Você está na página 1de 217

RELIGIÕES

MUNDIAIS E
RELIGIÕES
COMPARADAS

PROF. ADRIANA WEEGE


FACULDADE CATÓLICA PAULISTA

Prof. Adriana Weege

RELIGIÕES
MUNDIAIS E
RELIGIÕES
COMPARADAS

Marília/SP
2022
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

Missão da Faculdade Católica Paulista

Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.
www.uca.edu.br

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 O QUE É RELIGIÃO? 07

CAPÍTULO 02 PORQUE FALAR SOBRE RELIGIÕES? 18

CAPÍTULO 03 RELIGIÕES ABRAÂMICAS: JUDAÍSMO 29

CAPÍTULO 04 RELIGIÕES ABRAÂMICAS: CRISTIANISMO 43

CAPÍTULO 05 RELIGIÕES ABRAÂMICAS: ISLAMISMO 60

CAPÍTULO 06 ZOROASTRISMO E FÉ BAHA’I 76

CAPÍTULO 07 HINDUÍSMO 89

CAPÍTULO 08 BUDISMO 104

CAPÍTULO 09 JAINISMO E SIKHISMO 115

CAPÍTULO 10 RELIGIÕES DO TAO: CONFUCIONISMO E 129


TAOÍSMO

CAPÍTULO 11 XINTOÍSMO 143

CAPÍTULO 12 NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS 157

CAPÍTULO 13 MISTICISMO E ESOTERISMO 176

CAPÍTULO 14 CONCEPÇÕES DE VIDA E ÉTICA 192

CAPÍTULO 15 CONCLUSÕES/APANHADO GERAL/ 199


CONSIDERAÇÕES FINAIS

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

INTRODUÇÃO

Você gosta de viajar? Viaja muito? Gostaria de viajar? Então este é o espaço e o
momento certo. Aqui temos uma viagem fantástica pronta para você: Uma viagem
pelo maravilhoso mundo das religiões. Este material que chega agora às suas mãos,
é uma passagem acompanhada de um roteiro de viagem.
A nossa jornada cruzará por países e culturas milenares em que os aspectos
religiosos são parte da alma de suas sociedades, com suas simbologias, suas
compreensões de mundo e perspectivas de vida.
Nessa obra conheceremos os princípios que norteiam a religião, aspectos que
constituem as principais religiões mundiais e algumas expressões mais restritas a
locais e menor público. Conheceremos ainda, se existem elementos unificadores nas
religiões e como seus valores e doutrinas influenciam a sociedade.
Viajar abre o nosso olhar, nos permite estranhamento e construção de ideias e
planos. Em nossa viagem, o diferente deixará de ser estranho, no encontro com o outro,
nós nos constituímos, nos ampliamos e nos compreendemos enquanto indivíduos e
humanidade.
Em que medida as religiões podem contribuir na construção da paz mundial e na
construção de parâmetros éticos? A resposta a estas e outras perguntas é um dos
objetivos de nossa viagem. Embarque conosco nessa jornada sem receios, traga muita
curiosidade e ânimo. Sejamos parceiros de viagem!

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO1
O QUE É RELIGIÃO?

Introdução

Neste momento, no início de nossa jornada, peço que você faça um exercício de
reflexão e imaginação e seja sincero consigo em suas respostas:
O que é religião para você?
Batismo nas águas? Batismo no Espírito? Feitura de Santo numa religião Afro-
brasileira? É o passe no Centro Espírita? É o Quarup no Xingu brasileiro? É o Bat
Mitzvá de uma menina na sinagoga? Ou a oferenda a um ancestral xintoísta?
Talvez você responda que sim, que estes aspectos são religião ou talvez você
responda que são apenas partes do que significa religião. Podemos ainda seguir
adiante com o nosso questionamento: estas religiões têm algo em comum, algo que
as una? Ou suas diferenças são impossíveis de conciliar algo?
Será que algo é capaz de unificar os crentes destas expressões religiosas, por vezes,
tão dissonantes em suas ideias e práticas? O que os move? De que maneira essa fé
afeta suas maneiras de viver e a comunidade em que vivem?
Essas questões podem nos acompanhar por muito tempo, quem sabe por uma vida
inteira, pois questões são trabalhadas há muitas gerações, por muitos pesquisadores
de diversas áreas de conhecimento, como as ciências da religião, as ciências sociais,
a antropologia, bem como pela teologia.
Um pesquisador, dessas áreas diversas acima citadas, que tem seu interesse nas
religiões, investiga, observa, questiona, compara o que vê e tenta descrever da melhor
maneira possível. Contudo, as descrições não contemplam o real sentimento do fiel,
do crente diante de sua religião. Nesse quesito, uma descrição oferece seus limites,
mas também suas possibilidades.
Através desta disciplina nós também refletiremos, questionamos, construiremos
conhecimento. Convido a nos inspirarmos no pensamento de Hegel, mesmo de forma
simplificada: A professora apresenta ideias (teses), o leitor desenvolve antíteses

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

e ao final do curso chegamos a sínteses e continuamos o círculo de aquisição e


desenvolvimento de nossos conhecimentos.
Nesta disciplina, Religiões Mundias e Religiões Comparadas, conheceremos os
principais aspectos das religiões mundiais (normalmente refere-se às cinco mais
significativas: Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo e Budismo) e algumas
expressões com menor número de seguidores, mas que estarão nesta obra, serão
descritas em razão de seu crescimento e destaque popularidade de suas práticas
religiosas. Essas são classificadas como Novos Movimentos Religiosos.
Ao longo do desenvolvimento das aulas, apresentaremos essas religiões e, após e
concomitantemente, faremos comparações de aspectos fundamentais dessas religiões
e movimentos no que se refere a Deus, criação do mundo e do ser humano, ética e
salvação.

1.1 Vamos falar de religião?

O que é religião? Etimologicamente, não há consenso da origem da palavra religião,


a origem de religião. Há quem afirme que refere-se a relegere, ou seja “reler”, como
uma faceta de fiéis profundamente conectados nos cultos aos deuses. Há quem
afirme que vem do latim, da palavra “religare” (religar), com o sentido de ser um laço
entre divindades e pessoas.
O termo “religião” surge ao longo da história da humanidade através dos autores
clássicos com diferentes interpretações, como Cícero (séc. I. a.C faleceu 43 a.c),
Lactâncio (250-317) e o próprio Agostinho (412 d.c.). Em termos gerais, as tentativas
de traçar uma etimologia, aglutinam ideias de conexão íntima com o sagrado, práticas
em que há diligência, estudo e devoção.
A partir de estudos de Mircea Eliade, a princípio, qualquer cultura ou civilização
desenvolveu um sistema religioso, bem como não raras exceções, desenvolveu-se
junto a esse sistema. Entre as principais religiões do mundo, encontram-se as religiões
abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) e as religiões asiáticas, como o
Hinduísmo, o Budismo, o Confucionismo, o Xintoísmo e o Taoismo. No continente
africano, destacam-se as religiões tribais animistas que depois deram origem ao
Vodu e o Candomblé (ELIADE, 1993).
Religião, em uma maneira simplificada, pode ser descrita como uma devoção a algo
considerado sagrado, é expressão de sentimentos como amor, a fé e fidelidade, é culto

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

a uma divindade ou divindades, é uma relação com entidades às quais atribuem-se


influências e alcances sobrenaturais, algo que ultrapassa os nossos limites humanos
e da vida material.

ISSO ESTÁ NA REDE

A série documental disponível na Netflix e alguns trechos na plataforma Youtube,


“A História de Deus” conta com três temporadas e é apresentada pelo ator norte-
americano Morgan Freeman. De forma muito acessível ele apresenta diversas
expressões religiosas e as suas crenças que ajudaram a moldar civilizações.
Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=aNSDbpkWyG0&list=PLiUorbjy8u13v5nMHuD4
W7gXr29UVNwwf

Conforme Gaarder, as Ciências da Religião, as religiões são classificadas em três


categorias: Religiões primais, Religiões nacionais e Religiões mundiais (GAARDER,
2000, p. 37).
Características das religiões primais:
-são orais;
- culto aos ancestrais, deuses, espíritos e entidades controlam aspectos ordinários
da vida;
localizam-se principalmente entre povos da África, Ásia, América do Norte e do Sul
e Polinésia.

As religiões nacionais caracterizam-se por:

-englobarem grande número de religiões históricas que não possuem mais


praticantes, tais como: germânica, grega, egípcia e assírio-babilônica (Contudo, localiza-
se algum resquício dessas no Japão, no Xintoísmo)
-politeístas;
- classe sacerdotal sacerdócio especializada, com deveres de culto definidos e com
cuidados dos templos;
Amitologia é muito bem elaborada e os líderes, os monarcas, são eleitos pelos
deuses.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

As religiões mundiais têm como elementos:

-A pretensão de validade universal, é acessível para todos.


-as religiões mundiais nascidas no Oriente Médio são monoteístas, a salvação é
destacada, assim como a relação pessoal do crente com Deus;
-surgem a partir de profetas fundadores, com nomes e biografias conhecidos:
Moisés, Buda, Lao-Tse, Jesus, Maomé.

1.1.1 A evolução da religião e suas divindades

Na história das Religiões, podemos perceber diferentes etapas na evolução do


conceito de Deus. Houve uma fase agrária: o ser humano paleolítico inferior passou
para médio (8 mil anos antes de Cristo), descobrindo a agricultura. Era o tempo da
cultura de subsistência, plantavam e colhiam o próprio sustento.
Os deuses (personificados) eram divindades cósmicos ligadas à natureza tais
como: sol, lua, estrelas, que se manifestavam pelos fenômenos atmosféricos tais
como:trovão, relâmpago e estavam presentes nos momentos mais importantes
(fertilidade, nascimento, vida, morte) da vida do povo.
As pessoas respondiam com atos rituais, geralmente, celebrados em festas agrícolas
(colheita), onde ofereciam cereais em sacrifício a deus ou aos deuses (normalmente
eram as primícias ou primeiros frutos), com ritos típicos (orações, hinos e gestos
rituais) como formas para alcançar uma relação íntima de comunhão com os deuses.
Acredita-se que num primeiro momento essa fé era Panteísta.
No Panteísmo a crença é a força divina está presente no mundo e perpassa tudo
que nele contém. A partir desse conceito, há uma convergência com o misticismo em
que há o desejo de união, de fusão com o divino.
Num segundo momento houve a fase animal: quando o ser humano começou a
domesticar os animais e a usá-los como força de trabalho e meio de subsistência. Os
deuses eram representados por animais (a vaca, o javali, o elefante). As celebrações
manifestavam o respeito à veneração ao animal sagrado, pelo sacrifício de animais
e ritos executados em torno do animal que representa a divindade.
Durante muito tempo pensou-se que na origem das religiões estava a fé animista.
Animismo vem da palavra latina “animus”, ar, sopro, alma, princípio vital, decorre disso
que o animismo é crença de que a natureza é povoada de espíritos tais como

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

duendes, sereias, a Yara, o Curupira, Boitatá no RS, fantasmas, etc. Os espíritos dos
antepassados, dos falecidos, ainda têm lugar de destaque em diversas culturas na
África, Oceania, na América Latina, na China e no Japão.
Já em religiões que abarcam diversas divindades, ou seja, no Politeísmo, as
divindades possuem funções e papéis definidos. As esferas da vida podem ter seus
próprios deuses orientadores e protetores. Essa relação desenvolveu-se no período
da Idade do Bronze, e foi caracterizando-se em suas estruturas pela representação
conforme as esferas humanas familiares ou estatais.

Pantheon - O Templo de Todos os Deuses. Roma.

Diferente do Politeísmo há o Monoteísmo. A palavra monoteísmo deriva do idioma


grego, a partir da junção de duas palavras, de maneira que englobam o sentido
perfeitamente: μόνος (monos), “único” e θεός (theos) “deus”. Assim, a fé monoteísta
afirma-se na existência de um único deus criador e mantenedor de todas as coisas.
Salvo suas características próprias a serem tratadas adiante, exemplos de religiões
monoteístas são Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo e Zoroastrismo.
A monolatria é uma fé que escolhe a adoração a um único deus, sem classificar
outros deuses como inexistentes. Há uma escolha consciente de um deus entre
muitos. No mundo bíblico do Antigo Testamento encontramos indícios de uma possível
monolatria até o período dos profetas. Não há negação de existência de outros deuses,
mas o reconhecimento de que Javé é o deus nacional, deus de Israel e há a proibição
de adoração a outros deuses.
Uma outra palavra que classifica esta relação com a divindade é Henoteísmo. A
religião Hindu, na sua prática, exemplifica esta compreensão já que possui centenas
de deuses, as más pessoas concentram-se em uma divindade específica conforme
sua família ou localidade que habitam.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Foto de Khirod Behera de Pexels

Ainda numa outra fase de evolução das religiões, temos a fase profética, em que
surgem pessoas inspiradoras que falam em nome de Deus. São profetas e profetizas
que manifestam a vontade de Deus e o que Deus espera dos seres humanos.
Deus é alguém definido, mas distante e invisível que fala através de seus enviados.
Poderíamos assim situar os Brahmanes do Hinduísmo, Sidarta no Budismo, Maomé
e até certo ponto os grandes patriarcas e profetas do Antigo Testamento.
As grandes religiões mundiais contam a característica de serem reveladas, elas
partem do pressuposto de que o Ser superior revela sua mensagem ao seu povo,
através de profetas.
Exemplos: No Judaísmo há uma organização a partir de Abraão, por volta de
2000 aC. , enquanto que o Budismo em 600 a C. surge a partir de Sidarta Gautama.
Somente com o Cristianismo se conhece a ação em que o próprio Deus assumiu a
condição humana a partir de Jesus Cristo e “o verbo se fez carne” para ser “emanuel”
(deus conosco) .

ANOTE ISSO

O que distingue uma religião da outra é o seu conjunto de doutrinas e dogmas,


normalmente descrito em livro ou conjunto de livros. Ali estão as respostas às
perguntas existenciais e que dão o sentido à vida.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

1.1.1.1 Elementos constitutivos da religião

Em todas as religiões encontramos elementos básicos que constituem a religião


e sem as quais não há, de fato, religião. São estas características que possibilitam a
distinção entre as religiões. De forma resumida, encontramos:

1. Um Deus pessoal
Todas as religiões do ocidente contêm, a fé em um deus. Dessa forma, a divindade
é um ser sem corpo, de vida eterna, criador de todas as coisas. Para a maioria, Deus
é generoso, perfeito, onipotente, onisciente e onipresente. Deus é Alguém. Esse Deus
Pessoa está presente nas religiões animistas e proféticas (reveladas).

2. Uma dimensão comunitária:


Cada religião tem um conjunto de doutrinas definidas e, em grandes religiões,
codificadas em um livro sagrado: os Vedas do Hinduísmo, o Alcorão do Islamismo, o
Torá dos Judeus e a Bíblia dos cristãos.
Através da prática de uma religião, especialmente institucionalizada, a pessoa
crente, insere-se em um sistema de crenças, norteia sua vida por princípios éticos
e morais, mantém práticas que unem uma comunidade, organizam a vida e suas
fases mediante valores, ritos e rituais, explicam a vida e todas os seus desafios,
dando sentido à existência, ao mundo, explica quem somos, enfim, conferem
identidade à pessoa.
A religião é essencialmente comunitária como toda a instituição cultural. Os atos
religiosos são inseridos no todo da vida de um grupo social. Na religião, eu não estou
sozinho. Eu pertenço a um povo. Sou integrante de uma comunidade. Os ritos são
comunitários e eu faço parte de uma comunidade. Por exemplo: A pessoa é um “filho
de Deus”, “uma irmã da igreja”, “um filho ou mãe de santo”.
A religião tem um aspecto intelectual e não apenas emocional e experiencial.
Ela proporciona ideias de como surgiu o mundo, as pessoas, as divindades e o
sentido da existência. Esse aspecto intelectual, de articulação dos conceitos de
fé, podemos chamar de Teologia. A teologia começa com o trabalho intelectual
dos crentes no desenvolvimento de suas ideias e a tentativa de comunicar aos
outros esses conteúdos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

3. Um culto padronizado
A religiosidade é algo subjetivo, é pessoal e cada um faz suas devoções como quer,
usa as fórmulas e maneiras de relacionar-se com Deus como quiser. Já a religião é
objetiva.
Em cada religião, há um culto padronizado, um culto oficial que, a princípio, será
muito parecido em diferentes partes do mundo, independente de língua e cultura.
As religiões contam com festividades oficiais e um modo universal de celebrá-las.
Até mesmo os momentos chaves da vida, na religião, são celebrados de um modo
padronizado.
Uma instituição maior, algo como uma sede, uma convenção, determina o padrão
de celebração e suas liturgias. Por exemplo: Existe uma forma de batismo, casamento,
atos fúnebres que tem uma base fixa com pouca mobilidade para a personificação.

4. Mitos
O mito é uma palavra grega (mithós) que expressa pela narrativa simbólica a
explicação de algo. Um mito é uma história, uma narrativa que, não raras vezes, é
acompanhada de um rito e esse rito reafirma um acontecimento em que o mito tem
sua origem.
Um mito não é apenas um conto ou lenda, “uma causo” de compadres, pois
procura explicar, responder algo que é essencial aos questionamentos cotidianos.
Nesse sentido, pensemos que a grande maioria das religiões apresenta mitos de
criação, do surgimento do mundo e da humanidade. Eles não têm compromisso com
a historicidade, fatos ou datas, mas sim, oferecem respostas que dão sentido aos
questionamentos mais profundos das pessoas. Conforme Eliade, a “recitação ritual
do mito cosmogônico desempenha um papel importante nas curas, quando se busca
regeneração do ser humano” ( ELIADE, 1992, p. 69 ).
Os mitos usam uma linguagem simbólica (ela traduz o inexplicável). O símbolo é
a expressão de sentido: o sentido em si mesmo apontando para um sentido além de
si mesmo. A devoção religiosa se expressa, por símbolos.
O símbolo é o melhor recurso linguístico para expressar significados abstratos, ou
falar de realidades espirituais, que se situam fora do tempo. O símbolo junta sentidos,
imagens e ideias, possuem funções que trazem certa unificação, união de contrários,
algo como diz Mesquitela Lima “uma força centrípeta que se opõe às forças centrífugas
da ordem cultural” (LIMA, 1983. p. 53. ). Ainda nesta direção é importante lembrar

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

de Mauss quando este afirma que a vida social é um mundo de relações simbólicas
(MONTERO, 1990. p. 43).
A arte interpretativa dos mitos chama-se hermenêutica: traduzir, interpretar, tornar
compreensível, esclarecer, cujo sentido não aparece de forma direta mas indireta.

5. Mistérios
O sentido convencional de mistério é o oculto, ou secreto, o enigmático. Diante do
mistério a pessoa se encontra em atitude de surpresa, pois, o mistério pode revelar algo
inesperado ou desejado. Em termos religiosos, é o sentimento de absoluta surpresa
diante do que é totalmente Outro. O mistério religioso se constitui numa das mais
poderosas forças de motivação humana. Por isso, o mistério é o coração da religião.
O que mantém uma religião é o mistério.
Uma religião sem mistério não se sustenta; como uma religião que enfatiza
demasiadamente o mistério, com rapidez se transforma em fundamentalismo.
Para Otto, em sua obra “A idéia do sagrado”, publicada em 1917, descreve o sagrado
como “completamente outro”, diferente de tudo o que pode ser descrito em termos
corriqueiros. Otto descreve uma dimensão especial da existência, além, a que chama
de “misterium tremendum et fascinosum” (em latim, “mistério tremendo e fascinante”).
É uma força que ao mesmo tempo em que desperta o sentimento de temor, tremor,
espanto, também atrai, cria curiosidade, chama para si.
Na maioria das religiões existe uma diferenciação entre sagrado e profano. A ideia
de sagrado como fenômeno religioso foi profundamente refletida especialmente por
Rudolf Otto e Mircea Eleade.
Para Mircea Eliade, o ser humano apropria-se, percebe o sagrado a partir de sua
manifestação em oposição completa ao profano e para este ato de manifestação ele
nomeia de “hierofania”(ELIADE, 1992, p. 13). Pessoas religiosas são pessoas que têm
algo muito sagrado, muito precioso, primordial em sua vida.
O termo “Hierofania” advém de duas palavras do grego: hieros (ἱερός) = sagrado e
faneia (φαίνειν) = manifesto), logo é a manifestação do sagrado, ou seja, a manifestação
de algo completamente diferente das coisas deste mundo, de uma realidade outra,
em objetos e espaços deste mundo.
Assim, enquanto o profano é algo corriqueiro, material, imanente, o sagrado é algo
ligado ao além, às divindades, ao transcendente. O Profano é o nosso mundo visível,
nosso dia a dia, aquilo que nossos sentidos captam, a nossa realidade.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Na medida que o sagrado é fundamental para a definição de religião cabe mencionar


que ele também exige um espaço diferenciado, específico para as práticas dos rituais
religiosos. Gestos corriqueiros podem ter um significado completamente diferente,
dependendo se está em relação ao sagrado ou ao profano.
Exemplo: Acender uma vela sobre um bolo de aniversário ou para iluminar a casa
ao faltar eletricidade tem sentido profano. Contudo, acender uma vela diante de uma
imagem de santo, numa encruzilhada, num altar de igreja ou no cemitério tem um
significado sagrado.
A noção de espaço sagrado, opostos ao profano, é integrante em toda religião. O
altar, a igreja, o templo, o salão, o santuário, etc., tudo isso constitui o espaço sagrado.
Mircea Eliade bem define a importância do templo enquanto espaço sagrado em sua
obra O sagrado e o profano:

“Nas grandes civilizações orientais – da Mesopotâmia e do Egito à


China e à Índia – o Templo recebeu uma nova e importante valorização:
não é somente uma imago mundi (imagem do mundo), mas também
a reprodução terrestre de um modelo transcendente...”. […] Se o
Templo constitui uma imago mundi, é porque o Mundo, como obra
dos deuses, é sagrado: lugar santo por excelência, casa dos Deuses,
o Templo ressantifica o mundo, uma vez que o representa e o contém
ao mesmo tempo. Definitivamente, é graças ao Templo que o Mundo
é ressantificado na sua totalidade. Seja qual for seu grau de impureza,
o Mundo é continuamente purificado pela santidade dos santuários.”
(ELIADE, 1992. p. 34)

ANOTE ISSO

Sagrado é o mundo das coisas invisíveis, que está além de nossos sentidos físicos
e que somente a fé pode explicar. O Profano é o diário e visível, corriqueiro.

É importante trazer três conceitos presentes desde as religiões antigas: o lugar


sagrado, o sacrifício e o sacerdócio. O sacerdote é o representante, o emissário
presente da divindade, é autoridade na religião. Exerce a manipulação dos objetos
sagrados, administra os rituais e realiza os ritos de sacrifício e de oferenda às divindades.
Nesse sentido temos os elementos:

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

1º Altar: O altar ou pedra no início, é o lugar sagrado mais antigo. Inicialmente era
uma espécie de mesa de pedra ao ar livre. O sentido mais específico foi o lugar de
fazer as oferendas e os sacrifícios aos deuses. Nessa mesa eram depositadas as
oferendas, bem como o lugar em que se queimam os sacrifícios.

2º Oferenda: é o tipo mais comum de sacrifício e provavelmente o mais antigo.


Oferece-se um presente aos deuses, buscando o favor, as benesses, esperando retorno.
É comum oferecer os primeiros frutos da estação, uma fração da carne que foi caçada
ou da colheita do ano. Trata-se de uma expressão de gratidão aos deuses e, ao mesmo
tempo, do desejo de que essa proteção continue. Os deuses se tornam fortes com os
sacrifícios. Se não houver sacrifícios, eles se debilitam, o que terá efeitos negativos
sobre o mundo e a humanidade, possivelmente na forma de doenças e más colheitas.

3º O sacrifício: é um elemento central no culto de muitas religiões. Etimologicamente


temos que o termo sacrifício vem do latim “sacrifícium” composto de sacer e ficium,
significando “ato de fazer/manifestar o sagrado”, “ato de passar da esfera do profano
para a esfera do sagrado” Sacrifício é posto ao lado da oração como rito de participação
em que o ser humano se comunica com a divindade ( STELLA, 1970, p. 127)
Quanto à forma de classificação dos sacrifícios eles são subdivididos da seguinte
forma: positivo quando afirma e potencializa a vida; negativo quando quer eliminar tudo
que é nocivo à vida e pode ocorrer em circunstâncias periódicas (mensal, anual, diário)
ou ocasionais (ritos de passagem, votos, adivinhação, dedicação, aliança, iniciação)
(STELLA, 1970, p. 141 )

Conclusão

Religião desdobra-se e articula-se de várias maneiras, tanto no pensamento,


quanto nas práticas. Podemos compreender muito dessas variadas manifestações
ao conhecermos os elementos constituintes da religião. A seguir refletiremos em torno
das razões de falarmos em religião.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 2
PORQUE FALAR
SOBRE RELIGIÕES?

Introdução

Há quem diga que religião, política e futebol não se discute. De fato, são temas que
movem paixões, mas justamente por isso, é um tema de tão grande importância. É um
tema primordial para desenvolvermos conhecimento através do exercício do diálogo.
Alguém já lhe perguntou: Qual é sua religião? Provavelmente centenas de vezes.
Sabemos que existem milhares de religiões ao redor do globo. Temos religiões
antiquíssimas e outras recentes, algumas de alcance local ou presentes em âmbito
mundial. Até o momento não encontrou-se na história algum povo que não tenha tido
uma expressão religiosa.
Estima-se que apenas 15% da população mundial não tenha uma fé religiosa definida
em uma confissão e apenas 4% identifica-se como ateu. A partir disso, podemos
perceber o quanto a religião está presente na vida cotidiana das pessoas. No Brasil,
acima de 90% da população declara alguma fé religiosa.
O mundo contemporâneo deixou de ser imenso, um globo de dimensões inalcançáveis
para ser uma aldeia. A partir da velocidade da internet, limites geográficos não são
impedimentos para conhecermos aspectos do distante Japão ou exótica Tailândia. O
mundo ao nosso alcance, na palma da mão, através do tablet ou celular.
A compreensão de sociedades e povos passa pelo conhecimento das religiões.
As religiões desempenham papéis sociais, políticos e familiares, com desempenho
de prestação de serviços de auxílio (disponibilizam roupas, água, remédios, muitos
recursos em grandes momentos de necessidade), mas também geram muitos conflitos,
discussões, perseguições, intolerância, culminando até mesmo em ataques terroristas
ou guerras.
Algo que essa nossa aproximação de olhar sobre as religiões, das compreensões
de vida e posicionamentos que oferecem diante das crises humanas, pode enriquecer

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

a espiritualidade pessoal ao confrontar parâmetros próprios com lógicas diversas às


nossas.

1.1 Beber de todas as fontes: O fenômeno religioso no Brasil

No Brasil, a população é religiosa, mas demonstra uma religiosidade caracterizada


pelo sincretismo religioso e, este, pode ser visto na cultura, nas festividades, na literatura,
na música. Exemplo disso podemos ver na reprodução abaixo de um trecho da da
obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas. A fala é do personagem Riobaldo
em que testemunha suas compreensões religiosas:

Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco.


O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece de
religião: para desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura.
No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço!
Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água
de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo
cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre
meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou
no Mindubin, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa
de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo
me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é
só muito provisório. Eu queria rezar – tempo todo. Muita gente não
aprova, acham que lei de Deus é privilégios, invariável. [...] Olhe: tem
uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam
muita virtude de poder. Pois a ela pago, todo mês – encomenda de
rezar por mim um terço todo santo dia, e, nos domingos, um rosário.
Vale, se vale. Minha mulher não vê mal nisso. E estou, já mandei
recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina Calanga, para vir aqui,
ouvi de que reza também com grandes meremerências, vou efetuar
com ela trato igual. Quero punhado dessas, me defendendo em Deus,
reunidas de mim em volta... Chagas de Cristo! (ROSA, 1994, p. 15)

ANOTE ISSO

Sincretismo religioso é a aglutinação, mistura ou fusão de práticas de diferentes


matrizes religiosas em uma única doutrina. No Brasil ele acontece principalmente
entre tradições cristãs, indígenas e cultos de origem africana.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A religiosidade difusa do povo brasileiro deve-se, em parte, pela diversidade na


formação da matriz religiosa brasileira. O Brasil, antes de 1500 contava apenas com as
religiões indígenas, vividas das mais diversas e ricas formas nos povos aqui existentes.
Em virtude da colonização portuguesa, é predominantemente cristão católico tendo
chegado junto com os navegadores portugueses.
Contudo, o protestantismo esteve presente desde o período de colonização
holandesa, mais tarde expulso pelos portugueses, vindo a fixar-se somente após
1824 como a chegada de imigrantes alemães e suíços. Contudo com o caráter de
serem tolerados, não podendo existir construções com características de templo
ou missão evangelística.
Após a chegada dos primeiros imigrantes terem trazido a fé luterana, com caráter de
igreja étnica e de imigração, chega ao Brasil o protestantismo de missão representado
pelas igrejas Batista, Presbiteriana, Metodista e Anglicana através de trabalhadores da
ferrovia que vinham da Europa e Estados Unidos com suas empresas construtoras.
A partir de 1910 até a década de 1960 surgem igrejas brasileiras, iniciando o
ramo pentecostal representado através da Assembleia de Deus, Congregação Cristã,
Quadrangular, O Brasil para Cristo e Deus é amor. O ramo neo-pentecostal, a partir
dos anos de 1970, desenvolveu-se com Universal do Reino de Deus e Internacional
da Graça de Deus, por exemplo.
Além disso, há outras variantes religiosas, como o Espiritismo Kardecista vindo da
França ainda no século XIX, e os cultos afro-brasileiros como o Candomblé, o Batuque
gaúcho, o Tambor de Mina, a Quimbanda, a Jurema Sagrada, o Terecô, entre outros,
herdados da África e ressignificados no Brasil, assim como a Umbanda (que nasceu
do sincretismo entre o catolicismo popular, Espiritismo e o Candomblé).
Conhecer os conteúdos das religiões, pode resultar no reconhecimento de alteridades
e nos levar a articular de forma mais clara nossa própria fé diante de um diálogo inter-
religioso ou ecumênico, fazendo-nos respeitosos e construtivos. Desse conhecimento,
inicia-se o caminho para a tolerância.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISSO ESTÁ NA REDE

Santo Forte é um documentário brasileiro, dirigido por Eduardo Coutinho, que


estreou em 1999 e registra diversos depoimentos relativos às experiências religiosas
de moradores da comunidade Vila Parque da Cidade, no Rio de Janeiro. A gravação
ocorreu por ocasião da visita do Papa João Paulo II e da celebração da missa
campal no Aterro do Flamengo e o Natal de 1997. Cada entrevistado compartilha
suas crenças pessoais e suas experiências, em especial na comunicação direta
com o transcendente, seja através do Espírito Santo, no contato com espíritos,
orixás ou entidades. O filme, através das entrevistas, descortina o imaginário, a
religiosidade popular, o sincretismo, mas também testemunha a pluralidade cultural
e a importância da religião na sociedade brasileira.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=bf9-GiJfwog

1.1.1 O comportamento religioso

Ao nos propormos a conhecer religiões alheias a nossa por questões de pesquisa,


exercício de diálogo ou simplesmente ao participarmos de rituais tais como casamentos
ou batizados, entramos em contato com a arquitetura do templo, estrutura organizacional
e com o comportamento das pessoas em seu ambiente de culto.
O sinal da cruz de grupos cristãos, o prostrar-se dos muçulmanos durante as orações,
o bater cabeça nas religiões afro-brasileiras, os mudras da yoga, são exemplos do
que designamos como comportamento religioso. Esses comportamentos integram o
gestual, o conjunto de comportamentos de indivíduos que compartilham um ambiente
religioso comum, além de identificar sua prática religiosa diante da sociedade.
Nesse sentido, o comportamento religioso pode ser entendido como qualquer
comportamento verbal ou não verbal que envolve a formação de relações de causa
e efeito entre eventos físicos e eventos transcendentes, a ação do sagrado.
Num primeiro momento, os padrões comportamentais religiosos são resultados
de uma aprendizagem social, um processo de “aculturação”, um extenso processo
educacional que parece incluir a aprendizagem de comportamentos religiosos, o
mesmo valendo para superstições.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Além de aprendidos socialmente, comportamentos religiosos parecem ser mantidos


e mediados socialmente. A repetição desses comportamentos podem resultar em:

*reforços positivos tais como prestígio diante do grupo.

*reforços negativos com o desvio de punições divinas.

*punições negativas com a perda de títulos ou funções no grupo.

*punições positivas com críticas do grupo social.

É possível como consequência também a extinção, a expulsão, o isolamento dos


membros “desviados”.
Comportamentos e gestos estão sob o controle social e isso parece exercer um papel
fundamental na instalação e manutenção de comportamentos religiosos, estabelecendo
relações entre o corresponder adequadamente e possíveis consequências.
O corpo é educado para se abrir às experiências místicas e, nesse momento, os
corpos se movimentam e se relacionam. A abertura para o mundo e as experiências
com o sagrado acontecem através dos sentidos corporais.

Posição de lótus

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O corpo é estimulado nos momentos de oração, bênção, as pessoas são convidadas


a estender braços, levantar braços, acenar mãos, o corpo é um espaço para prestar
homenagens, louvar e, de certa forma, entrar em sintonia com o todo através de
movimentos sincronizados na vivência da religiosidade/devoção através dos sentidos.
(WEEGE, 2008)
A formação teológica, social e de consciência religiosa passa pelo corpo, movimentos,
cada pequeno gesto é um tradutor de elementos de uma dada sociedade ou cultura
(DAOLIO, 1995, p. 47), logo, é pela linguagem que se permite o estudo do corpo e
do movimentos humanos como expressões simbólicas e como valores aceitos na
sociedade.
Aprendem-se e aprendem-se compreensões de vida por meio de pessoas que têm
prestígio, sacerdotes, familiares, pessoas com responsabilidade. Conforme Mauss, é a
noção de prestígio da pessoa que torna o ato ordenado, autorizado e provado, em relação
ao indivíduo imitador, que se encontra todo o elemento social. No ato imitador que
segue, encontram-se todo elemento psicológico e o elemento biológico. Aprende-se por
imitação, nós humanos, enquanto crianças aprendemos a nos comportar observando
os adultos, pessoas às quais atribuímos autoridade e sabedoria, pessoas em quem
confiamos (MAUSS, 1974, p. 215 ).

Através dos corpos “sintonizados”, em rituais corporais, se podem estabelecer a


reconciliação ou em acordo com Pereira, “acontece uma ‘alquimia’ de sentimentos,
uma mudança do ‘natural’ em ‘sobrenatural’, modificando o estado de espírito das
pessoas”. (PEREIRA, 2003, p. 91 )

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A comunidade monástica de Taizé é uma comunidade de cunho ecumênico,


localizada em Taizé, Borgonha, França. Foi fundada em 1940 pelo Irmão Roger
Schutz-Marsauche e a vida comunitária foca na oração e meditação e conta
mais de uma centena de pessoas, de diversas nacionalidades, membros de
ramos protestantes e católicos. Desde 1966 os irmãos de Taizé estão no Brasil e,
depois de várias sedes, estabeleceu-se em 1978, em Alagoinhas, BA . Neste local
desenvolvem vários trabalhos sociais que integram a comunidade local. Acesse:
https://www.taize.fr/pt

ANOTE ISSO
Gestos corporais em rituais sinalizam a unidade do indivíduo com a comunidade.

1.1.1.1Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso

Para falar em Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, cabe algumas aproximações


de alguns termos a fim de termos uma ideia um pouco mais clara a respeito. Da
temática.
A palavra Igreja, usada em idioma português é advinda da palavra grega ἐκκλησία
(Ekklesía) expressando o sentido de “eu chamo” ou “eu convoco”. Teologicamente a
Igreja é a comunhão dos santos (1Co 1.2). Os santos não são pessoas moralmente
superiores ou espiritualmente especiais, mas são aquelas pessoas que são chamadas
pela fé para um processo contínuo. Conforme 1 Co 1.1-3 santos são aqueles que
estão sendo moldados por Deus.
A igreja é criada pela pregação do Evangelho e ministrar os sacramentos. A Igreja é
corpo de Cristo (Rm 12 e 1 Co 12), composto por vários membros, todos igualmente

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

importantes com seus dons (1 Co 14) e todos são ligados a Cristo. O termo Igreja
designa as principais denominações cristãs.
Desde Agostinho, e mais tarde, adotada pelos protestantes, ensina-se que não
é possível delimitar as fronteiras da Igreja, pois não sabe-se quem crê ou não no
Evangelho, por isso fala-se em igreja visível, a estrutura comunitária que vemos e a
igreja invisível que é aquela que somente Deus é capaz de determinar, pois somente a
Ele cabe discernir quem vive ou não de acordo com o Evangelho. Uma denominação
religiosa é um grupo com suas práticas e interpretações características dentro de
uma religião, no caso Igreja Católica e Igrejas Luteranas são denominações diferentes
pertencentes a uma mesma religião, no caso o Crstianismo.
Já seita, outra palavra corriqueira no mundo religioso é Seita. A palavra seita tem
sua origem no latim secta= “secionar”, “dividir”, “sectar”, designando grupos religiosos
ou filosóficos cujas práticas e doutrinas são diferentes de grupos dominantes. Algumas
vezes esses grupos seguem líderes vivos, carismáticos, que angariam e acumulam
seguidores dessa nova forma de pensar, viver ou crer. A partir de definição do Dicionário
Aurélio, deriva do termo latim secta resultando em seguidor.
Ecumenismo é o processo de entendimento e união, a busca por pontos convergentes
apesar das diferenças. O termo ecumênico tem origem na palavra grega οἰκουμένη
(oikouméne), a casa, no sentido de mundo habitado. Conforme o teólogo Gottfried
Brakemeier, o ecumenismo é a busca de “consenso”, a reconciliação e a cooperação
conjugada dos membros no mesmo corpo. O movimento ecumênico tem muitas
fases, muitas nuances e momentos históricos. Destacamos:
* Conferência Missionária Mundial, em 1910, em Edimburgo, objetivava a unidade
de igrejas cristãs, em especial nas ações missionárias;
* O Conselho Mundial de Igrejas é fundado em Amsterdã, em 1948, tendo sua sede
em Genebra, na Suíça. Comungam mais de 340 igrejas de 120 países, com exceção
da Igreja Católica que não faz parte da organização, mas mantém laços estreitos de
colaboração e diálogo com o CMI;
* A Igreja Católica em 1960 passa a integrar o movimento ecumênico a partir da
criação do Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos sob liderança do Papa
João XXIII. A partir desse órgão, a igreja assume o ecumenismo como relação fraterna
com as Igrejas Ortodoxas e Igrejas Protestantes;
* No Brasil e no mundo existem vários organismos de natureza ecumênica,
destacando-se o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), fundado em Porto
Alegre em 1982. Em seu portal, a entidade declara que sua missão é “Fortalecer
o testemunho ecumênico das Igrejas-membro, fomentar o diálogo inter-religioso

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

e promover a interlocução com organizações da sociedade civil e governo para a


incidência pública em favor de políticas que promovam a justiça e a paz”. O logotipo
do Conic traz a palavra grega oikoumene, da qual derivam as palavras ecúmeno e
ecumênico. Significa “mundo habitado”, no sentido de que, independentemente da
religião, partilhamos uma casa comum: o planeta Terra.

.
* No âmbito latino americano o principal grupo é o Conselho Latino Americano
de Igrejas (CLAI), reunindo igrejas evangélicas desde 1978, quando foi fundado na
cidade mexicana de Oaxtepec.

No Brasil, o movimento ecumênico e as entidades identificadas com ele, contam


com a participação de igrejas do protestantismo histórico, tanto as de missão, quanto
as de imigração.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

CEBI- Centro de Estudos Bíblicos- Fundado em 20 de julho de 1979, é uma


associação ecumênica, com membros e colaboradores de variadas denominações
cristãs, a fim de promover leitura e estudo da Bíblia
Acesse: https://cebi.org.br/

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

No Brasil temos duas datas significativas: Dia Nacional de Combate à Intolerância


Religiosa celebrado em 21 de janeiro, a partir da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro
de 2007, sancionada pelo então presidente Lula e o Dia do Ecumenismo é
comemorado anualmente em 21 de outubro.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Um dos encontros ecumênicos mais tradicionais é o Dia Mundial de Oração que


reúne fiéis de igrejas de mais de 170 países. É um movimento preconizado por
mulheres celebrado anualmente na primeira sexta-feira de março. As ofertas
financeiras arrecadadas durante os encontros são destinadas a diversos projetos
sociais em cada país. Acesse: https://dmoracao.comunidades.net/

O Diálogo Inter-religioso é a prática de diálogo entre diferentes religiões mundiais com


a finalidade de entendimento, superar conflitos, evitar guerras religiosas, intolerância e
perseguição. Historicamente é tido como marco a atuação do Papa Paulo VI quando
abriu caminhos para isso através do Secretariado para os não cristãos, a Comissão
para o Diálogo com os Judeus e o Secretariado para os não crentes.
O diálogo inter-religioso e o ecumenismo não significam anular a fé e os
posicionamentos de nenhuma das partes, concordar com tudo, violentar posições
pessoais, aceitar como certo ou bom todas as posições alheias.
De maneira resumida, a ideia básica dessas práticas é o ouvir atento e respeitoso,
o buscar ideias e conceitos que nos unam como humanos e como religiosos. Não é
relativismo! O respeito, a tolerância, o diálogo e a valorização da fé religiosa, exercidos
através do ecumenismo e diálogo inter-religioso, podem ser os princípios formadores
de uma sociedade mais equitativa, pacífica, cooperativa e sustentável. Nisso uma das
importantes razões de conhecermos as religiões.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

Ecumenismo é a busca da unidade entre as Igrejas Cristãs. Diálogo Inter-Religioso é


um processo de diálogo entre diferentes tradições religiosas.

ISSO ESTÁ NA REDE

Casa da Reconciliação- Uma página de propriedade da Conferência Nacional dos


Bispos do Brasil – CNBB, administrada pela Arquidiocese de São Paulo, que visa ser
um espaço de reflexão em torno do Diálogo Ecumênico e Diálogo Inter-Religioso,
esclarecendo dúvidas e promovendo cursos de formação.
Acesse: http://casadareconciliacao.com.br/a-casa/

Conclusão

Há quem diga que não se deve falar em religião, política e time de futebol, talvez
pelo temor quanto aos resultados já que despertam reações passionais. Contudo, na
construção de um mundo mais fraterno e sustentável é importante desenvolvermos
o diálogo e o debate respeitoso a fim de superar diferenças. Religião é tema que
perpassa toda a experiência humana e as sociedades, logo algo importante a se
discutir. E quais as maiores religiões? O que ensinam? Quem são seus mestres? Nos
próximos tópicos desta obra conheceremos algumas das mais destacadas religiões.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 3
RELIGIÕES ABRAÂMICAS:
JUDAÍSMO

Introdução

O judaísmo é a primeira, a mais antiga fé monoteísta e das três religiões abraâmicas.


As religiões abraâmicas atribuem uma origem comum a partir das revelações de
Deus ao personagem Abraão. As religiões abraâmicas são também conhecidas com
as religiões do livro.
A fé judaica desenvolveu-se junto ao povo judeu, anteriormente conhecido como
hebreu. O povo judeu é um povo semita, conhecido anteriormente como povo hebreu,
tem sua origem no Antigo Oriente próximo, a partir das Tribos de Israel.
Quem é considerado judeu? Depende de que grupo responde. Para ortodoxos,
judeu é quem nasce de ventre judeu, logo é matrilinear, ou se há conversão. Grupos
reformistas e reconstrucionistas aceitam a patrilinearidade, desde que a criança seja
educada no ambiente judaico.
Uma pessoa que deixe de praticar a fé judaica, torne-se agnóstico ou ateu ainda
é considerado judeu. Perde o status apenas se converte a outra religião ou torne-se
um judeu messiânico, aquele que reconhece Jesus como messias.
A etnia, modo de vida e religiosidade estão intimamente relacionados. Supõem-se
que sua origem data cerca de 2000 a.C. em Ur, na Caldeia. Judeu era o descendente
de Judá, um dos filhos de Jacó, uma as Tribos de Israel, posteriormente designando
os nascidos na Judeia. O termo popularizou-se após o final do cativeiro babilônico.

3.1 Origem

A origem é revelação de Deus a Abraão, que promete a este uma grande descendência
tão numerosa quanto as estrelas do céu e uma terra para ele e seus descendentes
viverem em paz, a Terra Prometida. Nessa revelação inicia-se a fé monoteísta. Abraão
é um patriarca, um pai da fé, por isso, religião abraâmica.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O Judaísmo crê num Deus único, onipotente, onipresente e onisciente, criador do


universo e que escolheu o povo judeus como seu Povo Eleito. A palavra lema da fé
judaica é o “shemá” (ouve), um chamado que diz: “ Ouve, ó Israel, o Senhor é nosso
Deus, o Senhor é um”.
O nome de Deus é YHWH (Javé ou Jeová, em português) é “Eu sou”, e foi revelado
a Moisés, no evento da sarça ardente em que Deus o arrebanha para a libertação do
povo hebreu escravizado no Egito.
O nome de Deus é tão santo que, a partir do segundo mandamento que proíbe o
uso em vão do nome dele, os judeus nunca dizem o seu nome, mas substituem por
“Adonai”.

