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Programa de Educação a
Distância da Igreja
Presbiteriana
Independente do Brasil
Capacitação
para
Professores
de Adultos
para Escola
Dominical
PROEAD-IPIB
Curso para Professores
de Escola Dominical
Disciplina:
Como ler e compreender
a Bíblia
Diretoria da IPIB
Rev. Áureo Rodrigues de Oliveira
Presidente
Rev. Agnaldo Pereira Gomes
Primeiro Vice-Presidente
Presb. Luiz Carlos Morosini
Segundo Vice-Presidente
Rev. Marcos Nunes da Silva
Primeiro Secretário
Presb. Djalma Bastos César
Segundo Secretário
Ministério Educação
Rev. Clayton Leal da Silva
Secretário Educação Cristã
Rev. Adilson de Souza Filho
Coordenador Pedagógico do Curso
Rev. Timóteo Carriker
Coordenador Técnico do PROEAD-IPIB
Rev. José Roberto Cristofani
Sumário
Unidade 1
Como eu lia e compreendia a Bíblia................................................... 7
Unidade 2
O método integral de leitura da Bíblia.............................................21
Unidade 3
O uso do método integral de leitura
da Bíblia na Escola Dominical....................................................33
Unidade 4
A análise passo a passo do método
integral de leitura da Bíblia.........................................................45
Unidade 5
A avaliação do método integral de leitura da Bíblia......................57
Unidade 6
Como eu posso ler e compreender um texto bíblico.....................67
Produção do Conteúdo
Timóteo Carriker
Diagramação e projeto gráfico
Giovanni Alecrim e José Roberto Cristofani
Unidade 1
Como eu lia e
compreendia a
Bíblia
As quatro estratégias
principais de leitura da
Bíblia
Algumas pessoas, como quase todos nós em uma
dada fase da nossa fé, leem a Bíblia como leem um
dicionário. Outras leem como leem uma enciclopé-
dia. Outros, como leem uma carta ou romance cur-
to. E outros, como assistem a uma telenovela, ou
mini série. Cada uma destas estratégias tem as suas
vantagens e desvantagens e se acreditamos que a
Bíblia é realmente inspirada por Deus, certamente
Ele não deixará de falar conosco por causa de uma
ou outra estratégia que adotamos. Ao mesmo tem-
po, como crescemos em todas as dimensões da fé,
podemos certamente crescer na forma de lermos a
Bíblia. Vamos ver com um pouco mais de detalhe
cada uma das estratégias propostas, e depois fare-
mos as sugestões de uma estratégia que possa me-
lhorar a nossa compreensão.
1. A leitura de um dicionário.
É possível, sim, aproveitar mais ainda a leitura da Bíblia com um pouco mais
de dedicação e enfoque. E para muitas pessoas isto significa uma leitura
mais semelhante à leitura de uma enciclopédia...
Mas enquanto este tipo de leitura rende bem mais que o tipo anterior, o da
leitura de um dicionário, ele também é limitado. A limitação maior destes
dois tipos de leitura é que a Bíblia não foi escrita como um dicionário ou uma
enciclopédia. Foi escrita como livros inteiros , o que nos leva a uma outra
estratégia de leitura...
Mas, a bem da verdade, há ainda mais uma estratégia maior ainda da leitura
e compreensão da Bíblia que, honestamente, demanda anos para adquirir,
mas que vale muito a pena e que aumenta significativamente a nossa com-
preensão da Bíblia. Esta estratégia parte do reconhecimento que a Bíblia,
enquanto biblioteca de muitos (66) livros, ao mesmo tempo, é um só livro.
Isto pode parecer uma contradição ou uma afirmação dogmática difícil de
engolir, mas a postura das principais confissões de fé afirma exatamente
isto. E se pensarmos na Bíblia não apenas como muitos livros, mas também
como um só livro, o esforço na leitura e compreensão que isto exige é bem
mais que as estratégias anteriores...
