jesus. da autoridade do pai para o marido. Era
Os leitores da atualidade não devem freqüente a troca de dotes, com o pai
esperar que este documento antigo se recebendo pagamento e, às vezes, vice-
conforme ao conceito moderno de árvo- versa. Na época do noivado a mulher era
res genealógicas, sirva para os mesmos considerada esposa legal do marido ainda
propósitos ou tenha a precisão que os que a união não tivesse sido consumada;
registros hodiernos proporcionam. O ponto o marido poderia se divorciar dela por
principal que Mateus ressalta é que Jesus comportamento impróprio, como aparecer
estava numa família judaica e tinha sólidos em público sem véu, conversa excessiva
laços com a sucessão real de Davi e, em com homens ou infidelidade (Jeremias,
última instância, com Abraão, o antepas- 1975, pp. 359-376).
sado original. Maria estava na adolescência quando
ficou noiva de José, que talvez estivesse
1.2. A Concepção e o na casa dos trinta anos ou mais e era car-
Nascimento de Jesus pinteiro estabelecido (veja Mt 12.46; 13.55,
(1.18-25) onde José está ausente e presumivelmente
morto; veja também Mc 3.31; 6.3; Jo 2.1-12;
1.2.1. O Noivado e Casamento na Co- 19.25-27; At 1.14, embora Jo 6.42 talvez
munidade Judaica do Século I (1.18a). indique que José viveu o bastante para ver
A cultura da comunidade judaica do século o ministério público de Jesus). É provável
I esclarece a relação entre José e Maria. As que o comércio de José envolvesse mais
mulheres se casavam ainda adolescentes, do que está implícito no significado atual
numa idade em que a atual sociedade de carpinteiro ou empreiteiro. Talvez ele
ocidental categorizaria como menina. Este fosse viúvo quando casou com Maria, já
procedimento garantiria que as mulheres que a tradição da igreja não identificou
casassem no começo dos seus melhores que os “irmãos” e “irmãs” de Jesus são

14
MATEUS 1
filhos de Maria; eles poderiam ter sido mesmo em suas expressões severas, foi
meios-irmãos e meias-irmãs de Jesus (os designada a levar seu povo à salvação.
filhos de José de uma união anterior). Em José, a justiça e a misericórdia se
Além disso, as palavras “irmão” e “irmã” encontraram.
também podem aludir a primos ou outros 1.2.4. O Sonho de José (1.20,21). Os
parentes. A ausência de irmão germano sonhos desempenham papel importante
explicaria o motivo de Jesus entregar sua na comunicação da vontade divina, e no
mãe ao discípulo amado e não a algum de caso de José abarca o aparecimento de
seus parentes (Jo 19.26,27). O Evangelho um anjo do Senhor, que explicou que a
de Mateus se concentra na perspectiva de criança tinha sido concebida pelo Espírito
José em relação às narrativas pertinentes Santo e o instruiu a tomá-la como esposa.
à infância de Jesus, ao passo que Lucas A expressão “anjo do Senhor” pode se
enfatiza o papel de Maria (Lc 2.51). referir a uma teofania. O anjo dirigiu-se
1.2.2. A Concepção da Virgem (1.18b). a José como “filho de Davi”, o que revela