Escritos e tradições orais

Os escritos sagrados são a Tanakh (a grosso modo podemos dizer que equivale
ao Antigo Testamento da Bíblia) e a Torá (equivalente aos cinco primeiros livros da
Bíblia) e tem atribuída a autoria a Moisés.
A Tanakh é formada pela Torá e pelo Neviim e Ketuvim. A Torá traz o princípio
do mundo, o êxodo e deserto e as leis com 613 mandamentos que ensinam como
devem ou não agir, seja nas relações sociais, familiares, religiosas, além dos dez
mandamentos ou dez ditos.
O Neviim é o livro que traz os profetas e o Ketuvim traz os livros poéticos e históricos.
Os idiomas originais da escrita são o hebraico, com pequenos trechos de aramaico
em Esdras e Daniel.
A Torá de forma oral, chamada de Mishná, conta com leis transmitidas a Moisés além
da lei escrita, e debates de rabinos. Já o Talmud é uma coletânea de interpretações
das leis e ensinamentos judaicos. Enquanto a Torá são as instruções e leis seguidas
pelos judeus, o Talmude auxilia na compreensão e interpretação desses ensinamentos.
A princípio esses livros foram escritos em pergaminho (pele de cabras ou ovelhas
tratadas e preparadas para escrita). Após escreverem, os pergaminhos eram enrolados.
Judeus do leste europeu guardam seus pergaminhos, os Sefer Torá, cobertos por
um manto bordado com símbolos judaicos, podendo ser de seda ou veludo. Já judeus
espanhóis ou orientais guardam a Torá numa caixa de madeira denominada Tik.
A exegese judaica usa o Midrash (plural midrashim), que vem do verbo darash
(procurar), usado como idéia de pesquisa intensiva e de um esforço inerente à vontade

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

de encontrar. Quando aplicado à Escritura, tem o significado de pesquisa da Palavra


de Deus, procurar o próprio Deus em sua palavra.
De acordo com essa tradição rabínica, o texto bíblico não diz tudo de si e deve
haver um esforço para ocultar o seu verdadeiro sentido (KETTERER, 1996, p. 9).
A hermenêutica do midrash procura manter a “perfeição” da Escritura; caso essa
“perfeição” corra o risco de se perder, deve-se “atualizar” o texto, mesmo que se mude
um pouco esse texto.

ISSO ESTÁ NA REDE

As características históricas, culturais e religiosas do Judaísmo são apresentadas


por rabinos brasileiros, líderes do Rio de Janeiro e de Brasília e de membros dessas
comunidades judaicas no programa “Retratos de fé” da TV Cultura.
https://www.youtube.com/watch?v=UuAuT5DDtkU

Grupos do Judaísmo

A partir da Diáspora, os judeus assimilaram aspectos culturais nos diferentes países


em que estabeleceram-se e no desenvolvimento histórico surgiram peculiaridades em
seu vestuário, compreensões de fé, etc.
Os principais grupos são o Judaísmo Haredi ou movimento ortodoxo que crê que
a Torá e as leis são divinas e imutáveis devendo ser exercidas à risca, o judaísmo
conservador traz interpretações tradicionais, já o judaísmo reformista prega que a lei
deve ser uma diretriz e não leis restritivas.

Sionismo

Um aspecto importante a destacarmos e interessante de se conhecer a respeito


do povo judeu, e em constante destaque na mídia, que é o movimento sionista.
O Sionismo é proveniente da palavra “Sion/Sião” (elevado), colinas que estão em Israel,
que durante o reinado davídico foi sinônimo de Jerusalém e Israel. É um movimento de
ordem política e, algumas vezes, religiosa, mas que nem todos os judeus identificam-
se como sionistas. O sinonismo defende o Estado judeu no local do antigo Israel,
com retorno de judeus a este estado, finalizando a diáspora e eliminando aspectos
culturais adquiridos durante esta.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Considera-se o mentor intelectual o jornalista Thodor Herzl no final do século


XIX como fruto de debates realizados após constantes casos de antissemitismo e
perseguição.
Durante a primeira metade do século XX, o sionismo fortaleceu-se, especialmente
após o Holocausto, que aumentou a viabilidade da criação do Estado judeu criado
em 1948.

O Templo

A partir de textos contidos na Tanakh, o Templo de Salomão ou o Primeiro Templo,


foi o Templo Sagrado construído a partir de materiais arrecadados pelo rei Davi, para
abrigar a Arca da Aliança e realizar o culto e os sacrifícios. Foi construído em Jerusalém
e foi destruído durante a invasão de Nabucodonosor II, após o cerco em 587 a.C. O
rei babilônico levou a elite para exílio na Babilônia, o qual durou 70 anos.
Após o retorno do povo judeu, o líder Zorobabel, contrói o Segundo Templo a partir
do altar, localizado sobre o local do antigo templo. A consagração deste novo templo
aconteceu em 516 a.C.
Por volta de 19 a.C. Herodes iniciou uma obra de restauração concluída em 27 d.
C. Este templo foi destruído no ano 70 com o sítio romano a fim de extinguir a revolta
judaica contra o Império Romano. Após este ano inicia-se a Diáspora dos judeus pelo
mundo.

Jerusalém e muro

Jerusalém é a cidade santa, sagrada para três religiões. Para os judeus a parte mais
sagrada é o muro ocidental, o “Muro das lamentações” é a construção que restou do
segundo templo. Ali, os peregrinos judeus “lamentam” através de orações e inserem
papéis com orações entre as pedras.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A Sinagoga

Durante o exílio os judeus afastados do templo, adaptaram o seu culto junto


à sinagoga, com leitura, cânticos e orações, além de ser um local de encontro da
comunidade. A palavra sinagoga tem sua origem o idioma grego, συναγωγή, composta
de σύν “com, junto”, e ἄγω “conduta, educação”, resultando em “assembleia”.
O ministério de Jesus, conforme os Evangelhos, iniciou na Sinagoga de Nazaré,
estendendo-se adiante para a Sinagoga de Cafarnaum. Mais tarde, o apóstolo Paulo,
igualmente iniciou sua pregação nas sinagogas de judeus da diáspora.
Hoje a sinagoga é o principal local de encontro da comunidade. Lá acontece culto
e ensino que estão sob a responsabilidade do rabi ou rabino. Ele exerce a pregação,
visita aos necessitados, consolo e conselhos. Dentro da classe sacerdotal existem
os Cohen, cuja classe descende da classe sacerdotal e realizam algumas funções
cúlticas nas sinagogas.
Na sinagoga realizam-se reuniões no shabat bem como em ritos e festas
religiosas. O shabat é o dia de descanso, o sábado, e é relacionado ao sétimo dia
da semana quando Deus descansou. Inicia ao pôr do sol de sexta-feira e encerra-
se ao pôr do sol de sábado. Durante esse tempo, não se exercem trabalhos de
nenhuma espécie.
Elemento presente do culto judaico é o hazan, um cantor que dirige as recitações
de cânticos e orações. Muito da liturgia é realizada em língua hebraica.
Há lugares específicos para serem ocupados por homens e mulheres e é necessária
a presença de dez homens judeus para realização de culto judaico na sinagoga.

3.1.1 Fases da vida

Nascimento

Assim que o menino nasce, cerca de oito dias de idade é realizada a circuncisão (a
remoção do prepúcio do pênis),realizada pelo “mohel”. O rito é chamado de Brith milah,
o pacto de circuncisão. Nessa cerimônia o menino recebe seu nome. As meninas são
levadas à sinagoga igualmente no oitavo dia, recebem seu nome, mas são realizadas
apenas orações em favor dela e de sua mãe.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Juventude

Os jovens judeus alcançam a maioridade religiosa. Os meninos ao alcançarem


13 anos e as meninas 12 anos passam pelo Bar Mitzvah (filho do mandamento) e
Bat mitzvá (filha do mandamento) respectivamente.
A cerimônia consiste na leitura de trechos da Torá e deve ser realizada no primeiro
shabat após o aniversário de 12 e 13 anos. A preparação para este momento inicia-se
um ano antes junto a um rabino ou erudito para aprender as leis e costumes judaicos.
A leitura da Torá nesta ocasião pode contar com o auxílio de um marcador chamado
Yad para evitar a “contaminação” do texto sagrado pelo toque da mão.

Bar Mitzvah

Yad- marcador usado na leitura do pergaminho

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Casamento

Para o povo judeu o casamento é uma instituição, uma ordem divina e é a única
maneira lícita para o casal viver. A princípio o casamento deve ser entre judeus, mas
existem casamentos mistos.
A cerimônia pode ser realizada na sinagoga ou em outro lugar, mas é necessário
acontecer sob o hupá, uma tenda que representa o céu.

Morte e sepultamento

O sepultamento deve acontecer o mais rápido possível. O corpo é lavado, vestido


com roupas simples e colocado em um caixão simples. O homem é sepultado com
seu xale de oração. O filho homem ou parente mais próximo do sexo masculino recita
a prece kadish. Não é permitida a cremação, o corpo deve retornar ao pó de forma
natural, por isso deve ser sepultado em um túmulo na terra.
Após o enterro, alguns grupos da religião judaica não costumam ir direto para
casa; os enlutados mais próximos alteram a rota, param em algum lugar e pedem
algo doce para comer.
O desvio do caminho é feito para “despistar o anjo da morte” e o açúcar ingerido
disfarça o amargor causado pelo óbito. Ao voltar do cemitério, a família fica em casa,
de luto, por sete dias. Três vezes ao dia, fazem orações e recebem visitas. Até o final
da segunda etapa do luto, que acaba depois de 30 dias, os homens não fazem a barba
e os cabelos também não podem ser cortados.
Tudo o que reflete, como espelhos e porta-retratos, fica coberto, para que o morto não
“veja” a própria imagem. Ao fim do período de luto, a família caminha nas proximidades
da casa. O último ritual fúnebre dos judeus é a inauguração da lápide, que não é
colocada no enterro. O tempo de espera varia de país a país: em Israel, segue-se o
tempo mínimo, um mês; no Brasil, a lápide só é colocada 11 meses após a morte. Na
cerimônia, o túmulo é coberto com um pano preto e pequenas pedras. Esse momento
chama-se descoberta de Matzeiva.
Para o Judaísmo virá um tempo em que todos os mortos serão trazidos de volta
à vida, e corpo e alma serão reunidos. Assim, Maimônides ensina: “Acredito com fé
perfeita que haverá uma ressurreição dos mortos no tempo que aprouver ao Criador.”

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O Talmud prega que no fim dos tempos, o ser humano será julgado como uma pessoa
completa, um ser humano total, com corpo e alma
A ressurreição iniciaria quarenta anos após o retorno de todos os judeus à Terra
Santa, e continuará enterrado na Terra Santa serão ressuscitados primeiro, seguidos
dos sepultados em ou intermitentemente até que todos voltem à vida. De acordo com
o Talmud, os que foram os países
Ao visitarem os túmulos de seus falecidos, os judeus levam pequenas pedras e as
depositam sobre os túmulos, no sentido de que aquele ente querido foi lembrado e
suas memórias estão preservadas na durabilidade das pedras.

Símbolos

Os símbolos nos remetem a ensinamentos, identifica ideias, histórias, une imagens e


conceitos. Na religião judaica temos alguns dos mais conhecidos e difundidos símbolos.

Menorá
A menorá originalmente era um candelabro de ouro batido, contendo sete braços,
moldado primeiramente por Moisés, em obediência ao mandamento de Javé contido
em Êxodo 25. 31-40. Este significativo símbolo judaico do judaísmo, entre alguns
significados atribuídos, está a luz da Torá que ilumina os caminhos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Estrela de Davi

Este talvez seja o símbolo mais representativo do Judaísmo e do povo judeu. Na


língua hebraica a Estrela de Davi é “Magen David”, ou seja, escudo de Davi.
Em verdade não existe referência bíblica que comprove que a estrela tenha sido
usada como escudo ou símbolo por Davi, mas a tradição diz que teria sido usado pelo
exército de Davi nos seus escudos acreditando que o símbolo lhes trouxesse proteção.
O significado é múltiplo, desde proteção, união de feminino e masculino ou
representação do número 7, o número da perfeição para judaísmo, representando
o divino. O número 7 vem da soma das pontas dos triângulos, 6, mais seu centro.
O símbolo tem outras conotações: está na bandeira de Israel, foi utilizada como
marca de judeus durante o Holocausto e tem sido utilizada por outras religiões como
símbolo de sorte e proteção.

Importante que a Estrela de Davi não seja confundida com o Selo de Salomão, pois
enquanto a primeira é formada por dois triângulos sobrepostos, na segunda estrela
os triângulos são sobrepostos. O Selo é considerado símbolo ocultista.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Hamsá

É uma mão com dedo polegar e mínimo com mesmo tamanho, de uso mais comum
entre os sefaradim, com laços estreitos com a cabala. Usada também no Islamismo,
é também conhecida como “mão de Fátima”, a filha preferida de Maomé. O símbolo
é compreendido como protetor contra mau olhado.

Mezuzá

É um pequeno invólucro fixo ao batente direito na porta da casa.


Dentro coloca-se um pequeno pergaminho com versículos, principalmente que
lembrem servir a Deus em fidelidade.

Vestimentas

Além de símbolos e livros de orações, muito importante na prática piedosa judaica


é a vestimenta. O vestuário religioso é voltado especialmente aos homens e tem suas
especificações e mandamentos a partir da Torá.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Talit

O Talit é um xale branco, com listras azuis e franjas nos quatro cantos. As listras
são em número de 12, representando as 12 tribos de Israel. As franjas lembram a
pessoa dos dez mandamentos.

Tefilin

Homens em oração podem usar o Tefilin, que consiste em um par de caixas pretas
de couro com tiras de couro amarradas, uma sobre o braço e a outra sobre a cabeça.
Dentro das caixas estão pedaços de pergaminho com palavras da Escrituras. Um
texto que sustenta a prática está em Deuteronômio 6.8: “E os atarás como sinal na
tua mão, e serão por frontais entre teus olhos”.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Kipá

O Kipá ou Yarmulke é usado para realizar orações em casa ou na sinagoga, mas


também é usado diariamente por judeus piedosos. É um solidéu em forma de calota
usado para cobrir a cabeça a fim de expressar respeito e reverência a Deus. Não tem
fundamentação nos escritos sagrados.

Tzitzit

Tzitzit (franjas) trata-se de uma espécie de camisa usada sob a camisa, com tiras,
franjas que ficam em evidência para dar consciência das obrigações ao usuário
vestimentas. Um dos textos básicos está em Números 15.38-41 “(...) E será para vós
por tzitzit e vereis e lembrareis todos os mandamentos de Deus e os cumprireis (...)”.

Regras alimentares

Cada cultura tem suas regras e receitas alimentares. No caso da religião judaica a
alimentação pode aproximar ou afastar de Deus. As leis alimentares estão dentro de
um código chamado Kosher (ou kasher) e literalmente significa “permitido/apropriado”.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Em matéria da BBC intitulada “Kosher e halal: como os animais devem ser


sacrificados segundo os rituais judeus e muçulmanos”, são tratadas as dificuldades
de manutenção das regras de pureza do Islamismo e Judaísmo no abate de
animais em alguns países europeus. Acesse: https://www.bbc.com/portuguese/
internacional-46786317

As regras são de alta complexidade em sua produção, manejo e, até mesmo, no


consumo. Baseiam-se em determinações contidas nos livros de Levítico e Deuteronômio.
Na dieta kosher todos vegetais são permitidos, porém precisam ser examinados
com cuidado, pois vermes e insetos contaminam e tornam o alimento inapropriado.
Os alimentos e preparos proibidos são os seguintes:
• Misturar carne, leite e derivados na mesma refeição, carnes mal passadas e
alimentos feitos com sangue;
• Carne de animais com casco fendido e que não ruminam (porcos, carnes de
caça como javali);
• Cavalo, coelho, canguru, camelo;
• Aves como corvos, corujas, abutres;
• Frutos do mar, peixes sem escamas.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

As regras kosher não permitem refeições como estrogonofe, frango ao molho


pardo, bifes mal passados, pizza de frango com catupiry e nem sobremesas com
sorvetes e cremes após refeição com carne.

Existem regras específicas para o abate para que os animais tenham o menor
sofrimento possível e para que seja extraído todo o sangue. Para um frigorífico obter
espaço nesse nicho de mercado é necessária a certificação que é emitida por empresas
próprias para realização deste processo.
No Brasil, os alimentos kosher são identificados com a letra “U” dentro de um
círculo na embalagem, o que significa que foram certificados pela União Ortodoxa.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

As regras alimentares kosher são seguidas em parte pelos cristãos da Igreja


Adventista do Sétimo Dia e têm muitas similaridades com as regras Halal do
Islamismo.

Festas

As festividades seguem tradições antiquíssimas, muitas delas marcadas no


calendário, que é lunar e iniciou em 7 de outubro do ano de 3760 a.C.Essa data é
tida como o princípio do mundo. As principais festividades são:
• Purim (Festa das sortes) acontece em fevereiro ou março e celebra a história
contada no livro de Ester, a salvação dos judeus de um massacre e que Deus
governa tudo e não a sorte.
• Pessach (Páscoa) acontece em março ou abril e é a passagem o anjo da morte que
no Egito “pulou”, “passou por cima” e protegeu os hebreus da morte dos primogênitos
na décima praga. Celebra o êxodo, o fim da escravidão de 400 anos no Egito.

ISTO ESTÁ NA REDE

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=aD2ldLQnJ9s

-Rosh Hashaná (cabeça do ano) festa do ano novo que acontece em outubro.
-Yom Kipur (dia da expiação) é o dia do perdão. Durante dez dias após o início do
ano judaico, acontece um período de avaliação e arrependimento que é finalizado
com este dia.
- Festa da Inauguração (Chanucá) é também conhecida como festa das luzes.
Surgiu cerca do ano 165 a.C após a guerra dos Macabeus e é celebrada em
meados de dezembro.

ANOTE ISSO

Os últimos passos de Jesus em seu ministério a partir de sua entrada em


Jerusalém ocorreram na celebração da Pessach, por isso, muitas ocasiões a
Pessach coincide com o período da Páscoa cristã.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 4
RELIGIÕES ABRAÂMICAS:
CRISTIANISMO

Introdução

A religião cristã surgiu na região da atual Palestina no século I. Essa região estava
sob domínio do Império Romano neste período. Desenvolveu-se a partir da pregação
dos ensinamentos de Jesus e propagação através de seus apóstolos.
O Império Romano possuía grande extensão territorial, dominando assim, muitas
culturas e povos. Para garantir a paz e o controle desenvolve a “Pax Romana”, que
em latim significa a paz romana e esteve em voga entre os anos 27 a.C. a 180 d.C.
Apesar de ser reconhecido como um tempo próspero e pacífico, era extremamente
benéfico para Roma, pois rebeliões dos povos dominados eram sufocadas com grande
violência.
Assim como foi em muitos territórios, na Judéia, os romanos concediam pequenas
liberdades e alguma autonomia, a fim de manter as pessoas suscetíveis. Junto a isso,
a elite era aliada de uma vez que Roma concedia algum poder. Tudo isso garantia o
sucesso da Pax Romana.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Herodes fazia parte da elite e manteve seu status de “rei”. Os sacerdotes tinham seu
espaço e atividades de câmbio e comércio aconteciam no Templo. A Pax Romana
prendeu, torturou e matou Jesus, sob as ordens de Pilatos, o procurador romano, já
que somente Roma tinha esse poder. Jesus foi preso acusado de conspiração.

4.1 O Messias ( Salvador )

Há uma parábola muito popular, registrada em muitas versões, que procuram explicar
a importância de Jesus como o Cristo, o escolhido e conta-nos que:

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

“certo dia, um homem parou em frente a um formigueiro enquanto


caminhava no campo. Havia milhares de formigas que começaram a
se mover incessantemente quando a sombra do humano as cobriu. Ele
pensou: ‘Se essas formigas soubessem o quanto eu me interesso por
elas, não ficaram tão agitadas com a minha presença’. Ele continuou
nesse pensamento, imaginando que, se alguém quisesse explicar
seus sentimentos para as formigas, teria de se tornar uma delas. Só
assim, em seu tamanho e linguagem, elas o compreenderiam.”

A partir da história acima, Jesus é a revelação total da misericórdia, amor e graça


divina, o verbo que se fez carne.
Tradicionalmente a cidade natal de Jesus é apontada como Belém, na região da
Judéia. Belém era a cidade de Davi e os profetas anunciaram que o messias seria
descendente de Davi e nasceria em sua cidade de origem.
A profecia do nascimento de um messias é muito antiga. O povo judeu nos dias de
Jesus, especialmente aguardava essa vinda que traria a libertação do jugo romano.
Essa esperança de um salvador, que restaurará Israel ainda faz parte da fé de judeus
praticantes.
Conforme os Evangelhos de Mateus e Lucas, Deus escolheu Maria, uma moça
nazarena, noiva de José, para ser a mãe do Salvador. Essa concepção aconteceu por
obra do Espírito Santo cercada de eventos miraculosos e intervenção angélica.
Após o nascimento de Jesus, por questões de segurança, a família migra para o
Egito e retorna apenas após a morte de Herodes o Grande e instalam-se em Nazaré.
O ministério de Jesus inicia-se após ser batizado por João Batista no rio Jordão.
Esse era um ato comum entre pregadores, um gesto de confissão de pecados e início
de uma nova vida. João questiona Jesus e diz que este não tem necessidade de tal,
mas Jesus coloca-se junto aos pecadores, no nível destes e recebe uma confirmação
com a descida do Espírito Santo, em forma de pomba, e uma voz do céu que diz que
este é “o filho amado que traz muita alegria”.
A idade aceita é 30 anos e a partir do batismo, inicia seu ministério de pregação de
sua mensagem na região onde vivia. Em suas andanças por vilas e cidades próximas,
torna-se um “taumaturgo”, pois realiza curas e milagres. Isso chama a atenção e reúne
grande público para ouvir suas pregações.
Perseguido e preso pelos soldados romanos, foi condenado à morte por não
reconhecer a autoridade divina do imperador. Contudo, a denúncia veio da parte
dos sacerdotes judeus após a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém no início da

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

celebração da Pessach e de um incidente no Templo em que ele enfurece-se com o


comércio de câmbio no pátio e expulsa os comerciantes.
Após ser preso é acusado de incitar uma revolta, foi condenado, torturado e
cruscificado, o que na época era uma morte dolorosa, pois era por sufocamento e
humilhante, exercendo um papel de tortura psicológica que Roma exercia para impôr
medo aos povos dominados.
De acordo com os Evangelhos, aos 33 anos, Jesus é morto, sepultado e ressuscita
após três dias. Pregou ainda por 40 dias e subiu aos céus. Ofereceu a possibilidade
da salvação e da vida eterna a todos aqueles que acreditam nessas revelações e
seguem seus mandamentos.

4.1.1 A Bíblia

Bíblia é o livro sagrado dos cristãos é fruto de uma longa produção histórica. A
palavra “Bíblia” vem do grego “biblos”, livro. A Bíblia é mais do que um livro, mas uma
biblioteca condensada em um único livro.
A Bíblia pode ser dividida em duas partes: Antigo Testamento (AT) e Novo Testamento
(NT). A primeira parte conta a criação do mundo, a história, as tradições judaicas, as
leis, a vida dos profetas e o seu anúncio da vinda do Messias.
O AT foi escrito em Hebraico e trechos em aramaico, já o Novo Testamento começou
a ser escrito após alguns anos da morte de Jesus, no idioma grego. O NT fala sobre
a vida do Messias, o ministério e o processo de formação das primeiras igrejas.
O cânon (regra) de escolha dos livros que fazem parte da Bíblia não é unânime e
existem diferentes versões, contudo existem algumas edições que são mais aceitas
pelo maior número de cristãos.
Sendo assim, a Bíblia na versão católica possui 73 livros, sendo 46 no AT e 27 no
NT e a Bíblia evangélica conta com 39 livros no AT e 27 no NT. Além dessa diferença
de livros, existe uma pequena diferença na divisão do Salmo 10. O motivo dessa
discordância no número de livros remete ao período da Reforma do século XVI na
Alemanha.
Lutero quando traduziu a Bíblia para o alemão, considerou que sete livros não
apontavam para a obra de Cristo tanto quanto outros, mas eram úteis. Então os
posicionou no final da Bíblia como anexo. Com o passar do tempo, os editores não
colocaram mais esses anexos ao imprimirem a Bíblia, surgindo assim a diferença no
número de livros.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

O Salmo 23, “O Senhor é meu pastor”, tem esse número na Bíblia protestante, na
Bíblia católica equivale ao Salmo 24.

Difusão do cristianismo

Os ideais de Jesus espalharam-se rapidamente pela Ásia, Europa e África,


principalmente entre a população mais carente, pois eram mensagens de paz, amor
e respeito. Os apóstolos se encarregaram de tal tarefa.
Durante o primeiro século, não havia uma denominação como um adjetivo “cristão”
aos seguidores de Cristo. Os primeiros seguidores adeptos de sua pregação eram
conhecidos como “os do caminho”(Atos 9.2; 24.14). Isto estava em acordo com a
própria revelação de Jesus ser o “caminho, verdade e vida” (João 14.6) e seguindo a
tradição de peregrinação vétero testamentária.
A religião fez tantos seguidores que no ano de 313, o imperador Constantino tornou
o cristianismo uma religião tolerada. Em 325 o Concílio de Nicéia estabelece uma
série de dogmas e cânones, entre eles a data que deveria ser celebrada a Páscoa e
a natureza divina de Jesus. No ano de 392, o cristianismo é transformado na religião
oficial do Império Romano.
Elemento marcante nessa consolidação foi a instituição de ordens religiosas a partir
da necessidade de agrupar esforços e a criação de ordens militares, que combateriam
os infiéis (além das Cruzadas), e ordens religiosas que iriam ser responsáveis pela
gestão e manutenção desses fiéis.
No final do Império Romano, milhares de fiéis recém-convertidos abandonaram
as suas vidas urbanas e refugiaram-se em lugares desertos. Exemplo disso foram os
eremitas do Monte Carmelo.
Bento de Núrsia, fundou uma comunidade monástica masculina no Monte Cassino
e nas proximidades deste mosteiro beneditino, a sua irmã gêmea, Escolástica, abriu
um outro para a primeira comunidade monástica feminina.
Ao longo de toda a Idade Média o processo de conversão à fé cristã alcançou
populações bárbaras que invadiram os domínios romanos e consolidaram novos reinos
como os Francos.
Na época das grandes navegações (séculos XV e XVI), a religião chega até a América
através dos padres jesuítas, cuja missão era catequizar os indígenas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

Durante as navegações, especialmente, as expedições espanholas e portuguesas,


o cristianismo expandiu-se não raras vezes mediante imposição com batismos
forçados e violência. No tráfico humano de africanos escravizados, o batismo era
uma maneira de registro civil, para poderem ser registrados como propriedade
precisavam ter um nome.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Hoje existem centenas de ordens monásticas em todo o mundo. Os jesuítas, por


exemplo, enfatizam a educação e fundam e administram escolas e universidades, já
as irmãs carmelitas dedicam-se à oração. Cada ordem tem o seu carisma e através
dele exerce o ministério cristão.

Doutrina Cristã

A doutrina cristã está baseada nos testemunhos dos apóstolos, dos evangelistas e
dos primeiros líderes das comunidades cristãs, registrados e mantidos através dos 27
livros do cânon do Novo Testamento da Bíblia. Essa doutrina desdobra-se de diferentes
maneiras e com variadas ênfases e interpretações em cada igreja cristã.
A ressurreição de Jesus é a “pedra fundamental” da fé cristã, a partir dela aconteceu
uma validação dos atos realizados por ele, bem como o reconhecimento que ele era o
Cristo. Isto ocorreu por que outros taumaturgos e pregadores transitavam em Israel
naqueles dias, mas só Jesus ressuscitou.
Os primeiros registros escritos são as cartas do apóstolo Paulo, em que percebe-
se que a fé na ressurreição estava firme entre os membros das comunidades
do primeiro século: “Pois eu vos entreguei primeiramente o que também recebi: que
Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi
ressuscitado ao terceiro dia segundo as Escrituras e que apareceu a Cefas e então aos
doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte
permanece até agora, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos
os apóstolos”(I Coríntios 15.3-7).
A pregação paulina traçou os elementos básicos, fundamentou a teologia cristã
de muitas maneiras. A atuação evangelística e escrita de Paulo determinou as bases

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

do que viria a ser o cristianismo. O destino dos cristãos é compartilhado com Cristo,
na morte, no batismo e na ressurreição.
Embora a ressurreição seja pilar da fé cristã, ela está longe de ser hegemônica.
Tão variadas as correntes teológicas e confissões são as compreensões da doutrina
da ressurreição.
As principais doutrinas estão centradas a partir do “Credo Apostólico”, uma espécie
de oração que confessa a fé cristã. Durante muito tempo acreditou-se que teria sido
elaborado pelos doze apóstolos, mas possibilidade maior é de que tenha surgido da
catequese dos convertidos, a partir de perguntas respostas que declaravam diante
do batismo na Igreja primitiva (KIRST, 2008)

4.2 Principais crenças:

Pecado

A partir do NT, pecado é o rompimento da relação com Deus, é a rebeldia humana


que desobedece aos preceitos divinos. O pecado é o anseio e prática do humano
de uma vida sem Deus, auto-suficiente, logo, pecado é tudo o que afasta de Deus.
Podemos, portanto, dizer que o pecado designa aquilo que rompe com a intenção de
Deus para a vida humana. Do ponto de vista de Deus, os seres humanos são sempre
pecadores e carecem da graça de Deus.
Faz parte da teologia cristã o dogma do “pecado original”, que embora não tenha
essa expressão na Bíblia, é utilizado para descrever o pecado nato, o desejo inato de
romper com Deus.

Remissão dos pecados

O perdão, a remissão dos pecados acontece mediante arrependimento. A ideia é


que Jesus veio para salvar e redimir todos os pecadores.

Trindade

Deus é Triúno, um Deus único que age e apresenta-se de três maneiras distintas:
Pai criador e mantenedor de tudo, onipotente, onipresente e onisciente.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Deus Filho, Jesus Cristo o verbo, a promessa, Deus encarnado, o salvador do mundo.
Deus Espírito Santo, o “parácleto” (advogado) que intercede pela humanidade, inspira
e santifica.

Ressurreição

Jesus foi o primeiro que ressuscitou, sendo premissa para os demais. As pessoas
que haviam morrido e que Jesus reviveu, não ressuscitaram. A ressurreição é algo que
fica para sempre e os revividos por Cristo, voltaram a morrer. O Evangelho testemunha
que Jesus disse que quem crer nele, ainda que morra, viverá.
Ressurreição ou anastase é o entendimento que uma pessoa volta a ter vida,
ressuscita para uma vida nova, não mais terrena, mas sim espiritual, num ambiente
chamado de céu, ou de inferno. A ressurreição é o corpo animado (pelo ânima=alma)
e não a alma encarnada.

Esperança

A esperança cristã espera por um novo tempo em que todo o mal e seus aspectos
serão derrotados e substituídos pelo governo de Deus. Mesmo que Jesus tenha
ressuscitado e venceu a morte, a vitória final é seu retorno no final da história.

Batismo

A palavra “batizar” tem origem grega e significa “molhar com água”. O próprio Jesus
instituiu o batismo, a ser realizado em nome da Trindade, de acordo com Mateus 28.
Esse mandato ocorreu no momento da Ascensão e é um mandato missionário, por
isso, todas as igrejas batizam. Contudo, não há consenso entre as igrejas em torno
do batismo. Algumas batizam os infantes, outras apenas adultos.
Para os fiéis, o batismo é a entrada na Igreja, na vida comunitária cristã, mas
também concede perdão dos pecados e salvação.

Eucaristia, Ceia do Senhor ou Santa Ceia

Eucaristia significa “dar graças”, e está baseada na última ceia de Jesus com seus
discípulos pouco antes de ser preso. Os elementos visíveis são o pão e o fruto da
videira, podendo ser vinho ou suco de uva, dependendo da interpretação da Igreja.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A Ceia foi desde cedo prática na igreja. As palavras mais antigas que declaram isto
estão nas palavras do apóstolo Paulo, registradas em 1Coríntios 11. 23-27:

“Pois recebi do Senhor o que também entreguei a vocês: Que o Senhor Jesus, na noite
em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo,
que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim. Da mesma forma, depois
da ceia ele tomou o cálice e disse: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto
sempre que o beberem em memória de mim. Porque, sempre que comerem deste pão e
beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha. Portanto, todo
aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar
contra o corpo e o sangue do Senhor”.

Assim como o batismo tem concepções diferentes nas igrejas, também com a Ceia,
tanto na nomenclatura quanto na compreensão e prática de distribuição.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Na ICAR a ceia é chamada de Eucaristia ou comunhão, ensina-se que nas palavras


de instituição os elementos transformam-se na substância real de sangue e carne, a
doutrina da transubstanciação. Distribui-se para as pessoas somente a hóstia, uma
espécie de pão sem fermento e creem que a eucaristia é reatualização do sacrifício
de Jesus no Calvário, por isso que também é conhecida como “sacrifício da missa”.
Já nas igrejas evangélicas as duas espécies são distribuídas e existem duas
compreensões. A consubstanciação, isto é, é verdadeiro corpo e verdadeiro sangue,
duas substâncias ao mesmo tempo, mas apenas durante a comunhão. Algumas
igrejas não creem nem em transubstanciação e nem em consubstanciação, mas
que apenas é um momento de memória dos ensinamentos de Jesus.

Cultos, piedade e sacerdotes

Na Igreja católica os encontros principais são as missas, normalmente quem realiza


os ofícios ou dirige os rituais são os padres, mas a casta sacerdotal vai muito além,
é hierarquizada e o chefe maior é o Papa.
Nas igrejas evangélicas, tanto protestantes quanto pentecostais, há menos cargos
hierárquicos, embora haja nomenclatura variada com pastor, bispo, missionário. Em

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

algumas igrejas evangélicas existe o ministério feminino, então existem pastoras,


bispas, missionárias.
Dentro do protestantismo não existe uma estrutura de igreja mundial sob um chefe
como na igreja católica, mas são muito mais numa estrutura nacional, regional, no
sentido de que o centro a atuação seja a congregação. Os encontros principais são
chamados cultos.
Quanto a orações, as igrejas evangélicas tendem a orações espontâneas, podendo
utilizar o “Pai Nosso” por ter sido ensinada por Jesus e não oram a santos ou buscando
intercessão de Maria, enquanto na ICAR uma popular é “Ave Maria”.

4.2.1 Divisões da Igreja cristã

Nos primeiros anos do Cristianismo, durante o primeiro século, nos é testemunhada


a estrutura da igreja a partir do livro de Atos do Apóstolos e das Epístolas. A igreja
dessa época, até o ano 325, é conhecida como Igreja primitiva. A Igreja Primitiva
passou a ser denominada como Católica(Universal), num primeiro momento pelo
bispo Inácio de Antioquia.

Catolicismo

O catolicismo é uma das mais expressivas vertentes do cristianismo e, ainda hoje,


congrega a maior comunidade de cristãos existente no planeta.
Em sua organização, o catolicismo é marcado por uma rígida estrutura hierárquica
que se sustenta nas seguintes instituições: as paróquias, as dioceses e as arquidioceses.
Todas essas três instituições são submetidas à direção e ensinamentos provenientes
do Vaticano, órgão central da Igreja Católica comandado pelo Papa, o representante
do Apóstolo Pedro a quem é atribuído o título de bispo de Roma, ou o primeiro Papa.
Essa característica centralizadora facilitou rupturas e o surgimento da Igreja
Católica Apostólica Romana. Em 1054, ocorreu a primeira divisão em consequência
de divergências entre o papa romano e o patriarca de Constantinopla, surgindo assim
o catolicismo romano e o catolicismo ortodoxo.
A Igreja Ortodoxa entende-se como a legítima igreja fundada por Cristo, por isso
não reconhecem várias doutrinas da ICAR como o Papa, a virgindade perpétua de
Maria e nem no purgatório. Os padres podem ter esposas, apenas sendo proibido o
casamento após a ordenação.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

A Igreja Ortodoxa está presente principalmente na parte oriental da Europa,


predominando na Grécia e na Rússia. Chegou ao Brasil no ano de 1904. No vídeo a
seguir pode-se conhecer um pouco dessa presença no território brasileiro. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=Gv35D8_1KWg

A ICAR caracteriza-se tanto em crenças comuns ao cristianismo citadas acima,


quanto a existência da vida após a morte, céus, inferno e purgatório como diferentes.
Têm uma piedade em que santos são intercessores, bem como Maria, a mãe
de Jesus, tendo orações específicas dedicadas a estes e a prática de promessas e
peregrinações.
Possuem sete sacramentos, meios pelos quais a graça e misericórdia de Deus
alcançam a pessoa. Exemplos: o batismo, a crisma, a eucaristia, a confissão, a ordem,
o matrimônio e a extrema-unção.

A Reforma

A partir de disputas e uma nova interpretação bíblica, em 1517 inicia-se o movimento


da Reforma com Martim Lutero, na Alemanha. Houve outras tentativas de reformular
práticas da ICAR, mas os idealizadores foram martirizados e mortos.
Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou 95 teses na porta da igreja do castelo de
Wittenberg e essa é a data oficial do início do movimento.
Em si, Lutero não tinha intenção de fundar nova igreja, mas provocar discussão em
torno de práticas da igreja da época que não condizem com as Escrituras. Contudo,
Lutero foi excomungado e seus escritos queimados, surgindo a igreja evangélica.
Lutero traduziu a Bíblia das línguas originais para o alemão.
Essa igreja surgida da Reforma, passou a distribuir a ceia nas duas espécies para
o povo, estabeleceu culto na língua do povo (as missas católicas eram em latim),
eliminou-se peregrinações e adoração de relíquias e investiu em educação, para que
todos pudessem ler a Bíblia.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Por ocasião dos 500 anos do início da Reforma Protestante, as igrejas luteranas
que estão no Brasil (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e
Evangélica Luterana do Brasil (IELB)) lançaram a microssérie Lutero: Muito Além
da Religião. Nesta obra, aspectos históricos da pré-reforma e as consequências da
reforma na sociedade.
Acesse:https://www.youtube.com/watch?v=BvwObjPHWDY&list=PLdvJgPpURpVhB
wi5fznTIWR3xQ0xQODGg&index=11

Nos últimos 500 anos muitas outras igrejas foram surgindo e migrando pelo mundo
junto com imigrantes e missionários. Abaixo algumas destas postas de maneira
resumida algumas destas igrejas e suas classificações:

Protestantismo Histórico

Movimento iniciado na Europa no século XVI, cujo marco célebre são as 95 teses do
teólogo cristão Martinho Lutero criticando uma série de práticas e doutrinas da Igreja
Católica. Esse rompimento com o Papa, eclode a Reforma Protestante, resultando em
diversas correntes cristãs, como a própria Igreja Luterana, Presbiteriana e a Metodista.
A maioria das igrejas protestantes rejeitam o culto a Maria, não pedem intercessão
aos santos, não exigem o celibato, e aceitam o divórcio e os métodos contraceptivos
a fim de planejar a família.

Igreja Luterana
A ruptura de Lutero com a ICAR, em 1517, lançou o alicerce para a ampliação das
ideias protestantes.

Igreja presbiteriana
A partir das reflexões do teólogo francês João Calvino (1509-1564), pregavam
principalmente a predestinação divina: ou seja, só os escolhidos são salvos por Deus.

Igreja Episcopal Anglicana


O rei inglês Henrique VIII (1491-1547) após a negativa do Papa Clemente VII quanto
a anulação de seu casamento, ele rompe com Roma e estabelece a Igreja Anglicana
em 1534.
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53
RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Igreja Batista

Contemporâneo a Lutero, os anabatistas, mas era pequeno e, somente após a


Reforma, fortaleceram-se e surgiu a Igreja Batista.

Igreja Metodista
A partir das pregações do ministro anglicano John Wesley, representante do
movimento evangelístico chamado reavivamento, surgiu na Inglaterra no século XVIII.

Movimento Pentecostal

“E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar;


E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu
toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como
que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme
o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.(Atos 2.1-4)
O texto bíblico acima é a referência para o fenômeno da descida do Espírito Santo
durante a festa judaica chamada Pentecostes. Aconteceu especificamente em
Jerusalém 50 dias após o domingo de Páscoa, o evento da ressurreição de Jesus,
em cumprimento a uma promessa deste ao ascender ao céu. Daí decorre o termo
pentecostal.

ISTO ESTÁ NA REDE

Assembleia de Deus é uma igreja que representa o ideário pentecostal e é tida


como a primeira igreja brasileira deste segmento. No programa a seguir pode-se
conhecer um pouco desse movimento no Brasil. Acesse: https://www.youtube.com/
watch?v=_vw4BS3NFmU

Assembléia de Deus

Fundada em 1911 em Belém do Pará, fruto da pregação de dois missionários suecos


que tiveram passagem pelos Estados Unidos e, lá, receberam uma revelação de que

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

devam vir até o “Para”. Eram batistas e receberam a influência do pentecostalismo


norte-americano.

Congregação Cristã no Brasil

Fundada no Brasil por Luigi Francescon, um protestante italiano, em 1910 entre


imigrantes italianos no estado de São Paulo. Conhecida também como “a igreja do
véu” por causa do uso de véu pelas mulheres durante os cultos.

Igreja do Evangelho Quadrangular


Uma das igrejas mais conhecidas, iniciou em 1918, sendo norte-americana. Tem
este nome porque tem quatro ângulos, pilares da doutrina: Jesus salva, Jesus batiza
no Espírito Santo, Jesus cura e Jesus voltará. No Brasil, sua fundação data de 15 de
novembro de 1951.

Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”


Com influência da Igreja Quadrangular e da Assembleia de Deus, surgiu em 1955.

Igreja Pentecostal Deus é Amor


Com fundação em 1962 em São Paulo por Davi Miranda, é bastante conservadora
na pauta de costumes.

Movimento Neopentecostal

Diferencia-se do pentecostalismo ao incentivar prosperidade e não ser rigorosa em


costumes e vestimenta, surgiu nos anos 70 do século passado. Destacam-se no uso
das mídias como rádio e televisão para divulgar seus ensinamentos. (MONTEIRO, 2010).

Igreja Universal do Reino de Deus

Em 1977 Edir Macedo funda a igreja no Rio de Janeiro. Em termos gerais está em
acordo com a doutrina cristã, com uso de mídia de rádio e televisão, cultos diários e
ênfase na doação do dízimo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Igreja Internacional da Graça de Deus

A partir de uma discordância com a Universal, surgiu em 1980 através do missionário


Romildo Ribeiro Soares (R. R. Soares), cunhado de Edir Macedo.

4.2.2 Rituais fúnebres

Para os católicos, a morte é uma passagem, acreditam que a morte é o caminho


para a vida eterna. Para eles, corpo e alma são uma só coisa. A reencarnação não é
aceita.
Durante o velório há orações como o Pai Nosso e a Ave Maria, um padre ou
ministro leigo das Exéquias faz uma celebração para encomendar a vida da pessoa às
mãos de Deus. O ente falecido pode ser enterrado ou cremado. Depois de enterrado,
ocorrem celebrações em memória do morto durante as missas no sétimo dia, no
primeiro mês e no primeiro ano. Creem no purgatório, uma realidade em que as almas
são purificadas em preparação à eternidade. As flores nos velórios simbolizam a
esperança na ressurreição.

Protestantismo

Protestantes confessam que a morte é apenas uma passagem para outra vida e
não aceitam a reencarnação. Os rituais de sepultamento são semelhantes aos dos
demais religiosos, contudo tudo gira em torno do consolo à família e não para o
falecido. O corpo, de acordo com as tradições protestantes, pode ser cremado ou
enterrado. Caso seja cremado, recomenda-se que as cinzas tenham destino e não
guardadas em casa para evitar apego ao falecido.
Se a família desejar, pode fazer um culto de gratidão a Deus pela vida da pessoa,
mas não é uma norma de todas as igrejas. Caso ocorra esse culto, é chamado culto
de gratidão e oração memorial.

Evangélicos pentecostais

No final da vida de um evangélico, ocorre o ritual fúnebre, com simplicidade,


tendo leituras bíblicas, pregação,cantos de louvor, sem velas ou crucifixos. Segundo

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

RODOLPHO (2004, p. 142) os falecidos não precisam ser guiados para o céu uma vez
que está em Cristo e onde Cristo está, ele estará.

Simbologia cristã

Ano litúrgico e festividades e principais festas religiosas

Natal : celebra o nascimento de Jesus Cristo (comemorado todo 25 de dezembro).


Páscoa : celebra a ressurreição de Cristo. É uma data móvel e o cálculo da data é
o seguinte: o primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do início do outono
no hemisfério sul ou da primavera no hemisfério norte..
Ascensão: lembra a subida de Jesus ao céu 40 dias após a ressurreição.
Pentecostes : celebra os 50 dias após a Páscoa e recorda a descida do Espírito
Santo sobre a comunidade de Jerusalém e encorajou os apóstolos para a pregação.

Tão diversa quanto as linhas doutrinais e denominações cristãs, são os símbolos.