Mas além de exigir muito fôlego, será que uma estratégia ambiciosa como
essa não corre perigo de “forçar a barra” no sentido de ofuscar os enredos
mais específicos? Com certeza corre este perigo! E o perigo não é nada pe-
queno. Por isso mesmo, muitas pessoas nem tentam. Mas novamente, se as
Escrituras são realmente inspiradas e de alguma forma podem ser chamadas
de Palavra de Deus, precisamos nos esforçar, mesmo gastando a vida toda,
para compreender a sua mensagem, não só nos detalhes específicos como
também de modo mais abrangente, e assim perguntar quais são o enredo,
o contexto, a finalidade e o tom deste escrito. Claro que são múltiplos. Há
vários enredos, vários contextos, várias finalidades e vários tons. Mas quem
sabe, aos poucos, se comece a perceber certa unicidade nestes enredos,
contextos, finalidades e tons.
Perguntas
Diagnosticadoras
A fim de rever as diversas formas de lermos a Bíblia até hoje, vamos conside-
rar as seguintes perguntas.
Resumo
da Unidade
Chegamos no final da nossa primeira unidade. Vamos resumir o que
aprendemos.
Aguardamos você!
Unidade 2
O método integral
de leitura da Bíblia
A inspiração e
autoridade da Bíblia
A Confissão de Fé de Westminster, que orienta as igrejas de linha teológi-
ca reformada de modo geral, afirma que a Bíblia, sendo o Antigo e o Novo
Testamentos, é a “regra única e infalível de fé e prática”. Positivamente
isto significa, entre outras coisas, que ela é a máxima autoridade sobre as
nossas vidas e a vida das nossas igrejas, isto é, sobre a nossa fé e condu-
ta. Para o nosso curso, isto significa que procuramos ler e compreender
a Bíblia e assim entender e atender a voz de Deus. O que tudo isso não
significa?
Primeiro, não significa que Deus fala conosco unicamente através da Bíblia.
A própria Bíblia fala de outras formas como Deus fala com seu povo e se
dirige a nós: por meio de sonhos e visões, por meio de outras pessoas e
através de circunstâncias. Mas nenhum destes meios tem a mesma autori-
dade sobre as nossas vidas que a Bíblia. É isso que quer dizer “regra única e
infalível de fé e prática”.
Segundo, esta expressão não significa que a Bíblia não seja “humana”. A
princípio, isso pode parecer uma afirmação estranha, mas não é difícil escla-
recer. Basta pensar na analogia da encarnação. Deus se fez homem e habi-
tou entre nós na pessoa de Jesus. E as igrejas cristãs afirmam que Jesus era
plenamente humano e plenamente Deus.
ortodoxia
evangélico bíblica
popular
80%
neo-
ortodoxia
participação
60%
divina na
revelação
40%
liberalismo
20%
ciência
Por causa da sua natureza divina (100%) e humana (100%), uma leitura
proveitosa da Bíblia requer toda a nossa atenção. Usando a analogia
que Jesus usou para resumir a lei como devoção total a Deus e servi-
ço sacrificial ao seu próximo, podemos dizer que a leitura proveitosa
da Bíblia envolve o corpo, a mente, o coração, o esforço, até mesmo o
espírito.
Cada uma destas dimensões são importantes para a boa leitura e compre-
ensão da Bíblia. Vejamos cada uma.
Envolve o corpo, porque requer a nossa atenção e resposta física. Não pode-
mos fugir disto. A nossa mente e o nosso coração, e até mesmo o nosso es-
pírito, todos habitam nos nossos corpos e a ele estão conectados. Quando o
corpo está mal, não podemos nos concentrar melhor, é difícil nos alegrarmos
A leitura integral da Bíblia é feita com todo o nosso espírito, o que se mani-
festa na oração. Todas estas estratégias de leitura e compreensão precisam
ser acompanhadas de oração. Isto porque, na ótica cristã, a Bíblia não é livro
qualquer. Quando se conhece o autor de um texto a compreensão e o sen-
tido daquele texto aumentam significantemente. Oramos, nem tanto para
entender melhor Paulo, João, Davi, Salomão e assim por diante, mas para es-
tarmos melhor afinados com o Autor por trás destes autores, aprendermos
dEle e sermos transformados por Ele.
Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever o método integral de ler e compreender a Bíblia por meio das
seguintes perguntas:
Resumo
da Unidade
Chegamos no final da nossa segunda unidade. Vamos resumir o que
aprendemos.
Na próxima unidade, vamos aplicar este método ao seu uso como professor
de Escola Dominical, tanto para a sua formação como líder quanto para o
seu preparo para as aulas, e também na apresentação das mesmas.
