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PROEAD-IPIB

Programa de Educação a
Distância da Igreja
Presbiteriana
Independente do Brasil

Capacitação
para
Professores
de Adultos
para Escola
Dominical
PROEAD-IPIB
Curso para Professores
de Escola Dominical

Disciplina:
Como ler e compreender
a Bíblia
Diretoria da IPIB
Rev. Áureo Rodrigues de Oliveira
Presidente
Rev. Agnaldo Pereira Gomes
Primeiro Vice-Presidente
Presb. Luiz Carlos Morosini
Segundo Vice-Presidente
Rev. Marcos Nunes da Silva
Primeiro Secretário
Presb. Djalma Bastos César
Segundo Secretário

Ministério Educação
Rev. Clayton Leal da Silva
Secretário Educação Cristã
Rev. Adilson de Souza Filho
Coordenador Pedagógico do Curso
Rev. Timóteo Carriker
Coordenador Técnico do PROEAD-IPIB
Rev. José Roberto Cristofani
Sumário
Unidade 1
Como eu lia e compreendia a Bíblia................................................... 7

Unidade 2
O método integral de leitura da Bíblia.............................................21

Unidade 3
O uso do método integral de leitura
da Bíblia na Escola Dominical....................................................33

Unidade 4
A análise passo a passo do método
integral de leitura da Bíblia.........................................................45

Unidade 5
A avaliação do método integral de leitura da Bíblia......................57

Unidade 6
Como eu posso ler e compreender um texto bíblico.....................67
Produção do Conteúdo
Timóteo Carriker
Diagramação e projeto gráfico
Giovanni Alecrim e José Roberto Cristofani

© Todos os direitos reservados ao autor e protegi-


dos pela lei 9.610 de 19/02/98.
É proibida a reprodução total ou parcial, por
quaisquer meios ou forma. A violação dos direitos
de autor é crime estabelecido pelo artigo 184 do
Código Penal.

Igreja Presbiteriana Independente do Brasil


Programa de Educação a Distância
Curso para Professores de Escola Dominical
www.ead.ipib.org
Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 1
Como eu lia e
compreendia a
Bíblia

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Com certeza você já tem o seu jeito de ler a Bíblia. Aliás, talvez te-
nha várias maneiras de ler, dependendo do tempo disponível ou
até do tipo de informação que procura. E isto é bom. É muito bom,
porque assim já valoriza a leitura da Bíblia e já teve a oportunidade
de perceber diversas vezes quando uma luz de compreensão se
acendeu em sua cabeça ou quando a mensagem de uma passa-
gem aqueceu o seu coração.

Por isso, este curso não tem a pretensão de abordar a leitura e a


compreensão da Bíblia como se o professor de Escola Dominical
já não tivesse uma boa experiência e um bom exercício. Não é isso.
Apenas desejamos melhorar ainda mais a nossa prática e quem
sabe, partir para uma nova fase de leitura e compreensão da Bíblia
mais proveitosa ainda.

Para isto, nesta primeira unidade da nossa disciplina “Como ler e


compreender a Bíblia” nós vamos identificar quatro maneiras co-
muns de ler a Bíblia e tentar avaliar o valor de cada uma o melhor
possível. Queremos levantar a seguinte pergunta central:

Para refletir: qual ou quais destas


maneiras de ler a Bíblia corresponde
melhor com a maneira ou as maneiras
que eu leio a Bíblia hoje?
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Desta pergunta fundamental decorrem outras questões, por exemplo:

Para refletir ainda mais: algumas maneiras de


ler a Bíblia são mais proveitosas que outras?
Como posso ouvir a voz de Deus através
da minha leitura? Sempre encontrarei
na Bíblia uma resposta “certa” para toda
pergunta que meus alunos me fazem ou
para os meus próprios questionamentos?

Essas e outras observações surgem tanto no preparo das nossas aulas de


Escola Dominical quanto durante a própria aula. Alguns são questiona-
mentos dos nossos alunos e alguns são nossos. A resposta adequada de-
pende tanto da nossa disposição e habilidade de realizar a melhor leitura
possível da Bíblia quanto da mesma disposição e habilidade dos nossos
alunos.

A seguir, vamos elaborar quatro estratégias principais de ler a Bíblia, adota-


das consciente ou inconscientemente por cada um de nós durante a nossa
caminhada de fé. Nosso desejo é que esta descrição nos auxilie a avançar
em uma prática mais madura, mais sadia e mais proveitosa da leitura da
Bíblia.

10 Como eu lia e compreendia a Bíblia


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As quatro estratégias
principais de leitura da
Bíblia
Algumas pessoas, como quase todos nós em uma
dada fase da nossa fé, leem a Bíblia como leem um
dicionário. Outras leem como leem uma enciclopé-
dia. Outros, como leem uma carta ou romance cur-
to. E outros, como assistem a uma telenovela, ou
mini série. Cada uma destas estratégias tem as suas
vantagens e desvantagens e se acreditamos que a
Bíblia é realmente inspirada por Deus, certamente
Ele não deixará de falar conosco por causa de uma
ou outra estratégia que adotamos. Ao mesmo tem-
po, como crescemos em todas as dimensões da fé,
podemos certamente crescer na forma de lermos a
Bíblia. Vamos ver com um pouco mais de detalhe
cada uma das estratégias propostas, e depois fare-
mos as sugestões de uma estratégia que possa me-
lhorar a nossa compreensão.

Como eu lia e compreendia a Bíblia 11


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1. A leitura de um dicionário.

Um dicionário é um livro muito útil. A sua leitura quase sempre é rápida


e pontual. Lê-se o dicionário quando se está procurando uma informação
específica, por exemplo, uma definição. Não se usa o dicionário para leitu-
ras prolongadas. Consultou, resolveu. A princípio, quando não se tem muito
conhecimento ou costume de leitura da Bíblia, frequentemente se lê como
se fosse um dicionário, mas não sem proveito. Por exemplo, para esclarecer
quem era fulano de tal, ou onde ficava tal lugar geográfico ou em que lugar
na Bíblia Jesus falou isto ou aquilo. A gente procura uma frase relevante na
concordância para depois procurar a referência na Bíblia. Ou pode ser que,
da mesma forma que tomamos um determinado remédio todos os dias, a
gente procura ler um versículo ou até um pouco mais, para tomar o nosso
“remédio” e ver se há alguma mensagem aí para nós. Sem dúvida, é possível
tirar bom proveito deste jeito de ler a Bíblia. E creio que muitos podem dar
testemunho de que assim Deus realmente fala com eles de vez em quando.
Afinal, quem somos nós par limitar como Deus pode falar conosco.

É possível, sim, aproveitar mais ainda a leitura da Bíblia com um pouco mais
de dedicação e enfoque. E para muitas pessoas isto significa uma leitura
mais semelhante à leitura de uma enciclopédia...

O que você acha? Já leu a Bíblia de maneira parecida


com a leitura de um dicionário? Tirou bom proveito?
Conseguiu uma informação pontual? Achou uma
“mensagem” bem pessoal e direcionada para você? Será
possível aprofundar mais que por meio de uma leitura como
de um dicionário?

12 Como eu lia e compreendia a Bíblia


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2. A leitura de uma enciclopédia.

Uma enciclopédia oferece mais informação que um dicionário, pois foca-


liza não apenas as possíveis definições de palavras específicas mas de um
tema inteiro. A elaboração de um dado tema pode ocupar desde um breve
parágrafo até duas ou três páginas ou até mais. Não demora muito para
o novo leitor da Bíblia descobrir um de dois recursos, ou os dois: a con-
cordância e as referências paralelas. A concordância é uma lista de pala-
vras chave que se encontra como apêndice em algumas Bíblias, enquanto
as referências paralelas são listas para cada versículo de outros versículos
de assuntos semelhantes. Uma vez que o leitor toma consciência destes

Você sabia? Dependendo da editora da Bíblia, as


referências paralelas geralmente se encontram
ou entre as duas colunas de texto bíblico em
cada página ou nas margens direita (nas páginas
ímpares que ficam do lado direito) e esquerda (nas
páginas pares que ficam do lado esquerdo).

recursos, o aproveitamento da sua leitura aumenta. O leitor que adota a


estratégia da leitura de uma enciclopédia dedica mais tempo à sua leitura
que o leitor que adota a estratégia da leitura de um dicionário. Isto é bom.
Pois lendo mais, começa a perceber um pouquinho mais a complexidade
e profundidade da Bíblia. A sua “mensagem” nem sempre deriva de uma
leitura curta, como da leitura de um dicionário. Quando se lê mais também
se começa a reparar que há temas maiores sendo elaborados e histórias
mais envolvidas sendo contadas. Começa a perceber que a Bíblia é muito

Como eu lia e compreendia a Bíblia 13


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mais de uma caixinha de promessas, de onde tiramos uma pequena “do-


sagem” por dia.

Para refletir: Você já leu a Bíblia como se fosse


uma enciclopédia onde se pode identificar
algum tema e se aprofundar um pouco
mais na leitura de um parágrafo ou até
de vários parágrafos e/ou capítulos?
Como foi a sua experiência e o seu
proveito quando leu a Bíblia assim?

Mas enquanto este tipo de leitura rende bem mais que o tipo anterior, o da
leitura de um dicionário, ele também é limitado. A limitação maior destes

Você sabia? Alguns livros são claramente compilações de dizeres


separados, como o Livro de Provérbios e o Livro dos Salmos, mas mesmo
estes foram compilados contemplando uma certa ordem, o que favorece
a leitura destes livros conforme a ordem da
compilação. Outros livros podem ser compilações
de livros menores. Por exemplo, é possivel que
o Livro de Isaías seja uma compilação de três
livros menores e 2 Coríntios de mais de uma carta de
Paulo. Mas novamente, estas possíveis compilações
foram reconhecidas dentro do processo histórico do cânon, isto é, do
reconhecimento pela igreja, como parte da sua inspiração.

14 Como eu lia e compreendia a Bíblia


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dois tipos de leitura é que a Bíblia não foi escrita como um dicionário ou uma
enciclopédia. Foi escrita como livros inteiros , o que nos leva a uma outra
estratégia de leitura...