“Estando Maria, sua mãe, desposada com um dos principais interesses de Mateus, a
José, antes de se ajuntarem, achou-se ter ascendência real de Jesus. Era crucial que
concebido do Espírito Santo” (v. 18b). Este José aceitasse a criança como seu filho para
relato surpreendente não pode ser devi- unir Jesus à linhagem real de Davi.
damente apreciado por uma cosmovisão O anjo também deu instruções para
que impeça a possibilidade do miraculoso. chamar a criança de Jesus. Jesus é um
Há os que presumem que a doutrina do derivado do nome Josué, que significa
nascimento virginal de Jesus era um esforço “Deus salvará”, e o anjo disse por quê:
desajeitado feito pela igreja primitiva para “Porque ele salvará o seu povo dos seus
encobrir seu nascimento ilegítimo. Outros pecados” (v. 21). Indubitavelmente isto
sugerem que o ensino esteja no mesmo causou surpresa em José e em todos os
nível que os contos míticos de uniões judeus dos seus dias. Um Messias davídico
sexuais de deidades com seres humanos, que os libertasse da opressão romana como
que resultaram em descendência com rei eles entenderiam, mas um Messias da-
habilidades fenomenais (tais relatos eram vídico com um tipo de função sacerdotal,
correntes no século I). Nenhum motivo sem falar num desempenho sacrifical no
faria Mateus afastar-se dos seus leitores esquema das coisas, teria sido um novo
de orientação judaica. Mateus incluiu esta insight do papel do Messias que o povo
história espantosa porque cria que era em geral não tinha antecipado.
verdadeira e essencial para sua mensagem; 1.2.5. O Cumprimento da Profecia
caso contrário, ele teria começado sua (1.22,23). Estes dois versículos contêm a
obra com os ministérios desenvolvidos de primeira ocorrência da fórmula freqüen-
João Batista e Jesus, como Marcos (que é temente citada por Mateus que indica
fonte de Mateus) o fez. o cumprimento de profecia na vida e
1.2.3. O Dilema de José (1.19). A ministério de Jesus. Ainda que todos os
notícia de que Maria estava grávida dei- escritores dos Evangelhos atentem no
xou José com algumas opções. Sob a cumprimento profético, esta é uma das
antiga lei ele poderia entregá-la para ser principais características de Mateus (veja
executada (Dt 22.20,21). Ou poderia ter Introdução). A profecia da concepção da
instigado um divórcio público, o que virgem registrada em Isaías 7.14 foi feita
resultaria na humilhação de Maria. Mas num tempo em que os reis de Israel e da
Mateus descreve que José era homem Síria tinham unido forças na tentativa de
“justo [dikaios]”, palavra que também traz conquistar o Reino de Judá. Em um dos
o significado de íntegro. Note que a justiça momentos mais tristes da história de Judá,
não exige a execução impiedosa da lei; o profeta Isaías levou boas notícias ao rei
antes, também pressupõe misericórdia. Acaz, predizendo que os reinos de Israel
Nunca foi a intenção de Deus que sua lei e da Síria seriam devastados. O Senhor
fosse meramente vingativa; sua justiça, convidou Acaz a pedir um sinal de que