Exemplo disso é o calendário litúrgico usado por algumas das igrejas mais tradicionais
como ICAR, Igreja Luterana, Igreja Anglicana. Cada época do ano possui uma cor,
símbolos e textos bíblicos a serem estudados.

Peixe

Este, provavelmente, é o símbolo cristão mais antigo. No grego koiné, ἰχθύς, ou


em letras maiúsculas ΙΧΘΥΣ, significa literalmente “peixe”, contudo “os do caminho”,

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

fizeram deste símbolo uma forma de identificação através do desenho e formularam


uma sigla: “Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ Υ
͑ ιός, Σωτήρ “ (Jesus Cristo Filhos de Deus Salvador).

Cruz

Representa o instrumento de execução de Jesus e hoje, é o principal símbolo cristão.


Quanto a cruz não mostra o corpo crucificado, lembra que Jesus não ficou na cruz,
mas ressuscitou. Quanto à representação de Cristo, chama-se crucifixo e lembra do
sacrifício d’Ele em favor da humanidade.

Pomba

A pomba é reconhecida como símbolo da paz e esteve em importantes momentos


bíblicos, como no dilúvio ao mostrar o seu final. Para os cristãos é o símbolo do
Espírito Santo, pois foi por uma pomba que ele manifestou-se no batismo de Jesus.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Alfa e ômega

Alfa e ômega são a primeira e a última letras, respectivamente, do alfabeto grego e


fazem referência a Deus como o princípio e fim de tudo, a sua eternidade. Fundamenta-
se no versículo bíblico de Apocalipse 1. 8.

Terço

É utilizado pelos fiéis católicos para contar as orações (Pai Nosso e Ave Maria).
Nos primeiros séculos a Igreja tinha horas específicas para recitar salmos, mas em
função de leigos serem analfabetos, a devoção foi adaptada para o exercício das
orações que pudessem decorar.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

AULA 5
RELIGIÕES ABRAÂMICAS:
ISLAMISMO

Introdução

O Islã, ou Islamismo, tem sua origem na Arábia Saudita no século VII. Desde o
princípio esteve entrelaçado à cultura árabe, às tribos e suas culturas e aos impérios.
A sua expansão foi relativamente rápida especialmente na da África e Ásia, chegando
até a Europa via Península Ibérica.
Hoje é a religião que mais cresce em número de membros. Está presente em todos
os continentes tornando-a uma religião mundial. Muito tem influenciado a sociedade
chamando a atenção de muitas celebridades e levando algumas a assumir essa fé.
Recentemente a cantora Sinéad O’Connor declarou estar feliz no Islã e mudou o
nome para “Shuhada”.
O Islã, não é um grupo hegemônico, diverge entre si, em interpretações das escrituras
e posturas de vida. A religião está ligada à questões políticas e sociais desde seu início
e alguns grupos são polêmicos ao assumirem posturas de guerrilha e terrorismo e
atacam até mesmo os próprios irmãos de fé.
O terrorismo Islâmico é difundido através de grupos extremistas, de interpretação
fundamentalista, ultrarradicais e, não raras vezes, influenciadas por aspectos culturais
aliados às escrituras sagradas. Dentre os grupos extremistas, fundamentalistas
islâmicos, destacamos o Taleban, a AlQaeda, o Estado Islâmico ou EI (Também
chamado de DAESH ou ISIS) e o Boko Haram.
Por conta de atos de extrema violência de uma minoria dentro do Islamismo, muitas
pessoas sentem o preconceito que chega à perseguições, violência, depredação de
comércios de pessoas islâmicas, especialmente após os eventos de 11 de setembro de
2011. A intolerância religiosa tem atingido os seguidores de Maomé em nível mundial.
A seguir veremos os aspectos principais da fé muçulmana.

1.1 Islamismo a religião da submissão

Assim como o Judaísmo e o Cristianismo, a religião muçulmana é monoteísta,


abraâmica e gira em torno de um livro sagrado. A palavra Islã provém do árabe

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Islām, derivada da raiz “slm”, “aslama”, traduzida como “submissão (a Alá)”. “Muslim”
(muçulmano) é “aquele que se submete a Alá”.
Deus é considerado único e sem igual. Cada capítulo do Alcorão (com exceção
de um) começa com a frase “Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso”. Os
muçulmanos acreditam que a criação de tudo no universo foi pura ordem de Deus,
“Seja e por isso é”, e que o propósito da existência é adorar a Deus. Ele é visto como
um Deus pessoal que responde sempre que uma pessoa está em necessidade ou
quando clamam por seu socorro. Não há intermediários.
Uma das passagens do Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos
de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59:
“Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele
é o Clemente, o Misericordioso! Ele é Deus e não há outro deus senão Ele. Ele é o
Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus
seja louvado acima dos que os homens lhe associam! Ele é Deus, o Criador, o Inovador,
o Formador! Para ele os epítetos mais belos” (59, 22-24).

ISTO ESTÁ NA REDE

Um sheik recém-chegado em São Paulo e seu colega de Foz do Iguaçu explicam


os preceitos do Islamismo. Em Manaus, um praticante visita a primeira mesquita
da cidade, enquanto, em Curitiba, um casal convertido fala sobre o processo de
adaptação aos novos hábitos da vida islâmica. A partir do programa “Retratos de
fé” da TV Cultura podemos conhecer um pouco mais dos muçulmanos no Brasil.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=z5MwPO8Kzo4&list=PL0Qz-covvhxT1a
xC8kUodNn3Ja7tye4Gs&index=4

PARA ANOTAR

Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da


existência é adorá-Lo, que a religião islâmica é a versão completa e universal
de uma fé há muito tempo revelada , desde Abraão, Moisés e Jesus, que eles
consideram profetas. Os seguidores do islã creem que as mensagens e revelações
anteriores (contidas no AT e no NT) foram corrompidas, maculadas através do
tempo e das intenções humanas. O Islamismo tem o Alcorão (ou Corão) como uma
versão inalterada e mais fiel da revelação final de Deus. Por essa razão, não falam
em conversão, mas reversão, pois todos nasceriam monoteístas e é ao longo da
vida que afastam-se dessa fé.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

1.1.1 Vida do profeta

Um menino órfão, sem posses, com uma infância vivida entre o deserto com
beduínos e casas de parentes, aprendiz do ofício do comércio. Esse é o início da vida
do fundador do Islamismo, a segunda maior religião do mundo.
Maomé ou Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hashim
era da tribo de coraich e nasceu na cidade de Meca no ano de 570. Desde os seis anos
viveu entre beduínos no deserto, a casa do avô e, finalmente, com um tio comerciante
muito bem-sucedido que lhe ensinou o ofício do comércio de especiarias em caravanas.
Em suas viagens teve contato com diversas culturas e religiões, conhecendo o Judaísmo
e o Cristianismo.
Em 595, Maomé conheceu e trabalhou para uma rica viúva, Khadijha. Ela ficou
impressoinada com as habilidades de Maomé e ela o pediu em casamento. Essa
união foi feliz, resultou em filhos e transformou Maomé em um homem muito bem
colocado financeiramente.
Maomé, procurava o sentido para a vida e uma relação mais próxima da divindade
e, para isso, muitas vezes retirava-se para uma caverna no Monte Hira, para meditar.
De acordo com Gaarder em “O livro das religiões”, quando Maomé estava com 40
anos de idade, recebeu a visita do anjo Gabriel durante um desses retiros. Gabriel
revelou um pergaminho e ordenou a ele que o lesse. Maomé responde ser analfabeto
ao que o anjo responde disse:
“Recita em nome do teu Senhor, que criou, criou o homem a partir de coágulos de
sangue. Recital Teu senhor é o Mais Generoso, que pela pena ensinou ao [homem o
que ele não sabia]”
As visitas seguiram-se por um longo tempo, por cerca de 22 anos. Maomé relatou
revelações que ele acreditava serem de Deus, transmitidas pelo do arcanjo Gabriel. O
conteúdo dessas revelações está registrado no livro Alcorão. Maomé transmitiu aos
ses seguidores que memorizaram e, mais tarde, registraram de forma escrita.
No contexto da época as tribos árabes eram politeístas e a Caaba era um centro
de peregrinação para esses diversos deuses em Meca. Essas diferentes religiosidades
tinham como consequência cultural a injustiça social e as mulheres desvalorizadas,
por exemplo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Meca era uma cidade movimentada, de onde caravanas partiam e lá Maomé inicia
sua pregação monoteísta. Os primeiros que aceitaram a mensagem foram seus
familiares mais próximos, porém encontrou oposição dos demais habitantes.
Após a morte de seu tio e de sua esposa em 619 e com a perseguição intensificada,
Maomé emigrou para Yatreb 622. Este acontecimento é conhecido como Hégira e
marca o início do calendário muçulmano.
Nessa nova cidade, Maomé é bem acolhido e reconhecido como líder religioso e
a cidade adota novo nome: Medina (“a Cidade”, ou “Cidade do Profeta”). Depois de
muitas batalhas, une tribos e estabelece a paz, com uma fé monoteísta.
Com posterior retorno à Meca, Maomé finalmente implantar a religião muçulmana
que amplia-se e expande-se pela península Arábica. Reconhecido como líder religioso
e profeta, faleceu no ano de 632. A morte do profeta provocou disputas de sucessão,
já que seus filhos homens haviam morrido na infância. O processo passou por alguns
conflitos e, isto, gerou os dois principais grupos do Islamismo: Sunitas e Xiitas.
Um grupo acreditava que o sucessor do profeta devia ser o califa Abu Bakr e a aprtir
disso os primeiros califas deviam suceder Maomé. Essa parcela de muçulmanos seguiam
os ensinamentos das Suna, daí ficaram conhecidos como Sunitas e aproximadamente
85% dos muçulmanos do mundo. De acordo com os sunitas, a autoridade espiritual
pertence a toda comunidade.
Oposto aos sunitas estavam os xiitas que criam que o herdeiro legítimo da liderança
devia ser o parente mais próximo de Maomé, chamado Ali e os seus descendentes. O
nome do grupo deriva das palavras árabes “shi it Ali” ( partido de Ali), os xiitas e tem
sua interpretação da Sharia.

A viagem noturna de Maomé

Alguns elementos de grande destaque na fé islâmica tem sua fundamentação na


Viagem noturna e ascensão de Maomé e é dividida em duas partes: Isra e Miraj. A
partir da tradição muçulmana, ele fez essa viagem em uma noite em 621.
Nessa viagem Maomé montou uma criatura alada mítica chamada Buraq e, guiado
pelo arcanjo Gabriel a cinco locais viaja para “a mesquita mais distante”, que na época
seria Jerusalém.
A viagem miraculosa aconteceu entre Meca, Medina, o Monte Sinai, onde Alá
revelou a Torá ao Profeta Moisés. Em seguida, rumaram para Belém, cidade natal do

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

profeta Jesus, seguindo até onde estava sepultado o Profeta Moisés, na área externa
do local próximo de onde hoje está localizada a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.
Em Jerusalém ele ascende ao céu e recebe instruções de Deus em relação a práticas
de fé dos fiéis do islã como as cinco orações diárias. A partir desse evento Jerusalém
passa a ser cidade sagrada. (https://iqaraislam.com/viagem-noturna-e-ascensao )

ISTO ESTÁ NA REDE

Através do documentário da History Channel “Maomé, o Corão e o Islamismo”


temos diferentes compreensões da fé islâmica, dados históricos, impactos
sociais, religiosos e políticos na Península Arábica, bem como a expansão e
consolidação do Islã como religião mundial. Acesse: https://www.youtube.com/
watch?v=p4uxR42i0kQ

1.1.1.1 Em nome do Deus clemente

Quem é Alá?

De acordo com a fé muçulmana, Alá é o nome de Deus, é único, criador de tudo,


misericordioso e submeter-se à sua vontade é o alicerce de toda a vida do crente. Ele
tem 99 nomes sublimes que descrevem suas qualidades. Em momentos de oração
esses nomes são recitados enquanto se usa o misbah, uma espécie de “rosário” com
99 contas, cada uma representando um nome. Os nomes/atributos mais citados são
“misericordioso” e “compassivo”.

Misbah

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O nome de Deus perpassa grande parte da piedade islâmica que não tem
separação entre espaço religioso ou secular, toda a vida é serviço a Alá. Exemplo
é o uso das frases: “In shá Alá” (se Deus quiser) e “Bismillah” (em nome de Deus),
esta última é a frase de invocação usada em momentos de oração e no abate de
animais.

Os livros sagrados

O livro mais sagrado do Islã é o Alcorão, tido como a palavra literal de Deus (Alá,
em árabe: Allāh), ditado por Gabriel e registrado através de tradição oral e registros
escritos em língua árabe. A partir dessa revelação surge o nome do livro sagrado, pois
“recitar” tem a mesma raiz que “Curan”, que significa “ler”, ou “ler alto”. (GAARDER,2000,
p. 130). A caligrafia é algo importante, expressão de beleza e fé, sem cometer o
pecado da idolatria. Por ter sido a revelação em árabe, são proibidas traduções, apenas
interpretações, por ser considerada palavra literal de Deus.
Os muçulmanos creem que Alá agiu através de profetas para tornar conhecida a
sua vontade à humanidade. Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada
vez mais abrangentes que culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a
Maomé, por isso, o Alcorão também registra tradições religiosas, passagens da Tanach
judaica e o NT cristão. Por exemplo: A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá);
Davi recebeu inspirações para os Salmos e Jesus para o Evangelho.
O Alcorão ou Corão reúne as revelações que o profeta Maomé recebeu do anjo
Gabriel e é dividido em 114 capítulos (suras). Entre os ensinamentos, destacam-se:
onipotência de Deus (Alá), importância de praticar a bondade, generosidade e justiça
no relacionamento social.
A Sharia, um compilado de interpretações do Alcorão, define as práticas de vida
dos muçulmanos, com relação ao comportamento, atitudes e alimentação. Todas
obrigações sociais e religiosas estão ancoradas nela. Sharia significa “caminho para
o oásis”. A outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna contida no Hadith, um
apanhado dos discursos e feitos do profeta Maomé.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Os profetas

O Islamismo prega que Alá revelou a sua vontade à humanidade através de profetas.
Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a
unicidade de Deus, esquecida pelos homens.
Os ensinamentos islâmicos são categóricos ao proibir qualquer distinção ou juízo
de valor entre os profetas, embora digam que esses profetas eram humanos comuns
dirigidos por Alá ao longo das gerações.
A fé diz que Maomé é o Último Mensageiro, através dele Alá revelou a mensagem
última a toda a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo, por isso, designado como
o “Selo dos Profetas”.
No Alcorão, são encionados vinte e cinco profetas específicos (incuindo: Adão,
Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad). Os muçulmanos
acreditam que Maomé foi um homem leal e que os profetas não cometeram erros ou
ações inadequadas, por representarem a vontade de Alá.

Doutrinas religiosas

As práticas da espiritualidade islâmica estão fundamentadas sobre cinco pilares


do islão, deveres básicos de cada muçulmano deve exercer diariamente e aos longo
da vida.
• Aceitar Deus como único e Muhammad (Maomé) como seu profeta. Essa
recitação e aceitação da crença é a Chahada ou Shahada
• Salá,Salat ou Salah, cinco orações diárias posicionados em direção à Meca;
• Exercer a Zakat ou Zakah, a doação de no mínimo 2,5% de seus rendimentos
para os necessitados;
• Jejuar no mês de Ramadã com objetivo de desenvolver a paciência e a reflexão.
Esse jejum é o Saum ou Siyam;
• Fazer a peregrinação à cidade de Meca (Hajj). pelo menos uma vez na vida,
desde que para isso possua recursos se tiver condições físicas e financeiras.
Caso a pessoa morra ou não tenha recursos, outra pessoa pode realizar em
favor deste.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

O Adhan é o chamado à oração, realizado pelos muezins e é ouvido a partir do


minarete. Hoje usam microfones que reproduzem o cântico em alto-falantes. Os
sunitas realizam as cinco orações, já os xiitas realizam três. Para ouvir um Adhan,
acesse: https://www.youtube.com/watch?v=bs7iXeGTz20

Culto

A principal forma de relacionamento do crente com Alá é pela oração que deve ser
realizada diariamente cinco vezes, prostrados em direção à Meca. Para isso possuem
um tapete dedicado a este fim. Na sexta-feira no turno da tarde acontece o culto
especial, com a pregação e orações.
A mesquita (masjid em árabe) é o “local de prostração” é local de culto, é centro
comunitário, escola e ponto de encontro dos muçulmanos. O imã é o líder comunitário
com grande conhecimento teológico e das escrituras, é encarregado das orações e
celebração de casamentos. A pregação (sermão) é dirigida pelo khatib (pregador) e
o chamado à oração é responsabilidade dos muezins.
A arquitetura das mesquitas não tem design definido, cada região no globo vai
influenciar com sua cultura, contudo alguns espaços cúlticos são quase sempre
padrão: minaretes (torres altas na entrada), cúpulas, salas de oração separadas para
homens e mulheres e área de lavagem, pois os muçulmanos devem estar limpos para
as orações. Alguns lavam o corpo todo e outros apenas partes. O espaço de oração
deve ser limpo, por isso tiram os sapatos ao entrar na mesquita.

ISTO ESTÁ NA REDE

Ao longo da expansão islâmica, templos de religiões locais suprimidas foram


transformados em mesquitas. Isto aconteceu com a “Hágia Sofia” (santa sabedoria),
uma catedral ortodoxa construída pelo Império Bizantino entre os anos de 532 e
537 em Constantinopla, atual Istambul. Após a tomada de Constantinopla pelo
Império Otomano em 1453, o templo foi transformado em mesquita e assim
permaneceu até 1931, quando a Turquia passa por um processo de laicização e o
prédio foi secularizado, fechado e reabriu em 1935 como um museu. Em 2020 o
presidente Tayyip Erdogan decretou a reversão da Santa Sofia na mesquita. O fato
foi noticiado mundialmente e você pode ver a seguir o resumo através da matéria
da TV Cultura do dia 10 de julho de 2020
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=EPBvEpDbcnU

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Locais sagrados para os muçulmanos, existem três cidades sagradas:

-A cidade de Meca, onde fica a pedra negra, também conhecida como Caaba. E é
a cidade onde Maomé recebeu as revelações;
-A cidade de Medina, onde o Islamismo foi aceito e estruturou-se, onde Maomé
construiu a primeira Mesquita;
-Jerusalém, cidade onde o profeta subiu ao céu e foi ao paraíso para encontrar
com Moisés e Jesus.

ANOTE ISTO

No período pré Maomé Meca era centro comercial, mas também religioso. A
Caaba era um santuário que recebia peregrinações e adoração de diversos
deuses e espíritos, com imagens e a Pedra Negra. É uma construção quadrada,
com a Pedra Negra colocada numa quina. A origem da Pedra Negra é incerta e
amplamente discutida na comunidade científica. Para os olhos da fé, a origem seria
o Paraíso e serviu de marco a Adão e Eva na construção de um altar. Durante o
Dilúvio, ela perdeu-se sendo recuperada por Abraão. Estas questões tornam Meca e
a Caaba o centro de fé do mundo muçulmano.

ISTO ESTÁ NA REDE

Através do vídeo com título de: A impressionante história da Pedra Negra, produzido
pelo Canal History Chanel, podemos conhecer um pouco da história da Caaba e a
peregrinação à Meca.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=qBWUqw3gpBc

Regras alimentares

Assim como no Judaísmo, o Islã possui regras alimentares bem específicas


e são chamadas “Halal” (permitido, autorizado). Halal refere-se a alimentação,
comportamentos e vestimentas.
Produtos de origem vegetal são considerados Halal, contanto que não tenham efeito
alucinógeno e não causem intoxicação ou malefícios à saúde de quem os consome.
Todos os peixes são permitidos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

As carnes que os muçulmanos consomem são frango e gado, contudo existem


regras específicas no abate. Alguns delas são:
• animais saudáveis, aprovados pelas autoridades sanitárias e que estejam em
perfeitas condições físicas;
• A bismillah deve ser dita antes do abate: “Em nome de Deus, o Clemente, o
Misericordioso”. A palavra Bismillah deve ser dita na língua árabe, que é a língua
litúrgica do islã;
• Os equipamentos e utensílios utilizados devem ser próprios para o Abate Halal. A
faca utilizada deve ser bem afiada, para permitir uma sangria única que minimize
o sofrimento do animal.

Alimentos não permitidos:

• Carne suína, aves de rapina, caninos, serpente, macaco, animais com garras
(leão e urso);
• Insetos como baratas, moscas, ratos, escorpiões;
• Jamais sangue;
• Animais que vivem tanto na terra quanto em água são proibidos (crocodilos e
semelhantes);
• Bebidas alcoólicas são proibidas, pois considera-se que alteram a consciência
do ser humano.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O Brasil é o maior exportador de carne com selo Halal. Para adquirir esse selo são
necessárias cumprir diversas etapas que envolvem documentação, origem dos
alimentos e manuseio de utensílios. O abate deve ser feito por um muçulmano, na
impossibilidade disso, poderá ser realizado por homem das outras duas religiões
abraâmicas, (judeu ou cristão). Contudo, nesse caso, o supervisor do processo
obrigatoriamente deve ser um membro do Islã. Para saber mais acesse:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2021-10/brasil-e-o-maior-
exportador-de-comida-halal-no-mundo

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Julgamento Final

Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com a ressurreição


de todos os mortos, a ressurreição é experimentada através do que eles chamam de
Man’and, que, segundo o Alcorão, é a continuação da existência em corpo e alma em
várias etapas até o dia do Julgamento Final (Yaum al-Qiyamah) é o momento em que
cada ser humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas ações que
praticou. A revelação contida no Alcorão, na surata (capítulo) n. 7, no versículo n.º 29:
“Assim como vos criou, retornareis a Ele”, ou seja, vive-se uma única vez e ressuscita
para a vida eterna.
Os seres humanos livres de pecado serão enviados diretamente para o Paraíso,
enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno, antes de
poderem também entrar no Paraíso.
As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas
religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos, mas de facto nunca o foram.
Segundo a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários
sinais, como o nascimento do Sol no poente, o som de uma trombeta e o aparecimento
de uma besta. De acordo com o Alcorão, o mundo não acabará verdadeiramente,
mas sofrerá antes uma alteração profunda.

Fases da vida

Na fé islâmica há regras religiosas e recomendações para diversas fases da vida.


Abaixo alguns aspectos que regem os muçulmanos.

Nascimento e infância

O primeiro ato é lhe dar um banho e vesti-la. Depois é dito o credo que Alá é único
em seu ouvido direito e passa-se mel nos lábios da criança.
Após Os meninos passam pela circuncisão
Aos sete anos a criança passa por uma espécie de “catequese” em que são ensinados
aspectos importantes da religião. Neste momento é “a idade do discernimento”, o Al
Diin.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Casamento

Para os muçulmanos, o casamento é essencialmente um dever religioso. O Alcorão


assinala que Deus criou homens e mulheres para serem companheiros uns dos outros
e terem filhos.
Além disso, acredita-se que o casamento se proteja contra a tentação sexual e seja
um meio de garantir a castidade.
Al Umm: o muçulmano e a muçulmana devem escolher bons parceiros para o
casamento. O propósito do casamento é definido no Islam não só como prazer e
procriação, portanto a escolha de um(a) parceiro(a) que seja religioso(a) é essencial.
Um “hadith” de Maomé lê-se diz: “As pessoas se casam por 4 razões: riqueza, origem,
beleza e religião. Case pela religião e seus filhos estarão salvos.”

Mulheres e regras de costumes

De acordo com o Alcorão, as mulheres são espiritualmente iguais aos homens, mas
cada um tem um papel a desempenhar. Quando se casam, elas recebem um dote que
fica sob sua propriedade e só pode ser usado com seu consentimento.
Muitas vezes, vemos nas mídias ideias de opressão sobre as mulheres, controle de
vestimentas como sendo ideias religiosas, contudo existem costumes culturais que
são associados aos valores religiosos.
Existem algumas vestimentas e comportamentos que são recomendações religiosas
e outras são questões de cultura de determinada localidade. O que tem acontecido
é que grupos ultrarradicais religiosos, associam esses elementos e tornam algumas
recomendações em obrigatoriedade.
Fato é que existem regras de vestimenta e comportamento femininos e masculinos
de acordo com os escritos sagrados muçulmanos. As mulheres não devem deixar
os cabelos amostra, usar perfumes em público, usar roupas de banho como maiô e
biquíni na praia e o seu corpo deve estar coberto de maneira a não evidenciar curvas
e, para cumprir isto, existem modelos de trajes femininos no islã, como vemos abaixo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Hijab

Hijab é um termo “barreira” é o véu islâmico que apresenta-se de diferentes formatos,


modelos e cores ao redor do mundo e é o mais usado. O uso do hijab é escolha da
mulher, demonstra a sua devoção.

Chador

Comum no Irã, o chador, ou xador, principalmente após 1979, é um tecido longo


que é colocado sobre a cabeça, cobrindo todo o corpo e deixando apenas o rosto à
mostra.

Niqab

Para cobrir o rosto, com apenas o os olhos à mostra, o viés é o niqab. É de uso
corrente na Arábia Saudita.

Burca

A burca é uma vestimenta, azul ou preta, que cobre todo o corpo, inclusive o rosto
e que na área dos olhos, há uma tela para possibilitar a visão. Já era tradicional em
muitas etnias, mas o mundo tomou conhecimento desse traje principalmente após a
ascensão do Talibã no Afeganistão.

ISTO ESTÁ NA REDE

Breno Damascena, através da matéria “Muçulmanas brasileiras usam Instagram


para enfrentar intolerância religiosa”, colabora para a página Universa trazendo
depoimentos de mulheres muçulmanas brasileiras. Elas compartilham suas
dificuldades, preconceitos sofridos por causa da religião e suas maneiras criativas
de se expressar nas redes sociais, em especial no Instagram, a fim de informar
sobre a fé e superar intolerância. Acesse: Muçulmanas brasileiras usam Instagram
para enfrentar intolerância religiosa - 28/10/2020 - UOL Universa

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Regras de costumes para homens

As regras de costumes e vestimentas das mulheres nos chamam atenção e podemos


até pensar que é somente para elas, mas para os homens também existem regras a
seguir quanto ao que vestir, cobrir no corpo ou utilizar de acessórios.
Os homens muçulmanos não podem estar em público sem camisa e o comprimento
de uma bermuda não deve ser curto, pois entre o umbigo até os joelhos devem estar
cobertos.
Além disso, roupas justas são mais recomendadas. O tecido seda, usar jóias de
ouro (são considerados acessórios femininos) e perfumes em público são proibidas.
Na cabeça é comum usar o “taqiyah”, devem ter barba, tanto por diferenciar das
mulheres, como sinal de pureza.

Morte e sepultamento

Conforme as crenças em torno do final da vida, a primeira etapa é a morte, na qual


a alma do recém-falecido continua pairando sobre seu corpo até ocorrer a segunda
etapa que é o sepultamento ou túmulo. A morte se dá, portanto, quando o corpo se
separa da alma.
Após o sepultamento a alma irá para o Barzakh, que em árabe significa “barreira”
e impede a alma de retornar à vida terrena. Barzakh é um espaço que as almas estão
numa espécie de suspensão, como se estivesse num sonho até a ressurreição.
Os preceitos muçulmanos ensinam que o corpo é lavado pelos familiares do mesmo
sexo e enrolado em três panos brancos. Depois, é colocado num caixão para que os
parentes mais próximos se despeçam dele. Em seguida, o corpo é levado à mesquita
do cemitério islâmico e a partir deste momento apenas os homens participam da
cerimônia. O sacerdote faz orações para a alma da pessoa, numa celebração que
dura cerca de duas horas.
O caixão é carregado para o túmulo, composto por quatro paredes de pedra, onde
o corpo será colocado sem o caixão de transporte. O buraco é tampado com pedras
e só depois de fechado a terra é jogada sobre a tampa. Assim como no Judaísmo, a
cremação é proibida.
Existe um período de luto de três dias. Contudo, para a viúva o tempo de luto é de
4 meses e 10 dias. Durante esse período ela só poderá sair de casa por emergências.
Caso a viúva esteja no princípio de uma gestação, esta deve ser demonstrada através
de sua despedida é uma passagem debaixo do caixão.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Símbolos

O Islamismo é iconoclasta, não faz imagens de Alá ou do paraíso, pois isso


caracteriza idolatria. Contudo, existem símbolos que expressam aspectos da fé. A
cor verde é a cor dos que estão no paraíso.

Lua Crescente com Estrela

Este símbolo era marca do Império Otomano e acabou sendo cooptado pelos povos
muçulmanos cooptados por este império. Faz parte da bandeira de países com maioria
muçulmana como Turquia e Tunísia. Uma interpretação corriqueira é que a lua faz
referência ao calendário lunar e a estrela com cinco pontas aponta os cinco pilares.

Hamsá ou Mão de Fátima

Símbolo comum com o Judaísmo, também faz referência aos pilares através de
cada dedo. Entre as filhas de Maomé, destaca-se Fétima tida como modelo de virtude.

Zulfiqar

A espada de Maomé, o zulfiqar, representa a separação entre o correto e errado.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Festas

O calendário islâmico é lunar e tem 354 ou 355 dias, com dozem meses. Dentro
do ano, há dois feriados sagrados: o Eid ul- Fitr (Celebração do fim do jejum) é uma
celebração ao fim do Ramadã e o Eid ul- Adha (Festa do Sacrifício) que sucede a
realização do hajj, a peregrinação à Meca. A expressão “Eid” é algo que se repete, cíclico.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

AULA 6
ZOROASTRISMO E FÉ BAHA’I

Introdução

O que Zubin Mehta (diretor da Filarmônica de Israel), Homi K. Bhabha (professor


de Harvard) e Freddie Mercury têm em comum? Todos eram persis e foram criados
como zoroastristas, a religião persa fundada por Zaratustra.
Nos três capítulos anteriores conhecemos um pouco das religiões abraâmicas, as
maiores e mais influentes religiões monoteístas, nascidas no Oriente Médio. Nesta
unidade conheceremos outras duas religiões monoteístas, também surgidas no Oriente
Médio, ambas na Pérsia: o Zoroastrismo e a Fé Baha’i.
Zaratustra foi o fundador do Zoroastrismo (também chamado de Masdeísmo), viveu
cerca de 1000 anos antes de Cristo, na Pérsia, atual Irã e no Afeganistão. A nomenclatura
grega ficou Zoroastro e, assim continuaremos a chamá-lo, era um sacerdote da religião
local, semelhante aos cultos védicos que deram origem ao Hinduísmo.
Já a Fé Bahá’í é uma religião relativamente nova, surgiu a partir de 1844. De
acordo com os adeptos, a Fé Bahá’í teve início com dois mensageiros divinos, Báb e
Bahá’u’lláh. Bahá’u’lláh, que não é um nome, mas um título: “Glória de Deus”. Acreditam
que Deus manifestou-se em diferentes épocas e maneiras.

1.1 Assim falou Zoroastro

Zaratustra (Zoroaster em grego, Zoroastro em português) é o fundador de uma


das mais antigas crenças monoteístas da história, contudo encontra a sua data de
nascimento. É comum situá-lo no ano 1000 a.C. ou no século V ou VI a.C. Ele é tido
como um reformador do sistema religioso de sua época com fortes críticas ao panteão
existente e aos sacrifícios sangrentos (ELIADE, 1993, p. 243).
A partir de uma revelação recebida com cerca de 30 anos, Zoroastro fundiu as
crenças populares com os seus ensinamentos, dando origem ao Zoroastrismo ou
Masdeísmo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A tradição diz que Zoroastro enquanto realizava um ritual de purificação, teve a


visão de um ser que apresentou-se como Vohu Manah (bom pensamento) que o
apontou para a presença de Aúra-Masda (Deus), além de cinco serem luminosos, os
Amesa Espentas. Este foi o primeiro encontro de vários em que todas as verdades
divinas foram reveladas.
Uma vez acolhendo as revelações divinas, iniciou sua pregação. Diante de suas
exposições, fez inimigos, contra resistência, como os grupos chamados “karpans”
e os “kawis”. Com a resistência veio a perseguição, então fugiu e estabeleceu-se na
Báctria, atual Afeganistão, onde sua pregação foi bem recebida.
No século VI a.C., a partir da ascensão do imperador Ciro II, a religião de Zoroastro
tornou-se religião oficial. Durante a história passou por diversos momentos, oscilando
entre tolerância e perseguição, sendo então substituído na Pérsia em 224 pelo Islamismo.
Por conta disso, muitos migraram para a Índia, onde também é conhecido como
Parsismo.
Resumidamente, os zoroastristas acreditam que o mundo vive uma constante
batalha entre o bem e o mal. A seguir, veremos os principais pontos dessa religião.

1.1.1 CRENÇAS

DEUS

Ahura Mazda, Ormuzd ou Ormuz, é o bem e a justiça, Senhor da Sabedoria e


criador de todas as coisas, onipotente sobre o princípio do fim. Eterno e a Verdade.
Arimã, igualmente chamado de Arimanes, é a representação do mal e todo mal
que acomete a Terra provém dele (guerras, pragas, doenças). Os deuses são irmãos
que vivem em luta , mas no final dos tempos Mazda vencerá, no Juízo final, com o
paraíso apenas para os bons e justos. Ariman seria destruído no fim, assim como
tudo que representa o mal.

BEM e MAL

A luta dualista é a base da religião. O humano tem o livre arbítrio para ajudar o
bem, seja com palavras, pensamentos ou atos bons. Ser generoso e sincero com as
pessoas são atitudes importantes aos fiéis do zoroastrismo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A doutrina de Zoroastro ensina que a luta do bem contra o mal será constante até
o momento em que os adeptos de Ormuzd sejam vitoriosos, condenados à danação,
às trevas eternas Ariman e seus seguidores.

ESCRITURAS

Os livros sagrados do Zoroastrismo são:


• o Zend-Avesta, contendo orações, hinos, descrição de rituais, instruções, da
prática e da lei. Ensino também: ensina a negação prática de magia, politeísmo
e sacrifícios sanguinolentos;
• o Gathas, que são dezessete hinos atribuídos a Zoroastro, e que permitem
conhecer a vida e o pensamento religioso do profeta;
• o Pahlavi, que consiste na literatura zoroastrismo.

ISTO ESTÁ NA REDE

Farrokh Bulsara ficou conhecido no mundo como Freddie Mercury e marcou o


mundo da música com a banda Queen. Ele era de uma família parsi de Mumbai
que confessava o Zoroastrismo. Para saber um pouco dessa influência podemos
encontrar na reportagem “Zoroastrismo, a religião de Freddie Mercury”. Para ler,
acesse:
https://www.socialistamorena.com.br/zoroastrismo-a-religiao-ancestral-de-freddie-
mercury/

TEMPLOS

Os templos religiosos onde se celebram cerimônias e festivais são conhecidos como


templos do fogo. Para os zoroastrianos, o fogo é um elemento sagrado, símbolo da
purificação, da verdade e da luz do deus Ahura Mazda.
Na Antiguidade, como era muito difícil acender o fogo e mantê-lo, por isso, as
comunidades zoroastarianas desenvolveram casas de fogo comunitárias, em que havia
uma chama permanentemente acesa, mantida por guardadores do fogo, profissão
mantida pela comunidade.
Hoje, os templos possuem dois espaços distintos, sendo o mais importante a sala
em que o fogo é conservado em uma pira. Desde 470 d. C. queima na pira do Templo

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Atashdeh-e, (Templo do fogo vitorioso), em Yazd, no Irã, um dos mais importantes


ainda em plena atividade.

Yazd Atash Bahram (Atashkadeh-e)

SACERDOTES E CULTO

Na antiguidade do culto, os atos religiosos eram realizados nas montanhas. O poder


de Ahura Mazda, deus da luz, era e é representado pelo fogo. Os atos devocionais e de
culto eram conduzidos com cânticos e de hinos e a manutenção do fogo. A necessidade
do culto a Ahura Mazda/Ormuzd era premente, era um apoio, um fortalecimento às
forças do bem, pois Ariman usava répteis peçonhentos, plantas venenosas e animais
ferozes para a sua obra.
A classe sacerdotal zoroastristas eram chamados magos. A palavra não corresponde
a práticas místicas, feitiçaria ou coisas do gênero, mas tem origem em uma palavra
grega “magikos”, significando algo como um sábio que lida com o sagrado, com o
sobrenatural.
Atualmente os sacerdotes cuidam da manutenção do fogo nos templos, vão até
ele em cinco períodos ao dia, queimam incensos e fazem orações.

A Oração

Se em algumas religiões existem regras de horários e quantidade de orações, no


Zoroastrismo não há uma ordem rígida a esse respeito, nem quanto ao formato,
local ou posições. Contudo, existe o costume de oração diante do fogo, enaltecendo
a imensidão e poder de Ahura Mazda/Ormuzd.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Ritual Navjote

Rituais que envolvem adolescentes encontramos em várias religiões: Judaísmo temos


o Bar Mitzvá ou Bat Mitzvá, no catolicismo a Crisma e no protestantismo histórico a
Confirmação.
No Zoroastrismo o ritual para os jovens é o Navjot (ou Sedrah-Push), que é obrigatória.
Nesse momento, o jovem com cerca de 15 anos, aprendem os valores e doutrinas da
religião e recebem o sudré (veste branca) e o kusti (um cordão).

Casamento

A união pelo casamento zoroastrismo passa por dois momentos: assinatura de


contrato pelos nubentes e testemunhas e a cerimônia religiosa com um simbolismo muito
significativo. As mulheres pertencentes às famílias estendem um lenço sobre o casal e
friccionam dois cones de açúcar. Após o lenço é costurado para que o casal seja unido,
parceiro e cúmplice. As festas podem durar até uma semana!

Morte e rituais fúnebres - as Torres de Silêncio

O fogo e a terra são elementos sagrados, enquanto que corpos dos falecidos são
impuros. Enquanto em algumas religiões o corpo deve permanecer intacto mesmo sem
autópsia, no Zoroastrismo os elementos sagrados não podem ser contaminados, por isso
cremado ou sepultado numa cova estão em desacordo com a religião.
A partir dessa compreensão surgiu a Torre de Silêncio. Estruturas altas e circulares
em que os corpos são expostos à natureza, clima e as aves de rapina que “limpam” os
tecidos, deixando apenas os ossos. Essa maneira de encaminhar os corpos é vista como
uma última maneira de fazer o bem ao alimentar as aves. Após um ano, os restos são
acumulados em outro espaço.
A redução no número de adeptos e de aves de rapina e o aumento das leis sanitárias
contribuem com o desativamento da maioria das torres, assim tem sido aceita a cremação.
Atualmente existe uma última torre em Mumbai e os fiéis que morrem fora da Índia
precisam explicitar em testamento que desejam ser levados até ela.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Em matéria de 2015 na versão eletrônica do jornal britânico “The Guardian”, sob o


título “Morte na cidade: como a falta de abutres ameaça as ‘Torres do Silêncio’ de
Mumbai”, é discutida o processo de extinção da comunidade Paris que ainda pratica
o ritual fúnebre conforme a tradição na Torre do silêncio. Uma tradição de 3000
anos com risco de ser esquecida. A matéria ainda traz fotos e gravuras das torres.
Acesse: https://www.theguardian.com/cities/2015/jan/26/death-city-lack-vultures-
threatens-mumbai-towers-of-silence

Símbolos

O Faravahar (ou Ferohar), representação da alma humana antes do nascimento


e depois da morte, é um dos símbolos do zoroastrismo, lembra uma aliança com o
divino e a indicação para viver uma vida de retidão e bons pensamentos.

O fogo é o elemento importante, pois Ahura Mazda/Ormuzdé louvado mediante o


fogo sagrado que é mantido aceso pelos sacerdotes nos templos zoroastristas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

1.2.Fé Bahá’í

“Convivei com todas as religiões em amizade e concórdia para que se inale de vós
a doce fragrância de Deus. Vigiai para que a chama da tola ignorância não vos domine
quando entre os homens. Tudo procede de Deus e a Ele retorna. Ele é a origem de tudo e
n’Ele todas as coisas findam.”

BAHÁ’U’LLÁH

Fé Bahá’í: Deus se revela

Somente há um Deus, não importa o nome que é invocado e a humanidade não


tem capacidade de descrevê-lo. Essa é uma confissão que faz parte da vida dos que
professam a Fé Bahá’í.
Em meados do século XIX, Siyyid Ali Muhammad (1819-1850), conhecido como o
Báb (“A Porta”), aprofundou-se na vida religiosa e, com alguns discípulos, viveu uma
religião chamada “Fé babí”. Num primeiro momento era muito influenciado pelo Islã,
mas em 1848 houve uma ruptura. Essa religiosidade estabeleceu os alicerces para o
desenvolvimento da nova religião que viria.
O Báb é considerado o “Arauto” da Fé Bahá’í, pois anunciou que ele apenas
apontava para um mensageiro que viria e traria uma mensagem divina que mudaria
a espiritualidade humana e a forma de ver a vida.
A Fé Baha’i como é hoje iniciou-se com o profeta Bahá’u’lláh, que é um título que
significa “Glória de Deus”. Mírzá Husayn ‘Ali (1817-1892) é tido como o “Prometido”
predito pelo Báb e por todos os Mensageiros Divinos do passado.
Bahá’u’lláh trouxe uma nova Revelação de Deus para a humanidade e em seus
escritos, traçou sonhos e ideias para uma nova maneira de viver que levaria a evolução
da humanidade. Por consequência dessa atuação, enfrentou 40 anos passando por
prisão, tortura e exílio.
Deus, o Criador do universo, é sapientíssimo, amantíssimo e todo-misericordioso.
Assim como o sol físico brilha sobre o mundo, a luz de Deus irradia-se sobre a Criação
inteira.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Para os bahá’ís, acreditar na unidade de Deus significa crer que existe um único Deus
criador, onipotente. Consideram impossível a o ser mortal alcançar o entendimento
pleno de Deus, pois a mente humana é limitada diante da imensidão Dele.
Em cada tempo, Deus falou à humanidade, de acordo com o entendimento e
necessidade dos povos, através de mensageiros chamados de “Manifestantes de Deus”
a fim de despertarem dons espirituais e valores morais. Entre os diversos manifestantes
estavam Abraão, Moisés, Krishna, Zoroastro, Buda, Jesus, Maomé e, no século XIX,
Báb e Bahá’u’lláh. Os bahá’ís chamam esta ideia de “Revelação Progressiva” (Hatcher
e Martin, 2006).

RELIGIÕES E A FÉ BAHA’I

Os bahá’ís acreditam que a necessidade urgente da paz, da superação de violência,


do fim da pobreza e demais conflitos passa pela humanidade encontrar uma maneira
de unificar-se, principalmente em questões comuns como cuidado com a natureza,
prática de boas ações, da valorização da vida.
Bahá’u’lláh pregava que as religiões tiveram origem de um mesmo Deus, que o
propósito da religião é compelir o contínuo processo de evolução da humanidade
mediante a obediência dos preceitos revelados por Deus aos mestres. Bahá’u’lláh exorta
os Seus seguidores a associarem-se com amizade, concórdia e sem discriminação
aos adeptos de todas as religiões(RABBANI, 1981, p. 295).

Escrituras

O Kitáb-i-Aqdas (ou Aqdas) é o livro central dos bahaístas, compilado pelo fundador.
Originalmente escrito em árabe al-Kitáb al-Aqdas, “o Livro mais Sagrado” ou “o Livro
das Leis” que reúne orientações religiosas, sociais, éticas, leis e profecias.

ISTO ESTÁ NA REDE

Em 2018 os adeptos da Fé Ba’hai, apesar de ser incusiva e tolerante, viram-se


perseguidos em países árabes. Familiares brasileiros temeram ao receberem
pedidos de socorro e compartilharamm suas preocupações em matéria do
Jornal Zero Hora de Porto Alegre. Acesse:https://gauchazh.clicrbs.com.br/mundo/
noticia/2018/11/no-rs-seguidores-da-fe-bahai-temem-por-familiares-e-amigos-
perseguidos-no-iemen-cjodecx720d1u01piju2cl65y.html

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Religião x Tolerância

Fé e religião são opostas? São inimigas? Para os Baha’i não. Eles creem e ensinam
que fé e ciência podem e devem andar de mãos dadas. A ciência tem seus métodos e,
assim, haverá uma autêntica paridade com a religião.
A doutrina Baha’i deixa explícito que a ciência pode colaborar com as religiões, já que
vislumbram que o conhecimento é um dom de Deus concedido às pessoas e se a religião
recorre a ela, pode ser uma via para promover a vida e a verdade. (SMITH, 2002, p. 290).
Nos escritos sagrados cristãos, lemos que “a verdade liberta” (E conhecerei a verdade,
e a verdade vos libertará- João 8.32). Essa verdade tem muitas interpretações e, em todo
o caso, Deus é a verdade e a mentira é derivada do maligno.
Os bahá’ís creem que a verdade deve ser buscada livrando-se de toda espécie de
superstição, engano, vaidade ou uma praxe cultural capaz de embasá-la. Deste modo, a
verdade deve ser buscada o equilíbrio da religião com a ciência. Almejam “o estabelecimento
de uma paz universal, permanente, como a meta suprema de toda a humanidade”.
As máximas “Amar a Deus e ao próximo” ou “Deus é amor”, são conhecidos versículos
do Cristianismo, amplamente divulgados. Os Baha’is em suas palavras pretendem irradiar
essa ideia: “E amar a Deus significa amar a tudo e a todos, pois todos provêm de Deus”
(ESSLEMONT, 1984, p. 74). Por causa disso, a paz universal vem da humanidade em
cooperação e é uma meta a ser atingida. Nesse sentido, é necessário o desarmamento das
nações, gradativa, e a consolidação de uma corte internacional de arbitramento (QUIGLEY;
SEARS, 2005, p. 120).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A religião Baha’i desde a sua fundação prega o fim de preconceitos de qualquer


espécie, logo racismo, machismo, xenofobia devem ser combatidos, pois separam a
humanidade. Preconceitos geram violência e ela deve ser extinta. O grande objetivo
da religião é buscar unidade com Deus e com as pessoas, o servir com amor e,
para isso, são inspirados por 153 conselhos de Bahá’u’lláh. A vida comunitária é
uma maneira prática de cada dia serem pessoas melhores através da convivência e
do exercício da gentileza, do afeto, da alegri e da simplicidade. Para conhecer mais
alguns aspectos práticos da vida dos adeptos da religião, leia a matéria da página
de notícias Clic RBS, em que demonstra a festa de ano novo dessa comunidade
em Porto Alegre. Acesse: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/
noticia/2015/03/fui-a-uma-festa-de-uma-religiao-que-eu-nunca-tinha-ouvido-falar-e-
foi-assim-4723668.html

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Templos e sacerdócio

A Casa Universal de Justiça é a entidade suprema reguladora nos artigos de fé,


a nível internacional. Ela é concebida de tal forma que tenha nove membros, eleita a
cada cinco anos, por um colegiado. A sede é no Monte Carmelo, em Israel.