3. A leitura de uma carta, um conto ou um romance.

O que estes três tipos de leitura − de um dicionário, de uma enciclopédia,


e de um romance – têm em comum? Diferente de um dicionário ou de uma
enciclopédia, a leitura de uma carta, um conto ou um romance precisa ser
feita desde o início até o fim. Pelo menos cartas, contos e romances foram
escritos com esta intenção. Lógico que se pode começar a partir de qual-
quer ponto e tirar algum proveito, mas é muito melhor começar no início e
continuar até o fim. Assim terá muito mais possibilidade de entender o fio
da meada ou o enredo, o contexto, a finalidade e o tom do que foi escrito.
Dificilmente percebe-se estas características fundamentais de uma história
completa sem uma leitura atenciosa desde o início até o fim. O enredo, o
contexto, a finalidade e o tom não são tudo, mas além de serem fundamen-
tais para entender uma obra escrita por inteiro, também são fundamentais
para compreender as suas partes. Por isso, é importante ler qualquer livro da
Bíblia, na medida do possível, do início até o fim... e várias vezes, se isto for
ajudar a gravar o fio da meada.

A boa compreensão de cada um dos livros da Bíblia é o grande alvo de mui-


tos cristãos. E provavelmente, para a grande maioria, é o alvo final já que exi-
ge bastante dedicação e tempo. A maioria provavelmente não imagina uma
estratégia de leitura melhor que esta. Poder conhecer bem a mensagem mais
abrangente dos diversos livros da Bíblia já é um alvo de vida para muitos.

Como eu lia e compreendia a Bíblia 15


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Para refletir: Você mesmo já leu a Bíblia desta


maneira? Se a resposta for positiva, quais
são as partes ou os livros da Bíblia que
você conhece bem. Pode resumir o
conteúdo e os principais desafios de
algum ou de alguns livros da Bíblia? Qual
ou quais?

Mas, a bem da verdade, há ainda mais uma estratégia maior ainda da leitura
e compreensão da Bíblia que, honestamente, demanda anos para adquirir,
mas que vale muito a pena e que aumenta significativamente a nossa com-
preensão da Bíblia. Esta estratégia parte do reconhecimento que a Bíblia,
enquanto biblioteca de muitos (66) livros, ao mesmo tempo, é um só livro.
Isto pode parecer uma contradição ou uma afirmação dogmática difícil de
engolir, mas a postura das principais confissões de fé afirma exatamente
isto. E se pensarmos na Bíblia não apenas como muitos livros, mas também
como um só livro, o esforço na leitura e compreensão que isto exige é bem
mais que as estratégias anteriores...

4. A “leitura” de uma telenovela.

Se pensarmos na Bíblia como um só livro, mesmo composta de muitos,


uma estratégia apropriada para lê-la e compreendê-la é simplesmente levar
isto em conta. Mas como se faz isso? Da mesma forma que a última estra-
tégia mencionada, com apenas uma qualificação: o livro neste caso não é
mais um só dos livros da Bíblia, mas é a Bíblia toda. Esta estratégia parte do

16 Como eu lia e compreendia a Bíblia


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pressuposto que enquanto são muitos autores dos livros da Bíblia, há um só


autor mestre por trás de todos os demais, e este autor mestre é o próprio
Deus. Este reconhecimento exige uma leitura do início (Gênesis) até o fim
(Apocalipse) que procure um enredo principal que consiga abranger todos
os enredos mais específicos dos diversos livros.

Mas além de exigir muito fôlego, será que uma estratégia ambiciosa como
essa não corre perigo de “forçar a barra” no sentido de ofuscar os enredos
mais específicos? Com certeza corre este perigo! E o perigo não é nada pe-
queno. Por isso mesmo, muitas pessoas nem tentam. Mas novamente, se as
Escrituras são realmente inspiradas e de alguma forma podem ser chamadas
de Palavra de Deus, precisamos nos esforçar, mesmo gastando a vida toda,
para compreender a sua mensagem, não só nos detalhes específicos como
também de modo mais abrangente, e assim perguntar quais são o enredo,
o contexto, a finalidade e o tom deste escrito. Claro que são múltiplos. Há
vários enredos, vários contextos, várias finalidades e vários tons. Mas quem
sabe, aos poucos, se comece a perceber certa unicidade nestes enredos,
contextos, finalidades e tons.

As pessoas assistem uma telenovela por capítulos. Cada capítulo geralmen-


te já é uma história com início, meio e fim. De certo modo ele é “parcial-
mente” completo. Dizer “parcialmente completo” parece uma contradição,
mas neste caso se refere à ligação entre todos os capítulos. Um capítulo de
telenovela é parcialmente completo da seguinte forma: “completo” porque,
de novo, tem um início, meio e fim; mas “parcialmente” porque cada capí-
tulo depende dos capítulos anteriores para entendê-lo melhor, e também
depende dos capítulos posteriores para saber qual é a intenção final da his-
tória. A Bíblia é mais ou menos como uma grande telenovela. Digo “mais ou

Como eu lia e compreendia a Bíblia 17


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menos” porque os livros da Bíblia são mais “completos” em termos do seu


início, meio e fim que um capítulo de uma telenovela. Mas a analogia ainda
compete. Para compreender bem a Bíblia, é necessário levar em conta a
sua história mais abrangente, o que alguns chamam de mega-história ou
meta-narrativa, aquele enredo mestre ou aqueles enredos mestres que con-
seguem dar sentido à Bíblia como um todo.

Perguntas
Diagnosticadoras
A fim de rever as diversas formas de lermos a Bíblia até hoje, vamos conside-
rar as seguintes perguntas.

1. Qual tem sido o meu hábito de leitura da Bíblia? Depende de períodos


de folga quando posso encaixar aqui e ali o tempo que der, ou tenho al-
gum hábito um pouco mais sistemático? Pode descrevê-lo?

2. Tenho alguma estratégia para a leitura da Bíblia, ou explícita ou implíci-


ta? Tenho utilizado alguma estratégia ou algumas estratégias abordadas
nesta unidade? Pode descrever a sua estratégia atual?

3. E quanto à minha compreensão das Escrituras? Tenho crescido na minha


compreensão? Ou estou mais ou menos onde eu estava há um ano ou

18 Como eu lia e compreendia a Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

10 anos atrás? Será que posso crescer na minha compreensão? Desejo


isto?

4. Tenho dificuldade ou facilidade de responder às dúvidas dos alunos na


Escola Dominical sobre a Bíblia? Consigo me dirigir diretamente a estas
dúvidas ou prefiro mudar de assunto e pedir para a classe “voltar para a
lição”?

Resumo
da Unidade
Chegamos no final da nossa primeira unidade. Vamos resumir o que
aprendemos.

Primeiro, começamos com a seguinte pergunta central: qual ou quais das


quatro estratégias de de ler a Bíblia corresponde melhor à forma como eu
leio a Bíblia hoje?

Afirmamos que podemos ler a Bíblia conforme a analogia de quatro tipos de


leitura: a leitura de um dicionário, a leitura de uma enciclopédia, a leitura de um
romance, ou a leitura de uma telenovela. Procuramos ressaltar os benefícios e
as limitações de cada uma. Mas, ao mesmo tempo, destacamos a última estra-
tégia como o alvo maior para a nossa compreensão mais completa da Bíblia.

Como eu lia e compreendia a Bíblia 19


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Na próxima unidade, procuraremos desenvolver um método integral da lei-


tura da Bíblia que visa adotar a penúltima e a última estratégia de leitura que
elaboramos nesta unidade.

Aguardamos você!

20 Como eu lia e compreendia a Bíblia


Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 2
O método integral
de leitura da Bíblia

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Na última aula procuramos explorar as diversas maneiras como as
pessoas leem a Bíblia. Espero que você tenha entendido de que
maneira você lê a Bíblia. Se a gente lê com dedicação e sinceridade
não existem maneiras “erradas” de ler. Ao mesmo tempo, todos nós
podemos melhorar a nossa leitura e assim, a nossa compreensão. E
para isto, sim, algumas técnicas nos auxiliam muito.

Nesta segunda unidade queremos conhecer, pelo menos de modo


abrangente, estas técnicas do modo mais integral possível, isto é,
de tal modo que inclua corpo, mente, coração e espírito.

Você sabia? A palavra “Bíblia” vem do latim (biblia) e do grego


(biblos). Significa “livro” ou “livros” e pode ter se originado do
antigo portuário egípcio de Byblos (hoje em Líbano) onde o
papiros foi usado para fazer livros e rolos que foram exportados
para a Grécia. Outras palavras são também usadas para
se referir à Bíblia, como por exemplo,
as Escrituras, a Palavra, o Escrito, e
o Livro da Lei. Tanto judeus quanto
cristãos protestantes reconhecem 39
livros inspirados do Antigo Testamento,
também conhecido como as “Escrituras
Hebraicas” e o “Primeiro Testamento”. Os
cristãos reconhecem ainda mais 27 livros inspirados do Novo
Testamento, também conhecido como o “Segundo Testamento”.
Os católicos romanos e ortodoxos incluem outros livros como
inspirados que são denominados por protestantes como
apócrifas (a palavra significa “obscuro” ou “escondido”)
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A boa leitura e compreensão da Bíblia é um dos passos mais importantes da


vida cristã, tanto para o iniciante quanto para o líder maduro. Algumas pes-
soas falam que a Bíblia é o manual do cristão, mas a instrução das Escrituras
sobre o seu papel na vida dos seus seguidores é mais incisiva ainda. Veja
alguns exemplos...

Fale sempre do que está escrito no Livro da Lei. Estude


esse livro dia e noite e se esforce para viver de acordo
com tudo o que está escrito nele. Se fizer isso, tudo lhe
correrá bem, e você terá sucesso. – Josué 1.8 (NTLH)

Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e


é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir
as faltas e ensinar a maneira certa de viver. – 2 Timóteo
3.16 (NTLH)

A lei do SENHOR é perfeita e nos dá novas forças. Os


seus conselhos merecem confiança e dão sabedoria
às pessoas simples.... Os seus ensinos são mais pre-
ciosos do que o ouro, até mesmo do que muito ouro
fino. São mais doces do que o mel, mais doces até do
que o mel mais puro. – Salmo 19.7, 10 (NTLH)

Pois a palavra de Deus é viva e poderosa e corta mais


do que qualquer espada afiada dos dois lados. Ela vai
até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o
íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos
do coração delas. – Hebreus 4.12 (NTLH)

24 O método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Estas passagens e outras semelhantes dão a ideia não só de manual mas


de algo vivo e transformador e, mais importante ainda, algo que procede
de Deus. É importante que falemos disto logo no início deste curso, pois
isso nos ajuda a situar a nossa tarefa dentro da sua devida dimensão.
Assim, o primeiro passo para a leitura e compreensão apropriadas da
Bíblia é reconhecer a sua inspiração por Deus e por isso, a sua autorida-
de máxima sobre as nossas vidas. Vamos esclarecer este passo antes de
proceder.