15
MATEUS 1
isto ocorreria, mas Acaz se recusou. Isaías um conceito de homem incorporado; quer
então respondeu que o Senhor mesmo dizer, eles acreditavam que as experiências
daria um sinal: dos primeiros patriarcas de Israel, como a
Páscoa e o Êxodo, eram realmente vividas
“Uma virgem conceberá, e dará à luz pelos judeus do século I nos “lombos de
um filho, e será o seu nome Emanuel. seu pai”, e considerando que Deus continua
Manteiga e mel comerá, até que ele sai- trabalhando de modo semelhante com seu
ba rejeitar o mal e escolher o bem. Na povo, estes acontecimentos da correção
verdade, antes que este menino saiba e salvação de Deus foram revividos ou
rejeitar o mal e escolher o bem, a terra repetidos na história.
de que te enfadas será desamparada dos Por exemplo, Deus libertou os israelitas
seus dois reis” (Is 7.14-16). do cativeiro no Egito quando eles atraves-
saram o mar Vermelho milagrosamente.
Em outras palavras, pelos dias em que Séculos mais tarde, Ele permitiu que os
o menino prometido fosse desmamado e assírios os levassem em cativeiro para
soubesse a diferença entre o bem e o mal, puni-los por infidelidade. Predizendo o
a ameaça contra Judá cairia em ruínas. retorno, o profeta Oséias expressou a li-
O texto hebraico contém a palavra bertação nos termos da libertação anterior,
‘almah (“menina-moça”), ao passo que a o Êxodo: “Do Egito chamei a meu filho”
versão grega (LXX) traz o termo parthenos (Os 11.1). Mais tarde Mateus vê o retorno
(“virgem”). Os escribas que traduziram o de José, Maria e o menino Jesus do Egito
Antigo Testamento hebraico para o grego, à Terra Santa como outro cumprimento
entenderam que a mulher ainda não estava do Êxodo (Mt 2.15).
grávida — portanto, era virgem. Nem o A compreensão judaica da tipologia
texto hebraico, nem a LXX foram entendidos também depende da idéia de recum­pri­
com o significado de que Isaías estava se mento dos acontecimentos salvadores
referindo a uma concepção milagrosa e prévios. Um tipo é uma pessoa, imagem
virginal que aconteceria nos dias do rei ou acontecimento do Antigo Testamen-
Acaz; e era altamente improvável que Isaías to cujo papel e significado é repetido e
tivesse em mente uma concepção futura cumprido mais tarde em outra pessoa,
sem a ajuda de um homem. Tanto o texto imagem ou acontecimento da história de
hebraico quanto o grego deixa claro que salvação. Por exemplo, Mateus apresenta
está em vista uma mulher em particular. Jesus como o novo Moisés, visto que ele,
Talvez Isaías estivesse predizendo que a como Moisés, apresenta o código de ética
nova esposa do rei ficaria grávida e assim para o povo de Deus. Neste caso Jesus
cumpriria o filho da promessa. O fato de cumpre e transcende o papel de Moisés.
que o sinal significava uma coisa no século Os hebreus ofereciam um cordeiro como
VIII a.C. e outra no século I d.C. não quer sacrifício pelos pecados; Jesus como o Cor-
dizer que Mateus manejou mal a profecia deiro de Deus cumpre o papel de cordeiro
do Antigo Testamento; Deus tinha muito e é muito maior na eficácia do sacrifício.
mais em mente do que Isaías ou Acaz A profecia do Antigo Testamento tem o
jamais poderiam pensar ou imaginar. potencial de cumprimentos múltiplos —
Muitas interpretações errôneas e subse- um sensus plenior, ou seja, um sentido
qüente degradação da profecia surgiram, mais pleno que só Deus pode revelar, à
porque os intérpretes modernos não en- medida que Ele continua agindo no tem-
tenderam a natureza da profecia judaica po e espaço e na história para expandir,
conforme era interpretada pelos rabinos, completar e levar à plenitude o plano de
Jesus e Mateus. É crucial que exploremos salvação do mundo.
este assunto para apreciarmos esta passa- A lógica de Mateus em declarar o nas-
gem e o restante dos anúncios de Mateus cimento de Jesus como o cumprimento
sobre o cumprimento da profecia do Antigo da profecia de Isaías para Acaz é: se o
Testamento. A comunidade judaica tinha nascimento de um bebê que veio ao mun-