Equilíbrio nas relações Homem x Mulher

Conforme Root (2003), um importante ensinamento bahá’í diz respeito ao fato de


que as mulheres devem ter acesso ao conhecimento tanto quanto os homens. Ambos
precisam usufruir de direitos, privilégios, educação e oportunidades iguais. Assim,
para os bahá’ís não se pode falar de unidade humana sem falar de unidade entre as
religiões e os gêneros.
Percebe-se na literatura bahá’í que um dos princípios, aos quais Bahá’u´lláh
atribuiu importância, é a igualdade entre os homens e as mulheres, apontando para
a emancipação feminina e a educação como um de seus meios.
‘Abdu’l-Bahá, segundo Esslemont (1984), em Londres, simbolizou a humanidade
através de uma ave. Disse que uma casa representa o homem e a outra a mulher.
Alegou que as duas asas são impelidas por uma mesma força para chegarem ao céu,
e do mesmo modo, as mulheres e os homens devem cumprir suas missões juntos,
em todos os setores da vida.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Calendário

O calendário Baha’i é solar e conta com 19 meses de 19 dias, e cada mês e dia
recebeu o nome de um traço de Deus.
O dia inicia a cada novo pôr do sol. Os dias que faltam para completar os 365 do
ano são chamados de intercalares, e é nesse período que os seguidores da Fé Bahá’í
começam a se preparar para um jejum de um mês, que precede o Ano-Novo.
O ano inicia-se em 21 de março, início do outono no hemisfério sul e primavera no
hemisfério norte.

Jejum

Por ocasião das celebrações do ano novo Baha’i, nos dias que antecedem, a partir do
dia 2 de março até dia 20 do mesmo mês, acontece o jejum, praticado por fiéis baha’i
saudáveis de 15 a 70 anos. Ficam livres dessa prática gestantes, enfermos, mulheres
nutrizes, mulheres durante a menstruação, pessoas em viagem e trabalhadores em
funções que exijam força.

ANOTE ISSO

Semelhante ao Judaísmo, Cristianismo, Islamismo ou Budismo a Fé Bahá’í tem


ensinamentos complexos para serem refletidos e ensinamentos fáceis de serem
lembrados para facilitar a prática cotidiana. De maneira resumida, as características
da religião são:
a) Fé monoteísta. Deus revelou-se na história através de diferentes nomes; b) É
contra qualquer tipo de preconceito e discriminação; c) A humanidade é imagem
de Deus para ser reflexo Dele através das virtudes como a bondade, humildade,
gentileza. d) vida é um projeto de Deus para o crescimento espiritual que se inicia
no ventre materno e se prolonga pela eternidade; e) No momento da morte, o
corpo retorna ao mundo de pó, enquanto a alma continua a progredir nos mundos
espirituais de Deus, pois uma alma iluminada continua a ter influência no progresso
deste mundo e o avanço de seus povos. ; f) Não tem sacerdotes, cada um deve
encontrar a verdade por si, a partir da sua reflexão; g) o número nove é o número
perfeito; h) os templos são apenas para orações; i) O casamento tem por finalidade
unir homem e mulher e é meio de evolução espiritual; j) Buscam harmonia entre as
ciências e a fé.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Atos fúnebres

Conforme o Kitáb-I-Aqdas, O Livro Sacratíssimo, divulgado pela A Casa Universal


de Justiça, na página 191, as leis Baha’i quanto aos trâmites relativos à morte de um
fiel, diz que:
"é proibido transportar o corpo do morto além da distância equivalente
a uma hora de viagem do local da morte; que se deve envolver o corpo
num sudário de seda ou algodão e colocar em seu dedo um anel com
a inscrição: 'Vim de Deus e a Ele regresso, desprendido de tudo menos
dEle, segurando-me ao Seu Nome, o Misericordioso, o Compassivo.’;
e que o ataúde deve ser de cristal, pedra ou madeira de lei. Uma
Oração de Finados específica é ordenada para antes do sepultamento.
Como foi afirmado por ‘Abdu’l-Bahá e pelo Guardião, esta lei impede
a cremação dos mortos. A oração formal e o anel destinam-se aos
que já alcançaram a idade de maturidade, isto é, 15 anos.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

A promoção da justiça, do bem-estar social, emocional e material de pessoas de


qualquer etnia ou religião para os bahá’ís são maneiras de estar em acordo com
a fé. A ação social é serviço ao próximo e não tem intenção de prestígio pessoal
ou realizar proselitismo. Acesse: https://www.bahai.org/pt/action/involvement-life-
society/social-action

SÍMBOLOS

O principal símbolo Baha’i é a Estrela de nove pontas e não existe padrão no traçados,
desde que tenha nove pontas. O número 9 é considerado sagrado por representar a
perfeição. Uma outra interpretação divulgada é que o “9”, são as nove religiões que
manifestaram Deus: o Sabeísmo (uma antiga religião no Reino de Sabá), Hinduísmo,
Judaísmo, Zoroastrismo, Budismo, Cristianismo, Islamismo, Fé Babí e Fé Baha’i.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Símbolo da pedra

Criado pelo filho mais velho de “Glória a Deus” é utilizado em jóias, acessórios, selos
em publicações, pinturas, etc.
A linha inferior é a humanidade; a linha do centro representa os “Manifestantes” e
a superior é Deus; a linha que corta as três linhas é o Espírito Santo que une os três
reinos em que as pessoas podem se aperfeiçoar; as duas estrelas laterais são os dois
“últimos” “Manifestantes” ( os bahá'í: o Bab e Bahá’u’lláh.

ISTO ESTÁ NA REDE

O mundo só poderá ser transformado, melhorado, evoluir por meio de ações boas,
do serviço ao próximo, do amor pela humanidade e a justiça social. Esses são os
ensinamentos primordiais da Fé Baha’i, revelados e desdobrados por Bahá’u’lláh.
A TV Cultura, através do programa “Retratos de Fé” nos apresenta testemunhos de
brasileiros adeptos da Fé Baha’i. Acesse: https://tvbrasil.ebc.com.br/retratosdefe/
episodio/fe-bahai-unicidade-e-igualdade

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 7
HINDUÍSMO

Introdução

O Hinduísmo é o conjunto de religiões da Índia que tem como característica a


diversidade de líderes em sua história, sem nenhum fundador específico.
O Hinduísmo é um conjunto de religiões muito antigas da Índia, pois a sua origem
remonta a mais de 6.000 anos. Não tendo fundador, o Hinduísmo é fruto de uma
evolução gradual e da busca pessoal de muitos sábios e mestres da Índia antiga.
O Hinduísmo é a terceira religião com o maior número de praticantes, inferior apenas
ao Cristianismo e Islamismo, sendo seguido pela maioria na Índia. Seus ensinamentos
influenciaram bastante a organização da sociedade indiana.
Os seguidores do hinduísmo acreditam em vários deuses e na reencarnação.
Segundo o Hinduísmo, os seres humanos morrem e renascem várias vezes, inclusive
como outras criaturas. Ao longo de muitas vidas, eles têm a oportunidade de evoluir,
até chegar a um estágio em que se unem a Brahman, a realidade suprema.

Quem é Hindu?

Híndu é o nome de origem persa e refere-se ao rio Indo. Hoje, palavras derivadas
como “indiano” é o nascido na Índia e “hinduísta” ao praticante da religião que é
conhecida como Hinduísmo. Os fiéis hindus denominam a religião de “Sanatana de
Dharma” (Eterna Lei em sânscrito).
Hinduísmo refere-se a várias religiosidades que desenvolveram-se ao longo do
Indo, a partir dos indo-europeus que estabeleceram-se na Índia do Norte, de 1000 e
2000 a.C. (ELIADE, 1993, p. 145-147).
O aparecimento e desenvolvimento podem ser localizados no período em que os
arianos (isto é, os “nobres”) começaram a subjugar o vale do Indo. As crenças desses
grupos estavam entrelaçadas com outras religiões indo-europeias, como a grega, a
romana e a germânica.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Essas informações são descritas nos hinos védicos (da palavra Veda, ou seja,
“conhecimento”), que eram recitados por sacerdotes durante os sacrifícios a seus
muitos deuses. Esse primeiro momento denomina-se de Hinduísmo Védico e, num
segundo momento, com o desenvolvimento, com o culto aos deuses Brahma, Vishnu
e Shiva, estabelece-se o Hinduísmo Bramânico.

Escritos Sagrados

O Hinduísmo não possui uma crença unificada, nem na dogmática e nenhum escrito
único como a Bíblia para o Cristianismo, mas são muitos textos que foram escritos
em sânscrito, um idioma muito antigo da Índia.
O Livro dos Vedas(conhecimento), são uma coletânea com quatro obras das quais
certas partes datam de cerca de 1500 a.C. e são fruto de uma longa tradição oral, ainda
hoje exercida em certas localidades indianas e acreditam os hindus que foram revelados ,
por inspiração divina. Sua forma escrita pode ser localizada entre 1400 e 400 a.C. (ELIADE,
1993, p. 145). É considerada pela história a escritura sagrada mais antiga da humanidade.
Os quatro Vedas são:
• Rigveda, o veda que registra os hinos;
• Yajurveda é o veda dos sacrifícios, com foco em liturgia, rituais e sacrifício;
• Samaveda trata dos cantos rituais;
• Atharvaveda registra o conhecimento de uma antiga classe sacerdotal.
Além disso, recorrem às outras escrituras sagradas como: Upanishads, Bhagavad-
Gita “o canto do senhor”, Ramayana e Mahabharata.

Crenças

Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento daquilo que foi feito na encarnação
passada), a pessoa deve ficar livre da ilusão da existência pessoal e física. Através da
ioga e meditação transcendental, a pessoa pode transcender este mundo de ilusões e
atingir a iluminação, a liberação final, o que chamam de Moksha (em sânscrito significa
liberação) e é o final do ciclo de renascimentos. Moksha é a maior esperança de um
hinduísta, alcançar o inexistente.
A Moksha encerra a força exercida pela lei do carma. O carma é o bem e o mal
que a pessoa faz, que determinará como ela renascerá. A trajetória de uma alma é
determinada a partir das ações executadas no cotidiano aqui na Terra.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Na existência pós-morte, de acordo com escritos védicos, há almas que renascem


humanos em seguida à morte, sem passagem por qualquer outra dimensão como
céu ou inferno. Renascer como outras criaturas não refere-se necessariamente como
involução, mas a próxima existência é determinada pelo desejo mais visceral e o último
pensamento na hora do falecimento (VALERA, 2012, p. 201).

Castas

Todas as sociedades têm várias formas de distinção e estratificação em classes,


mas é difícil encontrar um país onde isso tenha sido praticado tão sistematicamente
quanto na Índia.
Para os hindus, o nascimento em determinada classe social, é consequência do
carma (lei de causa e efeito) adquirido na vida anterior, porque tudo está entrelaçado
com a Samsara (o fluxo das encarnações).
Essas classes são conhecidas como castas (o termo usado na Índia é jati, que
significa “nascimento” ou “tipo”). Cada casta possui suas regras, seus costumes,
tradições, regras alimentares e até mesmo as profissões são definidas a partir dela,
assim como suas práticas religiosas.
Desde os tempos antigos sempre houve quatro classes sociais (a palavra sânscrita
empregada é varna, que significa “cor”):
• os Brâmanes, a mais elevada casta, formada pelos sacerdotes, filósofos, enfim,
os que estão ligados aos que guardam e produzem o conhecimento;
• os Xátrias, representada pelos militares e governantes;
• os Vaixias, compostas pelos comerciantes e agricultores;
• os Sudras, que são os empregados, camponeses e servos.

Ainda no princípio do século XX, ainda existiam cerca de 3000 castas, porém com
políticas de inclusão as fronteiras entre castas tem se esmaecido (especialmente após
a constituição de 1947), apesar de terem surgido subdivisões e atualmente existem
aproximadamente três mil subcastas não oficiais.
A casta mais rasa do sistema é os “intocáveis” ou “sem casta” (párias), estes exercem
as funções de garis ou curtição de couro. Os indianos que praticam outras religiões
como Cristianismo ou Islamismo não pertencem ou praticam as classificações em
castas (GAARDER, p. 45).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Cultos e devoção

A maioria dos hinduístas devotos têm em casa um recinto ou um pequeno nicho onde
colocam os objetos para devoção (estampas e imagens de um ou mais deuses), em um
altar, e realizam oferendas. Esses momentos são dirigidos por um líder familiar, o chefe
da família. O culto doméstico pode variar nos lares, mas usualmente compõem-se de
sacrifício, oração, recitação de textos sagrados e meditação (ELIADE, 1993, p. 154).
As práticas cúlticas hindu são chamadas “puja” (veneração), às imagens dos deuses
são “murtis” e as orações são os “mantras” (sílabas, frases ou palavras repetidas em
cantos) e O OM (aum) é o mantra mais importante, pois representa Deus .
O diagrama do universo “yantras” (apoio ou instrumento), é uma forma sagrada
para contemplação e meditação. Aos yantras é atribuída uma energia emanada de
divindades que as pessoas podem usar para sintonizar com essa divindade específica
e, assim, estar em contato com ela.

Amostra de yantra

As oferendas são parte essencial e são chamadas de “Prasadas” (em Sânscrito,


misericórdia do Senhor). Elas são frutas, doces, arroz, flores, acendem-se incensos
ou lamparinas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Água

Não há obrigatoriedade de frequência nos templos, mas existe um templo em cada


vila indiana. No espaço de todos os templos as pessoas têm acesso facilitado à água
a fim de realizarem rituais de purificação. O serviço diário do templo começa com
música para que os deuses sejam “acordados”, após as estatuetas são lavadas e ao
longo do dia os deuses são alimentados e recebem orações e sacrifícios dos devotos.
Prática corrente é banhar-se no rio Ganges, a “Ganga”, o rio é a própria deusa
presente na Terra.

Sacerdotes

Em geral os sacerdotes são advindos dos Brâmanes, que majoritariamente


empreendem vegetarianismo e oficiam os rituais. Faz parte de sua rotina saudar o
sol cantando mantras, realizar oferendas aos deuses e antepassados logo cedo no
dia (ELIADE, 1993, p. 154).
Líderes religiosos no Hinduísmo, muito respeitados são os Sadhus (santos, videntes
e sábios), ascetas vestidos apenas com uma tanga de tecido desgastado ou mesmo
andam desnudos e com o corpo coberto de cinzas.
Sadhus praticam virtudes como bondade, honestidade, gentileza, são pacificadores e
não possuem nenhum bem material. Dividem-se em muitos grupos e sua diferenciação
acontece a partir da “Tilaka”, uma marca que fazem na testa.
Os fiéis crêem que simplesmente tocar ou lavar os pés de um sadhu recebem
energia espiritual deles.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Estágios da vida

Desde os tempos antigos a vida dos indianos foi segmentada em quatro estágios
diferentes, que objetivam compreensão, adoração e cumprimento dos deveres da casta.
É um ideal que nem todos estão dispostos a cumprir. Os estágios da vida, repartida em
etapas, são marcados com ritos de passagem chamados “samskaras”. A seguir, os
principais momentos da vida hindu.
Nascimento– O bebê recebe um banho ritualístico, a cabeça é raspada e o “Om”, é
escrito com mel na sua língua. A partir do décimo segundo dia ocorre o “namkaran”, ritual
de escolha do nome.

Infância- No oitavo aniversário do menino acontece o ritual de maioridade espiritual


em que ele recebe um fio sagrado. Esse fio representa que ele nasceu a segunda vez
e deverá ser usado por toda a vida e lhe é encaminhado um guru (mestre) com quem
ele estudará os textos sagrados tornando-se seu discípulo.
Casamento– Quando o rapaz vive o momento de discípulo, deve casar-se e ser
pai, cumprindo os compromissos com sua casta. Durante a cerimônia o casal anda
em volta de um fogo sagrado dando passos que simbolizam cada um dos valores da
vida conjugal. Esse é o terceiro estágio que dura até o crescimento dos netos, quando
então encaminha-se para o estágio contemplativo, às vezes só outras, com a esposa,
inicia um retiro para meditação.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Terceira idade- Aqui, homens idosos podem adotar o estilo preconizado no quarto
estágio da vida e se tornam peregrinos, em constante romaria o homem idoso passa
a peregrinar sem morada permanente ou posses, tornando-se mendicante. Rompe
com a casta e busca intimidade com o sagrado e autoconhecimento.

Deuses e Deusas (Deva e Devi)

Na teologia hindu há lugar para milhares de deuses e deusas. Em um aspecto a


compreensão é panteísta, é um Deus que está em tudo, contudo em alguns contextos
é politeísta e a maioria das localidades tem seus próprios deuses, como uma espécie
“deus padroeiro” da vila ou cidade (GAARDER, p. 50).
Do grande panteão, destacam-se três: Brahma, o criador (não confundir com
Brahman, “absoluto”), Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Criação, preservação
e destruição são os três momentos da atividade divina.
Shiva representa o princípio masculino enquanto o princípio feminino é representado
por suas esposas Parvati (mãe), Durga (deusa da beleza), Kali (senhora da destruição)
e Lakshmi (senhora da arte e da criatividade).
São populares também:
• Krishna que dá rosto às manifestações de Vishnu, sendo seu oitavo avatar;
• Ganesha, o deus elefante, é o deus da fortuna e removedor de obstáculos;
• Matsya é um deus que é redentor da espécie humana da extinção;
• Ganga- Deusa do rio Ganges, o rio sagrado para os hindus;
• Indra- Deus do Céu e do trovão;
• Hanuman- É o deus macaco com habilidades e poderes especiais;
• Yama- Deus da Morte;
• Bhaga- Deus do casamento e da saúde.

Animais sagrados

Dentro da prática da fé hindu, os animais têm lugar de destaque no culto. Dentre


eles, destacam-se:
A vaca é descrita em hinos dos Vedas e possivelmente passou a ser adorada a
partir de cultivos de fertilidade. Ela é sagrada e tem sua existência protegida.
Já o culto aos macacos relaciona-se a um mito antigo que narra a ajuda que um
exército de macacos prestou a Rama (avatar de Vishnu) ao ajudá-lo no resgate de
sua esposa das garras do demônio Ravana.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Na cidade de Jaipur, dentro de um complexo de templos hindus, destaca-se o


Galta Ji Temple, igualmente conhecido como Monkey Temple, dedicado ao deus
macaco, Hanuman. Para conhecer um pouco desse templo, acesse: TEMPLO DOS
MACACOS EM JAIPUR - ÍNDIA – YouTube

O elefante, na mitologia hindu, era um ser com asas e brincava com as nuvens.
Apesar de não possuírem mais asas, ainda são amigos das nuvens e podem pedir
chuvas.
Os ratos são a representação de um milagre de Karni Mata (uma encarnação de
Durga) que viveu na região do Rajastão. Uma antiga crença diz que uma criança
foi ressuscitada e assumiu a vida de um rato. A partir daquele momento os seus
descendentes teriam uma breve existência intermediária em ratos até uma próxima
existência humana.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

O templo de Karni Mata localiza-se ao norte da Índia, em Deshnok e tem cerca


de 600 anos. Os moradores da região acreditam que os ratos são almas de seus
antepassados e cuidam dos ratos com muita deferência, provendo alimentação e
venerando-os. Acesse: https://chickenorpasta.com.br/2014/karni-mata-o-templo-
dos-ratos

Salvação

A religião não tem uma dogmática fixa e clara quanto a salvação, mas existem muitos
grupos e linhas teológicas com visões que divergem. Os fiéis hindus procuram diversas
maneiras para promover uma evolução mais rápida e sair do ciclo de encarnações.
As práticas vão desde a recitação de mantras, alimentação vegetariana, peregrinações,
vida ascética e yoga, até vias específicas, são as três vias: sacrifício, conhecimento
e devoção.

A via do sacrifício
Descrita nos vedas ainda hoje é parte do cotidiano na prática religiosa. Sacrifícios
e ações de bondade e misericórdia atraem bênçãos e podem desvencilhar do ciclo
das encarnações.

A via do conhecimento
O conhecimento liberta e o conhecimento que traz a salvação é o de que a alma
humana (atmã) e o mundo espiritual (Brahman) são uma coisa só. O atma é uma
parte de todas as coisas, os indivíduos são reflexos dessa única alma universal, o
objetivo é se dissolver no Brahman.

A via da devoção
O Bhagavad Gita, no século III a.C. aponta para uma noção de graça e está muito
presente na vida do indiano médio. Sem obscurecer as tradições, encaminha para
uma compreensão que se uma pessoa serve a Deus de forma espontânea e altruísta,
ela receberá a salvação, ou seja o fim do ciclo de renascimentos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

As peregrinações são práticas recorrentes nas religiões. Para o Hinduísmo, essa prática
é comum e tem seus locais considerados sagrados. Grande parte desses locais
estendem-se às margens do rio Ganges. A cidade mais sagrada é Varanasi (também
conhecida como Benares e Kashi), pois acreditam ser a morada de Shiva. Muitos
hinduístas, quando pensam estar na fase final de suas vidas, dirigem-se até Varanasi
e lá permanecem até a morte, pois creem que se lá morrerem e com suas cinzas
colocadas no Ganges neste ponto, poderão alcançar de forma mais rápida a Moksha.
Acesse: https://www.uol.com.br/nossa/viagem/noticias/2018/04/19/cremacoes-ao-
ar-livre-pessoas-vao-a-esta-cidade-da-india-para-morrer.htm

Festividades

Os hinduístas têm inúmeras festas, muito alegres, como o Diwali e Holi, a festa da
luz em outubro.

Diwali (ou Deepavali)


É chamado popularmente de Festival das Luzes, acontece durante o outono, nos
meses de outubro ou novembro. Ele simboliza a vitória do bem sobre o mal, apesar
de os hindus celebrarem o festival por mais de uma razão. Associam ao dia em que
Rama, um avatar do Deus Vishnu, retorna do seu exílio de 14 anos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Holi

Essa festa comemora a chegada da primavera e do novo ano e acontece em março


e é uma das festividades mais divertidas e em que as barreiras sociais são quebradas.
As pessoas cantam, dançam, têm banquetes e jogam água colorida e tintas de cores
intensas.Por esse motivo, é conhecida como “Festa das cores”.

Durga Puja
Acontece entre setembro e outubro nos estados de Assam, Bihar, Jharkhand, Orissa,
Tripura e West Bengal (em Tripura e Bengal é o maior festival do ano com duração de
cinco dias). O festival lembra a vitória de Durga, a Deusa Guerreira, sobre um demônio.
O mesmo festival tem outro nome em outras partes do país: Dussehra.

Ritos fúnebres

Na fé hinduísta, a morte é descrita como “mahā-prasthāna” (a grande partida). No


escrito na Bhagavad-gītā, a morte é descrita como uma passagem, como se fosse uma
porta para uma nova existência e seu importante lugar no ciclo dos renascimentos:
“certa é a morte do que nasce, e certo é o nascimento do que morre”(Bg. II.27).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Como para as outras religiões até aqui estudadas, a cremação é adotada pelos
hindus, e por outras religiões derivadas, deve-se muito à visão da vida e do corpo
partilhada pelos crentes.
O Hinduísmo prega que o corpo físico é formado por cinco elementos: Fogo, água,
ar, terra e éter. Creem que na cremação, o Senhor Agni, Deus do Fogo, virá para purificar
o cadáver e libertar a alma, que assim pode seguir o seu caminho.
Em relação ao luto, as viúvas são consideradas cidadãs de segunda classe, são
socialmente mortas e são relegadas a um segundo plano nas suas famílias, perdendo
seu lugar, sendo comparadas aos párias. Uma viúva honrada não deve se casar
novamente e devem passar a usar a cor branca. Há cerca de 600 anos, possivelmente
com a invasão islâmica, as viúvas, no intuito de não serem abusadas e torturadas,
iniciaram a tradição do Sati, uma prática suicida de autoimolação, que consistia em
acompanhar os maridos falecidos na pira funerária. Com a dominação britânica sobre
a Índia, o costume foi proibido por lei pelas autoridades em 1829.

ISTO ESTÁ NA REDE

Devido ao baixo nível social que as viúvas gozam na sociedade hindu,


eventualmente, mulheres em desespero, burlam as leis e tentam reviver a tradição
do sati. Acesse:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/story/2006/08/060822_indianapiraaw

Nas zonas urbanas, com as mudanças sociais, algumas práticas mais antigas
têm sido relegadas, como a pira de madeira ao ar livre à beira do rio, em favor de
crematórios, mas ainda é o filho mais velho do falecido que fica responsável por
acender a pira aberta onde será realizada a cremação. Também o crânio é quebrado
para libertar o espírito.
Os falecidos devem ser cremados em pira aberta, antes do pôr do sol. Após cremado,
os restos mortais dos hindus são jogados na água em rios sagrados como o Ganges.
Os “homens santos”, pessoas consideradas puras, como as crianças e mulheres
grávidas que carregam crianças puras, não são cremadas, mas seus corpos são
amarrados a pedras e jogados em rios sagrados.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

A solidariedade e sororidade praticada pelas viúvas hindus podem ser vistas


na prática em Vrindavan. Rejeitadas por suas famílias, muitas migram para
Vrindavan, conhecida como a “cidade das viúvas”, um centro espiritual com
diversos templos dedicados a Krishna. Lá elas encontram abrigos que recebem
viúvas em situações de pobreza ou quase indigência. Quando não conseguem
lugar em abrigos, elas juntam-se e partilham o aluguel de cômodos. Rejeitadas
por suas famílias e sociedade, formam novos vínculos com outras viúvas.
Acesse: https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/1293-a-vida-
das-viuvas

Símbolos

OM

A letra Om ou Aum (“aquilo que protege”), também conhecida como Onkara e


Pranava é um som considerado sagrado e é entoado no início e no encerramento de
mantras. Representa a trindade dos principais deuses hindus: Brahma, o criador do
universo; Vishnu, o reformador; e Shiva, o destruidor (ou transformador).

Trishula

É um símbolo associado a Shiva, Durga, Ganesha e Hanuman. É uma arma tridente


que simboliza a proteção e restauração da vida reta, o Dharma (retidão).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Mandala

A palavra mandala no sânscrito significa círculo e é um diagrama normalmente


circular utilizado a fim de obter concentração, integração com atributos divinos e
harmonia.

Tilaka

São marcas usadas na testa de um devoto na tradição hindu, de diferentes formatos


e cores, a partir de substâncias naturais. É diferente do “Bindi” (ponto vermelho usado
socialmente por mulheres casadas).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Suástica

A suástica “aquilo que conduz ao bem-estar”, foi cooptada pelos grupos nazistas,
mas é símbolo milenar no Hinduísmo representando conceitos da natureza a partir do
número quatro, como os pontos cardeais ou as estações. Nos Vedas ela simboliza
Brahma (o Criador) e no Budismo aparece em imagens de Buda.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

AULA 8
BUDISMO

Introdução

O início do Budismo está ligado ao hinduísmo, pois Sidarta nasceu no contexto


hindu, e, no Hinduísmo Buda é considerado um avatar de Vishnu.
O Budismo não é apenas religião, mas também um sistema ético e filosófico,
originário da região da Índia. Surgiu através da atuação de Sidarta Gautama, também
conhecido como Buda. Ele é considerado pelos seguidores da religião como sendo um
guia espiritual e não um deus. Tendo essa perspectiva, os seguidores podem seguir
normalmente outras religiões e não apenas o Budismo. O Budismo está em todos os
continentes e tem influenciado culturalmente a sociedade.

O príncipe e o mestre

De acordo com a narrativa tradicional, Sidarta nasceu em Lumbini, por volta do


ano 566 a. C. e cresceu em Kapilvastu, ambas no Nepal. Nasceu um príncipe, filho
do rei Suddhodan.
Logo após o nascimento de Sidarta, foi profetizado que ele seria um grande mestre,
um santo que traria alento a muitas pessoas. O rei não aceitou a revelação e fez de tudo
para evitar que ele saísse do palácio, concedeu-lhe uma vida de prazeres e alegrias.
Contudo, Sidarta com 29 anos, já casado e com um filho, resolve ver a vida fora
do palácio e, pela primeira vez, entra em contato com a velhice, a doença, a morte e
um religioso, um sadhu. Essas experiências o apresentaram ao sofrimento humano.
Diante do sofrimento ele não foi mais o mesmo e, por fim, abandonou o palácio e a
família e lançou-se na procura da solução do sofrimento (ELIADE, 1993).
Viveu como um eremita, praticou ascese e quase morreu por isso. Um dia ao aceitar
alimento, abandonou essa prática que considerou nociva. Dedicou-se na meditação e
desenvolveu a ideia do “caminho do meio”: um comportamento intermediário diante

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

da vida. Nem só prazeres e em só dor e sofrimento. O caminho do meio é o caminho


do equilíbrio entre apego e rejeição, aplicado a tudo na vida.

O iluminado

Sidarta, aos 35 anos, de acordo com os contos budistas, sentou-se embaixo de


uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa) e comprometeu-se a ficar ali em mediação
até atingir a iluminação espiritual.
Os ensinamentos budistas dizem que nessa empreitada, Sidarta foi tentado por
um demônio, Mara, que representa status e aparências. Sidarta resistiu a tentações e
percebeu as “quatro nobres verdades”: A Verdade sobre o Sofrimento (viver é sofrer-
Dukha); a Verdade sobre o que causa o Sofrimento (sofrimento é causado pelo desejo
Tanha- apego); a Verdade sobre o fim do Sofrimento (uma pessoa pode eliminar
sofrimento ao eliminar todos os apegos e desejos); e a Verdade sobre como isso é
alcançado ao seguir-se o caminho das oito vias nobres (caminho óctuplo, Dharma),
o caminho que leva ao final do Sofrimento (CROWLEY, 2019). Isto foi a iluminação e
Sidarta passou a ser chamado de Buda, o Iluminado.

O nobre caminho óctuplo consiste em:

• Compreensão correta, somos interdependentes;


• Obter o pensamento correto, autoconhecimento a partir do questionamento
das próprias ações;
• A palavra correta, tudo o que dizemos faz quem somos;
• A ação correta, isto é, todos os gestos devem procurar o melhor, não podem
prejudicar outros, nem mesmo de forma indireta;
• O modo correto de existência, o meio de vida deve ser algo que contribua consigo
e com o próximo;
• O esforço correto, viver sem atitudes nocivas, sem vícios, com domínio próprio;
• A atenção correta, estar consciente do aqui e agora;
• Concentração correta, meditação e contemplação da existência. A meditação
é considerada a mais importante para atingir o estado de nirvana.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A ética e bom comportamento moral é o princípio de todos os dramas e o alicerce


da evolução espiritual. A ética é um exercício de alteridade. As principais práticas do
sistema ético budista vêm para auxiliar a desenvolver o caminho das oito vias e são
denominados de cinco preceitos:
• Não fazer mal a nenhuma criatura viva;
• Não tomar aquilo que não lhe foi dado (não roubar);
• Não se comportar de modo irresponsável nos prazeres sensuais;
• Não falar falsidades (não mentir);
• Não se entorpecer com álcool ou drogas.

Após a iluminação, Buda peregrinou por mais de quarenta anos, até a sua morte,
junto aos discípulos, pregando suas descobertas. Acompanhado de cinco de seus
discípulos fundaram a primeira Sangha (comunidade monástica). Em suas pregações
Buda sempre destacou que a capacidade de iluminação é alcançável por qualquer
pessoa.

ISTO ESTÁ NA REDE

Um monge recém-formado mostra um pouco da sua rotina diária. No maior templo


zen budista japonês do Brasil, em São Paulo, ele acompanha uma cerimônia
budista. Em Florianópolis, um monge mais experiente conta a história do budismo
e seu papel no Brasil e no mundo. Praticantes do Budismo falam ainda dos estudos
sobre a tradição religiosa, meditação e outras práticas que transformaram suas
vidas. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=bHzB7aOEjKM

Outras crenças do Budismo

Budismo possui estreita relação com o Hinduísmo, pois ambas são religiões
“orientais”, e crêem no Carma (ética de causa e efeito), Maya (natureza criativa e
mágica da ilusão), Samsara (a roda de renascimentos, reencarnação). Os budistas
acreditam que o objetivo principal da vida é o de alcançar a “iluminação”, como eles
acham que ela existe (GAARDER, 2000).
As crenças budistas baseiam-se em verdades: a existência humana está relacionada
à dor e a origem da dor é a ignorância e desejo material. Somente eliminando a
ignorância pode levar a superação da dor.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Pecado

O pecado é compreendido como ignorância. A natureza do erro, do pecado não é


moral. Por isso, de acordo com o pensamento budista, o erro humano é um engano
impessoal e não uma violação interpessoal.
Para o budista, o pecado é mais um engano do que uma transgressão contra a
natureza do Deus onipotente.

Carma

Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a ideia de que o ser humano está
condenado a reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos
do mundo material. O que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima
vida e assim sucessivamente. Isto é carma.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Como para os seguidores do budismo existe a possibilidade da reencarnação em


animais e, um dos mandamentos é não causar sofrimento aos seres vivos, muitos
praticam uma dieta vegetariana.

Deuses

Buda não negou a existência dos deuses, não era um ateu propriamente, mas cria
que não eram eternos, eram impermanentes como as pessoas, estando também
dentro dos ciclos de renascimento.
Contudo, com a expansão do Budismo pela Ásia, houve sincretismo com diversas
religiões. Em vários países existe adoração a espíritos e divindades a fim de auxiliarem
na vida cotidiana.
Dentro dos espaços de adoração e templos do budismo é comum imagens de
Vishnu, Indra e Ganesha, embora com menor destaque do que Buda. Isso contribuiu
para que a filosofia e religiosidade busdista encontrassem receptividade no continente
asiático.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O Budismo, por sua diversidade, não tem uma única posição quanto aos deuses.
Dentros dos ramos estão pessoas ateístas, teístas ou panteístas. O budismo clássico
é não teísta, ele não fala sobre. É importante estar ciente de que o Buda nunca se
considerou um deus ou um ser divino, mas uma pessoa que “mostrava o caminho”
para outras pessoas.

ANOTE ISSO

O sorridente Hotei ou Budai nasceu em Zhejiang, na China, no século X e era um


monge zen budista, com crenças budistas entrelaçadas com o Taoísmo. Contudo
é importante ressaltar que Budai, também conhecido como Buda Gordo ou Buda
da Sorte, não é Sidarta Gautama, nem qualquer entidade ou divindade. Uma
aproximação seria a ideia de um santo budista (como é na ICAR), relacionado à
fortuna, abundância e prosperidade. Essa confusão, possivelmente veio de uma
“homofonia” (palavras com sons parecidos), entre as palavras de sons parecidos.
Geralmente é representado com uma enorme barriga, simbolizando a satisfação.

ISTO ESTÁ NA REDE

O Budismo, no Brasil, passa pelo fenômeno do sincretismo, pois a imagem de


Hotei, associado ao Buda, pode atrair prosperidade, riqueza e felicidade. Em uma
página na rede, tudo isso pode ser alcançado mediante um ritual com a imagem do
monge, leitura do Salmo 23, incenso de cravo e canela e a recitação de uma oração
direcionada ao “Buda da riqueza”. Para conferir, acesse:
https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/esoterico/conheca-o-ritual-do-
buda-dourado-para-atrair-prosperidade,ecd5714742cef310VgnVCM5000009ccceb0
aRCRD.html

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Nirvana

Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana


(pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações, mm estado em o carma já foi
esgotado e o ciclo de renascimento cessa.
O Nirvana não é um lugar geográfico, mas como não existe nada que se compare
no ordinário, os budistas dizem somente “o que não é”. Pode ser descrito como um
modo de ser superior a tudo, no qual se tem acesso à felicidade completa e à liberdade
da alma.
O Budismo ensina que Nirvana é o estado mais elevado e mais puro de existir,
alcançado apenas através de meios relativos ao indivíduo. Gaarder descreve o nirvana
da seguinte maneira:

Poderíamos talvez descrever o nirvana como uma quinta dimensão,


divorciada de nossa existência quadridimensional. Poucos textos
budistas, porém, descrevem o nirvana em termos positivos. Uma
condição para alcançar o nirvana é que o budista encontre a
iluminação (bodhi), exatamente como ocorreu com o Buda debaixo
de sua figueira. Logo, as boas obras por si sós não bastam para
o nirvana. Entretanto, um estilo de vida irreprochável pode levar a
bons renascimentos, que mais tarde poderão possibilitar o encontro
da iluminação. Buda, segundo se conta, nasceu 547 vezes antes de
finalmente chegar lá. — é isso que o nirvana descreve. (GAARDER,
2000, p. 64)

Alma

Buda ensinou que as pessoas não têm almas individuais, pois o ser individual (ou
ego) é apenas uma ilusão.

Isto está na rede

No filme “O pequeno Buda”, pode-se conhecer a história de Sidarta e as principais


compreensões budistas, enquanto monges relacionam-se com, Jesse, um menino norte-
amreicano de 10 anos, o qual monges creem que possa ser a reencarnação de Lama
Dorje, um místico budista. Assista: https://www.youtube.com/watch?v=jVoiMiYutFs

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Escrituras

Os ensinamentos de Buda foram colecionados no Tripitaka, ou “três cestos de flores”.


As escrituras e dizeres atribuídos a Buda foram escritos mais ou menos quatrocentos
anos depois de sua morte. A tripitaka engloba três escritos:
-Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda;
-Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas;
-Abhidharma Pitaka: trata da filosofia dos ensinamentos do Buda,

Divisões do Budismo

Hoje em dia o Budismo é bastante diversificado em características ou categorias,


podendo ser classificado em duas: Theravada (pequeno veículo) e Mahayana (grande
veículo).
Theravada é a forma monástica, em que o nirvana é destinado aos monges, já
Mahayana crê e ensina ser possível a todos os fiéis e não só a classe de religiosos.
Tendo essas categorias como uma espécie de “guarda-chuva”, abrigam-se sob ele
várias linhas: Tendai, Vajrayana, Nichiren, Terra Santa, Zen, Ryobu, entre outros (ELIADE,
1993).
Por isso, ao tentar uma maior compreensão da filosofia e da religião budista, é
importante perceber que são muitos detalhes em cada uma e podem levar muitos
anos para conhecer de forma mais profunda o Budismo.

Templos budistas

Até a morte de Buda, seus discípulos não tinham pouso permanente, pois pregavam
por toda a Índia. Após isso surgiram os templos, num primeiro momento, como abrigo
das moções e eram cabanas de madeira.
Da mesma maneira, os monastérios surgiram após a morte de Sidarta. Uma
construção comum são as stupas (relicários) que surgiram para marcar os locais
onde estavam as cinzas de Buda. Após sua cremação, foram espalhadas em oito
locais. Após alguns anos, o Imperador Ashoka Maurya, subdividiu as cinzas e as
colocou em outros lugares da Índia.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Culto

No princípio o culto era a veneração das relíquias do Buda nas stupas. No decorrer
do século I a.C., estátuas e gravuras de Buda começaram a ser reproduzidas.
Um budista piedoso pronuncia a sua confissão chamada “triplo refúgio” ou “três
jóias” em qualquer lugar ou momento. Essa confissão diz: “Procuro refúgio no Buda”,
“Procuro refúgio nos ensinamentos” e “Procuro refúgio na comunidade monástica”.
Buda não foi deus e nem se considerou assim, mas um guia da humanidade. De
acordo com a fé budista, já entrou no nirvana e não pode ver nem recompensar as
ações de ninguém. As suas imagens são para lembrar os seus ensinamentos e
conduzir o budista em sua devoção, meditação e vida religiosa.

ISTO ESTÁ NA REDE

O Budismo chegou ao Brasil no início do século XX, a partir do monge


budista Ibaragui Nissui, o primeiro monge budista do Brasil. O modo de vida e
compreensões budistas estão em todo o Brasil, também por causa da colonização
japonesa em alguns locais. Importantes templos estão localizados em Três Coroas
(RS), e o Templo Zu Lai em Cotia (SP). Monges brasileiros e adeptos do Budismo
compartilham suas experiências na produção a seguir. Acesse: https://www.
youtube.com/watch?v=bHzB7aOEjKM

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Casamento

O casamento não tem caráter sagrado, mas é um contrato, logo monges não oficiam
casamentos. O divórcio não é uma questão religiosa, então não existem regras sobre
isso. Os homens devem ser maridos que respeitam suas esposas e as esposas devem
zelar por seus deveres familiares.

Feriados religiosos

O feriado religioso mais importante é o dia de nascimento de Sidarta, durante a lua


cheia nos meses de abril ou maio. No mesmo período celebra-se o dia da iluminação.

Morte e rituais

A morte é a única certeza para os budistas e acreditam que com um treinamento


da mente ao longo da vida, a pessoa terá um final de vida tranquilo e terá um bom
renascimento. A vida atual é reflexo da vida anterior, assim como a próxima existência
é semeada na atual.
Frente a realidade da morte os budistas procuram o equilíbrio, principalmente
diante de pessoas que estão morrendo, evitando o choro e o desespero para que a
mente da pessoa permaneça elevada.
No Japão, colocam-se flores dentro do caixão e, para que o falecido esteja bem
amparado, dispõem sobre uma mesa uma tigela com arroz cozido, água, um vaso
com flores, velas e incenso são colocados para que nada falte ao morto. A cremação
é possível e as cinzas podem ser encaminhadas para um templo, depositadas num
altar doméstico ou espalhadas na natureza.
O luto não é regra, mas tradições no Japão, a família guarda até 49 dias de luto
como sinal de respeito.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

SÍMBOLOS

Roda do Dharma

A Roda do Dharma ilustra o nobre caminho , cada raio é uma via do caminho.

Nó infinito

O Nó Infinito simboliza a interdependência de tudo.

A Flor de Lótus

A Flor de Lótus é uma espécie de flor que nasce na lama e se abre quando é
exposta ao sol. Isso ilustra o ser humano com raízes na dor mas que pode alcançar
a iluminação.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Peixes Dourados

Os peixes dourados são a liberdade individual no autoconhecimento para “mergulhar”


nas dores e entender os sofrimentos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 114


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 9
JAINISMO E SIKHISMO

Introdução

A Índia é um país de grande religiosidade, de religiões antigas e de mestres que


entraram para a história e o imaginário mundial. O Jainismo baseia-se em princípios
como o respeito a todos os seres vivos, a não-violência e o desapego das coisas
materiais. A religião jainista propõe a purificação através do ascetismo e da doutrina
da não-violência, ou Ahimsa.
Para o Jainismo, tanto pessoas, animais, plantas, rochas, montanhas, rios, lagos,
nascentes, mares, cachoeiras têm jiva, ou seja, Alma ou, Princípio Vital. Assim, todos os
seres têm igual valor e estão interligados na corrente da existência por elos cármicos.
Origens

A palavra Jainismo tem as suas origens no verbo sânscrito “jin” (conquistador). Os


adeptos do Jainismo buscam “vencer” as paixões da matéria visando a libertação do
mundo e seguem os ensinamentos dos mestres chamados Jina, “vitoriosos”, pois já
teriam alcançado o conhecimento supremo que os libertou do ciclo dos renascimentos.
Os Jinas, passam seus ensinamentos aos adeptos de religiões para que também
alcancem a libertação, e, por isso, fundaram monastérios para religiosos e para homens
e mulheres leigos, figurativamente chamados de “Vau”. Ensinam uma série de regras
e votos, são as “Três jóias” e os “Cinco grandes votos”.
A religião Jainista, de acordo com estudiosos, tem sua origem localizada em torno do
ano 600 a.C. Para os seguidores da religião, destacam-se duas figuras históricas: Parsva
e Mahavira, ambos viveram em momentos chave no que refere-se ao desenvolvimento
religioso ao norte da Índia.
Mahavira nasceu próximo a Patna, Bihar, pertencente à casta dos xátrias. Até cerca
de trinta anos teve uma vida de luxo e prazeres, quando tornou-se um asceta até
chegar à iluminação e delinear os princípios doutrinários do Jainismo. A partir de
datas e pontos geográficos, Mahavira e Sidarta são contemporâneos, contudo não
há indícios na literatura que tenham se conhecido.
Não restam registros diretos de Parsva, de tal modo que a sua figura necessita ser
construída com base em fontes posteriores, provavelmente ele viveu entre os séculos
VIII e VII antes da era cristã.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Enquanto para estudiosos o fundador da religião seria Mahavira, para os jainistas,


Mahavira não é um fundador, mas um divulgador dos ensinamentos de Parsva, um
mestre que deu a sua forma atual ao Jainismo.