Unidade 3
O uso do método
integral de leitura
da Bíblia na Escola
Dominical
O uso do método
integral de leitura na
formação do professor
O método integral sugerido é especialmente aplicável à formação dos pro-
fessores. Lembre-se que o propósito deste método é de proporcionar uma
leitura que traga uma compreensão não só de uma determinada passagem
específica, mas do significado daquela passagem dentro da redação maior
do livro da Bíblia onde essa passagem se encontra, e mais ainda, o seu sig-
nificado dentro da mega-história que a Bíblia toda está contando. Obvia-
mente isto exige muito tempo e disciplina. É resultado de muitas leituras e
estudo da Bíblia ao longo dos anos. Como isto é possível na prática? Vamos
fazer algumas sugestões…
5. Determine pelo menos uma ação que você vai desenvolver como con-
sequência da aprendizagem da sua última leitura. Isto é, ponha em prá-
tica tão logo possível alguma “lição” que você aprendeu. A sua leitura
não deverá ser apenas um exercício racional, se bem que como exercí-
cio racional já vale um bocado. Mais vale mais ainda se conseguir colo-
car em prática algo que aprendeu. Escolha para si mesmo um desafio
a realizar como resultado da sua leitura.
6. Antes, durante e depois da sua leitura, converse com Deus sobre seus
objetivos e expectativas para a sua leitura. Depois de 50 anos de leitura
séria da Bíblia ainda me surpreendo quando, ao fazer uma leitura em
oração, Deus me desperta, me guia e me instrui.
7. Troque ideias sobre a sua leitura com alguém em que você confia, com-
partilhando o que aprendeu. Lembre-se que a maior parte dos livros
bíblicos foram escritos para serem lidos publicamente, por grupos, isto
é, no contexto do corpo de Cristo. Transforme a sua leitura individual
O uso do método
integral de leitura no
preparo para as aulas
Imaginemos dois cenários. Um cenário seria uma aula cujo conteúdo prin-
cipal é a exposição de uma passagem bíblica, como por exemplo, a expo-
sição de uma das lições das revistas de Escola Dominical sobre o Livro de
Apocalipse, o Livro de Romanos ou as Cartas Paulinas. O outro cenário seria
algumas referências bíblicas dentro de uma lição temática, por exemplo as
revistas sobre a vida cristã. São dois cenários diferentes que exigem estraté-
gias diferentes da aplicação do método integral de leitura da Bíblia.
O uso do método
integral de leitura na
entrega das aulas
Ao dirigir uma aula de adultos e jovens, é especialmente importante desta-
car que não é interessante que o professor se apresente como expert, aquele
que tem a última palavra. Outro dia, um aluno na minha aula virou para mim
e me fez uma pergunta. Respondi com toda a tranquilidade, “É fácil respon-
der a esta pergunta. A resposta é: não tenho a mínima ideia. Mas vamos, nós
dois pesquisar o assunto, e a gente volta a conversar sobre isto na semana
que vem.” O aluno gostou da resposta sincera do, neste caso, “doutor” e
assim chegamos mais próximos à possibilidade de uma interpretação mais
participativa. Também percebeu que o professor nem sempre tem respostas
prontas, mas precisar saber levar todos a recursos que possam esclarecer as
dúvidas.
Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever a aplicação do método integral de ler e compreender a Bíblia
por meio das seguintes perguntas:
Resumo
da Unidade
Chegamos no final de mais uma unidade. O que nós aprendemos? Primeiro,
que o método que estamos promovendo pode ser aplicado a diversas situa-
ções. Pensando no desafio da leitura da Bíblia como o acompanhamento de
um filme ou série de longa metragem, destacamos a importância de ler os
diversos livros da Bíblia um de cada vez desde o início até o fim. Isto é, pro-
curamos conhecer bem um livro da Bíblia antes de prosseguir para outro.
Assim, aos poucos poderemos identificar melhor os enredos mais abran-
gentes que unem não apenas estes livros individualmente mas eventual-
mente a Bíblia toda. Segundo, isto igualmente significa que a maioria de nós
ainda estamos aprendendo e conhecendo a Bíblia (a nossa aprendizagem
está em constante construção) e que isto nos dá a liberdade de compartilhar
com outros participantes das nossas aulas que não temos todas as respostas
para as suas dúvidas.