16
MATEUS 1
do pelos meios comuns era um sinal da única palavra que José tenha dito, só seus
promessa de salvação de Deus, quanto mais atos misericordiosamente íntegros e sua
a concepção sobrenatural e o nascimento obediência. Os seguidores de Jesus devem
de Jesus são sinais! Se o filho de Acaz foi seguir o exemplo silencioso do homem
chamado de Emanuel, Deus conosco, que foi para o Jesus humano sua primeira
quanto mais o Filho de Deus é, nascido imagem do Pai divino.
de mulher, Emanuel! Dado os padrões 1.2.7. A Virgindade de Maria Rede-
repetitivos de Deus expressos na história clarada (1.25). Este versículo dá origem à
de salvação, a observação de Mateus de questão da virgindade perpétua de Maria,
que Isaías 7.14 teve seu cumprimento no que advoga que José e Maria nunca tiveram
nascimento de Jesus não é uma tramóia relações sexuais mesmo depois de Jesus
inteligente, e sim uma compreensão da nascer. Uns objetam porque há referências
mente e plano de Deus, que vê o filho bíblicas aos “irmãos” e “irmãs” de Jesus
sobrenatural de Maria como a razão de ser (e.g., Mt 13.55,56; Mc 6.3) e porque não há
a meta e consumação de todas as palavras afirmação explícita da idéia nas Escrituras.
proféticas e atos salvadores de Deus ditas Ademais, a passagem diz que “antes [prin]
e feitos anteriormente. de se ajuntarem, achou-se ter concebido”
Alguém sugeriu que a doutrina do nas­ (v. 18; ênfase minha) e “não a conheceu
ci­mento virginal de Jesus procede de um até [heos] que deu à luz seu filho” (v. 25;
uso imaginativo da passagem de Isaías ênfase minha). Presume-se que o casal
manejado pela criatividade da igreja pri- começou a ter relações conjugais depois
mitiva; ou seja, a Igreja arquitetou o relato do nascimento de Jesus.
para invalidar a pretensa ilegitimidade da Outros ressaltam que o emparelha-
concepção de Jesus. Muitos presumem que mento do termo prien com o termo heos
tal milagre é impossível, de acordo com não indica necessariamente o reatamento
uma cosmovisão moderna amplamente de uma atividade que segue a cláusula
defendida, que confunde cientismo com antes/depois. Em outras passagens do
ciência. Esta opinião também sofre de Novo Testamento, onde o termo heos é
falta de base racional aceitável para tal usado, presume-se que o estado continuou
atividade na igreja primitiva: Por que a depois do termo heos, sem mudança ou
igreja primitiva inventaria essa maquinação suspensão (e.g., Mt 5.18; 12.20; 13.33;
fenomenal a qual atrairia mais atenção a 16.28; 18.22; 22.44); isto também é verda-
detalhes “inoportunos” conce­rnentes à de na Septuaginta (e.g., Js 4.9). O termo
concepção de Jesus? Não seria melhor heos também significa que o estado nunca
ter ignorado a suposta ilegitimidade e terminará (e.g., 1 Tm 4.13). Depois de um
não mencionar o assunto, em vez de fa- elemento de negação, heos pode significar
bricar uma explicação que teria ofendido “até” ou “antes” (Bauer, W. F. Arndt e F. W.
os judeus e suscitado a reprovação dos Gingrich, A Greek-English Lexicon of the
conhecedores do mundo e da vida? Con- New Testament and Other Early Christian
siderando todas coisas, parece mais pos- Literature, Chicago, 1979, p. 335). Com
sível que o nascimento virginal realmente este significado a passagem poderia ter
aconteceu, e que então, e somente então, este fraseado: “E não a conheceu antes de
a igreja primitiva viu o paralelo profético ela dar à luz um filho”, o que ressaltaria o
no livro de Isaías. período de gestação durante o qual houve
1.2.6. A Obediência de José (1.24). abstinência sexual. K. Beyer comenta que
O ato de obediência de José era crucial no idioma grego e nas línguas semíticas,
para a realização da vinda do Messias. Ele esse tipo de negação não implica nada em
aceitou a mulher e o ônus da comunida- relação ao que ocorria depois do tempo
de que presumiria o pior; deste modo, da palavra “até” (Brown, 1977, p. 132).
Jesus pôde ser chamado o Filho de Davi Como mencionado acima, os “irmãos”
e assumir seu ministério legítimo como e “irmãs” de Jesus podem ser alusão aos
Messias-Rei. A Escritura não registra uma primos ou outros parentes distantes (veja