Crenças

De acordo com os escritos jainistas, Mahavira e outros Tirthankaras descobriram


a natureza do universo ao atingirem a iluminação e esse plano é a “Loka” (mundo,
morada). A loka demonstra que tudo é interdependente, é eterno e não teve criador.
O Universo é composto por cinco mundos e, em cada um, habitam uma categoria
de seres. A parte mais acima é o assento altíssimo, o Siddhashila, local onde habitam
as Almas livres, iluminadas ou Siddhas. Em seguida, sob o topo, encontram-se os
trinta céus, algo como um espaço intermediário, em que alguns estão em iminência
de ir para o Siddhashila.
O mundo médio ou Madhyaloka é constituído por vários continentes separados
por mares e em seu centro encontra-se o continente Jambudvipa, o único continente
no qual as Almas podem alcançar a liberação, é, muitas vezes, representado numa
figura humana. Os círculos internos concêntricos são chamados de Jambudvipa e
ali existe a vida mortal.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O mundo mais abaixo, subalterno é o Adholoka e é formado por sete infernos, onde
os seres assediados por seres demoníacos. Sob o estado do sétimo inferno está o
alicerce universo, Nigoda, povoado por formas inferiores de vida.
A vida é efêmera e volátil e, conforme o Anekantavada, um conceito de que nada é
absoluto, não existe uma única realidade, mas “A Verdade” existe em muitos aspectos.
Nesse sentido, o conto “A cegueira do ser humano e o elefante” nos aponta essa
compreensão:
Há muitos anos vivia na Índia um rei sábio e muito culto. Ele já havia lido todos os
livros de seu reino. Seus conhecimentos eram numerosos como os grãos de areia
do Rio Ganges.
Muitos súditos e ministros, para agradar o rei, também se aplicaram aos estudos
e às leituras dos velhos livros. Mas, viviam disputando entre si quem era o mais
conhecedor, inteligente e sábio. Cada um se arvorava em ser o dono da verdade e
menosprezava os demais.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O rei se entristecia com essa rivalidade intelectual. Resolveu, então, dar-lhes uma
lição. Chamou-os para que presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro da
grande sala do trono estavam alguns belos elefantes. O rei ordenou que os soldados
deixassem entrar um grupo de pessoas cegas de nascença. Obedecendo às ordens
reais, os soldados conduziram as pessoas com deficiência visual para junto dos
elefantes e, guiando-lhes as mãos, mostraram-lhes os animais.
Um dos cegos agarrou a perna de um elefante; a outra segurou a cauda; outro
tocou a barriga; outra, as costas; outro apalpou as orelhas; outra, a presa; outro, a
tromba. O rei pediu que cada um examinasse bem, com as mãos, a parte que lhe
cabia. Em seguida, mandou-os vir à sua presença e perguntou-lhes: – Com que se
parece um elefante? Começou uma discussão acalorada entre as pessoas. Aquele que
agarrou a perna respondeu: – O elefante é como uma coluna roliça e pesada. – Errado!
(interferiu a cega que segurou a cauda) – O elefante é tal qual uma vassoura de cabo
maleável. – Absurdo! (gritou aquele que tocou a barriga) – É uma parede curva e tem
a pele semelhante a um tambor. – Vocês não perceberam nada! (desdenhou a cega
que tocou as costas) – O elefante parece-se com uma mesa abaulada e muito alta.
– Nada disso! (resmungou o que tinha apalpado as orelhas) – É como uma bandeira
arredondada e muito grossa que não para de tremular. – Pois eu não concordo com
nenhum de vocês. (falou alto a cega que examinara a presa) – Ele é comprido, grosso
e pontiagudo, forte e rígido como os chifres. – Lamento dizer que todos vocês estão
errados. (disse com prepotência o que tinha segurado a tromba) – O elefante é como
a serpente, mas flutua no ar. O rei se divertiu com as respostas e, virando-se para seus
súditos e ministros, disse-lhes: – Viram? Cada pessoa disse a sua verdade.
E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas, se juntarmos
todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Assim são vocês: cada um
tem a sua parcela de verdade. Se souberem ouvir e compreender a outra pessoa e se
observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria.

(Conto do budismo chinês. Extraído de Joelza Ester DOMINGUES. Disponível em:


Um conto para a primeira aula de História do 6º. ano ano (ensinarhistoria.com.br)
Acesso em: 11 fev. 2022.)

Cada um dos cegos percebe uma parte do elefante. A parte não representa o todo
e partindo desse pressuposto, a parte não é a totalidade e nem a verdade na íntegra. O

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

conceito de “Syadvada” diz que a verdade está em tudo, mesmo que em parte, essas
partes são chamados de “Naya”. Segundo o princípio chamado de “Nayavada”, através
das diversas partes da verdade, pode se ter uma visão mais abrangente, isto é Naya.
Os Jainistas evadem-se de qualquer agressão, voluntária ou não, física, moral ou em
pensamento, a qualquer forma de vida, isso é a Ahimsa, a prática da não-violência,
a base de toda atuação do Jainismo e o seu ponto central.
Os comungantes jainistas creem que origem da violência está na posse. Para eles,
por isso sua fé prega o artigo chamado Aparigraha (não-posse), a prática de não
dominar, subjugar algo ou alguém. A posse é oposta ao amor.
Apesar da crença na existência de divindades, em que o céu é localizado muito
acima do mundo material, eles não manifestam-se sobre temas ordinários e podem
renascer. O Jainismo é orientado às pessoas, suas agruras.
Jainistas compartilham com hinduístas e budistas a compreensão de que a alma
reencarna, dentro de um ciclo de renascimentos e que todos sofremos influências do
karma. A alma humana, mônada vital é chamada de Jiva. Jivas são eternos e ligam-
se a qualquer forma, seja humana, animal ou vegetal.
Contudo, o karma é mais do que ação de causa e efeito, mas é como uma substância
que apega-se à alma, o ser vivente, seja humano ou animal, vai tingindo sua mônada
de acordo com suas ações. Uma forma de anular o Karma é a prática da ascese.
As noções de tempo compreendem que este é infinito e cíclico, com ciclos em que
há grande progresso e outros com imenso declínio. Exemplificam essa ideia com a
imagem de uma grande roda com duas porções iguais: uma realiza um movimento
ascendente, que é Utsarpini; a outra um movimento descendente, que é Avasarpini.
Cada uma destas partes da roda divide-se em seis eras ou Ara.
De acordo com os Jainas, estamos no período Avasarpini, um momento infeliz,
complexo e de afastamento dos valores espirituais, iniciado há 2500 anos e que
perdurará ao todos 21 mil anos.
Em cada momento de degradação, surge um Tirthankara que faz a religiosidade
ressurgir como um caminho de libertação e salvação. Tirthankaras (atravessadores
do Vale), considerados almas que alcançaram Moksha, mestres que transmitiram por
muitas gerações o caminho do Jainismo.
Na teologia jainista, existiram 24 Tirthankaras, sendo que o último desses foi
Mahavira. O vigésimo terceiro Tirthankara e penúltimo foi Parshva, que viveu cerca
de três séculos antes do Mahavira.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Escrituras sagradas

Após a morte de Mahavira e logo sua mensagem foi transmitida por tradição oral até
que seus discípulos reuniram seus sermões chamados “Doze Angas” ou Kalpa Sutra
(preceitos), que se tornaram as escrituras sagradas do jainismo. Eles foram fixados
em linguagem Prakrita, cerca de 300 a.C, duzentos anos após a morte de Mahavira.

Seres supremos

Os cinco seres supremos, os Panca Paramesthin, são objetos de veneração, já que


personificam os objetivos a serem alcançados e o desempenho do caminho espiritual.
Os fiéis jainistas invocam esses seres diariamente, voltados para os pontos cardeais.
Os cinco supremos são:
-Arhat são os “honrados”, chamados de Jinas ou tirthankaras, ensinam o caminho
da libertação;
-Siddha representa as almas libertas que vivem no topo do universo em estado
de bem-aventurança;
-Acharya: mestre que guia espiritualmente monges e monjas jainistas;
-Upadhyaya: Mestre que inspira monges através do conhecimento das escrituras
jainistas.
-Monge: Todos os monges ocupam o status de quinto ser supremo.

Duas principais correntes

O Jainismo está perdido em duas principais correntes: O Digambara (veste do


céu) e os Svetambaras (Shventambara-vestes brancas). Estes núcleos também são
subdivididos em vários outros grupos.
Digambaras são os adeptos mais radicais e praticam a nudez, carregam apenas uma
espécie de espanador para espantarem os seres vivos do caminho e não cometerem
alguma violência involuntária. Comem pouco, já que temem estar “roubando” o
alimento de algum ser vivo. Pregam que a salvação e libertação para as mulheres
não é possível, por isso, devem reencarnar como homens.
Já os Svetambaras vestem roupas brancas e carregam três objetos: uma tigela,
um cajado e um espanador.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Vida e Culto

A forma de vida do jainista é direcionada para alcançar a libertação das reencarnações.


Muitos entram para monastérios, mas muitos permanecem na forma leiga com práticas
dos monges, um pouco mais amenas.
Os adeptos conduzem suas vidas de maneira a promover a paz, desapegada e
respeitando todas as formas de vida, por isso sua alimentação e costumes são veganos.
Além disso, os leigos seguem outras convenções:
-não consomem comida à noite e não consomem tubérculos, cebola e alho, nem
bebidas alcoólicas ou qualquer coisa que possa alterar a consciência como café ou
chocolate;
-Devem realizar jejuns, retiros espirituais, praticar meditação, conhecer a vida dos
Tirthankaras e praticar caridade a tudo o que é vivo.

Os monges e monjas precisam observar as Três jóias:


• Conhecimento reto
• Fé correta
• Boa conduta

Igualmente, fazem cinco “Grandes Votos”:


• Ahimsa: renunciar à violência;
• Satya: falar a verdade;
• Asteya: não roubar e não pegar nada que não foi dado;
• Brahmacharya: abster-se de sexo;
• Aparigraha: renúncia de posses, abrir mão de pessoas e coisas.

O culto pode ser realizado nos lares ou no templo. A devoção doméstica dispensa
sacerdotes e é realizada pelo chefe familiar. O objetivo do culto é manter concentração
na contemplação da imagem de um tirthankara., pois a adoração da imagem leva
a uma mudança interior e adquirir as qualidades dos tirthankaras, levando-os à
progressão espiritual.
Os templos são ricamente decorados, com um espaço em que está entronada a
imagem do tirthankara ao qual é dedicado o templo. O culto pode implicar a entoação
silenciosa de um mantra específico, o Panca Namaskara, que é uma preparação ao

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

início do culto. Após a imagem é ungida com açafrão e ornamentada com flores ou
jóias. Apesar das flores serem vivas, podem ser cortadas para o culto.

Festividades

O festival que une todos os jainistas é o Mahavir Jayanti, aniversário de Mahavira,


celebrado entre o final de março e o início de abril.
• Paryushana: entre agosto e setembro os integrantes do Svetambara festejam
o perdão e realizam jejum durante oito dias.
• Divali (festa da luzes): assumida pelos jainas com o sentido de celebração da
iluminação de Mahavira.
• Kartik Purnima: celebrado durante a lua cheia do mês de Kaartika, comemora
o fim das monções e o retorno à peregrinação dos monges e monjas.
• Mastakabhisheka- acontece no santuário Shravana Belgola a cada doze anos
os jainas do ramo Digambara encontram-se e adoram a enorme estátua de
dezessete metros de Bahubali. Suas práticas são libações com água, mel, leite,
flores, preparados de ervas e especiarias.

Símbolo

O principal símbolo identificador do Jainismo é a “mão jaina”, como se fosse uma


mão que diz “pare” para qualquer violência (ahimsa) e ao ciclo das reencarnações pela
descoberta da verdade. A palavra no centro da roda quer dizer “ahimsa”.

Sikhismo

O termo “sikh” vem do idioma punjabi e significa “discípulo, aprendiz”. Enquanto que
dentro do Hinduísmo, o guru é um mestre, um guia religioso, para os sikhs, o guru é
“o pesado”, expressando o peso da sabedoria (ELIADE, 1993, p. 152).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O Sikhismo surgiu no século XV, em Punjab, cidade que limita a Índia e o Paquistão
a partir do chamado de Guru Nanak Dev Ji, que significa santidade e respeito. É uma
religião monoteísta com fé firmada em Deus (Guru Sat) que inspirou as pessoas,
especialmente os Dez Gurus, que registraram seus ensinamentos e doutrinas no livro
sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.
O Sikhismo buscava, em seu princípio, criar uma religião que agregasse o Islamismo
e o Hinduísmo.

Crenças

Para o sikhismo, Deus é eterno, disforme e é inalcançável a percepção completa


dele aos seres humanos. Ele é o criador de tudo e deve ser adorado em gratidão e
louvor pelas pessoas.
Os sikhs crêem no karma, as ações positivas e negativas que atuam pela evolução
espiritual ou ações negativas que conduzem a renascimentos em formas consideradas
inferiores, como em forma de planta ou de animal. Devido ao egocentrismo humano
(haumai) todos estão separados de Deus e presos dentro do ciclo de renascimentos (mukti).
A revelação de Deus à humanidade ocorre através do “Nadar”, a graça, a fim de
alcançarem a salvação. Orgulho, ira, ganância, apego aos bens materiais, luxúria, são
chamados de “ladrões”, pois separam, “roubam” as pessoas de Deus.
Deus além de ser chamado de Nam, também recebe outros nomes como Vahiguru
(prece ao guru), Akal Purakh ou Parmeshur (ambos significando o intemporal).

Guru Nanak

Guru Nanak Dev Ji nasceu em 1469 e viveu até setembro de 1539. De acordo
com a tradição sikh, Nanak sempre demonstrou interesse pela espiritualidade e ao
banhar-se no rio Kali Bein, por volta de 1499, aos 30 anos de idade, ele teve uma visão
na qual Deus lhe ordenava começar a pregar.
As pessoas imaginaram que ele tinha se afogado no rio, mas três dias após o
desaparecimento, Nanak reapareceu, permanecendo em silêncio. No dia seguinte, ele
declarou: “Não há Hindu nem Muçulmano, mas apenas o homem. Que caminho devo eu
seguir? Seguirei o caminho de Deus. Deus não é Hindu nem Muçulmano e o caminho que
eu sigo é o de Deus”. Guru Nanak viajou por muitos lugares pregando a unicidade de Deus

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

que vive em cada uma de suas criações e constitui a Verdade eterna. Seus ensinamentos
todos são iguais e castas são desnecessárias (ELIADE, 1993, p. 152).
Ele atraiu muitos seguidores e se tornou o primeiro dos dez gurus. O último guru
foi Gobind Singh, que morreu em 1708. Gobind foi o idealizador do Khalsa como
uma irmandade armada. Ele cria que os sikhs eram ultrajados pelos governantes
da Índia. Desde a sua morte, o guru dos sikhs não é uma pessoa, mas o Adi Granth
(Primeiro Livro), ou Granth Sahib. Incorpora quase 6 mil hinos, canções de louvor a
Deus, compostos por Nanak e outros gurus.

Os dez gurus

O Guru Nanak (1469-1539) encabeçou a tradição dos gurus, e sucessivamente cada


Guru, foi nomeado “Nanak”, todos os gurus autointitularam-se “Nanak” enquanto
fizeram suas revelações espirituais. Foram ao todo 11 Gurus, sendo 10 pessoas e um
o atual e permanente, o livro Guru Grath Sahib. Os gurus foram:
Guru Angad (1504-1552); Guru Amar Das (1479-1574); Guru Ram Das (1534-1581)
fundou Amristar a cidade sagrada; Guru Arjan (1563-1606) compilou o Grath Sahib;
Guru Hargobind (1592-1644); Guru Har Hai (1630-1661); Guru Har Khrishan (1656-
1664); Guru Theg Behadur (1621-1675); Guru Gobind Singh (1666-1708) foi o último
Guru humano e fundou a Khalsa em 1669 e determinou que a autoridade religiosa
seria da Escritura sagrada Guru Grath Sahib (ELIADE, 1993, p. 153).
O Guru Grath Sahib é um texto extenso com 1430 páginas, composto durante
a liderança de gurus humanos (1469-1708), descreve os adjetivos de Deus e a
indispensável meditação em torno do nome (Nam) e é o alicerce do culto sikh através
de suas orações. Para os sikhs, é o Guru vivo e que todas as respostas relativas à
religião e códigos de conduta estão contidos nele.
O livro é tratado com deferência, posto em uma espécie de trono (Takht) é o elemento
central dos templos sikhs. Os sikhs mantém a cabeça coberta e pés descalços e nunca
é tocado por mãos que não foram lavadas e nunca é posto no chão.

Vida e culto.

Os templos sikh chamam-se Gurudwara (lugar de Deus). O principal templo sikh,


Harimandir Sahib, é o Templo Dourado, em Amritsar, no estado do Punjab.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Em momentos especiais, acontece uma leitura contínua de todo o Guru Grath


Sahib, que leva cerca de 48 horas, chamada Caminho de Akhand. Nesta cerimônia
há uma refeição comunitária, vegetariana, a Langar, em que evidencia-se que não há
distinção social de classes.
O Divino dá-se a ouvir, revelando-se enquanto nome. Segundo os ensinamentos
do Guru Nanak e dos outros gurus, apenas a recordação obstinada do nome (nam
simaram) e a recitação murmurada do nome (nam japam) como se fosse um “mantra”
permitem os seres humanos libertar-se do haumai e unirem-se a Deus.
Em seus momentos de devoção pessoal usam uma espécie de rosário de contas,
Mala. Diariamente, em três momentos, reproduzem versos conhecidos como Nit-Nem.
O propósito para os adeptos do Sikhismo é passar pelas cinco fases espirituais
que libertam do ciclo de reencarnações: Viver segundo a lei de Deus (Dharam Khand);
Autodisciplina (Saram Khand); Graça (Karam Khand); Conhecimento (Gian Khand) e
Verdade (Sach Khand).
Para a vida cotidiana, os sikhs têm outras práticas de fé bem delineadas a partir
dos três pilares do Sikhismo, que enfatizam o cumprimento de deveres fundamentais
para a religião:
• Ter Deus presente na mente em todos os momentos (Nam Japam);
• Sustentar-se pela prática do trabalho honesto (Kirt Karni);
• Compartilhar o que se consegue no trabalho com os necessitados (Vand
Chhakna).

Os homens sikhs não cortam cabelos, mas os seguram com um turbante, enquanto
que as mulheres utilizam um lenço. Aqueles que cortaram o cabelo ou a barba são
chamados pelos ortodoxos “patit”, (decaídos, renegados).

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Alimentar, acolher, respeitar, amparar todas as pessoas, independente de gênero,


orientação sexual ou crença religiosa faz parte da fé e modo de vida sikh, pois
diante de Deus todos têm o mesmo status. Partilhar os frutos do trabalho com
quem necessita é testemunhado através do maior refeitório gratuito do mundo e
sustenta-se com a ajuda de voluntários e doações. Ali são alimentadas mais de 100
mil pessoas diariamente.O local faz parte do Templo de Ouro, fundado em 1577
pelo Guru Ram Das.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O grupo conhecido como Khalsa (os “Puros”) é um grupo com votos de lealdade,
inclusive em pegar em armas para defender a fé. Os membros evitam o álcool, o
tabaco e as drogas e se dedicam à oração. Os homens têm sempre uma espada
presa ao cinto.
O rito iniciático do Khalsa, chama-se amrit, bebem a bebida açucarada mexida por
um sabre de dois gumes, recebem o título amritdhari (portador do néctar) e novos
nomes, passando a usar os chamados Cinco “Ks” . As pessoas que não fazem a
iniciação são chamados sahaj hari.
Surgiu em 1699 a partir do Guru Gobind como resistência a perseguições sofridas
pelos mongóis. Originalmente os primeiros cinco membros da Khalsa usavam acessórios
ou costumes que tinham sua primeira letra o “K” do idioma punjabi. Esses são os cinco
“Ks”: Kesh: não cortar os cabelos e nem pêlos, sendo os cabelos apenas amarrados,
cobertos por um turbante, mas lavados diariamente; Kaccha: uma espécie de calção
até altura dos joelhos, usado sob as roupas usado por ambos os sexos; Kirpan: punhal
usado na defesa dos mais fracos; Kara: pulseira de aço que deve ser usada no pulso
direito como uma espécie de “aliança” que representa o compromisso com Deus;
Kangha: pente que simboliza a higiene dos cabelos e autocuidado, de madeira ou
marfim (ELIADE, 1993, p. 153).

ISTO ESTÁ NA REDE

Cabelos longos são dogma de fé. Os turbantes protegem os cabelos e podem


ter as mais variadas cores e formatos e fazem parte da prática diária do homem
sikh no servir a Deus. Contudo, após 11 de setembro de 2001, eles têm sido
alvo de intolerância e violência ao serem confundidos com muçulmanos. Em
2017, Navdeep Bains, o então ministro de Inovação, Ciência e Desenvolvimento
Econômico do Canadá, foi detido para averiguações junto ao aeroporto de Detroit,
nos EUA.
Acesse: https://veja.abril.com.br/mundo/ministro-canadense-e-detido-nos-eua-por-
usar-turbante

Fases da vida

Nascimento

Após o nascimento de uma criança no meio sikh, ela deve ser levada a um
Gurdwara, onde se abre o Guru Granth Sahib, aleatoriamente, a fim de escolher o

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

nome do bebê. O nome da criança terá a inicial a partir da primeira letra da primeira
palavra da página do lado esquerdo, na parte em que o livro foi aberto. Os homens
sikhs são utilizados tanto para meninos quanto meninas, variando o complemento
Singh (Leão) para meninos e Kaur (Princesa) para meninas.

Juventude

Por volta dos 14 anos, meninos e meninas passam por um rito de iniciação à
comunidade sikh, algo que remete à fundação da Khalsa, em que bebem e são
aspergidos nos olhos e cabelos o Amrit (água doce que representa o néctar da
imortalidade).

Casamento

O casamento é um evento que une famílias. A noiva usa trajes vermelhos e no


decorrer da cerimônia de casamento (Anand Karaj) os noivos devem sentar-se diante
do livro sagrado enquanto ouvem seus deveres conjugais e após dar quatro voltas
em torno do Granth Sahib, sendo cada uma dessas voltas acompanhada pelo canto
do Lavan (trecho que fala da união da alma com Deus).

Morte

Quando um fiel sikh faleceu, seu corpo é lavado e recebe os 5 Ks, sendo conduzido
à cremação logo em seguida. A pira é acesa por um parente e cantam hinos até o
corpo estar pronto para a cremação. Uma oração final é dita momentos antes de se
cremar o corpo. As cinzas são, em geral, depositadas nos rios como o Ganges. O
período de luto pode ocorrer entre 7 a 10 dias.

Festividades

As principais festas religiosas do sikhismo giram em torno do aniversário de


nascimento dos gurus, principalmente de Nanak e do Guru Gobind Singh.
Os sikhs o Hola Maholla (meados de Março), que coincide com o festival hindu
das cores. Durante este festival os sikhs realizam desfiles militares e artes marciais.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Outras festas incluem a celebração do Diwali, festival apropriado dos hindus e


ressignificado na celebração da libertação do Guru Hargobind.

Símbolo

O Khanda é uma espada única ao centro, de dois gumes que simboliza a fé, o Deus
uno e a proteção da comunidade. As duas espadas ao lado representam o poder
espiritual e material. O círculo é uma comunidade unida.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 10
RELIGIÕES DO TAO:
CONFUCIONISMO E TAOÍSMO

“Há homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para
recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal
forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem
morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”(Confúcio).

Introdução

Desde tempos antigos os chineses falam nos “três caminhos”: Taoísmo,


Confucionismo e Budismo. O Budismo vindo da Índia e, além da China, propagou-se
também no Japão, onde teve grande influência sobre a religião nacional, o Xintoísmo.
Os dois primeiros caminhos serão expostos a seguir. O Confucionismo é conjunto
de pensamentos, regras e rituais sociais desenvolvidos pelo filósofo K’ung-Fu-
Tzu (Confucius na versão latinizada) que dominaram o cenário religioso chinês,
especialmente da elite administrativa, até a queda do império.
Já o segundo caminho é o Taoísmo que alicerçou-se num livro chamado Tao Te
Ching, “O livro do Tao e do Te”. Tao (ordem do mundo) e Te (força vital) e Ching (livro).
O Tao Te Ching é um livrinho com cerca de 5000 palavras e não se conhece autoria,
apenas há uma lenda de que foi o filósofo Lao-Tsé, que viveu no século VI a. C,
possivelmente contemporâneo de Confúcio (ELIADE, 1993, p. 221).

10.1Confúcio

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

É inegável que Confúcio foi um influente filósofo oriental. Nasceu na província


Xantung, no nordeste da China, possivelmente filho de um militar que morreu na tenra
infância do filósofo, o que levou a família aristocrática à decadência e empobrecimento
(ELIADE, 1993, p. 83).
Foi um diligente estudioso de história, arqueologia, música e rituais. Sua dedicação
tornou-se um conhecido sábio aos 30 anos, atraindo muitos discípulos. Algumas
de suas interpretações da filosofia antiga e das tradições, em especial quando ele
tocava em assuntos relacionados à ética e filosofia social, foram inovadoras. Embora
influenciado por Lao Tsé e pelo Taoísmo, Kung Fu Tsé (Confúcio) decidiu seguir um
caminho alternativo.

Os ensinamentos de Confúcio

O sábio Confúcio, tinha como base ética e moral uma variante da Regra Áurea:
“O máximo da amável benevolência é não fazer aos outros aquilo que não gostarias
que eles fizessem a ti”. Ele valorizava a família e o cuidado com as pessoas idosas.
Para o estudioso, a ignorância era a raiz do mal, logo a transmissão e recepção
precisas dos conhecimentos é o caminho para vencer o mal. Nesse sentido, aguçava
os seus seguidores a manter atitudes morais retas, fidelidade aos preceitos nos rituais
e solenidades religiosas, pois estes teriam um lugar importante no equilíbrio social.
O espaço ocupado pelo sujeito social passa pelo posicionamento diante de cinco
relações primordiais com altruísmo, cortesia e respeito:
• entre senhor e servo, implicando em um governante bom e justo e servo fiel;
• entre pai e filho, resultando em uma relação afetuosa entre um pai amoroso e
filho obediente e respeitador;
• entre mais velho e mais jovem;
• entre homem e mulher, em que proporcionalmente o homem deve ser justo e
a mulher submissa;
• e entre amigo e amigo.

Seguindo carreira como filósofo palaciano, Confúcio exortou os governantes chineses


a “governarem pela virtude interior”, a fim de conquistar e manter o respeito de seus
súditos, sendo estandartes morais, exemplos para a nação.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Dizer “obrigado” basta para parecer gentil e grato? Para ocidentais as palavras não
são ligadas à posição social ou idade. Na Coreia do Sul, o idioma pauta palavras
específicas para essas condições e não estar adequado pode caracterizar grosseria.
Nesse país, o neoconfucionismo, influenciou e continua a normatizar as relações
sociais, familiares e comunitárias, em que os idosos têm um lugar destacado e
são extremamente respeitados. A partir da matéria da BBC intitulada “O país onde
perguntar a idade dos outros é uma necessidade” de Vivian Song podemos
aproximar um pouco o olhar desta rica cultura. Acesse: https://www.bbc.com/
portuguese/internacional-59775075

Confúcio não era ateu e nem pregou uma vida não-teísta. Acreditava que um ser
sobrenatural o inspirava: “O Céu deu à luz a virtude dentro de mim”. Só que o Céu
para ele era fonte do bem e da inspiração que dirigia para o bem, embora ele não se
pautava por alguma moral religiosa.
O sábio, cria que era um escolhido do Céu para renovar a cultura e atualizar as regras
morais estabelecidas pelos imperadores de outrora. Contudo, ele não esquematizou
seus princípios e não escreveu grande parte de seus ensinamentos. Suas ideias não
se perderam porque seus seguidores registraram-nas após sua morte (GAARDER,2000,
p. 84).
Apesar de Confúcio não estar interessado em assuntos religiosos ou metafísicos, o
primordial, para ele, era que os deuses deviam ser cultuados adequadamente, que os
rituais, os sacrifícios e as cerimônias deviam ser realizados corretamente, pois isso
demonstrava a piedade e devoção filial da pessoa.
Entre as convicções do mestre, o universo e a natureza estão sintonizados, em
harmonia, logo deve ser estendido ao ser humano. Para ensinar este artigo ele fez
releituras de conceitos antigos da China, entre eles, o Tao.
A doutrina do tao ensina que é a harmonia predominante no universo, o equilíbrio
de tudo. A partir dessa harmonia, a sociedade deve constituir-se e, para isso, o interior
humano deve estar consonante com o tao. Dessa sintonia, a pessoa encontrará o Te, o
caminho certo para realizar as ações corretas. A sintonia é alcançada pelo conhecimento,
estudo e entendimento da tradição e dos tempos passados (GAARDER,2000, p. 85).
A sua filosofia e visão de mundo não demonstra preocupação com o além vida,
mas direcionada às relações harmoniosas que deveriam permear famílias e sociedade.
Consta que ele disse: “Mostre respeito pelos deuses, mas mantenha-os à distância”.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

E quando lhe perguntaram sobre a vida após a morte, respondeu: “Quando não se
compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?”.

Os livros da sabedoria de Confúcio

Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Somente no período


da dinastia Han (206-221 d. C.) que os ensinamentos de Confúcio foram regularizados
em sistema político e religiosos, fazendo-os textos oficiais. A moral desenvolvida a partir
de Confúcio, predominou até 1911 na China. Até este ponto da história o imperador
era soberano sobre tudo. Essa moral confuciana era burguesa e valorizava a educação
e o bom comportamento e formalidades (ELIADE, 1993, p. 84).

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

O conto abaixo, reflete a crença de Confúcio de que o Estado está em função dos
cidadãos e não o povo para manter a vida dos governantes, bem como ao povo
cabe lealdade. Uma via que leva à mútua colaboração.
“Zhizang procurou Confúcio por toda a China. O país vivia um momento de grande
convulsão social, e ele temia um grave derramamento de sangue.
Encontrou o mestre junto a uma figueira, meditando.
- Mestre, precisamos urgentemente de sua presença no governo - disse Zhizang.
- Estamos à beira do caos.

Confúcio continuou meditando.


- Mestre, ensinaste que não podemos nos omitir - continuou Zhizang. - Disseste que
somos responsáveis pelo mundo.
- Estou rezando pelo país. - respondeu Confúcio. – Depois irei ajudar um homem
na esquina. Fazendo o que está ao nosso alcance, beneficiamos a todos. Tentando
apenas ter ideias para salvar o mundo, não ajudamos nem a nós mesmos. Existem
mil maneiras de se fazer política: não é preciso ser parte do governo”

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Templo do céu- Pequim

Os livros de Confúcio e de Mêncio (372-289 a.C.) foi considerado o segundo Mestre,


depois de Confúcio, são compilações de seus aforismos, conhecidos como “Cinco
clássicos” e consistem nas seguintes obras:
• Livro dos Poemas (Shi ching), o livro dos Cânticos. Coleção de 315 hinos e
cantos selecionados da Antigüidade;
• Livro da História (Shu ching), o livro dos Documentos ou Coletânea de documentos
históricos e registros da Antigüidade;
• Livro dos ritos (Li ching), documentando os sistemas de governo das instituições
morais e religiosas da Dinastia Zhou;
• Livro das Mutações (o 1º I Ching), estudo dos eventos humano-cósmicos,
articulados em 64 processos, representados por hexagramas. Estes escritos,
mesmo após a morte do pensador, foram passados de geração em geração,
além de terem ganhado diversas versões como as de Chang Yü, Cheng Hsüan
e de Ho Yen.
• Anais da Primavera e Outono (Chung Chiu), um registro dos eventos desde 722
a.C. do Estado de Lu.

No processo de educação na antiga China, os estudantes deveriam, antes de ler


os cinco clássicos, os “Quatro livros” e memorizá-los. São eles:
• O Livro de Mêncio;
• Lun Yu, os Analetos de Confúcio ( ditos de Confúcio);
• Ta Hsio, O grande aprendizado (ensinamentos sobre virtude);
• Chung Yung, a Harmonia Perfeita (ensinamentos sobre moderação e temperança).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

Através da matéria “Por que o legado do sábio chinês Confúcio atravessou milênios”,
da especialista em História e Política da China Moderna Rana Mitter, podemos
perceber a evolução do Confucionismo ao longo da história e suas consequências
no pensamento chinês. Após toda a influência de variadas ideologias do século
20, o povo chinês busca no passado um núcleo moral e ético para o século 21.
Acesse: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46689589

Culto e rituais

Após sua morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas idéias. O


confucionismo veio a ser algo como uma religião estatal da China. Templos foram
edificados e dedicados a Confúcio, com oferendas na primavera e no outono, assim
como se ofereciam sacrifícios ao Céu (GAARDER,2000, p. 84).
O imperador era considerado o representante do país diante do supremo deus Céu.
Ao mesmo tempo, era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador realizava o
sacrifício ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia ainda sacrifícios
às montanhas e aos rios sagrados da China. A posição do imperador em relação ao
povo chinês era um “reflexo” do Céu que era distante da Terra. A religião dos pobres era
a adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada
de magia e traços de outras religiões(GAARDER,2000 p. 83). Em 1911, a China se
tornou uma república e em 1949 os comunistas tomaram o poder.
É comum dentro da prática confucionista o culto aos antepassados. A adoração e
respeito são parte da piedade filial (Hsaio), que é a expressão da lealdade e devoção
dos membros jovens da família aos mais velho, estendendo-se após ao óbito.
O culto aos antepassados, com dedicação de oferendas e pode ser celebrado frente
aos altares dos templos ou num santuário em casa.
Semelhante a outras expressões religiosas, no Confucionismo as fases da vida são
celebradas. Por ocasião das núpcias a noiva é acolhida pela nova família, recebida
em uma carruagem especial, em um modelo de procissão.
O povo chinês era convicto que seus ancestrais da realeza tornavam-se deuses, logo
deviam ser louvados e cultuados. Uma vez que seus governantes atuais alcançassem
aprovação dos antepassados e do Céu, receberiam o mandato celestial e garantiriam
a ordem natural na Terra (prosperidade, boas colheitas, equilíbrio entre yin e yang).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A China sustentou-se em uma sociedade hierárquica, com vários estamentos, em


que todos trabalhavam pelo sustento das famílias e serviço ao Estado. A ideia era
que todas as classes eram importantes, sem ser nenhuma mais importante do que
a outra, contudo, para Confúcio, os lavradores mereceriam destaque pois forneciam
alimentos, bem como igualmente caberia reconhecimento aos eruditos e oficiais, já
que garantiam um Estado eficiente.

Símbolo

Yin Yang é um princípio da filosofia oriental, especialmente chinesa, em que são


energias opostas complementares que estão em constante movimento. Yin significa
escuridão sendo representado pelo lado pintado de preto, e yang é a claridade. O Yin
fica do lado esquerdo da esfera, na cor preta e representa: escuridão, passivo, molhado,
frio, noite, matéria, água e feminino.
O Yang, do lado direito da esfera, na cor branca, representa: luz, ativo, seco, quente,
dia, energia, fogo e masculino. As duas esferas no símbolo simbolizam a ideia de que,
cada uma das forças manifesta dentro de si o seu oposto. O símbolo é partilhado pelo
Confucionismo e pelo Taoísmo, assim como por várias religiosidades de procedência
oriental.

Taoísmo

“Pagai o mal com o bem, porque o amor é vitorioso no ataque e invulnerável na defesa.”
Lao-Tsé.

Conforme dito na introdução do livros, o Taoísmo alicerça-se num livro chamado


Tao Te Ching, “O livro do Tao e do Te”, cuja autoria é atribuída a Lao-Tsé. As histórias

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

sobre a vida de Lao-Tsé são muitas e variadas, e os historiadores não têm certeza
sequer se ele de fato existiu (GAARDER,2000 p. 87).
Lao-Tsé, que significa “velho mestre” ou “ancião ``, viveu e trabalhou em Luoyang como
arquivista, quando pode se dedicar ao estudo das escrituras aos seus cuidados. Conforme
a tradição, ele adquiriu sabedoria ao longo de sua vida, através de experiências, o que
o deu caráter de conselheiro muito procurado pela população. Lao-Tsé é considerado
o fundador do taoísmo, durante o “Período dos Estados Guerreiros” (entre os séculos
II e V d.C.).

Crenças do Taoísmo
Podemos classificar o taoísmo em duas linhas principais, o Taoísmo Religioso
(Tao-Chiao) que almeja alcançar o Tao para a imortalidade e, isso, resulta na prática
de meditação, formas litúrgicas, filosofia e alquimia.
Já outra vertente, o Taoísmo como filosofia de vida , em que estão ideias em torno
da saúde, meditação e exercício. Além da escritura Tao Te Ching, que prega o Tao
para governantes, o escrito Chuang Tzu ensina a filosofia e modos de vida para leigos.

O Tao
Para Confúcio, o tao era a suprema ordem do universo, que a humanidade deveria
seguir. Lao-Tse também concebia o tao como a harmonia do mundo, especialmente
do mundo natural. Só que ele foi mais além: o tao é comparado a uma fonte da qual
todas as coisas surgiram, da qual elas jorram.
A diferença mais importante entre a concepção de Lao-Tse sobre o tao e as outras
é que Lao-Tse julgava impossível a descrição através do intelecto, pela lógica humana,
isto é, sendo algo transcendente é impossível ser descrito plenamente pelo imanente
(GAARDER,2000 p. 87).

Deuses e demônios
No Taoísmo a crença é de que os deuses são aqueles que regem tudo em todo o
universo. No contexto chinês existem muitas divindades, contudo as mais populares,
cujas estatuetas podem ser encontradas em muitos lares por sua popularidade, são os
ditos “Três deuses estelares”. Eles são o retrato de todas as virtudes que os chineses
almejam. Eles são:
Fu Hsing, deus da felicidade;

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Lu Hsing, deus da riqueza, status social e “padroeiro” do nascimento de filhos homens;


Shou Hsing, deu da longevidade (que determina a morte das pessoas). Este último
é o mais estimado e relacionado à direção sul, a mais benéfica de acordo com a
cosmologia chinesa.
Os deuses taoístas são figuras históricas, pessoas que alcançaram a imortalidade
e vida eterna e que durante sua vida terrena apresentaram grandes feitos. Esses
são os “deuses pessoais”. Exemplos são: o Imperador Jade (supremo soberano das
divindades chinesas), o general Chung-Li Chuan, o musicista Han Hsiang-Tzu e o
curandeiro Li Tieh-kuai.
A imperatriz celestial Hsi Wang-Mu é considerada a deusa mãe, a governante dos
imortais. Acreditam que segura um pêssego da imortalidade.

Hsi Wang-Mu

Os demônios ou Koueis (demônio, fantasma, espírito, espectro) no taoísmo, não


necessariamente são seres maus, assim como o pensamento ocidental compreende
a palavra “demônio”. O kuei é o espírito de uma pessoa que teve uma morte violenta
ou que não receberam os atos fúnebres corretos.
Quando os taoístas acreditam que os referidos demônios estão desequilibrando, e,
assim, causando malefícios ao mundo natural, eles realizam rituais específicos para
afastá-los e restabelecer saúde, prosperidade, etc.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Wu-wei

Um conto taoísta sobre a não-ação

Um velho fazendeiro trabalhava em seu campo por muitos anos. Um dia seu cavalo
fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.—“Que má sorte!” eles disseram
solidariamente.—“Talvez,” o fazendeiro calmamente replicou.
Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
—“Que maravilhoso!” os vizinhos exclamaram. —“Talvez,” replicou o velho homem. No dia
seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. Os
vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má sorte, uma vez que seu
filho era seu único ajudante naquele difícil trabalho dos campos.
—“Que pena,” disseram. —“Talvez,” respondeu o fazendeiro.
No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço
obrigatório no exército, que entraria em guerra. Vendo que o filho do velho homem estava
com a perna quebrada, eles o dispensaram. Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela
forma com que as coisas tinham se virado a seu favor. O velho olhou-os e disse suavemente:
“Talvez.”

(Um conto taoista sobre a não-ação. Extraído de Alfredo CARNEIRO. Disponível em:
Taoísmo: o conceito de não-ação.
https://www.netmundi.org/home/2017/taoismo-nao-acao-filosofia/
Acesso em: 14/02/2022.

O taoísmo implica passividade e não atividade. Para um sábio taoísta, a ação mais
importante é a “não ação”, o “wuwei”. Isso obviamente tem uma grande influência em
sua visão da vida comunitária.
Wuwei é um dos conceitos centrais da doutrina taoísta. De maneira genérica, o
Wuwei seria a ideia de que quanto mais deixarmos o mundo seguir seu curso, melhor
será para todos, porque a natureza é sábia. Ao contrário do que possa parecer, a
não ação não corresponde à quietude ou preguiça, mas a um estado de espírito que
permite que o Tao se manifeste em nossas vidas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Como ensina o taoísmo, se por um lado estamos sempre atribulados, carregados de


adversidades na vida, por outro, quando sucedem coisas boas, ficaremos em êxtase.
O wuwei é a harmonia, a sintonia com a natureza e meio de alcançar o Tao.

Vida e corpo
Filósofos taoístas, além de meditar, evoluíram para “práticas mágicas” e tentavam
descobrir o elixir para a imortalidade. A imortalidade leva à libertação espiritual e a
pessoa que alcança essa realidade é chamado de “chen jen” ou pessoa perfeita.
Dentro da sociedade chinesa, pessoas longevas são extremamente respeitadas e
admiradas por sua sabedoria. Os taoístas creem que exercícios e atividades espirituais
como a meditação, técnicas respiratórias e sexuais, proporcionam uma maior
longevidade (ELIADE, 1993, p. 224).
O corpo humano é encarado como um sistema energético formado por afluência
de de “chi”, a energia vital e o sangue. Esse sistema que é o corpo é transpassado
por canais invisíveis, denominados meridianos.
Na lógica taoísta corpo, mente e ambiente são entrelaçados e, por isso, técnicas
de saúde, medicina e disciplina foram desenvolvidas para manter a saúde do corpo
precisa haver equilíbrio e fluxo do chi.

diagrama taoísta do corpo com os meridianos

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

Apesar de Confucionismo e Taoísmo terem suas bases no Tao, suas posições


tomaram rumos distintos. Confúcio queria educar as pessoas com conhecimento,
Lao-Tsé idealizava que as pessoas permanecessem inocentes e simples, como
uma criança. Confúcio ansiava por regras e instituições e Lao-Tsé acreditava que
as pessoas deveriam intervir o menos possível no desenrolar natural dos fatos.
Confúcio queria um governo ordenado, mas Lao-Tsé pensava que qualquer governo
é ruim. O Tao te ching traz uma visão um tanto negativa quanto às leis e diz que
“Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá”
(GAARDER, 2000, p. 87).

Rituais e culto
Lado a lado com o taoísmo filosófico, foi se desenvolvendo uma religião popular
baseada em Lao-Tse mas que também tinha seus próprios deuses, templos, sacerdotes
e monges. Havia rituais complexos, em parte inspirados pela prática budista, com
procissões, oferendas de alimentos aos deuses e cerimônias em honra dos vivos e
dos mortos.
O ritual básico é a oferta (chao). É uma oferenda que pode ser realizada num altar
familiar ou em um templo, em festividades especiais. Os rituais são uma constante
lembrança da harmonia do Tao e o equilíbrio entre céu e terra, a fim de manter
prosperidade na comunidade.
Um daoshi é um sacerdote taoísta que, por vezes pode ter uma vida secular e
outras são eremitas, em ascetismo.
A prática da meditação tem grande valor para os taoístas, pois é meio importante
para se desfazerem do mundo físico, material. Através dela, a pessoa compenetrada,
absorta em um estado de serenidade entra em processo de evolução na vida (ELIADE,
1993, p. 224).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

O tai chi chuan é uma prática milenar que nasceu na China como arte marcial, mas
atualmente é mais conhecida como forma de meditação e de atividade física. É
comum encontrar pessoas fazendo movimentos lentos, harmoniosos e circulares
em parques e praças pelas manhãs. De acordo com os ensinamentos do tai chi, os
exercícios permitem que o qi(pronuncia-se “chi”), uma força de energia que vem de
dentro, flua por todo o corpo, proporcionando bem-estar físico e psíquico. Estudos
recentes mostram que a técnica promove grandes melhoras para o corpo e para a
mente.