A inspiração e
autoridade da Bíblia
A Confissão de Fé de Westminster, que orienta as igrejas de linha teológi-
ca reformada de modo geral, afirma que a Bíblia, sendo o Antigo e o Novo
Testamentos, é a “regra única e infalível de fé e prática”. Positivamente
isto significa, entre outras coisas, que ela é a máxima autoridade sobre as
nossas vidas e a vida das nossas igrejas, isto é, sobre a nossa fé e condu-
ta. Para o nosso curso, isto significa que procuramos ler e compreender
a Bíblia e assim entender e atender a voz de Deus. O que tudo isso não
significa?

Primeiro, não significa que Deus fala conosco unicamente através da Bíblia.
A própria Bíblia fala de outras formas como Deus fala com seu povo e se

O método integral de leitura da Bíblia 25


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dirige a nós: por meio de sonhos e visões, por meio de outras pessoas e
através de circunstâncias. Mas nenhum destes meios tem a mesma autori-
dade sobre as nossas vidas que a Bíblia. É isso que quer dizer “regra única e
infalível de fé e prática”.

Segundo, esta expressão não significa que a Bíblia não seja “humana”. A
princípio, isso pode parecer uma afirmação estranha, mas não é difícil escla-
recer. Basta pensar na analogia da encarnação. Deus se fez homem e habi-
tou entre nós na pessoa de Jesus. E as igrejas cristãs afirmam que Jesus era
plenamente humano e plenamente Deus.

A inspiração das Escrituras


Alcorão
100%

ortodoxia
evangélico bíblica
popular
80%

neo-
ortodoxia
participação
60%

divina na
revelação
40%

liberalismo
20%

ciência

0% 20% 40% 60% 80% 100%


participação humana na revelação

26 O método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Talvez você esteja estanhando esta pequena aula de teologia básica,


mas é fundamental para este curso. Pois significa que precisamos con-
jugar bem estas duas dimensões da Bíblia. Como inspirada por Deus,
a Bíblia merece toda a nossa atenção. Como escrita por pessoas huma-
nas, devemos empregar todos os recursos e metodologias humanos para
compreendê-la.

Por causa da sua natureza divina (100%) e humana (100%), uma leitura
proveitosa da Bíblia requer toda a nossa atenção. Usando a analogia
que Jesus usou para resumir a lei como devoção total a Deus e servi-
ço sacrificial ao seu próximo, podemos dizer que a leitura proveitosa
da Bíblia envolve o corpo, a mente, o coração, o esforço, até mesmo o
espírito.

Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com


toda a alma, com toda a mente e com todas as forças. −
Marcos 12.30 (NTLH, veja também Mt 22.37; Lc 10.27)

Cada uma destas dimensões são importantes para a boa leitura e compre-
ensão da Bíblia. Vejamos cada uma.

Com todo o corpo: atenção

Envolve o corpo, porque requer a nossa atenção e resposta física. Não pode-
mos fugir disto. A nossa mente e o nosso coração, e até mesmo o nosso es-
pírito, todos habitam nos nossos corpos e a ele estão conectados. Quando o
corpo está mal, não podemos nos concentrar melhor, é difícil nos alegrarmos

O método integral de leitura da Bíblia 27


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e geralmente a nossa espiritualidade também está em baixa. Por isso, por


mais banal que pareça, vale a pena prestar a atenção à condição do nosso
corpo quando procuramos ler e compreender qualquer coisa, inclusive e
especialmente a Bíblia.

Com toda a mente: interpretação

Uma leitura proveitosa da Bíblia envolve a men-


te, porque requer interpretação. E a interpretação
exige, em primeiro lugar e ao máximo possível,
abertura para receber novas ideias e novos desa-
fios. É o desafio de compreender algo novo, algo
que não se percebeu antes. E isto significa, por sua
vez, a disposição de encostar, pelo menos proviso-
riamente, os significados que já tenha aprendido
e aplicado anteriormente a um determinado texto. Isto se chama de im-
parcialidade. É claro que a imparcialidade total é uma ilusão. Todos nós,
pela nossa formação cultural, eclesiástica e social, temos as nossas predis-
posições de leitura. Entretanto, precisamos nos dispor a ouvir, sempre de
novo, a mensagem que a Bíblia nos traz, inclinar os ouvidos ao sopro do
Espírito que a inspirou e ainda hoje a aplica. Por um lado, estou me refe-
rindo a uma atitude, a atitude de ouvir coisas novas. Mas não é somente
atitude no sentido de alguma postura afetiva. Também precisamos disci-
plinar o nosso pensamento. Precisamos pensar e raciocinar a respeito da
nossa leitura. E para isto existem muitas boas dicas e ferramentas para ma-
ximizar a boa leitura e compreensão. Neste curso faremos isto de modo
mais resumido.

28 O método integral de leitura da Bíblia


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Com todo o coração: expressão

Uma leitura proveitosa da Bíblia envolve o coração, porque abrange


tanto a expressão dos escritores antigos quanto requer uma resposta
expressiva de nós, os leitores atuais. Prestar atenção à forma nos aju-
da também a perceber mais integralmente o significado e a respon-
der mais afetivamente a ele. Assim, o texto não é só entendido como
também sentido. A exclamação invocaria surpresa; a doxologia, o culto;
a oração, reverência; a exortação, certo temor; e o encorajamento, a
serenidade.

Com todas as forças: obediência

Ainda seguindo a analogia de Marcos 12.30, a leitura proveitosa da Bí-


blia envolve todas as nossas forças e demanda aplicação assídua. E isto
requer obediência. A sede intensa da Palavra de Deus procede da nos-
sa fé e da nossa esperança em Jesus Cristo (2 Timóteo 3.15; Romanos
15.4). Portanto, urge ler o texto com tais fé e esperança. Pode-se argu-
mentar com boa razão que não há compreensão da Palavra sem a práti-
ca da Palavra (Salmo 19.1-4, 7-11; Lucas 6.46-49; 8.19-21). A mística da
meditação e a compreensão racional das palavras se encontram aqui,
no momento do exercício e do compromisso; quando a Palavra ouvida,
compreendida e sentida no íntimo se transforma em missão assumida
e transformadora. Digamos, “faça-se em mim segundo a tua Palavra”
(Lucas 1.38).

O método integral de leitura da Bíblia 29


Programa de Educação a Distância
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Com todo o espírito: oração

A leitura integral da Bíblia é feita com todo o nosso espírito, o que se mani-
festa na oração. Todas estas estratégias de leitura e compreensão precisam
ser acompanhadas de oração. Isto porque, na ótica cristã, a Bíblia não é livro
qualquer. Quando se conhece o autor de um texto a compreensão e o sen-
tido daquele texto aumentam significantemente. Oramos, nem tanto para
entender melhor Paulo, João, Davi, Salomão e assim por diante, mas para es-
tarmos melhor afinados com o Autor por trás destes autores, aprendermos
dEle e sermos transformados por Ele.

Com todo o corpo de Cristo: relacionamento

Finalmente, é necessário dizer que a leitura proveitosa da Bíblia pressupõe


uma leitura comunitária. Já reparou que quase todos os livros da Bíblia são
dirigidos à comunidade do povo de Deus? Os textos bíblicos eram lidos e
relidos dentro do contexto da comunidade do povo de Deus. Assim, são
leituras para o povo de Deus através de toda a história, inclusive nos dias
de hoje (1 Coríntios 10.11; Romanos 15.4). Como tais, requerem uma leitura
não apenas e não primeiramente individual. Esta observação é urgente por-
que frequentemente o estudo da Bíblia é tratado como se fosse um exercício
apenas individual e particular. Quem sabe a influência dos valores ociden-
tais da liberdade e da democracia tenham desembocado na apreciação da
leitura privada em contraposição à leitura comunitária. Seja como for, urge
voltar à uma leitura que se coadune com a intenção da composição destes
textos antigos, a intenção de uma leitura comunitária. Assim há maior pos-
sibilidade de prevenir-se de interpretações pretensiosas.

30 O método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever o método integral de ler e compreender a Bíblia por meio das
seguintes perguntas:

1. Em termos de leitura e compreensão, que diferença faz se a Bíblia é inspi-


rada por Deus ou não? A inspiração divina implica em que tipo de leitura
e trato das Escrituras? E a inspiração por pessoas humanas em diversas
épocas e diversas culturas implica em que tipo de leitura e trato das Es-
crituras? Como isto vai mudar a sua forma de ler a Bíblia?

2. Pode descrever uma leitura pensante? de coração? corporal? com o seu


espírito? esforçada? comunitária? Procure identificar qual ou quais tipos
de leitura você faz bem e não tão bem.

3. Qual é o tempo (duração e periodicidade) e o espaço que você dedica


à leitura da Bíblia? São boas medidas dentro dos limites das suas ou-
tras atividades? Imagine como pode aproveitar melhor deste tempo e
espaço?

O método integral de leitura da Bíblia 31


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Resumo
da Unidade
Chegamos no final da nossa segunda unidade. Vamos resumir o que
aprendemos.

Primeiro, começamos com o seguinte alvo: apresentar um método de leitura


o mais integral possível. Afirmamos que o desafio da leitura da Bíblia é se-
melhante ao desafio de amar a Deus e ao próximo. Precisamos dedicar todo
o nossos ser: corpo, mente, coração, espírito e forças e faremos bem em
realizar esta leitura, pelo menos periodicamente junto com a comunidade
da fé. Há muito mais a se falar, mas este já é um bom começo. Nos recursos
de leitura e vídeo que indicamos você encontrará maiores esclarecimentos
ainda.