Unidade 4
A análise passo a
passo do método
integral de leitura
da Bíblia
A leitura corporal
A leitura corporal requer a nossa atenção e resposta física. Já fala-
mos da conexão entre corpo, mente e espírito. Separamos apenas
para fins de falar sobre características específicas no nosso ser, mas
tanto os biólogos e médicos, quanto os pedagogos e psicólogos
sabem que somos seres bem integrados e interligados. Então, o
que será uma leitura corporal?
Mas o corpo serve não só para zelar pela atenção. Também com o corpo
respondemos à leitura. Por exemplo, ao ler uma palavra dura, o corpo fica
tenso. Ou quando lemos uma palavra animadora o corpo expressa alegria
pelo sorriso ou risada. E quando ficamos mais comovidos ainda pela leitura
de um salmo ou doxologia, facilmente o corpo expressa louvor e adoração
pela agitação das mãos e a dança dos pés.
O corpo é importante. Mas uma boa leitura depende de mais que isso.
A leitura pensante
Quando lemos “com toda a nossa mente” (Rm 12.1-3) nos esforçamos para
interpretar e dar sentido àquilo que lemos. E antes de tudo, isto significa
que precisamos estar dispostos a entender algo diferente do que pressupú-
nhamos antes. Ou seja, precisamos estar genuinamente abertos e dispos-
tos a ouvir. Especificamente, cabe levar em consideração três momentos da
passagem estudada: o contexto histórico do texto, o contexto literário maior
do texto, e o próprio texto. A princípio, adquirir o hábito de pensar em um
texto desta forma exige um pouco de esforço e paciência. Com o tempo,
como todo exercício, se torna mais fácil e natural. Vamos considerar estes
três momentos.
A leitura sentida
Uma leitura “com todo o coração” exige tanto que nós identifiquemos
as diversas expressões afetivas das leituras que fazemos quanto que nos
simpatizemos com aquelas expressões. Ou seja, tanto nós sentimos quan-
to nós percebemos o sentimento expresso no texto que estamos lendo. A
primeira expressão, a dos escritores antigos é conhecida principalmente
A leitura obediente
A leitura proveitosa da Bíblia envolve todas as nossas forças e demanda apli-
cação assídua. E isto requer obediência. Como podemos fazer uma leitura
obediente? Algumas dicas... Primeiro, uma vez que começa a entender o
texto dentro do seu contexto e para seus primeiros leitores pergunte e ano-
te “como eu posso aplicar isto à minha vida?” ou “como nós, como igreja,
podemos aplicar isto dentro da comunidade da fé?” Não esqueça de anotar
as suas respostas e procure revê-las várias vezes durante os próximos dias.
Segundo -- e isto ajuda a “fixar” a aplicação -- compartilhe o que você apren-
deu com alguém da sua confiança, falando do texto que leu, como entendeu
e como você agora entende que deverá agir. Estes dois passos já valeriam
muito para que a sua leitura seja transformadora e não mera informação.
A leitura orante
A leitura da Bíblia com todo o nosso espírito se manifesta na oração.
Antes da sua leitura, peça a Deus que Ele fale com você através da sua leitu-
ra. E ao concluir a leitura, medite naquilo que ouviu e pergunte a si mesmo
de que maneira a Bíblia está interpretando a sua vida.
A leitura comunitária
Lemos a Bíblia em comunidade porque boa parte dela foi escrita pensando
em comunidades e até com o propósito de ser lida pela comunidade. Neces-
sitamos da perspectiva de diversas classes etárias e sociais, até de tendências
teológicas diversas, tanto das mulheres quanto dos homens, todos dentro da
comunidade do povo de Deus (Gálatas 3.28; Atos 2.17-18). Por isso, o estudo
em pequenos grupos (de oração, de células, Escola Dominical, etc.) e a troca
de ideias são imprescindíveis. A leitura comunitária não é tanto um comparti-
lhamento de “opiniões pessoais” (nem tanto a pergunta, “o que significa esta
passagem para mim?”) quanto um alinhamento, em oração, entre o grupo
sobre o significado do texto em si (o que a passagem significa para nós?).
Perguntas
Diagnosticadoras
Vamos rever resumidamente o método integral de leitura da Bíblia, e isto
por meio de perguntas que nos ajudam a “fixar” a lição:
Resumo
da Unidade
Novamente chegamos no final de uma unidade. E novamente perguntamo-
-nos: O que aprendemos? Primeiro, o método integral de leitura é um tanto
exigente. Mas também é muito promissor. Com um pouquinho mais de dis-
ciplina e o desenvolvimento de novas práticas é possível nos aprofundar-
mos no conhecimento do plano de Deus nas Escrituras. Esta recompensa
vale o esforço? Vamos fazer isto?