Festividades
As festividades do taísmo são realizadas em vários momentos durante o ano, pois
incorporam a compreensão de que o cosmo está em constante renovação. A maioria
acontecem na estação do inverno e, algumas estão relacionadas diretamente aos
deuses.
Exemplos de grandes festividades são: Ano Novo Chinês, Festival do barco do
Dragão, Festival do Fantasma, O Festival das Lanternas e o Festival do meio do Outono
(GAARDER, 2000, p. 88).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE


Carnaval ou carnatao? Durante os dias de carnaval do calendário de festas
populares brasileiras, um grupo de seguidores do Taoísmo, liderados pelo
professor Eduardo Alexander estruturou o CarnaTao. Um retiro de estudos,
leituras contextualizadas e práticas saudáveis inspirados nas práticas do
Tao como alternativa à vida agitada atual. Acesse: https://jornaltribuna.com.
br/2022/02/271411-taoismo-e-carnaval-se-encontram-em-evento-promovido-por-
instituto/

ISTO ESTÁ NA REDE

O futuro sacerdote André Lacroce fala das práticas milenares do Taoísmo. Já o


líder taoísta Wagner Canalonga disserta sobre os três grandes pilares da tradição:
“o pensamento filosófico, as artes da sabedoria e a visão religiosa.” Praticantes
explicam como as práticas taoístas os levaram a compreender melhor o mundo e
descobrir a importância da amorosidade, da simplicidade e da humildade para suas
vidas. https://www.youtube.com/watch?v=4KoQ3Slg2e4

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 11
XINTOÍSMO

Introdução

No Japão, a antiga religião nacional é o xintoísmo. Por volta do ano 500 d. C,


o Xintoísmo passou a competir com o budismo, e as duas religiões acabaram por
influenciar-se mutuamente. Xintoísmo é na verdade, um conjunto de crenças e costumes
que tardiamente recebeu o nome de “xinto” para haver diferenciação das religiões
chinesas Budismo e Confucionismo. A religião expõe como teria surgido o mundo, o
Japão e a família imperial japonesa. (ELIADE, 1993, p. 237).
O Budismo chegou ao Japão por volta do século VI, vindo da Coreia e da China. A
partir disso, as tradições xintoístas absorveram elementos budistas, especialmente
após 1638 quando, para combater o Cristianismo, Budismo e Xintoísmo uniram-se.
Nessa ocasião, famílias japonesas foram obrigadas a registrarem-se em templos
budistas, que também eram as escolas e centros de administração e registros
públicos. Com o tempo, passaram a exercer as duas religiões com altares de ambas
as expressões em casa. Apesar de existirem conflitos entre as religiões, o Xintoísmo
coexistiu muito bem com o Budismo, pois era considerada como um aspecto da vida
japonesa em oposição a uma religião concorrente.
O Xintoísmo foi a religião oficial do Japão entre 1868 e 1946, mas era considerado
uma religião a partir do período Meiji, quando o Estado subsidiou templos e locais de
culto. O imperador japonês gozou muito tempo de status de deus, tendo encerrado
esta ideia após o término da Segunda Guerra Mundial.

1.1 Xintoísmo- o caminho dos kamis

A denominação Xintoísmo foi adotada no século VI e a provável origem é chinesa:


shen=divino e tao= caminho. Xinto é o “caminho dos Kamis” (dos deuses). Não se
sabe exatamente o início da crença xintoísta, sabe-se porém que não iniciou como
uma religião institucionalizada, mas um conjunto de rituais e narrativas sagradas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Alguns estudiosos denominam o Xintoísmo como uma filosofia de vida japonesa.


E não uma religião propriamente dita, pois faltam leis e mandamentos explícitos,
profetas ou um livro sagrado. Apesar de não possuir um livro sagrado, no sentido da
Bíblia, mas possui textos antigos, os shinten.

Escritos
O mais antigo registro histórico e mitológico, com as histórias dos deuses, e da
cultura do Japão, o livro conhecido como Kojiki (história das coisas antigas) tem
autoria atribuída a Onu-Yasumaro, por ordem da imperatriz Gemmei, data de 712 e
trata desde o “início do mundo até o ano de 628. Aparentemente as crenças base
xintoístas estão localizadas na era Neolítica, no período Jamon (8000 a.C.- 300 a.C.)
conforme arqueólogos (ELIADE, 1993, p. 237).
As orações, crenças e rituais foram transmitidas de forma oral até cerca do século
VIII d. C. Quando foram compilados em três escritos Kojiki, citado acima, o Nihongi-
crônicas do Japão 720 d. C. , e Yengishiki-hinos e preces, concluído no século X.

O que é a humanidade?
O ser humano é descendente dos deuses, de princípio puro e bom como os ancestrais
divinos. O valor decorre da pureza, a pessoa só encontrará a verdadeira iluminação
em seu estado puro.
A vida na impureza conduz ao sofrimento, gera manchas que atraem espíritos
malignos e desperta a ira dos deuses. Quando uma pessoa pratica algum ato ruim,
é dito que foi influenciada pelo Yomi, a essência negativa do universo, por meio de
entidades maléficas, espíritos que habitam o mundo inferior (NATILI, 1999).
A ideia maniqueísta expressa na separação de bem e mal e do combate das forças
do bem para subjugar o mal é estranha na fé xintoísta, pois o bem e o mal estão
presentes em todos os seres e são deflagrados conforme o caso, a necessidade
(KANEOYA, 2008).

Pecado
A noção de pecado como a conhecemos em religiões abraâmicas é desconhecida no
Xintoísmo. Algo parecido é algo como uma impureza temporária, prega-se a harmonia
com a natureza e a purificação do corpo e da alma e o encaminhamento à luz. Caso
o indivíduo permaneça na prática do mal e não praticando a purificação, certamente

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

receberão castigos dos kami. Para esses também um possível destino é a fusão ao
Yomi, e, mesmo ali, não existe a noção de castigo eterno, sempre há caminhos ao
perdão e redenção (NATILI, 1999).
Muitas atividades cotidianas, mesmo aquelas de utilidade, trazem acopladas
impurezas, especialmente se houver sangue, como o abate de animais, parto e a
menstruação. Todas essas situações exigem repetidos rituais de purificação.
Os três principais “pecados”, impurezas são as sociais (wazanai), as desgraças que
ocorrem sem responsabilidade direta da pessoa, mas que precisam ser “lavados”, os que
advém das funções (Kegari) que atuam em relação a cadáveres e sangue e pequenas
falhas e imprudências diárias e os Tsumi, as crueldades praticadas voluntariamente.

Tudo está interligado


Possui características animista e politeísta, todas as coisas que compõem o Universo
são divinas e estão intimamente interligadas.
Uma vez que tudo surgiu das mãos dos kami, natureza e pessoas, tudo está
interligado pela mesma origem ancestral e, logo, são irmãos. A natureza é sagrada e
precisa ser preservada.

ANOTE ISSO

O Xintoísmo é a religião do respeito, seus ensinamentos e práticas aproximam o ser


humano com a natureza e em tudo busca valorizar e preservar a vida. A filosofia
xintoísta define a importância do equilíbrio entre o ser humano e a natureza, pois
esta é a condutora da humanidade. Nessa relação é imprescindível a purificação
do corpo e da alma.

Deuses-Kami
Os kami são seres divinos, forças da natureza ou espírito dos ancestrais. De acordo
com ensinamentos antigos, tudo o que era extraordinário era chamado de kami. Eles
podem ser espíritos de guerreiros, grandes poetas, líderes, ancestrais de clãs. Por
essa razão, o número de kami é infinito e, muitos, foram cooptados de religiões como
Taoísmo e Budismo.
No escrito Kojiki, os primeiros kami surgiram nos mais elevados níveis do céu
e estes. Após estes, desce do céu um casal divino, Izanagi (Varão que convida) e

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Izanami (Varoa que convida), são os deuses que deram início ao processo da criação
e organização da terra. Eles criaram as ilhas japonesas e ao contraírem matrimônio
criaram o restante do mundo e outros kamis, os rios, mares, árvores, ervas, etc.
A última gestação de Izanami ceifou-lhe a vida ao dar à luz ao deus do fogo, o Kagu
Tsuchi. Furioso e decepcionado, Izanagui mata o filho e desmembra seu corpo em
cinco partes, de onde surgem os cinco kamis da montanha (KANEOYA, 2012, p. 4).
Os deuses regem partes específicas da montanha, que vão desde o pé até o topo.
Vulcões e montanhas são espaços sacros que são reverenciados com muito cuidado
e respeito.
Quase todas as montanhas japonesas são sagradas, pois são as moradas de kami,
e, por isso, existem muitos templos construídos no alto das montanhas. A colina mais
sagrada é o Fuju-yama, morada da deusa do sol nascente Sengen-Sama.
Sengen-Sama é venerada por xintoístas em todo território nipônico que, anualmente,
realizam peregrinações no Monte Fuji. Sua romaria inicia antes do alvorecer e lá
aguardam a aurora.

Monte Fuji

A montanha mais elevada do Japão é o monte Fuji, o Fuji-Yama. Sua altitude é de


3.776 metros. É um vulcão, considerado ativo, mas que teve a última erupção em 1707.
Situado na ilha de Honshu, próximo à costa do Pacífico está distante 100 quilômetros

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

a oeste de Tóquio, a capital do Japão. Em 2013, o monte Fuji foi designado Patrimônio
da Humanidade pela UNESCO.
Os principais e mais populares Kami entre os xintoístas são:
Amaterasu - A kami suprema, a deusa do Sol que governa céu e terra. Crêem que
ensinou o cultivo do arroz e a deusa que instituiu a linhagem real do Japão ao colocar
seu neto Ninigi para governar o país.
Inari - O kami das raposas, representando a fertilidade e prosperidade na lavoura.
Nos locais de culto é comum imagens de pedra em forma de raposa.
Hachiman - O patrono dos guerreiros.

Amaterasu Inari

Hachiman

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Ainda, destaca-se, a categoria dos Shichi Fukujin, os sete deuses da sorte,


prosperidade e boa fortuna no Japão. Contudo, desses sete, apenas Ebisu é de origem
japonesa, os demais vêm de outras culturas asiáticas. Cada um deles simboliza uma
virtude: Honestidade, Fortuna, Dignidade. Amabilidade, Longevidade, Felicidade e
Sabedoria:

Hotei Osho, deus da felicidade, economia e abundância, “Budha que ri”;


Daikokuten, deus da riqueza e prosperidade;
Fukurokuju, deus da felicidade, sabedoria, longevidade e fertilidade;
Juroujin deus da longevidade e sabedoria;
Bishamon, um deus da guerra, possivelmente com origem hindu;
Ebisu é o deus do trabalho, protetor dos pescadores e comércio;
Benzaiten é a deusa das artes e do conhecimento.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 148


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE


O Xintoísmo chegou ao Brasil através dos imigrantes japoneses. O culto ao
imperador como uma divindade na terra permaneceu nas terras tupiniquins por
uma período maior do que no Japão. As razões para isto, lemos na matéria da BBC
Brasil intitulada “A época em que o imperador japonês era mais venerado no Brasil
do que no Japão” de João Fellet. Acesse: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
50104588#:~:text=O%20xinto%C3%ADsmo%20de%20estado%20chegou,um%20
senso%20de%20origem%20comum .

Santuários e rituais

O xintoísmo destaca-se pelo culto à natureza e aos espíritos ancestrais. Eles são
reverenciados por meio de oferendas e orações realizadas em altares por todo Japão.

O templo- morada dos Kami

Em alguns idiomas ou religiões existem poucos sinônimos para a palavra “templo”,


contudo no idioma nipônico, os templos do Xintoísmo pode ter diversas nomenclaturas
como gongen, gu, jinja, mori, myojin, jingu, sha, taisha, ubusuna e yashiro.
Os templos xintoístas, que podem ter alcance local, regional ou nacional, geralmente
estão cercados pela natureza e possuem diversos portais sem portas, os Tori (ou as
variações Torri e Torii), além de dispor de pontes que atravessam cursos d’água e lagos.
Assim como as montanhas, os templos são moradas dos kami, o espaço reservado para
o louvor, onde acontece o culto com suas liturgias e fórmulas que devem ser executadas
de forma correta.
A estrutura física da edificação normalmente é composta por uma sala destinada a
orações, uma sala reservada às oferendas e outra ante-sala indicada ao repositório dos
objetos sagrados que simbolizam o kami.
No santuário interno do templo há um espaço em que está guardado um objeto que
simboliza a proximidade do kami. É esse símbolo que torna o templo um lugar sagrado.
Os três símbolos mais importantes são: um espelho, uma jóia ornamental e uma espada.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 149


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O sacerdócio

Originalmente, na antiguidade, as cerimônias eram realizadas pelo chefe da família ou


do clã, e pensando de maneira hierárquica, por um príncipe ou pelo próprio imperador.
No decorrer do tempo, houve a especialização de pessoas dedicadas ao sacerdócio,
muitas vezes como um exercício hereditário.
Esse sacerdócio familiar foi extinto por ocasião da elevação do Xintoísmo à
categoria de religião oficial do Estado e o imperador fez os sacerdotes funcionários
públicos(GAARDER, 1999, p. 91).
A formação teológica para a preparação de sacerdotes xintoístas acontece no
Instituto de Pesquisa da Corte Imperial foi fundado como uma instituição para pesquisa
clássica e treinamento do sacerdócio como parte da política xintoísta do governo Meiji,
na Universidade Kokugakuin. Os deveres do sacerdote são o ofício das cerimônias
diárias e das grandes festividades religiosas (GAARDER, 1999, p. 92).
Atualmente os ministros religiosos são escolhidos pela administração do templo
e podem exercer o ministério de forma parcial ou dedicação exclusiva. Muitos têm
uma atividade secular e contraem matrimônio.
O sacerdócio feminino faz parte da realidade xintoísta desde a Segunda Guerra
Mundial, havendo um crescimento constante com várias mulheres na direção dos
templos. A maioria não exerce celibato, mas elas podem se tornarem mikos. Uma
miko é uma moça que adota castidade e uma vida monástica, executando funções
de auxílio aos sacerdotes nos rituais e realizam danças sagradas (NATILI, 1999).

Culto

O culto ou rituais dirigidos aos kami compõem-se de recitação de orações e fórmulas


muito antigas e visam buscar bênçãos, favor, paz para o indivíduo e sociedade, são
realizadas pensando nas bênçãos a receber como efeito de promessa (parecido com
a fé católica), bem como exercício de gratidão e vivência de piedade.
As celebrações podem ser simples, praticadas em casa ou elaboradas cerimônias
com a praxe de grandes festas anuais dos templos. Quatro elementos culturais
destacam-se na devoção xintoísta: purificação, oferendas, preces e festa sagrada/
refeição sagrada.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 150


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Purificação
É pressuposta a purificação diante de qualquer momento cultual. Ela pode ser a
lavagem da boca e das mãos ou pontas dos dedos (o Harae), e quando os fiéis estão
nos templos os sacerdotes movimentam um cajado especial perante pessoas ou
objetos que querem purificar. Na extremidade do cajado estão postas fitas de papel
ou fios de linho, que o tornam semelhante a uma vassoura (GAARDER, 1999, p. 92).
A principal razão de realizar a purificação é eliminar qualquer coisa que seja má ou
injusta e que possa atrapalhar ou impedir a relação com os kamis. A ideia de impureza
está conectada à doença e à morte e tudo que é carnal.

Sacrifício

Os xintoístas acreditam que a não realização das oferendas sacrificiais prescritas,


a pessoa se afasta e perde a relação com os kamis e pode atrair fatalidades de várias
espécies.
A dádiva pode ser em dinheiro, arroz, frutas, peixes, flores, tecidos, fitas de papel, sal
ou saquê. Dentre as ofertas podemos destacar o O-mikuji, tiras de papel com pedidos
aos deuses, a Ema uma espécie de pintura especialmente com motivos que figuram
cavalos, considerados mensageiros do divino e o O-Fuda amuletos ideográficos com
os nomes dos kami regentes do local.
Fazem parte da doutrina sacrificial as artes como dança, música e teatro e esportes
tiro ao alvo com arco e flecha. Destaque é uma dança cerimonial chamada Kagura
que originalmente realizava-se no palácio imperial dedicado a Amaterasu.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 151


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Exemplos de O-mikuji

Ema O-Fuda

Oração
As preces são expressão de louvor, a exteriorização de piedade do fiel dedicadas aos
kami, evocação das origens do xintoísmo, além de demonstração de sentimentos de
gratidão por sua graça na condução de sua vida. A oração pode ser uma introdução
à prática do sacrifício, com a declaração do nome da pessoa e a realização de um
pedido pessoal.

Refeição sagrada
Quando o culto no templo chega ao seu final, há um Naorai, isto é, a partilha de
uma refeição com os kamis. Nesse momento, o sacerdote distribui a cada presente
uma pequena quantidade de vinho de arroz.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 152


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O culto doméstico

Na maioria dos lares xintoístas há um altar (o kamidana), nele estão postos símbolos
e uma vasilha com ramos de sakaki (uma árvore considerada sagrada que representa
prosperidade). Oferendas de água e arroz são realizadas e diversos movimentos e
posições de oração fazem parte do momento. Ao final, todas as oferendas são
recolhidas e consumidas.

ANOTE ISSO

Uma característica interessante das terras nipônicas é que as pessoas demonstram


uma certa mobilidade entre as religiões, algo como uma múltipla pertença, pois há
variação no uso das celebrações e rituais conforme o interesse pessoal. Exemplo:
Casamento cristão, momentos de contemplação no templo xintoísta e atos
fúnebres budistas.

Ritos da vida
Os xintoístas possuem tradições para diversos momentos da vida e em família,
desde o nascimento e até a morte. De forma resumida vemos a seguir este ritos.

Nascimento
A criança que nasce em família xinto é levada ao templo entre 30 e 100 dias de
idade, esse momento é o Hatsumiyamari, um momento de celebração de entrada de
um novo membro à comunidade.

Infância
Costumeiramente o mês de novembro é o momento da festa chamada Shichi-go-
san ( ou seja 7-5-3) em que meninos de cinco anos e meninas de três e sete anos vão
até o santuário para agradecer a proteção dos kami e pedir crescimento feliz.

Juventude
O Dia dos adultos, Seijinshiki, é o rito de passagem que reconhece uma pessoa
jovem como adulta, ocorre em janeiro. Atualmente é a celebração da chegada dos
jovens aos 20 anos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 153


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Casamento
O casamento xintoísta, o Shin- Zen kekkonshiki tem suas cerimônias baseadas em
antigas tradições, mas também nos últimos anos passou por influências ocidentais.
Os casamentos possuem dois formatos: o Omiai Kekkon (casamentos arranjados
por famílias ou agências) e o Ren’ai kekkon (casamento por amor) que teve sua
incidência aumentada após a Segunda Guerra.
Na data do ritual de casamento, o casal dirigem-se para o santuário juntamente com
a família e amigos acompanhados de flautas e tambores. A cerimônia tem momentos
de purificação, momentos simbólicos de união, troca de alianças e bênção do sacerdote
e duas Miko.

ISTO ESTÁ NA REDE

Os casamentos tradicionais conforme o Xintoísmo são centrados em tradições


relativas às vestimentas, presentes, confraternização e cercados de superstições
para manter o casal unido. Costumam ser realizados na primavera e outono, sendo
novembro o mês de preferência por ser o mês “11”, um número afortunado em
terras nipônicas. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=f82apCliS5E

Morte e Rituais fúnebres

Para o xintoísmo nós nascemos com duas almas: uma vem da terra (haku), a
porção material, a outra vem do céu (kon), a origem divina.
Ao morrermos, kon retorna ao céu, já haku é julgada pelos seus feitos e pode ter
vários destinos:
• Servir no inferno, expiando as faltas cometidas. Pagas as dívidas, ou renasce
ou vira demônio.
• Recompensada pelo bem praticado, tornando-se um espírito guardião de lugares,
servir aos deuses ou amparar descendentes
• Poucos tornam-se deuses. Ou vão para o céu ou são designados a realizar
tarefas na Terra.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 154


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Esses destinos a alma recebe caso tenha recebido os rituais corretamente. Aqueles
que não receberam os rituais, retornam à Terra como fantasmas e assombram o
mundo mortal(KANEOYA, 2008).
No idioma japonês os ritos funerários são chamados Osoushiki. Os rituais tradicionais
são complexos, com um período de velório e despedida em casa e procissões. A
cremação é a regra e, normalmente, os rituais são oficiados por monges budistas.
Após receberem as cinzas, a família depositará na urna no Butsudan (altar doméstico
budista) até transladar a um túmulo familiar num cemitério.
No Budismo após o falecimento a pessoa deixa de ter o nome que usava em vida
e recebe um nome póstumo, pelo qual passará a ser chamada no outro mundo.
Esse nome é escrito num Ihai, uma espécie de lápide, uma plaqueta de madeira que
simboliza a alma do finado.
Quando a urna cinerária for definitivamente para o jazigo, o ihai e uma foto da
pessoa permanecem no butsudan. Diariamente no início do dia, os familiares devem
orar pelos seus ancestrais diante do butsudan (SATO, 2015).

Festividades

Cada templo xinto promove diversas festividades anualmente. Os principais são:


• Festival da Primavera (Haru Matsuri);
• Festival do Outono (Aki Matsuri);
• Procissão Divina (Shinkō-sai) em que coincide com o dia do Festival Anual. Nesse
evento, santuários construídos em tamanho menor (Mikoshi), são levados nos
ombros das pessoas em procissão.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 155


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Símbolo
Tori ou Torii, em japonês é traduzido como “morada dos pássaros”, pois ali, os
pássaros descansam. Costuma ser feito madeira e pintados de vermelho, não têm
portas, pois é uma abertura para um estado divino, a passagem do profano para o
sagrado. A partir dessa compreensão, é uma edificação posta à entrada dos templos
do Xintoísmo.
A estrutura do Tori é composta de duas colunas (simbolizando os alicerces que
sustentam o céu) que suportam duas vigas (representando a terra).

Tori- principal símbolo

ISTO ESTÁ NA REDE

A mitologia japonesa, a partir das diversas divindades e narrativas sagradas


se fazem presente na cultura pop através de mangás histórias em quadrinhos
japonesa e animes (mangás feitos para televisão, games e cinema). Exemplo disso
acontece no famoso anime Naruto em que em diversos momentos há referências
explícitas aos Kami. No vídeo a seguir podemos encontrar as referências xintoístas
em Naruto e em mais quatro diferentes animes. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=_bRNrmbW0v4

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 156


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 12
NOVOS MOVIMENTOS
RELIGIOSOS

Introdução

Muitos estudiosos localizam os meados do século XIX como o período em que


principiam o surgimento dos Novos Movimentos Religiosos (NMR). Nesse período,
algumas expressões religiosas, eram marcadas pelo espiritualismo e esoterismo que
estavam em voga na Europa e América do Norte, ao mesmo tempo que movimentos
religiosos independentes, com acento no reavivamento espiritual, dão origem a Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon), a Igreja Aventista e as
Testemunhas de Jeová.
Os NMV tiveram uma expansão significativa em diversos países a partir dos anos
1950 e 1960 com a revolução da juventude, através do movimento de contracultura,
em que a mudança de paradigmas sociais e culturais facilitou a abertura para a
gênese de novos grupos religiosos e incentivou o conhecimento do esoterismo. Esse
contexto tornou propícia a fundação da Cientologia e do Movimento Hare Krishna,
nos Estados Unidos. A seguir, de forma breve, os principais aspectos dos NMR serão
apresentados a fim de termos uma ideia básica de seu alcance ou formação.

12.1 Novos Movimentos Religiosos

Por que chamar o fenômeno religioso e social de NMR? Quanto à nomenclatura,


esta é tão variável quanto o movimento que estuda. Sociólogos da Religião denominam
de Novos Movimentos Religiosos (NMR) por entender que são releituras de grandes
religiões já existentes.
O estudioso Pierucci entende que correntes como o pentecostalismo não devem
ser englobados nesse grupo. A estes ele denomina de “movimentos de renovação
religiosa”. Em alternativa ao NMR, prefere chamar de “religiões alternativas”, a fim de
não causarem engano (PIERUCCI, 2004).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 157


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

A importância das igrejas cristãs na vida cotidiana tem decrescido nos últimos anos.
Na Europa templos tem sido vendidos para bares, lojas ou outros estabelecimentos
comerciais. Uma relevante análise é apresentada através da matéria “Avanço do
secularismo é apontado como uma das causas do enfraquecimento da Igreja
Católica” de Itamar Melo, na coluna “Comportamento” do site GZH do grupo de
comunicação RBS. Acesse: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/
noticia/2016/04/avanco-do-secularismo-e-apontado-como-uma-das-causas-do-
enfraquecimento-da-igreja-catolica-5762633.html

Quais as razões para surgirem NMR? A princípio não é algo fácil de responder, e
não parece existir uma única resposta, pois são muitas variáveis que desembocam
neste fenômeno.
Uma possibilidade é o processo de secularização. A secularização, de acordo com
pensadores como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, foi um processo que
desenrolou-se a partir do desenvolvimento científico em diversas áreas o que minguou
gradativamente o controle social das religiões.
O crescente uso da razão para dar sentido ao mundo proporcionalmente desencadeou
a diminuição da relevância religiosa. Esse efeito é denominado por Max Weber de
“processo de desencantamento do mundo”.
Já Durkheim entendia a religião como fato social, logo é impossível o seu final,
isto é, mesmo que a pessoa afaste-se de instituições, revolte-se contra as religiões
oficiais, a ideia do sagrado sempre existirá. Na compreensão de Mariz, para Durkheim:

Toda sociedade, por mais secular e individualista que pareça,


necessitará de um conjunto de crenças e valores que integre os
indivíduos, que desempenhe, assim, o papel de uma religião, que
seja funcionalmente uma religião. Concluindo, para esse autor, haverá
sempre a ideia de um sagrado integrador para que haja vida social.
(MARIZ, 2001, p. 115)

É possível localizar duas tendências que desenvolvem-se nos NMR: Uma cristã,
através do pentecostalismo e outra do movimento Nova Era. O primeiro rompe com
as coisas seculares, a ordem estabelecida, o “status quo” e “rejeitam o mundo”, já o
segundo leva a uma jornada de evolução no desenvolvimento e encontro do “verdadeiro
eu”(STEIL, 2007).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 158


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

O processo de secularização iniciado, principalmente no século XIX, levou a um


declínio da influência da religião institucionalizada, especialmente cristã, na vida
cotidiana, na moral e nas demais pautas de costumes cotidianos. A partir da
secularização a sociedade torna-se irreligiosa nas estruturas, nas ciências e nas
artes, mas as religiões não deixaram de influenciar a vida das pessoas, algo no
sentido levantado por Carlos Steil, “uma sociedade ateia composta e governada
por uma maioria de crentes”(STEIL, 2007).

Dentro do Cristianismo, a partir da segunda metade do século XIX, houve uma grande
multiplicação de congregações e igrejas, e esse fenômeno estendeu-se durante o século
XX e permanece no XXI. Uma primeira situação que sobressai no âmbito das igrejas
pentecostais é sua alta tendência à divisões em outras igrejas. Uma possibilidade é a
livre interpretação da Bíblia e da facilidade de enxergar no cotidiano sinais da ação e até
dos milagres de Deus na vida do crente.
Diante de discordâncias doutrinais e interpretações bíblicas, surgem grupos que buscam
por mudanças e, num primeiro momento, tentam convencer o grupo original a mudar
paradigmas. Quando as diferenças não se resolvem, ao não ocorrerem mudanças, ocorre
o rompimento, a separação e o surgimento de novas igrejas.
Já o movimento esotérico denominado Nova Era é descentralizado, multifacetado, com
elementos místicos de diferentes tradições e períodos históricos, buscando a felicidade e
evolução individual. Portanto, representam esse movimento, diversos grupos sincréticos.
Em grupos sincréticos possivelmente é a insatisfação com as grandes religiões que leva
a uma ressignificação destas. As Ciências da Religião entendem que os NMR trouxeram
o “reencantamento” do mundo (CAMPOS, 2003, p. 36) ao oferecerem a abertura para
questionamentos e, como fenômeno social, é uma reação à modernidade, ofertando
soluções alternativas e contextualizadas, em oposição às respostas religiosas antigas e
engessadas (BRUSTOLIN, 2016).
A partir dessas perspectivas, a secularização “quebrou” a hegemonia religiosa judaico-
cristã, especialmente no ocidente, e abriu espaço para novas piedades e místicas. O papel

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 159


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

exercido pela religião é transmutado, pois não é mais o alicerce das estruturas e passa
ser escolha pessoal em detrimento às religiosidades antes herdadas pela família.

ISTO ESTÁ NA REDE

Somos todos bons? O mundo é bom? Eu crio a minha realidade? Eu sou um


vencedor? Frases nesse sentido são lidas e ouvidas em muitos contextos na
tentativa de alargar sucesso como resultado de autoconhecimento que revela ama
face do potencial que está em todos. O fenômeno religioso no Brasil é diverso e é
“efervescente” como nunca e, proporcionalmente, há um aumento na criminalidade.
Na revista eletrônica “Diálogo- Religião e Cultura” da Paulinas Editora o artigo “As
novas religiões e a busca da inocência”, do professor universitário Antônio Flávio
Pierucci analisa variados aspectos de novas expressões religiosas e suas influências
no contexto brasileiro. Acesse:
https://www.paulinas.org.br/dialogo/pt-br/?system=paginas&action=read&id=8291

12.1.1 Características comuns dos Novos Movimentos Religiosos

É difícil classificar os Novos Movimentos Religiosos, pela complexidade de elementos


que se entrelaçam como uma espécie de rizoma. Como dito acima, é possível identificar
alguns de base cristã, com acento pentecostal, e outros com bases não cristãs, com
acento em religiosidades orientais, correntes gnósticas, ocultistas e do esoterismo.
Várias tendências nos NMR coadunam com aspectos do esoterismo, que é um
termo tão abrangente quanto é a religião. O esoterismo é permeado por astrologia, o
espiritismo, a ufologia, várias formas de magia e teosofia.

Astrologia
A astrologia é a crença de que existe uma consequência na existência humana
individual a partir da posição dos astros no momento do nascimento. Para determinar
essas influências, é preciso realizar o estudo do mapa astral.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 160


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Ufologia
Parte do esoterismo é a convicção na existência de inteligência em outros
sistemas solares. Acreditam que a Terra é constantemente visitada por esses “seres
extraterrestres”, através de seus OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados, em inglês,
a é UFOs, Unidentified Flying Objects). Somente essas visitas dão sentido a diversos
mistérios da humanidade.
Há uma imensidão de relatos de encontros presenciais com essas criaturas, contudo,
alguns relatam que o contato se deu em sessões espíritas. Nos Estados Unidos, chega
a ter caráter religioso e já são registradas igrejas dedicadas aos extraterrestres em
diversas partes do mundo.

Espiritismo
Pela influência que o Espiritismo exerce sobre outros ramos dos novos movimentos,
cabe destacar e desdobrar um pouco acerca dessa doutrina, suas origens e
desdobramentos.
O Espiritismo manifesta a fé num mundo espiritual e na possibilidade de os
“encarnados” (vivos) comunicam-se com os espíritos “desencarnados”(mortos). Em
sessões específicas a este fim, os chamados médiuns são influenciados a transmitir
mensagens de um determinado espírito. Isso também pode ser feito por meio da
chamada “psicografia”, em que um espírito controla a escrita do médium e dessa
forma se comunica. Podemos destacar duas figuras que representam aspectos dessa
corrente: Alan Kardec e Helena Blavatsky.

ISSO ESTÁ NA REDE

Relatos recentes de experiências de quase morte EQM, em que pessoas


testemunham que passaram por desdobramento de corpo e alma, e, após o evento,
houve mudança de posturas de vida ou desenvolvimento de dons espirituais que
são utilizados como argumentos favoráveis aos ensinamentos espíritas. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=M28e3tJcZlI

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 161


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A partir de Hippolyte Léon Denizard Rivail, pedagogo francês também conhecido


pelo pseudônimo de Allan Kardec (1804 – 1869), desenvolve-se uma categorização
e codificação do Espiritismo (conhecido também como Kardecismo ou Espiritismo
Kardecista). Essa codificação deu-se a partir de cinco livros publicados por Kardec entre
os anos de 1857 e 1868. As obras são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O
Evangelho segundo o Espiritismo, O céu e o Inferno e A Gênese. A princípio ele adotou
um pseudônimo com o nome de uma encarnação passada, para que suas obras
publicadas no âmbito da educação não fossem confundidas com a filosofia espírita.

O Espiritismo, a partir de Kardec, entende-se como doutrina religiosa de cunho


filosófico e científico, e sua crença gira em torno da inexistência da morte. O corpo
morre, o espírito se desliga e fica no mundo espiritual estudando, aperfeiçoando-se e
se preparando para uma nova encarnação e seguir sua evolução.
Consta que a primeira sessão espírita nas terras tupiniquins ocorreu em 17 de
setembro de 1865, em Salvador, liderada por um jornalista, Luís Olímpio Teles de
Menezes. Atualmente o Brasil é tido como o país com maior número de seguidores
de Kardec.

Passe durante sessão espírita

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 162


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ISTO ESTÁ NA REDE

O programa “Retratos de Fé” dirige-se até Palmelo, em Goiás, aclamada como a


“capital” espírita brasileira com o propósito de conhecer seus trabalhos que atuam
em favor do desenvolvimento na doutrina. No mesmo episódio, praticantes do
espiritismo de diversas regiões do Brasil compartilham suas experiências e os
trabalhos de cunho social exercidos pelos centros espíritas em suas localidades.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=PIUa5ss1bfs

Desde o início da presença espírita no Brasil, foi característica a prática terapêutica


dos “passes” para trazer curas para males da saúde física e espiritual. O passe é
uma imposição de mãos, dado individualmente por um médium em durante a sessão
espírita. Afasta influências maléficas e transmitem energia espiritual positiva ao receptor
(GAARDER, 2000, p. 315). Outros preceitos espíritas amplamente divulgados:
-Existência e unicidade de Deus, rejeitando o dogma da Santíssima Trindade
(Conforme está na primeira questão de “O Livro dos Espíritos” - “Deus é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas”);
-O universo é criação de Deus, incluindo todos os seres racionais e irracionais,
animados e inanimados, materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados
a lei de evolução;
• Ênfase em atos de caridade e serviço social, pois “Fora da caridade não há
salvação”;
• Volta do espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, para
se atingir o aperfeiçoamento almejado;
• Lei de causa e efeito. Um sistema de retribuição universal a todos os espíritos,
no entendimento “Quem planta colhe”;
• Multiplicidade de mundos materiais e espirituais habitados Exemplo: Umbral,
Cidade e Colônias espirituais e os Planos espirituais entendidos como superiores;
• Jesus, criado por Deus, é um mestre para guiar a humanidade moral e eticamente;
• Sem liturgias, sacramentos, práticas divinatórias, bebidas, danças e sinais
materiais exteriores, sem culto ou cerimônia de casamento.
Cada casa possui suas características próprias, suas ênfases (evangelização,
desobsessão, desenvolvimento mediúnico, psicografia), casas de família ou casas
específicas. O local de encontro chama-se Centro Espírita. O principal órgão
representativo que desenvolve evangelização, diálogo, apoio a médiuns, palestras e

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 163


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

edição de literatura espírita é a Federação Espírita Brasileira (FEB), fundada em 1884.


Em 1960, o presidente Juscelino Kubitschek declarou a FEB entidade de Utilidade
Pública.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Em situações de vulnerabilidade social, em especial, pessoas em situação de rua,


muitos grupos espíritas trabalham em prol de distribuir refeições e roupas. Essa
prática está em consonância com a caridade. A prática da caridade no Espiritismo
baseia-se na atuação de Jesus que foi caridosa e humilde, expressão de amor.
Consideram a virtude fundamental para todas as demais, expressão de fé e reflexo
de Deus(GAARDER, 2000, p. 317). Com base nos dados do Censo de 2010, às
pessoas que declaram-se espíritas no Brasil não chegam a 2%. Contudo, teve
tamanha recepção no Brasil, que hoje novelas, filmes e livros psicografados fazem
grande sucesso. Personalidade de referência na divulgação espírita no Brasil foi
Chico Xavier ou Francisco Cândido Xavier (2 de abril de 1910 – 30 de junho de
2002). Ele psicografou mais de 450 livros e destacou-se pelas ações de caridade.
Para conferir alguns exemplos, acesse: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-
alegre/noticia/2019/06/saiba-como-ajudar-iniciativas-que-atendem-pessoas-em-
situacao-de-rua-cjwm3urxe00u801oi9htxln6j.html

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 164


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O contexto que abriu espaço para Kardec, igualmente foi campo fértil para a teosofia
de Blavatsky, com seus aspectos do ocultismo, doutrinas indianas do carma e da
reencarnação. Em 1875, na cidade de Nova York, a imigrante russa Helena Blavatsky
fundou a Sociedade Teosófica.
A Teosofia é um pensamento religioso e filosófico em que o verdadeiro conhecimento
vem não através da razão ou dos sentidos, mas por intermédio de uma comunhão
direta da alma com a realidade divina.
Neste contexto, enfatizam o comportamento moral do indivíduo e as práticas
ascéticas que servem para a sua purificação e neste ponto a teosofia aproxima-se
da mística. Como resultado desta tendência, a teosofia valorizou as ciências ocultas,
tais como a alquimia e a astrologia.

ISTO ESTÁ NA REDE

A sede nacional da Sociedade Teosófica, no Brasil, está localizada em Brasília.


Através de seu site oficial oferecem cursos on-line, seminários, acesso à biblioteca
e palestras, além de esclarecimentos a respeito da sociedade e a localização nos
estados. Acesse: https://www.sociedadeteosofica.org.br/

12.1.1. 1 A nova Era

O movimento da New Age, “Nova Era” é um movimento que ganhou destaque a


partir das décadas de 1970 e 1980 e espalhou-se dentro de grupos ocultistas. Uma
vez que a astrologia destaca-se no conjunto de crenças, a própria nomenclatura Nova
Era populariza-se ao disseminar-se o ensinamento astrológico de que o mundo entraria
na “Era de Aquário”.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 165


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O típico da Nova Era é o espírito que aspira à verdade religiosa, filosófica e ética, com
elementos das religiões orientais, o espiritismo, as terapias alternativas, a astrologia,
o gnosticismo e outras correntes. Contudo, há algumas crenças comuns que quase
todos os participantes da Nova Era compartilham.
Os grupos identificados como Nova Era ou New Age, não crêem na exclusividade
de um caminho para a salvação, mas em múltiplas maneiras para a iluminação. Há
uma grande ênfase no emocional, no subjetivo, tudo para elevar à paz pessoal. Grupo
que encaixam-se neste movimento são a Fraternidade Rosacruz, a Igreja da Cientologia,
a Sociedade Brasileira da Eubiose e a Sociedade Teosófica do Brasil.
A amostra de uma astrologia popular dos jornais e revistas através da publicação
de suas colunas de horóscopo, tem sido ampliada para uma roupagem de erudição,
ciência, conhecimento e elevação espiritual. Outras práticas divinatórias possíveis são o
tarô, as Runas vikings, o I Chig e a numerologia. São de diferentes origens e, captadas
pelos grupos New Age, são ressignificadas, ampliadas, mescladas ou descartadas
conforme sua aceitação junto ao público.(GUERRIERO , 2016)
Argumenta-se que a medicina alopática, tradicional deve ser complementada ou
substituída pela “homeopatia” ou “naturopatia”, com a assimilação de técnicas como
acupuntura, vibração energética, centros de energia no corpo humano (chakras), etc.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 166


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Outras crenças New Age são:


• Crença em uma energia criadora, expressa como Deus ou Deusa, conhecido por
muitos nomes, que não pune e ama incondicionalmente a sua criação. Pregam
que as religiões são iguais e, no fundo, dizem o mesmo;
• A partir do dogma bíblico de que o “homem é imagem e semelhança de Deus”,
todos os seres humanos possuem essa centelha divina, sendo também deuses.
Unidade com o todo ou Holismo, “Todos somos Um”;
• Há “mestres” invisíveis que se comunicam com pessoas que já alcançaram a
nova consciência e os instruem sobre os segredos do cosmos. Exemplo são os
Mestres ascencionados que designam um grupo de seres altamente evoluídos
após muitas encarnações e que hoje auxiliam a humanidade para a evolução.
Um desses mestres seria Confúcio.

• Reencarnação da alma como um processo de evolução e aprendizado atrelado


a um processo cármico e espiritual, fazendo da morte apenas uma transição
para outros planos;
• Todos os seres possuem uma missão, um propósito de vida que abrange
os aprendizados, acordos espirituais, desafios, dons e etapas que devem ser
realizadas ao longo da jornada individual para evolução;
• Espiritualidade e Ciência como colaborativas, harmônicas e complementares,
principalmente ao considerar e ter como base estudos e teorias advindos da
Física e Mecânica Quântica, metafísica o que permite que a força do Pensamento,
seja ele positivo ou negativo, como capaz de influenciar ou determinar os
acontecimentos.
• Crença no Sagrado Feminino e em divindades femininas anteriores às religiões
patriarcais tradicionais.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 167


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Neopaganismo

O Paganismo foi utilizado para designar práticas e crenças diferentes dos tradicionais.
Diante do Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, o paganismo é qualquer atividade
oposta.
O Neopaganismo é um fenômeno religioso que surge como retomada a antigos
cultos da natureza, especialmente após o Romantismo do século XIX, o qual resistia
ao racionalismo, o ceticismo e o cientificismo do final do século XVIII.
O neopaganismo identifica uma gama de movimentos religiosos, particularmente
aqueles influenciados pelas crenças pagãs pré-cristãs da Europa. Principais
características do neopaganismo a destacar:
• O politeísmo;
• Frequentemente, a natureza e as forças dela são consideradas protagonistas
e até mesmo divindades nessas crenças;
• Os rituais procuram ser os mesmos praticados na antiguidade, bem como o
uso de fórmulas mágicas, poções, amuletos, dentre outras práticas;
• A natureza é vista sob os olhos da fé, todos os seres vivos estão inflados do
espírito divino;
• O tempo é medido diferente, o respeito pelos ciclos da natureza é algo importante.

As principais religiões são a Wicca, e Druidismo moderno, o Reconstrucionismo


Saxão ou Ásatrú, e o Xamanismo.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Wicca é uma religião neopagã, amplamente divulgada, fundada pelo inglês Gerald
Gardner, que atualizou práticas ancestrais (chamadas de pagãs) da Grã-Bretanha.
Essa religião crê na existência do sobrenatural (como a magia) e os princípios
físicos e espirituais femininos e masculinos que atuam na natureza. Comemoram
os ciclos da vida e os “sabás”, que ocorrem oito vezes por ano. Não se sabe
oficialmente o número de wiccanos no mundo. Para conhecer um pouco desse
movimento no Brasil, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=UOemyhlqUbw

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 168


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

12.2 Novos Movimentos Religiosos do Brasil

O Brasil é terra fértil às religiões e isso já sabemos. Não é possível mensurar as


denominações cristãs presentes no território, uma vez que diariamente surgem novas
igrejas. Vários grupos chamam a atenção por sua história, número de adeptos e
influência cultural e social.
Contudo cabe ressaltar que temos o caminho cristão e o caminho não cristão. O
caminho cristão recebeu a influência dos NMR do final do século XIX dos Estados
Unidos através de missionários reavivimentistas, enquanto os grupos não-cristãos são
de origem africana e indígena, de caráter sincrético e aglutinador, com aspectos de
roupagem cristã. Por essas razões, optei por falar em Novos Movimentos Religiosos
do Brasil, pois alguns são exclusivos desta terra.

Movimento pentecostal

Conforme já estudado no capítulo 4, o Pentecostalismo é um movimento


interdenominacional, dentro do Cristianismo, com ênfase nas manifestações do Espírito
Santo. Surgiu em comunidades protestantes norte-americanas e chegou ao Brasil
através de missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg que haviam comungado
nessas comunidades.
Os missionários trouxeram a doutrina da glossolalia, Batismo do Espírito Santo, a
recepção de revelações diretas do Espírito Santo, às pessoas dedicadas ao estudo e à
oração. Além disso pregam o batismo adulto, a volta próxima de Cristo e pauta moral
de costumes com forte rigor que proíbe beber, fumar, dançar, assistir à televisão e,
sobretudo para as mulheres, proibido o corte de cabelos, o uso de calças compridas,
etc;
A evolução dos grupos Pentecostais resultou nos grupos atualmente chamados
Neopentecostais. Estes conservam emotividade, mas diferenciam-se no ensino de que
a fé do cristão determina o crescimento financeiro (Teologia da Prosperidade), usam
as mídias para evangelismo, não há ênfase em vestimentas específicas, investem
em estações de rádio e na Televisão e têm engajamento político. Além das já citadas
Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus, destacam-
se também Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Mundial do Poder de Deus e
Renascer em Cristo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 169


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Vale do amanhecer

Dentro de grupos não-cristãos, movimentos surgidos no território brasileiro,


destacam-se o Vale do Amanhecer, o Santo Daime e as religiões Afro-brasileiras. Em
verdade existem muitos outros grupos, mas não serão abordados aqui devido ao
espaço restrito.
De acordo com relatos dos seguidores do Vale do Amanhecer, extraterrestres
pousaram no planeta Terra há 32 mil anos para desenvolver a humanidade. Esses
seres retornaram à Terra através de sucessivas encarnações passando por várias
culturas e épocas como Esparta, Grécia, Roma.
Os membros do Vale, conhecidos como médiuns, usam vestes especiais (com um
possível caráter litúrgico) com cores vivas e acreditam serem eles próprios as mais
recentes encarnações do povo gigante extraterrestre “os Equitumans” ou Jaguares.
O Vale do Amanhecer foi fundado por Neiva Chaves Zelaya, conhecida como Tia
Neiva, em 1959, em Planaltina, Distrito Federal. Seu guia espiritual, orientador da obra
espiritual foi Pai Seta Branca (Padre Flecha Branca), um espírito que teria sido Francisco
de Assis em uma de suas encarnações. A imagem e características apresentadas de
Seta Branca mescla várias figuras indígenas americanas.
Tia Neiva, ficou viúva muito jovem e com quatro filhos. Foi uma das primeiras
mulheres a exercer a profissão de motorista de caminhão. Era católica apostólica
romana convicta, até que, aos 33 anos, teve sua mediunidade de caráter clarividente e
sob as orientações de Seta Branca ela iniciou os trabalhos espirituais que culminaram
no Vale do Amanhecer.