17
MATEUS 1
comentários sobre Mt 1.18a). Por exemplo, aos principais sacerdotes e escribas da lei
João declara que Maria, mãe de Jesus, e onde o Cristo, o Messias, nasceria. Iro-
Maria, irmã (adelphe) dela, a esposa de nicamente, estes líderes religiosos, que
Clopas, estavam juntas à cruz (Jo 19.25). mais tarde tornaram-se inimigos mortais
Seria muito peculiar se a família de Maria de Jesus, foram os que verificaram para
tivesse duas filhas com o mesmo nome. Herodes que Belém era o lugar onde o
Claro que “prima” seria a melhor tradu- Messias nasceria. O estabelecimento de
ção de adelphe. Se Maria, a esposa de Belém como a localização do nascimento
Clopas, é a “outra Maria” que Mateus e de Jesus é crucial para Mateus, não só
Marcos comentam que estava na cena por causa do significado profético (vv.
da crucificação, então ela seria a mãe de 5,6), mas também porque atende ao tema
Tiago e de José (Mt 27.56,61; Mc 15.40). freqüente da monarquia de Jesus (Belém
Estes homens, juntamente com Simão e é a cidade de Davi, o rei).
Judas, são identificados como os “irmãos” Na profecia que nomeou o local do
(adelphoi) de Jesus (Mt 13.55). Se Maria, nascimento do Messias, Miquéias estava
a esposa de Clopas, era a mãe deles, ela predizendo que Deus usaria mais uma vez
seria tia ou prima distante de Jesus, e os a insignificante Belém para guiar o povo
filhos dela seriam primos dEle. de Israel depois que este fosse liberto
Mateus não registra esta informação do resultante julgamento dos maldosos
para negar ou apoiar a possibilidade da assírios e do posterior exílio na Babilônia
virgindade perpétua de Maria; não é por (Mq 5.2-4). A esta profecia Mateus inclui a
isso que ele escreve. Antes, ele afirma referência ao “Guia que há de apascentar
enfaticamente que de nenhuma maneira o meu povo de Israel”. Miquéias 5.4 regis-
o bebê de Maria poderia ser filho de José, tra que “ele permanecerá e apascentará
visto que ele não teve relações sexuais o povo na força do SENHOR”, mas as
com ela antes ou depois da concepção palavras que Mateus insere ao término de
do bebê, até o tempo em que a gestação sua citação da profecia de Miquéias são
se completasse. O motivo exclusivo de provenientes da antiga profecia davídica:
Mateus é defender a doutrina do nasci- “Tu apascentarás o meu povo de Israel
mento virginal de Jesus. Presumindo que e tu serás chefe sobre Israel” (2 Sm 5.2);
nem todos os primeiros ensinos foram de maneira típica e enfática Mateus faz
exarados nas Escrituras (como se deduz o vínculo com o rei Davi. É significativo
de 2 Ts 2.15), então a origem apostólica da que dos escritores dos Evangelhos, só
virgindade perpétua é uma possibilidade. Mateus registre a narrativa dos magos e
Não deve ser um assunto que cause divi- seu cumprimento da profecia. Os temas do
são entre os cristãos; até Martinho Lutero rei e seu cumprimento, que dominam sua
e João Calvino subscreveram a doutrina. agenda teológica, motivaram-no a incluir
A questão mais crucial que Mateus trata este relato em seu Evangelho.
é a origem divina de Jesus. Mateus ajuda a estabelecer a data do
nascimento de Jesus com a expressão: “No
1.3. Os Magos, Herodes e o tempo do rei Herodes” (Mt 2.1), cujo reinado
Novo Rei (2.1-23) como rei da Judéia e áreas circunvizinhas
durou de 37 a 4 a.C. Presumivelmente
1.3.1. Os Magos Vão a Jerusalém Jesus nasceu perto do fim do reinado de
(2.1,2). O primeiro acontecimento que Herodes, visto que Mateus nota que a
Mateus relata depois do nascimento de morte do malvado rei aconteceu antes que
Jesus é os magos que chegam a Jerusalém, a família santa voltasse do Egito (v. 19).
perguntando o paradeiro do rei recém- Isto significa que Jesus nasceu de quatro
nascido e contando que a estrela os tinha a seis anos antes de Cristo, de acordo com
alertado para este nascimento. Ardendo o calendário atualmente em uso!2
em ciúmes diante da sugestão de outro Herodes, o Grande, era um político
“rei dos judeus”, o rei Herodes pergunta surpreendente; no tumultuoso século I