Unidade 5
A avaliação do
método integral de
leitura da Bíblia
A importância
de saber usar
as ferramentas
As ferramentas existem para aumentar a nossa capacidade. As
técnicas são as formas de usarmos as ferramentas para comple-
tar as nossas tarefas. É importante identificar ferramentas pró-
prias para determinadas tarefas. E é igualmente importante saber
como utilizar bem (técnicas) estas ferramentas. Deixe eu dar um
exemplo...
Programa de Educação a Distância
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
Há alguns anos, por exemplo, resolvi fazer uma mesa para a nossa tele-
visão. Era uma mesa baixa, porém comprida para aproveitar da largu-
ra da sala de televisão. Só que, na hora que coloquei a mesa no lugar,
percebi que não havia contado com o batente da parede que ficava um
pouquinho para fora. Precisava fazer um ajuste nas pernas da mesa. Por-
que a mesa era grande e era inconveniente tentar tirá-la da sala, resolvi
serrar ali mesmo. Virei a mesa de ponta cabeça em cima do meu joelho
e comecei a serrar com um serrote manual (veja só a técnica que não
recomendo para ninguém!). Segurei a mesa com uma mão em cima do
joelho e serrei com a outra. A certa altura pensei: “preciso tirar minha
mão debaixo da mesa antes da lâmina da serra chegar lá”. Mas achei que
ainda não precisava tirar a mão e serrei um pouquinho mais. Calculei mal
e a serra cortou o meu dedo indicador até chegar ao osso. Ai, mas que
burrada! Ferramenta adequada. Técnica totalmente equivocada!
Este caso nos traz algumas “lições”. Primeiro, ilustra o papel e a impor-
tância de ferramentas e técnicas no desempenho de uma tarefa. Segun-
do, creio que destaca especialmente o papel de uma boa técnica junto
com os perigos de uma técnica inadequada. Não entenda mal. Boas fer-
ramentas facilitam muito o nosso trabalho. Mas, a bem da verdade, boas
técnicas para o uso das ferramentas são mais importantes ainda. Sempre
me impressiono com o que um bom marceneiro consegue fazer com
poucas ferramentas. No nosso caso, bons comentários, dicionários bíbli-
cos e chaves bíblicas podem esclarecer muito uma passagem. Mas, mais
importante ainda é a habilidade técnica de seguir gramatical e literaria-
mente a sequência de ideias numa passagem bíblica, mesmo sem estas
outras ferramentas.
A importância da
integração de mente,
corpo, coração e alma
A título de avaliação do método integral de leitura, preciso falar um pouco
mais sobre a ideia da integração em si. Quando se trata da exposição bíbli-
ca, é muito comum ouvir uma queixa contra uma interpretação “intelectual”
em contraposição a uma interpretação “espiritual”. Por um lado, a queixa
compete quando se refere a uma interpretação que enfatiza observações
gramaticais ou estruturais da língua mas não chega a significância da pas-
sagem para a vida da igreja ou para as nossas vidas particulares. Tudo bem,
mas já percebeu? O problema não está com a interpretação que valorize o
contexto histórico ou a sequência literária. Apenas que esta análise parou
antes de contemplar a sua significância. Queremos compreender as Escritu-
ras de modo inteligente, afetivo, e espiritual, de tal modo que transforme as
nossas vidas. Não precisamos e nem devemos escolher entre procedimen-
tos que partem da mente ou do coração ou do espírito. Por que? Porque nós,
como pessoas não somos facilmente divisíveis assim. Somos integralmente
corpo, mente, coração e espírito. Há quinze anos atrás, li um livro fascinante
que explicou esta integração do ponto de vista médico. Era do neurologis-
ta americano de origem portuguesa, Antonio Damasio, e o livro se chama,
O erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano (Companhia das
Letras, 1996). Basicamente, ele demonstra como acidentes e doenças que
Mais importante ainda é que a própria Bíblia jamais despreza a busca inte-
ligente pela sua interpretação ou tenta contrapor a mente contra o coração
ou qualquer tipo de interpretação contra a interpretação espiritual. Muito
pelo contrário, Paulo nos diz:
ou
É preciso que atuemos do jeito que Deus nos criou, e Ele nos criou corpo,
mente, coração e espírito.