Na próxima unidade, vamos aplicar este método ao seu uso como professor
de Escola Dominical, tanto para a sua formação como líder quanto para o
seu preparo para as aulas, e também na apresentação das mesmas.

32 O método integral de leitura da Bíblia


Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 3
O uso do método
integral de leitura
da Bíblia na Escola
Dominical

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Na última aula procuramos apresentar um método integral para a
leitura e compreensão da Bíblia. Demos várias dicas. De repente
você já adotava muitas delas. A chave para a boa aplicação deste
método é o esforço para por em prática todas as dicas. Por isto de-
nominamos o método de “integral”. É preciso acompanhar o méto-
do todo o máximo que pudermos. Alguns dos recursos bibliográfi-
cos enfatizam a dimensão mais “racional” ou pensante do processo
da interpretação. Isto inclui dicas de como se lê qualquer texto, a
importância do conhecimento do contexto literário e histórico de
um texto e a atenção para a gramática. Sem dúvida, estas observa-
ções aumentam em muito as possibilidades de um bom proveito
da leitura da Bíblia e de uma compreensão mais próxima à intenção
original do texto. Mesmo assim, insistimos que a dimensão pensan-
te é apenas uma dimensão do método… por mais importante que
seja. As outras dimensões — a afetiva, a corporal, a volitiva, a espi-
ritual, e a comunitária — também são importantes, e isto especial-
mente por causa da natureza desta leitura: a Bíblia. Portanto, neste
cursos vamos nos esforçar para aplicar o método todo, no nosso
caso, à tarefa dos professores de Escola Dominical. Especificamen-
te queremos conversar sobre o uso deste método na formação ge-
ral do professor, no seu preparo das aulas e durante a entrega das
mesmas. O primeiro uso é o mais abrangente, para a sua formação.
A próxima abrangência seria o uso do método no preparo das suas
aulas. E depois o método ainda vai servir enquanto você estiver
dando a aula e surgir uma dúvida por parte de um dos participan-
tes. Vamos ver cada um deste três…
Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

O uso do método
integral de leitura na
formação do professor
O método integral sugerido é especialmente aplicável à formação dos pro-
fessores. Lembre-se que o propósito deste método é de proporcionar uma
leitura que traga uma compreensão não só de uma determinada passagem
específica, mas do significado daquela passagem dentro da redação maior
do livro da Bíblia onde essa passagem se encontra, e mais ainda, o seu sig-
nificado dentro da mega-história que a Bíblia toda está contando. Obvia-
mente isto exige muito tempo e disciplina. É resultado de muitas leituras e
estudo da Bíblia ao longo dos anos. Como isto é possível na prática? Vamos
fazer algumas sugestões…

1. Separe períodos regulares e qualitativos


para ler. Muitas pessoas gostam de gastar
algum tempo todos os dias na leitura da
Bíblia e algumas pessoas conseguem de-
dicar um bom tempo a esta tarefa diária.
Mas outras pessoas, pelo impedimento do
seu emprego ou outros motivos, não con-
seguem. O importante aqui é ressaltar que a quantidade de tempo
gasto pode ajudar a se aprofundar mais na leitura do que a simples

36 O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

frequência. Claro, pessoas são diferentes e aprendem de modos dife-


rentes, mas em geral, é melhor gastar uma ou duas horas para uma boa
leitura da Bíblia uma vez por semana que 10 minutos todos os dias.
Também, se conseguem fazer os dois, melhor ainda. Mas seguir o fio
da meada ao longo de um dos livros da Bíblia exige certa dedicação e
isto dificilmente ocorre nas leituras rápidas.

2. Procure maximizar as boas condições físicas. Escolha bem a hora e o local


para que haja maior proveito da sua disposição e concentração. Também
pode acrescentar a estes períodos e locais ideais outras horas e locais
não tão ideais, mas ainda proveitosos. Por exemplo, poderá baixar a Bí-
blia no seu telefone e leia um pouco durante o seu horário de almoço.

Escolha uma passagem substancial e procure ler em sequência. Para a


sua formação de longo prazo, é importante que leia livros desde o iní-
cio até o fim. Isto também é uma orientação diferente da dos guias de
leitura da Bíblia em um ano, em que você lê um pouco do Antigo Testa-
mento, o pouco do Novo e ainda um Salmo. Para pegar o fio da meada
de um determinado livro da Bíblia é importante que siga a leitura até
ao fim. Começou uma leitura em Isaías? Leia Isaías todas as vezes que
vocês separar tempo para ler, até chegar ao fim do livro.

3. Leia em voz alta a passagem, reproduzindo as ênfases do autor e das


personagens na passagem. Esta é uma das melhores maneiras de tes-
tar a emoção de uma passagem. O autor está alegre? chateado? cir-
cunspecto? Está exortando ou encorajando? Tente reproduzir o “clima”
da passagem. E assim se surpreenderá o quanto você já está adiantan-
do uma compreensão melhor da passagem.

O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical 37


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

4. Faça anotações e destaque as suas dúvidas. Anote qualquer coisa


no início. Mais tarde as suas anotações serão mais disciplinadas e
mais consistentes de um livro da Bíblia para o outro. Por meio das
anotações você identifica as dúvidas que, por consequente, procu-
rará esclarecer pela leitura de outras versões da Bíblia e pela leitura
de bons comentários e dicionários bíblicos. Lógico, também pode-
rá procurar esclarecimentos de um pastor ou outro estudioso da
Bíblia. Na conclusão da leitura de um livro, no seu caderno de ano-
tações, faça um resumo das principais lições e do enredo principal
do livro.

5. Determine pelo menos uma ação que você vai desenvolver como con-
sequência da aprendizagem da sua última leitura. Isto é, ponha em prá-
tica tão logo possível alguma “lição” que você aprendeu. A sua leitura
não deverá ser apenas um exercício racional, se bem que como exercí-
cio racional já vale um bocado. Mais vale mais ainda se conseguir colo-
car em prática algo que aprendeu. Escolha para si mesmo um desafio
a realizar como resultado da sua leitura.

6. Antes, durante e depois da sua leitura, converse com Deus sobre seus
objetivos e expectativas para a sua leitura. Depois de 50 anos de leitura
séria da Bíblia ainda me surpreendo quando, ao fazer uma leitura em
oração, Deus me desperta, me guia e me instrui.

7. Troque ideias sobre a sua leitura com alguém em que você confia, com-
partilhando o que aprendeu. Lembre-se que a maior parte dos livros
bíblicos foram escritos para serem lidos publicamente, por grupos, isto
é, no contexto do corpo de Cristo. Transforme a sua leitura individual

38 O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

em diálogo comunitário. Compartilhe com várias pessoas da sua con-


fiança e assim afine mais ainda as suas ideias.

Pronto, já reparou que tentamos exercer todas as partes do nosso método,


isto é, a dimensão corporal, racional, afetiva, volitiva, espiritual e comunitá-
ria? Esta é a ideia do método integral. E ele é especialmente bom para a sua
formação geral e de longo prazo. Mas será útil também para seu preparo de
uma aula específica de Escola Dominical? Eu creio que sim. Vamos pensar
nisto...

O uso do método
integral de leitura no
preparo para as aulas
Imaginemos dois cenários. Um cenário seria uma aula cujo conteúdo prin-
cipal é a exposição de uma passagem bíblica, como por exemplo, a expo-
sição de uma das lições das revistas de Escola Dominical sobre o Livro de
Apocalipse, o Livro de Romanos ou as Cartas Paulinas. O outro cenário seria
algumas referências bíblicas dentro de uma lição temática, por exemplo as
revistas sobre a vida cristã. São dois cenários diferentes que exigem estraté-
gias diferentes da aplicação do método integral de leitura da Bíblia.

O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical 39


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

No primeiro caso, o de exposição de uma aula de uma revista de Escola


Dominical sobre algum livro bíblico, precisaremos proceder mais ou menos
da mesma forma que expusemos na seção anterior. Só precisamos destacar
a necessidade do professor e dos alunos lerem diversas vezes o livro todo
para iniciar as aulas e a passagem a ser estudada na próxima lição, também
algumas vezes e em algumas versões diferentes. Ou seja, é imprescindível
que conheça bem a passagem e o seu contexto antes de iniciar a aula. Todos
os participantes, especialmente o professor, vão querer também ler algum
ou alguns comentários.

O segundo cenário que contemplamos é o da lição temática, que cita aqui e


ali algumas passagens bíblicas. Neste caso, a estratégia é diferente por uma
questão de tempo de preparo. Procuremos ler as passagens citadas dentro
do seu contexto maior, e depois responder: estas passagens sustentam as
ideias que o autor da lição apresenta? Porque sim ou porque não? E se não,
há outras passagens que considera melhores? Por que? Anote as suas res-
postas a estas perguntas e esteja pronto para expô-las, caso alguém pergun-
tar ou você mesmo achar necessário.

40 O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

O uso do método
integral de leitura na
entrega das aulas
Ao dirigir uma aula de adultos e jovens, é especialmente importante desta-
car que não é interessante que o professor se apresente como expert, aquele
que tem a última palavra. Outro dia, um aluno na minha aula virou para mim
e me fez uma pergunta. Respondi com toda a tranquilidade, “É fácil respon-
der a esta pergunta. A resposta é: não tenho a mínima ideia. Mas vamos, nós
dois pesquisar o assunto, e a gente volta a conversar sobre isto na semana
que vem.” O aluno gostou da resposta sincera do, neste caso, “doutor” e
assim chegamos mais próximos à possibilidade de uma interpretação mais
participativa. Também percebeu que o professor nem sempre tem respostas
prontas, mas precisar saber levar todos a recursos que possam esclarecer as
dúvidas.

O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical 41


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever a aplicação do método integral de ler e compreender a Bíblia
por meio das seguintes perguntas:

1. O que faz o método integral de leitura “integral”? Através desta unidade


você pretende adotar alguma prática diferente na sua leitura? Por que?

2. Você tende a separar a leitura racional da leitura afetiva, a individual da


comunitária, a gramatical da espiritual, e a leitura descomprometida da
obediente? Como podemos integrar melhor as nossas diversas formas
de ler a Bíblia?

3. Qual é a importância de realizar as suas leituras na sequência de um só


livro da Bíblia antes de partir para a leitura de outro livro?