Tia Neiva Pai Seta Branca

Os médiuns do Vale do Amanhecer realizam rituais de curas espirituais chamadas


“trabalhos”. O culto tem caráter iniciático e há estudos para o desenvolvimento do

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 170


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

médium. Trabalham em pares, em que um incorpora e o outro médium doutrina os


espíritos desencarnados auxiliando-os a retomar o caminho espiritual. O médium
acreditam terem sido guerreiros de antigas civilizações e por isso possuem grande
carga cármica, o trabalho de cura que exercem reduz suas dívidas.

ISTO ESTÁ NA REDE

Através do registro documental do programa “Retratos de fé”, da TV Cultura,


temos acesso a depoimentos de membros do movimento Vale do Amanhecer em
Planaltina, bem como seguidores que vivem em outras partes do Brasil. Doutrina e
local foram idealizados por “Tia Neiva” a partir de 1959. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=6x7h2XJyFyo

Santo Daime

O Santo Daime é uma doutrina espiritual fundada na década de 1930, em Brasiléia


(AC), pelo seringueiro neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Chamado pelos adeptos
de Mestre Irineu, ele teve seu primeiro contato com a ayahuasca no território da
Amazônia boliviana. A palavra “ayahuasca” tem origem indígena e pode ser traduzida
como “vinho dos mortos”.
Ao beber o chá, Irineu teve a “miração” (visão) de uma mulher, que se apresentou
como a “Rainha Universal” e pediu que vagasse pela floresta por 8 dias. Findando o
oitavo dia, a referida mulher identificou-se como sendo a Virgem Maria (por isso, Nossa
Senhora da Conceição é considerada a padroeira do Santo Daime). Ela o instruiu, como
uma missão de vida, a divulgar a palavra de Deus por meio da Ayahuasca.
O chá (que é infusão de duas plantas amazônicas: o cipó-jagube e o arbusto-
chacrona) ganhou então o nome de “Daime” por conta do verbo “dar”. Os hinos e
canções entoados nos cultos do Santo Daime costumam repetir expressões como
“Dai-me cura”, “Dai-me amor” e “Dai-me fé”.
De acordo com as descrições do próprio grupo, contidas em seu site na internet,
a doutrina do Santo Daime

“foi revelada uma doutrina de cunho cristão e eclético, reunindo


tradições católicas, espíritas, esotéricas, caboclas e indígenas em
torno do uso ritual do milenar chá conhecido pelos povos incas como
ayahuasca (vinho das almas) e por ele denominado Santo Daime”.
(https://www.santodaime.org/ Acesso em 25 de jan de 2022)

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 171


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Mestre Irineu

Como a própria origem e declaração do grupo indica, o Santo Daime tem traços
do cristianismo, especialmente a partir do catolicismo. A Sagrada Família está na
base de suas crenças: Deus é a entidade suprema, Jesus é um modelo a ser seguido
e a Virgem Maria é idolatrada por ter levado a palavra até Irineu. A comunidade deve
manter-se unida em culto e trabalhos para a propagação dos ensinamentos.
O Santo Daime é focado no ritual do chá, que os seguidores acreditam ter o poder de
ampliar a força da consciência. No ritual é de grande importância a música e o entoar
de hinos. Os instrumentos são diversos, especialmente maracás, bongôs e atabaques.
Segundo os seguidores, Irineu considerava o líquido uma forma de encontrar o amor
verdadeiro. Durante o culto, o Daime é ingerido três vezes. Sob seu efeito, a pessoa
teria uma visão mais clara do Universo e respostas para suas angústias e dúvidas.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 172


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A vivência do Santo Daime por seus adeptos é uma missão espiritual cristã, que
encaminha os seus praticantes ao perdão, reconciliação e a regeneração do seu
ser. O processo de autoconhecimento e recomeço do adepto inicia ao participar das
celebrações e ingerir o chá, pois, a partir disso, há correção de maneiras erradas de
comportamento e uma evolução.
O uso da ayahuasca está presente em diversos países, faz parte das tradições
indígenas de muitos grupos sul-americanos em rituais religiosos. Apenas no século
XX passou a ser usado por cultos fora desses povos originários. Atualmente, vários
cultos utilizam a ayahuasca. Além do Santo Daime, utilizam o chá o Céu de Maria, a
Porta do Sol e a União do Vegetal.
Por ser uma bebida com efeitos alucinógenos a utilização é amplamente discutida
em vários países. No Brasil, após muitas deliberações das autoridades ao longo de
muitos anos, o Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), tirou a planta Ayahuasca da
lista de drogas alucinógenas conforme a portaria publicada no Diário Oficial da União
em 10/11/2004, permitindo o uso ritual.
Em 2006, o CONAD acompanhada de representantes dos cultos que utilizam o chá,
resultou em um documento com os Princípios Deontológicos para o uso religioso da
Ayahuasca, que no entanto, só foi publicado no DOU- Diário Oficial da União em janeiro
de 2010. (https://www.santodaime.org/ Acesso em 25 de jan de 2022)

ISTO ESTÁ NA REDE

Os ensinamentos e história do Santo o Daime são compartilhados a partir de


testemunhos de participantes adeptos dessa doutrina através de entrevistas
concedidas à TV cultura. O preparo do chá, as providências na elaboração da festa
de São João, uma das principais do calendário religioso daimista e o trabalho
comunitário são retratados em um documentário em linguagem simples e didática.
Alguns dos hinos de louvor e parte do culto também podem ser vistos a seguir.
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=lrTb4Q-DDtU

As religiões Afro-brasileiras

São consideradas religiões afro-brasileiras, todas as religiões e suas crenças nos


orixás que foram trazidas para o Brasil através das pessoas africanas sequestradas
para a escravidão e aqui desenvolveram-se sob diversas influências.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 173


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Orixás são entidades enviadas por Olodumaré/Olorum (deus supremo) para auxiliar
na criação do mundo e auxiliar a humanidade nas questões cotidianas. Quase todos
encarnaram como humanos e tiveram vida terrena e outros eram humanos que se
tornaram orixás. No continente africano, cada Orixá estava ligado originalmente a uma
cidade ou a um país inteiro. Os mitos dos orixás encontram-se nos poemas seculares
retidos pelos babalaôs e por eles e pelos babalorixás e yalorixás transmitidos oralmente
ao longo dos séculos (PRANDI, 2001, p. 20).
Para sobreviverem ao período da escravidão, oprimidos fisicamente e religiosamente
pela imposição católica, os africanos e seus descendentes criaram subterfúgios ao
associar os orixás às imagens e datas de celebração dos santos católicos. Resultou
dessa assimilação, alguma influência do Cristianismo Católico e do Kardecismo, assim
como de espiritualidades indígenas.
Essas influências são percebidas no uso das ervas, dos alimentos de oferendas,
nas imagens utilizadas e nas entidades espirituais aqui desenvolvidas, espíritos que
se manifestam nesses cultos, como Caboclos, Pretos velhos, Boiadeiros, Ciganos,
Malandros, etc.
Cada uma das religiões tem seus próprios termos e ritos de iniciação. No candomblé
o período de iniciação é de no mínimo sete anos, se inserem os rituais de passagem,
o aprendizado de rezas, cantigas, línguas sagradas, uso folhas sagradas.

Na Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem. Em diferentes regiões


do país os cultos variam em nomes, práticas e liturgias. Alguns dos principais e suas
regiões correspondentes são:
• Babaçuê – Maranhão, Pará.
• Batuque – Rio Grande do Sul, além do Uruguai e Argentina.
• Candomblé – Em todos os estados do Brasil.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 174


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

• Omoloko – Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo.


• Pajelança – Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas.
• Quimbanda – Em todos os estados do Brasil.
• Tambor-de-Mina – Maranhão, Pará.
• Terecô – Maranhão.
• Umbanda – Em todos os estados do Brasil.

A Umbanda é entendida como “religião brasileira por excelência”, com fortes traços
de sincretismo que combina o Catolicismo, os orixás africanos e os espíritos caboclos.
Formou-se no Rio de Janeiro pelo jovem Zélio Fernandino de Moraes no Rio de Janeiro,
na primeira metade do século XX (GAARDER, 2000, p. 326).

ANOTE ISSO

Com o avanço tecnológico e científico, a industrialização e o câmbio de um mundo


rural para urbano, as pessoas encontraram novos sentidos para a vida, para além
das explicações religiosas tradicionais, especialmente cristãs. A religiosidade ainda
persiste e, muitas pessoas, prezam pela fé e a coadunam com as ciências, mesmo
fazendo as distinções salvo devidas proporções. Diante dos avanços acima citados,
outros posicionamentos religiosos e novos pressupostos de vida encontram espaço
e, não raras vezes, as pessoas questionam os ensinamentos e práticas religiosas
rígidas e dogmáticas tradicionais e aderem aos NMR ou, ainda, ao ateísmo ou
agnosticismo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 175


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 13
MISTICISMO E ESOTERISMO

Introdução

Podemos encontrar tendências místicas emaranhadas nas grandes religiões, nas


religiões nacionais, nas religiões tribais ou nos movimentos religiosos recentes.
As características das experiências descritas pelos místicos apresentam muitas
similaridades, mesmo que haja limites sociais, religiosos ou culturais ou se aconteçam
em períodos históricos diferentes. Mesmo as religiões abraâmicas demonstram suas
formas de misticismo em variadas expressões, que neste capítulo serão apresentadas
apenas algumas delas.
O misticismo inclui vários fenômenos de cunho psicológico, físico, corporal e
espirituais. A palavra ocultismo é derivada do latim occultus (segredo e mistério).
A origem do termo aponta para os escritos de Dionísio Areopagita, no século V. Ali
encontramos, pela primeira vez no cristianismo, a distinção dos aspectos da mística.
O primeiro aspecto é o prático, um conhecimento experimental da realidade supra-
sensível; o segundo, uma reflexão doutrinal, filosófica, teológica, ou teológico-filosófica,
sobre o conhecimento (experiência) trazido pelo primeiro.
Neste capítulo, olharemos mais de perto as definições de misticismo e esoterismo
e sua presença em algumas religiões ou movimentos religiosos. Destacam-se o
misticismo das religiões abraâmicas e algumas práticas orientais presentes no ocidente.

O que é misticismo?

A palavra misticismo vem do grego mystikos, com o sentido de mistério. Através


do misticismo, as pessoas são capazes de compreender o que acreditam ser Deus de
uma forma específica e direta. Especialmente no misticismo ocidental (Cristianismo,
Judaísmo e Islamismo), a pessoa identificada como mística irá ressaltar que seu
encontro foi com um Deus pessoal.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 176


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

No misticismo oriental, o Hinduísmo, Budismo e Taoísmo é mais comum afirmar


uma identidade total entre o indivíduo e a divindade ou o espírito universal. Ou seja, o
encontro do místico com a divindade ocorre como uma relação eu- eu, pois o divino
existe em todas as coisas deste mundo, é uma realidade imanente.
Bramanismo, Budismo e Jainismo, como já vimos, pregam que o desejo é o que
causa do sofrimento e objetivo de vida direciona-se atingir pela meditação o estado
de nirvana, que se assemelha em muito ao estado de êxtase. O ápice da experiência
mística oriental é a relação, a sintonização, a sensação direta de ser um só com a
entidade sagrada.
A pessoa mística tenta ultrapassar barreiras que julgam manter Deus muito longe,
para “se perder” em Deus, ser absorvido em Deus. O indivíduo místico experiencia,
mesmo em breves momentos, a sensação de ser uno com um Eu maior, seja denominado
Deus, O Grande Criador, o Espírito universal, o Eu, o Vazio, o Universo ou qualquer outra
coisa que considere sagrada.
Com base nos relatos de místicos, costumeiramente, são atribuídas as seguintes
características à experiência mística:
a) O místico sente uma unidade em todas as coisas;
b) Apesar do místico cultivar uma disciplina preparatória para seu encontro com
o divino, diante do fato sente-se passivo;
c) O místico se sente arrebatado para fora da realidade ordinária de existência
normal de quatro dimensões;
d) O êxtase é fugaz e, em geral, é de poucos minutos;
e) Essa compreensão é inexprimível e não pode ser comunicada adequadamente
a terceiros.

Misticismo Judeu

No Judaísmo podemos encontrar outras distinções para a experiência mística.


Por exemplo, a distinção entre a mística profética e a estática . No AT, profetas foram
considerados místicos.
A espiritualidade judaica no período anterior a Jesus era comunitária e pública,
centrada nas sinagogas, nas orações e leituras das escrituras, bem como nas
festividades. Aspectos importantes da espiritualidade judaica, consideradas místicas a
serem alcançados trabalhados pelo indivíduo são a pobreza e a lembrança da Shekinah .
A pobreza como um voto ascético e que traz à memória a peregrinação do povo
e companhia de Deus no deserto e guiando em diferentes ocasiões em que o povo
hebreu padeceu sob opressão estrangeira.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 177


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Já a Shekinah é a “Presença Divina”, sendo para a fé judaica, a face “materna” de


Deus, bem como refere-se à revelação de Deus à humanidade, caracterizada também
pela “Glória Divina que habitava a terra” mencionada no Salmo 85. 8- 9: “Vou escutar
o que diz Javé: Deus anuncia a paz ao seu povo e seus fiéis, e aos que se convertem
de coração. A salvação está próxima dos que o temem, e a glória habitará em nossa
terra”.
A Shekinah já foi simbolizada também pela imagem de uma nuvem baseada no
versículo de Êxodo 40. 35: “Moisés não pôde entrar na tenda da reunião, porque a
nuvem tinha pousado sobre ela e a glória de Javé enchia o santuário”.
Embora não haja referências explícitas da Shekinah na Tanach ou no NT, Ela aparece
na Literatura rabínica e, assim, as interpretações acima entraram para a tradição
judaica. Contudo, no Islamismo, no Alcorão ocorrem seis referências diretas à palavra
“Sakinah” e é testemunhada como calma, paz e tranquilidade ou a manifestação da
“sensação reconfortante de estar na presença ou sob a proteção de Deus”.
A Cabala entende que a Shekinah é a porção feminina da divindade, manifestando-
se como Mãe, Filha, Irmã e Espírito Santo. A Shekinah é a Maternidade Divina, Mãe
de Todos os Vivos.

ISTO ESTÁ NA REDE


Durante o Jota Jota Podcast, transmitido no canal Joel Jota, o rabino Dudu
Levinzon, afamado por ser um cabalista, detalha a importância da Cabala na vida
cotidiana e no relacionamento com Deus. Assista:
(4) Cabala é uma religião? (COMO FUNCIONA A CABALA) | Jota Jota Podcast 38
- YouTube

Cabala

Cabala é uma prática esotérica que engloba um conjunto de ensinamentos


relacionados com Deus, com o universo, o ser humano, a criação do mundo, a vida
e a morte. Essa mística judaica se fundamenta na revelação de Deus a Adão e a
Moisés, de acordo com a tradição.
As suas primeiras manifestações remontam aos primeiros tempos da era cristã, mas
a cabala se desenvolveu particularmente entre os séculos XI a XVI e se transcreveu
como doutrina em livros secretos como o Zohar (Livro do Esplendor), redigido em
Espanha no século XIII
Os estudiosos da Cabala afirmam que há uma face divina que não está disponível
para as pessoas e pela complexidade e mistério a razão humana não alcança essa
compreensão.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 178


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Outro nome utilizado para designar a Cabala é “Torat ha’Sod”, traduzido por alguns
como “o ensinamento secreto”, contudo a tradução mais adequada é “o ensinamento
do secreto”, o que, naturalmente denota o sentido mais próximo da filosofia.
A prática da Cabala acabou desenvolvendo uma escola de pensamento espiritual
que tenta decifrar o conteúdo da Torá acreditando que os segredos do Universo foram
revelados por Deus, em códigos contidos nos livros, em um sistema de interpretação
baseada na combinação de letras do alfabeto hebraico e possíveis anagramas e
numerações. A cabala também também é entendida como uma filosofia de vida que
orienta aos cabalistas maneiras para vencer dificuldades e evoluir e alcançar a paz
espiritual.
Ao longo dos séculos a cabala foi transmitida oralmente a um número reduzido de
discípulos. Ainda hoje, o seu estudo não é plenamente aceito em algumas vertentes
do Judaísmo. Este caráter esotérico do Judaísmo foi mantido em sigilo durante
longo período, principalmente para as mulheres. Conforme os mitologia judaica, esta
sabedoria milenar foi revelada pelo próprio Criador a Moisés ou, ainda, pelo anjo
Raziel para Adão.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A Árvore da Vida é um dos mais importantes símbolos cabalísticos. É representada


por 10 esferas (sefirot), sendo que cada uma reflete os aspectos de Deus dentro
de cada pessoa: a Coroa, a Sabedoria, a Compreensão, a Compaixão, a Justiça, a
Beleza, a Vitória, a Renovação, o Fundamento, o Reino. Para conhecer mais, assista:
https://www.youtube.com/watch?v=dFttoy8HXqU

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 179


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Misticismo cristão

O misticismo cristão está relacionado à teologia mística, presente na Igreja Antiga


(Católica e Ortodoxa). Os atributos cultivados e os métodos pelos quais o misticismo
cristão é exercido varia, desde visões extáticas da união da alma com Deus até a
leitura e contemplação das Escrituras, a Lectio Divina.
A Lectio Divina “Leitura Divina” é uma prática monástica tradicional de leitura,
meditação e oração das sagradas escrituras a fim de promover a comunhão e
aumentar o conhecimento de Deus.
Muitos dos textos cristãos foram concebidos a partir de tradições espirituais judaicas,
como chokhmah (conhecimento) e a Shekhinah. Através dos Evangelhos Sinóticos
é o deserto, que é usado como metáfora para o lugar onde encontramos Deus na
pobreza do espírito humano.
Os escritos do NT, na proporção de que narra o início da Igreja, transparecem
conceitos que alimentam as interpretações dos místicos cristãos e o desenvolvimento
delas baseando-se em práticas como a Eucaristia, o Batismo e a oração de Jesus, o
Pai-Nosso.
As narrativas da concepção de Jesus pelo Espírito Santo, sua Transfiguração, a
crucificação e suas aparições após sua ressurreição são algumas das principais s
para a teologia cristã e imagens importantes para a meditação.
No início da Igreja cristã, o Cristianismo não era unificado sob a égide de uma
religião, mas eram várias igrejas, vários movimentos. Existiam diversas crenças
alicerçadas em Cristo, contudo cultivando grandes diferenças entre si. Nesse sentido,
um movimento bem presente incorporado ao Cristianismo primitivo dos primeiros
séculos foi o gnosticismo.

Misticismo cristão e Gnosticismo

O Gnosticismo, é uma palavra procedente do grego “gnose” (conhecimento) e


ensinava que a toda a criação era fruto de uma divindade imperfeita, o Demiurgo .
Por essa razão a humanidade não poderia ser culpada de nenhum mal, pois ele é fruto
da prisão carnal para aprisionar o espírito humano e que o bem só seria alcançável
em um nível espiritual.
Para seguidores do Gnosticismo, Demiurgo estava identificado com o Deus do AT,
irascível, vingativo, ciumento, guerreiro e criador do mal. Por isso, seguidores como
Marcião, rejeitavam a Tanach, a Torá ou qualquer escrito neotestamentário que fazia
menção à tradição judaica.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 180


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Já o Deus bom, um ser espiritual e supremo, o pai de Jesus Cristo, não tinha
qualquer identificação com o Demiurgo. Sua única intervenção na criação restringiu-
se ao infundir em cada ser humano uma “centelha divina” que os tornava capazes
de despertar e conhecer a verdade. E eis a salvação: as pessoas se libertam dos
sofrimentos terrenos pelo conhecimento, da gnose, que possuíam a centelha divina.
Cristo, seria um mensageiro disse Deus enviado para ensinar a humanidade a
despertar. A maioria acreditava que Cristo não veio em corpo físico e não passou
por fraquezas e emoções humanas.
Os primeiros gnósticos localizam-se entre o século II e o V e, possuíam textos
próprios, distintos. Em 180 d.C Irineu bispo de Lyon desenvolveu uma campanha
antagonista a partir de seu livro “Contra as heresias” sendo finalmente proscritos no
Concílio de Nicéia, chamados de apócrifos e destruídos.

Misticismo cristão e santidade

Durante o século XII ocorreram mudanças na compreensão de Deus e na religiosidade


que se distanciava da idéia de um Deus apartado, tornou a divindade aos menos
carregada dos atributos da justiça inflexível, da inacessibilidade e da ira vingativa e
mais cheia de amor para com seus filhos e filhas, mais paternal e benevolente. Isso
eclodiu um desejo de experiência do divino mais direto e próximo. As autoridades
apoiaram e desenvolveram a religiosidade mística.
A mística da Idade Média herdou da mística primitiva da igreja o êxtase, uma relação
eu-tu, ou eu-Deus, algo próximo a uma espécie de “casamento espiritual”, que era
experimentado ao praticar a oração para contemplar a onipresença de Deus.

Hildegard von Bingen

Hildegard von Bingen, teóloga, filósofa, cientista, profetisa, promotora de uma


medicina natural, musicista, reformadora da moral e mística do século XII. Viveu
entre 1098 a 1179 e foi uma das figuras mais “intensas e extraordinárias” da história
eclesiástica.
Hildegard nasceu em uma família nobre do sul da Alemanha e desde os três anos
demonstrava habilidades como vidente. Quando estava com 15 anos, já sendo interna
do convento junto ao mosteiro beneditino de Disibodenberg, suas habilidades entraram
em evidência.
Hildegard, durante muitos anos, foi apenas uma humilde freira e com a morte da
sua tutora Jutta, em 1136, se tornou a madre superiora do convento. Passou por

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 181


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

longos períodos adoentada, escondendo a ocorrência de suas visões até que aos 42
anos, em uma das suas visões, recebeu a tarefa divina de escrevê-las. Em suas obras
escreveu de suas experiências místicas de união com Deus e suas observações da
natureza.
Assim como São Bernardo de Clairvaux, Hildegard não acreditava ser possível
encontrar Deus na razão, contudo, seu misticismo não era típico, ele combinava
percepções sensoriais de várias espécies com um conteúdo alegórico-teológico intenso
e profundo.
Hildegard envolveu sua produção literária dentro de uma moldura especificamente
mística, pois o interesse pela natureza, a instrução ética e a teologia não são
necessariamente parte do universo místico e poderiam ter aflorado a partir de sua
experiência acadêmica e/ou pastoral.
Mesmo possuindo traços místicos, para vários autores, destacam os papéis de
profetisa, pregadora, reformadora da Igreja e visionária, que ensinava Deus existe para
aqueles que acham que ele existe e que via as práticas ascéticas extremas como
algo a ser evitado.
Ó gloriosa luz vivente, que vives na divindade!
Anjos que fixais vossos olhos com ardente desejo,
Em meio à mística escuridão que rodeia todas as criaturas,
Sobre aquele de que vossos desejos jamais se podem saturar!
Ó gloriosa alegria, viver em vossa forma e natureza!
Com efeito, sois livres de toda obra do mal,
Embora aquele mal primeiramente tenha aparecido
em vossa companhia,
O anjo caído, que tentou plainar acima de Deus,
E, portanto, aquele deformado foi submerso na ruína.
E, pois, para si mesmo preparou uma queda maior
Mediante suas insinuações àqueles que a mão de Deus fez.
Ó anjos de faces brilhantes, que guardais as pessoas,
Ó vós, arcanjos, que levais as almas justas para o céu,
E vós, ó virtudes e potências, ó principados,
Dominações e tronos, que sois contados secretamente em cinco,
E vós, querubins e serafins, selo dos segredos de Deus,
Louvados sejais, todos vós, que contemplais o coração do Pai,
E vedes o Ancião dos Dias a brotar na fonte,
E seus íntimos poderes aparecerem de seu coração,
semelhantes a uma face.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 182


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Bento XVI proclamou Hildegard Doutora da Igreja universal, em 10 de maio de


2012, 900 anos após sua morte, ela foi reconhecida e canonizada.

Tereza Dávila

“Nada te perturbe, nada te amedronte, tudo passa, a paciência tudo alcança. A quem
tem Deus nada falta. Só Deus basta.”

Tereza é uma das mais proeminentes autoras sobre a oração mental e sua posição
entre os autores da teologia mística é única. Nascida no dia 28 de março de 1515,
Seus pais, Alonso Sanchez de Cepeda e Beatriz D’Ávila y Ahumada, a instruíram nos
princípios cristãos. Ainda na adolescência Teresa passou por experiências espirituais
místicas, de visões e conversas com Deus.
Foi para o Convento Carmelita da Encarnação de Ávila e registrou toda sua vida
atribulada de tentações e espiritualidade mística em livros como: “O Caminho da
Perfeição”, “As Moradas”, “A Autobiografia”, e outros. Neles ela própria narra como
um anjo transpassou seu coração com uma seta de fogo.
Aos trinta e nove anos ocorreu sua “conversão”. Teve a visão do lugar que a esperaria
no inferno, se não tivesse abandonado suas vaidades. Iniciou a partir daí o seu grande
trabalho de reformista. Em 1560 teve a inspiração de um novo Carmelo, onde se
vivesse sob as regras originais. Dois anos depois fundou o primeiro convento das
Carmelitas Descalças da Regra Primitiva de São José em Ávila, onde foi morar.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 183


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O centro da reflexão mística de Teresa é a elevação da alma em quatro momentosː


1º “oração mental” - é o de devota contemplação, o afastamento da alma do mundo
exterior e especialmente a devota observância da Paixão de Cristo.
2º “oração de silêncio” - é aquele no qual pelo menos a vontade humano se perde
na de Deus em virtude de um estado sobrenatural agraciado por Deus,
3º “devoção de união” - já não é apenas um estado sobrenatural, mas essencialmente
um êxtase. Nele, a razão também é absorvida por Deus e apenas a memória e
a imaginação permanecem.
4º “devoção do êxtase ou arrebatamento” - é um estado passivo no qual o sentimento
de estar num corpo desaparece, a atividade sensorial cessa, a memória e a
imaginação também são absorvidas em Deus ou são “intoxicadas”.

Tereza morreu no dia 4 de outubro de 1582, aos 67 anos e foi sepultada em Alba de
Tormes, onde estão suas relíquias. O estado de conservação de seu corpo reforça a aura
de santidade e mística: Seu corpo permanece inteiro, exalando aroma de rosas e seu
coração conservado em um relicário, em Alba, apresenta um ferimento, demonstrando
a marca realizada pelo anjo com sua lança inflamada.
Tereza foi canonizada no dia 27 de setembro de 1970, pelo Papa Paulo Vl, que lhe
conferiu o título de Doutora da Igreja, e sua festa é comemorada no dia 15 de outubro.

Hesicasmo

Hesicasmo (em grego hesychasmos, derivado de hesychia, “quietude, quieto,


silêncio”) é uma tradição de oração individual e solitária na Igreja Ortodoxa e em
algumas Igrejas Católicas Orientais, com as que seguem o rito bizantino, praticada
pelo chamado hesicasta (Ἡσυχαστής, hesychastes).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 184


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

“Assenta-se.
Cala-te.
Permanece só.
Respira suavemente.
Faz descer tua inteligência ao coração.
Na respiração invoca o Nome.
Abandona os pensamentos.
Sê paciente e repete muitas vezes este exercício. (...) “

O hesicasmo tradicionalmente é definido como o processo de retiro interior pela


cessação dos sentidos com o objetivo de obter um conhecimento experimental de
Deus e interpreta a ordem de Jesus no Evangelho de Mateus 6.6: “entra no teu
quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai” como significando que devemos ignorar os
sentidos e nos retirar internamente. A tarefa principal do hesicasta é manter uma
ascese mental, que consiste na rejeição dos pensamentos tentadores (“ladrões”) que
chegam conforme ele sobriamente contempla em sua solidão.

Enquanto ele mantém a sua prática com a Oração de Jesus, que se torna automática
e contínua por 24 horas por dia, sete dias por semana, o hesicasta cultiva uma atenção
cuidadosa. O hesicasta deve prestar extrema atenção à consciência de seu mundo
interior e às palavras da Oração de Jesus, não deixando a sua mente viajar de forma
nenhuma.
A repetição pura da Oração de Jesus espelha o entendimento oriental (ortodoxo
e católico oriental) do “mantra” como tendo significado e ação/voz inseparáveis. Ele
ora “com o coração”, com sentidos, refletidos e de fato, e jamais trata a Oração como
sendo apenas uma sequência de sílabas cujo significado real é secundário ou sem
importância.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 185


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A tradição ortodoxa adverte contra a busca do êxtase como um fim em si mesmo.


O hesicasmo tem como objetivo purificar o membro da Igreja Ortodoxa e torná-lo
preparado para um encontro com Deus, que chegará quando e na forma que Ele quiser,
pela Sua graça apenas. Quaisquer estados extáticos ou outros fenômenos pouco
usuais que podem ocorrer durante a prática hesicasta são considerados secundários
e sem importância, até mesmo perigosos.
Monte Atos, na Grécia, é o centro da prática do hesicasmo.

Misticismo cristão e pentecostalismo

Além de práticas como hesicasmo e leituras bíblicas em comunidades tradicionais,


dentro das correntes pentecostais e carismáticas muito se fala no “batismo no Espírito
Santo”. Algo a se almejar como sendo uma bênção, uma concessão de graça. Após
a conversão, a pessoa deve buscar o batismo no Espírito Santo com diligência.
O batismo com o Espírito Santo é uma expressão encontrada no NT para referir-se
ao evento de Pentecostes. A frase “batizar com o Espírito Santo” aparece quatro vezes
nos Evangelhos e duas vezes no livro de Atos dos Apóstolos (Mateus 3:11; Marcos
1:8; João 1:33; Lucas 3:16; Atos 1:5; 11:16).
No pentecostalismo clássico o batismo com o Espírito Santo estava diretamente
ligado ao conceito de santificação. A posição predominante passou a relacionar o
batismo com Espírito Santo à capacitação de crentes com os dons para o ministério. Ele
edifica o crente, municia a testemunhar com autoridade a sua fé em Cristo. Entretanto,
esse revestimento implica numa experiência singular que eleva o status social dentro
da comunidade.

Misticismo Islâmico- Sufismo

O Sufismo é conhecido como a corrente mística e contemplativa do Islamismo. Os


praticantes do sufismo, conhecidos como sufis, procuram desenvolver uma relação
íntima, direta e contínua com Deus. No ritual de meditação, os sufistas cantam o dhikr,
que é o ato de repetir inúmeras vezes os textos sacros do Alcorão e o nome de Deus,
além de orações, jejuns, cânticos, música e movimentos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 186


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ANOTE ISSO

Um dos mais tradicionais tipos de música sufista é feito pelos Dervixes, famosos
por suas músicas rápidas e danças agitadas. Dervixes se assemelham aos frades
mendicantes do catolicismo e aos sadhus do Hinduísmo.

A palavra sufismo é derivada do termo árabe suf, que significa lã. Historicamente,
os seguidores do sufismo costumavam vestir apenas lã pura, pois era uma forma
de representarem sua negação aos confortos do mundo. Acredita-se que a prática
surgiu como uma reação ao afastamento da mensagem original da religião, frente à
corrupção e sede de poder e riqueza que se multiplicava entre as classes dirigentes.
Existem algumas posições distintas entre os muçulmanos tradicionais e os sufis.
Além da diferença da meditação, o sufismo discorda no que refere-se à “Noite da
Viagem”, conhecida também como miraj, na qual Maomé, através dos Portões do Céu,
chega à presença de Deus. Para o Islamismo, Maomé realizou a jornada de corpo e
alma, já os sufistas veem o episódio como uma forma de ascensão espiritual interna
(virtual).
Outra diferença do islamismo para o sufismo está na meditação, enquanto os
muçulmanos creem que as cordas vocais e os instrumentos musicais estão ligados
ao demônio, os sufistas utilizam a música para alcançar um estado mental elevado
que se aproxima do contato com Deus.

ISTO ESTÁ NA REDE


O termo dervixe (mendigo, mendicante) tem origem na língua persa e se refere
a um muçulmano asceta (praticante da renúncia do prazer e satisfação de
algumas necessidades primárias, com o fim de atingir a iluminação espiritual) do
segmento sufista (de tendência exotérica e mística) do islã.O faquir é um tipo de
dervixe, encontrado especialmente no sul da Ásia. Outro tipo bastante conhecido
de dervixe é o chamado “rodopiante”, pertencente à ordem mevlevi, localizada na
Turquia, famoso pelo ritual Sema, onde, em meio a uma melodia hipnótica de forte
percussão, iniciam uma dança na qual rodopiam até atingir o êxtase espiritual, algo
parecido ao experimentado nas cerimônias do candomblé no Brasil. Para saber
mais sobre essa prática no Brasil, acesse:
(6) Sufismo | Retratos de Fé - YouTube

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 187


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Esoterismo e Ocultismo

O termo esotérico já era utilizado desde a Antiguidade. No entanto, o uso de


esoterismo como substantivo a designar um conjunto ou forma de conhecimento é
bem mais recente. Somente no século XIX é que passou a ser amplamente utilizado.
Há muitas controvérsias em relação ao termo esotérico. Para alguns, inclusive para
pensadores do próprio movimento esotérico do século XIX, como Madame Blavatsky,
indicava um conhecimento interior, uma espécie de doutrina secreta somente acessível
aos iniciados.
Deve-se a Eliphas Levi (1810-1885) a divulgação do termo em conjunto ao de
ocultismo. Se o esoterismo é mais compreendido como uma forma de pensamento,
o ocultismo seria mais uma forma de ação ou conjunto de práticas legitimado pelo
esoterismo. Nesse sentido, não é possível confundir os dois termos, embora muitas
vezes sejam utilizados como sinônimos, principalmente no movimento já mencionado
no capítulo anterior, a Nova Era.

ISTO ESTÁ NA REDE

Através do pequeno vídeo, “O Xamã Nazista e o Ocultismo Nazista” da Discovery


Brasil podemos perceber apenas alguns aspectos do esoterismo e ocultismo
que era aprecisado dentro do partido Nazista, principalmente entre oficiais de
alto escalão como Heinrich Himmler, Rudolf Hess e Walther Darré. Entre os Nazi
o ocultismo alimentou-se de fontes do antigo paganismo europeu e algumas
mitologias orientais como o Hinduísmo. As tribos que formaram o povo alemão,
os teutos e os germanos, eram tidos como a matriz da crença ariana e sua
superioridade sobre os povos. Buscaram possíveis origens na mítica Atlântida,
Thule na Escandinávia, Hyperborea na Grécia e Shambhala no Tibete. Acreditavam e
propagavam a ideia de que a tal raça superior enfraqueceu devido a miscigenação
outras raças “inferiores”. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=DIT1gz8EQug

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 188


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Há outra conotação do termo esotérico, muito mais comum: serve para designar um
conhecimento essencial que só pode ser atingido por meio de técnicas apropriadas.
Como vimos, atualmente, o esoterismo está inserido na Nova Era e recebe a
conotação do conjunto das coisas interiores no indivíduo, ainda de forma oculta, e
que é passível de ser desvendado e alcançado mediante práticas, procedimentos e
estudos, cabendo ao indivíduo a tarefa da descoberta.
Aprender o oculto só será bem sucedido se o aluno observar algumas regras de vida,
bem como a disciplina psicológica. Quanto mais o místico trabalhar para a humanidade,
não guiado por fins individualistas, mais respeitável e eficiente ele se tornará na prática
do ocultismo. Muitos fatos “inexplicáveis” são compreendidos pelos ocultistas. Ou
seja, o que está escondido de uma pessoa torna-se claro para a outra.
As práticas divinatórias, inseridas no conjunto do ocultismo, são percebidas como
instrumentos capazes de fazer desvelar tudo aquilo que está oculto, permitindo ao
indivíduo que o consulta encontrar sua verdadeira natureza e destino.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA


O Xamanismo é um conjunto de crenças extáticas, crenças ancestrais que
engloba práticas de magia e evocações para estabelecer contato com o mundo
espiritual, uma percepção religiosa que confere ao xamã a capacidade de entrar
em transe e se conectar com o mundo espiritual. Essa conexão o capacita para
curar doenças, influenciar a natureza, facilitar a caça, adivinhar segredos, predizer o
futuro, afastar o mal ou exercer funções de um sacerdote. O xamã consegue fazer
uma viagem astral, uma experiência extra sensorial, da recepção de uma natureza
transcendental ou através da sua transformação em um outro ser. No Brasil, as
práticas xamânicas são habituais nas tribos indígenas, tendo como xamã o pajé. É
possível saber um pouco mais desse movimento no Brasil acessando:
https://www.youtube.com/watch?v=I7CMFaKO3jw

Misticismo oriental

O misticismo do Hinduísmo remete a mais uma ideia nova da espiritualidade indiana,


que se manifesta de forma espiral. Na medida em que uma pessoa faz o bem, está
caminhando na direção do centro e em caso oposto está caminhando na direção
afastada do centro. Mas sempre todos estão ligados ao centro na linha espiral, como
todas as ruas estão ligadas de certa forma a outra com a estação rodoviária de

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 189


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

qualquer cidade. Também existe uma possibilidade de pular de um lugar para o outro
na linha espiral, segundo a sua ação. Quando se atinge o centro, sempre se perde a
sua identidade, mas o que permanece nada mais é do que o centro.
Inúmeros templos são construídos de uma forma redonda ou retangular, colocando
a figura de Deus no centro. Normalmente existem sete portas para se chegar ao
centro, simbolizando purificação de sete elementos que bloqueiam os três caminhos
já citados, começa com a sensualidade e termina com seu próprio corpo. Somente
através do desapego total se consegue chegar ao centro do templo, ou seja, consegue
se unir a Deus.

Yoga ou Ioga

Yoga ou ioga, significa controlar, unir. É um termo de origem sânscrita, uma língua
presente na Índia, em especial na religião hinduísta. Yoga é um conceito é uma filosofia,
que trabalha o corpo e a mente, através de disciplinas tradicionais de quem a pratica.
O yoga pode ser entendido, então, como um aspecto “popular” da contemplação
mística. Ao contrário do mundo grego, onde o conhecimento era um fim em si mesmo,
para o hindu ele era um meio. Yoga é relacionada ao budismo e ao hinduísmo, com
práticas como exercícios e meditação para trabalhar a parte física e também a mente.
Yoga é uma filosofia de vida que tem sua origem na Índia, há mais de 5000 anos, e
atualmente é conhecido não apenas como uma filosofia de vida, mas também como
sistema holístico que trabalha o corpo e a mente ao mesmo tempo.
A yoga trabalha as emoções, ajuda as pessoas a agir de acordo com seus pensamentos
e sentimentos, além de trazer um profundo relaxamento, concentração, tranqüilidade
mental, fortalecimento do corpo físico e o desenvolvimento da flexibilidade.

I Ching

O I Ching baseia-se na ideia de mutação contínua que é dirigida por forças cósmicas
yin e yang. Yin é o princípio passivo e feminino, já yang é o princípio ativo e masculino.
Yin é o princípio passivo e feminino enquanto yang é o princípio ativo e masculino.
O livro é bastante utilizado no país como fonte de sabedoria, além de ser consultado
como oráculo por filósofos, religiosos, eruditos e até mesmo psicanalistas, como é o
caso de Carl Jung que o utilizava nas análises que realizava.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 190


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Para consultar o Livro das Mutações deve haver concentração e pensamentos


positivos, o que pode ser induzido com o incenso e músicas suaves. Deve haver
estudos sobre as relações das linhas, para que não haja interpretações incorretas. Em
linhas, trigramas e hexagramas o I Ching combina formas matemáticas constituindo
sua estrutura formal. O I Ching é consultado com a utilização da moeda sendo que
cada uma representa um número. A partir do lançamento das moedas, o indivíduo
formula perguntas práticas sobre sua vida e através dos números lançados encontrará
a forma como deve agir e como se comportar internamente.

Feng shui

Na China antiga, Feng Shui foi usado pela primeira vez para localizar os locais
mais auspiciosos para enterrar ancestrais e encontrar os locais mais favoráveis
para construir palácios, monumentos e prédios do governo. Os chineses focaram
nas influências invisíveis de energia porque eles sentiram que suas vidas estavam
intimamente relacionadas ao seu ambiente.
O feng-shui praticado atualmente deriva de duas antigas escolas, ou tradições –
a da Bússola e a das Formas – que se fundiram por volta do século 3. O sistema
cresceu dentro da chamada Escola Yin-Yang de filosofia chinesa, e por conta disso
desenvolveu ligações com os trigramas do oráculo I-Ching e com o sistema de cinco
elementos do misticismo chinês: metal, madeira, terra, fogo e água.
Feng shui é uma antiga arte chinesa de colocação. O princípio básico é que a força
vital de energia, ch´i (pronuncia-se tchi), ou energia vital. Suas teorias são baseadas
no pensamento máximo chinês, o I Ching, juntamente com as leis do yin yang e cinco
elementos – vitais em toda a cultura chinesa.
Portanto, para se estudar mais profundamente o Feng Shui, deve-se ter em mente,
que um estudo aprimorado e profundo dos 64 hexagramas do I Ching se faz necessário,
e também as leis do yin yang e os cinco elementos e seus relacionamentos.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 191


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 14
CONCEPÇÕES DE VIDA E ÉTICA

Introdução

O distraído nela tropeçou.


O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da vida, dela fez assento.
Para os meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou. Com ela, Davi matou Golias.
E o artista concebeu a mais bela escultura...
E em todos esses casos, a diferença não estava na pedra, mas no homem!

Anônimo

A diferença de ação e finalidade não estava na pedra, mas no ser humano,


conforme o poema acima. A diferença estava na reflexão e na ação individual. Este é
o comportamento ético e moral.
As religiões possuem seus dogmas, crenças fundantes, preceitos de vida para serem
realizados diariamente. Todos esses influenciam as pessoas em suas tomadas de
decisões e comportamentos sociais. Nesta aula refletiremos esses preceitos e seus
desdobramentos.

Moral e ética

O que é moral?
A moral é um conjunto de hábitos e costumes de uma sociedade, é uma conduta
social que vale por um determinado período de tempo. Elas variam de uma sociedade
a outra. Algumas vezes, a moral social é influenciada pela religião.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 192


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Exemplos:
Há alguns anos, no Brasil, era imoral a separação de casais e o divórcio era impossível.
Hoje é legal e não é mais um tabu.
Há alguns anos era moralmente aceito e legal a escravidão de africanos
Há alguns anos as mulheres poderiam ser “devolvidas” e o casamento anulado
caso não fosse virgem. Isso estava de acordo com a moral e com a lei.

O que é ética?

A ética é uma ação refletida, ocupa-se da reflexão entre eu certo e errado, o


modo correto de agir de maneira a não atrapalhar a vida social, que não invada a
individualidade e preserve a vida.
Ética deriva da palavra grega êthos, que quer dizer “caráter”. Ela era utilizada para
representar os modos de agir de uma pessoa, ou seja, suas ações e comportamentos.
Uma variante de êthos era a palavra éthos, que significa “costume” e pode ser aplicada
a uma sociedade.
Exemplos: Respeitar as leis que sejam justas; agir com justiça; Não prejudicar o
próximo; zelar pelo convívio social.