Compreende melhor?
Pratica melhor?
Ligada a esta ideia de integração do nosso ser está a integração entre a
compreensão mental-afetivo-espiritual e a habilidade de colocar a nossa
compreensão em prática. Podemos até dizer que, enquanto não pusermos
em prática (o corpo), a aprendizagem não atingiu o seu objetivo. Posso es-
tudar a estrutura da bicicleta por meio de uma planta e um manual, e o meu
coração pode ser movido por uma bela exposição sobre os benefícios de
andar de bicicleta, mas mais cedo ou mais tarde eu preciso subir naquele
negócio e começar a pedalar. Quando isto acontece, a aprendizagem che-
ga a um outro nível. Assim é com a leitura e compreensão da Bíblia. É bom
perceber com muito custo a história do amor de Deus pela Sua criação e o
papel que o povo de Deus tem na sua redenção. É outra coisa se envolver
de corpo e alma na tarefa em si.
Perguntas
Diagnosticadoras
Como avaliar o método integral de leitura e compreensão da Bíblia? Vamos
tentar fazer isto por meio de perguntas:
Resumo
da Unidade
Estamos no final de mais uma unidade. Procuramos avaliar o método pro-
posto do ponto de vista bíblico e do ponto de vista da biologia. Poderíamos
ter contemplado avaliações da psicologia e da andragogia e isto, sem dú-
vida, com benefícios. Mas creio que a avaliação realizada é suficiente por
enquanto.
Unidade 6
Como eu posso ler
e compreender um
texto bíblico
Segundo, leia a carta toda, no mínimo uma vez, mas idealmente pelo menos
duas vezes. São apenas seis capítulos. Não vai demorar e a leitura cuidado-
sa do contexto mais abrangente é fundamental. Anote novamente o que se
destaca: tipo de linguagem, exortações ou orações que chamam a atenção,
algumas palavras ou frases que queira investigar mais e a sequência de
ideias, se puder.
e as notas da nossa passagem. Não ficou satisfeito? Leia então alguma outra
Bíblia de Estudo e também algum comentário a respeito da nossa passagem.
Se tiver um pouquinho de sorte descobrirá que nos manuscritos mais antigos
a referência à cidade de Éfeso no primeiro versículo não consta! As explica-
ções são várias, mas a ausência desta referência indica que a carta pode não
ter sido escrita especificamente ou exclusivamente para os cristãos em Éfeso
(lembrem-se que títulos para os livros da Bíblia foram acrescentados muito
depois da composição dos livros em si e não fazem parte estritamente da
palavra de Deus em si). Isto por sua vez explica porque Paulo não fala nada ex-
plicitamente nesta carta sobre a igreja de Éfeso ou sobre os problemas que os
efésios enfrentavam, e isto é diferente das outras cartas de Paulo. Para saber
mais sobre o ministério de Paulo em Éfeso, temos que ler Atos 19, mas sem
podermos concluir que a carta denominada “Carta aos Efésios” foi escrita para
os efésios. Ou seja, podemos imaginar que o contexto de Atos 19 seja o con-
texto da carta, mas não temos como ter certeza disto. Logo, temos que adotar
uma estratégia um pouco diferente da leitura das outras cartas de Paulo onde
podemos, sim, levar em conta o contexto local. No caso de Efésios, precisa-
mos apenas reparar o conteúdo da carta, isto é, focar na sequência de ideias.
O quarto passo, então, é focar a sequencia de ideias. São pelo menos três
partes da sequência de ideias. Primeiro, repare bem de onde veio esta pas-
sagem e para onde vai, isto é, o contexto literário imediato. Porque Paulo
escreve o que ele escreve em Efésios 6.10-20 nesta altura da sua carta? No
desenvolvimento de ideias nesta carta, porque ele escreve isto aqui? Para
responder a estas perguntas é preciso pelo menos uma noção do esboço
da carta em si quanto ao teor daquilo que ele falou imediatamente antes e
depois da nossa passagem. Assim, poderemos colocar a passagem mais
propriamente dentro do contexto de Paulo.