4. Pense em alguns participantes das aulas de Escola Dominical na sua igre-


ja que costumam fazer perguntas sobre a Bíblia. Anote três ou quatro ti-
pos de perguntas. Como professor, como você pode se preparar melhor
para lidar com estas perguntas?

42 O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Resumo
da Unidade
Chegamos no final de mais uma unidade. O que nós aprendemos? Primeiro,
que o método que estamos promovendo pode ser aplicado a diversas situa-
ções. Pensando no desafio da leitura da Bíblia como o acompanhamento de
um filme ou série de longa metragem, destacamos a importância de ler os
diversos livros da Bíblia um de cada vez desde o início até o fim. Isto é, pro-
curamos conhecer bem um livro da Bíblia antes de prosseguir para outro.
Assim, aos poucos poderemos identificar melhor os enredos mais abran-
gentes que unem não apenas estes livros individualmente mas eventual-
mente a Bíblia toda. Segundo, isto igualmente significa que a maioria de nós
ainda estamos aprendendo e conhecendo a Bíblia (a nossa aprendizagem
está em constante construção) e que isto nos dá a liberdade de compartilhar
com outros participantes das nossas aulas que não temos todas as respostas
para as suas dúvidas.

Pronto. Na próxima unidade vamos analisar, passo a passo, este método e


conhecer com mais detalhes o que ele tem a nos proporcionar.

O uso do método integral de leitura da Bíblia na Escola Dominical 43


Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 4
A análise passo a
passo do método
integral de leitura
da Bíblia

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Na última unidade falamos sobre o uso do método integral de lei-
tura na Escola Dominical. Reparamos a sua utilidade, primeiro, na
nossa formação como professores. Vimos a sua utilidade no pre-
paro para as aulas. E consideramos como pode ser útil no próprio
decorrer das aulas.

Na segunda unidade apresentamos o método em si. Agora é a hora


de detalhar um pouco mais este método. O método contempla seis
partes: a parte física da nossa leitura, a parte racional, a parte afeti-
va, a parte volitiva, a parte espiritual e a parte comunitária. Vamos
ver cada uma destas partes e detalhar um pouco mais que antes.

A leitura corporal
A leitura corporal requer a nossa atenção e resposta física. Já fala-
mos da conexão entre corpo, mente e espírito. Separamos apenas
para fins de falar sobre características específicas no nosso ser, mas
tanto os biólogos e médicos, quanto os pedagogos e psicólogos
sabem que somos seres bem integrados e interligados. Então, o
que será uma leitura corporal?

Por exemplo, a postura, o tipo de cadeira que se usa quando se


lê, o horário e a frequência—todos estes fatores fisiológicos de
Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

atenção—influem no bom aproveitamento. Certa vez eu busquei as condi-


ções mais confortáveis para uma leitura devocional: um ambiente agradável,
uma luz suave e uma super confortável cadeira inclinável de papai. Não deu
outra! Eu não durei mais que 5 a 10 minutos sem cair no sono! Era confortá-
vel demais. Hoje eu sento mais reto numa cadeira de madeira ou cadeira de
mesa com luz mais forte (mas não demais) e um café ou chimarrão para me
manter mais atento.

Mas o corpo serve não só para zelar pela atenção. Também com o corpo
respondemos à leitura. Por exemplo, ao ler uma palavra dura, o corpo fica
tenso. Ou quando lemos uma palavra animadora o corpo expressa alegria
pelo sorriso ou risada. E quando ficamos mais comovidos ainda pela leitura
de um salmo ou doxologia, facilmente o corpo expressa louvor e adoração
pela agitação das mãos e a dança dos pés.

O corpo se expressa também pela vocalização das palavras lidas. Um exce-


lente exercício para a compreensão da Bíblia é a tentativa de lê-la, em voz
alta, com a entonação e emoção apropriadas. Não sei quem inventou este
negócio de ler a Bíblia com voz grossa e monótona como se esta fosse uma
leitura audível sagrada! Não é. Quando Davi expressa alegria em um dos
seus salmos, precisamos ler o salmo com alegria. E quando for com tristeza,
então devemos ler com tom de tristeza. Paulo, por exemplo, ironiza bastante,
mas é raro ouvir esta ironia reproduzida na leitura em voz alta. Por que? Claro
que, ao ler uma determinada passagem com a emoção “apropriada”, estamos
já fazendo um julgamento sobre a interpretação apropriada daquela passa-
gem. Mas temos que nos arriscar, inclusive para testar a nossa interpretação.

O corpo é importante. Mas uma boa leitura depende de mais que isso.

48 A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

A leitura pensante
Quando lemos “com toda a nossa mente” (Rm 12.1-3) nos esforçamos para
interpretar e dar sentido àquilo que lemos. E antes de tudo, isto significa
que precisamos estar dispostos a entender algo diferente do que pressupú-
nhamos antes. Ou seja, precisamos estar genuinamente abertos e dispos-
tos a ouvir. Especificamente, cabe levar em consideração três momentos da
passagem estudada: o contexto histórico do texto, o contexto literário maior
do texto, e o próprio texto. A princípio, adquirir o hábito de pensar em um
texto desta forma exige um pouco de esforço e paciência. Com o tempo,
como todo exercício, se torna mais fácil e natural. Vamos considerar estes
três momentos.

O primeiro momento consiste em conhecer as situações históricas, sociais e


espirituais que geraram o texto. Qual foi a realidade do povo naquele tempo
e naquele lugar que provocou a composição do texto? Por exemplo, o que
está por trás da seguinte afirmação pelo Apóstolo Paulo?

Portanto, que cada um examine a sua consciência e


então coma do pão e beba do cálice. Pois, a pessoa
que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer
que se trata do corpo do Senhor, estará sendo julgada
ao comer e beber para o seu próprio castigo. É por
isso que muitos de vocês estão doentes e fracos, e al-
guns já morreram. − 1 Coríntios 11.28-30 (NTLH)

A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia 49


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

Como era a igreja de Corinto e como eram os seus membros? Como se


relacionavam? E quais eram os principais desafios pastorais que Pau-
lo teve com eles? Sem esta informação, podemos entender mal as pa-
lavras de Paulo mencionadas acima. Veja só: são perguntas eminente-
mente históricas. E para responder a elas e esclarecer outras dúvidas
geográficas, biográficas, cronológicas e culturais, podemos recorrer
para enciclopédias, dicionários, e comentários bíblicos. Algumas edi-
ções da Bíblia trazem introduções gerais a cada livro, notas de rodapé
e referências a outros textos afins, que também ajudam a entender o
pano de fundo.

Mas às vezes, e em segundo lugar, o esclarecimento vem não só de recursos


externos como do contexto maior do texto bíblico. Por exemplo, as palavras
de Paulo em 1 Coríntios 11.17-22 já esclarecem o significado da passagem
citada acima. Ou se for ler mais para trás ainda, por exemplo, em 1 Coríntios
1.10-17, novamente conhecerá melhor o contexto maior da passagem que
citamos e terá melhores condições de entendê-lo. Este já é o segundo mo-
mento no estudo do texto onde se repara não apenas o contexto histórico,
como também o contexto literário maior, o que vem antes e depois do texto.
Aqui entra o trabalho do olhar mais abrangente que considera cada pas-
sagem bíblica não como um pensamento ou conselho completo, mas sim,
como uma parte de um ensino mais abrangente.

Finalmente, no terceiro e último momento, é preciso atentar para o texto em


si, ler com cuidado as linhas onde o significado aparece com mais clareza, e
também ler as entrelinhas, onde o leitor atual se imagina no lugar do leitor
antigo para poder entender melhor o que quis dizer.

50 A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Na tarefa de “ler as entrelinhas”, a comparação de traduções diferentes pode


trazer esclarecimento sobre a linguagem. Aliás, quanto à linguagem, o lei-
tor não deve confundir a expressão contemporânea da linguagem com a
fidelidade da tradução. Uma versão cuja linguagem é mais atual e flui com
facilidade pode muito bem ser também uma tradução fiel ao texto original,
mas não necessariamente.

Para “ler as entrelinhas” o leitor deve observar como o autor estabelece as


suas ideias em sequência, especialmente o seu próprio uso de textos bíbli-
cos anteriores ao seu escrito. Frequentemente o autor de um livro bíblico
cita ou alude a outra passagem bíblica. O apóstolo Paulo faz isto muito, es-
pecialmente na sua carta aos Romanos. Geralmente uma nota de rodapé
indica as citações ou alusões mais óbvias. Quando isto ocorre, o leitor fará
bem em ler a passagem citada junto com o contexto da mesma. Desta for-
ma, a preocupação e as sutilezas do autor que faz a citação se tornam muito
mais evidentes.

A leitura sentida
Uma leitura “com todo o coração” exige tanto que nós identifiquemos
as diversas expressões afetivas das leituras que fazemos quanto que nos
simpatizemos com aquelas expressões. Ou seja, tanto nós sentimos quan-
to nós percebemos o sentimento expresso no texto que estamos lendo. A
primeira expressão, a dos escritores antigos é conhecida principalmente

A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia 51


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

reparando a forma do texto estudado. É narrativa, poesia, doxologia, ins-


trução, oração ou provérbio? Percebe ironia ou impaciência (1Co 3.1-3;
12.31)? Revela surpresa ou êxtase? A sua linguagem é jurídica, histórica
ou metafórica, como a linguagem apocalíptica? Prestar atenção à forma
nos ajuda também a perceber mais integralmente o significado e res-
ponder mais afetivamente a ele. Assim, o texto é não só entendido como
também sentido. A exclamação invocaria surpresa; a doxologia, o culto;
a oração, reverência; a exortação, certo temor; e o encorajamento, a se-
renidade. Uma leitura em voz alta, três ou quatro vezes, ressaltando a
expressão apropriada de cada texto, é um exercício imprescindível para
testar e eventualmente aceitar uma primeira interpretação do significado
de um texto.

Ainda quanto à forma, repare o uso de linguagem figurativa e de metá-


fora. Não me refiro à tendência da gente interpretar figurativamente mas
estou falando das figuras que o próprio autor usa na transmissão da sua
mensagem. Por exemplo, quando Paulo nos exorta a vestir-nos com toda
a armadura de Deus, está obviamente empregando uma figura de lin-
guagem. Não está se referindo a trajes físicos, e sim, às características de
cada peça da armadura que ele menciona.