Ética da reciprocidade

“Como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal
da natureza” Kant

A ética da reciprocidade é um princípio moral geral, que se encontra em praticamente


todas as religiões, culturas, e também na filosofia. É frequentemente entendida como
uma regra fundamental quando relacionada aos aspectos inatos da natureza humana.
Cada um deve tratar os outros como gostaria que ele próprio fosse tratado (forma
positiva ou directiva) ou cada um não deve tratar os outros da forma que não gostaria
que ele próprio fosse tratado (forma negativa ou proibitiva, ou ainda regra de prata). Em
ambas as formas, serve como uma directiva para tratar os outros como a si próprio.
A ética da reciprocidade expressa o “do ut des” “Dou para que tu dês” , exige ato
recíproco e a A Regra de Ouro age sem expectativas de nada em troca. Contudo, muitas
vezes a ética da reciprocidade e Regra de ouro são apresentadas como expressões
variáveis de um mesmo artigo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 193


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Como já vimos anteriormente, na Nova era, há o relativismo que considera as


dualidades, como bem e mal, certo e errado, como são ilusórias. Assim, nada seria
verdadeiramente bom ou mau, certo ou errado, mas sim relativo, podendo ter seu
significado alterado de acordo com a perspetiva e o nível de consciência do observador.
Enquanto o Movimento Nova Era tem seu ethos que valoriza a dimensão individual,
nas grandes religiões, a Ética de reciprocidade ou Regra de ouro ocorre em algum
formato na maioria das religiões em que se postula perceber o próximo assim como
o “eu”. As religiões postulam da seguinte maneira:

Zoroastrismo: A natureza é boa somente quando não faz aos outros o que quer
que não seja bom para si mesmo. Dadistan-i-Dinik 94:5(por volta de 700 a.C)
Taoísmo: Olha o ganho do teu vizinho como o teu próprio ganho, e a perda do teu
vizinho como a tua própria perda. T’ai Shang Kan Ying P’ien.
O sábio não tem interesse próprio, mas toma os interesses de seu povo como
seus. Ele é bom com o bom; é igualmente bom com o mau, pois a virtude é boa. Ele
é crente com o crente; é também crente com o descrente, pois a virtude é crente. Dao
de Jing, cap. 49 (por volta de 600 a.C)
Confucionismo: O que tu não desejas para ti, não estendas aos outros. Confúcio
(por volta de 551-479 a.C)
Judaísmo: Tu não te vingarás, ou não levarás nenhuma queixa contra os filhos
de teu povo, amarás teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o senhor. Torá, Levítico
19;18 (538-332 a.C)
Hinduísmo: Este é o resumo do dever: Não faças aos outros o que não queres que
te façam. Mahabarata (5:15:17) (500 a.C)
Budismo: Não fira os outros com o que tu mesmo acharias doloroso. Udana-Varga
5:18 (500 a.C)
Jainismo: Nada que respire, que exista, que viva, ou que tenha a essência ou o
potencial da vida deve ser destruído ou dirigido, subjugado ou ferido, ou negada sua
essência ou seu potencial. Para reforçar esta verdade, proponho-vos uma questão:
o desespero ou a dor são alguma coisa desejável para vós? Se responderdes sim,
seria uma mentira. Se responderdes não, dizeis a verdade. Da mesma forma que o
desespero e a dor não são desejáveis para vós, também não são para tudo o que
respira, ou existe, vive ou tem a essência da vida.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 194


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Cristianismo: Amarás teu próximo com a ti mesmo. Fazei aos homens tudo o
quereríeis que vos fosse feito; porque aí está a lei e os profetas. (Mt. 22: 36-40; Mt.
7:12, Luc 6:31, 10:27).
Islamismo: Nenhum dentre vós crê realmente enquanto não desejar para seu irmão
o que deseja para si mesmo. (Maomé, 570-632, Hadith 13 de al-Nawawi).

Ética e alteridade.

A alteridade de acordo com dicionário Aurélio é:


“al.te.ri.da.de – (francês alterité) - substantivo feminino - 1. Qualidade do que é outro
ou do que é diferente. - 2. [Filosofia]. Caráter diferente, metafisicamente.”
Nesse sentido, é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares
que compreendem o mundo e agem conforme suas próprias convicções.
Reconhecer a alteridade é o primeiro passo para a formação de uma sociedade
equilibrada e sustentável, pois reconhece e valoriza o outro, é o exercício de colocar-
se no lugar do outro, um exercício de empatia.
O exercício de alteridade abre caminho para a tolerância ao reconhecer as
características de grupos ou indivíduos, inclusive as escolhas religiosas.
Para o teólogo Hans Küng, o ser humano é o critério ético geral; consideradas as
suas relações fundamentais de alteridade: com o outro, com a história, com a natureza,
com o cosmo e com o transcendente.
Quando um grupo religioso compara sua própria religião com as outras, mas,
também, quando reflete sobre os próprios equívocos e abusos, abre-se a possibilidade
de se apresentar para todas as religiões a pergunta sobre critérios do verdadeiro e
do bom, isto é, de critérios comuns, que possam ser aplicados a todas as religiões.
O princípio da reciprocidade contida na “regra de ouro” abarca conceitos que negam
o egoísmo. Desse princípio, Hans localiza nas religiões mundiais esses princípios da
no que ele chama de quatro preceitos inamovíveis: (I) compromisso com uma cultura
da não-violência e do temor diante de toda a vida (não matar); (II) compromisso
com uma cultura da solidariedade e uma ordem econômica justa (não roubar); (III)
compromisso com uma cultura da tolerância e uma vida de veracidade (não mentir);
e (IV) compromisso com uma cultura da igualdade de direitos e do companheirismo
entre homem e mulher (não fornicar).

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 195


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

As grandes religiões trazem mandamentos, preceitos que relacionam-se a não mentir,


não matar, não causar sofrimento, não usar o sexo para opressão, a preservação
do meio de vida das pessoas ao não praticar o roubo ou evitar a cobiça. Além de
uma moral nos costumes, as grandes religiões visam posicionamentos éticos para a
preservação da vida e dignidade humana.

Religiões pela Paz

A Resistência não violenta é a prática de exercer influência na resolução de conflitos


ou mudanças sociais através de ações simbólicas, não cooperação econômica e
desobediência civil sem qualquer utilização de gestos violentos.
A Satyagraha é o nome indiano a essa prática não violenta desenvolvida por Mahatma
Gandhi, no processo de luta pela Independência da Índia e pode ter sido influenciado
pelo o ensaio sobre a desobediência civil de David Thoreau, um opositor da escravatura
nos EUA.
Satyagraha conflui valores éticos diversos e significa “satya” amor e firmeza e
“agraha”. É um método ativo que não pretende causar sofrimento aos adversários.
Satyagraha, método de não violência desenvolvido por Gandhi influenciou Martin
Luther King Jr na luta pelos direitos civis nos EUA.

Um outro exemplo de resistência não violenta a partir de uma confissão religiosa


é o conceito de objeção de consciência ao serviço militar, defendida especialmente
por Testemunhas de Jeová. A principal fundamentação de tal objeção é uma leitura
rigorosa do Sermão da Montanha.
No Brasil, as primeiras ações que se auto declararam não violentas estão ligadas
a grupos vinculados à Igreja Católica e à Teologia da Libertação.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 196


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

A pressuposição básica de Küng (2004, p. 17) é que

“não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões.
Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as
religiões. Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem
padrões éticos globais”.

O teólogo crê que a verdadeira humanidade é pressuposto da verdadeira religião,


é uma verdadeira religião é o aperfeiçoamento de uma verdadeira humanidade. Nas
palavras do autor:

“De fato, a religião sempre se mostrou mais convincente – muito antes


da ideia moderna de autonomia – quando ressaltou eficazmente o
humano na perspectiva do Absoluto: basta citar o Decálogo (“Dez
Mandamentos”), o sermão da montanha, o Corão, os discursos de
Buda e a Bhagavadgita”. (KÜNG, 1999, p. 276).

Para Küng, apesar das diferenças e conflitos entre as religiões, elas encontram-se em
um processo de reflexão de novos paradigmas sobre a vida, com um desenvolvimento
positivo dos processos de humanização. Ele retoma, assim, a Declaração da “Conferência
Mundial das Religiões pela Paz” em Kyoto (Japão), em 1970:

“Quando estivemos juntos para tratar do importantíssimo tema da paz,


descobrimos que as coisas que nos unem são mais importantes do
que as coisas que nos separam: uma profunda convicção da unidade
fundamental da família humana e da igualdade e dignidade de todos
os seres humanos; um sentimento da inviolabilidade do indivíduo e de
sua consciência; um sentimento de valor da comunidade humana; a
consciência de que o poder não se identifica com a justiça, de que o
poder humano não é autossuficiente nem pode ser absoluto; a crença
de que o amor, a misericórdia, o altruísmo e a força do espírito e da
sinceridade têm mais poder a longo prazo do que o ódio, a inimizade
e o egoísmo; um sentimento de compromisso a favor dos pobres e
oprimidos, e contra os ricos e opressores; e uma profunda esperança
de que finalmente triunfará a boa vontade” (KÜNG, 1999, p. 278).

Ética e Meio Ambiente

Vimos durante o nosso estudo que algumas religiões têm ensinamentos bem
específicos no tocante ao cuidado com a natureza por entender que a divindade está
presente em toda ela, tudo e todos os lugares são sagrados.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 197


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Também no entendimento de reencarnação e transmigração da alma, os animais


podem ser um meio de evolução de espíritos. Para religiões orientais é necessário existir
respeito, reverência, conexão e simbiose com a natureza e todos os seus elementos,
compreendendo-os como fonte de sabedoria e potencial curativo.
Para católicos um dos santos mais populares é São Francisco de Assis, pois amava
e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo em que protegia animais e plantas
aos quais chamava, carinhosamente de irmãos. Considerado o santo mais amigo dos
animais, foi intitulado Patrono do Presépio e dos Ecologistas.
Para os adventistas é importante lutar pela preservação da vida animal, levando
ao pé da letra citações bíblicas, como as encontradas em Apocalipse 11:18, onde há
uma séria advertência para quem maltrata os animais: “terá que prestar contas a
Deus no dia do juízo final”.
Segundo o Judaísmo a relação entre seres humanos e animais, que é chamado de
tsáar baalei haim. Há ainda a mitsvá, a obrigação de não causar sofrimento aos seres
vivos, o modo judaico milenar de ação ecológica. Durante o Shabat, não somente os
seres humanos não trabalham; os animais também não. Os animais de corte, como
vacas e galinhas, são mortos sob cuidados específicos segundo as leis de cashrut,
visando diminuir o seu sofrimento ao máximo.
Para o Islã, os animais devem ser tratados com misericórdia. Em suas crenças
, animais de estimação somente devem ser os gatos, porém, os cães, só podem ser
utilizados para alguma finalidade que não seja somente estimação, já que a religião
diz que o cachorro tem em sua saliva uma substância nociva ao ser humano, porém,
pode tê-los como cães guia, para proteção, para caça, etc.
Os ensinamentos budistas giram em torno da interdependência (nada tem origem
independente, mas a vida é uma teia de inter-relacionamentos) e os animais fazem
parte desta teia da existência, desta rede de inter-relacionamentos, uma vez que os
humanos não vivem sem os animais. Existem muitas histórias budistas sobre animais
dando exemplo de como deve ser o comportamento humano. Animais estão presentes
em vários contos budistas como exemplos de fidelidade.

ISTO ESTÁ NA REDE

A questão ambiental e a sustentabilidade são preocupações constantes na


sociedade e no artigo Religiões e meio ambiente são abordados o meio ambiente e
a relação humana é encarada por algumas religiões do mundo. Acesse:
https://www.inbs.com.br/as-religioes-e-o-meio-ambiente/

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 198


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CAPÍTULO 15
CONCLUSÕES/APANHADO
GERAL/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Introdução

Após conhecermos alguns aspectos das principais religiões mundiais, bem como
expressões nacionais, pudemos perceber algumas diferenças gritantes, mas também
muitas similaridades. Neste último ponto de nosso curso faremos nossas considerações
finais.
As religiões trazem suas compreensões de princípio de vida, morte, salvação, pecado
e destino da alma. Possuem seus símbolos, locais sagrados, práticas alimentares
ou vestimentas. Exercem palavras e cumprimentos especiais que são tanto uma
identificação comunitária quanto um testemunho religioso. Essas práticas e sua ética
diante da tomada de decisões ou vida cotidiana estão baseadas em seus mestres e,
algumas, registradas em escrituras, outras guardadas na memória pela tradição oral.
No Brasil, uma terra que recebeu múltiplas culturas, a base religiosa é fundamentada
em três matrizes religiosas principais: Matriz cristã, matriz africana e matriz indígena.
Somado a essas matrizes, nos últimos anos, o contato com movimentos religiosos
diversos a partir da facilidade de comunicação ou pela intencionalidade, ampliou o
fenômeno da religiosidade popular brasileira.
Vimos que são realizados muitos ritos e rituais litúrgicos, de iniciação ou passagem,
festivos ou celebrativos, mortuários, divinatórios, entre outros. O culto evangélico, a
missa católica, os grupos de oração, o puja, etc.
Nos rituais de passagem as pessoas celebram a mudança de uma fase da vida
para outra, como o batismo faz com que as pessoas tornem-se filhos de Deus, o
casamento, o Bar Mitzvah e Bat Mitzvah dos judeus e a feitura nos cultos afro.
As diferentes tradições religiosas incluíram vários elementos simbólicos aos seus
rituais, tais como: água, fogo, erva, flor, incenso, a prece, a dança, os gestos, o cantos,
a música, o vestuário, a recitação de orações ou palavras sagradas, são também itens
importantes presentes no cotidiano dos fiéis.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 199


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Fogo: símbolo sagrado nas diversas religiões

Hinduísmo

O fogo é um símbolo muito poderoso para o Hinduísmo, pois acreditam que o seu
calor transmite bênçãos de Deus e representa também a consciência material. Em
algumas festas religiosas do Hinduísmo encontramos o fogo como representação
simbólica, um exemplo é a festa Divali (significa fileira das luzes), considerada a festa
da luz no mês de outubro. Nela são acesas lamparinas de óleo que são queimadas no
beiral das janelas e das imagens dos Deuses, celebrando assim o dia do Ano Novo.
Outra comemoração é a Holi, também conhecida como festival das cores, que
celebra a chegada da primavera numa grande festa com fogueira em honra à Kama,
Deus do amor. O ritual do fogo também aparece nas celebrações de casamento dos
hindus, em que temos como símbolo o fogo sagrado, é quando o casal oferece arroz
e manteiga ao fogo, representando a igualdade de direitos e deveres.
Somente quando o casal dá as quatro voltas ao redor do fogo sagrado é que são
considerados marido e mulher, pois esse momento é conhecido como mangal fera
(ciclo da vida). Para o hinduísmo esse ritual das quatro voltas ao redor do fogo sagrado
é importante, pois representa: dharma (religião, dever e retidão), artha (prosperidade),
kama (energia e paixão) e moksha (libertação).

Islamismo

Para os muçulmanos, a figura de Muhammad (Maomé), grande profeta, é tida como


o símbolo de uma tocha viva. Uma ligação entre a Terra e o mundo de Alá.

Judaísmo

Para o Judaísmo o fogo é representado no candelabro de sete pontas, conhecido


como Menorah. Sua representação rememora a criação do mundo por Deus em
seis dias e o sétimo dia é chamado de Sabbath, o dia do descanso para os judeus.
O candelabro é representado na festa de Hanucá ou Chanucá, no mês de dezembro,
e representa a vitória dos judeus sobre os sírios no ano 165 antes de Cristo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 200


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

O rei Antióquio IV declarou ilegais as práticas religiosas judaicas e forçou os judeus


a adotarem rituais gregos. Diante da situação, os judeus procuraram reconstituir os
templos judaicos, dando origem à festa de Hanucá ou Chanucá, o milagre do óleo,
pois os judeus não tinham óleo suficiente para manter a Menorah acesa, mas o óleo
durou 8 dias.

Cristianismo

Para os católicos o fogo pode ser encontrado em diversas comemorações,


representando a luz de Cristo presente no coração das pessoas. Na Semana Santa,
no Sábado de Aleluia, é realizada a bênção do fogo por meio da fogueira, sendo o
fogo bento utilizado em outras celebrações, como no batizado, que, pela vela acesa,
simboliza o sinal da fé entregue ao indivíduo.
Importante para muitos cristãos é a comemoração do dia de Pentecostes que se
dá após 50 dias depois da Páscoa. O Espírito Santo que desceu na forma de línguas
de fogo sobre os discípulos de Jesus que estavam reunidos num mesmo lugar e
trouxe dons como o de falar e compreender as línguas dos estrangeiros que estavam
reunidos em Jerusalém.

Zoroastrismo

No Zoroastrismo, tem como símbolo o caldeirão do fogo, que representa pureza e


eternidade, considerado o símbolo de veneração, purificador e sustentador na natureza
do sol. O fogo para o Zoroastrismo é chamado de Arar Behram, que queima em todo
o templo. Esse fogo sagrado representa Deus.

ROUPAS

Elemento simbólico importante é a vestimenta.Os Sikhs usam o turbante sobre


os seus longos cabelos. As muçulmanas usam o hijab ou outros trajes que cobrem
seu corpo. Os judeus fiéis ortodoxos com sua rígida regra de costumes incluem a cor
preta, e trajes específicos que são sua confissão de fé.
Entre grupos cristãos as mulheres têm suas regras de aparência modesta no vestir
e proibição de uso de maquiagem, joias ou corte de cabelo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 201


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Entre os sacerdotes cristãos existem trajes litúrgicos a serem usados na condução


de rituais.
Até mesmo a nudez é um símbolo religioso em expressões de não agressão à
natureza, como no caso dos ascetas ...

ALIMENTOS SAGRADOS

Nas diversas crenças e religiões dos povos são usados alimentos considerados
sagrados ou mesmo o jejum tem seus aspectos de santidade e reverência ao divino.
As práticas cada vez mais comuns do veganismo o vegetarianismo fazem parte da
ética de cuidado com a natureza ao não causar sofrimento aos seres vivos.
Nos cultos das tradições religiosas de origem africana, comidas são sagradas,
muito especiais dedicadas aos orixás e entidades, como o acarajé, caruru, abará e
vatapá que fazem parte de suas cerimônias ou rituais do candomblé.
Em algumas tradições religiosas do Oriente como Xintoísmo, Hinduísmo, Budismo
as ofertas são de arroz, frutas, bolos e tantas guloseimas. No Xinto a refeição sagrada
ocorre por ocasião do término do culto no templo , há um Naorai, isto é, a partilha de
uma refeição com os kamis. Nesse momento, o sacerdote distribui a cada presente
uma pequena quantidade de vinho de arroz.
Entre os seguidores do Judaísmo, as festas religiosas são celebradas com alimentos
puros preparados com muito esmero, pães ázimos, cordeiro assado e vinho sem
fermentação, são os alimentos kosher.
No Cristianismo, desde a sua origem, pão e vinho estão presentes em seus cultos
de comunhão, que após consagrados na Eucaristia ou Ceia do Senhor são repartidos
entre os fiéis.

A ÁGUA COMO SÍMBOLO SAGRADO PARA AS RELIGIÕES

A água é fonte de vida e também aparece como um símbolo sagrado para as


manifestações religiosas através dos rituais religiosos e da crença de purificação.
Ela é considerada purificadora na maioria das religiões, dentre elas o Cristianismo,
Judaísmo, Islamismo, Hinduísmo, Xintoísmo e Tradições Afro-brasileiras. Nas igrejas
cristãs encontramos rituais como batizados e bênçãos que utilizam a água como
símbolo sagrado.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 202


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

No Judaísmo e no Islamismo destina-se aos mortos um banho de água purificada,


simbolizando a passagem para a nova vida espiritual eterna. No Islamismo, os fiéis,
antes de praticarem as orações diárias, devem lavar parte do corpo com água limpa.
Nas cerimônias xintoístas, a água é um elemento natural purificador que se livra
do mal e das impurezas. Nos santuários, há uma pia com água corrente onde os fiéis
fazem seus rituais de purificação.

Hinduísmo

Um dos mitos sobre o surgimento do rio Ganges conta que:

O Rei dos Oceanos, muito forte e poderoso, conseguiu massacrar todos os demônios da
Terra. Certa vez ele fazia um ritual de sacrifício de um cavalo para proclamar sua supremacia
sobre outros Deuses. Então Indra, o Deus da Chuva, ficou com medo de perder seu poder,
roubou o cavalo do Rei dos Oceanos e o amarrou ao lado de Kapil, um sábio que meditava.
O Rei dos Oceanos mandou seus 60 mil filhos procurarem o cavalo. E eles assim o fizeram.
Encontraram o cavalo ao lado do sábio que meditava. Pensaram ter encontrado o ladrão e
conspiraram contra ele. Ao sair de sua meditação Kapil viu que iriam lhe fazer mal, então
reduziu os 60 mil filhos do Rei dos Oceanos a cinzas. O neto do Rei correu para contar ao
avô o que aconteceu. Ele se chamava Anshuman, e foi ele quem trouxe o cavalo de volta.
Bem, o único jeito para que os filhos do Rei chegassem até a abóbada celeste seria se
Ganges descesse do céu até a terra, para que as águas pudessem purificar as cinzas de
seus filhos. Mas Anshuman não conseguiu e então foi até o Himalaia e começou a meditar.
Foi aí que Ganges (a Deusa Ganga) lhe apareceu em seu corpo físico e concordou em descer
até a Terra desde que alguém pudesse amortecer o impacto de sua poderosa queda, pois
ele era tão forte e imenso que toda a Terra poderia ser destruída pelo impacto. Então o
neto do Rei dos Oceanos implorou para que Deus Shiva suavizasse o impacto da descida
do Ganges usando seus próprios cabelos. Assim foi... e o Ganges desceu pelos cabelos
de Shiva até o lugar onde estavam as cinzas dos 60 mil filhos. Deste modo, purificou suas
almas e abriu o caminho deles para chegarem aos céus.

Para o Hinduísmo o rio Ganges é a continuação do céu, é um caminho para conduzir


ao divino, por isso é o local para purificação do corpo, destino das cinzas dos mortos,
seguindo o exemplo dos “filhos do rei Sagar”, a fim de conseguir efetuar a transição

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 203


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

para os céus. O Ganges é “feminino”, a Mãe Ganga e sua água é bebida é tida como
“benta” para diversos rituais.

Islamismo

Ó vós que sois crentes! Quando vos dispuserdes à Oração, lavai o rosto e as mãos
até os cotovelos! Passai a mão pela cabeça e os pés até os tornozelos! Se estais sujos,
purificai-vos!... e, se não encontrardes água, recorrei a boa areia e passai-a sobre o
rosto e as mãos! (Corão)
Como parte das práticas espirituais muçulmanas, está a salat, cinco vezes ao dia.
Contudo, precisam estar ritualmente limpos, por isso, nas mesquitas há áreas especiais,
chamadas de áreas de lavagens ou abluções, onde os fiéis muitas vezes banham o
corpo inteiro ou então lavam os pés, as mãos, a boca, o rosto e os antebraços. Se a
pessoa estiver num local onde o uso da água não é aconselhável (porque pode causar
uma doença), pode substituir as abluções pelo uso da areia ou terra.
Para os muçulmanos, o Corão não deve ser tocado com as mãos sujas e espírito
impuro, é necessário que se lave as mãos com água ou areia.

Cultos afro

Iemanjá, orixá feminino, representada pela água, é considerada a mãe dos orixás e
de todos os que acreditam. Seu culto vem da atual Nigéria, mas em Luanda, Angola,
a divindade conhecida como Kiandra recebe homenagens de oferendas no mar, assim
como no Brasil.
As homenagens para Iemanjá, no Brasil, acontecem em datas diferentes, dependendo
da região. A mais conhecida é na passagem do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro.
Nesse dia, os que acreditam levam flores e perfumes, pulam sete ondas e tomam
banho de champanhe.
Em Salvador, no dia 2 de fevereiro, se realiza a maior cerimônia do Candomblé
para a grande mãe dos orixás, onde depositam variedades de oferendas, tais como
espelhos, comidas, jóias, perfumes entre outros.
Outra grande festa ocorreu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, também em 2 de
fevereiro, identificada com Nossa Senhora dos Navegantes. A festa católica acontece
na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, enquanto os

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 204


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

seguidores do Batuque e da Umbanda realizam suas celebrações na areia. Outra


entidade ligada às águas, mas daí em relação aos rios e cachoeiras é Oxum.

Cristianismo

No cristianismo a água também faz parte de vários rituais sagrados. É um dos


elementos essenciais do batismo (do verbo grego baptízein: “imergir em água”),
sacramento acontece em obediência em obediência apostólica à ordem de Jesus
de fazer discípulos e “batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo” indicando a
purificação dos pecados pela fé cristã e consequente ingresso na comunidade dos fiéis.
O batismo representa morte, sepultamento e ressurreição. Ao mergulhar na água,
a pessoa é sepultada como Cristo foi sepultado e, ao sair dela, ressuscita-se como
Jesus ressuscitou. “Simbolicamente, o homem morre através da imersão e renasce
purificado, renovado, exatamente como Cristo ressuscitou do seu túmulo” (ELIADE,
1992, p.160).
No NT, encontram-se diversas passagens trazendo o significado do batismo, como
no exemplo de Romanos 6.3-5: “Vós não sabeis que todos os que fomos batizados em
Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Nós fomos, pois, sepultados com ele, a
fim de morrer (para o pecado) pelo batismo, para que assim como Cristo ressuscitou
dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma vida nova. Porque, se nos
tornamos uma só planta com Cristo, por uma morte semelhante a dele, o mesmo
sucederá por uma ressurreição semelhante.”.
No catolicismo é a água é aspergida pelo sacerdote em vários momentos para
abençoar os alimentos, pessoas, as alianças ou objetos.

Música nas tradições religiosas

“1 Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu


poder. 2 Louvai- o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza.
3 Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa. 4 Louvai-o com o
tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos. 5 Louvai-o com
os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes. 6 Tudo quanto tem fôlego louve
ao Senhor. Louvai ao Senhor.”

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 205


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

Dentro do Cristianismo, em suas diversas correntes a música é muito importante,


pois é louvor. O texto bíblico acima, o Salmo 150, versos 1 até 6, é um convite a todos
para louvar, mas também uma afirmação: A criação de Deus em sua essência, até
pelo seu respirar é louvor a Deus. Em toda a Bíblia encontramos vários exemplos
de louvores, palavras incentivam o louvor de diferentes formas, sejam oração, canto,
dança. Nas diversas passagens bíblicas, os louvores estão ligados à gratidão, alegria,
fidelidade, pregação.
Os cristãos cantam a sua fé, por isso, os hinos no culto é participação ativa, é o
envolvimento da comunidade, é forma de viver Canto e louvor é envolvimento no culto
a Deus de forma ativa. Há um conhecido dito atribuído a Santo Agostinho que nos
diz : “Quem canta reza duas vezes” , por isso, o louvor é tido como ato que espanta
tristeza, maus pensamentos e tentações, traz alegria aos corações e estreita laços
com Deus.
O louvor como expressão de fé, através da música, é um recurso eficiente para
a trabalhar sentimentos das pessoas e um meio de sintonizar com a esfera divina.
Nestes atos são utilizados a voz e instrumentos musicais diversos.
Um dos instrumentos mais antigos que se tem notícia são os tambores.Os formatos
e materiais são diversos: madeira, tábua, de tronco escavado e couro. O tambor é um
dos mais utilizados nos cultos das culturas indígenas. Para as tradições xamanistas,
o tambor xamã é o “cavalo”, porque o seu som permite ao xamã ser levado para
outros mundos.
Nos cultos afro-brasileiros, nas danças, onde utilizam atabaques, agogôs, cabaças e
chocalhos. Os atabaques são considerados essenciais para invocação das divindades,
os pontos.
O tambor e as danças eram utilizados em cerimônias festivas do povo de Israel,
porém seu uso foi proibido posteriormente nas cerimônias religiosas.
Os sufistas, fazem uso da poesia e batidas rítmicas de tambores. A meditação com
o som produzido leva-os a um estado de transe, ou de união com Deus.

Cumprimentos- Palavras sagradas nos rituais

Dentro das religiões e tradições existem palavras que fazem parte da vivência da
espiritualidade, elas representam concordância, desejo de paz, de amor, de bênçãos
ou de oração contínua. Algumas dessas palavras já ultrapassaram fronteiras religiosas
ou culturais.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 206


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

No que refere-se à paz, temos as palavras Shanti: significa “paz” para os hindus.
Para o Islamismo temos a expressão “Salaam Aleikum” ou “As-Salamu Alaikum” (Que
a paz esteja sobre vós). A resposta para essa saudação é “Aalaikum As-Salaam” ( e
sobre vós a paz). No Judaísmo temos uma expressão parecida, o desejo Shalom “paz”
em hebraico e a resposta “Shalom Aleichem” .
Expressões originalmente hebraicas estão entre as igrejas cristãs: Amém, Aleluia
e Hosana.
Aleluia soma “hallal” (que significa louvor), mais “yah” (que significa YAHWEH, de
forma abreviada), significando “louvor ao Senhor”.
Hosana é do hebraico, e significa “Salva-nos, te imploramos”, ou “te imploro”. Hosana
nas alturas é uma oração a Deus, e significa: “Salva-nos agora, ó Tu que habitas nas
maiores alturas”.
Amém é a palavra empregada no fim de várias orações, não apenas no Cristianismo,
mas também no Islamismo e Judaísmo. Pode ser traduzido, do hebraico, para “assim
seja”, como forma de confirmar que os fiéis acreditam em tudo que está sendo falado,
que é tudo verdade.
No que tange ao reconhecimento da força vital ou força criadora temos a tradição
orintal do uso do Om, o som primordial, o som da criação, utilizado em simbologia e
nos mantras, especialmente hindus. Nesse sentido, temos nas religiões afro-brasileiras
usam constantemente a saudação “Axé”, a energia ou força vital em tudo.
De uso corrente entre praticantes de Yoga, a palavra “Namastê” tem sua origem na
Índia e é prática hindus, sikh, jainista e budista. Namastê é uma palavra originária do
sânscrito, que significa “curvo-me perante a ti” e é a forma mais digna de cumprimento
de um ser humano para outro.
Em um sentido mais amplo, o namastê significa “o Deus que habita no meu coração,
saúda o Deus que habita no seu coração”.

DESTINO DA ALMA

Em ocasiões de atos fúnebres as pessoas dizem muitas coisas na tentativa de


amenizar a dor dos que sofrem o luto. Desde “para morrer basta estar vivo”, “Deus
chamou porque precisava de alguém bom”, “descansou…”, “Virou estrela”... Essas frases
são mais do que frases de consolo, elas podem demonstrar aspectos de crenças
religiosas e nem percebemos. Uma frase que ouve-se muitas vezes, salvo suas variações
é “está olhando por vocês de lá de cima”. Talvez sem saber, os interlocutores estão
reproduzindo parte da crença na Ancestralidade.
Na compreensão da Ancestralidade, a pessoa falecida torna-se um ser espiritual que
mantém uma continuidade e ligação com este mundo material. Quem falece mantém

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 207


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

o seu espírito vinculado à família, ao clã, ajudando mesmo após a sua morte aqueles
que ele ama. Nesse novo status o espírito protege e influencia os vivos. A morte lhes
trouxe ampliação de percepção e conhecimento.
A certeza dessa vida no mundo espiritual do ancestral é tida através de comunicação
em sonhos ou transes. A família realiza sacrifícios e oferendas em favor desses
ancestrais para que sua existência esteja garantida, para que não deixem de existir.
Para algumas religiões africanas, o ser volta aos antepassados, aos ancestrais, e
cada criança que nasce é um ancestral que retorna.
No Xintoísmo pessoas de destaque, ancestrais podem ser kami, uma ideia parecida
com a dos cultos afro brasileiros em que pombagiras, exus, caboclos, pretos velhos
são espíritos de ancestrais que guiam o presente e também não são onipotentes.
Entre as religiões orientais que cultuam os antepassados temos além do Xintoísmo,
o Confucionismo, a Igreja Messiânica e o Seicho-no-iê.

ANOTE ISSO

Para muitos dos cultos de origem africana não há uma busca de salvação
individual para o além ou iluminação para o transcendente, mas a “salvação” é no
agora, no imanente numa vida-longa, boa, alegre, próspera, em harmonia e que
desfruta das melhores coisas em sua plenitude. As oferendas dedicadas aos orixás
revigoram a dinâmica de trocas entre o aiyê (terra) e o orun (céu) e debilitam forças
malignas. A vida contida no sangue de um animal, que foi consagrado, faz o axé
fluir e estreita relação com os orixás. (SIQUEIRA, 2009, p. 45).
Hoje, as religiões mais numerosas no mundo têm sua compreensão sobre a
Ressurreição. Os seguidores do Judaísmo, do Cristianismo e do Islamismo, assim
como também o Zoroastrismo, creem na ressurreição, porém com concepções e
características particulares. Ressurreição ou anastase é o entendimento que uma
pessoa volta a ter vida, ressuscita para uma vida nova, não mais terrena, mas sim
espiritual, num ambiente chamado de céu, ou de inferno. A ressurreição é o corpo
animado pela alma que volta à vida.
Reencarnação, ter carne de novo, voltar à carne, voltar a viver. Para o Budismo,
o Espiritismo e algumas outras religiões, reencarnar é meio de atingir perfeição e
salvação. Uma variante da reencarnação é a transmigração de almas, para o
Hinduísmo, a alma transmigra, passa de um corpo ao outro, humano ou não.
O Niilismo (Nada) não segue nenhuma doutrina religiosa. A morte é considerada o
fim de tudo. Entendem que ao morrer voltarão para o lugar de onde vieram antes de
nascer, ou seja, ao universo, enquanto átomo integrado no todo.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 208


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

RELIGIOSIDADE POPULAR

Sociologicamente, a religiosidade popular é contrastada com a religião elite. A


religiosidade popular reúne crenças, práticas, rituais, narrativas, símbolos originários
de outras fontes que não àquelas aceitas pelas lideranças religiosas, mas sendo por
essas lideranças toleradas, embora tidas como errôneas. Já a religião oficial tende
aspectos formais, abstratos e ortodoxia, isto é, tudo bem certinho no seu lugar.
Em comum, essa religiosidade popular são manifestações locais dentro das grandes
religiões mundiais que incorporam elementos de sincretismo, mágica e matizes como a
veneração de santos populares, a sacralidade de objetos, divinação, busca de soluções
a males cotidianos, rituais de cura e exorcismo do mal.
Um Cristianismo popular brasileiro pode ser definido, entre outros termos, como
“cristianismo praticado por povos conquistados” (indígenas, africanos) , o Cristianismo
vivido pela maioria das pessoas que, muitas vezes, mistura o Cristianismo com crenças
populares .
O Catolicismo no Brasil possui manifestações de piedade popular como catolicismo
rústico desenvolvidas em comunidades rurais que vivem numa economia de subsistência
e baseadas em festas coletivas, danças e rezas, sem a participação de representantes
oficiais da Igreja e com forte apelo ao culto de santos e padroeiros.
As festas marcam os momentos da cultura e da tradição dos povos tanto pelos
rituais festivos quanto pelo ritual religioso. Tais acontecimentos reafirmam laços sociais
e raízes que aproximam as pessoas, resgatam tradições e emoções. Mesmo com
objetivos diferenciados, as festas possuem características semelhantes na música,
na dança, no canto, na poesia e, principalmente, no espírito de colaboração, troca e
favorecimentos. As festas populares e religiosas traduzem a linguagem do povo, a
cultura popular, tudo que vem do povo e da sua alma.
No Brasil, devido à diversidade de tradições religiosas existentes, temos várias
festas religiosas. O sincretismo é responsável pelas manifestações de danças, teatro,
música e também pelas peregrinações que estão presentes em todas as regiões do
país e que, sem dúvida alguma, movimentam milhares de fiéis todos os anos.
Uma característica da religiosidade cristã popular brasileira é o fenômeno da múltipla
pertença religiosa. A matriz multicultural e religiosa brasileira (já apontada na segunda
aula), com seus elementos mágicos e místicos abre possibilidades de desenvolvimento
de uma religiosidade dinâmica e “popular”, íntima, particular, em oposição a religião de

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 209


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

elite, com aspectos formais, abstratos e com ortodoxia, isto é, tudo bem certinho no
seu lugar. Na “religiosidade popular” coexistem as crenças, práticas, rituais, narrativas
e símbolos originários de múltiplas fontes alheias à fé oficial e pública.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Em 2012, ao serem divulgados os dados do censo do IBGE de 2010, o RS tornou-


se o estado da federação em que há mais extremos religiosos. O estado abriga: o
município mais católico, o mais evangélico, o mais umbandista, o mais muçulmano,
o mais mórmon e a cidade brasileira que a maioria é sem religião, o Chuí. Além
disso, a capital brasileira mais judaica é Porto Alegre.
Além dessas informações acima, ao compararmos dados do IBGE vemos a múltipla
pertença na prática religiosa no território brasileiro. Apesar de ser o segundo
estado mais branco do país, o Rio Grande do Sul tem a maior proporção nacional
de adeptos dos cultos afro (1,47%), quase cinco vezes o percentual da Bahia. Na
Bahia existe um grande sincretismo afro-católico, (que podemos ver na tradicional
lavagem das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim), realizado por
praticantes do candomblé que recebem bênçãos do padre da comunidade. As
pessoas são batizadas na igreja católica, e, por isso, se identificam como católicas,
mesmo praticando cultos de origem africana.
Acesse:https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2012/06/dados-do-
ibge-colocam-municipios-do-estado-como-campeoes-em-credos-3806966.
html#:~:text=Apesar%20de%20ser%20o%20segundo,vezes%20o%20percentual%20
da%20Bahia

Até o final do século XX o Brasil não era uma nação pautada pela laicidade. A
laicidade de um Estado não significa que ele é contra a religião, mas um conceito
central para o debate sobre o lugar que a religião deve ocupar no espaço público,

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 210


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

do papel do Estado na garantia da liberdade religiosa e da isonomia das diferentes


religiões perante a lei.
O Brasil ao tornar-se um país laico assumiu a postura de garantir liberdade religiosa
e concede o direito ao indivíduo de ter ou não uma fé religiosa, sendo que essa escolha
não pode ser motivo de discriminação ou impedimento de acesso a serviços ou apoio
legal. Opostas são as posturas de Estados Teocráticos impuseram pesadas restrições
sobre as religiões alheias à oficial e Estados Ateus cercearam a liberdade religiosa
tanto quanto os teocráticos.
Essa maneira de religiosidade à brasileira ampliou-se no último século, com maiores
possibilidades de experimentação religiosa com o pluralismo religioso, hoje ao alcance
de um toque no celular. Pluralismo religioso e a laicidade, possivelmente são fatores
facilitadores da múltipla pertença no Brasil.

ANOTE ISSO

A múltipla pertença religiosa permite experienciar variadas religiosidades, não aderir


a uma religião específica, mas manter trânsito em mais de uma. Mesmo mantendo
a sua pertença religiosa, articula elementos simbólico-rituais de outras religiões
integrando-as de maneira relativamente harmônica. (RIBEIRO, 2018, p. 113). Para
saber mais acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=cs28RmKH1IU

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 211


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

CONCLUSÃO

Chegamos ao final de nossa viagem! Essa viagem surpreendeu você? Se nossa


viagem trouxe surpresas, então foi uma boa viagem. Possivelmente nosso roteiro
passou por locais conhecidos, então foi bom matar saudades? Ao longo desse curso,
cruzamos continentes, andamos por diferentes épocas, entramos em contato com
muitas civilizações e mergulhamos fundo em religiões que, talvez, nem sequer o nome
ouvimos antes.
Vamos retomar nosso roteiro? Num primeiro momento refletimos em torno dos
significados em torno da religião, sua história, conceitos e vocabulário, como uma
preparação à viagem de fato.
Em seguida tivemos contato com as religiões abraâmicas, religiões orientais e os
novos movimentos religiosos, com suas compreensões de vida após a morte, regras
alimentares, de vestimenta e suas resoluções éticas.
Nesta nossa jornada pudemos refletir em boa medida nas matrizes religiosas
brasileiras e o que constitui o povo conhecido como profundamente religioso.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 212


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ELEMENTOS COMPLEMENTARES

FILME

Luther
Data de Estreia: 26/09/2003
Estreia DVD: 12/11/2004
Gênero: Biografia , Drama , História
Duração: 123 min
Origem: Estados Unidos
Direção: Eric Till
Roteiro: Bart Gavigan , Camille Thomasson
Distribuidor: R.S. Entertainment
Classificação: 14 anos
Ano: 2003

WEB

História de Deus com Morgan Freeman já está na Netflix


Trata-se de uma série documental com 6 episódios, nesta primeira temporada, que
teve a sua estreia no National Geographic Channel a 3 de Abril de 2016, e que hoje
chegou à Netflix.

O pequeno buda
https://www.youtube.com/watch?v=jVoiMiYutFs

A série Retratos de Fé oferece uma oportunidade para que os grupos religiosos possam
transmitir a sua mensagem de fé e expressar o sagrado de sua doutrina de forma
direta, sem nenhum tipo de mediação, interferência ou proselitismo. A cada episódio, o
programa abre espaço para que um determinado credo possa se expressar livremente

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 213


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

na tela, apresentando suas concepções, crenças, cerimônias, vivências e manifestações


religiosas, num verdadeiro aprofundamento religioso.
https://tvbrasil.ebc.com.br/retratosdefe

Prime vídeo
Deuses americanos é, acima de tudo, um livro estranho. E foi essa estranheza que
tornou o romance de Neil Gaiman, publicado pela primeira vez em 2001, um clássico
imediato. Nesta nova edição, preferida do autor, o leitor encontrará capítulos revistos
e ampliados, artigos, uma entrevista com Gaiman e um inspirado texto de introdução.
A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um
ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo
é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em
poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem
emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que
está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.

Exu rei
Divindade africana que aportou no Brasil junto aos negros, Exu é conhecido como
o orixá da comunicação, guardião das ruas e do comportamento humano. O curta
metragem de não-ficão Exu Rei dialoga com a influência desse arquétipo pela cultura
negra a e sua assimilação pela arte brasileira. Em seu subtexto, o filme homenageia
um de nossos grandes ativistas da causa negra - o ator, poeta, dramaturgo e político
- Abdias do Nascimento. O posicionamento do documentário procura incorporar o
espírito de luta, expressivo e inquieto de Abdias: elo onipresente entre personagens,
imagens e sons do filme.
https://www.youtube.com/watch?v=tIIqqtve-cI

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 214


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

REFERÊNCIAS

BRAKEMEIER, G. ECUMENISMO, SOCIEDADE E MISSÃO: Reflexões sobre o caminho da


unidade. In: https://www.luteranos.com.br/textos/ecumenismo-sociedade-e-missao-reflexoes-
sobre-o-caminho-da-unidade-1

DAOLIO, J. Da cultura do corpo. Campinas: Papirus, 1995.

DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. Trad. Paulo Neves.


São Paulo: Martins Fontes, 1996.

ELIADE, M. O sagrado e o profano. Mircea Eliade [tradução Rogério Fernandes].


São Paulo: Martins Fontes, 1992.

STELLA, J. B. Introdução à história das religiões. São Paulo: Metodista, 1970.

STEIL, C. A modernidade fragmentou o campo religioso e fez emergir uma


diversidade de religiões. 2007. In: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/940-
carlos-steil-1

LIMA, M. Antropologia do Simbólico. Lisboa: Presença, 1983.

MONTERO, P. Magia e pensamento mágico. 2. ed., São Paulo: Ática, 1990.

MAUSS, Marcel. “As técnicas corporais”. In: Sociologia e Antropologia. vol. 2. São
Paulo: E.P.U./EDUSP, 1974.

GAARDER, J. O livro das religiões. (trad. Isa Mara Lando). São Paulo: Companhia
das Letras, 2000

PEREIRA, J. C. “A linguagem do corpo na devoção popular do catolicismo”, 2003.


Disponível em: https://www.pucsp.br/rever/rv3_2003/p_pereira.pdf. Acesso em: 11
dez. 2006.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 215


RELIGIÕES MUNDIAIS E
RELIGIÕES COMPARADAS
PROF. ADRIANA WEEGE

ROSA, J. G. Grande sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1. ed., 1994.

WEEGE, A. Viagem ao centro da romaria: O CORPO COMO ESPAÇO TEOLÓGICO NA


ROMARIA DE NOSSA SENHORA DE SALETTE DE MARCELINO RAMOS. Dissertação de
Mestrado. São Leopoldo, 2008. In: http://dspace.est.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/
BR-SlFE/614/weege_a_tm179.pdf?sequence=1&isAllowed=y

PRANDI, . Mitologia dos orixás, São Paulo, Companhia das Letras, 2001,

GUERRIERO, S. Esoterismo e astrologia na Nova Era: do ocultismo à psicologização


Reflexão, vol. 41, núm. 2, pp. 211-224, 2016 Pontifícia Universidade Católica de Campinas

XINTOÍSMO. A Religião Japonesa. Universidade de Brasília, Junho/Julho de 1999,


Departamento de Letras - Tradução, Curso de Licenciatura em Língua Japonesa,
Disciplina: Cultura Japonesa 1, Professora: Donatella Natili. In: http://www.xr.pro.br/
MONOGRAFIAS/xinto.html

RODOLPHO, A. Rituais, ritos de passagem e de iniciação: uma revisão da bibliografia


antropológica. Estudos Teológicos, v. 44, n. 2, p. 138-146, 2004

XINTOÍSMO. A Religião Japonesa. Universidade de Brasília, Junho/Julho de 1999,


Departamento de Letras - Tradução, Curso de Licenciatura em Língua Japonesa,
Disciplina: Cultura Japonesa 1, Professora: Donatella Natili. In: http://www.xr.pro.br/
MONOGRAFIAS/xinto.html

HATCHER, Willian; MARTIN, Douglas. A Fé Bahá’í: o emergir da religião global. São


Paulo: Editora Planeta Paz, 2006

A Casa Universal de Justiça, O Kitáb-I-Aqdas, O Livro Sacratíssimo,Editora Bahá’í


do Brasil, 1995. In: https://www.bahai.org/pt/

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 216

Você também pode gostar