18
MATEUS 2

CRONOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO


Nascimento de Jesus
Morte de Herodes; Arquelau
lhe sucedeu 4 a.C.
Tibério César (autoridade
nas províncias) 11 d.C.
15.º ano de Tibério 26 Começo do ministério de Jesus

30 Crucificação de Jesus, em 15
de nisã, sexta-feira
34 Conversão de Saulo
Aretas em Damasco 37 Primeira visita de Paulo
a Jerusalém
Morte de Agripa I 44
Fome 46 Segunda visita de Paulo a Jerusalém

47-49 Primeira Viagem Missionária de


Paulo
51 Conferência apostólica
Gálio, procônsul da Acaia (Corinto) 52 Segunda Viagem Missionária
de Paulo
54-57 Terceira Viagem Missionária de
Paulo (Éfeso)
58 Prisão de Paulo em Jerusalém
Festo sucede Félix na Judéia 60
61 Paulo, prisioneiro em Roma
62 Morte de Tiago, irmão do Senhor

63 Libertação de Paulo
Incêndio em Roma 64
67 Morte de Pedro e de Paulo
Queda de Jerusalém 70
João em Patmos
Morte de Domiciano 96
c. 98 Morte de João

19
MATEUS 2
ele, como um gato, sempre parecia cair apenas Herodes que ficou perturbado;
com os pés no chão, apesar do fato de ser toda a Jerusalém também ficou. O povo
pego em intrigas com pessoas influentes de Jerusalém tinha boas razões para se
e peri­gosas como César Augusto, Cássio, preocupar; não só era freqüente que a
Marco Antônio e Cleópatra. Seu pai, Antí- mudança de governo fosse sangrenta, mas
pater II, idumeu convertido ao judaísmo, as pessoas sabiam que Herodes sacrificaria
apoiou o regente hasmoneano Hircano II e muitos para se manter no poder. Ainda
subseqüentemente tornou-se o verdadeiro que a elite religiosa tenha respondido
poder por trás do trono em Jerusalém. Em com facilidade a pergunta de Herodes
conseqüência disso, Herodes alcançou sobre o lugar do nascimento do Messias,
altas posições no governo judaico como não temos registro de que eles tenham
também no romano. viajado alguns quilômetros para procurar
Herodes fizera nome empreendendo o Messias — talvez porque estivessem com
grandes construções e edificando cidades, a mente absorta no ministério complexo e
inclusive Cesaréia, nome dado em honra do detalhado no templo (Hannom, The Peril
imperador. Ele também construiu fortalezas of the Preoccupied and Other Sermons [O
e templos pagãos, anfiteatros, hipódromos Perigo dos Preocupados e Outros Sermões],
e outros lugares nos quais as atividades 1942). Embora esta acusação não possa ser
helenísticas eram incentivadas. Sua prestimo- comprovada, o relato do nascimento de
sidade às atividades pagãs não granjearam Jesus indica que, excetuando-se algumas
a estima dos judeus conservadores, que pessoas pobres, não muitos foram ver o
as encaravam como abominações e uma novo rei. A lição tem aplicação sensata
violação da lei de Deus. Quando recons- para o ministério da Igreja dos dias de
truiu, aumentou e em­be­lezou o templo hoje: Nós ministramos para adorar, ou
judaico em Jerusalém, ele ganhou alguma adoramos o ministério?
simpatia dos súditos judeus. Seu reinado Herodes podia ser louco e paranóico,
trouxe muita prosperidade para a nação, mas não era burro. Ele era manhoso e
acompanhada de um fardo enorme de falaz, com uma astúcia mortal e um fas-
imposto e antagonismo. cínio que desarma. Sua sugestão de que
Herodes demonstrou ser um déspota os magos o informassem para que ele
astucioso e sanguinário, e até seus paren- prestasse homenagens ao bebê era uma
tes tinham medo dele. Matou a esposa, cortina de fumaça para encobrir suas inten-
filhos e parentes de quem suspeitou que ções assassinas dirigidas ao novo bebê. A
estivessem tramando contra ele. Seus sú- referência à adoração (proskyneo nos vv.
ditos também tinham motivo para temê-lo. 2,8,11) diz respeito a uma deidade ou ser
Herodes executou quarenta e cinco dos humano de alta posição. Não podemos
aristocratas mais ricos que tinham apoiado dizer com certeza o que os magos pre-
seu predecessor hasmoneano e confiscou- tendiam, embora seja provável que fosse
lhes as propriedades para encher os cofres o último. Herodes, é claro, não pretendia
vazios. Execuções eram comuns. Esta des- nada. Mas dado o avanço da alça de mira
crição, dada pelo historiador judeu Josefo, de Mateus e sua cristologia, ele considerou
encaixa-se com o relato de Mateus sobre que a adoração divina é mais apropriada
a intenção dolosa de Herodes para com aqui, pois Jesus deve ser adorado por
os magos, a raiva ao perceber que fora judeus e gentios igualmente.
enganado, a tentativa de matar o menino 1.3.3. Os Magos Seguem a Estrela
Jesus e a ordem insensível de executar para o Novo Rei (2.9-12). A identidade
todas as crianças do sexo masculino nas dos magos (ou sábios) é um mistério que
redondezas de Belém. durante séculos tem vexado exegetas e
1.3.2. A Reação de Herodes e de Jeru- encantado clérigos. Heródoto (século V
salém diante das Novas (2.3-8). Mateus a.C.) escreveu acerca de magos sacerdotais
nos conta que quando os magos chegaram entre os medos, que eram peritos em inter-
perguntando sobre o novo rei, não foi pretar sonhos. O Livro de Daniel menciona