Tais expressões literárias originais requerem uma resposta expressiva


da nossa parte, os leitores. Esta resposta expressiva procede da medi-
tação e da “ruminação” da leitura. A prática de meditar nas Escrituras
pode nos auxiliar muito a prestar atenção ao texto bíblico. Gastar tempo
contemplando, relembrando e repetindo com calma e atenção o texto é
um exercício fundamental à boa compreensão. Antes da interpretação
e da resposta exige-se silêncio e pausa. Só depois de prestar atenção a

52 A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

uma passagem lida repetidas vezes é que começamos a absorver o seu


significado.

A leitura obediente
A leitura proveitosa da Bíblia envolve todas as nossas forças e demanda apli-
cação assídua. E isto requer obediência. Como podemos fazer uma leitura
obediente? Algumas dicas... Primeiro, uma vez que começa a entender o
texto dentro do seu contexto e para seus primeiros leitores pergunte e ano-
te “como eu posso aplicar isto à minha vida?” ou “como nós, como igreja,
podemos aplicar isto dentro da comunidade da fé?” Não esqueça de anotar
as suas respostas e procure revê-las várias vezes durante os próximos dias.
Segundo -- e isto ajuda a “fixar” a aplicação -- compartilhe o que você apren-
deu com alguém da sua confiança, falando do texto que leu, como entendeu
e como você agora entende que deverá agir. Estes dois passos já valeriam
muito para que a sua leitura seja transformadora e não mera informação.

A leitura orante
A leitura da Bíblia com todo o nosso espírito se manifesta na oração.

A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia 53


Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

Para refletir: A orientação de Carlos Mesters


é perspicaz:
Quando você faz leitura orante, o
objetivo último não é interpretar a
Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não é
conhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas
sim, ajudado pela Palavra escrita, descobrir a Palavra
viva que Deus fala hoje em sua vida, na nossa vida, na
vida do povo, na realidade do mundo em que vivemos
(Salmo 95.7)... (fonte: “Reflexões sobre a mística que
deve animar a leitura orante da Bíblia” na revista
Estudos Bíblicos, número 32, 1991, p. 103).

Antes da sua leitura, peça a Deus que Ele fale com você através da sua leitu-
ra. E ao concluir a leitura, medite naquilo que ouviu e pergunte a si mesmo
de que maneira a Bíblia está interpretando a sua vida.

A leitura comunitária
Lemos a Bíblia em comunidade porque boa parte dela foi escrita pensando
em comunidades e até com o propósito de ser lida pela comunidade. Neces-
sitamos da perspectiva de diversas classes etárias e sociais, até de tendências
teológicas diversas, tanto das mulheres quanto dos homens, todos dentro da

54 A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

comunidade do povo de Deus (Gálatas 3.28; Atos 2.17-18). Por isso, o estudo
em pequenos grupos (de oração, de células, Escola Dominical, etc.) e a troca
de ideias são imprescindíveis. A leitura comunitária não é tanto um comparti-
lhamento de “opiniões pessoais” (nem tanto a pergunta, “o que significa esta
passagem para mim?”) quanto um alinhamento, em oração, entre o grupo
sobre o significado do texto em si (o que a passagem significa para nós?).

Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever resumidamente o método integral de leitura da Bíblia, e isto
por meio de perguntas que nos ajudam a “fixar” a lição:

1. Quais são as seis partes do método integral? Poderá resumir a importân-


cia de cada uma? E quanto à sua integração uma com as outras, poderá
descrever esta integração?

2. Descreva pelo menos três maneiras de realizar uma leitura pensante.


Também descreva pelo menos três maneiras de fazer uma leitura mais
sentida. E a leitura espiritual, como fazê-la?

3. De que maneira prática poderemos envolver mais a comunidade de fé


na nossa leitura? Qual é a importância disto?

A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia 55


Programa de Educação a Distância
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Resumo
da Unidade
Novamente chegamos no final de uma unidade. E novamente perguntamo-
-nos: O que aprendemos? Primeiro, o método integral de leitura é um tanto
exigente. Mas também é muito promissor. Com um pouquinho mais de dis-
ciplina e o desenvolvimento de novas práticas é possível nos aprofundar-
mos no conhecimento do plano de Deus nas Escrituras. Esta recompensa
vale o esforço? Vamos fazer isto?

Na próxima unidade vamos avaliar este método.

56 A análise passo a passo do método integral de leitura da Bíblia


Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 5
A avaliação do
método integral de
leitura da Bíblia

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Na última unidade desenvolvemos com mais detalhes o método
integral de leitura. E há um bocado de detalhes. Mas com o uso e
prática, muitos destes detalhes começam a ser bem mais fáceis e
começamos a usá-los de modo quase “automático”. Agora, antes
de aplicar este método a uma passagem específica, o que faremos
na unidade seis, queremos parar um pouco para avaliar o méto-
do. Começamos pensando no método em termos de ferramentas
e técnicas, uma distinção comum da antropologia cultural.

A importância
de saber usar
as ferramentas
As ferramentas existem para aumentar a nossa capacidade. As
técnicas são as formas de usarmos as ferramentas para comple-
tar as nossas tarefas. É importante identificar ferramentas pró-
prias para determinadas tarefas. E é igualmente importante saber
como utilizar bem (técnicas) estas ferramentas. Deixe eu dar um
exemplo...
Programa de Educação a Distância
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No momento estou muito empolgado porque, depois de anos, finalmen-


te consegui montar uma oficina legal na minha casa. E a oficina já tem
uma respeitável quantidade de ferramentas manuais e elétricas. Mas
confesso que não sei bem usar todas estas ferramentas como o meu ami-
go, que é marceneiro, sabe. De vez em quando preciso de um conselho.
E quando não procuro, é bem provável que eu vá mal na utilização das
minha ferramentas. Logo, duas coisas são precisas: boas ferramentas, e
uma boa técnica. As primeiras, se compram. A segunda, se aprende com
certo custo.

Há alguns anos, por exemplo, resolvi fazer uma mesa para a nossa tele-
visão. Era uma mesa baixa, porém comprida para aproveitar da largu-
ra da sala de televisão. Só que, na hora que coloquei a mesa no lugar,
percebi que não havia contado com o batente da parede que ficava um
pouquinho para fora. Precisava fazer um ajuste nas pernas da mesa. Por-
que a mesa era grande e era inconveniente tentar tirá-la da sala, resolvi
serrar ali mesmo. Virei a mesa de ponta cabeça em cima do meu joelho
e comecei a serrar com um serrote manual (veja só a técnica que não
recomendo para ninguém!). Segurei a mesa com uma mão em cima do
joelho e serrei com a outra. A certa altura pensei: “preciso tirar minha
mão debaixo da mesa antes da lâmina da serra chegar lá”. Mas achei que
ainda não precisava tirar a mão e serrei um pouquinho mais. Calculei mal
e a serra cortou o meu dedo indicador até chegar ao osso. Ai, mas que
burrada! Ferramenta adequada. Técnica totalmente equivocada!

Este caso nos traz algumas “lições”. Primeiro, ilustra o papel e a impor-
tância de ferramentas e técnicas no desempenho de uma tarefa. Segun-
do, creio que destaca especialmente o papel de uma boa técnica junto

60 A avaliação do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

com os perigos de uma técnica inadequada. Não entenda mal. Boas fer-
ramentas facilitam muito o nosso trabalho. Mas, a bem da verdade, boas
técnicas para o uso das ferramentas são mais importantes ainda. Sempre
me impressiono com o que um bom marceneiro consegue fazer com
poucas ferramentas. No nosso caso, bons comentários, dicionários bíbli-
cos e chaves bíblicas podem esclarecer muito uma passagem. Mas, mais
importante ainda é a habilidade técnica de seguir gramatical e literaria-
mente a sequência de ideias numa passagem bíblica, mesmo sem estas
outras ferramentas.

Recentemente arrumei a minha oficina. Joguei fora ferramentas velhas


e estragadas, recuperei algumas outras e comecei o processo de com-
prar algumas novas. Fiquei impressionado com a quantidade e qualida-
de das diversas marcas disponíveis no mercado. O mesmo pode ser dito
em relação às ferramentas bíblicas. De grosso modo, as grandes marcas
boas são as Editoras Vida Nova, Mundo Cristão, Cultura Cristã, Hagnos,
Sinodal, a ASTE, a Sociedade Bíblica do Brasil e lógico, a nossa Pendão
Real. Há outras editoras tão boas quanto estas, mas sem necessariamen-
te uma produção de comentários, dicionários e enciclopédias... que são
os principais tipos de ferramenta bíblica. Só a título de exemplo, vou
mostrar alguns dos novos recursos da Sociedade Bíblica. Mas de ma-
neira alguma estou querendo ser exaustivo. Há muitos outros recursos
muito bons por aí.

A avaliação do método integral de leitura da Bíblia 61


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A importância da
integração de mente,
corpo, coração e alma
A título de avaliação do método integral de leitura, preciso falar um pouco
mais sobre a ideia da integração em si. Quando se trata da exposição bíbli-
ca, é muito comum ouvir uma queixa contra uma interpretação “intelectual”
em contraposição a uma interpretação “espiritual”. Por um lado, a queixa
compete quando se refere a uma interpretação que enfatiza observações
gramaticais ou estruturais da língua mas não chega a significância da pas-
sagem para a vida da igreja ou para as nossas vidas particulares. Tudo bem,
mas já percebeu? O problema não está com a interpretação que valorize o
contexto histórico ou a sequência literária. Apenas que esta análise parou
antes de contemplar a sua significância. Queremos compreender as Escritu-
ras de modo inteligente, afetivo, e espiritual, de tal modo que transforme as
nossas vidas. Não precisamos e nem devemos escolher entre procedimen-
tos que partem da mente ou do coração ou do espírito. Por que? Porque nós,
como pessoas não somos facilmente divisíveis assim. Somos integralmente
corpo, mente, coração e espírito. Há quinze anos atrás, li um livro fascinante
que explicou esta integração do ponto de vista médico. Era do neurologis-
ta americano de origem portuguesa, Antonio Damasio, e o livro se chama,
O erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano (Companhia das
Letras, 1996). Basicamente, ele demonstra como acidentes e doenças que

62 A avaliação do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

prejudicam a parte do cére-


bro que processa as emoções Para saber mais:
consequentemente também Uma entrevista em
causam grandes danos nos português se encontra
processos de raciocínio. De- aqui:
pois explica como isto funcio- Parte 1: http://www.youtube.
na biologicamente. Veja um com/watch?v=9mzNWzCKpbQ
resumo aqui (http://blog.sb- Parte 2: http://www.youtube.
nec.org.br/2010/06/onde-es- com/watch?v=4ROab8folGU
ta-nossa-moral/) e aqui (http:// Parte 3: http://www.youtube.
emcatharsis.blogspot.com. com/watch?v=Yh9C8tvZGtA
br/2009/04/antonio-damasio. Parte 4: http://www.youtube.
html) e uma apresentação por com/watch?v=M782irIghec
ele mesmo com legendas em
castelhano aqui (http://vimeo.
com/77689118).