que ele cita? A maneira mais fácil de saber é simplesmente ler as notas de
rodapé na sua Bíblia. Nem toda Bíblia inclui notas de rodapé. Para mim, es-
tas notas são imprescindíveis. São notas geralmente técnicas, às vezes de va-
riações de leituras com base em outros manuscritos antigos, e às vezes são
notas que indicam as citações ou alusões (a diferença entre os dois se refere
ao grau de acompanhamento do texto). No nosso caso, observamos que,
em Efésios 6.10-20, Paulo cita Isaías 11.5; 52.7 e 59.17. Pronto, já recebemos
outra tarefa, ler Isaías, capítulos 11, 52 e 59! Não se desanime pelo trabalho.
Vale muito a pena. Pois, descobrirá, primeiro que dos três capítulos, Paulo
claramente está pensando especialmente em Isaías 59, onde Deus veste a
sua armadura como metáfora de compensar (pela sua força) a fraqueza do
povo de Deus que não orava pela situação lastimável em que este povo vi-
via. E o resultado de tudo isto? Deus é conhecido pelo mundo inteiro (Isaías
59.19). Pronto, voltamos a Efésios 6.10-20 e observamos novamente onde
tudo se desemboca: no apelo de orar pelo bom testemunho de Paulo (Ef
6.18-20). Aliás, observe que quando Paulo chega à oração (v.18) ele não
usa mais metáforas como usava antes para a verdade (cinturão), a justiça
(couraça), a evangelização (sapatos), a fé (escudo), a salvação (capacete) e a
pregação (espada). De repente, o início do verso 18, “façam tudo isto oran-
do...” (NTLH), faz mais sentido: toda a armadura é uma metáfora sobre a vida
de oração, que por sua vez, é necessária para que a igreja exerça bem o seu
Há muito mais que podemos falar a respeito da leitura com toda a mente.
Praticamente todas as ciências humanas (a literatura, a sociologia, a linguís-
tica, as ciências políticas, a história, etc.) têm algo positivo para nos oferecer
para auxiliar e organizar o nosso pensamento. E tudo isto vale a pena, algu-
mas técnicas mais que outras. Mas vamos pensar agora em um outra postura
de leitura, a leitura sentida.
impacto que estas palavras tiveram ao longo dos séculos na vida da igreja e
na sua expansão missionária em diversas circunstâncias de testemunho pú-
blico. Desta forma estamos nos aproximando a uma leitura mais “completa”,
mais “integral”. Mas ainda faltam alguns passos...
não todos) foi escrita para ser lida na igreja e pela igreja. Interessante isto,
não? Como recuperar isto? Não é fácil porque simplesmente não vivemos
sempre como o grupo maior da igreja. Mas imagine como seria enriquece-
dor pegar uma destas cartas não tão longas, e como aula de Escola Domi-
nical ou pequeno grupo que se reúne em uma casa, ler a carta toda, cada
participante com o seu caderno fazendo as suas anotações. E depois, a clas-
se poderia simplesmente conversar sobre o que cada um ouviu e entendeu.
Pode até organizar o tempo com 15-20 minutos de leitura da carta, e depois
3-5 minutos para cada um compartilhar e no final o grupo poderá terminar
em oração e/ou ter um “fechamento” ou resumo de ideias pelo professor.
Que tal?
destas classes eram jovens. Hoje, dez anos depois, quatro cinco deles são
presbíteros, dois são supervisores de grupos pequenos e quase todos os 20
e todos participantes são membros muito ativos na igreja. Somente por cau-
sa daquelas aulas? Claro que não. Mas os próprios participantes nos dizem
que aquelas aulas exerceram um papel fundamental.
Perguntas
Diagnosticadoras
Como nos saímos neste exercício hoje? Algumas perguntas novamente para
nos ajudar:
2. O que significa uma leitura “intertextual”? Como fazê-lo? Qual é a sua im-
portância para a compreensão de uma determinada passagem bíblica?
Resumo
da Unidade
Chegamos ao fim desta unidade e também do módulo. Sendo o meu pri-
meiro módulo de Ensino a Distância, preciso muito do seu retorno, tanto
em relação a esta disciplina quanto em termos do êxito na organização e
entrega das aulas. Quero convidá-lo a deixar no fórum as suas observações.
Foi uma alegria poder participar junto com cada um de vocês neste módulo.
Que Deus os abençoe muito.