20
MATEUS 2

Cesaréia, na
costa medi-
terrânea, foi
construída por
Herodes, o
Grande, e as-
sim foi chama-
da em honra
do imperador
romano.

magos junto com mágicos, encantadores, no leste por causa da rotação da terra, e
adivinhos, feiticeiros, sábios e astrólogos/ é o padrão do trajeto planetário no céu.
astrônomos. Nesses dias, a linha entre ma- Considerando o destaque dado à estrela,
gia e adivinhação, por um lado, e ciência o forte destes magos é a astronomia pri-
nascente, de outro, não era mantida com mordial do dia.
clareza. Não se pode dizer com certeza o Assim como a identidade dos sábios,
quanto de cientista e o quanto de mágico a natureza exata do fenômeno que veio
eles eram. É bastante afirmar que Deus a ser conhecido por “a estrela de Belém”
pode usar até antigas tradições e sabedo- permanece um mistério. Mateus é atraído
rias pagãs para fornecer uma testemunha para a história da estrela e dos magos que
cosmopolita do nascimento do Messias. a seguiram não somente porque con­firma
Na transição de poder dos medos para a realeza de Jesus, mas também porque
o império persa, os magos continuaram contrasta com muita vividez a devoção
com suas atividades, e relatórios de suas dos não-determinados estrangeiros com
práticas aparecem durante a era romana. a injustiça da elite de Israel. Ao longo dos
A referência a “Oriente” levou muitos a anos os comentaristas procuram explicar a
considerar a Pérsia/Pártia como sendo o estrela como uma parte natural do universo.
país de origem dos visitantes estrangeiros Trata-se de esforço apropriado e louvável,
de Jesus. Nos dias de Jesus eles podem ter pois Deus usa meios comuns para expres-
sido os sacerdotes zoroástricos. As dádivas sar sua mensagem sobrenatural. Contudo,
dos magos — incenso, ouro e mirra — nenhuma explanação astronômica comum
eram produtos associados com a Arábia. (um cometa, uma supernova, o alinhamento
É possível que eles sejam os judeus da dos planetas que teria a aparência de um
Dispersão, que foram espalhados ao longo corpo celeste [uma conjunção de Júpiter e
dos impérios romano e parto. Há amplas Saturno ocorreu em 7 a.C.], um asteróide
evidências arqueológicas entre as ruínas brincalhão) atesta inteiramente o conjunto
das sinagogas dessa era e nos escritos da evidência. Nem o cinismo de uma suposta
rabínicos que a comunidade judaica se cosmovisão “iluminada” que presume que o
interessava por astrologia. relato é invencionice do evangelista, explica
A identidade e origem dos magos fica o fenômeno ou apreende a totalidade do
mais obscurecida quando notamos que significado da mensagem de Mateus.
a expressão “do Oriente [anatole, lit., Se a referência a “Oriente” (anatole) é
“nascente, que sobe”]” pode se referir ao figurativa de “nascimento”, então o tex-
nascimento da estrela que sempre ocorria to não pode estar dizendo que os magos