Mais importante ainda é que a própria Bíblia jamais despreza a busca inte-
ligente pela sua interpretação ou tenta contrapor a mente contra o coração
ou qualquer tipo de interpretação contra a interpretação espiritual. Muito
pelo contrário, Paulo nos diz:

transformai- vos pela renovação da vossa mente, para


que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfei-
ta vontade de Deus. – Romanos 12.2 (RA)

ou

A avaliação do método integral de leitura da Bíblia 63


Programa de Educação a Distância
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deixem que Deus os transforme por meio de uma


completa mudança da mente de vocês. – Romanos
12.2 (NTLH)

É preciso que atuemos do jeito que Deus nos criou, e Ele nos criou corpo,
mente, coração e espírito.

Compreende melhor?
Pratica melhor?
Ligada a esta ideia de integração do nosso ser está a integração entre a
compreensão mental-afetivo-espiritual e a habilidade de colocar a nossa
compreensão em prática. Podemos até dizer que, enquanto não pusermos
em prática (o corpo), a aprendizagem não atingiu o seu objetivo. Posso es-
tudar a estrutura da bicicleta por meio de uma planta e um manual, e o meu
coração pode ser movido por uma bela exposição sobre os benefícios de
andar de bicicleta, mas mais cedo ou mais tarde eu preciso subir naquele
negócio e começar a pedalar. Quando isto acontece, a aprendizagem che-
ga a um outro nível. Assim é com a leitura e compreensão da Bíblia. É bom
perceber com muito custo a história do amor de Deus pela Sua criação e o
papel que o povo de Deus tem na sua redenção. É outra coisa se envolver
de corpo e alma na tarefa em si.

64 A avaliação do método integral de leitura da Bíblia


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

Perguntas
Diagnosticadoras
Como avaliar o método integral de leitura e compreensão da Bíblia? Vamos
tentar fazer isto por meio de perguntas:

1. Qual é a importância de advogar um método integral de leitura? O que


queremos dizer por “integral”? Quais são os benefícios deste método?
Quais são os perigos de interpretações não “integrais”?

2. Compartilhe no fórum algumas ferramentas e técnicas que você usa atu-


almente. Contemple também o que está aprendendo até aqui neste mó-
dulo e como pretende fazer ajustes na sua leitura da Bíblia.

3. Qual é a relevância da palestra de Antonio Damasio para o método inte-


gral de leitura?

A avaliação do método integral de leitura da Bíblia 65


Programa de Educação a Distância
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Resumo
da Unidade
Estamos no final de mais uma unidade. Procuramos avaliar o método pro-
posto do ponto de vista bíblico e do ponto de vista da biologia. Poderíamos
ter contemplado avaliações da psicologia e da andragogia e isto, sem dú-
vida, com benefícios. Mas creio que a avaliação realizada é suficiente por
enquanto.

Na próxima unidade vamos aplicar o método a um caso específico: a inter-


pretação de Efésios 6.10-20.

66 A avaliação do método integral de leitura da Bíblia


Disciplina: Como ler e compreender
a Bíblia

Unidade 6
Como eu posso ler
e compreender um
texto bíblico

Professor Timóteo Carriker


Para início
de conversa
Esta é a nossa última unidade. Espero sinceramente que este módulo
tenha sido proveitoso para vocês. Foi muito bom para mim porque,
apesar de professor há mais de 30 anos, nunca havia dado um cur-
so à distância e precisei passar por toda uma nova aprendizagem. E
agradeço a sua participação que também me ajudou neste processo.
Nesta última unidade do módulo vamos finalmente aplicar o método
integral a um caso concreto, a leitura e a exposição de Efésios 6.10-20.

Escolhi esta passagem de propósito, justamente por ser tão bem


conhecida entre os cristãos. Provavelmente você já ouviu ou deu
um estudo bíblico baseado nesta passagem. Se for assim, esta pas-
sagem é especialmente útil para “testar” se o método que estamos
advogando aumenta mais ainda a nossa compreensão. Vamos logo
então, passo a passo, à aplicação do método integral à leitura e ao
estudo de Efésios 6.10-20.

Ler com todo o corpo


Começamos com a atenção. Esta é uma boa hora? Imagino que
sim, ou não teria iniciado esta unidade. Mas se não for, pense bem
em um período melhor para fazer esta unidade e volte depois.
Supondo que seja uma hora boa, então é só verificar se o local, a
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iluminação, o café e assim por diante estão bons. Às vezes, dependendo da


hora, é mais fácil fazer a leitura em pé, especialmente se a passagem não for
muito longa. Você avalie...

Ler com toda a mente


Agora focamos a interpetação. Antes de mais nada, façamos a pergunta: es-
tamos dispostos a ouvir algo novo? Podemos considerar um outro “ângulo”
para a leitura à qual estamos acostumados? Se não, não precisamos fazer
mais nada. Se sim, sugerimos alguns passos para nos organizar melhor...

Primeiro, leia a passagem indicada duas ou três vezes e se tiver oportunida-


de, com mais que uma versão da Bíblia. Já pode anotar por escrito qualquer
observação que se destaque.

Segundo, leia a carta toda, no mínimo uma vez, mas idealmente pelo menos
duas vezes. São apenas seis capítulos. Não vai demorar e a leitura cuidado-
sa do contexto mais abrangente é fundamental. Anote novamente o que se
destaca: tipo de linguagem, exortações ou orações que chamam a atenção,
algumas palavras ou frases que queira investigar mais e a sequência de
ideias, se puder.

Terceiro, vamos procurar entender melhor o contexto histórico e a estrutura


de ideias. Leia a introdução à Carta aos Efésios em alguma Bíblia de Estudo

70 Como eu posso ler e compreender um texto bíblico


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

e as notas da nossa passagem. Não ficou satisfeito? Leia então alguma outra
Bíblia de Estudo e também algum comentário a respeito da nossa passagem.
Se tiver um pouquinho de sorte descobrirá que nos manuscritos mais antigos
a referência à cidade de Éfeso no primeiro versículo não consta! As explica-
ções são várias, mas a ausência desta referência indica que a carta pode não
ter sido escrita especificamente ou exclusivamente para os cristãos em Éfeso
(lembrem-se que títulos para os livros da Bíblia foram acrescentados muito
depois da composição dos livros em si e não fazem parte estritamente da
palavra de Deus em si). Isto por sua vez explica porque Paulo não fala nada ex-
plicitamente nesta carta sobre a igreja de Éfeso ou sobre os problemas que os
efésios enfrentavam, e isto é diferente das outras cartas de Paulo. Para saber
mais sobre o ministério de Paulo em Éfeso, temos que ler Atos 19, mas sem
podermos concluir que a carta denominada “Carta aos Efésios” foi escrita para
os efésios. Ou seja, podemos imaginar que o contexto de Atos 19 seja o con-
texto da carta, mas não temos como ter certeza disto. Logo, temos que adotar
uma estratégia um pouco diferente da leitura das outras cartas de Paulo onde
podemos, sim, levar em conta o contexto local. No caso de Efésios, precisa-
mos apenas reparar o conteúdo da carta, isto é, focar na sequência de ideias.

O quarto passo, então, é focar a sequencia de ideias. São pelo menos três
partes da sequência de ideias. Primeiro, repare bem de onde veio esta pas-
sagem e para onde vai, isto é, o contexto literário imediato. Porque Paulo
escreve o que ele escreve em Efésios 6.10-20 nesta altura da sua carta? No
desenvolvimento de ideias nesta carta, porque ele escreve isto aqui? Para
responder a estas perguntas é preciso pelo menos uma noção do esboço
da carta em si quanto ao teor daquilo que ele falou imediatamente antes e
depois da nossa passagem. Assim, poderemos colocar a passagem mais
propriamente dentro do contexto de Paulo.

Como eu posso ler e compreender um texto bíblico 71


Programa de Educação a Distância
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Resumidamente, podemos observar que Paulo estava tratando antes de


como nos comportamos nos nossos diversos relacionamentos (Efésios 5.21-
6.9) o que por sua vez segue uma orientação a respeito de como nós deve-
mos e não devemos nos comportar de modo geral (Efésios 4.17-5.20) e que
por sua vez segue um ensino a respeito do funcionamento da igreja como
corpo de Cristo (Efésios 4.1-16) e testemunho diante do mundo (Efésios 3.1-
21). Deu para pegar bem a ideia? De modo semelhante, é importante ob-
servar onde a nossa passagem desemboca, neste caso, em Efésios 6.19-20
(parte da nossa passagem) e na conclusão da carta com as suas saudações
que destacam a fidelidade no testemunho.

Agora, vamos pensar na terceira dimensão da sequência de ideias: de onde


Paulo tirou tudo isto, isto é o contexto maior ou histórico e/ou nas Escri-
turas. Pode protestar dizendo que Paulo e todos os autores falaram o que
falaram simplesmente porque foram movidos pelo Espírito Santo para fa-
zê-lo. E o protesto compete, pelo menos parcialmente. Digo parcialmente
porque embora o Espírito possa falar fora de qualquer outro contexto, isto,
de fato, na observação de muita gente, raramente acontece. O mais comum
é que nos move e move os autores da Bíblia dentro dos seus contextos.
Ou seja, conhecer estes contextos pode, sim, auxiliar a nossa compreensão.
(Também, se não tomarmos cuidado, poderá nos desviar, isto é, nos levar
para conclusões equivocadas. Por isto, sempre procuramos “ver” levando
em consideração o ponto de vista também dos outros.)

No caso de Efésios 6.10-20, temos uma mina de ouro comummente negli-


genciada. Paulo cita ou alude diversas vezes às Escrituras nesta passagem.
E quando um autor cita ou alude às Escrituras podemos ter certeza de que
aquela outra passagem faz parte do seu contexto de ideias. Como sabemos

72 Como eu posso ler e compreender um texto bíblico


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

que ele cita? A maneira mais fácil de saber é simplesmente ler as notas de
rodapé na sua Bíblia. Nem toda Bíblia inclui notas de rodapé. Para mim, es-
tas notas são imprescindíveis. São notas geralmente técnicas, às vezes de va-
riações de leituras com base em outros manuscritos antigos, e às vezes são
notas que indicam as citações ou alusões (a diferença entre os dois se refere
ao grau de acompanhamento do texto). No nosso caso, observamos que,
em Efésios 6.10-20, Paulo cita Isaías 11.5; 52.7 e 59.17. Pronto, já recebemos
outra tarefa, ler Isaías, capítulos 11, 52 e 59! Não se desanime pelo trabalho.
Vale muito a pena. Pois, descobrirá, primeiro que dos três capítulos, Paulo
claramente está pensando especialmente em Isaías 59, onde Deus veste a
sua armadura como metáfora de compensar (pela sua força) a fraqueza do
povo de Deus que não orava pela situação lastimável em que este povo vi-
via. E o resultado de tudo isto? Deus é conhecido pelo mundo inteiro (Isaías
59.19). Pronto, voltamos a Efésios 6.10-20 e observamos novamente onde
tudo se desemboca: no apelo de orar pelo bom testemunho de Paulo (Ef
6.18-20). Aliás, observe que quando Paulo chega à oração (v.18) ele não
usa mais metáforas como usava antes para a verdade (cinturão), a justiça
(couraça), a evangelização (sapatos), a fé (escudo), a salvação (capacete) e a
pregação (espada). De repente, o início do verso 18, “façam tudo isto oran-
do...” (NTLH), faz mais sentido: toda a armadura é uma metáfora sobre a vida
de oração, que por sua vez, é necessária para que a igreja exerça bem o seu

Você sabia? O termo para “palavra” em Efésios


6.17 não é logos (como na “Palavra” de Deus),
mas rēma (no sentido de uma boa explicação)

Como eu posso ler e compreender um texto bíblico 73


Programa de Educação a Distância
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papel de testemunho neste mundo. Claro que a tradução em si não resolve,


pois tanto a Revista e Atualizada (“com toda oração”) quanto a Nova Versão
Internacional (“orem no Espírito em todas as ocasiões”) escondem esta con-
clusão. Mas a leitura intertextual (prestando a atenção à leitura por Paulo de
Isaías) quanto a leitura do contexto maior de Efésios favorecem em muito
esta conclusão.

Há muito mais que podemos falar a respeito da leitura com toda a mente.
Praticamente todas as ciências humanas (a literatura, a sociologia, a linguís-
tica, as ciências políticas, a história, etc.) têm algo positivo para nos oferecer
para auxiliar e organizar o nosso pensamento. E tudo isto vale a pena, algu-
mas técnicas mais que outras. Mas vamos pensar agora em um outra postura
de leitura, a leitura sentida.

Ler com todo o coração:


expressão
Esta seria uma boa hora de ler a passagem em voz alta. Assim poderá “sentir”
e reproduzir o clima da passagem. Faça a leitura audível várias vezes até que
você esteja satisfeito com a sua interpretação lida e sentida. Outra maneira
de fazer esta leitura sentida é simplesmente fechar os olhos e tentar imagi-
nar aquele cenário, tanto Paulo escrevendo estas palavras quanto os leito-
res antigos, reunidos como igreja, lendo estas palavras. Feito isto imagine o

74 Como eu posso ler e compreender um texto bíblico


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

impacto que estas palavras tiveram ao longo dos séculos na vida da igreja e
na sua expansão missionária em diversas circunstâncias de testemunho pú-
blico. Desta forma estamos nos aproximando a uma leitura mais “completa”,
mais “integral”. Mas ainda faltam alguns passos...

Ler com toda a vontade:


obediência
A interpretação mais comum e popular de Efésios 6.10-20 tende a enfatizar
o zelo individual para não ser derrubado por situações difíceis, tentações, o
que entendemos como ataques do inimigo. E longe de mim simplesmente
desafiar tal interpretação. Mas creio que o nosso exercício ampliou o leque.
Primeiro ,vimos a ênfase no plural. Parece-nos que a igreja toda está sendo
convocada coletivamente. Segundo, parece-nos também que a preocupa-
ção final é bem mais “missionária” que “moral”, se bem que não convém
colocar estas duas perspectivas em contraposição. Meu ponto é este: como
colocamos em prática aquilo que lemos e compreendemos. O que significa
isto para mim como discípulo de Cristo e o que significa isto para nós como
igreja? Pode sugerir algumas ações que decorrem da sua leitura? E pode
assumir um plano para executar estas ações?

Como eu posso ler e compreender um texto bíblico 75


Programa de Educação a Distância
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Ler com todo o espírito:


oração
Agora fica evidente que estes “passos” de leitura e compreensão não são
restritamente consecutivos. Por exemplo, poderíamos e deveríamos orar por
uma boa leitura antes de começar (o segundo passo mencionado). E pode-
ríamos e deveríamos orar a respeito de como colocar em prática (o último
passo mencionado). Aliás não seria interessante orar durante a nossa pes-
quisa “racional”. Deu para entender? Orar é parte integrante de todos os
outros passos. E tem tudo a ver com a nossa disposição de ouvir algo novo e
talvez diferente do que já aprendemos antes. Queremos mesmo ouvir a voz
de Deus e não meramente ou necessariamente reforçar o que já sabíamos
antes da nossa nova leitura.

Ler com todo o povo de


Deus: relacionamento
Chegamos ao “último” passo que também não precisa ser necessariamente
“último”. A carta aos Efésios, como a grande maioria dos livros da Bíblia (mas

76 Como eu posso ler e compreender um texto bíblico


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

não todos) foi escrita para ser lida na igreja e pela igreja. Interessante isto,
não? Como recuperar isto? Não é fácil porque simplesmente não vivemos
sempre como o grupo maior da igreja. Mas imagine como seria enriquece-
dor pegar uma destas cartas não tão longas, e como aula de Escola Domi-
nical ou pequeno grupo que se reúne em uma casa, ler a carta toda, cada
participante com o seu caderno fazendo as suas anotações. E depois, a clas-
se poderia simplesmente conversar sobre o que cada um ouviu e entendeu.
Pode até organizar o tempo com 15-20 minutos de leitura da carta, e depois
3-5 minutos para cada um compartilhar e no final o grupo poderá terminar
em oração e/ou ter um “fechamento” ou resumo de ideias pelo professor.
Que tal?

Ou sugestão semelhante, durante uns 3 anos conduzi estudos bíblicos em


Florianópolis na hora da Escola Dominical da seguinte maneira: primeiro, se-
guimos a leitura de um livro da Bíblia desde o início até o fim. Assim, estuda-
mos 1 Coríntios, Filipenses, Rute, Apocalipse, Daniel (junto com as adições
apócrifas!) e vários outros. Segundo, líamos em círculo, cada participante um
versículo e o grupo todo com várias versões. Quando uma versão era muito
diferente que a outra, alguém chamava a atenção e reparamos a diferença e
cogitávamos o motivo da diferença. Sempre que qualquer pessoa tinha uma
dúvida, nós parávamos e discutíamos o assunto e, se eu quisesse chamar a
atenção para algo, também fazia. Eram aulas muito gostosas e proveitosas e
a classe se multiplicou ao longo daqueles anos. As exigências eram simples
mas sérias: cada um lia a passagem a ser estudada com antecedência e eu, o
professor, precisava estudar um pouco mais (comentários, etc.), mas lógico,
todos poderiam se preparar da mesma forma. A grande ênfase estava sem-
pre na fluência de ideias a medida que íamos lendo e as diversas formas de
colocar a nossa leitura em prática durante a semana. Todos os participantes

Como eu posso ler e compreender um texto bíblico 77


Programa de Educação a Distância
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destas classes eram jovens. Hoje, dez anos depois, quatro cinco deles são
presbíteros, dois são supervisores de grupos pequenos e quase todos os 20
e todos participantes são membros muito ativos na igreja. Somente por cau-
sa daquelas aulas? Claro que não. Mas os próprios participantes nos dizem
que aquelas aulas exerceram um papel fundamental.

Outra ideia mais modesta: podemos simplesmente compartilhar a nossa


aprendizagem com pessoas da nossa confiança, promover uma troca de
ideias, e orar juntos.

O que você sugere?

Perguntas
Diagnosticadoras
Como nos saímos neste exercício hoje? Algumas perguntas novamente para
nos ajudar:

1. Uma vez que aplicamos o método integral a um caso concreto, a leitura


de Efésios 6.10-20, como foi a sua leitura e a sua compreensão? Melho-
rou? Foi mais rica? “Avançou” na sua habilidade de ler e compreender a
Bíblia? Se a resposta for afirmativa, faça uma lista de ganhos que adquiriu.

78 Como eu posso ler e compreender um texto bíblico


Capacitação para Professores de Adultos para Escola Dominical

2. O que significa uma leitura “intertextual”? Como fazê-lo? Qual é a sua im-
portância para a compreensão de uma determinada passagem bíblica?

3. Como se realiza uma leitura comunitária? Quais são suas vantagens e


suas desvantagens?

Resumo
da Unidade
Chegamos ao fim desta unidade e também do módulo. Sendo o meu pri-
meiro módulo de Ensino a Distância, preciso muito do seu retorno, tanto
em relação a esta disciplina quanto em termos do êxito na organização e
entrega das aulas. Quero convidá-lo a deixar no fórum as suas observações.
Foi uma alegria poder participar junto com cada um de vocês neste módulo.
Que Deus os abençoe muito.

Como eu posso ler e compreender um texto bíblico 79


PROEAD-IPIB
Programa de Educação
a Distância da
Igreja Presbiteriana
Independente do Brasil

Capacitação para Professores


de Adultos para Escola
Dominical

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