21
MATEUS 2
seguiram a estrela até Jerusalém. “Antes, também contribui para o programa geral
tendo visto o nascimento da estrela que de Mateus de apresentar Jesus, o Rei, não
eles associam com o Rei dos judeus, eles só dos judeus mas de todos os povos.
vão à capital dos judeus em busca de mais Os três tesouros dos magos — incenso,
informação. Só no versículo 9 está claro ouro e mirra — eram dádivas associadas
que a estrela serviu como guia de Jerusa- com a realeza, e este era o entendimento
lém para Belém” (Brown, 1977, p. 174). É e intento de Mateus (v. 11). A Igreja mais
precisamente aqui que as sugestões citadas tarde associou o ouro com Jesus como
acima são deficientes, já que os fenômenos Rei, o incenso com Jesus como Sacerdote
astronômicos não podem explicar como e a mirra como especiaria usada para em-
os magos foram conduzidos a Belém, oito balsamento, relacionado-a com a morte e
quilômetros ao sul de Jerusalém. Talvez o sepultamento de Jesus. Antes de os magos
entendimento de Mateus sobre a natureza e partirem, eles foram instruídos em sonho
movimento da estrela seja mais dependente para não retornarem a Herodes, mas volta­
do sobrenatural do que do natural. rem para casa por uma rota diferente pela
A questão mais importante e respondível qual vieram (v. 12).
é: Qual é o significado do aparecimento da 1.3.4. A Fuga para o Egito (2.13-15).
estrela no Evangelho de Mateus e no plano Depois da partida dos magos, José tem um
global de Deus na história de salvação? O sonho, entregue pelo “anjo do Senhor” (v.
que mais importa é que atesta o papel de 13), advertindo-o a fugir para o Egito. Na
Jesus como Rei. Assim como se dá com a Bíblia os anjos aparecem às vezes como seres
genealogia terrena no contexto prévio do humanos (e.g., Jz 13.16); outras vezes como
capítulo 1, a estrela fornece testemunho criaturas brilhantes e que inspiram medo, cuja
celestial da realeza de Jesus. O testemunho aparição e palavras os seres humanos mal
dos magos não deixa lugar para especu- podem suportar (e.g., Êx 3.2; Jz 13.6,19-21;
lação quanto ao seu significado: “Onde 1 Cr 31.12; Dn 8.17). Não nos é informado
está aquele que é nascido rei dos judeus? que forma o anjo tomou no sonho de José.
Porque vimos a sua estrela no Oriente e As gramáticas grega e hebraica sugerem que
viemos a adorá-lo” (v. 2a). a expressão “o Anjo do Senhor” é tradução
Uma estrela já havia sido associada com legítima. Às vezes no Antigo Testamento, o
o advento do Messias. Números 24.17, parte Anjo do Senhor não pode ser distinguido
da profecia que Balaão entregou quando do próprio Deus e deve ser considerado
os israelitas estavam prestes a dar início à como o próprio Senhor que aparece e fala
conquista da Terra Prometida, diz: “Uma (e.g., Gn 16.11-13; Jz 6.12-14). Se esta inter-
estrela procederá de Jacó, e um cetro su- pretação é a intenção de Mateus, então José
birá de Israel”. A maioria dos estudiosos tem uma revelação especial diretamente
identifica esta profecia estelar com o rei de Deus, uma experiência amedrontadora
Davi, pois os versículos seguintes, com a e magnífica, uma revelação especial para
referência à conquista das nações circun­ um homem especial, a fim de realizar a
jacentes, foram distintamente cumpridos tarefa especial e mais urgente de salvar o
nas suas campanhas militares. Os contem- menino Jesus.
porâneos de Mateus entenderam que a A força do particípio do aoristo (egertheis,
passagem é messiânica, fato demonstrado “levanta-te”) junto com o aspecto aoristo do
na obra pseudepigráfica O Testamento dos imperativo do verbo principal (paralabe,
Doze Patriarcas, que associa uma figura “toma”) conota grande pressa e urgência.
messiânica levita e sacerdotal “com sua Em outras palavras: “Levanta-te da cama,
estrela [...] [que] subirá no céu como rei” sai daqui agora, e começa a fuga para o
(Testemunho de Levi 18.3). É interessante Egito, pois Herodes está a ponto de iniciar
observar que tanto Balaão quanto os magos uma busca do menino Jesus”. Note que José
eram estrangeiros, e ambos profetizaram pega Maria e Jesus de noite para evitar que
sobre o Messias hebraico (veja Brown, 1977, eles sejam descobertos pelos agentes do
pp. 193-196, para mais comparações). Isto rei ou por outras testemunhas.

22
Unindo Conhecimento Bíblico com o Fogo Pentecostal

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–– Joseph L. Garlington, pastor sênior da The Covenant Church de Pittsburgh

Roger Stronstad e French Arrington, ambos com doutorado em Novo Testamento,


foram editores consultores da Full Life Study Bible (Bíblia de Estudo Pentecostal),
nos Estados Unidos. O Dr. Stronstad leciona na Western Pentecostal Bible College,
Editado por
em Clayburn, Colúmbia Britânica. O Dr. Arrington leciona na Church of God
School of Theology, em Cleveland, Tennessee. French L. Arrington
e Roger Stronstad

Membros da
Comissão Editorial
da Bíblia de Estudo Editado por French L. Arrington e Roger Stronstad
Pentecostal Membros da Comissão Editorial da Bíblia de Estudo Pentecostal

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